o rio de janeiro imperial e suas Áfricas visíveis

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  • 8/6/2019 O Rio de Janeiro Imperial e suas fricas Visveis

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    Anais do Seminrio

    Rio de Janeiro:

    apital ebita idaaede 23 a 26 de outubro de 2000

    OrganizadorAndr Nunes de Azevedo

    Rio de Janeil'oDepartamento Cultural

    NAPE/DEPEXT/SR-3/UERJ2002

    .\)C)">O"'W

    \k.\"(...l

    I~f J ~\O

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    Nota

    MANET, Edouard. Let tresdej eunesse- 1848- 1849. V0'agea Ri o.Paris: Louis R

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    Desta 11l:ll\ t' ir :l ,propol\ho o tkslol' :II\ ll 'l llo tio 1,111.11 ,III'IH"IOdo It'IlIlO di,poder nos sobrados, nos palcios, no Senado dn

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    ')

    central. O ato adicional de 1834, ao separar o Municpio da Corte da provncia do Rio de Janeiro, garante o controle administrativo desta, que passa aser responsabilidade do Ministrio do Imprio

    As posturas municipais procuravam organizar e fiscalizar a presena ameaadora dos escravos no espao urbano. Em nome do considerado bem pblico,elas enquadravam senhores e escravos pois, estes ao transporem os limites da

    casa, passavam a ser uma preocupao do Estado:' 54 C ma ra d est a mu i L ea l e He ri ca Cid ade d e S a m S eb as tia m do Rio d e; tln eir o,

    desejando promover quanto couber em sua alada o bempblico promovendo e mantendo

    a tranqiiilidade , segurana e comodidade de seus concidados ...

    Art.l - Em to do s o sJ uz es d e P az do Imp ri o h av er hu m l iv ro d e m atr c ula to dos o .'

    e sc rams existen tes, ou d 'ora em diante nascerem, com dec la rao dos nomes , natural i

    dade, idades, estados, ocupaes esignaes caractersticos ebem assim dos nomes e residllcias dos senhores

    Ar t. 2 Es ta ma tr ic ula de ver a f ic ar fe ita e c on cl u da 60 dias depois depublicada 111posturas .

    Art 30_ Ninguem poder ter escra1JOSoganho sem tirar licena da Camara Municipltl,r ecebendo com a l icena uma chapa demeta l numerada a qua l devera andar sempre ((illl

    oganhador em lugar vi.rveL O queJr encontrado a ganhar sem a chapa , sof re ra 8 dilllde calabouo sendo escravo e sendo livre 8 dias de cadeia..

    Art 6Todo escravo queJr encontrado das 7 horas em diante sem escripto de seu setllJIJ/ ,datado do mesmo dia , no qua l dec la ra ofim a que vae , soffrera 8 dias depriso, e Sl' llrl"livre, 8 dias de cadeia.

    Art. r -]Cozca prohibido aos senhores de escravos o consent ires que e l/es morem sobn' I I ,apretexto de qui/andarem, oupor qualquer outro; ostransgressores seropunidos mlll r,

    a 15 d ia s d e pri s o e mu lt a de 10 a 30 $para os senhores, e os escravos castigados ((111ao ites e t ra ro por anos fer ro aopescoo, penas estas , que sero dobradas hrl l){' /I rI "reincidncias.

    Art 31_ Sobre a Praa doMercado . F icaproh ib ido nadarem aspretas deganho r lmll ,I

    das praas e os esc ravos que aI/ i J rem mandados por seus senhores fazer compr ll .\ ", 11,1"

    devero se demorar a lm do tempo necess rio para i ff tc tua- Ias e of isC( /1 I I/ (/ // (/ '/ (I I14d isp ens ar" .

    Com relao ao rigor do artigor das posturas por exemplo, de11l111l11o quanto era comum essa prtica .. No centro da Cidade crescia, juntanH'lIl1 ,com o processo de urbani:>.ao os cortios, verdadeirastlJ1'/lZIt/rlJ IIrllllIIi/l"que atendiam aos inll'fl 'SSl'S de proprielftriose escravos, gar:\l1lidn:1 pmxllllld:\dv dns 'nlrns (nlll('1'( I:II~"ViiIIlllIH,.I~"':11110 (.llllIldHllvg:d p:lr:\ o g:ln!1o, alivid:ld

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    I 'f ll ll l' AIIHl ll il ll il l) I Ih 'I II IIH;HLt IH( ,( ) i lJHUL ( .i II 'l IIN I l:uv l' II lC l M:1H'1l1l

    dl'lll lll- r111111.l A l'I,I\T"~ll.1 li.! ( ,1l1l11}',,' (".\lltlt 'I'H'~ sn ,dCl t il ' 1111. 1

