o uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

22
C AD . S AÚDE C OLET ., R IO DE J ANEIRO , 15 (1): 97 - 116, 2007 – 97 O USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA The use of ear protective devices during rifle and artillery shooting Eduardo Borba Neves 1 , Marcia Gomide da Silva Mello 2 RESUMO As atividades de tiro, de fuzil e de artilharia, promovem níveis elevados de ruído, que podem provocar alterações no sistema auditivo. O objetivo deste estudo foi medir o nível de ruído a que os militares estão expostos durante o tiro de fuzil e identificar possíveis motivos para que o militar não utilize a proteção auditiva durante essa atividade e no tiro de artilharia. O presente estudo caracteriza-se como transversal. Utilizou-se (a) questionário auto-aplicável, com o objetivo de mapear o perfil dos informantes e os motivos que os levavam a utilizar ou não a proteção auditiva nas atividades de tiro; (b) medição do nível de pressão sonora, para dimensionar o risco ocupacional da atividade de tiro; (c) observação sistemática, para mapear o processo de trabalho e (d) entrevista semi-estruturada, para verificar outras percepções de risco relacionados com a atividade de tiro, além da relativa à audição. Durante as atividades de tiro de fuzil e de artilharia, os militares estão expostos a um nível de pressão sonora mínimo de 147 dB, com indícios da possibilidade de que esse valor possa atingir 188 dB. Foi constatado que, no tiro de fuzil, 44 militares (55,7%) não utilizam proteção auditiva e, no tiro de artilharia, esse número aumentou para 65 militares (82,3%). Os fatores que contribuem para que os militares negligenciem sua segurança auditiva nas atividades de tiro são: a falta de informação quanto ao real risco da exposição aos ruídos dos tiros; a falta da disponibilidade do equipamento de proteção auditiva no local de trabalho; e a falta de treinamento, orientação e fiscalização no uso de equipamento de proteção individual por parte dos responsáveis por essas atividades. PALAVRAS-CHAVE Saúde do trabalhador, ruído ocupacional, atividades militares, dispositivos de proteção auditiva ABSTRACT Shooting activities, rifle and artillery promote high level of noise that may cause alterations in the ear system. This study aims at measuring the noise level to which the militaries are exposed during rifle shooting as well as identifying possible reasons for not using the ear protective devices in those activities and during artillery shooting. The present cross-sectional study used different sources of measurement of the variables 1 Mestre em Saúde Coletiva. Professor Adjunto da Seção de Pós-graduação da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Saúde Pública. Professora Adjunta do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Upload: tranminh

Post on 03-Jan-2017

218 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . SA Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 97

O USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO AUDITIVA NOS TIROS DE FUZIL E DE ARTILHARIA

The use of ear protective devices during rifle and artillery shooting

Eduardo Borba Neves1, Marcia Gomide da Silva Mello2

RESUMO

As atividades de tiro, de fuzil e de artilharia, promovem níveis elevados de ruído, quepodem provocar alterações no sistema auditivo. O objetivo deste estudo foi medir onível de ruído a que os militares estão expostos durante o tiro de fuzil e identificarpossíveis motivos para que o militar não utilize a proteção auditiva durante essaatividade e no tiro de artilharia. O presente estudo caracteriza-se como transversal.Utilizou-se (a) questionário auto-aplicável, com o objetivo de mapear o perfil dosinformantes e os motivos que os levavam a utilizar ou não a proteção auditiva nasatividades de tiro; (b) medição do nível de pressão sonora, para dimensionar o riscoocupacional da atividade de tiro; (c) observação sistemática, para mapear o processode trabalho e (d) entrevista semi-estruturada, para verificar outras percepções de riscorelacionados com a atividade de tiro, além da relativa à audição. Durante as atividadesde tiro de fuzil e de artilharia, os militares estão expostos a um nível de pressão sonoramínimo de 147 dB, com indícios da possibilidade de que esse valor possa atingir 188 dB.Foi constatado que, no tiro de fuzil, 44 militares (55,7%) não utilizam proteçãoauditiva e, no tiro de artilharia, esse número aumentou para 65 militares (82,3%).Os fatores que contribuem para que os militares negligenciem sua segurança auditivanas atividades de tiro são: a falta de informação quanto ao real risco da exposição aosruídos dos tiros; a falta da disponibilidade do equipamento de proteção auditiva nolocal de trabalho; e a falta de treinamento, orientação e fiscalização no uso deequipamento de proteção individual por parte dos responsáveis por essas atividades.

PALAVRAS-CHAVE

Saúde do trabalhador, ruído ocupacional, atividades militares, dispositivos de proteçãoauditiva

ABSTRACT

Shooting activities, rifle and artillery promote high level of noise that may causealterations in the ear system. This study aims at measuring the noise level to which themilitaries are exposed during rifle shooting as well as identifying possible reasons fornot using the ear protective devices in those activities and during artillery shooting.The present cross-sectional study used different sources of measurement of the variables

1 Mestre em Saúde Coletiva. Professor Adjunto da Seção de Pós-graduação da Escola de Aperfeiçoamentode Oficiais do Exército. E-mail: [email protected]

2 Doutora em Saúde Pública. Professora Adjunta do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdadede Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Page 2: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

98 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

of interest (a) a self-administered questionnaire, with the objective of describe theprofile of the informants and their reasons to use or not the ear protective devicesduring shots activities; (b) measurement of the sound pressure level, to verify theoccupational risk of the shooting activities; (c) systematic observation, to describe theoccupational process and (d) a semi-structured interview, to verify other perceptionsof risk related to shooting activities, beside, those related to hearing. During rifle andartillery shooting, militaries are exposed to a minimal noise pressure level of 147dB, suggesting the possibility that this value may reach 188 dB. It was evidencedthat, in the rifle shooting, 44 militaries (55.7%) of the informants did not use earprotective devices and, in the artillery shooting, this number grows up to 65 militaries(82.3%). The factors that definitely contribute to the negligent attitude towardsthe use of ear security devices are: lack of information concerning the real risks ofexposure to the shooting noises; lack of availability of ear protective devices in theworkplace; as well as lack of training, orientation and supervision in the use of earprotective devices.

KEY WORDS

Occupational health, occupational noise, military activities, ear protective devices

1. INTRODUÇÃO

O ambiente pode, de muitas maneiras, afetar a saúde humana. Isso tornafundamental o conhecimento das situações de risco de origem no ambiente detrabalho e suas conseqüências para a saúde (Tambellini & Câmara, 2002). Pelofato da maioria dos indivíduos economicamente ativos passarem grande parte doseu tempo no ambiente de trabalho, este é tomado como elemento medidor oucomo uma via de acesso para analisar a relação causa e efeito nos processos desaúde e doença que vão se manifestar no trabalhador.

