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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

1 Docente Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Especialista em Educação Especial

(UNIPAR). Mestre em Genética (UEL). [email protected]

2 Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutorando em Educação (UEPG)

TÍTULO: “IOGA NA SALA DE AULA:

CONVIVENDO ATENTOS E CONCENTRADOS”

1Paintner-Marques, Tania R.

2 Salles Filho, Nei Alberto

Resumo: O excesso de informações do mundo atual tem contribuído para o aumento da

dificuldade de concentração e atenção dos alunos durante as aulas. A adoção de metodologias diferenciadas pode aprimorar a atenção e concentração destes alunos. A Ioga na educação aplica exercícios e técnicas que atendem a estes objetivos, além de trabalhar a não violência. Este trabalho teve como objetivo desenvolver exercícios de Ioga adaptados à sala de aula como elemento pedagógico no processo de inclusão e da pedagogia da convivência. O projeto foi desenvolvido na área de Educação Especial no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) no Estado do Paraná teve duração de dois anos (2013 e 2014) e utilizou exercícios de Ioga adaptados à sala de aula durante o atendimento dos alunos matriculados na sala de recursos multifuncional do tipo I. Concomitantemente, nas salas do ensino regular em que estes alunos estão matriculados, foram realizadas dinâmicas com os objetivos de melhorar a convivência e desenvolver a tolerância e aceitação do outro. Durante o primeiro semestre de 2014 também acorreu o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) no site Dia a Dia Educação, onde a temática do projeto foi discutida com professores da Educação Especial da rede estadual de ensino. Os resultados obtidos durante o desenvolvimento do projeto e das discussões com outros professores,evidenciaram que a aplicação de novas metodologias e recursos colaboram efetivamente com o processo de ensino-aprendizagem, ao melhorar a atenção e concentração e harmonizar os espaços de convivências na escola.

Palavras-Chave: Ioga. Pedagogia da convivência. Atenção. Concentração.

1 Introdução

O excesso de informações e estímulos do mundo atual tem contribuído para o

aumento da dificuldade de concentração e atenção dos alunos durante as aulas.

Concomitantemente há um aumento no número de casos de alunos com transtorno

de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Segundo Navas (2013), esse grupo

de crianças corresponde de 4 a 6% da população escolar e teriam dificuldades para

acompanhar o processo de aprendizagem.

Alunos desatentos e desconcentrados têm grande dificuldade de

aprendizagem e na maioria das vezes se evadem da escola ou ficam retidos. A

evasão e a reprovação geram nestes alunos sentimentos de baixa autoestima,

insegurança e, às vezes, violência dos outros alunos da sala que discriminam estes

alunos por suas dificuldades.

Camargo et al (2010) afirmam que é necessária uma escola que ensine o

aluno a pensar, a viver e a conviver, a olhar atentamente para o próximo, para o

mundo e para a vida.

Sendo assim é necessário adotar metodologias diferenciadas que possam

aprimorar a atenção e concentração destes alunos e também técnicas introspectivas

para trabalhar a espiritualidade em sala de aula, desenvolvendo assim a autoestima,

a confiança e a segurança na sua capacidade de aprender.

Matos (2011) salienta que a prática da espiritualidade através de técnicas

introspectivas, não se configura como práticas religiosas específicas. Yus (2002)

afirma que as técnicas introspectivas são exercícios psicológicos de

autoconsciência, eficácia pessoal e relaxamento.

Satyananda (2006) defende que a educação que realmente ensina ocorre

através da educação da mente e do corpo e que, nas últimas décadas, o processo

de aprendizagem tem ocorrido apenas no nível intelectual.

Matos (2011) menciona que “educadores holísticos trabalham temas do

currículo de forma que considerem o equilíbrio de todas as dimensões humanas: o

racional, o biológico, o social, o emocional e o espiritual”.

A prática da Ioga desenvolve no indivíduo a consciência física, mental e

espiritual. A palavra Ioga deriva da raiz sânscrita yug, que significa atar, reunir,

religar, que significa também união ou comunhão da nossa alma individual com o

Princípio Supremo (HERMÓGENES, 1994).

Atendendo a este propósito, a Ioga na educação aplica exercícios e técnicas

que desenvolvem a atenção e concentração, além de trabalhar a não violência

através do respeito e da solidariedade que são preceitos da pedagogia da

convivência.

