parte iii - esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a...

19
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LAMBERTUCCI, JR., SILVA, LCS., and VOIETA, I. Esquistossomose e doenças associadas. In: CARVALHO, OS., COELHO, PMZ., and LENZI, HL., orgs. Schitosoma mansoni e esquistossomose: uma visão multidisciplinar [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008, pp. 789-806. ISBN 978- 85-7541-370-8. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. Parte III - Esquistossomose 26 - Esquistossomose e doenças associadas José Roberto Lambertucci Luciana Cristina dos Santos Silva Izabela Voieta

Upload: phamhuong

Post on 15-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LAMBERTUCCI, JR., SILVA, LCS., and VOIETA, I. Esquistossomose e doenças associadas. In: CARVALHO, OS., COELHO, PMZ., and LENZI, HL., orgs. Schitosoma mansoni e esquistossomose: uma visão multidisciplinar [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008, pp. 789-806. ISBN 978-85-7541-370-8. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0.

Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.

Parte III - Esquistossomose 26 - Esquistossomose e doenças associadas

José Roberto Lambertucci Luciana Cristina dos Santos Silva

Izabela Voieta

Page 2: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 789

José Roberto Lambertucci

Luciana Cristina dos Santos Silva

Izabela Voieta

Macrófago fagocitando bactérias.

26Esquistossomose e

Doenças Associadas

Page 3: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

A esquistossomose mansoni tem papel especial no desenvolvimento de infecções bacterianas e no

agravamento de outras doenças infecciosas. Durante o curso desta helmintíase, há imunomodulação da

resposta imune do hospedeiro, com variação na ocorrência da resposta ‘T helper 1’ (Th1) e ‘T helper 2’ (Th2),

levando à formação de granuloma, eosinofilia, hipersecreção de IgE e aumento da susceptibilidade a infecções

bacterianas e fúngicas.

A associação entre Schistosoma mansoni e a infecção por Gram-negativos encontra-se bem

documentada, e há evidências da importância do verme em infecções estafilocócicas, incluindo o

desenvolvimento de abscessos hepáticos piogênicos. As co-infecções S. mansoni-hepatites B ou C e

S. mansoni-HIV têm sido mais recentemente estudadas, assim como a modificação das manifestações alérgicas

em pacientes infectados pelo verme.

Page 4: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 791

RESPOSTA TH1/TH2

O padrão de produção de citocinas pelos linfócitos T helper 1 e 2 (Th1 e Th2) foi originalmente

descrito em clones de células T-CD4+ de camundongos e posteriormente em células humanas. Linfócitos

Th1 produzem interleucina-2 (IL-2), interferon-gama (IFN-) e linfotoxina (LT), ao passo que células Th2

produzem IL-4, IL-5, IL-6, IL-9, IL-10 e IL-13 (Mosmann & Sad, 1996).

A principal citocina efetora Th1, IFN-, tem duas funções-chave. Primeiramente, ativa os macrófagos,

potencializando sua ação microbicida. Em segundo lugar, o IFN- estimula a produção de anticorpos IgG

que se ligam a receptores Fc³ de alta afinidade e a proteínas do parasito, e representam portanto os

principais anticorpos envolvidos na opsonização e fagocitose de microorganismos. A resposta imune

dominante do sistema Th1 se associa freqüentemente a inflamação e lesão tecidual devido ao recrutamento

e ativação de leucócitos inflamatórios por TNF- e IFN-. A reação inflamatória típica, tipo hipersensibilidade

retardada, é geralmente o preço a ser pago pela proteção imunológica contra microorganismos como as

micobactérias. Algumas células Th1 adquirem capacidade citolítica, e as citocinas produzidas,

especialmente IL-2 e IFN-, promovem a diferenciação dos linfócitos CD8 em células citotóxicas ativas.

As citocinas mais marcantes do sistema Th2 são IL-4 e IL-5. A IL-4 constitui-se na maior indutora de

produção de IgE pelas células B, sendo assim a desencadeadora das reações mediadas por mastócitos. A

IL-5 é a principal citocina ativadora de eosinófilos, e camundongos com deficiências desta citocina mostram

defeitos na resposta anti-helmíntica. A produção destas duas citocinas pelo mesmo sistema imunológico

se traduz na concomitância freqüente de IgE e eosinófilos ativados nas reações imunes dominadas pelas

células Th2, como nas alergias e infecções helmínticas. Torna-se importante salientar que várias citocinas

produzidas pelas células Th2 têm ações antiinflamatórias. IL-4 e IL-13 antagonizam-se com a ação ativadora

de macrófagos do IFN-; IL-10 suprime diversas respostas dos macrófagos; e TGF- é antiproliferativo e

inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição da inflamação

aguda e crônica, incluindo reações de hipersensibilidade retardada (Figura 1). Estes fatos sugerem a

hipótese de que o sistema Th2 agiria menos como efetor e mais como regulador das respostas imunológicas

(Mosmann & Sad, 1996; Kolmer & Platts-Mills, 1995; Allen & Maizels, 1996).

O equilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 a um agente infeccioso pode influenciar tanto o crescimento

do patógeno quanto a sua imunopatologia. Reconhece-se hoje que a resistência a vários organismos

intracelulares, incluindo bactérias, protozoários e fungos, encontra-se ligada à indução da resposta Th1

e, em particular, às citocinas ativadoras de macrófagos, IFN- e TNF-. Em contraste com os

microorganismos intracelulares, os patógenos extracelulares, particularmente helmintos, desencadeiam

típicas respostas do tipo Th2, que podem ser lesivas ao hospedeiro, contribuindo para a formação de

granulomas, hipereosinofilia e superinfecção por bactérias e/ou fungos.

Reações alérgicas envolvendo IgE e mastócitos são secundárias ao desenvolvimento e ativação de

células Th2 alérgeno-específicas. Indivíduos com atopia grave têm altos títulos de IgE sérica total e

alérgeno-específica (Kolmer & Platts-Mills, 1995).

