o saquá 198 especial

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Ano XVI • nº 198 • 1 a 31 de maio de 2016 • Saquarema • Rio de Janeiro www.osaqua.com.br • Diretora: Dulce Tupy A Usina Santa Luiza mudou definitivamente a história de Saquarema EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA Manoel Gomes, o administrador da Santa Luiza PÁGINA 3 I nstalada em Sampaio Corrêa na década de 30, a maior usina de cana-de- -açúcar da região chegou a ser a segunda mais produtiva do Estado do Rio de Janeiro e transformou significativamen- te a realidade do município de Saquarema e dos municípios adjacentes. A historia da Usina Santa Luiza marca o seu auge no início dos anos 70, quando chegou a promover uma festa com duração de 2 dias, com a participação das escolas de sam- ba Imperatriz Leopoldinense, Salgueiro e Mangueira. Atual- mente, Sampaio Corrêa ainda expõe as duas torres da usina, lembrança viva daquela época em que o 3° Distrito foi a mola propulsora da economia do mu- nicípio. Essa magnífica história também permanece viva na me- mória daqueles que mantive- ram elos com a usina, pessoas que tiveram a vida para sempre marcada por esses fatos e rela- tam as passagens interessantes daquela época. Páginas 8 e 9 Sonia Gouveia relembra os áureos tempos da usina S onia Gouveia foi casada com Durvalzinho, filho do senador Durval Cruz. Ela viveu os áureos tempos da Usina Santa Lui- za e relembra a ascensão e a queda inimaginável do maior im- pério da região, que encerrou abruptamente suas atividades em 1973. Apaixonada por Saquarema desde o primeiro dia, hoje a bela senhora vive em sua casa em Itaúna, é de- vota de Nossa Senhora de Nazareth e relembra saudo- sa a trajetória da usina e da família que esteve à frente da indústria da cana-de-açúcar, atividade que alavancou o progresso no município e mudou definitivamente a história de Saquarema. Página 11 Sonia vivenciou a ascensão e queda da usina ao lado do marido Inaugurada em 1913, a Estação Mato Grosso se chamou Maranguá e depois Sampaio Corrêa A usina em Sampaio Corrêa trouxe progresso para toda região até a década de 70, hoje é a lembrança viva pelas duas torres que permanecem de pé no local A Estrada de Ferro Maricá ARQUIVO HERIVELTO B. PINHEIRO EDIMILSON SOARES ARQUIVO PESSOAL ACERVO CLAUDIO MARINHO FALCÃO Peres no foco da polícia A mansão do ex-prefeito Antonio Peres, em Itaú- na, foi cercada pela polí- cia no dia 5 de maio, em cumpri- mento a um mandato judicial de busca e apreensão, decorrente da CPI da Doação de Terrenos efe- tuada pela Câmara Municipal. A chamada operação “Afilhados da Sorte” alcançou 8 denuncia- dos em Saquarema, Araruama e Niterói. Pela manhã, o verea- dor Chico Peres, irmão de Peres, permaneceu na 124ª Delegacia atendendo as testemunhas. Página 4 Peres no olho do furacão Páginas 12 e 13 EDIMILSON SOARES

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Edição Especial Histórica de 2016 do jornal O SAQUÁ, de Saquarema, Rio de Janeiro.

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Page 1: O Saquá 198 Especial

Ano XVI • nº 198 • 1 a 31 de maio de 2016 • Saquarema • Rio de Janeiro www.osaqua.com.br • Diretora: Dulce Tupy

A Usina Santa Luiza mudou definitivamente a história de Saquarema

EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA

Manoel Gomes,o administradorda Santa LuizaPÁGINA 3

Instalada em Sampaio Corrêa na década de 30, a maior usina de cana-de--açúcar da região chegou

a ser a segunda mais produtiva do Estado do Rio de Janeiro e transformou significativamen-te a realidade do município de Saquarema e dos municípios adjacentes. A historia da Usina Santa Luiza marca o seu auge no início dos anos 70, quando chegou a promover uma festa com duração de 2 dias, com a participação das escolas de sam-

ba Imperatriz Leopoldinense, Salgueiro e Mangueira. Atual-mente, Sampaio Corrêa ainda expõe as duas torres da usina, lembrança viva daquela época em que o 3° Distrito foi a mola propulsora da economia do mu-nicípio. Essa magnífica história também permanece viva na me-mória daqueles que mantive-ram elos com a usina, pessoas que tiveram a vida para sempre marcada por esses fatos e rela-tam as passagens interessantes daquela época.

Páginas 8 e 9

Sonia Gouveia relembra os áureos tempos da usina

Sonia Gouveia foi casada com Durvalzinho, filho do senador Durval Cruz. Ela viveu os áureos tempos da Usina Santa Lui-za e relembra a ascensão e a queda inimaginável do maior im-pério da região, que encerrou abruptamente suas atividades

em 1973. Apaixonada por Saquarema desde o primeiro dia, hoje a bela senhora vive em sua casa em Itaúna, é de-vota de Nossa Senhora de Nazareth e relembra saudo-sa a trajetória da usina e da família que esteve à frente da indústria da cana-de-açúcar, atividade que alavancou o progresso no município e mudou definitivamente a história de Saquarema.

Página 11

Sonia vivenciou a ascensão e queda da

usina ao lado do marido

Inaugurada em 1913, a Estação Mato Grosso se chamou Maranguá e depois Sampaio Corrêa

A usina em Sampaio Corrêa trouxe progresso para toda região até a década de 70, hoje é a lembrança viva pelas duas torres que permanecem de pé no local

A Estrada de Ferro Maricá

ARQUIVO HERIVELTO B. PINHEIRO

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Peres no foco

da políciaA mansão do ex-prefeito

Antonio Peres, em Itaú-na, foi cercada pela polí-

cia no dia 5 de maio, em cumpri-mento a um mandato judicial de busca e apreensão, decorrente da CPI da Doação de Terrenos efe-tuada pela Câmara Municipal. A chamada operação “Afilhados da Sorte” alcançou 8 denuncia-dos em Saquarema, Araruama e Niterói. Pela manhã, o verea-dor Chico Peres, irmão de Peres, permaneceu na 124ª Delegacia atendendo as testemunhas.

Página 4

Peres no olho do furacão

Páginas 12 e 13

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Page 2: O Saquá 198 Especial

A história é a base ondese sustenta onosso futuro

Maio/2016O SAQUÁ2 – EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA

A trajetória vitoriosa de um vigoroso TotonhoSilênio Vignoli

Uma edição histórica para alicerçar o rumo do futuroDulce Tupy

Porque fazer uma edição his-tórica? Nos últimos 3 anos, a Tupy Comunicações produziu edições históricas no ani-

versário do município, Dia 8 de Maio, quando se comemora a emancipação político-administrativa de Saquarema. Agora, em maio de 2016, nos 175 anos de Saquarema, estamos entregando nossa quarta edição especial histórica do jornal O Saquá. Produzida por uma pequena equipe, empenhada em fazer o melhor possível, esta edição encanta-dora serve a todos, mas principalmente às escolas para ser utilizada no ensino fundamental. Alunos e professores já se acostumaram a ler o jornal O Saquá, com histórias e novi-dades sobre a vida, o passado e o presente de Saquarema.

Por ser um mu-n ic íp io pequeno, onde faltam livros e a pequena Biblioteca José Bandeira fun-ciona parcialmente, a pesquisa escolar se resume praticamente à internet. Os poucos livros de referência histórica pu-blicados no município, tiveram edições reduzidas e poucos leitores tiveram acesso aos originais, ficando os demais limitados às cópias que circulam de mão em mão. Assim, o jornal O Saquá investe uma vez por ano na divulgação da história do município, abrindo espa-ço para uma reflexão construtiva sobre o nosso passado, presente e futuro.

