parq 10. march

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REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 10. MARÇO 2009. www.parqmag.com MAR K WAG NE R JACINTO L UCAS PI RES WATCHMEN 10

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Mark Wagner, Watchmen, Dima Loginoff

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MARK WAGNERJACINTO LUCAS PIRESWATCHMEN

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DirectorFrancisco Vaz Fernandes [email protected]

eDitoracarla [email protected]

Direcção De arteValdemar lamego [email protected]

trenDscoutmário nascimento [email protected]

traDuçãoroger [email protected]

publiciDaDeFrancisco Vaz Fernandes [email protected]áudia [email protected]

parQnúmero 10Março 2009

textosBruno pirescarla carBonecristina pargacláudia matos silVaeliana silVaFláVia santosjoão telmo diasjohn almeidajosine crispimjúlio dolBethluísa riBasmanuel teixeiramário Freitasmiguel Fernandesnuno sousapedro pintoroger Winstanleyrui miguel aBreusoFia saunders

fotosana pereirajoão Brazmário príncipepedro janeiropedro matospedro pachecoricardo quaresma Vieira

stylingconForto modernohelga carValho

ilustraçãoVanessa teodoro

periociDaDemensal

Depósito legal272758/08registo erc125392

eDiçãoconforto moderno uni, lda.número de contribuinte: 508 399 289

parqrua quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq.1000-251 lisboa

00351.218 473 379

iMpressãoBeprofit / sogapalrua mário castelhano · queluz de Baixo2730-120 Barcarena20.000 exemplares

Distribuiçãoconforto moderno uni, lda.

a reproDução De toDo o Material é expressaMente proibiDa seM a perMissão Da parQ.toDos os Direitos reservaDos. copyright © 2008 parQ.

assinatura anual 15€.

www.parqmag.com

capafotografia: pedro matosstyling: conForto modernomake-up: Vera pimentãosandra Barata Belo veste

agradecimentos ao Fontana park hotel www.fontanaparkhotel.com

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MARK WAGNERJACINTO LUCAS PIRESWATCHMEN

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46viewpointMark

wagner

eDitorialMudar

enquanto lia a entrevista de jacinto lucas pires e me entretinha com todo o simbolismo de uma avalanche de gente a assobiar no terreiro do paço (apelo co-lectivo a uma mudança na sociedade portuguesa), apercebia-me como toda uma geração foi privada de heróis românticos. mesmo a revolução do 25 de abril, que não ocorreu há tanto tempo, representa muito pouco para as novas gerações para que seja um exemplo de conduta moral. extraordinariamente, há toda uma sociedade não soube capitalizar a dose de idealismo que precisamos. pelo contrário, o dinhei-ro fácil da comunidade europeia trouxe ao de cima o oportunismo e corrupção que chega hoje até nós. temo que este novo proteccionismo do estado não nos possa salvar do egoísmo quando a sobrevivên-cia individual e de grupos é posta em causa. uma nova sociedade mais moralizada só poderá nascer de um tecido criativo e inovador, sem que antes se prepare terreno fértil para germinar. criar uma es-trutura de oportunidades não implica excesso de di-rigismo nem de espírito messiânico cheio de promes-sas de salvação. exige um exercício de confiança nas novas gerações, no espírito crítico, na criativi-dade que permitam restaurar aos portugueses uma visão moralizada do futuro partindo do dado essen-cial de que tudo será diferente. Ficará melhor prepa-rado quem antecipar o novo paradigma não sacrifi-cando o futuro à demagogia do presente.

o tempo já melhorou. não se esqueça de levar a parq para uma zona verde e subir a uma árvore para mudar de perspectivas. É apenas um começo.

por Francisco Vaz Fernandes

real peopleespecial porto

06coqluxe

por Francisco Vaz Fernandes

10Fua

por john almeida

12andrÉ cepeda

por Francisco Vaz Fernandes

14r2

por pedro pinto

16josÉ cardoso

por júlio dolbeth

18

you Must shopping

22

you Must news

sounDstation38

aquaparquepor nuno sousa

40B-Fachada

por miguel Fernandes

42makongo

por rui miguel abreu

44lenine

por cristina parga

46

viewpointmark Wagner

por Francisco Vaz Fernandes

central parQ50

jacinto lucas pirespor carla isidoro

54Werner herzog

por joão telmo dias

56Watchmenpor mário Freitas

60sandra Barata Belo

& pedro limapor carla isidoro

64dima loginoFF

por carla carbone

66johan creten

por Francisco Vaz Fernandes

70transmediale 09

por luísa ribas

MoDa72

deserto rossopor pedro pacheco

82i Feel like dancing

por ricardo quaresma Vieira

parQ here91

hostelplaces

92murmur + machado

joalheiroplaces

94james martin + águas

gourmet + tay teagourmet

english version

96lenine

by cristina parga (english version by roger Winstanley)

96jacinto lucas piresby carla isidoro (english version

by roger Winstanley)

97Watchmen

by mário Freitas (english version by roger Winstanley)

97johan creten

by Francisco Vaz Fernandes (english version by roger Winstanley)

Dia positivo99

um prepúcio na escuridãocrónica de cláudia matos silVa

ilustrado por Vanessa teodoro

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real pEople

texto: Francisco Vaz Fernandes / FotograFia: ana pereira

a traDição foi iMportante QuanDo coMeçaraM as criações nuMa perspectiva De negócio?a tradição deu origem ao nome da marca: coq vem de galo (de Barcelos), luxe de luxo, exclusivo. a junção destas palavras cria por si a palavra coqluxe, que significa artigo português de luxo, algo único e especial. Fomos inspiradas pela tradição quando criámos o logótipo da marca, bordado em ponto de cruz. a nossa vontade de fazer sapatos é ajudada pelo facto de estarmos num país com forte tradição e capacidades para a produção do calçado. daí que a coqluxe nasça da possibilidade de aliar as nossas capacidades enquanto designers à capacidade produtora de calçado do nosso país.

QuanDo criaraM a eMpresa pensavaM chegar tão longe? Quais foraM as etapas Que DefiniraM e Quais as Que procuraM vencer?a boa evolução da marca possibilitou que valesse a pena dedicarmo-nos integralmente à coqluxe. já atingimos algumas etapas que nos parecem importantes: desfile próprio da marca, media, comercialização eficaz, qualidade do produto, identidade reconhecida, internacionalização, mas pretendemos chegar mais longe e criar novas etapas.

QueM é Que gostavaM De calçar?a fã nº1 da CoqLuxe... a nossa mãe linda!

o QuotiDiano Do porto Marca as vossas criações? De Que forMa?sem dúvida! a cidade exerce sobre nós uma grande influência, desde as pessoas à arquitectura, o temperamento, a gastronomia (temos a coq-au-vin collection). no entanto, quando criamos uma colecção pensamos num contexto mais global e na forma de transmitir os valores portugueses ao mundo.

www.coqluxe.com

Os sapatOs CoqLuxe sãO a paixãO das irmãs Sara roCha & InêS GonçaLveS. EnquantO EstudantEs avEnturaram-sE a criar sapatOs dE luxO para cliEntEs ExigEntEs. prEtEndEm

almEjar a alta-cOstura E têm um atEliê E EspaçO dE atEndimEntO na casa dO almada, nO cEntrO dO pOrtO.

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texto: john almeida / FotograFia: ana pereira

coMo Descreverias o Que fazes?amor constante e incompleto.

houve alguM MoMento Decisivo para ti , eM relação àQuilo a Que te irias DeDicar?já desde os tempos do secundário que organizava concertos e dedicava o meu tempo a uma fanzine chamada "imolação da mente", dedicada às sonoridades mais extremas. mas o ponto decisivo foi ter visto o concerto de lightning Bolt em Barcelona em 2004. senti uma tremenda energia positiva nesse concerto e quis trazer um pouco desse encanto para portugal.

na Música , eM portugal, Quais são as Maiores vantagens e Desvantagens , seja para Músicos ou organizaDores?há imensas vantagens e muitas mais desvantagens. a maior vantagem é conhecer pessoas incríveis, autênticas lições de vida andantes. a maior desvantagem será o pouco tempo disponível para outras coisas que não a música.

coMo vês o futuro para ti e para a lovers&lollypops?o futuro é incerto mas espero estar daqui a 30/40/50 anos com a Lovers&Lollypops a editar e a promover bandas e projectos que realmente gosto.

tens outra ocupação Que não esteja relacionaDa coM a Música?neste momento não. o meu escape passa pela literatura e pelo cinema. actualmente não me vejo a fazer nada para além disto. a minha formação académica passa pelo vídeo e é algo que tenho vindo lentamente a recuperar, mas sempre com a música como pano de fundo.

fala-se Muito De crise. coMo é Que ela teM afectaDo a Música , as festas , etc?até agora não tenho sofrido com esta crise evidente em todos os restantes sectores. se uma banda tem uma pequena base de culto, ela terá sempre público. se calhar sente-se mais na venda de bebidas dos bares onde promovo os concertos do que propriamente no público que vai aos concertos.

faz-nos o teu top 10: coisas preferiDas , Música , tv , QualQuer coisa …catarina pintosimpsonsjulien copemc5 - kick out the jamssun ra - calling planet earthyoutubeBarcelonaFellinisalvador do campostooges - raw power (ron asheton rip)

acho que amanhã faria uma lista totalmente diferente.

www.myspace.com/loversandlollypops

a LoverS&LoLLypopS surgiu há quatrO anOs atacandO a cEna musical nO nOrtE dO país cOmO EditOra, distribuidOra dE discOs, prOmOtOra dE cOncErtOs E fEstas. cOnvErsámOs

cOm O sEu impulsiOnadOr, Fua, E ficámOs a cOnhEcEr mElhOr uma das pEssOas quE fEz dO pOrtO O cEntrO

cultural E artísticO mais intErEssantE dE pOrtugal.

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texto: Francisco Vaz Fernandes / FotograFia: ana pereira

as tuas fotografias não se prenDeM a teMas e pareceM chegar De várias proveniências. coMo te surge essa Disposição para fotografar e eM Que MoMento?Fotografar faz parte do meu dia-a-dia e da minha vida. É natural que se sinta nas imagens coisas muito diferentes. tem a ver com a minha própria evolução, mas não é algo que eu controle.

enQuaDras-te eM alguM género fotográfico ou sentes pertencer a uMa certa traDição fotográfica? coMo convives coM os géneros?nunca tinha pensado nas coisas assim. aquilo que de facto procuro é encontrar novas formas de olhar para a realidade que me é apresentada, tentar evoluir, construir a minha própria linguagem. as minhas influências não vêm só da fotografia, mas da música e literatura, do cinema, culinária...

Mas não tens uM fotógrafo De referência?robert Frank, é o fotógrafo que me acompanha desde sempre.

o Que te faz pensar teres conseguiDo uM conjunto interessante De fotografias e expô-las? coMo se faz o processo De selecção?quando começo um projecto nunca sei quando ele vai acabar. pode demorar um ano ou mais. naturalmente vai haver um dia em que diga “acho que já chega!” e isso acontece muitas vezes quando estou a seleccionar ou a imprimir o trabalho. o processo de selecção é muito interessante e dos mais difíceis. Vejo as coisas como na montagem de um filme, mas de uma forma mais abstracta. costuma ser um processo demorado e é quando vejo o que estive a fazer e percebo o que as imagens representam para mim.

as tuas fotografias têM seMpre uM certo lirisMo e Melancolia. consegues Dar uMa explicação?sad is good.

fotografar é seMpre uM exercício estiMulante?Fotografar faz parte da minha vida há muitos anos, tornou-se uma necessidade ou até mais do que isso. É a minha profissão e à qual me dedico todos os dias. a primeira coisa que faço quando acordo é ver a luz que está na janela.

coMo te sentes ao passar para a frente Da câMara , neste caso , a Da ana pereira?um retrato é também um auto-retrato.

www.andrecepeda.com

andrÉ cepeda expõem na galeria pedro cera atÉ 11 de aBril.

www.pedrocera.com

É limitativO dizEr quE andré Cepeda É um fOtógrafO. Os sEus intErEssEs vaguEiam, cOmO as suas imagEns, pElO jazz E pElO vintagE, sEm nunca EncOntrarEm um pOrtO sEgurO.

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texto: pedro pinto / FotograFia: ana pereira

sabenDo Que são uM casal, gostava De saber se o facto De passareM Muitas horas juntos prejuDica o processo criativo ou , pelo contrário , é uMa vantageM?as ideias não escolhem locais nem horas para aparecerem, logo é uma vantagem discuti-las quando surgem. É com base nesse diálogo que construímos os projectos. temos um entendimento profundo que advém também do facto de sermos um casal. É prático! muitas viagens de carro e alguns pequenos-almoços têm se revelado extremamente produtivos.

nota-se eM toDo o vosso trabalho uM cuiDaDo especial na tipografia e uMa vertente Mais plástica no trataMento Das iMagens. trata-se Da conjugação Das vossas "especialiDaDes" ou é algo coMuM aos Dois?ambos gostamos de imagem e tipografia. o contributo que cada um dá é difícil de separar porque trabalhamos juntos nos projectos. tanto a racionalidade e o sistema, como a materialidade e a plasticidade interessam-nos. as especificidades do projecto é que determinam a abordagem.

a vossa carteira De clientes está claraMente viraDa para áreas Da cultura coMo teatro , arQuitectura , fotografia. é algo pelo Qual batalharaM ou siMplesMente obra Do acaso?sempre nos interessámos pela cultura. gostamos muito de arquitectura, design, fotografia, cinema, literatura, arte... por isso sempre fez sentido trabalhar esta área.

voltanDo ao ponto De sereM uM casal: QuanDo saeM Do escritório obrigaM-se a não falar De trabalho ou é algo Do Qual não se consegueM Distanciar e assuMeM-no coM naturaliDaDe?Fora do escritório só falamos do que gostamos, das ideias. essa parte do trabalho é um prazer, adoramos o que fazemos, em particular o desenvolvimento do conceito e a experimentação. existe uma vertente de jogo, desafio e descoberta que nos diverte.

os préMios Que têM recebiDo ao longo Destes anos , tanto cá Dentro coMo a nível internacional, fazeM-vos relaxar ou Querer Mais e procurar novos caMinhos?os maiores críticos do nosso trabalho somos nós próprios, queremos sempre ir mais longe. os prémios são o reconhecimento do que já está feito, quando acontecem já estamos no projecto seguinte.

esta pergunta é "coMpletaMente iMparcial". o porto é uMa ciDaDe óptiMa para se viver e fazer Design , não é?É uma cidade calma, com uma escala simpática, onde criamos raiz. uma cidade com uma paisagem gráfica interessante que teve ao longo da história recente figuras incríveis. o porto tem muito potencial desaproveitado, mas há muitas pessoas a trabalhar para inverter esta situação.

www.r2Design.pt

quEm cOnhEcE LIzá ramaLho & artur rebeLo —Os dOis ÉrrEs dE r2— sabE quE a dEvOçãO dO casal aO sEu

prOjEctO tEm-lhEs trazidO muitOs prÉmiOs. algumas pEssOas vêEm nElE O rOstO dO dEsign gráficO pOrtuguês.

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texto: júlio dolBeth / FotograFia: ana pereira

o teu trabalho reflete uM rigor e uMa obsessão pelo Detalhe , onDe o processo é assuMiDo taMbéM coMo efeito narrativo. estou longe Da verDaDe?esta obsessão pelo detalhe começou a fazer parte dos trabalhos quase como uma maldição! já não consigo fazer um desenho que não seja obrigatoriamente rico em detalhe. É impossível evitar: o pormenor nos desenhos manuais veio para ficar, para bem de uma identidade estável. mesmo os trabalhos mais minimais exigem um grande investimento, de tal forma que muitos deles apenas fazem sentido pela complexidade da trama ou do padrão.

nas tuas ilustrações hápersonagens por vezes recorrentes. surgeM De forMa inesperaDa ou tens uMa explicação cósMica?pertencem a um arquivo que pode ser visitado conforme a situação a ser ilustrada. antes da ilustração existe uma espécie de "casting" onde as personagens mais adequadas podem ser seleccionadas. se cada uma tiver as suas próprias qualidades então parece-me uma boa estratégia a ideia de construir uma equipa.

no teu trabalho sente-se uMa oscilação entre Duas expressões DeMarcaDas: o Desenho vectorial, onDe exploras a síntese , e o Desenho Manual onDe preDoMina o Detalhe. estás à procura ou já encontraste uMa expressão visual?Vou tentando experimentar o máximo possível, quer numa quer noutra vertente, e espero ter oportunidade de continuar a explorar outros campos. quando chego a um resultado que me satisfaz, então é altura de divulgá-lo. É o mais importante, conseguir manter a mesma identidade. muitas vezes é difícil explorar a síntese nos desenhos manuais e o detalhe nos desenhos vectoriais. tenho muito medo de arriscar e quando chego ao tal ponto satisfatório do processo de experimentação prefiro deixar o trabalho aí do que pô-lo em risco. por isso é que vou começando outros projectos dos quais fazem parte a colagem digital, o tricot e a costura!

Qual é o protagonisMo Da Máscara nos teus Desenhos?a máscara permite uma adaptação rápida a certa situação, como uma camuflagem que deixa a personagem pertencer e actuar em diversos contextos sem ter que sacrificar a sua identidade. nos desenhos é frequente a máscara assumir o papel de personagem.

Qual seria o teu eMprego iDeal?trabalhar exclusivamente no salão cóbói, um atelier de design que ainda está para nascer e que é constituído pelo apolinário, pela inês Ferreira e por mim.

