plug 2011 - o jornalismo em profundidade

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O JORNALISMO EM PROFUNDIDADE Em tempos de 140 caracteres, o 28 o Curso Abril de Jornalismo discute se há gente disposta a ler (e a escrever) 140 mil

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O Jornalismo em Profundidade

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O JORNALISMO EM PROFUNDIDADE

Em tempos de 140 caracteres, o 28o Curso Abril de Jornalismo discute se há gente disposta a ler (e a escrever) 140 mil

R E V I S T A D O C U R S O A B R I L D E J O R N A L I S M O 2 0 1 1

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Odebrecht. Investindo cada vez mais

no desenvolvimentosustentável do Brasil.

TRANSPORTE DE CARGAS E PESSOAS

IRRIGAÇÃO

BIOENERGIA GERAÇÃO DE ENERGIA

INFRAESTRUTURA

EXPORTAÇÃO DE

BENS E SERVIÇOS ARENASESPORTIVAS

SANEAMENTOSEGURANÇA PÚBLICA

MOBILIDADE

HABITAÇÃOPRÉ-SAL

PLÁSTICO VERDE

REÚSO DA ÁGUA

DESENVOLVIMENTOINDUSTRIAL

DEFESA TERRITORIAL

AÇÚCAR

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TRANSPORTE DE CARGAS E PESSOAS

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EXPORTAÇÃO DE

BENS E SERVIÇOS

ARENASESPORTIVAS

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SEGURANÇA PÚBLICA

MOBILIDADE

HABITAÇÃO

PRÉ-SAL

PLÁSTICO VERDEREÚSODA ÁGUA

DEFESA TERRITORIAL

DESENVOLVIMENTO URBANO

AÇÚCAR

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TRATAMENTODE RESÍDUOS

TRATAMENTODE RESÍDUOS

REÚSO DA ÁGUA

ARENASESPORTIVAS

PLÁSTICO VERDE

PLÁSTICO VERDE

REÚSO DA ÁGUA

EXPORTAÇÃO DE

BENS E SERVIÇOS

AÇÚCAR

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no desenvolvimentosustentável do Brasil.

TRANSPORTE DE CARGAS E PESSOAS

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BENS E SERVIÇOS ARENASESPORTIVAS

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PRÉ-SAL

PLÁSTICO VERDEREÚSODA ÁGUA

DEFESA TERRITORIAL

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TRATAMENTODE RESÍDUOS

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PLÁSTICO VERDE

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AÇÚCAR

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REVISTA PLUG 20114

NOVO UNOSPORTING.

O MAIS INVOCADODOS UNOS.

Atenção: colocamosum patinho cuti-cutineste anúncio para vocênão se assustar com o visual invocadodo Novo Uno Sporting.

Faróis de neblina invocadosFaróis com máscara negra invocados

Rodas de liga leve aro 15” invocadas Ponteira de escapamento

dupla invocada

MOVIDOS PELA PAIXÃO.

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Ponteira de escapamento dupla invocada

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REVISTA PLUG 20116

Editor: Roberto CivitaPresidente Executivo: Jairo Mendes Leal

Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Elda Müller, Giancarlo Civita,

Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo, Victor Civita

Diretor de Assinaturas: Fernando CostaDiretor Digital: Manoel Lemos

Diretor Financeiro e Administrativo: Fábio d’Avila CarvalhoDiretora Geral de Publicidade: Thais Chede Soares

Diretor Geral de Publicidade Adjunto: Rogerio Gabriel CompridoDiretora de Recursos Humanos: Paula Traldi

Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa

Orientadores: Alexandre Deruiz, Edward Pimenta, Jardel Sebba, Maurício Barros, Thomaz Souto Corrêa Equipe Plug – Arte: Thais Trizoli (edição de arte), Daniela Szabluk, Débora Lovison, Isabela Andrade (designers);

Texto: Camila Lam, Daniela Martins, Filipe Pacheco, Gabriela Loureiro, Hebert Coelho, Laura Capanema, Louise Peres, Luciana Galastri, Nathália Butti, Paula Minozzo; Foto: Alexandre Rezende, Fernanda Frazão, Fernando Frazão;

Ilustração de capa: Jonatan Sarmento; Revisão: Renato Bacci

CURSO ABRIL DE JORNALISMO 2011

Coordenação: Edward PimentaProdução e Logística: Wania Capelli

Assistência de Produção: Valdir Paparazo Júnior e Eduardo Baum Estagiária: Andrea Queiroz

Reportagem: Ismael dos AnjosDesign: Willian Knack

Infografia: Éber Evangelista e Marcelo Garcia

ORIENTADORESCarol Hungria, Cláudia Vassallo, Eduardo Mendes, Fernando Ramos, Giuliana Tatini, Gabriela Aguerre, Katia Perin, Maurício Lima, Phelipe Cruz,

Renata Deos, Ricardo Anderáos, Roseli de Almeida, Sérgio Zallis, Sérgio Gwercman, Tathi Gaspar, Tatiana Schibuola, Zico Goes

PALESTRANTESAlessandra Kalko, Alexandre Ferreira, André Lahóz, Antônio Carlos Castro, Armando Antenore, Angélica Santa Cruz, Brenda Fucuta, Bob Wolfenson,Carlos Graieb, Carlos Maranhão, Carlos Grassetti, Carlos Neri, Cida Junqueira, Cláudia Vassallo, Cristiane Teixeira, Cynthia Greiner, Diego Escosteguy,

Edson Aran, Eurípedes Alcântara, Fábio Portela, Fábio Volpe, Frederico Di Giacomo, Giuliana Tatini, Inês Lima, Jairo Mendes Leal, João Gabriel de Lima, José Carlos Marão, José Hamilton Ribeiro, José Roberto Guzzo, Kika Gianesi, Kiko Nogueira, Laurentino Gomes, Lena Carderari, Lúcia Barros, Luiz Iria, Manoel Lemos, Manuela Novaes, Marília Mello, Marcelo Coutinho, Márcia Neder, Noris Martinelli, Paulo Vitale, Rafael Sbarai, Ricardo Setti, Roberto

Civita, Rodrigo Maroja, Rosângela Petta, Sandra Carvalho, Sandra Jimenez, Sérgio Gwercman, Tatiana Schibuola, Thomaz Souto Corrêa

ALUNOS

Texto: Aline Monteiro, Amanda Denti, Amanda Kamanchek, Aurélio Amaral, Camila Lam, Camila Neves, Cristiane Foroni, Daniela Martins, Daniela Passos, Daniele Pechi, Ernesto Neves, Fernanda Nascimento, Filipe Pacheco, Flora Paul, Gabriela Loureiro, Jun Yassuda Júnior,

Laura Capanema, Louise Peres, Luciana Galastri, Luiza Marques, Nathália Butti, Otávio Cohen, Paula Minozzo

Design: Babi Brasileiro, Daniela Szabluk, Débora Lovison, Denise Del Carmen, Gian Lucca, Isabela Lima, Júlia Giannella, Júlia Lima, Laís Dias, Nathália Rodrigues, Rafael Quick, Renata Miwa, Thaís Trizoli

Mídias digitais: Alexandre Krecke, Gabriela Zago, Lucas Patrício, Nina Neves, Thiago Araújo, Thiago Barcelos, Victor Vinhal

Vídeo: Felipe Bastos, Isabella Infantine, Jackeline Salomão, Marília Marthos, Thais Denardi

Foto: Alexandre Rezende, Fernanda Frazão, Fernando Frazão, Hebert Coelho

Ilustração/Infografia: Adriana Rosa, Aluísio Santos, Max Monteiro

Alunos Internos: Adriana Toledo (Saúde – Texto), Bianca Bibiano (Nova Escola – Texto), Bruno Roberti (Quatro Rodas – Texto), Bruno Xavier (Núcleo Jovem – Design), Erica Martin (Você S/A – Texto), Fernanda Catania (Capricho – Texto), Giuliane Tirabasso (Ana Maria – Design), Nadia Kaku (Núcleo

Casa – Texto), Priscila Boffo (Viagem e Turismo – Design), Ricky Hiraoka (Gloss – Texto), Roberta de Donna (Veja – Texto)

SERVIÇOS EDITORIAIS Apoio Editorial: Carlos Grassetti (Arte), Luiz Iria (Infografia)

Dedoc e Abril Press: Grace de SouzaPesquisa e Inteligência de Mercado: Andrea Costa

Treinamento Editorial: Edward Pimenta

Presidente do Conselho de Administração: Roberto CivitaPresidente Executivo: Giancarlo Civita

Vice-Presidentes: Arnaldo Tibyriçá, Douglas Duran, Marcio Ogliara

www.abril.com.br

Fundador: VICTOR CIVITA(1907-1990)

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carta ao leitor

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jorNaLISmo jovem,de profUNdIdade

Comecei nossa reunião de pauta perguntando para que serve a PLUG. O editor Maurício Barros respondeu de imediato: “Para falar de

jornalismo”. Pensou um pouco e foi além: “Talvez para falar de algo que tem sido muito pouco discutido: jor-nalismo em profundidade”. Era nossa primeira reunião de pauta sobre esta edição da PLUG. Tão rápido quan-to o Maurício teve essa ideia, veio a aprovação unânime: os editores Jardel Seb ba e Edward Pimenta, o diretor de arte Alexandre Deruiz e eu deci-dimos que o tema seria “jornalismo em profundidade”.

Tínhamos uma pequena e jovem redação de 66 alunos do Curso Abril de Jornalismo: 23 da área de texto, 13 designers, 7 mídias digitais, 5 profissionais de vídeo, 3 ilustradores, 4 fotógrafos e 11 alunos internos. A

pauta previa um perfil no Comple-xo do Alemão, no Rio de Janeiro, uma reportagem sobre um show de rock, em Bauru, entrevistas sobre jornalismo com cinco jornalistas de notória experiência; para os fo-tógrafos, um ensaio sobre a avenida Paulista, em São Paulo.

Maurício coordenou a redação, ajudado por Jardel, Edward e Alê. O tempo foi curto, até porque todos tinham outros projetos aos quais se dedicar. O jornalismo em profundi-dade, motivação de todo o trabalho, teve que ser perseguido a duras pe-nas, uma vez que era proibido apa-recer com jornalismo superficial.

Você tem em mãos o trabalho fi-nal, que nos deixou orgulhosos. Nos-sos jovens jornalistas usaram talento e esforço para fazer esta revista. Pa-rabéns a eles. E obrigado aos colegas que os ajudaram e inspiraram.

THomaZ souTo corrÊaJornalista, membro do Conselho

Editorial da Editora Abril

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apresentação

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Nós, jornalistas, temos o poder de esticar o tempo. Como explicar que a gente consiga fazer tanta coisa diferente, e tudo junto? Algumas vezes isso é um problema, acabamos literalmente ar-rumando pra cabeça. Na maioria dos casos, porém, como o desta PLUG, é

justamente aí que está a nossa “cachaça”, o que alimenta a paixão pela profissão: adoramos fazer coisas novas, botar projetos de pé, produzir, inventar.

Todos esticamos o tempo na edição 2011 da PLUG. A começar pelos alunos do Curso Abril de Jornalismo — jovens jornalistas, designers, ilustradores, fotógrafos. A proposta foi produzir a maior parte do conteúdo que você tem em mãos durante o curso, aproveitando a presença física deles no edifício da Editora Abril. Pinçamos um

grupo para trabalhar mais diretamente na revista, jogamos em suas mãos a batata quente. E eles agarraram. Enquan-to assistiam a suas palestras e cumpriam as obrigações relacionadas aos dez projetos, os alunos arrumaram um tempinho para pensar em pautas, discutir conceitos de capa, idealizar um projeto gráfico, agendar e realizar entrevistas e viajar para apurar as reportagens.

Eu, o editor Jardel Sebba, o diretor de arte Alexandre Deruiz e o gerente de treinamento editorial Edward Pi-menta também cavamos brechas improváveis em nossas agendas e, sob a batuta de Thomaz Souto Corrêa, regemos a orquestra, buscando orientar, esmiuçar as dúvidas, apontar os caminhos. Mas jamais fazer o trabalho. Esta PLUG é o resultado do talento dos 66 alunos do CAJ 2011, muitos deles já devidamente absorvidos pelas dezenas de redações da Editora Abril.

tempo de fazermaurício barros

Da esq. para a dir.: maurício barros,

alexandre Deruiz e Jardel sebba.

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sumário

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reportagemTudo por todos10

eNSaIo fotogrÁfICoNa Avenida28

44 eNtrevIStaAlberto Dines

48 eNtrevIStaEurípedes Alcântara

52 eNtrevIStaJune Carolyn Erlick

56 eNtrevIStaEugênio Bucci

60 eNtrevIStaAna Maria Bahiana

64 mão Na maSSaOs 10 projetos do CAJ

18 perfILA voz do morro

Um festival de rock. Jovens queren-do falar sobre ele. Nasce um novo jeito de fazer jornalismo.

Quatro fotógrafos passaram um dia na avenida Paulista. E enxergaram quatro realidades diferentes.

O diretor de redação de VEJA refle-te sobre como fazer uma revista semanal na era dos tablets.

Reflexões sobre jornalismo de quem passou pela grande imprensa, pelo governo e pela academia.

Conheça o que as 66 cabeças pen-santes do CAJ 2011 produziram em 36 dias de suor e ideias

106 fIm de papoJ. R. Guzzo

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reportaGem

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tUdopor

todoSUnindo interesse jornalístico

e espírito coletivo, estudantes fazem cobertura de festivais de

cultura independente e apontam novos caminhos à imprensa

TEXTo GABRIELA LOUREIROE LAURA CAPANEMA

DEsiGN THAÍS TRIZOLIFoTos ALEXANDRE REZENDEiLusTraçÕEs RAFAEL QUICK

Fotógrafos se alternam na função de espectador para registrar as apresentações da seletiva Grito rock, no Jack music Pub, em bauru (sP).

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reportaGem

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São os primeiros 15 minutos do dia 27 de fevereiro em Bauru, no interior de São Paulo. A banda Estação Pri-meira de Bluseira aca-ba de subir no palco

do Jack Music Pub para dar início ao segundo dia da seletiva para o Grito Rock (festival que ocorre entre feve-reiro e março em mais de 60 cidades da América Latina). Renan Simão, estudante de jornalismo de 21 anos, já está no meio do público com seu bloquinho de anotações, enquanto Mariana Duré, de 18, regula as lentes

da máquina fotográfica. Em seguida, outros dois meninos aparecem com uma filmadora. “Vai mais para trás, você tem que mostrar todos os inte-grantes da banda”, diz Diogo Azuma, de 21 anos, para o colega. Perto deles está Bruno Ferrari, de 19 anos, que se revezava entre as funções de fotógra-fo e repórter. Com a câmera na mão, escrevia num caderninho preto, ten-tando driblar a escuridão da plateia. Quem seriam eles? Jornalistas profis-sionais ou apenas jovens registrando o evento? Nem uma coisa nem outra. Era a equipe responsável pela cober-tura colaborativa do festival.

Diante de uma realidade que per-mite que a informação seja transmi-tida em 140 caracteres e qualquer um possa criar um blog, não há nada que não vá parar na tela do computador, do celular ou do iPad. Logo, será que ainda é preciso estar inserido na mídia tradicional para se fazer jor-nalismo? Partindo desse contexto, a iniciativa de grupos que cobrem eventos e utilizam o maior número de ferramentas possível para divulgar uma informação nasceu de forma espontânea. “Acho fundamental que eles tenham consciência de que jornalismo exige colaboração, não

Em uma sala de imprensa improvisada, formada por alguns computadores, uma mesa e muitos colaboradores, o conteúdo que alimenta o blog é criado, regado por muita criatividade.

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pode ser estático. Isso é fantástico, é a união de liberdade com pluralida-de”, diz Olavo Barros, 21 anos, par-ticipante da cobertura colaborativa do festival. A PLUG foi conferir de perto, em Bauru, como funciona esse novo tipo de cobertura.

#Comofaz?A cobertura colaborativa ainda é pouco conhecida no Brasil, mas está sendo disseminada em festivais de cultura independente, produzida por grupos que buscam ganhar ex-periência, enriquecer o currículo e contribuir para que esse cenário se fortaleça. Cada membro da equipe leva o próprio material para cobrir o evento. Vale câmera fotográfica e mini-DV, notebook, microfone, gra-vador e até o bom e velho bloquinho. Todos os participantes têm liberdade de escrever ou filmar de acordo com seu estilo, e quem estiver disponível faz a edição (quando necessária). E

sempre há um responsável pelo que está sendo produzido e divulgado. Assim funcionou com Renan, Ma-riana, Diogo, Bruno e Olavo, que fo-ram escalados para cobrir o evento de Bauru com outros oito colegas.

Para quem quer entrar nesse uni-verso da colaboração ou aprimorá-lo, já há um manual: é o #comofaz cobertura colaborativa, da jornalista Andressa Quadro. Ela participou de uma das primeiras iniciati-vas no Brasil e lançou seu passo a passo como trabalho de conclusão de curso. “O que defendo é que se utilizem recursos básicos do jorna-lismo, como fontes e descrição dos acontecimentos, para tornar o ma-terial mais digno de credibilidade. É como se a cobertura colaborativa buscasse no jornalismo ferramentas que a caracterizem como um veícu-lo de comunicação”, explica.

Em 26 de fevereiro, a cobertura da Seletiva Grito Rock tinha três estu-

dantes de jornalismo e um jornalista responsáveis pelos textos; cinco es-tudantes de artes e jornalismo pelas fotos, mais dois no comando da par-te audiovisual e um “twitter man”, que atualizava quatro perfis ao mes-mo tempo sobre o que acontecia no evento. Todos estão na casa dos 20 anos. Eles não têm um editor, mas um coordenador, Gabriel Ruiz, que organiza as atividades. “Mas ele não nos diz o que fazer nem como deve-mos fazer”, explica Laís Semis, aluna da Unesp de Bauru. Bruno Ferrari, por exemplo, fez uma espécie de blog “gonzo” sobre o festival. Ruiz conta que, quando Ferrari perguntou se podia incluir em sua cobertura que fumou maconha e que curtiu muito um show, o coordenador respondeu afirmativamente. Com tal liberdade, muitos falam mal das bandas e cri-ticam o comportamento do público. Não há restrição de tema, da menina que beijou dois homens no mesmo

a CobertUra CoLaboratIva em 5 paSSoS

1. Alguém divulga um eventoe outros decidem cobri-lo: forma-se um grupo de trabalho. Geralmente com quem já tem interesse no assunto.

2. Do grupo, um coordenador fica responsável por administrar o tempo, o fluxo e a produção do trabalho a ser feito. 3. O grupo escolhe suas

armas, ou ferramentas: Dropbox, Blogspot, Picasa, Megaupload, 4shared, Google Docs, Wordpress...

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to era o Macondo Circus 2009, que utilizou recursos de lei de incentivo à cultura para realizar um festival de múltiplas artes em praça pública. Os organizadores do festival chamaram Fernando Krum, engenheiro elétrico e mestrando em audiovisual, para comandar a cobertura. Krum já havia participado de uma tentativa pareci-da meses antes, durante o Fórum In-dependente de Software Livre (FISL) em Porto Alegre (RS). E que não deu certo porque não havia número sufi-ciente de pessoas interessadas.

Já em Santa Maria, cidade univer-sitária com dois cursos de jornalis-mo, havia estudantes que queriam escrever, fotografar e fazer barulho na internet. O primeiro passo foi chamar conhecidos que se interes-sariam em participar — e pedir a eles que passassem a informação adiante. O boca a boca atraiu 30 estudantes e recém-formados de várias áreas para a cobertura, que, como exigia

dia à guitarra que estava desafinada, passando pela vocalista que mais queria aparecer do que cantar.

