poesia infantil: as crianças pequenas e o texto poético - ana carla assmann morais

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL Ana Carla Assmann Morais POESIA INFANTIL: as crianças pequenas e o texto poético

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O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica, que busca analisar os recursos poéticos presentes na poesia infantil que despertam o interesse e a apreciação das crianças pequenas e dos bebês. Tomou-se, como base teórica, os estudiosos Gaston Bachelard, Maria da Glória Bordini, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Nelly Novaes Coelho, Lígia Morrone Averbuck, Maria Carmen Silveira Barbosa, Ângela Cogo Fronckowiak, Sandra Richter, entre outros que evidenciam a importância de as crianças terem contato com a poesia, um gênero literário rico, mas que se torna pobre, quando mal explorado. No decorrer do texto são apresentados os recursos poéticos presentes no gênero, que “aproximam” o jovem leitor do texto. Palavras-chave: crianças pequenas, poesia.

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Page 1: POESIA INFANTIL: as crianças pequenas e o texto poético - Ana Carla Assmann Morais

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

Ana Carla Assmann Morais

POESIA INFANTIL: as crianças pequenas e o texto poético

São Leopoldo

2010

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Ana Carla Assmann Morais

POESIA INFANTIL: as crianças pequenas e o texto poético

Trabalho de Conclusão de Curso de

Especialização apresentado como

requisito parcial para a obtenção

título de Especialista em Educação

Infantil, pelo Curso de Especialização

em Educação Infantil da Universidade

do Vale do Rio dos Sinos.

Orientador(a): Ângela Cogo

Fronckowiak.

São Leopoldo 2010

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois sem Ele, nada seria possível, pelo

discernimento das ideias e da alma, e por toda saúde e paciência necessárias para

qualquer empreendimento na vida.

Aos meus pais Carlos e Ieda, pelo amor, dedicação, em todos os

momentos desta e de outras caminhadas e a minha irmã que sempre me auxiliou.

Ao

meu marido Alexsandro pelo apoio e incentivo prestado durante todo o percurso.

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AGRADECIMENTOS

À minha professora orientadora, Ângela Cogo Fronckowiak, que com sua forma

de tratar seus alunos com carinho e respeito, me ajudou a construir essa conquista

acadêmica, meu reconhecimento e admiração.

À UNISINOS pelo auxílio concedido, fundamental para a concretização desta

etapa.

À todos que de alguma forma colaboraram para que este trabalho virasse

realidade.

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RESUMO

O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica, que busca analisar

os recursos poéticos presentes na poesia infantil que despertam o interesse e a

apreciação das crianças pequenas e dos bebês. Tomou-se, como base teórica, os

estudiosos Gaston Bachelard, Maria da Glória Bordini, Regina Zilberman, Marisa

Lajolo, Nelly Novaes Coelho, Lígia Morrone Averbuck, Maria Carmen Silveira

Barbosa, Ângela Cogo Fronckowiak, Sandra Richter, entre outros que evidenciam a

importância de as crianças terem contato com a poesia, um gênero literário rico, mas

que se torna pobre, quando mal explorado. No decorrer do texto são apresentados os

recursos poéticos presentes no gênero, que “aproximam” o jovem leitor do texto.

Palavras-chave: crianças pequenas, poesia.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 6

2 O QUE É POESIA ..................................................................................................... 8

3 POESIA INFANTIL X POESIA ADULTA ........................................................... 16

4 POESIA NA ESCOLA ............................................................................................. 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 30

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1 INTRODUÇÃO

Desde a década de 70, a literatura infantil tem sido objeto de reflexão de

pesquisadores, embora no início, não tenha sido considerada enquanto expressão

literária, talvez por ter como público receptor - a criança, julgado menos apto à

compreensão literária devido à sua menoridade.

No que se refere especificamente à poesia, as investigações são mais raras, se

comparadas a outros gêneros. Seja em revistas ou em livros, há escassez de textos que

tenham o gênero como foco principal de estudo. Quando dele tratam, enfocam questões

referentes à história da poesia ou diferentes possibilidades de trabalhá-la no ambiente

escolar. O conteúdo em si, não é discutido, aspecto que, por sinal, possui maior

importância.

A fim de explorar o aspecto literário nas obras infantis, principalmente, nas

obras “indicadas” às crianças pequenas e aos bebês, pensou-se neste estudo, que teve

como substrato teórico a apreciação em alguns estudiosos, como, Gaston Bachelard,

Maria da Glória Bordini, Regina Zilberman, Nelly Novaes Coelho, entre outros que

contribuiram para o desenvolvimento deste texto.

A pesquisa restringe-se à poesia infantil, mais especificamente, aquela destinada

às crianças pequenas, e que pode ser direcionada aos bebês, que contribuem com

diversas formas de se comunicar, antes mesmo da linguagem verbal, já conseguem se

expressar, através dos movimentos. E a poesia por tratar-se de um gênero bastante

apreciado por eles e pouco explorado na escola de Educação Infantil, instiga a criança

pequena, e também o bebê, devido ao aspecto lúdico do texto, o jogo com a palavra, que

resulta na interação do pequeno leitor com a obra literária.

O estudo é composto por três capítulos teóricos. O primeiro trata da poesia em

si, e de suas especificidades. O segundo apresenta e discute o que na poesia é atrativo

para o público em questão, que ainda não alfabetizado, sente prazer através da escuta do

texto poético. O terceiro traz a discussão do gênero, que é pouco explorado no ambiente

escolar.

O livro de poesia infantil, devido à natureza do gênero, possui muitas

especificidades a serem analisadas, como a linguagem que implica em ampla

significação de sobreposição de sentidos, as ilustrações, que auxiliam o entendimento

do texto, através do recurso que vai muito além do emancipatório, ou seja, amplia o

universo simbólico da relação com o livro, mais do que uma representação da palavra

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no texto, além dos códigos, que são os arranjos e improvisos, associados ao conteúdo da

poesia que requer uma “leitura” mais profunda do receptor, possibilitando ao leitor

ainda não alfabetizado, a compreensão do conteúdo do texto.

