os efeitos culturais da globalizaÇÃo no mundo...

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GLOBALIZAÇÃO E CULTURA OS EFEITOS CULTURAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO COMTEMPORÂNEO. VANESSA CARVALHO 1 RESUMO Este artigo tem como objetivo se aprofundar nas perspectivas para o estabelecimento de uma cultura de alcance global unificada e estabelecer os efeitos da globalização para a cultura como modificadora ou não da identidade de um povo. Reconhecer também as transformações ocorridas nas últimas décadas, relacionando tais mudanças com a identidade cultural da sociedade mundial, entendendo as possibilidades de reações a essas transformações, que podem atingir a esfera global com tanta ansiedade e analisar questionamentos a uma possível “sociedade global”. ABSTRACT This article has the aims to show the prospects for establishing a culture of unified global reach and assess the effects of globalization on culture as a modifier or not the identity of a people. Also analyze the changes occurring in recent decades, relating these changes with the cultural identity of the global society, Understanding that there will be possible reactions to these changes, which will reach the world with such global anxiety and also analyze the questions of a possible "global society". 1 Pós Graduação Geopolítica e Relações Internacionais. [email protected] História

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Page 1: OS EFEITOS CULTURAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO …tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2011/10/GLOBALIZACAO-E-CULTURA... · 2 INTRODUÇÃO: Um dos conceitos predominantes na atualidade

GLOBALIZAÇÃO E CULTURA OS EFEITOS CULTURAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO

COMTEMPORÂNEO.

VANESSA CARVALHO 1

RESUMO

Este artigo tem como objetivo se aprofundar nas perspectivas para o

estabelecimento de uma cultura de alcance global unificada e estabelecer os

efeitos da globalização para a cultura como modificadora ou não da identidade de

um povo.

Reconhecer também as transformações ocorridas nas últimas décadas,

relacionando tais mudanças com a identidade cultural da sociedade mundial,

entendendo as possibilidades de reações a essas transformações, que podem

atingir a esfera global com tanta ansiedade e analisar questionamentos a uma

possível “sociedade global”.

ABSTRACT

This article has the aims to show the prospects for establishing a culture of

unified global reach and assess the effects of globalization on culture as a

modifier or not the identity of a people.

Also analyze the changes occurring in recent decades, relating these

changes with the cultural identity of the global society,

Understanding that there will be possible reactions to these changes, which will

reach the world with such global anxiety and also analyze the

questions of a possible "global society".

1 Pós Graduação Geopolítica e Relações Internacionais. [email protected] História

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INTRODUÇÃO:

Um dos conceitos predominantes na atualidade é de que globalização é

uma tendência crescente de unificação de todos os povos e países da Terra,

tornando-os cada vez mais interdependentes tanto em termos econômicos quanto

socioculturais.

Cada vez mais, a sociedade está ligada por redes de informação e

comunicação, constituindo formas de organização do mundo surgindo, assim,

questionamentos, tais como:

a) A globalização pode chegar a uma mundialização de trocas pelo

desenvolvimento das comunicações, cuja lógica é funcionar de maneira universal

no qual os povos e os indivíduos se beneficiam das maravilhas da técnica,

semeando uma consciência planetária que triunfará no mundo globalizado atual?

b) A globalização é um processo de uniformização das culturas, pregando

uma mundialização produzida de forma economicamente injusta, valorizando a

hierarquia entre os povos?

Pensar esses questionamentos e refletir sobre a globalização como um

processo cultural são objetivos desse artigo.

Para dar uma visão geral sobre o assunto proposto, demonstro a seguir os

principais pontos desenvolvidos, enfocando nesses pontos a organização do

artigo:

GLOBALIZAÇÃO: delimitação sobre o que a globalização esta trazendo

para a sociedade, as novas expectativas que surgem a nível global, relacionando

há uma rede de conexões que encurta as distâncias entre os povos.

ANTIGLOBALIZAÇÃO: Grupos que se opõem a globalização por

considerarem esse processo com aspectos sem vantagens, trazendo vários riscos

e caos a sociedade.

INTERNACIONALIZAÇÃO,GLOBALIZAÇÃO E MUNDIALIZAÇÃO:

Essas são palavras que estão em evidência nos últimos anos, é preciso observar

conceitos como globalização, internacionalização e mundialização e como esses

são assimilados nesse universo social.

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CULTURA: Definição do que é a Cultura, estabelecendo como esta pode

interagir com a globalização e de que maneira o conhecimento de várias culturas

pode refletir no mundo.

IDENTIDADE CULTURAL: a diversidade de formas de vida existentes

nas sociedades contemporâneas, aspectos fortemente ligados entre si, a

contradição entre afirmação da identidade e o avanço da globalização.

PREDOMÍNIO DAS COISAS SOBRE OS HOMENS: “Os fins justificam

os meios” se a necessidade do mundo atual é acumular riquezas e mostrar seu

poder através de uma economia forte, o ser humano tem que agir da mesma

maneira, procurando sempre obter os melhores lucros, no principio da

produtividade, quantidade e lucratividade, nesse sentido o individuo pode deixar

em segundo plano sua cultura, pois se vê diante de outros padrões de vida e vai

se perdendo em nome do principio.

Nessa perspectiva o individualismo aparece em um contraste com o

mundo que está perdendo suas fronteiras, o homem se tornando universal e ao

mesmo tempo individualista.

