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PLANTANDO CONSCIÊNCIAS: ATIVIDADES COM HORTA ESCOLAR

Marcia Valese Coelho1 Jurandir Fernando Comar2

Resumo

O presente trabalho descreve e discute a implantação do projeto Plantando Consciências: atividade com horta escolar no Colégio Estadual Vicente Leporace, município de Boa Esperança, Paraná. O objetivo do trabalho foi desenvolver atividades teóricas e práticas utilizando como ferramenta de ensino a construção de uma horta escolar junto aos alunos da 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental na disciplina de Ciências. O conteúdo desenvolvido foi dividido em três temas específicos da disciplina de Ciências: (1) tipos e composição do solo; (2) construção da horta escolar; (3) classificação e composição nutricional de hortaliças. Cada um dos tópicos foi abordado conforme um Material Didático Pedagógico previamente elaborado, o qual descreve aulas teóricas expositivas, trabalhos práticos em biblioteca e sala de informática, atividades lúdicas, elaboração de materiais didáticos na forma de quadros explicativos e construção/manutenção de uma horta escolar. A utilização de aulas práticas e diferentes recursos didáticos proporcionaram aos alunos um maior interesse pelo conteúdo de Ciências e maior aceitabilidade para o trabalho coletivo. Entretanto, alguns obstáculos também foram observados, como o curto espaço de tempo para aplicar o conteúdo de forma completa e a dificuldade em manter a horta escolar produtiva nos períodos de recesso escolar.

Palavras-chave: horta escolar; tipos de solo; hábitos alimentares.

1 Professora Pós-Graduada em Ensino da Matemática do 1° e 2° graus, graduada em Ciências, Matemática e Química, docente de Ciências e Matemática do Colégio Estadual Vicente Leporace, Boa Esperança, PR ([email protected]).2 Professor Doutor em Ciências Biológicas – Biologia Celular e Molecular, Universidade Estadual de Maringá (UEM); graduado em Farmácia, Universidade Estadual de Londrina (UEL); docente do Departamento de Bioquímica da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR ([email protected]).

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Introdução

A construção de uma horta escolar constitui uma importante ferramenta

para o ensino de Ciências, uma vez que pode ser utilizada para abordar temas

específicos da disciplina, como o estudo da composição de nutrientes tanto do

solo quanto em cada tipo de alimento cultivado na horta. Em adição, pode

estimular a conscientização dos estudantes sobre a preservação ambiental e

utilização de recursos naturais como fonte de produção de alimentos. A

produção de uma horta escolar permite aos alunos a estimulante tarefa de

ultrapassar os limites da sala de aulas teóricas para o desenvolvimento de

aulas práticas no meio ambiente real, o que facilita a assimilação do conteúdo

de Ciências. Pode ainda ser uma estratégia para colocar o aluno no centro da

aprendizagem, deixando este de ser um mero receptor passivo das

informações para ser o elemento ativo de sua aprendizagem.

Além de focar o cotidiano do aluno, as atividades com horta escolar é

um exemplo da utilização de aulas práticas como forma de assimilar os

conteúdos desenvolvidos em sala de aula. A utilização de aulas práticas como

complemento de aulas teóricas prioriza o estabelecimento de atividades

centradas nos processos criativos e cognitivos, que privilegiam a ação do aluno

enquanto construtor de seu próprio conhecimento (NARDI, 2003). Os

conteúdos escolares se consolidam e se ampliam na medida em que situações

específicas são oferecidas para exercitarem seu aprendizado, permitindo ao

aluno adquirir novos significados para os conceitos aprendidos durante o

processo de aprendizagem (VYGOTSKY, 1996).

O Ministério da Educação, por meio das Orientações para Implantação

e Implementação da Horta Escolar - Caderno 2 (2007), sugere a utilização da

horta escolar como uma aplicação dos conteúdos didáticos ao cotidiano do

aluno, assim como a conscientização para os problemas da sociedade, pois

proporciona aos estudantes experiências de práticas ecológicas associada à

produção de alimentos. Desta forma, aborda a produção de alimentos com

sustentabilidade, um tema amplamente discutido na atualidade. Este mesmo

caderno afirma que esta estratégia permite que os estudantes transmitam os

conhecimentos adquiridos aos familiares e conseqüentemente, permite sua

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aplicação em hortas caseiras e comunitárias. Assim, a construção de uma

horta escolar pode ultrapassar os limites da escola e o conhecimento pode ser

transmitido para a sociedade.

