passos coelho. o rosto mediático de um país em dívida
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A configuração mediática do Primeiro-Ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, nas edições impressas do “Público”, em Abril de 2012.TRANSCRIPT
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PEDRO PASSOS COELHO.
O ROSTO MEDIÁTICO
DE UM PAÍS EM DÍVIDA A configuração mediática do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, no
“Público”, em Abril de 2012 – Um chefe de Governo condicionado pela crise
económica e financeira de Portugal e da Europa e pelas medidas de
austeridade impostas pelo FMI e pela União Europeia.
LUÍS PAULO RODRIGUES
http://luispaulorodrigues.blogspot.pt
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INTRODUÇÃO
Este trabalho de análise tem como objecto empírico determinar a configuração
mediática de Pedro Passos Coelho (PPC), Primeiro-Ministro do Governo de
Portugal e Presidente do Partido Social Democrata (PSD), a partir da observação
do jornal diário “Público” ao longo das 30 edições impressas entre 1 e 30 de Abril
de 2012. PPC lidera um Governo de coligação entre PSD e CDS/PP, cuja política
económica, marcada por medidas de forte austeridade, está sujeita a regras
internacionais, impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco
Central Europeu (BCE) e pela União Europeia (EU), na sequência do resgate
financeiro a Portugal, acordado nas últimas semanas do anterior Governo, liderado
por José Sócrates (Partido Socialista), entre o primeiro semestre de 2005 e o
primeiro semestre de 2011.
O objectivo desta análise foi procurar saber como é que PPC, empossado na
liderança do Governo em 11 de Junho de 2011, é tratado pelo “Público” – um título
de referência no jornalismo português –, ao nível das notícias, dos artigos de
opinião, das fotografias, transmitindo a percepção e a visão de quem recebe a
informação.
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A IMPORTÂNCIA DO JORNALISMO POLÍTICO
Ao longo do século XX, os meios de comunicação conquistaram uma importância
enorme “como produtores e disseminadores de representações e definições
de realidade para amplas audiências”1, porque fazem um escalonamento da
realidade, através do maior ou do menor destaque das notícias, atribuindo um
valor aos acontecimentos e aos seus protagonistas, consoante os considera
positivos ou negativos ou os ignora.
Numa sociedade de massa, o poder dos meios de comunicação assenta na
capacidade de manipular a opinião pública, de ditar regras de comportamento e de
influenciar as escolhas dos indivíduos e da própria sociedade. Daí a importância do
“jornalismo político”, enquanto espaço de mediação entre as decisões políticas que
modelam a esfera pública democrática e a vida em sociedade, em que se inscreve a
acção de PPC como líder do PSD e do Governo português.
As sociedades humanas tornaram-se muito dependentes dos meios de
comunicação para construírem a sua imagem da realidade envolvente e do mundo,
para, a partir da informação recebida dos meios de comunicação, se orientarem e
posicionarem face às questões de todos os dias. Como observa Murilo César Soares,
“na política, os meios aparecem enquadrando situações, representando
acontecimentos para a sociedade, de modo a usá-los numa constelação de
valores, ideologias, interpretações e imaginários que serão utilizados como
referência para o pensamento e julgamento pelas pessoas”2.
Com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa foi suprimida ou
minimizada a importância da presença do público para testemunhar os
acontecimentos. Os meios de comunicação tornaram-se mediadores privilegiados
entre a realidade e os seus públicos. Nesse paradigma comunicional, o jornalismo
passou a compensar a ausência do público, mediante o relato e o enquadramento
dos factos, ocupando assim um papel de relevo na política. Daí a importância que o
noticiário político – e em especial o jornalismo político – assumiu nos meios de
comunicação social de referência, categoria onde se insere o jornal “Público”.
1 SOARES, M. C., Representações, Jornalismo e Esfera Pública Democrática, S. Paulo, Editora UNESP,
2009. 2 Idem.