Este ano, a pesquisa enfocou o terceiro distrito, Sampaio Corrêa, mas ultrapassou nossas expectativas e verificamos que, mesmo numa edi-ção de 16 páginas, maior do que as habituais 12 páginas que publicamos mensalmente, não coube tudo que gostaríamos de publicar. A edição ficou pequena! Fizemos entrevistas maravi-

lhosas com várias personalidades que não entraram nesta edição, mas que estarão nas nossas páginas na próxima edição, na segunda quinzena de maio, ainda dentro do mês do aniversário do município. Portanto, aguardem; muita informação relevante e matérias boas serão publicadas, junto com a cobertura do Aniversário dos 175 anos de Saquarema, uma data por si só merecedora do nosso trabalho. Junto com a cobertura dos eventos, as inau-gurações, a sessão solene da Câmara, o desfile cívico-escolar, vamos publicar as entrevistas já feitas e que não pude-mos publicar agora.

Agradecemos aos nossos patroci-nadores, parceiros e anunciantes, que nos acompanham nesta aventura his-tórica, em busca das raízes de Sa-quarema, esta linda terra onde vivemos. Sem eles, esta edi-ção não existiria, porque são eles que

possibilitam os custos de impressão do jornal, assim como nossos pro-fissionais, especialmente a jornalista Alessandra Calazans, o fotógrafo Ag-nelo Quintela e o diagramador Ronan Vasconcelos.

Temos que agradecer também, ao repórter fotográfico Edimilson Soares, ao editor adjunto Silênio Vignoli e à designer Lia Caldas que juntos dão estilo ao nosso coletivo. Finalmente, agradecer aos nossos colaboradores Gilson Gomes e Paulo Lulo, sempre atentos aos fatos do presente e do passado da cidade. O jornalismo é uma atividade que tem compromisso não só com a informação, mas também com a formação dos leitores, tendo como foco a transformação dos indivíduos e da sociedade.

Nascido em Saquarema, no dia 27 de maio de 1931, Antônio Pereira de Mello, mais conhe-cido como Totonho desde a

infância, começou a trabalhar na Usina Santa Luiza, em Sampaio Corrêa, no iní-cio da década de 60, como escriturário “pagador”. Logo em seguida, em 1963, casou-se com Clélia Azeredo, de tradi-cional família conhecida pelo apelido de “Pindóba” (nome de um tipo de coqueiro que – como bambu – enverga, mas não quebra) com quem teve 3 filhos: Paulo César, Sônia e Sandra.

Em 1967, Totonho encerrou suas atividades na Usina para abrir seu pró-prio negócio, a loja Santos Mello Mate-riais de Construção, onde trabalhou por praticamente 50 anos, 30 deles ao lado de seu filho mais velho, Paulo César Azeredo de Mello. Totonho foi um dos comerciantes pioneiros em seu ramo no município, trabalhando de domingo a domingo por muitos anos, construindo seu patrimônio com bastante esforço, trabalho, honestidade e seriedade, ao lado de sua família, sentindo-se mui-to compensado pelo orgulho de ter formado suas filhas Sônia em fonoau-diologia e Sandra em odontologia. Ao aposentar-se, Totonho transferiu para

seu filho Paulo César a administração do patrimônio imobiliário da família.

Com notório vigor e uma saúde invejável Totonho tem um destino lon-gevo, carimbado por dois jubileus: 50 anos de trabalho e 50 de casado com Clélia. Prestes a comemorar 85 anos, no próximo 27 de maio, Totonho é avô de 4 netos (Virgínia, Vitória, Neston e Gabriel) e vive a expectativa de ser promovido a bisavô ainda este ano. Re-ligiosamente, toda manhã de domingo é dedicada por Totonho a sua fé católica, frequentador assíduo da missa das 9, na igreja de Bacaxá, cujo padroeiro é seu xará, Santo Antônio.

Essa longa e admirável trajetória Totonho percorreu em passadas sempre cadenciadas, ao melhor estilo de um ser humano cordato, prudente, sensato, simples, solidário, sério, honesto, bem humorado e empreendedor, com uma disposição de trabalho energizada e contagiante, fruto de uma personalidade que começou a ser lapidada já no tra-balho inicial, desenvolvido em Sampaio Corrêa, entre os limites daquele amplo território da Usina Santa Luiza, reconhe-cida como um celeiro de tantos profis-sionais bem sucedidos que cresceram na história de Saquarema.

Totonho e Clélia, um casamento de 50 anos e 3 filhos: Paulo César, Sônia e Sandra

O jornal de Saquarema

Av. Ministro Salgado Filho, 6661Barra Nova – Saquarema – RJ

Tel.: (22) 2651-7441(22) 9 9913 7441 (Vivo)

Fax.: (22) 2651-8337

Editora: Dulce Tupy – [email protected] adjunto: Silênio Vignoli Diretor comercial: Edimilson SoaresDiretora de Arte: Lia Caldas

Colaboradores autônomos: Alessandra Calazans (redação e revisão), Paulo Lulo e Pedro Stabile (fotografia), Ronan Conde (diagramação)

Jornalista Responsável: Dulce Tupy (registro:18940/87/62)

O SAQUÁ

CNPJ: 04.272.558/0001-87 Insc. Munic.: 0883

[email protected]

twitter.com/osaquafacebook.com/osaqua

Gráfica: Editora Esquema Tiragem: 4.000 exemplaresCirculação: Saquarema, Araru-ama, Silva Jardim e demais mu-nicípios da Região dos Lagos

As matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião do jornal.

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Maio/2016 EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA – 3O SAQUÁ

Manoel Gomes, da Usina ao LionsEncontrar o empresá-

rio Manoel Gomes e sua esposa Mar-garida Catarino em sua casa em Bacaxá

é um honra muito grande. Am-bos com mais de 90 anos, com problemas de saúde que sempre ocorrem nas pessoas que atin-gem essa idade, os dois vivem tranquilos na casa da Rua Fran-cisco Fonseca, principal via de Bacaxá, onde recebem a visita constante de filhos e netos. São um casal feliz, amoroso, diver-tido. Talvez este seja o segredo desta longevidade. De origem rural, demonstram uma pura alegria de viver. Um exemplo de vida para todos que os co-nhecem, com suas histórias, con-quistas e simplicidade.

Manoel Gomes saiu da Bahia quando era pouco mais que um adolescente, para tentar a vida na grande cidade. Morou em São Paulo e Rio de Janeiro, antes de vir para Saquarema, onde se empregou numa fazen-da do complexo da Usina Santa Luíza, do senador Durval Cruz, em Sampaio Corrêa, no dia 16

economicamente, financeiramen-te ”, recorda Manoel destacando entre os bens da família Cruz uma refinaria no Rio de Janeiro, na Rua do Matoso, e uma estância no Estado de Sergipe.

Namoro no tremNa usina, Manoel trabalhou

25 anos. Foi trabalhando nas fa-zendas que conheceu e se casou, há 65 anos, com a bela Margari-da, filha caçula do poderoso co-ronel Catarino.

“Eu conheci Margarida aci-dentalmente. Eu cheguei em Sampaio Corrêa em plena di-tadura; mas na primeira elei-ção para presidente, eu estava vendo o pessoal votar, olhei na direção de onde vinha o trem e vi uma moça de cabelos cache-ados, cabelos bonitos, ao lado de um homem. Não sei porque, estremeci todo por dentro. Falei comigo mesmo: uma moça tão bonita com um sujeito tão mal arrumado! Era o irmão dela, que levava ela para votar”, conta Manoel ainda emocionado com este primeiro encontro.