    }I!II'Idlllll')',lillllll\t,l'.l1 '\d"l',nllll 1,1111'1' 'lIlIll.l',(I!U

    Esses negros "tigres" que percorriam grotescamente as ruas da cidade seminus, atrelados a correntes carregando os dejetos da cidade seriam, juntamente com osaguadeiros a prpria representao ambulante da catica estrutura, ou melhor dizendo, da falta de estrutura urbana da corte. A gua distribuda em grandes pipas aopreo de 30 a 40 ris no perodo das chuvas, tornava-se durante o vero um artigo deluxo, chegando a custar de 200 300 reis.Nas principais fontes os negros de ganhollisputavam violentamente a possibilidade de encher seus tonis, necessitando da inInveno da polcia para organizar as filas e reprimir as brigas constantes

    Associo agora aos modos de ver dos cronistas, viajanjantes e aos homens dahurocracia municipal as imagens produzidas pelos pioneiros fotgrafos da corte . .A rotografia associada a cartofilia, expressando a necessidade de visibilidade indiVidual ou coletiva, dando status,comprovando viagens, enviando lembranas AIlIdustria da cartofil ia, aproveitando-se da curiosidade despertada pelos escravosIIrhanos, reproduzia-os como objeto de propaganda do exotismo do pas. Prtica'llI1denada, por alguns intelectuais da poca, por reforar a imagem do BrasilIOlnO uma terra de selvagens. Na cidade do Rio de Janeiro, vamos encontr-laIIslr ita aos primeiros "daguerreotipistas", que trabalhavam no pas nos decniostil' 40 a 50 do sculo XIX. A partir da dcada de 60, a imagem nica produzidaIli 10 daguerretipo, comeava a ser colocada de lado em virtude das novas tcn iI IH.( multiplicadoras das cpias feitas do negativo).

    O desejo de ser fotografado apossa-se de todos. Os grandes proprietrios1.l lografavam sua famlia e seus escravos trajados, especialmente para a ocasio.\ pose e a montagem de estdio representavam formas de exibio de poder.8\ I l':lvs do punctus barthiano, ou seja, os pontos deixando-me atingir pelosI 'IIIIIOSsensveis que saem da foto tal como uma seta, aguando a sensibilidadetI,l Ilistoriadora para deter-1IIIIIados aspectos captados~ I ,\plici tados nas cenas do'"lldiano, transportadas11.11 o estdio fotogrfico.

    No jogo entre o pas1IIIII' o presente, as ima,,"' .. documentos nos'1"I.:";"lltam as fricas cali' ,r ,I, I 11:lIn:lndo a atenoIL I 1 ' ;1 (II arrt:gador de cadeii iidl,111 1:1llsua atividadt:,11I\lIIl/.illdo ul1la rila St"jlli 1111 11:. SOII!'d:ld, '. Nl'ss:1

    11,,,,, ,d"~111 dll ,I',p('(11I 1i':1

    encaminhava Cmara um pedido formal, onde constava sua prpria identificao e endereo, lado a lado com os dados bsicos ( origem, sexo, idade) de todosos escravos que seriam colocados nessa atividade. Estes, sob pena de priso, portavam nas ruas uma chapa de identificao com o nmero do alvar concedido

    Com efeito, a populao enquadrada nessas posturas inclua, alm dos escravos de ganho, de aluguel e domsticos, os negros e mulatos libertos. Era tambm

    uma forma de controlar a presena, na cidade de "negros fu jes " que aqui tentavam burlar a fiscalizao. Todo negro era suspeito, ati tude que, como sabemos, athoje permanece vigente na mentalidade brasileira. Quem duvidar preste ateno emqualquer batida policial : sempre o negro-bem ou mal vestido - suspeito.

    Os escravos desenvolveram no cotidiano da cidade imperial tticas de sobrevivncia que, a longo prazo acabam subvertendo as relaes escravistas tradicionais. Os anncios de jornais e os pedidos de licenas feitos a Cmara Municipal,revelaram a existncia de escravos de vrios nveis de especializaes Encontramos na cidade o escravo de aluguel e o de ganho. Enquanto o escravo de aluguelt inha seus servios oferecidos pelo proprietrio que estabelecia o tipo de trabalhoe as condies de pagamento. Era comum senhores ensinarem alguma arte 011

    ofcio, aumentando a jornada recebida pelo seu aluguel. O sistema de aluguel n?i

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    \~Sllll C0l110 v ariava a funo do negro de ganho, variava tambm a cota11IIOS seus proprieuhios de acordo com a ocupao, idade, sexo, sade, Criou