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CRITÉRIO DE ANÁLISE
Tendo a jornalista Bárbara Reis como directora, o “Público” é, actualmente, o único
jornal diário português dirigido por uma mulher. Tem uma tiragem média diária
na ordem dos 30 mil exemplares e é distribuído em suportes digitais, estando
também presente nas redes sociais, com destaque para o Facebook3 (onde regista
260 mil seguidores) e o Twitter4 (37 mil seguidores).
O jornal, cujo caderno principal comporta uma média diária de 48 páginas, está
actualmente dividido nas secções Destaque, Portugal, Economia, Mundo, Cultura,
Local, Desporto e Espaço Público (secção de opinião). Inclui ainda os suplementos
“Público Imobiliário”, sobre o mercado imobiliário, à quarta-feira, “Ípsilon” e “O
Inimigo Público”, de cultura e humor, respectivamente, ambos à sexta-feira,
“Fugas”, de viagens, gastronomia, restaurantes, vinhos, carros e lazer, ao sábado, e
“P2”, uma revista generalista, ao domingo.
Foi considerado como “corpus” de análise o caderno principal do “Público” e todos
os seus suplementos (“Público Imobiliário”, “Ípsilon”,“Fugas” e “P2”), exceptuando
3 Disponível em www.facebook.com/Publico, em 02-06-2012, às 23h30 4 Disponível em www.twitter.com/Publico, em 02-06-2012, às 23h40
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o suplemento “Inimigo Público”, dado tratar-se de uma publicação humorística,
reconhecida como tal na comunidade de leitores do “Público”.
Nos suplementos “Público Imobiliário”, “Ípsilon” e “Fugas”, PPC não foi objecto de
notícia ou referência directa, o que se compreende tendo em conta o conteúdo
editorial daquelas publicações. Concomitantemente, significa que o “Público”, no
período de tempo analisado, apenas transmitiu aos seus leitores informações e
opiniões sobre PPC sob o prisma da sua acção política e governativa.
No suplemento dominical “P2”, a única referência a PPC aconteceu no dia 1 de
Abril, numa rubrica intitulada “Imagem Palavra”, onde o jornalista Miguel Gaspar
analisou uma fotografia do último congresso do PSD que mostra PPC e
cumprimentar o parceiro da coligação governamental Paulo Portas com um aperto
de mão, embora a proximidade dos rostos sugira que os dois homens se preparam
para trocar um beijo. O objecto e figura entral da análise, porém, é Paulo Portas (o
nome de PPC é mencionado 2 vezes, enquanto Portas é nomeado 8 vezes), pelo
facto de o líder do CDS/PP e ministro dos Negócios Estrangeiros, parceiro do PSD
no Governo, ter sido um dos maiores críticos do PSD nos tempos em que era
director de “O Independente”, entre 1988 e meados da década de 1990, e surgir
agora como convidado no primeiro dia de um congresso do PSD.
Adoptei como critério analisar apenas as notícias, reportagens, entrevistas ou
artigos de opinião onde apareceu o nome de PPC na sua qualidade de Primeiro-
Ministro ou presidente do PSD, sendo que, nas 30 edições do “Público” analisadas,
PPC foi sempre referenciado numa dessas condições e nunca em outras.
De qualquer modo, quando está em causa o chefe de um Governo ou o líder de um
partido político, qualquer notícia do âmbito governamental acaba sempre por
configurar mediaticamente o responsável máximo do Governo, mesmo que não
mencione o seu nome. O mesmo acontece com qualquer notícia envolvendo o
partido do Governo, pois somos levados a percepcionar uma imagem do seu líder,
ainda que o seu nome não apareça na notícia, nem o assunto tenha directamente a
ver com o líder. Não considerei a edição digital do “Público”, a partir do qual a
informação também irradia para múltiplos suportes digitais, designadamente
redes sociais, blogues, telemóveis, smartphones, iPad, etc..
