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Os lapidários medievais e as doenças femininas: um estudo de caso a partir do Liber Lapidum do MS Rawlinson A 273 (c. século XIV) Raíssa Rocha Bombini 1 [email protected] Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Ana Maria Alfonso-Goldfarb [email protected] Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Introdução O presente trabalho se ocupa, de forma particular, dos lapidários medievais, ou ainda, das coletâneas de pedras e gemas que eram utilizadas como amuletos e talismãs, além dos estudos que os fundamentavam. Nosso enfoque está em entender a relação que possa existir entre determinadas pedras, destinadas à saúde da mulher, as quais aparecem reproduzidas na literatura dos lapidários, e o período de calamidade do século XIV, quando a Peste Bubônica afligiu as Ilhas Britânicas. Defendemos que essa relação se daria porque, na época das pestes, haveria uma maior preocupação e cuidado com a diminuição populacional, o que pode vir a justificar a transmissão do conhecimento sobre determinadas pedras para a proteção feminina. Para o nosso objetivo, buscamos trazer à tona um lapidário medieval anônimo até o momento - pouco conhecido pelos estudiosos, i.e. o Liber Lapidum (f. 64v f. 68v) presente no manuscrito bodleiano Rawlinson A 273, datado do século XIV. Sob a luz de uma nova perspectiva de análises, esse lapidário - esquecido no tempo e nas prateleiras da biblioteca - torna-se revelador, contribuindo imensamente para a finalidade da pesquisa. Vale esclarecer que não se trata de uma simples variante do 1 Trabalho financiado por bolsa Capes e com apoio de projetos CNPq e FAPESP. As autoras agradecem a Bodleian Library pelo envio do material.

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Os lapidários medievais e as doenças femininas: um estudo de caso a partir do

Liber Lapidum do MS Rawlinson A 273 (c. século XIV)

Raíssa Rocha Bombini1

[email protected]

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Ana Maria Alfonso-Goldfarb

[email protected]

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Introdução

O presente trabalho se ocupa, de forma particular, dos lapidários medievais, ou

ainda, das coletâneas de pedras e gemas que eram utilizadas como amuletos e talismãs,

além dos estudos que os fundamentavam. Nosso enfoque está em entender a relação que

possa existir entre determinadas pedras, destinadas à saúde da mulher, as quais

aparecem reproduzidas na literatura dos lapidários, e o período de calamidade do século

XIV, quando a Peste Bubônica afligiu as Ilhas Britânicas. Defendemos que essa relação

se daria porque, na época das pestes, haveria uma maior preocupação e cuidado com a

diminuição populacional, o que pode vir a justificar a transmissão do conhecimento

sobre determinadas pedras para a proteção feminina.

Para o nosso objetivo, buscamos trazer à tona um lapidário medieval – anônimo

até o momento - pouco conhecido pelos estudiosos, i.e. o Liber Lapidum (f. 64v – f.

68v) presente no manuscrito bodleiano Rawlinson A 273, datado do século XIV. Sob a

luz de uma nova perspectiva de análises, esse lapidário - esquecido no tempo e nas

prateleiras da biblioteca - torna-se revelador, contribuindo imensamente para a

finalidade da pesquisa. Vale esclarecer que não se trata de uma simples variante do

1 Trabalho financiado por bolsa Capes e com apoio de projetos CNPq e FAPESP. As autoras agradecem a

Bodleian Library pelo envio do material.

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conhecido lapidário de Marbode2, apesar de seu título aparecer em bases de dados

ligado constantemente a este documento.

Pelo viés documental, pensando as fontes e relações intrínsecas do texto, o Liber

Lapidum interessa-nos aqui por dar testemunho da forma como se tratava, a partir de

amuletos, a vitalidade feminina e, particularmente, a proteção da gestante e da lactante.

Entre as cinquenta pedras descritas nesse lapidário, há três que contêm essa proteção.

São elas a Jaspide (Jaspe)3, a Ethide (Aetite)4 e a Galactica5. No presente trabalho,

analisamos especialmente uma, considerada de grande importância pelo autor anônimo:

a pedra Galactica, também chamada de Galaritides, Galactides, Galaxias, entre muitas

outras variações e nomes (LECOUTEUX, 2012: 137).

