poema heroico

100

Click here to load reader

Upload: tensing-rodrigues

Post on 12-Sep-2015

300 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Camoens

TRANSCRIPT

  • ft A8G, 09

    ^>' K*v0

    I

    Presented to the

    LIBRARYo//h?

    UNIVERSITY OF TORONTO

    by

    Professor

    Ralph G. Stanton

    m^m-4

    i\

  • I':

    #**-

    -? ;?*

    llf

    W!iMPi'-*V v#?

    mm&

  • VPOEMAHERICO,MRCIO, HISTRICO,

    da gioriofa , e inimitvel vi&oria,

    que contrao inimigo Bounful alcanou

    O ILLUSTRISSIMO, E EXCELLENT. PENHOR

    PEDROMIGUEL DE ALMEIDA E PORTUGAL,

    MARQUEZ DE CA ST E L LO-NOVO ,Vice-Rey , e Capito General da ndia , na tomada

    de Alorna,Bichoiim

    ,e Sanqttelim

    ,no anno

    de 1746.QUE AO MESMO ILLUST. E EXCELLENT. SENHOR.

    offercce, e dedica com a mais reverente fubmiTa

    MANOEL ANTNIODE MEIRELLES,

    Capito Engenheiro,e de Bombardeiros

    ,que fe

    achou prefente a toda a campanha.

    LISBOA:Na Officina de MIGUEL RODRIGUES,

    ImpreTor do Emin. Senhor Cardeal Patriarca.M. DCC. XLVII.

    Com as licenas necejjarias.

  • 1LLUST. E EXCEL. SENHOR.

    v4' ha muitos tempos, que a grandeza de V. Excellencia fetem dignado de franquear as latijjimas portas da fu be-nevolncia minha eferavidao

    ,

    para fe atrever a por afeus ps efte Irmnado parto do meu difeurfo, ajfan indianode lograr efa honra. Se na grande ignorncia de minhatofca JWufa, defacerta meu rendimento o obfequio,na temV. Excellencia que queixarfe mais que da fta grande be-nevolncia

    ,

    que he a verdadeira caufa deft.e obfequicfo ef-feito.

    A gloriofa emprega,que V. Excellencia con reguio centra as

    gentlicas armas, refnfciiando as Portuguesas do iniquo abatimen-to

    .,em que ha muito fe achavao , he ta grande, que defjando et

    looo por em execuo efte meu projelo , encontrey huma grande per-plexidade

    ,em averiguar qual de duas coufas feria major ,fe a ma-

    tria de que queria tratar,fe o fubmiffo rendimento , com que def-

    java obfequiar a V. Excellencia ; efendo efte ta grande , he aquella$ao fem termo

    ,que nao podendo refolver o problema, me vejo obri.

    gad

  • gado a dizer, que me fuccedeo omefmo,que ao Troyano, quando a

    outro refpeito drjferente,

    diffe porjboca do Poeta :Oblupui.

    ..V.&Yox faufcibus hseft.

    Mar animado agora nao fey de que*fiper#or influxo , depttz. obem fundido receyo, que tinha de me atrever a tao rdua emprega;na f para quer. Excellencia nao attribuiffe omiffa no meu rendi-mento aquillo

    ,que f nafeia de impoffibilidade, do difurfo ; mas pa-

    ra que o mundo reconhea,que da forte que o perminem as minhas

    pequenas foras,tenho a honra de me querer mofirar defla forte

    agradecido com o pouco que poffo, ao muito que devo.Mil vez.es proteflo, que nefie papel nao pertendo engrandecer a

    V. Excellencia, que feria em mim crajfa ignorncia , mas f obfe-quiallo : digo que nao pertendo engrandeceuo, porquef fe pde dizerengrandecer aquelle que carece de major grandeza : porm a heroi-cidade deV. Excellencia, como chegou j ha muito ao feu Zenith, naoha mais elevado gro a que fub

    ,

    por mais que as fus hericas ac-oens f multipliquem , bem affim como no grande Oceano , que porler defde a creaa tocado a ultima meta da fua grandeza , naotem para onde crefcer por mais, c mais caudalofas correntes, que felhe incorporem.

    E como o dizer pouco do muito he offender a matria, e o que-rer referir as hericas acoehs de V. Excellencia he na f diffcil,mas inteiramente impofjivel humana intelligencia , nao fendo odifeurfo capaz de ta rdua empreza : peo a V. Excellencia, quebenigno aceite efie pequeno penhor do meu agradecimento , relevan-do a dureza do efiylo ; porque como apenna nao feja aparada com ofubtil corte de tranquillo efrudo , mas com o tofco golpe de militarefpada

    ,parece?ne deve fer defeulpado \ mayormente nao me affiflin-

    do o bifronte Cume , mais que huma ardente fede das Ca/lalias cor-rentes. Se for do agrado de V. Excellencia he o Poema feu, fe nao,hc a Poezia minha.

    Alllulriiima, e Excellentiflimn Pelca de V. Excellenciaguarde Deos muitos annos para terror dos infiis , amparo-"os Cad^iolicos, % credito da naa Portugueza.

    De V. Excellencia

    ObedientiTimo, e humillifimo eferavo,

    Q. S. M. B.

    Manoel Antnio de Meirelles.

  • Pag. 3

    IPOEMA HERICO.PRIMEIRA CAMPANHA.

    NARGUMENTO.

    Ao cumpre o Bounful a paz tratada,

    Intenta Pedro inviio atroz cajligo,

    Conduz por mar , e terra a gente armada,

    Penetra logo as terras do inimigo :Toma Alorna fatal, Praa ajfamacia^Partefe a Bicholim foberbo , e antigoRendeo de Sanquelim Caftello forte

    ,

    E volta viloriofo para a Corte.

    I.

    U canto com o favor do Cynthio Apolojl (Ainda que em metro atfaz pouco erudito)ElIe Here, que de hum Polo a outro PoloA fama acclamou fempre o mais invi&o:EfTe, que os mefmos hlitos de Eolo,Do difano concavo delri&oExpelle , ainda a pezar do Diceo rgio,Por nelle na caber eu nome egrgio.

    II.

    Ee herico Marquez fempre preclaro,Alm de Portugal caftello forte

    ,

    Cujo nico valor, e engenho raro,Inveja he de Minerva

    ,e de Mavc'e :

    Ee que ao Bounful fez cuftar cao,De Europa ao Oriente o leu trar f porte

    ;

    ETe em fim,

    que no febii e no guerreiro,Afbmbro tem caufado ac irundc iiitcio.

    Tambm

  • 4III.

    Tambm canto a guerreira, e Lufa gente,Como a nica em armas esforada

    ,

    Que das partes remotas do OccidenteVeyo por dar augmento a F fagrada :Aquella, que com brio, e zelo ardenteTem aTolado a turba depravada

    ,

    Qje com cegueira fegue a torpe feita,E da divina luz na fe aproveita.

    IV. -

    Sacra Nynfa do oiteiro bipartido,Que o belligero canto patrocinas

    ,

    Permitte-me,

    que digno haja bebidoAs Accidalias limphas cryftalinas:Para que de teu Nume apercebidoCante as mareias faanhas peregrinasDeTe Here bellicofo , e eminente,Que ha de vir a render todo o Oriente.

    V.E vs, Senhor, que a tudo haveis eftado,

    Permittime, que attento vos invoque,Infundindo em meu peito congeladoAs ardentes canoens do mareio Eloque :Porque quando meu verfo limitado,DeTe invidto valor a meta toque

    ,

    Sendo de voflo auxilio foccorrido,Faa de baixo eftylo o mais fubido.

    VI.

    Ouvi , vereis em canto harmoniofoAgora recitado em doce avena

    ,

    O que ao fom do inftrumento bellicofoFizeftes exercer com voz ferenaO trifte Bounful vereis forofotCondenarfe a fi mefmo a eterna pena

    ,

    Quando v,que os varoens mais esforados

    Va do volto valor acompanhados.Tambm

  • 5VII.

    Tambm referirey com vera menteOs esforos do peito Lufitano

    ,

    As faanhas fataes do brio ardente

    ,

    Bem como o Gama invito ao Melindano

    :

    E defta empreza herica, e eminente,Que tanto tem domado ao negro infano

    ,

    (Ainda que invocarvos na mereo)A bellicofa hiftoria aTim comeo.

    VIII.

    Campada em Colual fe demoravaA belligera gente de Ulyftea,Em quanto gyros trs a esfera dava,Na Ecliptica ardente a luz Febea :Quando o invidio Marquez julo intentavaZeyramo caftigar com morte fea,A quem os fados tinha promettidoSer agora dos Lufos deftruido.

    IX.Era o tempo em que o Rey da quarta esfera

    Em luzifero plauftro diamantino,J no Boreo hemisfrio reverbera

    ,

    Qual veloz incanfavel peregrino :Vifitando fe achava a Madre AnteraNo cornigero limen matutino,Adonde o claro ardor de feus luzeirosDoze crculos tinha dado inteiros.

    X.E logo que o trezeno em fim media

    ,

    Depois de ir declinando o pay de Flora,O inclyto Marquez a gente guia

    ,

    Que he fempre nas batalhas vencedora

    :

    Na fem mylerio efpera o feliz dia

    ,

    Em que da Cruz Helena era inventora,Porque defta vi&oria colha as palmasDa arvore adonde Chrilo rime as almas.

    Entre

  • 6XI.

    Entre todos fera , com pouco engano,Duas vezes quinhentos Portuguezes,E os toftados do morto no Eridano

    ,

    Tambm era quinhentos duas vezes

    :

    Em conferva do povo Lufitano,Va (na muitos) cubertos de jaezesOs bravos onimaes

    ,

    que para a guerraNeptuno decubrio , ferindo a terra.

    XII. .

    Do Conquiftador magno, que outros mundosPreiimio encubertos, conta a hiftoria

    ,

    E difputa engenhos muy profundos,Sobre qual foy mais digno de memoria

    :

    Se conquitar com poucos furibundos,

    Se com elies ganhar tanta vidtoria

    ;

    E efte melmo problema aqui fe teve

    ,

    Que para o decidir ningum fe atreve.XIII.

    Dos negros barb intonbs , e membrudosHe o numero grande, e em muita copia

    ,

    N f deites daqui feros , fanhudos

    ,

    Mas de outros l da Porfia , e de Ethiopia

    :

    Nos exerccios beliicos , e agudos ,J a canalha na tem aquella inpia,Que tinha l nos fculas pa (lados

    ,

    Por iio era de poucos deftroados.XIV.

    Na defmnya os peitos bellicoosA 5 vifta da fatal difparidade,Antes de adquirir fama ambiciofos

    ,

    Apoctecem mayor defigualdade :Beliicos inftrumentos bnorofos

    ,

    Que foa pela area raridade,Fazem

    ,

    que a gente toda apercebidaAlegre fe difpoem para a partida.

    Trs

  • XV.Trs horrorofas frias

    ,

    que arruidosDa duas vezes vinte em dous minutos,Inftrumentos, que em Lipari fundidosFora pelos Cyclopes , os braos brutosNo beligero corpo repartidos

    ,

    Com miniftros em tudo alTaz aftutos

    ,

    Na retaguarda, e centro, outra na frente,Defta forte caminha a Lufa gente.

    XVI.Vay Soliman fegundo apercebido

    ,

    Duro cerco emprendendo fero, e forteNo poderofo Exercito temido,Leva trezentas peToas de bom porte :Pedro, com hum por cento de partidoMelhor os juros cobra de Mavorte

    ;

    Pois no bellico horrfico contratoQuem compra para Deos compra barato.

    XVII.Nefte tempo o Zeyramo miferando

    Defta refolua amedrentado

    ,

    Eft com fundamento receando

    ,

    Que feja de feus erros caftigado :Achava-fe at aJli ainda ignorandoAdonde defcarregue o golpe irado

    ;

    Na dorme, nem defcana huma f hora,Pezandolhe da fua f traidora.

    XVIII.O povo

    ,

    que receya temerofoOs deftroos da guerra deplorveis

    ,

    Vendo que o padecer lhe era foroo,Ciamao eternamente os miferaveis:Todos va em concurfo copiofo,Amotinados, feros, e implacveis,Adonde as triftes mays defconoladasA Bounful e queixa magoadas.

    Tyranno

  • 8XIX.

    Tyranno Regedor da gente afflita

    ,

    Com que raza (lhe dizem) vos moveftesA incitar a quem Marte tanto agita,Faltando ao que ha muito prometteftes ?Como com os Luos nao fe folicitaA amizade de Pylades, e Oreftes,Pois com gente, que tanro aimbra a terra,S nos convm ter paz , na rdua guerra.

    XX. -

    Lembraivos de ns metas , e affligidas

    ,

    Na falta alfas cruel das poroens d'alma,

    Que nas vidas dos filhos ta queridasArranca o Portuguez, levando a palma:Vede a quantas de ns deixa perdidasDo tyranno Mavorte a ardente calma

    ,

    Que ha de innundar de Alorna eftas campanhasCom fangue, que fahio delas entranhas.