A síndrome hiper-IgE, como originalmente descrita por Buckley, Wray & Belmaker (1972), consistia

em susceptibilidade a infecções, particularmente estafilocócicas, e níveis extremamente altos de IgE

sérica (> 2.000 ng/ml). Posteriormente foi demonstrado que pessoas com esta desordem têm também

um defeito quimiotáxico nos neutrófilos, que poderia se atribuir a uma propriedade inibitória da

quimiotaxia pela histamina.

Page 5: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

792 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

A associação entre infecção e atopia tem sido exaustivamente investigada. Pacientes com dermatite

atópica têm altas taxas de colonização por bactérias patogênicas. Por exemplo, Staphylococcus aureus,

encontrado em 5% dos indivíduos-controle, pode ser isolado da pele anormal em mais de 90% dos pacientes

com dermatite atópica (Hanfin & Rogge, 1977; Berger et al., 1980).

As parasitoses compartilham algumas características das doenças alérgicas. Na esquistossomose

aguda há um estado de hipersensibilidade evidenciada por manifestações cutâneas pruriginosas (dermatite

cercariana, angioedema, urticária) e dados laboratoriais (eosinofilia e elevação do nível sérico de IgE).

ESTAFILOCOCCIA E ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO

Abscessos hepáticos bacterianos são relativamente incomuns em países desenvolvidos, a despeito

da ocorrência freqüente de colecistite, apendicite e diverticulite, fontes comuns de infecção bacteriana

para o fígado.

Figura 1 – O delicado equilíbrio da resposta imunológica Th1/Th2 do hospedeiro. Em indivíduos alérgicos ou

com infecção por helmintos há predomínio da resposta imune Th2 com eosinofilia e hiperimunoglobulinemia

E. A imunoglobulina E (IgE) induz a liberação de mediadores que causam prurido (histamina, leucotrienos).

Quando as citocinas Th2 são ativadas, elas inibem o braço Th1 do sistema imune. CCA: célula apresentadora

de antígenos; HR: hipersensibilidade retardada; IL-2: interleucina-2; -IFN: gama-interferon; IL-5: interleucina-

5; IL-4: interleucina-4

Fonte: Lambertucci et al. (2001).

Page 6: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 793

Antes dos antimicrobianos, a apendicite, com semeadura bacteriana do fígado através da veia porta,

era causa freqüente daqueles abscessos. Abscessos hepáticos piogênicos secundários a doenças intestinais

são bem reconhecidos em pacientes com uma variedade de afecções, incluindo doença de Crohn e

diverticulite. Traumas penetrantes do fígado também podem iniciar abscessos. O abscesso piogênico do

fígado é geralmente polimicrobiano. Bacilos entéricos Gram-negativos, usualmente Escherichia coli,

Klebsiella pneumoniae, Streptococcus fecalis e Proteus vulgaris têm sido obtidos da maioria das culturas

destas coleções (McDonald et al., 1984). Abscessos hepáticos por Staphylococcus aureus encontram-se

geralmente associados a microabscessos em outros órgãos, como parte da disseminação hematogênica

generalizada em pessoas com deficiência da resposta imune.

Graham & Orr (1950) descreveram o caso de um oficial do exército inglês que desenvolveu um

abscesso hepático por S. aureus associado à esquistossomose, e sugeriram que o dano hepático causado

pela helmintíase poderia ter aberto o caminho para uma infecção piogênica secundária (Figuras 2, 3, 4).

A esquistossomose aguda foi implicada na gênese de abscessos piogênicos e da infecção estafilocócica

(Pearce et al., 1991; Lima & Maluf, 1995; Teixeira et al., 1996). Lambertucci et al. (1990) descreveram os

casos de duas crianças com pústulas cutâneas e esquistossomose aguda, que também desenvolveram

abscessos hepáticos por S. aureus.

Figura 2 – Tomografia computadorizada do abdômen. A seta preta aponta a presença de abscesso

hepático por estafilococos em paciente com esquistossomose. B = baço

Page 7: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

794 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

Figura 3 – Drenagem de abscesso hepático por punção percutânea com agulha grossa

Figura 4 – Granuloma com ovo de Schistosoma mansoni no centro em fragmento de biópsia hepática do

paciente mostrado na Figura 2

Page 8: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 795

Em um modelo experimental, Lambertucci et al. (2001) mostraram que 77% dos camundongos

co-infectados por S. mansoni e S. aureus desenvolveram múltiplos abscessos hepáticos, ao passo que

nenhuma lesão piogênica foi detectada no fígado dos animais-controle, infectados exclusivamente por

S. mansoni ou exclusivamente por S. aureus ou sem nenhuma das duas infecções (Figura 5).

Figura 5 – Verme adulto de Schistosoma mansoni morto no fígado de camundongo infectado com

Staphylococcus aureus (setas pequenas). A seta maior aponta colônias de Staphylococcus aureus em

torno do verme

Os prontuários médicos de cinqüenta pacientes com abscesso hepático piogênico, admitidos em três

hospitais gerais de Belo Horizonte, Minas Gerais, durante um período de dez anos, foram analisados

retrospectivamente por Lambertucci et al. (1991). Avaliaram-se informações demográficas, queixas principais,

achados clínicos e laboratoriais e resposta terapêutica. A idade dos pacientes variou de dois a 79 anos (41%

eram menores de 15 anos). As principais queixas iniciais foram febre e dor abdominal. Observou-se eosinofilia

em 15 casos (30%). Realizou-se o exame parasitológico das fezes em 28 pacientes e, em 20 (71%), os

seguintes agentes foram encontrados: S. mansoni (36%), Strongyloides stercoralis (21%), Ascaris lumbricoides

(18%), Entamoeba histolytica (4%). A ultra-sonografia abdominal teve papel fundamental no diagnóstico e

tratamento do abscesso hepático, identificando e orientando a drenagem percutânea das coleções (Figura 3).

