pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc sp ... pereira da... · pontifÍcia...

109
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP Janaina Pereira da Silva Função Social da Escola e o Aspecto Educacional do Programa Bolsa Família MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE SÃO PAULO 2014

Upload: others

Post on 04-Jul-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Janaina Pereira da Silva

Função Social da Escola e o Aspecto Educacional do

Programa Bolsa Família

MESTRADO EM EDUCAÇÃO:

HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

SÃO PAULO

2014

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Janaina Pereira da Silva

Função Social da Escola e o Aspecto Educacional do

Programa Bolsa Família

MESTRADO EM EDUCAÇÃO:

HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

SÃO PAULO

2014

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Janaina Pereira da Silva

Função Social da Escola e o Aspecto Educacional do Programa Bolsa Família

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre em

Educação: História, Política, Sociedade, sob

a orientação da Prof.ª Dr.ª Leda Maria de

Oliveira Rodrigues.

SÃO PAULO

2014

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________

Dedico este trabalho aos

meus pais Aurora e Francisco, pelo eterno

incentivo aos estudos; as minhas irmãs

Osvana e Susana, pelo apoio e

companheirismo, e aos meus sobrinhos

Vitória, Marcella e Samuel, que me fizeram

sorrir nos momentos de angustia.

Agradecimentos

À DEUS, por gerar e gerir o sonho de continuar estudando e me tornar mestre.

À minha incomparável irmã, Osvana, que esteve ao meu lado em todos os

momentos de ansiedade, angustia e indecisão, mostrando que com calma e

determinação se vai longe.

À minha mãe Aurora, que com sua praticidade e jeito peculiar de lidar com

desafios, não permitiu que eu esmorecesse ou desistisse durante a caminhada.

À minha professora orientadora, Leda Maria de Oliveira Rodrigues, por sua

amizade, disponibilidade, paciência, companheirismo, competência e compromisso

profissional e principalmente pelos preciosos conhecimentos recebidos.

Ao Prof. Dr. Carlos Antônio Giovinazzo Junior e a Profa. Dra. Marieta Gouvêa

de Oliveira Penna, pela cuidadosa leitura que demonstram ter realizado deste trabalho e,

pelas valiosas e precisas considerações para melhoria do mesmo.

Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História,

Política, Sociedade, pelas significativas aulas e discussões que contribuíram para

construção e ampliação do trabalho realizado.

À Betinha, secretaria geral do Programa EHPS, por seu cuidado, carinho e

atenção aos nossos pedidos e anseios.

À CAPES, pela concessão de minha bolsa de estudos, fundamental para me

manter no curso.

À amiga Verônica, pela companhia desde o princípio da caminhada, indagando,

criticando e fazendo pensar e repensar a elaboração deste trabalho.

Aos amigos Adilson, Cecília, Priscila e Suelem, que ao final da caminhada

disponibilizaram seu tempo e companhia para leitura e escrita final deste trabalho.

A todos os familiares e amigos, que durante esse percurso assistiram minhas

transformações e compreenderam minhas ausências, permanecendo companheiros até o

fim.

Resumo

SILVA, Janaina Pereira da. 2014. Função Social da Escola e o Aspecto Educacional

do Programa Bolsa Família. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo.

Este trabalho apresenta os estudos e os resultados de uma investigação sobre o aspecto

educacional do Programa Bolsa Família e a sua relação com a possível reconfiguração

da função social da escola. Tal aspecto é apresentado como exigência para o

recebimento do benefício, isto é, os inscritos no programa devem matricular seus filhos

na escola e garantir a frequência escolar mínima de 85% no caso das crianças e

adolescentes entre 6 e 15 anos e a mínima de 75% entre os jovens de 16 e 17 anos.

Pretende-se investigar se houve mudança na concepção de uma das funções sociais da

escola, seja ela, o oferecimento do conhecimento formal e científico para assistência

social a partir da exigência do aspecto educacional do programa, além de analisar se

houve alterações nas atribuições da escola no que tange a sistematização de

conhecimento e ainda verificar o que tem sido priorizado na escola, o ensino ou a

efetivação do Programa Bolsa Família. Para atingir tais objetivos foi selecionada a

escola com maior número de beneficiários do programa, da Delegacia de Ensino do

Butantã – Zona Oeste de São Paulo. Após contato com a escola os pais, professores e

agentes administrativos que aceitaram participar da pesquisa, responderam um

instrumento de coleta de informações: questionário elaborado para esse fim específico.

A análise dos resultados consistiu em considerar as falas dos entrevistados, a luz do

conceito de função social da escola constituído pelo referencial teórico aqui

apresentado: Teixeira (1971), Fernández (1989), Sacristán e Gómez (1998), Hamilton

(2001), Tenti (2007), Young (2007). Entre os 22 sujeitos envolvidos nessa investigação,

14 entendem a escola como espaço de oferecimento de conhecimento formal e

científico, 6 compreendem a escola como uma espaço que oferece conhecimento, mas

também benefícios assistenciais e 2 acreditam que a escola tem suas funções mais

voltadas para assistência social do que, para o oferecimento de conhecimento formal e

científico.

Palavras-chave: Programa Bolsa Família, função social da escola, oferecimento de

ensino.

Abstract

SILVA, Janaina Pereira da. 2014. School’s Social Function and the Educational

View of Brazilian Social Programme Support “Bolsa Família” Master degree thesis.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

This paper bring forward the studies and results of a research about educational view of

Brazilian Government Social Programme Support “Bolsa Família” and a possible

reconfiguration about school’s social function. This view is a legal consideration to

receive this government support, that is to say, the families registered in programme

must do the school enrolment of their children and ensure they will have attend school

of 85% for children and teenagers – 6 to 15 years old – or 75% for teenagers with 16 or

17 years old. We intend to investigate whether or not changed the conception of one of

school’s social function, from the assumption of: the formal and scientific knowledge

support for social welfare policies; and research if there changed the schools function

from the educational system beyond what are the current school’s priorities: the

knowledge or enforcement of “Bolsa Famíla”. To reach this purpose we choose the

school with more beneficiaries of this programme on São Paulo City Educational

Department of Butantã Hills – West Side. We made contact with responsible for school,

families, teachers, civil servants that agreed to apply our basis research form. That form

was studied from the concept and theories of school social function, the framework was:

Teixeira (1971), Fernández (1989), Sacristán e Gómez (1998), Hamilton (2001), Tenti

(2007), Young (2007). Between the 22 appliers, 14 think that school is a local only to

offer and support the formal and scientific knowledge, 6 understand school as a place of

education and as a place of government social programme, and 3 believes school is

more a place of government social programme than a place of support knowledge.

Key-words: Brazilian Social Programme “Bolsa Família”, school’s social function,

educational support

Sumário

Introdução 13

Capítulo 1 – O Programa Bolsa Família e a condicionalidade Educação 28

Capítulo 2 – Escola e suas funções sociais 35

2.1. O que entendemos por função social da Escola? 35

2.2. Funções sociais da Escola ao longo da História 38

Capítulo 3 – Procedimentos de Pesquisa 50

3.1. Delimitação do campo empírico 50

3.1.1. Funcionamento da escola 52

3.1.2. A gestão escolar 52

3.1.3. O corpo docente 53

3.1.4. O corpo de apoio escolar 53

3.1.5. A esfera pedagógica 53

3.1.6. Os espaços 57

3.2. Caracterização do grupo pesquisado 58

3.2.1. Beneficiários do Programa Bolsa Família 59

3.2.2. Os professores 60

3.2.3. Os agentes de apoio administrativo 60

3.3. A pesquisa 61

3.3.1. Coleta de dados 61

3.3.2. Apresentação e análise dos dados 63

3.4.1. Análise 1 – Entrevista com os pais 63

3.4.2. Analise 2 – Questionários dos professores 75

3.4.3. Análise 3 – Entrevista e questionários dos agentes

Administrativos 84

Considerações Finais 87

Referências Bibliográficas 91

Anexos 95

Anexo 1. Questionário e roteiro de entrevista 95

Anexo 2. Tabelas de dados: entrevistas dos agentes administrativos 104

Anexo 3. Lista de motivo para justificativa de

frequência inferior a 85% 107

Lista de Quadros

Tabelas referentes às respostas das entrevistas com os pais:

Quadro 1 – Caracterização do grupo pesquisado 63

Quadro 2 – Conhecimento acerca do Programa Bolsa Família 64

Quadro 3 – Em relação à frequência escolar 66

Quadro 4 – Abandono escolar, por não recebimento do PBF 68

Quadro 5 – Expectativas e motivação em relação à escola 69

Quadro 6 – Mudanças das expectativas após o PBF 71

Quadro 7 – Mudanças na escola e no desenvolvimento

de seu filho após o PBF 72

Quadro 8 – Demandas junta à escola 73

Quadros referente às respostas de questionários dos professores

Quadro 9 – Caracterização dos professores 75

Quadro 10 – Sobre a concepção de função social da escola 76

Quadro 11 – Conhecimento sobre o Programa Bolsa Família (PBF) 77

Quadro 12 – Interferência do Programa Bolsa Família no trabalho pedagógico 78

Quadro 13 – Demandas dos pais e relação a escola 79

Quadro 14 – Mudanças das expectativas dos pais

em relação à escola após o PBF 80

Quadro 15 – Acesso e permanência na escola, exigido pelo PBF relacionado à

melhoria do rendimento escolar dos alunos beneficiários 81

Quadro 16 – Programas sociais e mudanças de expectativas dos pais em relação à

escola 83

Quadros referente às respostas das entrevistas e aos agentes administrativos

Quadro 17 – Caracterização dos agentes administrativos 104

Quadro 18 – Conhecimento acerca do Programa Bolsa Família

e sua relação com a escola 104

Quadro 19 – Interferência do Programa Bolsa Família no objetivo da escola 104

Quadro 20 – Demandas dos pais em relação à escola 105

Quadro 21 – Percepção das expectativas dos pais em relação a escola 105

Quadro 22 – Mudanças das expectativas dos pais depois do PBF 105

Quadro 23 – Acesso e permanência na escola, exigido pelo PBF melhorou

rendimento escolar 106

13

Introdução

Historicamente a escola e o ato de educar sempre estiveram ligados ao

atendimento das demandas científicas, econômicas e sociais de uma sociedade, no

sentido de transmitir conhecimento, preparar para o trabalho e para o convívio social,

atendendo expectativas de formação intelectual, formação moral, formação da

personalidade e promoção social, variando em seus objetivos e funções.

Pode-se dizer que as ideias e discussões sobre a função social da escola,

acompanhou o percurso histórico desta e mostra-se como um tema discutível e

pertinente até os dias atuais, devido às contínuas transformações sofridas pela escola,

pelos indivíduos e pela própria sociedade.

Sabemos que a escola não é um espaço neutro e de pura transmissão do

conhecimento, mas sim um espaço complexo, multifacetado que lida com problemas e

demandas sociais. A escola reflete e atende a sociedade na qual se está inserida (Tenti,

2007), todavia esse espaço possui determinada característica e obrigação que

formalmente só diz respeito a ele, como afirma Sanches (2009):

A escola opera sob a forma de pensamento privilegiado e

legitimado socialmente, há intencionalidade educativa na promoção

de experiências, para que os alunos tenham acesso a dimensões

fundamentais de sua própria cultura [...] sua função está relacionada

à especificidade de nossa sociedade, ao mundo da escrita, as

disciplinas científicas e à lógica formal, ou seja, sua prática peculiar

é trabalhar com o conhecimento (p.137).

[...]

A escola deve operar com o desconhecido com um funcionamento

intelectual que privilegie a formação de conceitos, direcionado a

ruptura com o cotidiano, com o senso comum (p.138).

E, é essa característica destacada por Sanches (2009), definida como transmissão

e desenvolvimento de conhecimento que aqui nos interessa, pois mediante tantas

reconfigurações que a escola contemporânea tem passado a partir de sua relação com a

sociedade, acreditamos que pode ter sido agregado a essa inúmeros atributos que têm

gerado críticas e acirrado a sensação de insuficiência da escola como espaço de oferta e

sistematização de conhecimento.

14

Acreditamos hoje que a escola se divide entre espaço de transmissão do

conhecimento científico, saber escolar/formal, e de assistência social, instrumento de

efetivação de políticas públicas como o Programa Bolsa Família.

O interesse de pesquisa aqui apresentado, surgiu exatamente dessa aparente

“dualidade da função social da escola e os impactos na qualidade de ensino”, ou seja,

como ficou o objetivo da escola, isto é, o oferecimento do conhecimento formal /

científico após a entrada do Programa Bolsa Família?

É importante ressaltar que o Programa Bolsa Família (PBF) foi escolhido para

essa análise por trazer entre suas condicionalidades de participação a exigência de

acesso e a permanência na escola, e por ser um dos programas de assistência mais

presente entre a população brasileira, por integrar o Plano Brasil sem Miséria do

Governo Federal.

Tem como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda per capita

inferior a R$ 70 mensais, e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e de

acesso aos serviços públicos1.

O Programa Bolsa Família (PBF) em si pode ser definido como um programa de

transferência direta de renda, que beneficia famílias em situação de pobreza e de

extrema pobreza em todo o país e seus principais objetivos são:

Promover o alívio direto da pobreza, por meio da transferência direta da

renda à família;

Reforçar o exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e

Educação, por meio do cumprimento das condicionalidades, o que

contribui para que as famílias consigam romper o ciclo de pobreza entre

gerações;

Coordenar programas complementares que tem por objetivo o

desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa

Família consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza. São

1 Disponível em:< http://www.mds.gov.br/>.

15

exemplos de programas complementares: programa de geração de renda,

de alfabetização de adultos, de fornecimento de registro civil e demais

documentos2.