Qual foi o teu trabalho Mais beM suceDiDo?não sei... poderia dar muitos exemplos mas, para dizer a verdade, tenho andado entusiasmado com umas experiências relacionadas com o tropicalismo de gauguin. são umas montagens que misturam imagens de paraísos tropicais com desenho vectorial. acho que ainda precisam de muito trabalho mas os testes que já fiz correram bastante bem. o que mais me agrada neste work in progress é o facto de ainda ser um projecto muito verde. as possibilidades de evolução são imensas.

se tivesses Que escolher uMa eQuipa De sonho para uM trabalho a uMa escala MunDial, a QueM recorrias?aos Flaming lips com o salão cóbói a fazer uma magical mystery tour inter-continental.

por vezes veMos listas nas tuas exposições , De personagens , De espécies , De géneros. faz-nos uMa lista De 10 coisas/pensaMentos/pessoas.pandora complexaimprensa canalhanew Weird americaFear and loathing in hawaiimark dionBilly Wildercoca-colanascar007 live and let diemacaulay culkin

licEnciOu-sE Em dEsign dE cOmunicaçãO nas bElas artEs da univErsidadE dO pOrtO mas O cursO nãO tEvE grandE influência nO sEu trajEctO dE ilustradOr. vê-

sE mais cOmO um autO-didacta. fOmOs cOnhEcEr um dOs ilustradOrEs da facE artística da cidadE invicta.

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sapato de alto ziliansaco em pele

perfurada dieseltÉnis puma/rudolF dasslertaça cromada virages

na empório Casaconta-gotas lancôme geniFique

sapato sisleymala tous

perfume ysl la nuit de l'homme

toys zeek&destroy da carhartt

greycity

foto

pedro janeiro · styling conforto Moderno

you Must 19

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you Must

tÉnis puma First round na big punch

ténis nike dunk high supreMe

tÉnis onitsuka tiger seck hi na sneakers delight lisboa

fruteira alessi na empório Casa

licor de rosa santa maria noVella

mala louis vuitton sprouse collection

tÉnis adidas jeremy scottsabrinas de plástico

lacostecadeira dinamearquesa

na pedras&pessegos

firestreet

foto

pedro janeiro · styling conforto Moderno

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you Mustyou Must 21

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you Must

texto: carla isidoro

a colecção de fotos que antónio Júlio Duarte tirou em goa leva-nos a um lugar desconhecido. esta goa, afi-nal, não é a cidade da língua portuguesa gravada nas memórias dos lugares, dos resquícios culturais e da arquitectura colonial. antónio Júlio Duarte registou estados de estagnação, inércia e resídio que contras-tam com a exuberância vegetal, a abundância das cores e os pequenos ritmos quotidianos. as pessoas confundem-se com o lugar e o lugar respira por si pró-prio através das manifestações da natureza, da acu-mulação do tempo que passa devagar, de uma histó-ria quotidiana que não se renova.

apoiado pela Fundação oriente para desenvolver esta pesquisa fotográfica, o autor apresenta-nos um retra-to social onde não sabemos encaixar-nos. ruas sujas e húmidas, desperdícios que exalam vida, paredes descascadas pelo tempo. joão pinharanda, comissá-rio, reflecte assim sobre «Jesus Never Fails»: “antónio júlio duarte expõe em toda a sua crueza tudo aqui-lo que falhou: regista poses animais que se copiam para nada, encontra seres humanos que coincidem com formas vegetais como se lhes faltasse também ânimo, estabelece pares de volumes que se repetem sem estabelecerem equilíbrios e harmonias, encon-tra linhas construtivas onde os elementos, arrumados de modo aleatório, tornam inútil qualquer disciplina."

atÉ dia 15, Fundação edp/museu da electricidade - BelÉmde 3ª a dom, entre as 10h e a 01hentrada gratuita

jesus never fails

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you Must

texto: Francisco Vaz Fernandes

comissariada pelo editor da revista «Flash art», Chris sharp, esta é a primeira exposição extensa do trabalho de alexander Gutke, que vive e trabalha em malmö. a exposição reúne uma selecção de obras em filme e diapositivo, de 2000 até hoje. Gutke trabalha sobre o carácter ilusionista da nossa sociedade socorren-do-se de vários tipos de aparelhos de reprodução da realidade. gotke não os coloca apenas como meios auxiliares de reprodução mas como centro expositivo da sua reflexão. um exemplo é a sua obra mais co-nhecida, exploded View, de 2005, uma instalação for-mada por um projector com 81 slides que vai passan-do imagens do seu próprio interior. a passagem das imagens surge como um striptease que vai do lado

físico dos componentes mecânicos à abstracção da luz. usando meios técnicos minimalistas e repetitivos, o artista joga com os mecanismos e as funções dos objectos que cercam o nosso quotidiano. coisas tão banais como um projector de slide ou um postal são estudados minuciosamente e manipulados. as investi-gações do artista visam compreender a atenção dia-léctica entre dito e não dito, concreto e abstracto, re-alidade e função, acto e sonho.

alexander gutke

«Caracas 2000», outra das obras presentes na expo-sição, é também exemplo disso. trata-se de um pos-tal de uma avenida da capital venezuelana colado a uma parede onde é projectado um céu em movimento enquanto em primeiro plano a ala de edifícios perma-nece estática. o que interessa ao artista é ver como um postal pode ainda estabelecer uma relação com o tempo e continuar a representar uma realidade muitos anos depois da sua imagem ter sido feita e enviada.

culturgest, portoatÉ 4 de aBril

ExplodEd ViEw, 2005projecção de diapositiVos,

projector de carrossel kodak, 81 diapositiVos

dimensões VariáVeis

© raymond hejdström

cortesia galeria gregor podnar, berlim/liubliana

CaraCas 1966-2000, 2000postal ilustrado, projector de Vídeo e tripÉ; projecção

de Vídeo (em repetição) dimensões VariáVeis

cortesia galeria gregor podnar, berlim/liubliana

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you Must

texto: carla isidoro

a «ópera ‘Crioulo’» nasceu da obra musical «Lágrimas na paraíso» que Vasco martins compôs por encomen-da para a universidade de paris Viii. martins, um dos maiores compositores e musicólogos do arquipélago de cabo Verde, dedica-se há vários anos ao estudo e investigação da identidade da mú-sica crioula, suas raízes e génese. são de sua autoria sinfonias como a belíssima «Buddha dharma» - peça composta em 10 dias depois de martins descobrir (e ficar fascinado por) Buddha num livro. «a procura da Luz» ou «memória da Água» são somente mais alguns exemplos de sinfonias deste compositor que consegue dividir-se, da mesma forma exímia, pelos solos de pia-no e música electrónica.

em 1994 compôs a ópera «Lágrimas na paraíso» para uma cerimónia francesa de celebração da abolição da escravatura. quando a cidade do mindelo, capi-tal da ilha de s. Vicente, sobe a capital lusófona da cultura em 2002, o coreógrafo antónio tavares faz a produção artística de «lágrimas na paraíso» introdu-zindo-lhe novos elementos. isto dá origem a um novo nome para a peça, e assim nasce a «ópera ‘Crioulo’».

até janeiro de 2008 Vasco martins introduziu altera-ções, acrescentos e revisões no libreto, actualizando a identidade da peça —que tem por base a história e o crioulo falado no país. divide-se em 3 actos, é can-tada em crioulo, dirigida e coreografada por antónio tavares, e conta, no núcleo de intérpretes principais, com sara tavares.

uma genuína pérola da cultura contemporânea cabo-verdiana.

estreia dia 27 – grande auditório, ccB

www.vascomartins.com

óperacrioulo

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dois dos mais geniais insurrectos da história do jazz, alan silva (contrabaixo, sintetizadores) e Burton Greene (piano, sintetizadores) exploram há mais de cinquenta anos todo o campo de possibilidades criativas. Figuras nucleares do desenvolvimento identitário do free-jazz (nova iorque anos 60), silva e Greene formaram em 1963 o Free Form improvisation ensemble, pioneiro colectivo centrado nas novas ideias de livre impro-visação e composição espontânea. ao longo des-sa década, tanto um como outro gravaram em nome próprio álbuns lendários para a esp-Disk, participan-do também noutras gravações em sessões lideradas por visionários como sun ra, cecil taylor ou albert ayler e actuando regularmente em espaços como o mítico judson hall.

alan silva, baixista, pianista, tem vivido em paris desde os anos 70. aí juntou a fantástica Celestial Communication orchestra, um delírio multi-instrumental virado para os céus onde todos os vanguardistas ex-patriados dos eua encontraram refúgio (dave Burrell, lester Bowie, gracham moncur iii, etc.

Burton Greene, experimentador das múltiplas capaci-dades dos sintetizadores, tem editado recentemente (através da tzadik de john zorn) espantosas sessões imbuídas na tradição musical Klezmer, na qual se en-volveu a partir da década de 80.

Vamos imaginar uma guerra perpétua entre ricos e pobres. e no meio dessa guerra vamos seguir uma he-roína: pelagea Vlassova, «a mãe». ela já foi de gorki e de Brecht, agora é colocada num futuro próximo. escolhe de forma violenta lutar por um ideal que em-bala como se fosse um filho, um ideal mais importan-te que o próprio filho.

sendo uma peça de interiores, «a mãe» tem um for-te eco do que vem do exterior, das ruas. nesta en-cenação o eco é dado pela música e pelo vídeo. o espaço cénico trabalha a dicotomia peso/leveza, ma-terializada na possibilidade de o ar ser um elemen-to cenográfico.

esta versão de «a mãe» de Bertold Brecht tem músi-ca de hanns eisler e encenação de gonçalo amorim. amorim nasceu no porto em 1976, é membro dos primeiros sintomas e cooperante do teatro o Bando, com os quais tem desenvolvido grande parte da sua actividade teatral. em 2007 ganhou ex-aequo o prémio da crítica pela encenação de «Foder e ir às compras» de mark ravenhill.

alan silva & burton greene

A Mãe

you Must

dia 5 na zdB – Bairro alto

www.zedosbois.orgde 19 a 22 marçogrande auditório culturgest- lisBoa

www.culturgest.pt

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you Must

texto: Francisco Vaz Fernandes

baltasar

quando o arquitecto pedro Gadanho aceitou este pro-jecto de remodelação, tinha como ponto de partida uma pequena casa no centro do porto, de arquitec-tura modesta, quase vernacular, mas bem posiciona-da e com uma vista deslumbrante para o rio douro. o objectivo foi manter todo o exterior e transformar o interior dando-lhe uma segunda pele, uma nova ló-gica espacial que lhe permitisse multiplicar o espaço útil. aproveitou o sótão e uma escada rompeu o inte-rior da casa tornando-se simultaneamente clarabóia, como tanto vemos nas casas antigas do porto. com esta solução o interior ganhou maior plasticidade e or-gânica, sendo os volumes e a cor o centro da atenção.

já num dos projectos anteriores de pedro gadanho —a Fundação elipse— se notava o uso da cor para marcar os elementos centrais e de ligação das dife-rentes partes do espaço. este projecto de remodela-ção, radicalmente oposto ao minimalismo da escola do porto que tanto marca o panorama nacional, é já um importante sintoma de inconformismo e mudança.

+inFo em WWW.parqmag.com/Blog

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axiomEdate: 2006type: chair

material: aluminium, poWder coated

size: 85 x 52 x 50 cmdesign: thomas Feichtner

producer: designWerkstätte schatzl, austria

pixEl Chairdate: 2009type: chair

material: stainless steel, polished

size: 70x 85x 64mmdesign: thomas Feichtnerproducer: schinko gmBh

one-oFF piece

texto: Francisco Vaz Fernandes

thomas feichtner

Thomas Feichtner fundou, em 2001, em conjunto com os designers gráficos Bernhard Buchegger e michael Denoth, o estúdio de design e comunicação visu-al "Thomas Feichtner industrial Design". os três têm colaborado para a marcas e autores como adidas, Bogner, head, ron arad e swarovski.

www.thomasfeichtner.com

ultimamente Feichtner tem voltado a sua atenção, a pouco e pouco, para uma abordagem mais experi-mental do design, como se verificou na aceitação que teve do público de milão em 2006. o designer procu-ra alternativas que resultam habitualmente em produ-ções em massa ou globalizadas. circunscreve-se nos aspectos artísticos e formais do design, mais do que no papel a eles associados de meros repositórios de funções práticas. Vemos isso em alguns dos seus tra-balhos que parecem instalações e esculturas de ar-tistas aparentados com os minimalistas americanos. algumas das suas estruturas casam muito bem com os espaços e ambientes expositivos das galerias e com um certo gosto erudito de decoração de interiores.

you Must

+inFo em WWW.parqmag.com/Blog

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you Must

texto: eliana silVa (em londres)

hussein chalayan

www.louisvuitton.com

atÉ 17 de maio, museu do design de londres

www.DesignMuseum.org

para londres, com tecnologia

o estilista Hussein Chalayan expõe pela primeira vez parte das suas colecções, desde 1993 até à co-lecção de outono/inverno 2009. depois de quinze anos de trabalho, está de volta à terra que o educou. num edifício caiado de branco, o designer cipriota traz a inglaterra um pouco da sua cor e pensamento internacional. lá dentro, na exposição, ouvem-se jus-taposições de músicas. muitas. desconexas mas in-compreensivelmente apelativas. tal como o espaço. a panóplia de cores não varia muito, tanto na passe-relle como no próprio cenário. ao longo destes anos de trabalho, o actual director criativo da puma man-teve-se fiel à paleta de cores: os brancos, os pretos, cinzentos e alguns beges.

a exposição de Chalayan é um retrato do seu traba-lho. mini salas com diferentes apresentações, vários meios de transmissão e diferentes sons. conhecido in-ternacionalmente pela concepção da saia-mesa de madeira em 2000, o designer estrutura peças de rou-pa que sofrem mutações: um vestido que se transfor-ma num look nocturno, um vestido de noiva que en-colhe e surge num baby-doll, ou uma leve camisa de noite que simplesmente desaparece.

a interactividade do espaço leva-nos a percorrer os temas que mais o influenciam; desde as novas tecno-logias, a migração do ser humano ou as identidades culturais. de um tema para o outro, de um estilo para o outro, o trabalho de Hussein Chalayan é uma cons-tante interacção com o público. se as suas peças são simples coordenados de algodão ou peças altamente trabalhadas e rebuscadas, os seus desfiles são reais espectáculos. com violinos de verdade e pessoas de todas as idades. e com conceitos reais.

texto: Bruno pires

punk sprouse

a Louis Vuitton, através de marc Jacobs, fez da co-lecção stephen sprouse uma autêntica homenagem ao criador nova-iorquino falecido em 2004. toda a colecção reflecte o universo punk de sprouse e o seu olhar único sobre a cultura underground de nova iorque (que marc Jacobs também cultiva e admira) e esforçou-se por retratar isso mesmo através de malas e bolsas com grafites em cores fortes sobre o clássi-co monograma da marca parisiense. as referências ao trabalho de sprouse estão actualmente em todas as lojas da marca, mas a de nova iorque foi coroada com uma espectacular fachada de grafiti. sprouse, que era um fã da obra de andy Warhol, chegou mesmo a trabalhar com o génio da pop art, tornou-se famo-so na década de 80 por fazer chegar a cultura punk ao mundo da moda com cores berrantes, tecidos de alta tecnologia, sedas pintadas à mão, tudo com um corte e um design soberbos. o designer e artista tam-bém contribuiu com as suas criações para o guarda roupa de artistas como mick jagger, axl rose, trent reznor, courtney love, david Bowie e duran duran.

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texto: soFia saunders

totemaero bang Morgan

os motivos africanos marcam a nova colecção da Longchamp, que tem a terra e o exotismo como ele-mentos inspiradores para este Verão. gostamos em particular desta mala, modelo Cosmos patch. oferece-nos várias visões : por um lado a leveza e o humor, se-guidos da evocação directa às máscaras tribais que nas suas linhas estruturais reforçam o toque retro da mala. por tudo isso revela-se uma excepcional con-fiança na capacidade de recriar os eternos clássicos e garantir uma frescura que nasce de roupagens e lei-turas completamente novas.

para comemorar o centésimo aniversário da fábrica de automóveis morgan, a Hublot criou o modelo es-pecial aero Bang morgan, inspirado no aeromax da marca automóvel. ao que se sabe, esta série de au-tomóveis feitos à mão tem prevista uma produção de 100 unidades que personificam a perfeição, o luxo e a elegância, valores de que a marca de relógios suíça comunga. a sinergia entre as duas empresas traduz-se na preocupação de um trabalho minucioso, desporti-vo e artesanal, arraigado a uma tradição europeia.

www.hublot.com www.longchamp.com

you Must 31

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you Must

texto: Francisco Vaz Fernandes

hugo by prieters

www.garethpugh.net

www.hugoboss.com

a colecção Hugo by Hugo Boss foi uma das estreias mais esperadas na semana da moda masculina em paris. neste desfile, o belga Bruno prieters misturou um certo futurismo tecnológico com referências artísticas da alemanha nos anos 30, nomeadamente o

construtivismo da Bauhaus. o resultado foi uma imagem forte, precisa, geométrica, com uma modelagem mais ajustada ao corpo. as calças skinny acompanhavam casacos de proporções reduzidas, alguns quase pareciam boleros com cortes angulares. no entanto foi nos coordenados apresenta-dos no final, onde imperaram o estampado xadrez e listado, que o desfile ganhou uma imagem nova mais radical e imprevista para o standard da Hugo Boss.

texto: Bruno pires

gareth pugh

Foi em paris que Gareth pugh nos brindou com a sua primeira colecção masculina, Fall 2010. o jovem es-tilista tinha até então sido aclamado pelas suas co-lecções femininas. na Fall 2010 é indiscutível o ar gótico, a julgar pelas peças em negro, pelas aplica-ções de picos de metal, sobretudos em couro e toda a produção de maquilhagem e cabelos que dão aos modelos um ar sombrio. alguns críticos já se apres-saram a apelidar este ambiente de zombie chic. gosta do uso de peles de animais, do prolongamento para cima das mangas em relação ao nível dos ombros (em blaser, sobretudos e calças prateadas) com um padrão a fazer lembrar a pirâmide do louvre. apesar de ser uma colecção monocromática, Gareth consegue inovar nos cortes, nas textura. no seu conjunto é uma lição de criativi-dade a saudar depois de termos visto mais do mesmo em milão. rumores dizem que este senhor com ape-nas 27 anos tem atrás dele o grupo lVmh de mar-cas de luxo onde se engloba a louis Vuitton e a dior homme, entre outras.