No ambiente militar são comuns extensas jornadas de trabalho, problemasergonômicos, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos, reconhecidamenteconsiderados fatores de risco ocupacional para o trabalhador (Silva & Santana,2004). Apesar das atividades militares serem consideradas freqüentemente maisperigosas do que o trabalho civil, especialmente em situações de crise, raramentesão analisadas em tempo de paz (Lehtomaki et al., 2005).

Os ruídos de explosão de arma de fogo são uma das primeiras causas de perdaauditiva induzida por ruído nos Estados Unidos. Naquele país, um número cadavez maior de pessoas vem sofrendo de trauma acústico ou perda auditivaneurossensorial gradual, secundária a ruídos excessivos de arma de fogo (Stewartet al., 2002). No Exército Brasileiro, esses ruídos são comuns nos tiros de armasportáteis e nos tiros de artilharia. A artilharia de campanha é o principal meio deapoio de fogo do Exército. Suas unidades podem ser dotadas de armas como:canhões, obuses, foguetes ou mísseis (Exército Brasileiro, s/d). Essas armas produzemruídos elevados e os militares que as operam devem estar adequadamente protegidos.

Page 3: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . SA Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 99

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

Alguns estudos relatam a ocorrência de perdas auditivas em militares(Godoy, 1991; Seballos, 1995; Neves-Pinto et al., 1997; Brito, 1998). Estudosmostram que a maioria dos sujeitos que tiveram perda auditiva não era protegidaadequadamente: como, por exemplo, o trabalho de Silva et al. (2004) mostrouque 17,71% não usam nenhum tipo de proteção e 46,88% usam apenas algodãocomo proteção auditiva. Konopka et al. (2002) estudaram dez soldados de 20anos de idade expostos a ruído de impacto de arma de fogo automática semproteção auditiva e detectaram alterações na audição destes sujeitos. Temmel et al.(1999) realizaram um estudo sobre o trauma acústico causado por ruídos deimpacto em recrutas militares e encontraram que 80% relataram não estar usandoseus protetores quando o trauma acústico ocorreu.

Dado que as atividades de tiro, de fuzil e de artilharia, promovem níveiselevados de ruído que podem provocar alterações no sistema auditivo, o objetivodeste estudo foi medir o nível de ruído a que os militares estão expostos duranteo tiro de fuzil, analisar o uso da proteção auditiva no tiro de fuzil e de artilhariae identificar possíveis motivos para que o militar não utilize a proteção auditivadurante essas atividades.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo caracteriza-se como transversal, no qual foram utilizados:observação sistemática, medição do nível de pressão sonora, questionário auto-aplicável e entrevista semi-estruturada.

Os sujeitos deste estudo foram divididos em dois grupos: os que preencheramos questionários e os entrevistados. O primeiro grupo, que preencheu o questionárioauto-aplicável, foi composto por três oficiais, 10 sargentos e 66 cabos e soldados.Nesse grupo o objetivo foi identificar os possíveis motivos para que o militar nãoutilize a proteção auditiva durante as atividades de tiro. O segundo grupo foicomposto por seis oficiais, seis sargentos e seis soldados, os quais foram entrevistadosem seus quartéis com o objetivo de mapear o processo de trabalho utilizado nostiros de fuzil e de artilharia e perceber a visão dos militares a respeito do risco nasatividades de tiro. Os informantes tinham idade entre 19 e 26 anos, e o tempo decaserna variava entre um e oito anos de serviço.

A observação sistemática foi realizada durante as atividades de tiro fuzil e detiro de artilharia, em três unidades do Exército, durante um período de seismeses. Essa técnica teve por objetivo conhecer e ambiente e o processo de trabalhoque envolve a atividade em questão.

A medição do nível de pressão sonora foi realizada pelo próprio pesquisador,supervisionado por um especialista do Instituto Nacional de Metrologia, Norma-lização e Qualidade Industrial (Inmetro), com o objetivo de dimensionar o risco

Page 4: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

100 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

ocupacional da atividade de tiro, e consistiu na medição do ruído produzido porum fuzil automático leve (FAL) 7,62mm. Foi escolhido o fuzil por ser uma armade uso comum para todos os militares do Exército. O resultado da mediçãorealizada pode ser entendido como o nível mais baixo de pressão sonora dasarmas citadas, uma vez que o nível de pressão sonora produzido pelo obuseiro105mm, arma utilizada pela artilharia, é incontestavelmente superior ao produzidopor um fuzil (Intensidade do ruído em armas de guerra, s/d).

O ruído do tiro de fuzil foi medido em um dos box de um estande de tiro, eem campo aberto. Essa medida foi realizada com um afastamento mínimo de15m de qualquer superfície que pudesse influenciar o processo por reflexão daonda sonora. A medição do ruído de impacto foi realizada no circuito decompensação C e no circuito de resposta rápida (FAST), indicada para as medidasde ruídos de impacto, de acordo com a Norma Regulamentadora 15, em seuanexo nº 2. Foram coletadas três medidas do ruído para se obter uma média,respeitando o intervalo de trinta segundos entre cada medida (Brasil, 1978). Emtodas as medidas, a função MAX do aparelho foi ativada, fixando-se assim, no visor,o pico máximo do ruído atingido durante cada tiro realizado. A munição utilizadafoi da Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC, do tipo comum, lote 2001.

Os equipamentos utilizados para a medição foram: o medidor de nível sonoroBrüel & Kjær, tipo 2236, nº de série 2100587, nº do Certificado/ano 0032/2006;termo-higrômetro Vaisala, tipo HM 34, nº de série X5110004, nº do certificado/ano 1600/2004; calibrador sonoro Brüel & Kjær, tipo 4231, nº de série 2376729,nº certificado/ano 1815/2005. Todos os equipamentos utilizados pertenciam aoLaboratório de Ensaios Acústicos da Divisão de Acústica e Vibrações do Inmetro.

O questionário foi composto por cinco perguntas objetivas e uma de respostalivre sobre os motivos que levavam os militares a utilizar ou não a proteçãoauditiva nas atividades de tiro de fuzil e tiro de artilharia. Duas das questõesobjetivas apresentavam respostas em escala tipo Likert e foram usadas para iden-tificar a avaliação individual do risco a respeito da atividade de tiro de fuzil e deartilharia. Os sujeitos indicavam como eles percebiam o ruído dos disparos dasarmas em relação à sua saúde auditiva (1 - inofensivo à sua audição; 2 - umpequeno risco à sua audição; 3 - médio risco à sua audição; 4 - grande risco à suaaudição; 5 - gravíssimo risco à sua audição). O questionário foi respondido por 79indivíduos voluntários dentre 122 militares que participaram dos exercícios detiro de artilharia e de fuzil durante o período do estudo. Os 43 militares que nãoresponderam o instrumento não estavam nos quartéis, por motivos diversos, naoportunidade de aplicação do mesmo (envolvidos em serviços externos, em férias,em curso ministrado em outra unidade militar e em visita ao médico por proble-ma ortopédico), isto é, as perdas aconteceram ao acaso.

