o sujeito da educação menor

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O SUJEITO DO DISCURSO MENOR DA EDUCAÇÃO Sammy W. Lopes-PPGE-UFES GT: Currículo/ n. 12 Agência financiadora:Sem Financiamento O ethos político-filosófico Esse trabalho dedica-se a problematizar nossa relação com o presente local no âmbito da produção cotidiana dos diversos currículos praticados que perpassam a escolarização pública a partir do ethos político-filosófico que se ocupa com a elaboração de uma crítica permanente de nós mesmos, do nosso modo de ser sócio-cultural e dos acontecimentos que nos constituem e fazem reconhecermos-nos como sujeitos individuais-coletivos do discurso da educação. Entendo que tal crítica torna-se útil na atualidade para que possamos analisar os limites impostos aos conjuntos práticos locais diante da complexidade singular que marca a época em que vivemos e para cartografar como essas mesmas práticas podem estar nos apontando formas de ultrapassagem possíveis. Nesse sentido, a atitude crítica que orienta toda a escritura desse trabalho é entendida como função de desassujeitamento exercida no jogo político da verdade que envolve os diversos currículos cotidianamente praticados na educação escolar pública; movimento pelo qual o sujeito do discurso da educação “se dá o direito de interrogar a verdade sobre seus efeitos de poder e o poder sobre seus discursos de verdade” (Foucault, 2006, pg. 4). Essa atitude crítica se instaura então na atualidade como arte da desobediência ou de como não ser governado dessa maneira, a esse preço, por esses princípios, em função desses objetivos e através dessas tecnologias. De forma mais esquemática, essa crítica prática de nós mesmos se conecta ao contexto específico dos currículos realizados via a homogeneidade temática e generalidade empírica que estabelece ao eleger os conjuntos práticos postos em funcionamento no cotidiano escolar como temática central de estudo; entendendo conjuntos práticos, numa primeira

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o Sujeito Da Educação Menor

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O SUJEITO DO DISCURSO MENOR DA EDUCAO Sammy W. Lopes-PPGE-UFES GT: Currculo/ n. 12 Agncia financiadora:Sem Financiamento O ethos poltico-filosfico Essetrabalhodedica-seaproblematizarnossarelaocomopresentelocalnombitoda produocotidianadosdiversoscurrculospraticadosqueperpassamaescolarizao pblicaapartir doethos poltico-filosfico quese ocupacomaelaboraodeuma crtica permanente de ns mesmos, do nosso modo de ser scio-cultural e dos acontecimentos que nos constituem e fazem reconhecermos-nos como sujeitos individuais-coletivos do discurso da educao. Entendoquetalcrticatorna-setilnaatualidadeparaquepossamosanalisaroslimites impostos aos conjuntos prticos locais diante da complexidadesingular quemarca a poca em que vivemos e para cartografar como essas mesmas prticas podem estar nos apontando formas de ultrapassagem possveis. Nesse sentido, a atitude crtica que orienta toda a escritura desse trabalho entendida como funode desassujeitamento exercida nojogopoltico daverdadequeenvolveos diversos currculoscotidianamentepraticadosnaeducaoescolarpblica;movimentopeloqualo sujeito do discurso da educao se d o direito de interrogar a verdade sobre seus efeitos de poder e o poder sobre seus discursos de verdade (Foucault, 2006, pg. 4). Essa atitude crticaseinstauraentonaatualidadecomoartedadesobedinciaoudecomonoser governadodessamaneira,aessepreo, poressesprincpios,emfunodessesobjetivose atravs dessas tecnologias. Deformamaisesquemtica,essacrticaprticadensmesmosseconectaaocontexto especfico dos currculos realizados via a homogeneidade temtica e generalidade emprica queestabeleceaoelegerosconjuntosprticospostosemfuncionamentonocotidiano escolarcomotemticacentraldeestudo;entendendoconjuntosprticos,numaprimeira 2 aproximao, como aquilo que fazemos, dizemos e pensamos compreendidos em suas duas verses:aversomoraltecnolgica,caracterizadapelasformasinstitudasquetentam codificaresobrecodificarossistemasprticoslocaisapartirdemodossempremuito particularesearbitrriosdeproblematizaodovivido,constituindo-senoplanoounvel molar dos conjuntos prticos; e sua verso estratgica, ou seja, as liberdades singulares que se consegue imprimir nesses sistemas na criao de novos modos de existncia ou estilos de vida a partir e no interior dos mltiplos currculos praticados que, at certo ponto, reagem e modificamasregrasdojogo,fazendoemergiroplanoounvelmoleculardasprticas estendidas.importante marcar queessesdoisnveis ouplanosque compeos conjuntos prticas no se estabelecem como oposies binrias distintivas, no dependendo, portanto, do princpio lgico da contradio nem de uma sntese que, a cada vez, invariavelmente, os superem.Assim,aslutaspolticas,sociaiseculturaistravadasnocotidianodaescola pblica em torno do discurso da educao so ao mesmo tempo molares e moleculares.