Da definição e objetivos expostos acima, o que mais nos interessa e pode dar

base para parte deste trabalho é o segundo objetivo. Este relaciona o PBF com os

serviços públicos de Saúde e Educação (mais especificamente o que tange a educação)

por meio das condicionalidades.

É o cumprimento de condições nesses setores pelos beneficiários do programa,

que se faz pertinente a análise da possível “dualidade da função da escola”, visto que

esta pode ganhar outra direção no caso de executora, fonte avaliadora ou ainda

maquiadora dessa política.

No geral, as condicionalidades ligadas à Educação e Saúde pretendem manter as

crianças e adolescentes na escola e garantir que as crianças até seis anos, gestantes e

nutrizes cumpram a agenda de atenção básica à saúde. Concomitantemente o

monitoramento do acesso das famílias a esses serviços visa assegurar que os brasileiros

mais vulneráveis sejam atendidos por essas redes de proteção social.

Ressaltamos que o foco desta pesquisa está pautado na condicionalidade

Educação, uma vez que no bojo do PBF esta é apresentada como exigência, isto é, os

inscritos no programa devem matricular seus filhos na escola e garantir a frequência

escolar mínima de 85% no caso das crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos e mínima

de 75% entre 16 e 17 anos3.

Estas condições têm como intuito melhorar o rendimento escolar, garantir o

acesso e a permanência na escola e romper com a pobreza a longo prazo, uma vez que o

direito a educação, leva a outros direitos (SANTOS, 2010).

Com intuito de obter familiaridade e ampliar os conhecimentos acerca do tema

de interesse, foi feita pesquisa nas diferentes fontes de conhecimento e exposição de

trabalhos científicos como: Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

2 Disponível em: < http://www.mds.gov.br/>.

3 Idem .

16

em Educação), Scielo (Science Eletronic Library Online) e Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Pode-se, a priori, destacar que não foi encontrado nenhum trabalho que

efetivamente trate o impacto das políticas públicas, em especial o PBF, na função social

da escola, no sentido de responder as seguintes questões:

Como fica o objetivo da escola a partir da entrada do Programa Bolsa

Família em seu interior?

Qual objetivo a escola passa a desenvolver: de espaço socializador,

provedor de igualdade ou de conhecimento?

Foram questões como essas que nortearam esta pesquisa, no entanto os trabalhos

encontrados abordam mais as mudanças ocorridas na vida do sujeito (beneficiário do

PBF) do que na escola em si. Tal constatação foi diretamente ao encontro de nosso

interesse em pesquisar o aspecto educacional do Programa Bolsa Família (PBF).

Uma vez que os próprios objetivos e exigências do programa, isto é, garantir

acesso e permanência, melhorar o rendimento escolar e romper com a pobreza a longo

prazo, podem dar a entender que acessar e permanecer na escola é sinônimo de

aquisição de conhecimento escolar formal e científico e condição para ser beneficiário

do programa.

É exatamente essa ideia de acesso e permanência na escola ligada à condição de

recebimento do benefício do Programa Bolsa Família que nos levou a indagações sobre

a possível mudança de uma das funções sociais da escola: a de oferecimento de

conhecimento escolar formal e científico para assistência, já que a escola pode ter

passado a desempenhar o papel de “controladora do benefício” pela condicionalidade

Educação, por ficar atrelado a ela o recebimento ou não deste.

Nesse sentido os beneficiários do PBF podem ter passado a entender a escola

como um espaço de assistência social e não de oferecimento de conhecimento para

emancipação e ascensão social, como direito a outros direitos, passando a exigir da

escola responsabilidades que não dizem respeito ao oferecimento de ensino e sim de

recebimento e manutenção do benefício.

17

Partindo do exposto acima buscamos conhecer os trabalhos realizados acerca do

PBF e a escola, e dentro das bases de pesquisa utilizadas (Anped, Capes e Scielo)

foram encontrados inúmeros trabalhos entre teses, dissertações e artigos que relacionam

o Programa Bolsa Família com os mais diversos assuntos como: saúde, segurança,

produtividade de mercado, consumo, violência, entre outros.

Deste montante, destacamos sete trabalhos (três dissertações e quatro artigos das

reuniões da Anped), sendo que três discorrem sobre a relação do Programa Bolsa

Família (PBF) e a escola; um lida com a função social da escola a partir das percepções

dos diferentes segmentos da equipe escolar e os últimos três tratam algumas mudanças

ocorridas na escola a partir das políticas educacionais (não necessariamente o PBF).

A ideia mais presente nos trabalhos de Corrêa (2008), Reis (2009) e Santos

(2010), que tratam a relação PBF e a escola, constitui-se da efetividade legal deste

programa em relação aos interesses educacionais: acesso a educação, permanência na

escola, aumento do rendimento, diminuição da evasão escolar e inclusão social. Todos

utilizaram como metodologia de pesquisa questionários ou entrevistas respondidos por

alunos, professores, gestores e familiares e, no caso de Santos (2010) e Reis (2009),

empregaram também a análise documental: prontuários de alunos, histórico escolar,

média anual e frequência escolar.

Estes trabalhos foram escolhidos por tratar de alguma forma da relação

Programa Bolsa Família (PBF) e escola, não na perspectiva de reconfiguração da função

social da mesma, mas sim, na legalidade do programa na escola.

Os resultados variam de trabalho para trabalho. Em Corrêa (2008) e Reis (2009),

respectivamente, conclui-se que, por meio de falas dos entrevistados, houve uma

melhora significativa na permanência na escola por parte dos alunos beneficiários do

PBF, embora os níveis de frequência ainda não sejam os ideais; que se evidencia uma

melhora significativa na participação dos beneficiários do PBF no que tange ao

desempenho escolar e a permanência na escola; e, por fim, destaca-se que, passados

cinco anos (na época da pesquisa do trabalho) da implantação do PBF, percebe-se uma

melhora nas condições de vida e consequente redução na condição de miserabilidade.

Cabe ressaltar que estes trabalhos apontam os aspectos positivos do PBF na escola

demonstrando sua contribuição para efetividade legal do mesmo em relação à escola.

18

No entanto, o olhar desses autores se mostra mais voltado para as mudanças

ocorridas na vida dos beneficiários do PBF do que na escola, o que pode ser um

indicativo da importância do trabalho que nos colocamos a desenvolver aqui, uma vez

que entendemos que a escola também sofreu reconfigurações a partir das demandas e

exigências do programa, principalmente no que tange a uma de suas funções sociais,

seja ela, o oferecimento de ensino.

É importante ressaltar que o trabalho de Reis (2009) utiliza-se do PBF para

analisar a pobreza do Brasil por um viés educacional, trazendo informações sobre

desigualdade social, o histórico das políticas de transferência direta de renda e

inferências acerca da condicionalidade Educação, além de acesso e permanência na

escola, mas também como estratégia do governo para diminuir o analfabetismo e o

trabalho infantil.

Também se faz pertinente destacar no trabalho de Corrêa (2008), o enfoque dado

pelas famílias ao aspecto financeiro do programa (segundo os professores entrevistados)

ao serem questionadas sobre a maneira como o Bolsa Família (BF) tem contribuído para

inclusão e manutenção das crianças menos favorecidas na escola.

Outro ponto destacado pelos sujeitos da pesquisa (professores que atuam em

diferentes setores escolares desde a docência até a gestão) é que, embora haja um alto

índice de falta, os alunos não abandonam a escola, mas também não demostram

comprometimento com os “verdadeiros” objetivos da educação (aquisição de

conhecimento formal e científico) e que os pais dos alunos beneficiários demonstram

medo de perder o beneficio e por isso cobram de seus filhos a presença na escola.

O medo dos pais, encontrado nas entrelinhas do trabalho de Corrêa (2008), pode

ser um indicativo de mudança de concepção da função social da escola, pois espera-se

que os pais tenham preocupação com o desenvolvimento escolar dos filhos e não se sua

presença ou ausência implicará na perda ou não do benefício “relacionado” a escola.

Este artigo fomenta o interesse de pesquisa aqui apresentado, por indicar uma

possível alteração no conceito de função social da escola pelos pais, passando a

entendê-lo como assistência social por meio do recebimento do beneficio Bolsa Família,

ao invés de oferecedor de conhecimento.

19

Já o trabalho de Santos (2010) teve como intuito analisar o Programa Bolsa

Família (PBF) em seu aspecto educacional: acesso e permanência na escola como meio

de inclusão social. Para isso, analisou índices de frequência e o rendimento escolar de

uma 8ª série de uma escola da Zona Leste de São Paulo. Entrevistou quatro mães, sendo

duas participantes do programa e duas não participantes. Utilizou como base teórica os

trabalhos de Bourdieu, Lahire e Charlot que tratam da exclusão escolar a partir da

origem social e do desempenho escolar e concluiu que o PBF alcança o objetivo de

incentivar a permanência na escola, contudo ele não representa a garantia de sucesso

escolar para as crianças e jovens atendidos.

O trabalho de Santos (2010) vai ao encontro do interesse de pesquisa aqui

apresentado, por se preocupar especificamente com um dos objetivos do programa, qual

seja, o acesso e permanência na escola olhando-o sob uma ótica de inclusão social e não

necessariamente de oferecimento de ensino, o que também pode demonstrar mudança

de função social da escola (não na perspectiva que desejamos tratar aqui).

Gianotti (2006) tem por objetivo levantar os diversos entendimentos que se tem

sobre a função social da escola e como os diversos segmentos da equipe escolar a

percebem. Para isso utilizou-se dos estudos de Libanêo, Mizukami e Gramsci,

procedendo a um estudo qualitativo do tipo etnográfico, por meio de entrevistas semi-

estruturadas, observação de campo e análise documental. Verificou-se que a escola

apresenta em seu Projeto Pedagógico uma forte tendência tradicional liberal, e nas falas

dos sujeitos envolvidos na pesquisa (pais, professores e colaboradores) há forte crença

na escola como possibilitadora de sucesso e ascensão social dos educandos, o que

estimula o depósito de todas as expectativas nesse sentido na escola.

A autora, por meio dos autores que baseiam teoricamente seu trabalho, define a

escola como socialmente destinada à transmissão do conhecimento acumulado pela

humanidade para as novas gerações. Buscando em Libanêo e Mizukami, formas de

caracterizar cada uma das tendências/abordagens pedagógicas e sua função social,

entende-as nos níveis micro, meso e macro como uma “teia de relações

caleidoscópicas”.

Por buscar pontuar e significar a função social da escola, o trabalho de Gianotti

(2006), estabelece relação com o interesse de pesquisa aqui apresentado por conceituar

20

a função social da escola, qual seja, a transmissão de conhecimento socialmente

acumulado pela humanidade, função essa que precisamos conhecer e definir para

responder um dos questionamentos desta pesquisa: se houve ou não mudança da função

social da escola a partir da exigência da condicionalidade Educação do PBF?

Os trabalhos que se seguem não tratam especificamente o Programa Bolsa

Família, mas têm por objetivo compreender algumas mudanças ocorridas ou não na

escola e na sua “função” a partir da execução de políticas educacionais, os artigos

pontuam a transformação do Estado provedor em diagnosticador/gerenciador e a escola

como executora dessas políticas educacionais.

Esses trabalhos foram escolhidos por destacarem o contexto e as influências da

ideologia neoliberal na implantação das políticas educacionais e consequentemente

políticas assistenciais como o Programa Bolsa Família (PBF).

A ideologia neoliberal pode ser definida como um liberalismo econômico, que

exalta o mercado, a concorrência e a liberdade de iniciativa empresarial, rejeitando de

modo agressivo, porém genérico e vago a intervenção do Estado na economia e na

sociedade (BOITO, Jr. 1999):

A ideia de plenitude individual no sentido de que o indivíduo é o

único responsável por seu fracasso ou sucesso social, a liberdade

como condição necessária ao progresso individual e

consequentemente coletivo, a implantação gradual, mas

significativa do Estado mínimo uma vez que os sujeitos são

convidados junto com as organizações sociais a resolver problemas

que diz respeito ao poder e a obrigação do Estado e a propriedade

como direito natural do homem, preparam o ambiente para

implementação de políticas educacionais e sociais, uma vez que

esse contexto de individualismo econômico baseado na oferta e na

procura, aumenta as desigualdades sociais o que exige ações para

diminuição dessas desigualdades pelo Estado (p. 37).

Nessa perspectiva, os autores destacados trazem em seus trabalhos análises

acerca dos pressupostos economicistas, reorientação das prioridades do Estado e a

redução e eficiência de seus gastos. O Estado passa a ser gerenciador e não mais

provedor do bem estar social, e os agentes e atores da educação como “salvadores da

pátria”- presente na educação na década de 1990, período de inauguração do

neoliberalismo no Brasil, por meio do governo de Fernando Henrique Cardoso.

21

Libanori e Rical (2011) tiveram como objetivo a análise das concepções que

fundamentam as parcerias intersetoriais em cinco programas da Secretaria Estadual de

Educação de São Paulo, implementados desde 1995 até 2008: Escola da Família;

Desenvolvimento de Cultura de Paz no Estado de São Paulo; Superação Jovem; Justiça

e Educação: Parceria para Cidadania; Escola em Parceria e comunidade Presente.

Procurou-se compreender a concepção e papel assumido pela unidade escolar na

execução desses programas.

Para o trabalho foram analisados documentos de criação e publicidade dos

programas a partir de três fases: (1) levantamento de programas; (2) análise do conteúdo

e seleção das categorias de análise e (3) análise dos documentos a luz das categorias

selecionadas.

Os programas selecionados têm em comum o fato de: se realizarem no âmbito da

educação; terem como público alvo os jovens; apontarem para participação da

comunidade e terem os mesmos objetivos partilhados pelas Organizações Sociais (OSs)

que foram chamadas para parceria.