DA SOCIEDADE NACIONAL PARA A SOCIEDADE GLOBAL: um

novo estilo de vida, muito diferente começa a surgir, o enfraquecimento do

Estado se torna claro, esse fato reúne muitas mudanças a serem discutidas.

O NOVO CONTRATO SOCIAL: o velho contrato já não se ajusta a

situação atual, onde com o enfraquecimento do Estado é necessário cooperação e

negociações entre os Estados.

PODER DO MERCADO: A globalização hoje tem como característica

relevante um mercado no qual a cada dia é visível a facilidade de comunicação,

transmissão e processamento de informações, além da mobilidade internacional

de capital. No plano econômico, a globalização caracteriza-se pela

desnacionalização financeira.

GLOBALIZAÇÃO DESIGUAL: Não se explica nos dias de hoje, com

tecnologia tão avançada, com sistemas logísticos tão bem desenvolvidos, que

cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo passem fome, O preço alto da tecnologia

favorece os grandes produtores e especuladores, o trabalhador mais pobre sofre

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demais com as conseqüências, a globalização trás muito mais benefícios para

países ricos e industrializados.

O CHOQUE DAS CIVILIZAÇÕES: Surgem novas estruturas de poder,

novas estratégias de dominação, o choque das civilizações seria um choque entre

culturas.

GLOBALIZAÇÃO

Globalização, segundo Arantes, significa uma sociedade sem fronteiras,

interdependência, paridade, fluxo em todos os sentidos, um conjunto de

oportunidades e riscos para todos. “Isso é um mito”, diz ele, “não existe, é uma

brincadeira, é um discurso, e as pessoas que estão falando em globalização estão

sonhando”.Depois de lembrar que a denominação surgiu nos anos 70, quando

alguns professores universitários norte-americanos passaram a falar em global

trade para orientar as políticas internacionais de suas empresas, Arantes afirma

que a insistência em se dizer, hoje, que “nós estamos entrando numa nova era,

porque a sociedade é global, o mercado é mundial, esconde alguma coisa”.Para

ele, uma expressão mais adequada é mundialização do capital. E, neste caso, o

fenômeno não é novo, pois “o capital é mundial desde que existe, desde o século

XIV”. Se é para falar em termos de abertura econômica, das empresas e dos

mercados, diz Arantes, “a economia mundial já foi mais aberta do que é hoje, no

apogeu da hegemonia inglesa, entre 1870 e 1914”.

O espírito comercial, incompatível com a guerra, se apodera tarde ou cedo dos povos. De todos os poderes subordinados à força do Estado, é o poder do dinheiro que inspira mais confiança e por isto os Estados se vêm obrigados - não certamente por motivos morais- a fomentar a paz ...” (I.Kant - A paz perpétua, 1795)

Em lugar das antigas necessidades satisfeitas pela produção nacional, encontramos novas necessidades que querem para a sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas os mais diversos. Em lugar do antigo isolamento local...desenvolvem-se, em todas as direções, um intercâmbio e uma interdependência universais.." (Karl Marx - Manifesto Comunista, 1848)

O mundo atual se configura pelos movimentos da globalização e suas

conseqüências sócio culturais, econômicas e até ambientais, onde o individuo

não é mais voltado ao centro das atenções, ele está submetido pela globalização.

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Daí vem à impressão de que muitas coisas estão mudando, como o modo de agir

e pensar, rupturas que ocorreram outras vezes na História quando o mundo

passava por transformações significativas.

Padrões e valores culturais se articulam conforme a situação em que o

mundo se encontra, pois a comunicação alcança todo o mundo rompendo e

ultrapassando fronteiras.

Para Octávio Ianni, o início da globalização pode ser localizado no

imediato pós-segunda guerra mundial. Geógrafos, como Milton Santos, situam o

início da globalização no período das grandes navegações, mas foi com a queda

do muro de Berlim que a globalização ganhou força tornando se evidente, com

tudo o que simbolizou em termos políticos, econômicos e ideológicos.

Evidentemente, muitos aspectos anteriores já indicavam uma nova era econômica

em formação.

O Muro de Berlim não apenas separava uma cidade e um povo. Ele

simbolizava o mundo dividido pelos sistemas capitalista e socialista. A sua

destruição, iniciada pelo povo de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989, pôs

abaixo não apenas o muro material; mais do que isso, rompeu com o mais

significativo símbolo da Guerra Fria: a bipolaridade.

De repente, o mundo tornou-se em sua maior parte capitalista e

globalizado.

A globalização, que foi estimulada pela queda da cortina de ferro, é um

termo que abrange a livre movimentação de capital, de mercadoria, de pessoas e

de idéias ao redor do mundo. É um processo que ocorre em escala global, em

partes do mundo lentamente e em outras partes rapidamente, mas esta em todos

os lugares.

Inovações tecnológicas e o incremento no fluxo comercial mundial são

uns dos motivos pelo crescimento do processo de globalização ter avançado tanto

nos últimos anos, de forma que esse é um dos temas mais comentados

atualmente.

É inegável, que não seja apenas um fenômeno econômico, vindo a

abranger também a cultura e a política.

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O rápido avanço e desenvolvimento tecnológico estreitou as relações

comerciais entre os países, noticias são divulgadas em tempo real, a revolução

nas tecnologias de informação: telefones, computadores e televisão, contribuindo

de forma surpreendente para a maior integração de todo o mundo, encurtando as

distâncias.

