pardela 24

28
SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES AVES À VOLTA DO MUNDO Sulawesi ROTEIRO ORNITOLÓGICO Serra de Sao Mamede ~ ENTREVISTA Novo Atlas das Aves

Upload: pedro-farinha

Post on 06-Mar-2016

221 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Revista da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

TRANSCRIPT

Page 1: Pardela 24

SOCIEDADE PORTUGUESAPARA O ESTUDO DAS AVES

AVES À VOLTA DO MUNDO Sulawesi

ROTEIRO ORNITOLÓGICO Serra de Sao Mamede~

ENTREVISTA Novo Atlas das Aves

Page 2: Pardela 24

O fotógrafo português Helder Afonso (à direita),

vencedor da categoria Bird Portraits, recebe o prémio

das mãos de um dos elementos do júri, o fotógrafo de

natureza de renome internacional, Gabriel Sierra.

Estatuto do

Priolo alterado para

"Criticamente Ameaçado"

Da esquerda para a direita: Terry Wynn (Deputado

Europeu), Mariann Fisher-Boel (Comissária Europeia de

Agricultura e Desenvolvimento Rural), Graham Wynne

(Director Executivo da Royal Society for the Protection

of Birds) e Clairie Papazoglou (Directora do Gabinete da

BirdLife International em Bruxelas).

FICHA TÉCNICA

EditorCarlos Pereira

Comissão Editorial Ana David, Ana Leal, Maria Dias

RevisãoGonçalo Elias

Fotografias

Colaboradores

IlustraçõesPaulo Alves e Miguel Costa

Paginação e grafismoBBnanet.com

ImpressãoTextype-Artes Gráficas, Lda

Tiragem 1400 exemplares

ISSN 0873-1124Depósito legal: 284857544

Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade

Portuguesa para o Estudo das Aves

SPEA

DIRECÇÃO NACIONAL

Rua da Vitória, nº 53, 3º esq1100-618 Lisboa

TEL: 213 220 430

e-mail:

A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de

estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as

precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.

A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.

Augusto Faustino, Gabriel Sierra,Gonçalo Rosa, Graça Martins,

Helder Costa , Isabel Fagundes, João Pinto, José Viana,

Juan Simon, Miguel Lecoq, Ricardo Desirat, Ricardo Guerreiro

Ana David, Augusto Faustino,Carlos Pereira, Domingos Leitão,Gonçalo Elias, Isabel Fagundes,

Ivan Ramirez, João Ministro, João Neves, João Pinto,

Joaquim Teodósio, Luis Gordinho,Miguel Lecoq, Nuno Madeira,

Paulo Marques, Samuel Infante,Silvia Nunes, Sofia Coelho

[email protected]

FAX. 213 220 439

www.spea.pt

PRESIDENTE:

VICE-PRESIDENTE:

SECRETÁRIO-GERAL:

TESOUREIRO:

VOGAIS:

Helder CostaMaria DiasPaulo MarquesInês CatryJaime Ramos,Ricardo Tomé e Teresa Catry

BREVES

Fotógrafos portugueses

arrasam no concurso

Europe'sCountryside Alive

Os nossos parabéns aos premiados!!!

Portugueses ganham três dos 10

prémios do concurso de fotografia da

BirdLife International - Europe's Country-

side Alive. Os premiados foram Helder

Baptista Afonso, que ganhou o 1º lugar

na categoria Bird Portraits. Na mesma

categoria, o 2º lugar foi para Ricardo

Guerreiro. O 3º português premiado foi

João Eduardo Pinto, que obteve o 2º stlugar na categoria Farming in the 21

Century. As fotografias premiadas esti-

veram em exibição no Parlamento Eu-

ropeu, entre os dias 31 de Maio e 3 de

Junho, e na Green Week em Bruxelas, no

stand da BirdLife International. Quem

desejar ver todas as fotos vencedoras,

poderá fazê-lo on-line em:

www.birdlifecapcampaign.org

BirdLifeInternational

entrega assinaturasà Comissária de Agricultura no

Parlamento Europeu

No passado dia 15 de Março de

2005, a BirdLife International entregou

uma petição com 58.769 assinaturas à

Comissária Europeia de Agricultura e

Desenvolvimento Rural, a Sra. Mariann

Fischer-Boel, numa recepção que

decorreu no Parlamento Europeu,

patrocinada pelo Deputado Europeu

Terry Wynn. Esta acção foi o culminar de

uma campanha da BirdLife International

que decorreu em 25 países da União

Europeia. Os peticionários enviaram à

Sra. Comissária postais electrónicos

alusivos à beleza e às aves dos meios

agrícolas de cada país, exigindo políticas

agrícolas mais favoráveis à conservação

da natureza. De Portugal seguiram 1.800

assinaturas.

A BirdLife International, no segui-

mento da revisão anual da situação das

espécies de aves a nível mundial, elevou o

estatuto de ameaça do Priolo para

"CRITICAMENTE AMEAÇADO". Esta

decisão está de acordo com a revisão do

Livro Vermelho dos Vertebrados de

Portugal, liderada pelo ICN, e onde o

Priolo já tinha sido reclassificado nessa

categoria. Esta decisão tem como fun-

damentos a reduzida dimensão da popu-

lação (menos de 300 indivíduos) e o facto

de se encontrar restrita a uma área de

pequenas dimensões na parte oriental da

Ilha de São Miguel (aproximadamente

6000 ha) e com diversas ameaças sobre o

seu habitat.

Esta alteração do estatuto do Priolo

vem reforçar a grande importância do

Projecto LIFE Priolo, actualmente a ser

desenvolvido pela SPEA e por vários

parceiros nacionais e internacionais. Um

dos principais objectivos já alcançado foi

o alargamento da Zona de Protecção

Especial do Pico da Vara/Ribeira do

Guilherme, que abrange agora a

totalidade da área de distribuição do

Priolo.

Coordenadora de Educação

Ambiental e Eventos desde 21 de Junho, e

durante os próximos sete meses, temos a

trabalhar connosco na sede a nova cola-

boradora Vanessa Oliveira. Estará en-

carregue das acções de Educação Am-

biental, da Organização de Eventos e das

actividades para sócios, substituindo a

colaboradora Alexandra Lopes durante

os seis meses em que estará ausente.

Nova colaboradorada SPEA

Para contacto:

[email protected]

Encontro sobre "Energia eólica e conservação da avifauna em Portugal"

Terminou com grande êxito, no dia 6 de Julho, o seminário organizado em

Coimbra pela SPEA sobre os impactos causados pelos parques eólicos na avifauna em

Portugal. Este foi o primeiro encontro que reuniu estudiosos da avifauna, produtores de

energia eólica, o Instituto do Ambiente, a Direcção-Geral de Geologia e Energia, várias

ONGAs e o ICN.

No final, foi elaborado um documento que identifica as lacunas existentes nesta

área e propõe soluções para o problema. Este documento, o primeiro realizado de forma

conjunta entre todos os sectores implicados, pode ser consultado no nosso site

www.spea.pt.

A equipa de trabalho da SPEA em energia eólica vai continuar o trabalho e utilizará

o documento produzido para identificar novas áreas de colaboração e investigação que

forneçam mais informações e que contribuam para a construção de uma estratégia

energética nacional, sem danos para a avifauna.

Ricardo GuerreiroFoto Capa

ÍNDICE

BREVES pág. 3

Impacto dasLinhas Eléctricas Aéreasna Avifauna em Portugal

DE TAQUES pág. 4

Efeito da seca nas populaçõesde Aves Estepárias Invernantesna ZPE de Mourão/Moura/Barrancos

LIFE SISÃO pág. 6

O Prioloe a flor de Laranjeira

LIFE PRIOLO pág. 8

A bordo do Noruega

LIFE IBAS MARINHAS pág.10

Vilamoura

IBAS pág.12

Entrevista ao Coordenadordo Novo Atlas das Avesque Nidificam em Portugal

ENTREVISTA pág.14

SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia

pág.18AVES À VOLTA DO MUNDO

Serra de S. Mamedepág.20ROTEIRO ORNITOLÓGICO

A ciência das avespág.22ORNITOLOGIA

J U V E N I Spág.24

Contagem de Patagarrosna Costa SulFotografar as aves da Madeira

pág.26SPEA MADEIRA

Vestuário técnicopág.27CIBER-ORNITOFILIA

3

Foto Contra-capaSPEA / LIFE Sisão

http://clientes.netvisão.pt/dgscope/

Aqui está mais uma Pardela, de novo, em

resposta à expectativa e ansiedade dos sócios. As

questões repetidas incessantemente: «quando

sai a próxima Pardela?», ou «porque demora

tanto a sair...?», embaraçam-nos e deixam-nos

enredados em explicações nem sempre

convincentes. Ora bem, enfrentemos as coisas

sem sofismas fáceis: a SPEA, Organização Não

Governamental sem fins lucrativos teve, nos

seus pouco mais dez anos de existência, um

crescimento enorme dos seus associados; é hoje,

no panorama nacional, não só a maior associação

de ornitologia, como um parceiro credível e

respeitado em termos internacionais. Mais, os

inúmeros projectos em que está envolvida falam

por si e são no mínimo eloquentes: Life Sisão,

Life Priolo, Life IBA's Marinhas, projecto

Gaivota de Audouinii, Linhas Eléctricas, Censo

das Aves Comuns, Novo Atlas das Aves que

Nidificam em Portugal, entre outros.

Por fim há a "questão" Pardela que, encarê-

mo-lo, não soube ou não pôde acompanhar este

crescimento e desenvolvimento. As causas são

muitas e um editorial não chegaria para debater

e esgotar o tema. Mas atentemos só nas _ _diferenças esqueçamos as outras entre os

projectos acima citados e a Pardela que, debate-

-se logo à partida com a desvantagem de não ser

um projecto. Dito de outra forma: não tem finan-

ciamento que a sustente; logo não é uma priori-

dade em termos de estratégia da SPEA.

Assim, desde o início, a revista tem vivido

mais a espasmos e por ciclotimias do que por

uma orientação estratégica ou critérios edi-

toriais definidos. Não é uma crítica particular,

mas antes uma constatação inconformada.

Desde os colaboradores, passando pela

equipa editorial, até ao director, toda a estrutura

da Pardela é amadora. Daí que sendo elaborada

consoante a disponibilidade e boa vontade de

um reduzido número de pessoas, os reflexos

mais imediatos fazem-se sentir na perio-

dicidade.

Mais do que lavrar aqui o queixume e pedir a

compreensão de todos, quero deixar um pedido _ _ ou encarem-no como um desafio , participem

também, com o envio dos vossos textos, fotos e

sugestões. A sobrevivência da Pardela é uma

responsabilidade de todos e está também, acre-

ditem, nas vossas mãos.

EDITORIAL

Carlos Pereira

Bir

dL

ife

Bir

dL

ife

Page 3: Pardela 24

O fotógrafo português Helder Afonso (à direita),

vencedor da categoria Bird Portraits, recebe o prémio

das mãos de um dos elementos do júri, o fotógrafo de

natureza de renome internacional, Gabriel Sierra.

Estatuto do

Priolo alterado para

"Criticamente Ameaçado"

Da esquerda para a direita: Terry Wynn (Deputado

Europeu), Mariann Fisher-Boel (Comissária Europeia de

Agricultura e Desenvolvimento Rural), Graham Wynne

(Director Executivo da Royal Society for the Protection

of Birds) e Clairie Papazoglou (Directora do Gabinete da

BirdLife International em Bruxelas).

FICHA TÉCNICA

EditorCarlos Pereira

Comissão Editorial Ana David, Ana Leal, Maria Dias

RevisãoGonçalo Elias

Fotografias

Colaboradores

IlustraçõesPaulo Alves e Miguel Costa

Paginação e grafismoBBnanet.com

ImpressãoTextype-Artes Gráficas, Lda

Tiragem 1400 exemplares

ISSN 0873-1124Depósito legal: 284857544

Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade

Portuguesa para o Estudo das Aves

SPEA

DIRECÇÃO NACIONAL

Rua da Vitória, nº 53, 3º esq1100-618 Lisboa

TEL: 213 220 430

e-mail:

A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de

estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as

precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.

A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.

Augusto Faustino, Gabriel Sierra,Gonçalo Rosa, Graça Martins,

Helder Costa , Isabel Fagundes, João Pinto, José Viana,

Juan Simon, Miguel Lecoq, Ricardo Desirat, Ricardo Guerreiro

Ana David, Augusto Faustino,Carlos Pereira, Domingos Leitão,Gonçalo Elias, Isabel Fagundes,

Ivan Ramirez, João Ministro, João Neves, João Pinto,

Joaquim Teodósio, Luis Gordinho,Miguel Lecoq, Nuno Madeira,

Paulo Marques, Samuel Infante,Silvia Nunes, Sofia Coelho

[email protected]

FAX. 213 220 439

www.spea.pt

PRESIDENTE:

VICE-PRESIDENTE:

SECRETÁRIO-GERAL:

TESOUREIRO:

VOGAIS:

Helder CostaMaria DiasPaulo MarquesInês CatryJaime Ramos,Ricardo Tomé e Teresa Catry

BREVES

Fotógrafos portugueses

arrasam no concurso

Europe'sCountryside Alive

Os nossos parabéns aos premiados!!!

Portugueses ganham três dos 10

prémios do concurso de fotografia da

BirdLife International - Europe's Country-

side Alive. Os premiados foram Helder

Baptista Afonso, que ganhou o 1º lugar

na categoria Bird Portraits. Na mesma

categoria, o 2º lugar foi para Ricardo

Guerreiro. O 3º português premiado foi

João Eduardo Pinto, que obteve o 2º stlugar na categoria Farming in the 21

Century. As fotografias premiadas esti-

veram em exibição no Parlamento Eu-

ropeu, entre os dias 31 de Maio e 3 de

Junho, e na Green Week em Bruxelas, no

stand da BirdLife International. Quem

desejar ver todas as fotos vencedoras,

poderá fazê-lo on-line em:

www.birdlifecapcampaign.org

BirdLifeInternational

entrega assinaturasà Comissária de Agricultura no

Parlamento Europeu

No passado dia 15 de Março de

2005, a BirdLife International entregou

uma petição com 58.769 assinaturas à

Comissária Europeia de Agricultura e

Desenvolvimento Rural, a Sra. Mariann

Fischer-Boel, numa recepção que

decorreu no Parlamento Europeu,

patrocinada pelo Deputado Europeu

Terry Wynn. Esta acção foi o culminar de

uma campanha da BirdLife International

que decorreu em 25 países da União

Europeia. Os peticionários enviaram à

Sra. Comissária postais electrónicos

alusivos à beleza e às aves dos meios

agrícolas de cada país, exigindo políticas

agrícolas mais favoráveis à conservação

da natureza. De Portugal seguiram 1.800

assinaturas.

A BirdLife International, no segui-

mento da revisão anual da situação das

espécies de aves a nível mundial, elevou o

estatuto de ameaça do Priolo para

"CRITICAMENTE AMEAÇADO". Esta

decisão está de acordo com a revisão do

Livro Vermelho dos Vertebrados de

Portugal, liderada pelo ICN, e onde o

Priolo já tinha sido reclassificado nessa

categoria. Esta decisão tem como fun-

damentos a reduzida dimensão da popu-

lação (menos de 300 indivíduos) e o facto

de se encontrar restrita a uma área de

pequenas dimensões na parte oriental da

Ilha de São Miguel (aproximadamente

6000 ha) e com diversas ameaças sobre o

seu habitat.

Esta alteração do estatuto do Priolo

vem reforçar a grande importância do

Projecto LIFE Priolo, actualmente a ser

desenvolvido pela SPEA e por vários

parceiros nacionais e internacionais. Um

dos principais objectivos já alcançado foi

o alargamento da Zona de Protecção

Especial do Pico da Vara/Ribeira do

Guilherme, que abrange agora a

totalidade da área de distribuição do

Priolo.

Coordenadora de Educação

Ambiental e Eventos desde 21 de Junho, e

durante os próximos sete meses, temos a

trabalhar connosco na sede a nova cola-

boradora Vanessa Oliveira. Estará en-

carregue das acções de Educação Am-

biental, da Organização de Eventos e das

actividades para sócios, substituindo a

colaboradora Alexandra Lopes durante

os seis meses em que estará ausente.

Nova colaboradorada SPEA

Para contacto:

[email protected]

Encontro sobre "Energia eólica e conservação da avifauna em Portugal"

Terminou com grande êxito, no dia 6 de Julho, o seminário organizado em

Coimbra pela SPEA sobre os impactos causados pelos parques eólicos na avifauna em

Portugal. Este foi o primeiro encontro que reuniu estudiosos da avifauna, produtores de

energia eólica, o Instituto do Ambiente, a Direcção-Geral de Geologia e Energia, várias

ONGAs e o ICN.

No final, foi elaborado um documento que identifica as lacunas existentes nesta

área e propõe soluções para o problema. Este documento, o primeiro realizado de forma

conjunta entre todos os sectores implicados, pode ser consultado no nosso site

www.spea.pt.

A equipa de trabalho da SPEA em energia eólica vai continuar o trabalho e utilizará

o documento produzido para identificar novas áreas de colaboração e investigação que

forneçam mais informações e que contribuam para a construção de uma estratégia

energética nacional, sem danos para a avifauna.

Ricardo GuerreiroFoto Capa

ÍNDICE

BREVES pág. 3

Impacto dasLinhas Eléctricas Aéreasna Avifauna em Portugal

DE TAQUES pág. 4

Efeito da seca nas populaçõesde Aves Estepárias Invernantesna ZPE de Mourão/Moura/Barrancos

LIFE SISÃO pág. 6

O Prioloe a flor de Laranjeira

LIFE PRIOLO pág. 8

A bordo do Noruega

LIFE IBAS MARINHAS pág.10

Vilamoura

IBAS pág.12

Entrevista ao Coordenadordo Novo Atlas das Avesque Nidificam em Portugal

ENTREVISTA pág.14

SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia

pág.18AVES À VOLTA DO MUNDO

Serra de S. Mamedepág.20ROTEIRO ORNITOLÓGICO

A ciência das avespág.22ORNITOLOGIA

J U V E N I Spág.24

Contagem de Patagarrosna Costa SulFotografar as aves da Madeira

pág.26SPEA MADEIRA

Vestuário técnicopág.27CIBER-ORNITOFILIA

3

Foto Contra-capaSPEA / LIFE Sisão

http://clientes.netvisão.pt/dgscope/

Aqui está mais uma Pardela, de novo, em

resposta à expectativa e ansiedade dos sócios. As

questões repetidas incessantemente: «quando

sai a próxima Pardela?», ou «porque demora

tanto a sair...?», embaraçam-nos e deixam-nos

enredados em explicações nem sempre

convincentes. Ora bem, enfrentemos as coisas

sem sofismas fáceis: a SPEA, Organização Não

Governamental sem fins lucrativos teve, nos

seus pouco mais dez anos de existência, um

crescimento enorme dos seus associados; é hoje,

no panorama nacional, não só a maior associação

de ornitologia, como um parceiro credível e

respeitado em termos internacionais. Mais, os

inúmeros projectos em que está envolvida falam

por si e são no mínimo eloquentes: Life Sisão,

Life Priolo, Life IBA's Marinhas, projecto

Gaivota de Audouinii, Linhas Eléctricas, Censo

das Aves Comuns, Novo Atlas das Aves que

Nidificam em Portugal, entre outros.

Por fim há a "questão" Pardela que, encarê-

mo-lo, não soube ou não pôde acompanhar este

crescimento e desenvolvimento. As causas são

muitas e um editorial não chegaria para debater

e esgotar o tema. Mas atentemos só nas _ _diferenças esqueçamos as outras entre os

projectos acima citados e a Pardela que, debate-

-se logo à partida com a desvantagem de não ser

um projecto. Dito de outra forma: não tem finan-

ciamento que a sustente; logo não é uma priori-

dade em termos de estratégia da SPEA.

Assim, desde o início, a revista tem vivido

mais a espasmos e por ciclotimias do que por

uma orientação estratégica ou critérios edi-

toriais definidos. Não é uma crítica particular,

mas antes uma constatação inconformada.

Desde os colaboradores, passando pela

equipa editorial, até ao director, toda a estrutura

da Pardela é amadora. Daí que sendo elaborada

consoante a disponibilidade e boa vontade de

um reduzido número de pessoas, os reflexos

mais imediatos fazem-se sentir na perio-

dicidade.

Mais do que lavrar aqui o queixume e pedir a

compreensão de todos, quero deixar um pedido _ _ ou encarem-no como um desafio , participem

também, com o envio dos vossos textos, fotos e

sugestões. A sobrevivência da Pardela é uma

responsabilidade de todos e está também, acre-

ditem, nas vossas mãos.

EDITORIAL

Carlos Pereira

Bir

dL

ife

Bir

dL

ife

Page 4: Pardela 24

4 5

Em 2003, a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA assinaram um protocolo

com vista a desenvolverem um esforço conjunto no sentido de avaliar e

minimizar os impactos resultantes da interacção das linhas eléctricas com as

aves silvestres em Portugal. Em 2003 e 2004 a SPEA e a Quercus

desenvolveram um intenso esforço de amostragem em todo o país, procurando

respostas a várias questões que desde o início se colocavam aos parceiros,

nomeadamente: quais as linhas mais perigosas para as aves? Quais as tipo-

logias mais adequadas para a protecção da avifauna? Em que habitats a

ocorrência de acidentes com a avifauna assume maior magnitude? Quais as

espécies mais afectadas e em que circunstâncias?

Ao fim desse longo período e com mais de 5 mil quilómetros percorridos a

pé, os objectivos inicialmente estabelecidos foram cumpridos: os parceiros do

protocolo partilharam uma rica base de informação recolhida no terreno; cerca

de 85 quilómetros de linhas perigosas para aves foram corrigidos; desen-

volveram-se normas de implementação de novas linhas em áreas classificadas;

e estabeleceram-se numerosos contactos com agentes locais da EDP de todo o

país (Áreas de Rede). Outro resultado deste estudo bastante interessante, foi a

participação de cinco dezenas de voluntários de todo o país, alguns dos quais

tiveram o seu primeiro contacto com a SPEA.

Os resultados de dois anos de estudo

Como se veio a verificar, vários

factores influenciam a distribuição

diferencial da mortalidade, sendo os

principais a tipologia de linhas usadas, o

habitat atravessado e a respectiva abun-

dância das espécies mais susceptíveis

aos impactos das linhas de média tensão.

A ocupação do solo tem grande

influência na forma como as aves

interagem com os apoios eléctricos.

Num local onde a existência de pousos

naturais é muito escassa (como por

exemplo em Castro Verde), a utilização

de apoios eléctricos é, por isso, muito

frequente. Este aspecto ajuda a explicar

porque nalgumas linhas aí prospectadas

o número de casos foi muito elevado.

