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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Cyberbullying: Uma Proposta de Discussão e Sensibilização na Educação
Básica: Um Estudo de caso no Colégio Estadual Nilson Batista Ribas
Cristiane Erbs Fernandes Massad1
Clovis Wanzinack2
RESUMO
O acesso à informação e as novas formas de comunicação estão cada vez
mais presentes no âmbito escolar e passam a ser uma extensão da vida
moderna atual. O uso que fazemos da internet atualmente leva a uma mudança
de paradigmas e consequentemente a maneira de como esta é utilizada deverá
alterar algumas abordagens no ambiente escolar.
A internet atualmente vem assumindo um papel de extrema importância na vida
de crianças, jovens e adolescentes. Diante deste fato, cada vez mais é preciso
assumir as discussões sobre as regras de conduta para o bom uso desta
ferramenta. O Cyberbullying caracteriza-se por atitudes de violência que
ocorrem através das redes sociais e estas podem acontecer a partir de
situações que envolvam atitudes como mensagens, apelidos, xingamentos
entre outros comportamentos anti-social. Com o avanço das tecnologias
virtuais as redes sociais vem se tornando um espaço de socialização de
conhecimento e algumas vezes de violência virtual.
Este artigo trata destas novas situações de violência que vem acontecendo nas
escolas. Diante desta realidade o Programa de Desenvolvimento Educacional
proposto pela Secretaria da Educação do Estado do Paraná oportunizou a
realização de um projeto de pesquisa e intervenção que visasse à discussão e
sensibilização dos alunos e comunidade escolar envolvidos sobre a questão do
Cyberbullying.
Este programa permitiu que os alunos participassem das dinâmicas realizadas
a fim de criar uma mudança de paradigmas frente a esta temática que está
cada vez mais presente na vida dos alunos e da sociedade de uma forma
geral. A internet bem como suas ferramentas precisam ser exploradas, porém
para que isto aconteça com coerência faz-se necessário à intervenção e
esclarecimento por parte dos pais e profissionais da educação envolvidos neste
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Formada em Biologia e Pós Graduada em
Psicopedagogia pela Universidade Católica do Paraná. 2 Professor da Universidade Federal do Paraná. Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade
Regional de Blumenau – FURB.
processo. Os valores presentes em nosso dia a dia precisam ser revistos e
discutidos nas escolas para que estas situações sejam minimizadas.
Percebe-se ainda um desconhecimento por parte dos profissionais da
educação sobre a questão Bullying e Cyberbullying que sem saber como agir
acabam não dando a devida importância ao assunto ou omitindo-se sobre este.
Palavras- chave: Bullying; Cyberbullying; violência no contexto escolar.
INTRODUÇÃO
A necessidade de inovação é inerente ao ser humano. A partir do
advento da internet vivemos uma nova era tecnológica. A sociedade em geral
precisa compreender que os mecanismos que regem esta nova fase da
tecnologia. Esta tecnologia está presente no ambiente escolar e com ela alguns
problemas começam a ser percebidos.
A educação e as escolas como um todo vivem um dilema sobre os
novos usos das tecnologias em sala de aula, o uso da internet bem como das
redes sociais. Algumas escolas demonstram uma estagnação frente aos
problemas relacionados à violência, em especial a uma nova modalidade que é
a violência virtual ou o Cyberbullying.
Rocha (2012) cita que o termo cyberbullying faz referência a um tipo de
agressão repetitiva e intencional que ocorre por meio das redes sociais, bate
papo, celular, mensagens eletrônicas, facebook, twitter e com a expansão do
uso da internet. A facilidade do uso da informação através da tecnologia
permitiram que novas relações se estabelecessem e desta forma ocorreu o
crescimento de comportamentos deliberados com a intenção de propagação da
violência virtual.
O Cyberbullying costuma-se apresentar como uma forma de
preconceito que ocorre na esfera virtual, através da internet, celulares, blogs,
sites de relacionamentos e outros. A partir destes meios de interação tem-se
permitido e possibilitado uma forma de comunicação que pode perpetuar e
provocar atitudes hostis entre os jovens.