Osconjuntosprticosaseremestudadosnessetrabalho,estendem-seentoemduasreas de pesquisa e anlise,necessariamentesimultneas,sistematizando eimplicandodeforma geral a atitude poltico-filosfica desse esforo investigativo ao abordar primordialmente as formasdeproblematizaoqueorganizamnossasrelaescomascoisas,comooutroe comnsmesmos;eosmodosdeescritadesioudeautoriadavidacomoobradearte- incluindo-seaquiasmaneiraspelasquaissomoscapazesde,ocasionalmente,inverter contransmesmosopoderquebuscaconduzirasaesdooutro,criandoregras facultativasteisparaavaliare(re)conduzirnossasprpriasaesemfunodosmodos de existncia que essas implicam. Dessemodo,omovimentopesquisadorassumeumaatitudetico-estticaepolticabem definidainterrogandocriticamentecomonosconstitumosnombitolocaleatualda educaoescolarpblicacomosujeitosdosaber,dopoderedacriaoartsticadenovos estilos de vida atravessando-os aos diversos currculos cotidianamente produzidos. Deformamaisefetiva,aexploraocrticadosconjuntosprticosquenosconstituem como sujeitos do discurso da educao se estabelece pela abordagem dos textos discursivos 3 diversos grafados no espao-tempo pblico do cotidiano, tentando captar para a anlise: as instrues particularesquebuscamconformarovisveleoenuncivel comoformasduras desaber;asdinmicasdosjogosquedelineiamasrelaesdepodercomorelaesde forassobreforaseasoperaesartistasqueconseguemimprimirumpontode singularidadecomoefeitodescontinuadorprovocadopelaintroduodadiferena, esboandoairrupoeaforapolticadenovoscamposdepossveisentosurgidosno mbito das mltiplas prticas curriculares desdobradas.. Tal empreendimento implicanecessariamente uma aposta polticabem delineada que vise, simultaneamente: o enfrentamento do polmico paradoxo estabelecido entre o saber (como capacidadetcnicadeagirsobreascoisas);easrelaesdepoder(comoafunode autonomiaqueindivduosprocuramcriarparatentaremconduzirasaesdeoutros indivduos);buscandocomisso,emumprimeiroplano,meiosquetornempossvel desvincular a intensificao das relaes de poder do crescimento das capacidades tcnicas afavordeumoutroprojeto deliberdade;e,emoutro planosimultneo, a potencializao dosmodossingularesdevidaqueemergemnosprocessosdeexperimentao-problematizaocomooperaesticas,estticasepolticasdeautoriadesi, cotidianamentecolocadosprovaprticadasrealidadesvividasnoespao-tempopblico dosdiversoscurrculosescolaresrealizados,tentandoperceberemquepontoscertas mudanas tornam-se desejveis e por que processos podem tornar-se (ou no) possveis. Emltimainstncia, o queinteressaanliseelaborada combaseemtalpostura poltico-filosfica-quetomacorpo(aindaquesemrgos)apartirdainterrogaocrticado presente e densmesmos comosujeitosdodiscursoda educaopormeiodaabordagem dos conjuntos prticos colocados localmente em funcionamento como prticas curriculares; oestudodomovimentodasexperimentaes-problematizaestraadasedo acontecimento da autorao de novos campos de possveis surgidos no plano de imanncia dessesprocessos;isto,asoperaesticas,estticasepolticassingularesquesomos capazesdeprocederdiantedasnecessidadesimpostaspelointolervel,peloimprevisvel e/oupelavontadeinescapveldecriaodeumsique,ao(re)inventar-se,rabisca diferencialmente o prprio cho da escola. 4 Dessa forma, elege-seas diversas prticas curriculares locais colocadasemfuncionamento pelossujeitoscotidianosnoespao-tempopblicodaeducaoescolar,comofoco principal de interesse desse trabalho, tentando relacion-las aos campos de criao de novos possveispotencialmenteproduzidosnairrupodostraosfortesrascunhadosporsuas diferenas. Educao, escola pblica e o intolervel Instituindo-setradicionalmentenoplanoqueconcernesformaseseudesenvolvimento, aossujeitosesuaformao,comosaberesdisciplinareseinstituiodeseqestroe confinamento;aeducaoaescolapblicasofremnaatualidadeumdifcilprocessode transio,inevitavelmenteassociadostransformaesgeraisemevoluonoscampos scio-poltico e econmico que nos impuseram uma nova ordem social. Noentanto, sabe-sequeasociedadedo controlequedispersiva,gradualesucessivamente vai expandindo seus reciclados dispositivos de dominao, encontra no conjunto educao-escolapblica-prticascurriculares,umcampocujatentativade(re)significaode interesses,necessidades,prticaseobjetivosconformemoldagensdinmicasdefronta-se com srias dificuldades para se instaurar eficientemente. Percebe-seque,nocontextoregional-localqueconcerneaoconjuntoeducao-escola pblica-currculos praticados, sempre fortemente marcado pelo trao da complexidade e da diferena; no basta que um dispositivo de poder codifiquenumericamente os modelos em segmentosdiversos para ento faz-lospassarporumamquinaendividadadeEstadoque por meio do aluguel demquinas abstratas de conhecimento regularia cientificamente