percepÇÃo ambiental dos alunos do projeto sala verde da …

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X EPEA Encontro Pesquisa em Educação Ambiental São Cristóvão SE 1 a 4 de setembro de 2019 X EPEA Encontro Pesquisa em 1 Universidade Federal de Sergipe Educação Ambiental PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO PROJETO SALA VERDE DA BARRA, MUNICÍPIO DE BARRA DOS COQUEIROS/SE Daniele Suzane da Silva Pinto Teles, Guilherme dos Santos Teles, Heloísa Thaís Rodrigues de Souza, Ângela Maria do Nascimento Lima, Débora Moreira de Oliveira Resumo: A percepção ambiental é um instrumento metodológico fundamental na Educação Ambiental, para a identificação dos aspectos positivos e negativos do homem em relação à natureza. Desta forma, o objetivo do trabalho foi verificar a percepção ambiental dos alunos do projeto Sala Verde da Barra através de visita de campo, frente ao estudo do meio físico, por meio da apresentação das belezas naturais do município de Barra dos Coqueiros, Sergipe. Realizaram-se aulas teóricas sobre a temática ambiental, dinâmicas de grupo e visita em campo a cinco estações interpretativas selecionadas para caracterização do meio físico e biótico do município. A visita possibilitou aos alunos: conhecer os ambientes naturais e as belezas cênicas locais; compreender as interações homem/natureza; ter a percepção dos impactos ambientais causados pelo aumento da urbanização no município e; entender a fragilidade e relevância dos ambientes naturais. Palavras-chave: Educação Ambiental; visitas de campo; relação homem/natureza. Abstract: The environmental perception is a fundamental methodological instrument in environmental education, in order to identify the positive and negative aspects of man in relation to nature. In this way, the aim of this study was to assess the environmental perception of students of the Sala Verde Project through a field visit, in front of the study of the physical environment, by means of presenting the natural beauties of the municipality of Barra dos Coqueiros, Sergipe. Theoretical classes on environmental issues, group dynamics and a visit to the five interpretative stations were carried out for the characterization of physical and biotic environments of the municipality. The visit enabled the students: to know the natural environments and as local scenic beauties; to understand the man/nature interactions; to have the perception of the environmental impacts caused by increased urbanization in the municipality and; to understand the fragility and the relevance of the natural environments. Keywords: Environmental Education; field visit; man/nature relationship. 1 Introdução O crescimento populacional ocorrido nas últimas décadas tem levado a um consequente aumento da interação das atividades humanas com dinâmica do meio natural, o que acarreta a necessidade de compreender os resultados oriundos dessa interação. A complexidade tanto das atividades humanas quanto da dinâmica natural determina que as questões de natureza ambiental passem a integrar o campo de conhecimentos básicos do homem, para que ao longo de sua vida, ele possa exercer aquilo que se entende por cidadania responsável e consequente (CARNEIRO et. al., 2004).

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São Cristóvão – SE 1 a 4 de setembro de 2019 X EPEA – Encontro Pesquisa em

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Universidade Federal de Sergipe Educação Ambiental

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO PROJETO SALA

VERDE DA BARRA, MUNICÍPIO DE BARRA DOS COQUEIROS/SE

Daniele Suzane da Silva Pinto Teles, Guilherme dos Santos Teles, Heloísa Thaís Rodrigues de Souza,

Ângela Maria do Nascimento Lima, Débora Moreira de Oliveira

Resumo: A percepção ambiental é um instrumento metodológico fundamental na Educação

Ambiental, para a identificação dos aspectos positivos e negativos do homem em relação à

natureza. Desta forma, o objetivo do trabalho foi verificar a percepção ambiental dos alunos

do projeto Sala Verde da Barra através de visita de campo, frente ao estudo do meio físico,

por meio da apresentação das belezas naturais do município de Barra dos Coqueiros, Sergipe.

