os desafios da escola pÚblica paranaense na … · animais de grande porte: bovinos de corte e...

14
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

Upload: lecong

Post on 17-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

ELABORAÇÃO DE UM MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE

ORDENHA PARA O SETOR DE BOVINOCULTURA DE LEITE DO

COLÉGIO ESTADUAL AGRÍCOLA MANOEL RIBAS

Neide Regina Lemes Da Silva Ortega1 Rosangela Volpato2

RESUMO: O Paraná é o terceiro maior estado produtor de leite, cadeia que alavanca a agroindústria do estado e principalmente a agroindústria familiar. Produzir leite de qualidade é hoje um objetivo comum a toda a cadeia produtiva do leite no Brasil e no mundo. No Colégio Agrícola de Apucarana o aluno tem a oportunidade de conciliar a teoria com a prática através de laboratórios e campos experimentais. Essa formação permanente dos alunos capacita-os para que ao retornarem à propriedade de origem ou para o mercado de trabalho contribuam para o desenvolvimento da agropecuária. Na formação do técnico em agropecuária os conteúdos sobre bovinocultura leiteira são abordados na disciplina de produção animal, onde são trabalhados aspectos sobre produção, manejo, higiene de ordenha e qualidade do leite. Essa disciplina se torna importante pois a escola conta com um setor de bovinocultura leiteira. Verificando a necessidade de uma padronização do manejo neste setor, devido a alta rotatividade de funcionários e a falta da qualificação dos mesmos, desenvolveu-se juntamente com os alunos do 3° ano integrado um manual de boas práticas de ordenha, focando na qualidade do leite e no controle de mastite. A elaboração do manual teve o objetivo de melhorar o aprendizado através da teoria e prática, com consequente aperfeiçoamento dos canais de comunicação e das atividades práticas realizadas. Com a implantação do manual de ordenha, a padronização se faz efetiva na rotina da bovinocultura de leite. Ele pode ser utilizado ano a ano pelos alunos, assim como pelos funcionários responsáveis pela ordenha. Palavras-chave: Leite. Qualidade. Padronização. Aprendizagem. Mastite.

1 INTRODUÇÃO

O Estado do Paraná, conta com um rebanho leiteiro de aproximadamente

2,5 milhões de cabeças, com 1,7 milhões de vacas em lactação. Segundo o

IBGE, o Estado em 2013 produziu 4,3 bilhões de litros (3º colocado) no cenário

nacional, antecedido por Rio Grande do Sul com 4,5 bilhões (2º colocado) e

Minas Gerais, com 9,3 bilhões de litros (1º colocado). Com esta produção,

participa com 12,7 % da produção nacional (DERAL, 2014).

No Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas de Apucarana o aluno tem a

oportunidade de conciliar a teoria com a prática através de laboratórios e campos

experimentais. Essa formação permanente dos alunos capacita-os para que ao

retornarem à propriedade de origem ou para o mercado de trabalho contribuam

para o desenvolvimento da agropecuária e do meio ambiente.

1 Professor PDE-Turma 2014. Zootecnista. Professora no Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas em Apucarana 2.Orientadora PDE-Turma 201. Doutora em Educação. Professora de Filosofia e Educação do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina/UEL

Na formação do técnico em Agropecuária, os conteúdos sobre

bovinocultura leiteira são abordados na disciplina de Produção Animal, onde são

trabalhados aspectos sobre produção, manejo, higiene de ordenha e qualidade

do leite. Essa disciplina se torna importante pois a escola conta com um setor de

bovinocultura leiteira onde o aluno aplica os conteúdos na prática.

Verificando a necessidade de uma padronização do manejo neste setor,

devido a alta rotatividade de funcionários e a falta da qualificação dos mesmos,

desenvolveu-se juntamente com os alunos do 3° ano integrado um manual de

boas práticas de ordenha, focando na qualidade do leite e no controle de mastite.

A elaboração do manual de boas práticas de ordenha teve o objetivo de melhorar

o aprendizado através da articulação da teoria e da prática, com consequente

aperfeiçoamento dos canais de comunicação e das atividades práticas

realizadas, garantindo a produção de uma matéria prima de melhor qualidade

que atenda aos requisitos exigidos pela legislação vigente.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A atividade leiteira é uma atividade economicamente viável e sustentável,

mas enfrenta alguns entraves como a sanidade da glândula mamária, que afeta

acentuadamente a produção leiteira mundial, pela redução na capacidade

produtora dos rebanhos infectados (Silva, 1999), pela queda na qualidade do

produto final com diminuição no rendimento industrial para fabricação de

derivados e pelas alterações na composição do leite mamítico (Langoni, 1999).