Jefferson-Buchanan (2011) conclui que quando as técnicas de Ioga na

Educação são aplicadas com regularidade nos alunos, eles podem tornar-se

saudáveis e terem as ferramentas para o bem estar, oferecendo ao professor

caminhos criativos e positivos para melhorar a capacidade de aprendizagem dos

alunos.

Milani et al (2006, p. 372) afirmam que “é urgente descobrir o que as escolas

e demais espaços educativos podem fazer para se configurar como ambiências

saudáveis, nas quais se cultivam cidadania, participação, diálogo e respeito às

diferenças.”

Sendo assim este trabalho teve como objetivo desenvolver exercícios de Ioga

adaptados à sala de aula como elemento pedagógico no processo de inclusão e da

pedagogia da convivência.

2 Resultados e Discussões

As práticas introspectivas têm sido eficientes para criar um ambiente de bem-

estar, concentração e criatividade. Dentre elas destacam-se técnicas de respiração,

exercícios de Ioga, relaxamento, visualização e a meditação.

Nessa perspectiva, educadores holísticos reconhecem a necessidade e

efetividade de técnicas introspectivas para o desenvolvimento cognitivo e

florescimento de virtudes nos estudantes (MATOS, 2011).

Camargo et al (2010) consideram que a convivência, os valores e a tolerância

entre as pessoas são restabelecidas quando o ser humano reconhece-se como

dependente e diretamente relacionado ao seu próximo, seu ambiente e a natureza.

A tolerância e o respeito são virtudes a serem trabalhada na sala de aula.

Segundo Jares (2008) o respeito e as normas básicas de convivência se deterioram

nos últimos anos, dificultando assim a convivência e favorecendo a violência.

Relações desrespeitosas possibilitam ainda o autoritarismo e a discriminação. Os

ensinamentos da Ioga corroboram com estes preceitos.

Na década de 70, a professora Micheline Flak realizou, no Colégio Condorcet

de Paris, a primeira experiência de aplicação de exercícios de Ioga em sala de aula

para melhorar o rendimento de seus alunos e obteve resultados bem significativos.

Surge então o movimento "Pesquisa de Yoga na Educação" (RYE: Recherche sur le

Yoga dans l'Education).

A proposta do método é de apresentar exercícios de Ioga que orientem os

alunos a melhor gerir e aproveitar sua energia. Ao relaxar, o aluno ouve melhor,

aprende a controlar o seu estresse e melhora sua autoconfiança. Arenaza (2002)

enfatiza que não se trata de aulas de Ioga, mas de exercícios de respiração e de

relaxamento que podem ser praticados em determinados momentos das aulas.

Portanto o projeto desenvolvido na área de Educação Especial no Programa

de Desenvolvimento Educacional (PDE) no Estado do Paraná teve duração de dois

anos e utilizou a Ioga como um recurso pedagógico.

O trabalho iniciou-se em 2013 com a elaboração do Projeto de Intervenção

Pedagógica no primeiro semestre e o desenvolvimento do Caderno Pedagógico no

segundo semestre do mesmo ano.

No primeiro semestre de 2014 o projeto foi implementado no Colégio Estadual

José Elias da Rocha na cidade de Ponta Grossa (PR) com alunos matriculados na

Sala de Recursos Multifuncional - Tipo I e também alunos dos sétimos anos do

ensino regular no período de fevereiro a maio de 2014.

2.1 Implementação na Sala de Recursos Multifuncional – Tipo 1

Os alunos da sala de recursos realizaram durante este período exercícios de

Ioga adaptados à sala de aula em diferentes momentos do atendimento. Os

exercícios de limpeza das vias respiratórias e os exercícios respiratórios foram

realizados no início do atendimento para melhorar a oxigenação cerebral e centrar o

aluno no atendimento.

A realização destes exercícios permitiu observar que alguns alunos têm

dificuldades na respiração nasal. Os pais destes alunos foram orientados a procurar

atendimento especializado na área da saúde.

A observação da respiração exercita a atenção e a respiração completa

permite uma melhor oxigenação do cérebro, favorecendo assim a atenção e a

memória. Além de reduzir o nervosismo e a ansiedade (FLAK & COULON, 2007). Os

efeitos da respiração evidenciam a importância dos exercícios respiratórios em sala

de aula.

