oportunidade e desafios da educaÇÃo a distÂncia: uma ... · diante da dinâmica da modernidade,...

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1 OPORTUNIDADE E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: uma análise na visão de alunos e profissionais catarinenses sobre a modalidade EaD Adriane Nopes 1 Paulo Ricardo Borges Pedroso 2 Resumo O presente artigo visa contribuir com as análises sobre a inclusão dos novos meios de comunicação no processo de ensino-aprendizagem, mais especificamente, a inclusão do sistema de redes (internet), característico da nova modalidade de ensino EaD. O objetivo da pesquisa foi identificar os desafios e oportunidades da modalidade EaD junto aos alunos catarinenses que optaram por esta modalidade de ensino para graduar- se, bem como, com profissionais (educadores, gestores e responsáveis por esta modalidade de ensino em centros educacionais catarinenses) que atuam diretamente nesta área de ensino no Estado de Santa Catarina. A pesquisa foi realizada em 2014, a coleta de dados com os alunos foi realizada com questionário estruturado via meio eletrônico, e com os profissionais realizou-se pesquisa em profundidade. A pesquisa abordou questões como pontos fortes e pontos fracos, vantagens e desvantagens, facilidades e dificuldades metodológicas e didáticas no processo de educação quando se utiliza das novas tecnologias de comunicação, no caso as redes de internet. A modalidade de ensino a distância com o uso da internet no Brasil é bastante recente, portanto, um processo ainda em formações e reconhecimento, apresentando diversos desafios e questionamentos quanto à qualidade do ensino. No Estado de Santa Catarina, a pesquisa aponta para um processo ascendente de aceitação, para os alunos e profissionais entrevistados, a modalidade de EaD representa mais uma possibilidade de obter uma graduação, portanto, não significa uma ruptura com o ensino presencial. Os entrevistados apresentam como principal vantagem à flexibilidade tempo e espaço, e como principal desafio, a falta de cultura da autonomia no processo de aprendizagem. Palavras chave: educação; ensino EaD; Santa Catarina Introdução A sociedade moderna contemporânea, desde final do século XX, vivencia novas formas de inter-relação humana, principalmente, com a inclusão das novas tecnologias 1 Doutora e mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em História Social pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e graduada em Ciências Sociais pela UFSC. Professora no Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina e SENAC. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa: Projetos globais e o estranho. Situações locais e o diverso, no Departamento de Sociologia Política da UFSC. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Marketing pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), graduado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor no Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina e sócio da empresa Lupi & Associados Pesquisa e Marketing. E-mail: [email protected]

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1

OPORTUNIDADE E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: uma análise

na visão de alunos e profissionais catarinenses sobre a modalidade EaD

Adriane Nopes

1

Paulo Ricardo Borges Pedroso2

Resumo

O presente artigo visa contribuir com as análises sobre a inclusão dos novos meios de

comunicação no processo de ensino-aprendizagem, mais especificamente, a inclusão do

sistema de redes (internet), característico da nova modalidade de ensino EaD. O

objetivo da pesquisa foi identificar os desafios e oportunidades da modalidade EaD

junto aos alunos catarinenses que optaram por esta modalidade de ensino para graduar-

se, bem como, com profissionais (educadores, gestores e responsáveis por esta

modalidade de ensino em centros educacionais catarinenses) que atuam diretamente

nesta área de ensino no Estado de Santa Catarina. A pesquisa foi realizada em 2014, a

coleta de dados com os alunos foi realizada com questionário estruturado via meio

eletrônico, e com os profissionais realizou-se pesquisa em profundidade. A pesquisa

abordou questões como pontos fortes e pontos fracos, vantagens e desvantagens,

facilidades e dificuldades metodológicas e didáticas no processo de educação quando se

utiliza das novas tecnologias de comunicação, no caso as redes de internet. A

modalidade de ensino a distância com o uso da internet no Brasil é bastante recente,

portanto, um processo ainda em formações e reconhecimento, apresentando diversos

desafios e questionamentos quanto à qualidade do ensino. No Estado de Santa Catarina,

a pesquisa aponta para um processo ascendente de aceitação, para os alunos e

profissionais entrevistados, a modalidade de EaD representa mais uma possibilidade de

obter uma graduação, portanto, não significa uma ruptura com o ensino presencial. Os

entrevistados apresentam como principal vantagem à flexibilidade tempo e espaço, e

como principal desafio, a falta de cultura da autonomia no processo de aprendizagem.

Palavras chave: educação; ensino EaD; Santa Catarina

Introdução

A sociedade moderna contemporânea, desde final do século XX, vivencia novas

formas de inter-relação humana, principalmente, com a inclusão das novas tecnologias

1 Doutora e mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

especialista em História Social pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e graduada

em Ciências Sociais pela UFSC. Professora no Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina e

SENAC. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa: Projetos globais e o estranho. Situações locais e o

diverso, no Departamento de Sociologia Política da UFSC. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Marketing pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), graduado em

Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor no Centro Universitário Estácio de Sá de Santa

Catarina e sócio da empresa Lupi & Associados Pesquisa e Marketing. E-mail:

[email protected]

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de comunicação, como computadores, internet e celulares promovendo o que Harvey

(1992) denomina de compressão do tempo e espaço. Para Castells (1999), o processo de

inclusão das novas tecnologias de comunicação nas relações humanas emerge a

denominada “sociedade em rede”. Neste processo, a educação igualmente vem

apresentando algumas transformações substanciais surgindo novas modalidades de

Educação a Distância (EaD), tendo como principal, meio as redes de comunicação.