Sobre a documentação

Antes de tratarmos propriamente da pedra, é importante situá-la em seu suporte

físico e textual, isto é, o manuscrito Rawlinson A 273, em primeiro lugar, e o Liber

Lapidum, em segundo. Com 145 fólios, o manuscrito A 273 é um documento do tipo

códex e encontra-se, atualmente, na Bodleian Library, dentro da coleção de Manuscritos

Rawlinson. Ainda não foi descoberto nenhum patrono, copista ou autor da obra. Nem

mesmo o colofón cumpre com sua função de trazer esses nomes. Da mesma forma, não

foram descobertas possíveis cópias que mostrem a família à qual esse manuscrito

pertence, informação que também a Bodleian Library careceu em fornecer. Assim

sendo, no momento, o MS Rawlinson A 273 continua de procedência indeterminada,

exceto pela provável origem inglesa, identificada pela paleografia e pela frequência em

que aparecem, nas cartas que compõem o manuscrito, os nomes do Bispo da Cantuária,

dos reis Edward I, Edward II e Edward III, além de acontecimentos de seus reinos.

2 O Lapidário de Marbode de Rennes, originalmente intitulado De Lapidibus, apesar de aparecer com

outros nomes em diferentes bases, é um trabalho de referência que une diversas tradições de lapidários.

Do final do século XI, é composto em versos e descreve a aparência, a localização e as propriedades de

dezenas de pedras. Teve grande influência na literatura dos lapidários produzidos nos séculos posteriores. 3 Essa pedra tem a virtude de facilitar o parto. Sobre a Jaspe, ou Jaspis, ver: LECOUTEUX, Claude. A

Lapidary of Sacred Stones: Their Magical and Medicinal Powers Based on the Earliest Sources. p. 159. 4 Essa pedra tem as virtudes de ajudar no momento do parto e prevenir aborto. Sobre a Aetite, conhecida

como “pedra de águia” ou “pedra grávida”, ver LECOUTEUX, Claude. A Lapidary of Sacred Stones:

Their Magical and Medicinal Powers Based on the Earliest Sources. p. 36 a 40. 5 Não foram encontrados nomes correspondentes em português para essa pedra.

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Sobre o período em que o manuscrito teria sido produzido, sustenta-se que seja a

segunda metade do século XIV pela presença de algumas datas dentro de determinadas

cartas, como: Responsio Edw. III. ad papam Benedictum XII. De pace cum Philippo de

Valesio, Franciae rege, tractanda, de 30 Jan. 1340 (fol. 112v); Litera imperatoris

(Ludovici IV., de Bavaria,) missa Regi Angliae de pace cum Francia tractanda; de 14

ou 25 de Junho de 1341 (fol. 115v); Litera missa Regi Angliae per papam Clem. VI, ad

pacem exhortans; de Feb. 1347 (fol. 116v).

Apesar de numerosas, as cartas compõem apenas uma parte do manuscrito.

Incialmente, há três libelli ligados a (pseudo-)Aristóteles (Secreta Aristotelis, f. 1r;

Aristotelis liber de pomo, f. 27v; Planctus philosophorum de morte Aristotelis, f. 31r),

seguidos por dois ligados à figura do imperador Alexandre, o Grande (Historia

Alexandri imperatoris, f. 31r; De mirabilibus mundi, tempore Alexandri, f. 61r).

O Liber Lapidum, estudado aqui, encontra-se na sequência, junto ao pequeno

tratado astronômico Omnia signa lunae per annum (f. 68v). Em seguida, há dois

tratados “filosóficos” (Altercatio philosophorum, f. 69v; De secretis secretorum

philosophiae, f. 76r) e um alquímico (Opus imperfectum, f. 80v). A partir daí, os textos

que se seguem, entre os quais estão as cartas, aparecem ora ligados a temas religiosos,

ora ligados ao reinado inglês e seu território.