Realizaram-se aulas teóricas sobre a temática ambiental, dinâmicas de grupo e visita em

campo a cinco estações interpretativas selecionadas para caracterização do meio físico e

biótico do município. A visita possibilitou aos alunos: conhecer os ambientes naturais e as

belezas cênicas locais; compreender as interações homem/natureza; ter a percepção dos

impactos ambientais causados pelo aumento da urbanização no município e; entender a

fragilidade e relevância dos ambientes naturais.

Palavras-chave: Educação Ambiental; visitas de campo; relação homem/natureza.

Abstract: The environmental perception is a fundamental methodological instrument in

environmental education, in order to identify the positive and negative aspects of man in

relation to nature. In this way, the aim of this study was to assess the environmental

perception of students of the Sala Verde Project through a field visit, in front of the study of

the physical environment, by means of presenting the natural beauties of the municipality of

Barra dos Coqueiros, Sergipe. Theoretical classes on environmental issues, group dynamics

and a visit to the five interpretative stations were carried out for the characterization of

physical and biotic environments of the municipality. The visit enabled the students: to know

the natural environments and as local scenic beauties; to understand the man/nature

interactions; to have the perception of the environmental impacts caused by increased

urbanization in the municipality and; to understand the fragility and the relevance of the

natural environments.

Keywords: Environmental Education; field visit; man/nature relationship.

1 Introdução

O crescimento populacional ocorrido nas últimas décadas tem levado a um

consequente aumento da interação das atividades humanas com dinâmica do meio natural, o

que acarreta a necessidade de compreender os resultados oriundos dessa interação. A

complexidade tanto das atividades humanas quanto da dinâmica natural determina que as

questões de natureza ambiental passem a integrar o campo de conhecimentos básicos do

homem, para que ao longo de sua vida, ele possa exercer aquilo que se entende por cidadania

responsável e consequente (CARNEIRO et. al., 2004).

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Nesse contexto, utilizar a percepção ambiental como instrumento metodológico para a

Educação Ambiental, é fundamental para se identificar os aspectos positivos e negativos do

homem em relação à natureza. Os aspectos considerados positivos e negativos vão depender

da percepção de indivíduos com valores distintos, culturas ou de grupo socioeconômicos

diferentes, o que possibilita adequar as atitudes de forma coerente com as necessidades

específicas de cada grupo (FERNANDES et. al., 2004; TORRES e OLIVEIRA, 2008).

De acordo com Teramussi (2008):

Percepção é o entendimento, a mediação entre o sujeito e o que está exterior

a ele, ou seja, entre as pessoas e o meio em que se inserem. A paisagem pode

ser compreendida justamente como fruto da percepção, da relação entre a

subjetividade e a objetividade. A percepção é o instrumento do uso do

espaço.

Nesse sentido, Teramussi (2008) afirma que a percepção ambiental deve ser

considerada imprescindível quando vista como a principal forma de interação com o meio

ambiente e qualidade/mitigação ambiental. Para a mesma, o homem tende a ter em seu

interior percepções já formadas com base em situações por ele vivenciadas, experiências e

interpretações que o fizeram compartilhar determinadas opiniões. A tomada de consciência da

importância e influência do meio ambiente para com a sociedade e o planeta passa a ser

notável quando um indivíduo, instigado por alguma atividade ou pensamento, ao sensibilizar-

se, percebe o ambiente com um novo olhar, dessa forma faz-se o papel das visitas de campo.

No Brasil, apesar da Educação Ambiental ser instituída por leis e diretrizes

educacionais, sua aplicação nas escolas ainda é superficial e pontual, sendo a temática

ambiental em muitas instituições de ensino restrita às disciplinas de geografia, biologia e

ciências, ou em eventos comemorativos relacionados ao meio ambiente. A falta da abordagem

ambiental nas demais disciplinas ministradas em sala de aula acabam mantendo o caráter

integrador do meio ambiente na teoria, e consequentemente reforçando a ideia antropocêntrica

da sociedade, de que o homem é um elemento externo ao meio ambiente e muitas vezes

considera-se superior. Desta forma, a aplicação da Educação Ambiental será ineficaz na

formação de conceitos e valores necessários para o desenvolvimento de atitudes sustentáveis

(MEDEIROS et. al., 2011; NUNES et. al., 2017).