Muitos fatos estão mudando a História, velhos conceitos não são mais

aceitos, o Estado e as Guerras bélicas cada vez mais perdem a importância, quem

dita as regras agora é o mercado mundial, altamente globalizado.

Tudo isso quer dizer que tanto a opinião pública internacional quanto o

comportamento dos mercados passaram a desempenhar funções que antes não

tinham na redefinição dos limites possíveis de ação do Estado.

ANTIGLOBALIZAÇÃO:

Muitos acontecimentos ligados a globalização assim como o surgimento

de um novo mercado internacional, sem barreiras, as novas formas de dinheiro

que têm surgido ao longo dos últimos anos, o desaparecimento das fronteiras

terrestres, a falência do conceito de Estado, criaram o movimento Anti-

Globalização, pessoas que se opõe a Globalização por considerar que esta só traz

danos ao mundo.

INTERNACIONALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E

MUNDIALIZAÇÃO.

O que é Globalização? Internacionalização? Mundialização? São

perguntas que muitas pessoas fazem quando se deparam com estas palavras que

estão em evidência nos últimos anos. Todos os dias nos jornais, revistas e na

boca das pessoas.

Muitas são as teorias que se desenvolvem para esclarecer o significado da

globalização e compreender esse processo, daí a existência de vários termos e

reflexões sobre o assunto.

Segundo Renato Ortiz “Internacionalização é o aumento da extensão

geográfica das atividades econômicas através das fronteiras nacionais” (não é um

fenômeno novo)

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Globalização é uma forma mais avançada e complexa da

internacionalização (implica um grau de integração funcional entre atividades

econômicas dispersas)

O conceito se aplica à produção, distribuição e consumo de bens e de

serviços, organizados a partir de uma estratégia mundial, e voltada para um

mercado mundial. Ele corresponde a um nível e a uma complexidade da historia

econômica, no qual as partes, antes internacionais se fundem agora numa mesma

síntese: o mercado mundial.

O mesmo autor afirma que mundialização redefine a noção de espaço, isto

é, o que se entende por local e nacional se altera, já globalização ele define como

um processo social que atravessa os lugares de maneira diferenciada e desigual,

sua lógica não é o Estado-Nação, a globalização rompeu o elo Estado-Nação, daí

vem sociedade global, modernidade-mundo. (ORTIZ,1994, p.21 ).

CULTURA

É fundamental para a compreensão de diversos valores morais e éticos que

guiam nosso comportamento social, entender como estes valores se

internalizaram em nós e como eles conduzem nossas emoções e a avaliação do

outro, é um grande desafio.

A cultura é o desenvolvimento intelectual do ser humano, são os costumes

e valores de uma sociedade. Quando falamos em cultura estamos nos referindo

mais especificamente ao conhecimento, desde que o Homem adquiriu a

capacidade de agir, pensar e falar aprendeu também a se comunicar e mostrar

suas referencias através de símbolos, gestos, rituais, dança e arte.

Cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um

povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade. É um processo

em permanente evolução, diverso e rico. É o desenvolvimento de um grupo

social, uma nação, uma comunidade; fruto do esforço coletivo pelo

aprimoramento de valores espirituais e materiais. É o conjunto de fenômenos

materiais e ideológicos que caracterizam um grupo étnico ou uma nação

Como resultado da evolução biológica, a humanidade conseguiu a capacidade de produzir cultura em grande escala e por sua vez de tornar-se o produto de suas culturas. A cultura como a vida começou

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de maneira muito simples e humilde. Como a vida, ela cresceu gradualmente e assumiu uma variedade cada vez maior de formas numa continuidade interrompida de formas preexistentes. (...) A cultura é, portanto, um comportamento adquirido. (HOEBEL; FROST, 1976, p.25)

Desde a Antigüidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças

de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos.

No entanto, logo os estudiosos concluíram que as diferenças de comportamento

entre os homens não poderiam ser explicadas através das diversidades

somatológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico quanto o

determinismo biológico foram incapazes de resolver o dilema, pois o

comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado chamado de

endoculturação, ou seja, um menino e uma menina agem diferentemente não em

função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.

Da mesma forma, as diferenças entre os homens não podem ser explicadas

em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou

pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper

em suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força

física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores.

Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias conquistou os

mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui

cultura.

Apesar da dificuldade que os antropólogos enfrentam para definir a

cultura, não se discute a sua realidade. A cultura se desenvolveu a partir da

possibilidade da comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos,

capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biológico. Isto significa afirmar

que tudo o que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de

imposições originadas fora da cultura.

A comunicação oral torna-se então um processo vital da cultural: a

linguagem é um produto da cultura, mas ao mesmo tempo não existiria cultura se

o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de

comunicação oral.

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A cultura desenvolveu-se simultaneamente com o próprio equipamento

biológico humano e é, por isso mesmo, compreendida como uma das

características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume

cerebral. Uma vez parte da estrutura humana, a cultura define a vida, e o faz não

através das pressões de ordem material, mas de acordo com um sistema

simbólico definido, que nunca é o único possível. A cultura, portanto, constitui a

utilidade, serve de lente através da qual o homem vê o mundo e interfere na

satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Embora nenhum indivíduo

conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento

mínimo para operar dentro do mesmo. Conhecimento mínimo este que deve ser

compartilhado por todos os componentes da sociedade de forma a permitir a

convivência dos mesmos.