Os aparelhos celulares hoje estão nas mãos da maioria dos jovens e são
utilizados em todas as situações por estes. Vídeos são feitos com muita
rapidez, fotos espalham-se como foguetes e o pensamento acerca destas
atitudes nem sempre seguem as mesmas regras do que é certo ou errado, as
atitudes sobre o que e como fazer com estas fotos e vídeos acontecem em
uma velocidade assustadora. Desta forma o Cyberbullying vai ganhando
espaço e tomando conta da vida dos jovens sem que estes possam perceber e
sequer se defender das situações vivenciadas.
A prática do Cyberbullying devido ao uso das novas tecnologias, em
especial a internet, vem crescendo entre os jovens e extrapola as paredes das
escolas. Esta prática esta relacionada aos acessos através da rede mundial de
computadores em sites de relacionamentos bate papos virtuais, jogos virtuais e
outros meios de comunicação aos quais os jovens tem acesso.
Segundo Silva (2010, p. 126) o cyberbullying ocorre quando o autor se
utiliza de recursos tecnológicos e dos “mais modernos instrumentos da internet
e de outros avanços tecnológicos na área da informação e da comunicação
(fixa ou móvel) com o covarde intuito de constranger, humilhar e maltratar suas
vítimas”.
Tais violências podem ocorrer por envio de vídeos pelo celular,
mensagens, e- mails, telefonemas, salas de bate-papo, encaminhamentos de
mensagens instantâneas em redes sociais e a divulgação em sites de
mensagens e vídeos que façam apelo a uma linguagem intencional e
agressiva.
O Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná
possibilita desde o ano de 2007 que os professores da Rede Estadual de
Educação ampliem seus conhecimentos acerca de temas relevantes e atuais
sobre educação. Este programa permite ao professor uma ampliação de seus
conhecimentos uma vez que este pode escolher uma linha de estudo e uma
temática relevante para a escola em que trabalha. Visto essas características
do programa que este projeto foi realizado. O mesmo partiu de uma
necessidade da escola e da sociedade de uma forma geral em lidar com uma
problemática que está atingindo as escolas de um modo geral.
Segundo Silva (2010) o Cyberbullying é uma nova modalidade de
Bullying que está preocupando especialistas em todas as áreas mais em
especial pais e professores devido ao efeito multiplicador dos ataques na
internet e ao sofrimento das vítimas. Quando a vítima se dá conta seu nome e
imagem já encontram-se divulgados em rede mundial. Isto pode trazer
consequências psicológicas para a pessoa, amigos e principalmente familiares.
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE desenvolvido pela
Secretaria de Estado da Educação do Paraná é uma forma de promover
discussões e projetos que visem auxiliar o trabalho do professor com ações
que possam modificar o atual quadro da educação com práticas efetivas e
inovadoras. Nessa perspectiva do programa o referido estudo apresentou-se
como uma possibilidade de discussão e avaliação das situações de violência
que ocorrem em algumas escolas.
No Colégio Estadual Nilson Batista Ribas onde o estudo foi realizado o
Cyberbullying está causando algumas situações constrangedoras, já
aconteceram casos de ofensas, xingamentos e provocações através da
internet. A escola tem procurado o diálogo entre as famílias envolvidas para
resolução dos conflitos existentes, porém há muito ainda que se estudar para
entender e mediar às situações que esse mundo digital representará em um
futuro próximo.
METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada a partir da problemática existente no Colégio
Estadual Nilson Batista Ribas acerca de situações enfrentadas no cotidiano
escolar referentes a problemas relacionados com a internet e suas tecnologias.
Os alunos envolvem-se em situações nas redes sociais que podem
acontecer em suas casas, mas que acabam sendo resolvidas na escola. Em
alguns casos as situações acontecem na própria escola e acabam nas redes
sociais com ofensas, xingamentos que podem resultar em brigas dentro do
ambiente escolar.
Desta maneira o referido estudo foi realizado a partir de situações
relacionadas com o cyberbullying, ao uso da internet, suas características,
impactos e aos desafios que a educação terá em um futuro próximo no que se
refere ao bom uso das tecnologias em nossas escolas.
Para realização desta pesquisa foi aplicado aos alunos um questionário
para realização de levantamento das situações de Bullying e Cyberbullying que
os alunos estavam sofrendo e com o intuito de identificar indicadores de
violência virtual. Esse questionário foi elaborado com questões objetivas,
envolvendo várias situações do cotidiano dos alunos e uma questão aberta
onde os mesmo poderiam escrever sobre o que estavam sentindo ou como
reagiam às evidências de Bullying e Cyberbullying no ambiente escolar.
