polÍtica e planejamento educacional: as revisões do plano

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1 POLÍTICA E PLANEJAMENTO EDUCACIONAL: as revisões do Plano Plurianual 2008-2011 no governo Roseana Sarney (2009-2010) Jhonatan Uelson Pereira Sousa 1 Efigênia Magda de Oliveira Moura 2 RESUMO Este artigo discute se as revisões do Plano Plurianual-PPA 2008-2011 durante o governo Roseana Sarney (2009-2010) representaram mudanças na política e planejamento educacional inicialmente pensadas quando da elaboração desse instrumento no governo Jackson Lago (2007-2009). Palavras-chave: Plano plurinual. Política e planejamento educacional. Governo Roseana Sarney. ABSTRACT This paper discusses whether the revisions to the Public Budget 2008-2011 in the Roseana Sarney government (2009- 2010) accounted for changes in policy and educational planning initially thought when drafting such an instrument in the government Jackson Lago (2007-2009). Keywords: Public budget. Policy and educational planning. Roseana Sarney government. 1 INTRODUÇÃO O planejamento público ou planejamento governamental é um processo técnico e político de tomada de decisões e definição de rumos (MATUS, 1996), ou seja, não é um ato isolado, muito menos exclusivamente técnico (tecnocrático), desconsiderando a política e vice-versa. Esse planejamento, em geral, se traduz em planos, programas, projetos e ações. A problemática que move este artigo 3 diz respeito ao planejamento educacional do Governo Roseana Sarney (2009-2010), política materializada nos programas desenvolvidos pela Secretaria de Estado da Educação, programas contidos no Plano Plurianual-PPA 2008-2011. É importante ressaltar que Roseana Sarney assumiu o 1 Estudante de Pós. Universidade Federal do Maranhão. [email protected] 2 Mestre. Universidade Federal do Maranhão. [email protected] 3 Este artigo é um dos desdobramentos do projeto de pesquisa “Planejamento educacional no Estado do Maranhão”, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação da UFMA, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão-FAPEMA.

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POLÍTICA E PLANEJAMENTO EDUCACIONAL: as revisões do Plano Plurianual 2008-2011 no governo Roseana Sarney (2009-2010)

Jhonatan Uelson Pereira Sousa1

Efigênia Magda de Oliveira Moura2

RESUMO

Este artigo discute se as revisões do Plano Plurianual-PPA 2008-2011 durante o governo Roseana Sarney (2009-2010) representaram mudanças na política e planejamento educacional inicialmente pensadas quando da elaboração desse instrumento no governo Jackson Lago (2007-2009).

Palavras-chave: Plano plurinual. Política e planejamento educacional. Governo Roseana Sarney.

ABSTRACT

This paper discusses whether the revisions to the Public Budget 2008-2011 in the Roseana Sarney government (2009-2010) accounted for changes in policy and educational planning initially thought when drafting such an instrument in the government Jackson Lago (2007-2009).

Keywords: Public budget. Policy and educational planning. Roseana Sarney government.

1 INTRODUÇÃO

O planejamento público ou planejamento governamental é um processo técnico

e político de tomada de decisões e definição de rumos (MATUS, 1996), ou seja, não é

um ato isolado, muito menos exclusivamente técnico (tecnocrático), desconsiderando

a política e vice-versa. Esse planejamento, em geral, se traduz em planos, programas,

projetos e ações.

A problemática que move este artigo3 diz respeito ao planejamento educacional

do Governo Roseana Sarney (2009-2010), política materializada nos programas

desenvolvidos pela Secretaria de Estado da Educação, programas contidos no Plano

Plurianual-PPA 2008-2011. É importante ressaltar que Roseana Sarney assumiu o 1Estudante de Pós. Universidade Federal do Maranhão. [email protected]

2 Mestre. Universidade Federal do Maranhão. [email protected]

3 Este artigo é um dos desdobramentos do projeto de pesquisa “Planejamento educacional no Estado do Maranhão”, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação da UFMA, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão-FAPEMA.

