pardela 24
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Revista da Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesTRANSCRIPT
SOCIEDADE PORTUGUESAPARA O ESTUDO DAS AVES
AVES À VOLTA DO MUNDO Sulawesi
ROTEIRO ORNITOLÓGICO Serra de Sao Mamede~
ENTREVISTA Novo Atlas das Aves
O fotógrafo português Helder Afonso (à direita),
vencedor da categoria Bird Portraits, recebe o prémio
das mãos de um dos elementos do júri, o fotógrafo de
natureza de renome internacional, Gabriel Sierra.
Estatuto do
Priolo alterado para
"Criticamente Ameaçado"
Da esquerda para a direita: Terry Wynn (Deputado
Europeu), Mariann Fisher-Boel (Comissária Europeia de
Agricultura e Desenvolvimento Rural), Graham Wynne
(Director Executivo da Royal Society for the Protection
of Birds) e Clairie Papazoglou (Directora do Gabinete da
BirdLife International em Bruxelas).
FICHA TÉCNICA
EditorCarlos Pereira
Comissão Editorial Ana David, Ana Leal, Maria Dias
RevisãoGonçalo Elias
Fotografias
Colaboradores
IlustraçõesPaulo Alves e Miguel Costa
Paginação e grafismoBBnanet.com
ImpressãoTextype-Artes Gráficas, Lda
Tiragem 1400 exemplares
ISSN 0873-1124Depósito legal: 284857544
Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade
Portuguesa para o Estudo das Aves
SPEA
DIRECÇÃO NACIONAL
Rua da Vitória, nº 53, 3º esq1100-618 Lisboa
TEL: 213 220 430
e-mail:
A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de
estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as
precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.
A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.
Augusto Faustino, Gabriel Sierra,Gonçalo Rosa, Graça Martins,
Helder Costa , Isabel Fagundes, João Pinto, José Viana,
Juan Simon, Miguel Lecoq, Ricardo Desirat, Ricardo Guerreiro
Ana David, Augusto Faustino,Carlos Pereira, Domingos Leitão,Gonçalo Elias, Isabel Fagundes,
Ivan Ramirez, João Ministro, João Neves, João Pinto,
Joaquim Teodósio, Luis Gordinho,Miguel Lecoq, Nuno Madeira,
Paulo Marques, Samuel Infante,Silvia Nunes, Sofia Coelho
FAX. 213 220 439
www.spea.pt
PRESIDENTE:
VICE-PRESIDENTE:
SECRETÁRIO-GERAL:
TESOUREIRO:
VOGAIS:
Helder CostaMaria DiasPaulo MarquesInês CatryJaime Ramos,Ricardo Tomé e Teresa Catry
BREVES
Fotógrafos portugueses
arrasam no concurso
Europe'sCountryside Alive
Os nossos parabéns aos premiados!!!
Portugueses ganham três dos 10
prémios do concurso de fotografia da
BirdLife International - Europe's Country-
side Alive. Os premiados foram Helder
Baptista Afonso, que ganhou o 1º lugar
na categoria Bird Portraits. Na mesma
categoria, o 2º lugar foi para Ricardo
Guerreiro. O 3º português premiado foi
João Eduardo Pinto, que obteve o 2º stlugar na categoria Farming in the 21
Century. As fotografias premiadas esti-
veram em exibição no Parlamento Eu-
ropeu, entre os dias 31 de Maio e 3 de
Junho, e na Green Week em Bruxelas, no
stand da BirdLife International. Quem
desejar ver todas as fotos vencedoras,
poderá fazê-lo on-line em:
www.birdlifecapcampaign.org
BirdLifeInternational
entrega assinaturasà Comissária de Agricultura no
Parlamento Europeu
No passado dia 15 de Março de
2005, a BirdLife International entregou
uma petição com 58.769 assinaturas à
Comissária Europeia de Agricultura e
Desenvolvimento Rural, a Sra. Mariann
Fischer-Boel, numa recepção que
decorreu no Parlamento Europeu,
patrocinada pelo Deputado Europeu
Terry Wynn. Esta acção foi o culminar de
uma campanha da BirdLife International
que decorreu em 25 países da União
Europeia. Os peticionários enviaram à
Sra. Comissária postais electrónicos
alusivos à beleza e às aves dos meios
agrícolas de cada país, exigindo políticas
agrícolas mais favoráveis à conservação
da natureza. De Portugal seguiram 1.800
assinaturas.
A BirdLife International, no segui-
mento da revisão anual da situação das
espécies de aves a nível mundial, elevou o
estatuto de ameaça do Priolo para
"CRITICAMENTE AMEAÇADO". Esta
decisão está de acordo com a revisão do
Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal, liderada pelo ICN, e onde o
Priolo já tinha sido reclassificado nessa
categoria. Esta decisão tem como fun-
damentos a reduzida dimensão da popu-
lação (menos de 300 indivíduos) e o facto
de se encontrar restrita a uma área de
pequenas dimensões na parte oriental da
Ilha de São Miguel (aproximadamente
6000 ha) e com diversas ameaças sobre o
seu habitat.
Esta alteração do estatuto do Priolo
vem reforçar a grande importância do
Projecto LIFE Priolo, actualmente a ser
desenvolvido pela SPEA e por vários
parceiros nacionais e internacionais. Um
dos principais objectivos já alcançado foi
o alargamento da Zona de Protecção
Especial do Pico da Vara/Ribeira do
Guilherme, que abrange agora a
totalidade da área de distribuição do
Priolo.
Coordenadora de Educação
Ambiental e Eventos desde 21 de Junho, e
durante os próximos sete meses, temos a
trabalhar connosco na sede a nova cola-
boradora Vanessa Oliveira. Estará en-
carregue das acções de Educação Am-
biental, da Organização de Eventos e das
actividades para sócios, substituindo a
colaboradora Alexandra Lopes durante
os seis meses em que estará ausente.
Nova colaboradorada SPEA
Para contacto:
Encontro sobre "Energia eólica e conservação da avifauna em Portugal"
Terminou com grande êxito, no dia 6 de Julho, o seminário organizado em
Coimbra pela SPEA sobre os impactos causados pelos parques eólicos na avifauna em
Portugal. Este foi o primeiro encontro que reuniu estudiosos da avifauna, produtores de
energia eólica, o Instituto do Ambiente, a Direcção-Geral de Geologia e Energia, várias
ONGAs e o ICN.
No final, foi elaborado um documento que identifica as lacunas existentes nesta
área e propõe soluções para o problema. Este documento, o primeiro realizado de forma
conjunta entre todos os sectores implicados, pode ser consultado no nosso site
www.spea.pt.
A equipa de trabalho da SPEA em energia eólica vai continuar o trabalho e utilizará
o documento produzido para identificar novas áreas de colaboração e investigação que
forneçam mais informações e que contribuam para a construção de uma estratégia
energética nacional, sem danos para a avifauna.
Ricardo GuerreiroFoto Capa
ÍNDICE
BREVES pág. 3
Impacto dasLinhas Eléctricas Aéreasna Avifauna em Portugal
DE TAQUES pág. 4
Efeito da seca nas populaçõesde Aves Estepárias Invernantesna ZPE de Mourão/Moura/Barrancos
LIFE SISÃO pág. 6
O Prioloe a flor de Laranjeira
LIFE PRIOLO pág. 8
A bordo do Noruega
LIFE IBAS MARINHAS pág.10
Vilamoura
IBAS pág.12
Entrevista ao Coordenadordo Novo Atlas das Avesque Nidificam em Portugal
ENTREVISTA pág.14
SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia
pág.18AVES À VOLTA DO MUNDO
Serra de S. Mamedepág.20ROTEIRO ORNITOLÓGICO
A ciência das avespág.22ORNITOLOGIA
J U V E N I Spág.24
Contagem de Patagarrosna Costa SulFotografar as aves da Madeira
pág.26SPEA MADEIRA
Vestuário técnicopág.27CIBER-ORNITOFILIA
3
Foto Contra-capaSPEA / LIFE Sisão
http://clientes.netvisão.pt/dgscope/
Aqui está mais uma Pardela, de novo, em
resposta à expectativa e ansiedade dos sócios. As
questões repetidas incessantemente: «quando
sai a próxima Pardela?», ou «porque demora
tanto a sair...?», embaraçam-nos e deixam-nos
enredados em explicações nem sempre
convincentes. Ora bem, enfrentemos as coisas
sem sofismas fáceis: a SPEA, Organização Não
Governamental sem fins lucrativos teve, nos
seus pouco mais dez anos de existência, um
crescimento enorme dos seus associados; é hoje,
no panorama nacional, não só a maior associação
de ornitologia, como um parceiro credível e
respeitado em termos internacionais. Mais, os
inúmeros projectos em que está envolvida falam
por si e são no mínimo eloquentes: Life Sisão,
Life Priolo, Life IBA's Marinhas, projecto
Gaivota de Audouinii, Linhas Eléctricas, Censo
das Aves Comuns, Novo Atlas das Aves que
Nidificam em Portugal, entre outros.
Por fim há a "questão" Pardela que, encarê-
mo-lo, não soube ou não pôde acompanhar este
crescimento e desenvolvimento. As causas são
muitas e um editorial não chegaria para debater
e esgotar o tema. Mas atentemos só nas _ _diferenças esqueçamos as outras entre os
projectos acima citados e a Pardela que, debate-
-se logo à partida com a desvantagem de não ser
um projecto. Dito de outra forma: não tem finan-
ciamento que a sustente; logo não é uma priori-
dade em termos de estratégia da SPEA.
Assim, desde o início, a revista tem vivido
mais a espasmos e por ciclotimias do que por
uma orientação estratégica ou critérios edi-
toriais definidos. Não é uma crítica particular,
mas antes uma constatação inconformada.
Desde os colaboradores, passando pela
equipa editorial, até ao director, toda a estrutura
da Pardela é amadora. Daí que sendo elaborada
consoante a disponibilidade e boa vontade de
um reduzido número de pessoas, os reflexos
mais imediatos fazem-se sentir na perio-
dicidade.
Mais do que lavrar aqui o queixume e pedir a
compreensão de todos, quero deixar um pedido _ _ ou encarem-no como um desafio , participem
também, com o envio dos vossos textos, fotos e
sugestões. A sobrevivência da Pardela é uma
responsabilidade de todos e está também, acre-
ditem, nas vossas mãos.
EDITORIAL
Carlos Pereira
Bir
dL
ife
Bir
dL
ife
O fotógrafo português Helder Afonso (à direita),
vencedor da categoria Bird Portraits, recebe o prémio
das mãos de um dos elementos do júri, o fotógrafo de
natureza de renome internacional, Gabriel Sierra.
Estatuto do
Priolo alterado para
"Criticamente Ameaçado"
Da esquerda para a direita: Terry Wynn (Deputado
Europeu), Mariann Fisher-Boel (Comissária Europeia de
Agricultura e Desenvolvimento Rural), Graham Wynne
(Director Executivo da Royal Society for the Protection
of Birds) e Clairie Papazoglou (Directora do Gabinete da
BirdLife International em Bruxelas).
FICHA TÉCNICA
EditorCarlos Pereira
Comissão Editorial Ana David, Ana Leal, Maria Dias
RevisãoGonçalo Elias
Fotografias
Colaboradores
IlustraçõesPaulo Alves e Miguel Costa
Paginação e grafismoBBnanet.com
ImpressãoTextype-Artes Gráficas, Lda
Tiragem 1400 exemplares
ISSN 0873-1124Depósito legal: 284857544
Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade
Portuguesa para o Estudo das Aves
SPEA
DIRECÇÃO NACIONAL
Rua da Vitória, nº 53, 3º esq1100-618 Lisboa
TEL: 213 220 430
e-mail:
A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de
estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as
precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.
A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.
Augusto Faustino, Gabriel Sierra,Gonçalo Rosa, Graça Martins,
Helder Costa , Isabel Fagundes, João Pinto, José Viana,
Juan Simon, Miguel Lecoq, Ricardo Desirat, Ricardo Guerreiro
Ana David, Augusto Faustino,Carlos Pereira, Domingos Leitão,Gonçalo Elias, Isabel Fagundes,
Ivan Ramirez, João Ministro, João Neves, João Pinto,
Joaquim Teodósio, Luis Gordinho,Miguel Lecoq, Nuno Madeira,
Paulo Marques, Samuel Infante,Silvia Nunes, Sofia Coelho
FAX. 213 220 439
www.spea.pt
PRESIDENTE:
VICE-PRESIDENTE:
SECRETÁRIO-GERAL:
TESOUREIRO:
VOGAIS:
Helder CostaMaria DiasPaulo MarquesInês CatryJaime Ramos,Ricardo Tomé e Teresa Catry
BREVES
Fotógrafos portugueses
arrasam no concurso
Europe'sCountryside Alive
Os nossos parabéns aos premiados!!!
Portugueses ganham três dos 10
prémios do concurso de fotografia da
BirdLife International - Europe's Country-
side Alive. Os premiados foram Helder
Baptista Afonso, que ganhou o 1º lugar
na categoria Bird Portraits. Na mesma
categoria, o 2º lugar foi para Ricardo
Guerreiro. O 3º português premiado foi
João Eduardo Pinto, que obteve o 2º stlugar na categoria Farming in the 21
Century. As fotografias premiadas esti-
veram em exibição no Parlamento Eu-
ropeu, entre os dias 31 de Maio e 3 de
Junho, e na Green Week em Bruxelas, no
stand da BirdLife International. Quem
desejar ver todas as fotos vencedoras,
poderá fazê-lo on-line em:
www.birdlifecapcampaign.org
BirdLifeInternational
entrega assinaturasà Comissária de Agricultura no
Parlamento Europeu
No passado dia 15 de Março de
2005, a BirdLife International entregou
uma petição com 58.769 assinaturas à
Comissária Europeia de Agricultura e
Desenvolvimento Rural, a Sra. Mariann
Fischer-Boel, numa recepção que
decorreu no Parlamento Europeu,
patrocinada pelo Deputado Europeu
Terry Wynn. Esta acção foi o culminar de
uma campanha da BirdLife International
que decorreu em 25 países da União
Europeia. Os peticionários enviaram à
Sra. Comissária postais electrónicos
alusivos à beleza e às aves dos meios
agrícolas de cada país, exigindo políticas
agrícolas mais favoráveis à conservação
da natureza. De Portugal seguiram 1.800
assinaturas.
A BirdLife International, no segui-
mento da revisão anual da situação das
espécies de aves a nível mundial, elevou o
estatuto de ameaça do Priolo para
"CRITICAMENTE AMEAÇADO". Esta
decisão está de acordo com a revisão do
Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal, liderada pelo ICN, e onde o
Priolo já tinha sido reclassificado nessa
categoria. Esta decisão tem como fun-
damentos a reduzida dimensão da popu-
lação (menos de 300 indivíduos) e o facto
de se encontrar restrita a uma área de
pequenas dimensões na parte oriental da
Ilha de São Miguel (aproximadamente
6000 ha) e com diversas ameaças sobre o
seu habitat.
Esta alteração do estatuto do Priolo
vem reforçar a grande importância do
Projecto LIFE Priolo, actualmente a ser
desenvolvido pela SPEA e por vários
parceiros nacionais e internacionais. Um
dos principais objectivos já alcançado foi
o alargamento da Zona de Protecção
Especial do Pico da Vara/Ribeira do
Guilherme, que abrange agora a
totalidade da área de distribuição do
Priolo.
Coordenadora de Educação
Ambiental e Eventos desde 21 de Junho, e
durante os próximos sete meses, temos a
trabalhar connosco na sede a nova cola-
boradora Vanessa Oliveira. Estará en-
carregue das acções de Educação Am-
biental, da Organização de Eventos e das
actividades para sócios, substituindo a
colaboradora Alexandra Lopes durante
os seis meses em que estará ausente.
Nova colaboradorada SPEA
Para contacto:
Encontro sobre "Energia eólica e conservação da avifauna em Portugal"
Terminou com grande êxito, no dia 6 de Julho, o seminário organizado em
Coimbra pela SPEA sobre os impactos causados pelos parques eólicos na avifauna em
Portugal. Este foi o primeiro encontro que reuniu estudiosos da avifauna, produtores de
energia eólica, o Instituto do Ambiente, a Direcção-Geral de Geologia e Energia, várias
ONGAs e o ICN.
No final, foi elaborado um documento que identifica as lacunas existentes nesta
área e propõe soluções para o problema. Este documento, o primeiro realizado de forma
conjunta entre todos os sectores implicados, pode ser consultado no nosso site
www.spea.pt.
A equipa de trabalho da SPEA em energia eólica vai continuar o trabalho e utilizará
o documento produzido para identificar novas áreas de colaboração e investigação que
forneçam mais informações e que contribuam para a construção de uma estratégia
energética nacional, sem danos para a avifauna.
Ricardo GuerreiroFoto Capa
ÍNDICE
BREVES pág. 3
Impacto dasLinhas Eléctricas Aéreasna Avifauna em Portugal
DE TAQUES pág. 4
Efeito da seca nas populaçõesde Aves Estepárias Invernantesna ZPE de Mourão/Moura/Barrancos
LIFE SISÃO pág. 6
O Prioloe a flor de Laranjeira
LIFE PRIOLO pág. 8
A bordo do Noruega
LIFE IBAS MARINHAS pág.10
Vilamoura
IBAS pág.12
Entrevista ao Coordenadordo Novo Atlas das Avesque Nidificam em Portugal
ENTREVISTA pág.14
SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia
pág.18AVES À VOLTA DO MUNDO
Serra de S. Mamedepág.20ROTEIRO ORNITOLÓGICO
A ciência das avespág.22ORNITOLOGIA
J U V E N I Spág.24
Contagem de Patagarrosna Costa SulFotografar as aves da Madeira
pág.26SPEA MADEIRA
Vestuário técnicopág.27CIBER-ORNITOFILIA
3
Foto Contra-capaSPEA / LIFE Sisão
http://clientes.netvisão.pt/dgscope/
Aqui está mais uma Pardela, de novo, em
resposta à expectativa e ansiedade dos sócios. As
questões repetidas incessantemente: «quando
sai a próxima Pardela?», ou «porque demora
tanto a sair...?», embaraçam-nos e deixam-nos
enredados em explicações nem sempre
convincentes. Ora bem, enfrentemos as coisas
sem sofismas fáceis: a SPEA, Organização Não
Governamental sem fins lucrativos teve, nos
seus pouco mais dez anos de existência, um
crescimento enorme dos seus associados; é hoje,
no panorama nacional, não só a maior associação
de ornitologia, como um parceiro credível e
respeitado em termos internacionais. Mais, os
inúmeros projectos em que está envolvida falam
por si e são no mínimo eloquentes: Life Sisão,
Life Priolo, Life IBA's Marinhas, projecto
Gaivota de Audouinii, Linhas Eléctricas, Censo
das Aves Comuns, Novo Atlas das Aves que
Nidificam em Portugal, entre outros.
Por fim há a "questão" Pardela que, encarê-
mo-lo, não soube ou não pôde acompanhar este
crescimento e desenvolvimento. As causas são
muitas e um editorial não chegaria para debater
e esgotar o tema. Mas atentemos só nas _ _diferenças esqueçamos as outras entre os
projectos acima citados e a Pardela que, debate-
-se logo à partida com a desvantagem de não ser
um projecto. Dito de outra forma: não tem finan-
ciamento que a sustente; logo não é uma priori-
dade em termos de estratégia da SPEA.
Assim, desde o início, a revista tem vivido
mais a espasmos e por ciclotimias do que por
uma orientação estratégica ou critérios edi-
toriais definidos. Não é uma crítica particular,
mas antes uma constatação inconformada.
Desde os colaboradores, passando pela
equipa editorial, até ao director, toda a estrutura
da Pardela é amadora. Daí que sendo elaborada
consoante a disponibilidade e boa vontade de
um reduzido número de pessoas, os reflexos
mais imediatos fazem-se sentir na perio-
dicidade.
Mais do que lavrar aqui o queixume e pedir a
compreensão de todos, quero deixar um pedido _ _ ou encarem-no como um desafio , participem
também, com o envio dos vossos textos, fotos e
sugestões. A sobrevivência da Pardela é uma
responsabilidade de todos e está também, acre-
ditem, nas vossas mãos.
EDITORIAL
Carlos Pereira
Bir
dL
ife
Bir
dL
ife
4 5
Em 2003, a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA assinaram um protocolo
com vista a desenvolverem um esforço conjunto no sentido de avaliar e
minimizar os impactos resultantes da interacção das linhas eléctricas com as
aves silvestres em Portugal. Em 2003 e 2004 a SPEA e a Quercus
desenvolveram um intenso esforço de amostragem em todo o país, procurando
respostas a várias questões que desde o início se colocavam aos parceiros,
nomeadamente: quais as linhas mais perigosas para as aves? Quais as tipo-
logias mais adequadas para a protecção da avifauna? Em que habitats a
ocorrência de acidentes com a avifauna assume maior magnitude? Quais as
espécies mais afectadas e em que circunstâncias?
Ao fim desse longo período e com mais de 5 mil quilómetros percorridos a
pé, os objectivos inicialmente estabelecidos foram cumpridos: os parceiros do
protocolo partilharam uma rica base de informação recolhida no terreno; cerca
de 85 quilómetros de linhas perigosas para aves foram corrigidos; desen-
volveram-se normas de implementação de novas linhas em áreas classificadas;
e estabeleceram-se numerosos contactos com agentes locais da EDP de todo o
país (Áreas de Rede). Outro resultado deste estudo bastante interessante, foi a
participação de cinco dezenas de voluntários de todo o país, alguns dos quais
tiveram o seu primeiro contacto com a SPEA.
Os resultados de dois anos de estudo
Como se veio a verificar, vários
factores influenciam a distribuição
diferencial da mortalidade, sendo os
principais a tipologia de linhas usadas, o
habitat atravessado e a respectiva abun-
dância das espécies mais susceptíveis
aos impactos das linhas de média tensão.
A ocupação do solo tem grande
influência na forma como as aves
interagem com os apoios eléctricos.
Num local onde a existência de pousos
naturais é muito escassa (como por
exemplo em Castro Verde), a utilização
de apoios eléctricos é, por isso, muito
frequente. Este aspecto ajuda a explicar
porque nalgumas linhas aí prospectadas
o número de casos foi muito elevado.
Apenas numa secção de 10 km nesta
zona registaram-se mais de 150 casos de
mortalidade, na sua maioria por
electrocussão. Por outro lado, zonas
onde se concentram grandes quan-
tidades de aves (e. g. dormitórios, locais
de alimentação, etc.), aumenta a proba-
bilidade de ocorrerem colisões com os
condutores.