Apenas numa secção de 10 km nesta

zona registaram-se mais de 150 casos de

mortalidade, na sua maioria por

electrocussão. Por outro lado, zonas

onde se concentram grandes quan-

tidades de aves (e. g. dormitórios, locais

de alimentação, etc.), aumenta a proba-

bilidade de ocorrerem colisões com os

condutores.

A electrocussão foi a causa mais

importante para a morte de um grande

número de aves, em particular as

rapinas. Este fenómeno foi signifi-

cativamente mais comum na presença de

apoios com isoladores rígidos colocados

na vertical e foi potenciada pelo número

de cabos curtos que estabelecem ligações

(arcos) nas derivações presentes num

apoio. Aproximadamente 783 casos de

electrocussão foram registados, envol-

vendo espécies tão distintas e de

diferentes dimensões, como o Bufo-real

e o Rolieiro. Estes dados obrigam, desde

logo, a uma posição firme contra o uso de

tipologias como o Triângulo rígido ou a

Esteira horizontal, sendo esta uma das

principais conclusões da análise dos

resultados obtidos.

A outra causa de mortalidade é a

colisão com os cabos condutores e cabos-

guarda. Cerca de 816 aves tiveram morte

desta forma, em especial espécies com

reduzida agilidade de voo (e. g. o Sisão

ou a Abetarda) ou as de comportamento

gregário. Os dados revelam que é em

habitats abertos, como a estepe agrícola

ou as zonas húmidas costeiras, que este

fenómeno atinge níveis particularmente

gravosos para a avifauna. Neste tipo de

áreas (e.g. ZPE de Castro Verde) a cons-

trução de novas linhas de qualquer tipo-

logia deve ser submetida a uma especial

avaliação, tendo em consideração o

elevado potencial de colisão existente e a

sensibilidade de diversas espécies

ameaçadas.

Entre Julho de 2003 e Outubro de

2004, cerca de 1500 aves foram

encontradas mortas em resultado de aci-

dentes com estruturas eléctricas. Mais

de 100 espécies foram identificadas, 27

das quais pertencentes ao Anexo I da

Directiva Aves. O número de rapinas foi

bastante elevado, sendo apenas su-

perado pelos passeriformes. A figura 1

ilustra a proporção entre os diferentes

grupos afectados:

A identificação das espécies no

terreno nem sempre foi possível, devido

ao avançado estado de decomposição

das aves. Por isso, houve necessidade

de recorrer à Osteoteca do Instituto

Português de Arqueologia, cujo apoio

foi decisivo na determinação de cente-

nas de casos.

Ao nível de valores totais, a média

obtida de 3,45 aves mortas por qui-

lómetro e por ano, não traduz, por si só, a

importância ecológica dos resultados

obtidos. Porém, uma análise multi-

factorial permitirá retirar consequências

mais imediatas.

Os picos de mortalidade aconte-

ceram nos períodos de maior ocorrência

de aves, designadamente nas migra-

ções. Porém, algumas espécies nidi-

ficantes, como a Cegonha-branca,

sofreram elevadas baixas de juvenis

logo após a saída dos ninhos. No Inver-

no, por outro lado, sobressaem as espé-

cies que apresentam comportamentos

gregários, nomeadamente as Taram-

bolas-douradas e os Abibes, e aquelas

que formam grandes dormitórios, como

o Pombo-torcaz e o Tordo-comum, entre

outras.

Mais de aves mortas1500

Pro

ject

o L

inh

as

Elé

ctri

cas

/ S

PE

A

Causas de morte

Um dos principais resultados

deste protocolo foi a consagração de

medidas de protecção da avifauna nas

linhas eléctricas. Com base nos resul-

tados obtidos no referido estudo, mais

de 85 km de linhas foram já corrigidas

pela EDP, representando um inves-

timento de mais de 400.000 euros e

envolvendo a aplicação de um largo con-

junto de medidas e dispositivos desde a

transformação completa da linha à apli-

cação de mecanismos de isolamento dos

apoios e de sinalização dos condutores.

O estudo permitiu ainda redefinir

um conjunto de normas para aplicar à

instalação de novas linhas eléctricas nas

áreas classificadas (Áreas Protegidas e

Rede Natura), as quais deverão respeitar

ao máximo os valores biológicos nelas

existentes, em especial os avifaunísticos.

DESTAQUE

Medidas de minimização

e protecção

A divulgação dos resultados deste

protocolo constitui uma das acções

prioritárias a desenvolver no futuro

próximo. Em Janeiro do corrente ano,

realizou-se o Seminário Internacional

sobre Linhas Eléctricas, que constituiu o

primeiro grande momento de apresen-

tação dos resultados obtidos. A

possibilidade de uma prorrogação do

protocolo entre a EDP, o ICN, a Quercus

e a SPEA está ainda na agenda do pre-

sente ano. No futuro pretende-se

aumentar consideravelmente as acções

de correcção de linhas perigosas e pro-

mover a monitorização da eficácia das

correcções já efectuadas. Para além de

avaliar o sucesso e a durabilidade dos

dispositivos anti-electrocussão e anti-

colisão mais comuns, pretende-se es-

tudar a viabilidade de introduzir em

Portugal novas tecnologias de constru-

ção de linhas eléctricas de média tensão.

Tudo em prol da conservação da nossa

avifauna!

O futuro

A importância do

voluntariado

Agradecimentos:

A realização do projecto teve por trás uma equipa de colaboradores,

que intensamente levaram por diante os trabalhos de prospecção, mesmo em situações adversas.

A todos eles os nossos agradecimentos pelo fantástico desempenho.

A concretização dos trabalhos de

campo envolveu um vasto conjunto

de voluntários, sem os quais teria

sido difícil levar a bom termo

este projecto.

Mais de 40 jovens, na sua maioria

estudantes universitários,

contribuíram grandemente para o

sucesso deste projecto, tendo

participado activamente em

numerosas acções de campo e de

prospecção de aves mortas.

A todos eles,

o nosso especial agradecimento!

em Portugal

Águia-cobreira electrocutada no Parque Natural do Vale do Guadiana2

Juvenil de Águia de Bonelli electrocutado na ZPE de Castro Verde1

1

Impactodas Linhas Eléctricas Aéreas

na Avifauna

João Ministro, João Neves e Samuel Infante

2

5%17%

4%

12%

4%47%

11%Ciconi

Accipi

Grui

Charadri

StrigiPasseri

outros

fig. 1

Pro

ject

o L

inh

as

Elé

ctri

cas

/ S

PE

A

Page 5: Pardela 24

4 5

Em 2003, a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA assinaram um protocolo

com vista a desenvolverem um esforço conjunto no sentido de avaliar e

minimizar os impactos resultantes da interacção das linhas eléctricas com as

aves silvestres em Portugal. Em 2003 e 2004 a SPEA e a Quercus

desenvolveram um intenso esforço de amostragem em todo o país, procurando

respostas a várias questões que desde o início se colocavam aos parceiros,

nomeadamente: quais as linhas mais perigosas para as aves? Quais as tipo-

logias mais adequadas para a protecção da avifauna? Em que habitats a

ocorrência de acidentes com a avifauna assume maior magnitude? Quais as

espécies mais afectadas e em que circunstâncias?

Ao fim desse longo período e com mais de 5 mil quilómetros percorridos a

pé, os objectivos inicialmente estabelecidos foram cumpridos: os parceiros do

protocolo partilharam uma rica base de informação recolhida no terreno; cerca

de 85 quilómetros de linhas perigosas para aves foram corrigidos; desen-

volveram-se normas de implementação de novas linhas em áreas classificadas;

e estabeleceram-se numerosos contactos com agentes locais da EDP de todo o

país (Áreas de Rede). Outro resultado deste estudo bastante interessante, foi a

participação de cinco dezenas de voluntários de todo o país, alguns dos quais

tiveram o seu primeiro contacto com a SPEA.

Os resultados de dois anos de estudo

Como se veio a verificar, vários

factores influenciam a distribuição

diferencial da mortalidade, sendo os

principais a tipologia de linhas usadas, o

habitat atravessado e a respectiva abun-

dância das espécies mais susceptíveis

aos impactos das linhas de média tensão.

A ocupação do solo tem grande

influência na forma como as aves

interagem com os apoios eléctricos.

Num local onde a existência de pousos

naturais é muito escassa (como por

exemplo em Castro Verde), a utilização

de apoios eléctricos é, por isso, muito

frequente. Este aspecto ajuda a explicar

porque nalgumas linhas aí prospectadas

o número de casos foi muito elevado.

Apenas numa secção de 10 km nesta

zona registaram-se mais de 150 casos de

mortalidade, na sua maioria por

electrocussão. Por outro lado, zonas

onde se concentram grandes quan-

tidades de aves (e. g. dormitórios, locais

de alimentação, etc.), aumenta a proba-

bilidade de ocorrerem colisões com os

condutores.

A electrocussão foi a causa mais

importante para a morte de um grande

número de aves, em particular as

rapinas. Este fenómeno foi signifi-

cativamente mais comum na presença de

apoios com isoladores rígidos colocados

na vertical e foi potenciada pelo número

de cabos curtos que estabelecem ligações

(arcos) nas derivações presentes num

apoio. Aproximadamente 783 casos de

electrocussão foram registados, envol-

vendo espécies tão distintas e de

diferentes dimensões, como o Bufo-real

e o Rolieiro. Estes dados obrigam, desde

logo, a uma posição firme contra o uso de

tipologias como o Triângulo rígido ou a

Esteira horizontal, sendo esta uma das

principais conclusões da análise dos

resultados obtidos.

A outra causa de mortalidade é a

colisão com os cabos condutores e cabos-

guarda. Cerca de 816 aves tiveram morte

desta forma, em especial espécies com

reduzida agilidade de voo (e. g. o Sisão

ou a Abetarda) ou as de comportamento

gregário. Os dados revelam que é em

habitats abertos, como a estepe agrícola

ou as zonas húmidas costeiras, que este

fenómeno atinge níveis particularmente

gravosos para a avifauna. Neste tipo de

áreas (e.g. ZPE de Castro Verde) a cons-

trução de novas linhas de qualquer tipo-

logia deve ser submetida a uma especial

avaliação, tendo em consideração o

elevado potencial de colisão existente e a

sensibilidade de diversas espécies

ameaçadas.

Entre Julho de 2003 e Outubro de

2004, cerca de 1500 aves foram

encontradas mortas em resultado de aci-

dentes com estruturas eléctricas. Mais

de 100 espécies foram identificadas, 27

das quais pertencentes ao Anexo I da

Directiva Aves. O número de rapinas foi

bastante elevado, sendo apenas su-

perado pelos passeriformes. A figura 1

ilustra a proporção entre os diferentes

grupos afectados:

A identificação das espécies no

terreno nem sempre foi possível, devido

ao avançado estado de decomposição

das aves. Por isso, houve necessidade

de recorrer à Osteoteca do Instituto

Português de Arqueologia, cujo apoio

foi decisivo na determinação de cente-

nas de casos.

Ao nível de valores totais, a média

obtida de 3,45 aves mortas por qui-

lómetro e por ano, não traduz, por si só, a

importância ecológica dos resultados

obtidos. Porém, uma análise multi-

factorial permitirá retirar consequências

mais imediatas.

Os picos de mortalidade aconte-

ceram nos períodos de maior ocorrência

de aves, designadamente nas migra-

ções. Porém, algumas espécies nidi-

ficantes, como a Cegonha-branca,

sofreram elevadas baixas de juvenis

logo após a saída dos ninhos. No Inver-

no, por outro lado, sobressaem as espé-

cies que apresentam comportamentos

gregários, nomeadamente as Taram-

bolas-douradas e os Abibes, e aquelas

que formam grandes dormitórios, como

o Pombo-torcaz e o Tordo-comum, entre

outras.

Mais de aves mortas1500

Pro

ject

o L

inh

as

Elé

ctri

cas

/ S

PE

A

Causas de morte

Um dos principais resultados

deste protocolo foi a consagração de

medidas de protecção da avifauna nas

linhas eléctricas. Com base nos resul-

tados obtidos no referido estudo, mais

de 85 km de linhas foram já corrigidas

pela EDP, representando um inves-

timento de mais de 400.000 euros e

envolvendo a aplicação de um largo con-

junto de medidas e dispositivos desde a

transformação completa da linha à apli-

cação de mecanismos de isolamento dos

apoios e de sinalização dos condutores.

O estudo permitiu ainda redefinir

um conjunto de normas para aplicar à

instalação de novas linhas eléctricas nas

áreas classificadas (Áreas Protegidas e

Rede Natura), as quais deverão respeitar

ao máximo os valores biológicos nelas

existentes, em especial os avifaunísticos.

DESTAQUE

Medidas de minimização

e protecção

A divulgação dos resultados deste

protocolo constitui uma das acções

prioritárias a desenvolver no futuro

próximo. Em Janeiro do corrente ano,

realizou-se o Seminário Internacional

sobre Linhas Eléctricas, que constituiu o

primeiro grande momento de apresen-

tação dos resultados obtidos. A

possibilidade de uma prorrogação do

protocolo entre a EDP, o ICN, a Quercus

e a SPEA está ainda na agenda do pre-

sente ano. No futuro pretende-se

aumentar consideravelmente as acções

de correcção de linhas perigosas e pro-

mover a monitorização da eficácia das

correcções já efectuadas. Para além de

avaliar o sucesso e a durabilidade dos

dispositivos anti-electrocussão e anti-

colisão mais comuns, pretende-se es-

tudar a viabilidade de introduzir em

Portugal novas tecnologias de constru-

ção de linhas eléctricas de média tensão.

Tudo em prol da conservação da nossa

avifauna!

O futuro

A importância do

voluntariado

Agradecimentos:

A realização do projecto teve por trás uma equipa de colaboradores,

que intensamente levaram por diante os trabalhos de prospecção, mesmo em situações adversas.

A todos eles os nossos agradecimentos pelo fantástico desempenho.

A concretização dos trabalhos de

campo envolveu um vasto conjunto

de voluntários, sem os quais teria

sido difícil levar a bom termo

este projecto.

Mais de 40 jovens, na sua maioria

estudantes universitários,

contribuíram grandemente para o

sucesso deste projecto, tendo

participado activamente em

numerosas acções de campo e de

prospecção de aves mortas.

A todos eles,

o nosso especial agradecimento!

em Portugal

Águia-cobreira electrocutada no Parque Natural do Vale do Guadiana2

Juvenil de Águia de Bonelli electrocutado na ZPE de Castro Verde1

1

Impactodas Linhas Eléctricas Aéreas

na Avifauna

João Ministro, João Neves e Samuel Infante

2

5%17%

4%

12%

4%47%

11%Ciconi

Accipi

Grui

Charadri

StrigiPasseri

outros

fig. 1

Pro

ject

o L

inh

as

Elé

ctri

cas

/ S

PE

A

Page 6: Pardela 24

6

na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos

AVES ESTEPÁRIAS INVERNANTESEfeito da seca nas populações de

Miguel Lecoq, Nuno Madeira e Domingos Leitão

1 Grous

1

2 Abetardas 3 Sisão 4 Abibe

Ga

bri

el S

ierr

a &

Ju

an

Sim

ón

Mig

ue

l Le

coq

/ S

PE

A

Em Portugal, as variações da pluviosidade são

normais, provocando episódios cíclicos de secas e

inundações. No entanto, nas últimas décadas, os fenó-

menos climáticos extremos têm ocorrido com maior

frequência. Este parece ser o caso do Inverno de 2004 /

2005, durante o qual os índices de precipitação foram

muito inferiores aos registados nas décadas anteriores.

No Alentejo, uma das regiões do país com menor abun-

dância de água, a seca afecta frequentemente uma das _principais actividades daquela região a agricultura.

Pela sua dependência da agricultura de sequeiro,

as aves estepárias são particularmente afectadas em

anos de seca. Os efeitos sobre as suas populações são

diversos, podendo provocar alterações nos padrões de

migração, no comportamento, nas taxas de sobrevi-

vência e no sucesso reprodutor, apenas para referir os

principais. Como consequência é frequente observar

uma diminuição nas populações de algumas espécies,

que pode resultar, sobretudo, da maior mortalidade e da

dispersão dos indivíduos por uma maior área geo-

gráfica. Na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos, o resul-

tado dos censos do último Inverno aponta para a

diminuição generalizada dos efectivos de várias espé-

cies. O efectivo do Sisão e do Cortiçol-de-barriga-preta

diminuiu cerca de 65% e 50%, respectivamente. Os si-

sões e os grous observaram-se com maior frequência em

searas, provavelmente devido à menor disponibilidade

de alimento nos pousios, e os abibes e as tarambolas-

-douradas observaram-se mais próximo das bermas das

estradas e das charcas.

Page 7: Pardela 24

6 7

LIFE SISÃOprojecto

Efeito da seca registada no inverno de 2004 / 2005 no Projecto Piloto Agrícola

na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos

AVES ESTEPÁRIAS INVERNANTESEfeito da seca nas populações de

Miguel Lecoq, Nuno Madeira e Domingos Leitão

2

1 Grous

3 4

1

2 Abetardas 3 Sisão 4 AbibeCONTACTO DECOORDENAÇÃO

Domingos leitão

telf.: 213 220 435e-mail: [email protected] www.spea.pt/ms_sisão

A seca pronunciada que decorreu

em Portugal Continental no último ano

tem graves repercussões ao nível agro-

pecuário. Para a área de trabalho do

Projecto Piloto Agrícola (PPA), dispo-

mos de dados meteorológicos de duas

estações: a estação meteorológica dos

Lameirões (propriedade do COTR - Cen-

tro Operacional de Tecnologias de

Regadio) situada na parte sul da área, e a

estação de Reguengos de Monsaraz

(propriedade do INAG - Instituto da

Água) situada fora, a cerca de 20 km da

parte norte. De Outubro a Maio a

precipitação acumulada nos Lameirões 1

foi apenas de 184,85 mm (cerca de 35% 2

do habitual) , enquanto que em Reguen-3

gos de Monsaraz foi de 202,5 mm (40%

do habitual).

Ga

bri

el S

ierr

a &

Ju

an

Sim

ón

Mig

ue

l Le

coq

/ S

PE

AG

ab

rie

l Sie

rra

& J

ua

n S

imó

n

Mig

ue

l Le

coq

/ S

PE

A

Ga

bri

el S

ierr

a &

Ju

an

Sim

ón

Ga

bri

el S

ierr

a &

Ju

an

Sim

ón

Em Portugal, as variações da pluviosidade são

normais, provocando episódios cíclicos de secas e

inundações. No entanto, nas últimas décadas, os fenó-

menos climáticos extremos têm ocorrido com maior

frequência. Este parece ser o caso do Inverno de 2004 /

2005, durante o qual os índices de precipitação foram

muito inferiores aos registados nas décadas anteriores.

No Alentejo, uma das regiões do país com menor abun-

dância de água, a seca afecta frequentemente uma das _principais actividades daquela região a agricultura.

Pela sua dependência da agricultura de sequeiro,

as aves estepárias são particularmente afectadas em

anos de seca. Os efeitos sobre as suas populações são

diversos, podendo provocar alterações nos padrões de

migração, no comportamento, nas taxas de sobrevi-

vência e no sucesso reprodutor, apenas para referir os

principais. Como consequência é frequente observar

uma diminuição nas populações de algumas espécies,

que pode resultar, sobretudo, da maior mortalidade e da

dispersão dos indivíduos por uma maior área geo-

gráfica. Na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos, o resul-

tado dos censos do último Inverno aponta para a

diminuição generalizada dos efectivos de várias espé-

cies. O efectivo do Sisão e do Cortiçol-de-barriga-preta

diminuiu cerca de 65% e 50%, respectivamente. Os si-

sões e os grous observaram-se com maior frequência em

searas, provavelmente devido à menor disponibilidade

de alimento nos pousios, e os abibes e as tarambolas-

-douradas observaram-se mais próximo das bermas das

estradas e das charcas.

FONTES:

Centro Operacional deTecnologias de Regadio

1

Instituto de Meteorologia2

Instituto Nacional da Água3

Mediante esta realidade, a actividade

agro-pecuária teve de recorrer a soluções

pouco habituais: a carência de pastagens

ainda durante o Outono levou os

agricultores à compra de complementos

alimentares; noutros casos excepcionais

as searas foram também pastoreadas.

Em relação aos cereais, existiu um atraso

na sua sementeira (devido à falta de

humidade no solo), o crescimento foi

muito reduzido, a produção de grão em

solos mais pobres poderá ser quase nula

e a palha será em pouca quantidade. As

fenagens começaram em finais de Abril e

as ceifas de aveia em meados de Maio.

Verificou-se que, dada a escassez de ali-

mento para o gado, muitos dos pousios

que seriam mantidos até ao Verão, foram

já gadanhados para feno no início de

Maio.

Em relação às sementeiras de legu-

minosas de Outono do PPA, a ausência

de precipitação significativa teve o

mesmo efeito que nas searas. Apesar de a

taxa de emergência ter sido boa, o

desenvolvimento vegetativo foi muito

reduzido, principalmente nos meses de

Novembro a Fevereiro. Desta forma, o

crescimento mais significativo das cul-

turas, nomeadamente da luzerna, deu-se

a partir de Março, quando as tempera-

turas mínimas superaram os 6ºC.

Apesar de o crescimento ficar muito

aquém do esperado, todas as culturas

completaram o ciclo, produzindo se-

mente. Dos 140 ha previstos, realizámos

107 ha. Nestas circunstâncias as espécies

alvo do PPA, o Sisão e a Abetarda,

utilizaram as parcelas de leguminosas

num período mais limitado do que

aquele que estava previsto. Parte das

parcelas que foram usadas, foram-no

apenas a partir de Fevereiro e por um

número reduzido de indivíduos.

Em relação à área ocupada, as

culturas de Primavera ficaram muito

aquém das expectativas. Pretendíamos

semear 80 ha de grão-de-bico e apenas

foi possível fazê-lo em 26 ha. Ainda

assim, à excepção de uma parcela de 8 ha

que pôde ser regada, as restantes apre-

sentaram taxas de emergência muito

reduzidas, devido à ausência de humi-

dade no solo. Também a protecção de

pousios foi prejudicada pela seca severa.

Onde pretendíamos afectar 500 ha,

apenas afectámos 135,5 ha, isto porque a

falta de alimento para o gado levou a que

qualquer parcela em pousio fosse trans-

formada em local de pastagem ou de

fenagem.

Page 8: Pardela 24

As variedadesregionais

no pomar do Priolo

1 2 3

LIFE PRIOLOprojecto

O Priolo e a Flor de Laranjeira

8 9

Replantação de Laranjeira

2 Carrinha projecto Life Priolo

1

4

3

dios alternativos com fortes estruturas

financeiras de apoio na região (tal como

os incentivos florestais e agro-pecuários)

e à ausência de interesse geral por práti-

cas agrícolas tradicionais.