Os bebês por dependerem totalmente dos adultos, porque ainda não se deslocam

com autonomia, e também não se comunicam através da linguagem verbal, tornam-se

ainda mais suscetíveis ao mundo que os cerca. Uma das razões para que o ambiente

escolar, creches, ou escolas de educação infantil sirva de base ao ser que está em plena

formação e desenvolvimento, sendo assim, a poesia uma aliada no desenvolvimento da

criatividade humana.

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2 O QUE É A POESIA

A poesia, assim como os demais gêneros textuais, pode ter vários significados;

pode agradar, ou, ao contrário, afastar o leitor do texto. Geralmente é assim: a poesia

pode ser amada, ou detestada. E com a criança pode acontecer o mesmo, o pouco

contato com esse gênero textual pode resultar na não compreensão e afastamento do

pequeno leitor do texto; se o contato em casa, ou no ambiente escolar, for

emancipatório, com intuito de explorar o literário, ao final é possível até mesmo

detectar pequenos poetas, pois aprenderão a gostar do gênero. Mas, isso dependerá da

forma como será discutido. O contato do bebê com o texto literário pode vir muito antes

da escola, pois o bebê a partir da 20ª semana de gestação, na barriga da mãe, já faz

distinção de sons e pode perfeitamente, escutar sua mãe cantando uma canção, contando

uma história, ou uma poesia.

A infância em si propõe um ambiente para o enredo poético, diferente da vida

adulta, que já não vive a fantasia. Maria da Glória Bordini, na obra Poesia infantil

(1986), afirma que a “poesia é brinquedo de criança, e que além do jogo ela deseja

também a verdade” (BORDINI, 1986, p.5-8). Após a afirmação Bordini apresenta a

preocupação quanto às insatisfações da criança quando os poemas não são realizados

artisticamente. Aqui se faz referência àqueles textos que buscam “pregar” a moral na

criança, ensinando-lhes boas maneiras, bons hábitos, aproveitando-se da poesia para

isso. Porém, a criança não é boba, ela não se deixa enganar pelo texto, e se afasta dele,

porque que àquilo não lhe dá prazer.

Na poesia infantil, o processo de distanciamento e indicação provoca o eclodir da atitude ficcional, levando a criança a se perceber como sujeito diferente do tu ouvinte, interior ao texto, bem como a captar a impessoalidade do eu que nele fala, afastando-se da tendência de assimilá-lo ao escritor. (BORDINI, 1986, p.33)

Massaud Moisés, em A criação poética (1977), define poesia como “expressão

do ‘eu’ por meio de metáforas” (MOISÉS, 1977, p.114); já a teoria aristotélica do

fenômeno poético apresenta a poesia como mimese, imitação, que conduz a inevitáveis

identificações. Mais tarde seria assimilada pelos termos imaginação ou fantasia.

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(MOISÉS, 1977, p.17). “O ‘eu’ poético define-se como um ‘eu’ que se auto-expressa

para se conhecer e para se comunicar ao leitor.” (MOISÉS, 1977, p.58)

Bordini (1986) trata do despautério quanto à produção ficcional infantil, as

fórmulas verbais com diminutivos, adjetivações profusas e construções canhestras; a

apresentação desavergonhada de absolutos duvidosos e irretorquíveis sobre o real,

juntamente com a vontade de ensinar e moralizar através da literatura acabam por

destruir a obra literária que, ao invés de proporcionar o prazer, afasta o pequeno leitor

da obra poética. A autora afirma que é como se a obra tivesse o dever de “substituir os

manuais de ensino e a ação educadora dos pais e professores”. (BORDINI, 1986, p.7)

No momento em que a obra passa a ter caráter moralizante ou pedagogizante, perde o

brilho de obra literária, perde a fantasia, a imaginação.

A autora apresenta a poesia sob três caminhos diferentes. No início como gênero

para os pequenos, através da apropriação de criações folclóricas de origem camponesa,

depois como estilo poético vigente sobre o dever-ser infantil, e por último, a adaptação,

através de cortes, de poemas clássicos, como Os Lusíadas, no Brasil, I-Juca Pirama.

Passadas já algumas décadas, temos uma visão e uma produção de poesia diferente da

apresentada por Bordini. São raras as obras que ainda trazem o aspecto moral, a

intenção de mudar no leitor hábitos e maneiras. Até porque, como já discutido, esses

aspectos causam “estranheza” às crianças.

A poesia para crianças, geralmente apresenta a rima infantil, que de geração em

geração, por intermédio das amas das famílias da alta burguesia, e também no convívio

de uma criança com outras, teve seu surgimento em décadas passadas e que vem se

disseminando até os dias atuais. O que vivenciamos difere-se dos tempos passados, são

poucos os escritores que, ainda vestidos de pedagogos desejam ensinar condutas dentro

do texto poético e, os pedagogos que se apropriam da poesia culta, com a finalidade de

transmiti-la a seus tutelados de maneira mais conveniente, escrevendo textos

insuportáveis ou, moralmente convenientes, assim como, a poesia Griselda, tipo de

texto quase que não mais visto cujo contexto, não faz mais parte do repertório poético

explorado com as crianças, que indica um bom partido, um cavalheiro, como que, só os

homens que seguem a estes padrões, são os indicados para o casamento. Explorar um

texto como “Griselda” em sala de aula nos dias de hoje é provocar estranhamento nas

crianças, e também nos pais, num cotidiano onde a pedofilia está entre os assuntos mais

discutidos na mídia. Vivenciar a poesia “Griselda” no ambiente escolar é boicotar o

gênero poético, é causar o desprazer do leitor com o texto.

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GriseldaHá em Paris muito cavalheiroe o belo sexo prazenteiroo que mais quer é agradar;vê-se, Mademoiselle, em todo o ladotanto exemplo acabadode vícios que esta história quer contrariarque é sempre bom para o vício evitar, ou para, se já existe, o ver sarado, contraveneno bom tomar.(apud BORDINI, 1986, p.10)

A vocação pedagogizante, muito utilizada em décadas anterior a de 70,

inseparável da poesia infantil, como nos versos tanto exemplo acabado, ou ainda, de

vícios que esta história quer contrariar, vai, sobretudo abrir mão do folclore, deixando

de lado a espontaneidade do texto poético. A oferta de bons textos poéticos nas últimas

décadas é outra, os autores não estão preocupados no “conteúdo” que deve ser discutido

no texto com as crianças, e sim, se àquilo que estão apreciando, escutando, ou

manuseando irá lhes proporcionar prazer-satisfação. Bordini ressalta que é preciso o

poeta esquecer-se do seu alvo para obter o efeito poético, caso não tenha como intenção

afetar o público confiante e incapaz de defender-se dos apelos morais.