Page 5: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 101

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

O pré-teste do modelo de questionário utilizado foi realizado com oitomilitares de artilharia de uma outra organização militar. Os dados oriundos dessepré-teste não foram considerados para análise, o que segundo Marconi & Lakatos(2004) é um procedimento adequado para se evitarem contaminações. Osproblemas identificados geraram alterações em algumas questões, o que contribuiu,sobremaneira, para o alcance dos objetivos do estudo.

Utilizou-se a técnica de entrevista semi-estruturada para mapear o processodas atividades de tiro, verificar outras percepções de risco relacionadas com aatividade de tiro, além da relativa à audição, e entender as rotinas de trabalhoque envolvem estes trabalhadores. A seleção dos sujeitos entrevistados foi balizadapela participação dos indivíduos nos exercícios de tiro de fuzil e de artilharia ecom representatividade para cada um dos círculos hierárquicos do Exército. Oscírculos hierárquicos estão diretamente relacionados à renda (até R$1.199,99, deR$1.200,00 a R$2.399,99, e de R$2.400,00 a R$3.600,00) e ao tempo de formação.Foram entrevistados 18 sujeitos (seis oficiais, seis sargentos e seis soldados), sendoconsiderado suficiente, na medida em que os discursos se tornavam recorrentes, oque é denominado “ponto de redundância” (Lincoln & Guba, 1985). A entrevistasemi-estruturada é um instrumento que possibilita a coleta de informações objetivas,e, mais do que isto, permite captar valores, atitudes e opiniões (Minayo, 2001).

O teste de Mann-Whitney foi realizado com o objetivo de verificar se haviadiferença estatisticamente significante entre as avaliações individuais do risco dosinformantes que utilizavam proteção auditiva e dos que não a utilizavam. Paraverificar se a condição hierárquica/econômica/tempo de formação influi nautilização da proteção auditiva pelos militares, realizou-se o teste χ2 para iden-tificação de tendências, no programa EpiInfo versão 6.04b.

O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e teve seu protocolo aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva daUniversidade Federal do Rio de Janeiro – CEP/IESC.

3. RESULTADOS

O processo de trabalho utilizado pelos militares durante os exercícios de tirode artilharia foi bem semelhante em todas as observações, pois os procedimentossão padronizados. Em linhas gerais, utilizam procedimentos táticos e técnicosdurante a ocupação da posição de tiro, cujo esquema está representado na Figura 1.

Pode-se perceber, pela figura, que a maioria dos militares precisa ficar próximada fonte do ruído para poder operar o armamento. Em relação à dinâmica dotrabalho, o comandante da linha de fogo (CLF), que é um oficial, emite as ordens,chamadas de “comandos de tiro”, para os militares que operam os obuseiros,

Page 6: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

102 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

Figura 1Dispositivo de uma linha de fogo de artilharia para o tiro com o obuseiro 105mm.

O aspecto da comunicação interpessoal é de grande importância, pois, segundoos informantes, uma falha nessa comunicação pode provocar diversas mortes sealgum dos dados para o tiro for registrado errado. Isso pode acontecer inclusivenos exercícios de tiro, pois os campos de treinamento do Exército são rodeadospor área urbana.

O Tiro de Instrução Básico é um exercício de tiro de fuzil realizado portodos os soldados do Exército, quando da sua formação, durante o primeiro anona instituição. Essa atividade é normatizada pelas Instruções Gerais de Tiro como Armamento do Exército – IGTAEx, que descreve de maneira detalhada cadaatividade de tiro realizada durante o ano de instrução (Brasil, 2001a).

Em linhas gerais, o dispositivo adotado nessas atividades foi o mesmo. Aochegar ao estande, os instruendos eram divididos por séries de tiro, de acordocom a capacidade do estande. Para cada box eram designados um atirador e ummuniciador, os demais ficavam em torno de dez metros a retaguarda da linha detiro, aguardando o término das séries de tiro. Em relação à exposição ao ruído,todos os soldados, bem como os instrutores, permaneceram no estande até otérmino de todas as séries de tiro.

Na medição do ruído de impacto dos tiros disparados por um fuzil automáticoleve 7,62mm, cuja média ± desvio padrão dos níveis de pressão sonora (NPS)produzidos foram: 146,15 ± 0,63 dB (C), no estande; 147,22 ± 0,04 dB (C), emcampo aberto e o maior valor registrado pelo equipamento foi 147,30 dB(C). Osníveis de pressão sonora produzidos pelo tiro de fuzil, em todas as condições

(sargentos, cabos e soldados). Esses militares registram os dados para o tiro e informamao CLF quando o armamento está pronto para o tiro. Quando todos os obuseirosestiverem prontos, o CLF comanda “Fogo!” e os militares disparam o tiro.

Page 7: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 103

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

avaliadas, excederam a capacidade de medição do instrumento, apresentandoresultados com a expressão overload. Isso significa que o nível de pressão sonorareal está acima dos níveis registrados pelo aparelho. Como não há, no Inmetro,um aparelho com capacidade superior ao utilizado, optou-se por considerarem-seos valores apresentados pelo aparelho disponível, que já excedem o limite desegurança (130 dB) previsto na NR 15 (Brasil, 1978).

A partir do resultado tabulado do questionário auto-aplicável foi constatadoque, no tiro de fuzil, 44 militares (55,7%) não utilizam proteção auditiva (PA) e,no tiro de artilharia, esse número sobe para 65 militares (82,3%). A Tabela 1apresenta esses números.

Tabela 1Uso de protetores auditivos segundo percepção de risco, hierarquia e tipo de atividade.

Os resultados demonstram que apenas 44,3% dos militares utilizam proteçãoauditiva no tiro de fuzil e essa fração ainda diminui para 17,7% quando se tratado tiro de artilharia. Foi observado, neste estudo, que durante as atividades detiro alguns militares, por não possuírem um protetor auditivo manufaturado, sepreocupavam em prover algum tipo de proteção auditiva com algodão e atémesmo com estojos de munição vazios.

Os informantes do questionário apresentaram a seguinte distribuição comrelação à escolaridade: 3 (3,8%) com nível fundamental incompleto; 38 (48,1%)com nível médio incompleto; 28 (35,4%) com nível médio completo e 10 (12,7%)cursando o nível superior ou com o mesmo completo. Essa estratificação pornível de escolaridade não apresentou associação estaticamente significativa com ofato do militar utilizar ou não proteção auditiva. O mesmo ocorreu em relação

* p < 0,01 (χ2 para tendência); ** p < 0,01 (Mann-Whitney).

Page 8: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

104 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

ao tempo de serviço e à idade. A estratificação pela renda coincide com aestratificação por posto hierárquico (cabos/soldados, sargentos e oficiais), que foiapresentada na Tabela 1.

Os argumentos apresentados para a utilização ou não da proteção auditivaforam tabulados em categorias, e quantificados de acordo com o Quadro 1.

Quadro 1Argumentos mais utilizados pelos informantes para o uso ou não da proteção auditiva.