Este é um grande problema que reflete em prejuizos econômicos e na qualidade

do leite.

Para que as indústrias beneficiadoras possam fornecer alimentos

seguros, é necessário que recebam uma matéria prima com a menor

contaminação possível, o que está ligado diretamente ao comprometimento do

produtor rural e dos demais elos envolvidos na cadeia produtiva. A sociedade,

cada vez mais exigente, deseja e busca alimentos melhores a um preço justo.

No entanto, para produzir leite saudável e seguro aos consumidores, os cuidados

necessários durante a produção e aquisição do produto final são diversos.

Produzir leite de qualidade é hoje um objetivo comum a toda a cadeia

produtiva do leite no Brasil e no mundo. Leite de qualidade é definido por ser

seguro para quem o consome, pois não veicula doenças ou bactérias

patogênicas; ter reduzida contagem de células somáticas (CCS); ter reduzida

contagem total bacteriana (CTB); ser livre de resíduos químicos, principalmente

antimicrobianos e endectocidas; possuir composição adequada (teor de

proteína, gordura, lactose); e preservar as características de cor, gosto e cheiro

(livre de fraudes).

A busca pela qualidade se deve não somente pelos ganhos econômicos

para toda a cadeia do leite, ganhos de produtividade e de rentabilidade para o

produtor e para a indústria, mas, também, pelos ganhos com a garantia da

qualidade e segurança dos alimentos e, principalmente, com a saúde dos

consumidores.

Como o consumo de leite e derivados está ligado a princípios de nutrição

e saúde, garantir a segurança e a qualidade da fabricação desses produtos é

essencial para a indústria. Só que a qualidade do leite deve ser garantida desde

o momento em que ele é ordenhado: não há como melhorar a qualidade do leite

depois que ele sai da propriedade. Por isso, todo o foco tem sido direcionado

para o produtor de leite, pois ele é o responsável pelo início do processo da

qualidade (EMBRAPA GADO DE LEITE, 2014).

Para impulsionar ainda mais os programas de incentivo à melhoria da

qualidade do leite brasileiro, está em vigor no país, desde julho de 2005, a

Instrução Normativa 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(BRASIL, 2002), porém, substituída pela Instrução Normativa 62, publicada em

29 de dezembro de 2011.

Trabalhar para que a cadeia leiteira consiga sobreviver as exigências,

produzindo um leite de qualidade e enquadrando-se nos custos de produção é

um dos desafios encontrados nos dias de hoje pelos profissionais e produtores.

Atualmente, o Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas oferece o curso

deTécnico em Agropecuária na modalidade Integrada e Subsequente (diurno) e

Meio- Ambiente Subsequente (noturno). Atende 412 alunos, sendo 147 internos

em regime de internato/alojamento. São procedentes de 80 municípios do

Estado do Paraná, além dos advindos de outros Estados da Federação.

O Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas situa-se na região Norte do

Estado do Paraná, no Município de Apucarana e atende a uma região composta

por 16 municípios: Apucarana, Arapongas, Bom Sucesso, Califórnia, Cambira,

Cruzmaltina, Faxinal, Jandaia do Sul, Kaloré, Marilândia do Sul, Marumbi, Mauá

da Serra, Novo Itacolomi, Rio Bom e Sabáudia, que formam o Núcleo Regional

de Apucarana, conforme a divisão efetuada pela Secretaria de Agricultura do

Estado do Paraná, jurisdicionado também ao Núcleo Regional da Educação de

Apucarana.

De acordo com o DERAL - Departamento de Economia Rural, este núcleo

possui uma área de 341.369,00 há (hectares), sendo 86,66% de área rural em

que são cultivadas lavouras permanentes, lavouras temporárias, pastagens,

matas e florestas. Destaca-se no cenário Paranaense e Nacional:

- quanto a demanda e formação de Técnicos Agropecuários.

- por estar localizada no Norte do Paraná equidistante 50 Km de Londrina

e Maringá, uma das Regiões Paranaenses mais diversificadas de produção

agro-industrial.