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axiomEdate: 2006type: chair

material: aluminium, poWder coated

size: 85 x 52 x 50 cmdesign: thomas Feichtner

producer: designWerkstätte schatzl, austria

pixEl Chairdate: 2009type: chair

material: stainless steel, polished

size: 70x 85x 64mmdesign: thomas Feichtnerproducer: schinko gmBh

one-oFF piece

texto: soFia saunders

jillrankin

Jill rankin, célebre fotografo de moda e co-fundador da revista Dazed and Confused, foi convidado a desen-volver uma campanha que celebrasse simultaneamente o V de vitória (primeiro objectivo em alta competição) e eugene Track, um dos ícones da Nike sportswear. ao contrário de outras campanhas sobre o mesmo tema onde o casaco se tornava naturalmente o protagonista

www.nike.com/sportswear

da imagem, rankin optou por fotografar um “V” de-senhado no torso nu de Didier Drogba, Vincent Clerc, rafael Nadal, andré arshavin e Cesc Fabregas, os atle-tas que dão a cara por esta campanha. o efeito do corpo tenso durante grito de vitória e a detonação de um pó azul, vermelho ou amarelo, criam um efei-to de explosão impressionante. Jill rankin defendeu o seu projecto afirmando que V desenhado no corpo remete directamente para a costura frontal de eugene Track, a principal característica distintiva do casaco. criado para atletas de alta competição, este casaco com zip à frente tornou-se ao longo dos tempos num dos emblemas do streetwear.

you Must

produção da campanha Victory

com andrÉ arshaVin

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you Must

texto:Bruno pires

laurela colecção masculina primavera-verão 09 Laurel da Fred perry tem a cultura musical negra como princi-pal inspiração, nomeadamente estilos como o ska, o soul e o reggae. a colecção é bem conseguida nas vertentes de cor, tecidos e corte. a paleta de cores incluem o prateado, o verde azeitona, o amarelo e o vermelho. os quadros são padrão omnipresente em toda a colecção, tanto na versão tartan aplicado no forro dum casaco como numa versão oversized colo-rida impressa num pólo branco. com uma qualidade de fabrico e pormenores de alta qualidade, a colec-ção traz-nos a malha “waffle” inspirada nas malhas dos anos sessenta e botões de blaser feitos de chifre verdadeiro. Fred perry é o exemplo de uma empre-sa histórica que se reinventa e que marca as últimas tendências propondo a conjugação de quadros com riscas, a par das cores saturadas.

www.fredperry.com

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texto:soFia saunders

clubmasterpara aqueles que procuram recuperar a magia dos anos 50 aderindo a uma tendência futura, a ray-Ban reeditou o Clubmaster original. actualizado nas cores, este modelo prepara-se para obter de novo a coroa do rock n’roll. com acabamento vintage, utili-zando materiais tradicionais, é a grande tendência da próxima estação.

a atenção colocada nos pormenores técnicos, combi-nada com um estilo requintado, fazem do Clubmaster o modelo clássico da colecção The icons da ray-Ban. tem linhas simples e sofisticadas, é perfeito tanto para homens como para mulheres e pode ser usado com lentes graduadas. este óculos são um ícone intempo-ral, transmitem a ideia de sucesso e estilo já definida por estrelas de cinema como matt damon em «o Bom pastor» e «o Talentoso mr. ripley» ou tom hanks em «apanha-me se puderes», entre outros.

www.rayban.com

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texto: soFia saunders

hermèsbaunilha

yslla nuit

dε l'hommε

lancômegenifique

esta fragância, com extracto puro de baunilha, é a nova proposta do perfumista Jean-Claude ellen para a Casa Hermès. um perfume solar e tropical, com leves notas de especiarias, ylang-ylang, misturadas com a doce e suave madeira de sândalo. a sua textura não é palpável e a sua personalidade evoca tanto a poe-sia como o exotismo das índias. uma viagem cândi-da pelos territórios do olfacto. a embalagem, como a Hermès já nos habituou, é de uma delicadeza e ele-gância extremas.

Vai ser lançado no mercado no final deste mês e pre-tende tornar-se um complemento à rotina normal de beleza, para ser usado antes de tudo. trata-se de um sérum de rejuvenescimento para homens e mulhe-res e o seu uso é recomendado para depois dos 30 anos. o produto adapta-se às necessidades de qual-quer tipo de pele ativando os genes e as proteínas cuja produção vai diminuindo com a idade. o aplica-dor é um conta-gotas e o produto é fluido, com uma textura leve facilmente obsorvida sem deixar resídu-os. este activador é resultado de 10 anos de pesqui-sa da Lancôme com o centro hospitalar da university of laval do quebeque.

procurando o sucesso de l’homme, a YsL lança o novo perfume La Nuit de L’Homme.

apela a uma atitude masculina irreverente. o novo protagonista é o actor Vincent Cassel, que incorpora os valores deste novo perfume, para nós fabulosamen-te negro, diabólico e sexy. Yves saint-Laurent foi em vida um homem de rupturas e a audácia desta casa será sempre esperada naturalmente. neste perfume dominam notas de cardamomo, bergamota, cedro e lavanda em fundo de vetiver.

www.hermes.comwww.lancome.com www.ysl.com

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texto: soFia saunders

fiat500c

no próximo salão de genebra será apresentado em antestreia mundial o Fiat 500C, cuja comercializa-ção a nível europeu se realizará na primavera. a ver-são cabriolé presta homenagem ao descapotável de 1957 conservando as mesmas dimensões do mode-lo de base (mede 3,55 metros de comprimento, 1,65 de largura e 1,49 de altura), propondo os mesmos três motores: turbodiesel 1.3 multijet de 75 cv e a ga-solina 1.2 de 69 cv e 1.4 de 100 cv).

disponível nas cores marfim, vermelho e preto, a ori-ginal capota poderá ser combinada com inúmeras co-res de carroçaria, duas das quais criadas ad hoc para o 500c: um fabuloso vermelho perlato e um especial cinzento caldo, típico dos carros super desportivos.

www.fiat.com

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sounDstation

Foi no passado dia 12 de Fevereiro que o álbum dos aquaparque foi apresentado no museu do chiado, integrado no sarau da produtora Filho único. a sala encheu-se para ouvir os teclados, caixa de ritmos, guitarra e vozes deste duo dinâmico que partilhou o espaço com gavin russom da editora norte-americana dFa, dirigida por james murphy dos lcd soundsystem. após edição do single e do ep (resultado de um registo de um concerto) e da participação na compilação Fnac novos talentos 2008, eis que surge o primeiro álbum: “É isso aí”.

pedro magina e andré abel conhecem-se desde cedo e desde cedo começaram a tocar juntos. “com 12, 13 anos começámos a tentar sacar os acordes de guitarra de nirvana e Beatles... na rtp1 passou a «Beatles: anthology», gravei isso numa Vhs e vimos isso vezes sem conta”, refere pedro. em 2003 começaram a tocar juntos no projecto dance damage, projecto esse que iria terminar com a saída do baterista.

um acaso deu Fim a um projecto e início a outro.

pedro e andrÉ Foram conVidados para actuar no outFest como dance

damage, em 2006, mas Ficaram sem o Baterista. como

a Vontade de tocar era grande, ensaiaram juntos e apresentaram-se como

aquaparque. surge agora o álBum de estreia, “É isso aí”.

texto: nuno sousa

é isso aíaQuaparQue

em 2006, foram convidados para actuar no festival outfest (no Barreiro). Fiéis ao compromisso, decidiram continuar a ensaiar e apresentar os aquaparque pela primeira vez. “Fomos convidados como dance damage [...] mas como ficámos sem baterista na altura e não queríamos deixar de estar presente, tentámos ensaiar apenas os dois... na altura o andré saltou para a bateria e eu fiquei com a guitarra e as teclas. o concerto correu bem, curtimos como poderíamos voltar a funcionar apenas os dois e começámos a trabalhar”, conta pedro.

ultimamente, têm aprendido a trabalhar à distância, uma vez que o pedro é engenheiro de som no porto e o andré reside em lisboa. mas a cumplicidade que foram criando ao longo dos anos facilita o processo de criação. segundo andré, é criado “em casa o esqueleto das canções via os loops que configuro no computador, escrevendo letras e levo para a sala de ensaio onde a partir daí ambos desenvolvemos arranjos de teclado e beats de caixa de ritmos. o pedro trabalha a voz, cria melodias, labuta na métrica até ficar do agrado dele, mas por vezes também faço coros ou jogos de vozes em determinadas partes com ele.”

os aquaparque avançam corajosamente com letras em português, sem receitas. uma reanimação a referências da velha guarda dos anos 80, mas com uma frescura própria da ruptura de quem experimenta novas sonoridades. se é certo que as referências deste álbum passam por pop dell’arte, Variações, ocaso Épico e pelo primeiro álbum dos heróis do mar, é também sabido que não se ficam por aqui e que têm uma identidade e conceitos muito próprios e fortes, que já vêm no seguimento do trabalho que foram desenvolvendo com os dance damage.

“É isso aí” conta com a distribuição da Flur e está disponível desde o mês passado. dez canções que ultrapassam rótulos e regras, mas que não deixam de ser universais e viciantes tanto pela própria estranheza e complexidade das letras de andré, como pelo enredo que nos vai levando até a algum sentido. aqui e agora, uma banda portuguesa a acompanhar.

www.Myspace.com/aquaparque

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sounDstation

com apenas 24 anos, este jovem músico oriundo de queluz, lugar onde também nasceu a editora Flor caveira, lançou já uma série de temas marcantes e promete trazer outra vitalidade ao panorama musical português.

a aprendizagem musical começou cedo: “estive na escola clássica desde pequenino, durante dez anos. depois estive um ano no hot clube, no jazz. só uns anos depois é que comecei a tocar guitarra e a compor canções que começaram por ser piadas musicadas e que depois se foram transformando em canções.”. homem dos sete instrumentos, multifacetado, considera-se um one man show mais de performance do que de concerto. chama happenings aos seus espectáculos, tem um modo muito seu de transpor os discos para o vivo e entende a música como forma de transmissão de saberes. É essa atitude que passa para o seu público: “as pessoas que não sabem o que hão-de dizer normalmente dizem que tenho muitos tomates. tenho público que acaba por ir a todos os concertos porque são sempre diferentes e ouvem músicas novas que acabei de fazer”.

À pergunta “como gostarias de ser visto?” responde que tem uma identidade própria e natural que lhe permite Fazer

discos e não só canções. diz, de si próprio, que mal

começa a Fazer uma canção Vê logo nela b-FaChada.

o seu púBlico tamBÉm.

texto: miguel Fernandes

quatro diasb-fachaDa

para Fachada um disco é uma experiência. “gravo trinta pistas por música, trinta instrumentos, dez coros. este último disco («Viola Braguesa») foi em quatro dias, quinze horas por dia. Foi uma experiência de mim para comigo”. e avança mais: “procuro gravar a um custo quase nulo. É o que fazemos na (editora) Flor caveira. não enterramos dinheiro em estúdio porque a indústria não o permite. eu não faço dez canções num ano. se quero fazer mais canções faço dez canções num mês.”

em 2008 aceita o convite de tiago pereira para participar no filme-tese «tradição oral contemporânea», já apresentado em público. “o tiago teve a sensação de ter ouvido aquelas músicas a vida toda e isso entra com aquela consciência do colectivo”. da experiência, que o levou a cantar no interior de trás-os-montes, retira esta frase de adélia garcia —cantadeira de trás-os-montes— que resume aquilo que entende por tradição: “eu ouço uma canção; se gosto, memorizo; se a memorizo, repito; e se a repito, modifico-a”. para Fachada a tradição é uma maneira de armazenar conhecimento colectivo comunitário, “uma biblioteca de uma comunidade que está toda na cabeça”.

podemos agora perceber melhor a sua forma de ver a música e o seu papel dentro dela: “divido a música em três géneros: erudito, tradicional e “popular”. (…) o erudito e o tradicional são eminentemente estéticos, ao passo que o “popular” é eminentemente pragmático, artesanal, com valores artísticos. dentro destes três géneros gosto de me ver no meio dos três. não fiz nem vou fazer recolhas. extrapolei do chamado processo de tradicionalização um processo pop pessoal. sou um cantautor pop”, isto é, um intérprete do seu próprio trabalho.

a zappa e tom Waits vai buscar a noção de canção contada e não apenas cantada. são exemplos de uma obra de carreira, com dedicação, muito trabalho “e muita transpiração”. o ecletismo experimentalista de Fachada não nega novas abordagens sonoras. “«Viola Braguesa» é um disco de canções e cada canção tinha de ocupar estilos diferentes consoante o que estabeleci. É isso que gosto de fazer. sei o que quero fazer no próximo disco e no outro a seguir. um dos meus projectos é mesmo fazer um álbum electrónico brevemente”. esperamos que daqui a quatro dias já o tenha pronto.

www.Myspace.com/bfachada

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sounDstation

a nota de diferença é dada na página myspace dos makongo onde no espaço reservado às influências se listam nomes como chemical Brothers, Basement jaxx, Fatboy slim ou groove armada (que denunciam a experiência londrina de sp) mas também timbaland e missy elliott— os pontos de ligação ao hip hop mais glossy que a dupla sp & Wilson mostrou saber praticar com o álbum de estreia, «Barulho», ou puto prata e Bruno m— estetas do kuduro por excelência. pelo meio ainda se tem que encaixar a referência aos daft punk e num parágrafo obtém-se o código genético de makongo: hip hop, r&b, kuduro, house, big beat. música de clubes. correcção: música de grandes clubes onde os sound systems debitam mais decibéis do que o metro de tóquio debita passageiros em hora de ponta. isto é makongo: sp & Wilson, mais petty (a voz de «yah» dos Buraka som sistema) e os DJs stikup e Knowledge. «angolan Kung Fu» é o título do álbum de estreia, bomba relógio prestes a explodir.

como é óbvio, não se pode separar o aparecimento de makongo do estrondo Buraka som sistema. o grupo de «Black diamond» cruzou com estilo a avenida que liga a moderna música de clubes ao kuduro que levanta pó nas ruas de luanda, conseguindo no processo levar o “rumble” dos seus sub-graves até pontos tão distantes da experiência musical nacional como nova iorque ou austrália, para mencionar apenas um par de exemplos. perante o sucesso obtido pelos Buraka

entre luanda, lisBoa e o resto do mundo, eis makonGo. um noVo projecto a sintonizar o kuduro com uma ViBração

mais gloBal que reúne o talento dos Sp & WILSon e de petty, a Voz de «yah» dos Buraka som sistema.

texto: rui miguel aBreu

kuduro mutanteMakongo

até pode parecer estranho que só agora surjam outros projectos a explorar premissas estéticas semelhantes, mas a espera parece ter rendido uma certeza: parece agora claro que a partir do bounce específico do kuduro é possível erguer diferentes visões musicais. «angolan Kung Fu» não soa a «Black diamond», mas Buraka e makongo soam ambos a uma áfrica futurista, encadeada pelas luzes que no clube iluminam os corpos que se movimentam em sincronia na pista de dança.

o rigor digital de «angolan Kung Fu» é pensado para excluir tudo o que é acessório e concentrar-se no que é essencial: os elementos rítmicos propulsores, os crescendos ácidos sintetizados, os sub-graves capazes de mover montanhas. É sobre essa fórmula simples, mas eficaz, que se constrói uma identidade que vive da mistura. escuta-se mandarim na abertura do disco, cruza-se português, inglês e calão de luanda, um órgão gospel sobre percussão digital, ruídos que parecem sair de jogos de computador. e num segundo parecemos transportados de luanda a lisboa ou de londres a miami. aqui a vibração é, definitivamente, global.

a experiência Buraka deixou claro que o circuito mundial de clubes e de festivais está perfeitamente ao alcance desta visão progressiva do kuduro. makongo pode seguir o mesmo caminho, tomando o carácter essencialmente lúdico e funcional da sua música como o combustível necessário para uma viagem que pode ser longa. mas, obviamente, a música não basta. ao vivo, os Buraka transformaram-se numa eficiente máquina de agitação de massas, transformando a sua singular visão de estúdio num show que enche a vista e que agita o corpo. essa é igualmente a missão de makongo, sabendo-se, no entanto, que a experiência acumulada por sp, Wilson e petty só pode ser um bom ponto de partida para uma aventura internacional bem sucedida.