A coleta inicial de dados partiu da elaboração e aplicação de um
questionário que permitiu uma análise do perfil dos atores envolvidos. Foram
entrevistados 350 alunos do Colégio Estadual Nilson Batista Ribas na cidade
de Curitiba no Estado do Paraná. O questionário continha 21 questões
objetivas e uma questão aberta relacionadas ao Bullying e Cyberbullying e
como estas refletem o cotidiano dos alunos. Algumas questões abordaram
situações de preconceito no ambiente escolar, em casa e na família, outras
questões tratavam de abordagens mais específicas como gênero, raça, etnia,
situação sócio econômica social e sócio educacional bem como as relações
estabelecidas com os alunos (as) na escola, na família e no convívio em geral
e como a internet esta presente na vida destes, uma das questões era de
resposta aberta acerca de situações vivenciadas no ambiente escolar e
puderam ser analisadas a partir do contexto do tema em questão.
Após a aplicação do questionário, os dados foram tabulados e colocados
em gráficos para que se perceba como as situações de Bullying e
Cyberbullying estão acontecendo hoje em nossas escolas mais
especificamente no Colégio Estadual Nilson Batista Ribas.
A partir dos indicadores apresentados, foi pensado em uma prática que
pudesse dar conta dos problemas apresentados.
De acordo com os resultados do questionário pode-se perceber que o
Bullying ocorre com uma grande frequência dentro das casas dos alunos, entre
os familiares. O que alguns alunos fazem é reproduzir a violência que sofrem
dentro de casa na escola.
Segundo Silva (2010) o que falta atualmente aos pais seria rever como
estes agem dentro das suas casas, tomar cuidado para que seus filhos sejam
mais empáticos e respeitem o próximo, que estes questionem a conduta dos
filhos bem como seus valores e assumam suas responsabilidades como
educadores. O exemplo deve iniciar-se dentro de casa com ensinamentos de
ética, altruísmo, solidariedade para que estes valores estendam-se para o
ambiente escolar.
Bullying, Cyberbullying e Educação.
O Bullying continua sendo uma das práticas de violência mais utilizadas
pelos jovens nas escolas, o Cyberbullying começa a acontecer devido ao uso
das tecnologias e o fato de os jovens não saberem como as brincadeiras que
antes eram ditas como inofensivas chegam hoje na vida destes por causa do
uso da internet e das redes sociais, devido à velocidade com que as
informações são espalhadas na rede.
O Cyberbullying está presente no cotidiano de algumas escolas e
paralelo a isso soma-se uma preocupação dos professores e de toda
comunidade escolar sobre o uso da internet por parte dos alunos. Por um lado
existe a valorização e o reconhecimento desta ferramenta, por outro percebe-
se os riscos do uso excessivo bem como a potencialização de comportamentos
agressivos, violentos, como ocorre no Cyberbullying.
Diferentemente do Cyberbullying, o Bullying acontece dentro do muro
das escolas e uma vez que o aluno vá para casa já deixa de existir. No
Cyberbullying já não é tão fácil assim, pois a informação se espalha com uma
velocidade absurda e para milhares de pessoas.
O Cyberbullying cresce à medida que o desenvolvimento tecnológico avança. Os jovens estão cada vez mais cedo participando das redes sociais bem como se comunicando através da internet. Muitos sentem-se protegidos e até mesmo fortalecidos por estarem atrás de um computador, tablet ou celular.
Os jovens precisam compreender que a tecnologia pode ser utilizada negativamente ou que esta pode ser utilizada para promover a valorização humana com igualdade.
Segundo Rocha (2012) apud Cross (2004) e Belsey (2005) a respeito do
Cyberbullying "que esse tipo de recurso digital pode facilitar ainda mais a
ocorrência da vitimização, pois o anonimato que a internet possibilita pode
encorajar os agressores a ameaçar, intimidar e humilhar os outros".
Por estes e outros motivos à relevância e importância deste estudo são
indiscutíveis para as escolas.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A partir das discussões realizadas nas escolas sobre o uso das
tecnologias, da internet e das redes sociais, os atores envolvidos neste
processo podem delinear e debater as situações de violência sofridas tanto
dentro como fora das unidades escolares. O Bullying hoje apesar de já ter uma
variação sua acontecendo nas redes sociais que é o Cyberbullying, continua
existindo nas escolas.
