otimizando o uso da pastagem pela integração de ovinos e bovinos

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Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS 1 Otimizando o uso da pastagem pela integração de ovinos e bovinos Paulo C. de F. Carvalho 1 , Davi Teixeira dos Santos 2 , Cristina M. P. Barbosa 2 , Daniela Sperling Lubisco 2 , Claudete Reisdorfer Lang 3 . Resumo A integração de ovinos e bovinos com vistas à otimização do uso de uma pastagem tem sua fundamentação na exploração das diferenças de comportamento em pastejo de cada espécie. Tal qual ocorre em ambientes selvagens, cada espécie ocupa nichos da pastagem resultando em um melhor aproveitamento da forragem oferecida. Além disso, frequentemente ocorre um maior desempenho animal das espécies animais envolvidas, seja pela melhoria da forragem disponível, seja pela melhoria dos aspectos sanitários. A magnitude do benefício atingido com a exploração mista depende do tipo de pastagem e de quais espécies animais estão envolvidas na integração. Esta revisão discorre sobre esses fatores, concluindo ser o pastejo misto uma técnica muito interessante para o uso eficiente e otimizado da pastagem. Abstract Mixed grazing by sheep and cattle aiming to optimize pasture utilization has its basis in exploiting differences in different species grazing behaviour. As in the wild, each species occupies specific niches in pasture resulting in a better utilization of the forage. Moreover, an increase in animal performance of the species involved frequently occurs by improvement of forage available and/or improvement of sanitary conditions. The magnitude of the benefit attained with mixed grazing depends on pasture and animals characteristics. This review 1 Professor Adjunto, [email protected], Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia – UFRGS, Av. Bento Gonçalves 7712, 91.501-970, Porto Alegre-RS. 2 Curso de Pós-graduação em Zootecnia – UFRGS 3 Professora Substituta. Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.

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Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS

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Otimizando o uso da pastagem pela integração de ovinos e bovinos

Paulo C. de F. Carvalho1, Davi Teixeira dos Santos2, Cristina M. P. Barbosa2, Daniela Sperling Lubisco2 , Claudete Reisdorfer Lang3.

Resumo

A integração de ovinos e bovinos com vistas à otimização do uso de uma

pastagem tem sua fundamentação na exploração das diferenças de

comportamento em pastejo de cada espécie. Tal qual ocorre em ambientes

selvagens, cada espécie ocupa nichos da pastagem resultando em um melhor

aproveitamento da forragem oferecida. Além disso, frequentemente ocorre um

maior desempenho animal das espécies animais envolvidas, seja pela melhoria da

forragem disponível, seja pela melhoria dos aspectos sanitários. A magnitude do

benefício atingido com a exploração mista depende do tipo de pastagem e de

quais espécies animais estão envolvidas na integração. Esta revisão discorre

sobre esses fatores, concluindo ser o pastejo misto uma técnica muito

interessante para o uso eficiente e otimizado da pastagem.

Abstract

Mixed grazing by sheep and cattle aiming to optimize pasture utilization has

its basis in exploiting differences in different species grazing behaviour. As in the

wild, each species occupies specific niches in pasture resulting in a better

utilization of the forage. Moreover, an increase in animal performance of the

species involved frequently occurs by improvement of forage available and/or

improvement of sanitary conditions. The magnitude of the benefit attained with

mixed grazing depends on pasture and animals characteristics. This review

1Professor Adjunto, [email protected], Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia – UFRGS, Av. Bento Gonçalves 7712, 91.501-970, Porto Alegre-RS. 2Curso de Pós-graduação em Zootecnia – UFRGS 3Professora Substituta. Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.

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considers these factors, concluding being mixed grazing a useful technique for the

efficient and optimized use of pastures.

1. Introdução: definindo e contextualizando o tema

Carvalho e Rodrigues (1997) apresentaram a exploração integrada, ou pastejo misto, como um método de pastejo que envolve mais de uma espécie de herbívoro pastejando um mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em períodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das espécies animais envolvidas. Essa técnica espelha-

se nos ecossistemas pastoris selvagens, onde diversas espécies de herbívoros

convivem e se complementam sob uma vegetação comum. Praticada em várias

partes do mundo, a exploração integrada tem em sua fundamentação a

maximização da utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de

produção animal que ultrapasse a soma do desempenho produtivo das espécies

utilizadas de forma isolada.

A busca pela otimização do uso do recurso forrageiro advém do caráter

heterogêneo das pastagens, e do fato de que os animais não pastejam tudo o que

encontram, eles têm preferências (Gordon e Iason, 1989) e exercem seleção

(Hodgson, 1979) resultando em partes da pastagem que são mais, outras menos

utilizadas. Uma vez que os sistemas modernos de produção animal baseados em

pastagens são “filosoficamente direcionados” à máxima utilização da pastagem

produzida (mas vide discussão de Carvalho et al., 2004), o conceito de uso da

mesma por mais de uma espécie de herbívoro doméstico visaria colher mais de

uma mesma unidade de área (Carvalho et al., 2002).

A desfolhação seletiva promovida pelo animal em pastejo integra

requerimento animal e capacidade metabólica com um vasto conjunto de plantas,

nos mais diversos estádios de crescimento e aceitabilidade, que irão determinar

diferenças nos componentes da dieta (e.g., Montossi et al., 1998). O pastejo misto

pode se constituir numa importante alternativa de manejo quando se consegue

compor as diferentes preferências e exigências dos diferentes animais e o

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resultado seja, não somente uma amplitude maior no uso da forragem, mas

também uma maior produção animal.

No Brasil, esta técnica vem sendo há muito tempo praticada nos

ecossistemas pastoris de vegetação nativa. Como a produção animal nesses

sistemas é frequentemente limitada pela inexistência de reposição de nutrientes,

tornando-os pouco produtivos, o pastejo misto e a pastagem nativa adquiriram

sinonímia de manejo extensivo, infelizmente, em seu sentido mais pejorativo.

Recentemente, a ovinocultura de corte tem avançado sobre novas frentes no

centro do país, em particular nos Cerrados, onde se concentram a maior parte do

rebanho bovino e as maiores superfícies de pastagens cultivadas, criando uma

nova demanda para o tema. Novas questões para respostas antigas...

