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ISAURA CRISTIANE TORRES DE OLIVEIRA
OS REFERENCIAIS TEÓRICOS QUE EMBASAM A PRÁTICADOCENTE DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Canoas, 2007
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ISAURA CRISTIANE TORRES DE OLIVEIRA
OS REFERENCIAIS TEÓRICOS QUE EMBASAM A PRÁTICA
DOCENTE DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Trabalho de conclusão apresentado à bancaexaminadora do curso de Educação Física, doUNILASALLE – Centro Universitário La Salle,como exigência parcial para obtenção do grau deLicenciado em Educação Física, sob orientaçãoda Prof. Ms. Carlos Eduardo Berwanger.
Canoas, 2007
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TERMO DE APROVAÇÃO
ISAURA CRISTIANE TORRES DE OLIVEIRA
OS REFERENCIAIS TEÓRICOS QUE EMBASAM A PRÁTICA
DOCENTE DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
Licenciado em Educação Física, do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE,
pelo seguinte avaliador:
Prof. Ms. Carlos Eduardo Berwanger
UNILASALLE
Canoas, Julho de 2007.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta conquista, em memória de minha estimada e zelosa vó Izaura,
responsável pelas minhas maiores aprendizagens, aos meus queridos tios Laine e
Juvenal, que me fizeram acreditar que era possível vencer.
Muito obrigada pelos ensinamentos, princípios e valores que norteiam minha vida,
pelo incentivo, pela paciência e principalmente pelo amor e carinho que sempre me
dedicaram.
Amo muito vocês.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar, a Deus, pela força e coragem em todos os momentos.
A minha família, pela paciência nos momentos difíceis, pelo apoio e pelo carinho, a
minha pequena caçula Renata, grande companheira.
Aos meus amigos que sempre estiveram ao meu lado, que escutaram minhas
histórias, apoiaram minhas escolhas e incentivaram meus sonhos, em especial a
três grandes amigas, Andréa, Anali e Tati, as meninas Super Poderosas, que
estiveram ao meu lado em todos os momentos e que levarei para a vida toda. A
duas pessoas muito especiais que me adotaram como filha, dona Elisete e seu
Edemur.
A todos os professores e mestres que tive durante minha formação, e fizeram eu me
apaixonar pela ato de educar, ao professor Otávio Nogueira Balzano e em especial
ao meu orientador Carlos Eduardo Berwanger, o professor Penna, um apaixonado
pela arte de ensinar.
A meu amigo Alex, que com suas caixinhas de textos, me deu uma grande ajuda
nessa etapa final, e a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram
com o sucesso desse trabalho.
Fica aqui todo o meu carinho e gratidão a essas pessoas.
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“Educai as crianças e não será preciso
castigar os homens."
Pitagóras
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RESUMO
O estudo proposto no presente trabalho foi realizado em uma escola da rede privadade Porto Alegre, tendo como público participante quatro professores de EducaçãoFísica que ministram aulas na escola em questão, com o objetivo de compreenderquais referenciais teóricos embasam a prática docente dos professores de EducaçãoFísica.Foi utilizada como metodologia para essa investigação o estudo de corte qualitativo,com delineamento no estudo de caso, tendo como instrumentos para coleta dosdados: a observação participativa, a entrevista semi-estruturada, o diário de campo eanálise documental, com o objetivo de responder o seguinte problema deinvestigação: “Quais referenciais teóricos embasam as metodologias de ensino dosprofessores de Educação Física de uma Escola da rede privada de Porto Alegre ecomo se refletem na prática docente?”.A pesquisa verificou a utilização de referenciais teóricos por parte do corpo docentee os autores que possuem relevância, bem como as metodologias abordadas pelosprofessores na efetivação das aulas de Educação Física ministradas na escolainvestigada.Palavras-chaves: Educação Física escolar, formação de professores, práticadocente dos professores e tendências pedagógicas da Educação Física.
ABSTRACT
The study proposed in the present work was realized in a private school in PortoAlegre, having as public participant four Physical Education teachers who administerclasses in the school in topic, with aim to understand what theoretical referentialsupport the teaching practical of the Physical Education teachers.As methodology to this investigation was used the qualitative study with planning inthe study of the case, having as implements to the collecting of the datas: theparticipative observation, an semi-structured interview, the diary of field anddocumental analysis, with the aim answer the following problem of the investigation:“What theoretical referential support the methodologies of teaching applied by thePhysical Education teachers of a private school in Porto Alegre and how reflect onteaching practical.?”The research checked the application of the theoretical referential by the teachingstaff and the authors who have relevance, as well as the methodologies approachedby the teachers in the permanency Physical Education classes administered in theschool investigated.Key words: School Physical Education, qualification of teachers, teaching practical ofteachers and pedagogical tendencies of the Physical Education.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................14
2.1 Educação Física escolar...................................................................................14
2.2 Formação de professores.................................................................................20
2.2.1 A relação teoria e prática no cotidiano dos professores...................................21
2.2.2 As competências na formação de professores.................................................22
2.2.3 A formação inicial e continuada dos professores .............................................24
2.3 Tendências pedagógicas da educação física .................................................26
3 DECISÕES METODOLÒGICAS ............................................................................30
3.1 Caracterização do estudo.................................................................................30
3.2 Participantes......................................................................................................32
3.3 Critérios de seleção da escola .........................................................................33
3.4 Negociação de acesso ......................................................................................33
3.5 Instrumentos de coleta de informações..........................................................34
3.5.1 Entrevista semi-estruturada..............................................................................34
3.5.2 Observação ......................................................................................................35
3.5.3 Diário de campo ...............................................................................................36
3.5.4 Análise documental ..........................................................................................36
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS......................................................37
4.1 Os referenciais teóricos que embasam as metodologias de ensino dos
professores de Educação Física e os reflexos na prática docente. ...................37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................45
5.1 Limitações da pesquisa ....................................................................................45
5.2 Idéias de continuidade......................................................................................46
5.3 Reflexões finais .................................................................................................46
APÊNDICE A - Carta de apresentação .....................................................................50
APÊNDICE B - Pauta de observação de aula ...........................................................51
APÊNDICE C - Roteiro da entrevista semi-estruturada ............................................52
APÊNDICE D - Roteiro da entrevista semi-estruturada ............................................55
ANEXO A – Projeto de Educação Física...................................................................60
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1 INTRODUÇÃO
O presente estudo apresenta como título o Uso do Referencial Teórico na
Prática Docente dos Professores de Educação Física em uma escola da rede
privada, localizada na cidade de Porto Alegre, como Trabalho de Conclusão do
curso de Educação Física do Centro Universitário La Salle.
O interesse pelo tema emergiu durante a realização dos meus estágios, onde
realizei um total de 20 horas de observações das aulas de Educação Física
ministradas no ensino fundamental e médio, por meio dessa vivência percebi que a
metodologia e a didática adotadas nas aulas práticas não condizia com as teorias
apresentadas a nós acadêmicos do curso de Educação Física.
Assim, durante minha formação no curso obtive acesso a disciplinas que
primavam em ensinar uma relação coerente entre o conhecimento teórico e o
domínio de habilidades técnicas nas aulas práticas, transmitidos durante nossas
aulas e acrescidos de alguma incursão em atividades práticas, possibilitadas durante
os estágios.
No ambiente acadêmico, durante a realização do curso surgiram inúmeras
questões que me conduziram à essa escolha. As disciplinas que tratavam de
questões referentes à Educação Física escolar, área de minha preferência, as
discussões sobre a exclusão sofrida pelos profissionais dessa área e pela disciplina,
sua obrigatoriedade curricular, bem como a prática docente descontextualizada e
descomprometida com os processos didáticos e pedagógicos, a desvalorização dos
profissionais da área e o real papel dessa disciplina nas escolas.
No âmbito escolar transitam diferentes concepções sobre a Educação Física e
sua finalidade como disciplina, através dessa diversidade sobre o assunto,
destacamos um problema presente no cotidiano escolar, observado através da
dificuldade da ação pedagógica dos professores na escola.
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Para Neira (2006, p. 10), a escola é um espaço institucional na qual as
diferenças (de gênero, étnicas, culturais, físicas e cognitivas) devem ser
consideradas e respeitadas de maneira a permitir a construção da identidade de
cada aluno e para realização de sua autonomia, as diferenças que definem a
singularidade e a identidade, forçam obrigatoriamente, um respeito à diversidade no
momento do processo de ensino e aprendizagem, evidenciado no ato de educar.
A escola é uma instituição contextualizada, é um local de construções sociais e
culturais que reforça desigualdades, onde sua realidade, seus valores, conflitos e
anseios, variam de acordo com as condições histórico-sociais que a permeiam,
sendo um espaço de intervenção do educador.
"O processo que faz os professores serem legitimamente professores é o
estudo contínuo que fazem sobre sua própria atividade docente". (FALKENBACH,
2002, p. 15).
A cultura corporal desenvolvida dentro de uma instituição de ensino é
demarcada pela formação docente, portanto é importante o uso de abordagens
significativas, para uma prática diferenciada nas aulas, para isso devemos refletir
sobre a ação pedagógica exercida pelos profissionais, para a construção desse
processo.
No contexto educacional a disciplina de Educação Física vem sofrendo uma
exclusão como atividade pedagógica, dessa forma sendo deixado de lado seu
caráter educacional de ensino, perdendo sua principal função: a educação.
Ao observarmos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), podemos
evidenciar sua intenção de indicar diretrizes capazes de propor de maneira objetiva
formas de atuação para o desenvolvimento da totalidade dos alunos e não só dos
mais habilidosos, aprofundando seus conhecimentos e aprendizagens.
É importante que se conheça a realidade das escolas, suas características,
espaço cedido para prática de atividades, os alunos e como eles vêem o papel da
Educação Física e sua importância para sua formação e como os docentes têm
tratado essas questões. (VAGO apud LIMA, 2005, p. 10).
Atualmente, a realidade que confrontamos no ensino da Educação Física é a
uma prática pedagógica que pouco tem contribuído para a compreensão dos
fundamentos, do desenvolvimento das habilidades motoras, afetivas e cognitivas e
ainda para a formação de valores éticos.
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Constatamos que, paulatinamente os alunos se afastam das aulas e dos
espaços escolares, por acreditarem que em outros meios podem ter contemplado
sua satisfação e aprendizado, distante do ambiente escolar e principalmente das
aulas de Educação Física, impostas, muitas vezes, de forma arbitrária, sem
nenhuma preocupação em tornar as aulas prazerosas e satisfatórias, por
professores relapsos e descomprometidos.
"Uma proposta pedagógica de Educação Física deve possuir a abertura e a
plasticidade para considerar as diferenças de contexto e as riquezas que podem ser
promovidas e/ou resgatadas de uma cultura local". (FALKENBACH, 2002, p.31).
Hoje contemplamos múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela
sociedade sobre o corpo e a motricidade, considerando-se fundamental as
atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de
sentimentos, afetos e emoções e com possibilidades de promoção, recuperação e
manutenção da saúde. Essa idéia é reforçada ao referir que, "a Educação Física é
uma prática educativa que se utiliza de um mosaico de práticas corporais".
(NEGRINE apud FALKENBACH, 2002, p. 31).
A Educação Física precisa buscar sua identidade como área de estudo, sendo
fundamental a compreensão e entendimento do ser humano, enquanto produtor de
sua cultura, tendo uma necessidade de superação, cabendo aos professores
recuperar o prestígio perdido nesse contexto.
Conforme Falkenbach (2002, p. 53), a Educação Física escolar busca sua
identidade, fato que podemos perceber especificamente, através da invasão de
projetos que a incluem como uma prática voltada para o lazer, ou a aptidão física e
saúde, assim devemos compreender o espaço que ela pode ocupar na escola e sua
contribuição humanística na educação de crianças e jovens.
Na concepção de Borges (2003, p. 74), a construção da identidade constitui um
processo complexo através do qual cada um se apropria do sentido da sua história
pessoal e profissional.
A discussão da identidade profissional do professor tem como suporte teórico-
metodológico a questão dos saberes da docência: os saberes da experiência, os
saberes do conhecimento e os saberes pedagógicos, os quais devem vincular-se ao
desenvolvimento dos processos de reflexão docente sobre a prática. (PIMENTA
apud NEIRA, 2006, p. 192).
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Ao nos referimos à relação teoria e prática nas aulas, precisamos assumir uma
nova postura, a fim de buscar uma aproximação entre os currículos dos cursos na
formação docente e a realidade escolar, bem como os vínculos entre a teoria e
prática, que no atual contexto nos remete a uma ruptura quanto à fragmentação do
conhecimento em áreas e disciplinas, oferecendo aos educadores subsídios para a
problematização de sua prática pedagógica e para intervenção na prática social
cotidiana.
Para Borges (2003, p.18), nos currículos não se pode estabelecer uma relação
de justaposição entre teoria e prática, em que uma se sobrepõe à outra, assim há de
se buscar os vínculos necessários entre ambas com base no trabalho pedagógico,
nesse sentido, com relação à articulação entre teoria e prática, evidenciamos dois
pontos: a pesquisa e a formação teórica e prática. Tendo a pesquisa como meio de
produção de conhecimento e de intervenção na prática social, vinculada a uma
sólida fundamentação teórica de qualidade, em contraponto à tendência que existe
em educação, centrado na formação acadêmica, apenas em aspectos práticos do
trabalho pedagógico, sem fazer esforço para sua compreensão dentro da totalidade
que envolve a prática pedagógica do professor na escola.