Entretanto, sobre as novas modalidades de ensino EaD emergem debates

bastante controversos, pois, o que por um lado demanda oportunidades, por outro

aparecem muitos desafios no âmbito educacional. No presente artigo analisaremos

como os alunos EaD e profissionais catarinenses avaliam estas novas modalidades de

ensino, diagnosticando pontos fracos e pontos fortes.

Para desenvolver uma análise nessa perspectiva, inicialmente faremos uma breve

análise sobre o conceito rede, situando a emergência desta abordagem na Educação a

Distância. No segundo tópico apresentaremos como as redes se inserem no processo de

educação, apresentando os desafios didáticos e metodológicos de ensino, bem como as

oportunidades de inclusão educacional. Para compreendermos como o processo de

inclusão de redes no sistema de educação se dá no Estado de Santa Catarina, faremos o

cotejamento com a pesquisa realizada junto aos profissionais e alunos que optam pela

modalidade EaD.

1 SOCIEDADE DE REDE E ENSINO EaD

Há certo consenso por parte dos cientistas sociais (sociólogos, historiadores,

geógrafos e antropólogos), de que vivemos um processo de reconstrução e

reorganização da sociedade. Por força principalmente da globalização e das tecnologias

da informação, uma nova organização social encontra-se em construção, atingindo todas

das áreas de interação humana. Diferentes autores dão diferentes nomes a este processo

da sociedade contemporânea; “pós-modernismo” (HARVEY, 1992) “modernidade

líquida” (BAUMAN, 2001), “alta modernidade” (GIDDENS, 1993) e “sociedade em

rede” (CASTELLS, 1999). No entanto, independente da questão terminológica, todos

admitem que vivemos num processo de reestruturação espacial da sociedade,

ultrapassando os limites de barreiras sejam elas locais, regionais ou nacionais,

assumindo um caráter global.

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O acelerado processo de implementação tecnológica, principalmente a

modernização dos meios de comunicação, internet, telefonia celular, ampliam a

integração do território, e “o espaço torna-se fluido, permitindo que os fatores de

produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital passem a ter uma grande

mobilidade”. (SANTOS, 2005, p. 42) Desta forma, pode-se incluir nesta perspectiva de

atuação dos novos meios de comunicação o processo educacional, conforme nos

propomos para este artigo, verificar como os alunos de graduação EaD no Estado de

Santa Catarina, avaliam o processo de ensino via internet.

Neste contexto, os avanços tecnológicos são determinantes do quadro de

mudanças atual e na análise das redes. E, “quanto mais avança a civilização material,

mais se impõe o caráter deliberado na constituição de rede” (SANTOS, 2002, p. 265).

Diante da dinâmica da modernidade, da fugacidade, de novas possibilidades de

interelação, insurge um novo tipo de organização espaço-temporal das práticas sociais,

onde, “a rede representa um dos recortes espaciais possíveis para compreender estas

novas organizações sociais do espaço” (DIAS, 2005, p. 23).

A ideia de rede como representação existe desde a antiguidade grega, fazendo-se

presente na “mitologia do fio e da tecelagem”, na “metáfora do organismo” (corpo ou

cérebro como um sistema de fluxos)3. Segundo Musso (2004), o conceito moderno de

rede provém da ideia de sistemas, oriundo da filosofia de Saint-Simon, na França do

século XIX e implica a associação de técnica. Neste período histórico há uma grande

sistematização da modernização nos sistemas de transporte e comunicação (emergem os

sistemas de estradas de ferro, de rodagem e o telégrafo). “A rede sai do corpo e torna-se

um artefato superposto a um território e anamorfoseando-o” (MUSSO, 2004, p. 22). O

conceito de rede é reformulado, mantendo a noção de sistema, fluxo e movimento, mas

atualmente, vem associado também à técnica.

Para Dias (1995, p. 141) “toda a história das redes técnicas é a história de

inovações que, uma após as outras, surgiram em resposta a uma demanda social antes

localizada do que uniformemente distribuída”. Ou seja, o próprio conceito de rede é

uma construção em movimento; está em constante construção e reconstrução,

acompanhando os movimentos históricos de desenvolvimento da técnica, adaptando-se

às variações do espaço e do tempo, e, das necessidades do social.

3 A analogia da rede no mitologia grega do fio e da tecelagem, ou na associação com o organismo, ver

Musso (2004) e Dias (2005).

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Mesmo o conceito rede sendo bastante amplo e complexo, há alguns pontos de

convergência sobre o enfoque de análise de rede.

Segundo Dias (2005, p. 11), o termo rede teve uma larga difusão nas últimas

décadas do século XX, sendo utilizado em diversos campos disciplinares, seja enquanto

conceito teórico, ou como ferramenta metodológica. Mas em todas as abordagens há

uma perspectiva de integração e interligação de pontos ou nós, que compõem uma rede,

perpassando barreiras locais, regionais e nacionais, assumindo um caráter global.