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A REBOQUE DOS ACONTECIMENTOS
Uma polémica sobre o fim dos subsídios de Férias e de Natal para a função pública,
levantada pela Comissão Europeia; uma “gaffe” ao ter sido anunciada uma linha
ferroviária de mercadorias que não tem continuação em Espanha; o fim das
reformas antecipadas não anunciado publicamente pelo Governo; e o golpe de
Estado na Guiné-Bissau foram os poucos assuntos que durante os 30 dias de Abril
de 2012 trouxeram o PPC para a primeira página do “Público”.
No total, o nome do líder do Governo foi mencionado expressamente em seis
títulos de primeira página, sendo que dois deles são ilustrados com a fotografia
principal, mostrando PPC em acção no dia anterior: no dia 17 de Abril, entre
militares, numa visita à Base Aérea nº 6 do Montijo, e, no dia 19, no nº 10 de
Downing Street, com o seu homólogo britânico, David Cameron, com este a
mostrar-se “disposto a ajudar no caso da Guiné”, segundo o título do “Público”.
Daqui resulta evidente uma acção mediática muito discreta de PPC, cuja presença
na primeira página do “Público”, além de reduzida, aconteceu basicamente por
motivos que lhe foram alheios ou que não decorreram da sua agenda mediática
própria, daí resultando a ideia de um primeiro-ministro a reboque dos
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acontecimentos, numa postura maioritariamente reactiva. Esse enquadramento
mediático acaba por ser reflexo da situação do País, que se encontra refém das
políticas económicas restritivas impostas pelas organizações internacionais. Aliás,
nos dois dias em que PPC apareceu fotografado na primeira página, o tema não
teve nada a ver com a iniciativa política do seu Governo: a crise política na Guiné-
Bissau. Ora, na comunicação política do líder de um Governo há três componentes
estratégicos que são essenciais: a liderança, o discurso e o agendamento. Estes
componentes constituem um conjunto integrado e interdependente da
comunicação de um líder governamental. A liderança define um estilo de
governação; o discurso dá-lhe uma narrativa; e o agendamento confere-lhe
proactividade. Da conjugação destes elementos resulta a solidez, a estrutura e um
programa orientado para o reforço da imagem e da liderança do Governo e do seu
líder.
A OBRA PROMETIDA E A “GAFFE”
Na edição de 2 de Abril, PPC foi protagonista da manchete, a propósito de uma
obra estruturante, uma nova ligação ferroviária à Europa, mas pelas piores razões:
“Passos anunciou linha ferroviária que não tem continuação em Espanha.”
O “Público” desenvolveu uma reportagem de duas páginas sobre o tema da ligação
ferroviária entre Sines e Badajoz, sem, curiosamente, ter feito uma única referência
a PPC no interior do jornal. Contrariando uma das regras do jornalismo, segundo a
qual o jornalista deve sempre ouvir todas as partes envolvidas num acontecimento,
em nenhuma circunstância o “Público” deu a oportunidade a PPC de dar a sua
versão sobre o assunto, nomeadamente em que estudos se baseara para
preconizar uma linha de bitola europeia entre Sines e Badajoz. E a avaliar pelas
edições seguintes, PPC não fez chegar ao jornal qualquer esclarecimento.
Por causa desta “gaffe”, o Primeiro-Ministro foi também criticado no editorial: “O
anúncio de Passos Coelho peca por má fundamentação, ou, o que seria mais
grave, por um acto de incontinente propaganda”. Na última página, numa
coluna de opinião intitulada “Sobe e Desce”, em que os protagonistas das notícias
do dia são elogiados (a subir) ou criticados (a descer), PPC apareceu a descer,
justamente por ter anunciado uma obra considerada “irrealizável”.
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Ao longo do mês, PPC foi protagonista pela negativa da coluna “Desce” por 3 vezes
e nunca foi referenciado positivamente na coluna “Sobe”. No dia 5, o motivo da
descida foram as contradições relativamente aos subsídios de férias e de Natal
para os funcionários públicos, os quais, lembrou o jornal, “só voltam em 2015 e
não serão por inteiro”. A notícia evidenciou graves erros de comunicação do
Governo que fragilizaram o Primeiro-Ministro – pois verificou-se que, afinal, um
assunto que tinha sido objecto de uma comunicação ao País não tinha sido
devidamente estudado pelo Governo.
