o morar japonÊs e o morar brasileiro

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o morar japonês e o morar brasileiro: habitação e adaptação na são paulo contemporânea veronica satie zukeran banca: myrna a. nascimento (orientadora) antonio gil da silva andrade luis antonio jorge tfg fau usp 2012

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Este trabalho busca na arquitetura japonesa soluções para habitações de pequeno porte.

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  • o morar japons e o morar brasileiro:habitao e adaptao na so paulo contempornea

    veronica satie zukeranbanca:

    myrna a. nascimento (orientadora)

    antonio gil da silva andrade

    luis antonio jorgetfg fau usp 2012

  • Para Tiotatsu, Edith, Letcia e Beatriz

  • Myrna, por aceitar me orientar, pelos conselhos que sempre me ajudaram a pensar fora da caixa e pelo otimismo durante todo o percurso.Aos professores Antonio Gil da Silva Andrade e Luis Antnio Jorge pelos comentrios que trouxeram veracidade ao meu trabalho e por aceitarem fazer parte da banca.Ao meu pai Tiotatsu, por todas as caronas que me deu sem reclamar, por lavar a loua no meu lugar para que conseguisse terminar meu trabalho, por fazer o possvel e o impossvel pelas suas filhias.

    minha me Edith, que sempre me fez sorrir mesmo quando eu no queria, pelas palavras de incentivo, por aguentar minhas manhas sempre com um sorriso no rosto.s minhas irms Letcia e Beatriz por sempre acreditarem em mim, pelas conversas entre irms, pelas risadas que me ajudaram a relaxar nos momentos mais difceis.Aos meus avs por me darem a oportunidade de concretizar de um sonho.Aos meus queridos amigos da 12D e agregados por tornarem esses anos na FAU to agra-dveis, pelas reunies na cozinha, pelos chocolates, por me darem foras para continuar.

    agradecimentos

  • sumrio

    1. japo 101.1 geografia 10

    1.2 habitao 11

    2.1 static Quarry - ikimono architects 31

    2.2 moriyama house - escritrio de ryue nishizawa 37

    3.1 pblico alvo 43

    3.2 localizao 45

    3.3 terreno 46

    3.4 projeto 47

    4. concluso 74

    5. referncias bibliogrficas 76

  • 8introduo

    A inteno deste trabalho foi propor a implantao de um projeto de habi-tao mnima na cidade de So Paulo, tomando como base alguns conceitos e partidos pensados e utilizados por arquitetos japoneses contemporneos.O Japo foi o objeto de estudo escolhi-do, pois o pas lida com a problemtica da habitao mnima, pelo menos des-de a era Heian (794~1192), na regio onde viviam os pequenos comercian-tes e arteso residentes na capital. Ape-sar de, nesse perodo, a questo da am-plitude da habitao estar diretamente relacionada hierarquia social do mo-rador, atualmente ela est relacionada limitao de territrio disponvel para habitao em relao ao aumento da populao.O Brasil e o Japo possuem muitas di-ferenas culturais que refletem dire-tamente na habitao e no modo de morar, mas tive a oportunidade de ex-

    perienciar por um curto perodo como era morar numa habitao japonesa, denominada danchi - edifcio de apar-tamentos de posse de fbricas e em-presas, que as alugam para que seus funcionrios possam morar com fami-liares, por um preo abaixo do mer-cado -, o modelo do apartamento era 2DK - o numero representa o nmero de dormitrios e a sigla DK significa di-ning kitchen, ou seja, cozinha e sala de jantar no mesmo ambiente. Apesar das diferenas culturais e ergonomtricas existentes, a adaptao do morar no foi to complicada, decobri alguns cos-tumes e conceitos que se fossem adota-dos na minha rotina viriam acrescentar. Pela condio do Japo e pela experin-cia pessoal, optei por estudar a habita-o japonesa, identificando conceitos e

    partidos e tentar adapt-los para a cul-tura e normas brasileiras, propondo um outro modo de morar brasileiro.

  • 9

  • 10

    1. japo

    Fonte: Google Earth

    O Japo um arquiplago localizado ao longo da costa leste asitica, banhado pelos Oceano Pacfico a leste e Mar do

    Japo a oeste. composto por 4 princi-pais ilhas: Honshu, Kyushu, Shikoku e Hokkaido e mais 6.848 pequenas ilhas. Seu territrio total de aproximada-mente 377,746 km, sendo que 75% dessa rea ocupada por montanhas, em sua maioria vulcnicas. A popula-o corresponde a 127.687 milhes de habitantes, com densidade de 377 ha-bitantes por m .Apesar de toda tecnologia disponvel atualmente que possibilitam a amplia-o de um territrio sobre o mar, como o aterro martimo, para este pas que encontra-se sobre a divisa de 3 placas tectnicas - razo pela qual a ocorrn-cia terremotos to constante e explica tambm a porcentagem de rea monta-nhosa no pas -, no representa, exata-mente, uma soluo vivel.

    1.1 geografia

  • 11

    1.2 habitao Geralmente quando falamos de resi-dncia japonesa, logo imaginamos a moradia tradicional vista em filmes,

    amplas, feitas de madeira, com piso re-vestido de tatame e divisrias mveis (shoji ou fusuma4) no lugar de paredes e portas. Mas as residncias japonesas contemporneas no so mais assim, principalmente as localizadas nas zo-nas urbanas. A maioria possui tatame apenas em alguns ambientes, denomi-nados washitsu5, as portas e paredes so macias, o shoji e fusuma so usa-dos geralmente na washitsu, ou como portas de armrios. E no so mais to amplas, muitos apartamentos possuem por volta de 20~30 m.Pensando em como teriam ocorrido essas mudanas na quantidade de am-bientes, se foi apenas um processo evo-lutivo, ou se houve alguma circunstn-cia que forou essa alterao, fiz uma

    pesquisa sobre a residncia japonesa, que inicia-se na era Jomon (aproxima-damente 10.000 A.C.) - que representa um marco no modo de viver dos japo-neses -, at os dias atuais.O perodo Jomon (10.000 A.C. ~ 400 A.C.) foi marcado por uma mudana na moradia e no modo de viver dessa populao que, apesar de ainda ser n-made, deixou de fazer das cavernas sua

    1. Fontes: Geographical Survey Institute, Ministry of Construction, Hydrographic Department, Maritime Safety Agency, National Insti-tute of Population and Social Security Research2. Tatame, em japons tatami, feito originalmente a partir de palha de arroz prensada e revestida com uma esteira de palha. Essa placa de revestimento dos quartos tornou-se um tipo de mdulo. Apesar de suas dimenses no serem iguais em todas as regies do pas, sua proporo sempre a mesma 1/2.3. Shoji um painel com estrutura de madeira, revestido com papel translcido feito de arroz, pode ser usado como porta ou divisria.4. Fusuma um painel como o shoji, porm revestido com papel opaco.5. Sala em estilo japons.

    moradia e passou a construi-las. Essas moradias eram muito semelhan-tes s ocas brasileiras, feitas com estru-turas de madeira em formato de cone e revestidas com palha. Apesar dessa semelhana na forma e nos materiais utilizados, haviam diferenas cons-trutivas entre os dois modelos. Nessa habitao japonesa, o nvel do piso in-terno era um pouco mais baixo que o nvel do piso externo. A terra retirada para produzir esse cova era colocada em toda volta, formando um morrinho no permetro da moradia, onde apoia-va-se a estrutura de madeira que sus-tentava a palha. Essa cova protegia seu morador da chuva e do vento, a terra ajudava a manter a temperatura inter-na estvel, sem se influenciar muito

    pela temperatura externa. Essa mora-dia servia apenas para dormir, pois to-das as outras atividades (caa, preparo de alimentos, etc.) eram feitas do lado de fora da moradia. Em meados da era Jomon, quando os japoneses passaram de nmades a sedentrios, ocorreram mudanas nas moradias: a planta tornou-se mais ampla, pois outras atividades alm de dormir passaram a ser realizadas no interior da casa, como por exemplo o preparo de alimentos; a profundidade

    Exemplo de residncia tradicional japonesa

    habitao semelhante oca brasileira na era Jomonfonte: Japanese home and lifestyles

  • 12

    era Jomon, quando os japoneses tornaram-se sedentriosfonte: Japanese home and lifestyles

    da cova que era feita para a acomoda-o da moradia aumentou, fazendo, consequentemente que o p direito fosse mais alto, principalmente no cen-tro onde localizava-se a fogueira - me-dida essa que visava evitar a ocorrncia de incndios - que, ao mesmo tempo que servia para cozinhar os alimentos, aquecia o ambiente e seus habitantes que dormiam ao redor dela.A era Yayoi (400 A.C. ~ 300 D.C.), foi marcada pelos primeiros registros do plantio de arroz em campos alagados. Essa tcnica de cultivo, pela sua com-plexidade, necessitava da cooperao de muitas pessoas para que desse cer-to. Foi ento, que as pessoas comea-ram a viver em grupos, dando incio s primeiras vilas.A produo de arroz fez surgir a neces-sidade de construes como armazns, com a nica finalidade de estocar o

    arroz produzido. Esses armazns fo-ram feitos com tcnicas bem diferen-tes das utilizadas nas habitaes, eram construdos elevados do solo e no possuam portas de acesso, a entrada correspondia ao vo entre a parede e o telhado de 2 guas. Esse acesso era coberto com uma espcie de cortina de palha que ao mesmo tempo que veda-va o acesso de animais para dentro do

    armazm, permitia a ventilao cons-tante para melhor conservao dos gros.A moradia da Era Yayoi, permaneceu idntica moradia da Era Jomon, tendo apenas algumas alteraes na dispo-sio de alguns equipamentos e fun-es no interior da habitao. Como, por exemplo, a fogueira que passou a localizar-se na regio oposta entrada, prximo aos alimentos. A parte central da casa era de terra batida, local onde a famlia ficava reunida e fazia as refei-es; nas laterais revestiam o piso com palha ou esteiras e era utilizado quase que exclusivamente para dormir.