    XXI.Porm e hoje fizerdes inhumano,

    Que ta grande maldade fe vos deva,

    Cheira Brama fupremo , e foberano

    ,

    Que o Sol empre vos deixe em parda treva:Qual deixou tenebrofo efe profanoNegro infaufto lugar da mefa fva

    ;

    Que fe Atreo de Thiefte os filhos mata,Vs a muitos caufais a morte ingrata.

    XXII.Vedes as triftes confortes, que fentindo

    Dentro na alma as aufencias dos efpofos

    ,

    Logo com quanta pena ira ouvindoOs infauftos fucceflbs laftimofos ?Dos filhinhos a grita eft ferindoEfes campos ethereos luminofos

    ;

    De tudo haveis de dar computo eftreitoAos deofes, a quem tudo eft fujeito.9 Nao

  • xxiii;Nao queirais ir pagar no efcuro Avefn '

    A morte deites triftes, e affligidos,Que as confortes

    ,e filhos, fem governo

    Deixa, fendo dos Lufos detruidos:Quaes as quarenta e nove em curfo eternosEfta pagando a morte dos maridos,As eftygias aguas carretando

    ,

    Que va as negras amphoras largando.XXIV.

    Os idolos infames depravados,Que a vil cegueira adora divindades,Vifnum, Madeo

    ,Brama, que efta irados

    ?

    Contra o negro Zeyramo, e vis maldades:Tambm pelos demnios incitadosIntenta caftigarlhe as falfidades

    ;

    Porque faz,que lhe tire a Lua gente

    O culto, que dos feus tem reverente.XXV.

    Como he poffivel (dizem os malditosDeofes, contra o Zeyramo, e feus proje&os)Que queira dar motivos inauditosAos que noTa Ley fao mal affe&os ?Nao repara facrilego os delidlos

    ,

    Que ha de vir commetter contra os decretosDe nofla divindade

    ,e vencedores

    A deixaro fujeita aos feus rigores.XXVI.

    Nao vs, que he gente fera,e ta cruenta,

    Que por elles leu Deos fempre peleja,Ele, que a toda a maquina uftenta,E por Efpofa teve a Madre Igreja ?Pois como a tua infania agora intenta

    ,

    Que com injuria nofla o mundo vejaEm teu Reyno arvorada a Cruz de Chrift,Que alfombra defde Antartico a Calilo.

    B Maldito

  • IOxxm

    Maldito feras fempre, e perfeguidoDe noTos altos numes indignados,Pelo gra facrilegio commettido

    ,

    Contra noos altares confagrados

    :

    Pelo teu proceder inadvertidoOs divos cultos lhe ha de fer negados

    ;

    Mas em pena a fortuna tranitoriaA ti dar pezar, aos Lu fos gloria.

    XXVIII.Affim ao Bounful fe lamentava

    O povo inerte, e deofes fabulofos,Promettendolhe o fim

    ,que fe efperava

    De feus procedimentos cavilofos:A gente Lufa o mefmo confiava

    ,

    Fundada em feus esforos valerofos,Cuja caufa, que move o rompimento,Deu defta forte o negro fraudulento,

    XXIX.A guerra

    ,que algum tempo j paTado

    Com Zeyramo trazia a gente Lufa,Talvez que por caftigo do peccadoAlguma vez als fe vio confufa:Tinha o mareio corpo j canado

    ,

    E da fadiga atroz nelle confua

    ,

    Pertende defeanar bravo Mavorte

    ,

    Porque o esforo no cio e conforte.XXX.

    Pede tregoas humilde o que era altivo,Tributo fe lhe impem ao forafteiro,Porque o gnio traidor fempre optativo,Mais na torne a motrarfe aventureiro :Porm ifto lhe ferve de incentivoPara guardar feu dio mais inteiro,Se por ver algum dia encontra traTaDe poderfe vingar do que enta pafla.

    Qyal

  • SIXXXI.

    Qual o bravo animal, em quem TonanteTriunfou , como quiz , de Europa bella

    ,

    Quando zelos lhe caufa a bovea amanteOs mais defafiando a guerra anella

    :

    Mas vendofe vencido o arrogante

    ,

    De raiva o angue alli fe lhe congella

    ,

    E fingindo a partido accommodare

    ,

    Procura occafia de defpicarfe.XXXII.

    Afim o Bounful fendo vencidoNo feu corao guarda a ferida fAt que de mais fora apercebidoSe refolva a dar moftras de prfida

    :

    Procura na cumprir o promettido

    ,

    E ainda que do tratado na duvida,Dilatafe, por ver le alguma emprezaEm va intenta a gente Portugueza.

    XXXIII.Eis que vem Pedro invidto, e bellicofo,

    A domar rebeldias coftumado

    ,

    Treme logo o gentio , e de medrofoPromette na faltar ao concertado

    :

    Porm vendo que tardo , ou he manhoo

    ,

    No negro o fingimento acovardado

    ,

    Na tarda do Marquez o penfamento,Em caftigo lhe dar anguinolento.

    XXXIV.Os que a civil politica nos dita

    Motivos querem quatro, guerra jufta

    ,

    Legitimo poder nos que a incita

    ,

    Santa, e boa inteno da parte augufta:Modo conveniente premedita

    ,

    Que com caua baftante o quarto ajufta;Pois por quem eftas leys forem guardadas

    ,

    Seia ftiftpre as vitorias alcanadas,B % Por

  • 11XXXV.

    Por dous altos motivos na pequenos,Prudente fe dilata o Here forte,Hum he, porque dos caos c terrenos,(Diz Polibio, e Demtrio de bom porte, tambm Azuarcho ) que os venenosDo fogo empecem mais ao gra Mavorte j que cuidar fe deve em longa fenda

    ,

    O que depois de feito na fe emenda.XXXVI.

    Os varoens,que nas armas afFamados

    Para as horrendas guerras le aparelha

    ,

    Quando querem romper da paz tratados,Antes com homens doutos fe aconfelha

    :

    Scipioens,Auguftos

    ,Cyros esforados

    ,

    Magnos, e outros, que os Orbes lhe ajoelha,Confulta a Sophocles, e infinitos,Que nos Annaes da fama efta ecritos.

    XXXVII.Afim Pedro prudente, e mais guerreiro,

    Que quantos ha, e teve o tempo antigo,Como he certo, na teve o mundo inteiro,Quem pofla aconfelhallo , o faz comfigo

    :

    Suppofto na ignora o verdadeiro

    ,

    Quer imitar afim ao Deos amigo,Que fabe quem a Abel tirou a vida

    ,

    E informarfe ainda vay do fratricida.XXXVIII.

    O fegundo motivo, e muy zelofo

    ,

    Porque o caftigo logo na fe applique,He o defejo fanto, e virtuofo,De que a caufa ainda mais le jullifique :Pois quando a culpa ao negro ambiciofoDe muy juftificada o certifique

    ,

    Veja que quem milita na Ley fanta ,ts tregoas fem gr caua na quebranta*

    Mas

  • *3XXXIX.

    Mas qual filho de Ddalo entendido

    ,

    Que s regioens aerias fe avifinha,E dos rayos de Apollo mal feridoAo mar alo deu nome

    ,que na tinha :

    Afllm j dando moftras de atrevido,Hia o negro traidor gente mefquinha

    ,

    Quando o rayo fatal do brao armadoLhe corta as azas vis do orgulho ouado.

    XL.Bem aflim como aquelle

    ,

    que de inanoO plauftro paternal reger intenta

    ,

    E o olmpio av olhando o danoDos elragos ,lque a^z na e^ amedrenta

    :

    Mas com huma das frias de Vulcano,Por caftigo da culpa o defalenta

    ,

    Defta forte o Vis-Rey, qual rayo ardenteO caftigo prepara ao infolente.

    XLI.Manda logo embarcarfe nas galeras

    Tudo quanto Mavorte em fi menea

    ,

    Bellicos intrumentos , e armas feras

    .

    Que forja o pefcador de Citherea :Morteiros, e canhoens, bombas, auteras,Granadas

    ,e petardo

    ,ulana fea

    ,

    Aparelharfe tudo fem tardana,Porque quem o aparelha na defcana.

    XLII.S bafta o horror das maquinas ingentes,

    A aterrar o gentio em bmbras pardas,Dos trabucos , fataes fragoas ardentes

    ,

    E os elrondos das hrridas bombardas:Os pelouros cruis

    ,bailas ardentes

    ,

    Furiofas luzentes efpingardas,Tudo ainda a hum peito valeroo,Dbio pode deixar , fe na medroo. .

    A beli-

  • xLin.A belligera gente as armas toma,

    E tudo o negro obferva com cautela,Alguma, que fe embarca, a Thetis doma,Cortando o longo mar com larga vela

    :

    A outra, que por terra j fe alma,Vay o egrgio Marquez em guarda delia

    ;

    Chegando a Colloale fe demoraEm quanto os que navega fe incorporai).

    XLIV..A Chapor chegando a nobre Armada,

    D fundo, e tudo ouvia pelo rio,A gente defembarca fufpirada,Chega tudo a feu tempo, e fem defvio

    :

    Vendo j toda a gente incorporada

    ,

    O animo de Pedro julo, e pio

    ,

    Ficou inteiramente decanado

    ,

    Que a tardana lhe dera algum cuidado.XLV.

    Qual a Argolica gente introduzida,L na maquina ingente, e cavernofa

    ,

    De Tenedos a turba apercebida

    ,

    Impaciente efpera,e cuidadofa :

    AIim Pedro,

    que cuida na partidaDa Lufitana gente bellicofa

    ,

    Pela mais efperando impaciente,Em vendo que chegou , fica contente.

    XLVLNefte tempo j fe hia encaminhando

    Para as terras, que o negro fenhorea,A gente, que com anci vay marchando,A' Praa

    ,que os alfaltos j recea :

    Alorna era o leu nome miferando.Para os lus defenfores trifte, e fea,Que infelices jogando o mareio jogo,Quanto tem va perdendo aferro, e fogo.

    Logo

  • ifXLVII.

    Logo o invidto Marquez ao valerofoPierrepont encarrega efta rdua empreza

    ,

    Dlhe as ordens , e dizlhe o que he forofo,Para guiar a gente Portugueza

    :

    Parte logo com animo briofo,Encaminhando a marcha Fortaleza,E entrando pelas terras do inimigo

    ,

    Chega ao rio, onde eftava hum gra perigo*XLVIII.

    Bem na margem,que fica da outra parte

    ,

    Em hum padrafto aos noflbs dominante,Hum redu&o de campo, ou baluarte,Se moftrava foberbo , e arrogante

    :

    Forte o edificou natura , e arte

    ,

    Sendo na refiftencia ta conftante

    ,

    Que bem moftra haver fido fabricadoContra o peito dos Lufos affamado,

    XLIX.Qual o bravo animal no mato agrefte,

    Que os efpinhos cruis traz por vertido

    ,

    Porque ovenator o tiro na lhe aflete,A toda a parte os manda prevenido

    :

    Aflim do vil redu&o a negra peite,Com redentes , e flancos defendido

    ,

    Tanto que Marte dentro a ira accende,Para todos os lados fe defende.

    L.Dos Lafcarins a turba j fe achava

    Pelos matos efpefos difundida,

    E o forte Pierrepont,que commandava

    ,

    A artelharia manda fer partida :A trincheira

    ,que forte fe moftrava

    ,

    Quer que com globos mil feja batida

    ,

    E que o negro conhea o muito que erra,Quem jcontra us Portuguezes quer ter guerra.

    Mil

  • tLI.

    Mil vivas exclamando -F divina* I: IDepois de ter hum pouco defcanado,

    ; Junto a margem da eftampa cryftalina,Chegou da artelharia o fogo oufado :Principiando a aca mais peregrina

    ,

    Em nome de JESUS crucificado,Tal defcarga dos negros recebero,Que nuvens de granio as bailas era.

    LII. .

    Accefa de Vulcano a fragoa ingente, '!Ppr trs bocas fa iogo repondidos

    ,

    QuqI o negro trifauce no Oro ardente,

    Medonhamente eructa os trs latidos :O peito Portuguez et patente,Quando os negros peleja efcondidos , -E com os plmbeos rayos

    ,

    que elles tiro,Dos nolTos logo alguns alli feriro.

    LIILA fria do combate tudo efpanta

    ,

    InceTante labora a artelharia

    ,

    O fumo fe difFunde em copia tanta,Que faz tornar efcura a luz do dia:A pia Chritandade a voz levanta,Com f fe invoca o Filho de MARIA

    ,

    Pofto o corpo em batalha ai arma toca,E do molquete as bailas defemboca.

