perfil dos trabalhadores da construÇÃo civil de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DETECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
PERFIL DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE SANTA MARIA – RS
Filipe Osório Dal Bello
Santa Maria, RS, Brasil 2015
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PERFIL DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE SANTA MARIA – RS
Filipe Osório Dal Bello
Monografia apresentada ao Curso de Engenharia Civil,da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Orientadora: Janis Elisa Ruppenthal
Santa Maria, RS, Brasil
2015
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de Curso
PERFIL DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE SANTA MARIA – RS
Elaborada por Filipe Osório Dal Bello
Como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil
COMISSÃO EXAMINADORA
Janis Elisa Ruppenthal Presidente/Orientador
Alessandro de Franchesci
Eleusa de Vasconcelos Favarin
Santa Maria, Dezembro de 2015
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Dedico este estudo aos trabalhadores da indústria da construção civil de Santa Maria–RS, pelo esforço e disponibilidade na elaboração desta pesquisa e a minha orientadora e demais professores que sempre me auxiliaram na hora que precisei.
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RESUMO
Este estudo teve por objetivo traçar o perfil do trabalhador da construção civil da cidade de Santa Maria-RS, identificando o grau de instrução formal, faixa etária, tempo de trabalho na construção civil, grau de satisfação com o trabalho, dentre outras. A metodologia adotada foi descritiva/quantitativa e caracterizou-se como de campo, por corresponder a coleta de dados diretamente no local de trabalho dos sujeitos do estudo, realizada através da aplicação de um questionário. A população pesquisada constitui-se de 50 trabalhadores de 4 empresas do município. Os dados foram analisados e discutidos destacando-se os seguintes: os trabalhadores da construção civil estão com idade média maior, baixo nível instrucional, seu aprendizado deu-se na prática e referem que a maior forma de incentivo é oreconhecimento financeiro através de gratificação adicional. O maior problema enfrentado pelos encarregados é o absenteísmo e o uso de drogas (álcool). Levantaram-se aspectos que podem serem usados para nortear estratégias de desenvolvimento e qualificação dos recursos humanos envolvidos no processo de trabalho da construção civil. Palavras Chaves: Perfil dos trabalhadores na construção civil.Construção civil.Trabalhadores.Qualificação profissional.
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ABSTRACT
This study have the objective to profile the worker of the civil construction, in the city of Santa Maria-RS, identifying the formal instruction degree, age group, working time in construction, level of satisfaction, among others. The adopted methodology was descriptive/quantitative and was characterized on the field, by corresponding data collection directly on the work place of the study subjects, performed through applying a questionnaire. The surveyed population constitutes of 50 workers, from 4 county businesses. Data were analyzed and discussed highlighting the following:the construction workers are at higher average age, low instructional level, the learning occurred in practice and the highest form of incentive is the financial recognition through additional bonus. The biggest problem faced by those in charge is absenteeism and drug use. They rose aspects that can be used to guide development strategies and qualification of human resources involved in the construction work process. Keywords:Profile of workers in construction. Construction. Workers. Professional qualification.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01- Caracterização dos trabalhadores participantes do estudo ....................29
Tabela 02- Faixa etária .............................................................................................30
Tabela 03 - Grau de instrução ..................................................................................32
Tabela 04 - Procedência...........................................................................................33
Tabela 05 - Estado Civil ............................................................................................33
Tabela 06 - Tempo que leva para ir de casa ao trabalho..........................................34
Tabela 07 - Tempo de trabalho na indústria da construção civil ...............................35
Tabela 08 - Tempo de serviço na mesma empresa..................................................37
Tabela 09 - Quantas empresas já trabalhou.............................................................38
Tabela 10 - Função desempenhada na construção civil? .........................................38
Tabela 11 - Curso de interesse dos trabalhadores ...................................................40
Tabela 12 - Forma de reconhecimento e incentivo que a empresa poderia oferecer aos trabalhadores?....................................................................................................42
Tabela 13 - Aprimorar-se e permanecer na área da construção civil?......................45
Tabela 14 - Grau de satisfação.................................................................................46
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10
1.1 Objetivos ............................................................................................................11
1.1.1 Objetivo geral ...................................................................................................11
1.1.2 Objetivos específicos........................................................................................12
1.2 Justificativa........................................................................................................12
1.3 Estrutura do trabalho........................................................................................12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................14
2.1 Histórico da construção civil ...........................................................................14
2.2 Incentivos a indústria da construção civil ......................................................16
2.3 Panorama da construção civil..........................................................................17
2.4 Perfil do operário da construção civil .............................................................18
3 METODOLOGIA ....................................................................................................27
3.1 Classificação da pesquisa................................................................................27
3.2 Planejamento da pesquisa ...............................................................................27
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E SUGESTÕES .........................29
4.1 Análise e discussão dos resultados................................................................29
4.1.1 Faixa etária.......................................................................................................29
4.1.2 Grau de instrução.............................................................................................31
4.1.3 Procedência .....................................................................................................32
4.1.4 Estado civil .......................................................................................................33
4.1.5 Tempo que leva para locomoção de casa ao trabalho.....................................34
4.1.6 Tempo de trabalho na indústria da construção civil .........................................34
4.1.7 Tempo de serviço na mesma empresa ............................................................35
4.1.8 Número de empresas em que já trabalhou ......................................................37
4.1.9 Função desempenhada na construção civil .....................................................38
4.1.10 Capacitação profissional ................................................................................39
4.1.11 Quantidade de horas de trabalho diário .........................................................41
4.1.12 Carteira assinada ...........................................................................................41
4.1.13 Reconhecimento pelos trabalhos prestados...................................................42
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trabalhadores? ..........................................................................................................42
4.1.14 Renda média ..................................................................................................44
4.1.15 Pretensão de aprimoramento e permanência na área da construção civil .....45
4.1.16 Questões direcionadas as funções de chefia (encarregado, mestre de obras).
..................................................................................................................................46
4.1.17 Características do trabalhador da construção civil de Santa Maria – RS.. Erro!
Indicador não definido.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................47
REFERÊNCIAS.........................................................................................................50
ANEXO A..................................................................................................................52
1 INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil no Brasil assume um papel de extrema
importância na economia brasileira. Esse papel é facilmente comprovado pelo fato
deste setor representar cerca 15,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e pela elevada
taxa de emprego que gira em torno de 6% da população ativa no país, mostrando
que é o setor na economia brasileira que mais emprega.(RESENDE, 2013).
Embora o desenvolvimento de novas tecnologias e o aperfeiçoamento de
sistemas de gestão tenha aumentado nas últimas décadas, a área de produção não
tem acompanhado de forma rigorosa esse desenvolvimento. Pois o aumento
daconcorrência no setor, a redução das margens de lucro e uma crescente
exigência por parte do consumidor em relação ao valor do produto final, leva ao
aumento da necessidade de se inovar e melhorar o sistema de produção e gestão
empresarial.Ainda mais quando se considera o contexto atual da macroeconomia,
que mostra que o primeiro semestre de 2015 e as expectativas para o futuro próximo
apontam para o fim de um ciclo histórico de investimentos da construção civil,
fomentando a necessidade de centrar medidas para uma retomada sustentada das
atividades.
Segundo Ferraz Neto (2015) além da diminuição do número de negócios, as
empresas estão se deparando com o aumento de dificuldades financeiras, o que
compreende custos mais elevados dos empréstimos, resultado do aperto monetário
recente. No que diz respeito ao cenário macroeconômico, o indicador de percepção
de crescimento continua em queda, batendo recorde negativo. E ressalta que “O
sentimento atual do empresariado da construção civil, é que o momento atual é
muito difícil, tanto para a economia como para as construtoras”.
Cantisani e Castelo (2015) referem que a maioria dos analistas já espera para
o ano crescimento negativo do PIB e inflação acima de 7%. No caso dos preços
administrados, espera-se alta superior a 10% no ano. Esse é um cenário altamente
desafiador para as empresas e para todos os trabalhadores diretos e indiretos da
construção civil.
Apesar desse panorama não ser animador, aconstrução civil continua sendo
um ramo da indústria que absorve um grande número de trabalhadores e que possui
forte destaque na economia nacional. Sendo um dos grandes desafios desse setor
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nas últimas décadas, no Brasil e, em outras partes do mundo, à necessidade de
responder às demandas do mercado, cada vez mais exigente em termos de
qualidade, custo e prazo de entrega das obras e, ainda, de atender às exigências
impostas pela sociedade no que diz respeito à segurança das operações, dos
trabalhadores e do meio ambiente.
Acompanhando os esforços para atender a essas demandas, há uma
preocupação cada vez maior com a gestão dos processos produtivos, e com as
pessoas. Essas consideradas asforças vivas do processo de trabalho da construção
civil, que, muito embora não se sobreponha às preocupações com os processos
produtivos, ou seja, com as tecnologias de construção, ganha espaço destacado nas
relações de produção ligadas à construção civil.
Segundo Tomasi; Góis, Gontijo (2007), os esforços que procuram melhorar os
índices de produtividade, a qualidade, a redução de custos e desperdícios, o
cumprimento de prazos na execução de obras, entre outros, não se mostrarão
eficazes se a mão-de-obra do setor não estiver adequadamente qualificada. Em
outras palavras, pergunta-se: como introduzir novos modos de organização do
trabalho e da mão-de-obra sem um importante investimento na formação dos
trabalhadores, elementos fundamentais desse processo?
Sabe-se que o desenvolvimento tecnológico transformou a maior parte das
profissões nos últimos vinte anos; mas o elemento ser humano continua sendo a
chave para o sucesso ou o insucesso de qualquer investimento. Embasado nestas
informações, pergunta-se: Qual é o perfil do trabalhador da indústria da construção
civil de Santa Maria–RS. O conhecimento do perfil do trabalhador poderá
fundamentar e fomentar ações e estratégias de mudança na relação empregado
/empregador e vice versa.
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
Caracterizar o perfil dos trabalhadores da construção civil, em busca da
melhora na gestão empresarial.
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1.1.2 Objetivos específicos
� Conhecer dados sócio-demográficos e econômicos dos trabalhadores da
construção civil.
� Conhecer o nível de formalidade ou informalidade do trabalhador da
construção civil (carteira assinada ou não).
� Identificar o grau de satisfação do trabalhador da construção civil
� Identificar o grau (área de conhecimento e ou trabalho) de interesse do
trabalhador da construção civil
� Descrever a percepção dos gestores da construção civil, as principais
dificuldades vivenciadas no seu dia a dia.
� Conhecer formas de reconhecimento aos trabalhadores adotadas pela
empresa.
1.2 Justificativa
Pela importância que o ser humano desempenha na construção civil, pois
apesar de máquinas e novas tecnologias surgirem a cada dia, o lugar do homem na
força bruta do trabalho da construção civil é insubstituível e inquestionável, nesse
sentido julga-se de extrema relevância conhecer o perfil desses trabalhadores. De
forma que esse conhecimento possibilite estratégias e ações que possam interferir
positivamente na realidade do trabalhador da construção civil.