suas relaes;sobrecodificando-osedando-lhesformafinalnaspropostascurricularesaserem efetuadas pelas estratgias e instituies que compe seu mega-aparelho de governo. interessanteprocurarpercebercomoossujeitospraticantesdocotidianoreagematudo isso, diante das novidades involuntrias e sobrecodificadas que se tenta impor-lhes; quando 5 percebem em meio s condies gerais de trabalho sempre muito precrias de que dispem; queasnovaspropostas,aoinvsdecontraporem-seaosdesconfortosperturbadoresque enfrentam diariamente, os reforam; tal o grau de abstrao que engendram diante dessas realidadestosingularmentevividas.Daosentimentoderetraoerecusaquetomam conta hoje da escola. Quando analisamos a partir dessas retraes e recusas o trao mais geral dosimpactos que astransformaesecrisesquesenosimpuseramnaatualidadeprovocaramnocontexto especfico daeducao escolarpblica; onde osnovosinteresses particulares, suasformas homogeneizantesdepensamentoemecanismosabusivosdecontroleinstituram-se(e frenteaosquais,outrosinteressesemodosdepensamentostentamotempointeiro contrapor-se, no apenas como movimento de resistncia, mas tambm, e necessariamente, como movimento de criao de novos possveis); percebe-se que as atuais propostas do tipo estatalparaeducaoescolarpblicatmprocuradopromover,implcitae/ou explicitamente, formas inditas e preocupantes de aproximao e interao entre empresa e escola, com traos suficientemente claros para elucidar a estratgia de controle que se busca fazer funcionar. SegundoDeleuze,aformamaiseficienteou omeiomaisgarantidoparaintegrar oufazer interagirescolaeempresa-oucomoeleprefere,entregaraescolaempresa;seria impondoprimeiramodelosderelaesefuncionamentocaractersticosaosmodosde existir da segunda. Dessa forma... O princpio modulador do salrio por mrito [ou por metas alcanadas] tenta aprpriaeducao...comefeito,assimcomoaempresasubstituiafbrica,a formaopermanentetendeasubstituiraescola,eocontrolecontnuo substitui o exame... tentam nos fazer acreditar numa reforma da escola, quando setrata de uma liquidao... Trata-se apenasde gerirsuaagonia e ocuparas pessoas, at a instalao das novas foras. (Deleuze 1992, pg. 216, 221 e 220). Oqueinquietantenissotudoqueaescoladeveentopassaraorganizar-se integralmentenosafavordosinteressesdemercado,mas,paraalmdisso,incorporar tambmnoseumododefuncionamentoosvaloresprpriosdaquelesinteresses. 6 Estabelece-se assim um processo de fcil indiferenciao entre empresa e escola, seja via a assunodemtodosdecontrolecontnuocomoaavaliaoininterruptaemtodosos nveis,sejaviaotreinamentoempresarialpermanentecomoformaocontinuada modelizantedeprofessores,sejaviaoregimedegerenciamentoporobjetivoscomo abandonoou(re)direcionamentoexclusivamentemercadolgicodaspesquisasnas universidades pblicas, entre outras. Oqueestsendoimplantado,scegas,sonovostiposdesanes,de educao, de tratamento... Pode-se prever que a educao ser cada vez menos um meiofechado, distintodo meioprofissional-um outromeiofechado;mas queosdois desapareceroemfavordeumaterrvelformaopermanente,de umcontrolecontnuoseexercendosobreoaluno-operrioouoexecutivo-universitrio. (Deleuze, 1992, pg. 216). Esse tipodeabordagemanalticafaz-seextremamentetilno presente para que possamos compreendermelhorcomoasociedadedecontroleutilizaamquinaestatalparainfiltrar seusinteressesmercadolgicos(sempremuitoparticulares)noespao-tempopblicoda educaolocal;comoatuaparaminimizarocoeficientepblicodoconjuntoescola-educaoeliminandoourestringindoseletivamenteodireitopolticodeparticipaonas composiesdeforaquesoorganizadasparageri-la,daquelesqueapraticamno cotidiano; ou seja, os usurios e trabalhadores em educao. O conjunto educao-escola pblica-prticas curriculares e os usurios e trabalhadores que opraticam,vivenciamtaisquestes,comtudoquepossuemdeabusivo,angustiantee desafiador;demodomuitoconcretoeintensonocotidianoescolar.Demodoque,sea escolaestemcriseprecisamenteemcombatesderetaguarda,dedefesadeposio,j quetantoodesgastadosistemadisciplinarestabelecidosobremoldagensdescontnuas, quantoodecontroleininterruptopormodulaesdinmicasso,pelomenosemparte, simultaneamente recusados. muito importantedestacar que ofato deno sabermosclaramentequaisso asposies queestamosdefatodefendendoeaprodutividadequesomosefetivamentecapazesde liberarnoenfrentamentocotidianodosdesafiosimpostos(perceberassituaes,colocar 7 problemas,fazeredesfazeralianas);noanulaafora dessetipodemovimento defuga, poisjustamenteessenosaberentrelaadoafirmaodeumsentimentoeatitude geralderecusa(isso,comcerteza,noqueremos);queconfigurahojeoespao-tempo pblico da educao como potencialmente revolucionrio. Descartados,desabilitadosouminimizadosnoplanomolardasaespormecanismos