Na visão de Neira (2006, p.1), como educadores compartilhamos
preocupações, anseios, expectativas, experiências e devemos buscar novos rumos
para uma educação de qualidade, através de um ambiente fértil de idéias e desejos,
posição absolutamente inversa àquela tão propagada pelo senso comum, que atribui
à falta de interesse e motivação do professor o fracasso da ação pedagógica.
O problema a ser investigado nesse estudo consiste em: “Quais referenciais
teóricos embasam as metodologias de ensino dos professores de Educação Física
de uma Escola da rede privada de Porto Alegre e os reflexos na prática docente?”.
Dessa forma o objetivo geral norteador desse estudo se categorizará em:
compreender quais referenciais teóricos embasam a prática docente dos professores
de Educação Física de uma escola da rede privada de Porto Alegre. Como objetivos
secundários apresentam-se: verificar como se refletem na prática o uso desse
referencial teórico e quais metodologias de ensino são utilizadas para o
desenvolvimento dos objetivos na disciplina de Educação Física; identificar quais as
tendências pedagógicas os professores utilizam; verificar qual a relação existente
entre o referencial teórico e as aulas práticas aplicadas e quais os reflexos desse
embasamento na sua prática.
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Esse trabalho será organizado em quatro partes: na primeira seção, estão
localizadas as justificativas acadêmicas e pessoais, na segunda seção descrevo os
referenciais teóricos onde desenvolvo uma aproximação ao problema e apresento as
decisões metodológicas que conduziram a pesquisa, na terceira seção apresento a
interpretação dos resultados obtidos em campo. Na quarta seção relato as
considerações finais, onde apresento: as limitações, as dificuldades apresentadas
durante a realização do estudo, as idéias de continuidade ao tema de investigação e
a conclusão fruto da análise geral dos fatos apresentados.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo serão feitas considerações com o objetivo de dar suporte teórico
ao presente estudo, situando o leitor no âmbito da Educação Física escolar, na
formação de professores e suas tendências pedagógicas.
2.1 Educação Física escolar
A Educação Física escolar apresenta-se no currículo escolar utilizando
diferentes elementos da cultura lúdica para o desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem dos diferentes aspectos afetivos, sociais, motores e cognitivos,
tendo como as demais disciplinas, um caráter formativo, proporcionando um
ambiente privilegiado para a aplicação das aprendizagens teóricas e práticas.
Como disciplina destaca-se como área, por sua diversidade, sendo importante
destacar sua importância enquanto disciplina formativa, sendo reforçada por suas
características no contexto educacional, podemos evidenciar esse fato pelas
concepções teóricas dos autores.
Para tratar da Educação Física na escola e entendo esse ambiente comoeducativo, desde já posso contribuir com indicativos de que o pressupostoda Educação Física está na educação das características humanas, o quesignifica ajudar o ser humano a viver o corpo como unidade (SANTIN,1995), bem como desenvolver o vocabulário psicomotor (NEGRINE, 1998);resgatar o sentimento lúdico de receptividade, de descoberta e decuriosidade (NEGRINE, 1998); exercitar a compreensão mútua e aafetividade (MONTAGU, 1996), bem como aprender a conviver no coletivo,entre as diferenças (MORIN, 2001). (FANKENBACH, 2002, p. 54).
Conforme Santin (2002, p.55), a Educação Física ocupa um lugar cada vez
mais significativo, no amplo contexto das manifestações socioculturais, emergindo
como centro de uma nova forma de tratar as atividades físicas, surgindo como
grande responsável por todas as atividades de descanso, de atenção pessoal, de
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compensação, de equilíbrio e de prazer. Assim freqüentemente coloca-se no mesmo
nível de importância que possuem a informática e a ecologia no século vinte e um.
No contexto atual, as aulas que observamos nas escolas não oferecem
nenhum atrativo aos alunos, apenas limitam-se aos conhecidos e enfadonhos
fundamentos do esporte e jogos desportivos das diversas modalidades oferecidas
na escola.
As outras áreas oferecem uma gama de opções, através de metodologias
diversificadas, exposição de vídeos, apreciação de obras de diversos autores,
leituras de textos, seminários, enfim discussões de assuntos atuais, a Educação
Física permanece estagnada, sendo vista como uma disciplina desnecessária para a
aquisição de conhecimento.
Santin (2002, p. 56), destaca que a contribuição prática foi construída no
interior da própria Educação Física através de constantes revisões de suas bases
pedagógicas no contexto da educação escolar, em particular na constante busca de
fundamentos científicos e técnicos para sua ação consciente na ordem social,
econômica e política. Resumidamente a consciência do atual momento é favorável a
Educação Física, e está no esforço cada vez mais explícito, de garantir sua
identidade em todos os setores da sociedade contemporânea.
Ao retratarmos a realidade do ensino da Educação Física, nos deparamos com
uma prática pedagógica que em pouco tem contribuído para a compreensão dos
fundamentos, para o desenvolvimento das aprendizagens e formação ética de
nossos alunos.
"Dar aula não implica necessariamente cuidar da aprendizagem. Os
professores, como regra, apenas ‘dão aula’, repassam conteúdos curriculares e
aplicam provas, importando-se pouco ou nada com a aprendizagem dos alunos".
(DEMO, 2004, p. 14).
As aulas de Educação Física, paulatinamente estão perdendo o seu significado,
pois são percebidas pelos alunos como atividades recreativas e de lazer, sendo
consideradas como uma simples prática específica de atividade esportiva.
A LDB n.º 9.394/96 aponta como finalidades específicas: a consolidação e o
aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental para o
Ensino Médio; o preparo para o trabalho e a cidadania; o desenvolvimentos de
habilidades como continuar a aprender e capacidade de se adaptar com flexibilidade
as novas condições de ocupação e aperfeiçoamento; o aprimoramento do educando
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como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico; e a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e prática.
(BRASIL, 1996).
A obrigatoriedade dessa disciplina como componente curricular da educação
básica é uma vitória conquistada pelos profissionais dessa área, dessa forma
acreditamos que os professores devem buscar uma integração com o trabalho
desenvolvido na escola, colocando o seu componente curricular no mesmo patamar
de seriedade e compromisso com a formação do educando, que as demais
disciplinas curriculares.
Segundo a LDB Art. 26, Parágrafo 3º. "A Educação Física, integra à proposta
pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se
às faixas etárias e as condições da população escolar, sendo facultativa nos curso
noturnos". (BRASIL, 1996).
Na escola os professores devem cumprir o seu papel de mediadores, adotando
uma postura de interlocutores de mensagens e informações, mostrando aos alunos
que aquele é um espaço de aprendizagem, procurando entenderem e aceitarem as
relações corporais existentes no meio, propiciando aos seus alunos a aquisição de
conhecimento.
A escola é um lugar de organização e produção de cultura e que os alunos são
sujeitos e praticantes dessa cultura. (VAGO apud LIMA, 2005, p. 52).
A escola, segundo o relatório da comissão internacional é formada pela
UNESCO, refletindo sobre a perspectiva da educação, deve-se apoiar sobre
aprendizagens fundamentais alicerçadas sobre os quatro pilares da educação:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Tendo
o professor como responsável por tais aprendizagens, desenvolvendo as
potencialidades e capacidades dos educandos.
No âmbito escolar em resposta a qual o real papel do ensino, e utilizando-se de
diferentes tipos de conteúdos, podemos agrupá-los como: conceituais,
procedimentais ou atitudinais.
Os conteúdos conceituais, dizem respeito a conceitos e princípios, os
conteúdos procedimentais, incluem as técnicas, os métodos, as destrezas ou
habilidades, ações ordenadas e com um fim, dirigidas para a realização de um
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objetivo, o termo que compreende os conteúdos atitudinais engloba uma série de
conteúdos, valores, atitudes e normas.
A escola em conjunto com os educadores, possui um importante papel a
desempenhar, nesse sentido, considerando os principais problemas e esforços nos
processos de aprendizagens, na compreensão e otimização das formas como as
pessoas aprendem e nas necessidades efetivas de aprendizagem.
Para que aconteçam essas transformações, não basta simplesmente
reconhecer as dificuldades de aprendizagens dos educandos que não atingiram os
níveis esperados em determinadas atividades, mas torna-se necessário que os
ensinantes reconheçam como sua função elevar progressivamente esses níveis,
desenvolvendo a autonomia e senso crítico, não apenas sua motricidade.
Segundo Neira (2006, p. 145), as verdadeiras formas ou estruturas de
conhecimento não são dadas na bagagem hereditária, também não são resultado de
um decalque das organizações dos objetos ou de meio físico ou social por força da
pressão deste meio, mas são resultados de um processo de interação entre o
mundo do sujeito e o mundo do objeto, (inter) ação ativada pela ação do sujeito.
Podemos reforçar que a aprendizagem se dá em dois momentos, à primeira
acontece com o meio externo, entre as pessoas, de forma interpsíquica, a segunda
ocorre internamente, no próprio organismo, de forma intrapsíquica. (VYGOTSKY
apud FANKENBACH, 2002, p. 63).
Na Educação Física escolar para que ocorra uma adaptação dos alunos nas
aulas, deve existir o equilíbrio entre as estruturas do sujeito para receber novas
informações e o que o sujeito retira do meio, assim à medida que se estabelece esta
organização, o indivíduo terá condições de realizar outras trocas com o meio,
através de suas ações, questionamentos e relações.
"A aprendizagem inteligente é útil para o cidadão e não se restringe a
elementos cognitivos, indo muito além". (NEIRA, 2006, p. 166).
Nessa perspectiva de aprendizagem, de aprofundamento do conhecimento, da
ampliação da percepção, observamos que para que ocorra tal adaptação é
necessário um equilíbrio entre a acomodação e a assimilação, na qual estão
envolvidas variáveis, como a estrutura do sujeito e o meio onde ele está inserido,
componentes esses intrínsecos para a construção de uma organização adequada
para os alunos.
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"O típico de um esquema de assimilação é propender a aplicar-se a tudo e a
conquistar o universo da percepção na sua totalidade". (NEIRA, 2006, p.146).
A Educação Física vem perdendo espaço significativo nas escolas, fato que
podemos observar, com a redução de carga horária, profissionais desmotivados, o
descaso dos alunos, entre outros fatores. Acreditamos que através dessa disciplina
podemos exercer um papel fundamental no processo de construção dos saberes de
nossos alunos.
Na concepção de Neira, (2006, p.161), a Educação Física busca a criação de
condições para que todos possam descobrir ou redescobrir que é possível aprender
e conhecer, mesmo as atividades mais formais podem despertar o interesse e
prender a atenção, dessa forma, a função social do ensino compreende a ampliação
e o desenvolvimento das potencialidades individuais do ser humano.
"No Brasil, o processo social de produção do fracasso escolar se realiza no
cotidiano da escola, e é o resultado de um sistema educacional congenitamente
gerador de obstáculos à realização de seus objetivos". (NEIRA, 2006, p. 204).
Na atual conjuntura percebemos que deve haver uma reestruturação da ação
educativa, de forma que os alunos ao sair das aulas tenham mais do que um simples
aprendizado de regras, jogos e a capacidade de executar um gesto motor adequado,
mas consigam levar ensinamentos que de fato possam influenciar no seu
aprendizado.
A análise de interação social do professor com o aluno e entre os alunos éessencial para a Educação Física Escolar, porque alude que o processoeducativo deve estar voltado para ações e comportamentos diferentes, ouseja, o desenvolvimento de novas capacidades se inscreve quando osparticipantes se envolvem em práticas diferenciadas, não somente naquelasque os alunos vivenciam todo o tempo, mas, sobretudo naquelas quepromovem conhecimentos e vivências corporais diferenciadas do cotidianoe que despertam novas zonas proximais. (FALKENBACH, 2002, p. 47).
Na Educação Física é necessário que possamos proporcionar oportunidades
iguais a todos, assim levando sempre em consideração suas necessidades
individuais, vinculado ao meio no qual ele está inserido, permitindo uma constante
interação com o outro na busca de uma transformação pessoal e social.
Concordamos com Santin (2002, p.59), ao conceituar a Educação Física, tal
conceito parece dizer tudo, ela é educação, uma ação pedagógica, com suas
práticas estabelecidas pelas exigências do bom desempenho da formação
intelectual de acordo com as teorias pedagógicas cognitivistas, não havendo esforço
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para identificar um significado pedagógico específico das atividades corporais, com o
movimento como ação com valor reconhecido no bom desempenho das faculdades
mentais e comportamentais.
No ambiente escolar a linguagem corporal é uma questão remetida diretamente
à Educação Física, ao aprendermos determinado movimento, ao executarmos
repetidas vezes passamos a internalizá-lo, ocorrendo um processo de reconstrução
interna de uma atividade externa. Esse processo interfere diretamente na conduta
motora do indivíduo, podendo ser influenciado pelo seu meio. Dessa forma essa
disciplina exerce uma função de suma responsabilidade na construção do ensino do
gesto motriz de seus alunos.
A Educação Física escolar é historicamente utilizada como uma contribuição à
saúde do corpo, utilizando-se de atividades físicas como prática para o corpo sadio.