Mesmo parecendo, à primeira vista, haver uma aleatoriedade nos tratados,

acreditamos que exista uma lógica na presença de cada texto, assim como na sequência

em que estão colocados. Parecem dar testemunho de uma tradição literária muito antiga,

que já foi comentada pelo historiador medievalista Lynn Thorndike, em sua obra A

History of Magical and Experimental Sciences, e, mais recentemente, por uma das

autoras do presente estudo, em sua obra Livro do Tesouro de Alexandre. Essa tradição,

identificada e estudada por Alfonso-Goldfarb no manuscrito que dá nome ao seu livro,

traz as figuras de Aristóteles/Alexandre em obras medievais, preferencialmente

herméticas, expressando uma relação de mestre/discípulo na transmissão de saberes

(ALFONSO-GOLDFARB, 1999: 28). No mesmo sentido, Lynn Thorndike nos relata

que essa tradição relacionava o Imperador e o Filósofo, cooperando entre si, à busca de

conhecimentos vindo de diversas partes do mundo conquistado (THORNDIKE, 1923:

246).

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Plínio, o Velho, em sua principal obra, Naturalis Historia, apresenta um breve

comentário a respeito de Aristóteles e Alexandre que exemplifica o que foi explicitado

acima:

Alexandre, o Grande, estando inflamado com um forte desejo de se

familiarizar com a natureza dos animais, confiou a realização desse

desígnio a Aristóteles, um homem que detinha o mais alto grau em

todos os ramos da aprendizagem; para qual finalidade colocou sob o

seu comando alguns milhares de homens em todas as regiões da Ásia

e da Grécia (...). (Tradução nossa) (PLÍNIO, Nat. Hist., VIII, 17)

Roger Bacon, já no século XIII, nos dá testemunho da mesma história de Plínio,

porém ampliando a busca de conhecimento de Alexandre e Aristóteles para além dos

animais: “Aristóteles, com a autoridade de Alexandre, mandou dois mil homens para

ganhar conhecimento experimental de todas as coisas que estão na face da terra”

(BACON, Opus maius, VI, I: 585). Por fim, no final do século XIII ou início do XIV,

Marcus Grecus, em seu Liber Ignium, inclui o mestre e o discípulo nas expedições,

comentando que Aristóteles viajou com Alexandre, descobrindo coisas novas

(THORNDIKE, 1923: 252 e 253).

Passemos, então, à relação do que foi dito até aqui com o lapidário do MS

Rawlinson A 273, ou ainda, à lógica que possa existir entre os textos inicias do

manuscrito, isso é, de (pseudo-)Aristóteles e Alexandre, com o Liber Lapidum. Tudo

indica que essa relação se apresenta duplamente: em primeiro lugar, as expedições

alexandrinas em busca de novos conhecimentos, organizadas por Aristóteles, passavam

por regiões que são a origem de muitas pedras apresentadas no lapidário. Por exemplo,

um dos lugares que teriam sido visitados por Alexandre e seus homens foi a Índia. Era

bastante conhecida no medievo ocidental uma suposta carta de Alexandre a Aristóteles,

saída das histórias sobre o Imperador, intitulada Alexandri Magni Epistola ad

Aristotelem de mirabilibus Indiae (THORNDIKE, 1923: 555). Nesse sentido, são

apresentadas como de origem indiana as pedras Berillo, Panteron, Adamante e Jaspide.

Em segundo lugar, pensando a transmissão de conhecimentos sobre as pedras e a

ordem dos textos no manuscrito – primeiro os aristotélicos e depois os alexandrinos, ou

seja, primeiro do mestre, depois do discípulo - o Filósofo, que “detinha o mais alto grau

em todos os ramos da aprendizagem”, parece entregar os saberes das pedras, que seus

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dois mil homens reuniram, ao Imperador, que financiou as expedições. Assim, o ciclo se

completa. Thorndike nos traz um relato medieval que acreditamos poder sustentar essa

relação: em um manuscrito do século XV (Laud. Misc. 708), temos a descrição das

virtudes e composições de quatro pedras filosóficas que “teriam sido enviadas por

Aristóteles a Alexandre” (THORNDIKE, 1922: 235). Essa descrição está na sequência

de uma tradução do tratado pseudo-aristotélico Secretum secretorum, que também está

presente no MS Rawlinson A 273.