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mandato após a cassação do governador Jackson Lago (2007-2009) por decisão do

Tribunal Superior Eleitoral-TSE, em abril de 2009. O PPA foi elaborado em 2008 no

mandato de Jackson Lago (Partido Democrático Trabalhista-PDT) e sofreu duas

revisões no mandato de Roseana Sarney (Partido do Movimento Democrático

Brasileiro-PMDB).

O PPA foi criado pela Constituição Federal de 1988, seguida pela Constituição

Estadual do Maranhão de 1989. Nele estão os objetivos do governo e os programas

setoriais com suas respectivas metas físicas e financeiras, bem como as fontes de

financiamento (impostos, taxas, transferências etc.) no horizonte de quatro anos. O

PPA é elaborado no segundo ano de cada governo, com vigência até o primeiro ano

do próximo governo, sendo que anualmente é revisado e ao fim de cada exercício,

avaliado. De forma simplista, por vezes, é chamado de orçamento ou orçamento

público, o budget anglo-saxão, porém ele vai além da programação orçamentário-

financeira.

Um dos principais problemas da formação social do Estado do Maranhão, de

onde falamos, é a ausência de alternância no poder político (SOUSA, 2010), pois nos

últimos quarenta e seis anos a oligarquia ou “dinastia” (GONÇALVES, 2000) liderada

pelo senador José Sarney, atual presidente do Senado Federal, exerceu a hegemonia

política praticamente de forma ininterrupta.

É necessário pontuar que o PPA 2008-2011 foi elaborado no seio de um

governo de transição. Portanto, em face da retomada do poder pela oligarquia e sendo

o planejamento um processo técnico e político, intui-se que as revisões nesse

instrumento mudem o sentido da política educacional planejada no Governo Jackson

Lago, adequando-a agora aos interesses do “novo” governo. Assim, importa-nos

enquanto objetivo central saber em que termos isso ocorreu.

Após esses elementos de natureza introdutória, iremos descrever e analisar as

duas revisões feitas nos programas aludidos durante o Governo Roseana Sarney

(2009-2010), objeto da primeira seção deste trabalho. A partir do observado,

traçaremos nossas considerações finais, com vistas a compreender em que medida a

política educacional inicialmente planejada registra mudança ou continuidade.

2 REVISÕES DO PPA 2008-2011 NO GOVERNO ROSEANA SARNEY

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O PPA 2008-2011 (MARANHÃO, 2007, p. 20) prevê 12 macro-objetivos, cada

um antecedido pela palavra “Maranhão”, são eles: Solidário, Saudável, Produtivo,

Trafegável, Educativo, Seguro, Empreendedor, Ambiental, Turístico, Cultural, Digital e

Gestor, correspondendo basicamente às Secretarias de Estado. Nos interessa o

macro-objetivo “Maranhão Educativo”:

Executar ações objetivando: consolidar a universalização do ensino fundamental; ampliar a oferta de vagas no ensino médio; erradicar o analfabetismo; democratizar o acesso ao ensino superior; garantir a educação especial e tratar a pré-escola e a educação infantil como o eixo estruturante da educação de qualidade. Para tanto, é preciso municipalizar, gradativamente, o ensino em todos os seus níveis. Ampliar e qualificar o quadro de docentes, melhorar, modernizar e expandir a rede física do ensino (p. 90).

Esse macro-objetivo abrange os programas referentes à educação básica e a

educação superior. Propomo-nos detalhar os programas previstos para a educação

básica, executados pela Secretaria de Estado da Educação-SEDUC, quais sejam:

Gestão de Políticas Educacionais; Expansão e Melhoria do Ensino; Expansão e

Melhoria da Rede Física; Educação Escolar Indígena; Educação do Campo; Educação

de Jovens, Adultos e Idosos; Educação Inclusiva.

O Governo Jackson Lago realizou uma revisão no PPA, porém esta não

representou mudança nas metas físicas e financeiras dos programas acima descritos,

apenas adequações nos objetivos e indicadores (MARANHÃO, 2008). Essa revisão foi

realizada por intermédio de consulta popular. O Governo Roseana Sarney (2009-2010)

foi responsável por duas revisões, nenhuma delas utilizou consulta popular. Para

efeito de exposição chamaremos de primeira e segunda.

2.1 Primeira revisão

A primeira revisão do PPA (MARANHÃO, 2009) do Governo Roseana Sarney

implicou três tipos de alterações nos programas: inclusão, exclusão ou mudança de

atributos.

I. No item inclusão o programa Educação do Campo recebeu duas novas ações: Saberes da Terra e Escola Ativa; o programa Gestão de Políticas Educacionais teve uma nova ação: Mutirão da Cidadania; o programa Expansão e Melhoria do Ensino teve também uma nova ação: De Volta ao Trabalho nas Escolas.

II. No que tange a exclusão o programa Educação do Campo perdeu duas ações: Projeto Saberes da Terra e Melhoria do Ensino Médio Integrado à Educação

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Profissional no Campo e o programa Expansão e Melhoria do Ensino perdeu a ação Saúde na Escola.

III. Quanto à mudança de atributo o programa Gestão de Políticas Educacionais teve seu objetivo alterado.

As mudanças, em síntese, incidiram sobre três programas: Gestão de Políticas

Educacionais, Expansão e Melhoria do Ensino e Educação do Campo.

Incluída no programa Gestão de Políticas Educacionais, a ação Mutirão da

Cidadania tem por finalidade “proporcionar atendimento às populações de baixa renda

dos municípios maranhenses detentor [sic] de menores IDH-M e de áreas de

aglomerações urbanas com bolsões de pobreza” (MARANHÃO, 2009, p. 323).

Essa ação foi introduzida em todos os programas das Secretarias de Estado e

diz respeito à oferta de medidas assistencialistas as pessoas mais vulneráveis

socialmente e suscetíveis politicamente, em vez de primar pela consolidação de uma

política pública de assistência social, se reedita os mutirões de oferta de serviços

públicos – tal qual os princípios neoliberais e a conformação ao Estado mínimo.

Quanto à mudança do objetivo do programa Gestão de Políticas Educacionais,

referida na revisão, não se observou nenhuma alteração. A finalidade continua sendo

“planejar e formular as políticas educacionais: coordenar, avaliar e controlar os

programas sob responsabilidade da secretaria; e, garantir o funcionamento do

sistema” (MARANHÃO, 2007, p. 187; MARANHÃO, 2009, p. 333).

A ação De Volta ao Trabalho nas Escolas tem por finalidade “preparar as

crianças, adolescentes e os jovens para o mercado capitalista e competitivo”

(MARANHÃO, 2009, p. 211). Essa ação claramente se coaduna com a manutenção da

dualidade estrutural reproduzida na dualidade da educação pública brasileira que é

cindida em uma educação para o mercado de trabalho e outra preparatória para a

universidade, a primeira destinada aos filhos da classe trabalhadora e a segunda aos

filhos da classe média. Vê-se que a finalidade do programa é bem explícita nesse

sentido, preparar-se-á para o “mercado capitalista e competitivo”.

Reforçando esse aspecto, temos a exclusão da ação Melhoria do Ensino Médio

Integrado à Educação Profissional no Campo, que tinha por finalidade “melhorar a

qualidade do ensino nas áreas de assentamentos e comunidades quilombolas, bem

como das escolas multisseriadas, através da estratégia metodológica Escola Ativa”

(MARANHÃO, 2007, p. 94). A idéia é justamente romper com a dualidade estrutural ao

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se defender uma educação integral e integrada. A exclusão dessa ação não

surpreende quando se recorda que o campo foi praticamente abandonado do ponto de

vista da política educacional implementada nos dois mandatos anteriores da

governadora Roseana Sarney (COUTINHO, 2008).

O programa Educação do Campo recebeu duas novas ações, como já dito. A

ação Projeto Saberes da Terra, cuja designação foi mudada para Saberes da Terra, se

articula à política nacional criada pelo Ministério da Educação, atualmente denominada

Projovem do Campo – Saberes da Terra. Tanto no PPA como na revisão aludida, a

finalidade permaneceu a mesma, isto é, “ofertar ensino fundamental integrado a

qualificação social e profissional dos jovens e adultos agricultores e agricultoras”

(MARANHÃO, 2007, p. 94).

O referido programa também teve incluída a ação Escola Ativa, que não fazia

parte do PPA. Originalmente foi um projeto implantado nos anos 1990, como uma

política compensatória as populações do campo, com vistas a reverter os baixos

indicadores de desempenho das classes multisseriadas, financiado pelo Banco

Mundial. Portanto, o projeto ora reeditado pretendeu melhorar os indicadores, mas não

acabar com as classes multisseriadas ou implementar uma política educacional

efetivamente sintonizada com as demandas reais das populações que vivem no

campo. A ação Saúde na Escola foi transferida para os programas da Secretaria de

Estado da Saúde.

2.2 Segunda revisão

A segunda revisão do PPA do Governo Roseana Sarney (2009-2010),

apresenta as alterações mais expressivas, pois já é reflexo da reeleição da

governadora (outubro/2010). Conforme o documento de revisão (MARANHÃO, 2010,

p. 29-30):

A política educacional, a partir de 2009, foi redirecionada, tendo como foco principal o fortalecimento da ação pedagógica na escola, cujas iniciativas visavam melhorar a qualidade do ensino. Esta política está em perfeita consonância com o Plano de Recuperação da Educação, lançado pela Governadora em 2009, que contempla a melhoria da infraestrutura física das escolas, a gestão escolar, a capacitação e valorização dos professores, a adesão aos novos e mais eficientes métodos de ensino e de capacitação para o mercado de trabalho. Para viabilizar as estratégias formuladas a equipe técnica da Secretaria de Estado da Educação realizou uma análise da estrutura programática do órgão, adequando-a à capacidade operacional dos recursos disponíveis,

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numa perspectiva de racionalidade na sua execução. Como resultado do trabalho, a SEDUC estruturou a programação do PPA 2008-2011 Revisado, que será executada em 2011, nos seguintes programas:

• Gestão de Políticas Educacionais; • Valorização dos Profissionais da Educação; • Expansão e Melhoria do Ensino; • Expansão e Melhoria da Rede Física. [grifos nossos]

Essa revisão faz um redesenho da estrutura programática do PPA 2008-2011.

Lembremos que a área educacional estava contemplada com sete programas e passa

a ter apenas quatro, sendo que a exclusão se deu justamente dos programas ligadas

aos setores historicamente marginalizados pela política educacional (indígenas,

campesinos, analfabetos e portadores de necessidades especiais), cujo déficit social

demanda, portanto, vultosos recursos e ações específicas.

A justificativa das exclusões dos programas Educação Escolar Indígena,

Educação do Campo, Educação de Jovens, Adultos e Idosos e Educação Inclusiva é a

mesma (MARANHÃO, 2010, p. 55-58):

(...) elegeu como meta o fortalecimento de alguns eixos, que seriam os pilares da administração do órgão e que certamente poderiam contribuir para a reversão da realidade educacional encontrada a saber: a gestão escolar; a avaliação; a formação; a inclusão digital; e a infraestrura física das escolas. A análise da estrutura de programação da SEDUC indicou a necessidade de enxugamento na programação encontrada, objetivando adequá-la à capacidade operacional dos recursos disponíveis (humanos, materiais, orçamentários e financeiros), perseguindo dessa forma a racionalidade da execução. A proposta apresentada com respaldo nas discussões e reuniões realizadas objetiva não só direcionar e orientar a 3ª Revisão do PPA para o exercício 2011, mas principalmente subsidiar a elaboração do PPA 2012-2015. Este Programa foi transformado em uma ação relevante, denominada (...) visando imprimir maior agilidade, eficiência, eficácia e efetividade na aplicação dos recursos em benefício do público alvo. [grifos nossos]

A lógica que presidiu a revisão foi a do modelo gerencial (foco, eficiência,

eficácia, efetividade, racionalidade), introduzido no Estado do Maranhão pela reforma

administrativa dos dois primeiros mandatos de Roseana Sarney (1995-2002),

sintonizada com os modelos de gestão neoliberal implementados no plano nacional

pelo governo FHC, no qual os fins se subordinam aos meios e o setor público adota os

critérios de gestão do setor privado, em prejuízo de uma educação pública, gratuita e

de qualidade socialmente referenciada (COUTINHO, 2008).

Assim, todos os programas tornaram-se uma “ação relevante” do programa

Expansão e Melhoria do Ensino, senão vejamos:

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I. O programa de Educação Escolar Indígena previa duas ações: a) implementação do Conselho Estadual de Educação Indígena e b) produção e distribuição de material didático-pedagógico. Com a revisão se reduziu a finalidade de garantir o funcionamento da educação escolar indígena do Estado.

II. O programa Educação do Campo previa três ações: a) projeto saberes da terra, b) implementação dos centros familiares de formação por alternância e c) melhoria da oferta da educação em áreas de assentamentos e quilombolas. Com a revisão se reduziu a finalidade de garantir o funcionamento da educação do campo no Estado.

III. O programa Educação de Jovens, Adultos e Idosos previa duas ações: a) educação e cidadania e b) erradicação do analfabetismo. Com a revisão passou a ter como finalidade elevar a escolaridade da população, buscando a alfabetização de crianças, jovens, adultos e idosos.

IV. O programa Educação Inclusiva tinha duas ações: a) implementação dos centros de educação especial e de apoio pedagógico e b) melhoria da oferta de educação especial. Com a revisão passou a ter como finalidade aumentar a oferta de vagas e melhoria da qualidade do ensino para alunos com necessidades educacionais especiais.

Todas essas ações tomaram como indicador o quantitativo de alunos

matriculados em cada modalidade. Além da inclusão dessas quatro ações no

programa Expansão e Melhoria do Ensino, foram excluídas três: a) instalação de

equipamentos de saúde, b) implementação de bibliotecas escolares e faróis da

educação e c) de volta ao trabalho nas escolas. Atentamos que esta última entrou na

revisão anterior e agora foi excluída.

Por conseguinte, temos as alterações nos programas Gestão de Políticas

Educacionais e Valorização dos Profissionais da Educação. A ação Apoio às Escolas

e Entidades Filantrópicas foi introduzida no programa Gestão de Políticas

Educacionais tendo como finalidade “garantir suporte (técnico e financeiro) às escolas

da rede oficial de ensino e entidades filantrópicas sem fins lucrativos, envolvidas com

trabalhos educacionais” (MARANHÃO, 2010, p. 66). Paralelamente foram excluídas as

ações a) Informações e Estatísticas; b) Sistema Maranhense de Avaliação do

Desempenho Escolar-SIMADE; c) Mutirão da Cidadania; d) Modernização da Gestão

Educacional; e e) Capacitação de Recursos Humanos.

Apesar de na justificativa da revisão afirmar que foco da Secretaria de

Educação se concentraria nas áreas de gestão escolar; avaliação; formação; inclusão

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digital e infraestrura física das escolas (MARANHÂO, 2010, p. 55). Observa-se,

contraditoriamente, a exclusão de ações relevantes para essas áreas como a

produção de informações e estatísticas, o SIMADE e a capacitação de recursos

humanos. Além disso, a ação Mutirão da Cidadania, incluída na primeira revisão é

agora retirada. Mais grave é que a ação incluída nesse programa abre espaço para a

transferência de recursos públicos para entidades filantrópicas “envolvidas com

trabalhos educacionais”, retomando a terceirização e a respectiva

desresponsabilização do Estado, registrada nos mandatos anteriores da governadora

(COUTINHO, 2008).

A ação Valorização do Profissional da Escola foi incluída no programa

Valorização dos Profissionais da Educação, tendo como finalidade “garantir a

valorização do [sic] profissionais da educação no Estado” (MARANHÃO, 2010, p. 78),

substituindo duas ações: a) revisão do Estatuto do Magistério e Elaboração do Plano

de Carreiras, Cargos e Salários e b) avaliação de desempenho profissional. A revisão

do atual Estatuto do Magistério é exigência da Lei do Piso Salarial Profissional

Nacional (Lei N.º 11.738/2008) e provavelmente não será concretizada no exercício

2011, com sua retirada e substituição por uma ação genérica que apenas repete o

nome do programa, sem nada especificar. Não é a toa que os educadores e

educadoras estão em greve desde o início do período letivo deste ano.

3 CONCLUSÃO

Podemos concluir que a política e planejamento educacional delineados

inicialmente no PPA 2008-2011, cujo foco estava nas idéias de universalização,

democratização e qualidade em todos os níveis e modalidades foram paulatinamente

alterados e redirecionados. A partir das revisões realizadas pelo Governo Roseana

Sarney, essas idéias foram substituídas pelos critérios de agilidade, eficiência, eficácia

e efetividade na execução das ações, cujo foco passou a ser a expansão ou a garantia

quantitativa de vagas nos níveis e modalidades.

Se em um primeiro momento os programas refletiam uma preocupação ou

sintonia com as reivindicações de setores historicamente ignorados ou com as

demandas dos trabalhadores/as em educação, agora passaram a representar explícita

ou implicitamente os interesses privados ou de valorização do capital, revigorando as

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práticas de demissão do Estado na implementação da política educacional e de

transferência da execução dessa política para terceiros. Não é mera coincidência que

as revisões não utilizaram qualquer mecanismo de consulta popular, pois nestes

espaços essa mudança poderia ser desvelada e questionada.

O caráter técnico e político do planejamento são observáveis quando o novo

governo impôs mudança significativa no sentido da política educacional atribuído pelo

governo anterior. O fato dos programas terem suas denominações preservadas

poderia nos iludir quanto a uma aparente continuidade, porém as mudanças ocorreram

não na superfície da nomenclatura, mas com inúmeras exclusões e inclusões de

ações que compunham esses programas, alterando-os ou esvaziando-os,

consequentemente tornando inócuas suas finalidades.

REFERÊNCIAS

COUTINHO, Adelaide Ferreira. Políticas Educacionais e ONGs. São Luís: Edufma, 2008. GONÇALVES, Maria de Fátima da Costa. A Reinvenção do Maranhão Dinástico. São Luis: Lithograf, 2000. MARANHÃO. Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento. Plano Plurianual 2008-2011. São Luís, 2007. ______. Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento. 1a Revisão do Plano Plurianual 2008-2011, referente ao período 2009-2012. São Luís, 2008. ______. Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento. 2a Revisão do Plano Plurianual 2008-2011, exercício 2010. São Luís, 2009. ______. Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento. 3a Revisão do Plano Plurianual 2008-2011, exercício 2011. São Luís, 2010. MATUS, Carlos. Adeus, senhor presidente: governantes, governados. São Paulo: Fundap, 1996. SOUSA, Jhonatan Uelson Pereira. Desafios ao desenvolvimento do Maranhão no âmbito do planejamento público recente (2007-2009). Cadernos de Pesquisa - Universidade Federal do Maranhão, v. 17, p. 65-76, 2010.