A cultura estrutura todo um sistema de orientação que tem uma lógica

própria. Já foi o tempo em que se admitia existir sistemas culturais lógicos e

sistemas culturais pré-lógicos. A coerência de um hábito cultural somente pode

ser analisada a partir do sistema a que pertence. Todas as sociedades humanas

dispõem de um sistema de classificação para o mundo natural que constitui

categorias diversificadas e com características próprias.(Laraia,1997)

O OUTRO

Se reunirmos o sentido amplo e o sentido restrito, compreenderemos que a

Cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas

que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e

artística.

A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação,

os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e

os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as

instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes

diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as

festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo

isso constitui a Cultura como invenção da relação com o Outro. Em sociedades

como a nossa, divididas em classes sociais, o Outro é também a outra classe

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social, diferente da nossa, de modo que a divisão social coloca o Outro no

interior da mesma sociedade e definem relações de conflito, exploração,

opressão, luta. Entre os inúmeros resultados da existência da alteridade (o ser, um

Outro) no interior da mesma sociedade, encontramos a divisão entre cultura de

elite e cultura popular, cultura erudita e cultura de massa.

ETNOCENTRISMO

É uma atitude na qual a visão ou avaliação de um grupo sempre estaria

sendo baseado nos valores adotados pelo seu grupo, como referência, como

padrão de valor. Trata-se de uma atitude discriminatória e preconceituosa.

Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico sendo

considerado como superior a outro.

Não existem grupos superiores ou inferiores, mas grupos diferentes. Um

grupo pode ter menor ou maior desenvolvimento tecnológico se comparado um

ao outro, possivelmente, é mais adaptável a determinados ambientes, além de não

possuir diversos problemas que esse grupo "superior" possui.

RELATIVISMO CULTURAL

É uma ideologia político-social que defende a validade e a riqueza de

qualquer sistema cultural e nega qualquer valorização moral e ética dos mesmos.

O relativismo cultural defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. O "bem" coincide com o que é "socialmente aprovado" numa dada cultura. Os princípios morais descrevem convenções sociais e devem ser baseados nas normas da nossa sociedade. (HARRY, 1998 p.77).

IDENTIDADE CULTURAL

É possível, no atual contexto, articular identidade e globalização? É

preciso opor identidade a globalização? O contexto global representa

possibilidades ou ameaças à experiência local? Como compreender o tipo de

problema que a lógica global introduz no espaço-tempo da identidade? Como

enfocar a globalização de forma a entender o lugar que aí ocupa a experiência da

identidade?

A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre

indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns

como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros.

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É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias

fontes no tempo e no espaço. Identidades que não estão impressas em nossos

genes entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de

nossa natureza essencial, assim como nos definirmos dizemos que somos de uma

nação.

Stuart Hall acredita estar havendo uma mudança estrutural na sociedade,

uma descentração do sujeito que constitui uma “crise de identidade” onde as

pessoas estão perdendo “o sentido de si” “A questão da identidade está sendo

extensamente discutida na teoria social. Em essência, o argumento é o seguinte:

as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão

em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo

moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada "crise de

identidade" é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está

deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e

abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem

estável no mundo social. (HALL, 2006, p.104).

PÓS-MODERNIDADE E IDENTIDADE CULTURAL:

Segundo alguns estudiosos o homem se perde no meio de tantas

informações e acaba por não conseguir distinguir mais sua própria cultura

A lógica da identidade que assinala uma especificidade para cada um, diferenciando um Estado do outro, interage no sistema internacional com a lógica da globalização que dilui a fronteira entre o interno e o externo; reescrevendo em novos termos o jogo dialético de implicação mútua entre a “História do eu” e a “História do outro”. (LAFER, 2006, p.126).

A pós-modernidade é ainda a própria modernidade, porém, sem ilusões. A

modernidade está ligada diretamente aos novos paradigmas da sociedade,

agravada pelo fenômeno da globalização e das implicações desta, razão pela qual

também utilizamos a expressão liquidez, o que significaria falar das novas

tecnologias, da aceleração do tempo, da fragmentação do espaço e das

coletividades, provocando o crescimento do individualismo. (BAUMAN, 2000,

p121)

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O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o "eu real", mas

este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais

"exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem.

A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre o

"interior" e o "exterior" - entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de

que projetamos a "nós próprios" nessas identidades culturais, ao mesmo tempo

em que internalizamos seus significados e valores, tornando-os "parte de nós"

contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos

que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para

usar uma metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os

sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos

reciprocamente mais unificados e previsíveis.

Argumenta-se, entretanto, que são exatamente essas coisas que agora estão

"mudando". O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada

e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de

várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas.

Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais "lá

fora" e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as "necessidades"

objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças

estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual

nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório,

variável e problemático.

Esse processo produz o sujeito pós-moderno, como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora "narrativa do eu" A identidade plenamente identificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam,

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somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar ao menos temporariamente. (STUART HALL, 2006, p.99).

PREDOMÍNIO DAS “COISAS” SOBRE OS HOMENS

Por mais que uma cultura não absorva nada de outra, ela muda

internamente devido a globalização, pois uma das conseqüências sociais da

globalização é a obsessão pelo lucro, onde o ter se sobrepõe ao ser, reduzindo o

ser humano a competência que tem em seu trabalho, a competência que tem em

acumular bens, como consta no livro sociedade Global de Octavio

Ianni(1990,p.118) diz que o homem é obrigado assim a ficar a margem da função

global do mundo, a renunciar ao prazer em busca do rendimento...”

