pentagrama_2005_04[1]

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  • 8/8/2019 Pentagrama_2005_04[1]

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    R evi sta bimestral do

    Le c t o r i u m R o s i c r u c i a n u m

    D A LUZ PARA A LUZ

    A BUSCA DO EU VERDADEIRO

    O CAMIN HO INDICADO POR H ERMES

    O H OMEM QUE ESCUTAVA A P EDRA

    A UNIDADE DOS PEREGRINOS NA SENDA

    MAN I, O D OM DA LUZ

    O S SON S SE PERDEM N O INFINITO

    VENCER O ENGANO

    Pe n t a g r a m A2 0 0 5 n me r o 4

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    PENTAGRAMA

    NDICE

    2 DA LU Z PA RA A LU Z

    5 A BUSCA DO EUVERDADEIRO

    8 O CAMINHO INDICADO

    POR H ERMES14 O H OMEM QUE ESCUTAVA

    A PEDRA

    18 O H OM EM N ATU RAL EO HOMEM ESPIRITUAL

    22 A UNIDADE DOSPEREGRIN OS NA SENDA

    24 MAN I, O DOM DA LUZ

    32 OS SON S SE PERDEMN O I N FI N I TO

    34 VEN C ER O EN GAN O

    AN O 27N MERO 4

    M A N I ,O D O M D A L U Z

    O ensinamento de Mani

    corresponde perfeitamente finalidadee essncia do cristianismo ensinado

    pelos rosacruzes atravs dos sculos.

    Por conseguinte, Mani uma de

    suas principais fontes de inspirao.

    J. van Rijckenborgh

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    jovem alma experimenta e apren-de mediante o tato, o paladar, a audi-o, a viso, bem como pelo instinto,assim como o faz toda criatura da na-tureza. Ao mesmo tempo, o homemtrabalha a prpria alma. Assim, ela formada, com o passar do tempo, nosomente pelas circunstncias, mastambm pelo cinzel do escultor quedeixa suas marcas atrs de si. Simulta-neamente, semelhana de uma sere-na e luminosa nuvem em ns e aonosso redor, vive algo totalmente di-ferente, algo intangvel.

    N a maioria das vezes, a vida segueo seu curso normal; as foras vitais seesgotam, a pessoa morre e a alma seextingue. At l, talvez aps muitasexperincias, irrompe um desejo, umaaspirao por algo maior, por essealgo intangvel.

    Ento, esse anseio indefinido encon-tra o que lhe semelhante e se harmo-niza com ele; e atrai o que lhe corres-ponde. Do impulso informe nasce umaf ardente que se aproxima do intan-gvel: a reminiscncia de uma luz, deuma possvel aurora. Ento, desper-

    A

    Da l uz par a a l uz

    2

    O homem uma criatura to maravilhosa que, partindo do mais baixo, ele podepenetrar at o mais elevado, desde a tenebrosa crosta terrestre at o corao gneode nosso corpo solar, Vulcano, o Sol por trs do sol. Para essa viagem, o Pai detodas as coisas nos muniu de um organismo complexo, ancorado no mundo, quepode perceber atravs dos sentidos. o instrumento adequado para que possa-mos experimentar tudo o que nos rodeia como que refletido num espelho.

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    tam novos sentidos que podem obser-var algo dessa luz: faculdades chama-das intuio, voz do silncio, ins-pirao, olhos do corao, etc.

    Atualmente existem pessoas quepartem em busca dessa luz, que ru-mam em direo a ela para dela viver,mas que ainda no o conseguem total-

    mente. Certamente a busca real eprazerosa, mas tambm a ligao como destino pode ser opressiva, o que fazo poeta dizer: Ah, duas almas coabi-tam em nosso imo. Todos os nossosrgos encontram-se ligados nossaalma e dela so parte integrante. Porisso, esta alma deve ser chamada de al-ma natural.

    Q uando os rgos sensoriais natu-rais se mostram insuficientes para pe-netrar a matria densa e examinar oque oculto, o homem inventa ins-trumentos para sondar sempre mais a

    imensido do Universo e as profun-dezas da matria.

    Poderemos algum dia encontrardesse modo respostas satisfatrias? um mero organismo singelo que pre-

    cisa do intelecto para responder e es-clarecer as indagaes e especulaes.O desejo insatisfeito permanece e asexperincias podem se tornar maisfortes e dolorosas se no conseguirmoschegar a concluses positivas. Q uem jno passou por essa experincia?Quantas vezes nosso corao j nofoi tocado pelas imagens, pelos sons,pelas fragrncias? Quo inevitavel-mente reagimos a eles com nosso pen-sar, nossa psique e atravs dos hor-mnios com todo o nosso corpo.

    Como o outro, apenas pressenti-do, pode ser tragado to rapidamentepelas ondas de entusiasmo ou pelopeso do sangue!

    Contudo, um desejo silenciosopersiste em nosso ntimo: uma grande

    nostalgia de uma vida pura e verda-deira. possvel aprender, desde a in-fncia, a perceber com o sentido inte-rior que provm da luz e dele testi-ficar, dando-lhe mais valor do que percepo exterior. Por causa daeventual tenso, bem como da dor doantagonismo contnuo entre a nostal-gia da luz e os impulsos da alma natu-

    ral, possvel que j no suportemosessa situao. E j no a queiramos!Ento, uma crise interior assoma

    em ns, devido a ns mesmos e luzem ns, porque ora colaboramos comum e ora colaboramos com outro. Acrise o momento em que a escolhatem de ser feita e no qual podemosdizer sim!, com total convico, noqual todas as reviravoltas vo desapa-recendo, at cessarem completamen-te. Se, do mesmo modo, surge um po-deroso no!, muitas vezes o interes-se pela atividade da luz perdido. E

    3

    Mikh ail Naimy escr eve no

    Livr o d e Mir dad:

    Este o caminho que leva libertao das preocupaes e da

    dor: Pensai como se cada um devossos pensamentos tivesse de sergravado a fogo no cu, para quetodos e tudo o v issem. E, v erdadei-ramente, assim . Falai como se omundo todo fosse um nico ouvidoatento a escutar o que dizeis.E, v erdadeiramente, assim . Agicomo se todos os vossos atos tives-sem de recair sobre vossa cabea.E, verdadeiramente, assim .Desejai como se vs fosseis o desejo.E, verdadeiramente, o sois.Vivei como se vosso Deus,Ele prprio, tivesse necessidade devossa vida para viver a Dele.E, verdadeiramente, Ele necessita.

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    Lees guardam

    a entrada de

    um santurio

    em Delos.

    Sculo VI a.C.

    4

    no pelo fato de agirmos bem comtudo (ou pensarmos que agimos bem)que estamos aptos a trilhar a senda.Isso uma iluso e um dos maioresequvocos que afetam milhares de

    esotricos. A nica coisa que conta um sim franco e sincero, vindo docorao!

    N isso est estabelecida a base para atransmutao dos sentidos exterioresem um primeiro sentido interior. Naluz do autoconhecimento a com-preenso pela situao descrita nasce o insight, o entendimento.

    Do insight surge um primeiro re-sultado: a gratido. A gratido preen-che o ser com o sutil brilho da alegria.Gratido para a vida una da qual sabe-mos que somos, de qualquer modo,uma parte modesta, porm importan-te. Em suma, esses dois aspectos, vi-so interior e gratido, iluminam,

    como se fosse pela primeira vez, to-dos os espaos sombrios de nosso ser. medida que o processo se desenvol-ve, nasce uma nova vontade, podero-sa e pura, que nos d a oportunidade

    de cooperar com o trabalho da luztransfiguradora em ns. No intervi-mos naquilo que se passa em nossointerior. Nosso papel consiste emtotal disponibilidade, onde for poss-vel, e de modo muito inteligente.

    Assim, os resultados se tornamvisveis. medida que o alvo se tornamais claro, a concentrao aumenta ese refora. O peregrino experimentasempre mais concretamente a realida-de que, primeiramente, ele s pres-sentia como um nebuloso desejo; arealidade da nova vida que, na antigalinguagem dos mistrios cristos, erachamada de a paz que no destemundo. Isto caminhar na luz.

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    busca desse elevado objetivo, ocaminho, requer, contudo, uma gran-de perseverana; mas, apenas com ela,no estamos em condio de nos ali-nhar a esse objetivo. Nosso mental estsujeito a determinado impulso de vidabiolgico que nos prende dentro doslimites do mundo material. Isso marcanossas experincias e nossa compre-enso e determina nossos objetivos.

    Nosso pensamento est sempreocupado, evidentemente, com as coi-sas transitrias. Seguidamente nossonimo, nossos impulsos afetivos, como cavalos selvagens, impossveisde controlar. Somos apanhados pelasaparncias s quais nos ligamos.

    A fim de controlar os cavalos, es-foramo-nos por refinar nossos ins-

    tintos e adquirimos capacidades cadavez mais sutis que nos ajudam a nosmantermos no mundo material. O Euverdadeiro, como um germe de luz, es-t em algum lugar entre as bagagensda carruagem e mantm-se intocadopor todas essas refinadas manifestaesde vida. Enquanto permanecermosvoltados para a matria e, portanto,tambm o nosso pensamento osmovimentos do corao ficaro tam-bm restritos aos limites deste mundodos opostos, e os impulsos do germede luz no podero chegar at ns.

    Tent ar aquietar -se par a r ef l et ir

    No conseguimos evitar a rondasem fim de nossas alegrias e tristezass quais somos arrastados pelos nos-sos sentidos, e, principalmente, noreconhecemos a nenhum objetivo,pois este no existe. Isso no nos faralcanar algo determinado, pormnos levar a conscientizar-nos de que

    pertencemos a um outro campo devida. Da um objetivo poder nascer!Em semelhante estado de nimo,experimentaremos que a coernciasugerida pelos sentidos mera iluso.

