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Instabilidade política na América Latina do século XXI e o caso Honduras
Political instability in the XXI century Latin America and the Honduras case
Joana Dresch Ribeiro de Almeida1
RESUMO
O presidente de Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, ao longo do mandato
iniciado em 2006, formou alianças com países radicais do Grande Caribe como Venezuela e
Cuba, numa inesperada guinada à esquerda, adotando postura anti-imperialista e anti-
neoliberal. Em 2009, o país sofreu uma ruptura política de larga escala. A conjuntura
internacional conta com fatores de natureza geopolítica como a ascensão chinesa e as
rivalidades entre Rússia e Estados Unidos, com a ocupação espaços políticos pelas esquerdas
latino americanas nas últimas décadas e sua estratégia geopolítica, destacando-se Cuba e
Venezuela em seu espaço de inserção (o Grande Caribe). Por fim, a análise afunila para o
caso hondurenho. O objetivo é lançar olhar sobre o caso em questão analisando as rivalidades
e atritos existentes em seu contexto geopolítico interno e externo. A importância de observar
as tendências e rivalidades entre as principais potências (Rússia, China e Estados Unidos)
está na hipótese de que a nível regional emergem fatores que dialogam com essas rivalidades
e influenciam diretamente a realidade política do país centro-americano. Assim, a
instabilidade política hondurenha decorreria dos atritos entre as grandes potências globais e
entre a potência hegemônica regional e os atores que a desafiam neste cenário. Para tanto,
propõe-se uma análise de conjuntura que parte de uma concepção realista das Relações
Internacionais associada a uma reflexão geopolítica, que perpassa uma leitura de autores
como Spykman e Kaplan, a fim de inserir a crise de Honduras numa moldura sistêmica
maior. Em sentido temporal, optou-se por analisar os fatos ocorridos entre os anos de 2006 -
quando a Foreign Affairs reconhece um claro movimento de ascensão das esquerdas - e 2016.
Com isso, pretende-se explorar os fatores de ordem geopolítica que influenciam grandes
instabilidades políticas, especialmente na região do Grande Caribe, como colocado por
Spykman (1942).
Palavras-chave: Geopolítica; Honduras; Instabilidade Política
1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (PEPI-UFRJ)
ABSTRACT
The president of Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, during his time in office
starting in 2006, formed alliances with radical countries of the Great Caribbean, such as
Venezuela and Cuba, in an unexpected turn to the left, adopting an anti-imperialist and anti-
neoliberal stance. In 2009, the country suffered a large-scale political rupture. In the
international conjuncture there are elements of geopolitical nature such as China’s rise and
the rivalries between Russia and the United States, there’s also the occupation of political
spaces by the latin american lefts in the last decade and their geopolitical strategies, with
emphasis in Cuba and Venezuela in their specific area of insertion (the Great Caribbean).
Finally, the analysis works towards the Honduran case. The intent is to look at the case at
issue analysing the existing rivalries and frictions in its geopolitical context both internally
and externally. The importance of observing the tendencies and rivalries between the main
potencies (Russia, China and the US) lies in the hypothesis that in a regional level there’s the
emergency of factors that engage with these rivalries and directly influence the political
reality of the central american country. Hence, the Honduran political instability would derive
from the frictions between the great global potencies and between the regional hegemonic
potency and other defying actors in that scenario. For this purpose, this study offers a
conjunctural analysis stemming from a realist conception of the International Relations
associated with a reflexion of geopolitical nature, overarching the reading of authors like
Spykman and Kaplan, in order to insert the Honduran crisis in a larger systemic framework.
In terms of temporality, we opted for the analysis of facts that took place between 2006 -
when Foreign Affairs recognized a clear rise of the lefts - and 2016. By this, we mean to
explore the factors of geopolitical character that influence great political instabilities,
especially in the region of the Great Caribbean, as posed by Spykman (1942).
Keywords: Geopolitics; Honduras; Political Instability
1. Introdução
Nos anos 90, com a redemocratização dos países, a implementação do modelo liberal
ganhou força e os Estados Unidos estabeleceram-se como único hegemon. Chegou-se a
cogitar que seria o fim da história2 com o prevalecimento dos regimes democráticos liberais,
o que se provou falso na primeira década do século XXI.
A teoria da estabilidade hegemônica, formulada por Kindleberger em 1973, propunha
que o Sistema Mundial requer que um, e apenas um, ator hegemônico tome responsabilidade
por estabilizá-lo, fornecendo um conjunto de instituições que possam assegurar o “bem
público”. A ideia do Paradoxo do Hiperpoder de Fiori (2004) propõe que, na década de 1990,
os Estados Unidos mais praticaram a instabilidade do que promoveram a estabilidade.
Em consonância com a antiga linha estratégica da Doutrina Monroe, passou a ocorrer
a Doutrina Bush, que é um claro exemplo de como essa instabilidade é praticada. Várias das
iniciativas do governo Bush, a exemplo da instauração de exércitos mercenários na América
Latina com a justificativa de combater o tráfico de drogas, vão contra princípios liberais do
establishment estadunidense como a soberania nacional e autodeterminação dos povos, além
de acarretarem violações aos direitos humanos3.
Essa remontagem da Doutrina Monroe através da Doutrina Bush pode ser vista como
uma resposta à eleição de candidatos de esquerda no continente de 2006 a 2016. Ao total
foram 15, dentre os quais: Morales, Chávez, Lula, Dilma, Ortega, Lugo e Zelaya.
Com a chegada de Manuel Zelaya ao poder, Honduras passou por processos de
diminuição de desigualdades sociais, além de ter galgado, em certa medida, inserção
internacional através do estabelecimento de relações sul-sul ou alinhamento com potências
que conflitam com a hegemonia regional dos Estados Unidos.
Na esfera internacional, cabe ressaltar, a Rússia lidava com a expansão da OTAN para
o leste e a China, em 2012, vivenciou grande mudança nas diretrizes de sua política externa
quando Xi Jinping foi eleito presidente. Xi retoma a narrativa da gloriosa história do império
através do “sonho chinês”, que consistiria numa espécie de rejuvenescimento próspero do
país (MOURA, 2015).
2 Para maiores informações ver FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro:
Rocco, 1992. 3
http://www.bbc.com/mundo/noticias/2015/05/150507_colombia_violacion_menores_pornografia_militares_eeu
u_ng
Para lançar olhar sobre o caso específico de Honduras (2009), propõe-se analisar as
rivalidades e atritos existentes em contexto interno e externo e entre as principais potências
mundiais. É importante observar as tendências e rivalidades entre as principais potências
(Rússia, China e Estados Unidos) pois trabalha-se com a hipótese de que as instabilidades
políticas dessas potências geram uma disputa geopolítica que se estende para outras regiões
do mundo, como numa Segunda Guerra Fria.
