o movimento das águas

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Livro supervisionado por Beate Frank, editado e redigido por Guarim Ligerato Júnior, redigido por Lourdes Sedlacek com design e fotos de Renato Rizzaro

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Page 1: O Movimento das águas
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O movimento das águas

Page 6: O Movimento das águas

COMITÊ DE GERENCIAMENTO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ (CBH-ITAJAÍ)FUNDAÇÃO AGÊNCIA DE ÁGUA DO VALE DO ITAJAÍ (FAAVI)

Maria Izabel Pinheiro Sandri

PRES I D ENTE

Jacir Pamplona

V I C E -PRES I D ENTE

Beate Frank

SECRETÁR IA EXECUT I VA

Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala T-210CEP 89012-900 – Blumenau – SC

Fone: (47) 3321-0547 – Fax (47) 3321-0629www.comiteitajai.org.br

[email protected]

F ICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA B IBL IOTECA CENTRAL DA FURB

M935m O movimento das águas: a construção de uma política sustentávelde proteção da água na bacia do Itajaí / Beate Frank, supervisão;Guarim Liberato Junior, Lourdes Sedlacek, redação e edição. - Blumenau:Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí: FURB, 2008.108 p. : il.Projeto Piava.Bibliografia: p. 106-107.

1. Água – Conservação – Itajaí-Açu, Rio, Vale (SC).2. Educação ambiental – Santa Catarina. I. Frank, Beate.II. Liberato Junior, Guarim. III. Sedlacek, Lourdes.

CDD: 304.2

Page 7: O Movimento das águas

Beate Frank

SUPERV I SÃO

Guarim Liberato Junior

REDAÇÃO E ED IÇÃO

Lourdes Sedlacek

R EDAÇÃO

Renato Rizzaro

DES I GN

O movimento das águasA construção de uma política sustentável de proteção

da água na bacia do Itajaí

Page 8: O Movimento das águas
Page 9: O Movimento das águas

C A P Í T U L O 1

Águas turbulentasAs enchentes e seus ensinamentos

O P OVO DAS ÁGUAS R E S I S T E ÀS T U R B U L Ê N C I A S

A VO C A Ç ÃO I N D U S T R I A L DA C O L Ô N I A A L EMÃ

A T U R B U L Ê N C I A DAS ÁGUAS D E I X A S E U R A S T R O

E N C H E N T E D E S P E R TA E S P Í R I TO D E S O L I D A R I E D A D E

A B U S C A P O R S O LU ÇÕ E S E O U SO P O L Í T I C O DAS E N C H E N T E S

A S / A CON T R A E N C H E N T E S

B A R R AG E N S S ÃO C O N S T R U Í D A S PA R A C ON T E R AS ÁGUAS

A S G R AN D E S C H E I A S D E 1 9 8 3 E 1 9 8 4

ÁGUAS E N C ON T R AM NOVAS C ON F L U Ê N C I A S

A G E S T ÃO I N T E G R A DA E PA R T I C I PAT I VA DA B A C I A DO I TA J A Í

C A P Í T U L O 2

O caminho das águasA bacia hidrográfica do Itajaí

B AC I A H I D R O G R Á F I C A DO I TA J A Í

A S S U B - B A C I A S DO I TA J A Í

A S NA S C E N T E S DO I TA J A Í

UMA B A C I A C OM UM M I L H ÃO D E H A B I TA N T E S

D I V I S Ã O A DM I N I S T R AT I VA

A B AC I A C OMO UN I D A D E D E G E S T ÃO

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Page 10: O Movimento das águas

C A P Í T U L O 3

O movimento das águasA construção de uma política sustentável de proteção da água

MA I S P R OT E Ç ÃO PA R A A ÁGUA

P R O J E TO P I A VA E N VO LV E U D I V E R S O S G R U P O S S O C I A I S

A P I A VA , S Í M B O LO D E R E S I S T Ê N C I A P E L A P R OT E Ç ÃO DA ÁGUA

O S P E Q U E NO S R I O S E S T Ã O MA I S V E R D E S

V I V E I R O S P R O D U Z EM MUDAS D E E S P É C I E S NAT I VA S

MO B I L I Z A Ç Ã O S O C I A L E E D U C A Ç ÃO F O R TA L E C EM A A Ç ÃO EM R E D E

I NOVA Ç ÃO NA G E S T ÃO AMB I E N TA L É E S T I M U L A D A

O C AM I N H O DAS ÁGUAS É C A DA V E Z MA I S C O N H E C I D O

UM NO VO PA C TO P E L A ÁGUA

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Page 11: O Movimento das águas

C A P Í T U L O 4

A magia das águasUm novo espírito de solidariedade que contagia a todos

QU E VO LT EM AS P I A VA S

UMA NOVA ‘ AU RO R A ’ PA R A O S R I O S

A S MU I TA S FA C E S D E UMA L I Ç Ã O

A S V E R D E S MAD E I X A S D E DONA EMMA

R E C U P E R A Ç ÃO DA I D E N T I D A D E V E R D E

LÁ OND E O R I O N E G R O E N C ON T R A O I TA J A Í

EN T R E Á R VO R E S , AV E S E C U R UM I N S

NO ME I O DO C AM I N H O T I N H A UMA P R O F E S S O R A E MU I TO S PA R C E I R O S

UMA FAM Í L I A EM D E F E S A DO ME I O AMB I E N T E

F A Ç A C H U VA OU FA Ç A SO L , T U DO E S T Á B EM C OMB I N A DO

BANANA S TAMB ÉM P R E C I S AM D E MATA C I L I A R

UM T I M E C AM P E ÃO

UM P O R TO DO S E TO DO S P O R UM

A NADADO R A DO R I O I TA J A Í

O C ÔN S U L DAS ÁGUAS

UM P O L Í T I C O EM D E F E S A DAS ÁGUAS

D I P LOMA C I A DAS ÁGUAS

Pessoas que se envolveram em ações do Projeto Piava

Equipe técnica e colaboradores

Bibliografia

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Page 12: O Movimento das águas

Este livro reúne informações, histórias e

imagens que oferecem uma visão geral do

Projeto Piava, uma iniciativa do Comitê do

Itajaí implementado com o apoio da

Universidade Regional de Blumenau (FURB)

e a participação de diversas instituições e

pessoas. O Projeto Piava integra o Programa

Petrobras Ambiental.

O livro resgata momentos históricos que

fazem parte da ‘cultura hídrica’ regional, mostra

as diversas dimensões da bacia hidrográfica do

rio Itajaí e apresenta os principais resultados

do Projeto Piava, a capilaridade de suas ações

e a magia contagiante que reuniu uma multidão;

ou “só pra inticá” com as piavas, um grande

“cardume” de pessoas na construção de uma

política sustentável de proteção da água no Vale

do Itajaí.

Muito mais do que divulgar a natureza, a

abrangência e os resultados do Projeto Piava,

este livro pretende dar visibilidade às pessoas

extraordinárias que dele participaram e foram

seus principais protagonistas. Pessoas que se

sensibilizaram com o apelo agonizante dos rios,

que foram contagiadas pela energia envolvente

das educadoras e educadores, ou dos

mobilizadores regionais e coordenadores dos

Grupos de Trabalho Municipal (GTMs).

Pessoas que também se transformaram em

“piavinhas” , como carinhosamente são

chamados os multiplicadores e mobilizadores

do Projeto Piava. Pessoas que se envolveram

nas atividades de educação ambiental, de

proteção de nascentes ou de recuperação de

matas ciliares. Que atuaram na promoção da

gestão ambiental municipal ou na construção

participativa do plano de recursos hídricos da

bacia do Itajaí.

Este livro reflete o resultado da participação

ativa de uma parcela da população do Vale do

Itajaí na construção de uma política sustentável

de proteção da água, permitindo assim que seja

concebido e implantado o gerenciamento

integrado e participativo da bacia hidrográfica.

É evidente que muitas outras pessoas,

grupos e ações mereceriam destaque

A P R E S E N T A Ç Ã O

Page 13: O Movimento das águas

semelhante, a quem pedimos desculpas pelas

limitações desta publicação. As histórias aqui

contadas são apenas uma pequena amostra da

capacidade de articulação da população do Vale

do Itajaí na promoção de ações conjuntas em

defesa do meio ambiente e das águas.

Para você que faz parte deste movimento

das águas, uma boa leitura. Se você ainda não

se envolveu com a turbulência das águas, mas se

vê diante de um caminho cheio de desafios, não

perca tempo: entre nesse movimento de cidadania

pelas águas e seja também uma “piavinha”, um

Beate Frank

COORDENADORA DO P RO J E TO P I AVA

Maria Izabel Pinheiro Sandri

P R E S I D E N T E D O C OM I T Ê DO I TA J A Í

cidadão das águas. Deixe-se contagiar pela

magia das águas e contribua com a proteção

desse recurso essencial para a vida. Só assim

seus filhos e netos terão água com qualidade e

em quantidade suficiente para saciar a sede e

satisfazer suas necessidades no futuro. As

soluções não vão aparecer como num passe

de mágica, mas você vai se encantar com a

energia de pessoas dispostas em fazer valer suas

opiniões e interesses, mas, acima de tudo, de

compartilhar de forma sustentável o mais

precioso dos elementos da natureza, a água.

Page 14: O Movimento das águas

ARQUIVO DO IPA/FURB

Page 15: O Movimento das águas

A água, por ser um dos elementos essenciais à vida, teve importânciaestratégica na organização das primeiras civilizações, situadas nas margensde grandes rios. Revestida por um vasto conteúdo simbólico, alimentoua geração de mitos e lendas em diversas culturas. Do mundo antigo esacralizado, desembocamos no mundo moderno, secularizado e pluralista,baseado na cientificidade e no tecnicismo, em que a água continua sendogeradora de mitos, crenças e doenças, fonte de alimento, energia eabastecimento, meio de transporte e diluição de efluentes, opção de lazere relaxamento, e ao mesmo tempo elemento causador de sérios conflitossócio-ambientais, devido à sua degradação e escassez.

C A P Í T U L O 1

Águas turbulentasA s e n c h e n t e s e s e u s e n s i n a m e n t o s

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A história do Vale do Itajaí também foiescrita com muitas águas. O território dabacia hidrográfica, ocupado inicialmentepor povos nativos, como os índiosguaranis ou xoclengues, foi disputado porimigrantes europeus que subiram o rioItajaí e ocuparam suas margens e osfundos de vale. Os rios foram oscaminhos naturais e a floresta, inicial-mente vista como obstáculo, foi fonte derecursos para o desenvolvimento. Asturbulências estavam apenas começando.

A cada ano as águas do rio Itajaí pareciammais agitadas, como que reagindo comfúria à exploração dos recursos naturaisde sua bacia hidrográfica. As enchentesmarcaram profundamente a culturaregional, e, além da tragédia e dosprejuízos, trouxeram ensinamentos quepodem nos indicar novas confluências,novos conceitos e paradigmas para secaminhar com mais segurança esustentabilidade por essas águas que serenovam a todo instante.

Page 16: O Movimento das águas

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Quando os primeiros imigrantes europeusvieram se fixar nas terras junto às margens do rioItajaí-açu, e a formar núcleos de colonização, apartir de 1850, algumass comunidades indígenasfaziam frente à ocupação. Estes índios pertenciamao povo xoclengue e logo passaram a ser chamadospelos imigrantes europeus de botocudos, por causade um botoque de madeira que usavam no lábioinferior. Os carijós, primitivos guaranis queocupavam o Litoral, já tinham sido praticamenteexterminados àquela época.

Os xoclengues formavam um povo único, comuma complexa estrutura social. Eles tinham culturae língua própria, assim como um território, que osdiferenciavam dos outros povos indígenas do Sul

O P O V O D A S Á G U A S R E S I S T E À S T U R B U L Ê N C I A S

do Brasil. Explicavam a geração do homem a partirda água, como se observa em alguns mitoscontados por anciões e resgatados por NanbláGakran, cientista social, lingüista e professorbilíngüe da comunidade indígena. Em um trechodo conto “A geração do homem”, contado peloavô de Nanblá, pode-se observar essa relação:

“E os Vãjeky (homens do povo xoclengue) saíramda água. Eles queriam sair e ficaram esperando do ladodebaixo da água. Enquanto isso, Plándjug (líder dopovo xoclengue) veio subindo, fazendo caminho. Equando terminou de fazer caminho, voltou para buscaros outros. Então vieram subindo com ele. Onde pisaramem terra firme, prepararam lugar e festejaram dançando”.

Page 17: O Movimento das águas

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Os xoclengues viviam da coleta, da pesca e dacaça. Confeccionavam armas e artesanato, emantinham uma relação de interdependência coma natureza. No passado distante sofreram acompetição de outros grupos indígenas, comoos kaingangues, pelo domínio dos campos ebosques de pinheiros do Planalto. Depois,descendo as encostas do Planalto rumo aos vales,viram suas terras serem gradativamente ocupadaspelos imigrantes europeus. As florestas do Valedo Itajaí foram seu último reduto.

A partir de 1850, essas terras passaram a serdisputadas também por imigrantes alemães eitalianos. O contato entre os xoclengues e os

imigrantes europeus foi traumático. Travou-seuma disputa sangrenta que quase provocou oextermínio dos índios. A pacificação e oaldeamento foi outra etapa de opressão do povoxoclengue, agravada pela exploração dosrecursos naturais e pela construção de umabarragem para controle de enchentes na área deentorno da reserva indígena. Atualmente osxoclengues lutam pela redemarcação de suasterras. O Vale do Itajaí ainda vive o clima detensão social, resultado de uma situação deconflito construída historicamente entre acomunidade indígena e a população não-indígena.

Acampamento dos índios xoklengues na barragem norte.FOTO S ÍLVIO COELHO DOS SANTOS, 1997

PÁGINA AO LADO

Índias se banhando

Page 18: O Movimento das águas

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Os rios foram os primeiros caminhos naturaispara a ocupação do ter ritório da baciahidrográfica do Itajaí. O primeiro posseiro dasmargens do Itajaí-açu foi João Dias de Arzão,que em 1765 recebeu da coroa portuguesa umasesmaria na região onde hoje está situada alocalidade de Pocinho, entre Gaspar e Ilhota.Nesta época, a região da foz do rio Itajaí já erahabitada. No entanto, a emancipação de Itajaísó ocorreu em 1860, quando foi instaurada aVilla do Santíssimo Sacramento do Itajaí.

A V O C A Ç Ã O I N D U S T R I A L D A C O L Ô N I A A L E M Ã

Ocupação do Vale do Itajaí se intensificou apósa formação da Colônia Blumenau, em 1850.ARQUIVO HISTÓRICO JOSÉ FERREIRA DA SILVA/FUND. CULTURAL DE BLUMENAU

O processo de colonização que influenciou demodo determinante a conformação cultural esócio-econômica da região se iniciou em 1850,com a instalação de uma colônia pelo químicoalemão Hermann Bruno Otto Blumenau, nasmargens do rio Itajaí-açu.

Vários núcleos de imigrantes alemães sesucederam após a chegada de Dr. Blumenau. Acolônia Príncipe D. Pedro, que tinha sede naatual cidade de Brusque, se formou a partir de1860; a colônia Hansa-Hammonia, cuja sedegerou o atual município de Ibirama, se formouem 1897; e Bela Alliança, hoje Rio do Sul, em1892. A partir de 1875 vieram os imigrantesitalianos e logo em seguida uma leva de

Page 19: O Movimento das águas

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imigrantes de toda a Europa subiu o rio Itajaí.Além de alemães e italianos também vierambelgas, russos, poloneses, ucranianos eaustríacos.

Desde sua origem, esses núcleos decolonização européia se caracterizaram pelapresença de camponeses e artesãos, que vieramna primeira onda de imigração; e de operários,comerciantes e industriais — na segunda ondade imigração — que já estavam contaminadospelo clima da Revolução Industrial. Os colonosrecebiam ou compravam lotes de terra de 25 a30 hectares, alinhados aos fundos de vale.

Esse modo de povoamento e a diversidade deofícios dos imigrantes europeus resultaramnuma economia diversificada e permitiram aconstituição de comunidades relativamente

igualitárias, do ponto de vista econômico, esolidárias frente às dificuldades.

O espírito de solidariedade e a ajuda mútuauniam os primeiros colonos na realização deobras comuns de infra-estrutura, como aderrubada da floresta e a construção de estradas,escolas e igrejas. Eles também se reuniam paraa troca de informações sobre técnicas agrícolase cooperavam na produção e comercializaçãodos produtos ou na importação de maquináriospara a indústria.

Esse espírito de solidariedade, aliado aosdiferenciais da mão-de-obra livre, da diversidadede ofícios, da divisão do trabalho, bem como daabundância de água, contribuiu para aconstituição da região num dos maisimportantes pólos industriais do Sul do Brasil.

A T U R B U L Ê N C I A D A S Á G U A S D E I X A S E U R A S T R O

As enchentes do rio Itajaí marcamprofundamente a cultura regional e o seu processode desenvolvimento. As enchentes são fenômenosnaturais comuns ao Vale do Itajaí, devido aoformato da bacia hidrográfica e do seu relevoacentuado, que fazem com que o nível do rio Itajaí-açu suba muito após chuvas intensas. Essefenômeno natural foi se transformando emdesastre natural, à medida que mais e mais pessoaspassaram a viver no Vale.

Os primeiros registros de enchentes datam de1852, apenas dois anos após a fundação da colôniaalemã pelo químico Hermann Bruno OttoBlumenau. Existem relatos de enchentes feitos pornavegadores que tentavam chegar nas minas de

prata, anteriores à chegada dos imigranteseuropeus. Mas é certo que passaram a ocorrer commaior freqüência e intensidade na medida em queaumentava a ocupação do território e a exploraçãodos recursos naturais para suprir as necessidadesda nova colônia e de seus colonizadores. De 1850a 2006 foram registradas 69 enchentes, das quais11 até 1900, 20 nos 50 anos subseqüentes e 38entre 1951 e 2006.

O modo com que a população das comunidadesribeirinhas de todo o Vale do Itajaí lidava com asenchentes foi-se modificando com a urbanização.A discussão e eventual adoção de medidasocorriam sempre nos meses ou anos que sucediamas grandes enchentes, como as de 1911, 1927, 1948,

Page 20: O Movimento das águas

1957, 1983 e 1984. O espírito de solidariedadee a ajuda mútua também despertavam com maiorintensidade nos períodos de enchentes. Essascondições criaram uma cultura hídrica peculiarno Vale do Itajaí, na qual a água e os rios orasão vistos como motores do desenvolvimento ecanais de ligação entre as comunidades, oracomo causadores de tragédias que resultam emprejuízo para todos.

O problema das enchentes, entretanto, éapenas a ponta do iceberg em que se aglutinammuitos outros problemas ambientais e sociais.O desmatamento da floresta Atlântica quecobria todo o vale, a destruição das matas ciliaresao longo dos rios para a instalação de pastagens

e culturas diversas; a poluição das águas poresgotos domésticos, efluentes industriais eagrotóxicos; a descaracterização da paisagem poraterros e ocupação urbana desordenada; aspráticas agrícolas inadequadas; a ausência dearborização nas áreas urbanas; a ocupaçãoirregular do solo gerando áreas de risco; e ainvasão de Áreas de Preservação Permanentes(APPs) são as mais conhecidas.

A exploração dos recursos naturais e a ocupaçãodesordenada no solo acarretaram diversosproblemas ambientais no Vale do tajaí.ACERVO FOTO MARZALL

Page 21: O Movimento das águas

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Devido às perdas e aos prejuízos, os moradoresdo Vale do Itajaí aprenderam a conviver com asenchentes. O desespero de ver as águas invadiremas casas, a correria para salvar os bens materiais eajudar as pessoas dos lugares mais baixos, tambémproporcionavam o reencontro de amigos efamiliares. O sentimento de fragilidade einsignificância diante da fúria das águas despertavanas pessoas, a cada enchente, o espírito desolidariedade, a amizade e a ajuda mútua narecuperação dos prejuízos. Tornou-se tradição:com o baixar das águas todos se reúnem paralimpar a cidade, recuperar os estragos e prejuízos,e renovar a alegria.

As enchentes também possibilitaram umconhecimento maior a respeito da dinâmica dosrios, resultando no desenvolvimento técnico ecientífico. Elas também favoreceram oamadurecimento político e institucional para selidar com o problema. Todos esses fatoresconstituem a cultura hídrica do Vale do Itajaí e ochamado capital social dessa região, fundamentalpara a compreensão e desenvolvimento da

Corrente de solidariedade para ajudar flagelados dasenchentes de 1983 e 1984 envolveu todo o país.ARQUIVO DO IPA/FURB

E N C H E N T E D E S P E R T A E S P Í R I T O D E S O L I D A R I E D A D E

Page 22: O Movimento das águas

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proposta de gestão integrada e participativa da águaque surgiu com a criação do Comitê deGerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí,em 1997.

Essa cultura hídrica e esse capital socialconstruído na convivência com as enchentes,possibilitaram a mobilização de forças sociais,políticas e econômicas, e a reunião de diversasinstituições e pessoas na articulação necessária paraa criação do Comitê do Itajaí. Foram essas

condições que credenciaram o Comitê do Itajaí esua secretaria executiva - a Fundação Agência deÁgua do Vale do Itajaí - a elaborar e encaminhar oProjeto Piava à primeira consulta pública doPrograma Petrobras Ambiental.

É por isso que, ao relatar os resultados de doisanos do Projeto Piava, se faz necessário resgatarum pouco da história de luta contra as enchentesno Vale do Itajaí, destacando suas lições eensinamentos.

A enchente de 1880, a maior de que se temregistro (quando o rio atingiu o nível de 17,10metros em Blumenau), foi a primeira a ensejarações dos governos da Província e do Império,que providenciaram a distr ibuição dealimentos, a execução de obras de emergênciae a liberação de recursos financeiros parasocorro às vítimas. Na época, a bacia do Itajaí

era ocupada somente por 3 municípios: Itajaí,Blumenau e Brusque.

Em 1911 repetiu-se a catástrofe (16,90metros em Blumenau). Aos relatos dramáticosseguiram-se discussões sobre soluções para oproblema. Diversas foram as sugestões deobras de proteção para Blumenau, carecendo,porém, de estudos que lhes servissem de base.

A B U S C A P O R S O L U Ç Õ E S E O U S O P O L Í T I C O D A S E N C H E N T E S

Page 23: O Movimento das águas

19

A primeira obra sugerida foi a construção de ummuro de arrimo nas margens do rio Itajaí-açu, nocentro de Blumenau, que passou a ser pleito dapopulação durante longos anos.

Em 1923 ocorreu nova enchente que, emboranão atingisse os níveis de 1880 e 1911, encontrou,de certo modo, uma população já habituada como fenômeno. A cheia seguinte ocorreu em 1925.Já na enchente de novembro de 1927 um serviçode informações sobre os níveis dos rios funcionavasatisfatoriamente.

Após a enchente de 1948, os moradores da regiãocentral de Blumenau, nesta época já bastanteurbanizada, cobraram novamente a construção domuro de arrimo, mas nada foi feito.

O debate sobre o muro de arrimo voltou comforça após a enchente de agosto de 1957, por contados desbarrancamentos que ocorreram nasmargens do rio ao longo da rua XV de Novembro.A obra finalmente foi levada a cabo na década de1960 e surgiu então a Avenida Beira Rio.