O teste de Mann-Whitney foi realizado com o objetivo de verificar se haviadiferença estatística entre as avaliações individuais do risco entre os que usam e osque não usam proteção auditiva. Constatou-se que, no teste unicaudal, para otiro de fuzil, obteve-se um z = 2,6647, e, para o tiro de artilharia, um z = 2,3366,isso significa que houve diferença estatisticamente significativa, com p < 0,01,entre as avaliações individuais do risco daqueles que usavam proteção auditiva edos que não a usavam, nas duas situações.

Figura 2Uso ou não da proteção auditiva vs. avaliação individual do nível de risco.

Page 9: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 105

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

Para verificar se a condição hierárquica/econômica/tempo de formaçãoinflui na utilização da proteção auditiva pelos militares, realizou-se o teste χ²para identificação de tendências, no programa EpiInfo versão 6.04b, obtendo-se,para o tiro de fuzil, um χ² = 10,216 com p=0,00139, e, para o tiro de artilharia,um χ² = 18,528 com p=0,00002. Isso aponta para uma tendência crescente parao uso da proteção auditiva associada à elevação do nível hierárquico ou da renda,ou ainda do tempo de formação militar.

Pôde-se perceber durante as entrevistas que, quanto maior o nível hierárquico,mais tempo é destinado à formação do profissional nas escolas militares: oficiais,4 anos na Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN; sargentos, 1 ano naEscola de Sargentos das Armas __ EsSA, e soldados, de 3 a 6 meses nos quartéis detropa. Foi relatado pelos informantes que na AMAN e na EsSA havia umaexigência da utilização de proteção auditiva nas instruções de tiro de fuzil, o quenão acontece nos quartéis de tropa.

4. DISCUSSÃO

A exposição aos diversos fatores de risco dentro de um processo produtivoestá diretamente relacionada às atitudes, ao nível de cuidados para minimizaçãode riscos, à própria natureza do processo e ao ambiente, seja este o local detrabalho ou o ambiente do entorno (Gomide & Serrão, 2004). O olhar doanalista precisa levar em conta que a percepção dos trabalhadores sobre suasações tem explicação em contingências da própria atividade, sobretudo nas pressõesoriginadas do ambiente que explicam a variabilidade do trabalho (Almeida, 2004).

Os protetores auditivos estão, teoricamente, definidos como uma soluçãotemporária aos problemas de excesso de ruído. Porém, devido ao alto custo desoluções definitivas, eles são empregados amplamente como a única medida contraexposição ao ruído (Morata et al., 2001). Sabe-se, porém, que, se os trabalhadoresnão usarem continuamente os protetores auditivos, a efetividade desse equipa-mento de proteção individual (EPI) será muito baixa. Neste sentido, é importanteque os protetores auditivos estejam disponíveis nos ambiente de elevados níveissonoros, mas também é essencial que os trabalhadores estejam atentos à necessi-dade de usá-los (Morata et al., 2001). Por esse motivo, é fundamental que essestrabalhadores percebam o risco e entendam essa necessidade. Este entendimentopode lhes garantir o direito à cobrança por equipamentos de proteção individualapropriados, bem como uma maior atenção em sua rotina de treinamentos.

CONVIVENDO COM O RISCO

Os resultados sugerem um comportamento que chega a ser paradoxal, pois,na situação onde o risco parece ser maior, esse grupo diminui a utilização de EPI.

Page 10: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

106 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

Segundo Cru e Dejours (1987), comportamentos paradoxais de rejeição a medidasde segurança podem ser interpretados como verdadeiros desafios lançados aoperigo pela coletividade, a fim de afastar, por uma operação simbólica, a vivênciade angústia que seria incompatível com o prosseguimento da tarefa, neste caso aexecução dos tiros. Não se trata, segundo os autores, nem de má vontade, nem deinconsciência, mas de uma conduta que tem uma racionalidade e uma legitimidadefundada na experiência que a coletividade forjou e transmitiu, de geração emgeração, no curso dessa profissão.

Três dos quatro argumentos mais citados para a não utilização da proteçãoauditiva estão diretamente ligados à não identificação do risco: “não vejonecessidade e o barulho não me incomoda; porque o barulho do tiro é muitovibrante”; e “não quis usar ou não tive vontade ou ainda, não gosto”. Em geral,segundo Arezes e Miguel (2005), a natureza de risco é um aspecto importanteque afeta o comportamento dos trabalhadores frente ao próprio risco, comoé o caso de ruídos ou exposição a substâncias químicas. Esses riscos são“invisíveis” e não provocam, muitas vezes, lesões imediatas, quer dizer, o processode dano é crônico e não mostra uma indicação clara de sua magnitude (Weyman& Kelly, 1999). A menos que níveis de exposição ao ruído sejam tão altos queeles se tornem fisicamente incômodos ou produzam mudanças temporárias delimiar de audição, os efeitos em curto prazo de exposição ao ruído não serãonotados facilmente.

Em relação ao argumento “para poder ouvir os comandos do CLF”, apre-sentado para justificar o não uso da proteção auditiva, constitui-se num problematécnico do processo empregado durante a tomada das posições para o tiro deartilharia. Esse problema pode ter influenciado também o aparecimento dacategoria “não fui autorizado”, pois, uma vez que se tenha notado algumadificuldade na comunicação, durante a atividade, o responsável pode ter ordenadoa retirada do protetor como uma solução rápida ao problema de comunicação.Isso é tecnicamente controverso, pois, segundo Fernandes (2003), a utilização daproteção auditiva poderia até melhorar essa comunicação, quando a voz competecom o barulho ambiente. Essa informação reforça a idéia de que esses militaresnão desenvolveram, ainda, uma cultura de segurança ou uma preocupaçãosistemática com sua proteção individual e coletiva.

Os militares que utilizam a proteção auditiva, o fazem basicamente por doismotivos, como pôde ser observado no Quadro 1: o desconforto e a prevenção.Esse comportamento de uso do EPI é motivado tanto pelo incômodo momen-tâneo como pela capacidade associativa de exposição ao risco e futuros efeitosdanosos à saúde. Rabinowitz et al. (1996) e Lusk et al. (1995) referem que oesforço de conscientização dos trabalhadores tem de ser centrado em variáveis,

Page 11: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 107

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

como por exemplo, a percepção da suscetibilidade a lesões e o incômodo pro-vocado pelo ruído.

Quanto aos que não usam proteção auditiva, Duarte Filho et al. (apud Mendes,2005, p. 1807-1808) estudando trabalhadores de diversas empresas, mapearamalguns “grupos típicos” de trabalhadores segundo seus envolvimentos comsituações de risco.