Durante o projecto LIFE Priolo,

pretende criar-se incentivos à plantação

de árvores de fruto, junto dos agricul-

tores da região com terrenos em locais

adequados, recorrendo aos apoios regio-

nais e comunitários disponíveis na Re-

gião Autónoma dos Açores. As árvores

de fruto mais adequadas para a Priolo

são aquelas que têm floração no final do

Inverno, seleccionando-se as laranjeiras,

os pessegueiros, e em menor número, as

macieiras.

Nos últimos censos da população

de Priolo efectuado pela SPEA, foram

estimadas cerca de 230 aves, o que indica

um ligeiro decréscimo comparativa-

mente a anos anteriores. Os efectivos

populacionais da espécie são tão baixos

que não se espera que causem impacto

significativo durante ou nos anos após o

projecto sobre as árvores de fruto a plan-

tar. A disponibilidade de alimento du-

rante o final de Inverno constitui uma

das principais preocupações do pro-

jecto. Os pomares de laranjeira, pesse-

gueiro e macieira asseguram a produção

de botões florais em quantidade, em

zonas onde o Priolo ocorre, nesta época

do ano.

No século XIX o Priolo (Pyrrhula

murina) chegou a ser considerado uma

praga nos laranjais da zona leste de São

Miguel. A captura excessiva destas aves

(quer para museus e universidades, quer

devido aos prejuízos causados nos

pomares) e a destruição da floresta de

Laurissilva, de cujas plantas o Priolo

depende, conduziram esta pequena

população à beira da extinção. Actual-

mente, os cerca de 100 casais que restam

sobrevivem numa reduzida área de

floresta nativa que ainda lhes propor-

ciona abrigo e alimento. No entanto, no

final do Inverno, a ausência de alimento

parece afectar a sobrevivência dos

indivíduos imaturos e adultos, condi-

cionando o aumento da população.

A dieta do Priolo tem como base

diversos tipos de vegetação e varia

mensalmente, conforme novas plantas

vão florindo e produzindo sementes. Os

recursos alimentares desta ave provêm

de diferentes habitats; no Verão, de

zonas abertas: derrocadas, caminhos,

clareiras e ribeiras; no Outono, de der-

rocadas, ribeiras, margens da floresta

natural e também da floresta natural; no

Inverno e na Primavera, fundamental-

mente da floresta natural.

A plantação de pomares é uma me-

dida complementar às acções de planta-

ção de vegetação endémica no âmbito do

projecto LIFE, ocorrendo nas zonas de

média e baixa altitude. Durante o Inver-

no, o Priolo desce para estas áreas à pro-

cura de alimento que escasseia nas zonas

altas com vegetação nativa.

As árvores de fruto constituíram,

em meados do século XX, uma impor-

tante fonte alimentar destas aves, quan-

do a produção de laranjas e pessegueiros

constituía uma actividade comum na

região. A plantação destas espécies po-

derá ser, portanto, viável em termos de

produção e o interesse, por parte da

população, deverá ser incentivado. Para

tal contribuem estes projectos demons-

trativos. O desinteresse actual por esta

prática pode estar associado aos subsí-

O Prioloe a disponibilidade

de alimento

Pomares,uma boa alternativa...

...mas uma alternativa

viável?

Joaquim Teodósio

PRIOLO

Devido à falta de subsídios atracti-

vos que permitam a reconversão dos

terrenos em pomares, tem sido uma

tarefa muito difícil, até este momento,

encontrar interesse junto dos proprie-

tários para a plantação de pomares. Os

custos envolvidos tornam esta mudança

muito pouco atractiva sem maiores apoi-

os por parte do Estado. A entrada em

vigor do recente plano sectorial para a

RAA contempla este problema, resta

saber se as soluções propostas irão ao

encontro dos agricultores e da conser-

vação do Priolo.

As zonas a favorecer por esta acção

são essencialmente terrenos onde termi-

nam as ribeiras que vêm das zonas altas

de ocorrência do Priolo, as quais consti-

tuem corredores naturais para os movi-

mentos das aves. A este nível a Ribeira do

Guilherme, descendo desde a área de

ocorrência principal do Priolo, constitui

o principal alvo desta acção. A SPEA con-

tactou proprietários de terrenos na área.

Um dos proprietários contactados mos-

trou grande interesse e disponibilizou

um terreno na margem da ribeira.

A plantação deste pomar resultou

da colaboração entre o Projecto LIFE

Priolo, o proprietário do terreno e os Ser-

viços de Desenvolvimento Agrário

(SDA). O LIFE contribui com a mão-de-

-obra necessária para a plantação, o Sr.

Norberto Ferreira cedeu gentilmente um

amplo terreno situado nas margens da

ribeira do Guilherme e os SDA forne-

ceram as árvores utilizadas bem como

mão-de-obra e os essenciais conheci-

mentos técnicos. Foram plantadas várias

centenas de árvores de fruto: macieiras,

citrinos e pereiras na sua maioria. Estas

fruteiras foram escolhidas de acordo

com os dados históricos sobre Priolo e

apoiadas nos conhecimentos existentes

sobre Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) no

continente.

As variedades utilizadas são, na

sua maioria, regionais, algumas das

quais estiveram em risco de desaparecer.

Apenas o trabalho dos SDA nas suas

instalações terá possibilitado a sobre-

vivência de algumas variedades histó-

ricas, como o pêro das furnas. A colabo-

ração neste tipo de iniciativas permite

cumprir vários objectivos: contribuir

para a conservação do Priolo, disseminar

variedades tradicionais de fruteiras e

possibilitar a reconversão de terrenos.

Apenas através da colaboração

com estas entidades foi possível avançar

com uma medida bastante importante

para a conservação do Priolo; uma cola-

boração que se espera venha a dar frutos

(e flores) muito em breve…

4

5

6

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

Priolo

Trabalho de campo

Laranjeira6

5 Pés-de-laranjeira

Page 9: Pardela 24

As variedadesregionais

no pomar do Priolo

1 2 3

LIFE PRIOLOprojecto

O Priolo e a Flor de Laranjeira

8 9

Replantação de Laranjeira

2 Carrinha projecto Life Priolo

1

4

3

dios alternativos com fortes estruturas

financeiras de apoio na região (tal como

os incentivos florestais e agro-pecuários)

e à ausência de interesse geral por práti-

cas agrícolas tradicionais.

Durante o projecto LIFE Priolo,

pretende criar-se incentivos à plantação

de árvores de fruto, junto dos agricul-

tores da região com terrenos em locais

adequados, recorrendo aos apoios regio-

nais e comunitários disponíveis na Re-

gião Autónoma dos Açores. As árvores

de fruto mais adequadas para a Priolo

são aquelas que têm floração no final do

Inverno, seleccionando-se as laranjeiras,

os pessegueiros, e em menor número, as

macieiras.

Nos últimos censos da população

de Priolo efectuado pela SPEA, foram

estimadas cerca de 230 aves, o que indica

um ligeiro decréscimo comparativa-

mente a anos anteriores. Os efectivos

populacionais da espécie são tão baixos

que não se espera que causem impacto

significativo durante ou nos anos após o

projecto sobre as árvores de fruto a plan-

tar. A disponibilidade de alimento du-

rante o final de Inverno constitui uma

das principais preocupações do pro-

jecto. Os pomares de laranjeira, pesse-

gueiro e macieira asseguram a produção

de botões florais em quantidade, em

zonas onde o Priolo ocorre, nesta época

do ano.

No século XIX o Priolo (Pyrrhula

murina) chegou a ser considerado uma

praga nos laranjais da zona leste de São

Miguel. A captura excessiva destas aves

(quer para museus e universidades, quer

devido aos prejuízos causados nos

pomares) e a destruição da floresta de

Laurissilva, de cujas plantas o Priolo

depende, conduziram esta pequena

população à beira da extinção. Actual-

mente, os cerca de 100 casais que restam

sobrevivem numa reduzida área de

floresta nativa que ainda lhes propor-

ciona abrigo e alimento. No entanto, no

final do Inverno, a ausência de alimento

parece afectar a sobrevivência dos

indivíduos imaturos e adultos, condi-

cionando o aumento da população.

A dieta do Priolo tem como base

diversos tipos de vegetação e varia

mensalmente, conforme novas plantas

vão florindo e produzindo sementes. Os

recursos alimentares desta ave provêm

de diferentes habitats; no Verão, de

zonas abertas: derrocadas, caminhos,

clareiras e ribeiras; no Outono, de der-

rocadas, ribeiras, margens da floresta

natural e também da floresta natural; no

Inverno e na Primavera, fundamental-

mente da floresta natural.

A plantação de pomares é uma me-

dida complementar às acções de planta-

ção de vegetação endémica no âmbito do

projecto LIFE, ocorrendo nas zonas de

média e baixa altitude. Durante o Inver-

no, o Priolo desce para estas áreas à pro-

cura de alimento que escasseia nas zonas

altas com vegetação nativa.

As árvores de fruto constituíram,

em meados do século XX, uma impor-

tante fonte alimentar destas aves, quan-

do a produção de laranjas e pessegueiros

constituía uma actividade comum na

região. A plantação destas espécies po-

derá ser, portanto, viável em termos de

produção e o interesse, por parte da

população, deverá ser incentivado. Para

tal contribuem estes projectos demons-

trativos. O desinteresse actual por esta

prática pode estar associado aos subsí-

O Prioloe a disponibilidade

de alimento

Pomares,uma boa alternativa...

...mas uma alternativa

viável?

Joaquim Teodósio

PRIOLO

Devido à falta de subsídios atracti-

vos que permitam a reconversão dos

terrenos em pomares, tem sido uma

tarefa muito difícil, até este momento,

encontrar interesse junto dos proprie-

tários para a plantação de pomares. Os

custos envolvidos tornam esta mudança

muito pouco atractiva sem maiores apoi-

os por parte do Estado. A entrada em

vigor do recente plano sectorial para a

RAA contempla este problema, resta

saber se as soluções propostas irão ao

encontro dos agricultores e da conser-

vação do Priolo.

As zonas a favorecer por esta acção

são essencialmente terrenos onde termi-

nam as ribeiras que vêm das zonas altas

de ocorrência do Priolo, as quais consti-

tuem corredores naturais para os movi-

mentos das aves. A este nível a Ribeira do

Guilherme, descendo desde a área de

ocorrência principal do Priolo, constitui

o principal alvo desta acção. A SPEA con-

tactou proprietários de terrenos na área.

Um dos proprietários contactados mos-

trou grande interesse e disponibilizou

um terreno na margem da ribeira.

A plantação deste pomar resultou

da colaboração entre o Projecto LIFE

Priolo, o proprietário do terreno e os Ser-

viços de Desenvolvimento Agrário

(SDA). O LIFE contribui com a mão-de-

-obra necessária para a plantação, o Sr.

Norberto Ferreira cedeu gentilmente um

amplo terreno situado nas margens da

ribeira do Guilherme e os SDA forne-

ceram as árvores utilizadas bem como

mão-de-obra e os essenciais conheci-

mentos técnicos. Foram plantadas várias

centenas de árvores de fruto: macieiras,

citrinos e pereiras na sua maioria. Estas

fruteiras foram escolhidas de acordo

com os dados históricos sobre Priolo e

apoiadas nos conhecimentos existentes

sobre Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) no

continente.

As variedades utilizadas são, na

sua maioria, regionais, algumas das

quais estiveram em risco de desaparecer.

Apenas o trabalho dos SDA nas suas

instalações terá possibilitado a sobre-

vivência de algumas variedades histó-

ricas, como o pêro das furnas. A colabo-

ração neste tipo de iniciativas permite

cumprir vários objectivos: contribuir

para a conservação do Priolo, disseminar

variedades tradicionais de fruteiras e

possibilitar a reconversão de terrenos.

Apenas através da colaboração

com estas entidades foi possível avançar

com uma medida bastante importante

para a conservação do Priolo; uma cola-

boração que se espera venha a dar frutos

(e flores) muito em breve…

4

5

6

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

SP

EA

/ L

IFE

Pri

olo

Priolo

Trabalho de campo

Laranjeira6

5 Pés-de-laranjeira

Page 10: Pardela 24

Caminha

Viana do Castelo

Porto

Aveiro

Figueira da Foz

Nazaré

Peniche

Lisboa

Setubal

Sines

ArrifanaPortimãoFaro

V. Real Sto. António

Cádiz

41º

40º

39º

38º

37º

36º

N

10º 9º 8º 7º 6º W

200 m

1000 m

LIFE IBAs MARINHAS

Ao longo de trinta dias, dois biólogos da equipa do Projecto

LIFE IBAs Marinhas estiveram mais de nove horas diárias

na coberta do barco, procurando incansavelmente algumas

das aves menos conhecidas da Europa.

O esforço, que irá repetir-se seis vezes ao longo dos

próximos três anos, vai ajudar-nos na identificação das

diferentes espécies de aves marinhas, das suas

densidades, distribuição e principais rotas de voo.

O trabalho diárioO nosso trabalho, como observa-

dores no âmbito do projecto IBAs

marinhas consiste na identificação e

contagem de todas as aves existentes,

quer em vôo, quer na água, num raio de

300 metros para a frente do navio e

lateralmente até um ângulo de 90º com a

proa. Para executarmos este trabalho, o

navio tem que manter uma rota cons-

tante a uma velocidade de 10 nós (10

milhas náuticas por hora).

O trabalho de observação começa

com o nascer-do-sol (assim que há luz

suficiente para a identificação) e termina

ao pôr-do-sol. Este trabalho é interrom-

pido sempre que se iniciam eventos de

pesca. A pesca, feita por arrasto para

amostrar espécies de fundo ou pelágicas,

atrai aves para o barco que não deverão

ser contabilizadas, uma vez que o que se

pretende é conhecer o comportamento

das aves na ausência de factores

exteriores de perturbação que possam

alterar os seus hábitos normais.

A observação das aves é feita a

partir de uma caixa de observação,

especialmente construída para esse

propósito, com bancos e mesas. Esta

caixa funciona como abrigo, protegendo

os observadores do vento e do frio e

servindo para colocar todo o material

necessário à metodologia utilizada (GPS,

relógio, fichas de observação, binóculos,

rádio, etc). Um dos observadores é

responsável pela identificação e conta-

gem das aves enquanto o outro regista

todos os eventos nas folhas de campo,

incluindo as posições geográficas da

embarcação, as associações entre espé-

cies e objectos (outras aves, cetáceos,

peixes, lixo no mar, barcos, etc.) e os

diferentes comportamentos das aves

(em alimentação, repouso, perseguidas,

etc.). Os Alcatrazes, com os seus voos

picados, mergulham em profundidade

para apanhar as pequenas sardinhas que

são mantidas à superfície pelos grupos

de golfinhos. As Cagarras e as diversas

Pardelas planam sobre as ondas, prepa-

rando-se para mergulhar.

Infelizmente, em situações de mar

alteroso, o posicionamento da caixa-

abrigo não proporciona uma protecção

eficaz, pelo que neste embarque foi

necessário recorrermos à ponte de

comando do navio por diversas vezes.

Por vezes passam-se várias horas sem se

ver qualquer animal; no entanto os

observadores não podem descurar a

atenção e têm de continuar perma-

nentemente de olhar fixo nas ondas.

Subitamente pode aparecer uma Ca-

garra num voo solitário ou um bando de

gaivotas. A maior parte das horas é

calma e mesmo monótona, exigindo um

grande esforço de concentração, mas a

qualquer momento podemos ser

surpreendidos com grandes bandos de

aves ou com um grupo de golfinhos

curiosos que vêm brincar na proa do

navio.

Do Porto a CádizO nosso trabalho começa a 10 de

Abril, com uma viagem a Matosinhos,

para o porto de Leixões, onde vamos

encontrar-nos com o navio de inves-

tigação “Noruega”, pertencente ao Insti-

tuto de Investigação das Pescas e do Mar

INIAP-IPIMAR. Embora em serviço des-

de 1978, o Noruega foi completamente

remodelado este ano, e apresenta um

óptimo aspecto. A tripulação do barco é

formada por marinheiros e por uma

equipa técnica composta por doze pes-

soas, em que se incluem os dois inves-

tigadores da SPEA.

O percurso que vamos realizar foi

desenhado com o objectivo de avaliar a

abundância e distribuição de sardinha

ao longo da costa portuguesa, com base

em amostragens, tanto dos seus ovos,

como dos peixes adultos. A rota inicial,

que começa em Caminha e termina em

Cádiz, foi ligeiramente adaptada no

âmbito da parceria SPEA-IPIMAR para

assim poder optimizar a procura de aves

marinhas nas áreas de maior interesse

ornitológico.

A bordo do Noruega

Os “Passarocos”Uma das vantagens da utilização

da ponte como posto de observação foi o

contacto que estabelecemos com a

tripulação do navio e a boa relação cri-

ada. Alguns dos marinheiros mostraram

interesse no nosso trabalho e vontade de

aprender mais sobre aves marinhas.

Dois deles conseguem já identificar as

aves mais comuns como o alcatraz, a

Cagarra e os moleiros e determinar a

idade das aves (juvenis ou adultos). Este

facto mereceu um destaque especial por

parte da tripulação e alguns marinheiros

ficaram com alcunhas de aves tais como

“ganso-patola” e nós, os observadores,

como “passarocos” ou “passarinhos”.

Nem tudo éobservar

Chegando ao fim do dia, depois de

uma merecida refeição e um bom banho,

entramos na parte mais cansativa do dia:

inserir todos os dados no computador.

Esta parte não é muito morosa, mas

exige alguma atenção e cuidado para

não haver erros nas bases de dados,

especialmente criadas para este efeito.

Mais tarde, todos estes dados, depois de

cuidadosamente tratados, serão usados

para construir mapas com a distribuição

e abundância das aves marinhas em toda

a costa portuguesa.

Nesta altura do projecto os resul-

tados ainda são poucos, no entanto já se

podem notar algumas áreas com maior

concentração de aves. Durante as duas

expedições realizadas foram já obser-

vadas mais de trinta espécies de aves,

alguns golfinhos e ainda curiosidades

como peixes-lua ou peixes-voadores.

No total, realizámos mais de 270

horas de observações no mar e

percorremos mais de 2400 milhas ma-

rítimas, e isto é só o princípio do pro-

jecto. No futuro, esperamos contar com

mais barcos e mais pessoas interessadas

em apoiar o nosso trabalho. Analisar as

distribuições das aves marinhas em

Portugal é um trabalho difícil, mas

contamos consigo para nos ajudar.

NotaSe estás interessado em aprender

a identificar aves marinhas, ou

queres participar connosco em

alguma actividade, podes

contactar-nos nos seguintes

endereços electrónicos:

[email protected] ou

[email protected]

Se queres saber mais sobre as

campanhas acústicas do IPIMAR

ou os estudos da sardinha, podes

contactar: [email protected] ou

[email protected]

O percurso executa-se em radiais,

ou transectos, perpendiculares à costa,

que se estendem desde a zona costeira

até ao final da plataforma continental.

Cada radial tem cerca de 25 milhas de

comprimento (Mapa 1).

A viagem foi estruturada pelo

Chefe de expedição, de forma a abranger

toda a costa continental portuguesa.

Para os objectivos da SPEA este percurso

é perfeito, especialmente porque existe a

possibilidade de prolongar o compri-

mento de algumas radiais quando

visitamos áreas especialmente impor-

tantes para as aves. A expedição é

planeada de forma a não retornar aos

portos de abrigo, sempre que as

condições de mar o permitam. De noite

complementam-se as amostragens do

dia e depois o navio fica fundeado até

retomar a actividade com as primeiras

luzes do dia. Existe apenas uma para-

gem prevista em Lisboa, após as pri-

meiras duas semanas, para mudança de

parte da equipa e tripulação.

Radiaisrealizadas

Mapa 1

1

2

Alguns marinheiros demonstraram ser grandes

especialistas na observação das aves marinhas. Iván

Ramírez (SPEA) e Sr.Tavares (marinheiro do Noruega).

1

10 11

2A equipa de observadores da SPEA durante

a primeira campanha a bordo do Noruega

Equipa IBA's Marinhas da SPEA

LIF

E I

BA

s M

ari

nh

as

/ S

PE

A

LIF

E I

BA

s M

ari

nh

as

/ S

PE

A

Page 11: Pardela 24

Caminha

Viana do Castelo

Porto

Aveiro

Figueira da Foz

Nazaré

Peniche

Lisboa

Setubal

Sines

ArrifanaPortimãoFaro

V. Real Sto. António

Cádiz

41º

40º

39º

38º

37º

36º

N

10º 9º 8º 7º 6º W

200 m

1000 m

LIFE IBAs MARINHAS

Ao longo de trinta dias, dois biólogos da equipa do Projecto

LIFE IBAs Marinhas estiveram mais de nove horas diárias

na coberta do barco, procurando incansavelmente algumas

das aves menos conhecidas da Europa.

O esforço, que irá repetir-se seis vezes ao longo dos

próximos três anos, vai ajudar-nos na identificação das

diferentes espécies de aves marinhas, das suas

densidades, distribuição e principais rotas de voo.

O trabalho diárioO nosso trabalho, como observa-

dores no âmbito do projecto IBAs

marinhas consiste na identificação e

contagem de todas as aves existentes,

quer em vôo, quer na água, num raio de

300 metros para a frente do navio e

lateralmente até um ângulo de 90º com a

proa. Para executarmos este trabalho, o

navio tem que manter uma rota cons-

tante a uma velocidade de 10 nós (10

milhas náuticas por hora).

O trabalho de observação começa

com o nascer-do-sol (assim que há luz

suficiente para a identificação) e termina

ao pôr-do-sol. Este trabalho é interrom-

pido sempre que se iniciam eventos de

pesca. A pesca, feita por arrasto para

amostrar espécies de fundo ou pelágicas,

atrai aves para o barco que não deverão

ser contabilizadas, uma vez que o que se

pretende é conhecer o comportamento

das aves na ausência de factores

exteriores de perturbação que possam

alterar os seus hábitos normais.

A observação das aves é feita a

partir de uma caixa de observação,

especialmente construída para esse

propósito, com bancos e mesas. Esta

caixa funciona como abrigo, protegendo

os observadores do vento e do frio e

servindo para colocar todo o material

necessário à metodologia utilizada (GPS,

relógio, fichas de observação, binóculos,

rádio, etc). Um dos observadores é

responsável pela identificação e conta-

gem das aves enquanto o outro regista

todos os eventos nas folhas de campo,

incluindo as posições geográficas da

embarcação, as associações entre espé-

cies e objectos (outras aves, cetáceos,

peixes, lixo no mar, barcos, etc.) e os

diferentes comportamentos das aves

(em alimentação, repouso, perseguidas,

etc.). Os Alcatrazes, com os seus voos

picados, mergulham em profundidade

para apanhar as pequenas sardinhas que

são mantidas à superfície pelos grupos

de golfinhos. As Cagarras e as diversas

Pardelas planam sobre as ondas, prepa-

rando-se para mergulhar.