Cultura do material obtido por cirurgia ou aspirado percutâneo em trinta pacientes mostrou: S. aureus (14

casos), S. viridans (dois casos), bactérias Gram-negativas (cinco casos), associação de bactérias Gram-

negativas e Gram-positivas (dois casos). Dois entre cinco pacientes submetidos à biópsia hepática

apresentaram o granuloma necrótico exsudativo da esquistossomose. Os autores concluíram que a

esquistossomose e as larvas migrantes de outras parasitoses (A. lumbricoides, S. stercoralis, Toxocara)

podem ser um fator predisponente ao desenvolvimento de abscesso hepático piogênico.

Page 9: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

796 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

Sugerem-se algumas possíveis explicações para a associação de esquistossomose e abscesso hepático

piogênico (Lambertucci et al., 1990, 1997, 1998; Lambertucci, 1993, 1996; Mahmoud & Awad, 2000):

� a necrose hepática causada pelos ovos ou vermes mortos de S. mansoni poderia ser colonizada

pela bactéria;

� há uma deficiência transitória da imunidade celular na fase aguda da esquistossomose em modelos

animais (Araújo et al., 1977);

� há vários relatos, na literatura, de casos de infecção recorrente por S. aureus na presença de altos

níveis séricos de IgE (Lambertucci, 1996; Galandiuk, Gardner & Heinzelmann, 1995), e altos níveis

de IgE têm sido identificados na esquistossomose aguda.

Atualmente, em países desenvolvidos, abscessos hepáticos piogênicos são mais freqüentemente

descritos em adultos ou indivíduos mais velhos, particularmente naqueles com doença obstrutiva do

tracto biliar, que favorece a infecção bacteriana. Em algumas áreas do Brasil, entretanto, abscessos

piogênicos do fígado têm sido mais freqüentemente observados em jovens abaixo dos 15 anos de idade, e

S. aureus tem sido a principal bactéria obtida de aspirados destes abscessos (Lambertucci et al., 2001,

1998; Lambertucci, 1993, 1996), o que pode se justificar pelos altos níveis de infecção esquistossomótica

e por outras parasitoses com larvas migrantes.

ENTEROBACTÉRIAS

Bacteriemia persistente por Salmonella tem sido descrita em associação com a infecção por S. mansoni

(Neves & Martins, 1967; Salih et al., 1977). Doença febril indolente, bacteriemia por uma das várias

espécies do gênero Salmonella e esquistossomose crônica ativa mostram-se como as características mais

comuns desta síndrome clínica (Lambertucci et al., 2000). Ela acomete homens de idade entre dez e trinta

anos. As queixas geralmente consistem em fadiga, astenia, perda de peso e febre. Mesmo com a bacteriemia

instalada há vários meses, os pacientes não se revelam toxêmicos. Hepatoesplenomegalia tem sido descrita

na maioria dos casos, mesmo nos pacientes com a forma intestinal da esquistossomose. Edema e petéquias

de membros inferiores são comuns. Infecções localizadas, como a osteomielite na anemia falciforme, e

colecistite crônica, não ocorrem. As características clínicas de tal associação peculiar têm sido descritas

como mais semelhantes ao calazar do que à febre tifóide (Lambertucci et al., 1991).

Salmonella é facilmente identificada no sangue; em 25% dos casos ela tem sido isolada também em

fezes ou urina. O teste de Widal, positivo em 25% dos casos, não auxilia no diagnóstico da síndrome

(Lambertucci et al., 1985). A eosinofilia aumenta após antibioticoterapia.

A bactéria se aloja no tegumento ou no trato intestinal de vermes adultos de S. mansoni. O papel do

esquistossomo como fonte e veículo de infecção por Salmonella tem sido sugerido (Lo Verde, Amento &

Higashi, 1980), e foi descrita a redução de anticorpos contra S. typhi e S. cholerasuis no soro de pacientes

com esquistossomose hepatoesplênica quando comparados a controles normais (Rocha, Kirk & Heary,

1971; Muniz-Junqueira et al., 1996).

Quando diagnosticada a bacteriemia adequadamente, a mortalidade é baixa e a resposta terapêutica, efi-

caz. Entretanto, bacteriemia recorrente por Salmonella mostra-se comum quando a doença esquistossomótica

Page 10: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 797

de base não é tratada. O tratamento eficaz da esquistossomose com esquistossomicidas priva a Salmonella

de seu foco favorável de crescimento e elimina ambas as infecções em mais de 90% dos casos (Lambertucci

et al., 1985) (Figura 6).

Figura 6 – Microscopia de varredura mostra salmonela na cutícula do verme (Schistosoma mansoni)

Observa-se freqüentemente o envolvimento renal em pacientes com a associação S. mansoni-

Salmonella. Pelo menos dois padrões clínicos e histológicos de acometimento renal foram descritos.

Barsoum et al. (1977), no Egito, categorizaram seus casos positivos para Salmonella em dois grupos:

� aqueles com evidências clínicas, laboratoriais e histológicas de nefropatia intersticial, sem

envolvimento glomerular, que provavelmente resultaram de pielonefrite por Salmonella – estes

achados não foram confirmados por um estudo brasileiro (Lambertucci et al., 1988), e antes de

aceitá-lo seria desejável se definir a importância da infecção concomitante por S. haematobium nos

achados patológicos relatados em pacientes egípcios;

� aqueles com doença glomerular sobreposta, geralmente glomerulonefrite proliferativa com ausência

ou mínimo espessamento da membrana basal, manifestada clinicamente por síndrome nefrítica

(Lambertucci et al., 1988).