É nesse contexto que se enquadram os objetivos deste trabalho, ou seja,

apresentar os princípios envolvidos na exploração das pastagens através de

múltiplas espécies, descrever o processo pelo qual controlamos a intensidade de

pastejo neste tipo de sistema, e discutir as potencialidades do uso desta prática.

As espécies de herbívoros domésticos mais comumente utilizadas serão

apresentadas, com enfoque na associação bovino-ovino por ser, esta, a

integração mais requerida.

2. Princípios importantes para a composição de espécies

A associação de diferentes características anatômicas (e.g., tamanho

corporal, aparato bucal), fisiológicas (e.g., exigências nutricionais, tolerância a

compostos tóxicos), comportamentais (e.g., sociabilidade) e epidemiológicas (e.g.,

tolerância a parasitas) pode levar à complementaridade no uso do recurso

forrageiro (Lambert e Guerin, 1989).

Contudo, dentre os vários fatores existentes, o tamanho do animal

apresenta o mais consistente efeito sobre o consumo constituindo-se numa

característica extremamente importante na definição da eficiência com que um

determinado alimento pode ser consumido e utilizado porque traz limitações

quanti-qualitativas ao atendimento das exigências nutricionais. As necessidades

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energéticas em termos de metabolismo basal decrescem de forma não linear com

o aumento do peso e, portanto, o requerimento metabólico total aumenta em

relação ao peso vivo na potência 0,75 (P.V. 0,75).

Figura 1. Relação entre massa corporal e consumo de energia absoluta (•–• ) e relativa

(◦–◦) em mamíferos (Tainton, 1999).

No entanto, o volume do rúmen e a capacidade digestiva têm relação

isométrica com o aumento do peso vivo (Demment e Van Soest, 1985). A

conseqüência disto é que animais grandes são mais capazes de tolerar alimentos

de pior qualidade porque a relação requerimento/capacidade digestiva diminui

com o aumento do tamanho do animal. Os bovinos e os eqüinos são exemplos de

herbívoros domésticos de maior porte usados mais frequentemente em nossos

sistemas de produção. A estratégia evolutiva do bovino foi a de desenvolver um

enorme compartimento anterior, chamado rúmen, que possibilita a retenção do

alimento em uma “câmara de fermentação” tendo por conseqüência um melhor

aproveitamento da fibra. Já o eqüino compensa a sua inferioridade na digestão da

celulose através da maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo,

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o que lhe permite ter um consumo total de alimentos superior ao dos bovinos

(Lechner-Doll et al.,1995).

Por um outro lado, o alto gasto de energia por unidade de peso vivo em

pequenos herbívoros exige, da parte destes, uma dieta mais digestiva,

"concentrada" em nutrientes (Lechner-Doll et al.,1995). Para poder colhê-la,

caprinos e ovinos desenvolveram em sua morfologia estruturas anatômicas que

lhes permitem ser altamente seletivos. Estes herbívoros apresentam maior

capacidade em discriminar e apreender espécies distintas e componentes

morfológicos das plantas em diferentes comunidades vegetais apresentando,

assim, dietas de maior valor nutritivo. Como resultado do processo de seleção

natural, o tamanho da mandíbula e o uso da língua pelos bovinos não permitem

que estes sejam tão precisos quanto os ovinos em selecionar os componentes

mais nutritivos da forragem oferecida. Isto é particularmente verdadeiro quando o

material verde e o morto estão intimamente misturados e distribuídos desde a

base até o topo da pastagem, como pode ocorrer em pastagens compostas

predominantemente por gramíneas. Não obstante, a mandíbula mais forte e a

ação da sacudida da cabeça concedem, aos bovinos, vantagens no consumo dos

componentes mais fibrosos da pastagem (Montossi et al., 1998). Esses conceitos

estão muito bem apresentados no estudo de Montossi et al. (1998) com pastejo

misto (bovino e ovino) em pastagem nativa na região do Basalto-Uruguai. Esses

autores destacam a superioridade dos ovinos em selecionar dietas de melhor

qualidade, demonstrando a sua maior habilidade em colher, preferencialmente, os

componentes mais nutritivos da forragem oferecida. É importante salientar que em

pastagens de alta qualidade ou quando a comparação é feita entre animais

jovens, essas diferenças entre as espécies animais são bastante reduzidas

(Collins, 1989).

Os efeitos combinados de exigência nutricional, tamanho do animal e

características anatômicas relacionadas ao processo de apreensão de forragem

compõem as bases da distinção dos nichos alimentares que compõem a dieta dos

animais. Estes fatores interagem com a estrutura da vegetação determinando o

peso e a composição de materiais da planta que podem ser removidos num

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simples bocado (Murray e Illius, 1996). Isto significa que existe uma estreita

relação entre as características da pastagem (altura, concentração de biomassa e

distribuição vertical de partes verdes ou senescentes das plantas) e as

características dos animais (massa corporal, relação tamanho/largura do maxilar,

relação tamanho animal/tamanho do rúmen) que podem utilizá-la. Animais de

massa corporal baixa ficam limitados a nichos onde a qualidade da forragem seja

elevada, enquanto que os pesados estão limitados a nichos onde, no mínimo, a

quantidade seja abundante. Illius e Gordon (1993) ilustram esses conceitos por

meio de um modelo construído com espécies de ruminantes de tamanhos

variando entre 20 e 540 kg (Figura 2).

Figura 2. Nicho alimentar definido pela quantidade e qualidade de forragem para animais de

diferentes tamanhos (Illius e Gordon, 1993). As áreas de sobreposição de dietas são

indicadas pela sobreposição das áreas hachuradas.

Em condições de pastagem onde exista uma oferta abundante de forragem

de baixa qualidade, animais de menor porte ficam em desvantagem para atingir

seus requerimentos em função de sua alta demanda energética (Demment e Van

Soest, 1985). Os animais de grande porte têm a vantagem de poder utilizar a

estratégia de aumentar o tempo de retenção do alimento, explorando mais

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eficientemente o material de baixa qualidade. Os bovinos teriam, portanto, uma

considerável vantagem em relação a ovinos e, principalmente, em relação a

caprinos neste tipo de situação. Os eqüinos, com suas altas taxas de consumo,

conseguem extrair mais nutrientes por dia que os bovinos, estes últimos limitados

pelo mecanismo de retenção da fibra no rúmen (Duncan et al., 1990), mas teriam

a desvantagem de passar mais tempo pastejando em função dessa estratégia de

consumo elevado.

