os desafios no inÍcio da carreira docente na...
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OS DESAFIOS NO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
TROVA, Andreza Gessi, Universidade Nove de Julho.
BOCCIA, Margarete Bertolo, Universidade Nove de Julho.
Eixo temático: Formação de Professores da Educação Infantil.
INTRODUÇÃO
Este relato visa discutir o início à docência na Educação Infantil de alunos
egresso do curso de Pedagogia na modalidade à distância, pois já foi possível
identificar que as pesquisas sobre essa temática podem ser consideradas inexistentes.
Em busca aos bancos de teses e dissertações o número de pesquisa sobre
professores iniciantes em geral é considerado ínfimo, como uma temática ainda pouco
explorada. Considerando-se os egressos de curso de Pedagogia na modalidade EAD,
esse número beira à nulidade.
Objetiva-se ainda identificar as dificuldades e desafios desses egressos,
considerando as críticas que a formação em EAD recebe, ampliando-se a relevância
do presente estudo com vistas a discutir sobre a identidade profissional e valorização
dos profissionais que trabalham com crianças de 0 a 5 anos em nosso país.
Assim, com base nas pesquisas desenvolvidas por TROVA (2014) sobre
professores iniciantes na Educação Infantil, ampliaremos a pesquisa, considerando
agora um aluno egresso do curso de Pedagogia na modalidade EAD, com vistas a
comparar os dados obtidos nas respostas de alunos egressos do curso presencial (04)
e a distância para identificarmos as aproximações e suas disparidades.
Na primeira pesquisa foram enviados por volta de 350 formulários aos alunos
do curso presencial e destes foram respondidos 101, cuja seleção dos sujeitos que
atendiam os parâmetros delimitados da pesquisa, foram apenas 25 respondentes, que
finalmente configuram em 04 sujeitos que aceitaram participar respondendo aos
questionários.
Na atual pesquisa, foram enviados dez formulários, a comunicação com esses
alunos foi um pouco mais difícil, pois os alunos estavam em processo de conclusão de
curso com diferentes afazeres acadêmicos no que resultou na aceitação de apenas
um aluno respondente da pesquisa. Destaca-se que a pesquisa com os alunos do
curso presencial foi respondida após o término do curso e, que esse procedimento
será mantido com os alunos do curso em EAD para ampliação dos dados e da
pesquisa.
Esta pesquisa partiu de dados quantitativos a partir da pesquisa bibliográfica de
banco de teses e dissertações da Capes sobre o início da docência na Educação
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Infantil. Sobre este tipo de pesquisa Severino (2007) afirma ser aquela que se realiza
em documentos impressos e ainda:
Utiliza de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outrospesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontesdos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir dascontribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dostextos (p.122).
As palavras-chave de busca foram professores da Educação Infantil, anos
iniciais da docência, anos iniciais na docência na Educação Infantil, formação de
professores na Educação Infantil.
Como resultado dessa busca foi identificado mais de dois mil trabalhos, mas
quando estes trabalhos foram selecionados e a busca passou por um refinamento na
investigação, a partir de nova palavra-chave, como professor iniciante, essa
quantidade de trabalhos diminuiu consideravelmente.
A partir desses trabalhos realizou-se a leitura prévia de seus resumos no diz
respeito ao EAD identificou-se que não temos trabalhos que tratem especificamente
dos professores iniciantes egressos de cursos exclusivamente em Educação à
distância, formados em cursos não vinculados à Universidade Aberta do Brasil.
