paisagens em rede - completa
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Slides para as aulas de Cartografias Urbanas.TRANSCRIPT
• As cidades são o lócus privilegiado da circulação (de pessoas, de objetos, de informação)
• Até meados do século XIX pode-se considerar que os deslocamentos humanos eram feitos num movimento lento, baseados na força muscular de homens e animais
• No mar, eram baseados na utilização do vento
• As velocidades variavam da imobilidade ao deslocamento por cavalo a galope (13m/s), com as velocidades médias em torno de 3m/s
• O que permitia o deslocamento máximo de 200 km/dia, o mesmo ao equivalente no mar a 8 nós
• O mais comum é que viajantes fizessem seus percursos a uma velocidade de 35 a 40 km/dia, o que significa uma média de 6 a 7 km/hora
• A velocidade humana só conheceu outro patamar a partir da segunda
metade do século XIX com o desenvolvimento da máquina a vapor e o seu
uso em locomotivas e navios.
A distância de Paris a Strasbourg, cerca de 500 km, é feita hoje pelo
TGV (train à grande vitesse) no tempo de 2h (média de 320 km/h)
• Essas diversas velocidades em coexistência são hoje fatores decisivos
para entender a organização dos espaços urbanos e as transformações de
suas paisagens.
• Os efeitos da grande velocidade nos lugares de passagem podem ser
resumidos na palavra ruptura: territorial, visual, paisagística, ambiental,
social. À abertura das grandes avenidas de vale em Salvador se seguiram
valorizações e especializações de trechos da cidade; alterações nas
centralidades e segregação de consumo de lugares a partir do acesso, ou
não, aos meios de transporte motorizados
Salvador
Centro Histórico –> Iguatemi (7,8 km)
• a pé - aprox. 1 hora 37 minutos
• de carro - aprox. 13 minutos
Paisagens táteis
• Trata-se da cidade na escala humana, do pedestre.
• De certa maneira aqui se trata da cidade que existia
hegemônica até meados do século XIX, mas que ainda
sobrevive.
• Cidade que já foi do flanêur e que hoje é, em boa parte, o
território dos despossuídos
• A paisagem tátil se caracteriza pela possibilidade de uma
visão serial, contínua, linear. Aqui quem vê está no controle do
quê vê. Não existe mediação técnica e nem enquadramentos
• A velocidade de circulação na paisagem tátil é lenta. Sustenta-
se nos limites do próprio corpo humano. A cidade que aparece
nesse nível de interação tem os seus contornos definidos pelo
alcance do olho e pelas barreiras físicas. Seja na inércia, seja
nos percursos; seja nas distâncias horizontais, seja nas alturas.
• A cidade da paisagem tátil foi o objeto básico de livros como A
construção da cidade segundo seus princípios artísticos, de
Camillo SITTE; A Imagem da Cidade, de Kevin LYNCH; A
Arquitetura da Cidade, de Aldo Rossi e Paisagem Urbana, de
Gordon CULLEN.
Obras que propunham a abordagem da paisagem da cidade a
partir da sua legibilidade morfológica, considerando a interação
direta com o espaço urbano.
Paisagens táteis
Paisagens mediadas
• Dispostas através de dispositivos técnicos (mecânicos,
eletrônicos ou digitais)
• Podem ser de dois tipos: diaporamas e fotoramas
Diaporamas
• Selecionadas e dispostas através de dispositivos técnicos
(mecânicos, eletrônicos ou digitais)
• Os diaporamas passam pela construção ou filiação a um
discurso
Diaporamas
• O discurso turístico é um dos mais proeminentes,
enquadrando as cidades a partir dos seus cartões postais, mas
não é o único
• Fazer um recorte da cidade à partir das paisagens das suas
periferias significa seguir na mesma lógica do discurso turístico,
por exemplo.
Diaporamas
• No quesito “escalas”, as paisagens mediadas não tem limites.
Os enquadramentos da cidade podem levar em conta a escala
humana como podem a considerar a partir dos seus ângulos
que só são acessíveis através da mediação técnica, como as
imagens aéreas ou as fotos feitas a partir de câmeras
desenvolvidas para o uso em satélites e que permitem capturar
pequenos detalhes a quilômetros de distância.
• As paisagens mediadas são abordagens não-lineares da
paisagem urbana. A continuidade visual não é necessária e, em
geral, nem desejada. A cidade é mostrada – mais do que vista –
apenas nos enquadramentos que interessam à venda de uma
idéia de cidade. Um processo seletivo de mão dupla que, ao
mesmo tempo em que amplifica a visibilidade de alguns lugares
produz a invisibilidade de outros.