Apesar da enorme quantidade de literatura disponível sobre a seletividade

da dieta em ruminantes, não é possível extrapolar princípios específicos a

situações gerais. A produção animal referente a cada espécie, em um sistema de

exploração integrada, não dependerá unicamente das propriedades do alimento

em oferta, mas também do tipo de animal escolhido. O sucesso da exploração

integrada estará na dependência da administração destas interações.

3. Sobreposição de dietas e complementaridade

As estratégias de forrageamento características de cada espécie animal

têm como resultado uma gama de alimentos potencialmente utilizáveis em função

dos vários fatores discutidos no item anterior. Poder-se-ia esperar, portanto, que

animais com estratégias de forrageamento semelhantes, teoricamente, pudessem

promover uma "co-utilização" dos recursos disponíveis mais intensa. Esta

utilização dos mesmos recursos é chamada de sobreposição de dieta e,

classicamente, é utilizada para determinar o nível de competição por um

determinado recurso forrageiro ou, em outras palavras, o nível de complementaridade entre espécies. Este conceito pode ser exemplificado pelo

trabalho de Lechner-Doll et al. (1995), onde o tempo gasto em pastejar

determinada espécie forrageira e sua proporção em relação ao tempo total de

pastejo do animal foi utilizado para calcular a proporção do tempo em que duas

diferentes espécies animais utilizam o mesmo recurso forrageiro (Figura 3).

Observando-se, por exemplo, a sobreposição de dietas entre bovinos e

ovinos constata-se que os ovinos dedicam 50 % do seu tempo de pastejo a itens

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também consumidos pelos bovinos. A sobreposição de dietas entre bovinos e

muares é muito superior à sobreposição entre bovinos e caprinos, ficando bovinos

e ovinos em um nível intermediário. Pode-se considerar que a sobreposição entre

bovinos e eqüinos seja tão alta quanto é a de bovinos e muares, e da ordem de

aproximadamente 75 % (Arnold, 1980).

Figura 3. Sobreposição de dietas entre herbívoros domésticos em relação à proporção do tempo

total em pastejo (adaptado de Lechner-Doll et al., 1995).

A complementaridade entre bovinos e caprinos (Figura 4) é grande; a

sobreposição de dietas entre estes, além de pequena, não ocorre no mesmo

estrato da vegetação (Lechner-Doll et al., 1995).

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Figura 4. Altura de pastejo em relação ao tempo total em pastejo (adaptado de Lechner-

Doll et al., 1995).

Os caprinos podem ser usados mais favoravelmente em pastejo misto com

outra espécie animal que tenha preferência por gramíneas, como os bovinos e

ovinos, por exemplo, pois irão apresentar pouca sobreposição de dieta se

estiverem presentes nas pastagens vegetações do tipo arbustivas e arbóreas.

Há que se considerar, no entanto, uma importante interferência que o meio

pecuário moderno impõe à complementaridade potencial entre espécies. O uso de

cercas e de pastagens mono-específicas, por exemplo, restringem a escolha dos

animais. Obviamente, a sobreposição de dietas entre duas espécies animais será

diferente quando se trata de uma pastagem nativa em relação a uma cultivada.

Quando existe uma grande diversidade de recursos forrageiros, a sobreposição de

dietas entre duas espécies animais é muito menor do que no caso em que há

restrição de diversidade florística, onde a freqüência de seleção de um mesmo

item é muito elevada. Quando a diversidade do recurso forrageiro é restrita, a

oportunidade de expressão dos diferentes padrões de seletividade também é

restringida, e ambas as dietas se tornam semelhantes (Wright e Connolly, 1995).

Wood (1987) realizou um estudo numa pastagem que estava há mais de 12

anos sem ser pastejada, no nordeste dos EUA, objetivando avaliar a eficiência dos

ovinos, bovinos e caprinos como agentes de renovação biológica. Os tratamentos

foram os seguintes: 0,5 ha com ovinos; 0,5 ha com bovinos; 0,5 ha com caprinos;

0,5 ha não pastejado. Os animais foram escolhidos visando manter uma taxa de

lotação de 100 kg de tamanho metabólico/0,4 ha. Os resultados mostraram que o

caprino foi o melhor animal para eliminar espécies invasoras arbustivas-arbóreas,

mostrando-se não competitivos com bovinos e ovinos. Para se evitar uma possível

competição, quando diminui a população de invasoras arbustivas-arbóreas, o

número de caprinos deverá ser gradualmente reduzido. Portanto, a manutenção

de poucos caprinos com bovinos e ovinos poderia proteger a pastagem da

reinvasão por espécies arbustivas-arbóreas. Este cenário descrito é típico de

pastagens degradadas, onde o pastejo misto poderia ser utilizado como

ferramenta na contenção da vegetação que se direciona à situação clímax original.

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Gordon e Illius (1989) criticam o parâmetro de sobreposição de dietas como

estimador de competição entre espécies e apresentam uma hipótese alternativa

bastante interessante. Observando a sobreposição de dietas entre bovinos,

caprinos, eqüinos e cervídeos durante o verão e o inverno, estes autores

constataram uma elevada sobreposição de dietas entre estas espécies quando

havia uma grande oferta de forragem de alta qualidade no verão. No inverno, com

a redução da forragem disponível e de sua qualidade, observou-se uma baixa

utilização de recursos comuns. Segundo estes autores, no verão, onde existe uma

elevada sobreposição de dietas entre as espécies, seria exatamente um reflexo da

abundância do recurso forrageiro. Bovinos, eqüinos e cervídeos, particularmente,

apresentariam uma elevada sobreposição de dietas exatamente porque a

competição seria mínima em tais condições. No inverno, cada espécie ocuparia o

seu nicho alimentar e utilizaria determinados recursos cuja exclusividade estaria

associada à especificidade de cada espécie em relação à dieta. Para existir

coexistência entre espécies deve haver algum recurso forrageiro que uma espécie

subordinada possa utilizar e que a dominante não possa. No verão, todas as

espécies animais conseguem atingir seus requerimentos nas pastagens de alta

qualidade dominadas por Agrostis e Festuca. No inverno, a quantidade de

forragem diminui e as comunidades de gramíneas de baixa digestibilidade (57%)

provêem um refúgio aos bovinos que podem se estabelecer, quando excluídos

pelos cervídeos, das comunidades de gramíneas e herbáceas de alta qualidade

(digestibilidade de 65,4%). A elevada exigência destes últimos impossibilita a sua

sobrevivência na comunidade de baixa qualidade e, portanto, estas duas espécies

podem coexistir (Gordon e Illius, 1989).