Analisando as diversas contribuições conceituais nas diversas áreas de

investigação, Musso (2004, p. 31) propõe uma definição para rede, apontando três

níveis à definição: primeiro, “a rede é uma estrutura de interconexões instáveis”;

segundo, a rede é “composta de elementos em interação” e terceiro, a “variabilidade (da

rede) obedece a alguma regra de funcionamento”. Partindo da definição de Musso,

podemos dizer que a movimentação e dinâmica da rede a torna complexa, pois mesmo

obedecendo a algumas regras de funcionamento, os elementos de interação são

variáveis, fazendo com que a estrutura da rede seja instável.

O que difere uma rede de outra é a dimensão organizacional de cada rede, no

tempo e no espaço.

A dimensão organizacional refere-se à configuração interna da entidade

estruturada em rede, abrangendo os agentes sociais, a origem da rede, a

natureza dos fluxos, a função e finalidade da rede, sua existência e

construção, sua formalização e organicidade. (CORRÊA, 1997, p.109)

Para facilitar o entendimento das abordagens e da dinâmica da rede, Dias (2005),

analisa que, atualmente, a maioria dos estudos de rede relaciona-se a,

quatro grandes fluxos que atravessam o espaço geográfico: os movimentos de

pessoas ou fluxos migratórios; os movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias;

os movimentos de informação ou fluxos informacionais; e os movimentos de capitais

ou fluxos monetários e financeiros. (DIAS, 2005, p.11)

No caso em análise focaremos na perspectiva dos fluxos de informação e

conhecimento na modalidade de Educação a Distância (EaD). Para analisar o fluxo de

informações da rede precisamos ter em mente que, a rede apresenta duas propriedades

contraditórias, conexidade e exclusão, ou seja, tanto pode representar uma oportunidade

de democratização da educação, como também pode criar novas desigualdades e meios

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de exploração sociais. Se por um lado a rede integra e liga lugares e pessoas, por outro

lado, pode excluir e impessoalizar as relações humanas.

Neste sentido, para apreender o método de análise da rede é preciso perceber

que, uma rede pode não ter uma superfície, nem dimensões específicas e forma definida,

mas possui os pontos nodais, portanto, “uma rede deve ser entendida com base numa

lógica das conexões, e não numa lógica das superfícies” (KASTRUP, 2004, p. 80).

Assim, segundo Corrêa (1997), ao definirmos uma rede para analisar,

precisamos ter em mente algumas especificações, observando a “dimensão

organizacional”, a “dimensão espacial” e “temporal” do objeto investigado. Cada uma

dessas dimensões desdobra-se apresentando características específicas, de acordo com a

rede em análise. Segundo, Benakouche, (2005, p. 88), para Latour (1987) e Bijiker

(1992), a melhor estratégia para identificar os “grupos sociais relevantes” é “seguir os

atores” envolvidos no problema investigado, para não correr o risco de deixar de lado

algum grupo. No entanto, estas estratégias somente serão satisfatórias quando o caso em

análise referir-se a uma rede com características mais “fechadas”4.

No caso de estudo de redes mais amplas o problema metodológico torna-se mais

evidente, pois como observa Marques (2000, p. 310), no “estudo de caso de redes com

maiores dimensões”, provavelmente parte significante de entrevistados não saberão

identificar outros agentes envolvidos, bem como não saberão identificar o tipo de

relações entre os agentes. Para Santos (2005), o que dificulta e conhecer os elementos e

as variáveis que compõem a rede, e as consequências do meio técnico-científico-

informacional refere-se à sua abrangência.

Desta forma, diante da complexidade de análise das redes, optamos nesta análise

segmentar os atores de abrangência em determinado tempo e espaço, ou seja, a

profissionais atuantes na modalidade de ensino EaD e alunos que optaram por esta

modalidade para sua formação no Estado de Santa Catarina em 2014.

No entanto, antes de apresentarmos a visão do segmento selecionado

apresentaremos um breve histórico sobre a modalidade de Ensino EaD, bem como os

desafios e oportunidades que emergem na inclusão das tecnologias de comunicação na

educação brasileira.

4 Marque (2002, p. 310)

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2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EaD) – A REDE NO PROCESSO DE ENSINO

O modelo de educação a distância não é algo novo, o grande diferencial das

novas metodologias de Educação a Distância (EaD) é a inserção dos novos meios de

comunicação, principalmente as redes de internet. Segundo relatório da ABED (2012), o

ensino a distância existe desde o século XIX, a primeira experiência nesse campo de

ensino registrada foi na Suécia em 1883. No entanto, têm-se notícias de ensino a

distância na Inglaterra em 1840; na Alemanha em 1856 e nos Estados Unidos aparece o

ensino por correspondência em 1874.

O início do ensino a distância no Brasil data provavelmente de 1904, com as

Escolas Internacionais e cursos de datilografia por correspondência oferecidos pelo

Jornal do Brasil.

No processo histórico apresentado por autores como Maia & Mattar (2007) e

Vianney (1999) a utilização dos meios de comunicação no ensino a distância no Brasil,

existem desde a década de 1920, quando a Rádio-Escola (entre os anos de 1923 a 1934)

oferecia cursos de Português, Francês, Silvicultura, Literatura Francesa, Esperanto,

Radiotelegrafia e Telefonia. Segundo pesquisa realizada por Hoffmann em 2013 a

Radio-Escola foi doada ao Ministério da Educação e Saúde em 1936; em 1939 a Rádio

Monitor foi o primeiro Instituto Brasileiro a oferecer cursos profissionalizantes a

distância por correspondência. E, em 1941, surge o Instituto Universal Brasileiro (IUB)

e a primeira Universidade do Ar, que durou até 1944, neste período a metodologia

investida era os alunos estudarem por apostilas.