Eco o quê?Todos os estudantes integram o E-colab, organização interessada em fazer cobertura colaborativa nos eventos promovidos por um cole-tivo chamado Enxame. Tudo que eles produzem vai para um blog (e-colab.blogspot.com). Coletivos são conjuntos de produtores culturais que atuam de forma independente. Existem 46 deles no país, ligados por um coletivo maior, chamado Fora do Eixo. Funciona como uma rede que segue uma carta de prin-cípios. Nem todos fazem cober-turas colaborativas, mas todas as coberturas realizadas nesses mol-des foram coordenadas por essas organizações. Os participantes da cobertura não precisam necessa-riamente fazer parte do coletivo,

mas sua produção, em geral, vai parar também no portal do Fora do Eixo, que estende, assim, esse con-teúdo para outros pontos do país. Cada participante do processo tem um interesse diferente. No caso da Seletiva Grito Rock de Bauru, que acompanhamos, as bandas tocaram (de graça) para divulgar suas músi-cas, os estudantes ganharam experi-ência, os coordenadores receberam uma parte do lucro da bilheteria, o pub lucrou com os ingressos e o público, por sua vez, ganhou mais uma festa na cidade.

Iniciativa-modeloPara criar o E-colab, em setembro de 2010, Gabriel Ruiz buscou referên-cia em outros projetos, em especial a cobertura coordenada pelo coletivo Macondo, de Santa Maria (RS), que ele define como “a maior cobertura simultânea (na internet) de um even-to sobre arte independente”. O even-

4. Hora de dividir funções: quem escreve, quem fotografa, quem edita, quem filma, faz podcasts e atualiza o Twitter da cobertura.

5. Mãos à obra: com o evento rolando, cada um assume seu posto e sua função.

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a todo momento chegam bloquinhos com informações dos shows e câmeras fotográficas com os cartões cheios para a edição, que ocorre rapidamente.

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reportaGem

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com três computadores e muita disposição, a criação coletiva alimenta a rede em tempo real.

comprometimento, foi feita por apenas 18. “Incentivamos bastante o pessoal a participar. Não existia a figura do editor, mas cada um lia o que o outro estava escrevendo”, conta Krum. Devido aos incentivos fiscais angariados pelo Macondo Circus, foi montada uma infraestrutura rara em coberturas colaborativas. Havia uniforme e credenciais, além de tíquetes para o jantar. O coletivo Macondo se estabeleceu, agregou membros e expandiu o número de eventos realizados. Além das pesso-as que continuam no coletivo, estu-dantes de comunicação participam anualmente: os veteranos chamam os calouros para ocupar seus postos na cobertura, estabelecendo a rota-

tividade de participantes.Jornalista especializado em cul-

tura pop e blogueiro, Lucio Ribeiro é frequentador de grandes eventos de música no Brasil e no exterior. Quando não pode estar, aciona uma equipe. Depois, filtra, edita e publi-ca em seu site. “Antes o jornalista era o dono da informação, o profis-sional estava por cima e o leitor em-baixo. Hoje estão todos na mesma linha. Qualquer um que passa uma informação já é um novo jornalis-ta”, afirma. Ele conta que a maioria dos sites oficiais de festivais de mú-sica internacionais, como o Lolla-palooza e Coachella, nos Estados Unidos, e o Glastonbury, no Reino Unido, já faz uso de fotos e vídeos

que são enviados pelo público. “É um caminho sem volta. Hoje tudo é colaborativo na internet.”

Todo mundo escreve,mas quem está lendo?O modelo chegou à Virada Cultural de São Paulo, em 2008, organizado pelo portal de rádio RadarCultura e pela TV Cultura. Quem estivesse na rua poderia enviar fotos e vídeos diretamente para o Flickr e Youtube, por meio das tags “viradacultural” e “radarcultura”. “A iniciativa foi ótima e a cobertura deu muito certo”, afir-ma a jornalista Ana Maria Brambilla, mestre em comunicação social pela UFRGS e especialista em jornalismo colaborativo no Brasil. Ela começou

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REVISTA PLUG 2011 17

a estudar o assunto em 2003 e aponta a pluralidade de vozes como a grande diferença entre o formato colabora-tivo e o jornalismo tradicional. No entanto, ela indica o maior problema de uma equipe colaborativa: identi-ficar seu público. “Para dar certo, é preciso estar num ambiente com um nicho especializado, como um blog de música que cumpre a função de noticiar determinado evento musi-cal”, explica.

Para um blog que só faz posts sobre eventos culturais de uma cidade de porte médio como Bauru, o E-colab não tem conhecimento específico de quem, de fato, consome o conteúdo publicado ali. Durante o segundo dia da Seletiva Grito Rock, foram regis-trados 143 acessos. Mas de onde vêm esses acessos? De quem não pôde ir ao show? De quem conhece o even-to? De quem estava no show? Não há resposta. A equipe da PLUG conver-sou com 20 espectadores dos shows para descobrir se eles sabiam o que

aquelas pessoas faziam com seus computadores durante o evento. A maioria respondeu com um olhar de interrogação. Apenas quatro jovens entendiam que eles estavam tuitando e escrevendo sobre o evento em um blog. Duas pessoas imaginavam que eles estariam tuitando sobre o evento, mas não de forma organizada.

Ana Maria Brambilla cita o site coreano OhMyNews como outro veículo que não tem claro para que público se destina a sua infor-mação. Criado em 2000, ele foi o precursor do modelo no qual “cada cidadão é um repórter” e passou por uma reformulação justamente pela dificuldade que os criadores tinham para definir quem eram os seus consumidores. Em 2004, foi criada uma versão internacional do portal, em inglês. A dinâmica do OMN funciona com repórteres que se cadastram no site (que inclui até reprodução do passaporte envia-da por e-mail ou fax) e se tornam

membros. A partir desse momento, a pessoa está autorizada a enviar matérias, depois que a sugestão de pauta é avaliada por uma “comissão organizadora”. A edição fica a cargo de uma dupla de profissionais, que trabalham para adequar os textos que chegam de todos os cantos do mundo para uma linguagem jorna-lística padrão. Oficialmente, a equi-pe do OhMyNews International é composta por cinco pessoas, que recebem cerca de 20 reportagens por semana. Ainda assim, a dúvida comum é como evitar as informa-ções erradas, uma vez que apenas duas pessoas dedicam-se à edição e checagem dos dados. Para Ana Ma-ria, qualquer site de conteúdo aber-to fragiliza-se diante do perigo das inverdades. Mas enquanto buscam saber quem é seu público e tentam filtrar as informações, grupos de jovens continuam a experimentar uma nova forma coletiva de fazer uma cobertura jornalística.

Da sala de imprensa improvisada se pode avistar tudo. com a ajuda de um sofá para se apoiar, o fotógrafo pode registrar a movimentação sem perder o lugar.

Page 18: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

perfil

REVISTA PLUG 201118

a voz do morro

O adolescente Rene Silva ficou conhecido ao transmitir pelo

Twitter a invasão do Complexo do Alemão. Hoje ele encarna o nome do próprio jornal que montou: transformou-se na

voz da comunidade

TEXTo PAULA MINOZZODEsiGN THAÍS TRIZOLI

FoTos FERNANDO FRAZãO

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rene na laje da redação do Voz da Comunidade. o local fica na Grota, uma das favelas mais perigosas do rio, porta de entrada da invasão da polícia.

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Jeans, boné, tênis All Star. Nada naquele ra-paz que se move pelas vielas estreitas do Mor-ro do Adeus desperta atenção — talvez por-que, em um lugar que

viveu à sombra do tráfico, parecer discreto seja condição para sobrevi-ver. A única pista é a camiseta do uniforme com a logomarca do go-verno do Rio de Janeiro: Rene Silva, 17 anos, é mais um aluno do Colé-gio Estadual Jornalista Tim Lopes, inaugurado no ano passado, nessa que é apenas uma das 12 favelas que formam o Complexo do Alemão, onde se espremem cerca de 100000 pessoas na zona norte carioca.

Poucos minutos antes das 7h, ele chega à sala de aula e senta na última fileira, rodeado de meninas que conheceu neste que é seu pri-meiro ano no novo colégio. E são elas, ao meio-dia, quando é hora de ir embora, que mostram que Rene é tudo, menos um jovem qualquer

Corbacho, a professora responsável pelos projetos (e que hoje dirige a escola), lembra que Rene era um aluno apenas mediano nas discipli-nas, mas que demonstrava sinais de liderança e muita força de vontade.

Logo surgiu a ideia de ter seu próprio canal de expressão. Rene queria falar das coisas e da gente de sua comunidade. Apontar os pro-blemas de infraestrutura, divulgar ações e eventos de interesse dos moradores. Um poste que ameaça cair. Um beco com lixo acumulado. Um deslizamento iminente.

As primeiras edições do Voz eram feitas em uma folha de tamanho A4, que passava por uma revisão ortográfica feita pelos professores, e logo depois eram reproduzidas na fotocopiadora da escola.

Seis anos depois de criado, o Voz hoje é um tabloide mensal de 16 páginas, com tiragem de 5000 exemplares, que continua sendo distribuído de graça à população do Morro do Adeus. O jornal tem

do Morro do Adeus. As meni-nas pedem que ele tire fotos delas com sua câmera semiprofissional. Quando é a vez de posar junto a Rene, algumas fazem questão de chegar mais perto, numa sugestão de intimidade. O segundo pedido é para colocar a foto no jornal, e logo uma delas reclama que não estava arrumada o suficiente para a foto. “Faltou blush.”

O jornal em que as meninas es-tão ávidas por aparecer é o Voz da Comunidade, onde Rene é repórter. E é também o editor-chefe. E fotó-grafo. E diretor comercial. Ele é o faz-tudo da publicação desde que decidiu fundá-la, em 2005, quando tinha 11 anos de idade.

Na época aluno da 5ª série da Escola Municipal Alcide de Gas-pari, Rene participava dos projetos da rádio e do jornal que o colégio mantém. Fazia parte do grupo de crianças que produzia conteúdo para os dois veículos. Ali apareceu a vocação midiática. Kátia Valeria

Família reunida na porta da casa da avó Nanci. rene, sentado à frente, com os irmãos – ao fundo, tio, avô e avó, com a mãe.

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também uma versão online, que inclui reportagens em vídeo, entre outros materiais exclusivos.

Nos primeiros anos de vida do jornal, seu crescimento foi modes-to. A ideia de um garoto e sua aven-tura midiática atraiu a simpatia da comunidade e a atenção de alguns veículos de imprensa. Rene passou a dar entrevistas aqui e ali contando sua história. Mas nada comparado com o que aconteceria a partir da manhã de 28 de novembro de 2010 — o domingo em que a polícia do Rio de Janeiro invadiu o Complexo para tomar dos traficantes o con-trole do lugar. Naquele momento, Rene viraria, ele próprio, a celebri-dade local com quem as meninas adorariam tirar fotos.

No frontNa maior operação do Estado bra-sileiro contra os traficantes do Rio de Janeiro em toda a história, Rene se viu em uma condição privilegia-da como jornalista: podia relatar o que se passava em tempo real e de dentro do front. Utilizando o Twitter e com a ajuda de dois ami-gos, ele passou a disparar bombas de 140 caracteres. “Intenso tiroteio neste momento no Complexo do Alemão, gente”, “Os traficantes jo-garam uma granada nos policiais! Tenso!” e “Um carro de bombeiro acabou de chegar próximo à rua Joa quim de Queiroz, na Grota!” foram algumas das primeiras notí-cias postadas naquele dia.

E bastou mesmo um dia para

que o Twitter do Voz da Comuni-dade saltasse de 180 para 20000 se-guidores. Pessoas famosas, como o apresentador Marcelo Tas e a atriz Fernanda Paes Leme, divulgaram o canal e a hashtag #vozdacomuni-dade chegou às primeiras posições no Trending Topics Brasil, espécie de “ibope do Twitter”.

Rádios, jornais e televisões pas-saram a monitorar as informações de Rene e seus colegas, utilizando-as como notícia e base para repor-tagens e movimentações de suas equipes. “Depois do dia 28 de no-vembro, ele fez uma revolução no Complexo, o que é muito impor-tante para nós. Tem gente de fora querendo conhecer a comunidade”, diz a moradora Gisele Gulinelli, 28

motos, pessoas e carros se

misturam na movimentada

entrada da Favela da

Grota, perto da redação, ao

cair da noite. a avó de rene não gosta que ele circule por lá, prefere que

ele trabalhe de casa.

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anos, dona de uma loja de artigos de festa no Complexo. O rapaz, dono de um jornal minúsculo, vira-ria então personagem dos grandes veículos de comunicação.

De jornalista a notíciaO telefone não para no gancho. Quem liga procura sempre pela mesma pessoa: Rene Silva. Em frente ao computador, ele atende às ligações sem desviar o olhar da tela, enquanto conversa segurando o aparelho entre a clavícula e a bo-checha. “Quarta-feira não dá”, diz o rapaz, começando a negociação. Quem está do outro lado da linha é um produtor tentando encaixar o pouco tempo livre de Rene na gra-vação de algum programa de televi-são. Ele desliga o telefone com mais uma entrevista agendada. Dessa vez o compromisso é em São Paulo com

uma “joia que precisa ser lapidada”. Ela critica a atuação de Rene na co-munidade, cobrando dele mais ações sociais: “Ele deveria ser mais ligado, ou seja, mais ativo dentro da co-munidade”. Ceinha conta que já foi proprietária de um bar e cantora de pagode e mantém um centro social que leva seu nome há 27 anos. Em tom de discurso, ela lembra como chegou ao cargo em 2007, por meio da primeira “eleição” do Morro do

Na redação reformada após participação no programa Caldeirão do Huck posam (a partir da esq.): renato silva (irmão de rene), Gabriela santos e Jackson alves, primo dele.

Hora da saída no colégio Estadual

Jornalista Tim Lopes. o nome

do colégio é uma homenagem ao jornalista

assassinado no complexo do

alemão.

a TVT, a TV dos Trabalhadores. O convite não o deixa ansioso ou sur-preso. Ele apenas comenta em voz alta o compromisso e segue com o que estava fazendo.

Nos últimos meses, Rene já esteve em programas como Caldeirão do Huck e Altas Horas, da Rede Globo, e concorreu a prêmios de destaque internacional. O jovem tem conta-do sua trajetória inúmeras vezes, situação que o deixa entediado por ter de repeti-la a cada entrevista. “Eles já sabem a história, mas que-rem ouvir da minha boca.”

A visibilidade de Rene gerou ad-miração na comunidade, mas ciúme em algumas de suas lideranças. A cobrança hoje não vem só dos mo-radores, que procuram o menino como ponte para a solução de toda a sorte de problemas. A atual presi-dente da Associação de Moradores, Ceinha do Adeus, o define como

dUraNte a INvaSão do CompLexo do

aLemão, reNe reLatoU oS fatoS

em tempo reaL e de deNtro do froNt

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rene rodeado pelas novas amigas na sede do afroreggae, a oNG que faz trabalhos em várias áreas de favelas no rio de Janeiro.

Adeus. Segundo ela, antes era o trá-fico quem escolhia os presidentes. Presidente zonal do PMDB, ela se diz “parceirona” do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, e não hesita em falar sobre conflitos entre a família de Rene e seus companheiros políticos. Ceinha conta que foi acu-sada pela família de Rene de querer se aproveitar de sua imagem. “Eu só queria ajudá-lo”, rebate.

Um homem de negóciosPor trás do Voz da Comunidade está um rapaz de negócios com um planejamento estratégico informal que vem dando certo. Seus conhe-cimentos sobre administração e jornalismo foram aprendidos na prática. O traquejo para manter o jornal foi adquirido ao lidar com comerciantes e empresários. Foi o próprio Rene, aos 11 anos, quem

correu atrás de anunciantes para o jornal — uma necessidade para que pudesse expandi-lo. Ignorou as fronteiras traçadas pelos chefes do tráfico e desbravou a Grota, princi-pal entrada do Morro do Alemão, em busca de parceiros. A atitude deixava sua mãe, Cristina, nervosa, como ela mesmo admite.

Até pouco tempo atrás, as co-munidades do Alemão e do Adeus eram dominadas por facções rivais do tráfico de drogas. Entretanto, Rene garante que os traficantes nunca dificultaram seu trabalho como jornalista. “Eles também liam o jornal”, diz Jorge Luiz Pas-sos Mendes, ou J.B., como é co-nhecido o coordenador-adjunto do AfroReg gae, instituição cultural que atua nas comunidades carentes do Rio de Janeiro. Rene, porém, ad-mite que nunca abordou no Voz da Comunidade assuntos relacionados

ao crime organizado. Ele argumen-ta que seu objetivo é destacar as questões comunitárias e sociais e o tráfico não interessa aos mora-dores que presenciam sua atuação no dia a dia. Ele diz que era comum traficantes armados, quando o en-contravam, o cumprimentarem e o parabenizarem pelo jornal. “Eles me cobravam no caminho para a escola: ‘E aí, cadê o jornal?’.”

Rene diz que a exposição na mídia tem ajudado suas negociações co-merciais. No começo, conta que sua tática para atrair clientes era cobrar o anúncio só depois de veiculá-lo. A comerciante Gisele Gulinelli, dona da loja Vergis, destaca que Rene a convenceu a comprar anúncios pe-los benefícios que eles trariam. “Ele

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Na comunidade Nova brasília, os donos da loja de artigos de festas Vergis são anunciantes do jornal.

fez a propaganda, mostrou o jornal e falou da questão comercial, disse que divulgaria mais a loja”, lembra ela. “Alguns não acreditavam que o jornal era meu. Agora vários pagam antes mesmo de ele sair.” Rene pos-sui uma tabela de consulta de pre-ços com os valores de cada anúncio ordenados por tamanho. O custo por mês, pela tabela, fica entre 25 e 190 reais. Mas, como ele dá a enten-der, “tudo é negociável”.

Quem primeiro fechou uma cota de anúncios foi uma pequena indústria de uniformes, quase em frente à casa de sua avó. Aloizio José Alves, 46 anos, proprietário da AJA Uniformes, conta que, ulti-mamente, começou a ser bastante procurado pela imprensa por ser o primeiro anunciante do jornal. O custo mensal para manter sua marca na publicação hoje varia en-tre 10 e 15 reais.

O empresário José Novaes, sócio-proprietário do açougue Brasília Carnes, fundado há 27 anos e que

emprega 13 funcionários em Nova Brasília, comunidade do Complexo, diz ter se sensibilizado com a ini-ciativa de Rene, que o procurou em 2005 para fechar negócio. Em seu estabelecimento, José recebe e dis-tribui o jornal que, segundo ele, não traz nenhum retorno financeiro. O anúncio de uma página inteira do açougue não tem valor fixo e varia a cada mês, de 50 a 300 reais. Tudo depende de quanto os proprietários estão dispostos a pagar.

Com o dinheiro que recebe de cer-ca de 40 anunciantes, Rene diz que cobre os custos da gráfica e paga a seus três funcionários e amigos uma “bolsa-auxílio” de 200 reais cada um, valor que pode ser reduzido se hou-ver faltas. O expediente na redação é controlado pelo próprio Rene. Os 400 reais que ele diz que sobram são divididos em economias pessoais e destinados a ajudar a família. Para organizar eventos sociais, Rene bus-ca doações pela internet e de comer-ciantes locais. Aloizio, da AJA, é um

dos parceiros que procuram auxiliar o garoto na execução dos projetos. O jovem já organizou ações como uma colônia de férias para crianças do morro, distribuição de presen-tes no Natal e entrega de chocolates na Páscoa para famílias carentes da comunidade. “Por enquanto, não dá pra viver só do jornal”, diz Rene, que conta com a ajuda financeira da mãe, que é pensionista (o pai morreu quando ele tinha 5 anos).

Em famíliaQuem sente saudade da rotina an-tiga é a avó, Nanci Rezende Costa, 57 anos. “Ela é minha assessora”, diz Rene, referindo-se de manei-ra divertida à forma como Nanci guarda recortes de revista e jornais com reportagens sobre ele. Em uma pasta de plástico, ela reúne algumas reportagens, entre elas, a primeira feita sobre o Voz, do jornal Povo de 21 de dezembro de 2005. Diag-nosticada há sete anos com lúpus, a dona de casa demonstra zelo ao

o primeiro a anunciar no Voz, vizinho e conselheiro do menino, aloizio alves, é dono de uma confecção artesanal de uniformes.

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rene na casa da avó. antes mesmo de ir para a escola, ele já liga o computador e começa o trabalho.

