os desafios da sociedade da informaÇÃo - fe.uc.pt · os desafios da sociedade ... humana que...
TRANSCRIPT
FACULDADE DE ECONOMIAUNIVERSIDADE DE COIMBRA
OS DESAFIOS DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
ÓSCAR SEGURO APÓSTOLOCOIMBRA, 2012
FACULDADE DE ECONOMIAUNIVERSIDADE DE COIMBRA
OS DESAFIOS DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Trabalho realizado na unidade curricular de Fontes de Informação Sociológica
Docente: Paulo Peixoto
Ano letivo: 2012/2013
Imagem da capa: artista Thomas Payne c,
URL da imagem: http://www.flickr.com/photos/thomashdpayne/8280890850/
ÓSCAR SEGURO APÓSTOLO2006104382
COIMBRA, 2012
Índice
1. Introdução ! 1
2. Desenvolvimento! 2
2.1. Sociedade da Informação?! 2
2.2. Tecnologia que determina o “social”?! 4
2.3. Maior igualdade e acesso à informação?! 5
2.4. Homogeneização global?! 6
2.5. Identidades fragmentadas?! 7
3. Descrição detalhada da pesquisa! 7
4. Avaliação da página da Internet! 9
5. Ficha de leitura ! 13
6. Conclusão ! 14
7. Referências bibliográficas ! 15
Anexo I! Página da internet avaliada
Anexo II! Texto de suporte à ficha de leitura
1. Introdução
O objetivo deste trabalho é explorar, com base nos contributos teóricos
disponíveis, os desafios da sociedade de informação. A definição de sociedade de
informação é, ela mesma, um desafio, pois muito tem sido dito sobre o tema,
havendo ainda assim mais consenso em relação ao conceito de sociedade de
informação do que propriamente em relação aos desafios que ela representa e
questões que levanta.
Podemos definir sociedade de informação como um novo molde em que o
desenvolvimento sócio-económico se dá, baseado sobretudo no processamento,
transmissão, transação e aquisição de informação ou conhecimento, com o objetivo
de satisfazer as necessidades das empresas e dos cidadãos, criando riqueza. Os
primeiros vislumbres que de tal forma de sociedade e de economia surgiriam nos
anos 70, depois de serem passíveis de contemplar as consequências que a
introdução massificada de computadores, e outros dispositivos baseados na
mesma tecnologia, teriam na produção e na vida dos indivíduos. Mais otimistas ou
mais pessimistas, as primeiras previsões e conceptualizações dão-se imbuidas de
influências pós-modernistas e pós-industrialistas, num momento histórico em que a
Europa, os Estados Unidos e outras potências ocidentais pareciam iniciar o seu
declínio enquanto potências industriais, transferindo as atividades produtivas
intensivas em transformação de matérias-primas para outras zonas do globo,
prevendo-se uma nova forma de crescimento económico que não passaria por
esse tipo de produção.
Várias décadas volvidas e esta temática continua premente, agora não como
uma possibilidade mas como uma inevitabilidade, sendo continuamente necessária
a produção de conhecimento nesta área aplicado às mais diferentes vertentes do
saber e do fazer, todas elas influenciadas pelas transformações sociais,
económicas e tecnológicas em curso.
Para explorar a temática vão assim percorrer-se, ainda que superficialmente,
as principais problemáticas por ela levantadas. Primeiro, compreender o que é a
sociedade da informação e de que forma ela apresenta uma rutura com um outro
tipo anterior de desenvolvimento sócio-económico; depois perceber se a sociedade
automaticamente se transforma, pela inclusão de uma nova variável tecnológica
Os desafios da sociedade de informação
1
nos modelos que utilizamos atualmente para a compreender, e se estes efeitos são
assim tão imediatos e líquidos; em terceiro lugar olhar para o acesso à informação,
agora aparentemente mais acessível a espectros mais alargados das populações,
e se esta democratização é real ou ilusória; interessante e necessário será também
tentar perceber como é que esta intensificação de fluxos de informação, que se
dão global e rapidamente encurtando o tempo e o espaço, contribuirão para uma
temida homogeneização global e total aniquilação de culturas locais; e por fim, mas
não com menor importância, olhar para o problema de construção das identidades
numa sociedade altamente complexa e sobre-preenchida de referenciais
identitários, e de que forma isso agirá na psicossociologia dos indivíduos.