Infelizmente, em situações de mar

alteroso, o posicionamento da caixa-

abrigo não proporciona uma protecção

eficaz, pelo que neste embarque foi

necessário recorrermos à ponte de

comando do navio por diversas vezes.

Por vezes passam-se várias horas sem se

ver qualquer animal; no entanto os

observadores não podem descurar a

atenção e têm de continuar perma-

nentemente de olhar fixo nas ondas.

Subitamente pode aparecer uma Ca-

garra num voo solitário ou um bando de

gaivotas. A maior parte das horas é

calma e mesmo monótona, exigindo um

grande esforço de concentração, mas a

qualquer momento podemos ser

surpreendidos com grandes bandos de

aves ou com um grupo de golfinhos

curiosos que vêm brincar na proa do

navio.

Do Porto a CádizO nosso trabalho começa a 10 de

Abril, com uma viagem a Matosinhos,

para o porto de Leixões, onde vamos

encontrar-nos com o navio de inves-

tigação “Noruega”, pertencente ao Insti-

tuto de Investigação das Pescas e do Mar

INIAP-IPIMAR. Embora em serviço des-

de 1978, o Noruega foi completamente

remodelado este ano, e apresenta um

óptimo aspecto. A tripulação do barco é

formada por marinheiros e por uma

equipa técnica composta por doze pes-

soas, em que se incluem os dois inves-

tigadores da SPEA.

O percurso que vamos realizar foi

desenhado com o objectivo de avaliar a

abundância e distribuição de sardinha

ao longo da costa portuguesa, com base

em amostragens, tanto dos seus ovos,

como dos peixes adultos. A rota inicial,

que começa em Caminha e termina em

Cádiz, foi ligeiramente adaptada no

âmbito da parceria SPEA-IPIMAR para

assim poder optimizar a procura de aves

marinhas nas áreas de maior interesse

ornitológico.

A bordo do Noruega

Os “Passarocos”Uma das vantagens da utilização

da ponte como posto de observação foi o

contacto que estabelecemos com a

tripulação do navio e a boa relação cri-

ada. Alguns dos marinheiros mostraram

interesse no nosso trabalho e vontade de

aprender mais sobre aves marinhas.

Dois deles conseguem já identificar as

aves mais comuns como o alcatraz, a

Cagarra e os moleiros e determinar a

idade das aves (juvenis ou adultos). Este

facto mereceu um destaque especial por

parte da tripulação e alguns marinheiros

ficaram com alcunhas de aves tais como

“ganso-patola” e nós, os observadores,

como “passarocos” ou “passarinhos”.

Nem tudo éobservar

Chegando ao fim do dia, depois de

uma merecida refeição e um bom banho,

entramos na parte mais cansativa do dia:

inserir todos os dados no computador.

Esta parte não é muito morosa, mas

exige alguma atenção e cuidado para

não haver erros nas bases de dados,

especialmente criadas para este efeito.

Mais tarde, todos estes dados, depois de

cuidadosamente tratados, serão usados

para construir mapas com a distribuição

e abundância das aves marinhas em toda

a costa portuguesa.

Nesta altura do projecto os resul-

tados ainda são poucos, no entanto já se

podem notar algumas áreas com maior

concentração de aves. Durante as duas

expedições realizadas foram já obser-

vadas mais de trinta espécies de aves,

alguns golfinhos e ainda curiosidades

como peixes-lua ou peixes-voadores.

No total, realizámos mais de 270

horas de observações no mar e

percorremos mais de 2400 milhas ma-

rítimas, e isto é só o princípio do pro-

jecto. No futuro, esperamos contar com

mais barcos e mais pessoas interessadas

em apoiar o nosso trabalho. Analisar as

distribuições das aves marinhas em

Portugal é um trabalho difícil, mas

contamos consigo para nos ajudar.

NotaSe estás interessado em aprender

a identificar aves marinhas, ou

queres participar connosco em

alguma actividade, podes

contactar-nos nos seguintes

endereços electrónicos:

[email protected] ou

[email protected]

Se queres saber mais sobre as

campanhas acústicas do IPIMAR

ou os estudos da sardinha, podes

contactar: [email protected] ou

[email protected]

O percurso executa-se em radiais,

ou transectos, perpendiculares à costa,

que se estendem desde a zona costeira

até ao final da plataforma continental.

Cada radial tem cerca de 25 milhas de

comprimento (Mapa 1).

A viagem foi estruturada pelo

Chefe de expedição, de forma a abranger

toda a costa continental portuguesa.

Para os objectivos da SPEA este percurso

é perfeito, especialmente porque existe a

possibilidade de prolongar o compri-

mento de algumas radiais quando

visitamos áreas especialmente impor-

tantes para as aves. A expedição é

planeada de forma a não retornar aos

portos de abrigo, sempre que as

condições de mar o permitam. De noite

complementam-se as amostragens do

dia e depois o navio fica fundeado até

retomar a actividade com as primeiras

luzes do dia. Existe apenas uma para-

gem prevista em Lisboa, após as pri-

meiras duas semanas, para mudança de

parte da equipa e tripulação.

Radiaisrealizadas

Mapa 1

1

2

Alguns marinheiros demonstraram ser grandes

especialistas na observação das aves marinhas. Iván

Ramírez (SPEA) e Sr.Tavares (marinheiro do Noruega).

1

10 11

2A equipa de observadores da SPEA durante

a primeira campanha a bordo do Noruega

Equipa IBA's Marinhas da SPEA

LIF

E I

BA

s M

ari

nh

as

/ S

PE

A

LIF

E I

BA

s M

ari

nh

as

/ S

PE

A

Page 12: Pardela 24

VilamouraJoão Pinto

12 13

IBAs

Por ano são observadas mais de

100 espécies diferentes de aves em

Vilamoura, algumas com efectivos

numerosos, em particular durante a

migração outonal e nos meses de

Inverno. Nesta época, destacam-se os

passeriformes migradores transarianos,

os patos, o Galeirão (Fulica atra) ou o

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus rufi-

collis), sendo também de realçar a

presença regular de algumas aves de

rapina como a Águia-pesqueira (Pan-

dion haliaetus), o Peneireiro-cinzento

(Elanus caeruleus), ou o Falcão-pere-

grino (Falco peregrinus).

Registos dos últimos cinco anos

demonstram a nidificação regular de al-

gumas espécies ameaçadas como a

Águia-sapeira (Circus aeruginosus), o

Garçote (Ixobrychus minutus), a Garça-

-vermelha (Ardea purpurea) ou o Camão

(Porphyrio porphyrio), sendo, para esta

última, um dos sítios mais importantes a

nível nacional. A salvaguarda destas

espécies depende da extensão e qua-

lidade do caniçal de Vilamoura que sus-

tenta muitas espécies típicas de zonas

com vegetação palustre, sendo também

um dormitório de garças, com um

efectivo numeroso de Carraceiros

(Bubulcus ibis).

Nas zonas agrícolas é comum

observar espécies como a Poupa (Upupa

epops), o Mocho-galego (Athene noctua), a

Cegonha-branca (Ciconia ciconia), o

Charneco (Cyanopica cooki), a Rola-brava

(Streptopelia turtur), ou o Verdilhão

(Carduelis chloris), entre muitas outras.

As lagoas da Estação de Tratamento e os

lagos dos campos de golfe adjacentes são

também locais de elevada concentração

de gaivotas, patos, ralídeos e mer-

gulhões.

Vilamoura é também um local

interessante para a observação pontual

de espécies com poucos registos em

Portugal como o Abetouro (Botaurus

stelaris), a Pêrra (Aythya nyroca), ou a Íbis-

-preta (Plegadis falcinellus).

Importância

Ornitológica

flora e paisagem. Particularmente im-

portantes são as zonas húmidas aqui

existentes, como os lagos e o caniçal de

Vilamoura, porventura uma das maiores Como aspectos positivos na área da

Conservação da Natureza realizados

nesta IBA destacam-se:

A criação do Parque Ambiental de

Vilamoura, que possibilitou o aumento

da vigilância e a diminuição acentuada

da caça ilegal, assim como a deposição

de terras e entulho no caniçal.

A criação de um percurso pedestre,

com a melhoria e sinalização dos

caminhos agrícolas existentes, que

permitiu criar condições para a

regulação do acesso ao sítio.

A construção de dois lagos artificiais

(num total de 5,8 hectares) teve um

impacte positivo no aumento do efectivo

local de algumas espécies aquáticas, em

que se destaca o Camão (Porphyrio

porphyrio).

O Centro de Estudos da Natureza e

do Ambiente e laborou estudos

científicos e técnicos de suporte às

medidas de gestão da zona agrícola,

tendo sido fei tas propostas de

valorização ambiental de Vilamoura.

Como aspectos negativos e de

p r e o c u p a ç ã o r e l a t i v a m e n t e à

salvaguarda dos valores naturais locais

destacam-se os seguintes:

O b r a s d e c o n s t r u ç ã o e

movimentação de terras nos limites do

caniçal sem as devidas medidas

preventivas de minimização dos

impactes.

A falta de acompanhamento e

enquadramento científico aos projectos

a serem implementados no futuro, tanto

no interior do Parque Ambiental como

nos espaços adjacentes.

Abandono de alguns campos

agrícolas e deposição de terras oriundas

das obras de construção.

Incremento de espécies vegetais

exóticas e/ou invasoras, em particular

acácias (Acacia spp.), Figueira-do-

inferno (Datura stramonium), Cana

(Arundo donax), e Casuarina (Casuarina

esquisetifolia).

áreas contínuas de caniçal do sul de

Portugal, cuja principal mancha ocupa

cerca de 29 hectares, e que atraem um

conjunto variado de espécies associadas

a zonas húmidas, em particular aves

aquáticas. Na zona agrícola de Vila-

moura, para além das aves, são regis-

tadas regularmente outras espécies

interessantes, como por exemplo o Ca-

maleão (Chamaleo chamaleon), as duas

espécies de cágados existentes em

Portugal (Emys orbicularis e Mauremys

leprosa) ou ainda a Lontra (Lutra lutra),

todos eles com registos de reprodução

neste sítio.

Como apoio à gestão do Parque

Ambiental foi criado, em 2001, o Centro

de Estudos da Natureza e do Ambiente

CENA. O espaço funciona também como

Centro Interpretativo do Parque Am-

biental. A área de 271 hectares desta IBA

inclui o Parque Ambiental e terrenos

agrícolas adjacentes.

Conservação

Descrição do SítioVilamoura é conhecida sobre-

tudo pela Marina, pelos empreendi-

mentos residenciais ou pelos campos

de golfe. No entanto, e ao lado desta

urbanização residencial e de lazer,

subsiste um ecossistema, associado ao

troço final da Ribeira de Quarteira, com

elevado valor biológico. Este sítio é

composto sobretudo por campos

agrícolas e caniçal, e inclui também uma

Estação de Tratamento de Águas Resi-

duais, lagos artificiais, campos baldios, e

ainda uma densa mancha de vegetação

ribeirinha ao longo da Ribeira, entre

outros tipos de ocupação do solo de

menor expressão.

A ocupação do espaço adjacente

é feita por empreendimentos turísticos a

Este e a Norte, nomeadamente campos

de golfe e urbanizações, pela Praia da

Rocha Baixinha a Sul, e por campos

agrícolas, urbanizações turísticas e pinhal a

Oeste.

Em 1999, e no seguimento de

reivindicações de efectiva protecção dos

valores naturais de Vilamoura, feitas por

entidades regionais e nacionais, a empresa

Lusotur, S.A. (detentora da maior parte dos

terrenos da várzea da Ribeira de Quarteira)

decidiu implementar o Parque Ambiental de

Vilamoura - PAV. Este projecto ficou inte-

grado como um dos projectos da 2ª fase de

urbanização de Vilamoura. O Parque

Ambiental tem uma superfície de cerca de

200 hectares, o que representa 12% da área

total do empreendimento de Vilamoura.

O acesso pode ser feito a partir da

Estrada de Albufeira, numa estrada que se

inicia na Estalagem da Cegonha em direc-

ção ao Parque Ambiental de Vilamoura e ao

Parque Desportivo.

A sua criação teve por objectivo prin-

cipal a protecção e revitalização dos valores

naturais deste sítio em termos da fauna,

Joã

o P

into

Joã

o P

into

Vegetação ripícola da ribeira de Quarteira1 2Garça-real

1

2

Page 13: Pardela 24

VilamouraJoão Pinto

12 13

IBAs

Por ano são observadas mais de

100 espécies diferentes de aves em

Vilamoura, algumas com efectivos

numerosos, em particular durante a

migração outonal e nos meses de

Inverno. Nesta época, destacam-se os

passeriformes migradores transarianos,

os patos, o Galeirão (Fulica atra) ou o

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus rufi-

collis), sendo também de realçar a

presença regular de algumas aves de

rapina como a Águia-pesqueira (Pan-

dion haliaetus), o Peneireiro-cinzento

(Elanus caeruleus), ou o Falcão-pere-

grino (Falco peregrinus).

Registos dos últimos cinco anos

demonstram a nidificação regular de al-

gumas espécies ameaçadas como a

Águia-sapeira (Circus aeruginosus), o

Garçote (Ixobrychus minutus), a Garça-

-vermelha (Ardea purpurea) ou o Camão

(Porphyrio porphyrio), sendo, para esta

última, um dos sítios mais importantes a

nível nacional. A salvaguarda destas

espécies depende da extensão e qua-

lidade do caniçal de Vilamoura que sus-

tenta muitas espécies típicas de zonas

com vegetação palustre, sendo também

um dormitório de garças, com um

efectivo numeroso de Carraceiros

(Bubulcus ibis).

Nas zonas agrícolas é comum

observar espécies como a Poupa (Upupa

epops), o Mocho-galego (Athene noctua), a

Cegonha-branca (Ciconia ciconia), o

Charneco (Cyanopica cooki), a Rola-brava

(Streptopelia turtur), ou o Verdilhão

(Carduelis chloris), entre muitas outras.

As lagoas da Estação de Tratamento e os

lagos dos campos de golfe adjacentes são

também locais de elevada concentração

de gaivotas, patos, ralídeos e mer-

gulhões.

Vilamoura é também um local

interessante para a observação pontual

de espécies com poucos registos em

Portugal como o Abetouro (Botaurus

stelaris), a Pêrra (Aythya nyroca), ou a Íbis-

-preta (Plegadis falcinellus).

Importância

Ornitológica

flora e paisagem. Particularmente im-

portantes são as zonas húmidas aqui

existentes, como os lagos e o caniçal de

Vilamoura, porventura uma das maiores Como aspectos positivos na área da

Conservação da Natureza realizados

nesta IBA destacam-se:

A criação do Parque Ambiental de

Vilamoura, que possibilitou o aumento

da vigilância e a diminuição acentuada

da caça ilegal, assim como a deposição

de terras e entulho no caniçal.

A criação de um percurso pedestre,

com a melhoria e sinalização dos

caminhos agrícolas existentes, que

permitiu criar condições para a

regulação do acesso ao sítio.

A construção de dois lagos artificiais

(num total de 5,8 hectares) teve um

impacte positivo no aumento do efectivo

local de algumas espécies aquáticas, em

que se destaca o Camão (Porphyrio

porphyrio).

O Centro de Estudos da Natureza e

do Ambiente e laborou estudos

científicos e técnicos de suporte às

medidas de gestão da zona agrícola,

tendo sido fei tas propostas de

valorização ambiental de Vilamoura.

Como aspectos negativos e de

p r e o c u p a ç ã o r e l a t i v a m e n t e à

salvaguarda dos valores naturais locais

destacam-se os seguintes:

O b r a s d e c o n s t r u ç ã o e

movimentação de terras nos limites do

caniçal sem as devidas medidas

preventivas de minimização dos

impactes.

A falta de acompanhamento e

enquadramento científico aos projectos

a serem implementados no futuro, tanto

no interior do Parque Ambiental como

nos espaços adjacentes.

Abandono de alguns campos

agrícolas e deposição de terras oriundas

das obras de construção.

Incremento de espécies vegetais

exóticas e/ou invasoras, em particular

acácias (Acacia spp.), Figueira-do-

inferno (Datura stramonium), Cana

(Arundo donax), e Casuarina (Casuarina

esquisetifolia).

áreas contínuas de caniçal do sul de

Portugal, cuja principal mancha ocupa

cerca de 29 hectares, e que atraem um

conjunto variado de espécies associadas

a zonas húmidas, em particular aves

aquáticas. Na zona agrícola de Vila-

moura, para além das aves, são regis-

tadas regularmente outras espécies

interessantes, como por exemplo o Ca-

maleão (Chamaleo chamaleon), as duas

espécies de cágados existentes em

Portugal (Emys orbicularis e Mauremys

leprosa) ou ainda a Lontra (Lutra lutra),

todos eles com registos de reprodução

neste sítio.

Como apoio à gestão do Parque

Ambiental foi criado, em 2001, o Centro

de Estudos da Natureza e do Ambiente

CENA. O espaço funciona também como

Centro Interpretativo do Parque Am-

biental. A área de 271 hectares desta IBA

inclui o Parque Ambiental e terrenos

agrícolas adjacentes.

Conservação

Descrição do SítioVilamoura é conhecida sobre-

tudo pela Marina, pelos empreendi-

mentos residenciais ou pelos campos

de golfe. No entanto, e ao lado desta

urbanização residencial e de lazer,

subsiste um ecossistema, associado ao

troço final da Ribeira de Quarteira, com

elevado valor biológico. Este sítio é

composto sobretudo por campos

agrícolas e caniçal, e inclui também uma

Estação de Tratamento de Águas Resi-

duais, lagos artificiais, campos baldios, e

ainda uma densa mancha de vegetação

ribeirinha ao longo da Ribeira, entre

outros tipos de ocupação do solo de

menor expressão.

A ocupação do espaço adjacente

é feita por empreendimentos turísticos a

Este e a Norte, nomeadamente campos

de golfe e urbanizações, pela Praia da

Rocha Baixinha a Sul, e por campos

agrícolas, urbanizações turísticas e pinhal a

Oeste.

Em 1999, e no seguimento de

reivindicações de efectiva protecção dos

valores naturais de Vilamoura, feitas por

entidades regionais e nacionais, a empresa

Lusotur, S.A. (detentora da maior parte dos

terrenos da várzea da Ribeira de Quarteira)

decidiu implementar o Parque Ambiental de

Vilamoura - PAV. Este projecto ficou inte-

grado como um dos projectos da 2ª fase de

urbanização de Vilamoura. O Parque

Ambiental tem uma superfície de cerca de

200 hectares, o que representa 12% da área

total do empreendimento de Vilamoura.

O acesso pode ser feito a partir da

Estrada de Albufeira, numa estrada que se

inicia na Estalagem da Cegonha em direc-

ção ao Parque Ambiental de Vilamoura e ao

Parque Desportivo.

A sua criação teve por objectivo prin-

cipal a protecção e revitalização dos valores

naturais deste sítio em termos da fauna,

Joã

o P

into

Joã

o P

into

Vegetação ripícola da ribeira de Quarteira1 2Garça-real

1

2

Page 14: Pardela 24

CYANOPICA CYANA

Possivel: 179Provável: 101Confirmado: 114Total: 394

14

ENTREVISTA

15

Mapa de distribuição da Pêga-azul

1

1 Exemplo de um mapa de distribuição.

Dados provisórios. ICN.

P: Uma pergunta recorrente nos últimos

anos, entre os ornitólogos nacionais é:

«Que se passa com o Novo Atlas...»?

R: Estamos agora a terminar a fase de

trabalho de campo e, em princípio, esta

época será a última. É a última por várias

situações; o POA [Programa Opera-

cional de Ambiente], ao qual o projecto

está associado, apesar das repro-

gramações efectuadas tem um limite

temporal, a saber, Dezembro de 2006.

P: Existe um prazo?

R: Sim. Um dos principais objectivos dos

Atlas de Aves é fornecer informação

sobre a distribuição das aves numa

determinada área. Se a recolha da

informação se arrasta demasiadamente

no tempo, esta poderá perder alguma

fiabilidade, principalmente porque

ocorrem alterações na distribuição das

espécies. Aliás, essa é uma das razões

pela qual se realizam este tipo de

estudos. Terá que haver um equilíbrio

entre este pressuposto e uma cobertura

adequada da área de estudo em função

da informação pretendida.

P: No entanto, as previsões iniciais,

quando este projecto se iniciou, em 1999,

apontavam para a publicação deste

trabalho em 2003...

R: Sim, a calendarização inicial foi

trabalhada nesse sentido, partindo do

princípio que as condições mínimas

necessárias para a execução do Novo

Atlas estariam sempre asseguradas. O

que se fez foi, delimitar, estabelecer uma

calendarização e então, em função dessa

calendarização, identificar o esforço, o

trabalho a fazer em cada um dos quatro

anos. Que acabou por não ser cumprido,

acabando por, de certa forma, ser

normal. É normal, e será fácil entender

que, estando perante um projecto

estimado para um período de realização

de quatro anos, com três parcerias

protocoladas, nomeadamente com a

SPEA, com objectivos exigentes, em

particular, em termos da aplicação de

metodologias de recolha de dados no

campo etc., estarão reunidas as condi-

ções para que a probabilidade de derra-

pagens, nomeadamente nos prazos

agendados, se eleve. Depois, existem os

condicionalismos naturais decorrentes

da aprovação dos orçamentos anuais,

por sua vez dependentes do POA e

respectivos trâmites, que asseguram a

comparticipação das verbas necessárias

ao cumprimento dos protocolos. A tudo

isto acrescem factos inesperados;

contava-se inicialmente com a partici-

pação de um número razoável de

funcionários do ICN a colaborarem

efectivamente nos trabalhos do Novo

Atlas, situação que rapidamente se

inverteu, quer por exigências funcionais

de alguns (vigilantes da natureza), quer

por saídas ou interrupção da actividade,

de outros (técnicos).

P: Mas não achas que...

R: Por outro lado, por muito bem prepa-

rado que este projecto tivesse sido, não

foi possível realizar um ano pivot, prin-

cipalmente para testagem de meto-

dologias. Isto teria possibilitado o seu

acerto e adequação em tempo útil,

evitando que só no segundo ano do pro-

jecto, se equacionassem e implemen-

tassem algumas modificações. Porque

apesar das pessoas que iniciaram este

projecto também terem feito parte do

anterior, este teve algumas particulari-

dades e inovações que o diferenciam. A

metodologia e a base de amostragem

foram diferentes. Houve coisas que com

o decorrer do tempo se viu que podiam

ser aperfeiçoadas ou modificadas, como

por exemplo, o caso dos censos das rapi-

nas nocturnas, em que a metodologia

acabou por ser ajustada já com o projecto

a decorrer. Depois, houve pessoas que

tiveram de sair, vários Organizadores

Regionais (OR), e não se arranjou quem

os substituísse... Tudo isto provoca

atrasos, inúmeros atrasos, obviamente,

alguns deles podiam ser evitados, ou

pelo menos há quem pense que são

evitáveis, mas como é habitual, só de-

pois de acontecerem se torna, por vezes,

mais clara a solução.