O Pato

O pato perto da portao pato perto da piao pato longe da patao pato pia que pia

O pato longe da portao pato longe da piao pato perto da pataé um apto que nem pia.(apud AGUIAR, 1995, p.40)

O prazer da estranheza na repetição do /p/ no poema O Pato de Elias José é a

brincadeira da poesia, é esse jogo, também interativo, gratuito, simulador, que busca

rearranjar o real dentro de um esquema mental, físico, às vezes corporal, fônico. E é isso

que encontramos na maioria dos textos poéticos atuais, o arranjo poético, que desperta o

interesse por parte das crianças, muito mais aos bebês, que ainda não alfabetizados

“precisam” desses aspectos para que a poesia para eles, seja atrativa. Outra questão

levantada pela autora é a de que a poesia diferencia-se dos outros usos artísticos de

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linguagem, por possuir caráter de organicidade. Essa organicidade presente tanto na

poesia infantil, quanto na adulta se dá através de diversas maneiras: distribuição

espacial necessária das palavras no verso através do ritmo ou pelos sentidos do termo;

escolha pela lei da economia artística; extensão do metro dos versos e do número de

versos por estrofe; seqüenciação de versos e estrofes. Resumindo, conforme Bordini, o

poema tem um começo, um ponto zero (meio) e o último que exige um paradeiro final.

Vale discutir aqui, a afirmação de Maria Carmen Barbosa, que “para muitos

bebês estar na creche é uma oportunidade de viver com adultos e crianças”, isso porque

no ambiente escolar há possibilidades de serem vivenciadas diversas experiências

cognitivas e relacionais, pois escola é onde os pequenos convivem no primeiro

“ambiente de educação coletiva de um ser humano”. Por isso a necessidade de nós,

profissionais da educação estarmos sempre alinhados, atualizados, para receber esses

pequenos seres, que depositam toda a confiança em nós educadores.

Na obra O que é qualidade em literatura infantil e juvenil? (2005), organizada

por Ieda de Oliveira, Leo Cunha apresenta um capítulo sobre Poesia e Humor para

crianças. Ele aponta duas correntes principais, presentes no gênero poesia. A primeira

corrente é aquela que, na maioria das vezes, é identificada como sinônimo de qualidade

na poesia infantil. Como a poesia de Cecília Meireles, cheia de lirismo, delicadeza,

expressividade, olhar reflexivo e filosófico sobre o ser humano, a natureza e as coisas

do mundo. O Menino Azul

O menino quer um burrinhopara passear.Um burrinho manso,que não corra nem pule,mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios,das montanhas, das flores, - de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinhoque saiba inventarhistórias bonitascom pessoas e bichose com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundoque é como um jardimapenas mais largo e talvez mais comprido

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e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,pode escreverpara Rua das Casas,Número das Portas,ao Menino Azul que não sabe ler.)”(MEIRELES, 2002, p.31-32)

Cunha chama esta categoria de autor de poeta poético, pois apresenta a obra que

traz elementos na maioria atribuídos a poesia. O autor deixa claro que não tem nada

contra essa linha poética, até mesmo se inclui neste grupo, o que quer dizer é que este

tipo de obra já adquiriu selo de qualidade, já se consagrou. Mas o autor enfatiza a outra

corrente, que no seu ponto de vista é menos valorizada do que deveria, é o contraste da

primeira, mas não necessariamente o contrário, visto que alguns poetas transitam entre

as duas. Esta segunda visão afasta-se da visão predominante sobre o que é um texto

poético; “é uma poesia menos lírica, menos profunda”. (OLIVEIRA, 2005, p.80) No

poema Convite é perceptível que não se trata de poesia lírica, muito menos profunda.

Trata-se de um texto interativo, que conversa com o leitor a partir de coisas que fazem

parte da sua realidade, como bola, pião, brincadeira.

Convite

Poesiaé brincar com palavrascomo se brincacom bola, papagaio, pião.

Só quebola, papagaio, pião,de tanto brincarse gastam

As palavras não:quanto mais se brincacom elas,mais novas ficam.

Como a água do rio,que é água sempre nova.

Como cada diaque é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia? (PAES, 1990, p.2)

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A marca dessa segunda corrente é o uso freqüente e central da brincadeira, ou do

humor, tendo esse último aspecto, diversas possibilidades de manifestar-se. Leo Cunha

apresenta três formas em que o humor pode surgir, todas separadamente. Primeiro o

humor no jogo de palavras aquele que se alimenta com bobagens, com brincadeiras, é a

atividade natural que se faz com prazer e por prazer. No poema de Caparelli aparecem

rimas acerca da palavra violino, dando movimento ao texto, que resulta em uma

brincadeira com o som das palavras rimadas, assim como o movimento do corpo das

crianças, em específico, o corpo dos bebês. Só os encontramos imóveis na hora de

dormir.

Afinando Violino

Toco linoviofinotoco viofonolinovio tocolinofinotoco finoviolino.(CAPARELLI, 1989, p.57)

O humor no jogo das idéias surge da brincadeira com as idéias e conceitos; é a

criação de poemas que parodiam ditados populares, provérbios, anúncios, ou outros

textos, onde a graça surge da subversão das expectativas da confusão dos sentidos já

estabelecidos.

Anúncio de Zoornal I

Troca-se galho d`árvorenovo em folha, vista pra matapor um cacho de bananada terra, nanica ou prata.(CAPARELLI, 1988, p.11)

O humor na reinvenção do cotidiano é explorado através das situações mais

simples e banais que a criança encontra em seu dia-a dia; situações de espanto,

invenção, elementos que são muito próprios ao universo infantil. Freqüentemente o

poeta procura enxergar uma situação na qual a criança se encontraria, diferente de voltar

a ser criança.

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O Ar (O Vento)

Estou vivo mas nã tenho corpoPor isso é que eu não tenho formaPeso eu também não tenhoNão tenho cor.

