o mapa do abismo e outros poemas
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Livro de poesia - poetry book“O Mapa do Abismo e Outros Poemas” – poesia – Edições Tigre Azul / FAC ( Fundo de Assistência à Cultura de Mauá – SP) – Mauá – SP – 2006;TRANSCRIPT
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Edson Bueno de Camargo
O MapaDo Abismo
e
Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
2003 Edson Bueno de Camargoemail: [email protected]
Endereço: Rua José Cezário Mendes, 104Vila Noemia – Mauá – SP
CEP – 09370-600
1ª Edição.
Tiragem:
tEdições
Tigre Azul
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Impressões sobre o Mapa do Abismo e Outros Poemas de Edson Bueno de Camargo
A primeira impressão , após a primeira leitura deste O Mapa do Abismo e Outros Poemas do Edson Bueno de Camargo – a quem chamarei aqui de “EBC” foi “Ufa!” Terminei, afinal!
Muito denso, escrita multifacetada, revela toda inquietação nebulosa, baudelaireiana – traço marcante do poeta EBC, quem conheci jovem estudante no final dos anos 70; já sombrio, inquieto, questionador. Espírito crítico aguçado, cada detalhe observado detona nele uma impressão sensual; ‘Fui ao campo/ e apanhei uma flor branca/ que nascia por entre a grama/ como é o nome desta flor?/ é um nome de mulher/ tem perfume que me lembra o de jasmim.” in Algo com Som, de repente, no último verso, o ritmo quebrado pelo cheiro feminino exalado pela flor, sugere a sensualidade lembrada pela visão de uma flor nascida à toa, uma visão refrescante, tanto lúbrica, pueril até, os poemas se sucedem, neste Mapa do Abismo... que bem poderia ser apenas Abismos, já que cada poema dele é convite ao delírio, ao vôo no escuro.
Os escritos se sucedem como cenas de um filme, rápidas, já que o Autor em seu “Posfácio” do folheto “Não verás o Mar Como eu vi”, revela que dois livros escritos na juventude não foram publicados. Daí, quem sabe, uma explicação de que poesia guardada em gavetas e no “look” atual em disquetes, quando liberados de suas respectivas prisões, se acotovelam numa obra poética como esta, na maturidade. Porém, o grande mérito do Autor é a coragem. A leitura de seus escritos, uma viagem. Como interpretar tal viagem? Como queira o leitor. A mim, causou-me surpresa belas imagens do cotidiano como em Vigia o gato “... há algo egípcio/ de orgulho antigo,/ perdido nas eras do tempo/ e nas pontas dos cobertores” , em Distração “... no momento em que o dragão é vencido/ uma goteira irrompe o teto/ ao lado da distraída leitora/, em Café Filosófico “ Será feliz o vendedor de mandioca,/ fruto do ventre da terra?” - nos remete ao lado telúrico e essencial do ser terráqueo, vivente no planeta Terra, o homem em especial, vive sobre a terra e se dispõe (vende, negocia) dela para sobreviver. A dúvida sugerida pelo “Será?” revela um crítica ferina quanto à atividade vender mandioca produzido no âmago do solo onde ele vive, como se fosse condenável vender, negociar o alimento (mandioca). Excessos do poeta. Como tal, tudo bem: até vale sacralizar a mandioca.
Resta então, o convite: caro (a) leitor (a) leia, desarmado, leve, livre de preconceito, este novo ( e velho) livro de poesias de Edson Bueno de Camargo. Este abismo de olhar o mundo caótico em que vivemos. Olhar de um jovem que, macambúzio, percorreu a pé, de trem, de ônibus, de carro, solitário ou de mãos dadas com as duas mulheres de sua vida – a esposa Cecília e a filha Sarah, seus caminhos tortuosos. Poemas que revelam o espanto, o encanto, o desencanto frente às atrocidades do homem que sobrevive amontoado nos morros de Mauá a Singapura; fica Faltando, agora, seu olhar sobre o do Autor, EBC. E Boa Viagem!
Diretamente do Litoral Norte,Caraguatatuba (SP), setembro de 2.003.
Katsuko Shishido Pastore
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Poema do Aviso FinalTorquato Neto
“É preciso que haja alguma coisaalimentando o meu povo;
uma vontadeuma certeza
uma qualquer esperança.É preciso que alguma coisa atraia
a vidaou tudo será posto de lado
e na procura da vidaa morte virá na frente
e abrirá caminhos.É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboçoou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.”
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
antes fosse palavra soltacomo óbolo que se dá ao vento
mas, os sonhos estão enterrados no are o mapa foi há muito perdido
dedicaraos amigos
à filha ao neto
para minha amadanaquilo que somos imortais
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O Mapa Do Abismo.
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se; para não tornar-se também um monstro.
Quando se olha muito tempo para um abismo,o abismo olha para você.”