O recorte temporal, entre os anos de 2006 e 2016 justifica-se pelo fato de que em
2006 a Foreign Affairs publicou uma matéria na qual ela reconhece um claro movimento de
ascensão das esquerdas4 e 2016, foi uma escolha arbitrária, no sentido de delimitar o escopo
da pesquisa.
A construção da pesquisa partiu de uma revisão bibliográfica focada na área da
produção acadêmica relevante para o enfoque geopolítico e estratégico. O trabalho utilizou-se
dos principais conceitos de Nicholas J. Spykman, também dos comentários de Robert D.
Kaplan, de alguns conceitos apresentados por Cristina Pecequilo e José Luís Fiori, além das
discussões propostas pelos mesmos e por Luiz Alberto Moniz Bandeira, dentre outros
autores.
A escolha dos autores e das obras analisadas orienta o paradigma teórico, que é o
realismo político. A abordagem realista favorece uma análise dos elementos de equilíbrio de
poder por considerar que o Sistema Internacional se insere numa lógica de estado natural
anárquico, hobbesiano e de guerra constante. De acordo com Pecequilo (2012),
o Realismo Político sistematiza suas preocupações em torno de dois conceitos-
chave, o poder e o conflito. [...] O Equilíbrio de Poder (EP) e a diplomacia terão
como função evitar estas ameaças constantes de destruição, seja pelo choque de
interesses entre os Estados, como pelo estabelecimento de relações regulares e
mediadas entre os mesmos
Por fim, a seguinte passagem do livro “A Segunda Guerra Fria” (BANDEIRA, 2015)
também corrobora com o viés realista, fazendo uma ligação com a noção de paradoxo do
hiperpoder, visto acima: “Ao longo de sua história, os Estados Unidos têm demonstrado
empiricamente que nas relações internacionais a lei não a lei não deriva da justiça, mas da
força”.
2. As rivalidades internacionais em escala global
4 https://www.foreignaffairs.com/articles/south-america/2006-05-01/latin-americas-left-turn
No livro “O mito do colapso do poder americano” (2008), Fiori, Medeiros e Serrano,
defendem que a crise dos anos 1970 aponta um aumento da pressão competitiva interestatal e
não uma derrocada do poder estadunidense, como se imaginou. Na análise conjuntural da
geopolítica do século XXI, levando em consideração a pressão interestatal que tais autores
apontam, é central considerar a ressurreição militar da Rússia e a ascensão econômica e
militar da China no tabuleiro internacional.
Diversos autores5 falam de uma “Segunda Guerra Fria” onde as potências
supracitadas travariam disputas por zonas próximas à Eurásia, não se restringindo, contudo, a
essa região global. Bissio (2017) utiliza a premissa da ascensão de uma multipolaridade
global onde, novamente, os atores em destaque são Rússia, China e Estados Unidos. A
“Segunda Guerra Fria” não seria, portanto, uma disputa bipolar, como a Primeira.
2.1. Estados Unidos e Rússia
A Rússia possui três pontos de pressão geopolítica: o Cáucaso; a Ásia Central e Sul da
Ásia; e a “vizinhança ocidental”6 (PECEQUILO, LUQUE, 2016). A penetração dos EUA
nesses espaços permite acesso a recursos eurasianos, como, por exemplo, petróleo e gás, que
são elementos essenciais em termos de acumulação de poder no tabuleiro global. À pressão
geopolítica exercida pelos EUA, a Rússia responde com clareza.
A “Diplomacia dos Dutos” consistiu na construção de gasodutos e oleodutos que
funcionassem como alternativa ao quase monopólio russo em relação ao fornecimento de
bens energéticos à Europa. O oleoduto Baku-Tíflis-Ceyhan (BTC) - que leva óleo do mar
Cáspio à Turquia, passando pela Geórgia - é um claro exemplo dessa investida ocidental. A
Geórgia, envolvida neste caso, é recorrentemente usada como instrumento de atrito com a
Rússia, a exemplo também do projeto de expansão da OTAN para o leste europeu, que
considerou tornar a Geórgia país membro7. A resposta russa a essas pressões foi a promoção
da independência de dois territórios da Geórgia (Abecásia e Ossétia do Sul) em 2008.
Ainda no escopo da expansão da OTAN, temos o caso da Crimeia, região pertencente
à zona de instabilidade da “vizinhança ocidental”, que foi anexada à Rússia em 2014 após um
conflito com a Ucrânia, que contou não apenas com mecanismos militares, mas também com
5 A exemplo de Moniz Bandeira (ver “A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados
Unidos”), Pecequilo e Luque (ver “EUA e Rússia: Convergência e Divergência Geopolítica (1989-2016)”) 6 Essa região se caracteriza por ser uma região de ex-repúblicas soviéticas 7 http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080808_entenda_ossetia_cg.shtml
a pressão gerada pela “Guerra do Gás”8. A aproximação com a organização comprometeria a
projeção do poder russo no Mar Negro, cuja localização geográfica permite acesso aos mares
quentes e possibilita o comércio direto com o Mar Mediterrâneo.
Por fim, cabe tratar da importância da região Ártica para a geopolítica russa. Esta
remete à primeira Guerra Fria, quando foi considerada zona primordial por representar a
menor distância entre EUA e URSS. Por volta dos anos 2000, o derretimento das calotas
polares possibilitou acesso marítimo a uma região com grande potencial energético. A
Rússia, fincando uma bandeira no fundo do Oceano Glacial Ártico na primeira década do
século XXI, demonstrou estar ciente disso. Conforme se desenvolvem as tensões entre Rússia
e Estados Unidos, percebe-se uma intensificação da presença militar e industrialização da
região por parte da Rússia9, especialmente nos anos de 2014 e 2015, por conta dos conflitos
na Ucrânia e na Síria.
2.2. Estados Unidos e China
George Friedman (2008) afirma que a China possui três imperativos geopolíticos: a
manutenção da unidade interna no “heartland” chinês, a manutenção do controle sob as
“regiões de amortecimento”10 e a proteção da costa contra invasões estrangeiras. O que, para
ele, configura o espaço chinês como insular são essas regiões de amortecimento11. É por isso
que, a partir do século XIX, quando os europeus chegaram à região oriental do pacífico, a
costa chinesa passou a ser o ponto mais vulnerável de sua geopolítica, enquanto mantivessem
sob controle as “regiões de amortecimento”.
A estratégia estadunidense para a China parece uma espécie de cercamento
geopolítico. O cercamento pelo mar ocorre tanto através do acordo com as Filipinas em 2016,
concedendo direito à utilização de cinco de suas bases militares12, como do fornecimento de
apoio a Japão, Coreia do Sul e Cingapura - além de Taiwan -, com destaque para a base
militar estadunidense nas ilhas Diaoyu (ou Senkaku) - que são reclamadas pela China - e o
posicionamento de sua sétima frota naval em Yokosuka, no Japão.