- por situar-se no anel de Integração do Estado e em posição privilegiada

em relação ao Mercosul, com grande número de pequenas propriedades rurais

com intensa produção agrícola.

O Colégio possui uma área de terra de 40 alqueires, para o

desenvolvimento de atividades práticas em 15 setores: olericultura, apicultura,

oficina rural, oficina mecânica, cunicultura, fruticultura, horticultura, abatedouro,

fábrica de ração, bovinocultura, sericultura, cafeicultura, ovinocultura,

suinocultura, cereais, agroindústria, laticinio, entre outros, (PPP Colégio Agricola

Estadual Manoel Ribas, 2010).

O curso de Técnico em Agropecuária proporciona ao aluno egresso uma

perspectiva de totalidade, onde os conteúdos das disciplinas são

contextualizados, conforme visão sistêmica do processo produtivo. Isto significa

recuperar a importância de trabalhar, com os alunos, os fundamentos científicos

- tecnológicos presentes nas disciplinas da Base Nacional Comum do Ensino

Médio, de forma integrada às disciplinas da Formação Específica, evitando a

compartimentalização na construção do conhecimento.

A integração curricular entre o Ensino Médio e o Profissional, objetiva

inserir o jovem ao contexto sócio-cultural atual, propiciando uma formação que

possibilite escolhas profissionais sintonizadas com os requisitos técnicos e

tecnológicos próprios de sua área de formação. Entende-se que o ser humano

não pode prescindir do trabalho, uma vez que a sua não habilitação para a vida

profissional produtiva suprimiria o seu direito à autorrealização.

A concepção que orienta esta organização curricular incorpora a

perspectiva de superar a estrutura dual que tradicionalmente tem marcado o

Ensino Médio, oferecendo ao aluno uma formação unilateral, portanto, diversa

da prevista pela Lei 5.692/71, ou seja: ultrapassando a formação unidimensional

do técnico (FRIGOTTO apud PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2010).

O curso Técnico em Agropecuária tem duração de 3 (três) anos, está

contemplado dentro do eixo tecnológico de Recursos Naturais. O Curso Integral

possui uma carga horária total de 4.800 horas/aulas, em funcionamento de 2ª a

6ª feira, no(s) período(s) Manhã e Tarde, com regime de matrícula Anual. O

número de vagas é de 45 alunos por turma nas aulas teóricas e, nas aulas

práticas, as turmas são divididas em duas, ficando com 22 alunos em média.

Na organização curricular estão contidas as informações relativas à

estrutura do curso, com a descrição de cada disciplina. A disciplina de produção

animal, é umas das disciplinas técnicas, e é a única disciplina que trabalha com

os conteúdos específicos relacionados a pecuária. Ela está inserida na grade

curricular nos 3 anos do curso, sendo de suma importância na formação do

técnico em Agropecuária.

No 1º ano do Curso, a disciplina de Produção Animal refere-se aos

animais de pequeno porte: apicultura, avicultura de corte e postura, cunicultura,

minhocultura, piscicultura, sericicultura. No 2º ano, as espécies tratadas são os

animais de médio porte: caprinos, ovinos e suínos. No 3º ano trabalha-se os

animais de grande porte: bovinos de corte e leite, bubalinos e equinos. São

trabalhados sobre estas espécies: importância socioeconômica; sistemas de

criação animal; noções e técnicas de manejo animal; noções e técnicas de

manejo sanitário; noções e técnicas de nutrição animal; noções de

melhoramento genético animal e manejo reprodutivo (Plano de Curso Técnico

em Agropecuária Forma Integrada, 2010).

Especificamente em se tratando dos animais de grande porte, temos o

setor de bovinocultura leiteira em que são trabalhadas, nas aulas teóricas e

práticas, as atividades referentes ao manejo do rebanho leiteiro, visando a

produção de leite de qualidade, onde pretendemos implantar o projeto em

questão.

A Ordenha é considerada o princípio da produção leiteira e pode ser

definida como a extração higiênica manual ou mecânica do leite de uma fêmea

leiteira. A mesma deve ser realizada silenciosa, tranquila, rápida e

continuamente, pois caso contrário, haverá liberação de adrenalina pelo animal,

fato que, impede a descida natural do leite (MACHADO, 1981).