Nesse contexto, conhecer suas necessidades, desejos e anseios, possibilita
que seja revelado o cotidiano de quem no canteiro de obras da forma e vida para os
projetos e construções idealizados dentro de um escritório. Acredita-se que a
metodologia adotada para esse estudo possibilite conhecer os aspectos de seu
contexto social, demográfico, econômico e outros relativos a qualidade de vida do
trabalhador da construção civil para os casos estudados.
1.3 Estrutura do trabalho
Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, assim distribuídos: No
primeiro capítuloconsta a introdução com o tema da pesquisa, formulação da
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questão do estudo, objetivo e justificativa. No segundo capítuloapresenta-se a
revisão de literatura para embasamento teórico do estudo. No terceiro
capítulodescreve-se como a pesquisa foi desenvolvida, apresentando-se a
metodologia utilizada. No quarto capítulo são apresentados os resultados obtidos
através da coleta de dadoscom os trabalhadores da construção civil. E, no quinto
capítulo é apresentada a conclusão e sugestão para futuros trabalhos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Histórico da construção civil
Bazzo (2006) destaca que é um tanto difícil determinar o início das atividades de
construção civil no Brasil. Segundo ele, pode-se dizer que o marco inicial se deu
com a construção das primeiras casas, pelos colonizadores. Ainda, Telles (apud
BAZZO, 2006), destaca que a referência mais antiga do ensino da engenharia no
Brasil parece ter sido a contratação do holandês Miguel Timermans, entre 1648 e
1650, para aqui ensinar sua arte e ciência.
Para que a construção civil conquistasse o prestígio e alcançasse o
desenvolvimento que tem atualmente, foi necessário que percorresse um longo
trajeto de seis mil anos, desde que o homem deixou as cavernas e começou a
pensar numa moradia mais segura e confortável para a sua família. Já os templos e
palácios da antigüidade, começaram a fazer parte da paisagem cerca de dois mil
anos depois do aparecimento das primeiras habitações familiares (SANTOS, 2010).
Santos (2010) descreve que os portugueses eram hábeis com a madeira, e
tinham boas habilidades com a pedra. Na segunda década do século XVI, antes da
construção de pedra, a de madeira era levantada com fechamento de frestas com
barro e sambaquis (conchas diversas, arenitos, e detritos dos índios acumulados
durante séculos formando pequenos montes). Os sambaquis também foram
amplamente usados em calçamento e vias para as carroças transportarem
mantimentos e os frutos do extrativismo de paredes de pedras era feito da mesma
forma. Os arcos sobre as janelas só viriam com o estabelecimento das olarias (locais
com formas e fornos para assar tijolos de argilas). Isso, ainda no século XVI, pois
logo cedo o Brasil começou a ser fornecedor de matéria prima para a Europa,
principalmente de Pau Brasil e os trabalhadores portugueses precisavam de
infraestrutura para trabalhar no extrativismo aqui. Toda esta movimentação ocorreu
no litoral, próximo a locais que não ofereciam risco de encalhamento para os navios.
Os sambaquis não são mais utilizados nas junções, ficando sinais de suas
utilizações em algumas igrejas construídas no século XVIII.
Ainda, segundo Santos (2010), todas as estruturas mais complexas eram
baseadas no arco romano, junção de pedras com determinado ângulo até formar
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arcos. Toras como vigas e pilares também eram muito usados, mas em situações de
construções mais simples. Telhados eram de palhas, amarradas sobre tesouras de
madeira.
As primeiras obras civis no Brasil começaram na transição do século XIX para
o XX. Dos 510 anos do Brasil, quase 400 anos de construções foram realizadas
pelos proprietários, e os últimos 100 anos foram de transformações. As técnicas
utilizadas foram: taipa (barro) de mão e taipa-de-pilão (socada), sendo a mão de
obra escrava e do próprio morador (SANTOS, 2010).
Na década de 40, a construção civil teve seu auge no governo do então
presidente do Brasil Getúlio Vargas Dorneles, e este setor foi considerado uns dos
mais avançados da época. O Brasil era detentor importante da tecnologia do
concreto armado (SANTOS, 2010).
Santos (2010) destaca que a partir da década de 50 definiu-se a forma de
trabalhar por hierarquia. Na década de 70 durante o regime militar predominou
grande financiamento no setor visando diminuir o déficit de moradia e as
construtoras passaram somente a construir prédios relata o mesmo autor. As
cidades passaram a crescer vertiginosamente, numa velocidade nunca antes
registrada. Vieram os altos edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de
saneamento básico, as estradas pavimentadas e o metrô (SANTOS, 2010). Ainda
segundo o autor, na década 90, as construtoras começaram a dar mais importância
na qualificação profissional, pois a exigência de produtos finais com mais qualidade
começou a difundir-se.
Em 2000 continua ser intensa a preocupação com o produto final porque,
“além da sua importância relacionada aos aspectos econômicos e sociais, a
construção civil tem uma interferência muito forte na natureza” (VIEIRA, 2006). E
essa preocupação torna-se de extrema importância.
Um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), realizado em 2007, indicava que a construção civil residencial iria liderar o
ranking dos investimentos no Brasil, nos quatro anos seguintes, com praticamente
metade do total a ser investido no país (HELENO, 2010).
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2.2 Incentivos a indústria da construção civil
Segundo Cardoso (2013), em 2007 foi criado o chamado Plano de Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), no segundo mandato do presidente Lula
(2007-2010). O PAC promoveu a retomada do planejamento e execução de grandes
obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo
para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Refere ainda que nos seus
primeiros quatro anos, o PAC ajudou a dobrar os investimentos públicos brasileiros
(de 1,62% do PIB em 2006 para 3,27% em 2010) e ajudou o Brasil a gerar um
volume recorde de empregos – 8,2 milhões de postos de trabalho criados no
período. Teve importância fundamental para o país durante a grave crise financeira
mundial entre 2008 e 2009, garantindo emprego e renda aos brasileiros, o que por
sua vez garantiu a continuidade do consumo de bens e serviços, mantendo ativa a
economia e aliviando os efeitos da crise sobre as empresas nacionais.
Em 2011, o PAC entrou na sua segunda fase, com o mesmo pensamento
estratégico, aprimorado pelos anos de experiência da fase anterior, mais recursos e
mais parcerias com estados e municípios, para a execução de obras estruturantes
que possam melhorar a qualidade de vida nas cidades brasileiras. Com o objetivo de
continuar gerando renda e emprego o Governo Federal, dentro do PAC 2, iniciou em
2013 a execução de algumas diretrizes de seu subprograma chamado de Brasil
Maior, que é a ampliação e aperfeiçoamento da desoneração da folha de pagamento
das empresas do setor da construção civil, no que tange a parte patronal do INSS
que hoje representa 20% da base de salários para pagamento a Previdência Social,
instituídos através da Lei n. 12.546/2011, MP 563/2012 e Decreto n. 7.771/2012)
(CARDOSO, 2013).
O plano Brasil Maior, do governo Dilma Rousseff, surge num contexto
conturbado da economia mundial. De um lado os países desenvolvidos mergulhados
numa crise sem precedentes desde a grande depressão de 1929, podendo levar o
mundo para uma crise sistêmica. De outro o vigor econômico dos países
emergentes, liderados pelo crescimento chinês, tem garantido o crescimento
mundial e evitado a crise. O desafio do Plano Brasil Maior é, portanto, colossal: 1)
sustentar o crescimento econômico inclusivo num contexto econômico adverso; 2)
sair da crise internacional em melhor posição do que entrou o que resultaria numa
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mudança estrutural da inserção do país na economia mundial. Para tanto, esse
plano tem como foco a inovação e o adensamento produtivo do parque industrial
brasileiro, objetivando ganhos sustentados da produtividade do trabalho
(CARDOSO, 2013).
2.3 Panorama da construção civil
Para Cardoso (2013) com estes planos sendo implementados, os resultados
expressivos começaram a ser observados a partir de 2004. De 2004 a 2010 a
Construção nacional cresceu 42,41%, o que representa uma taxa média anual de
5,18%. No acumulado dos primeiros nove meses de 2011 o PIB da Construção
apresentou incremento de 3,8% em relação à igual período do ano anterior, de
acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O setor tem sido um dos motores do crescimento do País e vem
demonstrando porque exerce papel de protagonista na atual agenda de
desenvolvimento econômico. Contudo o PIB da Construção Civil em 2010 foi de
cerca de R$165 bilhões, o que correspondeu a 5,3% do PIB total do Brasil. E
destaca que a construção civil é atualmente o setor que mais apresenta situações
divergentes da CLT, com contratações irregulares onde os funcionários são
ludibriados por falsas promessas de empregos e acabam sendo submetidos a
condições injustas de trabalho.
No período 2004-2010, os dados da RAIS apontaram a geração de 1.461
milhão de empregos formais no setor em todo o Brasil, o que representou um
incremento médio anual de cerca de 209 mil postos de trabalho, correspondendo ao
crescimento acumulado de 139,34%. Isso equivale a um aumento anual médio de
13,28% na geração de postos de trabalho, resultado bastante expressivo. Essa
mudança no setor deu-se por diversos fatores econômicos e sociais que se
intensificaram com o crescimento da renda no Brasil e também impactado através de
grandes investimentos para o setor oriundos de políticas públicas, que com a
chegada dos planos do Governo Federal, mais especificamente, o Programa de
Aceleração do Crescimento – Fase 2 (PAC 2) em 2011, que tem como subprograma
o plano (Brasil Maior), que gerou uma maior facilidade de crédito para aquisição de
imóveis tanto comerciais quanto residenciais. Segundo o SEBRAE a Copa do
Mundo de 2014 foi o principal impulsionador que trouxe também desafios
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gigantescos para diversos setores, entre eles o principal é o ramo da construção civil
(CARDOSO, 2013).
Estudos apontavam que o setor, tanto no cenário local, quanto o nacional
mostravam um crescente crescimento, em que o Brasil realmente viveu o boom da
construção civil. Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos - DIEESE, os investimentos públicos e privados, além de
programas como o PAC e o MCMV (Minha Casa, Minha Vida), estimularam o
crescimento do segmento em 2010 e foram os fatores que ajudaram a compor um
cenário positivo para o setor a partir de 2011, apesar de uma redução no ritmo de
consumo. Além disso, a Copa do Mundo de 2014 foi considerada como um dos
pilares do crescimento. No ano de 2014, o aumento nos investimentos no setor
resultou também em uma alta no aporte de financiamentos imobiliários, com
recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que alcançou os R$
83,9 bilhões. Os valores contratados nos financiamentos com recursos do FGTS
cresceram 73%. E a quantidade de unidades adquiridas ficou 57% maior que a de
2009. Já os financiamentos por meio da Poupança - SBPE (Sistema Brasileiro de
Poupança e Empréstimo) aumentaram 65%, e o número de unidades contratadas
cresceu 39%. Os números também apontavam para um crescimento sustentável do
segmento de materiais de construção. Entre 2005 e 2009, a construção civil cresceu
cerca de 10% ao ano, depois de um período de estagnação de 20 anos.