Quando sou fraco, me chamo brisae se assovio, isso é comum.Quando sou forte, me chamo vento,Quando sou cheiro, me chamo pum!.(MORAES, 1991, p.30 )

Utilizar esse jogo de humor parece ser inofensivo, inocente e é realmente uma

das armas do recurso conforme Leo Cunha; é justamente apresentar, por trás da

despretensão e da irreverência, uma visão crítica, um olhar de estranhamento, uma nova

forma de pensar o mundo e revelar seus absurdos, suas contradições, suas injustiças.

Esse jogo, em vários momentos da história, foi combatido pela Igreja, por poderosos de

plantão, que achavam o recurso perigoso, subversivo, irresponsável, indesejável. O

autor ressalta que o humor que não é claramente crítico tem sua importância e seu valor,

pois ele é “capaz de despertar no leitor o gosto pelas palavras, o prazer de lidar de forma

lúdica com os sons, ritmos, e as formas das letras e palavras”. (apud OLIVEIRA, 2005,

p.88)

Ao se tratar de poesia destinada à crianças pequenas e também aos bebês,

recursos como este são indispensáveis, uma vez que, a leitura será realizada por um

adulto, o qual utilizará toda uma entonação de voz diferenciada, uma dramatização, para

que o texto seja atrativo para o público. Para os bebês, o texto precisa interagir de outra

forma, diferente do texto para as crianças já alfabetizadas, cujo conteúdo já entedem, os

bebês não têm tanta bagagem e necessitam ser estimulados com outros efeitos.

Na obra Territórios da leitura (2006), Zila escreve que “Poesia é a voz de fazer

nascimentos”, a autora trata o ganho do leitor no contato com a literatura, sem

especificar se esta confirmou as expectativas ou se abalou convicções. “Fica

invariavelmente um saldo do conhecimento acerca de si mesmo e do mundo, uma

perspectiva inusitada ou uma forma diferente de ele se autoconceber e de interagir com

a realidade”. (RÊGO, 2006, p.210) Rêgo descreve o papel da leitura da poesia na

formação da subjetividade dos adolescentes através de uma pesquisa realizada com

adolescentes da periferia, onde carências de toda a ordem se acumulam. Portanto ler

para estes indivíduos torna-se uma maneira de resistirem e de se elaborarem, vencendo

certos determinismos que tendem a marcá-los. Confessa a autora que a pesquisa

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realizada enveredou por este caminho no intuito de descobrir o papel da leitura da

poesia na formação da subjetividade dos adolescentes, numa época complicada cujo ato

de ler é cada vez mais raro entre este público.

A formação do jovem e do seu mundo é fruto de um processo de

autoconhecimento, que envolve apreensão de fatos exteriores, tomada de

posicionamento, é uma busca incessante e infinita para todo ser humano. Durante o

período da adolescência, relata Rêgo, que a leitura da literatura e, em especial do texto

poético, pode ser a construção de um caminho aberto para o convertimento, uma grande

chance no processo de autoconhecimento e de buscas para a formação de leitores como

meio de desenvolvimento dos indivíduos, e da sociedade.

A pesquisa, realizada pela autora, no período de três meses, com alunos do

último ano do ensino fundamental, de uma escola da rede pública de Porto Alegre,

resultou em um trabalho interessante; não foram poucos os elementos dos textos

poéticos que, lidos no primeiro momento, mobilizaram os leitores. A partir dos dados

coletados foi constatado que os jovens partiram de uma descrição de si mesmos, acerca

das características, comportamentos, estado de ânimo e hábitos. Em alguns casos, foram

confirmadas características e sentimentos, em outros, surpreenderam-se diante do que

descobriram.

A constituição do mundo interior do sujeito é fruto de um processo de conscientização de si mesmo, da sua contingência pessoal, assim como dos circunstanciais que o cercam. Ele envolve um movimento de autoconhecimento, ou de apreensão de fatos exteriores e de tomada de posicionamento frente a esses. (RÊGO, 2006, p. 210-211)

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3 POESIA INFANTIL X POESIA ADULTA

A poesia infantil se distingue da poesia para adultos justamente por sustentar no

seu discurso poético o jogo com as palavras seja nas brincadeiras rimadas, na invenção

de adivinhas ou em cantigas ritmadas que dão vazão à vitalidade típica do ser humano

em início de jornada.

Gaston Bachelard discute essas experiências vivenciadas por ele quando criança,

de sair do texto e de se encontrar num mundo que é só dela, de que ninguém mais pode

viver aquilo, como necessidade do leitor encontrar “um não-eu que permite viver minha

confiança de estar no mundo”. Essa experiência única é perdida na fase adulta, não por

completa, mas a frieza e o amadurecimento nos fazem fazer parte de um mundo onde

não é mais permitido o devaneio. Reviver a infância e se deixar levar ao devaneio

poderão oportunizar a compreensão de muitas coisas em nossas vidas, porque é na

infância aonde desencadeia tudo o que seremos como adultos. Mas somos cobrados para

viver o real, aquele que não o vive é julgado pela sociedade, como se viver a

imaginação fosse errado.

“Há devaneios de infância que surgem como o brilho de um fogo. O poeta

reencontra a infância contando-a com um verbo de fogo.

Verbo em fogo. Direi o que foi minha infância.

Desaninhávamos a lua rubra no fundo dos bosques”.

(apud BACHELARD, 1996, p. 94)

Para as crianças a lua pode de ser encontrada em meio à floresta, assim como,

quando criança acreditamos em Papai Noel e Coelho da Páscoa. Portanto, há muitas

diferenças se comparadas, a produção adulta com a infantil, uma vez que na sociedade

adulta o foco é outro, ou seja, a realidade é outra, não que o adulto não seja capaz de

imaginar “coisas” como as crianças, mas na infância algumas características e aspectos

acompanham as crianças, nos quais na fase adulta deixam de existir.