    L1Y.Hum Capito Tenente valerofo', y

    Que alli junto das peas pelejava,Huma baila o mandou ao Ceo gozofo

    ,

    Nbrega de appellido fe chamava :O fogo cada vez mais vigorofo,Na regia area retumbava,Sem conhecere alli de parte a parteA brandura menor no duro Marte,

    Quando

  • l7LV.

    Quando por tem as tropas fe repartia,

    Manda o Marquez, que a marcha regulaffemPelas embarcaoens

    ,

    que a agua feriao,Porque a hum mefmo tempo aili chegaflem

    :

    Todas a elle ufanas o fegua

    ,

    Sem que o menor perigo receafem ;Chega junto ao itio defendido,Da-e final, e he logo acomettdo.

    LVI.Pela gente, que vinha deftinada,

    O padrafto atacar faz com prefteza;Salta em terra o Vis-Rey

    ,fica auftada

    A toca, mas robufta Fortaleza :Logo fegue a mais gente

    ,

    que abrazadaintrpida acomette com ira acceza,Vendo os perigos, que hia defprezandoQuem o caminho a todos vay motrando*

    LVII.Hum forte Achiiles he cada foldado

    Com hum tal Capito, que juntamenteCom elles vay expoto ao fogo irado

    ,

    Que com rigor fazia a imiga gente;Foge com ifto o negro acobardado,Porm ainda vencido hia contente;Pois nunca foy mais, que hoje, venturofoEm vencello o here mais valeroo.

    LVIII.Sem reparar em rifco, ou em perigo

    ,

    Pelo Marquez agente conduzida,Seguem na retirada ao inimigo,Que f na ligeireza eftriba a vida

    :

    Em quanto alli fe fegue o atroz caftigo

    ,

    A gente da outra banda enternecida,Faz ao rio queixofa narratoria

    ,

    Que as palmas lhe impedio nefta vi&oria.C Logo

  • LIX.Logo em bateis diverfos , e ligeiros

    Ufanos va paliando da outra parte rCujos nimos feros

    ,e guerreiros

    Na pode perturbar estoro, ou arte ::Vinha a cavalJaria dos oiteiros,E em diverfas partidas fe reparte,Por vcrfe efta paHagem lhe em baraa

    ^

    Porm na lhe aproveita alguma traa,E.X.

    Tudo o rio j alli paffado havia

    ,

    E a gente furiofa atodaapreTaSeguindo a vil canalha

    ,

    que fugia yPelos matos com fora fe arremera:Fazendo intenfo fogo o mais do dia

    ,

    Osnegros, que ocultava a mataefpeTaIncommoda em muito a Lufa gente,Que aiada andav? abrszada em fogo ardente.

    LXLQual flammigero eftrago inopinado,

    Com que o Grego abrazando agraDardaniaOs edifcios queima cego , e irado

    ,

    De Paris caligando a dura inania

    :

    A (fim em ira accezo, e inflammadoO peito defta gente Lufitania

    ,

    Apovoaa, que trile alli fe apoya rS faz parecer campo, onde foy Trova.

    LXII.Poucos mortes alli fora achados

    ,

    Por mais que cada qual a ver fe afome,Que a rito infame os manda fer queimadosEmiogo

    ,que os vis corpos lhe corfome .

    Confta porm, que muitos fa mandadosDonde o Cerbero ca fempre tem fomeDas almas

    ,que o Caducio furibundo

    Manda au fogo voraz doavernoimmundo.N'hu

  • *9LXIII.

    N'huma plana eminncia, a quem cercavaDe emmaranhados boques a efpelura,Breve o Marquez a gente alli guiavaDo inimigo furor aas fegura :Quando o Sol j no argento fe occultava,Deixando o mundo entregue treva efcura,Ao campo chega providas efcadas,Com munioens

    ,

    petardos, e granadas.LXIV.

    Na falta quem repare alli na viremBombas, fortes canhoens, que as nos encerraPara lhe a Fortaleza deftruiremRayos

    ,

    que o nitro,e fulfur deencerrao :

    Outros repara nelles nao cahiremNo feu falo difcurfo 9 e muito que erra,Sabendo

    ,

    que fegura era a efcalada

    ,

    Por fer a Pierrepont encarregada.LXV.

    Dalli manda o Marquez #o Gomo Saunto,

    A cujo cargo eftava a Fortaleza,..

    Que logo fe entregafe,e por tranfunto

    Lhe moftra a forte Troya em fogo acceza:Diz-lhe,que fena entrega tarda muito,Ou nos meyos infifte da defeza

    ,

    Efe, que corre perto, terfo epehoFar do rio claro hum mar vermelho.

    XXVI.Mas o Governador

    ,que era atrevido

    ,

    E fiado nas foras vigorofas,Fazendo pouco cafo do partido,Na refponde pilavras muito honrofas:Da Praa o menfageiro defpedidoTraz do negro repoftas aftVontofas

    ,

    E mofando do Lufo penfamento,

    Promette caligarlhe o atrevimento.C ii Qual

  • 20LXV1I.

    Qual o bravo leo de ira abrazado,Quando de longe o ca lhe mclra os dentes,Deeja logo a elle haver chegado,Para apagar as cleras ardentes:Afim fica o Marquez guerreiro irado,E em purpreas gentlicas correntesDezeja

    ,

    que do peito Te lhe aparteO fogo

    ,

    que lhe accende o duro Marte.LXVIIL

    De Gedea nos conta a acra Hiftoria,. Que os Fan lieis tratou com morte crua,

    Porque com mente infana, eirriforiaRepondem propofla que infinua:Da mefma forte a prxima vitoriaA morte a nenhum delles exceptua;E porque os Fanueis tanto imitaro,Tambm, ou melhor que elles, o pagaro.

    LXIX.Logo a Pierrepont Pedro lhe encarrega,

    Que a Fortaleza efcale no outro dia,A forte execuo ahi lhe entrega,Pois fabe

    ,

    que f elle a merecia :Os meyos de ganhalla bem lhe allega.Ainda que elle muy bem tudo fabia ;Porque no delempenho a entender deoO muito que de Palias aprendeo.

    LXX.,

    J hia o movimento da alta esferaAs eftrellas levando ao horizonte,E o florido matiz da PrimaveraNo prado vay regando a pura fonte :O forte General com anci efperaO fero rincho ouvir do crefpo Etonte

    ,

    E a hora de marchar tanto appetece,Que mil horas a noite lhe parece.

    Eif-

  • 21LXXI.

    Eif-que da eftrclla da alva a luz feremVem rindo pelas nuvens carinhofa

    ,

    Logo tudo difpofto, fe lhe ordena,Que v marchando agente bellicofa :Socega ainda a maquina terrena

    ,

    E orvalhada ufpira a branca rofa

    ,

    Vendo que na diputa appetecida,Ha.de ficar em Tangue ubmergida.

    LXXILQuando a gente marchava a pnlo cheyo

    Para a Praa de todos fufpirada,

    O bando de eftorninhos negro, e feyoContra os nolbs eft pofto em filada

    :

    L do eftreito caminho bem no meyo,Faz de noite huma cava mal tapada,"Para que a artelharia caya nella,E a gente fe na pofla fervir delia.

    LXXIILMas o bom General, como prudente,

    Muy bem todos os cafos antevia,E fabe que a danada , e negra gente,Tinha alli trabalhado noite , e dia

    :

    Guia a marcha por parte differente,E defprezando a vera , e larga via,Caminhava deixando a hum dos ladosOs malignos intentos refutados.

    LXXIV. .Affim apercebido vay marchando,

    Contra os inexpugnveis, e altos muros,Aonde os perros vis efta ladrando,Porque julga que aTaz efta feguros:Vinha a cavallaria j tafeandoDentro da branda boca os freyos duros,Por ver le a retaguarda perturbava

    ,

    Mas na lhe fuecedeo como cuidavaTe-

  • 22LXXV.

    Teme que a artelheria lhe refponda,

    Mais fevera, tal vez,que agradecida

    ,

    Ora faz correrias,

    gyra,e ronda

    ,

    At que o medo a poz em vii fugida;Procura cuidadofa onde fe efeonda,Receando que feja perfeguidaDa nola, a quem regia hum vara forte,Que inveja pode dar ao gra Mavorte.

    LXXVI.Medonha fe molrava a Fortaleza

    Para mayor poder inconquilavel

    ,

    Inveja dava gr Cartagineza,

    E a Tyro , forte , eterna , e memorvel

    :

    Na ha no mundo alguma em mais defezaNem de afpeto exterior mais formidvel;Pois fe o mayor Exercito a aviftra,Do caminho tremendo fe voltara.

    LXXVILTem cinco baluartes circulares,

    Que a deftra arte lhe deu forma rotunda,Por toda tem feteiras a milhares,Que fazem huma vifta furibunda :A's fublimes muralhas ingularesCinge huma larga cava aaz profunda,Hum vallado diftante ainda a rodea

    ,

    E ao p delle outra cava funda , efea..LXXVIIL

    Quando do deos intonfo a PercurforaPraa vinha fazendo luz preclara,A gente bellicofa, e vencedoraA prima porta ataca ( he coufa rara

    !

    )

    O delroo de Troya mayor fora,

    Se com ta grande fogo fe intentara,Pois o fumo

    ,

    que no ar fe diffundia

    ,

    Ecclipfa aclara luz, que ento nafeia.Do

  • LXXIX." 3

    Do Mongibello atroz , fulfureo ardente

    ,

    O horrorolovolca eftremece ateira,E contra a regio do vago ambiente,Mil chuveiros de pedras defencerra

    :

    Deita forte da fera,

    e mareia genteO furor, que nos nimos fe aferra,Com as bailas

    ,

    que expelle o fogo intenfo,,

    Deixa o ar, deixa aterra, emar fufpenfo.LXXX.

    A maquina tremenda , e vigorofaDo petardo na porta fe arrimava,E o peito expoto balia rigprofaHia de quem ligeiro o applicava :He eta diligencia a mais euftofa,E fempre entre osAuthores fe altercava,Que petardos na ponha o mais experto,S^m hir de manteletes bem cuberto.

    LXXXI.Mas como defta regra he refervada

    Excepo para os brios Portuguezes,Na deve ler por elles obfervada,Que a fama o tem j dito muitas vezes

    :

    Julgao que tem a vida afias guardada

    ,

    Formando do valor finos arnezes,E defprezando morte eftar lujeitos.Contrafortes fao fortes parapeitos.

    LXXXILNo petardo fc applica o fogo vivo

    ,

    Quanto encontra diante tudo efpalha,Quebrando a ingente porta o impulfo alivOjiDclroa em grande copia a vil canalha:Com hum rigor tremendo imperativoOs fragmentos faz hir contra a muralhaQue com pvido herror logo fe efpanta,Porque a porta contra dia fe levanta.

    O Ge-

  • 4*LXXXIIL

    O General, que em tudo he o primeiro,Tambm he dos primeiros oopprimido.Porque defca avanada o bom guerreiroCertamente ficou bem mal ferido:Mas conferva com tudo fempre inteiroO foberbo valor efclarecido

    ,

    E a todos os foldados animandoVay o caminho a todos amoftrando.

    LXXXIV.Dos Autololes diz a hiftoria humana

    Ta deftros ter creado a natureza

    ,

    Que carreira veloz da fetta hircanaExcedem na volante ligeireza;Mas Pierrepont, e agente LufitanaCom tal impeto corre Fortaleza

    ,

    Qiie ainda os mefmos Autololes fe efpaata,Vendo que s plmbeas bailas fe adianta.

    LXXXV.Porm a vil canallha das feteiras

    Tanta copia de bailas defpedia

    ,

    Que parece, que os muros , e as canteirasTudo em fogoo ardor fe desfazia

    :

    O nolb General, que hia s carreiras,De novos golpes lefo alli cahia,Por fora em braos logo era levado,Para deitas feridas er curado.

    LXXXVI.Oh vara Angular, e fempre invito,

    Fazey , fazey hum pouco que fe aparteDe noflb corao , nefte confli&o ,EfTe ardor, que vos caufa o duro Marte :DifFuo algum humor do peito affli&oNa faais concorrer lefa parte

    ,

    Que o Deifico inventor da MedicinaA cura a ta gra dano vos detina.

    Co-

  • LXXXVII.Conheo eftais hum pouco receofo i

    Que caule avola falta algum defviojE gado fera paftor he perigoib,Mas focego tomay

    ,

    que he Lufo brio :Beai fey, que s vezes o animo briofoMudando de Pretor fe torna frio,Affini como de novo alentos toma

    ,

    Se novo Commandante fe lhe afToma.LXXXVIII.

    Nao faais reflexo na vil fugida,Em que vao osNumancios. dos Romanos,Gente que de outro Gabo apercebida

    \

    Tinha tido louvores mais que humanos:Efe alguns ha

    ,

    que em outra defpedidaNao fahira ento, como hoje ufanos-,Lembraivos, que ainda aflim tao mal feridoAs ordens podeis dar como entendido.

