o planeamento e a periodização do treino em futebol

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  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

    O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol Um estudo realizado em clubes da Superliga

    Dissertao elaborada com vista obteno do Grau de Mestre em Treino

    de Alto Rendimento.

    Orientador: Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo

    Jri: Presidente

    Professor Doutor Vtor Manuel Santos Silva Ferreira Vogais

    Professor Doutor Jlio Manuel Garganta da Silva Professor Doutor Antnio Natal Campos Rebelo Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo

    Pedro Manuel de Oliveira Santos

    2006

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

    O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol Um estudo realizado em clubes da Superliga

    Dissertao elaborada com vista obteno do Grau de Mestre em Treino

    de Alto Rendimento.

    Orientador: Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo

    Jri: Presidente

    Professor Doutor Vtor Manuel Santos Silva Ferreira Vogais

    Professor Doutor Jlio Manuel Garganta da Silva Professor Doutor Antnio Natal Campos Rebelo Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo

    Pedro Manuel de Oliveira Santos

    2006

  • Santos, P. (2006). O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol um

    estudo realizado em clubes da Superliga. Dissertao de Mestrado. Lisboa:

    FMH-UTL.

    Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PLANEAMENTO E PERIODIZAO,

    ESPECIFICIDADE, PADRONIZAO SEMANAL, EQUIPAS TCNICAS

    II

  • AGRADECIMENTOS

    Num trabalho deste tipo, conta-se, inevitavelmente, com o apoio e incentivo de muitas

    pessoas e entidades. Gostaramos de expressar um sincero agradecimento a todos

    aqueles cujo participao, directa ou indirecta, tornaram possvel a sua realizao:

    Ao Professor Doutor Jorge Castelo, pela forma como orientou este estudo, pela

    ateno, disponibilidade e pertinncia das suas crticas e sugestes.

    Ao Professor Doutor Albertino Gonalves (UM) pelos esclarecimentos e

    acompanhamento prestados ao longo da elaborao da dissertao.

    Ao Mestre Jos Guilherme Oliveira (FCDEF), pela atitude solcita demonstrada e

    participao em diversos esclarecimentos.

    Aos treinadores da Superliga, pela sua disponibilidade, abertura e interesse manifesto.

    Realo tambm aqueles que participaram e auxiliaram nos contactos junto dos

    inquiridos. A este nvel, terei que destacar, os professores Joo Paulo Correia, Carlos

    Agostinho Sousa e Arlsio Coelho.

    Aos elementos que participaram na validao do questionrio. Deixarei, no entanto, os

    seus nomes no anonimato. Destaco as suas crticas, que, em meu entender, foram

    pertinentes e oportunas. Foi com anlise criteriosa que enfrentaram o questionrio.

    Aos colegas do curso de mestrado. A elaborao desta dissertao o culminar de um

    percurso que se iniciou muito antes, com a inscrio no curso de mestrado. A

    caminhada foi paulatina. O grupo era interessado, disponvel e coeso e sempre

    mostrou uma boa capacidade de inter-ajuda. Os seus apoios foram relevantes.

    Aos professores do curso de mestrado. Com eles aprendi novas abordagens e sempre

    encontrei nas suas atitudes competncia, receptividade e abertura para dilogo.

    Aproveito para destacar professores da universidade onde me licenciei, FCDEF-UP,

    Jlio Garganta, Antnio Rebelo e Vtor Frade, os quais foram nucleares nos

    ensinamentos acerca do Futebol.

    III

  • Aos amigos. Foram muitas as discusses com o amigo e colega de curso Pedro Silva,

    com o qual partilhei os muitos quilmetros de viagem (e conhecimento) e a quem muito

    devo. Ele foi uma influncia que jamais se poder disfarar. Presto tambm

    reconhecimento aos incentivos e discusses em torno do Futebol traadas com os

    amigos Alberto Mendes, Jorge Braz, Paulo Sousa, Paulo Carvalho, Mrcio Navito,

    Ricardo Rosas e Paulo Mouro.

    Aos meus pais e irms, pelo contributo crtico e amigo com que encararam as minhas

    pretenses e pelo apoio prestado.

    Mariana, pelo amor, carinho e incentivo, estando sempre disponvel para ouvir e pela

    confiana transmitida.

    IV

  • NDICE GERAL

    AGRADECIMENTOS...................................................................................................................III

    NDICE GERAL............................................................................................................................ V

    NDICE DE QUADROS............................................................................................................... IX

    NDICE DE FIGURAS ................................................................................................................XV

    NDICE DE ANEXOS ...............................................................................................................XVII

    RESUMO...................................................................................................................................XIX

    ABSTRACT...............................................................................................................................XXI

    RSUM .................................................................................................................................XXIII

    1. INTRODUO ..........................................................................................................................1

    2. REVISO DA LITERATURA....................................................................................................5

    2.1. A natureza do jogo de Futebol ...............................................................5 2.1.1. Caractersticas gerais do jogo de Futebol .........................................5 2.1.2. O jogo de Futebol assenta numa lgica interna ................................7 2.1.3. A relao intima com o conceito de sistema .....................................7 2.1.4. A aleatoriedade, imprevisibilidade e complexidade das situaes

    do jogo .............................................................................................11

    2.2. A organizao de jogo. A organizao funcional e a organizao estrutural .............................................................................................15

    2.2.1. Reflexes baseadas no conceito de estrutura ................................18

    2.3. O treino como elemento condicionante do rendimento ........................21 2.3.1. A importncia dos conhecimentos cientficos no treino...................24 2.3.2. A rentabilizao do desempenho e a gesto do tempo de

    preparao .......................................................................................25 2.3.3. A relao treino competio .......................................................25 2.3.4. A modelao como tendncia evolutiva do treino ...........................27 2.3.5. O treino como agente da qualidade do jogo....................................28

    2.4. O Planeamento a Periodizao do processo de treino e competio..30 2.4.1. O Planeamento ...............................................................................32

    2.4.1.1. Exigncias e objectivos da planificao...............................................34

    V

  • 2.4.2. A Periodizao ................................................................................37 2.4.2.1. A periodizao da poca desportiva no contexto do Futebol ..............39

    2.4.3. Variveis a ter em conta na Planificao ........................................46

    2.5. A forma desportiva no Futebol .............................................................50 2.5.1. A estabilizao da forma no Futebol: picos de forma versus

    patamares de rendimento ..............................................................52 2.5.2. A carga e a adaptao no contexto do processo de treino em

    Futebol .............................................................................................55 2.5.3. A dinmica da carga em funo das fases de forma desportiva...59

    2.5.3.1. A intensidade no processo de Treino ..................................................62 2.5.3.2. A Intensidade Mxima Relativa ...........................................................64

    2.5.4. A concentrao como um postulado essencial do treino ................65 2.5.4.1. A fadiga versus recuperao ...............................................................67 2.5.4.2. A Fadiga Tctica (fadiga central) resultante de se jogar e treinar (constantemente) concentrado .........................................................................70

    2.5.5. A relatividade dos conceitos: Carga versus Desempenho ......71 2.5.6. Consideraes sobre a poca desportiva .......................................75 2.5.7. A informao qualitativa e quantitativa no controlo do treino e da

    competio.......................................................................................77 2.5.8. O controlo do treino e os testes fsicos ...........................................79 2.5.9. Importncia da anlise de jogo no processo de treino e de

    competio.......................................................................................82 2.5.9.1. Interesses da anlise de jogo ..............................................................83 2.5.9.2. Eixos de estudo na anlise do jogo .....................................................85 2.5.9.3. mbito da anlise de jogo....................................................................86 2.5.9.4. Diferentes mtodos para a anlise de jogo .........................................87 2.5.9.5. Indicadores de desempenho na anlise do jogo .................................88 2.5.9.6. A relevncia da observao (entendida como uma das fases da anlise de jogo).................................................................................................89 2.5.9.7. A observao sistemtica ....................................................................90 2.5.9.8. A necessidade de auxiliares de registo de informao........................92 2.5.9.9. A necessidade de mtodos/sistemas de observao e anlise especficos ........................................................................................................93 2.5.9.10. Tipos de observao..........................................................................95 1.5.9.11. A tecnologia na observao e anlise do jogo ..................................95 2.5.9.12. A anlise de jogo e a informao/feedback acerca do desempenho .....................................................................................................98 2.5.9.13. A necessidade de ter critrio na escolha da informao (relevante) a retirar a partir da anlise do jogo ...................................................................99 2.5.9.14. Informao quantitativa e qualitativa na anlise de jogo .................102 2.5.9.15. A anlise do desempenho tctico ....................................................106

    2.6. Delimitaes conceptuais: Estratgia, Tctica e Tcnica ...........108

    VI

  • 2.6.1. A Estratgia e a Tctica ................................................................108 2.6.1.1. Estratgia...........................................................................................109 2.6.1.2. Tctica ...............................................................................................110 2.6.1.3. Relao entre estratgia e tctica .....................................................118

    2.6.2. A Tcnica ......................................................................................120 2.6.2.1. Delimitao conceptual do conceito de tcnica .................................121 2.6.2.2. A mudana de paradigma em relao ao movimento humano .........124 2.6.2.3. Os antecedentes da execuo ..........................................................124 2.6.2.4. Relao entre tctica e tcnica: aco tctico-tcnica (a tcnica como um continum da tctica) ........................................................................127

    2.7. A Estrutura do Rendimento em Futebol .............................................129 2.7.1. As dimenses (factores) do rendimento .....................................131 2.7.2. Interaco entre os factores (entenda-se dimenses) do

    rendimento .....................................................................................133 2.7.3. A irredutilibidade dos factores (entenda-se dimenses) de

    rendimento .....................................................................................134