Uma prática que educa para a ginástica, a disciplina, a saúde e o civismo, ao
abordarmos o corpo nesse aspecto pode-se perceber por lado um avanço para a
educação, pela abordagem relacionada ao corpo, por outro, representa atraso, pois
a idéias vinculadas ao corpo são de disciplinarização de movimentos, domesticação
de comportamentos e posturas. (SOARES apud FALKENBACH, 2002, p. 50).
No âmbito escolar ao observarmos a Educação Física nas escolas nos
deparamos basicamente com desenvolvimento do conhecimento dos fundamentos
técnicos esportivos, nas aulas práticas evidenciamos um aprofundamento dos
desportos, a influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude, que temos
não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Fato indicado com à
subordinação da Educação Física a instituição esportiva, um posicionamento
presente em grande parte das escolas, fruto de uma pedagogia tecnicista difundida
no Brasil.
Apesar das aulas de Educação Física se dedicarem em sua maior parte do
tempo ao desenvolvimento e aprendizagem dos fundamentos técnicos esportivos, os
alunos também participam de diversas experiências corporais para as quais são
provocados, utilizando o movimento como ferramenta pedagógica em um ambiente
propício para a ampliação de aprendizagens, vivenciando diferentes sensações
corporais, explorando o corpo e interatuando com os colegas. Portanto também
serão conteúdos de aprendizagem todos aqueles que possibilitem o
desenvolvimento das capacidades motoras, afetivas, de relação interpessoal e
inserção social.
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As boas aprendizagens nos permitem uma ampla possibilidade de agregarnovas aprendizagens, ampliando uma capacidade inicial. São asaprendizagens que tornam o equipamento mental original reequipado, odesenvolvimento dos processos mentais elementares em superiores,caraterísticas do adulto-cultural. (FALKENBACH, 2002, p. 65).
A escola é o lugar de desenvolvermos competências que provoque trocas e
aprendizagens entre pessoas e transmissões que promovam seu crescimento
educativo. Assim, acreditamos que a Educação Física tem o compromisso com a
iniciação, à continuidade e o aprofundamento da formação social e humana de seus
alunos, entendemos como nossa responsabilidade instituir propostas criativas e
diferenciadas nas aulas, visando um processo realmente educativo no ambiente
escolar, levando em consideração suas individualidades.
2.2 Formação de professores
Ao abordarmos idéias sobre o ensino na educação formal e área escolar,
necessariamente, devemos refletir sobre a formação dos profissionais que atuam
neste universo: os professores.
Nesse universo com relação à capacitação e formação de professores e sua
concepção, busco esclarecer um tema abrangente, complexo e controverso,
importante para esse estudo.
Neira (2006, p. 189) refere que, a qualidade do ensino ministrado na escola e
seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida em todas
suas dimensões relacionam-se estreitamente a formação docente (inicial e
continuada), condições de trabalho (recursos didáticos, físicos e materiais,
remuneração, número de alunos), elementos indispensáveis à profissionalização de
professores.
Durante a formação docente em linhas gerais com relação ao conhecimento
por parte do corpo docente, é importante destacarmos as contribuições dadas
através das análises acerca da relação estabelecida com o saberes e as reflexões
que envolvem os processos formativos dos educadores.
É sugerido por Borges (2003, p. 53), que os saberes de experiência não podem
ser ignorados na definição dos currículos, por ser o saber próprio do professor,
construído através de sua práxis social cotidiana como ator social, educador e
21
docente, tendo interação com os outros sujeitos e em relação a pluralidade dos
demais saberes disponíveis.
No contexto atual com relação à formação dos professores de Educação
Física, podemos ressaltar o fato de que essa formação é cada vez mais
especializada e fragmentada.
2.2.1 A relação teoria e prática no cotidiano dos professores
A prática do professor sempre foi referência para investigação pedagógica, tal
prática ao ser inserida no nosso cotidiano serve como ponto de partida para o
presente estudo.
Ao nos remetermos à crítica aos professores com relação à teoria e a prática,
nos deparamos com uma dicotomia, evidenciada através da teoria apresentada
durante nossa formação acadêmica que em muito difere da prática quando
ministramos uma aula de Educação Física cotidianamente.
No nosso cotidiano reproduzimos ações mecânicas, impensadas e rotineiras,
somos obrigados a tomar decisões imediatas, decisões que não temos tempo de
refletir ou teorizar. Na condução do trabalho pedagógico somos constantemente
flagrados em tal situação, nessa esfera, o que dirige nossas ações é o gesto
automatizado e não o consciente. (HELLER apud BENINCÁ; CAIMI, 2004, p.17).
Ao analisarmos o processo de formação dos professores, devemos ressaltar a
maturidade dos graduandos de se orientar autonomamente em sua prática
pedagógica, através dos princípios educacionais estudados durante o curso, sendo
suficientemente capazes de construir e exercer princípios teórico-metodológicos
sólidos e coerentes para orientar sua prática.
No processo de formação dos professores raramente é rompido o plano de
cotidianidade, pois através dele se adquirimos a capacidade de fazer opções numa
perspectiva histórico-social e não simplesmente particular, o princípio metodológico
da conscientização, como perspectiva de globalidade de uma proposta de formação
de professores.
Conforme Benincá e Caimi (2004, p. 18, grifo do autor) a mediação entre a
particularidade e a genericidade se dá pela motivação ética, o que pode justificar
senão a ética, que um professor dedique longas horas de seu tempo para sua
formação, enquanto o outro adota como procedimento didático-pedagógico para
22
suas aulas abrir um livro didático e oportunizar a sua turma as atividades implicadas
nessa leitura. A ética é o mediador em última instância desse processo de
construção da formação, quando o graduando, depois de cumpridas as obrigações
de estágio, incorpore em sua ação docente a prática de planejar, agir e refletir sobre
essa ação.
O conceito de cotidianidade é bastante abordado para a formação de
professores e nos leva a refletir sobre a problematização referente à relação teoria e
prática dos professores. Em função da estrutura pragmática da cotidianidade, essa
prática pode ser configurada como conformismo.
A cotidianidade escolar desenvolve a identidade profissional, como articulação
complexa da diversidade de suas determinações estruturais, à totalidade das
condições histórico-sociais em que estas se inserem.
Através da ação pedagógica e sua relação da teoria com a prática,
percebemos níveis diferentes de consciência, assim podemos observar uma
dicotomia entre a consciência prática, que informa as ações espontâneas, e a
consciência teórica, que não consegue chegar ao nível de disponibilidade para
orientar e intencionar o agir.
2.2.2 As competências na formação de professores
Ao nos reportarmos a formação dos professores, é importante abordarmos as
competências usadas para essa formação, um profissional capacitado, deve estar
apto numa primeira abordagem, não apenas ao domínio de conhecimentos diversos,
mas também por esquemas de percepção, de análise, de decisões, de
planejamento, de avaliação e outros que lhe permitam mobilizar os seus
conhecimentos em uma determinada situação.
As competências necessárias na formação de professores, são de ordem
cognitiva, afetiva e prática. Portanto é importante conhecer bem o processo de
desenvolvimento das competências profissionais que serão exigidas.
Ao abordarmos formação de professores e suas competências devemos ter
claro que os modelos de profissionais são moldados de acordo com uma formação
que valorize as diferentes facetas e as múltiplas competências da sua profissão,
tendo como referência sua formação pessoal, dessa forma o professor passa a ser
23
formador de acordo com suas escolhas paradigmáticas, identificando as
competências necessárias para o exercício de sua profissão.
As competências básicas que um profissional deve estar capacitado a fazer
são as seguintes:
• Analisar situações complexas, tomando como referência diversasformas de leitura;
• Optar de maneira rápida e refletida por estratégias adaptadas aosobjetivos e as exigências éticas;
• Escolher, entre uma ampla gama de conhecimentos, técnicas einstrumentos, os meios mais adequados, estruturando-os como formade dispositivo;
• Adaptar rapidamente seus projetos em função da experiência;• Analisar de maneira crítica suas ações e seus resultados;• Enfim aprender, por meio dessa avaliação contínua, ao longo de toda
sua carreira.Essa é a lista resumida de competências, cuja referência é um modelo deação bastante racionalista, sem dúvida não é suficiente para explicar ofuncionamento real dos professores especialistas em interação com osgrupos de alunos. (PERRENOUD et al, 2001, p. 12).
Para Perrenoud (2001, p. 21), a formação de competências profissionais são
descritas sucintamente em dez dispositivos de formação, são eles a prática reflexiva,
as trocas entre as representações e a prática, a observação mútua, a metacognição
com os alunos, a escrita clínica, a videoformação, a entrevista de esclarecimentos, a
história de vida, a simulação e o jogo de papéis e a experimentação de métodos
não-habituais. O conjunto desses dispositivos facilitaria uma competência
profissional importante.
"A competência profissional que os professores têm a adquirir está a serviço de
uma certa concepção da aprendizagem que eles têm de implantar com seus alunos".
(DEVELAY apud PERRENOUD et al. 2001, p. 58).
No ambiente escolar os professores são considerados como profissionais
autônomos, dotados de competências específicas, capacitados de forma a colocar
suas competências em ação, de adaptar-se em qualquer situação, um profissional
da articulação do processo ensino-aprendizagem, através de um arsenal de artifícios
para essa finalidade.
24
2.2.3 A formação inicial e continuada dos professores
Na formação docente percebemos a importância dos professores no processo
educacional dos alunos, bem como a qualidade de ensino ministrado nas escolas
pelos professores na sua profissionalização.
Nessa perspectiva nos deparamos com a formação inicial e continuada dos
professores no cotidiano escolar, como ferramentas que conduzam a melhor
qualificação da educação.
Para Molina Neto (1997, p. 35), na formação do professorado de Educação
Física, sob a perspectiva da cultura docente, é necessário levar em consideração,
particularidades do curriculum da formação inicial e dos programas de formação
permanente, outros elementos como a experiência acumulada dos professores, sua
prática cotidiana nas escolas, o conhecimento elaborado nessa experiência e nesta
prática, o processo de formação e suas crenças que desenvolvem em decorrência
desses elementos e da interação dos professores nas escolas.
As escolas optam pelas concepções, currículos ou atividades estruturadas e
freqüentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais que farão referência no
Projeto Político-pedagógico proposto no ensino, estipulando as competências que
englobam os conceitos, atitudes e procedimentos.
A formação inicial do educador inicia na educação infantil com o inicio de sua
escolarização e percorre uma longa trajetória até a conclusão de sua formação
acadêmica no Ensino Superior, nesse processo ocorre à aquisição da qualificação
profissional que permitimos sua formação como professor. Mas esse é um longo
processo, onde precisamos de clareza para compreender que as transformações na
sua prática não ocorrem rapidamente, é um processo lento e trabalhoso.
Neira (2006, p. 189), entende como formação inicial do educador, a trajetória
que ele percorre desde o momento em que inicia a escolaridade (na educação
infantil) até sua conclusão, que no caso dos professores de Educação Física se dá
no Ensino Superior, nesse processo espera-se a aquisição de qualificação
profissional mínima e a certificação, habilitando-se legal e tecnicamente para o
exercício profissional. Essa formação possui um caráter finito e atende o educando
nas fases de seu desenvolvimento desde a infância a maturidade.
Para Molina Neto (1997, p. 38), a formação inicial entra na linha discriminatória
da escola pública, favorecendo a formação e a representatividade para os que têm
25
facilidade para ela e dificulta a vida daqueles que tem poucas condições de
materiais e pessoais de concluí-la.
A formação contínua apresenta um amplo campo de possibilidades para
produção de conhecimentos na área, propostas e ações que promovam o
desenvolvimento profissional de educadores, apresentando paradigmas em fase de
estruturação, tendo como fio condutor de sua formação pessoal e profissional a
prática (a práxis e a experiência) em permanente processo de transformação.
Segundo Neira (2006, p. 189), a formação continuada não tem um caráter
sistemático, intencional e legal, não se articula da mesma forma que a formação
inicial. Podendo ser observada através da necessidade de atualização e
aperfeiçoamento dos que atuam na educação, sendo contrária a inicial, é infinita
enquanto possibilidade de crescimento pessoal e profissional do educador.
A formação permanente é uma idéia que nada tem a ver com as reciclagens
periódicas, idealizadas pela necessidade de adaptação profissional, que recuperem
o atraso nos conhecimentos do individuo e o atualizem, mas se trata do estudo
permanente cujo mérito é repartir as oportunidades de promoção social.
Na formação docente concentramos grande parte da responsabilidade para
atingir os objetivos atribuídos pela sociedade à escola e pela adoção de uma
proposta de ensino alicerçada em uma teoria de aprendizagem, através do
desenvolvimento de competências necessárias a educação.
Nesse âmbito a formação de professores deve ser repensada e priorizada em
duas direções: os componentes e atividades que componentes da formação inicial e
propostas para a formação continuada, compreendendo na sociedade o papel do
professor como elemento fundamental na mediação dos processos constitutivos na
formação da cidadania de nossos alunos, para que ocorra a superação do fracasso
e das desigualdades escolares.
Na atual LDB na lei (9.394/96), o professor é eixo central na qualidade da
educação, apontando os seguintes destaques no texto legal: o aperfeiçoamento
profissional continuado (Art.67, inciso II) inclui-se também o licenciado periódico
remunerado, consagrando a idéia essencial de que o aprimoramento profissional faz
parte da profissão. Essa perspectiva é reforçada ao se reservar aos estudos,
planejamento e avaliação, incluídos na carga e trabalho (Art. 67, inciso V); assim
consagram o professor como alguém especializado, a aprender bem e
continuamente fazer o aluno aprender. (BRASIL, 1996).