Um outro exemplo das relações de complementaridade é o que se

denomina facilitação de pastejo e que ocorre com espécies selvagens. A zebra

(Equus burchelli) tem uma exigência de alto consumo e pasteja macegas altas e

fibrosas, onde a taxa de consumo instantânea é elevada. O rebrote expõe folhas

novas que são aproveitadas pela gazela de Thompson (Gazella thomsoni), ou

seja, este animal se beneficia da estratégia de forrageamento das zebras apesar

de utilizar o mesmo recurso (GORDON e LASCANO, 1993). Isto resulta no que se

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denomina sucessão de pastejo, onde a zebra movimenta-se na frente, seguida

pela gazela. Um mecanismo similar pode ocorrer com espécies domésticas

(GORDON e LASCANO, 1993). Bovinos pastejando forrageiras de grande porte,

rebaixando-as e induzindo o rebrote que serão consumidos por ovinos.

4. Ajuste da carga animal e composição de espécies em pastejo misto

Sendo ou não um indicador de competição, o índice de sobreposição de

dietas certamente indica o grau de utilização comum do recurso forrageiro e será

de uso fundamental para a composição da carga animal em pastejo misto. Isto nos

introduz aos conceitos de unidade animal e taxa de substituição partindo de uma

simples pergunta: Quantas ovelhas equivalem a uma vaca?

Embora existam diferenças entre indivíduos e espécies, o peso vivo

elevado à potência 0,75 define o tamanho metabólico de um animal. Ele expressa

o fato de que animais menores produzem mais calor e consomem mais alimento

por unidade de peso vivo que animais de porte maior. Por exemplo, uma vaca de

450 kg e uma ovelha de 50 kg têm tamanhos metabólicos da ordem de 97,7 e

18,8, respectivamente. A relação em peso vivo é de 9:1, mas a correta é, levando

em consideração o tamanho metabólico, de aproximadamente 5:1. Neste trabalho

utilizaremos a definição empregada pela Society for Range Management (1989),

segundo a qual uma vaca adulta de 454 kg , seca ou com cria de mais de 6 meses

e com um consumo de 12 kg de matéria seca/dia equivale a uma unidade animal

(U.A.). Esta definição é muito interessante porque define uma unidade de

demanda animal de 12 kg de MS/dia que pode ser utilizada para se calcular

qualquer taxa de substituição. Exemplificaremos este cálculo assumindo uma

pastagem onde se utiliza uma lotação de 2 U.A./ha. Para simplificação do

raciocínio assumimos que esta pastagem vinha sendo manejada com duas vacas

de 450 kg /ha. Pretende-se iniciar o emprego de exploração integrada e decide-se

substituir uma das vacas por ovelhas. O cálculo é o seguinte:

1) fazer a equivalência do animal a ser substituído em unidade animal;

1 vaca de 450 kg = 1 unidade animal (U.A.)

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2) transformar a quantidade de unidade animal a ser substituída pelo número de

animais da espécie que fará a substituição;

1 (U.A.) = 5 ovelhas

3) utilizando os dados contidos na Figura 3, considerar a taxa de sobreposição de

dietas entre as espécies;

Equivalência animal = n° de animais equivalentes em U.A. / taxa de sobreposição

Equivalência animal = 5 ovelhas / 0.5

Equivalência animal = 10 ovelhas

A taxa de substituição de vaca:ovelha nestas condições é de 1/10. A grande

limitação para o emprego correto da taxa de substituição é que, embora a

equivalência animal possa ser facilmente calculada ou mesmo encontrada em

tabelas (vide Valentine, 1990), a taxa de sobreposição é extremamente variável

em função da época do ano e do tipo, abundância e diversidade da forragem em

oferta e esta informação é praticamente indisponível em nossas condições.

Considerando uma pastagem mono-específica a taxa teórica de sobreposição

passa a ser 100 %. No exemplo anterior a equação passaria a ser:

n° de animais / taxa de sobreposição

Equivalência animal = 5 ovelhas / 1.0

Equivalência animal = 5 ovelhas

5. Resultados do pastejo misto

Grande parte dos trabalhos desenvolvidos com pastejo misto relaciona

bovinos e ovinos. Há pouca informação disponível comparando outras espécies

domesticadas. Estudos na Argentina têm revelado a importância da introdução de

espécies de camelídeos (lhamas, alpacas e em especial guanacos) nos sistemas

de produção, devido ao interesse pela extração de fibras para a indústria têxtil.

Bakker et al. (1998) destacam que em pastejo misto com ovinos e guanacos,

diferenças na composição da dieta foram observadas para uma mesma altura na

pastagem de azevém perene. Ovinos selecionavam mais folhas verdes com a

diminuição destas na superfície da pastagem (maiores alturas), enquanto que os

Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS

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guanacos aumentaram a seleção por folhas mortas com o aumento da

disponibilidade de folhas verdes sobre o horizonte de pastejo (menor altura). As

espécies de camelídeos mantêm uma maior proporção de material morto e colmo

na sua dieta, intensificando o uso da massa de forragem.

Devido às diferenças no processo de seleção de forragem entre cervos e

bovinos, estes animais estão sendo utilizados em sucessão na Nova Zelândia. A

mesma área é pastejada por ambas as espécies. Como os cervos se caracterizam

por uma maior seleção da dieta, primeiramente se utiliza esta espécie na

pastagem e, em seguida, entram os bovinos, que atuam de modo a obter um

aproveitamento mais intensivo do pasto.