Outra relação intertextual que levantamos aqui se dá entre o tratado pseudo-

aristotélico De pomo (fol. 27v) e o Liber Lapidum. O tratado, aparentemente traduzido

no século XIII, traz a figura de Aristóteles em seu leito de morte ensinando a seus

discípulos questões sobre o universo e sobre a própria morte. Em meio a seus

ensinamentos, o Filósofo comenta a influência dos corpos celestes sobre o mundo

inferior, ou sublunar. Ainda que apareça associada a Aristóteles, a influência celestial

ou a magia astral, que foi amplamente estudada na Idade Média, tem suas origens na

Antiguidade. O estudioso David Pingree, que dedicou muito do seu trabalho aos estudos

celestes dos povos antigos, comenta que os conhecimentos astrológicos e astronômicos

foram sendo passados entre as culturas, não de forma linear, mas, sim, em trocas

constantes6 (PINGREE, 1989: 227).Também discute como a religião dos (pseudo-

)Sabeans de Harran - uma mistura de ideias mesopotâmicas, indianas, iranianas,

neoplatônicas e ptolomaicas – gerou a magia astral, a qual foi descrita em textos árabes

entre os séculos IX e XIII, espalhando-se pelo mundo islâmico e impactando o medievo

cristão através das traduções ao latim. Essa magia explicaria, tanto no oriente quanto no

ocidente, a influência dos corpos celestes sobre o mundo sublunar (PINGREE, 2002: 9).

De acordo com o conhecimento que foi sendo produzido nesse caldeirão de culturas

antigas, conhecido por hermeticismo, a influência astral ou celeste viria dos poderes

planetários, ou ainda, dos espíritos planetários, que são poderes intermediários entre a

divindade máxima e o homem. Segundo o estudioso, esses espíritos eram criaturas

divinas enviadas por Deus às esferas celestes para supervisionar os eventos sublunares

(PINGREE, 2014: 481).

6 Sobre esse tema, ler PINGREE, D. Classical and Byzantine Astrology in Sassanian Persia. Dumbarton

Oaks Papers, v. 43, p. 227-239, 1989.

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Aparentemente, as ideias de magia astral adentraram o ocidente cristão não

apenas em decorrência das traduções, a partir do árabe, de tratados que apresentavam a

influência celeste, mas também pelo vácuo que o aristotelismo deixou para a filosofia

escolástica quanto aos quatro elementos e suas qualidades, que compunham todas as

coisas do mundo sublunar, não serem suficientes para explicar todos os fenômenos

naturais. Algumas operações naturais geradas pelos corpos inferiores não podiam ser

reduzidas a suas qualidades primárias ou à mistura elemental (complexio) e certas

qualidades não podiam ser percebidas pelos sentidos humanos, ou ainda, não eram

manifestas. Assim, os efeitos dependiam de virtudes, propriedades ou poderes

chamados “ocultos”. O estudioso Nicolas Weill-Parot, em seu artigo Astrology, astral

influences, and occult properties in the Thirteenth and Fourteenth centuries, mostra-nos

que a busca pela causa das virtudes ocultas, nesse período, transcendeu o mundo

sublunar e passou aos astros e esferas celestes (WEILL-PAROT, 2010: 202),

fortalecendo-se pela magia astral que chegava do Oriente Médio.

Sem sermos injustos com Aristóteles, é importante notarmos, também, que uma

parte de seu pensamento pode ter encorajado práticas astrológicas e mágicas. Na obra

De generatione et corruptione, II, 9, o filósofo nos apresenta a ideia de que entre a

madeira (matéria) e a cama (forma) há um poder agente, pois o elemento não pode

produzir algo por si só. Essa ideia teria sido adaptada posteriormente até chegar à noção

de que as formas – sublunares - eram governadas por formas supralunares, ou ainda,

inteligências associadas às esferas celestes.

Voltamos, assim, ao De Pomo, presente no MS Rawlinson A 273, ao Filósofo

em seu leito de morte comentando a influência dos corpos celestes sobre o mundo

sublunar e, enfim, à sua relação com o Liber Lapidum. A forma como as gemas,

enquanto amuletos, eram entendidas passava pelas noções explicitadas até aqui. Como

veremos mais adiante, as pedras desse lapidário contêm virtutes que não se explicam

pela complexio, mas sim pelas influências celestes.

Isso fica mais claro na segunda parte do lapidário7, identificada entre os fólios

f.67v e 68v. Esta tem como fonte o “Lapidário Techel/Azareus” que é, na verdade, um

7 Dividimos o Liber Lapidum em duas partes, uma vez que são dois textos diferentes, de fontes distintas.

A primeira parte compreende o texto entre f. 64v a 67v, enquanto a segunda compreende o texto entre

f.67v e 68v.

