paisagem da cultura da vinha da ilha do pico património mundial
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Paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico
Governo dos Açores
Património mundial da UNESCO desde 2004
Pico: Segunda maior ilha do arquipélago dos Açores, com 42 km de comprimento e 15,2 km
de largura, o que corresponde a uma área de 447 km2
Montanha do Pico: ponto mais alto de Portugal (2 351 m)
População em 2011: 14 150 habitantes e uma densidade populacional de 31,6
(habitantes/km2)
Parque Natural do Pico: constituído por 4 reservas naturais, 1
monumento natural, 8 áreas protegidas, 6 áreas de paisagem protegida e 3 áreas protegidas de gestão de recursos
Parque Natural do Pico
2011 – Finalista do prémio EDEN
2013 – A editora de guias de viagens independentes, “BootsnALL”, considerou o percurso pedestre das Vinhas da Criação Velha, um dos oito trilhos únicos do Mundo.
2014 - BBC Travel anunciou a ilha do Pico como “uma das 5 melhores ilhas secretas do mundo”
2010 – Prémio Grandes Relevos, 7 maravilhas Naturais de Portugal
Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico Classificada pela UNESCO como património Mundial em 2004.
Área património mundial – 987 ha Zona tampão – 1 924 ha
Critérios de classificação
Critério III A paisagem da Cultura da Vinha é um testemunho único ou, pelo menos, excecional de uma tradição cultural. Com efeito, existe uma diversidade de manifestações de caráter sociocultural especificamente associadas ao período da vindima e que se refletem quer na gastronomia, quer nas músicas e danças folclóricas. Algumas destas danças típicas espelham práticas observadas durante a vindima. Além disso, a vitivinicultura na ilha do Pico originou um intercâmbio sociofamiliar que alterou profundamente o isolamento característico das ilhas.
Critério IV A paisagem da Cultura da Vinha constitui um exemplo distinto de uma paisagem representativa de uma cultura sob uma certa vulnerabilidade. Por um lado, os fatores geomorfológicos e climáticos condicionaram e condicionam a cultura e a produção vinícola, desde os primórdios até à atualidade. Por outro, a escassez de mão de obra, resultado da emigração, da deslocação para meios urbanos e dos elevados custos de produção inerentes à especificidade desta cultura, tem provocado algum abandono das áreas de cultivo.
Um pouco de história
A vitivinicultura da ilha do Pico, tal como nas restantes ilhas do arquipélago, é contemporânea da chegada dos primeiros povoadores aos Açores, por volta de 1460.
Aqui, a natureza do solo de origem vulcânica, com extensos mantos de lava, tornou impossível a cultura de cereais em grande escala, ao contrário do que acontecia noutras ilhas. Mas, por outro lado, graças ao microclima favorável e às características da rocha vulcânica, foi possível produzir-se um vinho de qualidade.
A produção de vinho atinge o seu auge em meados do século XIX. A quantidade de vinho então produzido era exportado através do porto da cidade da Horta, na vizinha ilha do Faial, para o Brasil, Índias Ocidentais, Alemanha, Inglaterra, Rússia e outros destinos. Nesta época, a produção oscilava entre as 12 000 e as 15 000 pipas.
Ainda neste século, surge o Oídio e a Filoxera, que devastaram as vinhas, ao ponto da produção descer para apenas 100 pipas.
Esta crise levou muitos produtores e trabalhadores rurais a emigrarem, o que se traduziu no abandono de grandes áreas de vinha.
Um pouco de história
Desde o início de 1950, múltiplas medidas foram desenvolvidas com o intuito de preservar esta riquíssima herança cultural e natural.
Assim, em 1951 é criada a Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico, com a finalidade de revitalizar e salvaguardar a produção de vinho.
Em 1982, foi criado o Museu do Vinho. Em simultâneo, iniciou-se a promoção da Festa das Vindimas, que ocorre em setembro de cada ano e que tem como objetivo revitalizar os aspetos socioculturais ligados à produção do vinho..
Em 1986, foi produzida legislação com a finalidade de proteger a arquitetura tradicional herdada dos núcleos das adegas.