Também tem sido descrita a associação entre S. mansoni e Escherichia coli (Teixeira, Bina & Barreto,

1976; Farid, Trabolsi & Hafez, 1984). Após alguns meses de ataques febris o tratamento com co-trimoxazole

ou amoxicilina seguido de drogas esquistossomicidas resultou em cura. Rocha, Motta & Rebouças (1968)

Page 11: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

798 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

inocularam E. coli em camundongos previamente infectados por S. mansoni e observaram bacteriemia e

abscessos hepáticos no grupo experimental. A formação dos abscessos foi interpretada como secundária

em relação à colangite supurativa.

Já que a maioria das bactérias Gram-negativas parasita e mata os esquistossomos, não se espera

um aumento no número de casos de bacteriemia por outros Gram-negativos além de Salmonella (Ottens

& Dickerson, 1972).

HEPATITES VIRAIS

Hepatite B

Nos pacientes com esquistossomose hepatoesplênica observou-se maior prevalência do antígeno de

superfície da hepatite B do que em pessoas com outras formas da esquistossomose ou indivíduos sem a

infecção helmíntica (Lambertucci, 1993).

Reconhece-se que a infecção esquistossomótica sozinha não produz cirrose ou hepatite crônica ativa.

Sugeriu-se que a interação entre o vírus da hepatite B (VHB) e a infecção por S. mansoni poderia se associar

à doença hepática crônica mais grave (Bassily et al., 1979). Estudos com biópsia hepática revelaram aumento

significativo de hepatite crônica e descompensação hepática em indivíduos infectados por S. mansoni (Lyra,

Rebouças & Andrade, 1976; Chen & Mott, 1988). Os pacientes com S. mansoni-hepatite B desenvolvem mais

freqüentemente icterícia, ascite refratária e falência hepática. Seu manejo clínico é mais difícil e o prognóstico

mais reservado que na esquistossomose hepatoesplênica crônica exclusiva.

Alguns argumentos procuram justificar a associação entre S. mansoni e a hepatite B:

� imunossupressão celular resultante da infecção esquistossomótica (Lyra, Rebouças & Andrade,

1976; Colley et al., 1986);

� baixos níveis socioeconômico e educacional, que aumentam o risco de exposição;

� tratamentos freqüentes com drogas endovenosas ou hemotransfusões (Madwar, El-Tahawy &

Strickland, 1989).

A associação entre S. mansoni e hepatite B tem sido questionada por alguns investigadores (Serufo

et al., 1997). Domingo et al. (1983) não encontraram diferença na exposição ao VHB e na positividade

para o antígeno de superfície da hepatite B entre indivíduos infectados por S. japonicum, incluindo

formas hepatoesplênicas, e pessoas sem esquistossomose, em população não hospitalar. A falta de

associação entre a esquistossomose mansoni e a hepatite B também foi relatada no Egito (Hyams et al.,

1986; Eltoum et al., 1991).

Em resumo, em estudos hospitalares, o estado de portador do VHB em pacientes com esquistossomose

hepatoesplênica mostrou-se maior que em indivíduos-controle. Entretanto, em estudos de campo, a

associação entre estes organismos não foi encontrada (Serufo et al., 1997). Futuras observações, com

estudos bem delineados, serão necessárias para o esclarecimento desta controvérsia.

Hepatite C

Hepatite C e esquistossomose estão associadas à inflamação hepática, mas são caracterizadas

por mecanismos imunológicos diferentes. A esquistossomose, como muitas doenças parasitárias,

Page 12: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 799

caracteriza-se por resposta predominante do tipo Th2, associada a granulomas hepáticos. Na hepatite C

a resposta é do tipo Th1, induzindo dano hepático e clareamento viral (Sobue et al., 2001). O resultado

final é, portanto, morfológica e funcionalmente diferente (Blanton et al., 2002).

A esquistossomose produz um padrão distinto de fibrose hepática que segue os tratos portais, o que

resulta em distensão venosa e hipertensão portal, com função hepática intacta. Em contraste, a hepatite

C associa-se a cirrose (destruição de células hepáticas, desorganização da arquitetura e função, hipertensão

portal) e carcinoma hepatocelular.

A co-infecção esquistossomose-hepatite C mostra-se comum no Egito (Kamel et al., 1994; Angelico

et al., 1997), no Brasil e em outros países em desenvolvimento (Pereira et al., 1995).

Em estudo prospectivo realizado no Egito (Kamal et al., 2000), demonstrou-se que pacientes com

hepatite C e infecção por S. mansoni apresentam doença hepática mais avançada, títulos mais elevados

de HCV RNA, predominância do genótipo 4 e atividade histológica mais elevada. Houve também quadro de

progressão para cirrose, carcinoma hepatocelular e mortalidade mais alta durante o seguimento. A

esquistossomose parece também diminuir a eficácia do interferon-alfa no tratamento da hepatite C (Blanton

et al., 2002). Pacientes co-infectados apresentaram níveis séricos de citocinas do tipo Th2 (IL-10 e IL-4)

mais elevados, níveis mais baixos de citocinas do tipo Th1 (IFN-) e níveis mais baixos de células T-CD4

específicas para o HCV, em comparação com os indivíduos com infecção somente pelo vírus da hepatite C

(Kamal et al., 2001).

Um estudo de corte transversal no Egito demonstrou o efeito da co-infecção por S. mansoni e vírus

da hepatite C na diferenciação e manutenção da memória das células T específicas do HCV (Elrefaei et al.,

2003). Os fatores que influenciam a geração e manutenção de células de memória T-CD8+ não estão

completamente entendidos. A homeostase da memória das células T é dinâmica e regulada por vários

estímulos, incluindo citocinas e antígenos de histocompatibilidade maior (MHC). Observou-se significativa

redução das células de memória T-CD27 e T-CD28 (diferenciação tardia) nos indivíduos co-infectados,

comparados àqueles com infecção somente pelo HCV. Em contraste, não houve diferença significativa nas

células T-CD27+/T-CD28+ (diferenciação precoce), que são específicas do HCV, entre os dois grupos. Estes

achados podem contribuir para entender as diferenças observadas na maturação da memória viral específica

e na replicação viral (Ahmed & Gray, 1996; Appay et al., 2002; Lieberman, Manjunath & Shankar, 2002),

assim como na patogênese viral (Elrefaei et al., 2003).