    LXXXIX.Em quanto Pierrepont fe a]li curava,

    Avana o forte esforo granadeiro,E quando da muralha ao p chegava,Cada qual delles cuida que he primeiro:Valerofo os anima donde eftava,Recebe esforo o animo guerreiro

    ,

    Mas as fortes muralhas bem telhadas,O jalo lhe impedia d.is granadas.

    XC.O corpo

    ,

    que no campo ainda epera,Os cavallos, e a forte artelharia

    ,

    Contra a gente da fora o fogo altera

    ,

    E contra a que do mato os offendia :O que a cavalaria aao tizra

    ,

    Quando noTa na marcha perfeguia,lazer agora intenta o negro oufadoDe occaia melhor aproveitado.

    D Na

  • 26XCI/

    Na.dcfenfa exterior,

    que a Praa cerca

    ,

    Outra entrada ha que os noflbs ignorava9

    E em quanto agente dentro mais fe alterca^Para ali os cavallos caminhavao:Quando j de benr perto aili e acerca,OcS Sipaes vrios tiros lhe atirava,Que delles algum cafo na fazendoPela srenofa terra vem correndo.

    XCILParte breve hutr.a pefloa, que pediro,

    Os que acavaJlaria logo elpalha,Fica admirados quantos vira,Que tao prxima eftava a vil canalha:Mas tanto que ao caminho lhe ahirac,Da negra boca es bpros de metralha,As cofias vay voltando irreverente,A. quem o procurava urbanamente.

    XCIII.Befpois de hirem j poftos em fugida,

    Huma tropa dos noTos veyo preTa,

    Porque correo noticia, que perdidaEntre a fora do inimigo eftava a pela

    :

    Enta lhe va fazendo a defpedidaOs Sipaes, que oceultava a mata. efpefa

    ,

    E quando nem j a vifta os alcanava,Gada qual a feus poftos fe voltava..

    xciv.Nefte. tempo fe achava; mais travada ,,

    Na difputa da fora rdua contenda,A gente et mofando, e faz rizada,Porque os noflbs lhe dizem

    ,que fe renda:

    Contra o negro nao podem fazer nada

    ,

    Inftrumento na ha, com que fe offenda,Que os telhados fao fortes , muito etreitasAs feteiras obliquas, e direitas

    Mui*

  • 27xcv.

    Muitos Gcneraes fortes , c aframados, fortiflimas Praas itiando,

    Em fendo de algum flanco rechaados,Fruftradas as emprezas vao deixando:Mas eftes Granadeiros erforadosAflaz hum fogo intenb fopportando,Entre dous baluartes vigorofosSe motra cada vez mais animofos,

    XCVL*Todos vao de valor apercebidos

    ,

    Efcadas arrimando aos fortes muros

    ;

    Porm fao lhe os eFeitos impedidos,Pelos altos telhados bem feguros:Muitos., que vao fubindo, mal feridos

    * Cahem dos inimigos globos duros;O mefmo fuccedia aos que fe leguem,Nem ha bailas, que os negros na empreguem,

    xcyiiDela forte fe achava aaffiicta gente,

    Com valor recebendo mil feridas.Muitos pela F fanta alegrementeAs almas a Deos dao

    , morte as vidas :

    Alguns Cabos, que morrem de repente,E outros, que mos, e pernas tem perdidas,Sao caufa de que agente valerofiFique do bom fuccelo duvidofa.

    XCVI1I.Mas o Marquez, que a tudo attento eftava

    Vendo o grande perigo inopinada,

    Com alta providencia j mandavaSer o ataque com prefa reforado:Logo que com mais gente fe avanava

    ,

    s mais recebem animo dobrado ;Convocando com f ao Pvey da Gloria.,Toma nova efpernna da vicloria.

    D ii Man-

  • 28XCIX.

    Manda fazer do rio o fogo ativoPeias embarcaoens ao negro inerte,Que com o falo ataque he incentivo,Que para alli as foras lhe diverte:J eiava o inimigo penfativo,Sem faber na defenfa como acerte,Vendo o valor que agente recobrava,Com a refolua, que e alli tomava ;

    '

    ' X C.Na fem perda da gente Lufitana

    ,O petardo fe arrima porta dura,E alli Atropos fera

    ,e inhumana,

    Rompe de Pereira invifto a. contextura rOh extrema penao da vida humana!Oh fortuna traidora

    ,e mal fegura ! -

    Como roubas agora em hum inftante,Do Luitano Ceo o eguro Atlante 2

    Cl-"oy retumbando o golpe furibundo,

    Nos oiteiros, que efta de parte, a parteE ouvindo-os fe elremece de iracundo

    ,

    L na Corte fuprema o fero Marte:Mas quando alli o preo rubicundo

    ,

    Em purpreas correntes fe reparte

    ,

    A ditofa alma, cremos com f pia,Que aos ethereos aentos f fubia.

    CILDa-fe fogo ao petardo, a porta eleva

    ,Com fora os Granadeiros va entrando^

    Outros, que impaciente a fria feva,

    K calada a muralha o va montando:A porta, que ainda refta

    ,logo leva

    ,

    ( De outro petardo impulfa ) o negro bandaQue de traz delia eftava defeuidadoDo tremendo fucceTo inopinado.

    Mut

  • 2$cm.

    Muitos fortes guerreiros mal lograro,As feras repentinas efcaladasDe itios infinitos, quando acharoQue lhe ficaro curtas as efcadas

    :

    Aqui, pofto que muito na chegaro,Por ellas as muralhas la montadas,Que o valor Portuguez fanguinolento,Em coufa alguma encontra impedimento

    CIV.A gente vay entrando em ira acceza

    ,

    Toda a mais logo a efta vay feguindo,Desfaz4e em airuido ^Fortaleza,Tudo fe a ferro , e fogo vay ferindo:J meyos nao procur da defenfa ,.S as vidas falvar

    ,

    quartel pedindo

    ,

    Que o lembra aos mortaes ( endo tao boa )A Santa dos trovoens, quando trovoa.

    CV.Os triftes de Socoth que fe rendero

    ,

    De Gedea guerreiro fa ouvidos

    ,

    Mas os de Fanuel,que nao quizerao f

    Fora todos com morte delruidos

    :

    Alim deites, que Alorna defendero,Que at agora mofava dos partidos,Pela vara fonifera tocadas

    ,

    Sao as almas no averno fepultadas.CVI.

    Logo queJofu rra gente Halita,O funefto delroo comeava

    ,

    Em final da vi&oria inauditaO forte efcudo aos ares levantava :* *Pela gente tambm, que aqui o imitaDe Portugal o efcudo fe arvorava

    ,

    A donde infignias cinco o Rey da GloriaDeixou para alcanar tanta vi&oria.

    A

  • 3oCVXL

    A gente moribunda em gritos brada*O armigero rumor nos ares foa,

    Qual Dardania dos Gregos abrazadaCom ruidofo clangor o mundo atroa :Nu podem j ufar da retirada,Mal efcapa com vida huma peflba,Mortos mais de trezentos dentro acharo,A4em dos que no rio fe afogaro.

    ,CVIII.

    Quando o filho deCyprea defcuidndoPara as aras arranca aherva fria,De Po.Iidoro o fangue delilladoDas raizes as gotas lhes corria:Dos negros o vil fangue derramadoPelas hervas

    ,que ufano o prado cria,

    Na f pelas raizes e diffunde,Mas ainda as verdes cores lhe confunde*

    CIX.Crefcia a confufao nos miferaveis

    ,

    E nos pafos a fria mais fe accende,Sa os golpes

    ,

    que atira formidveis,E a nada do que dizem fe lhe attende

    :

    Ouvem-fe alli gemidos lamentveis,Mas o efcuro idioma mal fe entende

    ,

    Qtiaes precitos no inferno carrancudo,

    Donde tudo he defordem,e horror tudo.

    CX,A femi-may dodeos, que alegra a gente,

    E da paternal coxa foy nafcido,De Atamante fugindo impacienteSc lanou furiofa ao mar crefeido:Affim algum, que efcapa fria ardente,Lanando-fe ao rio inadvertido,Antes quer nas* correntes affogarfe ,Que aos fios dos terados entregarfe.

    Em

  • 3*CXI.

    Em fim toda acanalha fendo extinta,"Defcana logo a turba bellicofa

    ,

    A Fortaleza fica em fangue tinta,

    E de negros cadveres montuofa:Efta nova vidloria mais requintaOs esforos da gente virtuofa

    ,

    Que pela F fagrada a vida caraExpem ao vil rigor da morte amara.

    CX1I.Ecgo o Marquez ufano vay entrando

    Na nova Fortaleza, que ganhava,A donde o lacro lenho venerandoDa Cruz de JESU Ghrifto fe arvorava :Infinitos louvores lhe eft dando

    ,

    Pela viftoria* grande, que alcanava,E acclamando com viva vitoriofo,Affim lhe falia o povo bellicofo.

    CXIII.Mil parabns , Senhor, vos fejao dados

    Por tal , e por ta inclyta viftoriay\

    Como contra os gentios depravadosHoje alcanais ta digna de memoria :Defde agora j ficao olvidadosTodos? os que encarece a humana hiforia iQue elles vencia todos por potencia

    ,

    Vs, venceis- por valor y e por cincia.cxiv:

    k mandou; fltiar aos DamafcenosCom quarenta mil Trtaros Cafano,"E com outro poder rtiais, que na menosSoffreo dez annos cenco o gro Troyano:Vos

    ,Senhor , com poderes ta pequenos,

    Que grandes faz o brio Lufitano,Alcanais o que aquelles na alcana,Qiie nos mrcios negcios mais cajia.

    Qyem

  • 3*cxv.

    Quem duvida, Senhor

    ,

    que nefa efiiprezaNao podia faltarvos a fortuna,Que a voila providencia

    ,e fubtileza

    ,

    Os efenciaes meyos lhe coaduna :Contra Athenas fizera guerra accezaOs Perlas m fazao pouco opportuna,E por illo corridos ie ficaro,Por lhe na fucceder como cuidaro.

    CXVI.Tambm a muita caufa jufta , e fanta

    He fempre parcial no vencimento,E os esforos, que caufa em copia tanta,Foz dignos de immortal merecimento:Hum engenho fubtil no lo decanta

    ,

    E com divino, e alto penfament,'Diz, que Deos eft vendo a jufta caufa,Para alli nas vi&orias nao pr patifa.

    CXVII.Todas as circunftancias concorrendo

    ,

    Sendo de vos, Senhor,acompanhadas,

    Com evidendia clara fe eft-vend,Nao careceis de foras fuperadas:Muitos com ellas itiosemprendendo,Carecem hir de induftria acompanhadas

    :

    Alim em Babylonia o admiroNos narizes , e orelhas de Zopiro.

    CXVIII.A todos o mundo alegra a gloria eterna,

    Que na ndia alcanais com brao forte,

    S o deos, que nafceo da ptria perna,Blasfema de Bellona , e de Mavorte

    :

    V ohicada a fama fempiterna,Que ufano at aqui tinha na alta CorteDe gro Conquiftador da Indica gente,Cuja fama hoje a voTa lhe defmente.

    Sem

  • 53CXIX.

    >:>

    Sempre foy applaudido no UniverfoO credito das armas Portuguezas^Mas o cruel poder do cio perverfoHa muito

    ,

    que lhe tinha as foras lezas :chava-fe de todo j fubmerfoDo olvido nas ingentes profundezas,Com cujo abatimento o negro infanoHia abufando j do brio Hifpano.

    cxx.Hoje por vs , Senhor , a Providencia

    Da fuprema grandeza , e infinita

    ,

    Da efpelunca da tarda negligenciaAs Lufitanas armas refufcita :Parece que j quer a fumma ETencia,Que o valor

    ,que effe peito depofita,

    Faa cumprir em hum , e outro hemisfrioA promefla l feita ao Lufo Imprio.

    CXXI.Benigno fatisfaz com roflo brando

    A' gente valerofa , e esforada,Que os parabns alegre lhe eft dandoDa vioria de todos felejada :Logo facros louvores vay cantando,Das promeTas de Deos a voz fagrada,E os mofquetes , e a forte artelhariaTrs vezes as vi&orias applaudia.

    CXXII.D logo ordem

    ,que j fe reedifique

    A Fortaleza , e ponha defenfavel

    ;

    Na duvida ningum,que agora fique

    Com a guarnio Lufa inconquiftavel

    :

    Deixa alli Engenheiro,

    que fe appliqueA* obra

    ,que j eftava terminavel

    ,

    Fica a Praa com gente guarnecida,E osmeyos fe difpoem para a partida.

    E Pou

  • 34CXXIII.

    Poucos dias depois era paladosLogo que a forte Alorna fe rendera, 'Os que a Bicholim guarda afTuftadosEta j receando a morte fera :De longe a gente Sunda lhe d brados,E o medo lhe faz crer

    ,

    que a Lufa era,Defampara porifo a Fortaleza,Imitando Dardania em fogo aceza.

