os tempos - ccb · 1974 a primeira metade da década de 70 foi, para bob dylan, ... “don’t...

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Dylan: Mudam-se os tempos A Columbia Records chegou a ponderar a escolha desta canção para single, acabando contudo por optar por “Blowin’ In The Wind”, surgindo então no respetivo lado B. O tempo deu-lhe contudo estatuto de referência, tantas que são já as versões criadas que passam, entre outros, por nomes como os de Peter, Paul & Mary, Elvis Presley, Eric Clapton ou Bryan Ferry. “Like a Rolling Stone” 1965 As revoluções fazem-se em confronto com o que antes estava estabelecido como norma. Mas, na história da música, poucas revoluções foram (literalmente) tão elétricas e capazes de gerar (o tantas vezes saudável) desconforto na relação entre artista e público como a que Bob Dylan protagonizou quando, inesperadamente, surgiu no palco de um festival de música folk com uma banda... de rock. Aconteceu em 1965 no festival de Newport e gerou um episódio de importância tal que não há biografia do músico ou história da música popular que não o refira. Eljah Wald publicou inclusivamente “Dylan Goes Electric! – Newport, Seeger, Dylan and the Night that Split the Sixties”, um livro todo ele dedicado a esse momento e às suas repercussões. A canção, que foi depois gravada nos Columbia Recording Studios a 16 de junho desse mesmo ano (acompanhado pela banda e com Tom Wilson na produção), é um dos temas centrais do alinhamento do álbum Highway 61 Revisited e acabou por se transformar num caso maior das história da música popular. Há aqui contudo mais do que apenas a “ousadia” elétrica. Há uma dimensão poética que junta não apenas uma figura (uma certa Mrs. Lonely, que se crê que possa ser Eddie Sedgwick, uma das mais importantes atrizes do cinema de Warhol) e ainda um olhar sobre a sociedade americana de meados dos anos 60. Um mês antes do lançamento do álbum a canção surgiu num single, com o tema “Gates of Eden” no lado B... Poucas semanas depois atingia o número 2 na tabela norte-americana que era então liderada por “Help!” dos Beatles. Anos mais tarde seria eleita pela revista ‘Rolling Stone’ como o número um da sua lista das 500 Melhores Canções de Sempre. Versões não faltam, por nomes que passam por Jimi Hendrix, Patti Smith, os Rolling Stones ou David Bowie. “Forever Young” 1974 A primeira metade da década de 70 foi, para Bob Dylan, um período de várias convulsões, que passam quer por uma relação da crítica com os seus discos (que se mostrou longe da quase unanimidade de algum tempo antes), quer por uma episódica saída da Columbia Records, que o levou a gravar, por pouco tempo, pela Asylum Records. E é por essa outra etiqueta que, em 1974, apresentou o álbum Planet Waves, que na verdade foi o verdadeiro sucessor de New Morning na sua discografia de estúdio (pelo caminho houve uma banda sonora e um álbum que juntava sessões de gravações anteriores). “Forever Young” teve como inspiração um dos filhos de Dylan (muito provavelmente, Jesse). O próprio Dylan contou já que escreveu a canção em Tucson (no Arizona) tentando não ser demasiado “sentimental” já que escrevia sobre um filho. A canção surgiu num ápice ou, como ele mesmo explicou, “escreveu-se a si mesma”. Apesar da fonte de inspiração bem concreta, fala genericamente para todos os que, como os seus filhos, aspiravam a ter uma boa educação e oportunidades, desejando no fim que se consigam manter sempre jovens. E traduz uma relação com valores religiosos que ganhariam uma dimensão ainda mais intensa na soa obra pouco tempo depois. A canção foi gravada, com os elementos dos The Band, em duas sessões distintas, a 8 e 14 de novembro de 1974, no The Village Recorder, em Los Angeles, nelas nascendo, respetivamente, as versões lenta e rápida, que surgem, em sequência, no alinhamento do álbum. A produção coube aqui a Dylan, juntamente com Robbie Robertson e Rob Frabioni. Há versões desta canção assinadas por Joan Baez, Diana Ross, Johnny Cash ou os Grateful Dead. NUNO GALOPIM

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Page 1: os tempos - CCB · 1974 A primeira metade da década de 70 foi, para Bob Dylan, ... “Don’t Think Twice It’s Alright” veria a luz do dia quando a canção integrou o

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ncia

de

pros

a po

étic

a e

o pr

imei

ro v

olum

e da

s su

as C

róni

cas,

um

a au

tobi

o-gr

afia

. H

á, s

obre

tudo

nes

te ú

ltim

o liv

ro,

diál

ogos

, pe

rson

agen

s (r

eais

) e,

sem

sur

pres

a, r

efle

xões

so-

bre

a m

úsic

a e

aque

les

que

a fa

zem

. M

as,

acim

a

de t

udo,

ali o

lhar

es s

obre

um

a A

mér

ica

que

foi

desc

obrin

do a

fun

do n

a er

rânc

ia c

om q

ue s

e fa

z o

dia-

a-di

a de

um

mús

ico.

