orientaÇÕes sobre disfunÇÃo sexual … › guidelines › disf-sex-masc.pdforientaÇÕes sobre...

27
ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição, Epidemiologia e Factores de risco (Texto actualizado em Março de 2009) E. Wespes, E. Amar, I. Eardley, F. Giuliano, D. Hatzichristou, K. Hatzimouratidis, F. Montorsi, Y. Vardi A disfunção eréctil (DE) é a incapacidade persistente em atin- gir e manter erecção suficiente para permitir um desempenho sexual satisfatório. Embora a DE seja uma patologia benigna, afecta a saúde física e psicossocial, apresentando um impacto significativo na qualidade de vida (QoL) do doente, bem como das respectivas parceiras e famílias. Uma revisão recente de estudos epidemiológicos sobre DE sugere que aproximada- mente 5 a 20% dos homens têm DE moderada a grave. A diferença nas incidências reportadas é devida, provavelmente, às diferenças na metodologia, idade e estatuto socioeconómico das populações estudadas. A disfunção eréctil partilha factores de risco comuns com a doença cardiovascular, incluindo falta de exercício, obesidade, Eur Urol 2002;41(1):1-5. Eur Urol 2006;49(5):806-15 101 Disfunção Sexual Masculina

Upload: others

Post on 07-Jul-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

ORIENTAÇÕES SOBREDISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA:

Disfunção Eréctil e EjaculaçãoPrematura

Definição, Epidemiologia e Factores de risco

(Texto actualizado em Março de 2009)

E. Wespes, E. Amar, I. Eardley, F. Giuliano, D. Hatzichristou,K. Hatzimouratidis, F. Montorsi, Y. Vardi

A disfunção eréctil (DE) é a incapacidade persistente em atin-gir e manter erecção suficiente para permitir um desempenhosexual satisfatório. Embora a DE seja uma patologia benigna,afecta a saúde física e psicossocial, apresentando um impactosignificativo na qualidade de vida (QoL) do doente, bem comodas respectivas parceiras e famílias. Uma revisão recente deestudos epidemiológicos sobre DE sugere que aproximada-mente 5 a 20% dos homens têm DE moderada a grave. Adiferença nas incidências reportadas é devida, provavelmente,às diferenças na metodologia, idade e estatuto socioeconómicodas populações estudadas.

A disfunção eréctil partilha factores de risco comuns com adoença cardiovascular, incluindo falta de exercício, obesidade,

Eur Urol 2002;41(1):1-5.

Eur Urol 2006;49(5):806-15

101Disfunção Sexual Masculina

Page 2: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

tabagismo, hipercolesterolemia e síndrome metabólica. Orisco de DE pode ser reduzido através da modificação destesfactores de risco, em particular prática de exercício e perda depeso. Outro factor de risco de DE é a prostatectomia radical(PR), em qualquer das suas vias (aberta, laparoscópica, ou ro-bótica), devido ao risco de lesão dos nervos erigentes, a baixaoxigenação dos corpos cavernosos e a insuficiência vascular.Cerca de 25 a 75% dos homens submetidos a PR sofrem de DEpós-operatória. Idealmente, os doentes que são consideradospara prostatectomia radical com preservação do feixe vasculo-nervoso (NSRP) não devem ter disfunção eréctil, de modo aassegurar uma boa recuperação após PR.

A avaliação básica (avaliação diagnóstica mínima) resumidana Figura 1 deve efectuar-se em todos os doentes com DE.

Devido aos potenciais riscos cardíacos associados à actividadesexual, a 2 Princeton Consensus Conference estratificou osdoentes com DE que querem iniciar, ou retomar, a actividadesexual em três categorias de risco (Fig. 2). O grupo de baixorisco inclui doentes assintomáticos com menos de três factoresde risco para doença arterial coronária (excluindo o sexo mas-culino), angina ligeira ou estável (avaliada e/ou a ser tratada),enfarte do miocárdio anterior sem complicações, disfunçãoventricular esquerda ou insuficiência cardíaca congestiva ligei-ras (classe I NYHA), após revascularização coronária bem su-cedida, hipertensão controlada e doença valvular ligeira. Todosos outros doentes foram incluídos numa categoria de riscointermédio ou alto e necessitam de consulta de cardiologia.

Diagnóstico e avaliação

Avaliação básica

nd

102 Disfunção Sexual Masculina

Page 3: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Exames e testes específicosEmbora a maioria dos doentes com DE possa ser tratada noâmbito da consulta geral, algumas circunstâncias requeremtestes diagnósticos específicos:• Doentes com disfunção eréctil primária (não causada por

doença orgânica ou perturbação psicogénica)• Doentes jovens com história de trauma pélvico ou perineal

que podem beneficiar de cirurgia de revascularização po-tencialmente curativa

• Doentes com deformidade peniana (ex. doença de Peyro-nie, curvatura congénita) que possa requerer correcção ci-rúrgica

• Doentes com distúrbios psiquiátricos ou psicossexuaiscomplexos

• Doentes com distúrbios endócrinos complexos• Doentes ou casais que solicitem exames específicos• Por motivos médico-legais (ex. implante de prótese penia-

na, abuso sexual).

Os testes diagnósticos específicos incluem:• teste de tumescência nocturna e rigidometria peniana

(NTPR) com Rigiscan®• estudos vasculares

- injecção intracavernosa de fármaco vasoactivo- ecografia duplex das artérias cavernosas- cavernosometria/cavernosografia com perfusão dinâmi-

ca (DICC)- arteriografia da artéria pudenda interna

• estudos neurológicos (ex. latência do reflexo bulbocaver-noso, estudos da condução nervosa)

• estudos endocrinológicos• avaliação psicodiagóstica especializada.