A associação entre hepatite C e esquistossomose merece maiores investigações para melhores

esclarecimentos no que diz respeito às alterações imunológicas e à evolução, prognóstico e tratamento.

Vale lembrar que o genótipo HCV mais comum no Egito é o 4, diferentemente dos países ocidentais e do

Japão. No Brasil, o genótipo 1 é o mais prevalente, devendo ser avaliada em nosso meio a importância

deste genótipo na co-infecção com S. mansoni.

HIV

O conhecimento acumulado sobre a imunologia da infecção por S. mansoni e dos efeitos do HIV no

sistema imune prenunciavam a provável interação entre as duas infecções. A infecção pelo HIV causa

falência progressiva do sistema imune, com queda gradual dos linfócitos CD4 e comprometimento da

imunidade celular. A resposta Th2 encontra-se reduzida em pacientes esquistossomóticos portadores do

HIV (Mwinzi et al., 2001).

Page 13: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

800 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

É possível considerar várias áreas de interesse clínico neste novo cenário (Lambertucci & Neves, 1993):

� A depressão da imunidade celular no hospedeiro reduz a resposta granulomatosa aos ovos de

S. mansoni. Camundongos infectados experimentalmente com S. mansoni e imunossuprimidos

por drogas ou timectomia desenvolveram hepatite difusa e grave. Climent et al. (1994) relataram

os achados histopatológicos de necropsias de cem pacientes com Aids que morreram em Porto Rico

de 1982 a 1991. Dez dos cem pacientes tinham esquistossomose mansoni e todos mostravam

reação tecidual granulomatosa ou inflamatória mínima. Lambertucci & Neves (1993) relataram

completa ausência de resposta granulomatosa aos ovos e necrose hepática grave em um paciente

que havia morrido com a associação Salmonella-S. mansoni e no qual se identificou também,

após a necropsia, tuberculose disseminada e ovos de S. mansoni distribuídos em vários órgãos. A

migração dos vermes a diferentes órgãos do corpo humano poderia explicar o achado de um

grande número de ovos em localizações não usuais. Esta hipótese implica que o sistema imune

mostra-se importante no confinamento dos vermes adultos de S. mansoni nos vasos mesentéricos.

O papel da resposta imunológica dos linfócitos T-CD4 na reinfecção por S. mansoni foi avaliado

por Karanja et al. (2002) em população altamente exposta à esquistossomose no Quênia. Portadores

do HIV com baixas contagens de CD4 mostraram maior suscetibilidade à reinfecção pelo verme.

� Lambertucci, Rayes & Gerspacher-Lara (1998) descreveram os casos de dois jovens com bacteriemia

por Salmonella, esquistossomose ativa e síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). A sua

apresentação clínica compreendia sinais e sintomas não específicos, como fadiga, astenia, perda

de peso, diarréia, febre prolongada e hepatoesplenomegalia. Em um dos pacientes, a biópsia hepática

mostrou granulomas mal-formados circundando ovos de S. mansoni e hepatite moderada. O

tratamento exclusivo da esquistossomose induziu melhora clínica consistente, com cura eventual

tanto da infecção por Salmonella quanto por S. mansoni. O reconhecimento da associação entre

Salmonella e S. mansoni em pacientes com Aids não deve ser fácil, porque a apresentação clínica

(diarréia, febre prolongada, hepatoesplenomegalia e perda de peso) é também descrita em pacientes

exclusivamente portadores de Aids. O diagnóstico da associação entre as duas infecções mostra-se

importante porque o tratamento da esquistossomose altera completamente o curso da doença,

melhorando o prognóstico desta bacteriemia que, de outra forma, seria fatal. Nobre et al. (2003),

ao estudarem vinte pacientes com Aids necropsiados, encontraram dois pacientes com

esquistossomose disseminada associada à tuberculose miliar. Em um desses dois pacientes havia

perfuração intestinal atribuída à tuberculose. Os autores observaram ainda a presença de ovos em

vários órgãos e nos dois casos os ovos não eram circundados por granulomas. Em um deles o

exame das fezes não revelou ovos de S. mansoni.

� A eliminação de ovos se reduz drasticamente em camundongos experimentalmente infectados com

S. mansoni e imunossuprimidos por drogas ou timectomia (Doenhoff et al., 1986). O granuloma bem

formado facilita a migração dos ovos nos tecidos do hospedeiro. Sem a formação do granuloma,

os ovos de S. mansoni não atingem (ou o fazem apenas em pequeno número) o lúmen intestinal. O

diagnóstico da esquistossomose, baseado no exame parasitológico de fezes, neste contexto, deve

ser revisto. Biópsia retal ou hepática, e teste de Elisa para antígenos circulantes devem representar

alternativas ao exame parasitológico de fezes, nestes casos. Estudos em pacientes com Aids e

baixa contagem de células CD4 são necessários para se avaliar melhor esta hipótese.

Page 14: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 801

� A eficácia dos esquistossomicidas mostra-se reduzida em camundongos infectados por S. mansoni

e imunossuprimidos por timectomia (Lambertucci, Moda & Doenhoff, 1989; Doenhoff et al., 1991).

Falência da resposta ao oxamniquine ou ao praziquantel, em doses usuais, é esperada no hospedeiro

imunossuprimido infectado por S. mansoni.