Na década de 1960 verifica-se uma ampla difusão e expansão do ensino a

distância no Brasil, quando se propaga várias iniciativas, como, por exemplo, em 1965

foi criada a Divisão de Ensino a Distância (DED) pelo Ministério do Exército, na Escola

de Comando e Estado Maior (ECEME); criação da Rádio e TV Educativa no Rio

Grande do Sul / MEC; criação do Centro de Ensino Técnico de Brasília (CETEB), no

Rio de Janeiro, que inicia suas atividades a distância a partir de 1973/74. Em 1967, cria-

se a Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FUNTEVE) no Rio de

Janeiro; a Fundação Padre Anchieta, atual TV Cultura, mantida pelo Governo do Estado

de São Paulo, atividades educativas e culturais ocorriam via rádio e televisão; a

Fundação Padre Landell de Moura (FEPLAM) no Rio Grande do Sul, que seguia as

orientações do seu núcleo de Educação a Distância com metodologias de ensino por

correspondência e via rádio. Ainda, em 1967 foi criado o Instituto Brasileiro de

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Administração Municipal (IBAM), que também foi aplicada a metodologia de ensino

por correspondência para atender demandas de funcionários de prefeituras municipais.

Em 1969, TV Cultura lança o primeiro telecurso; e, neste ano foi criada a Fundação

Maranhense de TV Educativa.

Como podemos perceber pelo breve histórico apresentado, as metodologias de

ensino a distância no Brasil dava-se basicamente por correspondência, rádio e televisão

auxiliados por apostilas e visavam uma formação complementar.

O grande diferencial da educação a distância ocorrerá no Brasil em 1985 com a

inclusão da rede de internet, com o uso do computador ou em rede local nas

universidades no país. Entretanto, a modalidade de Educação a Distância (EaD) se

difunde no Brasil somente na década de 1990, principalmente devido a expansão das

redes de internet e o reconhecimento pelo Governo, assim, em 1995 cria-se o Centro

Nacional de Educação a Distância de iniciativa do SENAC, e, em 1996 funda-se

oficialmente a Secretaria de Educação a Distância (SEED) pelo Decreto nº 1.917, de 27

de maio de 1996, visando uma política que privilegia a democratização e a qualidade da

educação brasileira.

Portanto, segundo Hoffmann (2013), no Brasil o reconhecimento legal de

Educação a Distância apresenta como marco legal o artigo 80 da LDB - Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, cujo

caput dispõe que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de

programas de educação a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de

educação continuada”. A referida foi regulamentada em 20 de dezembro de 2005 pelo

Decreto n° 5.622 (BRASIL, 2005), estabelecendo a forma de credenciamento das

instituições, os requisitos para a realização de exames e registro de diplomas. (PORTAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012). A regulamentação de 2005 estabelece que:

(...) como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica

nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e

tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores

desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (Art. 1º,

Decreto nº 5.622/2005).

No entanto, cabe destacar que, na definição da Educação a Distância, segundo

decreto de 2005, a modalidade de Educação a Distância tem por obrigatoriedade aulas

presenciais, conforme se descreve.

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§1º A Educação a Distância organiza-se segundo metodologia, gestão e

avaliação peculiares, para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de

momentos presenciais para:

I – avaliações de estudantes;

II – estágios obrigatórios, quando previstos na legislação pertinente;

III – defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na

legislação pertinente e;

IV – atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso. (Art.

1º, Decreto nº 5.622/2005).

Com a regulamentação legal, por parte do Ministério da Educação, e

reconhecimento da modalidade de Educação a Distância, o governo federal criou leis e

estabeleceu normas para a Educação a Distância no Brasil (UNIFESP, 2009) em todos

os níveis de educação, incluindo cursos superiores da EaD, reconhecendo a

equivalência de diplomas aos dos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior

que utilizam a modalidade presencial. O reconhecimento de diplomas de graduação na

modalidade EaD ainda gera muitos debates.

Desde a legalização da Educação a Distância no Brasil, verificam-se crescentes

investimentos por parte das instituições privadas e públicas nesta modalidade de ensino,

entretanto, ainda existem muitas controvérsias quando a Educação a Distância, há quem

classifique esta modalidade de ensino como massificada e uma iniciativa de segunda

categoria; bem como, há os defensores da ideia da democratização da educação e que

“EaD é o Futuro da Educação”, como veremos no próximo tópico.

2.1 Principais desafios e oportunidades do Ensino EaD em Santa Catarina

No que tange as controvérsias e polêmicas do debate sobre a Educação a

Distância, verifica-se que a nova modalidade de ensino com a inclusão da rede no

processo de ensino-aprendizado está em processo de implementação e reconhecimento,

e, portanto, imbuído de incertezas quanto na sua eficácia para atender as necessidades

da sociedade contemporânea. Desta forma, verifica-se que a modalidade de EaD vem

carregado do imaginário de ensino sem qualidade, devido a vários fatores como: a falta

da presença física do professor, que Freire (1988) refere-se a pedagogias “bancárias”, a

falta de espaço para tirar dúvidas, ou seja, a modalidade na prática do ensino torna-se

muito impessoal, bem como, a limitações de alguns professores(as) e alunos(as) no

domínio das ferramentas.