    2.8. O Jogo como o centro do processo .................................................135 2.8.1. Perspectivas genricas do ensino/treino do jogo ..........................138 2.8.2. A abordagem sistmica do Jogo no Ensino/Treino um factor

    condicionante para a exponenciao do Modelo de Jogo..............140

    2.9. As dimenses tctica e fsica no Futebol.........................................142 2.9.1. Contra uma tendncia da perspectiva energtica do desempenho142 2.9.2 A dimenso fsica no Futebol como um imperativo tctico ..........145 2.9.3. A abordagem organizacional do jogo: a dimenso tctica no

    Futebol como matriz configuradora do planeamento (e que determina arrastamento das restantes dimenses) .....................148

    2.9.4. A real importncia da dimenso fsica no seio do planeamento em Futebol .....................................................................................150

    2.10. O modelo como referncia e orientao coerente para um alvo o processo que conduz a uma (nossa) forma de jogar .....................151

    2.10.1. Conceptualizao de modelo de jogo .........................................156 2.10.2. O modelo de jogo como construtor do futuro ..............................160 2.10.3. Os princpios do jogo e do modelo de jogo .................................160 2.10.4. O modelo de jogo como agente condicionador de uma

    determinada forma de se jogar ......................................................162 2.10.5. O modelo de jogo como matriz do processo de Treino e de Jogo164 2.10.6. A individualidade do modelo de jogo...........................................165 2.10.7. O modelo de jogo como mapa para a especificidade do treino...165 2.10.8. Os requisitos da dimenso fsica de um modelo de jogo ............166

    VII

  • 2.10.9. Os momentos fundamentais que caracterizam a organizao do jogo da equipas e o modelo de jogo...........................................167

    2.10.10. O modelo de jogo como critrio na avaliao do processo .......171 2.10.11. Inteligncia de jogo, conhecimento especfico e modelo de

    jogo ................................................................................................172 2.10.12. A competncia da equipa e do jogador .....................................176 2.10.13. A importncia da elaborao de um modelo de Treino .............178

    2.11. Conceptualizao de diferentes opes metodolgicas para operacionalizao da estrutura do Rendimento................................178

    2.12. Importncia dos estudos da fisiologia no desenvolvimento da dimenso fsica. Da caracterizao do esforo especfico da modalidade ao esforo especfico requerido pelo modelo de jogo. ..182

    2.13. O princpio da Especificidade...........................................................184 2.13.1. O conceito de Especificidade ......................................................185

    2.14. Identificao e aperfeioamento do projecto colectivo de jogo. Transmisso e assimilao das ideias do jogo da equipa ................188

    2.14.1. A lgica do exerccio (especfico) na transmisso das ideias aos jogadores de como jogar (em funo do modelo de jogo) .............191

    2.14.2. O lado aquisitivo do treino...........................................................196 2.14.3. Necessidade de repetio sistemtica ........................................198 2.14.4. A consubstanciao do caminho: do diagnstico correcto da

    situao estratgia de interveno ajustada (criao e seleco de exerccios profcuos ao comportamento dos jogadores) ...........199

    2.14.5. A criatividade como exigncia do jogo ........................................201 2.14.6. Requisitos materiais para o processo de Treino .........................202

    3. OBJECTO E MTODOS ......................................................................................................205

    4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ...................................................211

    5. CONCLUSES .....................................................................................................................343

    5.1. Concluses referentes ao planeamento e periodizao nos clubes da Superliga......................................................................................344

    5.2. Concluses referentes constituio das equipas tcnicas na Superliga...........................................................................................351

    6. SUGESTES PARA FUTUROS ESTUDOS........................................................................353

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................355

    8. ANEXOS ...............................................................................................................................371

    VIII

  • NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 Percentagem de clubes da Superliga em funo de dois aspectos do planeamento: (i) utilizao das fases da forma desportiva na sua relao com a dinmica da carga e, (ii) diviso da poca em perodos, na sua relao com as componentes da carga..............................................................211

    Quadro 2 Percentagem de clubes em funo do tipo de manipulaes no volume e intensidade nos Perodos Preparatrio, Competitivo e de Transio, operacionalizadas no subgrupo dos 11 clubes da Superliga que utilizam estes aspectos no planeamento. .............215

    Quadro 3 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo da orientao do processo de planeamento operacionalizado pelos seus treinadores. .........................................................................218

    Quadro 4 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores s componentes da carga e recuperao.................................................................................219

    Quadro 5 Percentagem de clubes da Superliga em funo das componentes do rendimento consideradas pelos seus treinadores no processo de planeamento....................................221

    Quadro 6 Percentagem de clubes da Superliga em funo da forma como as componentes do rendimento so trabalhadas. .......................223

    Quadro 7 Percentagem de clubes da Superliga em funo do aspecto considerado central pelos seus treinadores, no treino de Futebol.........................................................................................224

    Quadro 8 Percentagem de clubes da Superliga em funo do principal tipo de planeamento utilizado para preparar a equipa para o jogo..............................................................................................227

    Quadro 9 Relao entre o desenvolvimento das capacidades fsicas e os aspectos do planeamento tctico no subgrupo dos 16 clubes da Superliga que referem utilizar um planeamento com base na componente tctica. ..................................................................229

    IX

  • Quadro 10 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia hierrquica entre as componentes do rendimento. ..230

    Quadro 11 Percentagem de clubes da Superliga, em funo das escolhas do subgrupo dos 12 treinadores que atribuem a mesma importncia s componentes do rendimento sobre a componente considerada guia do processo de planeamento. ..231

    Quadro 12 Percentagem de clubes da Superliga em funo das escolhas que o subgrupo dos 6 treinadores que atribuem importncias distintas s componentes do rendimento faz sobre a componente considerada mais importante no processo de planeamento................................................................................233

    Quadro 13 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores ao modelo de jogo adoptado......................................................................................234

    Quadro 14 Percentagem de clubes da Superliga que utilizam do modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo nas equipas. ........................................................................235

    Quadro 15 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de comportamentos contemplados pelo modelo de jogo das 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. ................................237

    Quadro 16 Percentagem de clubes da Superliga em funo das formas de estruturao do modelo de jogo, nas 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo.......................................................................237

    Quadro 17 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos momentos contemplados pelo modelo de jogo, nas 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. .................................................240

    Quadro 18 Percentagem de clubes da Superliga em funo da adaptao do modelo de jogo inicialmente delineado s capacidades, caractersticas e entendimento dos jogadores, nas 16 equipas

    X

  • que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. .................................................241

    Quadro 19 Percentagem de clubes da Superliga em funo das opinies dos treinadores sobre a orientao dos objectivos do trabalho a realizar no incio da poca...........................................................243

    Quadro 20 Percentagem de clubes da Superliga em funo das percepes dos treinadores referentes ao principal objectivo de treino do perodo preparatrio. ....................................................245

    Quadro 21 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o trabalho dos aspectos fundamentais da organizao do jogo e o treino e da equipa e dos jogadores................................247

    Quadro 22 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o trabalho que visa a implementao dos princpios do modelo de jogo e o treino e da equipa e dos jogadores. .............249

    Quadro 23 Percentagem de clubes da Superliga em funo das escolhas que o subgrupo dos 12 treinadores que referem procurar implementar os princpios do modelo de jogo em todos os treinos faz sobre a relao entre o trabalho que visa a implementao dos princpios do modelo de jogo e todos os exerccios da sesso de treino. ...................................................250

    Quadro 24 Percentagem de clubes da Superliga em funo da orientao do treino fsico, pelos valores indicados pela fisiologia do exerccio. .....................................................................................251

    Quadro 25 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de exerccios utilizados para desenvolver a componente fsica da equipa e dos jogadores. ..............................................................255

    Quadro 26 Percentagem de clubes da Superliga em funo da utilizao de mquinas de musculao e respectivos objectivos. ...............259

    Quadro 27 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de exerccios de recuperao utilizados no dia de treino aps o jogo, considerando a combinao das opes referidas pelos treinadores...................................................................................263

    XI

  • Quadro 28 Percentagem de clubes da Superliga em funo da principal forma de transmitir as ideias aos jogadores sobre como jogar, considerando as opes dos treinadores. ...................................265

    Quadro 28.1 Percentagem de clubes da Superliga em funo da principal forma de transmitir as ideias aos jogadores de como jogar, considerando a combinao das opes referidas pelos treinadores...................................................................................268

    Quadro 29 Percentagem de clubes da Superliga em funo do que privilegiado quando surgem paragens no campeonato, ao longo da poca......................................................................................269

    Quadro 30 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores, s informaes dos jogadores nos testes fsicos e nos jogos. .............................271

    Quadro 31 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores a diferentes aspectos, na aferio da forma desportiva de um jogador de Futebol.........................................................................................275

    Quadro 32 Percentagem de clubes da Superliga em funo da regularidade da utilizao de testes fsico, no controlo do processo de treino. ......................................................................276

    Quadro 33 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos objectivos da aplicao dos testes fsicos no subgrupo de 5 clubes que utiliza testes fsicos com regularidade.......................278

    Quadro 34 Percentagem de clubes da Superliga que referem utilizar quase sempre a intensidade mxima, no treino. .........................279

    Quadro 35 Percentagem de clubes da Superliga em funo do entendimento que os seus treinadores fazem do conceito de especificidade..............................................................................281

    Quadro 36 Percentagem de clubes da Superliga que utilizam uma planificao semanal tipo ou microciclo padro......................284

    Quadro 37 Percentagem de clubes do subgrupo dos 16 clubes da Superliga que refere utilizar um microciclo padro, acerca do

    XII

  • tipo de relao entre o modelo de jogo e a orientao dada padronizao semanal.................................................................285

    Quadro 38 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo antes com que planificado o microciclo da semana de trabalho286

    Quadro 39 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo antes com que planificado a sesso de treino de um determinado microciclo................................................................288