PÁGINA AO LADO

Enchente de 1927, porto de Blumenau onde hojefica a Praça Hercílio Luz (e o Museu da Cerveja).ARQUIVO DO IPA/FURB

ACIMA

Enchente de 1928, centro de Blumenau.Aos fundos, Casa Husadel e antiga igreja católica.ARQUIVO DO IPA/FURB

Muro de arrimo que deu origem à AvenidaBeira Rio foi a primeira grande obra para conteras cheias no centro de Blumenau.ARQUIVO HISTÓRICO JOSÉ FERREIRA DA SILVA/FUND. CULTURAL DE BLUMENAU

Page 24: O Movimento das águas

A gravidade da enchente de 1927 ensejou aindaoutras preocupações. Além do serviço deinformações, a comunidade exigia medidas decontrole e gerenciamento das enchentes. O assuntose intensificou com a proposta de criação de umaS/A Contra Enchentes, feita pelo então cônsul daAlemanha em Blumenau, o engenheiro OttoRohkohl, publicada em artigo no BlumenauerZeitung, no dia 17 de outubro de 1929. Dizia ele:

“É inútil esperar por uma solução por parte dos governosestadual ou federal. Tal como em tantos outros casos énecessário começarmos pela auto-ajuda. A título desugestão, a execução financeira é possível do seguinte modo.Cria-se uma sociedade anônima – S/A Contra

A S / A C O N T R A E N C H E N T E S

Otto Rohkohl nasceu em janeiro de 1881, em Rackschuetz,

Silésia, Alemanha, e faleceu em 4 de agosto de 1969, em

Blumenau. Casou-se com Edith e teve duas filhas: Renata

Luiza e Else Sigrid. Era engenheiro e foi o técnico

responsável pela construção de trecho da Estrada de Ferro

Santa Catarina, especificamente da Ponte de Ferro que liga

a Ponta Aguda ao centro de Blumenau, batizada de Ponte

Aldo Pereira de Andrade. Foi também cônsul da Alemanha

em Blumenau e em 1929 lançou a proposta de criação de

uma “S/A Contra Cheias”, que seria uma instituição regional

para gerenciar o problema das cheias. Em sua homenagem,

o Comitê do Itajaí criou o Prêmio Otto Rohkohl de

Conservação da Água.

Enchentes – com um capital de cerca de 100 contos.Devem ser acionistas dessa sociedade: a empresa Força eLuz, a Caixa Agrícola de Blumenau, a CâmaraMunicipal, a Associação Comercial, e tanto empresascomo indivíduos que sempre demonstraram interesse pelasquestões da coletividade”.A proposta de se criar uma instituição regional

para o gerenciamento das cheias foi amplamentedebatida, mas somente 72 anos após sua formulaçãopor Otto Rohkohl esta idéia encontrou terreno fértile resultou na criação do Comitê do Itajaí, em 1997,como um fórum regional para a gestão integrada,participativa e descentralizada dos recursos hídricos,e da sua Agência de Água, em 2001.

20 ARQUIVO HISTÓRICO JOSÉ FERREIRA DA SILVA/FUND. CULTURAL DE BLUMENAU

Page 25: O Movimento das águas

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B A R R A G E N S S Ã O C O N S T R U Í D A S P A R A C O N T E R A S Á G U A S

A etapa seguinte na luta por medidas decontrole de cheias teve inicio em 1957, quandoocorreram quatro enchentes. Nesse ano, opresidente da República, Juscelino Kubitschek,baixou o decreto nº 42.423, nomeando umgrupo de trabalho para estudar a situaçãoeconômica da bacia hidrográfica do rio Itajaí epropor as medidas necessárias ao seudesenvolvimento e à proteção contra cheias. Osestudos de usos múltiplos dos recursos hídricosresultaram, preliminarmente, na proposta deconstrução de sete barragens.

Em 1961, novas enchentes assolaram o Valedo Itajaí, causando mortes e muitas perdasmateriais, o que mobilizou novamente a opiniãopública na cobrança de solução.

A retificação do rio Itajaí Mirim foi iniciadaem 1963, a barragem Oeste em 1964 e abarragem Sul em 1966. A conclusão das obraslevou muito mais tempo do que forainicialmente previsto. Várias enchentes ocorridasno período voltaram a mobilizar a opiniãopública e a classe política em torno das obras. Abarragem Oeste foi concluída em 1973, comcapacidade de reter 110 milhões de metroscúbicos (m3) de água, e em 1975 a barragem Sul,com capacidade de reter 85 milhões de m3 deágua. As obras da barragem Norte, iniciadas em

De cima para baixo, vistas das barragensOeste (em Taió), Sul (Ituporanga)

e Norte (José Boiteux), concluídasrespectivamente em 1973, 1975 e 1992.

ARQUIVO DO IPA/FURB

Page 26: O Movimento das águas

1976, tiveram muitos obstáculos, mas foramconcluídas, em 1992, graças a uma significativamobilização popular. Essa terceira barragemtem capacidade de armazenamento de 357milhões de m3 de água.

Durante a construção das barragens surgiramnovos problemas. Nas comunidades indígenas, cuja

reserva seria temporariamente tomada pelo lago,o empreendimento contribuiu fortemente para adegradação social. A possibilidade de “inundação”da reserva indígena também gerou uma imensaespeculação no setor madeireiro e os problemascausados às comunidades indígenas se arrastamaté os dias atuais.

Page 27: O Movimento das águas

23

A enchente de 1983 assumiu dimensãoavassaladora. As águas subiram ao nível de 15,34metros em Blumenau e mantiveram-se em nívelelevado durante dez dias. No Vale do Itajaí, maisde 150 mil pessoas foram desalojadas de suas casase os prejuízos atingiram a soma de U$ 1,1 bilhão.A experiência acumulada no convívio com asenchentes pouco serviu para amenizar a tragédia.

A S G R A N D E S C H E I A S D E 1 9 8 3 E 1 9 8 4

Equipe do Projeto Crise em 1985, JussaraCabral Cruz, Geraldo Silveira, Cláudio Loesch,Marcel Siebert, André Silveira, Hélio Santos Silva,Osiris Turnes e Beate Frank.ARQUIVO DO IPA/FURB

PÁGINA AO LADO

Enchente de 1983 pegou a população de surpresa efoi a mais trágica da história do Vale do Itajaí. Vista daantiga Casa Moellmann no centro de Blumenau.ARQUIVO DO IPA/FURB

Em 1984, uma nova enchente atingiu o nível de15,46 metros, em Blumenau, e agravou ainda maisa situação crítica que vivia o Vale do Itajaí. Apósas inundações catastróficas de 1983 e 1984,surgiram novas iniciativas que buscavam “resolver”o problema, como o Projeto Nova Blumenau, aSecretaria Extraordinária da Reconstrução doGoverno do Estado e seu Plano Global e Integradode Defesa contra as Enchentes (Plade ou ProjetoJICA), a campanha da Associação Comercial eIndustrial de Blumena (ACIB): “Enchentes – asolução não cai do céu”, entre outras iniciativas.

As soluções apresentadas tinham como baseobras estruturais de grande impacto, que passarama ser questionadas, ou então apenas mobilizaçãoou ainda melhorias locais. Todas essas iniciativascareciam de uma visão integrada da baciahidrográfica.

Page 28: O Movimento das águas

24

No final de 1983, a Universidade Regional deBlumenau (FURB) criou o “Projeto Crise”, como objetivo de desenvolver as chamadas medidasnão-estruturais para proteção de enchentes,englobando monitoração do tempo, monitoraçãode níveis dos rios, modelos de previsão hidrológicae cartas de risco de inundação. Uma redetelemétrica de cinco estações de chuva e nível foiinstalada em 1984 pelo então DepartamentoNacional de Águas e Energia Elétrica (Dnaee) eas tarefas de monitoração e previsão realizadascom os dados dessa rede foram repassadas aoProjeto Crise.

O Projeto Crise foi sucedido pelo Instituto dePesquisas Ambientais da FURB (IPA) que até hoje

Á G U A S E N C O N T R A M N O V A S C O N F L U Ê N C I A S

João Paulo Kleinubing, Milton Hobus e AdilsonSchmitt, prefeitos de Blumenau, Rio do Sul e Gaspar,assinam o termo de cooperação técnica para ogerenciamento integrado de prevenção e controlede cheias, organizado pela assessora jurídica doComitê do Itajaí, Noemia Bohn, professora da FURB,em 2006.ARQUIVO DO COMITÊ DO ITAJAÍ

presta informações meteorológicas, pluviométricase linimétricas (níveis dos rios), por meio do Centrode Operações do Sistema de Alerta da bacia doItajaí (Ceops).

Com a extinção do Dnaee e a criação da AgênciaNacional de Águas (ANA), em 2001, esta assumiua responsabilidade pela manutenção da rede, erepassou ao Estado as tarefas operativas inerentes.

Mas só em 2006 foi firmada a cooperação para ogerenciamento integrado e a manutenção do Sistemade Alerta e do Sistema de Contenção de Cheias(barragens), estabelecendo atribuições ecompetências às instituições envolvidas. Nestaoportunidade foi também criada a Câmara Técnicade Cheias do Comitê do Itajaí.

Em primeiro de agosto de 1984 é inaugurado oCentro de Operações do Sistema de Alerta, na FURB,na presença do reitor Arlindo Bernart e do SecretárioExtraordinário da Reconstrução Antônio CarlosKonder Reis.ARQUIVO DO IPA/FURB

Page 29: O Movimento das águas

25

força com a decisão de criar o Comitê do Itajaí,em março de 1996.

A criação do Comitê do Itajaí, com o devidosuporte legal, marcou uma nova fase na abordagemdo problema das enchentes e no desenvolvimentode uma concepção mais abrangente de gestãointegrada de recursos hídricos. A prevenção e ocontrole de enchentes são suas metas, assim comoo gerenciamento de todos os usos da água da baciahidrográfica.

A gestão oficial do controle das enchentessempre foi inercial e aleatória, dependendo dadisposição momentânea dos governos. Essa práticacomeçou a ser superada com o surgimento daproposta de gestão integrada e participativa dosrecursos hídricos, introduzida no Brasil pela da LeiFederal nº 9433/97, que instituiu a PolíticaNacional de Recursos Hídricos e criou o SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.No Vale do Itajaí a idéia de gestão integrada ganhou

A G E S T Ã O I N T E G R A D A E P A R T I C I P A T I V A D A B A C I A D O I T A J A Í

FOTO JULIANO ALBANO

Page 30: O Movimento das águas

26

A idéia fundamental da gestão integrada derecursos hídricos é que os diferentes usos da águasão interdependentes e precisam ser gerenciadosde forma compartilhada. Consiste num processosistêmico de planejamento e controle dos usosda água, de acordo com objetivos sociais,econômicos e ambientais, que buscam odesenvolvimento sustentável.

Como exemplo da interdependência entre os

diversos usos da água, podemos dizer que agrande demanda de água para irrigação naagricultura significa menos água doce para oabastecimento humano ou para usos industriais.Ou que a poluição das águas por efluentesdomésticos e industriais poluem os rios e ameaçaa vida nos diversos ecossistemas. Por outro lado,a decisão sobre a quantidade de água que se devedeixar em um rio para proteger os ecossistemas

Page 31: O Movimento das águas

27

pode afetar a quantidade de água necessáriapara se cultivar.

Por isso, para se promover o uso adequado daágua em todas as atividades humanas énecessário que se leve em consideração todosos usos de forma integrada e todos os usuáriosde forma coletiva. E para que haja um espaçoapropriado para o diálogo entre os diversosusuários da água é que foi necessária a

construção de novas estruturas de gestão, comoo Comitê de Gerenciamento da BaciaHidrográfica do Rio Itajaí.

O Comitê do Itajaí é o colegiado responsávelpela promoção da gestão integrada e participativada água na bacia hidrográfica. Ele é um fórumdeliberativo, um “parlamento das águas”, ondesão tomadas as decisões sobre os usos da águana bacia do Itajaí.

Câmara Técnica de Planejamento inicia busca de soluçõespor meio de grupos temáticos, em outubro de 2006.

ACIMA, DA ESQUERDA PARA A DIREITA

Tratamento de esgoto de pequena comunidade,tratamento de efluente industrial, rafting, criação deanimais, serviços portuários, piscicultura,abastecimento público e fábrica de papel.

AO CENTRO

Semana da Água difunde a importânciada proteção da água.

PÁGINA AO LADO

Maria Izabel reeleita presidente do Comitê do Itajaí em2006, junto com Jacir Pamplona, vice-presidente.ARQUIVO DO COMITÊ DO ITAJAÍ

Page 32: O Movimento das águas

FOTO RENATO RIZZARO / RESERVA RIO DAS FURNAS

Page 33: O Movimento das águas

As águas do rio Itajaí - que nasce em gotas cristalinas nas escarpas daSerra Geral e se transforma num gigante turvo ao caminho do mar -drenam um território de aproximadamente 15 mil quilômetros quadrados,que é chamado de bacia hidrográfica do rio Itajaí.

C A P Í T U L O 2

O caminho das águasA b a c i a h i d r o g r á f i c a d o I t a j a í

29

Essas águas correm ligeiras pelo leito deriachos, caem como véus em formosascachoeiras, cortam morros e seguemturbulentas por ribeirões e rios. Ascaracterísticas físicas e naturais da bacia doItajaí começaram a ser moldadas há maisde 65 milhões de anos, a partir demovimentos tectônicos e derramesbasálticos que deram origem às formaçõesda Serra Geral. Com o passar do tempo, aumidade vinda do litoral possibilitou osurgimento da vegetação, criando um climamais úmido. A umidade sofria evaporação,

gerando as chuvas que contribuíram paraa formação dos rios.As águas foram desgastando o relevo,fazendo desmoronar rochas, receberam acontribuição de águas subterrâneas eformaram um caminho de muitas vias quehoje se constitui na densa trama hídricada bacia hidrográfica do rio Itajaí. A baciado Itajaí tem uma densidade hídrica muitoalta. Por aqui, se costuma dizer que ao pularum ribeirão você cai dentro de outro,tamanha a quantidade de nascentes,riachos, ribeirões e rios.

Page 34: O Movimento das águas

30

A bacia do rio Itajaí localiza-se entre as unidadesfisiográficas do litoral e encostas da Serra Geral,na região hidrográfica da vertente Atlântica, entreas coordenadas 26°27' e 27°53' de latitude Sul e48°38' e 50°29' de longitude Oeste. É a maior baciada vertente atlântica no território catarinense e seusdivisores de água encontram-se, a Oeste nas serrasGeral e dos Espigões; ao Sul nas serras da BoaVista, dos Faxinais e de Tijucas; e ao Norte naSerra da Moema.

O maior curso d’água da bacia é o rio Itajaí-açu,que percorre 300 quilômetros desde suas nascentesaté à foz no oceano Atlântico, localizada entre ascidades de Itajaí e Navegantes.

B A C I A H I D R O G R Á F I C A D O I T A J A Í

Page 35: O Movimento das águas

31

Bacia hidrográfica é uma área geológica, um

território delimitado por topos de morros e serras,

que naturalmente drena a água para um rio, desde

as nascentes até a foz, onde desemboca num rio

principal ou no mar. O contorno da bacia é formado

por uma linha imaginária que une os pontos mais

altos do relevo. Este divisor de águas separa as

águas que escoam para um rio das que escoam para

os rios vizinhos. O divisor é o limite entre as bacias.

Para se entender melhor a noção de bacia

hidrográfica pode-se compará-la ao telhado de uma

casa, em que a cumeeira é o divisor de águas, uma

parte do telhado é a bacia propriamente dita e a

calha de chuva é o rio principal.

O T E L H A D O E A B A C I A

A S S U B - B A C I A S D O I T A J A Í

A bacia do Itajaí é formada por sete sub-baciashidrográficas, que são as bacias dos principaistributários do rio Itajaí: os rios Itajaí do Oeste edo Sul, que se encontram no município de Rio doSul formando o rio Itajaí-açu; o rio Itajaí do Norte,que desemboca no rio Itajaí-açu em Ibirama; o rioBenedito, que desemboca no rio Itajaí-açu emIndaial; o rio Luiz Alves, que desemboca no rioItajaí-açu em Ilhota; e o rio Itajaí Mirim, quealcança o rio Itajaí-açu em Itajaí. Após receber aságuas do rio Itajaí Mirim, o rio passa a chamar-sesimplesmente de Itajaí, até desaguar no Oceano

Atlântico, entre os municípios de Itajaí eNavegantes. Assim, a sétima sub-bacia, a do Itajaí-açu, se estende de Rio do Sul até Itajaí.

As áreas dessas sub-bacias são:• bacia do rio Itajaí do Sul, com 2.309 km²;• bacia do rio Itajaí do Oeste, com 2.928 km².• bacia do rio Itajaí do Norte ou Hercílio,

com 3.315 km²;• bacia do rio Benedito, com 1.398 km²;• bacia do rio Luiz Alves, com 583 km²;• bacia do rio Itajaí Mirim, com 1.673 km²;• bacia do rio Itajaí-açu, com 2.794 km².

Page 36: O Movimento das águas

32

A S N A S C E N T E S D O I T A J A Í

As águas que formam o grande rio Itajaíbrotam por todas as partes. A nascente maisdistante da foz está situada no município dePapanduva, a 1100 metros de altitude, na SerraGeral. É a nascente do Rio Bonito, tributáriodo rio Itajaí do Norte, e suas águas percorrem

Foto vencedora do Concurso“O verde da minha terra”, de 2006.ACERVO DO IPA/FURB

334 quilômetros até desaguar no oceanoAtlântico. Acompanhe as principais informaçõessobre as nascentes e sub-bacias no mapa abaixoe percorra o caminho das águas imaginando-sedentro de um barquinho de papel solto nanascente e navegando até atingir o mar.

Page 37: O Movimento das águas

33

Page 38: O Movimento das águas

34

O município de Alfredo Wagner, no Alto Vale,abriga as nascentes do Itajaí do Sul.

FOTO RENATO R IZZARO

Em Apiúna, no Médio Vale, por causa doterreno montanhoso, muitas propriedades têm

grandes áreas de florestas.FOTO JANDYR NASCIMENTO

Planície da foz do rio Itajaí, tendo em primeiroplano a desembocadura do rio Luis Alves.

ARQUIVO DO IPA/FURB

U M A B A C I A C O M U M M I L H Ã O D E H A B I T A N T E S

A bacia do Itajaí possui aproximadamente 15.000km² de área (16,15% do território catarinense e0,6% do território nacional), abrangendo 53municípios, dos quais 47 têm sua sede dentro dabacia. No conjunto desses municípios vivemaproximadamente um milhão de habitantes. Deacordo com o censo demográfico do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),registrado em agosto de 2000, a população da baciado Itajaí era de 995.727 habitantes, representando18,67% da população de Santa Catarina, que nestecenso era de 5.333.284.

A paisagem da bacia do Itajaí é dividida em trêscompartimentos naturais, que também influenciama cultura e a economia regional: o Alto Vale, oMédio Vale e o Baixo Vale.

O Alto Vale é caracterizado geomorfo-logicamente por patamares que permitem aagricultura semi-intensiva em grandes extensões.O Médio Vale tem relevo fortemente ondulado epor isso pouco propício à agricultura; a região dafoz apresenta extensas áreas de várzeas e planícies,propícias à lavoura de arroz.

Page 39: O Movimento das águas

35

D I V I S Ã O A D M I N I S T R A T I V A

A B A C I A C O M O U N I D A D E D E G E S T Ã O

D o s 4 7 m u n i c í p i o s l o c a l i z a d o sintegralmente na bacia, 29 estão situados noAlto Vale e, destes, 28 integram a Associaçãodos Municípios do Alto Vale (Amavi); 14integram a Associação dos Municípios doMédio Vale (Ammvi); e quatro estãosituados no Baixo Vale e integram aAssociação da Foz do Rio Itajaí (Amfri).Além desses, outros seis municípios têmparte do seu território localizado nabacia hidrográfica do rio Itajaí.

Em 2003, o Governo do Estado deSanta Catarina implementou uma amplareforma administrativa, criando assecretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs),das quais atualmente oito abrangem os municípiosda bacia do Itajaí: são as SDRs de Itajaí, deBrusque, de Blumenau, de Timbó, de Ibirama, deRio do Sul, Taió e de Ituporanga. O mapa abaixomostra os territórios das associações e das SDRs.

Para compreensão da bacia hidrográfica comounidade de gestão, devemos considerar diversoscomponentes da realidade dessa bacia. A base é osistema natural, a área de drenagem da bacia etodos os seus atributos naturais: relevo,ecossistemas e recursos naturais, principalmenteos hídricos. É nessa área que ocorre a ocupaçãohumana e o desenvolvimento econômico,responsável por uma gama de problemas

ambientais decorrentes do uso dos recursos. Pararegular o uso dos recursos naturais, bem como asatividades sociais e econômicas, a sociedade criapolíticas e instituições diversas. Constitui-se assimo sistema político-institucional. Todos essescomponentes precisam ser conhecidos e levadosem conta para decidir como fazer o melhor usopossível da água, ou seja, a gestão integrada derecursos hídricos.

Page 40: O Movimento das águas

FOTO RENATO RIZZARO / RESERVA RIO DAS FURNAS

Page 41: O Movimento das águas

C A P Í T U L O 3

O movimento das águas

O movimento de cidadania pela água no Valedo Itajaí, que foi institucionalizado com acriação do Comitê do Itajaí, em 1997, e ganhouforça com a promoção da Semana da Água, apartir de 1999, se espalhou por toda a baciahidrográfica do rio Itajaí com as ações doProjeto Piava, a partir de 2005.A criação do Comitê do Itajaí como um fórumdemocrático para a promoção da gestãointegrada e participativa da água do Vale doItajaí e as ações do Projeto Piava, queimpulsionaram com mais energia a construçãode uma política sustentável de proteção daágua, representam o embrião de uma nova

forma de se relacionar e de conviver com aágua, em que todos os usos são consideradosde forma integrada e a responsabilidade porsua gestão é compartilhada pelos usuários, pelapopulação da bacia e pelo poder público.A piava é um peixe pequeno e frágil. O desafioque a sobrevivência dela representa exige aunião de todos que compartilham as águas dabacia do rio Itajaí. A união faz a força, e foiassim, com a soma das qualidades ecapacidades de muitas pessoas que o ProjetoPiava foi proposto pelo Comitê do Itajaí eimplementado com recursos do ProgramaPetrobras Ambiental.

A construção de uma política sustentável de proteção da água

37

As águas turbulentas do rio Itajaí, que irrigaram a formação de umacultura hídrica peculiar, baseada na convivência com as enchentes e nasolidariedade das águas, também propiciaram movimentos de renovaçãode antigos conceitos, que convergem para uma visão mais ampla eintegrada sobre a bacia hidrográfica, expondo conexões até então ocultasno caminho das águas. Ao sabor das correntes, os ventos agora apontampara novas direções. Não importa muito a sua velocidade, mas sim ocontrole firme e forte, desempenhado de forma participativa, sobre oleme que conduzirá essa grande bacia para o caminho da sustentabilidade.

Page 42: O Movimento das águas

38

O Projeto Piava surgiu como uma iniciativa doComitê do Itajaí, promovido com o intuito deimplementar uma política de proteção da água nosmunicípios do Vale do Itajaí. Para este fim foramdesenvolvidas ações educativas e de mobilizaçãosocial, ações de reversão da degradação física dasnascentes e dos pequenos rios. Ao mesmo tempoestimulou-se o processo participativo de gestãointegrada da água na bacia hidrográfica.

O Projeto Piava foi elaborado e implementadopor diversas pessoas e instituições reunidas peloComitê do Itajaí. Passou a integrar o ProgramaPetrobras Ambiental ao ser selecionado na primeiraconsulta pública promovida pela Petrobras, em2004. Foi aprovado entre 1680 inscritos de todo oBrasil. Foi administrado pela Fundação Agênciade Água do Vale do Itajaí (Faavi), órgão executivodo Comitê do Itajaí, e conduzido de formacolegiada pelas organizações parceiras, por meiode uma Câmara Técnica. A FURB exerceu a função

de coordenação geral do Projeto Piava, por meiodo IPA, contribuindo com o conhecimento técnicoe científico nas questões relativas ao gerenciamentoda bacia hidrográfica.