    CXXIV.Marcha a gente de Alorna viloriofa

    Chegando aColloal logo fe parte,Que eftando de mais gloria ambiciofa

    ,

    No peito ainda lhe ferve o duro Marte :O Marquez fe recolhe vila undofa,Donde Doris em braos fe reparte

    ,

    Ealli por duas luzes fe dilata,Em quanto de dar graas a Deos trata.

    cxxv.Vellido em triftes trajes amarellos,

    Nete tempo o Zeyramo miferando v

    Languido o rolo , efparfos os cabellos,Vayfe a perpetua pena condenando

    :

    Quaes as gentes de Illio em triftes zellosVa ao templo Palladio caminhando

    ,

    E o mifero fallando com os de Lufo

    ,

    Alim lhe diz triftilimo,e confufo.

    CXXVLOh tu

    ,gente guerreira , e inhmana,

    Mais que todas no mundo vencedora,Que l das regioens da forte HefpanhaVens no bero embalar a roxa Aurora :Que fuperior impulfo

    ,ou fria infana

    Contra os Eftados meus te move agora ?Supponho

    ,

    que te incita a fama eternaDeffeinclyto valor, que te governa.

    Ha

  • 35cxxvn.

    Ha muito tempo j, que eftou fentindoIto mefmo

    ,

    que agora infeliz choro,Que a fama enta mo eftava defcubrindoCom inftrumento infauto, e na canoro :s mgicos fegredos va abrindoOs alumnos fataes de Artemidoro,Donde a chegada infauta profetizaDeite, aqum hoje os fados canoniza.

    CXXVIII.Porm do egrgio Rey

    ,

    que afim o ordenaAos deofes immortaes vingana peo

    ,

    Mas como elles j de eterna pena Tyrannos me proferem vil proceTo :Contra vs

    ,

    pois me volto , a quem ferenaDivindade j mais vos d concefl,Nem mais nas torpes aras facros lumesVos feja dedicados falfos Numes.

    CXXIX.Afim trile o Zeyramo fe queixava

    Contra os feus falfos deofes fabulofs,Quando o Marquez invi&o viitavaOs fagrados lugares milagrofos

    :

    Ao Santo Xavier mil graas davaNa prefena dos fervos virtuofos,E os triunfos dedica ao Rey da gloria

    ,

    Por quem tinha alcanado eta viclcria.cxxx.

    Para o hofpital logo fe partiaA vifitar os Lufos aftamados,Que l pela inimiga fria impiaTinha fido com bailas trafpaTados

    :

    Acabada ela aca ta fanta , e pia,Que a todos deixou certo admirados,Partefe a Bicholim defvanecido,O qi ai tinha de Alorna j rendido.

    Ea AW

  • 3CXXXI.

    Alli hla do povo LuitanoDuas vezes trezentos, pouco mais,E outro numero tal, fena me engano,Seria o negro bando dos Sipaes

    :

    Va duas frias bravas de Vulcano,Que feguem fempre o corpo em cafos taes,Vay a Cavallaria , e na he tarda,Que na paz, e na guerra ao Vis-Rey guarda,

    CXXXII.J em Bicholim entra triunfante

    ,

    Donde eftava do Sunda alguma gente,E o*Cabo

    ,

    que era delia dominante

    ,

    A Praa entrega a Pedro reverente :Era em tudo ta forte , e ta poffante

    ,

    Que fe pde guardar oufadamente;Mas querem de antemo abandonallaPor nos na dar a gloria de efcalalla,

    CXXXIII.Dalli a poucas milhas de diftancia

    Em fitio accommodado , e opportunoJazia Sanquelim , em cuja eftanciaSe exercita a fadiga de Vertumno :Alli hum Forte eft

    ,

    que na arrognciaBem moftra fer de Marte fero alumno,Cujas foras lhe ainda fenhoreaDo negro infano a fria brava , e fea.

    CXXXIV.Logo vay hum o officio exercitando

    Do femi-deos,

    que rege a vara tofca,Donde os negros fopores occultando,A fiiria ferpentina fe lhe enrofca

    :

    Mandalhe annunciarfim miferandoA' turba

    ,que no Forte ainda fe embofca,

    Que certo lhe far como aos primeiros,Se na fofiem na entrega ;mais ligeiros.

    Ale*

  • 27cxxxv.

    Alegre o menfageiro traz refpoftaTa fubmiffa , e cortez , como ajuftadaAos partidos

    ,que Pedro por propofta

    Com imprio mandara na embaixada:Sendo a gente guerreira em armas poffo,Logo a que ha de marchar he nomeada,E para o poderofo lugar forte,Em marcha fe vav pondo a gra cohorte.

    CXXXVI.A Guedes esforado , e valerofo

    Era eta ultima empreza commetida,Que certo nunca fora preguiofoEm toda a occaia at alli tida

    :

    S da prefena bafta o furiofoPara pr os da fora em vil fugida

    ,

    Toma os noflbs pofle , o negro allegaCom o ajufte, e por elle fe lhe entrega,

    CXXXVILVoltafe a Bicholim, fem mais detena

    ,

    Deixando a ns fujeito o forte duro,Cuja reblua fora confenfaDo Marquez

    ,

    que de tudo eft feguro

    :

    Foy o incgnito ajufte na prefenaPara muitos talvez hum pouco efcuro jPorque nas coufas, que era de valia,Seu intento a mui poucos defcubria.

    CXXXVIILNete tempo zelofos fe applicava

    Ao precifo remdio das ruinasDa fora , adonde ha muito tremolavaNo gloriofo efcudo as Lufas Quinas

    :

    Todos alli a Pedro acompanhava,Quai todas as luzes matutinas

    ,

    E em fendo reparada , fe guarnece,Manda a gente marchar

    ,que o inverno crefce,

    O*

  • CXXXIX.Os Faunos

    ,

    que fylveos apofentosTofcamente acompanha horror biformeDe alegres 3 e fetivos rendimentosEft dando final feu gefto enorme

    :

    Dos retorcidos tbios inftrumentosAo ruftico concerto

    ,e mal conforme

    Va Napeas , e Dryades faltando,Nas avenas os Lufos modulando.

    CXL.AIIm fa os guerreiros applaudidos

    Da turba,

    que domina os arvoredos,E para teus quartis fa recolhidosTriunfantes , alegres , fauftos , ledos :Dos trabalhos por Marte recebidosEm cio defejado fica quedos

    ,

    Em quanto o pluvio inverno trifte , e efcuroServe s glorias inicias de alto muro.

    CXLIJ a nata triforme de Latona

    Huma volta s esferas dado havia

    ,

    Desque aarmigera maquina altifonaContra a gentlica

    ,e torpe idolatria

    :

    A defcanar das frias de BellonaLogo oinvifto Marquez fe recolhia,E s almas

    ,que voaro venturofas f

    Exquias lhes dedica fumptuofas.

    ;

    cXLIL.

    Mas fufpende,o Calliope divina,

    Meu canto nas belligeras emprezas,1

    Que a ifta com raza fe defafina

    ,

    Canada de narrar Lufas proezas

    :

    Na a vontade afim o determina,Ta amante das glorias Portuguezas,Mas j engenhos claros , e excellentesAs tem cantado em metros emiiuntes.

  • 39CYLIII

    E vs , Marquez invifto , cuja famaEm bronzes fera fempre eternizada

    ,

    Agora mais que nunca o mundo acclamaOs esforos fataes da voTa efpada :Dos ardores cruis da mareia chamaDefcanay , defenfor da ptria amada.Que para mais triunfo

    ,e mais vidoria

    Vos conduzio ndia o Rey da gloria.CXLIV.

    Na repareis no metro ta groTeiroDe minha, em voflb canto , alegre Mufa

    ,

    Que mais que do bifronte , e facro OiteiroParece das montanhas de Ampelufa

    :

    Contentome em fer puro , e verdadeiro

    ,

    E na v Poezia , aTaz confufa,Que fe em alguma coufa he menos vera,He no pouco

    ,que aqui de vs diTera.CXLV.

    Na quiz , Senhor , fazer v narrativaDos varoens esforados , valerofos,Porque na naa Lufa em tudo altiva,Os menores foldados fa famofos

    :

    Na afFeia alguma me motivaCatlogos fazer vangloriofos

    ;

    Mas fe dizerlhe os nomes neceflltoEm dizer, que fa Lufos , tudo hey dito.

    CXLVI.E como tendes ido elogiado

    PorCamenasta claras,como puras,

    Ete meu verfo baixo , e mal limadoSer fombra , Senhor , deTas pinturas

    :

    Aceitay pois benigno o quanto agrada,Que l pelas idades mais futurasSe extenda vofas glorias excellentes,livres das Letheas rpidas correntes.

    F I M.

  • POEMAOU

    ETRCAS PROEZASDE MARTE,

    Executadas pelo Illuftriffimo, e Excellentifimo Senhor Marquez de

    Caftello-Novoj Vice-Rey, e Capito General defte Eftado, na con-tinuao da felicifima conquila das terras de Bounful ate

    a Praa de Rary.

    Ordenadas,e ao mefmo Illulrifimo, e Excellentifi-

    mo Senhor offerecidas com a mais re-verente iubmiTa.

    POR

    MANOEL ANTNIODE MEIRELLES.

    LISBOA.Na Officina de MIGUEL RODRIGUES , Iropref-

    br do Emin. Senhor Cardeal Patriarca.Anno de M. DCC. XLVIL

    Com as licenas necejjarias.

  • ILL. E EXC- S. or

    A' da occafia de Alorna dilo a minhainfufficiencia hum Poema,que, ainda queindigno

    ,tive a honra de ojferecer a V*

    Excellencia, fegtiindojeme dijjo bumgofto igual ao dejejo

    ,que tinha , e tenho

    de obfequiar reverentemente,para que d fombra de

    vrios,quefummamente eruditosfe recitarao, me fi-

    caffe refultando o defvanecimento de fer includo nonumero daquelles

    ,que goflofamente applaudirao os

    triunfos.Agora que V. Excellenciafe realou mais } (fe he

    que asfus hericas acoens podem jojfrer dejigual-ade . pela muitajufiia , com que cada hum pertendeaprimazia ) ainda que me pareceffe mais dijficultofaa empreza , logo ajjentey comigo

    ,

    que deviafazer to~do o esforo para na narrao das continuadas vilorias nwftrar o goflo , com que as celebro ; mas comoa fortuna nem fempre favorece os felices , bem queaos defgraados feja acrrima em negarlhes a mudan-a

    ,

    permi t tio,que nofim da campanha mefaltaffem

    as foras , afjaltandome grave enfermidade,

    quemenos fenti , do que prohibirme opor por obra oob~feqttiofo projecto \ porm apezar defla indifpoJia,vendo

    ,

    que o nao fer executado a tempo , era o mef-mo que fruta fora delle

    ,fem embargo da pouca con-

    valecena, appliquey o major esforo nos poucos dias,que rejiavao ao prazo da partida da 7iao , lograndonefie pequeno efpao ofim , que defejava nafraca com-pojiao defte Poema } que alm dos erros , que leva ,

  • caufados da minha pouca intelligencia,Juppojlo teve

    outros muitos,que a brevidade me na'deixa exami-

    nar \ com tudo fatisfaome defer tido por ignorante,a troco de me mojlrar a V. Excellencia obfequiofo , eagradecido.

    Sempre,Senhor

    , fiz teno de que efte Poemacontinuaffe com o primeiro , porferem efias hericasemprezas obradas pelo mepmo brao

    ,no mefmo anno,

    e na mefma conquifla ; mas como para iflo era necejfa-rio nofim daquelle dar alguma volta

    ,

    que fizejfe xi-to para o principio defie , e a molefiia , e tempo tnenaoderao effe lugar , alm de fer tambm j huma dili-gencia defacertada , em razo de fe ter difiundido emvarias copias

    ,das quaes muitas ( ainda que cheas de

    erros") talvezferao remettidaspara Portugal, inere-folvi afeparallo ; e ofeguir nelle o eflylo do primeiro,he porque me parece o mais natural

    ,

    ficandome daquiodefvanecimento de que tudo o que digo {excepto al-gum potico encarecimento nas partes que (em ojfendera verdade o permittiao ) he o que na realidade fe paf-fou , como V. Excellencia melhor que ningum fabe

    ,

    pois he tefiimunha de vifia. Nao exaggero em parti-cular pejfoa alguma^ porque (fem que parea affecla-do ) todasfe difiinguirao como Portuguezas.

    V. Excellenciafefirva de aceitar benigno , comopenhor de meu agradecimento efta limitada offerta,queJe podeffefer igual vontade , nenhum outro o ex-cedera. A Illuftriffima , e Excellentijfima peffa deV. Excelncia guarde Deos muitos annos para audi-tograme da Coroa Portugueza.

    De V. Excellencia

    Obedientiiirno., e humilliffimo efcravo >

    Q^S. M. B.

    Manoel Antnio de Meirelles.