    Na Era Kofun (300 ~ 590), as vilas que foram formadas na Era Yayoi, consoli-daram-se formando cidades. Essa nova conformao deu incio s guerras pela dominao das cidades mais fracas pe-las mais fortes. Surgiram diversos tipos de moradias nessa era , porm a mais comum continuava a ser aquele par-cialmente enterrado da Era Yayoi. A alterao mais significativa da organi-zao do espao interno das habitaes ocorreu em meados do perodo Kofun, com a criao do fogo de barro. O fo-go ficava disposto no lado oposto

    entrada, enterrado no cho, com um

    Armazm para guarda dos grosfonte: Japanese home and lifestyles

    Novo arranjo interno da habitao na Era Yayoifonte: Japanese home and lifestyles

  • 13

    Localizao em planta e corte do fogo de barrofonte: Japanese home and lifestyles

    tnel que conectava o fundo do fogo ao exterior, cuja funo era eliminar a fumaa. Sobre o fogo ficava constan-temente um jarro com gua e sobre ele um utenslio para cozinhar o arroz va-por. Ainda no haviam armrios arma-zenar os mantimentos, por isso eram organizados em potes, que ficavam to-dos prximos ao fogo. As construes de piso elevado utili-zadas apenas como armazns na Era Yayoi, passaram a ser construdas com a finalidade de servir como moradia

    na Era Kofun. Nesse perodo comea a evidenciar a questo da hierarquia social na construo da habitao, a re-sidncia de piso elevado era destinada apenas aos lderes locais ou a pessoas que tinham algum prestgio dentro da comunidade. Na Era Asuka (590 ~ 710), uma das ci-dades tornou-se mais poderoso na re-gio de Kinki, rea centro-sul do Japo, a cidade de Yamato. Os lderes dessa cidade eram de origem coreana e pas-saram a introduzir e divulgar uma nova cultura aos japoneses, muito influen-ciada pelas culturas chinesa e coreana. Introduziram um sistema de Governo centralizado e estabeleceram um cdi-go, o ritsuryo. Esse cdigo determinava que todas as pessoas que vivam sob

    Modelo de habitao de piso elevado da Era Kofunfonte: Japanese home and lifestyles

    os domnios da cidade de Yamato de-veriam ser cadastradas num banco de dados do Governo e que todas as terras de Yamato passariam a ser proprieda-des do Estado. O Estado por sua vez fornecia os cam-pos de arroz para o cultivo de seus pr-prios alimentos e outros produtos que pudessem servir como troca, desde que fosse cumprida a condio de que fos-sem pagas taxas ao Estado em forma de trabalho e mercadorias. Foi nesse mes-mo perodo que o governador supremo de Yamato passou a ser chamado de imperador. E para solidificar esse novo

    sistema, foram criadas 2 novas capitais que, seguindo os modelos das capitais da China e da Coria, eram permanen-tes diferentemente dos perodos an-teriores que quando mudava o impera-dor, mudava-se tambm a capital -. As novas capitais chamavam-se Heijo e Heian, respectivamente, as atuais Nara e Kyoto.As moradias na Era Asuka fizeram a

    metamorfose das casas escavadas para as casas no nvel do solo, pas-saram a utilizar tcnicas construtivas como pilares, vigas, etc. Tendo sempre como matria prima a madeira. A tc-nica desenvolvida permitia que as mo-radias fossem construdas apenas com

  • 14

    pilares externos, deixando o interior livre. Ao mesmo tempo que houve essa evoluo na construo das habitaes na regio centro-sul do Japo, ela tam-bm ocorreu na regio de Kanto (nor-deste do Japo), que, mesmo sem ter contato com a regio ao sul, comeou a construir moradias ao nvel do solo. As casas, geralmente, mediam 2x3, ou 3x4 mdulos, que no caso era uma distncia fixa entre os pilares, cuja me-dida variava de acordo com a regio. A organizao interna da moradia na Era Asuka ainda no est comprovada, mas acredita-se que a casa era dividida em dois ambientes, um com piso de terra batida (doma) e outro com o piso for-rado com cascas de arroz ou palha e depois coberto com esteiras (doza). O fogo e os potes destinados ao arma-zenamento dos alimentos ficavam no

    doma, onde o piso era de terra batida.Com a fixao das capitais, sua popula-o cresceu rapidamente. Alm dos ser-viais do imperador e dos aristocratas, pessoas pertencentes a outras classes tambm passaram a se fixar nas capi-tais, principalmente os artesos e os comerciantes.As moradias das pessoas menos abas-tadas na capital Heian, na Era Heian (794~1192), eram divididas interna-

    mente ao meio. Uma parte tinha o piso de terra batida, essa metade ser-via como passagem que atravessava a residncia, conectando a rua frontal e a posterior. Prximo porta dianteira ficava o estoque das mercadorias que

    o comerciante vendia (caso fosse um comerciante), prximo porta traseira ficava o fogo, junto com os utenslios

    da cozinha e mantimentos. A outra metade da casa, prximo rua frontal, tinha uma rea com o piso elevado de assoalho de madeira, onde funcionava a loja, que era apenas uma janela com uma prateleira para mostrar os produ-tos; a parte posterior, onde o piso era revestido com esteiras de palha, era o espao correspondente sala e quarto do comerciante e sua famlia.Outro detalhe relevante desse sistema construtivo era o telhado, cuja inclina-o possua duas angulaes diferen-tes, para que as extremidades da casa ficassem com p-direito mais alto.

    Na Era Kamakura (1192~1333) um samurai Minamoto Yoritomo deps a aristocracia e tomou o poder. Esse novo lder supremo passou a ser chamado Shogun e seu governo, Shogunato. Yoritomo decidiu tranferir a capital de Kyoto para Kamakura, uma vila locali-zada na atual provncia de Kanagawa.

    Modelo de moradia dos pequenos comerciantes e artesos na capi-tal, na Era Heianfonte: Japanese home and lifestyles

    Representao ilustrativa do construo do telhado.fonte: Japanese home and lifestyles

  • 15

    Apesar da transferncia da capital, Kyo-to permaneceu como um plo de refe-rncia econmico-cultural, os samurais de Kamakura logo adotaram um novo estilo de vida, que era uma mistura do estilo shinden - praticado pela aristo-cracia de Kyoto -, misturado ao estilo zen oriundo da China. Esse estilo era marcado por espaos destinados re-cepo e entretenimento das visitas, como uma sala para a realizao da cerimnia do ch, ornamentada com pinturas, escritos, obras de arte, sempre com vista para um belo jardim, etc.A Era Muromachi (1333~1573) foi marcada por muitas revoltas, uma de-las ocorreu contra o prprio Shogun, quando dois de seus mais importantes vassalos rebelaram-se contra ele e to-maram o poder. Dois sub-perodos seguiram-se aps a Era Muromachi, um foi o perodo Nanboku-co (1336-1392), quando duas linhagens impe-riais comearam a brigar por legitimi-dade e poder. O outro foi o perodo Sengoku (1456~1573), quando os sa-murais da zona rural, denominados daimyo (senhores feudais), comearam a brigar uns com os outros e tambm contra o shogunato de Muromachi, pela posse do poder poltico. Esse per-odo conturbado chegou ao fim quando

    Oda Nobunaga derrotou o shogunato de Muromachi e tomou o controle do pas, dando incio ao perodo Momoya-ma (1573~1603).A arquitetura nesse perodo de Ka-makura Momoyama no tiveram grandes alteraes, as residncias ru-rais de um fazendeiro influente possua

    em mdia trs ambientes e, cada am-biente possua um tipo de revestimento de piso que o diferenciava dos demais: a maior poro da casa era composta pelo doma (rea de cozinha e servios emgeral), cujo piso era de terra batida; um dos quartos localizados prximo ao doma, com piso de terra batida re-vestido com esteiras de palha, onde os membros da famlia conviviam e inte-ragiam entre si; o terceiro ambiente era o nando, dormitrio, com piso revesti-do com assoalho de madeira, ficava lo-cado, geralmente, na parte posterior da residncia. Alm da funo de quarto de dormir, o nando servia tambm como despensa para guardar utenslios domsticos. As residncias urbanas dos pequenos comerciantes na era Kamakura eram construdas geminadas umas s outras, alinhadas em fileiras faceando duas

    ruas, a frontal (onde localizava-se a loja) e a posterior (onde ficava um p-

    Exemplo de residncia rural de grande porte na era Kamakurafonte: Japanese home and lifestyles

    Exemplo de residncia urbana ne era Kamakurafonte: Japanese home and lifestyles

  • 16

    tio comunitrio). A organizao interna desse tipo de residncia consistia em duas partes, uma metade era um cor-redor de terra batida que atravessava a casa da entrada frontal posterior, a outra metade era de piso elevado re-vestido com assoalho de madeira. No corredor, na rea prximo porta voltada para o ptio comunitrio, fica-va localizada a cozinha. No ptio comunitrio que ficava nas

    costas das casas, havia um poo e um espao para lavar roupas. A parte de assoalho de madeira sub-dividia-se em dois ambientes, a rea frontal que servia como loja, e a rea posterior que era a moradia propriamente dita, muito semelhante s residncias urbanas de Kyoto. Quando os produtos vendidos na loja desses pequenos comerciantes eram baratos, havia apenas uma prateleira de exposio na frente da casa, porm, quando os produtos eram mais valio-sos, eram expostos dentro da residn-cia, nesses casos, o espao destinado moradia se tornava ainda mais reduzi-do no perodo diurno.O crescimento da zona urbana da, at ento, capital Kamakura trouxe aos poucos novos tipos de comrcio para a cidade, como por exemplo as casas

    de banho. Nessa poca, em Kamakura, as pessoas ainda no tinham o hbito de banhar-se diariamente, alm dis-so, o banho era considerado um tipo de tratamento para pessoas enfermas. Nas antigas capitais, Kyoto e Nara, as pessoas j estavam mais acostumadas em frequentar as casas de banho, at as pessoas mais humildes iam banhar-se com frequncia. Na era Muromachi (1333~1573) co-meou a surgir um novo estilo de re-sidncia de usufruto exclusivo dos sa-murais, denominado estilo Shoin. Sua principal caracterstica foi determinar usos especficos para cada ambiente da

    casa, dando destaque s salas de visitas, que era ornada mais formalmente, com elementos decorativos no tokonoma. Com essa setorizao mais definida, fi-cou evidente que, naquela poca, a vida social possua mais importncia que a vida ntima familiar. Na organizao dos ambientes internos, haviam mais quartos para recepcionar visitas do que quartos de dormir. O principal cmo-do da casa chamava-se kokonoma (o prefixo koko vem de uma das leituras

    possveis para o nmero 9 em japo-ns), possua esse nome, pois o cmo-do media 3x3 mdulos, esse cmodo era utilizado para recepcionar pessoas

    importantes. Haviam outros cmodos como o kaisho, que servia para entreter amigos mais prximos ou parentes, era comum haver mais de um kaisho numa casa. Outro ambiente caracterstico das residncias dos samurais, de influncia

    dos templos zen budistas, o zashiki, esse cmodo teve sua funo muito alterada com o passar dos tempos, mas originalmente serviam para exposio e admirao de artigos, como livros, pinturas budistas ou com outros temas, instrumentos de escrita, utenslios para o ch, importados da China. Na era Edo (1603~1867) a capital transferida para Edo, a atual Tquio e o imperador perde seu poder administra-tivo e torna-se apenas representativo. Nesse perodo tambm todas as reas da arte - artes plsticas, arquitetura, teatro, dana, msica, literatura - no Japo ganham mais destaque. A socie-dade passou a ser dividida em classes: a nobreza, os samurais, os agricultores, os artesos e os comerciantes. O Sho-gun controlava em muitos aspectos a vida das pessoas, como por exemplo, determinava como deveria ser a arqui-tetura da residncia, ou do comrcio do comerciante dependendo da classe social a qual a pessoa se encontrava. Era determinado onde morar, como

  • 17

    construir, que materiais utilizar, etc. Por exemplo, no comrcio no era per-mitido que uma loja ostentasse mais que outra, era determinado que elas fossem construdas de forma simples, sem muitos ornamentos e com facha-das padronizadas.Mesmo na zona rural essa hierarquia residencial era seguida. As famlias mais abastadas construam suas casas, geralmente, no estilo shoin (o mesmo estilo utilizado pelos samurais de alta patente), com o zashiki, alcovas deco-rativas (tokonoma), etc. As residncias do estilo shoin so as que, atualmente, so denominadas residncia tradicio-nal japonesa, alm de serem conside-radas produtos do estilo de vida da era Edo.Atualmente ainda no existem dados suficientes que descrevam como ocor-reu a evoluo das residncias da zona rural at a era Edo, nem qual era o m-todo construtivo empregado, nem qual era a disposio interna dos ambientes. Cogita-se que a organizao dos am-bientes seguiam o estilo hiroma: com um quarto principal e amplo (hiroma) na rea frontal, o zashiki (sala de visi-tas) e nando (quarto) aos fundos.Os registros mostram que na era Edo as residncias na zona rural passaram por