No âmbito da Educação Ambiental, surge no ano 2000 o Projeto Sala Verde, criado

pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Centro de Informação e Documentação (CID

Ambiental), atualmente coordenado pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério

do Meio Ambiente (DEA/MMA). O projeto Sala Verde nasceu da estratégia de gerenciar as

demandas que estavam surgindo para a distribuição e livros e materiais na área ambiental,

solicitadas no CID ambiental por um público que desejava disseminar as informações,

materiais e publicações nos seus municípios, e por conta própria disponibilizá-las à população

interessada no tema (MMA, 2019).

O Projeto Sala Verde consiste no incentivo à implantação de espaços socioambientais

para atuarem como centros de informação e formação ambiental com múltiplas

potencialidades, possibilitando o desenvolvimento de atividades diversas de Educação

Ambiental como: cursos, palestras, oficinas, eventos, encontros, entre outros. A Sala Verde

proporciona a disponibilização e democratização da informação ambiental, permitindo a

construção de um espaço que além do acesso à informação, ofereça a possibilidade de

reflexão e construção do pensamento/ação ambiental. As salas verdes estão distribuídas em

todo o Brasil, em prefeituras municipais, secretarias de meio ambiente, secretarias de

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educação, institutos federais e universidades, mas também em conselhos gestores de Unidades

de Conservação (UCs) e organizações não governamentais (MMA, 2019).

No município de Barra dos Coqueiros, Estado de Sergipe, o Projeto “Sala Verde da

Barra” teve início em 2018, através da Organização Socio Cultural Amigos do Turismo e do

Meio Ambiente (OSCATMA/BC), organização não governamental que tem atuado desde

2003 em ações voltadas ao turismo e meio ambiente sustentável do município. Entre os

objetivos específicos do projeto estão a promoção da integração comunidade/escola para

aplicação de ações educativas voltadas para melhoria do meio ambiente e identificação das

belezas cênicas e naturais da região.

Desde os tempos mais antigos da humanidade, as áreas mais densamente povoadas do

planeta são as regiões costeiras, devido à disponibilidade de recursos naturais, potencial

econômico e facilidade de transporte. Essas regiões são bastante dinâmicas, sofrendo

influências de processos atmosféricos, oceânicos, fluviais e continentais

(CHRISTOFOLETTI, 1980). A ocupação desordenada dos ambientes litorâneos tem gerado

diversos problemas ambientais no Brasil e no mundo, incluindo erosão costeira (SOUZA e

SANTOS, 2016; ARAÚJO e GOMES, 2017), salinização da água subterrânea, poluição

(SOUZA et al., 2005), degradação de manguezais, entre outros.

O município de Barra dos Coqueiros, localizado no litoral norte do Estado de Sergipe,

vem sofrendo nos últimos anos um intenso processo de urbanização. Parte disso vem da

construção da ponte que liga a capital, Aracaju, ao município, mas também devido às suas

belezas cênicas, o que tornou a Barra dos Coqueiros alvo de intensa especulação imobiliária.

Recentemente, empreendimentos de grande porte para fornecimento de energia elétrica estão

processo de instalação no município. Desta forma, o objetivo do trabalho é verificar a

percepção ambiental dos alunos do projeto Sala Verde da Barra através de visitas de campo,

frente ao estudo do meio físico, por meio da apresentação das belezas naturais do município

da Barra dos Coqueiros, Sergipe.

Nesse sentido, Costa et al. (2014), destacam que o contato direto com os conteúdos

ecológicos presentes nas visitas de campo e a análise pessoal dos elementos da natureza,

despertam em públicos discentes, a curiosidade e o interesse de aprender, já que os mesmos

estão participando de uma metodologia de ensino, uma vez que percebem-se como parte

integrante e não apenas meros expectadores de inter-relações entre homem/ambiente,

tornando o processo de formação uma concepção mais simples. Nesse contexto é possível

entender que as visitas de campo têm um grande potencial motivacional e atrativo à

reelaboração de percepções ambientais, pois elas representam a fuga do cotidiano e a

realidade dos conteúdos estudados em sala de aula.