Desta forma, as aulas práticas com horta escolar pode ser um

mecanismo para a conscientização dos alunos sobre alguns problemas

atualmente enfrentados pela população mundial, como por exemplo, a

importância da preservação ambiental, da escassez de alimentos e de novos

hábitos alimentares. Afinal, a escola deve ser um dos primeiros espaços a

absorver a ambientalização da sociedade, tornando-se parcialmente

responsável em melhorar a qualidade de vida da população, por meio da

informação e conscientização (SEGURA, 2001). Portanto, a educação passa a

ser parcialmente responsável pelo aumento na qualidade de vida da sociedade

que a mantêm.

Além de ser utilizada como ferramenta de ensino, uma horta escolar

pode ser uma fonte de verduras e legumes frescos e sadios de baixo custo,

que podem ser aproveitados para consumo na própria escola, desde que seja

organizada e conduzida de forma consciente e profissional. Assim, as

hortaliças produzidas podem melhorar a nutrição dos estudantes,

complementando o programa de merenda escolar com alimentos frescos, ricos

em nutrientes e sem contaminação por agrotóxicos (FERNANDES, 2007).

Associado ao uso das hortaliças como alimento, novos temas podem ser

abordados no conteúdo de Ciências quando as hortaliças produzidas são

utilizadas na merenda escolar, como por exemplo, técnicas de higienização

para o preparo de alimentos para consumo e a adoção de hábitos alimentares

saudáveis.

De acordo com Morgado (2006), a inserção de uma horta no ambiente

escolar cria um laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de atividades

pedagógicas em educação ambiental e alimentar unindo teoria e prática de

forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e

estreitando relações por meio da promoção do trabalho coletivo e cooperado

entre os agentes sociais envolvidos. Ou seja, além de explorar os conteúdos

curriculares, a produção de uma horta escolar estimula os estudantes a pensar

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coletivamente e, portanto, mostra a importância das relações sociais e

profissionais no ambiente de estudo.

Portanto, a horta escolar, desde o preparo do solo e cultivo das

hortaliças até o consumo dos alimentos produzidos, pode ser utilizada para

explorar diversos conteúdos curriculares contextualizados na disciplina de

Ciências (Barbosa, 2007). A primeira etapa, que corresponde ao preparo e

cultivo da horta, pode ser utilizada para abordar temas como tipos de solo,

seus nutrientes, correção com adubos orgânicos e inorgânicos, classificação

das hortaliças e questões ligadas à preservação do meio ambiente, entre eles

utilização racional dos recursos hídricos e redução na quantidade de

agrotóxicos. Já na etapa de preparação e consumo dos alimentos, os principais

temas que podem ser abordados são as técnicas de higienização de alimentos

para consumo, composição nutricional das hortaliças, hábitos alimentares

saudáveis e, inserido no crescimento sustentável, abordar o desperdício de

alimentos.

Ao utilizar a construção da horta escolar para explorar os conteúdos

curriculares na disciplina de Ciências, é de fundamental importância especificar

em detalhes como esta estratégia de ação será aplicada, ou seja, preparar um

plano de atividades detalhado para cada item que será desenvolvido com os

alunos. Ainda, preparar recursos didáticos adicionais que serão utilizados para

complementar a metodologia e, por fim, especificar as atividades que serão

utilizadas para avaliar a assimilação do conteúdo por parte dos alunos. Desta

forma, é de particular interesse produzir antecipadamente um material didático

para apoiar o docente na utilização da horta escolar para ministrar os

conteúdos curriculares na disciplina de Ciências. A aplicação do nosso projeto

com horta escolar foi feito com o auxílio de um material didático previamente

preparado para este objetivo (Coelho & Comar, Plantando consciências:

atividades com horta escolar, Material Didático Pedagógico, 2012).

O presente trabalho tem como objetivo descrever a implantação de

uma horta escolar no Colégio Estadual Vicente Leporace, localizado no

município de Boa Esperança, estado do Paraná, assim como a sua utilização

como ferramenta para o ensino da disciplina de Ciências aos alunos da 5ª

série/6º Ano do Ensino Fundamental durante um bimestre do ano letivo de

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2011. O conteúdo programático desenvolvido foi dividido em três temas

específicos da disciplina de Ciências: (1) tipos e composição do solo; (2)

construção da horta escolar; (3) classificação e composição nutricional de

hortaliças. Cada um dos tópicos foi abordado conforme a metodologia descrita

a seguir e o Material Didático Pedagógico preparado com esta finalidade.

