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Conteudista: merson Santos
TEXTO 02
Texto 2
POLTICAS PBLICAS DE DIREITOS HUMANOS LGBT NO BRASIL
Ol, tudo bem? Espero que voc esteja gostando e aproveitando o nosso mdulo A Populao
LGBT e o SUAS. Caso voc esteja com alguma dvida ou queira dar alguma sugesto, passe l no
nosso frum e fique vontade.
No Texto 1 Homofobia, diversidade sexual e de gnero: conhecendo novos conceitos,
discutimos, de modo geral, sobre orientao sexual, identidade de gnero, homofobia, bem como
sobre algumas questes prprias da populao LGBT. Agora iremos dialogar um pouco sobre o
histrico das polticas pblicas de direitos humanos LGBT no Brasil para poder compreendermos
como e onde o SUAS pode atuar em relao a esse grupo populacional vulnervel.
Voc sabia que no Brasil existem algumas iniciativas governamentais para
promover o respeito aos direitos humanos e a cidadania da populao
LGBT?
Alguma vtima de violncia homofbica j buscou acolhimento na sua
unidade de trabalho?
Qual relao pode ser estabelecida entre as demandas da populao LGBT e
o SUAS?
O Brasil tem um histrico de violncia contra a populao LGBT que nos envergonha perante
o mundo. Infelizmente alguns levantamentos nos colocam entre os pases com maiores ndices de
assassinatos da populao LGBT, motivados por homofobia, no mundo1. Ao mesmo tempo, existe
no Brasil, um forte movimento social organizado que luta pelo fim dessa violncia e pela promoo
dos direitos humanos e da cidadania da populao LGBT. O movimento LGBT organizado no nosso
pas tem realizado diversas reivindicaes ao poder pblico, fomentando inciativas governamentais
como polticas pblicas de direitos humanos para a populao LGBT.
Um levantamento realizado por Cleyton Feitosa (2016), sintetizou o que o pesquisador
considerou como polticas pblicas para a populao LGBT no Brasil. Nesse levantamento foram
1 Acesse a matria: http://www.agenciajovem.org/wp/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-lgbt-no-mundo-e-os-numeros-
assustam/
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consideradas somente iniciativas do Governo Federal, sendo assim, no esto presentes algumas
iniciativas dos Governos Estaduais e Municipais.
A seguir iremos apresentar uma sntese desse levantamento realizado por Cleyton Feitosa
(2016), na Tabela 1 elaborada pelo autor. importante que voc, como trabalhador/a do SUAS,
conhea quais so as polticas de direitos humanos voltadas a populao LGBT no Brasil.
Conhecendo essas polticas voc poder atender melhor um a populao LGBT que busca
atendimento nos CRAS, CREAS e nos outros equipamentos do SUAS.
Tabela 1: Trajetria das aes estatais voltadas para a populao LGBT em mbito Federal
(FEITOSA, 2016)
AO NATUREZA DA AO ANO (*)
Criao do Programa
Nacional de Aids no
Ministrio da Sade
Embora no seja uma poltica exclusiva para LGBT
e nem vislumbre a garantia transversal da cidadania
LGBT, o Programa se configurou como estratgico
parceiro do Movimento LGBT no Estado, ainda
mais numa poca de pouco dilogo entre as duas
instncias. Essa estrutura tem por objetivo diminuir
a transmisso de HIV e Doenas Sexualmente
Transmissveis e melhorar a qualidade de vida das
pessoas vivendo com essas doenas. Apoiou
bastante o Movimento LGBT financiando projetos,
eventos e paradas do orgulho a partir do incio da
dcada de 90.
1988
Programa Nacional de
Direitos Humanos I
Breve meno dos homossexuais como detentores
de direitos humanos.
1996
Criao da Secretaria
Nacional de Direitos
Humanos
Tendo sido criada na estrutura do Ministrio da
Justia, foi fortalecida em 1999 passando a ser
chamada de Secretaria de Estado de Direitos
Humanos e o titular da poca conquistou status de
Ministro. No Governo Lula, em 2003, se torna
Secretaria Especial de Direitos Humanos com mais
recursos e estrutura. a partir desse perodo que a
agenda LGBT comea a ser gestada na poltica de
direitos humanos.