Em 2015, o setor da construção civil, vive o encerramento de um ciclo de
crescimento, porém para Castelo (2015), a despeito da desaceleração recente do
crescimento setorial, a questão do mercado de trabalho ainda configura uma
preocupação importante para o setor. Isso porque as necessidades habitacionais
elevadas e um grande déficit de infraestrutura indicam que a retomada do
crescimento deverá novamente passar pelo setor da construção.
2.4 Perfil do operário da construção civil
A indústria da construção (ICC) caracteriza-se pelo seu caráter provisório e
nômade, dificultando a garantia de conforto dos operários que a executam, além de
apresentar altos índices de acidentes do trabalho. Destaca, ainda que na indústria
da construção civil há uma grande variabilidade do produto final, e a mecanização é
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pequena. Em consequência a isso há uma intensa utilização de mão de
obra(MESEGUER, 1991).
O mercado de trabalho no Brasil vem passando por diversas transformações
oriundas de políticas públicas aplicadas aos setores da indústria, que por sua vez é
um setor que contribui tanto para o papel econômico quanto para o papel social do
País. É através desse setor que o Brasil está se transformando e se renovando,
criando cada vez mais empregos e levando o desenvolvimento a lugares jamais
imaginados.
Cardoso (2013) destaca que segundo o SINDUSCON – PR, a construção civil
é uma atividade econômica com algumas características bastante peculiares que
fazem com que ela seja diferente de todos os outros setores da indústria nacional. A
descontinuidade e o fluxo de produção por projeto e por etapa, além da
transitoriedade, são características inerentes ao processo produtivo da indústria da
construção. Porém destaca que historicamente, esses diferenciais não têm sido
levados em conta, em especial na área trabalhista.
Em princípio a área de recursos humanos no setor é caracterizada por
insuficiência de programas de treinamento nas empresas, pouco investimento em
formação profissional, baixa qualificação profissional dos trabalhadores, elevada
rotatividade da mão de obra e poucos programas de formação em nível de
execução. Aliado a isso, o processo produtivo apresenta muitos riscos e condições
de trabalho insatisfatórias.
Coffey (2000 apud CORDEIRO; MACHADO, 2002), destaca que o
comprometimento e o envolvimento dos trabalhadores são aspectos essenciais no
gerenciamento dos recursos humanos. Enquanto que para Saboy (1998 apud
CORDEIRO; MACHADO, 2002), é importante a valorização da mão-de-obra, uma
vez que é essa que tem a possibilidade de fornecer qualidade ao produto. Deve-se
destacar que, as construtoras que valorizam seus operários, além de estarem
assegurando lugar no mercado, provavelmente irão crescer e se manter no
mercado.
Foi realizada pesquisa via online de estudos que também buscaram conhecer
o perfil dos trabalhadores da construção civil. A seguir apresenta-se um esumo
sobre os principais trabalhos encontrados, os quais deram suporte teórico para a
análise e discussão dos resultados deste estudo:
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Barbosa e Lima (2007) realizaram um estudo na cidade de Belém,
envolvendo 145 trabalhadores, de 10 empresas construtoras, o qual permitiu um
amplo conhecimento da situação dos trabalhadores quanto a sua vida social e no
ambiente de trabalho, bem como no aspecto motivacional como um aliado na
melhoria de sua produtividade. Identificando que problemas de falta de adaptação e
estresse devido ao isolamento, a falta de estímulos, as relações de poder e
dependência acarretam consequências no bem-estar dos trabalhadores. E, apontam
que na construção civil é baixo o grau de instrução formal, sendo que cerca de
33,12% dos trabalhadores possuem apenas o 1º grau incompleto e predomina a
função de pedreiro com 12,42% em relação à de pintor com apenas 0,69% do total
pesquisado.
O mesmo estudo investigou também o tempo que o operário está na área da
construção civil e identificaram maior número em trabalhadores com mais de 15
anos na profissão, e cerca de 10,34% dos trabalhadores estão há menos de um ano
no setor da construção, entretanto, 31,72% estão há mais de 15 anos. Os
trabalhadores na função de pedreiro possuem maior tempo de trabalho com 24,15%
e dentre estes, 11,04% com mais de 15 anos, seguido dos mestres de obra com
6,21% e 4,83% destes também com mais de 15 anos. Referem que a jornada de
trabalho na construção civil é intensa, geralmente de 44 horas semanais, verificada
especialmente na função de pedreiro com 22,77% e servente, 19,32%. Esse
resultado justifica-se por ser as duas funções mais presentes durante toda a
execução de uma obra.
Outro estudo realizado por Garcia e Dias (2011), dentre outras conclusões
identificou que qualificar a mão de obra que ingressa no trabalho, significa grande
mudança. E que o grau de escolaridade aumentou, a informalidade deu lugar ao
emprego com carteira assinada, enquanto que diminuiu a jornada média de trabalho
e a mão de obra envelheceu em média quatro anos.
Já estudo realizado por Cantisani e Castelo (2015) identificou que o
trabalhador do setor melhorou sua posição relativa aos demais trabalhadores
brasileiros com relação a faixa etária identificaram idade média é de 38,3 anos de
idade e destacam que há importantes diferenças quando se consideram as posições
ocupadas pelos trabalhadores. Trabalhadores sem carteira assinada são bem mais
jovens (33 anos) do que trabalhadores com carteira assinada (37 anos) e os
trabalhadores “por conta própria” (42 anos). Referindo em relação ao grau de
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instrução citam que embora mais velhos,os trabalhadores da construção civil não
possuem mais anos de estudo. A média dos anos de estudo aumentou menos do
que a média de idade. Apenas para os trabalhadores da construção com carteira
assinada, cuja idade média se manteve em 37 anos, observou-se que a média de
anos de estudo subiu um ano. Ressaltam que a média de anos de estudo ainda é
muito baixa – quase 2 anos inferior à média nacional dos trabalhadores. Na
comparação com os trabalhadores do comércio e da indústria, os trabalhadores da
construção – mesmo aqueles com carteira assinada – também possuem um grau de
instrução menor.
Referindo-se ao rendimento médio do trabalhador da construção civil
Cantisani e Castelo (2015), apontam que o trabalhador médio brasileiro conseguiu
reduzir em 0,8 a média de horas trabalhadas por semana e aumentar seus
rendimentos reais em 54% entre 2004 e 2013. O trabalhador da construção
conseguiu um resultado melhor: reduziu em 2,2 a média de horas trabalhadas por
semana e aumentou em 62% seus rendimentos. Dessa forma, o rendimento do
ocupado por hora trabalhada teve incremento real de 71% no período. Os custos da
construção refletiram a alta da mão de obra. Acrescentam que a formalização da
profissão obteve um aumento de 151% no número de trabalhadores com carteira
elevando em 13 pontos percentuais a participação desses trabalhadores no total de
trabalhadores da construção.
No entanto, os trabalhadores “por conta própria” continuam representando o
maior grupo na distribuição por posição, com 3,6 milhões dos 8,5 milhões de
trabalhadores da construção. O número de trabalhadores com carteira assinada
alcançou 3,2 milhões em 2013. A qualidade dos indicadores para os trabalhadores
com carteira assinada é superior em diversos aspectos. O rendimento/ hora do
trabalhador formalizado é 15% superior à média dos trabalhadores da construção e
60% superior a dos sem carteira. Os trabalhadores com carteira são também os que
mais trabalham, em média 43 horas por semana, obtendo por isso maior rendimento
mensal total do que os “por conta própria” e os “sem carteira”. (CANTISANI E
CASTELO, 2015).
O nível de instrução dos trabalhadores com carteira é também
expressivamente superior aos demais: 34% possuem ensino médio completo, em
comparação a uma média de 24% para os trabalhadores do setor como um
todo.Destacam que alguns padrões se mantêm: mesmo com os avanços na área da
22
construção civil, como a média de anos de estudo entre os trabalhadores da
construção ainda é 23% menor que a média dos trabalhadores brasileiros e os
trabalhadores da construção possuem rendimentos médios 9% inferiores.
Recebendo um rendimento mensal de R$ 1.356,10. E ressalta que o grau de
instrução explica somente parcialmente as diferenças na remuneração por hora
trabalhada (uma medida indireta da produtividade do trabalho) e renda. (CANTISANI
E CASTELO, 2015).
Cantisani e Castelo (2015) referem que é preciso notar que, em termos de
anos de estudo, praticamente não há diferença entre os trabalhadores “por conta
própria” e os empregados sem carteira – os “por conta própria” possuem até mesmo
menos anos, em média. No entanto, a remuneração/hora trabalhada e a renda
mensal dos trabalhadores autônomos superam em muito a dos empregados sem
carteira. Isso está provavelmente associado à maior experiência desses
trabalhadores, que são em média 10 anos mais velhos do que os empregados sem
carteira.
Enquanto que no estudo de Cordeiro e Machado (2002), participaram 100
trabalhadores, envolvendo três empresas, identificaram que são muitos os
problemas que envolvem o operário da construção civil: como: baixa escolaridade,
condições adversas de trabalho com alta rotatividade, insegurança no trabalho e
pouca possibilidade de promoção. Com relação ao tempo de trabalho do funcionário
na mesma empresa, Cordeiro e Machado (2002) identificaram que o percentual de
operários com menos de três meses na empresa é superior aos que estão há mais
de 10 anos. E refere que aproximadamente 82% dos entrevistados trabalham há, no
máximo, três anos na empresa. E atribui que a rotatividade pode não estar
relacionada, diretamente, com a vontade do trabalhador, mas, as atividades
desenvolvidas pela empresa. Apenas uma pequena parte dos trabalhadores
entrevistados, 2,94, permanece nas empresas desde que foram fundadas.
Cordeiro e Machado (2002) destacaram já em 2002, que se não houvesse
preocupação com os trabalhadores, para treiná-los, capacita-los, criar uma
fidelidade com a empresa, e se não se tem consciência de que a qualidade do
produto depende desses trabalhadores, não haverá comprometimento com a
qualidade. Com isso, pode-se afirmar que a empresa que valorizar seus
trabalhadores, além de estar assegurando lugar no mercado, provavelmente irá
crescer em consequência dessa valorização.
23
O estudo de Tomasi, Góis e Gontijo (2007) analisa o Programa de
Capacitação em Gestão de Obras (PROGEST), criado por alunos do Curso de
Engenharia de Produção Civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais, que prioriza a análise do Perfil sócio-profissional dos participantes do
programa. Os resultados evidenciaram que os trabalhadores procuram se
especializar, e que o medo do desemprego e a falta de oportunidade faz com que
esses trabalhadores busquem alternativas. E, que apesar de histórias de vida
diferentes, apresentam trajetórias semelhantes, especialmente no que diz respeito à
experiência escolar e a vivenciada no mundo do trabalho. Mas diferenciam-se,
sobretudo em relação aos seus desejos e necessidades.