8 Corte do abastecimento de gás para a Ucrânia para desestabilizar politicamente o país. 9 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/02/internacional/1427998445_036342.html 10 Tradução da autora. No original: “buffer regions”. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/15244702/6-15-2008-the-Geopolitics-of-China-A-Great-Power-Enclosed>
Acesso em: 09 de nov. 2017. 11 De difícil transposição, que protegem, mas também isolam. 12 http://eesp.fgv.br/en/noticias/disputas-no-mar-da-china-e-o-pre-sal
Enquanto isso, o cercamento terrestre se dá por meio de projetos como o da Parceria
Transpacífica (TPP), que passou a ser de interesse estadunidense em 200813 e parecia ter o
objetivo de minar a influência Chinesa no sudeste asiático e na própria Eurásia, pois além do
acordo de livre comércio, a parceria viabiliza o reposicionamento estratégico de contingente
militar na região Ásia Pacífico.
Para este último, a China providencia uma resposta à altura: o projeto da Nova Rota
da Seda14. A projeção deste projeto, também conhecido como One Belt One Road, sobre a
África é sintomática das demandas internas da China, de maneira que pretende construir
estradas que permitam acesso ao corredor eurasiano e diversos portos na costa da África.
Outro ponto central para a geopolítica da China desde 1949 é a questão com Taiwan.
Apesar das relações econômicas apontarem uma aproximação entre Taiwan e China, na
esfera estratégica e militar as relações de Taiwan com os Estados Unidos possuem
preponderância. Em 2016, pouco depois da realização de manobras militares nas quais
Taiwan simulou ataques chineses15, as relações entre China e Estados Unidos se abalaram em
razão da ruptura diplomática de Trump ao estabelecer diálogo com a presidenta taiwanesa,
Tsai Ing-wen16.
Se esses desgastes envolvendo EUA e China ainda não resultaram em conflito é
porque a China trabalha sua geopolítica de forma defensiva em relação aos Estados Unidos e
tende a não adotar uma política confrontacionista com países do Norte (de uma maneira
geral). Essa diretriz política se associa a uma cooperação que estende aos países do Sul. De
acordo com Carmo e Pecequilo (2014), define-se como nação do Sul global, “preservando
sua identidade político-social-estratégica como nação do Terceiro Mundo e em
desenvolvimento.”.
2.3. As respostas conjuntas
Destacam-se dois projetos geopolíticos de cooperação com a Rússia: o “World Order
in the 21st Century” e a criação da Organização de Xangai (uma espécie de OTAN do
13 https://ustr.gov/trans-pacific-partners-and-united-states-launch-fta-negotiations 14 Segundo Bissio (2017), “Destinado a ampliar a integração econômica e política da Ásia, com desdobramentos
na África, no Oriente Médio e até na Europa, o OBOR utiliza a via terrestre e marítima mediante
impressionantes obras de infraestrutura – redes de transporte (rodovias, ferrovias para trens de alta velocidade),
oleodutos, gasodutos, portos e fibra ótica – e deve estar completamente implementado em 2025.” 15 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/08/taiwan-inicia-manobras-militares-em-plena-tensao-com-
china.html 16 https://g1.globo.com/mundo/noticia/trump-conversa-com-presidente-de-taiwan-sob-risco-de-irritar-a-
china.ghtml
Oriente). A declaração supracitada serviu para enfatizar “os princípios que orientariam as
relações entre ambas: ‘respeito mútuo da soberania, integridade territorial, não-agressão e
não-interferência’” (BISSIO, 2017, p.541), além de fazer frente à “Doutrina Bush”,
conhecida pelo aumento nas intervenções militares ocidentais nas mais diversas regiões do
planeta. Ademais, apesar da comparação com a OTAN não ser fiel em termos de modus
operandi ou poderio militar da entidade, a Organização de Xangai embute uma proposta de
ampliação da cooperação militar com ênfase em segurança e inteligência compartilhada com
o objetivo de enfrentar as ofensivas mais relevantes para o grupo: terrorismo, separatismo e
extremismo.
Consequentemente, no século XXI torna-se notável a cooperação militar entre Rússia
e China, especialmente em termos comerciais, uma vez que a Rússia foi importante fonte de
tecnologia militar e sistemas de armamento para a China17.
No período de 2009 a 2011, a China e a Rússia realizaram uma aproximação
estratégica em âmbito energético, que envolvia a construção de gasodutos e oleodutos, além
de fornecimento preferencial de energia. Além dessa, ocorreu uma aproximação política
multilateral através dos BRICS, enfatizando seus papeis enquanto nações emergentes. Essa
aproximação, por sua vez, gerou uma reação estadunidense através da “Parceria
Transpacífica” (TPP) e da “Parceria Transatlântica” (TTIP) - que excluem os BRICS de seu
escopo. A resposta russa a isso foi o aumento de mecanismos de projeção da sua presença na
Eurásia entre 2011 e 2014. Durante esse período ocorreu também o estabelecimento de
acordos bilaterais entre EUA e Iraque e EUA e Afeganistão, garantindo presença de tropas
estadunidenses na região, o que causou ainda mais tensão com a Rússia.
O aumento da influência russa na Ásia, que pode ser percebido tanto no plano
econômico como no geopolítico, através de investimentos em infraestrutura na região, muito
se ao Fórum Econômico Oriental - realizado em 2015 -, onde foram assinados 34 acordos de
investimento, cujo montante excede U$20bi.
3. As rivalidades internacionais em escala regional
Aqui trataremos das rivalidades internacionais sob uma perspectiva regional e
examinaremos as rivalidades decorrentes da geopolítica continental no Grande Caribe. Far-
17 “[...] em determinados setores — como os da guerra eletrônica, dos motores e dos sistemas de combate
embarcados de melhor desempenho — ela permanece dependente de países estrangeiros, principalmente da
Rússia.” (ZAJEC, 2008).
se-á um esforço para trazer à tona Estados pivô18 e compreender as tentativas de projeção dos
atores globais no sub-continente, fazendo, assim, a conexão com a primeira seção.
Durante a “virada à esquerda”19, a América Latina sofreu diversas transformações.
Isso implicou numa série de mudanças em âmbito regional, com destaque para a mudança na
forma como os países da região encaravam as projeções geopolíticas estadunidenses no
subcontinente.
O foco estratégico desses governos de esquerda era a tentativa de desagregar as
políticas externas do domínio exercido pelo imperativo geopolítico estadunidense na região.
Os países que participam das disputas em nível global se encontraram inseridos nessa
estratégia de mudança geopolítica, ganhando posições no continente em decorrência disto.
Isso gerou instabilidades na geopolítica estadunidense não apenas por ferir um de seus pilares
geoestratégicos, a Doutrina Monroe, cujo lema é “América para os americanos”, mas também
por conta das rivalidades a nível global, dentro de uma lógica de “Segunda Guerra Fria”.