    O desejo, como um fogo-ftuo lan-ado de c para l, mantm a iluso e

    j traz em si o pesar seguinte. A ilusoprovm de uma interpretao errnea

    das leis que regem nossa vida.Quando renunciamos a nossasidias e comeamos a observar, tran-qilamente, todas as coisas e situa-es, aceitando-as tal como elas seapresentam, chegamos a um limite. Equando questionamos a coernciaexterior que nos sugerida, damos oprimeiro passo no caminho da liber-tao do pensamento, at ento orien-tado para a matria.

    O ncleo de luz latente ter, assim,ento despertado em nossas profun-dezas um sentimento at ento desco-

    A busca do eu ver dadeir o

    A

    N os Upanixades, a escritura sagrada hindu, aparece a seguinte alegoria: O Eu,Atman, tomou lugar na carruagem que o corpo; o entendimento, Budi, ocondutor; o pensamento, Manas, a rdea; os sentidos so os cavalos, e aquiloque os sentidos percebem representa o caminho que leva ao objetivo.

    1

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    Shiva dana sua

    dana quntupla

    da criao,do

    ofuscamento e da

    perpetuao,do

    aniquilamento e da

    libertao.Aosseus ps est

    Asura,o vencido

    demnio da

    ignorncia. A dan-

    a de Shiva o pri-

    meiro movimento

    do Universo,

    que eterno.Ela

    igualmente o ritmo

    da vida e a libera-

    o do espritono corao do

    discpulo,o aluno.

    Escultura de

    bronze,ndia.

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    nhecido: um desejo indefinido, umanostalgia. Caso neguemos esse senti-mento, os sentidos e o intelecto nosconduziro por inmeros desvios.Mas, se o aceitamos, os impulsos da

    centelha de luz trazem, desse modo, acompreenso nossa vida interior, hmuito tempo esquecida. Essa novacompreenso, surgida do corao,eleva nosso pensar acima do planomaterial.

    Os Upanixades ensinam que umcorao puro conduz a uma justacompreenso, graas qual podemos,enfim, entender nossas experincias. luz de nosso fundamento, perce-bemos que nossas experincias foramde fato necessrias, mas que tambmnos afastaram de nossa verdadeira

    meta. Nosso passado o solo nutri-dor do verdadeiro Eu esquecido, quepode agora eclodir como a flor deltus enraizada no lodo de um lago.

    A mo r ada de Vish nu

    Aquele que alia a pureza interior justa compreenso e faz uso delas co-mo condutor da carruagem e utiliza opensamento objetivo como rdeasalcana o ponto mais elevado, a mora-da augusta de Vishnu 2, o deus dosdeuses, que ao lado de Lakshmi,deusa do ltus desabrochado, repou-sa sobre a serpente csmica 3.

    Lakshmi simboliza a radiao dasabedoria divina que nos eleva acimado plano dos fenmenos sensoriais e

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    quer nos conduzir para fora do caosdas iluses. O mito hindu mencionaque o deus dos deuses dorme e quetodas os acontecimentos da criao,da origem at o fim dos mundos, so

    apenas o encadeamento infinito deimagens de seu sonho. Vishnu e Laksh-mi formam uma unidade: juntos, elesso a primeira e nica entidade cons-ciente do Universo. Em contraposi-o, tudo neste mundo de aparncias multiforme, e os acontecimentosesto desligados da realidade4.

    As antigas energias vitais podem,freqentemente, atravs de seusimpulsos, nos levar confuso. Elaspermanecem mesmo quando pode-mos compreender sem impedimentoso novo sentido da vida. Os velhospadres existenciais que pensvamoster deixado para trs requerem conti-nuamente nossa ateno. Somentequando a tempestade de nossas rea-es arraigadas for anulada pela pura

    nova energia que nosso estado de serpoder mudar de padro vibratrio.A verdade encontrou uma morada emns, porm no podemos abarcar essarealidade por meio de nossos sentidosexteriores.

    Quando nosso desejo est orienta-do para o Eu verdadeiro, nossos sen-tidos exteriores podem fundir-se no

    sentido interior individual. Essa averdadeira compreenso das coisas.Ento, nossos sentidos outra coisano podem fazer seno orientar-separa o objetivo da vida. A carruagem aliviada de seu lastro. Finalmente ocondutor reconhece a sua prpriaessncia. Os cavalos do meia-volta afim de seguir o caminho indicado pelaradiao da sabedoria divina. Dessehomem dito:

    Ele no v, no sente nem saboreia;ele no fala nem escuta;no pensa nem reconhece,

    pois nada existe que seja diferentedele...E, contudo, ele v, pois a viso eele so unos, ele ouve, pois o ouvir eele so unos...

    E ele sente, pois o sentir e ele sounos, e ele discerne, pois odiscernimento e ele so unos.

    Essa realidade refletida pela per-sonalidade purificada que j no estsujeita coerncia sugerida pela vidaexterior. Disso surge uma projeopura da verdade eterna, uma radiaoque intervm em nosso campo deexistncia com luz e amor.

    Este o segredo da existncia:levar-vos a vs mesmos, comohomens-personalidades, a tal estado,conduz ir-v os a tal atitude de v ida,que a realidade, o Uno, se projeteatravs de vs...

    Ento, uma poderosa luz sederrama nas trevas desta existncia,para a bno de muitos.5

    FONTES:

    1 Zimmer, H ., Filosofias da ndias.So Paulo: Palas Athena, 1986.

    2 Golowin, S., Eliade, M. e Campbell, J.,De grote mythen van de wereld.Leuven: Davidsfonds, 1999.

    3 Idem.4 Schult , A.,Die Weisheit der Veden und

    Upanishaden. Berl im: L orber/ Turm, 1986.

    5 Rijckenborgh, J. v.,A Gnosis chinesa,Jarinu: Rosacruz. (no prelo).

    Escultura contem-

    pornea represen-

    tando a metfora

    da carruagem.

    No interior,

    sentado,encontra-se

    (invisvel) o eu,Atman;Budi, o

    condutor, o

    entendimento;

    Manas,o pensador,

    tem o controle das

    rdeas;os cavalos

    so os sentidos,e

    aquilo que eles

    vem constitui o

    caminho.

    Pentagrama 2005.

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    N os anos 50 do sculo passado, o fun-dador do Lectorium Rosicrucianum, J. van Rijckenborgh, comentou, nodecorrer de vrias conferncias, osdezesseis livros de H ermes que, com oTeleios Logos (O discurso perfeito oudilogo entre H ermes e Asclpio), for-mam o Corpus H ermeticum.

    sses livros, que so a base da tradi-o hermtica, eram, nessa poca,totalmente desconhecidos do pblicoem geral. mrito de J. van Rijcken-borgh ter reconhecido o seu valorlibertador e dado a seus alunos expli-caes claras, sim, cristalinas. Os tex-tos que compem o Corpus H ermeti-

    cum foram escritos no Egito no finaldo sculo III , ou melhor, foram trans-critos por autores desconhecidos.Eles eram parte de uma coleo muitomaior de textos atribudos ao perso-nagem mtico conhecido como Her-mes Trismegisto, que teria vividoaproximadamente em 3000 a.C. Entreos gregos ele era chamado de Trisme-gisto; os egpcios o chamavam de otrs vezes grande Thot.

    De fato, esses textos tm todos amesma origem religiosa e filosfica,da qual tambm surgiram o neoplato-

    nismo, os diversos comentrios dasabedoria de Jesus Cristo e os vriosensinamentos atribudos ao gnosti-cismo. As mltiplas relaes entre ostemas tratados e o que eles tm emcomum mostram que podemos consi-derar essa literatura como um todo.Cada escrito aborda as grandes ques-tes que preocupavam os buscadoresdaquela poca e tenta dar-lhes umaresposta.

    O caminh o indicado po r H er mes

    J. van R ijckenborgh e o Corpus H ermeticum

    E

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    Os livros conhecidos sob o ttuloCorpus Hermeticum foram reunidosna poca bizantina (395-1453 d.C.).Aps mil anos de esquecimento, em1460, uma cpia deles caiu nas mos

    de negociantes a servio de Lorenzode Mdici. Marslio Ficino, cuja forapropulsora estava por detrs da fun-dao da Academia de Florena, pre-cisou, ento, interromper sua tradu-o das obras de Plato, a fim de co-mear imediatamente a traduzir oCorpus Hermeticum para o latim. Es-sa traduo foi publicada em 1463 efoi reeditada pelo menos vinte e duasvezes no sculo seguinte e acolhidacomo um alento.

    A obra compreende diferentes par-tes. O livro I, Pimandro, a descriode uma revelao sobre as coisas essen-ciais que H ermes vivencia porquePimandro, a Alma-Esprito, expressodo esprito universal, aparece-lhe inte-riormente. Os oito livros seguintes

    (livros II a IX), que podem ser classi-ficados sob o ttulo Discurso perfeito,so dilogos curtos e textos que trans-mitem certos pontos fundamentais dafilosofia hermtica. A seguir, o livro X,A chave, faz um breve apanhado dostextos doDiscurso perfeito . O s quatrolivros seguintes (livros XI a XIV)adentram os aspectos mais msticos do

    ensinamento de Hermes,O Esprito falaa Hermes, o Esprito que tudo penetra,o Discurso secreto sobre o monte, e aCarta de H ermes a Asclpio sobre aessncia do Todo. O conjunto terminacom os Aforismos. Uma Epstola deAsclpio ao rei Amon, o livro XVI, aparentemente composto de trs frag-mentos de um escrito mais longo.