«angolan Kung Fu» é totalmente produzido por sp e aprofunda a sua marca singular —um som que não é polido, que bebe em muitas fontes diferentes, mas que tem uma identidade na forma como procura o máximo impacto, sem atalhos, desvios ou distracções. na página myspace de sp anunciam-se novos projectos para 2009, incluindo um álbum a solo. será curioso perceber o que irá congeminar alguém que já tem provas dadas nos campos do hip hop, do r&b, do beatboxing e agora também de um kuduro mutante que abraça a sua vocação global. Ficamos à espera.

www.Myspace.com/Makongo1

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uma flor perfumada, que resiste delicada e exuberante às intempéries do vento seco, do solo desértico, às chuvas intensas do Verão. labiata, a rainha do nordeste brasileiro, é uma orquídea, e também o título do mais novo álbum do cantautor e orquidólatra confesso, Lenine. com onze canções, o álbum de originais que sucede "Falange Canibal" é também um trabalho mais íntimo, que não esquece o recado sobre o futuro do planeta.

as onze faixas destacam-se pela versatilidade dos arranjos e sonoridade contemporânea, que o pernambucano radicado há mais de vinte anos no rio de janeiro domina tão bem. "martelo bigorna" abre o disco em força, atravessando o peito de quem não descansa enquanto não alcança os seus sonhos —a canção mais autobiográfica do disco. "Lá vem a cidade" mostra um Lenine mais suave, subtil, poesia de mensagem dura e ritmo manso; "a sombra do futuro e a sobra do passado" assombram-no em "É o que interessa". e enquanto "a mancha" anuncia tragédias ecológicas, "É fogo" grita que "o verde em cinzas se converte logo, logo", alertando que "o estrago vai ser pago pela gente toda."

este mês LenIne retorna aos palcos nacionais, desta Vez com uma Flor na Bagagem: laBiata, o seu último álBum

de originais após seis anos de interregno.

texto: cristina parga

a nova florlenine

apoteótico, exagerado? À primeira audição, talvez. mas o que mais assusta na natureza humana é o fechar dos olhos, a negligência. e contra isso a poesia das letras desperta-nos, instiga-nos, pergunta-nos bruscamente "porque você não acredita?" (em "o céu é muito", canção composta em parceria com arnaldo antunes). e pede-nos, no fim, para acreditar.

para gravar «Labiata» Lenine contou com parceiros musicais de longa data como Bráulio tavares, lula queiroga, duda Falcão e até mesmo com os três filhos, que unem as suas vozes no coro de "continuação". com a pós-produção feita nos estúdios de peter gabriel o álbum ganhou em tons ecléticos, que vão dos instrumentos de cordas intimistas à guitarra distorcida mais rock n´roll, sempre com um afiado apelo pop.

em "samba Beleza" há uma parceria póstuma com chico science, numa canção elaborada a partir das anotações que a irmã do rei do mangue-beat ofereceu a Lenine. o resultado é uma união entre música e poesia delicada e emocional, como somente uma dupla deste peso poderia realizar. Fina e delicada é também "Ciranda praieira", que conjuga gaita de foles e violinos numa canção sobre um romance que desabrocha no ir e vir das ondas do mar, na roda da sorte. refinado e bruto, subtil e escancarado, o legado musical de Lenine é visível nas onze faixas, que fundem magicamente ritmo e melodia, palavra e música, voz, percussão. tão suave e agreste, frágil e robusto, raro e sedutor como a flor que lhe apadrinha.

www.lenine.com.br

dia 21, cinema Batalha, portodia 22 aula magna, lisBoa

english version 96 44

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viewpoint

a impressão gráfica é uma das paixões de mark Wagner, um artista e designer gráfico norte-americano que captou recentemente a atenção pública com uma exposição onde mostrava uma série de trabalhos que tinham como base a imagem de um dólar. esta série, intitulada Fortune's Daughter, foi iniciada em 2004, antes da crise financeira americana e por isso considerada premonitório de todo o ambiente catastrófico que se seguiu. de certa forma viram nessa obra a ilustração perfeita do colapso do capitalismo e da desmoralização de toda a américa.

texto: Francisco Vaz Fernandes

fortune's daughter

o grau de improbabilidade social vivida nos últimos anos nos eua com o governo de Bush mereceu a atenção de Wagner, que procurou questionar com fina ironia os alicerces do seu país partindo de um trabalho digital minucioso de corte e cola. criou um certo ambiente surreal para atingir em cheio os valores mais profundos da américa contidos no próprio dólar: a nota verde representa o mito fundador vivido na imagem de george Washington que personifica o garante dos direitos e liberdades conquistadas. por outro lado o seu valor fiducial é a base da hegemonia político-económica. estas certezas são de alguma forma relativizadas nas composições de Wagner. o fundador aparece entre o endeusamento e o caricato, cercado de motivos decorativos dados por uma nota desvalorizada e desmoralizada. por essa razão houve quem visse nos seus trabalhos “a imagem” subtil do descrédito popular no actual establishment político e económico.

mark Wagner vive em Brooklyn, actualmente o bairro de manhattan com maior número de artistas por metro quadrado. entre as muitas actividades em que se envolve promoveu espírito cooperativo entre artistas e residentes do bairro; adquiriu uma pequena gráfica obsoleta que está na base da editora Bird Brain, dedicada essencialmente à produção limitada de livros de artistas.

www.pavelzoubok.comwww.smokeinMyDreams.com

M a r k w a g n e r

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Fortune's Daughter serie, 2004.the economist

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Fortune's Daughter serie, 2004. reputation preceeds you.

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Fortune's Daughter serie, 2004.a little Bird told me.

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granDe entrevistaenglish version 96 50

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ninguÉm diria que tamBÉm canta. no seu último liVro de contos escreVe soBre

a cidade e as pessoas, mas acaBa de lançar um disco onde essas histórias do

quotidiano tamBÉm existem. JaCInto LuCaS pIreS tem

uma Banda, os quais, um projecto tão despretensioso

como surpreendente.

Jacinto lucas pires

granDe entrevista

texto: carla isidoro · Fotos: joão Braz

www.myspace.com/osquais

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granDe entrevista

vaMos coMeçar pelo Disco. ninguéM iMaginaria Que fosses lançar uM Disco e ter uMa banDa chaMaDa os Quais. onDe foraM buscar este noMe?nunca sabíamos que nome arranjar. depois descobri-mos esta espécie de não nome, os Quais. gostámos de fugir à ideia de nome…pensámos nos the the, que seria os os. uma coisa de que gosto é que há lá um ponto de interrogação implícito, como se per-guntasse “quais são? quem?”.

o Disco Deixa interrogações no ar. coMeça no noMe Do projecto e passa pelo noMe Do Disco , «Meio Disco». chaMa-se assiM porQue só gravaraM seis teMas?É por isso. na altura das gravações o Tomás Cunha Ferreira, o outro qual, estava a dizer ao José Tolentino mendonça (que participou no disco) “isto não é bem um disco, é mais um meio disco”. de repente pará-mos e olhámos uns para os outros e percebemos que aquele ia ser o nome.

e onDe é Que ficaraM os outros teMas?ter seis já foi uma sorte. não tínha-mos dinheiro para a produção, gra-vámos em casa de amigos. tivemos a sorte da amor Fúria produzir e ain-da pagar algum tempo de gravação nos estúdios caseiros do josé castro e Bernardo Barata. o tomás é pintor, eu sou escritor, ambos temos família e ar-ranjar tempo para tudo foi complicado. chegarmos às seis músicas foi um luxo.

e fazeM Meios concertos?Fazemos meios concertos e concertos inteiros. nas Fnac fazemos meios, é o melhor formato.

então ao vivo apresentaM teMas Que não estão no Disco. Que teMas são esses?temas originais nossos que eu espero integrar num próximo disco. também temos uma versão dos arcade Fire em português. mas não soo nada a arcade Fire, receio dizer.

tiveste aulas De canto?há muito tempo, ainda estudava direito na católica, andei um trimestre no hot clube mas não continuei. aliás o tomás também lá esteve nessa altura a to-car guitarra.

já eraM aMigos nessa altura?sim. já fazemos música juntos há quase vinte anos, éramos colegas de escola.

fizeste aulas De canto no hot clube?aulas de música. também tinha aulas de voz, audi-tivo, solfejo, introdução ao jazz, etc. mas posso di-zer que sou um autodidacta.

as letras Do Disco são tuas?a regra é assinar as músicas em comum. o tomás faz a música e eu a letra, mas há excepções. e às vezes é difícil ver o que é de um e o que é do outro, por isso assinamos tudo em conjunto.

fiQuei coM a iDeia De Que as letras eraM De piet MonDiran , uM noMe Que aparece no Disco.esse nome é uma gralha, devia ser mondrian, o pin-tor. temos uma canção chamada «mondriânica» que diz (e cantarola) “mondrian mon amour..”… É uma espécie de homenagem que o tomás, enquanto pin-tor, quis fazer ao mondrian, e saiu assim em forma de música. há um texto do mondrian só com ono-matopeias como “rrr”, “ué ué”, como se fossem ba-rulhos da cidade, e o péricles cavalcanti fez uma espécie de cobra musical a que chamou de boogie concreto, a partir desse texto. passámos-lhe o texto e ele fez a instalação concreta que vem na canção.

tinha ficaDo coM a iDeia Que era uM saMple Do cavalcanti Mas só Depois percebi Que foi uMa coMposição feita para o Disco.sim, foi feito para ali.

coMo é Que chegaraM a ele? é uM noMe Do Meio intelectual Do rio De janeiro. é vosso aMigo?É um grande compositor, um músico interessante que já gravou com toda a gente que interessa. não é um ami-go pessoal, mas foi sempre muito ge-neroso connosco. gostou das nossas coisas, e pronto. havia a hipótese de produzir o disco inteiro lá com os mú-sicos dele, mas não tinhamos dinhei-ro pra viajar.

uMa Das coisas Que agraDaM no Disco é o seu laDo Despretensioso. tu cantas coMo se estivesses entre

aMigos , seM granDes preocupações. Dá-nos a iDeia Que gravaraM uM Disco porQue siM , porQue são aMigos e tocaM juntos há Muito teMpo.É mesmo isso, ainda bem que isso passa. há muitas desvantagens em não ter uma logística profissional, perde-se muito mais tempo, mas há a vantagem de estar em casa de amigos e ter prazer no que se faz. há a desvantagem das imperfeições técnicas, que as haverá de certeza, mas há uma vantagem de não ser o teu ofício base e estás a fazê-lo por prazer.

é uM Disco Despretensioso ou Meio Despretensioso?espero que seja despretensioso mas ambicioso ao mesmo tempo. há uma ambição pública de fazer-mos uma coisa que mais ninguém está a fazer cá. embora haja ligações com pessoas que estão a fa-zer música —agora tocámos em Famalicão como os pontos negros e tiago guillul— há uma diferença que é a nossa. talvez seja essa ligação ao Brasil ou essa coisa meio atlântica que tem a ver com a es-trutura das palavras e das histórias que contamos.

Queres uMa coisa séria.sim, e bem feita, que esteja no mesmo campeonato das coisas profissionais. os grandes músicos profis-sionais brasileiros da nossa idade, como o doménico ou o pedro sá, são craques virtuosos a tocar em cima do palco com o caetano e outros mestres, mas que têm uma boa onda de tocar com os amigos, infor-mal, e não fazem caixinha do seu génio privado. cá não se vê muito.

há essa leveza no vosso trabalho. e taMbéM está lá o teu cunho , pelo Menos nas letras sente-se uM pouco Das personagens Que encontraMos no teu livro De contos. coMo se o Disco fosse uMa extensão Da tua profissão De escritor. Várias letras vêm da minha escrita, é verdade que algumas são quase histórias. «a rapariga da caixa» é quase uma personagem e nesse sentido tem a ver com um conto, queremos saber quem ela é. o for-mato de canção permite uma liberdade que não te-mos quando escrevemos uma história, precisamente porque não tens de fazer uma história numa letra de canção… podes só atirar algumas imagens.

é uM processo Mais liberto?É porque tem uma limitação tão grande que para-doxalmente dá maior liberdade. também sinto isto no conto em relação ao romance. o conto, por ser mais contido, dá maior liberdade. no romance pre-cisamos de uma estrutura mais rigorosa e matemá-tica que segure tudo aquilo. na canção há a limi-tação da métrica e a da música e tens a própria relação das palavras com a música. não podem estar as duas a ir para o mesmo sítio, eu gosto de contrariar. gosto especialmente da canção do lou reed «a perfect day» em que a letra diz que é tudo maravilhoso, vamos passear no jardim zoológico… mas a forma como o reed canta é ao contrário, ele está deprimido. gosto desse tipo de ambiguidade e jogo. o poeta Valery dizia que a poesia era a he-sitação prolongada entre o som e o sentido. eu não sei fazer poesia mas pelo menos aqui, nesta rela-ção de prosa, letra e música, posso chegar mais per-to dessa hesitação prolongada. não é uma coisa nova para mim, faço isso há 20 anos com o tomás, mas hoje sinto-me mais à vontade. e esta coisa de tornar a música pública e estar mesmo dentro das minhas letras…

é Mais exigente para ti , De alguMa forMa?algumas músicas já existiam. quando não gravas há o problema de elas nunca ficarem terminadas. tens de as gravar pra te separares delas e poderes dizer “eu não gosto da minha voz ali”.

no Disco cantas Mas taMbéM assobias. é curioso Que o teu últiMo livro , o De contos , chaMa-se «assobiar eM público» e a priMeira história Do livro teM o MesMo noMe. a história pareceu-Me uMa estalaDa De luva branca à socieDaDe portuguesa coMo ela está hoje. era essa a tua MensageM?não gosto de falar das mensagens dos contos, elas es-tão lá e falam por si. mas também não podemos fugir ao que estamos a dizer e ao que está lá está escrito.

espero que seja despretensioso mas ambicioso

ao mesmo tempo. há uma ambição

pública de fazermos uma coisa que mais ninguém está

cá a fazer.

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pareceu-Me uMa Metáfora Muito subtil.ainda bem, as metáforas têm de estar do lado de quem lê. acho até que um dos problemas da nossa literatura é que quem escreve está a escrever a me-táfora, a sentir que está a escrever a grande metá-fora da sociedade portuguesa, e topas isso quando estás a ler. É uma espécie de gordura, de esforço, torna as frases moles. gosto de comover as pessoas não pela lágrima e pelo sentimentalismo, mas atra-vés do concreto, do tangível, da lama e de pedaci-nhos metálicos das latas no chão…

na eDição De janeiro Da revista ler Dizes , eM auto-entrevista , Que “não poDeMos continuar a ser uM país De eMpatas”. encontrei uMa ligação entre alguMas afirMações , os contos Do teu livro e o assobio. levou-Me a pensar se o assobio público não poDeria ser uM MétoDo anti-eMpata , uMa alavanca para a MuDança?o assobio pode ser subversivo. acho que as mudanças precisam de um pre-texto, seja um assobio ou uma palavra de ordem…

és uM assobiaDor?assobio de vez em quando, mas sou mais um cantor de chuveiro. agora as-sobio em público quando tocamos o «recado». Às vezes desmancho-me a rir, é tramado assobiar.

Mas voltanDo à outra pergunta …as mudanças não começam por con-tos nem por canções. mesmo quando a «grândola Vila morena» toca na rádio, ela é uma senha, simboliza um momen-to em certa altura. as mudanças pas-sam por acções, por pessoas que agem. acho que isso falta um pouco, ter iniciativa e ir em frente. o assobio metafórico de que falas pode ajudar a sub-verter, a desmanchar alguns podres, a fazer ruir o pilar de um edifício aqui ou ali, mas é essencial que se façam coisas. Falta esse passo na nossa geração, o de passarmos das palavras aos actos. passarmos do assobio à palavra que age mesmo.

se passásseMos a assobiar eM público toDos os Dias alguMa coisa iria acontecer De certeza. coMo tu Dizes na auto-entrevista , QueM assobia eM público teM De ter uMa granDe auto-estiMa.sim, sermos mais públicos. imagina, se fossemos 10 milhões a assobiar no terreiro do paço o gover-no podia cair, um regime pode mudar. isso nunca foi feito (risos).