3.1. A geopolítica do Grande Caribe sob a ótica da Longa Duração
Primeiramente, o grau de dependência geopolítica que os Estados Unidos possuem
com relação ao Grande Caribe se, por um lado, não se demonstra no campo econômico, nas
relações geopolíticas desenvolvidas historicamente se sobressai. Nicholas Spykman enxerga a
preponderância estrutural da região do Mediterrâneo Americano20, que ele considera “o
coração estratégico e geográfico do Novo Mundo”21 (KAPLAN, 2012). Essa área “consiste
numa grande parte do México, da América Central, Colômbia, Venezuela e a cadeia de ilhas
se estendendo em um grande arco desde o leste da Venezuela até a extremidade ocidental de
Cuba”22 com uma “segunda cadeia de ilhas”23, as Bahamas, que agem como uma espécie de
sentinelas à entrada do Golfo do México (1942, p.46-47). “As ilhas possuem tamanho
18 De acordo com Pecequilo (2012), seriam Estados com projeção regional e capacidade de definir equilíbrios e
desequilíbrios na região. 19 O termo é amplamente utilizado por analistas e pela mídia para se referir à ascensão das esquerdas ao poder
na américa latina durante a primeira década do século XXI. A exemplo do artigo escrito por Fiori em 2013 ou da
matéria de 2006 na revista Foreign Affairs (disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/south-
america/2006-05-01/latin-americas-left-turn>). 20 Região do Grande Caribe, englobando o Golfo do México. 21 Tradução da autora. No original: “strategic and geographic heart of the New World”. 22 Tradução da autora. No original: “It consist of a large part of Mexico, Central America, Colombia, Venezuela
and of the chain of islands stretching in a great arc from the east of Venezuela to the western end of Cuba”. 23 Tradução da autora. No original: “second island chain”.
limitado, e a topografia da América Central [...] favorece unidades políticas pequenas.”24
(Spykman, 1942).
Para ele, a realidade geopolítica dessa região é a do Grande Caribe, mesmo que alguns
países sejam formalmente reconhecidos como sulamericanos. Colômbia e Venezuela, por
exemplo, estão em maior contato com a costa oposta que com os demais países do Sul
(Spykman, 1942, p.404-405), o que acontece devido ao isolamento que os Andes promovem,
aliado à impenetrabilidade da floresta amazônica. O rio Amazonas corre do oeste para o leste
e, portanto também não facilita a navegação para o sul ou para o norte (KAPLAN, 2012).
Imagem 1: O Mediterrâneo Americano
Fonte: University of Texas Libraries25
O Mediterrâneo Americano, à primeira vista, é uma área que divide o Norte do
continente Americano do Sul. Todavia, cria-se uma conexão entre eles através da atração
24 Tradução da autora. No original: “The islands are of limited size, and the topography of Central America [...]
favors small political units.” 25 http://www.lib.utexas.edu/maps/americas/middleamerica.jpg
gerada pela região, que torna possível, por exemplo, que os Estados Unidos tenham acesso à
costa oeste da América do Sul através do canal do Panamá.
A construção desse canal proporcionou aos Estados Unidos um ganho de insularidade,
assegurando a mobilidade de suas frotas, através da conexão entre o Oceano Atlântico e
Pacífico, o que assegurou também uma interessante posição em relação às extremidades da
Eurásia (KAPLAN, 2012, p.74).
A magnitude do poder estadunidense, segundo Kaplan (2012), se deve ao fato de que,
possuindo o controle hegemônico do Hemisfério Ocidental, os EUA estendem sua energia
geopolítica de modo a “afetar a balança de poder no Hemisfério Oriental”26 (p. 65). Nenhuma
outra nação no mundo possui influência hemisférica, tal como os EUA. Esta seria uma
consequência da Doutrina Monroe.
A origem da Doutrina Monroe remete ao discurso do presidente James Monroe, em
1823, no qual ele postulava uma assimetria, baseada na autonomia e soberania territorial,
entre os Estados Unidos e os Estados que compunham a América Espanhola. Isso implicou
na reivindicação da ingerência sobre a região e sua proteção contra as influências
extrarregionais para si. Foi, entretanto, durante o governo do presidente Theodore Roosevelt
que o monroísmo ganhou nova face, através da política do Big Stick (grande bastão). Essa
política pregava que a transgressão ou impotência em resolver assuntos internos,
desencadeariam legítima intervenção dos Estados Unidos na América Latina. Segundo
Bandeira (2008) a doutrina proporciona pretexto ideológico para a manutenção da hegemonia
estadunidense sob o Hemisfério Ocidental, o que assegura seu acesso a matéria prima e
mercados e afasta a influência europeia.
Não é difícil ver as semelhanças entre o relato de Bandeira e o que ocorre na América
Latina, sobretudo na região do Caribe, onde Spykman afirma que “nenhuma ameaça séria à
posição dos Estados Unidos pode insurgir”27 (1942). A diferença é que as ameaças
extrarregionais apresentadas neste cenário advém de uma tentativa recente de emancipação
regional da Velezuela28, conforme veremos.
3.2. Venezuela, Cuba e as rivalidades intrarregionais emergentes do século XXI
26 Tradução da autora. No original: “affect the balance of power in the Eastern Hemisphere”. 27 Tradução da autora. No original: “No serious threat against the position of the United States can arise” 28 País que o representante do presidente Monroe constatou ser "tímido, indolente, ignorante, supersticioso,
incapaz de se esforçar e desprovido de iniciativa" (SCOTT, 1812).
Bandeira (2008) trata da proposta estadunidense à época, que teria como objetivo
conter qualquer avanço europeu na sua área de influência e garantir seu acesso às fontes de
matéria prima e mercado por meio da criação de uma espécie de União Aduaneira com os
países latinoamericanos.
A tentativa mais recente nesse sentido foi a da criação da Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA), que buscava estabelecer relações comerciais com o objetivo de garantir
estrategicamente a adesão dos países ao Consenso de Washington. Algumas iniciativas
encabeçadas pela Venezuela29 e Cuba (tal como a Petroamérica) ameaçaram o acesso a
diversos mercados consumidores na região, o que tornou imperativo para os EUA lograr
influência sobre a América Latina, especialmente Grande Caribe.
A Petroamérica é uma iniciativa composta por três vertentes: Petrocaribe, Petrosur e
Petroandina. A ideia é promover uma complementação energética entre os governos da
América Latina e Caribe. O projeto se dá pela facilitação ao acesso energético fomentado
pelas condições preferenciais oferecidas, garantidas através de acordos e investimentos
conjuntos. (Sistema Económico Latinoamericano y del Caribe, 2013, p.7-8). É o primeiro
acordo energético baseado em princípios de solidariedade e que tem como fim último o
desenvolvimento e a justiça social da região.
A aliança entre Cuba e Venezuela, além de ideológica, é estratégica. A distância da
ilha à costa estadunidense é de apenas 90 milhas e seu histórico de relações com os Estados
Unidos permeia as tensões da Guerra Fria. Na década de 60, Cuba alinhou-se com o bloco de
países liderado pela União Soviética e seu projeto comunista, o que suscitou práticas de
contra-insurreição por parte dos Estados Unidos acompanhadas por um aumento nos gastos
com a região latinoamericana (SIMÕES FERNANDES, 2009), além da promoção de um
embargo.
