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O mundo se encontra guiados por satélites de visão anos-luz superior à visão da águia e por homens, que não conseguem enxergar os limites da própria liberdade e da necessidade dos oprimidos. A massa manipulada com grades na mente e prisões nos corações. O que fazer? O chumbo e a pólvora são heranças hediondas que chegam e matam o pensamento, o sentimento, os momentos de prosa e verso. Alguém precisa despertar-se. O grito de liberdade não pode calar-se. Quem se atreveria? Justo da Hora saiu da caverna. Contemplou a luz. É o candidato a herói?

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O SucateamentO dOFamOSO ParaíSO dOS

SOnhOS humanOS

{Vol. I}

São Paulo – 2015

Alex Maga Rocha

O SucateamentO dOFamOSO ParaíSO dOS

SOnhOS humanOS

{Vol. I}

Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jacilene Moraes

Diagramação Camila C. Morais

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________R576sv. 1

Rocha, Alex Maga O sucateamento do famoso paraíso dos sonhos humanos, volume I/Alex Maga Rocha. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0414-2

1. Romance brasileiro. I. Título.

15-23217 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________28/05/2015 05/06/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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{I}Caçadores da verdade

“Os homens não choram? Não choram pouco, sem impor-tar, porque sabem que eles próprios é que têm que executar

as medidas propostas pelo coração”.

Será que o mundo é frio para a esperança e de alma gelada para o amor?

Numa romaria para despejar a história num grande movimento, chamaram o Avaliador de Sonhos para que pu-desse analisar os sonhos dos terráqueos. Era uma grande sala despojada e arejada, onde os sonhos da humanidade estavam armazenados. Ao vê-los, percebera então que não passavam de estrelas frias e narcisistas, nascidas no cadáver do egoísmo.

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“Se o mundo tomasse banho de conhecimento e pu-desse tirar ouro do nariz e oferecer de brinde aos abutres, talvez não pudessem cobiçar tanto o livre consumismo desenfreado”, pensou o Avaliador de Sonhos. “As pessoas teriam menos tempo para reparar o sonho um do outro, mas tanto ricos e pobres, em suas individualidades, ti-nham o mesmo sonho, o de consumir o material orgânico do fast-food; o sonho de comprar a alma da propaganda exposta na vitrine do comércio; a ambição de adquirir a máquina mais veloz e mais furiosa, que o Toyotismo pro-duziu em sua última grande fabricação de desejos. Tudo aqui são casos sem causa”, pensou ele. À beira do negro poço em que estava a humanidade, viu que os sonhos de antigamente eram mais humanos, não se esquivavam tanto da responsabilidade social.

E quando estava quase se nutrindo completamente de desilusão, meditando na grande tempestade que exis-tia na consciência da humanidade, nenhum sonho era tão original quando ao do débil e idiota que sonhava em suicidar-se. Observou a essência do caso e tomou nota, para visitar o suicida de alma e corpo. Ao chegar a seu lo-cal de moradia, percebeu então que se tratava de alguém poderosíssimo; por incrível que pareça era o Neolibera-lismo em sua estadia capitalista. O Avaliador de Sonhos identificou-se e quis saber se poderia entrar.

— Oh, sim... Aqui, todos os sonhos são bem-vindos — respondeu.

Sob o império que ele construíra, o Avaliador de So-nhos indagou o porquê de tanto interesse por parte dele de suicidar-se. O deprimido e complexo sistema de economia

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perfeito para o capitalismo simplesmente disse que igual-dade no mundo sempre fora uma metáfora dos sonhos po-pulares. O mundo pretende constituir um sistema estável e seguro para enriquecer os sonhos dos oprimidos, basean-do-se na grande corrida maluca para posses materiais.

— Eu quero, eu posso, eu faço. Nada e ninguém fazem a humanidade mais feliz do que a verdade — concluiu.

De volta à missão que recebera de avaliar sonhos, o Avaliador de Sonhos percebera então que o sonho da humanidade jamais será realizado. Porque, para isso acontecer, necessitaria de uns quatro ou cinco planetas iguais a Terra, para atender a demanda do consumismo desenfreado. Somente a população norte-americana, que é constituída por 5 % da população mundial, consome 30% do que a Terra produz. Como satisfazer esse desejo em série, já que todos estão unidos num só objetivo: o de consumir sem limites?

Imediatamente ele passou em um deposito de su-catas e jogou os seus para serem sucateados. Mal chegou naquele depósito e para sua surpresa ainda maior, viu que aquele depósito tinha mais sonhos sucateados do que para serem realizados.