Um dia, o trem estava na Parada Nazareth e ele viu nova-mente a moça. Segundo um cole-ga de trabalho, ela era professo-ra e vinha aplicar provas para as crianças. Outro dia, 12 de junho, Manoel viu a moça de novo, no trem, provavelmente indo à fes-ta de Santo Antônio, em Bacaxá. Até que um uma ladainha, na casa de Ioiô, Manoel encontrou a moça. Depois da ladainha tinha o baile. Manoel tomou coragem e tirou a moça para dançar. Usa-va bigodinho, perfume cheiroso e cabelo brilhante.

“Fiquei encantado. Nos do-mingos, pegava um cavalo em-prestado, passava pela casa dela e ela estava na janela. Namora-mos um ano; depois casamos. O casamento foi em 7 de abril de 1951, há 65 anos”, conta ele. Sen-

tada em uma poltrona, na sala, Margarida confirma. Deste amor profundo, o casal gerou 2 filhos, Ney Robson e Cil Farney, e 3 netos: Renan, Rodrigo e Junior. E Margarida aponta a galeria de fotos, com os filhos, netos e ago-ra também bisnetos.

“Meus irmãos e irmãs já não tenho mais; eu era a caçula de 12 filhos, 6 homens e 6 mulheres”, fala Margarida. “Meu pai era co-ronel de patente, João Catarino de Souza. Meu pai dizia que foi criado em Bacaxá; tinha muitos amigos, governador, presidente da República, era um homem muito querido. O meu irmão mais velho Belino Catarino de Souza foi prefeito; lá na prefei-tura tem o retrato dele”, explica, antes de oferecer um cafezinho.

Quando Manoel saiu da usi-na, já era agricultor, no Morro dos Pregos, nas terras herdadas dos Catarino. Mais tarde viria a ser conhecido como o “Rei do Limão”, tornando Saquarema o maior produtor de limão do país. Mas aí já é outra história que fica para outro momento, pois é chegada a hora de irmos embora, para deixar o casal re-ceber outra visita. Antes, porém, Manoel fala do Lions, o Clube que ajudou a fundar em 1971 e que hoje tem um espaço com o seu nome: Centro Social Comu-nitário Manoel Gomes de Sá, na Rua Pereira. E faz questão de mostrar o diploma que rece-beu das mãos do presidente do Lions Clube, Ronaldo Figueire-do, em 18 de novembro de 2015.

de agosto de 1943, com menos de 20 anos de idade.

“Fui recebido pelo Tenente, apelido do administrador da fa-zenda, que me apresentou a usi-na onde comecei a trabalhar com apontador”, lembra Seu Manoel, com sua memória prodigiosa. A partir daí, o jovem Manoel pas-sou então por todas as fazendas do senador Durval Cruz, desde a São Lourenço, hoje proprie-dade do cantor Ney Matogros-so, até tornar-se apontador no escritório da usina. Mais tarde, foi balanceiro, balconista e cai-xeiro de armazém, entre outras funções que exerceu nas fazen-das da família Cruz, até chegar a gerente da Fazenda Nazareth, hoje a Quarto de Milha, sempre dando conta do recado “com honestidade e sobretudo amor à profissão”, confessa ele.

Fazendas de canaHá uma controvérsia quan-

to ao número de fazendas que o Dr. Durval possuía; uns di-zem que eram 17, mas Manoel afirma que foram 13, sendo 3 fora de Saquarema, situada nos municípios vizinhos de Maricá, Rio Bonito e Araruama. Em Ma-ricá, a fazenda Bom Jardim, em Rio Bonito, a Marimbondo e, em Araruama, a Prodígio. As de-mais fazendas no município de Saquarema eram: São Lourenço, Mato Grosso, Sacada, Ubá, Boa Vista, Nazareth, Tinguí, Jundiá, Manitiba e Conceição.

“Só tinha plantação de cana e tinha os fornecedores de cana, que eu fiscalizava também, por-que a usina emprestava dinheiro aos particulares; eles plantavam cana e cortavam a lenha porque não existia eletricidade e a usina era tocada à lenha; o motor era a diesel, enorme, uma coisa mons-truosa, do tamanho desta casa”, conta Manoel abrindo os braços... “Era uma família muito poderosa

Manoel Gomes com o diploma do Lions Clube

Margarida Catarino e Manoel Gomes, 65 anos de casamento com alegria, amor e simplicidade

FOTOS: EDIMILSON SOARES

Page 4: O Saquá 198 Especial

Maio/2016O SAQUÁ4 – EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA

Polícia na casa de Peres busca provas da

doação de terrenosDulce Tupy

A operação policial “Afilha-dos da Sorte” foi desen-cadeada no dia 5 de maio, na casa do ex-prefeito An-tonio Peres, entre outros 7

investigados. Policiais da 124ª Delegacia, Saquarema, cumpriram o mandato de busca e apreensão decorrente da CPI da Doação de Terrenos, encaminhada pela Câmara Municipal ao Ministério Públi-co e à Delegacia. A decisão do juiz da 2ª Vara (Criminal) da Comarca de Saquare-ma, Dr. Ricardo Pinheiro Machado, que autorizou o mandato de busca e apreen-são, caiu como uma bomba na cidade, gerando uma série de boatos.

Na porta da 124ª Delegacia, um ad-vogado e uma vizinha descrentes diziam: “aqui sempre teve doação de terrenos, todo mundo sabe! Será que desta vez eles serão punidos?”

Por volta das 6 horas da manhã, via-turas da polícia civil cercaram a mansão do ex-prefeito em Itaúna, mas ações poli-ciais também foram feitas em Araruama e Niterói. Nesta primeira fase da operação “Afilhados da Sorte”, os agentes cumpri-ram 8 mandatos, para dar continuidade às

investigações sobre a fraude da doação de terrenos promovida por Peres, entre 2001 e 2008, em seus 2 mandatos como prefeito.

Na casa de Peres foram encontrados termos de doação dos terrenos, que de-veriam estar com a prefeitura ou com os próprios beneficiários. Segundo as in-vestigações, o ex-prefeito desapropriava terrenos e doava em troca de votos para parentes, amigos e pessoas de sua con-fiança, que construíam casas que valori-zavam os terrenos e depois os vendiam. A polícia também cumpriu mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Sa-quarema. Algumas testemunhas foram conduzidas coercitivamente à delegacia, para prestar depoimentos.

Durante toda a manhã foi um entra e sai na delegacia, enquanto o vereador Chico Peres, irmão do ex-prefeito, e seu sócio e advogado Claudius Valerius per-maneciam no recinto, atendendo as teste-munhas e falando com o delegado. Mui-tas pessoas, por curiosidade, passavam na porta da delegacia, a pé ou de carro. O próprio ex-prefeito Peres passou no seu “carrão” com motorista e ironizou em voz alta o trabalho da imprensa, que se concentrava na calçada dizendo: “o circo está armado”!

Só se ele mesmo for o palhaço...

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O vereador Chico Peres, seguido de perto pelo advogado Claudius Valerius, deixando rapidamente a delegacia onde as testemunhas foram depor

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Maio/2016O SAQUÁ6 – EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA

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Maio/2016O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA – 7

Jornal O SAQUÁ na internet: www.osaqua.com.br

Page 8: O Saquá 198 Especial

Maio/20168 – EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICAO SAQUÁ

A pequena estação de trem Sam-paio Corrêa, da antiga Estrada de Ferro Mari-cá (EFM), não

existe mais e o campo hoje ocu-pado por extensas plantações de grama, entre outras culturas, além dos populosos bairros da Basiléia e Nova Califórnia, não refletem a pujança da antiga Usina Santa Luiza, que ocupava cerca de 17 fazendas, no Tercei-ro Distrito. Criada em 1936, no governo Getúlio Vargas, a S/A Agrícola Santa Luiza chegou a produzir e exportar 1 milhão de sacas de 60 kg de açúcar em seus tempos áureos, perdendo em produção apenas para uma usina em Campos de Goytaca-zes, maior produtor do Estado do Rio de Janeiro.

