poesia infantil brasileira

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DORME RUAZINHA… É TUDO ESCURO!… Mário Quintana Dorme ruazinha… É tudo escuro… E os meus passos, quem é que pode ouvi-los? Dorme teu sono sossegado e puro, Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos… Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro… Nem guardas para acaso perseguí-los… Na noite alta, como sobre um muro, As estrelinhas cantam como grilos… O vento está dormindo na calçada, O vento enovelou-se como um cão… Dorme, ruazinha… Não há nada… Só os meus passos… Mas tão leves são, Que até parecem, pela madrugada, Os da minha futura assombração… PÉ DE PILÃO O pato ganhou sapato, Foi logo tirar retrato. O macaco retratista Era mesmo um grande artista. Disse ao pato: “Não se mexa Para depois não ter queixa”. E o pato, duro e sem graça Como se fosse de massa! “Olhe prá cá direitinho: Vai sair um passarinho”. O passarinho saiu, Bicho assim nunca se viu. Com três penas no topete E no rabo apenas sete. E como enfeite ele tinha Um guizo em cada peninha. Fazia tanto barulho Que o pato sentiu engulho. Pousou no bico do pato:

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coletânea de poemas

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Page 1: Poesia Infantil Brasileira

DORME RUAZINHA… É TUDO ESCURO!… Mário Quintana  Dorme ruazinha…  É tudo escuro…E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?Dorme teu sono sossegado e puro,Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…Dorme…  Não há ladrões, eu te asseguro…Nem guardas para acaso perseguí-los…Na noite alta, como sobre um muro,As estrelinhas cantam como grilos… O vento está dormindo na calçada,O vento enovelou-se como um cão…Dorme, ruazinha…  Não há nada… Só os meus passos…  Mas tão leves são,Que até parecem, pela madrugada,Os da minha futura assombração… 

PÉ DE PILÃO

O pato ganhou sapato,Foi logo tirar retrato.

O macaco retratistaEra mesmo um grande artista.

Disse ao pato: “Não se mexaPara depois não ter queixa”.

E o pato, duro e sem graçaComo se fosse de massa!

“Olhe prá cá direitinho:Vai sair um passarinho”.

O passarinho saiu,Bicho assim nunca se viu.

Com três penas no topeteE no rabo apenas sete.

E como enfeite ele tinha

Um guizo em cada peninha.

Fazia tanto barulhoQue o pato sentiu engulho.

Pousou no bico do pato:- Eu também quero retrato!

- No retrato saio eu só,Prá mandar a minha vó!

A discussão não paravaE cada qual mais gritava.

Passa na rua um polícia.“Uma briga? Que delícia!”

O polícia era um cavaloMontado noutro cavalo.

Entra como um pé de ventoPrende tudo num momento.

Page 2: Poesia Infantil Brasileira

“Hão de ficar vida e meiaDescansando na cadeia”.

“Ah! Ah! Ah!...” ri ele assim.E o cavalo: “him! him! him!...”

A avó do pato é uma fadaQue ficou enfeitiçada.

Nunca, nunca envelhecia,Era loira como o dia.

Ai, que linda que era ela!E agora seca e amarela.

Parece passa de gente,Não tem cabelo nem dente.

Vou num instante contarComo pôde assim mudar.

Lá na Floresta EncantadaMora a Fada Mascarada.

Ninguém direito a conhece,Pois sempre outra parece.

Conforme lhe dá no gosto,Cada dia usa um rosto.

É que é feia, feia, feia...Como ninguém faz idéia!

Quando no espelho se olhava,O espelho logo rachava.

Se olhava um rio, - ora essa!Corria o rio mais depressa!

E não sei se já lhe disseQue a vó do pato era Alice.

Ora, um dia, Alice vinha

Pela floresta sozinha.

Vendo-a, a Fada MascaradaVoa à casa da coitada.

O pato, naqueles diasEra menino, o Matias.

“Olha, menino, o que eu trouxe!”E lhe mostra um lindo doce.

Ele, guloso e contenteFinca o dente no presente.

Vai falar. Mas que é que há?Só pode dizer quá... quá...