A electrocussão foi a causa mais
importante para a morte de um grande
número de aves, em particular as
rapinas. Este fenómeno foi signifi-
cativamente mais comum na presença de
apoios com isoladores rígidos colocados
na vertical e foi potenciada pelo número
de cabos curtos que estabelecem ligações
(arcos) nas derivações presentes num
apoio. Aproximadamente 783 casos de
electrocussão foram registados, envol-
vendo espécies tão distintas e de
diferentes dimensões, como o Bufo-real
e o Rolieiro. Estes dados obrigam, desde
logo, a uma posição firme contra o uso de
tipologias como o Triângulo rígido ou a
Esteira horizontal, sendo esta uma das
principais conclusões da análise dos
resultados obtidos.
A outra causa de mortalidade é a
colisão com os cabos condutores e cabos-
guarda. Cerca de 816 aves tiveram morte
desta forma, em especial espécies com
reduzida agilidade de voo (e. g. o Sisão
ou a Abetarda) ou as de comportamento
gregário. Os dados revelam que é em
habitats abertos, como a estepe agrícola
ou as zonas húmidas costeiras, que este
fenómeno atinge níveis particularmente
gravosos para a avifauna. Neste tipo de
áreas (e.g. ZPE de Castro Verde) a cons-
trução de novas linhas de qualquer tipo-
logia deve ser submetida a uma especial
avaliação, tendo em consideração o
elevado potencial de colisão existente e a
sensibilidade de diversas espécies
ameaçadas.
Entre Julho de 2003 e Outubro de
2004, cerca de 1500 aves foram
encontradas mortas em resultado de aci-
dentes com estruturas eléctricas. Mais
de 100 espécies foram identificadas, 27
das quais pertencentes ao Anexo I da
Directiva Aves. O número de rapinas foi
bastante elevado, sendo apenas su-
perado pelos passeriformes. A figura 1
ilustra a proporção entre os diferentes
grupos afectados:
A identificação das espécies no
terreno nem sempre foi possível, devido
ao avançado estado de decomposição
das aves. Por isso, houve necessidade
de recorrer à Osteoteca do Instituto
Português de Arqueologia, cujo apoio
foi decisivo na determinação de cente-
nas de casos.
Ao nível de valores totais, a média
obtida de 3,45 aves mortas por qui-
lómetro e por ano, não traduz, por si só, a
importância ecológica dos resultados
obtidos. Porém, uma análise multi-
factorial permitirá retirar consequências
mais imediatas.
Os picos de mortalidade aconte-
ceram nos períodos de maior ocorrência
de aves, designadamente nas migra-
ções. Porém, algumas espécies nidi-
ficantes, como a Cegonha-branca,
sofreram elevadas baixas de juvenis
logo após a saída dos ninhos. No Inver-
no, por outro lado, sobressaem as espé-
cies que apresentam comportamentos
gregários, nomeadamente as Taram-
bolas-douradas e os Abibes, e aquelas
que formam grandes dormitórios, como
o Pombo-torcaz e o Tordo-comum, entre
outras.
Mais de aves mortas1500
Pro
ject
o L
inh
as
Elé
ctri
cas
/ S
PE
A
Causas de morte
Um dos principais resultados
deste protocolo foi a consagração de
medidas de protecção da avifauna nas
linhas eléctricas. Com base nos resul-
tados obtidos no referido estudo, mais
de 85 km de linhas foram já corrigidas
pela EDP, representando um inves-
timento de mais de 400.000 euros e
envolvendo a aplicação de um largo con-
junto de medidas e dispositivos desde a
transformação completa da linha à apli-
cação de mecanismos de isolamento dos
apoios e de sinalização dos condutores.
O estudo permitiu ainda redefinir
um conjunto de normas para aplicar à
instalação de novas linhas eléctricas nas
áreas classificadas (Áreas Protegidas e
Rede Natura), as quais deverão respeitar
ao máximo os valores biológicos nelas
existentes, em especial os avifaunísticos.
DESTAQUE
Medidas de minimização
e protecção
A divulgação dos resultados deste
protocolo constitui uma das acções
prioritárias a desenvolver no futuro
próximo. Em Janeiro do corrente ano,
realizou-se o Seminário Internacional
sobre Linhas Eléctricas, que constituiu o
primeiro grande momento de apresen-
tação dos resultados obtidos. A
possibilidade de uma prorrogação do
protocolo entre a EDP, o ICN, a Quercus
e a SPEA está ainda na agenda do pre-
sente ano. No futuro pretende-se
aumentar consideravelmente as acções
de correcção de linhas perigosas e pro-
mover a monitorização da eficácia das
correcções já efectuadas. Para além de
avaliar o sucesso e a durabilidade dos
dispositivos anti-electrocussão e anti-
colisão mais comuns, pretende-se es-
tudar a viabilidade de introduzir em
Portugal novas tecnologias de constru-
ção de linhas eléctricas de média tensão.
Tudo em prol da conservação da nossa
avifauna!
O futuro
A importância do
voluntariado
Agradecimentos:
A realização do projecto teve por trás uma equipa de colaboradores,
que intensamente levaram por diante os trabalhos de prospecção, mesmo em situações adversas.
A todos eles os nossos agradecimentos pelo fantástico desempenho.
A concretização dos trabalhos de
campo envolveu um vasto conjunto
de voluntários, sem os quais teria
sido difícil levar a bom termo
este projecto.
Mais de 40 jovens, na sua maioria
estudantes universitários,
contribuíram grandemente para o
sucesso deste projecto, tendo
participado activamente em
numerosas acções de campo e de
prospecção de aves mortas.
A todos eles,
o nosso especial agradecimento!
em Portugal
Águia-cobreira electrocutada no Parque Natural do Vale do Guadiana2
Juvenil de Águia de Bonelli electrocutado na ZPE de Castro Verde1
1
Impactodas Linhas Eléctricas Aéreas
na Avifauna
João Ministro, João Neves e Samuel Infante
2
5%17%
4%
12%
4%47%
11%Ciconi
Accipi
Grui
Charadri
StrigiPasseri
outros
fig. 1
Pro
ject
o L
inh
as
Elé
ctri
cas
/ S
PE
A
4 5
Em 2003, a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA assinaram um protocolo
com vista a desenvolverem um esforço conjunto no sentido de avaliar e
minimizar os impactos resultantes da interacção das linhas eléctricas com as
aves silvestres em Portugal. Em 2003 e 2004 a SPEA e a Quercus
desenvolveram um intenso esforço de amostragem em todo o país, procurando
respostas a várias questões que desde o início se colocavam aos parceiros,
nomeadamente: quais as linhas mais perigosas para as aves? Quais as tipo-
logias mais adequadas para a protecção da avifauna? Em que habitats a
ocorrência de acidentes com a avifauna assume maior magnitude? Quais as
espécies mais afectadas e em que circunstâncias?
Ao fim desse longo período e com mais de 5 mil quilómetros percorridos a
pé, os objectivos inicialmente estabelecidos foram cumpridos: os parceiros do
protocolo partilharam uma rica base de informação recolhida no terreno; cerca
de 85 quilómetros de linhas perigosas para aves foram corrigidos; desen-
volveram-se normas de implementação de novas linhas em áreas classificadas;
e estabeleceram-se numerosos contactos com agentes locais da EDP de todo o
país (Áreas de Rede). Outro resultado deste estudo bastante interessante, foi a
participação de cinco dezenas de voluntários de todo o país, alguns dos quais
tiveram o seu primeiro contacto com a SPEA.
Os resultados de dois anos de estudo
Como se veio a verificar, vários
factores influenciam a distribuição
diferencial da mortalidade, sendo os
principais a tipologia de linhas usadas, o
habitat atravessado e a respectiva abun-
dância das espécies mais susceptíveis
aos impactos das linhas de média tensão.
A ocupação do solo tem grande
influência na forma como as aves
interagem com os apoios eléctricos.
Num local onde a existência de pousos
naturais é muito escassa (como por
exemplo em Castro Verde), a utilização
de apoios eléctricos é, por isso, muito
frequente. Este aspecto ajuda a explicar
porque nalgumas linhas aí prospectadas
o número de casos foi muito elevado.
Apenas numa secção de 10 km nesta
zona registaram-se mais de 150 casos de
mortalidade, na sua maioria por
electrocussão. Por outro lado, zonas
onde se concentram grandes quan-
tidades de aves (e. g. dormitórios, locais
de alimentação, etc.), aumenta a proba-
bilidade de ocorrerem colisões com os
condutores.
A electrocussão foi a causa mais
importante para a morte de um grande
número de aves, em particular as
rapinas. Este fenómeno foi signifi-
cativamente mais comum na presença de
apoios com isoladores rígidos colocados
na vertical e foi potenciada pelo número
de cabos curtos que estabelecem ligações
(arcos) nas derivações presentes num
apoio. Aproximadamente 783 casos de
electrocussão foram registados, envol-
vendo espécies tão distintas e de
diferentes dimensões, como o Bufo-real
e o Rolieiro. Estes dados obrigam, desde
logo, a uma posição firme contra o uso de
tipologias como o Triângulo rígido ou a
Esteira horizontal, sendo esta uma das
principais conclusões da análise dos
resultados obtidos.
A outra causa de mortalidade é a
colisão com os cabos condutores e cabos-
guarda. Cerca de 816 aves tiveram morte
desta forma, em especial espécies com
reduzida agilidade de voo (e. g. o Sisão
ou a Abetarda) ou as de comportamento
gregário. Os dados revelam que é em
habitats abertos, como a estepe agrícola
ou as zonas húmidas costeiras, que este
fenómeno atinge níveis particularmente
gravosos para a avifauna. Neste tipo de
áreas (e.g. ZPE de Castro Verde) a cons-
trução de novas linhas de qualquer tipo-
logia deve ser submetida a uma especial
avaliação, tendo em consideração o
elevado potencial de colisão existente e a
sensibilidade de diversas espécies
ameaçadas.
Entre Julho de 2003 e Outubro de
2004, cerca de 1500 aves foram
encontradas mortas em resultado de aci-
dentes com estruturas eléctricas. Mais
de 100 espécies foram identificadas, 27
das quais pertencentes ao Anexo I da
Directiva Aves. O número de rapinas foi
bastante elevado, sendo apenas su-
perado pelos passeriformes. A figura 1
ilustra a proporção entre os diferentes
grupos afectados:
A identificação das espécies no
terreno nem sempre foi possível, devido
ao avançado estado de decomposição
das aves. Por isso, houve necessidade
de recorrer à Osteoteca do Instituto
Português de Arqueologia, cujo apoio
foi decisivo na determinação de cente-
nas de casos.
Ao nível de valores totais, a média
obtida de 3,45 aves mortas por qui-
lómetro e por ano, não traduz, por si só, a
importância ecológica dos resultados
obtidos. Porém, uma análise multi-
factorial permitirá retirar consequências
mais imediatas.
Os picos de mortalidade aconte-
ceram nos períodos de maior ocorrência
de aves, designadamente nas migra-
ções. Porém, algumas espécies nidi-
ficantes, como a Cegonha-branca,
sofreram elevadas baixas de juvenis
logo após a saída dos ninhos. No Inver-
no, por outro lado, sobressaem as espé-
cies que apresentam comportamentos
gregários, nomeadamente as Taram-
bolas-douradas e os Abibes, e aquelas
que formam grandes dormitórios, como
o Pombo-torcaz e o Tordo-comum, entre
outras.
Mais de aves mortas1500
Pro
ject
o L
inh
as
Elé
ctri
cas
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PE
A
Causas de morte
Um dos principais resultados
deste protocolo foi a consagração de
medidas de protecção da avifauna nas
linhas eléctricas. Com base nos resul-
tados obtidos no referido estudo, mais
de 85 km de linhas foram já corrigidas
pela EDP, representando um inves-
timento de mais de 400.000 euros e
envolvendo a aplicação de um largo con-
junto de medidas e dispositivos desde a
transformação completa da linha à apli-
cação de mecanismos de isolamento dos
apoios e de sinalização dos condutores.
O estudo permitiu ainda redefinir
um conjunto de normas para aplicar à
instalação de novas linhas eléctricas nas
áreas classificadas (Áreas Protegidas e
Rede Natura), as quais deverão respeitar
ao máximo os valores biológicos nelas
existentes, em especial os avifaunísticos.
DESTAQUE
Medidas de minimização
e protecção
A divulgação dos resultados deste
protocolo constitui uma das acções
prioritárias a desenvolver no futuro
próximo. Em Janeiro do corrente ano,
realizou-se o Seminário Internacional
sobre Linhas Eléctricas, que constituiu o
primeiro grande momento de apresen-
tação dos resultados obtidos. A
possibilidade de uma prorrogação do
protocolo entre a EDP, o ICN, a Quercus
e a SPEA está ainda na agenda do pre-
sente ano. No futuro pretende-se
aumentar consideravelmente as acções
de correcção de linhas perigosas e pro-
mover a monitorização da eficácia das
correcções já efectuadas. Para além de
avaliar o sucesso e a durabilidade dos
dispositivos anti-electrocussão e anti-
colisão mais comuns, pretende-se es-
tudar a viabilidade de introduzir em
Portugal novas tecnologias de constru-
ção de linhas eléctricas de média tensão.
Tudo em prol da conservação da nossa
avifauna!
O futuro
A importância do
voluntariado
Agradecimentos:
A realização do projecto teve por trás uma equipa de colaboradores,
que intensamente levaram por diante os trabalhos de prospecção, mesmo em situações adversas.
A todos eles os nossos agradecimentos pelo fantástico desempenho.
A concretização dos trabalhos de
campo envolveu um vasto conjunto
de voluntários, sem os quais teria
sido difícil levar a bom termo
este projecto.
Mais de 40 jovens, na sua maioria
estudantes universitários,
contribuíram grandemente para o
sucesso deste projecto, tendo
participado activamente em
numerosas acções de campo e de
prospecção de aves mortas.
A todos eles,
o nosso especial agradecimento!
em Portugal
Águia-cobreira electrocutada no Parque Natural do Vale do Guadiana2
Juvenil de Águia de Bonelli electrocutado na ZPE de Castro Verde1
1
Impactodas Linhas Eléctricas Aéreas
na Avifauna
João Ministro, João Neves e Samuel Infante
2
5%17%
4%
12%
4%47%
11%Ciconi
Accipi
Grui
Charadri
StrigiPasseri
outros
fig. 1
Pro
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6
na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos
AVES ESTEPÁRIAS INVERNANTESEfeito da seca nas populações de
Miguel Lecoq, Nuno Madeira e Domingos Leitão
1 Grous
1
2 Abetardas 3 Sisão 4 Abibe
Ga
bri
el S
ierr
a &
Ju
an
Sim
ón
Mig
ue
l Le
coq
/ S
PE
A
Em Portugal, as variações da pluviosidade são
normais, provocando episódios cíclicos de secas e
inundações. No entanto, nas últimas décadas, os fenó-
menos climáticos extremos têm ocorrido com maior
frequência. Este parece ser o caso do Inverno de 2004 /
2005, durante o qual os índices de precipitação foram
muito inferiores aos registados nas décadas anteriores.
No Alentejo, uma das regiões do país com menor abun-
dância de água, a seca afecta frequentemente uma das _principais actividades daquela região a agricultura.
Pela sua dependência da agricultura de sequeiro,
as aves estepárias são particularmente afectadas em
anos de seca. Os efeitos sobre as suas populações são
diversos, podendo provocar alterações nos padrões de
migração, no comportamento, nas taxas de sobrevi-
vência e no sucesso reprodutor, apenas para referir os
principais. Como consequência é frequente observar
uma diminuição nas populações de algumas espécies,
que pode resultar, sobretudo, da maior mortalidade e da
dispersão dos indivíduos por uma maior área geo-
gráfica. Na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos, o resul-
tado dos censos do último Inverno aponta para a
diminuição generalizada dos efectivos de várias espé-
cies. O efectivo do Sisão e do Cortiçol-de-barriga-preta
diminuiu cerca de 65% e 50%, respectivamente. Os si-
sões e os grous observaram-se com maior frequência em
searas, provavelmente devido à menor disponibilidade
de alimento nos pousios, e os abibes e as tarambolas-
-douradas observaram-se mais próximo das bermas das
estradas e das charcas.
6 7
LIFE SISÃOprojecto
Efeito da seca registada no inverno de 2004 / 2005 no Projecto Piloto Agrícola
na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos
AVES ESTEPÁRIAS INVERNANTESEfeito da seca nas populações de
Miguel Lecoq, Nuno Madeira e Domingos Leitão
2
1 Grous
3 4
1
2 Abetardas 3 Sisão 4 AbibeCONTACTO DECOORDENAÇÃO
Domingos leitão
telf.: 213 220 435e-mail: [email protected] www.spea.pt/ms_sisão
A seca pronunciada que decorreu
em Portugal Continental no último ano
tem graves repercussões ao nível agro-
pecuário. Para a área de trabalho do
Projecto Piloto Agrícola (PPA), dispo-
mos de dados meteorológicos de duas
estações: a estação meteorológica dos
Lameirões (propriedade do COTR - Cen-
tro Operacional de Tecnologias de
Regadio) situada na parte sul da área, e a
estação de Reguengos de Monsaraz
(propriedade do INAG - Instituto da
Água) situada fora, a cerca de 20 km da
parte norte. De Outubro a Maio a
precipitação acumulada nos Lameirões 1
foi apenas de 184,85 mm (cerca de 35% 2
do habitual) , enquanto que em Reguen-3
gos de Monsaraz foi de 202,5 mm (40%
do habitual).
Ga
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Ga
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Sim
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Em Portugal, as variações da pluviosidade são
normais, provocando episódios cíclicos de secas e
inundações. No entanto, nas últimas décadas, os fenó-
menos climáticos extremos têm ocorrido com maior
frequência. Este parece ser o caso do Inverno de 2004 /
2005, durante o qual os índices de precipitação foram
muito inferiores aos registados nas décadas anteriores.
No Alentejo, uma das regiões do país com menor abun-
dância de água, a seca afecta frequentemente uma das _principais actividades daquela região a agricultura.
Pela sua dependência da agricultura de sequeiro,
as aves estepárias são particularmente afectadas em
anos de seca. Os efeitos sobre as suas populações são
diversos, podendo provocar alterações nos padrões de
migração, no comportamento, nas taxas de sobrevi-
vência e no sucesso reprodutor, apenas para referir os
principais. Como consequência é frequente observar
uma diminuição nas populações de algumas espécies,
que pode resultar, sobretudo, da maior mortalidade e da
dispersão dos indivíduos por uma maior área geo-
gráfica. Na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos, o resul-
tado dos censos do último Inverno aponta para a
diminuição generalizada dos efectivos de várias espé-
cies. O efectivo do Sisão e do Cortiçol-de-barriga-preta
diminuiu cerca de 65% e 50%, respectivamente. Os si-
sões e os grous observaram-se com maior frequência em
searas, provavelmente devido à menor disponibilidade
de alimento nos pousios, e os abibes e as tarambolas-
-douradas observaram-se mais próximo das bermas das
estradas e das charcas.
FONTES:
Centro Operacional deTecnologias de Regadio
1
Instituto de Meteorologia2
Instituto Nacional da Água3
Mediante esta realidade, a actividade
agro-pecuária teve de recorrer a soluções
pouco habituais: a carência de pastagens
ainda durante o Outono levou os
agricultores à compra de complementos
alimentares; noutros casos excepcionais
as searas foram também pastoreadas.
Em relação aos cereais, existiu um atraso
na sua sementeira (devido à falta de
humidade no solo), o crescimento foi
muito reduzido, a produção de grão em
solos mais pobres poderá ser quase nula
e a palha será em pouca quantidade. As
fenagens começaram em finais de Abril e
as ceifas de aveia em meados de Maio.
Verificou-se que, dada a escassez de ali-
mento para o gado, muitos dos pousios
que seriam mantidos até ao Verão, foram
já gadanhados para feno no início de
Maio.
Em relação às sementeiras de legu-
minosas de Outono do PPA, a ausência
de precipitação significativa teve o
mesmo efeito que nas searas. Apesar de a
taxa de emergência ter sido boa, o
desenvolvimento vegetativo foi muito
reduzido, principalmente nos meses de
Novembro a Fevereiro. Desta forma, o
crescimento mais significativo das cul-
turas, nomeadamente da luzerna, deu-se
a partir de Março, quando as tempera-
turas mínimas superaram os 6ºC.
Apesar de o crescimento ficar muito
aquém do esperado, todas as culturas
completaram o ciclo, produzindo se-
mente. Dos 140 ha previstos, realizámos
107 ha. Nestas circunstâncias as espécies
alvo do PPA, o Sisão e a Abetarda,
utilizaram as parcelas de leguminosas
num período mais limitado do que
aquele que estava previsto. Parte das
parcelas que foram usadas, foram-no
apenas a partir de Fevereiro e por um
número reduzido de indivíduos.
Em relação à área ocupada, as
culturas de Primavera ficaram muito
aquém das expectativas. Pretendíamos
semear 80 ha de grão-de-bico e apenas
foi possível fazê-lo em 26 ha. Ainda
assim, à excepção de uma parcela de 8 ha
que pôde ser regada, as restantes apre-
sentaram taxas de emergência muito
reduzidas, devido à ausência de humi-
dade no solo. Também a protecção de
pousios foi prejudicada pela seca severa.
Onde pretendíamos afectar 500 ha,
apenas afectámos 135,5 ha, isto porque a
falta de alimento para o gado levou a que
qualquer parcela em pousio fosse trans-
formada em local de pastagem ou de
fenagem.
As variedadesregionais
no pomar do Priolo
1 2 3
LIFE PRIOLOprojecto
O Priolo e a Flor de Laranjeira
8 9
Replantação de Laranjeira
2 Carrinha projecto Life Priolo
1
4
3
dios alternativos com fortes estruturas
financeiras de apoio na região (tal como
os incentivos florestais e agro-pecuários)
e à ausência de interesse geral por práti-
cas agrícolas tradicionais.
Durante o projecto LIFE Priolo,
pretende criar-se incentivos à plantação
de árvores de fruto, junto dos agricul-
tores da região com terrenos em locais
adequados, recorrendo aos apoios regio-
nais e comunitários disponíveis na Re-
gião Autónoma dos Açores. As árvores
de fruto mais adequadas para a Priolo
são aquelas que têm floração no final do
Inverno, seleccionando-se as laranjeiras,
os pessegueiros, e em menor número, as
macieiras.