Friedrich W. Nietzche - “Além do Bem e do Mal.“
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Fragmentos.
carrego fragmentos de poemas nos bolsosum poema inconclusivo, como sementes estéreis
há números de telefone misturados,estratos bancários, propagandas de rua,papeis de bala,coisas que vou colocando nos bolsos e esquecendo
só não esqueço este poemaque não vem, mas que também não vai embora
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Espectros.
se tivesse poder de vida e mortemandaria matar meus poemas no nascedouropara que não pudessem mais estes, me atormentaremcomo espectros de criaturas não nascidas
palavras que me rondam a cabeça dia e noiteme perseguindo no escuro como fantasmasse dissolvendo como expostos a luz da manhãquando apresentados à caneta e ao papel
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Uma casa.
uma casa para mim seria o suficienteme basta o espaço de quatro paredesonde pudesse ser eu mesmo o tempo todoe a verdade fosse a única religião
um lugar onde não me sentisse um estrangeiroum alienígenaum alienadoum exilado do próprio chão
um refúgio onde estivesse a salvaguardasem salvo condutospassaportesdocumentos pessoaishabeas corpus
uma embaixada pessoala salvo
sob a proteção da ONUdas leis internacionaisda Convenção de Genebrada Declaração Universal dos Direitos do Homem
onde um homem e uma mulherpudessem ser amantes sem pudoressem doressem culpassem desculpassem cobranças de nenhuma espécie
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Olhar pela Janela.
conversas de corredorsussurros no salãosemi-escuridão espectral
conspirações são urdidas na calada da noitetraiçõesrevanchesvendetas
a paz espreita lá forana forma de um galho de arvoree de um passarinho
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Algo com Som.
fui ao campoe apanhei uma flor brancaque nascia por entre a grama
como é mesmo o nome desta flor?é um nome de mulhertem perfume que me lembra o de jasmim
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Sob a Sombra.
minguante no horizontesob a sombra da arvoremisterioso passante
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Tramar.
pois tudo que eu pensaraera delicadamente atadocom fios de pura sedafabricados por uma aranha negra
ao cair da noitebanhado pela luz da luaas gotas do serenoformavam pequenos cristais na teia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Útero da terra.
útero da terraumidadegrossas raízes
húmuspequenas criaturasverve do chãoâmagovelha paixão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Aquário Vazio.
procuro por peixesno aquário vazio
no canto da salasó tem solidão
as pedras no fundoestão lá sem razão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Evanescentes.
escuto um zumbido permanente em meus ouvidosserão palavras vindas de um mundo distantefadas invisíveis com suas asas e vestes cor de rosa pastelvespas inflamadas, pirilampos feéricosmundos transparentes
sinto uma apreensãosensação de eminênciavisões de sonho e pesadelo
existem as portas que não devem ser abertas (quem proibiu?)mas serão pela curiosidade despertanão há aprendizado sem dor.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Pax Panis.
me sinto perseguidopor visões do paraísoum branco luminoso sem fimum terror imóvel e gélido que me consome
uma paz que me incomodatriste e desolada
será deveras o infernoo fim de todo o movimentoo mirar no espelho sem reflexo algum?
a passagem do tempo sem percepçãonunca dormirnem acordar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Urge.
urge que ouçamos o chamado (eco)bramam anjos de fogo no céua lua vermelha se esconde sob negro véu
cavalgada de guerra, corcéis,brandem o ferro e o bronze, reluzente metalespelho do horrorrompem escudos e carnefogo e negro fumo
negará sua face disformecom os dentes a mostra a reluzir?
ouçao cortejo de anjos marchandoo Deus guerreiro e generala buzina, a trombeta, os tambores marciaiscom forte ruído a produzir
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Aluagem.
a lua esta a pinonão respeita os horáriosimpostos pelo solcravados em nossa menteregulados pelo relógio
nasce no meio da tardeem pleno sol da primaveraobscurecida pelo diaque não é o seu reinado
esta a pino ao anoitecer
se põe no meio da noitepara repentinamente na madrugadaameaçar nascer de novo
como quequerendo competir com o solque começa finalmente a nascer
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Alma de Cristal.
no alto da colinaas rochas que cantam
no campoentoam cânticosde antiga religião
alma de cristalno centro da terrano tempo das eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Cidades Antigas.
igrejinhas barrocas ( alvas de doer os olhos )com santos dourados e azuis
pequenas cidades em forma de jogo da velhaantigos segredos guardados
maçonsgrades sagradasonfalostorres vigiadasmontanhas encantadas
cemitérios, fantasmastesouros escondidos
passeios no campoboa comida,parentelaconversas na varandacachaça de alambique ( crisóis, alquimistas )licores, bolos e café com leite
soverte e algodão doce na praçanamoro sem graçabeijos roubadose muitas lembranças
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Venho Vento.
venho vento trazer a boa novaaquela soada na trombeta dos anjos
tenho uma fome antigaque carrego de outras erasdaquelas de devorar os livros da estantepalavra por palavraletra por letrarazão e emoção
conheço os caminhos do tempocomo a palma da mãocomo a luminescência estranha de certas tardes
dos sois amarelosdos dentes ao soldas amarras e nós de atamentoda relva molhada pela chuvado amoreste que perdura
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Café Filosófico.
caminham pela ruaempurrando suas carriolas carregadaspai e filhocéu azul e limpo ( quase sem nuvens )calcada de cimentoasfalto negro e áspero
carregam o fardo do trabalhoe a esperança de dinheiro ( alimentação? desejos? )
sentem eles a falta da Cultura?dos livros que permeiam a minha vidaas angustias aflitivas
tenho lido Nietzche, Walter Benjamim e Adornodivagado a respeito do universodo nascimento e morte das estrelasda ligação que tem todas as coisasmas não sou feliz
será feliz o vendedor de mandioca,fruto do ventre da terra?