Pois o menino tão beloVirou patinho amarelo.

Chega a avó. E vejam só:A Fada lhe atira um pó.

Nem havia o pó sentado,Estava tudo mudado.

Num segundo a pobre AliceToda encolheu de velhice.

Mal pode andar. Chama entãoSeu neto do coração.

Vem um patinho: quá? quá?Nenhum compreende o que há.

E pela floresta escuraVão um do outro à procura.

E tanto andou o patinhoQue perdeu o seu caminho.

Vai seguindo, estrada fora,Até o romper da aurora.

Page 3: Poesia Infantil Brasileira

Chega à cidade. Há um regato.Que alegria para um pato!

Matias põe-se a nadarSem mais nada recordar.

Passa um grupo de meninas.É cada qual mais traquinas.

- Um pato! – gritam em coro.- Que lindo patinho de ouro!

Rosa, a filha do Prefeito,Agarra-o com todo o jeito.

Comida e casa lhe dáDiz o patinho: quá, quá.

Rosa tem um professorChamado Dom Galaor.

Se o professor ergue o dedo,Rosinha treme de medo

E quer que o mundo se acabe,Pois a lição nunca sabe.

Enquanto o mestre falavaO pato, sério, escutava.

Tanto assim que já sabiaMuita história e geografia.

Porém, antes de mais nada,O seu forte era a taboada.

Num dia de sabatinaQue pena dava a menina!

Quanto é sete vezes nove?E rosinha nem se move.

Mas o pato, desta vez,Assopra: sessenta e três.

E ele mal acreditava:Nem sabia que falava!

No jardim à tardezinhaChega sempre uma andorinha.

Tem por nome MargaridaE passa a voar toda a vida.

Nada no mundo lhe escapa:É como se fosse um mapa.

A casa de dona Alice?Já vi do alto... ela disse.

Margarida! – exclama o pato- Leva-lhe, então, meu retrato.

“Sou eu mesmo!” Escrevo atrásE o resto lhe contarás.

Ora, o pato, finalmente,Era um bicho meio gente.

Queria tirar retrato,Mas ao menos de sapato.

Deu-lhe Rosa uns sapatinhosQue eram mesmo uns amorinhos

E lhe disse: “Tem cuidado,Pois são do meu batizado”.

E no que deu tal história,Tem-no vocês na memória.

Vejamos como eles sãoA caminho da prisão.

Nesta ordem, pela estrada,Vai seguindo a bicharada:

Bem atrás, o passarinho,

Page 4: Poesia Infantil Brasileira

Atado ao pé do vizinho,

Depois, Matias, unidoAo macaco desgranido

E este devidamentePreso ao cavalo da frente.

Quanto ao cavalo de cimaProcura no ar uma rima

(Pois compunha uma baladaPara a sua namorada).

Comida? Nem pra cheirarE é preciso andar, andar.

Muito além daquela serraFica a prisão que os aterra.

Para o polícia, isto sim,É que não falta capim.

A pança ronca faminta,O passarinho tilinta.

E segue a turma encordoada,Erguendo a poeira da estrada.

Mas algo acontece enfim,Só por causa do tlim-tlim.

E entra nova personagemPara dar gosto à vigem.

Uma cobra cascavelBicho enganoso e cruel

E que ante as outras faz gaboDe ter um guizo no rabo.

Essa cobra amaldiçoada,Em um galho encoscorada,

Quase que tomba do galhoOuvindo o som do chocalho.

“Que lindos guizos!” – diz elaE de inveja se amarela.

“Eu jamais conseguiriaTão bonita melodia...

Pelos dois chifres do Diabo!De meu rival vou dar cabo”.

E com perigo de vida,Segue a turma distraída...

E o repelente animalPrepara o bote mortal.

O macaco retratista,Que tem bom golpe de vista,

Vê a cobra e pensa: hum!Vou matar esse muçum...

Passa ao alcance do galho,Pega a cobra do chocalho.

Depois torce a desgraçada,Tal e qual roupa enxaguada.

E a cobra, de cabo a rabo,Entrega a alma ao Diabo.