Existem duas formas de realizar a ordenha: manual ou mecanizada. A

opção do tipo de ordenha depende de diversos fatores, dentre eles: número de

vacas em lactação, capacidade de investimento do produtor, disponibilidade de

pessoas capacitadas para realizar a ordenha e, por fim, o nível de produção das

vacas.

A ordenha manual é utilizada, ainda hoje, na maioria das instalações de

pequeno porte, as quais possuem rebanhos considerados pequenos. É utilizada

com grande intensidade devido ao baixo custo de manuseio e por dispensar

treinamento específico (CRUZ et al,1986). A ordenha mecanizada é realizada

pela ordenhadeira, ficando em contato direto com a vaca de leite pelo menos

duas vezes por dia. Esta é uma importante conquista tecnológica que possibilitou

o aumento da produção e a melhora da qualidade do leite.

Uma ordenha correta ocorre quando todo leite possível é retirado de uma

ejeção normal; obtêm-se um leite limpo; evitam-se lesões no úbere; evitam-se

contaminação de uma vaca enferma para uma vaca sadia e consegue-se

eficiência de tempo e harmonia entre homem/máquina/animal.

Na fase de lactação deve-se ter atenção especial com a mastite, doença

que causa grandes prejuízos para a atividade leiteira. A mastite é definida como

uma inflamação da glândula mamária, a qual frequentemente tem origem

bacteriana (DIAS, 2007). Anualmente, três de cada dez vacas leiteiras

apresentam inflamação mamária clinicamente aparente, sendo 7% destes

animais descartados por lesões irreversíveis e 1% por morte (SMITH, 2006).

Quanto ao diagnóstico, a mastite pode ser classificada como clínica e

subclínica. Nomeia-se forma clínica os casos da doença em que existem sinais

evidentes de inflamação, como edema, aumento de temperatura, endurecimento

e dor na glândula mamária, ou aparecimento de grumos, pus ou qualquer

alteração das características do leite. Na forma subclínica, ao contrário da forma

clínica, não ocorrem mudanças visíveis no aspecto do leite ou do úbere (DIAS,

2007).

A mastite é uma doença de difícil controle e erradicação, apesar do grande

impacto econômico, sobretudo por sua forma subclínica, que passa

despercebida entre os animais do rebanho leiteiro. A frequência das formas

clínica e subclínica é um parâmetro consagrado para avaliação do estado

sanitário do úbere. Entretanto, o diagnóstico precoce desempenha papel

fundamental neste processo.

Os testes diagnósticos podem ser realizados no campo ou laboratório: os

de campo são mais simples e podem ser realizados diariamente no momento da

ordenha, destacando-se a caneca telada e o CMT (California Mastitis Test). O

CMT é um método indireto, que avalia a quantidade de células somáticas do

leite, sob a ação de um detergente aniônico capaz de romper a membrana

celular. A formação do gel ocorre pela interação dos ácidos nucleicos celular com

o detergente (ROSEMBERG, 1993). Quando detectado a mastite, é necessário

o uso de antibióticos.

A mastite bovina é uma doença multifatorial, de etiologia complexa e

variada, e se encontra disseminada em todas as regiões produtoras de leite. A

maioria das infecções tem origem bacteriana, predominando o Staphylococcus

aureus e Streptococcus agalactiae (Pelczar et al., 1996). Em virtude dessas

infecções, os antibióticos têm sido utilizados nas fazendas e até, em muitos

casos, de maneira indiscriminada, no tratamento e cura de mamites.

De acordo com Ruegg (2003), a seleção de antibióticos para o tratamento

de mastite deve ser baseada em diagnóstico do tipo de patógeno que tem a

maior probabilidade de estar causando a infecção. Embora algumas fazendas

utilizem sistema de cultura em laboratório próprio para ajudar a melhor definir os

tratamentos, para muitas outras, é impossível e impraticável obter o diagnóstico

antes de instituir o tratamento. Entretanto, é extremamente importante obter

regularmente dados de cultura para atualização e definição adequada dos

protocolos de tratamento. Em casos de mastite clínica branda ou moderada, se

recomenda a administração intramamária de antibióticos comerciais.

Estes procedimentos devem ser usados para a cura desta doença que,

como vimos, está diretamente relacionada ao não atendimento das boas práticas

de ordenha. Assim, se quisermos investir na prevenção da doença, devemos

incentivar as boas práticas.