P: Em termos de cobertura do território

continental, o que está feito e o que falta

fazer?

R: Está cerca de 95% feito segundo a meto-

dologia sistemática. A questão nem são

tanto as quadrículas que ainda não

tiveram visitas sistemáticas, mas sim

algumas que possuem informação

deficiente ou com pouca fiabilidade; é

necessário fazer alguns «reforços», col-

matar algumas falhas, elevar a riqueza

específica de algumas quadrículas, de-

dicando mais esforço à prospecção de

espécies que deverão estar presentes nas

quadrículas mas que não foram regis-

tadas em visitas anteriores.

P: Sendo este o segundo projecto Atlas no

nosso país, uma das novidades prin-

cipais, é o facto de incluir as regiões

autónomas da Madeira e dos Açores.

Podes adiantar a situação destas duas

regiões em relação ao projecto?

R: Tal como para a SPEA, foram celebrados,

no início do projecto, protocolos de

parceria quer com o Parque Natural da

Madeira, quer com a Direcção Regional

do Ambiente dos Açores, fundamen-

talmente, devido ao facto de que pela

primeira vez em estudos deste género as

Regiões Autónomas serem incluídas.

Em termos de cobertura geral faltam

ainda visitar algumas quadrículas no

Arquipélago dos Açores, bem como

realizar um esforço suplementar de

detecção de espécies de hábitos parti-

culares, nomeadamente Galinhola, Bu-

fo-pequeno-d'orelhas e Codorniz. Re-

giste-se que a SPEA será responsável

pela resolução de parte desse trabalho

na presente época de campo. Na Ma-

deira, só nesta época serão realizados ou

concluídos censos relativos a espécies de

aves marinhas nas Ilhas Selvagens e

Desertas, o censo de Sterna hirundo e

confirmações de nidificação de várias

espécies (andorinhões, Codorniz, etc.).

Este aparente atraso prende-se com es-

pecificidades próprias das Ilhas. Como

deves saber, nas Ilhas, as condições

atmosféricas não são fáceis... O clima e a

fragmentação do terreno são um obstá-

culo, exigem mais das pessoas, até fisica-

mente. Também a menor disponibi-

lidade de observadores experimen-

tados, em ambos os Arquipélagos,

contribuiu para que só nesta época sejam

concluídos os trabalhos de recolha de

informação no campo. Apesar destas

contingências, prevê-se que os objec-

tivos inicialmente traçados para as Ilhas

sejam alcançados.

P: Tem sido fácil arranjar voluntários para

as Ilhas?

R: Tal como referi, existe uma disponi-

bilidade de meios humanos mais limi-

tada nas Ilhas. Essa falta foi, sempre que

possível, colmatada com o apoio dos

associados da SPEA, residentes nos dois

arquipélagos e com reforço pontual de

ornitólogos do continente.

P: Na tua opinião, a que se deve essa falta

de voluntários? Terá sido feita uma boa

divulgação?

R: Eu tenho uma opinião muito pessoal

acerca disto. Não tem muito a ver com a

divulgação; acho que a divulgação que

foi feita, principalmente nos primeiros

anos do projecto, incluindo acções de

Page 15: Pardela 24

CYANOPICA CYANA

Possivel: 179Provável: 101Confirmado: 114Total: 394

14

ENTREVISTA

15

Mapa de distribuição da Pêga-azul

1

1 Exemplo de um mapa de distribuição.

Dados provisórios. ICN.

P: Uma pergunta recorrente nos últimos

anos, entre os ornitólogos nacionais é:

«Que se passa com o Novo Atlas...»?

R: Estamos agora a terminar a fase de

trabalho de campo e, em princípio, esta

época será a última. É a última por várias

situações; o POA [Programa Opera-

cional de Ambiente], ao qual o projecto

está associado, apesar das repro-

gramações efectuadas tem um limite

temporal, a saber, Dezembro de 2006.

P: Existe um prazo?

R: Sim. Um dos principais objectivos dos

Atlas de Aves é fornecer informação

sobre a distribuição das aves numa

determinada área. Se a recolha da

informação se arrasta demasiadamente

no tempo, esta poderá perder alguma

fiabilidade, principalmente porque

ocorrem alterações na distribuição das

espécies. Aliás, essa é uma das razões

pela qual se realizam este tipo de

estudos. Terá que haver um equilíbrio

entre este pressuposto e uma cobertura

adequada da área de estudo em função

da informação pretendida.

P: No entanto, as previsões iniciais,

quando este projecto se iniciou, em 1999,

apontavam para a publicação deste

trabalho em 2003...

R: Sim, a calendarização inicial foi

trabalhada nesse sentido, partindo do

princípio que as condições mínimas

necessárias para a execução do Novo

Atlas estariam sempre asseguradas. O

que se fez foi, delimitar, estabelecer uma

calendarização e então, em função dessa

calendarização, identificar o esforço, o

trabalho a fazer em cada um dos quatro

anos. Que acabou por não ser cumprido,

acabando por, de certa forma, ser

normal. É normal, e será fácil entender

que, estando perante um projecto

estimado para um período de realização

de quatro anos, com três parcerias

protocoladas, nomeadamente com a

SPEA, com objectivos exigentes, em

particular, em termos da aplicação de

metodologias de recolha de dados no

campo etc., estarão reunidas as condi-

ções para que a probabilidade de derra-

pagens, nomeadamente nos prazos

agendados, se eleve. Depois, existem os

condicionalismos naturais decorrentes

da aprovação dos orçamentos anuais,

por sua vez dependentes do POA e

respectivos trâmites, que asseguram a

comparticipação das verbas necessárias

ao cumprimento dos protocolos. A tudo

isto acrescem factos inesperados;

contava-se inicialmente com a partici-

pação de um número razoável de

funcionários do ICN a colaborarem

efectivamente nos trabalhos do Novo

Atlas, situação que rapidamente se

inverteu, quer por exigências funcionais

de alguns (vigilantes da natureza), quer

por saídas ou interrupção da actividade,

de outros (técnicos).

P: Mas não achas que...

R: Por outro lado, por muito bem prepa-

rado que este projecto tivesse sido, não

foi possível realizar um ano pivot, prin-

cipalmente para testagem de meto-

dologias. Isto teria possibilitado o seu

acerto e adequação em tempo útil,

evitando que só no segundo ano do pro-

jecto, se equacionassem e implemen-

tassem algumas modificações. Porque

apesar das pessoas que iniciaram este

projecto também terem feito parte do

anterior, este teve algumas particulari-

dades e inovações que o diferenciam. A

metodologia e a base de amostragem

foram diferentes. Houve coisas que com

o decorrer do tempo se viu que podiam

ser aperfeiçoadas ou modificadas, como

por exemplo, o caso dos censos das rapi-

nas nocturnas, em que a metodologia

acabou por ser ajustada já com o projecto

a decorrer. Depois, houve pessoas que

tiveram de sair, vários Organizadores

Regionais (OR), e não se arranjou quem

os substituísse... Tudo isto provoca

atrasos, inúmeros atrasos, obviamente,

alguns deles podiam ser evitados, ou

pelo menos há quem pense que são

evitáveis, mas como é habitual, só de-

pois de acontecerem se torna, por vezes,

mais clara a solução.

P: Em termos de cobertura do território

continental, o que está feito e o que falta

fazer?

R: Está cerca de 95% feito segundo a meto-

dologia sistemática. A questão nem são

tanto as quadrículas que ainda não

tiveram visitas sistemáticas, mas sim

algumas que possuem informação

deficiente ou com pouca fiabilidade; é

necessário fazer alguns «reforços», col-

matar algumas falhas, elevar a riqueza

específica de algumas quadrículas, de-

dicando mais esforço à prospecção de

espécies que deverão estar presentes nas

quadrículas mas que não foram regis-

tadas em visitas anteriores.

P: Sendo este o segundo projecto Atlas no

nosso país, uma das novidades prin-

cipais, é o facto de incluir as regiões

autónomas da Madeira e dos Açores.

Podes adiantar a situação destas duas

regiões em relação ao projecto?

R: Tal como para a SPEA, foram celebrados,

no início do projecto, protocolos de

parceria quer com o Parque Natural da

Madeira, quer com a Direcção Regional

do Ambiente dos Açores, fundamen-

talmente, devido ao facto de que pela

primeira vez em estudos deste género as

Regiões Autónomas serem incluídas.

Em termos de cobertura geral faltam

ainda visitar algumas quadrículas no

Arquipélago dos Açores, bem como

realizar um esforço suplementar de

detecção de espécies de hábitos parti-

culares, nomeadamente Galinhola, Bu-

fo-pequeno-d'orelhas e Codorniz. Re-

giste-se que a SPEA será responsável

pela resolução de parte desse trabalho

na presente época de campo. Na Ma-

deira, só nesta época serão realizados ou

concluídos censos relativos a espécies de

aves marinhas nas Ilhas Selvagens e

Desertas, o censo de Sterna hirundo e

confirmações de nidificação de várias

espécies (andorinhões, Codorniz, etc.).

Este aparente atraso prende-se com es-

pecificidades próprias das Ilhas. Como

deves saber, nas Ilhas, as condições

atmosféricas não são fáceis... O clima e a

fragmentação do terreno são um obstá-

culo, exigem mais das pessoas, até fisica-

mente. Também a menor disponibi-

lidade de observadores experimen-

tados, em ambos os Arquipélagos,

contribuiu para que só nesta época sejam

concluídos os trabalhos de recolha de

informação no campo. Apesar destas

contingências, prevê-se que os objec-

tivos inicialmente traçados para as Ilhas

sejam alcançados.

P: Tem sido fácil arranjar voluntários para

as Ilhas?

R: Tal como referi, existe uma disponi-

bilidade de meios humanos mais limi-

tada nas Ilhas. Essa falta foi, sempre que

possível, colmatada com o apoio dos

associados da SPEA, residentes nos dois

arquipélagos e com reforço pontual de

ornitólogos do continente.

P: Na tua opinião, a que se deve essa falta

de voluntários? Terá sido feita uma boa

divulgação?

R: Eu tenho uma opinião muito pessoal

acerca disto. Não tem muito a ver com a

divulgação; acho que a divulgação que

foi feita, principalmente nos primeiros

anos do projecto, incluindo acções de

Page 16: Pardela 24

"...Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats..."

16 17

ENTREVISTA

formação, foi minimamente adequada…

Depois, acrescem às dificuldades já

identificadas questões relacionadas com o

trabalho que poderia ser realizado pelos

voluntários. Ao contrário do continente,

não foram aplicados os mesmos critérios

relativamente ao trabalho voluntário para

as Ilhas. Se no continente, aos voluntários

eram reembolsadas parte das despesas

(deslocações, alimentação e alojamento)

até determinado montante por qua-

drícula, na Madeira e nos Açores tal não

foi considerado, fundamentalmente, com

base no pressuposto de que para os resi-

dentes nas Ilhas, e justamente por esse

motivo (isto é, poderem realizar trabalho

na sua área de residência), não justificaria

o pagamento das referidas despesas. Na

prática, constatou-se que afinal esta deci-

são foi um pouco injusta, pois, mesmo que

de menor monta, os voluntários das Ilhas

tinham despesas associadas ao trabalho

que realizavam para o Novo Atlas das

Aves. Relativamente ao voluntariado em

geral e à decisão de reembolsar despesas

em particular, foi o meio que se achou

mais adequado para conseguir levar a

cabo o projecto com a participação do

maior número de colaboradores, ten-

tando por um lado, dinamizar o universo

dos ornitólogos portugueses (e não só…)

e, por outro lado, garantir que os objec-

tivos do projecto fossem alcançados.

P: Talvez tenha havido aqui uma falha; que é

mesmo essa, nos primeiros dois anos

houve divulgação, formação...

R: Era o que estava estabelecido nos

protocolos, partindo do princípio que

essas acções seriam suficientes para

assegurar o trabalho a realizar nas Ilhas,

essencialmente com recurso a ornitólogos

residentes.

P: Sim..., mas há coisas para as quais eu não

arranjo explicação, como o desapareci-

mento da Folha Informativa. No início do

projecto, estavam prometidas duas por

ano, até agora sairam quatro números, o

último dos quais em 2002. Prometia-se

ainda a apresentação de um «Relatório de

progresso»... Isto não desmotiva e desmo-

biliza as pessoas?

R: Eventualmente, mas, há aqui um, ou

melhor, vários motivos. Primeiro: o facto

das folhas informativas terem terminado

em 2002, está directamente relacionado

com a disponibilidade de informação

existente na base de dados que permitisse

a produção de mapas de distribuição, o

produto mais desejado em termos

informativos. Ora, existiram sempre

alguns problemas relacionados com a

base de dados, devido principalmente

ao volume e à qualidade de informação

em causa resultando na sua permanente

adaptação. Também a necessidade de

inserção da informação em tempo útil

(no final de cada época de campo…)

associada a uma entrega de fichas, por

vezes fora das datas previstas, impos-

sibilitou a divulgação de material

actualizado de forma atempada. Logo

não fazia muito sentido editarmos folhas

informativas sem podermos apresentar

resultados novos. Mais, organizámos

dois encontros exclusivos do Atlas onde,

saliente-se, com um esforço assinalável,

se permitiu dar a conhecer e a divulgar

um pouco mais este projecto.

P: Ainda assim parece-me pouco... A

distância entre os colaboradores alarga-

se por muito menos...

R: Isso tem tudo a ver com a informação

que tinhamos disponível para apre-

sentar. Agora talvez fizesse sentido fazer

uma Folha Informativa ou talvez se

justificasse um encontro sobre o Atlas.

Neste momento, até temos informação

para várias Folhas Informativas.

P: E então...?

R: Neste momento é imprescindível aplicar

todo o tempo e esforço na conclusão dos

trabalhos de campo e na continuação da

preparação dos trabalhos de edição. E

quando os recursos humanos são

limitados…

P: Qual é a utilidade de um trabalho deste

género?

R: Somos diariamente confrontados com a

sua utilidade; pela quantidade de

pedidos que nos chegam para dispo-

nibilização da informação recolhida,

sendo a mesma indispensável como base

para uma grande variedade de estudos

versando a gestão de habitats, orde-

namento do território, estudos de im-

pacto ambiental e conservação de

espécies. São portanto uma ferramenta

por excelência em todas estas temáticas.

Será uma boa base de apoio ao inves-

tigador, aos que apenas procuram infor-

mação mais imediata e, sobretudo, como

ferramenta de apoio, para estudos que

visam a protecção das aves nidificantes e

conservação dos seus habitats.

P: Na tua opinião, o nível de adesão de

voluntários a este projecto tem sido

bom?

R: Poderia eventualmente ser melhor. No

início sim, mas neste momento é já um

projecto com alguns anos e nota-se uma

certa saturação, e mesmo quem goste

muito de aves, prefere, talvez, observá-

-las livremente sem qualquer tipo de

restrição, sem se submeter às condi-

cionantes de uma metodologia que

limita o impulso natural de andar “à cata

do pássaro” e obriga a cumprir horários,

a registar as espécies em meias horas…

Até o próprio preenchimento das fichas

de registo, pode desmotivar um pouco

os observadores, que encaram mais estas

coisas como lazer e querem desfrutar as

espécies que vêem, só que tudo isto é

absolutamente indispensável para que

depois surja a informação certa nos

respectivos mapas.

P: O trabalho de campo tem sido feito por

voluntários ou por pessoal profissional

(contratado)?

R: Tem havido as duas situações. Consta-

támos que só com voluntários não conse-

guíamos terminar o trabalho, embora

tenhamos tido uma grande participação.

Mas os voluntários são efémeros, e isso

obrigou-nos a contratar profissionais;

por outro lado, por vezes o grau de

exigência de determinados censos faz

com que o voluntário normal não possa

fazer determinado trabalho de uma

forma eficaz.

P: Outro aspecto da metodologia que foi

muito controverso e também muito mal

compreendido, sobretudo por quem

teve de andar no campo, foi o facto de se

dividirem as tétradas em meias horas...

R: Na génese desta metodologia está a ideia

de disponibilizar mais informação,

tendo como princípio a possibilidade de

duplicar o seu volume, realizando exac-

tamente o mesmo esforço durante o

período de tempo considerado (1 hora).

Isto permitirá afinar o pormenor da

representação da abundância das

espécies muito comuns e com ampla

distribuição. Isso já foi explicado num

dos encontros do Atlas e num dos

congressos da SPEA, em que foram

mostrados exemplos de mapas com uma

meia-hora e duas meias horas, e de facto

para algumas espécies verificava-se que

havia diferenças de detalhe.

P: Já se sabe se o Atlas vai ser ilustrado

com fotografias ou com desenhos?

R: Foi estabelecido que o Atlas teria

ilustrações a cores, ilustrado por

desenhadores; grande parte deles

sairão do concurso efectuado em

2003, com a finalidade de descobrir

potenciais ilustradores para colabo-

rarem no Novo Atlas. Para além

destes, serão feitos convites a outros

desenhadores de mérito reconhe-

cido. Como solução de recurso, dado

que existe alguma contenção orça-

mental, serão incluídas ilustrações já

utilizadas para outros efeitos, desde

que se adequem àquela finalidade.

P: Quando é que o Atlas será publi-

cado?

R: De acordo com os prazos e exigências

do POA, com a calendarização dos

trabalhos de edição e assumindo que,

com a informação obtida nesta época

de campo se alcançam os critérios

mínimos de qualidade para um

estudo com estas características,

deverá estar pronto para impressão

até final de 2006.

P: Há algum assunto que não tenhamos

falado e que gostasses de falar?

R: Gostava apenas de dizer que todos os

colaboradores do Atlas, e não tenho

dúvidas sobre esse aspecto, irão ver o

seu esforço recompensado quando

confrontados com o resultado final.

Quanto a alguns percalços que

possam ter existido, posso dizer que

é normal que ocorram num projecto

com estas dimensões e abrangência.

De facto há situações, muitas vezes

externas ao projecto que interferem

directamente e que nós, executantes,

colaboradores, ornitólogos não con-

seguimos sequer entender ou pelo

menos evitar.

Page 17: Pardela 24

"...Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats..."

16 17

ENTREVISTA

formação, foi minimamente adequada…

Depois, acrescem às dificuldades já

identificadas questões relacionadas com o

trabalho que poderia ser realizado pelos

voluntários. Ao contrário do continente,

não foram aplicados os mesmos critérios

relativamente ao trabalho voluntário para

as Ilhas. Se no continente, aos voluntários

eram reembolsadas parte das despesas

(deslocações, alimentação e alojamento)

até determinado montante por qua-

drícula, na Madeira e nos Açores tal não

foi considerado, fundamentalmente, com

base no pressuposto de que para os resi-

dentes nas Ilhas, e justamente por esse

motivo (isto é, poderem realizar trabalho

na sua área de residência), não justificaria

o pagamento das referidas despesas. Na

prática, constatou-se que afinal esta deci-

são foi um pouco injusta, pois, mesmo que

de menor monta, os voluntários das Ilhas

tinham despesas associadas ao trabalho

que realizavam para o Novo Atlas das

Aves. Relativamente ao voluntariado em

geral e à decisão de reembolsar despesas

em particular, foi o meio que se achou

mais adequado para conseguir levar a

cabo o projecto com a participação do

maior número de colaboradores, ten-

tando por um lado, dinamizar o universo

dos ornitólogos portugueses (e não só…)

e, por outro lado, garantir que os objec-

tivos do projecto fossem alcançados.

P: Talvez tenha havido aqui uma falha; que é

mesmo essa, nos primeiros dois anos

houve divulgação, formação...

R: Era o que estava estabelecido nos

protocolos, partindo do princípio que

essas acções seriam suficientes para

assegurar o trabalho a realizar nas Ilhas,

essencialmente com recurso a ornitólogos

residentes.

P: Sim..., mas há coisas para as quais eu não

arranjo explicação, como o desapareci-

mento da Folha Informativa. No início do

projecto, estavam prometidas duas por

ano, até agora sairam quatro números, o

último dos quais em 2002. Prometia-se

ainda a apresentação de um «Relatório de

progresso»... Isto não desmotiva e desmo-

biliza as pessoas?

R: Eventualmente, mas, há aqui um, ou

melhor, vários motivos. Primeiro: o facto

das folhas informativas terem terminado

em 2002, está directamente relacionado

com a disponibilidade de informação

existente na base de dados que permitisse

a produção de mapas de distribuição, o

produto mais desejado em termos

informativos. Ora, existiram sempre

alguns problemas relacionados com a

base de dados, devido principalmente

ao volume e à qualidade de informação

em causa resultando na sua permanente

adaptação. Também a necessidade de

inserção da informação em tempo útil

(no final de cada época de campo…)

associada a uma entrega de fichas, por

vezes fora das datas previstas, impos-

sibilitou a divulgação de material

actualizado de forma atempada. Logo

não fazia muito sentido editarmos folhas

informativas sem podermos apresentar

resultados novos. Mais, organizámos

dois encontros exclusivos do Atlas onde,

saliente-se, com um esforço assinalável,

se permitiu dar a conhecer e a divulgar

um pouco mais este projecto.

P: Ainda assim parece-me pouco... A

distância entre os colaboradores alarga-

se por muito menos...

R: Isso tem tudo a ver com a informação

que tinhamos disponível para apre-

sentar. Agora talvez fizesse sentido fazer

uma Folha Informativa ou talvez se

justificasse um encontro sobre o Atlas.

Neste momento, até temos informação

para várias Folhas Informativas.

P: E então...?

R: Neste momento é imprescindível aplicar

todo o tempo e esforço na conclusão dos

trabalhos de campo e na continuação da

preparação dos trabalhos de edição. E

quando os recursos humanos são

limitados…

P: Qual é a utilidade de um trabalho deste

género?

R: Somos diariamente confrontados com a

sua utilidade; pela quantidade de

pedidos que nos chegam para dispo-

nibilização da informação recolhida,

sendo a mesma indispensável como base

para uma grande variedade de estudos

versando a gestão de habitats, orde-

namento do território, estudos de im-

pacto ambiental e conservação de

espécies. São portanto uma ferramenta

por excelência em todas estas temáticas.

Será uma boa base de apoio ao inves-

tigador, aos que apenas procuram infor-

mação mais imediata e, sobretudo, como

ferramenta de apoio, para estudos que

visam a protecção das aves nidificantes e

conservação dos seus habitats.

P: Na tua opinião, o nível de adesão de

voluntários a este projecto tem sido

bom?