2. Desenvolvimento
2.1. Sociedade da Informação?
Para analisar a sociedade da informação e dessa análise retirar
questionamentos relevantes acerca dos processos sociais atuais e futuros, é
necessária uma contextualização conceptual-sociológica que nos permita articular-
nos nesta matéria. Estruturalmente podemos definir como elementos do
funcionamento da sociedade três grandes dimensões que dialogam e interagem:
produção, experiência e poder (Castells, 1999). Estes três planos e a forma que
assumem em determinado momento, vão ajudar-nos a configurar e descrever a
sociedade quando a olhamos num determinado espaço-tempo (Castells, 1999). A
produção é o ato humano de transformar a matéria proveniente do ambiente natural
que rodeia o Homem com o fim de daí obter utilidade. Tem que existir uma ação
humana que permita retirar benefícios da natureza e, assim, assegurar não só a
sobrevivência da espécie, mas também outros consumos. A dimensão da
experiência está relacionada com a ação dos indivíduos humanos sobre o meio e
sobre si próprios, determinada por motivações biológicas, mas também culturais e
sociais, pretendendo assim a satisfação das suas necessidades e dos seus
desejos no universo que o circunda. O poder é resultado da interação entre os
indivíduos que “com base na produção e na experiência, impõe a vontade de
alguns sobre outros” (Castells, 1999, p. 33).
Fontes de Informação Sociológica
2
Esta pequena resenha que remonta aos clássicos da sociologia, permite-nos
perceber que diferentes modos de produção, combinados com diferentes formas
de experiência e de poder, resultarão em diferentes formas de organização social
(Castells, 1999).
A tecnologia será um importante determinante de como se organiza a
produção. Como sabemos, as sociedades feudais estavam dependentes de
tecnologias rudimentares de produção, como era o trabalho manual intensivo e não
especializado. A sua produção não era complexa, baseava-se em alimentos e
outras matérias-primas básicas, indispensáveis à subsistência humana. Quando
falamos de sociedade industrial, já não podemos dizer o mesmo. Houve uma
transformação tecnológica suficientemente grande para transformar radicalmente
as formas de produção, até aí predominantemente agrárias (Lyon, 1992). Na
Inglaterra do século XVIII surgem formas de produção de energia e de
transformação de matérias primas que vão alterar significativamente quem produz,
o que se produz e, consequentemente, o que se consome. Dessa forma, a
dimensão da produção interage com a dimensão da experiência e do poder, dando
origem a uma forma de sociedade: a sociedade industrial (Castells, 1999). Há um
impacte enorme na produtividade e, por essa via, na humanidade, que não nos
cabe aqui discutir. Os modos de desenvolvimento destas sociedades vão diferir,
consoante estas são mais capitalistas ou mais estatistas: no primeiro caso visa-se a
acumulação de excedentes e a sucessiva transformação destes em lucro,
enquanto que o segundo visa sobretudo a acumulação de poder (Castells, 1999).
Ora, nos anos 70 do século XX algumas mudanças vão começar a pôr em
causa esta forma de sociedade: novos inventos são desenvolvidos, no chamado
Silicon Valley. Estas tecnologias, nas quais o computador aparece como elemento
central, permitem o tratamento de informação em quantidades e com rapidez até aí
não possíveis. Tal como na Inglaterra do século XVIII máquinas transformavam
matéria com uma eficácia nunca passível de ser atingida pela mão humana, na
Califórnia dos anos 70 novas máquinas manobram e transformam informação de
forma rápida e eficiente. Estamos perante o despontar do informacionalismo. A
questão que se coloca é se é possível fazer uma analogia entre o
informacionalismo e o industrialismo e daí concluir que as transformações sociais
do informacionalismo são de suficientemente dimensão para que resultem numa
Os desafios da sociedade de informação
3
“sociedade da informação”, tão diferente da industrial como a industrial se revelou
diferente da agrária (Lyon, 1992).
2.2. Tecnologia que determina o “social”?
É importante que não se separe absolutamente o social do tecnológico, e
que não sejamos demasiado deterministas nesta análise (Castells, 1999). Há uma
interação constante entre tecnologia e sociedade, e as origens das tecnologias são
também sociais (Lyon, 1992). A sociedade influencia o seu desenvolvimento
consoante aquilo que considera útil e que explora em termos de investigação, bem
como se apropria de tecnologias de utilidade aparentemente limitada e catapulta o
seu uso explorando determinada potencialidade. Podemos olhar para os conceitos
de determinismo duro e determinismo suave das tecnologias da informação e
comunicação (Levinson, 1998): as consequências absolutas e inevitáveis de
determinada evolução tecnológica são resultado de determinismo duro (por
exemplo, no caso da informação genética, determinado gene codifica
obrigatoriamente determinada proteína) (Levinson, 1998). No entanto, é difícil
encontrar tecnologias que determinem em absoluto uma concreta consequência
social: estamos então perante relações de determinismo suave (Levinson, 1998).