103Disfunção Sexual Masculina

Page 4: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

A NPTR deve realizar-se pelo menos durante duas noites. Umevento eréctil com pelo menos 60% de rigidez registada naextremidade do pénis, e com duração mínima de 10 minutos, éindicador de mecanismo eréctil funcional.

O teste de injecção intracavernosa de fármaco vasoactivo forne-ce informação limitada sobre o estado vascular. No entanto, aEcografia duplex proporciona uma forma simples de avaliaçãodo estado vascular. Não são necessários exames vasculares adi-cionais se a Ecografia duplex estiver normal, indicada por umpico de fluxo sanguíneo sistólico > 30 cm/s e um índice de resis-tência > 0,8. Contudo, se o resultado do estudo ecográfico esti-ver anormal, só deverão efectuar arteriografia e DICC os doen-tes potencialmente candidatos a cirurgia de revascularização.

• Uso clínico de um questionário validadorelacionado com a DE pode ajudar a avaliartodos os domínios da função sexual e o efeitode uma modalidade específica de tratamento

• O exame físico é necessário na avaliaçãoinicial de DE para identificar patologiasmédicas subjacentes associadas a DE

• Testes laboratoriais de rotina, incluindoglicemia, perfil lipídico e doseamento detestosterona total, são necessários paraidentificar e tratar quaisquer factores de riscoreversíveis e estilos de vida modificáveis

• Os testes diagnósticos específicos estãoindicados apenas em algumas patologias

Recomendações NE GR

3 B

4 B

4 B

4 B

NE = nível de evidência; GR = grau de recomendação; DE =

disfunção eréctil.

Recomendações para a Avaliação Diagnóstica

104 Disfunção Sexual Masculina

Page 5: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Figura 1. Avaliação diagnóstica mínima (avaliação básica)

em doentes com disfunção eréctil.

Doente com disfunção eréctil (auto-reportada)

História clínica e psicossexual(uso de instrumentos validados, ex. IIEF)

Identificaroutros

problemassexuais além

da DE

Identificarcausas

comunsde DE

Identificarfactores de

riscoreversíveispara DE

Avaliarestado

psicossocial

Exame físico orientado

Deformi-dades

penianas

Patologiaprostática

Sinais dehipogona-

dismo

Estadocardio-

vascular eneurológico

Testes laboratoriais

Glicemia e Perfillipidico

(se não tiver sidorealizado nos últimos

12 meses)

Testosterona total(amostra matinal)

Se acessível: testosteronalivre ou bio-disponível (em

vez da total)

105Disfunção Sexual Masculina

Page 6: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Figura 2. Algoritmo de tratamento de acordo com o risco

cardíaco (2 Princeton Consensus Conference)nd

Inquérito sexual

Avaliação clínica

Riscobaixo

Riscointermédio

Riscoalto

Avaliaçãocardiovascular

e re-estratificação

Iniciar ou retomar aactividade sexual

ouTratamento para adisfunção sexual

Actividade sexualadiada até à

estabilização dapatologia cardíaca

Factores de risco e avaliação, tratamento eacompanhamento de doença cardíaca coronária em

todos os doentes com disfunção eréctil

106 Disfunção Sexual Masculina

Page 7: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Tratamento da DEApenas alguns tipos de DE podem ser curadas com terapêuti-cas específicas:• DE psicogénica: terapêutica psicossexual pode ser admi-

nistrada isoladamente ou associada a outra abordagemterapêutica, mas é morosa e tem tido resultados variáveis

• DE arteriogénica pós-tráumatica em doentes jovens: acirurgia de revascularização peniana tem uma taxa desucesso a longo prazo de 60 a 70%

• Causas hormonais da DE: a terapêutica de substituição detestosterona é eficaz, mas só deve ser usada após terem sidoexcluídas outras causas endocrinológicas para a falênciatesticular. Actualmente, está contra-indicada em homenscom história de carcinoma da próstata ou com sintomato-logia urinária baixa de etiologia prostática. Requer umacompanhamento atento, incluindo toque rectal (DRE),doseamento de antigénio específico da próstata (PSA) eavaliação do hematócrito, bem como a monitorização dodesenvolvimento de doença hepática ou prostática.

O uso de fármacos pró-erécteis na sequência de PR é muitoimportante para se reabilitar a função eréctil após a cirurgia.Vários estudos demonstraram maiores taxas de recuperaçãoda função eréctil pós-PR nos doentes que receberam qualquertipo de inibidor da fosfodiesterase 5 (PDE5) ou injecção intra-cavernosa (terapêutica ou profilática). A reabilitação deve co-meçar o mais cedo possível a seguir à PR.

A maioria dos homens com DE será tratada com opções tera-pêuticas que não são específicas para as causas. Esta aborda-gem requer uma estratégia de tratamento estruturada que de-pende da eficácia, segurança, nível de invasão e custo, bem

107Disfunção Sexual Masculina

Page 8: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

como a satisfação do doente e da parceira. A escolha das op-ções de tratamento deve ter em consideração os efeitos nasatisfação do doente, da parceira e outros factores de QoL, bemcomo a eficácia e a segurança. É apresentado um algoritmo detratamento para DE na Figura 3.