Mes

mo

assi

m,

não

era

prec

iso

conv

ocar

a c

auçã

o de

stes

doi

s liv

ros

para

es

grim

ar j

ustif

icaç

ões.

Bas

tava

ouv

ir as

sua

s ca

n-çõ

es,

nota

r a

dim

ensã

o po

étic

a da

s su

as p

alav

ras,

pa

ra q

ue u

m p

rém

io d

esta

dim

ensã

o fo

sse

mai

s do

qu

e ju

stifi

cado

.A

poé

tica

de D

ylan

foi

pro

fund

amen

te m

arca

da

pelo

s ac

onte

cim

ento

s de

um

a A

mér

ica

que

vivi

a,

nos

anos

60,

a a

uror

a de

impo

rtan

tes

mov

imen

tos

de c

onte

staç

ão e

era

pal

co d

a au

rora

de

uma

con-

trac

ultu

ra q

ue t

inha

no

rock

(mai

s do

que

na

folk

) a

sua

band

a so

nora

prim

ordi

al. E

aco

lheu

o im

pac-

te,

tam

bém

a “

quen

te”,

da

“bea

t ge

nera

tion”

, ab

sorv

endo

as

influ

ênci

as d

ireta

s de

nom

es c

omo

Ker

ouac

, Gin

sber

g ou

Bur

roug

hs, a

caba

ndo

por s

e ju

ntar

a e

les

na li

nha

da f

rent

e do

s qu

e us

avam

a

pala

vra

com

o m

atér

ia-p

rima.

É ve

rdad

e qu

e ex

iste

aqu

ela

velh

a qu

estã

o na

hor

a de

enc

arar

as

pala

vras

can

tada

s. H

á qu

em l

hes

cham

e le

tras

. Há

quem

dig

a qu

e sã

o po

emas

… N

o ca

so d

e Bo

b D

ylan

as

duas

exp

ress

ões

são

válid

as.

Sem

que

um

a m

agoe

a o

utra

.

The

times

the

y ar

e a-

chan

gin’

...

Três

can

ções

de

Dyl

an

“Don

’t T

hink

Tw

ice,

It’

s A

lrigh

t”

19

62

Ouv

iu-s

e pe

la p

rimei

ra v

ez e

m o

utub

ro d

e 19

62

no

Gas

light

C

afé

e fo

i gr

avad

a no

s C

olum

bia

Reco

rdin

g St

udio

s,

em

Nov

a Io

rque

, a

14

de

nove

mbr

o de

sse

mes

mo

ano,

com

John

Ham

mon

d a

dirig

ir en

tão

os t

raba

lhos

. A

gra

vaçã

o fe

z-se

ao

prim

eiro

‘ta

ke’,

trad

uzin

do o

ful

gor

e o

sent

ido

de v

erda

de t

ão c

arac

terís

ticos

de

uma

prim

eira

in

terp

reta

ção.

“D

on’t

Th

ink

Twic

e It’

s A

lrigh

t”

veria

a l

uz d

o di

a qu

ando

a c

ançã

o in

tegr

ou o

al

inha

men

to d

e Th

e Fr

eew

heel

in’ B

ob d

ylan

, o s

eu

segu

ndo

álbu

m d

e es

túdi

o e

aque

le q

ue r

evel

aria

em

ple

no a

s ca

paci

dade

s au

tora

is e

que

col

ocar

ia

Dyl

an s

ob a

mira

das

ate

nçõe

s.

É um

a ca

nção

sob

re u

m a

mor

que

ter

min

ou.

E ao

mes

mo

tem

po u

ma

refle

xão

sobr

e o

que

fez,

o

que

não

fez

e o

que

podi

a te

r fe

ito,

mas

sem

de

ixar

de

se q

uest

iona

r se

não

ter

ia p

erdi

do a

li o

seu

“tem

po p

reci

oso”

...

Embo

ra o

poe

ma

não

o ex

plic

ite, é

pos

síve

l que

a s

ituaç

ão a

que

se

refe

re

este

ja r

elac

iona

da c

om o

afa

stam

ento

de

Suze

Ro

tolo

, qu

e en

tret

anto

par

tira

para

Itá

lia,

onde

es

tava

ago

ra a

est

udar

. Há

vária

s ou

tras

refe

rênc

ias

na l

etra

que

apo

ntam

ess

a lig

ação

a S

uze.

Um

a im

agem

da

alvo

rada

de

um n

ovo

dia,

que

Dyl

an a

li ca

nta,

coi

ncid

e co

m r

ecor

daçõ

es q

ue e

la m

esm

a re

cord

ou m

ais

tard

e na

s su

as m

emór

ias.

Um

ano

de

pois

, em

N

ewpo

rt,

Joan

Ba

ez

refe

rir-s

e-ia

a

esta

can

ção

com

o a

“his

tória

de

um a

mor

que

du

rara

dem

asia

do te

mpo

”. M

ais

um d

ado

curio

so,

port

anto

...