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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
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O projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou
aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul” como uma experiência
interdisciplinar
Luceni Hellebrandt Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Tatiana Walter Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]
Danieli Veleda Moura Universidade Federal do Rio Grande - [email protected]
Clara da Rosa Pereira Universidade Federal do Rio Grande - [email protected]
Lucia de Fátima Socoowski de Anello Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]
Eixo temático: Institucionalização da Interdisciplinaridade
Resumo
O presente artigo apresenta a avaliação de um projeto de pesquisa sob a ótica dos membros de sua equipe. A
partir de inquietações motivadas pela epistemologia interdisciplinar enquanto contributo para a formação
acadêmica e profissional de estudantes, um questionário foi formulado e enviado a cada um dos membros da
equipe do projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou aquicultura
familiar no estado do Rio Grande do Sul”. A intenção de investigar pontos positivos e pontos negativos da
experiência vivenciada no projeto, composto por equipe multidisciplinar, bem como identificar ações que
possibilitam o trabalho de equipes formadas com pessoas de diversas áreas do conhecimento e as
experiências aprendidas para a formação profissional, foi realizada através da análise de conteúdo dos
questionários respondidos, e serviram como base para dialogar com pressupostos teóricos de autores que
discutem a interdisciplinaridade enquanto contribuição epistemológica. Com os resultados apresentados
neste artigo, confirmamos os ganhos de uma abordagem interdisciplinar para lidar com temáticas
complexas, bem como os ganhos pessoais ao passar pela experiência interdisciplinar.
Palavras-chave: formação acadêmica e profissional; ações para trabalho em equipe; multidisciplinaridade;
interdisciplinaridade
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1. Introdução:
O trabalho analisa a experiência do projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da
pesca artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul”, a partir da avaliação dos
membros da equipe de trabalho. O objetivo principal foi o de analisar a experiência que envolveu
participantes de diversas áreas do conhecimento, frente aos princípios discutidos por teóricos da
interdisciplinaridade, tal como o trabalho seminal de Julie Thompson Klein, que entende a
interdisciplinaridade como uma integração, ultrapassando a justaposição de disciplinas que caracteriza a
multidisciplinaridade (KLEIN, 1990:56).
O projeto surgiu através de uma demanda institucional, como será explicitado abaixo, porém, além
da demanda institucional, foi intenção primordial que as atividades desenvolvidas viessem a acrescentar no
histórico acadêmico e, também, contribuindo na formação profissional dos membros da equipe, de forma
que incluísse aprendizados que fossem além daqueles adquiridos na base curricular de suas áreas de
conhecimento originais. Para avaliar este objetivo do projeto foram formulados questionários para os
membros da equipe do projeto avaliarem o mesmo.
Esta avaliação foi feita levando em consideração uma ideia de continuum, explorada por Pombo
(2007) ao debater a terminologia para o que Minayo (2010:437) entende como “estratégia para
compreensão, interpretação e explicação de temas complexos”, Pombo (2007:4 - 5) coloca que:
[...] há a possibilidade de avançar uma proposta terminológica assente em dois princípios
fundamentais: a) aceitar estes três prefixos: multi ou pluri, inter e trans [...] enquanto três grandes
horizontes de sentido e, b) aceitá-los como uma espécie de continuum que é atravessado por alguma
coisa que, no seu seio, se vai desenvolvendo. (grifo da autora)
Desta forma, o presente artigo avança no sentido de, através da análise de um projeto constituído por
uma equipe multidisciplinar, entender como as avaliações dos membros da equipe contribuem na
constituição da interdisciplinaridade enquanto epistemologia para lidar com temáticas complexas.
1.1. O projeto:
Em 2011, a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul
(SDR/RS) contatou o Laboratório de Gerenciamento Costeiro da Universidade Federal do Rio Grande
(LabGerco/FURG) demandando um projeto para subsidiar tomadores de decisões na análise de entraves e
potenciais das políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro artesanal e de aquicultura familiar no RS.
Como comentado anteriormente, desde o início do projeto houve preocupação, por parte das
coordenadoras de execução do projeto, que este repercutisse na formação dos membros da equipe,
entendendo o contato com diferentes áreas do conhecimento como algo benéfico para os membros da
equipe, além de condição impreterível para lidar com a complexidade do tema proposto.