Podemos verificá-las quando determinada evolução torna possível uma
transformação social cuja forma e impacte derivam de outros fatores, ou seja,
dependem também de como “os seres humanos transformam essa possibilidade
numa realidade” (Levinson, 1998, p. 29). Não podemos, portanto, assumir que uma
nova tecnologia vai automaticamente moldar a sociedade e tirar conclusões
imediatas de como essa sociedade vai funcionar.
O facto da constituição deste novo paradigma das tecnologias dedicadas ao
tratamento da informação e à comunicação se ter iniciado no Sillicon Valley vai em
parte definir as formas que estas tecnologias ganham e que fins servem (Castells,
1999). Há, neste meio empresarial em particular, um culto da liberdade,
individualidade e empreendedorismo que vemos até hoje no desenvolvimento
constante de tecnologias, como exemplos atuais o software desenvolvido pela
Microsoft ou a mega-empresa que rapidamente se tornou Facebook. Esta lógica
comercial e mercantil determina em muito a forma como estas tecnologias se
expandem (Webster, 2004).
Fontes de Informação Sociológica
4
O facto de um certo clima social ter condicionado o desenvolvimento destes
aparelhos nos anos 70, não dita as transformações que eles vão exercer na
sociedade global. A rápida propagação destas e apropriação por diferentes
estados e culturas, não só acelera exponencialmente a sua evolução, como faz
com que incorporem diferentes valores de diferentes culturas (Castells, 1999).
Torna-se claro que após a incorporação social destas tecnologias existe
inegavelmente uma maior fluidez e rapidez do tratamento e circulação de
informação. Cria isto uma nova sociedade automaticamente? Para Frank Webster
(2004) estas modificações intensificam apenas processos sociais já em curso antes
do início da chamada “Era da Informação”. A sua análise centra-se na rejeição de
que mais informação implica automaticamente uma sociedade nova, gerando
apenas um aprofundamento de forças já há muito estabelecidas e estudadas
sociologicamente.
2.3. Maior igualdade e acesso à informação?
As tecnologias da informação apresentam-se como uma promessa de
democratização do acesso à informação e conhecimento, no entanto tal não é
imediatamente verdade. Apesar destas tecnologias permitirem a circulação rápida,
fácil e quase imaterial de conteúdos, exigem infra-estruturas e literacia que podem
não estar ao acesso de todos (Gadrey, 2001). Por um lado, vai criar uma classe
laboral e social altamente especializada no tratamento de informação e no trabalho
intelectual, designados de analistas simbólicos (Webster, 2004). Estes analistas
simbólicos são profissionais altamente educados que vão exercer, no capitalismo
global, papeis de interpretação e transformação de símbolos e linguagens
complexas (Webster, 2004). São atores essenciais da sociedade de informação,
cuja produção se distingue da produção industrial por ser basicamente
informacional e intelectual. O capital cultural elevado destes analistas, e a
progressiva complexificação simbólica do universo que rodeia os indivíduos
privados deste capital, vão gerar uma maior polarização social dentro dos estados
e no sistema-mundo (Webster, 2004). Estes profissionais são altamente flexíveis,
adaptáveis e uma das mais importantes características que os definem são a sua
capacidade para novas aprendizagens, que se revela a atividade de maior
importância neste novo paradigma (Webster, 2004). Indivíduos menos
Os desafios da sociedade de informação
5
escolarizados ou nacionais de estados com apostas mais fracas na educação,
vêem-se facilmente desprovidos de apetências para desempenhar as funções mais
qualificadas ou ascender socialmente, ficando relegados para um plano de “mão-
de-obra barata” (Webster, 2004). Os países sem capacidades para difundir estas
tecnologias no presente ou sem possibilidades de criar os seus próprios analistas
simbólicos vêem a sua assimetria com o centro ainda mais reforçada (Gadrey,
2001). O centro, por sua vez, é quem produz as normas e continua a difundir a sua
influência em termos da organização da produção.