Vale ressaltar que as parcerias são apresentadas como uma forma de partilha de

responsabilidade de execução das políticas públicas com a sociedade civil ou com a

comunidade. Se, por um lado, nos programas, é reconhecida a responsabilidade do

governo das políticas públicas de educação, saúde e promoção social, ela se restringe ao

diagnóstico dos problemas e planejamento das ações a serem desenvolvidas. A

responsabilidade pela execução é compartilhada com a sociedade, que é chamada à

participação e, portanto, deve ser capacitada para agir e implementar programas.

A análise dos programas permite concluir que a função dos mesmos é, em

grande parte, pedagógica, porque pretende ensinar os participantes a se comportarem

como cidadãos, no sentido de conseguir resolver problemas sociais, assumindo o papel

que deveria ser ao Estado.

Sendo a escola o espaço mais viável para essa aprendizagem, o que se percebe é

uma possível mudança de função social da escola a partir da entrada das políticas

educacionais, de oferecedora de conhecimento à promovedora de parcerias para

capacitar os seus sujeitos para lidar com situações que compete ao Estado.

22

Concomitantemente verifica-se que as políticas realizadas nos programas da

Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEESP), podem ser

caracterizadas como compensatórias, isto é, buscam remediar desequilíbrios localizados

e pontuais gerados pelo desenvolvimento econômico e a desigualdade social, isto é, não

há uma política educacional global. A política educacional realiza-se por meio de ações

sociais; as organizações sociais não se apresentam apenas como parceiras de execução,

mas principalmente como agentes de elaboração e que há disseminação de uma nova

concepção do papel da escola, que passa agora a exercer o papel de executora de

projetos sociais do Estado.

As conclusões de Libanori e Riscal (2006) convergem com o interesse de

pesquisa aqui apresentado, uma vez que temos como hipótese que a condicionalidade

Educação do PBF também provocou mudanças significativas em uma das funções

sociais da escola, ou seja, o oferecimento de conhecimento formal e científico.

Ramos (2010) teve por intuito analisar histórica e politicamente a materialização

da lógica da reforma do Estado Paulista, por meio de apresentação de suas ações no

campo político-educacional a partir de 1995, que a despeito de sua aparência

pedagógica trazia em seus fundamentos alguns pressupostos economicistas muito

coerentes aos próprios pressupostos da Reforma do aparelho do Estado brasileiro.

Faz-se necessário ressaltar que tal reforma guiou-se por uma lógica

economicista, tendo como pontos estratégicos a reorientação das prioridades do Estado:

a redução e eficiência de seus gastos; redistribuição de funções e verbas entre suas

instâncias federadas; sua atuação focalizada; seu controle de resultados; a associação

qualidade-produtividade em suas ações e a focalização do funcionário público como

dinamizador e responsável pelos resultados desse processo.

Foram utilizados como instrumentos metodológicos a revisão bibliográfica e a

análise documental de discursos proferidos no período do governo de Fernando

Henrique Cardoso e seus filiados.

Conclui-se que a reforma praticada na educação escolar paulista, pós-1995, e o

desejo de mudança na concepção pedagógica sinalizada pela Secretaria Estadual de

Educação (SEE), não resultaram fundamentalmente de uma concreta busca de melhorias

23

em relação à qualidade educacional presentes nos discursos, manifestos e documentos

então elaborados.

Tais propostas revelaram-se mais como pretextos, com origens e finalidades

econômicas, que como metas efetivas consoantes as necessidades prementes e concretas

do ensino fundamental paulista.

O percurso e as conclusões do estudo de Ramos (2010) contribuem com

ampliação do nosso olhar sobre a escola, pontuando-a como espaço permeado de “boas

ideias” que nem sempre tem o intuito de melhorá-la, e sim torná-la mais eficiente e

econômica, incutindo em seus atores o dever de salvador da pátria, o que de alguma

forma também pode ser a realidade e/ ou a intencionalidade do PBF.

O último trabalho escolhido na pesquisa até aqui realizada foi o de Vieira

(2011), que teve como intuito a construção de um referencial teórico para analisar os

atuais processos de reestruturação do Estado e as consequências dessa reestruturação

para as políticas educacionais, mais do que tratar as teorias que alicerçam processos do

neoliberalismo, terceira via, globalização entre outros. A autora buscou considerar

diretamente a concepção que embasa a reforma e como o Estado passou a ser gerido: o

gerencialismo.

Para isso, utilizou centralmente as contribuições de John Clarke e Janet Newman

no livro The Managerial State: power, politics and ideology in the remaking of Social

Welfare (1997) em que os autores examinam as novas formas de administração e

gerenciamento do Estado contemporâneo e, nesse processo, oferecem inúmeros

conceitos chave para aqueles, como nós, envolvidos em entender e analisar as políticas

públicas em educação.

Em seguida, a autora faz o levantamento histórico para pontuar a passagem do

Estado de bem-estar social para o Estado Gerenciador destacando o discurso da Nova

Direita, que afirmava a necessidade de reestruturar o Estado em termos econômicos,

aplicando doutrinas de controle fiscal, mas a novidade é um pensamento econômico que

vê os gastos públicos como algo que impedia a viabilidade competitiva de indivíduos,

empresas e da própria nação.

24

Em relação à educação, a situação desesperadora enfrentada cotidianamente nas

escolas por professores e estudantes é vista como resultado de uma má gestão e

desperdício de recursos por parte dos poderes públicos, como falta de produtividade e

esforço por parte dos professores e gestores educacionais, como consequência de

métodos “atrasados” e ineficientes de ensino e de currículo inadequados e anacrônicos.

É nesse contexto de “fracasso escolar” e exigência da Nova Direita que surge a

ideia de Estado gerenciador no sentido de diagnosticador de problemas demandando aos

diferentes grupos da sociedade as soluções, ou seja, não mais “fornecer serviços”, mas

principalmente gerenciar estes por meio de políticas.

Uma vez que atribuiu seu poder de provedor a diversas instâncias, essa nova

reestruturação do Estado compromete a transparência de sua governabilidade e aumenta

a burocracia já que estabelece metas e objetivos claros a serem alcançados, o que dá a

ideia de eficácia, pois a sociedade e o próprio governo podem verificar se tais objetivos

foram atingidos (Vieira, 2011).

O estudo conclui a partir do interesse de construir um referencial teórico, que a

avaliação passou a ser um elemento central do estado gerencial: essa é a forma de

controle que o Estado gerencialista exerce ao invés de controlar/avaliar o processo, o

gerencialismo focaliza o resultado. Na educação as avaliações escolares passaram a ser

uma exigência do Banco Mundial para liberação de empréstimos para o país.

Concomitantemente, constatou-se que as políticas públicas não são frutos apenas

das ideias que alicerçam o Estado e dos grupos hegemônicos que o compõe, o que

significa dizer que elas não são implementadas de forma direta e sem nenhuma

resistência nas escolas: há também a ação de sujeitos que estão nas instituições

escolares e que vão, em certa medida, reformular muitas dessas políticas. A análise de

políticas públicas precisa levar em conta essas mediações se quer dar conta da

complexidade de sua concepção, circulação e implementação.

Esse estudo mostra, mais uma vez a mudança do Estado de provedor a

gerenciador do bem estar social. De certa forma, há consequências dessa mudança na

escola, que passa a ter um de seus importantes instrumentos, a avaliação, como forma

25

de controle do Estado sobre a escola, e não mais como ferramenta de análise para

possíveis progressos.

Tal ideia, pode denotar a política pública como modificadora do espaço escolar,

aspecto que pode ser convergido ao objetivo de pesquisa deste trabalho, uma vez que se

busca verificar se ocorreu mudança da função social da escola a partir da

condicionalidade Educação do Programa Bolsa Família que é também uma política

pública.

Com a pesquisa realizada até aqui, nos trabalhos já divulgados, pode-se entender

que o Programa Bolsa Família foi analisado a partir de diferentes aspectos normalmente

relacionados ao rendimento escolar e a melhora nas condições de vida dos beneficiários,

o que contribui para o nosso tema de pesquisa no sentido de mostrar um panorama

social e educacional do programa.

No entanto, nenhum dos trabalhos encontrados analisa a possível mudança de

concepção da função social da escola a partir das exigências do aspecto educacional do

PBF, o que pode demonstrar a relevância e contribuição científica e social do nosso

trabalho, uma vez que queremos desvendar o olhar dos beneficiários acerca da escola,

como eles veem a escola e o que esperam ou entendem que podem esperar dela a partir

da exigência educacional do programa, sistematização de conhecimento formal e

científico ou assistência social.

Pretende-se com essa pesquisa responder o seguinte problema: Com a

implantação do Programa Bolsa Família (PBF), a escola passa a ter outra função social

que não a de transmitir conhecimento?

Para nortear a temática de dualidade da função social da escola do nosso

problema de pesquisa decorrem as seguintes questões:

Qual é o valor atribuído à instrução e a transmissão do conhecimento por

pais e professores?

Para os pais e professores o que tem sido priorizado na escola: o ensino

ou a efetivação do Programa Bolsa Família?

26

O Programa Bolsa Família alterou uma das funções sociais da escola,

qual seja a transmissão do conhecimento?

Temos como objetivo geral da pesquisa o interesse de investigar se houve

mudança na concepção de uma das funções sociais da escola, qual seja oferecimento de

conhecimento formal/científico, para outra função, a partir do aspecto educacional do

Programa Bolsa Família (PBF).

E como objetivos específicos para melhor compreender e responder o problema

e seus questionamentos derivam os seguintes pontos:

Identificar as demandas dos beneficiários do PBF em relação à escola, se

essas dizem respeito ao ensino ou ao benefício;

Verificar junto aos pais as expectativas para ingresso e permanência na

escola;

Conhecer e analisar as impressões dos pais acerca da obrigatoriedade de

frequência mínima à escola e sua relação com a função atribuída à escola

especialmente instrução ou outra função;

Reconhecer a função social da escola por meio do seu Projeto Político

Pedagógico (PPP).

Para pensar a função social da escola teoricamente falando, primeiramente fez-se

necessário reconhecer o processo histórico pelo qual passou, passa e sempre passará a

educação, uma vez que ela é histórica, dialética e contínua, isto é, corresponde a seu

tempo, seu meio e a realidade a qual está inserida (Durkheim, 1965).

Partindo desse pressuposto, o referencial teórico deste estudo baseia-se nos

conceitos de escola e educação presentes nos estudos de Teixeira (1971), Fernández

(1989), Sacristán e Gómez (1998), Hamilton (2001), Tenti (2007), Young (2007).

A hipótese central desta pesquisa pressupõe que o aspecto educacional do

Programa Bolsa Família tem provocado mudança na concepção da função social da

escola, tornando-a controladora deste beneficio, enviesando sua função principal de

provedora de conhecimento.

27

Com intuito de analisar tal hipótese, faz-se necessário conhecer e definir os

sujeitos e a escola que possui as características que atendam ao objeto de pesquisa, ou

seja, ter o maior número beneficiários do PBF.

Nesse sentido definiram-se os seguintes procedimentos de pesquisa:

Buscar junto a Delegacia Regional de Ensino do Butantã (DRE-BT) as

escolas que mais possuem beneficiários do programa4;

Visitar a escola e apresentar a pesquisa;

Elaborar um instrumento de pesquisa do tipo questionário com questões

abertas e fechadas para os professores e entrevista para pais e secretários

da escola;

Consultar o Projeto Político Pedagógico da escola a fim de conhecer a

função social da escola.

Para apresentação da pesquisa, este trabalho está dividido em quatro capítulos. O

primeiro trata do Programa Bolsa Família contexto social e histórico de implementação

e realização. O segundo traz o que entendemos por função social da escola e o

referencial teórico. O terceiro caracteriza a escola, os procedimentos de pesquisa

utilizados, e análise dos dados coletados. O quarto é constituído pelas considerações

finais, anexos com os questionários, roteiro de entrevista e outros documentos.

4 Faz-se necessário destacar que a escolha da Delegacia de Ensino do Butantã (DRE-BT) e a escola aqui

pesquisada, foi norteadas pelo acesso aos dados necessários a pesquisa, pela quantidade de beneficiários

desta escola e pela atuação da pesquisadora em uma das escolas dessa DRE.

28

CAPÍTULO 1 – O Programa Bolsa Família e a condicionalidade Educação

“Todo cambio em um campo social determinado (la economia, la

ciencia y la tecnologia, la estrutura social, la cultura, la política y

otros) “se siente” em la escuela” (TENTI, 2007, p.15).

Partindo do pressuposto que a escola lida com toda complexidade social de uma

sociedade, para compreender o porquê esta instituição trabalha com políticas de

assistência como o Programa Bolsa Família (PBF) faz-se necessário olhar para fora

dela, para demandas sociais as quais ela atende:

[...], és difícil comprender lo que sucede em el interior de las

instituiciones si no se presta atención a lo que sucede em el ámbito

más general de la sociedade” (TENTI, 2007, p.15)

As transformações ocorridas na década de 1990 a partir das reformas e

mudanças no âmbito escolar, a consolidação do neoliberalismo no governo de Fernando

Henrique Cardoso (FHC), o desenvolvimento do capitalismo que produziu uma

crescente exclusão social, multiplicando as formas de pobreza e instituindo a

meritocracia que homogeneizou o que era heterogêneo, dando a ideia de que todos são

iguais e aptos a conquistar tudo, e se não o fazemos é porque nossos esforços não foram

suficientes (RAMOS, 2010).

Trouxeram para escola demandas antes não cuidadas por ela, as famílias, os

alunos e os docentes vivem cotidianamente as consequências desse conjunto de

fenômenos expressados pela exclusão social, o caráter massivo da exclusão e

escolarização gera entre outras coisas, uma crise do sentido tradicional da escola, ou

seja, os alunos podem passar anos nela, mas não necessariamente desenvolveram as

capacidades básicas de leitura e cálculo (entre outras aprendizagens), todavia na medida

do possível foram assistidos em suas necessidades sociais e certificados ou intitulados

pelo tempo passado na escola (TENTI, 2007).