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Entre outros fatores da imagem negativa da EaD, verifica-se a percepção que são

formações voltadas a atender somente o mercado, cujo objetivo é reduzir custos para

aumentar a lucratividade. Neste sentido, como consta no relatório ABED (2012, p. 64):

Essa modalidade educacional vem adquirindo, com grande velocidade,

adeptos individuais e institucionais e, ao mesmo tempo, observa-se neste

caminho rastro de polêmicas e desafios. Há um esforço no sentido dos

educadores manterem o caráter educacional e os valores éticos e de

comprometimento social nas iniciativas em que estão envolvidos. Mas, há

também, a busca por parte de algumas instituições de priorizarem valores

econômicos e políticos na ampliação da conquista dos espaços educacionais.

Por outro lado, encontra-se muitas argumentações favoráveis a modalidade de

ensino da EaD, apresentando como principais justificativa: democratização do ensino e

menos oneroso.

Para complementar as questões de impasse da nova modalidade de ensino EaD

diante da complexidade que envolve a qualidade de ensino, o MEC estabelece a

obrigatoriedade de apresentar aspectos pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura

no Projeto Político Pedagógico de implementação de curso na modalidade a distância os

seguintes tópicos principais: “(I) Concepção de educação e currículo no processo de

ensino e aprendizagem; (II) Sistemas de Comunicação; (III) Material didático; (IV)

Avaliação; (V) Equipe multidisciplinar; (VI) Infraestrutura de apoio; (VII) Gestão

Acadêmico-Administrativa; (VIII) Sustentabilidade financeira. (MEC - SEED, 2007)”

Apresentado os pressupostos teóricos e legais que serviram de base para a

pesquisa, apresentaremos a visão entrevistados sobre os desafios e oportunidades que

envolvem a rede na modalidade de Educação a Distância.

3 O ENSINO EaD NA VISÃO DOS CATARINENSES ENTREVISTADOS

Na pesquisa realizada junto aos alunos de EaD em Santa Catarina foram

realizadas 330 entrevistas durante o mês de agosto de 2014. Considerando um número

aproximado de 70.000 estudantes no ensino superior nesta modalidade em todo o

Estado, conforme dados do Anuário Brasileiro de Educação a Distância (ABED) e um

coeficiente de confiança da pesquisa de 95% a margem de erro do estudo situa-se em

5,4% para mais ou para menos. Paralelamente a realização da pesquisa com alunos,

foram realizadas pesquisa em profundidade (qualitativa) com seis educadores e

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profissionais atuantes em EaD no Estado de Santa Catarina, a fim de ampliar a análise

sobre o tema em estudo.

Como análise geral, segundo os entrevistados verifica-se que a inclusão da rede

de internet no processo de ensino aprendizagem representa mais uma opção de acesso a

educação. Os alunos quando solicitados de forma espontânea a indicarem as razões que

os levaram a optar pela EaD citam diversas razões, entretanto, o fator preponderante

recai na relação social de tempo e espaço, ou seja, a flexibilidade de horários e do local

de estudo. É possível encontrar respostas baseadas em aspectos profissionais, como

incompatibilidade de horários e falta de tempo, assim como as de caráter pessoais, como

a existência de filhos pequenos que tomam tempo em demasia, especialmente das mães,

impossibilitando o acompanhamento de aulas na modalidade presencial. Desta forma,

quando estimulados a optar entre os diversos fatores e apontar as que mais contribuíram

na decisão, e quais observam maior vantagem na EaD, os estudantes as apontam na

seguinte ordem: flexibilidade de horários para estudos (82,4%); flexibilidade de local de

estudos (63,3%); evitar deslocamentos e trânsito (56,7%); menor custo (54,5%);

autonomia do aluno para estudar (44,8%); maior comprometimento do aluno (10,0%) e

maior segurança/medo da violência urbana (7,0%).

Os entrevistados quando solicitados a apresentar a justificativa mais importante

ao optarem por graduar-se na modalidade EaD, novamente surge como fator de

destaque a flexibilidade de horários (45,2%). Desta forma, verifica-se que a maioria dos

entrevistados que optam pela modalidade EaD visam conciliar suas atividades pessoais

e profissionais com a educação superior.

A visão dos profissionais da EaD é similar aquela apresentada pelos(as)

estudantes, com destaque para a flexibilidade de horários, entretanto, aparecem também

aspectos referentes a universalização de acesso com a quebra das barreiras de tempo e

espaço na educação, como refere o (a) professor(a) entrevistado(a) “Em minha opinião a

educação a distância é uma grande ferramenta para ampliar o acesso aos conhecimento,

pois derruba as barreiras referentes ao tempo e espaço.”

Os(as) alunos(as) quando arguidos sobre as principais desvantagens na

modalidade de ensino EaD destacam, prioritariamente, a falta de interação humana,

representando um desafio didático pedagógico. Desta forma, apontam, em ordem

decrescente, os seguintes fatores: falta de interatividade com os professores (53,9%);

dificuldades para retirar dúvidas (51,2%); falta de relacionamento humano (48,2%);

dependência de tecnologia (32,4%); exigência de maior comprometimento do estudante

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(24,8%); perda de espontaneidade do estudante (9,7%); qualidade do ensino (3,3%);

maior custo (1,8%); problemas burocráticos (também 1,8%); preconceito contra a EaD

(1,5%). Importante destacar que uma parcela de 2,4% não vê desvantagens na EaD.