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a vista da laje de onde rene tuitou a invasão – helicópteros modelo Pantera do Exército brasileiro sobrevoam diariamente o complexo do alemão.

assessorar e organizar as coisas de Rene. Ela sabe onde tudo é guarda-do, inclusive as chaves da redação do jornal. Na casa de dois andares e quatro cômodos que se resumem a uma sala, cozinha, quarto e ba-nheiro, moram cinco pessoas — a avó, seu marido e o filho mais novo deles, além de Rene e seu irmão Re-nato. Na sala, ficam todos os apare-lhos domésticos: TV, rádio, ar-con-dicionado e, na mesa, dois laptops.

Ligar o computador é a primeira coisa que Rene faz quando chega à casa da avó. Na volta da escola, ele nem sequer tira a mochila das cos-tas antes de mexer no laptop. Rene dorme todas as noites no sofá da sala, que não comporta seu corpo com as pernas esticadas. A mãe, Cristina, diz que a casa de Nanci, a alguns metros da sua, tem mais espaço para os meninos. Rene não tem preferência entre as duas “por-que ambas têm internet”.

Na estante, veem-se recordações da família, inclusive uma foto do adolescente nos estúdios da TV Globo, aonde foi gravar um depoi-mento para a novela Viver a Vida, de Manoel Carlos. “Nem gostava da novela e assistia todas as noites para ver se ele aparecia”, diz a avó, ao ci-tar que o trecho não foi ao ar. Na parede da sala, quadros com frases e imagens religiosas evidenciam o ritual dos domingos: ir à igreja, lu-gar onde Rene passa em média duas horas nos cultos. Sua mãe também é religiosa, mas frequenta outra igreja da comunidade. Desempregada, ela divide sua atenção com mais dois filhos, Renato e Raquel, que é filha de um segundo casamento.

As atividades de lazer do jovem carioca se resumem a ir à escola, frequentar o shopping da região e encontrar os amigos da comu-nidade ou seus colegas de jornal. Funk e pagode “não são sua praia”.

Sua banda favorita é a de rock teen NxZero. A mãe “agradece a Deus" que o filho não vai a balada, e o fato de ele dizer que não consome bebi-das alcoólicas também é um alívio.

Voz que não quer calarA redação do Voz é um espaço ce-dido pelo AfroReggae no Morro do Alemão. A parceria com a instituição começou com a insistência de Rene em conhecer os membros do grupo AfroReggae. José Junior, fundador e coordenador executivo, recebeu mais de 1000 mensagens do garoto via Twitter. “Se o Rene quiser ir ao Japão, ele vai”, acrescenta J.B., sobre o poder de convencimento do jovem.

Para chegar até a redação é preciso fôlego para subir as dezenas de esca-darias do Morro do Adeus. A vista é privilegiada e a instalação fica pró-ximo da estação de teleférico, ponto onde duas bandeiras, do estado do Rio e do Brasil, foram hasteadas no

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Novo cotidiano do complexo do alemão: menino brinca

diante das tropas de pacificação do Exército que

patrulham a região

dia 28 de novembro, marcando a ocupação militar no Complexo do Alemão. Em dezembro, o progra-ma de Luciano Huck, com o apoio de empresas, presenteou Rene com uma redação novinha em folha, que inclui mesas, cadeiras, computado-res, filmadoras, máquinas fotográfi-cas e um pequeno estúdio. A estru-tura acomoda bem os três repórteres — a amiga Gabriela Santos, 13 anos, o primo Jacskon Alves, 14, e o irmão Renato Silva, 15. O espaço é colorido e o primeiro ambiente tem uma mesa de trabalho e outra de pebolim.

Já no estúdio de fotografia, o amarelo vivo das paredes contras-ta com o tom escuro das casas no morro, visíveis pela janela de vidro. Nos dois dias em que a PLUG es-teve no Complexo, Rene passou pouco tempo por lá, não mais que duas horas. Ele dedicou as tardes a organizar seus compromissos, dar entrevistas e editar o jornal na mesa da sala da casa da avó. Mas ainda assim não deixou de controlar o ho-rário de seus repórteres. “Ele é um bom chefe”, afirma Jackson. Gabrie-la completa: “Exigir faz parte”.

Rene conta que exige, sim, e muito. Cada repórter deve produ-zir de duas a três reportagens por dia. Existem, também, correspon-

dentes de outras comunidades do Complexo que, periodicamente, fornecem material para o jornal. Além das reportagens, também é preciso usar o Twitter para in-formar o que acontece dentro do morro. E não só aos moradores. As autoridades acompanham o Voz da Comunidade. Ele chega a dizer que “99% dos problemas relatados são resolvidos”.

Além de chefe, Rene é uma per-sonalidade de seu próprio jornal. Seu nome aparece várias vezes e em alguns casos, como no exemplar de novembro, ele é o modelo de um anúncio de duas páginas de uma operadora de celular e personagem de uma matéria sobre o Festival do Rio, reproduzida da revista Veja Em março, ele conquistou o Shorty Awards, prêmio internacional que é uma espécie de “Oscar” do Twitter, que premia as inovações na rede. E seu número de seguidores no microblog não para de crescer: o @vozdacomunidade, no momento em que essa reportagem é escrita, tem 56000 seguidores.

Com o dINheIro de 40 aNUNCIaNteS, reNe paga a grÁfICa e dÁ Uma boLSa-

aUxíLIo a SeUS trêS fUNCIoNÁrIoS

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ensaio fotoGráfico

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Na aveNIdaUm carioca, um mineiro, uma paulista do interior e um

paranaense. Os quatro fotógrafos da PLUG passaram um dia na avenida-símbolo de São Paulo, a Paulista, e voltaram com

visões bem peculiares da cidade e de sua gente

Fernando FrazãoAlexandre RezendeFernanda Frazão

Hebert Coelho

FoTo FERNANDO FRAZãO

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ensaio fotoGráfico

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ferNaNdo frazãoDe um olhar incomodado, interpretado nos incontáveis reflexos de prédios espelhados, surge um jogo de adivinhação. A estranheza das formas brinca com a noção de realidade de quem vê, altera a física, tira da forma a arquitetura calculada da rua e questiona: o que é reflexo, o que está torto, o que é real?

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ensaio fotoGráfico

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• fernando frazão

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ensaio fotoGráfico

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aLexaNdre rezeNde

A cidade invisível existe no não-lugar, tre-cho pelo qual passamos e onde habitam seres igualmente invisíveis. São pessoas que vivem escondidas pela indiferença ou por trás de capacetes surrados que carregam a marca das poucas vezes em que foram vistos, caídos em algum cruzamento da avenida Paulista.

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ensaio fotoGráfico• alexandre rezende

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ensaio fotoGráfico

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ferNaNda frazãoNa avenida mais movimentada da cidade, busquei retratar o meio que, literalmente, car-rega as pessoas, em idas e vindas incessantes. Muitos veem suas vidas passar por letreiros de destino; outros, nem vê-las conseguem.

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ensaio fotoGráfico• fernanda frazão

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ensaio fotoGráfico

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hebert CoeLho

Captar o olhar de quem vê, de dentro para fora, de fora para dentro. As janelas dos ônibus que passam pela Paulista recortam uma reali-dade, trazendo à tona a ten-são do que está na rua, sem revelar o fim da história.

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entrevista

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a profUNdIdade eStÁ No ImpreSSo

como você descobriu a vocação para o jornalismo?Eu não descobri. Meu negócio sempre foi cinema, meu sonho era ser documentarista. Mas o cinema brasileiro era muito precário na década de 1950, então me oferece-ram uma vaga para ser crítico de cinema na revista A Cena Muda. Quando a revista Visão, que é uma precursora de VEJA, surgiu no Rio de Janeiro, eles precisavam de um repórter para assuntos culturais e me chamaram. Do alto dos meus

Alberto Dines

TEXTo NATHáLIA BUTTIFoTos ALEXANDRE REZENDE

20 anos, não tive dúvidas: trabalha-ria na revista, com salário garanti-do, e depois ia pensar em cinema. Não cursei jornalismo, mas fui me deixando levar e descobri que, no fundo, as atividades são muito se-melhantes. Ambas exigem visão generalista e vontade de entender o mundo, de colocar tudo no lugar.

Qual é sua opinião sobre a obri-gatoriedade do diploma?O jornalismo é uma profissão que existe há 2000 anos, não é algo que

se aprende por osmose. Sendo uma profissão, ela tem de ser, de alguma forma, regulamentada — por meio do diploma ou de uma Ordem dos Jornalistas, que seria como funcio-na a Ordem dos Advogados do Bra-sil, por exemplo, na qual é preciso fazer um exame para checar a ap-tidão. Tem de haver um estudo sis-temático, sim, na graduação ou na pós. Acredito que podemos abrir a graduação, atrair o profissional com ampla base que gosta de jornalismo e fazer dele um jornalista.

Alberto Dines foi repórter da revista visão e diretor-assistente da manchete. Trabalhou no Jornal do Brasil, editou o Última Hora,

dirigiu os Diários Associados e a sucursal da fo-lha de s.paulo no Rio de Janeiro. Como secretário editorial do Grupo Abril, em 1983 participou da criação do Curso Abril de Jornalismo. É fundador e coordenador do site Observatório da Imprensa.

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entrevista

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Qual foi a reportagem mais mar-cante que você fez?Em 1958, fiz uma matéria com des-cendentes de quem havia vivido a Segunda Guerra Mundial. Localizei uma aeromoça cujo pai, alemão, foi linchado na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha. Peguei gente de toda espécie e montei um panorama da guerra só com os des-cendentes. A matéria ficou muito bem construída. Gostei porque isso é jornalismo, mas também é cine-ma. Teve outra que me marcou em 1955, quando houve um contragol-pe para permitir a posse de Jusce-lino. O clima era de tensão. Então, reuni os maiores humoristas do Rio — gente como Millôr Fernan-des e Carlos Estevão — para tomar chope. Eles desenharam uma capa conjunta e eu escrevi uma matéria sobre o humor político brasileiro. O título era “O golpe é rir”. Gosto de matérias analíticas. Nunca fui da banalidade, o negócio do lead qua-dradinho não era comigo.

E como surgiu o site observató-rio da imprensa?Na década de 1990, tínhamos um laboratório na Unicamp, o Labjor, de estudos avançados em jornalis-mo. Uma das conclusões, minha sobretudo, era que o debate sobre

o jorNaLISmo tem qUe Ser, de aLgUma forma,

regULameNtado — por meIo do dIpLoma oU de Uma ordem,

Como a oab fUNCIoNa para oS advogadoS

a imprensa não podia ficar cir-cunscrito nem à academia nem aos sindicatos, tinha que ir para a rua. O usuário da informação tinha de discutir como aquela informação chegava até ele. Mas faltava viabili-zar a proposta. Então um dos nos-sos companheiros, o Mauro Malin, sugeriu: “Vamos fazer isso na inter-net”. Achei uma grande ideia por-que não custava nada, só precisá-vamos de um provedor. Então, em 1996, o UOL nos hospedou, o que nos deu uma visibilidade formidá-vel. Depois, mudamos de provedor e fizemos também uma TV e um rádio. A nossa verba do site vem de poucos e discretos patrocinadores.

Você foi o primeiro a usar a ex-pressão “imprensa marrom”. como ela nasceu? A história é folclórica. Em 1959, eu trabalhava no Diário da Noite e sou-bemos do caso de um rapaz ligado ao cinema que havia cometido suicí-dio, mas descobrimos que ele havia sido chantageado por uma revista de escândalos, acho que tinha a ver com homossexualismo. Essas revis-tas fotografavam festas, sobretudo o carnaval, e chantageavam os envol-vidos depois. Escrevi a manchete “Jovem cineasta se suicida por causa da imprensa amarela”, algo assim. A expressão “imprensa amarela” é

universal, vem do yellow press, que é o grupo de jornais de escândalo norte-americanos do fim do século 19, um jornalismo inteiramente ir-responsável. Chamaram de amarela porque havia um caderno de qua-drinhos em papel amarelo, e o nome pegou. Pois bem, nesse momento passa atrás de mim o chefe de repor-tagem, o já falecido Calazans Fer-nandes, um tipo extraordinário. Ele, que era do Rio Grande do Norte, falou: “Poxa, mas amarela? Na mi-nha terra, amarelo é cor alegre. Põe marrom aí, cor de merda”. Aí colou. Fizemos uma campanha forte con-tra essa imprensa marrom e conse-guimos acabar com as revistas.

Você foi o grande responsável pela remodelação do Jornal do Brasil, uma referência de bom jornalismo dos anos 1950 aos 1980. Por que você saiu de lá e como foi assistir ao fim do Jor-nal do Brasil?Fui demitido porque escrevi uma crítica no Observatório da Impren-sa sobre uma manchete do JB que favorecia [o ex-governador do Rio] Anthony Garotinho, evidentemen-te comprada. Quanto ao fim, eu já esperava, não houve a menor sur-presa. Desde que o Nelson Tanure ficou com o jornal, sabia-se que ele ia repetir o que fizera com a Gazeta Mercantil. Ele era especialista em comprar esqueletos e ressuscitá-los, o que considero legítimo, mas é preciso gostar do metiê. Ele não gostava, não lia.

o que falta para termos um jor-nal modelo no brasil?Falta gente querendo fazer e empre-sários querendo investir. E, sobre-tudo, acreditar, porque o que está

Alberto Dines

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acontecendo é que empresários e jornalistas perderam a fé na pro-fissão. Quando um empresário diz publicamente que, em 40 anos, o veículo dele vai desaparecer porque estará todo na internet, está anun-ciando a morte.

É possível que um veículo sobre-viva só na internet?Eu acho que a admissão de que o jornal impresso vai acabar é pe-rigosa. A plataforma da internet obriga que o tipo de jornalismo seja completamente diferente. As repor-tagens online não têm tanto fôlego porque a internet é fluxo contínuo. Você liga agora, tem uma notícia. Daqui a meia hora, outra. Mas o jornalismo que conhecemos, tra-dicional, é periódico, tem hora pra fechar. O acontecimento tem de ser apresentado com princípio, meio e fim. O jornalismo digital não pode

ser costurado como o tradicional porque a internet não tem hora.

Então o impresso não está com os dias contados?Acredito e espero que ele não vá acabar. Eu pego o jornal espanhol El País, que recebo uma vez por se-mana, e leio com enorme prazer. O

ser humano é muito avarento, não abre mão das coisas boas que inven-tou. Veja os navios à vela, a pólvo-ra... As pessoas aprimoram o uso, mas não largam. Gostamos de jor-nais impressos periódicos durante os últimos 400 anos, e não vamos abrir mão disso.

Nessa discussão entre impresso e online, você acredita na con-vergência das mídias?Acho que não. Você não vai poder integrar o impresso, a notícia vai fi-car na linguagem de internet, onde você tem o apelo de ler depressa, de acompanhar só as novidades. Pode ser que o tablet signifique essa con-vergência total, mas acho difícil, porque você não vai ter tempo de ver tudo o que pode ser oferecido. Você vai ter que ser editor de si pró-prio e isso toma muito tempo. O leitor comum não é um jornalista.

Nononononnononononononon

nnonononononnonononononn

a INterNet obrIga qUe SeU tIpo de jorNaLISmo Seja CompLetameNte dIfereNte, Sem taNto fôLego

“Gostamos de jornais impressos periódicos durante 400 anos, e não vamos abrir mão disso”, afirma alberto Dines.

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entrevista

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TEXTo FILIPE PACHECOFoTos FERNANDA FRAZãO

o qUe me INtereSSa é a NotíCIa

contrato social. Quando você coloca a Angélica e o Luciano Huck na capa e há uma revolução acontecendo no Egito, muitos leitores nos cobram: “Assino a VEJA justamente porque é uma revista séria, ligada em assun-tos importantes”. Essa cobrança é histórica. Mas é como uma briga fa-miliar, não significa um rompimen-to. Significa apenas a decepção de alguns, em geral a minoria.

o Twitter da revista é bem atuan-te. Por meio de plataformas como

Hoje o leitor de VEJa se comuni-ca com a revista de forma muito mais fácil que no passado, por e-mail ou pelo Twitter. isso mudou a forma como a revista é pensada semanalmente?Não. O feedback que você tem do seu leitor é muito grande. As no-vas tecnologias permitem que isso se dê em volume e velocidade muito maiores. Mas as angústias e as apro-vações dos leitores são absolutamen-te as mesmas de quando eu come-cei. VEJA estabelece uma espécie de

E urípedes Alcântara está há 30 anos na reda-ção de VEJA, da qual é diretor desde março de 2004. Começou como chefe de redação

da sucursal de Belo Horizonte, foi correspon-dente em Nova York e seguiu como editor as-sistente, editor, editor executivo, redator-chefe e diretor-adjunto da revista. Antes, foi chefe de reportagem do jornal o Globo na capital mineira.

essa, ela fala com um público que não é tão próximo da revista, ou que ela desconhecia?Sem dúvida. É um diálogo muitas vezes de surdos, porque é travado sobre conceitos, de opiniões sobre matérias da VEJA que a pessoa não leu, e é respondido por outra que também não leu... Aí nosso editor de mídias sociais, o Rafael Sbarai, entra e fala: “Gente, vocês não estão entendendo. Está aqui o repórter que fez essa matéria. Vocês que-rem fazer uma pergunta?”. É uma

Eurípedes Alcântara

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“Jornalista de internet precisa da mesma qualidade que os outros”, diz Eurípedes alcântara

Eurípedes Alcântara

maneira de interferir e mostrar o seguinte: do lado de cá tem gente de carne e osso. Nós temos que usar o Twitter para mostrar que, embora isso seja o Twitter, existe uma pes-soa que fala em nome da VEJA.

E o que esse leitor espera de uma revista semanal em meio ao bom-bardeio de informação diária que ele sofre dos veículos digitais?O desafio é o mais clássico de to-dos. Os jornais olham para o céu e enxergam estrelas, as revistas se-manais olham para o céu e têm que enxergar uma constelação. O leitor não pode sair da leitura de uma ma-téria sem que fale: “Olha, a VEJA está dizendo que a soma de A mais B resulta em um estado C, com o qual não concordo, mas acho inte-ressante como eles trabalham isso”. Ele vê que houve uma tentativa de

organizar, contextualizar e analisar os fenômenos. Porque os jornais não podem fazer isso, as televisões não conseguem e o rádio muito menos. Nós vendemos significado.

É o que a revista considera o produto mais valioso?Sim, quando você consegue mos-trar que é. Muitas vezes é difícil, porque a tendência do jornalista é não arrebanhar diante de um todo complexo. Então os nossos edito-res executivos fazem isso, esse é o trabalho deles. Há ocasiões em que, na pressa, você não consegue. Outras vezes, ao fazer um produto muito acabado, com um significa-do muito fechado, você pode dar a impressão de ser arrogante. Nos-so trabalho é colocar no leitor um fone antirruído. Primeiro, para que o cara tenha um silêncio. E dentro

desse silêncio você constrói o seu espetáculo de notícia.

o que você espera de repórteres que queiram trabalhar na revis-ta VEJa ou no portal VEJa.com? Eles precisam ter características diferentes?De jeito nenhum. Existiu uma ilu-são temporária que prosperou como

aS matérIaS da VEJA preCISam orgaNIzar,

CoNtextUaLIzar e aNaLISar oS feNômeNoS

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se a internet tivesse reescrito regras. Primeiro da apuração, depois do estilo do escrever, depois da qua-lidade editorial. Existiu essa ideia de que na internet a gente concorre de segundo a segundo, e se estiver ruim a gente tira. De repente, os portais começaram a trazer as mes-mas manchetes, com a ideia de que o jornalismo de internet é diferente, que ele escreve para o internauta. O que acontece é que em uma ponta você tem um ser humano e na ou-tra você tem outro ser humano. E aí você vê que o jornalista de internet tem que ter a mesma qualidade de qualquer outro.