2 Metodologia

A metodologia utilizada para a implantação do projeto está descrita em

detalhes no Material Didático Pedagógico que foi preparado previamente à

implantação do projeto (Coelho & Comar, Plantando Consciências: atividades

com horta escolar, Material Didático Pedagógico, 2012). Os procedimentos

descritos a seguir especificam a metodologia trabalhada nos três tópicos do

conteúdo programático proposto inicialmente. Muitos pontos estão apenas

citados sem detalhamento porque podem ser consultados no Material Didático

Pedagógico elaborado em conjunto com o trabalho.

2.1 Tipos e composição do solo

Um texto principal denominado Tipos e composição do solo foi

elaborado para trabalhar este tópico e os conteúdos foram explanados por

meio de aulas expositivas. O texto complementar O solo da floresta amazônica

foi utilizada para leitura e discussão em grupos. Também a resolução de

exercícios propostos especificamente para tópico foi utilizada para fixação do

conteúdo. Os textos principal, complementar e exercícios podem ser

consultados no Material Didático Pedagógico vinculado ao artigo.

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2.2 Construção da horta escolar

Este tópico foi explorado por meio da construção e manutenção de

uma horta escolar como objeto central deste trabalho, mas também foram

utilizadas aulas expositivas, aulas peripatéticas, atividades lúdicas e discussão

de textos complementares, todos disponíveis no Material Didático Pedagógico

que acompanha o artigo. Dois textos principais foram utilizados para as aulas

expositivas: 1) Classificação das hortaliças e 2) Nutrientes do solo e adubos. O

texto complementar Agrotóxicos foi utilizado para leitura e discussão em grupo.

Também foram desenvolvidas atividades lúdicas por meio do programa de

software JClic no laboratório de informática do colégio, os quais foram

utilizados para trabalhar os conteúdos classificação das hortaliças e tipos de

solo. Aulas peripatéticas foram utilizadas para definir o terreno de construção

da horta e escolher as hortaliças que seriam cultivadas.

A construção da horta foi feita em um espaço no pátio do colégio

preparado para esta finalidade. Os canteiros foram previamente preparados e

adubados pelo caseiro da escola, que também ficou responsável pela

manutenção da horta. O método de plantio foi a semeadura utilizando

sementes compradas em envelopes e, na sequência o desbaste dos canteiros

ou o transplante das mudas que germinaram adequadamente para outros

canteiros. A manutenção da horta foi realizada por meio de capinagem manual

e rega no final da tarde.

2.3 Classificação e composição nutricional de hortaliças

A classificação e composição nutricional das hortaliças foram

trabalhadas na forma de aulas expositivas, discussão em grupo de textos

complementares, pesquisa em grupos utilizando a biblioteca e a sala de

computadores. Foram preparados quadros explicativos em cartolinas para cada

hortaliça cultivada, que informa sua classificação e seus principais nutrientes.

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3 Desenvolvimento e Discussão

3.1 Tipos e composição do solo

O trabalho se iniciou com aulas expositivas em sala sobre o tema

utilizando o texto principal do Material Didático Pedagógico conforme descrito

na metodologia. Os conteúdos curriculares abordados nas aulas expositivas

foram na sequência: a formação do solo, camadas da terra, composição do

solo, camadas e horizontes do solo, subsolo e tipos e características de solo no

Brasil. A vantagem observada nas aulas expositivas foi a facilidade de ministrar

o conteúdo devido à elaboração de um texto próprio contendo apenas as

informações necessárias com riqueza de figuras ilustrativas. A desvantagem foi

deixar o aluno como mero receptor passivo das informações, uma

característica já descrita como desestimulante para os estudantes. Entretanto,

as aulas expositivas foram necessárias para fornecer aos alunos conceitos

fundamentais importantes para um posterior trabalho mais dinâmico. Desta

forma, as vantagens superaram as desvantagens.