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texto composto, ou ainda, a união de materiais de duas tradições, Techel e Azareus,

figuras às quais foi atribuída a obra. Esse complexo, estudado a fundo recentemente por

Katelyn Mesler sob a visão judaica, encontra-se fragmentado por vários manuscritos

dos séculos XIII e XIV (MESLER, 2014: 76), entre eles, o Rawlinson A 273. Sua

característica é apresentar as imagens que deveriam ser feitas em pedras para atribuí-las

às virtudes celestes. Não há menção à origem, aparência ou etimologia da gema, ao

contrário da primeira parte do Liber Lapidum (f. 64v a 67v).

A primeira parte é bastante distinta do Complexo Techel/Azareus, parecendo

estar fundamentada em um conhecimento tácito. Como veremos adiante, seu texto traz

informações parecidas com outros lapidários, antigos e medievais, que também

apresentam as virtudes das pedras. Contudo, essas obras não são copiadas, nem citadas

literalmente. Alguns desses lapidários-fonte são o de Plínio, o Velho, Dioscórides,

Solinus, Isidoro de Sevilha e Marbode, além do Lapidário de Alfonso X.

A respeito dessas fontes, é importante notarmos que, assim como os saberes

astrológicos comentados anteriormente, o conhecimento sobre pedras e gemas também

tem suas raízes na antiguidade remota de saberes indianos, mesopotâmicos e egípcios.

A menção desses lugares nas origens das pedras do Liber Lapidum é um indício dessa

longa tradição, que foi passada, então, à cultura helênica, com autores como Teofrasto,

Dioscórides e Meliteniotes e, posteriormente, aos autores romanos, como Plínio, o

Velho, e Solinus. A extensa linhagem de lapidários com que nos defrontamos aqui,

cujos conhecimentos são transmitidos e tecidos a cada geração, parecem indicar a

importância que as pedras amuletos tinham para as sociedades. Não seria diferente para

a Idade Média, que transmite esses conhecimentos em obras como de Isidoro de Sevilha

e Marbode, mas discutindo o papel dos estudos mágicos no meio cristão escolástico.

Em trabalhos mais recentes a respeito dos amuletos e talismãs medievais,

Charles Burnett mostra que o estudo dos talismãs (imagines) esteve entre as sete artes

liberais durante boa parte da Idade Média. Em algumas obras, como Disciplina

clericalis, de Petrus Alfonsi (séculos XI e XII), e De divisione philosophiae, de

Dominicus Gundissalinus (século XII), a necromancia ou nigromancia, entendida como

uma tradução comum para a palavra árabe sihr, ou “magia”, aparece como parte

importante do conhecimento. Vale ressaltar, inclusive, que em De divisione

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philosophiae, Gundissalinus reorganiza a aristotélica árvore de conhecimentos e inclui

nigromancia secundum physicam, talismãs e alquimia dentre o que deveria ser

aprendido (BURNETT, 1996: 2 a 4).

A diferença entre nigromancia e talismãs na obra de Gundissalinus parece fazer

referência a uma ampla discussão que ocorreu na Idade Média a respeito do que era

permitido ou não para o Cristianismo em termos de magia com pedras, isto é, aquela

prática que envolve os poderes celestes elevados ou que envolve a invocação de

espíritos e demônios, criaturas do mundo sublunar (BURNETT, 1996: 5). Uma das

maiores autoridades nesse assunto foi (pseudo?)Alberto Magno, que discutiu os três

tipos de magia talismânica em sua obra Speculum astronomiae. O primeiro seria

abominável, por usar fumaças em rituais e invocações de demônios. O segundo seria

detestável, por empregar personagens, nomes (estrangeiros) e exorcismos, indo contra a

fé cristã. O terceiro tipo, avesso aos anteriores, retira seu poder apenas das esferas

celestes, sendo, então, permitido (BURNETT, 1996: 3).