2.4. Homogeneização global?
Outra das implicações da maior circulação da informação é o acentuar da
globalização (Webster, 2004). Este processo social já em curso, pela fluidez da
informação, liga agora indivíduos de Estados e culturas totalmente distintas. Há
consequências para as culturas, para os indivíduos e para os Estados. Se por um
lado existe uma grande pluralidade de atores no fenómeno da globalização, não
podemos assumir que tal implica automaticamente um simetria nos fluxos
informacionais e de pessoas. A verdade é que a sociedade da informação, por via
de acentuar forças sociais já estabelecidas, continua o processo, já iniciado há
décadas, de expansão e acentuação não só do capitalismo mas de uma forma
particular que este assume, ou seja, da “civilização comercial”, tipicamente
ocidental (Webster, 2004). Se há um alinhamento com o ocidente, então há uma
assimetria de influências no contexto global. Os fluxos financeiros eletrónicos, a
disseminação de produção cultural internacional, certos tipos de estética, etc.,
estão intimamente ligadas aos critérios do mercado e à mercantilização das
atividades sociais como norma (Webster, 2004).
As sociedades informacionais atuais são, tal como existem, capitalistas, o
que indica um possível rumo à homogeneização, no entanto não podemos
simplesmente assumir que identidades locais vincadas vão simplesmente
desaparecer. Pela hipótese do determinismo suave das tecnologias da
comunicação, a sua aplicação em contextos distintos resultará automaticamente
em resultados distintos, e por isso identidades institucionais, culturais e locais, bem
como determinados símbolos, não vão simplesmente esfumar-se por efeito da
Fontes de Informação Sociológica
6
lógica informacional, apesar de existir um paradigma tecnológico e económico
partilhado (Webster, 2004).
2.5. Identidades fragmentadas?
Se anteriormente a pertença à família, comunidade, etnia ou nacionalidade
eram grandes definidores da identidade pessoal, na sociedade da informação
existe uma complexidade de referenciais identitários sem precedentes. As fontes
de informação e as audiências estão agora mais atomizados e a ideia de massas
dissolve-se, dado o acesso generalizado a uma enorme multiplicidade de bens
culturais, informacionais e de linguagens. Os role models absorvidos através dos
vários média multiplicam-se e efemerizam-se, tornando-se mais difícil comunicar a
própria identidade aos pares (Webster, 2004). Tal complexificação pode gerar
nalguns uma profunda sensação de despertença e necessidade de procura
imediatista e facilitista de proximidade com outros indivíduos de universo simbólico
comum através de fundamentalismos e fanatismos, que oferecem conforto numa
sociedade demasiado confusa (Webster, 2004). Esta última situação, mais negativa,
atingirá predominantemente os setores menos educados das sociedades,
nomeadamente as sociedades mais periféricas (Castells, 1999).
O estudo e o questionamento dos desafios que a sociedade da informação
nos apresenta alerta-nos para as amplas consequências sociais que acarreta e
permite-nos apenas esboçar a futura moldagem da sociedade que já está em
curso. A mudança paradigmática mostra-se presente, mas estas tecnologias e a
sua incorporação acarretam consequências ainda mal previstas, sendo esse o
desafio transversal a esta forma de organização social.
3. Descrição detalhada da pesquisa
Dada a amplitude do tema escolhido foi de extrema importância ir ao
encontro dos autores de maior relevância nesta área. A preocupação em identificar
os principais desafios deste novo tipo de sociedade surge sobretudo no final dos
Os desafios da sociedade de informação
7
anos 80 e anos 90, sendo que os maiores contributos teóricos para a
conceptualização desta nova forma de sociedade se deram neste período.
Uma vez que se trata de um tema delicado, decidi não fazer grandes
incursões por informação disponibilizada on-line. O tema é complexo e existe muita
informação disponível que o aborda de forma superficial e, consequentemente,
pouco científica, sendo que iriam ser necessárias grandes perdas de produtividade
a analisar se a informação era ou não fiável, parecendo-me mais sensato ir logo ao
encontro de material de biblioteca.