Maria da Glória Bordini (1986) escreve que, quando a poesia se destina à

criança, possui um traço que a diferencia da poesia para adultos e que está presente no

“tecido melódico”, no aspecto fônico composto por aliterações e assonâncias, anáforas e

rimas, estribilhos, recursos onomatopáicos, acentos e metros variados. Portanto, toda

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essa bagagem cultural vem sendo cultivada pelo povo para tranqüilizar e entreter

crianças fazê-las dormir ou transmitir o afeto dos pais. Trata-se do acervo folclórico

trazido pelas gerações passadas que compreendem os brincos, os acalantos, os

travalínguas, as canções de roda, as parlendas, as adivinhas. Todas essas categorias

apresentam grande valor à literatura, permitindo o autoconhecimento e o estreitamento

das relações pais-filhos ou criança-criança; e a despreocupação com o sentido é o que

abre as portas para o mundo da linguagem, das descobertas, das fortes emoções, e faz

com que a criança cresça e compreenda o seu mundo, tornando-a independente dos pais,

fortalecendo-a para no futuro viver fora do ninho da família.

A poesia para crianças que não atende ao problema da representação imaginária, através dos deslocamentos dos sentidos verbais, priva seu leitor desse efeito estético por excelência e, por conseguinte, de uma modalidade de conhecimento mais significativa para ele – porque menos abstrata – que a puramente reflexiva. (BORDINI, 1986, p.31)

Nos textos para os bebês, o esquema rítmico é mais sincopado e simples, para

crianças já alfabetizadas também há presença do ritmo, mas como já sabem ler,

apresentam o esquema rítmico e outros aspectos como o encantatório, devido à

repetição de padrões ou à dinâmica das palavras utilizadas. A poesia infantil ressalta a

palavra através das combinações no verso e na estrofe. Predominam as frases em ordem

direta, acomodando inversões por conseqüência do ritmo ou da rima. Salienta-se o

emprego figurado da palavra através das metáforas e metonímias nas adivinhas. Essas

características são responsáveis pela adaptação e acomodação dos meios expressivos de

compreensão da criança, que se modificam em diferentes fases da infância.

Referente à estrofe, predomina a quadra seguida de estrofe longa que

normalmente é única, facilitando a memorização. A poesia infantil ao mesmo tempo em

que se compromete com o público, pela adequação vocabular e efeitos poéticos, deixa

de lado algumas regras e padrões característicos do gênero, uma vez que se desapega da

formalidade.

A poesia adulta desata o existente e o reata de outra forma para o prazer e a reflexão. A infantil está a caminho dessa mesma insanidade desaquietadora e risonha que abre espaço para o novo e para os novos, num mundo que resiste a eles o quanto pode. (BORDINI, 1986, p.67)

Dentre os poetas brasileiros que escrevem ou já escreveram poesia para o

público infantil é necessário citar, na virada do século, Olavo Bilac e sua poesia cívico-

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ufanista; a partir do Modernismo, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Vinícius de

Moraes e Mario Quintana, na década de 70 em diante, Beré Lucas, Sidônio Muralha,

Odylo Costa Filho, Elias José, Sérgio Capareli, Elza Beatriz, José Eduardo Degrazia e

Maria Dinorah, todos exploram, ou já exploraram, ajustando suas potencialidades para

servir um texto estético adequado para o público infantil. Esta geração mais recente de

escritores discute com temas do cotidiano infantil através da adoção por parte do autor,

da idéia compartilhada com os pequenos leitores, daquilo que não é convencional.

Maria Dinorah exemplifica, nos seus textos, a atitude infantil a partir de uma

circunstância do seu cotidiano. Qual criança que nunca caiu levou um tombo?

Impossível, ainda mais, se pensarmos na fase em que estão aprendendo a andar de

bicicletas, sem a ajuda das rodinhas. O tombo é uma circunstância comum na vida dos

pequenos que até provoca o riso no momento. Como podemos ler no texto Henrique ri

que se rola.

Tombo

A rua ride meu tombo.

Henriqueri que se rola.

João se rola de rir.

Levantomeio sem jeitoe rioriso sem graça,

enquantode tanto risose sacode toda a praça!.(apud BORDINI, 1986, p.58)

Beré Lucas apresenta os conteúdos existenciais infantis sob o ângulo do sujeito

representado.

Bang-Bang

chapéu de papelcavalo de pau

esporas tilintamolhar muito mau

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passos segurosartista total

gesto ligeiromomento fatalarma que cospefogo infernal

corpo que tombabandido banal.(apud BORDINI, 1986, p.58-59)

Elias José utiliza-se da relação infância e natureza, onde a figura do animal

assume a postura rebelde e nada convencional.

Grilo Grilado

O grilocoitadoanda griladoe eu seio que há.

Salta pra aqui,salta pra li.Cri-cri pra cá,cri-cri pra lá.

O grilo coitadoanda griladoe não quer contar.

No fundonão ilude, é só repararem sua atitudeara se desconfiar.

O grilocoitadoanda griladoe quer um analistae quer um doutor.

Seu grilo,eu sei:o seu griloé um grilode amor.(apud BORDINI, 1986, p.59-60)

Sidônio Muralha recupera e retrabalha com as formas populares consagradas

pela criança, marcadas pela sonoridade, dando ênfase às representações.

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Historieta

Era uma vezuma cabrinhamontêsque tinhatinhaum rabinhocurtinhoe quando saltavao rabinho abanavae giravagiravao rabinhocurtinho...

Por isso eu chamavachamava a cabrinhaa cabrinha montês.

- Rabinho, rabinhode ventoinha...

E a cabrinha gostavae o rabinho giravae toda gente chamavachamava a cabrinharabinho, rabinhode ventoinha.

Era uma vez,era uma vezuma cabrinhamontês.(apud BORDINI, 1986, p.59-61)

Na poesia de Cecília Meireles é nítido o lirismo, característico da autora e

também do período que foi escrito: anos 60. Há um arranjo de palavras, toda uma

construção que enfoca o belo. No último andar é mais bonito.

O Último Andar

No último andar é mais bonito:do último andar se vê o mar.É lá que eu quero morar

O último andar é muito longe:custa-se muito a chegar.Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteiraSobre o último andar.É lá que eu quero morar.

Quando faz lua, no terraçofica todo o luar.

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É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem,para ninguém os maltratar:no último andar.