E o macaco desgranidoTem uma idéia, o sabido...

Os dedos no bolso mete,Sai do bolso um canivete.

Corta o chocalho da cobraE no chão atira a sobra...

Também corta, com perícia,Ao cavalo do polícia,

Page 5: Poesia Infantil Brasileira

A corda que o liga aos dois,Prende-lhe o guizo depois.

Os cavalos vão seguindo,Vão seguindo e vão ouvindo,

Por artes de tal manobra,Os guizos da extinta cobra.

E continua o de cimaEm procura de outra rima:

“Olhar pra trás não preciso,Enquanto escuto esse guizo...”

Assim pensa o chichisbéu,Fazendo versos ao léu,

Enquanto os presos se vão,Vai rimando o paspalhão...

E nisto o céu escurece,Pois, como sempre, anoitece.

E eis que à beira da florestaHá uma capela modesta

Que aos passantes causa dóPor ter uma torre só:

É como uma vaca mochaOu uma pessoa coxa...

Por fé, ou outros motivos,Entram nela os fugitivos.

Que paz que sentem, enfim:Será que o Céu é assim?

No altar, Nossa SenhoraTem um ar tão bom agora,

Um ar tão bom e paciente

Que parece a mãe da gente.

Nos braços mostra o MeninoRechonchudo e pequenino.

O Menino tem na mãoUm chocalho sem função.

Como fizeram, também,O burro e o boi em Belém,

Os bichos eu ali chegaramHumildemente o adoraram

E, para a noite passar,Deitaram-se atrás do altar.

O passarinho, coitado...Que bicho mais assustado!

Basta zumbir um mosquito,Já ele desperta, aflito!

Agora mesmo acordou.Será que ouviu ou sonhou?

Vem um vulto de mansinho...Nem respira o passarinho!

É um vulto negro e embuçado,Negro e mal intencionado!

Vem roubar, o sacripanta,O manto da Virgem Santa,

O rico manto azulado,A ouro e prata bordado.

Vai o vulto pôr-lhe o dedo...E o passarinho – ai que medo!

Todo tilinta, tlim, tlim,Na tremedeira sem fim.

Page 6: Poesia Infantil Brasileira

O ladrão, em desatino,Pensa que é o Santo menino

Que o seu chocalho sacode,Vai fugindo como pode.

E o passarinho, feliz,Agita as asas e diz:

“No mundo não há bandidoQue possa com meu tinido!”

Como um herói, adormece...E nem nota o que acontece...

Uma velha... quem é ela?Vem entrando na capela.

Toda curvada e gemendo,Pra si mesma vai dizendo:

“Quem me dera ter na mãoMinha vara de condão!

Fui roubada e enfeitiçada,Já não posso fazer nada...

No estado em que estou agoraSó mesmo Nossa Senhora!

Sem feitiços nem varinhas,A Rainha das Rainhas

Com a graça celestialPõe fim a tudo que é mal.

E eu não quero ser mais fadaE não desejo mais nada

Senão achar meu netinho.Onde é que estás, pobrezinho?

E de cansaço adormeceE nem nota o que acontece...

* * *

Quando acorda – que alegria!Matias lhe dá bom dia.

É ele, outra vez menino,Com seu sorriso ladino!

E ela está em pleno viço,Como antes do feitiço!

Agora, já não é fada,Vive a bordar, sossegada.

E como qualquer senhora,É na cidade que mora.

Como todos, Dona AliceEspera, em calma, a velhice.

E usa o cabelo em bandoComo convém a uma vó.Vai Matias de sacola,Todos os dias pra escola.