Fechada em 1973, a Santa Luiza é lembrada atualmente pelas ruínas de suas duas torres e outras edificações que ainda restam do seu tempo de glória, quando Sampaio Corrêa era a mola propulsora do desenvolvi-mento do município de Saqua-rema, que chegou a empregar cerca de 4 mil trabalhadores, em Sampaio Corrêa, movimentan-do toda a economia da região.

Segundo um antigo funcio-nário, que trabalhava no escritó-rio da usina e posteriormente se tornou vereador e vice-prefeito de Saquarema, a Usina Santa Luiza foi durante 4 décadas o maior sustentáculo financeiro do município, em recolhimento de impostos. Segundo Gervásio Oliveira, que até hoje mora na Serra do Matogrosso, em Sam-paio Corrêa, a usina fabricava açúcar, álcool e melaço. Foi fun-dada pelo médico e senador ala-goano Dr. Durval Rodrigues da Cruz, que adquiriu as fazendas do também senador Sampaio Corrêa. Santa Luiza tinha seu es-critório central na rua 1° de Mar-ço, 16, no centro do Rio; mais tarde, a usina tornou-se coope-rada, através da Cooperçucar,

em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.

“Em 1972, a supersafra da usina foi comemorada com um show de escolas de samba do 1° grupo que veio do Rio: a Impera-triz Leopoldinense, o Salgueiro e a Mangueira”, conta Gervásio, hoje o funcionário mais antigo da Prefeitura Municipal. Ele tam-bém se recorda, mas sem muita certeza, que a Imperatriz chegou a fazer um enredo falando da usi-na, inclusive do time de futebol da fábrica que era o Santa Luiza Futebol Clube. “O Santa Luiza foi uma agremiação que realizou grandes acontecimentos e fez his-tória no futebol de Saquarema, re-velando jogadores para o cenário nacional e até internacional, con-quistando vários títulos. Em 1958, a equipe do Santa Luiza realizou um jogo treino com a seleção bra-sileira campeã do mundo”, afir-ma o ex-funcionário da usina que começou trabalhando em peque-nas funções e acabou sendo um dos mais importantes técnicos da área administrativa da Santa Lui-za, na área de recursos humanos.

Gervásio conta que, além do bom gramado do clube, a usina também possuía quadra de bas-quete, um cinema e uma casa de show, onde se realizavam bailes e se apresentavam artis-tas consagrados que vinham do Rio. Cerca de 30% das terra de Saquarema pertenciam à Usina Santa Luiza que abastecia os su-permercados com açúcar cristal, bem como as refinarias do Rio. A usina possuía também uma frota de 55 tratores para trans-portar as carretas com cana, ma-téria-prima do açúcar fabricado, e tinha um gerador de energia próprio, para a produção, mas que servia ainda aos moradores que residiam próximo da fábri-ca. Depois do falecimento do senador Durval Cruz, a usina foi administrada pelo seu filho mais velho, Carlos Durval Cruz. Casado com a neta do famoso industrial nordestino Delmiro Gouveia, pioneiro da indústria

Santa Luiza: a usina de Sampaio Corrêa que foi um verdadeiro motor para Saquarema dos anos 30 a 70

A Usina Santa Luiza foi uma das maiores do Rio de Janeiro, perdendo apenas para uma do município de Campos dos Goytacazes

Nos tempos áureos, a Usina chegou a promover festas com as escolas de

samba que vinham do Rio: Imperatriz Leopoldinense,

Salgueiro e Mangueira. Para comemorar a grande safra,

realizou-se uma festa de dois dias de duração, com muito churrasco e cerveja

ARQUIVO HERIVELTO B. PINHEIRO

Page 9: O Saquá 198 Especial

Maio/2016 EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA – 9O SAQUÁ

Um senador sergipano, proprietário de terras, industrial, usineiro e médico viveu no Rio de Janeiro mas encontrou em Sampaio Corrêa, Saquarema, o motivo de viver seus últimos anos, ao lado da esposa, Dona Carmen e seus dois filhos. Dono de 17 fazendas e da Usina Santa Luiza, Durval Cruz deixou um legado

para a família, cujos membros vivem até hoje no município, que chegou a ser o maior produtor de açúcar do estado, perdendo apenas para Campos.

Durval Rodrigues da Cruz nasceu na cidade de Capela, no Estado de Sergipe, no dia 6 de julho de 1902. Filho de Clara e Tomás Rodrigues da Cruz, diplomou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1924. Eleito senador em 1945, participou da Assembléia Nacional Constituinte, em 1946, após a destituição do presidente Getúlio Vargas. Membro da co-ligação UDN (União Democrática Nacional) e PR (Partido Republicano), assinou a promulgação da nova Carta, em 18 de setembro de 46, tendo exercido o mandato de senador até janeiro de 1955.

Sócio da firma Cruz Irmão & Cia e da Fábrica de Tecidos Sergipe In-dustrial, fundou nos anos 30 a Companhia Usinas de Sergipe com sede no Rio de Janeiro. A autorização para funcionar foi em 24 de junho de 1931, através de um decreto assinado pelo próprio presidente Getúlio Vargas e pelo ministro Lindolpho Collor, pai do ex-presidente e atual senador Fer-nando Collor de Melo. Posteriormente, Durval Cruz criou a S/A Agrícola Santa Luiza, uma usina de cana de açúcar, em Saquarema.

Ocupando uma cadeira de senador no luxuoso Palácio Monroe, no centro do Rio, onde funcionava o antigo senado, na capital federal do país, Rio de Janeiro, o senador Durval Cruz foi membro da Comissão de Finanças e da Comissão Especial de Inquérito para a Indústria Têxtil, tendo atuado na lei de distribuição de renda igual para os municípios e em aspectos da regulação da lei fiscal dos Estados. Casado com Dona Carmen, teve dois filhos. Morando no Rio com a família, frequentava as-siduamente Saquarema, em especial o distrito de Sampaio Corrêa, onde funcionava a Usina Santa Luiza. Uma usina tão próspera que chegou a ter uma pequena linha de trem própria, vinculada à Estrada de Ferro Maricá, para escoar a produção.

O senador foi também um homem de cultura, bem informado e que gostava muito de ler. Faleceu no dia 12 de julho de 1971, quando a usina já começava a apresentar problemas. Para seu sucessor na administra-ção das fazendas, o senador escolheu seu filho mais velho Carlos Durval Cruz, casado com Sonia Gouveia, neta do industrial alagoano Delmiro Gouveia. A lembrança do senador Durval Cruz ficou inscrita em uma sala no Horto Florestal, ao lado da sede da Secretaria Municipal de Agricultu-ra, Abastecimento e Pesca, na Rodovia Amaral Peixoto. A sala construída com apoio da Emater-Rio hoje se encontra em ruínas. Porém, segundo o atual secretário Jorge Soares, um dos projetos prioritários de sua gestão é reconstruir a Sala Durval Cruz, para abrigar cursos e palestras. Recen-temente, a Casa de Cultura Walmir Ayala promoveu um evento de resgate da memória de Saquarema, quando homenageou figuras notáveis da ci-dade, entre elas o senador Durval Cruz.

Santa Luiza: a usina de Sampaio Corrêa que foi um verdadeiro motor para Saquarema dos anos 30 a 70

Senador Durval Cruz, o criador da usina

de algodão em Pernambuco, Durvalzinho, como era conheci-do, teve 4 filhos com a bela Sônia Gouveia, que até hoje mora um pouco no Rio e um pouco em Sa-quarema.