Nos últimos censos da população
de Priolo efectuado pela SPEA, foram
estimadas cerca de 230 aves, o que indica
um ligeiro decréscimo comparativa-
mente a anos anteriores. Os efectivos
populacionais da espécie são tão baixos
que não se espera que causem impacto
significativo durante ou nos anos após o
projecto sobre as árvores de fruto a plan-
tar. A disponibilidade de alimento du-
rante o final de Inverno constitui uma
das principais preocupações do pro-
jecto. Os pomares de laranjeira, pesse-
gueiro e macieira asseguram a produção
de botões florais em quantidade, em
zonas onde o Priolo ocorre, nesta época
do ano.
No século XIX o Priolo (Pyrrhula
murina) chegou a ser considerado uma
praga nos laranjais da zona leste de São
Miguel. A captura excessiva destas aves
(quer para museus e universidades, quer
devido aos prejuízos causados nos
pomares) e a destruição da floresta de
Laurissilva, de cujas plantas o Priolo
depende, conduziram esta pequena
população à beira da extinção. Actual-
mente, os cerca de 100 casais que restam
sobrevivem numa reduzida área de
floresta nativa que ainda lhes propor-
ciona abrigo e alimento. No entanto, no
final do Inverno, a ausência de alimento
parece afectar a sobrevivência dos
indivíduos imaturos e adultos, condi-
cionando o aumento da população.
A dieta do Priolo tem como base
diversos tipos de vegetação e varia
mensalmente, conforme novas plantas
vão florindo e produzindo sementes. Os
recursos alimentares desta ave provêm
de diferentes habitats; no Verão, de
zonas abertas: derrocadas, caminhos,
clareiras e ribeiras; no Outono, de der-
rocadas, ribeiras, margens da floresta
natural e também da floresta natural; no
Inverno e na Primavera, fundamental-
mente da floresta natural.
A plantação de pomares é uma me-
dida complementar às acções de planta-
ção de vegetação endémica no âmbito do
projecto LIFE, ocorrendo nas zonas de
média e baixa altitude. Durante o Inver-
no, o Priolo desce para estas áreas à pro-
cura de alimento que escasseia nas zonas
altas com vegetação nativa.
As árvores de fruto constituíram,
em meados do século XX, uma impor-
tante fonte alimentar destas aves, quan-
do a produção de laranjas e pessegueiros
constituía uma actividade comum na
região. A plantação destas espécies po-
derá ser, portanto, viável em termos de
produção e o interesse, por parte da
população, deverá ser incentivado. Para
tal contribuem estes projectos demons-
trativos. O desinteresse actual por esta
prática pode estar associado aos subsí-
O Prioloe a disponibilidade
de alimento
Pomares,uma boa alternativa...
...mas uma alternativa
viável?
Joaquim Teodósio
PRIOLO
Devido à falta de subsídios atracti-
vos que permitam a reconversão dos
terrenos em pomares, tem sido uma
tarefa muito difícil, até este momento,
encontrar interesse junto dos proprie-
tários para a plantação de pomares. Os
custos envolvidos tornam esta mudança
muito pouco atractiva sem maiores apoi-
os por parte do Estado. A entrada em
vigor do recente plano sectorial para a
RAA contempla este problema, resta
saber se as soluções propostas irão ao
encontro dos agricultores e da conser-
vação do Priolo.
As zonas a favorecer por esta acção
são essencialmente terrenos onde termi-
nam as ribeiras que vêm das zonas altas
de ocorrência do Priolo, as quais consti-
tuem corredores naturais para os movi-
mentos das aves. A este nível a Ribeira do
Guilherme, descendo desde a área de
ocorrência principal do Priolo, constitui
o principal alvo desta acção. A SPEA con-
tactou proprietários de terrenos na área.
Um dos proprietários contactados mos-
trou grande interesse e disponibilizou
um terreno na margem da ribeira.
A plantação deste pomar resultou
da colaboração entre o Projecto LIFE
Priolo, o proprietário do terreno e os Ser-
viços de Desenvolvimento Agrário
(SDA). O LIFE contribui com a mão-de-
-obra necessária para a plantação, o Sr.
Norberto Ferreira cedeu gentilmente um
amplo terreno situado nas margens da
ribeira do Guilherme e os SDA forne-
ceram as árvores utilizadas bem como
mão-de-obra e os essenciais conheci-
mentos técnicos. Foram plantadas várias
centenas de árvores de fruto: macieiras,
citrinos e pereiras na sua maioria. Estas
fruteiras foram escolhidas de acordo
com os dados históricos sobre Priolo e
apoiadas nos conhecimentos existentes
sobre Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) no
continente.
As variedades utilizadas são, na
sua maioria, regionais, algumas das
quais estiveram em risco de desaparecer.
Apenas o trabalho dos SDA nas suas
instalações terá possibilitado a sobre-
vivência de algumas variedades histó-
ricas, como o pêro das furnas. A colabo-
ração neste tipo de iniciativas permite
cumprir vários objectivos: contribuir
para a conservação do Priolo, disseminar
variedades tradicionais de fruteiras e
possibilitar a reconversão de terrenos.
Apenas através da colaboração
com estas entidades foi possível avançar
com uma medida bastante importante
para a conservação do Priolo; uma cola-
boração que se espera venha a dar frutos
(e flores) muito em breve…
4
5
6
SP
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Pri
olo
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Trabalho de campo
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5 Pés-de-laranjeira
As variedadesregionais
no pomar do Priolo
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LIFE PRIOLOprojecto
O Priolo e a Flor de Laranjeira
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Replantação de Laranjeira
2 Carrinha projecto Life Priolo
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dios alternativos com fortes estruturas
financeiras de apoio na região (tal como
os incentivos florestais e agro-pecuários)
e à ausência de interesse geral por práti-
cas agrícolas tradicionais.
Durante o projecto LIFE Priolo,
pretende criar-se incentivos à plantação
de árvores de fruto, junto dos agricul-
tores da região com terrenos em locais
adequados, recorrendo aos apoios regio-
nais e comunitários disponíveis na Re-
gião Autónoma dos Açores. As árvores
de fruto mais adequadas para a Priolo
são aquelas que têm floração no final do
Inverno, seleccionando-se as laranjeiras,
os pessegueiros, e em menor número, as
macieiras.
Nos últimos censos da população
de Priolo efectuado pela SPEA, foram
estimadas cerca de 230 aves, o que indica
um ligeiro decréscimo comparativa-
mente a anos anteriores. Os efectivos
populacionais da espécie são tão baixos
que não se espera que causem impacto
significativo durante ou nos anos após o
projecto sobre as árvores de fruto a plan-
tar. A disponibilidade de alimento du-
rante o final de Inverno constitui uma
das principais preocupações do pro-
jecto. Os pomares de laranjeira, pesse-
gueiro e macieira asseguram a produção
de botões florais em quantidade, em
zonas onde o Priolo ocorre, nesta época
do ano.
No século XIX o Priolo (Pyrrhula
murina) chegou a ser considerado uma
praga nos laranjais da zona leste de São
Miguel. A captura excessiva destas aves
(quer para museus e universidades, quer
devido aos prejuízos causados nos
pomares) e a destruição da floresta de
Laurissilva, de cujas plantas o Priolo
depende, conduziram esta pequena
população à beira da extinção. Actual-
mente, os cerca de 100 casais que restam
sobrevivem numa reduzida área de
floresta nativa que ainda lhes propor-
ciona abrigo e alimento. No entanto, no
final do Inverno, a ausência de alimento
parece afectar a sobrevivência dos
indivíduos imaturos e adultos, condi-
cionando o aumento da população.
A dieta do Priolo tem como base
diversos tipos de vegetação e varia
mensalmente, conforme novas plantas
vão florindo e produzindo sementes. Os
recursos alimentares desta ave provêm
de diferentes habitats; no Verão, de
zonas abertas: derrocadas, caminhos,
clareiras e ribeiras; no Outono, de der-
rocadas, ribeiras, margens da floresta
natural e também da floresta natural; no
Inverno e na Primavera, fundamental-
mente da floresta natural.
A plantação de pomares é uma me-
dida complementar às acções de planta-
ção de vegetação endémica no âmbito do
projecto LIFE, ocorrendo nas zonas de
média e baixa altitude. Durante o Inver-
no, o Priolo desce para estas áreas à pro-
cura de alimento que escasseia nas zonas
altas com vegetação nativa.
As árvores de fruto constituíram,
em meados do século XX, uma impor-
tante fonte alimentar destas aves, quan-
do a produção de laranjas e pessegueiros
constituía uma actividade comum na
região. A plantação destas espécies po-
derá ser, portanto, viável em termos de
produção e o interesse, por parte da
população, deverá ser incentivado. Para
tal contribuem estes projectos demons-
trativos. O desinteresse actual por esta
prática pode estar associado aos subsí-
O Prioloe a disponibilidade
de alimento
Pomares,uma boa alternativa...
...mas uma alternativa
viável?
Joaquim Teodósio
PRIOLO
Devido à falta de subsídios atracti-
vos que permitam a reconversão dos
terrenos em pomares, tem sido uma
tarefa muito difícil, até este momento,
encontrar interesse junto dos proprie-
tários para a plantação de pomares. Os
custos envolvidos tornam esta mudança
muito pouco atractiva sem maiores apoi-
os por parte do Estado. A entrada em
vigor do recente plano sectorial para a
RAA contempla este problema, resta
saber se as soluções propostas irão ao
encontro dos agricultores e da conser-
vação do Priolo.
As zonas a favorecer por esta acção
são essencialmente terrenos onde termi-
nam as ribeiras que vêm das zonas altas
de ocorrência do Priolo, as quais consti-
tuem corredores naturais para os movi-
mentos das aves. A este nível a Ribeira do
Guilherme, descendo desde a área de
ocorrência principal do Priolo, constitui
o principal alvo desta acção. A SPEA con-
tactou proprietários de terrenos na área.
Um dos proprietários contactados mos-
trou grande interesse e disponibilizou
um terreno na margem da ribeira.
A plantação deste pomar resultou
da colaboração entre o Projecto LIFE
Priolo, o proprietário do terreno e os Ser-
viços de Desenvolvimento Agrário
(SDA). O LIFE contribui com a mão-de-
-obra necessária para a plantação, o Sr.
Norberto Ferreira cedeu gentilmente um
amplo terreno situado nas margens da
ribeira do Guilherme e os SDA forne-
ceram as árvores utilizadas bem como
mão-de-obra e os essenciais conheci-
mentos técnicos. Foram plantadas várias
centenas de árvores de fruto: macieiras,
citrinos e pereiras na sua maioria. Estas
fruteiras foram escolhidas de acordo
com os dados históricos sobre Priolo e
apoiadas nos conhecimentos existentes
sobre Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) no
continente.
As variedades utilizadas são, na
sua maioria, regionais, algumas das
quais estiveram em risco de desaparecer.
Apenas o trabalho dos SDA nas suas
instalações terá possibilitado a sobre-
vivência de algumas variedades histó-
ricas, como o pêro das furnas. A colabo-
ração neste tipo de iniciativas permite
cumprir vários objectivos: contribuir
para a conservação do Priolo, disseminar
variedades tradicionais de fruteiras e
possibilitar a reconversão de terrenos.
Apenas através da colaboração
com estas entidades foi possível avançar
com uma medida bastante importante
para a conservação do Priolo; uma cola-
boração que se espera venha a dar frutos
(e flores) muito em breve…
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Lisboa
Setubal
Sines
ArrifanaPortimãoFaro
V. Real Sto. António
Cádiz
41º
40º
39º
38º
37º
36º
N
10º 9º 8º 7º 6º W
200 m
1000 m
LIFE IBAs MARINHAS
Ao longo de trinta dias, dois biólogos da equipa do Projecto
LIFE IBAs Marinhas estiveram mais de nove horas diárias
na coberta do barco, procurando incansavelmente algumas
das aves menos conhecidas da Europa.
O esforço, que irá repetir-se seis vezes ao longo dos
próximos três anos, vai ajudar-nos na identificação das
diferentes espécies de aves marinhas, das suas
densidades, distribuição e principais rotas de voo.
O trabalho diárioO nosso trabalho, como observa-
dores no âmbito do projecto IBAs
marinhas consiste na identificação e
contagem de todas as aves existentes,
quer em vôo, quer na água, num raio de
300 metros para a frente do navio e
lateralmente até um ângulo de 90º com a
proa. Para executarmos este trabalho, o
navio tem que manter uma rota cons-
tante a uma velocidade de 10 nós (10
milhas náuticas por hora).
O trabalho de observação começa
com o nascer-do-sol (assim que há luz
suficiente para a identificação) e termina
ao pôr-do-sol. Este trabalho é interrom-
pido sempre que se iniciam eventos de
pesca. A pesca, feita por arrasto para
amostrar espécies de fundo ou pelágicas,
atrai aves para o barco que não deverão
ser contabilizadas, uma vez que o que se
pretende é conhecer o comportamento
das aves na ausência de factores
exteriores de perturbação que possam
alterar os seus hábitos normais.
A observação das aves é feita a
partir de uma caixa de observação,
especialmente construída para esse
propósito, com bancos e mesas. Esta
caixa funciona como abrigo, protegendo
os observadores do vento e do frio e
servindo para colocar todo o material
necessário à metodologia utilizada (GPS,
relógio, fichas de observação, binóculos,
rádio, etc). Um dos observadores é
responsável pela identificação e conta-
gem das aves enquanto o outro regista
todos os eventos nas folhas de campo,
incluindo as posições geográficas da
embarcação, as associações entre espé-
cies e objectos (outras aves, cetáceos,
peixes, lixo no mar, barcos, etc.) e os
diferentes comportamentos das aves
(em alimentação, repouso, perseguidas,
etc.). Os Alcatrazes, com os seus voos
picados, mergulham em profundidade
para apanhar as pequenas sardinhas que
são mantidas à superfície pelos grupos
de golfinhos. As Cagarras e as diversas
Pardelas planam sobre as ondas, prepa-
rando-se para mergulhar.
Infelizmente, em situações de mar
alteroso, o posicionamento da caixa-
abrigo não proporciona uma protecção
eficaz, pelo que neste embarque foi
necessário recorrermos à ponte de
comando do navio por diversas vezes.
Por vezes passam-se várias horas sem se
ver qualquer animal; no entanto os
observadores não podem descurar a
atenção e têm de continuar perma-
nentemente de olhar fixo nas ondas.
Subitamente pode aparecer uma Ca-
garra num voo solitário ou um bando de
gaivotas. A maior parte das horas é
calma e mesmo monótona, exigindo um
grande esforço de concentração, mas a
qualquer momento podemos ser
surpreendidos com grandes bandos de
aves ou com um grupo de golfinhos
curiosos que vêm brincar na proa do
navio.
Do Porto a CádizO nosso trabalho começa a 10 de
Abril, com uma viagem a Matosinhos,
para o porto de Leixões, onde vamos
encontrar-nos com o navio de inves-
tigação “Noruega”, pertencente ao Insti-
tuto de Investigação das Pescas e do Mar
INIAP-IPIMAR. Embora em serviço des-
de 1978, o Noruega foi completamente
remodelado este ano, e apresenta um
óptimo aspecto. A tripulação do barco é
formada por marinheiros e por uma
equipa técnica composta por doze pes-
soas, em que se incluem os dois inves-
tigadores da SPEA.
O percurso que vamos realizar foi
desenhado com o objectivo de avaliar a
abundância e distribuição de sardinha
ao longo da costa portuguesa, com base
em amostragens, tanto dos seus ovos,
como dos peixes adultos. A rota inicial,
que começa em Caminha e termina em
Cádiz, foi ligeiramente adaptada no
âmbito da parceria SPEA-IPIMAR para
assim poder optimizar a procura de aves
marinhas nas áreas de maior interesse
ornitológico.
A bordo do Noruega
Os “Passarocos”Uma das vantagens da utilização
da ponte como posto de observação foi o
contacto que estabelecemos com a
tripulação do navio e a boa relação cri-
ada. Alguns dos marinheiros mostraram
interesse no nosso trabalho e vontade de
aprender mais sobre aves marinhas.
Dois deles conseguem já identificar as
aves mais comuns como o alcatraz, a
Cagarra e os moleiros e determinar a
idade das aves (juvenis ou adultos). Este
facto mereceu um destaque especial por
parte da tripulação e alguns marinheiros
ficaram com alcunhas de aves tais como
“ganso-patola” e nós, os observadores,
como “passarocos” ou “passarinhos”.
Nem tudo éobservar
Chegando ao fim do dia, depois de
uma merecida refeição e um bom banho,
entramos na parte mais cansativa do dia:
inserir todos os dados no computador.
Esta parte não é muito morosa, mas
exige alguma atenção e cuidado para
não haver erros nas bases de dados,
especialmente criadas para este efeito.
Mais tarde, todos estes dados, depois de
cuidadosamente tratados, serão usados
para construir mapas com a distribuição
e abundância das aves marinhas em toda
a costa portuguesa.
Nesta altura do projecto os resul-
tados ainda são poucos, no entanto já se
podem notar algumas áreas com maior
concentração de aves. Durante as duas
expedições realizadas foram já obser-
vadas mais de trinta espécies de aves,
alguns golfinhos e ainda curiosidades
como peixes-lua ou peixes-voadores.
No total, realizámos mais de 270
horas de observações no mar e
percorremos mais de 2400 milhas ma-
rítimas, e isto é só o princípio do pro-
jecto. No futuro, esperamos contar com
mais barcos e mais pessoas interessadas
em apoiar o nosso trabalho. Analisar as
distribuições das aves marinhas em
Portugal é um trabalho difícil, mas
contamos consigo para nos ajudar.
NotaSe estás interessado em aprender
a identificar aves marinhas, ou
queres participar connosco em
alguma actividade, podes
contactar-nos nos seguintes
endereços electrónicos:
Se queres saber mais sobre as
campanhas acústicas do IPIMAR
ou os estudos da sardinha, podes
contactar: [email protected] ou
O percurso executa-se em radiais,
ou transectos, perpendiculares à costa,
que se estendem desde a zona costeira
até ao final da plataforma continental.
Cada radial tem cerca de 25 milhas de
comprimento (Mapa 1).
A viagem foi estruturada pelo
Chefe de expedição, de forma a abranger
toda a costa continental portuguesa.
Para os objectivos da SPEA este percurso
é perfeito, especialmente porque existe a
possibilidade de prolongar o compri-
mento de algumas radiais quando
visitamos áreas especialmente impor-
tantes para as aves. A expedição é
planeada de forma a não retornar aos
portos de abrigo, sempre que as
condições de mar o permitam. De noite
complementam-se as amostragens do
dia e depois o navio fica fundeado até
retomar a actividade com as primeiras
luzes do dia. Existe apenas uma para-
gem prevista em Lisboa, após as pri-
meiras duas semanas, para mudança de
parte da equipa e tripulação.
Radiaisrealizadas
Mapa 1
1
2
Alguns marinheiros demonstraram ser grandes
especialistas na observação das aves marinhas. Iván
Ramírez (SPEA) e Sr.Tavares (marinheiro do Noruega).
1
10 11
2A equipa de observadores da SPEA durante
a primeira campanha a bordo do Noruega
Equipa IBA's Marinhas da SPEA
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Caminha
Viana do Castelo
Porto
Aveiro
Figueira da Foz
Nazaré
Peniche
Lisboa
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ArrifanaPortimãoFaro
V. Real Sto. António
Cádiz
41º
40º
39º
38º
37º
36º
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10º 9º 8º 7º 6º W
200 m
1000 m
LIFE IBAs MARINHAS
Ao longo de trinta dias, dois biólogos da equipa do Projecto
LIFE IBAs Marinhas estiveram mais de nove horas diárias
na coberta do barco, procurando incansavelmente algumas
das aves menos conhecidas da Europa.
O esforço, que irá repetir-se seis vezes ao longo dos
próximos três anos, vai ajudar-nos na identificação das
diferentes espécies de aves marinhas, das suas
densidades, distribuição e principais rotas de voo.
O trabalho diárioO nosso trabalho, como observa-
dores no âmbito do projecto IBAs
marinhas consiste na identificação e
contagem de todas as aves existentes,
quer em vôo, quer na água, num raio de
300 metros para a frente do navio e
lateralmente até um ângulo de 90º com a
proa. Para executarmos este trabalho, o
navio tem que manter uma rota cons-
tante a uma velocidade de 10 nós (10
milhas náuticas por hora).
O trabalho de observação começa
com o nascer-do-sol (assim que há luz
suficiente para a identificação) e termina
ao pôr-do-sol. Este trabalho é interrom-
pido sempre que se iniciam eventos de
pesca. A pesca, feita por arrasto para
amostrar espécies de fundo ou pelágicas,
atrai aves para o barco que não deverão
ser contabilizadas, uma vez que o que se
pretende é conhecer o comportamento
das aves na ausência de factores
exteriores de perturbação que possam
alterar os seus hábitos normais.
A observação das aves é feita a
partir de uma caixa de observação,
especialmente construída para esse
propósito, com bancos e mesas. Esta
caixa funciona como abrigo, protegendo
os observadores do vento e do frio e
servindo para colocar todo o material
necessário à metodologia utilizada (GPS,
relógio, fichas de observação, binóculos,
rádio, etc). Um dos observadores é
responsável pela identificação e conta-
gem das aves enquanto o outro regista
todos os eventos nas folhas de campo,
incluindo as posições geográficas da
embarcação, as associações entre espé-
cies e objectos (outras aves, cetáceos,
peixes, lixo no mar, barcos, etc.) e os
diferentes comportamentos das aves
(em alimentação, repouso, perseguidas,
etc.). Os Alcatrazes, com os seus voos
picados, mergulham em profundidade
para apanhar as pequenas sardinhas que
são mantidas à superfície pelos grupos
de golfinhos. As Cagarras e as diversas
Pardelas planam sobre as ondas, prepa-
rando-se para mergulhar.
Infelizmente, em situações de mar
alteroso, o posicionamento da caixa-
abrigo não proporciona uma protecção
eficaz, pelo que neste embarque foi
necessário recorrermos à ponte de
comando do navio por diversas vezes.
Por vezes passam-se várias horas sem se
ver qualquer animal; no entanto os
observadores não podem descurar a
atenção e têm de continuar perma-
nentemente de olhar fixo nas ondas.