Os exercícios de concentração e atenção foram realizados anteriormente às

atividades mais complexas que exigiam raciocínios lógicos, interpretação e

aplicação de conceitos.

Uma das atividades realizadas foi a pintura de mandalas (Figura 1). A

mandala geralmente contém formas geométricas básicas e, representa, desde os

tempos mais antigos, o centro ou a totalidade da consciência humana. Wilmes-

Mielenhausen (2004) afirma que desenhar e observar mandalas traz calma e

concentração e a pintura ou construção de mandalas representa um ritual

terapêutico que transforma o caos interior em ordem e equilíbrio.

Figura 1 – Mandalas coloridas pelos alunos da SRM.

Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Observou-se que os alunos conseguiram manter-se concentrado por mais

tempo após a realização das atividades e também permaneciam em silêncio.

Os exercícios de relaxamento foram realizados ao final dos atendimentos,

mostrando aos alunos que nossa mente precisa de descanso após a realização do

trabalho e que isto é importante para o processo de aprendizagem.

Figura 2- Alunos da SRM realizando relaxamento descrito no Caderno Pedagógico.

Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Alguns comentários realizados pelos alunos após as atividades de

relaxamento:

“Fiquei mais calmo.” (Aluno A, 12 anos)

“Estou relaxado.” (Aluno B, 14 anos)

“Quase dormi.” (Aluno C, 16 anos)

“Fiquei tranquilo.” (Aluno D, 11 anos)

Yus (2002) afirma que as técnicas de relaxamento restabelecem a conexão

mente-corpo e devem ser valorizadas pela educação holística dentro da educação

do corpo.

2.2 Implementação na sala do ensino regular

Nas salas do ensino regular em que os alunos da SRM estão matriculados,

foram realizadas no período de fevereiro a maio de 2014, dinâmicas com os

objetivos de melhorar a convivência; desenvolver a tolerância e aceitação do outro,

principalmente dos alunos com dificuldades de aprendizagem; colaborar para que o

ambiente na sala de aula torne-se harmonioso e acolhedor, favorecendo o processo

de ensino e aprendizagem.

Para Estêvão (2008), uma escola comunicativa e convivencial deve

contemplar algumas características facilitadoras da convivência. Dentre estas

características, destacam-se: o respeito e tolerância; prioridade aos mais fracos; a

capacidade e predisposição para se colocar no lugar do outro; o diálogo como

enriquecimento mútuo e como solução para os conflitos; o fomento da auto-estima e

do auto-conceito; o compromisso com o bem comum de caráter global e a

aceitação do pluralismo, da diversidade.

Uma das atividades realizadas foi a construção coletiva de uma flor de Lótus

com massa de modelar (Figura 3), descrita no Caderno Pedagógico. Esta atividade

objetivou trabalhar o respeito, a tolerância, a aceitação e o díalogo, características

essenciais para uma boa convivência, como descrito acima.

Figura 3 – Construção coletiva da flor de Lótus pelos alunos do 7º ano.

Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Outra atividade realizada foi a pintura coletiva de mandalas (Figura 4). A pintura

de mandala em grupo tem como objetivos a aceitação do trabalho do outro; dar

continuidade ao trabalho iniciado por outro colega e adaptar-se a limites propostos.

As mandalas, segundo Wilmes-Mielenhausen (2004) permitem reconhecer

conflitos interiores e distúrbios do equilíbrio emocional, e simultaneamente, mostram

harmonia e concordância.

Figura 4 – Pintura coletiva de mandala pelos alunos do 7º. Ano.

Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Figura 5 – Pintura coletiva de mandalas pelos alunos do 7º. Ano.

Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Além das atividades descritas, foram realizadas dinâmicas como Bombardeio de

Recursos e Eu e o outro, ambas descritas no Caderno Pedagógico. Os objetivos

destas atividades foram de melhorar as relações interpessoais, a auto estima, a

aceitação.

Para Ceccon et al (2009, p.60):

As interações positivas tecem conexões interpessoais que produzem

sentimentos de segurança e de aceitação – fatores determinantes para que

os conflitos possam ser manejados com habilidade, no contexto do diálogo

constante, sem margem para que manifestações de violência ocorram.