A aliança com a Venezuela e o momento de ascensão das esquerdas no continente
latino fez com que a suspensão de Cuba na Organização dos Estados Americanos - uma das
medidas do embargo - fosse revogada no ano de 200930. O grupo de trabalhos sobre a
revogação da suspensão de Cuba foi proposto pelo ministro brasileiro, Celso Amorim, e
contou com atuação direta dos presidentes Manuel Zelaya, Daniel Ortega e Fernando Lugo.
29 Conforme visto anteriormente, a Venezuela, apesar de geograficamente integrar a América do Sul,
estrategicamente faz parte do Mediterrâneo Americano, que seria um rimland, uma “zona em que a supremacia
dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos, trata-se um mar fechado cujas chaves
pertencem aos Estados Unidos.” (FIORI, 2007). 30 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/06/090603_oea_cuba_rc.shtml
Ao lado da Venezuela, participou também da criação de instituições como a ALBA e
a UNASUL, tal como seu fortalecimento durante a década analisada, o que constitui um
sintoma a ser observado. A ALBA, nova proposta de integração regional, fundada por Hugo
Chávez e Fidel Castro chegou a abranger Bolívia, Nicarágua, Honduras, República
Dominicana, Equador, dentre outros.
Estes movimentos são uma afronta geopolítica ao poder global dos Estados Unidos.
Kaplan, sobre o radicalismo anti-estadunidense do ex-presidente Hugo Chávez, afirma que,
diferente da região do Cone Sul, o perigo apresentado pela aliança com a Rússia e o Irã se
deve à posição geográfica da Venezuela na região da bacia do Caribe (KAPLAN, 2012,
p.66).
Esse tipo de sublevação na região do Hemisfério Ocidental deve ser respondido
através de uma envoltura do Grande Caribe numa zona de livre comércio (KAPLAN, 2012,
p. 196), mas, com o fracasso da ALCA, os Estados Unidos apelaram para uma linha de
políticas de natureza menos cooperativa: a reativação da 4a Frota Naval31, prática de
exercícios militares em conjunto com o Chile e aprofundamento dos acordos militares com
Colômbia e Peru.
O Plano Colômbia é uma ajuda econômica e de expertise militar concedida pelo
governo estadunidense à Colômbia com o objetivo de combater o tráfico de drogas, que
levantava questionamentos pelo fato de que, apesar de ter se mostrado efetiva no combate à
guerrilha esquerdista (as FARC), mostrou-se pouco eficaz no combate ao tráfico de drogas,
já que, em 2012, 95% da cocaína consumida nos EUA ainda procedia da Colômbia32. Em
2009, passou a preocupar analistas e gerar críticas na América Latina por conta de um novo
acordo, que permitiu a utilização de bases colombianas por militares estadunidenses,
levantando suspeitas em países como Venezuela, Equador, Brasil e Chile33.
Essa é uma das manifestações da Doutrina Bush. Essa retomada da Doutrina Monroe
desencadeou uma consequência principal para a política dos Estados Unidos em relação à
América Latina: a elevação da capacidade de intervenção militar, que se justifica pela guerra
às drogas e se manifesta de duas maneiras diferentes: “ação preventiva” e “cambio de
governo” ou “cambio de regime” (BISSIO, 2017).
31 É “responsável pelo controle marítimo das águas que cercam a América Latina”(FIORI, PADULA, 2016) e
encontra-se na Flórida, onde possui projeção para o Mar do Caribe e proximidade de Cuba. Sua reativação
nessas circunstâncias demonstra a importância também da região sul do continente - tanto no lado atlântico,
quanto no pacífico -, já que é a área circundada pelo Comando Sul, responsável pela frota (UC, 2008). 32 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/04/120411_plano_colombia_lf.shtml 33 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/08/090807_colombia_analise_dg.shtml
O Plano Colômbia é um exemplo de ação preventiva, que vai de encontro ao
pensamento estratégico de Spykman para a região do Mediterrâneo Americano uma vez que a
Colômbia, tal como a Venezuela, faz parte desta importante seção estratégica. O combate à
insurgência de movimentos anti-imperialistas e que se opõem à ingerência estadunidense na
região se dá também por meio de tentativas ou de golpes de Estado, que trataremos no
próximo capítulo.
3.3. Influência de atores extrarregionais
O novo movimento autonomista que ganhou força com a “virada à esquerda” que a
América Latina experienciou na primeira década e meia do século XXI, fez com que os
países latinoamericanos, historicamente dependentes em termos econômicos dos Estados
Unidos, buscassem alternativas de cooperação regional e entre países que também se
encontram no Sul Global, como é o caso da China e da Rússia.
3.3.1. China
“A China, por seu tamanho, ‘escala’ e grau de produtividade alcançada, tornou-se o
gigante da nova época, e seu entorno geográfico (Ásia-Pacífico) é hoje o centro de gravidade
de toda economia global.” (KISSINGER, 2011). Concomitantemente a isto, tornou-se o
maior parceiro comercial de boa parte dos países latinoamericanos durante o período
analisado.
A necessidade chinesa de importação de petróleo é importante motivador de tal
parceria, pois sua industrialização e desenvolvimento militar dependem dos recursos naturais
e energéticos procedentes da América Latina. A região da América Latina e Caribe foi a que
recebeu os maiores investimentos chineses no ano de 2012, o que possivelmente tem relação
com a projeção de uma rota de abastecimento de hidrocarbonetos, que partiria da América
Latina passando por águas filipinas (ZAJEC, 2008). A América Latina serve também como
mercado consumidor para o escoamento da produção chinesa.
Em termos diplomáticos, mas que tem que ver com a rivalidade geopolítica global
gerada pela presença estadunidense em uma área de vulnerabilidade estratégica da China, há
a intenção de isolar Taiwan. Como os países caribenhos estão tradicionalmente na área de
influência estadunidense, apoiam Taiwan. Assim, “a oferta de cooperação Sul-Sul associada
às oportunidades de negócios tornou-se um mecanismo eficaz para engendrar um
reposicionamento político dos países da região.” (PECEQUILO, CARMO, 2014).
O aumento do controle sobre a região pode ter para a China o mesmo efeito que teve
para os Estados Unidos, possibilitando a construção do Canal do Panamá. Isso se tornou uma
preocupação para a estratégia estadunidense em 2014, quando anunciou-se o projeto de
construção de um Canal na Nicarágua, durante o governo do sandinista Daniel Ortega. O
Canal da Nicarágua, como o Canal do Panamá, deve ligar os dois oceanos e contaria com alto
investimento de empresas chinesas34.