Três fortes inibidores selectivos da PDE5 foram aprovados pelaAgência Europeia do Medicamento (EMEA) para o tratamentoda DE. Não são iniciadores da erecção e requerem estimulaçãosexual para que esta aconteça. A eficácia é definida como rigi-dez suficiente para penetração vaginal.

O sildenafil, lançado em 1998, foi o primeiro inibidor da PDE5disponível. Tem efeito 30 a 60 minutos após a administração.Refeições pesadas ricas em gorduras podem reduzir ou prolon-gar a absorção. É administrado em doses de 25, 50 e 100 mg. Adose inicial recomendada é de 50 mg e adaptada de acordo coma resposta do doente e efeitos secundários. A eficácia podedurar até 12 horas.

Em fase de pré-comercialização, e num estudo de resposta àdose, observou-se que após 24 semanas de tratamento foramreportadas melhorias na qualidade da erecção em 56%, 77% e84% dos homens que tomaram 25, 50 e 100 mg de sildenafil,respectivamente, em comparação com 25% dos homens quetomaram placebo. A eficácia de sildenafil em quase todos ossubgrupos de doentes com DE foi bem estabelecida.

Sildenafil (Viagra™)

Terapêutica de Primeira linhaFarmacoterapia oral

108 Disfunção Sexual Masculina

Page 9: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Tadalafil (Cialis™)

Vardenafil (Levitra™)

O tadalafil foi licenciado para DE em 2003. Começa a fazerefeito 30 minutos após a administração mas o pico de eficáciaocorre após cerca de 2 h. A eficácia mantém-se até às 36 horas enão é afectada pela ingestão de alimentos. É administrado emdoses de 10 e 20 mg. A dose inicial recomendada é de 10 mg e éadaptada de acordo com resposta do doente e efeitos secundá-rios.

Em estudos de resposta à dose efectuados na fase de pré-co-mercialização, foram reportadas melhorias na qualidade daerecção após 12 semanas de tratamento por 67% e 81% dos ho-mens que tomaram 10 mg e 20 mg de tadalafil, respectiva-mente, em comparação com 35% de homens que tomaramplacebo. Os resultados foram confirmados em estudos de pós--comercialização. O tadalafil também contribui para a melho-ria da qualidade da erecção em subgrupos difíceis de tratar.

O vardenafil foi licenciado para DE em 2003. Começa a fazerefeito 30 minutos após a administração. Uma refeição rica emgorduras (teor de gordura > 57%) reduz o seu efeito. É admi-nistrado em doses de 5, 10 e 20 mg. A dose inicial recomen-dada é de 10 mg e é adaptada de acordo com a resposta e efeitossecundários. In vitro, é 10 vezes mais potente que o sildenafil.No entanto, isto não significa necessariamente maior eficáciaclínica.

Em estudos de resposta à dose realizados em fase de pré-co-mercialização, foram reportadas melhorias na erecção após 12semanas de tratamento por 66%, 76% e 80% de homens quetomaram 5 mg, 10 mg e 20 mg de vardenafil, respectivamente,em comparação com 30% de homens que tomaram placebo. A

109Disfunção Sexual Masculina

Page 10: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

eficácia foi confirmada em estudos de pós-comercialização. Ovardenafil também contribui para a melhoria da qualidade daserecções em subgrupos difíceis de tratar.

A escolha de um inibidor da PDE5 depende da frequência dasrelações sexuais (uso ocasional ou terapêutica regular, 3 a 4vezes por semana) e da experiência pessoal do doente em rela-ção ao medicamento. Os doentes têm que saber se um fármacoé de longa ou de curta acção, quais são as eventuais desvan-tagens e como usá-lo.

Embora os inibidores da PDE5 tenham sido introduzidos paratratamento sempre que necessário, em 2008, o tadalafil foitambém aprovado para toma diária contínua em doses de 2,5 e5 mg. Dois estudos, que avaliaram a toma diária de 5 e 10 mgde tadalafil durante 12 semanas e o toma diária de 2,5 e 5 mg detadalafil durante 24 semanas, demonstraram que a dosagemdiária era bem tolerada e melhorava significativamente a fun-ção eréctil. Os resultados foram idênticos nos doentes diabéti-cos. No entanto, faltaram nestes estudos braços de tratamentocom toma em necessidade. O tadalafil usado diariamente pro-porciona uma alternativa às doses de uso em necessidade paraos casais que preferem uma actividade sexual espontânea e nãoprogramada, ou que têm uma actividade sexual frequente. Adosagem diária ultrapassa a exigência de uma ligação tem-porária entre a toma e a actividade sexual.

Outros estudos demonstraram que o tratamento crónico diá-rio com tadalafil, mas não a toma em necessidade, melhorou afunção endotelial com efeito sustentado após descontinuação.Isto foi confirmado noutro estudo de toma diária de sildenafil

Escolha, ou preferência, dos diferentes inibidores da PDE5

Toma em necessidade, ou toma diária, de inibidores da PDE5

110 Disfunção Sexual Masculina

Page 11: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

em homens com diabetes tipo 2. Por oposição, noutro ensaioclínico aleatorizado verificou-se que uma dose diária única devardenafil, 10 mg/dia, não apresentava efeito sustentado apósinterrupção do tratamento em comparação com vardenafil to-mado em necessidade nos doentes com DE ligeira a moderada.