Gonçalves (2009), corrobora o discurso do uso de visitas de campo ecológicas para a

formação cidadã, em especial do viés da Educação Ambiental, ao salientar que esses espaços

naturais constituem uma grande ferramenta para o desenvolvimento do conteúdo “meio

ambiente”. Para a autora, as visitas guiadas facilitam a interação com a natureza e a inclusão

do homem nos ambientes que o cercam, bem como, podem alertar e educar os discentes

quanto às questões ambientais voltadas à saúde e ao equilíbrio ambiental.

Para estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza, é necessária a

adoção de estratégias que visem a melhoria das condições ambientais e a minimização dos

impactos ambientais negativos gerados pela falta do uso consciente dos recursos naturais. Em

virtude disso, e da fragilidade dos ambientes litorâneos da Barra dos Coqueiros, a Educação

Ambiental surge como uma importante ferramenta para conscientizar e sensibilizar a

população acerca da importância de conservação, preservação e administração adequada dos

recursos naturais do local.

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2 Metodologia

2.1 Caracterização do município de Barra dos Coqueiros

O município de Barra dos Coqueiros localiza-se no litoral norte do Estado de Sergipe

(Figura 1), apresenta limites a oeste e noroeste com os municípios de Santo Amaro das Brotas

e Aracaju, e a norte com Pirambu e está situado entre as desembocaduras dos rios Sergipe e

Japaratuba (BOMFIM, et. al., 2002). Segundo informações do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE (2018), o município possui extensão territorial de 85,6 km2 e

cerca de 29.873 habitantes. Geologicamente, o município é composto por unidades

sedimentares depositadas durante o Holoceno, dentre essas: depósitos de pântanos e mangues,

terraços marinhos, e depósitos eólicos litorâneos (SANTOS et al., 1998).

Figura 1: Localização do município de Barra dos Coqueiros com indicação das suas respectivas

unidades geológicas.

Fonte: SRH, 2010.

2.2 Procedimentos Metodológicos

Por meio das visitas de campo (guiadas) podemos abordar não só elementos

ecológicos e naturais do meio ambiente como também podemos incluir nessa situação

elementos culturais, éticos, lúdicos e sociais e de percepção ambiental (GONÇALVES, 2009).

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Nesse sentido, o valor dado às visitas guiadas de campo se justifica pelo potencial das

mesmas em firmar conhecimentos e descobrir novos. As visitas podem constituir locais para

questionamentos que irão principiar uma busca por novas perspectivas. Sendo assim, elas

trabalham a percepção, a curiosidade e a interação homem/natureza.

Este trabalho trata-se de um estudo das compreensões sobre meio ambiente, que tem

por objetivo verificar a percepção ambiental de discentes do município de Barra dos

Coqueiros / SE, inseridos no Projeto “Sala Verde da Barra” através da Organização Sócio

Cultural Amigos do Turismo e do Meio Ambiente (OSCATMA/BC).

O referente projeto foi coordenado pela OSCATMA/BC, objetivando investigar o

potencial das visitas de campo para a formação socioambiental dos indivíduos. Neste

trabalho, buscou-se com as visitas, mediadas a partir da materialização de um planejamento

que privilegie a interpretação ambiental e o discurso interdisciplinar, podem subsidiar

concepções ambientais de caráter mais robusto, crítico e complexo.

A verificação da percepção ambiental dos alunos do Projeto Sala Verde da Barra

partiu da experiência com os primeiros alunos do projeto, entre os meses de setembro de 2018

e março de 2019. O público-alvo desta pesquisa foram alunos da rede pública (municipal e

estadual) no município de Barra dos Coqueiros, na faixa etária de 10 a 15 anos de idade.

Ao longo dos seis meses de atividade, foram realizadas aulas teóricas sobre a temática

ambiental, dinâmicas de grupo, e visita guiada em campo às estações interpretativas (pontos)

no município de Barra dos Coqueiros. As estações interpretativas (pontos) são locais, que por

seus atributos naturais e paisagísticos, constituem locais privilegiados para abordagens de

caráter científico e interdisciplinar.