    O discur so per feit o

    O Discurso perfeito, ou Asclpio,que foi acrescentado a partir de 1505

    ao Corpus H ermeticum, de um tem-po mais antigo e chegou ao conheci-mento na Renascena por um cami-nho totalmente diferente. Mesmo naAntigidade esse texto fora traduzidopara o Latim por Lucius ApuleiusMadaurensis (124-170 d.C., em Ma-dauros, na Numdia, frica do Nor-

    te), cuja mais importante Obra, AsMetamorfoses (ou O Asno de Ouro),em seu dcimo primeiro livro d umadas melhores descries ainda exis-tentes sobre o culto de sis no mundoromano.

    Agostinho cita, em sua Cidade deDeus, a essncia da antiga traduolatina de Asclpio. Durante a IdadeMdia, trs exemplares continuaramcirculando at a Renascena. Infeliz-mente, o original grego se perdeu,apesar de ser citado em vrias fontesantigas.

    9

    esquerda:

    Hermes Trismegisto

    Acima:pgina de

    rosto ou frontispcioda edio inglesa do

    livro de Pimandro

    (Corpus Hermeticum),

    Londres,1650.

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    O signif icado do s t ext o s

    her mt ico s na cu l t ur a eur o pia

    A idia filosfica do mundo e ossistemas escolsticos do final da Idade

    Mdia receberam o Corpus H ermeti-cum como uma bomba. Os pais daIgreja, que h muito citavam a litera-tura hermtica para defender seu pr-prio ponto de vista, estavam persuadi-dos de que Hermes Trismegisto eraum sbio que vivera na poca de Moi-ss. Acreditava-se, na Renascena, queo Corpus Hermeticum havia influen-ciado o pensamento judeu e grego.Surgiram trs fragmentos dos textoshermticos de origem judaica e grega.Da concluiu-se que o Corpus Her-meticum era a mais antiga sabedoriaconhecida. A filosofia hermtica eraconsiderada a tradio original de sa-bedoria e era identificada com a sabe-doria egpcia, louvada no xodo e noTimeu de Plato. Assim, o ensinamen-

    to hermtico constituiu um poderosoargumento para esses pensadores quetentavam romper a asfixia causada pe-lo pensamento aristotlico a escols-tica, que sufocava todo livre desen-volvimento da alma.

    Por um lado, as autoridades espiri-tuais estabelecidas leram essas obrascom empenho, como o cardeal Pa-

    trizzi, que assegurou o financiamentoda publicao de uma edio comple-ta em Ferrara em 1593, declarando emalta voz que esperava ver esses ensina-mentos substituirem a teologia aristo-tlica de Toms de Aquino nas escolase monastrios; por outro lado, umhermetista como Giordano Bruno nopde escapar de uma acusao de he-resia e da morte na fogueira, em 1600.

    O ensinamento de Hermes foi umimportante meio para a aceitao do pensamento mgico na Europa. Issoporque a Hermes tambm foi atribu-

    da uma importante coleo de textossobre astrologia, alquimia e magia.Ora, se Hermes tivesse sido um per-sonagem histrico, se os Pais da Igre-

    ja o tivessem citado livremente e, so-

    bretudo, se fosse provado que essesescritos estavam em concordnciacom as principais asseres do ensina-mento eclesistico, ter-se-ia podidocomprovar que o ensinamento her-mtico era fundamentado na verdadee, portanto, poderia ser reconhecidocomo autoridade.

    As conseqncias so conhecidas:os tempos no estavam ainda madu-ros. Pode-se at mesmo adiantar que asensibilidade do homem dos sculosXV e XVI ao inexplicvel bem comosua receptividade verdadeira aos ensi-namentos hermticos libertadorescausaram mais mal que bem. Ento,pela redefinio radical do cristianis-mo durante a Reforma e a Contra-re-forma do sculo XVI e XVII, a huma-

    nidade foi induzida a encarar os doissculos precedentes como a mais ele-vada forma de devoo.

    A partir do sculo XVII, os escritoshermticos foram oficialmente postosde lado. Os racionalistas do Iluminismoe o rgido protestantismo deram umfim questo tratando-os como su-perstio, e at meados do sculo pas-

    sado nenhum acadmico queria quei-mar seus dedos ocupando-se dessesneoplatnicos ou imitaes anticrists.

    Contudo, o hermetismo nunca de-sapareceu. Com a alquimia, a astrolo-gia e a magia, tambm desacreditadas,H ermes Trismegisto permaneceu, como passar do tempo, uma baliza no ca-minho que conduz filosofia liberta-dora. Sua presena no universo de Ja-cob Boehme, nas tradies da Rosacruze da franco-maonaria foi novamentetrazida luz por personalidades comoH .P.Blavatsky e G.R.S. Mead.

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    O ensinament o l iber t ado r

    de H er mes

    Na realidade, os tratados hermti-cos somente podem ser compreendi-

    dos quando considerados como umtestemunho das experincias do mun-do do Esprito. Eles so relatos filos-ficos que conduzem compreensoda dualidade da existncia humana.Em quatro tomos,A arquignosis egpciade J. van Rijckenborgh1 revela o acessoa esse conhecimento.

    J. van Rijckenborgh chama de a ar-quignosis egpcia o testemunho espi-ritual, a plenitude de vida e a verdadeque se expressam no Corpus Hermeti-cum e na Tabula Smaragdina. No in-cio de nossa era, esses textos, transfor-mados em livro durante o Helenismo,nos levaram de volta histria do anti-go Egito. Desde aquela poca, as expe-rincias da verdade eterna eram inva-riavelmente registradas para que

    pudessem ser determinantes no modocomo o ser humano tenta se aproxi-mar do Esprito.

    Como podemos, ento, ver Her-mes Trismegisto? Ele o representan-te do conhecimento da verdade divi-na, a compreenso ofertada pela Gno-sis. Como o mensageiro dos deuses ecomo Thot, deus da escrita e escriba

    da verdade, ele era e o prottipo dohomem que se abre ao conhecimentoda verdade universal dos dois mun-dos: o mundo da matria e o mundo doEsprito. E ele a encontra em si mesmo,e traz esse conhecimento humanida-de sob a forma de uma filosofia.

    Esse tipo humano pode ser chamadode trs vezes grande porque se apro-xima da verdade com o corao, a ca-bea e as mos e, nesse sentido, se es-fora por transmut-la em uma religio,uma cincia e uma arte e, com basenelas, restabelecer nos homens o Esp-

    rito, Pimandro. Semelhante tipo hu-mano tenta vencer a si mesmo na forado Esprito original. Ele se transformaverdadeiramente em um novo ho-mem, que ensina a seus semelhantes

    como seguir o mesmo caminho. Assim,Hermes Trismegisto era considerado,entre os alquimistas da Idade Mdia,como o exemplo de um autntico al-quimista que transmuta o chumbo danatureza em ouro do Esprito.

    A Tabula Smaragdina, o coraoda filosofia hermtica, contm a chaveda antiga obra alqumica: Assim co-mo em cima, assim embaixo, oque pode ser interpretado como umaexigncia feita ao homem de harmo-nizar aquilo que est embaixo a na-tureza que segue os seus prprios ca-minhos com aquilo que est emcima, o Esprito.

    O mundo da natureza e o do homemesto desorganizados e j no so oreflexo da harmonia e da beleza do

    Esprito. Mediante um processo al-qumico a antiga conscincia naturalrecua, dando lugar a uma nova cons-cincia, centrada no Esprito. A Tabu-la Smaragdina descreve esse processocomo sendo o esforo de extrair o que sutil daquilo que grosseiro.

    As gr and es q uest es vit ais

    O s dezessete livros do Corpus H er-meticum vivificam o conhecimento daverdade, a Gnosis, por levantar gran-des questes filosficas que desde aorigem preocupam o ser humano.Q ual a relao existente entre espritoe natureza, entre alma e matria? Ohomem pode conhecer Deus? Ecomo isso possvel? O que o bem,o que o mal? Como so obtidas alibertao e a imortalidade?

    Estas questes so abordadas sob aforma de dilogos, seja entre Piman-

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    dro e H ermes, seja entre Hermes e Tat

    ou Asclpio. Aqui no se trata de pes-soas, mas de foras espirituais e forasda alma no ser humano. A alma hu-mana buscadora, Hermes, encontra oEsprito, Pimandro, e por ele ilumi-nada. A alma liberta, Hermes, trans-mite sua sabedora a Tat e a Asclpio, avontade e o entendimento humanosreorientados.

    A ar q uigno sis egpcia

    No primeiro tomo deA arquigno-sis egpcia, J. van Rijckenborgh expli-

    ca, com base nos dois primeiros livros

    do Corpus Hermeticum , qual a con-dio fundamental do homem: ele seencontra ligado ao que temporrio,enquanto a eternidade seu verdadei-ro destino.

    O segundo tomo esboa, com basenos livros III a IX, as condies docaminho de libertao e suas diferen-tes fases. preciso ter uma viso clarado verdadeiro estado dos seres huma-nos, ou seja, sua ignorncia de Deusem sua vida atual. Para se dar um fim separao entre o homem e Deus, necessria uma despedida, uma su-

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    Templo de Hera

    em Cabo Sunion.

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    suas explicaes, J. van Rijckenborghusou elementos tirados do pensamen-to gnstico, tais como as idias deMani e do catarismo, e ligou-se estrei-tamente s idias de Paracelso e de

    Jacob Boehme.

    H er mes e a Gn o sis

    No nos surpreende o fato de asobras hermticas terem sido encon-tradas entre os manuscritos gnsticosde N ag H ammadi. Estes dois sistemasexperimentaram seu maior floresci-mento no mesmo perodo, e a gnosisou nous ocupa uma posio centralem ambos. A diferena entre eles en-contra-se em seu ponto central. Agnosis, por exemplo, no relato da Pis-tis Sophia, parte do ponto de vistahumano, onde a nfase dada ao obs-tculo representado pelo pensamentolimitado, em constante luta. J o her-metismo se expressa como gnosis ou

    nous nas pessoas de Hermes e Pi-mandro.

