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Planejamento Urbano e Regional Antonio Castelnou

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PlanejamentoUrbano e Regional

Antonio Castelnou

Introdução

As políticas de desenvolvimento urbano-regional tiveram seu surgimento na Inglaterra da década de 1930 e suas primeiras aplicações no processo de reconstrução do segundo pós-guerra, que foi

muito maior e abrangente que no primeiro.

Suas precursoras foram as idéias de Patrick Geddes (1854-1932), as quais

fundamentaram o chamado URBANISMO HUMANISTA; e as teorias de Georg Simmel (1858-1918), que influenciaram a sociologia

norte-americana no período entre guerras, com a ESCOLA DE CHICAGO.

Na Grã-Bretanha, a tradição das CIDADES-JARDIM defendida

pelos discípulos de Howard, além dos debates sobre a a

legislação urbanística, perdurou durante todos os anos 30.

Estudos descreviam as desvantagens da concentração demográfica e econômica ao redor das grandes cidades e sugeriram a criação de uma

autoridade central que controlasse os terrenos

edificáveis, defendendo a formação de NEW TOWNS.

Stevenage New Town

No início da década de 1940, com os maciços bombardeios

de Londres e Coventry, criaram-se comitês de

análise para o diagnóstico da situação urbana.

Por fim, instituiu-se uma nova autoridade central de planificação inglesa – Town& Country Planning Ministry–, que foi responsável pela

unificação de leis urbanísticas no país.

Escombros em Coventry(1942/5)

O PLANO REGULADOR DE LONDRES, sintetizado porLeslie P. Abercrombie (1879-1957) e composto

pelos planos do Condado de Londres (London CountyPlan) e da Grande Londres (Greater London Plan), elaborados respectivamente em 1941 e 1943, sintetiza

de forma abrangente todas as correntes de pensamento urbanístico vigorantes até então.

Road ring

London County Plan (1941)

Baseando-se em uma minuciosa investigação sobre o pré-existente, o plano de Abercrombie

afastava-se dos conceitos de regularidade

geométrica e de toda intervenção radical nas zonas já construídas, propondo-se mais a

inverter o processo de concentração até então seguido, por meio de

uma série de providências em escala regional.

Outer ring

Suburban ring

Greenbelt

Inner ring

O PLANO REGULADOR DE LONDRES propôs a criação de subúrbios-satélites nas cidades existentes próximas ao “cinturão verde” de Londres, além de sugerir a localização de new towns, seguindo em geral 04 zonas concêntricas:

Inner Ring: toda a área do Condado de Londres (densidade de 75 a 100 pessoas/acre);

Suburban Ring: zona dos subúrbios (densidade de até 50 pessoas/acre);

Greenbelt: vasta área verde (1/3 da Grande Londres), que circundaria a cidade e deveria permanecer sem construções;

Outer Ring: conjunto de novos centros, mas não em forma de subúrbios-dormitórios, mas de 07 newtowns, suficientemente grandes para terem uma vida auto-suficiente (densidade de até 20 pessoas/acre).

O principal objetivo do PLANO REGULADOR DE LONDRES

(1941/44) era evitar o crescimento difuso

(conurbação), desordenado e degradante, que caracterizava

muitas cidades ocidentais, procurando assim redirecionar

a expansão industrial para diversas “cidades novas”

construídas além do cinturão verde e que agora constituem

a Outer Metropolitan Area.

Leslie P. Abercrombie(1879-1957)Greater London Plan (1943)

CrawleyNew Town

De modo distinto, Paris optou pela construção de multicentros urbanos, a partir dos anos 50 e 60,

abandonando-se a concepção haussmaniana da cittécomo único centro e criando-se comunidades-satélites

(05 villes nouvelles), que mantinham certa dependência.

•Cergy-Pontoise•Evry•Marné-la-Vallée•St.Quentin-en-Yvelines•Sénart

Possuindo uma das mais altas densidades urbanas no mundo ocidental, caracterizando-se como uma cidade densa e

compacta, carente de áreas verdes para recreação e lazer nos bairros (arrondissements),

Paris precisou de um plano urbano-regional que

possibilitasse a descentralização tanto de moradias como de

empregos (trabalho).

Ville Nouvelle de Marne la Vallée

A solução, adotada durante o governo de Charles De Gaulle (1890-1970), foi a

criação das villesnouvelles) aos arredores

de Paris, para onde a população poderia se

transferir.

Paralelamente, foram planejados pólos de crescimento (centres restructeurs), os

quais reuniam, em contraste com as cidades novas, poucas residências e eram localizados

em áreas de baixa densidade industrial.

Charles De Gaulle(1890-1970)

La Defénse, Paris

1

2

3

4

1 Arc de La Defénse2 Arc de Triomphe3 Musée du Louvre4 Hôtel de Ville

Enquanto em Londres as new towns são isoladas e distantes de 60-80 km do

centro histórico; na França, as villes nouvelles foram planejadas para funcionar

como extensões de Paris, em uma distância de até 30 km, e ligando-se a esta por meio de auto-estradas, porém se

enfatizando o transporte coletivo (trem e metrô).

Frederick GibberdPlano de Harlow New Town

(1948/56, Essex Ingl.)