O DIEESE (2012) - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (2012) que examinou dados relativos ao perfil dos trabalhadores
na construção civil, no Brasil e no Estado da Bahia divulgados pelo IBGE nos
Censos Demográficos de 2000 e de 2010 , publicou dentre vários itens, o nível de
instrução, trabalho com carteira assinada ou não, faixa etária dos trabalhadores,
horas semanais trabalhadas, rendimentos na construção civil, tempo médio de
permanência de trabalho na construção civil mereceram destaque no estudo. E com
relação a faixa etária observaram a mesma tendência observada para o total dos
setores de atividade econômica: queda da representatividade de jovens de 16 a 24
anos - que entre os ocupados passou de 24,0% para 16,2% entre 2000 e 2011 – e
aumento da parcela de 50 anos e mais, os dados revelam certo envelhecimento da
mão de obra na construção civil brasileira que aumenta de 12,5% para 18,6% dos
trabalhadores do setor e destacam que mais de 1 milhão de ocupados com mais de
40 anos ingressaram nesse setor, representando quase dois terços dos novos
postos de trabalho criados no período.
Dessa forma, esse segmento etário, que, em 2000, representava 36,0% da
força de trabalho na Construção no país, passasse a responder, em 2010, por
43,2%. Ainda se deve destacar que esse fenômeno ocorreu tanto entre os
assalariados com carteira de trabalho assinada quanto entre os “autônomos” e os
“sem carteira assinada”.
Segundo o DIEESE (2012) com relação ao grau de instrução dados revelaram
movimento de aumento da participação de níveis mais elevados de escolaridade e
redução dos menos escolarizados, mostram que a maior parcela dos ocupados do
setor tem ensino fundamental incompleto, segmento que correspondia a 60,9% em
24
2000 e passou a 46,1% em 2011. Para o DIEESE, uma das características mais
marcantes do setor da construção civil é seu elevado grau de rotatividade da mão de
obra, enquanto os ocupados da Região Metropolitana de Salvador passaram, em
média, 69 meses na mesma ocupação, os da construção civil passaram 36 meses.
Não se pode negar, no entanto, que esse indicador vem melhorando ao longo dos
anos, uma vez que em 2000 os ocupados nesse setor tinham em média 29 meses
de emprego, o que correspondia a 44% do tempo médio de emprego do conjunto de
ocupados (66 meses). Atualmente, esse percentual equivale a 52%, ainda muito
distante do patamar verificado para o conjunto dos trabalhadores da região, mas
maior do que o registrado em 2000.
Outra informação que destacam é a diminuição na construção civil, da
proporção de ocupados com até 6 meses no emprego, que passou de 58,5%, em
2000, para 44,7%, em 2011. Entre os assalariados com carteira assinada, esse
percentual reduziu-se de 45,8% para 35,1% e entre os autônomos, de 72,8% para
57,5%. Apesar do declínio, essa proporção permanece bem mais elevada do que a
observada para o conjunto dos ocupados da Região Metropolitana de 20,9%, em
2011.
Segundo ainda ao estudo divulgado pelo DIEESE (2012), houve diminuição
da jornada média de um trabalhador na construção civil: no Brasil, passou de 45,8
para 42,0 horas semanais, em média, a maior parcela dos trabalhadores na
construção civil do Brasil (39,4%), realizou, em 2010, jornada de trabalho entre 40 e
44 horas. Importante notar a redução do contingente de trabalhadores com jornadas
de 49 horas ou mais, entre 2000 e 2010. Essa redução, associada ao aumento do
número de ocupados com jornadas parciais, resultou em diminuição da jornada
média de um trabalhador na construção civil: no Brasil, passou de 45,8 para 42,0
horas semanais, em média. O estudo de Neri (2011) também buscou conhecer o
perfil dos trabalhadores da construção civil e destaca que a construção civil é um
setor que ocupada predominantemente chefes de família, que esses trabalhadores
tiveram um movimento de ascensão salarial, que há um movimento de formalização
na construção civil, que a média relativa ao nível de escolaridade é de 6,3 anos e
que houve redução da participação de jovens na construção civil.
Estudo realizado por Santos (2010) envolvendo três cidades do Rio Grande
do Sul (Ijuí, Tenente Portela e Três passos), teve como objetivo avaliar a
25
transformação que um curso de aperfeiçoamento traria para a empresa e,
principalmente, ao operário.
Ao finalizar identificou que muitos são os problemas que envolvem os
trabalhadores da construção civil, como baixa escolaridade, condições adversas de
trabalho com alta rotatividade, insegurança no trabalho e pouca possibilidade de
promoção. Verificando que a faixa etária dos operários das cidades pesquisadas
está entre 30 a 39 anos na cidade de Ijuí, com percentual de 36,51 %, em Três
Passos a faixa etária ficou entre 20 a 29 e 30 a 39 anos, com um percentual de 35 %
e em Tenente Portela a idade dos operários também ficou entre 30 a 39 anos, tendo
um percentual médio para a faixa etária de 38,71 %. Enquanto que o percentual de
operários até 19 anos e acima de 60 anos, foi registrada somente na cidade de Ijuí.
Quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados Santos (2010), identificou
que 25,81% na cidade de Tenente Portela, 25,00% na cidade de Três Passos e de
28,57% na cidade de Ijuí, estudaram até a quarta série. E refere que esta
identificação é determinante na definição das abordagens para a qualificação
profissional, através de treinamento ou de programas educacionais.
Santos (2010) investigou também o tempo que o operário leva para ir de casa
para o trabalho e identificou que o tempo médio gasto pela maioria é de até 15
minutos. Em Três Passos, destacou-se o tempo entre 16 a 20 minutos (35,00%). Em
Tenente Portela, e Três Passos, o percurso que os operários levam de ir de casa ao
trabalho não ultrapassou os 30 minutos, já em Ijuí 3,17% dos entrevistados levam
mais de 40 minutos para chegar ao local de serviço. Destaca-se que este índice
deve-se provavelmente ao tamanho da cidade e número de habitantes.
Com relação ao tempo que o profissional está na área da construção civil
Santos (2010) identificou que grande percentual dos trabalhadores estão na área de
dez a vinte anos, nas três cidades investigadas, apresenta que na cidade de
Tenente Portela o percentual ficou em 25,81%, em Três Passos, na média de
45,00% e em Ijuí 36,51% para o período de dez a vinte anos, considera esse um
tempo razoável, considerando que, a indústria da construção civil, é uma indústria
de caráter nômade e provisória.Ainda com relação ao tempo de trabalho na
construção civil, refere que muitos estão satisfeitos na função que estão
desempenhando, não tendo desejo de aperfeiçoamento profissional ou mudança de
área, outros a falta de oportunidades em outras áreas, enquanto outros gostariam de
possuir uma profissão mais valorizada.
26
Apesar de permanecerem na mesma área profissionalSantos (2010) refere
que a rotatividade do trabalhador entre empresas é grande. Identificando que o
percentual de operários que está com menos de um ano na empresa chegou
próximo aos 48,00%. E entre 1ª 2 e 2 a 3 anos, com 30,00% para cada período. No
período de mais de três anos o percentual ficou em torno dos 25,00%, estes fatos
são relativos à sequência de obras realizadas pelas empresas contratantes e, da
não liberação desses operários. Para o autor a construção civil não oferece
perspectiva de qualquer garantia de estabilidade, de salário e de condições de
trabalho que permitam uma integração completa e durável numa empresa, pelo fato
de que a indústria da construção civil é de caráter provisório e nômade como já
citado anteriormente.
Para Heleno (2010), um ponto de estrangulamento identificado na construção
civil refere-se à falta de mão de obra qualificada, principalmente para permitir a
incorporação de avanços tecnológicos na modernização da construção civil
brasileira.
Santos (2010) refere que sempre se discutiu a necessidade de treinamento da
mão de obra na construção civil, apesar de que muitas empresas deste ramo
privilegiam a produção do que horas de treinamento. Tais atitudes levam ao
retrabalho, vez que as atividades não são desenvolvidas de forma correta, tendo que
ser refeitas ou corrigidas. Buscou também conhecer o nível de formação profissional
dos operários da indústria da construção civil nas cidades de Ijuí, Tenente Portela e
Três Passos identificando que o percentual mais evidente foi de 47,62% dos
operários entrevistados na cidade de Ijuí, não tem nenhuma formação profissional.
Em Tenente Portela, 48,39 % e em Três Passos, 35,00 %, não tem nenhuma
formação profissional. Ainda, Santos (2010) fez uma relação entre a idade dos
operários e os cursos profissionalizantes, informando que os mais jovens tem mais
vontade de aprender, e consequentemente, mais facilidade de adquirir
conhecimentos novos.
3 METODOLOGIA
3.1 Classificação da pesquisa
Trata-se de uma pesquisacom abordagem descritiva e qualitativa, com o
objetivo de traçar o perfil dos trabalhadores da construção civil. Partiu-se de uma
coleta de dados através da aplicação de um questionário aos trabalhadores da
construção civil.
3.2 Planejamento da pesquisa
Foi realizada uma investigação teórica em documentos como periódicos,
revistas, monografias, dissertações, teses e sites na busca de informação teórica
necessária para o estudo.
A pesquisa foi desenvolvida no segundo semestre de 2015, envolveu 50
trabalhadores da construção civil de quatro empresas da cidade de Santa Maria –
RS, duas empresas de pequeno porte, uma de médio e uma de grande porte. A
coleta de dados foi realizada nos canteiros de obras das referidas empresas. O
instrumento utilizado foi um questionário elaborado especificamente para esse fim,
apresentado no anexo A.As perguntas foram respondidas pelos trabalhadores no
próprio local de trabalho. O questionário écomposto por 22 perguntas fechadas e 1
pergunta aberta. Abordando questões gerais como idade, grau de instrução, estado
civil, tempo para chegar até o trabalho, tempo de trabalho na construção civil,
participação em cursos, grau de satisfação com seu trabalho, dentre outras
pertinentes ao estudo.
Para realização da coleta de dados, inicialmente foi solicitada uma permissão
formal á administração da construtora para acesso aos funcionários. Após a
permissão foram realizadas visitas aos canteiros de obras em busca dos sujeitos do
estudo para a aplicação do questionário. Aos que aceitaram participar da pesquisa
foram explicados os objetivos e ametodologia do estudo. As respostas dos
trabalhadores foram individualmente registradas, através dos questionários em que
cada participante respondeu individualmente o que lhe foi conveniente. O
pesquisador acompanhou a aplicação de cada questionário sem interferir em
qualquer resposta.
28
Os critérios obedecidos para a inclusão dos sujeitos é que aceitassem
livremente participar da pesquisa, ser trabalhador da construção civil, independente
de sexo, idade ou função exercida na obra. Portanto, tratou-se de uma amostra não
probabilística e sim intencional.
Após a conclusão da coleta de dados, os mesmos foram analisados e
representados estatisticamente em forma de percentagem para cada item solicitado,
e a seguir foram construídas tabelas que possibilitaram a discussão com base no
referencial teórico.
Com relação aos cuidados éticos com a pesquisa envolvendo seres humanos,
foi respeitado e garantido o sigilo na identificação dos sujeitos envolvidos no estudo.
Também foi assegurada sua dignidade e respeito e sua autonomia e liberdade em
participar ou não da pesquisa e a possibilidade de retirada do estudo a qualquer
momento. Dessa forma o sujeito poderia deixar de participar do estudo, sem
qualquer prejuízo. Ainda foi informado sobre sua garantia de acesso, em qualquer
etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Foi
assegurado que suas informações seriam analisadas em conjunto com outros
indivíduos, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes.