    Quadro 40 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o nmero e tempo de treino e os jogadores titulares e no titulares. .......................................................................................290

    Quadro 41 Percentagem de clubes da Superliga em funo das diferenas entre o treino dos titulares e no titulares. .................293

    Quadro 42 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos treinos e folgas, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde..........................................................295

    Quadro 43 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo semanal total de treinos e sua relao com o nmero de treinos, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde......................................................................299

    Quadro 44 Valores absolutos e percentagem de sesses de treino, em funo da sua durao referenciada a cada dia de treino (manh e tarde), em 17 dos 18 clubes da Superliga, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ........................................................................................303

    Quadro 45 Percentagem de clubes da Superliga em funo da dinmica e incidncia dos padres de esforo e de recuperao, num microciclo padro ......................................................................309

    Quadro 46 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos objectivos do treino fsico ao longo num microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ...................................315

    Quadro 47 Percentagem de clubes da Superliga em funo do nmero total de elementos das equipas tcnicas. ....................................327

    XIII

  • Quadro 48 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo do nvel de treinador. .....................................................................332

    Quadro 49 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo da habilitao acadmica...............................................................334

    Quadro 50 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo da experincia enquanto jogadores. ..............................................340

    XIV

  • NDICE DE FIGURAS

    Fig. 1 Dinmica da incidncia dos padres de esforo e de recuperao assim como os objectivos fsicos, na generalidade das equipas da Superliga, tendo por base a maioria das respostas dos treinadores, considerando cada um dos dias da semana de trabalho, num microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ...........323

    XV

  • XVI

  • NDICE DE ANEXOS

    Anexo I Questionrio ..................................................................................XVI

    Anexo II Procedimentos para validao do questionrio (2 Fase) ..........XXXI

    Anexo III Aspectos relativos aplicao do questionrio em cada um dos clubes inquiridos .................................................................. XLII

    Anexo IV Respostas dos treinadores ao questionrio ..............................XLVI

    XVII

  • XVIII

  • RESUMO

    A organizao do treino em Futebol um processo metodolgico e pedaggico complexo, que

    visa obteno de elevados desempenhos competitivos pelas equipas e jogadores. Neste

    contexto, o planeamento e a periodizao constituem-se como fases cruciais directamente

    implicadas na eficcia, consistncia e qualidade do jogo das equipas.

    Com o presente trabalho pretendeu-se estudar as concepes de planeamento e periodizao

    que os treinadores das equipas da Superliga contemplam. Neste mbito, procurou-se investigar

    (i) a valorizao atribuda ao modelo de jogo no processo de treino e jogo, (ii) a importncia e

    relao das dimenses tctico-tcnica e fsica no processo de treino, bem como, da

    dinmica da carga, (iii) a especificidade do processo de treino, (iv) as caractersticas gerais da

    padronizao semanal, e (v) a constituio das equipas tcnicas.

    O universo em estudo constitudo pelas dezoito equipas da Superliga da poca 2004/2005.

    Foi aplicado um inqurito por questionrio validado por sete especialistas. Em representao

    cada um dos clubes em estudo, responderam ao questionrio dezasseis treinadores principais e

    dois adjuntos, em virtude da remessa do respectivo treinador principal.

    Os resultados sugerem que embora parea no ser a corrente de treino dominante, o

    paradigma da dimenso fsica do treino aparece ainda bastante vincado na Superliga. Alguns

    dos pressupostos associados concepo tradicional do treino permanecem presentes no

    trabalho realizado, sendo frequentemente utilizados. Parece ser costume operacionalizar um

    planeamento com base na dimenso tctica. Apesar desta ser a guia do processo, e arrastar

    a dimenso fsica, nem sempre tal se verifica. Embora surjam situaes em que ainda se

    promove a separao das dimenses do rendimento, a referncia passa por trabalh-las,

    sempre que possvel, simultaneamente. No obstante o consenso existente em matria de

    valorizao atribuda ao modelo de jogo, parte dos treinadores parece no contemplar a

    Especificidade do trabalho que se pode realizar tendo como elemento orientador o modelo de

    jogo. Foram identificados casos pontuais de contradies entre a forma de pensar (concepo

    acerca do planeamento) e de agir (execuo do treino). Nem todos os treinadores agem de

    acordo com as suas convices expressas. Na generalidade, os clubes da Superliga tendem a

    assemelhar-se no que se refere ao nmero de treinos da padronizao semanal. Subsistem, no

    entanto, variaes no que se refere ao tempo total de treino. Foram, tambm, encontradas

    diferenas relativas ao nmero de elementos constituintes das equipas tcnicas. No caso das

    que possuem o mesmo nmero de elementos, as diferenas parecem no ser tanto ao nvel

    das funes desempenhadas mas mais de foro terminolgico.

    Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PLANEAMENTO E PERIODIZAO, ESPECIFICIDADE,

    PADRONIZAO SEMANAL, EQUIPAS TCNICAS

    XIX

  • XX

  • ABSTRACT

    The organization of Soccer training is a complex methodological and pedagogic process that

    aims to obtain high competitive performance by the teams and players. In this context, the

    planning and the periodization are assumed to be crucial phases directly implied in the

    efficiency, consistency and game quality of the teams.

    The aim of this work is to study the planning and periodization conceptions that Superliga

    coaches follow. In this way one intends to investigate (i) the value attributed to the model of the

    game in the training and game process, (ii) the relation and importance of the tactical-

    technique and physical dimension in the training process and also in the loads dynamics,

    (iii) the specificity of the training process, (iv) the general characteristics of the weekly

    standardization, and (v) the constitution of the technical staff.

    The universe under study is constituted by the eighteen Superliga teams in the 2004/2005

    season. It was applied an inquiry by questionnaire validated by seven specialists. In

    representation of each one of the studying teams, this questionnaire was answered by sixteen

    main coaches and two assistant-coaches, by indication of the main coach.

    Although the results suggest that the paradigm of the physical dimension seems not to be the

    dominant training current, it still appears rather emphasized in Superliga. Some of the

    assumptions associated to the traditional training conception remain present in the work carried

    through, and are being frequently used. It seems to be usual to operate a planning based on the

    tactical dimension. In fact, this dimension is considered to be the guide of the process, and

    drags the physical dimension. Nevertheless, this doesnt always happen. There are situations

    where the separation of the training factors is established; however the reference passes for

    working them, as always as possible, simultaneously. Notwithstanding the existence consensus

    in matter of the valuation given to the game model, part of the coaches seem not to contemplate

    the specificity of the work that can be carried through having it as orientation element.

    Exceptional cases of contradictions between the way of thinking (conception concerning the

    planning) and the way of acting (execution of the trainings) had been identified. Not all the

    coaches act according to their expressed beliefs. In general, the Superliga teams tend to

    resemble themselves concerning the number of trainings of the weekly standardization.

    Differences subsist, however, in the variations related to the training sessions total time.

    Differences have also been found related to the number of members that constitute the technical

    staff. In the case of the teams that possess the same number of staff members, the differences

    appear not to be in the level related to the performed functions but more related to terminology.

    Key words: SOCCER, TRAINING, PLANNING E PERIODIZATION, SPECIFICITY, WEEKLY

    STANDARDIZATION, TECHNICAL STAFF

    XXI

  • XXII

  • RSUM

    L'organisation de l'entranement dans le Football est un processus mthodologique et

    pdagogique complexe, qui vise lobtention de performances leves et concurrentielles par les

    quipes et joueurs. Dans ce contexte, la planification et la priodisation se constituent comme

    des phases cruciales directement impliques dans l'efficacit, la consistance et la qualit du jeu

    des quipes.

    Avec le prsent travail on a prtendu tudier les conceptions de planification et de priodisation

    que les entraneurs des quipes de la Superliga envisagent. Dans ce contexte, on a cherch

    enquter (i) la valorisation attribue au modle de jeu dans le processus d'entranement et du

    jeu, (ii) l'importance et la relation des dimensions tactique/technique et physique dans le

    processus d'entranement, ainsi que, la dynamique des charges , (ii) la spcificit du

    processus d'entranement, (iv) les caractristiques gnrales de la normalisation hebdomadaire,

    et (v) la constitution des quipes techniques.

    L'univers dans tude est constitu par les dix-huit quipes de la Superliga, Championnat

    2004/2005. En reprsentation de chacun des clubs en tude, seize entraneurs principaux et

    deux adjoints, en vertu de l'envoi du respectif entraneur principal, ont rpondu a un

    questionnaire valid par 7 spcialistes.

    Les rsultats suggrent que le paradigme de la dimension physique de l'entranement

    apparaisse encore beaucoup rid dans la Superliga, mme si en apparence, elle napparat pas

    comme la plus dominante. Certaines prsuppositions associes la conception traditionnelle de

    l'entranement restent prsentes dans le travail ralis, en tant frquemment utiliss. Ils

    semblent que la planification est faite sur la base de la dimension tactique, mais malgr cela,

    mme en tant le guide du processus, et entraner la dimension physique, ceci ne se

    vrifie pas de manire constante. Bien qu'il apparaissent des situations o on vrifie, encore, la

    sparation des dimensions du rendement, la rfrence passe par les travailler, si possible, en

    simultan. Mme en existant un consensus en matire d'valuation attribue au modle de jeu,

    certains entraneurs semble ne pas envisager la Spcificit du travail qui peut se raliser en

    aient comme lment dorientation le modle de jeu. On a identifis des cas ponctuel de

    contradictions entre la forme de penser (conception concernant la planification) et d'agir

    (excution de l'entranement). Certains entraneurs nagissent pas en accord avec leurs

    convictions expresses. En gnral, les clubs de la Superliga tendent se ressembler en ce qui

    concerne le nombre d'entranements de la normalisation hebdomadaire. On dtecte, nanmoins,

    des variations, en ce qui concerne le temps total d'entranement. On a, aussi, trouves des

    diffrences relatives dans le nombre d'lments constitutifs des quipes techniques. Dans les

    cas o il y a le mme nombre d'lments, les diffrences ne semblent pas tre au niveau des

    fonctions attribus mais plutt du forum terminologique.