    Em O s discursos sobre a oitava e anona esfera de Nag Hammadi, essasduas esferas se encontram na stimaesfera que o candidato atravessa na l-tima fase da iniciao. As sete esferasplanetrias so, portanto, considera-das como um domnio restrito que o

    candidato atravessa antes de tornar-seum Homem-Alma-Esprito na oitavaesfera.

    Como concluso, citaremos umtrecho do quarto tomo de A arquig-nosis egpcia:

    Por isso, a verdade tambm pode-r alcanar-vos, e vos alcanar, porintermdio de cabeas, coraes eaes humanas, se estiverdes prepara-dos para isso! Assim como da hierar-quia da mentira emana uma radiao eum trabalho (para conduzir ao erro),assim tambm parte da hierarquia da

    verdade uma radiao e uma obra.Todos os que se abrirem para essa

    plenitude astral acolhero a verdade,pois esta no vem a vs somente pelapalavra e pela escrita. N o, a verdade

    j , h muito, um valor astral concen-trado por homens e por eles colocado disposio do gnero humano. Ossculos a esto para confirmar isso. Ahistria nos conta acerca de muitoshomens reais-sacerdotais que nostrouxeram a verdade em palavra, aoe fora.

    ...O s sculos varreram suas mensa-gens humanidade. O inimigo detur-pou seu contedo em muitos senti-dos... Contudo... inutilmente! Pois averdade vive. Ela em todos os scu-los e por todos os sculos... Compre-endeis agora por que a epopia deHermes termina com o livro da ver-dade?

    1 Rijckenborgh, J.v., A arquignosis egpcia,t. IV, So Paulo: Lectorium Rosicrucianum,1991.

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    Ainda que Cristo nasa mil vezes emBelm e no em ti, estars perdido.Esta sentena foi tirada do Peregrinoquerubnico de Angelus Silesius, com-posto de seis livros de mximas, e umchamado para o despertar interior.

    ssas mximas descrevem a graa quecabe ao homem que se tornou cons-ciente do divino nele. Porm, a graano desce pura e simplesmente. pre-ciso fazer por merec-la. Quando agraa do nascimento interior se mani-festa, porque ela foi longamente pre-parada por uma vida de anseio. Para

    muitas pessoas essa preparao se de-senvolve sem grandes conflitos, por-que elas vivem num certo equilbrio esempre do o prximo passo necessrio.

    Para muitos outros, a vida umcombate desesperado. Um exemplodisso foi a vida do poeta alemo Rai-

    ner Maria Rilke, que reconheceu seuprprio processo na luta interior dopintor francs Paul Czanne. A tarefade vida do pintor, incompreendida,pode resumir-se no seguinte: Comoexpressar o que a realidade da vidainterior?, ou ainda: Como dar for-ma mutvel experincia de vida?Tais foram as perguntas que o levaramao desespero. Rilke descreve o modocomo Czanne pintava, aparente-mente sem alegria, e como cada umade suas obras era para ele objeto deum intenso conflito. O que Czannequeria mostrar, ele no conseguiaimortalizar na tela. N enhuma de suas

    tentativas satisfazia suas exignciasinteriores. Ele desejava chegar a umarealizao tal que o prprio objeto serevelasse com intensidade, deixandouma impresso inaltervel, sim, indes-trutvel. Rilke observava profunda-mente o modo como Czanne apren-

    O h o mem q ue escut ava a pedr a

    E

    Rainer Maria Rilke nasceu em Praga, em4 de dezembro de 1875. Sua poesia expressade modo maravilhoso sua concepo de vidae sua busca espiritual. Entre 1899 e 1900, elefez duas grandes viagens Rssia onde,entre outros, encontrou Leon Tolstoi. A almamstica da Rssia o faz conscientizar-se pelaprimeira vez da profunda essncia de seu ser.Em 1920, ele escreveu: Devo Russia o fatode ela me ter revelado o que sou; ela aptria interior de todos os meus instintos, deminha origem. O s ecos poticos dessas via-

    gens nos so confiados em O livro das horase em H istrias do bom Deus. Embora maistarde ele negue suas criaes da juventudepor no corresponderem ainda a seu estadointerior, nelas, contudo, encontram-se asprolas de uma compreenso espiritual, comoo testifica a passagem reproduzida acima,extrada de H istrias do bom Deus.

    Rilke consagrou o segundo perodo de suavida descrio de sua viso apocalptica dosnovos tempos com os quais ele confrontado,durante o perodo em que foi secretrio de

    15

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    dera a expressar o real com uma obje-tividade sempre maior, sem emitir jul-gamento de valores. Observamos

    repetidamente a necessidade de ultra-passar o amor prprio. muito natu-ral gostar de cada coisa que fazemos.Mas quando gostamos das coisas,fazemo-las menos bem. Ento, julga-mo-las. [...] Pintamos gosto disto nolugar de pintar aqui est, quandocada um deve pintar o que v, e no oque gosta. [...] Essa concepo de obraimpessoal na qual se revela um toalto grau de pureza, ningum, semdvida, expressa melhor que o velhoCzanne.

    O no julgamento das coisas elimi-na toda distino entre o pintor e apintura. Tal foi o combate levado aefeito por Czanne: A paisagem sepinta atravs de mim, e eu sou suaconscincia.

    Auguste Rodin, em Paris, de 1906 a 1907.Da surgiu a famosa frase: A pacincia tudovence. Em 1911 ele faz um a longa viagemat o Egito. Em 1922, instala-se na Sua aconvite de um mecenas aps uma confernciaque fez em Zurique, tendo por objetivoescapar do perodo convulso do ps-guerra.Ali, trabalha na redao de Elegias de Duno.A seguir, depara-se com o difcil problema deencontrar um alojamento conveniente e aces-svel. Permanece algum tempo em Soglio, emLocarno e Berg am Irchel. apenas no

    vero de 1921 que encontra asilo definitivono Castelo de Muzot, prximo de Sierre, emValais, graas ao fato de seu mecenas WernerReinhart (1884-1951) ter adquirido o castelooferecendo-lhe hospedagem gratuita.

    Comea ento um perodo muito produti-vo; em poucas semanas ele termina a redaode Elegias de Duino. Em seguida, ele compeos dois ciclos de Sonetos a Orfeu, considera-dos como a apoteose de seu gnio potico.

    A partir de 1923, Rilke tem de enfrentargraves problemas de sade que o obrigam a

    Rondannini Piet. Michelangelo (1475-1564)

    trabalhou 10 anos nessa escultura,at seis dias antes

    de sua mor te,deixando-a inacabada.Ele se esforou

    para atingir a perfeio na forma a fim de expressar

    os valores espirituais do Cristo em um bloco

    de mrmore branco.

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    A busca do inslito atravs do tri-vial conduziu Rilke a um choque dereconhecimento, que provocou uma

    mudana em suas prprias poesias.Ele reconheceu na pintura de Czanneo que ela tem de revolucionrio, con-firmando sua prpria criao. Ele seconscientizou de que poderia ter umaviso diferente do mundo, engajando-a numa renovao fundamental dolirismo. Seus escritos da poca do tes-temunho dessa renovao criativa ede sua f nos poderes transfiguradoresda poesia: eles esto reunidos na obraintituladaNovos poemas (1907-1908).Novos porque ele j no se deixavainspirar por sua fantasia subjetiva.

    Semelhante desenvolvimento podeser comparado a um caminho de terraque preciso aplainar e tornar transi-tvel para que ele nos conduza aoobjetivo. assim que Rilke conta a

    histria do homem que escutava apedra. Esse homem era Michelange-lo, que, com suas mos, desbastava apedra bruta liberando de sua ganga asublime imagem que nela se ocultava.Michelangelo tambm teria ouvido apedra sussurrar:

    Michelangelo, disse Deus,o que se encontra na pedra? Michelangelo sobressaltou-se,

    suas mos tremiam.E ele respondeu to suavementequanto podia:Tu, meu Deus.Quem mais poderia ser?Mas eu no posso chegar at ti.Ento, o Esprito experimentouque tambm estava na pedrae sentiu-se inquieto e sufocado.

    O cu inteiroera somente uma pedra,e Ele estava encerrado nela,e esperavapelas mos de Michelangeloque o libertariam.E Ele as ouviu chegando,mas elas ainda estavam longe.

    Quando o escultor comeou alibertar Deus da pedra ele ouviuuma voz lhe perguntar: Michelange-lo, o que est em ti? Michelangeloparou, descansou sua fronte sobre asmos, e disse: Tu, meu Deus, quemmais poderia ser?

    ficar por um bom tempo num sanatrio. Suaslongas permanncias em Paris eram j umatentativa de escapar da doena, mudando delugares e condies de v ida. N os ltimos anos,de 1923 a 1926, ele compe quatro coletneasde poesia em francs, numa linguagem umtanto incerta e bem menos deleitosa.

    As Elegias de Duino cantam um caminhoespiritual, em imagens bastante enigmticas.A qu leva o encontro com os anjos querepresentam a grande lei do ser, to assusta-dora para o pequeno eu? Em Sonetos a

    Orfeu, Rilke faz ouvir as novas vozes queressoam em seu interior.

    Sua vida inteira foi um combate paralibertar-se dos clichs e imagens convencionaisimpostos pelo eu presunoso; ele esforou-seigualmente para entregar-se a uma realidadesuperior. Est claro que nele estava ativauma centelha divina que queria corporificar-se em sua vida e em sua obra. Para Rilke foipossvel ouv ir, em seu interior, as conso-nncias divinas e glorificar o elevado Sersem expressar suas prprias concepes.