1997
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2 Essa era a sigla utilizada na poca para se referir a populao LGBT
Programa Nacional de
Direitos Humanos II
Contendo 10 metas especficas para GLTTB (sigla
poca), o Programa avanou no reconhecimento
da diversidade sexual no campo da cidadania.
2002
Programa Brasil Sem
Homofobia
Gestado no perodo Lula, fruto da parceria entre
Governo Federal e lideranas LGBT. Prev um
conjunto de aes que visam combater a
homofobia.
2004
I Conferncia Nacional de
Gays, Lsbicas, Bissexuais
Travestis e Transexuais
(GLBT poca)2
Convocada por Decreto Presidencial, representou
um marco na elaborao e construo de polticas
pblicas em conjunto com a populao LGBT
fortalecendo a participao social dessa populao.
a partir deste evento que a sigla GLBT passa a ser
LGBT, conferindo maior visibilidade a pauta
lsbica.
2008
Programa Nacional de
Direitos Humanos III
O PNDH-3 avana na agenda da populao LGBT.
Tendo sido construdo com mais participao
popular que os Programas anteriores.
2009
I Plano Nacional de Promoo
da Cidadania e DH de LGBT.
Fruto da I Conferncia Nacional GLBT, o Plano
contem 51 diretrizes e 180 aes, demonstrando
assim diversas demandas histricas da populao
LGBT.
2009
Criao da Coordenao
Geral de Promoo dos
Direitos de LGBT na estrutura
da SDH
A Coordenao foi criada com o objetivo de
articular as polticas previstas no I Plano Nacional
LGBT. Surge tambm para atender aquilo que o
Movimento LGBT chama de trip da cidadania
(Plano / Coordenadoria / Conselho).
2009
Instituio do Conselho
Nacional de Combate
Discriminao de LGBT e
Transexuais
Composto por 30 membros/as, representantes do
governo e da sociedade civil, o Conselho tem por
finalidade primordial formular e propor diretrizes
para a ao governamental.
2010
Instituio do Dia Nacional de
Combate Homofobia
Por meio de Decreto, o presidente Lula instituiu o
dia 17 de maio como o Dia Nacional de Combate
Homofobia. Essa uma data internacionalmente
celebrada em virtude da retirada da
homossexualidade do Cdigo Internacional de
Doenas da Organizao Mundial de Sade.
2010
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Disque 100 Direitos
Humanos
O Disque 100 funciona como um canal de denncia
em que segmentos vulnerveis vtimas de violncia
podem denunciar atravs de ligao telefnica. Em
fevereiro de 2011, passa a atender a populao
LGBT.
2011
Lanamento da Poltica
Nacional de Sade Integral da
Populao LGBT
Construdo por ativistas e membros do Ministrio
da Sade, a Poltica Nacional de Sade Integral
LGBT foi aprovada pelo Conselho Nacional de
Sade e prev um conjunto de aes em distintas
reas da sade como: produo de conhecimentos,
participao social, transversalidade, promoo,
ateno e cuidado. paradigmtica porque amplia
o foco de ateno do Estado dos problemas
relativos ao HIV/AIDS para necessidades mais
abrangentes da sade de LGBT.
2011
II Conferncia Nacional de
LGBT
Convocada pela presidenta Dilma Rousseff, teve
como objetivo central avaliar a execuo do I Plano
Nacional LGBT.
2011
Lanamento dos Anais da II
Conferncia Nacional de
LGBT e Transexuais
Documento composto por artigos de ativistas,
gestores/as, parlamentares, ministros do STF e
outras pessoas ligadas temtica LGBT. Ainda
contou com a publicao das diretrizes e moes
aprovadas na II Conferncia Nacional.
2012
Criao do Comit Tcnico de
Cultura LGBT
A Portaria n 19 de 17 de maio de 2012, publicada
no DOU, cria o Comit Tcnico de Cultura LGBT
que tem por objetivo formular polticas de
valorizao da Cultura LGBT para o Ministrio da
Cultura. O Comit conta com membros da
sociedade civil organizada.