Posso dividir o trabalho de pesquisa feito em duas partes. Primeiramente, foi
importante ir ao encontro da obra de Gadrey (2001), que já havia lido, e que surgiu
como ponto de partida. Em segundo lugar a pesquisa no SIIB-UC através do
assunto “Sociedade da Informação” encaminhou-me imediatamente para os textos
de Lyon (1992) (resultado n.º 3 se a pesquisa for restringida à biblioteca da
Faculdade de Economia). Ainda pesquisando informalmente pelas prateleiras da
biblioteca de cota 316.7, fui manuseando algumas obras e selecionando-as in loco,
tendo logo achado relevante um texto de Webster (2004) que estava incluído num
livro que compilava vários textos sujeitos ao tema “Comunicação, Cultura e
Tecnologias de Informação”.
A obra de Castells (1999) é sem dúvida das mais citadas em todas estas
obras e pareceu-me incontornável chegar até ela, mas a extensão da sua obra
completa sobre o assunto excede em muito o que me pareceu ser essencial para
este pequeno ensaio sobre as principais questões que uma aparente nova forma
de funcionamento das sociedades. A obra de Levinson (1998) chegou até mim
através da sugestão para ficha de leitura e revelou-se um interessante ponto de
partida, mais abstrato, para a contemplação das dinâmicas de determinismo entre
tecnologia e sociedade.
O objetivo principal foi, portanto, ler os textos introdutórios às várias obras
que contemplam este tema de forma detalhada e assim compreender as questões
transversais aos vários autores, para que ficássemos elucidados dos principais
desafios que a sociedade da informação apresenta, sem mergulhar em
desenvolvimentos teóricos mais profundos, com o objetivo de obter apenas uma
visão da superfície das problematizações que as alterações tecnológicas
configuram na sociedade contemporânea.
Fontes de Informação Sociológica
8
4. Avaliação da página da Internet
A página escolhida para avaliação foi a página da Associação para a
Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI) (URL: http://
www.apdsi.pt), e para tal vão ser tidos em conta os critérios da autenticidade,
fiabilidade e acessibilidade, essenciais para caracterizar e avaliar qualquer fonte
de informação.
O autor é um autor institucional, a APDSI, que pretende ser um centro de
debate e uma força de pressão junto de poderes públicos e privados no sentido de
assegurar os benefícios da sociedade de informação, de sensibilizar para a
promoção da qualificação, bem como de estimular a adequação do mercado a esta
“nova” sociedade (APDSI, 2012). As suas principais atividades são, portanto,
assegurar que a adaptação da sociedade como um todo a este novo molde de
desenvolvimento económico e social, baseado no processamento e distribuição de
informação, se dá da melhor forma para a sociedade portuguesa. Quanto à
informação contida no sítio, nomeadamente no que toca aos documentos textuais
disponiblizados para download, os autores são vários, ligados à APDSI ou por ela
convidados a contribuírem com apresentações orais ou com escritos. Estes estão
bem identificados e, quando se tratam de textos virados para a pesquisa, estão
bem referenciados.
Quanto ao alcance do sítio, podemos observar que apesar de generalista, ou
seja, de pretender informar o internauta comum daquilo que são as atividades e o
trabalho desenvolvido pela associação, parece-nos claro que a questão da
sociedade da informação não é uma questão para a qual todos os setores da
sociedade civil portuguesa estejam sensíveis, embora os afete a todos na
generalidade. Assim, apesar de alguns dos conteúdos do sítio não terem um cariz
académico ou teórico profundos, destinam-se, de facto, a profissionais ligados a
áreas implicadas diretamente em transformações que o informacionalismo envolve.
Estamos a falar de setores qualificados da sociedade, com ensino secundário (no
mínimo) e que desenvolvem atividade profissional na área da saúde, educação,
direito e administração pública e privada, das ciências sociais, negócios, entre
outras áreas profissionais e científicas.
Os desafios da sociedade de informação
9
Quanto à amplitude podemos caracterizá-la como relativamente vasta e
relacionada com as mais variadas problemáticas das tecnologias da informação,
indo desde preocupações éticas (por exemplo, preocupações com a privacidade),
a preocupações práticas de operacionalização da informação (por exemplo,
armazenamento e cruzamento de informação clínica). A maior parte dos conteúdos
que disponibiliza encontram-se na secção de publicações, onde estão disponíveis
os programas das conferências e colóquios que a associação organiza,
regulamentos de concursos que promove, mas também documentação de
apresentações dos colóquios, manifestos e tomadas de posição da associação em
relação a determinadas questões, notas de imprensa e relatórios, disponibilizados
livremente e em PDF. Destaque também para a aparente disponibilidade de
ficheiros vídeo das apresentações de conferências (digo aparente pois os links
pareceram não funcionar).