Para a visita de campo, foram selecionados 5 (cinco) estações interpretativas no

município em questão:

Estação Interpretativa 1: A Unidade de Conservação Parque das Dunas;

Estação Interpretativa 2: Vista frontal para o empreendimento energético, em fase de

implantação;

Estação Interpretativa 3: Zona de manguezal;

Estação Interpretativa 4: Lagoa natural em um empreendimento imobiliário, em fase

de implantação;

Estação Interpretativa 5: Desembocadura do Rio Sergipe.

Das cinco estações interpretativas selecionadas para visitação, foram feitas as

caracterizações do meio físico e biótico em sala de aula e in loco, para facilitar a percepção

dos alunos quanto ao entendimento da sua relação com cada meio ambiente visitado.

A visita as estações supracitadas tinham como propósito possibilitar aos alunos:

conhecer os ambientes naturais e as belezas cênicas da Barra dos Coqueiros; compreender a

dinâmica natural e os resultados das interações antrópicas nos ambientes visitados; ter a

percepção dos impactos ambientais causados pelo aumento da urbanização no município e

implantação de empreendimentos de grande porte e; entender a fragilidade e relevância dos

ambientes naturais e a influência das transformações em suas vidas.

3 Resultados e Discussão

Na Unidade de Conservação Parque das Dunas, correspondente ao primeiro ponto

visitado (Figura 2), os alunos observaram os aspectos geológicos responsáveis pelos

mecanismos de formação das dunas, as feições geomorfológicas correspondentes, bem como

as características da vegetação de restinga e seu papel na fixação das dunas. Neste sentido, os

alunos foram indagados sobre a pressão antrópica nas proximidades das dunas, e como esta

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pode influenciar a dinâmica natural do ambiente de dunas, tanto em relação a sua capacidade

de recarga dos lençóis freáticos nas zonas costeiras, quanto à diversidade da vegetação de

restinga, importante meio de subsistência da população no entorno da unidade de

conservação.

Figura 2: (A) Imagem de satélite mostrando a Unidade de Conservação Parque das Dunas, no

município de Barra dos Coqueiros. (B) Alunos do Projeto Sala Verde da Barra explorando o ambiente

de dunas.

Fonte: Google Earth Pro (2019), OSCATMA/BC (2019).

No segundo local visitado, os alunos puderam observar as futuras instalações de uma

usina termoelétrica no município (Figura 3A), cujo projeto está em fase de implantação. Nesta

localidade, os alunos foram estimulados a verificar os impactos ambientais na paisagem

litorânea causados pela construção da usina, bem como na qualidade do ar do município, uma

vez que durante a sua operação, ela queimará gás natural para produção de energia elétrica.

Além disso, foi apresentado o conceito de sustentabilidade, de forma que os alunos pudessem

refletir sobre a influência do empreendimento na integração e equilíbrio das variáveis sociais,

culturais, econômicas e ambientais do município.

No terceiro ponto, ainda nas proximidades da termoelétrica (Figura 3A), foi observado

o manguezal, ecossistema importante da Barra dos Coqueiros. Nessa localidade, foram

apresentadas as raízes peculiares da vegetação de mangue, bem como diversos aspectos

relevantes do manguezal: sua função como berçário para diversas espécies marinhas, seu

papel na acumulação de carbono e prevenção do efeito estufa, sua importância para o controle

da força das marés e filtragem da água salgada. Ainda neste local, foi possível observar de

maneira direta os impactos ambientais causados pela implantação da usina termoelétrica,

representados pela remoção da vegetação para construção das linhas de transmissão (Figura

3C), e mortandade de caranguejos que vem afetando a subsistência da população local.

Figura 3: (A) Localização dos pontos visitados para observação da termoelétrica e do manguezal. (B)

Ponto de observação da termoelétrica. (C) Ponto de observação do mangue.