2012
Lanamento do Relatrio de
Violncia Homofbica no
Brasil 2011 e 2012
Fruto da presso do Grupo Gay da Bahia (GGB),
que j contabilizava a violncia homofbica, o
Governo Federal lana, no ano de 2012, o balano
da violncia contra LGBT em 2011. Esse
mapeamento da homofobia no Brasil foi necessrio
para implementao de polticas de enfrentamento
a ela. No ano seguinte, em 2013, publica os dados
de 2012.
2012
E 2013
Lanamento do Sistema
Nacional LGBT
Demandado pelo Conselho Nacional LGBT, a
Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da
2013
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Repblica lana o Sistema Nacional de
Enfrentamento Violncia LGBT que tem por
objetivo a criao de Conselhos e Coordenadorias
estaduais e municipais, afim de construir e
fortalecer uma rede de polticas pblicas LGBT no
pas inteiro.
Instalao do Comit
Nacional de Polticas Pblicas
LGBT
No mbito do Sistema Nacional LGBT e em
articulao com o Frum Nacional de Gestores/as
LGBT, a Secretaria de Direitos Humanos instalou
esse Comit visando aproximar gestores/as da
poltica LGBT em todo o pas e articular um pacto
federativo das polticas LGBT atribuindo
responsabilidades e funes ao Governo Federal,
governos estaduais e municipais.
2014
Lanamento do Pacto
Nacional de Enfrentamento s
Violaes de Direitos
Humanos na Internet
Humaniza Redes
Considerando os altos ndices de violncias e
violaes de direitos humanos na internet, o
Governo Federal lana o Humaniza Redes como
um canal de denncias online que encaminha as
ocorrncias para setores responsveis pela
apurao e punio dos atos. A poltica prev em
seus eixos, trabalho preventivo com campanhas
online, em especial nas redes sociais populares
como Facebook e Twitter.
2015
III Conferncia Nacional de
Lsbicas, Gays, Bissexuais
Travestis e Transexuais
Diferentemente das outras vezes, a III Conferncia
Nacional LGBT aconteceu em abril de 2016
conjuntamente com as Conferncias da Criana e
do Adolescente, da Pessoa Idosa e da Pessoa com
Deficincia, bem como da XII Conferncia
Nacional de Direitos Humanos. Dessa experincia
resultou a assinatura de Decreto Nacional que
reconhece e utiliza o nome social de pessoas trans
e travestis em mbito Federal, publicado pela
presidenta Dilma Rousseff, em meio ao seu
processo de impeachment (2016). O tema deste
terceiro processo conferencial foi Por um Brasil
que Criminalize a Violncia contra Lsbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais.
2016
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O levantamento apresentando aponta cerca de
vinte aes para a promoo dos direitos humanos da
populao LGBT. Entre essas aes destaca-se o
DISQUE 100 que funciona como um canal de denncia
para que segmentos vulnerveis vtimas de violncia
possam denunciar atravs de ligao telefnica. O
DISQUE 100 uma ferramenta que deve ser utilizada
pelos trabalhadores/as do SUAS para incentivar os/as
usurios/as LGBT a denunciarem casos de violncia.
Um estudo realizado por Glaucia Almeida em 2008 refletiu sobre a importncia dos
profissionais que trabalham na assistncia social, sobretudo os assistentes sociais, a promoverem o
combate violncia homofbica, segundo a autora:
importante que o assistente social conhea as instituies que do atendimento
especfico ao pblico GLBT (Disques Defesa, agncias governamentais, servios
prestados por grupos ativistas e ONGs), a fim de que tanto o pblico quanto o
profissional possam efetivar denncias de violao e pensar parcerias em trabalhos
preventivos/educativos (ALMEIDA, 2008, p.138).