E como o portal VEJa.com se posiciona diante dos outros por-tais de notícia?VEJA.COM nasceu entendendo esse universo, assimilando essas regras, porque seria um erro dar murro em ponta de faca. A gente enxerga os portais como planta-ções onde as nuvens de gafanhotos da internet passam e comem um pouco aqui, e depois vão para ou-tro, para outro e voltam em você. Nosso ponto é o seguinte: a gente dá a notícia imediata, para mostrar que estamos no jogo, mas, quando o leitor faz a ronda toda e volta ao portal, ele tem que ter ali informa-ção de maior qualidade. Isso está começando a dar resultados. Você vê que o leitor fica muito satisfeito.

jÁ qUe o Ipad é dIgItaL, SerÁ qUe a edIção da VEJA Não poderIa Ser atUaLIzÁveL ao LoNgo da SemaNa?

Nós temos mecanismos de medida que mostram que ele passa mais tempo com você.

Hoje as equipes do online e da revista mantêm um diálogo constante?Elas têm pontos de contato, que se-rão ampliados com o tempo. Por exemplo, em uma área de documen-tários e vídeos, que vai pertencer às duas. A mesma coisa para a área de gráficos animados. Não faz sentido você fazer um gráfico que vai colo-car na revista e depois ter de come-çar tudo de novo para colocar no portal. Na revista impressa, há um momento em que você tem que con-gelar e mandar para a gráfica, certo? Mas o mundo não está esperando. Então o ideal é que o VEJA.COM seja a continuação da VEJA, ainda que isso ainda não seja feito da ma-neira como deveria.

Existe espaço para grandes re-portagens em meio a tanta no-tícia instantânea?Se na internet você é especializado em catalogar e falar sobre formigas, essa é sua vida profissional, você pode se aprofundar nisso, se espe-cializar. Mas o que me interessa, seja na internet, seja na revista, é a notícia. A Apple, a segunda maior empresa na Bolsa de Nova York, cresceu criando produtos que as pessoas não sabiam que queriam,

não gastou um tostão com teste de satisfação ou pesquisa de merca-do. Hoje o cara sabe que quer um iPad ou um iPod. Da mesma forma é a notícia. O leitor não sabe o que quer. A ideia não é tentar descobrir o que ele quer ler, mas arrumar ma-térias que façam com que ele diga: “Não tenho tempo, mas vou ter que ler sobre isso”.

Existe hierarquia entre um meio e outro? Pode existir preconcei-to na hora de publicar algo na revista e não no portal?Existe. Se você tem um furo e ele não vai resistir até sábado, você põe no online, é óbvio. O online agora começa a ter certas abordagens que você lê e pensa: “Olha, essa é a abor-dagem também da revista”. Agora a gente tem também o iPad, no qual acrescentamos vídeos, animações. A redação da VEJA vai precisar ter uma editoria que pense especifica-mente nisso. E aí a fronteira final é a seguinte: já que o iPad é digital, será que a edição da VEJA não po-deria ser atualizável ao longo da se-mana? Você não poderia dar a capa na quarta-feira? O The Daily [jornal criado exclusivamente para o iPad] já vem colocando esse enigma. Se o assunto for quente, pode ter quatro, cinco edições. Por que uma semanal não pode? Por que um anuncian-te que botou um anúncio a X reais, após ver o preço do concorrente, não pode mudar de ideia e baixar o pre-ço? Tecnicamente pode. Eticamente pode. “Ah, mas a revista é semanal.” Mas o que é revista? Revista é revisi-tar, é rever fatos que aconteceram e dar a eles um sentido. Uma semanal não precisa ser como um site, que se atualiza com uma frequência muito grande. Mas poderia ser atualizável.

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aS peSSoaS têm fome de boaS hIStÓrIaS

TEXTo LUCIANA GALASTRIFoTos ARQUIVO PESSOAL

June Carolyn Erlick é apaixonada pela América Latina desde 1975, quando foi escalada para cobrir um terremoto na Guatemala por saber

falar espanhol. A norte-americana tornou-se pro-fessora do Centro David Rockefeller de Estudos da América Latina, na Universidade de Harvard, e é editora da publicação acadêmica revista, que se propõe a repercutir as questões do continente.

No início de sua carreira, você foi enviada para a américa La-tina por ser a única repórter da sua redação que sabia falar es-panhol. Hoje sabemos que não é apenas a fluência em uma se-gunda língua que proporciona aos repórteres a oportunidade de escrever grandes matérias. como um jornalista no início de sua carreira deve se prepa-rar para isso?Você deve se preparar, ler muito. E, em qualquer reportagem, não ficar

June Carolyn Erlick

preso às fontes oficiais. Pessoas co-muns também importam.

Ficar preso às fontes oficiais é um vício de iniciantes?É uma aflição de todos os jornalistas, independentemente da experiência. É a forma mais fácil de produzir uma matéria e, como o tempo urge, isso acaba nos fazendo dependentes de fontes oficiais.

como fugir desse ciclo?É só se importar com os persona-

gens da matéria, ouvi-los de ver-dade. Use um gravador, se quiser, mas não confie muito nele. Se você pode interagir com seu entrevista-do, não fique apenas falando. Se o personagem é uma cozinheira, pas-se uma manhã na cozinha com ela. Ou faça uma ronda com ele, se for um policial. Olhe para o mundo e anote tudo: os sons, os cheiros. Você irá esquecer todas essas impressões se não as anotar e elas podem ser muito importantes na construção de sua matéria.

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além dos personagens e das im-pressões do repórter, quais são os outros elementos de uma boa reportagem?Boas citações, descrições, uma or-ganização impecável. E, lógico, en-contrar a tensão, o drama que há em cada pauta. E usá-lo como fio condutor de sua história.

como surgiu a publicação que você coordena em Harvard, Re-Vista, que aborda questões da américa Latina? Quando passei a lecionar em Har-vard, em 1997, me pediram para editar uma newsletter chamada DRCLAS NEWS [a sigla representa o departamento de Harvard onde June trabalha, o David Rockefeller Center for Latin America Studies]. Na segunda edição que coordenei, perguntei ao meu chefe se podería-mos fazer edições temáticas. Ele me disse que provavelmente não fun-cionaria, mas que eu poderia ten-tar. Ao contrário da previsão dele, a reação foi extremamente favorável, então continuamos com os núme-ros temáticos. A newsletter cresceu

e logo se tornou uma revista, com colaboradores importantes.

ReVista é uma publicação acadê-mica que investe em reportagens aprofundadas. No circuito comer-cial, ainda há espaço para esse tipo de trabalho?Eu definitivamente acredito que ain-da há espaço para boas reportagens. Aquela febre de matérias rápidas e pouco profundas que atingiu jornais e revistas por causa da televisão, inicialmente, e depois pela inter-net, está passando. O fato é que há muita informação por aí e o que as pessoas realmente estão querendo, e passarão a procurar cada vez mais, é uma boa narrativa.

assim, as novas tecnologias não vão acabar com o espaço das grandes reportagens?Ao mesmo tempo que as pessoas estão lendo matérias aprofundadas, elas estão no Twitter comentando o assunto. A grande reportagem nun-ca vai desaparecer. As pessoas têm fome de boas histórias. Cabe a nós alimentá-las.

Quais são os temas mais rele-vantes a serem abordados sobre a américa Latina?A questão da cidadania é, atualmente, muito importante, como os cidadãos são integrados na sociedade. De quem são os recursos naturais, como os lu-cros devem ser devolvidos à comu-nidade. Isso faz parte do diálogo que deve ser feito sobre cidadania. E nis-so a imprensa deve servir como uma entidade vigilante, desmascarando es-quemas de corrupção ou denunciando o desrespeito aos direitos humanos.

Em um artigo chamado “candi-

dates and caballos”, você fala sobre um grupo de colombianos chamado de zorreros – equiva-lentes aos nossos catadores de papel. ameaçados de perder os cavalos que puxam suas carroças, os zorreros recorreram à Justiça e conseguiram manter os animais. Você chamou isso de pequena vi-tória da democracia. a democra-cia nos países latino-americanos está ficando mais fortalecida?Acredito que não é a democracia e sim os cidadãos que estão ficando mais fortes. E isso não está aconte-cendo apenas nos países latino-ame-ricanos. Para ser sincera, espero que esse seja um fenômeno que se repita da Colômbia à Tunísia.

o que você acha do jornalismo na américa Latina? Aqui em Harvard, recebemos dois ou três jornalistas da região por meio da Fundação Nieman, que oferece bolsas de estudo para jornalistas es-trangeiros. Tive a oportunidade de conhecer grandes profissionais que, por várias vezes, se destacaram sobre seus colegas norte-americanos. Mas não acho que possa agrupar os jor-nalistas latino-americanos em uma categoria. Há os jornalistas corrup-tos, os preguiçosos, aqueles que não sabem fazer uma reportagem, ou os que não podem. E há também os ma-ravilhosos repórteres investigativos e os que são escritores incríveis.

Quando você diz “os que não po-dem”, fala de censura?Com certeza. O próximo assunto de ReVista será justamente a autocen-sura. Acredito que no México e em várias outras partes da América os jornalistas precisam praticar a auto-censura para continuarem vivos.

Se voCê pode INteragIr, Não fIqUe SÓ faLaNdo. paSSe o dIa Na CozINha Com

Uma CozINheIra, faça a roNda Com

Um poLICIaL

June Carolyn Erlick

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E no brasil, você também vê esse problema? como classifica a re-portagem no país?Não leio em português muito bem, então não posso analisar corretamen-te a rotina da imprensa brasileira. Mas acredito que os pequenos jornais regionais, que são muito importantes para suas comunidades, sofrem com a falta de repórteres treinados.Em relação à capacitação do jorna-

lista, recentemente foi derrubada a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão no brasil. Esse “treino” para ser um bom repórter deve incluir formação universitária especializada?Acredito que jornalistas devem ler muito e se envolver tanto com a cul-tura popular quanto com a chama-da “cultura elevada”. Uma formação acadêmica pode fornecer todo um

contexto para esse aprendizado, mas um diploma de jornalismo não é pré-requisito para um bom repórter. Jor-nalistas devem ser curiosos e buscar oportunidades de aprendizado. E elas aparecem tanto em sala de aula quan-to nas ruas.

Você oferece essas oportunidades de aprendizado para alunos es-trangeiros, com aulas a distância. Qual é a mensagem que deixaria a eles?Ensino a eles a mesma coisa que ensi-no aos meus alunos americanos, nas aulas presenciais. Falo sobre jornalis-mo e reportagem e acredito que ter essa grande diversidade de alunos faz com que minhas aulas fiquem mais interessantes.

hÁ mUIta INformação por aí e o qUe aS peSSoaS reaLmeNte eStão

qUereNdo, e paSSarão a proCUrar Cada vez maIS, é Uma boa NarratIva

“Diploma de jornalista não é pré-requisito para um bom repórter”, diz a professora June carolyn Erlick

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o púbLICo Sempre proCUra CredIbILIdade

TEXTo DANIELA MARTINSFoTos ALEXANDRE REZENDE

E ugênio Bucci foi diretor de QUATRO RODAS, PLAYBOY e SUPERINTERESSANTE e Secretá-rio Editorial da Editora Abril. Durante o pri-

meiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, esteve à frente da Radiobrás. É doutor em Comunicação, dirige uma pós-graduação em Jornalismo da Es-cola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e é docente da Universidade de São Paulo (USP).

como você avalia as mudanças no jornalismo nestas últimas décadas? Atualmente, a sua geração edita um vídeo no celular e recebe informa-ção de outros agentes sociais com enorme facilidade. Antes, esses de-poimentos, testemunhos, declara-ções chegavam para o jornalista na redação por meio de palavras. Hoje, esses relatos são obtidos por meio de vídeos, de áudios, de fotos. A outra questão é que não existe mais, exatamente, aquela hora solene do

Eugênio Bucci

fechamento. Pense no ciclo do jor-nal diário: a cada 24 horas as coisas são atualizadas. Hoje convivemos com modelos de fechamento a cada segundo. A visão de que o jornalis-mo oferece ao público um relato em permanente confecção é muito mais gritante. O jornalismo é um relato inacabado. Sempre foi, mas hoje o é mais abertamente. com essas mudanças, como deve ser o profissional dos próximos anos?

Nós não estamos em tempos de grande mudanças agora, com o lançamento do iPad. Há 160 anos as mudanças vêm acontecendo num ritmo que se acelera cada vez mais. Mas, com essa velocidade, nossa sensação é de que nunca foi desse jeito. E nesse tempo o grande de-safio, muitas vezes, não é ver o que está mudando, mas identificar o que permanece. Só as redações indepen-dentes serão capazes de oferecer uma mediação satisfatória. Há um aumento na oferta de notícias na

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internet, mas o público tende a pro-curar as que vêm com o selo de uma redação que oferece credibilidade. Porque, se a internet proporciona um volume incalculável de notícia, ela oferece também uma grande pergunta: em que notícia eu posso acreditar? E essa resposta tem a ver com credibilidade, que, por sua vez, tem a ver com tradição. Você é contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo? Isso não tem a menor importância. O diploma no Brasil veio com a re-gulamentação da profissão, o que ajudou a deslocar práticas antigas para um patamar civilizado. Isso cumpriu um papel, não quero igno-rar a história. Agora, a exigência do diploma para o exercício da profis-

são é uma bobagem. Nenhum país democrático exige diploma.

sem diploma, como um jornalista deve se formar? A formação em jornalismo vai ser cada vez mais necessária. E isso é engraçado, porque nós temos uma tradição nas redações brasileiras que diz que “escola não ensina nada”. Em grande parte, isso era verdade. A escola só servia para o cara tirar o diploma. Agora os jornalistas es-tão mais abertos, não porque caiu a exigência do diploma, mas por uma evolução natural, inclusive de mer-cado. Haverá uma valorização da formação continuada.

Na cobertura brasileira, é mais adequado tentar praticar a isen-ção, assumir a posição do veículo

ou ambas vertentes são possíveis e válidas? uma revista pode as-sumir posição eleitoral?A separação entre a informação e a opinião não é como no jornal. A declaração de apoio numa revista é outro tipo de escolha. Significa você engajar toda uma revista numa

“as mudanças não começaram com o iPad, elas estão acontecendo em ritmo acelerado há 160 anos”, diz Eugênio bucci

NeNhUm paíS demoCrÁtICo exIge

dIpLoma para jorNaLISta. a exIgêNCIa

deLe é Uma bobagem

Eugênio Bucci

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campanha. Isso é interessante ou não? Quando você declara o voto, você faz isso. Acho legítimo que uma revista ache um candidato me-lhor que o outro. E, muitas vezes, acho que é até melhor para o leitor para ele situar melhor a orientação. Em televisão e rádio, o apoio edito-rial explícito a um candidato beira a ilegalidade, isso quando não consti-tui flagrante ilegalidade. Porque TV e rádio são concessões públicas de frequências de espectros eletromag-néticos. São serviços públicos pres-tados por particulares ou pelo pró-prio Estado. Como serviço público, esses veículos devem se abster de apoiar A ou B, tanto expressamente quanto veladamente. os veículos públicos de comuni-cação cumprem o papel que de-veriam?É uma esculhambação, porque te-mos o predomínio da comunicação comercial sem regras claras. Não existe regulamentação do mercado. Olha que não estou falando em re-gulação de conteúdo, pelo amor de Deus. Ninguém sabe exatamente quais são as regras. A Constituição estabeleceu parâmetros que jamais foram regulamentados. O Ministé-rio das Comunicações é uma caixa-preta. Pior, é um buraco negro. Você não consegue nem descobrir quem é dono de que emissora. A verdade é que a radiodifusão funciona à mar-gem da lei. Além disso, os veículos públicos – nenhum ou quase ne-

nhum – são de fato públicos. Todos são direta, ostensiva ou disfarçada-mente comandados pelo governo. É uma coisa de congraçamento, com cara de oficial, chapa-branca, e isso é um problema gravíssimo da comu-nicação pública no Brasil. É um país que ainda tem A Voz do Brasil, que é de um anacronismo inacreditável.

E por que isso acontece?É um resquício do patrimonialismo da política brasileira. Os políticos achavam que podiam usar o Estado segundo suas preferências pessoais, familiares, comerciais, religiosas, políticas... Em várias outras fren-tes, isso foi sendo superado. Hoje, se o cara fala que “nesse hospital só trabalha gente do meu partido e vou atender só gente da minha família”, ninguém vai aceitar. Já passamos dessa fase. Nas emissoras públicas, essa situação meio que permaneceu. Estamos num país em que você liga o rádio, a Voz do Bra-sil fala bem do governo e ninguém fica bravo por causa disso. Você foi presidente da radiobrás entre 2003 e 2007. Presenciou al-guma história de crítica ao go-verno lá dentro?Fizemos a cobertura de um seminá-rio, que eu ajudei a organizar, pelo fim da obrigatoriedade de A Voz do Brasil, que, aliás, saiu na própria A Voz do Brasil. Então, algumas coi-sas, algumas sementes, estavam ali. E houve muitos protestos e minis-

tros que diziam que a Radiobrás fazia jornalismo de oposição. Não fazia, mas isso não deixava de ser um indicador de que ela vinha se afastando do governo. Pode-se di-zer que houve um pequeno deslo-camento nesse sentido.

a criação de um órgão governa-mental de regulação de mídia no país pode significar controle de conteúdo?A radiodifusão precisa de regula-mentação, como acontece em outros países democráticos. O conteúdo tem de ser totalmente livre. A re-gulação é um perigo, por isso que o governo está recuando dessa ideia. É preciso ter cuidado. Tem gente ain-da que diz que o controle seria con-duzido por pessoas que só olham o bem da sociedade. Sempre começa assim. Esse é o ciclo do autoritaris-mo, que pode significar censura, controle do conteúdo. Não há um exemplo de regulação de conteúdo que tenha melhorado a comunica-ção de um país.

com a experiência no governo, você diria que podemos confiar em fontes oficiais? Informação de governo não é sus-peita por definição, mas não é sinô-nimo de verdade absoluta. Assim como informação da oposição não é sinônimo de verdade. O dever do jornalista é ser crítico e cético em relação à informação e respeitoso em relação às pessoas. Você pode pedir para verificar os fundamentos de uma determinada informação sem ter de chamar o emissor dessa informação de canalha e mentiroso. São coisas diferentes. E às vezes há canalhas e mentirosos que dão in-formações verdadeiras.

em teLevISão e rÁdIo, qUe São CoNCeSSõeS púbLICaS, o apoIo a CaNdIdatoS beIra a ILegaLIdade

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voCê deve dar ao SeU LeItor maIS do qUe eLe pede

TEXTo LOUISE PERES

A na Maria Bahiana trabalhou na folha de s.paulo, o Globo, o estado de s. paulo, Jornal do Brasil e nas revistas Bizz e set. Colabora

com as TVs Globo e Telecine e desde 1987 está em Los Angeles cobrindo o mundo do entretenimen-to norte-americano. Faz parte da Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, que anualmente elege os vencedores do Globo de Ouro.

como é ser jornalista fora do seu país? Você percebe algum tipo de preconceito dos colegas por ser brasileira?De jeito nenhum. No começo dos anos 1980 os mercados eram muito fechados, voltados essencialmente para os Estados Unidos. Havia ignorância mesmo. Não se sabia sequer onde o Brasil ficava no mapa. Hoje as pessoas que trabalham na indústria cultural e os próprios EUA se internacionali-zaram, tem gente do mundo inteiro aqui. O que houve quando cheguei foi

Ana Maria Bahiana

o processo de aceitação de uma pessoa que vem de fora. Mas uma vez aceito, é para sempre. Todos te respeitam e te tratam com o nível de profissionalismo com que desejam ser tratados.

como convencer atores, diretores e personalidades de que seu tra-balhoh não é parte da indústria de fofocas que existe em torno dessas celebridades?A questão é simples: eu não sei fa-zer outra coisa. O que sempre espe-ro, rezo, torço é para que existam

veículos que me deem espaço para fazer isso. E o meio com o qual tra-balho sabe quem eu sou, estou nes-sa cidade há mais de 20 anos. Não preciso provar nada de novo. O Ja-mes Cameron sabe quem eu sou, o George Clooney também. E eles sa-bem o que eu faço.

como era o trabalho na época em que a cobertura do mundo do entretenimento ainda não se pautava principalmente pela vida íntima das celebridades?