Subitamente pode aparecer uma Ca-
garra num voo solitário ou um bando de
gaivotas. A maior parte das horas é
calma e mesmo monótona, exigindo um
grande esforço de concentração, mas a
qualquer momento podemos ser
surpreendidos com grandes bandos de
aves ou com um grupo de golfinhos
curiosos que vêm brincar na proa do
navio.
Do Porto a CádizO nosso trabalho começa a 10 de
Abril, com uma viagem a Matosinhos,
para o porto de Leixões, onde vamos
encontrar-nos com o navio de inves-
tigação “Noruega”, pertencente ao Insti-
tuto de Investigação das Pescas e do Mar
INIAP-IPIMAR. Embora em serviço des-
de 1978, o Noruega foi completamente
remodelado este ano, e apresenta um
óptimo aspecto. A tripulação do barco é
formada por marinheiros e por uma
equipa técnica composta por doze pes-
soas, em que se incluem os dois inves-
tigadores da SPEA.
O percurso que vamos realizar foi
desenhado com o objectivo de avaliar a
abundância e distribuição de sardinha
ao longo da costa portuguesa, com base
em amostragens, tanto dos seus ovos,
como dos peixes adultos. A rota inicial,
que começa em Caminha e termina em
Cádiz, foi ligeiramente adaptada no
âmbito da parceria SPEA-IPIMAR para
assim poder optimizar a procura de aves
marinhas nas áreas de maior interesse
ornitológico.
A bordo do Noruega
Os “Passarocos”Uma das vantagens da utilização
da ponte como posto de observação foi o
contacto que estabelecemos com a
tripulação do navio e a boa relação cri-
ada. Alguns dos marinheiros mostraram
interesse no nosso trabalho e vontade de
aprender mais sobre aves marinhas.
Dois deles conseguem já identificar as
aves mais comuns como o alcatraz, a
Cagarra e os moleiros e determinar a
idade das aves (juvenis ou adultos). Este
facto mereceu um destaque especial por
parte da tripulação e alguns marinheiros
ficaram com alcunhas de aves tais como
“ganso-patola” e nós, os observadores,
como “passarocos” ou “passarinhos”.
Nem tudo éobservar
Chegando ao fim do dia, depois de
uma merecida refeição e um bom banho,
entramos na parte mais cansativa do dia:
inserir todos os dados no computador.
Esta parte não é muito morosa, mas
exige alguma atenção e cuidado para
não haver erros nas bases de dados,
especialmente criadas para este efeito.
Mais tarde, todos estes dados, depois de
cuidadosamente tratados, serão usados
para construir mapas com a distribuição
e abundância das aves marinhas em toda
a costa portuguesa.
Nesta altura do projecto os resul-
tados ainda são poucos, no entanto já se
podem notar algumas áreas com maior
concentração de aves. Durante as duas
expedições realizadas foram já obser-
vadas mais de trinta espécies de aves,
alguns golfinhos e ainda curiosidades
como peixes-lua ou peixes-voadores.
No total, realizámos mais de 270
horas de observações no mar e
percorremos mais de 2400 milhas ma-
rítimas, e isto é só o princípio do pro-
jecto. No futuro, esperamos contar com
mais barcos e mais pessoas interessadas
em apoiar o nosso trabalho. Analisar as
distribuições das aves marinhas em
Portugal é um trabalho difícil, mas
contamos consigo para nos ajudar.
NotaSe estás interessado em aprender
a identificar aves marinhas, ou
queres participar connosco em
alguma actividade, podes
contactar-nos nos seguintes
endereços electrónicos:
Se queres saber mais sobre as
campanhas acústicas do IPIMAR
ou os estudos da sardinha, podes
contactar: [email protected] ou
O percurso executa-se em radiais,
ou transectos, perpendiculares à costa,
que se estendem desde a zona costeira
até ao final da plataforma continental.
Cada radial tem cerca de 25 milhas de
comprimento (Mapa 1).
A viagem foi estruturada pelo
Chefe de expedição, de forma a abranger
toda a costa continental portuguesa.
Para os objectivos da SPEA este percurso
é perfeito, especialmente porque existe a
possibilidade de prolongar o compri-
mento de algumas radiais quando
visitamos áreas especialmente impor-
tantes para as aves. A expedição é
planeada de forma a não retornar aos
portos de abrigo, sempre que as
condições de mar o permitam. De noite
complementam-se as amostragens do
dia e depois o navio fica fundeado até
retomar a actividade com as primeiras
luzes do dia. Existe apenas uma para-
gem prevista em Lisboa, após as pri-
meiras duas semanas, para mudança de
parte da equipa e tripulação.
Radiaisrealizadas
Mapa 1
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Alguns marinheiros demonstraram ser grandes
especialistas na observação das aves marinhas. Iván
Ramírez (SPEA) e Sr.Tavares (marinheiro do Noruega).
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2A equipa de observadores da SPEA durante
a primeira campanha a bordo do Noruega
Equipa IBA's Marinhas da SPEA
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VilamouraJoão Pinto
12 13
IBAs
Por ano são observadas mais de
100 espécies diferentes de aves em
Vilamoura, algumas com efectivos
numerosos, em particular durante a
migração outonal e nos meses de
Inverno. Nesta época, destacam-se os
passeriformes migradores transarianos,
os patos, o Galeirão (Fulica atra) ou o
Mergulhão-pequeno (Tachybaptus rufi-
collis), sendo também de realçar a
presença regular de algumas aves de
rapina como a Águia-pesqueira (Pan-
dion haliaetus), o Peneireiro-cinzento
(Elanus caeruleus), ou o Falcão-pere-
grino (Falco peregrinus).
Registos dos últimos cinco anos
demonstram a nidificação regular de al-
gumas espécies ameaçadas como a
Águia-sapeira (Circus aeruginosus), o
Garçote (Ixobrychus minutus), a Garça-
-vermelha (Ardea purpurea) ou o Camão
(Porphyrio porphyrio), sendo, para esta
última, um dos sítios mais importantes a
nível nacional. A salvaguarda destas
espécies depende da extensão e qua-
lidade do caniçal de Vilamoura que sus-
tenta muitas espécies típicas de zonas
com vegetação palustre, sendo também
um dormitório de garças, com um
efectivo numeroso de Carraceiros
(Bubulcus ibis).
Nas zonas agrícolas é comum
observar espécies como a Poupa (Upupa
epops), o Mocho-galego (Athene noctua), a
Cegonha-branca (Ciconia ciconia), o
Charneco (Cyanopica cooki), a Rola-brava
(Streptopelia turtur), ou o Verdilhão
(Carduelis chloris), entre muitas outras.
As lagoas da Estação de Tratamento e os
lagos dos campos de golfe adjacentes são
também locais de elevada concentração
de gaivotas, patos, ralídeos e mer-
gulhões.
Vilamoura é também um local
interessante para a observação pontual
de espécies com poucos registos em
Portugal como o Abetouro (Botaurus
stelaris), a Pêrra (Aythya nyroca), ou a Íbis-
-preta (Plegadis falcinellus).
Importância
Ornitológica
flora e paisagem. Particularmente im-
portantes são as zonas húmidas aqui
existentes, como os lagos e o caniçal de
Vilamoura, porventura uma das maiores Como aspectos positivos na área da
Conservação da Natureza realizados
nesta IBA destacam-se:
A criação do Parque Ambiental de
Vilamoura, que possibilitou o aumento
da vigilância e a diminuição acentuada
da caça ilegal, assim como a deposição
de terras e entulho no caniçal.
A criação de um percurso pedestre,
com a melhoria e sinalização dos
caminhos agrícolas existentes, que
permitiu criar condições para a
regulação do acesso ao sítio.
A construção de dois lagos artificiais
(num total de 5,8 hectares) teve um
impacte positivo no aumento do efectivo
local de algumas espécies aquáticas, em
que se destaca o Camão (Porphyrio
porphyrio).
O Centro de Estudos da Natureza e
do Ambiente e laborou estudos
científicos e técnicos de suporte às
medidas de gestão da zona agrícola,
tendo sido fei tas propostas de
valorização ambiental de Vilamoura.
Como aspectos negativos e de
p r e o c u p a ç ã o r e l a t i v a m e n t e à
salvaguarda dos valores naturais locais
destacam-se os seguintes:
O b r a s d e c o n s t r u ç ã o e
movimentação de terras nos limites do
caniçal sem as devidas medidas
preventivas de minimização dos
impactes.
A falta de acompanhamento e
enquadramento científico aos projectos
a serem implementados no futuro, tanto
no interior do Parque Ambiental como
nos espaços adjacentes.
Abandono de alguns campos
agrícolas e deposição de terras oriundas
das obras de construção.
Incremento de espécies vegetais
exóticas e/ou invasoras, em particular
acácias (Acacia spp.), Figueira-do-
inferno (Datura stramonium), Cana
(Arundo donax), e Casuarina (Casuarina
esquisetifolia).
áreas contínuas de caniçal do sul de
Portugal, cuja principal mancha ocupa
cerca de 29 hectares, e que atraem um
conjunto variado de espécies associadas
a zonas húmidas, em particular aves
aquáticas. Na zona agrícola de Vila-
moura, para além das aves, são regis-
tadas regularmente outras espécies
interessantes, como por exemplo o Ca-
maleão (Chamaleo chamaleon), as duas
espécies de cágados existentes em
Portugal (Emys orbicularis e Mauremys
leprosa) ou ainda a Lontra (Lutra lutra),
todos eles com registos de reprodução
neste sítio.
Como apoio à gestão do Parque
Ambiental foi criado, em 2001, o Centro
de Estudos da Natureza e do Ambiente
CENA. O espaço funciona também como
Centro Interpretativo do Parque Am-
biental. A área de 271 hectares desta IBA
inclui o Parque Ambiental e terrenos
agrícolas adjacentes.
Conservação
Descrição do SítioVilamoura é conhecida sobre-
tudo pela Marina, pelos empreendi-
mentos residenciais ou pelos campos
de golfe. No entanto, e ao lado desta
urbanização residencial e de lazer,
subsiste um ecossistema, associado ao
troço final da Ribeira de Quarteira, com
elevado valor biológico. Este sítio é
composto sobretudo por campos
agrícolas e caniçal, e inclui também uma
Estação de Tratamento de Águas Resi-
duais, lagos artificiais, campos baldios, e
ainda uma densa mancha de vegetação
ribeirinha ao longo da Ribeira, entre
outros tipos de ocupação do solo de
menor expressão.
A ocupação do espaço adjacente
é feita por empreendimentos turísticos a
Este e a Norte, nomeadamente campos
de golfe e urbanizações, pela Praia da
Rocha Baixinha a Sul, e por campos
agrícolas, urbanizações turísticas e pinhal a
Oeste.
Em 1999, e no seguimento de
reivindicações de efectiva protecção dos
valores naturais de Vilamoura, feitas por
entidades regionais e nacionais, a empresa
Lusotur, S.A. (detentora da maior parte dos
terrenos da várzea da Ribeira de Quarteira)
decidiu implementar o Parque Ambiental de
Vilamoura - PAV. Este projecto ficou inte-
grado como um dos projectos da 2ª fase de
urbanização de Vilamoura. O Parque
Ambiental tem uma superfície de cerca de
200 hectares, o que representa 12% da área
total do empreendimento de Vilamoura.
O acesso pode ser feito a partir da
Estrada de Albufeira, numa estrada que se
inicia na Estalagem da Cegonha em direc-
ção ao Parque Ambiental de Vilamoura e ao
Parque Desportivo.
A sua criação teve por objectivo prin-
cipal a protecção e revitalização dos valores
naturais deste sítio em termos da fauna,
Joã
o P
into
Joã
o P
into
Vegetação ripícola da ribeira de Quarteira1 2Garça-real
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VilamouraJoão Pinto
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IBAs
Por ano são observadas mais de
100 espécies diferentes de aves em
Vilamoura, algumas com efectivos
numerosos, em particular durante a
migração outonal e nos meses de
Inverno. Nesta época, destacam-se os
passeriformes migradores transarianos,
os patos, o Galeirão (Fulica atra) ou o
Mergulhão-pequeno (Tachybaptus rufi-
collis), sendo também de realçar a
presença regular de algumas aves de
rapina como a Águia-pesqueira (Pan-
dion haliaetus), o Peneireiro-cinzento
(Elanus caeruleus), ou o Falcão-pere-
grino (Falco peregrinus).
Registos dos últimos cinco anos
demonstram a nidificação regular de al-
gumas espécies ameaçadas como a
Águia-sapeira (Circus aeruginosus), o
Garçote (Ixobrychus minutus), a Garça-
-vermelha (Ardea purpurea) ou o Camão
(Porphyrio porphyrio), sendo, para esta
última, um dos sítios mais importantes a
nível nacional. A salvaguarda destas
espécies depende da extensão e qua-
lidade do caniçal de Vilamoura que sus-
tenta muitas espécies típicas de zonas
com vegetação palustre, sendo também
um dormitório de garças, com um
efectivo numeroso de Carraceiros
(Bubulcus ibis).
Nas zonas agrícolas é comum
observar espécies como a Poupa (Upupa
epops), o Mocho-galego (Athene noctua), a
Cegonha-branca (Ciconia ciconia), o
Charneco (Cyanopica cooki), a Rola-brava
(Streptopelia turtur), ou o Verdilhão
(Carduelis chloris), entre muitas outras.
As lagoas da Estação de Tratamento e os
lagos dos campos de golfe adjacentes são
também locais de elevada concentração
de gaivotas, patos, ralídeos e mer-
gulhões.
Vilamoura é também um local
interessante para a observação pontual
de espécies com poucos registos em
Portugal como o Abetouro (Botaurus
stelaris), a Pêrra (Aythya nyroca), ou a Íbis-
-preta (Plegadis falcinellus).
Importância
Ornitológica
flora e paisagem. Particularmente im-
portantes são as zonas húmidas aqui
existentes, como os lagos e o caniçal de
Vilamoura, porventura uma das maiores Como aspectos positivos na área da
Conservação da Natureza realizados
nesta IBA destacam-se:
A criação do Parque Ambiental de
Vilamoura, que possibilitou o aumento
da vigilância e a diminuição acentuada
da caça ilegal, assim como a deposição
de terras e entulho no caniçal.
A criação de um percurso pedestre,
com a melhoria e sinalização dos
caminhos agrícolas existentes, que
permitiu criar condições para a
regulação do acesso ao sítio.
A construção de dois lagos artificiais
(num total de 5,8 hectares) teve um
impacte positivo no aumento do efectivo
local de algumas espécies aquáticas, em
que se destaca o Camão (Porphyrio
porphyrio).
O Centro de Estudos da Natureza e
do Ambiente e laborou estudos
científicos e técnicos de suporte às
medidas de gestão da zona agrícola,
tendo sido fei tas propostas de
valorização ambiental de Vilamoura.
Como aspectos negativos e de
p r e o c u p a ç ã o r e l a t i v a m e n t e à
salvaguarda dos valores naturais locais
destacam-se os seguintes:
O b r a s d e c o n s t r u ç ã o e
movimentação de terras nos limites do
caniçal sem as devidas medidas
preventivas de minimização dos
impactes.
A falta de acompanhamento e
enquadramento científico aos projectos
a serem implementados no futuro, tanto
no interior do Parque Ambiental como
nos espaços adjacentes.
Abandono de alguns campos
agrícolas e deposição de terras oriundas
das obras de construção.
Incremento de espécies vegetais
exóticas e/ou invasoras, em particular
acácias (Acacia spp.), Figueira-do-
inferno (Datura stramonium), Cana
(Arundo donax), e Casuarina (Casuarina
esquisetifolia).
áreas contínuas de caniçal do sul de
Portugal, cuja principal mancha ocupa
cerca de 29 hectares, e que atraem um
conjunto variado de espécies associadas
a zonas húmidas, em particular aves
aquáticas. Na zona agrícola de Vila-
moura, para além das aves, são regis-
tadas regularmente outras espécies
interessantes, como por exemplo o Ca-
maleão (Chamaleo chamaleon), as duas
espécies de cágados existentes em
Portugal (Emys orbicularis e Mauremys
leprosa) ou ainda a Lontra (Lutra lutra),
todos eles com registos de reprodução
neste sítio.
Como apoio à gestão do Parque
Ambiental foi criado, em 2001, o Centro
de Estudos da Natureza e do Ambiente
CENA. O espaço funciona também como
Centro Interpretativo do Parque Am-
biental. A área de 271 hectares desta IBA
inclui o Parque Ambiental e terrenos
agrícolas adjacentes.
Conservação
Descrição do SítioVilamoura é conhecida sobre-
tudo pela Marina, pelos empreendi-
mentos residenciais ou pelos campos
de golfe. No entanto, e ao lado desta
urbanização residencial e de lazer,
subsiste um ecossistema, associado ao
troço final da Ribeira de Quarteira, com
elevado valor biológico. Este sítio é
composto sobretudo por campos
agrícolas e caniçal, e inclui também uma
Estação de Tratamento de Águas Resi-
duais, lagos artificiais, campos baldios, e
ainda uma densa mancha de vegetação
ribeirinha ao longo da Ribeira, entre
outros tipos de ocupação do solo de
menor expressão.
A ocupação do espaço adjacente
é feita por empreendimentos turísticos a
Este e a Norte, nomeadamente campos
de golfe e urbanizações, pela Praia da
Rocha Baixinha a Sul, e por campos
agrícolas, urbanizações turísticas e pinhal a
Oeste.
Em 1999, e no seguimento de
reivindicações de efectiva protecção dos
valores naturais de Vilamoura, feitas por
entidades regionais e nacionais, a empresa
Lusotur, S.A. (detentora da maior parte dos
terrenos da várzea da Ribeira de Quarteira)
decidiu implementar o Parque Ambiental de
Vilamoura - PAV. Este projecto ficou inte-
grado como um dos projectos da 2ª fase de
urbanização de Vilamoura. O Parque
Ambiental tem uma superfície de cerca de
200 hectares, o que representa 12% da área
total do empreendimento de Vilamoura.
O acesso pode ser feito a partir da
Estrada de Albufeira, numa estrada que se
inicia na Estalagem da Cegonha em direc-
ção ao Parque Ambiental de Vilamoura e ao
Parque Desportivo.
A sua criação teve por objectivo prin-
cipal a protecção e revitalização dos valores
naturais deste sítio em termos da fauna,
Joã
o P
into
Joã
o P
into
Vegetação ripícola da ribeira de Quarteira1 2Garça-real
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CYANOPICA CYANA
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ENTREVISTA
15
Mapa de distribuição da Pêga-azul
1
1 Exemplo de um mapa de distribuição.
Dados provisórios. ICN.
P: Uma pergunta recorrente nos últimos
anos, entre os ornitólogos nacionais é:
«Que se passa com o Novo Atlas...»?
R: Estamos agora a terminar a fase de
trabalho de campo e, em princípio, esta
época será a última. É a última por várias
situações; o POA [Programa Opera-
cional de Ambiente], ao qual o projecto
está associado, apesar das repro-
gramações efectuadas tem um limite
temporal, a saber, Dezembro de 2006.
P: Existe um prazo?
R: Sim. Um dos principais objectivos dos
Atlas de Aves é fornecer informação
sobre a distribuição das aves numa
determinada área. Se a recolha da
informação se arrasta demasiadamente
no tempo, esta poderá perder alguma
fiabilidade, principalmente porque
ocorrem alterações na distribuição das
espécies. Aliás, essa é uma das razões
pela qual se realizam este tipo de
estudos. Terá que haver um equilíbrio
entre este pressuposto e uma cobertura
adequada da área de estudo em função
da informação pretendida.
P: No entanto, as previsões iniciais,
quando este projecto se iniciou, em 1999,
apontavam para a publicação deste
trabalho em 2003...
R: Sim, a calendarização inicial foi
trabalhada nesse sentido, partindo do
princípio que as condições mínimas
necessárias para a execução do Novo
Atlas estariam sempre asseguradas. O
que se fez foi, delimitar, estabelecer uma
calendarização e então, em função dessa
calendarização, identificar o esforço, o
trabalho a fazer em cada um dos quatro
anos. Que acabou por não ser cumprido,
acabando por, de certa forma, ser
normal. É normal, e será fácil entender
que, estando perante um projecto
estimado para um período de realização
de quatro anos, com três parcerias
protocoladas, nomeadamente com a
SPEA, com objectivos exigentes, em
particular, em termos da aplicação de
metodologias de recolha de dados no
campo etc., estarão reunidas as condi-
ções para que a probabilidade de derra-
pagens, nomeadamente nos prazos
agendados, se eleve. Depois, existem os
condicionalismos naturais decorrentes
da aprovação dos orçamentos anuais,
por sua vez dependentes do POA e
respectivos trâmites, que asseguram a
comparticipação das verbas necessárias
ao cumprimento dos protocolos. A tudo
isto acrescem factos inesperados;
contava-se inicialmente com a partici-
pação de um número razoável de
funcionários do ICN a colaborarem
efectivamente nos trabalhos do Novo
Atlas, situação que rapidamente se
inverteu, quer por exigências funcionais
de alguns (vigilantes da natureza), quer
por saídas ou interrupção da actividade,
de outros (técnicos).
P: Mas não achas que...
R: Por outro lado, por muito bem prepa-
rado que este projecto tivesse sido, não
foi possível realizar um ano pivot, prin-
cipalmente para testagem de meto-
dologias. Isto teria possibilitado o seu
acerto e adequação em tempo útil,
evitando que só no segundo ano do pro-
jecto, se equacionassem e implemen-
tassem algumas modificações. Porque
apesar das pessoas que iniciaram este
projecto também terem feito parte do
anterior, este teve algumas particulari-
dades e inovações que o diferenciam. A
metodologia e a base de amostragem
foram diferentes. Houve coisas que com
o decorrer do tempo se viu que podiam
ser aperfeiçoadas ou modificadas, como
por exemplo, o caso dos censos das rapi-
nas nocturnas, em que a metodologia
acabou por ser ajustada já com o projecto
a decorrer. Depois, houve pessoas que
tiveram de sair, vários Organizadores
Regionais (OR), e não se arranjou quem
os substituísse... Tudo isto provoca
atrasos, inúmeros atrasos, obviamente,
alguns deles podiam ser evitados, ou
pelo menos há quem pense que são
evitáveis, mas como é habitual, só de-
pois de acontecerem se torna, por vezes,
mais clara a solução.
P: Em termos de cobertura do território
continental, o que está feito e o que falta
fazer?