diversosdeculpabilizao,infantilizaoerecuperaodaordemsocial;ossujeitosdo discurso da educao como discurso minoritrio so cotidianamente obrigados a buscar em simesmos,nosagenciamentosquesocapazesdecolocarparafuncionarnosmltiplos currculos queinventam cotidianamente; osmodos de refernciae criao que podem lhes darumpoucodepossveldiantedosufocoemmeioaosmodelosfixosoumodularesde pensamento-ao que espreitam sem cessar at suas sombras, j que... ... quando um contorno se pe a tremer, quando um segmento vacila, chama-se aterrvelLunetaparacortar,oLaser,,querepeemordemasformas,eos sujeitos em seu lugar. (Fleutiaux, apud Deleuze, 1998, pg. 151). Masnempor issoos sujeitospraticantesdoespao-tempopblicodaeducaodeixam de produzir acontecimentos que fogem, que escapam a todo o momento ao olhar totalizante da terrvelLunetaeseuLasercortante.Oquetornaissopossvel?Comoosusuriose trabalhadores em educao produzem essa existncia artista, que prticas ticas, estticas e polticasaperpassa?Comocertosprocessosdesubjetivaoemergemprocessos minoritrios,irredutveisaosmodeloseaoscdigosmorais-tcnicosquesetentaimpor? Emquecondiesespecficasessassubjetividadesmenoressoproduzidas?Oque podemosesperardessesgruposapartirdascapacidadesderecusaecriaoqueso efetivamente capazes de gerar em relao s prescries curriculares que tentam conformar suas prticas educativas em linhas duras de pensamento-ao? Hquemarrisquedizerquetalcapacidadedeanliseeelaboraodepossveisde resistnciaeintervenomuitorara,bastantereduzidaedebaixssimaouduvidosa potencia poltica no contexto geral da educao pblica na atualidade. 8 Mas,noentanto,sabe-sequeasresistnciaseinvenesqueossujeitosdodiscursoda educaocomodiscursosminoritrioproduzem,partemsempredocampodecriaodos seus prprios modos de (re) existncia (quando um povo se cria por seus prprios meios); noqualloucuraemorte,vidaerazoestoemjogoquandoenfrentamaterrvelLuneta. Dessaforma,spossveltornaraexistnciavivvel,praticvelepensvelsea transformarememummododeartenoqualpossamrecriarasiprpriosdiantedo intolervel; a partir daquele no saber potencial que os faz interagir com um Fora de si quemaislongnquoquequalquermundoexterior,eporissomesmomaisprximoque qualquermundointerior;cavalgandolinhasquepassamalmdosaber(comoopoder poderia se exercer sobre elas?), quando so levados a pensar com suficiente vertigem e a se fazerem existir com fora incomum. Opensamentonovemdedentro,mastampoucoesperadomundoexteriora ocasioparaacontecer.Elevemdessefora,eaeleretorna;opensamento consiste em enfrent-lo. A linha de fora nosso duplo, com toda alteridade... S possvel pensar sobre esta linha de feiticeira, e diga-se, no se forosamente perdedor,noseestobrigatoriamentecondenadoloucuraoumorte. (Deleuze, 1992, pg. 129 e 137). Assim,todaacomplexidadedessemovimentodediferenciaorascunhadopelossujeitos praticantesdocotidianoescolaremsuasprticascurricularesdiversas,semanifestade formasimplescomosentimentodeindignao,retraoerecusatraduzidoemuma pragmticaquenotemnadadeingnua ouignorante;masforte o suficientepararomper asrelaeseinteraesquesetentafazerefetuarnaatualidadeentreescolaeempresa; contrapondoesuperpondoobjetivaeseletivamenteasexperinciasconcretasvividasno cotidianoaoqueproposto comoabstrao terica(geralmentetravestida comoreformas curricularesimprescindveis,formuladasforado contextosingulardaquelasexperincias); enquantomodosmaiselaboradosdesabotageme(re)autoraodesicomousuriose trabalhadoresemeducaovosendotecidosemumcampoestratgicoatravessadono entre-espao molar/molecular onde se desdobram novas experimentaes que, no conjunto, vo recriando aos poucos, e at certos limites, o prprio modo de ser da escola como escola praticada. 9 O visvel, o enuncivel e as problematizaes Gilles Deleuze (1998, pg. 151) afirma com propriedade que no plano molar da organizao, ondeatuamasmquinasbinriasdecodificaoeasmquinasabstratasde sobrecodificao,aeducaodosujeitoeaharmonizaodaformanoparamde obcecar nossa cultura. Mashoje,comoessaobsessopodeserjustificadapelosujeitododiscursodaeducao comodiscursominoritrio?Ouseja,seoconjuntoeducao-escolapblica-currculos praticadosseconfiguracomoplanoimanenteparaaemergncia,aindaqueparcial,de processossingularesdesubjetivaoquesoalimesmoconsumidos,redesenhando gradualmenteoprprioespao-tempomicropolticodaescolaemmeioscrisesquelhes so impostas; o que tais processos e seus sujeitos praticantes so capazes de fazer ver, falar eagirnaatualidadequefogeouescapaslinhasdurasdemontagemdassubjetividades capitalsticas?Quenovoscamposdepossveisessesprocessospodemefetivamente desencadear no mbito especfico da educao escolar pblica? desseconjuntogeraldeindagaesqueparteopresenteestudo,considerandoqueos