No dia 10 de Abril, PPC apareceu de novo com a seta vermelha de quem está em
baixa, pelo facto de ter decidido suspender as aposentações antecipadas sem ter
explicado ao País a decisão tomada. No dia 6 de Abril, o Primeiro-Ministro voltou a
destacar-se pela negativa, ao ser menciondo 6 vezes num artigo de opinião do
colunista Vasco Pulido Valente, num comentário à “gaffe” sobre a linha ferroviária
de ligação a Espanha. “A estrambólica ideia de Passos Coelho (…) deixou o País
profundamente estupefacto. Uma pessoa normal pergunta: como pôde esta
trapalhada chegar a público?”, perguntou o cronista.
É com base nas notícias, nas entrevistas, nas reportagens ou nos trabalhos de
jornalismo de investigação que os colunistas de um jornal fundamentam os seus
pontos de vista sobre a realidade e os seus protagonistas. Para o chefe de um
Governo ou para qualquer outro responsável governamental ser objecto da
opinião de um colunista pode ser muito positivo ou muito negativo, o que depende
do conteúdo, mas também da credibilidade e da visibilidade do colunista.
É muito positivo para a imagem do político quando é objecto de um elogio a partir
de uma notícia em que ele fora protagonista, mais a mais quando esse elogio é
assinado por um colunista credível e de prestígio. Pelo contrário, é muito negativo
para a imagem de um político quando um colunista prestigiado lhe censura uma
decisão, um gesto, uma afirmação ou uma atitude.
No primeiro caso, um comentário positivo vindo de um articulista que até possa
ser conhecido pela sua independência política, contribui para construir uma
imagem positiva do agente político junto da opinião pública. Já um artigo de
opinião com comentários negativos à actuação do político pode ajudar a construir
uma imagem negativa sobre esse político. Porque a opinião faz opinião.
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A PRESENÇA NA PRIMEIRA PÁGINA
Num jornal, a primeira página é o seu espaço mais importante – é a “montra” do
jornal. A primeira página confere importância e visibilidade a uma notícia. Do
mesmo modo, se uma notícia de primeira página estiver ilustrada por uma boa
fotografia, isso significa que a sua visibilidade será ainda maior.
No caso de PPC, podemos concluir que registou uma presença discreta nas
primeiras páginas do “Público” durante o mês de Abril. A sua fotografia apareceu
apenas em duas edições. Já o nome apareceu em seis notícias, sendo que, numa
análise eminentemente subjectiva, em três das notícias os títulos foram “positivos”
para a imagem de PPC como Primeiro-Ministro (“Crise na Guiné. Passos envia
força de prevenção”, no dia 17, com fotografia; “Passos e Seguro desdobram-se
em contactos europeus”, no dia 18; “Passos com Cameron. Reino Unido
disposto a ajudar no caso da Guiné”, no dia 19, com fotografia, e em outras três
notícias foram “negativos” (“Passos anunciou linha ferroviária que não tem
continuação em Espanha”, no dia 2; “Subsídios de férias e de Natal só voltam
em 2015 e não serão por inteiro. Passos Coelho garante que cortes não serão
permanentes, mas avisa que a sua reposição será gradual e só a partir de
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2015”, no dia 5; “Passos: segredo foi para prevenir corrida às reformas”, no
dia 10). Para além destas referências directas, contribuem obviamente para a
configuração mediática do Primeiro-Ministro todas as notícias relativas ao
Governo e à sua equipa ministerial. Na organização actual do jornal “Público”, as
notícias, reportagens ou entrevistas da área política fazem parte da secção
“Nacional”, que também integra noticiário sobre temas de Sociedade,
nomeadamente Educação, Saúde e Justiça. Os temas de política costumam ter
primazia na secção, sendo paginados nas primeiras páginas do jornal – logo após o
assunto em destaque no dia – seguido-se os restantes temas da secção Nacional.