Os acontecimentos adversos frequentes incluem cefaleias, ru-bor, tonturas, dispepsia e congestão nasal. O sildenafil e o var-denafil estão associados a alterações visuais em menos de 2%dos doentes, enquanto o tadalafil está associado a lombalgia//mialgia em 6% dos doentes. No entanto, os acontecimentosadversos são geralmente ligeiros, auto-limitados pelo uso con-tínuo e a taxa de abandono devidas a acontecimentos adversosé idêntica à do placebo.

Os ensaios clínicos e os dados pós-comercialização de todos osinibidores da PDE5 demonstraram não haver aumento na in-cidência de enfarte agudo do miocárdio. Nenhum inibidor daPDE5 afectou negativamente o tempo total de exercício ou otempo para isquémia durante as provas de esforço em homenscom angina estável. De facto, estes fármacos podem melhoraros resultados nos testes de exercício.

Os nitratos são totalmente contra-indicados com todos os ini-bidores da PDE5 devido a hipotensão imprevisível. A duraçãoda interacção entre os nitratos orgânicos e os inibidores daPDE5 varia de acordo com o inibidor da PDE5 e o nitrato. Seum doente desenvolver angina enquanto está a tomar um ini-bidor da PDE5, podem usar-se outros agentes antianginososem vez de nitroglicerina ou após ter passado tempo suficiente(24 h para o sildenafil ou vardenafil e 48 h para o tadalafil).

Acontecimentos adversos

Segurança cardiovascular

111Disfunção Sexual Masculina

Page 12: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Em geral, o perfil de eventos adversos dos inibidores da PDE5não é agravado, mesmo quando o doente está a tomar múlti-plos agentes anti-hipertensores.

Todos os inibidores da PDE5 parecem interagir com os alfa-bloqueantes, o que em algumas condições pode desencadearhipotensão ortostática. A bula do sildenafil inclui actualmenteum aviso a alertar que as doses de 50 ou 100 mg (mas não a de25 mg) de sildenafil não devem ser tomadas no espaço de 4horas após a toma de um alfa-bloqueante. Não se recomenda ouso de vardenafil com um alfa-bloqueante. No entanto, a co-administração de vardenafil com tansulosina não está asso-ciada a hipotensão clinicamente significativa. O tadalafil estácontra-indicado em doentes que estão a tomar alfa-bloquean-tes, excepto tansulosina.

Podem ser necessárias doses mais baixas de inibidores daPDE5 em doentes que tomam cetoconazol, itraconazol, eritro-micina, claritromicina e inibidores da protease do VIH (rito-navir, saquinavir). Podem ser necessárias doses mais altas deinibidores da PDE5 em doentes que tomam rifampicina, feno-barbital, fenitoína ou carbamazepina. Podem ser necessáriosajustes posológicos em caso de disfunção renal ou hepática.Em doentes com hipogonadismo, os suplementos de andro-génio melhoram a resposta eréctil.

As duas razões principais para que os doentes não respondama um inibidor da PDE5 são a utilização incorrecta ou a inefi-cácia do fármaco. Os médicos devem verificar se os doentesestão a tomar um medicamento autêntico, que foi adequada-

Interacções com alfa-bloqueantes

Ajustes posológicos

Orientação de doentes que não respondem aos inibidores PDE5

112 Disfunção Sexual Masculina

Page 13: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

mente prescrito e é usado correctamente (estimulação sexual edosagem adequadas, tempo suficiente entre a toma da medi-cação e a tentativa de relação sexual).

Desde que o doente esteja a usar o inibidor da PDE5 de formaadequada, existem várias formas de melhorar a sua eficácia.Estas incluem a alteração dos factores de risco associados, tra-tamento do hipogonadismo associado, mudança para outroinibidor PDE5, ou uso contínuo do inibidor PDE5. Contudo,as evidências que sustentam o uso destas intervenções sãolimitadas.

Os dispositivos de vácuo (DV) aplicam uma pressão negativano pénis para provocar o afluxo de sangue venoso, que é entãomantido pela aplicação de um anel constritor na base do pénis.Este método é melhor aceite por doentes mais velhos. A eficá-cia, definida por uma erecção satisfatória para manter relaçõessexuais, chega aos 90%. As taxas de satisfação variam entre27% e 94%. O uso a longo prazo do DV diminui para 50 a 64%após 2 anos. A maioria dos homens que suspende o uso de DVsfá-lo ao fim de 3 meses. Os efeitos adversos associados à tera-pêutica com vácuo são a dor peniana, entorpecimento, ejacu-lação retardada e ocorre em menos de 30% dos doentes.

Os doentes que não respondem aos fármacos por via oral po-dem ser tratados com injecções intracavernosas. O alprostadil(Caverject®, Edex/Viridal®) é o único fármaco aprovado parao tratamento intracavernoso da DE. É a monoterapia mais efi-caz no tratamento intracavernoso, utilizando doses que osci-lam entre 5-40 µg. A erecção surge após 5 a 15 minutos e a sua

Dispositivos de Vácuo

Terapêutica de Segunda Linha

113Disfunção Sexual Masculina

Page 14: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

duração está relacionada com a dose injectada. O doente deveser incluído num programa de treino a realizar em ambulatório(uma ou duas visitas) para aprender o processo correcto deinjecção.