processossingularesdesubjetivao,queatravessamocampomicropolticodasaes desdobradonafronteirasempremvelecarregadadetensesentreosplanosmolar-molecular; podemse posicionar distintamente de todo cdigo moral-tecnolgico institudo, interessando-nosanalisarostraosticos,estticosepolticosquesocapazesdeopora essescdigoslgicosabstratos,arbitrrioseabusivosimpregnadosnojogodosaberedo poder que envolve a produo dos diversos currculos escolares.praticados Dessa forma, essa posio diferencial de perceber e agir sobre o mundo pode constituir-se comoprocessodeexperimentaoquando, paraalmdemetodolgica ou epistemolgica, configurar-se como prtica tica, esttica e poltica. ... tica porque o que a define... o rigor com que escutamos as diferenas que sefazememnseafirmamoso[nosso]devir[-minoritrio]apartirdessas 10 diferenas.Asverdadesquesecriam...assimcomoasregrasqueseadotam paracri-lass tem valorenquantoconduzidaseexigidas [pelos] problemas.. que nos desassossegam. Esttica, porque no se trata de dominar um campo do saberjdado,massimdecriarumcampodepensamentoquesejaa encarnao das diferenas que nos inquietam, fazendo do pensamento uma obra de arte... [e] poltica, por que se trata de uma luta contra as foras em ns que obstruem as nascenas do devir. (Rolnik, 1995, pg. 246). Mas ento,nessa perspectiva,aquestoforte que surge : comopoderamos na atualidade local cartografar os processos que escapam oufogem s diversas moldagens e modulaes que tentam superpor-se aos conjuntos prticos que nos produzem como sujeitos do discurso da educao? Como captar e acompanhar seusmovimentos de ruptura, analisar as relaes de poder e diagramas de interao traados entre asforas atuantes em dado espao-tempo e as potncias efetivas que so capazes de colocar para funcionar no contexto especfico das diversas prticas curriculares desdobradas? Sabe-sequeosprocessosdesubjetivao,quandoirrompemcomomodossingularesde existncia,se opem radicalmentesabstraesmorais-tecnolgicas e tericasinstitudas; contrapondo-osjustamentenamaneirapeculiarqueinventamparaexercerfunes descontinuadoras e provocar efeitos concretos de liberao em relao s sries analgicas ou numricas que tentam impor e fazer prevalecer suas linhas duras de ao. quenomomentoemquealgumdumpassoforadoquejfoipensado, quandoseaventuraparaforadoreconhecveledotranqilizador,quando precisa inventar novos conceitos para terras desconhecidas, caem os mtodos e as morais... (Deleuze, 1992, pg. 128) Entretanto,interessaobservar,acompanhareanalisarmaisatentamenteaquelaslinhas possveisdeseremrascunhadasporoutrosmodosdepensamento-aoirrompidoscomo prticassingularesdeexistnciacujoselementosconstituintes,relaeseinteraes traadasconsigamseestabelecerdeformanodualistae,aomesmotempo,no dicotmica,jqueossegmentoscomosquaisseprocuraromperdependemdemquinas binrias(declassessociais,desexos,deidades,deraas,desetoresdaaoestatal,de subjetivaes), tanto... 11 ...maiscomplexasquantoserecortam,ousechocamumascomasoutras, afrontam-see,ecortamansmesmosemtodosossentidos.Elasnoso sumariamente dualistas, so antes dicotmicas: podem operar diacronicamente (se voc no nem a nem b, ento c: o dualismo transportou-se e j no concerneaelementossimultneosaseremescolhidos,esimaescolhas sucessivas)...acadavezamquinadeelementosbinriosproduzirescolhas binriasentre elementos que no entravamno primeirocorte. (Deleuze, 1998, pg.149 e 150). Dessemodo,interessaanalisaraspotencialidadesliberadaspelaslinhasmoleculares, quebradas ou errticas que sonecessariamente traadas como sries nmades singulares - que,acadavez,atravessamodesertotomandoumarotainesperada;desorganizandoem seumovimentodefugaossegmentoscodificadosesobrecodificadospelocdigolgico dicotmico-dualista, implodindo-os... ... porque... fazem correr, entre os segmentos, fluxos de desterritorializao que j no pertencem nem a um nem a outro, mas constituem o devir assimtrico de ambos...Nosetrata,claro,deumasntesedosdois,deumasntese[do elemento] 1 e [do elemento] 2, esimde um terceiroquevem semprede outra parte,eatrapalhaabinaridadedeambos,noseinscrevendonememsua oposio, nem em sua complementaridade. No se trata de acrescentar sobre a linha um novo segmento aos segmentos precedentes... mas de traar outra linha nomeiodalinhasegmentaria,nomeiodossegmentos,equeascarrega conformevelocidadeselentidesvariveisemummovimentodefugaoude fluxo.(Deleuze, 1998, pg. 152). Essaslinhaserrticasesuassriestortasdissipam-seentonointeriordosconjuntos prticos(oquefazemos,dizemosepensamos),queatravessamoespao-tempo micropolticodosdiversoscurrculosestrategicamenteproduzidoscomosuportesprticos para que tais linhas possam circular, se manter, afetar (-se) e serem afetadas. Assim,sequisermosobservareacompanharessesmovimentosparasimultaneamente analisaraprodutividadedaspotnciasdescontinuadorasquepodemliberar,teremosde tangenci-los a partir dasprticas queutilizam para articular-secomodiscursopoltico de verdadenombitodojogodeforasestabelecidoemtornodaproduocotidianados diversos currculos praticados. 