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Vestígios.
no quartosemi-escuroum resto de perfume no ar
sentar o cansaço sobre o leitocair de costasmergulhando em lembranças
como fotos preto e brancas amarelecidasalgumas esmaecidascomo um lento esquecimento
o ocaso toma conta da mentefragmentando os acontecimentosembaralhando – os
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Em Silêncio.
comerei em silêncio e sozinhoo pão amargo da saudadecom o sal e a água das minhas lágrimas
do outro lado da mesame espreitauma cadeira vaziaum lugar vagoum prato servido sem convivas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Atravessar a Sala.
atravessar os passos, a salao ranger, o velho assoalhocansado e o pó dos tempossem centelha de luzsem nenhuma certezacom alguma tristeza
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Possível Fim.
a cama é o frio do invernotosse
o vento nas cortinas amareladasas velhas dores no profundo da noite
remédios no criado mudo( Dorflex, Profenide, Voltaren, mais o que? )
na gaveta um revolver semi - esquecido,será que as balas ainda funcionam?
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O dia da Lua.
todos os mesesnos seus diascomo um ritualmarca no calendárioa palavra mulher em assíriono dia correspondente
o símbolo cuneiformegrafado em tinta azulde caneta esferográficacria uma dicotomiade uma escrita tão antigaem um modo tão contemporâneo
remete o pensamentoaos cultos de fertilidadeda “kubaba” sagradaa mãe de todas as mães
o dom de ser mulherdesde o principio dos tempos
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Cotidiano.
todos os diastoda manhão cheiro de café sendo feitoinvade a rua
e na calcada a caminho do trabalhopelo aromao passante imagina o paladar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Do Incerto.
não será mais que aquela manhão pão e o leite sobre a mesamais um dia sem nenhuma certeza
quanto tempo se passoudesde a última vez que olhou no relógioquantos dias, quantas noitesque passam sem que se aperceba
do incerto
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Outro Dia.
abrir as portas,escancarar as janelas,para iluminar a sala,arejar a casa
ferver a águafazer um cháler o jornal da manhãcom suas notícias velhas e dobradasde um mundo distante e perdido
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Para que o dia amanheça.
fazer o cafépara que o dia amanheçapara que você não me esqueçaé preciso ter fé
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
As Primeiras Sementes.
as primeiras sementes do ano novocrescerão na palma de minha mãobrotarão como bandeiras do povoas palavras no meio da escuridão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Arrabaldes.
viver é uma grande mentiraneste estranho arrabaldecom suas casas dependuradas no nada
suas noites incandescentescastelos dos olhos que vêemluas cheias enormeslagartos a rastejarno claro e na escuridão
onde está minha infância?infame ignorânciade mentir para viver
viver é uma grande mentiraneste singular arrematede cidade, rios com esgoto e negrume,
onde está minha ignorância?ignóbil inocênciade na mentira viver.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Toda Manhã.
toda manhãacordar e ainda sonolentalavar o rosto
sentar na mesafitar os olhos vazios da mãee rezar
reza baixinhonão quer ficar igual a mãenão que um homem mandando em sua dor
toda manhãtorce para não acordarquer morrer no sono dos justosnão quer mais escutar os gemidos e chorosnão quer o medo como canção de ninarnão quer a nova manhã
mas o sol implacável nascetrazendo um novo dia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Bem - Amados.
Oñemboapyka pota jeayú porangue i rembi rerouy’ a rã i.Esta - se a dar assento a um ser para alegria dos Bem-amados.
Tradição oral Guarani.
1 –
no princípio da terratodos os homens eram como um sóe não havia dor
o pecado não existiae todos andavam nus no paraíso
a filha e o filho da terrafrutificavamassim como as plantas e os animais
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
2 –
quanto tempo perdidodas memórias da terraque o medo nos empurrou à gloriaa agonia e a dor dos filhos dos homens
os Bem Amados alijados da terra de seus paiso regato de água doce poluídoa mata queimadao solo violentado pelo aradoe pelas patas do boi
a razão perdidaa insanidade daqueles que afixam preços a seus corposa cruz, o aço, a pólvora e o chumboa doençaa descrençaa ganância
vão se os anos idosna esperade uma bandeira verdadeira de esperançapara que as profecias se cumprama do índio, mais puraa do branco, agora sem hipocrisia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Leito de Flores Brancas.