A prática do Cyberbullying devido ao uso das novas tecnologias, em
especial a internet, vem crescendo entre os jovens e extrapola as paredes das
escolas. Esta prática esta relacionada aos acessos através da rede mundial de
computadores em sites de relacionamentos bate papos virtuais, jogos virtuais e
outros meios de comunicação aos quais os jovens tem acesso.
Alguns depoimentos da pergunta aberta podem ser relatados na
sequencia. A pergunta solicitava ao aluno que este relatasse um fato que
tivesse acontecido na escola, em sua casa ou que este deixasse sua opinião
sobre situações que envolvessem Bullying ou Cyberbullying e como poderia
lidar com estas questões.
Maria, 14 anos relata que na “sua opinião os pais não orientam os
filhos por que na maioria das vezes as pessoas guardam apenas para
elas e não procuram ajuda, tentam resolver sozinhas”.
Luiza, 16 anos, “sofro muito por ser negra, mas meus amigos me
ajudam muito”.
Raissa, 16 anos, “só acho que a escola poderia parar de proteger os
agressores e tomar alguma atitude com eles”.
Carol, 11 anos, “Outro dia no instagram coloquei uma foto minha de
cabelo solto e eu sou negra... Uma menina falou que eu parecia uma
louca e me xingou de preta e fedida... A escola esta tentando ajudar,
chamando os pais para conversarem”.
Carlos, 12 anos, “me chamam de gordo peitudo só porque sou
obeso”.
Os depoimentos relatados apresentam características bem
diferenciadas, algumas acontecem entre os pares na sala de aula, no recreio,
no pátio, nos intervalos, outras acontecem pelas redes sociais. Porém percebe-
se um sofrimento nos relatos e uma vontade de que tudo se resolva e que os
adultos possam auxiliá-los, assim como a escola e seus integrantes.
Segundo Bandeira (2009), o Bullying pode apresentar diferentes
implicações na autoestima de meninas e meninos envolvidos nos diferentes
papéis e variações de autoestima nos diferentes papéis para o mesmo sexo.
As meninas costumam apresentar uma autoestima mais baixa se comparadas
aos meninos. No que se refere ao cyberbullying as meninas envolvem-se mais
em situações de fofocas e ofensas que os meninos. Estas questões de gênero
são importantes de serem analisadas uma vez que situações envolvendo
meninos e meninas acontecem todo o tempo no ambiente escolar.
GRÁFICOS
A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Nilson Batista Ribas onde foram
entrevistados 350 alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio com idade
entre 11 e 18 anos.
A idade dos alunos de acordo com o gráfico 1 esta representada por 90% com idade de 11 a
16 anos, 8% dos alunos com 17 anos e 2% dos alunos com 18 anos ou mais.
90%
8% 2%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Idade
Idade
O gráfico 2 refere-se aos tipos de agressões sofridas na escola. O questionário foi respondido
por 350 alunos. O que pode ser percebido é que xingamentos e apelidos são as atitudes que
os alunos mais sofrem. Em seguida temos a representação de agressões, surras e empurrões
seguidos de racismo.
O gráfico 3 refere-se aos acessos realizados nas redes sociais. Percebe-se que a maioria dos
alunos pesquisados acessa algumas das redes disponíveis
65% 12%
8%
10% 5%
Tipos de agressões sofridas
Xingamentos e apelidos Agressão, surra ou empurrão
Racismo Não sofreu nada
Não responderam
Sim 78%
Não 22%
Acesso as redes sociais
O gráfico 4 refere-se as redes sociais mais acessadas. O facebook é uma das redes sociais
mais acessadas pelos alunos desta escola.
O gráfico 5 revela uma certa credibilidade e confiança na escola para que a mesma resolva as
situações que os alunos enfrentam em seu dia a dia.
Facebook 68%
Instagram 20%
You Tube 12%
Redes Mais Acessadas
Sim 72%
Não 28%
A escola tenta resolver a situação
O gráfico 6 refere-se aos comentários que os alunos acessam na internet e revela como estes
podem ou não interferir na vida dos alunos.
O gráfico 7 revela como as famílias estão tratando o tema da violência nas escolas em
conversas realizadas com os filhos. O que podemos perceber é que este tema precisa estar
mais presente na vida dos alunos.
0
10
20
30
40
50
60
70
NãoSim
Não; 62
Sim; 38
Já se sentiu mal com algum comentário que tenham feito sobre você na internet?