12 No contexto desse trabalho, as diversas prticas sobre os quais as linhas quebradas grafam sries singulares registrando seus acontecimentos discursivos (como modos de pensamento-ao)demaneirapeculiarnointeriordearquivospassveisdeposteriorextrao-sejam elesverbais,escritos,cenogrficosouplsticos;assumemaquiafunodediscursos,ou melhor, de acontecimentos discursivos... Oque...interessa,noproblema dodiscurso, o fato deque[dealgummodo] algumdissealgumacoisaemumdadomomento[elugar].Noosentido que...buscoevidenciar,masafunoquesepodeatribuirumavezqueessa coisafoiditanaquelemomento[,naquelelugaredaquelemodo].Istoo que...chamodeacontecimento...trata-sedeconsiderarodiscursocomouma srie de acontecimentos, de [perceber e acompanhar as interaes e]... relaes queessesacontecimentosmantmcomoutrosacontecimentos[formandoum intrincado diagrama de foras]. (Foucault, 2003, pg. 255 e 256). Dessaforma,essetipodeanlisedemaneiranenhumatratadoproblemadainterpretao dodiscursodosujeitofalante,noprocuraencontrarnadaportrsdosdiscursos,comoo poderesuafonteoriginria;quepudesseserdeduzidocomointencionalidade,abertaou dissimulada daquele sujeito buscando analisar apenas... ...asdiferentesmaneiraspelasquaisodiscursodesempenhaumpapel[uma funoe umefeito] no interior de um sistemaestratgico em que opoderest implicado,epara o qual o poder funciona.Portanto, o poder no nem fonte nem origem do discurso. O poder alguma coisa que opera atravs do discurso, jqueoprpriodiscursoumelementoemumdispositivoestratgicode relaes de pode. (Foucault, 2003, pg. 253). Demodomaisdireto,procura-seextrairosacontecimentosdiscursivosdosarquivos registrados no interior daquelas prticas curriculares menores; ou seja, os saberes ou modos depensamento-aoqueirrompemcomoformasdescontinuadorasdovisveledo enuncivel institudos na atualidade local; e traar um diagrama das interaes e relaes de foraqueseestendementreessesacontecimentosdiscursivosnoespao-tempo micropolticodoconjuntoeducao-escolapblica-prticascurricularesparatentar perceberostraossingularesdasuadinmicaprocessual.Eissopodeserfeitoapartirde um trabalho de cartografia das operaes de autorao ou experimentao-problematizao desiqueconstituemosmodosdiferenciaisdeexistnciaproduzidospelosusuriose 13 trabalhadores em educao ao (re) inventarem para si novos estilos de ser e estar no mundo em um processo de autoria da vida como obra de arte de... ...[trata-se]desabercomogovernarsuaprpriavidaparalhedaraforma maisbela possvel(aosolhos dos outros,desimesmoedasgeraesfuturas, paraas quaissepoderservirdeexemplo)...umaprticadesi quetemcomo objetivoconstituir-seasimesmocomoartesodabelezadaprpriavida. (Foucault, 2004, 244). Mas,primeiramente,essacartografia,paratraarodiagramadasinteraeserelaesde forapraticadoeairrupopotencialdaquelasoperaesartistas,devetrabalharsobreos arquivos registrados nos discursos procedendo sua extrao e anlise.... ...eoarquivotemduaspartes:udio-visual...precisopegarascoisaspara extrairdelasasvisibilidades. E a visibilidadede umapocaoregimede luz [ou modo/forma de pensamento] e as cintilaes, os reflexos, os clares que se produzem no contato da luz com as coisas. Do mesmo modo preciso rachar as palavrasouasfrasesparadelasextrairosenunciados.Eoenuncivelnuma poca o regime de linguagem [e modos instveis de atribuio de existncia], easvariaesinerentespelasquaisnocessadepassar,passandodeum sistema homogneoa outro(alnguaest sempreemdesequilbrio). (Deleuze, 1992, pg. 120 e 121). Oenuncivelsurgeentointensivamenteentreduas(oumais)coisascomoumafuno impessoal:h;ovisvelsurgeentreduas(oumais)proposiessobretaiscoisas,como efeitos de luz que as iluminam de certo modo em um dado espao-tempo, mas ao invs de... ...umacordooudeumahomologia(consonncia),humperptuocombate entreoquesev[ouoquesabemosapartirdecertomodoouformade pensamento] e o que se diz [ou funo que atribui existncia a alguma coisa], curtosatracamentos, umcorpo-a-corpo, porquenuncasedizoqueseve nuncasevoquesediz...Aintencionalidade[,asformasesua organizao] cede lugar a todo um teatro, uma srie de jogos entre o visvel e o enuncivel. Um racha o outro. (Deleuze, 1992, pg. 133 e134). Nessesentido,osjogosentreovisveleoenuncivel,osdiagramaserelaesdeforas traados bem comoos processossingularesdesubjetivao colocados parafuncionar,nos quaisessetrabalhofocaprimordialmenteseusinteressesnombitodaproduocotidiana 14 