Também foiexplcadaa inexistência de despesas ou compensações pessoais para o
(a) participante.
Os resultados da pesquisa ficarão à disposição da comunidade em geral,
através de uma cópia impressa disponível na biblioteca da Universidade Federal de
Santa Maria- UFSM, para que possam ser úteis a outras pesquisas, estudos, cursos,
congressos e afins. Foi fornecida cópia online da pesquisa para as empresas
participantes do estudo.
4ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E SUGESTÕES
Os resultados da pesquisa são apresentados através de tabelas,
estabelecendo a porcentagem de cada variável questionada. Foram realizados
comentários acerca de cada resultado encontrado a partir das respostas dadas
pelos participantes, buscando delinear o perfil do trabalhador da construção civil de
Santa Maria – RS.
4.1 Análise e discussão dos resultados
Inicialmente apresenta-se uma descrição da função que cada trabalhador
exerce no local onde estava trabalhando no momento da coleta dos dados. Dos 50
participantes do estudo dois exerciam a função de encarregado e dois de mestre de
obras, as demais funções eram de serventes, pedreiros, operador de guincho,
carpinteiro, ferreiro, instalador de gás e elétrico.
Tabela 01- Caracterização dos trabalhadores participantes do estudo
Profissão/Função Nº Servente 15 Pedreiros 11 Operador de guincho 7 Carpinteiro 7 Ferreiro 3 Instalador de gás 2 Mestre de obra 2 Encarregado 2 Instalador elétrico 1 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
4.1.1Faixa etária
A idade média dos trabalhadores brasileiros aumentou na última década,
seguindo a tendência de envelhecimento da população. Na construção civil, o
processo foi similar, como pode-se identificar na tabela 02, em que 28% dos
participantes do estudo estão na faixa etária de 50 – 60 anos. Com uma diferença
pequena de 30% para a faixa etária dos 18 aos 30 anos. E na faixa etária de 30 a 40
30
anos e 40 a 50 corresponderam a 18% e 16% respectivamente. Destacando
também que 8% tinham mais de 60 anos.
Tabela 02- Faixa etária
Faixa etária % 15-18 0 18-30 30 30-40 18 40-50 16 50-60 28 + 60 8 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Dados do estudo de Cantisiani e Castelo (2015) corroboram os resultados
encontrados na pesquisa, onde verificaram que o trabalhador da construção civil
está em média mais velho, referindo que em média, o trabalhador da construção
possui 38,5 anos de idade o que é um pouco mais velho do que o trabalhador
brasileiro, com 38,3 anos.
Segundo oDIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (2012) que examinou dados relativos ao perfil dos trabalhadores
na construção civil, no Brasil e no Estado da Bahia divulgados pelo IBGE nos
Censos Demográficos de 2000 e de 2010 observaram a mesma tendência
observada no presente estudo, revelando certo grau de envelhecimento da mão de
obra na construção civil brasileira, referindo que a faixa etária dos 40 anos foi o
segmento que mais cresceu, que, em 2000, representava 36,0% da força de
trabalho na Construção no país, passasse a responder, em 2010, por 43,2%.
Garcia e Dias (2011) também encontraram dados semelhantes,
corroborandocom os resultados encontrados na pesquisa, identificando um
envelhecimento dos trabalhadores, destacando que em 2001, a idade média dos
trabalhadores era de pouco mais de 37 anos, e que em 2011 chega a 41 anos; 41%
da mão de obra tem mais de 45 anos – esse percentual era de apenas 31% em
2001.
Estudo feito em Belém, por Barbosa e Lima (2007) citam que a evolução
demográfica tem o envelhecimento da população como uma preocupação,
especialmente quanto ao funcional, ou seja, a perda de capacidade para o trabalho
da classe trabalhadora e também identificaram certo envelhecimento dos
31
trabalhadores com um percentual de 16,56% acima de 46 anos, idades em que o
corpo começa a não responder satisfatoriamente às solicitações.
Enquanto que Santos (2010), identificou que nas cidades de Ijuí, Três Passos
e Tenente Portela que a faixa etária dos operários é mais jovem ficando em torno
dos 30 aos 39 anos com maior percentual e apenas na cidade de Ijuí encontrou
trabalhadores com mais de sessenta anos.
Verificou-se que maior número de pessoas mais velhas em Santa Maria-RS
estão inseridas no mercado de trabalho da construção civil, se comparado a Ijuí,
Tenente Portela e Três Passos. Entretanto, há que se registrar que a faixa etária
majoritária em Santa Maria no setor continua sendo a de 30 a 50 anos, que
congrega 34% dos trabalhadores da categoria, percentual bastante próximo ao
observado na faixa etária dos 18 aos 30 anos com 30% dos entrevistados.
4.1.2 Grau de instrução
O setor da construção civil costuma ser considerado como grande
empregador de mão de obra pouco qualificada, o que em termos comparativos a
outros segmentos ainda representa a realidade. Deve-se considerar, contudo, que o
setor incorpora cada vez mais tecnologia. Os processos exigem trabalhadores com
capacidade de absorver informação técnica, e a busca por qualificação passou a ser
imperativo de competitividade (CANTISIANI; CASTELO, 2015).
Segundo os mesmos autores o nível de escolaridade apresenta variações
que, embora tímidas, indicam avanços. No entanto alguns padrões se mantêm:
apesar dos avanços, a média de anos de estudo entre os trabalhadores da
construção ainda é 23% menor que a média dos trabalhadores brasileiros e os
trabalhadores da construção percebem rendimentos médios 9% inferiores aos
demais. O grau instrucional dos trabalhadores de Santa Maria está representado na
tabela 03, em queé possível observar que para a grande maioria é baixo.
32
Tabela 03 - Grau de instrução
Grau de instrução % Analfabeto 0 Primeiro grau incompleto 34 Primeiro grau completo 42 Segundo grau incompleto 20 Segundo grau completo 4 Terceiro grau 0 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Analisando a tabela 03, referente ao grau instrucional dos trabalhadores
verifica-se que os dados revelam a fotografia do nível educacional dos trabalhadores
da construção civil de Santa Maria-RS mostrando que a grande maioria encerrou
seus estudos no ensino fundamental. Sendo que 76% deles não chegaram ao
segundo grau, 34% completaram apenas até a quarta série do ensino fundamental e
42% fizeram até a oitava. Apenas 20% deles iniciaram o segundo grau, que ficou
incompleto, e somente 4% deles concluíram o segundo grau. Nenhum analfabeto foi
encontrado e nenhum com curso superior. Dados semelhantes foram encontrados
no estudo realizado por Cantisiani e Castelo (2015), onde referem queembora mais
velhos,os trabalhadores da construção civil não possuem mais anos de estudo.
Ressaltam que a média de anos de estudo ainda é muito baixa – quase 2 anos
inferior à média nacional dos trabalhadores.
Segundo o DIEESE (2012) em estudo realizado na Bahia em 2012, também
foi verificado que a maior parcela dos ocupados no setor da construção civil tem
ensino fundamental incompleto.Corroborando os dados do estudo encontrados
nesta pesquisa.Da mesma forma Barbosa e Lima (2007) identificaram dados
semelhantes, apontando que 33,12% dos trabalhadores possuem apenas o primeiro
grau incompleto.Santos (2010), também encontrou dados semelhantes, com uma
média de 25% dos entrevistados com nível instrucional de até a quarta série.
4.1.3 Procedência
Ao serem questionados sobre sua procedência identificou-se que 54% deles
são moradores da zona urbana e que 46% deles migraram da zona rural para a
urbana.
33
Tabela 04 - Procedência
Procedência % Urbana 54 Rural 46 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Esse movimento migratório pode caracterizar a busca por melhores condições
de vida, pressupondo que consideram que na zona rural as chances de trabalho e
renda é menor.
4.1.4Estado civil
Com relação ao estado civil dos trabalhadores da construção civil
identificamos que 58% dos trabalhadores pesquisados são solteiros e 42% casados.
Conforme demonstrado na tabela a seguir:
Tabela 05 – Estado Civil
Estado Civil % Solteiro 58 Casado 42 União estável 0 Outro 0 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Se comparado ao resultado encontrado com os resultados encontrados por
Barbosa e Lima (2007) em Belém, o mesmo é divergente, onde encontraram maior
número de operários casados. Segundo Barbosa e Lima (2007) o fato de ser casado
pode gerar melhor estabilidade emocional e consequentemente melhora do bem
estar e seu desempenho dentro da empresa.
34
4.1.5 Tempo que leva delocomoção de casa ao trabalho
O tempo gasto de translado de casa ao trabalho e do trabalho para casa é um
fator a ser considerado na qualidade de vida do trabalhador. Muitas vezes esta
tarefa pode ser exaustiva, exigindo maior desgaste do funcionário, que nem sempre
dispõe de uma forma de locomoção adequada, como podemos identificar nos dados
da pesquisa, para muitos é um tempo considerado longo:
Tabela 06 – Tempo de deslocamento da casa ao trabalho
Tempo % 5 a 15 min 26 30 min 38 45 min 20 60 min 10 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Analisando a tabela 06, verifica-se que 38% dos entrevistados leva em média
30 minutos para sair de casa e chegar no trabalho, 20% leva até 45 minutos.
Destacando que 10% levauma hora para chegar ao trabalho e apenas 26% leva em
média de 5 a 15 minutos.
Se comparado ao estudo realizado por Santos (2010) verificou-se que os
trabalhadores de Santa Maria consomem mais tempo para chegar ao trabalho, pois
em seu estudo, o tempo gasto pela maioria dos operários é de até 15 minutos.
O tempo gasto no trajeto entre a casa e o trabalho pode influenciar na maior
ou menor disposição para o trabalho e na relação exercida com sua família. Sem
considerar que quanto maior o tempo de exposição ao trânsito maior pode ser o
grau de estresse e riscos de acidentes de trânsito.
4.1.6 Tempo de trabalho na indústria da construção civil
35
A construção civil é uma área considerada por muitos como uma profissão de
caráter nômade e provisório. Com grande rotatividade de uma empresa para outra,
porém identifica-se que mudam de empresa, mas permanecem na área da
construção civil , como podemos observar na tabela 07 que 40% deles estão na
área á mais de 7 anos.
Tabela 07 – Tempo de trabalho na indústria da construção civil
Tempo % 1 a 2 anos 04 2 a 3 anos 12 3 a 5 anos 22 5 a 7 anos 10 + 7 anos 40 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Nessa tabela 07 verifica-se que os trabalhadores com mais de 7 anos de
trabalho na construção civil sobressaíram-se, seguido de 3,1 a 5 anos , com 22%,
e com 2,1 – 3 anos de trabalho 12%. E com 5,1 a 7 anos 10% e apenas 4% com 1 a
dois anos de trabalho. Ressalta-se que estes dados referem-se ao tempo de
trabalho na construção civil, não necessariamente na mesma empresa.
Barbosa e Lima (2007) encontraram dados semelhantes ao do estudo, com
maior número de trabalhadores com mais de 15 anos de profissão e menos de 10%
estão amenos de um ano na área da construção civil.