Sim 52%
Não 48%
Conversam com os pais sobre violência na escola
O gráfico 8 refere-se aos locais onde os alunos acessam a internet com mais frequência. O
celular é o mais utilizado entre os jovens.
O gráfico 9 refere-se à possibilidade da escola possuir um projeto que realize discussões
acerca das redes sociais.
Celular 77%
Laptop 13%
Tablet 9%
Outros 1%
Locais onde acessa com mais frequencia
Sim 58%
Não 38%
Não responderam 4%
Você gostaria que a escola tivesse um projeto para discutir o uso das redes sociais?
O gráfico 10 refere-se à porcentagem de alunos do sexo masculino e sexo feminino.
O gráfico 11 refere-se ao controle realizado por parte dos pais sobre o tempo de acesso na
internet. Percebe-se que os números de pais que controlam o acesso esta muito próximo do
número de pais que não controlam o acesso de seus filhos na internet.
Feminino 52%
Masculino 48%
Sexo
Não 52%
Sim 48%
Os pais controlam o tempo de acesso na internet
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Cyberbullying apresenta-se como uma nova modalidade de violência
sendo que o Bullying antecede esta. Os conceitos que diferenciam o Bullying e
Cyberbullying precisam ser discutidos nas escolas devido à falta de
conhecimento por parte dos profissionais envolvidos no processo educacional.
O Cyberbullying em alguns casos apresenta-se mais nocivo que o
Bullying, pois o primeiro mostra uma face mais cruel devido à dimensão
atingida no que se refere à difusão e velocidade das informações que são
rapidamente espalhadas na rede mundial de computadores.
As diferenças entre o Bullying e Cyberbullying apresentam-se que uma
delas acontece entre pares e a outra mostra uma face mais cruel, pois as
informações compartilhadas atingem milhares de pessoas em um rápido
intervalo de tempo. Os jovens de uma maneira geral são cruéis em suas
brincadeiras e demonstram não se preocupar com os sentimentos dos colegas,
no caso do Cyberbullying as ofensas virtuais atingem uma dimensão ainda
maior, pois as informações espalham-se com uma velocidade assustadora e
atinge milhares de pessoas em um curto espaço de tempo.
As escolas bem como seus profissionais deverão estar preparados para estes novos desafios. As capacitações dos profissionais da educação serão cada vez mais necessárias bem como as discussões acerca deste tema de forma preventiva seja em relação ao tema Bullying ou Cyberbullying.
Uma legislação mais abrangente e específica sobre o uso da internet
também seria uma forma de coibir e censurar estas práticas de violências nas
escolas, principalmente no que diz respeito ao Cyberbullying. Esta modalidade
de violência se não for bem analisada, discutida e estruturada poderá causar
muitos problemas e danos à sociedade de uma forma geral devido ao
constante uso da internet.
Segundo Rocha (2012) a escola e a sociedade como um todo deve
trazer a tona discussões relevantes ao bom uso da internet e das redes sociais
para uma mudança de paradigmas do poder onde os jovens entendam que é
de sua responsabilidade também as agressões às quais submetem outras
pessoas. A escola bem como a família podem discutir as relações de poder
estabelecidas a partir desta nova modalidade de comunicação e deixar claro a
criança, adolescentes e jovens suas responsabilidades frente a este tipo de
violência na internet. Discutir as medidas judiciais bem como as
responsabilidades de quem agride um colega na internet e aquele que é
agredido e podem prestar queixas e solicitarem sanções penais.
Segundo Rocha (2012) o diálogo com os alunos sobre o Bullying e
Cyberbullying podem auxiliar neste processo e mostrar que este tipo de
violência pode ter repercussão jurídica e que os mesmos podem ser
responsabilizados por seus atos. Realização de palestras com os pais e
comunidade e a execução de projetos nas escolas também são formas de lidar
com estes problemas, criando oportunidades de ações que envolvam a
solidariedade e apoio às vítimas de Bullying e Cyberbullying.
A cultura digital que nos é apresentada deve vir acompanhada de uma
certa maturidade da sociedade para lidar com as questões que envolvem as
práticas de violências virtuais e as consequências que estas podem trazer para
os jovens.