Araújo Filho (1984), estudando diferentes formas de manipulação da

vegetação na caatinga nordestina e integrando com várias opções de combinação

animal (bovinos, ovinos e caprinos), reportou que a melhor alternativa de manejo,

em muitos sítios do semi-árido nordestino, poderia ser o rebaixamento da

vegetação lenhosa e pastoreio misto de bovino e caprino. Este autor relaciona o

desempenho animal com o tipo de modificação da vegetação nativa. Caprinos

produzem mais em vegetação lenhosa rebaixada (corte seletivo da parte aérea de

arbustos e árvores a uma altura de 30 cm), enquanto que ovinos e bovinos o

fazem em caatinga raleada (controle seletivo de árvores e arbustos). Assim, outras

opções de combinação animal seriam ovinos e caprinos na caatinga nativa,

caprinos e bovinos na caatinga rebaixada e ovinos, caprinos e bovinos na raleada.

Collins (1989), em estudo com pastejo misto, observou um efeito de

competição entre bovinos e ovinos e um efeito de complementaridade entre

bovinos e caprinos em pastagens de azevém e trevo-branco. Bovinos e caprinos

pastejando juntos apresentaram melhores desempenhos comparados ao pastejo

isolado de ambas as espécies. Uma maior digestibilidade da dieta e um maior

consumo de matéria seca foram observados, especialmente para caprinos, devido

ao aumento no consumo de trevos. Os bovinos tiveram seu consumo reduzido em

18% no pastejo integrado com ovinos, enquanto estes aumentaram em 10% o seu

consumo na mesma situação.

Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS

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Nolan e Connolly (1977), em uma das revisões mais completas realizadas

até hoje a respeito do pastejo misto, concluíram que a exploração integrada com

uma ou mais espécies aumenta a produção por unidade de área e por animal em

relação à utilização com apenas uma espécie, tanto em condições de clima

temperado quanto em clima tropical. Este efeito positivo estaria relacionado

possivelmente a três conseqüências principais do pastejo misto:

1) aumento da produção da pastagem;

2) melhoria da qualidade da forragem;

3) aumento da eficiência de utilização (Nolan, 1980).

A origem deste efeito positivo, segundo Baker (1985) e Nolan et al. (1987),

estaria na complementaridade dos padrões de pastejo associados com as

diferentes preferências de cada espécie animal por diferentes espécies de plantas,

partes das plantas ou localizações geográficas.

Projetos de extensão em fazendas demonstraram a total operacionalidade

do sistema bovino/ovino, tendo como resultado a duplicação da carga animal e um

aumento de 25 % no crescimento individual dos animais (Nolan e Connolly, 1989).

Segundo estes autores, metade deste aumento é atribuída aos efeitos do pastejo

misto e a outra metade a uma melhora geral do manejo do sistema de produção.

Blackford Jr. (1985) relata que a introdução de ovino em pastejo com bovino

aumentaria o retorno econômico em 15 a 20 %. Segundo Meyer e Harvey (1985),

a exploração integrada é empregada em sistemas de produção na Nova Zelândia

por maximizar o lucro da atividade através de uma maior transformação de

forragem em produto animal.

Os trabalhos referidos neste item indicam que os efeitos principais do

pastejo misto estariam nos componentes planta e animal do ecossistema pastoril.

A título de auxiliar a compreensão dos efeitos do pastejo misto na exploração da

pastagem abordaremos separadamente os seus efeitos em nível de vegetação e

em nível de animais.

5.1. Efeitos da exploração integrada na vegetação

Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS

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Parsons et al. (1983) demonstraram a impossibilidade de otimização

simultânea dos processos de (i) interceptação e conversão da energia solar em

produção primária e (ii) de colheita eficiente desta produção pelos herbívoros

através do pastejo. De forma bastante simples, isto equivale a dizer que é

necessário haver folhas para haver crescimento nas plantas e que, no entanto, é

necessário se consumir a maior quantidade possível de folhas para haver uma

utilização eficiente. Estes processos antagônicos foram denominados por Briske e

Heitschmidt (1991) como dilema ecológico fundamental do ecossistema

pastagem e ilustram os limites para se maximizar a eficiência de utilização de

uma pastagem (relação produto animal/forragem acumulada; Hodgson, 1979).

A eficiência do pastejo misto na utilização mais ampla do recurso forrageiro

em pastagens naturais é ilustrada por Bowns e Matthews (1983). Bovinos

pastejam preferencialmente as gramíneas, enquanto os ovinos utilizam

preferencialmente espécies classificadas pelos autores como herbáceas. O

pastejo misto de bovino e ovino traz um maior equilíbrio na utilização dos

componentes da vegetação quando comparado ao pastejo mono-específico de

bovinos (Figura 5).

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Figura 5. Níveis de utilização de espécies herbáceas, gramíneas e Symphoricarpos spp. por

ovinos, bovinos ou ovinos e bovinos em pastejo misto (Bowns e Matthews, 1983).

Boswell e Cranshaw (1978) afirmam que o pastejo misto aumenta a

produção da pastagem e a utilização da forragem produzida. A produção da

pastagem em sistema com bovino foi de 10900 kg de MS/ha/ano enquanto que

em pastejo misto com ovinos variou entre 11900 e 13500 kg de MS/ha/ano. O

percentual de utilização da pastagem foi de 52 % no sistema com bovinos e entre

55,5 e 65,4 % em pastejo misto, o que levou os autores a concluírem pela

superioridade do pastejo misto em relação ao pastejo unicamente com bovinos.

Hodgson e Forbes (1980), no entanto, afirmam que somente através da produção

total da pastagem seria difícil de se interpretar os efeitos do pastejo misto, a

menos que medidas diretas do fluxo de matéria seca (crescimento, senescência e

consumo) sejam feitas.

É importante ter em conta que nem todas as associações de animais

produzem os mesmos efeitos. Segundo Loiseau e Martin-Rosset (1989), a

introdução do eqüino em pastejo misto com bovino diminui a produção da

pastagem. Em contrapartida, a introdução do eqüino corrigiria os efeitos negativos

do pastejo seletivo do bovino, trazendo em especial um melhor controle das

espécies lenhosas.

Uma outra possibilidade do pastejo misto é como manipulador da

composição botânica. Um exemplo é o controle de espécies indesejáveis.

Espécies como carqueja (Bacharis trimera), alecrim (Vernonia sp.), caraguatá

(Eryngium horridum), maria-mole (Senecio brasiliensis) e chirca (Eupatorium

buniifolium), têm sua freqüência reduzida com a presença do ovino em pastejo.