Da mesma forma a pesquisa de Santos (2010) corrobora os dados
encontrados, onde grande percentual dos trabalhadores estão na área de dez a
vinte anos nas três cidades investigadas.
Pode-se pressupor que os trabalhadores da indústria da construção civil
apesar de ser uma profissão marcada pelo caráter provisório e nômade é uma
profissão que o trabalhador acaba incorporando como “sua”, podendo até mudar de
empresa, mas dificilmente de profissão.
4.1.7 Tempo de serviço na mesma empresa
Ao se investigar o tempo que o entrevistado trabalha na mesma empresa,
verificou-se que os resultados apresentados são bem diferentes dos relativos ao
tempo de trabalho na construção civil, como podemos observar que o percentual de
36
trabalhadores que estão com menos de um ano na mesma empresa representa
54% dos sujeitos da pesquisa.
37
Tabela 08 – Tempo de serviço na mesma empresa
Tempo % 1 a 6 meses 36 6 a 12 meses 18 1 a 2 anos 08 2 a 3 anos 26 3 a 5 anos 08 5 a 7 anos 04 + 7 anos 00 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Ao analisar a tabela 08 que trata sobre o tempo que o entrevistado trabalha
na mesma empresa, verificou-se que os resultados apresentados são bem
diferentes dos relativos ao tempo de trabalho na construção civil, sobressaindo os
trabalhadores com apenas um a seis meses de trabalho, com 36%, seguido por
26%que trabalham de 2,1 a 3 anos . Com 18% que trabalham de 6,1 a 12 meses, e
de 1,1 a 2 anos e de 3,1 a 5 anos com 8% respectivamente. Sendo que na faixa
entre 5,1 a 7 anos obteve-se um percentual de apenas 4% e nenhum trabalhador
com mais de sete anos. Dados semelhantes foram encontrados por Cordeiro e
Machado (2002) em estudo realizado em Feira de Santana, identificando que o
percentual de operários com menos de três meses na empresa é superior aos que
estão há mais de 10 anos.
Da mesma forma, com relação ao tempo que o funcionário permanece na
mesma empresa, Santos (2010), identificou que o percentual de operários que está
com menos de um ano na empresa chegou próximo aos 48,00%.
Muitas vezes pode-se atribuir a alta rotatividade, as etapas da construção,
especialmente quando o trabalhador é contratado para executar tarefas específicas,
que com a finalização do trabalho, são dispensados.
4.1.8 Número de empresas em que já trabalhou
Corroborando os dados anteriores de alta rotatividade foi questionado os
entrevistados em quantas empresas já trabalhou e identificou-se alta rotatividade,
como podemos observar na tabela a seguir.
38
Tabela 09 – Quantas empresas já trabalhou
Numero % 1 16 2 10 3 ou 5 20 + 5 54 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
A tabela 09, apresenta o número de empresas que o trabalhador já trabalhou,
sobressaindo-se os que já passaram por cinco ou mais empresas,com 54% deles.
Seguido de 20% que trabalharam em 3 ou 4 empresas, sendo que 10% trabalharam
em 2 empresas e 16% trabalharam em apenas uma empresa.
Esse resultado vem ao encontro do estudo de Barbosa e Lima(2007), que
verificou que do total de trabalhadores investigados 32% dos operários já
trabalharam em mais de 15 empresas, demonstrando também elevada rotatividade
no setor da construção civil, e caracterizando um vínculo empregatício de curta
duração.
4.1.9 Função desempenhada na construção civil
Ao questionar sobre a função que exerce na obra, identificou-se que 15
desempenham a função de servente, 11 pedreiros, 7 operador de guincho, 7
carpinteiro, 3 ferreiro, 2 instalador de gás, 2 mestre de obra, 2 encarregado e 1
instalador elétrico. Como demonstrado na tabela 10.
Tabela 10 – Função desempenhada na construção civil?
Função % Servente 15 Pedreiros 11 Operador de guincho 07 Carpinteiro 07 Ferreiro 03 Instalador de gás 02 Mestre deobra 02 Encarregado 02 Instalador elétrico 01 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
39
O maior número de serventes, pedreiros e operadores de guincho não
surpreende nos resultados, pois representam as funções com maior numero de
profissionais em qualquer obra. Sendo os demais serviços muitas vezes
terceirizados ou de curta duração.
4.1.10 Capacitação profissional
Ao questionar sobre sua capacitação profissional, foi investigado se haviam
feito cursos para atuarem na área. Em sua maioria informaram que tudo se aprende
na prática, como pode ser verificado nas seguintes falas: “nos cursos você não
aprende nada”,“eu já sei o que preciso”, “geralmente se começa de “pia”, como
servente e vai se virando”, “quando fazem algum curso de dois dias, só falam coisas
que não interessa”, “pra nóis o que vale é a vivência”.
Santos(2010), também investigou o motivo dos trabalhadores não desejarem
fazer cursos profissionalizantes e aponta que muitos funcionários não apresentam
interesse em realizar cursos profissionalizantes e alegam respostas semelhantes
aos encontrados no presente estudo como: “que o que vale mais é a prática”, “a
falta de vontade de continuar trabalhando na construção civil”, ou “por que já sei o
suficiente para a função que desempenho na empresa”, ou “por que eu já fiz”, “Por
que não vou trabalhar tanto tempo de servente”; “Não to afim”; “Por que não gosto
deatuar nesta área”; “Por que pretendo ir embora”; “É o tempo pra família”; “Já não
tenho mais idade”; “A prática vale mais”.
Ao refletir sobre o relato dos trabalhadores pelo não interesse em participar
de curso profissionalizante, nos indicam que devemos olhar com mais sensibilidade
ao setor de construção, especialmente nas funções de servente e pedreiro, as quais
são de extrema importância para a indústria da construção.
A capacitação profissional é uma condição essencial para um desempenho
satisfatório das empresas e também, dos operários.Em relação a essa condição foi
perguntado aos trabalhadores caso fosseoferecidocurso profissionalizante se teriam
interesse em participar? Apesar das respostas anteriormente descritas,
responderam afirmativamente. Dessa forma apontaram o curso que gostariam de
fazer. Ficando assim distribuído: o de instalador elétrico, que se destacou com 24%,
40
seguido por segurança no trabalho com 18%, pedreiro com 16%,
mestre/encarregado 12%, instalador hidráulico e pintor com 4%, carpinteiro e
instalador de gás com 2%. Sendo que 18% deles apontaram que não apresentam
interesse em fazer qualquer tipo de curso, como demonstrado na tabela 11.
Tabela 11 – Curso de interesse dos trabalhadores
Curso % Instalador elétrico 24 Segurança do trabalho 18 Pedreiro 16 Mestre/encarregado 12 Instalador hidráulico 04 Pintor 04 Carpinteiro 02 Instalador de gás 02 Nenhum curso 18 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Destaca-se que os que estão na categoria de servente, a maioria colocou que
desejam fazer curso de pedreiro, isso pode demonstrar que desejam permanecer na
área e crescer dentro da hierarquia da empresa.
Em relação ao desejo de fazer curso profissionalizante, resultado semelhante
aos encontrados nesse estudo, foi indicado por Santos (2010) cuja pesquisa
envolveu 114 trabalhadores da construção civil, que destacaram-se os cursos de
pedreiro, eletricista e carpinteiro como os de maior interesse dos trabalhadores.
A capacitação profissional é uma condição essencial para um desempenho e
competitividadedas empresas da construção no contexto atual. Apesar da crise atual
a construção civil sempre estará em expansão, com modernidade e exigindo novos
perfis de profissionais para atuarem em seus quadros de trabalho. As novas
filosofias da gestão da qualidade baseiam-se no aperfeiçoamento contínuo da
qualidade da produção, com destaque para capacitação, motivação e treinamento
dos recursos humanos.
Resultados semelhantes ao presente estudo, foram encontrados por Santos
(2010) nas cidades de Ijuí, Tenente Portela e Três Passos também foi identificado,
percentual superior a 40% sem alguma formação profissional Estudo realizado por
Barbosa e Lima (2007) também vem ao encontro dos demais estudos que
abordaram o tema, mostrando que em Belém, do total de operários entrevistados,
41
apenas 34,48% realizaram algum tipo de curso profissionalizante, mas a grande
maioria com 65,52%, não possui curso algum, provavelmente em decorrência do
baixo grau de escolaridade, fortemente presente nos trabalhadores da construção
civil.
Destaca-se a necessidade da criação de programas de qualificação
profissional, uma vez que é, a mão de obra que tem a possibilidade fornecer a
qualidade ao produto.
4.1.11 Quantidade de horas de trabalho diário
Ao serem questionados sobre o número de horas trabalhadas, 100% dos
trabalhadores trabalham com carteira assinada e dessa forma cumprem uma
jornada de 8 horas diárias de trabalho, perfazendo um total de 40 horas semanais.
Nenhum dos trabalhadores referiu fazer horas extras e também não desempenham
outra função extra ao trabalho formal que executam na empresa em que estão
contratados.
Segundo dados do DIEESE (2012), houve diminuição da jornada média de
um trabalhador na construção civil: no Brasil, passou de 45,8 para 42,0 horas
semanais, em média, dados próximos aos encontrados no presente estudo.
Enquanto que estudo realizado por Barbosa e Lima (2007) identificou que a
construção civil exige uma jornada de trabalho intensa e extensa, geralmente de 44
horas semanais e, 83,49% dos trabalhadores exercem suas funções com jornadas
diárias superiores a 8 horas de segunda a quinta feira, e somente na sexta feira, que
grande parte das empresas respeita as 8 horas/dia.
4.1.12 Carteira assinada
Com relação a ter ou não carteira assinada pela empresa contratante, 100%
dos trabalhadores entrevistados possui carteira assinada.
No Brasil, em 2010, o setor da indústria da construção civil, ocupava 6,3
milhões de pessoas, 1,7 milhão a mais do que o contingente de trabalhadores
registrado em 2000 (4,6 milhões). A forma de contratação que respondeu pela maior
parte do aumento de postos foi o assalariado com carteira assinada, com um
incremento de mais de 1,1 milhão de pessoas e variação de 91,3% entre 2000 e
42
2010. Também houve ampliação de 34,3% do número de trabalhadores por conta
própria no setor, o que corresponde a quase 600 mil trabalhadores. Observa-se,
ainda que em menor intensidade, um crescimento de 5,0% no número de
assalariados sem carteira de trabalho assinada, o que equivale a 75 mil ocupações
(DIEESE, 2012).
Para Cantisani e Castelo (2015), indiscutivelmente, a melhora dos indicadores
do emprego na construção está associada à formalização desse mercado de
trabalho. E afirma que o aumento no número desses trabalhadores foi considerável
entre 2004 a 2013. O aumento de 151% no número de trabalhadores com carteira
elevou em 13 pontos percentuais a participação desses trabalhadores no total de
trabalhadores da construção
Garcia e Dias (2011) também afirmam que uma das características da
expansão do emprego na construção civil é o aumento da formalidade. Ao longo dos
últimos dez anos, o percentual de trabalhadores por conta própria apresentou uma
discreta diminuição, de 48% para 46%. A grande transformação aconteceu no
contingente de trabalhadores com carteira assinada, que saltou de 24% para 34%,
sendo que esse movimento é notado a partir de 2005. A informalidade, por sua vez,
regrediu de 28% para 20%.