Segundo Pingree, os tratados abomináveis seriam derivados da magia astral

elaborada pelos (pseudo-)Sabeans de Harran nos séculos IX e X, conforme explicamos

anteriormente. Trazem a criação de talismãs utilizando magia baseada nos momentos

astrológicos apropriados, com rituais e preces ao planeta regente, que enviaria seus raios

às pedras. A magia permitida é igualmente derivada dos antigos conhecimentos

mesopotâmicos, também retirando seu poder dos astros. Entretanto, esse poder dado aos

talismãs depende apenas do elemento apropriado, de sua relação com o planeta e do

momento astrológico correto, eliminando-se os rituais com preces dos Sabeans.

(PINGREE, 2014: 480 e 481).

Uma vez que o Liber Lapidum não contém em seu texto a invocação de espíritos

e demônios ou a prece aos planetas regentes, apesar de retirar dos astros a virtude das

gemas, podemos considerar que estava presente no meio cristão inglês do século XIV

por pertencer à terceira categoria explicitada por Alberto Magno. Tudo indica que tenha

sobrevivido até os nossos dias por não ser uma ameaça aos dogmas da Igreja,.

Uma das poucas menções a esse lapidário está em um trabalho de 1922, escrito

por Joans Evans, que foi Bibliotecária do St. Hugh’s College, em Oxford, intitulado

Magical Jewls in the Middle Ages and Renaissance particularly in England. Nesse

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compêndio, Evans traz informações sobre diversos lapidários medievais ingleses,

comentando brevemente suas particularidades. Sobre o Liber Lapidum, a autora escreve:

Um lapidário em prosa em latim é dado em um manuscrito inglês do

século XIV na Bodleian Library. Esse pertence à categoria popular; dá

destaque às virtudes sobrenaturais sobre as medicinais e registra um

número considerável de fábulas sobre pedras. Inclui a turquesa e

várias das pedras encontradas mais comumente nos lapidários do que

na vida cotidiana, e embora não possua nenhuma característica de

interesse particular, representa bem o lapidário comum do século XIV.

(Tradução nossa) (EVANS, 1922: 70)

Quando Joans descreve esse lapidário inglês como comum ou corrente e

composto por fábulas e virtudes sobrenaturais acima das medicinais, a autora paga

tributo ao período em que se insere, cujo viés historiográfico é característico do século

XIX e início do XX. Seus juízos de valor às pedras e à orientação em geral do lapidário

se explicam aí. Por isso, ainda que tenha sido considerado um tanto desinteressante pela

autora, as gemas do Liber Lapidum merecem ser compreendidas não em suas

características sobrenaturais, mas no período e na tradição literária a qual pertencem.

Sobre a pedra para proteção feminina

Passamos, finalmente, à questão principal do trabalho. Das mais diversas virtutes

que as pedras do Liber Lapidum contêm, algumas são destinadas a aplacar dores em

partes específicas do corpo, expelir venenos, tirar a febre, afastar visões fantásticas,

afastar doenças, tornar alguém amável, curar os insanos etc. Contudo, para o propósito

desta pesquisa, interessa-nos analisar uma daquelas pedras que contribuíam com a saúde

feminina e, por extensão, à sobrevivência das crianças: a gema Galactica. Conforme

dito anteriormente, há outras duas pedras mencionadas no Liber Lapidum que também

apresentam virtudes destinadas à saúde da mulher, i.e. a Jaspide (Jaspe) e a Ethide

(Aetite), que não serão cerne do presente trabalho, mas que também dão testemunho do

cuidado que houve com a população em épocas de pestes e fome.

A Galactica tem seu nome originado da palavra grega para leite, gala (γάλα), e,

por isso, é conhecida como a “pedra (do) leite”. É dita ser um quartzo branco ou

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acinzentado de cor uniforme, encontrada, antigamente, nos Rios Nilo e Achelous, ou

Aqueloo8 (LECOUTEUX, 2012: 135).

Passando ao nosso documento, o anônimo autor do Liber Lapidum traz as

seguintes informações a respeito dessa gema: “A gema Galactica é a mais preciosa das

gemas. É dita ter sozinha as virtudes de todas as pedras. De cor acinzentada. Dá máxima

abundância de leite à portadora. Dá um parto fácil. (...) Afasta coceira e outras pestes.

(...) É originada do rio Nilo e Achelous” (Tradução nossa) (MS RAWLINSON A 273, f.

65r).