26
Dessa forma acredito que a prioridade na sociedade atual é o educador como
elemento fundamental na medicação dos processos constitutivos da cidadania dos
alunos, bem como de suas aprendizagens cognitivas, motoras e afetivas, no
ambiente escolar, sendo imprescindível sua formação docente inicial e continuada
para que esse objetivo seja alcançado.
Para Neira (2006, p. 198), a realidade vivida pelos educadores, as dificuldades
de freqüência e participação de qualquer modalidade de formação contínua, verifica-
se uma não-participação, limitando a atuação docente as aprendizagens da
formação inicial e aquelas fruto de estímulos informais: conversas na sala dos
professores, leituras esporádicas de artigos e revistas.
Assim devemos considerar o surgimento de dois conhecimentos escolares: um
advindo das pesquisas de caráter cientifico produzidas nas universidades,
envolvendo a prática pedagógica e que chegam à poucos professores e outro
produzido pelo cotidiano de trabalho e gerado pelos profissionais que, ao constatar a
contradição entre a própria formação inicial e a realidade escolar, terminam por
construir seu próprio fazer pedagógico através de erros e acertos.
Nessa perspectiva de formação sustentada na reflexão e na reconstrução
social, o professor de Educação Física é um investigador, o que significa propor e
oportunizar o acesso a programas de formação em que esses sujeitos construam um
conhecimento que lhes permita investigar autonomamente sua própria prática.
2.3 Tendências pedagógicas da educação física
A área da Educação Física escolar aborda uma série de concepções, enfoques
e pressupostos teóricos que a norteiam, os pensamentos filosóficos e tendências
políticas, cientificas e pedagógicas, discutidos sobre a influência das teorias críticas
da educação. Dessa forma para o melhor esclarecimento do assunto, será abordado
algumas tendências importantes no contexto escolar.
• Higienista (1930): sua principal característica é a relação com a saúde, a
prática de atividade física com a intenção de se manter ativo e forte, não apenas
visando o bem estar pessoal, mas também saúde para se manter saudável.
Contudo possui um contorno mais social do que realmente relacionado com a
qualidade de vida dos sujeitos envolvidos, assim através dos exercícios físicos seria
27
possível adquirir o corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela sociedade
capitalista. Baseava-se no lema "Mente sã e corpo são".
No Brasil tentamos resolver a questão da saúde pública através da educação,
com a idéia de que as pessoas devem se afastar de hábitos poucos sadios e a
levarem uma vida mais regrada evitando dessa forma a uma decadência da saúde
pública.
Para Ghiraldelli (2003), a Tendência Higienista é uma concepção que se
preocupa em erigir Educação Física a como agente de saneamento público, na
busca de uma “sociedade livre das doenças infecciosas e dos vícios deteriorados da
saúde e do caráter do homem do povo”.
• Militarista (1930 -1945): esta diretamente relacionada à preparação física
com a intenção de preparar os homens para suportar os combates tanto físicos
como intelectual, com caráter extremamente seletista separando os mais bem
capacitados dos incapacitados.
A Educação Física era voltada para a preparação dos alunos para um possível
conflito, eram inicialmente ministradas por profissionais formados pelas instituições
militares, as aulas nas escolas eram exclusivamente práticas, notando-se a falta de
uma preocupação pedagógica, buscando desenvolver valores como a ordem, a
disciplina e superação. A primeira escola civil de formação de professores de
Educação Física surgiu em 1939.
Segundo Ghiraldelli (2003), na Educação Física Militarista a ginástica, o
desporto e os jogos recreativos, só tem utilidade se visam à eliminação dos
“incapacitados físicos”, contribuindo para uma “maximização da força e poderio da
população”. A coragem, a vitalidade, o heroísmo, a disciplina exacerbada compõem
a plataforma básica da Educação Física Militarista.
• Pedagogicista (1945 -1964): teve seu surgimento exatamente com a função
de suprir o vácuo no que diz respeito ao valor educativo, preocupada com a prática
educativa.
De acordo com Ghiraldelli (2003), é a concepção que vai reclamar à sociedade
a necessidade de encarar a Educação Física não somente como uma prática capaz
de promover a saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar como uma
prática eminentemente educativa. E mais do que isto, ela vai advogar a “educação
do movimento” como a única forma capaz de promover a chamada “educação
integral”.
28
A Educação Física Pedagogicista, visava um bom relacionamento entre os
diferentes, reforçando o seu lado social e uma educação muita mais rica para a
formação pessoal.
• Competitivista (pós-64): sua filosofia esta diretamente ligada a superação de
limites, a competição, a técnica.
Segundo Ghiraldelli (2003), a Educação Física Competitivista está a serviço de
uma hierarquização e elitização social, seu objetivo fundamental é a caracterização
da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma
sociedade moderna. Voltada então, para oculto do atleta-herói; aquele em que a
despeito de todas as dificuldades chegou ao podium.
• Popular: à Tendência Popular é de certa forma de cunho social, mas
presente de maneira diferenciada aos das Tendências Militarista e Competitivista,
esta mais ligada a ludicidade, e os desportos como a dança, ginástica e etc.
Ghiraldelli (2003) afirma que, essa tendência não pretende ser disciplinadora de
homens e muito menos esta voltada para o incentivo de busca de medalhas. E é,
antes de tudo, ludicidade e cooperação, e aí o desporto, a dança, a ginástica etc.,
assumem um papel de promotores da organização e mobilização dos trabalhadores.
Ghiraldelli (2003) entende que a educação dos trabalhadores está intimamente
ligada ao movimento de organização das classes populares para o embate da
prática social, ou seja, para o confronto cotidiano imposto pela luta de classes.
• Desenvolvimentista: é um modelo centrado na obra Tani, com enfoque de
vários autores, é uma abordagem voltada em caracterizar a progressão normal do
crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social,
na aprendizagem motora. Assim tendo movimento como principal meio e fim para a
Educação Física.
Para Darido (1998, p. 59), a aula de Educação Física deve privilegiar a
aprendizagem do movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens
em decorrência da prática das habilidades motoras. Assim a Educação Física deve
proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja
desenvolvido através da interação entre o aumento da diversificação e a
complexidade dos movimentos.
Para Gallahue e Manoel (apud DARIDO, 1998, p. 59), a aprendizagem do
desenvolvimento motor é proposta na seguinte ordem: fase dos movimentos fetais,
fase dos movimentos espontâneos e reflexos, fase do de movimento rudimentares,
29
fase dos movimentos fundamentais, fase de combinação de movimentos
fundamentais e movimentos culturalmente determinados.
Esses conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de
habilidades, do mais simples, as habilidades básicas, para as mais complexas, as
habilidades específicas.
• Crítico-Superadora: a proposta dessa tendência utiliza o discurso da justiça
social como ponto de apoio e é baseada no marxismo e neo-marxismo, sendo
influenciada pelos educadores José Libâneo e Dermeval Saviani. Reflete sobre a
escolarização dos conteúdos desenvolvidos na disciplina de Educação Física,
estabelece, por exemplo, a diferença entre esporte na escola e o esporte da escola.
Essa abordagem nos alerta sobre a importância e contribuição da Educação
Física nas mudanças sociais, diminuindo as desigualdades e injustiças sociais.
• Sistêmica: é uma concepção que procura desenvolver a autonomia dos
alunos para que os mesmos possam se organizar com relação as suas práticas
corporais no período posterior a vida escolar, baseada na obra de Mauro Betti.
A função da Educação Física na escola não se restringe apenas ao ensino de
habilidades motoras, para isto não basta aprender as habilidades motoras e
desenvolver capacidades físicas que, evidentemente, são necessárias em níveis
satisfatórios para que o indivíduo possa usufruir dos padrões e valores que a cultura
corporal/movimentos oferecem. (BETTI apud DARIDO, 1998, p. 63).
• Psicomotora: baseia-se em estudos franceses e busca o desenvolvimento
da criança, através do ato de aprender, com processos cognitivos, afetivos e
motores, buscando garantir a formação integral do aluno.
Através dessa abordagem a Educação Física possibilitou uma maior integração
com a proposta pedagógica ampla e integrada, mas representou o abandono de
áreas específicas como o esporte, a dança, ginástica e jogos.
• Construtivista: nessa perspectiva, a intenção é a construção do
conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo e para cada criança a
construção desse conhecimento exige elaboração, a aquisição do conhecimento é
um processo construído pelo indivíduo durante sua aprendizagem, se utiliza dos
jogos como metodologia de ensino.
30
3 DECISÕES METODOLÒGICAS
Para Minayo (1994, p. 16), a metodologia inclui as concepções teóricas de
abordagem e o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o
sopro divino do potencial criativo do investigador.
Dessa forma a abordagem dos referenciais teórico-metodológicos do
Paradigma Qualitativo que conduziram o presente estudo de caso, bem como a
investigação sobre fenômeno que me proponho a estudar e os instrumentos
utilizados estão abordados nesta seção.
3.1 Caracterização do estudo
Esta investigação foi realizada no paradigma qualitativo que se caracteriza pela
ênfase em informações qualitativas, tentando interpretar um evento com a intenção
de elucidar o problema abordado nessa pesquisa de forma fidedigna, pois considero
que esse viés oferece mais liberdade para a reflexão no tipo de análise estabelecida
pela investigação.
Para Molina Neto (1999, p. 112), a abordagem qualitativa sustenta um leque de
técnicas de investigação centradas em procedimentos hermenêuticos que tratam de
descrever e interpretar as representações e os significados que um grupo social dá à
sua experiência cotidiana.
Através do viés qualitativo uma característica que eu considero importante é a
não pretensão de generalizar os resultados obtidos no campo de investigação,
assim procurando contextualizar o grupo específico ao estudo em questão.
O marco metodológico qualitativo, segundo a conceituação do dicionário,
entende como qualitativo o que exprime ou determina qualidade, um atributo ou
31
condição das coisas ou das pessoas, capaz de distingui-las das outras e de lhes
determinar a natureza. (LAMPERT apud CAUDURO, 2004, p. 20)
Ao se referir sobre a pesquisa qualitativa Cauduro (2004, p. 20), a define como
aquela que procura explorar a fundo, conceitos, atitudes, comportamentos, opiniões
e atributos do universo pesquisado, avaliando aspectos emocionais e intencionais,
implícitos nas opiniões dos sujeitos de pesquisa.
Para Minayo (2004, p. 21), pesquisa qualitativa é caracterizada por responder a
questões particulares, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, que
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis.
A base analógica desse tipo de investigação se centra na descrição, análisee interpretação das informações recolhidas durante o processoinvestigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada. Istosignifica que nas pesquisas de corte qualitativo não há preocupação emgeneralizar os achados. (NEGRINE, 1999, p. 61).
O estudo é justificado em função de permitirmos que os sujeitos envolvidos no
problema de pesquisa, possam contribuir de forma significativa com essa
investigação, pelas diferentes características, significados, conceitos, atitudes e
procedimentos nas interpretações ao contexto em que estão inseridos na análise de
resultados.
Nesse processo de investigação consideramos relevante destacar o fato de ir à
campo como forma de coletar informações importantes, com ênfase no processo
investigado, com relação as preocupações inerentes ao contexto investigado, seus
significados, e como maneira pessoal com que as pessoas vêem a si mesmas e
suas experiências no mundo ao seu redor.
O estudo de caso nos últimos anos vem se transformando em uma
metodologia bastante aplicada nas pesquisas da Educação Física, são estudos
pontuais, que tomam porções reduzidas da realidade.
É o estudo da particularidade e da complexidade de um caso singular, levando
a entender sua atividade dentro de importantes circunstâncias.
De acordo com Possebon (2004, p. 52, grifo do autor), as concepções do
estudo de caso partem dos métodos de investigação naturalista, pois o
conhecimento que se busca de como ocorrem às experiências cotidianas e seus
32
significados, não fazendo sentido retirá-los do seu ambiente natural para estudá-los;
holística, porque a realidade nunca é estática, o contexto e as pessoas, são vistos
de forma a compreender o todo e; fenomenológica, por admitir que é possível
conhecer a sociedade a partir de contextos menores, a partir dos significados
individuais, possuindo um inegável componente subjetivo.
Na concepção de Possebon (2004, p. 53), um estudo de caso significa uma
tarefa que tem como objetivo a tentativa de aprofundar o nível de compreensão de
um momento que está sendo vivido por um “organismo humano”, sendo
particularmente adequado para lidar com problema de prática e ampliar o
conhecimento sobre vários aspectos da educação.
O estudo de caso qualitativo se define como um processo que tenta descrever
e analisar algo em termos complexos e compreensivos, que se desenvolve durante
um período de tempo.
O uso do estudo de caso na metodologia qualitativa permite extrair conclusões
de fenômenos através de uma descrição holística de uma entidade singular ou
unidade social. (SERRANO apud POSSEBON, 2004, p. 53).
Consideramos que o pesquisador tem como função, tentar, apreender e retratar
sua visão dos participantes aproximando-se das pessoas, das situações e do
contexto, de forma a manter um contato direto, através de descrições que permitam
extrair significados dessa realidade, tendo os sujeitos investigados e o investigador
uma participação ativa na realidade estudada, bem como dos fenômenos aos quais
procura captar os significados e compreendê-los.