Entre todos os fatores apontados, aqueles considerados como mais significativos

como desvantagens da EaD destacam-se: falta de interatividade com os professores

(24,3%); falta de relacionamento humano (23,9%) e dificuldades para retirar dúvidas

(20,9%). Estes fatores podem levar a dois questionamentos: apesar da opção pela EaD a

cultura do estudante ainda se prende a educação presencial com a disponibilidade do

professor, tanto na explicação quanto na retirada de dúvida, assim como fatores

relacionados ao contato humano. O outro ponto que pode ser objeto de futuros estudos é

a necessidade de que as instituições ofereçam mecanismos capazes de suprir estas

carências utilizando ferramentas, sites, plataformas e mesmo redes de relacionamentos

que propiciem esta maior interatividade entre professor e aluno.

Corroborando com a opinião dos(as) alunos(as), os(as) educadores veem na falta

de convívio professor-aluno como a principal desvantagem no processo ensino-

aprendizagem via internet, como pode ser visto no depoimento de um(a) dos(as)

entrevistados(as): “a tradição do processo de ensino-aprendizagem tem vinculado os

processos de estudo à presença de um professor nas discussões e assimilação do

aprendizado, logo, temos, geralmente, certa dificuldade em assumir a autonomia dos

processos de aprendizagem” (ENTREVISTA 4). Os profissionais educadores(as) da

área EaD acreditam que esta modalidade de ensino compromete a prática pedagógica, o

convívio, a troca de experiência e as dinâmicas de grupo.

Como propostas de práticas pedagógicas na modalidade de ensino pela internet

os(as) alunos(as) entrevistados(as) apresentam uma lista de ferramentas que julgam

úteis no processo da EaD. Neste sentido, as respostas apresentadas foram as seguintes:

ambiente para resolução de casos e problemas das disciplinas (40,9%); tutoria online

(40,0%); aulas transmitidas via web/internet (34,8%); chat de conversação com outros

alunos (26,4%); material didático impresso (19,7%); fórum de debates entre professores

e alunos (19,4%) e quadro virtual de avisos (9,1%). É possível perceber que as respostas

nesta questão indicam, novamente, a percepção da necessidade de maior contato com os

professores, desta vez porém, com a utilização de ferramentas da web, tornando os

espaços mais interativo e dialógico.

Quando perguntados quais dos itens sugeridos seriam mais difíceis para serem

realizados por um estudante de EaD as respostas vão no seguinte sentido:

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comprometimento do aluno x flexibilidade de horários (33,6%); saber selecionar as

melhores fontes de referências e estudos (23,9%); buscar um aprendizado mais

aprofundado das disciplinas (22,4%); navegar em ambientes complexos e em constante

mudança (10,0%) e lidar com novas informações que surgem a cada dia (8,2%). Já 1,8%

dos estudantes não sabem apontar quais dos itens é responsável por maior dificuldades

para os alunos em EaD.

No que tange a criação de um Plano de Estudos 61,2% dos entrevistados

afirmam que o elaboraram ao iniciar o curso superior em EaD e 52,1% afirmam que

costumam obedecer a este Plano sempre ou quase sempre, demonstrando assim

coerência com a questão da autodeterminação de dias e horários para se dedicar aos

estudos. Entretanto 38,8% afirmam não terem elaborado um Plano de Estudos e 9,1%

afirmam não obedecer ao Plano elaborado. Assim, percebe-se divisão entre aqueles que

criam e cumprem o Plano e entre os que não criam e/ou não cumprem o Plano

corroborando a percepção de que o comprometimento dos alunos frente a flexibilidade

de horários é o fator primordial a ser estimulado e superado para o sucesso individual na

EaD.

Neste sentido, os(as) especialistas na área também observam dificuldade

enfrentada pelos alunos na organização do tempo de estudos o que pode acarreta em um

impasse metodológico de ensino a relação entre o comprometimento do aluno x

flexibilidade de horários. Na visão de um(a) d(os)as entrevistados(as):

A disciplina é um dos fatores mais importantes para o sucesso em cursos na

modalidade EAD e que leva ao comprometimento do aluno frente à

flexibilidade de horários possibilitada pela modalidade sendo este um dos

motivos mais citados pelos alunos que evadiram de cursos a distância é a

falta de tempo, que na verdade pode ser traduzida pela falta de disciplina e de

comprometimento com um tempo diário de estudos necessário ao

cumprimento das atividades (ENTREVISTA 2).

Na opinião de outro(a) profissional a EaD exige do aluno muito

comprometimento, dedicação e determinação. E a flexibilidade muitas vezes pode fazer

com que o aluno não dê tanta importância, quanto a que daria, se tivesse que

comparecer presencialmente. Uma terceira entrevistada afirma que “todo

comprometimento para um curso é indispensável” (ENTREVISTA 6)

Como podemos observar os desafios didáticos pedagógicos da modalidade de

ensino via internet, segundo os(as) entrevistados(as), entre os diversos fatores, perpassa

a cultura da educação presencial, fator limitador das relações humanas via tecnologia

(rede), destarte, cerca de 72% do público afirma que recomendaria a EaD como

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modalidade de ensino para seus amigos e parentes indicando um grau de satisfação

bastante elevado com a modalidade de ensino. Os que não indicariam a EaD são

somente 2,7% do público, enquanto um quarto do público mostra uma opinião nem

favorável nem desfavorável à modalidade.