Antes de fazermos qualquer análise, é essencial mostramos como algumas das

principais fontes dos Liber Lapidum transmitiram o conhecimento a respeito dessa

pedra através dos tempos, até chegar no século XIV e, respectivamente, ao manuscrito

Rawlinson A 273.

Começamos pela obra Naturalis Historia, de Plínio, o Velho. Nessa grande obra,

do século I, o autor menciona brevemente a pedra, que aparece com os nomes de

Galactitis (“pedra do leite”), Leucogæa (“terra branca”), Leucograpritis (“pedra branca-

listrada”) e Synnephitis (“nublada”). A respeito dos nomes, o estudioso W. L.

Hildburgh, escrevendo em meados do século passado sobre amuletos relacionados à

lactação na Espanha, levanta a hipótese de que Plínio teria confundido e amalgamado

mais de uma pedra naquela conhecida por Galactitis (HILDBURGH, 1951: 437). As

informações apresentadas sobre a pedra no Naturalis Historia são:

Galaxias. Galactitis, leucogæa, leucograpritis, ou synnephitis.

Gallaica. Gassinade. Glossopetra. Gorgonia. Goniaæa. –

Galaxias, chamada por alguns de "galactitis", (…) é da cor

uniforme do leite; outros nomes dados a ela são leucogæa,

leucographitis, e synnephitis, e, quando dissolvida na água,

tanto no sabor e na cor maravilhosamente assemelha-se ao leite.

Essa pedra estimula a secreção do leite em mulheres que estão

amamentando, é dito; além disso, preso ao pescoço das

crianças, produz saliva e se dissolve quando colocado na boca.

Dizem também que priva as pessoas de sua memória: é

produzida nos rios Nilo e Achelous. (Tradução nossa)

(PLÍNIO, Nat. Hist., XXXVII, 59)

8 Rio localizado na região oeste da Grécia.

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Diferentemente de Plínio, Dioscórides, também no século I, apresenta uma pedra

intitulada “Galaktites Lithos”, associada ao giz ou à cal, com outras características.

Segundo o autor, a pedra seria assim chamada por liberar algo leitoso. Sua cor seria

como das cinzas e seu gosto doce. Entre suas virtudes, não há qualquer uma destinada à

saúde feminina, mas sim à cura de úlceras oculares. Para esse propósito, teria que ser

dissolvida em água (DIOSCÓRIDES, Greek Herbal, V, 150).

A pedra Galactica também aparece na obra de Solinus, aproximadamente do

século IV, (Solinus, G. Iulii Solini, Collectanea Rerum Mirabilium - Solinus Advento

Salutem 25, VII) e em Isidoro de Sevilha, dos séculos VI e VII (Isidori Hispalensis

Episcopi Etymologiarum Siue Originum - Liber XVI: De Lapidibus et Metallis). Em

ambos os lapidários, é dada à pedra a virtude feminina de enriquecer os seios da mulher

lactante que a trouxer consigo. Já em Marbode, nos séculos XI e XII, (Libellus de

Lapidibus preciosis, Tit.LXI), uma informação importante ao nosso estudo é

acrescentada, isto é, o fato de a pedra dar à mulher um parto fácil, o que também

aparece na Galactica do Liber Lapidum.

Tudo indica que essa pedra também esteja presente no famoso Lapidário de

Alfonso X, do século XIII, porém com o nome zarocan:

Do primeiro grau do signo de Gêmeos está a pedra que dizem

zarocan. Esta é de cor branca de clara brancura, por isso parece um

osso bem gasto. (...) A natureza é quente e úmida. E há muitas minas

dela pelo mundo, mas as maiores são as da terra de Barbaria e de

Espanha. E são encontradas nas margens do mar e dos rios. A virtude

desta pedra é tal que faz crescer muito o leite para as mulheres que a

trazem. E o mesmo faz a outro animal qualquer. E, portanto, os

bárbaros fazem suas mulheres as trazerem nos pescoços (...). E é útil,

além disso, para o mesmo quando a colocam em electuários e a dão de

comer. E é boa contra melancolia, e serve muito às úlceras que se

fazem nos olhos. E a estrela que está na ponta da Ursa Menos, a que

chamam o “Cabreito de Benanays”, tem poder sobre essa pedra, e

dela recebe a força e a virtude. E quando esta estrela estiver no

ascendente, mostra essa pedra mais claramente suas obras. (Tradução

nossa) (ALFONSO X, Lapidario, 61: 63-64)

Apesar de a zarocan ter a mesma virtude feminina apresentada nos lapidários de

origem grega, esta traz, também, diferenças cruciais para com os outros textos, tal como

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sua origem. Enquanto em Plínio a Galactica é dita ser encontrada no Egito e na Grécia,

no Lapidário de Alfonso X a zarocan é dita ser encontrada na Barbaria9 e na Espanha.