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entrevista

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Quando cheguei aqui, fiz matérias excelentes para uma revista inglesa e para duas australianas, maravilhosas, que não existem mais. Fiz perfis do Al Pacino, outro do Robert Redford, coisas que hoje, infelizmente, não te-riam mais espaço. Eu não quero saber o que Paris Hilton e Kim Kardashian fazem. Acho muito mais interessante saber o que o David Lynch faz. Ele sim me interessa! O que ele faz, o que ele anda lendo, se acompanha o Oriente Médio, por que resolveu gravar um disco. Mas, aparentemen-te, as pessoas estão interessadas na indústria de fofocas, né?

o leitor quer mesmo o que a im-prensa imagina que ele quer? Sou da teoria do [diretor] Robert Altman. Uma vez ele me disse: “Você não deve subestimar a inte-ligência do seu espectador”. Você deve sempre dar a ele mais do que ele pede. Vai ver é isso que ele quer. Eu mantenho o nível e espero com paciência. Escrevo para provocar a discussão, cutucar o povo lá no Twitter. Se rende, pronto, já fiz as pessoas pensarem sobre o assunto.

Não falar sobre a própria vida virou uma espécie de escudo das celebridades. como é possível fa-zer o perfil de alguém com tan-tas restrições de assuntos que os artistas colocam? Sempre parto do seguinte princí-pio: trato a pessoa como quero ser tratada. O que me interessa é o que ela faz. Se sei que ela passou por um momento horroroso, uma separação pública escandalosa, como a da San-dra Bullock, não vou perguntar. Já passei por uma separação dolorosa e sei como é. Se ela quiser me falar do impacto que aquilo teve no trabalho

dela, me oferecer essa abertura, vou ao assunto. Tem umas coisas meio absurdas, do tipo: “Fulano só fala com jornalista europeu”. Eu subo nas tamancas, porque, em geral, es-sas maluquices não são da estrela, mas sim do circo dos horrores que se forma em torno dela, como a gen-te diz aqui. Se o assessor me diz que o ator não vai falar sobre a relação dele com um diretor, por exemplo, eu pergunto ao entrevistado qual a razão. A pessoa tem todo o direito de me xingar ou de explicar. “Ah, é porque eu estou processando o cara e não posso falar.” Ok. Se a pessoa quiser, ela responde. Meu interesse é que aquela conversa continue e seja proveitosa. Quando é íntimo, eu res-peito. Proibição absurda eu contesto e, quando posso, abordo.

Quanto tempo leva para con-seguir uma entrevista com um grande nome do cinema? Essa gente só fala quando tem algo para vender. Você tem que apro-veitar esses momentos em que eles estão dispostos a falar. Às vezes me pedem um perfil, e a pessoa está fora, filmando. Nessas condições, você não vai conseguir um bom trabalho. Quando esse filme estiver saindo é a hora de entrar com esse pedido. Na Associação, trabalhamos como uma cooperativa. É uma hora de entrevista, dividida entre quem está lá. Metade de nós não abre a boca e, da outra metade, um terço

não consegue falar inglês direito. Você acaba, então, ficando com um grupo mais tarimbado, que com-bina um jogo, volta às perguntas, um complementa o outro. Uma vez consegui conversar por 10 minutos com o Leonardo DiCaprio sobre os tigres asiáticos. Ele desatou a falar português para mostrar que sabia.

Que lugares você frequenta por causa do seu trabalho? Quem são as suas fontes? Você acaba vivendo seu dia a dia. Vai a uma cabine, a uma estreia. Es-tar imersa e em contato constante com isso aqui te dá outra bagagem. Você passa a entender o processo fí-sico, de negócios, criativo pelo qual o filme é feito. Ir ao set de filmagem te faz aprender muito. A maioria dos meus colegas fica esperando a estre-la para entrevistar, já eu fico pente-lhando o cara da câmera, conver-sando com o estagiário. E, como são pessoas com quem nunca ninguém conversa, eles falam que é uma bele-za! Às vezes vou fazer as unhas com uma grande amiga produtora de TV e pronto: na passada da acetona a gente já pesca aquela última novida-de do momento, as séries que estão indo bem, qual é a aposta.

Vi no seu Twitter que nos últimos meses você recebeu “agrados” dos estúdios cujas produções são bem cotadas para os gran-des prêmios da temporada. como

qUaNdo hÁ CoISaS abSUrdaS, Como ‘fULaNo SÓ faLa Com jorNaLISta

eUropeU’, eU SUbo NaS tamaNCaS!

Ana Maria Bahiana

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você lida com isso?É supernormal, faz parte do ritual. A Associação tem regras superestri-tas. O brinde tem que ter a ver com o filme e o valor do item não pode ultrapassar 150 dólares. Um ano aí,

uma atriz mandou um Rolex. Todo mundo devolveu. Eu guardo livros, roteiros assinados e comentados pelo diretor. Outros brindes eu distribuo entre amigos e doo para ações be-neficentes. E isso não tem a menor influência no meu voto. Tem ano que os filmes em que eu mais voto, e para que mais faço campanha, não me mandaram nem a cópia.

como é sua relação com os es-túdios? É grande a interferência deles no seu trabalho?A briga que mais acontece é sobre a questão da data. A minha última foi com a Warner. Fizeram todo mun-do assinar um papel: “Inception. Não pode falar nada até o dia tal”. Assisti ao filme e botei no Twitter: “Inception. Uau”. Dois segundos de-pois, recebo um e-mail do cara da

Warner. E eu só escrevi: “Uau”! Meia hora depois surge num blog desses uma minirresenha. Liguei na hora pro cara da Warner. Ele responde: “Ah, mas você é internacional”. O quê? Por que o cara lá de Michigan pode e eu não?

com a rapidez das novas tecnolo-gias, ainda há espaço para análi-ses aprofundadas no jornalismo de entretenimento? Sim. Primeiro, você pode analisar com profundidade sem ter de ocu-par cinco páginas. Por outro lado, pode encher mil telas de nada. Ser sucinto é uma virtude. Pense no seu tempo como algo valioso. Onde você vai gastar o seu dinheiro? Em algo que te acrescente. A questão não é da mídia, de novo, mas de discernimento.

“a questão não é da mídia, mas do discernimento. ser sucinto é uma virtude”, diz ana maria bahiana

é SUperNormaL qUe oS eStúdIoS

maNdem brINdeS, e eLeS Não têm a

meNor INfLUêNCIa NoS meUS votoS

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REVISTA PLUG 201164

ABRILEDIÇÃO 2011

CURSOCURSO

proJetos

Page 65: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Conheça o que as 66

cabeças pensantes

do Caj 2011 produziram

em 36 dias de suor e ideias

Conheça o que as 66

cabeças pensantes

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proJetos

REVISTA PLUG 201166

Você nunca fi cou na porta de uma festa esperando por um depoimento de um ator, cantor, ex-BBB? Nós também não.

Mas essa era nossa realidade antes de recebermos a missão do projeto da editoria CONTIGO!: desenvol-ver uma nova linguagem de vídeo para a web com muito glamour e gente famosa. A oitava posição da CONTIGO! entre os sites de cele-bridades do Brasil não está à altura da liderança que a revista em papel exerce no segmento — são cerca de 180000 exemplares vendidos sema-nalmente. Os vídeos são parte da es-tratégia para aumentar o número de acessos e o tempo de permanência dos usuários no site.

Começamos o trabalho com uma série de análises. De cara, percebe-mos que os vídeos do site de CON-

TIGO! estão localizados próximos à barra inferior da página principal e passam, muitas vezes, despercebidos pelo leitor. Quando são acessados, o usuário é direcionado a uma página interna que também contém os úl-timos vídeos postados, sinalizados com referências de tags, mas sem constituírem uma unidade.

Quanto ao conteúdo e forma dos vídeos, percebemos que eles não apresentavam algumas característi-cas fundamentais para atrair a audi-ência do usuário. Segundo pesquisa publicada em agosto de 2010, con-duzida pelas empresas Havas Digital, Qualibest e Globosat, os vídeos mais consumidos são os de curta duração. Além disso, 44% das pessoas disse-ram já ter visto um segundo vídeo indicado após a reprodução do pri-meiro, o que impulsiona também a criação de estratégias relacionadas

geNte é para Ser vISta

TEXTo AMANDA DENTI, CAMILA LAM E CRISTIANE FORONI

Na Contigo TV!, interação, dinamismo, diversão e informação trazem para a telinha do computador o mundo das celebridades

CRISTIANEFORONI

texto

CAMILA LAMtexto

THAÍS DENARDIvídeo

AMANDA DENTItexto

JUN JÚNIORtexto

ALEXANDREREZENDEfotografi a

FELIPE BASTOSvídeo

MISSÃOeles tiveram

de criar, com a contigo! tv, uma nova linguagem

para os vídeos de celebridade

na internet e, de quebra, atrair mais

audiência para o site da revista

JÚLIA LIMAdesign

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REVISTA PLUG 2011 67

às postagens da TV CONTIGO!. Outro ponto importante é a inte-ratividade. Os comentários são o motivo que levam 37% das pessoas a apertarem o play.

Com a mensuração dos dados do usuário do site em mãos, descobri-mos que nosso público predominan-te é de mulheres entre 18 e 34 anos, a maioria com curso superior (54%), que pertencem às classes A, B e C. Trabalham em tempo integral (58%) e compram como terapia – mas não pretendem pagar mais caro para ter algo que ninguém tem.

Focados no universo feminino que se interessa pelo mundo das ce-

lebridades, passamos a acompanhar e a buscar referências de vídeos que poderiam despertar a atenção da usuária do site de CONTIGO!. Analisamos os canais de vídeo de portais concorrentes – no Brasil, hoje, representados por Quem e CARAS –, buscamos conteúdo re-lacionado a moda, beleza, saúde, bem-estar, e tudo o que faz parte dos interesses desse público.

Para desenvolver uma nova lin-guagem percebemos que também seria necetssário mudar a maneira como os vídeos vinham sendo apre-sentados. Concluímos que eles deve-riam ser reposicionados e reunidos

em uma plataforma de web TV. Pro-pusemos uma página interna para funcionar como a home da Contigo! TV, dividida em quatro canais: Moda e Beleza, Gente e Agitos, Equilíbrio e Bastidores.

Junto aos coordenadores do proje-to, nossa equipe decidiu pela produ-ção de quatro pilotos. Os conceitos envolvidos nesses programas são: o humor, a intimidade entre a fã e a ce-lebridade, a praticidade na captação de imagens e a produção sustentável. A montagem dos programas prio-rizou inserir elementos de pós-pro-dução, como interferências gráficas e efeitos de transição.

No topo, o programa “uma

pergunta” e as respostas de famosos.

o estilista Walério araújo protagoniza o

programa para comentar looks

de famosas. o “Dá para copiar” tem

dicas sobre moda. camila Neves,

do caJ, foi a modelo do

“contigo! Looks”.

Page 68: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 201168

Os programasNo programa “Walério Araújo comenta”, o estilista, conhecido por trabalhar com a apresentadora Sabrina Sato e a cantora Cláudia Leitte, faz comentários sobre os looks que os famosos exibem nos mais diversos eventos. No “Con-tigo! Looks”, programa produzido em stop-motion e animação, uma celebridade inspira um ensaio fotográfico que dá dicas de moda e maquiagem para várias ocasiões.

O terceiro piloto, “Dá para co-

piar?”, traz uma personal stylist que orienta uma leitora da CON-TIGO! a copiar uma produção de forma acessível, com base no esti-lo de uma celebridade. No último programa, “Uma pergunta”, a qual-quer momento, em qualquer lugar, uma mesma questão é formula-da para vários famosos. As respos-tas são reunidas em um vídeo que leva as particularidades do cotidia-no dessas pessoas para o internauta. Com esse panorama, de pesquisas analisadas e conceitos estabeleci-

dos, trabalhamos na construção do novo canal, Contigo! TV. Víde-os com potencial viral, de curta du-ração, que aliam entretenimento e informação, viabilizam a interação e o compartilhamento de conteú-do, além de oferecer ao usuário a possibilidade de escolha da sequên-cia que ele quer assistir. Todos esses conceitos que ajudaram na concep-ção de uma nova linguagem para o site de CONTIGO! têm potencial para serem aplicados em qualquer plataforma de web TV.

Para o site, o grupo sugeriu uma mudança radical na estrutura e principalmente na home. o destaque vai para o carrossel de imagens que leva às matérias e aos programas. a usuária tem a oportunidade de mandar sugestões e compartilhar o conteúdo através de redes sociais, com apenas um clique.

Page 69: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Com direito a repórter aguardando do lado

de fora da palestra, o vídeo produzido

para a cobertura do blog foi inspirado na

maneira como a mídia cobre algum evento.

Simulamos um furo, “invadimos” o auditório

após uma palestra e tudo mais. a abertura

foi uma animação criada pelo felipe,

integrante de vídeo do grupo.

todos queriam saber quem era a pessoa mais

cobiçada do curso. e a outra pergunta era quem era

solteiro ou não. em uma única pesquisa, descobrimos

quem ocupava o primeiro lugar e, de quebra,

já se sabia se estava disponível ou não.

ao longo do curso, teve gente

que virou a noite para se

dedicar ao projeto. Só que a

gente não sabia quanto os

cajianos estavam dormindo.

ainda mais perto do dia do

fechamento dos trabalhos.

depois de uma pesquisa rápida,

apuramos quantas horas de

sono os alunos estavam tendo

para descansar.

aprendemos como fazer para criar uma capa que

se destacasse na banca. e foi por meio das capas

que resolvemos homenagear algumas pessoas que

nos ajudaram durante o Caj. o adriano (à dir.), que

dava suporte aos computadores do curso, foi uma

delas, sempre perto da nossa redação. a produção

só precisou tirar uma foto dele.

REVISTA PLUG 2011 69

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proJetos

REVISTA PLUG 201170

Éramos sete pessoas, com diferentes visões, experi-ências e procedências. Vie-mos de todos os cantos do Brasil, cheios de expectati-

va em relação ao CAJ, para formar o grupo da SUPER – ou, como nós apelidamos, o Super Grupo.

Quando fomos sorteados pelo “chapéu seletor” e recebemos nos-sa missão, logo nos lembramos da frase de um veterano que, no CAJ 2010, caiu na mesma revista: “As ideias mais revolucionárias que a gente tinha os caras já fi zeram, e a gente não tem pra onde correr!”.

Mas, analisando melhor nosso objetivo, percebemos que seria im-possível não revolucionar. Iríamos trabalhar com o iPad, o tablet da Apple, plataforma ainda pouco ex-plorada. Como se não bastasse esse desafi o, precisamos desenvolver in-fografi a – e o leitor da SUPER sabe que a revista tem um nome a zelar em relação a seus infográfi cos.

e vIva a revoLUção!TEXTo NINA NEVES E LUCIANA GALASTRI

Ainda no primeiro dia de curso, no calor da adrenalina de quem aca-ba de saber que irá trabalhar para a publicação de borda vermelha mais incrível do planeta, fomos encontrar nossos orientadores. Eles nos con-taram que a infografi a, elemento fundamental na revista, é um casa-mento entre texto e imagem que usa diferentes recursos como diagramas, números ou gráficos. E, no iPad, a matéria infográfi ca precisa chegar aonde o papel não alcança. Ou seja, nossa missão não era apenas cons-truir infográficos: era expandir a experiência da leitura.

O primeiro passo foi pesquisar publicações que já tivessem desen-volvido o que estávamos buscando. Algumas referências no exterior, pouquíssimas no Brasil, sendo a maior parte da produção nacional da própria Editora Abril.

Também pensamos em pautas que funcionassem nesse formato, sem dar uma desculpa qualquer para NINA NEVES

mídias digitais

ALEXANDREKRECKE

mídias digitais

ALEXANDRE REZENDEfotografia

RAFAEL QUICKdesign

MAX DEMIANinfografia

/ilustração

GABRIELALOUREIRO

texto

LUCIANAGALASTRI

texto

Sete mentes inquietas e um desafi o pioneiro: criar infografi a para o iPad

eles tinham que aprender a pensar e

executar infográficos, que são parte

fundamental da linguagem visual da revista. mas no ipad,

onde ele deve ir mais longe do que no papel.

eis o desafio desse “super Grupo”

MISSÃO

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REVISTA PLUG 2011 71

produzir um infográfico. Constru-ímos textos enxutos e informativos para mostrar o conteúdo de manei-ra concisa e divertida, sempre com a pegada da SUPER.

O design, além de bonito, preci-sava ser intuitivo. O leitor deveria olhar o infográfico e compreender como navegar por ele, sem maiores esforços. E tudo isso, claro, precisa-va estar em harmonia com o texto e funcionar na mão do usuário. Então

mergulhamos em um software espe-cífico para o iPad, aprendemos toda uma nova linguagem para importar nossas ideias, que não eram poucas, para dentro do tablet.

Os Beatles NerdsNossa primeira atividade no CAJ foi um “aquecimento”. Seleciona-mos um infográfico que já havia sido publicado na SUPER e produ-zimos uma versão dele para o iPad.

o primeiro exercício: adaptar o infográfico dos “beatles Nerds” da revista impressa para o iPad.

o processo criativo – analogia interessante

aliada ao design e a interações inovadoras.

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REVISTA PLUG 201172

A ideia era que, com esse exercício, criássemos afinidade com as ferra-mentas do tablet e com a linguagem da revista, o que nos daria bagagem para pensar em pautas próprias que funcionassem nesse formato.

Depois de fuçar várias edições e após muita deliberação, escolhemos o infográfico “Sgt Peppers Lonely Nerds Tech Band – os criadores da internet”, de janeiro de 2010, que reunia 69 personalidades importan-tes na construção da internet atual. Na matéria impressa, a informação sobre cada um se resumia a foto, nome e invenção. Na versão para iPad, apuramos (todas as 69) his-tórias dessas pessoas e usamos um box para cada uma, explicando a razão de sua presença naquela lista. A navegação foi planejada para que se pudesse ler clicando no rosto de cada um deles, ou por meio de um menu na parte inferior.

A gestação de uma ideiaNo info seguinte, nada de ideias prontas. Deveríamos construir a pauta, fazer a apuração, o layout e as ilustrações todas. Nós nos inspi-ramos em nossa própria situação e, já que estávamos sempre em busca de inovações, resolvemos mostrar como nasce uma ideia. Lemos algu-mas teorias sobre o tema e escolhe-mos a imagem de uma mulher grá-vida para fazer a analogia à gestação de uma ideia, de um projeto. A ilustração possuía vários de pontos de interatividade, para que o leitor

descobrisse como cada estágio da gravidez pode ser associado às fases do processo criativo.

O resultado, modéstia à parte, ficou muito interessante. Mas não tivemos nem tempo de comemorar o resultado. O CAJ estava terminan-do e precisávamos fazer um último infográfico em poucos dias para concluir nossa missão.

Fofocas fervilhantesPara esse último info resolvemos olhar ao redor. Com a convivência, os cajianos firmaram amizades, que se transformaram em panelinhas, que fervilhavam com fofocas! Unin-do esse tema com uma pesquisa que dizia que as fofocas no ambiente de trabalho podem ser boas para o crescimento profissional, cria-mos um fluxograma (ou flowchart, como insistia o pessoal da SUPER) que funcionava como um teste: você seguia os passos e descobria que tipo de fofoqueiro era, além de ganhar di-cas de como passar “bafões” adiante “de forma construtiva”.

Foram noites desenhando no quadro branco da redação, no bloco das aulas do Thomaz Souto Corrêa, e, quando faltou espaço para nossas ideias, apelamos para o fundo bran-co do estúdio de fotos. Fizemos a maior bagunça e ficamos com o sono comprometido, mas conse-guimos entregar um teste muito engraçado, funcional e cheio de in-formação ao fim do curso.

Hoje, depois de todas as discus-sões de pauta, fracassos e comemo-rações, sabemos que imagem e texto não se separam, seja na revista, seja no iPad. E o Super Grupo também continua unido de alguma forma, pelo seu esforço e pelos encontros nos corredores da Editora Abril.

o último desafio: em poucos dias, criar um teste com conteúdo interessante, divertido e muito interativo.