Dizes Que «assobiar eM público» é uM noMinho para a palavra conto. é uMa palavra coMuM eM cabo verDe Mas pouco coMuM cá. significa alcunha ou peQueno noMe. alcunha De conto?os brasileiros também a usam. um conto pode ser uma espécie de sombra ou eco. tem a ver com a li-berdade de que falei há pouco, a liberdade do ro-mance…alguém um dia disse que nos meus contos há muitas ruas, muitas casas, que muitas histórias partem dos quartos ou das salas-de-estar…eu tenho muito isso, as histórias partem da cidade. sinto que o conto pode ser mais político - no sentido lato de ser público, de ser da cidade - do que se calhar um romance. embora os meus dois romances tenham ideias políticas lá pelo meio. isto é mais vital no con-to, a ideia de liberdade em público.

as tuas histórias apresentaM cenas e pessoas Que , se olharMos à volta ,

encontraMos facilMente no QuotiDiano. QuanDo passeias pela ciDaDe tiras notas Do Que vês? as pessoas que me conhecem dizem que sou um distraído observador. sou distraído, tenho má memória, lembro-me de pequenas coisas. acho que isso acontece porque escrevo histó-rias. tenho a convicção que devo ter um sistema de compensações que retira da memória biográfica e factual para poder ter outras, como uma espécie de memória ficcionada que me permi-te escrever histórias. escrevo muitas ve-zes a partir da fantasia e da imagina-ção, mas tem momentos que os outros reconhecem. mas não gosto de disse-car as histórias, fico paralisado. muitas

vezes as histórias partem de imagens fortes e para começar a escrever a imagem tem de ter um misté-rio qualquer, algo que eu queira descobrir. e deve mostrar-se como uma ideia muito precisa.

coMo é Que entras na cabeça De uMa personageM QuanDo ela fala e toMa DeterMinaDa Decisão?É sentires que estás naquele lugar, és aquela pes-soa. um pouco como o leitor que está a ler um livro e acredita que está a acontecer certa coisa. quando a história está bem feita acreditas no que está a acon-tecer àquela pessoa e por isso é que te afliges, iden-tificas-te com ela, ela és tu. tem de ser verdade.

iMplica conhecer várias personaliDaDes e Diferentes tipos De aMbientes.É estar aberto ao mundo. É quase não criar obstá-culos a isso, mais do que fazer alguma coisa. há um instinto natural de querermos ser outras pesso-as, querer ter mais mundo. a dificuldade na escrita é não criar obstáculos a que isso aconteça, tens de ser permanentemente honesto com aquilo. dá um trabalho do camandro. na escola de cinema ame-ricana onde estudei diziam-nos para não nos deixar-mos apaixonar por um plano porque na montagem aquele plano podia ter de cair. podia não ajudar o resto, ser um peso.

o Que é Que MuDarias na ciDaDe e nas pessoas se puDesses fazê-lo?tornaria a cidade mais aberta por dentro, acho-a muito trancada. há um lugar onde estão os que vie-ram de cabo Verde, os que vêm da china têm aque-las lojas… acho que a própria geografia da cida-de desmente esta injustiça. há que arranjar canais e misturar mais. há algumas boas ideias mas falta ser mais ambicioso e transformador. quem tem o po-der político e consegue chegar ao dinheiro através de mecenato e empresas tem de desenhar esses ca-nais. Falta uma cidade mais em rede.

vês portugal coMo uM país racista?há um racismo calado, surdo, que às vezes é pior que um racismo formal e ostensivo. É mais difícil de combater. sente-se que está ali debaixo, vê-se na maneira como as pessoas olham, recusam empre-go, como desconfiam. como é que se combate isso? quando se confrontam os racistas eles dizem “não, não, não sou racista”. devia haver um esforço de maior solidariedade e de maior cosmopolitismo. o manuel castels quando falou sobre o milagre eco-nómico finlandês nos anos 90 dizia que esse “mila-gre” fez-se de boas cabeças que vinham de fora e também porque havia um corpo social aberto e sóli-do. sentes-te bem numa cidade porque ela tem ópti-mos restaurantes e livrarias, uma movida interessan-te, mas também tem óptimos hospitais públicos e a pessoa que tem um trabalho mais modesto sente-se bem disposta porque tem acesso a essas benesses. quando o país tiver esse corpo social aberto as ca-beças de fora também querem vir para cá.

lisboa agora está a tentar firMar-se coMo uMa ciDaDe criativa.acho um bom caminho, mas tem que se ser realmen-te ambicioso. não podem ficar-se nas meias tintas portuguesas.

tornaria a cidade mais aberta por

dentro, acho-a muito trancada.

há algumas boas ideias mas falta ser mais

ambicioso e transformador.

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as pastilhas da calçada começam a derreter vaga-rosamente e a desenhar novos contornos de croché nos passeios. ele e ela apanham o autocarro, com as mangas da camisa agora curtas e limpam o suor da testa. o calor intolerável instigou as glândulas sudoríparas e vêem-se auréolas aquosas plurimór-ficas nas apertadas axilas das roupas andrajosas dos passageiros da carreira. abril está quase no fim. ele e ela saem de mãos dadas na paragem se-guinte, tropeçam, caem e desmaiam de boca aber-ta. junto à cabeça dele e junto à cabeça dela no chão, já com alguma saliva a consumir a tinta, resi-de um folheto amarelo sujo que parece querer sol-tar-se. a velha tuberculosa ao passar, de cesta cheia com peixe e frutas na mão, ajeita o xaile e agarra o papel, que sete passos à frente deita, imediata e displicentemente, fora. a tosse sangrenta começa e o indieLisboa também, com retrospectiva herzogia-na na mala. o papel voa novamente até ele e ela, que acordam e se levantam. Vasculham a mala, lim-pam a boca e procuram os bilhetes para a sessão. Às 17h57m entram na sala.

o maNiQUEÍsmo VirUlENTo do dUQUEWerner Herzog nasce em munique a 5 de setembro de 1942. nascido e criado no campo, só aos 17 anos é que realiza o seu primeiro telefonema a par-tir de uma cabine telefónica, o que não deixa de ser curioso já que o seu primeiro filme se materiali-za dois anos após a dita chamada, com uma câma-ra roubada. de verdadeiro nome Werner H. stipetic, adopta o apelido de Herzog quando enceta a car-reira artística, que significa duque em alemão. tal como rainer W. Fassbinder e Wim Wenders, Herzog integra a nova vaga de cinema alemão dos anos 70. os seus filmes são na sua maioria ficcionais, mas o cineasta concretizou diversos documentários, o que explica a hibridez e natureza das suas obras, que, por vezes, se revestem de um documentarismo com laivos ficcionais ou de uma ficção que mais parece um documentário (“Coração de Cristal” ou “onde so-nham as formigas verdes”). Werner Herzog assume, na maior parte dos seus filmes, a produção, realização e o argumento, o que explica e substancia a obsessão omnipresente e quase um leitmotiv das suas obras, indiscutível em “aguirre, a cólera dos deuses” (1972) ou “Fitzcarraldo” (1982). este modus operandi obsessi-vo deixou marcas indeléveis na vida do cineasta: hipnotizou todos os actores em “Coração de Cristal” e fez o percurso munique – paris a pé, como cum-primento de promessa, caso uma amiga muito pró-xima recuperasse de uma doença grave, o que ori-ginou, posteriormente, um livro de reflexões sobre a vida escrito durante a interminável caminhada. outro dos factos singulares da vida herzogiana re-vela-se no documentário inusitado “Werner Herzog eats his shoes”, dirigido por les Blanks, onde o rea-lizador depois de perder uma aposta com um ami-go é obrigado a comer a sola dos seus sapatos. a obsessão do duque assumiu, desde sempre, dimen-sões maniqueístas e violentas, sendo que a mais pre-ponderante foi indubitavelmente a sua relação com o actor klaus kinski, amigo e actor dos principais filmes do cineasta. “my best Fiend”, de 1999, feito a partir de making-of de filmes e documentários, retra-ta a ligação desassossegada e conflituosa entre o realizador e o actor, sendo que a omissão da letra r da palavra friend é intencional e consubstancia a essência dos laços entre os dois.

este ano há Werner herzoG no indie. o apocalíptico realizador Vem a lisBoa

mostrar que as solas de sapato são passíVeis de

ingestão. a comproVar, a partir de aBril, os puzzles

insondáVeis do duque alemão.

texto: joão telmo dias

o actor chegou mesmo a escrever um livro autobio-gráfico intitulado “all i need is love” onde condenava Herzog, acusando-o de tirano e obsessivo. contudo, no documentário “my best Fiend” os dois desmistifi-cam essas afirmações e klaus admite que serviram unicamente para um aumento das vendas do livro. kinski acaba por morrer em 1991.

num acervo tão vasto e majestoso como é a obra de Herzog, torna-se indispensável destacar “aguirre, a cólera dos deuses”, com uma equipa inteira a enfrentar durante meses a fio a floresta amazónica e um dos seus mais aclamados filmes, assim como o remake de “Nosferatu” (1978), “o enigma de Kaspar Hauser” (1974), o documentário sobre a vida de dieter dengler “Little Dieter needs to fly” (1997), “Woyzeck” (1979) e “Fitzcarraldo” (1982).

será difícil fechar Herzog hermeticamente numa cate-goria, já que o autor se reinventa e multiplica, derra-mando inteligência e magnificência na sua colérica e feroz fantasmagoria cinematográfica, que conta já com mais de 40 obras. imperdível a retrospecti-va proposta pelo Festival indie. Werner Herzog e a jacques nolot são os convidados da secção heróis independentes da edição deste ano. serão exi-bidas 36 obras dos dois realizadores, 26 das quais de Herzog. ambos vão estar em lisboa no decor-rer do festival.

ElE E Elasaíram da sala às 19h55m. ainda tinham as mãos da-das, mas o suor da testa tinha desvanecido. Werner Herzog navegava-lhes na mente. as axilas estavam se-cas. e depois disso, sempre juntos, no autocarro ou na rua, de mão dada, nunca mais voltaram a tropeçar.

as epístolas oBsessivas do duquewerner herzog

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Werner herzog

o enigma de kasper hauser

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* conVidámos mário Freitas da kinpin Books para escreVer soBre «Watchmen»; tanto esta Bd como o respectiVo making oF, «Watching the Watchmen», estão À Venda na loja. www.kingpin-of-comics.net

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“a melhor noVela gráFica de sempre!”. talVez a Frase que mais se ouViu soBre

WatChmen ao longo dos últimos dezoito anos. após

Vários anos no limBo legal de hollyWood, estreia Finalmente

a adaptação ao cinema da mais aclamada oBra de sempre da Bd americana.

texto: mário Freitas*

watchmenos guarDiões

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editado em 1987, quando os últimos dias da guerra--Fria se aproximavam, «Watchmen» marca a vira-gem definitiva na abordagem narrati-va à Bd de super-heróis, desmontando e desconstruindo todos os clichés e ro-mantismos associados ao género, mui-tos deles vigentes desde a sua massifi-cação a partir do final da década de 30. desde a primeira vinheta, a obra suprema dos britânicos alan moore e Dave Gibbons marca indelevelmente um estilo: o comediante morreu, e a sua imagem de marca, um crachá amare-lo com um simples smiley, jaz ensan-guentado numa sarjeta de uma rua de nova iorque. É o fim da inocên-cia dos super-heróis. em «Watchmen» os super-humanos envelhecem, têm falhas de carácter, dúvidas, depres-sões, caem em desgraça, matam e mor-rem. paradoxalmente, o impacto de «Watchmen» na Bd americana foi tal que gerou uma pletora de cópias e imi-tações baratas —repletas de estilo, mas sem qualquer substância— que quase arruinaram a indústria durante a dé-cada seguinte.

a história transporta-nos a 1985. os estados unidos venceram a guerra do Vietname e richard nixon ainda é pre-sidente. Dr.manhattan, o super-herói quântico supremo, é a pedra basilar do poderio militar americano que, no auge da guerra-Fria, mantém o eter-no inimigo russo em constante cheque. porém, os ponteiros do relógio do juízo Final estão fixados em permanência nas 5 para a meia-noite. primeiro, os super-humanos foram ilegalizados; agora, começam a ser suprimidos. num mundo mergulhado num es-tado de aparente letargia, a morte do Comediante poderá ser o gatilho que colocará todo o sistema instituído e, em última instância, a própria humani-dade, em causa. e caberá aos regressados e res-tantes watchmen (guardiões) evitá-lo a todo o custo, mesmo que o preço seja a sua própria humanida-de. ou a sua alma.

em termos visuais, «Watchmen» assenta apropriada-mente numa estrutura básica de 9 vinhetas por pá-ginas, numa grelha em registo clássico que confere uma rigidez imprescindível ao tom narrativo, denso e quase claustrofóbico. a solidez artística de Dave Gibbons e a sua atenção ao mais ínfimo dos deta-lhes são perfeitamente complementadas pela palete de John Higgins. este fugiu deliberadamente às co-res primárias usualmente associadas ao estilo, op-tando antes por tons secundários que poucos à par-tida imaginariam resultar, como castanhos, roxos, ocres, rosas e laranjas.

outra das experiências mais curiosas no livro é a inclusão de narrativas paralelas, em clara analogia

com a trama principal. num mundo em que os super-heróis fazem parte do quotidiano, histórias sobre o tema não exercem qualquer apelo e os leitores viram-se sobretudo para, imagine-se, comics de piratas, habilmente recria-dos e incluídos por moore e Gibbons no contexto da própria narrativa cen-tral. adicionalmente, no final de cada capítulo, moore faz uso de apêndices em texto que enriquecem a experiên-cia de leitura, conferindo toda um en-volvência histórica que dá à obra um carácter quase real, através de trechos de livros ou recortes de jornais imagi-nários das épocas que antecedem o presente de «Watchmen».

dentro da contextualização histórica, os paralelismos políticos assumem par-ticular significado e é curioso verificar como tanta vez a realidade imita, tar-diamente, a ficção, revelando bem à saciedade a capacidade visionária de alan moore, o fleumático inglês que se tornou no mais premiado argumentis-ta de sempre da Bd… americana. em «Watchmen», richard nixon, em alta após a vitória na guerra do Vietname, perpetua-se na presidência dos estados unidos graças à aprovação de uma le-gislação especial que possibilita a sua recandidatura para além de dois man-

datos. situação precisamente análoga à que se vive agora na Venezuela com a tentativa bem sucedida de hugo chávez em se perpetuar no poder via ree-leições sucessivas supostamente democráticas.

aliás, a forma como moore reescreve a verdadeira história dos estados unidos chega a assumir laivos de uma malvadez subtil. qualquer leitor mais dis-traído poderá passar ao lado da breve menção ao assassinato de Woodward e Bernstein, os dois jor-nalistas do Washington post que investigaram e tor-naram público o caso Watergate, que viria a deter-minar a renúncia de nixon a meio do seu segundo mandato. na realidade alternativa de «Watchmen», a supressão estratégica dos dois repórteres implica o abafamento do mediático escândalo, salvaguar-dando nixon de quaisquer consequências. porém, no mundo reinventado por moore, o nixon de 1985 já não é o homem firme e determinado de outrora, an-tes parecendo uma bizarra fusão entre a versão pré-alzheimer do presidente americano ronald reagan e a “dama de Ferro” britânica dos anos 80, a en-tão primeira-ministra margaret thatcher —talvez as duas figuras mais odiadas pelo liberalismo e pela esquerda britânicos da época, que alan moore tão bem personifica.

aliás, esta quase militância anti-sistema de moore tem-no colocado em permanente confronto quer com as grandes editoras americanas, quer com os estúdios de hollywood que têm adaptado as suas obras ao cinema, com resultados no mínimo pouco brilhantes. depois do inenarrável «liga dos cavalheiros extraordinários», do incipiente «From hell – a Verdadeira história de jack, o estripador» e do razoável, mas adulterado, «V for Vendetta», o realizador zack snyder, que adaptou «300» de Frank miller ao grande ecrã, foi o escolhido para di-rigir a mais ambiciosa adaptação de sempre, com um orçamento que parece acompanhar as enormes expectativas. depois de quase 18 anos de dispu-tas legais entre a Warner e a Fox pelos direitos da adaptação, e uma derradeira investida da segunda que quase liquidou a estreia para a data prevista, a margem para erro é praticamente nula.

a versão cinematográfica de «300» era fria e plás-tica, demasiadamente digital para recriar a brutali-dade das batalhas entre espartanos e persas. mas «Watchmen», além de um orçamento largamente su-perior, conta com a eloquência cínica e os diálogos fluidos de alan moore que contrastam bem com o dis-curso “duro de rins” e ostensivamente estereotipado de miller. e isto poderá servir melhor a transposi-ção de «Watchmen» para o cinema. os dois trailers já lançados prometem: a verosimilhança de guarda-roupas, cenários e situações parecem indiciar uma adaptação respeitosa do livro. mas o sucesso, pelo menos crítico, do filme, estará na sua capacidade de transmitir as subtilezas narrativas que transforma-ram «Watchmen» na obra de referência que é hoje. recriar as montanhas de marte ou a fortaleza polar de ozymandias, o “homem mais inteligente do mun-do” não será tarefa difícil. mas até no cinema, “deus encontra-se nos detalhes”, mesmo que, neste caso, deus se chame afinal Doutor manhattan.

em «Watchmen», richard nixon,

em alta após a vitória na

guerra do vietname,

perpetua-se na presidência dos estados

unidos graças à aprovação de uma legislação

especial que possibilita a sua recandidatura

para além de dois mandatos.

situação precisamente

análoga à que se vive agora na venezuela.