Montossi et al. (1998) destacaram que em pastejo misto com bovino e ovino, uma

maior proporção de espécies indesejáveis foi encontrada na dieta de ovinos,

argumentando que, em geral, essas espécies apresentam um bom valor nutritivo

em minerais como, por exemplo, sódio e, no caso do caraguatá, cálcio.

Ainda em relação ao impacto do pastejo misto na composição botânica das

pastagens, um estudo feito por Fox e Seaney (1984) observou que as cabras

pastejaram maior número de espécies de plantas e obtiveram somente 34% de

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sua dieta de gramíneas, comparando com 90% para bovinos e 78% para ovinos.

Bredemier (1976) relata que os ovinos, embora tenham menor preferência por

invasoras arbustivas e maior preferência por gramíneas e invasoras de baixo

porte, têm sido eficientes em remover invasoras não procuradas, particularmente

em combinação com caprinos. Murray e Illius (1996) destacam que os pequenos

ruminantes têm uma dieta mais diversa, incluindo uma ampla gama de

dicotiledôneas que crescem na base da pastagem.

A exploração de nichos da vegetação numa pastagem é função da

proporção existente dos itens mais preferidos de cada espécie animal (Kirkman e

Carvalho, 2003). Grant et al. (1985) ilustram essas relações ao demonstrarem que

bovinos e ovinos, quando em pastejo misto, têm sua dieta diretamente relacionada

à quantidade de alimento existente entre touceiras de uma espécie não preferida

(Nardus stricta). Ovinos e bovinos não gostam de Nardus stricta por ser, esta, uma

espécie de baixa qualidade, preferindo a vegetação de maior qualidade existente

entre as touceiras de Nardus (Figura 6).

Figura 6. Relação entre a quantidade de Nardus na dieta de ovinos e bovinos e a massa da

vegetação inter-touceiras (Grant et al., 1985).

Quando a quantidade de forragem inter-touceiras é elevada, ovinos e

bovinos pastejam preferencialmente a melhor vegetação. Porém, na medida em

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que a vegetação inter-touceiras diminui, a proporção de Nardus na dieta de ovinos

e bovinos aumenta, particularmente para os últimos. Como explicado no item 2,

animais maiores podem ingerir alimentos de menor qualidade. Portanto, os

bovinos são “deslocados” para um nicho de vegetação de menor qualidade

quando o extrato preferido é escasso.

Um outro exemplo de manipulação botânica ocasionado pelo pastejo misto

(bovino/ovino), é o caso da região da Campanha do RS. É sabido que mudanças

na composição botânica estão sendo observadas, embora de embasamento

empírico, devido à diminuição da proporção de ovinos. Houve um decréscimo na

freqüência de espécies hibernais (flechilhas) aumentando a presença de espécies

mais grosseiras, enquanto que nos campos mais próximos do Uruguai, os quais

ainda mantém um elevado número de ovinos, a presença dessas gramíneas

hibernais continua bastante elevada.

De acordo com Nolan (1986), o principal efeito do pastejo misto

bovino/ovino seria através da utilização, por parte dos ovinos, da forragem

rejeitada pelos bovinos nas áreas de dejeção. A rejeição se daria, inicialmente,

pelo odor das fezes e, posteriormente, devido à maturidade da planta. A aparente

pouca importância da forragem nestas áreas é desmistificada pelo trabalho de

Nolan et al. (1986). Em pastagens de uso exclusivo com bovinos, estes autores

encontraram 5% da área total sob as dejeções e 15% da área como rejeitada

("plantas altas" em torno das placas de dejeção). Esta pequena área não

pastejada continha até 44% de toda a massa de forragem e concentrava 40% do

total de fósforo e potássio de toda a pastagem. Esta maior produção de forragem

em áreas de dejeção é compreensível, uma vez que uma placa típica de fezes de

um bovino equivaleria a uma aplicação de 1040 kg N/ha, 400 kg de K/ha e 280 kg

de P/ha (Willians e Haynes, 1995). Se esta forragem não é consumida pelo

bovino, não pode haver melhor exemplo de baixa eficiência de utilização.

Tais áreas rejeitadas pelos bovinos podem variar entre 10 e 50% da área

total (Nolan e Connolly, 1988), dependendo da pressão de pastejo empregada. A

Tabela 1 demonstra que a quantidade de área sob dejeções e a quantidade de

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plantas altas em relação à área e em relação à matéria seca é inversamente

proporcional à proporção de bovinos na lotação empregada.

Tabela 1. Efeito da relação ovino/bovino sobre a área ocupada pelas dejeções e pelas plantas

altas e participação das plantas altas na matéria seca total (Nolan e Connolly, 1988).

% de bovinos na

lotação

Dejeções (% da

área)

Plantas Altas (% da

área)

Plantas altas (% da

MS total)

34 1.8 ± 0.2 9.0 ± 0.8 15.9 ± 1.4

66 2.2 ± 0.2 10.2 ± 0.9 18.2 ± 1.5

100 3.5 ± 0.2 14.5 ± 1.0 31.5 ± 1.6

Nolan et al. (1987) resumem seus estudos nas seguintes observações:

a) As "plantas altas" crescem de 2 a 2,5 vezes mais rapidamente que as plantas

não rejeitadas em função de não serem desfolhadas e de manterem um alto índice

de área foliar;

b) As "plantas altas" têm aproximadamente 4% de digestibilidade a mais em

pastejo misto comparado ao pastejo exclusivo de bovinos;

c) A preferência dos ovinos por estas plantas é aproximadamente 2 vezes maior

em relação aos bovinos;

d) Os bovinos rejeitam as "plantas altas" no mínimo durante as primeiras 3

semanas após a dejeção;

e) Em pastejo exclusivo de bovinos, 50% da área rejeitada é removida até o final

do período de pastejo, porém, apenas 5% da matéria seca é removida. Isto

significa que os bovinos pastejam na periferia das áreas de "plantas altas",

enquanto as áreas da pastagem mais próximas às placas de dejeção continuam a

crescer rapidamente.

f) Perfilhos marcados próximos às placas de dejeção são consumidos pelos ovinos

e rejeitados pelos bovinos.