Nas 30 edições de Abril de 2012, foram identificadas 42 notícias com referência ao
nome de PPC, nas quais foi identificado como “Pedro Passos Coelho”, “Passos
Coelho” ou simplesmente “Passos” num total de 107 vezes. Depois de analisado o
conteúdo das 42 notícias, e o seu eventual impacto sobre a configuração mediática
de PPC, optei por dividi-las em três grupos: “notícias positivas”, “notícias
negativas” e “notícias neutras”. Considerei 26 notícias negativas (61,90% das
notícias avaliadas), 7 notícias positivas (16,66%) e 9 notícias neutras (21,42%).
NOTÍCIAS POSITIVAS
Dia 10: PS aceita alterar proposta de adenda ao tratado europeu
Dia 15: Passos aposta na vitória do PSD-Açores. Líder do partido encerra hoje XIX
Congresso dos sociais-democratas açorianos
Dia 16: Segundo empréstimo? “Creio que não”. À “Veja”, Passos fala nas “más
decisões internas”
Dia 16: Passos em Londres, Álvaro em Madrid
Dia 17: Guiné Bissau. Força portuguesa é “pura acção de prevenção”, garante Passos
Dia 18: Passos e Seguro desdobram-se em contactos europeus
Dia 21: Portal do Governo. Movimento contra corridas de touros reúne-se com
Passos
NOTÍCIAS NEGATIVAS
Dia 2: Passos anunciou linha ferroviária que não tem continuação em Espanha
Dia 5. Cortes. Subsídios de férias e de Natal só voltam a partir de 2015 e não será por
inteiro
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Dia 6: FMI quer alternativas ao corte da Taxa Social Única
Dia 8: Miguel Relvas desfaz dúvidas e garante que Portugal regressa aos mercados
em 2013
Dia 9: Como se gastam 10 milhões de euros numa campanha eleitoral
Dia 10: Quase meia centena. Grupos e equipas de trabalho não para de crescer no
Governo
Dia 10: Passos Coelho. Secretismo evitou corrida às reformas antecipadas
Dia 11: A Maternidade Alfredo da Costa saiu à rua porque “o lugar onde se nasce
nunca devia morrer”
Dia 11: Passos entende que regresso dos subsídios em 2014 daria “imagem
precipitada” do País
Dia 11: Cavaco Silva considera “prematura” discussão sobre retorno dos subsídios de
férias e de Natal
Dia 12: Tratados Europeus. Chumbo do protocolo do PS condiciona negociação da
regra de ouro
Dia 13: PS ignora regra de ouro mas Governo avisa que consenso é um imperativo. O
impasse mantém-se
Dia 14: Programa de apoio às empresas só deverá arrancar em meados de Maio
Dia 16: Passos quer aproveitar a crise para fazer a “reforma profunda do Estado”
Dia 17: Estratégia de audições do PS e do PSD/CDS em rota de colisão na comissão
ao BPN
Dia 19: Artigo no Financial Times. Passos “já nem na sua receita acredita”
Dia 19: Passos classifica ameaça da UGT de denunciar acordo da concertação social
como brincadeira do 1º de Maio
Dia 20: PS. “Vamos também lembrar aqueles que desapareceram”, como o SNS e o
Estado Social
Dia 21: Estudo internacional. Portugueses confiam mais nas empresas do que no
Governo
Dia 22: Sondagem. Seguro ultrapassa Passos Coelho em popularidade
Dia 24: “Ainda não vi poupança a sério no Governo”, diz vice-presidente do CDS
Dia 25: Passos critica necessidade de “protagonismo” de Soares e Alegre e PS acusa-o
de “displicente”
Dia 26: 25 de Abril. “Há muitos anos que não se viam os Aliados assim”
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Dia 28: Parlamento. Passos reconhece vaga de abandonos do ensino superior
Dia 28: Passos vai sozinho e sem Seguro. O consenso político desapareceu
Dia 28: Louçã denuncia incompatibilidade. Faria de Oliveira acumula presidência da
CGD com a da Associação Portuguesa de Bancos
NOTÍCIAS NEUTRAS
Dia 6: Negociações PSD-PS. Seguro quer acrescentar adenda de apoios sociais aos
tratados europeus
Dia 6: Alfredo Barroso lança livro contra o unnimismo e pelo debate à esquerda.