    Mots-cls : FOOTBALL, ENTRANEMENT, PLANIFICATION ET PRIODISATION,

    SPCIFICIT, NORMALISATION HEBDOMADAIRE, QUIPES TECHNIQUES

    XXIII

  • XXIV

  • 1. INTRODUO

    O Futebol, institucionalizado em 1863 pela Football Association, uma

    modalidade desportiva de fortssima expanso. Podemos considera-lo a

    modalidade desportiva mais famosa (Ponce e Ortega, 2003) e popular do

    mundo (Ferreira e Queiroz, 1982; Corra et al, 2002; Oliveira, 2004a). , sem

    dvida, o fenmeno mas marcante do final do sculo XX e princpio do sculo

    XXI (Garganta, 2004). Pela sua natureza intrinsecamente atractiva, o futebol

    atrai milhes de pessoas (Reilly et al, 1993; Garganta, 1997). Burke e Hawley

    (1997) referenciam a existncia de cerca de 120 milhes de jogadores de

    Futebol no mundo.

    So diversos e interactuantes os aspectos que concorrem para o rendimento

    desportivo em Futebol (Bauer & Ueberle, 1988; Marques, 1990; Garganta,

    1991; 1997; 2002; Castelo, 2002) sendo que, a expresso mxima das

    capacidades do jogador requer condies ptimas de preparao e de

    realizao (Quinta, 2004). O desenvolvimento das cincias do desporto atingiu

    maturidade para gerar um conjunto de conhecimentos aplicveis ao Futebol,

    tendo vindo a manifestar-se um aumento do interesse na diminuio do fosso

    entre a teoria e a prtica e o aumento da conscincia do valor da abordagem

    cientfica do Futebol (Reilly et al, 1997).

    Apesar de muito se especular a propsito dos mltiplos factores que concorrem

    para o xito, em Futebol, continua a ser verdade que o treino constitui a forma

    mais importante e mais influente de preparao dos jogadores para a

    competio (Garganta, 2004). Uma das tarefas do treinador a de definio da

    estratgia desportiva, relacionando-se esta com o objectivo principal, a

    planificao e a globalidade (Riera, 1995). O treino, com as exigncias

    colocadas pela actual competio, vai muito para alm da sua execuo. A

    programao e avaliao tm tanta ou mais importncia que o treino

    propriamente dito (Mourinho, 2002: 15). O planeamento do treino a fase

    fulcral de toda a organizao do processo de treino (Silva, 1998b). A

    problemtica do planeamento e periodizao do processo de treino uma

    preocupao central de qualquer treinador, tendo este que se debater com uma

    diversidade de problemas de natureza metodolgica.

    1

  • O desporto de rendimento caracteriza um mundo extremamente exigente, onde

    a inovao tcnica e tecnolgica so constantes (Tani, 2001). Vrios estudos

    tm vindo a ser realizados no mbito da Teoria e Metodologia do Treino

    Desportivo (TMTD), tendo como consequncia uma constante evoluo da

    metodologia do treino desportivo da modalidade. Tm sido feitas diversas

    tentativas para descrever a estrutura do rendimento no Futebol (Garganta &

    Grhaigne, 1999). Na busca de uma maior eficincia do processo de treino, os

    procedimentos, tcnicas, sistemas e mtodos empregues variaram bastante

    nas ltimas dcadas (Cerezo, 2000). Existem vrias formas de jogar e de

    conseguir resultados, do mesmo modo que existem vrias maneiras de treinar

    (Garganta, 2004). Encontramos na literatura a emergncia de vrias correntes

    de treino aplicadas ao futebol, que traduzem a prpria evoluo da histria da

    TMTD. Fundamentalmente emergem duas tendncias opostas ao nvel do

    planeamento do treino em Futebol: uma que coloca o primado nos aspectos da

    carga e no planeamento da componente de rendimento fsica e outra, em

    linha oposta, que coloca o postulado no planeamento dos aspectos tcticos,

    centrando-se estes numa determinada forma de jogar. Considera-se que a

    dimenso fsica surge agregada dimenso tctica, entendida como guia do

    processo.

    Pensamos encontrar aqui a pertinncia do estudo. Procuramos enquadrar a

    realidade com que nos deparamos no processo de treino em Futebol,

    confrontando-a posteriormente com os pressupostos tericos de referncia, no

    sentido de encontrar a tendncia evolutiva do Futebol nacional ao nvel da

    problemtica em estudo.

    Com o presente trabalho pretende-se caracterizar o tipo de planeamento e

    periodizao utilizados, nos diferentes clubes da Superliga do Futebol

    portugus, na poca 2004/05.

    Partindo das informaes recolhidas pretendemos referenciar os conceitos

    tericos subjacentes ao treino com vista a rentabilizar o desempenho

    desportivo da equipa e dos jogadores na competio. Pretende-se saber a

    concepo/aplicao de variveis decorrentes do planeamento/periodizao do

    treino que os treinadores de clubes da Superliga evidenciam nos respectivos

    clubes, com vista a preparar as suas equipas para o sucesso competitivo.

    2

  • Existem numerosos estudos sobre a problemtica da periodizao no desporto

    em geral, onde se destacam vrios estudos efectuados no mbito dos jogos

    desportivos colectivos. A maior parte dos trabalhos sobre esta temtica, no

    Futebol, esto relacionados com estudos de caso numa equipa ou anlise da

    concepo que diferentes autores/treinadores apresentam sobre o treino.

    Destes estudos, geralmente baseados em anlises de contedo, com

    entrevistas efectuadas a treinadores e elementos das equipas tcnicas de

    clubes dos principais escales do Futebol nacional e internacional, constata-se

    ainda uma grande importncia atribuda a aspectos do planeamento fsico. As

    planificaes e periodizaes, tm focado os aspectos que se relacionam em

    larga escala com o trabalho fsico das equipas em lugar do aspecto tctico,

    atribuindo-se portanto, demasiada importncia ao desenvolvimento de um

    conjunto de capacidades fsicas em detrimento de uma consciente forma de

    jogar (Faria, 1999: 6). Verificamos uma tendncia para, cada vez mais, se

    procurarem meios para aumentar o rendimento fsico (Resende, 2002: 62). As

    linhas de investigao de algumas faculdades de desporto em Portugal (que

    centram os seus estudos na problemtica do alto rendimento desportivo)

    tendem a privilegiar entre outras a periodizao do treino das qualidades

    fsicas em desportos colectivos onde se incluiu o Futebol. No entanto, cada

    ver mais aceite que a esfera directora do planeamento e periodizao do treino

    em Futebol dever ser a tctica. Nesse sentido surge a imperativa

    necessidade de uma reformulao nos aspectos metodolgicos, que o Futebol

    necessita (Resende, 2002: 103).

    No h, que tenhamos conhecimento, estudos realizados no Futebol portugus

    que caracterizem e que procurem quantificar, de forma consistente, aspectos

    diversos do planeamento e periodizao utilizados nos principais clubes do

    futebol nacional. Surgem alguns estudos de caso que caracterizam a realidade

    sobre a periodizao no clube alvo. Outros estudos apresentam as diferentes

    correntes sobre o treino, descrevem algumas variveis que as vo caracterizar

    e destrinar, sem nunca, no entanto, esclarecer qual o real impacto que uma

    determinada concepo de treino assume no Futebol nacional, nomeadamente,

    num determinado nvel competitivo. Este aspecto, no nosso entender traduz-se

    numa lacuna considervel.

    3

  • Em funo do exposto anteriormente, pensamos que o presente estudo adquire

    uma pertinncia favorvel sua realizao, possibilitando o compilar de um

    conjunto de informaes cujo conscincia ir garantir uma valorizao na

    interveno futura de treinadores, professores, praticantes e pessoas ligadas

    rea da metodologia do treino desportivo. Assim, procuramos apresentar o

    presente rumo da histria da TMTD, com base na realidade do Futebol

    portugus.

    Ao enveredar-se pela realizao do presente trabalho, pretende-se

    conceptualizar os seguintes aspectos: (i) a importncia do modelo de jogo e

    respectivos princpios no processo de treino e jogo; (ii) a importncia e relao

    das dimenses tctico-tcnica e fsica no processo de treino, bem como, da

    dinmica da carga; (iii) a Especificidade do processo de treino; (iv) as

    caractersticas gerais da padronizao semanal; (v) a constituio das equipas

    tcnicas dos clubes da Superliga.

    Fundamentalmente, pretende-se promover uma investigao aplicada,

    estudando as concepes acerca do planeamento e da periodizao que os

    treinadores das equipas da Superliga contemplam, de modo a identificar a real

    influncia de diferentes correntes de treino na preparao das equipas do

    principal escalo do Futebol nacional, respondendo necessidade imperativa

    de reflexo sobre a metodologia utilizada.

    4

  • 2. REVISO DA LITERATURA

    2.1. A natureza do jogo de Futebol

    O jogo Futebol, definido como jogo desportivo colectivo (Ferreira e Queiroz,

    1983; Teodorescu, 2003; Garganta, 1997; 1998b; Garganta e Pinto, 1998;

    Castelo, 2006a), pode ser considerado a partir de diferentes perspectivas e

    enquadramentos (Teodorescu, 2003). So vrias as disciplinas cientficas que

    concorrem para a abordagem e anlise do fenmeno. Este facto permite que a

    anlise do rendimento dos jogadores pode ser realizada a partir de abordagens

    to distintas como a fisiolgica, a biomecnica, a tcnica e tctica, etc.