Rancourt et al. (1980) avaliaram a altura da pastagem pós pastejo de

bovinos e ovinos a diferentes distâncias das dejeções dos bovinos. Os autores

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observaram que a uma distância de 15 cm o consumo pelos ovinos superou o de

bovinos em 40%. A partir de 50 cm de distância as diferenças não chegam a 10%.

Se algum tipo de animal associado aos bovinos pode fazer uso de uma

forragem que é rejeitada por estes e que, no entanto, é de alta qualidade e cuja

quantidade não é desprezível, nos parece evidente que se poderia aumentar a

eficiência de utilização desta pastagem através de um aumento da eficiência de

colheita da forragem produzida. Porém, como o parâmetro eficiência de utilização

não depende apenas da colheita da forragem, há que se considerarem os efeitos

em nível de desempenho animal.

5.2. Efeitos da exploração integrada nas espécies animais envolvidas

Os experimentos de pastejo onde se associam diferentes espécies animais

são extremamente complexos. Os efeitos da escolha de uma determinada lotação

se confundem com aqueles advindos do pastejo misto "per se" (Lambert e Guerin,

1989). Segundo Nolan e Connolly (1977), quatro conceitos, individualmente ou em

combinação, são a base da maioria dos delineamentos em experimentos de

pastejo misto: equalização da pressão de pastejo, equivalência animal, proporções

de bovinos/outra espécie e uso de várias lotações para criar diferentes pressões

de pastejo. Estas variáveis não são independentes e distintos desempenhos em

pastejo misto podem ter origem em uma escolha incorreta da equivalência ou de

um efeito específico do pastejo misto, sendo que estas respostas não podem ser

separadas quantitativamente (Nolan e Connolly, 1977). Para solucionar estes

problemas, Connolly e Nolan (1976) desenvolveram um delineamento onde as

espécies animais são utilizadas em várias proporções e em várias lotações, sendo

os resultados analisados pela técnica da superfície de resposta. Neste caso o

índice de equivalência é redefinido para permitir estudar os efeitos reais da

exploração integrada sendo, portanto, o número de animais de uma espécie que

pode substituir um dos animais da outra sem que o ganho de peso dos animais

restantes seja diminuído (vide Connoly e Nolan, 1976, para maiores detalhes).

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Do ponto de vista de comportamento animal, pode-se afirmar que os

eqüinos têm predominância sobre bovinos e ovinos em pastejo misto e que

bovinos têm predominância sobre ovinos e caprinos (Valentine, 1990). A agressão

entre as espécies é rara, a exceção dos eqüinos (Arnold, 1980), ocorrendo

principalmente próximo a aguadas. Valentine (1990) sugere que não se utilizem

ovelhas ou cabras com cria em conjunto com novilhos. Vacas com cria ao pé, ao

contrário, ajudariam a evitar a aproximação de predadores (Valentine, 1990).

Uma possibilidade oferecida pelo pastejo misto seria no controle de

endoparasitas em bovinos, ovinos e caprinos, através de uma redução no nível de

contaminação geral da pastagem (Lambert e Guerin, 1989). As espécies de

nematódeos gastrintestinais apresentam o que se denomina especificidade

parasitária. Embora essa especificidade seja variável conforme a espécie do

parasito, a grande maioria das espécies que parasitam os ovinos não se

desenvolve em bovinos ou eqüinos (Amarante et al., 1997). As larvas infectantes

dos parasitos de ovinos, por exemplo, que forem consumidas por outra espécie,

serão destruídas, pois não encontrarão ambientes propícios ao seu

desenvolvimento. Santiago et al. (1975) não verificaram ocorrência de infecções

cruzadas por espécies dos gêneros Haemonchus, Oesophagostomum,

Nematodirus e Bunostomum. O número de larvas de Oestertagia e Cooperia na

pastagem foi decrescido à metade em pastejo misto (Grenet e Billant, 1995).

Em relação ao efeito do pastejo misto no desempenho animal, Lambert e

Guerin (1989) revisaram 12 experimentos onde não houve efeitos em 2 deles, 5

apresentaram um aumento no ganho de peso de uma das espécies (geralmente

de ovinos quando em associação com bovinos) e 5 apresentaram ganho de peso

em ambas as espécies (principalmente quando as comparações foram feitas entre

animais jovens). Estudos da dieta de animais em pastejo misto sugerem que a

substituição de bovinos por ovinos e/ou caprinos aumenta o ganho de peso dos

bovinos em pastejo misto porque a pressão de pastejo sobre a componente

gramínea é reduzida (Figura 6).

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Anos

Gan

ho p

o r a

nim

a l

Somente bovinosBovinos com ovinos e caprinos

Figura 6. Ganho de peso ao longo de 20 anos em pastagens exclusivas de bovinos ou

pastejo misto com ovinos e caprinos (Taylor, 1985).

A produção das ovelhas aumenta quando se substituem ovinos por bovinos

e caprinos porque a pressão de pastejo sobre o componente herbáceo diminui. A

produção dos caprinos não é afetada porque a taxa de lotação estaria abaixo da

taxa crítica para causar uma mudança na seleção da dieta (Taylor, 1985).

Embora o pastejo misto promova, na maioria dos casos, um aumento no

desempenho animal, a magnitude deste efeito está diretamente relacionada à

proporção de cada espécie na taxa de lotação, bem como da própria taxa de

lotação escolhida. Collins (1989) cita que, quanto menor a proporção de uma

determinada espécie maior o benefício desta mesma espécie em pastejo misto. A

maior vantagem do pastejo misto em taxas de lotação elevadas indicaria que o

efeito do aumento da taxa de lotação no ganho médio diário é menor em pastejo

misto comparado ao pastejo exclusivo (Nolan et al., 1987). Outros efeitos

associados seriam os aumentos de 25 a 40% do número de cordeiros que

atingiriam peso de abate ao desmame (13 semanas de idade) e 40 a 60 kg a mais

de peso para cada novilho em sistema de recria e terminação (Nolan, 1986).

Em relação ao ganho de peso por unidade de área, os efeitos do pastejo

misto teriam como conseqüência dos melhores desempenhos individuais um

aumento de, no mínimo 10%, na produção/área (Nolan, 1986).