    Modelo de residncia no estilo Shoinfonte: Japanese home and lifestyles

    Tokonomafonte: arquivo pessoal

    Zashikifonte: arquivo pessoal

    vrios momentos: Sugoya (casa de planta retan-gular): haviam algumas pequenas dife-renas nesse modelo de residncia nas diversas regies do Japo, mas a planta da casa de um fazendeiro comum, basi-camente, era composta por 3 ambien-tes (hiroma, zashiki e nando). Em regi-es como Kinai, algumas casa tinham mais um ambiente, para abrigar um maior nmero de visitantes, mas sem-pre mantendo o formato retangular da planta. Podemos observar, ao contar a quantidade de tatames, que o nando (dormitrio) um dos menores cmo-dos da casa, com 6 tatamis. importan-te notar que existe apenas um nando, o que significa que provavelmente a fa-mlia dormia toda junta nesse mesmo cmodo. Residncias com parede de

    palha: esse tipo de residncia era tpica de locais onde caa muita neve, pois a palha utilizada como revestimento da parede servia para reter o calor dentro da moradia e mantinha a neve e a chuva do lado de fora. Ao analisando a planta desse tipo de residncia, possvel no-tar o surgimento de ambientes que no tinham sido vistos at ento, como o banheiro e o estbulo que esto repre-sentados anexos casa, provavelmente

  • 18

    Residncia estilo sugoyafonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia com parede de palhafonte: Japanese home and lifestyles

    por conta do frio extremo. H ainda a apario de outro ambiente ao lado do nando (dormitrio) que o dei - um quarto de visitas, que servia tanto para recepcionar as pessoas, como abrigo para que as visitas pudessem pernoitar na casa. Comparando o nando e o dei, percebemod que o quarto de hspedes (o dei) possuia rea maior que o dor-mitrio destinado a famlia, reforando essa cultura de dar mais importncia ao social que famlia. Magari-ya (literalmente: casa

    que vira, faz a curva. Casa com planta em L): a planta desse modelo idntica sugoya, possui os mesmos ambientes com o acrscimo do estbulo integrado construo principal, o que levou adio de mais um ponto de entrada, pelo estbulo. Esse estilo de moradia era tpico da regio Norte do Japo. A magariya surgiu com a poltica dos feu-dos, pois cada daimyo (senhor feudal), assim como o shogun, ditava regras que determinavam como seus vassalos deviam morar e trabalhar. Uma des-sas regras era a anexao do estbulo prximo ao doma para que enquando algum estivesse l fazendo suas ativi-dades, pudesse, ao mesmo tempo ficar

    olhando os cavalos.

    Residncia estilo magari-yafonte: Japanese home and lifestyles

  • 19

    Planta no estilo chumon: esse

    estilo era mais comum na regio oeste do Japo e parece ter sido desenvolvi-do para facilitar a entrada e sada dos moradores em regies onde caia muita neve. A planta semelhante maga-riya, porm com formato em U. Haviam variaes desse estilo, com o acrscimo de mais um cmodo na parte posterior, ou de outros estbu-los. Ao analisar a planta desse modelo percebe-se duas entradas distintas que podemos classificar como entrada so-cial e de servio, pois diferentemen-te do que havia sido feito at ento, a primeira apario de uma entrada dire-ta por um cmodo mais nobre da casa, e no pelo doma, como era costume at ento. Estilo Gassho : o nome desse

    estilo foi dado devido ao formato do telhado, que parecem duas mos jus-tapostas, como quando rezamos. Esse tipo de habitao tambm era mais comum em regies de muita neve. As duas caractersticas mais marcantes nesse modelo era o formato do telha-do que permitia a criao do bicho-da--seda em seu sto e a entrada social, feita diretamente por uma das salas. Estilo Honmune: a principal

    caracterstica desse estilo a inclinao

    Residncia estilo Chumonfonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia estilo Gasshofonte: Japanese home and lifestyles

    suave do telhado revestido com telhas, essas por sua vez, eram seguras por pe-dras. Como no estilo gassho , tambm possui uma entrada pela fachada prin-cipal e uma pela cozinha. Como esse modelo de residncia era apenas desti-nado aos lderes das vilas, possua dife-rentes zashikis (salas para recepcionar visitas), cada um deles era utilizado de acordo com o status do visitante. Estilo Tsuma-iri: apesar de te-rem existido algumas variaes desse estilo (quantidade de cmodos), a prin-cipal caracterstica era que uma metade da casa era ocupada pelo doma (cozi-nha + rea de servio), com piso de ter-ra batida e na outra metade eram dis-tribudos os demais cmodos de piso elevado de assoalho ou revestido com tatame. Estilo Takabei: a caractersti-ca que deu nome ao estilo foi a altura da parede externa que, por ser refora-da com gesso, atingia altura maior qur uma parede comum. Internamente, a principal caracterstica desse estilo era a setorizao: ao adentrar a residncia pela entrada principal, todos os cmo-dos direita eram de uso ntimo, exclu-sivo da famlia, enquanto que os cmo-dos esquerda eram sociais, exclusivos para entreter e receber os convidados.

  • 20

    Residncia estilo honmunefonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia estilo tsuma-irifonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia estilo takabeifonte: Japanese home and lifestyles

    Esse estilo se destaca tambm pelo comprimento extenso da planta. Estilo Bunto : esse estilo era

    tpico da regio sul e sudeste do Japo. Nesse modelo, o doma era separado fisicamente do restante da residncia,

    havia um telhado que cobria o doma (cozinha + rea de servio) e um telha-do que cobria todo o restante. O desen-volvimento dessa tcnica ainda no muito clara, mas cogita-se que a prin-cipal razo era que a regio era muito atingida por tufes e, a fim de evitar

    que os possveis incndios provocados pela passagem deles, se espalhasse por toda residncia, mantinha-se o doma separado. Estilo Kudo: a primeira teoria

    sobre a criao desse estilo tpico da regio sul era de que, por conta dos tu-fes, desenvolveram esse telhado mais estreito, de oito ou mais guas, pois quanto menor a lagura, menor a incli-nao e menor a resistncia ao vento. Porm mais tarde descobriu-se que o verdadeiro motivo foi que inicialmente a planta da residncia era retangular, mas com o acrscimo de novs cmo-dos como o zashiki, formou-se um L, depois veio o doma, formando um U. O telhado acabou acompanhando e for-mato assumido, pois o daimyo (senhor

    Residncia estilo buntofonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia estilo kudofonte: Japanese home and lifestyles

  • 21

    feudal) da regio havia determinado que os telhados poderiam ter apenas distncia de 1 bay (mdulo que corres-ponde a uma certa distncia entre pila-res).Na capital Edo (atual Tquio), no ape-nas era determinado o estilo de resi-dncia era permitido construir devido sua hierarquia na sociedade, como tambm em que regio a pessoa de-veria morar. Geralmente em volta dos castelos ficavam as casas dos nobres e

    samurais de alta patente, depois delas ficavam as casas/lojas dos artesos,

    carpinteiros e outros comerciantes de prestgio. Mais distante do castelo fi-cavam os samurais de baixa patente e pequenos comerciantes/artesos.Os comerciantes e artesos ainda eram separados de acordo com o produto fabricado/vendido. Dessa setorizao surgiram os nomes de muitos bair-ros e distritos de Tquio: Daiku machi (distrito dos carpinteiros), Tatami ma-chi (distrito dos tecedores de tatame), Nabe machi (distrito dos arteso que faziam panelas), etc. Os comerciantes de mais prestgios geralmente vinham de outras cidades, como das antigas capitais e vendiam artigos especficos de sua provncia

    natal. Eles se auto nomeavam os for-

    necedores do shogunato. As suas lojas tinham a face voltada para a rua princi-pal e, na parte posterior ficavam as resi-dncias desses comerciantes. As lojas/casas na rua principal seguiam todas o mesmo estilo: o lote de frente estreita, mas era extenso no comprimento. E, se por ventura a frente do terreno era maior, era porque uma poro frontal era destinada a uma entrada direta para a residncia aos fundos. A distribuio interna dos cmodos no era uniforme, apenas um cmodo era tratado de for-ma comum na maioria das residncias, o zashiki. Ficava situado na rea pos-terior da casa e que, como servia para entreter as visitas, dava vista para um belo jardim. As lojas/casas de dois pavimentos (so-brados), surgiram quando os espaos destinados para construo nas cida-des tornaram-se escassos. A soluo encontrada foi empilhar a casa sobre a loja.Os pequenos comerciantes, as pessoas que trabalhavam fora de casa, como diaristas, carpinteiros, moravam nas travessas ou ruas paralelas rua prin-cipal. Suas moradias eram mais estrei-tas e assemelhavam-se aos cortios (uradana). Esse tipo de construo era chamado de nagaya (literalmente, casa

    Planta de residncia de grandes comerciantes na zona urbanafonte: Japanese home and lifestyles

  • 22

    comprida), pois as unidades eram en-fileiradas uma aps a outra, comparti-lhando o mesmo teto. Da mesma forma que as lojas na rua principal, a frente dessas casas, quando de comerciantes, era destinada loja durante o dia. O acesso para as unidades da nagaya era feito por um portozinho situado entre uma nagaya e outra que, atravs de um beco, conduzia a pessoa a um ptio co-munitrio que abrigava as entradas das unidades. Pelo meio desse ptio passa-va um duto que levava o esgoto - que na poca consistia de gua pluvial e gua usada para higienizao (pessoal ou de utenslios e roupas). No centro do ptio havia um poo, banheiros, li-xeiras, tudo comunitrio.Nas cidades existiam dois tipos de na-gaya: de uma fileira e de duas fileiras.

    No de duas fileiras as moradias alm

    de serem grudadas lateralmente, ainda grudavam poteriormente outra fileira.

    As paredes nesse tipo de nagaya eram to finas que era impossvel no sentir

    o cheiro da comida preparada na casa ao lado, ou no ouvir a conversa dos vizinhos. As unidades eram semelhantes s mo-radias na zona urbana na era Heian quanto s condies de uso, mas a planta era um pouco diferente: na par-

    te posterior ficava a cozinha cuja uma

    parte do piso era de terra batida e outra parte era de piso elevado de madeira. Essa parte elevada funcionava como um alapo para guarda de utenslos. A parte frontal era o cmodo que servia como quarto na hora de dormir, como sala de jantar na hora das refeies e como local de trabalho durante o dia.