Na sequência foi trabalhado na forma de leitura individual e discussão

em grupo de um texto complementar sobre o solo da floresta amazônica. As

vantagens observadas foi a participação ativa dos alunos, o estímulo para o

trabalho em grupo com divisões de tarefas e, como ponto principal, trabalhar

um tema sobre a preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.

Porém, uma desvantagem deste tipo de trabalho, como já esperado, foi a

dificuldade de manter a organização dos grupos que muitas vezes se

dispersaram do foco principal. Outra desvantagem é que alguns estudantes

passam à liderança e outros se tornam apenas passivos dentro do próprio

grupo. Novamente, as vantagens prevalecem, pois as desvantagens podem ser

superadas com uma redução no número de estudantes sobre a orientação do

mesmo professor.

Por fim, os estudantes resolveram exercícios previamente elaborados

sobre o conteúdo. Primeiramente, foram feitos de forma individual, depois em

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grupo e na sequência discutidos com o professor para solucionar as dúvidas.

Neste ponto só foi observado vantagens, já que permitiu fixar o conteúdo e

destacar alunos que apresentaram facilidades e dificuldades na assimilação do

conteúdo.

3.2 Construção da horta escolar

O foco principal do trabalho implantado na escola foi a construção de

uma horta. Inicialmente foi realizada uma aula peripatética no pátio da escola

com a finalidade de interagir com os elementos que seriam fundamentais para

a construção da horta, especificamente, o solo adequado, o clima e os tipos de

hortaliças a serem cultivadas. O passeio se encerrou no local preparado para a

construção da horta para que os alunos tivessem um primeiro contato com o

material que seria utilizado nesta prática. Aulas peripatéticas têm origem na

Grécia Antiga, quando o filósofo Aristóteles ensinava seus discípulos

caminhando ao ar livre, muitas vezes sob árvores que cercavam o Liceu de

Atenas. Os alunos se mostraram muito motivados com este tipo de didática e

foram mais participativos, tirando dúvidas e correlacionando muitos aspectos

do meio ambiente com o conteúdo ministrado em sala de aula. Desta forma,

pode se afirmar que foi extremamente proveitoso utilizar as aulas peripatéticas,

já que apresentou menos dispersão e maior interesse dos estudantes.

Posteriormente, o conteúdo programático para este tópico foi

explanado como aula expositiva utilizando os dois textos principais do Material

Didático Pedagógico. O texto Classificação das hortaliças foi utilizado para

diferenciar os tipos de hortaliças e classificá-las em legumes, verduras e

condimentos. Este texto também foi utilizado para caracterizar as porções

anatômicas dos vegetais que são utilizados para consumo, como frutos,

bulbos, tubérculos, flores, entre outros. O texto Nutrientes do solo e adubos foi

utilizado para salientar os principais componentes do solo utilizado como

nutrientes pelas plantas, o solo adequado para a prática agrícola e correções

de solo por meio de adubos orgânicos e inorgânicos. As desvantagens desta

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aula expositiva foram as mesmas encontradas no item anterior, porém foi muito

vantajoso porque foram apresentados os conceitos necessários para a

construção da horta escolar.

Na sequência, foi trabalhado em grupo o texto complementar

Agrotóxicos. Além das vantagens citadas anteriormente, o trabalho deste texto

permitiu conscientizar os estudantes sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos

e as vantagens da alimentação com produtos orgânicos. Desta forma, este

tópico estimulou a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis com

produtos livres de agrotóxicos.

Atividades lúdicas foram utilizadas para trabalhar tanto este tópico

quanto o anterior. O colégio dispõe de uma sala de informática com

computadores e internet que possibilitou aos alunos pesquisarem e discutirem

os conteúdos abordados até aquele momento. Ao mesmo tempo os estudantes

trabalharam os temas de forma lúdica nos computadores por meio de jogos e

disputa entre eles. Os tipos de atividades foram quebra-cabeças, jogos de

memória, associações de imagens a informações, preenchimento de lacunas

no texto, cata-palavras e palavras cruzadas. Os quadros abaixo ilustram os

tipos de atividades desenvolvidas.