O sítio em análise não pretende ser uma fonte “enciclopédica” ou teórica de
conhecimento sobre o tema da sociedade de informação, mas antes uma fonte de
informação e documentação da atividade da associação, pelo que a sua
profundidade é limitada. Apesar de sob o assunto principal da sociedade de
informação, a vasta amplitude é contrabalançada por uma média profundidade. De
facto, a secção “relatórios” será a parte do sítio que disponibiliza informação mais
pormenorizada acerca dos assuntos a que se dedica. Dependendo do assunto,
existem relatórios bastante extensos e detalhados, com fundamentação teórica e
estatística, embora não sejam a maioria.
O período de tempo coberto é consideravelmente curto. A informação
disponibilizada prende-se sobretudo com questões recentes e o sítio está em linha
apenas desde 2011 embora, obviamente, os relatórios se prendam com informação
e contributos teóricos anteriores a 2011 (não existe, por exemplo, discussão sobre
temáticas dos anos 70 ou 80 do séc. XX, quando se sentiu a necessidade de
discutir este tipo de sociedade). A informação está muito atualizada e a associação
publica periodicamente a sua atividade. Como o sítio é uma forma de suporte
informativo à sociedade em geral acerca do trabalho que a APDSI desenvolve, e
como a nova atividade desenvolvida é uma constante, o sítio é atualizado nessa
mesma frequência. Não foram detetadas incorreções técnico-científicas de maior,
pois a informação é colocada no sítio pelos membros da associação. A associação,
Fontes de Informação Sociológica
10
pelo papel institucional que desempenha, não disponibiliza informação falsa, no
entanto, nos suportes escritos das apresentações disponiblizadas consta
informação extremamente vaga, precisamente por serem apenas um apoio àquilo
que foi um contributo oral num colóquio ou conferência.
Apesar da informação apresentada ser tendencialmente neutra, trata-se de
informação veiculada por uma associação, prendendo-se sobretudo com a
intenção de melhor introduzir as novas tecnologias da informação e comunicação
na sociedade, não estando, portanto, totalmente despida de ideologia e dos pontos
de vista que os seus associados defendem. As secções de “manifesto” e “tomadas
de posição” são as que melhor o demonstram, enquanto que os relatórios tendem
mais a ser informação neutra que serve de fundamentação a essas posições. O
texto dos relatórios tende a ser, como já foi dito, o mais informativo e o que teria
maior interesse para a pesquisa em curso.
A estrutura do sítio é relativamente amigável após alguma interação, no
entanto existem alguns botões redundantes, que funcionam como atalhos para as
secções da divisão “atividades”, onde se poderia chegar por outras vias (refiro-me
aos botões logo no topo da página, que dividem a informação por área de
interesse). Existe uma ferramenta de pesquisa mas algo inútil, pois não acede a
palavras dos documentos em PDF, ou seja, os resultados mostrados são muito
limitados. Apesar de não ter tido oportunidade para aceder a partir de outro
computador, os carregamentos dão-se com uma lentidão considerável (mesmo
tendo sido esta experiência feita em dias diferentes). O design gráfico parece algo
antiquado e pouco fluido para uma associação que se prende com este tipo de
assunto, mas talvez o investimento no sítio não seja uma das suas prioridades (o
que não deixa de ser irónico). A estrutura, no entanto, é simples, o que
descomplica a navegação. As ligações estão maioritariamente ativas, exceto, por
exemplo, as da barra inferior dos “contactos” ou “sobre nós”. Para se aceder a
essa informação terá que se ir pelo caminho que a barra lateral indica. Tal mostra
algum descuido pela manutenção do sítio. Pelo menos aparentemente não
parecem existir problemas de recuperabilidade da informação, mas talvez possa
existir uma investigação mais profunda neste campo, num maior intervalo de tempo.
Uma das falhas parece ser a interatividade, uma vez que o sítio praticamente
não reencaminha o utilizador para outros locais de interesse nem para contactos
Os desafios da sociedade de informação
11
com o webmaster, para além dos patrocinadores (cujo objetivo do
reencaminhamento parece prender-se apenas com questões comerciais). Por outro
lado, uma grande vantagem é a disponibilidade livre e gratuita da informação, não
sendo necessário ser associado (exceto no que toca à área reservada, não
explorada).