Tanto as new towns britânicas como as villes nouvelles e

centros de crescimento parisienses representam

métodos de direcionamento populacional e desenvolvimento

urbano-regional planejado.

Enquanto os ingleses buscaram criar comunidades autônomas e

desvinculadas do centro, intensificado pela existência do greenbelt , os franceses

enfatizaram a integração urbana, mantendo suas “cidades

novas” interligadas a Paris. Villes Nouvelles

New Towns

Urbanismo Humanista

Apoiando-se na crítica ao movimento progressista e ao urbanismo racionalista através

da antropologia, sociologia, psicologia e história, o URBANISMO HUMANISTA

expandiu-se principalmente na década de 1950.

Rejeitando os modelos urbanos propostos pelos modernistas, suas idéias defendiam a criação de PLANOS REGIONAIS, nos quais deveriam ser

levados em consideração os aspectos sociais através de uma metodologia multidisciplinar.

Os urbanistas humanistas acreditavam na idéia de

ANTRÓPOLIS, ou melhor, da cidade que é dirigida ao homem e não à máquina ou à indústria, que privilegiasse os métodos dos chamados

sociological surveys(pesquisas e investigações

baseadas na geografia, história, economia e sociologia estética).

Fritz LangMetropolis(1927)

Os urbanistas humanistas passaram a propor o POLINUCLEÍSMO

urbano, na perspectiva de uma cidade regional, a qual seria um sistema que unisse cidade e campo em um vasto

conjunto, na escala da região, ou seja, um

organismo de múltiplos centros, mas que

funcionasse como um todo.Plano de Tel Aviv (1925, Israel)Patrick Geddes (1834-1932)

Seu precursor foi o escocês PATRICK GEDDES (1854-1932), considerado o pai do

reginal planning, que escreveu o livro Evolução das cidades (1910), depois republicado em 1949 como Cities in evolution (Cidades

em evolução), o qual chamou a atenção para o fato do planejamento urbano e regional necessitar de

pesquisas multidisciplinares. Patrick Geddes(1854-1932)

Tensão cidade – campo

Seu maior discípulo, o sociólogo norte-americano

LEWIS MUMFORD (1895-1990), foi capaz

de dar uma forma coerente aos seus pensamentos,

difundindo-os nos anos 50 e criando um importante grupo de planejadores

sediados em Nova York, por meio da Regional

Planning Association ofAmérica – RPAA.

Lewis Mumford(1895-1990)

VistaAéreaNova York

Escola de Chicago

Entre as décadas de 1920 e 1930, formou-se em Chicago um grupo de sociólogos interessados em compreender a reprodução da “sociedade

urbana”, associando preocupações da geografia, sociologia e ecologia: a ECOLOGIA HUMANA.

Passando a ser conhecido como a CHICAGO SCHOOL ou ESCOLA DE CHICAGO, este

grupo criou as bases para o estudo sociológico do meio ambiente urbano fundamentando-se em avaliações estatísticas, principalmente de áreas

industriais, comerciais e habitacionais.

Tendo como base os estudos do filósofo e sociólogo

alemão GEORG SIMMEL (1858-1918), todos os

seus representantes escreveram uma série de

artigos sobre a influência de situações sociais sobre o

comportamento individual na metrópole, esta concebida como mosaico de grupos diferenciados pela sua

identidade e interrelaçãosociocultural. Georg Simmel

(1858-1918)

Chicago(1930)

Um dos fundadores da SOCIOLOGIA URBANA, Simmel dizia haver traços psicológicos essenciais, os

quais definiriam a organização social e a personalidade urbanas, estes representados de modo arquetípico nas

metrópoles, onde os laços formais e sociais

substituiriam os laços afetivos tradicionais.

URBANIDADE (blasée):Indiferença + Tolerância

Piazza(1920)Giorgio

De Chirico(1888-1978)

De seus estudos, conclui-se que o habitante da metrópole seria uma espécie de “estrangeiro” que vive

na sociedade, sem lhe pertencer, mantendo certa reserva e distanciamento civilizado face ao outro

(atitude blasée), contribuindo na autonomia de cada um e no funcionamento da comunidade.

Nighthawks (1942)Edward Hopper(1882-1967)

The Simpsons

Os integrantes da CHICAGO SCHOOL acreditavam que a cidade possuía organização física e ordem moral que se interagem mutuamente para

se modificarem uma a outra.

A organização física da cidade tem sua base na natureza humana.

WilliamI. Thomas

(1863-1947)

Robert E. Park(1864-1944)

Louis Wirth(1897-1952)

Como exemplo da análise das estruturas urbanas, o modelo de desenvolvimento urbano em círculos

concêntricos, de ERNEST W. BURGESS (1911-2000), apontava para a segregação espacial produzida no

espaço urbano, com o surgimento dos guetos étnicos e de grupos sociais semelhantes que se agrupavam.

Ernest W. Burgess(1911-2000)

MODELO DE CÍRCULOS CONCÊNTRICOS

Distrito centralde negócios

Zona de transição(fábricas, edifícios

abandonadose deteriorados)

Zona da classetrabalhadora

(moradias simples)Zona residencial

(jardins e residências)

Zona comum(subúrbios)