“Durval sempre trabalhou muito”, fala Sônia. “Dona Car-men (mãe de Durvalzinho) e o senador (Durval Cruz) foram pessoas maravilhosas. Vieram para Sampaio Corrêa há muitos anos e fundaram a usina. Dona Carmen era uma senhora muito caridosa, fazia doce de banana para vender e ajudar os pobres; ajudava as obras da igreja e é venerada até hoje pelos morado-res. O senador era um homem finíssimo, cuja família é pratica-mente dona de Sergipe. O ex-se-nador Albano Franco é sobrinho dele; foi criado no mesmo quar-to que Durval no Rio”, revela a elegante Sônia, que trocou o conforto e a badalação dos anos dourados da Zona Sul carioca pela tranquilidade de Saquare-ma, onde criou seus filhos.

Cenário de muitas histórias, a Usina Santa Luiza, acabou nos anos 70, mas a sua lenda nunca se acabou. A maioria das tradi-

cionais famílias saquaremenses têm uma história para contar sobre a usina. Pessoas notáveis do município começaram a construir suas carreiras, hoje bem-sucedidas, nos campos de Sampaio Corrêa; políticos se projetaram, tendo como cenário a usina de açúcar. Basta lembrar o ex-prefeito Jurandir Melo, eleito três vezes prefeito, três vezes vice-prefeito e até hoje na ativa, como presidente do IBASS (Instituto de Benefícios e Assistência Social de Saqua-rema). Também o ex-prefeito Dalton Borges, que tem hoje um sobrinho vereador: Rodri-go Borges. Recentemente fale-ceu Hélio Mattos, o ex-prefeito oriundo do Terceiro Distrito, que sendo do antigo PTB amar-gou as perseguições do regime militar, mas sempre se mante-ve altivo. Também fazem parte desta tradição política local os ex-vereadores Zostinha, Gildo Leonel e outros, todos filhos de Sampaio Corrêa, ou agregados ao distrito que hoje vive uma transformação social, como sede do Polo Industrial, que aponta um novo futuro para o local.

O que restou da Usina são duas torres e algumas edificações no meio do pasto

Senador Durval Cruz

EDIMILSON SOARES

ARQUIVO SONIA GOUVEIA

O ex-vereador e ex-vice-prefeito Gervásio

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Maio/201610 – EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICAO SAQUÁ

Sampaio Corrêa nasceu em Niterói, em 1875, mas fez seus primeiros estudos em Campos-RJ,

e o ginásio em Barbacena-MG. Radicado na antiga capital fede-ral, Rio de Janeiro, diplomou-se como engenheiro civil, na Escola Politécnica, em 1898, tornando--se professor da cadeira de estra-das de ferro, pontes e viadutos dessa escola. Inspetor geral de Obras Públicas durante o gover-no de Afonso Pena (1906-1909), exerceu o cargo de engenheiro--chefe da Comissão de Abas-tecimento de Água do Distrito Federal de 1907 a 1910 e chefiou, em 1908, as obras da célebre Ex-posição Nacional realizada entre e os bairros da Urca e Praia Ver-melha, no Rio, em comemoração aos 100 anos da Abertura dos Portos, proclamada por D. João VI, quando chegou ao Brasil jun-to com a família Real, em 1808.

Engenheiro-chefe das Obras Contra as Secas, no Rio Grande do Norte, em 1912, participou da construção de diversas ferrovias, entre as quais a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Nor-te, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a Estrada de Ferro Maricá (EFM), no Rio de Janei-

ro, que ligou Niterói à Região dos Lagos. Foi também diretor da Companhia do Porto do Rio de Janeiro, da Companhia Aero--Postal Brasileira, da Companhia Radiotelegráfica Brasileira e da Companhia de Luz e Força de Campos, onde foi autor do proje-to de iluminação elétrica. Foi ain-da revisor do serviço de bondes, força e luz de Belo Horizonte, engenheiro-chefe da Companhia City Improvements, no Rio, dire-tor da Compagnie Générale de Chemins de Fer du Brésil (que assumiu a Estrada de Ferro Ma-ricá), chefe da firma Sampaio Corrêa e proprietário da Usina Santa Luiza, no Rio de Janeiro, com fazendas em Saquarema.

Engenheiro, senador e jornalistaSampaio Corrêa iniciou

sua vida política em 1918, ao eleger-se deputado federal pelo Distrito Federal, na legenda da Aliança Republicana. Integrou a Comissão de Finanças da Câma-ra dos Deputados e colaborou, em 1919, com o prefeito do Dis-trito Federal, Paulo de Frontin, no plano de abastecimento de água da cidade. Em 1920 elegeu--se senador, iniciando o manda-to no ano seguinte. Na sucessão

do presidente Epitácio Pessoa (1919-1922), apoiou, como lí-der da Aliança Republicana, a candidatura de Artur Bernar-des, eleito em março de 1922. Deputado Federal pelo Distrito Federal de 1918 a 1920, foi sena-dor de 1921 a 1926, tendo parti-cipado da visita ao Parlamento Mexicano e da VI Conferência Pan-Americana, realizada em Havana, Cuba, durante o gover-no do presidente Washington Luís (1926-1930).

Após a Revolução de 1930, à qual se opôs, elegeu-se em maio de 1933 deputado pelo Distrito Federal à Assembleia Nacional Constituinte como candidato avulso. Empossado em novem-bro, passou a integrar a Comis-são Constitucional, que propôs o anteprojeto da Constituição. Com a promulgação da nova Carta, em 1934, e a eleição de Getúlio Vargas, teve seu manda-to estendido até maio de 1935, permanecendo como deputado federal até 1937, quando foi pro-mulgado o Estado Novo e fo-ram interrompidos todos os tra-balhos parlamentares no país.

Mesmo fora do parlamento, Sampaio Corrêa continuou fa-zendo oposição ao governo, no

Senador Sampaio Corrêa, o engenheiro que deu nome ao terceiro distrito de Saquarema

jornalismo. Fundador do jornal A Tarde, era membro da Associa-ção Comercial do Rio de Janeiro, da Federação das Associações Comerciais do Brasil, do Institu-to Politécnico, do Clube de Enge-nharia, do qual foi presidente, e do Aeroclube Brasileiro. Publi-cou estudos políticos, econômi-cos e técnicos - “O tenentismo e

a política” (com J. Bernoville Pe-queno), “Motores elétricos”, “O abastecimento de água no Rio de Janeiro”, “A tração elétrica da Es-trada de Ferro Central do Brasil”, “Parecer sobre as obras contra a seca do Nordeste” - além do li-vro “Rumos de tropeiro”. Fale-ceu no Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 1942.