Outra justificativa para tais políticas está pautada na concepção de que a

capacidade de aprender não é um caso absoluto, e sim relativo, ou seja, todas as crianças

são capazes de aprender desde que lhes ofereça as oportunidades de aprendizagem

pertinentes e adequadas as suas condições materiais, sociais e psíquicas. Nesse sentido,

29

o desenvolvimento escolar exige condições sociais básicas que variam do comer ao

cuidar-se (TENTI, 2007).

Com intuito de atender as demandas de inclusão social, diminuição da pobreza e

vulnerabilidade social e garantir o acesso e a permanência na escola, as instituições de

ensino estão repletas de políticas públicas educacionais ou não, que variam desde a

entrega de leite para complementação alimentar até o acompanhamento de frequência

escolar para recebimento de benefícios de transferência direta de renda como é o caso

do Programa Bolsa Família (aspecto educacional do mesmo) aqui pesquisado.

Nessa perspectiva, o Programa Bolsa Família (PBF) nasceu da política de

combate à fome – Programa Fome Zero - iniciada em 2003, primeiro ano do primeiro

mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os programas de distribuição de renda

existentes – Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação –

foram unificados pela Medida Provisória nº 132 de outubro de 2003, depois

transformados na Lei 10.832 de janeiro de 2004 que foi regulamentada pelo Decreto

5.209 de setembro de 2004 (SANTOS, 2010).

Pode ser definido como um programa de transferência direta de renda que

beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país, integra

o Plano Brasil Sem Miséria (BSM), que tem como foco de atuação os 16 milhões de

brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais, e está baseado na

garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos,

Possui três eixos focados na transferência de renda, condicionalidades e ações e

programas complementares, seus principais objetivos são:

Promover o alívio direto da pobreza, por meio da transferência direta da

renda à família;

Reforçar o exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e

Educação, por meio do cumprimento das condicionalidades, o que

contribui para que as famílias consigam romper o ciclo de pobreza entre

gerações;

Coordenar programas complementares que tem por objetivo o

desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa

30

Família consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza. São

exemplos de programas complementares: programa de geração de renda,

de alfabetização de adultos, de fornecimento de registro civil e demais

documentos (BRASIL, MDS, 2013).

Dos objetivos acima destacados, o que mais nos interessa é o segundo, que

relaciona o PBF com os serviços públicos de Saúde e Educação (mais especificamente o

que tange a educação) por meio das condicionalidades, isto é, cumprimento de

condições nesses setores para ser beneficiário do programa.

As condicionalidades podem ser definidas como os compromissos assumidos

tanto pelas famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família quanto pelo poder público

para ampliar o acesso dessas famílias a seus direitos sociais básicos. Por um lado, as

famílias devem assumir e cumprir esses compromissos para continuar recebendo o

benefício. Por outro, as condicionalidades responsabilizam o poder público pela oferta

dos serviços públicos de saúde, educação e assistência social (BRASIL, MDS, 2013).

Na área de saúde, as famílias beneficiárias assumem o compromisso de

acompanhar o cartão de vacinação e o crescimento e desenvolvimento das crianças

menores de 7 anos. As mulheres na faixa de 14 a 44 anos também devem fazer o

acompanhamento e, se gestantes ou nutrizes (lactantes), devem realizar o pré-natal e o

acompanhamento da sua saúde e do bebê (BRASIL, MDS, 2013).

No campo educação, o qual nos interessa neste trabalho, determina que todas as

crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar devidamente matriculados e com

frequência escolar mensal mínima de 85% da carga horária no caso dos estudantes entre

16 e 17 anos devem ter frequência de, no mínimo, 75% (BRASIL, MDS, 2013).

De acordo com a Portaria Interministerial MEC/MDS nº 3.789 de 17 de

novembro de 2004, a associação da transferência de renda ao “direito básico à educação

e permanência na escola” constitui um fundamento do Programa Bolsa Família, o

documento considera ainda que a educação é um elemento fundamental para inclusão

social das famílias beneficiadas:

Considerando que a concretização do direito à educação

compreende a responsabilidade tanto por parte do Estado quando

da sociedade e dos indivíduos, cabendo a União, Estados, Distrito

31

Federal e Munícipios o papel de oferecer os serviços de educação

de forma digna e com qualidade, elemento fundamental para

inclusão social das famílias beneficiadas, (BRASIL, MEC, 2010).

Segundo a lógica do discurso governamental, a educação é um elemento

fundamental para inclusão social. Deste modo o Programa Bolsa Família é uma politica

pública que pressupõe que o acesso à educação e a permanência na escola possibilitaria

a inclusão social das famílias atendidas.

Tal discurso pode denotar mudança na função social da escola e

simultaneamente eximir o Estado e o governo de suas obrigações para com a sociedade,

pois sabemos que a educação formal dá direito a outros direitos, produz riquezas e

contribui para diminuição da pobreza, todavia a mudança na estrutura deve ser

considerada no processo de inclusão social.

O PBF funciona de forma articulada com estados e municípios e, segundo dados

do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), já está

implementado em 100% dos municípios, atendendo 67% das famílias mais pobres,

possui seis tipos de beneficio: o básico, o variável, o variável vinculado a adolescente, o

variável à gestante, o variável à nutriz e o benefício para superação da extrema pobreza.

Os valores podem variar de R$ 32,00 a R$ 306,00 de acordo com a renda e a

composição familiar:

O Benefício Básico, de R$ 70,00 (setenta reais), é pago as famílias

consideradas extremamente pobres, aquelas que a renda mensal de

até R$ 70,00 (setenta reais) por pessoa (pago às famílias mesmo

que elas não tenham crianças adolescentes ou jovens).

O Benefício Variável, de R$ 32,00 (trinta e dois reais), é pago às

famílias pobres, aquelas com renda mensal de até R$ 140,00 (cento

e sessenta reais) por pessoa, desde que tenham crianças e

adolescentes de até 15 anos, cada família pode receber até cinco

benefícios variáveis, ou seja, até R$ 160 (cento e sessenta reais).

O Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ), de R$

38,00 (trinta e oito reais), é pago a todas as famílias do PBF que

tenham adolescentes de 16 e 17 anos frequentando a escola. Cada

família pode receber até dois benefícios, isto é, até R$ 76,00

(setenta e seis reais).

O Benefício Variável a Gestantes (BVG), de R$ 32,00 (trinta e

dois reais), é pago às famílias do PBF que tenham gestantes em sua

composição; pagamento de nove parcelas consecutivas a contar da

data do inicio do pagamento do benefício, desde que a gestação

tenha sido identificada no inicio da gestação até o nono mês.

32

Benefício Variável à Nutriz (BVN): R$ 32,00 (trinta e dois reais),

é pago às famílias do PBF que tenham crianças com idade entre 0 a

6 meses em sua composição; pagamento de seis parcelas

consecutivas, a contar da data do inicio do pagamento do benefício,

desde que a criança tenha sido identificada no Cadastro Único5.

Benefício para Superação de Extrema Pobreza (BSP),

calculado caso a caso, pago às famílias beneficiárias do PBF que

continuem em situação de extrema pobreza (renda mensal per

capita menor ou igual a R$ 70,00), mesmo após o recebimento dos

outros benefícios do PBF. O BSP independe da composição

família. (BRASIL, MDS, 2010).

Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o cálculo do

benefício é feito conforme a renda e composição familiar e até maio de 2013 existiam

25.800.472 famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais, o que

corresponde a 82.488.661 pessoas cadastradas.

No que tange às condicionalidades e o acompanhamento da frequência escolar,

com base no bimestre de maio de 2013, atingiu o percentual de 91,47%, para crianças e

adolescentes entre 6 e 15 anos, o que equivale a 270.512 alunos acompanhados em

relação ao público no perfil equivalente a 295.737. Para os jovens entre 16 e 17 anos, o

percentual atingido foi de 75,36%, resultando em 32.415 jovens acompanhados de um

total de 43.013 (BRASIL, MDS, 2013).

O uso das condicionalidades na perspectiva do MDS não se limita ao controle,

mas aos conseguintes efeitos deste no benefício recebido pela família. O objetivo é

identificar e acompanhar com outras políticas sociais as famílias que se encontram em

maior vulnerabilidade:

Desse modo, a concepção de condicionalidade vai além do registro

e dos respectivos efeitos no benefício da família. É uma estratégia

para identificação das famílias que se encontram em maior

vulnerabilidade e risco social e requerem, portanto, a realização de

acompanhamento mais próximo por outras políticas (de saúde,

educação, assistência social, trabalho e geração de renda,

habitação, entre outras), de forma a serem atendidas em outras

5 É um instrumento do Governo Federal que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, entendidas

como aquelas que têm: renda mensal de até meio salário mínimo; ou renda mensal total de até três

salários mínimos.

33

dimensões determinantes das vulnerabilidades, além da

insuficiência de renda. (BRASIL, MDS, 2013).

Esta afirmação contribui de maneira significativa com discussão da hipótese

central dessa pesquisa de que com a entrada do Programa Bolsa Família na escola, a

função da mesma pode ter sido reconfigurada pelos pais, que passaram a esperar da

escola o controle da frequência escolar, um dos subsídios para o benefício e,

consequentemente, o acesso a outras políticas assistências ao invés da transmissão de

conhecimento.

A escola, pode ter se transformado, em porta de entrada para a vida social, o que

faz parte de suas funções, uma vez que é nela que estabelecemos as primeiras relações

sociais fora do núcleo familiar. Contudo não no sentido de provisão para vida em

sociedade, mas sim como espaço de suprimento direto de seus anseios

socioeconômicos.

Tenti (2007) relata no seu livro “La escuela y la cuestión social” exatamente essa

relação da escola com as questões sociais e as estratégias para lidar com essas, como é o

caso dos programas compensatórios que buscam diminuir a exclusão social e cultural do

aluno, dando a escola outro sentido e outras funções:

La escuela fue adquiriendo funciones no pedagógicas que em

muchos casos ocasionaron no pocas confusiones y discusiones

entre los maestros y la propia comunidade escolar;

[...]

La escuela tuvo que ceder parte del tiempo de aprendizaje para el

deserrollo de programas sociales destinados a la infância (TENTI,

p.132).

Ainda segundo o autor, ao ceder parte de seu tempo para o cuidado com os

programas compensatórios, a escola teve provavelmente dois efeitos aparentemente

contraditórios:

Por um lado, contribuyó a extender la cobertura, assistência y

permanencia em la escuela. Por el outro, puede haber afectado el

logro de adecuados niveles de rendimento escolar (aprendizajes

significativas) (TENTI, 2007, p. 132).

Ambas as ideias embasam nosso problema de pesquisa, pois acreditamos que o

acúmulo de políticas de assistência pode declinar e sobrecarregar a função social da

escola de oferecimento de ensino e sistematização de conhecimento formal e científico.

34

A escola como instituição especializada, no sentido de estar voltada para o

ensino e aprendizagem, não é a mesma escola que se preocupa e trabalha com as

políticas de assistência e outras demandas sociais, além do oferecimento de

conhecimento.

Nesse sentido é necessário utilizar outros dispositivos institucionais a fim de

garantir a satisfação das necessidades básicas para o desenvolvimento do trabalho

pedagógico. Dessa forma, a escola teria a responsabilidade exclusiva de cumprir com

sua função de transmitir conhecimento às novas gerações (TENTI, 2007).

Reconhecemos, então, que a escola está permeada pelas questões sociais e por

políticas de assistência que as atende, todavia acreditamos e defendemos a ideia de que

seria importante haver uma instituição responsável por tais cuidados para que a escola

pudesse cumprir com mais eficiência e imparcialidade sua função de transmissão de

conhecimento.

35

CAPÍTULO 2 – Escola e suas funções sociais

2.1. O que entendemos por função social da escola?

Antes de falarmos dos autores, base para nossa interpretação dos dados acerca da

função social da escola, faz-se necessário definirmos o que entendemos por função

social da escola.

Ao longo da história, como veremos, detalhadamente no próximo tópico, a

escola possuiu diferentes funções no tempo e no espaço, tais como: socialização,

instrução, domesticação da humanidade, preparação para o trabalho, formação para vida

pública, controle dos indivíduos “perdidos e sem causa”, entre outras.

Todavia, entendemos a escola como uma instituição educativa especializada,

nisto se distingue da família, dos clãs familiares, dos locais de trabalho, das

comunidades de ofício, de associações e de grupos de todo tipo. A escola é uma

invenção de indivíduos que vivem em sociedade; se separa das instâncias educativas

não-especializadas porque é consequência de estruturas sociais complexas que

englobam essas instâncias de base. (PETITAT, 1994).

Portanto, não aprendemos no seio familiar ou em outras situações sociais e de

interação o que a escola deve nos ensinar, isto é, nos transmitir o conhecimento

poderoso (YOUNG, 2007).

Para Young (2007), as escolas são instituições com propósito específico de

promover a aquisição do conhecimento, elas capacitam ou podem capacitar jovens a

adquirir o conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser adquiridos em casa ou

em sua comunidade, e para os adultos em seus locais de trabalho. A ideia é que a escola

é, primordialmente, um agente de transmissão cultural ou de conhecimento poderoso.