Nos últimos dois anos, de maio de 2005 a maiode 2007, a Petrobras investiu R$ 3 milhões nasações desenvolvidas pelo Projeto Piava no Valedo Itajaí, com uma contrapartida de R$ 569.882,56da FURB e outras instituições parceiras.

Nesse período foram desenvolvidas atividadesde capacitação e formação de multiplicadores deeducação ambiental; de fortalecimento dacapacidade política dos conselhos municipais demeio ambiente; de fomento e execução de projetoslocais de recuperação e preservação de nascentese matas ciliares; de produção de mudas de espéciesnativas adaptadas aos diversos ambientes fluviaisda bacia; a organização e operacionalização doSistema de Informações da Bacia do Itajaí (SIBI);e o aparelhamento institucional da Faavi.

M A I S P R O T E Ç Ã O P A R A A Á G U A

Page 43: O Movimento das águas

39

As estratégias adotadas para se atingir osobjetivos propostos foram o envolvimento dasorganizações públicas e privadas atuantes na bacia,a participação das comunidades e dos proprietáriosrurais e o fortalecimento da ação municipal. Osprincipais resultados são apresentados nestecapítulo. Em síntese, eles refletem o fortalecimentodas ações de educação ambiental no Vale do Itajaí,a discussão de diretrizes de proteção da água emtodos os municípios e projetos locais bem-sucedidos de recuperação da mata ciliar.

Dessa forma, o Projeto Piava fortaleceu a atuaçãoem rede e promoveu a integração das diversaspessoas e instituições envolvidas. A noção de redede atores para a gestão da bacia hidrográfica vem

sendo utilizada desde a criação do Comitê do Itajaí,tendo recebido um grande impulso a partir dacriação da Semana da Água, em 1999, e da Redede Educação Ambiental da Bacia Hidrográfica doRio Itajaí (Reabri), no mesmo ano.

O Projeto Piava envolveu, diretamente, cercade 2.600 pessoas, e atingiu indiretamente boaparte da população do Vale do Itajaí. O “cardumede piavas” cresce continuamente num grandemovimento para reunir cada vez mais pessoas eorganizações públicas e privadas em torno deações de proteção das fontes de água e matasciliares. Só desta forma, no futuro, serãoencontrados novos cardumes de piavas povoandoos rios da bacia do Itajaí.

Ação de recuperação da mata ciliarem Mirim Doce, 2002.ARQUIVO DO PROJETO P IAVA

Três diferentes grupos de atores sociais tiveramenvolvimento destacado nas ações do ProjetoPiava. Os professores, com sua função educativae de mobilização social; os conselhos municipaisde meio ambiente (CMMAs), com função políticanos municípios; e os grupos de trabalho municipal(GTMs), que foram criados para executar as açõeslocais de proteção de nascentes erecuperação da mata ciliar. A educaçãoambiental apóia as outras duas atividadesporque educadores/professores podemintegrar o CMMA e/ou o GTM. Da mesmaforma, o fortalecimento dos CMMAs servede apoio aos projetos locais de recuperaçãoda mata ciliar e vice-versa. Com o

envolvimento destes diversos grupos de atoresampliou-se a oportunidade de tornar sustentáveisas ações de proteção e recuperação dos cursos daágua. Para organizar o fluxo de trabalho einformações de todas essas pessoas e instituições,criou-se uma articulação específica, comodetalhado no quadro na página seguinte.

P R O J E T O P I A V A E N V O L V E U D I V E R S O S G R U P O S S O C I A I S

Page 44: O Movimento das águas

40

OUTRAS ORGANIZAÇÕESOUTRAS ORGANIZAÇÕES

Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena)

Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais (Cemear)

Fundação Praia Vermelha e Conservação da Natureza (Pra ver Natureza)

Instituto Esquilo Verde (IEVE)

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri)

Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional (SDRs do Vale do Itajaí)e suas Gerências de Educação e Inovação (Gereis)

ART ICULAÇÃO I NST I TUC IONAL DO PROJETO P I AVA

Page 45: O Movimento das águas

Com a multiplicação das ações do Projeto Piava,

a piava (Astynax fasciatus) se tornou símbolo de

um grande movimento de res istência pela

proteção da água no Vale do Itajaí . Outrora

abundante nos riachos da região, hoje quase não

é mais encontrada. Este pequeno peixe empresta

seu nome ao Projeto Piava por ser uma espécie

bio-indicadora da qualidade da água e das boas

condições de um curso d’água.

Na bacia do Itajaí já foram encontradas nove

espécies de piavas. É um peixe muito sensível aos

poluentes, pois capta part ículas pequenas,

inc lu indo larvas, insetos e outros micro -

organismos, mortos ou contaminados por

agrotóxicos ou produtos químicos da indústria.

Na cadeia alimentar a piava é considerada uma

espécie de base ou forrageira, ou seja, serve de

alimentos para outros peixes, serpentes, aves e

mamíferos. Por isso, a d iminuição da sua

população acarreta grandes alterações nas outras

espécies de animais, que dependem das piavas

como seu alimento.

Piava é o nome de fantasia do projeto e sua

principal proposta é reunir um “cardume” de

pessoas na construção de uma pol í t ica

sustentável de uso da água no Vale do Itajaí.

A P I A V A , S Í M B O L O D E R E S I S T Ê N C I A P E L A P R O T E Ç Ã O D A Á G U A

Page 46: O Movimento das águas

42

Os números do Projeto Piava ilustram bem asua dimensão, a abrangência e a capilaridade desuas ações. Nestes dois anos foram plantadas quase600 mil mudas de espécies nativas em 1627 áreas,localizadas ao redor de 938 nascentes e/ou nasmargens de pequenos rios, somando 560 hectaresde área plantada.

As mudas para a recuperação dessas áreas vieramde 11 viveiros, montados ou reestruturados peloProjeto Piava. As equipes destes viveiros foramcapacitadas na coleta de sementes, marcação dematrizes e na produção de mudas de espéciesnativas da região, o que garantiu a qualidade dasmudas e a formação de um banco de sementesdiversificado e com boa qualidade genética.

O processo de reversão da degradação dospequenos rios exigiu uma ação integrada. Foinecessário promover articulações entre osproprietários de áreas rurais e urbanas ribeirinhas,os municípios e suas organizações, integrando-asaos grupos de trabalho municipal (GTMs).

Os reflexos dessas ações desencadeadas peloProjeto Piava estão mudando a paisagem dospequenos rios da bacia. Basta verificar os númerosde áreas em recuperação ou visitar áreas em quehouve plantio para constatar que os pequenos riosda bacia estão mais verdes.

Para a coordenadora do subprojeto deRecuperação da Mata Ciliar, a bióloga Daisy daSilva Santos, além desses números representaremuma melhoria significativa nas condiçõesambientais das áreas em recuperação, o maisimportante foi envolver as pessoas e conquistar aadesão, principalmente dos agricultores, para asações de proteção da água. “Conseguimos mostrarque é possível sim fazer recuperação de nascentese matas ciliares com a adesão voluntária dosproprietários dessas áreas e com o envolvimentodas prefeituras, de ONGs, sindicatos e associaçõesde agricultores”, observa Daisy.

Quase 600 mil mudas de espéciesnativas foram plantadas perto de

nascentes e ribeirões.ACERVO DO PROJETO PIAVA

O S P E Q U E N O S R I O S E S T Ã O M A I S V E R D E S

Page 47: O Movimento das águas

43

D A D O S S O B R E A R E C U P E R A Ç Ã O D A M A T A C I L I A R

Page 48: O Movimento das águas

44

As mudas de espécies nativas que estãorecompondo as áreas de matas ciliares eprotegendo as nascentes em todos os municípiosda bacia do Itajaí foram produzidas em 11viveiros, que se transformaram em parceiros doProjeto Piava e contribuíram para mudar paramelhor a paisagem das matas ciliares do Valedo Itajaí nos últimos dois anos. Organizações aque pertencem: sindicatos dos TrabalhadoresRurais de Taió e de Vidal Ramos; AssociaçãoComunitária Indígena Xoclengue, em JoséBoiteux; Associação de Preservação do Meio

Ambiente do Alto Vale (Apremavi), em Atalanta;Associação de Proteção Ambiental Mão d’Água,em Ituporanga; Associação José ValentimCardoso (Ajovacar), em Vitor Meirelles;prefeituras de Blumenau, Timbó, Ibirama e JoséBoiteux; Departamento de Engenharia Florestalda FURB, em Gaspar.

Os viveiros foram escolhidos em diferentesmunicípios a fim de permitir que se produzissemas espécies de acordo com as condiçõesecológicas e geográficas das áreas a seremrecuperadas nos mais diferentes recônditos da

V I V E I R O S P R O D U Z E M M U D A S D E E S P É C I E S N A T I V A S

44

pessoas capacitadas para a recuperação da mata ciliar

Grupos de Trabalho Municipal (GTMs) formados

pessoas capacitadas em coleta de sementes

pessoas capacitadas em produção de mudas

árvores matrizes marcadas

tipos de sementes diferentes formam o banco de sementes

projetos de recuperação da mata ciliar aprovados

hectares de área de mata ciliar em recuperação

nascentes protegidas e em recuperação

mudas distribuídas e plantadas

municípios ultrapassaram a meta de 18 hectares de área recuperada

225392735

400150

1.627560938

588.00015

A Ç Õ E S P A R A F O M E N T A R A R E C U P E R A Ç Ã O D A M A T A C I L I A R

A T I V I D A D E S D O S G R U P O S D E T R A B A L H O M U N I C I P A L

Page 49: O Movimento das águas

ACERVO DO PROJETO PIAVA

Page 50: O Movimento das águas

bacia.Isso é necessário porque as matas naturaistem composição distinta nos diferentes lugares.

O Projeto Piava possibilitou a instalação de umaestrutura adequada para a produção de mudas em60% desses viveiros. O viveiro da AssociaçãoComunitária Indígena Xoclengue foi criado peloconvênio com o Projeto Piava e integrou acomunidade indígena ao projeto. Desta forma, omunicípio de José Boiteux acabou contribuindona produção de mudas com dois viveiros.

Além de possibilitar a operacionalização dosviveiros, com a melhoria da infra-estrutura, oProjeto Piava propiciou aos viveir istascapacitação técnica em coleta de sementes emarcação de árvores matrizes, e na produçãocorreta de mudas de espécies nativas, na quantidade, qualidade e variedade necessáriaspara atender as demandas da recuperação dematas ciliares.

Page 51: O Movimento das águas

47

Projeto Piava capacitou viveiristas para produçãode mudas de espécies nativas, inlcusive com técnicasde arvorismo para coletas de sementes.ACERVO DO PROJETO P IAVA

O grande diferencial do trabalho desenvolvidopelos viveiros associados ao Projeto Piava foi ode oferecer mudas nativas para os agricultoresde todo o Vale do Itajaí, estimulando-os areflorestarem suas propriedades com nativas enão mais com espécies exóticas. Na opinião damaioria dos viveiristas, a demanda pelas mudasde nativas cresceu significativamente entreagricultores e proprietários de terras depois dosurgimento do Projeto Piava.

Capacitar esses viveiros a produzir nativasmudou inclusive a atitude de alguns viveiristasem relação às nativas. Um exemplo é o senhorBaturité Lyra, que auxilia o filho Leandro nasatividades do viveiro do Sindicato dosProdutores Rurais de Vidal Ramos. Ele contaque não gostava de plantar algumas das espéciese que com o Projeto Piava passou a se interessarem cultivar e coletar sementes de espéciesnativas. “De vez em quando vem alguém aqui ediz que em tal lugar tem semente pra coletar,então vou lá e busco. Às vezes eles trazem asemente prá gente, então muita coisa mudou nomeu modo de pensar e de agir”, garante ele econclui “Eu detestava tirar um pedaço do pastopra plantar árvore e, agora, resolvemos cercarum pedaço e plantar. Já tem árvore grande e agente notou que na nascente, onde não haviamais água, agora está brotando novamente”.

Page 52: O Movimento das águas

48

O subprojeto de Educação Ambiental atuou nodesenvolvimento de habilidades e competênciaspara o uso sustentável da água. Para este fim foramcapacitados multiplicadores de educação ambientalformal e não formal para implementação deprojetos de educação ambiental continuados nasescolas e localidades da bacia do Itajaí.

As atividades de Educação Ambiental tiveraminício com a formação de 42 educadores num cursosobre conservação e uso sustentável da água. Esteseducadores atuaram posteriormente comomultiplicadores e foram responsáveis pelacapacitação de 420 educadores, que elaboraram edesenvolveram 231 projetos de educaçãoambiental, envolvendo 150 escolas em 50municípios da bacia.

Para servir de material didático para este processoforam produzidas 1000 unidades do caderno doeducador e 20 mil unidades de cartilhas, todascontextualizadas na realidade do Vale do Itajaí evoltadas para o público dos três primeiros estágiosda educação formal: infantil, básico e fundamental.. A coordenadora de Educação Ambiental do

Projeto Piava, a cientista social Katiuscia WilhelmKangerski explica que a ação das “piavinhaseducadoras”, como carinhosamente passaram a serconhecidas as educadoras e os educadores queatuaram como multiplicadores, despertou nosprofessores e alunos uma identificação e umasensação de pertencimento ao lugar em que vivem,e possibilitou a compreensão sobre as váriasdimensões (natural, sócio-econômica,institucional) e escalas (comunidade, município,micro-bacia, sub-bacia) de uma bacia hidrográfica.“A valorização da ação local e sua integração àsescalas municipal, das sub-bacias, das regiõesadministrativas (SDRs), e da bacia como um todo,levou empoderamento para os educadores e atoressociais em suas comunidades”, salientou Katiuscia.

Os programas de educação ambientaldesenvolvidos nas escolas e comunidadesintegraram as mais diferentes atividades: 69 açõesde plantio de mudas; 139 saídas a campo; 59confecções de maquetes das bacias; 130 palestras;e 196 atividades com o uso do material didáticodo Projeto Piava.

M O B I L I Z A Ç Ã O E E D U C A Ç Ã O F O R T A L E C E M A Ç Ã O E M R E D E

Page 53: O Movimento das águas

49

Educação ambiental no Projeto Piava é sinônimo de capacitar professores, de envolvercrianças em atividades educativas e em práticas de recuperação. As fotos mostram a confecçãode maquete e saída de campo de professores em Blumenau, o trabalho em sala de aula emAurora, e a ação de recuperação com alunos em Rio do Oeste e Taió.ACERVO DO PROJETO PIAVA / FOTO ABAIXO: RENATO RIZZARO

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5050

educadores formados em “Conservação e uso sustentável da água”

(especialização com 120h/aula)

educadores capacitados para a condução de programas

de educação ambiental

projetos de educação ambiental executados,

envolvendo 150 escolas de 50 municípios

cadernos do educador

unidades de cartilhas para educação formal:

infantil, básica e fundamental

42

420

231

1.000

20.000

ações de plantio de mudas envolvendo alunos de escolas

saídas a campo com professores e alunos

confecções de maquetes das microbacias

palestras

atividades usaram o material didático distribuído

69

139

59

130

196

A Ç Õ E S D E E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L

A T I V I D A D E S D E S E N V O L V I D A S P E L A S E S C O L A S

Page 55: O Movimento das águas

O Projeto Piava também atuou nofortalecimento da capacidade dos municípios defazerem gestão ambiental, com a idéia de estimulara construção de políticas públicas de proteção daágua no âmbito local e sua integração ao processode gestão da bacia hidrográfica. Estas ações forampromovidas pelo subprojeto de PolíticasAmbientais Municipais, que atuou junto aosconselhos municipais de meio ambiente (CMMAs)e estruturas administrativas nas prefeituras, comosecretarias, fundações ou assessorias relacionadasà gestão do meio ambiente.

Sabe-se que a capacidade de gestão ambientalefetiva depende da articulação dos atores sociaisem cada município e desses com os atoresregionais. Portanto foi isso que o Projeto Piavaprocurou fazer: articular os CMMAs com o Comitêde Bacia Hidrográfica, com vistas à construção deuma gestão integrada de recursos naturais. As açõesbuscaram mobilizar e instrumentar os atoresmunicipais para a gestão local e sua inserção nagestão da bacia hidrográfica.

A análise da situação da gestão ambientalmunicipal apontou que, antes do Projeto Piava,apenas seis municípios possuíam um CMMAdeliberativo, com paridade na composição entrepoder público e a sociedade civil, exclusividade emmeio ambiente e habilitado ao licenciamentoambiental.

Para mudar essa realidade foram promovidosoito encontros regionais de inovação ambientalmunicipal, com a participação de 292 pessoas; 37encontros de assessoria aos conselhos de meioambiente, com a presença de 180 conselheiros egestores ambientais; além da produção edistribuição de 1000 exemplares do Guia Práticopara a Atuação de um CMMA.

Pode-se dizer que a noção de gestão ambientalmunicipal foi amplamente disseminada, que osCMMAs estão em parte mobilizados e integradosà construção do plano de recursos hídricos da baciado Itajaí. Sua principal motivação são as questõesprioritárias do esgoto e das áreas de proteçãopermanente, mas ainda sem diretrizes aprovadas.

Organização doConselho Municipal do Meio

Ambiente de Itajaí.ACERVO DO PROJETO PIAVA

I N O V A Ç Ã O N A G E S T Ã O A M B I E N T A L É E S T I M U L A D A

Page 56: O Movimento das águas

52

Aumento de 7 para 24 conselhos municipais de meio ambiente qualificados

Redução de 13 para 2 municípios sem conselho municipal de meio ambiente

Redução de 8 para 3 conselhos municipais de meio ambiente não-qualificados

Redução de 17 para 16 conselhos inativos

52

municípios foram pesquisados para o diagnóstico da

gestão ambiental municipal

pessoas participaram dos encontros de inovação

ambiental municipal

conselheiros e gestores ambientais participaram

dos encontros de assessoria

guias do gestor ambiental distribuídos

exemplares do documento de síntese da fase A

do plano de bacia distribuídos

50

292

180

1.000

1.500

A ÇÕ E S PA R A O D E S E N VO LV I M E N T O D E PO L Í T I C A S AMB I E N TA I S MUN I C I PA I S

R E S U L T A D O S A L C A N Ç A D O S

Page 57: O Movimento das águas

53

Todos os dados são apresentados em mapas.Um produto importante do SIBI é a integraçãode todos os mapas produzidos sobre a baciado Itajaí.

Outra função importante do SIBI é a de apoiaro Comitê do Itajaí nas suas decisões. Um exemplodisto é o apoio à Câmara Técnica de Planejamentona elaboração do Plano de Recursos Hídricos daBacia do Itajaí, na discussão dos critérios deoutorga da água e na aplicação desses dados àquestões específicas, como é o caso de conflitospor causa da escassez de água. Toda essa discussãoajuda o Comitê do itajaí a conhecer mais a baciae a escolher as opções mais seguras para odesenvolvimento sustentável da água na região.

O SIBI pode ser visitado através do endereço:www.comiteitajai.org.br/sibi.

O Sistema de Informações da Bacia do Itajaí(SIBI) é um meio mais democrático para conhecer,cada vez mais, o caminho das águas do Itajaí,descrito no Capítulo 2. O SIBI foi desenvolvidocomo parte do Projeto Piava. Para o público emgeral é um sítio na internet, pelo qual é possívelobter informações sobre a bacia do Itajaí. Para ostécnicos que trabalham diretamente com a gestãode recursos hídricos é um sistema que envolve acoleta, o tratamento, a organização e oarmazenamento de dados e a geração de novasinformações sobre o Projeto Piava e sobre a baciahidrográfica.

Dentro do SIBI os dados estão organizados emdez módulos: 1) Básico, que contém os mapas dosrios e dos municípios; 2) Recuperação da Mata Ciliar,que contém todas as informações sobre os projetosmunicipais de RMC; 3) PolíticasAmbientais Municipais, queapresenta os dados dos CMMAs;4) Educação Ambiental, quecontém todos os projetos de EA;5) Plano de Recursos Hídricos,q u e c o n t é m t o d o s o sdocumentos e mapas do plano;6) Qualidade da água; 7) Cadastrode usuários, vinculado ao sitewww.aguas.sc.gov; 8) Cheias; 9)Cobertura Florestal; 10) Atlas. OSIBI é praticamente umabiblioteca, que cresce sempre,reunindo dados e informaçõessobre o caminho das águas. Porisso, nem todos os módulos estãopreenchidos ainda.

O C A M I N H O D A S Á G U A S É C A D A V E Z M A I S C O N H E C I D O

Page 58: O Movimento das águas

54

A bacia do rio Itajaí vive um momento históricona busca de soluções para os problemas ambientaisque afetam a água na região. Mais do quesimplesmente reconhecer os problemas, o quevemos agora é a coragem para enfrentá-los e paraplanejar ações que viabilizem o uso múltiplo daágua de forma sustentável. E o mais importante éque a população da bacia enfrenta esse desafiocriando espaços de participação inéditos para aimplementação de políticas públicas nosmunicípios e na região como um todo.

A reunião dos estudos técnicos e científicos teveinício em 2005, na Câmara Técnica dePlanejamento, e o resultado de quase dois anos detrabalho ganhou uma versão de síntese e comlinguagem popular, publicada em setembro de2006, permitindo que este conhecimento fossedisseminado e alimentasse a discussão pública.

As escolas e suas professoras foram grandesaliadas na construção e organização do saberpopular por meio da realização dos diagnósticos

participativos, mas a mobilização atingiu tambémas prefeituras, câmaras de vereadores, conselhosde meio ambiente, fóruns de Agenda 21, igrejas emovimentos sociais da bacia. Este trabalhoenvolveu milhares de pessoas e contou com aparticipação direta de 450 pessoas na síntese emdiagnósticos municipais e por sub-bacias. Oresultado dessa grande mobilização pôde serassistido nas consultas públicas da Semana daÁgua, campanha permanente de EducaçãoAmbiental, entre 22 e 29 de setembro de 2006.

As principais ações indicadas pelos municípiospara serem implementadas ficaram nesta ordem:estações de tratamento de esgoto, indicadas por88% dos municípios; a recuperação de Áreas dePreservação Permanente (APPs), indicada por 83%dos municípios; o controle do uso e do comérciode agrotóxicos, indicada por 81% dos municípios;e a criação de unidades de conservação e arevitalização dos rios, ambas indicadas por 46%dos municípios.

A segunda etapa do processo participativo deconstrução do plano da bacia foi realizada em 2007.As sugestões do diagnóstico participativo foramagrupadas em temas e para cada tema a CâmaraTécnica de Planejamento criou um grupo detrabalho. Esses grupos, que contaram com aparticipação de representantes de todos osmunicípios da bacia, foram os responsáveis pela

Consulta pública: lideranças da baciado Itajaí do Oeste, em Rio do Sul, discutemprioridades em 2006.ACERVO DO PROJETO PIAVA

U M N O V O P A C T O P E L A Á G U A

Page 59: O Movimento das águas

55

formulação das diretrizes, tarefa que exigiu oestudo da legislação correspondente, dascompetências institucionais e ainda a contribuiçãode especialistas nos temas específicos. As diretrizesvão orientar os usos futuros da água na bacia doItajaí e estabelecer prioridades de ação para o CBHdo Itajaí.

As diretrizes assim formuladas foram alinhadasàs propostas do Plano Nacional de RecursosHídricos. Em agosto e setembro de 2007, elasforam discutidas amplamente pela sociedade, sejanos CMMAs, como em outros grupos eassociações, e, finalmente, em mais uma rodadade consultas públicas, realizadas de 20 a 27 desetembro de 2007, durante a Semana da Água.Essas diretrizes serão aprovadas em assembléiageral do Comitê do Itajaí.