A equipe se constituiu com pessoas de diversas áreas: Oceanografia, Geomática, Aquicultura,
Educação Ambiental, Economia, Direito, Ciências Sociais, História, Gestão Ambiental e Gerenciamento
Costeiro, sendo alunos de graduação, mestrado e doutorado, de dois campi da FURG, em cidades
equidistantes 130 km, e tem duração prevista até o final do ano de 2013.
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2. Procedimentos Metodológicos:
Para avaliar o aprendizado interdisciplinar da equipe, um questionário foi enviado para cada uma das
25 pessoas que, em algum momento, participaram do projeto. As questões exploram desde a área de
formação de origem, existência de experiências multidisciplinares anteriores ao projeto, pontos positivos e
pontos negativos de trabalhar com equipe multidisciplinar, ações desenvolvidas durante o projeto com vistas
a permitir o trabalho interdisciplinar, e as contribuições multidisciplinares para a formação profissional.
As respostas foram reunidas e analisadas à luz da contribuição da experiência do projeto para a
discussão sobre interdisciplinaridade, como o apoio do software gratuito Weft QDA1 foi realizada uma
análise de conteúdo (FONSECA JÚNIOR, 2008) através da identificação, na visão dos respondentes, de: i)
quais os pontos positivos de trabalhar com pessoas de outras áreas do conhecimento; ii) quais os pontos
negativos de trabalhar com pessoas de outras áreas do conhecimento; iii)quais as ações realizadas durante o
projeto que permitiram o trabalho conjunto com pessoas de diversas áreas do conhecimento; e iv) como a
experiência de trabalhar em um projeto multidisciplinar contribui para a formação profissional.
Durante o período proposto para a avaliação – julho e agosto de 2013, o questionário foi enviado
duas vezes, em formato eletrônico, via e-mail, para as 25 pessoas citadas anteriormente, dos quais, 18
responderam e constituíram o corpus de análise.
3. Justificativa do eixo escolhido:
O eixo proposto para enquadramento deste artigo foi o “Institucionalização da Interdisciplinaridade”,
por contemplar a avaliação do projeto e contribuir na discussão sobre estrutura curricular e formação
profissional interdisciplinar.
4. Resultados:
O questionário permitia a classificação dos respondentes em três funções dentro do projeto: 1)
Estudante/bolsitas – na qual se enquadra a maior parte do quadro da equipe, com concessão de auxílio
financeiro; 2) Coordenação – de acordo com o projeto apresentado ao órgão financiador; 3) Apoio
técnico/administrativo – pessoas que já exerciam esta função dentro do Laboratório de Gerenciamento
Costeiro, contatadas para dar apoio organizacional, sem financiamento específico advindo do projeto. Os
dados dos questionários enviados e respondidos por cada função podem ser conferidos na Tabela 1.
Tabela 1: Questionários enviados X Questionários respondidos, de acordo com a função no projeto
Função exercida Nº de questionários enviados Nº de questionários
respondidos
Estudante/bolsista 21 16
Coordenação 2 2
Apoio técnico/administrativo 2 --
As formações acadêmicas escritas nos questionários respondidos estão descritas no Quadro 1,
demonstrando uma diversidade de formações, tanto em nível técnico, de graduação ou pós-graduação.
1 O Weft QDA é uma ferramenta de auxílio à análise de dados textuais, tais como muitos dados provenientes de pesquisa
qualitativa. É classificado como software free and open-source, ou seja, programa de computador gratuito e de base (de
programação) aberta. Pode ser obtido através do site: http://www.pressure.to/qda/
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Quadro 1: Formação Acadêmica dos integrantes do projeto
Nível Técnico Curso Técnico em Biocombustíveis
Curso Técnico em Desenho Arquitetônico
Graduação
Tecnologia em Gestão Ambiental
Licenciatura em História
Bacharelado em Direito
Oceanologia
Licenciatura em Educação Física
Bacharelado em Ciências Sociais
Pós-Graduação – Mestrado
Gerenciamento Costeiro
Educação Ambiental
Ciências da Engenharia Ambiental
Pós-Graduação – Doutorado
Educação Ambiental
Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e
Sociedade
Interdisciplinar em Ciências Humanas
Dos 18 questionários respondidos, 8 pessoas já tinham experiência de trabalho em equipes
multidisciplinares antes de participar deste projeto, distribuídos de acordo com a função dentro do projeto,
conforme a Tabela 2:
Tabela 2: Função exercida X Experiência multidisciplinar pregressa
Função exercida (N=18) Já havia trabalhado em
equipe multidisciplinar
Nunca havia
trabalhado em
equipe
multidisciplinar
Estudante/bolsista (N=16) 6 10
Coordenação (N=2) 2 --
4.1. Pontos Positivos
Quando questionados sobre os pontos positivos de trabalhar com pessoas de outras áreas do
conhecimento, as respostas mais frequentes variaram em quatro principais categorias: i) a diversidade dos
pontos de vista; ii) tomar conhecimento de outras interpretações sobre o mesmo problema; iii) a troca de
conhecimentos; iv) as habilidades adquiridas. Além destes quatro eixos, outros pontos positivos foram
citados de maneira menos frequente. As respostas estão classificadas de acordo com as categorias
encontradas e conceituadas na Tabela 3.