Campos de lava
Na paisagem da Cultura da Vinha, existem inúmeros vestígios de erupções de origem basáltica. Estas erupções originaram escoadas lávicas do tipo a-a, localmente designadas por chão de biscoito, escoadas lávicas do tipo pahoehoe, localmente designadas por chão de lajido. Devido à natureza vulcânica da ilha e à presença de escoadas lávicas do tipo basáltico, a paisagem classificada, bem como toda a ilha, apresenta um diversificado património espeleológico, através da presença de cavidades vulcânicas (grutas lávicas e algares)
Valores naturais
Habitats naturais
As características geofísicas e edafoclimáticas do Pico, modeladas pela intervenção humana, deram origem a grande variedade de biótopos, ecossistemas e paisagens, mais ou menos humanizadas, que propiciam a existência de um elevado número de habitats que albergam uma grande diversidade de espécies, na sua maioria endémicas e com elevado valor científico. Podem ser encontradas manchas de vegetação primitiva, relíquia do período Terciário, dominadas por espécies fósseis-vivos, ainda preservadas.
Clima
No Pico, a precipitação apresenta valores anuais médios na ordem dos 1 000 mm, atingindo os valores mais elevados entre janeiro e fevereiro. Os ventos dominantes são dos quadrantes W e S. A humidade relativa do ar apresenta valores elevados durante todo o ano, variando, em média, entre os 73% e os 84%, o que resulta numa nebulosidade geralmente elevada.
Paisagem Os muros negros
As vinhas que produzem os vinhos do Pico, eram e são plantadas nas fendas existentes em finas bancadas de basalto, o que confere à paisagem, daí resultante um carácter único e sui generis. Na impossibilidade de aproveitar este território para cultivo de cereais, o homem, dedicou-se à arrumação da pedra, construindo os currais, que têm a função de proteger as videiras da ressalga do mar.
A propriedade está dividida em jeirões, separados pelos muros das veredas transversais, as servidões, onde desembocam as canadas.
Portão
Jarão
Portais
Paisagem Os muros negros
A retícula dos muros é constituída por:
Vinha murada com muros dobrados com altura de cerca de 2 m para vedação do prédio. Portão de entrada.
A vinha é dividida em jeirões, através de paredes também dobradas com altura inferior
a 1 m.
Os jeirões são subdivididos em canadas – muros paralelos de paredes singelas com
altura inferior a 1 m .
As canadas subdividem-se em currais, pela construção dos traveses, que são
paredes singelas ou dobradas, dependendo da quantidade de pedra que é necessário retirar do solo. Os currais têm áreas compreendidas entre os 9 e os 12 m2, tendo plantadas uma média de 3 pés de vinha.
Paisagem Os muros negros
Curral
Can
ada
Videira
Paisagem Os muros negros
Portão
Portais
Curral
Jarão
Canada
Paisagem Os aglomerados rurais
Nas zonas costeiras da ilha, ao mesmo tempo que se foi desenvolvendo a vitivinicultura, surgiram pequenos aglomerados de adegas, que serviam de habitação sazonal durante a época do ano em que era mais intensa a laboração na vinha, ou seja, na altura das vindimas.
Paisagem Portos e ancoradouros
É para o mar que se dá a conhecer o vinho do Pico, seja a uma escala regional, nacional ou internacional, tendo como testemunhos os inúmeros ancoradouros/portos na Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico .
Paisagem Adegas, alambiques e armazéns
Os aglomerados costeiros são fortemente marcados pelas adegas, edifícios que servem
de adega, lagar e, simultaneamente, de habitação sazonal durante o verão.
Os alambiques são assim chamados, porque são edifícios que albergam alambiques no
seu interior, ou seja, destilarias.
Os armazéns contêm barricas e balseiros onde se armazenam as frutas em fermentação
para depois serem queimadas.
Paisagem Os aglomerados rurais
Existem ainda nos aglomerados rurais, as casas solarengas e os monumentos religiosos.
Paisagem Outros elementos da paisagem
Nas zonas de vinha, a pedra solta foi arrumada na construção dos muros e utilizada na construção
de abrigos, tendo como principal função servir
de abrigo ao viticultor e aos instrumentos de trabalho.
Devido à escassez de água, o homem do Pico sentiu necessidade de escavar a rocha em busca
de água, construindo inúmeros poços de maré.
Paisagem Outros elementos da paisagem
As rilheiras constituem marcas da passagem
intensa dos rodados de carros de boi sobre lages de lava: à época, era o único meio de transporte para os produtos agrícolas . Na área da paisagem classificada pela UNESCO, encontram-se rilheiras, estando algumas situadas na orla costeira, fruto do transporte dos produtos a exportar, nomeadamente as pipas de vinho, até
aos rola-pipas e pequenas enseadas.