Com a utilização da aplicação Fujitsu Web Accessibility Inspector™ que
testa a acessibilidade dos websites, obtiveram-se os resultados constantes da
seguinte tabela:
Figura 1: Captura de ecrã ilustrativa dos resultados da análise de acessibilidade produzida pela aplicação Fujitsu Web Accessibility Inspector™.
Podemos facilmente observar que o sítio em estudo nem sequer os requisitos
de nível 1 de prioridade cumpre. Dessa forma o sítio não obtém sequer o nível de
conformidade “A”, apresentando vários problemas de acessibilidade a um ou mais
grupos de utilizadores. Numa análise mais detalhada do relatório de erros podemos
enumerar como problemas de acessibilidade alguns tamanhos de letra e
espaçamentos fixos, baixa adaptabilidade a diferentes janelas e navegadores, bem
como cores do texto e do fundo pouco contrastantes.
Em conclusão, apesar do sítio apresentar alguns relatórios, estudos e outros
documentos que se podem revelar muito relevantes numa investigação sobre este
tema, há muitos melhoramentos a nível da interface com o utilizador que podiam
ser feitos, ou seja, o sítio é bom do ponto de vista do conteúdo mas mau do ponto
da forma.
Fontes de Informação Sociológica
12
5. Ficha de leitura
Título: A Arma Suave - História natural e futuro da revolução da informação
Autor: Paul Levinson
Palavras-chave: tecnologia, informação, comunicação, linguagem, determinismo
duro, determinismo suave
ISBN: 9725300327; Local: FEUC (biblioteca); Cota: 316.7 LEV
Data de publicação: Setembro de 1998; Data de Leitura: Outubro de 2012
Páginas: 15-35
Neste texto, Paul Levinson explora as implicações do desenvolvimento e
sofisticação das tecnologias da informação e comunicação, nos universos natural e
social. Para isto adota uma abordagem Darwiniana da evolução daquelas e coloca
no centro da sua análise o papel determinante da linguagem na espécie humana.
As dinâmicas do mundo orgânico servem de pano de fundo da análise do
autor e a perceção é tomada como forma de proteção dos seres vivos contra as
hostilidades do meio ambiente. No caso da espécie humana, a linguagem abstrata
assume um papel central e diferenciador da própria espécie, distinguindo-a de
todas outras e dotando-a de especiais capacidades de adaptação e sobrevivência.
Esta tecnologia da comunicação é inigualável em termos de importância a todas as
tecnologias que lhe sucederam e é, inclusivamente, a base em que estas
assentam.
Introduzem-se os conceitos de determinismo duro e de determinismo suave
das tecnologias da informação e comunicação. As consequências absolutas e
inevitáveis de determinada evolução tecnológica são resultado de determinismo
duro (por exemplo, no caso da informação genética, determinado gene codifica
obrigatoriamente determinada proteína). No entanto, é difícil encontrar meios de
comunicação que determinem em absoluto uma concreta consequência social:
estamos então perante relações de determinismo suave. Podemos verificá-las
quando determinada evolução torna possível uma transformação social cuja forma
e impacte derivam de outros fatores, ou seja, dependem também de como “os
seres humanos transformam essa possibilidade numa realidade” (p. 29).
Os desafios da sociedade de informação
13
Do determinismo suave resulta que a maior parte dos inventos tecnológicas
assumem consequências inesperadas, algumas delas negativas. O autor destaca,
nesta fase, a importância da racionalidade humana que vai colmatar os
inconvenientes e não simplesmente aceitá-los. Para isso cria novas tecnologias que
melhoram o equilíbrio a favor do uso humano. A forma como tal é feito depende, em
grande medida, do contexto social em que se dá esse processo.
A leitura evolucionista e o papel da racionalidade humana são elucidativos
para a compreensão dos processos em que as evoluções ocorrem, não sendo
possível, ainda assim, tal como o autor ressalva, fazer uma previsão clara das
consequências futuras de evoluções que estejam a acontecer no presente. O autor
assume, otimisticamente, que as inovações nos meios de comunicação visam
sempre o bem comum e, mesmo que tal não se verifique, a racionalidade humana
agirá no sentido de resolver as possíveis implicações negativas, através do que
chama de meios de comunicação reparadores.