Com base nessas diretrizes, as metas e osobjetivos do plano de bacia devem buscar acompatibilização da disponibilidade com ademanda por água e apontar as medidas

Marcos Neves, do Ministério do Meio Ambiente,assessora o Comitê do Itajaí na formulação decenários para a bacia, em julho de 2007.ACERVO DO PROJETO PIAVA

mitigadoras para a redução dos impactosambientais verificados na bacia, tendo comoperspectiva as demandas atuais e projetadas deágua. A expectativa é que o documento final doplano de bacia esteja concluído ao final de 2008.

O movimento das águas pulsa com nova energia.A participação da população deu sangue novo emuitos significados para este processo deplanejamento. Contribuiu na priorização das açõese na sistematização dos temas em grupos detrabalho, mas também enriqueceu o trabalho comhistórias pessoais e de comunidades quemanifestaram o sentimento de urgência por umnovo pacto pela conservação e uso sustentável daágua na bacia. Um pacto que está sendoconcretizado por meio do Plano de RecursosHídricos da Bacia do Itajaí.

Page 60: O Movimento das águas

FOTO RENATO RIZZARO / RESERVA RIO DAS FURNAS

Page 61: O Movimento das águas

C A P Í T U L O 4

A magia das águas

Apesar dos apelos mágicos, religiosos e

poéticos, o homem viu-se diante de situações

e desafios concretos, que o forçaram a encarar

a água de uma forma mais racional, buscando

o seu domínio. Mesmo com a racionalidade

científica dominante, a água não perdeu seu

poder simbólico. Ao passo que foi se

tornando, cada vez mais, elemento vital para

o desenvolvimento econômico, o uso dos

mitos como modelo explicativo e aglutinador

social foi transformando-se, perdeu um

pouco de sua força, mas continua permeando

o imaginário de praticamente todos os povos.

Esta magia contagiante, carregada de

significados, de representações sociais, de

valores estéticos, religiosos, políticos,

culturais e econômicos, é o que conecta as

pessoas do Vale do Itajaí no movimento de

cidadania pela água e na construção de uma

política sustentável de proteção da água, no

âmbito do Comitê do Itajaí, por meio do

Projeto Piava.

Estas pessoas foram contagiadas pela magia

das águas e pela energia envolvente das

educadoras e dos educadores, dos

mobilizadores regionais ou coordenadores de

GTMs do Projeto Piava. Pessoas que também

se transformaram em “piavinhas”, e que

conseguiram formar “cardumes”. Aqui vamos

contar as histórias de algumas delas.

Um novo espírito de solidariedade que contagia a todos

57

A água nos fascina há séculos. Ela sempre inspirou indagações e foi motivode veneração em diferentes culturas. No poema bíblico da criação, o espíritopairava sobre as águas, como que incubando para fundir a vida. Os aztecasveneravam a deusa água, Chalchiuhtlicue, e o deus da chuva, Tlaloc. Paraos incas, a deusa da água era Pachamama. Os egípcios adoravam Taueret,que tornava seu império uma dádiva do Nilo. Os Xoclengue acreditamque os homens surgiram das águas e muitos brasileiros, influenciados peloscultos africanos, respeitam Yemanjá, a Rainha das Águas.

Page 62: O Movimento das águas

58

Um pequeno fio d’água ainda corre pela encostae separa a lavoura de fumo de uma área depastagem para o gado na propriedade doagricultor Túlio Ramos, 42 anos, na localidadede Pitangueiras, no município de Agrolândia, nasub-bacia do rio Itajaí do Sul. Nos tempos desua infância, quando o morro ainda era cobertode vegetação nativa, corria ali um caudalosoriacho de águas cristalinas cheio de piavas. Parapescá-las não era necessário rede ou anzol. “Erasó passar o balaio n’água que ele vinha cheinho”,lembra Túlio, com saudade dos tempos demoleque.

O riacho, agora, tem existência fugidia, e chegaa desaparecer nos períodos de seca prolongada.Foi assim em 2006, quando Túlio quase ficou semágua para dar de beber aos animais e começou a

Q U E V O L T E M A S P I A V A S

matutar sobre o que fazer para salvar o riachoque abastece sua casa. “Numa reunião com osagricultores da nossa comunidade, onde a equipedo Projeto Piava apresentou a proposta derecuperação da mata ciliar, eu passei a ter maisclareza sobre como recuperar o riacho e aderi aoprojeto”, observa Túlio, que também é presidentedo Sindicato dos Trabalhadores Rurais deAgrolândia.

Seguindo orientações do Grupo de TrabalhoMunicipal de Agrolândia, coordenado porCláudio Prochnow, técnico da prefeitura, e como apoio da equipe do Projeto Agroflorestas e daSouza Cruz, o fumicultor reservou e cercou umaárea de dois hectares ao redor da nascente e aolongo do riacho.

Nesta área Túlio plantou mais de três mil mudas

Agricultor Túlio Ramose sua filha querempescar novamente

piava de balaio.FOTO RENATO RIZZARO

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de árvores nativas, que estão crescendo ealimentando sua esperança de ver novamente umriacho com água e piavas saltando no balaio. “Euainda quero mostrar pros meus filhos como sepescava piava na minha época... vou trazer as piavasde volta”, diz, com uma ponta de culpa por tercontribuído com a destruição do riacho e com oconseqüente sumiço das piavas. “É pra garantir águapros meus filhos que eu estou recuperando aquelanascente e eles vão ver as piavas novamente”, apostacom o olhar no futuro.

Não muito longe dali, na localidade dePitangueiras, a agricultora Lúcia Neckel Doering esua família rompeu com as formas convencionaisde agricultura extensiva, preferindo a prática doplantio integrado à floresta, com uso de aduboorgânico e de outras técnicas da chamadaagroecologia. A família de Lúcia é pioneira nomunicípio na modalidade de agricultura sustentável,preservando o solo e a água, o que no futuro daráuma nova chance as piavas e, que assim como Túlio,a guerreira Lúcia também quer ver saltitando nosriachos de Agrolândia.

O município de Agrolândia é o maior produtorde peixes de água doce do Vale do Itajaí, com maisde 70 toneladas/ano, e quase não tem mais piavasem seus rios. Os peixes nativos, como a piava, ocará, o cascudo, a traíra e o jundiá deram lugar aospeixes exóticos, como tilápias, carpas e bagreseuropeus ou africanos que escapam das lagoas esão predadores dos nativos. Diante desta realidade,apenas a preservação da mata ciliar não serásuficiente para trazer de volta as piavas, outrasatitudes se fazem necessárias.

A sensibilidade para observar o que acontece coma natureza, quando agredida pelo ser humano, deixaLúcia preocupada com o futuro de sua comunidade

e do planeta, e faz dela uma pessoa conectada como seu tempo.

Lúcia mora com o marido, Rolf Doering, 43 anos,e dois filhos, no fim da estrada geral da localidadede Pitangueiras. É a última moradora de um lugarque já está isolado do mundo, mas sabe que o quefaz no seu pedaço de chão vai se refletir na saúdede sua família, dos consumidores, e na saúde doplaneta.

Por isso, não usa uma dose sequer de defensivosagrícolas, que ela faz questão de chamar de venenos,e está recuperando o que três gerações passadas desua família destruíram. “Meus antepassados,infelizmente, foram destruidores da natureza, talvezporque não sabiam direito o que estavam fazendo”,avalia. “Eu vi e senti o resultado dessa destruição etenho obrigação de fazer diferente”, completa.

O método de cultivo da família Doering éintegrado à conservação da floresta. Lúcia explicaque o plantio direto ou consorciado com a florestaauxilia no controle de pragas e na adubação do solocom matéria orgânica, seja da própria floresta oudas aves e dos animais que cria para a produção deleite.

Rolf, que durante boa parte do dia trabalha emuma indústria da cidade, tem orgulho em mostrar alavoura de arroz sequeiro orgânico que plantounuma encosta com a ajuda de Lúcia e de vizinhos.A produção ainda é pequena, mas dá para alimentara família, trocar por outros produtos com osvizinhos que também aderiram à produção orgânica,e vender para consumidores exigentes com aprocedência e modo de produção de alimentos.“Além de não usar venenos, não usamos água parairrigação, apenas a da chuva”, conta Rolf.

Lucia e Rolf encontraram no Projeto Piava umaliado para seguir na luta por uma agricultura

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sustentável e para recuperar nascentes e áreas demata ciliar degradadas em sua propriedade. O casaljá plantou quase mil mudas de espécies nativas etem esperança de que as ações não parem, e assimconsiga fortalecer ainda mais os agricultoresorgânicos da comunidade.

Em Agrolândia, as práticas a favor do meioambiente também contam com o apoio do poderpúblico, que apostou na integração prefeitura,escola e comunidade. O estímulo à preservaçãoda mata ciliar e à agricultura sustentável vem sendofeito por parte de alguns educadores, queparticiparam das capacitações do Projeto Piava edesenvolveram atividades em suas escolas ecomunidades.

A articulação entre as “piavinhas” do municípiocontou com o apoio da secretária de educação domunicípio, Cátia Regina Morangani Geremias, efoi desenvolvida pelas educadoras Poliana KalincaWill Eger e Iliane Neubert da Silva. Elas foram asresponsáveis por integrar as ações do Projeto Piavaao Programa de Educação para a Vida, instituídopela Lei Municipal 05/98, que obriga o municípioa promover ações continuadas de educaçãoambiental.

Lúcia encontrou no Projeto Piava um apoiopara suas ações de proteção da água.

ACERVO DO PROJETO PIAVA

Família Doering planta arroz sequeirosem agrotóxico.FOTO RENATO R IZZARO

PÁGINA AO LADO

Alunos de Agrolândia realizam plantio nosfundos da escola e conseguem sensibilizar a

comunidade para a proteção da água.FOTO POLIANA KALINCA

De acordo com Poliana, o Projeto Piava somou-se às necessidades do município. “Precisávamosfortalecer o processo de implantação da educaçãoambiental no currículo escolar, de formatransversal, em todos os níveis e modalidades deensino, e as capacitações do Projeto Piavafacilitaram nosso trabalho e nos deram asferramentas para sua implementação efetiva”.

Praticamente todas as unidades de ensinopassaram a desenvolver atividades integradas aoProjeto Piava e à Semana da Água. As quatro

Page 65: O Movimento das águas

escolas municipais, as duas estaduais e os setecentros de Educação Infantil atuaram de formaarticulada com o GTM de Agrolândia.

Diversas vivências e práticas de ensino foramdesenvolvidas pelas educadoras, sendo que boaparte delas relacionadas ao tema água, mata ciliar,saneamento e cidadania ambiental, semprebuscando novos olhares sobre o meio ambiente.“Nosso município é eminentemente agrícola e otrabalho educativo desenvolvido com os alunosestá se refletindo no comportamento dos pais eem suas práticas”, salienta Poliana.

Hoje, os agricultores são parceiros narecuperação dos rios do município e aliados na

conservação do meio ambiente. “Os agricultoresestão encarando a crise ambiental de uma formadiferente daquela de dez anos atrás, quandoocorreram sérios enfrentamentos comambientalistas que queriam controlar a atividadeagrícola, principalmente a criação de suínos epeixes”, lembra a professora.

Agora, os agricultores Túlio e Lúcia já nãoprecisam se sentir tão solitários nas práticas derecuperação da mata ciliar, de proteção denascentes e do controle do uso de defensivosagrícolas, pois outros cidadãos de Agrolândiatambém querem deixar melhor para os seus filhoso chão de Agrolândia.

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U M A N O V A ‘ A U R O R A ’ P A R A O S R I O S

A proteção de nascentes e a recuperação da mataciliar de pequenos rios são as principais ações queunem as “piavinhas educadoras”. Mas as ações dosprofessores e professoras se estendem também àárea da gestão ambiental municipal, com o apoioà criação e ao fortalecimento de conselhosmunicipais de meio ambiente, a estudos sobrehidrologia e biodiversidade, na mobilização porinvestimentos em saneamento e no uso sustentávelda água, bem como nos diagnósticos participativospara a elaboração do Plano de Recursos Hídricosda Bacia do Itajaí.

Um exemplo dessa diversidade de atividadespromovidas pelas professoras e professores é aação coletiva que reuniu várias escolas domunicípio de Aurora, na sub-bacia do rio Itajaí doSul. Por conta de problemas decorrentes dadegradação ambiental no município, educadoresde várias escolas resolveram desenvolver seusprojetos em parceria e levantar uma ampladiscussão sobre os problemas ambientaisconstatados nas 17 comunidades do município.Entre os problemas percebidos e apontados empesquisas feitas pelos educadores e no diagnósticoparticipativo do plano de recursos hídricos dabacia, destacaram-se a erosão fluvial provocada porenxurradas e enchentes, a redução da quantidadee da qualidade da água dos rios, e a proliferação deborrachudos.

Para enfrentar esses problemas, cada professoradotou um tema e, com a participação dos alunos,promoveu ações integradas. A recuperação da mataciliar foi a ação comum em todos os projetos deeducação ambiental desenvolvidos em parceria

com o Projeto Piava. A secretária municipal deEducação, Reguita Krueger da Cunha, estimuloua articulação entre os educadores, e destes com oGTM de Aurora. Os professores envolveramempresas, lideranças comunitárias, políticos eproprietários de áreas degradadas nas atividadeseducativas e de recuperação da mata ciliar. Alémdas atividades na escola, os educadores tambémpromoveram palestras e reuniões com pais dealunos para conquistar a adesão a seus projetos derecuperação da mata ciliar, que tinham como tema:“nascente protegida, água para toda a vida”.

Como o município não tem uma estrutura demeio ambiente forte, cada escola adotou umanascente ou um trecho de ribeirão degradado e,para conseguir as mudas para a recuperação, somouesforços com o GTM, que inicialmente eracomposto apenas pelo secretário de Agricultura,Valdelir Antônio Bagio. Por conta dessa deficiênciaestrutural, algumas professoras reclamaram quenão tinham o respaldo necessário do GTM e daprefeitura para promover as ações com maiorefetividade. “Poderíamos avançar muito mais, sóque faltou apoio na hora de implementar as açõesde recuperação ambiental que planejamos com osalunos e com a comunidade”, reclama JoseaneMartins Koerich, professora da Escola BásicaMunicipal Ana Galvan.

O secretário Bagio revela um problema que serepete em vários municípios que têm na agriculturaa base da economia. “Eu sou secretário daAgricultura e preciso atender os agricultores, omeio ambiente fica para as horas de folga, e comonão tenho folga fico devendo atenção nesta área”.

Page 67: O Movimento das águas

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A sorte de Aurora é que as professoras eprofessores resolveram fazer a diferença e pensarno amanhã, numa nova aurora para os rios domunicípio.

Um belo exemplo de articulação promovida pelasprofessoras de Aurora está na comunidade deChapadão Nova Itália. A professora Marli RibeiroBorges Saffier, com o apoio do vereador eagricultor Nicolau Kohn, morador da comunidade,conseguiu a adesão de praticamente todos os paisde alunos para as ações de recuperação denascentes e matas ciliares. A sensibilização

começou pelos pequenos e alcançou osagricultores atingidos pela seca. “Com a pressãodos filhos e da estiagem foi mais fácil conseguir aadesão dos agricultores para proteger a água”,conta Marli.

A música e a arte foram outras grandes aliadasda professora Marli para tocar o coração dos paisdos alunos. Várias músicas sobre a água e a mataciliar, com paródias de sucessos de músicas

Alunos da professora Marli plantammudas em Aurora.ARQUIVO DA PREFEITURA DE AURORA

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populares, foram escritas pelos alunos e ganharama interpretação do coral da Escola MultisseriadaChapadão Nova Itália. Como pano de fundo parao coral, a merendeira e artista Jane pintou um painelcom quase 10 metros, inspirada na música PlanetaÁgua, de Guilherme Arantes.

Nicolau Kohn diz que entrou na política paradefender os pequenos agricultores e agoraencontrou mais uma causa para defender noplenário da Câmara Municipal: o meio ambiente.“O pequeno agricultor não destrói a natureza e éesse modelo de agricultura familiar que defendopara nossa região”. Com esse discurso ele jáconseguiu implantar uma cooperativa de produçãoagrícola na comunidade de Chapadão Nova Itália,que quer ser referência nacional na produção defrango caipira orgânico. A câmara também aprovouuma lei que obriga o município a distribuir mudasde árvores nativas para os alunos da rede de ensino

Na página ao lado, a professora Marli e a artistaJane com as crianças de Nova Itália.

Acima, o vereador Nicolau Kohn, que apoiaas ações do Projeto Piava.FOTOS RENATO RIZZARO

do município. Uma iniciativa na educaçãoambiental, consolidou outra na área política, o quedeve fazer com que as piavas em Aurora tambémpossam sonhar com melhores águas.

Mara Schaade era estudante de Ecologia naUnidavi, em Ituporanga, quando começou a fazerestágio na secretaria de Agricultura de Braço doTrombudo, em 2001. Filha de agricultores, ela sabiaque enfrentaria alguns obstáculos para aplicar, emseu novo trabalho, o que estava aprendendo nauniversidade. Mesmo assim topou o desafio e

começou, aos poucos, a disseminar orientaçõesecológicas para os agricultores. Alguns nãoderam muita atenção para o que a estagiáriafalava, mas com seu jeito simpático e muitapersistência, logo conseguiu fazer adeptos egrandes aliados no trabalho.

A secretária municipal de Turismo, CariceWosnievicks, é uma das aliadas de Mara naimplantação de ações educativas, de proteção erecuperação ambiental. Juntas elas envolveramprofessores, agricultores, empresários e liderançascomunitárias na busca de soluções para osproblemas ambientais do município. Muitas destas

A S M U I T A S F A C E S D E U M A L I Ç Ã O

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ações foram desenvolvidas no contexto da Semanada Água e no Programa de Recuperação da MataCiliar, ações estas promovidas pelo Comitê do Itajaía partir de 1999 e 2001, respectivamente, e quetinham Mara como coordenadora municipal.

Quando surgia oportunidade, Mara e Caricedisseminavam a idéia de que era necessário adotaralternativas menos impactantes sobre o meioambiente na promoção do desenvolvimentoeconômico do município, como o turismoecológico, novas práticas rurais, controleambiental da atividade industrial e planejamentourbano. E para discutir essas novas idéias criaram,no final de 2004, o Conselho Municipal de MeioAmbiente e Turismo. Era o espaço democráticoque faltava para a discussão das alternativasviáveis para o desenvolvimento sustentável domunicípio, mas ainda não sabiam como utilizar opotencial do novo espaço.

Todas essas ações ainda estavam em estágioembrionário quando Mara e Carice conheceram oProjeto Piava e passaram a coordenar o Grupo deTrabalho Municipal. Mais do que se envolverapenas com as atividades de recuperação da mataciliar, elas promoveram a integração entre os várioscomponentes do Projeto Piava no município deBraço do Trombudo, auxiliando nas açõeseducativas, de mobilização e de inovação na gestãoambiental municipal. Até o Conselho de MeioAmbiente e Turismo ganhou novo estímulo parafuncionar como um verdadeiro espaço depromoção da política ambiental municipal e dediscussão sobre o futuro das águas no município,principalmente das águas sulfurosas.

Na localidade que leva este nome, ÁguasSulforosas, o agricultor Lauro Niederhaus,descobriu recentemente a importância da florestapara a conservação da água. E quem lhe ensinou alição foi a seca que deixou muitos municípios doVale do Itajaí em estado de emergência em 2006.As nascentes de água que utiliza para abastecer acasa e para dar de beber aos animais praticamentesecaram naquele ano. Até mesmo o caudaloso RioTrombudo, que corta sua propriedade,transformou-se numa escadaria de pedras com umminguado fio d’água descendo seus degraus. “Eusabia que a retirada da floresta era o que estavacausando a redução da água e, quando soube doProjeto Piava, não perdi tempo. Estou devolvendoo que era do rio e acho que todos deveriam fazero mesmo”.

Lauro diante de sua área em recuperação.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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Já o casal Osny e Jane Gieseler, que mora nasmargens do rio Trombudo, na área central domunicípio de Braço do Trombudo, sempre gostoude plantar árvores. Jane é professora do ensinobásico e tem como hábito distribuir mudas deárvores frutíferas para os alunos no Dia da Árvore.Além de estimular os alunos a plantar árvores elasempre pega a mão na enxada e sai plantandomudas ao redor da casa. O resultado é que hojesua casa é cercada por um verdadeiro pomar.

Porém, uma área nos fundos de sua casa que vaidar nas margens do Rio Trombudo, estavaabandonada. “Eu sempre gostei de preservar anatureza, mas foi com o envolvimento no ProjetoPiava que descobri a importância da mata ciliar ecomecei a usar plantas nativas na sua recuperação”,conta Jane. Hoje, além das árvores frutíferas, ingás,tanheiros e outras plantas nativas começam aformar uma nova floresta ciliar. “As frutas dessebosque serão para as futuras gerações”, comentaJane, ao comparar a floresta ciliar com seu bosquede árvores frutíferas.

AS VERDES MADE IXAS DE DONA EMMA

Dona Elza é uma daquelas professoras quecarrega uma paixão enorme pela arte de educar.Mesmo aposentada, ela se dedica de formavoluntária às ações comunitárias e de educaçãoambiental no município de Dona Emma. Em 2006,deu aula para os pequeninos da Escola BásicaProfessora Maria Angélica Calazan, naComunidade de Caminho Pinhal, onde mora, eonde aplicou as propostas educacionais sugeridaspelo Projeto Piava.

Em 2007, reservou seu tempo para uma açãoeducativa voltada aos pais desses alunos, que,segundo ela, já estão sendo sensibilizados pelosfilhos, mas que ainda precisam de uma atençãocontinuada para se tornarem fiéis da causaambiental. “É preciso manter um trabalho de portaem porta, com aquela conversa rotineira, baseadana pedagogia da insistência e da paciência para queos adultos também passem pelo processo detransformação necessário para salvarmos os nossosrios”, ensina a professora Elza Riziere.

E assim, com base nesta premissa e como umamissionária da verdade ambiental, dona Elzapercorre longas distâncias pelas estradas de terrabatida do município de Dona Emma na busca denovas almas para seu rebanho. Ou melhor, de novas“piavas” para o “cardume”.

Quando vê um ribeirão com o barranco semvegetação ou comido pela erosão, pára e vaiconversar com o dono do terreno. Fala sobre a

Mara Schaade (e), coordenadora do GTM deBraço do Trombudo, aprecia área recuperada nosfundos da casa da professora Jane (d).ACERVO DO PROJETO PIAVA

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importância da mata ciliar para a proteção da águae o convence de que ele precisa cuidar melhor daágua que passa em sua propriedade, pois essa águaainda vai servir a outras espécies e a outrosmoradores. Usando essa estratégia, dona Elza jáconquistou a adesão de 77 proprietários para asações de recuperação de nascentes e matas ciliaresno município.

É claro que ela não faz tudo isso sozinha. Aexperiência e o espírito comunitário de dona Elzaestão aliados à juventude e ao dinamismo deAgnaldo Alves de Souza, técnico de meio ambienteda prefeitura. Os dois formam o núcleo do GTMde Dona Emma, que conta com o apoio dasprofessoras de toda a rede de ensino e também daprefeitura.

Na sua ação e articulação com os demaiseducadores, Dona Elza vislumbra um futuromelhor para os rios, florestas e pessoas domunicípio.

Dona Emma era esposa de José Deeke, que foidiretor da Companhia de Colonização Hanseática,que a partir de 1897 trouxe imigrantes alemães paraocupar as terras do vale do rio Itajaí do Norte.Este rio também é conhecido como rio Hercílio,em homenagem ao filho do casal, Hercílio CaetanoDeeke, o primeiro a nascer no local e que foiprefeito de Blumenau na década de 60.