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Figura 1 – Atividades desenvolvidas no laboratório de informática com o software JClic: o quadro A representa a atividade associação complexa, realizada para trabalhar os componentes nutricionais das hortaliças; o quadro B representa a atividade palavras-cruzadas, utilizado para trabalhar os tipos e composição do solo; o quadro C representa a atividade associação complexa, realizada para trabalhar os tipos de solo e suas características; o quadro D representa a atividade quebra-cabeças, utilizada para trabalhar os constituintes do solo; o quadro E representa a atividade sopa de letras, utilizada para trabalhar as hortaliças; o quadro F representa a atividade associação complexa, utilizada para trabalhar as hortaliças e seus respectivos nomes científicos.

As atividades interativas ofereceram muitas vantagens, pois foram de

encontro ao anseio dos alunos: acesso à tecnologia dos computadores,

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internet, jogos e brincadeiras. Desta forma, os conteúdos foram revisados e

discutidos de forma prazerosa, estimulou a criatividade e, sem dúvida, deve ser

recomendada para utilização em outras turmas por outros professores.

Paralelo às atividades descritas até aqui também foi realizada a

construção de uma horta escolar, o objeto principal deste projeto é abaixo

descrito. Primeiramente, foram definidas as hortaliças que seriam cultivadas e

optou-se por alface, couve, tomate, cenoura e beterraba.

O detalhamento da construção da horta pode ser consultado no

Material Didático Pedagógico. Os estudantes foram divididos em grupos, cada

um responsável pelo cultivo de uma hortaliça. A semeadura foi realizada em

canteiros previamente preparados e adubados. Foram utilizadas sementes

compradas em envelopes e também sementes obtidas do fruto de tomate

maduro. Cada equipe semeou um canteiro e fixou uma placa de identificação

da referida hortaliça.

As visitas a horta foram realizadas diariamente e utilizadas para discutir

assuntos relacionados com o conteúdo didático. De forma mais abrangente,

também foi discutido o consumo de hortaliças pelos familiares, os cuidados

para a manutenção da horta, a importância de uma alimentação saudável e a

utilização das hortaliças produzidas na merenda do colégio. O crescimento das

hortaliças foi acompanhado por meio de medições com régua. Alguns

imprevistos surgiram durante o período, pois pássaros comeram as sementes

de alface e a beterraba simplesmente não germinou. Então foi realizada nova

semeadura destas hortaliças, que desta vez germinaram. Uma das vantagens

observadas surgiu justamente a partir deste imprevisto, pois mostra aos alunos

as dificuldades encontradas no cultivo de alimentos e os cuidados necessários

para evitar estes problemas.

Quando as mudas de cenoura que melhor germinaram atingiram 5 cm

de altura foi realizado o desbaste do canteiro para remoção daquelas que

mantiveram um crescimento inadequado. Mostrou-se então que a retirada

deste excesso de mudas é importante para manter o correto espaçamento e

melhor desenvolvimento da planta. As equipes sempre interagiram relatando

aos demais todas as modificações que ocorriam. O transplante das mudas de

alface e beterraba foi realizado quando estavam com aproximadamente 10 cm

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de altura. Os canteiros foram revolvidos pelos alunos e o transplante feito com

espaçamento recomendado de acordo com o protocolo definido para cada

hortaliça. As mudas de couve foram transplantadas quando estavam com

aproximadamente 20 cm de altura. No final da tarde, os alunos realizavam a

rega diária dos canteiros.

A principal desvantagem observada na construção da horta foi o curto

período de tempo, o que inviabilizou acompanhar o completo crescimento das

hortaliças, a colheita, o preparo e consumo na merenda escolar. Entretanto, as

vantagens foram claramente demonstradas pelo interesse e dedicação que

cada grupo apresentou para o cultivo, tanto de seu canteiro como para as

demais equipes. As figuras 2 e 3 mostram as fotos que ilustram a dedicação

dos estudantes com a produção da horta e os canteiros com diferentes cultivos.

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Figura 2 – Participação dos estudantes nas atividades de construção e manutenção da horta escolar. O quadro A mostra a primeira visita à horta; o quadro B mostra o transplante do canteiro de alface; os quadros C e E mostram a primeira semeadura; o quadro D mostra a verificação de crescimento; o quadro F mostra o funcionamento do sistema de irrigação.

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Figura 3 – Hortaliças cultivadas na horta escolar. o quadro A, mostra o canteiro de cenoura; o quadro B mostra o canteiro de beterraba transplantada; o quadro C mostra o canteiro de tomate; o quadro D mostra o canteiro de couve transplantada; o quadro E mostra o canteiro de beterraba antes de transplantar; o quadro F mostra o canteiro de alface transplantado.