    EMAPO

  • Pag. 5"

    POEMA HERICO.SEGUNDA CAMPANHA.

    ARGUMENTO.PReparafe de Marte os injlrumentos^

    De Cbapord Je parte a Lnja gente ,Dd-fe batalha aos negros fraudulentos

    y

    Tomafelbe Arondem,lugar potente :

    Vemfe de Raryforte osfundamentos,

    Faz Pedro,quefe renda incontinente^

    Entra a tratar a paz mais relevante,

    Quando o Exercito volta triunfante.

    AS hericas faanhas fublimadasDeite invencvel Marte Lufitano,Que na ndia em batalhas duplicadasFaz tremer o Gentio

    ,e Mauritano :

    Asbelligeras armas affamadas,E os inlignes varoens do povo HifpanoPublicarey cantando noUniverfo,Se cabem taes faanhas em meu verfo.

    II.

    Aquelle,digo

    ,He:oe mais valeroo,

    Digno de hum immortal merecimento,

    Afimbro do Univero bellicoo,

    Cujo nome j chega ao Firmamento :E aquelles

    ,

    que com zelo fervorofo,Penetrando o profundo alfo argento,Pela f , e o amor da ptria caraAs vidas vem expor morte amara,

    A 3 DeTa

  • 6III.

    Defla foberba Grcia bellicoaO louvor, que tu Mufa antiga cantas,Dos Romanos a turba numerofa.De Athenas

    ,e Numancia emprezas tantas :

    Sufpende defde agora, que amorofaA mayores louvores te levantas

    ;

    Porque hoje, mais que nunca,a Lufa efpgda

    He de todos os Orbes invejada.IV.

    Vs, Nynfas gentis habitadorasDefle fupremo outeiro ublimado,Donde as Caftalias lynfas brilhadorasDefcubrio o ligeiro monftro alado:Se at aqui fempre foftes protectorasDe meu humilde verfo , e limitado,Agora de vs

    ,Nynfas, julto imploro

    Hum inirumento belico, e canoro.V.

    J , deofas , invoquey o voTo amparoPara contar proezas mais que humanas,Que eite

    ,do fero M irte alombro raro,

    Exerceo contra as gentes Hidalcanas:Mas como continua pouco avaroEm augmentar as glorias Lufitanas,Neceito do feu , e vob auxilio,Para imitar a Homero, e a Virglio.

    VI.Daime hum grande furor armifonante

    ,

    Que meu canto elevando em nlto colo,Mova na fexta esfera ao gra Tonante,E inveja d na quarta ao louro Apollo :Porque da gente Lufa triunfanteModulando o valor de Polo a Polo,Se efquea as acoens mais gloriofasDeTas antigas gentes bellicofas.

    E vs

  • VILE vs Marquez , invi&o Cavalleiro,

    De quem o nome aos Orbes engrandece;Porque o valor antigo mais guerreiroA' vifta deite vofb , fe efcurece :Vs

    ,Senhor, aqum j no mundo inteiro

    Tanto Marte , e Neptuno hoje obedece,Por promiffa divina delinadoPara augmentar de Deos o povo amado.

    VIII.

    Se minha humilde Mufa obfequiofaVos invoca fubmiira

    ,e reverente,

    Favorea- a,Senhor , a generofa

    Sublime proteco vofla eminente:Porque com huma fria fonorofa

    ,

    Sendo meus verfos voflbs juntamente,Vos acclame cantando em toda a parteATombro univerfal , terror de Marte.

    IX.

    Ouvi pois, e vereis com mente vera,Em verfos divulgando numerofos,Relatado o valor da gente fera,Asemprezas, e feitos valerofos :Que fuppofto efle brao a precedera,Obrando em tudo caos portentofos,Vereis agora certo relatadoO que l fe exerceo em Marte irado.

    X.Na ouvireis faanhas affeladas

    Em verfo lifongeiro,ou mentirofo,

    Como em Mulas elranhas,cotumadas

    A cantarem por certo o duvidofo :Mas verdades , afaz julificadasDoLufitano peito bellicofo,Quaes na cantaro inda em nenhum cafops que o licor bebero do Parnafo,

    Efe

  • 8XI.

    E fe deTa paflada alta vicloriaMeus verfos voTa gloria j cantaro,Depois que engenhos dignos de alta hiloriaEm metros eminentes a efpalhara :Suppofto quiz a forte tranfitoria,Que em Marte as dbeis foras egrotaraNa far feu poder que hoje na canteAvs, e ao Lufo povo triunfante.

    XII.Prelaime pois, Senhor, hum breve efpao

    Defa egrgia attena ao canto pico,*Com que o valor fatal do Lufo braoA todo o Univerfo certifico :Porque (endolhe o fado pouco efcaoAosVaroens valeroios, que publico,Seja viftos de vs com vifta attentaNa paz , como na guerra alaz cruenta.

    XIII.

    J na regio area fe efpalhavaMovidos de importuno

    ,e Noto vento,

    Mil terrenos vapores, que occultavaDo crilallino Ceo o claro aflento :AIjofarineas gotas deftilavaSobre o mundo em dilvios cento

    , e centoEltaa til ( fendo impertinente)Aos que habitao da esfera a facha ardente.

    XIV.Quando a fadiga atroz repoufo dando,

    Das mavrcias campanhas recolhidoEfeinvido Marquez

    ,eft louvando

    A quem lhe as glorias tinha concedido :Na mente vay difpondo o fim nefandoAo Zeiramo traidor, impio

    ,e prfido,

    Qual a Varo Quintilio defgraadoLhe difpoz o Alemo

    ,povo esforado,

    Tanv

  • XV.Tambm aos fortes Lufos valerofos

    A quem ferve nos peitos Marte duro,Impacientes tem , e cuidadofosA importuna eftaa do inverno efcuro :Exclama contra os pafs vagarofosDeTe guarda das Urias pluvio ArturojPorque com feu rigor os tem privadosDa gloria , e dos triunfos comeados.

    XVI.Elava nefte tempo focegado

    O Zeyramo tyranno, e fementido,Bem que o vil corao lhe tem canfadoOsprefagios do fim apercebido:Geme a pena do dano j paliado,Do futuro o laftma a do fentido

    ,

    Entre tanto de Marte a chamma iradaAs aguas da eftaa tem apagada.

    XVII.A eus inquos deofes perdo pede

    Da paliada blasfmia,e imprudente,

    Quando em Mayo a foberba retrocedeDo rayo Lufitano a fria ardente :O demnio por elles lho concede,( Oh enganada , infana , e ftil gente l )E logo os ncorofos facrificiosNos pagodes tributa ao pay dos vicios.

    XVIII.Hum inverno perpetuo lhe pedia

    Com lagrimas , foluos5e com rogos,

    Para que a Lufitana fria impia,

    Na poTa mais uar dos mrcios jogos

    ;

    Em torpe recompenfa promettiaNas hediondas aras veftaes fogos

    ;

    Que f fe julga o trifte focegadoEm quanto dura o inverno carregado.

    B J

  • #0XIX.

    J a Rainha das dcofas amoftravaEfla encurvada fmbria de mil cores

    ,

    Que na regio area fe oftentavaSempre oppofta de Febo aos refplandores :Com a etaa tranquilla defterravaDa paflada funefta os vis rigores

    ,

    Concedendo com fama aflaz notriaPezar ao Bounful , aos Lufos gloria.

    XX.quelle infaufto lenho

    ,que media

    A vida do infeliz filho de Althea,Entre tanto a favor da Parca impiaO voraz elemento fe lhe atea :A afflidla may apaga

    ,pois fabia

    ,

    Que afim lhe dilatava a morte fea;

    Mas tanto que outra vez o traga o fogo,O mifero mancebo efpira logo.

    XXI.Defta forte a Zeyramo confumindo

    Hia o fogo mavrcio Lufitano,Quando de agua dilvios acudindo

    ,

    Lhediiata vida ao negro infano :Porm tanto que Febo veyo abrindoDa ferena eftaa a porta ufano,Acendelhe Mavorte o fogo a&ivo,Vay o lenho animado ardendo vivo.

    XXII.Ao Marat intrpido, e guerreiro,

    Que eftriba a grande fora,

    alaz potenteNo furiofo animal , monftro ligeiro,Que defeubrio na terra o gra tridente :Diligente defpede hum menfageiro,Que quelle Potentado fe aprefente :Chega , e para faliarlhe j fe apreftaEm favor de Zeyramo , e ptria meta.

    Oh

  • XXXXIII.

    Oh tu,(lhe diz) Senhor

    ,cujo alto Imprio

    Va os fados propcios augmentando,Com taes feitos

    , q em hum , e outro hemisfrioVos va da ley da morte libertando :Livray , livray da affronta, e vituprioAo infeliz Zeyramo miferando,Que a parte efencial do PrincipadoLhe tem os Portuuezes ufurpado.

    XXIV.Attendey

    ,

    que de Marte os inftrumentosContra o que inda lhes refta fe aparelha,E ha de ailblar da terra os fundamentos,Segundo os abios Magos aconfelha :Vede

    ,

    que ao gra Vice-Rey os elementosTremendo de medrofos lhe ajoelha

    ,

    E nao e pondo freyo a tantos danos,Toda a ndia ha de fer dos Lufitanos.

    XXV.Mas fe j vos na move o pezar noTo,

    Para o favor nos dares,que impetramos,

    Mova-vos o alto zelo nofo , e voToDa defenfa da ley

    ,

    que profeflamos :Vede

    ,

    que V3 fentindo o pezo groflbAs fummas divindades, que invocamos,De tal forte

    ,que exclama o povo afflito,

    Porque a Cruz dos Chriftas lhe ufurpa o rito.XXVI.

    Outras palavras taes lhe proferiaO triftc menageiro ao Potentado,Que a Zeyramo infeliz na deferia,Pois fabe

    ,que he com caufa caftigado :

    Mandalhe refponder,delle feria

    Para com oVice-Rey patrocinado;E efcrevendo a favor , com todo o empenho,Na lhe aproveita a fora , nem o ejngenho.

    B z Entre

  • XXVII.Entre tanto

    ,que andava o negro infano

    Os meyos de livrare procurando,Do mareio ardente rayo Lufitano,Com que o Marquez lhe ordena o fim nefandoHiafe os inftrumentos de VulcanoCom a mor providencia preparando

    ;

    E conftando ao Zeyramo eftes enfayos,Dalhe frios

    ,tremores, e demayos.XXVIII.

    Preparafe os canhoens feros,tremendos

    ,

    Que odeos ferreiro fez,frdido

    ,immundo,

    Cujos fazem tremer,trovoens horrendos,

    As tartareas entranhas do profundo :Dos Cyclopeos miniftros eftupendosO fundido metal , duro

    ,e rotundo;

    As bombas horrorofas,cujo cofre

    O p nitro inflammado em li na fofre.XXIX.

    As bombardas horrficas, queimitaDo gra Tonante as frias defatadas,Os potentes morteiros

    ,que vomita

    Ingentes,frreas

    ,concavas granadas :

    Todas as armas , mais que o peito , incitaNa forja da braveza fabricadas,Com tanta providencia fa depoftas,Que primeiro fa promptas, que prepoftas.

    XXX.Quando a Anglica guarda foberana,

    Que fempre a caufa fua favorece

    ,

    Gro foccorro da nobre Lufitana,Em dous alados lenhos offerece :Fica a gente guerreira tanto ufana

    ,

    Quanto a turba inimiga fe eftremece ;Vendo eftar para os Lulos ta ferenaA Mageftade eterna , e a terrena.

    Em

  • *3XXXI.

    Em quanto o forte trem fe hia embarcando,Em Chapor campava alaz vilofa,Junto aos falfos criftaes , em mareio bando,A Lufitana gente bellicofa :O corao do negro mierandoCom profunda trifteza

    ,e laftimofa,

    Do golpe furibundo fe refente,Que elle quando he perfago, nunca mente.

    XXXII.Mas j chegava o prazo defejado,

    Em que o Marquez invito fe partia,Com pompa embarcar vay no lenho alado,Que da Miericordia fe dizia :Por certo foy de todos admiradoVer

    ,que reto caftigo fazer hia

    ;

    Porm gente,que he n f remia^

    Telhe a miericordia faz jullia.XXXIII.

    Abrindo as linteas azas ao Levante,

    Que annunca de Apollo a roxa entrada,J fe move nas ondas a pofanteVilofa galeota empavezada :Seguindo-a vay , foberba

    ,e arrogante

    De cometas alados forte armada,

    Que os campos de Amphitrite dividindoTremem, quando lhe o pezo va fentindo.

    XXXIV.Com os olhos na armada prompto etava

    Com rofto focegado, e venerando,Como quem j de a ver na delgoftava

    ,

    O que nos mares tem o imprio , e mando:Com o tridente frreo final dava

    ,

    Para que foTe o filho convocandoOs martimos deoes , com o accentoFero , rouco

    , e medonho do intrumento.O

  • '4XXXV.