Entretanto, quando questionados se concordam com a expressão que “EaD é a

educação do futuro” metade do público afirma que concorda em parte, 41,2% afirma

concordar e a menor parcela 8,8% discorda da citação. O assunto também não é

consenso entre os(as) educadores:

Concordo em parte que o EaD seja a educação do futuro; na verdade acredito

que EaD é uma modalidade de educação que vai avançar muito ainda, mas

que a educação presencial não vai perder seu espaço; as duas modalidades

podem ser complementares, com a utilização de estratégias de blended

learning, ou semipresencial, mesclando o "presencial" com o "a distância".

(ENTREVISTA 1)

Na opinião de outro dos profissionais entrevistados, EaD ainda não pode ser

considerada a educação do futuro, mas sim como uma outra forma de estudar, aliada a

novas tecnologias. Sem estar fisicamente presente com seus professores, mas juntos por

meio de tecnologias de comunicação (ENTREVISTA 5). Já (O)a terceiro(a)

entrevistado (a) afirma que:

Acredito que EaD é uma possibilidade para a educação, mas não será a única.

Admitir que seria a única no futuro equivale a dizer que todos somos

indiscutivelmente iguais e que, portanto, nos adaptaríamos a uma única

modalidade de ensino. Acredito na diversidade dos seres, portanto na

diversidade de opções e aprimoramento das mesmas. A modalidade EaD é

uma opção que veio pela necessidade constante que temos de inovar, é um

desafio para os envolvidos no processo e positivo quando se encara com

responsabilidade. (ENTREVISTA 3)

Outro entrevistado aposta na EaD como opção do futuro da educação: “acredito

que EaD seja o futuro sim, pois ela consegue chegar onde as universidades não chegam,

possibilitando a formação a todos” (ENTREVISTA 4)

Como podemos analisar, a pesquisa nos permitiu verificar que na visão dos

catarinenses entrevistados a modalidade de Educação a Distância (EaD) representa um

processo em estruturação, corroborando com a percepção que a inclusão da rede de

internet no ensino facilita na dinâmica da sociedade contemporânea, no entanto, ainda

faz necessário ajustar o processo de ensino aprendizado, de forma a estabelecer vínculos

entre os agentes do processo professores(as) e alunos(as). Igualmente, verificou-se que a

modalidade EaD, segundo os entrevistados, não significa suprimir a educação

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presencial, mas representa tão somente mais uma modalidade de ensino, atendendo as

demandas da sociedade contemporânea.

Considerações finais:

Diante das dinâmicas e da complexa sociedade moderna, o presente artigo

limitou-se em verificar, juntos aos alunos (as) e profissionais catarinenses, as relações

entre a nova modalidade EaD e a inclusão das novas tecnologias de comunicação (redes

de internet) no processo de ensino aprendizagem. O intuito foi analisar como os

pesquisados identificam as principais vantagens e desvantagens na modalidade de EaD.

No âmbito geral os entrevistados, tanto alunos(as), quanto profissionais, o

principal desafio no ensino EaD é a necessidade de relacionar disciplina no processo de

ensino aprendizagem, ou seja, comprometimento e flexibilidade.

Na visão dos (as) alunos(as) entrevistados a principal vantagem do uso da rede

de internet no processo de graduação refere-se a flexibilização do tempo e espaço,

permitindo ao estudante ajustes conforme suas necessidades. Por outro lado, os(as)

alunos(as) entrevistados percebem a importância da mediação pedagógica, expressa na

limitação da falta da presença do(a) professor(a). As mesmas vantagens e desvantagens

são, também, destacadas pelos profissionais catarinenses.

Relevante destacar, no que tange a participação do(a) professor(a) EaD no

processo de ensino como descreve Belloni (2006, p. 84) , que do ponto de vista da rede

de ensino, atualmente pode-se

agrupar as funções docentes em três grandes grupos: o primeiro é responsável

pela concepção e realização dos cursos e materiais; o segundo assegura o

planejamento e organização da distribuição de materiais e da administração

acadêmica (matrícula, avaliação); e o terceiro responsabiliza-se pelo

acompanhamento do estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria,

aconselhamento e avaliação).

Neste sentido, no intuito de atender as demandas apontadas na pesquisa pelos

entrevistados, faz necessário que os cursos de graduação EaD estabeleçam uma

proporção de alunos por professor para garantir boa interatividade de comunicação,

acompanhamento, orientação e respostas em tempo a contento. Neste mesmo sentido,

igualmente cabe destacar, que para garantir a qualidade do processo ensino aprendizado

via internet, faz necessário professores(as) qualificados(as), ou seja, com formação na

área de conteúdo a ser ministrado, bem com regulamentação legal de remuneração

(hora/aula) para atender a demanda dos(as) alunos(as).