“Passos Coelho surpreendeu por ter puxado o partido tão à direita”, afirma
Dia 9: Inscrição do limite ao défice na lei pode implicar revisão constitucional
cirúrgica
Dia 11: Tratado adicional de António José Seguro era “pouco viável” para Miguel
Relvas
Dia 24: UGT dá mais tempo a Passos Coelho para cumprir acordo de concertação
Dia 24: PSD recupera proposta do PS para executivos de uma só cor nas câmaras
Dia 26: 25 de Abril. Cavaco surpreende com elogios a políticas do Governo Sócrates
Dia 27: Governo dá novas excepções salariais a institutos públicos.
Dia 29: Moreira da Silva acusa PS de querer provocar uma ruptura democrática
REFERÊNCIAS EM ENTREVISTAS E REPORTAGENS
PPC foi referido numa entrevista a Miguel Albuquerque, candidato à liderança do
PSD-Madeira e adversário interno de Alberto João Jardim, presidente do Governo
Regional da Madeira: “Conhecemo-nos há muitos anos, desde os tempos da
JSD. Politicamente aprecio a sua coragem e desapego ao poder, não sendo
capaz de exercer algo em que não acredita”, referiu Albuquerque, sobre PPC.
Uma referência positiva, mas contida, dado até ter sido proferida por um aliado
político interno.
Luís Reto, director do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa –
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), numa entrevista publicada no dia 30
de Abril, identifica problemas e desafios do ensino superior. Ao ser questionado
sobre que nota daria a PPC, respondeu de modo neutral, mas denotando algum
pessimismo: “Ainda é cedo. Deixemos acabar a ‘troika’, se é que vai acabar.”
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REFERÊNCIAS EM ARTIGOS E SECÇÕES DE OPINIÃO
Para um político, as referências em artigos de opinião são indicadores
extremamente preciosos para avaliar a popularidade ou a impopularidade junto da
opinião pública. Depois da mediatização através das notícias – que em jornalismo
relatam e enquadram os factos – podemos considerar os artigos de opinião,
normalmente escritos por especialistas em determinadas áreas – política nacional,
educação, política internacional, saúde, arquitectura, comunicação, artes plásticas,
etc. –, como uma espécie de segundo filtro entre a realidade e os consumidores de
informação, desta vez comportando a visão pessoal de quem escreve.
Um comentador escreve a sua opinião pessoal marcado pela percepção com que
fica daquilo que é relatado numa notícia. Logo, se uma notícia não contém todos os
ângulos necessários para compreender um acontecimento, a função do
comentador ficará prejudicada por falta de toda a informação.
Um jornalista redige uma notícia com base em factos. Um comentador dá a sua
opinião com base nos factos relatados nas notícias. São funções diferentes, que
partem de bases diferentes. Daí também a necessidade que há no jornalismo de
separar a informação da opinião.
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As notícias regem-se por critérios de objectividade, ainda que a selecção e a
hierarquização dos factos e o seu tratamento sejam de natureza subjectiva,
enquanto a opinião é eminentemente subjectiva, pois expressa o pensamento
pessoal de quem escreve, que pode vincular ou não o meio de comunicação.
O “Público” edita uma média diária de 10 artigos de opinião, o que, nos 30 dias de
Abril, perfez um total aproximado de 300 artigos. O nome de PPC foi referido
directamente 40 vezes num total de 300 artigos (ou seja, em 10% dos artigos).