E para que a nossa históriaNão ficasse relambória,

A Rosinha, envergonhadaDe sua vida passada,

Estuda como uma traçaE sem mais sofrer vexames

Passa sempre nos examesComo a luz pela vidraça

Page 7: Poesia Infantil Brasileira

Vinicius de Moraes

A Casa

Era uma casa

Muito engraçada

Não tinha teto

Não tinha nada

Ninguém podia

Entrar nela não

Porque na casa

Não tinha chão

Ninguém podia

Dormir na rede

Porque na casa

Não tinha parede

Ninguém podia

Fazer pipi

Porque penico

Não tinha ali

Mas era feita

Com muito esmero

Na Rua dos Bobos

Número Zero

********

 

Page 8: Poesia Infantil Brasileira

Relógio

“Passa tempo, tic-tac Tic-tac, passa, hora

Chega logo tic-tac Tic-tac, e vai-te embora

Passa, tempo

Bem depressa

Não atrasa

Não demora

Que já estou Muito cansado

Já perdi

Toda a alegria

De fazer

Meu tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

Tic-tac Tic-tac

Tic-tac.”

 

********

 

O Pingüim

Bom-dia, Pingüim

Onde vai assim

Com ar apressado?

Eu não sou malvado

Não fique assustado

Page 9: Poesia Infantil Brasileira

Com medo de mim.

Eu só gostaria

De dar um tapinha

No seu chapéu de jaca

Ou bem de levinho

Puxar o rabinho

Da sua casaca

 

********

 

O Elefantinho

Onde vais, elefantinho

Correndo pelo caminho

Assim tão desconsolado?

Andas perdido, bichinho

Espetaste o pé no espinho

Que sentes, pobre coitado?

— Estou com um medo danado

Encontrei um passarinho!

 

O Leão

Leão! Leão! Leão!

Rugindo como um trovão

Deu um pulo, e era uma vez

Um cabritinho montês.

Page 10: Poesia Infantil Brasileira

Leão! Leão! Leão!És o rei da criação!

Tua goela é uma fornalha

Teu salto, uma labareda

Tua garra, uma navalha

Cortando a presa na queda.

Leão longe, leão perto

Nas areias do deserto.

Leão alto, sobranceiro

Junto do despenhadeiro.

Leão na caça diurna

Saindo a correr da furna.

Leão! Leão! Leão!

Foi Deus que te fez ou não?

O salto do tigre é rápido

Como o raio; mas não há

Tigre no mundo que escape

Do salto que o Leão dá.

Não conheço quem defronte

O feroz rinoceronte.

Pois bem, se ele vê o Leão

Foge como um furacão.

Leão se esgueirando, à espera

Page 11: Poesia Infantil Brasileira

Da passagem de outra fera . . .

Vem o tigre; como um dardo

Cai-lhe em cima o leopardo

E enquanto brigam, tranqüilo

O leão fica olhando aquilo.

Quando se cansam, o Leão

Mata um com cada mão.

Leão! Leão! Leão!És o rei da criação!

 

******

O Peru

Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro Peru!

O Peru foi a passeio

Pensando que era pavão

Tico-tico riu-se tanto

Que morreu de congestão.

O Peru dança de roda

Numa roda de carvão

Quando acaba fica tonto

De quase cair no chão.

O Peru se viu um dia

Nas águas do ribeirão

Page 12: Poesia Infantil Brasileira

Foi-se olhando foi dizendo

Que beleza de pavão!

Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro Peru!

 

********

 

A Arca de Noé

Sete em cores, de repente

O arco-íris se desata

Na água límpida e contente

Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente

Da chuva de ouro e de prata

Resplandece resplendente

No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca

De par em par: surgem francas

A alegria e as barbas brancas

Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva

E que, por justo e temente

Jeová, clementemente

Salvou da praga da chuva.

Page 13: Poesia Infantil Brasileira

Tão verde se alteia a serra

Pelas planuras vizinhas

Que diz Noé: "Boa terra

Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família

A ver; enquanto, em bonança

Colorida maravilha

Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta

De repente, vacilante

Surge lenta, longa e incerta

Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco

De uma janela, aparece

Uma cara de macaco

Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas

Das janelinhas do sótão

Duas girafas amigas

De fora a cabeça botam.

Grita uma arara, e se escuta

De dentro um miado e um zurro

Page 14: Poesia Infantil Brasileira

Late um cachorro em disputa

Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada

Parece que vai ruir

Aos pulos da bicharada

Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?

As aves, por mais espertas

Saem voando ligeiro

Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo

Junto à porta de saída

Lutam os bichos de pelo

Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"

Ruge soberbo o leão

"Também sou filho de Deus!"