A vida econômica assume o aspecto do egoísmo racional do homo oeconomicus, da busca exclusiva do máximo de lucros, sem qualquer preocupação pelos problemas da relação humana com outrem e, sobretudo sem qualquer consideração pelo todo. Nessa perspectiva os outros homens tornar-se-ão, para o vendedor e o comprador, objetos semelhantes aos outros objetos, simples meios que lhes permite a realização de seus interesses e cuja qualidade humana única e importante será a capacidade para concluírem contrato e engendrarem as obrigações constrangedoras. (GOLDMANN, 1967, p.178).

Essa corrida em possuir muda a convivência social que agora esta baseada

em “poder econômico”, o que muda modos de ser, agir, sentir, imaginar podendo

levar o homem a uma solidão em meio a multidão transformando o homem em

individualista, abdicando de sua liberdade, sufocado sobre a pressão de precisar

sempre de mais.

Simmel diz que a existência do homem moderno está numa rede de

relações de interesses monetários, do qual ele (indivíduo) não pode existir sem.

Nesse sentido o dinheiro se tornou para o homem moderno um meio de

realização dos seus desejos mais íntimos,sendo, dessa forma, um meio de

condução para a felicidade. Assim, o homem moderno vive ativo em seu mundo,

sempre em busca do ganho de dinheiro para que sua felicidade, sua liberdade e

sua individualidade sejam alcançadas. É o que ele explica na sua obra: “Assim

como o dinheiro em geral fez surgir - como resulta,evidentemente da nossa

explicação – uma proporção radicalmente. Precisamente uma tal relação tem de

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gerar um forte individualismo, pois não é o isolamento em si que aliena e

distancia os homens, reduzindo-os a si próprios. Pelo contrário é uma força

específica de se relacionar com eles, de tal modo que implica anonimidade e

desinteresse pela individualidade do outro, que provoca o individualismo”.

(SIMMEL, 1998, p. 28)

PODER DO MERCADO

O mercado globalizado é um mercado desregulamentado, sobre o qual os

Estados possuem cada vez menos controle. Conforme Kaufmann (1999, p.09-

42), é um mercado privatizado, com tudo aquilo que implica na transferência das

decisões tocantes aos setores de primeira necessidade. Um mercado caracterizado

por uma competitividade exacerbada, que é invocada para proceder à fusões, às

reconfigurações de empresas. No contexto da globalização financeira, os

sucessos das bolsas são julgados mais importantes do que o investimento na

"riqueza das nações", quer dizer, na educação, na saúde ou na segurança. Trata-se

de um mercado do qual podem fazer parte somente as empresas de alta

intensidade tecnológica.

O processo de globalização e, mais particularmente, a desregulamentação

e a abertura econômica que o caracterizam, vêm sendo responsáveis por um

crescimento acentuado da volatilidade de capitais. Capitais podem ser aplicados

rapidamente em diferentes tipos de ativos financeiros e monetário num grande

número de países. A abertura permite ainda que os mercados financeiros e de

câmbio se comuniquem facilmente. O resultado é o que, na busca por lucros

fáceis e rápidos, os capitais se movem de um lado para outro. Como as moedas

ficam sujeitas a livres transações, suas cotações flutuam acentuadamente, criando

problemas internos aos seus países, e aos governos, que não podem realizar as

políticas econômicas desejadas. Além disso, a facilidade com que podem sair do

país provoca grande instabilidade financeira, uma vez que o sistema bancário

pode estar com um grande montante de ativos em divisas e as mudanças abruptas

de cotações e de montantes aplicados pode deixá-los de repente sem a reservas

necessárias.

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Os lucros obtidos nesse processo especulativo fogem do controle dos

países e das Autoridades Monetárias de cada país, tornando as tendências

econômicas mais imprevisíveis. Tal imprevisibilidade conduz ao tateamento,

pelo mercado, das melhores opções de aplicação de recursos e ao aparecimento

de novas opções de aplicação, inovações financeiras e produtos novos.

Entretanto, apesar de terem surgido para reduzir a incerteza, tais tateamentos e

inovações não fazem mais do que aumentá-la, ao proporcionar ainda mais

movimento de capital de um lado para outro, na ânsia de ganhar muito com

pequenas flutuações de preços, ou de se proteger contra perdas esperadas.

Finalmente, tais facilidades de ganhos especulativos em aplicações

internacionais acaba por representar uma punção de recursos que de outra forma

representariam investimentos na esfera produtiva, em desfavor, portanto, de

maior crescimento a médio e longo prazos.

Todos estes acontecimentos são fruto da desregulamentação, que tirou o

Governo do setor financeiro; da abertura, que liberou o câmbio e tirou as

barreiras às entradas de capital controladas pelo Estado; da queda do poder

financeiro do Estado, que reduziu sua atuação nas políticas anti-cíclicas da

economia.

DA SOCIEDADE NACIONAL PARA A SOCIEDADE GLOBAL:

À necessidade de um mundo globalizado se dá hoje, pelas políticas

econômicas, convenções sobre direitos humanos, convenções e acordos sobre

ambientes globais, acordos multilaterais, sobre o comércio e seus investimentos.