    O filho da Salacia , e do regente,Ao languido afcorofo beio immundo,Applicando o inftrumento, diligenteSe parte pelo falio mar rotundo :Dos alentos lhe applica a fora ingente,De tal forte retumba no mais fundo,Que fendo do tartareo Pluto ouvido,Entende, que o mundo era deftruido.

    XXXVI.J va todos os deofes concorrendo,

    Vem a conforte, e filhas deNereo,Larga o gado

    ,

    que na agua anda pafcendo,Ele Vate dos mares, gra Proteo:Altifona harmonia efta erguendoAs que o famofo Ulyles j venceo

    ,

    Dentro do gra palcio mageftofo,Adonde entra o concurfo gloriofo.

    XXXVII.Elava c grande deos fublime , e dino,

    Que a my livrou do Padre fer tragado,Em magnifico throno diamantinoPerante os deofes todos afentado :D final

    ,

    que fe aflentem de contino,Cada qual no lugar feu decretado

    ;

    E em todos, pondo prompto aagudavifta,Afimlhediz, com voz

    ,que tudo aquifta.

    XXXIII.Eternos, e preclaros moradores,

    Que meu Reyno habitais,hmida esfera,

    Donde fepulta Febo os refplandores,Quando a noite feus pados acelera :DeTe Heroe

    ,

    que enche a Afia de terrores,E meu mareio fobrinho aflaz venera,Quero fejais eterna vigilncia,Em quanto fubjugar a hmida etancia.

    Bem

  • XXIX.Bem viftes , a pezar do fado injufto,

    OsLufos lograr fempre o Ceo fereno,Sendo em todo o Univerfo eterno fuftoDo torpe iniquo nome Sarraceno :Vede o gentio vil

    ,

    por premio juftoBeber da forte infaufta atroz veneno,Que efte Heroe lhe offerece rigorofo,Excedendo aos primeiros vi&oriofo.

    XL.Se at aqui em meu Reyno ennobrecido

    Sempre as velas lhe inchou propicio o vento,Seja agora tambm de ns fervidoContra oZeyramo iniquo, e fraudulento:J navega , dos ventos impellidoDividindo os criftaes do falfo argento,E afim

    ,deoes

    ,he jufto

    ,

    que lhe fejaConcedido o triunfo

    ,que defeja.

    XLI.Logo alegres os deofes , cuidadofos

    Acompanha a Armada Lufitana,E cantos dedicando harmonioosVa aoilluftre Heroe da plaga Hifpana:Os afamadosLufos bellicofos,Defejofos aTaz da gloria ufana

    ,

    Tanto que a Armada lana o frreo dente,O esforo fe duplica mareia gente.

    XLII.Quando j as pandas velas amainando

    Foy, o lenho das ondas pompa inchada,

    Eftandofe em os mares ondeandoBocentauro famob embandeirada :Logo o egrgio Marquez vinha cortandoNa carroa de Doris afFamadaDo criftallino brao a curta via,Donde a gente goftofa o recebia.

    Lo-

  • \6XLIII.

    Logo que os mrcios jogos fe enfayava,E os rigores do inverno era paliados,Contra oZeyramo vil fe rebellavaVrios valfallos grandes Potentados

    :

    As vontades,e as vidas tributava

    Ante os ps do Marquez logo proftrados,Com Fortalezas trs

    ,

    que o nome temDe Avaro

    ,de Morly , de Satarem.

    XLIV.E o partido de Lufo recebendo

    Com temor de provar da efpada os fios,Para a furiofa aco vem concorrendoCom o bando de quai mil gentios :Com hum furor de Marte aflaz horrendo,Que lhe infundira logo os Lufos brios,Deejofos fe moftra fielmenteDeZeyramo afiblar pirata ingente,

    XLV.Mas el!e

    ,

    que fe achava quafi infanoPelo grande perigo inopinado,Qual obelifco immovel de TrajanoFjca eftatua de mrmore inflado :O fobrinho prudente, e mais humano,Exclama contra o trifte hum pouco oufadoE zelofo da ptria attenuadaAIim lhe diz com voz fera , e pezada.

    XLVI.De quem j te laftimas , dize , ingrato ,

    Aoute o mais cruel da ptria amiga,Sacrlego motor do defacato,Que o Lufo faz ao Deos, que te catiga?Lati mas- te do fnebre apparatoPortuguez , contra quem quebrafte a liga,Traidor, prfido, infano, e atrevido,Dos futuros caftigos efquecido ?

    Se

  • *7XLVII.

    Se o Troyano infeliz bem attenderaAos confelhos prudentes de Laocoonte,Tantos paar o Grego na fizeraAs negras catadupas de Acheronte :Se do prudente pay

    ,que o fer te dera,

    O parecer feguiras, e FaetonteA' esfera da foberba na voaras,Nunca o rayo mavrcio exprimentaras.

    XLVIII.ETa tua altivez , foberba inana

    Contra ti com raza he rebellada,

    Pois incitafte a fria Lufitana,Que eftava no cio amado fepultada :Bem como Alcidia fetta pouco humana,Que com hydrico fel envenenadaSe voltou

    ,caftigando a oufadia

    De quem da haftea encurvada a defpedia.XLIX.

    Infeliz pois te queixa , e te latimaDe teus procedimentos cavilofosPorque aflaz te intimey

    ,que em grande eftim

    Tiveles fempre os Lufos valeroos:E fe dftes a caufa

    ,

    que fe opprimaO focego dos povos laftimofos,Ouve dos infelices, pois magoaO funefto clangor

    ,que tudo atroa.

    Alim hia o fobrinho reprehendendoDe Zeyramo a perfdia incontinente ;Porm a culpa grave conhecendoFica eftupido , e mudo o infolente

    :

    Qual o que no banquete entra elupendo,Sem o traje levar

    ,que era decente

    ,

    Que a reprehenfa lhe dando,que convinha^

    A defculpa na d,porque a na tinha.C EftsJ

  • *8LI.

    Eftava enta o eterno lume ardendoNa lethifera cauda

    ,que fe liga

    Ao bicho,

    que Orion no p mordendoDianicas injurias bem caftiga :Dalli vay lento tranfito fazendo

    ,

    Para o que as gneas fettas na mendiga,Que femi-equo fendo onde fenece

    ,

    Defemi-forma humana na carece.LII.

    Quando o invidto Marquez com providenciaTendo o brao de Doris j paTado,Infpirado da facra Summa ETenciaPunha em marcha o Exercito esforado :Moftravafe de longe na apparencia,Como na realidade refpeitado

    ;

    E tranfportado ao hmido elemento,As brancas velas d ao brando vento.

    LIII.

    Os que no mareio corpo feincluiaMil guerreiros , talvez

    ,fa de Ulylfea,

    E trs vezes contados mais feriaOs negros Lafcarins

    ,que he turba fea :

    Os animaes Neptunios opprimiaCom o frreo calado a flava rea,E frias quatro horrendas de VulcanoO Exercito acompanha Lufitano.

    LIV.Vay prefidindo a todos valeroo,

    Com o valor de Marte coftumado,O forte Pierrepont , de quem medrofoHa muito que tremia o negro oufado :J vay , de executar ambiciooAs ordens, que o Vis-Rey lhe tinha dado ;Mas a fortuna grande

    ,

    que o feguia.Brevemente os deejos lhe cumpria.

    . Por-

  • LV.Porque tanto que ufanos

    ,e atrevidos

    Pela praya inimiga caminhava,Que os campos deAnfitrite entumecidosCom encrefpadas ondas aoutava :Os negros de hum lugar apercebidos,Tanto pelouro ardente lhe envavaPara a praya em dilvios cento, e cento,Que tremer fazem hum, e outro elemento*

    LVLMas como tem a hiftoria latimofa

    Do fuccelb de Alorna ainda prefente,Que lhe refponda a gente valerofa,A traidora embofcada na confente:Porque os poz em vil fuga vergonhofaDos nollbs Lafcarins o fogo ardente

    ,

    E abem,

    que os de Lufo,

    fe l chega,Com gentlico fangue a terra rega.

    LVII.Porm logo que fora pouco avante

    Seguindo a vil canalha,que fugia,

    Todo o Exercito tmido , e pofanteDo negro a Lua vifta defcobria :Tanta gente trazia o arrogante,Que a terra toda negra parecia

    ,

    De tal forte,que tinha menos conto,

    Que a de Xerxes nas prayas do HelefpontO.LVIII.

    Alli vinha Zeyramo , e contra feitoA5 turba numeroa alento incita;Que mal pde esforar o alheyo peitoQuem para o feu de esforo necefita :Tinha nelle infundido hum tal refpeitoO valor do Marquez, que Marte agita,Que o terror do fuccefo j pafla.doLhe tinha o fangue frio , e congelado,

    C %

    x$

  • mLIX.

    O fobrinho acompanha a gro cohorte,Movido da defenfa ao incentivo

    ;

    E com ambos forada toda a CorteSe acha expofta de Lufo ao rayo ativo:Do animal de Neptuno o poder forte,Mais que oito vezes cem excede altivo,E infinitos miniftra , como infantes,De Vulcano intrumentos fulminantes.

    LX.Com huma fria grande, e defufada

    Acomettem aos Lufos valerofos,Que a prpria defena da ptria amadaDe tmidos os torna em furiofos :Gra parte dos Sipaes efta avanadaLhe reprime com rayos vigorofos

    ,

    Em quanto o corpo Lufo diligenteEm batalha fe forma frente a frente,

    LXI.Dous dragoens fe lhe oppoem

    ,que vomitando

    Va mais rayos terreftes cada inftante,Que da fuprema esfera fuzilandoDefpede furiofo o gra Tonante

    :

    As tartareas cavernas imitandoCom mil lnguas de fogo fibilanteATombra as entranhas do profundo,A regia area

    ,o mar , e o mundo.LXII.

    Cada vez o combate mais fe accende,Prefiftindo a contraria fria impia;Com a esfrica pla o ar fe fendeImpellida do nitro

    ,

    que aTovia:Dos negros o furor na fe arrepende^Que com nuvens de bailas refpondia;Masj quer Pierrepont, que os vis gentiosProvem da Lufa efpada os duros fios

    wVen-

  • uLXIII.

    Vendo,que para a praya fe eftendera,

    Rechaallos pertende entre osoiteiros,Que para altura grande, a que crefcera,Inaceliveis fa aos cavalleiros:Pela parte do Sul guardados eraPelo muro de intrpidos guerreiros

    ,

    E daquella , em que fica o campo aqurio,Tem dos deofes o Exercito contrario.

    LXIV.Mas o perigo o negro premedita

    Com cavilofo ardil,quando repara,

    Que o corao perfago lhe palpita,E o campo occupar vay

    ,

    que j deixara :Ete refugio Phebo facilita

    ,

    Seus rayos efcondendo na agua amara;Mas inda que fortuna ito parea,He porque em mais aperto lhe falea.

    LXV.Aquelle infaufto lenho

    ,que navega

    Com a moa gentil na agua falgada,E o corpulento vulto terra entrega,Que he de negros falvagens habitada

    :

    Se o tremendo naufrgio alli fe negaAo pay , filhos, e dama delicada,He porque o vil poder do iniquo fadoLhe tem fim mais funefto preparada.

    LXV.Afim oBounful, que a forte ingrata

    Hoje livra dos golpes inhu manos,He por guardarlhe a vida ao vil pirata,Porque trifte lamenta eternos danos:Contra o que fe econdeo na falfa prata,Exclama inceflante os Lufitanos

    ;

    E com a voz do ardor,* que ainda fentia,Para o deifico Apollo afim dizia.

    AitQ

  • LXVLAito filho do Padre omnipotente,

    Que vibra os igneos rayos furibundo,Clara antorcha de rayos refulgente,Que l na quarta esfera gyra o mundo

    :

    Se aqui nas roxas portas do OrienteCelebramos teu orto rubicundo,Para que contra ns aprelurateElias luzes, que agora fepultafte?

    LXVIII.Sufpende j, ufpende a preffa infana,

    Com que ao tardo Occidente defcendefte

    ,

    Lembrate, que outra vez voz humanaEm cafo femelhante obedecefte:Pra

    ,e olha a efta gente Luitana

    Os deftroos,que faz no negro agrefte

    ;

    Vers fe l ta longe ainda defmayas,Vendo o fangue correr por eftas prayas.

    LXIX.Defta forte os guerreiros fe queixava

    Da carreira de Phebo tranfitoria,Cujos ligeiros pados lhe truncavaA quafi certa palma da vidtoria :Como lynces a noite alli pafava,Com grande vigilncia, e bem notria; \Mas a turba inimiga, de aluftada,Vigia muito mais, e na faz nada.