Político, engenheiro, professor, jornalista e escritor, o senador Sampaio Corrêa conquistou em 1911 o direito de construir o prolongamento da Estrada de Ferro Maricá até Iguaba Grande, o que viabilizou a construção da estação Mato Grosso, inaugurada em 2013, depois chamada Maranguá e mais tarde Sampaio Corrêa

REPRODUÇÃO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO - PODER JUDICIÁRIO - TRIBUNAL DE JUSTIÇA COMARCA DE SAQUAREMA - CARTÓRIO DA 1ª VARA

ROBERTO SILVEIRA S/N CEP 28990-000 - CENTRO - SAQUAREMA -M RJ E-MAIL: [email protected]

EDITAL DE CITAÇÃOCOM O PRAZO DE VINTE DIAS

O MM Juiz de Direito, Dr. Bruno Monteiro Ruliere - Juiz Titular do Cartório da 1ª Vara da Comarca de Saquarema, RJ, FAZ SABER aos que o presente edital com o prazo de vinte dias virem ou dele conhecimento tiverem e interessar possa, que por este Juízo, que funciona a Roberto Silveira, s/n CEP 28990-000 - Centro - Saquarema - RJ e-mail:[email protected], tramitam os autos da Classe/Assunto Desapropriação - Patrimônio Histórico / Tombamento / Domínio Público, de n° 0001189-82.2010.8.19.0058, movida por MUNICÍPIO DE SAQUAREMA em face de SUELI OSÓRIO FERREIRA DE ALBUQUERQUE e LUIZ CARLOS ROQUE DE CARVALHO, objetivando a convocação de terceiros interessados, com prazo de 20 dias. Assim, pelo presente edital CONVOCA para ciência de terceiro interessados acerca da presente demanda, sobretudo aqueles que realizaram negócio jurídico com a Construtora Nova Tijuca Ltda, envolvendo o imóvel em questão, para que se habilitem no feito. Dado e passado nesta cidade de Saquarema, aos vinte e quatro dias do mês de julho do ano de dois mil e quinze. Eu, Ana Paula Rodrigues Souza - Técnico de Atividade Judiciária - Matr. 01/24053, digitei. E eu, Elzineia Maria dos Santos Pinheiro - Responsável pelo Expediente - Matr. 10/9206, o subscrevo.

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Maio/2016 EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA – 11O SAQUÁ

Ela é uma bela senho-ra de olhos claros, com uma postura imponente. Durante muitos anos, foi a pri-

meira dama da Usina Santa Lui-za, um complexo industrial em Sampaio Corrêa. Casada com o filho do senador Durval Cruz, o herdeiro Carlos Durval Cruz, mais conhecido como Durvalzi-nho, Sonia Gouveia Cruz viveu um sonho de amor com o ma-rido e seus 4 filhos, tendo como cenário o canavial da usina e as praias de Saquarema, até a sepa-ração advinda após o fechamen-to da usina, em 1973.

“Eu me apaixonei por Saqua-rema; fiquei encantada com a ci-dade. Casei com Durval e optei por morar aqui, pela beleza do lugar”, diz Sonia, neta de Delmi-ro Gouveia, pioneiro da indús-tria de algodão e exportador de pele de cabras em Alagoas, nas margens do Rio São Francisco. Poliglota, Sonia fala 5 línguas, além do português e inglês, a língua de seu pai Noé, criado na Inglaterra, depois do assassina-to até hoje pouco esclarecido de Delmiro Gouveia. Sonia também fala alemão, foi criada com uma governanta alemã até os 10 anos; e fala espanhol e francês, porque foi educada no Colégio Sion, de origem francesa, da alta socieda-de do Rio. Em Saquarema, Sonia deu aulas de inglês.

Em 1958, quando chegou a Saquarema, a cidade não tinha nada, “só pescadores”, lembra Sonia. “Eu vi construir a Ponte Rio Niterói. Eu vinha de carro com meus filhos, atravessava a Baía da Guanabara de balsa. Um dia eu perguntei ao ministro e ele disse: eu vou fazer a ponte! E eu disse: ótimo! Eu sempre vinha para cá, porque Durval trabalhava aqui, tinha os negó-cios aqui e eu gostava daqui. Fiz campanha contra a malária; eu mesma tive malária; vacinei muita gente! Agora temos que tomar cuidado com a dengue, a chikungunya e a zika”, avisa ela.

Em todo esse tempo, Sonia acompanhou o crescimento da cidade. “As ruas praticamente não existiam, as avenidas, nada de casas bonitas, a maioria era casinhas pequenas... Só a nossa grande matriz é que estava lá, de pé”, explica Sonia em sua casa em Itaúna, ao lado do Colégio SEI que funciona onde antes era a sua mansão, nos tempos áure-

Sonia Gouveia, a primeira-dama da Usina

do o Rio ainda era a capital do país. “Durval gostava muito de sair, de frequentar a sociedade. Era um casamento perfeito”, conta Sonia que passou a lua de mel em Montevideo, no Uru-guai. Amigo do colunista social Ibrahim Sued, que também fre-quentava Saquarema, Durval começou um novo empreendi-mento quando a usina já enfren-tava dificuldades.

“Eles combinaram de fazer a ‘cidade do boi’. “Ibrahim era muito amigo nosso; esteve aqui várias vezes e chegou a ser re-lações públicas da fazenda. O ator Grande Otelo também este-ve aqui, em festas da escola de samba Imperatriz Leopoldinen-se e do Salgueiro, que duraram

2 dias na fazenda. Foram festas comemorativas das grandes safras”, explica a socialite, fun-dadora da obra social do Sol, entidade filantrópica muito co-nhecida no Rio, com sede no Jar-dim Botânico. “Trabalhei com a presidente Maria Tereza Camar-go, museóloga. Ela é esposa do Mauro Camargo, ex-secretário de Justiça. Construímos aquela obra social que era uma chou-pana e virou um edifício de 4 andares”, fala a empreendedora Sonia.

“Quando fui festeira de São Pedro, fizemos um almoço maravilhoso na nossa mansão. Desfilamos pela cidade. É uma tradição linda! Eu também sou devotíssima de Nossa Senhora

de Nazareth. Estas são as gran-des raízes que tenho aqui”, con-fessa sem esconder a emoção. Mãe do Frederico, o filho mais velho, bombeiro aposentado, que também mora em Saqua-rema, Sonia fica triste quando lembra do saudoso filho Durval-zinho, falecido precocemente. Mas ainda tem Delmiro, salva--vidas em Saquarema, e o Mar-celo, que trabalha com moda masculina no Rio, além de 3 netos, todos com saúde e bem--sucedidos. “Só posso agradecer por ter vindo para Saquarema, essa cidade com pessoas ma-ravilhosas que me acolheram muito bem, além do ar puro e o sossego. É muita tranquilidade. Espero que continue assim”.

os da Usina. “A vida era mara-vilhosa, calma. Eventualmente tinha umas serestas que Durval promovia. Vinham uns artistas, intelectuais que se mesclavam com os pescadores; eles ficavam na varanda da nossa casa e toca-vam músicas locais”.

Socialite no Rio, devota de Nazareth

Decorada com luxo, para re-ceber personalidades da alta so-ciedade, a mansão foi inaugurada em 1962, com um banquete es-petacular. Segundo Sonia, a casa estava deslumbrante. “Tenho fo-tos até hoje!”, relembra Sônia. “A casa abrigou também o deputado Paulo Melo quando criança; ele foi criado aqui, nos meus jardins; vendia cocadas no meu portão. Paulo Melo é um fenômeno! Um homem que toma conta de Sa-quarema até hoje; um empreen-dedor, ele e a esposa Franciane. Minha irmã, Marisa, criou o ir-mão dele, o Jaiminho. O marido dela, o procurador Milton Seabra, levou o Jaiminho para o Rio e o educou”, conta Sonia.

Herdeira por lado da mãe, Alba Marina, de uma tradicional família de São Paulo, os Martin Fontes, Sonia viveu histórias fantásticas nos anos dourados da República brasileira, quan-

Sônia em sua casa em Itaúna e, na foto ao lado,

brindando com champanhe o seu casamento com

Carlos Durval Cruz

ARQUIVO PESSOAL

EDIMILSON SOARES

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A Região dos Lagos, hoje também cha-mada Costa do Sol, abrange vários municípios das

Baixadas Litorâneas. Situada no Leste Fluminense, tem forte vocação turística, com seus atra-tivos naturais. Mas nem sempre foi assim. Em meados do século 18, a sua principal vocação era agrícola. Na época, as ferrovias começaram a ser construídas no Rio de Janeiro e, no século 19, a Estrada de Ferro Maricá (EFM) teve seu primeiro trecho inaugurado em 1887, ligando os municípios de São Gonça-lo a Maricá, para escoar a pro-dução. Desde então, a ferrovia se tornou o principal meio de transporte da região, proporcio-nando grande desenvolvimento aos municípios integrados pela estrada de ferro.