R: Poderia eventualmente ser melhor. No

início sim, mas neste momento é já um

projecto com alguns anos e nota-se uma

certa saturação, e mesmo quem goste

muito de aves, prefere, talvez, observá-

-las livremente sem qualquer tipo de

restrição, sem se submeter às condi-

cionantes de uma metodologia que

limita o impulso natural de andar “à cata

do pássaro” e obriga a cumprir horários,

a registar as espécies em meias horas…

Até o próprio preenchimento das fichas

de registo, pode desmotivar um pouco

os observadores, que encaram mais estas

coisas como lazer e querem desfrutar as

espécies que vêem, só que tudo isto é

absolutamente indispensável para que

depois surja a informação certa nos

respectivos mapas.

P: O trabalho de campo tem sido feito por

voluntários ou por pessoal profissional

(contratado)?

R: Tem havido as duas situações. Consta-

támos que só com voluntários não conse-

guíamos terminar o trabalho, embora

tenhamos tido uma grande participação.

Mas os voluntários são efémeros, e isso

obrigou-nos a contratar profissionais;

por outro lado, por vezes o grau de

exigência de determinados censos faz

com que o voluntário normal não possa

fazer determinado trabalho de uma

forma eficaz.

P: Outro aspecto da metodologia que foi

muito controverso e também muito mal

compreendido, sobretudo por quem

teve de andar no campo, foi o facto de se

dividirem as tétradas em meias horas...

R: Na génese desta metodologia está a ideia

de disponibilizar mais informação,

tendo como princípio a possibilidade de

duplicar o seu volume, realizando exac-

tamente o mesmo esforço durante o

período de tempo considerado (1 hora).

Isto permitirá afinar o pormenor da

representação da abundância das

espécies muito comuns e com ampla

distribuição. Isso já foi explicado num

dos encontros do Atlas e num dos

congressos da SPEA, em que foram

mostrados exemplos de mapas com uma

meia-hora e duas meias horas, e de facto

para algumas espécies verificava-se que

havia diferenças de detalhe.

P: Já se sabe se o Atlas vai ser ilustrado

com fotografias ou com desenhos?

R: Foi estabelecido que o Atlas teria

ilustrações a cores, ilustrado por

desenhadores; grande parte deles

sairão do concurso efectuado em

2003, com a finalidade de descobrir

potenciais ilustradores para colabo-

rarem no Novo Atlas. Para além

destes, serão feitos convites a outros

desenhadores de mérito reconhe-

cido. Como solução de recurso, dado

que existe alguma contenção orça-

mental, serão incluídas ilustrações já

utilizadas para outros efeitos, desde

que se adequem àquela finalidade.

P: Quando é que o Atlas será publi-

cado?

R: De acordo com os prazos e exigências

do POA, com a calendarização dos

trabalhos de edição e assumindo que,

com a informação obtida nesta época

de campo se alcançam os critérios

mínimos de qualidade para um

estudo com estas características,

deverá estar pronto para impressão

até final de 2006.

P: Há algum assunto que não tenhamos

falado e que gostasses de falar?

R: Gostava apenas de dizer que todos os

colaboradores do Atlas, e não tenho

dúvidas sobre esse aspecto, irão ver o

seu esforço recompensado quando

confrontados com o resultado final.

Quanto a alguns percalços que

possam ter existido, posso dizer que

é normal que ocorram num projecto

com estas dimensões e abrangência.

De facto há situações, muitas vezes

externas ao projecto que interferem

directamente e que nós, executantes,

colaboradores, ornitólogos não con-

seguimos sequer entender ou pelo

menos evitar.

Page 18: Pardela 24

18

AVES À VOLTA DO MUNDO

19

SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia

Augusto Faustino

Au

gu

sto

Fa

ust

ino

Sulawesi é uma ilha indonésia que resultou do encon-

tro, há 3 milhões de anos, de duas outras ilhas provenientes da

Ásia e da Oceânia, juntando, num local único, animais e plan-

tas muito diferentes. Entre os animais destacam-se o Macaco-

-preto, o Tarsier-espectral, o Urso-cuscus, a Anoa e, claro está,

uma série de fantásticas aves. É também estimulante saber

que das cerca 330 espécies de aves que aí ocorrem, 67 são

endémicas, o que garante ao amante de aves uma boa oportu-

nidade de ver espécies novas e espectaculares.

Em termos logísticos uma visita a Sulawesi deverá con-

centrar-se na zona norte e centro da ilha pois permite ver a

grande maioria das aves endémicas, deixando para trás

apenas um Papa-moscas e um Olho-branco. Neste itinerário

são fundamentais 3 parques naturais: Tangkoko e Domoga-

-Bone no norte e Lore Lindu no centro.

A cidade de Manado é a porta do norte e, estando

ligada por via aérea directa com Singapura, é o local de chega-

da mais conveniente a Sulawesi. Como também dá acesso à

ilha Sangihe e ao arquipélago Talaud e à ilha de Halmahera

nas Molucas pode ser a primeira etapa de uma longa viagem

de sonho por estas ilhas encantadas. É ainda um local exce-

lente para fazer um pequeno intervalo e descansar das madru-

gadas e dos dias duros e cansativos na floresta, pois a menos

de 30 minutos de barco fica a ilha Bunaken com uma praia

única e um dos melhores recifes de corais do mundo.

TangkokoSituado a 3 horas de Manado, de

autocarro, este pequeno parque de

floresta marítima, de montanha e

mangais é excelente para observar

Guarda-rios, com nove espécies pre-

sentes, entre eles o Actenoides monachus, o

Cittura cyanotis e o Actenoides princeps,

habitantes da floresta e particularmente

difíceis de observar. O Coracias temmin-

ckii, o Penelopides axarhatus, o Rhyticeros

cassidix, o Mulleripicus fulvus, o Dendro-

copos temminckii, o Scissirostrum dubium,

o Streptocitta albicollis, a Phaenicophaeus

calyorhynchus e os Dicaeum nehrkorni,

Dicaeum aureolimbatum e Dicaeum celebi-

cum são algumas das especialidades

deste lugar. Uma viagem de barco

(negociado com os pescadores da

pequena aldeia à entrada do parque) até

ao mangal permite observar o Fregata

minor e o Fregata ariel bem como o Hal-

cyon melanorhyncha, o Ducula bicolor e

outras aves de habitat costeiro. Na

floresta é ainda possível observar o

Macaco-preto e o Tarsier-espectral, um

dos mamíferos mais pequenos do

mundo (foto 1). O melhor local para

dormir é no pequeno hotel da Mama

Rosa, localizado na aldeia à entrada do

parque, que apesar de muito básico é

acolhedor.

Dumoga-BoneEste é um parque extenso, de

floresta de planície, com mais de 30

endémicas presentes, onde está situado

um dos locais de nidificação do fan-

tástico Macrocephalon maleo. Esta ave é

famosa pelos seus ninhos coloniais,

escavados em terrenos com actividade

vulcânica, que fornecem a energia, ne-

cessária ao desenvolvimento do embrião

até à eclosão. É talvez a endémica mais

famosa da Sulawesi e num estado

desfavorável de conservação devido às

pilhagens dos ninhos pelas populações.

Próximo da aldeia de Toraut existe um

ninho activo com visitas diárias de várias

aves que se fazem anunciar com um

canto inesquecível. É também possível

observar as aves recém-nascidas, pois

existe um programa de protecção de

modo a minorar a predação humana dos

ovos (foto 2). O parque é acessível de

automóvel (5 h de Manado via Kotamo-

bagu) e é possível dormir e comer na

recepção. As espécies presentes são

abundantes, como por exemplo a Galli-

columba tristigmata e a Chalcophaps

stephani, o Ducula radiata e Ducula for-

steni, os Psitacideos: Prioniturus flavicans

e Prioniturus platurus, Loriculus exilis e

Loriculus stigmatus, enquanto que o Zoo-

thera erythronota e o Trichastoma celebense

mereçam de especial referência. As rapi-

nas estão bem representadas com o

Accipiter trinotatus, o Accipiter rhodogas-

ter e o Accipiter nanus e o Spilornis rufi-

pectus, mas é uma zona ainda com mui-

tas surpresas, como de resto comprova a

descoberta recente, muito próximo da

recepção, de um novo papa-moscas.

Lore LinduA logística deste parque na parte

central da ilha é já mais complicada e

viajar de avião até Palu é recomendável,

bem como alugar um jipe com guia para

a estadia, pois a topografia da zona, as

distâncias e recentes problemas sociais, a

tal aconselham (existem vários guias em

Palu habituados às necessidades dos

observadores de aves). A regra é infor-

mar-se antes de partir. No entanto vale o

esforço, pois o parque alberga quase

todas as espécies endémicas de monta-

nha de Sulawesi como a Geomalia heinri-

chi, o Meropogon forsteni, o Heinrichia

calligyna, e a lista de espécies continua…

O melhor local para ficar é em

Napu, e se as opções de dormida são

espartanas, a comida é fantástica. Os

locais mais importantes são a serração

abandonada em Anaso a 2000 m (espe-

cialidades de montanha), estrada

florestal até ao lago Tambling (foto3) e na

pequena floresta próximo da aldeia. Em

Anaso é possível ver o Malia grata com

alguma facilidade, a Geomalia heinrichi, a

Malia grata, ambos os calaus, o Serinus

estherae, o Myzomela sanguinolenta,

enquanto que na floresta do lago estão

presentes o Cryptophaps poecilorrhoa, a

Ptilinopus fischeri, a Ptilinopus subgularis e

a Ptilinopus melanospila, o Myza sara-

sinorum e o Myza celebensis, o Dicrurus

montanus e o Cyornis hoevelli entre outros.

Na proximidade da aldeia são comuns

ambos os calaus e os pica-paus, o Cora-

cina morio e o Coracina temminckii, o Cyor-

nis rufigastra, enquanto que nos campos

de arroz é possível observar a Anas

gibberifrons, o Falco moluccensis, a Cisti-

cola exilis e bandos gigantescos de

Aplonis panayensis e de Lonchura molucca.

O tempo de estadia recomendado

neste local é de 5 dias, no mínimo, pois os

habitats são dispersos e a observação na

floresta pode por vezes ser muito lenta,

isto sem contar com o temporal ocasional

ou o nevoeiro na montanha.

Bibliografia:

Where to watch birds in Asia.

Wheatley N. Christopher Helm, 1996

A guide to the birds of Wallacea.

Coates BJ, Bishop KD e Gardner D B.,

Dove Publications, 1997.

Existe uma cassete publicada pelo

autor com cantos de algumas aves de

Sulawesi: Bird recordings from the

Moluccas, Lesser Sundas, Sulawesi,

Java, Bali & Sumatra Smith, SW.

Australia

Indonésia

Filipinas

Sulawesi

Existem outros locais para ver

aves em Sulawesi mas se o tempo

permitir, uma visita à ilha de Sangihe

(a terra do cravinho) poderá ser me-

morável, pois a possibilidade de

observar mais uma série de aves des-

lumbrantes (a Pitta sordida e a Pitta ery-

throgaster, o Loriculus catamene e o raro

Eutrichomyias rowleyi) é tentadora. A

viagem pode-se fazer por barco (oito

horas) ou de avião, a partir de Manado,

e as deslocações na ilha são fáceis (táxi)

e pouco dispendiosas.

Uma viagem a esta parte do

mundo é uma experiência ines-

quecível para o amante de aves e da

natureza em geral e as paisagens des-

lumbrantes, o mar e as florestas rapi-

damente fazem esquecer o cansaço das

madrugadas e das longas caminhadas.

1

2

3

Au

gu

sto

Fa

ust

ino

Page 19: Pardela 24

18

AVES À VOLTA DO MUNDO

19

SulawesiEntre a Ásia e a Oceânia

Augusto Faustino

Au

gu

sto

Fa

ust

ino

Sulawesi é uma ilha indonésia que resultou do encon-

tro, há 3 milhões de anos, de duas outras ilhas provenientes da

Ásia e da Oceânia, juntando, num local único, animais e plan-

tas muito diferentes. Entre os animais destacam-se o Macaco-

-preto, o Tarsier-espectral, o Urso-cuscus, a Anoa e, claro está,

uma série de fantásticas aves. É também estimulante saber

que das cerca 330 espécies de aves que aí ocorrem, 67 são

endémicas, o que garante ao amante de aves uma boa oportu-

nidade de ver espécies novas e espectaculares.

Em termos logísticos uma visita a Sulawesi deverá con-

centrar-se na zona norte e centro da ilha pois permite ver a

grande maioria das aves endémicas, deixando para trás

apenas um Papa-moscas e um Olho-branco. Neste itinerário

são fundamentais 3 parques naturais: Tangkoko e Domoga-

-Bone no norte e Lore Lindu no centro.

A cidade de Manado é a porta do norte e, estando

ligada por via aérea directa com Singapura, é o local de chega-

da mais conveniente a Sulawesi. Como também dá acesso à

ilha Sangihe e ao arquipélago Talaud e à ilha de Halmahera

nas Molucas pode ser a primeira etapa de uma longa viagem

de sonho por estas ilhas encantadas. É ainda um local exce-

lente para fazer um pequeno intervalo e descansar das madru-

gadas e dos dias duros e cansativos na floresta, pois a menos

de 30 minutos de barco fica a ilha Bunaken com uma praia

única e um dos melhores recifes de corais do mundo.

TangkokoSituado a 3 horas de Manado, de

autocarro, este pequeno parque de

floresta marítima, de montanha e

mangais é excelente para observar

Guarda-rios, com nove espécies pre-

sentes, entre eles o Actenoides monachus, o

Cittura cyanotis e o Actenoides princeps,

habitantes da floresta e particularmente

difíceis de observar. O Coracias temmin-

ckii, o Penelopides axarhatus, o Rhyticeros

cassidix, o Mulleripicus fulvus, o Dendro-

copos temminckii, o Scissirostrum dubium,

o Streptocitta albicollis, a Phaenicophaeus

calyorhynchus e os Dicaeum nehrkorni,

Dicaeum aureolimbatum e Dicaeum celebi-

cum são algumas das especialidades

deste lugar. Uma viagem de barco

(negociado com os pescadores da

pequena aldeia à entrada do parque) até

ao mangal permite observar o Fregata

minor e o Fregata ariel bem como o Hal-

cyon melanorhyncha, o Ducula bicolor e

outras aves de habitat costeiro. Na

floresta é ainda possível observar o

Macaco-preto e o Tarsier-espectral, um

dos mamíferos mais pequenos do

mundo (foto 1). O melhor local para

dormir é no pequeno hotel da Mama

Rosa, localizado na aldeia à entrada do

parque, que apesar de muito básico é

acolhedor.

Dumoga-BoneEste é um parque extenso, de

floresta de planície, com mais de 30

endémicas presentes, onde está situado

um dos locais de nidificação do fan-

tástico Macrocephalon maleo. Esta ave é

famosa pelos seus ninhos coloniais,

escavados em terrenos com actividade

vulcânica, que fornecem a energia, ne-

cessária ao desenvolvimento do embrião

até à eclosão. É talvez a endémica mais

famosa da Sulawesi e num estado

desfavorável de conservação devido às

pilhagens dos ninhos pelas populações.

Próximo da aldeia de Toraut existe um

ninho activo com visitas diárias de várias

aves que se fazem anunciar com um

canto inesquecível. É também possível

observar as aves recém-nascidas, pois

existe um programa de protecção de

modo a minorar a predação humana dos

ovos (foto 2). O parque é acessível de

automóvel (5 h de Manado via Kotamo-

bagu) e é possível dormir e comer na

recepção. As espécies presentes são

abundantes, como por exemplo a Galli-

columba tristigmata e a Chalcophaps

stephani, o Ducula radiata e Ducula for-

steni, os Psitacideos: Prioniturus flavicans

e Prioniturus platurus, Loriculus exilis e

Loriculus stigmatus, enquanto que o Zoo-

thera erythronota e o Trichastoma celebense

mereçam de especial referência. As rapi-

nas estão bem representadas com o

Accipiter trinotatus, o Accipiter rhodogas-

ter e o Accipiter nanus e o Spilornis rufi-

pectus, mas é uma zona ainda com mui-

tas surpresas, como de resto comprova a

descoberta recente, muito próximo da

recepção, de um novo papa-moscas.

Lore LinduA logística deste parque na parte

central da ilha é já mais complicada e

viajar de avião até Palu é recomendável,

bem como alugar um jipe com guia para

a estadia, pois a topografia da zona, as

distâncias e recentes problemas sociais, a

tal aconselham (existem vários guias em

Palu habituados às necessidades dos

observadores de aves). A regra é infor-

mar-se antes de partir. No entanto vale o

esforço, pois o parque alberga quase

todas as espécies endémicas de monta-

nha de Sulawesi como a Geomalia heinri-

chi, o Meropogon forsteni, o Heinrichia

calligyna, e a lista de espécies continua…

O melhor local para ficar é em

Napu, e se as opções de dormida são

espartanas, a comida é fantástica. Os

locais mais importantes são a serração

abandonada em Anaso a 2000 m (espe-

cialidades de montanha), estrada

florestal até ao lago Tambling (foto3) e na

pequena floresta próximo da aldeia. Em

Anaso é possível ver o Malia grata com

alguma facilidade, a Geomalia heinrichi, a

Malia grata, ambos os calaus, o Serinus

estherae, o Myzomela sanguinolenta,

enquanto que na floresta do lago estão

presentes o Cryptophaps poecilorrhoa, a

Ptilinopus fischeri, a Ptilinopus subgularis e

a Ptilinopus melanospila, o Myza sara-

sinorum e o Myza celebensis, o Dicrurus

montanus e o Cyornis hoevelli entre outros.

Na proximidade da aldeia são comuns

ambos os calaus e os pica-paus, o Cora-

cina morio e o Coracina temminckii, o Cyor-

nis rufigastra, enquanto que nos campos

de arroz é possível observar a Anas

gibberifrons, o Falco moluccensis, a Cisti-

cola exilis e bandos gigantescos de

Aplonis panayensis e de Lonchura molucca.

O tempo de estadia recomendado

neste local é de 5 dias, no mínimo, pois os

habitats são dispersos e a observação na

floresta pode por vezes ser muito lenta,

isto sem contar com o temporal ocasional

ou o nevoeiro na montanha.

Bibliografia:

Where to watch birds in Asia.

Wheatley N. Christopher Helm, 1996

A guide to the birds of Wallacea.

Coates BJ, Bishop KD e Gardner D B.,

Dove Publications, 1997.

Existe uma cassete publicada pelo

autor com cantos de algumas aves de

Sulawesi: Bird recordings from the

Moluccas, Lesser Sundas, Sulawesi,

Java, Bali & Sumatra Smith, SW.

Australia

Indonésia

Filipinas

Sulawesi

Existem outros locais para ver

aves em Sulawesi mas se o tempo

permitir, uma visita à ilha de Sangihe

(a terra do cravinho) poderá ser me-

morável, pois a possibilidade de

observar mais uma série de aves des-

lumbrantes (a Pitta sordida e a Pitta ery-

throgaster, o Loriculus catamene e o raro

Eutrichomyias rowleyi) é tentadora. A

viagem pode-se fazer por barco (oito

horas) ou de avião, a partir de Manado,

e as deslocações na ilha são fáceis (táxi)

e pouco dispendiosas.

Uma viagem a esta parte do

mundo é uma experiência ines-

quecível para o amante de aves e da

natureza em geral e as paisagens des-

lumbrantes, o mar e as florestas rapi-

damente fazem esquecer o cansaço das

madrugadas e das longas caminhadas.

1

2

3

Au

gu

sto

Fa

ust

ino

Page 20: Pardela 24

ROTEIRO ORNITOLÓGICO

Pico de S.MamedeAs zonas mais altas da Serra são

dominadas por extensos pinhais de

Pinheiro-bravo e albergam uma diversi-

dade avifaunística menos variada do

que outras zonas do Parque. No entanto,

algumas espécies são mais fáceis de

encontrar neste tipo de habitat é o caso

do Chapim-carvoeiro, do Chapim-de-

-poupa, e do Pica-pau-verde, todos eles

relativamente frequentes nas zonas de

maior altitude. O pico de S. Mamede é o

único local a sul do Rio Tejo com uma

altitude superior a mil metros e, para

além da sua vista magnífica, é um dos

poucos locais do Alentejo onde, em In-

vernos frios, a neve marca presença.

A sul de Castelo de Vide ergue-se

uma crista cujo topo se situa a 700 m de

altitude e domina a paisagem circun-

dante. O miradouro aí existente, a

Senhora da Penha, merece certamente

uma espreitadela. Nas matas envol-

ventes, compostas por pinheiros e al-

guns castanheiros, é possível encontrar o

Pisco-de-peito-ruivo (que aqui ocorre

durante todo o ano), o Chapim-de-pou-

pa, a Estrelinha-de-cabeça-listada e o

Pica-pau-verde. Um pouco mais a sul

situa-se a aldeia de Carreiras. Aqui a

paisagem é dominada por montados de

sobro densos onde ocorrem, entre outras

espécies, o Rabirruivo-de-testa-branca, a

Felosa de Bonelli e a Escrevedeira-de-

-garganta-preta.

Esta pedreira fica situada a

escassos 5 km de Castelo de Vide, junto à

estrada que segue para Póvoa e Meadas.

Aqui ocorrem a Gralha-de-nuca-cinzen-

ta, o Corvo e a Andorinha-dáurica. Há

alguns anos esta zona era também fre-

quentada por Rolieiros e Peneireiros-

-das-torres, contudo estas espécies pode-

rão já não ocorrer na área.

Senhora da Penhae Carreiras

Pedreira de Coureleiros

A visita a esta pitoresca vila faz

parte de qualquer expedição à região de

S. Mamede. O castelo oferece uma vista

panorâmica deslumbrante sobre a região

circundante e também a oportunidade

de observar algumas aves interessantes,

nomeadamente o Melro-azul, a Ando-

rinha-das-rochas e a Alvéola-cinzenta,

que nidificam no burgo medieval. O

castelo constitui igualmente um ponto

de observação para aves de rapina, como

a guia-calçada ou a guia-cobreira,

que por vezes o sobrevoam.

Á Á

Castelo de Vide

Este é mais um ponto de paragem

obrigatório. A vista é soberba, tanto

sobre a planície alentejana como sobre a

Estremadura espanhola. Quando a

visibilidade é boa, vê-se ao longe a Serra

da Estrela. O castelo e os rochedos que o

envolvem servem de refúgio ao Melro-

-azul e à Cia durante todo o ano. O

Chasco-preto, que ainda aqui ocorria na

Marvão

década de 1990, não tem sido observado

regularmente nos últimos anos, pelo que

poderá já não nidificar no local. No In-

verno é também possível encontrar aqui

a Ferreirinha-alpina, que se alimenta nas

ervas junto à base exterior da muralha ou

mesmo no interior do castelo. Já aqui fo-

ram observadas espécies mais raras, co-

mo o Melro-das-rochas, o Melro-de-pei-

to-branco ou a Trepadeira-dos-muros.

É a principal zona húmida da

região e fica situada a cerca de 10 km de

Castelo de Vide, para noroeste. Saindo

de Castelo de Vide pela N246, passa-se o

posto de combustível e toma-se a se-

gunda estrada municipal para a direita.