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Tabela 3: Pontos Positivos de trabalhar em equipe com pessoas de diversas áreas do conhecimento
Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)
Diversidade dos pontos de vista
Respostas que se enquadram nesta categoria
foram citadas na maioria dos questionários.
Evidenciam a importância destacada aos
múltiplos olhares sobre um mesmo objeto de
pesquisa.
Tomas conhecimento de outras interpretações
sobre o mesmo problema
Em vários questionários foi destacada a
importância de ter um contato com áreas de
conhecimento diferentes da sua de origem, e
de como estas outras áreas do conhecimento
interpretam o objeto de pesquisa
Troca de conhecimentos
Esta expressão “troca de conhecimentos”
repete-se na maioria dos questionários,
destacando a importância do fluxo de
conhecimento entre os diversos membros da
equipe.
Habilidades adquiridas
Os respondentes destacaram as habilidades
adquiridas nos trabalhos realizados com
pessoas de diversas áreas do conhecimento.
Habilidades como ouvir, expressar-se de
forma mais clara e objetiva, aumento de
criatividade, identificar e lidar com os
limites disciplinares, solidariedade e
coleguismo foram algumas citadas. Além
destas várias citações que remetem ao
desenvolvimento de tolerância e paciência
foram observadas.
Outras respostas menos frequentes
Algumas outras respostas apareceram com
menos frequência nos questionários. Elas
remetem ao trabalho dinâmico, à riqueza de
conteúdo, ao conforto e segurança de ter
presente na equipe pessoas que dominam
áreas diferentes, aprendizado de ferramentas
de análise e metodológicas diversas e
amplitude de debates.
4.2. Pontos Negativos
Os aspectos negativos de trabalhar com pessoas de diversas áreas do conhecimento, apontados nos
questionários respondidos se concentram em três principais categorias: i) falta de clareza compreensível para
todos os membros da equipe; ii) divergência de discursos; iii) sobrecarga de tarefas. Outras respostas foram
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citadas com menos frequência e estão sintetizadas, junto com as três categorias com mais frequência de
respostas, na Tabela 4.
Tabela 4: Pontos Negativos de trabalhar em equipe com pessoas de diversas áreas do conhecimento
Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)
Falta de clareza compreensível para todos os
membros da equipe
Algumas respostas evidenciaram a
dificuldade em perceber claramente o
objetivo das atividades exigidas.
Divergência de discursos
Respostas que destacam a dificuldade de
compatibilizar diferentes discursos
próprios de áreas de conhecimento
específicas.
Sobrecarga de tarefas Destaque para a sobrecarga de atividades
mencionada por alguns respondentes
Outras respostas menos frequentes
Algumas respostas que apareceram com
menos frequência, mas que, com igual
importância, indicam os pontos negativos
do trabalho com pessoas de diferentes
áreas do conhecimento: A diferença de
ritmo de trabalho dos membros da equipe,
erros de interpretação frente aos fatos
analisados, dificuldade de reconhecimento
e cientificidade na coleta e análise de
dados, a necessidade de um tempo maior
para produzir em conjunto tendo em vista
uma padronização de conceitos, um maior
desgaste dos membros da equipe tendo em
vista a necessidade de se apropriar de
diversos temas e conceitos, e a necessidade
e muita organização para que o trabalho
flua.
4.3. Ações que permitem o trabalho em conjunto de pessoas de diferentes áreas do
conhecimento
Quando questionados sobre as ações observadas que permitiram que pessoas de diferentes áreas
trabalhassem em conjunto durante a execução do Projeto, as respostas foram em dois sentidos: i) ações
organizacionais e estruturais; ii) atividades desenvolvidas. As respostas estão sintetizadas na Tabela 5.