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    O h o mem nat ur al e o h o mem espir it ual

    Segundo uma alocuo de Z.W. Leene

    Para compreender o que a sabedoria, bom refletirmos sobre a diferenaentre o homem natural e o homem espiritual. No fcil distinguir um do

    outro. A maioria das pessoas pensa que o homem natural se ocupa com o que terreno, enquanto o homem espiritual se ocupa com a natureza superior, supra-sensvel. possvel que exista a um erro de raciocnio. A lei de criao qual oser humano terreno est submetido a lei da autoconservao, e assim deve serpara que ele continue existindo.

    conceito rosacruz do cosmo1 mui-to claro em relao ao fundamento denossa autoconservao, que foi esta-belecido em eras pr-histricas, quan-do o impulso natural regia a vida. Ainocncia, a perseverana livre de cul-pa da criatura natural, mostra ser, por-

    tanto, a base para a construo da or-dem do mundo espiritual. Portanto, ohomem no pode ser recriminadopela persistncia do instinto de con-servao, pois ele pertence naturezae no possui qualquer conhecimentorelativo a um mundo espiritual.

    O

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    Polonnaruwa,Sri Lanka, cerca

    de 1150.Buda

    em p e deitado

    (14,5 m de altura).

    Mas quando, neste mundo, os ho-mens se tornam conscientes de um al-

    vo de vida superior, o instinto egocn-trico natural se torna um fardo quedeve ser removido. Esses homens so,ento, chamados por sua verdadeiranatureza, a transformar todos os seusinstintos naturais egocntricos emimpulso espiritual teocntrico. E ausamos uma palavra um tanto anti-quada: converso, ou reverso.Aqui, vamos de encontro ao erro deraciocnio da maioria da humanidade,que no quer se apartar da autocon-servao, no deseja por princpioromper com ela. Ento, vemo-la de-

    senvolver uma exacerbao do instin-to de auto-conservao, que se torna,

    assim, mais intenso e se volta, ento,para o mundo supra-sensvel.Verificamos freqentemente que j

    no se consegue fazer nenhuma dis-tino entre o homem natural e ohomem espiritual. Quando o ser hu-mano se pe a viver conscientementesegundo seu impulso natural, ele sevolta, de fato, contra seu ncleo divi-no, e todo o seu saber se torna umamaldio. Desse modo, a porta da sa-bedoria fecha-se inexoravelmente. Es-sa a caracterstica dos tempos atuais.

    Vemos, tambm, que a autntica

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    compreenso interior existe apenas

    em algumas pessoas. A maioria passaseu tempo numa luta desesperada paraser feliz, para alcanar uma felicidadeaparente. O homem da natureza diz:comamos, bebamos e alegremo-nos,pois amanh morreremos! Porm,aquele que busca por outros alimentosque no os nobres e elevados, pode sealimentar por anos a fio sem se tornarcom isso uma pessoa espiritualmenteorientada. Ele permanece um homemda natureza, desprovido do mais ele-mentar entendimento interior. Os gri-tos festivos e a euforia do saber so aspremissas da decadncia.

    Como alcanamos a verdadeiracompreenso interior? Certamenteno mediante a prtica de exercciosocultistas, pois neste caso criamos

    uma imagem deformada daquilo queainda no possumos e que, portanto,no compreendemos. Desse mododesenvolvemos uma perigosa disposi-o para a magia negra. Tudo isso nadamais que instinto de conservao, doqual a verdadeira sabedoria permane-ce muito distante. E se fsseis sensiti-vo e clarividente, ento poderamos

    dizer que tendes acesso a um outromundo, do qual nada entendeis! Noh nenhuma satisfao na percepode um outro mundo quando essa per-cepo vos induz ao erro e continuaissendo um ser humano desta natureza.

    Contudo, temos um intenso anseiopor uma compreenso nova e correta,afastada do intelecto. No podemosalcanar algo mediante esforo cont-nuo, temos para tudo de com-preender as coisas que so. No temosde agarrar as coisas que esto alm denossa compreenso intelectual, por-

    que ficaremos exauridos desviando-

    nos de nosso objetivo. No importa sequeremos agarrar o conhecimentooculto ou a satisfao material omesmo alimento! Por isso continua-mos famintos, porque faltam-nos oreconhecimento da verdade e a verda-deira sabedoria.

    Porm, para aqueles que compreen-deram, existe uma comunho comDeus, que para os homens correspon-de ao cu. Essa comunho tem incioaps a reverso de nossa aspirao.Ento, primeiramente aprendemos aconhecer o esprito de Deus como umsentimento de auto-recriminao. De-pois, sentimo-nos julgados a cada ins-tante ou a cada um de nossos atos epensamentos. Nesse ponto, todoconhecimento livresco e sonho msti-

    co cessam. Percebemos, ento, nossoverdadeiro ser ligado natureza.Desse modo, o esprito de Deus podese tornar um julgamento do homemnatural.

    Existe uma grande diferena entre oaspirante que no quer omitir nenhu-ma letra e o verdadeiro homem espiri-tual. Reconhecer essa diferena con-

    dio para obter a compreenso inte-rior. O homem espiritual no buscanenhum desenvolvimento supra-sen-svel. Ele um homem inquieto quesabe que o natural no pode herdar oreino de Deus, muito embora a natu-reza esteja a servio do esprito. Ocombatente espiritual sincero conheceo espiritual-divino e, para ele, o espiri-tual-pessoal secundrio. No aprpria vontade que o move, mas sima vontade absoluta. Por isso seu pen-samento se eleva acima das limitaesda existncia material. Em outras pala-

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    vras: um homem verdadeiramente es-

    piritual jamais permanece preso a umaopinio, que uma gaiola, pois elecontemplou a verdade e a experimen-tou! impossvel que um impulsonatural seja considerado uma vontadedivino-espiritual, porque ele est sem-pre sujeito a uma opinio.

    O verdadeiro homem espiritual,que eu chamaria de homem conver-tido, no comea pela observao deregras de uma instituio, organizaoou igreja, mas por aquilo que ressaltanos obstculos que impedem a com-preenso interior. Ele no comea porsondar essa ou aquela questo espiri-tual, mas com a observao de seuprprio problema. Ento ele se corri-ge. E quanto mais empecilhos ele des-cobre, mais ele os remove. Q uanto

    mais os limpa, mas se abre para oimpulso do espiritual-divino. Por issoele ansiar pela compreenso interiore a receber, e essa corrente de sabedo-ria se tornar cada vez mais forte medida que ele corrigir a si mesmo.Essa corrente de sabedoria que ampliasua compreenso progride paralela-mente com o esforo consagrado

    purificao interior. No se trata deuma luta em direo ao superior, masde uma sublimao do inferior.

    Aquele que conhece esse caminhosabe que a compreenso interior setorna seu quinho. Mas se ele aspirarpor mil anos e esquecer o caminhosimples desse desenvolvimento, entoele pode continuaraspirando! Se man-tivermos o estado de homem natural,ento a ele permaneceremos sujeitos.Porm, se mantivermos o aspectoespiritual no tempo, seremos entomais que vitoriosos!

    O caminho do homem espiritual

    leva infalivelmente a Cristo, que ovitorioso e chamado Mestre dasabedoria. Ele a fora-motriz quepode levar o homem espiritual aolongo do caminho da experincia.N ingum pode satisfazer nosso dese-

    jo por sabedoria, pois ela j se encon-tra em ns. Porque h dois mil anosela foi novamente escrita, cantada,anunciada com fora e com doura, eseu nico objetivo apenas indicar afonte da qual devemos todos beber,desde o homem primitivo at o santo.

    Saberemos tudo disso quando ti-vermos realizado em ns a compreen-so da sabedoria, e tambm seremosimpulsionados a partilhar com outrosa nossa alegria espiritual. Porm, nonos esqueamos de que tambm exis-

    te uma propenso natural, o impulsoda natureza, que geralmente maisforte que o impulso espiritual.

    Devemos descobrir se o espritoque nos estimula puro, divino!Devemos pesquisar se esse renasci-mento provm do esprito da verdade!Aquele que renasceu do Esprito respeitoso e silencioso diante do

    sagrado que irrompeu em sua vida. Ohomem espiritual est munido de umentendimento claro, comovido emamorosa disposio e pelo sofrimentodo mundo. Todas as circunstncias nanatureza, toda a sua vida, tornam-seum reflexo desse processo que noesprito nele se realiza. E as palavrasda verdade estaro em seus lbios,enquanto a alegria do corao irradia-r de seu olhar.

    1 Heindel, M., O conceito rosacruz do cosmos,

    2. ed. So Paulo: Fraternidade Rosacruz, 1977.

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    A un idade do s per egr ino s na senda

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    Leva por volta de uma hora e meia para que mil pessoas passem, uma auma, pela porta estreita de Lombri-ves, nos Pirineus, a grande igreja dosctaros. Quando todos esto na imen-sa gruta, as luzes se apagam e todosficam, por um tempo, no silncio e naescurido. N o interior dessa monta-nha, o silncio e a escurido so inten-sos. O s olhos e os ouv idos, sempre emmovimento, mesmo durante o sono,encontram ali uma maneira especialde descansar. O tem po parece suspen-so. O passado, o presente e o futurofundem-se no nvel da alma, e, nessafuso, sentimos algo muito especial.

    om efeito, experimentamos a sen-sao de unidade de todos os que per-correram, percorrem e percorrero asenda da G nosis. Semanas mais tarde,na vida cotidiana, basta cerrarmos osolhos e lembrar-nos disso para sentirnovamente a unidade de Lombrives, a

    unidade dos peregrinos que esto nasenda.Essa unidade no existe apenas no

    sul da Frana, mas em toda parte, aci-ma de todos. Ela no est limitada aum lugar. Ela como uma luz radian-te e uma profunda escurido que osbuscadores no percebem com osolhos. Ela silncio e som. Porm, osbuscadores no a percebem com osouvidos, pois ela vibra atravs detodo o seu sistema. Essa unidadeexiste alm do espao e tempo, agorae sempre!