    (Garganta, 1997; 1998). Assume-se o ponto de vista psicosociolgico,

    morfolgico-funcional, psicomotor e pedaggico, entre outros (Teodorescu,

    2003). Ao se assumir a perspectiva de cada disciplina, i.e., da biologia, da

    pedagogia, da sociologia, da psicologia, etc., atribuem-se ao jogo focalizaes

    distintas. Diferentes disciplinas vem coisas diferentes e constroem objectos

    diferentes (Castelo, 1994: 8). Cada uma apresenta a sua interpretao do

    fenmeno desportivo (Carvalhal, 2000). Este autor destaca que a abordagem

    de um fenmeno, segundo um ponto de vista, no poder ser abrangente, pois

    tanto verdadeira pelo que prope, como falsa, pelo que exclui. Assim,

    segundo este autor, a perspectiva da biologia e das cincias humanas deve

    completar-se. Por outro lado, concordamos com Castelo (2006a) a

    necessidade de existir um dilogo sistemtico, consistente e complementar

    entre a prtica e a teoria dado que estas esferas, quando em sintonia, formam

    duas faces de uma mesma verdade (Castelo, 2006a). Segundo este autor,

    deste dilogo interactivo nasce a qualidade da concepo, da aplicao e da

    inovao dos meios de ensino/treino do jogo.

    No nossa pretenso caracterizar pormenorizadamente o jogo de Futebol.

    Pretendemos, no entanto, expor uma breve sntese que traduz algumas

    implicaes de um entendimento sobre o jogo de Futebol.

    2.1.1. Caractersticas gerais do jogo de Futebol

    O Futebol um fenmeno social (Garganta e Pinto, 1998; Teodorescu, 2003) e

    um acto de cultura (Teodorescu, 2003), ou, como refere Frade (1985) um

    5

  • fenmeno antroposocial-total. Na sua essncia o jogo de Futebol decorre do

    confronto entre duas equipas que tm objectivos antagnicos. Podemos

    considerar a existncia de uma microdimenso, o jogador, e de uma

    macrodimenso, a equipa. Genericamente, classifica-se como um jogo

    desportivo com luta pela bola, o que consubstancia uma relao de

    adversidade tpica no hostil (rivalidade desportiva), numa relao de

    colaborao e oposio (Teodorescu, 2003). As equipas em confronto

    disputam objectivos comuns (Garganta, 1997; Castelo, 1999). Deslocando-se

    em todas as direces do espao de jogo (Ferreira e Queiroz, 1982), lutam

    para gerir em proveito prprio o tempo e o espao, pelo que realizam, em cada

    momento, aces reversveis de sinal contrrio, ataque defesa, aliceradas

    em relaes de oposio cooperao (Garganta, 1997; Garganta e Pinto,

    1998) e adversidade rivalidade (Castelo, 1994). O apelo cooperao1 entre

    os elementos de uma equipa visa vencer os elementos da equipa adversara

    (Garganta, 1998b). A relao de oposio/cooperao para se tornar

    sustentvel e eficaz exige dos jogadores comportamentos congruentes, face s

    sucessivas situaes de jogo (Garganta e Pinto, 1998).

    A relao dialctica e contraditria de ataque versus defesa, traduz modos de

    interaco no seio de redes de comunicao (cooperao) e contra

    comunicao (oposio) (Castelo, 1994). O golo, assume-se como objectivo

    fundamental de ambas as equipas, nas fases do jogo (ataque e defesa),

    determinando que todas as aces individuais e colectivas ganhem um

    significado relativo, i.e., no surgem como objectivos em si mesmo mas como

    meios pelos quais os jogadores e a equipa materializam as suas intenes

    estratgicas, na procura da meta comum (Queiroz, 1986).

    Como nos refere Queiroz (1983a), os diferentes modelos conceptuais que

    existem para o ensino dos desportos colectivos derivam de interpretaes

    diferentes da sua natureza. Como tal, o processo de treino deve assentar num

    estudo crtico da natureza, essncia do jogo, assim como das suas tendncias

    evolutivas (Vingada, 1989). E de facto, para se falar do treino em Futebol

    necessrio entender-se o jogo de Futebol (Tavares, 2003).

    1 A cooperao deve ser entendida como modo de comunicar atravs do recursos a sistemas de natureza comuns, sendo de natureza essencialmente motora (noo de equipa) (Garganta, 1998b)

    6

  • 2.1.2. O jogo de Futebol assenta numa lgica interna

    De acordo com Queiroz (1986), o jogo caracteriza-se pela aplicao de certos

    procedimentos antagnicos, de ataque e de defesa, visando o desequilbrio do

    sistema contrrio, na busca de uma meta comum, organizados e ordenados

    num sistema de relaes e interaces coerente e consequente, denominado

    de lgica interior do jogo. A este propsito, Garganta e Cunha e Silva (2000)

    referem que decorrente da relao de oposio, existe uma lgica interna que,

    em cada sequncia de jogo, gera uma dinmica de movimento global, de um

    alvo ao outro, que a cada instante pode inverter-se. A lgica interna do jogo

    consubstancia-se na prtica, pelos jogadores efectuarem, nas diversas

    situao de jogo, processos intelectuais de anlise e sntese de abstraco e

    generalizao (Castelo, 1999), que face elevada variabilidade,

    imprevisibilidade e aleatoriedade do jogo (Garganta, 1997), muito dependente

    do acaso (Dufour, 1993), faz emergir uma realidade dinmica fundada numa

    constante mutao (Castelo, 1994). Esta determina uma necessidade de

    constante adaptao, inteligncia e competncia da equipa e do jogador.

    Castelo (1994) salienta a necessidade da lgica interna do jogo ser observada

    e analisada na procura da identificao, conceptualizao e inter-relao dos

    factores que a constituem, identificando e definindo um conjunto de fases, de

    etapas, de princpios, de factores, etc. De entre diversos aspectos que

    condicionam duma forma importante a lgica do jogo de Futebol, Garganta e

    Pinto (1998) destacam o terreno de jogo e os princpios especficos do jogo.

    O jogo de Futebol apresenta uma estrutura formal e uma estrutura funcional

    (Garganta, 1997). Para este autor, a estrutura funcional decorre das aces de

    jogo, enquanto resultado da interaco recorrente entre os companheiros de

    uma equipa e, da interaco concorrente entre adversrios, em torno da bola,

    no sentido de conseguirem vencer a oposio dos adversrios e atingir os

    objectivos propostos. A estrutura formal refere-se ao terreno de jogo, bola, ao

    regulamento, aos companheiros e adversrios (Garganta, 1997).

    2.1.3. A relao intima com o conceito de sistema

    7

  • No contexto do Futebol, o conceito de sistema2 revela-se profcuo para inteligir

    a lgica do jogo (Garganta e Grhaigne, 1999), sendo que a classificao dos

    sistemas pode ser feita a partir de uma diversidade de critrios: natureza dos

    objectos ou dos atributos, inter-relaes entre as partes constitutivas, nveis de

    complexidade, etc. (Garganta, 1997).

    O jogo de Futebol pode ser considerado como um macrossistema (Garganta e

    Grhaigne, 1999) complexo3 (Vingada, 1989; Castelo, 1994; 2006a; Garganta

    e Grhaigne, 1999; Oliveira, 2003), probabilista de escolha mltipla4 (Garganta

    e Grhaigne, 1999), condicionado pelas linhas de fora5 (Garganta, 1997),

    2 Um sistema definido simultaneamente pelos seus elementos constitutivos e pelas respectivas inter-aces (Garganta, 1997), ou seja, pela associao combinatria de elementos diferentes (Morin, 2003). Pires (2005) define sistema como um conjunto de elementos em interaco dinmica para atingirem um determinado fim. De acordo com Tschiene (1987: 46) um sistema uma classe de elementos, ligados entre si por uma aco recproca imediata: se se exercita um influxo sobre um elemento do sistema, so tambm influenciados os outros. Um sistema apresenta-se como um todo homogneo, se o perspectivamos a partir do conjunto, mas ele tambm simultaneamente, pelas caractersticas dos seus constituintes, diverso e heterogneo (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999). uma unidade complexa, um todo que no se reduz soma das partes constitutivas (Morin, 2003). O todo mais do que uma forma global, implica a manifestao de qualidades que as partes no possuam (Durand, 1992). Um sistema compreende tantos elementos em interaco que se deve antes de mais falar em subsistemas (Bertrand e Guillemet, 1994). Implica tambm uma necessidade de diversidade, que permite assegurar o equilbrio e uma certa margem de adaptabilidade (Durand, 1992). O conceito de sistema est intimamente ligado ao de organizao, uma vez que a esta decorre de um arranjo de relaes entre componentes, produzindo uma nova unidade (totalidade) que possui qualidades inexistentes nos seus elementos (Garganta, 1997). Assim, um sistema exibe uma forma global que poder implicar a apario de qualidades emergentes que transcendem as qualidades das partes (Garganta, 1997). Para Durand (1992) um sistema possui quatro qualidades fundamentais: a interaco, a globalidade, a organizao, a complexidade. Aplicado ao jogo de Futebol, o conceito de sistema deve exprimir sobretudo a dinmica do jogo, a qual permite configurar as opes tcticas dos jogadores e das equipas (Garganta e Grhaigne, 1999). 3 um macrossistema complexo devido s profusas inter-relaes entre os elementos que o constituem e que o tornam altamente elaborado e com elevado grau de inteligibilidade (Garganta e Grhaigne, 1999). Um sistema complexo quando composto por uma grande variabilidade de elementos que possuem funes diversas (Bertran e Guillemet, 1994). Um sistema complexo um sistema que no pode ser caracterizado a partir da reunio das caractersticas e qualidades das suas partes constitutivas, e cujo comportamento no pode ser previsto a partir das propriedades das partes componentes (Cunha e Silva, 1999: 119). Nele, no s a parte est dentro do todo, como o todo est inscrito na parte (Morin, 2002). O todo igualmente menos que a soma das partes, cujo qualidades esto inibidas pela organizao do conjunto (Morin, 2002). A complexidade liga em si a ordem, a desordem e a organizao e, no seio da organizao o uno e o diverso (Morin, 2003). Neste sentido necessrio enfrentar a complexidade e no dissolve-la ou oculta-la (Morin, 2003). 4 macrossistema probabilista de escolha mltipla, dado que as unidades que o constituem interagem de um modo no previsvel, sendo as respostas, nas aces de jogo, condicionadas pela configurao de diferentes sequncias de codificaes (Garganta e Grhaigne, 1999). 5 Segundo Teissie (1970), citado por Castelo (1994: 34), cada jogador concretiza uma linha de fora com mltiplas orientaes, em que o rendimento est subordinado sua situao no campo de jogo, relativamente bola, s balizas, aos outros jogadores. Surge assim, segundo o autor, um sistema de foras assente numa estrutura geogrfica do terreno de jogo, definindo corredores e sectores, no qual se desenvolvem os deslocamentos e posicionamentos. Nos