R: Está cerca de 95% feito segundo a meto-
dologia sistemática. A questão nem são
tanto as quadrículas que ainda não
tiveram visitas sistemáticas, mas sim
algumas que possuem informação
deficiente ou com pouca fiabilidade; é
necessário fazer alguns «reforços», col-
matar algumas falhas, elevar a riqueza
específica de algumas quadrículas, de-
dicando mais esforço à prospecção de
espécies que deverão estar presentes nas
quadrículas mas que não foram regis-
tadas em visitas anteriores.
P: Sendo este o segundo projecto Atlas no
nosso país, uma das novidades prin-
cipais, é o facto de incluir as regiões
autónomas da Madeira e dos Açores.
Podes adiantar a situação destas duas
regiões em relação ao projecto?
R: Tal como para a SPEA, foram celebrados,
no início do projecto, protocolos de
parceria quer com o Parque Natural da
Madeira, quer com a Direcção Regional
do Ambiente dos Açores, fundamen-
talmente, devido ao facto de que pela
primeira vez em estudos deste género as
Regiões Autónomas serem incluídas.
Em termos de cobertura geral faltam
ainda visitar algumas quadrículas no
Arquipélago dos Açores, bem como
realizar um esforço suplementar de
detecção de espécies de hábitos parti-
culares, nomeadamente Galinhola, Bu-
fo-pequeno-d'orelhas e Codorniz. Re-
giste-se que a SPEA será responsável
pela resolução de parte desse trabalho
na presente época de campo. Na Ma-
deira, só nesta época serão realizados ou
concluídos censos relativos a espécies de
aves marinhas nas Ilhas Selvagens e
Desertas, o censo de Sterna hirundo e
confirmações de nidificação de várias
espécies (andorinhões, Codorniz, etc.).
Este aparente atraso prende-se com es-
pecificidades próprias das Ilhas. Como
deves saber, nas Ilhas, as condições
atmosféricas não são fáceis... O clima e a
fragmentação do terreno são um obstá-
culo, exigem mais das pessoas, até fisica-
mente. Também a menor disponibi-
lidade de observadores experimen-
tados, em ambos os Arquipélagos,
contribuiu para que só nesta época sejam
concluídos os trabalhos de recolha de
informação no campo. Apesar destas
contingências, prevê-se que os objec-
tivos inicialmente traçados para as Ilhas
sejam alcançados.
P: Tem sido fácil arranjar voluntários para
as Ilhas?
R: Tal como referi, existe uma disponi-
bilidade de meios humanos mais limi-
tada nas Ilhas. Essa falta foi, sempre que
possível, colmatada com o apoio dos
associados da SPEA, residentes nos dois
arquipélagos e com reforço pontual de
ornitólogos do continente.
P: Na tua opinião, a que se deve essa falta
de voluntários? Terá sido feita uma boa
divulgação?
R: Eu tenho uma opinião muito pessoal
acerca disto. Não tem muito a ver com a
divulgação; acho que a divulgação que
foi feita, principalmente nos primeiros
anos do projecto, incluindo acções de
CYANOPICA CYANA
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Mapa de distribuição da Pêga-azul
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1 Exemplo de um mapa de distribuição.
Dados provisórios. ICN.
P: Uma pergunta recorrente nos últimos
anos, entre os ornitólogos nacionais é:
«Que se passa com o Novo Atlas...»?
R: Estamos agora a terminar a fase de
trabalho de campo e, em princípio, esta
época será a última. É a última por várias
situações; o POA [Programa Opera-
cional de Ambiente], ao qual o projecto
está associado, apesar das repro-
gramações efectuadas tem um limite
temporal, a saber, Dezembro de 2006.
P: Existe um prazo?
R: Sim. Um dos principais objectivos dos
Atlas de Aves é fornecer informação
sobre a distribuição das aves numa
determinada área. Se a recolha da
informação se arrasta demasiadamente
no tempo, esta poderá perder alguma
fiabilidade, principalmente porque
ocorrem alterações na distribuição das
espécies. Aliás, essa é uma das razões
pela qual se realizam este tipo de
estudos. Terá que haver um equilíbrio
entre este pressuposto e uma cobertura
adequada da área de estudo em função
da informação pretendida.
P: No entanto, as previsões iniciais,
quando este projecto se iniciou, em 1999,
apontavam para a publicação deste
trabalho em 2003...
R: Sim, a calendarização inicial foi
trabalhada nesse sentido, partindo do
princípio que as condições mínimas
necessárias para a execução do Novo
Atlas estariam sempre asseguradas. O
que se fez foi, delimitar, estabelecer uma
calendarização e então, em função dessa
calendarização, identificar o esforço, o
trabalho a fazer em cada um dos quatro
anos. Que acabou por não ser cumprido,
acabando por, de certa forma, ser
normal. É normal, e será fácil entender
que, estando perante um projecto
estimado para um período de realização
de quatro anos, com três parcerias
protocoladas, nomeadamente com a
SPEA, com objectivos exigentes, em
particular, em termos da aplicação de
metodologias de recolha de dados no
campo etc., estarão reunidas as condi-
ções para que a probabilidade de derra-
pagens, nomeadamente nos prazos
agendados, se eleve. Depois, existem os
condicionalismos naturais decorrentes
da aprovação dos orçamentos anuais,
por sua vez dependentes do POA e
respectivos trâmites, que asseguram a
comparticipação das verbas necessárias
ao cumprimento dos protocolos. A tudo
isto acrescem factos inesperados;
contava-se inicialmente com a partici-
pação de um número razoável de
funcionários do ICN a colaborarem
efectivamente nos trabalhos do Novo
Atlas, situação que rapidamente se
inverteu, quer por exigências funcionais
de alguns (vigilantes da natureza), quer
por saídas ou interrupção da actividade,
de outros (técnicos).
P: Mas não achas que...
R: Por outro lado, por muito bem prepa-
rado que este projecto tivesse sido, não
foi possível realizar um ano pivot, prin-
cipalmente para testagem de meto-
dologias. Isto teria possibilitado o seu
acerto e adequação em tempo útil,
evitando que só no segundo ano do pro-
jecto, se equacionassem e implemen-
tassem algumas modificações. Porque
apesar das pessoas que iniciaram este
projecto também terem feito parte do
anterior, este teve algumas particulari-
dades e inovações que o diferenciam. A
metodologia e a base de amostragem
foram diferentes. Houve coisas que com
o decorrer do tempo se viu que podiam
ser aperfeiçoadas ou modificadas, como
por exemplo, o caso dos censos das rapi-
nas nocturnas, em que a metodologia
acabou por ser ajustada já com o projecto
a decorrer. Depois, houve pessoas que
tiveram de sair, vários Organizadores
Regionais (OR), e não se arranjou quem
os substituísse... Tudo isto provoca
atrasos, inúmeros atrasos, obviamente,
alguns deles podiam ser evitados, ou
pelo menos há quem pense que são
evitáveis, mas como é habitual, só de-
pois de acontecerem se torna, por vezes,
mais clara a solução.
P: Em termos de cobertura do território
continental, o que está feito e o que falta
fazer?
R: Está cerca de 95% feito segundo a meto-
dologia sistemática. A questão nem são
tanto as quadrículas que ainda não
tiveram visitas sistemáticas, mas sim
algumas que possuem informação
deficiente ou com pouca fiabilidade; é
necessário fazer alguns «reforços», col-
matar algumas falhas, elevar a riqueza
específica de algumas quadrículas, de-
dicando mais esforço à prospecção de
espécies que deverão estar presentes nas
quadrículas mas que não foram regis-
tadas em visitas anteriores.
P: Sendo este o segundo projecto Atlas no
nosso país, uma das novidades prin-
cipais, é o facto de incluir as regiões
autónomas da Madeira e dos Açores.
Podes adiantar a situação destas duas
regiões em relação ao projecto?
R: Tal como para a SPEA, foram celebrados,
no início do projecto, protocolos de
parceria quer com o Parque Natural da
Madeira, quer com a Direcção Regional
do Ambiente dos Açores, fundamen-
talmente, devido ao facto de que pela
primeira vez em estudos deste género as
Regiões Autónomas serem incluídas.
Em termos de cobertura geral faltam
ainda visitar algumas quadrículas no
Arquipélago dos Açores, bem como
realizar um esforço suplementar de
detecção de espécies de hábitos parti-
culares, nomeadamente Galinhola, Bu-
fo-pequeno-d'orelhas e Codorniz. Re-
giste-se que a SPEA será responsável
pela resolução de parte desse trabalho
na presente época de campo. Na Ma-
deira, só nesta época serão realizados ou
concluídos censos relativos a espécies de
aves marinhas nas Ilhas Selvagens e
Desertas, o censo de Sterna hirundo e
confirmações de nidificação de várias
espécies (andorinhões, Codorniz, etc.).
Este aparente atraso prende-se com es-
pecificidades próprias das Ilhas. Como
deves saber, nas Ilhas, as condições
atmosféricas não são fáceis... O clima e a
fragmentação do terreno são um obstá-
culo, exigem mais das pessoas, até fisica-
mente. Também a menor disponibi-
lidade de observadores experimen-
tados, em ambos os Arquipélagos,
contribuiu para que só nesta época sejam
concluídos os trabalhos de recolha de
informação no campo. Apesar destas
contingências, prevê-se que os objec-
tivos inicialmente traçados para as Ilhas
sejam alcançados.
P: Tem sido fácil arranjar voluntários para
as Ilhas?
R: Tal como referi, existe uma disponi-
bilidade de meios humanos mais limi-
tada nas Ilhas. Essa falta foi, sempre que
possível, colmatada com o apoio dos
associados da SPEA, residentes nos dois
arquipélagos e com reforço pontual de
ornitólogos do continente.
P: Na tua opinião, a que se deve essa falta
de voluntários? Terá sido feita uma boa
divulgação?
R: Eu tenho uma opinião muito pessoal
acerca disto. Não tem muito a ver com a
divulgação; acho que a divulgação que
foi feita, principalmente nos primeiros
anos do projecto, incluindo acções de
"...Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats..."
16 17
ENTREVISTA
formação, foi minimamente adequada…
Depois, acrescem às dificuldades já
identificadas questões relacionadas com o
trabalho que poderia ser realizado pelos
voluntários. Ao contrário do continente,
não foram aplicados os mesmos critérios
relativamente ao trabalho voluntário para
as Ilhas. Se no continente, aos voluntários
eram reembolsadas parte das despesas
(deslocações, alimentação e alojamento)
até determinado montante por qua-
drícula, na Madeira e nos Açores tal não
foi considerado, fundamentalmente, com
base no pressuposto de que para os resi-
dentes nas Ilhas, e justamente por esse
motivo (isto é, poderem realizar trabalho
na sua área de residência), não justificaria
o pagamento das referidas despesas. Na
prática, constatou-se que afinal esta deci-
são foi um pouco injusta, pois, mesmo que
de menor monta, os voluntários das Ilhas
tinham despesas associadas ao trabalho
que realizavam para o Novo Atlas das
Aves. Relativamente ao voluntariado em
geral e à decisão de reembolsar despesas
em particular, foi o meio que se achou
mais adequado para conseguir levar a
cabo o projecto com a participação do
maior número de colaboradores, ten-
tando por um lado, dinamizar o universo
dos ornitólogos portugueses (e não só…)
e, por outro lado, garantir que os objec-
tivos do projecto fossem alcançados.
P: Talvez tenha havido aqui uma falha; que é
mesmo essa, nos primeiros dois anos
houve divulgação, formação...
R: Era o que estava estabelecido nos
protocolos, partindo do princípio que
essas acções seriam suficientes para
assegurar o trabalho a realizar nas Ilhas,
essencialmente com recurso a ornitólogos
residentes.
P: Sim..., mas há coisas para as quais eu não
arranjo explicação, como o desapareci-
mento da Folha Informativa. No início do
projecto, estavam prometidas duas por
ano, até agora sairam quatro números, o
último dos quais em 2002. Prometia-se
ainda a apresentação de um «Relatório de
progresso»... Isto não desmotiva e desmo-
biliza as pessoas?
R: Eventualmente, mas, há aqui um, ou
melhor, vários motivos. Primeiro: o facto
das folhas informativas terem terminado
em 2002, está directamente relacionado
com a disponibilidade de informação
existente na base de dados que permitisse
a produção de mapas de distribuição, o
produto mais desejado em termos
informativos. Ora, existiram sempre
alguns problemas relacionados com a
base de dados, devido principalmente
ao volume e à qualidade de informação
em causa resultando na sua permanente
adaptação. Também a necessidade de
inserção da informação em tempo útil
(no final de cada época de campo…)
associada a uma entrega de fichas, por
vezes fora das datas previstas, impos-
sibilitou a divulgação de material
actualizado de forma atempada. Logo
não fazia muito sentido editarmos folhas
informativas sem podermos apresentar
resultados novos. Mais, organizámos
dois encontros exclusivos do Atlas onde,
saliente-se, com um esforço assinalável,
se permitiu dar a conhecer e a divulgar
um pouco mais este projecto.
P: Ainda assim parece-me pouco... A
distância entre os colaboradores alarga-
se por muito menos...
R: Isso tem tudo a ver com a informação
que tinhamos disponível para apre-
sentar. Agora talvez fizesse sentido fazer
uma Folha Informativa ou talvez se
justificasse um encontro sobre o Atlas.
Neste momento, até temos informação
para várias Folhas Informativas.
P: E então...?
R: Neste momento é imprescindível aplicar
todo o tempo e esforço na conclusão dos
trabalhos de campo e na continuação da
preparação dos trabalhos de edição. E
quando os recursos humanos são
limitados…
P: Qual é a utilidade de um trabalho deste
género?
R: Somos diariamente confrontados com a
sua utilidade; pela quantidade de
pedidos que nos chegam para dispo-
nibilização da informação recolhida,
sendo a mesma indispensável como base
para uma grande variedade de estudos
versando a gestão de habitats, orde-
namento do território, estudos de im-
pacto ambiental e conservação de
espécies. São portanto uma ferramenta
por excelência em todas estas temáticas.
Será uma boa base de apoio ao inves-
tigador, aos que apenas procuram infor-
mação mais imediata e, sobretudo, como
ferramenta de apoio, para estudos que
visam a protecção das aves nidificantes e
conservação dos seus habitats.
P: Na tua opinião, o nível de adesão de
voluntários a este projecto tem sido
bom?
R: Poderia eventualmente ser melhor. No
início sim, mas neste momento é já um
projecto com alguns anos e nota-se uma
certa saturação, e mesmo quem goste
muito de aves, prefere, talvez, observá-
-las livremente sem qualquer tipo de
restrição, sem se submeter às condi-
cionantes de uma metodologia que
limita o impulso natural de andar “à cata
do pássaro” e obriga a cumprir horários,
a registar as espécies em meias horas…
Até o próprio preenchimento das fichas
de registo, pode desmotivar um pouco
os observadores, que encaram mais estas
coisas como lazer e querem desfrutar as
espécies que vêem, só que tudo isto é
absolutamente indispensável para que
depois surja a informação certa nos
respectivos mapas.
P: O trabalho de campo tem sido feito por
voluntários ou por pessoal profissional
(contratado)?
R: Tem havido as duas situações. Consta-
támos que só com voluntários não conse-
guíamos terminar o trabalho, embora
tenhamos tido uma grande participação.
Mas os voluntários são efémeros, e isso
obrigou-nos a contratar profissionais;
por outro lado, por vezes o grau de
exigência de determinados censos faz
com que o voluntário normal não possa
fazer determinado trabalho de uma
forma eficaz.
P: Outro aspecto da metodologia que foi
muito controverso e também muito mal
compreendido, sobretudo por quem
teve de andar no campo, foi o facto de se
dividirem as tétradas em meias horas...
R: Na génese desta metodologia está a ideia
de disponibilizar mais informação,
tendo como princípio a possibilidade de
duplicar o seu volume, realizando exac-
tamente o mesmo esforço durante o
período de tempo considerado (1 hora).
Isto permitirá afinar o pormenor da
representação da abundância das
espécies muito comuns e com ampla
distribuição. Isso já foi explicado num
dos encontros do Atlas e num dos
congressos da SPEA, em que foram
mostrados exemplos de mapas com uma
meia-hora e duas meias horas, e de facto
para algumas espécies verificava-se que
havia diferenças de detalhe.
P: Já se sabe se o Atlas vai ser ilustrado
com fotografias ou com desenhos?
R: Foi estabelecido que o Atlas teria
ilustrações a cores, ilustrado por
desenhadores; grande parte deles
sairão do concurso efectuado em
2003, com a finalidade de descobrir
potenciais ilustradores para colabo-
rarem no Novo Atlas. Para além
destes, serão feitos convites a outros
desenhadores de mérito reconhe-
cido. Como solução de recurso, dado
que existe alguma contenção orça-
mental, serão incluídas ilustrações já
utilizadas para outros efeitos, desde
que se adequem àquela finalidade.
P: Quando é que o Atlas será publi-
cado?
R: De acordo com os prazos e exigências
do POA, com a calendarização dos
trabalhos de edição e assumindo que,
com a informação obtida nesta época
de campo se alcançam os critérios
mínimos de qualidade para um
estudo com estas características,
deverá estar pronto para impressão
até final de 2006.
P: Há algum assunto que não tenhamos
falado e que gostasses de falar?
R: Gostava apenas de dizer que todos os
colaboradores do Atlas, e não tenho
dúvidas sobre esse aspecto, irão ver o
seu esforço recompensado quando
confrontados com o resultado final.
Quanto a alguns percalços que
possam ter existido, posso dizer que
é normal que ocorram num projecto
com estas dimensões e abrangência.
De facto há situações, muitas vezes
externas ao projecto que interferem
directamente e que nós, executantes,
colaboradores, ornitólogos não con-
seguimos sequer entender ou pelo
menos evitar.
"...Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats..."
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ENTREVISTA
formação, foi minimamente adequada…
Depois, acrescem às dificuldades já
identificadas questões relacionadas com o
trabalho que poderia ser realizado pelos
voluntários. Ao contrário do continente,
não foram aplicados os mesmos critérios
relativamente ao trabalho voluntário para
as Ilhas. Se no continente, aos voluntários
eram reembolsadas parte das despesas
(deslocações, alimentação e alojamento)
até determinado montante por qua-
drícula, na Madeira e nos Açores tal não
foi considerado, fundamentalmente, com
base no pressuposto de que para os resi-
dentes nas Ilhas, e justamente por esse
motivo (isto é, poderem realizar trabalho
na sua área de residência), não justificaria
o pagamento das referidas despesas. Na
prática, constatou-se que afinal esta deci-
são foi um pouco injusta, pois, mesmo que
de menor monta, os voluntários das Ilhas
tinham despesas associadas ao trabalho
que realizavam para o Novo Atlas das
Aves. Relativamente ao voluntariado em
geral e à decisão de reembolsar despesas
em particular, foi o meio que se achou
mais adequado para conseguir levar a
cabo o projecto com a participação do
maior número de colaboradores, ten-
tando por um lado, dinamizar o universo
dos ornitólogos portugueses (e não só…)
e, por outro lado, garantir que os objec-
tivos do projecto fossem alcançados.
P: Talvez tenha havido aqui uma falha; que é
mesmo essa, nos primeiros dois anos
houve divulgação, formação...
R: Era o que estava estabelecido nos
protocolos, partindo do princípio que
essas acções seriam suficientes para
assegurar o trabalho a realizar nas Ilhas,
essencialmente com recurso a ornitólogos
residentes.
P: Sim..., mas há coisas para as quais eu não
arranjo explicação, como o desapareci-
mento da Folha Informativa. No início do
projecto, estavam prometidas duas por
ano, até agora sairam quatro números, o
último dos quais em 2002. Prometia-se
ainda a apresentação de um «Relatório de
progresso»... Isto não desmotiva e desmo-
biliza as pessoas?
R: Eventualmente, mas, há aqui um, ou
melhor, vários motivos. Primeiro: o facto
das folhas informativas terem terminado
em 2002, está directamente relacionado
com a disponibilidade de informação
existente na base de dados que permitisse
a produção de mapas de distribuição, o
produto mais desejado em termos
informativos. Ora, existiram sempre
alguns problemas relacionados com a
base de dados, devido principalmente
ao volume e à qualidade de informação
em causa resultando na sua permanente
adaptação. Também a necessidade de
inserção da informação em tempo útil
(no final de cada época de campo…)
associada a uma entrega de fichas, por
vezes fora das datas previstas, impos-
sibilitou a divulgação de material
actualizado de forma atempada. Logo
não fazia muito sentido editarmos folhas
informativas sem podermos apresentar
resultados novos. Mais, organizámos
dois encontros exclusivos do Atlas onde,
saliente-se, com um esforço assinalável,
se permitiu dar a conhecer e a divulgar
um pouco mais este projecto.
P: Ainda assim parece-me pouco... A
distância entre os colaboradores alarga-
se por muito menos...
R: Isso tem tudo a ver com a informação
que tinhamos disponível para apre-
sentar. Agora talvez fizesse sentido fazer
uma Folha Informativa ou talvez se
justificasse um encontro sobre o Atlas.
Neste momento, até temos informação
para várias Folhas Informativas.
P: E então...?
R: Neste momento é imprescindível aplicar
todo o tempo e esforço na conclusão dos
trabalhos de campo e na continuação da
preparação dos trabalhos de edição. E
quando os recursos humanos são
limitados…
P: Qual é a utilidade de um trabalho deste
género?
R: Somos diariamente confrontados com a
sua utilidade; pela quantidade de
pedidos que nos chegam para dispo-
nibilização da informação recolhida,
sendo a mesma indispensável como base
para uma grande variedade de estudos
versando a gestão de habitats, orde-
namento do território, estudos de im-
pacto ambiental e conservação de
espécies. São portanto uma ferramenta
por excelência em todas estas temáticas.
Será uma boa base de apoio ao inves-
tigador, aos que apenas procuram infor-
mação mais imediata e, sobretudo, como
ferramenta de apoio, para estudos que
visam a protecção das aves nidificantes e
conservação dos seus habitats.
P: Na tua opinião, o nível de adesão de
voluntários a este projecto tem sido
bom?
R: Poderia eventualmente ser melhor. No
início sim, mas neste momento é já um
projecto com alguns anos e nota-se uma
certa saturação, e mesmo quem goste
muito de aves, prefere, talvez, observá-
-las livremente sem qualquer tipo de
restrição, sem se submeter às condi-
cionantes de uma metodologia que
limita o impulso natural de andar “à cata
do pássaro” e obriga a cumprir horários,
a registar as espécies em meias horas…
Até o próprio preenchimento das fichas
de registo, pode desmotivar um pouco
os observadores, que encaram mais estas
coisas como lazer e querem desfrutar as
espécies que vêem, só que tudo isto é
absolutamente indispensável para que
depois surja a informação certa nos
respectivos mapas.