De lá avista o mundo inteiro:tudo parece perto, no ar.É lá que eu quero morar:no último andar. (MEIRELES, 2002, p.35)

Ligia Cademartori (1986), em O que é literatura infantil, escreve que o texto

infantil tem como destinatário estipulado a criança. É escrito para criança e lido pela

criança, mas, conforme apresenta a autora, é escrito, empresariado, divulgado e

comprado pelo adulto, ou seja, “todas as diferenças, tensões e intenções da relação

adulto/criança manifestam-se, também na literatura infantil”. (CADEMARTORI, 1986,

p.21)

A partir dessa reflexão da autora pode-se afirmar que a literatura infantil

compõe-se não só de elementos de formação conceitual, mas também de emancipação,

de experiência, de independência dentro da sociedade.

Se a dependência infantil e a ausência de um padrão inato de comportamento são questões que se interpenetram, configurando a posição da criança na relação com o adulto, a literatura surge como um meio de superação da dependência e da carência por possibilitar a reformulação de conceitos e a autonomia do pensamento. (CADEMARTORI, 1986, p.23)

Regina Zilberman (1994), em A literatura infantil na escola, afirma que a

produção de uma teoria da literatura infantil deve evitar a circunscrição à ótica adulta,

uma vez que são as crianças os destinatários e são elas que dão nome ao gênero, que é

tão somente o beneficiário e o objeto de manipulação.

A autora apresenta duas dificuldades a partir do destinatário. A primeira é a

transitoriedade do leitor que abrange tudo aquilo que é produzido para pessoas de até 12

anos mais ou menos, que quer dizer que a literatura precisa se modificar de acordo com

a evolução da criança até perdê-la definitivamente. Esse fenômeno é automático por

parte do leitor que vai se distanciando do produto a ele oferecido à medida que esse não

o agrada mais. A condição passageira do leitor é aceita pela literatura que precisa

adequar-se às diversidades de interesses de produção e recepção, além de estar

atualizado diante das mudanças da arte literária como um todo.

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A segunda dificuldade diz respeito à unidirecionalidade, uma vez que é

produzida apenas do adulto para a criança, e não o contrário. É esse fator que determina

a preocupação com os ensinamentos de normas e hábitos de leitura e reproduz o conflito

etário de tipo social: a oposição adulto x criança; opressor x oprimido; produtor x

consumidor que resulta no abandono da adolescência, pois não há mais absorção da

literatura infantil.

É sob esses aspectos que a literatura destinada ao público infantil acaba sendo

uma espécie de traição, uma vez que trabalha com sentimentos e prazer dos leitores,

direcionados a uma realidade que, por melhor e mais adequada que seja, não foram

escolhidas por eles.

Por isso, o valor literário tão-somente emergirá da renúncia ao normativo, o que implica o abandono do ponto de vista adulto, a ampliação do horizonte temático de representação e a incorporação de uma linguagem renovadora, atenta ao discurso da vanguarda, às modalidades da paródia, enfim, acompanhando a evolução da arte literária, que se dá sempre como ruptura e não como obediência. (ZILBERMAN, 1994, p.40)

Examinando o universo infantil nota-se que sua ligação original com o mundo se

dá por intermédio da audição e da recepção de imagens visuais, e das relações

interpessoais discutidas por Maria Carmen Barbosa (2000, p.02): o olhar, o abraço, o

ritmo corporal, o balanço corporal, o movimento, o brincar e o jogar, a linguagem. O

primeiro contato do bebê com o ambiente escolar deve ser um momento prazeroso, já

que separar-se tão pequeno de sua mãe lhe causou um estranhamento. Assim deve ser o

primeiro contato com o texto escrito, que normalmente se dá por intermédio da escola,

ou creche, que possibilita à criança o acesso a outras modalidades culturais de modo

independente, libertando-a aos poucos do adulto que até então era a voz única de

transmissão do conhecimento. Daí em diante, o livro infantil atua como propulsor de

uma postura inquiridora e inconformada com os padrões imputados.

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4 POESIA NA ESCOLA

No capítulo 2 O que é poesia levantou-se brevemente a discussão de que o bebê

antes mesmo de nascer, por volta da 20ª semana de gestação já é capaz de escutar sons

do mundo que ainda não é o seu. A autora Gloria Pondé (1982, p.118) complementa

essa afirmação no texto Poesia e Folclore para criança, aonde afirma que o gosto pela

poesia acompanha “o homem desde o berço, na mais tenra infância”. O gosto pela

poesia pode seguir duas direções, através do folclore, ou pelas formas mais tradicionais.

A partir dessas duas vertentes, diversos estilos poéticos poderão surgir, tudo dependerá

da liberdade de criação em que o bebê estiver inserido. Para autora, “a poesia seria um

dos meios da criança escapar do domínio adulto, centrado na razão, e na linearidade,

para atingir os outros processos de leitura do mundo”. Ou seja, a poesia neste sentido

sendo uma das formas de experimentar outras realidades.

Lígia Morrone Averbuck (1993, p.64), em Poesia e Infância inicia o texto

fazendo-se as seguintes perguntas: “Existirá uma poesia para as crianças? O trabalho

escolar pode criar o gosto pela poesia? Que relações existem entre as histórias infantis,

os poemas e as crianças?”. Com certeza essas perguntas afloram não só para a autora,

mas para todos os professores que exploram a poesia em sala de aula, em diferentes

faixas etárias. E na maioria das vezes, por mais que se faça a reflexão acerca do assunto,

a poesia acaba sendo “apresentada” para a criança de forma não “adequada”. A autora

contribui, afirmando que deveria ser na escola o ambiente da “inventividade”, mas que

ao contrário, é o onde se anulam as possibilidades de criação e inovação, onde a

“imaginação” das crianças vem sendo sufocada. Para autora, a escola, além da

sociedade, também participa desse sufocamento, ao invés de estimular a criança desde a

pré-escola, o que seria o seu papel. A poesia perde espaço para as áreas, ditas “sérias do

conhecimento”, e ao longo da caminhada escolar a tendência é diminuir, cada vez mais,

até banir com a possibilidade de viver a poesia. O professor que ocupa seu tempo,

explorando a poesia em sala de aula é cobrado por não estar “passando conteúdo” aos

seus alunos. Deveria de saber ele, que o tempo gasto com a poesia, com a arte, contribui

para o desenvolvimento da personalidade humana. Talvez se gastássemos mais nosso

tempo, lendo poesias para nossos bebês, estes chegariam ao Ensino Fundamental com

uma visão de mundo melhor.