    8

  • geradas a partir do confronto entre dois sistemas, as equipas (Garganta, 1997;

    Teodorescu, 2003). Tambm estas (as equipas) devem ser entendidas na

    perspectiva de um fenmeno complexo (Garganta, 1997; 2001a; Cunha e Silva,

    1999; Garganta e Grhaigne, 1999; Oliveira, 2002; Oliveira, 2003; Teodoresco,

    2003) exibindo capacidade de se auto-organizarem6 (Garganta, 1997), auto-

    regular (Teodorescu, 2003) e de se auto-transformar (Garganta, 1997), isto ,

    evidenciam o que Morin (2003) designa por organizao viva. Pela auto-

    organizao, a autonomia, a individualidade, complexidade, incerteza,

    ambiguidade, tornam-se quase caracteres prprios do objecto (Morin, 2003).

    As equipas representam uma forma de actividade social com variadas

    manifestaes especficas (Castelo, 2006a). Enquanto sistemas, as equipas

    procuram materializar as suas intenes atravs dos comportamentos tcticos

    dos jogadores (Garganta, 1997), que consubstanciam aces e interaces

    (Teodorescu, 2003), revelando nas equipas formas peculiares de organizao

    (Garganta, 1997), assentes num contexto de cooperao e oposio

    (Garganta, 1997; 2000c; Castelo, 1999; Garganta e Grhaigne, 1999;

    Teodorescu, 2003), em funo de princpios, regras (Garganta e Grhaigne,

    1999; Teodorescu, 2003) e prescries (Garganta e Grhaigne, 1999).

    Com base em Morin (2003), podemos considerar a equipa como um sistema

    auto-eco-organizador. Este tipo de sistema no pode bastar-se a ele prprio, s

    pode ser totalmente lgico ao introduzir nele um meio estranho (Morin, 2003).

    Podemos considerar o meio estranho a competio com a outra equipa.

    Da definio de sistema, neste caso o jogo de Futebol, considera-se, segundo

    Carvalhal (2000), que ao estudarmos um fenmeno, teremos de perspectivar

    as partes que o constituem e as possveis relaes existentes entre elas.

    Atravs do utilizao do conceito de sistema, no se pretende reduzir o jogo a

    uma noo abstracta mas procurar inteligir princpios teolgicos que orientam o

    comportamento e definem a organizao dos sistemas implicados, atravs da

    identificao de regras de gesto e de funcionamento dos jogadores e das

    jogos desportivos, visando os objectivos das equipas, e de acordo com a dinmica do jogo, relao de foras evolui constantemente (Tavares, 1998). Os diferentes posicionamentos dos jogadores traduzem-se por relaes de foras, e a mudana do posicionamento equivale mudana de estrutura (Castelo, 1994: 16). 6 A auto-organizao refere-se capacidade do sistema fazer evoluir a sua constituio interna e o seu comportamento, o que nega o princpio do determinismo (Durand, 1992). A auto-organizao faz evoluir conjuntamente memria e imaginao (Duram, 1992).

    9

  • equipas, e da descrio acontecimental das regularidades e variao que

    ocorrem nas aces de jogo (Garganta e Grhaigne, 1999). Importa pois

    identificar os sub-sistemas que, relacionados entre si, permitem a optimizao

    de todo o sistema (Garganta, 1997).

    A noo central de oposio do jogo de Futebol permite-nos considerar as

    duas equipas como sistemas organizados em interaco cujas caractersticas

    estruturais consistem num programa modificvel em funo da experincia

    adquirida (Garganta e Grhaigne, 1999). Assim, segundo estes autores, a

    aprendizagem uma propriedade fundamental das equipas. Ao considerarmos

    este aspecto, definimos a importncia da dimenso pedaggica do jogo e do

    treino.

    Uma equipa de Futebol uma micro-sociedade (Oliveira, 2003), um micro-

    sistema (Teodorescu, 2003), que tem uma cultura, que tem uma linguagem,

    que tem uma identidade (Oliveira, 2003). Podemos caracterizar o jogo atravs

    das formas de interaco que se estabelecem no seio de redes de

    comunicao7 e de contra-comunicao (Castelo, 1999). Segundo este autor,

    este facto indissocivel da aco de jogo. A comunicao conduz aplicao

    de aces tcnico-tcticas individuais e colectivas, organizadas e ordenadas

    num sistema de relaes e interrelaes coerentes e consequentes, de ataque

    e defesa, tendo em vista o desequilbrio do sistema adversrio, na busca de

    uma meta comum (Castelo, 1999). Assim, os jogadores e as equipas, face a

    determinadas formas de oposio e baseados na coeso colectiva procuram,

    na maior economia possvel de meios e processos, a partir do efeito surpresa,

    criar oportunidade para fazerem com que o mbil do jogo atinja, com xito, o

    alvo adversrio e evitarem que atinja o seu (Garganta, 2000: 53). Podemos

    7 De acordo com Castelo (1999), no jogo de Futebol, a comunicao uma interaco motora de cooperao essencial e directa, que se efectua pela transmisso de um objecto (a bola) e a ocupao de um determinado espao, ou atravs de um papel sociomotor (guarda-redes, jogador de posse de bola, etc.) (pg. 26), enquanto que a contra-comunicao uma interaco motora de oposio essencial e directa, que pode acontecer de formas muito diversas e caracteriza-se por uma transmisso antagnica da bola, um papel desfavorvel (pelo adversrio) ou de uma posio ou situao especial desfavorvel (fora-de-jogo) (pg. 26). A comunicao estabelece-se sempre entre companheiros; a contra-comunicao estabelece-se sempre entre adversrios (Castelo, 1999). A comunicao motora traduzida pela interaco operativa de cooperao motora realizada por um jogador, que favorea directamente a realizao da tarefa de um outro jogador da mesma equipa. A contra-comunicao motora uma interaco operativa de oposio motora que dificulte directamente a realizao da tarefa de um outro jogador adversrio (Garganta, 1997: 80).

    10

  • perspectivar que qualidade das aces individuais e colectivas que acaba

    quase sempre por ditar o vencedor (Rebelo, 2004).

    2.1.4. A aleatoriedade, imprevisibilidade e complexidade das situaes do jogo

    A actividade de jogo frtil em aces ou sequncias imprevistas e aleatrias

    (Garganta, 1997: 169), cuja frequncia, ordem cronolgica e complexidade no

    podem ser previstas antecipadamente (Garganta, 1998b). Considera-se que a

    natureza complexa das aces de jogo implica a imprevisibilidade, e

    emergncia plausvel do novo (Faria e Tavares, 1993). O jogo poder ser

    entendido como um sistema dinmico no linear8, cujo comportamento varia

    no linearmente com o tempo, dependendo o resultado da forma como se joga,

    como se vai jogando (Cunha e Silva, 1999).

    As decises do jogo ao serem tomadas num contexto no completamente

    previsvel priori (Garganta e Grhaigne, 1999), num confronto simultneo

    entre o previsvel e o imprevisvel, (Garganta e Cunha e Silva, 2000), permitem

    constituir a equipa como um sistema adaptativo complexo (Garganta e

    Grhaigne, 1999), dinmico (Garganta e Cunha e Silva, 2000; Teodorescu,

    2003), aberto9 (Garganta, 1997; Castelo, 1994; 1999; Oliveira, 2002) e catico,

    no qual ilhotas de determinismo (as jogadas10) se inserem no indeterminismo

    global do jogo (Garganta e Cunha e Silva, 2000).

    Segundo Morin (2003), o sistema aberto est na origem de uma noo

    termodinmica, e apela noo de meio. Um sistema aberto troca matria,

    8 Os sietemas no-lineares no obedecem a princpios de sobreposio de solues; a no linearidade significa que a maneira como se joga altera as regras do jogo (Gleick, 1994). A mutabilidade origina uma variabilidade de comportamentos possveis que no existe nos sistemas lineares (Gleick, 1994). 9 As equipas em confronto num jogo de Futebol so sistemas abertos dado que evidenciam vrias trocas, sobretudo de informao, com o envolvimento (colegas e adversrios), modificando-se ao longo do tempo, evidenciando capacidade de aprender a reconhecer o meio envolvente, utilizando os resultados de experincias passadas para melhor adaptar o seu comportamento (Garganta, 1997). 10 Embora a jogada se organiza da uma forma determinista, a passagem de uma jogada a outra evidencia que o jogo se organiza de forma catastrfica o que nos sugere que o determinismo uma componente do indeterminismo global (Garganta e Cunha e Silva, 2000), pelo qual no possvel saber, a partir do estado inicial, qual o estado final duma aco ou sequncia, surgindo a evidencia de situaes de final aberto (Garganta, 2001a). No entanto, o jogo -nos apresentado como uma sequncia global configurada a partir de vrias sequncias parcelares (Garganta, 1997).