Para o afluente mais bonito do rio Krauel, quecontribui para o Rio Hercílio, José Deeke deu onome de sua esposa, dona Emma (nascidaRischbieter), que certa vez lhe disse consideraraquele o lugar mais bonito dos trópicos.

Dona Elza quer fazer valer a opinião de donaEmma, e trabalha incansávelmente, até nos finsde semana, para resgatar a beleza e o esplendor domunicípio, mesmo que essa seja apenas a parte maisaparente de seu trabalho.

A beleza de Dona Emma estava em sua vastacabeleira, que ostentava diversos arranjos e véustransparentes caindo sobre seus ombros largos. Oumelhor, na diversidade de espécies que formavamsua cobertura vegetal e nas cascatas de águascristalinas que caiam de seus penhascos. Omunicípio, no entanto, foi um dos mais devastadosdurante o ciclo da madeira. Dona Emma ficoupraticamente pelada. Restaram apenas pequenostrechos da Floresta Atlântica nos topos dos morrosmais acidentados, onde a fúria e a ganância dohomem encontraram uma barreira natural.

Para esconder a vergonha de Dona Emma, osprimeiros agricultores trataram logo de tornarprodutivas as terras despidas, quase inertes e semvalor. Foi assim que o município se tornou umdos maiores produtores de fumo do Vale do Itajaí.Essa maquiagem, no entanto, caiu como umborrão disforme e não devolveu a beleza originalde Dona Emma.

De uns anos pra cá, coisa muito recente, algunsagricultores começaram a perceber que DonaEmma precisava mesmo era de uma cirurgiaplástica. Passaram a trabalhar de forma maisintegrada com a natureza, e a plantar mudas deespécies nativas para enriquecer os capoeirões eáreas degradadas. No lugar da maquiagem comprodutos químicos, estão usando produtos naturaise adubo orgânico. Em vez de derrubar a floresta,plantam mudas de espécies nativas para recuperarmata ciliar que protege a água dos rios.

As madeixas de Dona Emma eram verdes comoestas de Itaiópolis, às margens do rio Hercílio.ACERVO DO PROJETO P IAVA

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Não dispor de uma das matérias-prima maisimportante para essa cirurgia plástica foi a primeiradificuldade encontrada pelo agricultor MarcosOdorizzi em sua missão de recuperar o que asgerações passadas destruíram. Ele não encontravamudas adaptadas à região e ainda não detinha atecnologia da coleta e germinação de sementes deespécies nativas. Foi por meio do Projeto Piavaque ele passou a dominar essa tecnologia e nãoperdeu mais tempo. Além de contar com asespécies produzidas nos viveiros de José Boiteuxe Ibirama, tratou logo de montar um viveiro deespécies nativas e saiu plantando mudas pelos 50hectares de sua propriedade rural. Com a ajuda daesposa, Jane, e dos 10 filhos, Marcos trabalha comoum alucinado para recuperar o tempo perdido. Ocasal plantou mais de cinco mil mudas em menosde um ano.

A vida de cirurgião da natureza está mudandocompletamente o relacionamento de MarcosOdorizzi com a terra e o modo de produção emsua lavoura. Ele, formado em agronomia, praticavauma agricultura convencional, voltada para a

produção em grande quantidade e baseada no usode agrotóxicos, como aprendeu nos bancosescolares. Conta que aplicava o que aprendeu, maspercebeu que estava acabando com a terra, com aágua e ainda envenenando seus filhos. “Foi quandome dei conta que precisava mudar e trabalhar juntocom a natureza, respeitando seus ciclos, seus limitese todos os demais seres vivos”

Sua conversão para uma nova forma derelacionamento com a terra, com a natureza e comtodos os seres vivos se deu há apenas oito anos.Hoje, Marcos é um daqueles devotos radicais dacausa ambiental. Para quem ainda não se converteuele até diz que as árvores vão render um bomdinheiro no futuro. E pra quem duvida, diz queestá plantando sombra. “Devido ao aquecimentoglobal, sombra será um negócio valioso”, brinca.

Marcos e Jane Odorizzi ao lado da mudaplantada e junto com a família em ação.FOTOS RENATO R IZZARO

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“O Projeto Piava veio em boa hora para iniciaruma reversão nesse processo”, constata Dulciane.A preocupação dos moradores com a situação deescassez de água é grande e por conta disso as açõesambientais no município avançaram bastante. OConselho Municipal de Meio Ambiente, criado apartir das capacitações e assessorias do ProjetoPiava, está em pleno funcionamento. “Antes doProjeto Piava o conselho não existia, a gente fez acapacitação e a partir dali montamos sua estrutura,arrumamos o regimento interno, e claro, ainda temmuita coisa pra fazer”, observa Dulciane.

A floresta de imbuias que cobria a localidade deChapadão Rio dos Bugres já não existe mais, e o riodos Bugres também corre o risco de desaparecer.Chapadão Rio dos Bugres éo antigo nome da cidade deImbuia, na sub-bacia do rioItajaí do Sul. Os coloni-zadores alemães que por alichegaram em 1930 trocaramo nome da localidade deChapadão para Imbuia,numa clara referência àabundância dessa árvore na região. As imbuias, assimcomo todas as árvores nobres do lugar, foramdizimadas durante o ciclo da madeira, que seestendeu até a década de 1980 na região. E parafazer valer novamente o nome da cidade, algunsmoradores estão plantando mudas dessa árvore emáreas degradadas.

Uma dessas moradoras de Imbuia, que tem umverdadeiro fascínio pela árvore que dá nome à cidade,é Dulciane, 27 anos, coordenadora do Grupo deTrabalho Municipal. Pelo seu incentivo, cerca de 23mil mudas de espécies nativas, entre as quais a imbuia,foram plantadas no município, em 180 áreas aoentorno de nascentes ou nas margens de rios,envolvendo mais de 150 agricultores, o que coloca omunicípio entre os que têm a maior área emrecuperação.

Imbuia é a cidade que mais sofre com a seca noVale do Itajaí, pois muitos de seus rios já secaram eas constantes quebras de safra nas lavouras de cebola,milho e fumo deram o sinal de alerta para osagricultores. Era necessário proteger as fontes de água.

R E C U P E R A Ç Ã O D A I D E N T I D A D E V E R D E

Dulciane coordenou os trabalhos de recuperaçãoambiental em Imbuia, levando 175 proprietáriosa aderirem ao Projeto Piava.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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Ademar Hadlich, dono de uma padaria no centrodo município, nas margens de um ribeirão, é umdos moradores da cidade que aderiu à recuperaçãoda mata ciliar. “O primeiro plantio eu fiz porexigência do Ministério Público, porque construíem área de proteção permanente, mas já fiz outrosplantios por minha vontade e acho que todas aspessoas deveriam recuperar áreas degradadas eplantar árvores para melhorar a qualidadeambiental do município”, fala.

Piava despertaram em seus moradores osentimento de pertencimento ao Vale do Itajaí, queparecia adormecido.

Por conta desse descompasso no espaço e notempo, as ações do Projeto Piava começaram umpouco atrasadas em Itaiópolis. O município nãoparticipou da primeira rodada dos cursos decapacitação de educadores, mas logo em seguidarecebeu um curso, extensivo aos municípios dePapanduva e Monte Castelo, que se encontram emsituação semelhante.

Talvez por isso, os professores de Itaiópolisresolveram não perder tempo e foram logomontando uma verdadeira linha de produção paraimplementar as ações sugeridas pelo Projeto Piava.

Após os cursos de capacitação constataram queo município estava situado em uma região detransição no que diz respeito aos aspectos físicose naturais, e até mesmo do ponto de vista sócio-econômico e cultural. Por isso precisava de umaatenção especial e uma abordagem específica nasações de recuperação da mata ciliar.

Colonizada por poloneses, ucranianos e alemães,Itaiópolis foi um dos focos de conflitos durante aGuerra do Contestado. Possivelmente o únicomunicípio do Vale do Itajaí que tenha servido decampo de batalha entre as tropas do governo e osseguidores do monge João Maria.

Recortado nitidamente pelo divisor de águas quesepara as bacias do rio Itajaí e do rio Negro, e comuma vegetação de transição entre a floresta atlânticae os campos de altitude, a paisagem do municípioé, realmente, distinta das dos demais municípiosdo alto Vale do Itajaí.

Respeitando essas especificidades, os professoresdo município perceberam que, para recuperar avegetação ciliar da forma correta, seria necessário

LÁ ONDE O RIO NEGRO É VIZINHO DO ITAJAÍ

A sede do município de Itaiópolis está fora dabacia do Itajaí. As águas que caem sobre ostelhados de maior parte de sua população corrempara o rio Negro e vão parar no rio Iguaçu, nolimite com o estado do Paraná. A área que pertenceà bacia do Itajaí é até maior em tamanho, masmenos povoada. Mesmo assim, as ações do Projeto

Uma parte de Itaiópolis está nabacia do rio Negro, outra na do Itajaí.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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coletar sementes e produzir as mudas no própriomunicípio. E foi assim que começou o desafio decriar uma proposta local envolvendo a construçãode uma política de uso da água com planejamentoterritorial do município.

As professoras de Itaiópolis se organizaram emtorno do Projeto Piava com uma missão: envolvertodas as escolas do município nas atividades deproteção e recuperação de nascentes e matasciliares, numa verdadeira ação em rede e com umalinha de produção bem estruturada. Foi assim quea professora Cleusa Hübner Kazmierczak assumiuo papel de estrategista, atuando como articuladoraem todas as escolas, com o apoio de retaguarda dacoordenadora pedagógica do município, FabianaHartinger Souza, e com carta branca da secretáriade Educação, Ileuza Terezinha Hübner.

Cleusa, com o apoio da professora Jane Engels,promoveu a articulação entre as escolas, criandoassim uma força tarefa para cumprir todas as etapasdo processo de sensibilização, educação ambiental,coleta de sementes, produção de mudas e o plantiodessas mudas para a recuperação das nascentes ematas ciliares.

A articulação em rede ficou organizada dessaforma: todas as escolas desenvolvem atividades desensibilização e educação ambiental com os alunose pais; duas escolas estão trabalhando na coleta desementes e produção de mudas (Escola deEducação Básica Bom Jesus e Escola de EducaçãoBásica São João Batista); duas escolas, com apoioda Epagri, estão mobilizando as comunidades eos agricultores a participarem do projeto (EscolaEstadual Básica Virgílio Várzea e Centro Educativode Itaiópolis); e outras duas escolas ficaramresponsáveis por organizar a distribuição e o

plantio das mudas (Escola Municipal Rio da Estivae Escola de Educação Básica Odair Zanelatto).

As ações ainda estão em estágio embrionário e aprimeira grande mobilização foi promovidadurante a Semana da Água 2006, quando juntas asescolas aplicaram o diagnóstico participativo dosrios nas comunidades onde estão sediadas. Comoa maior parte das unidades de ensino está na baciado Rio Negro, apenas o diagnóstico feito no rioBispo foi apresentado na consulta pública do Planode Recurso Hídricos da Bacia do Itajaí. O rio doBispo também foi o escolhido para as primeirasações de recuperação ambiental.

Cássio Bilicki conhece bem o rio Itajaído Norte e é um aliado na recuperação.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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A captação de água para abastecimento dapopulação da cidade atualmente é feita na baciado rio Negro, mas em função da escassez dequantidade e qualidade desse manancial, ficoudefinido pelo Plano Diretor Municipal que acaptação será feita na bacia do Itajaí nos próximosanos.

Aliás, o Plano Diretor de Itaiópolis, com amobilização feita a partir da intervenção do ProjetoPiava, contou com a participação da população,que conquistou mais proteção para o meioambiente. “Conseguimos influenciar na construçãodo Plano Diretor Municipal e criar áreas depreservação permanente em torno dos futurosmananciais e manter a faixa de 30 metros de mataciliar em todos os rios do município”, conta oprofessor Cássio Edmundo Bilicki, conhecido nacidade como Indiana Jones.

É preciso perguntar por ele pelo seu codinome,assim qualquer morador sabe logo de quem setrata. “Ele mora naquela casa alí da esquina, mas

provavelmente está no meio do mato mostrandoas cachoeiras para turistas”. Essa é a habitualinformação repassada pelos funcionários daprefeitura e moradores de Itaiópolis.

O professor Cássio é conhecido justamente pelasua paixão pelas florestas e rios da sub-bacia doItajaí do Norte, que conhece como a palma da mão.Além de professor e aventureiro, Cássio participados movimentos sociais da cidade e já foi secretáriomunicipal de Turismo, quando criou a rota daságuas para a promoção do turismo de aventura edo ecoturismo na sub-bacia do Itajaí do Norte.

Hoje ele atua como facilitador da integração dasescolas com a comunidade na recuperação da mataciliar por meio do Projeto Piava. Na sua avaliação,o Projeto Piava, mais do que recuperar nascentese mata ciliares, está renovando a esperança de queé possível a sociedade civil inf luenciar naimplantação de políticas públicas e nas definiçõesde uso do solo e da água, assim como aconteceucom a elaboração do Plano Diretor de Itaiópolis.

O bando de tirivas, sabiás, gaturamos e coleiros fazemuma afinada trilha sonora, todas as manhãs, no quintalda casa de seu Gabriel Fonseca, que fica dentro daReserva Indígena Duque de Caxias, no município deJosé Boiteux, na sub-bacia do rio Itajaí do Norte. É ali,ao lado de sua casa, que está instalado um dos 11viveiros que produzem mudas de árvores nativas parao Projeto Piava e integra a comunidade indígenaxoclengue ao projeto.

O alvoroço dos pássaros nos pés de ingás, de pêras,palmeiras e figueiras, entre outras árvores frutíferas,

é para ele motivo de muito orgulho, porque ali,naquela pequena área, as aves, assim como asárvores, crescem à vontade e servem de banco desementes para seu viveiro.

É no quintal do seu Gabriel que as mudinhas de 20espécies nativas estão se desenvolvendo e contribuindopara recompor a mata ciliar na sub-bacia do Itajaí doNorte. São mudas de que o seu Gabriel cuida com omaior carinho, num trabalho zeloso, de onde tem tiradolições de vida, que divide com sua família – dois filhoso auxiliam no viveiro - e com a comunidade indígena.

E N T R E Á R V O R E S , A V E S E C U R U M I N S

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Gabriel é presidente da Associação deDesenvolvimento do Projeto Microbacias, quereúne representantes das sete aldeias dosxoclengue. Neste espaço, seu Gabriel também estáfazendo sua defesa pelo meio ambiente eestimulando a comunidade indígena a fazer omesmo. Um aliado de seu Gabriel, NambláGakran, é o diretor da escola La Klanõ, de onde jásaíram três projetos de recuperação da mata ciliar.

Seu Gabriel observa com muito prazer ocrescimento das mudas no viveiro da comunidadeindígena e se enche de orgulho ao dizer que cadauma daquelas plantinhas vai ajudar a reconstruiras florestas do Vale do Itajaí, que a ambição dohomem branco e a ingenuidade do índiocontribuíram para destruir. “Quando vem alguémaqui, a gente procura falar da importância dapreservação da mata e o porquê do nossotrabalho”, argumenta seu Gabriel, informando quea Fundação Nacional do Índio quer levar esseexemplo para outras reservas do Brasil.

Casado com uma índia e pai de seis filhos, seuGabriel chegou à reserva, em 1980, durante aconstrução da barragem Norte, na época

pertencente ao município de Ibirama. Se apaixonoupela moça xoclengue e também pelo lugar. Mas afloresta, antes exuberante, e os ribeirões, cheiosde água e de vida, naqueles tempos nem lhechamavam a atenção. “Minha ficha só caiu quandopassei um dia por um ribeirão e percebi que eleestava à mingua. Num trecho em que a água desciacom força, agora a gente só vê pedra”, diz seuGabriel, referindo-se aos ribeirões da Paca e daTraíra. O que mais lhe impressiona é que estamudança ocorreu em menos de dez anos.

Com esta percepção, seu Gabriel mudou suasopiniões e atitudes. Por isso dá graças a Deusquando os pássaros, alvoroçados, chegam até aatrapalhar a conversa e se sente imensamentefeliz quando alguém da comunidade chega lápedindo por mudas e nota a presença das avesfazendo a festa.

Educadores da comunidade indígenaelaboraram diagnóstico da água, em quea sustentabilidade apareceu como prioridade.ACERVO DO PROJETO PIAVA

Comunidade indígena integrou-se ao Projeto Piavapor meio do viveiro coordenado por Gabriel.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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Nas décadas de 70 e 80 a floresta da reservaindígena foi muito explorada pela indústriamadeireira e o índio passou a ver na mataapenas um motivo para o corte. “O própriogoverno incentivou a derrubada da floresta naépoca da construção da barragem e os índiosforam usados como massa de manobra e mãode obra escrava para a derrubada”, lembraGabriel.

Esta é uma realidade ainda difícil de mudar.

Seu Gabriel não se ilude e na sua simplicidadesabe que as mudanças comportamentais aindavão demorar. Ele mesmo só agora se deu contade que as sementinhas que cultiva ao lado desua casa poderão fazer uma grande diferençano futuro das novas gerações, seja dacomunidade indígena, seja do homem branco,pois ambos já estão sofrendo a escassez da águaem uma localidade onde a natureza literalmentedava um banho em recursos hídricos.

Caminho Helvécia, no município de PresidenteGetúlio, é uma localidade rural, povoada porapenas 54 famílias, que têm seus filhos na escolamunicipal que leva o mesmo nome do lugar. Maisdo que mandar os filhos para a escola, estacomunidade participa ativamente das atividadeseducativas e sociais promovidas pelos educadores.A professora Janilde Dirksen é uma das queacredita na integração dos moradores com a escola.Ela leciona há cinco anos na escola do CaminhoHelvécia e sempre articulou, com as famílias, açõesque pudessem trazer mais qualidade de vida aosalunos e a toda a comunidade.

Por isso, quando participou da capacitação emeducação ambiental do Projeto Piava e teve quedesenvolver um projeto para a sua escola,imediatamente envolveu os pais dos alunos naproteção das nascentes da região.

Acostumados a responder aos apelos daprofessora, as famílias não perderam tempo e,assim como Janilde, perceberam de imediato aurgência da questão. E mesmo após horas de labutana lavoura, 15 proprietários de terras decidiram se

N O M E I O D O C A M I N H O T I N H A U M A P R O F E S S O R A E M U I T O S P A R C E I R O S

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Enquanto aos pais cabia a prática de proteger asnascentes e recuperar áreas degradadas da mataciliar, na escola a professora falava aos alunos, entretrês e seis anos, da importância da preservação daágua e os motivava a amar o lugar em que vivem.“As cartilhas e todo o material didático do ProjetoPiava foram preciosos para este trabalho”, asseguraa educadora. Os problemas ambientais foramdiscutidos com os pais e com os alunos emostrando a eles que são parte essencial da solução,Janilde transformou todos em grandes parceiros edefensores do meio ambiente.

A seca, em 2006, não poupou nem a escola,abastecida com água por uma fonte próxima. Os32 alunos ficaram sem ver a água sair das torneiraspor dois meses. Os pais se revezavam e levavam aágua para a escola em tonéis.

A escassez da água foi então motivo de palestras,debates, reflexões, e conversas de filho para pai evice-versa, de vizinho para vizinho, e chegou,enfim, aonde devia estar sempre: na escola, emcasa, na cancha de bocha, nas rodas de amigos.“Acredito na educação ambiental desta forma, nodia a dia, integrada, cada um fazendo a sua parte,mas querendo alcançar o todo e a todos”,argumenta Janilde.

Mesmo acostumada à parceria dos pais nosassuntos da escola, ela mesmo se surpreendeu coma participação de todos. A seca teve com certezauma grande contribuição, mas a vontade de mudaro quadro da degradação e estimulados pelaprofessora, as famílias da comunidade escolar doCaminho Helvécia botaram de fato a mão namassa, ou melhor, na terra, e estão recuperandotrechos da mata ciliar e protegendo as nascentesnaquela localidade.

A professora Janilde credita também ao Grupo

Além de educar as crianças, a professoraJanilde elaborou um mapa da comunidade comajuda dos pais, que contribuiu para o diagnósticoparticipativo do município.ACERVO DO PROJETO P IAVA

PÁGINA AO LADO

Seu Lindomar satisfeito com ocrescimento das mudas.ACERVO DO PROJETO P IAVA

reunir e em conjunto com a educadora começarama discutir os problemas que estão afetando osrecursos naturais, especialmente a escassez da água,e decidiram também agir para recuperar as áreasdegradadas e proteger as nascentes.

Sem ter o mapa da bacia do Ribeirão Helvécia,que permitia a confecção da maquete, Janildeimprovisou. Solicitou aos pais que desenhassemsua propriedade, identificassem o trajeto doribeirão e as nascentes. Assim nasceu, pelas mãoscalejadas de homens e mulheres do campo, o mapada bacia do ribeirão Helvécia e também umaconstatação: pelo menos metade das mais de 100nascentes identificadas na área estava desprotegidae algumas quase desapareceram naquela seca.

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de Trabalho Municipal o sucesso do seu projeto,bem como o de outros projetos nas demaislocalidades do município. Para ela a dinâmica doProjeto Piava proporcionou a confiança dosagricultores.

O coordenador do GTM de Presidente Getúlio,Vilmar Grimm, destaca que a demanda porprojetos de recuperação é muito grande. “Osagricultores estão sentindo a necessidade, mas asensibilização por meio dos educadores estáfazendo toda a diferença, no sentido de que elesefetivamente venham a fazer a recuperação da mataciliar e a proteção das nascentes”.

Na opinião de Gerônimo Schmitt, outrointegrante do GTM, as parcerias entre prefeitura,Epagri, Projeto Microbacias, associações demoradores, sindicatos e educadores, teve uma

contribuição fundamental em todo o processo. “Otrabalho conjunto somou forças e o agricultorpercebeu que precisava fazer a sua parte”.

Um dos agricultores do Caminho Helvécia,Geraldo Hoffmann, nem sequer esperou as mudasdo Projeto Piava chegar. Foi pesquisando e buscoudentro da sua propriedade espécies para plantarao redor de uma das nascentes, que há cerca dequatro anos deixou a família por dez dias sem água.

Seu Geraldo conta que cortou os eucaliptos aoredor da fonte, e aos poucos a água voltou a brotar.Agora a nascente está protegida com espéciesnativas. As demais fontes da propriedade jáestavam naturalmente protegidas, mesmo assimseu Geraldo procurou o GTM para saber comoajudar a natureza a cumprir seu papel naconservação da água.

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Com a ajuda da esposa Lorena e os filhosFernando, 20 anos, e Júlia, 13, ele já plantou 250mudas de espécies nativas, sendo 200 fornecidaspelo Projeto Piava e as outras 50 que seu Geraldoencontrou ao decidir antecipar o plantio. A famíliasabe que o caminho agora é o da preservação.“Quem cuidar vai ter água, quem não cuidar vaificar sem”, ensina a esposa Lorena, lição queaprendeu com a escassez, e garante que os seusfilhos já sabem de cor.

Assim como a professora Janilde, a família doagricultor Geraldo Fonseca, os integrantes do GTMVilmar e Gerônimo, existem muitos exemplos emPresidente Getúlio de pessoas comprometidas edispostas a mudar a realidade ambiental do municípiopara melhor. Alguns foram incentivados pelo ProjetoPiava, outros sensibilizados pela própria natureza.

Ver as mudas de plantas nativas crescerem nasmargens dos ribeirões e nascentes que cortam suapropriedade é uma forma de redenção paraLindomar Spredeman, 45 anos, morador dalocalidade de Serra Vencida, não muito distante deCaminho Helvécia. Ele conta que explorou anatureza sem se dar conta de que estava destruindouma preciosa fonte de saúde e bem estar. Plantavafumo, cortava árvores e caçava animais silvestres.Vivia contaminado pelo uso de agroquímicos e tinhasua mão de obra explorada pelas agroindústrias eempresas de fumo.