    Extingue m eus olhos:posso ver-te;cerra meus ouv idos:posso ouvir-te;e sem ps posso ir a ti,e mesmo sem boca posso implorar-te.Arranca meus braos, e eu te envolvereicom meu corao como que com amo;pra tambm meu corao e meucrebro bater;acende teu fogo em meu crebro,ento te levarei em meu sangue.

    Rainer Maria Rilke (1875-1926)

    El e, q ue no s co nduz at o cimo

    Sem cessar, por inumerveiscaminhos,voltei para ti meus sentidos.Acredito em tua imagem e suspeitoque seu desassossego finalmentesorte.Sempre de novo buscamos o uno,que no afeta muitos:

    que ele aparea diante de nse nos conduza para o cume.Um dia chegaremos l,onde a terra se perde no sol...Ento, poder a forma ns seaniquilar,e nos tornaremos o que somos.

    Christian Morgenstern (1871-1914)

    FONT E S:

    Rilke, R. M.,Das Buch von derPilgerschaft, 1905Morgenster, C.,Melancholie.

    Vista da entrada

    da gruta de

    Lombrives. Fotos

    Pentagrama.

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    C

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    Toma a tua cruz.Despoja-te do mundo.Liberta-te dos laos do sangue.Submete o velho homem.Erige o novo homem.Cumpre a sagrada lei.D espao paraa pomba com nveas asas.N o coloques nenhumaserpente a seu lado [...]Alegrem-se, meus amados.

    queles que pressentem a existn-cia de uma verdade profunda subja-

    cente em tudo que existe reconhecemem Mani um mensageiro e um pro-pagador da verdade divina. Em 1938,J. van Rijckenborgh, falando exten-samente sobre o ensinamento deMani, declarou o seguinte: Esseensinamento corresponde perfeita-mente finalidade e essncia docristianismo ensinado pelos rosacru-

    zes atravs dos sculos. Por conse-guinte, Mani uma de suas princi-pais fontes de inspirao.

    As palavras de abertura foram tira-das de um simpsio anterior: Vie-mos aqui para experimentar, paravivenciar algo autntico, para inalar operfume da verdade vivente, queemana da nica fonte original. N o setrata de um processo racional, de algoque pode ser ponderado, mas de algosempre novo, cintilante e inesperado.Desse perfume, Mani fala em seushinos:

    Cheguei porta do jardim dos vivos,o perfume das rvores espalhou-sesobre mim.E:s margens do Eufratessentava-se um joveme tocava msica,rodeado do perfume da vida.

    Essa a pr pr ia r adia o da vida

    autntica.

    Desde a juventude, por volta dosdoze anos, Mani sabia-se envolvidopor esse perfume. Seu companheirodivino, que ele designa como o Para-

    cleto, aparece-lhe:Quando meu corpo se desenvol-

    veu, surgiu diante de minha face, demodo totalmente inesperado, umreflexo esplndido e magnfico demim mesmo. [...] Ento o Paracletorevelou-me tudo o que era, tudo o queser, tudo o que o olho v, o que oouvido ouve, e tudo o que o pensa-

    mento pensa. Por meio dele eu apren-di tudo, eu vi o Todo, tornei-me um scorpo e um s esprito.

    Essas so palavras que contm umapromessa, uma viso de uma outravida, de uma vida mais elevada, umaconsolao para todos aqueles quesabem que h algo mais e que aspiramprofundamente. Essa nostalgia ecoaclaramente nas palavras de Mani.Mani significa prola de luz, asemente divina no corao humano,ou como a denomina Mani: a sublimerosa do Pai.

    Mani, o do m da l uz

    Simpsio sobre Mani, realizado em 7 de maio de 2005 em R enova, Bilthoven, H olanda.

    24

    A

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    Os rosacruzes tambm falam darosa do corao que deve ser liberta-da de seu cativeiro para novamentedesabrochar em plenitude. Acendeivossas lmpadas, diz Mani, e desli-guemo-nos prontamente das cadeiasdo corpo, a fim de libertar o novo

    homem.

    O Evangel h o de Mani

    J. van Oort, co-autor da obra con-sagrada ao Codex Manichaicus Colo-niensis (o cdice maniqueu de Col-nia), fez a primeira alocuo intituladaO Evangelho de Mani:

    Mani nasceu em 216, prximo daatual Bagd. No h nada de certosobre o nome de Mani. Segundo ocdice de Colnia, ele teria crescidoem um tipo de comunidade judaica,

    comparvel dos essnios de Qum-ran, no mar Morto, que reconheciaJesus como o Messias, o Salvador(soter), portanto uma comunidadecrist-judaica. Eles sustentavam a idiade que Deus a causa de tudo, inclu-sive do mal, assero contra a qual o

    jovem Mani se tornou cada vez maisresistente. Ele se libertou desse meioestrito de ritos exteriores, de purifica-es e ablues, em que muitas puni-es eram aplicadas. Segundo vanOort, o cdice nos deixa ver como agnosis maniquia se desenvolveu apartir do chamado do ser divino dohomem Mani.

    Mani fala de seu gmeo celeste,sua sizgia, seu verdadeiro ser, doqual diz: Eu o reconheci e compreen-di que ele era meu verdadeiro eu, doqual fui separado. A filosofia gnsti-

    Miniatura persarepresentando o

    smbolo universal:

    o portador da Luz

    vence o drago.

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    ca de Mani traa um caminho queconduz compreenso do mistrio do

    bem e do mal, compreenso que vaimuito alm de um simples dualismo.A doutrina de Mani associa estreita-mente o conhecimento de si e oconhecimento de Deus. Nela desco-brimos paralelos surpreendentes entreo maniquesmo e o isl, pelo menoscom o Coro. Nela encontramos umimportante elemento gnstico, como

    em tantas outras fontes, tais como ojudasmo e o cristianismo. So eviden-tes as relaes entre o companheirodivino ou irmo gmeo de Mani(sizgia), o Gabriel de Maom e oCristo eterno.

    Meu filho, atravs de todos os pro-fetas eu esperei que tu viesses para queeu repousasse em ti. Porque tu s omeu lugar de repouso, tu s meu pri-

    mognito, meu filho que reina at aeternidade. Esse fragmento essenciale penetrante do Evangelho dosHebreus testifica de modo surpreen-dente que as correntes herticas so

    tambm testemunhas do cristianismojudaico original, assim como so tam-

    bm os evangelhos cannicos, e parti-cularmente o Evangelho de Joo.

    Por ocasio de seu batismo no Jor-do, Jesus tornou-se o filho de Deus:Ele se tornou consciente de seu cha-mado como o Cristo: Tu s meufilho, hoje eu te gerei. Este chamadointerior evoluo da conscincia tambm encontrado no Evangelho de

    Judas, recentemente descoberto: Eassim que eu (Jesus) fui batizado, eisque uma nuvem luminosa me rodeou[...] e saindo da nuvem ouvi uma vozressoar: Algenes (um ser diferentedos outros, um estrangeiro no mundotransitrio, o homem espiritual, nestecaso, Jesus), Algenes/Jesus, a vozde tua prece foi ouvida e eu (o Cristoceleste) te fui enviado.

    Em seu batismo, Jesus se tornouconsciente de sua real vocao quandoo Cristo desceu sobre ele: sua imagemeterna, sua sizgia imperecvel. OCristo eterno desceu sobre Ado,

    26

    Duas pginas

    extradas do

    manuscrito maquineu

    de Colnia,ampliadas(o original mede

    3,5 X 4,5 cm), em

    caligrafia fina e letras

    maisculas gregas.

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    imagem original e arquetpica do ho-mem, segundo Mani. Ele o mesmo

    que Seth, Enoque, No... Mas aple-nitude do Esprito Santo que se derra-ma sobre Jesus.

    Essa era a concepo de Mani, quese intitulava apstolo de Jesus Cris-to. No cdice maniqueu de Col-nia, ele declara: Eu, Mani, apstolode Jesus Cristo pela vontade de Deus,o Pai da Verdade, de quem nasci, que

    vive e mora na eternidade onde eleera antes de todas as coisas e conti-nuar a ser depois de todas as coisas.O que foi, e ser, existe mediante seupoder. Dele eu nasci. Eu sou por suavontade. Por ele toda a sua verdademe foi revelada, e eu procedo de suaverdade. O que ele me revelou, eu vi:a verdade eterna [...] que Deus merevelou eu explico queles que aspi-

    ram verdade.Mani caminha nas pegadas de Jesus.

    Seu evangelho deve ser realizado inte-riormente, pois se trata do encontrocom o Cristo interno, o verdadeiro eu,aps o que chega-se verdadeira com-preenso, ao conhecimento ou gno-sis. O u, tal como Paulo, cujas pala-vras Mani repete: E j no vive meu

    velho eu, meu ego, mas Cristo viveem mim (Glatas 2,20).O maniquesmo se estendia do

    oceano Atlntico ao oceano Pacfico;ele foi uma igreja crist gnstica mun-dial com milhes de fiis, uma eclsialigada ao campo de manifestao doCristo universal que atuava por meiodele. Assim, Maom, em mais de umaspecto, foi a ltima testemunha dateologia crist primitiva, tendo o isloferecido dela uma perspectiva oti-mista e conservado a idia do eternoretorno do verdadeiro profeta da tra-

    dio crist, na qual Jesus, entre todosos profetas, teria sido o mais impor-

    tante. Se a universalidade do Cristotivesse sido compreendida, muitasconcepes religiosas se uniriam e umgrande nmero de antagonismos reli-giosos seria transposto.