A interdependência mundial se torna cada dia mais clara em consequência

o Estado-Nação esta em declínio, e a discussão sobre a Sociedade Global ganha

espaço.

Pela noção de globalização pretende-se caracterizar a vida num mundo

global que tende ao rompimento ou à dissolução das fronteiras, das economias,

das culturas e das sociedades. (LOMBARDI , 2001, p.94)

Esta acontecendo no mundo varias revoluções da tecnologia da

comunicação, passamos a enxergar o mundo de outra forma através da aceleração

do conhecimento, da metamorfose do Estado Nacional, com o aumento do fluxo

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internacional as fronteiras começam a ficar menos rígidas, não tem como

controlar as informações, o fluxo econômico se tornou muito intenso, o Estado

não consegue controlar o que acontece dentro do seu próprio território.

Em seu livro Sociedade Global o autor Octavio Ianni destaca a crescente

importância dessa sociedade “tudo que é local regional, nacional e continental é

também determinada pela Sociedade Global em franca expansão.” Esse mesmo

autor afirma que o que esta ocorrendo no momento é a transição dessa sociedade

onde ainda vivem ao mesmo tempo o nacional e o Global “Uma sociedade

atravessada por nações e nacionalidades, etnias e classes sociais, empresas

transacionais e organizações multilaterais, estruturas de poder nacionais e

estruturas de poder supranacionais, geopolíticas, continentais e indústrias

culturais nacionais e internacionais.” (IANNI, 1990, p.27).

O NOVO CONTRATO SOCIAL

O Muro de Berlim não apenas separava uma cidade e um povo. Ele

simbolizava o mundo dividido pelos sistemas capitalista e socialista. A sua

destruição, iniciada pelo povo de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989, pôs

abaixo não apenas o muro material; mais do que isso, rompeu com o mais

significativo símbolo da Guerra Fria: a bipolaridade.

Assim como a mudança do mundo que hoje é coordenado pela

interdependência dos países onde são necessárias cooperações e negociações e a

guerra não cabe nesse contexto, se fez necessário o nascimento de um novo

contrato Social.

“Enquanto a globalização torna as fronteiras que separam os Estados mais

e mais permeáveis, o direito e as instituições globais, que unem a humanidade em

torno de objetivos comuns, ampliam as suas próprias fronteiras.

A globalização tem efeitos sobre a efetividade e a autonomia do poder

estatal, alterando o modelo do Estado soberano, provocando uma diluição da

soberania, que passa a ser compartilhada em um contrato social renovado, dando

origem a um novo paradigma que atende ao modelo da sociedade global.”

(MATIAS , 2005,p.63).

Esse novo contrato também tem sua força no enfraquecimento do Estado.

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O Estado perde parte de suas prerrogativas e funções. Enquanto ele, no

século passado, era uma espécie de pai de seus nacionais, tendo que velar pelo

bem-estar e pela proteção da economia interna, atualmente está envolvido numa

compreensão bem mais abrangente, na qual tem que velar para que a economia

interna caminhe no mesmo compasso da economia internacional. É uma espécie

de regulador, totalmente inserido nesse novo contexto. (IANNI, 1990, p.60).

Segundo Celso Mello (1997, p.73), “a figura do Estado tende a ser

substituída por forças mais atuantes que correspondam melhor as necessidades

políticas, econômicas e sociais do nosso século”

Segundo W. Hein, citado pelo mesmo Celso Mello (1997,p.75) “os

conceitos de Nação e Estado-Nação são produtos de processos históricos, que,

certamente, serão substituídos por outras formas de representação e organização.

Prenuncia o autor o surgimento de uma “estatalidade transnacional”.

GLOBALIZAÇÃO DESIGUAL A globalização desigual dos Estados é vista em termos como

“subdesenvolvidos”, “Em desenvolvimento” e até pouco tempo atrás “Terceiro

mundo”, países que não possuem estrutura suficiente e um ideal coletivo, mas

demonstram um desejo de melhora, África, Ásia e América Latina em sua

maioria sofrem com esses impasses. Como esses países de uma história sofrida

explorados, colonizados pelos países ricos podem ter a mesma chance no

processo de Globalização que depende de recursos financeiros altos para

sustentar a tecnologia avançada?

Assim como na expansão marítima a Europa precisava de novos

mercados, hoje esses mesmos países encontram-se saturados e precisam de novos

consumidores, a globalização traz a ligação desses países com uma comunicação

em tempo real, mas também com uma grande concorrência.

Através dos processos de concentração e centralização do capital os

principais setores da economia são controlados cada vez mais por um pequeno

grupo de empresas que fica cada vez mais poderoso. Os processos ocorrem

através de reinvestimentos das próprias empresas nos setores onde atuam

(concentração), ou através de fusões e incorporações de outras que sucumbem à

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concorrência (centralização). Várias são as razões para tal resultado. Existem

custos irrecuperáveis de instalação das empresas que desestimulam a saída de

firmas de um setor. Sociedade de Informação são aquelas nas quais são

amplamente utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e

informação a baixo custo, que alteram o modo de vida tanto no mundo do

trabalho como na sociedade em geral transformando assim, em uma sociedade de

aprendizagem.

É o caso de gastos em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de inovação e

imitação, que desestimulam a saída das firmas que já realizaram tais gastos. Esse

é o primeiro fator que conduz à concentração. Além disso, os gastos em pesquisa

e desenvolvimento são muitos elevados e são os mais concentrados do mundo,

expressando a concentração já existente e promovendo seu agravamento.