    Vista do ptio comunitrio complementar nagayafonte: Japanese home and lifestyles

    Vista superior mostrando os dois tipos de nagayafonte: Japanese home and lifestyles

    Rplica de nagaya feita para gravao de um filmefonte: http://markystar.files.wordpress.com

    Corte esquemtico de nagayafonte: Japanese home and lifestyles

    planta de nagaya de uma fileirafonte: Japanese home and lifestyles

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    Os samurais de baixa patente mo-ravam na periferia, em unidades da nagaya, prximo dos pequenos comer-ciantes e artesos, porm suas unida-des eram um pouco mais amplas, pois eles tinham que ter um ambiente para receber seus superiores em alguma eventualidade. A moradia de um sa-murai de baixa patente era dividida em quatro ambientes principais: chanoma e zashiki (para receber visitas), doma e nando, possuia tambm duas entradas distintas, uma principal que pelo cha-noma e uma aos fundos pelo doma. Os samurais de mdia patente, mo-ravam em unidades mais amplas, loca-lizadas prximos regio onde viviam os grandes comerciantes, portanto em residncias semelhantes, com ambien-tes internos mais amplos, mais de uma zashiki, e quintal.J os samurais de elite, tinham suas residncias construdas no estilo shoin e ficavam localizadas bem

    prximas ao castelo.Ao final da era Edo, aproximadamente

    em 1853, chega ao Japo o Comodoro Matthew Calbraith Perry, dos Estados Unidos. Esse encontro representou o primeiro contato dos japoneses com a tecnologia da industrializao vapor e do armamento blico. Nesse perodo o Japo ainda feudal, diante desse qua-

    dro desfavorvel, teve que abrir seus portos. Outros pases, utilizando-se dessa mesma ttica, forou o shogun a abrir seus portos para eles tambm. Apesar da liberao do comrcio com pases estrangeiros, o shogun delimitou os portos de acesso: Edo, Osaka, Kobe, Niigata e Yokohama.Quando o shogun Tokugawa depos-to e o Imperador Meiji toma o poder, d-se inicioa era Meiji (1868~1912). Nesse perodo nega-se tudo a respeito da era Edo: o Japo agrcola, o Japo feudal. Logo com o fim do feudalismo,

    houve um grande xodo urbano, os habitantes de Edo comearam a voltar para as provncias de onde vieram.Visando a prosperidade, a moderni-zao do pas, a capital Edo passou a chamar-se Tquio. A nova capital, as casas e edifcios construdos de acordo com o modelo ocidental, comearam a atrair os jovens, logo o xodo ocorrido no fim do sistema feudal deu espao

    para um crescimento anual de trinta mil novos habitantes. Em meados da dcada de 1880, a populao de T-quio passava de um milho de habitan-tes, chegando a dois milhes no final da

    era Meiji. 6

    Um marco importante e simblico, foi a inaugurao da primeira linha de trem

    Residncia de samurai de baixa patentefonte: Japanese home and lifestyles

    Residncia de samurai de mdia patentefonte: Japanese home and lifestyles

    6. INABA, Kazuya. Japanese home and lifestyles: an illustrated jour-ney through history. Tokyo: Kodansha International, 2000.

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    que ligava Tquio Yokohama era utilizada principalmente pelos estran-geiros que iam trabalhar -, outro fato que marcou a capital, foi um incn-dio que devastou aproximadamente noventa e cinco hectares, na rea co-mercial de Nihonbashi. Esse incndio foi uma oportunidade para a imple-mentao de novos projetos urbanos. Haviam trs frentes de projetos: uma que defendia a construo de edifcios monumentais, como nas capitais euro-pias; outra proposta era voltada para interesses mercantilistas, defendendo a construo de um grande porto, vi-sando tornar a cidade em um centro comercial internacional; por fim havia

    um grupo que propunha um novo pla-no urbanstico que atendesse as neces-sidades de uma capital moderna.No final, cada uma das propostas fo-ram parcialmente aplicadas. No bairro de Guinza foram construdos edifcios de tijolo aparente influenciados pela

    arquitetura londrina, as ruas no entor-no desses edifcios foram pavimenta-das e foram construdas caladas. A proposta relacionada ao porto, apesar de ter tambm ter sido aprovada pelo governo, no foi logo aplicada, muitas de suas propostas se fizeram presente

    em projetos posteriores. Os mesmos

    comerciantes que propuseram o por-to, fizeram uma segunda proposta: um

    edifcio de escritrios no bairro de Ma-runouchi, ao lado do palcio imperial e foram atendidos. A proposta, a do plano urbanstico, de-morou doze anos para ser implantada, e apenas propunha repensar a circula-o e infra-estrutura, de modo funcio-nal, alm da construo de edifcios megalomanacos. Esse plano no dizia nada a respeito de habitao. Acabou sendo aplicado apenas no incio da era Taisho .7

    Quanto s residncias na era Meiji, pas-saram a ter a fachada e alguns cmodos construdos moda do ocidente, mas no dia-a-dia, as pessoas habitavam os cmodos que ainda permaneciam no estilo oriental. Os cmodos ocidental eram usados apenas quando recebia--se alguma visita, para recepcion-la e ostentar algum status.No final da era Meiji e incio da era

    Taisho , surgiu um novo modelo de casa, denominada nakaroka-shikiju-taku, basicamente uma casa cujos am-bientes eram ligados por um longo cor-redor central.As nagayas permaneceram pratica-mente as mesmas at meados de 1910, quando cmodos como banheiro fo-

    Residncia estilo nakaroka-fonte: Japanese home and lifestyles

    7. INABA, Kazuya. Japanese home and lifestyles: an illustrated jour-ney through history. Tokyo: Kodansha International, 2000.

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    ram anexados moradia, tornando-se privado para cada famlia. Outras mu-danas foram: a reduo de unidades sob um mesmo teto, as unidades pas-saram a ter gua encanada, esgoto e gs e as cozinhas migraram para a parte posterior da casa, mais cmodos foram acrescidos nas unidades, fazendo com que muitas virassem sobrados e no mais trreas.Na era Taisho (1912~1926) o Japo estava passando por um perodo ex-pansionista. Quanto arquitetura, os japoneses estavam comeando a se acostumar com o modo ocidental de viver, acostumaram-se a utilizar me-sas e cadeiras nos escritrios, escolas, hospitais; a usar o gs, gua encanada, eletricidade; acostumaram-se tambm s roupas e aos alimentos. Por volta de 1920, com o movimento moderno internacional, os novos arquitetos ja-poneses comearam a demonstrar sua insatisfao por esse tipo de constru-o hbrida, que misturava ambientes orientais e ocidentais. Ento comea-ram a desenvolver um tipo de residn-cia mais voltado para famlia, mais es-pecificamente para a rotina da famlia e

    tambm, tomou-se conscincia da ne-cessidade da privacidade dos membros da famlia, as crianas passaram a dor-

    mir em quartos separados do dos pais. Os primeiros experimentos dessa nova proposta de morar foram feitas em resi-dncias para os prprios arquitetos, ou para pessoas da classe alta, que podiam pagar por essa nova experincia. No ano de 1923, ocorreu um grande terremoto na regio de Kanto (plancie situada a leste do Japo, na qual est inserida a capital Tquio) que atingir magnitude de 7,8 a 8,3 na escala Ri-chter, deixando mais de 140 mil mor-tos e destruindo mais de 570 mil lares.8 Uma construtora chamada Dojunkai comeou a construir nas reas devasta-das de Tquio, prdios de apartamen-tos feitos de concreto reforado (mais resistente a abalos sismicos e incndio) para abrigar os refugiados que per-deram suas casas no terremoto ou no incndio que se seguiu depois e durou cerca de 2 dias at ser controlado. Mais tarde esse modelo de moradia foi adotado principalmente por fbricas e empresas que comearam a constru--los para oferecer moradia com aluguel mais barato que o do mercado (danchi) e tambm pelo governo aps a II Guer-ra Mundial.Na era Showa (1926~1989), em 1945, aps o final da II Guerra Mundial, o

    Japo estava devastado, 160 cidades

    Uenoshita Apartments, nico remanescente da srie de edif-cios construdos pela construtora Dojunkai.fonte: http://en.wikipedia.org. visitada em junho/2012

    8. http://www.metro.tokyo.jp. visitado em junho/2012

  • 269. INABA, Kazuya. Japanese home and lifestyles: an illustrated jour-ney through history. Tokyo: Kodansha International, 2000.

    tinham mais de 50% de seu territrio destrudo, mais de 2,1milhes de casas foram arrasadas pelo fogo, mais de 550 mil moradias foram destrudas para impedir que o fogo se alastrasse9. Para contornar o problema, desde 1941 estavam sendo construdas moradias de 21m para abrigar famlias inteiras (danchi ou mansion), ou ento, co-mearam a usar casas existentes, para abrigar por volta de trs famlias ao mesmo tempo. Essas solues serviam apenas para que a populao tivesse onde dormir, pois as condies eram inumanas. Algumas pessoas se recu-savam a morar nesses lugares e saam pelas ruas procurando por materiais nos destroos, que poderiam ser usa-dos para construir barracos. Toda essa situao fez com que algumas pesso-as comeassem a refletir sobre alguns

    assuntos a cerca da moradia de antes da guerra, como por exemplo: como poderiam ser aproveitados de forma mais econmicas os materiais de cons-truo?, como fazer para aproveitar melhor o espao mnimo?. Comeou--se a refletir tambm, se as casas de

    antes da II Guerra Mundial no tinham sido construdas visando apenas o es-pao social, se no tinha se dado mui-ta importncia para o entretenimento

    alheio, ao invs de garantir o conforto dos prprios moradores. Em novembro de 1945, uma agncia do governo responsvel pela reconstruo de habitaes nas cidades devastadas comeou a construir novas residn-cias para a populao, mas por causa da falta de matria-prima, no podiam ser construdas habitaes com mais de 40m. E as casas para alugar fornecidas pelo governo, no passavam de 22m, aos poucos essa metragem foi aumen-tando para 30m e 40m. Esse tipo de restrio durou at 1950, quando a cri-se comeou a passar.Os arquitetos ficaram animados com

    o desafio que se levantava diante de-les: pensar a arquitetura considerando o uso de pr-fabricados, produo em massa para reduo de custos, mora-dias de no mximo 20m, garantir a privacidade dos moradores. Nos anos de 1950, depois do perodo de restri-es, os arquitetos experimentaram e exploraram diversos tipos de materiais e arranjo interno.Os ambientes internos passaram a fo-car a famlia. Os ambientes de mais destaque passaram a ser a sala de jantar e a sala de estar, onde a famlia ficava

    toda reunida e tambm poderiam ser usadas para receber visitas. O dormit-

    Danchi ou mansion construda na era Showa em Aizuwakamatsu, Fukushimafonte: http://en.wikipedia.org. visitada em junho/2012

    Exemplo de habitao priorizando o indivduo e sua privacidade - pavimento trreofonte: Japanese home and lifestyles

    Exemplo de habitao priorizando o indivduo e sua privacidade - primeiro pavimentofonte: Japanese home and lifestyles

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    rio dos pais e das crianas passaram a ser separados e, a fim de garantir mais

    privacidade, a separao dos quartos passou a ser feita com paredes macias e foram colocadas portas com fechadu-ra. E a cozinha, passou a receber mais iluminao natural. Aps o perodo de recesso do ps--guerra, aproximadamente partir de 1955, comearam a ser construdos edifcios de apartamento que visava, principalmente, os trabalhadores e suas famlias, por isso muitos foram construdos perto de centros empre-sariais/comerciais, para facilitar a vida dos trabalhadores. O pavimento trreo desses novos modelos de edifcios de apartamentos era ocupado, geralmen-te, por algum tipo de comrcio ou servi-os, a fim de conseguir diante o Gover-no a permisso para construir acima do coeficiente de aproveitamento mximo

    determinado.Um novo modelo de residncia deno-minado mansion passou a ser constru-do, por volta de 1960. Nessa poca, eram consideradas habitaes de alto padro nos centros urbanos. Leis ur-banas de 1962 e 1963 foram respon-sveis pela ploriferao desse tipo de moradia nas zonas urbanas. A primeira lei permitia a diviso na posse do im-

    vel, gerando os condomnios; a segun-da lei, de 1963, permitiu o aumento na altura e na rea construda dos imveis. Na verdade, eram, em ltima instn-cia, e desde os seus primrdios, simples edifcios de apartamentos de grande altura, de ocupao muito densa, ofe-recendo condies de vida sem nenhu-ma riqueza espacial em particular.10. Esses apartamentos trouxeram uma nova organizao interna do espao, uma combinao entre a sala de jantar e a cozinha, geralmente abreviados DK (dining-kitchen).Com essa abertura na legislao e a boa aceitao pelos habitantes das man-sions, os arquitetos comearam a expe-rimentar novos modelos. Um exemplo bem conhecido dessa poca, desenvol-vido pelo arquiteto Kisho Kurokawa, o Nakagin Capsule Tower. Nessa obra o arquiteto projetou unidades habita-cionais que continham o que era con-siderado essencial em uma residncia, cama, banheiro e cozinha, em peas pr-fabricadas de aproximadamente 2,5m x 4,0m. Cada unidade em for-ma de capsula encaixam-se uma nas outras, de forma que se alguma delas necessitasse de reparo poderia ser fa-cilmente substituda. Essa obra refletia

    bem o pensamento dos arquitetos me-

    Exemplo de habitao priorizando o indivduo e sua privacidade - primeiro pavimentofonte: Japanese home and lifestyles

    Nakagin Capsule Tower, arquiteto Kisho Kurokawafontes: http://en.wikipedia.org - http://www.architonic.com

    10. Tramontano, Marcelo. Novos modos de vida, novos espaos de morar. Paris, So Paulo, Tokyo. Uma reflexo sobre a habitao con-tempornea. So Carlos, 1998.