Desta forma, propomos a elaboração, junto com os alunos e estagiários

do setor de bovinocultura leiteira, do Manual de Boas Práticas de Ordenha, que

comtempla as seguintes ações: Apresentar o projeto para a comunidade escolar

durante a Semana Pedagógica; levantar os principais materiais e equipamentos

utilizados no manejo de ordenha; ensinar os conteúdos referentes às boas

práticas no manejo de ordenha aos alunos do 3º ano do Ensino Profissional e

estagiário do setor; identificar e analisar os problemas presentes no manejo da

ordenha do gado leiteiro do Colégio; elaborar um banco de imagens do manejo

de ordenha do setor para incluir no Manual de Boas Práticas de Ordenha;

elaborar o Manual de Boas Práticas de Ordenha voltado para a realidade do

Colégio; divulgar o Manual de Boas Práticas de Ordenha no evento realizado na

disciplina de Extensão Rural e avaliar os resultados obtidos.

3 METODOLOGIA

O projeto de intervenção didático-pedagógica foi desenvolvido no ano de

2015, junto aos alunos do terceiro ano do Curso Técnico Agropecuário -

Integrado do Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas, e também junto aos

professores envolvidos no GTR (Grupo de Estudo em Rede) do Estado do

Paraná.

O projeto visou a elaboração de um manual de padronização das boas

práticas de ordenha para que se estabeleça uma rotina de trabalho.

Portanto, para elaboração do manual foram estabelecidas estratégias de

ações que foram subdivididas em cinco partes: Apresentação e divulgação do

projeto de intervenção didático-pedagógica para comunidade escolar;

aprofundamento de conteúdos; banco de dados; produção e avaliação.

Todas as estratégias foram compostas de atividades que contemplavam

os procedimentos para as boas práticas de ordenha, de modo que os alunos

vivenciaram a prática e situaram o trabalho a ser realizado, além de atividades

relacionadas a qualidade do leite e seus parâmetros, instruções no manejo de

ordenha e sanidade da glândula mamária.

A primeira estratégia foi a apresentação e divulgação do projeto de

intervenção didático-pedagógica para a comunidade escolar na semana

pedagógica do início do ano letivo de 2015. Essa ação teve o objetivo de

apresentar e divulgar para comunidade escolar a proposta de elaboração do

manual de boas práticas de ordenha e foi utilizado o Vídeo “LEITE LEGAL-

Programa Produção de Leite de Qualidade” para conscientização da importância

da qualidade do leite. O filme apresenta conceitos sobre parâmetro de qualidade

do leite, instruções para o manejo da ordenha, sanidade da glândula mamária, a

qualidade do leite atrelados não somente aos ganhos econômicos para toda a

cadeia do leite, ganhos de produtividade e de rentabilidade para o produtor e

para a indústria, mas, também, pelos ganhos com a garantia da qualidade e

segurança dos alimentos e, principalmente, com a saúde dos consumidores.

O aprofundamento de conteúdos, segunda estratégia, teve o objetivo de

melhorar a reflexão sobre a articulação da teoria com a prática. Nesta atividade,

veiculamos conteúdos necessários para a formação da prática profissional

consciente e transformadora, pretendendo a prática social reflexiva e

emancipadora. Esse conhecimento é mediado pela interlocução entre os sujeitos

que aprendem (os alunos), o sujeito que media o conhecimento (representada

pelo professor) e o objeto do conhecimento, ou seja, o conteúdo referente à

execução do manual foi proposto em uma atividade na forma de listagem das

instruções para o manejo de ordenha. Foram listados 20 itens baseados nas

pesquisas teóricas.

Na terceira atividade foi feito um banco de dados com o objetivo de

levantar informações e imagens para a produção do manual e verificar a atual

situação, necessidades e possibilidades do setor. Para isso foi disponibilizado

um check-list que auxiliou na identificação de procedimentos incorretos e

possíveis ações corretivas. Para a captura de imagens, os alunos utilizaram

câmeras fotográficas de aparelhos celulares, durante as aulas práticas da

disciplina de produção animal. Para esta atividade formaram-se 6 equipes, cada

uma com 6 alunos. Três equipes se encarregaram de realizar o check-list. Três

equipes se encarregaram de fazer as imagens. A equipe 1 se responsabilizou

por fazer imagens das instalações, equipe 2 dos equipamentos, e equipe 3 de

todo procedimento de ordenha.