    O c dice maniqueu de Co l nia e

    o Evang el h o de Judas

    Aps essa alocuo que trata dosfundamentos gnstico-cristos domaniquesmo, o professor Quispeltomou a palavra para apresentar olivro escrito por ele e Van O ort, intitu-lado O cdice maniqueu de Colnia.Esse manuscrito foi encontrado noEgito em 1969. O local exato da des-coberta no certo. Adquirido emantiqurios no Cairo, ele era de

    dimenses tais que no passava de 3,5por 4,5 centmetros. De fato, VanO ort diz que se tratava de uma massaconfusa de pergaminho muito feiaadquirida pela universidade de Col-nia, da o nome Codex ManichaicusColoniensis. Esse livro minsculo,cuja antigidade no deixa nenhumadvida, data do final do sculo IV e

    consta de aproximadamente 192 pgi-nas escritas em maisculas gregas. Aspequenas folhas de pergaminho esta-vam coladas umas s outras. As letrasmediam menos de um milmetro!

    Esse manuscrito relata a histria davida de Mani que, no terceiro sculodepois de Cristo, colocou os funda-mentos de uma religio gnstica mun-dial. A primeira frase da obra : Donascimento do seu corpo que podeser interpretado como o nascimentoe o desenvolvimento de um corpognstico, de uma eclsia maniquia.

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    Ele descreve o nascimento de Mani,seus anos de juventude e sua primeira

    viagem missionria.O futuro, caros ouvintes, gnosti-

    camente colorido. Com esse gracejoo professor Q uispel comeou sua alo-cuo, breve, porm concisa. Aps terretido nossa ateno por algum temposobre o Evangelho de Tome sobre aedio de dois volumes de um Dicio-nrio de gnosis e esoterismo ocidental,

    ele comeou a falar sobre o mani-quesmo. Este no foi a religio de umpovo, como o judasmo ou o hinduis-mo, disse ele, mas uma religio mun-dial, como o budismo. N enhuma reli-gio to simples: o Esprito liberta aalma da matria. Essa religio crist,sem diviso, que durou mil anos, eragnstica a Gnosis uma religiomundial tal como vemos no Codex

    Manichaicus Coloniensis. Em todo serhumano vive uma centelha divina quedeve ser salva a fim de que a ferida daqueda se feche e Deus cure novamen-te. Para a Gnosis, para os gnsticos,Deus o ser em movimento. Em se-guida, o professor Q uispel traou umarelao entre o manuscrito de Colniae o Evangelho apcrifo de Judas, onde

    tambm falado de Seth Algenes(Seth, filho de Ado e arqutipo dohomem espiritual).

    Mas parece que aqui se trata deSeth Algenes e da descrio de suaascenso enquanto ele envolvido poruma nuvem luminosa. Da mesma for-ma, segundo a Bblia, Moiss subiu oSinai at as trevas onde Deus se en-contrava. Como iniciado e arqutipodo mstico, Moiss se eleva acima dotempo e do espao e, ento, na noitedos sentidos e na noite da alma, ele vi-vencia Deus.

    Este foi o tema principal da msticacrist posterior: pelo nosso arrependi-

    mento, elevamo-nos acima do querere pensar para reunir-nos ao Uno. Ascomparaes estabelecidas por Q uis-pel so surpreendentes e oferecemuma boa compreenso das razes pro-fundas e insuspeitas de nossa civiliza-o crist. Ele conclui: Para ns,homens da ps-modernidade, no algo extraordinrio o fato de o ates-

    mo ser um gigantesco golpe de espadano ar e que o homem de barba j nopossa convencer-nos. Mas no existi-ria, efetivamente, alguma coisa queseria a origem de tudo e que daria sen-tido nossa existncia?

    O mil agr e maniq ueu

    Franois Favre o autor de um

    livro sobre Mani, abundantementedocumentado, intituladoMani, Cristodo Oriente, Buda do Ocidente. Suacontribuio para o simpsio foi tra-duzida para o holands de forma pre-cisa pela senhora Y. de Vries, tendopor ttulo: O milagre maniqueu.

    um vasto panorama que se abre,dramtico e inspirador, trgico e lumi-

    noso. Por um lado, o aspecto interior,esotrico, do ensinamento de Mani,sua cosmologia onde luz e trevas, odivino e o mal, so radicalmente sepa-rados um do outro. Um mito como-vente que fala do homem materialsubmetido ao dos poderes das tre-vas, da oferenda da luz e sua alquimiana matria, da libertao da alma deluz, uma alquimia interior representa-da por smbolos, linguagem figurada epalavras.

    Por outro lado, a disseminao domaniquesmo por numerosos pases e

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    Irmos maniqueus.China,sculo X

    d.C.

    sua terrvel perseguio. A grandevitalidade da igreja de Mani sur-preendente, uma fora que, a despeitodas ferozes oposies, represses eopresses das vrias ortodoxias (obloco dos sacerdotes cristos, budis-tas, taostas...) expandiu-se durantemil anos e soube trazer a inumerveisalmas a alegria eterna da Luz do Cris-

    to universal. Passado grandioso que serevela ainda em nossos dias, porque afora espiritual qual a igreja mundialde Mani deu forma no se perdeu eno pode ser exterminada!

    Para aquele que receptvel a elalevanta-se a cruz de luz: Mani, apsto-lo de Jesus, soter, salvador, alma deluz, alma do mundo.

    A mist ur a da mat r ia e da l uz

    A ltima alocuo desse dia inspira-dor iniciou-se com as seguintes pala-

    vras: Eu, Mani, apstolo de JesusCristo, [...] esta verdade eu a reveleiaos meus peregrinos. O orador, sr. R.Goud, enfatizou que todos os gnsti-cos bebem da mesma e nica fonte.Contudo, o que se manifesta em sm-bolos depois do nascimento da alma,eles traduzem em palavras e em ima-gens compreensveis para a poca em

    que levam a cabo o seu trabalho. O sgnsticos possuem, por assim dizer,um fio condutor interior que lhes per-mite reconhecer e sentir a atualidadedo ensinamento de Mani.

    O que caracterstico para o gns-tico o dualismo tanto do homemcomo da criao, bem como o signifi-cado dado a Cristo. No ensinamentode Mani, a criao por sua vez luz ematria, ou trevas, princpios absolu-tamente separados um do outro; pre-ciso notar que a matria (hyl) cons-ciente e dispe de uma inteligncia.

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    Na cosmologia de Mani, o reino daluz representado pela rvore da vida

    e o reino das trevas pela rvore do mal.Mani afirma que a luz e a matriaesto misturadas. Por que? O prncipedas trevas, no encontrando qualquersatisfao em si mesmo, enche-se decime do reino da luz, cuja fronteiraele tenta atravessar com seus compa-nheiros/demnios. Deus, que dominano reino da luz, o Pai da Magnanimi-dade, origem e fonte do amor, nodeseja lutar, entretanto faz um sacrif-cio. Ele engendra o primeiro homem,seu filho pleno de fora que, equi-pado de cinco poderes, mergulha noreino das trevas. Esses cinco poderesconstituem a alma de luz ou veste-de-luz, imagem brilhantemente expressano Canto da Prola. Essa alma viven-te os cinco filhos devorada pelo

    prncipe das trevas e seus cinco filhos.Nos textos maniqueus dito que oscinco filhos da luz arrastam-se paradentro das entranhas de hyl, a matria,mas... no so por ela atacados! Desdeento um elemento luminoso, salva-dor e libertador, introduziu-se nas tre-vas. No por meio de um combate oupela fora, mas sim, pela oferenda da

    luz, as trevas so atacadas.A cosmologia de Mani traa emmuitas nuances a oferenda desses ele-mentos luminosos e sua definitiva li-bertao do reino das trevas. Esses ele-mentos de luz (centelhas divinas)esto aprisionados no homem natural,hlico. Mas o homem feito de matriatenebrosa no capaz de libertar oselementos de luz por suas prpriasforas, nem tampouco a alma de luzpode faz-lo! N a verdade, esta ltima,vencida pela matria tenebrosa, ignoratudo sobre sua origem divina!

    Assim como o homem do princpiopossui uma alma quntupla, o homem

    material, hlico, tem igualmente umaalma quntupla, porm formada dasforas das trevas. A alma de luz potencialmente quntupla, mas estmergulhada num sono de morte.Trata-se, portanto, de despertar a almade luz e reanimar, como diz Mani,seus cinco aspectos: perseverana, f,perfeio, amor e sabedoria. Mas estasvirtudes no podem se desenvolver seno receberem as foras do reino daluz. Como, pois, despertar a alma deluz? Mani diz, ento:

    Senhor, que devo fazerpara verdadeiramente v iver?D repouso tua m o,reveste-te da pura verdade,d tua inteligncia o amor,

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    Modelo de

    caligrafia persa.

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    tua razo oferece a f,ao teu pensamento d a perfeio,

    tua resoluo, perseverana,e tua reflexo, sabedoria [...]Assim tu vivers, alma.

    O orador evocou uma nova ativida-de de Jesus, o prprio brilho do sol: aefuso do Paracleto, o Esprito Santodos mestres e fundadores de todas ascorrentes religiosas. Sua tarefa des-pertar as almas de luz, confirmandodesse modo os seres humanos na ver-dade e na luz. Enquanto a alma per-manece na esfera material, ela vulne-rvel e prejudicada pelas foras dastrevas. Mas quando totalmente livreda matria, a alma de luz admitida noeo luminoso um espao compreen-dido entre o mundo da dualidade e oreino da luz e libertada do mal. Na

    evoluo seguinte, o eo luminosofunde-se no reino da luz. A alma deluz do primeiro homem participadisso; ele um dos incontveis seresde luz perfeitos.