Esta estrada serpenteia ao longo da mar-

gem ocidental da albufeira, oferecendo

diversos pontos de observação sobre as

águas. Os Mergulhões-de-crista podem

ser observados na albufeira durante todo

o ano e, na Primavera, é frequente

encontrar Milhafres-pretos, que são

Barragem da Póvoa

vistos a voar sobre a água ou sobre a

zona envolvente. As zonas de giestas

junto à estrada são um bom local para

tentar encontrar a Toutinegra-carras-

queira, enquanto os terrenos incultos e

pedregosos são o habitat ideal para pro-

curar a Cotovia-montesina. Continuan-

do pela referida estrada, chega-se,

finalmente, ao paredão da barragem.

Vale a pena atravessá-lo e parar do outro

lado, a fim de inspeccionar os ninhos de

Cegonha-branca, que servem de suporte

a algumas colónias de Pardal-espanhol.

Gonçalo Elias

20 Azinhal disperso2

Zona da Beirã1

21

2

1

Serra de

S.Mamede

Serra de S.Mamede

Situada em pleno Alto Alentejo,

perto de Portalegre, a Serra de S.

Mamede estende-se pelos concelhos de

Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e

Arronches. Apesar de aqui existir uma

área protegida (o Parque Natural da

Serra de S. Mamede), esta não é parti-

cularmente conhecida pelas suas aves,

pelo menos quando comparada com

outras áreas, de reconhecida impor-

tância internacional no que à conser-

vação da avifauna diz respeito.

Não obstante, a região de S.

Mamede contém uma das maiores

diversidades avifaunísticas a nível

nacional. Esta riqueza foi evidenciada,

pela primeira vez, no “Atlas das Aves que

nidificam em Portugal Continental”,

publicado em 1989 pelo extinto Serviço

Nacional de Parques, Reservas e Conser-

vação da Natureza, em que esta região

surge representada com uma diversi-

dade de espécies só comparável à de

zonas como o estuário do Tejo ou a Ria

Formosa.

A zona de S. Mamede afigura-se,

assim, como um destino a considerar por

todos aqueles que queiram ter contacto

com algumas espécies de aves diferentes

daquelas que encontram nas zonas onde

habitualmente efectuam as suas obser-

vações.

Para além da sua riqueza avifau-

nística, esta zona apresenta ainda o

atractivo de fazer parte de uma das

regiões de turismo mais interessantes de

Portugal, a Região de Turismo de S. Ma-

mede. Aqui é possível encontrar um

património arquitectónico e arqueo-

lógico notável, desde as inúmeras antas e

menires (incluindo o Menir da Meada

que, com os seus seis metros e meio, é o

maior da Península Ibérica) até à cidade

romana de Ammaia e a vários edifícios

com interesse histórico. Além disso, as

paisagens são deslumbrantes e até a

vegetação que aqui encontramos, for-

mada em grande parte por matas de

carvalho-negral com giesta e por casta-

nheiros, não encontra paralelo no resto

do Alentejo.

Para o ornitólogo que se desloque

até S. Mamede, as potencialidades são

enormes. Aqui nidificam mais de 120

espécies de aves e muitas outras ocor-

rem durante a migração ou no Inverno.

As características da serra, com o seu

pico acima dos mil metros (o ponto mais

elevado a sul do Tejo), cria condições fa-

voráveis à ocorrência de espécies com

uma distribuição mais setentrional, co-

mo o Chapim-carvoeiro ou o Pisco-de-

-peito-ruivo, enquanto a proximidade

da Estremadura espanhola e do Tejo

Internacional favorece a ocorrência de

aves de presa de grande porte.

As zonas mais interessantes para

observar aves encontram-se espalhadas

por uma vasta área. Assim, é recomen-

dável planear uma visita de dois ou

mais dias, de forma a poder visitar os

melhores locais, como também para

poder desfrutar plenamente da paisa-

gem e do património cultural aqui

existente.

Seguidamente apresentam-se al-

gumas sugestões de locais e percursos

para a observação de aves nesta região.

He

lde

r C

ost

a

He

lde

r C

ost

a

Page 21: Pardela 24

ROTEIRO ORNITOLÓGICO

Pico de S.MamedeAs zonas mais altas da Serra são

dominadas por extensos pinhais de

Pinheiro-bravo e albergam uma diversi-

dade avifaunística menos variada do

que outras zonas do Parque. No entanto,

algumas espécies são mais fáceis de

encontrar neste tipo de habitat é o caso

do Chapim-carvoeiro, do Chapim-de-

-poupa, e do Pica-pau-verde, todos eles

relativamente frequentes nas zonas de

maior altitude. O pico de S. Mamede é o

único local a sul do Rio Tejo com uma

altitude superior a mil metros e, para

além da sua vista magnífica, é um dos

poucos locais do Alentejo onde, em In-

vernos frios, a neve marca presença.

A sul de Castelo de Vide ergue-se

uma crista cujo topo se situa a 700 m de

altitude e domina a paisagem circun-

dante. O miradouro aí existente, a

Senhora da Penha, merece certamente

uma espreitadela. Nas matas envol-

ventes, compostas por pinheiros e al-

guns castanheiros, é possível encontrar o

Pisco-de-peito-ruivo (que aqui ocorre

durante todo o ano), o Chapim-de-pou-

pa, a Estrelinha-de-cabeça-listada e o

Pica-pau-verde. Um pouco mais a sul

situa-se a aldeia de Carreiras. Aqui a

paisagem é dominada por montados de

sobro densos onde ocorrem, entre outras

espécies, o Rabirruivo-de-testa-branca, a

Felosa de Bonelli e a Escrevedeira-de-

-garganta-preta.

Esta pedreira fica situada a

escassos 5 km de Castelo de Vide, junto à

estrada que segue para Póvoa e Meadas.

Aqui ocorrem a Gralha-de-nuca-cinzen-

ta, o Corvo e a Andorinha-dáurica. Há

alguns anos esta zona era também fre-

quentada por Rolieiros e Peneireiros-

-das-torres, contudo estas espécies pode-

rão já não ocorrer na área.

Senhora da Penhae Carreiras

Pedreira de Coureleiros

A visita a esta pitoresca vila faz

parte de qualquer expedição à região de

S. Mamede. O castelo oferece uma vista

panorâmica deslumbrante sobre a região

circundante e também a oportunidade

de observar algumas aves interessantes,

nomeadamente o Melro-azul, a Ando-

rinha-das-rochas e a Alvéola-cinzenta,

que nidificam no burgo medieval. O

castelo constitui igualmente um ponto

de observação para aves de rapina, como

a guia-calçada ou a guia-cobreira,

que por vezes o sobrevoam.

Á Á

Castelo de Vide

Este é mais um ponto de paragem

obrigatório. A vista é soberba, tanto

sobre a planície alentejana como sobre a

Estremadura espanhola. Quando a

visibilidade é boa, vê-se ao longe a Serra

da Estrela. O castelo e os rochedos que o

envolvem servem de refúgio ao Melro-

-azul e à Cia durante todo o ano. O

Chasco-preto, que ainda aqui ocorria na

Marvão

década de 1990, não tem sido observado

regularmente nos últimos anos, pelo que

poderá já não nidificar no local. No In-

verno é também possível encontrar aqui

a Ferreirinha-alpina, que se alimenta nas

ervas junto à base exterior da muralha ou

mesmo no interior do castelo. Já aqui fo-

ram observadas espécies mais raras, co-

mo o Melro-das-rochas, o Melro-de-pei-

to-branco ou a Trepadeira-dos-muros.

É a principal zona húmida da

região e fica situada a cerca de 10 km de

Castelo de Vide, para noroeste. Saindo

de Castelo de Vide pela N246, passa-se o

posto de combustível e toma-se a se-

gunda estrada municipal para a direita.

Esta estrada serpenteia ao longo da mar-

gem ocidental da albufeira, oferecendo

diversos pontos de observação sobre as

águas. Os Mergulhões-de-crista podem

ser observados na albufeira durante todo

o ano e, na Primavera, é frequente

encontrar Milhafres-pretos, que são

Barragem da Póvoa

vistos a voar sobre a água ou sobre a

zona envolvente. As zonas de giestas

junto à estrada são um bom local para

tentar encontrar a Toutinegra-carras-

queira, enquanto os terrenos incultos e

pedregosos são o habitat ideal para pro-

curar a Cotovia-montesina. Continuan-

do pela referida estrada, chega-se,

finalmente, ao paredão da barragem.

Vale a pena atravessá-lo e parar do outro

lado, a fim de inspeccionar os ninhos de

Cegonha-branca, que servem de suporte

a algumas colónias de Pardal-espanhol.

Gonçalo Elias

20 Azinhal disperso2

Zona da Beirã1

21

2

1

Serra de

S.Mamede

Serra de S.Mamede

Situada em pleno Alto Alentejo,

perto de Portalegre, a Serra de S.

Mamede estende-se pelos concelhos de

Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e

Arronches. Apesar de aqui existir uma

área protegida (o Parque Natural da

Serra de S. Mamede), esta não é parti-

cularmente conhecida pelas suas aves,

pelo menos quando comparada com

outras áreas, de reconhecida impor-

tância internacional no que à conser-

vação da avifauna diz respeito.

Não obstante, a região de S.

Mamede contém uma das maiores

diversidades avifaunísticas a nível

nacional. Esta riqueza foi evidenciada,

pela primeira vez, no “Atlas das Aves que

nidificam em Portugal Continental”,

publicado em 1989 pelo extinto Serviço

Nacional de Parques, Reservas e Conser-

vação da Natureza, em que esta região

surge representada com uma diversi-

dade de espécies só comparável à de

zonas como o estuário do Tejo ou a Ria

Formosa.

A zona de S. Mamede afigura-se,

assim, como um destino a considerar por

todos aqueles que queiram ter contacto

com algumas espécies de aves diferentes

daquelas que encontram nas zonas onde

habitualmente efectuam as suas obser-

vações.

Para além da sua riqueza avifau-

nística, esta zona apresenta ainda o

atractivo de fazer parte de uma das

regiões de turismo mais interessantes de

Portugal, a Região de Turismo de S. Ma-

mede. Aqui é possível encontrar um

património arquitectónico e arqueo-

lógico notável, desde as inúmeras antas e

menires (incluindo o Menir da Meada

que, com os seus seis metros e meio, é o

maior da Península Ibérica) até à cidade

romana de Ammaia e a vários edifícios

com interesse histórico. Além disso, as

paisagens são deslumbrantes e até a

vegetação que aqui encontramos, for-

mada em grande parte por matas de

carvalho-negral com giesta e por casta-

nheiros, não encontra paralelo no resto

do Alentejo.

Para o ornitólogo que se desloque

até S. Mamede, as potencialidades são

enormes. Aqui nidificam mais de 120

espécies de aves e muitas outras ocor-

rem durante a migração ou no Inverno.

As características da serra, com o seu

pico acima dos mil metros (o ponto mais

elevado a sul do Tejo), cria condições fa-

voráveis à ocorrência de espécies com

uma distribuição mais setentrional, co-

mo o Chapim-carvoeiro ou o Pisco-de-

-peito-ruivo, enquanto a proximidade

da Estremadura espanhola e do Tejo

Internacional favorece a ocorrência de

aves de presa de grande porte.

As zonas mais interessantes para

observar aves encontram-se espalhadas

por uma vasta área. Assim, é recomen-

dável planear uma visita de dois ou

mais dias, de forma a poder visitar os

melhores locais, como também para

poder desfrutar plenamente da paisa-

gem e do património cultural aqui

existente.

Seguidamente apresentam-se al-

gumas sugestões de locais e percursos

para a observação de aves nesta região.

He

lde

r C

ost

a

He

lde

r C

ost

a

Page 22: Pardela 24

22 23

ORNITOLOGIA

Filipe Canário, Susana Matos e M. Soler 2004.

Constrangimentos ambientais e cria

cooperativa na Pega-azul.

Condor 106 (3): 608-617.

Teresa Catry, Jaime A. Ramos, Inês Catry, Manuel Allen-Revez e Nuno Grade 2004.

Serão as salinas áreas adequadas como

habitat alternativo de nidificação para a

Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons?

Ibis 146 (2): 247-257.

Este estudo faz uma análise da

tendência populacional da Andorinha-

-do-mar-anã nidificante em habitats

naturais (praias) e habitats alternativos

ou artificiais (salinas) em Portugal, bem

como a comparação de parâmetros

reprodutores em colónias nos dois tipos

de habitat. Ao contrário do que acon-

teceu até aos anos 90, actualmente mais

de 50% da população de Andorinha-do-

-mar-anã nidifica em salinas. A destrui-

ção do habitat e o aumento da pertur-

bação humana são os factores que expli-

cam o progressivo abandono das praias.

As avesem Portugal

Gonçalo Elias 2004.

Aspectos da distribuição da Felosa-

-ibérica Phylloscopus ibericus em

Espanha e Portugal.

Ibis 146 (4): 685.

Paulo Catry, Ana Campos,

Vítor Almada e W. Cresswell 2004.

Segregação invernal de Piscos-de-peito-

ruivo Erithacus rubecula migradores em

relação com o sexo, idade e tamanho dos

indivíduos.

Journal of Avian Biology 35 (3): 204-209.

Nesta pesquisa, descobriu-se que

os piscos migradores invernantes no sul

de Portugal são sobretudo aves do sexo

feminino. As aves dominantes (indi-

víduos do sexo masculino, adultos e de

maior tamanho corporal) têm uma

maior tendência a ser encontradas em

biótopos arborizados, ao passo que as

fêmeas e os jovens são mais frequentes

em áreas com matos.

Paulo Marques 2004.

Cuidados parentais durante a incu-

bação no Pardal-espanhol (Passer

hispaniolensis): papel dos sexos e a deser-

ção do parceiro pelo macho.

Bird Study 51 (2): 185-188.

Os investigadoresportugueses

Jaime A. Ramos, A. M. Maul, J. Bowler, D. Monticelli e Carlos Pacheco 2004.

Data de postura, alimentação das crias e

sucesso reprodutor de Tinhosa-de-bar-

rete-pequeno na Ilha Aride, Seychelles.

Condor :887-895.

Paulo Catry, R. A. Phillips e J. Croxall 2004.

Movimentação rápida e continuada de

um Albatroz-de-cabeça-cinzenta à

bo le ia de uma tempestade da

Antárctida.

Auk 121 (4): 1208-1213.

L. Kvist, K. Viiri, Paula C. Dias, S. Rytkonen e M. Orell 2004.

História glacial e a colonização da

Europa pelos chapins azuis Parus

Caeruleus.

Journal of Avian Biology 35 (4): 352-355.

Rita Covas, C. Brown, M. D. Anderson e M. Brown 2004.

Sobrevivência de adultos e juvenis de

Tecelão-social (Philetairus socius), uma

espécie colonial com cria cooperativa da

zona sul-temperada de África.

Auk 121 (4): 1199-1207.

Mundo das avesP. Berthold , M. Kaatz e U. Querner

2004.

Seguimento por satélite de longo termo

da migração de Cegonha-branca (Ciconia

ciconia): estabilidade e variação.

Journal of Ornithology 145: 356-359.

Neste interessante estudo de

seguimento de longo termo de Cego-

nhas-brancas apresentam-se os dados

do indivíduo recordista em tempo de

seguimento, 10 anos! Este trabalho, ba-

seado no seguimento de 140 cegonhas,

confirma a existência grande variabi-

lidade de ano para ano na escolha das zo-

nas de invernada assim como das rotas,

destinos intermédios e períodos de stop-

-over, contudo a par existem alguns

indivíduos que apresentam esta-

bilidade nas rotas e zonas de invernada.

A principal causa apontada para esta

variabilidade é a disponibilidade de ali-

mento.

B. M. Whitney, D. C. Oren e R. T. Brumfield 2004.

Uma nova espécie de Thamnophilus

antshrike (aves: Thamnophilidae) da

Serra do Divisor, Acre, Brasil.

Auk 121 (4): 1031-1039.

Compilado por Paulo Marques

É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR

reproduzir e a tornar-se ajudantes nou-

tros ninhos. Estes ajudantes contribuí-

ram para um aumento significativo na

quantidade de alimento recebido pelas

crias e consequentemente para o sucesso

reprodutor, que foi muito mais elevado

nos ninhos com ajudantes.

Os casais de Charneco (Cyanopica

cyanus) por vezes são ajudados nos seus

cuidados parentais por indivíduos que

abdicam de se reproduzir. Estes “aju-

dantes” contribuem para a defesa do

ninho contra predadores e sobretudo

para a alimentação das crias.

Estudamos o sucesso reprodutor e

o sistema de cria cooperativa nesta

espécie em duas épocas de reprodução

com condições climáticas muito

diferentes. No ano com condições mais

favoráveis o sucesso reprodutor foi, em

geral, alto e observaram-se poucos

ninhos com ajudantes, tendo estes

contribuído pouco para aumentar o

sucesso. No ano com piores condições a

chuva intensa que caiu durante o início

do período reprodutor provocou o

abandono de muitos ninhos, levando

alguns indivíduos a abdicarem de se

A ciência das

aves

Período de publicação: Abril a Dezembro de 2004

Esta é uma nova secção da

Pardela, por enquanto à expe-

riência, que tem como objectivo

primário a divulgação do trabalho

científico realizado sobre as aves em

Portugal. Pretende fazer uma ponte

entre investigadores, público em

geral e a conservação da natureza

baseada na premissa que é preciso

conhecer para conservar.

Esta secção será constituída por

referências e resumos selecciona-

dos de alguns dos trabalhos. Dos in-

vestigadores pretende-se uma cola-

boração activa através do envio dos

seus trabalhos publicados para a

SPEA, de todos um olhar crítico

sobre a informação divulgada.

Nova rubrica

Apesar desta mudança na utilização do

habitat de nidificação, não se registou

um declínio na população nacional nem

diferenças significativas no sucesso re-

produtor em colónias nos dois tipos de

habitat, sugerindo que as salinas podem

constituir habitats alternativos adequa-

dos para esta espécie. No entanto, verifi-

cou-se que, numa mesma área, as aves

que criam em praias fazem as posturas

mais precocemente, e têm posturas e

ovos maiores. Estes dados sugerem que,

quando os dois tipos de habitat estão

disponíveis, as praias possam ser pre-

feridas por aves mais velhas e/ou de

maior qualidade.

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Go

nça

lo R

osa

Go

nça

lo R

osa

Page 23: Pardela 24

22 23

ORNITOLOGIA

Filipe Canário, Susana Matos e M. Soler 2004.

Constrangimentos ambientais e cria

cooperativa na Pega-azul.

Condor 106 (3): 608-617.

Teresa Catry, Jaime A. Ramos, Inês Catry, Manuel Allen-Revez e Nuno Grade 2004.

Serão as salinas áreas adequadas como

habitat alternativo de nidificação para a

Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons?

Ibis 146 (2): 247-257.

Este estudo faz uma análise da

tendência populacional da Andorinha-

-do-mar-anã nidificante em habitats

naturais (praias) e habitats alternativos

ou artificiais (salinas) em Portugal, bem

como a comparação de parâmetros

reprodutores em colónias nos dois tipos

de habitat. Ao contrário do que acon-

teceu até aos anos 90, actualmente mais

de 50% da população de Andorinha-do-

-mar-anã nidifica em salinas. A destrui-

ção do habitat e o aumento da pertur-

bação humana são os factores que expli-

cam o progressivo abandono das praias.

As avesem Portugal

Gonçalo Elias 2004.

Aspectos da distribuição da Felosa-

-ibérica Phylloscopus ibericus em

Espanha e Portugal.

Ibis 146 (4): 685.

Paulo Catry, Ana Campos,

Vítor Almada e W. Cresswell 2004.

Segregação invernal de Piscos-de-peito-

ruivo Erithacus rubecula migradores em

relação com o sexo, idade e tamanho dos

indivíduos.

Journal of Avian Biology 35 (3): 204-209.

Nesta pesquisa, descobriu-se que

os piscos migradores invernantes no sul

de Portugal são sobretudo aves do sexo

feminino. As aves dominantes (indi-

víduos do sexo masculino, adultos e de

maior tamanho corporal) têm uma

maior tendência a ser encontradas em

biótopos arborizados, ao passo que as

fêmeas e os jovens são mais frequentes

em áreas com matos.

Paulo Marques 2004.

Cuidados parentais durante a incu-

bação no Pardal-espanhol (Passer

hispaniolensis): papel dos sexos e a deser-

ção do parceiro pelo macho.

Bird Study 51 (2): 185-188.

Os investigadoresportugueses

Jaime A. Ramos, A. M. Maul, J. Bowler, D. Monticelli e Carlos Pacheco 2004.

Data de postura, alimentação das crias e

sucesso reprodutor de Tinhosa-de-bar-

rete-pequeno na Ilha Aride, Seychelles.

Condor :887-895.

Paulo Catry, R. A. Phillips e J. Croxall 2004.

Movimentação rápida e continuada de

um Albatroz-de-cabeça-cinzenta à

bo le ia de uma tempestade da

Antárctida.

Auk 121 (4): 1208-1213.

L. Kvist, K. Viiri, Paula C. Dias, S. Rytkonen e M. Orell 2004.

História glacial e a colonização da

Europa pelos chapins azuis Parus

Caeruleus.

Journal of Avian Biology 35 (4): 352-355.

Rita Covas, C. Brown, M. D. Anderson e M. Brown 2004.

Sobrevivência de adultos e juvenis de

Tecelão-social (Philetairus socius), uma

espécie colonial com cria cooperativa da

zona sul-temperada de África.

Auk 121 (4): 1199-1207.

Mundo das avesP. Berthold , M. Kaatz e U. Querner

2004.

Seguimento por satélite de longo termo

da migração de Cegonha-branca (Ciconia

ciconia): estabilidade e variação.

Journal of Ornithology 145: 356-359.

Neste interessante estudo de

seguimento de longo termo de Cego-

nhas-brancas apresentam-se os dados

do indivíduo recordista em tempo de

seguimento, 10 anos! Este trabalho, ba-

seado no seguimento de 140 cegonhas,

confirma a existência grande variabi-

lidade de ano para ano na escolha das zo-

nas de invernada assim como das rotas,

destinos intermédios e períodos de stop-

-over, contudo a par existem alguns

indivíduos que apresentam esta-

bilidade nas rotas e zonas de invernada.

A principal causa apontada para esta

variabilidade é a disponibilidade de ali-

mento.

B. M. Whitney, D. C. Oren e R. T. Brumfield 2004.

Uma nova espécie de Thamnophilus

antshrike (aves: Thamnophilidae) da

Serra do Divisor, Acre, Brasil.

Auk 121 (4): 1031-1039.

Compilado por Paulo Marques

É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR

reproduzir e a tornar-se ajudantes nou-

tros ninhos. Estes ajudantes contribuí-

ram para um aumento significativo na

quantidade de alimento recebido pelas

crias e consequentemente para o sucesso

reprodutor, que foi muito mais elevado

nos ninhos com ajudantes.