Um protesta; e o tigre — "Não!"

Afinal, e não sem custo

Em longa fila, aos casais

Uns com raiva, outros com susto

Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente

Page 15: Poesia Infantil Brasileira

Trazendo a cabeça erguida

E os fracos, humildemente

Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé

Ei-los em terra benquista

Que passam, passam até

Onde a vista não avista

Na serra o arco-íris se esvai . . .

E . . . desde que houve essa história

Quando o véu da noite cai

Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos

É doce ouvir na calada

A fala mansa dos bichos

Na terra repovoada.

 AS BORBOLETAS

BrancasAzuisAmarelasE pretasBrincamNa luzAs belas Borboletas

Borboletas brancasSão alegres e francas.

Borboletas azuisGostam de muita luz.

Page 16: Poesia Infantil Brasileira

As amarelinhasSão tão bonitinhas!

E as pretas, entãoOh, que escuridão!

 

CECILIA MEIRELES

O Cavalinho Branco

À tarde, o cavalinho brancoestá muito cansado:

mas há um pedacinho do campoonde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crinaloura e comprida

e nas verdes ervas atira sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízese ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livresseus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,de crina dourada!

Colar de Carolina

Com seu colar de coral,Carolina corre por entre as colunasda colina.

Page 17: Poesia Infantil Brasileira

O colar de Carolinacolore o colo de cal,torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cordo colar de Carolina, põe coroas de coral

nas colunas da colina.

Mapa de Anatomia: O Olho

O Olho é uma espécio de globo,é um pequeno planetacom pinturas do lado de fora.Muitas pinturas:azuis, verdes, amarelas.É um globobrilhante:parece cristal,é como um aquário com plantasfinamente desenhadas: algas, sargaços,miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,que não se vêem:umas são imagem do mundo,outras são invetadas.

O Olho é um teatro por dentro.E às vezes, sejam atores, sejam cenas,e às vezes, sejam imagem, sejam ausências,formam, no Olho, lágrimas.

Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim com flores?

borboletas de muitas cores,

lavadeiras e passarinhos,ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?

Page 18: Poesia Infantil Brasileira

Quem me compra um raiode sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,

uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?

E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a suacanção?

E o grilinho dentrodo chão?

(Este é meu leilão!)

O Menino Azul

O menino quer um burrinhopara passear.Um burrinho manso,que não corra nem pule,mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios, das montanhas, das flores,- de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinhoque saiba inventar histórias bonitascom pessoas e bichos e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundoque é como um jardim apenas mais largoe talvez mais compridoe que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses, 

Page 19: Poesia Infantil Brasileira

pode escreverpara a Ruas das Casas,Número das Portas,ao Menino Azul que não sabe ler.)

O Mosquito Escreve

O mosquito pernilongotrança as pernas, faz um M,depois, treme, treme, treme,faz um O bastante oblongo,faz um S.

O mosquito sobe e desce.Com artes que ninguém vê,faz um Q,faz um U, e faz um I.

Este mosquitoesquisitocruza as patas, faz um T.E aí, se arredonda e faz outro O,mais bonito.

Oh! Já não é analfabeto, esse inseto,pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar alguém que possa picar,pois escrever cansa, não é, criança?

E ele está com muita fome.

A Pombinha da Mata

Três meninos na mata ouviramuma pombinha gemer.

Page 20: Poesia Infantil Brasileira

"Eu acho que ela está com fome", disse o primeiro,"e não tem nada para comer."

Três meninos na mata ouviram uma pombinha carpir.

"Eu acho que ela ficou presa",disse o segundo,"e não sabe como fugir."

Três meninos na mata ouviramuma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com saudade",disse o terceiro,"e com certeza vai morrer."

Sonhos da Menina

A flor com que a menina sonhaestá no sonho?ou na fronha?

Sonho risonho:

O vento sozinhono seu carrinho.

De que tamanho seria o rebanho?

A vizinhaapanhaa sombrinha de teia de aranha...

Na lua há um ninhode passarinho.

A lua com que a menina sonhaé o linho do sonhoou a lua da fronha?