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Tabela 5: Ações que possibilitaram o trabalho em equipe de pessoas de diversas áreas do conhecimento
Ações Exemplos citados
Ações organizacionais e estruturais
Orientação metodológica;
Nivelamento da equipe;
Reuniões semanais;
Oficinas metodológicas;
Oficinas de discussão de resultados;
Oficinas de preparação para apresentações em
eventos;
Ações de inclusão e comunicação entre os
membros: divulgação por igual das
informações (lista de e-mails) e
compartilhamento de arquivos (dropbox);
Divisão das tarefas;
Envolvimento da equipe para execução das
tarefas;
Agenda estabelecida para execução das
atividades;
Acompanhamento e monitoramento da
coordenação.
Atividades desenvolvidas
Revisão Bibliográfica seguindo um roteiro de
investigação;
Construção de banco de dados;
Saídas de campo em equipe;
Elaboração em conjuntos dos roteiros para
entrevistas;
Elaboração, discussão e validação dos
relatórios técnicos;
Organização das informações em um SIG –
Sistema de Informações Georreferenciadas.
4.4. Experiências para a formação profissional
Das experiências aprendidas durante o Projeto, que contribuirão para a formação profissional dos
membros da equipe, duas foram citadas com mais frequência: i) visão diversificada sobre um mesmo objeto,
permitindo alcançar um melhor resultado; ii) lidar com pessoas de formação diferente, aprendendo a
trabalhar em equipe. Além destas duas categorias de respostas, várias outras respostas foram citadas em
menor frequência. A síntese das respostas encontra-se na Tabela 6.
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Tabela 6: Experiências aprendidas no trabalho com pessoas de diversas áreas, que contribuem para a
formação profissional
Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)
Visão diversificada sobre um mesmo objeto,
permitindo alcançar um melhor resultado
Várias respostas apontaram o aprendizado
de encarar um mesmo objeto a partir de
diferentes perspectivas como uma
experiência que contribui na formação
profissional dos membros da equipe
Lidar com pessoas de formação diferente,
aprendendo a trabalhar em equipe
Várias respostas citaram a experiência de
lidar com uma equipe formada por pessoas
de diferentes áreas do conhecimento como
um aprendizado importante para a
formação profissional, na medida de
aprender a trabalhar em equipe e lidar com
a diversidade de opiniões, teorias e
conhecimentos
Outras respostas menos frequentes
Algumas respostas apareceram uma única
vez no corpus analisado, mas que
apresentam relevância por citarem os
aprendizados para a formação profissional:
Agilidade em projetos;
Gerenciamento e escolha de informações
pertinentes;
Organização de atividades;
Dialogar com outras áreas permitindo
lançar questionamentos sobre a própria
área de atuação;
Possibilidade de atuação mais prática em
áreas tradicionalmente mais teóricas, e
vice-versa;
Interesse por novas áreas do
conhecimento;
Valorização e afirmação de opiniões
individuais;
Expansão das possibilidades de atuação
profissional;
Familiaridade com linguagem proveniente
de outras áreas do conhecimento.
5. Discussões:
A partir dos resultados apontados na avaliação do projeto, observamos as seguintes colocações de
Minayo (2010:439) para a discussão sobre a prática da interdisciplinaridade:
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[...] é preciso lembrar que no tratamento de um objeto de forma interdisciplinar de acordo com sua
especificidade existem várias nuances: (1) sempre uma disciplina terá prioridade sobre outras por ser
a que tem mais tradição, história e acúmulo de conhecimento sobre o assunto; (2) é evidente que essa
preeminência nãopode se constituir na anulação da contribuição das outras disciplinas; (3) o trabalho
interdisciplinar nunca deve pospor a contribuição que vem de uma disciplina; (4) e na articulação
entre disciplinas, é preciso que cada uma das áreas apresente conceitos e teorias capazes de ampliar e
complexificar a compreensão do objeto. [...] a relevância do conhecimento vem sempre das
disciplinas em colaboração.