    11

  • energia e informao com o meio (Durand, 1992). De acordo com Morin (2003),

    a existncia e estrutura destes sistemas depende de uma alimentao exterior,

    que no caso dos seres vivos no apenas material/energtica, mas tambm

    organizacional/informacional. Sem o fluxo energtico/informacional que

    alimenta o sistema haveria desregularo organizacional, provocando

    rapidamente enfraquecimento (Morin, 2003). As numerosas e diversificadas

    trocas permitem que o sistema se autoproduza, tenha auto-referencias, goze

    de autonomia e possa auto-organizar-se (Durand, 1992). Morin (2003) refere

    duas consequncias que decorrem da noo de sistema aberto: (i) as leis de

    organizao do ser vivo no so de equilbrio, mas de desequilbrio,

    recuperando ou compensando, de dinamismo estabilizado; (ii) a inteligibilidade

    do sistema deve ser encontrada, no apenas no prprio sistema, mas tambm

    na sua relao com o meio que no de simples dependncia mas constitutiva

    do sistema. Portanto, o sistema s pode ser compreendido incluindo-se nele o

    meio, que simultaneamente ntimo e estranho e faz parte dele prprio, sendo-

    lhe sempre exterior (Morin, 2003: 33).

    O jogo de Futebol uma construo activa, no qual, o seu desenvolvimento

    decorre da afirmao e actualizao das escolhas e decises dos jogadores,

    face a situaes diversas e descontnuas, decorrentes de um ambiente

    aleatrio e imprevisvel, com diversos constrangimentos e possibilidades, s

    quais o jogador e a equipa devem responder duma forma ajustada, em estrita

    concordncia com os objectivos a atingir em cada uma das fases (ataque e

    defesa) (Garganta, 1997). Face a um meio instvel e inconstante, o jogador

    esfora-se em extrair as constncias e regularidades no conjunto das

    informaes disponveis (Costa et al, 2002).

    O jogador participa num jogo cujo resultado est para ele em aberto (Garganta

    e Cunha e Silva, 2000) e no qual se sucedem as jogadas. Neste sentido, o jogo

    de Futebol pode ser caracterizado como uma sequncia de sequncias (as

    jogadas) (Garganta e Cunha e Silva, 2000). As sucessivas configuraes que

    o jogo vai experimentando decorrem da forma como ambas as equipas,

    constituindo uma fonte recproca de perturbaes, geram essas relaes em

    funo das regras, dos princpios e do objectivo do jogo (Garganta, 1997:

    134). No entanto, como nos destaca Cunha e Silva (1999), com o desenrolar

    12

  • do jogo, o contributo da incerteza, do acaso, incompatibiliza-se crescentemente

    com qualquer regra.

    As condies de funcionamento das equipas fazem com que no decurso de um

    jogo, cada equipa tente perturbar ou romper o estado de equilbrio do

    adversrio, procurando gerar desordem na sua organizao, preservando uma

    certa ordem (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999). A aco das

    equipas caracteriza-se pela sucessiva alternncia de estados de ordem e

    desordem, estabilidade e instabilidade, uniformidade e variedade (Garganta,

    2001a).

    Segundo Morin (2003), o desequilbrio que alimenta o sistema, permitindo

    manter-se em aparente equilbrio, quer dizer, em estado de estabilidade e de

    continuidade, o que consubstancia um estado de steady state, firme, constante

    e no entanto frgil. Segundo este autor, este aparente equilbrio s pode

    degradar-se se for abandonado a ele prprio, ou seja, se houver fecho do

    sistema.

    Morin (1997) fala de um tetrlogo desordem / interaces / organizao /

    ordem na qual os encontros e as interaces entre os seus acontecimentos /

    elementos, permitem conceber, com o necessrio ingrediente da desordem, a

    constituio da ordem, as morfogneses organizadoras de seres e de

    existncias, os desenvolvimentos diversificadores e complexificadores.

    Consoante o tipo de perturbao aleatria que o sistema sofre, ao tornar-se

    instvel, surge um outro tipo de organizao, resultante das reaces que se

    processam em condies de no equilbrio (Garganta, 1997; Garganta e Cunha

    e Silva, 2000). Este comportamento permite considerar o jogo de Futebol como

    um fenmeno que se projecta numa cadeia de estados de desiquilibrio-

    equilibrio, no qual, em muitas situaes, a ordem parece nascer do caos

    (Garganta, 1997; Garganta e Cunha e Silva, 2000). A sequncia do jogo

    decorre numa perspectiva caolgica, no qual o jogador faz do tempo um tempo

    de mltiplos possveis (Cunha e Silva, 1999).

    Pode-se ento considerar que no Futebol os sistemas so dinmicos no

    lineares, no qual o futuro que condiciona o processo (Carvalhal, 2000).

    Dado que o ser humano no est mentalmente apetrechado para lidar com

    situaes de confuso total ou de acontecimentos aleatrios a todos os nveis

    (Garganta, 2001a), somente com base num registo de uma termodinmica de

    13

  • no-equilibrio, ser possvel criar mecanismos de auto-organizao que criem

    estrutura e sentido a partir da aleatoriedade (Garganta e Cunha e Silva, 2000).

    Assim, as equipas de Futebol constituem-se como estruturas dissipativas

    que operam em estados de no-equilibrio e longe-do-equilibrio, interagindo

    com o meio por forma a criar os ambientes ou condies que lhes sejam mais

    vantajosas, i.e., impondo a sua forma de jogar (Garganta, 1997; Garganta e

    Cunha e Silva, 2000). Devido s suas caractersticas, este tipo de sistemas s

    se mantm pela aco, isto , pela mudana, pelo que a sua identidade ou a

    sua invarincia, no provm da inalterabilidade dos seus componentes, mas da

    estabilidade da sua forma e organizao face aos fluxos acontecimentais que

    os atravessam (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999).

    As equipas com sucesso, embora longe-do-equilibrio, tendem a tender para a

    estabilidade, ou seja, procuram um equilbrio dinmico entre as suas

    capacidades e as exigncias do jogo (Garganta, 1997). Remetemos para

    Gleick (1994) para consideramos a equipa como um sistema aperidico,

    entendido como sistema que nunca chega a um estado de equilbrio, que

    quase se repetem em si mesmo, mas sem nunca o fazer exactamente. E no

    Futebol, no existem duas situaes absolutamente idnticas, embora estas

    possam ser categorizveis (Garganta e Grhaigne, 1999).

    No raramente, situaes aparentemente lgicas e correctas geram resultados

    negativos, e aces aparentemente ilgicas ou incorrectas produzem

    resultados satisfatrios, pelo que, apesar da vontade unnime dos jogadores

    envolvidos numa partida, que a todo o custo procuram ganhar, ou no perder,

    os comportamentos dos jogadores podem acarretar consequncias

    incontrolveis para a equipa (Garganta, 2001a). Um acontecimento casual

    pode mudar o curso do jogo, lanando-o numa nova direco (Garganta e

    Cunha e Silva, 2000). De facto, um microfacto pode ter macroconsequncias

    ao nvel do decurso do jogo e do seu resultado (Garganta, 2001a).

    O acaso e as regras so os elementos do jogo (Garganta e Cunha e Silva,

    2000). De facto, Garganta (1997: 262) e Garganta e Cunha e Silva (2000: 7)

    referem que o decorrer do jogo d-se na interaco, e atravs da interaco,

    das regras constitutivas do jogo, o acaso e a contingncia de acontecimentos

    especficos com as escolhas especficas e as estratgias dos jogadores,

    14

  • viradas para a utilizao das regras e do acaso para criarem novos cenrios e

    novas possibilidades.

    Refira-se que os processos de treino devem ajustar-se natureza do jogo.

    Como nos refere Cunha e Silva (1999), os processos de treino devem conviver

    com a variabilidade, fazendo dela uma fora suplementar, em vez de a tentar

    esconjurar.

    2.2. A organizao de jogo. A organizao funcional e a organizao estrutural

    A existncia de aces e, de um grande nmero de interaces (fruto das

    aces tcticas colectivas, em conjunto com as individuais, e a existncia da

    relao de adversidade entre duas equipas), conduz necessariamente

    organizao no interior de cada equipa (Teodorescu, 2003). As transformaes

    ocorridas no seio das equipas reflectem um determinado tipo de organizao

    que procura responder s caractersticas do prprio meio (Garganta, 1997). Em

    funo de uma dinmica organizacional colectiva, surge um conjunto de

    julgamentos e de decises que consubstanciam o jogo de Futebol (Sousa,

    2005). A organizao pressupe o desenvolvimento e a coordenao racionais

    das aces, tornando-se necessrio estabelecer princpios, regras, formas11,

    bem como outros elementos pelos quais se assegura o xito no ataque e na

    defesa (Teodorescu, 2003). Este autor destaca que os elementos atravs dos

    quais se organiza a organizao racional do jogo constituem o contedo da

    tctica.

    Numa equipa pretende-se um alto nvel de organizao de jogo (Castelo,

    2002). A organizao uma criao que est em evoluo constante (Bertrand

    e Guillemet, 1994), e submete-se a um processo contnuo de optimizao, que

    conduz a uma melhoria funcional da equipa (Teodorescu, 2003).

    11 Para Teodoresco (2003), as formas representam a estrutura da actividade dos jogadores nas diversas fases, respeitando os princpios e utilizando os respectivos factores. Estes, segundo o autor, constituem os meios de base atravs dos quais os jogadores accionam as fases de ataque ou de defesa, em conformidade com os princpios que se referem a regras gerais, de base, atravs das quais os jogadores dirigem ou coordenam a sua actividade (individual e colectiva) nas fases de ataque ou defesa.