O conhecimento poderoso do qual Young (2007) nos fala pode ser definido

como:

Conceito que não se refere a quem tem mais acesso ao

conhecimento ou quem o legitima, embora ambas sejam questões

importantes, mas refere-se ao o que o conhecimento pode fazer,

como, por exemplo, fornecer explicações confiáveis ou novas

formas de pensar a respeito do mundo [...] é o conhecimento

especializado [...] conhecimento independente do contexto ou

36

conhecimento teórico – desenvolvido para fornecer generalizações

julgamentos e é geralmente, mas não unicamente relacionado às

ciências. É esse conhecimento independente de contexto que é,

pelo ao menos potencialmente, adquirido na escola e a ele que me

refiro como conhecimento poderoso. (p.1296).

Partilhamos da mesma ideia de Young (2007), e acreditamos que a função

necessária da escola, nos dias atuais, seria a de oferecer esse conhecimento poderoso –

especializado e teórico - para ajudar as novas gerações a lidar com o mundo e suas

mudanças contínuas. Contudo, o que temos hoje, são escolas esvaziadas de

conhecimento, que reconfiguram sua função dia-a-dia a partir das exigências sociais das

políticas de assistências, que faz pais, governantes e inconscientemente alunos,

esperarem da escola ações (informações e controle) para conceder ou não benefícios ao

invés de conhecimento.

As formas contemporâneas de responsabilidade estão ameaçando enfraquecer as

fronteiras entre o conhecimento escolar e o não-escolar, com a alegação de que essas

fronteiras inibem o currículo mais acessível e economicamente mais relevante

(YOUNG, 2007).

Documentos da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, as

Ciências e Cultura), retratam bem essa reconfiguração e esvaziamento do conhecimento

poderoso da escola. Os quatro pilares da educação deixam claro que escola não é lugar

de transmissão de conhecimento, uma vez que o conceito de educação ao longo da vida

supera a distinção tradicional de conhecimento inicial, para conhecimento permanente

em resposta ao mundo em rápida transformação:

Parece-nos que é imperativo impor o conceito de educação ao

longo da vida com suas vantagens de flexibilidade, diversidade e

acessibilidade no tempo e no espaço. É a ideia de educação

permanente que deve ser, simultaneamente, reconsiderada e

ampliada; com efeito, além das necessárias adaptações

relacionadas com as mudanças da vida profissional, ela deve ser

uma construção contínua da pessoa, de seu saber e de suas

aptidões, assim como de sua capacidade para julgar e agir. Ela

deve permitir que cada um venha a tomar consciência de si próprio

e de seu meio ambiente, sem deixar de desempenhar sua função na

atividade profissional e nas estruturas sociais (DELORS, 2010, p.

8);

É claro que acreditamos também no conhecimento como algo não acabado,

pronto e inflexível, pois é formado diariamente pelas nossas experiências individuais e

37

coletivas, porém existem conhecimentos formais acumulados ao longo da história da

humanidade que nos ajudam a lidar e a formar esse conhecimento contínuo. É esse

conhecimento que esperamos encontrar na escola, servindo-nos até mesmo para

compreender as próprias mudanças escolares.

Outro ponto que demonstra bem o interesse político, econômico de uma escola

esvaziada de conhecimento, é a ideia propagada pelos quatro pilares de educação,

baseada na aprendizagem individual do sujeito em prol da boa convivência no mundo,

sem interferência direta de segundos:

1º Aprender a conviver, desenvolver o conhecimento a respeito dos

outros, de sua história, tradições e espiritualidade, perceber nossa

crescente interdependência;

2º Aprender a conhecer, ter acesso aos processos científico e as

novas formas de atividade econômica e social, cultura geral que

constitui de algum modo, o passaporte para uma educação

permanente, à medida que fornece o gosto, assim como as bases,

para aprender ao longo da vida;

3º Aprender a fazer, aprendizagem continuada de uma profissão,

convém adquirir, de forma mais ampla, uma competência que torne

o individuo apto a enfrentar numerosas situações, algumas da quais

são imprevisíveis, além de facilitar o trabalho em equipe que,

atualmente, é uma dimensão negligenciada pelos métodos de

ensino.

4º Aprender a ser, capacidade de autonomia e discernimento,

acompanhada pela consolidação da responsabilidade pessoal na

realização de um destino coletivo. (DELORS, 2010, p. 13 e 14)

Como podemos constatar, as ideias presentes nos quatro pilares da educação vão

ao encontro de com os ideais neoliberais de responsabilização do sujeito por todo seu

sucesso ou fracasso social, econômico e educacional. A preocupação com uma possível

escola de qualidade cheia de ‘conhecimento poderoso’ só aparece no segundo pilar,

mesmo assim, de forma generalista e de senso comum. Não conseguimos enxergar

nesse texto as funções sociais da escola e de seus atores como professores, gestão e

alunos; a ordem é aprender a aprender não importa como, com quem, nem onde.

O indivíduo passa a ser quase que unicamente responsável pela sua

aprendizagem, a escola e o conhecimento “contido” nela pode se tornar elemento

secundário, ideia de enfraquecimento das fronteiras entre o conhecimento escolar e não-

escolar (YOUNG, 2007).

38

Afinal, não queremos ser ingênuos de pensar a escola despregada da realidade

social que a cerca, assim sabemos que a escola não é uma instituição pura e neutra, mas

sim um local de tensões, por lidar com a diversidade biopsicossocial dos sujeitos,

todavia se mostra cada vez mais necessário retomar, relembrar ou quem sabe deixar

mais claro que função essa escola tem, para torná-la um instrumento de transformação

social pelo conhecimento.

2.2. Funções sociais da Escola ao longo da História

“A função da escola diz respeito à relação entre educação, escola e sociedade”

(Caldart, 1988)

Pensar a função social da escola, exige o reconhecimento do processo histórico

pelo qual passou, passa e sempre passará a educação, uma vez que ela é histórica,

dialética e contínua, correspondendo a seu tempo, a seu meio e à realidade a qual está

inserida (Durkheim, 1965).

Esse espírito transformador e contínuo de vir a ser da escola nos remete ao

desafio de conhecer a função social da escola ao longo da própria história humana, pois

se a humanidade está em processo evolutivo, a educação que a serve também, ou seja,

historicamente a escola se refaz a partir das demandas sociais de seu tempo.

Nesse sentido, destacamos alguns autores que discorrem sobre escola, educação

e a sua relação com a sociedade a fim de construir o conceito de função social da escola

e, consequentemente utilizá-lo para responder ao problema desta pesquisa. São eles:

Teixeira (1971), Fernández (1989), Sacristán e Gómez (1998), Hamilton (2001), Tenti

(2007) e Young (2007).

De todo trabalho desenvolvido por Hamilton (2001), em “Notas de Lugar

Nenhum”, as considerações mais necessárias e condizentes com esta pesquisa diz

respeito à desconstrução do ideal romântico de criação da escola, de que esta surgiu de

pensamentos bem definidos e objetivos sólidos.

De acordo com o autor, as escolas da Idade Média Inglesa surgem exatamente

do contrário, ou seja, de uma sucessão de fatos aleatórios e sem precedentes:

39

As escolas da Inglaterra Medieval devem ser lembradas, talvez não

como sementeiros cuidadosamente organizados da escolarização

moderna, mas ao contrário, em termos evolucionários, como os

chamados esportes não domesticados (variações acidentais ou

anormais). Essas escolas foram muito mais precursores mal

nutridos do que robustos arautos da escolarização moderna. Não

sobreviveram intactas. Ao invés, foram significativamente

obliteradas por outros desenvolvimentos da sociedade

(HAMILTON, 2001, p.51);

Uma das motivações da criação da escola foi a necessidade de instrução, isto é, o

emprego dos usos e costumes domésticos não eram mais suficientes para viver em

sociedade, exigiam-se agora alguns ensinamentos que transpunham a família e a

educação feita no seio dela, situações educacionais como o uso do livro-texto, o

currículo, a catequese, a disciplina e a didática confeririam identidade cultural tanto à

escolarização moderna quanto à sociedade européia moderna (HAMILTON, 2001).

Consequentemente, o benefício do ensino reverberaria na Igreja e no Estado

(instituições fortes na época) – adequadamente organizado, o ensino escolar poderia

alcançar o “treinamento” de crianças tornando-as “instrumentos úteis de muita valia”

[na Igreja e no Estado]. E sem sustentação política proporcionada pelas instituições da

escolarização, o “Estado” definharia como “o corpo”, porque nenhum membro

desempenharia a função correta, ou seja, a criação da escola, não foi pensada a priori,

mas encontrou com facilidade na sociedade motivos e objetivos para se fazê-la.

Podemos dizer que a função social da escola, segundo Hamilton (2001), está

pautada na preparação de pessoas para vida social, por meio da instrução, o que não se

difere muito dos objetivos atuais da escola.

Outro autor que passeia pela história da educação e as possíveis funções sociais

da escola encontradas ao longo dela é Fernández (1989), que em seu livro “A face

oculta da escola” descreve os “hábitos de ensino”, desde as sociedades primitivas até a

sociedade capitalista, o que vai ao encontro da pesquisa aqui apresentada. Para perceber

se houve mudança na função social da escola, é preciso conhecer e compreender tal

função.

A primeira afirmação de Fernández (1989) está presente na maioria dos autores

que discorrem sobre a educação, escola e sua função social:

40

[...] sempre existiu algum processo preparatório para a integração

nas relações sociais, e com frequência, alguma outra instituição

que não a própria família em que se efetuou esse processo (p.105).

Socialmente falando, sempre existiu um processo que integrou novos indivíduos

a realidades antigas e, é a partir dessa afirmação que autor discorre os diferentes tipos de

educação ao longo da história, a começar pelas sociedades primitivas. Estas, por meio

de jogos ou fratrias de adolescentes, marcava seu desenvolvimento por algum rito de

iniciação, em alguns casos a responsabilidade da iniciação é dos adultos ou dos anciãos,

da família enquanto instituição.

Em seguida, destaca que na Roma arcaica a aprendizagem ocorria no seio

familiar na participação das atividades da vida adulta. O jovem acompanhava o pai no

trabalho da terra, no foro ou na guerra e a moça permanecia junto à mãe ajudando em

outras tarefas (FERNÁDEZ, 1989).

Na Idade Média, a educação também acontecia no seio familiar, só que com um

diferencial: após os sete ou nove anos os pais ingleses colocavam tanto meninos quanto

meninas, no duro serviço das casas de outras pessoas, as quais as crianças ficavam

vinculadas durante um período de sete a nove anos como aprendizes – desempenhando

todos os ofícios domésticos.

Acreditava-se que alguns hábitos só poderiam ser aprendidos no seio familiar

diferente do seu, pois o afeto presente na família progenitora poderia servir como

obstáculo a aprendizagem de independência e autodisciplina, por isso a escolha de

mandar os filhos a outras famílias – nesta época (Idade Média) já se retratava a

dificuldade das famílias em iniciar os jovens nas relações sociais existentes.

As escolas não eram muito apreciadas pelas famílias abastadas na Idade Média.

Serviam para aqueles que se tornariam copista ou algo similar e, a via de regra, à

aprendizagem, eram as “estadias” nas casas de outras famílias servindo e aprendendo

boas maneiras.

Essa espécie de intercâmbio familiar tinha lugar especial no artesanato.

Artesãos acolhiam um pequeno número de aprendizes estabelecendo com eles uma

relação de obrigações mútuas. O aprendiz estava obrigado a servir fielmente o mestre

não apenas na tarefa de ofício, mas no conjunto da vida doméstica e o mestre estava

obrigado a ensinar-lhe as técnicas do ofício, mas também alimentá-lo, vesti-lo, dar-lhe

formação moral e prepará-lo para converter-se em um cidadão e, com frequência, a

41

ensinar-lhe rudimentos literários ou enviá-lo a uma escola na qual pudesse adquiri-lo,

era uma relação de família ampliada sem laços consanguíneos (FERNÁNDEZ, 1989).

Nesse sentido, a aprendizagem e a educação tinham lugar como socialização

direta de uma geração por outra, mediante participação cotidiana das crianças nas

atividades da vida adulta e sem intervenção sistemática de agentes especializados que

representam hoje a escola.

Segundo Fernández (1989), o ideal educativo feudal não passava pelas letras,

mas por aprender a montar a cavalo, a usar armas e, talvez, a tocar um instrumento

musical.

Mas vale ressaltar que, numa época na qual as relações de produção eram

atravessadas de cima para baixo por relações sociais de dependência, a criança mandada

como aprendiz – servente à outra família - está aprendendo algo a mais que ofício ou

boas maneiras: está assimilando as relações sociais de produção.

E são das relações sociais de produção modificadas pela Revolução Industrial,

que surgem outros espaços de “aprendizagens ou de preparação” de indivíduos para

viver em sociedade como: o internato da infância marginal, workhouses, hópitaux,

Zuchthausen e outros voltados para mendigos, vagabundos, pícaros e órfãos despojados

de seu meio de vida no processo da Revolução Industrial (FERNÁNDEZ ,1989, p.108):

[...] haja colégios de meninos e meninas, desejando dar remédio à

grande perdição que de vagabundos, órfãos e crianças

desamparadas [...] porque é certo que ao se remediar estas crianças

perdidas põe-se obstáculos aos latrocínios, delitos graves e

enormes (VARELA, 1983, p. 240 FERNÁNDEZ, 1989)

Nesse sentido, a escola ou os espaços de “ensino” surgem da preocupação em

controlar e formar esses indivíduos aparentemente “perdidos e sem causa”

extremamente pré-dispostos a violência e a desobediência social, em sujeitos aptos ao

trabalho e a disciplina, ou seja, o essencial não era já pôr os vagabundos e seus filhos a fazer

um trabalho útil com vistas a sua manutenção, mas educá-los na disciplina e nos hábitos

necessários para trabalhar posteriormente (FERNÁNDEZ, 1989).