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FotograFia: pedro matosprodução: Conforto modernomake-up: Vera pimentão

agradecimentos ao Fontana park Hotel www.fontanaparkhotel.com

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DesigncineMa

conVidámos Sandra barata beLo & pedro LIma para uma sessão de Fotos e conVersa. a ideia era juntar dois dos actores mais proeminentes da actualidade, passar algum tempo com eles e FotograFá-los num dos nossos hotÉis FaVoritos, o Fontana park. a Sandra popularizou-se no recente Filme «amáLIa» e o pedro tem protagonizado em diVersas noVelas e Filmes. pensámos em algumas perguntas iguais na tentatiVa de encontrar pontos em comum entre amBos, mas acaBaram por reVelar-se pessoas Bastante diFerentes. não queríamos puBlicar um perFil jornalístico de dois actores nem Fazer perguntas especiFicamente proFissionais. a ideia era diVertirmo-nos numa sessão declaradamente anti-crise. entre mudanças de roupa, maquilhagem e poses FotográFicas, trocámos dois dedos de conVersa.

texto: carla isidoro · FotograFia: pedro matos

pedro LimaFato, camisa e graVata hugo Boss

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central parQ

a Sandra diz que É uma sonhadora, mas somente atÉ “ao ponto de ViVer Bem com a realidade”. usa Florais de Bach nos momentos de maior stress e ansiedade, apaixonou-se por amália na Fase de preparação para a personagem, e adora perceBer as diFerenças Biológicas e psicológicas que separam os homens das mulheres. diz que as pessoas têm de reserVar um espaço para o uniVerso dentro delas próprias, que a Vida no planeta terra É um priVilÉgio cheio de cor, prazeres e dor, mas que haVerá outras Formas de Vida igualmente interessantes em planetas a descoBrir. sente que a actual crise É uma Boa oportunidade para haVer uma mudança no paradigma social que nos tem guiado e para instalarem-se noVos Valores. está conVicta que o saldo Vai ser positiVo.

saNdra BaraTa BEloaté gosto Da crise porQue …as pessoas questionam-se; normalmente a seguir a uma crise há mudança, os hábitos alteram-se.

uM boM peQueno alMoço Deve ter …tomate e chá

se a nasa Me enviasse à lua , carregava a Minha bagageM coM …livros, música e cadernos de folhas brancas

se puDesse jantar coM a aMália leva-a …a um piquenique lanche-ajantarado

és resMungona De Manhã ou tens outras QualiDaDes Matinais?calma, por norma. É a melhor altura para ouvir notícias.

top 5rirmãecorrer de boca aberta na praiaBeijinhos na bocaos «Verdes anos» de carlos paredes

o pedro Foi grande admirador dos Figurões roBert deniro, al pacino e marlon Brando durante anos, mas actualmente o seu actor preFerido É o espanhol jaVier Bardem. quando É conVidado para assumir uma personagem tenta entender os oBjectiVos do autor que a deFiniu, mais do que entender a personagem em si. acha que um texto, uma oBra, deVe cumprir um papel importante para a sociedade. tocam-lhe questões como a justiça social e a solidariedade, e a actual conjuntura de crise deixam-no mais sensíVel Às injustiças. as personagens têm-lhe mostrado poucas coisas que não souBesse de si próprio, mas ajudam-no a perceBer a Vida e o comportamento dos outros. para 2009 não traçou grandes oBjectiVos. está Feliz com a Vida que tem, mas remata dizendo que gostaVa de Fazer cinema em espanha ou ter uma oportunidade com o realizador Fernando meireles.

pEdro limaaté gosto Da crise porQue …não gosto nada da crise mas reconheço que as cri-ses têm o efeito de induzir o ser humano a encon-trar aquilo que de melhor têm em si; acho fundamen-tal cultivar o nosso lado solidário, quando o temos.

se puDesse toMar uns copos coM uM actor internacional Que aDMiro , conviDava …o jack nicholson. não é o meu actor preferido mas ele deve ser muito divertido, ter muitas histórias para contar, e deve comer e beber lindamente.

se fosse uM rapaz feínho e no cineMa ninguéM Quisesse saber De MiM , gostava De ser …- mecânico de automóveis em saint-tropez- detective particular só para senhoras- massagista de aves raras- barbeiro num hotel do Funchalgostava de ser isto tudo, principalmente massagis-ta de aves raras. deve ser gratificante chegar ao fim do dia depois de ter massajado cinquenta piriquitos.

se a nasa Me enviasse à lua , carregava a Minha bagageM coM …a mulher e os filhos, os amigos, a beleza.

uM boM-peQueno alMoço Deve ter …torradas, todos os dias. É uma tristeza quando não tenho torradas.

top 5minha mulher e os meus filhoso meu trabalhoos meus amigossurfBeleza

sandra Barata Belocamisa e saia storytailors

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digamos que não faltaria opulência e fausto se nos deixássemos levar pelos prazeres hedonistas que descrevem estes objectos, e não faltariam também objectos e produtos a ajudar a exprimi-lo. na ver-dade todos os produtos atrás descritos e que aju-daram a montar o “cenário” de verão exótico fo-ram criados por designers russos: timur Burbayev, konstantin chirkov e yegor zhgun, do estúdio art., lebedev studio, entre outros.

se se pudesse falar, em linhas gerais, num design russo, talvez nos atrevêssemos a descrevê-lo como opulento e ecléctico. muita cor, muita forma ondu-lante. um certo sensualismo parece percorrer as for-mas nas peças realizadas por estes designers, até mesmo em hotéis.

a “happy chaise longue” de Dima Loginoff, designer russo, nascido em 1977, parece transmitir esse sen-timento de optimismo e de colorido que acompanha os designers e a cultura russa. um esforço para sair de um estado deprimido? o que é certo é que tudo o que se encontre e que tenha alguma coisa a ver com design, é de facto muito vivo e dinâmico. poder-se-á falar de uma onda de design orgânico em são petersburgo? e até em maior escala, uma tendência russa para as formas curvas?

o interiorismo parece estar bem presente na activi-dade dos designers russos. muitos cobrem paredes e tectos de hotéis e bares com formas curvas, lustro-sas e luminosas, mas não deixam de fazer alusão, um pouco por todo o lado, e em concreto, ao velho suprematismo de malevitch, movimento que teve gran-de impacto no exterior do país no início do século xx. não são raros os elementos, como cadeiras ou até mesas, em que encontramos esses apontamentos da vanguarda russa, de rectas e perpendiculares, e do construtivismo de rodchenko, tatline, stepanova e el lissitzky. um contraste, se pensarmos que es-sas formas rectas se confrontam com as formas cur-vas dos espaços.

Dima Loginoff, a propósito de formas orgânicas, diz-nos sobre a sua “happy chaise longue”: “é a forma de um sorriso. por isso se chama Happy Chaise Longue! estava a pensar numa forma em que um casal pudes-se descansar”. Loginoff considera não ser um desig-ner que pense muito em formas orgânicas, mas an-tes um designer “irónico”.

se imaginasse um Verão russo e solarengo, descreVia-o com um casal elegante, ao ar

liVre, a espraiar-se numa longa poltrona colorida e ondulante —a happy lounge—

acompanhado de um guloso gelado latustridus Bem serVido num copo Feito

de WaFFles. não esquecendo para isso os cuBos de chocolate —FaBricados para a

Vernost kachestVu— ou ainda as Fatias estaladiças de Fruta coBertas por açúcar. À noite, permitir-se-ia ao casal uns pequenos

pecadilhos ao sucumBir a uma Vodka Forte de osoBoye mneniye. a garraFa, de

Vidro Fosco e impressa a letras azuis, seria desenhada com soFisticação e requinte.

texto: carla carBone

Dima é cabeleireiro de profissão, hair stylist, e admi-rador de alexandre Vassiliev. entende que a identi-dade do design russo ainda não está completamen-te concluída, mas relembra a história do século xx com nomes como dyagilev, o atelier yteb e o artista erte, em paris: “claro que a cultura russa tem influ-ência no design russo, mas não podemos esquecer que a rússia também faz parte da cultura europeia. ou estarão esquecidos que, no século xix, são petersburgo era reconhecida como a cidade mais elegante da europa?”.

Dimo Loginoff oferece-nos formas como os candeei-ros “simply biscuit”, em que parecem estender-se num princípio de dobragem, como o origami. muitas ve-zes loginoff desenha a pensar nas influências da moda e do estilismo. não esquecer que é cabelei-reiro profissional e que as formas da “Cut chair” po-dem imaginar-se como longos cabelos cortados ener-gicamente e sem hesitação ou pedaços de tecidos leves e soltos: “eu pensei na cadeira “Cut chair” a pensar na moda, é como um pedaço de tecido que é cortado pelo retalhista. muito elegante”. por seu turno, “ter desenhado a “psyche chaise longue” foi como ter desenhado um grande insecto com patas finas, posicionando-se mais ou menos entre o dina-mismo e a tranquilidade”.

algumas das peças de mobiliário de Loginoff, embora ostentem uma aparência de grande espectacularida-de, ainda não foram produzidas. É o caso da “Bone lounge”. muitas pessoas perguntam a loginoff onde podem comprá-la, mas a peça ainda não foi produ-zida. tanto esta como a “c-stool”, para Loginoff, são peças de design muito sensuais e femininas.

a peça “Brushwood” lembra algumas das soluções de designers holandeses como o ninho tak de tiepkema, nos termos do design téxtil. Dima responde: “coco chanel costumava dizer que ‘só aqueles que não têm memória é que se mostram confiantes acerca da sua originalidade’”. Dima ainda desenha hotéis, como o extraordinário lace hotel, que ainda não foi constru-ído, e que se baseia numa renda tradicional russa. a ideia é que cubra uma fachada de um velho edifício de amesterdão. sobre o facto deste hotel ainda não ter sido construído, Dima Loginoff avança: “ainda é um conceito, mas não é mau que ainda não tenha sido realizado. alguns projectos vivem toda a sua vida sem de facto terem saído do papel e não dei-xam de ser extraordinários por isso. o design é um grande palco e a minha missão é envolver-me nele”.Dima ganhou o segundo lugar no international design awards que se realizou em los angeles, no ano passado.

opulência e fausto

DiMA loginoff

www.Dimaloginoff.com

DesignDesign 64

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1. simply Biscuit2. happy chaise longue3. cut chair

3

2

1

central parQ 65

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"Why does strange Fruit always look so sweet?" 2008Bronze305 x 114 x 102 cm

arteenglish version 97 66

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esculturas em cerâmica É tudo o que menos se espera de

um artista contemporâneo. no entanto É esta matÉria

menos noBre que conVoca Valores sagrados e

ancestrais associados ao acto da criação, mas

tamBÉm a correntes eruditas soBre o grotesco que

tornaram Johan Creten num caso singular.

www.galerieperrotin.com

texto: Francisco Vaz Fernandes · imagens: cortesia da galeria emmanuel perrotin

do ventre da terra johan creten

VieW oF the exhiBition "ex natura" in 2008 at mus

central parQ 67

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arte

contrariamente a muitos artistas da sua geração, Johan Creten, um escultor flamengo que completou a sua formação em paris em 1988, não enveredaria pelos discursos dominantes dos inícios dos anos 90. enquanto a linguagem plástica era avassalada por questões de identidade, maioritariamente tratadas a partir da instalação em vídeo e fotográfica, creten manteve um fascínio anacrónico por técnicas tradi-cionais da escultura. uma parte da sua obra conti-nua a ser feita em bronze, uma liga metal associa-da ao academismo, ou então, o que é mais original, em cerâmica, matéria reservada às artes decorativas ou empregue na escultura de natureza vernacular. a própria ideia de “obra de arte”, assim como o ca-rácter simbólico implícito nos seus trabalhos, torna-ram-se princípios sui generis dentro das artes plásti-cas depois de renegados por gerações sucessivas de artistas, são princípios a ser reavaliados por artistas como Johan Creten, que buscam uma certa dimensão universalista na sua obra.

À primeira vista muitas das peças que produz parecem sair do fundo do mar ou de uma escavação arqueológica. diríamos que são obras destituídas dos seus traços, amputadas, ou com incrus-tações que as desvirtuam. a desfigura-ção produz na sua obra um efeito gro-tesco premeditado que nos faz pensar numa comunhão com os ideais da “gru-ta” cultivados durante o renascimento e o maneirismo italiano. esta corrente subterrânea que em geral se opõe ao classicismo das formas reaparece ao longo dos séculos, esporadicamente, tanto na literatura como nas artes plás-ticas e na arquitectura. É uma corren-te onde os elementos orgânicos e obs-curos são privilegiados em desprimor da pureza das formas e da luz. Franz kafka na literatura, eric mendelssohn e gaudi na arquitectura são apenas al-guns desses expoentes onde a referên-cia aos ideais da caverna e da gruta estão presentes na obra. surgem em oposição ao ideal do palácio de cris-tal transparente e luminoso imposto a partir da revolução industrial e que vingaria até ao final do modernismo. no renascentista e maneirista italiano há uma profusão de ensaios sobre desvir-tuamento das formas clássicas que espelham a cor-rupção das formas divinas da criação ficando visí-vel o lado grotesco. creten, que foi bolseiro na Villa medicis em roma (1996/97), teve acesso a esta cor-rente de pensamento presenciando ao vivo a obra desses artistas que aclamaram um universo de fanta-sia que ele estava pronto a abraçar. “Foi nas grutas italianas do renascimento onde se produziram ele-mentos híbridos fantásticos que pertenciam simulta-neamente ao mundo aquático e ao terreno, explica Creten” arcimbolo que pode ser visto como uma sín-tese de toda essa cultura italiana antiga era à par-tida um dos seus grandes fascínios. “ele joga com ambivalência entre o visível e o secreto.” a propó-sito da construção de naturezas mortas, muito ao gosto da época, arcimboldo reconstruía com fruta, flores, peixes e animais fisionomias humanas. o uni-verso fantástico dos seus quadros corresponde à ex-pectativa de um coleccionador de curiosidades do séc xVi, ávido de um misto de bizarria e raridade.

uma das esculturas de johan Creten, “Why Does strange Fruit always Look so sweet?” segue de per-to a retórica de arcimboldo, já que um vulto huma-no ergue-se coberto por furúnculos grosseiros que

lembram vagamente frutos, desfigu-rando-o. “somos todos frutos que bro-tam e apodrecem formando a terra na qual outra coisa crescerá depois de nós. mas esta escultura represen-ta também o Bonhomme selvagem da floresta ou o sagrado num sentido múl-tiplo”. esta peça à escala humana foi uma das obras escolhidas para figurar no museu da caça em paris (2008), a exposição mais emblemática do ar-tista até hoje. colocada à entrada do pátio, seria apenas o prenúncio do mundo fantástico de Creten diluído no ambiente faustoso e pesado do mu-seu. as suas obras distribuíam-se en-tre várias salas ao lado de animais selvagens empalhados, quadros com cenas de caça e mobiliário antigo. as suas peças pareciam ter pertencido desde sempre àquele local. o seu po-tencial decorativo era manifesto e as-sumido na totalidade. era notório que as suas esculturas ganhavam mais sen-tido num espaço museológico sobrecar-regado de pertenças de gerações mor-tas do que no espaço branco e frio de uma galeria de arte. em parte explica-

se porque no museu o quotidiano humano é desva-lorizado dando-lhe uma envolvente irreal, fantástica e estranha, tornando-se a envolvente perfeita para apreciar a sua obra.

entre as obras expostas no museu da caça, a que ganhou maior atenção foi um torso feminino cober-to de flores feito em grés. a série de torsos “odore di femmina” surgiu durante uma residência artística na fábrica de porcelanas de sèvres (2004-207) onde teve ao seu dispor os utensílios e as técnicas antigas de cozedura que se aplicam na produção de porce-lanas. “estas esculturas têm um lado mágico devido à presença do fogo durante o seu processo de rea-lização. não é possível encontrar esse lado sagra-do numa obra realizada em resina e muito raramen-te numa pintura”. para o artista essas esculturas com pétalas simultaneamente frágeis e cortantes, assim como as perfurações corporais, representam a natu-reza feminina. são elementos que pertencem à fan-tasia do universo masculino que muitas vezes é colo-cado como uma anti-natureza e nesse sentido remete para o grotesco. o excesso e o fantástico contido permitem ao seu autor um corte com a realidade ra-cional e coerente, fornecendo assim uma abertura para uma expressão sexuada das suas esculturas. para entender essa formulação é necessário citar mikhail Bakhtin, quando se refere a representações femininas ligadas à cultura popular, também mani-festa em objectos de terracota. “nessa tradição a mulher liga-se essencialmente ao baixo material e ao corporal: ela é a encarnação do "baixo" ao mesmo tempo degradante e regenerador. a mulher rebaixa, reaproxima-se da terra, corporifica; mas ela é an-tes de tudo o princípio da vida, o ventre.” também os torsos femininos de Creten parecem personificar o obsceno dirigido contra todos os ideais abstrac-tos e dar a esses corpos a expressão de um vaso de fecundação que destina à morte tudo que é velho e acabado. comparar esses torsos femininos às deu-sas da fertilidade pré-histórias é pertinente já que a preferência de Creten pela terracota também não é inocente. o artista coloca-se em união com cultu-ras ancestrais entre um conhecimento popular e um conhecimento erudito. convoca o sagrado e pres-ta-se ao papel do demiurgo, o homem que modela a terra que aparece invariavelmente como acto ini-cial do nascimento da humanidade e do universo em quase todas as culturas. refere-se a um panteísmo associado a forças profundas da natureza que vêm do seu interior materno e cavernoso. É esse pensa-mento mágico alimentado pelas ideias do artifício e do grotesco, vagamente anacrónicas, que tornou a obra de Johan Creten uma referência, criando pers-pectivas novas aos estereotipados caminhos da arte contemporânea.

a propósito da construção

de naturezas mortas, muito ao gosto da época,

arcimboldo reconstruía

com fruta, flores, peixes

e animais fisionomias

humanas. os universo

fantástico dos seus quadros corresponde à expectativa

de um coleccionador de curiosidades do séc xvi, ávido

de um misto de bizarria e

raridade.