Lawn et al. (2000) não observaram redução da carga viral plasmática em pacientes co-infectados por

S. mansoni e HIV após o tratamento com praziquantel. Entretanto, estes achados não se correlacionaram

à progressão clínica da doença esquistossomótica ou da infecção pelo HIV. Apesar de o tratamento da

helmintíase não ter se associado à redução da carga viral do HIV, o estudo não exclui a possibilidade de

um efeito adverso da infecção helmíntica na patogênese do HIV. Dessa forma, os autores recomendam que

o diagnóstico e o tratamento da esquistossomose sejam feitos o mais brevemente possível nestes pacientes,

a fim de se evitar o desenvolvimento de formas crônicas da helmintíase e doença grave, a qual, por sua

vez, reduziria ainda mais os níveis de CD4 (Colley et al., 1983; Kalinkovich et al., 1998).

ATOPIA E ASMA

A atopia se caracteriza pelo aumento dos níveis séricos de IgE total e específica para alérgenos ambientais

comuns, e pela evidência in vivo de hipersensibilidade imediata mediada pela IgE (Burrows et al., 1989). A

resposta alérgica encontra-se diminuída nas infecções helmínticas. Apesar de o mecanismo da redução da

resposta aos alérgenos não ter sido identificado, especula-se que os altos níveis de IgE, o bloqueio do Fc dos

mastócitos pela IgE policlonal e as altas concentrações de IgG antígeno-específico possam participar deste

fenômeno (Hussain, Poindexter & Ottensen, 1992; Araújo et al., 1996; King, Medhat & Malhotra, 1996; Linch

et al., 1998; Weiss, 2000). Entretanto, não há evidência de que as verminoses reduzam a prevalência da

atopia, incluindo asma (Catapani et al., 1997; Medeiros et al., 2003).

Demonstrou-se associação inversa entre a positividade nos resultados do teste cutâneo para alérgenos

da poeira doméstica e a carga parasitária de S. mansoni (Araújo et al., 2000). Estudo de Medeiros et al.

(2003) demonstrou que pessoas asmáticas infectadas por S. mansoni apresentaram um curso mais leve da

asma que controles asmáticos sem esquistossomose. Curiosamente, apesar de os vermes induzirem uma

resposta Th2, tem sido demonstrado que oligossacarídeos têm papel importante neste fenômeno, por meio

da indução da produção de IL-10. Estes oligossacarídeos são mais freqüentemente encontrados na infecção

por S. mansoni que nas outras helmintíases (Velupillai et al., 2000; Royer et al., 2001). Uma vez que a

esquistossomose se associa à grande produção de IL-10, a qual pode modular a reação de hipersensibilidade

mediante redução da liberação de histamina pelos mastócitos, é possível que este mecanismo explique a

menor resposta a alérgenos e o abrandamento do curso da asma nos esquistossomóticos. Estudos que

identifiquem antígenos esquistossomóticos que possam funcionar como moduladores da resposta imunológica

podem contribuir para a redução da morbidade das doenças atópicas.

REFERÊNCIAS

AHMED, R. & GRAY, D. Immunological memory and protective immunity: understanding their relation.

Science, 272: 54-60, 1996.

Page 15: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

802 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

ALLEN, J. E. & MAIZELS, R. M. Immunology of human helminth infection. International Archives of

Allergy and Immunology, 109: 3-10, 1996.

ANGELICO, M. et al. Chronic liver disease in Alexandria governorate, Egypt: contribution of schistosomiasis

and hepatitis virus infections. Journal of Hepatology, 26: 236-243, 1997.

APPAY, V. et al. Memory CD28+T cells vary in differentiation phenotype in different persistent virus infections.

Nature Medicine, 8: 379-385, 2002.

ARAÚJO, F. G. et al. Schistosoma mansoni: impairment of the cell- mediated immune response in mice.

Clinical and Experimental Immunology, 28: 289-291, 1977.

ARAÚJO, M. I. et al. Evidence of a T helper type 2 activation in human schistosomiasis. European Journal

of Immunology, 26: 1.399-1.403, 1996.

ARAÚJO, M. I. et al. Inverse association between skin response to aeroallergens and Schistosoma mansoni

infection. International Archives of Allergy and Immunology, 123: 145-148, 2000.

BARSOUM, R. S. et al. Renal disease in hepatosplenic schistosomiasis: a clinicopathological study.

Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 71: 387-391, 1977.

BASSILY, S. et al. Chronic hepatitis B antigenaemia in patients with hepatosplenic schistosomiasis. The

Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 82: 248-251, 1979.

BERGER, M. et al. IgE antibodies to Staphylococcus aureus and Candida albicans in patients with the syndrome

of hyperimmunoglobulin E and recurrent infection. Journal of Immunology, 125: 2.437-2.443, 1980.

BLANTON, R. et al. Population-based differences in Schistosoma mansoni and hepatitis C- induced disease.

The Journal of Venereal Disease Information, 185: 1.644-1.649, 2002.

BUCKLEY, R. H.; WRAY, B. B. & BELMAKER, E. Z. Extreme hyperimmunoglobulinemia E and undue

susceptibility to infection. Pediatrics, 49: 59-70, 1972.

BURROWS, B. et al. Association of asthma with serum IgE levels and skin-test reactivity to allergens. The

New England Journal of Medicine, 320: 271-277, 1989.

CATAPANI, W. R. et al. Prevalence of allergic diseases in patients with schistosomiasis mansoni. The

Journal of Allergy and Clinical Immunology, 100: 142, 1997.

CHEN, M. G. & MOTT, K. E. Progress in assessment of morbidity due to Schistosoma mansoni infection.

Tropical Diseases Bulletin, 85: R1-R56, 1988.

CLIMENT, C. et al. Geographical pathology profile of AIDS in Puerto Rico: the first decade. Modern Pathology,

7: 647-651, 1994.

COLLEY, D. G. et al. Immune responses during human schistosomiasis mansoni. IX. T-lymphocyte subset

analysis by monoclonal antibodies in hepatosplenic disease. Scan Journal of Immunology, 17: 297-

302, 1983.