Numa de suas caçadas acertou um desses periquitosbarulhentos, muito comuns nas florestas da região,também conhecidos como tirivas. O tiro pegou de

raspão, mas quebrou-lhe a asa e o condenou à morte.O olhar penetrante de agonia e desespero daquelepássaro mudou a vida do agricultor. “Pelo olhar, sentique o bicho me chamava de assassino. Depois dissonunca mais dei um tiro e passei a enxergar os animaiscomo seres superiores”,

Assim, Lindomar percebeu que os pássarosmantém estreitas interações com as árvores, com aágua, com os insetos, com as estações do ano e comtodas as florestas. Viu que ao derrubar uma árvoredeixava dezenas de pássaros sem abrigo, e que oveneno usado na lavoura não matava apenas a ervadaninha. Fazendo essas conexões, que ele conheceua agroecologia.

Abandonou a monocultura de fumo e passou acultivar hortaliças com adubo orgânico, incorporandoainda a apicultura com espécies de abelhas silvestres.Hoje, produz 80% do que consome e define aagroecologia como uma maneira de preservar o meioambiente e levar uma vida saudável.

Dos cinco hectares de mata nativa que derrubou,já recuperou dois com o apoio do Projeto Piava, epretende recuperar mais. A experiência com aagroecologia, as mudanças de atitude em relação ànatureza e a prática da recuperação da mata ciliar ede proteção de nascentes estão servindo de modeloe incentivo para outros agricultores. As 15 famíliasde agricultores envolvidas com o projeto daprofessora Janilde, no Caminho Helvécia, já foramvisitar a propriedade do seu Lindomar e trocaramexperiências valiosas.

Lindomar garante que, se pudesse, devolveria tudoque já retirou da natureza além do que precisava paraviver. A esposa, Marlene, de 43 anos, compartilhadas mesmas convicções do marido e tem certeza deque assim vai deixar um pedaço de terra bem melhorpara seus três filhos.

Gerônimo apóia Janilde nos projetosda comunidade do Caminho Helvécia.ACERVO DO PROJETO P IAVA.

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as crianças correram para brincar no balançoencontraram o jacarandá no chão, derrubado porviolentas machadadas em seu tronco, desferidaspor seu Baturité. Foi nesse momento, quando viuas crianças chorando ao redor do jacarandá, queseu Baturité descobriu o apego que as criançastinham pela árvore e pelo balanço. O mais tristefoi perceber que não tinha mais nenhuma árvoreno quintal para pendurar o balanço. Ele já tinhacortado todas.

Foi nesse dia que seu Baturité parou de cortarárvores e hoje o galpão de sua antiga serraria abrigaum dos viveiros de produção de mudas de espéciesnativas do Projeto Piava. O garoto Leandro Lyracontinua sonhando com um outro mundo.

Se lançar ao ar pendurado no balanço sob o péde jacarandá era a brincadeira favorita de LeandroLyra quando criança. O vai e vem debaixo daquelaárvore o lançava para o infinito. Com apenas umimpulso ele ganhava asas e a velocidade do balançolhe trazia uma agradável sensação de liberdade ede contato íntimo com a natureza. “Aquela árvoreera a nossa nave espacial para um outro mundo eo balanço a cápsula de lançamento”, contaLeandro, que disputava o balanço com os irmãos,primos e colegas.

As viagens de Leandro foram abruptamenteinterrrompidas quando seu pai, o madeireiroBaturité Lyra, resolveu cortar a árvore do balançopara transformá-la em tábuas. Certo dia, quando

Três gerações de Lyras unidas em tornoda recuperação ambiental. Leandro, à direita,coordena o plantio.ACERVO DO PROJETO PIAVA

U M A F A M Í L I A E M D E F E S A D O M E I O A M B I E N T E

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Formou-se em Ecologia, trabalha na Casan,participa de projetos sociais e ambientais nacomunidade e é o coordenador do Grupo deTrabalho Municipal de Vidal Ramos, na sub-baciado rio Itajaí Mirim.

Se depender de Leandro não vai faltar árvorepara a garotada da cidade pendurar um balanço.O município é o recordista em projetos e áreasem recuperação da mata ciliar pelo Projeto Piava.Só no viveiro que a família Lyra coordena emparceria com o Sindicato dos Trabalhadores Ruraisde Vidal Ramos, foram produzidas mais de 50 milmudas de espécies nativas. A maior parte dasmudas serviu para atender o próprio município,mas algumas também foram enviadas paramunicípios vizinhos.

Como coordenador do GTM, Leandro entrouem contato com a maioria dos agricultores,conquistando a adesão de muitos para arecuperação da mata ciliar. Em 2006, envolveupraticamente todo o município no diagnósticoparticipativo do Plano de Recursos Hídricos daBacia do Itajaí, feito durante a Semana da Água,realizando entrevistas com moradores e levantandoos problemas e as prioridades a serem trabalhadasno município.

“Meu avô tinha serraria, meu pai tinha serraria ehoje me encanto quando os vejo colhendo eplantando sementes, falando das árvores quecrescem na parte alta, na parte baixa e de madeirasque não encontravam aqui, só na Imbuia, e nosrepassando o conhecimento para enriquecer árease recuperar as florestas, antes usado para explorar,”comemora Leandro.

Izabel Lira, irmã de Leandro, é uma daseducadoras do Projeto Piava que atua junto àscrianças do município. Como professora de

música, atende crianças de toda a rede municipal,e procura valorizar e contextualizar a realidade decada uma delas na relação com o meio ambiente.“Costumo dizer para as crianças que o lugar emque ela está é o cantinho dela, que aquela árvore édela, o rio é dela, e que ela deve cuidar bem e cobrarisso dos pais”, conta Izabel. Para ela, o ProjetoPiava veio para reforçar essa visão, pois tem focode atuação na realidade local, integrada à bacia dorio Itajaí como um todo.

A experiência com o Projeto Piava renovou emLeandro e em sua família o sonho de um novomundo, mais justo, solidário e com sustentabilidadeambiental, social e econômica. Como o seu mundoestá em Vidal Ramos, ele está fazendo a sua parte.“Muita coisa começou a acontecer a partir doProjeto Piava, coisas que saíram do discurso paraa prática, envolvendo os aspectos naturais e sociaise que nos estimulam a continuar trabalhando emdefesa do meio ambiente e por melhor qualidadede vida para todos”, reflete.

Educadores e alunos envolvidos no Projeto Piavadesfilam no dia 7 de Setembro.ARQUIVO DA PREFEITURA DE V IDAL RAMOS

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Assim como diz a letra da música do Projeto Piava– “Faça chuva ou faça sol, não esqueço docombinado”, o técnico em agropecuária Sálvio JoséBarbetta, integrante do Grupo de TrabalhoMunicipal de Vitor Meirelles, cumpre fielmente aagenda com os proprietários que estãoimplementando projetos de recuperação da mataciliar no município.

Para ele combinou, está combinado. Por isso,Barbetta não pensou duas vezes quando precisougarantir a correta distribuição das mudas para osprojetos de recuperação do município. Quando nãotem carro à disposição ele sobe na bicicleta, com aqual vai todos os dias para o trabalho, na SecretariaMunicipal de Agricultura e Meio Ambiente.

F A Ç A C H U V A O U F A Ç A S O L , T U D O E S T Á B E M C O M B I N A D O

E foi assim, para cumprir o combinado, que elese pôs a pedalar 13 quilômetros até a localidade deSalto Dolmann, a fim de concluir o que havia seproposto no dia anterior: distribuir as mudas denativas para três proprietários, para que pudessemefetivar o plantio, pois o descarregamento das 600mudas só pôde ser feito em uma propriedade.“Como as mudas eram para três proprietários enão havia ninguém para fazer isso ali, resolvi voltarno dia seguinte, e como não tinha transporte, aúnica opção foi a bicicleta”, explica.

Antes do Projeto Piava, quando atendia osagricultores nas mais distantes regiões domunicípio, Barbetta também costumava cumprirà risca o que combinava, fosse com as pessoas ou

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com ele mesmo, ou seja, sempre dava um jeito determinar uma tarefa para qual havia secomprometido. Em uma ocasião, para atender acomunidade da Serra da Abelha II, nos pedidosde árvores frutíferas, Barbetta montou em seucavalo e de propriedade em propriedade foilistando os agricultores que desejavam as mudas.Fez isso durante uma semana, mas não deixouninguém de fora.

Barbetta se admira que estas histórias possamser usadas como exemplo de sua tenacidade, masquem acompanha o seu trabalho, como a equipedo Projeto Piava que coordena os projetos derecuperação da mata ciliar, garante que os 58projetos de recuperação da mata ciliar que estãosendo desenvolvidos no município são fruto desua persistência e poder de convencimento. “Agente precisa dar valor para o produtor,acompanhar, mostrar interesse por aquilo que eleestá fazendo. O produtor sente isso. Não podemosdeixá-lo abandonado, senão ele desiste no meiodo caminho”, diz.

Barbetta também se surpreende, e se orgulha deque a sua meta inicial de 30 projetos, quase dobrou.Os 58 projetos no município significam mais de20 hectares de áreas em recuperação e, deste total,12 hectares já estão plantados.

Com os resultados positivos alcançados, Barbettase tornou um defensor do Projeto Piava e achaque é importante que ele tenha continuidade.Quando não consegue visitar os produtoresperiodicamente, procura engatar uma conversaquando os encontra na cidade ou em reuniões.

“Entre uma prosa e outra eu pergunto pelas mudas,como elas estão, se cresceram, e assim por diante.Acho que esta é uma maneira de dizer a essesprodutores que eu não esqueci do quecombinamos, do que a gente fez juntos e queprecisa continuar”, conta.

O agricultor Máximo Domingos Leite, dalocalidade da Serra da Abelha II, queperiodicamente recebe a visita de Barbetta, durantemuito tempo explorou a floresta da região comuma serraria da família. Uma comunidade seformou em torno da serraria, com escola e atéigreja. A área foi explorada até o fim, não sobrounada e a comunidade praticamente desapareceu,restando apenas alguns moradores. Estimuladopelo Projeto Piava, e aconselhado pelo técnicoBarbetta, agora ele está fazendo a recuperação daárea.

BANANAS TAMBÉM PRECISAM DE MATA CILIAR

Na linha de frente das ações de recuperação damata ciliar no município de Luiz Alves estão duasagrônomas: Ilhane Terezinha Marcon, 40 anos,funcionária da Epagri, e Cirlene Kluck Mendonça,30, facilitadora do Projeto Microbacias.Inconformadas que o município havia ficado defora das atividades do Projeto Piava, porqueinicialmente o poder público não quis secompromenter com os trabalhos de recuperaçãoambiental, elas foram incentivar e agregar pessoaspara que Luis Alves também pudesse fazer a suaparte na construção de uma política sustentávelde proteção da água na bacia do Itajaí.

O empenho e a dedicação destas duasprofissionais fizeram a diferença para que omunicípio aderisse ao Projeto Piava e despontasse

Barbetta distribuiu mais de 21 mil mudas,boa parte usando sua bicicleta.ACERVO DO PROJETO P IAVA

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na região da foz do rio Itajaí, com um númeroexpressivo de áreas em recuperação.

Somar forças, juntando pessoas e organizações, foia estratégia usada por Ilhane e Cirlene, conscientesde que o trabalho em benefício do meio ambienteprecisa necessariamente ser realizado em conjunto.Inicialmente as agrônomas se uniram à Cresol(Cooperativa de Crédito Solidário), a primeiraentidade do município a mostrar interesse peloProjeto Piava, e foram em busca de mais parceiros.Convenceram a prefeitura, conquistaram o sindicatorural, agregaram estudantes da FURB, e entãoconseguiram formar o Grupo Municipal de Trabalho.

Em seguida, a Associação dos Bananicultores seintegrou à equipe. Luiz Alves é um dos maioresprodutores de banana do Estado e a participaçãodesse grupo acelerou os projetos de recuperação.Todos os 20 produtores de banana que participamdo Plano de Produção Integrada estãoparticipando do Projeto Piava, pois perceberam

Degradação dos ribeirões de Luiz Alves é tão sériaque esta foto, publicada no Jornal do Comitê do Itajaíem dezembro de 2006, fez com que o MinistérioPúblico intimasse a prefeitura a recuperar a área.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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logo que não só piavas, mas também bananasprecisam de matar ciliar.

Cada grupo representado no GTM seresponsabilizou por uma função e como uma mãofoi se unindo a outra, o resultado são projetosexitosos de recuperação em diversas propriedadese ações de educação ambiental que estãointegrando crianças e agricultores.

Ilhane e Cirlene têm agora boas histórias paracontar. Entre elas a do agricultor que foi convencidoa fazer o plantio e contou com a ajuda de um grupode 100 crianças. “Foi um dia muito lindo aquele.Fizemos uma roda e uma avaliação com as crianças,agradecemos ao proprietário. Ele ficou emocionadoe pediu para que as crianças acompanhassem odesenvolvimento daquela área”, conta Cirlene.

Tem outro caso de um agricultor que fez ummutirão com os vizinhos para o plantio, protegeucada muda com uma cerca e depois resolveu juntartodos para comemorar o plantio com um jantar.O empenho das profissionais resultou na boaaceitação do Projeto Piava por parte dosprodutores. “São eles que vêm à nossa procura.Nas reuniões a gente explica como o projeto

funciona e nem precisamos insistir, porqueimediatamente eles se propõem a fazer arecuperação”, conta Ilhane.

O meio ambiente é sempre um tema que assusta,porque as pessoas ligam os projetos de recuperaçãoà fiscalização e punição. Mas aí novamente asagrônomas têm uma estratégia que não falhanunca: mostrar o amor pelo trabalho e valorizar aação do agricultor.

Por isso o acompanhamento das áreas emrecuperação não é apenas uma visita técnica. Elasdedicam pelo menos meio dia para cada visita.Fazem o trajeto com o produtor, conversam sobreas espécies, mostram interesse pela história dapropriedade, sobre as espécies que existiam ali,quais ainda podem ser encontradas, e aí asexpectativas são as melhores,a ponto decomemorar a vinda das mudas, o plantio e abrir apropriedade para as ações de educação ambiental.

“A gente sobe e desce morros, não são áreaspequenas, mas está valendo muito a pena”, dizIlhane. Ambas garantem que cabe a elas, comoprofissionais, saber trilhar os melhores caminhospara vencer os obstáculos, valorizar as pessoas e

Ilhane e Cirlenepromoveram areversão dadegradação dosribeirões junto aosbananicultores.ACERVO DO PROJETO P IAVA

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incutir nelas as mudanças e as práticas que possammelhorar o meio ambiente, beneficiando a todos.

“No começo o produtor achou quesimplesmente íamos invadir a propriedade dele eiamos embora sem haver uma contrapartida. Oacompanhamento, as vistorias, o envio das mudasprovaram o contrário”, destaca Cirllene.

O professor Josemir Trentini, de Rio do Oeste,filho de agricultores, tinha dois grandes sonhos.Um era o de ser educador e continuar no campo.O outro era por meio da sua profissão contribuirpara que as pessoas tivessem uma nova percepçãosobre o meio agrícola e sobre o ambiente natural.O primeiro já conseguiu realizar: formou-se emeducação física e dá aulas na rede estadual emunicipal de sua cidade natal. O segundo estárealizando a cada dia, tanto junto de seus alunos,quanto de sua família, amigos, vizinhos ecomunidade.

O professor Josemir é um dos parceiros doProjeto Piava do município de Rio do Oeste. Comoeducador, ele multiplica idéias e ações em favordo meio ambiente, e quando não está em sala deaula, trabalha na propriedade dos pais, onde sededica à organização e à conservação ambientaldo local. Pensando e agindo para mudar atitudesem favor do meio ambiente, o professor Josemirjá fez, ele mesmo, a proteção de três nascentes pelomodelo “caxambu”. Todas tiveram suas áreas deentorno protegidas com o plantio de espéciesnativas fornecidas pelo Projeto Piava, que tambémdeu acompanhamento técnico ao plantio.

Ilhane e Cirlene contribuíram para plantar umasemente, não apenas no chão de Luis Alves, mastambém no coração daquelas pessoas queencontraram pelo caminho e que foramsensibilizadas para a prática da recuperação e paraa participação nas ações de educação ambiental.A semente está germinando por todo o município.

U M T I M E C A M P E Ã O

Segundo Josemir, o Projeto Piava veio aoencontro de suas intenções, que era o de recompora floresta e proteger a água de sua propriedade.Ele até surpreendeu os técnicos responsáveis pelapromoção da recuperação da mata ciliar aoderrubar uma plantação de pinus que ainda estavaem fase de crescimento próximo de uma dasnascentes e substituí-las por espécies nativas, numraio de 50 metros ao redor da fonte, seguindoexatamente a legislação florestal.

Praticar educação ambiental nas ações desportivas,em Rio do Oeste, não é mérito apenas do professorJosemir Trentini. A integração de ações educativas,sociais, econômicas, esportivas e também religiosasfoi uma estratégia muito usada pelo GTM. Além daprefeitura, de escolas, de empresas e da igreja, até otime de futebol da cidade entrou na onda derecuperar a mata ciliar. O Haiti Futebol Clubemobilizou seus diretores, jogadores e a torcida paraa recuperação de uma área nas laterais do campo,situado na localidade de Toca Grande.

A mata ciliar do ribeirão da Toca Grande,entre o arrozal e o campo, foi recuperada

pelo Haiti Futebol Clube.FOTO DE MARCOS P ISETA

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O processo de erosão da margem esquerda doRio Itajaí do Oeste, que margeia o campo defutebol, ameaçava derrubar o alambrado. Adiretoria, os atletas e os torcedores do timerealizaram a recuperação da área, fazendo ocercamento e o plantio de mudas, antes mesmoda início das atividades do Projeto Piava, queposteriormente auxiliou na manutenção da área,o que resultou numa rápida recuperação eestabilização do terreno. Por ser uma das primeirasáreas a apresentar resultado positivo, o projeto doHaiti se tornou projeto piloto do Projeto Piava nomunicípio, servindo de área de estudos para as

escolas e de exemplo para os demais projetos derecuperação.

Agora, um troféu de cristal no formato de gotad’água se destaca na prateleira da sede do HaitiFutebol Clube. Trata-se do troféu conquistado naterceira edição do Prêmio Otto Rohkohl deConservação da Água, concedido em 2006 peloComitê do Itajaí. Para conquistá-lo, o Haiti nãoprecisou entrar em campo. O pequeno time doAlto Vale se transformou num timão e tomou umadecisão que muito time grande deveria imitar:mobilizou a comunidade para ações educativas ede recuperação da mata ciliar.

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O município de Rio do Oeste foi um dos maisatuantes no Projeto Piava. De acordo com o diretorde Meio Ambiente do município e coordenador doGTM, Adelírio Heidemann, o trabalho integrado,cada um fazendo a sua parte, e todos pensando empreservar a água e focados nas ações de recuperaçãoda mata ciliar foi o que deu resultado.

Para o coordenador de futebol do Haiti FutebolClube, Marcos Piseta, também integrante do GTM,o exemplo do futebol realmente contagiou a todose facilitou as ações de recuperação. “O futebol e areligião têm esse poder de envolver as pessoas emações coletivas e aqui isso deu muito certo”,ressalta.

U M P O R T O D O S E T O D O S P O R U M

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Em algumas ações são as pessoas que fazem adiferença. Em outras, as instituições ditam o ritmoe chamam as pessoas para a ação. Em Taió, as duascoisas andaram juntas nas ações do Projeto Piava.A prefeitura municipal disponibilizou infra-estrutura para a construção de um viveiro de mudasnativas, envolveu praticamente todas as secretariase cedeu profissionais que fizeram a diferença nasações de educação e recuperação da mata ciliar.

A prefeitura de Taió apoiou efetivamente oGTM, viabilizando parcerias com o sindicato rural,secretarias municipais, Projeto Microbacias,Epagri, e os veículos de comunicação locais.

Foram essas condições que colocaram omunicípio de Taió como vice-campeão de áreasem estágio inicial de recuperação pelo ProjetoPiava. O município superou em muito a metainicial de 18 hectares, chegando a um total de 40hectares de área que está sendo recuperada.

A coordenadora do GTM de Taió, Janine Berri,da prefeitura, explica que além do grande respaldodo poder público municipal, o GTM contou como apoio de empresas e teve uma boa receptividadepor parte dos agricultores envolvidos.“Conseguimos sensibilizar e juntar vários setorese pessoas engajadas para promover as ações doProjeto Piava e o resultado a gente começa aperceber nas margens dos rios”.

Janine destaca que os professores e osagricultores foram os principais aliados. “Hoje elespercebem a importância de manter e proteger as

nascentes, pois a água é fundamental para aagricultura”, comenta. Quase todos os plantios demudas nas propriedades rurais foramacompanhados ou feitos em parceria com asescolas, envolvendo os professores e alunos noprocesso de educação ambiental e recuperação damata ciliar.

Não é difícil encontrar em Taió agricultoressatisfeitos com as ações do Projeto Piava edispostos a levar a recuperação da mata ciliaradiante. Um dos que pensam assim é o agricultorAmarildo Murara, 43 anos.

Desde que os 13,5 hectares de terra, nomunicípio de Taió, passaram definitivamente paraas suas mãos, Amarildo, sua esposa Louise, etambém os seus dois filhos, Rodrigo, 20, e Larissa,18, sonham com uma floresta de árvores nativasem seu terreno.

Em 2006, pelo Projeto Piava, e com o apoio doprojeto de agroflorestas, da Apremavi, 20% dapropriedade começou a ser recuperada comespécies nativas. A satisfação da família é tanta queos quatro costumam reservar algum tempinho porsemana para ficar admirando as mudinhas queestão crescendo na beira do ribeirão, onde parte

Janine, acima à direita, criou a ponteentre o GTM e as escolas.

PÁGINA AO LADO

Alunos de Taió participam de plantio de mudas.ARQUIVO PREFEITURA DE TAIÓ

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das arrozeiras deram lugar a elas, assim como aoredor da nascente e em outros pontos dapropriedade.

“A gente vem aqui e então fica comparandouma área com a outra, qual está sedesenvolvendo melhor. É uma satisfação grandever as plantas crescerem e pensar que daqui aalguns anos teremos nossa floresta nativa”,observa Amarildo. A propriedade pertence àfamília Murara há 40 anos, tendo sido de seusavós paternos e de seus pais.

Para Amarildo a agricultura é a melhor opção devida e ele garante que é perfeitamente possível viverda terra, respeitá-la, protegendo a água e a floresta.A família Murara cultiva milho, arroz e tambémmantém dez vacas para a produção de leite.

Segundo ele, aproveitar o melhor da terra éapenas uma questão de organização e zelo. Opiniãoidêntica a do filho Rodrigo, que não se imaginafazendo outra coisa, que não seja trabalhar naagricultura e agora recuperar a mata ciliar dapropriedade.

Além de recompor a floresta ciliar, a famíliaMurara optou pelo sistema agroflorestal,consorciando o plantio de espécies nativas com a

lavoura de milho, abóbora, melancia e pepino, etambém está implementando o sistema depastoreio “voizin”. Trata-se de um sistema depiqueteamento que permite colocar mais animaisutilizando uma área menor para pastagem, onde orodízio é diário. A área é dividida em 31 partes eem cada uma o gado só pasta uma vez por mês. Oagricultor pretende incrementar a produção de leitecom mais 50% de animais, reduzindo o espaço daárea de pastoreio.