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"Narcissus saved" 2005 glazed stoneWare109 x 68 x 76 cm

VieW oF the exhiBition "ex natura" in 2008 at mus

VieW oF the exhiBition "strange Fruit" in 2008

at galerie emmanuel perrotin miami,

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arte Digital

tendo como local principal a [hkW] haus der kulturen der Welt (casa das culturas do mundo) o festival decorreu entre finais de janeiro e início de Fevereiro, dividindo-se em diferentes núcleos. iniciado como um festival ancorado no filme de vídeo, rapida-mente assumiu uma perspectiva transmedia, dedican-do-se à arte e cultura digital. actualmente integra a exposição, o programa de conferências, performan-ces e apresentações em registo informal. o digital greenhouse foi um dos formatos mais estimulantes de apresentação e discussão de projectos. nesta edi-ção o tema "deep north" lançou o desafio de repen-sar a cultura propondo a questão da transformação ecológica como transformação cultural. procurando transcender a dimensão alarmista dos discursos eco-lógicos, abordaram-se vocabulários culturais que, de forma crítica, reflectem sobre a complexidade desta equação.

a "tradição" do Transmediale está inevitavelmente li-gada à componente "ctm – club transmediale" que cumpriu este ano o 10º aniversário (em conjunto com o festival canadiano parceiro mutek) de uma acti-vidade dedicada às culturas audiovisuais indepen-dentes, sob o tema "structures". tendo surgido ini-cialmente como um programa especial paralelo ao Transmediale focado na convergência cultural entre música electrónica e digital, club culture e media arts, rapidamente ganhou voz própria. durante 13 dias o programa incluiu concertos, performances audiovi-suais, instalações, workshops e painéis de discussão em torno de formas artísticas interdisciplinares e ex-perimentais potenciadas por redes e micro-estrutu-ras da música e media art independente. Foi no espaço principal do ctm —o club "maria" [mao] maria am ostbahnhof— que rudolfo Quintas apresentou a performance "Burning the sound", ven-cedora de um prémio de distinção, tendo o júri sa-lientado a qualidade do trabalho "equilibrado na forma como alia tecnologia e expressão, composi-ção e performance…". "Burning the sound" aborda uma das ferramentas mais primárias e essenciais da humanidade —o fogo— matéria de fascínio que no seu duplo papel de elemento destruidor e gerador de energia é aqui alvo de tradução sonora e visual. rudolfo Quintas tira partido da dimensão ritual e físi-ca da performance sobrepondo a expressão a todo o aparato e sofisticação tecnológica subjacente. o corpo como interface é um tema transversal ao tra-balho de Quintas, focado no desenvolvimento de sistema audiovisuais interactivos para performance, de que se destacam a participação no grupo nip —New interfaces for performance— e no projecto sWap com tiago dionísio entre 2000 e 2007.

o outro award of distinction foi atribuído a "six appartments" de reynold reynolds (eua), uma ins-talação vídeo que retrata a vida em isolamento de 6 pessoas nos seus apartamentos. um comentário críti-co sobre a passividade dos sujeitos que, apesar de na sua rotina diária se confrontarem com as notícias da crise ecológica, seguem sem alterar seus hábitos ou comportamentos em relação à mesma. o júri atri-buiu o primeiro prémio a "tantalum memorial" (ru/jp) afirmando critérios como a "qualidade de execu-ção, densidade imaginativa e as suas forças meta-fóricas e conceptuais". este memorial sobre as mor-tes das guerras "coltan" do congo baseia-se numa rede de "telefonia social" internacional congolesa, o "telephone trottoire", accionando dispositivos re-activos à participação da comunidade congolesa de londres na rede, e proporcionando uma leitura metafórica um fenómeno local com impacto global.

na exposição "survival and utopia: Visions of Balance in transformation" salienta-se ainda a ins-talação vídeo de Fernando josé pereira, artista e do-cente da Faculdade de Belas-artes da universidade do porto, que de forma poética e contida aborda a necessidade de comunicação e observação de uma pequena povoação remota no circulo polar ártico. "remoteness" propõe uma observação passiva desse universo distante, realizada com imagens recolhidas por uma webcam, posteriormente trabalhadas para esta contemplação visual e “aural”.

próxima no tema, a instalação-vídeo "Beyond the end – the polar project" de charly nijensohn (gl) —vídeo contemplativo de indivíduos que vagueiam nas plata-formas de gelo do ártico— ou ainda "sonic antartica" de andrea polli (eua) trata a transformação climática com sonificações, audificações e registos documen-tais numa instalação sonora e visual. os olhares crí-ticos ao "discurso verde" reflectem-se nas “extreme green guerrillas”, uma série de comentários iróni-cos, mas lúcidos, às tipologias de comportamento "verde" com que michico nitta (ru) propõe soluções para a inviabilidade de existência humana como fac-tor de destruição ecológica. metaforicamente, "click & glue" de jana linke (de), reforça a distopia, com o comportamento de um dispositivo que se conduz à sua própria imobilidade.

em paralelo, o registo informal característico do ctm assume-se num conjunto de instalações, workshops e discussões no [kkB] kunstraum kreuzberg Bethanien. enquadrada neste programa, uma outra representa-ção lusa digna de menção, a media label "crónica-electrónica". Baseada no porto e iniciada em 2003 a "crónica" reúne cerca de 40 edições, nacionais e internacionais, com um foco especial na música electrónica experimental e artes audiovisuais rela-cionadas, e esteve presente no mercado das redes criativas independentes em iniciativas que promo-vem e cultivam culturas audiovisuais experimentais e alternativas.

o cruzamento dos temas "deep north" e "structu-res", embora remoto, parece convergir numa ideia de equilíbrio instável, num "estado de transição". "deep north" propõe uma "introspecção global" sobre o papel da arte e cultura digital neste proces-so de transformação, evidenciando a ideia de rede de relações entre eventos e culturas. os pontos de li-gação e transição entre domínios culturais estão em evidência no tema auto-referencial do ctm, sobre estruturas e redes que impulsionadas pela tecnolo-gia digital diluem fronteiras e dissolvem estruturas estabelecidas: um "estado de transição" localizável em vários planos, tanto a nível da reflexão sobre o binómio ecologia/cultura, como da sustentação de culturas independentes, ou do reconhecimento inter-nacional de uma arte digital portuguesa emergente. nestes dois festivais de referência, vocabulários, crí-ticos e estruturas independentes exprimem a urgên-cia de prospecção de estratégias para sustentar a mudança procurando "novas formas de ler eventos locais e globais".

texto: luísa riBas

o tranSmedIaLe, FestiVal internacional para a arte e a cultura digital, apresenta

anualmente em Berlim posições artísticas que reFlectem soBre o impacto sócio-cultural das tecnologias. este ano, mais uma Vez em Berlim, premiou

"burnInG the Sound" do português rudoLFo quIntaS. 

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Burning the

sound —

Breaking the ice

transMeDiale 09

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central parQ

rudolFo quintas"Bunrning the sound"

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Page 85: Parq 10. March

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parQ here

texto: FláVia santos

a tendência dos hostels chegou para ficar. entre os melhores do mundo, quatro deles estão em lisboa. alguns até se confundem com instalações de arte. e com o mercado a ferver neste segmento, além dos preços e serviços atractivos, a criatividade deve estar em primeiro lugar.

o estudante alemão tobias herrmann comprou bilhetes de ida e volta numa companhia lowcost com partida de leipzig e chegada a lisboa por 59 euros. em seguida reservou um quarto num hostel com oito camas. um grupo de três amigos da roménia fez o mesmo. todos eles compraram bilhetes baratos e depois garantiram as pernoitas num hostel da cidade.

os quatro melhores hostels do mundo estão em lisboa, segundo a classificação do site www.hostelworld.com que elegeu o travellers house como o melhor. a parq visitou (de forma aleatória) alguns destes espaços e descobriu novos conceitos estéticos e arquitectónicos que deram razão à classificação. o diferencial começa pela decoração interna sofisticada com áreas partilhadas mais agradáveis, como a cozinha e as casas-de-banho.

entrámos no lisbon lounge, o primeiro a inaugurar esta tendência em lisboa. ocupa três andares num edifício remodelado na rua de são nicolau, na Baixa. no primeiro piso a recepção para o check-in, a cozinha espaçosa e totalmente equipada, sala com vários sofás aconchegantes e possibilidade de acesso à internet. nos dois andares superiores ficam os quartos com duas, quatro, seis e oito camas, todos equipados com tV. ao lado há áreas lounge para relaxar, ler um livro e conversar.

em seguida visitámos o living lounge hostel na rua do crucifixo. o espaço foi inaugurado há pouco mais de seis meses e surgiu da parceria com o lisbon lounge. para além de oferecer os mesmos serviços dos outros hostels, a decoração dos quartos é o grande diferencial do living. Foram buscar inspiração na literatura, música, artes, fotografia, cinema e pelos corredores encontramos o jazz de dizzy gillespie e a literatura de Fernando pessoa.

lisBoN loUNgE hosTElrua de são nicolau, 41tel. 21 346 20 [email protected]

liViNg loUNgE hosTElrua do cruFixo, 116 - 2ºtel. 213 461 [email protected]

TraVEllErs hoUsErua augusta, 89tel. 210 115 [email protected] 

lisBoN poETs hosTElrua noVa da trindade, 2 - 5º. tel. 21 346 10 58

lisBoa old TowNrua do ataíde, 26 a.tel. 213 465 [email protected]

goodNighT BaCkpaCkErsrua dos correeiros, 113 - 2º.tel: 21 343 01 [email protected]

próxiMa parageM: hostel

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parQ hereplaces

texto: soFia saunders

texto: soFia saunders

a murmur foi pensada para ser como um murmúrio, leve e cintilante para os ouvidos mais atentos e abertos às novidades do design internacional. o nome provém do rumor do mar, um privilégio diário na Foz Velha, onde a loja se situa, junto ao castelo do queijo. o seu espaço é branco, neutro e luminoso para melhor dignificar peças sobejamente conhecidas da moroso, secto design, missoni home, industreal e modular. o serviço de design de interiores é ainda uma mais-valia importante assegurada pela designer ana ribeiro. produzem linhas de mobiliário próprias que se podem adequar a espaços específicos dos clientes.

esplanada do castelo, 41, Foz do douro – portode 2ª a sáB. das 10h Às 19h tel 226 169 426 www.murmur.pt

MurMur

MachaDo joalheiroa machado joalheiro, com lojas na av. da Boavista e na rua 31 de janeiro, no porto, abre um novo espaço comercial na avenida da liberdade em lisboa para responder às muitas encomendas dos clientes do sul. situada no tivoli Fórum, ao lado da Fashion clinic, a nova loja foi concebida pela arquitecta Fernanda lamelas procurando conjugar um certo minimalismo clássico com aspectos práticos de uma montra de luxo. da joalharia à relojoaria, esta loja centenária tem ao seu dispor criações de nomes tão prestigiados como chaumet, dior, h. stern, piaget, cartier, Vacheron constantin, Bell&ross, a. lange & söhne, Franck muller, jaeger-lecoultre, entre outros.

tiVoli FórumaV. da liBerdade, 180, lisBoatel. 211543940

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parQ heregourMet

jaMes Martin’s fine anD

rare

texto: manuel teixeira

águas Mil tay teatexto: carla isidoro texto: soFia saunders

a edição da james martin’s gold experience oferece aos apreciadores de whisky a possibilidade extravagante de degustar um blend de 20 anos de grande reputação com a adição de pepitas de ouro de 23 quilates. mais que uma extravagância inglesa, a james martin’s consagra uma experiência de puro luxo. para os grandes apreciadores de whisky os produtos james martin pertencem a uma busca de refinamento que encontramos muitas vezes na cultura britânica, nomeadamente na história dos seus carros de topo de gama. james martin, fundador há mais de um século, comercializava whiskys que tinham sido envelhecidos durante mais tempo do que o habitual, tornando, já nessa altura, os seus produtos sinónimo de qualidade e distinção.

www.taytea.com

Feitos de folhas alta qualidade, os chás tay tea têm um perfil aromático e sofisticado, com a selecção de folhas e aromas a cargo da especialista nini ordoubadi. os chás vêm das mais reputadas plantações e são misturados à mão com ervas botânicas e orgânicas.na loja, em nova iorque, a selecção de produtos é irresistível. além das latas de chá rotuladas com os mais divertidos nomes (marry me again ou Better than sex são alguns), encontramos toda uma gama de bules, chávenas, coadores, kits de oferta e artigos que tornam a cerimónia do chá mais personalizada.para os apreciadores que vivem fora dos usa, a compra online é uma opção. entrem na secção teas dentro do website e encomendem à vontade. nós já o fizemos.

nos últimos anos o mercado de consumo de águas de mesa subiu para outro patamar. enquanto os ambientalistas apelavam a um corte no consumismo generalizado e ao bom-senso das famílias ocidentais para pouparem água, esta ganhou um estatuto social excepcional. percebeu-se que afinal a água é um recurso limitado e que em tempos de seca mundial não nos serve de muito um oceano salgado à nossa frente para saciar a sede. a água é um bem essencial que além de nos refrescar, limpar e purificar, também nos confere um determinado estatuto social. passou a ser chique. o mercado de produtos gourmet tem lançado águas que aliam a sua qualidade e pureza a um design exclusivo e a um preço elevado, determinando que elas também passem a ser apreciadas pela sua beleza. não deixa de ser estimulante, e irónico, conhecer as novas marcas de águas de luxo e suas garrafas escultóricas, assim como as cartas de águas de alguns restaurantes atentos a esta tendência. do japão a inglaterra, são diversos os países empenhados em embalar águas captadas nas mais finas e raras fontes. portugal também já comercializa as suas, como a chic (de monchique) ou a glaciar diamond (de garrafa robusta e apelativa).as marcas Finé pet, 420 Volcanic e Fillico foram introduzidas no mercado mais recentemente. a Finé vem do japão e é uma água termal vulcânica; a 420 Volcanic é captada na nova zelândia e a Fillico é o ex-libris delas todas: a garrafa é feita à mão, tem dezenas de cristais swarovsky encrustados e é encimada por uma tampa em forma de coroa igualmente trabalhada à mão. a produção é limitada a 5.000 garrafas por mês. até ao momento, a água “claramente” mais cara.

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lENiNEp.44

JAciNTO lucAs PiREsp.50

This monTh, Lenine is back in PorTugaL wiTh a fLower in his Luggage, his firsT aLbum of new maTeriaL in seven years and which he wiLL be Performing Live.

a delicate flower which is able to resist the harshness of a dry wind, arid soil and the heavy rain of a tropical summer; labiata, the queen of the Brazilian north east, is an orchid. it is also the name of the latest album from singer-songwriter and self-confessed orchid fan, lenine. With eleven tracks, the follow-up to Falange canibal contains new material which, while intimate, delivers its message expressing concern for the future of the planet.the eleven tracks show the versatility of arrangements with a contemporary sound, which this pernambucan, af-ter twenty years in rio de janeiro, does so well. “martelo bigorno” which opens the album, the cry of someone who cannot settle until all his dreams are realised, is the most autobiographical song of the album. “lá vem a cidade” shows a different lenine, with a hard-hitting message cosseted in a gentle rhythm; “a sombra do fu-turo e a sobra do passado” haunts “É o que interessa,” while “a mancha” foretells environmental disaster. in “É fogo” he tells us “green is soon going to be turned to ash,” warning us that “the damage is going to have to be paid for by all of us.”

is it a bit over the top? on first hearing perhaps, but what is alarming in all of this is how human nature tends to overlook the dangers, and just not care. The poetry of the lyrics draws us in, provokes us, asking brusquely “why don´t you believe it?” (from “o ceu é muito” co-written with arnaldo antunes) and begs us to believe it.

To record “Labiata”, Lenine worked alongside his long-standing collaborators bráulio Tavares, Lula Queiroga, duda falcão and even his own children, whose voices form the choir in “continuação”. with post-production done in Peter gabriel s studio, the album developed a more eclec-tic sound which mixes gentle, more intimate chords with a rock n roll guitar, but always finely tuned towards pop.

in “samba beleza”, there is a posthumous partnership with chico science, a song which grew out of jottings which the king of mangue-beat s sister gave to Lenine. The result is a mixture of music and poetry which is both delicate yet emotional, and which only two figures like Lenine and chico science could possibly carry off. The soft and sweet “ciranada Praieira” juxtaposes bagpipes and violins in a song about a romance which flourishes on the waves which break and pull back, like the wheel of fortune. elegant and rough, subtle yet open, Lenine s presence is apparent in all eleven tracks which magical-ly blend rhythm, melody, word and music, voice and per-cussion. it is soft yet wild, fragile and robust, rare and se-ductive, like the flower it is named after.

who wouLd beLieve ThaT he aLso sang? in his LaT-esT book, he wriTes abouT The ciTy and iTs PeoPLe, buT he has aLso jusT Launched an aLbum TeLLing his sTories of daiLy Life. jacinTo Lucas Pires is in a band caLLed os Quais, a ProjecT boTh unPre-TenTious and acTuaLLy QuiTe surPrising.