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3.3 Classificação e composição nutricional de hortaliças

Este tópico foi utilizado para destacar a importância de consumir

hortaliças e a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. Primeiramente

foram feitas aulas expositivas utilizando o texto principal Macronutrientes e

micronutrientes, o qual permitiu descrever as principais formas e fontes de

nutrientes, especificamente, as proteínas, os carboidratos, os lipídios, as

vitaminas e os sais minerais. Na sequência, foram trabalhados os textos

complementares carência nutricional e hábitos alimentares saudáveis da

mesma forma que os textos anteriores.

De forma a contextualizar o tema, os alunos listaram os alimentos que

mais consomem em suas refeições, identificando seus principais nutrientes.

Em seguida, os alunos foram divididos em grupos, os mesmos que

desenvolveram o cultivo das hortaliças descritas no item anterior. Assim, cada

grupo ficou responsável em descrever a hortaliça que cultivou na horta. O

levantamento dos dados sobre as qualidades nutricionais de cada hortaliça foi

realizado na biblioteca e, principalmente, na sala de informática com o auxílio

da internet. Com as informações pesquisadas, cada grupo construiu um quadro

explicativo em cartolina sobre a hortaliça pesquisada. Os rascunhos dos

quadros estão mostrados nas figuras abaixo. Os quadros prontos foram

expostos no ambiente escolar: pátio, refeitório e corredores da escola para que

pudessem ser consultados pelos demais alunos, professores e funcionários.

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BETERRABA

FAMÍLIA: Chenopodiaceae.

CLASSIFICAÇÃO: Hortaliça tuberosa.

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL: É rica em açucares. Apresenta vitaminas A, B1, B2, B5, C, sais minerais (potássio, cálcio, zinco, ferro, manganês).

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL: Vitamina A é essencial para a visão, manutenção do equilíbrio da pele e mucosas, funcionamento do sistema imunológico, além de função antioxidante. A vitamina C que aumenta a resistência dos tecidos e dos vasos sanguíneos, combate infecções, aumenta a absorção de ferro e previne doenças virais.

MODO DE CONSUMO: Pode ser consumida crua ou cozida, porém as propriedades da vitamina C da beterraba são melhores absorvidas no organismo, quando consumida crua. As folhas também podem ser consumidas na forma refogada.Figura 4 – Características e informações nutricionais sobre as hortaliças: beterraba.

Figura 5 – Características e informações nutricionais sobre as hortaliças: couve.

COUVE

FAMÍLIA : Brassicaceae

CLASSIFICAÇÃO: Hortaliças herbáceas

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL: É rica em vitamina C, A, K, cálcio e betacaroteno.

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL: Vitamina A age como antioxidante é essencial para visão, pele e sistema imunológico. A vitamina C facilita a absorção de ferro pelo organismo, além de fornecer resistência aos ossos e dentes e fortalecer o sistema imunológico.

MODO DE CONSUMO: Recomendada ser refogada rapidamente, crua em saladas ou sucos para preservar as vitaminas.

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TOMATE

FAMÍLIA: Solanaceae.

CLASSIFICAÇÃO: Hortaliças fruto.

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL: É rico em licopeno, vitaminas do complexo A e complexo B. Importante fonte de sais minerais, como o fósforo e o potássio, além de ácido fólico, vitaminas A, B e C, cálcio e frutose.

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL: Por possuir a substância antioxidante licopeno, o tomate previne doenças do coração e alguns tipos de câncer.

MODO DE CONSUMO: Podem ser consumido cru ou cozido em saladas, refogados, ensopados, molhos. Devendo ser consumido cru para aproveitamento da vitamina C.

Figura 6 – Características e informações nutricionais sobre as hortaliças: tomate.

ALFACE

FAMÍLIA: Asteraceae.

CLASSIFICAÇÃO: Hortaliças herbáceas.

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL: A alface contém ferro, é rica em fibras e apresenta pequenos teores de minerais como cálcio e fósforo.

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL: O ferro é um mineral com importante papel no transporte de oxigênio no organismo. As fibras auxiliam na digestão e no bom funcionamento do intestino.

MODO DE CONSUMO: Deve ser consumida crua. A alface ainda possui propriedades calmantes quando feito chá de seus talos. Figura 7 – Características e informações nutricionais sobre as hortaliças: alface.