    15

  • A orientao do treino em Futebol deve ser o desenvolvimento da organizao

    de jogo de uma equipa. Oliveira et al (2006), referem que o treino deve visar

    acima de tudo os aspectos da organizao de jogo, tendo como grande

    preocupao a aquisio hierarquizada dos comportamentos/princpios de

    jogo, tendo em conta uma ideia de jogo (modelo de jogo). Como nos refere

    Castelo (2002), tal no ser possvel se esse aspecto se treinar, somente no

    prprio dia da competio. A organizao de uma equipa de futebol implica um

    conjunto de procedimentos, os quais devemos ter sempre em considerao

    (Oliveira, 2003).

    Segundo Bertrand e Guillement (1994: 14) uma organizao um sistema

    situado num meio que compreende: um subsistema cultural (intenes,

    finalidades, valores, convices), um subsistema tecnocognitivo

    (conhecimentos, tcnicas, tecnologias e experincia), um subsistema estrutural

    (uma diviso formal e informal do trabalho), um sistema psicossocial (pessoas

    que tm relaes entre elas) assim como um sistema de gesto (planificao,

    controlo e coordenao). Para Bertrand e Guillement (1994), pese embora a

    existncia de vrias definies de organizao, surgem os seguintes pontos em

    comum numa organizao: o seu comportamento orientado por uma cultura,

    uma misso, por finalidades, intenes e objectivos, i.e., apresenta um

    comportamento cultural; recorre a conhecimentos, a tcnicas, a tecnologias,

    experincia adquirida e ao saber-fazer, para cumprir as tarefas e alcanar os

    objectivos previstos; supe uma estruturao e uma integrao das

    actividades: diviso formal do trabalho, atribuio das responsabilidades,

    coordenao, integrao, centralizao ou descentralizao, etc.; baseia-se na

    participao de pessoas e nas suas caractersticas: inteligncia, sensibilidade,

    motivao, personalidade, etc; uma totalidade que possui um centro

    nervoso que organiza e controla o conjunto das actividades. Tendo em conta

    estes cinco pontos, Bertrand e Guillement (1994) sintetizam cinco dimenses

    principais, consideradas subsistemas da organizao:

    i. Subsistema cultural, que se refere s intenes e valores determinados pela

    organizao e pela sociedade, consubstanciando a razo de ser da

    organizao;

    16

  • ii. Subsistema tecnocognitivo, que nos remete para o conjunto dos

    conhecimentos necessrios para efectuar as tarefas requeridas na

    organizao, i.e., para o funcionamento da organizao;

    iii. Subsistema estrutural, que nos remete para a diviso (ou a diferenciao) e

    a integrao das tarefas. A estrutura frequentemente descrita sob a forma

    de regras e de procedimentos, de descries de tarefas assim como de

    diagramas organizacionais;

    iv. Subsistema psicossocial, constitudo pelas pessoas e pelos grupos em

    interaco, sendo frequentemente designado por clima organizacional.

    Compreende sobretudo as condutas das pessoas, as suas motivaes, as

    suas expectativas, os seus papeis e os seus estudos, as dinmicas de

    grupo e das redes de influncia. Est sob a influncia dos sentimentos, dos

    valores, dos pressupostos, das aspiraes dos constituintes da

    organizao;

    v. Subsistema de gesto, que representa um papel dominante dado que

    determina as intenes e objectivos; efectua a planificao (poltica,

    estratgica, tctica); controla todas as operaes e assegura a relao

    organizao/meio.

    Durand (1992) considera que a organizao implica um arranjo de relaes

    entre componentes ou indivduos, produzindo uma nova unidade que possui

    qualidades inexistentes nos seus elementos. Para este autor, tambm o

    processo pelo qual matria, energia e informao so reunidos e dispostos de

    forma funcional, o que implica a ideia de uma forma de optimizao dos

    componentes de um sistema e do seu arranjo.

    Bertrand e Guillement (1994) referem que a organizao um sistema aberto

    que tem mltiplas relaes com o seu meio. Teodorescu (2003) refere que a

    organizao consiste na constituio duma determinada estrutura das aces e

    interaces no quadro da equipa. Trata-se ento da criao de uma estrutura

    de relaes (aces e interaces).

    Para Durand (1992), a organizao comporta um aspecto estrutural e um

    aspecto funcional, sendo que estruturalmente a organizao pode representar-

    se sob a forma de um organigrama e, funcionalmente pode descrever-se por

    um programa. Para Garganta (1997), o conceito de organizao transcende

    17

  • largamente a dimenso estrutural (esttica), e remete sobretudo para a

    dimenso funcional (dinmica).

    Queiroz (1986) distingue contedo de estrutura do jogo. Para este autor, o

    contedo do jogo diz respeito totalidade das aces individuais e colectivas

    expressas em oposio do adversrio e por um determinado nvel de

    rendimento; quando observado e inserido no seu contexto global, o contedo

    do jogo define a estrutura do jogo.

    2.2.1. Reflexes baseadas no conceito de estrutura

    Aps termos realizado uma breve pesquisa sobre o entendimento de estrutura,

    esta pareceu-nos algo ambguo. Castelo (1994), com base na opinio de

    diferentes autores, permite-nos concluir que a definio de estrutura12 associa-

    se ao conjunto (entenda-se, equipa), s partes desse conjunto (entenda-se

    jogadores) e ao sistema de relaes estabelecidas (entre os jogadores), ou

    seja, estrutura refere-se organizao interna das unidades e no ao

    posicionamento esttico dos jogadores. Quer isto dizer que, com base neste

    entendimento, podemos relacionar a estrutura com uma organizao dinmica,

    porquanto a estrutura tambm se reporta s relaes entre os jogadores. A

    estrutura , pois, um modelo (Castelo, 1994: 78). Esta perspectiva contradiz

    em nosso entender a apresentada por Garganta (1997).

    Castelo (1994), refere que o entendimento de estrutura proposto por Levi-

    Strauss (1957), a disposio tctica13 dos jogadores no terreno de jogo, ou

    seja, a forma de organizao geral da equipa, no pode ser considerada como

    12 Fazendo uma pesquisa pelo Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea da Academia de Cincias de Lisboa, aferimos a definio de estrutura: organizao ou modo como as diferentes partes esto dispostas entre si CONSTITUIO (). Conjunto das relaes que se estabelecem entre os elementos de uma comunidade ou dos valores por eles partilhados. () Modo de ajustamento e organizao dos vrios elementos de um todo, de forma a concorrerem para determinado fim. () Conjunto de capacidades fsicas ou psicolgicas de um individuo CAPACIDADE (pg. 1604). 13 Tambm podemos denominar sistema de jogo ou por mtodo de jogo. O sistema de jogo ou dispositivo tctico, representa o modelo de colocao dos jogadores sobre o terreno de jogo (Castelo, 1994: 55). De acordo com Teodorescu (2003: 35), o sistema de jogo representa a forma geral de organizao, a estrutura das aces dos jogadores no ataque e na defesa, estabelecendo-se misses precisas e princpios de circulao e de colaborao no seio de um dispositivo previamente estabelecido. Para este autor, o sistema de jogo tem uma esfera mais restrita do que a tctica, estando includo nesta noo, caracterizando-se pelo dispositivo (distribuio de base dos jogadores no campo) e pela estruturao das relaes entre os jogadores.

    18

  • estrutura dado que a estrutura no o ncleo do objecto mas o sistema de

    relaes latente no objecto. Castelo (1994: 77) refere que a estrutura do jogo

    rev-se para alm do posicionamento dos jogadores no terreno de jogo, ou

    seja, na disposio espacial perceptvel, no sistema de relaes estabelecidas

    entre os jogadores (companheiros e adversrios), com a bola, com o espao de

    jogo, etc.. Ns diramos, face ao entendimento anteriormente apresentado,

    que por si s, a disposio tctica dos jogadores no poder ser considerada

    de estrutura, dada a necessidade de perspectivar as relaes. Suportando-nos

    ainda neste entendimento, podemos concluir que, a estrutura embora no se

    podendo reduzir ao posicionamento esttico dos jogadores, engloba, em si

    mesmo, o posicionamento esttico dos jogadores, assim como a organizao

    interna das unidades, isto , as relaes que se estabelecem.

    Bertrand e Guillement (1994: 85), referem que a estrutura pode ser definida

    como o modelo estabelecido das relaes entre os componentes ou as partes

    de uma organizao, ou seja, o conjunto permanente de relaes entre os

    elementos de uma organizao (pg. 65). Este entendimento no foge muito

    do apresentado por Castelo (1994), no entanto, Bertrand e Guillement (1994)

    referem a necessidade de fazer uma distino entre estrutura e funo dado

    que so duas faces de uma mesma moeda, i.e., duas dimenses de um

    mesmo fenmeno. Para estes autores, a estrutura constitui a organizao

    esttica de uma organizao enquanto a funo constitui a sua dimenso

    dinmica. De acordo com estes autores, a estrutura de uma organizao

    complexa frequentemente definida por: (i) o modelo das relaes formais das

    tarefas; (ii) a maneira como as diferentes actividades ou as tarefas so

    distribudas aos diversos sectores ou s pessoas da organizao; (iii) a

    maneira de coordenar as diferentes actividades e tarefas; (iv) as relaes de

    poder, de estatuto no interior da organizao; (v) as polticas e os

    procedimentos que orientam as actividades e as relaes na organizao.

    A estrutura organizacional dinmica, i.e., evolui no tempo e reage s

    mudanas no seio meio (Bertrand e Guillement, 1994). Ao reportarem-se s

    estruturas, Bertrand e Guillement (1994) distinguem a estrutura formal de

    estrutura informal14. Estes autores, referem que a formalizao da estrutura