Estes sentimentos foram apresentados de forma descritiva, por acreditar que,
assim melhor poderia interpretar perceber e explicar o que estudei.
"O valor científico de seus achados, porém, dependerá, fundamentalmente, do
modo como faz a descrição da cultura que observa e que está tratando de viver em
seus significados". (TRIVINOS, 1987, p.31).
3.2 Participantes
O público alvo desse estudo foi constituído pelos professores que ministravam
as aulas de Educação Física na escola. Foram selecionados um grupo formado por
quatro professores, todos foram comunicados da minha presença para a realização
das observações e dos demais procedimentos de coleta de informações
33
necessários. Não houve nenhum tipo de critério para selecionar os professores,
todos os professores participantes ministram aulas de Educação Física na escola.
3.3 Critérios de seleção da escola
Os critérios de seleção da escola foram realizados de acordo com investigação
metodológica do trabalho, dessa forma a escolha da escola participante do estudo
procurou ser coerente com a caracterização do estudo.
Considerando as particularidades do sistema educativo, optei por uma escola
da rede privada, a partir dessa definição iniciei contatos telefônicos com algumas
escolas, sem sucesso, até o contato informal com um dos professores de Educação
Física da Escola em questão, que concordou em fazer parte desse estudo,
sugerindo a escola onde trabalhava para a investigação. Dessa forma levei em conta
os seguintes critérios:
a) A partir do entendimento de que os professores da rede privada deveriam
apresentar boas propostas, boa estrutura e planejamento adequado nas aulas
de Educação Física.
b) A acessibilidade à escola, sua idoneidade, sua tradição e porte enquanto
instituição privada.
c) O interesse pessoal em realizar meu trabalho em uma escola privada, após
ter realizado meus estágios curriculares obrigatórios em escolas pública e do
município, com intuito de averiguar a valorização da disciplina de Educação
Física e a capacitação dos professores nesse contexto.
3.4 Negociação de acesso
A negociação de acesso à escola foi realizada através do contato inicial com
um dos professores de Educação Física da escola, posteriormente, sendo realizado
contato com a coordenadora da disciplina e entrega da carta de apresentação e
verificação horária dos professores da escola em questão, à coordenadora se
responsabilizou pela liberação da pesquisa, assim de posse dos horários e após
contatos com os professores e liberações da escola, iniciei a investigação.
No primeiro momento realizei contato pessoal com os professores, expliquei
meus objetivos de pesquisa, marquei as observações de aulas e as entrevistas
34
individuais com os professores, pois dessa forma acreditava ter uma participação
espontânea do grupo de professores, assim obtendo plena colaboração para minha
pesquisa do corpo docente da escola.
3.5 Instrumentos de coleta de informações
Para Triviños (1987), nesse instante tão importante para a investigação,
infelizmente não se podem dar orientações precisas sobre modos de atuar e
proceder, pois cada situação tem suas próprias características, assim o investigador
deve avaliar as circunstâncias buscando o melhor caminho.
Respeitando as características do estudo de caso, o desenho da pesquisa e o
problema a ser investigado, foram utilizados como instrumentos de coleta de dados:
• Entrevista semi-estruturada;
• Observação participativa;
• Diário de campo;
• Análise documental.
3.5.1 Entrevista semi-estruturada
Para Negrine (1999, p.73), entrevista encerra o significado de encontro
combinado, marcado entre pessoas para ocorrer em lugar previamente determinado,
diz respeito ainda à prestação de informações ou de opiniões sobre determinada
temática feita de forma oral pelo entrevistado.
No âmbito de pesquisa a entrevista semi-estruturada é utilizada como
instrumento de coleta de dados e informações, partindo de certos questionamentos
básicos que se apóiam em teorias e hipóteses, interessantes à pesquisa, oferecendo
um amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à
medida que se recebem as respostas do informante.
“A entrevista semi-estruturada desenrola-se a partir de um esquema básico,
mas não é aplicada rigidamente, permitindo adaptações realizadas inclusive no
momento da efetivação da entrevista.” (BIRK, 2004, p. 79).
Segundo Negrine (1999, p. 74), a entrevista é semi-estruturada quando o
instrumento de coleta está pensado para obter informações de questões concretas,
previamente definidas pelo pesquisador, e ao mesmo tempo, permite que se
35
realizem explorações não-previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para
dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que
pensa.
Na entrevista semi-estruturada existe um roteiro básico de questionamentos,
mas que permitem a interferência do pesquisador para o complemento das
informações, através de outras perguntas que não estavam previstas e que surgiram
no decorrer das perguntas.
Dessa forma, elaboramos uma entrevista semi-estruturada, composta de dez
perguntas, para ser aplicado no público participante da investigação.
3.5.2 Observação
De acordo com Negrine (1999, p.67), a observação constitui-se de um
instrumento valioso na pesquisa qualitativa, essa tarefa requer que se utilize
processos mentais superiores como: atenção, a percepção, a memória e o
pensamento, para observar fatos e realidades sociais presentes.
A observação é chamada participante porque se admite que o pesquisador tem
sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo afetado
por ela.
Na definição de Negrine (1999, p. 66), a observação participante é aquela onde
o observador assiste à aula para registrar aspectos relevantes a observação.
A observação participante é um instrumento importante, que nos permite captar
uma variedade de informações do ambiente observado, mas a relação entre o objeto
observado e o observador não ocorre de forma neutra, sendo interessante sua
realização no contexto real dos indivíduos observados, no local onde desenvolvem
suas práticas.
A observação participativa é uma técnica pela qual o investigador se introduz
no mundo social dos sujeitos estudados, observando e averiguando o que significa
ser membro deste mundo, tomando notas detalhadas dos fatos presenciados, e
posteriormente os codificando de modo que o investigador possa reproduzir os
acontecimentos. (BIDDLE; ANDERSON apud MOLINA NETO, 1999, p. 126).
Dessa forma, será realizada uma observação individual para cada professor, a
partir de uma pauta prévia (apêndice B), num total de quatro observações de aulas
de Educação Física da escola estudada, assim descrevendo os fatos procurando
36
não atribuir nenhum tipo de juízo de valor, tal pauta foi elaborada a partir do
entendimento de dados que considerei importante o registro.
3.5.3 Diário de campo
O diário de campo é importante instrumento para o investigador, descrever
seus sentimentos, anseios, reflexões e suas percepções a respeito de como está
entendendo o fenômeno que está sendo estudado.
Conforme Birk (2004, p. 78), o diário de campo é a parte reflexiva, onde são
feitas anotações das observações pessoais do pesquisador durante a coleta de
dados, relatando suas: especulações, sentimentos, problemas, idéias, impressões,
pré-concepções, dúvidas, incertezas, surpresas e decepções.
O diário de campo foi um importante instrumento para o desenvolvimento do
trabalho, pois me permitiu registrar o comportamento, as atitudes dos sujeitos
observados no campo de estudo.
3.5.4 Análise documental
Segundo Birk (2004, p.84), os documentos são uma fonte "natural" de
informações, onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações ou
declarações do pesquisador, dentro do contexto em estudo.
Através de análise de documentos podemos ter acesso a elementos, que
às vezes nos passaram despercebidos durante as observações e entrevistas. Deste
modo nesse estudo considero documentos, qualquer material escrito que possa ser
usado como fonte de informação para o estudo.
37
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Nessa seção buscamos fazer uma aproximação ao problema de investigação,
com a finalidade de responder os objetivos desse estudo, a análise dos dados será
efetivada através da triangulação, contrastando o referencial teórico que versava
sobre Educação Física escolar, formação de professores e tendências pedagógicas,
a interpretação das falas dos professores nas quatro entrevistas, a interpretação das
quatro aulas observadas, os diários de campo e análise documental.
A triangulação de dados é um método de reunião de dados que através de
vários instrumentos de coleta onde o investigador procura informações sobre as
mesmas características dos indivíduos para compreender o fenômeno através de
mais de uma perspectiva. (CROLL apud MOLINA NETO; SCHERER, 2000, p. 74).
Categorizar as informações significa agrupá-las a partir das características
comuns, elaborando-se então determinada classificação. Esse tipo de procedimento
geralmente pode ser usado em qualquer tipo de análise de pesquisa qualitativa.
Para melhor entendimento a categoria de análise desse trabalho será:
• Os referenciais teóricos que embasam as metodologias de ensino dos
professores de Educação Física e como são refletidos na prática docente.
4.1 Os referenciais teóricos que embasam as metodologias de ensino dos
professores de Educação Física e os reflexos na prática docente.
Entendemos que a construção do conhecimento docente está alicerçado as
experiências e vivências prática dos mesmos. Por isso consideramos importante
começarmos nossa análise pelos relatos apresentados em relação às experiências e
vivências dos professores em Educação Física escolar.
38
Assim, temos como relato nas entrevistas que os mesmos estão inseridos no
ambiente escolar a longo tempo, cerca de 20 anos ministrando aulas, todos
possuem uma longa bagagem nessa área, nas observações essa prática é refletida
pelo domínio exercido por eles nas aulas, e sua postura frente aos conflitos
decorrentes nas aulas, assim percebemos uma vasta experiências na prática
docente.
[...] as experiências mais significativas, eu acho que é o convívio que tu tem com osalunos, e aí, o professor de Educação Física, tem esse diferencial, diferente dosprofessores, que é o lado afetivo[...] (P1)
[...] trabalhar com crianças, eu acho que a troca é muito intensa, e as crianças assim,são... trabalhar com as crianças pequenas, tu sabe direitinho se tu agradando ou não,porque eles te dizem esse jogo eu não quero fazer, esse jogo é chato, hoje a aula foiruim, hoje a aula foi boa, bom então, eles são um termômetro [...] (P2)
As experiências consideradas mais significativas estão relacionadas à inter-
relação entre professor e aluno do que a fatores ligados a sua realização ou anseios
profissionais, fator que chama a atenção pela grande experiência que possuem, não
há nenhum depoimento relatando experiências pessoais.
De acordo com os autores Benincá e Caimi (2004, p. 29), para que se consiga
construir uma coerência entre seus estudos e a sua prática, não se pode limitar
apenas ao domínio do conhecimento, também é necessário à reflexão ética sobre o
uso de conhecimento em sua prática pedagógica.
Consideramos que a construção do conhecimento, das atitudes, procedimentos
e aprendizagens dos alunos é algo importante no âmbito escolar para os
professores de Educação Física.
Ao abordarem-se os tipos de conteúdos que são trabalhados por eles nessa
disciplina, nos deparamos com os conteúdos procedimentais, em cima de atividades
e exercícios táticos e técnicos, circuitos psicomotores, os atitudinais são baseados
no relacionamento da turma, da afetividade, do respeito, e conceituais com trabalhos
de temas transversais, objetivos que na minha concepção são importantes para a
construção das aprendizagens dos alunos.
Esses objetivos foram observados nas aulas, apontados no diário de campo, e
é evidenciado claramente na fala do professor 1 (P1):
Bom, eu trabalho com eles os conteúdos, atitudinais, procedimentais e conceituais,nos atitudinais, eu trabalho com eles, o aspecto afetivo de relações, nosprocedimentais eu trabalho com eles, a técnica e a tática do desporto do trimestre,
39
nos conceituais eu procuro trabalhar com eles os temas transversais, tipo violênciano esporte, hã... uma alimentação adequada pra faixa etária, da faixa etária da série,trabalho com eles também aspectos de dopping no esporte, hã... trabalho com eles,hã... trabalho de ética no esporte, esse são os temas transversais da disciplina.
Consideramos que ao trabalhar tais conteúdos, os professores estão atentos
aos processos de aprendizagens cognitivos, motores e afetivos do educandos, e
assim exercendo seu papel de educadores no contexto escolar como referido no
referencial teórico.
Neira (2006, p. 81), ao referir que cada momento particular do processo de
desenvolvimento, sua adaptação dará lugar a uma forma determinada e organização
do conhecimento, com características variáveis em relação a outros momentos
evolutivos, que nesse contexto se traduz nas atividades elaboradas no sentido de
fazer o aluno refletir sobre o tema estudado assumindo importantes aspectos no
desenvolvimento da inteligência e aprendizagem e, podemos inferir, da formação.
As aulas são organizadas por trimestres, onde são trabalhadas as atividades
recreativas, os desportos, trabalhos teóricos, tais conteúdos são estruturados pelos
professores, com a finalidade de atingir os objetivos traçados no inicio do ano letivo,
a cada aula é observado pelos professores a participação da turma, os problemas
decorrentes, com o intuito de avaliar os alunos e aulas aplicadas por eles, os
professores não trabalham com provas, primando pelo processo de ensino-
aprendizagem dos alunos, através das avaliações participativas de forma a atingir os
objetivos traçados.
Segundo Sacristán e Pérez Gómez (1998), a Educação Física não se
caracteriza em desenvolver uma aula baseada em perspectivas práticas tradicionais
ou técnicas, mas deve estar vinculada numa perspectiva de reflexão crítica da
prática para a reconstrução social, onde o professor nesse contexto é considerado
como um intelectual transformador, refletindo criticamente sobre a prática cotidiana,
para compreender as características dos processos de ensino-aprendizagem, de
modo que atuação reflexiva tenha a pretensão de provocar aos participantes do
processo educativo o interesse pela área.