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Fonte: Google Earth Pro (2019), OSCATMA/BC (2019).

O quarto ponto de visitação está localizado sob cordões litorâneos, que representam

antigas linhas de costa. Neste local, está em fase de implantação um empreendimento

imobiliário de grande porte (Figura 4A), o qual suprimiu parte da vegetação de restinga, bem

como impermeabilizou parte do solo. O mecanismo de infiltração de água das chuvas nesse

tipo de ambiente é importante para recarga dos lençóis freáticos litorâneos, os quais

alimentam diversas lagoas naturais formadas nas depressões entre os cordões. Neste ponto, os

alunos tiveram a compreensão da importância desse ambiente para o acúmulo de água

subterrânea, assim como as possíveis causas de poluição das lagoas e lenço freático em

virtude da ocupação humana.

Além disso, discutiu-se o intenso processo de urbanização do município na última

década, motivada pela construção de uma ponte que liga a Barra dos Coqueiros à capital

sergipana, Aracaju, bem como pela especulação imobiliária, através da qual foram

construídos diversos empreendimentos de alto padrão explorando as belezas naturais do

município.

Figura 4: (A) Imagem de satélite mostrando a localização do empreendimento imobiliário visitado e

das lagoas naturais existentes. (B) Vista de campo da lagoa natural.

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Fonte: Google Earth Pro (2019), OSCATMA/BC (2019).

O último ponto visitado na atividade localiza-se às margens do Rio Sergipe, próximo à

foz do rio (Figura 5). Neste local, a principal feição observada é a ocorrência de molhes de

rocha, os quais foram instalados para prevenção da erosão costeira. Neste ponto, foi discutida

a dinâmica dos ambientes costeiros, responsável por rápidas mudanças na paisagem litorânea.

Dessa forma, os alunos tiveram a percepção da vulnerabilidade desse ambiente, e dos

problemas causados pela ocupação indevida desse espaço.

Figura 5: (A) Localização do último ponto visitado, próximo à foz do Rio Sergipe. (B) Alunos

observando o contexto da foz do rio a partir dos molhes na margem da Barra dos Coqueiros.

Fonte: Google Earth Pro (2019), OSCATMA/BC (2019).

Compreender o meio ambiente no sentido de biosfera corrobora com Jacobi (2003),

para quem meio ambiente abarca um importante espaço sociopolítico, pois como um espaço

de coletividade e de correlações, perpassa discussões sobre igualdade, solidariedade, riscos de

grandes consequências e qualidade de vida. Essa compreensão traz uma visão sociopolítica

aonde os impactos no ambiente afetam outrem com subjetividades, muitas vezes antagônicas.

Diante do exposto, observou-se que, o conceito de meio ambiente junto à educação

influencia e determina as escolhas que serão feitas pelo homem. Sensibilizar o indivíduo

(discentes) mostrando-o visões diferenciadas de meio ambiente, educação e desenvolvimento

sustentável oferece subsídios para uma construção autônoma e significativa de conceitos que

refletirão em comportamentos individuais e coletivos, que por conseguinte contribuirão com o

ambiente.

Ao salientar que os ambientes (físico, social, imaginário e psicológico) que cercam os

indivíduos e grupos sociais têm a capacidade de influenciar suas percepções e atitudes,

Teramussi (2008) ainda destaca que a percepção do ambiente é, de forma geral, resposta dos

sentidos aos estímulos externos. O que é visto, guarda relação com o contexto sociocultural

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do indivíduo, que a partir dessa rede de associações, passa atribuir valores, positivos ou

negativos.

Costa et al. (2014), defendem que a utilização das áreas verdes, como espaço

educativo, aliado ao desenvolvimento de atividades diversificadas, seja um caminho viável

para elucidar as possíveis dificuldades inerentes ao ensino e aprendizagem de conteúdos

ecológicos no ensino de Ciências.