Sobre uma foto de uma menina palestina morta estampada na primeira pagina do Jornal Folha de São Paulo em 08/04/2002.
parece que esta dormindouma criançaem seu leito de flores brancas e vermelhasuma bandeira por cobertores
em algum lugaruma mãe se desesperanum choro, num grunhido insano espera
quem pagará por seus crimes de guerra?ter nascido na hora e lugar erradopalestina, menina, em terra de Israelpobre no “terceiro mundo”, imundo
ter brincado impune entre os escombrosesgotos correndo a céu livre e capsulas usadasáreas deflagradas
poderia ter sido nos morros cariocas.no Jardim Angela em São Paulo,em um subúrbio de Vitória
ali inerteespera que lhe cubra a terralhe agasalhe em seu ventresem ódio e sem medofinalmente a sua terra natal
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Dormentes Molhados.
curva ferroviáriapedras molhadas de garoa,neblina branca, serra úmidamata atlântica primitiva
cravada na rocha, como uma cidade fantasmaponte ligando vilas,a plataforma esperaum relógio marca a nova erano limiar do século (XIX)
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
No Passado.
ataminh’ alma no passadoaveventoágua correnteferro, ferrugemneblina e frio
Paranapiacaba não tem formas esta tardeos trilhos me levam para o vazio
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Sol Impressionista.
“Há neste inverno (outono??),um sol impressionista,
mas que jamais nasce,apenas se põe, me deixando na escuridão.”
Sarah Helena
vermelho poentesol impressionistapassam pela minha vistaoutonos esquecidos
quantos dias passadosem ocasos sonolentosnoites mal dormidas
meus quarenta anos mal vividosminhas reminiscênciasmuxoxos de velhosamigos esquecidos
mas o céu é tão beloque não dá para ser tristenesta tarde a caminho de casa
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Da Lua e Da Maré.
redes, anzóisbarcos encalhados na areiavelas velhas encharcadas de chuvauma barra de areia branca invadindo o mar
luta da lua e da maréágua salgada corroendo horizonteslágrimas dos deuses esquecidos
uma sonolência encantadasortilégios de sereiascardumes invisíveiscantos de naufrágios nas pedras
rochas escondidas, faróisgaleões fantasmasa navegar nas espumas do arnuvens ondas a arrebentaroutro mar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Céu Lilás.
naquela tardeo céu estava liláse as nuvens cor de rosa
o horizonte negrose estendia e abraçava a terra
ao longe, em meio as brumasimaginavam-se cais intermináveisvelhos navios enferrujadoschaminés fumacentas
o gosto amargo de sal marinhocachimbos mau – cheirosospragas de marinheiroa maresia nauseantee a velha saudade de lugares nunca vistos
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Em Pleno Ar.
galeões e caravelas fantasmas em pleno arcordames e velas podresmadeira antiga a rangeraos ventos e o peso dos canhõesborrascas e esqueletosespumas e vagasem pleno ar
acordar suado e assustadoquando ao longe, se afastandoo terrível gargalhar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Ódio Antigo.
amarrei junto ao peitocom corda de palha de buritipara que nunca se rompesseum ódio antigo e escondido
este me tem envenenandocomo todo ódio que se prezeo meu sangue um pouco por dia
mas se diz na velha terra“ódio velho não cansa”este tenho carregadocomo se fosse um filho amado
um dia quem sabe este me mateou eu ao dito dê caboum dia destes quem sabe
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Dinossauro.
hoje amanhecicom um desejo doido de me matarde acabar de uma vez por todascom a minha consciência
(tentei em uma ocasião,afoga-la em álcool,mas a danada boiou)
por que me sintocomo um dinossaurodesgarrado de seu bandoque insiste em não se extinguir
como um velho navio enferrujadoestou permanentemente ancoradoem valoresque não tem mais sentido algum
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Se estou condenado.
se estou condenado definitivamente ao infernoque minha entrada seja em grande estilocom uma grande turba em urros e gritosanunciando a minha chegada
que por uma corte de meus detratores e inimigosseja eu precedido
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Herança.
eu desisto,definitivamente e irreversivelmente,neste dia;
não sei qual pecado que cometi,mas o castigo agora me parece maior que o delito,seja qual tenha cometido,( confesso minha ignorância e falta de lembrança)
desisto,de meus valores,de minhas crenças,de minha herança cultural,de minha ascendência genética,de meu direito a vida,do amor,do ódio,da indiferençade minha alma eterna (se ainda a possuir),
renuncio,a Deus,a todos os deuses de deusas,ao diabo,a bondade,a generosidade,a honra,
a mesquinhez,a avareza,a minha santa ira,ao medo,a dor,
que a todos se proclameque a partir deste dia não mais existoembora ainda vos incomode com minha presença
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Mapa do Abismo.
Nas pontes sobre os abismos
observo pássaros que lastimamque emitem gritos lancinantescavalgo ligeiro, com medo
é necessário que toda a coragem que trago escondidaapareça a tona
que estranhos mistériosque novos segredosme esperam
sussurros de dor do fundo do abismome clamam para saltar
resisto,me cobro de luto pelos que se forame firmo a fépara que minha armaduranão se torne minha mortalha.