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CENOURA

FAMÍLIA: Apiaceae.

CLASSIFICAÇÃO: Hortaliças tuberosas.

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL: Fonte de betacaroteno, o precursor da vitamina A, ela é rica em vitaminas C, E e do complexo B, além de minerais como potássio, ferro, cálcio, fósforo e magnésio.

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL: Por ser fonte de vitamina A, a cenoura reduz o risco de câncer e combate o envelhecimento.

MODO DE CONSUMO: Deve ser consumida crua ou cozida.

Figura 7 – Características e informações nutricionais sobre as hortaliças: cenoura.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de atividades práticas na horta escolar durante as

aulas de ciências contribuiu para aprendizagem dos conteúdos curriculares.

Destacou-se a importância do trabalho coletivo por meio da organização dos

alunos em equipes para a execução das atividades de construção e

manutenção da horta. Como consta em Orientações Curriculares para o Ensino

Médio (2008), a estratégia adotada no desenvolvimento do projeto permitiu a

participação ativa do aluno como o centro da aprendizagem e resultando em

sua autonomia e estima elevada.

Um obstáculo encontrado nas atividades foi o curto período utilizado

para a implantação da horta. Não foi possível concluir a etapa final que seria a

colheita, o preparo e o consumo das hortaliças, pois se encerrou o ano letivo. O

projeto seria mais viável se desenvolvido durante todo o ano letivo, pois seria

possível executar todas as atividades propostas.

A utilização do laboratório de informática para as atividades permitiu

familiarizar os estudantes para o uso de computadores e internet. Novamente

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aqui deve ser salientado o trabalho em grupo, uma vez que cada equipe de

cinco alunos utilizou dois computadores. O mesmo ocorreu durante a

realização das atividades propostas pelo software JClic. O ponto negativo

observado nesta etapa foi a dispersão dos alunos devido ao número

insuficiente de computadores. Entretanto, um ponto positivo a ser ressaltando

foi a não ocorrência de indisciplina durante o desenvolvimento das atividades,

já que todos estavam comprometidos com o projeto e em executar as tarefas.

Apesar das aulas expositivas serem de certa forma desestimulantes

para os estudantes, foi fundamental para fornecer o embasamento necessário

à realização das práticas seguintes. Ainda, utilizou-se de aulas peripatéticas,

nas quais os alunos se mostraram motivados e participativos, tirando dúvidas e

correlacionando muitos aspectos do meio ambiente com o conteúdo ministrado

anteriormente nas aulas expositivas, o que destaca a importância destas.

5 REFERÊNCIAS

BARBOSA, N.V.S. A horta escolar dinamizando currículo da escola. Caderno 1 Brasília, 2007. Projeto PCT/BRA/3003 – FAO e FNDE/MEC. Disponível em: < www.cecanesc.ufsc.br/Arquivos/seminarios/karinesug3.pdf >. Acesso em 21 mar. 2011.

BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/ SEB, 2008.

CRUZ, M. Da arte de caminhar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, abr. 2008. Disponível em: < http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/filosofia/0023.html>. Acesso em: 20 jun. 2012.

COELHO, M. V.; COMAR, J.F. Plantando consciências: atividade com horta escolar. Material Pedagógico. Maringá. Disponível em: < http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=123 >, 2012.

FERNANDES, M. C. A. Orientações para a Implantação e Implementação da Horta Escolar. Caderno 2. Brasília, 2007. FAO/FNDE/MEC. Disponível

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em: < www.cecanesc.ufsc.br/Arquivos/seminarios/karinesug4.pdf >. Acesso em 21 mar. 2011.

MORGADO, F. S. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas Escolas municipais de Florianópolis. Florianópolis, 2006. Disponível em: www.tcc.ufsc.br/agronomiaRAGRO13.pdf. Acesso em 30 set. 2010.

NARDI, R. Educação em Ciências: da pesquisa à prática docente. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.

SEGURA, D. S. B. Educação Ambiental na Escola pública: da curiosidade ingênua a consciência crítica. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2001.

VYGOTSKY, L. Lev Vygotsky: sus aportes para el siglo XXI. Caracas: Publicaciones UCAB. Disponível em:< http://books.google.com.br/books?id=rzgNLg9geq4C&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false >. Acesso em 11 jan. 2011.