Na quarta atividade, denominada produção, o objetivo foi de melhorar a

comunicação e aprendizagem no setor de bovinocultura leiteira e nas disciplinas

correlatas, estabelecendo uma rotina de trabalho através da produção do manual

de Boas Práticas de Ordenha a partir dos estudos realizados nas unidades

anteriores e os dados coletados no setor.

A elaboração de um Manual de Boas Práticas de Ordenha auxilia na

descrição das tarefas do dia-a-dia do setor e na redação dos Procedimentos

Operacionais (PO) relacionados, visando obter o leite seguro e de alta qualidade.

Os principais PO relacionados ao controle de mastite e qualidade do leite são:

manejo de ordenha, tratamento de casos de mastite clínica, limpeza de

equipamentos de ordenha e limpeza de tanque.

Na quinta atividade, o objetivo foi avaliar os resultados obtidos. Os alunos

do 3° A integrado acompanharam a aplicação do manual de Boas Práticas de

ordenha pelos estagiários do setor de bovinocultura leiteira. Esse

acompanhamento foi realizado para identificar se durante a realização dos

procedimentos operacionais estabelecido pelo manual, os estagiários iriam

apresentar dúvidas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a apresentação e divulgação do projeto de intervenção didático-

pedagógica para a comunidade escolar na semana pedagógica do início do ano

letivo de 2015, percebeu-se um grande interesse de todos pelo assunto, no qual

os mesmos relataram uma grande preocupação sobre a qualidade do leite e a

importância da implantação desse manual no setor de bovinocultura leiteira.

Na atividade de aprofundamento de conteúdos, os alunos realizaram uma

atividade na forma de listagem das instruções para o manejo de ordenha. Foram

listados 20 itens baseados nas pesquisas teóricas.

Na terceira atividade as três equipes juntamente com a professora foram

ao setor e preencheram o check list conforme a realidade encontrada. As outras

três equipes também foram para o setor para capturar as imagens. Cada equipe

selecionou 6 imagens, utilizadas na confecção do manual de boas práticas de

ordenha. Neste momento, os alunos apresentaram algumas dificuldades em

reunir as informações para o check list devido à falta de padronização do manejo

de ordenha.

Alguns cursistas do GTR, que também fazem parte da rede estadual de

educação profissional relataram que colocar o aluno como autor do

conhecimento é muito importante, pois durante a implantação do projeto, a

participação com a professora da aplicação do check list, a realização de um

banco de dados e fotos e, por fim, elaborar o manual de boas práticas de

ordenha, tornou o aluno agente construtor do conhecimento científico,

estimulando o educador a repensar a “velha" metodologia de "dar" aula, que não

condiz com a atual realidade.

Percebe-se que o método proposto é muito interessante, pois não há

como negar o despertar do interesse e do aprendizado ao se usar o check list e

o registro de imagens do “antes” e do “depois” das ações tomadas diante das

não conformidades encontradas em relação à ordenha. Diante de fatos, não há

como os envolvidos no processo contestarem os bons resultados, entretanto, é

necessário a compreensão dos motivos destas ações por parte dos funcionários,

visando a correção de procedimentos. O uso do check list oportuniza ao aluno ir

ao encontro de cada detalhe prático dentro dos procedimentos da atividade.

Além disso, é um instrumento bastante útil para que ocorram melhorias no setor.

Durante a quarta atividade, foi realizada a produção do manual de Boas

Práticas de Ordenha a partir dos estudos realizados nas unidades anteriores e

os dados coletados no setor. Os alunos realizaram essas atividades com

bastante interesse reunindo os conteúdos, dados e as imagens e montaram o

manual adequado a realidade da escola e com uma linguagem fácil e objetiva.

Na avaliação dos resultados obtidos, os alunos do 3° A integrado

acompanharam a aplicação do manual de Boas práticas de ordenha pelos

estagiários do setor de bovinocultura leiteira. Os estagiários demostraram

interesse pela atividade, gostaram da forma com que o manual foi descrito, e

relataram que o mesmo está muito bem estruturado e de fácil compreensão. Os

coordenadores de curso e de estágio e o funcionário do setor também

acompanharam a implantação do manual.