Com esta perspectiva, e com base nos resultados compilados nas tabelas apresentadas, podemos
dialogar com Minayo de forma a constatar que não houve predominância de uma disciplina sobre as outras
durante a execução do projeto, uma vez que a temática abordada não se enquadra inteiramente em nenhuma
das áreas de conhecimento de origem dos membros da equipe. Desta forma, e com base nas respostas
descritas, sobretudo na Tabela 3, podemos afirmar que não houve anulação da contribuição das disciplinas
envolvidas no projeto. Ainda de acordo com os pontos positivos mencionados na Tabela 3, e baseando-se
também na ausência desta informação nos pontos negativos (Tabela 4), podemos observar que não houve
hierarquia para a contribuição das disciplinas, e ainda, que as diversas áreas contribuíram em colaboração
para o desenvolvimento do projeto.
Assim também, com base nos resultados compilados nas tabelas, podemos avaliar o projeto
enquanto atividade interdisciplinar, sem a preocupação destacada por Minayo (2010:436) de que “uma
confusão muito comum, na área acadêmica, é dizer que se realiza uma atividade interdisciplinar, quando na
verdade o que colocamos em ação é a colaboração interprofissional para a solução de problemas ou para a
execução de um programa”, ou o alerta de Pombo (2007:2) de que “o que está subjacente a esta mera
inventividade de cenários é sempre a ideia embrionária – e muito ingênua – de que a simples presença física
(ou virtual) de várias pessoas em torno de uma mesma questão, criaria automaticamente [...] uma
discussão[...] interdisciplinar.”. Os aprendizados destacados na Tabela 6 comprovam uma compreensão
interdisciplinar sobre o projeto executado e, também, para as futuras atuações profissionais dos membros da
equipe.
Desta forma, avaliamos o projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca
artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul” de acordo com Pombo (2007:5) como
“algo que, quando se ultrapassa essa dimensão do paralelismo, do pôr em conjunto de forma coordenada, e
se avança no sentido de uma combinação, de uma convergência, de uma complementaridade, nos coloca no
terreno intermédio da interdisciplinaridade” e também, de acordo com Minayo (2010:437), uma vez que
houve a capacidade de “ultrapassar as fronteiras das disciplinas pelo investimento articulado e a contribuição
das diferentes disciplinas em jogo, num processo de investigação que inclui articulação de teorias e
conceitos, métodos e técnicas e, não menos importante, do diálogo entre as pessoas”, conforme Tabela 5.
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Também, de acordo com os dados apresentados na Tabela 6, podemos concordar com Pombo
(2007:13) quando a autora destaca a “fecundação recíproca das disciplinas, da transferência de conceitos,
de problemáticas, de métodos com vista a uma leitura mais rica da realidade” (grifo da autora) de forma que
se perceba “na aproximação interdisciplinar, haver a possibilidade de se atingirem camadas mais profundas
da realidade cognoscível”.
É assim também que os dados apresentados confirmam a afirmação que faz Minayo (2010:441) de
que “a pessoa e o produto de um pesquisador que passou ou vai passando pela experiência interdisciplinar é
totalmente diferente da que realiza univocamente em sua disciplina”, de forma que podemos confirmar que o
objetivo inicial de contribuir na formação acadêmica e profissional dos membros da equipe do projeto foi
cumprido com sucesso.
6. Considerações Finais:
De acordo com os pontos positivos e negativos do trabalho em equipe multidisciplinar, as ações
desenvolvidas no projeto e as experiências e aprendizados para a formação acadêmica e profissional, foi
possível pontuar aspectos que possibilitaram o desenvolvimento de um projeto com equipe multidisciplinar
e com abordagem interdisciplinar.
A análise das respostas dos membros da equipe do projeto contribui para a discussão da
interdisciplinaridade, como se dá, com a contribuição de quais ações, e, sobretudo, entendendo quais os
pontos considerados negativos, para aprimoramento em trabalhos futuros, que envolvam equipes
multidisciplinares, mas com perspectiva de construção de conhecimento interdisciplinar.
Referências:
FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa. “Análise de Conteúdo”. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio (Orgs.)
Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo, 2ª Ed. SP: Editora Atlas, 2008.
KLEIN, Julie Thompson. Interdisciplinarity: history, theory and practice. Wayne State University Press.
Detroit, 1990.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Disciplinaridade, Interdisciplinaridade e Complexidade. In: Revista
Emancipação, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, (10) 2, p. 435 – 442. 2010.
POMBO, Olga. Epistemologia da Interdisciplinaridade. Conferência proferida no Colóquio
“Interdisciplinaridade, Humanismo e Universidade”. Disponível em: http://www.humanismolatino.online.pt
Porto, 2007.