As taxas de eficácia rondam os 70% com actividade sexualreportada após 94% das injecções, taxas de satisfação de 87 a93,5% nos doentes e de 86 a 90,3% nas parceiras. Foram des-critas taxas de abandono de 41 a 68%, com a maioria das desis-tências a ocorrer nos primeiros 2-3 meses. As complicações doalprostadil por via intracavernosa incluem dor peniana (em50% dos doentes após 11% das injecções), erecções prolon-gadas (5%), priapismo (1%) e fibrose (2%). A associação defármacos (principalmente a associação dos três fármacosalprostadil + papaverina + fentolamina) pode aumentar a eficá-cia até 90%. Verificou-se que a fibrose é mais comum (5-10%)em caso de uso de papaverina (dependendo da dose total).

Após 4 horas de erecção, aconselha-se os doentes a consul-tarem o médico para prevenir lesões do tecido muscular lisointracavernoso, que pode resultar em impotência permanente.É usada uma agulha de calibre 19 para aspirar o sangue e dimi-nuir a pressão intracavernosa. Esta técnica simples é normal-mente suficiente para obter detumescência. No entanto, sehouver recorrência da erecção, deve injectar-se fenilefrina in-tracavernosa, começando com 200 µg de 5 em 5 min, aumen-tando para 500 µg se necessário. Se este problema ocorrer, adosagem da injecção intracavernosa seguinte é normalmentereduzida.

A prostaglandina E1 pode ser administrada por via intrauretralcomo cápsulas de gel (125-1000 µg). Um anel constritor colo-cado na base do pénis melhora a rigidez resultante. A taxa de

114 Disfunção Sexual Masculina

Page 15: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

sucesso clínico é mais baixa do que com injecções intracaver-nosas, mas cerca de 70% dos doentes estão satisfeitos ou muitosatisfeitos com o tratamento. Os efeitos secundários incluemdor local (29-41%), tonturas (1,9-14%) e uretrorragia (5%).

A implantação cirúrgica de uma prótese peniana pode serconsiderada em doentes que não respondem à farmacoterapiaou que querem uma solução permanente. As próteses podemser maleáveis (semi-rígidas) ou insufláveis (de duas ou trêscomponentes). A maioria dos doentes prefere os dispositivosinsufláveis, porque as erecções são mais ‘naturais’, mas estaspróteses são muito mais dispendiosas. Os doentes reportamtaxas de satisfação de 70 a 87% após consulta adequada.

As duas principais complicações da implantação de prótesepeniana são a falha mecânica (inferior a 5% após 5 anos deacompanhamento com as próteses de três componentesacualmente disponíveis) e infecção. Com profilaxia antibió-tica, a taxa de infecção é de 2 a 3% e pode ser ainda menorusando um implante impregnado em antibiótico ou com re-vestimento hidrófilo. A infecção implica a remoção da prótese,administração de antibióticos e reimplantação após 6-12 me-ses. No entanto, foram alcançadas taxas de sucesso de 82%através de terapêutica de salvação, envolvendo a remoção e areimplantação imediata após irrigação abundante dos corposcavernosos com uma solução de antibióticos associados. Em-bora a diabetes seja considerada como um dos principais fac-tores de risco para a infecção, este facto não é sustentado pelosos dados actualmente disponíveis.

Terapêutica de Terceira Linha (Próteses Penianas)

115Disfunção Sexual Masculina

Page 16: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Recomendações para o Tratamento da DERecomendações NE GR• Alteração do estilo de vida e modificação dos 1b A

factores de risco devem preceder ouacompanhar o tratamento da DE

• As terapêuticas pro-erécteis devem iniciar-se 1b Aassim que possível após prostatectomia radical

• Se for detectada uma causa curável da DE, 1b Btratar primeiro a causa

• Os inibidores da PDE5 são terapêutica 1a Ade primeira linha

• A administração diária de inibidores da 1b APDE5 pode melhorar os resultados erestabelecer a função eréctil

• A prescrição inadequada/incorrecta e uma 3 Bfraca educação para a saúde do doente sãoas principais causas para a ausência de respostaaos inibidores da PDE5

• A administração de testosterona restabelece 1b Ba eficácia dos inibidores da PDE5 nos doenteshipogonádicos que não respondem incialmenteao tratamento

• A apomorfina pode ser usada em DE ligeira 1b Ba moderada, DE psicogénica, ou em doentescom contra-indicação para inibidores da PDE5

• Os dispositivos de vácuo podem ser 4 Cutilizados nos doentes com relações estáveis

• As injecções intracavernosas são terapêutica 1b Bde segunda linha

• A prótese peniana é terapêutica de terceira linha 4 CNE = nível de evidência; GR = grau de recomendação; DE =disfunção eréctil; Inibidor da PDE5 = inibidor dafosfodiesterase tipo5.

116 Disfunção Sexual Masculina

Page 17: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Figura 3. Algoritmo de tratamento para a DE

Tratamento da disfunção eréctil

Identificare tratar causas

‘curáveis’de DE

Alteraçõesde estilo de vidae modificação

de factoresde risco

Educaçãopara a saúde e

aconselhamentodos doentese parceiras

Identificar as necessidades e expectativas do doenteTomada de decisões partilhada

Oferecer tratamento psicossocial e médico conjunto

PDE5

inibidores

Apomorfina SLInjecções intracavernosasAlprostadil intrauretralDispositivos de vácuo

Avaliar o resultado terapêutico:• Resposta eréctil• Efeitos secundários• Satisfação com o tratamento

Resultado inadequado do tratamento

Avaliar uso adequado das opções de tratamentoDar novas instruções e aconselhamento

Tentar novamenteConsiderar alternativa ou terapêutica combinada

Resultado inadequado do tratamento

Considerar implantação de prótese peniana

Inibidor da PDE5 = inibidor da tipo 5.fosfodiesterase

117Disfunção Sexual Masculina

Page 18: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

EJACULAÇÃO PREMATURADefinição, Epidemiologia e Factores de RiscoTem havido dificuldade em chegar a um consenso sobre amelhor forma de definir EP. As duas definições mais ampla-mente aceites são:• A Second International Consultation sobre Disfunção

Sexual e Eréctil definiu a EP como ‘ejaculação com esti-mulação mínima e mais cedo do que o desejado, antes oupouco depois da penetração, o que causa incómodo ouperturbação, e sobre a qual o doente possui pouco ou ne-nhum controlo voluntário’.