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“Não se trata, portanto, de que a escola assuma a responsabilidade de “fazer

poetas”, mas desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade para sentir a

poesia, apreciar o texto literário, sensibilizar-se para a comunicação através

do poético e usufruir da poesia como uma forma de comunicação com o

mundo”. (AVERBUCK, 1993, p. 67)

Nelly Novaes Coelho (1997) afirma, na obra Literatura infantil, que a poesia é

essencial para o encontro do homem consigo mesmo e com os outros e que, para as

crianças, torna-se uma importante oportunidade para vivenciar o gênero, sendo um

ótimo instrumento didático, se utilizado por alguém preparado para extrair desse

instrumento suas riquezas. Conforme a autora, desde a pré-escola os textos poéticos

podem ser vivenciados e discutidos em sala de aula, porque são excelentes meios para a

educação sensorial da criança, da sensibilidade e da capacidade de pensar, de ouvir, de

falar e de escrever. Coelho diz que é válido insistir no fato de que a poesia para os

pequenos leitores vai além das rimas e ritmos e que deve nascer de um olhar inaugural.

“Poesia é arte: é beleza descoberta em algo; é um sentido especial que o mundo adquire

de repente; é uma forma peculiar de atenção que, com simplicidade e verdade, vai até a

raiz das coisas para revelá-las de uma nova maneira”. (COELHO, 1997, p.228)

A poesia culta é um gênero de difícil agrado dos leitores em geral, e não é um

gênero textual valorizado, procurado pela maioria dos leitores se comparado a qualquer

outro texto. Aqueles que procuram o gênero poético são porque realmente gostam; por

ser um texto que se caracteriza pela expressão da subjetividade, a poesia acaba por

afastar o leitor que não está interessado em interpretar, ou fazer a leitura intertextual.

Daí a importância dos brinquedos de roda, das cirandas que, através de brincadeiras,

estimulam a sensibilidade dos pequenos.

“... conclui-se que a poesia para crianças deve atuar, basicamente, sobre os seus sentidos e emoções. Os poemas que se expressarem por fórmulas verbais/sonoras, repetitivas ou reiterativas (refrões, aliterações, paralelismos, rimas finais ou internas, etc.) são os que mais diretamente as trairão. Os significados transmitidos, em geral, vêm em segundo lugar”. (COELHO, 1997, p. 201)

A poesia infantil brasileira nascida em fins do século XIX e nos primeiros anos

do nosso século surge aliada com a tarefa educativa da escola, formar no aluno o futuro

cidadão e o indivíduo de bons sentimentos. Comum até os anos 30/40, a memorização

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de poemas que eram impostos aos alunos pelos professores, ridicularizavam as crianças

nas aulas de leitura, ou, em datas festivas. Hoje, sabe-se que a poesia é um texto

expressivo e que necessita ser visto sob outro ponto de vista, sob o olhar pessoal de

quem está lendo e que não deve ser imposto à criança.

Coelho afirma que ainda costuma aparecer, nas produções mais recentes, alguns

clichês poéticos na poesia da natureza, forma descritiva criada pelo Romantismo, para

expressar as relações essenciais existentes entre o homem e a natureza. Esse esquema

estereotipado que mascara a poeticidade está marcado nos poemas que reforçam a

educação das aparências e da necessidade de prêmios de boas ações que hoje não são

mais apoiados.

Além dos clichês na poesia da natureza e nos poemas de regras de educação,

existem ainda aqueles que visam divertir, ou emocionar o leitor infantil, utilizando uma

linguagem infantilizada com o intuito de contribuir na comunicação. O correto não é

recusar toda e qualquer poesia tradicional, porque nem sempre os esquemas repetitivos

são negativos. Existem alguns textos poéticos do passado que permeiam o ludismo,

permanecendo vivos para os leitores de hoje. A autora adverte que a literatura não se

restringe somente ao poema; pode aparecer em diversas linguagens poéticas ou

literárias; através dos poemas, da Literatura Infantil, das histórias, dos mitos, das lendas,

dos contos, do teatro, das fábulas, dos textos criados pela imaginação.

Ligia Cademartori (1986) comenta sobre a importância da literatura nos

primeiros anos, vinculada à questão escolar, que desempenha um papel no

desenvolvimento lingüístico e intelectual do homem. “A leitura de textos poéticos à

criança em fase de alfabetização, não só aproxima ao livro como fonte de conhecimento

e prazer, como exerce papel importante na formação da expressão verbal.”

(CADEMARTORI, 1986, p.71)

Tanto a poesia, quanto à narrativa, afirma a autora, oferecem aos pequenos

leitores, em fase de alfabetização, a chance de experimentar, de descobrir novos efeitos

de sentidos e possibilidades de conhecer o mundo, tendo como suporte o livro. Esse

primeiro contato com a literatura não exige que a criança já esteja alfabetizada, pois ela

traz consigo uma bagagem infantil de narrativas orais, clássicas e populares, versos e

travalínguas, adivinhas, entre outras manifestações folclóricas, ricas em ludismo sonoro

e semântico que não podem ser desconsiderados, ou considerados fúteis, porque pode

resultar em um choque no desenvolvimento lingüístico, pois no momento em que a

criança leva para a sala de aula tudo aquilo que aprendeu fora da escola, ela está

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compartilhando o seu conhecimento. Quando essa bagagem não é valorizada, a criança

acha que tudo aquilo que ela aprendeu está errado, o que pode prejudicar no seu

desenvolvimento escolar.

A bagagem discutida anteriormente refere-se às cantigas de ninar, cantigas de

roda, parlendas, rimas, ditos instrutivos do tipo Palminhas de Guiné, Dedo Mindinho,

recurso cultural escasso no sistema de ensino da língua por deixar de trabalhar essas

questões. Primeiramente quando as crianças freqüentavam a escola, aprendiam canções,

brincavam com objetos como pé-de-lata, vai-e-vem, brincavam de pique-esconde, pega-

pega. Hoje essas brincadeiras foram substituídas por bonecos superpoderosos,

minigames, cartinhas, computadores, não criticando os brinquedos atuais e sim,

trazendo as outras possibilidades de bincadeiras, cada uma no seu tempo na história. O

importante para a criança é também experimentar as outras possibilidades do brincar,

não é porque ela faz parte da atual realidade que vivemos, que ela não possa brincar

também, de bincadeiras e brinquedos que seus pais brincavam.