“[...] pessoas envolvidas com as condições ou fatores de risco não tinham a real percepção

da existência dos mesmos. Não sabiam que aquela situação presente constituía risco

potencial à integridade física e/ou mental dos trabalhadores ou ainda ao patrimônio da

empresa. [...] As pessoas poderiam saber que aquela situação constituía risco potencial, mas

a mantinham e a administravam, simplesmente porque não fazia parte de suas atribuições

corrigi-Ias ou propor sua correção. [...] Mantinham-se as condições de risco, mesmo

sabendo de sua existência e gravidade, porque as chefias hierarquicamente superiores

resolveram assumi-Ias, em vez de implementar ou propor medidas de controle”.

No trecho acima, são facilmente identificáveis três grupos de sujeitos, quetrabalham sob situações de risco, mas as gerenciam de maneiras diferentes. Pode-se perceber que as situações descritas se aplicam com facilidade à problemáticado tiro, porém, neste estudo, agrupam-se em apenas duas classes: os passivos e osresolutos. Os passivos utilizam argumentos de obediência, repassando a responsabi-lidade para uma situação de falta de EPI, e os resolutos assumem o risco e,portanto, a não-necessidade do uso do EPI. Este último grupo seria o mais difícilde se trabalhar em uma futura estratégia de motivação para comportamentosprotetores (Rabinowitz et al.,1996). Estes resultados vão ao encontro do que Silvaet al. (2004, p. 344) concluíram em seu estudo sobre a avaliação do perfil auditivode militares brasileiros: “A grande ocorrência da perda auditiva entre os militares e a falta de

proteção adequada à exposição ao ruído indica a necessidade de se implantarem, nesta categoria,

medidas de prevenção de perda auditiva.”Um argumento bastante citado, pelos passivos, foi o de que “O Exército

não forneceu ou não tenho”, o que demonstra a importância das ações doempregador, nesse caso do Exército, não só no fornecimento do equipamentode proteção auditiva aos militares, mas também no treinamento, motivação efiscalização desse procedimento de segurança. Dentre estas ações, pode-sedestacar a ação relativa à motivação. Sem o desenvolvimento de estratégias demotivação, tanto as ações de treinamento como as de fiscalização não produzirãoo resultado esperado. De qualquer forma, se faz necessário um maioraprofundamento nas investigações a respeito do entendimento e das percepçõesque envolvem e determinam as atitudes de segurança destes profissionais. Sem

Page 12: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

108 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

uma compreensão mais aprofundada do imaginário simbólico deste grupo arespeito da própria segurança e sua relação com a atividade-fim que podelevá-lo à perda da própria vida, não será possível desenvolver estratégias capazesde conduzirem a uma nova postura.

Lupton (2000) e Rabinow (1984) chamam a atenção para o fato de que umcomportamento nomeado como “insalubre”, como expor-se ao ruído dos tirossem proteção auditiva, pode ser visto como parte de uma atitude mais ampla deresistência a condições de vida muito difíceis de determinados grupos sociais. Ouseja, é preciso considerar que símbolos de resistência podem forjar identidadesgrupais e redes de solidariedade entre indivíduos, porém essa situação podeaumentar a susceptibilidade a determinados problemas de saúde (Meyer et al.,2006), neste caso, problemas auditivos.

Oliveira-Silva et al. (2001) observaram em estudo com trabalhadores rurais,que embora 90% dos trabalhadores considerem importante a utilização de equipa-mentos de proteção individual, somente 70% destes os utilizavam. Esses estudosdescrevem comportamentos de grupos, em situações de riscos diferentes, mascom uma reposta comportamental semelhante, o que Cru e Dejours (Op. Cit.)chamam de “comportamentos paradoxais de rejeição”, negligenciando os cuidadoscom a própria saúde. Entretanto, é preciso considerar que tal negligência temcomo finalidade a preservação de uma situação imediata, colocando em questãonão necessariamente este paradoxo, mas, sim, a urgência em se buscar soluçõescapazes de interferir neste sistema que se retroalimenta, aumentando a exposiçãoao risco na mesma medida que faz crescer a resistência simbólica do grupo.

A PROTEÇÃO AUDITIVA

A Revista Brasileira de Otorrinolaringologia atribui à pistola uma produçãode 168 dB de pressão sonora, ao fuzil automático, 171 dB e ao obuseiro 105mm,188 dB, porém não descreve o processo de medição utilizado para a obtençãodesses níveis de pressão sonora (Intensidade do ruído em armas de guerra, s/d).Os resultados deste estudo garantem um NPS superior a 147 dB (C), uma vezque, em função da limitação técnica dos equipamentos utilizados, sabe-se que onível de pressão sonora real excede esse valor, o que é mais do que suficiente paracausar um trauma acústico (Brasil, 1978).

De acordo com a Norma regulamentadora 15 (NR 15), o ruído de impactoou de impulso é aquele que apresenta picos de energia acústica de duraçãoinferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo (Brasil, 1978). Os ruídosde impacto podem ser classificados em simples e repetitivos. Os ruídos de impactosimples são aqueles desencadeados pelo manuseio de materiais, marteladas e tam-bém disparos de arma de fogo; já os ruídos de impacto repetitivos são aqueles

Page 13: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 109

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

produzidos por prensas automáticas, guilhotinas ou ferramentas pneumáticas, disparosde arma de fogo em rajadas ou mesmos em disparos repetidos (Godoy, 1991).

Na Legislação Brasileira, a Norma Regulamentadora nº 15 (Brasil, 1978),estabelece limites de tolerância para o ruído contínuo ou intermitente e deimpacto, respectivamente. No anexo II, são estabelecidos limites de tolerânciapara ruídos de impacto, onde consta também que: “Oferece risco grave e iminente a

exposição, sem proteção, a níveis de ruído de impacto superiores a 140dB (linear), medidas no

circuito de respostas para impacto, ou superiores a 130 dB (C), medidas no circuito de resposta

rápida (FAST)” (Brasil, 1978). Isso significa que o militar que executa a atividadede tiro de fuzil ou de artilharia sem usar a proteção auditiva ou com proteçãoinadequada está sob grave risco de lesão do sistema auditivo. Esse risco é agravadopelo fato do problema auditivo se instalar de forma lenta e progressiva e só serápercebido pelo sujeito tardiamente.

Bandeira et al. (1979) realizou um estudo sobre a avaliação auditiva de 54militares brasileiros que realizavam exercícios de tiros semanais e detectou elevadaincidência de disacusia neurossensorial (63,4%), dos quais 30,7% apresentaramuma curva típica de trauma acústico. Esse estudo sugere que há uma deficiênciade segurança auditiva nessa atividade, pois mesmo com a repetitividade dessaexposição não deveriam ser encontrados esses percentuais de perdas auditivas.

Silva et al. (2004) realizaram um estudo com 97 militares brasileiros expostosa ruído intenso em exercícios de tiros e observaram que 38,1% apresentaramquadro otológico sugestivo de perda auditiva induzida por ruído. A perdaauditiva encontrada foi mais intensa quanto maior a idade e o tempo deserviço. Dos militares examinados, 64,59% não utilizaram proteção adequadanos exercícios de tiro.