COLLEY, D. G. et al. Immune responses during human schistosomiasis. XII. Differential responsiveness

in patients with hepatosplenic disease. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene,

35: 793-802, 1986.

Page 16: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 803

DOENHOFF, M. J. et al. The schistosome egg granuloma: immunopathology in the cause of host

protection or parasite survival? Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene,

80: 503-514, 1986.

DOENHOFF, M. J. et al. The immune dependence of chemotherapy. Parasitology Today, 7: 16-18, 1991.

DOMINGO, E. O. et al. HBV exposure and HBsAg positive rates in schistosomiasis japonica: study in a

Philippine community endemic for both infections. The Southeast Asian Journal of Tropical Medicine

and Public Health, 14: 456-462, 1983.

ELREFAEI, M. et al. HCV-specific CD27- CD28- memory T cells are depleted in hepatitis C virus and

Schistosoma mansoni co-infection. Immunology, 110: 513-518, 2003.

ELTOUM, I. A. et al. Lack of association between schistosomiasis and hepatitis B virus infection in

Gezira-Managil area, Sudan. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene,

85: 81-82, 1991.

FARID, Z.; TRABOLSI, B. & HAFEZ, A. Escherichia coli bacteraemia in chronic schistosomiasis. Annals of

Tropical Medicine and Parasitology, 78: 661-662, 1984.

GALANDIUK, S.; GARDNER, S. A. & HEINZELMANN, M. Constituent analysis may permit improved diagnosis

of intra-abdominal abscess. American Journal of Surgery, 171: 335-339, 1995.

GRAHAM, J. G. & ORR, J. L. Hepatic abscess associated with visceral schistosomiasis. The Lancet, 1:

714-716, 1950.

HANFIN, J. M. & ROGGE, J. L. Staphylococcal infections in patients with atopic dermatitis. Archives of

Dermatology, 113: 1.383-1.386, 1977.

HUSSAIN, R.; POINDEXTER, W. & OTTENSEN, E. A. Control of allergic reactivity in human filariasis.

Predominant localization of blocking antibody to the IgG4 subclass. Journal of Immunology, 148:

2.731-2.737, 1992.

HYAMS, K. C. et al. Risk of hepatitis B infection among egyptians infected with Schistosoma mansoni. The

American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 35: 1.035-1.039, 1986.

KALINKOVICH, A. et al. Decreased CD4 and increased CD8 counts with T cell activation is associated with

chronic helminth infection. Clinical and Experimental Immunology, 114: 414-421, 1998.

KAMEL, M. A. et al. The epidemiology of Schistosoma mansoni hepatitis B and hepatitis C infection in

Egypt. Annals of Tropical Medicine and Parasitology, 88: 501-509, 1994.

KAMAL, S. et al. Clinical, virological and histopathological features: long-turn follow-up in patients with

chronic hepatitis C co-infected with S. mansoni. Liver, 20: 281-289, 2000.

KAMAL, S. et al. Acute hepatitis C without and with schistosomiasis: correlation with hepatitis C-specific

CD4(+) T-cell and cytokine response. Gastroenterology, 121: 646-656, 2001.

KARANJA, D. M. S. et al. Resistance to reinfection with Schistosoma mansoni in occupationally exposed

adults and effect of HIV-1 co-infection on susceptibility to schistosomiasis: a longitudinal study. The

Lancet, 360: 592-596, 2002.

KING, C. L.; MEDHAT, A. & MALHOTRA, I.. Cytokine control of parasite-specific anergy in human urinary

schistosomiasis. IL-10 modulates lymphocyte reactivity. Journal of Immunology, 156: 4.715-4.721, 1996.

Page 17: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

804 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

KOLMER, H. L. & PLATTS-MILLS, T. A. E. Atopic dermatitis: new knowledge and new approaches. Hospital

Practice, 30: 63-72, 1995.

LAMBERTUCCI, J. R. Schistosoma mansoni: pathological and clinical aspects. In: JORDAN, P.; WEBBE, G.

& STURROCK, R. F. (Eds.) Human Schistosomiasis. Wallingford: Cab International, 1993.

LAMBERTUCCI, J. R. Hyperimmunoglobulinemia E, parasitic diseases and staphylococcal infection. Revista

da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 29: 407-410, 1996.

LAMBERTUCCI, J. R. & NEVES, J. Associação Salmonella-Schistosoma-Mycobacterium: relato de um caso.

Arquivos Brasileiros de Medicina, 67: 53-54, 1993.

LAMBERTUCCI, J. R.; MODA, J. & DOENHOFF, M. J. Schistosoma mansoni: the therapeutic efficacy of

oxamniquine is enhanced by immune serum. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine

and Hygiene, 83: 362-363, 1989.

LAMBERTUCCI, J. R.; RAYES, A. A. & GERSPACHER-LARA, R. Salmonella-S. mansoni association in patients

with acquired immunodeficiency syndrome. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo,

40: 233-235, 1998.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. The value of the Widal test in the diagnosis of prolonged septicemic salmonellosis.

Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 27: 82-85, 1985a.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Therapeutic efficacy of oral oxaminiquine in the treatment of Salmonella – S.

mansoni association. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 27: 33-39, 1985b.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Glomerulonephitis in Salmonella – S. mansoni association. The American

Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 38: 97-102, 1988.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Liver abscess and schistosomiasis. A new association. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, 23: 239-240, 1990.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Associação Salmonella – S. mansoni: análise de 104 casos. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, 24, supl. 1: 76, 1991a.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Abscesso piogênico do fígado: análise de 50 casos. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, 24, supl. II: 83, 1991b.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Schistosomiasis and associated infections. Memórias do Instituto Oswaldo

Cruz, 93, supl. 1: 135-139, 1998.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Schistosoma mansoni: assessment of morbidity before and after control. Acta

Tropica, 71: 101-109, 2000.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Pyogenic abscesses and parasitc diseases. Revista do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo, 43: 67-74, 2001a.