Os alunos participaram das atividades com interesse, porém algumas atividades

como formação de grupos e realização de trabalhos cooperativos, evidenciaram a

dificuldade na aceitação do outro e na tolerância com o outro.

A promoção de relações amigáveis entre todos os membros da escola de forma

clara e firme em relação às formas hostis de relacionamento e de qualquer tipo de

violência, deve ocorrer simultaneamente ao incentivo de atitudes e gestos de

civilidade, respeito, tolerância/valorização das diferenças e cooperação (Ceccon et

al, 2009).

A sala de aula é um espaço de convivência entre pessoas diferentes em

diversos aspectos: sociais, culturais, étnico-raciais, desempenho intelectual, entre

outros. Pérez-Serrano (2002) menciona que neste espaço a educação para a

tolerância é uma exigência e uma necessidade na sociedade atual.

Para Flak e Coulon (2007, p.25), “a violência na escola é um inimigo temível

do espírito de ajuda mútua. As disputas entre grupos ou simplesmente os conflitos,

destroem o bom entendimento em sala de aula. Uma atmosfera de alegria e

amizade favorece a aprendizagem.”

Para Pérez-Serrano (2002) a valorização e o reconhecimento de pertencer a

um grupo, requerem que o indivíduo tenha ou desenvolva habilidades sociais. As

habilidades sociais referem-se a um conjunto de diretrizes de vida que asseguram

uma adequada socialização. Portanto, viver em uma sala de aula exige a aquisição

de normas de convivência que permitam uma vida coletiva, em que conflitos não

comprometem a convivência.

Para Jares (2008, p. 01) “conviver significa viver uns com os outros com base

em certas relações sociais e códigos valorativos, forçosamente subjetivos, no marco

de um determinado contexto social”.

Os exercícios de Ioga podem despertar a consciência de si mesmo e,

simultaneamente, manter a atenção no outro, desenvolvendo o senso de

responsabilidade com o ambiente em que o aluno está inserido (FLAK & COULON,

2007).

2.3 Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

Ainda no primeiro semestre de 2014 ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede

(GTR) no site Dia a Dia Educação, onde a temática do projeto foi discutida com

professores da Educação Especial da rede estadual de ensino.

O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) foi constituído por 17 professores da

Educação Especial que atuam em diferentes cidades no Estado do Paraná, sendo

que 12 professores atuam em Escolas Especiais, 4 atuam em sala de recursos

multifuncional e um atua no Núcleo Regional de Educação. As atividades propostas

para o grupo permitiram discussões sobre a temática, considerada pela maioria dos

professores participantes como um recurso inovador.

A falta de atenção e concentração interferem muito no processo de

aprendizagem, conforme mostra alguns relatos de professores participantes do GTR

citados abaixo:

“A atenção e a concentração é uma habilidade essencial para qualquer

atividade que o ser humano venha a realizar. No entanto, vemos que

nossos alunos não conseguem focar-se durante muito tempo em

determinada tarefa sem que seu pensamento seja desviado, mesmo contra

a sua vontade.” (Professora da SRM)

“Realmente a falta de atenção e concentração em sala é uma realidade

muito comum nos dias de hoje, e na educação especial ainda mais, pois

além dos estímulos externos a que estamos expostos diariamente, temos o

agravante referentes às deficiências intelectuais (moderada a severas), que

é o caso dos meus alunos.” (Professora de Escola Especial)

Considerando estas dificuldades, a maioria deles dos professores

participantes do GTR já havia desenvolvido alguma atividade diferenciada para

amenizar este problema e, ao utilizarem os exercícios propostos no caderno

pedagógico deste projeto ficaram bastante satisfeitos e empolgados com os

resultados obtidos. Relataram que os alunos ficaram mais calmos e atentos para

realizarem as atividades após terem realizados exercícios respiratórios, de

concentração, atenção e o relaxamento.

Satyananda (2006) explica que o relaxamento através da abstração dos

sentidos do meio externo, reduz o estresse diário.

As professoras de escolas especiais relataram que fizeram algumas

adaptações para seus alunos mais comprometidos, mas que mesmo assim tiveram

bons resultados.