Tendo em conta que estamos a falar de um jornal de referência que costuma dar
destaque à informação e à análise política, podemos concluir que PPC acabou por
registar um número discreto de referências, na linha, aliás, da sua presença nas
notícias. O que indicia uma liderança pouco vincada em torno da acção e da
personalidade do líder, que não provoca grandes textos analíticos, e uma
comunicação que não é centrada na figura do líder do Governo. Tal como
aconteceu nas notícias e na representação fotográfica, também ao nível da opinião
PPC destacou-se por referências negativas. Desde logo na coluna diária de “Sobe e
Desce”, onde foi referenciado 3 vezes a descer, nos dias 2, 5 e 10.
No dia 1 de Abril, PPC foi apenas referido numa citação do jornalista João
Marcelino, director do “Diário de Notícias”, que evidencia de forma eloquente uma
liderança política pouco sustentada do presidente do PSD: “O poder é o cimento
da liderança de Pedro Passos Coelho.”
A generalidade dos artigos de opinião com referências directas a PPC têm a ver
com temas incómodos para o Governo e para o próprio Primeiro-Ministro. Isto a
começar por aqueles artigos que criticam de forma detalhada o caso da “gaffe”
sobre a linha ferroviária sem continuidade em Espanha. Sobre este episódio, que
marcou negativamente a prestação mediática de PPC no início de Abril, o “Público”
mencionou o nome do Primeiro-Ministro por 2 vezes num editorial sobre “uma
obra irrealizável”, no dia 2. E Vasco Pulido Valente, contrariamente ao habitual,
pois não costuma fixar-se muito nos protagonistas políticos, escreveu 6 vezes o
nome de PPC, num artigo demolidor sobre a célebre “gaffe”. Um tema, de resto,
também tratado em outros artigos, ajudando a uma configuração mediática
negativa de PPC.
A crise na Europa e os seus reflexos em Portugal, a crise da segurança social
pública, as políticas de austeridade, os cortes dos subsídios de férias e de Natal,
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foram os temas negativos e desagradáveis de outros artigos de opinião onde o
nome PPC foi referenciado. No conjunto, as referências ao Primeiro-Ministro em
artigos de opinião publicados no “Público” foram maioritariamente negativas ou
neutras.
A REPRESENTAÇÃO FOTOGRÁFICA
Não obstante a evolução histórica e tecnológica, para o senso comum a fotografia
jornalística continua a passar pelo espelho do real tal como este se apresenta
perante a câmara no breve instante em que a imagem é captada. Por outras
palavras, nesta perspectiva, o que a foto regista “é verdade”, aconteceu, e o
fotógrafo esteve lá para o testemunhar. Esta noção da fotografia como espelho do
real, imagem reflectida que não mente, está profundamente vinculada à história
cultural da fotografia5. De acordo com Daniel de Souza6, quando a representação
fotográfica desempenha um papel noticioso – e as grandes fotografias são aquelas
5 http://br.monografias.com/trabalhos3/coerencia-foto-texto-diario-catarinense/coerencia-foto-texto-diario-catarinense2.shtml, em 01-06-2012, às 19h30 6 http://www.bocc.ubi.pt/pag/souza-daniel-a-fotografia-enquanto-representacao-do-real.pdf, em 01-05-2012, às 23h40
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que acrescentam informação ou que deixam o leitor a pensar naquilo que a
imagem não mostra mas sugere – deixa de ser apenas uma mera ilustração da
informação textual para assumir uma função complementar de veracidade do texto
escrito, como “espelho do real”. Assim, o fotojornalismo – que recria e legitima uma
realidade seleccionada – aproxima o observador de determinado acontecimento,
permitindo-lhe a sensação de proximidade com os factos, conhecimento e
participação. Como dizia a fotógrafa francesa de origem alemã Gisele Freund
(1908-2000), a partir do momento em que a fotografia se torna um “médium”, ela
também assume um importante e poderoso papel na propaganda e manipulação.