Portanto verifica-se uma situação do mercado de trabalho em que a
formalidade prospera, em um contexto de valorização do trabalhador.
4.1.13 Reconhecimento pelos trabalhos prestados
Ao se questionar sobre reconhecimento por parte da empresa na conclusão
de partes da obra ou da obra inteira, verificamos que os entrevistados gostariam de
receber alguma forma de reconhecimento, como valorização de seu trabalho,
destacando-se alguns itens como descrito na tabela de número 12:
Tabela 12– Forma de reconhecimento e incentivo que a empresa poderia oferecer
aos trabalhadores?
Incentivo % Gratificação adicional 56 Cesta básica 20 Mudança de cargo 18 Plano de saúde 04
43
Aux. Creche 02 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Os dados da tabela 12, nos mostra quea maioria dos trabalhadores gostariam
de receber uma gratificação adicional pelos trabalhos prestados na conclusão de
obras ou parte dela, sendo essa resposta representada por 56% deles, para 20% o
fato de receber cesta básica seria um bom incentivo, enquanto que para 18% ter
perspectiva de mudança de cargo é um grande incentivo para trabalhar mais e
melhor, enquanto que para 4% ter plano de saúde seria uma forma de
reconhecimento e 2% poder contar com creche.
O reconhecimento vindo por parte do empregador ou chefia direta pode gerar
alto grau de satisfação do funcionário, o que pode contribuir para seu maior
comprometimento e empenho em seu trabalho. Mesmo que seja apenas um
reconhecimento pessoal de gratidão, pois se percebeude forma subjetiva que eles
gostariam que esse gesto estivesse mais presente em seu cotidiano. Porém citam
formas objetivas de incentivo ao trabalho como as citadas.Auxílio alimentação e
participação em treinamentos e cursos, apesar de estarem listadas no questionário
não foram apontadas como forma de incentivo pelos trabalhadores.
Logo, o item mais apontado como forma de incentivo foi gratificação adicional.
Segundo Neri (2011) a renda média auferida por aqueles que trabalham na
construção é 14,7% menor que a do conjunto de ocupados (R$ 933 contra R$. 1.094
do total), considerando o que Neri(2011) coloca, é de esperar que os trabalhadores
citassem a gratificação adicional como a principal forma de reconhecimento.
O item ter um plano de saúde, apesar de estar presente no questionário foi
pouco apontado pelos trabalhadores, com (4% dos pesquisados) apesar de ser uma
forma de assegurar tranquilidade tanto para a empresa quanto para os
trabalhadores. Especialmente por que a população trabalhadora na construção civil
já não é mais tão jovem, e também pelos riscos a que são expostos no desempenho
de suas funções. Um fator que tem melhorado, é que as empresas em sua maioria
contratam apenas com carteira assinada o que indiretamente leva a seguridade de
seu funcionário via SUS(Sistema Único de Saúde). E considera-se também que hoje
em dia muitas empresas contratam segurossaúde de operadoras particulares, como
Unimed dentre outros planos de saúde. Como foi o caso de duas empresas
44
pesquisadas que possuem planos de saúde para seus funcionários. Porém não
deve esquecer-se do trabalhador que exerce sua função por conta própria ou é
contratado de forma informal deixando de ter qualquer amparo para caso de
acidentes e agravos a saúde.
Barbosa e Lima (2007) chamama atenção ao fato de a construção civil ser a
principal responsável pelo emprego das camadas pobres da população, e também
ser considerada de alto risco, liderando as taxas de acidentes de trabalho fatais,
não-fatais e anos de vida perdidos, sendo a principal causa de doenças
ocupacionais e mortesrelacionadas a acidentes de trabalho. Identificou em seu
estudo que em Belém, os trabalhadores apresentaram vários tipos de problemas de
saúde, sendo principalmente as dores na coluna lombar (56,58%), na panturrilha
(25,53%), nas mãos(20,02%), nos braços (19,32%) e no joelho (17,94%).
Assim, ao analisar o setor da construção civil, observa-se que, apesardos
avanços tecnológicos e mecanização de tarefas, muitas atividades ainda continuam
sendo realizadas de forma manual, com cargas acima dos limites tolerados, muitas
vezes gerando doenças agudas e na maioria,doenças crônicas, que vão exigir
cuidados de saúde para o resto da vida.
4.1.14 Renda média
Ao se investigar sobre a renda média dos trabalhadores da construção civil no
município de Santa Maria – RS identificou-se que a média salarial é de 1.200,00
reais. E dos encarregados de dois a três salários mínimos.
Segundo estudo divulgado pelo DIEESE (2012),mais da metade dos
ocupados na construção civil, em 2010, recebiam entre 1 e 2 salários
mínimos.Dados que corroboram os encontrados no presente estudo. Na Bahia, há
maior parcela de ocupados nas faixas mais baixas de rendimento: 13,0% ganham
até ½ salário mínimo, enquanto, no Brasil, são 5,8%. Na faixa de rendimento entre 2
e 5 salários mínimos, encontram-se quase 20% dos trabalhadores da construção no
Brasil e pouco menos de 10% na Bahia.
Estudo de Cantisani e Castelo (2015) identificaram que os trabalhadores da
construção possuem rendimentos médios 9% inferiores a média geral. Recebendo
um rendimento mensal de R$ 1.356,10.
45
Segundo o DIEESE (2012) o rendimento médio dos negros é inferior ao do
total de ocupados, tanto em 2000 - quando equivalia a R$ 796,00 e representava
88,7% do valor relativo ao total -, quanto em 2011, quando passou a valer R$
890,00, 95,6% doauferido pelo conjunto dos ocupados no setor. Também a idade
parece ter influência sobre o comportamento do rendimento médio:entre as pessoas
de 25 a 39 anos – que representam 41,7% dos ocupados no setor –houve aumento
de 5,5% em média, ao passo que entre aqueles com 40 anos ou mais – que
respondem por 42% dos ocupados na construção civil - o rendimento médio diminuiu
15%.
Porém para os próximos anos em virtude da situação de crise que o país está
vivendo é de se esperar uma redução nos investimentos em projetos de construção
civil e por consequência menor disponibilidade de oportunidades para os
trabalhadores, bem como expectativa de menores salários. Esse cenário por um
lado leva preocupação para os trabalhadores e por outro lado faz com que a
dedicação e zelo pelos empregos atuais sejam maiores, podendo levar a melhoria
da produtividade e maior satisfação no trabalho.
4.1.15 Pretensão de aprimoramento e permanência na área da construção civil
Identificamos que muitos trabalhadores pretendem permanecer na área da
construção civil e estão satisfeitos com seu trabalho, como podemos identificar na
tabela 13 e 14 respectivamente:
Tabela 13– Aprimorar-se e permanecer na área da construção civil?
% Sim 86 Não 14 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Na tabela 13 que trata do desejo de permanecer no ramo da indústria da
construção civil, verificamos que 86% dos sujeitos do estudo pretendem permanecer
na área. E 14% deles desejam mudar de área. Esses dados vem ao encontro com a
pergunta seguinte, em que foram questionados sobre o grau de satisfação com seu
trabalho, sendo solicitados que atribuísse uma nota de 0 a 10. Sendo o zero menor
nível de satisfação e dez o maior nível de satisfação. Os dados revelaram que
46
aproximadamente 80% deles atribuíram nota entre 8, 9 e 10, sendo que 52% destes,
atribuíram nota máxima, 10. Confirmando seu desejo de permanecer na construção
civil e que estão satisfeitos. E 24% dos trabalhadores atribuíram grau de satisfação
entre 5, 6 e 7. Sendo que nenhum trabalhador atribuiu nota inferior a estes números.
Como demonstrado na tabela a seguir:
Tabela 14– Grau de satisfação
Nota % 10 52 8 e 9 28 5 a 7 24 0 a 4 00 Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Um dado que deixa uma lacuna no trabalho é não ter sido investigado o(s)
fator(es) que levam esses trabalhadores a atribuírem níveis elevados de satisfação
com seu trabalho. Pergunta-se: Ao que atribuem esse nível de satisfação?
4.1.16 Questões direcionadas as funções de chefia (encarregado, mestre de obras).
Para os encarregados e mestre de obras que exercem funções de chefia, foi
direcionado duas questões especificas, além das demais que compunham o
questionário dos trabalhadores em geral. Uma que abordava as principais
dificuldades enfrentadas no seu dia a dia e outra que identificava o principal fator
que leva um empregado mudar de empresa. Achamos relevante que estas questões
fossem direcionadas as pessoas que ocupavam cargos de chefia, pois são os que
coordenam o cotidiano de um canteiro de obras e desta forma conhecem bem o dia
a dia de trabalho. Responderam esta questão dois encarregados e dois mestresde
obrasque teoricamente exercem a função de chefia direta. Os quatro apontaram os
mesmos tipos de dificuldades, como:
O pouco comprometimento do trabalhador com a obra, faltando ao trabalho
por qualquer motivo ou mesmo sem motivo algum, gerando um alto índice de
absenteísmo.
O uso de drogas, citando mais especificamenteo álcool, o que gera uma
condição desfavorável ao trabalho e também ser um dos principais motivos de falta
47
ao trabalho.Problemas na família, com filhos e esposa e demais componentes da
mesma.
E o principal motivo apontado pelas chefias para a troca de emprego pelo
funcionário, foi o salário percebido, sendo que o trabalhadorestá sempre buscando
melhores condições de vida e atribuem ao salário o principal fator paraessa
mudança. Dado este também relatado pelos trabalhadores quando questionados
sobre a melhor forma de incentivo ao trabalho, onde 56% referiram a gratificação
adicional. Nenhum outro item foi referido apesar de estar relacionado no
questionário como: horário de trabalho, relacionamento com os colegas,
relacionamento com a chefia, falta de perspectiva de crescimento.
5CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção civil é o setor industrial que representa uma importância
fundamental na economia brasileira. E o principal fator, que dá forma e corpo para
qualquer construção é o elemento “ser humano“ e este foi o objetivo deste estudo.
Conhecer o seu perfil do trabalhador da construção civil e a partir desse
conhecimento propor estratégias que possa elevar o nível de satisfação e
consequentemente de desempenho e gestão de seu trabalho.
Segundo Santos (2010) o desempenho humano pode ser infinitamente
aumentado quando a empresa oferece condições que possam ser capazes da
canalizar e desenvolver o potencial das pessoas e transformá-los em resultados
positivos. Neste sentido, a empresa é capaz de criar um ambiente em que as
capacidades individuais possam se desenvolver e proliferar em proveito de toda a
organização.
Ao término do estudo pode-se dizer que as variáveis avaliadas no estudo
apontam para um perfil bastante semelhante a outros estudos que buscaram
conhecer o perfil dos trabalhadores da construção civil.