A AVALIAÇÃO DO RISCO E OS VÍNCULOS TRABALHISTAS

O modo pelo qual os trabalhadores percebem os riscos a que eles estãoexpostos pode ser uma contribuição importante para um melhor gerenciamentodesse risco (Rundmo, 1996; Diaz & Resnick, 2000; Glendon & Mckenna,1995). Dependendo dessa avaliação individual do risco, o profissional estarámais ou menos vulnerável a alterações orgânicas e emocionais. Essa maior oumenor vulnerabilidade pode comprometer a proteção e a manutenção dasaúde, e, conseqüentemente, influenciará na eficiência desse militar em suasatividades de trabalho.

A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam os dados quantitativos das avaliaçõespessoais sobre o risco da exposição ao ruído nas atividades de tiro em relação aouso de proteção auditiva nessas atividades. A quantificação objetiva do risco, emtermos individuais, representa uma tarefa meticulosa, dado o conjunto de

Page 14: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

110 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

condicionantes associados à probabilidade e à gravidade do risco considerado.No entanto, para alguns fatores de risco ocupacional, como é o caso do ruído,essa avaliação torna-se um pouco mais fácil, pois o ruído é uma variável que, emgeral, quanto maior o desconforto auditivo, maior será o risco.

A Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, regulamentou a Lei nº 6.514,de 22 de dezembro de 1977, que alterou o Capítulo V do Título II da Consoli-dação das Leis do Trabalho – CLT, instituindo as Normas Regulamentadoras –NR sobre a atuação do governo, empregadores e empregados na prevençãode danos à saúde e segurança do trabalho. Dentre as Normas Regulamentadoras,a NR 1 estabelece as disposições gerais sobre as normas regulamentadoras,mencionando em seu subitem 1.1 que: as Normas Regulamentadoras relativasà segurança e medicina do trabalho são de observância obrigatória pelas empresasprivadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta,bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário que possuam empre-gados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Brasil, 1978; 1977).

Isso exclui os servidores militares da necessidade de observância das NR, poisesses têm suas relações trabalhistas regulamentadas pelo Estatuto dos Militares(Brasil, 1980). Por isso, embora a Norma Regulamentadora 06 determine aosempregadores a obrigação de fornecer gratuitamente o equipamento de proteçãoindividual adequado ao risco (Brasil, 2001b), o Exército, por não tê-la comonorma obrigatória, exige a utilização da proteção auditiva (COTER, 2005), masnão a fornece. Isso, de certa forma, diferencia a atenção à saúde ocupacional dosmilitares em relação aos demais trabalhadores.

Essa diferença na atenção à saúde ocupacional é decorrência de um processohistórico de luta das classes trabalhadoras. Os trabalhadores regidos pela CLTrealizaram uma série de pressões sindicais por melhores condições de trabalho,culminando nas Normas Regulamentadoras – NR, dentre outros documentosque regulam a proteção ocupacional desses trabalhadores. Já os militares, regidospelo Estatuto dos Militares, não têm meios como greves ou pressões trabalhistas,por exemplo, para lutarem por melhorias nas condições de trabalho. A área dasaúde do trabalhador no Exército parece ter ficado adormecida desde o períodoimperial. Entretanto, frente a todas as atuais discussões e tendências mundiaisacerca de direitos do trabalhador e mesmo de “humanização das relaçõesprofissionais”, não é mais possível que tal assunto ainda se mantenha adormecido.

Os resultados indicam uma tendência de aumento do uso da proteçãoauditiva associada ao aumento da renda. Essa associação pode ser o reflexo danão distribuição do EPI em questão de forma gratuita aos militares, fazendo comque os menos favorecidos economicamente não destinem recurso à compra dessematerial, negligenciando a própria segurança. O fato de não possuir o EPI foi

Page 15: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 111

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

usado como argumento para a não utilização da proteção auditiva por 20 sujeitos,como apresentado no Quadro 1 (Brasil, 1978; 1977).

A maior permanência dos militares de patentes mais elevadas nas escolasde formação militares (AMAN e EsSA) pode ter produzido, de certa forma,comportamentos mais saudáveis, a partir do treinamento/educação de algunsmilitares quanto à utilização da proteção auditiva durante as atividades de tiro.Porém, nem todos assimilaram esse procedimento. Esse fato, somado a umamaior disponibilidade de recursos financeiros nos níveis hierárquicos mais elevados,pode ser uma possível explicação à tendência crescente para o uso da proteçãoauditiva associada à elevação do nível hierárquico ou da renda.

Alguns militares, quando perguntados se percebiam risco relacionado àsatividades de tiro, responderam da seguinte forma: “Sim. Porque pode algum militar se

distrair e virar o armamento; aí a gente tem sempre que ficar orientando pra que isso não ocorra.”;

“Envolver risco sim, mas só se praticar sem atenção, tipo um companheiro virar o fuzil pro lado

e atingir um companheiro” e “Não. Porque tem toda uma equipe, o oficial de tiro e o sargento de

tiro, eles são responsáveis pela segurança.”. Aqui aparece novamente a dualidade dopassivo com o contraponto da responsabilização do grupo ou da situação. Pode-se perceber que o foco de preocupação encontra-se no risco de acidente edesconhecem ou desconsideram o risco físico do ruído. Dois sujeitos demonstraramalgum nível de preocupação com o ruído, o que pode ser observado na respostadada à mesma pergunta: “Só o risco da audição, teve um companheiro que ficou surdo de

um ouvido por causa disso.” e “Não, só os impactos no ouvido, o som é muito forte, ainda

mais o do 7,62mm.”.

Dejours (1999) apresenta uma análise do modo como os funcionários podemencarar o trabalho, especificamente as medidas de proteção, o que parece acon-tecer na situação dos militares. Ele afirma a existência da negação do risco pelofuncionário ciente das agressões do trabalho para que possa continuar empregado.Da mesma forma, podemos supor que esses militares acabem contribuindo paraagravar sua vulnerabilidade, pois também podem, conforme aponta Dejours(op. Cit) tentar eliminar as impressões de risco de sua consciência para garantir asua permanência na atividade, ou, ainda, não sofrer outros tipos de pressão,como o preconceito dos companheiros, por não serem “corajosos” a ponto derealizar a mesma atividade que os demais realizam, sem a proteção adequada.

Esse descaso com a saúde auditiva dos militares foi percebido também porSilva et al. (2004), num estudo sobre riscos auditivos, no qual os pesquisadoresobservaram em entrevistas com militares brasileiros que os sujeitos entrevistadosnão tinham informação sobre os riscos auditivos causados pelo ruído de impactodos armamentos utilizados, nem sobre maneira para se protegerem e evitarem aperda auditiva.

Page 16: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

112 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

Os resultados deste estudo vão ao encontro dos resultados de outros estudosno tocante ao modo como os trabalhadores avaliam o risco da própria exposiçãoa ruídos, pois essa avaliação poderia ter um papel importante no comportamentorelativo às medidas de segurança ocupacional desses trabalhadores (Brady, 1999;Arezes & Miguel, 2005).