• A International Society for Sexual Medicine (ISSM) adop-tou uma definição completamente nova de

, que é a primeira definição baseada na evidência,‘Ejaculação prematura é a disfunção sexual masculinacaracterizada por ejaculação que ocorre sempre ou quasesempre antes ou cerca de um minuto depois da penetraçãovaginal; e incapacidade de adiar a ejaculação em todas ouquase todas as penetrações vaginais; e consequências pes-soais negativas, tais como perturbação, incómodo, frustra-ção e/ou o evitar ter intimidade sexual’.

Assim, a ejaculação prematura pode ser classificada como ‘per-manente’ (primária) ou ‘adquirida’ (secundária). A EP perma-nente é caracterizada por ter início desde a primeira expe-riência sexual e permanece um problema ao longo da vida. Aejaculação ocorre de modo demasiado rápido antes da pe-netração vaginal ou < 1-2 minutos depois. A EP adquirida écaracterizada por ter um início gradual ou súbito, com ejacula-ção normal antes do início do problema. O tempo até à ejacu-lação é curto, mas normalmente não tão rápido como a EP per-manente.

EP perma-nente

118 Disfunção Sexual Masculina

Page 19: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

A ejaculação prematura é a disfunção sexual masculina maiscomum, com taxas de prevalência de 20 a 30%. Dados limi-tados sugerem que a prevalência de EP permanente, definidacomo tempo de latência ejaculatória intravaginal (IELT) <1-2min, é cerca de 2 a 5%. A etiologia da EP é desconhecida, compoucos dados que sustentem as hipóteses biológicas e psico-lógicas sugeridas, incluindo ansiedade, hipersensibilidadepeniana e disfunção do receptor da serotonina. Em contrastecom a disfunção eréctil, a prevalência de EP não é afectada pelaidade. Os factores de risco para a EP são normalmente desco-nhecidos.

A ejaculação prematura tem um efeito prejudicial na auto-confiança e na relação com a parceira. Pode provocar pertur-bação mental, ansiedade, embaraço e depressão. No entanto, amaioria homens com EP não procura ajuda.

O diagnóstico de EP é baseado na história clínica e sexual dodoente. A história deve classificar a EP como permanente ouadquirida e determinar se a EP é situacional (sob circunstân-cias específicas ou com uma parceira específica) ou persisten-te. Deve ser dada atenção especial à duração do tempo de eja-culação, nível de estímulo sexual, impacto sobre a actividadesexual, QoL, e uso ou abuso de fármacos. É também importan-te distinguir entre EP e DE.

A avaliação do IELT não é suficiente para definir EP, uma vezque existe uma sobreposição significativa entre homens com esem EP. Na prática clínica de rotina, o IELT auto-calculado ésuficiente. Vários questionários foram criados devido à neces-sidade de avaliar a EP objectivamente, tal como o Premature

Avaliação diagnóstica

119Disfunção Sexual Masculina

Page 20: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Ejaculation Diagnosic Tool (PEDT). Outros questionáriosusados para caracterizar a EP e determinar os efeitos do trata-mento incluem o Perfil de Ejaculação Prematura (PEP), o Ín-dice de Ejaculação Prematura (IPE), e o Questionário de SaúdeSexual Masculino da Disfunção Ejaculatória (MSHQ-EjD).Actualmente, apresentam um papel opcional na prática clínicade rotina.

O exame físico inclui uma breve avaliação dos sistemas vas-cular, endócrino e neurológico para identificar patologiasmédicas subjacentes associadas à EP ou outras disfunçõessexuais, tais como doença crónica, endocrinopatia, neuropatiaautónoma, doença de Peyronie, uretrite ou prostatite. As aná-lises laboratoriais ou testes psicológicos devem ser orientadospor achados específicos da história ou exame físico e não sãorecomendados como rotina.

• O diagnóstico e a classificação da EP sãobaseados na história clínica e sexual. Deve sermultidimensional e avaliar IELT, percepção docontrolo ejaculatório, perturbação e dificuldades

interpessoais devido à disfunção ejaculatória• A utilização clínica do IELT auto-calculado

é adequada. Em ensaios clínicos, requer-se aavaliação do IELT através de cronómetro

• Os elementos clínicos reportados pelo doentepodem eventualmente ser utilizados paraidentificar homens com EP. É necessáriainvestigação complementar antes de poderemser recomendados para uso clínico

Recomendações NE GR

1a A

2a B

3 C

Recomendações para o diagnóstico da EP

120 Disfunção Sexual Masculina

Page 21: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

• Pode ser necessário o exame físico naavaliação inicial de EP para identificarpatologias médicas subjacentes associadas à EPou outros disfunções sexuais, em particular DE

• Não se recomendam análises laboratoriais outestes neuropsicológicos de rotina. Os testesadicionais devem ser dirigidos por achadosespecíficos a partir da história ou exame físico

Em muitas relações, a EP causa poucos ou nenhuns proble-mas. Nestes casos, o tratamento deve limitar-se ao aconselha-mento psicossexual. Antes de começar o tratamento, é essen-cial discutir cuidadosamente quais são as expectativas dodoente. A disfunção eréctil, ou outra disfunção sexual ou in-fecção genitourinária (ex. prostatite), deve ser tratada primei-ro ou ao mesmo tempo que a EP.