No seu estudo, Glaucia Almeida (2008), tambm chama a ateno para as questes de tica
relacionadas ao exerccio profissional do assistente social, tendo em vista que a Resoluo 489/2006
vedou quaisquer prticas de condutas discriminatrias. Comentando a Resoluo, a autora expe:
Entre os oito artigos que compem a Resoluo, o primeiro refere-se necessidade
de que o prprio assistente social se abstenha de prticas e condutas policialescas,
discriminatrias ou preconceituosas no que tange orientao sexual. Tal contedo
ratificado pelo quarto artigo que probe ao mesmo, que utilize tcnicas ou
instrumentos para criar, manter ou reforar preconceitos, estigmas ou esteretipos
relacionados ao assunto. O segundo, o terceiro e o quinto artigo tm uma abordagem
menos restritiva e mais afirmativa da necessidade de que o profissional tome atitudes
que afirmem o sentido da liberdade e do respeito deciso dos indivduos sobre sua
sexualidade/afetividade (contribuir para a reflexo tica); que busque eliminar no
seu espao de trabalho prticas discriminatrias e preconceituosas toda vez que
tiver conhecimento ou presenciar atos desta ordem; e que o profissional denuncie
ao CRESS pessoas jurdicas privadas ou pblicas ou pessoas fsicas que sejam
coniventes ou pratiquem atos discriminatrios desta natureza. Os outros trs artigos
decidem sobre as aes dos CRESS a partir de denncias (ALMEIDA, 2008, p. 137
e 138, grifos da autora).
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Percebam a importncia que o Conselho Federal de Servio Social (CFESS), atribui a conduta
profissional do/as assistentes sociais em relao a discriminaes motivadas por dio ou intolerncia
a diversidade sexual e a identidade de gnero. O CFESS atravs da Resoluo 489/2006 indica
inclusive que esses casos de violncia homofbica devem ser denunciados aos Conselhos Regionais
de Servio Social (CRESS).
Alm da atuao dos/as assistentes sociais, tambm dever de toda a equipe multiprofissional
(psiclogos/as, atendentes, advogados/as, educadores/as sociais, entre outros/as) que atua nos CRAS,
CREAS e demais unidades de atendimento do SUAS, ter uma conduta que respeite a orientao
sexual e/ou identidade de gnero dos/as usurios/as, bem como prestar apoio as vtimas de violncia
homofbica que procuram essas unidades de atendimento.
Retomando agora ao conjunto de polticas pblicas
de direitos humanos voltadas a populao LGBT no Brasil,
outra ao que destacou-se foi a criao do Sistema
Nacional LGBT no ano de 2013. Esse sistema visa: a)
Incentivar a instalao de Conselhos Estaduais, Distrital e
Municipais LGBT; b) Incentivar a instalao de
Coordenadorias Estaduais, Distrital e Municipais LGBT; c)
Incentivar polticas pblicas de Promoo da Cidadania e
Direitos de LGBT, como forma de enfrentamento
Violncia (FEITOSA, 2016).
Podemos entender o Sistema Nacional LGBT observando o Sistema nico de Sade (SUS) e
o prprio Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), entretanto enquanto estes dois nicos
sistemas tem um carter universal, o Sistema Nacional LGBT nasceu para ser um articulador de
polticas e aes que fortaleam a cidadania LGBT e o combate a homofobia.
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Outra ao relevante foi a instituio do I Plano Nacional de
Promoo da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, no ano de
2009. O objetivo desse plano foi Orientar a construo de polticas
pblicas de incluso social e de combate s desigualdades para a
populao LGBT, primando pela intersetorialidade e
transversalidade na proposio e implementao dessas polticas
(BRASIL, 2009, p.10).
O I Plano Nacional de Promoo da Cidadania e Direitos
Humanos de LGBT contm 10 aes diretamente relacionadas as
polticas de assistncia social e do SUAS. A ao 1.1.25, por
exemplo, continha a seguinte redao Reconhecer novos arranjos
familiares, tais como as unies homoparentais e os pares
homoafetivos, para fins de aplicao da Poltica Nacional de
Assistncia Social (BRASIL, 2009, p. 23). No Texto 3 vamos dialogar sobre o surgimento de novos
arranjos familiares e o atendimento desses novos formatos de famlias no SUAS.