A demanda por alimentos fez com que o município de Ma-ricá, um dos responsáveis por parte do abastecimento de Nite-rói e Rio de Janeiro, abandonas-se o transporte de mercadorias por tropas de mulas pelas res-tingas e serras. É como registra o geógrafo Eduardo Margarit, em sua monografia para a Uni-versidade Federal Fluminense (UFF), “O resgate da história de uma ferrovia nas escolas da Re-gião dos Lagos Fluminense”: so-mente em 1894 foi inaugurado o trecho que faltava até o centro de Maricá; em 1900, foi inaugu-rado outro prolongamento até Neves (São Gonçalo), e mais um de Maricá até Manuel Ribeiro, concluído em 1901.

Um transporte eficiente“Em 19 de junho de 1911, foi

fundada em Paris a “Compag-nie Generale de Chemins de Fer dês Etats Unis du Brèsil” com o objetivo de investir cerca de um milhão de francos nas estradas de ferro brasileiras. A partir de 1913, a companhia Francesa re-cebeu a concessão da Estrada de Ferro Maricá bem como se tornou responsável pela cons-trução do prolongamento até Araruama. Esta companhia foi responsável por inúmeras me-lhorias na ferrovia e conseguiu em pouco mais de um ano com-

Estrada de Ferro MaricáA FERROVIA QUE DESENVOLVEU A REGIÃO DOS LAGOS

pletar o prolongamento da es-trada de ferro”, sintetiza ele.

O trem se tornara o meio de transporte mais eficiente da região. Em volta das estações o comércio se expandia; surgiam novas ruas e casas. Em Saqua-rema, a indústria açucareira im-pulsionou a economia durante todo o período em que a Estra-da de Ferro Maricá existiu. “Isso porque, em Sampaio Corrêa, distrito de Saquarema, estava instalada a usina Santa Luiza, a maior usina de cana-de-açúcar da Região dos Lagos”, explica Eduardo.

Segundo ele, a estação de Sampaio Corrêa foi inaugurada em 1° de maio de 1913, mas an-tes, em 1912 já havia sido inau-gurada a estação Tingui, cujo nome foi mudado para Mato Grosso. Além desta, o jornalista e historiador Célio Pimentel, no livro “Estrada de Ferro Maricá”, descreve as demais estações criadas naquele ano: a estação Nilo Peçanha (que se chamava Ponta Negra) e a estação Quin-tino Bocayuva, que teve o nome

alterado para Bacaxá. Célio é filho do ferroviário Sotero Pi-mentel, que foi chefe da estação Sampaio Corrêa e foi entrevis-tado por Célio no jornal Hora Certa, de Araruama. Segundo Sotero, Sampaio Corrêa era uma estação próspera, devido à Usina Santa Luiza que, durante as décadas de 30, 40 e 50, sob a administração do senador Dur-val Cruz, industrializava açúcar para exportação.

“A Usina possuía um trem de sua propriedade composto por uma locomotiva a vapor e oito vagões plataforma que atendia sua produção. A utiliza-ção era feita por um maquinis-ta e um foguista da Usina e um supervisor da Estrada de Ferro Maricá. O trajeto era feito dia-riamente da estação ferroviária de Sampaio Corrêa até o posto telefônico de Jundiar (em dire-ção a Bacaxá) em uma distância de 4 km. Este percurso era fei-to na linha da Estrada de Ferro Maricá (EFM) que ali existia um entroncamento para Tingui com 3 km de distância. Este percurso

era realizado em linha de trem de propriedade da Usina Santa Luiza”, explicou Sotero, acres-centando que durante a safra, a Usina Santa Luiza solicitava ainda 24 vagões, divididos en-tre 20 e 30 toneladas cada, para transportar sua produção de açúcar com destino a Niterói.

De Niterói a Cabo FrioA estação de trem de Bacaxá

foi o principal indutor do desen-volvimento do centro comercial de Saquarema. Ali eram embar-cados limão, galinhas, bois e porcos, trazidos das fazendas. Segundo Eduardo, “os morado-res de Saquarema utilizavam o trem para ir a Niterói ou então de lá, chegar ao Rio de Janeiro através das barcas; os que mo-ravam próximo à estação apro-veitavam a parada do trem para vender doces”.

Finalmente, em 1913, a fer-rovia chegaria a Araruama, para escoamento da produção de sal e, em 1914, a Iguaba Grande. Porém, o último trecho, entre Iguaba Grande e Cabo Frio, pas-

sando por São Pedro da Aldeia, somente foi inaugurado em 1937, depois da Revolução de 30, no governo Getúlio Vargas, quando a EFM foi encampada e passou a ser administrada pelo governo federal. A partir de 1943, a EFM foi incorporada à Estrada de Ferro Central do Brasil, também federal, gerando outras melhorias. Porém, um golpe fatal na evolução das fer-rovias viria a seguir, na década de 50, quando várias rodovias começaram a ser construídas e asfaltadas em todo o país.

“O Governo Federal deu iní-cio a uma política de prioriza-ção do transporte rodoviário em detrimento do ferroviário, para incentivar as novas indústrias ligadas ao setor automotivo que estavam se instalando no Brasil. Foi assim que nos anos 1950 foi dado inicio às obras de asfalta-mento da Rodovia Amaral Pei-xoto, ligando Niterói à Macaé. A pavimentação da rodovia permitiu o acesso mais fácil e rá-pido aos municípios da Região dos Lagos e se tornou uma alter-

A estação de Bacaxá foi inaugurada em 1913, quando do prolongamento da ferrovia até Araruama

ARQUIVO RAÍZES DE MINHA TERRA SAQUAREMA - HERIVELTO BRAVO PINHEIRO

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Maio/2016 EDIÇÃO ESPECIAL HISTÓRICA – 13O SAQUÁ

A estação Sampaio Corrêa foi inaugurada em 1913, quando do prolongamento da Estrada de Ferro Maricá até Ara-ruama. Segundo o site estacoesferroviarias.com.br, em

página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht, há indicações de que a estação foi inaugurada com o nome de Mato Grosso, sendo que mais tarde tanto a estação como o próprio povoado passaram a se chamar Maranguá, um nome antigo conhecido desde o tempo dos tupinambás. Porém, em 1946, o então ter-ceiro distrito de Saquarema - Maranguá - passou a se chamar Sampaio Corrêa, nome dado em homenagem ao senador, pro-prietário de terras e da Usina Sergipe, uma usina que antecedeu a Usina Santa Luiza, no início do século 20.

Aliás, foi o senador Sampaio Corrêa que vendeu as terras ao também senador Durval Cruz que tornou a Usina Santa Luiza a maior produtora de açúcar da região e a segunda maior do Estado do Rio de Janeiro, perdendo apenas para uma usina de Campos. Em 1973, a Usina Santa Luiza - que tinha sua própria ferrovia conectada à Estrada de Ferro Maricá - foi fechada, en-cerrando a atividade açucareira na região, ampliando a atividade pecuária. Posteriormente, a estação de Sampaio Corrêa foi de-molida. O que resta hoje de mais relevante no terceiro distrito de Sampaio Corrêa são as ruínas das duas torres da antiga usina de cana de açúcar Santa Luiza, que era servida por ramal da Estrada de Ferro Maricá.

nativa mais competitiva em re-lação ao transporte ferroviário”, relata o geógrafo.

Assim, a velha Estrada de Ferro Maricá deixou de ser a única forma de transporte da região, enfrentando a “feroz concorrência” das empresas de transporte rodoviário. “Apesar de ter um custo maior, o trans-porte rodoviário era mais rápi-do e dinâmico, podendo ofere-cer novos trajetos aos usuários e ao transporte de carga. Com isso, a ferrovia foi considerada pelo governo como ‘antieconô-mica’ e deveria ser desativada”, descreve assim Eduardo a ago-nia da estrada de ferro.