Page 73: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

a cobertura feita pelo Super grupo

no blog do Caj teve a cara da revista.

preparamos um arg (alternate reality

game) para os alunos revirarem a

internet atrás de pistas que levariam

a um prêmio. giuliane tirabasso, da

vIagem e tUrISmo, fez todos os passos

e perguntou durante a palestra do

diretor de redação da SUper, Sérgio

gwercman, se ele havia gostado do seu

novo corte de cabelo. era um código

para que Sérgio entregasse o prêmio,

uma edição especial da SUper – mas,

obviamente, a giu não sabia da trama!

Na cobertura seguinte,

não poderíamos “baixar

o nível”. Simulamos a

seção “oráculo” da SUper

e respondemos a todas

as dúvidas existenciais

dos cajianos. teve gente

que perguntou se os

lactobacilos vivos do leite

fermentado eram vivos

mesmo, e houve gente que

teve coragem de perguntar

por que o cocô do cabrito

é redondinho. o pior é

que tivemos coragem (e

paciência) de responder a

todas essas perguntas.

No curso, nos apaixonamos por nossas

missões – e por infográficos! tanto que

montamos um para o blog do curso,

e contamos de quantos cafezinhos os

cajianos precisavam para funcionar!

Como tudo na SUper precisa ter uma boa

dose de informação, contamos vários

fatos desconhecidos sobre a bebida.

REVISTA PLUG 2011 73

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proJetos

REVISTA PLUG 201174

Você sabe qual é a revista ideal para uma criança que ainda não sabe ler? Foi a pergunta que o grupo do projeto NÚ-

CLEO INFANTIL fez ao receber a missão dos orientadores: criar uma publicação dedicada a crianças de 3 a 6 anos, mas que também possuísse conteúdo para os pais. O Brasil tem hoje 11,3 milhões de pessoas nessa faixa etária e poucas revistas dedica-das a elas. A equipe da RECREIO, maior publicação do gênero, notou que nem sempre conseguia atrair os pequeninos, já que é feita para crianças maiores, de 7 a 12 anos.

O projeto necessitava de mais do que a capacidade de diagramar, es-crever e ilustrar. Precisávamos en-tender quem eram essas crianças, suas necessidades e gostos. Pesqui-samos personagens, músicas e até programas de televisão que a crian-çada curte e deparamos com respos-tas já esperadas e outras nem tanto.

para geNte bem peqUeNa

TEXTo BIANCA BIBIANO

Os animais foram disparado os mais citados na preferência infantil. E valeu de tudo: fauna aquática, da fl oresta, de fazenda, até seres de ou-tro planeta e criaturas mágicas, com formas arredondadas e de natureza não especifi cada. Sim, essa foi uma surpresa. Afi nal, quando persona-gens como Bob Esponja, Barney e Robô Bot fi guram entre os mais queridos das crianças, a luta por um espaço nas bancas (e no imaginário desse seleto grupo) deixa de ser apenas a busca da revista perfeita.

Foi necessário pensar em um per-sonagem que permeasse o conteú-do da Recreio Jr. – nome escolhido para a revista – e que também se ex-pandisse para os demais produtos, como o suplemento para os pais, site e brinde. Foi assim que surgiu o Nit, criatura que veio de um mundo mágico e caiu direto no quarto de Zeca, um garoto de 6 anos, doido para descobrir o mundo, exatamen-te como nosso leitor.

DÉBORA LOVISONdesign

ALUÍSIOCERVELLE

infografia/ilustração

DANIELA SZABLUKdesign

NATHÁLIARODRIGUES

design

FERNANDACATANIA

texto

BIANCA BIBIANOtexto

HEBERT COELHOfotografia

Integração do impresso com a rede social e um suplemento para os pais são elementos de um novo jeito de fazer revista para as crianças

um grupo com leitores muito

peculiares: sua missão foi

desenvolver a Recreio Jr., publicação

destinada a crianças entre 3 e 6 anos,

acompanhada de um guia para os pais, em

formato de revista

MISSÃO

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REVISTA PLUG 2011 75

Pensando narecreio Jr.Esse enredo serviu para basear o conteúdo da revista das crianças, que seria, a partir de então, uma maneira de apresentar nosso mun-do, a Terra, ao Nit. Contos, perfis dos personagens mais queridos das crianças, histórias em quadrinhos, atividades para ele fazer em casa, curiosidades, piadas e passatempos foram as pautas escolhidas.

No design, variedades de ima-gens para estimular o contato com diferentes tipos de ilustrações, cores primárias como base, layout mais limpo para ampliar o repertório dos leitores. E por falar em leitura, não pense que o texto ficou de fora só porque os pequeninos ainda não conhecem bem a escrita. Para auxi-liar na alfabetização, toda a revista é permeada por textos. Mas não qualquer um: a linguagem é clara, rápida e de fácil assimilação. Enig-mas, passo a passo e infográficos

a capa da recreio em Família. além de repórteres, as alunas

do curso precisaram ser produtoras e babás.

são alguns dos exemplos de conte-údo para ajudar as crianças.

E, para não perder a marca da RE-CREIO (a original), o brinde tradi-cional que vem em cada revista foi mantido. Na primeira coleção, Nit aparece como boneco para ir com a criança para todo lado. E em cada edição ele se transforma em um ob-jeto novo, como uma lanterna de bolso ou até um pote para guardar segredos de seu mundo mágico.

Essa tal de internetNo Brasil, 14% dos usuários de in-ternet são crianças de 2 a 11 anos de idade – que representam cerca de

4,5 milhões de meninos e meninas online. Atingir essa parcela da web era outro desafio do projeto. Além de um site com o conteúdo da re-vista (que também pode ser ouvido, graças às matérias faladas), a crian-çada pode se conhecer, conversar e, o melhor, jogar em parceria.

Passear em terrenos desconheci-dos, falar com seres mágicos, fazer amigos e acumular pontos para con-seguir novos itens são as principais diversões nesse site. Só que tudo isso depende da revista impressa. É nela que as crianças conseguem senhas secretas que abrem novos espaços nesse universo especial.

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REVISTA PLUG 201176

Dos filhos para os paisPor estarem em fase de desenvolvi-mento, as crianças precisam da ajuda quase constante dos pais. E foi pensan-do nessa necessidade que surgiu o su-plemento Recreio em Família, uma re-vista com dicas de programação para fazer com os filhos, reportagens sobre educação, comportamento, saúde e alimentação, entre outras coisas.

Porém, mais do que ser uma revis-

ta com informações para pais, o su-plemento se propõe a integrar a fa-mília. Por isso são oferecidas dicas de como interagir com o conteúdo da Recreio Jr. Se em uma reportagem falamos de alimentação saudável, por exemplo, um ícone avisa que na revista das crianças existe uma ativi-dade que ensina a montar um sandu-íche com esses ingredientes.

Na Recreio Jr., a criançada tam-

como fazer uma pipa – instruções para a garotada, encontradas dentro da Recreio Jr.

bém não fica sem auxílio. Quando o conteúdo da revista exige uma leitu-ra mais complicada, como na seção “Era uma vez”, um ícone avisa que é a hora de chamar alguém para ajudar. E, se não tem ninguém por perto, o site também ajuda, por exemplo, nar-rando a história para a criança. Tudo para garantir que o lema aprender, integrar e divertir seja levado a sério, mesmo nessa grande brincadeira.

uma receita para os pais fazerem com a criança, com desenhos atrativos e instruções simplificadas, dentro da recreio em Família.

Page 77: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Lançamos, no blog do Caj, o prêmio Caj

de talentos, que apontou alguns colegas

com características bem marcantes.

o mais fofoqueiro, o mais nerd, os mais

bem-vestidos, os mais desejados...

durante o curso, alguns

cajianos e palestrantes

foram retratados por

nosso ilustrador, o aluísio.

os desenhos, lógico, foram

parar no blog do curso.

Ligue o cajiano a sua

tatuagem! resolvemos

testar nossos colegas

para saber o quanto nos

conhecíamos. Será que eles

ainda conseguem acertar?

tudo fica mais divertido em quadrinhos! Nós resumimos

as palestras do dia e destacamos seus pontos altos

com as fotos dos participantes. aqui, Inês Lima,

editora da revista vIva!, fala sobre suas leitoras.

REVISTA PLUG 2011 77

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proJetos

REVISTA PLUG 201178

A garota CAPRICHO vive em um universo próprio: ouve os artistas lançados pela marca, suspira pelos Colírios da revista, assis-

te às séries no site e na TV paga, usa o material escolar com o selo CH e não passa um dia sem conferir o ho-róscopo que a revista manda para o seu celular. Tudo isso esperando pelo dia do evento NoCapricho, provavel-mente usando o make Capricho Bo-ticário, para conquistar um lugar na seção das garotas mais estilosas. Essa menina faz parte das mais de 2,8 mi-lhões de garotas CAPRICHO que leem a revista quinzenalmente.

Tendo em mente que o univer-so CAPRICHO superou a revista e se consolidou como uma marca multiplataforma com mais de 9 mi-lhões de produtos vendidos (ape-nas o serviço de SMS tem mais de 281000 assinaturas pagas!), rece-bemos a missão de idealizar a rede

CoNexão aLto aStraL

TEXTo FLORA PAUL

social Colégio Capricho e criar um aplicativo para smartphones basea-do em combinações de horóscopo. Nossos orientadores foram a Tatia-na Schibuola, diretora de redação, e o Phelipe Cruz, editor do site, que arrumaram tempo entre a correria diária e os fechamentos para receber a editoria semanalmente.

Apesar de não estarmos mais na faixa etária nem no mundo das garotas do primeiro parágrafo, nós nos autointitulamos “Editoria CAJ-pricho” e logo começamos a juntar ideias. O projeto Cupido Capricho surgiu com rapidez e parecia que seria simples. Um engano. Ter le-gibilidade e uma identidade visual descolada em uma tela de cerca de 3,5 polegadas (tamanho da tela de um iPhone 4) se mostrou uma tare-fa árdua, que exigiu muitas reuniões, palpites e estudos no styleguide da CAPRICHO até a versão fi nal, sem-pre com a ajuda da editora de arte

LUCAS PATRÍCIOmídias digtais

VÍTOR VINHALmídias digitais

FLORA PAULtexto

ADRIANAGIRONDAinfografia

/ilustração

JÚLIAGIANELLA

design

PAULAMINOZZO

texto

HEBERT COELHOfotografia

Com horóscopo, badges, interatividade e diversão, a Capricho mergulha no mundo dos smartphones e das redes sociais

tendo em mente que o universo da leitora

de capricHo vai muito além da revista

impressa, o grupo teve como missão

criar uma rede social, a colégio capricho,

e um aplicativo para smartphones baseado

em combinações de horóscopo

MISSÃO

Page 79: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 79

ao lado, um exemplo de

resultado da combinação de dois signos no

cupido capricho. Por meio do aplicativo, é

possível saber se você daria certo com o signo de

um amigo ou de um famoso.

Fabiana Yoshikawa e da designer Ci-bele Gomes, da revista e do site da CAPRICHO, respectivamente.

O Cupido Capricho é um jogo que permite à adolescente se ca-dastrar ou usar seu login em ou-tras redes sociais e testar se com-bina com amigos ou famosos. O resultado, baseado nos signos do zodíaco, mostra se um bom par pode ser formado. Se a leitora quiser, pode divulgar a resposta em mídias sociais.

Já o embrião do Colégio Capricho

foi pensado pelos orientadores: criar uma rede social para adolescentes de 13 a 17 anos matriculados em escolas que aceitassem participar da rede. Usando o e-mail do colégio ou o número de matrícula, apenas esses adolescentes poderiam se cadastrar, eliminando aí brechas de segurança, como perfis falsos e, como bônus, sendo “à prova de micos”, como ter familiares cadastrados e mandando mensagens indesejadas – coisa da idade. E com a pretensão de refor-çar a credibilidade da CAPRICHO e

sua relação com os colégios, unindo duas referências fortes dos teens.

Trazer elementos da sala de aula para a rede social sem tirar a gra-ça da marca, mas envolvendo as ati-vidades escolares, foi desafiador. A saída foi elaborar um ambiente pró-prio para cada colégio, denominado pátio. Ali, além de saber dos últimos acontecimentos e se integrar com a galera do colégio, cada jovem po-deria cadastrar os próximos even-tos escolares no Calendário – des-de lembretes de uma prova de física

o perfil da caPricHo na rede social para divulgar notícias.

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REVISTA PLUG 201180

até o anúncio das vendas dos con-vites para a festa junina. Usuários bastante participativos teriam di-reito a exclusivos buttons, chama-dos de badges, ícone muito popu-lar entre o público da revista, além de poder customizar cada vez mais o visual de sua página na rede, ou-tra paixão adolescente, visando in-centivar o uso do Colégio.

O visual adotado traz referên-cias do high school americano, já que o público CAPRICHO adora expressões estrangeiras e seriados e filmes de colegiais dos Estados Unidos. Os tipos típicos também serviram de inspiração para criar um sistema de votação que aponta quem é o atleta do Colégio Capri-cho, a garota mais estilosa, o colírio (o menino fofo que faz as garotas se apaixonarem, inspirados no case de sucesso dos Colírios Capricho)

e o aluno nota 10. Mas a estrela do Colégio é a CAPRICHO, com seu próprio pátio para divulgar ações na escola, eventos da marca e tudo o que acontece na revista e no site.

Mais uma vez fomos surpreendi-dos: criar uma rede social, com to-das as suas camadas e especificações, num primeiro momento, pareceu

No perfil do colégio capricho, a usuária pode ganhar badges, como mostrados no box do lado esquerdo. além de interagir com os amigos, ela pode customizar a página como quiser.

uma tarefa bastante complicada, que se mostrou bem menos complexa do que o esperado. Apesar de ter de-mandado tempo e um esforço a mais do grupo, apenas a paleta de cores gerou algumas dúvidas. Até mesmo o logo em forma de brasão, remeten-do aos colégios tradicionais, foi apro-vado em poucas instâncias.

a página inicial do

colégio capricho e o logo criado pelo grupo.

Page 81: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

“Sensacional! quer que divulgue?! ficou

demais!!”, disse pe Lu. “gostei muito! estou

muito bem representado!”, elogiou pe Lanza.

“morri!”, gargalhou virtualmente thominhas.

talvez você não saiba quem eles são, mas

pode ter certeza, a garota CaprICho sabe.

e ela ficaria orgulhosa. os comentários

foram feitos por três dos quatro integrantes

da banda restart para a primeira capa de

revista que nossa editoria fez, com quatro

alunos do curso posando como a banda,

com direito a roupas com cores vibrantes e

caras e bocas. eles divulgaram a capa em

seus twitters e ali surgiu nossa alcunha:

Cajpricho. adotamos o apelido no ato.

eleger a miss e o mister pLUg

no fim do Curso abril é uma

tradição que remonta às

primeiras edições. No caso da

editoria de CaprICho, foi só

trazer a página dos Colírios da

revista para a versão do Curso

abril para colocar o mister

pLUg em destaque. e o eleito

foi o designer rafael quick, que

ganhou foto, um miniperfil e a

carinhosa definição de “o pão

de queijo mineiro mais desejado

dos corredores da abril”.

REVISTA PLUG 2011 81

Page 82: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

proJetos

REVISTA PLUG 201182

Você sabe o que é um ví-deo interativo? Já criou algum editorial de moda e beleza? Nenhuma das meninas do grupo –

sim, somos nove mulheres – havia feito nenhum dos dois. Iniciamos o projeto com uma ampla pesquisa de e-commerce — comércio pela inter-net — e descobrimos que em 2010 esse mercado movimentou 13,6 bi-lhões de reais no Brasil.

Os resultados das pesquisas foram importantes para a etapa seguinte da missão: criar um roteiro sobre ma-quiagem que incluísse ferramentas de interação com o vídeo. Nossos orientadores, Renata Deos, Carolina Hungria e Eduardo Mendes, já ha-viam encontrado a empresa pionei-ra em tecnologias de interação em TV digital, internet, iPhone e iPad, a ITBN. Em uma parceria entre as duas equipes, realizamos uma série de discussões para decidir a histó-

maqUIagem para CLICar

TEXTo AMANDA KAMANCHEK

ria, os personagens, as maquiagens, a iluminação mais adequada e o for-mato do vídeo.

A ideia inicial foi uma novela, com núcleos de personagens e atri-zes convidadas. Depois decidimos fazer algo mais moderno: uma mo-delo simulando situações distintas, como festas, jantares ou trabalho. A maquiagem se adequaria a cada ocasião. Entretanto, havia o receio de que o resultado final fi casse piegas. Por essa razão, optamos por um roteiro simples mas so-fisticado: um programa inspirado em TV, com 5 minutos de duração, em que seria abordado um assunto por episódio, sempre com um pro-fi ssional – cabeleireiro, maquiador, esteticista – e uma convidada “gen-te como a gente” para realizar a ati-vidade de beleza do dia.

Nosso primeiro episódio é um tutorial com duas opções de ma-quiagem. Uma básica – que pode

ISABELAANDRADE

design

GABRIELA ZAGO

mídias digitaisFERNANDA

FRAZÃOfotografi a

LAÍS DIASdesign

LUIZA SAHDtexto

NADIA KAKUtexto

ADRIANA TOLEDOtexto

MARÍLIA MARTHOS

vídeo

No Camarim, tem dicas de um maquiador profissional, tutoriais de make e produtos que estão ao alcance de um clique

nove mulheres e um destino: criar vídeos

interativos para o portal feminino com soluções

de maquiagem para diferentes situações do dia a dia – e que

aliassem as informações à compra pela internet

MISSÃO

AMANDAKAMANCHEK

texto

Page 83: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 83

ser usada no trabalho, por exemplo – e outra mais elaborada, com um belo duo de sombras para os olhos. A internauta pode escolher a situ-ação que deseja assistir e, com um clique, obter detalhes dos produtos que aparecem na tela. Pode também ser direcionada a páginas de com-pras dos itens escolhidos.

Um dos principais desafios iden-tificados no início do projeto foi desenvolver um conteúdo editorial que, embora estivesse atrelado a uma proposta de comércio online, não fosse tendencioso ao privilegiar determinadas marcas ou serviços. A solução encontrada foi neutralizar as imagens das marcas que esco-lhemos e, no espaço destinado ao e-commerce, oferecer um mix de

maquiagem, pois percebemos um efeito terapêutico ao assistir ao con-teúdo de outros vídeos referenciais. Assistir a uma mulher com quem criamos uma identificação se ma-quiando, desenhando uma sombra, dando dicas preciosas para quem se arruma sozinha, foi essencial.

Com o objetivo de aumentar a au-

produtos que atendesse às necessi-dades variadas das usuárias.

Vale destacar que nosso público-alvo são mulheres com mais de 30 anos, que se interessam por ma-quiagem, mas não dominam todas as técnicas. Na tentativa de estabe-lecer um contato mais próximo com essa internauta, escolhemos a auto-

Não é só a maquiagem que pode ser clicada. outras opções do

camarim: ao clicar no maquiador, as informações sobre seu perfil

aparecem ao lado do vídeo. a usuária que se interessar pelas

revistas do cenário pode clicar e o link da Editora abril aparece.

a barra de navegação aparece no topo do vídeo.

Page 84: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 201184

diência e a credibilidade, convida-mos o maquiador oficial da Natura, Marcos Costa, para atuar como con-sultor e apresentador. Sua postura midiática e a experiência anterior na televisão contribuíram muito para a dinâmica da gravação.

O dia da filmagem foi um epi-sódio à parte. Gravado na casa de Marcos Costa, contamos com uma produtora renomada no mercado, a Burti Films, que se somou à nossa equipe para “domar” o maquiador das estrelas e produzir um vídeo profissional. Detalhe: tudo pre-cisava ser feito em um dia! Desse processo, surgiu o nosso Camarim,

um lugar onde as mulheres podem buscar informações sobre moda e beleza, conhecer profissionais de sucesso e acompanhar os basti-dores da preparação de um visual para trabalho ou festa. Montamos uma página de site exclusiva para o público do portal M de Mulher assistir ao nosso vídeo.