É possível que a Galactica tenha ainda relação com outras duas pedras descritas

no Lapidário de Alfonso X, a Geleatez e a axufaraquid. Sobre a primeira é dito que

“esta é branca semelhante ao leite, e é muito clara, e é encontrada nas sepulturas dos

antigos. E à mulher que a tiver pendurada a si, acrescenta o leite” (ALFONSO X,

Lapidario H.1.15, IV, 27: 217). Sobre a segunda é dito ser encontrada em rios e fazer

crescer o leite em mulheres (ALFONSO X, Lapidario, 136: 119).

Podemos perceber que há duas tradições de virtudes geralmente associadas à

Galactica: a primeira se relaciona à saúde feminina (Plínio) e a segunda à cura dos

olhos (Dioscórides). O Liber Lapidum apresenta apenas a primeira como pudemos

perceber. Ainda assim, é possível considerar que as informações sobre as gemas do

lapidário sejam uma composição de diferentes fontes, conforme já indicado acima.

Atentemo-nos, agora, à virtude voltada às mulheres grávidas e lactantes, de

alguma forma escolhida para compor a Galactica. Sua reprodução em um manuscrito

parece demostrar uma preocupação que vai além da saúde da mulher, passando para a

saúde da criança. Acreditamos que essa preocupação possa estar associada a uma

grande queda populacional e, consequentemente, à necessidade de um novo

povoamento. Vários fatores podem ocasionar uma alta mortalidade. Entre eles, estão a

guerra, as pestes e a fome, presentes constantemente na Idade Média.

O século XIV vivenciou, nas Ilhas Britânicas e em outras partes da Europa, um

grande período de fome, mas seu maior flagelo foi a Peste Bubônica. Enquanto

trabalhos recentes ainda discutem como sua ampla e rápida propagação teria ocorrido,

há consenso sobre seu terrível impacto para a população da Inglaterra, a qual diminuiu

significativamente em meados do século XIV.

Não há consenso, porém, se a Peste teria afetado, de forma mais avassaladora, as

mulheres ou os homens nesse período. Sandy Bardsley, estudiosa na questão de gênero

aplicada à Inglaterra medieval, defende que o número de mulheres nesse período era

bem inferior ao dos homens. Os motivos para isso seriam vários, como a alimentação

9 A Barbaria é a região dos Berberes, povos do Norte da África que falam a língua berbere.

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mais precária, a propensão a doenças e o risco da gravidez (BARDSLEY, 2014: 301 a

305).

Tanto a queda populacional quanto a maior mortalidade feminina podem ter

incentivado a preocupação em se buscar proteção e profilaxia para as mulheres grávidas

e lactantes, o que explicaria, por sua vez, a reprodução de um lapidário com a pedra

Galactica no século XIV inglês. A própria virtude da Galactica de afastar pestes pode

ajudar a sustentar esse argumento.

O uso de amuletos para se proteger da Peste Bubônica não foi estranho aos

medievais. Don C. Skemer nos relata a procura de amuletos textuais de proteção nesse

período, alguns especificamente contra esse mal (SKEMER, 2006: 2 e 155). Por isso,

também podemos imaginar que o uso de pedras com virtudes celestes para proteger as

mulheres, a fim de aumentar a população, possa ter ocorrido.

Essas relações citadas até aqui ainda estão em investigação. Apesar de haver

trabalhos sobre os amuletos textuais medievais e seus usos, como a grande obra de Don

C. Skemer, os trabalhos sobre as pedras sendo utilizadas como amuletos nesse período

de calamidade ainda são poucos. Por isso, nosso foco está centrado nas possíveis redes

de saberes sobre as pedras e suas virtudes, além de como esses conhecimentos se

ligavam ao período em que eram difundidos.

Referências

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