Diante do lúgubre castelo
paredes de úmido limbodiante dos olhos
será que são fantasmas perseguidos?
Que sonhos desvairados, os que são perseguidos?A cruz de dourado brilhanteresplandece no frio aço sobre o peitocriando a nova certeza, da justiça da causa
dançam de outrem figurasde fumaça na névoa ligeiracarregada pelo vento
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
este que assovia nos ouvidos como assombraçãopor fim diante do inimigo.
Afinal por que a dúvida me assalta
não são justos os propósitosnão é digna a razãonão é correto o motivo de inspiração?
Desembainhar a espadae lutar na certezaque a vitória,é sempre a dos justos.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O Abismo Te Observa.
aqui jaz, esperandoa espreita de seu próprio destino
sentado a beira do abismo,penhasco, onde batem as ondasbrancas com o impacto
passa a vidadiante dos olhoscomo um velho cinema mudomas, como num pesadeloesquece de tudo imediatamente,
ali,no aguardo do que já não sabe
a pedraa areiaa gramaa chuvao grande rio negro ao longea barrao sal resplandecenteacompanham
absorto no esquecimento,espreita
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Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
“já me matei faz muito tempome matei quando o tempo era escassoe o que havia entre o tempo e o espaçoera o de semprenunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço melhora o ritmo do pulsoe clareia a alma
morrer de vez em quandoé a única coisa que me acalma”
Paulo Leminsk
Reduzir.
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Re(pro)du[(lu)zir]cr(ia)er
cria[(cul)tura]cria(ção)
!
Olhos I.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
São os olhos que me observam, brilhando no canto da sala, o estranho me espreita, não sei se como presa ou fera,escuto batendo no peito, o meu coração que batia, com um compasso quebrado, dentro do meu ouvido. Lá parado, sem se mover um centímetro, não piscavam, faiscavam na penumbra.
Olhos II.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Estava num canto da casa, me lembro do brilho de seus olhos no escuro, toda a casa me parecia estranha, como que se as mesmas coisas de sempre não fossem elas, as mesmas, não reconhecia nem mesmo, a cama em que havia dormido até aquele momento, foi quando a criatura que se escondia, se desvendou por completo.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Não Ver.
...as paredes se debruçam sobre mim, não sei se estou sonhando, se estou morto ou acordado! Há grossas lágrimas correndo sobre meu rosto, meu olhos embaçados...
...por quanto tempo aqui sentado, com os olhos fechados, sinto-o respirar sobre o meu rosto, um hálito de pântano estagnado, temo abrir os olhos e ver, temo abrir os olhos e não ver...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
A busca.
acredite, havia algo muito estranho, escondido sob aquele assoalho de ripas de carvalho, algo que cheirava a podre e azedo, mas ao mesmo tempo exalava um forte perfume, um tanto quanto adocicado, um tanto quanto frutado, alfazema, anis estrela, flores silvestres murchas, cravos adormecidos, jasmins amanhecidos... estava colado na poltrona, e sei que “aquilo” andava sob meus pés, remexendo no porão, numa busca que temia que terminasse a qualquer instante...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Um Velho Gato Malhado.
em uma sala conversam sete velhinhastomando bolo e chásete tricôs começadosbule, xícaras pires e bolo, na mesa arranjados
dormindo no canto da salasobre uma velha almofadaum velho gato malhado, gordo e preguiçoso
e o velho gato sonhadosete sonhos um dentro do outroum sonho para casa vida perdida(agora, só lhe restam mais duas)
em cada sonho um dentro do outrosete velhinhas conversamcom seus tricôs começadose no centro da sala arranjadosbule, xícaras, pires e bolo
e dormindo no canto da salasobre uma velha almofadaum velho gato malhado, gordo e preguiçoso
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Vigia O Gato.
vigia o gato,com seus olhos verdesfaiscando no escuro,a porta
como o guardade uma pirâmide,o quarto de dormir
há algo de deus egípciode orgulho antigo,perdido nas eras do tempoe nas pontas dos cobertores
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Paraísos.
no paraíso dos pombosexistem milhares de pipoqueiros distraídosnum jardim infindávelcom tardes mornasvelhinhos e velhinhas em bancos de praçajogando amendoim
não há criançascom sua curiosidade discretasempre tentando agarrar tudo que se movenão há gatos de garras afiadas(estes estão no paraíso dos gatos)
mas há arvores frondosas e com grandes galhosvelhas casas em ruínascom sótãos espaçosos e abertosonde nunca há corujas escondidas
e sempre é primaverasempre tardezinhasempre silencioso
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Distração.
a moça lê poemas atras do balcãosonhando um príncipe encantadoem um cavalo alado
lá fora a rua é indiferenteos carros passam em procissãovão e vem,mas ninguémsabe para onde
começa uma forte chuvamas a moça não se apercebe
no momento em que o dragão é vencidouma goteira irrompe no tetoao lado da distraída leitora
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Mulheres Redondas.
mulheres redondasem seus grandes vestidos floridospasseiam pelas tardes ensolaradas(um sol redondo como a lua, alaranjado )com suas sombrinhas chinesas
pisam sobre pavimentos de pedrasgranito cortadocom regular presteza
são pedra antigas e carcomidaslisas pelo uso contínuoburiladas por ferraduras, rodas de carroçae areia do tempodestas que ficam escorregadiasnos dias de garoa
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O Rio.