Haverá sempre capacidade para reparar os inconvenientes de dada
tecnologia, conservando as suas vantagens? Mas estando nós perante processos
de determinismo suave, como há certezas de que o caminho de incorporação
social seguido foi efetivamente o melhor de entre os infinitos possíveis? Quem são
os principais atores nestes processos evolutivos e quais os verdadeiros interesses
sociais nestas evoluções, num presente onde o mercado tem um papel
preponderante e funciona artificialmente, pouco se assemelhando aos processos
naturais descritos pelo autor?
Fica assim em aberto a continuação do desenvolvimento, por parte do autor,
das ideias apresentadas nesta introdução e da sua adaptação aos vários episódios
históricos analisados e ao futuro.
6. Conclusão
A ideia transversal a esta breve reflexão bibliográfica sobre o tema dos
desafios colocados pelo (aparente) surgimento de uma nova forma de sociedade é,
de facto, a da necessária fuga a visões quer demasiado otimistas quer demasiado
pessimistas acerca do impacte da intensificação dos fluxos de informação a que se
assiste desde os anos 70, e as consequentes influências nos indivíduos, nas
Fontes de Informação Sociológica
14
sociedades e na produção. Nem a sociedade de informação apresenta a solução
aos problemas da forma de sociedade que a antecedeu, como as diferenças entre
classes e o poder de umas sobre outras, nem vem intensificar e tornar
irremediáveis problemas e questões clássicas das sociedades contemporâneas. É
também necessário compreender que as alterações sociais não são um mero
resultado automático e imediato da proliferação de certas tecnologias, e que o
papel das sociedades é passivo às alterações no seu seio.
É assim premente o estudo da sociedade de informação, não só pelas
ciências sociais, mas por todas as áreas do conhecimento científico e humanístico,
para que as mudanças em curso e já efetivadas sejam objeto de reflexão a nível
global e interdisciplinar, em tempos que se mostram sucessivamente mais rápidos
e de análise mais complexa.
O objetivo, que espero ter sido completo, ainda que superficialmente, foi, no
seio de autores de referência, encontrar consensos ou ideias sobrepostas, e assim
apanhar o que têm sido os questionamentos chave do que se apresenta, com
maior ou menor intensidade, dependendo do autor, como uma mudança
paradigmática de extremo interesse para a sociologia.
Sendo este trabalho sobretudo um exercício de domínio das fontes de
informação que temos ao nosso dispor enquanto (futuros) cientistas sociais, e do
seu manuseamento, citação e referenciação, foi de extrema relevância
compreender e assimilar as ideias e teorias de cada fonte, e posteriormente refletir
sobre elas e articulá-las coerentemente, de forma pessoal. Tal tarefa revelou-se
ainda mais complexa, mas ainda mais importante, devido à minha formação de
base ser o estudo da Economia e não da Sociologia. Compreender as ciências
sociais numa bigger picture e não como meras subdisciplinas isoladas e de
interpenetração reduzida foi o desafio académico a que me propus, e que teria que
passar pelo exercício de técnicas de pesquisa e manuseamento de fontes de
informação, essenciais para um trabalho autónomo.
7. Referências bibliográficas
APDSI - Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (2012). APDSI - Missão, Visão e Objetivos. Acedida em 30 de
Os desafios da sociedade de informação
15
Dezembro de 2012, em http://www.apdsi.pt/index.php/portugues/menu-
secundario/sobre-nos/missao-visao-e-objectivos
Castells, M. (1999) (R. V. Majer, Trad.) A Sociedade em rede - A era da informação:
economia, sociedade e cultura (Vol. 1, pp. 21-47). São Paulo: Paz e Terra.
Gadrey, J. (2001). Novas tecnologias, novo crescimento? Nova economia, novo
mito? (pp. 51-77). Lisboa: Instituto Piaget.
Levinson, P. (1998) (J. F. e. Silva, Trad.) A Arma Suave - História Natural e Futuro da
Revolução da Informação (pp. 15-35). Lisboa: Editorial Bizâncio.
Lyon, D. (1992) (R. S. Machado, Trad.) A Socieade da Informação - Questões e
Ilusões (pp. 1-23). Oeiras: Celta Editora.
Webster, F. (2004). Desafios globais e respostas nacionais na Era da Informação. In
G. L. C. José Manuel Paquete de Oliveira, José Jorge Barreiros (Ed.),
Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (pp. 53-74): Quimera
Editores.
Fontes de Informação Sociológica
16
Anexo IPágina da internet avaliada
Anexo IITexto de suporte à ficha de leitura