Ayres et al. (2003) concluem que, quando se considera a vulnerabilidade dosdiferentes grupos de trabalhadores, é possível alcançar uma percepção ampla, deforma a estruturar programas que levem em conta os aspectos comportamentais,culturais, econômicos e políticos. A vulnerabilidade do trabalhador, no meiomilitar, é função de duas variáveis: a sua própria avaliação das situações de risco,o que vai afastá-lo das situações de risco ou procurar minimizá-las; e a atenção doExército em prover, além de um ambiente de trabalho seguro, equipamentos deproteção coletivos e individuais, bem como treinamento e instruções sobre o seuuso. Assim, para minimizar-lhes a vulnerabilidade, interferindo no processo de“retroalimentação defensiva” é preciso que se inicie uma mudança postural, nãoimediatamente naqueles trabalhadores militares, mas, sim, nos empregadoresmilitares. Ou seja, urge que se repensem as atuais políticas norteadoras dasegurança destes profissionais, dedicados à segurança de todos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se garantir que, durante as atividades de tiro de fuzil e de artilharia, osmilitares estão expostos a um nível de pressão sonora de 147 dB (C), com indíciosda possibilidade de que esse valor possa atingir 188 dB, o que representa graverisco à saúde auditiva dos militares.

O processo de trabalho durante os tiros de artilharia exige comunicaçãoverbal entre militares que se posicionam a uma distância de 50 metros. Tal fatocria um paradoxo entre a proteção auditiva e a inteligibilidade da comunicaçãoverbal, indicando a necessidade de que os militares repensem o processo detrabalho ou o EPI utilizado. Os fatores que contribuem para que os militaresnegligenciem sua segurança auditiva nas atividades de tiro são:

• A falta da disponibilidade do equipamento de proteção auditiva no localde trabalho;

• A falta de treinamento, orientação e fiscalização no uso do EPI por partedos responsáveis por essas atividades.

• A falta de informação e entendimento quanto ao real risco da exposiçãoaos ruídos dos tiros;

Page 17: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 113

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

Tais fatores são diretamente associados aos modelos de relações trabalhistasque são empregados no país. Enquanto os vínculos empregatícios baseadosna CLT possuem diversos documentos que definem responsabilidades sobresegurança no trabalho, os trabalhadores regidos pelo Estatuto do Militares nãose beneficiam desses documentos, permanecendo com um atraso de meio séculono tocante à segurança ocupacional.

A avaliação individual do risco influencia significativamente a utilização daproteção auditiva. Em relação à renda ou nível hierárquico, o tipo de análiseempregada permite, apenas, considerar a existência de uma tendência ao uso daproteção com o aumento da renda, au posto hierárquico, ou ainda, do tempo deformação do militar.

Para que o Exército tenha um ambiente ocupacional seguro, durante asatividades de tiro, esses militares devem ser orientados quanto aos riscos dessaatividade, não apenas como um repasse obrigatório de informação, mas, prin-cipalmente, como uma ação imprescindível à manutenção da saúde auditivadesses profissionais.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

ALMEIDA, I. M. A gestão cognitiva da atividade e a análise de acidentes dotrabalho. Revista Brasileira do Trabalho. Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 275 - 282, 2004.

AREZES, P.; MIGUEL, A. S. Individual perception of noise exposure and hearingprotection in industry. Human Factors: The Journal of the Human Factors and

Ergonomics Society. v. 47, n. 4, p. 683 - 692, 2005.

AYRES, J. R. C. M.; JÚNIOR, I. F.; CALAZANS, G. J.; FILHO, H. C. S. O conceito devulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In:CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências.

Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003, p.117 - 139.

BANDEIRA, F. A. S.; FRÓES, H. C.; HERCOS JR., C. Trauma acústico. Revista

Brasileira de Otorrinolaringologia. São Paulo, v. 45, p. 261 - 266, 1979.

BRADY, J. Training to promote worker’s use of hearing protection: The influence of work

climate factors on training effectiveness. 1999. UMI Dissertation Services (PhD Thesis)- The University of Michigan. Michigan, USA.

BRASIL. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V doTítulo II da Consolidação das leis do trabalho, relativo à Segurança e Medicinado Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, 23 dez. 1977.

Page 18: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

114 – CA D . S A Ú D E C O L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007

E D U A R D O B O R B A N E V E S , M A R C I A G O M I D E D A S I L V A M E L L O

_______. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as NormasRegulamentadoras – NR – do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leisdo Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da

União. Brasília, 06 jul. 1978.

_______. Lei n° 6.880 de 9 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatutodos Militares. Diário Oficial da União. Brasília, 11 dez. 1980.

_______. Estado - Maior do Exército. Instruções gerais de tiro com o armamento do

Exército - IGTAEx. Brasília: EGGCF, 2001a.

_______. Portaria nº 25, de 15 de outubro de 2001. NR 6 - estabelece asdisposições legais relativas aos EPIs. Diário Oficial da União. Brasília, 17 out, 2001b.

BRITO, N. A. L. Limiares auditivos na freqüência de 12.000 Hz emaeronavegantes. Revista de Medicina Aeronáutica Brasileira. v. 48, n. 1/2,p. 65 - 67,1998.

COTER. Comando de Operações Terrestres. Caderno de Instrução CI 32/2:

gerenciamento de risco aplicado às atividades militares. 1. ed. Brasília: EGGCF; 2005.

CRU, D.; DEJOURS, C. Saberes de prudência nas profissões da construção civil.Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. v. 15, n. 59, p. 30 - 34, 1987.

DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Ed. Fundação GetúlioVargas, 1999. Tradução de Luiz Alberto Monjardim.

DIAZ, Y.; RESNICK, M. A model to predict employee compliance with employeecorporate’s safety regulations factoring risk perception. 14th Trienal Congress ofthe Internacional Ergonomics Associations San Diego: HFES/IEA, 2000.Proceedings. v. 4, 2000, p. 323 - 326.

DUARTE FILHO, E.; OLIVEIRA, J. C.; LIMA, D. A. A redução e eliminação danocividade do trabalho pela gestão integrada de saúde, meio ambiente e qualidade.In: MENDES, R. (Org.). Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, v. 2, 2005.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Armas, quadros e serviços, s/d. Disponível em:<http://www.exercito.gov.br/03Brafor/armas/indice.htm>. Acesso em:07 mar. 2006.

FERNANDES, J. C. Effects of hearing protector devices on speech intelligibility.Applied Acoustics. v. 64, n. 6, p. 581 - 590, 2003.

GLENDON, I.; MCKENNA, E. Human safety and risk management. London: Chapman &Hall, 1995.

Page 19: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

CA D . S A Ú D E CO L E T . , R I O D E J A N E I R O , 15 (1 ) : 97 - 116, 2007 – 115

O U S O D E D I S P O S I T I V O S D E P R O T E Ç Ã O A U D I T I V A N O S T I R O S D E F U Z I L E D E A R T I L H A R I A

GODOY, T. C. M. Perdas auditivas induzidas pelo ruído em militares: um enfoque preventivo.