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    tabolistas que buscavam pensar uma arquitetura que solucionasse os pro-blemas urbansticos pelos quais o pas estava enfrentando.Uma das heranas deixadas pelos ar-quitetos do movimento metabolismo foram as solues pensadas para dri-blar os fenmenos naturais que cons-tantemente atacam o pas. Graas a esses primeiros pensamentos que atualmente diversas solues para amenizar os efeitos do terremoto, por exemplo esto sendo desenvolvidas.Resumidamente pode-se dizer que aps a II Guerra Mundial o Japo pas-sou por vrias fases de poltica habi-tacional. Do fim da guerra at 1970,

    a preocupao do Governo era sanar o dficit habitacional, provendo uma

    unidade habitacional para cada fam-la. Depois dessa fase quantitativa, o planejamento focou na qualidade, au-mentando as reas mnimas a serem obedecidas por lei. partir de 2001, a principal preocupao passou a ser as questes voltadas segurana e qua-lidade ambiental. Como sistemas de preveno e combate a incndio e ter-remotos e sustentabilidade do edifcio, economia energtica, conforto am-biental e acessibilidade universal. Atu-almente a preocupao continua sendo

    as mesmas de 2001, com o acrscimo de adequar as habitaes para o novo perfil da populao japonesa (aumento

    do nmero de idosos e de pessoas que moram sozinhas). Segundo o professor Marcelo Tramon-tano, alguns pases esto passando pelo chamado efeito doughnut, ou seja, o esvaziamento das reas centrais e o adensamento das reas perifricas, que est associado a movimentao dos jovens para a rea central, para morar nos one-room mansion (equivalente s nossas quitenetes). Esses aparta-mentos tambm so chamados 1DK, que corresponde a um nico cmodo, contendo: cozinha, quarto, sanitrio e banheiro. Conheci uma intercambista japone-sa, com quem tive a oportunidade de perguntar como era a vida dela no Ja-po. O nome dela Ayaka Nakamura (28 anos), um caso que exemplifica o

    efeito doughnut anteriormente citado. Descobri que ela mora em uma one--room mansion, sozinha em Osaka. Como muitas pessoas que vivem nes-se tipo de habitao trabalhadores que deixam suas famlias no interior e vo trabalhar/morar na cidade, jovens trabalhadores, estudantes -, Ayaka mu-dou-se de Nagoya para Osaka, depois

  • 29

    de ter entrado na faculdade. O apar-tamento dela tem aproximadamente 18m, apesar da pouca rea, Ayaka no sente necessidade de ter mais espao. Ela disse que no tem o costume de acumular muitos pertences e tambm no tem muitos mveis, estes so facil-mente enumerados: um sof, um hack, um armrio e uma mesa baixa com pernas retrteis (utilizada para fazer as refeies ou para estudar) e uma caixa (estilo ba). Na hora de dormir, ela es-tende o futon sobre o cho e, pela ma-nh o dobra e guarda no armrio, tran-formando o quarto numa sala de estar. Nota-se que em alguns tipos de habi-tao, esse costume de dar diferentes usos para o ambiente dependendo do perodo do dia permanece at os dias atuais. Existem ainda no Japo as casas de arquitetura vernacular. J as resi-dncias de arquitetura vernacular aca-bam no tendo mais essa mobilidade funcional, pois os ambientes so sepa-rados por paredes macias e os mveis so fixos e no retrteis.Os arquite-tos japoneses contemporneos como os do escritrio SANAA, Sou Fujimoto, Atelier Bow Wow, Junya Ishigami e ou-tros que esto em destaque na arquite-tura contempornea, demonstram ter quase que as mesmas preocupaes ao

    fazerem um projeto para o Japo, seja de uma residncia, de um edifcio p-blico, ou de qualquer outra natureza. A primeira a questo da iluminao natural, em qualquer obra, o modo como eles lidam com as aberturas notvel, principalmente em obras re-sidenciais. H obras do arquiteto Sou Fujimoto, ou Ryue Nishizawa, da Ka-zuyo Sejima que as paredes externas da residncia so quase todas de vidro, ou possuem grandes aberturas, mes-mo em ambientes mais ntimos como quarto e banheiros, que do vista para a rua, ou para a janela do vizinho. Em uma palestra realizada na FAU USP, no ano de 2009, um dos arquitetos funda-dores do Atelier Bow Wow, Yoshiharu Tsukamoto, mostrou uma foto de uma de suas obras, House & Atelier Bow Wow, na qual a parede de vidro da sala de estar estava a poucos metros da parede cheia de janelas do vizinho. Uma aluna da FAU o questionou sobre a legislao e sobre privacidade, Tsuka-moto riu e disse que no tinha proble-ma, que como no Japo a luz no to abundante como no Brasil, eles podiam fazer aberturas mesmo estando to prximo divisa do terreno, quanto privacidade, ele repondeu que os japo-neses no ficavam espionando a vida

    Planta do apartamento 1DK no qual a Ayaka mora em Osaka, dese-nhado por ela na entrevistafonte: arquivo pessoal

    Exemplo de arquitetura vernacularfonte: arquivo pessoal

    Exemplo de arquitetura vernacularfonte: http://g1.globo.com

  • 30

    dos outros, ento que tambm no tinha problema! Brincadeiras parte, como vimos na histria da evoluo das residncias no Japo, at poucos anos atrs, a privacidade entre mem-bros de uma mesma famlia era inexis-tente, j que dormiam todos no mesmo quarto, quanto a privacidade morador/

    Garden & House - Ryue Nishizawafonte: Iwan Baan

    pedestre, geralmente existem cortinas que cobrem, mesmo que sejam pare-des inteiras de vidro, deixando a crit-rio do morador quando expor ou no sua casa.Outra questo recorrente a relao interpessoal, a criao de espaos que incentivem a convivncia e o conta-

    to entre as pessoas, como ocorre nos estudos de caso que analisarei mais a frente, Static Quarry e Moriyama Hou-se. Semelhante a essa questo, temos a relao entre o indivduo e a cidade, geralmente resolvem essa questo com as aberturas, que conectam o indivduo com o exterior visualmente.

    House & Atelier Bow Wowfonte: Bow Wow

    NA House - Sou Fujimotofonte: Archdaily

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    2. estudos de caso

    2.1 static Quarry - ikimono architects

    2.1.1 arQuiteto takashi fujino

    1975 Nasceu em Gunma, Japo1998 Graduou-se em arquitetura na Uni-

    versidade de Tohoku

    2000 Completou o mestrado pela Universi-dade de Tohoku

    2000 Trabalhou na Corporao Shimizu11

    2001 Trabalhou no Haryu Wood Studio2006 Fundou o escritrio Ikimono Archi-

    tects2009 Fundou o escritrio Ikubyobako12

    2012 Professor na Universidade de Tohoku2012 Professor no Instituto de Tecnologia

    de Maebashi

    2.1.2 ficha tcnica static

    Quarry

    Arquiteto: Takashi Fujino / Ikimono Ar-chitectsLocal: Gunma, JapoProjeto: 2009~2010Construo: 2010~2011Estrutura: Concreto rea do terreno: 624.56 mrea construda: 329.92 mrea total: 554.23 mUso: ApartamentoTelhado: ConcretoExterior: Concreto

    11. Corporao fundada em 1804, na era Edo e ainda ativa nos dias atuais. Presta servi-os de arquitetura, engenharia, design, construo, manuteno, etc.12. Escritrio de design de objetos.

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    2.1.3 obra static Quarry

    Como j foi comentado anteriormen-te, o perfil da populao japonesa

    est mudando, o nmero de pessoas morando sozinha cada vez maior. Mesmo vivendo sozinhas, as pessoas relacionam-se entre si no convivvio na cidade. Caminhando nessa mesma linha, a principal inteno do arquite-to foi fazer do edifcio uma pequena cidade, tentando recriar e incentivar as relaes interpessoais existentes na ci-dade. Ao primeiro olhar, o edifco apa-renta ser um bloco de concreto escava-do, mas analisando mais de perto esse

    edifcio de 8 unidades entede-se como o arquiteto pensou o projeto. Olhando o prdio de fora, percebemos aberturas no piso trreo e no primeiro pavimento que tornam o edifcio permevel e no uma barreira visual. As aberturas no pavimento trreo so espaos de esta-cionamento, existem um para cada uni-dade. Mas esse espao no foi pensado para ter apenas essa funo, foi pensa-do para ser um ambiente multifuncio-nal, pode ser uma extenso da sala de estar, ou uma sala de jantar externa, ou apenas um depsito aberto, ou um es-tacionamento. O formato do edifcio retangular, com um buraco no meio. Nesse espao cen-tral foi feito um jardim estilo zen, para contemplao, com janelas de todas as unidades voltadas para ele. Ao colocar

    o jardim na parte central, Fujino criou uma sensao de distncia entre as uni-dades opostas umas as outras.Cada uma das unidades possuem terra-o. Esses terraos em nveis diferentes criam uma dinmica entre os morado-res, pois ao mesmo tempo que cada um est no seu terrao, possvel se comu-nicar com o vizinho que est no terrao dele sem dificuldade.

    Um detalhe interessante nesse projeto que o arquiteto, que possui um escri-trio de design de mveis, pensou num sistema de aproveitamento da gua da chuva tambm para fins estticos.

    A gua da chuva que recolhida nos terraos cai por um cano de PVC for-mando uma pequena cachoeira que cai sobre as pedras do jardim zen (elemen-tos tpicos desse tipo de jardim), dando vida ao jardim.

    Entrando e saindo pelas cavidades e vos , realmente espero que eles curtam a presena uns dos outros como um fenmeno natural. E, atravs dos vos nas paredes de concreto, eu desejo que sua presena se funda com o entrono. (Fujino Takahashi)

  • 33Jardim zenfonte:Ikimono Kenchiku

    Terraofonte:Ikimono Kenchiku

  • 34

    2.1.4 partidos identificados

    Ambientes multifuncionais: da mes-ma forma que nas casas tradicionais japonesas, ao deslizar (abrir) o shoji possvel integrar e ampliar ambientes, fazendo com que alguns cmodos te-nham uma funo durante o dia e ou-tra durante a noite. Na Static Quarry, o arquiteto optou por adotar esses vos que, alm da permeabilidade visual atravs do edifcio, permitem ao mora-dor ocupar esse espao de forma livre, seja como garagem, como sala de estar, sala de jantar, etc.

    No possui muitas paredes dividin-do os espaos: como foi visto ante-riormente, as residncias japonesas no utilizavam paredes para subdividir o espao interno, usavam os painis (shoji ou fusuma), as paredes passaram a ser um elemento comum na arquite-tura residencial aps a dcada de 1920. Na Static Quarry manteve-se esta ca-racterstica, sendo as nicas paredes internas so as do banheiro e cozinha.