Ao retratarmos a metodologia abordada pelos professores nos deparamos de
forma contundente com a metodologia prática, como enfoque principal das aulas de
Educação Física, nessa perspectiva identificamos o desporto, permeado com
atividades recreativas como modelo dominante nas aulas ministrada na escola, fato
40
que pode ser destacado, através da cultura do professor de Educação Física na
prática esportiva, assim fazendo parte do seu conhecimento pedagógico, bem como
do espaço físico onde as aulas são dadas e do material utilizado, essa abordagem
prática, acredito ser fruto do contexto esportivo difundido no Brasil, por acreditar que
essa disciplina deve ser abordada de forma significativa com aulas práticas,
deixando as aulas teóricas inseridas nessa mesma prática, ou no máximo através da
incursão de algum trabalho.
A Educação Física escolar é componente do processo educativo que se utiliza
como meio principal da atividade predominantemente física, sem que seus objetivos
sejam exclusivamente físicos. É aplicável a qualquer faixa etária, grupo social ou
ambiente, dentro dos sistemas escolares. Seus elementos característicos são:
atividade física, instrução, sistematização e a existência de objetivos educacionais.
(CAPARROZ apud LIMA, 2005, p. 41)
O uso dessa prática pelos professores pode ser notado nas observações das
aulas, nas entrevistas e em observações anotadas no diário de campo, assim
acredito que mesmo os professores trabalhando conteúdos conceituais e atitudinais
em suas aulas, podemos evidenciar uma tendência de certa forma reprodutivista,
penso que vinculada ao tipo de formação que os mesmos tiveram, mas também
observei o fato de algumas dessas aulas serem enfocadas na construção das
aprendizagens, através da utilização de jogos adaptados, fato que fica claro nas
falas dos professores:
A minha ênfase é no jogo adaptados né? Eu trabalho o desporto em cima do jogoadaptados né? Como é fundamental a ênfase na técnica do desporto. (P1)
O principal é aula prática, e daí, quando tem esses trabalhos com esses temas maistransversais, a gente trás uma parte de textos que é para despertar o interesse nessenosso objetivo do tema, e daí depois, antes da aula prática a gente tem uns 10 ou 15minutinhos, onde a gente pára e faz, conversa, discussões, críticas, em cima do quefoi lido e pesquisado. (P3)
Considerando Scherer e Molina Neto (2000, p. 76), apesar da relevância
apresentada pelos professores de Educação Física, podemos destacar a existência
de um distanciamento da teoria e da prática pedagógica nas escolas, embora teoria
e prática sejam indissociáveis, como acontece no contexto da aula.
Para Demo (2004, p. 58), o estudo das didáticas e metodologias educacionais,
não podem ser vista como receitas que finalmente se enfeixam na aula reprodutiva e
41
na prova tola, mas como estratégias de cuidado com a aprendizagem dos alunos,
exigindo mudanças profundas de paradigma, de rever o profissional por completo,
não apenas como alguém predestinado a dar aulas, mas alguém definido como
eterno aprendiz e que cuida que outros aprendam.
É percebido por Scherer e Molina Neto (2000, p. 72), que na nossa área de
conhecimento os professores de Educação Física que atuam nas escolas tiveram
uma formação generalista, com o modelo de esporte de alto rendimento como
principal conteúdo das aulas, assim com suas aulas voltadas para o
desenvolvimento e gestos técnicos esportivos.
De fato constatamos essas informações, através dos depoimentos nas
entrevistas, mas é preciso deixar claro que também são observados dados que
imprimem uma metodologia que apesar de prática é voltada para a educação, não
apenas do gesto motor, mas do aprendizado como um todo.
Apesar de seguirem criteriosamente a mesma estrutura de aula, com alguns
objetivos em comum, ressaltamos que os professores seguem diferentes tendências,
que são evidenciadas, através das observações de aulas, entrevistas e com base
em conversas apontadas no diário de campo, de assuntos pertinentes a essa
investigação, mas que não estavam contemplados na entrevista.
Dessa forma, segundo o meu entendimento os mesmo são separados em
construtivista (P1), tendo a aquisição do conhecimento como processo construído
pelo indivíduo durante sua aprendizagem, através da utilização de jogos como
metodologia de ensino, (P2) em psicomotora, por acreditar que o desenvolvimento
da criança ocorre, através do aprendizado dos processos cognitivos, afetivos e
motores, com objetivo de garantir a formação integral do aluno. Sendo (P3 e P4)
desenvolvimentista, trabalhando efetivamente com o desenvolvimento dos alunos no
aspecto fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora, tendo
o movimento como principal meio e fim para a Educação Física.
Com relação aos objetivos que devem ser abordados nessa disciplina,
destacamos que os professores procuram trabalhar em suas aulas os objetivos que
consideram importantes, e basicamente se agrupam em atitudes: envolvimento, o
respeito, a participação, sociabilização e o conhecimento de si e dos outros e
procedimentos: através do conhecimento de regras, aprimoramento técnico e tático,
promover uma melhor qualidade de vida, através da prática do desporto e das
42
atividades físicas, desenvolver as habilidades motoras e físicas. O que fica
evidenciado na seguinte fala:
[...] Aprimoramento técnico e tático, valorizo a inclusão do aluno né? no que dizrespeito na prática do desporto, tento promover uma melhor qualidade de vida,através da prática do desporte e desenvolver as habilidades motoras e físicas. (P1)
[...] Sempre os objetivos são permeados pela questão mais de relacionamento e aquestão afetiva né?[...] (P2)
A educação visa o desenvolvimento das múltiplas potencialidades humanas,
em sua riqueza e diversidade, para a produção de conhecimento e da cultura,
acreditamos que no contexto investigado a preocupação em desenvolver tais
objetivos, são efetivamente buscada pelos professores, por acreditarem ser sua
função junto aos alunos esse ensinamentos.
Ao falar sobre formação de professores de Educação Física, reconhecemos a
importância decisiva de sua formação na construção das crenças, perspectivas
pedagógicas e atitudes desse professor, considerando a formação como processo
contínuo que passa pela formação inicial até a formação contínua.
A formação de professores é abordada de forma significativa nessa
investigação, os docentes entrevistados afirmam que a formação inicial foi superficial
e insatisfatória para sua formação acadêmica, assim após os vários anos de
profissão que possuem, é importante ressaltarmos que todos precisaram buscar em
livros, conversas, cursos, congressos, palestras, pós-graduação e até ingresso no
mestrado, maior conhecimentos e aprendizagens para lidar com suas aulas, por
acreditarem que a formação é uma constante. Esse fato fica evidenciado na reposta
do entrevistado P1:
Com certeza não né? Eu acho que essa pergunta é bem adequada, hã... a gente vaisempre num crescente. Todo dia a gente tá aprendendo, então quando eu me formeiem 1989 eu tinha uma noção de Educação Física, hoje tenho uma completamentediferente, eu era competitivo, no aspecto da competição do desporto de altorendimento, mesmo na escola né? Hoje eu já tenho uma outra cultura, depois disso,depois que eu fiz minha pós graduação em 1999, dez anos depois já mudou bastanteisso, e hoje fazendo o mestrado, com certeza sou uma pessoa bem diferente e asminhas concepções são bem diferentes também. (P1)
De acordo com Neira (2006, p. 190), na formação inicial o eixo encontra-se no
saberes da experiência dos futuros professores e nos saberes do currículo, já na
43
formação contínua o eixo central está na reflexão crítica decorrente da experiência
profissional e a partir dos saberes advindos dela.
Para Molina Neto (1997, p.34), ao examinarmos a formação docente, não
podemos dissociá-la do contexto social, da perspectiva histórica e da prática social
cotidiana dos professores, significa dizer que a formação inicial e as atividades de
formação permanente são etapas dessa construção e não necessariamente as mais
importantes do ser educador.
Os projetos de formação contínua tendem a trabalhar com objetivos referentes
ao desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades, mas para isso
devemos levar em conta os saberes que fazem à mediação no processo de
formação inicial e contínua de educadores.
Com relação à perspectiva que os professores possuem para os referenciais
teóricos que embasam sua prática docente, podemos considerar esses referenciais
incutidos na busca pelo crescimento profissional, na capacitação, na formação
contínua, através de leituras especializadas no seu campo de interesse, pelo
incentivo da escola e pelo aprendizado constante que eles buscam.
Com base nas entrevistas e nas observações, consideramos que os
professores investigados, se utilizam de referenciais teóricos para o embasamento
das práticas pedagógicas ao ministrarem as aulas de Educação Física, todos
citaram autores de concepções diferentes, de acordo com o enfoque de suas aulas.
Portanto podemos observar o exemplo de P1, que tem uma abordagem
construtivista e de acordo com sua fala aborda os seguintes referenciais:
[...] os Pcns né? É um referencial muito importante pra mim, o livro de jogoscondicionados do professor Júlio Garganta que também é muito interessante [...]
Acreditamos que um fato importante e que não pode passar despercebido, e o
fato da escola investir na capacitação de seus professores, e através da efetivação
de um trabalho realizado em conjunto com o corpo docente instituindo autores que
consideram importantes para as aulas de EF, conforme depoimento de P3:
[...] os referenciais teóricos, geralmente são os da escola com o Sopis trabalha, entãotem épocas que é o Paulo Freire, o Vygostski, épocas que é o Piaget, tudo dependedo que a escola tá proporcionando [...]
Segundo a perspectiva psicomotora o enfoque de P2, de acordo com sua
concepção, destacamos os seguintes autores:
44
[...] educadores, então Paulo Freire, hã, Alicia Fernandes, que são todos pessoas dasárea das dificuldades de aprendizagens, Sara Paim, hã... eu fui assim, maisinveredando pra questão das dificuldades de aprendizagens, do que propriamente daquestão física, do que de educadores físicos, então a minha... meus referenciais, sãomais dessa área de educação de psicopedagogia, de psiquiatria infantil, gosto muitode, hã... Vygotski, Nilo Fischer, que fala da questão da criança com hiperatividade,hã... de tentar compreender esse mundo diferente, gosto muito de Negrine também,eu acho assim que ele foi uma pessoa muito importante[...]
Finalizo essa análise destacando os autores enfatizados pelos professores nas
entrevistas, os mais abordados foram os autores Negrine, Paulo Freire e Vygotski,
foram citados de forma significativa, como educadores, por suas abordagens, que no
entendimento dos professores são importantes para a formação dos educandos.
Acreditamos assim que são refletidos efetivamente na prática cotidiana os
referenciais destacados pelos educadores de forma incisiva para aplicação de suas
aulas.
45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Limitações da pesquisa
Durante a realização desse trabalho me empenhei ao máximo para que tudo
ocorresse de forma impecável, por ser um assunto de meu interesse, durante a
minha trajetória acadêmica observei ser discutido os problemas referentes a prática
dos professores de Educação Física e sua falta de teoria, a partir desse
entendimento procurei fazer um aprofundamento nesse estudo, com intuito de
satisfazer meus questionamentos a respeito das aulas ministradas nas escolas.
Assim para elaboração desse trabalho me deparei com algumas limitações,
que iniciaram com a escolha do tema, pois não tinha ainda delineado a escolha por
nenhum assunto especificamente, apenas tinha claro versar sobre um tema
relacionado com os professores de Educação Física, dessa forma após conversar
com meu orientador consegui chegar a esse tema de pesquisa.
Após dar continuidade ao meu trabalho alguns empecilhos acabaram surgindo,
como a falta de tempo para a investigação, o que foi preocupação constante durante
esse período, pois acreditava que poderia não dar conta de exercer de forma
satisfatória o que estava me propondo.
A escolha da Escola que seria realizada as investigações e os professores que
seriam objetos de investigação foram uma limitação inicial, mas que foi solucionada
a tempo, mas de certa forma atrasou minhas coletas, e por fim o material utilizado
que teve problemas após o inicio do trabalho e causou um grande transtorno.
Apesar de ter encontrado essas dificuldades acredito que todas foram
superadas, e o trabalho foi concretizado da melhor forma que possível, dentro das
minhas limitações.
46
5.2 Idéias de continuidade
Esse trabalho me proporcionou grande satisfação durante toda a etapa de
construção, por dificuldade pelo tempo precisei limitá-lo a um estudo caso em uma
única escola da rede privada por entender que dessa forma conseguiria esclarecer
de forma concisa meu problema de investigação, mas gostaria de ampliar
futuramente os estudos nessa área, talvez numa pós-graduação, como idéias de
continuidade para esse tema apresento as seguintes possibilidades:
• Realizar em escolas da rede pública;
• Realizar na rede privada e pública, contrastando as duas realidades;
5.3 Reflexões finais
Considero esse trabalho como mais uma etapa vencida na minha vida
acadêmica, resultado de muita dedicação e perseverança, pois me esmerei ao
máximo para sua concretização.
Durante esse período contei com a ajuda de pessoas incríveis, que foram de
grande valia para essa construção, os professores da escola estudada que
prontamente se disponibilizaram em participar desse estudo, recebendo-me de
braços abertos.
A escola estudada oferece capacitação a seus professores, disponibilizando
cursos, através de ajuda de custo para cursos, congressos, palestras e investe no
crescimento profissional dos educadores.
A investigação decorrente do meu problema de pesquisa considero que foi
efetivamente respondida. Assim, acredito ter exposto de forma significativa o
problema investigado, através de respostas satisfatórias.
Posso confirmar que o corpo docente se utiliza de referenciais teóricos para
sua abordagem nas aulas práticas, referindo ser imprescindível para organização
dessas aulas, autores que permitam efetivar uma melhor educação aos alunos, de
acordo com suas concepções, destacando os aspectos cognitivos, afetivos e não
apenas o motor como normalmente é observado.