Trova (2014) realizou pesquisa quantitativa sobre professores de Educação
Infantil, anos iniciais na docência, anos iniciais na docência na Educação Infantil e
formação de professores na Educação Infantil e obteve como resultado os dados
indicamos abaixo:
Tabela 1 – Banco de Teses e Dissertações da Capes
Palavras-chaveANO Professoras
de EducaçãoInfantil
Anos iniciais na docência
Anos iniciais na docência na Educação Infantil
Formação de professores naEducação Infantil
2000 48 03 01 282001 60 01 00 382002 68 06 00 342003 137 06 02 752004 113 08 01 662005 142 14 01 742006 158 11 02 872007 194 17 03 1052008 184 18 01 1072009 209 25 03 1202010 213 31 06 1182011 213 19 02 120Total: 1.526 159 22 972
TOTAL GERAL 2.679Fonte: TROVA, 2014, p. 22.
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Indica que destes trabalhos selecionados apenas 22 estão vinculados aos anos
iniciais da docência na Educação Infantil. E afirma:
Este levantamento realizado e tabulado, conforme apresentado natabela acima, permitiu identificar o quanto pesquisas sobre oprofissional de Educação Infantil iniciante ainda não é expressivo noBrasil; basta considerar a variação quantitativa de trabalho realizadosnestes últimos onze anos a partir dos dados da Capes período 2000 a2011 (TROVA, 2014, p.23).
Em suas palavras, as pesquisas sobre os professores iniciantes não chegam a
1% do total teses e dissertações identificadas no Banco da Capes, demonstrando que
“os professores iniciantes da Educação Infantil não foram objeto de estudo e
investigação nesta última década.
Como indicado, a pesquisa efetivou-se pela utilização de questionário,
compreendido como instrumento de coleta de dados estruturado por uma série
ordenada de perguntas (MARCONI, 2002, p. 98).
O questionário respondido foi constituído por 27 questões que acercam as
discussões teóricas sobre formação docente, a entrada na carreira, os desafios e
dificuldades no início e questões que acercam o trabalho docente na Educação
Infantil.
MEU PRIMEIRO ANO NA DOCÊNCIA E OS SEUS DESAFIOS
1. Você fez estágio na educação infantil? Como era?2. Quais foram as condições dessa formação na licenciatura em Pedagogia no que se
refere à Educação Infantil?3. Quais foram as suas expectativas ao ingressar como professora de Educação Infantil
com a sua primeira turma?4. Compreendendo este processo de atuação como professora, alguma frustração sobre
este início? 5. Quando você começou a lecionar na escola você se sentia preparada para ensinar?6. Relate como foi a transição de aluno(a) do curso de Pedagogia a professora na prática
em sala de aula?7. Como foi sua iniciação na profissão? 8. Como eram suas condições de trabalho? 9. De que materiais você dispunha para trabalhar?10. Como é a sua classe? Quantos alunos você tem na sala de aula e qual é a idade? E a
sua relação com eles?11. Você faz planejamento das atividades?12. Usa livro didático? Como avalia os seus alunos?13. Há supervisão do seu trabalho? Existem cobranças? 14. A quem você recorre quando tem dificuldades? 15. Quais eram ou são as maiores dificuldades que você sente como professora?16. Quais eram e/ou são os desafios neste primeiro ano da docência?17. Você lembra como se sentia ou ainda sente nesta época em que viveu essa
experiência de ensino?18. O que você destacaria como mais significativo nessa experiência profissional inicial?19. Como você acha que as professoras se sentem no início da profissão hoje?
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20.Em termos institucionais e pessoais, como você acha que essa iniciação no exercício
da docência poderia ser?21. O que a estimulou na escolha da Educação Infantil para atuar como professora?22. Como você se vê como professora de Educação Infantil? Sente-se realizada?23. Como é a sua relação com os seus colegas de profissão?24. Quais são as suas expectativas como profissional de Educação Infantil?25. E a escola onde você trabalha qual é a estrutura?26. O que você diria aos futuros professores de Educação Infantil?27. Gostaria de relatar, sugerir algo que não foi perguntado e anseie descrever?
Fonte: TROVA, 2014 p.162
Das questões indicadas acima foram utilizadas para análise nesta pesquisa as
perguntas de número seis, dezesseis e dezessete.