  • 35

    Luz: na arquitetura tradicional japo-nesa, o uso do shoji (translcido), ou do fusuma (opaco), tinham tambm a funo esttica de brincar com a luz, produzindo variadas sombras. Esta ca-racterstica, como escreveu uma vez o escritor Junichiro Tanizaki, respon-svel pela originalidade do espao : a beleza de um quarto japons depende da variao de sombras, sombras pesa-das contra sombras leves.

    Ausncia de mobilirio: segundo o filsofo Lao Tse, a verdadeira beleza

    de um ambiente est no espao deli-mitado pelo teto e a parede , ou seja, o ambiente deveria ter meramente uma sugesto de cor ou textura, para que a imaginao de cada pessoa (morador ou visitante), sugerisse o restante da imagem de acordo com seu humor no momento. Neste raciocnio, explica-se porque , no espao oriental o mobili-rio menos valorizado, e, tradicional-mente, confere-se grande importncia a o vazio.

    fonte:Ikimono Kenchiku

    fonte:Ikimono Kenchiku

  • 36

    Uso do terrao: nessa obra o ar-quiteto trabalha com dois terra-os para cada unidade: um sobre o primeiro pavimento e o outro sobre o segundo pavimento. Ao mesmo tempo que o terrao mais baixo oferece certa priva-cidade ao morador, possvel se comunicar com algum que esti-ver no terrao mais alto.

    Jardim central: Todas as unida-des possuem janelas voltadas para o jardim, para que ele seja admirado como se fosse uma pintura. importante notar que as aberturas esto desalinhadas umas s outras, conferindo um carter mais privativo unidade.

    fonte:Ikimono Kenchiku

    fonte:Ikimono Kenchiku

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    2.2 moriyama house - escritrio de ryue nishizawa

    2.2.1 arQuiteto ryue nishizawa

    1966 Nasceu em Tquio, Japo1990 Graduou-se pela Universidade Nacio-

    nal de Yokohama, com mestrado em Arquitetura

    1995 Fundou SANAA em parceria com Ka-zuyo Sejima

    1997 Fundou o Escritrio de Ryue Nishiza-wa

    2000 Foi professor convidado em Harvard GSD, Cambridge, EUA

    2001 Professor associado na Universidade Nacional de Yokohama, Japo

    Ryue Nishizawa, iniciou ainda como estagirio trabalhando no escritrio de Toyo Ito, arquiteto que admirava mui-to. Nessa poca, Toyo Ito j era famoso, em seu escritrio trabalhavam apro-ximadamente 30 funcionrios. Aps conhecer a arquiteta Kazuyo Sejima - que, como ex-funcionria de Ito ainda mantinha boas relaes com o arquite-to - foi trabalhar com ela. Como o escri-trio de Sejima ainda estava no incio e contava apenas com mais 1 funcion-rio, Nishizawa achou que conseguiria aprender mais pois teria mais oportu-nidade de discutir sobre o projeto com o arquiteto responsvel, coisa que, num escritrio degrande porte como o de Ito, tornou-se raro.Aps se formar em 1990, continuou trabalhando como arquiteto no escri-trio de Sejima. Ao ganharem juntos o primeiro prmio no concurso para o Museu de Arte Contempornea de Sid-ney, foram convidados para participar de outros concursos internacionais. A partir da decidiram criar o SANAA (Se-jima and Nishizawa and Associates) em 1995, para participarem de concur-sos internacionais ou para realizarem

    grandes projetos nacionais. Em 1997, Ryue Nishizawa fundou o seu prprio escritrio. Apesar de cada um ter seu escritrio, eles mantm uma boa relao no apenas nos pro-jetos que trabalham juntos sob o nome de SANAA, como tambm, constante-mente Sejima pede a opinio de Nishi-zawa em alguns projetos de seu escri-trio e Nishizawa tambm consulta Sejima sobre seus projetos.O mtodo de trabalho praticado por ele baseado em muitos desenhos, manuais e no computador e modelos fsicos. Na fase de estudo, ele discute com todos os arquitetos do escritrio e geram o maior nmero de possibili-dades para o projeto. A partir dos par-tidos so gerados desenhos e modelos fsicos, para que cada alternativa seja analisada de vrios ngulos diferentes. Uma caracterstica de seus projetos o interesse em estabelecer a relao en-tre o interior e o exterior da obra, em estabelecer a relao entre um espao e outro. Por isso procura usar materiais que no separam os ambientes, como o vidro e outros materiais translcidos, que do a sensao de no se saber se

  • 38

    est no interior ou exterior da obra, fa-zendo surgir uma continuidade entre o lado de fora e de dentro. Nishizawa afirma que: Transparncia significa

    criar relaes. No preciso ver atra-vs. Transparncia tambm significa

    claridade, no apenas visual, mas tam-bm conceitual.. (EL CROQUIS, 121 2004)A luz outro elemento muito impor-tante em suas obras, assim como o ven-to e outros elementos provenientes da natureza. Sua arquitetura busca conci-liar os elementos naturais e os artificiais

    no projeto. Apesar dos jardins e da luz serem elementos externos arquitetu-

    2.2.2 ficha tcnica mo-

    riyama house

    Arquiteto: Ryue Nishizawa / Office of

    Ryue NishizawaLocal: Tquio, JapoConstruo: 2005Estrutura: Concreto e aorea do terreno: 290.00 mrea construda: 130.109 mrea total: 263.00 mUso: ApartamentoTelhado: ConcretoExterior: ConcretoProprietrio: Yasuo Moriyama

    ra, so considerados parte dela.Nishizawa costuma dizer que os edi-fcios possuem uma certa hierarquia espacial, ele explica essa hierarquia assim: um espao geralmente torna-se escuro conforme adentramos um edi-fcio, fazendo-se pensar em quais am-bientes a luz natural se v mais neces-sria, hierarquizando assim os espaos. Para que no haja essa hierarquizao em suas obras, Nishizawa procura fazer com que a luz natural penetre at nos fundos do edifcio. Fazendo com que a luz seja distribuda por toda a plan-ta, faz com que a hierarquia no mais exista.

    fonte: Amassing Designfonte: Amassing Design

  • 39

    2.2.3 obra moriyama house

    O proprietrio, sr. Moriyama pediu ao arquiteto Ryue Nishizawa que pro-jetasse um edifcio com unidades de habitao, as quais ele poderia estar alugando, mas que futuramente pode-ria estar usufruindo todas ou algumas delas. O local do projeto foium bairro residencial consolidado de Tquio. A organizao das quadras de casas trreas, casas com 3 pavimen-tos e edifcios baixos de apartamentos (mansion) posicionados prximos uns aos outros. Se Ryue Nishizawa fosse seguir essa conformao do bairro, construindo um volume nico, resultaria num blo-co enorme que acabaria destoando das residncias ao seu redor. Sendo assim, Nishizawa optou por espalhar o pro-grama pelo lote para trabalhar com uni-

    dades de dimenses mais semelhante malha urbana do bairro.Essa proposta de fragmentar o pro-grama acabou gerando blocos de uni-dades independentes, com estruturas independentes, dimenses e formato variados. Nishizawa projetou no total 10 unidades com programas diferen-tes: existem unidades completas (com cozinha, banheiro, quarto, sala), unida-des que so apenas quartos, unidades que so apenas casa de banho, uni-dades que so apenas cozinha, outras apenas sala de jantar, etc. Ao criar essas unidades incompletas, o arquiteto faz com que o morador tenha que se des-locar de uma unidade a outra, sentin-do calor quando est sol, sentindo frio quando est frio, se molhando quando est chovendo. Esse foi o modo que

    Nishizawa encontrou para que as pes-soas sassem das estufas climatizadas e interagissem com o exterior.Um outro tipo de interao foi a cria-o dos jardins e vielas de uso coleti-vo. A disposio das unidades no lote criaram pequenos jardins e vielas, que podem ser usados e cuidados por qual-quer um dos moradores. A ideia por trs da criao dos jardins foi a de re-criar espaos de convivncia tpicos de Tquio, para reforar que a vida de um indivduo no ocorre sozinha em um quarto, ela vai alm, se expande em di-reo dos jardins e vielas. Atualmente o sr. Moriyama vive em uma das unidades, a maior de todas e que comporta o programa de neces-sidades completo de uma residncia. Todas as outras unidades com quarto ele aluga e as unidades com banheiro, cozinha, so de uso coletivo.

    fonte: Amassing Design

  • 40

    2.2.4 partidos identificados

    Possui ambientes multifuncionais: Especificamente, nesse projeto, essa unidade uma sala de es-tra que o arquiteto Ryue Nishizawa deixou para que fosse usa-do de acordo com a vontade do proprietrio, o sr. Moriyama, podendo se tornar uma unidade particular (sala durante o dia e quarto durante a noite), ou uma unidade comum a todos os inquilinos (como um ponto de encontro)

    fonte: amassing design

    Apresenta unidades de banheiro externo: Aqui o arquiteto tem inteno de provocar a percepo dos moradores para a rela-o interior/exterior. Dentro das unidades projetadas, usufruin-do do ar condicionado, o morador no tem muita noo de como est o clima do lado de fora, portanto a necessidade de sair para frequentar o banheiro faz com que o usurio possa entrar em contato com o exterior.

    fonte: dwell

  • 41

    Possui ambientes coletivos: na era Edo, por exemplo, nas zonas urbanas, nos bairros onde mo-ravam os pequenos comercian-tes e artesos, havia um ptio comunitrio compartilhado por vrios moradores. Eles dividiam o poo, os banheiros e, onde eles interagiam uns com os outros. Na Moriyama House, Ryue Nishiza-wa cria vrios espaos entre as unidades, onde os moradores in-teragem entre si, evocando uma prtica comum nas residncias tradicionais japonesas.

    No usa paredes para dividir os ambientes: nas casas tradicionais, os ambientes eram divididos por sho-ji ( elemento translcido), ou fusuma (elemento opaco), que so divisrias deslizantes empregadas para conferir flexibilidade e alternativas de uso para

    os espaos projetados. Nessa foto, o recurso usado pelo arquiteto so as es-tantes mveis que dividem o ambiente, e acabam desempenhando papel se-melhante ao das divisrias.

  • 42

    Viso do exterior como um qua-dro: normalmente as salas de ch nas casas tradicionais abriam-se para a melhor vista do jardim, como se enquanto as pessoas estavam apre-ciando o ch, pudessem tambm desfrutar de uma paisagem bonita, como se fosse um quadro. Do mes-mo modo, essas grandes janelas es-palhadas por todas as unidades, vol-tadas tambm para o jardim interno, remetem s tradicionais salas de ch.

    Uso do terrao: essa prtica de usar o terrao como opo de espa-o de lazer no um costume da arquitetura tradicional japonesa. uma prtica mais contempornea, geralmente em edifcios de hospi-tais, escolas e aos poucos est se tornando comum nas residncias.