Rola-pipas são rampas talhadas na pedra
áspera para facilitar o transporte das pipas do caminho até ao mar, testemunhando de forma exuberante a atividade vinícola.
Pontos fortes, pontos fracos, ameaças, oportunidades e desafios
Pontos Fortes
Grande aumento da capacidade de
oferta turística, nomeadamente
Turismo em Espaço Rural,
acréscimo de procura (dormiddas e
nº de hóspedes)
Grande capacidade para
desenvolvimento de turismo
alternativo e de qualidade
Características únicas de paisagem
associada à produção de vinho
Património classificado pela
UNESCO
Produto diferenciado (vinho), obtido
a partir de castas tradicionais dos
Açores - Verdelho, Arinto dos
Açores e Terrantês do Pico
Aumento da área de vinha
reestruturada com castas
tradicionais
Vinhos reconhecidos em diversas
revistas estrangeiras da
especialidade
Pontos Fracos
Sazonalidade da procura turística
Reduzida informação ao visitante
nos pontos de chegada, internet e
outros
Explorações agrícolas (também
vitícolas) muito fragmentadas
Elevado custo de mão de obra
Dificuldades de acesso aos
mercados externos
Oportunidades
Crescente procura de turismo
cultural e de natureza, associado
a produtos regionais
(gastronomia, enologia)
Múltiplas referências elogiosas na
imprensa nacional e internacional -
maior divulgação do destino
Açores como destino de eleição
Aproveitamento turístico de
produtos e atividades únicas com
grande perceção de qualidade -
vinho, queijo, carne, peixe,
doçaria
População agrícola relativamente
jovem
Apoios comunitários ao setor da
vinha e do vinho
Maior reconhecimento dos
produtos de qualidade de origem
açoriana
Potencial aumento de procura a
preços mais interessantes devido
ao crescimento do turismo
Ameaças
Concorrência de outros
destinos
Intensificação da
agricultura e do turismo
poderão prejudicar o
ambiente e recursos
naturais do território
Abandono do património e
tradições locais
Desafios
Aumento dos serviços
associados ao património da
UNESCO e aos produtos
resultantes dessa classificação
Aposta nos roteiros temáticos,
não só do vinho, mas também
do queijo, vulcões, faina
baleeira e outros
Reforço da promoção e
divulgação deste tipo de
turismo de ambiente e
qualidade
Aumento da diversidade do tipo
de alojamento (hostels,
aparthotel, alojamento de
charme e outras categorias)
Criação de maior valor
acrescentado no vinho
Reforçar a importância da
proteção da denominação de
origem e indicação geográfica
Reforçar a procura de novos
mercados
A paisagem da Cultura da vinha da Ilha do Pico conta ainda com:
Centro de interpretação da paisagem, no Lajido de Sta. Luzia
Museu do vinho
Cooperativa Vitivinícola
Produtores individuais
Laboratório de enologia
Trilhos pedestres
Evento anual “taste in adegas”
Conclusões:
A classificação de uma paisagem pela UNESCO é uma honra, uma responsabilidade e um desafio.
Responsabilidade para os povos que habitam estas paisagens: é preciso em primeiro lugar aceitar, para depois compreender que se tem que preservar, valorizar, tornar visível e, ao mesmo tempo, criar oportunidades de negócio.
A maior obrigação é, sem dúvida, tocar o intocável. Uma paisagem construída pela Natureza a par com a intervenção do homem, como é o caso da Paisagem da Vinha do Pico, necessita de sabedoria e orientação para não se cair na tentação do negócio fácil.
Conclusões:
O maior desafio é dar a conhecer esta paisagem sem a destruir.
Proteger as castas tradicionais da Ilha, produzindo uvas e vinho, nas zonas típicas de produção.
Acima de tudo apostar num turismo de natureza, descontraído e comprometido com os valores naturais e paisagísticos.
Melhorar a produção e exportação de vinhos de elevada qualidade.
Chamar o turismo, acautelando a pressão que o mesmo possa causar
Governo dos Açores
Ficha técnica Textos: - “Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico”, Edição da SRRN, 2014 - Direção Regional do Desenvolvimento Rural Fotografias: Luís Godinho (http://luisgodinho.com/)
Os Açores e em especial a ilha do Pico aguardam a sua visita. Obrigado.
Os Açores e em especial a ilha do Pico aguardam a sua visita. Obrigado.