— Por quê? — perguntou ele. — Ora, porque todos eles possuíam o mesmo so-

nho, o de possuir tudo e ser feliz. Mas quando chegaram ao final da vida e perceberam que nada faz o indivíduo mais feliz que o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, trouxeram os sonhos para serem sucateados, porque concluíram não passarem de caçadores de ilusão — respondeu o Tempo.

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Como intelectual de seu tempo, o escritor Justo da Hora denominou a crônica O Sucateamento dos Sonhos, a escrita mais pertinente de sua autoria. O que levava a ir ao encontro daquilo que o afligia. Romper com o dogma do capitalismo neoliberal de consumir as almas no altar do egocentrismo. Não se acanhava em falar e expor as razões das ações, como consequências dessa busca avas-saladora. Depois de uma análise profunda e detalhada em seus escritos, sentiu-se satisfeito e a correspondência eletrônica foi o meio de transporte que usara para levar sua obra até a redação do jornal. Mesmo sendo fiel ao seu conservadorismo, sabia que necessitava das mídias digi-tais para corresponder-se com o mundo.

Quanto a sua crônica, se fosse lida, perceber-se-ia o testemunho de um escritor que morava na periferia da vida, e ainda assim era feliz no pouco que possuía. Tanto que, ao terminar, fora ao encontro de sua esposa Humil-dade, que fielmente preparava-lhe o cardápio da noite, e a beijou. Ela aceitou o beijo como forma de afeto, pro-pondo-lhe que continuasse o carinho, através do risinho satisfeito que recebera a proposta de caricia. Porém, per-cebera que Inocência, sentada em um canto da cozinha apertada, olhava-os com curiosidade para “ver” até onde poderia chegar àquela afetividade explícita. Finalizou e voltou à atenção para a criança portadora de deficiência visual, lendo as Sagradas Escrituras em Braille.

— Não precisa se preocupar comigo, papai. O se-nhor sabe que eu não enxergo.

— Do jeito que me olha, às vezes chego a duvidar disso.— A sua forte respiração indica suas ações.

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Carinhosamente, Justo da Hora sentou-se para ca-valgar sobre as delicias literárias que Inocência cavalgava. No entanto, ver a sabedoria da criança que os médicos, erradamente, julgaram o momento ideal de seu nasci-mento e passagem de tempo dentro de ventre materno, um crime que custou sua visão, devido às complicações que ocorreram na hora do parto. Eis então uma Inocên-cia cega, que ao mundo chegara para dividir os corações dos pais entre a felicidade e a amarga tristeza. Por ora felizes no nascimento da filha que tanto aguardavam para coroar a honra da família. No entanto, os mesmos co-rações se contorciam de dores e aflição, por vê-la cega por negligência médica. Justo da Hora almejou de alma e corpo arrastar aquela dor aos tribunais processando a equipe médica que negligenciou o atendimento a Humil-dade. O convênio que possuíam era o Sistema Único de Saúde; portanto, não podiam dispor de privilégios, e essa falta de amor quase sacrificou Humildade e Inocência no holocausto da miséria humana.

Intimamente, Justo da Hora propôs amá-la como se fosse a única. Não negava a atenção e assim ouviu a história que a filha contara de Abraão, o Pai da Fé.

— Papai, sabia que as Sagradas Escrituras falam de um homem que deixou tudo e foi seguir o Grande Eu Sou? Através dessa obediência, o Todo Poderoso fez uma aliança com ele e uma promessa de fazer dele uma grande nação, a nação judaica?

— E através da desobediência do Pai da Fé, veio Is-mael, formando as nações árabes, tornando-se assim os maiores inimigos do povo judeu... Sim, filhinha! Eu já li

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esta história. Boa parte das crônicas que escrevo é baseada nas Sagradas Escrituras.

— Que legal! Qual é a melhor crônica que o senhor já escreveu?

— Eu acho que O Sucateamento dos Sonhos, a última que acabei de escrever e enviei agora há pouco para o jornal.

— Do que trata?— Da injusta distribuição de renda que existe em

nosso País e no mundo. Da inversão dos sonhos, dos va-lores e dos princípios.