A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E EDUCAÇÃO À
DISTÂNCIA
Educação à distância é uma modalidade de ensino na educação brasileira,
desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, em 1996. Desde então a
educação do país passou a ter duas configurações: uma presencial com suas
características já bastante conhecidas e a não presencial ou à distância, caracterizada
pela não presencialidade, pelo uso das tecnologias como o meio efetivador das
relações, virtualidade, tempos e espaços distintos, com encontros mediados pelas
ferramentas tecnológicas e principalmente a internet.
A partir dos incentivos legais apresentados na referida lei, em seu artigo 80, o
curso de Pedagogia na Modalidade EAD passa a ser uma realidade cada vez mais
próxima de nós, e próspera também em termos numéricos de alunos egressos,
constituindo-se em alternativa para a formação de professores da educação básica.
Segundo dados do Censo o Ensino Superior do Ministério da Educação (2013)
o aumento de cursos de licenciaturas presenciais subiu em dez anos 35%, mas em
cursos oferecidos na modalidade EAD, esse número salta para os 1.100% passando
de 49 cursos para 592 no ano de 2013.
Demarcando claramente o peso da formação inicial via essa modalidade
específica de ensino.
Não só a educação a distância mereceu destaque na legislação educacional do
país, a Educação Infantil passou por significativas mudanças de concepção e
expectativas de formação dos profissionais vinculados a ela.
Após a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei
9394/96 – LDB, que alterou o status da educação infantil de nosso país para um
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segmento que compõe a educação básica do país, iniciou-se as discussões sobre
quais seriam os referenciais para essa nova realidade educativa.
Processo esse longo e desenvolvido nas instâncias governamentais federais,
que culminou na publicação dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Infantil do Brasil – RCNEI, documento este que o ministério da educação se
preocupou em colocar os principais aspectos a serem considerados pela educação de
crianças de zero a três anos e inicialmente de quatro a seis anos.
Com a perspectiva de conjugação entre o Cuidar e o Educar e, não abrindo
mão do Brincar como característica específica; no que se refere aos profissionais que
atuam diretamente com as crianças, na apresentação inicial do documento
encontramos:
Embora não existam informações abrangentes sobre os profissionaisque atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-escolas dopaís, vários estudos têm mostrado que muitos destes profissionaisainda não têm formação adequada, recebem remuneração baixa etrabalham sob condições bastante precárias. Se na pré-escola,constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela de profissionaisconsiderados leigos, nas creches ainda é significativo o número deprofissionais sem formação escolar mínima cuja denominação évariada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem,monitor, recreacionista etc (BRASIL, 1998, p. 39).
Preocupação essa, atualmente, pelo menos em tese, minimizada pela
efetivação da exigência da formação em nível superior para os profissionais que
atuam na educação básica e nosso país confirmada pela atual Plano Nacional de
Educação Lei nº 13.005/ 2014.
Já naquele momento de publicação do documento, a preocupação também
com as funções a serem exercidas por esses profissionais mereceriam destaque,
devido às reformulações:
O que se esperava dele há algumas décadas não corresponde maisao que se espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têmindicado a necessidade de uma formação mais abrangente eunificadora para profissionais tanto de creches como de pré-escolas ede uma reestruturação dos quadros de carreira que leve emconsideração os conhecimentos já acumulados no exercícioprofissional, como possibilite a atualização profissional RCNEI(BRASIL, 1998, p. 39).
Nos dias atuais, com a obrigatoriedade (Lei nº 12796/2013) das crianças a
partir de quatro anos serem matriculadas e mantidas nas escolas do país as
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expectativas com as funções a serem exercidas e o perfil profissiográfico desse
profissional passa por processos de reflexão dos pesquisadores e dos próprios
sujeitos. A competência polivalente descrita no RCNEI não basta em si mesma.
Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar comconteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidadosbásicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes dasdiversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda,por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que devetornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobresua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias ea comunidade e buscando informações necessárias para o trabalhoque desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre aprática direta com as crianças a observação, o registro, oplanejamento e a avaliação RCNEI (BRASIL, 1998, p. 41).
Destaca ainda que este deva ser um profissional comprometido com práticas
educacionais que atendam ao tripé da educação, com bases nas necessidades do
cuidado, nas aprendizagens, no brincar e ainda responda às demandas das famílias.
Ainda, segundo Trova (2014),
Podemos considerar que tais competências pressupõem umaformação ampla e, ao mesmo tempo, específica de vivências eexperiências significativas no campo das linguagens artísticas eexpressivas, além do necessário aprofundamento nas teoriaseducacionais, filosóficas, linguísticas, entre outras, quandoapresentados no RCNEI (BRASIL, 1998), volume 3, os eixos e opapel de atuação do professor por meio das orientações didáticas(TROVA, 2014, p.46).
Consideramos que a formação docente deve ajustar situações que permitam a
reflexão e a conscientização dos entraves sociais, culturais e ideológicos da própria
profissão docente ponderando não só a importância da normatização, mas também a
dimensão entre o cuidar e o educar. É ressaltar a importância dessa etapa educacional
frente à valorização deste profissional, pois é a primeira etapa da Educação Básica
considerada pela LDB 9394/96 como o primeiro nível de ensino atendido em Creches
e Pré-Escolas de 0 a 5 anos.
PROFESSOR INICIANTE E OS SEUS DESAFIOS NO INGRESSO DA CARREIRA
DOCENTE.
A bibliografia sobre o professor em início de carreira é bastante expressiva,
especialmente no que se refere aos estudos dos dilemas e desafios vivenciados neste
período. O enfoque nesta fase inicial da carreira docente tem se dado por ser
considerada um rito de passagem, uma etapa relevante na vida profissional do
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professor iniciante, determinando o seu futuro profissional e a relação com o trabalho
como afirma Tardiff (2001).
De modo geral, o início da carreira constitui um período marcado por crises.
Pesquisas revelam que esse período é considerado pelo professor como um dos
piores da vida profissional docente (HUBERMAM, 1995).
Huberman (1995, p.39) estudioso da área de formação de professores, sobre
essa temática utiliza a terminologia de ciclos de vida profissional e coloca que nestes
ciclos os professores iniciantes passam por duas fases: “a entrada na carreira” e a
fase de “estabilização”.
Segundo Trova (2014, p.60) o autor se preocupou em estudar a carreira de
professores e classificar os ciclos de vida profissional de docentes, denominando-os
como fases, onde cada fase apresenta características próprias e procura enquadrar o
professor durante o seu percurso profissional. Destes ciclos de vida profissional:
entrada na carreira, estabilização, diversificação, pôr-se em questão, serenidade,
conservantismo e desinvestimento.
Neste texto vamos usar o ciclo entrada na carreira que compreende os
primeiros 3 anos de docência dos professores, apresentando dois estágios. O estágio
de sobrevivência, momento no qual ocorre o “choque com o real”, o distanciamento
entre o ideal e a realidade cotidiana e a fragmentação do trabalho. O estágio de
descoberta resume-se no entusiasmo inicial, a exaltação pela responsabilidade de ser
professor e sentir-se inserido no corpo de professores. “Este processo na vida do
professor iniciante está relacionado também ao retorno dado pelos alunos frente às
aprendizagens construídas e pelos pares e gestores, vivendo emoções nem sempre
semelhantes aos colegas-pares de profissão” (TROVA, 2014,p.63).
Podemos identificar estes impasses e dilemas a partir dos dados obtidos com o
sujeito de pesquisa egresso do curso de Pedagogia à distância e na modalidade
presencial.
Na questão 06 foi perguntado: Relate como foi a transição de aluno (a) do
curso de Pedagogia a professora na prática em sala de aula?