    11111I, 11',11:\Ul' pudl'sse vi:lhiliz:tr o SiSIl'I11:t.UI11carregador de cadeiras pagav:l\lii!ILI, 11111l.1 ('111IH,I,?, S1I',llldo dI' Olllms (:lrrl'g:tt!o1"('S l' l'stiv:tc!orl'S '111l'p:lg:1

    .111 \/U 111",I ',I;III\':\'; 1.1\.111111;1"I()II'I" (l', (~( I,I\II~, 1':11':111I1~I'gllll \1,1/,-.11

    primeiro como simples palha, depois na plenitude de sua forma, pronto para darconta das mltiplas atividades para o qual se destinava. O cesto e o escravo deganho confundem-se, sendo apresentados como mercadorias essncias na vidada cidade. Outro aspecto que se destaca a gestualidade da representao caricatada cordialidade da cultura dominante. O chapu, assim como o cesto so peasi"undamentais na cena. Ora na cabea, ora nas mos ou ento, numa exibioparadoxal da elegncia dos negros, fazendo parte do jogo ritualstico do cumpril\lento no encontro improvisado.

    Os escravos que trabalhavam na alfndega - eram os que recebiam os maion 's jornais ou seja, ganhos. Negros jovens e robustos alugando seu servio entreII armazm e o porto e carregando navios, transportavam todas as mercadoriasII"C chegavam a cidade e saam. Finalmente temos os negros que trabalhavam'O!TIO vendedores ambulantes. Vendia-se de tudo na cidade- era o:Ill lbur,carvo,caf torrado, capim, lei te, cestos e outros utensl ios de palha. Os

    111l'gesdos vendedores, com seus ritmos culturais ecoavam nas ruas da cidade1II.Ircando o espao de cada um.

    O circular pela cidade, a escolha das ruas, os lugares de parada, os encontrosI Ionfli tos definiam as tticas de sobrevivncia. Para regular essas vendas, dimi1I11111dos conflitos, surge entre esses escravos uma espcie de instituio semI .11ller legal , porm de aceitao de fato, como uma regra interna de convivncia

    ( ls Cantos que reuniam trabalhadores libertos e escravos por etnias ou ocupaI , 11 ,~ Possuam tambm importante funo no auxlio mtuo para a alforria de

    , I I~ membros, como por exemplo dos carregadores de caf, escravo da nao111111:1,ue detinham o monoplio desse servio e que, atravs de uma organiza lI! de emprstimo semanais, adiantavam dinheiro para alforria um dos-11111s.lnfelizmente pouco consegui levantar na documentao pesquisada sobre

    " I IIIHionamento in terno dessa instituio no Rio de Janeiro, a no ser algumas19I 1I11,Ol'S.Em seu trabalho, Reis , traa algumas caracterst icas do funcionamentodi" I : llltoS em Salvador, que acredito possa ter alguma similitude com os cantos1I'.",I:I,volvidos pelos negros de ganho nas ruas do Rio deJaneiro. Afirma o autor:

    "cada um canto tinha um lder que se chamava caPital do Canto(...) Na Bahia , o

    Cap it o d o Ca nto I nt erme dia va a r ela o d o g anh ad or c om o c on tr ata do r: a cer tav a

    .rervios, estabelecia preos. No .rabemo.r aos certo sepegava peso como os outros. Tam-

    btt/ desconhecemos que era exigido de. rse. rhomen. r( .. .) Havia e le io para o cargo de

    mj>i/r/o, /1/ais {~noramo.r as regra.r.. ))

    Fonte: Christiano Junior .s.,,,ttulo-1864-1866

    ~~

    I 1 11 11 1 { 1l 11 ~1 1. 1I 11 1111111111 ~1'lil 11111111

    I H I, I I HI ,I ,

    t ral j apresentado na pose, exibe dois escravos refinadamente vestidos; o primeiro plenamente incorporado ao seu papel coloca-se numa ati tude cerimoniosa frentea dama. Esta o foco da objetiva nem to objetiva do fotgrafo, sua expresso:ontrada contrasta-se com a maneira displicente do segundo carregador. Soinmeras as imagens de carregadores de cadeirinhas da cidade do Rio deJaneiro,a selecionada retrata uma cena de Salvador, entretanto 'ela poderia perfeitamentercpresentar o que constantemente acontecia nas ruas do Rio de Janeiro.

    Nas fotos abaixo o que se v so homens negros descalos- como todos oscscravos deveriam andar, teatralizando seu ofcio. Embora no olhem para o fotografo ele est presente na expresso tensa dos modelos. Alm dos homens,outro aspecto que me toca nessa foto o cesto. Ele colocado em destaque,

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    Sumrio~,fG~~ UERJ ~'" \11 '"