Dentro desse contexto, as trilhas ecológicas tornam-se “laboratórios vivos”, ao

permitir o desenvolvimento de ações educativas eficazes quanto à aprendizagem de conceitos

ecológicos, por aliarem teoria e prática por meio da interpretação e análise dos recursos

naturais “in loco”, o que propicia reflexões sobre as relações entre o ser humano e o meio

ambiente.

Nesse sentido, corroborando com Sauvé (1996), as trilhas ecológicas podem levantar

questões e discussões ambientais sob várias proposições e conjecturas, impactando fortemente

as compreensões iniciais daqueles que as percorrem. Essa dinâmica, como salienta a autora,

impõe ao educador-mediador uma busca constante de aporte acadêmico que o direcione em

seus trabalhos, pois exige uma práxis holística e complexificada, não aceitando uma base

epistêmica rígida e intransigente.

Sensibilizar o indivíduo estimulando-o a percepções diferenciadas de meio ambiente

oferece subsídios para uma construção autônoma e significativa de conceitos que se refletirão

em comportamentos individuais e coletivos, de caráter contributivo, favorável e mitigatório

para o ambiente.

Discutir sobre meio ambiental é interessar-se pela vida, tomando “vida” num conceito

superlativado que abarque fenômenos (relacionais e interacionais) sob aspectos (biológicos,

químicos, físicos e antrópicos) que influenciam em sua existência, persistência e qualidade.

Como salienta Sauvé (1996), essa discussão é assunto urgente e indispensável que deve ser

abordado em todos os níveis e espaços de ensino-aprendizagem.

4 Considerações Finais

A percepção ambiental possibilita que o homem tome consciência do ambiente em que

está inserido e aprenda a protegê-lo.

Diante dos resultados obtidos nesta pesquisa, infere-se que as visitas de campo, podem

ser tomadas como espaços educativos não formais institucionalizados, bastante significativos

para estudos de percepção e educação ambiental. A operacionalização de práticas

pedagógicas, em especial, aquelas cognoscitivas com basilar interdisciplinar nesses espaços

corroboram com Teramussi (2008), para quem as relações que determinados grupos

estabelecem com o meio ambiente, intricam ordens cognitivas, afetivas e éticas. A forma

como sentem, pensam e agem determinados grupos, no âmbito da paisagem vivida, pode-se

dar no campo da percepção e interpretação do ambiente.

A partir da utilização da metodologia de visitas práticas guiadas, através de estações

interpretativas para trabalhar a Educação Ambiental com discentes de Escolas públicas no

município de Barra dos Coqueiros-SE, pôde-se verificar o aumento da sensibilização

ambiental dos mesmos, bem como uma maior interdisciplinaridade pela observação de

diferentes aspectos naturais presentes no respectivo município, como por exemplo, aspectos

geológicos, geomorfológicos, aspectos florísticos e recursos hídricos, dentre outros.

Pôde-se também, observar e discutir junto aos discentes aspectos relacionados à ação

antrópica insustentável in loco, como processos erosivos, degradação ambiental em alguns

pontos, turismo e exploração inadequada. Esses aspectos foram importantes para a percepção

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ambiental quanto à necessidade da conservação e preservação de áreas, para manutenção dos

recursos naturais essenciais para as atividades no meio urbano. Os diversos espaços visitados

permitiram aos discentes do Projeto “Sala Verde Barra”, o entendimento das

consequências/impactos, quer sejam positivas ou negativas, das ações do homem no meio em

que ele vive, o que foi fundamental para o desenvolvimento de mentalidades sustentáveis.

As práticas educativas articuladas à Educação Ambiental devem desenvolver valores

que conduzam os estudantes a mudanças de comportamento pessoal, de atitudes e de valores

de cidadania, a fim de que sejam propiciadas novas relações entre o homem e o meio

ambiente. Nesse sentido, a pesquisa desenvolvida pelo Projeto Sala Verde na Barra vem como

contributo para a Educação Ambiental, pois estimula um repensar epistêmico sobre as

possibilidades pedagógicas das visitas guiadas e as abordagens que nelas podem ser

desenvolvidas, catalisando discussões e apropriações atinentes ao Meio Ambiente da

perspectiva crítica e correlacional.

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