A alfabetização de crianças, nas escolas de primeiro grau, geralmente inicia a relação da criança com a língua escrita por via de um descentramento, ou seja, à criança são apresentadas palavras que pouco ou nada têm a ver com suas vivências e necessidades de expressão. (CADEMARTORI, 1986, p.85)

Para Ligia Cademartori (1986), a postura da escola hoje veicula a alienação do

sujeito falante no processo ensino-aprendizagem que resulta no descentramento da

criança na aprendizagem da língua.

Regina Zilberman (1994) afirma que a escola tem papel duplo: introduzir a

criança na vida adulta e, ao mesmo tempo, protegê-la dos perigos do mundo exterior,

tarefa difícil que abrange o mais alto nível de responsabilidade para a escola. A

literatura, por sua vez, é outro instrumento utilizado para a multiplicação das normas da

sociedade. Pode até substituir o adulto, até com mais eficiência, quando o leitor está

fora do ambiente escolar, ou, quando se encontra desligado das ordens dos mais velhos.

Segundo a autora, a obra literária ainda pode representar o mundo adulto, através do

narrador, situação comum, principalmente quando a produção literária é destinada aos

meninos, comprovado pela falta de inocência do gênero, que pode resultar em um

problema se o livro for apresentado somente na escola, pois na intuição de passar aos

meninos a imagem que a sociedade quer que assumam, cria indivíduos modelos, de

certa forma manipulados por aquilo que lhes foi imposto.

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Além disso, a escola e a literatura podem provar sua importância quando se

tornarem, para a criança, espaço para pensar e discutir sobre sua condição pessoal, pois

ambas dividem um aspecto em comum: a missão de formar o indivíduo. A literatura por

meio da ficção apresenta uma realidade que vai ao encontro do cotidiano do leitor,

resultando na comunicação texto-destinatário. A escola tem a função de resumir,

enxugar, transformar as diversas disciplinas em realidade, inserindo-as na sociedade e

apresentando-as ao estudante.

A questão da seleção de textos depende do professor, no entanto, é indispensável

que essa relação se guie pelo verdadeiro valor da qualidade estética, pois se trata de arte

literária; sem menosprezar os pequenos, os textos devem ter a mesma qualidade

daqueles destinados aos adultos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tratar de crianças pequenas e também de bebês, nos faz voltar a nossa mais

remota infância e afirmar que, agora com postura de profissional da educação, tudo o

que nela vivenciamos reflete hoje em nossas atitudes, em nossas opiniões, na forma com

a qual nos comunicamos com o mundo, e com os outros. E esta reflexão da infância que

vivenciamos, permite que olhemos o ambiente escolar que estamos oferecendo às

nossas crianças, de outra forma. Será justo oferecer às crianças, que depositam toda a

sua confiança no educador, um ambiente, onde só o cuidar basta? Devemos nos

posicionar frente a esses pequenos e pensar que, para eles, somos como a âncora de um

navio, que precisa de apoio, pois ali, naquele momento, não tem pai e nem mãe, apenas

os profissionais, e que o pequeno ser irá se guiar por eles.

A partir do estudo entendeu-se que a poesia é fundamental para o

desenvolvimento da criança, em especial, ao bebê. Ela possibilita, através do brincar, do

escutar, do linguajar, do criar, a experiência única de comunicação com o mundo.

Através do ambiente escolar passamos a proporcionar às nossas crianças uma infância

rica, diversificada, capaz de oferecer experiências lúdicas e de múltiplas linguagens, o

que favorece na construção do modo de ver o mundo e a vida.

Falar de poesia infantil é falar de cultura, de folclore, de imaginário, de contos e

de criança. Ativam-se as lembranças mais profundas de uma infância que passou, mas

que se faz presente no nosso dia-a-dia ao entrar-se em contato com as o texto poético e

com o ambiente que nos cerca. A poesia, como define Massaud Moisés, “é a expressão

do ‘eu’ por meio de metáforas”. Uma obra de arte literária é um objeto intencional que

provoca determinados efeitos em seus leitores. Tal fato mostra-se como um aspecto

relevante do objeto cultural livro destinado à criança. Todos os aspectos que a

compõem, apresentados por Maria da Glória Bordini como a musicalidade, as rimas, as

assonâncias e aliterações, o jogo de palavras e as brincadeiras propostas pelo texto,

‘convidam’ o leitor para uma viagem no mundo da imaginação. Além de saciar o

mundo imaginário da criança, a poesia possibilita, devido às suas características, o

entendimento do mundo real, que é tão complicado para a cabeça dos pequenos.

As marcas da oralidade são apresentadas através da retomada de estruturas

sonoras como o travalínguas, as adivinhas, cuja ênfase recai na sonoridade. O discurso

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direto, mais concreto e, portanto, mais facilmente percebido do que o indireto

predomina. O tom coloquial também se evidencia através do arranjo de palavras e da

infração das regras gramaticais. A existência do neologismo denota a liberdade, visto

que surge a invenção de um termo para dar conta da situação em que o falante não

encontra ou não conhece uma palavra que contemple com precisão tal fato.

O livro de poesia infantil pode ser considerado um brinquedo se comparados os

aspectos lúdicos apresentados nos diferentes veículos, tanto pela interação entre

ilustração e palavras, como pelos recursos sonoros e pela combinação lexical e sintática.

O divertimento pela estrutura está presente nos textos infantis, já que eles tentam

recuperá-lo por tratar-se de uma estratégia apreciada pela criança.

Acredita-se que a poesia se trabalhada sob o viés do mundo infantil, permite ao

pequeno leitor plena interação com a obra. Já que nela estão presentes os mais variados

aspectos lúdicos, seja no jogo com as palavras, nas rimas, na repetição dos sons, nas

assonâncias e nas aliterações que contribuem para com a imaginação do jovem leitor.

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