3.3.2. Rússia
A proliferação de relações entre Rússia e os países da América Latina, especialmente
Grande Caribe, fundamenta-se na provocação estratégica. Segundo Romero (2008), a
aproximação da Rússia com a Venezuela é uma resposta ao avanço da OTAN ao leste
europeu. Uma das maneiras de confrontar o poder estadunidense na região é a concessão de
aterrizagem russa em território venezuelano, além da realização de exercícios militares
conjuntos no Mar do Caribe, o que seria inconcebível para a visão Spykmaniana.
A Rússia chegou a se envolver no projeto do Canal da Nicarágua, fornecendo apoio
militar e político à construção do Canal, já que, de acordo com Vladimir Evseev (2014)35, não
teria condições de arcar com os custos gerados, mas possui interesse geopolítico, o que
encontra respaldo nas afirmações de Romero (2008): “em termos materiais a capacidade real
de projeção de poder da Rússia é bastante limitada- a aproximação russo-venezuelana tem um
caráter simbólico muito importante.”.
Durante o conflito gerado pelo interesse da Geórgia e da Ucrânia de aproximação da
OTAN, a Rússia recebeu o apoio de Caracas e deslocou para o Caribe dois bombardeiros
estratégicos TU-160 com o objetivo de realizar exercícios conjuntos com a Força Aérea
Venezuelana, além de indicar a intenção de envio de navios de guerra como reação à
presença estadunidense no Mar Negro (BANDEIRA, 2008).
As relações entre Rússia e Venezuela envolvem venda de armas e acordos de
cooperação técnica e militar. Isso desencadeia ganhos políticos extraordinários para o
governo venezuelano, que visa à desestabilização estratégica dos Estados Unidos em sua
zona de influência imediata. Para a Rússia, a afronta venezuelana em seu posicionamento
geográfico também abriu portas para uma reconfiguração estratégica.
34 http://www.bbc.com/mundo/noticias/2014/12/141222_nicaragua_canal_divisiones_previa_aw 35 Em entrevista ao Sputnik disponível em:
https://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/news/2014_09_09/Canal-nicaraguense-contribuir-para-constru-o-
de-mundo-multipolar-0624/
4. As rivalidades internacionais em escala Estatal
A proposta deste tópico é averiguar se o que ocorre nesses dois outros níveis
influenciou o sucedido no ano de 2009 em Honduras. Para abordar o ocorrido no país centro-
americano lançar-se-á breve olhar sobre seu histórico do pós guerra fria, sobre a eleição de
Manuel Zelaya e também sobre a mudança política por ele promovida. Assim, examinaremos
de que maneira o processo foi facilitado internamente e, por fim, deve-se retomar o nível
regional para analisar interesses externos na ruptura política de larga escala que levou à
deposição do presidente Zelaya.
4.1. Mudanças estruturais promovidas pelo governo Zelaya
O processo de democratização de Honduras no pós guerra fria reforçou estruturas de
exclusão e empobrecimento da população, promovendo fome, guerra e aprofundando as
desigualdades sociais, que é dos grandes motivos desencadeadores da ascensão da esquerda
que a América Latina presenciou no início do século36.
Honduras que, além de extremamente desigual, é um dos países mais pobres da
América Latina37, elegeu no ano de 2005 o candidato do Partido Liberal, Manuel Zelaya38. O
mandato, que se iniciou em 2006, foi marcado por um favorecimento das políticas sociais e
de distribuição de renda, com o aumento de 60% do salário mínimo, do salário de professores
e do acesso à educação39. O processo político conduzido por Zelaya escorou-se no aumento
da base de direitos, participação política de setores sociais, com discurso anti-neoliberal e
anti-imperialista.
A aproximação com a Venezuela marcou uma mudança de postura de Zelaya. O
objetivo era diminuir sua dependência energética, o que fez agregando-se a duas iniciativas
anti-hegemônicas que ela liderava: a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América
(ALBA), criada por Cuba e Venezuela, fazendo frente à proposta do NAFTA; e a
Petrocaribe.
À entrada do país na Petrocaribe, em 2008, a presidenta da Comissão Administradora
do Petróleo de Honduras afirmou “que Petrocaribe fortalece a soberania energética de
36 Ver Castaneda (2006). 37 Com quase metade da sua população em situação de pobreza. 38 https://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/12/24/ult1808u55862.jhtm 39 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/abogados-armas-dinero
Honduras, ao diversificar as fontes de fornecimento de hidrocarbonetos para o país e outorgar
ao governo maior participação na administração dos recursos energéticos”40.
Esse “giro à esquerda” custou a Zelaya o apoio da cúpula de seu próprio partido41, que
se fracionou durante as eleições primárias de 2008 em função disso (PEETZ, 2008). Além
disso, os processos de democratização que almejou promover não foram homogêneos e
geraram embate com a Frente Sandinista na Nicarágua, mas “expressam uma diminuição da
hegemonia unilateral das políticas neoliberais e das tendências autoritárias da oligarquia
empresarial-militar”42 (AGUILAR, 2009).
4.2. Trajetória do golpe
A radicalização, de uma forma geral, é contrademocrárica43. A proposta da quarta44
urna - que se daria através de uma consulta popular não vinculante sobre a adição de uma
urna para votar a realização de mudanças nos artigos pétreos da constituição45 - fez emergir
forte polarização social em Honduras. Havia dois grupos mobilizados: de um lado
empresários, a igreja católica e meios de comunicação, contrários à reforma constitucional e
favoráveis à destituição do presidente; e do outro as forças sociais compostas por
movimentos de professores, grupos feministas, movimentos indígenas, sindicatos,
movimentos campesinos e ONGs locais e regionais favoráveis à reforma e defensores de
Zelaya.
Boa parte dos políticos e o empresariado, que já estava descontente com o aumento do
salário mínimo, desaprovaram a aproximação ideológica e política feita por Zelaya com a
Venezuela (CORDERO, 2013). A integração do país à ALBA foi, por eles, considerada
nefasta para os interesses nacionais de Honduras.
O presidente hondurenho aborreceu também o exército e o judiciário ao destituir o
Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, por ter se negado a mobilizar as urnas
40 Tradução da autora. No original: “que Petrocaribe fortalece la soberanía energética de Honduras, al
diversificar las fuentes de suministro de hidrocarburos para el país y otorgar al gobierno mayor participación en
la administración de los recursos energéticos”. Disponível em: <http://www.revistaei.cl/2008/06/10/regional-
iniciado-suministro-de-petrocaribe-en-honduras/> 41 Na realidade, conforme argumenta Peetz (2009), os Partidos Liberal e Nacional não possuem grande
diferenciação em termos de perfil ideológico, dependendo muito dos dirigentes de cada um deles em
determinado momento histórico. 42 Tradução da autora. No original: “expresan una disminución de la hegemonía unilateral de las políticas
neoliberales y de las tendencias autoritarias de la oligarquía empresarial-militar”. 43 Ver Bobbio (1995), Fabrício Brugnago e Vera Chaia (2014). 44 A primeira serviria para eleger um presidente, a segunda congressista e a terceira alcades. 45 http://www.elheraldo.hn/opinion/739465-368/la-cuarta-urna
para a consulta popular, e aceitar a renúncia do Ministro de Defesa. A Corte Suprema de
Justiça, cujo presidente mantinha relação de dependência direta com Micheletti46 logo afirma
que a decisão foi “arbitrária e violadora da constituição e da lei das Forças Armadas”47.