  • 43

    3. projeto

    3.1 pblico alvo

    Segundo os dados do IBGE, o nmero de pessoas por famlia em So Paulo vem diminuindo desde 1981, cuja m-dia era de 4,3 pessoas por famlia. No Censo realizado em 2010 esse nme-ro passou para 3,15 pessoas por fam-lia na zona urbana. Um dos principais motivos dessa reduo no nmero de pessoas por famlia est diretamente relacionada com a queda de fecundida-de. E por trs da queda da fecundida-de, encontra-se uma mulher que rein-vindica, entre outras coisas, um lugar no mercado de trabalho, a liberdade de ter relaes sexuais dissociadas da obrigatoriedade catlica de procriao, o direito de escolher quando ter ou no ter filhos, o direito de separar-se

    do parceiro ou parceira sem ser por isso, estigmatizada pela sociedade.12

    Alm dessa reduo no nmero de pes-soas por famlia, v-se tambm uma mudana na organizao familiar con-tempornea brasileira. Desde 1945, ao final da II Guerra Mundial, o modelo de

    cultura e costumes norte-americano tornou-se referncia para muitos pa-ses. A produo cinematogrfica de

    Hollywood ajudou no apenas a di-vulgar, como tambm a ditar o modo de viver norte-americano, incluindo o modelo de famlia norte-americana: a famlia nuclear (composta por pai, me e filhos). Essa conformao familiar foi

    adotada, principalmente, pelos pases industrializados, como o Brasil. Se-gundo dados do IBGE (ano 2000), esse modelo de famlia nuclear permanece sendo o mais comum no Brasil, porm novos arranjos familiares cotempor-

    12. Tramontano, Marcelo. Habitaes, metrpolis e modos de vida: por uma reflexo sobre a habitao contempornea.

    13. casais que no podem ter filhos.

  • 44

    neos esto surgindo.Na pesquisa do professor doutor Mar-celo Claudio Tramontano, esses grupos contemporneos so classificados da

    seguinte forma: famlias monoparen-tais, casais DINKs Double Income No Kids13 -, unies livres incluindo casais homossexuais -, grupos coabitando sem laos conjugais ou de parentesco entre seus membros, e uma famlia nu-clear renovada, ainda dominante nas estatsticas, mas com um enfraqueci-mento da autoridade dos pais em bene-fcio de uma maior autonomia de cada um de seus membros.14

    Analisando essa pesquisa do Tramon-tano, optei por adotar alguns grupos desse arranjo familiar contemporneo como pblico alvo para a minha pro-posta, so eles: casais DINKs, unies livres, grupos que coabitam sem pos-

    14. Tramontano, Marcelo. Habitaes, metrpolis e modos de vida: por uma reflexo sobre a habitao contempornea.

    15. por fcil acesso estou considerando que hajam transportes pbli-cos que atendam a essas regies, sem considerar o transporte parti-cular, que no prioridade no projeto.16. parmetro no-oficial, adotado pelo escritrio dos arquitetos Cndido Malta Campos Filho e Luiz Carlos Costa (Urbe Planjamento, Programao e Projetos). Atualmente parece no haver nenhuma norma nem lei que determine uma distncia mxima confortvel para percorrer p.

    suir laos conjugais ou parentais, como estudantes que formam repblica, e pessoas que moram sozinhos. Esses grupos de pessoas so mais livres, pre-dispostas a adaptar-se mais facilmente a diferentes situaes. Situaes estas, que eu poderia vir a propor no meu pro-jeto, a comear pela habitao mnima. Uma famlia de quatro pessoas (pais e 2 filhos), por exemplo, se pudesse esco-lher, optaria por viver em uma casa de grande porte, onde cada um pode ter sua privacidade e onde caiba todos os pertences que acumularam, onde no se esbarre em algum a cada dois pas-sos dados. Mas um casal sem filhos, al-gum que mora sozinho, talvez no se importasse em morar numa habitao de pequeno porte. Comecei a pensar assim depois que me inseri nesse novo arranjo de famlia contempornea.

  • 45

    3.2 localizao

    A defi nio do pblico alvo foi decisivo

    para escolher o local de implantao do projeto. Considerando que estou propondo atender, de um modo geral, trabalhadores e estudantes, procurei uma regio que fosse bem servida de transportes pblicos e, que fosse pr-ximo e de fcil acesso a instituies de ensino superior e centros fi nanceiros.

    Sendo assim, optei por procurar um terreno na Zona Oeste que abriga o campus USP (Universidade se So Pau-lo) da capital, atendida pelo metr da linha 4 - amarela, que est interligada com outras linhas de trem e metr, de fcil acesso15 Av. Brigadeiro Faria Lima, Av. Paulista e Av. Engenhei-ro Lus Carlos Berrini (principais plos empresariais de So Paulo).Para restringir a minha rea de busca por um terreno, elenquei alguns crit-rios: primeiramente, considerei incenti-

    var o uso do transporte pblico em de-trimento ao particular, o melhor tipo de transporte para esse fi m so os trans-

    portes de massa, sobre trilho e, dentre eles o metr o mais rpido. Portanto, adotando o metr Butant, linha 4 - amarela, como ponto de referncia, de-fi ni que o lote deveria estar localizado

    dentro de um raio de 800m de distn-cia16 do metr butant, considerando essa a distncia mxima confortvel para se andar a p.Com esses dois critrios foi possvel delimitar um permetro de busca por possveis lotes. Quanto aos lotes, o primeiro critrio utilizado foi identifi car os que estives-

    sem vazios, sem uso, estacionamentos, ou lotes venda. identifi quei 10 lotes

    - entre estacionamentos e lotes vazios - dentro do permetro de 800m de dis-tncia da estao de metr Butant. O

    prximo passo foi verifi car se o cami-

    nho percorrido p at a estao de metr, atendia ao limite de 800m. Os que ultrapassaram esse limite foram eliminados, restaram 4 lotes. Os critrios fi nais para decidir qual lote

    seria o mais adequado foram alguns critrios de comodidade e segurana, como por exemplo, estar prximo a comrcios de primeiras necessidades (farmcia, mercado, padaria, etc.) e que a variedade do comrcio e servios existentes que trouxessem movimen-tao de pessoas em vrios perodos do dia, dando mais segurana aos morado-res. Depois de analisados esses timos critrios, o lote que mais se adequou foi um prximo ao encontro da Avenida Corifeu Marques, com a Avenida Vital Brasil.

  • 46

    O terreno est situado a uma caminha-da de 10 minutos da estao de metr Butant, nesse percurso h o Instituto Butant, mercados, farmcias, padaria, restaurantes, postos de gasolina, uma unidade da Faculdade So Judas, bares, agencias bancrias, comrcios diversos, etc. O acesso ao lote de transporte par-ticular dificultado. Apesar de estar si-tuado na Avenida Corifeu Marques, s possvel chegar de carro pela pista no sentido bairro centro. Caso esteja vindo pelo sentido contrrio, bairro-centro, o retorno mais prximo fica a uns 800m.

    Essa dificuldade, na minha opinio in-centiva o uso do transporte pblico, o que era um parmetro de projeto visa-

    3.3 terreno

    do desde o incio. A rea do lote de aproximadamente 737,50m. Segun-do a Legislao de Uso e Ocupao do solo, o terreno est situado numa ZER (zona exclusivamente residencial), com coeficiente de aproveitamento 1,0 e ga-barito mximo de 10m. O uso permiti-do : R1 (uma unidade habitacional por lote), R2h (conjunto de duas ou mais unidades habitacionais, agrupadas horizontalmente e/ou superpostas, e todas com entrada independente com frente para via oficial de acesso ou em

    condomnio - casas geminadas, casas superpostas, vilas, e conjunto residen-cial vila).17

    Como foi citado acima, nesse local no

    pode ser construdo edifcios de aparta-mento, por isso optei por projetar uma vila. Para determinar quantas unidades seriam projetadas, fiz um clculo esti-mado, subdividindo o terreno em lotes de 100m para cada unidade. Descon-tando o recuo frontal - que segundo a lei n 11.605 de 12 de julho de 1994, determina que apenas o recuo frontal ( partir do logradouro principal) deve ser respeitado, os demais recuos esto dispensados - de 5m, cheguei ao nme-ro de 6 unidades residenciais. A legisla-o exige que haja, pelo menos 1 vaga de estacionamento para cada unidade habitacional de at 200m.

    fonte: Google Earth

  • 47

    3.4 projeto

    3.4.1 partido

    3.4.2 implantao

    Implantao - opo 1fonte: arquivo pessoal

    Implantao - opo 2fonte: arquivo pessoal

    Implantao - opo 3fonte: arquivo pessoal

    Depois de escolhido o terreno e defi-nido que o projeto seria de habitao multifamiliar horizontal, conformando uma vila, o prximo passo foi, elencar quais partidos dos estudos de caso se-riam considerados no projeto e propor alguns outros:- criao de espaos de convivncia en-tre os moradores;- cultivo de pomar e horta como instru-mentos de interao entre os morado-res;- uso do terrao como espao de lazer particular de cada unidade;- integrao entre interior e exterior das unidades;- evitar segmentao dos espaos inter-nos com paredes;- criao de programas diferentes para cada unidade;- criar meios de interao entre mora-dores de uma mesma unidade.

    Depois de estimado o nmero de uni-dades, comecei a fazer alguns estudos para determinar qual seria o melhor local para posicionar o estacionamen-to, de modo que proporcionasse mais espao interno.Devo ressaltar que nessa fase de estu-do, acabei desconsiderando o recuo frontal obrigatrio.Desenvolvi 3 opes de estudo. A pri-meira simula como seria se cada unida-de tivesse sua prpria garagem. Como vemos na imagem, mesmo sem consi-derar o recuo frontal e a via interna no estar atendendo a exigncia mnima de 6 m, perde-se muito espao com as vias de circulao e, por conta disso, a implantao das unidades fica presa.

    Lembrando que quando fazemos via interna de veculos, exige-se via de pe-destre!Na segunda opo, posicionei o es-tacionamento no fundo do terreno. Como no primeiro estudo, a via interna (que tambm no est atendendo s normas) ocupa muito espao, restrin-gindo a rea de implantao das unida-des. Se tivesse aplicado o recuo frontal nesse estudo, conseguiria locar apenas 3 unidades habitacionais. Talvez, se fosse permitido a construo de condo-

  • 48

    mnios verticalizados, essa soluo no fosse to ruim, poderia at ganhar um trreo livre para lazer.Na terceira opo, posiciono o estacio-namento na rea frontal do terreno, podendo aproveitar o espao do recuo frontal de 5m. Essa opo a mais vi-vel nesse caso, pois no h perda com vias internas de automveis, as unida-des podem ser posicionadas de forma mais livre no terreno e, cada uma pode ter um formato diferente.Ficou definido ento, que a melhor po-sio para o estacionamento na par-te frontal do lote, ocupando a faixa de recuo obrigatrio, deixando o resto do terreno livre para implantar as 6 unida-des habitacionais sugeridas.Enquanto fazia os estudos do estacio-namento, percebi que defronte ao ter-reno h uma faixa de pedestres. E logo determinei que o porto para pedestres deveria ficar posicionado na direo

    do meio da faixa. Primeiro por uma questo lgica e prtica, pois por exem-plo, se um morador est saindo da vila para ir na farmcia que fica do outro

    lado da Avenida Corifeu, muito mais simples se ele sair pelo porto e seguir em linha reta at a faixa de pedestre e atravess-la. Segundo, para incentivar que as pessoas atravessem pela faixa

    de pedestre, pois muitas se recusam a dar 5 passos a mais para atravessar em segurana.O fato mais interessante foi que ao ligar uma linha perpendicular fachada do terreno, passando pelo ponto mdio da faixa de pedestre, divido a fachada em duas partes desiguais, porm na parte maior cabem 6 espaosas vagas de es-tacionamento. A posio do estaciona-mento aps a faixa de pedestres e, con-sequentemente, aps o semforo, faz com que o morador saia com seu carro com mais segurana e sem atrapalhar o trnsito, ele s precisa esperar o sem-foro fechar para sair. Quanto a implantao das unidades no terreno, comecei pensando-as de forma bem simples e primitiva, um quadrado. Um quadrado de 5,00m x 5,00m que poderia unir-se com outro formando um retngulo de 10,00m x 5,00m. Dessa vez fiz uma maquete com

    bloquinhos para poder estudar melhor a relao espacial entre uma unidade e outra. Ao posicionar os blocos no ter-reno, cheguei concluso de que 6 era a quantidade ideal de unidades, pois assim conseguiria trabalhar com uni-dades de formatos diferentes e ainda manter uma distncia conveniente en-tre uma moradia e outra.