dasdiversasprticascurriculares;podemseranalisadosnocontextodessaperspectiva crtica a partir dasformas de problematizao do vivido produzidas, econcomitantemente, produtoras daquelas prticas artistas de si desdobradas como experimentaes singulares no chodaescola;procurandopensarosprocessosestabelecidosentreessasformas diferenciaisdeproblematizao-experimentaoeocontextomolarinstitudona composio micropoltica de novos campos de possveis. Masimportantedefinirquetaisformasdeproblematizaodevemserentendidascomo atitudecrticacapazdeelaborarumdomniodefatos,prticas,pensamentosemodosde perceber-agirsobreomundoqueconseguemdealgumaformacolocarproblemasnovos para o conjunto educao-escola pblica-prticas curriculares em movimento na atualidade; isto , interrogar a educao e a escola pblica e seus currculos praticados sobre o que tm adizerarespeito dosproblemas com osquaisseconfrontamhojeesobre asposiesque assumem e as razes que podem dar para isso. Trata-seentodepensarasinteraeserelaesestabelecidasentreasdiferentes problematizaes-experimentaesdesdobradaseoconjuntopensamento-aoinstitudo de no mbito dos diversos currculos cotidianamente produzidos; para tentar entender como certosproblemaspuderamserelaboradosecolocadosdemodosingularedescontinuador por seus usurios e trabalhadores, subvertendo os discursos de linha dura e o cdigo lgico do seu sistema de modelizao subjetiva. Masoquepodesignificarefetivamenteessacapacidadeparacolocarnovosproblemase experimentar novosmodos de existnciano contexto atual da educao escolar pblica? E onde se pretende chegar conhecendo as problematizaes singulares a partir das quais esses novosmodosdeexistncia,aoseremencenados,vo,simultaneamente,rascunhandouma outra escola? Antesdetudoprecisoassumir diantedessasinterrogaes queesse trabalho nobuscar naprpriadoutrinaeducacionalcomosaberdisciplinarinstitudo,osprincpios constituintesdessasexperimentaeseproblematizaesmutuamenteinfluentes;ou 15 soluesdecartercientficoquepossamregulardefinitivamenteosseusdestinos, remodelando-as em formas harmonicamente organizadas. Emsegundolugar,eissotemqueficarmuitoclaroaqui,oproblemageralquesecoloca para esse tipo de empreendimento investigativo, no diz respeito indagao sobre se seria possvel (ouno) constituir, a partir do estudo feitocombasenospotenciaisliberadospor aquelesprocessossingularesdesubjetivao;umnsquefossecapazdeformaruma comunidade permanente e homognea de ao. ...nenhumdessesnscujosconsensos,valores,tradioformamoenquadre de um pensamento e definem as condies nas quais possvel valid-lo. Mas o problema saberse efetivamente dentro de umns que convmse colocar para defender os princpios que so reconhecidos e os valores que so aceitos; ousenopreciso,aoelaboraraquesto[sobreosproblemasqueanovas experimentaessocapazesdecolocarparaoconjuntoeducao-escola pblica],tornar possvelaformao futura deumns.Creio que o ns nopodeserprvioquesto:elespodeseroresultado-eoresultado necessariamente provisrio [eparcial]- da questo,talcomo elase coloca[a cadavez]nosnovostermosemqueformulada.(Foucault,2004,pg.228e 229). Nosetornanecessriooumesmoobrigatrio,assim,recorrernocampomicropolticoa nenhumnstotalizadorquepossajustificartericaepragmaticamenteaaodeum mecanismodualistaehomogeneizantedesntesedopensamentoafavordaunidade supostamentenecessriaafirmaodeumapotnciaefetivadelutaeresistncia.Isso tudo,temfunoimportante,masemsituaesesobcondieslocaissempremuito especficas, que, uma vez desconsideradas, podem acabar anulando drasticamente os efeitos descontinuadoresinscritosnospontosdesingularidadetrazidostonapelasprticasdesi queusuriosetrabalhadoresemeducaoproduzemnocotidiano;ecujasintensidades liberadaspodemrascunhar processos diferenciaisde subjetivao quefazemruiraslinhas durasdecortenomolarinstitudoapartirdosmodossingularesdeexistnciaseposies comunitriasdodesejo queconseguem colocarprocessualmenteparafuncionar; processos esses sempremuito atentos e abertos s vias possveis de passagem capazes de articul-los naformaodesistemasmicro-revolucionriosdetransversalidade.Masprecisoatentar para que... 16 ...nosetratadefazerumaespciedesindicatocoletivodedefesados marginais,umprogramacomumouumaespciedefrenteunificadorae redutora... [nem]... o caso de os grupos marginais, minoritrios, entrarem num acordo ou adotarem o mesmo programa, uma mesma teoria, mesmas atitudes... nosetratadeadotarumalgicaprogramtica,esim,umalgicade situao. (Guattari, 2005, pg. 195). importante colocar que esses diferentes tipos de luta e consequentemente os movimentos investigativosporvezesteoricamenteconflitantesquesuscitamnosecolocamcomo alternativasauto-excludentes.Noentanto,nocampomicropoltico,umarevoluono pode ser