Professora Ana (EAD)
Pude perceber que quando terminei a faculdade parecia quefaltava alguma coisa e hoje sei bem o que é.... segurança,quando sai para dar aula me senti muito insegura e isso nosdeixa sujeitos a erros. Quando eu assumi minha primeiraturma, ao olhar para aqueles rostinhos dava um medo de dizerqualquer coisa, mas aos poucos fui entendendo que é umprocesso normal se conhecer, conhecer os alunos e darcontinuidade aquilo que eu me formei pra ser professora.
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Veenman (1988) afirma que o início da docência, que pode ser chamado
também de período de aprendizagem da profissão, é um período de experimentação
empírica de ensaios, com tentativas e erros. Assim, essa iniciação ao ensino é um
período desgastante de muita insegurança, chegando a ser para alguns um ano muito
traumático.
Quando analisamos as respostas dos alunos egressos do curso presencial as
aproximações se concretizam
Professora Judite:
Como aluno tem a responsabilidades de aprender e tirar todas
as dúvidas possíveis com nossos mestres e como professor é
o dobro da responsabilidade, estamos como mestre para
ensinar e cessar as dúvidas dos mesmos.
Professora Luciana:
Foi uma transição cheia de nervosismo e insegurança, e penso
que no ensino fundamental será da mesma forma.
Observa-se, a partir das professoras pesquisadas, que a transição inicial dos
profissionais de educação e sua inserção na profissão docente é um momento crucial
em suas vidas de professoras independente se na modalidade presencial ou à
distância.
Segundo Veenman (1988) este representaria o chamado “choque da realidade”
com as dificuldades concretas e dualidade de sentimentos no início do exercício da
docência.
Ainda considerando esse choque da realidade, este não é exclusivo do ingresso
na educação infantil, a professora Luciana, ressalta a que acredita que quando ingressar
no “ensino fundamental será da mesma forma”, as dificuldades serão inerentes;
embasando esse pensamento, Huberman (1995) afirma que “o desenvolvimento de uma
carreira é, assim, um processo e não uma série de acontecimentos”.
Reforçando ainda esse pensamento Silva (1997) afirma: ” É como se, da noite
para o dia, deixasse subitamente de ser estudante e sobre os seus ombros caísse
uma responsabilidade profissional, cada vez mais acrescida, para a qual percebe não
estar preparado” (p. 53).
Como nosso objetivo era identificar quais seriam os desafios do início da
carreira docente, na questão 16 apresentamos: Quais eram e/ou são os desafios
neste primeiro ano da docência?
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As respostas das professoras egressas do curso presencial indicaram questões
da aprendizagem da rotina, do relacionamento com os pares, pais e alunos.
Professora Luciana:
Aprender tudo na marra.
Professora Carina:
Esse período inicial da docência, pra mim representa um
momento intenso de aprendizagens que vão influenciar tanto a
permanência na carreira quanto o tipo de professor que
realmente irei ser. Já a necessidade de cuidado com o
professor iniciante que além de se sentir atraído pela carreira
precisa permanecer nela. Atrair e reter os professores na
docência são pontos críticos, salientados também pela
precária preparação dos professores, o que demanda
um esforço ainda maior da formação. A falta de cuidado e de
acolhida com os professores iniciantes é evidente, assim como
também é evidente o comportamento que lhes é exigido assim
que ingressam.
Professora Judite:
Muitas perguntas ainda não foram respondidas, mas a
convivência com pessoas era um dos desafios, nestes casos
com os pais dos meus alunos, diante de tudo isso queria saber
até onde posso chegar.
Expectativa de serem acolhidos no grupo, de terem apoio e respaldo nas ações
pedagógicas no espaço escolar, considerando que são iniciantes.
Esses desafios de algum modo são representados na resposta da professora
egressa do curso na modalidade à distância, quando indica de modo ampliado sem
condições adequadas para o desenvolvimento do seu trabalho.