E lembra-me ter ouvido muito mais sobre o diálogo entre o pai e a filha, entregue boa parte de sua proposta, constituída com o objetivo que aspirava àquilo que Ino-cência lera. E não é que o ser humano é aquilo que ele alimenta, aquilo que vê, aquilo que lê, aquilo que vive? Expuseram-se as razões de conhecimento de mundo, o mundo deles era amplo e por mais que não tivessem tantas condições sociais para conhecer novas culturas, aspiravam, entre tantos fatos, saber sobre o fascínio das menções usadas nas Sagradas Escrituras. E Inocência ca-çava as verdades, para fazer de sua vida limitada pela defi-ciência física um império de aquisições intelectuais. Fora jantar, passeando nesse universo sagrado e depois voltou a persuadir-se nele, enquanto Justo da Hora e Humilda-de vivenciavam os fatos do dia, no frescor do telejornal. Nenhuma notícia chamou a atenção de Justo da Hora, excerto, sobre o desejo imenso do Novo Mundo e a Ba-bilônia, para formar uma aliança de cooperação entre o Estado e a religião.

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— Veja, só. Isso daí vem de encontro com aquilo que diz Apocalipse 13, entre o acordo entre a primeira e a segunda besta.

— O quê! — assustou Humildade. — Você está dizendo que Apocalipse 13 diz que o Novo Mundo e a Babilônia irão formar uma aliança?

— Sim! A primeira besta de Apocalipse 13 é a Babi-lônia e a segunda é o Novo Mundo. Juntas, vão fazer com que todos adorem a Babilônia.

— E por que alguns dizem que a primeira e a segun-da besta do Apocalipse são a televisão e a internet?

— As pessoas dão interpretação a tudo. — E o que eles irão fazer? Implantar o chip debaixo

da pele humana?— Não, mamãe! — intrometeu Inocência. — Isso é

apenas um disfarce para enganar a quem não conhece as Sagradas Escrituras.

Inocência avançou em ordem. O flanco de seu co-nhecimento envolveu Humildade gradualmente em um grande conhecimento, rompendo com aquela alienação que a prendia em escravidão intelectual. Ligeiramente ia afastando-a da miséria que se apossava de sua alma e as lanças de sua leitura salvavam Humildade de receber o cálice de Babilônia. Enquanto ambas enterneciam na-quele ímpeto que o noticiário colocou em pauta, Justo da Hora foi ao quarto a fim de sustentar o continuo trabalho que o inculcou a escrever um livro, intitulado por As Sete Maravilhas da Liberdade, à espera da edição para realizar o tão sonhado lançamento. E seus sonhos não chegavam na hora marcada. Julgueis fraco no sonho? Ao embarcar

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na emoção da vida, por onde passaram os grandes heróis, fortaleceu-lhe a fraqueza, por não participar da tirania dos fortes voltados para o mundo somente para subtrair a justiça. Ligeiramente se afastava do grande centro das convenções dos ricos e na periferia da vida, restava-lhe sonhar como sonham as crianças. E naquele trabalho contínuo de almejar ver as páginas de sua ideologia aden-trar os pensamentos que ainda não se fortaleceram para grandes expectativas e conhecimentos, aprofundou-se no sono. Entre o sonho e o sono, nem sequer viu Humilda-de chegar para juntar-se a ele naquela hora de descanso. Quem dormiu sentida fora Inocência, por não receber o beijo amoroso do pai.

E quando o dia raiou, não recuou de seu último desejo, ficando clara sua insatisfação. De coração sen-sível e fértil para os sentimentos de felicidade, Justo da Hora deu-lhe uma surra de beijos — deixando-a satis-feita e feliz. Humildade juntou-se ao coro e ouviu com atenção o som que ecoou daquele estado feliz. Era o louvor dos pobres que chegava para dizer que a felicida-de é um estado de espírito e não um acúmulo de tesou-ros. A família da Hora reunia o suficiente para fertilizar a aurora de seu caráter. E depois que o tempo executou as medidas prévias de um despertar matutino, entre pre-ces, desjejum e arrumação, Justo da Hora e Inocência despediram-se de Humildade e saíram. Montados na-quela bicicleta barra forte, tudo ganhava percepção na visão aguçada de Justo. Do tempo tirava tempo para perceber o estado de espírito da natureza? Do swing das águas turvas do rio que manejavam no forte impacto do

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barco dos pescadores; no doce cântico do Bem-te-vi a enaltecer a natureza; da sinfonia majestosa dos pardais. E ao ganhar o calçadão que dividia o centro da cidade e a periferia, empacou no velho pensamento daquele conto que escrevera para um concurso literário.