programada, ela sempre imprevisvel... ...Issonoimpedequesetrabalhepelarevoluo,desdequeseentendaesse trabalhar pela revoluo como trabalhar pelo imprevisvel... a revoluo ou processualounorevoluo...Todosossistemasdemodelizaoquese pretendemrevolucionriosfuncionamnaverdademuitomaiscomoalgoque provoca...rejeio...algoquebloqueiaosprocessosrevolucionrios.No entanto,[essetipoinstitucionalizadodeluta]...apesardetodooburocratismo comqueelaconduzida,necessria:todaquestoestemnoconfundi-la com um processo revolucionrio. (Guattari, 2005, pg. 212 a 215). O sujeito do discurso da educao Sabe-sequepormeiodecertasrelaesdepoderquecomportamdinmicae simultaneamentemovimentosestratgicosdedominao(centradosnatentativade modelizaodassubjetividadesconforme os cdigoslgicoscapitalsticos), e movimentos contraestratgicosderecusa,resistnciaesuperposio(queproduzemprocessos revolucionriosdediferenciaoatravessando-osnosmodosdeexistnciaqueconsegue fazerfuncionar);queosujeitododiscursodaeducaopode tentardizeraverdadesobre suaobsessodeeducar,apresentadanoprpriodiscursosobasespciesdooutroaser educado (quando, onde, e primordialmente, como educ-lo). Essas relaes de poder ao produziremseusjogos de verdade,marcam oslimites atuais do necessrioedotolervelnocontextoinstitudodoconjuntoeducao-escolapblica, conduzidoporformasarcaicasdepensamento-problematizaodovivido;cujaaceitao mais oumenos geralpode entocomearaserquestionada pelosdiscursosminoritriosa 17 partirdaincapacidadenotriaderesponderemsinterrogaescolocadaspelasnovas experimentaesdesdobradas;quepodempassarentoamultiplicar-seeacelerar-seem intensidadesvariveisjustamenteondetaisrespostasinexistem,semostraminsuficientes, patticas e/ou inoperantes. Ouseja,sabe-sehojemuitobemquenohnenhumapolticaeducacional,conceitosde gestoeconhecimentosmorais-tcnicosquepossamdiantedasindisciplinas,faltade interesse e baixos nveis de aprendizagem, deter a justa e definitiva soluo; mas a partir desses acontecimentos talvez encontremos razes suficientes para questionar as polticas, as formasdegestoeosconhecimentosatentoaceitosnoespao-tempolocalcomo supostamente capazes de conduzir as prticas curriculares dos usurios e trabalhadores em educao;eaessasquestes,queproblematizamenfaticamenteaqualidadedasrespostas at ento disponibilizadas em nvel da administrao competente do governo mantenedor; a composio de foras que as elaboram, tentando mant-las e dissemin-las devem dignar-se a responder, ainda que seja impossvel respond-las a contento. Nessaperspectiva,passa-seentoaquestionardeformamuitopragmticaeobjetivano cotidianodoconjuntoeducao-escolapblica-currculospraticados:oquenomais indispensvelousuportvel,diantedasingularidade,multiplicidadeecomplexidadedos problemasenfrentadosnaatualidadeparaaconstituiodensmesmoscomosujeitosdo discurso da educao? Apartirdeinterrogaesdessetipo,traadasdeformadiretanosconjuntosprticosque produzem o dia a dia da escola, asmaneiras pelas quais se tenta dizer a verdade no mbito dosdiversoscurrculoscotidianamenterealizadospelosusuriosetrabalhadoresem educaotendemadiferenciar-seemumamiradedediscursosqueprocuramabordar diferencialmente aquelas questes mais incmodas; sempre correndo o risco de, voluntria ouinvoluntariamente,retornarsformasdeproblematizaoinstitudasquesustentamo pensamentocorrente,condutorparcialdamaioriadasaes;mas,simultaneamente, fazendo-secapazesdeproduzirformaspotenciaisdeproblematizaoquepodemento comear a romper com os arcasmos desse mesmo pensamento.18 Nesse sentido, considerando que toda experimentao implica trs elementos fundamentais: umjogodeverdade,relaesdepodereformasderelaoconsigomesmo(ecomos outros);essasnovasformasdeproblematizaodoconjuntoeducao-escolapblica,que irrompemcomomodosdeexperimentaralgonovoimpulsionadospelocontra-motorda diferena;podemestarredefinindonoapenaspartedopensamentoquehojejustificaa nossavontadeobsessivaporeducar;masestabelecendo,talvez,outroscritriosticos, estticosepolticosdeexistnciaeautoraodesi,potentesparainiciaraformulaode umaoutrateoria-prticaparaaescola,apartirdasprticascurricularesdescontinuadoras maquinadasporseussujeitospraticantescomosujeitosdodiscursominoritrioda educao. 19 Referncias Deleuze, Gilles. Conversaes. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. Deleuze, Gilles. Dilogos. So Paulo: Editora Escuta, 1998. Foucault,M.Ditos&Escritos;V:tica,Sexualidade,Poltica.RiodeJaneiro:Forense Universitria, 2004. Foucault,M.Ditos&Escritos;IV:Estratgia,Pode-Saber.RiodeJaneiro:Forense Universitria, 2003. Guattari, F; Rolnik, S. Micropoltica: Cartografias do Desejo. Petrpolis, RJ: Vozes, 2005. Rolnik,S.Despedir-sedoabsoluto. EntrevistaaLiraNetoeSilvioGadelha.Fortaleza:O Povo, 1995.