I-
o maciço de serra nasce em tempos imemoriais,um cristal antigo, que se perde no tempo da criação do próprio planeta Terra,gerado antes de qualquer vida, dos minúsculos protozoários, do mármore, do
diamante,
os ventres vulcânicos, que vomitaram o granito e o basalto,se dissolveram nas eras, desapareceram sem deixar vestígios
o manto de lava endurecidoaos poucos foi modelado pelas águas teimosas de um pequeno rio,
que se forma com o princípio da chuva,
rompe a dureza do chão feito de um quartzo ancestral,laje de pedra primeva, de antes das areias e do solo,
burilada pela água e areia, lentamentedeterminou seu traçado, sinuoso e sem linhas retas,
como um servo amado da terra,se vergou a cada obstáculo, contornando sem ferir, sem se ferir,
e quando os neolíticos primordiais habitantes do chão beberam de seu presente,afirmaram sua Graça, o rio de muitas voltas, “tamandetay”.
II-
recusa o mar, e no mar nunca deságua,é certo, que haverá sempre uma pequena porção de suas águas no Rio da Prata,
entrando no sal dos mares platinos,mas ali, em meio ao mar de água doce, não será jamais Tamanduateí.
III-
buscou o interior do continente, dando de encontro com o Rio Tietê,nascer e morrer no planalto, vislumbrando da serra, o mar que te espera, não terá foz
nem deltanão desbravará sertões, não conduzirá monções, não correrá no solo macio da
planície,terá sempre a tranqüilidade dos remansos e águas grandes, várzeas inundadas, poços
e vazantes
mas o vassalo do grande rio, seus tributários tem também:
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Corumbê, Capitão João, Itrapoá, Cassaguera, Oratório, ...alguns que arremedam o mestre, fugindo para outras paragens,
mas cedo ou tarde, desembocam em suas margens,
seguidos de muitos outros menores, sem nome e sem memória, seguem o mesmo destino,
olhos d’água, bicas nas barranqueiras (onde mulheres lavavam a roupa e crianças matavam a sede).
IV-
no passado pré-histórico, uma floresta tropical se instala, nos contrafortes da serraria,monumentais e seculares jequitibás, aroeiras, ipês, pau cedro, pau brasil,
perobeiras, ...uma infinidade incontável de madeiras de lei, folhagem miúda, plantas desconhecidas,
que queimaram lentamente, anos a fio, nas primitivas fogueiras, nos primeiros fogões de lenha, nas coivaras,
depois no ventre das locomotivas, nas caldeiras industriais,nos fornos das olarias (a capital precisava de tijolos) e cerâmicas industriais
gabiroba, araçá, capote, caraguatá, ananás. abil, cambuci, jatobá, ingá,frutas do mato, primitivas goiabeiras e abacateiros, ...
que alimentaram primatas, aves, lagartos e pequenos mamíferos,testemunhas e vítimas do desmatamento insano.
V-
serviu de regaço a expedições de caça a tamoios e guaianazes,que não conheciam o homem branco europeu,
parada obrigatória de tropas sem fim,indo de Mogi das Cruzes para a Vila de Piratininga ( que um dia será São Paulo)
caminho de idas e vindas, pela estrada “ del rey “ (hoje ainda, lhe resta um pedaço)
mas ao senhor, o rei de Portugal,pouco ou nenhum interesse tinham estas terras, de selvagens hostis e pagãos,
que, capturados, no trabalho morriam de cansaçonão tinha ouro no cascalho do rio e riachos e cana não dava neste chão
quando haviam as matas, foi caminho de negros fugidos das lavouras de café do interior
que procuravam os quilombos de Peruíbe e Iguapeescondeu em suas ramagens a vergonha da escravidão
beberam destas águas, caldeiras ardentes,das máquinas a vapor, locomotivas da ferrovia que cortou a serra em dois,
dormentes assentados um a um, cravo e marreta, trilhos do aço estrangeiro,que trouxe de outros países, gentes.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
VI-
tudo correria tranqüilo até os dias de hoje, não fosse a irrequieta presença dos homens,
colonos portugueses, uns se foram outros ficaram, vieram imigrantes italianos,de todas as nações do velho continente, asiáticos, japoneses do outro lado do mundo,migrantes nordestinos e mineiros, de todos os estados, todos sem exceção em busca
de trabalho,de enriquecimento, de sonhos, simples e laboriosos, gente de bem,
tombou-se também as matas secundárias, verde teimoso em florescer,que tenta em vão recuperar a floresta do passado,
rasgam-se os morros inclementemente com tortuosas ruas,loteamentos clandestinos, terra barata para os trabalhadores,
se assoreia o leito do rio com areia e aluvião, lixo e entulho de construção,turvam-se as águas, com esgoto e lixo industrial, fezes, urina e alcatrão,
colocam-se os afluentes em tubos, bloqueando os lençóis e veios da terra,morrem as bicas e minas (os meninos sem diversão),
crescem industrias, e chaminés como arvores mortas, enegrecem o céu com fumaça,encapam o chão com asfalto e cimento, e quando seu leito entupido, não suportou
mais a carga,sob a chuva inclemente,chamaram-no enchente.