Nessa investigação foram destacados alguns autores que considero de grande
relevância, pois de acordo com minhas concepções são educadores que influenciam
47
as aulas dos professores e suas posturas diante da turma, destacando-se Negrine,
Paulo Freire e Vygostski.
Com relação às tendências pedagógicas que os professores se identificam, de
acordo com meu entendimento a partir de dados considerados importantes para
essa análise, foram destadas três tendências seguidas na escola: a construtivista, a
psicomotora e a desenvolvimentista.
A metodologia usada nas aulas de Educação Física configurou-se por aulas
práticas, com pouca teoria, inserida com trabalhos e nas aulas práticas quando
necessário essas resposta foram evidenciadas através da triangulação dos dados,
das entrevistas, das observações e das conversas com os professores.
Dessa forma acredito ter atingido meus objetivos na realização desse trabalho
de forma positiva, com resposta favorável, bem como aspectos relevantes para uma
educação de qualidade oferecida pelos professores de Educação Física, que
investem na construção de diretrizes para que os alunos possam nortear seu
caminho.
Considero que os professores buscam refletir em suas práticas as teorias que
acreditam serem importantes para a formação de seus alunos. Não tenho como
afirmar que em escolas particulares o corpo docente se preocupa em fazer uso de
teorias para a efetivação de uma aula prática, entendo que nessa escola isso é
retratado, o que em outras escolas poderia se configurar de outra forma.
Após o término desse estudo, respiro aliviada em poder oferecer respostas
positivas aos que ainda acreditam em uma boa educação, nos valores éticos e
sociais, nas aprendizagens, nos ensinamentos, enfim no ensino qualificado para
formação de pessoas melhores.
48
REFERÊNCIAS
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BORGES, Cecília Maria Ferreira. O professor de educação física e a construçãodo saber. 4 ed. São Paulo: Papirus, 2003.
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CAUDURO, Maria Teresa (org.). Investigação em educação física e esportes: umnovo olhar pela pesquisa qualitativa. Novo Hamburgo: Feevale, 2004.
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FALKENBACH, Athos Prinz. A educação física na escola: uma experiência comoprofessor. Lajeado: Univates, 2002.
GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Educação física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. 8 ed. São Paulo: Loyola, 2003.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método ecriatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.
MOLINA NETO, Vicente. A formação profissional em educação física e esportes.Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 34-41, set.1997.
MOLINA NETO, Vicente; SCHERER, Alexandre. O conhecimento pedagógico doprofessor de educação física da escola pública no Rio Grande do Sul: umaetnografia em Porto Alegre. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 1 n. 1, p. 71-80set. 1994.
NEIRA, Marcos Garcia. Desenvolvendo competências. 2 ed. São Paulo: Phorte,2006.
PERRENOUD, Philippe et al. Formando professores profissionais: quaisestratégias? quais competências? 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
49
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SACRISTÁN, J. G.; PÉREZ GÓMEZ, A.I. Compreender e transformar o ensino. 4ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
TRIVINOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisaqualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
50
APÊNDICE A - Carta de apresentação
Porto Alegre, maio de 2007.
Ilmo (a). Sr (a)
Diretor (a) do Colégio
Nesta capital
Sr. (a). Diretor (a).
Venho por meio dessa solicitar sua permissão para a realização do meu
Trabalho de Conclusão na Escola, sou aluna do curso de Graduação de Educação
Física do Centro Universitário La Salle e tenho como problema de investigação:
“Quais referenciais teóricos embasam as metodologias de ensino dos professores de
Educação Física de uma Escola da rede privada de Porto Alegre e os reflexos na
prática docente?”.
Dessa forma, gostaria de contar com essa renomada instituição de ensino no
sentido de permitir minha entrada para realização de minha pesquisa junto aos
professores que ministram aulas de Educação Física.
Posteriormente, estarei efetivando contato com os professores para permissão
das observações de aulas e entrevistas, bem como para elucidar o tema a que me
proponho estudar.
Sem mais para o momento, agradeço-lhe antecipadamente.
Atenciosamente,
______________________________.
Isaura Cristiane Torres de Oliveira.
51
APÊNDICE B - Pauta de observação de aula
Data da observação:
Turno:
Série observada:
Horário inicial/final:
Número de alunos:
Sexo dos alunos:
Professor:
01. Observar o rito inicial da aula.
02. Atividades trabalhadas em aula.
03. Metodologia da aula.
04. Postura do professor frente à turma, conflitos decorrentes da aula.
05. Relacionamento da turma entre alunos e com o professor.
06. Término da aula.
52
APÊNDICE C - Roteiro da entrevista semi-estruturada
Entrevista nº: ___. Professor: _________ ___________.
Data da entrevista:___ /__ /__ . Data da transcrição:_ _ /__ /__ .
1. Há quanto tempo trabalhas em escola privada e quais são as experiências que
consideras mais significativas?
2. Quais são os conteúdos desenvolvidos nas suas aulas de Educação Física
(E.F.)?
3. Como são organizadas e estruturadas as unidades de ensino para E.F.?
4. Quais aspectos na sua concepção são importantes para a elaboração de um
plano de ensino?
5. Qual a metodologia de ensino utiliza nas aulas de E.F.?
6. Quais são os objetivos da disciplina de E.F. na sua concepção?
7. Os conhecimentos adquiridos durante sua formação acadêmica foram
satisfatórios para sua prática docente?
8. Quais os referenciais teóricos embasam sua prática docente?
9. Na sua opinião qual o conceito de E. F. escolar?
10. Gostaria de realizar algum comentário que não tenha sido contemplado nas
questões anteriores?
53
APÊNDICE D - Observação de aula
Data da observação: Porto Alegre, 05 de junho de 2007.
Turno: tarde
Série observada: 1ª série
Horário inicial/final: 14:30 às 15:15
Número de alunos: 18 alunos
Sexo dos alunos: Mistos
Professora: Profª. 2 - (P2)
Falei com a professora um pouco antes de iniciar a aula, pois já estava na
escola, então fiquei aguardando o inicio da aula, a professora buscou a turma na
sala, ao chegar na quadra onde seria dada a aula, ela pediu para que os alunos
sentassem em círculo, os orientando do objetivo da primeira atividade que foi um
aquecimento com a brincadeira de pega-rabo, a professora pegou o material e foi
distribuindo explicando com devia ser colocado o rabo, depois que todos estavam
com os rabos ela disse que eles deveriam pegar o maior número de rabos possíveis,
protegendo o seu rabinho, que perdesse o rabo devia sentar até que o último rabo
fosse pego, todos participaram e executaram a atividade sem nenhum problema.
Um fato que me chamou a atenção foi a forma de separação dos grupos, ela
sorteava dois alunos e cada um escolhia um colega, esse colega escolheria outro e
assim sucessivamente até que todos fossem escolhidos, oportunizando a cada
aluno escolha de um colega.
A outra atividade foi uma espécie de caça-bandeira, e novamente a turma foi
reunida em círculo para as explicações das regras e acertos da atividade, onde a
bandeira ou tesouro como a professora denominou a bola, ficaria dentro de uma das
goleiras, nessa atividade percebi alguns alunos usando artimanhas dizendo que não
tinham sido pegos, mas rapidamente a professora explicava que era feio mentir, os
conscientizando de que não deviam trapacear, após oportunizar a participação de
todos na atividade a mesma era terminada.
Ao término dessa atividade um menino desobedeceu a uma combinação,
nesse momento a professora reuniu a turma em círculo, e chamou o aluno num
canto da quadra e conversou com ele, que insistiu com sua postura desafiadora
frente a ela, que o encaminhou para a monitoria, prosseguindo com a aula.
54
Após essa atividade foi dado um intervalo para água, nesse momento a
professora me explicou que o aluno com que teve problemas, foi avaliado em
conselho de classe, onde ficou combinado entre os professores que quando ele não
estivesse colaborando nas atividades seria encaminhado a coordenação.
A aula terminou com um volta à calma, com todos sentados em círculo a
professora explicou sobre o jogos do Panamericanos, então ela fez a brincadeira do
limão entrou na roda e com quem a bola parasse deveria fazer uma mímica sobre
um esporte, nesse momento o menino retornou da coordenação calmamente
participando da brincadeira, após todos executarem a mímica a aula foi encerrada
com a professora levando a turma de volta à sala.
A postura da professora frente à turma era conciliadora, explicava calmamente
as atividades, esclarecendo as dúvidas, apesar de ser firme com a turma sempre os
incentivava, se portava bem frente aos conflitos decorrentes da aula.
A metodologia utilizada pela professora era aula prática com atividades
recreativas, explicando as regras e sua importância para as atividades.
A turma era bem agitada, mas se relacionavam bem entre eles e possuíam um
bom relacionamento com a professora sempre respeitando suas decisões e atitudes.
55
APÊNDICE D - Roteiro da entrevista semi-estruturada
Entrevista nº: _ 02_. Professor:__Profª - P2__________ .
Data da entrevista:_25_/_06_/_07_. Data da transcrição:_27_/_06_/_07_.
1. Há quanto tempo trabalhas em escola privada e quais são as experiências que
consideras mais significativas?
P2 - Bom eu trabalho a 20 anos, e as experiências mais significativas que eu tive
nesse tempo de trabalho foi com os pequenos né? Com 1º a 4º, agora com o
maternal a 4º série, porque eu acho que a troca é muito intensa, e as crianças
assim, são... trabalhar com as crianças pequenas, tu sabe direitinho se tu agradando
ou não, porque eles te dizem esse jogo eu não quero fazer, esse jogo é chato, hoje
a aula foi ruim, hoje a aula foi boa, bom então, eles são um termômetro. Hã... outra
coisa bem bacana que eu acho, hã... é uma experiência que eu faço com eles é o de
professor por um dia, então eles se reúnem em grupinhos, as crianças de 4º série
organizam aulas e dão aula para os pequenos e para os próprios colegas, então é
muito gostoso, de ver assim eles planejando, todo o aquecimento, a parte principal,
a volta à calma.
E - Tu mostras para eles a estrutura de um plano de aula e pede para eles fazerem?
P2 - É, a gente tem um encontro, a gente sorteia os assuntos importantes, e eles
fazem bem direitinho, o objetivo é criar brincadeiras ou enriquecer brincadeiras já
existentes, então assim, tem muito coisa bacana, que até depois eu peço
autorização para poder inserir nas minhas aulas, no meu caderno de atividades, eles
ficam bem faceiros, se acham muito importantes.
2. Quais são os conteúdos desenvolvidos nas suas aulas de Educação Física
(E.F.)?
P2 - Bom a gente trabalha em cima de muita brincadeira, circuito psicomotor, e a
gente trabalha a questão das valências físicas e pré-desportivos, não entramos no
esporte propriamente dito, mas todas as habilidades, assim, porque na 5º série eles
começam com os esportes, então a gente trabalha com o futsal, vôlei, basquete,
handebol, a gente trabalha joguinhos com regras adaptadas né? Pra os pequenos é
muita, a gente organiza, o conteúdo é a exploração dos espaço e dos diversos
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materiais, e com o tempo a gente segue com os joguinhos mais estruturados com
uma regras.
3. Como são organizadas e estruturadas as unidades de ensino para E.F.?
P2 - São por trimestres, então, assim, são 3 trimestres e nesses trimestres eu faço
organização dos conteúdos que eu quero trabalhar com eles, alguns conteúdos
persistem ao longo dos 3 trimestres e a gente vai acrescentando alguma coisa
diferentes.
E - Tu trabalhas com o ensino fundamental na escola, como tu formulas os objetivos,
tu procuras mediar os objetivos para cada série do maternal a 4º série?
P2 - Hã... os objetivos sempre tem mais da área afetiva, pra, principalmente de 1º a
4º, assim, os objetivos que tão sempre presentes são o saber ouvir, e respeitar as
combinações feitas, esse dois objetivos sempre tão presentes em todas as
avaliações, de série pra série, há... há uma modificação, assim, na 1º série os
objetivos são de participar de jogos e brincadeiras explorando os materiais né? Já
na 2º série tem os jogos mais misturados, a 3º questão, assim, dos jogos, a coisa do
saber ganhar, saber perder, sempre os objetivos são permeados pela questão mais
de relacionamento e a questão afetiva né? São objetivos mais gerais, por exemplo
na 4º série não existe o executar o saque do nilcon, mas sim participar de atividades
pré-desportivas que envolvam a bola de vôlei, eu que organizo cada ano muda.
4. Quais aspectos na sua concepção são importantes para a elaboração de um
plano de ensino?
P2 - Levar em conta o diagnóstico da turma, os objetivos que desejamos realizar
como nossos alunos, as aprendizagens que eles precisam alcançar, a questão mais
de relacionamentos a parte mais atitudinal como havia respondido anteriormente.
5. Qual a metodologia de ensino utiliza nas aulas de E.F.?
P2 - Bom assim, hã... aula prática, pra os maiorzinhos a gente tem, assim, o trabalho
em grupo, existe um momento onde eles se reúnem pra planejar, pra organizar, pra
apresentar alguma coisa, esse ano tem o Pan, então a gente tá fazendo o projeto do
Pan, em que eles vão escolher esportes pra mostrar pra os colegas como é, e fazer
uma prática, ou chamar alguém que possa fazer essa prática, então existem
57
momentos mais práticos e momentos mais teóricos, mas são raros, geralmente é na
quadra com os materiais é mais prático mesmo.