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Connolly (1987) propôs o índice RRT ("relative resource total") que é

definido como a superfície total necessária em pastejo misto para manter um

mesmo número de animais de cada espécie no mesmo ganho médio diário que

em uma unidade de superfície em pastejo mono-específico. Por definição, quando

do emprego em pastejo misto, RRT > 1 significa que uma maior área é necessária

em pastejo mono-específico para obter a mesma produção animal de uma

exploração integrada, indicando uma maior captura de recursos em pastejo misto,

uma captura de recursos distintos ou uma utilização mais eficiente dos recursos

em pastejo misto (Nolan e Connolly, 1989). Um valor de RRT < 1 indicaria uma

interferência entre as espécies animais no uso dos recursos.

Entre as proporções ovelha/novilho variando 3:1 e 5:1 o índice RRT é de

aproximadamente 1,13, indicando que 13% mais de área é necessária em pastejo

mono-específico para se obter a mesma produção. Isto implica em um aumento de

13% na produção por área no pastejo misto comparado ao pastejo exclusivo. Um

RRT de 1,10 é ainda observado entre proporções variando de 1.5:1 a 10:1. Estes

resultados indicam que os benefícios do pastejo misto estariam associados a uma

complementaridade no uso dos recursos (Nolan et al., 1987).

6. Vantagens e limitações do pastejo misto

Existe potencial considerável no uso da exploração integrada para a

utilização intensiva de pastagens. No entanto, é importante salientar que grande

parte das informações a respeito do pastejo misto tem origem em pastagens

temperadas e de associações bovino/ovino. Em nossas condições as informações

são escassas ou quase inexistentes. Não obstante, a natureza heterogênea de

nosso recurso forrageiro é perfeita para o uso comum de várias espécies animais.

Os baixos rendimentos da pastagem natural e o controle de plantas indesejáveis

são temas centrais na otimização do recurso forrageiro, tendo o pastejo misto uma

importância preponderante como opção de manejo visando a melhor utilização de

nossas pastagens naturais, e mesmo as cultivadas.

Resumo de algumas das vantagens do pastejo misto:

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(i) Vantagens sanitárias que resultam na menor incidência de parasitas de uma

espécie sobre a outra e maior limpeza da pastagem, conseqüência da remoção de

larvas pelo pastoreio com animais resistentes a espécies distintas do hóspede

normal; (ii) aproveitamento de áreas inacessíveis, com base na tendência dos

bovinos de utilizarem as áreas planas, enquanto que caprinos e ovinos se

aproveitam de áreas acidentadas (Araújo Filho, 1984); (iii) complementaridade

potencial em pastejo; (iv) utilização de ofertas de alto valor nutritivo aos animais

em produção, sem prejuízo do uso correto da pastagem, quando o rebanho é

dividido em classes de produção, iniciando-se com o grupo mais produtivo; (v)

aumento da capacidade de suporte em decorrência das diferentes preferências

alimentares (aumento do número de plantas que se constituem em forragem); (vi)

diversificação da produção. Podemos citar, como exemplo, a introdução da

exploração integrada em sistemas de produção de leite na Europa, a qual tem

contribuído como uma alternativa aos produtores que se viram limitados pelo

sistema de cotas. A criação de ovinos para carne contribui para o melhor manejo

da pastagem e diversifica a produção (Rouel et al., 1995); (vii) melhor

aproveitamento da forragem disponível. Em pastagem cultivada, apesar da menor

heterogeneidade, uma superioridade na eficiência de utilização da pastagem de,

no mínimo, 10 % pode ser esperada em se utilizando pastejo misto (Nolan e

Connolly, 1989), sendo que este efeito estaria principalmente associado à

utilização da forragem rejeitada pelos bovinos; (viii) manipulação da estrutura da

vegetação. Nolan et al. (1986) notaram menor porcentagem de material morto na

forragem em oferta, e uma densidade maior dos perfilhos situados próximos a

locais de dejeção no pastejo misto bovino/ovino. A melhoria no uso deste tipo de

forragem facilita a penetração de luz na base da pastagem, favorecendo o

aumento do perfilhamento incrementando, portanto, a produção de forragem; (ix)

estabilidade em ecossistemas complexos; (x) controle de espécies indesejáveis.

Como limitações, podemos citar: (i) especialização da mão de obra e necessidade de conhecimentos adicionais de

manejo, em especial sanitários, principalmente quando da introdução de pequenos

ruminantes em pastagens de bovinos; (ii) Redução na escala de produção da

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espécie primária em algumas situações; (iii) aumento em custos com cercas e

outras estruturas necessárias; (iv) conflitos em relação à demanda de trabalho; (v)

comercialização de produtos mais complexa; (vi) aumento potencial de problemas

(e.g., predadores).

7. Conclusões

O maior potencial da técnica de exploração integrada ocorrerá em

pastagens que sejam mais complexas do ponto de vista botânico, e onde a

variabilidade topográfica seja grande, pois permitirá uma maior

complementaridade entre os animais presentes na associação. Os efeitos

positivos da exploração integrada serão provavelmente maiores em pastagem

natural do que em pastagem cultivada, dada a heterogeneidade da primeira.

O tipo de vegetação, o manejo da oferta, altura e estrutura da forragem em

comunidades vegetais são alguns dos componentes mais importantes na

determinação da eficiência produtiva dos sistemas pastoris, devido a sua

influência sobre as taxas de crescimento, consumo e senescência da pastagem,

bem como seu efeito sobre a produtividade animal. Dada a complexidade dos

fatores envolvidos no ecossistema pastoril, resultados obtidos em experimentos

com pastejo misto tornam-se difíceis de se interpretar, pois muitas vezes não há

segurança em afirmar se efeitos similares não poderiam ser obtidos por uma

simples variação da lotação ou do nível de utilização da forragem. Assim, o maior

desafio na exploração integrada seria o de identificar padrões complementares de

comportamento em pastejo, e de se estudá-los e compreendê-los de uma forma

que possam ser explorados em sistemas de produção mais eficientes.

Por último, urge a necessidade de políticas públicas que resgatem e

fomentem a natureza multi-específica da vegetação, particularmente num

momento onde a sociedade anseia por produtos ecologicamente corretos, que

estejam em consonância com o ambiente no qual é produzido.

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