Professora Ana (EAD)
Fazer o melhor, mesmo sem condições adequadas para o
trabalho. Porque acredito que é a educação ainda que
transforma a pessoa e a sociedade.
Identificamos em todas as professoras que os desafios foram
grandes, conforme aludido por Guarnieri (1996). Elas se sentem despreparadas e
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cobradas pelo seu trabalho como os profissionais de educação vistos por elas mais
experientes.
Reforçando as colocações a professora Carina responde:
Esses anos iniciais constituem um período realmente
importante da história profissional do professor, determinando
inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho.
Para complementar nosso estudo sobre esse período de entrada na carreira
docente, a questão 17 busca identificar os sentimentos relacionados a este: Você
lembra como se sentia ou ainda sente nesta época em que viveu essa experiência de
ensino?
Professora Ana (EAD): Me sentia perdida em meio a tantas dúvidas.
Professora Antônia:
Sentia medo e insegurança. Medo de não ser aceita pelos
alunos e pelos pais. Insegurança de não estar fazendo o certo,
pois vejo o início escolar como o primeiro passo para o futuro
profissional. É como se o futuro desta criança estivesse em
minhas mãos.
Professora Carina:
A minha resposta é única me sinto ainda um tanto descontente
com a falta da necessidade de se repensar como vêm sendo
trabalhadas as questões na formação inicial, sobretudo, no
aspecto da didática e, no ingresso desses professores
iniciantes por meio de implantação de políticas públicas que
deveriam nos dar mais atenção e suporte, minimizando o
choque com o real, potencializando os nossos conhecimentos
e valorizando a experiência gradativa em sala de aula, o que
não é muito válido atualmente nos dias de hoje.
Professora Judite: “Diria que essa experiência a gente não esquece nunca; da
primeira vez em sala, até a carinha dos alunos nunca esqueceremos”.
Segundo Trova (2014, p.96) esta insegurança decorre da “ausência” de
experiência docente as professoras buscam alcançar a transição de estudantes a
profissionais e, nesse momento, surgem questionamentos e tensões, como questiona
a professora Carina sobre a sua formação inicial.
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Ainda segundo a autora, os docentes necessitam adquirir conhecimento e
competência profissional em um determinado período de tempo. De acordo com
Veenman (1988) e Huberman (1995), os professores principiantes estão à procura da
sua própria identidade individual e profissional. O fato é que o ingresso na carreira
docente aponta muitas dificuldades, mas também possibilidades de alteração da
realidade apresentada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa revelou que independente da modalidade de ensino na
formação inicial seja ela na modalidade a distância ou presencial as professoras
pesquisadas relataram pontos convergentes sobre o ingresso na carreira docente na
Educação Infantil representadas por questões subjetivas como medo, insegurança,
mas também como a própria descoberta da profissão.
Os autores Hubermam, (1995) e Veenman,(1984), fincam que boa parte dos
problemas sentidos pelos professores iniciante se dá por um tipo de saber idealizado,
representação idealizada da escola e do aluno, estruturada nos cursos de formação
inicial.
Foi possível analisar que os professores em início de carreira passam por
muitos problemas que indicam um não saber desse professor no manejo de sala, boa
parte desse saber, Nóvoa (1995) chama a atenção para a escola, ela que deve ser
vista como lócus de formação continuada destes profissionais, um lugar onde se
evidenciam os saberes e a experiência dos professores. É nesse cotidiano que o
profissional da educação aprende, desaprende, estrutura novos aprendizados, realiza
descobertas e sistematiza novas posturas na sua “práxis”. Eis uma relação dialética
entre desempenho profissional e aprimoramento da sua formação, principalmente se
relacionarmos a construção destes saberes docentes do professor iniciante nas
escolas.
A reflexão que apontamos é que Universidade e Escolas de Educação Infantil
promovam ações que permitam dialogar na prática a realidade a ser vivenciada pelos
futuros profissionais de ensino.
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