Com estas inovações, que permitem umaexploração melhor do solo, a família Murara querampliar a área de recuperação. A intenção é plantarpalmito e também cercar algumas áreas para que anatureza possa se encarregar da recomposição. Apropriedade que durante quase 100 anos foiexplorada sem cuidado com a natureza, agora estátendo a chance de ter de volta, pelo menos emparte, a mata exuberante de outrora e a águaprotegida. “Aos poucos vamos mudando essapaisagem”, diz Amarildo.

Em uma das nascentes, quase desaparecida erodeada de pinheirinhos (Pinus eliot), a família jámodificou a paisagem. As exóticas, que dariammais lucro se crescessem mais sete anos, foramcortadas e, em seu lugar, uma variedade de nativasocupa a área, que, na certeza de Amarildo, trará aágua de volta.

A longo prazo, nos planos dos Murara, tambémestá a construção de uma pousada. Que boa idéia!Assim eles poderão dividir com outras pessoas arotina da vida rural, a beleza da mata e mostrar quesonhar com um mundo sustentável não é tão irreal.

Pico do Taió, visível em grande parteda bacia do Itajaí do Oeste.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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As últimas braçadas de Beate Frank nas águasdo rio Itajaí-açu foram decisivas. Ela nadava algunsmetros à frente de Roswita Müller quando seaproximava da corredeira que se formava junto achamada “pedra da fome”, onde o Itajaí-açu, aindacheirando a rio, descia um degrau e recebia as águasdo Ribeirão Garcia. Costumava ser ali a reta finalda tradicional prova de natação do FestivalAquático de Blumenau, que nas décadas de 60 e70 reunia nadadores de todo o Estado e levavamilhares de blumenauenses às margens do rio,sempre na semana do aniversário da cidade.

O segredo para se dar bem na reta final da provaera entrar no ponto certo da corredeira e com issose beneficiar da força das águas para ganhar maisvelocidade nos últimos metros da competição.Roswita era a favorita da prova, campeã do anoanterior e costumava não errar nesse ponto. Beate,no entanto, nem olhou para trás. Tinha treinado osuficiente para reconhecer o ponto certo de entrar

na corredeira de olhos fechados. E foi assim,apenas sentindo a água em contato com a pele queentrou na correnteza e seguiu firme para a vitória.

Era a prova de 1970 e Blumenau comemorava120 anos de fundação. Foi a penúltima competiçãode natação realizada no rio Itajaí-açu. A poluiçãodo rio oferecia risco à saúde dos nadadores e aprova de natação foi retirada dos festivais aquáticos.A poluição aumentava a cada ano e, logo emseguida, até mesmo os festivais aquáticos nãoforam mais realizados. Beate então encontrou umoutro motivo para manter seu contato com o rio:mobilizar as pessoas para recuperá-lo.

Essa missão ficou adormecida durante algumtempo. Vieram os estudos, a graduação, omestrado, as viagens. Só que, volta e meia, lá estavaBeate sentada no tronco de árvore nas margensdo rio Itajaí-açu, nos fundos de sua casa, onde deuseus primeiros saltos, e a passou a conhecer o rio.

Em uma das enchentes o tronco foi arrancado

A N A D A D O R A D O R I O I T A J A Í

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das margens pela força das águas. Semanas depois,ela, o pai e a irmã, o encontraram na areia da praiacentral de Balneário Camboriú, durante umacaminhada. “Foi a minha primeira lição prática sobreo caminho das águas na bacia hidrográfica”, conta.

Acima, o tronco que serviu de trampolimfoi carregado pelas cheias e reencontrado nasareias de Balneário Camboriú.

Na página anterior, as últimas braçadaspara a vitória nas águas do rio Itajaí.ARQUIVOS BEATE FRANK

Nas enchentes de 1983 e 1984, agora já comoprofessora da FURB, Beate se envolveu nasoperações do sistema de alerta e foi uma dasfundadoras do Projeto Crise, criado nauniversidade com o objetivo de desenvolvermedidas não-estruturais para a proteção deenchentes. Essas medidas envolviam amonitoração do tempo, monitoração de níveis dosrios, modelos de previsão hidrológica e cartas derisco de inundação. Surgia ali o embrião do atualInstituto de Pesquisas Ambientais (IPA) dauniversidade e, porque não dizer, do próprioComitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográficado Rio Itajaí.

Durante alguns anos, na época de atleta, Beatenadou muito contra a corrente, treinou forte, e só

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Depois de muito nadar, Beate Frank,como professora da Furb, passou a ensinara cuidar da bacia do Itajaí.ACERVO DO PROJETO PIAVA

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venceu a prova quando aprendeu a interagir como rio, e a aproveitar a energia de seus fluxos erefluxos. Para coordenar o esforço coletivo emdefesa do rio Itajaí e de sua bacia não foi diferente.Estudou muito, nadou contra correntes, encontroupessoas solidárias e outras nem tanto, trilhou ocaminho das pedras, descobriu o caminho daságuas e foi aí que conseguiu reunir e unir uma baciainteira em torno de uma proposta de gestãointegrada e participativa de suas águas. Foi assimque surgiu o Comitê do Itajaí e o Projeto Piava.

E se alguém lhe pergunta o motivo de tudo isso,não existe resposta simples, mas a mais pessoalela responde de bate-pronto: “Eu quero voltar anadar no rio Itajaí-açu!”

O C Ô N S U L D A S Á G U A S

O empresário Hans Prayon, presidente doConselho de Administração da Cia Hering, tinhaapenas seis anos quando deixou o Brasil para irmorar com os pais na Alemanha, em 1938. Acampanha de nacionalização do Estado Novoestava sendo implantada com mão de ferro e osimigrantes ou descendentes de alemães nãopodiam falar o idioma nato em território nacional.O controle e a repressão eram rigorosos e foi pornão concordar com essa política que o pai de Hans,o industrial Kurt Prayon, imigrante alemão, decidiuretornar para a Europa com os filhos, nascidos noBrasil, e a esposa Annemaria Hering Prayon,nascida no Brasil, mas filha de pais alemães.

Da infância em Blumenau, Prayon tem poucasrecordações. Lembra apenas que deixou umacidade verde, cercada por florestas e com riosde águas l impas para encontrar um país

urbanizado e que se transformava na maiorpotência industrial da época.

Antes de estourar a II Guerra Mundial, Prayon,ainda menino, morava com os pais nas margensdo rio Reno. Chegou a pescar e a nadar em suaságuas, nos primeiros anos, na estação quente.Mas as cidades e a indústria cresciam em ritmoacelerado e logo o Reno se tornou poluído. Osaneamento básico e os cuidados com o meioambiente não estavam entre as prioridades dogoverno alemão e os ribeirões e rios do país setransformaram em valas de esgoto, recebendotodo tipo de poluentes.

Logo após a guerra, em 1948, Prayon retornoupara Blumenau onde concluiu o curso científicoe prestou o serviço militar. Em 1952, aAlemanha ainda se recuperava dos estragoscausados pela II Guerra Mundial e sua economia

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se restabelecia aos poucos. As indústriasretomavam suas atividades e as cidades voltavama se organizar. E foi nesse clima que Prayonretornou para a Alemanha, onde até 1959estudou na Universidade de Aachen, graduando-se como engenheiro mecânico.

Agora, o governo e o povo alemão tinhamnovas preocupações. Era necessário remover osdestroços da guerra, apagar as imagens negativasdo passado e tornar o espaço urbano novamenteum lugar agradável para se viver. A limpeza dosrios e o saneamento básico passaram a ser umaobrigação em todos os projetos urbanísticos ede reconstrução. O país inteiro se mobilizou emtorno de campanhas e de ações para salvar osseus rios, incorporando de forma pioneira asquestões ambientais no planejamento, na gestãoterritorial e no desenvolvimento econômico.

Ainda na Alemanha, Prayon gerenciou umafábrica de embalagens de polietileno de 1960até 1963. Em 1964 retornou ao Brasil para atuarcomo diretor técnico da Indústria TêxtilCompanhia Hering, onde passou a ser o vice-presidente, a partir de 1983. Os laços com aAlemanha se mantiveram e, em 1975, HansPrayon foi nomeado cônsul honorário daRepública Federativa da Alemanha emBlumenau.

Nessa época, o Vale do Itajaí atravessava umafase de expansão industrial e lançava as basesdo que viria a ser o maior pólo têxtil da AméricaLatina. O desenvolvimento econômico deBlumenau e do Vale do Itajaí foramconquistados à custa da exploraçãodescontrolada dos recursos naturais e semnenhuma preocupação com o meio ambiente.Como conseqüência, o impacto das enchentes

e enxurradas crescia a cada ano e os rios setornavam cada vez mais poluídos e sem vida.“E o pior de tudo é que ninguém fazia nada parareverter essa situação”, conta Prayon.

Existiam apenas algumas movimentaçõesisoladas e sem continuidade e, mesmo assim,Prayon se entusiasmava com elas e participavaativamente. Foi assim que liderou a campanha“Enchente. A solução não cai do céu”,promovida pela ACIB; implantou o Sistema deGestão Ambiental na Cia Hering, apoiou acampanha “Vamos Salvar o Rio Itajaí-açu”,promovida pelo Grupo RBS, e participou domovimento pró-criação do Comitê do Itajaí,sendo seu primeiro presidente logo após a

Hans Prayon, 1º presidente doComitê do Itajaí, de 1998 a 2004.CENTRO DE MEMÓRIA DA FURB

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criação dessa nova instituição colegiada, em 12de março de 1998. “O Comitê do Itajaí surgiucom uma nova proposta de ação, a de gerenciartodos os usos da água de forma integrada e coma participação de todos”, destaca Prayon.“Desde o início percebi que esse modelo degestão integrada da água era o mais apropriadopara a região e seria o melhor caminho pararecuperar os nossos rios”, conta.

E foi com essa certeza que Prayon permaneceupor três gestões à frente do Comitê do Itajaí,

sendo reconhecido por sua diplomacia como ocônsul das águas. Sob sua liderança o Comitêdo Itajaí consolidou-se como uma instituiçãocolegiada forte e atuante, e com credibilidade ecompetência, tanto para captar investimentoscomo também para promover as articulaçõespolíticas necessárias ao seu funcionamentocomo o “Parlamento das Águas do Vale doItajaí”. Em 8 de julho de 2004, Prayon transferiuo cargo de presidente do Comitê do Itajaí paraMaria Izabel Pinheiro Sandri.

U M P O L Í T I C O E M D E F E S A D A S Á G U A S

Com uma experiência de mais de 30 anos navida pública, Tercílio Bonessi, uma liderançapolítica no Alto Vale do Itajaí, começou a seinteressar pelas questões ambientais quando erasecretário de saúde do município de PousoRedondo, em 1999. Antes disso, cumpriu trêsmandatos como vereador, eleito com o voto deprodutores de arroz e pequenos agricultores domunicípio. Sempre defendeu a agriculturafamiliar, a educação e a saúde pública dequalidade como bandeiras de campanha e deluta.

Como vereador, acompanhando e auxiliandoo trabalho das professoras do município, Tercílioouviu delas o apelo para a necessidade depromover a educação ambiental e de se cuidarmais do meio ambiente. Mas foi como secretáriode Saúde que enxergou com maior clareza quea saúde das pessoas passava pelo saneamentoambiental, ou seja, por um meio ambiente sadio.Desenvolvendo ações de mobilização social eeducação sanitária com as professoras e as

Tercílio Bonessi descobriu a necessidade de cuidar daágua quando foi Secretário da Saúde em PousoRedondo. Atualmente é liderança no Alto Vale doItajaí, levando prefeitos a pensar no meio ambiente.ACERVO DA FAMÍLIA BONESSI

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agentes de saúde, Tercílio descobriu uma outrabandeira política, a da proteção do meioambiente.

Foi nessa época que surgiu um conflito pelouso da água do Rio das Pombas, em PousoRedondo, onde a Casan tem seu manancial paraabastecimento do município. A população dePouso Redondo reclamava da qualidade da águadistribuída pela Casan, e esta, por sua vez, jogavaa culpa nos arrozeiros, pecuaristas e demaisagricultores localizados à montante domanancial.

Este impasse se arrastou por algum tempo, atéa intervenção do Grupo de Trabalho deResolução de Conflitos pelo uso da água doComitê do Itajaí, em 2006, que mediou anegociação do conf lito e encaminhou asprimeiras medidas para sua solução. “Como euera secretário de Saúde, enxerguei primeiro oproblema de saúde pública gerado pela máqualidade da água”, conta Tercílio. “Mas ao ouvirtodos os envolvidos percebi que se tratava deum problema sócio-ambiental mais complexo eque o Comitê do Itajaí era o foro legítimo parapromover a negociação do conflito”, completa.

Tercíl io então passou a ser um dosinterlocutores políticos do Comitê do Itajaí noAlto Vale. Em 2001 começou a participar dasassembléias e reuniões do Comitê do Itajaí, e,nesse mesmo ano, na condição de chefe degabinete do então prefeito de Pouso Redondo,Hans Fritsche, representou a população domunicípio na assembléia de instituição daFundação Agência de Água do Vale do Itajaí. Apartir daí tornou-se um voluntário das águas,participando ativamente de diversas ações,campanhas e capacitações do Comitê do Itajaí.

A partir de 2003 passou a ser o coordenadorregional da Semana da Água para o Alto Valedo Itajaí, e em 2004 foi eleito membro doComitê e integrante de sua diretoria.

Atualmente, vê o Comitê do Itajaí como umgrande espaço de articulação institucional paraa promoção da gestão dos recursos hídricos nabacia. “A questão ambiental na bacia do Itajaípode ser dividida entre antes e depois da criaçãodo Comitê do Itajaí”, frisa. “Aprendemos muitocom a participação no Comitê do Itajaí eavançamos muito na promoção de articulaçõesinstitucionais necessárias para a gestão da águana bacia e para a promoção da gestão ambientalmunicipal”, completa.

Como político, Tercílio incorporou o discursodo desenvolvimento sustentável e agregou a açãoambiental a todas as demais bandeiras que defende.“Eu continuo defendendo o pequeno agricultor,a educação e a saúde de qualidade, mas hoje seique para ter isso tudo de forma sustentável énecessário cuidar do meio ambiente em primeirolugar. A questão ambiental é transversal, elapermeia a educação, a saúde e a agricultura, bemcomo as demais atividades humanas”, discursa.

Ex-gerente de Desenvolvimento Social Urbanoe Meio Ambiente da Secretaria de Estado doDesenvolvimento Regional de Rio do Sul e agoragerente de saúde na Secretaria de DesenvolvimentoRegional de Taió, ele constata que o poder públicoestá fazendo muito pouco pelo meio ambiente. Aexplicação de Tercílio para sua constatação é bemsimples: “O político pensa em permanecer nopoder e a questão ambiental ainda não traz os votosnecessários para elegê-lo, então, quando está nopoder, defende os interesses econômicos eclassistas que o elegeram”.

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A empresária Maria Izabel Pinheiro Sandrisempre teve vocação para a diplomacia. Era assimdesde os tempos da infância, quando, na condiçãode irmã mais velha, tinha que coordenar funções edistribuir tarefas aos cinco irmãos, todos meninos.Cabia a Bel o papel de fazer a divisão justa e mantera paz na família.

O desejo de ser professora também veio dessaexperiência no lar. Chegou a se formar nomagistério, mas não era bem isso que estava nosseus planos. Pensava nos tribunais, em grandesdecisões e se formou em direito com o objetivode advogar. Antes mesmo de pisar nos tribunais,apaixonou-se, casou-se, vieram os três filhos e adivisão de tarefas com o marido, no lar e naempresa atacadista da família.

Foi aí que Bel se viu novamente num grupo deminoria: o das mulheres empresárias. A jornadadupla, no lar e na empresa, não era tarefa fácil, e,mesmo assim, Izabel achava tempo para mobilizaras mulheres empresárias de Itajaí para açõescoletivas, sociais ou de negócios.

Passou a integrar a Câmara Setorial da MulherEmpresária da Associação Empresarial de Itajaí(ACII) e logo sua habilidade para o diálogo aprojetou como presidente da ACII, eleita em 2001,cargo que manteve até janeiro de 2006.

Sua gestão foi marcada por inúmeras campanhaspositivas, como o retorno da Petrobras para SantaCatarina, internacionalização do Aeroporto deNavegantes, coordenação do Movimento deMelhoria, Manutenção e Duplicação da BR-470 eparticipação ativa no Comitê do Itajaí.

A facilidade para o diálogo e a articulação políticamais uma vez conduziram Maria Izabel a umafunção pública. Desta vez, até ela foi pega desurpresa com o convite e a eleição para apresidência do Comitê do Itajaí, em 2004. Comorepresentante da ACII no Comitê do Itajaí, MariaIzabel foi convidada pelo ex-presidente HansPrayon para assumir a liderança. “Eu não era

Maria Izabel, presidente do Comitê do Itajaínas gestões 2004/2006 e 2006/2008.ACERVO DO COMITÊ DO ITAJAÍ

D I P L O M A C I A D A S Á G U A S

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especialista da área de recursos hídricos e só aceiteidisputar a presidência do Comitê do Itajaí quandome convenci de que a função exigia maisdiplomacia e articulação política do queconhecimento técnico”, conta.

Por ironia do destino, pela primeira vez nahistória do Comitê do Itajaí, a direção foi disputadapor duas chapas. Essa foi também a primeiraeleição a cargo público em que Maria Izabelconcorreu. A gestão foi construída com muitaconversa. Assim que assumiu a presidência,convidou a outra chapa, até então adversária, paracontribuir com o movimento das águas e naconstrução participativa da política sustentável deproteção de nascentes e matas ciliares na bacia doItajaí, o Projeto Piava. Isso mesmo, o Projeto Piavafoi construído e enviado para a Petrobras numperíodo de transição, no final da gestão de HansPrayon e no início da gestão de Maria Izabel. “Eu

ainda estava me iniciando nos assuntos ambientaise das águas, mas já tinha sido contagiada pelaenergia de nossos rios e das pessoas que osdefendem”, lembra.

A diplomacia das águas já estava em seu sangue.Seu pai era marinheiro da marinha mercante esua mãe nasceu na Ilha do Arvoredo. Os doisviveram boa parte da vida rodeados por água eensinaram para Maria Izabel os perigos e segredosdas águas. “Pra se lidar com água tem que seconhecer bem os seus segredos e acho que fuibem instruída”, brinca.

Atualmente, Maria Izabel também é vice-presidente da Federação das AssociaçõesEmpresariais de Santa Catarina (Facisc) e, seja comoempresária ou como líder, sempre leva para a mesade negociação um ensinamento que aprendeu coma diplomacia das águas: “A água nunca discute comos obstáculos, mas os contorna”.

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AGROLÂNDIAAgilã Zuleica Schmoegel Passing, AmarildoMichels, Claudinei Vicenzi, Cláudio Prochnow,Dirceu Leite, Iliane N. da Silva, Joriana da Costa,Lílian Knaul, Lúcia Doering, Maria B. Will, NilvaVieira Weiers, Patrícia Leite, Poliana Kalinca W.Eger, Rômulo Adriano, Sigmar Riblim, TerezinhaDaboit, Ursula ZwickerAGRONÔMICAAdriana Scoz, Adriani Erkmann, Bernadete Furlanida Rosa, Carlos Gaertner, Diana Passero, ElianeSartorato Nazari, Felinto Bork, Janete Brignoli,Nilca Weiss, Nilton NagelALFREDO WAGNERAcácio Marian, Amélia Maria Schweitzer, ÁquilaSchneider, Gabriela Giovanka, Gilsonei Duarte,Irimar José da Silva, Izolde Seemann, JaquelineRabelo Maffei, Maria Goreti H. Wambemell, MarleteHüntemann da Silva, Néli Schüller, Osmar Coelho,Quelen Marian Rodrigo N. da Silva, Renato Rizzaro,Sérgio B. Silvestri, Terezinha Solange G. SchutzAPIUNAAdelíria S. A. Freitas, Adriano Eccel, Alôncio daSilva, Altino Jacinto, Antônio Bermo, CarlosHenrique Sedlacek, Eurico Lucas da Costa, FabianoCoelho, Gilton Dauri, Gorete Pereira dos Santos,Jean Paulo Bezzani, Josemir Felipe, MárcioUessler, Maria Salete Feuser Dalabeneta, MárioDalri, Marise Cavalheriuna, Pedro FreitasASCURRAAlessandra Zonta, André Felipe Beber, DanielaDallabona, Fábia Chiste Volkmann, FabianoCoelho, Gorete dos Santos, Heitor Fistarol, MariseCavalheri, Moacir Pinho, Patrícia Agostini, SamiraBraidi ValcanaiaATALANTAAdemar Nunes, Ademir Luiz, Águida Kohl Amelco,Alvino Schetter, Alzira Sieves, Antônio Pezenti,Áureo Hames, Carlos Pesente, Celito Faust, DaviMonn, Edela Scheffer, Edilaine Dick, Horácio J.Demarchi, Jackson Hadlich, Jaime Senen, JoãoFranco, Juventino Steinheuser, Laércio L. França,Lauro Dela Justina, Leandro Casanova, Lourivaldo

PESSOAS QUE SE ENVOLVERAM EM AÇÕES DO PROJETO P IAVA E CONTRIBUIRAM PARA A CONSTRUÇÃO DEUMA POLÍTICA SUSTENTÁVEL DE PROTEÇÃO DE NASCENTES E MATAS CILIARES

Schell, Marcos Hoeltgebaum, MargareteDalabeneta, Marizeti Antunes Pezeti, Nilton Sieves,Renato Esser, Roni Kirten, Teobaldo Sieves, TerezaS. da Silva.AURORAAdemar Grunfeld, Ademir Aurélio Leder, AdrianiaKrieger Strey, Aldo Freiberger, Anilore Roiwas,Artur Dumes, Augustinho Graft, Bernadete Tenfen,César Ranscozki, Claudete Slorz Lehmann, CláudioRaimundo Bohn, Edina Laura Atock Martins,Eduardo Bernicker, Elizabeth Althoff Rodrigues,Fabiana Vandresen Lehmkuhl, Giovani Rocha, HariSchutz, João Purim, Juliana Schotten, LibertoKrueguer, Lisete Schüssler, Lourival Schutze,Marcio Boing, Marcolino Petri, Marino Tenfen,Marli Ribeiro Borges Saffier, Moacir Blastus,Nelson Grunfeld, Nicolau Kohn, Nilo Warmeling,Nilson Blasius, Raul Rocha, Renato Jahre, RenatoSchwabach, Ronaldo Gunther, Salvio Montibeller,Sigmar Strey, Soely Siwerdt Schutz, SuanirBlastus, Udo Grunfeld, Valdelir Bagio, ValdirCipriani, Valmor Longen, Viland Wild, Vilmar Prees,Vilson Schoeninger, Volnei Lutz, Wilson Lehmkuhl.BENEDITO NOVOCarmen R. Koprowski, Claudete Sabrina SchmidtBuzzi, Cleide Giovana Muller, Eleana HinschingKlug, Elfrida Erdmann Koepsel, Eva Maria Groni,Gebhart Groni, Glória M. Schrull, Heverson Thurn,Iduvirgem Devigili Langa, Ilse Schlu, IriaCampestrini, Ivete Ignez Girardi Demarchi, JulianaAdam, Leonida Bona, Macilde Ines BertoldiPoltronieri, Margrit Draeger Giovanella, MariaEunice Buzzi de Castilho, Maria Maristela Corrêa,Marli Poltronieri Lenzi, Marlize Konel Carlini,Monica Nau Hisching, Roseli Maria A. Bona,Rosilene Uber Bona, Sueli S. T. Schmidt, TercílioL. Longo, Vanderléia Menestrin.BLUMENAUAdão Ademar, Adriana Weber Faust, Aline Tomazi,André L. Sedlacek, Antonio C.F. Neto, AntônioSchmidt, Carla C. Back, Carlos Cruz, CarolinaGomes, Cintia Uliano Reinert, Daniela Curtipassi,Denise Maas, Elen Cristina Fath, Elenita M. S. Silva,

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Eliete Crestani, Elisa Ferreira, Esmeralda Silva,Felisberto J. Luciani, Gabriela Muller, GilbertoRaulino, Giovani Rafael Siebel, Ivan Burgonovo,Janaína Kelen Paulo de Mattos, Jorge Muller,Jorgeane Schaefer, José Constantino Sommer,Lourival Inácio de Oliveira, Lucia Pereira Muller,Luiz A. de Souza, Maicon dos S. Gonçalves, MajorJorge Luiz Heckert, Márcia Regina Tasca Puel,Maria Verônica Camelo, Marlene Dierchnabel daSilva, Odair A. da Silva, Patrícia Balistieri, PriscilaLeite, Robson Tomasoni, Rosalene Zumach, RoseCristiane Romualdo, Rosemari Bona, SandraRegina Nau, Sérgio Mauricio Fillende, SuelenGrott, Tania Aparecida Paim, Tanice Kormann,Vanderlei Schmidt, Vera Krummenauer, VivianDenise S. Silva, Wagner F. Farias, WalfredoBalistieri.BOTUVERAEduardo Serpa, Lucie Herta Hilbert.BRAÇO DO TROMBUDOCarice E.L. Wolniewicz, Carlos Mathias, Dulce I.Larsen, Fábio Dalmarco, Irene H. Bertelli, IreneMaria Seibert, Jenice Pommerening, Joice M. C.Marangani, Juliana Meurer, Lígia Vogel, Mara ElizaSchaade, Naldi F. Muller, Pedro da Silva, Vera LúciaSchaeffer, Zenaide Kniss Felga.BRUSQUEAldonei da Silva Lopes, Beatriz B.B. Grisa, CristinaZierke, Denize D. M. Ferreira, Estácio J. Odisi,Eveline Siqueira Teixera, Jorge Bonamente,Juliano Montibeller, Luiz Gianesini, MarceloAmorim, Maria Helene Kormann, Neusa RoseliSoares Viguerani, Neusa Sapelli Teixeira, PâmelaMontibeller, Rosane Feltrin Brunildes da Silva.CHAPADÃO DO LAGEADOAdair Grach, Agenor Jasper, Eva A. KempnerAbreu, Glória G. Bill, Iure R. Martins, Ives LuisLopes, Jaison Inácio, Kátia Telma Medeiros,Marciano Rode, Zilmar Ramos.DONA EMMAAgnaldo de Sousa, Alexandre da Costa, Elza S.Rizzieri, Genoir Schreiber, Ivo Adami, James A.Adam, Janete Pazzeto, Márcia Elert Silva, MarcosOdorizzi, Marlene Schmidt, Mirtes H. Stupp, OtanirMatiola, Sandra Hans, Sandra Jahn.