Finalmente, os custos de coordenação e de tecnologia de informação para operar

as redes de produção sofisticadas e internacionalizadas são também barreiras à

entrada de novas firmas, funcionando como terceira razão para o processo de

concentração do capital.

Tal processo de concentração do capital encontrou os setores mais fortes e

desenvolvidos nos países mais avançados. Com isso, cresce o hiato entre os mais

avançados - Alemanha ou Europa Ocidental, enquanto bloco, Estados Unidos e

Japão. A este processo, que amplia o hiato de renda e desenvolvimento entre os

países mais desenvolvidos e os demais, chamamos polarização. Para essa

polarização contribuíram o montante elevado de pesquisa e desenvolvimento que

os países mais ricos despendem, fundamental para o sucesso no processo de

globalização; a irreversibilidade dos investimentos muito elevados; e os

rendimento crescentes proporcionados pelo fato de terem chegado primeiro. O

processo de polarização mostra que a difusão da mudança tecnológica é grande,

mas é desigual e amplia as desigualdades.

Estas desigualdades são também ampliadas no interior de cada país,

mesmo aqueles que obtêm maior sucesso no processo de globalização. Elas

podem ser medidas por indicadores como taxa de desemprego, nível dos salários,

desigualdades de renda e deterioração das condições de trabalho.

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Contudo, a globalização traz seus conflitos e podemos dizer, concordando

com Richard Sennet, a crise da solidariedade, pois passa existir fechamento do

indivíduo num pequeno setor e o impede de ver os problemas globais, visto que o

desenvolvimento adotado pelas economias monetárias também vão ao sentido

contrário da solidariedade, surgindo à crise ética. (SENNETT, 2001, p.95)

Desta forma, as transformações na organização do trabalho estão

provocando desigualdade, como aparição de um novo fenômeno social, ou seja, à

exclusão da participação no ciclo produtivo. Neste sentido, os estudos sobre as

possibilidades que oferecem as novas formas de organização do trabalho,

indicam que elas poderiam incorporar de maneira estável só uma minoria de

trabalhadores, para os quais haveria garantias de segurança no emprego, em troca

de uma identificação total com a empresa e com suas exigências de reconversão

permanente aos demais, condição de extrema precariedade como contrata

temporários, trabalhos interinos, por tempo parcial e no extremo dessas situações

o desemprego.

Para a maior parte do Mundo, a globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demônio. Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, as estatísticas do PIB - pelo valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser. (STIGLITZ, 2002, p 36).

As teorias econômicas que assumem rendimentos crescentes mostram que

os maiores e mais desenvolvidos sempre têm vantagens e por isso tendem a se

manter na dianteira do processo de desenvolvimento que iniciaram. Assim, é

hora de pensar em padrões de desenvolvimento alternativos, que se preocupem

mais com a solução dos nossos problemas específicos

O “CHOQUE” DAS CIVILIZAÇÕES Enquanto vários estudiosos analisam a existência de uma perspectiva de

uma cultura global ou a afirmação e manutenção de muitas e novas ou velhas

formas de cultura no mundo, Huntington propõe um novo paradigma para a

política internacional.

Buscando desafiar as concepções tradicionais e modernas da política

internacional, ele apresenta uma nova concepção que denomina “choque das

civilizações”.

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Para Huntington (1994, p.25-51), desde a queda do muro de Berlim, os

conflitos internacionais decisivos não são mais de natureza ideológica, militar ou

econômica, mas entre culturas. E as unidades políticas entre as quais essas

relações de poder ou conflitos ocorrem passam a ser as unidades culturais, em

particular as civilizações.

Segundo Chiappin, a civilização é o “mais amplo agrupamento cultural de

pessoas e o mais abrangente nível de identidade cultural que se verifica entre os

homens, excetuando-se aquilo que distingue os seres humanos das demais

espécies. Define-se por elementos objetivos comuns, como língua, história,

religião, costumes e instituições, e também pela auto-identificação subjetiva dos

povos” Sob este enfoque, a clivagem civilizacional vai estabelecer o nível mais

geral deidentificação de um indivíduo, grupo ou nação, substituindo o critério da

nacionalidade.

A política internacional deixa de ser uma política de características

predominantemente ocidentais, marcada e coordenada por agentes, valores ou

instituições ocidentais, para tornar-se uma política entre culturas, e, portanto,

entre civilizações; em particular entre a civilização ocidental e as não-ocidentais,

e entre as não-ocidentais.

Nesta nova fase, a civilização ocidental terá de competir com as outras

civilizações não-ocidentais e estas serão agentes que lutarão para construir a

configuração e o arranjo institucional do sistema internacional. (Chiappin, 1994,

p.45).

De acordo com Huntington, na política das civilizações, as civilizações

não ocidentais já não são mais os objetivos e alvos da história ocidental, pois

agora se unem ao ocidente como agentes e sujeitos da história.

Dentro desta perspectiva, o Estado nacional continuará a ser o agente mais

poderoso dos acontecimentos mundiais. Mas ele também deverá ser visto como

membro de uma unidade mais fundamental, agora cultural, que se torna um novo

agente dos acontecimentos globais das civilizações.