P: O trabalho de campo tem sido feito por
voluntários ou por pessoal profissional
(contratado)?
R: Tem havido as duas situações. Consta-
támos que só com voluntários não conse-
guíamos terminar o trabalho, embora
tenhamos tido uma grande participação.
Mas os voluntários são efémeros, e isso
obrigou-nos a contratar profissionais;
por outro lado, por vezes o grau de
exigência de determinados censos faz
com que o voluntário normal não possa
fazer determinado trabalho de uma
forma eficaz.
P: Outro aspecto da metodologia que foi
muito controverso e também muito mal
compreendido, sobretudo por quem
teve de andar no campo, foi o facto de se
dividirem as tétradas em meias horas...
R: Na génese desta metodologia está a ideia
de disponibilizar mais informação,
tendo como princípio a possibilidade de
duplicar o seu volume, realizando exac-
tamente o mesmo esforço durante o
período de tempo considerado (1 hora).
Isto permitirá afinar o pormenor da
representação da abundância das
espécies muito comuns e com ampla
distribuição. Isso já foi explicado num
dos encontros do Atlas e num dos
congressos da SPEA, em que foram
mostrados exemplos de mapas com uma
meia-hora e duas meias horas, e de facto
para algumas espécies verificava-se que
havia diferenças de detalhe.
P: Já se sabe se o Atlas vai ser ilustrado
com fotografias ou com desenhos?
R: Foi estabelecido que o Atlas teria
ilustrações a cores, ilustrado por
desenhadores; grande parte deles
sairão do concurso efectuado em
2003, com a finalidade de descobrir
potenciais ilustradores para colabo-
rarem no Novo Atlas. Para além
destes, serão feitos convites a outros
desenhadores de mérito reconhe-
cido. Como solução de recurso, dado
que existe alguma contenção orça-
mental, serão incluídas ilustrações já
utilizadas para outros efeitos, desde
que se adequem àquela finalidade.
P: Quando é que o Atlas será publi-
cado?
R: De acordo com os prazos e exigências
do POA, com a calendarização dos
trabalhos de edição e assumindo que,
com a informação obtida nesta época
de campo se alcançam os critérios
mínimos de qualidade para um
estudo com estas características,
deverá estar pronto para impressão
até final de 2006.
P: Há algum assunto que não tenhamos
falado e que gostasses de falar?
R: Gostava apenas de dizer que todos os
colaboradores do Atlas, e não tenho
dúvidas sobre esse aspecto, irão ver o
seu esforço recompensado quando
confrontados com o resultado final.
Quanto a alguns percalços que
possam ter existido, posso dizer que
é normal que ocorram num projecto
com estas dimensões e abrangência.
De facto há situações, muitas vezes
externas ao projecto que interferem
directamente e que nós, executantes,
colaboradores, ornitólogos não con-
seguimos sequer entender ou pelo
menos evitar.
18
AVES À VOLTA DO MUNDO
19
SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia
Augusto Faustino
Au
gu
sto
Fa
ust
ino
Sulawesi é uma ilha indonésia que resultou do encon-
tro, há 3 milhões de anos, de duas outras ilhas provenientes da
Ásia e da Oceânia, juntando, num local único, animais e plan-
tas muito diferentes. Entre os animais destacam-se o Macaco-
-preto, o Tarsier-espectral, o Urso-cuscus, a Anoa e, claro está,
uma série de fantásticas aves. É também estimulante saber
que das cerca 330 espécies de aves que aí ocorrem, 67 são
endémicas, o que garante ao amante de aves uma boa oportu-
nidade de ver espécies novas e espectaculares.
Em termos logísticos uma visita a Sulawesi deverá con-
centrar-se na zona norte e centro da ilha pois permite ver a
grande maioria das aves endémicas, deixando para trás
apenas um Papa-moscas e um Olho-branco. Neste itinerário
são fundamentais 3 parques naturais: Tangkoko e Domoga-
-Bone no norte e Lore Lindu no centro.
A cidade de Manado é a porta do norte e, estando
ligada por via aérea directa com Singapura, é o local de chega-
da mais conveniente a Sulawesi. Como também dá acesso à
ilha Sangihe e ao arquipélago Talaud e à ilha de Halmahera
nas Molucas pode ser a primeira etapa de uma longa viagem
de sonho por estas ilhas encantadas. É ainda um local exce-
lente para fazer um pequeno intervalo e descansar das madru-
gadas e dos dias duros e cansativos na floresta, pois a menos
de 30 minutos de barco fica a ilha Bunaken com uma praia
única e um dos melhores recifes de corais do mundo.
TangkokoSituado a 3 horas de Manado, de
autocarro, este pequeno parque de
floresta marítima, de montanha e
mangais é excelente para observar
Guarda-rios, com nove espécies pre-
sentes, entre eles o Actenoides monachus, o
Cittura cyanotis e o Actenoides princeps,
habitantes da floresta e particularmente
difíceis de observar. O Coracias temmin-
ckii, o Penelopides axarhatus, o Rhyticeros
cassidix, o Mulleripicus fulvus, o Dendro-
copos temminckii, o Scissirostrum dubium,
o Streptocitta albicollis, a Phaenicophaeus
calyorhynchus e os Dicaeum nehrkorni,
Dicaeum aureolimbatum e Dicaeum celebi-
cum são algumas das especialidades
deste lugar. Uma viagem de barco
(negociado com os pescadores da
pequena aldeia à entrada do parque) até
ao mangal permite observar o Fregata
minor e o Fregata ariel bem como o Hal-
cyon melanorhyncha, o Ducula bicolor e
outras aves de habitat costeiro. Na
floresta é ainda possível observar o
Macaco-preto e o Tarsier-espectral, um
dos mamíferos mais pequenos do
mundo (foto 1). O melhor local para
dormir é no pequeno hotel da Mama
Rosa, localizado na aldeia à entrada do
parque, que apesar de muito básico é
acolhedor.
Dumoga-BoneEste é um parque extenso, de
floresta de planície, com mais de 30
endémicas presentes, onde está situado
um dos locais de nidificação do fan-
tástico Macrocephalon maleo. Esta ave é
famosa pelos seus ninhos coloniais,
escavados em terrenos com actividade
vulcânica, que fornecem a energia, ne-
cessária ao desenvolvimento do embrião
até à eclosão. É talvez a endémica mais
famosa da Sulawesi e num estado
desfavorável de conservação devido às
pilhagens dos ninhos pelas populações.
Próximo da aldeia de Toraut existe um
ninho activo com visitas diárias de várias
aves que se fazem anunciar com um
canto inesquecível. É também possível
observar as aves recém-nascidas, pois
existe um programa de protecção de
modo a minorar a predação humana dos
ovos (foto 2). O parque é acessível de
automóvel (5 h de Manado via Kotamo-
bagu) e é possível dormir e comer na
recepção. As espécies presentes são
abundantes, como por exemplo a Galli-
columba tristigmata e a Chalcophaps
stephani, o Ducula radiata e Ducula for-
steni, os Psitacideos: Prioniturus flavicans
e Prioniturus platurus, Loriculus exilis e
Loriculus stigmatus, enquanto que o Zoo-
thera erythronota e o Trichastoma celebense
mereçam de especial referência. As rapi-
nas estão bem representadas com o
Accipiter trinotatus, o Accipiter rhodogas-
ter e o Accipiter nanus e o Spilornis rufi-
pectus, mas é uma zona ainda com mui-
tas surpresas, como de resto comprova a
descoberta recente, muito próximo da
recepção, de um novo papa-moscas.
Lore LinduA logística deste parque na parte
central da ilha é já mais complicada e
viajar de avião até Palu é recomendável,
bem como alugar um jipe com guia para
a estadia, pois a topografia da zona, as
distâncias e recentes problemas sociais, a
tal aconselham (existem vários guias em
Palu habituados às necessidades dos
observadores de aves). A regra é infor-
mar-se antes de partir. No entanto vale o
esforço, pois o parque alberga quase
todas as espécies endémicas de monta-
nha de Sulawesi como a Geomalia heinri-
chi, o Meropogon forsteni, o Heinrichia
calligyna, e a lista de espécies continua…
O melhor local para ficar é em
Napu, e se as opções de dormida são
espartanas, a comida é fantástica. Os
locais mais importantes são a serração
abandonada em Anaso a 2000 m (espe-
cialidades de montanha), estrada
florestal até ao lago Tambling (foto3) e na
pequena floresta próximo da aldeia. Em
Anaso é possível ver o Malia grata com
alguma facilidade, a Geomalia heinrichi, a
Malia grata, ambos os calaus, o Serinus
estherae, o Myzomela sanguinolenta,
enquanto que na floresta do lago estão
presentes o Cryptophaps poecilorrhoa, a
Ptilinopus fischeri, a Ptilinopus subgularis e
a Ptilinopus melanospila, o Myza sara-
sinorum e o Myza celebensis, o Dicrurus
montanus e o Cyornis hoevelli entre outros.
Na proximidade da aldeia são comuns
ambos os calaus e os pica-paus, o Cora-
cina morio e o Coracina temminckii, o Cyor-
nis rufigastra, enquanto que nos campos
de arroz é possível observar a Anas
gibberifrons, o Falco moluccensis, a Cisti-
cola exilis e bandos gigantescos de
Aplonis panayensis e de Lonchura molucca.
O tempo de estadia recomendado
neste local é de 5 dias, no mínimo, pois os
habitats são dispersos e a observação na
floresta pode por vezes ser muito lenta,
isto sem contar com o temporal ocasional
ou o nevoeiro na montanha.
Bibliografia:
Where to watch birds in Asia.
Wheatley N. Christopher Helm, 1996
A guide to the birds of Wallacea.
Coates BJ, Bishop KD e Gardner D B.,
Dove Publications, 1997.
Existe uma cassete publicada pelo
autor com cantos de algumas aves de
Sulawesi: Bird recordings from the
Moluccas, Lesser Sundas, Sulawesi,
Java, Bali & Sumatra Smith, SW.
Australia
Indonésia
Filipinas
Sulawesi
Existem outros locais para ver
aves em Sulawesi mas se o tempo
permitir, uma visita à ilha de Sangihe
(a terra do cravinho) poderá ser me-
morável, pois a possibilidade de
observar mais uma série de aves des-
lumbrantes (a Pitta sordida e a Pitta ery-
throgaster, o Loriculus catamene e o raro
Eutrichomyias rowleyi) é tentadora. A
viagem pode-se fazer por barco (oito
horas) ou de avião, a partir de Manado,
e as deslocações na ilha são fáceis (táxi)
e pouco dispendiosas.
Uma viagem a esta parte do
mundo é uma experiência ines-
quecível para o amante de aves e da
natureza em geral e as paisagens des-
lumbrantes, o mar e as florestas rapi-
damente fazem esquecer o cansaço das
madrugadas e das longas caminhadas.
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AVES À VOLTA DO MUNDO
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SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia
Augusto Faustino
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Sulawesi é uma ilha indonésia que resultou do encon-
tro, há 3 milhões de anos, de duas outras ilhas provenientes da
Ásia e da Oceânia, juntando, num local único, animais e plan-
tas muito diferentes. Entre os animais destacam-se o Macaco-
-preto, o Tarsier-espectral, o Urso-cuscus, a Anoa e, claro está,
uma série de fantásticas aves. É também estimulante saber
que das cerca 330 espécies de aves que aí ocorrem, 67 são
endémicas, o que garante ao amante de aves uma boa oportu-
nidade de ver espécies novas e espectaculares.
Em termos logísticos uma visita a Sulawesi deverá con-
centrar-se na zona norte e centro da ilha pois permite ver a
grande maioria das aves endémicas, deixando para trás
apenas um Papa-moscas e um Olho-branco. Neste itinerário
são fundamentais 3 parques naturais: Tangkoko e Domoga-
-Bone no norte e Lore Lindu no centro.
A cidade de Manado é a porta do norte e, estando
ligada por via aérea directa com Singapura, é o local de chega-
da mais conveniente a Sulawesi. Como também dá acesso à
ilha Sangihe e ao arquipélago Talaud e à ilha de Halmahera
nas Molucas pode ser a primeira etapa de uma longa viagem
de sonho por estas ilhas encantadas. É ainda um local exce-
lente para fazer um pequeno intervalo e descansar das madru-
gadas e dos dias duros e cansativos na floresta, pois a menos
de 30 minutos de barco fica a ilha Bunaken com uma praia
única e um dos melhores recifes de corais do mundo.
TangkokoSituado a 3 horas de Manado, de
autocarro, este pequeno parque de
floresta marítima, de montanha e
mangais é excelente para observar
Guarda-rios, com nove espécies pre-
sentes, entre eles o Actenoides monachus, o
Cittura cyanotis e o Actenoides princeps,
habitantes da floresta e particularmente
difíceis de observar. O Coracias temmin-
ckii, o Penelopides axarhatus, o Rhyticeros
cassidix, o Mulleripicus fulvus, o Dendro-
copos temminckii, o Scissirostrum dubium,
o Streptocitta albicollis, a Phaenicophaeus
calyorhynchus e os Dicaeum nehrkorni,
Dicaeum aureolimbatum e Dicaeum celebi-
cum são algumas das especialidades
deste lugar. Uma viagem de barco
(negociado com os pescadores da
pequena aldeia à entrada do parque) até
ao mangal permite observar o Fregata
minor e o Fregata ariel bem como o Hal-
cyon melanorhyncha, o Ducula bicolor e
outras aves de habitat costeiro. Na
floresta é ainda possível observar o
Macaco-preto e o Tarsier-espectral, um
dos mamíferos mais pequenos do
mundo (foto 1). O melhor local para
dormir é no pequeno hotel da Mama
Rosa, localizado na aldeia à entrada do
parque, que apesar de muito básico é
acolhedor.
Dumoga-BoneEste é um parque extenso, de
floresta de planície, com mais de 30
endémicas presentes, onde está situado
um dos locais de nidificação do fan-
tástico Macrocephalon maleo. Esta ave é
famosa pelos seus ninhos coloniais,
escavados em terrenos com actividade
vulcânica, que fornecem a energia, ne-
cessária ao desenvolvimento do embrião
até à eclosão. É talvez a endémica mais
famosa da Sulawesi e num estado
desfavorável de conservação devido às
pilhagens dos ninhos pelas populações.
Próximo da aldeia de Toraut existe um
ninho activo com visitas diárias de várias
aves que se fazem anunciar com um
canto inesquecível. É também possível
observar as aves recém-nascidas, pois
existe um programa de protecção de
modo a minorar a predação humana dos
ovos (foto 2). O parque é acessível de
automóvel (5 h de Manado via Kotamo-
bagu) e é possível dormir e comer na
recepção. As espécies presentes são
abundantes, como por exemplo a Galli-
columba tristigmata e a Chalcophaps
stephani, o Ducula radiata e Ducula for-
steni, os Psitacideos: Prioniturus flavicans
e Prioniturus platurus, Loriculus exilis e
Loriculus stigmatus, enquanto que o Zoo-
thera erythronota e o Trichastoma celebense
mereçam de especial referência. As rapi-
nas estão bem representadas com o
Accipiter trinotatus, o Accipiter rhodogas-
ter e o Accipiter nanus e o Spilornis rufi-
pectus, mas é uma zona ainda com mui-
tas surpresas, como de resto comprova a
descoberta recente, muito próximo da
recepção, de um novo papa-moscas.
Lore LinduA logística deste parque na parte
central da ilha é já mais complicada e
viajar de avião até Palu é recomendável,
bem como alugar um jipe com guia para
a estadia, pois a topografia da zona, as
distâncias e recentes problemas sociais, a
tal aconselham (existem vários guias em
Palu habituados às necessidades dos
observadores de aves). A regra é infor-
mar-se antes de partir. No entanto vale o
esforço, pois o parque alberga quase
todas as espécies endémicas de monta-
nha de Sulawesi como a Geomalia heinri-
chi, o Meropogon forsteni, o Heinrichia
calligyna, e a lista de espécies continua…
O melhor local para ficar é em
Napu, e se as opções de dormida são
espartanas, a comida é fantástica. Os
locais mais importantes são a serração
abandonada em Anaso a 2000 m (espe-
cialidades de montanha), estrada
florestal até ao lago Tambling (foto3) e na
pequena floresta próximo da aldeia. Em
Anaso é possível ver o Malia grata com
alguma facilidade, a Geomalia heinrichi, a
Malia grata, ambos os calaus, o Serinus
estherae, o Myzomela sanguinolenta,
enquanto que na floresta do lago estão
presentes o Cryptophaps poecilorrhoa, a
Ptilinopus fischeri, a Ptilinopus subgularis e
a Ptilinopus melanospila, o Myza sara-
sinorum e o Myza celebensis, o Dicrurus
montanus e o Cyornis hoevelli entre outros.
Na proximidade da aldeia são comuns
ambos os calaus e os pica-paus, o Cora-
cina morio e o Coracina temminckii, o Cyor-
nis rufigastra, enquanto que nos campos
de arroz é possível observar a Anas
gibberifrons, o Falco moluccensis, a Cisti-
cola exilis e bandos gigantescos de
Aplonis panayensis e de Lonchura molucca.
O tempo de estadia recomendado
neste local é de 5 dias, no mínimo, pois os
habitats são dispersos e a observação na
floresta pode por vezes ser muito lenta,
isto sem contar com o temporal ocasional
ou o nevoeiro na montanha.
Bibliografia:
Where to watch birds in Asia.
Wheatley N. Christopher Helm, 1996
A guide to the birds of Wallacea.
Coates BJ, Bishop KD e Gardner D B.,
Dove Publications, 1997.
Existe uma cassete publicada pelo
autor com cantos de algumas aves de
Sulawesi: Bird recordings from the
Moluccas, Lesser Sundas, Sulawesi,
Java, Bali & Sumatra Smith, SW.
Australia
Indonésia
Filipinas
Sulawesi
Existem outros locais para ver
aves em Sulawesi mas se o tempo
permitir, uma visita à ilha de Sangihe
(a terra do cravinho) poderá ser me-
morável, pois a possibilidade de
observar mais uma série de aves des-
lumbrantes (a Pitta sordida e a Pitta ery-
throgaster, o Loriculus catamene e o raro
Eutrichomyias rowleyi) é tentadora. A
viagem pode-se fazer por barco (oito
horas) ou de avião, a partir de Manado,
e as deslocações na ilha são fáceis (táxi)
e pouco dispendiosas.
Uma viagem a esta parte do
mundo é uma experiência ines-
quecível para o amante de aves e da
natureza em geral e as paisagens des-
lumbrantes, o mar e as florestas rapi-
damente fazem esquecer o cansaço das
madrugadas e das longas caminhadas.
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ROTEIRO ORNITOLÓGICO
Pico de S.MamedeAs zonas mais altas da Serra são
dominadas por extensos pinhais de
Pinheiro-bravo e albergam uma diversi-
dade avifaunística menos variada do
que outras zonas do Parque. No entanto,
algumas espécies são mais fáceis de
encontrar neste tipo de habitat é o caso
do Chapim-carvoeiro, do Chapim-de-
-poupa, e do Pica-pau-verde, todos eles
relativamente frequentes nas zonas de
maior altitude. O pico de S. Mamede é o
único local a sul do Rio Tejo com uma
altitude superior a mil metros e, para
além da sua vista magnífica, é um dos
poucos locais do Alentejo onde, em In-
vernos frios, a neve marca presença.
A sul de Castelo de Vide ergue-se
uma crista cujo topo se situa a 700 m de
altitude e domina a paisagem circun-
dante. O miradouro aí existente, a
Senhora da Penha, merece certamente
uma espreitadela. Nas matas envol-
ventes, compostas por pinheiros e al-
guns castanheiros, é possível encontrar o
Pisco-de-peito-ruivo (que aqui ocorre
durante todo o ano), o Chapim-de-pou-
pa, a Estrelinha-de-cabeça-listada e o
Pica-pau-verde. Um pouco mais a sul
situa-se a aldeia de Carreiras. Aqui a
paisagem é dominada por montados de
sobro densos onde ocorrem, entre outras
espécies, o Rabirruivo-de-testa-branca, a
Felosa de Bonelli e a Escrevedeira-de-
-garganta-preta.
Esta pedreira fica situada a
escassos 5 km de Castelo de Vide, junto à
estrada que segue para Póvoa e Meadas.
Aqui ocorrem a Gralha-de-nuca-cinzen-
ta, o Corvo e a Andorinha-dáurica. Há
alguns anos esta zona era também fre-
quentada por Rolieiros e Peneireiros-
-das-torres, contudo estas espécies pode-
rão já não ocorrer na área.
Senhora da Penhae Carreiras
Pedreira de Coureleiros
A visita a esta pitoresca vila faz
parte de qualquer expedição à região de
S. Mamede. O castelo oferece uma vista
panorâmica deslumbrante sobre a região
circundante e também a oportunidade
de observar algumas aves interessantes,
nomeadamente o Melro-azul, a Ando-
rinha-das-rochas e a Alvéola-cinzenta,
que nidificam no burgo medieval. O
castelo constitui igualmente um ponto
de observação para aves de rapina, como
a guia-calçada ou a guia-cobreira,
que por vezes o sobrevoam.
Á Á
Castelo de Vide
Este é mais um ponto de paragem
obrigatório. A vista é soberba, tanto
sobre a planície alentejana como sobre a
Estremadura espanhola. Quando a
visibilidade é boa, vê-se ao longe a Serra
da Estrela. O castelo e os rochedos que o
envolvem servem de refúgio ao Melro-
-azul e à Cia durante todo o ano. O
Chasco-preto, que ainda aqui ocorria na
Marvão
década de 1990, não tem sido observado
regularmente nos últimos anos, pelo que
poderá já não nidificar no local. No In-
verno é também possível encontrar aqui
a Ferreirinha-alpina, que se alimenta nas
ervas junto à base exterior da muralha ou
mesmo no interior do castelo. Já aqui fo-
ram observadas espécies mais raras, co-
mo o Melro-das-rochas, o Melro-de-pei-
to-branco ou a Trepadeira-dos-muros.
É a principal zona húmida da
região e fica situada a cerca de 10 km de
Castelo de Vide, para noroeste. Saindo
de Castelo de Vide pela N246, passa-se o
posto de combustível e toma-se a se-
gunda estrada municipal para a direita.