A Populao LGBT e o SUAS: Algumas experincias
Agora que j conhecemos quais as iniciativas governamentais j realizadas no Brasil pelo
Poder Executivo Federal, poderemos compreender de maneira mais holstica como o SUAS j vem
colaborando com a promoo da cidadania e enfrentamento a violncia que acomete a populao
LGBT. Antes disso, importante que vocs compreendam que apresentamos at aqui apenas as
iniciativas governamentais que partiram do Governo Federal. Todavia, alguns estados e municpios
do nosso pas tambm tm dirigido ateno a promoo da cidadania da populao LGBT.
Tendo em vista que o SUAS organiza os elementos essenciais e imprescindveis execuo
da poltica pblica de assistncia social e tem entre seus objetivos a universalizao dos direitos
Seguridade Social e da proteo social pblica, esse sistema hoje a porta de entrada de muitas
pessoas LGBT em situao de vulnerabilidade social que necessitam da ateno da Proteo Social
Bsica (PSB) e da Proteo Social Especial (PSE) de mdia e alta complexidade.
Nesse sentido, o SUAS pode atender a populao LGBT atravs das suas unidade de
atendimento a usurios/as e beneficirios/as dos programas sociais, como os CRAS e CREAS, ou
atravs de forma intersetorial em dilogo com outras polticas pblicas e outros sistemas como o SUS.
Nos Textos 3 e 4, iremos discutir sobre quais os procedimentos mais adequados para atendimento de
usurios/as LGBT no SUAS. Agora, vamos exemplificar como o SUAS atua de maneira intersetorial
para promover a cidadania da populao LGBT, bem como para combater a violncia homofbica.
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A expresso intersetorial (intersetorialidade) se refere a realizao de uma ao ou atividade
em rede, promovida por vrios rgos, sistemas, unidades de trabalho, secretarias de governo, etc. De
acordo com Rose Marie Inojosa (2001), a intersetorialidade potencializa as aes das polticas
pblicas, bem como fortalece sua atuao na medida em que tem consequncia no planejamento e no
oramento.
Atualmente existe uma experincia exitosa de
poltica pblica intersetorial que envolveu o SUAS na
promoo da cidadania da populao LGBT. Essa
experincia foi promovida pela Prefeitura de So Paulo
com a criao do Programa TransCidadania. Esse
programa foi criado pelo Decreto 55.874 de 29 de
Janeiro de 2015, sancionado pelo ento Prefeito da
capital paulista, Fernando Haddad. Seu lanamento
tambm ocorreu no dia 29 de janeiro, data em que se
comemora o Dia da Nacional da Visibilidade Trans3.
Esse programa foi criado tendo em vista a situao social das pessoas travestis e transexuais
no Brasil que convivem diariamente com uma srie de negao e violaes de direitos humanos como
o acesso educao, sade, moradia, emprego e renda, entre outros. Alm disso, persiste no nosso
pas, uma alta taxa de assassinatos contra essa populao.
Um estudos realizado por Marcos Renato Benedetti (2005) junto a travestis e transexuais na
cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, revelou que so raras as travestis idosas nessa cidade,
pois muitas perdem suas vidas ainda muito jovens devido a complicaes relacionadas ao HIV/Aids
ou so vtimas de violncia. Lamentavelmente, esta no uma realidade apenas da cidade de Porto
Alegre. O ambiente da prostituio, onde convivem uma parcela significativa das travestis e
transexuais, oferece um grande risco as suas vidas.
Essa pesquisa realizada por Benedetti (2005) tambm revelou que em geral, ainda no incio
da puberdade as mulheres travestis e transexuais passam a utilizar vestimentas que esto relacionadas
ao gnero feminino. Ou seja, o simples ato de expressar suas identidades, algo comum para a
populao heterossexual, provoca uma intensa rejeio das suas famlias que as expulsam de casa e
cortam qualquer tipo de lao afetivo. A expulso do lar familiar, coloca essas pessoas em uma situao
de iminente vulnerabilidade social, colaborando para que elas ingressem na prostituio, pois sem
3 Para mais informaes sobre o dia da visibilidade trans, acesse:
https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/dia-da-visibilidade-trans-pelo-fim-da-violencia-contra-trans-e-
travestis/
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apoio da famlia, com baixa formao escolar e profissional restam possibilidades limitadas de
sobrevivncia.