Huntington rejeita o paradigma do mundo único ou da civilização

universal. Para ele, a espécie humana tem características comuns, que, no

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entanto, sempre foram compatíveis com a existência de culturas muito distintas.

O autor recusa a convergência do sistema internacional para uma única sociedade

ou Estado mundial. Sustenta que a história não terminou e que o mundo não é um

só. E a razão dessa multiplicidade de mundos é a dimensão cultural e

civilizacional que apregoa que a universalização da democracia liberal é uma

falácia, encontrando-se por detrás da idéia de que “o colapso da União Soviética

significa o fim da história e a vitória da democracia liberal em todo o mundo”

O que de fato importa para as pessoas não é a ideologia política ou o interesse econômico. Fé e família, sangue e crença, é com isso que as pessoas se identificam e é por isso que lutam e morrem. É por isso que o choque entre civilizações está substituindo a Guerra Fria como fenômeno central da política global. (Chiappin, 1994, p.49)

O autor faz referência ao pensamento de Huntington quanto à proposta de

Francis Fukuyama sobre o “fim” da história, segundo o qual, o paradigma da

democracia liberal foi elaborado no sentido de ser a única alternativa ao

comunismo. Seguindo esta reflexão, é de grande audácia imaginar que devido ao

fracasso do comunismo o Ocidente ganhou o mundo para sempre.

Outro argumento refutado por ele é o de que a modernização e o

desenvolvimento econômico têm um efeito homogêneo sobre o mundo,

favorecendo a produção de uma cultura moderna comum à cultura que tem

existido no Ocidente neste século. Apesar de aceitar que no mundo

contemporâneo as sociedades modernas têm sido as sociedades ocidentais,

Huntington recusa a identificação entre ocidentalização e a modernização.

O mesmo autor afirma que o atual estado do mundo é o de conflito, ao

contrário da visão de um mundo único, para qual esses conflitos se reduziriam,

devido à expansão até os limites do planeta, do liberalismo econômico.

A correção a ser feita na previsão dos defensores da tese do mundo único

é que os conflitos e violências entre Estados e grupos vão diminuir, mas apenas

no que diz respeito aos membros de uma mesma civilização. Em contrapartida,

devem aumentar para os membros de civilizações diferentes, pois ”quando dois

grupos fazem parte de uma mesma civilização, a probabilidade de conflito é

menor” (Chiappin, 1994, p.51).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Como podemos verificar nesse artigo, tanto podemos encontrar estudiosos

que se posicionam a favor como contra o processo de globalização.

Há, no entanto, aspectos tanto positivos quanto negativos na globalização.

No que concerne aos aspectos negativos há a referir a facilidade com que tudo

circula não havendo grande controle como se pode facilmente depreender pelos

atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos da América. Esta globalização

serve para os mais fracos se equipararem aos mais fortes pois tudo se consegue

adquirir através desta grande auto estrada informacional do mundo que é a

Internet. Outro dos aspectos negativos é a grande instabilidade econômica que se

cria no mundo, pois qualquer fenômeno que acontece num determinado país

atinge rapidamente outros países criando-se contágios que tal como as epidemias

se alastram a todos os pontos do globo como se de um único ponto se tratasse. Os

países cada vez estão mais dependentes uns dos outros e já não há possibilidade

de se isolarem ou remeterem-se no seu ninho, pois ninguém é imune a estes

contágios positivos ou negativos. Como aspectos positivos, temos sem sombra de

dúvida, a facilidade com que as inovações se propagam entre países e

continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens.

É impossível oferecer afirmações conclusivas ou fazer julgamentos

seguros para afirmar até que ponto a globalização coloca em risco a cultura de

um povo, a única certeza é que esta acontecendo uma mudança estrutural na

sociedade modificando a estrutura de muitos conceitos, como a de Soberania que

agora se deve a cooperação e não mais a imposição.

Alem das trocas de mercadorias, cresce a evolução das relações sociais, a

globalização é um processo de aceleração do tempo histórico, o tempo esta

correndo mais rápido, sabemos de tudo no mundo no exato momento desses

acontecimentos, pois não existem mais fronteiras para a comunicação, o tempo e

espaço é real, o que promove profundas alterações nas relações do homem,

gerando conhecimento de varias culturas, o que não significa de imediato a

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adesão a essa cultura, mas talvez uma maior tolerância gerada por esse

conhecimento

É inegável que esta ocorrendo uma mudança radical nos valores da

civilização, o individualismo crescente, uma ruptura na forma de pensar ligada a

tecnologia, em como o mundo passa a se conectar, é um processo, passando por

cima das diferenças, a cultura se transformando aos poucos, é a adequação de

uma cultura a outra cultura que vai alem das fronteiras, as culturas já nascem de

ligações de varias culturas, nascem de uma mesma raiz e se transformam, pois as

pessoas estão se transformando.

Todo esse intercambio de produtos e trocas de informação, traz a

preocupação em um direito supranacional e da defesa dos direitos humanos por

uma possível Sociedade Global, tais direitos já são observados em convenções e

tratados porem sem sanções expressas.

A globalização assim como qualquer outro fenômeno tem vantagens e

desvantagens e só o conhecimento nesse assunto pode nos levar a aproveitar as

vantagens e tentar descartar o que for ruim.

O processo da globalização tanto pode promover os Homens, a sua

dominação, o esgotamento da diferença e a universalização cultural, como

aproximar os Homens e as culturas entre si.

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