o milagre do sal em rio maior - por joão aníbal henriques

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o milagre do sal nas salinas de Rio Maior por João Aníbal Henriques

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As Salinas Naturais de Rio Maior, também conhecidas como Salinas da Fonte da Bica, estão situadas no sopé da Serra dos Candeeiros, a três quilómetros de Rio Maior, em Portugal. Uma mina de sal-gema, muito extensa e profunda, segundo os técnicos, atravessada por uma corrente subterrânea que alimenta um poço, faz com que a água dele extraída seja salgada, sete vezes mais salgada que a do mar. Da sua exposição ao sol e ao vento e consequente evaporação da água obtêm-se o sal, depositado no fundo dos talhos e que depois é colocado em montes, em forma de pirâmides, para secar até ser recolhido. São um dos segredos mais bem guardados de Portugal!

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o milagre do salnas salinas de Rio Maior

por João Aníbal Henriques

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Por João Aníbal Henriques

Quando em 1177 Pêro e Aragão e sua mulher Sancha Soares vendemuma parte das Salinas de Rio Maior à Ordem do Templo, factoconfirmado através de documento que é a mais antiga provadocumental da existência daquele equipamento, estavam longe deimaginar que marcavam de forma efectiva a história daquele recantoextraordinário de Portugal.

Apesar desta referência, no Século XII as Salinas de Rio Maior jádeveriam ser uma exploração antiga. De facto, quer pela sua estruturafuncional, quer pelas técnicas utilizadas para a captação da água e seuposterior tratamento, tudo indica que as mesmas já existiam pelomenos durante o período de ocupação Árabe da Península Ibérica(Século VIII – Século XII), sendo aceitável que até já existissem emépocas anteriores.

Produto de primeira importância para a vida, o sal que nascenaturalmente de uma mina de sal-gema existente no subsolo da Serrados Candeeiros foi sempre parte essencial do esforço desobrevivência da vida humana. Por este motivo, é crível que tenhasido ponto de interesse para o Ser Humano moderno desde que elechegou à região.

o milagre do sal

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Testemunho antigo de um mar pré-histórico que terá existido no local,razão que explica a alta concentração de potássio e a qualidade deste sal,existem vestígios de outras pequenas explorações mais antigas em tornodo espaço actual que, mercê do fluxo permanente de água no poço queagora se usa, foram preteridos pela localização actual.

O incontornável Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”, refereinclusivamente uma lenda que explica a localização actual das Marinhasdo Sal. Segundo ele, uma pastora que por ali guiava o seu rebanho terásentido sede e procurado água numa nascente situada imediatamente aLeste da povoação designada como Fonte da Bica. Ao provar a água,constatou que a mesma era muito salgada, tendo informado a sua famíliaque imediatamente acorreu ao local. Experimentada a mesma e escavadoum poço no ponto onde encontramos o actual, verificaram o fluxodaquele manancial e mudaram para ali a exploração.

Ainda no “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal refere que no final doSéculo XIX cada talho de sal valia em média 144$000 Reis, montanteelevado para aquela época e que atesta bem a importância da jazida e doproduto na Europa de então. É ainda ele que, reiterando informaçãoantiga, explica que estas salinas são únicas na Península Ibérica e queeram tidas como as mais importantes dessa altura, sendo reconhecidas anível internacional.

Classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1997 (Decreto n.º67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 Dezembro 1997), as Salinas de RioMaior são hoje um dos pontos mais interessantes e incontornáveis nopanorama turístico do Centro de Portugal.

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Recentemente, depois de o sal ter perdido valor e de a economia ter abaladoprofundamente a estrutura de recolha e tratamento do sal, as salinas conheceramum período de algum desânimo e declínio que se traduziu na diminuição da suaprodução e da degradação das suas estruturas de trabalho. No entanto, depois deconstituída a Cooperativa dos Produtores de Sal, o sítio foi redinamizado, tendosido recuperadas as antigas casas de madeiras onde se recolhia o sal ereconfigurada toda a envolvência num interessante espaço comercial.

No meio das ruelas ladeadas pelas cabanas de madeira de aspecto rústico,nasceram cafés, lojas de velharias, restaurantes e espaços onde se vende sal eartesanato local, num esforço de modernização e de adequação da oferta àsexigências do Mundo actual digno de uma nota especial. Preservando as memóriaslocais e as técnicas e tradições antigas, as salinas tornaram-se um espaçoetnográfico da maior importância e de grande interesse para todos os que visitamPortugal.

Por ali se encontram, para além dos sacos de sal embalados de forma atractiva emuito actual, os queijinhos de sal, inventados de forma genial por um doscomerciantes do local, réplicas das pás e demais instrumentos utilizados naextracção e as bonitas telhas muçulmanas que dão forma aos telhados da região.Interessante, para além das velhas estruturas de madeira suportadas por troncosde oliveiras que preservam a sua forma rústica original, é a manutenção do sistemacomplexo de fechaduras em madeira, inventadas e desenvolvidas para evitar autilização de materiais feitos de metal que estão muito expostos à oxidaçãoreforçada aqui pela presença permanente do sal.

Para além de tudo isto, que só por si seria motivo suficiente para uma visita aolocal, os restaurantes ali instalados oferecem uma ampla carta de refeiçõestradicionais, confeccionadas com base em receitas antigas e com ingredientes dequalidade excepcional.

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O património histórico, composto por fontes e fontanários que traduzem umaespécie de homenagem à água que prodigamente nasce com grande qualidadeem toda a região, cruzam-se com inúmeras igrejas, capelas e pequenas ermidas,permitindo compreender a linha que dá forma a um culto verdadeiramenteancestral. Importa ressalvar que, ao mesmo tempo que na Aldeia dasAlcobertas, uma das capelas da principal igreja do local reutiliza uma antigaanta que foi integrada no espaço cultual, um pouco a Sul de Rio Maiorencontramos a Asseiceira, com as suas pouco conhecidas aparições Marianas, aque se juntam, um pouco mais a Norte, o espaço incontornável da Cova da Iria,com o Santuário Mariano de Fátima que fecha uma espécie de ciclo depatrimónio imaterial.

Os milagres, que em Rio Maior são desde sempre parte constante do devirdiário da população, traduzem-se aqui na sua expressão mais singela da brancaaparição. No sopé da montanha, longe do mar e da costa onde seria coisanatural, o sal nasce da terra, oferecendo vida e saúde a quem estiver mal.

Para quem visita o espaço pela primeira vez, a visão dos montículos brancosespalhados por estas marinhas tão especiais, representa um exercício quaseonírico de magia que reforça o carácter telúrico da região. Pena é (ou talveznão) que ainda sejam poucos aqueles que conhecem este recanto tão especial!

Em torno das salinas, num percurso que se estende pormais de 7 kms, existe uma ciclovia que permite aovisitante conhecer o espaço em redor, nomeadamente aflora e a fauna do Parque Natural da Serra d’Aire e dosCandeeiros, e que se complementa com uma série depercursos pedestres que garantem passeiosverdadeiramente excepcionais.

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o milagre do salnas salinas de Rio Maior

João Aníbal Henriques

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