    LXX.Huma , e mais outra gente fe lamenta

    Do vagar, com que cqrre a parda treva,Hqns cada vez o fufto fe lhe augmenta

    ,

    Nos outros Marte accende a fria feva:Da mulher de Tita a entrada lenta,O peito Lufitano mal releva;jyEas Era fendo a luz deifica lahiday moAcha f os veligios de fulgida,

    Na

  • :2g

    LXXLNaepera de todo, que amanhea r

    Do Zeyramo manhofoo gruo rezelo,Porque o Lufo fazer na lhe acontea

    ,

    O que ao grande Anibal j fez Marcelo:Foge o trifte, primeiro que appareaNo bero matutino oclaroDelo,Porque hoje outro Melciades famofoO na faa fer Date defditofo.

    LXX1I.Confta, que o frreo rayo defpedido

    Pela forja bifauce de Vulcano,Os Cabos principaes tinha feridoDa gente, que foccorre o negro infano :E logo defiftindo do partido,Concebem tal terror do Luitano

    ,

    Que deixando a Zeyramo nefte aperto,Defpreza delle ultimo concerto.

    LXXIII.Foy ta grande o terror

    ,

    que conceberoOs afperrimos negros miferandos.Que a longnquo lugar fe recolhero,Defordenadamente em negros bandos :tx)go os Lufos em marcha fe pozera,Ymntrndo osoiteiros pouco brandos,Por aperos caminhos na ufados,E chegando a Murgi , Oi acampados,

    LXXIV.J vinha nefte, tempo navegando

    Nas ondas de Neptuno encapelladas,

    Ao animo guerreiro esforo dandoAs brancas velas concavas inchadas;E de Arandem a barra em fim chegando,Sa dos altos lugares amainadas,Logo ferem ornar frreos bidentes,Que das fortes amarras fa pendentes.

    Quafi

  • 14LXXV.

    Quafi inteira hurna volta preflurofaTinha no globo primo percorrida,A deofa, que na felva incauteloaDe Atea a imprudncia vio defpida:Des que a Armada do negro poderofaEft no falfo rio reprimida

    ,

    Por valos mais de doze,

    que em bloqueyo

    ,

    Em guerra armados fervem de alto frevo.LXXVI.

    Em quanto a Lua fora furta eftavaNa garganta do ri caudalolo

    ,

    Do mar , como da terra fe alternavaIncefiante combate bellicofo :Da bombarda horroroa retumbavaO eftrondo formidvel , e efpantofo :Forceja por fahir a Armada dura

    ,

    Mas nao pde, que a barra eft fegura.LXXVII.

    Logo que a nova Armada tem chegado,E que alli era furta fe incorpora

    ,

    Eftandarte magnifico encarnadoNa popa Capitanea Pedro arvora:De huma parte fe v crucificadoAquelle Eterno Bem

    ,

    que no Ceo mora 5E de outra com as Quinas triunfantesA Eftrella divinal dos navegantes.

    LXXVIII.A Capitanea falva em fogo ardendo,

    A Mageftade excelfa, que he prefente;Logo tod^s as mais va relpondendo

    ,

    Desfazfe toda Armada em fogo ardente:Ambos os elementos va tremendoCom o terror

    ,que infunde a fragoa ingente,

    Contra o mar o p nitro fe rebela

    ,

    Contra a terra aflbvia a frrea pla,Efta

  • *5LXXIX.

    Eta aca infundio no negro oufadoTal terror, que fe moftra furibundo,Cuida que he deftruido, e alfaiadoCom o fogo mavrcio o mar, e o mundo;Defeja de fe ver precipitadoNas vorazes cavernas do profundo,Antes que os Lufitanos com medoDefanimado o deixem mudo, e quedo,

    LXXX.Nefte tempo o Marquez j pertendia

    A paflagem do rio a outra parte,Que o fero bando negro defendiaForte por natureza, e mais por arte :A formidvel vifta horror metiaAinda ao mefmo valor do prprio Marte;E fe a gente na fofle de UlyTea

    ,

    Eftava afaz fegura a turba rea.LXXX1.

    Hum forte a eftreita barra predomina

    ,

    Que em quadrangular forma edificaraQuem com bons fundamentos imagina,Que nunca a gente Lufa o dominara :Quafi a nivel da eftampa cryiallina,Raza com frreos globos a agua amara,Huma atroz bataria, que amedronta

    ,

    Pelos muitos canhoens de que el prompta.LXXXII.

    Mais avante tem feito a gente aftuta,Em dous commodos pados f que havia,Duas grandes trincheiras, quedifputaMuito , e grave poder de artelharia

    :

    Toda a margem,que rela , horrenda , e bruta

    ,

    A paflagem dos Lufos prohibia,

    Tudo el dominado dos oiteiros,Que oceupa mil redutos cavalleiros.

    D Mas

  • lxxxih.Mas Pedro

    ,a quem de Marte na fe occulta

    ,

    Nem ainda os mais recnditos arcanos,Brevemente cotnfigo alli confultaO tranfito fuave aos Lufitanos

    :

    Manda ameaos fazer turba multaPor lugar differnte , e com enganosPara alli os diverte , em quanto a genteEm parte auftra falta de repente.

    LXXXIV.Quando a moa gentil de apeto lindo

    ,

    Qye do Phebo na terra foy gerada

    ,

    Vinha das roxas portas diFundindoOs aTopros fubtis da madrugada :Das carroas de Doris vay lahindoA gente marcial de ira abrazada

    ,

    Em lugar,que ainda fendo aTaz fragofo

    ,

    Parecelhe expedito , e efpaoo.LXXXV.

    Intrpidos fe oppoem os inimigos

    ,

    Quando vira o engano defcuberto

    ;

    Mas os Lufos fieis de Deos amigosNo caminho os procura de mais perto

    :

    O forte Pierrepont entre os perigosO combate difpoem com tanto acerto,Que debaixo do fogo fulminanteDeembarca a falvo , e va avante.

    LXXXVI.Mais , e mais vem crefeendo o imigo bando

    Dos afperos oiteiros nadefeida,De cuja nuvem negra fuzilandoPlmbea baila fem conto he delpedida

    :

    Mas ao peito dos Lufos dominandoA foberba de Marte embravecida

    ,

    Acomettem intrpidos , e oufadosInvocando a F fanta em altos brados.

    Qyaes

  • 17LXXXVII.

    Quaes Eurialo, e Nio, que emprendendoDo Exercito de Turrto a gr potencia

    ,

    Como bravos Jeoens acomettend

    ,

    Parece na encontro refiftencia:Aflim os poucos noTos va rompendoO defigual poder com tal violncia

    ,

    Que o esforo fatal do Lufo braoForte , e tudo o mais rende em breve epao.

    LXXXV1II.Muito antes o traidor com mente aftuta

    ,

    Tinha a boca da barra embaraadoCom terrvel cadeya , forte

    ,e bruta

    ,

    Que tem de fortes malros fabricado

    :

    Cuidando, que com ifto affim refutaO tranfito dos Lufos defejado;Mas logo fica fciente do contrarioAquelle infame afperrimo falfario.

    LXXXIX.Pois Pedro , em cujo peito Marte ardia,

    E a quem era os fados pouco efcaos,No marinho Breareu da falfa via

    ,

    Apartando os cryftaes com muitos braos

    :

    O tyranno embarao lhe faziaCom a cortante quilha em mil pedaos,Porque veja o traidor, que efta excellenci?Em coufa alguma encontra refiftencia.

    XC.Deite intrpido arrojo valerofo

    Cuidando o negro vil fe defpicava,

    Solta da bataria hum rayo irofo,Que a proa do efcaler na agua fe encrava :Na confidera o prfido aleivofo,Ser da vi&oria falva, que lhe dava

    ;

    Pois fem temor algum faltando em terra

    ,

    Para os Luos caminha em tom de guerra.Da Fae

  • 2?XCI.

    Faz feguir do inimigo a retiradaPela gente do Lufo em fogo acceza

    ,

    Que a fugida em que vay precipitadaNa lhe dava lugar para a defeza :Toda a turba abandona a embofcada

    ,

    Que occultava dos matos a afpereza

    ,

    Triunfa aflim o Lufo efclarecido,

    Sem ficar nenhum morto,nem ferido.

    XCII.Alto milagre foy do Marte Santo,

    Que defronte do ataque eft patenteDo tremendo poder

    ,do fogo tanto,

    Defendendo a guerreira , e forte gente :Da repetida prece oacro canto,Que ordena o grande Antiftes do Oriente

    ,

    A clemncia lhe inclina a que proteja,Quem pela caufa fua alli peleja.

    XCIII.Quando aos de Amalech vay pereguindo

    Efle povo de Deos fempre eftimado,A cujo Exercito hia prefidindo,Aquelle

    ,que o Sol fez eftar parado

    ,

    Sem perigo os imigos detruindo,

    Em orao Moyfs fendo elevado,Duplicadas vitorias confeguiaPela caufa de Deos, que defendia.

    XCIV.Affim hoje aos illuftresLuitanos

    A mefma caua fanta defendendo,Contra os poderes feros, e inhumanosAs vilorias o Ceo vay concedendo :Entre tantos louvores foberanosA bondade infinita efta movendo

    ,

    Pois fempre ha de alcanar triunfo , e palmaQuem leva a F fagrada impreffa na alma.

    Nefte

  • 19xcv.

    Nefte tempo ligeiro hia paflndoTodo o Exercito forte a outra parte,A defender do feyo imigo bandoAo Marquez

    ,que feguia o fero Marte

    :

    Hindoe toda a gente incorporando,Com brevidade as ordens lhe reparte

    ,

    Em quanto da fadiga aTs penofa

    ,

    Defcana a Lufa turba bellicofa.XCVI.

    Depois que defcanado hum pouco haviaEfle invencvel povo Lufitano

    ,

    Demorarfe alli j na confentiaO fogo

    ,

    que lhe abraza o peito ufano:Para onde etava a Armada fe partia

    ,

    Em que pirateava o negro inano,Que cuidando talvez que occultava

    ,

    Nas entranhas do rio a epultava.XCVII.

    Cinco breados lenhos fe numera

    ,

    A cuja dura fabrica, e ligeiraOs fabios inventores nome deraDa fcientifica deofa, que he guerreira:Ao profundo das aguas defcenderaA fer novas carybdes de madeira

    ,

    Que as embarcaoens Lufas impedia,Quando o trem de Mavorte conduzia.

    XCVIII.Qual na lodoa praya da enfeada

    Os viftofos falgueiros,que enverdecem

    ,

    Pela alta preamar fendo innundada,As pontas fora da agua lhe apparecem :Tal no fundo do rio elava a Armada

    ,

    Com os maftros, que vifta fe oFerecem

    ,

    E ao corao do negro,que he perfago

    ,

    Sa funeftos padroens do horrendo eftrago.Mas

  • 3

    XCIX.Mas ck gente robufta a diligencia,

    Ordenada de expertos profeflbres

    ,

    Do naufrgio caufado a imprudnciaLivra os alados lenhos furcadores :E antes que faa Phebo a ufada aulenciaOs guerreiros fe acampa vencedoresJunto ao rio de arbuftos guarnecido,Donde o nutico trem tinha o prfido.

    C.Alli efta mais fis vultos corpulentos

    ,

    Que furca de Neptuno o empirio undoo,Defpojos

    ,que depois dos vencimentos

    Sa trofeos para o peito bellicoo :Outros navaes, pequenos apoentos

    ,

    Que na foftrern o mar , e he procelofo

    :

    Todo o trem fe conduz , e o que fe arrea

    ,

    O voraz elemento fe lhe atea.CL

    Intrumentos, que mordem de obrigadosAs entranhas do mar com frreo dente

    ,

    Em mais fis dezenas fa contadosPela nutica turba diligente:As frias de Vulcano

    ,cujos brados

    Pelos ares defpedem rayo ardente,

    Qafi doze dezenas, que fe acharoOs Minitros de Marte alli contaro.

    CII.De mais vrios defpojos eutiliza

    As foras de Neptuno , e de Mavorte

    ,

    E as correntes do rio j matiza ,Embrcaoens diverfas no tranfporte:Todos com grande applauo folemnizaEfte bem merecido ingente corte,Em que as elpadas de Pedro decepavaDe Zeyramo traidor a audcia brava,

    Va

  • 31cm.

    Va fendo nefte tempo conduzidas

    ,

    As cryftallinas lymphas apartando,Quatro das cinco

    ,que era fubmergidas,

    Por ftil outra efta Troya imitando:J ia daquella Armada recebidas,Que lhe fora at aqui contrario bando

    :

    Na as venceo enta,que combatero,

    E agora, que eft iurta , f rendero.C1V.

    Tendo s outras o mefmo fuccedido

    ,

    E fendo o gra defpojo j embarcado,Na decanava o Marquez eclarecido,Que no Exercito forte eft campado

    :

    Manda o caminho fer reconhecido

    ,

    Por donde a Rary feja tranfportado,E na fiado f do indicio alheyo

    ,

    Em peToa o vay ver , (em ter receyo.CV.

    As Naiades gentis, Nynfasfermofas,Nefte tem