“Ah, se tivesse vencido!”, pensou ele. “Certamente não teria que sair mais cedo de casa, para levar Inocência na escola e consequentemente ir ao trabalho. Teria con-seguido juntar dinheiro e comprado um veículo, não por vaidade, mas por necessidade’, completou o pensamento.

Ao consultar o tempo, não há como esquecer aquele conto que elucidou somente as emoções de Niceia, a as-sistente social que trabalhava com Justo.

PERFUME DE GARDÊNIAA lua baixou inspiração sobre o peito despojado.

Mas a introdução da sabedoria veio depois de um mergu-lho profundo na liberdade.

Era sábado à noite, a lua cheia era a esmeralda que abrilhantava a exuberância da brisa de outono, a movi-mentar as folhas secas sobre o calçadão iluminado. Não era Copacabana, também não era Leblon. E já não era a inquietude da adolescência que trafegava em seu pensa-mento. Talvez certo olhar mais sério que pousavam nas coisas e a elas compreendiam.

Certos gostos por poemas, certas preferências por perfumes, certa maneira de amar a Eva. Depois que saiu do colapso da irreverência jovial, acharam as palavras e juntaram para tecer literatura, normalmente no ilumi-nado silêncio da noite. A mão passando sobre a caneta,

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desatando no caderno, o novo homem, o pensador. A viagem de bicicleta se tornava cada vez mais leve e a dama na garupa, trazia o cartaz que o amor não foi comprado num automóvel importado, nem no imóvel luxuoso e nem sequer no móvel de marfim com louça de porcelana. Foi a conquista do homem literário, o sábio senhor das palavras, que em ares de paciência acordou o coração da bela e por essa estrada levou-a aos degraus do altar.

Informamos aos novos papéis que o branco sairá de sua entranha, para ganhar os acordes de um pensamento. Aquele que a lua inspirou no sábado à noite, enquanto Adão e Eva passeavam de bicicleta.

Já pode nascer o sol. Entre a noite e o sonho, o homem cresceu a mão e não escapou da fadiga da criação. Como feliz é a manhã de luz de Eva que vai receber de braços aber-tos o livre arbítrio dos sentimentos do homem de coração escancarado para que a flor saiba seus pensamentos!

Vai ver a essência da literatura tem o perfume de Gardênia, para tirar da mulher as lágrimas da quimera! Entre a guerra e a paz, entre a cruz e a espada, entre a pobreza e a riqueza, Adão preferiu sábado à noite, onde a vida era bela e o amor acendeu as linhas imaginárias de cada momento, donde o certo era a brisa do outono em meio ao silêncio movimentado o coração da liberdade.

O literário já pode fazer tendas de amores e esperar o último sol brilhar sobre sua alma.

Principalmente para amparar Eva, quando o seu co-ração fizer planos além dos sentimentais. Se a inspiração se calar, que o amor faça justiça a quem nunca rendeu a outros caprichos, a não ser esse claro gosto de banhar sua

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roupa num tanque de mármore, lavar a louça numa pia e correr ao fogão a fim de cozer arroz, feijão, fritar batatas e preparar maionese com salada, aos domingos. Dessa vida serviçal, chamava de ceia do paraíso, cheia de sugestões alimentícias, para matar a fome de quem nunca fora a um palácio, mas que na dificuldade e na pobreza reservou o coração até que a morte os separasse.

Não eram Romeu e Julieta. Eram, senão, Adão e Eva. E que se encontrem novamente no paraíso, onde o amor será eterno e infinitas noites de outono irão balan-çar eternamente os corações que se amam.

Mas será que o mundo é de alma e gelado para o amor? Justo da Hora nem sequer passou perto da vitória, deixando de forma hilária somente o débil pensamento de Niceia. Somente ela chorou e ninguém mais. Nem mesmo Humildade, a herdeira daquele eflúvio poético, fora tão sensível assim. Vai ver sua alma estava presa aos mesmos víeis que prendiam os jurados do concurso que não deram a mínima para a literatura de Justo da Hora. Entendem porque ele ainda corria atrás dos sonhos? Lite-ralmente não chegaram na hora marcada. Na distribuição do oficio, tratava do sorteio dos homens e ficou a critério de quem era escolhido e o escolhido avaliava sua própria capacidade segundo a derrota dos outros. Aos derrotados a sensação de impotência, principalmente de quem fazia do sonho sua maior força.

Gigante pela própria natureza, Justo da Hora era o soluço de bilhões de almas que na terra soava aos ouvi-dos e comovia os corações dos limpos de corações. Es-forçando-se pelo auxilio da Divindade, para aliviar, ao