A consulta da quarta urna provocou suspeitas. Segundo o analista político, Ramón
Martínez (2009)48, a intenção do presidente seria lograr a constitucionalização da reeleição
ilimitada, como Chávez e Correa. Muitos dos meios de comunicação ligaram a convocação
da constituinte com o golpe empregado, apesar de também haver acusações de corrupção e de
“traição”. O Partido Nacional, partido que presidia e tinha forte influência sob a Procuradoria
Geral da República (SALOMÓN, 2009), viu na possibilidade de reeleição de Zelaya uma
ameaça à vitória eleitoral de seu candidato, Porfirio Lobo.
Dentre facilitadores da aplicação do golpe, estão a crise econômica gerada por conta
da influência do capital internacional aliado à crise do subprime, o crescimento das funções e
do orçamento militar quando os exércitos tem grande poder de influência política sobre a
região (AGUILAR, 2009).
No sistema unicameral de Honduras, Zelaya governava com minoria parlamentar. Seu
partido - que, diferente dele, era um partido conservador - possuía 62 cadeiras, ao passo que o
Nacional e os demais opositores ocupavam 6649. Com a proposta do referendo da quarta urna
o presidente perdeu também o apoio de integrantes de seu partido.
4.3. Ruptura política em larga escala
Em 2009, Manuel Zelaya foi acusado pelo Ministério Público por corrupção, além de
traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções em virtude da proposta de
adicionar uma quarta urna para decidir sobre a necessidade de uma reforma constitucional,
que foi vista como uma tentativa de se perpetuar no poder, dado que ocorreram processos
similares na Venezuela e na Nicarágua na mesma época.
Por conta da acusação feita pelo MP, os tribunais de justiça expediram uma ordem de
captura do presidente envolvendo também a Interpol. Com o fim do mandato de Zelaya - que
já havia sido sequestrado e destituído à época -, ocorreram novas eleições e em 2010, quando
46 Roberto Micheletti, presidente do parlamento, do mesmo partido que Zelaya, mas de uma ala com a qual se
produziu um conflito durante as eleições primárias de 2008. 47 Tradução da autora. No original: “arbitraria y violatoria de la constitución y la ley de las Fuerzas Armadas”.
Disponível em: <http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 48 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090625_honduras_crisis_sao.shtml 49 http://americo.usal.es/oir/opal/elecciones/Elecc_Honduras_Otero.pdf
o novo governo já estava empossado, Zelaya foi anistiado das acusações do Ministério
Público concernentes aos crimes políticos e acusado de desvio de verbas. Em 2011,
entretanto, seu julgamento pelos crimes de corrupção foi anulado.
A Suprema Corte, com base nas acusações do Ministério Público, expediu a ordem de
prisão de Zelaya. Esta foi levada a cabo pelas tropas hondurenhas no dia 28 de junho de 2009
e Zelaya retirado do país ainda em seus pijamas. Foram presos também o ministro da
presidência, Enrique Flores, a ministra das relações exteriores, Patricia Rodas, e os
embaixadores da Nicarágua, Venezuela e de Cuba50.
Após o sequestro de Zelaya, o então presidente do congresso, Roberto Micheletti,
recebeu sua “renúncia” e foi empossado em seu lugar. Este obteve apoio dos setores
conservadores. Assim que tomou posse, buscou reafirmar a legalidade do processo
declarando que chegara “à presidência como produto de uma transição legal”51, que “Este é
um ato democrático”52 e que “o exército somente cumpriu com a missão encomendada pela
Corte Suprema de Justiça, pela Procuradoria geral e pelo sentimento do povo hondurenho”53.
Zelaya então afirmou, ainda na Costa Rica, que não havia pedido renúncia, o que fez com que
o Congresso hondurenho o destituísse por unanimidade.
No que diz respeito à resistência, Samantha Maia Araujo (2016) coloca que houveram
manifestações contra e a favor da retirada de Zelaya, com grande repressão policial contra o
primeiro grupo, o que chegou a gerar uma morte no dia em que o presidente tentou retornar
pela primeira vez ao país.
Por fim, após a consolidação do golpe com a realização de novas eleições - o que
impediu que fosse levada a cabo a consulta popular proposta por Zelaya -, o ex presidente foi
anistiado dos crimes políticos dos quais havia sido acusado e teve direitos políticos mantidos.
4.4. Perspectiva regional a partir de Honduras
50 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090628_1430_honduras_arresto_med.shtml 51 Tradução da autora. No original: “a presidencia como producto de una transición legal”. Disponível em:
<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 52 Tradução da autora. No original: “Este es un acto democratico”. Disponível em:
<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 53 Tradução da autora. No original: “El ejército solo ha cumplico con la misión encomendada por la Corte
Suprema de Justicia, la Fiscalía General y el sentimiento del pueblo hondureño”. Disponível em:
<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023>
Com o golpe em 2009, o país se retira tanto da ALBA quanto da Petrocaribe, voltando
a integrar somente esta última no ano de 201454. Foi calculado que tal ação poderia gerar a
obtenção de 13 milhões de dólares adicionais para os cofres hondurenhos.
Bolívia e Venezuela logo qualificaram o ocorrido como um golpe de Estado, ao passo
que a União Europeia considerou um golpe militar. Zelaya contou também com o apoio da
Nicarágua, onde se refugiou durante a maior parte do tempo, e do Brasil, em cuja embaixada
se refugiou quando retornou a Honduras pela primeira vez após o golpe. Além disso, ocorreu
um intento, encabeçado por Chávez, de restituí-lo ao poder através da UNASUL, que acabou
falhando.
No campo da diplomacia internacional, o que não é dito é tão importante quanto o que
é dito. Segundo Weisbrot (2009)55, em nenhum momento as declarações dos Estados Unidos
pediram a imediata restituição do presidente Zelaya a seu cargo nem tampouco condenaram
ou reconheceram oficialmente o golpe. Condenaram, entretanto, a tentativa do presidente de
retornar a seu próprio país com o argumento de que gerou violência.
Os Estados Unidos chegaram a barrar a tentativa de aprovação de uma resolução no
âmbito da OEA que considerasse ilegítimas as eleições realizadas durante a ditadura que
derrocou Zelaya. Posteriormente, na contracorrente do continente, apoiaram ditas eleições.
Além disso, Weisbrot denuncia também o envolvimento de um lobista ligado a
Hillary no processo que retirou Zelaya do poder. Ele afirma que Lanny Davis, advogado e
lobista em Washington e ex conselheiro legal de Bill Clinton havia sido contratado pela
coalisão de interesses empresariais latinoamericanos para representar os setores golpistas em
Honduras56.