Após a realização de todas as atividades, o Projeto já implantado foi

socializado com a comunidade escolar em uma palestra, apresentando os

objetivos do desenvolvimento do projeto e do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional) e quanto é significante a participação de cada

membro da comunidade no sucesso e na realização do mesmo. A maior

preocupação ao idealizar uma proposta como essa está centrada justamente em

proporcionar meios que venham facilitar o processo de aprendizagem,

aproximando os conteúdos da realidade vivenciada pelos alunos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a implantação do manual de ordenha, a padronização se faz efetiva

na rotina da bovinocultura de leite. Ele pode ser utilizado ano a ano pelos alunos,

assim como pelos funcionários responsáveis pela ordenha. A padronização de

procedimentos de ordenha trouxe muitos benefícios para a escola, culminando

com a obtenção de leite com a qualidade higiênico sanitária exigida pelo

mercado e merecida pela comunidade escolar que o consome. A criação do

manual de ordenha, a compreensão da importância da produção leiteira para o

país, o atendimento às normas do Ministério da Agricultura, o foco no

consumidor, a interação e a conscientização de toda a comunidade escolar e

especificamente o aprendizado e a captação do conhecimento pelos alunos,

visando sua formação, fazem deste projeto, um grande avanço para o bem da

escola, servindo também de modelo para as outros colégios agrícolas.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa N°51 de 18 de setembro de 2002. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite Tipo A, do Leite Tipo B, do Leite Tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu transporte a Granel. Diário Oficial da União, Brasília, 18 set. 2002. Secção 3. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/das/dipoa/in51.htm>. Acesso em: 10 mar. 2014.

CRUZ, J.; WALDIR, J. Desse estábulo se tira leite limpo. Ver Globo Rural, v.1(8): 39-44, São Paulo, 1986.

DERAL - Departamento de Economia Rural. Análise da conjuntura agropecuária leite - ano 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/bovinocultura_leite_14_15.pdf >. Acesso em: 24 set. de 2015.

DIAS, R. V. C. Principais métodos de diagnósticos e controle da mastite bovina. Acta Veterinária Brasílica. Mossoró, RN, v. 1, n. 1, 2007, 23–27 p.

EMBRAPA GADO DE LEITE. Produção de leite com qualidade na propriedade rural. Disponível em

<http://www.cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/47-produ%C3%A7%C3%A3o-de-leite-com-qualidade-na-propriedade-rural>. Acesso em 24 de jun. de 2014.

LANGONI, H. Complexidade etiológica na mamite bovina. In: Encontro de Pesquisadores em Mamites, 3, 1999, Botucatu. Anais... Botucatu: FMVZ - UNESP,1999.

MACHADO, P. F. A escolha do sistema de ordenha. Supl. Agrícola, O Estado de São Paulo, 26 (1344): p.5, São Paulo, SP, 1981.

PELCZAR, M.J., CHAN, E.C.S., KRIEG, N.R. Microbiologia. São Paulo: Makron Books, 1996. (V.2).

ROSEMBERGER, G. Exame Clínico dos Bovinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan SA, 1993.

RUEGG, P. Qualidade não tem segredos. (Entrevista). Revista Balde Branco, 2003. Disponível em: <http://www.baldebranco.com.br>. Acesso em: 27 jun. 2014.

SEED Secretaria de Educação do Estado Superintendência da Educação Departamento da Educação Profissional. Plano do curso técnico em Agroindústria do Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas. Apucarana, 2010.

SEED Secretaria de Educação do Estado. Projeto político pedagógico do Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas. Apucarana, 2010

SILVA, P. H.F.da; PORTUGAL, J. A., B.; CASTRO, M. C.D. Qualidade e Competitividade em Laticínios. Juiz de Fora: EPAMIG – Centro Tecnológico – ILCT, 1999.

SMITH, B.P. Medicina interna de grandes animais. São Paulo: Manole Ltda, 2006.

VILELA; D. Instrução Normativa 62 e a qualidade do leite no Brasil. Embrapa Gado de Leite, 1 fev. 2012. Disponível em: <http://repileite.ning.com/profiles/blogs/instrucao-normativa-62-e-a-qualidade-do-leite-no-brasil>. Acesso em: 28 de jun. 2014.