Em uma das atividades propostas no GTR, explicou-se que os exercícios de

Ioga praticados em sala de aula são organizados e baseiam-se nas etapas descritas

nos ensinamentos de Patañjali. Os ensinamentos foram citados conforme Jefferson-

Buchanan (2011): Viver juntos (Yama); Eliminar toxinas e pensamentos negativos

(Niyama); Ter uma boa postura (Asana); Aprender a respirar (Pranayama); Aprender

a relaxar (Pratyahara); Aprender a concentrar-se, aprender a aprender (Dharana).

Quando questionados sobre a importância dos ensinamentos da Ioga

copilados por Patanjali segundo a sua realidade escolar, 35% escolheram “Viver

Juntos” (Yama) como o ensinamento mais importante a ser trabalhado com seus

alunos.

A segunda unidade do Caderno Pedagógico propõe atividades com este

objetivo e as dinâmicas descritas colaboram com a pedagogia da convivência,

amenizando conflitos e possibilitando a inclusão, conforme relato da professora de

uma Escola Especial participante do GTR:

“Os alunos adolescentes tem muitos conflitos entre eles, passando a

comprometer o aprendizado, pois ficam incomodados com a presença do

colega que teve conflito naquela semana. A segunda parte do projeto irá

contribuir para que os alunos possam resolver seus conflitos sociais,

melhorando assim a convivência com todos.”

Estêvão (2008) afirma que o conflito entre alunos que gera indisciplina e

violência podem estar relacionados a heterogeneidade da turma; no excesso de

alunos em sala de aula ou ainda na inexistência de condições de convívio

acolhedoras e atrativas.

Segundo Jares (2008), a escola gera ritos que deixam vestígios no âmbito da

convivência e que professores direta ou indiretamente estimulam determinados

modelos de convivência.

A convivência, a capacidade de viver juntos, de dialogar, de acolher o outro e de compartilhar são qualidades cada vez mais valorizadas na sociedade atual, na vida social, funcional, privada, profissional, etc.[...] Aprender a viver juntos, a conviver, desenvolver as potencialidades do ser mais profundo e originário da pessoa. Dessa ótica, podemos criar e recriar uma cultura

genuína da paz, da tolerância e da democracia. (PÉREZ-SERRANO, 2002, p.11)

Matos e Nonato Júnior (2010) afirmam que “a não violência pode ser

trabalhada com técnicas de atividades cooperativas e que esse valor permeia o nível

de consciência espiritual através da ação, viabilizando o amor ao próximo através

dos conceitos de solidariedade, da ação integrada e coletiva, do voluntariado e do

serviço mútuo”.

Ainda sobre os ensinamentos da Ioga, 29% dos participantes do GTR

mencionam que seus alunos precisam aprender a respirar (Pranayma), pois a

respiração correta é essencial para acalmar e concentrar-se. Para Packer (2009), “a

respiração é a ponte entre o corpo e mente. Mudanças no corpo afetam a

respiração, que afeta a mente. Mudanças na mente afetam a respiração, que afeta o

corpo.”

Satyananda (2006) considera que as práticas de respiração agem

diretamente no cérebro e nas emoções, gerando estabilidade emocional e

desenvolvendo mais consciência de si e autocontrole.

Aprender a concentrar-se (Dharana) foi citado por 17% dos professores como

a primeira habilidade a ser desenvolvida por seus alunos.

A mente é estimulada excessivamente nos tempos atuais, dificultando o foco

da atenção em determinadas atividades em sala de aula. Para Flak e Coulon (2007),

a concentração de fato apenas é possível quando se consegue unificar as

tendências dispersas da mente tendo em vista um objetivo único e preciso. Daí a

importância da realização de exercícios que possibilitem ao aluno um

recentramento.

3 Considerações Finais

O desenvolvimento do projeto utilizando um recurso diferenciado e inovador

como a Ioga em sala de aula, apresentou resultados positivos no processo de

aprendizagem, pois os exercícios propostos trabalham o aluno nos aspectos físico,

emocional e intelectual. Aspectos como diálogo, respeito e solidariedade, essenciais

dentro da pedagogia da convivência, também foram contemplados nas atividades

desenvolvidas, pois estão diretamente relacionadas com os ensinamentos da Ioga.