Para Fernández (1989), a expressão do desejo universal de escolarização das

crianças pobres é encontrada em muitos autores da época e significava muitas horas de

trabalho e alguma de instrução, num sistema de internato. Essas crianças a partir dos

quatro anos eram enviadas a uma casa de trabalho rural. Ali eram ensinadas a ler por

duas horas ao dia e mantidas plenamente ocupadas o resto seu tempo ao menos por doze

42

horas; assim esperava-se que a geração que estava crescendo estaria habituada à

ocupação constante que, em geral, lhe seria agradável e divertida.

Essas crianças eram “guloseimas” cobiçadas pelos industriais, devido à mão de

obra barata, e indiretamente, como futura mão de obra disciplinada e obediente. Os

orfanatos eram denominados como escola de formação para as fábricas e o ensino como

um todo, estava pautado na preparação para atuação social na sociedade industrial, ou

seja, indivíduos disciplinados, obedientes, eficientes e pontuais com conhecimentos

limitados apenas a fábrica e a sua realidade social:

Ninguém é obrigado a saber de tudo. O estudo das ciências em

geral é assunto daqueles que vivem confortavelmente e dispõem de

tempo livre. Os que têm empregos particulares devem entender as

funções; e não é insensato exigir que pensem e raciocinem apenas

sobre o que forma sua ocupação cotidiana (LOCKE, sd.:III, p. 225

apud FERNÁNDEZ, 1989).

[...] ensinassem a ler e a escrever pessoas que não necessitavam

mais que aprender a desenhar e manejar o buril e a serra, mas que

não querem continuar fazendo-o [...]. O bem da sociedade exige

que os conhecimentos do povo não se estendam além de suas

ocupações (CHARLOT e FIGEAT, 1985, p.84 apud

FERNÁNDEZ, 1989).

[...] Não precisamos de homens que pensam, mas sim de bois que

trabalhem (MURILLO, 1985, p.111 apud FERNÁNDEZ, 1989).

A educação começa a ser vista como uma estratégia valorosa para tornar os

homens aos moldes da sociedade vigente. Um instrumento idôneo. Não que as escolas

tivessem sido criadas necessariamente com este propósito (a priori as escolas foram

criadas para socialização direta de uma geração sobre a outra) (Fernández, 1989), nem

que já não pudessem ou fossem deixar de cumprir outras funções, mas simplesmente

estavam ali e se podia tirar bom partido delas. Os governantes e industriais perceberam

a importância e utilidade da escola para formação de sujeitos “ideais” a sociedade

industrial:

É expandindo as luzes entre o povo que se pode impedir que seus

movimentos se convertam em perigosos (CONDORCET, 1847,

p.447 apud FERNÁNDEZ, 1989)

[...] educá-los, mas não demasiadamente. O bastante para que

aprendessem a respeitar a ordem social, mas não tanto que

pudessem questioná-la. O suficiente para que conhecessem a

justificação de seu lugar nesta vida, mas não ao ponto de despertar

neles expectativas que lhes fizessem desejar o que estavam

43

chamados a desfrutar (NECKER, 1788, p.112 apud FERNÁNDEZ,

1989)

Desse modo, a escola serviria a população como ferramenta de assimilação das

novas relações sociais produzidas pela industrialização. Em seu interior estavam

presentes ideias e ideais da administração empresarial. Desde o tempo de estadia na

escola, as práticas escolares davam destaque a pontualidade, a disciplina e a eficiência.

Neste período, a escola aparecia como a melhor solução para todas as

resistências individuais e coletivas às novas condições de vida e trabalho ou, ao menos,

como a mais prudente e barata. Tratava-se de um recurso preventivo, se já não podia se

usar o chicote, devia-se recorrer à escola, para não perder o controle da mão de obra.

Assim como Hamilton (2001), Fernández (1989) conclui que as escolas de hoje

não são o resultado de uma evolução não conflitiva e baseadas em consensos

generalizados, mas o produto provisório de uma longa cadeia de conflitos ideológicos,

organizativos e, em um sentido amplo, sociais.

Todavia, é sempre mais conveniente apresentar a história da escola como um

longo e frutífero caminho, desde as presumidas misérias de ontem, até as supostas

glórias de hoje ou de amanhã, do que como um processo de domesticação da

humanidade a serviço dos poderosos.

Dessa conclusão podemos definir outro olhar sobre a função social da escola,

qual seja, a domesticação da humanidade a serviço dos poderosos, prepararando os

dominados para atuar segundo a vontade dos dominantes. Refletindo o exporto,

Nascimento (2003) relata que:

[...] as velhas e ultrapassadas práticas, hoje hegemônicas, as do

neoliberalismo na educação, das classes dominantes que sempre

pensaram que o tipo de educação oferecer-se-ia aos pobres e

miseráveis, uma forma de torná-los presos à coleira, obedientes,

submissos, humildes e prestativos nas horas necessárias (p. 5).

As considerações finais a qual Fernández (1989) chega pode parecer pessimista

e generalizadora, porém existem outros estudos que nos convencem que essa é uma das

possiblidades da função social da escola de ontem e de hoje, como os escritos de

Sacristán e Gómez (1998). Esses autores também fazem um panorama histórico da

escola e começa afirmando que a educação tem a função de socializar, hominizar e

humanizar.

44

Segundo esses autores, o processo educativo é o mecanismo utilizado pelas

gerações mais velhas sobre as mais novas para transmitir suas conquistas históricas –

artefatos, instrumentos, costumes, normas, códigos de comunicação e convivência, a

fim de garantir a sobrevivência do grupo.

Nos grupos humanos e sociedades primitivas, a educação dos membros mais

jovens acontecia pela socialização direta, isto é, na participação destes nas atividades da

vida adulta, mais tarde a socialização direta tornou-se ineficaz devido a aceleração do

desenvolvimento histórico das comunidades humanas, complexificação das estruturas e

a diversificação de funções e tarefas da vida nas sociedades.

Dessa dificuldade, surgem ao longo da história outras formas de especialização

no processo de educação ou socialização secundária – tutor, preceptor, academia, escola

religiosa, escola laica e outras, que conduziram aos sistemas de escolarização

obrigatória para todas as camadas da população nas sociedades industriais

contemporâneas.

A formação da sociedade industrial mudou o interesse de preparação das novas

gerações passando de mero apresto para vida em sociedade à participação no mundo do

trabalho e na vida pública, o que requereu a intervenção de instâncias específicas como

a escola, cuja função é atender e canalizar essa nova característica do processo de

socialização.

Sacristán e Gómez (1998) tomam a preparação para o mundo do trabalho como

objetivo básico e prioritário da socialização dos alunos na escola hoje, e destacam a

dificuldade de definir o que significa a preparação para o mundo do trabalho, como se

realiza esse processo, quais consequências têm na promoção da igualdade de

oportunidades ou mobilidade social, ou para reproduzir e afirmar as diferenças sociais

de origem dos indivíduos e grupos.

Uma vez que, a preparação para o mundo do trabalho requer o desenvolvimento

nas novas gerações, não só, nem principalmente de conhecimento, ideias, habilidades, e

capacidades formais, mas também da formação de disposições, atitudes, interesses e

pautas comportamentais – estas devem se ajustar às possiblidades e exigências dos

postos de trabalho e sua forma de organização em coletividades ou instituições,

empresas, administrações, negócios, serviços.

Nesse sentido, outra função do processo de socialização na escola trazida por

Sacristán e Gómez (1998) é a formação do cidadão para sua intervenção na vida

45

pública. A escola deve prepará-lo para que se incorporem a vida adulta e pública, de

modo que possa se manter a dinâmica e o equilíbrio nas instituições bem como nas

normas de convivência que compõem o tecido social da comunidade humana. Ou seja,

é na escola que os indivíduos aprendem seu lugar na sociedade, pois na esfera política,

efetivamente todas as pessoas têm, em princípio, os mesmos direitos; contudo na esfera

econômica, a primazia não é dos direitos da pessoa, mas os da propriedade. A escola se

encontra frente a demandas contraditórias no processo de socialização das futuras

gerações.

O processo de socialização nas instituições de ensino, deve ainda provocar o

desenvolvimento de conhecimentos, ideias, atitudes e pautas de comportamentos que

permitam sua incorporação eficaz no mundo civil, no âmbito da liberdade de consumo,

da liberdade de escolha e participação política, da liberdade e responsabilidade na esfera

da vida familiar. Características bem diferentes daquelas que requer sua incorporação

submissa e disciplinada, para a maioria, no mundo do trabalho (Sacristán e Gómez,

1998).

Assim a escola produz e reproduz conhecimentos e condutas, esta no meio de

todas as disposições e orientações sociais, possui uma ideologia flexível, frouxa,

eclética, que não apela para lógica da razão para sua legitimação, mas que se justifica

exclusivamente com a força do que existe, a aceitação e a consolidação do status quo,

da realidade que se impõe inexoravelmente (SACRISTÁN e GÓMEZ, 1998).

Concomitantemente a função de socialização (preparação para o trabalho e a

vida pública), a escola, segundo Sacristán e Gómez (1998) possui uma função

educativa:

Função educativa da escola: 1) organizar o desenvolvimento

radical da função compensatória das desigualdades de origem,

mediante a atenção e o respeito pela diversidade. 2) provocar e

facilitar a reconstrução dos conhecimentos, das disposições e das

pautas de conduta que as crianças assimila em sua vida paralela e

anterior a escola; preparar os alunos para pensar criticamente e agir

democraticamente numa sociedade não-democrática (p.22).

A função educativa da escola ultrapassa a função reprodutora do processo de

socialização, já que se apoia no conhecimento público (a ciência, a filosofia, a cultura, a

arte...) para provocar o conhecimento privado de cada um dos seus alunos, ou seja, a

utilização do conhecimento público, da experiência e reflexão da comunidade social ao

longo da história introduz um instrumento que quebra ou pode quebrar o processo

46

reprodutor - o conhecimento dos diferentes âmbitos do saber é uma poderosa ferramenta

para analisar e compreender as características, os determinantes e as consequências do

complexo processo socializador.

Eis aí o caráter emancipador da escola, conscientizar os sujeitos de seu processo

socializador dando-lhes condições de lutar por meio do conhecimento: “o desafio

educativo da escola contemporânea é atenuar, em parte, os efeitos da desigualdade e preparar

cada indivíduo para lutar e se defender, nas melhores condições possíveis, no cenário social”

(SACRISTÁN e GÒMEZ, 1998, p.24).

Nesse sentido, a escola tem o papel de diagnosticar as preconcepções e

interesses com as quais os indivíduos e grupos interpretam a realidade e decidem sua

prática, ao mesmo tempo oferecer os conhecimentos públicos como ferramenta para

reconstrução de suas preconcepções.

A escola deve provocar a reconstrução das preocupações vulgares, facilitar o

processo de aprendizagem permanente, ajudar o indivíduo a entender que todo

conhecimento ou conduta encontram-se condicionados pelo contexto e, portanto,

requerem ser comparados com representações alheias, assim como evolução de si

mesmo e do próprio contexto.

Em suma, Sacristán e Gómez, a função social da escola está estritamente

relacionada à preparação para o trabalho, à reinterpretação social e conceitual por meio

do conhecimento e ao ajustamento dos indivíduos à sociedade permeados pela

transmissão de conhecimento.

Mais um autor que ofereceu contribuições para compor o referencial teórico é

Teixeira (1961):

[...] com o advento da Revolução Francesa e seus ideais de

Igualdade, Liberdade e Fraternidade a educação escolar para todos

apareceu como oportunidade de buscar pela escola, sua posição na

vida social, a escola universal viria a dar a cada indivíduo a

oportunidade de ser na sociedade, aquilo que seus dotes inatos

devidamente desenvolvidos permitissem e não mais o que

privilégio da classe a qual pertencia oferecia (TEIXEIRA, 1971, p.

31).

Para Teixeira (1971), a escola surgiu como uma possibilidade de mudança e

ascensão social, no sentido de diminuir os privilégios de classe e valorizar as condições

de desenvolvimento dos sujeitos.

47

Já Tenti (2007) demonstra em seu estudo exatamente a relação escola, educação

e sociedade ao afirmar que:

Todo campo social se sente na escola a economia, a ciência, a

tecnologia, a estrutura social, a cultura, a politica e outros. [...] Um

terço dos habitantes do mundo estão na escola, então é difícil

compreender o interior da escola se não olhar para fora dela –

interação escola sociedade (TENTI, 2007, p.15).

As citações dos autores deixam claro a estrita relação de reciprocidade da escola

com a sociedade, ou seja, a escola está para sociedade, assim como a sociedade está

para escola, por isso, é impossível tentar explicar ou compreender uma dessas partes

sem olhar para a outra.

Para construir sua análise acerca da escola e da questão social, o autor começa

explicitando o contexto social e as transformações ocorridas na década de 1990 a partir

das reformas e mudanças no âmbito escolar, cita a multiplicação das formas de pobreza

após o capitalismo, que homogeneizou o que é heterogêneo, dando ideia de que todos

somos iguais e aptos a conquistar tudo, e que se não o fizemos é porque nossos esforços

não foram suficientes, questão da meritocracia.

E ainda destaca a escolarização como um paradoxo: ao mesmo tempo em que

aumenta a exclusão social, registra-se um crescimento escolar, tal fenômeno de

exclusão social e aumento da escolarização gera uma crise no sentido tradicional da

escola.

Para os novos alunos a escola não é necessariamente um lugar onde se aprendem

coisas importantes para vida. Alunos, professores e diretores estão perdidos em relação

a real função social da escola hoje, devido às demandas extraescolares, seja na família,

nas relações sociais, nas tecnologias e em tudo que rodeia a vida principalmente do

aluno.

Podemos dizer que a exclusão social e cultural são uma das demandas

extraescolares mais frequentes na escola e que estão estritamente relacionadas com a

aprendizagem, ou seja, não existem condições em si de educabilidade e a possibilidade

de aprendizagem dos aprendizes depende da relação das características dos aprendizes e

as características da oferta escolar.