Privilegiando a rodovia“Em janeiro de 1962, um

forte temporal causou inúme-ros danos à via, destruiu pontes e deixou a linha intrafegável. Esse foi o pretexto perfeito para promover a desativação da fer-

rovia, os reparos não foram efe-tuados e o tráfego foi suspenso (...) A erradicação da Estrada de Ferro Maricá causou inúme-ros prejuízos aos municípios e principalmente à população. O transporte ferroviário era barato e amplamente utilizado para o transporte de cargas e passagei-ros; sem ele, a única opção era o transporte rodoviário que pos-suía valores mais altos do frete e das passagens de ônibus”.

Para o professor, o resgate da história da Estrada de Ferro Ma-ricá, que proporcionou no pas-sado grande desenvolvimento para os municípios da Região dos Lagos, é necessário, para não se apagar com o tempo. “O resgate da memória da ferrovia que foi de tamanha importância para a configuração atual dos municípios da Região dos Lagos é importante para que as crian-ças e jovens possam entender o processo de urbanização, os

aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais, deixados pela ferrovia”.

Apesar do desaparecimen-to das estações de trem de Sa-quarema - Sampaio Corrêa e Bacaxá - terem sido demolidas, o autor destaca a forma como estas imagens permanecem no inconsciente coletivo e na vida dos cidadãos.

“Em Saquarema uma pin-tura no muro de um bar, além de um quadro na Câmara Mu-nicipal demonstram o que res-tou de lembrança da Estrada de Ferro Maricá”. Para ele, a EFM foi determinante para o desenvolvimento local. “O res-gate da memória da ferrovia é muito mais do que apenas um trabalho histórico direcionado aos interessados pelo assunto. É um processo de reconstrução da memória coletiva dos antigos e novos moradores da Região dos Lagos”, considera o mestre.

A estação Sampaio Corrêa

Fontes: Claudio Marinho Falcão; Cleiton Pieruccini; Roteiro Rodoviário Flu-minense, Estado do Rio de Janeiro, 1953, p. 69; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht

A estação Sampaio Corrêa, provavelmente nos anos 30

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O livro do jornalista e historiador Célio Pimentel é uma grande fonte de

informação sobre a ferrovia que trouxe desenvolvimento para a região

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Gilson Gomes

Fundado pouco depois da usina de açúçar, o Santa Luiza Fute-bol Clube teve seus primeiros times formados por funcioná-rios da indústria, cujo proprie-

tário e patrono do clube, Dr. Durval Cruz, tinha inicialmente a intenção de dar aos trabalhadores, em sua maioria vindos de Campos e Espírito Santo, um domingo de lazer, já que no decorrer da semana o trabalho na plantação e corte da cana era muito duro. Mas a paixão pelo fute-bol logo foi crescendo. Foi formada uma diretoria, que filiou o clube à Liga Saqua-remense de Desportos e à Federação Flu-minense de Desportos que, com a fusão do estado da Guanabara e ao antigo Rio de Janeiro, passou a se chamar Federação do Estado do Rio de Janeiro (FERJ).

Assim, o Santa Luiza virou, como a usina, uma potência também no futebol, formando grandes equipes com atletas locais onde podemos destacar Dode, Jor-ginho Barbosa, Pituta, Roló, Elias, Eucli-des, Jorge Luiz, Geneci e Jorge Luiz Car-doso. Esses 3 últimos são um capítulo a parte; Canidé elevou o nome do clube e do terceiro distrito, chegando ao futebol profissional do Clube Atlético Minei-ro. Delmir, com sua garra e dedicação, iniciou e encerrou sua carreira no San-ta Luiza e Pintinho, também conhecido como “Pai Velho”, além de grande atleta, dedicou sua vida como auxiliar técnico, massagista, zelador e técnico da escoli-nha, sem dúvida um verdadeiro mito, respeitado e amado por todos.

Além destes, Balzinho foi outro grande jogador do terceiro distrito, que brilhou no clube, tendo sido considera-do na época o melhor atacante em ativi-dade no município. Mais tarde, o clube resolveu investir no mercado de fora e trouxe atletas de excelente qualidade, entre eles Arthur, João Carlos, Didi, Pe-lezinho, Carrete, Cleber, Paulinho, Jo-sué, Chicão, Mamão e Gabriel. Já Rodol-

Santa Luiza, uma potência também no futebol

Ele mora em São Gonçalo, mas durante muitos anos fez parte da equipe do Santa Luiza, an-

tes de jogar pelo Clube Saquarema, inclusive na Seleção de Saquarema que competia com outros municí-pios da Região dos Lagos e no time veterano do Saquarema. Em 1977, quando a usina já não estava mais funcionando, o Santa Luiza Futebol Clube ainda resistia, tanto que con-quistou a Taça Mário Castanho, que congregava os clubes da região, ten-do como zagueiro o então cabeludo João Carlos. Hoje, casado com Mar-li, uma das sobrinhas do Dr. Tatagi-ba, pioneiro da medicina local, João Carlos frequenta Saquarema apenas como veranista, mas não esquece seu tempo de glória no Santa Luiza e no Saquarema.

fo, Boquinha, Vavá e Luiz Carlos foram contratados pelo Santa Luiza a outros clubes do nosso próprio município. O terceiro distrito também teve grandes diretores como José de Azevedo Pinto (Zéquito), Lucio Couto, Arí Fonseca, Chiquinho Batista, Divaldo e Merto-dinho. E não podemos deixar de men-cionar os torcedores fervorosos como o Matinada, Dona Ana e Seu Pedro Del-fino que chamavam atenção no campo, torcendo, e pelas nas laranjas e pão com mortadela que vendiam no estádio.

Em 1966, surgiu o Esporte Clube Sam-paio Corrêa e a rivalidade foi grande com o Santa Luiza, já que alguns atletas insa-tisfeitos no tricolor se transferiram para o novo clube que também formou grandes elencos e diretorias, sendo Roberto Mar-ques Ferreira (Sargento) e Ricardo Reis 2 baluartes. Mas, assim como ocorreu com o Santa Luiza, o Sampaio também encer-rou suas atividades, entre outros locais como o Fundo de Quintal e o Esperança, restando hoje apenas o Baziléia, o Tropa de Elite e o Gelobol, no futebol amador e o Sampaio Corrêa no profissional. Já o velho estádio Durval Cruz, palco de grandes recordações de jogos memorá-veis, hoje está totalmente abandonado. Dá pena de ver...

O Santa Luíza Futebol Clube foi campeão da Taça Mário Castanho, da Região dos Lagos

João Carlos, zagueiro do Santa Luiza

O terceiro distrito, além do forte fu-tebol local, ainda revelou atletas para o profissional como Canidé, Rômulo e Zú que representaram o futebol saquare-mense na Holanda. Romerito disputou o último Campeonato Brasileiro pela Pon-te Preta e Fábio Neves, que já atuou no Fluminense, hoje se encontra no futebol internacional, jogando na Coreia do Sul. O distrito de Sampaio Corrêa revelou também grandes árbitros que fizeram parte do quadro da Liga Saquaremense: Fernando Goiaba, Brandão, Jorge Pezão, Bazilêu, Carlinho Alicate, Rubens, Carlos Conceição, Ricardo Gazoni e a grande re-velação Carlos Cordeiro.

REPRODUÇÃO ARQUIVO JOÃO CARLOS

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ULO O zagueiro João Carlos, do

Santa Luiza e do Saquarema

Delmir, zagueiro central do Santa Luiza

Jorge, lateral direito

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