    O elemento luminoso de cada serhumano est ligado com a coletivida-de de elementos luminosos chamadade a alma do mundo. Como a ofe-

    renda do primeiro homem o sacrif-cio do filho do Pai da Magnanimida-de, a sofredora alma do mundo com-parada a Jesus na cruz, a cruz de luz.

    Para Mani, o Pai da Magnanimida-de Deus. Mas Deus e amor so ums. Os ensinamentos de Mani repou-sam na auto-oferenda de amor e naidia de que os seres humanos devemconstituir uma longa cadeia de oferen-das no amor do Pai da Magnanimida-de, pois foi por amor que ele engen-drou o primeiro homem, Cristo. Tudoque veio em seguida, a salvao do pri-

    meiro homem, a criao do mundo ede todos os reinos da natureza, pode

    ser considerado como emanaes, in-fluxos ou oferendasdo Pai, e o homemsomente pode libertar-se pela auto-oferenda.

    Eis o que diz Mani sobre sua vidade apstolo da luz:

    Nenhuma outra tristeza tenho,seno esta: essas almass quais falta a esperana,e que no so fortalecidasinteriormente na verdade.

    Para evitar sua morte final,os apstolos e os pais,os verdadeiros profetasque se manifestam por Deus,fizeram a oferenda de si mesmos

    com grandes esforos,na terrvel necessidade de salvaressas almas da segunda morte.

    N em um s apstolo quis recebersua recompensa nesta terra.Eles passaram todo o seu tempoem dores e sofrimentose aceitaram a crucificao de seus corpos

    para salvar essas almasda grande perdio,para que elas se elevassem paz eterna no novo eo.

    BIBLIOGRAFIA:

    Oort, J. V.,De Keulse Mani-Codex .

    Amsterd, 2005.

    Favre, F.,Mani, Christ dO riente,Bouddha

    dOccident. Tantonville: Ed. du Septnaire,

    2002.

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    audio um sentido interno. Oque dito penetra diretamente o ser

    interior. Esse sentido diferencia-se daviso, pois aquilo que vemos perma-nece fora de ns. Somos como queagarrados pela audio. Pelo tmpa-no, a onda sonora chega ao espaointerno do ouvido, tocando os osscu-los auditivos e depois a trompa. Oouvido interno um caracol enroladoem espiral ao redor de um labirintomembranoso que compreende umconjunto de cavidades cheias de lqui-do. Os sons captados pelos ouvidosrepercutem atravs da espiral e so-frem uma acelerao em progresso

    logartmica, at desaparecer do mun-do material. Tudo quanto ouvimos se

    perde no infinito.

    O s so ns se fo r mam em n s

    Em ns, o audvel e o inaudvel sesucedem reciprocamente e agem damesma maneira. Em cada tom vibramtons dominantes, tons mais altos cujasfreqncias vibratrias so mltiplosda freqncia do tom fundamental.Os sons muito graves, ainda inaud-veis, chegam da rea perceptvel, pas-sam, e em seguida desaparecem noinaudvel. O ouvido surgiu para que o

    s vezes dito que o ouvido humano tem a forma de um embrio de cabeapara baixo e que o caracol, ou concha do ouvido interno, assemelha-se ao pavi-lho auricular, que por sua vez reproduz a forma do embrio. O ouv ido o primeiro rgo a se desenvolver. Alguns dias aps a concepo, quando o

    embrio mede apenas 0,9 mm, j visto o esboo dos ouv idos. Q uatro meses emeio depois da fecundao, esses rgos j esto formados e permanecem osmesmos por toda a vida. Podemos dizer que a importncia dos sentidos mos-trada desde nossos primeiros meses. O desenvolvimento da nossa conscinciacomea com eles.

    O s so ns

    se per dem no infinit o

    Um ouvido

    que escuta. Foto

    Pentagrama.

    32

    A

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    homem pudesse sobreviver nas con-dies de vida primitivas. Com odecorrer do tempo, o ouvido trans-formou-se na faculdade de audio.Isto equivale a dizer que os sons nodespertam seno em ns: no ouvi-mos apenas com os ouvidos, mas comtodo o nosso corpo, com cada clula.Cada clula tocada pelas vibraesque chegam at ns, incluindo tam-bm aquelas que so inaudveis. Eranesse sentido que Beethoven, o gran-de compositor, quando se tornousurdo, ouvia. Ele ouvia mais que ossons externamente audveis.

    O s dois condutos auditivos condu-zem para o centro da cabea. Tudoque ouvimos ressoa no fluido da alma

    ali presente. Isto o que d cons-cincia o impulso para escutar certossons ou ento deles se afastar. O ouvi-do , em nosso corpo, um fator regu-lador do processo de audio. Ele faza ligao entre os aspectos da alma e omundo dos sons e rumores.

    Q uando escutamos uma outra pes-soa, ns vibramos com ela porque nos

    abrimos a ela. Assimilamos no ape-nas o que ela diz, mas tambm ascaractersticas de suas vibraes quepenetram os prprios fluidos da almae so por eles absorvidos. Dessamaneira, ouvimos de forma objetiva,interiormente. Assim desperta em nsno somente a compreenso, mastambm a compaixo no nvel daalma. O discernimento aumenta e jno h julgamento. Por outro lado,d-se uma seleo, pois nem tudomerece ser ouvido! Esse saber ouvir to intenso que em certos momentos

    a separao entre o falar e o ouvirdesaparece, e uma troca de informa-o sem palavras acontece.

    Para aqueles que buscam, quequestionam, os sentidos tm umafuno receptora de sons, de impres-ses, de informaes. No homem-alma, as funes sensoriais so de pre-ferncia emissoras: os olhos refletem afora divina nele ativa, e, como acaba-mos de descrever, o ouvir pode seruma verdadeira fonte de consolo e defora auxiliadora.

    Falar a produo e a irradiao da fora cria-

    dora, a fora do homem nascido da naturezade que ele necessita para executar a nica obrapara a qual chamado. Por isso, quem procuraDeus falar somente quando for estritamentenecessrio.O que , ento, escutar? a recepo sensorialda m esma fora que os outros vertem pela fala.Quando falais e outro ouve, o outro recebe emsi a fora que vs desprendeis ao falar, e, via deregra, isso extremamente grave neste mundo.Por isso, tanto a fala como a audio so umassunto m uito delicado, para o qual todo alunodeve muito especialmente voltar sua ateno.N o caso de um discipulado srio, tanto a falacomo a audio so submetidas a uma leimuito sagrada, lei que atua exclusivamente noplano do homem-alma liberto. Cada fala ouaudio abaixo de determinado nvel prejudicao homem e liga-o natureza inferior.

    Rijckenborgh, J. v.,A Arquignosis egpcia, t. 3.So Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1989.

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    O homem pode, atravs do princpioespiritual que est em ligao com seucorao, forjar um a ponte para a sextaregio csmica, que tem uma vibra-o totalmente diferente. Por inter-mdio desse princpio, a energia do

    Logos pode estimular nele uma novafora-alma que pode levar ao desen-volvimento tudo o que divino nopequeno mundo do homem.

    o trabalhar com essa energia, o serhumano tem a possibilidade de for-mar sua compreenso. A compreen-so se forma quando o homem pes-

    quisa ativamente, quando trabalha eobserva, tentando integrar sua vidavalores (de alma) elevados, colocan-do-os em prtica. Se o homem permi-te, se ele aplica essas possibilidades, oque desejvel, desenvolver umagrande inteligncia. Ele aprende acompreender as situaes em que seencontra, e, tanto em meio a dificul-

    dades como facilidades, mede toda a

    importncia de si mesmo. O entendi-mento que da nasce torna-se umprincpio condutor para toda a vidafutura. Eis por que o primeiro passono caminho da liberao da luz nohomem consiste na compreenso.

    Assim, enquanto a personalidadetrabalha no homem, conhece a timesmo, seu conhecimento se desen-volve em: e conhecers o Universo eDeus. Na alegria do devotamento,ele se v engajado num novo cresci-mento da alma, que ser, num futuroprximo, essencial para toda a huma-nidade.

    Do ext er io r pa r a o i nt er io r

    N o livro Sidarta de H erman H esse,o heri aprende a escutar as dez milvozes do rio nas quais ele ouve a vozdo Outro. O livro tambm relatacomo Govinda v no rosto de Sidartaos mil rostos do ser. Jacob Boehmeentrou em contato com as profunde-

    zas de sua alma ao ver refletido umraio de sol num vaso de estanho. Obrilho, uma percepo interior, por-tanto, desperta nele a sensibilidade aoreflexo interior do esprito.

    A vida exterior proporciona umainfinidade de experincias, tanto posi-tivas quanto negativas. A vida interiorsomente pode revelar-se quando atotalidade das experincias foi vivida ecompletada. Por isso, s podemos nosaproximar da vida interior por meioda vida exterior. As experincias davida terrestre nos conduzem s portas

    Vencer o engano

    Da autoconscincia para a oniconscincia

    No livro A Gnosis chinesa,J. van Rijckenborgh e Catharose de Petriescreveram:

    O modo como v emos est em totalharmonia com a fora astral com queestamos envolv idos. O uv imos em totalconformidade com a fora etrica atradapela luz astral magntica.

    A

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    preciso ter uma v iso clara do v erdadeiro estado

    dos seres humanos, ou seja, sua ignorncia de D eus em sua

    vida atual. Para se dar um fim separao entre o homem e

    Deus, necessria uma despedida, uma supresso da ligao

    com as foras da natureza em favor das foras do Esprito.

    (O caminho de H ermes, pgina 12)