A escola por ser um espaço de convivência e estabelecer relações
sociais apresenta-se como o melhor local para que as discussões acerca deste
aconteçam, para isso é necessário que os profissionais da educação estejam
preparados e capacitados para lidarem com esta temática e outras que ainda
estão por vir. O uso da internet bem como suas relações interpessoais é um
processo relativamente novo e saber como lidar com suas informações será de
extrema importância para entendermos o processo de evolução das relações
estabelecidas a partir desta tecnologia. Nas escolas de um modo geral as
relações são estabelecidas por afinidades de grupos e alguns integrantes
destes grupos não respeitam as individualidades e particularidades dos sujeitos
que circulam e frequentam outros grupos, desta forma apontar defeitos, xingar,
ofender ou outras maneiras de manifestações acerca dos indivíduos pode
acontecer de forma cruel e causar danos irreversíveis aos indivíduos
envolvidos. O Cyberbullying é uma destas formas de agressão que atinge
milhares de pessoas ao mesmo tempo e pode causar problemas que podem
ser difíceis de resolver ou até mesmo impossíveis, uma vez que as
informações e comentários jogados na rede de computadores podem nunca
mais sair de lá ou serem apagados.
Desta forma podemos perceber que para trabalharmos estas questões
de violência nas escolas em especial o Bullying e Cyberbullying é necessário
um trabalho conjunto de todos os segmentos da escola. As conversas,
discussões, debates e um olhar diferenciado tanto para vítimas quanto para
alvos. Quando o ser humano entender que o respeito ao próximo é um dos
bens mais valiosos então poderá compreender e colocar-se no lugar do outro e
perceber como as pessoas podem sofrer com algumas atitudes e comentários.
Um ponto que não poderia deixar de ser citado refere-se à capacitação
dos profissionais envolvidos no processo educacional em especial os
professores que devem ser capacitados para lidarem com estas questões
relacionadas à violência virtual, pois trata-se de uma nova modalidade que está
acontecendo na sociedade de uma forma geral e nas escolas.
Segundo Bandeira (2009) as estratégias para prevenção do Bullying e
Cyberbullying exigem um comprometimento por parte das escolas e
comunidade de uma forma geral principalmente no que diz respeito à
prevenção de tais atitudes. Uma atenção especial por parte das famílias e
sociedade para que em conjunto possamos discutir conhecer e combatermos
essas atitudes de sofrimento para todos.
A tolerância, o respeito às diferenças, a generosidade de colocar-se no
lugar do outro são características que devem ser valorizadas e trabalhadas nas
escolas a fim de que se estabeleça um ambiente onde o ser humano seja
valorizado e respeitado da maneira que merece.
O caminho através de uma formação humanista pode ser o ponto crucial
de discussão e reflexão em nossas escolas.
É necessário um novo olhar da escola para estas questões relacionadas
à tecnologia, olhar este que envolva o aluno, instigue a curiosidade, faça com
este jovem reflita sobre estas novas tecnologias e possa utilizá-la da melhor
maneira possível. A escola deve e pode fazer parte deste processo de
transformação, uma escola que vá além dos conteúdos e saberes
historicamente produzidos sem deixar estes de lado, mas que possa conciliar
todo o aprendizado histórico com o bom uso da tecnologia e insira esta em sua
prática cotidiana.
Para finalizar as discussões realizadas faz-se necessário a continuação
dos estudos no referido tema para que estas ações sejam minimizadas nas
escolas.
Os trabalhos realizados pelos alunos após as discussões podem ser
ilustrados nas fotos abaixo. Percebe-se uma construção do conhecimento
acerca do tema a partir dos desenhos, frases e histórias em quadrinhos onde
os alunos expõem seus sentimentos sobre este tema atual e relevante para a
educação.
Fonte: (trabalho em Sala de Aula 2014) Cartaz 1 - Bullying e Cyberbullying
Fonte (trabalho em sala de aula 2014) Cartaz 2 – Bullying e Cyberbullying
Fonte (trabalho em sala de aula 2014) Cartaz 3 – Respeito às questões de gênero.
Fonte (trabalho em sala de aula 2014) Cartaz 4 – Histórias em Quadrinhos sobre
Cyberbullying
Fonte (trabalho em sala de aula 2014) Cartaz 5 – História em Quadrinhos sobre Bullying
Fonte (trabalho em sala de aula) Cartaz 6- Explicação sobre as diferenças entre Bullying e
Cyberbullying; Explicação sobre Sexting.
Referências
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BANDEIRA, C. M. Bullying: autoestima e diferenças de gênero. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
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