Esta estrada serpenteia ao longo da mar-
gem ocidental da albufeira, oferecendo
diversos pontos de observação sobre as
águas. Os Mergulhões-de-crista podem
ser observados na albufeira durante todo
o ano e, na Primavera, é frequente
encontrar Milhafres-pretos, que são
Barragem da Póvoa
vistos a voar sobre a água ou sobre a
zona envolvente. As zonas de giestas
junto à estrada são um bom local para
tentar encontrar a Toutinegra-carras-
queira, enquanto os terrenos incultos e
pedregosos são o habitat ideal para pro-
curar a Cotovia-montesina. Continuan-
do pela referida estrada, chega-se,
finalmente, ao paredão da barragem.
Vale a pena atravessá-lo e parar do outro
lado, a fim de inspeccionar os ninhos de
Cegonha-branca, que servem de suporte
a algumas colónias de Pardal-espanhol.
Gonçalo Elias
20 Azinhal disperso2
Zona da Beirã1
21
2
1
Serra de
S.Mamede
Serra de S.Mamede
Situada em pleno Alto Alentejo,
perto de Portalegre, a Serra de S.
Mamede estende-se pelos concelhos de
Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e
Arronches. Apesar de aqui existir uma
área protegida (o Parque Natural da
Serra de S. Mamede), esta não é parti-
cularmente conhecida pelas suas aves,
pelo menos quando comparada com
outras áreas, de reconhecida impor-
tância internacional no que à conser-
vação da avifauna diz respeito.
Não obstante, a região de S.
Mamede contém uma das maiores
diversidades avifaunísticas a nível
nacional. Esta riqueza foi evidenciada,
pela primeira vez, no “Atlas das Aves que
nidificam em Portugal Continental”,
publicado em 1989 pelo extinto Serviço
Nacional de Parques, Reservas e Conser-
vação da Natureza, em que esta região
surge representada com uma diversi-
dade de espécies só comparável à de
zonas como o estuário do Tejo ou a Ria
Formosa.
A zona de S. Mamede afigura-se,
assim, como um destino a considerar por
todos aqueles que queiram ter contacto
com algumas espécies de aves diferentes
daquelas que encontram nas zonas onde
habitualmente efectuam as suas obser-
vações.
Para além da sua riqueza avifau-
nística, esta zona apresenta ainda o
atractivo de fazer parte de uma das
regiões de turismo mais interessantes de
Portugal, a Região de Turismo de S. Ma-
mede. Aqui é possível encontrar um
património arquitectónico e arqueo-
lógico notável, desde as inúmeras antas e
menires (incluindo o Menir da Meada
que, com os seus seis metros e meio, é o
maior da Península Ibérica) até à cidade
romana de Ammaia e a vários edifícios
com interesse histórico. Além disso, as
paisagens são deslumbrantes e até a
vegetação que aqui encontramos, for-
mada em grande parte por matas de
carvalho-negral com giesta e por casta-
nheiros, não encontra paralelo no resto
do Alentejo.
Para o ornitólogo que se desloque
até S. Mamede, as potencialidades são
enormes. Aqui nidificam mais de 120
espécies de aves e muitas outras ocor-
rem durante a migração ou no Inverno.
As características da serra, com o seu
pico acima dos mil metros (o ponto mais
elevado a sul do Tejo), cria condições fa-
voráveis à ocorrência de espécies com
uma distribuição mais setentrional, co-
mo o Chapim-carvoeiro ou o Pisco-de-
-peito-ruivo, enquanto a proximidade
da Estremadura espanhola e do Tejo
Internacional favorece a ocorrência de
aves de presa de grande porte.
As zonas mais interessantes para
observar aves encontram-se espalhadas
por uma vasta área. Assim, é recomen-
dável planear uma visita de dois ou
mais dias, de forma a poder visitar os
melhores locais, como também para
poder desfrutar plenamente da paisa-
gem e do património cultural aqui
existente.
Seguidamente apresentam-se al-
gumas sugestões de locais e percursos
para a observação de aves nesta região.
He
lde
r C
ost
a
He
lde
r C
ost
a
ROTEIRO ORNITOLÓGICO
Pico de S.MamedeAs zonas mais altas da Serra são
dominadas por extensos pinhais de
Pinheiro-bravo e albergam uma diversi-
dade avifaunística menos variada do
que outras zonas do Parque. No entanto,
algumas espécies são mais fáceis de
encontrar neste tipo de habitat é o caso
do Chapim-carvoeiro, do Chapim-de-
-poupa, e do Pica-pau-verde, todos eles
relativamente frequentes nas zonas de
maior altitude. O pico de S. Mamede é o
único local a sul do Rio Tejo com uma
altitude superior a mil metros e, para
além da sua vista magnífica, é um dos
poucos locais do Alentejo onde, em In-
vernos frios, a neve marca presença.
A sul de Castelo de Vide ergue-se
uma crista cujo topo se situa a 700 m de
altitude e domina a paisagem circun-
dante. O miradouro aí existente, a
Senhora da Penha, merece certamente
uma espreitadela. Nas matas envol-
ventes, compostas por pinheiros e al-
guns castanheiros, é possível encontrar o
Pisco-de-peito-ruivo (que aqui ocorre
durante todo o ano), o Chapim-de-pou-
pa, a Estrelinha-de-cabeça-listada e o
Pica-pau-verde. Um pouco mais a sul
situa-se a aldeia de Carreiras. Aqui a
paisagem é dominada por montados de
sobro densos onde ocorrem, entre outras
espécies, o Rabirruivo-de-testa-branca, a
Felosa de Bonelli e a Escrevedeira-de-
-garganta-preta.
Esta pedreira fica situada a
escassos 5 km de Castelo de Vide, junto à
estrada que segue para Póvoa e Meadas.
Aqui ocorrem a Gralha-de-nuca-cinzen-
ta, o Corvo e a Andorinha-dáurica. Há
alguns anos esta zona era também fre-
quentada por Rolieiros e Peneireiros-
-das-torres, contudo estas espécies pode-
rão já não ocorrer na área.
Senhora da Penhae Carreiras
Pedreira de Coureleiros
A visita a esta pitoresca vila faz
parte de qualquer expedição à região de
S. Mamede. O castelo oferece uma vista
panorâmica deslumbrante sobre a região
circundante e também a oportunidade
de observar algumas aves interessantes,
nomeadamente o Melro-azul, a Ando-
rinha-das-rochas e a Alvéola-cinzenta,
que nidificam no burgo medieval. O
castelo constitui igualmente um ponto
de observação para aves de rapina, como
a guia-calçada ou a guia-cobreira,
que por vezes o sobrevoam.
Á Á
Castelo de Vide
Este é mais um ponto de paragem
obrigatório. A vista é soberba, tanto
sobre a planície alentejana como sobre a
Estremadura espanhola. Quando a
visibilidade é boa, vê-se ao longe a Serra
da Estrela. O castelo e os rochedos que o
envolvem servem de refúgio ao Melro-
-azul e à Cia durante todo o ano. O
Chasco-preto, que ainda aqui ocorria na
Marvão
década de 1990, não tem sido observado
regularmente nos últimos anos, pelo que
poderá já não nidificar no local. No In-
verno é também possível encontrar aqui
a Ferreirinha-alpina, que se alimenta nas
ervas junto à base exterior da muralha ou
mesmo no interior do castelo. Já aqui fo-
ram observadas espécies mais raras, co-
mo o Melro-das-rochas, o Melro-de-pei-
to-branco ou a Trepadeira-dos-muros.
É a principal zona húmida da
região e fica situada a cerca de 10 km de
Castelo de Vide, para noroeste. Saindo
de Castelo de Vide pela N246, passa-se o
posto de combustível e toma-se a se-
gunda estrada municipal para a direita.
Esta estrada serpenteia ao longo da mar-
gem ocidental da albufeira, oferecendo
diversos pontos de observação sobre as
águas. Os Mergulhões-de-crista podem
ser observados na albufeira durante todo
o ano e, na Primavera, é frequente
encontrar Milhafres-pretos, que são
Barragem da Póvoa
vistos a voar sobre a água ou sobre a
zona envolvente. As zonas de giestas
junto à estrada são um bom local para
tentar encontrar a Toutinegra-carras-
queira, enquanto os terrenos incultos e
pedregosos são o habitat ideal para pro-
curar a Cotovia-montesina. Continuan-
do pela referida estrada, chega-se,
finalmente, ao paredão da barragem.
Vale a pena atravessá-lo e parar do outro
lado, a fim de inspeccionar os ninhos de
Cegonha-branca, que servem de suporte
a algumas colónias de Pardal-espanhol.
Gonçalo Elias
20 Azinhal disperso2
Zona da Beirã1
21
2
1
Serra de
S.Mamede
Serra de S.Mamede
Situada em pleno Alto Alentejo,
perto de Portalegre, a Serra de S.
Mamede estende-se pelos concelhos de
Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e
Arronches. Apesar de aqui existir uma
área protegida (o Parque Natural da
Serra de S. Mamede), esta não é parti-
cularmente conhecida pelas suas aves,
pelo menos quando comparada com
outras áreas, de reconhecida impor-
tância internacional no que à conser-
vação da avifauna diz respeito.
Não obstante, a região de S.
Mamede contém uma das maiores
diversidades avifaunísticas a nível
nacional. Esta riqueza foi evidenciada,
pela primeira vez, no “Atlas das Aves que
nidificam em Portugal Continental”,
publicado em 1989 pelo extinto Serviço
Nacional de Parques, Reservas e Conser-
vação da Natureza, em que esta região
surge representada com uma diversi-
dade de espécies só comparável à de
zonas como o estuário do Tejo ou a Ria
Formosa.
A zona de S. Mamede afigura-se,
assim, como um destino a considerar por
todos aqueles que queiram ter contacto
com algumas espécies de aves diferentes
daquelas que encontram nas zonas onde
habitualmente efectuam as suas obser-
vações.
Para além da sua riqueza avifau-
nística, esta zona apresenta ainda o
atractivo de fazer parte de uma das
regiões de turismo mais interessantes de
Portugal, a Região de Turismo de S. Ma-
mede. Aqui é possível encontrar um
património arquitectónico e arqueo-
lógico notável, desde as inúmeras antas e
menires (incluindo o Menir da Meada
que, com os seus seis metros e meio, é o
maior da Península Ibérica) até à cidade
romana de Ammaia e a vários edifícios
com interesse histórico. Além disso, as
paisagens são deslumbrantes e até a
vegetação que aqui encontramos, for-
mada em grande parte por matas de
carvalho-negral com giesta e por casta-
nheiros, não encontra paralelo no resto
do Alentejo.
Para o ornitólogo que se desloque
até S. Mamede, as potencialidades são
enormes. Aqui nidificam mais de 120
espécies de aves e muitas outras ocor-
rem durante a migração ou no Inverno.
As características da serra, com o seu
pico acima dos mil metros (o ponto mais
elevado a sul do Tejo), cria condições fa-
voráveis à ocorrência de espécies com
uma distribuição mais setentrional, co-
mo o Chapim-carvoeiro ou o Pisco-de-
-peito-ruivo, enquanto a proximidade
da Estremadura espanhola e do Tejo
Internacional favorece a ocorrência de
aves de presa de grande porte.
As zonas mais interessantes para
observar aves encontram-se espalhadas
por uma vasta área. Assim, é recomen-
dável planear uma visita de dois ou
mais dias, de forma a poder visitar os
melhores locais, como também para
poder desfrutar plenamente da paisa-
gem e do património cultural aqui
existente.
Seguidamente apresentam-se al-
gumas sugestões de locais e percursos
para a observação de aves nesta região.
He
lde
r C
ost
a
He
lde
r C
ost
a
22 23
ORNITOLOGIA
Filipe Canário, Susana Matos e M. Soler 2004.
Constrangimentos ambientais e cria
cooperativa na Pega-azul.
Condor 106 (3): 608-617.
Teresa Catry, Jaime A. Ramos, Inês Catry, Manuel Allen-Revez e Nuno Grade 2004.
Serão as salinas áreas adequadas como
habitat alternativo de nidificação para a
Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons?
Ibis 146 (2): 247-257.
Este estudo faz uma análise da
tendência populacional da Andorinha-
-do-mar-anã nidificante em habitats
naturais (praias) e habitats alternativos
ou artificiais (salinas) em Portugal, bem
como a comparação de parâmetros
reprodutores em colónias nos dois tipos
de habitat. Ao contrário do que acon-
teceu até aos anos 90, actualmente mais
de 50% da população de Andorinha-do-
-mar-anã nidifica em salinas. A destrui-
ção do habitat e o aumento da pertur-
bação humana são os factores que expli-
cam o progressivo abandono das praias.
As avesem Portugal
Gonçalo Elias 2004.
Aspectos da distribuição da Felosa-
-ibérica Phylloscopus ibericus em
Espanha e Portugal.
Ibis 146 (4): 685.
Paulo Catry, Ana Campos,
Vítor Almada e W. Cresswell 2004.
Segregação invernal de Piscos-de-peito-
ruivo Erithacus rubecula migradores em
relação com o sexo, idade e tamanho dos
indivíduos.
Journal of Avian Biology 35 (3): 204-209.
Nesta pesquisa, descobriu-se que
os piscos migradores invernantes no sul
de Portugal são sobretudo aves do sexo
feminino. As aves dominantes (indi-
víduos do sexo masculino, adultos e de
maior tamanho corporal) têm uma
maior tendência a ser encontradas em
biótopos arborizados, ao passo que as
fêmeas e os jovens são mais frequentes
em áreas com matos.
Paulo Marques 2004.
Cuidados parentais durante a incu-
bação no Pardal-espanhol (Passer
hispaniolensis): papel dos sexos e a deser-
ção do parceiro pelo macho.
Bird Study 51 (2): 185-188.
Os investigadoresportugueses
Jaime A. Ramos, A. M. Maul, J. Bowler, D. Monticelli e Carlos Pacheco 2004.
Data de postura, alimentação das crias e
sucesso reprodutor de Tinhosa-de-bar-
rete-pequeno na Ilha Aride, Seychelles.
Condor :887-895.
Paulo Catry, R. A. Phillips e J. Croxall 2004.
Movimentação rápida e continuada de
um Albatroz-de-cabeça-cinzenta à
bo le ia de uma tempestade da
Antárctida.
Auk 121 (4): 1208-1213.
L. Kvist, K. Viiri, Paula C. Dias, S. Rytkonen e M. Orell 2004.
História glacial e a colonização da
Europa pelos chapins azuis Parus
Caeruleus.
Journal of Avian Biology 35 (4): 352-355.
Rita Covas, C. Brown, M. D. Anderson e M. Brown 2004.
Sobrevivência de adultos e juvenis de
Tecelão-social (Philetairus socius), uma
espécie colonial com cria cooperativa da
zona sul-temperada de África.
Auk 121 (4): 1199-1207.
Mundo das avesP. Berthold , M. Kaatz e U. Querner
2004.
Seguimento por satélite de longo termo
da migração de Cegonha-branca (Ciconia
ciconia): estabilidade e variação.
Journal of Ornithology 145: 356-359.
Neste interessante estudo de
seguimento de longo termo de Cego-
nhas-brancas apresentam-se os dados
do indivíduo recordista em tempo de
seguimento, 10 anos! Este trabalho, ba-
seado no seguimento de 140 cegonhas,
confirma a existência grande variabi-
lidade de ano para ano na escolha das zo-
nas de invernada assim como das rotas,
destinos intermédios e períodos de stop-
-over, contudo a par existem alguns
indivíduos que apresentam esta-
bilidade nas rotas e zonas de invernada.
A principal causa apontada para esta
variabilidade é a disponibilidade de ali-
mento.
B. M. Whitney, D. C. Oren e R. T. Brumfield 2004.
Uma nova espécie de Thamnophilus
antshrike (aves: Thamnophilidae) da
Serra do Divisor, Acre, Brasil.
Auk 121 (4): 1031-1039.
Compilado por Paulo Marques
É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR
reproduzir e a tornar-se ajudantes nou-
tros ninhos. Estes ajudantes contribuí-
ram para um aumento significativo na
quantidade de alimento recebido pelas
crias e consequentemente para o sucesso
reprodutor, que foi muito mais elevado
nos ninhos com ajudantes.
Os casais de Charneco (Cyanopica
cyanus) por vezes são ajudados nos seus
cuidados parentais por indivíduos que
abdicam de se reproduzir. Estes “aju-
dantes” contribuem para a defesa do
ninho contra predadores e sobretudo
para a alimentação das crias.
Estudamos o sucesso reprodutor e
o sistema de cria cooperativa nesta
espécie em duas épocas de reprodução
com condições climáticas muito
diferentes. No ano com condições mais
favoráveis o sucesso reprodutor foi, em
geral, alto e observaram-se poucos
ninhos com ajudantes, tendo estes
contribuído pouco para aumentar o
sucesso. No ano com piores condições a
chuva intensa que caiu durante o início
do período reprodutor provocou o
abandono de muitos ninhos, levando
alguns indivíduos a abdicarem de se
A ciência das
aves
Período de publicação: Abril a Dezembro de 2004
Esta é uma nova secção da
Pardela, por enquanto à expe-
riência, que tem como objectivo
primário a divulgação do trabalho
científico realizado sobre as aves em
Portugal. Pretende fazer uma ponte
entre investigadores, público em
geral e a conservação da natureza
baseada na premissa que é preciso
conhecer para conservar.
Esta secção será constituída por
referências e resumos selecciona-
dos de alguns dos trabalhos. Dos in-
vestigadores pretende-se uma cola-
boração activa através do envio dos
seus trabalhos publicados para a
SPEA, de todos um olhar crítico
sobre a informação divulgada.
Nova rubrica
Apesar desta mudança na utilização do
habitat de nidificação, não se registou
um declínio na população nacional nem
diferenças significativas no sucesso re-
produtor em colónias nos dois tipos de
habitat, sugerindo que as salinas podem
constituir habitats alternativos adequa-
dos para esta espécie. No entanto, verifi-
cou-se que, numa mesma área, as aves
que criam em praias fazem as posturas
mais precocemente, e têm posturas e
ovos maiores. Estes dados sugerem que,
quando os dois tipos de habitat estão
disponíveis, as praias possam ser pre-
feridas por aves mais velhas e/ou de
maior qualidade.
Jo
sé
Via
na
Jo
sé
Via
na
Jo
sé
Via
na
Jo
sé
Via
na
Go
nça
lo R
osa
Go
nça
lo R
osa
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ORNITOLOGIA
Filipe Canário, Susana Matos e M. Soler 2004.
Constrangimentos ambientais e cria
cooperativa na Pega-azul.
Condor 106 (3): 608-617.
Teresa Catry, Jaime A. Ramos, Inês Catry, Manuel Allen-Revez e Nuno Grade 2004.
Serão as salinas áreas adequadas como
habitat alternativo de nidificação para a
Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons?
Ibis 146 (2): 247-257.
Este estudo faz uma análise da
tendência populacional da Andorinha-
-do-mar-anã nidificante em habitats
naturais (praias) e habitats alternativos
ou artificiais (salinas) em Portugal, bem
como a comparação de parâmetros
reprodutores em colónias nos dois tipos
de habitat. Ao contrário do que acon-
teceu até aos anos 90, actualmente mais
de 50% da população de Andorinha-do-
-mar-anã nidifica em salinas. A destrui-
ção do habitat e o aumento da pertur-
bação humana são os factores que expli-
cam o progressivo abandono das praias.
As avesem Portugal
Gonçalo Elias 2004.
Aspectos da distribuição da Felosa-
-ibérica Phylloscopus ibericus em
Espanha e Portugal.
Ibis 146 (4): 685.
Paulo Catry, Ana Campos,
Vítor Almada e W. Cresswell 2004.
Segregação invernal de Piscos-de-peito-
ruivo Erithacus rubecula migradores em
relação com o sexo, idade e tamanho dos
indivíduos.
Journal of Avian Biology 35 (3): 204-209.
Nesta pesquisa, descobriu-se que
os piscos migradores invernantes no sul
de Portugal são sobretudo aves do sexo
feminino. As aves dominantes (indi-
víduos do sexo masculino, adultos e de
maior tamanho corporal) têm uma
maior tendência a ser encontradas em
biótopos arborizados, ao passo que as
fêmeas e os jovens são mais frequentes
em áreas com matos.
Paulo Marques 2004.
Cuidados parentais durante a incu-
bação no Pardal-espanhol (Passer
hispaniolensis): papel dos sexos e a deser-
ção do parceiro pelo macho.
Bird Study 51 (2): 185-188.
Os investigadoresportugueses
Jaime A. Ramos, A. M. Maul, J. Bowler, D. Monticelli e Carlos Pacheco 2004.
Data de postura, alimentação das crias e
sucesso reprodutor de Tinhosa-de-bar-
rete-pequeno na Ilha Aride, Seychelles.
Condor :887-895.
Paulo Catry, R. A. Phillips e J. Croxall 2004.
Movimentação rápida e continuada de
um Albatroz-de-cabeça-cinzenta à
bo le ia de uma tempestade da
Antárctida.
Auk 121 (4): 1208-1213.
L. Kvist, K. Viiri, Paula C. Dias, S. Rytkonen e M. Orell 2004.
História glacial e a colonização da
Europa pelos chapins azuis Parus
Caeruleus.
Journal of Avian Biology 35 (4): 352-355.
Rita Covas, C. Brown, M. D. Anderson e M. Brown 2004.
Sobrevivência de adultos e juvenis de
Tecelão-social (Philetairus socius), uma
espécie colonial com cria cooperativa da
zona sul-temperada de África.
Auk 121 (4): 1199-1207.
Mundo das avesP. Berthold , M. Kaatz e U. Querner
2004.
Seguimento por satélite de longo termo
da migração de Cegonha-branca (Ciconia
ciconia): estabilidade e variação.
Journal of Ornithology 145: 356-359.
Neste interessante estudo de
seguimento de longo termo de Cego-
nhas-brancas apresentam-se os dados
do indivíduo recordista em tempo de
seguimento, 10 anos! Este trabalho, ba-
seado no seguimento de 140 cegonhas,
confirma a existência grande variabi-
lidade de ano para ano na escolha das zo-
nas de invernada assim como das rotas,
destinos intermédios e períodos de stop-
-over, contudo a par existem alguns
indivíduos que apresentam esta-
bilidade nas rotas e zonas de invernada.
A principal causa apontada para esta
variabilidade é a disponibilidade de ali-
mento.
B. M. Whitney, D. C. Oren e R. T. Brumfield 2004.
Uma nova espécie de Thamnophilus
antshrike (aves: Thamnophilidae) da
Serra do Divisor, Acre, Brasil.