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Anexo

Pesquisa realizada com alunos de cursos superior modalidade EaD em Santa

Catarina – Agosto de 2014

Número alunos em nível superior EAD em SC fonte:

Anuário Brasileiro da Educação a Distância (ABED)

Universo: 70.869 alunos

Número de entrevistas: 330

Margem de erro: ± 5,4%

Coeficiente de confiança: 95%

Tabela 1: Para você quais as principais vantagens de

realizar um curso superior em EAD? - Respostas

Múltiplas

N %

Flexibilidade de horários para estudo 272 82,4

Flexibilidade do local de estudos/poder estudar onde quiser 209 63,3

Evitar deslocamento/trânsito 187 56,7

Menor custo 180 54,5

Autonomia do aluno para estudar 148 44,8

Maior comprometimento do aluno 33 10,0

Segurança/Evitar a violência urbana 23 7,0

Base 330 entrevistas Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto

2014

Tabela 2: E qual deles você considera a vantagem mais

importante? N %

Flexibilidade de horários para estudo 149 45,2

Flexibilidade do local de estudos/poder estudar onde quiser 63 19,1

Menor custo 55 16,7

Autonomia do aluno para estudar 30 9,1

Evitar deslocamento/trânsito 20 6,1

Maior comprometimento do aluno 7 2,1

Segurança/Evitar a violência urbana 6 1,8

Total 330 100,0 Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto

2014

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Tabela 3: Para você quais as principais desvantagens de

realizar um curso superior em EAD? Respostas Múltiplas N %

Falta de interatividade com os professores 178 53,9

Dificuldades para retirar dúvidas 169 51,2

Falta de relacionamento humano 159 48,2

Dependência de tecnologia (máquina/internet) 107 32,4

Exigência de maior comprometimento do aluno 82 24,8

Perda da espontaneidade do aluno 32 9,7

Qualidade de ensino 11 3,3

Maior custo 6 1,8

Problemas burocráticos 6 1,8

Preconceito contra EAD 5 1,5

Não vê problemas em EAD 8 2,4

Base 330 entrevistas

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 4: E qual deles você considera a desvantagem mais

significativa? N %

Falta de interatividade com os professores 80 24,3

Falta de relacionamento humano 79 23,9

Dificuldades para retirar dúvidas 69 20,9

Dependência de tecnologia (máquina/internet) 37 11,2

Exigência de maior comprometimento do aluno 37 11,3

Problemas burocráticos 5 1,5

Qualidade de ensino 5 1,5

Perda da espontaneidade do aluno 4 1,2

Preconceito contra EAD 4 1,2

Maior custo 2 0,6

Não vê problemas em EAD 8 2,4

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

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Tabela 5: Dos itens a seguir quais considera mais úteis e que

poderiam proporcionar um melhor desempenho do aluno em

EAD? Respostas Múltiplas

N %

Ambiente para resolução de casos e problemas das disciplinas 135 40,9

Tutoria on-line 132 40,0

Aula transmitidas via internet/Web 115 34,8

Chat de conversação com outros alunos 87 26,4

Material didático impresso 65 19,7

Fórum de debates entre professores e alunos 64 19,4

Quadro virtual de avisos 30 9,1

Base 330 entrevistas

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 6: Dos itens a seguir, qual você considera mais difícil de

realizar num curso em EAD? N %

Comprometimento do aluno x Flexibilidade de horários 111 33,6

Saber selecionar as melhores fontes de referência/estudos 79 23,9

Buscar um aprendizado mais aprofundado das disciplinas 74 22,4

Navegar em ambientes complexos e em constante mudança 33 10,0

Lidar com as novas informações que surgem a cada dia 27 8,2

Não sabe 6 1,8

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

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Tabela 7: Ao iniciar seu curso em EAD você elaborou um

Plano de Estudos com dias e horários para estudar? N %

Sim 202 61,2

Não 128 38,8

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 8: Você costuma obedecer a este Plano de Estudos? N %

Sempre 37 11,2

Quase sempre 135 40,9

Raramente 24 7,3

Nunca 6 1,8

Não tem Plano de Estudos 128 38,8

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 9: Você concorda com a expressão de que "EAD é o

futuro da Educação" N %

Sim 136 41,2

Não 29 8,8

Em parte 165 50,0

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 10: Você recomendaria um curso superior em EAD

para algum amigo ou parente? N %

Sim 238 72,1

Não 9 2,7

Depende 79 23,9

Não sabe 4 1,2

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

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Tabela 11: Gênero N %

Masculino 163 49,4

Feminino 167 50,6

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 12: Faixa Etária N %

De 18 a 29 anos 145 43,9

De 30 a 39 anos 120 36,4

De 40 a 49 anos 55 16,7

50 anos e mais 10 3,0

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 13: Renda Familiar Mensal N %

Até R$ 1.086,00 (Até 1,5 SM) 30 9,1

De R$ 1.087,00 até R$ 2.172,00 (1,6 a 3 SM) 95 28,8

De R$ 2.173,00 até R$ 4.344,00 (3,1 a 6 SM) 97 29,4

De R$ 4.345,00 até R$ 7.240,00 (6,1 a 10 SM) 68 20,6

De R$ 7.241,00 até R$ 11.584,00 (10,1 a 16 SM) 31 9,4

De R$ 11.585,00 até R$ 21.720,00 (16,1 a 30 SM) 6 1,8

Mais de R$ 21.720,00 (Mais de 30 SM) 3 0,9

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

Tabela 14: População do município em que reside N %

Até 5.000 habitantes 7 2,1

De 5.001 a 10.000 habitantes 13 3,9

De 10.001 a 30.000 habitantes 20 6,1

De 30.001 a 50.000 habitantes 24 7,3

De 50.001 a 100.000 habitantes 48 14,5

Mais de 100.000 habitantes 218 66,1

Total 330 100,0

Fonte: Pesquisa EaD na visão dos alunos de Santa Catarina – Agosto 2014

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nacional, e 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de

regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos

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