O menu de interatividade foi desenvolvido de maneira curiosa: fizemos um ensaio animado em papel para testar aquilo que, no computador, só aconteceria ao fim do processo. Na animação, progra-mamos as vitrines que aparecem ao lado do vídeo, com informações

sobre os produtos utilizados nas maquiagens, incluindo três opções similares, dados sobre o maquiador e informações sobre a Fernanda, a garota escolhida por nós para se automaquiar.

Ao fim da programação, é pos-sível fazer comentários, divulgar o link por e-mail ou redes sociais, bem como efetuar as compras pela internet. Da nossa parte, todo mun-do aprendeu a fazer maquiagem, nesse grupo heterogêneo de desig-ners, jornalistas, videomaker, fotó-grafa e mídia digital! O resultado de tudo isso você pode conferir no portal M de Mulher.

adquirir qualquer produto que foi utilizado durante o tutorial é muito fácil. Pode ser um batom, um kit de sombra ou uma base: basta clicar em qualquer produto sobre a mesa, e em quantos quiser, que eles aparecerão ao lado, na Vitrine. Em seguida, em minhas compras, após confirmar os produtos, a aquisição pode ser finalizada pela internet.

Page 85: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Uma etapa divertida no

planejamento do projeto

envolveu a montagem de

wireframes de papel, para

testar as possibilidades

de interação entre cliques

e painéis em nosso vídeo

interativo. após o teste,

percebemos que ter dois

painéis de navegação

poderia ser confuso.

a designer Isabela andrade fez fotos de diferentes

momentos durante as palestras do curso e que

aparentemente não tinham nada de especial. mas,

sob o título “os cajianos que a gente não vê”, as

imagens ganharam outro significado. a impressão

é de que essa turminha de monstrinhos realmente

participou das atividades e fez parte do Caj.

a cerimônia de premiação

do oscar foi na noite

de 27 de fevereiro.

organizamos um bolão

do oscar e a vencedora

foi a bianca bibiano, que

acertou 6 dos 9 palpites.

ela empatou com outros

três cajianos, mas foi

a única que acertou a

categoria melhor filme.

REVISTA PLUG 2011 85

Page 86: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

proJetos

REVISTA PLUG 201186

É impossível não falar em esportes com a conta-gem regressiva dispa-rada para dois gran-des eventos esportivos sediados no Brasil, a Copa do Mundo em

2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Por essa razão, a única surpresa ao receber a missão de criar uma seção esportiva para o site e para a revista VEJA foi perceber que quase ne-nhum dos colegas de grupo sequer via futebol aos domingos. Desafio lançado, iniciamos uma imersão no mundo dos esportes, pesquisando os melhores endereços sobre o assunto. Fizemos buscas em sites nacionais e internacionais que são referência nesse assunto, desde o Globoesporte.com ao Gazzetta dello Sport. A ideia foi buscar inspiração em conteúdo e layout. E mais: localizar lacunas do que esses veículos não cobriam.

Além de concorrer com outros

TEXTo FERNANDA NASCIMENTO E DANIELA MARTINS

sites com expertise na cobertura esportiva, teríamos que propor con-teúdos diferenciados para o leitor. Após as pesquisas, mostramos aos orientadores nossa ideia para a área esportiva do site de VEJA: a cobertu-ra obrigatória e que a concorrência já faz, mas com áreas especiais no site, como o acompanhamento das obras da Copa e da Olimpíada por meio de mapas e dados, capazes de pro-porcionar ao leitor um acesso mais rápido e didático às informações.

Queríamos criar um novo concei-to de design sem perder de vista o interesse dos leitores da revista, por isso a proposta visual tinha de ser diferente das outras editorias do site, mas respeitando o grid da página. Baseados na ideia de que o esporte desperta paixão, pensamos em uma página com grande apelo visual. Em vez das tradicionais manchetes, transformamos em imagens os prin-cipais destaques do dia, que variam

DENISEDEL CARMEN

design

GIAN LUCCAAMOROSO

design

ROBERTADE DONNO

texto

DANIELAMARTINS

texto

ALEXANDREREZENDEfotografia

FERNANDANASCIMENTO

texto

num grupo em que ninguém assiste

futebol de domingo, o desafio foi criar uma seção sobre esportes

para o site e para a revista. notícias,

resultados e foco na copa e na olimpíada

no Brasil, sempre com o olhar de veJa

MISSÃO

o goLaço de vejaNão só de política é feita a maior revista do Brasil. Quem disse que os leitores não estão interessados em futebol?

Page 87: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 87

de tamanho de acordo com a rele-vância editorial. Ao passar o mouse, a foto mostra sua manchete e basta um clique para acessar a notícia. Ainda assim, identificamos a neces-sidade de existir um título principal e destaques em texto para as notícias sem grandes fotos. Outra aposta do grupo para a página inicial da edito-ria em Veja.com é uma grande tabe-la de resultados. O recurso permite que o internauta, logo ao entrar no site, veja o placar dos principais jo-gos de futebol, tênis, basquete, vôlei e também como anda a Fórmula 1. Além de acompanhar as partidas em andamento, é possível, sem mudar de página, acessar os últimos resul-tados de cada modalidade e navegar pelos principais campeonatos.

Os grandes eventos sediados no Brasil ganham páginas especiais com chamadas na capa da editoria, iden-tificadas por um cronômetro. No es-paço dedicado à próxima Copa do

as imagens são o destaque e as manchetes na seção de Esportes de Veja.com.

os tamanhos indicam a relevância da notícia.

Page 88: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 201188

Mundo, é possível fiscalizar as obras nas cidades-sede e o cumprimento dos cronogramas. Já no especial da Olimpíada, o internauta pode nave-gar pelo mapa da Barra da Tijuca e descobrir onde vão ocorrer as com-petições e onde ficarão os atletas, além de acompanhar o andamento das construções.

Ao longo do curso, tivemos que produzir matérias para a editoria. O grande desafio ao propor pautas era encontrar algo que fosse o perfil de VEJA na área esportiva. Sugeri-mos pautas investigativas e temas da área que não são abordados por outros veículos. Entrevistamos o

ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) relator das obras da Copa 2014, Valmir Campelo – fon-te importante nas decisões sobre a organização da Copa. Além de uma matéria sobre esportes de luxo, foi realizada no Rio de Janeiro a entre-vista do perfil de Carlos Fernando de Carvalho, proprietário da Carvalho Hosken. Ele é dono de uma porção enorme de terras na Barra da Tiju-ca e será o responsável por grande

parte das construções para a Olim-píada no Rio de Janeiro. A repórter Fernanda Nascimento e o fotógrafo Alexandre Rezende entrevistaram o empresário e aproveitaram para fotografar os terrenos de Carvalho e conheceram a região onde seriam realizadas as obras.

A revistaPara a revista, o investimento do grupo foi na criação editorial. O projeto, uma seção com cinco pá-ginas, conta com um espaço para o perfil de uma personalidade que vai ganhar ou perder com os eventos es-portivos no Brasil em 2014 ou 2016. Uma página dupla é reservada para uma reportagem sobre tendências, curiosidades e boas sacadas sobre o meio esportivo. As notícias mais quentes do mês ganham lugar na seção Titulares e Reservas, um sobe e desce do mundo dos esportes. Na mesma página, um pingue-pongue traz entrevistas com as figuras polí-ticas responsáveis pela fiscalização e organização dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo no país.

Para a versão impressa, o grupo entrevistou

o ministro Valmir campelo e o engenheiro carlos Fernando de carvalho

a página interna da seção conta com notícias sobre a copa do mundo e os Jogos olímpicos que serão sediados no brasil

Page 89: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

a equipe se reuniu e cada integrante

do grupo participou do infográfico

“Caj do Sedentarismo”. de acordo

com a pesquisa feita com os colegas,

descobrimos que ninguém praticava

esporte desde o início do Curso abril.

durante o caminho para chegar até a editora

abril, um integrante do grupo, focado na

cobertura do dia, fotografou o famoso padre

quevedo no metrô faria Lima. o padre que já

apresentou uma série no Fantástico até mandou

“good vibrations” para a turma do Caj.

em nossa primeira entrevista

coletiva na programação de

palestras do curso, contamos

com a participação de ana

Luiza veloso, responsável pelo

Núcleo de relacionamento com

a Comunidade da fiat. foram

quase duas horas de perguntas

– e ainda teve gente que

pediu a vez pelo ipad.

após 16 dias de curso, nossa redação

fez uma comemoração-surpresa para os

aniversariantes de janeiro, fevereiro e

março, com bolo, música, balões

e refrigerante. e nós aproveitamos!

REVISTA PLUG 2011 89

Page 90: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

proJetos

REVISTA PLUG 201190

Parecia simples: montar uma revista VIAGEM E TU-RISMO especial para São Paulo, no papel e no iPad. E, com base nessa experi-

ência, apresentar um projeto de re-formulação para o caderno regional que já existe na VT. Mas, com essa missão, vieram outros desafi os...

Quebrar o gelo foi o primeiro de-les. Conseguimos tirar isso de letra após uma ida ao bairro da Liberda-de, em pleno ano novo chinês, que coincidiu com o início do CAJ. O passeio foi inspiração para o primei-ro dos muitos roteiros turísticos que fi zemos em São Paulo.

Era preciso defi nir o conceito grá-fi co e editorial da revista. Decidimos que a nossa Viagem e Turismo São Paulo (que apelidamos de VTSP) seria feita para os jovens. Isso nor-teou a escolha das pautas e da nova identidade visual. A revista seria arejada, instigante e geo métrica. As

Uma Nova São paULo

TEXTo ALINE MONTEIRO

matérias teriam um olhar diferente sobre a cidade de São Paulo. O slo-gan que criamos é autoexplicativo: “Aquilo que você já viu, de um jeito que você ainda não conhece”.

Vale lembrar que escrever para uma revista de turismo não é nada fácil. É um exercício de criatividade. Tínhamos que fazer nosso leitor so-nhar, planejar e viajar para lugares “óbvios”. Para isso, lançamos uma visão diferente sobre os lugares mais visitados de São Paulo. Fomos até o subsolo da Sé e revelamos suas criptas, mostramos que os pratos executivos (conhecidos como PFs) também podem ser de luxo e cria-mos uma lista com sorveterias dife-renciadas que existem na cidade.

Provamos que, em uma única re-gião, é possível fazer roteiros com-pletamente diferentes para todos os tipos de gosto. Andamos de helicóp-tero e balão e revelamos São Paulo “pelos ares”. Conseguimos mostrar

GIULIANETIRABASSO

design

THIAGOBARCELOS

mídias digitais

HEBERT COELHOfotografi a

THAÍS TRIZOLIdesign

ALINE MONTEIROtexto

LAURA CAPANEMAtexto

BRUNO ROBERTItexto

OTÁVIO COHENtexto

Nossa missão era produzir uma revista de viagens voltada para a capital paulista, no papel e no iPad. Mas havia muitas outras tarefas por trás desse projeto

o grupo teve de exercitar pauta,

reportagem e edição ao criar uma versão

da viaGem e turismo inteiramente voltada

para a cidade de são paulo.

uma não, duas: a versão impressa e outra para o ipad

MISSÃO

Page 91: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 91

uma outra visão do rio Pinheiros. Fomos à praia e lá, em Barra do

Una, nosso mídias digitais, Thiago Barcelos, viu o mar pela primeira vez. Dividimos a capital paulista em camadas e descobrimos que muitas vezes o descolado, o tradicional, o alternativo e o underground divi-dem, sim, o mesmo espaço.

A “tradução” para o iPadRevista pronta, o próximo passo era o iPad. Descobrimos que não seria possível produzir o conteúdo para o iPad e adaptar os layouts

ao mesmo tempo que a revista era paginada. Era preciso um planeja-mento estratégico que ajudasse as ideias se tornarem realidade e tam-bém adquirir mais afinidade com o Woodwing (programa de criação de conteúdo para iPad).

O mais novo gadget da Apple tem infinitas possibilidades, por isso definimos quais delas caberiam em nosso projeto. Optamos por ví-deos, som ambiente, animações e serviços. Usamos como referência os aplicativos das publicações The Daily, Travel and Leisure, Wired e os

de ALFA e VEJA, da Editora Abril. Sentamos e esboçamos, à mão, o espelho para a revista digital.

Definimos que o iPad não pode-ria funcionar como um depósito de sobras: “tudo o que não entrou na revista, entra no digital”. Não. Apenas o material bom, de quali-dade, que tinha potencial para es-tar na revista (mas que não entrou por falta de espaço) deveria ser aproveitado. Vimos, também, que precisaríamos encontrar soluções para as páginas duplas, inexisten-tes em um iPad.

a capa da VTsP no iPad – todo o movimento da cidade pode

ser visto no tablet.

a reportagem “Plural, mas não caótica” no

iPad. a matéria é um guia para conhecer são

Paulo sob quatro pontos de vista diferentes.

Page 92: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 201192

A VTSP não quer apenas dizer aonde seus leitores devem ir, mas também descobrir onde ele já estáA VTSP também entrou no Twitter, no Flickr e no Foursquare. Não cria-mos nada de novo, apenas marca-mos nosso espaço nas redes sociais que já existem. A ideia era usar a nosso favor a marca forte da Abril e a credibilidade de uma revista líder de mercado como referência online de rotas e dicas turísticas no estado de São Paulo. O conceito de geolo-calização norteou a proposta: a Via-gem e Turismo São Paulo quer saber onde está seu público. Em troca, o leitor/usuário teria reconhecimen-to em hierarquias online e também nas seções dedicadas aos leitores nas duas versões da revista.

No fim, tudo deu certo. A revista ficou pronta tanto para impressão quanto para a versão digital. O re-sultado superou as expectativas. Mas

não fizemos nada disso sozinhos. Em cada etapa do processo, estiveram presentes, com ensinamentos, orien-tações e conselhos, Gabriela Aguerre, diretora de redação da VIAGEM E TURISMO, e Ana Cláudia Crispim, editora de arte.

É preciso dizer, o grupo teve al-tos e baixos. É quase impossível que pessoas tão diferentes, que não se conheciam antes do CAJ, pudessem ter 100% de afinidade. No entan-to, o desejo de entregar um proje-to bem feito, com novas propostas gráficas e editoriais, principalmente para o iPad, nos motivou a superar qualquer diferença que porventura aparecesse. Nós conseguimos e o resultado está aí. Aproveite e viaje por São Paulo!

Ensaio fotográfico mostrando uma perspectiva diferente do rio Pinheiros.

matéria sobre as catacumbas da sé, na revista impressa.

Page 93: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Uma das propostas da vtSp no ipad foi

criar os “diários do repórter”, vídeos

produzidos pela própria equipe que

mostrariam os bastidores da reportagem.

Caj não é só o projeto e as palestras.

durante os 35 dias, uma das

nossas criações foi um infográfico

destrinchando o país abril, que trazia

informações sobre a editora dividida por

“estados”. a população das Semanais,

por exemplo, reúne 70 habitantes,

fica no 17º andar e é comandada pela

“governadora” Kika gianesi.

o elevador da abril,

cheio de personagens

conhecidos da

empresa. quem

trabalha no

departamento de

tecnologia vai direto

para o 8º andar, com

o manoel Lemos.

No 13º ficam pratas

da casa, como Luiz

Iria, “mestre” da

infografia. Lá no alto,

no 24º, fica a diretoria,

lar de thomaz Souto

Corrêa e do próprio

roberto Civita.

REVISTA PLUG 2011 93

Page 94: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

proJetos

REVISTA PLUG 201194

Aos 20 anos, a MTV de-cidiu que estava na hora de ganhar outra cara. Em sua nova fase, o ca-nal deseja voltar a ser

referência no cenário musical e se afastar do rótulo de “TV do Restart”. O desafi o dessa nova fase é satisfazer uma faixa de telespectadores que vai dos 12 aos 34 anos.

Outro desejo da MTV é recons-truir sua relevância. Nessa emprei-tada, uma das apostas é no jorna-lismo como fonte de inovação e como forma de (re)encontrar uma identidade. “Investir em programas jornalísticos tem a ver com atrair um público mais velho, mas não é só isso. O pano de fundo dessa re-

a mtv qUer “CaUSar”

TEXTo RICKY HIRAOKA

formulação é recuperar relevância e incrementar nossa conexão com o real, com o que está acontecendo de relevante no mundo e que tenha a ver com o jovem”, diz Zico Góes, diretor de programação do canal.

Coube a sete jovens a missão de reformular o jornalismo da emisso-ra. A ideia, proposta por Zico e Ri-cardo Anderaos (diretor de mídias digitais da emissora), orientadores da editoria MTV no CAJ 2011, era a criação de um jornalístico trans-mídia – um programa de TV com um site e um aplicativo no iPhone, que promovessem não só a interação entre essas diferentes plataformas como também possibilitassem a par-ticipação do usuário/telespectador

RENATA MIWAdesign

JACKELINESALOMÃO

vídeo

ISABELLAINFANTINE

vídeo

AURÉLIOAMARAL

texto

CAMILA NEVEStexto

RICKY HIRAOKAtexto

FERNANDAFRAZÃO

fotografia

TV, internet e iPhone – a integração dessas plataformas foi a maneira encontrada para dar uma nova cara ao jornalismo da MTV

no aniversário de 20 anos do

canal, a equipe da mtv teve como

desafio criar um produto jornalístico

transmídia: um programa de tv cujo

site e aplicativo no iphone permitissem

a intervenção do espectador em sua receita

MISSÃO

Page 95: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 95

na elaboração do conteúdo que ele próprio irá consumir.

Por ser uma emissora segmen-tada, nem tudo que acontece é notícia para os telespectadores da MTV. Eles estão interessados em temas que refletem diretamente em seu cotidiano. Pensando nisso, esse jornalístico transmídia foi dividido em cinco grandes editorias: Música, Tech (tecnologia e internet), Trend (moda, beleza e comportamento), Atitude (sustentabilidade, respon-sabilidade social e política) e Cult (cinema, HQs e TV).

Com esses conceitos decididos, era preciso encontrar um nome que deixasse clara a dimensão transmí-dia. E o MTV Conecta transmite a ideia de que TV, web e mobile estão ligados, ao mesmo tempo que chama o telespectador/usuário a interagir, a se conectar com a MTV.

Conecta com a TVPara dar um tempero, os orienta-dores fizeram dois pedidos: o pro-grama de TV não poderia ter um apresentador e o tempo de duração não deveria ultrapassar 2 minutos. Para suprir a ausência de um ânco-ra, concluiu-se que a melhor saída era mostrar a notícia através do olhar de um jovem.

Cada programa teria a participa-ção de um personagem que dá um depoimento, mostrando como um fato afeta ou influencia sua vida. No fim, o espectador é convidado a se aprofundar no assunto através do site, que terá uma matéria mais de-talhada sobre cada tema.

Ter um personagem contribui para uma maior identificação dos telespectadores com aquilo que está sendo mostrado. Além disso, ter um anônimo “dando a notícia” é uma forma de o público fazer parte do MTV Conecta.

Outra forma encontrada para a participação dos telespectadores é pedir que eles gravem uma chamada anunciando o início do programa. O texto não poderia ser mais simples: “Está no ar o MTV Conecta!” Para ser escolhido, o que vale é a criativi-dade do vídeo.

Conecta com a internetÉ no site do programa que o espec-tador encontrará um espaço re-servado para gravar e enviar suas chamadas. Para isso, ele precisará participar do Me Conecta, a rede social do MTV Conecta. Há duas maneiras de se inscrever: o usuário cria uma conta com nome, e-mail e senha ou utiliza seu perfil no Face-book ou no Twitter.

As chamadas que a equipe do MTV Conecta mais gostar irão para a home do site – assim, os usuários

interface do mTV conecta para iPhone. a matéria exibida fala

sobre o fechamento do belas artes, tradicional cinema

de são Paulo.

as editorias do mTV conecta – temas cuidadosamente selecionados para atrair o interesse do público-alvo do programa.

Page 96: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 201196

podem votar nas melhores, que se-rão exibidas nos programas.