    Estudo de implantaofonte: arquivo pessoal

    Estudo de implantaofonte: arquivo pessoal

  • 49

    3.4.3 unidades

    A soluo construtiva ser steel frame, com placas cimentcias para as paredes externas e drywall para as internas. A laje ser de steel deck. O steel frame muito utilizado no Japo, as placas ci-mentcias so bastante resistente a aba-los sismicos e o preenchimento com l de vidro ou l de rocha garantem o iso-lamento acstico e trmico. A espessu-ra final da parede outra vantagem se

    comparada a uma parede de alvenaria e ainda suporta quase todos os tipos de revestimento. Outras vantagens no uso do steel frame ficam por conta da rapi-dez na montagem, da pouca produo de entulho ao final da obra, na facili-dade de manuteno, etc. Esse sistema construtivo ainda no muito utilizado no Brasil, com excesso do drywall, a existencia de fabricantes nacionais do produto, foi um fator decisivo para de-finir seu uso.

    Acompanhando essa soluo sustent-vel na construo, adotei o sistema de aquecimento solar vcuo, com boiler acoplado, tendo como apoio o aqueci-mento gs. Optei por usar esse siste-ma ( vcuo e acoplado) para economi-zar espao fsico e tambm porque no exige que a caixa dgua esteja a uma

    UBIRAJARA

    DIB

    ZOGAIB

    P

    N

    1 5 10 20

    A

    B

    CD

    E

    F

    certa altura do boiler, criando um efei-to esttico indesejado no design final

    das unidades. Ainda por esse motivo, recorrerei ao uso de pressurizador, pois na maioria dos casos a caixa dgua no atinge nem 2 mca. Instalei os coletores voltados para o norte, com inclinao de aproximadamente 3318. E a caixa dgua ficou num ambiente coberto e

    com ventilao permanente por causa do pressurizador.Gostaria de ressaltar que fiz uma breve

    pesquisa sobre as solues emprega-das para tornar o projeto verossmel, porm no entrarei no mrito de espe-cific-las e detalha-las, pois essa no a

    proposta principal do trabalho.Como um dos partidos criar unidades diferentes umas das outras, para ajudar a pensar no projeto de cada unidade, defini para cada uma o nmero de mo-radores:- Bloco A: 4 pessoas;- Bloco B: 2 pessoas;- Bloco C: 2 pessoas (casal);- Bloco D: 1 pessoal;- Bloco E: 2 pessoas;- Bloco F: 2 pessoas (casal).

    18. latitude+10, a latitude de So Paulo -23 32 51

    Localizao dos lotes

    desenho do sistema de aquecimento solar vcuo com boiler acopladofonte: aquakent

  • 50

    bloco a

    O bloco A possui aproximadamen-te 132m e est posicionado na parte frontal do lote. Para entrar na vila, pas-samos por sob a projeo do primeiro pavimento dessa unidade. Entra-se na casa passando pela sala de jantar. O que divide a sala de jantar da cozinha o balco do fogo. A pia est no lado oposto ao lado da rea de servios.No 1 pavimento est o dormitrio. Criei um quarto para cada pessoa, pois penso que s vezes um pouco de priva-cidade necessrio. Como elemento divisor utilizei o guarda-roupas e criei painis deslizantes para completar o fechamento do quarto. Como esse bloco foi projetado pensando em uma repblica, fiz o banheiro todo separado

    para que 3 pessoas possam us-lo ao mesmo tempo - enquanto uma pessoa toma banho, outra pode usar o banhei-ro e uma terceira pode escovar os den-tes.

    Localizao do bloco A

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

    1 PAVIMENTOESCALA 1:100

  • 51

    No segundo pavimento ficou a sala de

    estar e o terrao. Fiz a porta que divi-de um ambiente do outra o mais larga possvel para que quando aberta pare-a que h apenas um ambiente. Ao usar o mesmo material de revestimento de piso na sala e no terrao, ele se torna o principal elemento responsvel pela integrao.

    2 PAVIMENTOESCALA 1:100

    COBERTURAESCALA 1:100

    Na cobertura ficam os equipamentos

    do sistema de aquecimento solar, com os coletores voltados para o norte. A caixa dgua est em um lugar coberto e com ventilao constante por causa do pressurizador que no pode estar exposto s intempries. O acesso para esse pavimento feito por uma escada tipo marinheiro, pois ela bem discre-ta e ao longe ela se torna praticamente invisvel.

  • 52

    FACHADA LESTEESCALA 1:125

    FACHADA SULESCALA 1:125

    Nas janelas do primeiro e segundo pa-vimentos utilizei um sistema de paineis de venezianas com a principal funo de permitir a ventilao do ambien-te mesmo em dias chuvosos, sem que entre gua no ambientes internos. Fiz trilhos em toda a extenso da fachada para que os painis pudessem ser mo-vimentados livremente, criando uma dinmica, a fachada mudando durante todo o dia.

  • 53

    CORTE TRANSVERSALESCALA 1:125

    CORTE LONGITUDINALESCALA 1:125

    As escadas so de painis madeira, com estrutura de metal, para darem um ar de leveza e transparncia.

  • 54

    bloco b

    Este bloco tem aproximadamente 105m est posicionado na parte fron-tal do lote, com a fachada norte facean-do o muro do estacionamento. O n-gulo gerado entre a unidade e o muro lateral do terreno gerou um jardim par-ticular para essa unidade. Projetei esse jardim com elementos que remetessem ao paisagismo japons, como a pedra e o bambu. A porta de entrada est posi-cionada no centro da residncia, crian-do um hall, dele possvel ir para a sala, cozinha, ou subir a escada para os ou-tros pavimentos. Loquei no pavimento trreo o setor so-cial, sala de estar, jantar e cozinha. Na sala de estar tem uma grande porta de vidro que emoldura a vista para o jar-dim.

    Localizao do bloco B

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

  • 55

    No pavimento superior, esto os dor-mitrios e o terrao. Os dormitrios foram separados para dar mais privaci-dade aos moradores.

    1 PAVIMENTOESCALA 1:100

    COBERTURAESCALA 1:100

    Assim como no bloco A, os equipamen-tos de aquecimento solar so acessados atravs de uma escada tipo marinheiro.

  • 56

    FACHADA NORTEESCALA 1:125

    FACHADA LESTEESCALA 1:125

    FACHADA SULESCALA 1:125

  • 57

    FACHADA OESTEESCALA 1:125

    CORTE TRANSVERSALESCALA 1:125

    CORTE LONGITUDINALESCALA 1:125

    Sob a escada que sobe para o primeiro pavimen-to, aproveitei esse espao para fazer uma estante.

    Como o reservatrio de gua deve ficar

    em local coberto por causa do pressu-rizador, com ventilao permanente, criei paineis de venezianas. Repeti o uso desses paineis em vrias outras ocasies pela fachada em alguns locais especficos, com a principal funo de

    permitir ventilao em dias chuvosos, por exemplo.Na fachada oeste utilizei o painel para preencher o dente criado pela implan-tao dos coletores solares, para que a fachada ficasse mais contnua, sem tan-tas quebras.

  • 58

    bloco c

    Este bloco possui aproximadamente 80m e est posicionado na parte cen-tral do terreno. Por ser a menor tipolo-gia de unidade, acabei recorrendo a al-guns artifcios para ampliar o ambiente , como por exemplo a mesa de jantar que se desdobra para fora da cozinha, ampliando a sala de jantar. O dormitrio situado no primeiro pa-vimento pode ser totalmente fechado por um painel que corre por trs do guarda-roupas, direcionando a pessoa que estiver subindo, por exemplo, dire-tamente para o prximo pavimento

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

    1 PAVIMENTOESCALA 1:100

    Localizao do bloco B

    Detalhe da opo de ampliao da sala de jantarESCALA 1:100

  • 59

    O terrao todo fechado por painis que podem ser abertos, de forma que o prprio painel se torna o guarda-corpo.

    2 PAVIMENTOESCALA 1:100

    COBERTURAESCALA 1:100

    Esse prximo pavimento era para ser o terrao descoberto, mas foi necess-ria fazer uma cobertura para abrigar o sistema de aquecimento solar. Sendo assim, o terrao ganhou uma confor-mao diferenciada, uma espcia de ambiente hbrido: quando totalmente fechado, sala de estar, quando aberto, um terrao coberto. Nessa unidade, o acesso para o sistema de aquecimento solar feito por uma escada retrtil.

  • 60

    FACHADA NORTEESCALA 1:125

    FACHADA LESTEESCALA 1:125

    FACHADA SULESCALA 1:125

  • 61

    FACHADA OESTEESCALA 1:125

    CORTE AAESCALA 1:125

    CORTE BBESCALA 1:125

  • 62

    bloco d

    Essa unidade muito parecida com o bloco C, porm possui aproximada-mente 68m. No pavimento trreo te-mos 4 ambientes integrados: sala de estar, sala de jantar, cozinha e rea de servio. A mesa de jantar est posicio-nada na rea central e, com um siste-ma de rotao, com o eixo no pilar, de modo que dependendo da sua posio pode ter uma funo diferente. O dormitrio e o banheiro esto locali-zados no mezanino. Para que no obs-trua a viso, o armrio foi posicionado no limite do pavimento, com a altura de um guarda-corpo, pois alm de ser armrio, recebeu as funes de guarda--corpo. Caso o morador esteja receben-do visitas, ele tem a opo de fechar o quarto com um painel.

    Localizao do bloco D

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

    PAVIMENTO MEZANINOESCALA 1:100

  • 63

    Como ocorreu no bloco C, pela loca-o semelhante do sistema de aque-cimento solar, o terrao ficou coberto,

    envolto pelo painel que, ao ser aberto se transforma no guarda corpo. O aces-so para a laje dos equipamentos feita por escada retrtil, com o alapo dan-do para o reservatrio.

    2 PAVIMENTOESCALA 1:100

    COBERTURAESCALA 1:100

    FACHADA NORTEESCALA 1:125

  • 64

    FACHADA SULESCALA 1:125

    FACHADA OESTEESCALA 1:125

    CORTE AAESCALA 1:125

    CORTE AAESCALA 1:125

  • 65

    bloco e

    Essa unidade possui aproximadamen-te 93m. Seu principal partido o uso do desnvel como delimitador do am-biente. Fui distribuindo os ambientes em patamares com diferena de altu-ra de 90cm, organizando-os partindo dos ambientes de carter social, como sala de estar, sala de jantar, at chegar em ambientes de carter mais privado, como os dormitrios. O fato de no possuir muitas paredes dividindo os ambientes faz com que haja permeabi-lidade visual mesmo dentro da unida-de, de modo que um morador perceba a presena do outro mesmo que eles no estejam no mesmo ambiente.

    Localizao do bloco E

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

    2 PAVIMENTOESCALA 1:100

  • 66

    Localizao do bloco E

    PAVIMENTO TRREOESCALA 1:100

    2 PAVIMENTOESCALA 1:100

  • 67

    FACHADA NORTEESCALA 1:125

    FACHADA SULESCALA 1:125

    CORTE AAESCALA 1:125

    Nessa unidade, o mtodo de distribui-o dos painis de veneziana foi um pouco diferente, por causa dos meios nveis, em alguns casos um mesmo painel serve a duas janelas. Cosiderei essa opo possvel, pois no apenas essa unidade, mas todas as unidades possuem os ambientes bem integra-dos, ento mesmo que poucas janelas que estejam abertas, ainda mais se for em parede