Durante a implementação do projeto foi possível observar que mesmo os

exercícios mais simples, conseguiam acalmar os alunos e melhorar a concentração

para a realização das atividades. Na sala do ensino regular, a prática de atividades

relacionadas à Ioga e outras dinâmicas possibilitaram aos alunos um novo olhar

para o outro, sob uma perspectiva até então desconhecida de aceitação e de

encontrar no outro, qualidades e não apenas defeitos.

Segundo Camargo et al (2010) a vivência em sociedade afeta a nós mesmos

e aos outros que conosco convivem. Assim como nossas ações refletem sobre nós e

também sobre os outros.

Aprender a conviver é um dos pilares da Educação neste milênio, segundo a

UNESCO. E para desenvolver na escola a pedagogia da convivência sugere-se

desenvolver em toda a comunidade escolar habilidades de resolver conflitos por

meio do diálogo. A realização de projetos e ações conjuntas que abordem os

relacionamentos interpessoais na equipe escolar podem contribuir neste sentido.

Milani et al (2006) mencionam estratégias eficientes no enfrentamento à

violência. Dentre elas destacam-se o cultivo de um bom clima escolar, a valorização

do estudante, o trabalho coletivo e a promoção da sociabilidade.

Portanto todos os relatos, discussões e observações que este projeto

possibilitou, evidenciaram a importância da continuidade e aprofundamento neste

recurso pedagógico e em outros que desenvolvam o aluno como um ser na

integralidade e que saiba conviver com o outro, apesar das diferenças.

4 Referências

ARENAZA, D. E. M.. 2002. Relatório de Pesquisa: O Yoga na Escola. Disponível em: http://www.ced.ufsc.br/yoga/relatorio_pesquisa.html Acesso em 10/04/2013. CAMARGO, D., SOARES, V.M.; FINK, S.C.M. Educação e Convivência: Reflexões acerca da criança e da escola doSéculo XXI. Anais do Congresso Internacional de Educação. Ponta Grossa (PR), 2010.

CECCON, C. et al. Conflitos na escola: modos de transformar: dicas para refletir e exemplos de como lidar. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo CECIP :São Paulo, 2009.

ESTÊVÃO, C. V. Educação, conflito e convivência democrática. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 503-514, out./dez. 2008

HERMÓGENES, J. Iniciação ao Yoga. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994. FLAK, M.; COULON, J.. Yoga na Educação- Integrando corpo e mente na sala de aula. Florianópolis: Editora Comunidade do Saber, 2007. JARES, X. R. Pedagogia da convivência. Trad. de Elisabete de Moraes Santana. São Paulo: Palas Athena, 2008. JEFFERSON-BUCHANAN, R.l. The benefits of using Yoga. Eye. Volume 13. No. 3 July, 2011. Disponível em http://www.ryeuk.org/eu.htm . Acesso em 01/05/2013. MATOS, K. S. A.L.; NONATO JUNIOR, R. (organizadores). Cultura de Paz, Ética e Espiritualidade. Fortaleza: Edições UFC, 2010. MATOS, K. S. A. L. (organizadora). Cultura de Paz, Ética e Espiritualidade II. Fortaleza: Edições UFC, 2011. MILANI, F. M; JESUS, R.C.D.P. de; BASTOS, A.C.S. Cultura de paz e ambiências saudáveis em contextos educacionais: a emergência do adolescente protagonista. Revista Educação. Porto Alegre – RS, ano XXIX, n. 2 (59), p. 369 – 386, Maio/Ago. 2006

NAVAS, A. L. Políticas públicas educacionais no Brasil ignoram crianças com transtornos do déficit de atenção e com transtornos de aprendizagem. Disponível em http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/412-tdah-pol%C3%ADticas-

p%C3%BAblicas-educacionais-no-brasil-ignoram-crian%C3%A7as-com-tdah-e-com-

transtornos-de-aprendizagem.html Acesso em 15/04/2013 PACKER, M. L. G.. A senda do yoga: filosofia, prática e terapêutica. 3ª. ed. Blumenau: Nova Letra, 2009. PÉREZ-SERRANO, G. Educação em valores: como educar para a democracia. 2ª.ed. Porto Alegre :Artmed, 2002.

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YUS, R. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.