VII-
agora, se observar suas águas fétidas,se vê ainda, a beleza do rio correndo, as pedras, o movimento gracioso da
correnteza,
quando serão limpas suas águas, como um Tâmisa?qual governante louco e delirante, pescará em suas águas novamente límpidas,
lambaris açus de rabo vermelho,ao lado do seu povo, feliz, contente e agradecido?
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Apêndice.
Folhetos Poéticos.
Os anos de 2001 e 2002 foram anos importantes no que se diz respeito a minha poesia, um período de tempo muito produtivo, quando finalmente transformei poemas guardados e dispersos, em um livro de fato (Poemas Do século Passado –1982-2002), mas, da produção do livro para a sua publicação, principalmente de forma independente, demanda tempo, energia e requer uma grande dose de paciência. Neste ínterim algo deveria ser feito, com varias atividades culturais e de literatura acontecendo na cidade (Mauá-SP) e no Grande ABC, apesar de ter “saído da gaveta” com a publicação do livro, havia uma ansiedade de mostrar alguma coisa impressa em papel, foi daí que surgiu a idéia de se criar os folhetos poéticos, na forma de um folder publicitário, para distribuição, de mão em mão, deixar nos saguões de teatros, bibliotecas e mais onde fôsse possível.
Estes folhetos ( “Reminiscências” e “Não Verás O Mar Como Eu Vi”) estão sendo reproduzidos neste livro em seu conteúdo original, em forma de um apêndice, uma vez que os poemas neles publicados são inéditos na forma de livro.
O autor.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
REMINISCÊNCIAS.
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A Teia.
a aranha tece a teiafrágil ao meu toque
diferença fatalda vítima que se envolve.
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Observações.
tudo tem seu tempoa aranha morre em sua teiao vento frio morde as telhas
o herói late no quintal.
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Medo no Espelho.
brilha a lágrimacomo um cristal partido
fio a fiofino de seda
e nos ata as almas
por que não maisque apenas o medo
o terror que envolve o espelho
nos cerca agora.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Dançarinos de Arame.
dançam na areiadançarinos de arame
frágil estruturade aço e barbante
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Girassóis.
crescem os girassóisbalançam a brisa de verão.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Escadas.
meus olhos trememmas minha boca não diz palavras
penso em escadas (quais?)
úmida bocamolha o medonas sombras.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Varais.
não esqueçade olhar para o céu
por entre as roupas dos varais
por que não hánada mais branco
do que algodão ao sol
por que seus olhosme disseram muito mais
que todos os livros que já li.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Por do Sol.
vermelhouma massa vermelha escurase desloca do céu violáceo
poeira em grãos satélitesmigram, no lugar da velha lua
na rua cinzenta e cálidase esquecem os sons da mesma
a tarde me aqueceapesar de fria
os olhos cheios de sonhosno mesmo inverno.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Palavras vazias.
palavras vazias escrevisobre fumaça ao vento
e nada sobroua não ser o vento soprando
que estranho sentimentover palavras fugirem ao ar
como aves novasque se põem a voar
esqueci as palavras do ventoe o que significavam
ficou somente a estranhezade ver palavras voarem
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Posfácio do folheto “Reminiscências”.
Edson Bueno de Camargo, nasceu no ano de 1962, na Cidade de Santo André – SP, vive desde o seu nascimento na cidade de Mauá – SP. Sobrevive ao aspecto mais suburbano da realidade paralela do Grande ABC, uma mistura de disciplina operária, socialismo, fascismo, um pouco de anarquismo, fanatismo religioso, miscigenação, analfabetismo, sincretismo e ódios raciais mal disfarçados, onde imigrantes europeus e migrantes de absolutamente todos os estados do Brasil, convivem num “caldeirão do diabo”, subproduto do “milagre Brasileiro”. Desta subcultura nasce uma Poesia com todas as influências e ao mesmo tempo que não deve nada a ninguém. Participou em sua juventude do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá -SP, publicou o panfleto poético Cortinas, e no momento tem dois livros escritos e não publicados, Poemas do Século Passado e O Zen e a Arte de Plantar Papoulas...
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Não
Verás
O
Mar
Como
Eu
Vi!