Honduras é o que Pecequilo (2012) classificaria como um país de baixa projeção
global e regional. Como se encontra na região do Caribe, imperativa para a geopolítica dos
Estados Unidos, sua política externa está historicamente subjugada aos interesses
estadunidenses. Mesmo durante o governo de Zelaya, quando Honduras buscou se desatrelar
da relação histórica com os EUA, ainda existia a Venezuela guiando o rumo das relações a
serem estabelecidas.
54 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090628_1430_honduras_arresto_med.shtml 55 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/diez-indicios-que-revelan-la-actitud-de-eeuu-respecto-al-
golpe-de-honduras 56 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/abogados-armas-dinero
Tendo em vista a posição geográfica de Honduras57 é de se esperar que as afrontas ao
interesse estratégico estadunidense não fossem toleradas. Ainda mais quando, para Spykman,
os países desta região não possuem capacidade de resposta (p.405). O golpe foi, portanto,
uma contra-ofensiva conservadora econômica e militarmente.
5. Conclusão
A tese central do presente trabalho foi mostrar o Golpe de Estado em Honduras,
pequeno e pobre país da América Central, que se encontra banhado pelo Mar do Caribe
comprova as teses de Spykman. Kaplan (2012), em sua leitura sobre a geopolítica
spykmaniana, refere-se ao Caribe como “quintal hemisférico”58 dos Estados Unidos, o que
denota a tutela do hegemon ao norte e que, portanto, nenhum desafio na região deve ser
tolerado.
Honduras fez parte, até 2009, de uma tendência regional de ascensão das esquerdas
nacionais que mudou os rumos da geopolítica na região da América Latina. De acordo com
Cairo (2008), a situação política apresentou uma possibilidade de autonomia inédita na
história dos países independentes da América Latina, com o descolamento dos projetos
políticos tanto da tutela europeia quanto da tutela estadunidense. Exemplos são a eleição de
Evo Morales59, o projeto bolivariano de Chávez e a política externa de Lula.
A transformação do Brasil em uma das maiores economias mundiais se deve ao
favorecimento das relações de integração sul-sul. Segundo Guaita (2014), mesmo após a
grande crise do subprime de 2008 o Brasil se encontrava em posição econômica protagonista,
regionalmente, o que se deve à cooperação com a Venezuela.
Isso exemplifica que, a nível regional, a Venezuela emerge como Estado pivô com
capacidade de afetar o equilíbrio de poder. Seu projeto de poder perpassa alianças com os
Estados que, de maneira perspicaz, reconhece como países de grande projeção em escala
internacional. Esses Estados possuem também propósitos que conflitam com a estratégia dos
Estados Unidos, dando a essas alianças caráter anti hegemônico. Isso gera possibilidades não
apenas para a Venezuela, como para todo o continente e parece agir em prol de uma
multipolaridade a nível regional e global.
57 No Mediterrâneo Americano, próximo da Nicarágua (alvo do projeto chinês de construção de um canal
interoceânico), com acesso tanto ao Mar do Caribe quanto ao Pacífico. 58 Tradução da autora. No original: “hemispheric backyard”. 59 Primeiro presidente indígena da Bolívia, cuja população é composta de cerca de 60% de indígenas.
Há, contudo, uma clara resposta que barra esta tendência. Um artigo da revista Time
afirma que as políticas de Obama - eleito sob a impressão de que as políticas para o
Hemisfério Ocidental sofreriam mudanças60 - se parecem as de Bush61 para a América Latina.
Foi durante seu governo que ocorreu também o golpe no Paraguai e o processo de
impeachment duvidosamente conduzido no Brasil. “Para o próprio Zelaya, sua destituição
[...] deu início ao ciclo que continuou com Fernando Lugo no Paraguai (2012) e Dilma
Rousseff no Brasil (2016).”62.
Mahan afirmava que a propulsão do poder estadunidense dependia dos mares, do
Caribe e do Pacífico (KAPLAN, 2012). Portanto, à falta do domínio completo da região do
Caribe, os Estados Unidos, seguindo o que afirmava Mahan, reforçam a Aliança do Pacífico e
propõem a Parceria Trans-Pacífico. Esta última, além de funcionar visando ao controle do
Pacífico e à recuperação da região do Mediterrâneo Americano (CABRAL, 2015), exclui
China, Rússia e Brasil, que compõem o grupo dos BRICS. Essas ações buscam desmobilizar
o caráter multilateral de governança global proposto pelo grupo e denotam a reação
estadunidense à perda de poder relativo.
A Rússia foi alvo das ações estadunidenses pois as “redefinições políticas internas e
externas realizadas pelos governos Putin e Medvedev (1999/2014)” (PECEQUILO, CARMO,
2014) funcionaram de modo a reposicionar este país estrategicamente diante do Ocidente.
Isso permitiu que a Rússia reagisse aos intentos estadunidenses de gerar instabilidades
geopolíticas com o avanço da OTAN para o leste através de sua aliança com a Venezuela,
conforme mencionado anteriormente.
Com relação à China, a política do governo venezuelano diz respeito a questões
econômicas e impulsionou o acesso chinês à região. Isto gera duas possibilidades para a
América Latina, vis-à-vis a força de seu poder econômico e seus propósitos estratégicos
globais: a alternativa à dependência, que faz com que os Estados tenham seu
desenvolvimento limitado à exportação de bens primários e commodities ou a simples
substituição do polo de dependência, que passaria dos Estados Unidos para a China. O que
não se pode questionar é que o crescimento da presença chinesa na região prejudica o
domínio dos Estados Unidos, tendo no Canal da Nicarágua exemplo de desafio estratégico.
60 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/diez-indicios-que-revelan-la-actitud-de-eeuu-respecto-al-
golpe-de-honduras 61 http://content.time.com/time/world/article/0,8599,1945440,00.html 62 https://br.sputniknews.com/americas/201705228450416-eua-america-latina-invasao/
Pecequilo (2014) considera que a Venezuela é um polo fraco de ameaça, mesmo
tendo em vista sua posição estratégica e seu bom relacionamento tanto com países andinos -
como Bolívia e Equador - quanto com atores maiores - como Brasil, China e Rússia -, sem
mencionar a aliança com o Irã. Afirma que, além das limitações por questões internas, sua
economia é pouco diversificada e o país ainda é muito dependente dos Estados Unidos em
relação ao petróleo - seu principal produto de exportação - para buscar uma projeção global.
O resultado desta pesquisa insiste, entretanto, em discordar humildemente. A posição
geográfica ocupada pela Venezuela faz com que sua “rebeldia” se constitua como real
problema para as políticas estadunidenses na região. De acordo com seu próprio conceito, a
Venezuela encontraria-se categorizada como um Estado pivô no cenário regional por exercer
influência no equilíbrio de poder regional, o que se comprova, lamentavelmente, através do
Golpe de Estado em Honduras.
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