LAMBERTUCCI, J. R. et al 1997. Acute schistosomiasis: report on five singular cases. Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, 92: 631-635, 2001b.

LAWN, S. D. et al. The effect of treatment of schistosomiasis on blood plasma HIV 1 RNA concentration in

coinfected individuals. Aids, 14: 2.437-2.443, 2000.

LIEBERMAN, J.; MANJUNATH, N. & SHANKAR, P. Avoiding the kiss of death: how HIV and other chronic

viruses survive. Current Opinion in Immunology, 14: 478-486, 2002.

Page 18: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

Esquistossomose e Doenças Associadas | 805

LIMA, V. C. & MALUF, F. C. Schistosomiasis: predisposing cause for the formation of hepatic abscesses?

Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 37: 277-280, 1995.

LINCH, N. R. et al. Relationship between helmintic infection and IgE response in atopic and nonatopic

children in a tropical environment. The Journal of Allergy and Clinical Immunology, 101: 217-221, 1998.

LO VERDE, P. T.; AMENTO, C. & HIGASHI, G. I. Parasite-parasite interaction of Salmonella typhimurium

and Schistosoma. The Journal of Venereal Disease Information, 141: 177-185, 1980.

LYRA, G. L.; REBOUÇAS, G. & ANDRADE, Z. A. Hepatitis B surface antigen carrier state in hepatosplenic

schistosomiasis. Gastroenterology, 71: 641-645, 1976.

MADWAR, M. A.; EL-TAHAWY, M. & STRICKLAND, G. T. The relationship between uncomplicated

schistosomiasis and hepatitis B infection. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and

Hygiene, 83: 233-236, 1989.

MAHMOUD, M. S. & AWAD, A. A. A study of the predisposition of schistosomiasis mansoni to pyogenic

liver abscess in experimentally infected mice. Journal of the Egyptian Society of Parasitology, 30: 277-

286, 2000.

MCDONALD, M. I. et al. Single and multiple pyogenic liver abscesses. Medicine, 63: 291-302, 1984.

MEDEIROS JR., M. et al. Schistosoma mansoni infection is associated with a reduced course of asthma.

The Journal of Allergy and Clinical Immunology, 111: 947-951, 2003.

MOSMANN, T. R. & SAD, S. The expanding universe of T-cell subsets: Th1, Th2 and more. Immunology

Today, 17: 138-146, 1996.

MUNIZ-JUNQUEIRA, M. et al. Antibodies response to Salmonella typhi in human schistosomiasis mansoni.

Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 29: 441-445, 1996.

MWINZI, P. N. M. et al. Cellular immune responses of schistosomiais patients are altered by human

immunodeficiency virus type 1 coinfection. The Journal of Venereal Disease Information, 184: 488-

496, 2001.

NEVES, J. & MARTINS, N. R. L. L. Long duration of septicaemic salmonellosis: 35 cases with 12

implicated species of Salmonella. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and

Hygiene, 61: 541-552, 1967.

NOBRE, V. et al. Opportunistic infections in patients with AIDS admitted to an University Hospital of the

Southeast of Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 45: 69-74, 2003.

OTTENS, H. & DICKERSON, G. Studies on the effects of bacteraemia on experimental schistosoma infections

in animals. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 66: 85-107, 1972.

PEARCE, E. J. et al. Downregulation of Th1 cytokine production accompanies induction of Th2 responses by

a parasitic helminth, Schistosoma mansoni. The Journal of Experimental Medicine, 173: 159-166, 1991.

PEREIRA, L. M. et al. Hepatitis C virus infection in schistosomiasis mansoni in Brazil. Journal of Medical

Virology, 45: 423-428, 1995.

ROCHA, H.; KIRK, J. W. & HEARY, C. D. Prolonged Salmonella bacteraemia in patients with Schistosoma

mansoni infection. Archives of Internal Medicine, 128: 254-257, 1971.

Page 19: Parte III - Esquistossomosebooks.scielo.org/id/37vvw/pdf/carvalho-9788575413708-28.pdf · inibe a ativação de leucócitos. Desta forma, o resultado da ativação de Th2 é a inibição

806 | Schistosoma mansoni E ESQUISTOSSOMOSE: UMA VISÃO MULTIDISCIPLINAR

ROCHA, H.; MOTTA, J. G. & REBOUÇAS, G. Características da infecção por Escherichia coli em camundongos

com esquistosomose mansoni. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 10: 299-304, 1968.

ROYER, B. et al. Inhibition of IgE-induced activation of human mast cells by IL-10. Clinical and Experimental

Allergy, 31: 694-704, 2001.

SALIH, S. Y. et al. Salmonellosis complicating schistosomiasis in Sudan. The Journal of Tropical Medicine

and Hygiene, 80: 14-18, 1977.

SERUFO, J. C. et al. Chronic carriers of hepatitis B surface antigen in an endemic area for schistosomiasis

mansoni in Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 93: 249-253, 1997.

SOBUE, S. et al. Th1/Th2 cytokine profiles and their relationship to clinical features in patient with chronic

hepatitis C virus infection. Journal of Gastroenterology, 36: 544-551, 2001.

TEIXEIRA, R. et al. Pyogenic liver abscesses and acute schistosomiasis mansoni: report on 3 cases and

experimental study. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 90: 280-

283, 1996.

TEIXEIRA, R. S.; BINA, J. C. & BARRETO, S. H. Bacteria infection of long duration due to genus Escherichia

in a patient with S. mansoni. Revista Médica da Bahia, 22: 70-74, 1976.

VELUPILLAI, P. et al. Lewis(x)-containing oligosacharide attenuates schistosome egg antigen-induced

immune depression in human schistosomiasis. Human Immunology, 61: 225-232, 2000.

WEISS, S. T. Parasites and asthma/allergy: what is the relationship? The Journal of Allergy and Clinical

Immunology, 105: 205-210, 2000.