Nas 30 edições impressas do “Público” de Abril de 2012, PPC foi representado em
28 fotografias, sendo duas delas na primeira página (em momentos já
mencionados) e três delas na última página, na secção “Sobe e Desce”, onde o líder
do Governo português aparece a ser criticado no grupo dos que “descem”. Nas
fotos da primeira página, a imagem de PPC só se destaca quando representa o seu
encontro com David Cameron. Curiosamente, a equipa de futebol do Sporting
Clube de Portugal ocupou mais vezes (3) a fotografia principal da primeira página
do que PPC (2).
Não se pode dizer que a representação imagética de PPC nas páginas do “Público”
seja favorável ao Primeiro-Ministro. Tanto mais que PPC, enquanto chefe de um
Governo que está a adoptar medidas de austeridade e mudanças profundas na
organização da sociedade portuguesa, nomeadamente na Educação, na Justiça, na
Economia, na Segurança Social e nos serviços públicos de Saúde, quase não tem
boas notícias para dar aos portugueses. Isto, compaginado com uma política
económica muito restritiva, a que se junta o aumento galopante do desemprego e a
crise europeia, transforma o exercício de governar numa tarefa muito exposta à
crítica e à censura dos líderes de opinião, e, por consequência, da população.
A falta de boas notícias para dar ao País e a excessiva dependência de Portugal da
Europa, e, sobretudo, da Alemanha e das políticas de Angela Merkel, explicam
também que em muitos dos artigos de opinião sobre a crise europeia, PPC apareça
prejudicado pela imagem de aluno obediente à “receita” alemã da austeridade para
combater a crise. Em nenhum de 8 artigos de opinião com fotografia de PPC o
articulista tece considerações positivas sobre ele. Pelo contrário, as imagens
ilustram artigos sobre “a gestão de risco do Governo”, as “’gaffes’ e frases
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infelizes levaram o Primeiro-Ministro a fazer rectificações” ou o “valor
relativo da palavra dada”, este sobre a polémica dos subsídios de férias e Natal.
CONCLUSÕES
1. A configuração mediática de Pedro Passos Coelho nas páginas do jornal
“Público”, entre os dias 1 e 30 de Abril de 2012, sublinha a percepção de um chefe
de Governo condicionado pela crise económica e financeira de Portugal e da
Europa, que não concentra em si a comunicação do Governo e que se revela mais
reactivo do que proactivo.
2. A presença de PPC na primeira página do “Público”, além de reduzida, aconteceu
basicamente por motivos que lhe foram alheios ou que não decorreram da sua
agenda mediática própria.
2. As notícias negativas para a figura de PPC superam as notícias positivas em
termos quantitativos (61,90% % contra 16,66%) e, principalmente, em termos
qualitativos, no que se refere ao alcance e interesse informativo das notícias em
causa.
3. É justamente nos temas mais importantes para o País e para os portugueses que
PPC aparece como portador de más notícias ou, no mínimo, como alguém incapaz
de evitá-las ou combatê-las, o que enfraquece a sua imagem pública.
4. As notícias negativas tiveram o seu eco ampliado nos artigos de opinião, ainda
que muitos deles assinados por colunistas ligados a partidos políticos da oposição,
enquanto as boas notícias, além de escassas, não proporcionaram nenhum efeito
prolongado, nem geraram algo de positivo para a imagem de PPC junto dos
portugueses.
5. As poucas oportunidades em que a acção política de PPC poderia ter sido
defendida – quer por um dos “seus”, quer por alguém sem conotoção política
aparente – resultaram em referências neutras ou contidas. Ora, é sabido que os
políticos no poder tendem a ser valorizados e mais respeitados do que quando
afastados das decisões. Assim, essa neutralidade evidencia uma necessidade de
evitar a ideia de comprometimento com um líder que não é querido pelos eleitores.
6. Nem mesmo nas fotografias as aparições de PPC foram positivas. Se a
quantidade de fotografias pode fazer transparecer uma grande atenção à sua figura
(28 imagens em 30 dias), também é verdade que a sua representação fotográfica,