Ao mesmo tempo, a capacidade de aprender não é um caso absoluto, e sim

relativo – todas as crianças são capazes de aprender desde que lhe ofereça as

oportunidades de aprendizagem pertinentes e adequadas a suas condições materiais,

48

sociais e psíquicas. Nesse sentido, o desenvolvimento escolar exige condições sociais

básicas que variam do comer ao cuidar-se, tal afirmação justifica a existência de

políticas assistenciais na escola.

Políticas essas que podem ser divididas segundo Tenti (2007) da seguinte forma:

1. Política de igualdade – intervenção social busca resolver os

problemas atuando nas condições sociais das demandas

educativas, deseja garantir e satisfazer as necessidades básicas

imprescindíveis para se pensar em educar as novas gerações:

alimentação, proteção da infância, saúde, afeto, vestir-se,

transporte e outros (p.131).

[...]

2. Política de oferta escolar – ligada ao capital cultural e as

condições de vida dos aprendizes, concebe que existe uma

distância variável entre o capital cultural acumulado durante a

primeira socialização e o capital cultural como se apresenta no

currículo escolar (p. 134).

A primeira política busca garantir a satisfação das necessidades básicas

imprescindíveis para depois pensar em educação das novas gerações, o que levou a

escola a adquirir funções não pedagógicas que em muitos casos levaram a discussões

entre professores e a própria comunidade escolar. A escola teve que ceder parte do seu

tempo de aprendizagem para o desenvolvimento de programas sociais destinados a

infância, como é o caso do Programa Bolsa Família aqui pesquisado.

Esse ceder parte do tempo da escola teve provavelmente dois efeitos

aparentemente contraditórios: por um lado, contribuiu para estender a assistência e

permanência na escola. E, por outro, pode ter afetado a realização dos adequados níveis

de rendimento escolar (aprendizagens significativas), pois não se podem adicionar

responsabilidades sem afetar a instituição como um todo.

Já a segunda política chama atenção para as implicações no desenvolvimento a

partir do capital cultural, o que exige a adequação da oferta pedagógica e institucional

às condições culturais dos aprendizes.

Por fim, podemos dizer que a escola como instituição especializada, não é a

mesma escola que a multifuncional. É necessário utilizar outros dispositivos

institucionais a fim de garantir a satisfação das necessidades básicas para o

desenvolvimento do trabalho pedagógico. Neste caso, a escola teria a responsabilidade

exclusiva de cumprir com sua função de transmitir conhecimento às novas gerações.

Pensar outro espaço de cuidado para as políticas públicas assistenciais que

permeiam a escola é uma tarefa complexa e trabalhosa, pois a escola tem o contato

49

direto com os diferentes sujeitos da sociedade. É por meio dela hoje que a situação de

miserabilidade ou de ascensão social é constatada. Contudo, acreditamos que um espaço

mais voltado para o conhecimento poderia diminuir a sensação de escola cuidadora,

controladora e esvaziada de aprendizagens.

Concomitante a isso, Tenti (2007) reconhece que a escola está permeada das

questões sociais e que deve lidar com elas da maneira mais esclarecedora e

desnaturalizada possível, a fim de contribuir para o desenvolvimento dos aprendizes.

Todavia também ressalta que este não é o papel a priori da escola e sugere que seria

importante haver uma instituição responsável por tais políticas para que a escola

pudesse cumprir sua função primordial que é a transmissão de conhecimento.

Enfim, à luz dos autores aqui apresentados buscou-se definir as funções sociais

da escola ao longo da história, função esta que pode ser resumida no servir a sociedade

na formação moral, intelectual e cívica, visando sempre à vida em sociedade e a

manutenção do sistema social econômico por meio do trabalho.

Essa definição nos servirá de olhar direcionador para constatar se houve

mudança na função social da escola a partir da condicionalidade educação do Programa

Bolsa Família, objetivo do trabalho aqui apresentado.

50

CAPÍTULO 3 – Procedimentos de Pesquisa

Neste capítulo, retomamos na análise os objetivos e hipóteses, além dos

procedimentos utilizados nesta investigação, a saber, a delimitação do campo empírico,

a caracterização dos sujeitos investigados, bem como os procedimentos de coleta de

dados. Além dessas informações, serão apresentados os dados das entrevistas, bem

como das observações realizadas durante a pesquisa. Revendo os objetivos da pesquisa:

Identificar as demandas dos beneficiários do PBF em relação à escola, se

essas dizem respeito ao ensino ou ao beneficio;

Verificar junto aos pais as expectativas para ingresso e permanência na

escola;

Conhecer e analisar as impressões dos pais acerca da obrigatoriedade de

frequência mínima à escola e sua relação com a função atribuída à

escola, especialmente a de instrução ou de assistência social.

Reconhecer a função social da escola por meio do Projeto Político

Pedagógico (PPP) da mesma.

Para consecução do primeiro objetivo, procuramos analisar as respostas dos

secretários e professores da escola. As considerações acerca do segundo até o quarto

objetivo foram norteadas pelas respostas dos pais e o último objetivo foi alcançado por

meio da análise de documento, o Projeto Político Pedagógico da escola.

3.1. Delimitação do campo empírico

Situada no Residencial Parque dos Príncipes, bairro nobre do Butantã, Zona

Oeste de São Paulo, a Escola Municipal de Ensino Fundamental I, II e EJA (Educação

de Jovens e Adultos) possui 1.163 alunos sendo quase 30% deles beneficiários do

Programa Bolsa Família.

O cruzamento dos dados da localização da escola com a realidade de

vulnerabilidade social de seus alunos foi uma das informações coisas que nos chamou

atenção. Como uma escola localizada dentro de um residencial de alto padrão tem o

51

maior número de beneficiários do PBF da Diretoria de Ensino do Butantã6, sobrepondo-

se a escolas que estão localizadas dentro de comunidades com maior índice de

vulnerabilidade como o caso das do bairro Real Parque?

Esse questionamento começou a ser respondido na primeira visita a escola, ao

entrar no residencial pela portaria da Avenida Escola Politécnica; inicialmente fui

surpreendida com um ambiente tranquilo e arborizado, por calçadas bem cuidadas, e a

presença de possíveis moradores fazendo caminhadas e outros exercícios físicos.

No entanto a arborização do lado direito desta rua de entrada esconde Conjuntos

Habitacionais, casas, barracos e um córrego com moradias em suas margens; oculta

também uma passagem de pedestre que provavelmente serve de corte de caminho para

os moradores do bairro vizinho encurtar alguns de seus percursos dentro e fora do

residencial.

A escola oferece um ambiente receptivo e a coordenadora pedagógica do Ensino

Fundamental II mostrou-se solícita a proposta de pesquisa apresentada. Apesar de a

escola estar situada em uma região nobre do município de São Paulo, a coordenadora

não se surpreendeu com a escolha de se fazer o estudo de campo na unidade e fez a

seguinte ressalva:

“Já era de se imaginar que a nossa escola tivesse muitos alunos

beneficiários do PBF, pois atendemos aos moradores dos bairros

vizinhos e suas comunidades, em especial os do Jardim D’Abril; não

temos nenhum morador do Parque dos Príncipes estudando aqui”

(Diário de campo, 2013).

É necessário ressaltar que a escola encontra-se na mesma rua de um colégio

particular de alto padrão, provavelmente frequentado por moradores do residencial

Parque dos Príncipes.

A partir de tal afirmação, entendemos que se fazia necessário conhecer o

histórico e a realidade social desse bairro e de seus moradores. Todavia não foi possível

6 A escolha da escola e da Diretoria de Ensino do Butantã (DRE-BT) justifica-se pela área de atividade da

pesquisadora nessa região, pelo interesse da mesma em conhecer melhor seu local de atuação, pela

disponibilidade de acesso a materiais e dados relevantes a pesquisa e principalmente pelas características

da própria escola pesquisada, tão pertinente ao interesse de estudo. Vale ressaltar que a escola pesquisada

não é a escola que a pesquisadora trabalha.

52

encontrar caracterizações contundentes e, acima de tudo, confiáveis nos documentos

históricos de fundação, estruturação e situação dos bairros de São Paulo, disponíveis

principalmente em sites. Também não foi possível conhecer tal realidade por meio de

visita a outras instituições da localidade como posto de saúde e associação de

moradores.

3.1.1. Funcionamento da escola

A escola funciona em três turnos, sendo o primeiro das 7h às 12h (Fundamental

II 6º ao 9º ano), o segundo das 13h30 às 18h30 (Fundamental I 1º ao 5º ano) e o terceiro

das 19h às 23h (Educação de Jovens e Adultos). Há 19 classes em funcionamento

divididas nos três turnos, com um total de 1.163 alunos matriculados e uma média de 35

alunos por sala.

A entrada é feita pela quadra; os alunos fazem uma refeição antes do início das

aulas, de acordo com o horário de entrada na escola (café da manhã, almoço ou jantar);

organizam-se em fila, no caso dos alunos do Fundamental I (grupo observado), e vão

para suas salas com seus respectivos professores. O horário de intervalo das professoras

ocorre no momento da refeição dos alunos, e estes nesses momentos ficam sob a

responsabilidade da inspetora de alunos da escola.

3.1.2. A gestão escolar

O corpo administrativo da escola é composto pela diretora, dois assistentes de

direção e três coordenadoras pedagógicas. A primeira é responsável pela organização

geral, como controle de frequência de funcionários, alimentação, limpeza e organização

dos espaços. A assistente acompanha a diretora, enquanto a coordenadora atua junto às

professoras, crianças e famílias. Com as professoras, a coordenadora atua na formação

docente, no controle de falta e no planejamento das atividades. Em relação aos alunos,

atende aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem ou os que apresentam

problemas de comportamento durante a realização dessas atividades.

53

3.1.3. O corpo docente

O corpo docente é formado por 83 professores, sendo que 33 atuam no Ensino

Fundamental I e 50 no Ensino Fundamental II, ambos os grupos são constituídos por

pedagogos ou especialistas das diferentes áreas do conhecimento. Alguns deles também

lecionam na Educação de Jovens e Adultos, são responsáveis pelo planejamento e

ministração de aulas.

3.1.4. O corpo de apoio escolar

O corpo de apoio escolar é formado por nove agentes de apoio administrativos e

quatro agentes de apoio educacional. Os primeiros têm por função auxiliar a diretora em

suas atividades administrativas cuidando de prontuários, documentos funcionais, e

frequência, inclusive a frequência dos alunos do Programa Bolsa Família, e do

andamento de outros programas sociais, além do atendimento ao público, pais, alunos,

professores, funcionários e telefone. Os segundos têm suas atividades relacionadas

diretamente ao cuidado dos alunos principalmente nos momentos de intervalos,

refeições e atividades externas, acompanham a entrada e saída de alunos e o uso dos

banheiros. Para isso, estão sempre nos corredores e em outras áreas da escola.

3.1.5. A esfera pedagógica

Uma das fontes de dados desta pesquisa é o Projeto Político Pedagógico (PPP),

uma vez que esse é a identidade da escola. O documento apresenta os objetivos da

instituição de ensino, missão, caracterização, concepções filosóficas e educacionais da

escola e, consequentemente, sua função social (Veiga, 2011), interesse de pesquisa aqui

apresentado.

Sobre as concepções filosóficas, políticas e pedagógicas da escola, podemos

destacar os seguintes excertos do projeto pedagógico para discussão:

[...] numa sociedade marcada pelo conhecimento e pela tecnologia

da informação e da comunicação [...] a educação é imprescindível

como ação contínua e permanente, a necessidade de reinventar-se e

melhorar suas competências de formar pessoas com capacidade de

enfrentar e superar desafios, com o objetivo maior de preservar a

coletividade, não só o ideal de ensinar o saber produzido

54

socialmente, mas o de aprender com princípios de contínua

renovação.

[...]

A instituição escolar é uma organização social constituída para

formação humana, nos aspectos culturais, sociais, políticos e

científicos, mediante experiências de aprendizagem e ambiente

educacional condizentes com os fundamentos, princípios e

objetivos da educação.

“A educação é um processo organizado, sistemático e intencional e

ao mesmo tempo complexo, evolutivo e dinâmico” (Projeto

Político Pedagógico, 2013, p. 7).

Tais citações buscam basear e justificar as concepções da escola analisada, no

sentido de apresentar suas concepções de educação, escola e realidade de atuação, ou

seja, esta escola entende o trabalho educacional como um sistema complexo e

intencional voltado para determinada realidade e suas constantes transformações. Além

disso, acredita na formação humana, nos seus aspectos culturais, sociais e políticos,

ideais historicamente almejados segundo o referencial teórico desse estudo.

Mas o que significa as crenças e concepções educacionais dessa escola, até que

ponto elas são verossímeis e reais, o que está contido nesse discurso tão batido e

aparentemente repleto de ideais?

Nada. Se analisarmos um pouco mais atentamente o discurso desse Projeto

Político Pedagógico (PPP) e compará-lo com o discurso de outros tantos PPPs,

constataremos o vazio e os chavões educacionais sem fim, existentes nas entrelinhas de

cada um deles, que não dizem nada além do que a legislação, as portarias e orientações

educacionais dizem, ou seja, é uma cópia, que nem sempre condiz com a realidade de

ensino aprendizagem, mas que é exigida como parâmetro de educação.

Os conceitos e finalidades de “educação como ação contínua e permanente”, e

de “formar pessoas com capacidades de enfrentar e superar desafios, com objetivo

maior de preservar a coletividade”, está respectivamente ligado ao primeiro e segundo

pilar da Educação presente no relatório da UNESCO ‘Educação um tesouro a

descobrir’ (DELORS, 2010).