1991.136p. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Faculdade deFonoaudiologia. PUC, São Paulo.

GOMIDE, M.; SERRÃO, M. A. A Educação ambiental e a promoção da saúde.Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 12, n. 1, p. 69 - 86, 2004.

INTENSIDADE do ruído em armas de guerra. s/d. Revista Brasileira deOtorrinolaringologia. Disponível em: <http://www.rborl.org.br/conteudo/acervo/acervo.asp?id=942>. Acesso em: 05 out 2006.

KONOPKA, W.; PIETKIEWICZ, P.; ZALEWSKI, P. Otoacoustic emissions examinationsin soldiers before and after shooting. Otolaryngologia Polska. Poland, v. 54, n. 6,p.745 - 749, 2000.

LEHTOMAKI, K.; PAAKKONEN, R.; KALLIOMAKI, V.; RANTANEN, J. Risk of accidentsand occupational diseases among the Finnish Defence Forces. Military Medecine.v. 170, n. 9, p. 756 - 756, 2005.

LINCOLN, Y. S.; GUBA, E. G. Naturalistic inquiry. Beverly Hills: Sage, 1985. 235p.

LUPTON, D. Corpos, prazeres e práticas do eu. Educação & Realidade. PortoAlegre, v. 25, n. 2, p.15 - 48, 2000.

LUSK, S.; RONIS, D. L.; KERR, M. J. Predictors of hearing protection use amongworkers: implications for training programs. Human Factors. v. 37, n. 3,p. 635 - 640, 1995.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

MEYER, D. E. E.; MELLO, D. F.; VALADÃO, M. M. “Você aprende. A genteensina?”: interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva davulnerabilidade. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 6,p. 1335 - 1342, 2006.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. ed. Petrópolis:Vozes, 2001. 80p.

MORATA, T. C.; FIORINI, A. C.; FISCHER, F. M.; KRIEG, E. F.; GOZZOLI, L.;COLACIOPPO, S. Factors affecting the use of hearing protectors in a populationof printing workers. Noise & Health. v. 4, n. 13, p. 25 - 32, 2001.

NEVES-PINTO, R. M. N.; MONTEIRO, A. R. C.; SELIMAM, J. Perda auditivainduzida pelo ruído: revisão das publicações por brasileiros no período 1938-1970.In: NUDELMAN, A. A.; COSTA, E. A.; SELIGMAN J.; BAÑEZ, R. N. PAIR – Perda

auditiva induzida pelo ruído. Porto Alegre: Bagaggem Comunicação, 1997. p. 33 - 39.

Page 20: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

116 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (2 ) : 399 - 404 , 2006

K E N N E T H R O C H E L D E C A M A R G O J R . , C L A U D I A M E D I N A C O E L I

OLIVEIRA-SILVA, J. J.; ALVES, S. R.; MEYER, A.; PEREZ, F.; SARCINELLI, P. N.;MATTOS, R. C. O. C. Influence of social-economic factors on the pesticinepoisoning, Brazil. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 35, n. 2, p. 130 - 135, 2001.

RABINOW, P. The Foucault reader. New York: Pantheon Books, 1984.

RABINOWITZ, S.; MELAMED, S.; FEINER, M.; WEISBERG, E. Hostility and hearingprotection behavior: the mediating role of personal beliefs and low frustrationtolerance. Journal of Occupational Health Psychology. v. 1, n. 4, p. 375 - 381, 1996.

RUNDMO, T. Associations between risk perception and safety. Safety Science. v. 24,n. 3, p. 197 - 209, 1996.

SEBALLOS, S. L. Condição auditiva de praticantes com arma de fogo. 1995. 64p. Dissertação(Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana) - Universidade Federal deSanta Maria, Rio Grande do Sul.

SILVA, A. P.; COSTA, E. A.; RODRIGUES, S. M. M.; SOUZA, H. L. R.; MASSAFERA,V. G. Avaliação do perfil auditivo de militares de um quartel do ExércitoBrasileiro. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v. 70, n. 3, p. 344 - 350, 2004.

SILVA, M.; SANTANA, V. S. Ocupação e mortalidade na Marinha do Brasil.Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 38, n. 5, p.709 - 715, 2004..

STEWART, M.; PANKIW, R.; LEHMAN, M. E.; SIMPSON, T. H. Hearing loss andhearing handicap in users of recreational firearms. Journal of the American Academy

of Audiology. v. 13, n. 3, p. 160 - 168, 2002.

TAMBELLINI, A. T.; CÂMARA, V. M. Vigilância Ambiental em Saúde: conceitos,caminhos e interfaces com outros tipos de vigilâncias. Cadernos de Saúde Pública.Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 77 - 93, 2002.

TEMMEL, A. F. P.; KIERNER, A. C.; STEURER, M.; RIEDL, S.; INNITZER, J. Hearingloss and tinnitus in acute acoustic trauma. Wien Klin Wochenschr. v. 111, n. 21,p. 891 - 893, 1999.

WEYMAN, A.; KELLY, C. Risk perception and risk communication: a review of the literature,

health and safety executive contract research report. United Kingdom: Health and SafetyExecutive, n. 248, 1999.

Page 21: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

INSTRUÇÕES PARA OS COLABORADORES

Os Cadernos Saúde Coletiva publicam trabalhos inéditos consideradosrelevantes para a área de Saúde Coletiva.

SERÃO ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES:Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual,

ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximode 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos esintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciaisde pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temasligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamenterefletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigospublicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas delivros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho finalde Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nomedo orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract ekey words; máximo 2 páginas).

APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS:Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais

devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete(formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar:Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação(vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor(com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título dotrabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e keywords. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo.Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a nomínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventual-mente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta respostainformando da aceitação ou não do trabalho.

A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais depublicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. Oautor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores.

Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sidorealizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de umComitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência aeste consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidadepela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo.

• Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo,fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas aprimeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito eos subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o quese quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no péde página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro docorpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuode margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidasdas respectivas referências.

Page 22: O uso de dispositivos de proteção auditiva nos tiros de fuzil e de

• Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá sermínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escritoem anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzi-das em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e emformato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustra-ções. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados emsua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradasseqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita.

• Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resu-mo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução eminglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) eem português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-sepreferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos napágina http://decs.bvs.br/).

• Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpodo texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da páginano caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somenteo sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas asreferências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final doartigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha deuma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de maisde uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes àprimeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros,locais, editoras e instituições.

Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veicula-do via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso(em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada):

ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar doinfarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informa-ções Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999.

PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde poridosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>.Acesso em: 2 jan. 2005.

ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p.

TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutoradoem Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro.

BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico con-temporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e

reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112.

GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro:Abrasco, 1997. p. 59-67.