Os casais de Charneco (Cyanopica

cyanus) por vezes são ajudados nos seus

cuidados parentais por indivíduos que

abdicam de se reproduzir. Estes “aju-

dantes” contribuem para a defesa do

ninho contra predadores e sobretudo

para a alimentação das crias.

Estudamos o sucesso reprodutor e

o sistema de cria cooperativa nesta

espécie em duas épocas de reprodução

com condições climáticas muito

diferentes. No ano com condições mais

favoráveis o sucesso reprodutor foi, em

geral, alto e observaram-se poucos

ninhos com ajudantes, tendo estes

contribuído pouco para aumentar o

sucesso. No ano com piores condições a

chuva intensa que caiu durante o início

do período reprodutor provocou o

abandono de muitos ninhos, levando

alguns indivíduos a abdicarem de se

A ciência das

aves

Período de publicação: Abril a Dezembro de 2004

Esta é uma nova secção da

Pardela, por enquanto à expe-

riência, que tem como objectivo

primário a divulgação do trabalho

científico realizado sobre as aves em

Portugal. Pretende fazer uma ponte

entre investigadores, público em

geral e a conservação da natureza

baseada na premissa que é preciso

conhecer para conservar.

Esta secção será constituída por

referências e resumos selecciona-

dos de alguns dos trabalhos. Dos in-

vestigadores pretende-se uma cola-

boração activa através do envio dos

seus trabalhos publicados para a

SPEA, de todos um olhar crítico

sobre a informação divulgada.

Nova rubrica

Apesar desta mudança na utilização do

habitat de nidificação, não se registou

um declínio na população nacional nem

diferenças significativas no sucesso re-

produtor em colónias nos dois tipos de

habitat, sugerindo que as salinas podem

constituir habitats alternativos adequa-

dos para esta espécie. No entanto, verifi-

cou-se que, numa mesma área, as aves

que criam em praias fazem as posturas

mais precocemente, e têm posturas e

ovos maiores. Estes dados sugerem que,

quando os dois tipos de habitat estão

disponíveis, as praias possam ser pre-

feridas por aves mais velhas e/ou de

maior qualidade.

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Jo

Via

na

Go

nça

lo R

osa

Go

nça

lo R

osa

Page 24: Pardela 24

J U V E N I S

24 25

O abutre preto é uma ave de grande envergadura

com tons uniformemente escuros, tem uma cauda em

forma de cunha, um bico grande e maciço e uma gola

vistosa.

Costuma encontrar-se em regiões de montanha,

sobretudo cobertas por grandes florestas.

É uma ave necrófaga, pois alimenta-se de carne em

putrefacção ou cadáveres de animais e, à falta destes,

pode mesmo caçar animais de pequena envergadura,

como coelhos e pequenos cordeiros.

Faz os ninhos em árvores.

Abutre-preto?

Curiosidades:O Abutre-preto guia-se através da sua excelente visão;

Em Espanha concentra-se o maior número de aves desta

espécie (600);

A causa da sua morte em Portugal deve-se ao facto de se

alimentar de animais mortos por envenenamento, acabando a

ave por morrer pela mesma razão.

Aprende a conhecê-las!

Sabias que as rapinas diurnas usam correntes de ar

para subir sem gastar energia? Iremos apresentar os dois

tipos de correntes de ar:

térmicas : são bolhas de ar quente que se soltam

perto do chão quando este é aquecido. O ar quente (que é

mais leve) sobe e dá boleia à águia.

dinâmicas: imagina uma montanha enorme num

dia de vento. O que é que acontece? O vento vai em frente

mas de repente choca com a montanha, que obriga o ar a

subir. A isso chama-se uma corrente dinâmica.

Tenta observar as correntes térmicas em campos

abertos do Sul, de preferência sobre zonas escuras (estra-

das, campos lavrados, etc....) porque aquecem mais. Para

as dinâmicas, prefere, nas serras, o lado do vento

(barlavento).

Com tantos "elevadores" para cima não admira que

as rapinas gostem de andar nas alturas!

Um bom exemplo de risco de extinção, no nosso

país, localiza-se na Madeira. Aí, a Freira da Madeira

está classificada como a ave marinha mais ameaçada

do mundo (contando apenas com 30 a 40 casais). E

sabes porquê? O Homem introduziu, com ou sem

intenção, ratos e gatos que, neste momento, são

terríveis predadores de ovos, de juvenis e de adultos

desta ave. A introdução abundante de gado (cabras,

ovelhas e vacas) contribuiu para a destruição e degra-

dação da vegetação natural dos solos e para a sua

própria erosão, impossibilitando a nidificação da ave,

impedindo-a de construir os seus profundos ninhos

no solo. Podes pensar que as extinções de simples aves

não afectam o "Grande Homem". Será que é verdade?

Na Índia, entre 1990 e 2000, a população de abutres

diminuiu em 99%, o que se pensa que possa ter contri-

buído para um grande aumento do número de cães

assilvestrados. Estes cães são muitas vezes vectores de

doenças como a raiva, que pode ter um grande

impacto nas populações humanas.

Encontra o desenho de cada uma das seguintes

espécies de aves que se encontram em extinção:

Cegonha-preta Cortiçol-de-barriga-branca

Águia-real

Águia-imperial Abutre-preto

Freira da Madeira

Sofia Coelho

Sílvia Nunes

Sílvia Nunes

Conselhos para o observador:

Extinção de EspéciesSabes que hoje em dia 12% das espécies de aves

correm risco de extinção? Que em 2100 entre 6 a 14%

estarão mesmo extintas? E que mais 25% correrão esse

risco? Porque será que algumas espécies de aves se estão

a extinguir? A resposta é muito simples! O Homem é o

principal responsável. Ele destrói os habitats naturais

das aves, polui a natureza, contribui para o aquecimento

global, destrói ecossistemas, caça ilegalmente, comer-

cializa e efectua tráfico ilegal, e quando perde o interesse

pelas mesmas, abandona-as fora do seu habitat natural,

contribuindo para a introdução de espécies exóticas, as

quais substituem as espécies da região (autóctones).

Vamos falar de:

P á s s a r o- t emp o

1

2

4

5

6

3

Ab

utr

e-p

reto

-1; Á

gu

ia-im

pe

ria

l-2

; C

ort

iço

l-d

e-b

arr

iga

-bra

nca

-3;

Ág

uia

-re

al-4

; F

reira

-da

-Ma

de

ira

-5; C

eg

on

ha

-pre

ta-6

;

So

lu

çõ

es

Conheces o:

Page 25: Pardela 24

J U V E N I S

24 25

O abutre preto é uma ave de grande envergadura

com tons uniformemente escuros, tem uma cauda em

forma de cunha, um bico grande e maciço e uma gola

vistosa.

Costuma encontrar-se em regiões de montanha,

sobretudo cobertas por grandes florestas.

É uma ave necrófaga, pois alimenta-se de carne em

putrefacção ou cadáveres de animais e, à falta destes,

pode mesmo caçar animais de pequena envergadura,

como coelhos e pequenos cordeiros.

Faz os ninhos em árvores.

Abutre-preto?

Curiosidades:O Abutre-preto guia-se através da sua excelente visão;

Em Espanha concentra-se o maior número de aves desta

espécie (600);

A causa da sua morte em Portugal deve-se ao facto de se

alimentar de animais mortos por envenenamento, acabando a

ave por morrer pela mesma razão.

Aprende a conhecê-las!

Sabias que as rapinas diurnas usam correntes de ar

para subir sem gastar energia? Iremos apresentar os dois

tipos de correntes de ar:

térmicas : são bolhas de ar quente que se soltam

perto do chão quando este é aquecido. O ar quente (que é

mais leve) sobe e dá boleia à águia.

dinâmicas: imagina uma montanha enorme num

dia de vento. O que é que acontece? O vento vai em frente

mas de repente choca com a montanha, que obriga o ar a

subir. A isso chama-se uma corrente dinâmica.

Tenta observar as correntes térmicas em campos

abertos do Sul, de preferência sobre zonas escuras (estra-

das, campos lavrados, etc....) porque aquecem mais. Para

as dinâmicas, prefere, nas serras, o lado do vento

(barlavento).

Com tantos "elevadores" para cima não admira que

as rapinas gostem de andar nas alturas!

Um bom exemplo de risco de extinção, no nosso

país, localiza-se na Madeira. Aí, a Freira da Madeira

está classificada como a ave marinha mais ameaçada

do mundo (contando apenas com 30 a 40 casais). E

sabes porquê? O Homem introduziu, com ou sem

intenção, ratos e gatos que, neste momento, são

terríveis predadores de ovos, de juvenis e de adultos

desta ave. A introdução abundante de gado (cabras,

ovelhas e vacas) contribuiu para a destruição e degra-

dação da vegetação natural dos solos e para a sua

própria erosão, impossibilitando a nidificação da ave,

impedindo-a de construir os seus profundos ninhos

no solo. Podes pensar que as extinções de simples aves

não afectam o "Grande Homem". Será que é verdade?

Na Índia, entre 1990 e 2000, a população de abutres

diminuiu em 99%, o que se pensa que possa ter contri-

buído para um grande aumento do número de cães

assilvestrados. Estes cães são muitas vezes vectores de

doenças como a raiva, que pode ter um grande

impacto nas populações humanas.

Encontra o desenho de cada uma das seguintes

espécies de aves que se encontram em extinção:

Cegonha-preta Cortiçol-de-barriga-branca

Águia-real

Águia-imperial Abutre-preto

Freira da Madeira

Sofia Coelho

Sílvia Nunes

Sílvia Nunes

Conselhos para o observador:

Extinção de EspéciesSabes que hoje em dia 12% das espécies de aves

correm risco de extinção? Que em 2100 entre 6 a 14%

estarão mesmo extintas? E que mais 25% correrão esse

risco? Porque será que algumas espécies de aves se estão

a extinguir? A resposta é muito simples! O Homem é o

principal responsável. Ele destrói os habitats naturais

das aves, polui a natureza, contribui para o aquecimento

global, destrói ecossistemas, caça ilegalmente, comer-

cializa e efectua tráfico ilegal, e quando perde o interesse

pelas mesmas, abandona-as fora do seu habitat natural,

contribuindo para a introdução de espécies exóticas, as

quais substituem as espécies da região (autóctones).

Vamos falar de:

P á s s a r o- t emp o

1

2

4

5

6

3

Ab

utr

e-p

reto

-1; Á

gu

ia-im

pe

ria

l-2

; C

ort

iço

l-d

e-b

arr

iga

-bra

nca

-3;

Ág

uia

-re

al-4

; F

reira

-da

-Ma

de

ira

-5; C

eg

on

ha

-pre

ta-6

;

So

lu

çõ

es

Conheces o:

Page 26: Pardela 24

No âmbito das parcerias esta-

belecidas com a RSPB Royal Society for

Protection of Birds, parceiro inglês da

Birdlife International, no passado mês

Fotografar as aves da Madeira

Nas diversas visitas realizadas até

ao momento, além do registo de cen-

tenas de Patagarros, em voo e formando

jangadas, também foi possível observar

outras aves marinhas como sejam a

Cagarra Calonectris diomedea, a Alma-

negra Bulweria bulwerii, a Freira da Ma-

deira Pterodroma madeira e a Gaivina do

Ártico Sterna paradisaea.

Estas contagens tiveram início em

Fevereiro e foram realizadas até ao mês

de Agosto. Para todos os interessados em

colaborar nesta actividade a SPEA dis-

ponibiliza dois telescópios, pelo que

apenas terá de se inscrever através do e-

-mail [email protected]. O ponto de en-

contro é o final da promenade, junto ao

Centromar, às segundas-feiras, duas

horas antes do pôr-do-sol.

SPEA-Madeira

26xxx1

Isabel FagundesIsabel Fagundes

actividades

SPEA-Madeira

Contagem dePatagarros

na Costa do Sul No presente ano a SPEA-Madeira e

o Parque Ecológico do Funchal esta-

beleceram um protocolo de colaboração

no âmbito do “Projecto Puffinus”

projecto de conservação do Patagarro

Puffinus puffinus.

O Patagarro é uma ave marinha

que nidifica na Ilha da Madeira e que

está presente na ilha entre os meses de

Fevereiro e Agosto. De forma geral

nidifica em locais de difícil acesso, nos

vales do interior da ilha, a altitudes que

podem atingir os 1200 m.

Desta forma, quinzenalmente têm

sido realizadas observações e contagens

de Patagarros a partir da costa sul da

ilha, com o objectivo de angariar in-

formação sobre a época de chegada para

nidificação, variação do número de aves

observadas ao longo da época de nidi-

ficação e época de partida e migração

para o hemisfério sul.

de Maio Andrew Hay, fotógrafo profis-

sional da RSPB, deslocou-se à Madeira

com o objectivo de fotografar as aves que

nidificam na ilha, em especial as espécies

e subespécies endémicas, das quais

existem poucos registos fotográficos.

Aproveitando a presença deste

fotógrafo na região, a SPEA realizou um

workshop de fotografia de natureza que

decorreu no fim-de-semana de 14 e 15 de

Maio. Neste workshop Andrew Hay

procurou partilhar com os participantes

as suas experiências e conhecimentos,

tais como a necessidade de uso de

abrigos, de se camuflar e a paciência

necessária para conseguir fotos de boa

qualidade de aves.

Por toda a colaboração dada, em

especial no acompanhamento ao ter-

reno, a SPEA gostaria de enviar um

agradecimento especial ao Parque Eco-

lógico do Funchal e aos seus técnicos,

pelo importante contributo para o suces-

so deste projecto. A SPEA aproveita

ainda para agradecer à Baía Rent-a-car

pelo apoio nesta iniciativa.

Page 27: Pardela 24

No âmbito das parcerias esta-

belecidas com a RSPB Royal Society for

Protection of Birds, parceiro inglês da

Birdlife International, no passado mês

Fotografar as aves da Madeira

Nas diversas visitas realizadas até

ao momento, além do registo de cen-

tenas de Patagarros, em voo e formando

jangadas, também foi possível observar

outras aves marinhas como sejam a

Cagarra Calonectris diomedea, a Alma-

negra Bulweria bulwerii, a Freira da Ma-

deira Pterodroma madeira e a Gaivina do

Ártico Sterna paradisaea.

Estas contagens tiveram início em

Fevereiro e foram realizadas até ao mês

de Agosto. Para todos os interessados em

colaborar nesta actividade a SPEA dis-

ponibiliza dois telescópios, pelo que

apenas terá de se inscrever através do e-

-mail [email protected]. O ponto de en-

contro é o final da promenade, junto ao

Centromar, às segundas-feiras, duas

horas antes do pôr-do-sol.

CIBER-ORNITOFILIASPEA-Madeira

26xxx1

27

Um bom observador-de-aves, por mais minimalista que seja no equipamento, não se

deve fazer acompanhar apenas de um binóculo, material de escrita e um guia de

campo. De facto, duas das suas virtudes terão que ser a paciência e a capacidade de

concentração, mesmo sob as condições ambientais mais adversas. Ora essas duas

características não combinam com o desconforto físico, pelo que urge tomar medi-

das. Foi neste contexto que decidimos abordar o tema vestuário técnico. Hoje vamos

falar de vestuário para temperaturas amenas a baixas, excluindo meias, calçado e

outros acessórios. Simplificando ao máximo a questão, a maior parte dos especia-

listas aconselha o uso de três camadas (numeradas de dentro para fora):

técnico

Isabel FagundesIsabel Fagundes

actividades

SPEA-Madeira

Contagem dePatagarros

na Costa do Sul No presente ano a SPEA-Madeira e

o Parque Ecológico do Funchal esta-

beleceram um protocolo de colaboração

no âmbito do “Projecto Puffinus”

projecto de conservação do Patagarro

Puffinus puffinus.

O Patagarro é uma ave marinha

que nidifica na Ilha da Madeira e que

está presente na ilha entre os meses de

Fevereiro e Agosto. De forma geral

nidifica em locais de difícil acesso, nos

vales do interior da ilha, a altitudes que

podem atingir os 1200 m.

Desta forma, quinzenalmente têm

sido realizadas observações e contagens

de Patagarros a partir da costa sul da

ilha, com o objectivo de angariar in-

formação sobre a época de chegada para

nidificação, variação do número de aves

observadas ao longo da época de nidi-

ficação e época de partida e migração

para o hemisfério sul.

de Maio Andrew Hay, fotógrafo profis-

sional da RSPB, deslocou-se à Madeira

com o objectivo de fotografar as aves que

nidificam na ilha, em especial as espécies

e subespécies endémicas, das quais

existem poucos registos fotográficos.

Aproveitando a presença deste

fotógrafo na região, a SPEA realizou um

workshop de fotografia de natureza que

decorreu no fim-de-semana de 14 e 15 de

Maio. Neste workshop Andrew Hay

procurou partilhar com os participantes

as suas experiências e conhecimentos,

tais como a necessidade de uso de

abrigos, de se camuflar e a paciência

necessária para conseguir fotos de boa

qualidade de aves.

Por toda a colaboração dada, em

especial no acompanhamento ao ter-

reno, a SPEA gostaria de enviar um

agradecimento especial ao Parque Eco-

lógico do Funchal e aos seus técnicos,

pelo importante contributo para o suces-

so deste projecto. A SPEA aproveita

ainda para agradecer à Baía Rent-a-car

pelo apoio nesta iniciativa.

Gra

ça M

art

ins

Luís Gordinho www.naturlink.pt

Vestuário

1.ª Serve para manter a pele o mais seca possível, evitando o desconforto e as perdas de calor. Deve ser justa (mas não apertada), longa (mas não ultrapassando os punhos, tor-

2.ª Destina-se sobretudo a reter o calor. Deve ser utilizada em conjunto com a anterior sempre que o tempo esteja frio. Uma 2.ª ca-mada muito quente e respirável é útil para uti-lizar sob a 3.ª, com chuva e/ou vento muito forte, ou sem esta, com tempo seco e vento

3.ª Deve ser impermeável ao vento e à chuva. Pode ser utilizada só sobre a 1.ª com temperaturas amenas ou sobre as duas anteriores com tempo frio. É composta por pelo menos três subcamadas indissociáveis: uma exterior de nylon (que deve ter ombreiras

e/ou ser rip-stop se costuma usar mochila e/ou andar em zonas espinhosas), uma inter-média a membrana impermeável e uma inte-rior que visa proteger a membrana da abrasão

nozelos, etc.) e confortável. A composição mais adequada é 100% poliéster mas a estru-tura varia. Os tecidos mais utilizados são Polartec Power Dry e Power Stretch, Dryskin,

Dry-Clim, Dry Zone, Dryflo, Vaporwick, Capi-lene, Tech-T, Climate Control, etc. Antiga-mente utilizava-se o algodão mas este tecido retém a humidade em vez de a expulsar.

fraco. Uma 2.ª camada menos quente mas mais resistente ao vento (logo menos respi-rável) poderá ser a camada exterior ideal com tempo seco e vento moderado. Para 2.ª camada os “forros polares” são fan-tásticos, destacando-se, no 1.º caso, os teci-

dos Polartec 300 e 200 Thermal Pro e, no 2.º, o Gore Windstopper e os Polartec Wind Pro e Windbloc. A lã é mais pesada e permeável ao vento, molha-se mais facilmente, cria borboto e malhas, deforma-se, etc. Ao contrário das 1.ª e 3.ª camadas, a 2.ª geralmente usa-se só no tronco e membros superiores.

das camadas internas (podendo ser uma simples rede de nylon ou um laminado). As membranas impermeáveis têm poros menores que as gotas de chuva mas maiores que as moléculas de vapor de água. Aqui domina o Gore-Tex, agora com as variantes

XCR e PacLite, mas os Triplepoint, Sympatex, Hy-Vent, H2No HB, Exotherm, Drilite, etc. também são populares. O nylon exterior inicialmente repele a água mas cedo

cede à abrasão, passando a imper-meabilidade a depender apenas da mem-brana. As costuras deverão ser termo-seladas. Muitos preferem jardineiras e blusão a calças e casaco, nomeadamente para não sobrecarregar a cintura com os cós das

diferentes camadas. A clássica 3.ª camada em algodão encerado exige manutenção regular, é mais pesada, não é inodora e pode sujar outras peças.

Depois de assimilar estas noções básicas, compare as marcas líderes de mercado

(Tabela 1) e seleccione as que mais se adequam ao seu gosto e orçamento.

Finalmente compre o material através da Internet ou numa das lojas que lhe indica-

mos, onde o poderá provar (Tabela 2).

Agora equipe-se e... Boa Navegação!

Marca Origem URL (= http://www. +) Ref

Columbia EUA 1938 columbia.com 1

Patagonia EUA 1957 patagonia.com 2

The North Face EUA 1966 thenorthface.com 3

Lowe Alpine EUA 1967 lowealpine.com 4

Mountain Hardwear EUA 1993 mountainhardwear.com 5

Mammut Suíça 1862 mammut.ch 6

Helly Hansen Noruega 1877 hellyhansen.com 7

Haglöfs Suécia 1914 haglofs.se 8

Trangoworld (Artiach) Espanha (1928) trangoworld.com 9

Lafuma/ Millet França 1930 groupe-lafuma.com 10

Salomon (Adidas) França (1949) salomonsports.com 11

Berghaus Inglaterra 1966 berghaus.com 12

Northland Professional Áustria 1973 northland-pro.com 13

Sprayway Inglaterra 1980 sprayway.com 14

Ternua (Import Arrasate) Espanha (1990) ternua.com 15

Ref Loja/ Feira Ano URL (= http://www. +) Marcas

A Nauticampo 1967 fil-nauticampo.com = lojas C+D+F+J

B Vidal & Freitas 1980 tuaregcamping.com 14

C Expedição/ Altitude 1992 cipreia.pt/loja.html 8,10

D Econauta 1997 econauta.com 1,2,3,4,5,6,9,10,12

E Sport Zone 1997 sportzone.pt 1,3,7,8,9,10,11

F Trilhos d'Aventura 1998 trilhosdaventura.com 3,8,9,15

G Decathlon 2000 decathlon.com 1,3,10,11

H Campera 2000 campera.com 7

I El Corte Inglés 2001 elcorteingles.pt 1,3,8,9,11

J Bivaque 2004 bivaque.com 13,15

Tabela 1. Quinze marcas líderes do mercado de vestuário técnico, agrupadas

por continente e ordenadas pelo ano em que foram criadas (outras grandes

marcas, tais como Timberland, Karrimor, Mountain Equipment, Vaude ou Buffalo

foram omitidas desta síntese).

Tabela 2. Dez superfícies que vendem vestuário técnico em Portugal Continental, ordenadas pelo ano de inauguração. As marcas disponíveis são indicadas pela sua referência na Tabela1.

Page 28: Pardela 24

SOCIEDADE PORTUGUESAPARA O ESTUDO DAS AVES