Várias técnicas comportamentais demonstraram benefícios notratamento da EP. Na EP permanente, não se recomendam astécnicas comportamentais como tratamento de primeira linha.Consomem muito tempo, requerem o apoio da parceira e po-dem ser difíceis de realizar. A farmacoterapia é a base do trata-mento da EP permanente, mas os tratamentos farmacológicosestão fora das respectivas indicações terapêuticas aprovadas.Apenas a utilização crónica dos inibidores selectivos da recap-tação da serotonina (SSRIs) e os agentes anestésicos de aplica-ção tópica demonstraram eficácia consistente na EP. Apre-senta-se um algoritmo para o tratamento da EP na Figura 4.

3 C

3 C

NE = nível de evidência; IELT = tempo de latência ejaculatória

intravaginal; GR = grau de recomendação.

Tratamento da EP

121Disfunção Sexual Masculina

Page 22: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

Estratégias Psicológicas/Comportamentais

Agentes anestésicos de aplicação tópica

As estratégias comportamentais incluem principalmente oprograma ‘parar-começar’ desenvolvido por Semans e a suamodificação, a técnica de ‘compressão peniana’, proposta porMasters e Johnson (existem várias modificações). A mastur-bação quando se antecipa a relação sexual é outra técnicausada por muitos homens jovens.

No geral, foram reportadas taxas de sucesso a curto prazo de50 a 60%. Um estudo cruzado, aleatorizados e em duplaocultação demonstrou que o tratamento farmacológico resultanum maior prolongamento do IELT do que a terapêutica com-portamental. Além disso, a experiência clínica sugere que asmelhorias alcançadas com estas técnicas não se mantém nor-malmente a longo prazo.

O creme de lidocaína-prilocaína (5%) é aplicado 20 a 30 minu-tos antes da relação sexual. A aplicação prolongada de agentesanestésicos de aplicação tópica (30-45 min) pode resultar naperda de erecção devida a anestesia do pénis. É necessário usarpreservativo para evita a difusão do agente anestésico de apli-cação tópica para a parede vaginal provocando anestesia naparceira. Em dois ensaios clínicos aleatorizados, o creme delidocaína-prilocaína aumentou significativamente o IELTavaliado através de cronómetro em comparação com placebo.Não foram reportados efeitos secundários significativos. Está aser avaliada uma formulação em aerosol de lidocaína 7,5 mgjuntamente com prilocaína 2,5 mg (Preparado Eutético deAplicação Tópica para a Ejaculação Prematura, TEMPE) quedemonstrou resultados idênticos.

122 Disfunção Sexual Masculina

Page 23: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

O creme-SS é um agente anestésico de aplicação tópica feito deextractos de nove ervas. É aplicado na glande do pénis 1 horaantes e que se lava imediatamente antes do coito. Num ensaioclínico aleatorizado, a aplicação de 0,2 g de creme-SS melho-rou significativamente o IELT e a satisfação em comparaçãocom o grupo de placebo. Foram reportados ardor local e dorligeiros por 18,5% dos doentes. Não foram observados efeitosadversos na função sexual, na parceira ou efeitos secundáriossistémicos.

A primeira escolha de tratamento da EP são os inibidoresselectivos da recaptação da serotonina (SSRIs), em toma diá-ria, mas são usados na EP fora das indicações terapêuticasaprovadas. Os SSRIs usados normalmente incluem a paro-xetina (20-40 mg/dia), sertralina (25-200 mg/dia) e a fluoxe-tina (10-60 mg).

Com base numa revisão sistemática e em meta-análises, espe-rava-se que os SSRIs aumentassem a média geométrica doIELT entre 2,6 a 13,2 vezes. Verificou-se que a paroxetina ésuperior à fluoxetina, clomipramina e sertralina. O atraso daejaculação pode notar-se alguns dias após o início da toma dofármaco, mas é mais evidente após 1 a 2 semanas e pode man-ter-se por vários anos. Os efeitos secundários frequentes dosSSRIs incluem fadiga, sonolência, bocejos, náuseas, vómitos,xerostomia, diarreia e sudação; são normalmente ligeiros emelhoram gradualmente após 2 a 3 semanas. Também foramreportadas diminuição da libido, anorgasmia, anejaculação eDE. O tratamento em necessidade é menos eficaz que a dosa-gem diária, mas pode associar-se a uma tentativa inicial detratamento diário ou tratamento diário concomitante de dosebaixa para reduzir os efeitos adversos.

Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina

123Disfunção Sexual Masculina

Page 24: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

A dapoxetina é um SSRI forte, que foi concebido especifica-mente para tratamento oral de uso em necessidade para a EP.Uma análise integrada de dois ensaios clínicos aleatorizadosconcluiu que a dapoxetina, 30 e 60 mg, melhora significativa-mente o IELT em comparação com placebo. Foi reportada umamelhoria no controlo da ejaculação por 51% e 58% dos doen-tes nos grupos de dosagem de 30 mg e 60 mg, respectivamente.Ambas as doses de dapoxetina foram eficazes na primeiradose. Os efeitos adversos frequentes foram náuseas, diarreia,cefaleias e tonturas. A proporção de homens com um incre-mento de duas ou mais categorias no controlo e satisfaçãorelativamente às relações sexuais (de uma escala com 5 pontos,‘muito fraco’ a ‘muito bom’) com dapoxetina 30 e 60 mg foi de36,3% e 44,5%, respectivamente (versus 15% com placebo).Noutro ensaio clínico aleatorizado, a dapoxetina reduziu aperturbação pessoal e as dificuldades interpessoais associadasà EP. A dapoxetina foi aprovada (Dezembro de 2008) para otratamento em necessidade da EP em sete países europeus(Suécia, Áustria, Finlândia, Alemanha, Espanha, Itália e Por-tugal). Este é actualmente o primeiro e único fármaco apro-vado para esta indicação.

Vários estudos recentes sustentam o papel terapêutico dosinibidores da PDE5 na EP. No entanto, só há um ensaio clínicoaleatorizado que estabelece a comparação entre o sildenafil eplacebo. Embora o IELT não tenha melhorado significativa-mente, o sildenafil aumentou a confiança, a percepção de con-trolo ejaculatório e a satisfação sexual global, reduziu a ansie-dade e diminuiu o tempo refractário para alcançar uma se-gunda erecção após a ejaculação.

Inibidores da fosfodiesterase de tipo 5

124 Disfunção Sexual Masculina

Page 25: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

125Disfunção Sexual Masculina

Figura 4. Orientação da EP

Diagnóstico clínico de ejaculação prematurabaseado na história do/a doente/parceira• Tempo até à ejaculação (IELT)• Nível percepcionado de controlo ejaculatório• Nível de incómodo/perturbação• Início e duração da EP• Questões psicossociais/relacionais• História clínica

Tratamento da ejaculação prematura• Aconselhamento ao doente• Discussão das opções de tratamento• Se a EP é secundária a DE, tratar DE primeiro

ou concomitantemente

EP permanente

• Farmacoterapia• Aconselhamento conjugal• Terapêutica comportamental• Tratamento combinado

EP permanente

• Terapêutica comportamental• Farmacoterapia• Aconselhamento conjugal• Tratamento combinado

Tentativa gradual de interrupção daterapêutica com fármaco após 6-8 semanas

• Terapêutica comportamental inclui técnicaparar/começar, compressão peniana e focalização sensorial• Farmacoterapia (não aprovada) inclui SSRIs (uso diário)e anestésicos de aplicação tópica; é recomendada comoopção de tratamento de primeira linha na EP permanente• Considerar dapoxetina para uso em necessidade (oúnico fármaco aprovado para EP)

EP = ejaculação prematura; IELT = tempo de latência

ejaculatória intravaginal; DE = disfunção eréctil; SSRI =

inibidor selectivo da recaptação da serotonina. Adaptado de Lue

et al. Summary of the recommendations on sexual disfunction in

men. J Sex Med 2004;1:6-23.

Page 26: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

126 Disfunção Sexual Masculina

Em dois outros ensaios clínicos aleatorizados, a monoterapiade lidocaína-prilocaína apresentou eficácia similar à da asso-ciação com sildenafil, enquanto que a eficácia de sildenafilisolado foi similar à do placebo. Noutro estudo, o sildenafilmelhorou significativamente o IELT e a satisfação e reduziu aansiedade global em comparação com vários SSRIs e com atécnica ‘pausa-compressão peniana’. Em vários estudos aber-tos verificou-se que o sildenafil associado a um SSRI é superiorà monoterapia com SSRI.

• Disfunção eréctil, outra disfunção sexualou infecção genitourinária (ex. prostatite)devem ser tratadas primeiro

• Técnicas comportamentais podem beneficiaros doentes com EP. No entanto, consomemmuito tempo, exigem o apoio da parceira epodem ser difíceis de realizar

• Farmacoterapia é a base do tratamento naEP permanente (primária)

• SSRIs tomados diariamente são o tratamentofarmacológico de primeira linha para a EP,embora não aprovados para o efeito. O perfilfarmacocinético dos SSRIs disponíveisactualmente não é adequado para a utilizaçãoem necessidade

• Dapoxetina, um SSRI de acção curta, já seencontra aprovada para o tratamento emnecessidade da EP em sete países da Europa

• Agentes anestésicos de aplicação tópicaconstituem alternatives viávies aos SSRIs

Recomendações NE GR

2a B

3 C

1a A

1a A

1a A

1b A

Recomendações para o tratamento da EP

Page 27: ORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL … › guidelines › Disf-Sex-Masc.pdfORIENTAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA: Disfunção Eréctil e Ejaculação Prematura Definição,EpidemiologiaeFactoresderisco

• Inibidores da PDE5 2B C• Recorrência é provável após cessação

do tratamento• Terapêutica comportamental pode potenciar

a farmacoterapia para optimizar a prevençãodas recorrências

1b A

3 C

NE = nível de evidência; GR = grau de recomendação; DE =

disfunção eréctil; EP = ejaculação prematura; SSRI = inibidor

selectivo da recaptação da serotonina; pm = administração on-

demand

127Disfunção Sexual Masculina

O texto deste folheto é baseado nas orientações mais abrangentes da EAU (ISBN 978-

-90-79754-09-0), disponíveis para todos os membros da Associação Europeia de

Urologia no sítio - http://www.uroweb.org.