Diante dessa realidade de negao de direitos das pessoas travestis e transexuais, o Programa
TransCidadania da Prefeitura de So Paulo tem por objetivo promover os direitos humanos, o acesso
cidadania, bem como a qualificao e humanizao do atendimento prestado a travestis e
transexuais em situao de vulnerabilidade social (PREFEITURA DA CIDADE DE SO PAULO,
2015). Inicialmente o programa atendeu um nmero de 100 travestis e transexuais, por meio de trs
frentes de atuao, sendo elas: autonomia, oportunidades e cidadania.
Autonomia por meio da incluso no CAD nico, Programa Bolsa Famlia e concesso de
uma bolsa mensal no valor de R$ 840,00. O objetivo do oferecimento da bolsa foi conceder um
rendimento para que as travestis e transexuais pudessem concluir o ensino bsico atravs da Educao
de Jovens e Adultos (EJA) e do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), oferendo assim
oportunidades profissionais e/ou ingresso no Ensino Superior.
A concesso de um auxlio financeiro para que as beneficirias do programa possam se dedicar
aos estudos , de fato, um elemento central dessa poltica, tem em vista que sem o auxlio financeiro
da Prefeitura, as travestis teriam que continuar trabalhando a noite na prostituio para se manterem
e teriam grandes dificuldades de estudar. De acordo Benedetti (2005), boa parte das travestis e
transexuais que trabalham na prostituio passam por grandes dificuldades financeiras.
Outra frente de ao do TransCidadania foi a de Oportunidades garantidas atravs do acesso
ao Ensino Fundamental e Mdio pela EJA, acesso aos cursos do Programa Nacional de Ensino
Tcnico (Pronatec) e introduo ao mundo do trabalho e estgio, concedendo outras oportunidades
para alm da prostituio. E, finalmente Cidadania, atravs da oferta de curso de Cidadania, Direitos
humanos e Democracia, respeito ao nome social, preparao e adequao de servios, espaos e
equipamentos pblicos da sade, educao e assistncia social da Prefeitura de So Paulo.
Um levantamento realizado por Santos e Feitosa (2015) sobre os primeiros resultados do
Programa TransCidadania apontou que das 100 participantes do programa, apenas 10% evadiram do
curso, um nmero bem abaixo dos indicadores de evaso escolar no pas. A elevao da escolaridade
das travestis e transexuais uma das prioridades tendo em vista que 61% delas ingressaram no
programa sem ter finalizado o ensino fundamental (SANTOS; FEITOSA, 2015).
Percebam que o Programa TransCidadania prezou pela intersetorialidade com uma
participao significativa dos programas e entes que compem o SUAS, por meio do CAD nico,
Programa Bolsa Famlia e da Secretaria de Assistncia e Desenvolvimento Social da Prefeitura de
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So Paulo. O exemplo desse programa nos aponta que j existem, no Brasil, experincias de
promoo da cidadania da populao LGBT com a participao direta do SUAS.
Infelizmente o TransCidadania ainda uma experincia isolada, embora exitosa.
fundamental que o SUAS e seus/as trabalhadores/as tenham um olhar atento para as especificidades
da Populao LGBT que j convive diariamente diante de uma srie de violaes. Para o acolhimento
da populao LGBT no SUAS fundamental que seja respeitado o nome social das pessoas travestis
e transexuais, bem como que sejam reconhecidos os arranjos familiares homoafetivos/homoparentais
para a efetivao de um atendimento humanizado. O que voc compreende por nome social? E o
que voc conhece sobre as famlias homoafetivas/homoparentais? Como essas questes podem
impactar no atendimento da Populao LGBT no SUAS? Tenho certeza que voc est curioso/a,
mas estas e outras questes, sero abordadas nos prximos textos. Nos reencontramos em breve. Bons
estudos!
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Conteudista: merson Santos
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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. Acesso em: 10/09/2016.