Destaca-se a seguir os principais dados que revelam as características que
definem o Perfil do Trabalhador da Construção Civil, do município de Santa Maria-
RS:
48
Homens na faixa etária dos 30 a 50 anos. Porém destacando-se também a
de 50 a 60 anos;
Solteiro, de procedência urbana;
Baixo grau de instrução formal, com 76% que fizeram somente o primeiro
grau. E apenas 4% concluíram o segundo grau.
Em sua maioria não possuem cursos profissionalizantes e seu aprendizado
ocorreu na prática.
Renda média de 1200 reais.
Com uma jornada de trabalho de 40 horas semanais e não fazem hora extra.
Alta rotatividade de empresa, sendo que 54% dos trabalhadores já
trabalharam em mais de cinco empresas.
Desejam permanecer na área da indústria da construção, sendo citado por
86% dos participantes. Sendo que 80% atribuíram nota entre 8, 9 e 10 para seu grau
de satisfação com o trabalho que executam.
Dentre o desejo de fazer cursos profissionalizantes destacou-se os cursos de
instalador elétrico e pedreiro.
Reconhecem a gratificação adicional como a melhor forma de
reconhecimento e incentivo.
Para os encarregados e mestre de obras os maiores problemas enfrentados
são o absenteísmo, o uso de drogas lícitas e ilícitas. Além de problemas com a
família e doenças do trabalhador ou familiar.
Para os encarregados o maior fator para provocar mudança de trabalho por
parte do trabalhador é o salário percebido.
Constata-se que o trabalhador não reconhece na formação profissional uma
oportunidade para galgar maiores e melhores postos de trabalho e indiretamente
maior e melhor renda. Mas a capacitação profissional poderá com o tempo revelar
vários ganhos, tanto para a empresa, quanto para seus funcionários, como
diminuição na rotatividade do trabalho, maior satisfação do funcionário,
consequentemente maior rendimento, maior produtividade e consequentemente
menor custo e maior competitividade no mercado.
49
Sugere-se que as empresas valorizem as áreas de recursos humanos através
de ações e estratégias que tragam melhorias na qualidade de vida dos seus
trabalhadores. É necessário aprofundar o conhecimento relativo aos seus anseios,
desejos e dificuldades. Pois apesar das inovações e tecnologias estarem cada dia
mais presente na vida de qualquer empresa, são seus trabalhadores que fazem a
grande diferença, entre ter e não ter qualidade no resultado final de qualquer
trabalho.
Recomendamos maior participação do trabalhador na organização e
planejamento do trabalho, pois se fossem mais valorizados e mais incentivados a
participar provavelmente sentiriam-se mais comprometidos com seus resultados.
Ao término deste estudo sugerimos que:
- As empresas propiciem treinamento na admissão do trabalhador;
- A realização de reuniões informais dentro do canteiro de obras, para que o
funcionário possa sentir-se parte e comprometido com o trabalho, opinando e
sugerindo possíveis alternativas para o trabalho que está sendo realizado.
Tentativas de manutenção do quadro de trabalhadores após o término de cada
etapa, para que a empresa não perca todo o investimento em treinamento realizado
com esse trabalhador;
- Qualificar o trabalhador e estabelecer metas que quando atingidas possam
propiciar mudança de cargo assim como melhora no salário.
Desenvolver estudo que indique o que realmente leva ao trabalhador estar
satisfeito com o que faz.
Apesar da resistência identificada quanto a cursos de qualificação profissional
propor regularmente cursos e oportunidade para que o trabalhador participe.
50
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Christiane Lima, LIMA, Adalberto da Cruz. Desenvolvimento do Perfil do Trabalhador da Construção Civil na Cidade de Belém. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Foz do Iguaçú, PR. 2007. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2007_TR600449_ 0389.pdf>. Acesso em: 10/09/2015.
BAZZO, Walter Antônio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale. Introdução à Engenharia – Conceitos, Ferramentas e Comportamentos. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006.
CANTISIANI, Alípio Ferreira, CASTELO, Ana Maria.O perfil dos trabalhadores da Construção Civil.Revista Conjuntura da construção. Março. Rio de janeiro: FGV, 2015.
CARDOSO, Fernando Henrique. Incentivo do estado e desenvolvimento: uma analise sobre o crescimento da área da construção civil. 2013. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/semanacsoc/pages/arquivos/GT%208/Cardoso%20Fernando%20Henrique%20-%20Artigo.pdf>. Acesso em: 18/10/2015.
CASTELO, Alípio Ferreira C. O perfil dos trabalhadores da construção civil. Revista Conjuntura da construção. Março. Rio de janeiro: FGV, 2015.
CORDEIRO, Cristovão César; MACHADO, Maria Isabel. O perfil do operário da indústria da Construção civil de Feira de Santana: Requisitos para uma qualificação profissional. Feira de Santana: Sitientibus, 2002.
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. O Perfil dos Trabalhadores na Construção Civil no Estado da Bahia. Setembro, 2012. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/projetos/informalidade/perfil ConstrucaoCivilBA.pdf>. Acesso em: 18/09/2015.
FERRAZ NETO, José Romeu. Perspectivase incertezas.Começar denovo. Revista Conjuntura da Construção. Ano XIII. N 01. Março, 2015.
GARCIA, Fernando; DIAS,Edney Cielici. O Perfil do Trabalhador da Construção Paulista. Revista Conjuntura da construção. Junho. Rio de janeiro: FGV. 2011.
51
HELENO, Guido. A construção civil e a edificação de um país. Revista Brasileira de Administração, Brasília. ano 20, n.75, p.22-29,mar./abr. 2010.
MESEGUER, Alvaro G. Controle e Garantia da Qualidade na Construção. Tradução de Antonio Carmona Filho, Paulo Roberto de Lago Helene e Roberto Falção Bauer. São Paulo: Sinduscon/SP, 1991.
NERI, Marcelo. O Novo Velho Trabalhador da Construção Civil. Revista Conjuntura da Construção. Março. Rio de janeiro: FGV, 2011.
RESENDE, Carlos Cezar Riguetti. Atraso de obras devido a problemas de gerenciamento. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013.
SANTOS, Márcia T. P. Qualificação Profissional na Construção Civil: Estudo de Caso. 2010. Disponível em: <Erro! A referência de hiperlink não é válida.>. Acesso em: 20/09/2015.
TOMASI, Antonio de Pádua Nunes; GÓIS, Maise S.; GONTIJO, Cynthia. A capacitação dos trabalhadores da Construção Civil em gestão de obras: O caso do Progest-Cefet/MG. XXXV Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia. Belo Horizonte, Minas Gerai, 2007.
VIEIRA, Helio Flavio. Logística Aplicada à Construção Civil: como melhorar o fluxo de produção na obra. São Paulo: Pini, 2006.
52
ANEXO A
Instrumento de coleta de dados:
Questionário:
1. Faixa etária:
15 – 18 ( ) 18 – 30 ( ) 30 – 40 ( ) 40 – 50 ( ) 50 – 60 ( ) + 60 ( )
2. Procedência:
Urbana ( ) Rural ( )
3. Grau de instrução :
Analfabeto ( ) Primário ( ) Primeiro grau incompleto ( )
Primeiro grau completo( ) Segundo grau incompleto ( )
Segundo grau completo ( ) terceiro grau ( )
4. Estado Civil :
Solteiro ( ) Casado ( ) união estável ( ) outro ( )
5. Quanto tempo você leva para ir de casa ao trabalho?
5min ( ) 15min ( ) 30min ( ) 45 min ( ) 60 min ( ) 1h30min ( )
6. Há quanto tempo trabalha na construção civil?
1 - 6 meses ( ) 6 - 12 meses ( ) 1 – 2 anos ( ) 2-3 anos ( ) 3-5 anos ( ) 5-7
anos ( ) +7 anos ( )
7. Há quanto tempo trabalha na mesma empresa?
1 - 3 meses ( ) 3 – 6 meses ( ) 6 – 9 meses ( ) 9 – 12 meses ( ) 12 – 18 meses ( )
18 – 24 meses ( ) 2 – 3 anos ( ) 3 – 5 anos ( ) 5 – 7 anos ( ) 7 – 10 anos ( ) +10
anos ( )
8. Em quantas empresas já trabalhou?
1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) +5 ( )
9. Qual a função(ões) que desempenha na construção civil ?
Segurança no trabalho ( ) Instalador elétrico ( ) Instalador hidráulico
( ) Operador de guincho ( )Mestre/Encarregado ( ) Pintor ( )
Pedreiro ( ) Carpinteiro ( ) Ferreiro ( ) Assentador de cerâmica ( )
10. Quantas horas você trabalha por dia na empresa?
53
menos de 8 horas diária ( )Oito horas diária ( ) mais de 8 horas diária ( )
11. Tem carteira assinada:
Sim ( ) Não ( )
12. Como você aprendeu a função que exerce?
Curso( ) Prática( ) Ensinamento ( )
13. Fez algum curso para a atividade que desempenha ?
Sim ( ) Não ( )
14. Quanto tempo foi curso?
Menos que um mês ( ) 1 mês( ) 2-3 meses 3-6meses ( ) mais de 6 meses ( )
15. Escolha um Curso de treinamento que você gostaria de fazer:
Segurança no trabalho ( ) Instalador elétrico ( )
Instalador hidráulico ( ) Operador de guincho ( )
Mestre/Encarregado ( ) Pintor ( ) Pedreiro ( )
Carpinteiro ( ) Ferreiro ( )
Assentador de cerâmica ( )
Nenhum ( )
16. O funcionário que não falta ao trabalho recebe alguma forma de reconhecimento ?
( ) elogio ( ) destaque divulgado entre os funcionário
( ) viagem ( ) premio assiduidade ( )
Outros........................................................................
17. Quando a obra é entregue no prazo determinado , existe reconhecimento por parte da sua
chefia direta ?
( ) sim ( ) não ( ) nunca vivenciei essa experiência
18. Que forma de incentivo você acha que mais motiva o trabalhador ?
( )Auxílio creche Auxílio educação
( ) Auxílio refeição
( ) Cesta básica
( ) gratificação adicional
( )Plano de Previdência
( ) Plano de saúde
( ) Participação em treinamento
( ) Possibilidade de mudança de cargo
54
19. Qual sua renda média em salário mínimo?
( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( )1 - 3 salários mínimos ( )3 a
6 salários mínimos ( )6 - 9 salários mínimos ( )9 - 12 salários mínimos ( )mais de 12
salários mínimos
20. Você pretende permanecer e se aprimorar no trabalho da construção civil ?
Sim ( ), Não ( )
21. Dando uma nota de 0 a 10 referente a quanto você se sente feliz desempenhando sua função
na construção civil, quanto você daria?
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SE VOCÊ EXERCE FUNÇÃO DE CHEFIA POR FAVOR RESPONDA AS
22. Quais os motivos que levam o funcionário mudar a de emprego?
( ) salário ( ) horário de trabalho ( ) relacionamento com os colegas
( ) relacionamento com a chefia ( ) falta de perspectiva de crescimento
( )outras causas -----------------------------------------------------------
23. Quais são as principais dificuldades encontradas no dia a dia de seu trabalho?
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