Através da rede social também será possível enviar vídeos e fotos sobre assuntos relacionados a uma das editorias do MTV Conecta.

A cada vídeo ou foto enviado, o usuário ganha 5 pontos. Se o ma-terial é publicado na home do site, ele ganha mais 50 pontos. Quanto mais pontos o usuário tiver, maior será sua chance de aparecer no site do Me Conecta, em um espaço re-

a inteface do site, com conteúdo produzido pelos próprios usuários.

o me conecta, idealizado também para funcionar dentro de um celular.

servado para os participantes mais ativos e populares.

Além do conteúdo produzido pelo usuário, o site do MTV Co-necta terá notícias próprias e abri-gará todos os programas que foram exibidos na TV.

Conecta em todo lugarO usuário também poderá usar o aplicativo do MTV Conecta para o iPhone na hora de postar suas fotos e vídeos na rede social, além de gra-var as chamadas para o programa. A grande vantagem do aplicativo é dar ao usuário a oportunidade de mandar um flagrante ou uma curio-sidade em foto ou vídeo logo após registrar. Rolou um flash mob na avenida Paulista? Está num festival de música repleto de artistas inter-nacionais? É só registrar com fotos ou vídeos e enviar!

Tudo juntoAs plataformas que fazem parte do MTV Conecta foram criadas para incentivar e permitir que o públi-co participe ativamente do projeto. A aposta da editoria MTV é que a interatividade atraia um grande número de usuários/telespectado-res que queiram não só aparecer na TV ou no site, mas que também desejem compartilhar sua visão de mundo com os outros.

Page 97: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

quem quer ser vj? durante o Curso

abril, nós aproveitamos para

realizar os sonhos de grande parte

dos cajianos e testamos o talento

de alguns deles na telinha. entre

engasgadas, risos e muitos, mas

muitos momentos constrangedores,

conseguimos identificar alguns

talentos! agora, se alguns deles

têm chances de virar apresentadores

da mtv, isso só o destino dirá.

thomaz diz não! durante o curso de

edição, o grande mestre revisteiro da

abril listou tudo o que não devemos

fazer na hora de diagramar. e, para a

alegria dele, juntamos todos esses erros

em uma só página. o título é seu lema:

“maldito computador!” que engana

nossos olhos e mostra as páginas de

forma diferente. thomaz nos ensinou

a treinar nossos olhos e buscar uma

coisa, acima de todas as inovações

de design: legibilidade.

vj aurélio

vj vítor

vj jun

vj marília

vj renata

REVISTA PLUG 2011 97

Page 98: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

proJetos

REVISTA PLUG 201198

Éramos quatro cariocas de mala e cuia em São Paulo que não esperavam ouvir a palavra “Rio” tão cedo. De repente, já no primeiro dia

de curso, estava lá, na apresentação das editorias: “Veja Rio”. Um pedaci-nho inesperado da nossa cidade em pleno CAJ. Tensão. Será que a gente iria parar justamente nesse grupo? Não... Seria muito óbvio. Pois é, nem tanto. Dos sete cariocas, qua-tro foram escolhidos para trabalhar com dois paulistas na seguinte mis-são: colocar um novo site da VEJA RIO no ar, com projeto editorial na mesma linha da revista, mas inde-pendente dela, mantendo o foco no guia de programação, criando novo visual e estratégias ligadas às mídias sociais.

Como é que é? Colocar um site no ar? “Sim, para valer. Vocês con-seguem?”, disparou Maurício Lima, diretor de redação da VEJA RIO

rIo doSNavegaNteS

TEXTo DANIELA PESSOA E ERNESTO NEVES

e orientador do projeto, em nossa primeira reunião no restaurante glamouroso do terraço do prédio da Editora Abril. Nós nos entreolhamos apreensivos, mas a sementinha da empolgação já estava plantada.

Tem que ter agilidadeO negócio, então, era agilizar. Afi nal, colocar o site no ar em um mês se-ria dose – nosso webdesigner Bruno Xavier que o diga. Segundo ele, um site como esse levaria pelo menos uns três meses para fi car pronto. Nós tínhamos um terço do tempo. No dia seguinte, então, já estávamos pensando em pautas, pesquisando e idealizando a estrutura da página inicial. Tarefa desafi adora para cinco alunos de texto que nunca haviam queimado tanto a cabeça em termos de navegabilidade.

Nossa preocupação ia além da boa escrita – era preciso criar todo o es-queleto do site (wireframe! – apren-

BRUNO XAVIER

design

O novo site da VEJA RIO alia a tradição da revista que é referência cultural para os cariocas a novas possibilidades e experiências no mundo digital

o grupo de maioria carioca se sentiu

em casa com a missão: reformular o site da veJa rio, mantendo a linha

editorial da revista mas buscando ir

além, com foco baseado em três

pilares: programação cultural, serviço e

reportagem

MISSÃO

DANIELAPESSOA

texto

FERNANDOFRAZÃO

fotografi a

ERNESTONEVES

texto

LOUISEPERES

texto

NATHÁLIABUTTI

texto

Page 99: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011 99

demos o nome técnico), pensar nas seções, subseções, ferramentas in-terativas, novas linguagens, enfim, tudo o que fosse atraente para con-quistar novos leitores, aumentando a audiência –, como destacou nosso orientador desde o início. Para se ter uma noção, o número de page-views mensais do site da VEJA RIO (208000) representa, hoje, apenas 10% dos pageviews de VEJA SP.

Ih, o borderô!Tínhamos como missão, então, pen-sar alto, mas colocar os pés de vol-ta no chão. Afinal, o site precisaria ser perfeitamente executável ao fim desse curto espaço de tempo. Novo desafio: como pensar em novidades que fossem viáveis em termos de implementação e não estourassem nosso orçamento?

Decidimos manter o foco no guia cultural, mas oferecer, ao mes-mo tempo, conteúdo diversificado, mul ti plataforma. Nosso orientador sugeriu a seguinte proporção: 50% do site para programação, 35% para reportagens e 15% para opinião (co-lunistas e blogueiros).

Mão na massa!O objetivo estava definido: ser refe-rência para o internauta que procura informações sobre o Rio; mostrar o que há de novo e bacana na cidade. Como chegar lá? Oferecendo a mais completa programação cultural e o melhor conteúdo multimídia sobre o cotidiano da cidade e o estilo de vida carioca. Foram mais ou menos duas

semanas de brainstorm frenético. No dia 4 de fevereiro já tínha-

mos nosso queijo (o projeto de site completo, que apresentamos para o Maurício Lima). E ele nos deu a faca: estávamos prontos para colocar to-das as ideias em prática.

O conteúdo do novo site da VEJA RIO foi dividido nos dois grandes pilares abaixo:

• Guia de programação cul-tural e serviçosO guia cultural ganhou um espaço fixo na home da VEJA RIO, em for-mato de box, aparecendo também

em todas as outras páginas do site. Ele permite ao internauta buscar di-ferentes tipos de serviço e programa-ção, como restaurantes, bares, filmes, peças de teatro e exposições – tudo devidamente separado por abas de navegação. Cada aba tem filtros de busca específicos, como a busca de acordo com o bairro, que possibili-tam refinar a pesquisa.

Criamos, ainda, uma agenda diá-ria de eventos. Trata-se de um ca-lendário semanal de lazer na cida-de. Funciona da seguinte forma: os números representam cada dia da semana. Ao clicar neles, à esquerda

o novo layout do site da VEJa

rio, totalmente produzido pelos

alunos do caJ.

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REVISTA PLUG 2011100

ou à direita (isto é, ao escolher de-terminada data), o usuário é levado para uma página interna que agrupa uma seleção de eventos do dia. As-sim, a informação chega mais fácil e segmentada ao leitor.

• MatériasHavíamos definido as seguintes seções para o site da VEJA RIO: Gastronomia, Arte e Cultura, Noite e Música, Cotidiano, Roteiros, Espe-ciais (Carnaval, Rock in Rio etc.) e Blogs. Bacana, tudo aprovado pelo orientador, mas como gerar conteú-do para todos esses canais? Trabalho duro, meus caros! Sugerimos exata-mente 45 pautas. Das aprovadas, ficamos com 13 – as mais legais e possíveis de fazer em tão pouco tem-po de curso e produção no Rio de Janeiro (apenas quatro dias!).

Para oferecer ao leitor mais do que

conteúdo independente da revista, quisemos aproveitar os recursos da internet para ir além do convencio-nal. Imagine explorar os ambientes mais luxuosos do Copacabana Pala-ce, ícone da cidade. Quantas pesso-as já não quiseram dar uma espiada no lugar? Já pensou conhecer a suíte em que os famosos se hospedam? O tour virtual, que oferece ao internau-ta essa experiência, representa nossa intenção de surpreender.

Gostou do passeio? Então que tal assistir a um vídeo na Veja Rio TV? Gostaria de compartilhar o conteú-do com os amigos? É só clicar ali no botão do Twitter ou do Facebook. O leitor/internauta também pode aproveitar para deixar seu comen-tário através do Facebook Connect – é a VEJA RIO trazendo as redes sociais para dentro do site. Espera-mos que vocês gostem!

Guia de compras para o Dia dos Namorados – o conteúdo

foi produzido durante o curso e aproveitado pelo site

da VEJa rio.

o rio sob a perspectiva de Fernanda Paes Leme – matéria que pode ser vista no novo site, já no ar.

Page 101: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

encontramos famosos entre nós!

alguns cajianos se pareciam tanto com

personagens e celebridades que as

comparações foram inevitáveis! basta olhar

para as fotos: é incontestável que a renata

miwa é a cara da alessandra Negrini,

a priscila parece a moranguinho e

o max tem todo o jeitão do Wolverine!

quem você seria na abril? o

maior desejo de todos os alunos

do curso era ser contratado

pela editora – então resolvemos

descobrir quem cada um seria

na empresa, comparando

nossos perfis com o de alguns

palestrantes. depois de fazer um

teste com perguntas baseadas

nas nossas aulas, descobrimos se

nós éramos mais parecidos com

o diretor de redação da SUper, o

Sérgio gwercman, ou com nosso

coordenador, o “olho que tudo vê”,

edward pimenta, por exemplo.

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proJetos

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Do universo apresenta-do nos vídeos concei-tuais até o lançamento do primeiro modelo de sucesso de um tablet

no mercado, muitas ideias vieram e passaram sem nunca terem che-gado ao mundo real. No primeiro encontro com nossa orientadora, a missão do grupo EXAME fi cou muito clara: trazer serviço e surpre-sas para o futuro leitor de PME no iPad, mas mantendo o pé no chão. Como construir um aplicativo que surpreendesse em tão pouco tempo e ainda fazê-lo de fato funcionar?

Nossa missão, que em um primei-ro momento era melhorar a versão

CoNeCtaNdo NegÓCIoS

TEXTo DANIELLE PECHI E THIAGO ARAÚJO

de EXAME para o gadget da Apple, saltou para a concepção de um apli-cativo que oferecesse recursos e fer-ramentas pensadas para pequenos e médios empresários, leitores de EXAME PME.

Na data em que nosso Curso Abril começou, seis publicações da editora já estavam no iPad, número expres-sivo que tornou ainda mais difícil a tarefa de inovar tanto em forma quanto em conteúdo. Claro que te-ríamos galerias de fotos, áudios, ví-deos e a interface típica do aparelho, mas tínhamos de ir além.

Desenvolver um projeto sem sa-ber ao certo as limitações tecnológi-cas que enfrentaríamos foi o maior

No iPad, o manual do pequeno e médio empresário brasileiro aposta na interatividade entre leitores e personagens em uma rede exclusiva para tablets

o grupo teve de criar uma versão para

tablets da revista que é o manual do

pequeno e médio empresário brasileiro.

interatividade, serviço e troca de informações

foram as palavras de ordem para aproveitar

as possibilidades do novo meio

MISSÃO

THIAGO ARAÚJOmídias digitais

PRISCILA BOFFOdesign

ERICA MARTINtexto

DANIELE PECHItexto

BABIBRASILEIRO

design

FILIPEPACHECO

texto

FERNANDAFRAZÃO

fotografi a

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REVISTA PLUG 2011 103

desafio enfrentado pela equipe. Após discussões e visitas para tirar nossas dúvidas com os profissionais da Abril Digital, chegamos a um projeto cheio de ideias. Importan-te: elas já podem ser colocadas em prática com o que existe disponível no mercado.

A partir daí, pensamos no que o leitor da PME busca em uma publicação de negócios concebida para um tablet. Concordamos que a principal função desse novo apli-cativo é a prestação de serviços para o público baseada nos conteúdos da revista, o que viabiliza a conexão en-tre os leitores e os empreendedores que têm suas histórias de negócios contadas nas páginas de PME.

O raciocínio foi todo estruturado a partir da observação da rede social que a revista já possui na internet (www.revistapme.ning.com). Com um pouco mais de um ano de exis-tência, a rede tem mais de 11000 participantes que discutem vários assuntos relativos a negócios, car-reira, tecnologia e, claro, empreen-dedorismo. Atualmente, o contato entre os usuários acontece de forma espontânea nesse ambiente, com os assuntos mais evidentes nos tópicos de discussões sendo destacados em uma seção na versão impressa.

A grande troca de informações en-tre os empreendedores nos fez pen-sar que nos tablets esse engajamento pode ser ainda mais intenso. Com apenas um toque na tela, os leitores

No iPad há mais de uma opção de capa para a PmE. basta

arrastar o dedo.

têm contato com os personagens re-tratados na revista, enviam perguntas em tempo real. Enfim, queríamos ter o máximo de informações em uma única plataforma.

Os serviçosCom a mesma proposta da revista impressa – ser o manual do peque-no e médio empresário –, pensamos, além das funcionalidades de intera-ção, em um aplicativo que também explorasse o que há de melhor na identidade das seções da PME.

No bloco “Minha inovação”, da seção Para começar, por exemplo, é possível ouvir a voz do persona-gem da matéria contando ao leitor sobre as especificidades do negócio apresentado. Além disso, em todas

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equipamento de filmagem e viram dobrar o tempo de apuração da reportagem. Afinal, fazia parte de nossa missão produzir um especial para o aplicativo da revista com o tema “oportunidades do lixo”.

Em meio a palestras e oficinas do Curso Abril, nossos repórteres enfrentaram um processo de iden-tificação de cases bastante com-plexo. Era necessário encontrar personagens empreendedores, que tivessem enxergado no lixo uma oportunidade de estabelecer um negócio. A principal dificuldade é que grande parte do setor é do-

minada por grandes empresas e os pequenos negócios que já existem são incipientes. Foram vários dias de ligações, encontros com jornalis-tas da PME e pesquisas na internet para que fossem selecionados cinco exemplos de negócio que tivessem a cara da revista.

Os designers também tiveram trabalho multiplicado: diagrama-ram na vertical, na horizontal, produziram infográficos, galerias e quatro capas diferentes para uma mesma edição. A fotógrafa virou vi-deomaker e o profissional de mídias digitais uniu tudo isso.

Na revista e também no

tablet, na seção “Para começar”,

com um clique é possível ter

informações e a localização das

empresas.

o usuário tem a chance de assistir a vídeos dos personagens das matérias. ao lado, personagens da reportagem de capa.

as matérias da revista, sempre que o usuário vir o nome de uma empresa ele tem acesso ao Onde encontrar. Essa seção, que também está presen-te na versão impressa e no aplicativo para tablet, se transformou em uma listagem interativa que conta com mapa, e-mail, site e outras informa-ções que facilitam o contato entre os empreendedores.

“Do lixo ao lucro”Os jornalistas de texto, que estavam acostumados a carregar apenas um bloquinho e uma caneta na hora de apurar, conheceram o peso do

Page 105: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

Um esquema “mind-map” foi produzido

pela equipe após o painel sobre redes

Sociais, que contou com a presença de:

fred di giácomo (editor de internet do

Núcleo jovem), rafael Sbarai (editor de

veja.com) e o professor da fundação

getúlio vargas (fgv) e consultor marcelo

Coutinho. afinal, as redes sociais são

compostas por ferramentas ou pelas

pessoas? essas e outras várias questões

fritaram cérebros dos cajianos durante a

conversa. o infográfico foi uma maneira

de organizar informações e citações.

as fotos foram feitas durante a palestra do diretor de

redação de pLayboy, edson aran. essas montagens foram

produzidas para que as fotos da cobertura do dia fossem

diferentes, já que diariamente todos os grupos subiam

fotos das palestras. essa brincadeira mostrou como as

pessoas se comportam e a gente aplicou umas frases.

o grupo ficou curioso para

saber como os colegas

do curso definiam um

bom jornalista, designer,

ilustrador, mídia digital

e fotógrafo. foram

entrevistadas cinco pessoas

(um representante de cada

profissão) com a mesma

pergunta: “para você um bom

___ tem que ter?”. Com a

ajuda da arte, as montagens

serviram de panorama

para o resto da turma.

REVISTA PLUG 2011 105

Page 106: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

REVISTA PLUG 2011106

fim De papo

Desde que Homero nos con-tou as aventuras e desven-turas de Helena de Troia, não têm faltado no mundo leitores para uma boa his-tória. Homero, pelo que já se disse, era cego. Contam

que teria sido analfabeto; na verdade, tal-vez nem se qualificasse para ser classifi-cado como analfabeto, pois é possível que em sua época a linguagem grega ainda não fosse escrita. A história, contada em versos, teria sobrevivido de forma oral, re-petida de geração em geração até, um dia, ser enfim colocada no papel. Mas aí é que está: com todas essas adversidades, a obra de Homero sobrevive há 3000 anos e não há previsões de que venha a ser esquecida a qualquer prazo.

Os jornalistas de hoje bem que pode-riam prestar um pouco de atenção nisso. Vive-se uma época em que a cada 15 dias é anunciada uma nova revolução no mun-do das comunicações; formidáveis gurus,

com pencas de Ph.Ds nas costas, prêmios Nobel e capitães da indústria digital nos asseguram que este ou aquele novo apare-lho, ou esta ou aquela inovação no ciberes-paço, vão “mudar tudo, para sempre”, que “nada mais será como antes” etc. Gasta-se cada vez mais tempo com conversas sobre o que o jornalismo será no futuro próxi-mo, ou sobre o que ele já não é, do que em praticar jornalismo no presente. Tudo bem, mas, com toda a importância do fu-turo, jornalistas têm contas para pagar no curto prazo. A solução para isso, até que se encontre alguma outra, é ter em mente uma realidade simples: enquanto houver boas histórias para contar haverá leitores interessados nelas, e enquanto houver lei-tores haverá imprensa — e trabalho para profi ssionais da comunicação.

Às histórias, portanto. Elas estão por toda a parte, para o jornalista que prestar aten-ção no que está acontecendo ao seu redor — basta que sejam contadas de maneira que o leitor se interesse em lê-las até o fi m.

ÀS hIStÓrIaS!

J.r. GuZZoJornalista, membro do Conselho

Editorial da Editora Abril

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para jornalistas

AGENDA BRASIL GENDA BRASIL 10Um curso gratuito exclusivo para jornalistas das editorias de economia, negócios e finanças.

Carga horária: 60 horas – 20 semanas

Objetivo: promover a discussão, dentro do ambiente acadêmico, de temas que integram a agenda dos jornalistas, com foco no mercado brasileiro e internacional.

Metodologia: palestras e debates sobre assuntos relevantes da atualidade brasileira, como cenários e tendências econômicas, gestão estratégica, competitividade, marketing, empreendedorismo, mercado financeiro, gestão de crédito, comportamento do consumidor, governança, entre outros.

Desde sua primeira edição, o curso já contou com a participação de mais de 350 jornalistas.

Informações e inscrições

FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADOFaculdade de Administração / FAAP-MBA / WNP ComunicaçãoTel.: (11) 3662.7270 / 7271 Fax: (11) 3662.7271

Jornalistas: Suelen Rodrigues - [email protected]

Carolina Vivas - [email protected]

Helena Capraro - [email protected]

Page 108: PLUG 2011 - O Jornalismo em Profundidade

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Respeite a sinalização de trânsito. Imagem meramente ilustrativa, com alguns itens opcionais.

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