E - Como tu fazes avaliação dessas atividades?
P2 - Eu costumo fazer um registro diário das coisas mais significativas das
observações, eu acho que a gente, assim, o professor de Educação Física ele tem
que tá muito atento, hã... algumas coisas bem importantes, porque muita coisas
acontecem dentro da aula de Educação Física, questões dos relacionamento que se
dá com quem, quem escanteia quem, quem tem dificuldade de entrar no grupo.
Então, hã... e outra coisa bem importante é como tu não tem essa coisa diária com
as crianças, os pais, eles vem contando situações que as crianças relatam em casa,
daí se tu não tiver esse aporte, esse registro, tu não se recorda, ou se recorda
pouco, então é um registro diário, todo o fim de dia eu coloco algumas observações
importantes, de algum aluno, de alguma desavença, coisas boas, tenho tudo isso
anotado para depois avaliar, e até pra poder repensar na minha prática se deu certo
ou não deu né?
6. Quais são os objetivos da disciplina de E.F. na sua concepção?
P2 - Eu acho que com os pequenos, os objetivos que entram deve ser mais da
questão de envolvimento, da questão do tentar, fazer do seu jeito ou do melhor jeito
que puder né? Hã... eu não costumo, assim, avaliar a questão da performance,
porque eu acho que como existem, assim, vários tipos de inteligências, algumas
crianças elas não tem aquela habilidade que outras tem, e o que fazer com isso, o
que fazer com o gordinho que sempre foi sempre escanteado, o que fazer com
aquela menina que não tem coordenação que a bola cai, então pra mim, os
principais objetivos são a questão de respeitar o outro, é fundamental pra mim saber
respeitar o outro, e saber, procurar, participar, porque assim, participar pra tentar,
não pra acertar ou ganhar.
7. Os conhecimentos adquiridos durante sua formação acadêmica foram
satisfatórios para sua prática docente?
P2 - Não, muito pouco, eu penso assim, pra trabalhar algumas coisas, eu procurei
pesquisar, eu tenho uma biblioteca bem rica de livros com jogos e coisas, mas eu
acho, assim, a minha faculdade eu me formei em 90, mas muita coisa tomara que
tenha mudado, era muito voltada para as pessoas que queriam na época trabalhar
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em academia, eu tinha colegas que na época eram jogadores de futebol, de todos
os meus colegas, eu conto nos dedos os que tão em escolas, na minha faculdade eu
tive uma cadeira de didática na época, então, eu acho assim que deixou muito a
desejar, porque se eu quero saber as regras de um jogo pra trabalhar com as
crianças eu vou no livro e pesquiso, mas esse traquejos, tanto que muitos colegas
meus ficaram muito, hã, hã... tiveram muita dificuldade nos estágios, porque a
faculdade não preparo, pra essas questões que acontecem no dia-a-dia, como lidar,
a questão do respeito, como é que tu vai trabalhar um grupo grande, eu acho que
pra professores, que acreditam na educação a faculdade deixou muito a desejar.
E - Tu precisaste buscar uma formação continuada, através de cursos?
P2 - Fiz vários cursos de psicomotricidade, de psicopedagogia, a questão da
alfabetização que eu fiz, pra tentar entender, assim como as crianças aprendiam,
porque ninguém, hã... falou sobre essa questão, hã... buscar em cursos muitas
coisas novas, hã... porque na minha época, por exemplo o velho não faziam
musculação, hoje a gente sabe da importância, então muitas coisas a faculdade não
trabalhou.
E - A escola aqui investe nessa formação de vocês?
P2 - É, então a gente quer fazer cursos a escola ajuda, dá uma ajuda de custo né?
Hã... a gente pode trabalhar com esses horários, mas tem que avisar com
antecedência, aí fica uma pessoa me substituindo, porque eles querem que a gente
continue trabalhando, lendo, estudando isso é bem importante pra eles.
8. Quais os referenciais teóricos embasam sua prática docente?
P2 - Olha eu vou te dizer, assim, que eu trabalhei muito com educadores, então
Paulo Freire, hã, Alicia Fernandes, que são todas pessoas das área das dificuldades
de aprendizagens, Sara Paim, hã... eu fui assim, mais enveredando pra questão das
dificuldades de aprendizagens, do que propriamente da questão física, do que de
educadores físicos, então a minha... meus referenciais, são mais dessa área de
educação de psicopedagogia, de psiquiatria infantil, gosto muito de, hã... Vygotski,
Nilo Fischer, que fala da questão da criança com hiperatividade, hã... de tentar
compreender esse mundo diferente, gosto muito de Negrine também, eu acho assim
que ele foi uma pessoa muito importante pra mim, existem outros pensadores na
área da psicomotricidade hoje, mas o Negrine foi uma pessoa, assim, que voltou
com um trabalho diferente, a psicomotricidade relacional e tudo mais, isso assim foi
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bem significativo. Eu acho que tem muita pouca gente pensando em Educação
Física, quanto disciplina, que é fundamental, importante, penso que tem muito livro
de joguinhos, e muito pouca coisa do dia-a-dia.
9. Na sua opinião qual o conceito de E. F. escolar?
P2 - Pra mim a Educação Física escolar é um espaço pra brincar, pra aprender, se
relacionar, eu acho assim que as crianças hoje em dia elas moram em apartamento,
eles brincam muito com o computador, assim brincam muito sozinhas né? As
famílias grandes acabaram, pelo custo de vida, então é um espaço pra se relacionar,
e é enriquecedor, nas minhas aulas uma vez por mês existe a hora livre, então eles
trabalham com diversos materiais, desde jornais, pedaços de barbantes, tudo
colocado na quadra pra que eles possam brincar, a gente vê as crianças com muita
dificuldade, eu acho que é papel da escola e da nossa disciplina poder proporcionar
isso também, além das outras coisas claro, aprimoramento de valências e tudo mais,
mas principalmente a questão do se relacionar, do brincar, brincar por brincar né?
10. Gostaria de realizar algum comentário que não tenha sido contemplado nas
questões anteriores?
P2 - Não, eu acho que, hã... eu sou uma professora meio, hã... meio, mais
professora mesmo pela minha experiência né? Porque a minha experiência foi toda
na sala de aula, além da Educação Física, porque a Educação Física foi uma paixão
paralela, eu penso, assim, que eu tenho que evoluir muito, estudar muito, hã... tô
descobrindo a cada dia tudo quanto eu não sei né? E que uma coisa que é
importante tem que ter uma energia do coração, porque as crianças não admitem
um professor que não brinque, que não se joguem no chão, que não esteja ali
presente, então tu tem que ter muita energia né? Muitas idéias, muita criatividade,
tem que se despojar dessa coisa de adulto, eu acho que isso é o melhor que eu
podia ter, a profissão melhor que eu podia escolher.
E - Muito obrigada!
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ANEXO A – Projeto de Educação Física
OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA
A disciplina propõe como objetivos centrais o princípio da Inclusão do aluno na
cultura corporal do movimento, por meio da participação e reflexão efetiva, e o
princípio da Diversidade, este visando ampliar as relações entre os conhecimentos
da cultura corporal do movimento e os sujeitos da aprendizagem.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA DISCIPLINA
Espera-se que o aluno ao final do ensino fundamental seja capaz de:
• Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e
construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando os limites e características
físicas, pessoais e sexuais dos companheiros.
• Repudiar qualquer espécie de violência, adotando atitudes de respeito mútuo
e solidariedade.
• Repudiar qualquer espécie de violência, adotando atitudes de respeito mútuo
e solidariedade.
• Reconhecer a pluralidade de manifestações de culturas corporais do Brasil,
respeitando os diferentes grupos sociais e étnicos.
• Perceber-se como integrante do meio ambiente, adotando hábitos saudáveis
de higiene, alimentação e atividades corporais.
• Solucionar problemas de ordem corporal, dosando o esforço em um nível
compatível com suas possibilidades.
• Conhecer a diversidade de padrões de beleza, saúde e desempenho que
existem em diferentes grupos sociais.
• Agregar como hábito para vida, a prática cotidiana da atividade física e sua
valorização para o bem estar.
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O QUE ENSINAR EM EDUCAÇÃO FÍSICA?
O principal instrumento que a Educação Física aponta é para uma abordagem
dos conteúdos escolares em procedimentos, conceitos e atitudes. Direcionando para
uma valorização dos procedimentos sem restringi-los ao universo das habilidades
motoras e dos fundamentos dos esportes, incluindo procedimento de organização,
sistematização de informações, aperfeiçoamento e outros.
Aos conteúdos de regras, táticas e alguns dados históricos factuais de
modalidades somam-se reflexões sobre conceitos de ética, estética, desempenho,
satisfação, eficiência e outros. Já os conteúdos de natureza atitudinais são
explicitados como objeto de ensino e aprendizagem e propostos como vivências
concretas pelo aluno, o que viabiliza uma postura de responsabilidade perante si e o
outro.
COMO ENSINAR EDUCAÇÃO FÍSICA?
Nas aulas de Educação Física, os aspectos procedimentais são mais
facilmente observáveis, pois a aprendizagem desses conteúdos está
necessariamente vinculada á experiência prática. No entanto, a valorização do
desempenho técnico com pouca ênfase no prazer, tem proporcionado em muitos
casos, a exclusão dos alunos das aulas de Educação Física. É importante buscar
meios para garantir a vivência e a prática da experiência corporal do aluno, através
de propostas de ensino-aprendizagem capazes de estar adequadas à realidade e
percepção dos alunos.
A partir da inclusão, podemos constituir um ambiente de aprendizagem
significativa, que faça sentido para o aluno, no qual ele tenha a possibilidade de
fazer suas escolhas, trocar informações, estabelecer questões e construir hipóteses
na tentativa de respondê-las.
PARA QUEM ENSINAR EDUCAÇÃO FÍSICA?
Quais são os interesses de aprendizagem do nosso aluno? Quais são seus
conhecimentos prévios? Quais são as transformações corporais, cognitivas e
afetivas no aluno do ensino fundamental? As respostas para estas perguntas são
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fundamentais para a prática de Educação Física. É importante refletir e considerar a
realidade, a qualidade e a quantidade de experiências de aprendizagem oferecidas
pela escola, em relação com o meio sócio-cultural vivido pelo aluno fora dela, no
qual este é bombardeado pela indústria de massa da cultura e do lazer com falsas
necessidades de consumo, carregado de mitos de saúde, desempenho e beleza
com muitas informações falsas. Os valores, os preconceitos e os estereótipos
presentes no ambiente são determinantes no interesse dos alunos. É neste contexto
que devemos valorizar a função social da escola como espaço para novas
experiências e proporcionar a reflexão para a prática da cultura corporal do
movimento.
METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM
Metodologia do Jogo Condicionado
Antes do método vem a criança, o método deve perseguir esta e não ao
contrário. O método deve encontrar-se com a habilidade mais peculiar da criança,
que é a imaginação, isto é, a capacidade de inventar, que é sua especialidade. O
método deve permitir a mágica de ver para dentro. A habilidade de inventar que nos
permitiu construir cultura e garantiu a sobrevivência da espécie. Em se tratando de
métodos, a pergunta pedagógica é: o que se deve estimular na criança que aprende
o desporto? A automatização desse ou daquele gesto, posicionamento, jogadas
ensaiadas ou a capacidade de se adaptar a situações novas, de resolver problemas
ou de improvisar?
A metodologia do jogo condicionado estimula a inteligência tática de perceber o
espaço, o colega, o adversário, de decidir, de antecipar-se, da colaboração, da
autonomia, do respeito e principalmente do coletivo. Para isto é importante o
professor abandonar a idéia de que a criança precisa dominar o gesto técnico para
depois jogar. Este tipo de crença separando o que fazer do como fazer, deixa a
criança, a ingrata herança de automatizar movimentos. Este método sufoca a
imaginação, mais atrapalhando do que ajudando. Cabe ao professor de Educação
Física planejar diferentes tipos de jogos, que levarão a criança a aprender,
desenvolver-se e atingir os objetivos propostos pela disciplina.
63
AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
È importante que a avaliação em Educação Física deva ser de utilidade, tanto
para o aluno como para o professor, para que ambos possam dimensionar os
avanços e as dificuldades dentro do processo de ensino aprendizagem e torná-lo
cada vez mais produtivo.
Os instrumentos de avaliação deverão atender à demanda dos objetivos
educativos expressos na seleção dos conteúdos, abordados dentro das categorias
conceituais, procedimentais e atitudinal. Estas avaliações devem facilitar a
observação do aluno no processo de construção do conhecimento.
EXEMPLO DE AVALIAÇÃO
Conceitual
Avaliar as pesquisas através de trabalhos escritos, debates e apresentação dos
alunos – 30% da nota final.
Procedimental
Participação, interesse e cumplicidade nas aulas práticas – Observação do
professor – 20% da nota final.
Atitudinal
Avaliação participativa individual com o professor, ou em grupos avaliando os
colegas com auxílio do professor. Respondendo as seguintes questões:
1) Sua relação com os colegas (respeito, colaboração, disciplina);
2) Sua relação com professor (respeito, colaboração e disciplina);
3) Sua evolução nas aulas de Educação Física (aspectos procedimentais e
atitudinais);
4) Seu interesse nas aulas de Educação Física;
50% da nota final.