Diaporamas
• Algumas das ocorrências mais eloqüentes das paisagens
mediadas têm sido as políticas de promoção das cidades que
se espalharam pelo mundo nas duas últimas décadas, as
chamadas estratégias de “city marketing”, que têm como um
dos seus objetivos reduzir as complexidades e ambigüidades
de uma cidade para uma imagem simplificada, que possa
circular facilmente (e velozmente) pelo mundo.
Diaporamas
• Outra característica das paisagens mediadas é a tentativa de
eliminação do olhar distraído. A disposição das imagens (re)constrói
uma narrativa que para ter sentido exige alguma atenção. É aqui que
se chega mais próximo ao que poderia parecer uma prática autoritária,
onde o discurso é basicamente monofônico: a cidade é esta. Contudo,
a aceitação do enunciado não se faz de forma automática. Nas lógicas
hipermodernas o enunciador tem que necessariamente lidar com as
componentes dos jogos de sedução, presentes, sobretudo, nas
práticas da publicidade.
Fotoramas
• Imagens que podem se suceder sem linearidade; com a passagem
do tempo e o movimento as reconfigurando constantemente;
• Embora também contem com a mediação técnica – sejam veículos,
sejam telecomunicações – os fotoramas, diferentes dos diaporamas,
não se estruturam num discurso. Sua leitura é opção do receptor. A
sua não-leitura também; o olhar distraído é parte constituinte da sua
definição;
• Nos fotoramas estão as possibilidades das altíssimas velocidades de
circulação de pessoas, informação e objetos;
• O espaço passa a acessório do tempo-velocidade e a cidade passa a
se (des)estruturar por pontos ou por enclaves.
Fotoramas
• As escalas dos fotoramas são múltiplas, mas o “desprezo” pelo
espaço contíguo induz à valorização de alguns lugares e às grandes
dimensões dos enclaves: a verticalização e a cidade das torres ou os
grandes equipamentos horizontais como hipermercados e shopping
centers;
• A cidade em alta velocidade aparece quase como uma justaposição
de paisagens. Paisagens como eventos. Que aparecem e somem em
segundos;
• No extremo oposto da lógica dos panoramas, os fotoramas se
definem, não na memória, mas na amnésia.
• Os Inforamas são paisagens híbridas; possíveis a partir do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs), sobretudo da emergência comercial dos dispositivos móveis dotados dos recursos de posicionamento global por satélite (GPS).
• Os Inforamas se inscrevem no extremo limite das velocidades. Os dados chegam na rapidez de quase instantaneidade das conexões por satélites. Embora essa velocidade extrema, também, não os defina por si só. Ela coexiste com a lentidão das paisagens fisicamente ancoradas no espaço geográfico; os edifícios, as vias e os elementos diversos da paisagem urbana tradicional.
Inforamas
Operadores analíticos | inforamas
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica
• Pode-se dizer que os Inforamas são constituídos por uma camada (layer) de informações sobre o espaço físico das cidades. Camada, essa, que transforma a paisagem urbana numa dimensão de terceiro tipo.
• Os Inforamas prescindem dos deslocamentos físicos. O movimento é, sobretudo, de informações e dados, que o dispositivo capta e traduz nessa nova paisagem; embora a mobilidade corporal seja completamente possível e, mesmo, parte constituinte das suas possibilidades tecnológicas, visto que os dispositivos móveis portáteis, como os telefones celulares, são o lócus hegemônico da sua existência
Inforamas
• É possível enxergar essa paisagem híbrida de dentro de um
veículo em movimento; sentado numa mesa de café, na grama de um parque ou num banco de praça.
• Diferentes das infografias estáticas tradicionais, como as dos guias turísticos ou da sinalização urbana, por exemplo, as informações aqui são dinâmicas: mudam com o posicionamento de quem as vê; mudam com a alimentação dos bancos de dados que lhes dá suporte.
Inforamas
A paisagem urbana é uma coexistência de estágios diversos das relações entre a interação/percepção da visão humana (natural ou ampliada) e as alterações visuais dos elementos artificiais e naturais de uma cidade. Essas relações são estruturadas, fundamentalmente, pela circulação – de pessoas, objetos e informação - em velocidades diversas.
Paisagem urbana
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica
Operadores analíticos | fotoramas
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica
Linha 21, ônibus, Paris
Operadores analíticos | diaporamas
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica
MetroParis, Paris
Operadores analíticos | inforamas
PANORAMAS DIAPORAMAS FOTORAMAS INFORAMAS
Escala
Humana
Maquínica
Maquínica
Maquínica
Visão
Linear
Não-linear
Não-linear
Não-linear
Discurso prévio
Não
Sim
Não
Não
Mediação técnica
Não
Sim
Sim
Sim
Olhar distraído
Sim
Não
Sim
Não
Memória
Memória
Memória
Amnésia
Amnésia
Velocidade
Lenta
Moderada
Rápida
Rápida
Operadores analíticos | quadro síntese
2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica