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Projeto Olho Vivo: “ A Iris dos Olhos da Segurança Pública” Uma análise Geográfica Área de Concentração: Análise Espacial Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz Mestrando: Ederson de Assis Carvalho PUC-MG Belo Horizonte 2008 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial

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Projeto Olho Vivo: “ A Iris dos Olhos da Segurança Pública”

Uma análise Geográfica

Área de Concentração: Análise Espacial

Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz

Mestrando: Ederson de Assis Carvalho

PUC-MG

Belo Horizonte

2008

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Programa de Pós-Graduação em Geografia –

Tratamento da Informação Espacial

Ederson de Assis Carvalho

PROJETO OLHO VIVO “ A IRIS DOS OLHOS DA SEGURANÇA PÚBLICA”

UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia Tratamento da Informação

Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção do título

de Mestre em Geografia.

Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz

Belo Horizonte

2008

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Carvalho, Ederson de Assis C331p Projeto Olho Vivo “a íris dos olhos na segurança pública”: uma análise

geográfica / Ederson de Assis Carvalho. Belo Horizonte, 2008. 100f. : Il. Orientador: Alexandre Magno Alves Diniz Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Geografia. 1. Violência urbana. 2. Criminalidade urbana. 3. Prevenção do crime. 4.

Segurança pública. 5. Câmeras de vídeo. 6. Polícia Militar de Minas Gerais. 7. Projeto Olho Vivo (Belo Horizonte, MG). I. Diniz, Alexandre Magno Alves. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.

CDU: 351.78

Ederson de Assis Carvalho

Projeto Olho Vivo “ A Iris dos Olhos da Segurança Pública” Uma Análise Geográfica

Trabalho apresentado à disciplina Geografia da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

____________________________________

Alexandre Magno Alves Diniz (Orientador) – PUC Minas

____________________________________

José Irineu Rangel Rigotti – PUC Minas

____________________________________

Luciana Teixeira de Andrade – PUC Minas

Dedico este trabalho a minha esposa Imaculada,

pela compreensão e carinho nos momentos de

ansiedade. A meus pais e irmãos que sempre me

proporcionaram apoio na realização dos meus

projetos e a minha afilhada Júlia.

AGRADECIMENTOS

Expresso meus agradecimentos às pessoas e instituições que contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho:

Ao meu orientador – Prof. Alexandre Magno Alves Diniz, pela amizade,

compreensão, auxílio, revisão, leitura crítica e observações realizadas durante o

desenvolvimento da dissertação.

A PMMG – Polícia Militar de Minas Gerais todos, os meus sinceros agradecimentos,

na pessoa do Coronel Nilo Sérgio da Silva, pelo total apoio, principalmente no início do

curso, tornado possível a realização do Mestrado.

Ao Sargento Alisson Eustáquio Gonçalves, que me emprestou todo seu tempo e dedicação para a conclusão deste trabalho. A todos os meus sinceros agradecimentos.

RESUMO

O sistema de monitoramento eletrônico, através de câmeras, assim como muitas das

denominadas “novas tecnologias”, apresenta-se não como opção, mas como fato concreto

desse cotidiano. A utilização desses dispositivos de vigilância, geralmente definidos como um

recurso para inibir assaltos, evitar depredações e identificar criminosos, é um fenômeno cada

vez mais recorrente no mundo, de tal forma que hoje em dia é difícil percorrer ruas, praças,

parques, shoppings, aeroportos ou outras áreas de circulação pública, sem deparar-se com

eles. Dentro desse contexto encontra-se a implantação de câmeras no Hipercentro de Belo

Horizonte, denominado Projeto “Olho Vivo”. Este trabalho tem como objetivo analisar dados

estatísticos e os índices de criminalidade, no Hipercentro de Belo Horizonte, área da 6ª

Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais. Identificando a incidência

criminal, antes e após a implantação do sistema de monitoramento eletrônico. A partir da

análise de ocorrências atendidas entre 2002 e 2006, serão analisados os chamados “crimes

violentos”. Nesta categoria estão incluídos o assalto a transeunte e o furto a transeunte, como

também, na categoria de prevenção a delitos a averiguação a pessoa suspeita.

Palavras-chave: Violência urbana, prevenção da criminalidade, Projeto Olho Vivo, câmeras

de vídeo e Polícia Militar.

ABSTRACT

The electronic monitoring system through the use of cameras, as well as many of the

so-called “new technologies”, is not just an option but also a concrete fact of the daily routine.

The usage of such surveillance devices, usually defined as a tool to inhibit thievery, avoid

vandalism and to identify criminals, is a increasing phenomenon throughout the world. So

today it’s difficult to go to streets, squares, parks, shopping malls, airports or other public

areas without encountering them. In this context the deployment of cameras in the Belo

Horizonte hyper center, called Project "Olho Vivo" is stabilized. This study aims at analyzing

statistical data and crime rates in the hyper center of Belo Horizonte, area of the 6th Company,

1st Battalion of the Military Police of Minas Gerais.. Identifying the criminal incidencia,

before and after the implementation of the system of electronic monitoring will be checked.

From the analysis of occurrences taken care of between 2002 and 2006. The so-called “violent

crimes” will also be analyzed. In this category it’s included the thievery to citizens as also,

crime prevention by investigating suspects.

Words-key: Urban violence, prevention of criminality, Project Alive Eye, cameras of video

and Military Policy.

LISTA DE FIGURAS

Fl.

FIGURA 1: Localização da área de estudo......................................................................................... 18

FIGURA 2: Imagem de satélite da área do Hipercentro de Belo Horizonte...................................... 19

FIGURA 3: Tomada da praça Rio Branco em Belo Horizonte 1905................................................ 37

FIGURA 4 : Vista Aérea Pça. Raul Soares/Av. Olegário Maciel – 1950.......................................... 38

FIGURA 5: Vista aérea de Belo Horizonte – com destaque para a Praça da Liberdade - 2006.... 40

FIGURA 6: Vista aérea da Praca 7 de Setembro, na Avenida Afonso Pena com Avenida

Amazonas, centro de BH....................................................................................................................

43

FIGURA 7: Fachada do 1º BPM – 2007.......................................................................................... 53

FIGURA 8: Regiões da Polícia Militar de Minas Gerais – RPM...................... ................................. 55

FIGURA 9: Câmera, Rua Tupinambás esquina Com Curitiba, Centro de Belo Horizonte ............ 59

FIGURA 10: Câmera, Rua Tamoios esquina com Olegário Maciel, Centro de Belo Horizonte...... 59

FIGURA11: Câmera, Avenida Amazonas com rua Curitiba, Centro de Belo Horizonte ............... 60

FIGURA 12: Ciclo de Atendimento do Projeto Olho Vivo............................................................. 62

FIGURA 13 : Mapa (pontos) concentração espacial de furtos a transeuntes no Hipercentro de Belo

Horizonte – 2002 a 2006.....................................................................................................................

76

FIGURA 14: Mapa (pontos) concentração espacial de assaltos a transeuntes no Hipercentro de

Belo Horizonte – 2002 a 2006............................................................................................................

77

FIGURA 15: Mapa (pontos) concentração espacial de averiguação a cidadão em atitude suspeita

no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006..............................................................................

78

FIGURA 16: Mapa (Kernel) concentração espacial de furtos a transeuntes no Hipercentro de Belo

Horizonte – 2002 a 2006....................................................................................................................

79

FIGURA 17: Mapa (kernel) concentração espacial de assaltos a transeuntes no Hipercentro de

Belo Horizonte – 2002 a 2006...........................................................................................................

80

FIGURA 18: Mapa (kernel) concentração espacial de averiguação a cidadão em atitude suspeita

no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006...............................................................................

81

LISTA DE GRÁFICOS

GRAFICO 1: Furto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002 a 2006 GRÁFICO 2: Assalto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002 a 2006 GRÁFICO 3: Averiguação de indivíduo em atitude suspeita no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002 a 2006

LISTA DE SIGLAS

AISP – Áreas Integradas de Segurança Pública em Minas Gerais

BPM – Batalhão da Polícia Militar

CDL/BH – Câmara de Dirigentes Logistas de Belo Horizonte

CF _ Constituição Federal

CIA/PM – Companhia da Polícia Militar

CIAD – Centro Integrado de Atendimento e Despacho

CICOP – Centro Integrado de Comunicações Operacionais

CNCG – Conselho Nacional dos Comandantes Gerais

CONAD – Conselho Nacional Antidrogas

CPCia – Coordenador do Policiamento da Companhia

DIAO – Diretriz Auxiliar de Operações

DPSSP – Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública

MAHB – Museu Histórico Abílio Barreto

PBH – Prefeitura de Belo Horizonte

PIB – Produto Interno Bruto

PMMG – Polícia Militar de Minas Gerais

PRODABEL – Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte

PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência

RISP´S – Regiões Integradas de Segurança Pública

RPM – Região da Polícia Militar

SEDS – Secretaria de Defesa Social

SIGS – Sistema de Informações Geográfica

SISNAD – Sistema Nacional Antidrogas

ZQC – Zonas Quentes de Criminalidade

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 13

1.1 Objetivos da pesquisa.................................................................................................... 16

1.2 Estrutura e organização do texto ................................................................................ 17

1.3 Localização da área de estudo...................................................................................... 18

2. MARCO TEÓRICO - CONCEITUAL

2.1 Violência e criminalidade ............................................................................................ 20

2.2 Determinantes da criminalidade ................................................................................ 22

2.2.1 Teoria Ecológica ........................................................................................................ 23

2.2.2.Teoria da patologia individual...................................................................................... 24

2.2.3 Teoria da anomia social ............................................................................................ 25

2.2.4 Teoria da escolha racional.......................................................................................... 26

2.3 Criminalidade, tipificação, evolução e geografia........................................................ 27

2.4 Impactos.......................................................................................................................... 28

2.5 Agentes e vítimas ........................................................................................................... 31

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO HISTÓRIO- GEOGRÁFICO DO

HIPER-CENTRO DE BELO HORIZONTE

3.1 Belo Horizonte, planejamento e organização urbana ................................................ 35

3.2. População flutuante e fixa ........................................................................................... 40

3.3 Serviços e dinâmica sócio-econômica do Hipercentro .............................................. 41

3.4 Principais problemas ................................................................................................... 43

4. O APARATO PREVENTIVO E REPRESSIVO OFICIAL – A PMMG E SEUS

PROJETOS DE IINTERVENÇÃO

4.1 A Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG................................................................ 47

4.2 Estrutura da PMMG...................................................................................................... 52

4.3 O 1º Batalhão da Polícia Militar (1º BPM).................................................................. 52

5. O PROJETO OLHO VIVO.......................................................................................... 56

5.1 O monitoramento eletrônico....................................................................................... 56

5.2 A tecnologia empregada.............................................................................................. 57

5.3 A operacionalização do sistema e suas características............................................. 60

5.4 A legislação sobre uso de imagens.............................................................................. 62

6. METODOLOGIA

6.1 Introdução....................................................................................................................... 65

6.2. Fases da pesquisa.......................................................................................................... 66

7. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

7.1 Análise Temporal........................................................................................................... 72

7.2 Análise Espacial............................................................................................................. 73

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 84

9. REFERÊNCIAS............................................................................................................. 87

10. ANEXOS.......................................................................................................................... 93

13

CAPITULO I

1. INTRODUÇÃO

A necessidade de segurança é uma das características mais marcantes da espécie

humana e buscar soluções concretas para o problema da criminalidade é, em pleno início do

século XXI, um dos maiores desafios não só para os governantes, como também para toda a

sociedade. O fenômeno da violência é um dos fatores que mais tem preocupado a sociedade

atualmente. Afinal, existe um crescimento de quase todos os tipos de crimes, principalmente,

nos grandes centros urbanos.

Apesar da violência e da criminalidade constituírem uma expressão presente nas sociedades humanas e em todo o processo histórico, vive-se hoje uma situação sem precedentes em que, juntamente à sua escalada sem limites, presencia-se a sua consolidação como uma realidade central da sociedade contemporânea (CAMARGO, 2002, p.25).

O aumento da violência e criminalidade no Brasil têm proporcionado um intenso

debate, tanto da sociedade civil organizada como pelos órgãos de defesa social, com a

finalidade de elucidar suas causas, procurando medidas de prevenção, repressão e contenção,

buscando, também, a melhor forma de políticas públicas de segurança para enfrentamento

desse fenômeno.

Hoje, por menor que seja a localidade, a violência está presente e a população alarmada

com seu crescimento. Existem modalidades de crimes que apresentam acentuadas taxas de

crescimento: são os chamados crimes violentos, ou seja, aqueles que se caracterizam pelo seu

alto poder ofensivo e pelos seus reflexos negativos para a população quanto à sensação de

segurança subjetiva.

Nesta categoria, estão incluídos, o homicídio consumado, homicídio tentado, roubo

consumado, roubo à mão armada consumado, estupro tentado, estupro consumado, seqüestro

e cárcere privado, latrocínio, e extorsão mediante seqüestro.

O centro das metrópoles, por ser o local de maior concentração de comércio,

estabelecimentos bancários e outros equipamentos, além de ser o espaço da heterogeneidade,

acrescido pelo fluxo diário de transeuntes que circulam por esse espaço, torna-se um campo

14

fecundo para a criminalidade contra o patrimônio, principalmente os assaltos e furtos, como

tem sido demonstrado pelos altos índices de ocorrências registrados pelas pesquisas.

O recrudecimento da violência trouxe uma série de impactos. Sua maior incidência

tem implicado numa maior proporção de recursos alocados na área de segurança pública, em

detrimento de importantes áreas, como saúde, educação e infra-estrutura urbana. Do ponto de

vista econômico, a violência gera uma perda de bem estar para a sociedade, o que se reflete na

perda direta de qualidade de vida, já que os recursos que poderiam ser empregados em outras

áreas sociais são carreados para a prevenção e combate da criminalidade.

Vivencia-se a disseminação da violência e da criminalidade, culminando em pânico e mobilizando ações de pessoas e grupos que buscam proteger-se, e, paralelamente, um desalinhamento entre a sociedade e o Estado, perpetrado na descrença da Lei e da justiça, o que gera uma situação de mal-estar e comprometimento do equilíbrio social (CALDEIRA, 2002, p. 38). Assim, pode-se ver que a extensão e a complexidade do problema vêm consumindo grandes esforços de uma sociedade perplexa e desorganizada para o enfrentamento do problema e que se vê drenada pelo aparato concreto da violência, que afeta de forma avassaladora a vida das pessoas em diversos níveis e de diversas formas (ZALUAR, 2002, p. 55).

Outro impacto lembrado por vários autores tem sido o aumento da sensação de medo

entre os brasileiros, em especial a partir da década de 1980. Entretanto, esta sensação é

atribuída a diferentes questões, que vão desde fatores como industrialização, urbanização,

migração, e pobreza, como também, ao desempenho de instituições como polícia, tribunais,

prisão e legislação (Caldeira, 2002).

Neste contexto, Minas Gerais ocupa local de destaque, quando se trata de

criminalidade. Segundo estudos realizados, os grandes centros urbanos, como Belo Horizonte,

Contagem, Uberlândia, Governador Valadares, Juiz de Fora, apresentam taxas de

criminalidade bastante elevadas. No caso específico de Belo Horizonte, acontece uma súbita

elevação das taxas de crimes violentos nos últimos anos.

O recrudescimento das taxas de criminalidade em Minas Gerais inspiraram uma série

de medidas por parte do Estado. Considerando a necessidade de se obter a maior efetividade

das ações operacionais, numa mesma área de responsabilidade territorial, garantindo-se

unidade de propósitos e apoio mútuo entre as instituições policiais, com vistas à convergência

de esforços e diante da escalada da criminalidade, cada vez maior, estão sendo tomadas

medidas com a finalidade de minimizar o crescimento da criminalidade.

15

Uma delas são as recém criadas Regiões Integradas de Segurança Pública - RISP's,

para atuação operacional integrada entre as Polícias Civil e Militar, em cumprimento ao Plano

Estadual de Segurança Pública. A integração geográfica entre as Polícias Civil e Militar

define a correspondência circunscricional das instituições que ficou estruturada em 16

(dezesseis) Regiões Integradas de Segurança Pública, em todo território do Estado.

Outra alternativa de combate a criminalidade foi a instalação de monitoramento

eletrônico, através de câmeras, do Hipercentro1 de Belo Horizonte. O sistema iniciou-se com

a instalação de câmeras de vídeo móveis e fixas, na região da Savassi, de forma experimental,

com o objetivo de potencializar o policiamento preventivo e caso fosse necessário, agir

repressivamente, bem como ampliar a atuação policial militar frente ao cometimento de

delitos.

O “Projeto Olho Vivo/BH”, inaugurado de forma sistemática em 13 de dezembro de

2004, contou com a participação da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte

(CDL/BH), em parceria com o governo do Estado de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo

Horizonte.

Esse sistema consiste na presença ocular da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG),

através da instalação de câmeras em pontos estratégicos dos locais de grande incidência

criminal na região central de Belo Horizonte e Savassi, por meio do monitoramento por

câmeras de vídeo, contando, atualmente, com 72 câmeras, tem a finalidade potencializar o

policiamento preventivo nos principais locais de concentração de delitos, denominados de

Zonas Quentes de Criminalidade (ZQC)2.

O sistema de monitoramento eletrônico, através de câmeras, assim como muitas das

denominadas “novas tecnologias”, apresenta-se não como opção, mas como fato concreto

1 Área definida como objeto de zoneamento (ZHIP) pela Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo Urbano n0 7165 de 27 de agosto de 1996, Cap. II, art. 7o., XXV: § 1º - Hipercentro é a área compreendida pelo perímetro iniciado na confluência das avenidas do Contorno e Bias Fortes, seguindo por esta, incluída a Praça Raul Soares, até a Avenida Álvares Cabral, por esta até a Rua dos Timbiras, por esta até a Avenida Afonso Pena, por esta até a Rua da Bahia, por esta até a Avenida Assis Chateaubriand, até a Rua Sapucaí, por esta até a Avenida do Contorno, pela qual se vira à esquerda, seguindo ao Viaduto da Floresta, por este a Avenida do Contorno, por esta, em sentido anti-horário, até a Avenida Bias Fortes e por esta ao ponto de origem. § 2º - Entende-se por área central a delimitada pela Avenida do Contorno. (BELO HORIZONTE, 1996) 2 Locais de alto risco, que provocam sensação de medo e insegurança e que tendem a restringir a mobilidade das pessoas, limitando assim as atividades sociais nesses locais.

16

desse cotidiano. A utilização desses dispositivos de vigilância, geralmente definidos como um

recurso para inibir assaltos, evitar depredações e identificar criminosos é um fenômeno cada

vez mais recorrente no mundo, de tal forma que hoje em dia é difícil percorrer ruas, praças,

parques, shoppings, aeroportos ou outras áreas de circulação pública, sem deparar-se com

eles.

A problemática principal, para a qual buscamos uma resposta, é a da eficiência do

monitoramento eletrônico no combate a criminalidade violenta, no Hipercentro de Belo

Horizonte (FIGURAS 1 e 2), área de responsabilidade territorial da 6ª Companhia da Polícia

Militar. A utilização das câmeras de vigilância contribui favoravelmente ou não para a

redução dos índices de criminalidade nas áreas monitoradas?

1.1 Objetivos da pesquisa

Diante do problema e pressupostos apresentados, este projeto de pesquisa tem por

objetivo geral:

� analisar dados estatísticos e os índices de criminalidade, dos principais crimes do

Hipercentro centro, quais sejam: assalto a transeunte e furto a transeuntes e, também,

as ocorrências de averiguação de pessoa suspeita, verificando se houve variação

significativa da criminalidade após a implantação do sistema de monitoramento

eletrônico, entre os anos de 2002 e 2006.

Objetivos específicos:

� analisar, comparativamente, o processo de implantação do “Projeto Olho Vivo/BH”, e

a incidência criminal na região, antes e depois da instalação do Projeto Olho Vivo;

� verificar a contribuição do monitoramento eletrônico para o combate a criminalidade

no Hiper-Centro de Belo horizonte e seus reflexos para a segurança pública; e

� avaliar se as câmeras são instrumentos potencializadores das ações preventivas e

repressivas da Polícia Militar.

17

1.2 Estrutura e organização do texto

Este trabalho compõe-se de oito partes, sendo que após esta introdução segue o marco

teórico conceitual que aborda as seguintes questões: conceitos básicos sobre violência e

criminalidade, determinantes, os impactos da criminalidade, seus agentes e vítimas, algumas

teorias sobre o crime, além da criminalidade – tipificação, evolução e geografia. A terceira

parte apresenta a contextualização do espaço histórico-geográfico do Hipercentro de Belo

Horizonte, o planejamento e organização urbana, bem como os seus fluxos e fixos (população

flutuante, população fixa, serviços e dinâmica socio-econômica do hipercentro, principais

problemas).

A quarta parte constitui-se de uma breve descrição do aparato repressivo oficial – a

Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e seus projetos de intervenção, estruturação da

Polícia Militar, além de um relato sobre a História do 1º Batalhão da Polícia Militar,

responsável pelo policiamento na área abordada na dissertação.

Na quinta parte, será apresentado o “Projeto Olho Vivo/BH”, os avanços tecnológicos,

o monitoramento eletrônico em outras regiões, a tecnologia empregada no Projeto Olho

Vivo, a legislação vidente sobre o uso de imagens e a operacionalização do sistema e suas

características.

Na sexta parte, será apresentada a metodologia utilizada no trabalho, fases da

pesquisa, as análises temporal e espacial, o Sistema de Informações Geográficas (SIGs), a

estatística espacial e as fases da pesquisa. Serão apresentados os recursos utilizados para

confecção das tabelas, mapas e deduções sobre a análise criminal do monitoramento

eletrônico através de câmeras.

Na sétima parte, através de um conjunto de mapas, gráficos e tabelas relativos aos

anos de 2002 a 2006, será feita a análise temporal e espacial e interpretação de dados, visão

dos delitos de maior incidência, análise dos delitos, discussão dos resultados da criminalidade

no Hipercentro de Belo Horizonte.

Por fim serão apresentadas considerações finais, conclusões e sugestões sobre o

monitoramento eletrônico em Belo Horizonte e seus reflexos no combate a criminalidade.

18

1.3 Localização da área de estudo

FIGURA 1: Localização da área de estudo

18

19

FIGURA 2: Imagem da área do Hipercentro de Belo Horizonte, com destaque para a área da 6º Cia PM / 1º BPM

Fonte: Google Earth, acesso em 25 de jan 2008

20

CAPITULO II

2. MARCO TEÓRICO – CONCEITUAL

O presente capítulo versa sobre a literatura da criminalidade, com ênfase em sua

dimensão espacial, conceitos, determinantes da criminalidade, impactos, vítimas e agentes. O

problema da violência será apresentado através de um breve painel de teorizações, apoiando-

se, para tanto, em trabalhos construídos por autores que se debruçaram nos estudo de formas

para combater a criminalidade.

A violência possui muitos significados. Varia de sociedade para sociedade. O que é

considerado violência no Brasil pode não ser em outro país. Um dos maiores desafios é

definir, exatamente, o que seja violência.

Então, a violência varia segundo a natureza da sociedade, da comunidade considerada,

é um fenômeno polissêmico e plural, existe uma intrínseca ligação entre a violência e cultura.

Na seqüência, buscar-se-á apresentar um arrazoado sobre os conceitos de crime e

violência. Através de uma visão mais abrangente do fenômeno da violência, serão discutidos

conceitos, idéias e teorias que servirão como suporte para esta dissertação, envolvendo a

caracterização e a contextualização da violência e da criminalidade nos cenários geográfico,

demográfico, sociológico, dentre outros, como também a discussão do embasamento

teórico que norteia o desenvolvimento das pesquisas na área.

2.1 Violência e criminalidade

O fenômeno da criminalidade intensificou-se no Brasil, principalmente, a partir dos

anos 1980, atingindo índices cada vez mais altos, mormente nas metrópoles e regiões

metropolitanas. No entanto, essa realidade atinge tanto a escala global quanto a local,

constituindo-se num dos maiores desafios para a sociedade e os governantes na atualidade.

Apesar da violência e da criminalidade constituírem expressões presentes nas sociedades humanas ao longo de todo o processo histórico, vive-se hoje uma situação sem precedentes em que, juntamente à sua escalada sem limites, presencia-

21

se a sua consolidação como uma realidade central da sociedade contemporânea. Vivencia-se a disseminação da violência e da criminalidade, culminando em pânico e mobilizando ações de pessoas e grupos que buscam proteger-se, e, paralelamente, um desalinhamento entre a sociedade e o Estado, perpetrado na descrença da Lei e da justiça, o que gera uma situação de mal-estar e comprometimento do equilíbrio social (CALDEIRA, 2002, p. 28).

A violência, como uma epidemia (SOUZA, 1994), consolida-se de variadas formas e

em variados ambientes. Surpreendentemente, áreas antes pacatas vêem-se expostas a

situações de violência de toda ordem, tanto em escala mundial quanto local. Enquanto isso,

assiste-se, quer em ambientes públicos, quer em privados, à exacerbação do fato violento em

detrimento dos fatores geradores de seu saneamento e da apropriação desses mecanismos por

todo o conjunto da sociedade.

A sociedade vive o espelhamento de uma ordem mais ampla de tensões e se organiza deficientemente Dessa forma, tanto nas grandes metrópoles, quanto nas áreas em desenvolvimento, a violência tem ocorrido indiscriminadamente, destacando-se entre as principais causas de morte em muitos países. Por outro lado, o cotidiano oculto da violência, vivida por largas parcelas das populações urbanas, raramente encontra ressonância nas manchetes e imagens deste espetáculo (BEATO FILHO, 2001c, p. 17).

Agressões, espancamentos, entre outras formas de violência praticadas pelos bandidos

e polícia, .[...] constituem atos cotidianos que não fazem parte das estatísticas, pois as

pessoas, por medo de represálias, se calam. (KOWARICK, 2002, p. 29).

Assim sendo, a violência passa a constituir um elemento estruturador, ao mesmo tempo, que banal e assustador, das ações e pensamentos do dia-a-dia de nossas metrópoles, tornando-se tema recorrente e espetacular de noticiários e reportagens da grande mídia. Esse cenário sociocultural de acirramento dos imaginários que olham os “outros” como os despojados de humanidade, como ameaçadores, acaba por acentuar uma mentalidade exterminatória. (KOWARICK, 2002, p. 24).

Pode-se ver que a extensão e a complexidade do problema vêm consumindo grandes

esforços de uma sociedade perplexa e desorganizada para o enfrentamento do problema e que

se vê drenada pelo aparato concreto da violência, que afeta de forma avassaladora a vida das

pessoas em diversos níveis e de diversas formas (ZALUAR, 2002).

Diante desta inquietante situação, vale refletir sobre o significado dos conceitos de “violência” e “criminalidade”, cuja virulência perpassa por todo o reticulado simbólico das relações humanas, tanto no nível privado quanto público, atingindo o desfecho pela palavra ou pela ação praticada. A violência, assim, se apresenta em diversos níveis, e seu desencadear caracteriza a transgressão do nível de permissividade social, produzindo um mal-estar testemunhal dos atos transgressores (HOUAISS; VILLAR, 2002).

22

Para Houaiss; Villar (2002), violência, etimologicamente, vem do latim, violabilis, e..,

possuindo as seguintes significações:

qualidade do que é violento av. da guerra ;2. ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra(alguém); ato violento, crueldade, força [...] 3. exercício infinito ou discricionário,ger. ilegal, de força ou de poder [...]7. JUR constrangimento físico ou moral,exercido sobre alguém para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação (HOUAISS; VILLAR, 2002, p. 2866).

A violência pode manifestar-se de várias formas. Um tipo de violência seria a que se

produz quando a sociedade coletivamente, ou por meio de grupos significativamente

importantes participa ativamente, neste caso seria a guerra.

Podem ocorrer violências dos tipos institucional ou estatal, que seriam exercidas pelas

instituições legitimadas para o uso da força, ou da arma de fogo, quando, na prática de suas

prerrogativas, vão além do uso legítimo da força.

A violência cultural seria um outro tipo exercido por uma pessoa ou um grupo de

pessoas, caracterizado pela utilização de diferença para inferiorizar o outro, desconhecendo,

portanto, a identidade do seu próximo. Aconteceria por meio de mecanismos discriminatórios

ou vexatórios, nela estariam inseridas as violências originadas nas diferenças de gênero ou

grupos étnicos.

Por fim, existe a violência do tipo individual. Sua principal característica seria o fato

de ter origem social e de se manifestar de um modo inter-pessoal, nela estão incluídas as

violência domésticas, contra crianças, contra a mulher e idosos.

2.2 Determinantes da criminalidade

Existem muitas interpretações acerca dos fatores condicionantes da criminalidade,

dentro e fora dos círculos acadêmicos. Algumas pessoas, por exemplo, tendem a associar o

desemprego, a pobreza e as crises econômicas com o aumento dos níveis de criminalidade.

No entanto, essa associação é intuitivamente simples. Evidências empíricas disponíveis não

23

têm dado suporte a esta noção. Dados estatísticos nos mostram que, quando se observa a

associação entre desemprego, pobreza, níveis salariais e ciclos econômicos, de um lado, e

níveis de criminalidade de outro, as correlações são geralmente baixas e insuficientes para

atribuir a tais variáveis independentes impactos significativos sobre as taxas de criminalidade.

As principais abordagens sobre as causas da violência e criminalidade podem ser

encontradas em fatores biológicos, psicológicos ou psiquiátricos. De uma maneira geral, tanto

biólogos como psicólogos têm mostrado que haveria disfunções ou desvios de características

do criminoso em relação às pessoas que não cometem crimes. A idéia de que a criminalidade

se constituiria em uma espécie de ajustamento de problemas mentais ou biológicos que o

indivíduo teria ligação a outros problemas derivados de relacionamentos sociais. Adiante,

serão apresentadas algumas teorias sobre a criminalidade, pertinentes ao assunto estudado

neste trabalho.

2.2.1 Teoria Ecológica

A junção da Teoria da Ecologia Humana com o método de observação participante foi

uma das principais contribuições da Primeira Escola de Chicago, que sustentava que os

mesmos métodos adotados pelos antropólogos poderiam ser empregados na investigação do

homem civilizado. Segundo a teoria, o crime é algo não determinado pelas pessoas, mas sim,

pelo grupo a que pertencem. Desta forma, o comportamento humano seria modelado e

limitado pelas condições sociais presentes nos meios físico e social.

A teoria da Ecologia Humana fundamenta-se em dois conceitos de ciência natural: 1)

simbiose, e 2) invasão, dominação e sucessão, baseando-se na perspectiva de vida coletiva

como um processo adaptativo consistente da interação entre meio-ambiente, população e

organização.

Ao estudar a criminalidade, essa teoria privilegia os aspectos sociológicos em relação

aos individuais. O crime é, assim, considerado um fenômeno ambiental, compreendendo

aspectos físicos, sociais e culturais.

24

A temática preferida pela Escola de Chicago denomina-se a "sociologia da grande

cidade", orientava a análise do desenvolvimento urbano, da civilização industrial e,

correlativamente, a morfologia da criminalidade nesse novo meio e atentava para o impacto

da mudança social, especialmente evidente nas grandes cidades norte-americanas

(industrialização, (i)migração, conflitos culturais etc.).

A teoria ecológica explica este efeito criminógeno da grande cidade, valendo-se dos

conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e, sobretudo,

invocando a debilitação do controle social nestes núcleos.

A deterioração dos "grupos primários" (família etc.), a modificação "qualitativa" das

relações inter-pessoais que se tornam superficiais a alta mobilidade, e a conseqüente perda de

raízes no lugar de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a

tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais onde se acumula riqueza e o citado

enfraquecimento do controle social criam um meio desorganizado e criminógeno. Segundo

essa teoria, os movimentos populacionais em grandes núcleos urbanos produziriam a

criminalidade.

2.2.2 Teoria da patologia individual

Esta teoria, apesar de constar nos estudos de criminologia no Brasil, considerado um

determinismo biológico, ainda serve como ponto de partida para a criminologia científica,

mesmo sendo pouquíssimo utilizada na sociedade contemporânea. No entanto, para

contextualizar esse trabalho torna-se importante compreender como eram definidos os

delinqüentes no passado.

A antropologia de Lombroso (1835-1909) representou a diretriz antropológica. Sua

obra “Tratado Antropológico Experimental do Homem Delinqüente”, publicada em 1876,

marca as origens da criminologia científica.

O autor utilizou-se de um método empírico em suas investigações acerca da teoria do

"delinqüente nato", que, por sua vez, foi formulada com base em resultados de mais de 400

autópsias de delinqüentes e seis mil análises de delinqüentes vivos. Trabalhou-se, ainda, com

25

a noção de atavismo, a partir da análise de descendentes ou ascendentes familiares associados

a tipos criminosos diversos, a partir de minucioso exame de vinte e cinco mil reclusos de

prisões européias.

Do ponto de vista tipológico, Lombroso distinguia seis grupos de delinqüentes: o

"nato" (atávico), o louco moral (doente), o epilético, o louco, o ocasional e o passional. Essa

tipologia seria enriquecida, posteriormente, com o exame da criminalidade feminina e do

delito político.

Lombroso iniciou suas investigações antropológicas a partir do que supôs encontrar ao

examinar o crânio de um conhecido delinqüente (“uma grande série de anomalias atávicas,

sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebelar mediano

(vermis), análoga à que se encontra nos vertebrados inferiores”).

De acordo com o seu ponto de vista, o delinqüente padece uma série de estigmas

degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande

desenvolvimento dos arcos supraciliares, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e

occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, orelhas em forma de asa, tubérculo de

Darwin, uso freqüente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso

freqüente de um determinado jargão, altos índices de reincidência etc.).

2.2.3 Teoria da anomia social

A explicação mais tradicional sobre a criminalidade é a teoria da anomia. De acordo

com essa abordagem, a motivação para a delinqüência decorreria da impossibilidade do

indivíduo atingir metas por ele desejadas. A teoria está relacionada ao sucesso econômico.

Segundo essa teoria, o individuo frustrado por não conseguir o que almeja, em virtude de suas

condições financeiras, como por exemplo uma roupa ou um tênis da moda, sente-se excluído

da sociedade, tendo, portanto, propensão a cometer crimes, visando assim, poder participar da

sociedade como as demais pessoas.

Batitucci (2002:15) diz que as pressões sociais para a materialização de

determinado objetivo culturalmente valorizado, está relacionada na mesma proporção das

26

pressões para uma possível desregulação dos meios acessíveis para o atingimento deste

objetivo.

“Anomia se refere, basicamente, à ausência de regulação social da cooperação entre funções e papeis diferenciados na sociedade, {...} uma ausência de um ‘corpo de regras’ que regularmente a cooperação entre as partes diferenciadas da sociedade. {...} a anomia se refere à disjunção entre valores coletivos e consciência individual, pela quebra das ‘fronteiras morais’ que estratos estabelecem para limitar aspirações individuais, é a desorganização individual e a negociação da ordem coletiva.” (PAIXÃO apud BATITUCCI, 2002, p.13)

2.2.4 Teoria da escolha racional

Já a Teoria da Escolha Racional entende que o indivíduo escolhe se vale à pena

cometer crime, avaliando o que pode perder e o que pode ganhar com a ação criminosa. Nesta

escolha tanto haveria aspectos que beneficiariam o autor do crime, como também possíveis

sanções aplicáveis a ele, se nem tudo ocorrer como planejado. Trata-se, portanto, de uma

análise fria da relação custo-benefício.

Batitucci (2002, p. 37) diz:

“Um primeiro pressuposto básico das teorias criminológicas baseadas na idéia de escolha racional é o pressuposto de que é mais eficiente, no que se refere à prevenção e diminuição dos índices de criminalidade, observar e entender não o criminoso e a sua motivação, mas o contexto de ocorrência do ato criminoso entre si, o que facilita, o que dificulta e quais as circunstâncias associadas à sua ocorrência.”

Cohen e Felson (apud Batitucci, 2002, p.38) definiram “a estrutura das atividades

rotineiras das pessoas”, referindo-se às suas atividades do dia-a-dia. Fatores como a hora em

que elas saem para o trabalho, quantas pessoas ficam em casa e a que horas voltam

influenciam diretamente a incidência criminal e estão intrinsecamente associados à

criminalidade.

Isso é fácil de ser percebido, por exemplo, no crime de arrombamento, em que o

criminoso tem total controle do movimento das pessoas, sabendo inclusive, os horários de

saída e chegada dos moradores de uma residência.

27

Para Cohen e Felson (apud BATITUCCI, 2002, p.38):

{...} mudanças estruturais no padrão das atividades rotineiras das pessoas podem influenciar as taxas de criminalidade, afetando a convergência dos três elementos mínimos para o cometimento de crimes (contra o patrimônio): criminosos motivados, alvos atingíveis e a ausência de ‘guardiões’ capazes de impedir o crime. A ausência de qualquer destes elementos é suficiente para impedir a ocorrência de crime e, (de outro lado), a convergência no tempo e no espaço de alvos acessíveis e a ausência de guardiões capazes pode vir a aumentar largamente as taxas de criminalidade sem, necessariamente, uma mudança nas condições estruturais que motivaram os indivíduos a cometerem crimes {...} .

Percebe-se que existem várias teorias para a criminalidade. As teorias apresentadas

nesse capítulo podem ser empregadas, com as devidas proporções, contribuindo para explicar

a razão dos indivíduos cometerem os assaltos e furtos a transeuntes, objeto de estudo dessa

dissertação.

2.3 Criminalidade – tipificação, evolução e espaço

“a análise geográfica pode levar a interessantes e relevantes hipóteses da espaciaidade da criminalidade, já que além da lei, do ofensor e do alvo, a localização das ofensas é uma importante dimensão que caracteriza o evento criminal e está sendo considerada pro criminólogos ambientais, em associação estreita com os conhecimentos dos geógrafos, como a abordagem do futuro. Para tanto, é necessária uma estreita cooperação entre geógrafos com filosofias diferentes, sociólogos, criminólogos e demais profissionais estabelecidos no campo da justiça criminal. (FELIX, 2002, p. 78).”

Um aspecto observado pela Geografia do crime fundamenta-se no fato de que o

comportamento das pessoas é baseado em certas rotinas e hábitos ajustados às características

do ambiente onde vão atuar.

De maneira geral, o mesmo ocorre com os criminosos: suas ações decorrem de

decisões a partir de oportunidades oferecidas pelos padrões locais de atividades humanas que

produzem vítimas em potencial (movimento de pedestres, pessoas com compras ou que saem

com dinheiro dos bancos nos dias de pagamento etc), ou oferecem objetivos para serem

atacados (estacionamento de veículos em locais de diversão, áreas comerciais sem movimento

no período noturno ou fins de semana).

28

Os delinqüentes atuam de acordo com princípios de racionalidade: oportunidade,

benefício e risco. Se uma área oferece oportunidades, inclusive pela deficiente ação de

vigilância, privada ou policial, há a tendência de relativa fixação dos delinqüentes no local,

inclusive por conhecer pessoal de apoio, vias de fuga, esconderijos e a concorrência de outros

criminosos.

Felix (2002, p. 55) comenta que os roubos com violência são mais característicos de

regiões centrais, pois se favorecem da aglomeração, que tanto facilita a apreensão do objeto

quanto a fuga dos autores. É onde se encontram as chamadas ruas perigosas, também

conhecidas como zonas quentes de criminalidade (ZQC), locais de alto risco, que provocam

sensação de medo e insegurança e que tendem a restringir a mobilidade das pessoas,

limitando assim as atividades sociais nesses locais.

Paixão (1983) faz uma análise da relação entre a marcha evolutiva da violência e da

criminalidade com o processo de industrialização, que promoveu a concentração populacional

no meio urbano. Segundo Paixão o processo de industrialização desencadeou a aceleração da

urbanização e a conseqüente desorganização social, advinda do crescimento da pobreza e da

falta de controle social. Fatores estes que suscitaram o desvio social e a criminalidade

violenta.

2.4 Impactos da criminalidade

Outro importante aspecto associado à criminalidade diz respeito aos diversos impactos

por ela causados, impactos esses que atingem diversas dimensões. Segundo Kahn, nas últimas

décadas o Brasil, ao lado da Colômbia e do México tem apresentado altas taxas de

criminalidade, reflexo da urbanização e modernização aceleradas, desigualdade social e

elevação do padrão de consumo.

O fenômeno da violência apresenta alto custo, tanto para o Brasil como um todo,

quanto para os cidadãos brasileiros individualmente, tendo em vista que a segurança é um

bem almejado por todos, porém cada vez mais escasso. A fim de resguardar a segurança,

todos os dias as pessoas têm realizado atos de precauções e adquirido uma gama de bens no

29

mercado: seguro de todos os tipos; cães de guarda; equipamentos eletrônicos; além de

transformar suas casas em verdadeiras fortalezas contra o crime.

Desde o começo dos anos 1980 a violência e a criminalidade letais, principalmente

com emprego de armas, vêm aumentando em marcha acelerada no Brasil. Enquanto as mortes

por causas externas, como acidentes de trânsito, evoluíram a uma taxa anual de 2,4%, entre

1980 e 2004, o número de homicídios cresceu a 5,6% ao ano, fazendo com que os mesmos

representassem 37,9% do total de 127 mil mortes por causas não naturais, em 2004.

Segundo Carvalho (2007, pág 7) “se estas estatísticas representam a face mais

traumática e mais visível da violência e criminalidade no Brasil, por outro lado, elas não

esgotam as diversas formas e os respectivos custos que impõem à sociedade. Além dos seus

efeitos diretos sobre as vítimas e familiares e um maior dispêndio do Estado com os sistemas

de saúde, de justiça e de previdência social, a expectativa da violência gera alocações de

recursos pelas famílias e empresas em setores improdutivos (segurança privada), e pelo

próprio setor público (segurança pública).

Na outra mão, tais expectativas geram uma perda na acumulação de capital físico,

ocasionados por mudança de hábitos que inibem, além do turismo interno e externo, o

consumo de determinados bens e serviços, fazendo com que potenciais vítimas passem a

demandar menos atividades de lazer em locais públicos; e bens mais baratos que não atraiam

em demasia a atenção dos criminosos.”

Do lado da oferta, o custo da proteção leva as empresas a aumentarem os preços dos

seus bens e serviços, o que gera uma diminuição dos negócios. Muitas vezes, em situações

extremas e localizadas, onde a desordem e a criminalidade dominam, algumas empresas são

mesmo forçadas a abandonar determinadas operações e mudar de região, o que impõe custos

de desmobilização do capital.

A perda de capital humano ocasionada pela violência em si e pela expectativa da

violência é um fenômeno ainda mais grave. Além das milhares de vidas perdidas e da

morbidade física e psicológica, que suscitam perda de produtividade, uma maior taxa de

mortalidade juvenil, já que a maioria dos indivíduos que morrem devido a criminalidade são

jovens, na sua fase mais produtiva.

30

Rondon e Andrade (2003) estimaram o custo da criminalidade no município de Belo

Horizonte, em 2000. Os autores dividiram os fatores de custos em dois grandes grupos que

chamaram de custos endógenos e exógenos, que se referem, na literatura criminológica, aos

custos que decorrem da conseqüência do crime e em resposta ao crime, respectivamente. Os

primeiros não decorrem de uma decisão autônoma dos agentes e os últimos são provenientes

de expectativas dos agentes, que visam diminuir a probabilidade de vitimização no futuro. Os

autores ainda destacam que:

“ Dentre os custos exógenos foram relacionados: os gastos em segurança pública, que resultaram em R$ 340 milhões (ou 1,58 % do PIB municipal); os gastos em segurança privada que somaram R$ 60 milhões (ou 0,28% do PIB); e os gastos com seguros de veículos no valor de R$ 87 milhões (ou 0,4% do PIB). Em relação aos custos endógenos, o valor estimado para os furtos e roubos foi de R$ 172 milhões (0,79% do PIB), ao passo que a renda potencial perdida por conseqüência dos crimes letais foi de R$ 174 milhões (0,80% do PIB), e o atendimento às vítimas da violência foi de cerca de R$ 2 milhões. Os custos totais calculados foram, portanto, iguais a R$ 836 milhões, o que equivalia a 3,86% do PIB de Belo Horizonte em 2000. Os custos da criminalidade podem ser classificados como tangíveis, ou seja os que geralmente são computados, relacionados a perda de produção e renda das vítimas, como a quebra de produtividade no trabalho das vítimas da violência, horas de trabalho perdidas pelas vítimas, registro de queixa policial, processos criminais e outras atividades relativas a fase judicial.

Com relação aos custos intangíveis, os quais muitas vezes não são computados, dizem respeito ao sofrimento físico e mental, vale a pena citar: o turismo nacional e internacional, turistas preferem os locais menos violentos; investimentos empresarias perdidos, fabricas e lojas são instaladas em outros locais; perda da qualidade de vida, insegurança, medo, estresse; mudanças de estilo de vida, habitantes de cidades violentas, consomem menos em bares, cinemas, restaurantes.”

Segundo Rondon e Andrade (2003) o valor dos aluguéis em Belo Horizonte sofre

influência da criminalidade. Através de análises estatísticas, percebeu que o valor do aluguel

foi regredido contra um vetor de características do imóvel, de características locacionais do

imóvel e contra a taxa de crime na unidade geográfica considerada. Os resultados

estatisticamente significativos apontaram que para o decréscimo de cada unidade na taxa de

homicídios elevaria, em média, em 0,61% o valor dos aluguéis.

31

Cohen (2001) analisa os custos do crime sob uma outra perspectiva. O autor classifica

os custos da criminalidade em custos sociais e custos externos. Um custo externo é aquele

imposto por uma pessoa sobre outra, sendo que a vítima não aceita voluntariamente esta

conseqüência negativa. Por exemplo, os custos externos associados a um roubo em que há

violência física incluem a propriedade roubada, custos médicos, perdas salariais, assim como

o sofrimento sentido pela vítima.

O conceito de custo social, em oposição ao de custo externo, tem como referência a

sociedade e não o indivíduo na consideração das perdas decorrentes da criminalidade. Custos

sociais são aqueles que reduzem o bem-estar agregado da sociedade. Dessa forma,

transferências de propriedade ou de posse não constituem um custo social. Assim, os bens

roubados não são computados como um custo social, já que poderão ser desfrutados pelo

assaltante.

Cohen (2001) chama também a atenção para dois tipos de crimes cuja classificação dos

custos sociais e ou externos associados não podem ser feitos trivialmente, sem uma boa dose

de polêmica. O primeiro deles é o consumo e abuso de drogas. Claramente, por se tratar de

uso voluntário, os resultados prejudiciais sobre o consumidor não poderiam ser classificados

como custos externos.

2.5 Agentes e vítimas

Gottfredson (1990), ao discutir os resultados de várias pesquisas de vitimização, mostra

que 70% dos assaltos ocorrem nas ruas. As perdas das vítimas em geral são modestas (R$50

ou menos). Metade dos assaltos envolveu o uso de armas, e em mais de 60% dos casos existe

mais de um ofensor, geralmente com um mesmo perfil: pessoas jovens, homens e não

brancos, muitos deles alcoolizados ou drogados. Eles tendem a escolher suas vítimas nas

proximidades dos locais em que vivem.

As estatísticas de criminalidade mostram que boa parte dos envolvidos em crimes

violentos no Brasil apresenta um perfil bastante definido. São jovens do sexo masculino, com

idades entre 15 e 24 anos, geralmente pobres e moradores de periferias dos grandes centros

urbanos. Os homicídios têm sido a principal causa de morte nessa faixa etária, respondendo

32

por 40% dos óbitos. Em sua maioria, esses adolescentes tinham algum tipo de ligação com

delitos como roubo e tráfico de drogas.

A análise das causas de vitimização é muito importante, já que a própria vítima é,

muitas vezes, um dos fatores facilitadores do crime. Em alguns casos, a vítima pode precipitar

o crime. Nos tipos criminais, roubo e assalto a transeunte, muitas vezes a própria vítima

facilita, por exemplo, quando anda sozinha por locais ermos, quando ostenta dinheiro e/ou

outros objetos de valor. Deste modo, mesmo sabendo dos riscos, a pessoa assume os riscos

de assaltada ou furtada em detrimento da prevenção do delito.

Assim podemos também entender o papel do vitimizador, que por ter sido vítima da

desigualdade social, ou de qualquer outra forma atentatória dos Direitos Humanos, passa a

vitimar outras pessoas.

No Brasil a violência está intimamente ligada à condição de vulnerabilidade social de certos extratos populacionais, como por exemplo os jovens. Atualmente, esses atores sofrem riscos de exclusão social sem precedentes devido a um conjunto de desequilíbrios provenientes do mercado, Estado e sociedade que tendem a concentrar a pobreza entre os membros deste grupo e distanciá-los do “curso central” do sistema social. (Vignoli, 2001).

Alguns grupos de pessoas (crianças e adolescentes, idosos, moradores de rua) têm

maiores probabilidades a serem vítimas de delitos.

Garcia (1997) afirma:

“Articula-se por meio de campanhas técnicas e organização de atividades comunitárias. As primeiras esperam mudanças de atitudes, hábitos, estilo de vida e de comportamento na população em geral. As de caráter técnico orientam-se em relação a determinados grupos de risco, particularmente vulneráveis, para alertá-los, sugerindo medidas de prevenção elementares. As campanhas de orientação comunitária, por último, são dirigidas às pessoas de um bairro ou de uma determinada zona territorial. O propósito é alcançar uma maior vigilância da área, uma maior implicação na ativa prevenção do delito, que incremente os riscos para o delinqüente.”

Embora sejam necessárias para a conscientização e melhoria dos hábitos da

comunidade, as campanhas de prevenção têm obtido poucos resultados positivos. O grande

obstáculo para o sucesso destes programas é o fato das vítimas em potencial não considerarem

como real a possibilidade de serem vitimadas.

33

Neste sentido Garcia (1997) escreve:

“As campanhas de prevenção possuem sérios inconvenientes. Com freqüência, servem de fácil instrumento ou de pretexto para interessadas cruzadas contra o crime que manipulam o medo do delito, gerando, por sua vez, mais medo (situações de psicose coletiva), assim como políticas criminais de desmedido rigor, seletiva e discriminatoriamente dirigidas contra grupos ou subgrupos de sempre. Criam obstáculos não poucas vezes à serena ação policial, sob pretexto de colaborar com ela, ao empreender uma obsessiva caça do suspeito com denúncias sem fundamento. E, contribuem para os injustificados e inevitáveis excessos e arbitrariedade da autodefesa (vingança, represálias, linchamentos etc)”

Um dos crimes mais preocupantes é o assalto a transeuntes, segundo estudos

realizados, os alvos preferenciais nos assaltos à mão armada ocorridos em Belo Horizonte,

durante o ano de 1996, foram transeuntes. Assalto a transeuntes ocorre em maior número

devido à limitada capacidade defensiva das vítimas; as armas são geralmente utilizadas para

minimizar a possibilidade de reação das pessoas.

Beato Filho (2002b) destaca que os fatores que mais influenciam a ocorrência de delitos

urbanos são: a exposição e a proximidade entre a vítima e o agressor (alvo disponível), a sua

capacidade de proteção (espaço urbano coletivo ou privado), os atrativos das vítimas

(ofensor motivado e alvo disponível) e a natureza dos delitos para os quais o ofensor se

encontra motivado.

A exposição é definida pela quantidade de tempo em que os indivíduos freqüentam

locais públicos, estabelecendo contatos e interações sociais. O estilo de vida de cada

indivíduo determina em que intensidade os demais fatores estão presentes na vida. Assim,

determina em que medida de riscos os indivíduos se expõem ao freqüentar lugares públicos.

A proximidade da vítima do agressor diz respeito à freqüência dos contatos sociais

estabelecida entre ambos, o que depende do local de residência, das características

socioeconômicas e dos atributos de idade e sexo, assim como da proximidade de interesses

culturais. Indivíduos com a mesma idade costumam freqüentar os mesmos ambientes nas

atividades de lazer.

A capacidade de proteção está relacionada com o estilo de vida das vítimas.

Indivíduos que têm maior capacidade de resguardar-se, evitando contato com possíveis

34

agressores, têm menor probabilidade de ser vitimados. Por exemplo, indivíduos que andam de

carro, em vez de fazê-lo de ônibus, têm maior capacidade de proteção, porque diminuem a

possibilidade de contato com os agressores. Do mesmo modo, aqueles que contratam

segurança privada diminuem a probabilidade de serem vítimas de crime.

Nos grandes centros urbanos, a violência predomina Belo Horizonte não foge a regra,

apresentando grandes taxas de criminalidade. No capítulo seguinte faremos a contextualização

do espaço histórico–geográfico dessa metrópole.

35

CAPITULO III

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO HISTÓRIO-GEOGRÁFICO DO HIPER-

CENTRO DE BELO HORIZONTE

Belo Horizonte foi uma cidade planejada, tendo sido construída com traços marcantes

de centralidade, o que pode ser percebido através das praças, ruas e avenidas que se

encontram no perímetro circunscrito pela avenida do contorno. No entanto, assim como outras

metrópoles brasileiras, a capital mineira possui algumas peculiaridades, apresentado também,

alguns problemas, dentre os quais podemos destacar a violência urbana.

A vida em sociedade é resultado de um processo cultural que se concretiza pelas relações sociais que instituem símbolos que expressam uma determinada visão de mundo comum, manifestando-se em várias formas de comunicação como a linguagem, comportamentos, artefatos materiais, etc. Os símbolos instituídos terão capacidade de influenciar e controlar o comportamento humano, dependendo da sua capacidade de transmitir e reforçar um sistema ideológico já dado. A sociedade então pode ser considerada um agregado de relações sociais, e a cultura é seu conteúdo, enfatizando os recursos acumulados que as pessoas adquirem como herança, na medida em que os utilizam, transformam, acrescentam e transmitem. (VELHO, 1989)

3.1 Belo Horizonte, planejamento e organização urbana

No dia 17 de dezembro de 1893, é promulgada pelo congresso mineiro, em

Barbacena, a lei que estabelece a mudança da capital, que deveria ser construída na localidade

do arraial, chamado Curral Del Rei. A capital, inicialmente chamada de "Cidade de Minas",

foi inaugurada no dia 12 de dezembro de 1897, por Bias Fortes, Presidente de Minas (1894-

98). (PBH, 2007).

O Governo Estadual, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (2001) criou uma

Comissão de Estudos para indicar, dentre cinco localidades, a mais adequada para a

construção da nova cidade. A princípio a nova capital se chamaria Cidade de Minas, sendo

adicionado a Constituição Estadual o novo projeto, determinando que a nova sede da capital

fosse erguida onde hoje se localiza.

36

Os projetos de construção da nova capital de Minas Gerais, com seus desafios, foram

entregues à responsabilidade do engenheiro-chefe, Aarão Reis, encarregado da comissão

construtora. Dentre os desafios colocou-se, também, a necessidade da criação de

estabelecimentos comerciais, efetivados por iniciativa de empreiteiros para atender aos

imigrantes que chegavam e a capital apresentava problemas de abastecimento.

Segundo Barreto (1995), foram criados armazéns que ofereciam gêneros alimentícios

e utilidades, tendo uma freguesia composta por operários em sua maioria italianos. Os

aludidos armazéns, foram instalados em uma das principais ruas do centro comercial na

época, chamada de Rua General Deodoro, era nesta rua que se encontravam as casas

comerciais mais movimentadas, sendo comparada à atual Avenida Afonso Pena, devido a sua

importância.

A PBH (2007) elenca uma série de fatores que teriam favorecido a idéia de mudança da

nova capital. Primeiramente devido ao fato dessa capital poder destacar o cenário republicano,

Minas Gerais precisava mostrar-se politicamente unida e forte. A construção de uma nova

capital, localizada no centro geográfico do Estado, poderia facilitar o equilíbrio das diversas

facções políticas que então disputavam o poder. Os republicanos também desejavam

promover o progresso de Minas Gerias, tornando-o um Estado industrializado e moderno, já

que a cidade de Ouro Preto não oferecia condições adequadas para o crescimento econômico

adequado.

Um outro fator preponderante, segundo a PBH, seria o fato da cidade de Ouro Preto

guardar em sua arquitetura uma série de símbolos e marcas do passado colonial que os

republicanos queriam enterrar. Com suas ruelas e becos, suas igrejas barrocas e suas casas,

porões e senzalas, a velha capital lembrava os anos da dominação portuguesa, das

conspirações e da escravidão. A nova cidade, planejada, seguiria os valores da modernidade,

simbolizando uma nova era.

No decorrer do seu processo de ocupação e desenvolvimento, a zona urbana sofreu

várias intervenções do poder público direcionadas à limpeza da área central da cidade e à

preservação de seu espaço visando, acima de tudo, garantir a valorização imobiliária da

região. Em 1900, o então Prefeito Bernardo Monteiro ordenou a demolição de cafuas e

barracos, localizados na área central, concedendo, aos operários que residiam, ali lotes a título

provisório, na área suburbana da cidade, com um menor valor imobiliário. Percebe-se, através

37

da Figura 03, tomada da Praça Rio Branco, que quase não existiam construções, de grande

porte, na nova capital.

Tornou-se presença importante na cidade, nesse período, a figura de vendedores

ambulantes, conhecidos por mascates. É importante ressaltar que a formação de um pólo

comercial e industrial levou algumas décadas para se solidificar e, durante esse período, a

cidade conviveu com um comércio incipiente, constituído principalmente por essa categoria

de trabalhadores.

O problema do abastecimento da capital, desde os primórdios da sua construção, foi

uma grande preocupação das autoridades e, diante dessa dificuldade, os ambulantes

exerceram um papel fundamental, vendendo produtos variados. Comercializavam a preços

reduzidos produtos manufaturados e suas atividades provocavam desconfiança, pois seus

preços estavam abaixo do comércio local. Diante desse fato, havia suspeita de contrabando,

sonegação de impostos, venda de produtos de baixa qualidade e quantidade, sendo acusados

de enganar o Estado e os consumidores. Além disso, essa prática era considerada desleal

frente ao comércio oficial.

FIGURA 3: Tomada da praça Rio Branco em Belo Horizonte

Fonte: Site da Prefeitura de Belo Horizonte

38

Apesar do perfil apresentado anteriormente, os mascates e ambulantes foram dois

grupos importantes na formação da sociabilidade na região. Os comerciantes, em especial os

mascates, eram conhecidos pela população como turcos.

FIGURA 4 : Vista Aérea Pça. Raul Soares/Av. Olegário Maciel – 1950

Fonte: Acervo José Góes

Observa-se na (FIGURA 4) que o centro de Belo Horizonte foi constituído, no projeto

inicial da cidade, dentro da zona urbana com um traçado bem delimitado de sua área de

ocupação, através de espaços territoriais definidos, e com características de centralidade bem

marcantes. Os espaços do centro receberam, desde o início da ocupação da capital, grupos

sociais que reforçaram e, ao mesmo tempo, criaram uma identidade própria. As relações de

sociabilidade na região central foram constituídas não somente através das praças, para onde

convergiam todas as principais avenidas da cidade e local onde é de encontro, de

manifestações populares e de grandes cerimônias, mas também se faziam através da rua. O

intenso comércio atraía a circulação de pessoas que estabeleciam negociações com os

comerciantes baseadas em um relacionamento pessoal e de confiança.

39

A Avenida do Comércio, hoje Avenida Santos Dumont, constituiu-se no início do

século, como área do comércio atacadista, na qual foram instaladas também indústrias de

pequeno porte no fabrico de velas, massas, sabão, açúcar e bebidas. Outro espaço importante

de comércio foi a Rua dos Caetés que, durante quase 20 anos, se estruturou com lojas de

armarinhos e fazendas, fornecendo ao público uma variedade de quinquilharias, desde brincos

de fantasia a fivelas, argolas etc.

O caráter simbólico e as relações sociais que foram sendo constituídas nos diversos

espaços da região central definiram as peculiaridades e singularidades da região. Segundo

Arroyo (2004, p. 67), “nessa cidade de linhas retas, os locais de encontro dispostos

estrategicamente já assumiam um caráter de centralidade simbólica e estruturante”.

O centro tradicional de Belo Horizonte passou a ser considerado o pólo articulador e de

atração das práticas socioculturais e econômicas da capital, a partir dos anos de 1970.

No entanto, para alguns analistas nessa época, a transformação econômica e cultural

de Belo Horizonte deu-se mais no sentido de consolidá-la como uma metrópole periférica,

aumentando pouca sua área de influência sobre as cidades de periferia mineira.

O setor de serviços cresceu no período e se organizou de forma bastante efetiva na

região, buscando se instalar em áreas menos congestionadas e de fácil acesso. Esse setor

caracterizado por desenvolver atividades especializadas de alto grau de sofisticação,

contribuiu para impulsionar o movimento da região central no final dos anos de 1970 e início

dos anos de 1980.

A estrutura organizacional da região metropolitana foi estabelecida através da Lei do

Uso do Solo, concluída em 1976, que permitiu o uso comercial e de serviços, além dos

habitacionais no centro da cidade. A lei visou à verticalização com o objetivo de atrair para o

centro, populações de alta renda, preconizando a acessibilidade e as boas condições de infra-

estrutura do local.

A estrutura urbana de Belo Horizonte, em seus 110 anos de existência modificou-se

bastante. Belo Horizonte transformou-se em uma das metrópoles mais importante do país,

40

com uma rede urbana muito expressiva, haja vista a região metropolitana, com sua infra-

estrutura urbana e redes urbanas interligadas.

FIGURA 5: Vista aérea de Belo Horizonte – com destaque para a Praça da Liberdade - 2006

Fonte: Portal UAI

3.2. População flutuante e fixa

Apesar de ostentar o rótulo de “ser a primeira cidade planejada do Brasil”, Belo

Horizonte não se diferencia das outras grandes cidades no sentido de não conseguir responder

de forma adequada aos seus problemas. A cidade chega aos dias atuais com seus quase 3

(três) milhões de habitantes, apresentando os problemas característicos das grandes cidades,

dentre outros, o do recrudescimento da criminalidade. A população flutuante no centro é de

aproximadamente 1,5 milhão de pessoas por dia (útil). Além disso, existe um intenso tráfego

de veículos, que circulam, diariamente, a região do Hipercentro.

41

3.3 Serviços e dinâmica sócio-econômica do Hipercentro

O Hipercentro funciona como eixo integrador com os demais espaços metropolitanos,

devido, principalmente, à circulação diversificada de transportes coletivos, concentrando o

maior fluxo de pedestres e veículos automotivos. A população residente ou usuária é favorecida

pela acessibilidade e pela infra-estrutura do local, que apresenta um comércio diversificado e um

amplo setor de serviços.

De acordo com o Plano de Ação do Hipercentro (2000a), organizado pela PBH em

2000 “a região é a principal articuladora do sistema viário do município de Belo Horizonte e o

local de maior convergência e de trocas entre deslocamentos originados nas diversas regiões

de Belo Horizonte e dos municípios da Grande BH”. (PBH , 2000, p. 04).

O Plano Diretor da PBH, em 2000, definiu o Hipercentro como:

(...) uma área preferencial para a implantação de projetos especiais, visando a preservação do patrimônio e a melhoria de sua qualidade ambiental, das condições de segurança e de circulação para pedestres; um local de acesso privilegiado para o transporte coletivo e para o resgate das calçadas como espaço para circulação de pedestres;uma área da cidade que, pela grande concentração de edificações e espaços de interesse cultural, torna-se privilegiada para a implantação de políticas de valorização, proteção e promoção do patrimônio. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2000, p. 13-14. Plano de Ação para o Hipercentro).

No Hipercentro, concentra-se uma diversidade de atividades, abrigando a maior parte

dos setores financeiros, de comércio e serviços da capital, além do uso residencial. Possui um

dos mais altos índices de aproveitamento dos lotes e tem como característica a verticalização

de suas construções. No entanto, a região apresenta um esgotamento de áreas para novas

edificações, o que restringe a possibilidade de expansão.

A região do hipercentro simbolicamente é o “coração” de Belo Horizonte e, por isso,

tem uma vitalidade urbana importante, no sentido de atrair a população e manter-se

permanentemente em funcionamento. É ainda no Hipercentro, que se encontram algumas das

referências simbólicas mais importantes da cidade consideradas pela população (Praça da

Estação, Mercado Central, Parque Municipal, Palácio das Artes) e é também o local dos

conflitos de maior complexidade.

42

Em 2003, foi criado pela Prefeitura de Belo Horizonte um Programa de Requalificação

da Área Central de Belo Horizonte, denominado “Centro Vivo”. Este programa tem como

metas criar condições de reforçar o papel dessa área como centro simbólico da cidade e do

Estado; valorizar a diversidade de suas atividades, consolidando-a como local de encontros de

todos, e, ainda melhorar as condições de funcionamento do comércio local e suas condições

ambientais. Para isso, buscou-se incentivar a renovação das edificações e a valorização do

patrimônio.

De acordo com a Secretaria Municipal da Coordenação de Política Urbana e Ambiental

da Prefeitura de Belo Horizonte, a requalificação de que trata o Programa Centro Vivo se

refere à recuperação não somente dos espaços físicos, como também dos espaços públicos -

ruas e avenidas - além da preservação do patrimônio construído e da melhoria e manutenção

da infra-estrutura. A requalificação tem, ainda, como preocupação a qualidade ambiental, a

valorização da paisagem urbana, a melhoria das condições de mobilidade, a obtenção de

condições adequadas de segurança.

As diretrizes principais do programa Centro Vivo se caracterizam pela

interdisciplinaridade e os principais eixos traçados estão relacionados à: inclusão e

revitalização econômica, inclusão social, requalificação urbanística e ambiental, valorização

da memória cultural e a segurança, que inclui a melhoria da circulação de pedestres e

transporte coletivo. (FIGURA 6)

Dentro das ações desencadeadas pelo Programa Centro Vivo foi criado o projeto “É

bom trabalhar no Centro de BH” que apresentou como objetivos, a melhoria da oferta de

empregos no centro da cidade, a partir de sua potencialização e diversificação; a capacitação

de trabalhadores do comércio com o intuito de ampliar as condições deste setor se expandir e

se qualificar no centro da cidade; a organização do comércio na região central, tornando-o

mais adequado e atrativo para o consumidor; a promoção da inclusão de trabalhadores no

mercado formal, por meio da capacitação e a criação de melhores condições de trabalho para

o centro, com o oferecimento de creches e instalações de qualidade para os comerciantes.

43

FIGURA 6: Vista aérea da Praca 7 de Setembro, na Avenida Afonso Pena com Avenida Amazonas, centro de

BH. Reprodução do livro: Belo Horizonte Vista do Céu. Fotografia Nélio Rodrigues/Reprodução

Fonte Portal UAI, acessado em 05 janeiro de 2008

3.4 Principais problemas

A violência é considerada um dos principais problemas enfrentados pela população

que freqüenta e reside no Hipercentro e, ainda, há a falta de estacionamento, além das opções

de lazer que outrora seduziam os boêmios serem escassas e o fechamento do comércio

ocorrer, impreterivelmente, ao cair da noite. Ainda podem ser destacados como problemas

enfrentados pela área: elevados índices de poluição sonora, atmosférica e visual; ausência de

padronização e inadequação do mobiliário urbano; atividades que transbordam os

estabelecimentos comerciais (mesas, bancas e vitrines); dificuldade de carga e descarga;

disputa do espaço viário entre pedestres, veículos coletivos e particulares que circulam pela

área e a ausência de atratividade e de comunicação visual das fachadas.

44

De acordo com o Plano de Ação do Hipercentro realizado no ano de 2000, foram

apontados como problemas, além dos já citados, as seguintes questões:

� conflitos sócio-econômicos:

� comerciantes e camelôs;

� camelôs, toreros e ambulantes;

� moradores/lojistas e grupos ligados à contravenção e à prostituição;

� freqüentadores e população de rua.

� conflitos entre ações e políticas setoriais:

� transporte/trânsito e patrimônio;

� abastecimento e patrimônio;

� geração de renda(feiras e camelôs) e requalificação dos espaços. (PREFEITURA

MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2000, p. 11. Plano de Ação para o Hipercentro).

A região central de Belo Horizonte também foi submetida a uma reestruturação do

transporte urbano, através do Projeto Pace-Metrobel, que buscou uma reorganização dos

terminais coletivos e a proteção de algumas vias e quarteirões. O projeto, porém, não

conseguiu conter a deterioração de alguns novos pontos e algumas vias foram submetidas a

um processo de degradação sem limites.

Lemos destaca que apesar da criação do sistema coletivo bairro-a-bairro, o número de

freqüentadores e consumidores da região central não diminuiu, principalmente porque as

linhas continuaram a passar pelo Centro. Dessa forma, essa região continuou a receber um

grande público proveniente das classes baixa e média à procura não só da compra de

mercadorias, mas também para circular pelos espaços de entretenimento e lazer.

A região central, em especial a Praça da Estação e seu entorno, que foi utilizada

durante várias décadas para atividades culturais, caracterizando-se como um espaço de

manifestações e constituindo um fator de dinamização da área, foi aos poucos perdendo esta

característica. Somente em 1987, através de um movimento promovido pelo IAB – Instituto

dos Arquitetos do Brasil – a discussão quanto à retomada da questão cultural da praça foi

realizada e, na década seguinte, foi registrada a recuperação da Serraria Souza Pinto para

atividades culturais.

45

As décadas de 80 e 90 se caracterizaram pela deterioração da área central, que perdeu a

sua capacidade de local de permanência e transformou-se em local de passagem para as várias

regiões e bairros da cidade. Lugares que nas décadas passadas eram considerados como áreas

nobres, de encontro, tornaram-se locais perigosos e inseguros. O número de crianças,

adolescentes, mendigos, moradores de rua, camelôs, toreros aumentou de forma significativa

tornando a rua o lugar da moradia, do trabalho, da diversidade, do conflito e do medo.

O Centro passou a ser apropriado e ocupado pela população de classe baixa e, ainda,

pelos excluídos, que passaram a encontrar nas ruas do Centro, o espaço da sobrevivência. As

calçadas, viadutos e praças passaram a ser apropriados de forma indevida, gerando

desconforto nas áreas de uso coletivo, dificultando a circulação dos pedestres e levando a

intensificação no uso da rua como espaço de interesses privados, provocando a sua

decadência em alguns pontos.

Para alguns analistas, ocorreram nesse período uma degradação e esvaziamento da área

em função de um adensamento populacional e um estado de insegurança, provocado,

principalmente, pela falta de políticas públicas direcionadas à região.

A região da Caetés até a avenida do Contorno era importante para a cidade e foi se

degradando ao longo do tempo. A partir da década de 1920, a região da Rua Guaicurus com a

avenida Oiapoque foi sendo transformada em área de prostituição. As pessoas foram se

afastando, o comércio varejista saiu, deu lugar ao comércio atacadista.

O Centro gradualmente perdeu sua condição lúdica e espontânea das décadas de 40 e

50 e passou a se caracterizar por uma centralidade de base econômica e funcional. Nesse

contexto, novas e fragmentadas centralidades foram surgindo no tecido urbano e se

multiplicando, definindo um policentrismo e destruindo a singularidade e o valor simbólico

do centro.

Apesar da sobrevivência de alguns “pedaços” de territorialidade no centro, o cotidiano nervoso do final do século aponta para uma diversidade de possibilidades. Inicia-se a preponderância de uma forma de vida impessoal mais focada na natureza calculista, o metropolitano. Ao abrigar o estrangeiro, o centro ainda guarda um ndice de sedução, dada a sua tendência para a impessoalidade. (LEMOS, 2003, p. 228).

46

A região da rua Guaicurus, chamada de zona boêmia, sofreu transformações

significativas, principalmente no que se refere às práticas sociais e estilos de vida. Tornou-se

congestionada, heterogênea e em alguns pontos deteriorada, na qual a convivência entre os

grupos se tornou superficial com uma forte tendência à impessoalidade e ao isolamento.

Atualmente, a região citada no parágrafo anterior, é um dos locais mais preocupantes

para a Polícia Militar, tendo em vista que agrega um centro comercial muito expressivo, como

também, por ser uma área de grande movimentação de pessoas, tendo em vista estar próximo

a rodoviária e por agregar também a zona de baixo meretrício, apresentando altos índices de

criminalidade.

A Polícia Militar tem o poder constitucional de prevenção e repressão a criminalidade,

dentro desse contexto. No próximo capítulo será apresentado o aparato utilizado pela Polícia

Militar com vistas a redução dos índices de criminalidade no Estado.

47

CAPITULO IV

4. APARATO PREVENTIVO E REPRESSIVO OFICIAL – A PMMG E SEUS

PROJETOS DE INTERVENÇÃO

A criminalidade e a violência são fenômenos complexos, que se manifestam de formas

diferentes, têm causas diferentes, e exigem soluções diferentes em estados, cidades e bairros

diferentes. Em Belo Horizonte, como no Brasil, a criminalidade e a violência urbana são

problemas particularmente graves. O problema da criminalidade e da violência urbana deve

estar no centro das atenções no desenvolvimento de políticas e programas de prevenção.

4.1 A Polícia Militar de Minas Gerais - PMMG

A principal agência de combate aos delitos e que, de imediato, contribui para a

produção da prevenção, é a Polícia Militar, através do empenho diário de seus recursos

humanos que desenvolvem o policiamento ostensivo. Mas como a demanda populacional e

territorial é demasiadamente grande para o efetivo disponível, a promoção da prevenção

criminal é vista como um problema a ser resolvido.

Dispõe a Constituição da República Federativa do Brasil, comumente conhecida por

Constituição Federal (CF), que a Polícia Militar é um dos órgãos do Sistema de Segurança

Pública, sendo responsável pela polícia ostensiva e pela preservação da ordem pública. É,

ainda, considerada força auxiliar e reserva do Exército Brasileiro.

A Constituição Federal assim explicita:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos

seguintes órgãos:

.....................................................................................................

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

......................................................................................................

48

§ 5º - Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública, aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a

execução de atividades de defesa civil.

§ 6º- As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva

do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, ao governador do Estado, do

Distrito Federal e dos Territórios. (BRASIL, 1988, p. 79).

A CF estabelece como exclusiva a competência da polícia militar em exercer a “polícia

ostensiva e a preservação da ordem pública”. Segundo Minas Gerais (2002, p. 40), quando

menciona polícia ostensiva, ao invés de policiamento ostensivo, a CF estende o conceito,

elevando-o, além do procedimento, à concepção, ao planejamento, à coordenação e à

condução das atividades correlatas; quando deixa de atribuí-lo a outro órgão, estabelece a

exclusividade.

Deve-se perceber, por meio desses aspectos, que o policiamento é apenas uma fase da

atividade de polícia.

Segundo Lazzarini (1986, p. 16):

[...] compete à Polícia Militar, no tocante à preservação da ordem pública, não só

o exercício da polícia ostensiva, como também a competência residual de exercício

de toda a atividade policial de segurança pública não atribuída aos demais órgãos

que compõem o Sistema de Defesa Social.

Dessa forma, essa amplitude na competência da Polícia Militar, cuja missão vai além

do combate à criminalidade, incluindo diversas outras atividades, como orientação, proteção e

socorro social, faz com que a Polícia Militar planeje e execute atividades de prevenção, em

perfeita harmonia com os segmentos comunitários e em consonância com a legislação em

vigor.

A Constituição do Estado de Minas Gerais, através do art. 136 da Constituição

Estadual, assegura que a segurança pública é exercida para a preservação da ordem pública e

da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por intermédio das polícias civil e militar e do

49

corpo de bombeiros militar. E, através do inciso I do art. 142, esta delineada a competência da

Polícia Militar, segundo o qual compete-lhe:

Art 142 ................................................................................................ I - à Polícia Militar, a polícia ostensiva de prevenção criminal, de segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais e as atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem pública, além da garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural. (Minas Gerais, 1989, p. 81).

A PMMG, que tem a missão de atuar diretamente na preservação da ordem pública,

deve estar atenta às influências e a todas as mudanças do ambiente externo, para não ficar à

margem das transformações sociais da atualidade, principalmente, inteirar-se constantemente

do crescente surgimento de novas tecnologias que potencializem a sua atuação. Portanto, há

necessidade da busca incessante do aprimoramento profissional da qualificação de seus

quadros e da adaptação às novas conquistas do cidadão ordeiro.

Abordagem da Diretriz para a Produção dos Serviços de Segurança Pública nº 01. A

Diretriz para a Produção dos Serviços de Segurança Pública nº 01(DPSSP 01) (Minas Gerais,

2002c, p. 42), estabelece a missão da Polícia Militar com basena Carta Magna Federal, bem

como na Estadual.

Em seu item 1.3.1, a DPSSP afirma que a Polícia Militar assume papel de relevância na

preservação da ordem pública, prevenindo ou inibindo atos anti-sociais, além de atuar

repressivamente na restauração da ordem pública, adotando medidas de proteção e socorro

comunitários ou atuando em apoio aos órgãos da Administração Pública, no exercício do

poder de polícia que lhes couber.

A mesma diretriz destaca, ainda, uma série de procedimentos qualificadores das ações e

operações de policiamento ostensivo, dentre os quais: Policiamento Ostensivo Geral;

Policiamento de Trânsito Urbano e Rodoviário; Policiamento de Meio Ambiente;

Policiamento de Guarda e atividades de garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos

da Administração Pública.

50

A DPSSP 01 estabelece que, durante a execução da ação preventiva, cabe à PMMG a

primeira ação, que é a de intervir na ocorrência cujos procedimentos constituem preparação

para o passo seguinte a ser realizado pelo órgão público ou particular que detiver a

competência e responsabilidade para tal.

Já na sua atuação de repressão, tão logo haja a ruptura da ordem pública, deve o militar

constituir-se num verdadeiro defensor, protetor e acolhedor do indivíduo vitimado e num

efetivo agente em perseguição ao criminoso, visando a sua prisão ainda em flagrante delito.

A prevenção da criminalidade é um dos principais objetivos dos órgãos de defesa

social, dos quais a PMMG faz parte. Na área da segurança pública, a prevenção é

freqüentemente percebida e apresentada como um tipo específico de ação visando à redução

da criminalidade, alternativa a ações repressivas, centradas na punição ou ameaça de punição

dos autores de crimes, estas últimas sob responsabilidade das organizações policiais e do

sistema de justiça criminal e de administração penitenciária.

Deste ponto de vista, essas organizações não teriam atuação na área da prevenção. A

prevenção seria desenvolvida apenas ou principalmente através de ações econômicas, sociais,

culturais e ambientais ou urbanísticas. Cabe ressaltar, que prevenção do crime não implica

necessariamente em redução da criminalidade. Num contexto de queda da criminalidade,

ações preventivas bem sucedidas contribuem para acentuar a redução da criminalidade.

Nesse contexto foram criadas as áreas integradas de segurança - AISP pública são

circunscrições territoriais que agregam outras agências prestadoras de serviços públicos

essenciais sob a responsabilidade compartilhada e direta de um Batalhão de Polícia Militar e

uma ou mais Delegacias de Polícia Civil, operando como unidades de planejamento,

execução, controle, supervisão, monitoramento corretivo e avaliação das políticas locais de

segurança implantadas pelas Unidades Operacionais das Polícias Militar e Civil.

A PMMG tem desenvolvido várias estratégias para combater a violência e

criminalidade, dos quais vale a pena destacar:

O PROERD é um Programa essencialmente preventivo ao uso de drogas e à contenção

da violência em todos os seus aspectos (físicos/morais) e, como tal, tem como finalidade

51

evitar que crianças e adolescentes em fase escolar iniciem o uso abusivo das diversas drogas

existentes em nosso meio, despertando-lhes a consciência para este problema e também para a

questão da violência.

O Programa PROERD, através de suas aulas, ensina aos alunos, de forma cativante,

descontraída, lúdica e por meio de diversas formas pedagógicas, técnicas voltadas para a

resistência às pressões impostas pelos seus companheiros e auxílio para que adquiram

consciência da necessidade de dizerem “não” às drogas e à violência.

Outro programa desenvolvido pela PMMG é o Policiamento Comunitário. A idéia de

uma polícia orientada para a solução de problemas e melhoria da qualidade de vida de

comunidades, nos moldes da filosofia de polícia comunitária praticada em diversos países do

mundo, ganhou força no Brasil nos anos 80, com a abertura democrática do país e com a

Constituição Federal de 1988.

A gestão da segurança pública, ao adotar a filosofia de policia comunitária, busca

mudar a missão básica, tradicionalmente reativa e focada no chamado "combate ao crime"

para um novo paradigma - comunidade, polícia e demais órgãos do sistema de defesa social

integrados na busca de soluções para os graves problemas da segurança pública no país.

O Centro de Referência do Cidadão (CRC) é um espaço público constituído pelo

Estado e entidades parceiras, com recursos humanos e metodológicos, no qual a sociedade

civil organizada passa a dispor de condições materiais para acionar discursos de aplicação

extrajudicial do direito extraídos das práticas cotidianas que os cidadãos associados elaboram

para resolução e prevenção de problemas.

O CRC objetiva, de forma geral, identificar situações de violação de direitos humanos,

compreendendo suas causas e seus fatores, para promover a efetiva restauração dos direitos

lesados e para, principalmente, propor ações preventivas capazes de, ao mesmo tempo, evitar

violência e integrar todos os implicados (nestas situações) num processo emancipatório de

pacificação social. Nesse caso, as ações são voltadas para modificar a realidade dos

aglomerados urbanos, onde os direitos humanos sofrem maior violação devido à ausência dos

serviços do Estado.

52

4.2 Estruturação da PMMG

A figura 08 esclarece que a área do Estado de Minas Gerais é divida em 16 Regiões

Integradas da Polícia Militar de Minas Gerais (RISP). Em Belo Horizonte localiza-se a 1ª

Região da Polícia Militar (1 RPM). Dentro da 1ª RPM existem seis Batalhões, dentre os quais

se encontra o 1º Batalhão da Polícia Militar (1º BPM).

As áreas de cada batalhão são divididas por companhias. As câmeras se encontram

instaladas nas áreas de responsabilidade da 4ª, 5ª e 6ª Companhias do 1ºBPM.

A 6ª Companhia (CIA), é responsável pelo policiamento da região do Hipercentro de

Belo Horizonte, área de estudo deste trabalho (FIGURA 1). Seu espaço territorial está em

torna de 0,9 KM². Tendo uma população fixa de, aproximadamente, 19.000 (dezenove mil)

habitantes e, uma população flutuante, em torno de 1.725.000 (um milhão, setecentos e vinte

e cinco mil) habitantes.

Os principais logradouros da Cia são: Praça Sete de Setembro, terminal Rodoviário,

estação ferroviária e Praça Rio Branco, com destaque para as seguintes avenidas: Afonso

Pena, Olegário Maciel, além do elevado Castelo Branco, Viaduto de Santa Tereza, viaduto da

Floresta e o Complexo da Lagoinha.

Como forma de conhecer um pouco da história do 1º BPM, será apresentado um breve

histórico do batalhão.

4.3 O 1º Batalhão da Polícia Militar (1º BPM)

Fundado por decreto do Governador da Província de Minas Gerais, Dr. João Pinheiro

da Silva, em 06 de maio de 1890, o 1º Batalhão da Polícia Militar teve como sede um dos

dezesseis edifícios públicos construídos com a nova capital da província, no final do Século

XVIII.

Para aquartelamento adequado da unidade policial militar prevista para a nova

Capital, foi incluído no planejamento geral de sua construção um quartel moderno, para a

época, amplo e funcional, de linhas arquitetônicas severas e imponentes o qual permanece o

53

mesmo até hoje, tendo servido de base para toda a evolução do 1º Batalhão e de sua imensa

soma de serviços e de tradições que abrilhantaram o passado de tão valorosa unidade.

A fundação do Batalhão está intimamente ligada em fatos, datas e acontecimentos com

a criação da nossa Capital mineira para atender, a contento, todos os seus serviços, o grande

número de suas Secretarias, repartições e instalações necessárias ao funcionamento da

administração de Belo Horizonte.

Figura 7 : Fachada do 1º BPM – 2007 (CARVALHO, 2007)

O 1º BPM, conhecido como “ o pioneiro” pela Polícia Militar, não se restringe apenas

ao fato de ser o primeiro a promover a proteção a sociedade mineira, (foi o primeiro Batalhão

de Guardas, “BG”).

54

Seu pioneirismo pode ser comprovado, também, na primeira Unidade a estabelecer

uma equipe especializada no tratamento de menores, principalmente quando se trata de

infratores, tendo como nome Grupo Especializado no Atendimento à Criança e ao

Adolescente de Rua (GEACAR).

O 1º BPM está divido em cinco companhias e tem como responsabilidade territorial

toda a área circunscrita pela Av. do Contorno, em Belo Horizonte, o que equivale,

aproximadamente a 8,8 (oito virgula oito) Km².

Além disso, a área do 1º BPM engloba a sede dos três Poderes do Estado, o Palácio

da Liberdade, a Sede da Assembléia Legislativa e o Tribunal de Justiça, como também, outros

órgãos de destaque no cenário sócio-econômico, como o Fórum Governador Milton Campos e

a Prefeitura Municipal.

Com este perfil, o 1º BPM destaca-se por ter uma responsabilidade territorial

pequenas, mas com uma população flutuante significativa, na qual podem-se observar pessoas

com alto poder aquisitivo em meio a outras com baixo poder aquisitivo. Seu centro comercial,

constituído por inúmeras instituições financeiras, faz desta zona territorial palco de grande

movimentação e expressivo fluxo de mercadorias, o que contribui para o elevado índice de

crimes contra o patrimônio.

O sistema de monitoramento eletrônico, chamado “Projeto Olho Vivo” foi instalado,

no Hipercentro de Belo Horizonte, área de responsabilidade territorial do 1º BPM, que será

discutido no próximo capítulo.

55

FIGURA 8: Regiões da Polícia Militar de Minas Gerais Fonte: 1ª RPM

55

56

5. O PROJETO OLHO VIVO

5.1 O monitoramento eletrônico

A instalação de câmeras nas ruas é um procedimento adotado com cada vez mais

freqüência no mundo inteiro – além de Londres, cidades como Nova York, Washington,

Paris, Berlim e Bruxelas já dispõem delas.

No Brasil, já existem várias cidades que adotaram o sistema de monitoramento

eletrônico. Praia Grande foi pioneira no Brasil a instalar a Infovia, uma interligação em fibra

ótica de todas as repartições públicas municipais, o que resultou em mais de 300 Km de cabos

instalados pelas principais ruas e avenidas da cidade.

Com essa rede, também foi possível a instalação de mais de 1200 câmeras de vídeo ao

longo dos locais de maior movimento da cidade, bem como em prédios públicos e

monumentos. Toda a cidade é monitorada através dessas câmeras, por uma central,

diretamente interligada com a Guarda Municipal e a Polícia Militar. Com isso, os índices de

ocorrências policiais cairam cerca de 60%, e o de depredações em equipamentos públicos

municipais, em 40%.

Hoje, Praia Grande é a cidade com o maior número de câmeras de vigilância das

américas, e a segunda do mundo, perdendo apenas para a cidade de Londres, na Grã-

Bretanha. Há a previsão de instalação, nos próximos dois anos (a partir de 2007), de mais 900

câmeras, ultrapassando, assim até mesmo Londres na quantidade de câmeras instaladas.

Este sistema também foi implementado, com base em parcerias entre a Polícia

Militar, Prefeitura e, às vezes, até com a Guarda Municipal em Suzano/SP, Sobral/CE,

Olinda/PE, Joinville/SC e Curitiba/PR (MINAS GERIAS, 2003h, p. 3). Relatos dão conta de

que a criminalidade caiu em todas essas cidades.

A título de exemplo, antes da implantação do sistema, Joinville tinha 20 ocorrências

de furto de veículo por mês na região central, atualmente a media é de seis. Na Rua Quinze

de Novembro, em Curitiba, eram registradas 40 ocorrências por dia antes do monitoramento,

hoje, o índice está próximo de zero.

57

Em Suzano, os índices de roubo e furto caíram 60%. As depredações e pichações

também foram reduzidas. As câmeras filmam num ângulo de 360 graus e captam imagens a

distâncias de até meio quilômetro. Têm zoom com capacidade para visualizar a placa de um

carro e o rosto de uma pessoa.

Em Minas Gerais este sistema foi adotado, embrionariamente, em duas situações.

Uma levada a cabo pelo 3º BPM na cidade de Diamantina/MG, por ocasião do carnaval de

2003, que, apesar do breve período de utilização, trouxe reflexos positivos, com a

minimização da violência das ocorrências entre os foliões. Em Belo Horizonte, o sistema de

monitoramento por câmeras foi implantado por iniciativa dos comerciantes e da Polícia

Militar, através de um projeto-piloto na região da Savassi em Belo Horizonte/MG.

Tal projeto foi encetado na segunda quinzena de dezembro de 2002, cujo objetivo era

a redução da criminalidade, enfatizando os aspectos preventivos do policiamento ostensivo,

de forma a aumentar a eficiência e eficácia da atuação policial, além de se testar a utilização

de tecnologia de vídeo voltada para a segurança pública. A partir do desenvolvimento deste

projeto piloto, a experiência passou a ser adotada, de forma sistêmica, em 13 de dezembro de

20043.

5.2 O projeto

Unificando esforços para zelar pela segurança nessa região, a Polícia Militar de Minas

Gerais (PMMG) e a Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS),

representando o Governo Estadual, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a Empresa de

Informática e Informação do Município de Belo Horizonte S/A (PRODABEL) e a Câmara de

Dirigentes Lojistas de BH (CDL/BH), articularam-se e firmaram convênio para instalar um

sistema de vigilância, com o objetivo de diminuir os índices de ocorrências de delitos e

melhorar a sensação de segurança da população em Belo Horizonte.

Trata-se do Projeto Olho Vivo, um moderno sistema, constituído por câmeras de vídeo

digitais, onde as imagens são enviadas a uma Central de monitoramento por meio de fibras

óticas. Esse sistema permite a exibição de imagens em tempo real com alta resolução,

3 Ressalte-se que recentemente, o 34º BPM, que faz o policiamento na área da PUC Minas, Coração Eucarístico, promoveu uma ampliação do Projeto Olho Vivo com a instalação de câmeras nas proximidades da Universidade.

58

gravação ativada por alarmes ou detecção de movimento do próprio sistema, reprodução,

gravação, visualização simultânea, impressão de imagens com data e horário das filmagens.

Para acompanhamento e monitoramento desse sistema de vídeo, equipes de

profissionais capacitados, contratados pela Secretaria de Defesa Social – SEDS/MG,

trabalham na central de monitoramento, cada pessoa é responsável pelo monitoramento de 04

câmeras de vídeo, que, através de um joystic, pode aproximar e girar a câmera 360 graus, com

a finalidade de visualizar a imagem com mais detalhe.

O gerenciamento e administração das ações e operações preventivas e repressivas de

preservação da ordem pública nesta região da cidade, esta afeto ao 1º Batalhão de Polícia

Militar (com área definida pelos limites da avenida do Contorno) e, especificamente no

Hipercentro.

O projeto, que custou inicialmente 100 milhões de reais ao erário (SILVA, 2005), é

composto por 72 câmeras distribuídas em locais de grande comércio e/ou classe alta,

abrangendo os bairros Barro Preto, Savassi, Funcionários, Lourdes e o Hipercentro, com o

objetivo de estimular a volta da população à área de comércio. O projeto, implantado em

2002, de forma experimental, passou a operar de maneira plena, no Hipercentro de Belo

Horizonte, a partir de 13 de dezembro de 2004.

As 72 câmeras (FIGURAS 9, 10 e 11) foram instaladas na região definida como o

coração econômico da cidade, como também, próximo a Praça da Liberdade, uma vez que

nesta localidade se encontram funcionando a maioria das lojas comerciais e há também um

grande fluxo de pessoas, que transitam para a realização de compras ou ainda para se

locomoverem de um ponto a outro da cidade, utilizando-se dos diversos meios de transporte e

equipamentos públicos, como bancos, lojas, shoppings disponíveis.

Existe uma central de coordenação e monitoramento do sistema, localizada no Prédio

do Comando Geral da Polícia Militar, chamado de Centro Integrado de Atendimento e

Despacho (CIAD). Este centro é ligado ao Sistema de Defesa Social (SIDS).

59

A revista Vitrine & Mercado, assim conceituou o sistema:

[...] As câmeras garantem a presença ocular da PMMG em pontos estratégicos de grande incidência criminal. Os aparelhos são como 72 olhos eletrônicos, que giram 360 graus e enviam as imagens para um complexo de telas e monitores da central de monitoramento, instalada no Comando de Policiamento, na Praça da Liberdade. [...] Cada câmera envia à central as imagens das ruas, por meio de 50 quilômetros da rede subterrânea de cabos de fibra ótica. Se for detectado algo suspeito, uma mensagem é dirigida para a equipe policial mais próxima, que investiga o fato e toma as providências necessárias. [...] As imagens são gravadas em CD e poderão ser usadas em investigações e processos judiciais. Para preservar a privacidade, não serão divulgadas ao público. (PEIXOTO, 2005)

Figura 9 : Rua Tupinambás esquina Com Curitiba, FIGURA 10: Rua Tamoios esquina com Olegário Maciel, Centro de Belo Horizonte (CARVALHO, 2007) Centro de Belo Horizonte (CARVALHO, 2007)

60

5.3 A operacionalização do sistema e suas características

O projeto Olho Vivo possui uma dinâmica que obedece o seguinte fluxo de

atendimento (FIGURA 12):

a) 1ª Fase: visualização do fato

O operador da câmera de vídeo, baseado no treinamento recebido, monitora as ruas

do setor específico para o qual foi escalado e, ao vislumbrar um fato que exija uma

intervenção da Polícia Militar, comunica-se com o despachante do Projeto Olho Vivo, que

fica em uma bancada no mesmo ambiente, informando-lhe a existência do fato e o número da

Câmera de vídeo.

FIGURA 11: Câmera, Avenida Amazonas com rua Curitiba, Centro de Belo Horizonte (CARVALHO, 2007)

61

b) 2ª Fase: geração da ocorrência

O despachante, de seu próprio monitor, visualiza as imagens produzidas pela câmera,

cujo número foi informado pelo operador e, caso confirme a necessidade da intervenção

policial, procede a geração da ocorrência, registrando no sistema informatizado o endereço

exato, a natureza do fato e outros dados pertinentes, que serão de grande importância para o

planejamento do atendimento a ser realizado pelo policiamento, bem como relevantes para a

alimentação de um banco de dados.

c) 3ª Fase: acionamento do policiamento:

O próprio despachante do Projeto Olho Vivo aciona, via rádio, o Coordenador do

Policiamento da Companhia (CPCia) ou responsável pelo policiamento no local do fato,

informando a natureza e o local da ocorrência. O coordenador do policiamento, com base nas

informações recebidas, indicará qual a viatura ou patrulha irá atender a solicitação, podendo

indicar, ainda, outras guarnições no caso de cobertura. Indicada a viatura ou patrulha, o

despachante transmite a solicitação diretamente à guarnição ou policial por meio da

freqüência de rádio do 1º BPM, repassando todos os dados necessários para o atendimento.

d) 4ª Fase: providências policiais

O efetivo acionado para o atendimento da ocorrência se encarrega de adotar as

providências legais cabíveis, procedendo a abordagens, efetuando prisões ou apreensões, ou

outras de acordo com o caso específico. Encarrega-se, ainda, pelo fornecimento, ao

despachante, das informações que irão alimentar o sistema informatizado, além de

providenciar o registro do Boletim de Ocorrência, finalizando o ciclo.

A interatividade proporcionada pelo Projeto Olho Vivo permite ao despachante,

mesmo nesta última fase, acompanhar todos os fatos relacionados com aquele atendimento,

até o encerramento da ocorrência, já que visualiza toda a atuação por meio da câmera de

vídeo. O despachante pode, por exemplo, informar aos policiais se estão abordando a pessoa

correta ou esclarecer em qual ônibus o infrator evadiu-se, dando mais dinamismo e eficiência

ao trabalho realizado pela Polícia Militar.

62

FIGURA 12: Ciclo de Atendimento do Projeto Olho Vivo

FONTE: PMMG/CICOP

5.4 A Legislação sobre uso de imagens

Discute-se muito sobre o papel desenvolvido pelo estado quando instala sistemas de

câmeras e monitora as vias públicas, ampliando seu campo de visão, e, ao mesmo tempo,

infringe o direito à privacidade, quando captura a imagem desses transeuntes. Outros, porém,

dizem que se alguém pode ser observado por outras pessoas, não haveria por que ter qualquer

expectativa de privacidade.

A Constituição Federal, Art. 5º, inciso X, prevê que "são invioláveis a intimidade, a

vida privada, a honra e a imagem das pessoas (destaque nosso), assegurado o direito à

indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação" (BRASIL, 1999a, p. 6).

63

Segundo Chaves (1997, p. 68) o direito à imagem alcançou posição relevante no

âmbito dos direitos da personalidade, possivelmente graças ao progresso tecnológico e à

importância que a imagem adquiriu no contexto publicitário. Continua o autor afirmando que

não pode o titular privar-se da sua própria imagem, mas dela pode dispor para tirar proveito

econômico.

Neste contexto, foi promulgada em 11 de janeiro de 2005, a lei 15.435, que disciplina

a utilização das câmeras de vídeo para fins de segurança, no Estado de Minas Gerais. A lei

possui apenas onze artigos e os citados abaixo estão diretamente relacionados com o objeto de

estudo:

Art. 1º A instalação e a utilização de câmera de vídeo para fins de segurança são

reguladas pelo disposto nesta Lei.

Art. 2º É obrigatória a afixação, nos locais em que esteja instalada câmera de vídeo

para fins de segurança, de aviso que informe da existência de câmera no local, na forma do

regulamento desta Lei.

Art. 3º É vedada a instalação de câmera de vídeo em locais de uso íntimo, como

vestiários, banheiros e provadores.

Art. 4º As imagens produzidas por meio de câmera de vídeo para fins de segurança não

serão exibidas a terceiros, exceto para a instrução de processo.

administrativo ou judicial.

.

Art. 7º O Poder Executivo poderá estabelecer parceria com entidades públicas ou

privadas para a instalação de câmeras para o monitoramento de bens de uso comum da

população para fins de segurança pública6, de acordo com a legislação vigente.

Art. 8º O regulamento desta Lei tipificará as infrações e Estabelecerá as penalidades

correspondentes, observados os Seguintes limites:

I - a penalidade de multa não excederá 500 UFEMGs (quinhentas Unidades Fiscais

do Estado de Minas Gerais);

64

II - a penalidade de apreensão da câmera não excederá o prazo de trinta dias.

(MINAS GERAIS, 2005a, p. 1-2)

Verifica-se, portanto, através dos artigos 3º e 4º, a preocupação do legislador em

preservar a imagem dos cidadãos que estão sendo monitorados pelas câmeras.

Kanashiro (2006) diz que a partir desse levantamento foi possível verificar indícios de

que o uso dessas câmeras de monitoramento no Brasil iniciou-se e intensificou-se nos dez

anos entre meados da década de 1980 e meados de 1990. A autora ressalta que:

“ É interessante notar que os projetos de lei, a partir de 1996, prevêem, quase em unanimidade, a obrigatoriedade do uso de câmeras de monitoramento para segurança em locais como instituições financeiras, escolas, hospitais, shoppings centers, estádios de futebol, postos de gasolina, portos, ruas e avenidas, entre outros locais. Das propostas descritas a seguir, é necessário destacar que a maioria delas concentra-se no período entre 1995 e 2005, num processo de crescente elaboração das propostas. O registro mais antigo encontrado é a lei federal número 7.102, de 20 de junho de 1983, ainda em vigor, que dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros e estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares, que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores.”

Apesar do tema sobre vigilância eletrônica, muitas vezes, ser polêmico, verifica-se que

essa tecnologia, cada vez mais presente nos centros urbanos, ou em locais de grande

circulação de pessoas pode ser um eficiente instrumento de controle, prevenção contra a

criminalidade. E, não se vislumbra nenhum cerceamento das liberdades e garantias

individuais.

65

CAPÍTULO VI

6. METODOLOGIA

6.1 Introdução

Cabe lembrar que a presente pesquisa tem como objetivo avaliar o impacto da

implantação do sistema de monitoramento eletrônico no Hipercentro de Belo Horizonte, área

da 6ª Cia do 1º BPM. Para tal, trabalhar-se-á, comparativamente, com os registros de

ocorrência da PMMG, entre 2002 a 2006, enfatizando-se as seguintes modalidades de

ocorrência: assalto a transeunte, furto a transeuntes e, também, as ocorrências de averiguação

de pessoa suspeita.

Ressalte-se que, dentre os objetivos específicos desta dissertação, destacam-se:

� analisar, comparativamente, o processo de implantação do “Projeto Olho Vivo/BH”, e

a incidência criminal na região, antes e depois da instalação do Projeto Olho Vivo.

� verificar a contribuição do monitoramento eletrônico para o combate a criminalidade

no Hipercentro de Belo horizonte e seus reflexos para a segurança pública.

� avaliar se as câmeras são instrumentos potencializadores das ações preventivas e

repressivas da Polícia Militar.

A hipótese principal levantada para esta pesquisa supõe que a utilização das câmeras

de monitoramento está diretamente relacionada com um percentual de delitos que foram

prevenidos na área monitorada, ao dissuadir a vontade de delinqüir do criminoso, sabedor da

existência do sistema de vigilância. Ainda no campo da intuição, pressupõe-se a existência de

hipóteses secundárias como:

a) As ocorrências de roubos a transeuntes em via pública sofreram redução de

incidência no Hipercentro de Belo Horizonte, área da 6ª Cia PM / PMMG, após a implantação

do sistema;

66

b) As abordagens de pessoas suspeitas, visualizadas pelas câmeras, reduziu a

criminalidade na área estudada.

Os fatores que influenciaram a escolha do universo desta pesquisa, podem ser assim

justificados:

a) delimitou-se a área de abrangência da pesquisa à 6ª Cia, por conter um maior

número de câmeras (de um total de 72 câmeras instaladas, 60 encontram-se no

Hipercentro de Belo Horizonte);

b) outro fator seria a importância da região, local do centro de Belo Horizonte

onde está concentrada a maior população flutuante, o maior número de

ocorrências de assaltos e furtos a transeuntes. Trata-se de uma área estratégica,

que abriga o Terminal Rodoviário, comércios, bancos e serviços de toda a

sorte, sendo, portanto, o local de maior concentração de pessoas que chegam

ou saem da capital mineira.

Quanto ao modelo conceitual operativo, explicado por Gil (1996, p.47), a pesquisa

pode ser classificada como bibliográfica (realizada pelo estudo de diversas obras que tratam

de seu objeto, seja em livros, periódicos, artigos, inclusive os eletrônicos obtidos de bases de

dados da Internet); documental (a pesquisa documental vale-se de materiais que não

receberam, ainda, tratamento analítico) e de levantamento (que se caracteriza pela

interrogação direta das pessoas cujo comportamento deseja-se conhecer).

6.2 Fases da Pesquisa

Fase I- Levantamento e organização de dados

Neste estudo, as técnicas de coleta de dados consistem, essencialmente, em técnicas de

documentação indireta, quais sejam:

67

• em fontes primárias – banco de dados produzido pela Polícia Militar referentes aos

registros de ocorrências e atendidos na área de responsabilidade territorial da 6ª

Companhia do 1º Batalhão de Polícia Militar nos anos de 2002 a 2006; e

• em fontes secundárias – pesquisas bibliográficas que tratam do tema pesquisado.

Em relação ao universo de pesquisa, trabalha-se com os registros de ocorrências de

crimes, especificamente dos tipos assalto à transeunte, furto à transeuntes e também, as

ocorrências de averiguação de pessoa suspeita registrados no período de 2002 a 2006, na área

de responsabilidade territorial da 6ª Cia do 1° BPM, que corresponde ao Hipercentro de Belo

Horizonte (FIGURA 1).

Ressalte-se que no sistema de contabilização da PMMG, as ocorrências podem ser

registradas de duas formas, basicamente. Na primeira forma, a vítima aciona a Central de

Operações da PMMG, através do número 190 e solicita o comparecimento da Polícia Militar

no local onde ocorreu o evento. Na segunda forma, o próprio operador do sistema Olho

Vivo, visualiza um indivíduo em ação, furtando ou assaltando, gerando-se uma ocorrência.

Quando as ocorrências aparecem na tela do operador da Central de Operações da

PMMG, se estabelece um conjunto de informações, constando endereço, autor, vítima e

natureza da ocorrência. Cabe lembrar que o endereço é georreferenciado, utilizando um

sistema de codificação da Empresa de Informática e Informação do Município de Belo

Horizonte ( PRODABEL).

Nas duas formas de registro de ocorrência, os dados obtidos ficam armazenados em um

banco de dados na PMMG. Com base no banco de dados existente na Polícia Militar foi

possível a elaboração das análises apresentadas neste trabalho.

Na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) as ocorrências criminais são divididas

por naturezas de acordo com a Diretriz Auxiliar de Operações (DIAO 01/94- CG - PMMG),

que classifica as ocorrências policiais, através de códigos, para, posteriormente, facilitar a

confecção de banco de dados. A fim de dar uma abordagem aos tipos de crimes estudados

nesse trabalho será feita uma breve descrição dos crimes objetos do presente estudo:

68

C02.000- FURTO CONSUMADO A TRANSEUNTE

Consiste na subtração para si, ou para outrem, de coisa alheia móvel. Enquadram-se

nesta classe os furtos praticados mediante abuso de confiança, fraude e concurso de pessoas.

Equipara-se a coisa móvel a eletricidade e outras energias.

C 05027 – ROUBO CONSUMADO A TRANSEUNTE

Consiste na subtração da coisa alheia móvel para si ou para outrem, mediante grave

ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la por qualquer meio reduzido à

impossibilidade de resistência. Caracteriza-se pela inexistência de armas, sendo o modo mais

usual emprego de força física (gravata, agressões, número maior de marginais em relação à(s)

vítima(s).

“Praticam o mesmo delito quem, logo após a subtração emprega violência contra a pessoa

ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou da detenção da coisa para si

ou para terceiro” (Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública, 2002).

C09.000 - ROUBO À MÃO ARMADA CONSUMADO (ASSALTO)

É o roubo praticado em que a violência ou a ameaça à pessoa é exercida com emprego

de arma de fogo ou branca (punhais, facas, adagas, chuços, estiletes, canivetes, sabres,

baionetas, espadas, bengalas-estoques, guarda-chuvas-estoques, navalhas e outros). Esta

classe é comumente denominada “assalto”.

Dentre as subclasses, uma das mais importantes é a seguinte:

C 09027 Assalto a transeuntes, devido ao impacto social que este delito causa. É,

sistematicamente, acompanhado pela Polícia Militar, para que não atinja taxas, alarmantes, de

criminalidade.

69

T 01000 – AVERIGUAÇÃO DE PESSOA SUSPEITA

Consiste no atendimento à solicitação, para averiguação de pessoa que se encontra em

atitude suspeita ou que causa temor ao solicitante.

Fase II - Processamento e análise dos dados

O geoprocessamento, que constitui o método informatizado pelo qual se introduzem

os dados pertinentes na cartografia digitalizada do território em foco, permite a análise

acurada das dinâmicas criminais e, consequentemente, a definição de estratégias

preventivas de ação policial. Por sua vez, o tratamento criterioso dos dados, inclusive a

aplicação de ferramentas de apoio analítico, como o geoprocessamento, depende da

organização de um banco de dados central da segurança pública e da qualificação do

processo de coleta e processamento das informações. Portanto, impõe-se a edificação de

uma rede de procedimentos e mecanismos envolvendo o rigor na produção dos dados, a

introdução do planejamento fundado em diagnósticos consistentes e o recurso sistemático à

avaliação e ao monitoramento do processo.

O Geoprocessamento pode ser definido, sucintamente, como o tratamento da informação relacionada ao espaço geográfico, seja através de coordenadas, seja através de endereço, com o uso de recursos computacionais. Envolve, portanto, qualquer forma de manipulação da informação de caráter geográfico. (VIEIRA, 2002, p. 1).

Para melhor definir "informações" é preciso rever a noção de dados, ou seja, conjunto

de valores (numéricos, alfabéticos, alfanuméricos, gráficos), sem significado próprio. A partir

do momento que tais dados passam a possuir um significado para um determinado uso ou

aplicação, que lhes é conferido por um ser humano, deixam de ser meros registros para se

constituir em informações.

De acordo com Máximo (2004), a finalidade do mapeamento da criminalidade é a de

visualizar espacialmente os locais onde a incidência de ocorrências de crimes é elevada e

através dessa visualização primária é possível obter informações geocodificadas apenas

70

clicando com um botão do mouse nos locais onde se quer analisar. Estas informações

geocodificadas que servirão de base para análises que irão dizer as causas de tal

anormalidade, no caso o aumento da criminalidade, e, conseqüentemente, estabelecer

estratégias através de um planejamento que irá determinar as ações, de combate ou prevenção

de crimes, que poderão ser adotadas nessas áreas onde há um crescimento na incidência de

crimes.

Fase III - Técnicas Estatísticas e Cartográficas Utilizadas

Utilizando uma base de dados georreferenciada das ocorrências registradas no

Hipercentro de Belo Horizonte, com o auxílio do programa Mapinfo4, foram elaborados

mapas de Kernel, com gradação de cores, focalizando os crimes na região. A função Kernel

representa um método estatístico de estimativa de densidade, por suavização ou interpolação,

baseado na distribuição de um conjunto de pontos, representando os locais de ocorrência dos

crimes. Note-se, portanto, que numa dada localidade poderá existir um ou mais crimes. Para

estimar a densidade de crimes numa posição P(x,y), conta se o número de eventos dentro de

um dado raio em torno de (x,y). Esta contagem é ponderada pela distância de cada evento ao

ponto de referência (x,y).

4 MapInfo® é um poderoso aplicativo para mapeamento baseado na plataforma Microsoft Windows que possibilita aos operadores de Sistema de Informações Geográficas a visualização e análise conjunta dos dados gráficos e convencionais. Esse programa realiza processamento de banco de dados (incluindo consultas tipo SQL) e a criação de mapas, mais a possibilidade de associá-los a gráficos (http://www.mapinfo.com.br).

71

Os mapas são produzidos com camadas representativas de dados superpostos, que

tornam possível a visualização das áreas onde estão presentes os crimes estudados. Nos mapas

são identificadas as zonas quentes de criminalidade (ZQC), ou seja, os locais onde está

concentrado o maior número de ocorrências de assaltos e furtos a transeuntes. A técnica de

visualização e exploração dos dados filtra a variabilidade local, usando uma média ponderada

de crimes de crimes na vizinhança.

As zonas quentes de criminalidades, destacadas nos mapas de kernel com a cor

vermelha, são áreas com alta incidência de criminalidade, que têm servido de base para o

planejamento conjunto entre diversas agências públicas.

Nesses mapas, foi utilizado um raio de 50 metros quadrados, para que, onde houvesse

um número maior que oito ocorrências fosse atribuída a cor mais intensa (vermelho); onde

houvesse um número entre três e oito ocorrências fosse atribuída a cor amarela; e para os

locais com um ou dois registros, a cor verde. Por outro lado, os locais sem ocorrência ficaram

sem cor.

72

CAPÍTULO VI

7 . ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Através dos registros de ocorrências de crimes violentos, especificamente do tipo furto

e assalto a transeuntes, como também, a tipificação preventiva, averiguação a cidadão em

atitude suspeita, registrados no período de 2002 a 2006, na área de responsabilidade territorial

da 6ª Cia do 1° BPM, que corresponde ao Hipercentro de Belo Horizonte, foram elaborados

gráficos, com a finalidade de comparar as ocorrências antes e após a implantação do

monitoramento por câmeras, denominado Projeto Olho Vivo. (FIGURA 1)

Mapas apresentados na seqüência ilustram a distribuição espacial em escala temporal

do fenômeno em tela.

7.1 Analise temporal

No gráfico 1, referente a furto a transeuntes, observa-se que em 2002 aparecem 6941

casos, com tendência de queda até o ano de 2006, momento em que foram registrados 1904,

ocorrendo, portanto, uma redução da incidência criminal em 72,56%, comparando-se o ano de

2002 e 2006.

O gráfico 2 também revela uma queda acentuada dos crimes de assalto a transeuntes.

Esses crimes, em 2004, apresentaram 824 registros, sendo que, em 2006, o número de

ocorrências passou para 410, fato que representa uma queda de 50,24%. Dinâmica similar

deu-se em relação aos furtos a transeuntes, que também apresentaram queda de 42,45%,

passando de 3309 ocorrências, registradas em 2004, para 1904 casos em 2006.

Em 2003 ocorre um aumento da incidência criminal. No entanto, a partir de 2004 o

número de casos apresenta queda, prevalecendo essa tendência até 2006.

73

Ao analisar o gráfico 03, averiguação a cidadão em atitude suspeita, visualiza-se um

satisfatório aumento nas ocorrências, que passaram de 3208, em 2004, para 9584 casos em

2006, o que representou aumento de 297,75%.

Em 2004, foram abordadas 3208 pessoas em atitude suspeita no Hipercentro. Em

2005, o número de indivíduos abordados passou para 7331, um aumento nas abordagens na

ordem de 228,52%. A tendência continuou para o ano de 2006, quando foi notificado um

aumento de 298,75%, comparativamente a 2004. A Av. Santos Dumont (Tabelas 09 e 10)

liderou nos anos de 2005 e 2006, como o logradouro de maior ocorrência de abordagens a

indivíduo em atitude suspeita.

É oportuno esclarecer que a tendência de queda, a partir de 2002, pode ser explicada

por vários fatores, tais como maiores investimentos por parte do governo, aquisições de

equipamentos para as polícias, inclusão de mais policiais militares, mas, sobretudo, pela

implantação das câmeras, de forma experimental, a partir de 2002.

7.2 Análise Espacial

7.2.1 Distribuição de pontos

O comportamento espacial, referente aos delitos furto e assalto a transeunte, no

Hipercentro de Belo Horizonte registrava elevada incidência até o ano de 2004, conforme

revela o mosaico de mapas disponível nas figuras 13 e 14. Na verdade, este foi o critério de

escolha dos locais para a instalação das 60 (sessenta) câmeras na área do Hipercentro, no

âmbito do Projeto Olho Vivo.

As Figuras 13 e 14 ainda revelam, para o conjunto de anos em tela, uma distribuição

espacial heterogênea no Hipercentro, com uma quase ausência de crimes nas bordas desta

região. Tal fato se dá, primeiramente, devido a obstáculos como linha férrea, viadutos e

avenidas de trânsito rápido, o que torna mais difícil a presença de transeuntes. Por outro lado,

este resultado pode escamotear um problema de natureza metodológica, uma vez que por ser

uma área que estabelece contato direto com a jurisdição de outra companhia da Polícia

74

Militar, a 5ª Cia PM, é possível que os crimes que ocorrem ali tenham sido atendidos por

essas companhias.

Percebe-se, ainda, que a concentração de pontos onde ocorreram os crimes está bem

mais acentuada em 2003 e 2004, comparativamente com os anos 2005 e 2006. A partir de

2005 há uma desconcentração dos pontos. Em alguns quarteirões é nítida a diminuição da

incidência criminal.

Porém, do ponto de vista metodológico, é oportuno informar que cada ponto no mapa

corresponde a um ou vários casos de furtos e assaltos a transeuntes, bem como a uma ou

várias abordagens a cidadão em atitude suspeita. Os pontos, portanto, representam endereços

(lat/long) onde as ocorrências se deram.

Ao analisar os mapas de pontos disponíveis na FIGURA 15, referentes a abordagens a

cidadão em atitude suspeita, percebe-se um aumento na concentração de pontos, efeito

contrário ao que se deu com os crimes. Tal fator é fruto da implementação do Programa Olho

Vivo, que comanda tais abordagens com vistas à prevenção de delitos. Portanto, é natural que

se observe um aumento nas ocorrências de averiguação, uma vez que os operadores das

câmeras, ao visualizarem um cidadão suspeito, acionam a central da PMMG através do

Centro Integrado de Comunicações Operacionais – (CICOP), que, por sua vez, passa a

mensagem para a viatura ou policiamento a pé postados mais próximo do local onde se

encontra o suspeito, requisitando uma abordagem.

Em relação à distribuição espacial das abordagens, percebe-se que os pontos estão

mais concentrados nos locais que apresentavam incidência criminal elevada. Esses locais são,

também, as áreas de maior concentração de transeuntes. Nota-se, ainda, que em 2005

(FIGURAS 13 e 14) ocorre, também, um aumento da incidência das abordagens nas áreas

periféricas do Hipercentro, tendência que pode ser explicada pelo fato da Polícia Militar ter

intensificado a abordagens nos locais onde o número de ocorrências apresentava maior

expressividade.

75

1904

28953309

4824

6941

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

2002 2003 2004 2005 2006

ANO

DE

CA

SO

S

410

9931205

824

526

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

2002 2003 2004 2005 2006

ANO

DE

CA

SO

S

9584

2540 30123208

7331

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

2002 2003 2004 2005 2006

ANO

DE

CA

SO

S

Gráfico 1 – Furto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002 a 2006 . Fonte 1ª RPM / PMMG

Gráfico 2 – Assalto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002 a 2006 . Fonte 1ª RPM / PMMG

Gráfico 3 – Averiguação de indivíduo suspeito no Hipercentro de Belo Horizonte -

2002 a 2006 . Fonte 1ª RPM / PMMG

75

76

HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

. Local de Furto a transeunte Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E Fonte: 1 RPM / PMMG

FIGURA 13 : Mapas de pontos, concentração espacial de furtos a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

76

2002 2003 2004

2005 2006

77

HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

. Local de assalto a transeunte Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E - Fonte: 1 RPM / PMMG

FIGURA 14 : Mapas de pontos, concentração espacial de assaltos transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

77

2002 2003 2004

2005 2006

78

HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

. Local de abordagem a suspeito Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E - Fonte: 1 RPM / PMMG

FIGURA 15 : Mapas de pontos, concentração espacial de abordagens a cidadão em atitude suspeita no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

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2002 2003 2004

2005 2006

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HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E Fonte: 1 RPM / PMMG

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2002 2003 2004

2005 2006

FIGURA 16 : Mapas de distribuição espacial de furtos transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

ALTA Acima 9 MÉDIA 3 a 8 BAIXA 1 a 2 NENHUMA 0

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HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E Fonte: 1 RPM / PMMG

2002 2003 2004

2005 2006

FIGURA 17 : Mapas de distribuição espacial de assaltos transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

80

ALTA Acima 9 MÉDIA 3 a 8 BAIXA 1 a 2 NENHUMA 0

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HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE

- 6ª CIA DA PMMG -

Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PUC Minas . Mestrando Éderson de Assis Carvalho Arte Final Mapinfo PUC Minas – TIE – GONÇALVES, A.E Fonte: 1 RPM / PMMG

2002 2003 2004

2005 2006

FIGURA 18 : Mapas de distribuição espacial de abordagens transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002 a 2006 FONTE: PMMG/1ª RPM, 2008

ALTA Acima 9 MÉDIA 3 a 8 BAIXA 1 a 2 NENHUMA 0

82

7.2.2 Kernel

Furto a Transeuntes

Através dos mapas de Kernel referentes aos furtos a transeuntes (FIGURA 16),

percebe-se que em 2002, existia uma mancha vermelha destacando maior concentração

espacial da incidência dos crimes na região da Rodoviária, zona boêmia e próximo a Praça

Sete e próximo ao Parque Municipal. As regiões periféricas da área continuam apresentado

baixa incidência. Em 2004 (FIGURA 16), nota-se que a maior concentração de furtos está

localizada na área próxima a Rodoviária, Praça Rio Branco, Praça Sete e zona boêmia.

A partir de 2005 (FIGURA 16 ), após a implantação do Projeto Olho Vivo, acontece

uma desconcentração dos crimes, mostrando uma tendência de redução dos casos. A

incidência continua, em menor concentração, na mesma região apresentada em 2004, no

entanto, a mais alta incidência do fenômeno continua nas ruas próximas à Praça Sete,

rodoviária e zona boêmia.

Em 2006, quase todo o Hipercentro apresentou baixa incidência criminal, tendo

havido queda expressiva da incidência de furtos inclusive na região próxima a rodoviária e

zona boêmia. Exceção ficou por conta da região próxima a Praça Sete (ruas Carijós, Tamoios

e Curitiba), que continua a apresentar alta incidência de furtos.

Assaltos a Transeuntes

A concentração de assaltos a transeuntes (FIGURA 17) em 2004 pode ser verificada,

também, próximo a Rodoviária, zona boêmia e Rua Espírito Santo com Bahia. A incidência

criminal está mais concentrada na zona boêmia, Ruas Guaicurus, Caetés e Av. Santos

Dumont. Em 2005 (FIGURA 17) a concentração de assaltos diminuiu em quase todos os

locais da área do Hipercentro, inclusive no entroncamento das Ruas da Bahia, Espírito Santo e

Av. Afonso Pena, local de maior incidência desta modalidade. Conforme dados estatísticos, a

queda dos casos de assaltos registrados na área do Hipercentro foi da ordem de 36,16%.

83

As regiões periféricas ou bordas da área do Hipercentro continuam apresentando baixa

incidência, tendo em vista os fatores apresentados na análise dos mapas de furtos e assaltos a

transeuntes, tais como divisa de área de Companhias, viadutos e linha férrea, confirmando a

tendência de pouca incidência criminal.

A tendência de queda, conforme dados estatísticos da PMMG, apresentou maior

expressividade comparando os anos de 2004 e 2006, com queda de 42,45% dos casos de

furtos. O que pode ser verificado pelo desaparecimento da mancha vermelha existente nos

anos de 2004 e 2005 (FIGURA 17).

Abordagens

Conforme os mapas de Kernel (FIGURA 18 ) percebe-se que em 2004 a maior

concentração de abordagens a cidadão em atitude suspeita localizava-se nas proximidades da

Rodoviária rua da Bahia com Espírito Santo. Em 2005 (FIGURA 18 ) a maior concentração

de cidadão em atitude suspeita abordados acontece nas proximidades do Shopping Cidade,

ruas Tupis, Goitacazes e São Paulo.

Comparando os mapas de Kernel de 2004 e 2006, é possível dizer que as abordagens

eram procedidas apenas na região próximo a Rodoviária, zona boêmia e entroncamento das

ruas da Bahia, Espírito Santo e av. Afonso pena.

Ao comparar os anos que se seguem a 2004, percebe-se um aumento das abordagens a

indivíduo em atitude suspeita, segundo dados estatísticos da PMMG, as abordagens

aumentaram mais de 200% de 2004 a 2006. Esse fato impede a ocorrência dos delitos de

furtos e assaltos a transeunte.

Em 2006 (FIGURA 18) uma imensa mancha vermelha demonstra que a concentração

de abordagens atinge quase toda a região do Hipercentro, com exceção de algumas áreas

periféricas que apresentam baixa incidência de furtos e assaltos a transeuntes, se comparadas

com as regiões mais importantes do Hipercentro.

84

CAPITULO VIII

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar dados estatísticos e os índices de

criminalidade, dos crimes de maior incidência do Hipercentro centro (assalto e furto a

transeuntes), bem como das ocorrências de averiguação de pessoa suspeita, verificando se

houve variação significativa da criminalidade após a implantação do sistema de

monitoramento eletrônico.

A indagação inicial estava diretamente relacionada à redução do percentual de delitos

de furtos e assaltos a transeuntes na região do Hipercentro de Belo Horizonte, e, também à

prevenção desses delitos através das abordagens a cidadãos em atitude suspeita. Agora é

possível comprovar a veracidade da hipótese, a partir dos dados de que a redução alcançada

na área de monitoramento entre 2002 a 2006 foi expressiva em relação aos crimes de assalto e

furto a transeuntes. Consequentemente, houve aumento significativo das abordagens a

cidadão suspeito.

Com base neste estudo, pode-se afirmar que as câmeras são potencializadoras na

redução da incidência criminal, constituindo-se em instrumento eficaz no combate à

criminalidade. Com base nas imagens geradas por essas câmeras, as atenções da polícia são

voltadas para as áreas de risco ou zonas quentes de criminalidade (ZQC), tais como a zona

boêmia, rodoviária, e áreas próximas a Praça Sete. Desta forma, aumenta-se de maneira

significativa a probabilidade do delinqüente ser abordado antes do cometimento da ação

delituosa.

No entanto, deve-se lembrar que a eficácia do Projeto também contou com a

colaboração da Secretaria Municipal da Coordenação de Política Urbana e Ambiental da

Prefeitura de Belo Horizonte, com a requalificação de que trata o Programa Centro Vivo ,

recuperando os espaços físicos, como também dos espaços públicos - ruas e avenidas - além

da preservação do patrimônio construído e da melhoria e manutenção da infra-estrutura. A

requalificação promoveu, ainda, melhoras substantivas na qualidade ambiental, a valorização

85

da paisagem urbana, a melhoria das condições de mobilidade, promovendo condições

adequadas de segurança.

Relativamente às abordagens a indivíduos suspeitos, o resultado do Programa também

foi muito satisfatório, tendo em vista que as câmeras potencializam as ações da Polícia

Militar, uma vez que a presença de um indivíduo em atitude suspeita, gera, imediatamente,

um comunicado ao policial mais próximo deste indivíduo para que seja procedida a devida

abordagem.

Com base nesses resultados, algumas sugestões para o aprimoramento do combate à

violência se fazem pertinentes, a saber:

O controle da criminalidade torna-se mais eficiente utilizando métodos de prevenção,

conforme elencamos nos capítulos anteriores. Sendo assim, implementar o sistema de

monitoramento por câmeras é uma excelente forma de se combater a atividade delituosa, uma

vez que o infrator poderá ser identificado antes mesmo de cometer o delito.

Que sejam planejados e implementados outros projetos de instalação de câmeras nos

locais com maior concentração de população flutuante, como ocorreu, recentemente, na área

do 34º Batalhão da Polícia Militar, tendo sido instalada câmera, inclusive na entrada da

Pontifícia Universidade Católica, Av. Dom José Gaspar.

As câmeras de videomonitoramento tornou-se multiplicador das ações humanas, na

medida em que atua, permanente, como “olhos eletrônicos”, multiplicando, também as

atenções voltadas para as áreas monitoradas, possibilitando maior controle e detecção do

cidadão em atitude suspeita.

A migração da criminalidade é um fenômeno que vem sendo comentado pela mídia.

Acredita-se que a migração constitui-se no deslocamento da ação dos marginais para outros

locais fora do alcance das câmeras de monitoramento do Projeto Olho Vivo. Nesse contexto,

sugere-se a realização de um estudo, de cunho científico, a fim de verificar o fenômeno da

migração da criminalidade.

86

A segurança pública é um campo fértil para o estudo. Este trabalho não pára por aqui,

uma vez que, temos muito a desvendar sobre a criminalidade. Sendo assim, esta dissertação

poderá servir de base para muitos outros estudos e estudiosos que queiram se aprofundar no

ramo da prevenção da criminalidade e violência urbana.

Entendo que a utilização de câmeras, como forma de prevenção e repressão à

criminalidade deve ser estendida, de forma sistemática, nos principais centros comerciais,

como ocorreu na área estudada nesse trabalho, onde os índices de criminalidade reduziram

sobremaneira. As câmeras, portanto, tornaram-se mais uma ferramenta de apóio a ação de

combate à criminalidade urbana.

87

9. REFERÊNCIAS

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93

10. ANEXOS

Tabela 01: Assalto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2002

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV SANTOS DUMONT 82 8,3 8,3

AV AFONSO PENA 73 7,4 15,6

RUA DOS CAETES 66 6,6 22,3

AV DO CONTORNO 65 6,5 28,8

RUA CURITIBA 60 6,0 34,8

RUA SAO PAULO 59 5,9 40,8

AV OLEGARIO MACIEL 55 5,5 46,3

AV PARANA 52 5,2 51,6

DEMAIS LOGRADOUROS 481 48,6 100,0

Total 993 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 02: Assalto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2003

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV AFONSO PENA 89 7,4 7,4

RUA DOS GUARANIS 81 6,7 14,1

AV SANTOS DUMONT 80 6,6 20,7

AV DO CONTORNO 73 6,1 26,8

RUA RIO DE JANEIRO 63 5,2 32,0

RUA DOS CAETES 62 5,1 37,2

RUA CURITIBA 59 4,9 42,1

RUA SAO PAULO 59 4,9 47,0

RUA DA BAHIA 58 4,8 51,8

DEMAIS LOGRADOUROS 635 48,2

Total 1205 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

94

Tabela 03: Assalto a transeuntes no Hipercentro de Belo Horizonte - 2004

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV SANTOS DUMONT 77 9,3 9,3

AV DO CONTORNO 48 5,8 15,2

AV AFONSO PENA 46 5,6 20,8

RUA CURITIBA 45 5,5 26,2

RUA DOS CAETES 44 5,3 31,6

RUA SAO PAULO 44 5,3 36,9

RUA RIO DE JANEIRO 43 5,2 42,1

AV AMAZONAS 41 5,0 47,1

AV PARANA 38 4,6 51,7

DEMAIS LOGRADOUROS 398 48,3 100,0

Total 824 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 04: Assalto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte - 2005

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV SANTOS DUMONT 50 9,5 9,5

AV AFONSO PENA 39 7,4 16,9

AV DO CONTORNO 39 7,4 24,3

RUA CURITIBA 30 5,7 30,0

RUA DOS CAETES 29 5,5 35,5

RUA DA BAHIA 29 5,5 41,0

AV AMAZONAS 28 5,3 46,3

RUA SAO PAULO 27 5,1 51,4

DEMAIS LOGRADOUROS 255 48,6 100,0

Total 526 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

95

Tabela 05: Assalto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte - 2006

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV SANTOS DUMONT 39 9,5 9,5

AV OLEGARIO MACIEL 32 7,8 17,3

AV AFONSO PENA 30 7,3 24,6

AV DO CONTORNO 29 7,1 31,7

RUA CURITIBA 27 6,6 38,3

PRACA RIO BRANCO 20 4,9 43,2

RUA DOS CAETES 20 4,9 48,0

RUA DA BAHIA 17 4,1 52,2

DEMAIS LOGRADOURO 196 47,8 100,0

Total 410 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 06:Averiguação de elemento em atitude suspeita Hipercentro de Belo Horizonte – 2002

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV AFONSO PENA 208 8,2 8,2

RUA DA BAHIA 192 7,6 15,7

RUA ESPIRITO SANTO 147 5,8 21,5

RUA SAO PAULO 147 5,8 27,3

AV SANTOS DUMONT 143 5,6 33,0

RUA DOS CAETES 137 5,4 38,3

RUA RIO DE JANEIRO 134 5,3 43,6

AV OLEGARIO MACIEL 130 5,1 48,7

RUA CURITIBA 120 4,7 53,5

DEMAIS LOGRADOUROS 1182 46,5

Total 2540 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

96

Tabela 07: Averiguação de indivíduo em atitude suspeita Hipercentro de Belo Horizonte -2003

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

RUA DA BAHIA 303 10,1 10,1

AV AFONSO PENA 241 8,0 18,1

RUA SAO PAULO 204 6,8 24,8

RUA DOS CAETES 181 6,0 30,8

AV SANTOS DUMONT 177 5,9 36,7

RUA RIO DE JANEIRO 157 5,2 41,9

RUA DOS GUARANIS 138 4,6 46,5

RUA ESPIRITO SANTO 135 4,5 51,0

DEMAIS LOGRADOUROS 1476 49,0

Total 3012 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 08: Averiguação de indivíduo em atitude suspeita Hipercentro de Belo Horizonte - 2004

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

RUA DA BAHIA 250 7,8 7,8

AV AFONSO PENA 216 6,7 14,5

AV SANTOS DUMONT 211 6,6 21,1

RUA RIO DE JANEIRO 201 6,3 27,4

RUA SÃO PAULO 199 6,2 33,6

RUA CURITIBA 187 5,8 39,4

AV OLEGARIO MACIEL 172 5,4 44,8

RUA DOS CAETES 163 5,1 49,8

AV DOS ANDRADAS 134 4,2 54,0

DEMAIS LOGRADOUROS 1475 46,0 100,0

Total 3208 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

97

Tabela 09: Averiguação de elemento em atitude suspeita Hipercentro de Belo Horizonte - 2005

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV SANTOS DUMONT 755 10,3 10,3

RUA SAO PAULO 600 8,2 18,5

RUA GUAICURUS 482 6,6 25,1

AV AFONSO PENA 469 6,4 31,5

RUA CURITIBA 468 6,4 37,8

RUA DOS GUARANIS 382 5,2 43,1

RUA DOS CAETES 376 5,1 48,2

AV PARANA 327 4,5 52,6

DEMAIS LOGRADOUROS 3472 47,4 100,0

Total 7331 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 10: Averiguração de cidadão em atitude suspeita no Hipercentro de Belo Horizonte 2006

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

SANTOS DUMONT 777 8,1 8,1

CURITIBA 646 6,7 14,8

SAO PAULO 624 6,5 21,4

OLEGARIO MACIEL 553 5,8 27,1

AFONSO PENA 506 5,3 32,4

DOS CAETES 500 5,2 37,6

GUAICURUS 468 4,9 42,5

RIO DE JANEIRO 444 4,6 47,1

RIO BRANCO 411 4,3 51,4

DEMAIS LOGRADOUROS 4655 48,6 100,0

Total 9584 100,00

Fonte: 1ª RPM / PMMG

98

Tabela 11: Furto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte – 2002

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV AFONSO PENA 1084 15,6 15,6

AV PARANA 711 10,2 25,9

RUA SAO PAULO 485 7,0 32,8

AV AMAZONAS 479 6,9 39,7

RUA DOS CARIJOS 439 6,3 46,1

RUA CURITIBA 422 6,1 52,2

DEMAIS LOGRADOUROS 3321 47,8 100,0

Total 6941 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 12: Furto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte – 2003

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV PARANA 479 9,9 9,9

AV AFONSO PENA 478 9,9 19,8

RUA SAO PAULO 359 7,4 27,3

AV AMAZONAS 330 6,8 34,1

RUA CURITIBA 320 6,6 40,8

RUA DOS CARIJOS 285 5,9 46,7

PRACA RIO BRANCO 240 5,0 51,6

DEMAIS LOGRADOUROS 2338 48,4 100,0

Total 4824 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

99

Tabela 13: Furto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte - 2004

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV PARANA 355 10,7 10,7

AV AFONSO PENA 296 8,9 19,7

RUA CURITIBA 266 8,0 27,7

RUA SAO PAULO 248 7,5 35,2

AV AMAZONAS 242 7,3 42,5

RUA DOS CARIJOS 206 6,2 48,7

AV SANTOS DUMONT 205 6,2 54,9

DEMAIS LOGRADOUROS 1491 45,1 100,0

Total 3309 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG

Tabela 14: Furto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte - 2005

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AFONSO PENA 334 11,5 11,5

PARANA 285 9,8 21,4

CURITIBA 257 8,9 30,3

SAO PAULO 223 7,7 38,0

AMAZONAS 222 7,7 45,6

SANTOS DUMONT 152 5,3 50,9

DEMAIS LOGRADOUROS 1422 49,1 100,0

Total 2895 100,00

Fonte: 1ª RPM / PMMG

100

Tabela 15: Furto a transeunte no Hipercentro de Belo Horizonte - 2006

LOGRADOUROS NÚMERO DE CASOS PERCENTUAL PERCENTUAL CUMULATIVO

AV AFONSO PENA 190 10,0 10,0

AV PARANA 181 9,5 19,5

RUA CURITIBA 148 7,8 27,3

AV AMAZONAS 141 7,4 34,7

RUA SAO PAULO 137 7,2 41,9

AV SANTOS DUMONT 104 5,5 47,3

RUA DOS CARIJOS 99 5,2 52,5

Demais logradouros 904 47,5 100,0

Total 1904 100,0

Fonte: 1ª RPM / PMMG