Let´s start with the aLbum. Nobody couLd have imagiNed that you wouLd form a baNd caLLed os Quais aNd reLease aN aLbum. where did the Name come from? we couldn´t think of a name. eventually we came across this type of non-name, os Quais. we want-ed to get away from the idea of a name…we thought of

English vErsion

The The, which would be os os. i like the fact that there is an implicit question mark, as if you were asking “who?” “who are they?”

the aLbum begs a Lot of QuestioNs, startiNg with the Name of the baNd aNd the Name of the aLbum, “meio disco”. is it caLLed this because you recorded haLf a dozeN themes? That s exactly why. while we were recording, Tomás cunha ferreira, the oth-er Qual, said to josé Tolentino mendonça (who was taking part in the recordings)) “this isn´t really an album, more of a half-album”. we stopped and looked at each other and realised that would be the name.

aNd where are the other tracks? we were lucky to have six. we didn´t have money for production, we re-corded at a friend s house. we were lucky to get amor fúria to produce it and even pay studio time at the home studios of josé castro and bernardo barata. Tomas is a painter, i´m a writer, we ve both got families and so or-ganising ourselves was a bit difficult. To record six tracks was something of a luxury.

oNe of the great thiNgs about the aLbum is its uNpreteNtiousNess. you siNg as if you were with frieNds, aNd give the idea that you recorded aN aLbum because you´re aLL frieNds aNd you´ve pLayed together for such a LoNg time. That s ex-actly it! just as well it seems like that. There are a lot of dis-advantages of not having a professional approach, you waste a lot of time, but there s the advantage of being at a friends house and enjoying what you do. There is the disadvantage of technical imperfection, which we ve def-initely got, but there is the additional advantage of it not being your main job and that you are doing it for pleasure.

are you serious about this? yes, but we also want to do something well, in the same league as the profession-als. The great brazilian musicians of our age, like doménico or Pedro sá, are virtuosos and can share the stage with the likes of caetano, yet also play among friends, infor-mally, and are not too precious about their genius. you don´t see that much here.

there´s a LightNess to your work. your worLd is iN your Lyrics, you caN feeL the preseNce of characters from your book. as if the aLbum was aN exteNsioN of your professioN as a writer. Quite a few lyrics come from my writing, it s true that some are almost stories. “a rapariga da caixa” is almost a char-acter and in this way is connected to a short story. we want to know who she is. The song format allows a cer-tain liberty which we don´t have when we write a story, simply because you don´t have to create the whole story within the lyrics…just throw in a few images.

is it a more LiberatiNg process? yes, because par-adoxically it is more limited and therefore allows greater liberty. i also feel this with short stories in relation to nov-els. The short story, by dint of being more compact, per-mits greater liberty. in a novel you need a more rigorous and mathematical structure which can hold everything to-gether. in a song there is the limit of the metre, the music and there has to be a relationship between the lyrics and the music. The two can´t be going in the same direction, i like to feel that they re heading in different directions. i love Lou reed s “Perfect day”; the lyrics say everything is wonderful, we´ll go to the zoo, but the way reed sings is the opposite of what you would expect. he s depressed. i like this type of ambiguity and playing around. The poet valery wrote that poetry is the prolonged hesitation be-tween sound and feeling. i can´t write poetry but at least in relation to prose, lyrics and music, i can approach this prolonged hesitation. it isn´t new for me, i ve been doing this for 20 years with Tomás, but now i feel more at ease with it. and also there is this sense of making my music public and being a part of my lyrics (…)

iN the JaNuary editioN of Ler magaziNe, you said “we caNNot carry oN beiNg a couNtry iN deadLock”. i fouNd a coNNectioN betweeN some commeNts of yours, your short stories aNd whistLiNg. it made me thiNk whether whis-tLiNg couLdN´t be a way of over-comiNg the deadLock, a caLL to chaNge. whistling can be sub-versive. i think changes need a context, be it whistling or a call to order.

are you a whistLer? occasionally, but i´m more given to singing in the shower. now i whistle in public when we play “recado.” sometimes i giggle, it isn´t easy whistling…

back to the other QuestioN… changes don´t be-gin with short stories or songs. even when “grândola vila morena” plays on the radio, he symbolises a moment, a certain time. changes happen through action, people who act. i think this is what is missing, having the initiative to go forward. The metaphorical whistling you mentioned can help to subvert, expose a little rottenness, make the pillar of a building collapse maybe, here or there, but it is im-portant to actually do things. This is what is missing in our generation, going from word to action.

if we waLked arouNd whistLiNg iN pubLic eve-ry day, i´m sure somethiNg wouLd happeN. as you said iN your iNterview, whoever whistLes iN pubLic has a certaiN amouNt of seLf- esteem. yes, we would be more public. imagine 10 million whistling on Terreiro do Paço, it could bring the government down, the regime would change. This has never been done (laughs)

you say that “whistLiNg iN pubLic” is aNother Name for the word “story”. it is Quite a com-moN word iN cape verde, but LittLe-used here… brazilians also use it. a short story can also be a form of shadow or echo. Like the liberty i was talking about ear-lier… someone said that in my stories there are a lot of streets, a lot of houses, and that a lot of the stories start from bedrooms or living rooms… i use this a lot, stories starting from the city. i feel, though, that the short story could perhaps be more political (in the sense of being pub-lic, of the city) than a novel, even though my two novels have political ideas. This idea of liberty in public is more important in a short story.

your stories depict sceNes aNd peopLe who, if we Look arouNd us, we see iN our daiLy Lives. wheN you are out aNd about iN the city do you make a Note of what you see? how do you coN-struct your pLots? People who know me say i´m a dis-tracted observer. i have a bad memory, i remember triv-ial things. i think this happens because i write stories. i´m convinced i take from my biographic, factual memory so that i can have others memories, a kind of fictional mem-ory which allows me to write stories. so often, my starting point is fantasy and imagination, but with details which others recognise. i don´t like to dissect stories, it makes me feel paralysed. sometimes my stories grow out of strong images and for me to start writing, the image has to have a mystery of some sort, something i want to unearth. it should contain, however, a very precise idea.

how do you get iNto the head of a charac-ter wheN he or she speaks or takes a particuLar decisioN? you have to feel you are in their place, that you are that person. a bit like when somebody is reading a book and believes that everything in it is actually hap-pening. if it is a good book, you really believe what is hap-pening to that person and it affects you, you identify with them, they become you. it has to be truthful.

it suggests that you have to kNow differeNt persoNaLities aNd settiNgs. it involves being open to the world, more a question of not building obstacles rath-er than actually doing something. it is a natural instinct, wanting to be another person, wanting more. one of the difficulties in being a writer is not creating obstacle, al-lowing this to happen; you have to be constantly honest. it s a lot of work. at the cinema school in america where i studied, we were told not to get attached to a particular shot because during editing, that shot might have to go. it may not help the rest, or it might detract from it.

what wouLd you chaNge iN the city aNd iN the peopLe if you couLd? i would make the city more open. i think it is too inward-looking. There s that place which has those who came from cape verde, and all the chinese shops… i think the geography of the city doesn´t help. more channels need to be open for people to mix. There are some good ideas, but it needs more ambition, to transform itself more. The powers that be have to open up these channels, via sponsorships and businesses. The city needs to be more connected.

LisboN is tryiNg to estabLish itseLf as a crea-tive city. i think it s a good idea, but it has to be ambi-tious. it can´t be half-hearted…

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English vErsion

wATchmENp.56

“The besT graPhic noveL ever!” is maybe The mosT ofT-heard Phrase over The LasT eighTeen years in reLaTion To waTchmen. afTer QuiTe a few years in hoLLywood LegaL Limbo, The mosT high-Ly raTed american comic series is finaLLy going To hiT The screens.

published in 1987, with the end of the cold War ap-proaching, “Watchmen” is a landmark in american su-per hero comics, deconstructing and destroying all the romantic clichés normally associated with the genre, many of which had been in place since the end of the 1930s when american comic books first became main-stream. From the very first, the work of alan moore and dave gibbons from great Britain created a certain style; comedian dies and, together with his symbol, a yellow smiley face badge lies bleeding in a new york gut-ter. it is the end of the super hero age of innocence. in “Watchmen” the super heroes age, have flaws, doubts, depression, are disgraced, kill and die. paradoxically, the success of “Watchmen” on american comic book pub-lishing was such that it generated a plethora of cheap, shallow imitations which almost brought the industry to a halt within the decade following its publication and almost completely destroyed it.

the story transports us to 1985. the americans have won the Vietnam War and richard nixon is still presi-dent. dr manhattan, the ultimate super hero, is the force behind american military power during the peak of the cold War and is in a state of constant cheque-mate with the russian enemy, while the hands on the clock for judgment day are set permanently at 5 minutes to midnight. First, the super heroes were outlawed; now they are suppressed. the world seems to be in a state of permanent lethargy, the death of comedian could be the final straw which would put the whole system in jeopardy and perhaps even risk humanity itself. it falls to the remaining “watchmen” (guardians) to avoid this at all costs, even if it means acting at the expense of their own humanity. or soul.

Visually, “Watchmen” falls within the classic format of 9 narrative images per page, a dense organisation of images evoking a certain sense of claustrophobia. the artistic talent and attention to detail of dave gibbons complement the colour palate of john higgins perfect-ly, who pointedly avoids the primary colours normally used for this genre. instead, he opts for secondary tones, browns, purples, ochre, pink and oranges.

another curious fact about this book is the inclusion of parallel narratives, showing certain analogies to the main action. in a world where super heroes are part of daily life, stories solely about them may not have much appeal and the reader often comes across, for exam-ple, pirate comics, recreated and inserted by moore and gibbons into the context of the central narrative. also, at the end of each chapter, moore uses an index thereby enriching the experience of the reader, involving them more by making the characters appear almost real via the use of textual fragments and imaginary newspaper clippings referring to a period of time before the cur-rent action of “Watchmen”.

in a historical context, the political parallels take on significance and – as so often happens – reality imitates art, bestowing a certain visionary imagination upon the creator alan moore, the phlegmatic englishman who has become the most garlanded writer in the history of american comic book writing. in “Watchmen”, richard nixon, on a high after winning the Vietnam War, remains in office thanks to a special legislation which allows him to be re-elected after two mandates, something which is happening now in Venezuela with hugo chávez being re-elected in supposedly democratic elections

in fact, the way in which moore rewrites the story of the u.s.a draws attention to certain dark stains. if you

JOhAN cRETENp.66

ceramic scuLPTures are maybe noT whaT you wouLd exPecT from a conTemPorary arTisT. however, iT is The facT ThaT johan creTen works wiTh such a reLaTiveLy base maTeriaL, so ofTen associaTed wiTh sacred and ancesTraL acTs of creaTion and wiTh erudiTe connoTaTions of The groTesQue, which makes his arT so uniQue.

unlike many of his generation, johan creten, a flemish sculptor, graduated in 1988, was not swept along by the dominant discourses of the 1990s. while art was ques-tioning its identity via video installations and photogra-phy, creten cultivated a more anachronistic interest in tra-ditional sculptural techniques. Part of his work is in bronze, a metal more obviously associated with academia, but he also works with pottery, a material more often found in the decorative arts or sometimes in more vernacular pieces. The whole idea of a “work of art,” as well as the symbol-ic element present in his own particular work, makes his output relatively unique among the fine arts. after being neglected by successive generations of artists, these ide-as are being reassessed by artist such as creten who seek a more universalist dimension to their work.

at first sight, his objects seem to have been dredged from the seabed or from an archaeological excavation. They look amputated, deformed or encrusted. These dis-figurations produce the effect of a premeditated gro-tesque, a marriage of the renaissance “grotto” with italian mannerism. This movement against the grain of the classi-cal form has frequently reared its head at different times throughout history, in literature, architecture and the ap-plied arts. it is a movement in which organic and obscure elements are favoured at the expense of purity of form and light; franz kafka in literature, eric mendelssohn and

gaudi in architecture to name just a few examples of those who refer implicitly or explicitly to the idea of the cave or the grotto in their work. it forms a counterbalance to the idea of the crystal palace, transparent and luminous, which came with the industrial revolution and remained with us until the end of modernism.

in mannerist and renaissance italy there was a pro-fusion of essays about the corruption of classical forms which mirrored the corruption of nature s divine forms, thus giving rise to the grotesque. creten received a schol-arship to study at the villa medicis in rome (1996/97) and for one year had access to these ideas, this universe. “it was in italian renaissance grottos where fantastic hy-brids were produced which belonged to both the earthly and the aquatic universes.” arcimboldo can be seen as a synthesis of this ancient italian style, “ambivalently play-ing the visible off with the secret.”

in one of johan creten s sculptures , 'why does strange fruit always Look so sweet ?' we can feel the presence of arcimboldo lurking; a human form covered and disfig-ured with thick furuncles, vaguely reminding us of fruit, “we are all fruit which bloom and rot, from which other things will grow after us. This sculpture represents the for-est savage or the sacred multiplied”. This life-size piece was chosen for an exhibition at the hunting museum in Paris (2008), the most significant exhibition of the artist to date. situated at the entrance to the patio, this piece acts as a kind of forewarning of creten s fantastical world, di-luted in the dark and heavy atmosphere of the museum. his sculptures are arranged throughout the rooms, along-side stuffed animals, hunting scenes and antique furniture, and seem to have always been there, with their decorative potential used to maximum effect. it is extraordinary how his sculptures make so much more sense here in a museum space charged with all the belongings of previous gener-ations, than they would in the cold, white space of a gal-lery. This explains why, in part, in the museum, the human quotidian is devalued, giving the works a strange, unreal, incongruous quality which is perfect for their appreciation.

among the sculptures exhibited at the hunting museum, the one which has attracted most attention was of a fe-male torso covered in gres flowers. The series “odore di femmina” is from the time he was artist in residence at the sèvres porcelain factory (2004-2007) where he had all the traditional tools and kiln techniques for porcelain produc-tion at his disposal; “these sculptures have a magical side to them on account of the use of fire during production. it isn´t possible to find this sacred element in objects pro-duced out of resin, even less so in painting.” for the artist, this sculpture, with its sharp and fragile petals and bod-ily perforations, represents the feminine. it contains ele-ments which relate to the universe of male fantasy, often placed as anti-nature, and here used for grotesque effect.

The presence of the fantastical and the excessive allow the creator to break with rational, coherent reality and in-troduce a more sexual expression to his sculptures. mikhail bakhtin, when he refers to feminine representations in pop-ular culture, with reference to sculptures of women in ter-racotta, wrote “within this tradition, the woman is essen-tially connected to the low nature of the material and the corporeal; she is the essence of “low”, both degrading and regenerating, the woman nearing the earth; but above all else she is the beginnings of life, the womb.” creten s fe-male torsos personify the obscene, and give these torsos something of fertility vases, with everything which is old and haggard destined to die. it is interesting to compare these female torsos to prehistoric fertility goddesses since creten s choice of material isn´t accidental. in touch with ancestral cultures, he places himself between “lower” and more erudite levels of knowledge. in almost all cultures, the man who models earth is seen as one who practises the primal act of creating humanity and the universe, associat-ed with deep, internal forces. it is this sense of the magical alongside the artificial and the grotesque, anachronistic in its way, which makes the work of johan creten, an impor-tant reference, illuminating new pathways, away from the more stereotypical approaches of much contemporary art.

weren´t looking for it, you might not pick out the brief mention of Woodward s and Bernstein s murder, two Washington post journalists who were investigating Watergate, the case which would lead to nixon s res-ignation in the middle of his second mandate. in the al-ternative reality to “Watchmen” the strategic silencing of two reporters safeguards nixon from any backlash. in moore s world, the nixon of 1985 is no longer the firm politician he was, resembling a cross between pre-alzheimer reagan and “iron lady” thatcher at the peak of her power; two of the figures most hated by the British liberalist left of alan moore s generation.

this almost militant anti-system which moore has con-jured up meant that he has been in almost permanent conflict with the big american publishers and also the hollywood studios who might have wanted to adapt his work for the cinema. after “From hell; the true story of jack the ripper” and “V for Vendetta”, zack snyder, who directed Frank miller s “300” has been chosen to adapt “Watchmen” for the big screen, with a huge budget. after almost eighteen years of legal wranglings between Fox and Warner for the rights, and Fox almost winning at the very last minute, the margin for error is virtually non-existent.

the big-screen version of “300” was cold and plastic, too digital to truly recreate the bloody battles between the spartans and persians. yet “Watchmen”, besides having a much bigger budget, has moore s eloquence, cynicism and fluid dialogue, making miller s look al-most clichéd in comparison, and boding well for the cinema adaptation. the already-released trailers look good, the costumes, scenery and the scenes themselves look to be pretty faithful to the book. however, the true, critical success of the film will be in whether it manag-es to convey the narrative subtlety of “Watchmen” to audiences, something which has made it the reference to super hero fans it is today. recreating the mountains on mars or the polar fortress of ozymandias, “the most intelligent man in the world” won´t be difficult; but the devil is in the details.

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ilustração Vanessa teodoro

uma jovem solteira deixar de utilizar os transportes públicos em detrimento de um veículo pessoal é condenar-se ao isolamento. perdem-se verdadeiras pérolas de sabedoria, já para não falar da possibilidade de se conhecer um homem interessante num simples flirt ou mesmo numa queda estratégica para que um gentleman se lance em nosso socorro. não creio que dentro do carro tenhamos a possibilidade de interagir com os restantes condutores, a não ser que estejamos encalacrados no trânsito, mas nessa altura —à beira de um ataque de nervos— há quem alivie o stress a tirar os “burriés” do nariz ou a cortar as unhas e isso não é minimamente sexy.

o meu regresso aos transportes públicos foi vivido com especial ânimo. os meus pés não dizem o mesmo pois os sapatinhos à carrie Bradshaw não foram pensados para uma cidade histórica como lisboa. tal e qual uma

criança, eu revelava entusiasmo em partilhar do calor humano, das horas de ponta, do metro a rebentar pelas costuras, e, acima de tudo, dos velhos hábitos de leitura. É em movimento que digerimos as mais rocambolescas histórias de amor, e pelo que observei nos últimos tempos «twilight» de stephenie meyer é o título que mais salta à vista. lá diz o ditado, “um mal nunca vem só”, e «crepúsculo» (título em português) é uma saga que inclui quatro livros —calhamaços— com a possibilidade de um quinto a caminho. e sim, a narrativa da escritora é completamente rocambolesca, o

mesmo é dizer que não lembra nem ao diabo!

edward é um vampiro lindo de morrer e de uma sensibilidade ímpar. apaixona-se por uma simples mortal, Bella. a história não é nova, a escrita não é brilhante —mas as quantidades industriais de açúcar e melaço, possivelmente intolerados por diabéticos— são irresistíveis a românticos inveterados. um conto vampírico, que peca pela escassez de sangue e dentadinhas porque este vampiro auto-denomina-se de “vegetariano” recusando matar humanos a fim de saciar-se. o que não quer dizer que não se debata com o conflito de amar a mulher que quer matar —“you are my brand of heroin”— afirma o herói romântico que resiste (a muito custo) ao odor de mel da amada. apresento-lhes a versão “teen-gothic” dos livros de nicolas sparks —o escritor de culto para mulheres de meia idade— o mesmo de «message in a Bottle» ou «the note Book».

– no «crepúsculo»…sexo é que nem vê-lo! —disse uma jovem mulher com o livro entre mãos para outra que olhava enfadada. ao que parece, explicava, a escritora professa a religião mórmon e por isso é um romance dentro da moral e dos bons costumes.

– olha lá, só te oiço falar do «crepúsculo»…e agora dizes-me que nem sexo nem nada…mas isso do «crepúsculo» não é aquilo da pila? —perguntou a interlocutora perplexa.

não sou de intrigas mas parece-me que esteja a confundir «crepúsculo» com prepúcio, mas digo-vos (também já me rendi à saga «luz e escuridão») que não está muito longe da verdade. lemos o primeiro livro, pelo qual nos apaixonamos, mas depois seguem-se, sem que consigamos parar, «new moon», «eclipse», «Breaking dawan» e só culminamos esta longa viagem com o derradeiro orgasmo!

um PrePúcio na escuridão

crónica de cláudia matos silva

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