DOUTOR PEDRINHODenny Heinzen, Evanir de Castilho, Joel R. Fronza,José Marcos C. dos Santos, Mansoelto Galkowski,Marli Aparecida Buzzi Stulzer, Moisés Kissner,Tânia T. Giovanella, Valdir Bagio.GASPARAlbertina Teresinha Karst, Camila Schreiber, CarlaRosana Ávila, Diego M. Moser, Fernanda Eberhard,Janice Albano, José Carlos Spengler, Josi R.Prestes, Marcos J. Schmitt, Norma Rosa, RodolfoDias Probst, Rosana Fey Probst, Rosani da Silva.GUABIRUBAAmarildo Haag, Cezar C. Rosa, Cíntia Hinsching,Haroldo Kormann, Juliano Piske.IBIRAMAAdemir Piske, Adriana Meneghelli dos Santos,Alex Wellington dos Santos, Claúdia Regina, JalmirC. G. de Araújo, Jaqueline Menegom Blum, NaraSchroeder Franzói, Priscila Regina Dallabona,Rafael C. Reinicke, Rita Piske, Rogério Eslolsen,Silvio Murilo Cristóvão da Silva, Valdira HoepersBuss, Venceslau Voss.ILHOTAAdelaide Terezinha Bleichuwel, Arno Roberto,Cristiane Bittencourt, Davina R. da Silva, EgonBudag, Jean C. A . Medeiros, Johnny Pereira,Manuel P. Bittencurt, Márcio N. Polhano, MarcosTúlio de Oliveira, Renato Cerqueira, Tatiana R.Reichert, Vanessa Simon.IMBUIAAdenisio Allein, Adriano da Cunha, ÁguidaCapistrano Boll, Alexsandro da Cunha, Alonir daSilva, Clóvis Marcelo da Cunha, Dulciani TerezinhaAllein Schlickmann, Edson C. de Quadro, EvandroRegel, Evanildo Soares, Helena Matilde Bogo,João Schwammbach, Josiane Petri da Silva,Leonete Aparecida Heinz, Lucinéia MarquezCapistrano, Mario Schwarz, Neusa Koerich, NeusaS. Esser, Nilberto Sezerino, Nilson Guckert,Rômulo de Menezes Veiga, Rosane CristinaHoffmann Gesser, Sandro E. Buttenbender,Silvelise Hoegen, Sônia M. M. Ferreira, VanderleiV. Lucinéia M. Capistrano, Vanusa Lopes.INDAIALAlberto Sell, Anilse M.R. Jacobsen, Beatriz F. C.Cartagena, Carlos R. Grippa, Celso dos Santos,Fabrício J. Barbosa, Hieno Bayer, Janete Pandini 101

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Clasen, Janete Pedrinha Fink dos Santos, José V.Brassiani, Karen Fonseca Lose Britto, LeonaraRudiger, Lore Loes, Lourdes Poltronieri, Márcia M.Pfuetzenreiter, Márcio Oliveira Silva, Marileusa T.dos Santos, Priscila Kannenberg, Rosane ReinholdZanella, Sérgio Feuser, Werner Alexandre Tkotz.ITAIÓPOLISCássio Edmundo Blick, Cleusa HubnerKazmierczak, Fabiana Hartinger Souza, Fábio Dias,Jair Kozak, Jane Maria C. Engel, Janete Veiga,Jucélia Cezelinski Aeslinski, Maria Ines Chupel.ITAJAÍAbílio M. dos Santos Filho, Alexandra Goede, AnaCláudia Junges, Ana L. Silva, Ana Teresa de Britto,Antônio H. dos Santos, Bruno Galo, Bruno Minard,Caio F. dos Santos, Carina C. Toppa, CláudiaFernandes, Clóvis Pereira, Cristina RejaneMarangoni, Daniela Cristiana da Silva Toniazzo,Edicléia P. Guollo, Élcio Giorgi, Eliane RenataSteuck, Ênio R. Salles, Fábio Alexandre da SilvaToniazzo, Fabrício E. da Silva, Golda G. Mette,Isabel Regina Depiné Poffo, João Vequi, JoséFernandes Filho, José Matarezi, José S. Mello,Juliano M. da Silva, Kamile Josy Ribeiro, KarolineFendel, Katiúscia Rebelo, Laura Schühli, MárciaRegina Martins, Maria Izabel Pinheiro Sandri,Marina Heusser, Marli Scheuer, Mateus E. Kuhn,Maurina Voltolini, Médelin P. dos Santos, MyleneMariani Kleis, Nádia R. M. Fagundes, Neusa Simasda Silva, Oswaldo Ribeiro Jr., Raquel Orsi, RenatoValente, Rodrigo Medeiros, Rogério Gregório,Sâmira M. Aceti, Sérgio Selke, Sheila D. Borges,Susana Beatriz da Costa da Cunha, Thamy Reiser,Tilyan Kaestner Enriquez.ITUPORANGAAcácio Clasen, Arno Zimmermann, Aúrea C.Guckert, Bernadete H. Guckert, Deise Bennert,Derli Ana Bezerra, Edison Almeida, Elmo Pisetta,Ernildo Rowe, Juliano Bittencourt, MárciaAparecida Melcher, Mônica Kratz Pobenga, Priscilade Souza, Rose Martendal.JOSÉ BOITEUXAlexandre Dunke, Claudia Fusitaro, DozilaGonçalves, Ergídio Fusinato, Josnei Cássio daCunha, Juliano Leite, Júlio Bagatolli, Mara A. Pedri,Márcia Fusinatto, Marcia N. da Fonseca, MárciaPossamai, Maria A.C. Vinci, Maria Vendrami,

Marize R.B. Schwartz, Nádia Buzzi, Natalina Bona,Ricardo Weber, Rosana Bonetti, Sílvia Jacinto.LAURENTINOAdilson da Rocha, Edenir Borgonha, Judite M.Becker, Maria Inês Klock, Maria T. Avi, MarileneDietrich, Merli T. M. Renzi, Rejane Zanis, RobsonC. Avi, Rose Mare Marcos, Sandro C. Filagrana,Sérgio Campestrini, Valdemiro Avi, ValdireneRenzi, Wilson Eger.LONTRASAlaídes Kahl, Ângela Weiss, Edla Millnitz, IvaniSasse Hinsching, Ivonete W. Machado, JeffersonR. Aragão, Mario Bini.LUIS ALVESAdemir da Silva, Cirlene Kluck, Cláudio S. Muller,Ilhane Marcon, James Tiedt, Marcos Pedro Weber,Marilene C. Komer, Nélio Luciani, Noêmia IsabelSchmitz, Raquel Kraisch, Rogério J. da Rocha,Vânia G. Corrêa.MIRIM DOCEAdriana Schell, Amarildo Custódio Maciel,Ammyrena S. de Barros, André Roberto Roloff,Dirceu Schwarz, Elaine T. C. Borghesan, EmeritaBorghesan, Fabiana Gutknecht, Heinz H. M. Haake,Maria Geciani Bechtold, Marineis Volpi Borghesan,Nerci S. de Souza, Paulo C. Schichting, SolandiaM. Olsen.MONTE CASTELOAlmira B. Pereira, André L. Dombrouski, CleideR.Bopko, Darana K. T. da Silva, João R. Fianci, Joséde Oliveira, Maria Luiza Prestes, Ricardo Costa,Selma Cardoso Ribeiro, Vera L. Wengue.NAVEGANTESAlexandre D. Schmidt, Ana Isabel Mafra, Ana M.da Silva, Ditmar, Elenir C. Deschamps, Eliza AuréliaRomão, Fabiano G. de Carvalho, Gisele Toledo,Katiuscia Freitas, Larissa Mosini de Castro,Leonardo Viana, Lílian Simone Costa, MariaRosaime Cabral, Roberta Flores Dutra, Rosilene I.de Oliveira, Vilma Bernardes da Silva.PAPANDUVAAdilson B. dos Passos, Alberto Banchelini,Alexandre Grabowski, André L. Jaskiw, AngelaMarcia Oczkovski, Kamile Josy Ribeiro, KátiaBagattim, Lúcia Kurceszki, Octavio Wünsche, PauloB. Jungles, Rosicler Chupel, Sandra Maria KuiaskiGruber, Silvana Melnek, Vendelino Skomeski.

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PENHACláudia Angioletti, Cleber Neumann, CostabilleAndrea Silva, Dalva Maria Flores, Diane IvaniseFiamoncini, Edevilson Nascimento, Elisabete SueliVicente Costa, Fernando Schweger de Souza,Gilberto Manzonni, Ivo S. Radaelli, José C. Mello,Katiuscia Wilhelm Kangerski, Ledair Regina dosSantos Mathioli, Lenara Serpa Schmitz, LenirVitorino, Maria do Carmo, Mauricio Duarte, NicélioA. Veloso, Patrícia Zeni de Sá, Regiane A. Severino,Sérgio Mello, Sirlei M. de Souza, Vanja Rebellodos Santos de Souza.PETROLÂNDIAAndréa Weber, Gisele Muller, Jacinto José Melo,Kátia Denise Mohr Henkemaier, Marleide Brito,Olindia Anthero de Freitas, Olinto Alves de Moraes,Silvia Alice Scheidt, Simone Krause Klauberg.PIÇARRASClimárcio L. de Araújo, Eremir R. de França, GiseleC. Rochenbach, João N. de Souza, Rodrigo S.Terra, Tânia Mara dos Santos Linhares.POMERODEAndré Luís Amorim, Cláudio M. Kruger, Dieter K.Weege, Iran de Oliveira, Jaime E. Jensen, JoseaneDrews, Lodemar Krueger, Marcelo Passold, MariluAntunes, Rosa Maria Landeira Beck, Rosane BossGomes, Susana A. Gattringer, Wandréia Silva.POUSO REDONDOAdílio Sardo, Cléia Demarch, Cleuzenir de Liz,Cristiane Amâncio, Dirce Garbatri, GraziellaSchneider, Ivan Cleitom Bini, Ivete Maria Peters,Jerusa Schiochet, Jonas Reis, Leonice S. Martins,Luciana Alvarenga Blasius, Lucilene Eliane FosterPanoch, Marlisete Campestrini, Rafael Rodrigues,Rosane Amâncio dos Santos, Rosane Aparecidados Santos, Rosimeri Feltrin Bini, Valdirene daSilva, Vilde Kurt.PRESIDENTE GETÚLIOAna Lúcia Bittencourt, Bruno Loch, CláudioSchmidt, Clóvis W. Pauli, Eliseu Balem, EvelineBorges Araújo, Fernando Scheffer, GeraldoHoffmann, Janilde F. Dirksen, Jerônimo Schmit,Joari Beltrame, Lindomar Spredeman, MarcosFillagrana, Margareth Schmidt, Maria SolangeCoral Pereira, Maria T. Marold, Roseli Henkel,Silvana Neumann, Valdira Hoepers, VilmarJacques Grimm.

PRESIDENTE NEREUAmilton Petry, Eliane Aparecida Gilli Cadilhac,Glauco H. Lindner, Izamar de Melo, JairoFormentin, Marlon Kaio Bunn, Nei Feuzer,Valdemiro Cadilhac.RIO DO CAMPOAdelina Cecília Berns, Adilson Deretti, Andréia C.Pereira, Claudenir Irineu da Silva, Clóvis Wajszczyk,Eugenio Haveroth, Fernando Borinelli, JeffersonCardoso, José C. Corbani, Leila Cristina EspíndolaCorbani, Luciana Kaleski, Maristela Estevão,Priscila Stocco, Reinoldo Kannenberg, RodrigoPreis, Roseli Augusto Bornelli.RIO DO OESTEAdelírio Heidemann, Augustinho Kafka, CristianeCírico, Débora Tatiane Vieira Moser, ElianeDalmarco, Josemir Trentini, Luciana da Silva,Marcos Pisetta, Natalina R. Mantoanelli, RosaneAdami, Rosangela Cecília R. Negherban, ValdenirHellmann.RIO DO SULAdeline Schaffer, Alécio Pereira, Andréia de ChristoAvi da Rosa, Antônio Celso Silveira, Arlete doNascimento Jacinto, Carolina Petry, Catiane ReginaLuiz, César L. Cunha, Clóvis Hoffmann, Daniela R.Köpp, Denise M. do Prado Wilvert, Dirce BertoldiHeinz, Edson L. Fronza, Eliete Baccardi da Silva,Elisandra Dias, Ereni Fátima Belino André, ErnaniDutra, Erwin Ressel Filho, Gertrud Kindel Trentini,Harry Dorow, Ivo Sehnem, Jeane dos ReisRodrigues de Abreu, Joel Fronza, Jorge LuisAraújo Campos, Kleide M. T. Fiamoncini, Lübke,Luciane Neves, Maria Sueli Pamplona Boehme,Marilise Grabner Schmidt, Marilize Torquato Luiz,Mário Sérgio Stramosk, Maristela M. Poleza,Mateus de Andrade, Mauro Esser, M. CamilaLuciane Neves, Neide Machado Hinckel, NeusaTeresinha Girardi, Olegário Daroldt, RosimaraFrança Steinbach, Rubens Lima, Sandra CristianeIatzac, Sérgio P. Sales, Simone Alessandra L.Muller, Simone Miranda, Simone Muller Mafezzolli,Sonia Mara Blanche, Talita D. Ern, Viviane KnihsBrandt, Wilando Kurth.RIO DOS CEDROSArno Depin, Carlos L. Zanella, Claudia Maria PradeJansen, Fábio Aurélio Castilho, Hideraldo J.Giampiccolo, Jaime Busarello, Jéssica Figurski, 103

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Marilene Giovanella, Marluci Giovanella, Pedro C.dos Santos, Ronaldo Martins, Silvana Moser,Wilmar Kleschmidt.RODEIOAna L. N. Ricardo, Antônio Ferrari, CleusaMargarete Neves, Fabiana Fachini, Ivanor Scoz,Kátia Girardi, Marcelo Bucci, Moacir Baldessari,Neivane Marize V. Grava.SALETEAlcides Pivatto, Angela Pereira Wilhelm, CarlosNunes, Carmen Adair Koch Kniess, CornélioSchmitz, Elenir Sora, Elenira Wener Schimitz,Eliane Weber Loch, Guido Koch, Hugo Lembeck,Izabel Marcos Pandini, José A. Gonçalves, JuaresLocks, Julio A. Molin, Márcia M. R. Socreppa,Pedro Hellman, Pedro Hoffman, Renério F. Nunes,Rosa M. K. Rohden, Silvinha Maria Alfen Cucco,Teresinha Marcos.SANTA TEREZINHAAlcir Z. da Silva, Alzerino V. dos Santos, AmbrozioBencz, Ana C. S. Fernandes, Carmeli C. de Jesus,Cleston Jean Pavoski, Deoclécio Henzen, EliasBencz, Eliel Savitski, Elisângela Poleza, EvanirBlonkowski, Evanir S. Blonrouski, Fausto N.Godinho, Germano Schvitler, Giana CaroliniOieczarka, Gilmar Schwether, Haguiar Klock, InácioMonczeuski, Ivan C. Wieczorkiewicz, Jovita S.Wollinger, Maria E. Melo, Maria Marlene M. Nicolai,Osmar da Rosa, Paulino Korben, Pedro Berri,Roney Schweicerski, Sidnei Arendartchuk, SôniaMaria Ressel, Teresinha Clingmeyer.TAIÓAdemar R. Dalfovo, Araci Vogel, Elfi Botzan, ElianeFantin, Flávia L. Bonin, Iara M. Bonin, Janine Berri,João Ricardo Mees, Luize Murara, Maria MadalenaGramkow, Marta Izidoro Klem, Sérgio Bagatoli,Sérgio V. Chicato, Suyan Vicente Yaeda.TIMBÓAlexandre W. Tanes, Ariana K. Brandt Knop, NiltonBarella, Carla Soraya Groni, David César G. Vieira,Elenise Pisetta, Fabiana Machado, Fábio Castilho,Fabrício Dalcataqui, Jonhatan Prochnow, Kátia,Lenice L. V. Heinig, Marcos Kaestner, Marise RosaFloriani Holderbaum, Marlise Brehmer, MichelleSchuster, Noemia Faria, Rita Fiamoncini Valcanaia,Roberto Agostini, Sandra, Sandro Fritz, Sérgio.

TROMBUDO CENTRALAlda I. Vignoli, Edson Steuck, Eduardo Brand,Egídio Hübner, Elias C. Silva, Elisangela A. da Silva,Eni da Silva, Ezenilda Krambeck, Fritz Goede, IvoBüchling, Joacir Fernandes, Mariany Uhlendorf,Rainer Prochnow, Raquel L. Almeida, RenyHadlich, Rosi da Silva, Sandra J. Poffo, SiegfriedKolm, Solene Aparecida Noveleto, Telícia BrandAlves, Vivien Erica Fronza Krüeger, Zenilda Pereira.VIDAL RAMOSAndréia Doerner, Camilo R. C. Bastos, CarmenLucia Lunelli, Celso Eler, Cristian Stoltenberg,Daniel da Cruz, Dilson Leandro, FabrícioHeymanns, Fernanda Schlichting Haas, Flavio JoséMajolo, Guísela Backes Burg, Isabel Regina LyraFinck, Izonete S. Hamm, Joyce Sabrina May,Terezinha Eyng, Juliana Aparecida Barni, LeandroGerônimo Lyra, Lúcia Helena Lopes Filippi,Marcelo Laurentino, Márcia Kuneski, Márcia Lopes,Marise Lyra, Nelson Back, Terezinha Fing, Valdirenedos A. R. de Lima, Vilson dos Anjos, Viviam A. deSouza, Zenir S. Boing.VITOR MEIRELLESAnildo Francim, Dirceu Wagner de Andrade, EdsonA. Fistarol, Fausto Fistarol, Gerson Fereira, IlianiFerreira de Souza, Ivanor Boing, Lourival Lunelli,Marcelino Alberton, Marcos Leandro, MariaChechelera, Maridélia Cardoso, Odirlei Jeremias,Osmarildo Cardoso, Sálvio Barbetta, SimoneSartor, Telmo Luiz Koerich, Thais H. Vigano,Vanderlei Cardoso, Vilásio J. Moretti, ZenitaIgnaczuk Waldrich.WITMARSUMAri Schramm, Arlete Boos, Claudete MayerBorges, Elenir Terezinha da Silva Wagradt, EromiWeingaertner, Giovana B. D. Hillesheim, GreiceDietrich, Janeide Winter, Lorena Siewert da Costa,Márcia Aparecida, Maria Bernadete Benzi, PauloRoberto Senem, Pedro Wodolon, Robert Lang,Rosane Luisa S. de Melo, Zulmira Warmelling.

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E Q U I P E T É C N I C A

Ademar João Maiochi, Anja Meder Steinbach,Beate Frank, Camila Schreiber, Cleci TerezinhaNoara, Daisy da Silva Santos, Dominique PiresIbbotson, Eduardo Adenesky Filho, FrancieliStano, Graciane Regina Pereira, Graziela daSilva Firmo, Guarim Liberato Martins Junior,Ivanor Böing, Juliano Albano, Julio CésarRefosco, Katiuscia Wilhelm Kangerski, LauriAmândio Schorn, Lourdes Maria PereiraSedlacek, Lucia Sevegnani, Maria Amélia

Pellizzetti, Mauricí Imroth, Nádia Michael,Nicolau Cardoso Neto, Odirlei Fistarol, Rose-Mary Grether, Sandra Irene Momm Schult eSheila Mafra Ghoddosi.COLABORADORES : Aline Chojnicki, Ana GloriaNunes da Silva, Carolina Cirilo, Cássia Vinci,Cristiane Andrade, Débora Vanessa Lingner,Guilherme Armênio, Juliana Canabate, LuanaBubl i tz , Marcio Verdi , Rafaela TâmaraMarquardt, Tatiane Avancini.

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CAMINHO DAS ÁGUAS. A Gestão de Recursos Hídricosna Bacia do Itajaí. Direção e Roteiro: GuarimLiberato Junior. Produção: Guarim Liberato Junior;Lourdes Sedlacek; Nádia Michael. SupervisãoGeral: Beate Frank. Edição: Márcio Horstet; WilianMarcel Batista; Guarim Liberato Junior. Blumenau.

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PROJETO PIAVA. Folder de Divulgação. Organização:Guarim Liberato Junior. Lourdes Sedlacek; NádiaMichael. Editoração: Free Comunicação.Blumenau, 2005. (folder três dobras).

PROJETO PIAVA. Folder Explicativo e de Divulgação.Organização: Guarim Liberato Junior. LourdesSedlacek; Nádia Michael. Editoração: FreeComunicação. Blumenau, 2005. (folder canguro –três dobras e seis encartes).

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Assessoria de edição, design e tratamento de imagens elaboradosde novembro de 2007 a fevereiro de 2008 na Reserva Rio das Furnas, São Leonardo, AW, SC.

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