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Mar Amarelo.
frotas, velhas navesdesvairados ventos
alumbram pelos trigais,
como um mar amareloonde navegam, moinhos e gigantes,
dançarinas lançassarissas de antigas guerras
antenas de oriundas erasnovas línguas, exasperadas,
caminham como zumbis perdidos nesta nova terra
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Sonâmbulos.
ando pela casa,atravessando velhos fantasmas,
que andam, como fossem sonâmbulos,
mortos, que não sabem da própria morte
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O tempo não..
deitar o cansaçolevantar com o sol
levar a faina do dia a diaaté descobrir que o tempo
não mais existe...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Do Tempo.
é necessárioromper as amarras (do tempo)
para que possamos,libertar nossas almas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Das Igrejas.
.
processos místicosparabólicas flutuantes
computadores diletantesnovilingüismos absurdos
absortos pelo ruídodos alto falantes das igrejas
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Da Velha Pátria.
por onde andamos arautos da velha pátria
rugas antigasvelhas realidades
do que falamos olhos fundos e brilhantes
de verem de há muito tempo,as novas eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Tiamat.
se tornarei,a fonte de toda a destruição
me chamarei pelo nomemais estranho,
o som,que nunca poderei ouvir
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Da Espera.
há uma espadasobre minha cabeça
há um fiopor se romper
não há mais medoque nos entristeça
não mais dordo que esperar
ouço o barulho dos ratosque andam
dentro das paredes,
estes,também estão a esperar
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Da Nau.
há ratos no porãoque roem as cordas
e restos
a deriva da naudepende
das velas e dos ventos
que assobiam nos sótãose rangem as portas
do fundo das almas desesperadasonde é sempre profundo o oceano
onde não há portos nos sonhossó borrascas e pesadelos salgados
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Do vento.
seus cabelospelo vento espalhados
seus seiospela blusa
fielmente retratados
não sei o quê?não sei por quê?corro do vento
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Passado Guardado.
não consigo folhearálbuns de retratos
sem encontrar um rostoque já se foi
como é difícilencarar a ausênciaporque o passado
é doloroso e próximo
mas mesmo assiminexoravelmente passado
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
De Granito.
da pedrase tirará
o que não é o essencialrevelando a alma do granito
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Posfácio do folheto “Não Verás O Mar Como Eu Vi.”
Edson Bueno de Camargo, nasceu no ano de 1962, na Cidade de Santo André – SP, vive desde o seu nascimento na cidade de Mauá – SP. Sobrevive ao aspecto mais suburbano da realidade paralela do Grande ABC, uma mistura de disciplina operária, socialismo, fascismo, um pouco de anarquismo, fanatismo religioso, miscigenação, analfabetismo, sincretismo e ódios raciais mal disfarçados, onde imigrantes europeus e migrantes de absolutamente todos os estados do Brasil, convivem num “caldeirão do diabo”, subproduto do “milagre Brasileiro”. Desta subcultura nasce uma Poesia com todas as influências e ao mesmo tempo que não deve nada a ninguém. Participou em sua juventude do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá -SP, em 1981 publicou o panfleto poético Cortinas, e no momento tem dois livros escritos e não publicados, Poemas do Século Passado-1982-2000 e O Zen e a Arte de Plantar Papoulas..., recentemente (2002) publicou o folheto “Reminiscências”.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O autor.
Edson Bueno de Camargo, nasceu em Santo André - SP, em 24 de julho de 1962, mora a partir de seu segundo dia de nascimento em Mauá – SP.
Publicou: “Poemas do Século Passado-1982-2000” edição de autor; “Cortinas”, com poesias suas e de Cecília A. Bedeschi; participou das antologias poéticas “As Cidades Cantam o Tamanduateí que Passa.” da Prefeitura do Município de Mauá e “Poesia Só Poesia” Editora Novas Letras. Junto com os amigos escritores da Oficina Aberta da Palavra, grupo de Mauá-SP, edita o fanzine aperiódico
"Taba de Corumbé". Foi membro do Colégio Brasileiro de Poetas, um grupo de poetas mauaenses,
num curto período, entre o final dos anos setenta e início dos anos oitenta Participa do grupo poético/literário Taba de Corumbê, do qual por aclamação foi intitulado Cacique e das aulas embrionárias da Escola Livre de Literatura de Santo André-SP, como aprendiz de mundo.
Livros inéditos – “O Zen e a Arte de cultivar papoulas em noites de lua cheia em jardins a beira mar.” – hai-kais; “ (índex animi) O Espelho da Alma ou Poemas do Novo Século” – poesia; “Muitos Morreram por Esparta” – poesia; “De Lembranças & Fórmulas Mágicas” _ poesia.
Edson Bueno de CamargoRua José Cezário Mendes, 104 Vila Noêmia – Mauá – SP – BrasilCEP – 09370-600correio eletrônico: [email protected]
www.secrel.com.br/jpoesia/ebcamargo.htmlwww.paralerepensar.com.br/link_edsoncamargo.htmhttp://www.pd-literatura.com.br/especiais/mar.html#ebcamargo http://www.eldigoras.com/eom03/indic/buenodecamargoedson.htm