Auk 121 (4): 1031-1039.
Compilado por Paulo Marques
É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR
reproduzir e a tornar-se ajudantes nou-
tros ninhos. Estes ajudantes contribuí-
ram para um aumento significativo na
quantidade de alimento recebido pelas
crias e consequentemente para o sucesso
reprodutor, que foi muito mais elevado
nos ninhos com ajudantes.
Os casais de Charneco (Cyanopica
cyanus) por vezes são ajudados nos seus
cuidados parentais por indivíduos que
abdicam de se reproduzir. Estes “aju-
dantes” contribuem para a defesa do
ninho contra predadores e sobretudo
para a alimentação das crias.
Estudamos o sucesso reprodutor e
o sistema de cria cooperativa nesta
espécie em duas épocas de reprodução
com condições climáticas muito
diferentes. No ano com condições mais
favoráveis o sucesso reprodutor foi, em
geral, alto e observaram-se poucos
ninhos com ajudantes, tendo estes
contribuído pouco para aumentar o
sucesso. No ano com piores condições a
chuva intensa que caiu durante o início
do período reprodutor provocou o
abandono de muitos ninhos, levando
alguns indivíduos a abdicarem de se
A ciência das
aves
Período de publicação: Abril a Dezembro de 2004
Esta é uma nova secção da
Pardela, por enquanto à expe-
riência, que tem como objectivo
primário a divulgação do trabalho
científico realizado sobre as aves em
Portugal. Pretende fazer uma ponte
entre investigadores, público em
geral e a conservação da natureza
baseada na premissa que é preciso
conhecer para conservar.
Esta secção será constituída por
referências e resumos selecciona-
dos de alguns dos trabalhos. Dos in-
vestigadores pretende-se uma cola-
boração activa através do envio dos
seus trabalhos publicados para a
SPEA, de todos um olhar crítico
sobre a informação divulgada.
Nova rubrica
Apesar desta mudança na utilização do
habitat de nidificação, não se registou
um declínio na população nacional nem
diferenças significativas no sucesso re-
produtor em colónias nos dois tipos de
habitat, sugerindo que as salinas podem
constituir habitats alternativos adequa-
dos para esta espécie. No entanto, verifi-
cou-se que, numa mesma área, as aves
que criam em praias fazem as posturas
mais precocemente, e têm posturas e
ovos maiores. Estes dados sugerem que,
quando os dois tipos de habitat estão
disponíveis, as praias possam ser pre-
feridas por aves mais velhas e/ou de
maior qualidade.
Jo
sé
Via
na
Jo
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Jo
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Via
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Jo
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Go
nça
lo R
osa
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nça
lo R
osa
J U V E N I S
24 25
O abutre preto é uma ave de grande envergadura
com tons uniformemente escuros, tem uma cauda em
forma de cunha, um bico grande e maciço e uma gola
vistosa.
Costuma encontrar-se em regiões de montanha,
sobretudo cobertas por grandes florestas.
É uma ave necrófaga, pois alimenta-se de carne em
putrefacção ou cadáveres de animais e, à falta destes,
pode mesmo caçar animais de pequena envergadura,
como coelhos e pequenos cordeiros.
Faz os ninhos em árvores.
Abutre-preto?
Curiosidades:O Abutre-preto guia-se através da sua excelente visão;
Em Espanha concentra-se o maior número de aves desta
espécie (600);
A causa da sua morte em Portugal deve-se ao facto de se
alimentar de animais mortos por envenenamento, acabando a
ave por morrer pela mesma razão.
Aprende a conhecê-las!
Sabias que as rapinas diurnas usam correntes de ar
para subir sem gastar energia? Iremos apresentar os dois
tipos de correntes de ar:
térmicas : são bolhas de ar quente que se soltam
perto do chão quando este é aquecido. O ar quente (que é
mais leve) sobe e dá boleia à águia.
dinâmicas: imagina uma montanha enorme num
dia de vento. O que é que acontece? O vento vai em frente
mas de repente choca com a montanha, que obriga o ar a
subir. A isso chama-se uma corrente dinâmica.
Tenta observar as correntes térmicas em campos
abertos do Sul, de preferência sobre zonas escuras (estra-
das, campos lavrados, etc....) porque aquecem mais. Para
as dinâmicas, prefere, nas serras, o lado do vento
(barlavento).
Com tantos "elevadores" para cima não admira que
as rapinas gostem de andar nas alturas!
Um bom exemplo de risco de extinção, no nosso
país, localiza-se na Madeira. Aí, a Freira da Madeira
está classificada como a ave marinha mais ameaçada
do mundo (contando apenas com 30 a 40 casais). E
sabes porquê? O Homem introduziu, com ou sem
intenção, ratos e gatos que, neste momento, são
terríveis predadores de ovos, de juvenis e de adultos
desta ave. A introdução abundante de gado (cabras,
ovelhas e vacas) contribuiu para a destruição e degra-
dação da vegetação natural dos solos e para a sua
própria erosão, impossibilitando a nidificação da ave,
impedindo-a de construir os seus profundos ninhos
no solo. Podes pensar que as extinções de simples aves
não afectam o "Grande Homem". Será que é verdade?
Na Índia, entre 1990 e 2000, a população de abutres
diminuiu em 99%, o que se pensa que possa ter contri-
buído para um grande aumento do número de cães
assilvestrados. Estes cães são muitas vezes vectores de
doenças como a raiva, que pode ter um grande
impacto nas populações humanas.
Encontra o desenho de cada uma das seguintes
espécies de aves que se encontram em extinção:
Cegonha-preta Cortiçol-de-barriga-branca
Águia-real
Águia-imperial Abutre-preto
Freira da Madeira
Sofia Coelho
Sílvia Nunes
Sílvia Nunes
Conselhos para o observador:
Extinção de EspéciesSabes que hoje em dia 12% das espécies de aves
correm risco de extinção? Que em 2100 entre 6 a 14%
estarão mesmo extintas? E que mais 25% correrão esse
risco? Porque será que algumas espécies de aves se estão
a extinguir? A resposta é muito simples! O Homem é o
principal responsável. Ele destrói os habitats naturais
das aves, polui a natureza, contribui para o aquecimento
global, destrói ecossistemas, caça ilegalmente, comer-
cializa e efectua tráfico ilegal, e quando perde o interesse
pelas mesmas, abandona-as fora do seu habitat natural,
contribuindo para a introdução de espécies exóticas, as
quais substituem as espécies da região (autóctones).
Vamos falar de:
P á s s a r o- t emp o
1
2
4
5
6
3
Ab
utr
e-p
reto
-1; Á
gu
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Conheces o:
J U V E N I S
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O abutre preto é uma ave de grande envergadura
com tons uniformemente escuros, tem uma cauda em
forma de cunha, um bico grande e maciço e uma gola
vistosa.
Costuma encontrar-se em regiões de montanha,
sobretudo cobertas por grandes florestas.
É uma ave necrófaga, pois alimenta-se de carne em
putrefacção ou cadáveres de animais e, à falta destes,
pode mesmo caçar animais de pequena envergadura,
como coelhos e pequenos cordeiros.
Faz os ninhos em árvores.
Abutre-preto?
Curiosidades:O Abutre-preto guia-se através da sua excelente visão;
Em Espanha concentra-se o maior número de aves desta
espécie (600);
A causa da sua morte em Portugal deve-se ao facto de se
alimentar de animais mortos por envenenamento, acabando a
ave por morrer pela mesma razão.
Aprende a conhecê-las!
Sabias que as rapinas diurnas usam correntes de ar
para subir sem gastar energia? Iremos apresentar os dois
tipos de correntes de ar:
térmicas : são bolhas de ar quente que se soltam
perto do chão quando este é aquecido. O ar quente (que é
mais leve) sobe e dá boleia à águia.
dinâmicas: imagina uma montanha enorme num
dia de vento. O que é que acontece? O vento vai em frente
mas de repente choca com a montanha, que obriga o ar a
subir. A isso chama-se uma corrente dinâmica.
Tenta observar as correntes térmicas em campos
abertos do Sul, de preferência sobre zonas escuras (estra-
das, campos lavrados, etc....) porque aquecem mais. Para
as dinâmicas, prefere, nas serras, o lado do vento
(barlavento).
Com tantos "elevadores" para cima não admira que
as rapinas gostem de andar nas alturas!
Um bom exemplo de risco de extinção, no nosso
país, localiza-se na Madeira. Aí, a Freira da Madeira
está classificada como a ave marinha mais ameaçada
do mundo (contando apenas com 30 a 40 casais). E
sabes porquê? O Homem introduziu, com ou sem
intenção, ratos e gatos que, neste momento, são
terríveis predadores de ovos, de juvenis e de adultos
desta ave. A introdução abundante de gado (cabras,
ovelhas e vacas) contribuiu para a destruição e degra-
dação da vegetação natural dos solos e para a sua
própria erosão, impossibilitando a nidificação da ave,
impedindo-a de construir os seus profundos ninhos
no solo. Podes pensar que as extinções de simples aves
não afectam o "Grande Homem". Será que é verdade?
Na Índia, entre 1990 e 2000, a população de abutres
diminuiu em 99%, o que se pensa que possa ter contri-
buído para um grande aumento do número de cães
assilvestrados. Estes cães são muitas vezes vectores de
doenças como a raiva, que pode ter um grande
impacto nas populações humanas.
Encontra o desenho de cada uma das seguintes
espécies de aves que se encontram em extinção:
Cegonha-preta Cortiçol-de-barriga-branca
Águia-real
Águia-imperial Abutre-preto
Freira da Madeira
Sofia Coelho
Sílvia Nunes
Sílvia Nunes
Conselhos para o observador:
Extinção de EspéciesSabes que hoje em dia 12% das espécies de aves
correm risco de extinção? Que em 2100 entre 6 a 14%
estarão mesmo extintas? E que mais 25% correrão esse
risco? Porque será que algumas espécies de aves se estão
a extinguir? A resposta é muito simples! O Homem é o
principal responsável. Ele destrói os habitats naturais
das aves, polui a natureza, contribui para o aquecimento
global, destrói ecossistemas, caça ilegalmente, comer-
cializa e efectua tráfico ilegal, e quando perde o interesse
pelas mesmas, abandona-as fora do seu habitat natural,
contribuindo para a introdução de espécies exóticas, as
quais substituem as espécies da região (autóctones).
Vamos falar de:
P á s s a r o- t emp o
1
2
4
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3
Ab
utr
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reto
-1; Á
gu
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Conheces o:
No âmbito das parcerias esta-
belecidas com a RSPB Royal Society for
Protection of Birds, parceiro inglês da
Birdlife International, no passado mês
Fotografar as aves da Madeira
Nas diversas visitas realizadas até
ao momento, além do registo de cen-
tenas de Patagarros, em voo e formando
jangadas, também foi possível observar
outras aves marinhas como sejam a
Cagarra Calonectris diomedea, a Alma-
negra Bulweria bulwerii, a Freira da Ma-
deira Pterodroma madeira e a Gaivina do
Ártico Sterna paradisaea.
Estas contagens tiveram início em
Fevereiro e foram realizadas até ao mês
de Agosto. Para todos os interessados em
colaborar nesta actividade a SPEA dis-
ponibiliza dois telescópios, pelo que
apenas terá de se inscrever através do e-
-mail [email protected]. O ponto de en-
contro é o final da promenade, junto ao
Centromar, às segundas-feiras, duas
horas antes do pôr-do-sol.
SPEA-Madeira
26xxx1
Isabel FagundesIsabel Fagundes
actividades
SPEA-Madeira
Contagem dePatagarros
na Costa do Sul No presente ano a SPEA-Madeira e
o Parque Ecológico do Funchal esta-
beleceram um protocolo de colaboração
no âmbito do “Projecto Puffinus”
projecto de conservação do Patagarro
Puffinus puffinus.
O Patagarro é uma ave marinha
que nidifica na Ilha da Madeira e que
está presente na ilha entre os meses de
Fevereiro e Agosto. De forma geral
nidifica em locais de difícil acesso, nos
vales do interior da ilha, a altitudes que
podem atingir os 1200 m.
Desta forma, quinzenalmente têm
sido realizadas observações e contagens
de Patagarros a partir da costa sul da
ilha, com o objectivo de angariar in-
formação sobre a época de chegada para
nidificação, variação do número de aves
observadas ao longo da época de nidi-
ficação e época de partida e migração
para o hemisfério sul.
de Maio Andrew Hay, fotógrafo profis-
sional da RSPB, deslocou-se à Madeira
com o objectivo de fotografar as aves que
nidificam na ilha, em especial as espécies
e subespécies endémicas, das quais
existem poucos registos fotográficos.
Aproveitando a presença deste
fotógrafo na região, a SPEA realizou um
workshop de fotografia de natureza que
decorreu no fim-de-semana de 14 e 15 de
Maio. Neste workshop Andrew Hay
procurou partilhar com os participantes
as suas experiências e conhecimentos,
tais como a necessidade de uso de
abrigos, de se camuflar e a paciência
necessária para conseguir fotos de boa
qualidade de aves.
Por toda a colaboração dada, em
especial no acompanhamento ao ter-
reno, a SPEA gostaria de enviar um
agradecimento especial ao Parque Eco-
lógico do Funchal e aos seus técnicos,
pelo importante contributo para o suces-
so deste projecto. A SPEA aproveita
ainda para agradecer à Baía Rent-a-car
pelo apoio nesta iniciativa.
No âmbito das parcerias esta-
belecidas com a RSPB Royal Society for
Protection of Birds, parceiro inglês da
Birdlife International, no passado mês
Fotografar as aves da Madeira
Nas diversas visitas realizadas até
ao momento, além do registo de cen-
tenas de Patagarros, em voo e formando
jangadas, também foi possível observar
outras aves marinhas como sejam a
Cagarra Calonectris diomedea, a Alma-
negra Bulweria bulwerii, a Freira da Ma-
deira Pterodroma madeira e a Gaivina do
Ártico Sterna paradisaea.
Estas contagens tiveram início em
Fevereiro e foram realizadas até ao mês
de Agosto. Para todos os interessados em
colaborar nesta actividade a SPEA dis-
ponibiliza dois telescópios, pelo que
apenas terá de se inscrever através do e-
-mail [email protected]. O ponto de en-
contro é o final da promenade, junto ao
Centromar, às segundas-feiras, duas
horas antes do pôr-do-sol.
CIBER-ORNITOFILIASPEA-Madeira
26xxx1
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Um bom observador-de-aves, por mais minimalista que seja no equipamento, não se
deve fazer acompanhar apenas de um binóculo, material de escrita e um guia de
campo. De facto, duas das suas virtudes terão que ser a paciência e a capacidade de
concentração, mesmo sob as condições ambientais mais adversas. Ora essas duas
características não combinam com o desconforto físico, pelo que urge tomar medi-
das. Foi neste contexto que decidimos abordar o tema vestuário técnico. Hoje vamos
falar de vestuário para temperaturas amenas a baixas, excluindo meias, calçado e
outros acessórios. Simplificando ao máximo a questão, a maior parte dos especia-
listas aconselha o uso de três camadas (numeradas de dentro para fora):
técnico
Isabel FagundesIsabel Fagundes
actividades
SPEA-Madeira
Contagem dePatagarros
na Costa do Sul No presente ano a SPEA-Madeira e
o Parque Ecológico do Funchal esta-
beleceram um protocolo de colaboração
no âmbito do “Projecto Puffinus”
projecto de conservação do Patagarro
Puffinus puffinus.
O Patagarro é uma ave marinha
que nidifica na Ilha da Madeira e que
está presente na ilha entre os meses de
Fevereiro e Agosto. De forma geral
nidifica em locais de difícil acesso, nos
vales do interior da ilha, a altitudes que
podem atingir os 1200 m.
Desta forma, quinzenalmente têm
sido realizadas observações e contagens
de Patagarros a partir da costa sul da
ilha, com o objectivo de angariar in-
formação sobre a época de chegada para
nidificação, variação do número de aves
observadas ao longo da época de nidi-
ficação e época de partida e migração
para o hemisfério sul.
de Maio Andrew Hay, fotógrafo profis-
sional da RSPB, deslocou-se à Madeira
com o objectivo de fotografar as aves que
nidificam na ilha, em especial as espécies
e subespécies endémicas, das quais
existem poucos registos fotográficos.
Aproveitando a presença deste
fotógrafo na região, a SPEA realizou um
workshop de fotografia de natureza que
decorreu no fim-de-semana de 14 e 15 de
Maio. Neste workshop Andrew Hay
procurou partilhar com os participantes
as suas experiências e conhecimentos,
tais como a necessidade de uso de
abrigos, de se camuflar e a paciência
necessária para conseguir fotos de boa
qualidade de aves.
Por toda a colaboração dada, em
especial no acompanhamento ao ter-
reno, a SPEA gostaria de enviar um
agradecimento especial ao Parque Eco-
lógico do Funchal e aos seus técnicos,
pelo importante contributo para o suces-
so deste projecto. A SPEA aproveita
ainda para agradecer à Baía Rent-a-car
pelo apoio nesta iniciativa.
Gra
ça M
art
ins
Luís Gordinho www.naturlink.pt
Vestuário
1.ª Serve para manter a pele o mais seca possível, evitando o desconforto e as perdas de calor. Deve ser justa (mas não apertada), longa (mas não ultrapassando os punhos, tor-
2.ª Destina-se sobretudo a reter o calor. Deve ser utilizada em conjunto com a anterior sempre que o tempo esteja frio. Uma 2.ª ca-mada muito quente e respirável é útil para uti-lizar sob a 3.ª, com chuva e/ou vento muito forte, ou sem esta, com tempo seco e vento
3.ª Deve ser impermeável ao vento e à chuva. Pode ser utilizada só sobre a 1.ª com temperaturas amenas ou sobre as duas anteriores com tempo frio. É composta por pelo menos três subcamadas indissociáveis: uma exterior de nylon (que deve ter ombreiras
e/ou ser rip-stop se costuma usar mochila e/ou andar em zonas espinhosas), uma inter-média a membrana impermeável e uma inte-rior que visa proteger a membrana da abrasão
nozelos, etc.) e confortável. A composição mais adequada é 100% poliéster mas a estru-tura varia. Os tecidos mais utilizados são Polartec Power Dry e Power Stretch, Dryskin,
Dry-Clim, Dry Zone, Dryflo, Vaporwick, Capi-lene, Tech-T, Climate Control, etc. Antiga-mente utilizava-se o algodão mas este tecido retém a humidade em vez de a expulsar.
fraco. Uma 2.ª camada menos quente mas mais resistente ao vento (logo menos respi-rável) poderá ser a camada exterior ideal com tempo seco e vento moderado. Para 2.ª camada os “forros polares” são fan-tásticos, destacando-se, no 1.º caso, os teci-
dos Polartec 300 e 200 Thermal Pro e, no 2.º, o Gore Windstopper e os Polartec Wind Pro e Windbloc. A lã é mais pesada e permeável ao vento, molha-se mais facilmente, cria borboto e malhas, deforma-se, etc. Ao contrário das 1.ª e 3.ª camadas, a 2.ª geralmente usa-se só no tronco e membros superiores.
das camadas internas (podendo ser uma simples rede de nylon ou um laminado). As membranas impermeáveis têm poros menores que as gotas de chuva mas maiores que as moléculas de vapor de água. Aqui domina o Gore-Tex, agora com as variantes
XCR e PacLite, mas os Triplepoint, Sympatex, Hy-Vent, H2No HB, Exotherm, Drilite, etc. também são populares. O nylon exterior inicialmente repele a água mas cedo
cede à abrasão, passando a imper-meabilidade a depender apenas da mem-brana. As costuras deverão ser termo-seladas. Muitos preferem jardineiras e blusão a calças e casaco, nomeadamente para não sobrecarregar a cintura com os cós das
diferentes camadas. A clássica 3.ª camada em algodão encerado exige manutenção regular, é mais pesada, não é inodora e pode sujar outras peças.
Depois de assimilar estas noções básicas, compare as marcas líderes de mercado
(Tabela 1) e seleccione as que mais se adequam ao seu gosto e orçamento.
Finalmente compre o material através da Internet ou numa das lojas que lhe indica-
mos, onde o poderá provar (Tabela 2).
Agora equipe-se e... Boa Navegação!
Marca Origem URL (= http://www. +) Ref
Columbia EUA 1938 columbia.com 1
Patagonia EUA 1957 patagonia.com 2
The North Face EUA 1966 thenorthface.com 3
Lowe Alpine EUA 1967 lowealpine.com 4
Mountain Hardwear EUA 1993 mountainhardwear.com 5
Mammut Suíça 1862 mammut.ch 6
Helly Hansen Noruega 1877 hellyhansen.com 7
Haglöfs Suécia 1914 haglofs.se 8
Trangoworld (Artiach) Espanha (1928) trangoworld.com 9
Lafuma/ Millet França 1930 groupe-lafuma.com 10
Salomon (Adidas) França (1949) salomonsports.com 11
Berghaus Inglaterra 1966 berghaus.com 12
Northland Professional Áustria 1973 northland-pro.com 13
Sprayway Inglaterra 1980 sprayway.com 14
Ternua (Import Arrasate) Espanha (1990) ternua.com 15
Ref Loja/ Feira Ano URL (= http://www. +) Marcas
A Nauticampo 1967 fil-nauticampo.com = lojas C+D+F+J
B Vidal & Freitas 1980 tuaregcamping.com 14
C Expedição/ Altitude 1992 cipreia.pt/loja.html 8,10
D Econauta 1997 econauta.com 1,2,3,4,5,6,9,10,12
E Sport Zone 1997 sportzone.pt 1,3,7,8,9,10,11
F Trilhos d'Aventura 1998 trilhosdaventura.com 3,8,9,15
G Decathlon 2000 decathlon.com 1,3,10,11
H Campera 2000 campera.com 7
I El Corte Inglés 2001 elcorteingles.pt 1,3,8,9,11
J Bivaque 2004 bivaque.com 13,15
Tabela 1. Quinze marcas líderes do mercado de vestuário técnico, agrupadas
por continente e ordenadas pelo ano em que foram criadas (outras grandes
marcas, tais como Timberland, Karrimor, Mountain Equipment, Vaude ou Buffalo
foram omitidas desta síntese).
Tabela 2. Dez superfícies que vendem vestuário técnico em Portugal Continental, ordenadas pelo ano de inauguração. As marcas disponíveis são indicadas pela sua referência na Tabela1.
SOCIEDADE PORTUGUESAPARA O ESTUDO DAS AVES