O primeiro pilar é o aprender a conviver, o qual caracteriza a escola como um

espaço de socialização e de exercício de tolerância à diversidade humana, buscando no

outro a interdependência, ou seja, a escola não é local de formação intelectual, mas sim

de socialização, de lidar com as questões da coletividade e suas diferenças (DELORS,

55

2010). É inegável que a escola exerce um papel socializador, todavia não entendemos

esse papel como o mais importante exercido por ela.

O segundo pilar que aparece no PPP é o de aprender a conhecer, este traz nas

suas entrelinhas a questão de educação ao longo da vida, ideia que amplia os locais de

ensino não sendo mais a escola especificamente responsável pelo conhecimento, o que

pode denotar certo esvaziamento da função social da escola de transmissão do

conhecimento.

Outro destaque necessário para compreensão da função social da escola por

meio do PPP da instituição pesquisada é o que a define ‘como uma organização social

constituída para formação humana, nos aspectos culturais, sociais, políticos e

científico’, isto é, uma escola primeiramente voltada para as demandas sociais e depois

para transmissão do conhecimento científico.

Dos fins e objetivos educacionais da unidade educacional pesquisada:

[...] temos como objetivo nesta unidade educacional abranger os

processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na

convivência humana e nas manifestações culturais e cognitivas.

[...]

A escola tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,

preparando-o para o exercício da cidadania, de forma a torná-lo um

sujeito crítico, participativo e autônomo na construção de seu

próprio conhecimento, assegurando-lhe uma participação

consciente e responsável na sociedade, desafiando-o a viver como

agente construtor da história.

Dos objetivos da escola:

Preservar a espontaneidade do educando, buscando desenvolvê-

lo em seus aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos,

sociais e éticos;

Oportunizar experiências que deem continuidade ao processo de

leitura e compreensão de mundo do educando, pata atuação dentro

do seu contexto social;

Proporcionar condições para que o educando desenvolva a

capacidade de aprender, buscando a construção de conhecimentos,

competências e habilidades, que promovam a autonomia e o

exercício da cidadania.(Projeto Político Pedagógico, 2013, p. 10)

Nesse ponto do PPP, aparece a função social da escola que é o pleno

desenvolvimento do educando para cidadania, entendendo que tal exercício o ajudará a

entender-se como ser social, histórico e transformador de sua realidade, ideia presente

no trabalho de Sacristán e Gómez (1998) e na própria legislação brasileira referente à

educação.

56

Concomitante a essa ideia podemos destacar mais uma vez a presença de

chavões do discurso educacional como ‘formar sujeito participativo, crítico e autônomo’

estes são princípios que deveriam estabelecer conexão entre a elaboração consciente da

ideia de educação e o fazer consciente do processo educativo. No entanto não passam de

slogans educacionais inteiramente assistemáticos de tom menos solene, mais popular a

serem repetidos com veemência ou de maneira tranquilizadora (SCHEFFLER, 1974).

É como se fosse inerente esperar da educação certos objetivos, mesmo estando

estes longe de serem realizados pela ação escolar.

Em relação às metas e ações da escola:

1. Pedagógico: promover a aprendizagem dos alunos e a formação

dos professores; ressignificar o currículo em ação visando a

melhoria da qualidade de ensino; formação de grêmio estudantil;

2. Recursos financeiros: otimizar a utilização das verbas públicas e

dos recursos humanos;

3. Reorganização dos tempos,

4. Reorganização dos registros: análise de dados e reflexão como

princípio para definir ações;

5. Melhorar as relações humanas, fortalecer o trabalho coletivo, o

compartilhamento de ações e envolvimento da comunidade

escolar;

6. Qualificar o atendimento ao público (docentes, discentes,

funcionários e comunidade) (Projeto Político Pedagógico, 2013,

p.13).

Como já imaginávamos o Programa Bolsa Família e as possíveis políticas

assistenciais presentes na escola, não aparecem em nenhum momento no documento

que identifica a instituição de ensino. Por meio de seus objetivos e metas presentes em

tal documento, vê-se a preocupação da escola em provocar mudanças no fazer

educacional. Assim, a escola em questão pode contribuir muito com esse trabalho

tendo-a como objeto de estudo.

O único momento no qual aparece programas assistenciais no Projeto Político

Pedagógico, em especial o Programa Bolsa Família e o Programa Leve Leite é no plano

de ação da secretaria – equipe administrativa, isto é, em suas ações estes programas

aparecem como uma atividade pertencente somente a esse grupo, e limitada à digitação

de frequência e disponibilização de declarações de matrícula e frequência aos pais.

Enfim, com a análise do PPP da escola podemos demonstrar que seu processo

pedagógico está determinado por uma série de fundamentos, princípios, diretrizes,

57

orientações e expectativas de aprendizagem estabelecidas por suas concepções

filosóficas, políticas e também pela rede municipal de ensino.

E mesmo sendo os programas sociais alimentados por informações vindas da

escola, eles não aparecem no projeto como uma atividade a mais da unidade de ensino,

mas sim como atividade inerente a ela, no sentido de fazer parte, principalmente de sua

rotina administrativa, podendo dar a entender que esses não modificam o ambiente

escolar.

3.1.6. Os espaços

O prédio da escola contém dois andares e é composto por 19 salas de aula – cada

sala possui um ou dois armários, uma lousa, e uma média de 35 mesas com um lugar

para cada aluno. As salas são pintadas de bege; as utilizadas pelo Ensino Fundamental I

possuem um grande número de cartazes e painéis de auxílio à leitura e escrita; algumas

possuem caixas de revistas, gibis e livros de histórias infantis.

Além das salas de aula há uma sala de informática com 25 computadores, uma

sala de leitura e uma SAAE (Sala de Atendimento a Alunos Especiais). As três salas

estão localizadas no piso térreo. Os alunos frequentam esses espaços uma vez por

semana, acompanhados por professores titulares - das determinadas classes, que

desempenham trabalhos e atividades específicas de suas áreas - ou em conjunto com os

professores de sala. Os alunos com necessidades especiais, sem exceção, frequentam a

SAAE em horários e dias diferenciados, sendo sempre essa sala o local de

aprendizagem desses alunos.

O espaço externo da escola é constituído por duas quadras sendo uma coberta e

um parque com duas gangorras e um trepa-trepa7.

A área administrativa é composta por cinco salas: secretaria, direção, assistentes

de direção, professores e da coordenação pedagógica. Os alunos têm acesso livre a esses

espaços. Há ainda o refeitório, composto por 20 mesas que comportam 10 alunos cada

uma, além da cozinha, espaço restrito às funcionárias do setor.

7 Trata-se de um brinquedo de metal constituído por traves horizontais e verticais escaladas pelas

crianças, conforme desejam.

58

3.2. Caracterização do grupo pesquisado

O grupo pesquisado é constituído por pais e professores de alunos do Ensino

Fundamental I, e por agentes de apoio administrativos que atuam na secretaria da escola

estudada. o critério de escolha desses sujeitos está pautado no seguinte objetivo desta

pesquisa:

Identificar as demandas dos beneficiários do PBF em relação à escola, se

essas dizem respeito ao ensino ou ao benefício;

Verificar junto aos pais as expectativas para ingresso e permanência na

escola.

O primeiro objetivo foi verificado a partir de entrevista e questionário

semiestruturados junto aos professores e agentes de apoio. Buscamos conhecer as

demandas mais frequentes que levam os pais ou responsáveis à escola, se essas dizem

respeito ao ensino ou a preocupação com a assistência propiciada pelos diferentes

programas sociais que estão na escola, em especial o Programa Bolsa Família (PBF).

O segundo foi constatado nas entrevistas e também questionários8

semiestruturados realizados com os pais, procurando identificar as motivações destes

em relação ao ingresso e permanência de seus filhos na escola, se essas estão ligadas ao

acesso ao conhecimento ou a garantia do benefício.

Acreditamos ter sido esse um dos objetivos mais importantes para responder

nossa hipótese de mudança de uma das funções sociais da escola, ou seja, a de

transmissão de conhecimento para a assistência social.

A escolha dos instrumentos de pesquisa, questionário semiestruturado e

entrevista podem ser justificados, primeiramente pelo nosso intuito em caracterizar o

perfil de interesse dos pais em relação à escola, o conhecimento e o trabalho dos

professores e agentes escolares administrativos em relação ao PBF. Entendendo-os

8 A priori o procedimento de pesquisa utilizado junto aos pais seria a entrevista, no entanto devido ao

tempo e disposição da comunidade escolar em relação à pesquisa, optou-se por mias um procedimento, os

questionários. Ver roteiro para entrevista e questionário em anexo.

59

como fatos sociais, estes podem exigir uma enquete sociológica com combinação de

mais de uma técnica de pesquisa para melhor compreendê-los (THIOLLENT, 1981).

O autor ainda destaca outros pontos pertinentes a nossos instrumentos de

pesquisa:

Questionário e entrevistas são considerados como técnicas de

observação direta pelo fato de estabelecerem um contato efetivo

com as pessoas implicadas no problema investigado;

[...]

Sem investigação concreta, a sociologia não está longe de ser um

discurso filosófico ou político arbitrário. Por outro lado, sem

problemática teórica a sociologia é considerada apenas como

enquete e degenera em vulgar pesquisa de opinião (THIOLLENT,

1981, p. 72).

Nesse sentido tomamos nossos instrumentos de pesquisa como ponto de acesso

às ideias e princípios dos sujeitos acerca do nosso problema, entendendo-os como uma

das fontes para compreensão do mesmo. Concomitantemente, para não incorrermos no

equívoco apontado pelo autor, e com intuito de responder ao problema de pesquisa

levando em conta os sujeitos envolvidos por meio da teoria e dos dados coletados nas

entrevistas e questionários.

3.2.1. Beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF)

Os beneficiários do PBF são as famílias que vivem em situação de pobreza ou

extrema pobreza em todo país. Tal situação é medida pela renda per capita da família

que não pode ser maior que R$ 70 reais. Além disso, esses sujeitos devem acessar os

serviços de Saúde e Educação como condição para recebimento do beneficio. No caso

da Saúde, crianças até seis anos, gestantes e nutrizes devem cumprir a agenda de

atenção básica à saúde.

Em relação à Educação os inscritos no programa devem matricular seus filhos na

escola e garantir a frequência escolar mínima de 85%, no caso das crianças e

60

adolescentes entre 6 e 15 anos e mínima de 75%, entre 16 e 17 anos (BRASIL, MDS,

2013)9.

O monitoramento do acesso das famílias a esses serviços visa assegurar que os

brasileiros mais vulneráveis sejam atendidos por essas redes de proteção social,

entendendo que a promoção de tais direitos, em especial o de Educação, leva a outros

direitos básicos e sociais (SANTOS, 2010).

3.2.2. Os professores

A escola possui 33 professores que atuam no Ensino Fundamental I. Deste

grupo, 17 são professoras polivalentes titulares de sala, estas trabalham em período

integral com turmas de 1º ao 5º ano, e os outros 16 variam entre professores e

professoras readaptados10

, professores módulo11

, e de área específica como Educação

Física, Artes, Inglês e da Sala de Leitura. A atuação desses professores na rede

municipal de ensino de São Paulo varia de cinco meses a vinte cinco anos, a faixa etária

deles é de 28 a 60 anos.

3.2.3. Agentes de Apoio Administrativo

O grupo de agentes de apoio administrativo é formado por nove funcionários

que possui idade média entre 30 e 55 anos; tem por função auxiliar a diretora em suas

atividades administrativas, cuidando de prontuários, documentos funcionais, e

frequências, inclusive a dos alunos com Bolsa Família e outros programas sociais -

atendimento ao público, pais, alunos, professores, funcionários e telefone; foram

escolhidos como sujeitos desta pesquisa exatamente por causa do seu contato direto

com os pais, pois sabemos que para manter o cadastramento do programa em ordem é

necessária a apresentação de declarações conseguidas na escola.

9 Disponível em:< http://www.mds.gov.br/>.

10 Professores que por motivos de saúde foram afastados de suas atividades de trabalho em sala de aula e

desenvolvem outras atividades normalmente voltadas à secretaria ou gestão da escola.

11 Professores substitutos que entram em sala quando o professor titular da sala está ausente por algum

motivo.

61

3.3. A pesquisa

A pesquisa que aqui se apresenta é considerada como qualitativa, por buscar

conhecer determinado fenômeno por meio de observações, descrições, comparações e

interpretações do próprio campo onde o fenômeno está inserido, diferente das pesquisas

quantitativas que visam enumerar e medir eventos por meio de instrumentos estatísticos

e pré-formulados. Nossa pesquisa busca meios para se desenvolver na própria interação

com seus participantes.

Para se realizar uma pesquisa nessa perspectiva é preciso promover o confronto

entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o

conhecimento teórico acumulado a respeito dele.

Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo

em que desperta o interesse do pesquisador, limita sua atividade de pesquisa a uma

determinada porção de saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento.

Trata-se assim de uma ocasião privilegiada, que reúne o pensamento e a ação de uma

pessoa ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade

que deverão servir para composição de soluções propostas aos seus problemas (LUDKE

e ANDRÉ, 2011).

Os instrumentos de pesquisa mais comuns a esse tipo de estudo são: a

observação e entrevista para coletas de dados e a experiência direta para verificação da

ocorrência de determinado fato. Também podem ser utilizados questionários e análise

documental, todos com intuito de conhecer e descrever o fenômeno pesquisado a luz da

realidade de seus participantes.

Isso posto, a pesquisa qualitativa na área educacional se mostra um tipo de

abordagem pertinente por valorizar os fenômenos educacionais, no sentido de não

entendê-los como fatos isolados, mas sim envolvidos numa perspectiva mais

abrangente. É como se olhássemos para peças de quebra-cabeça que formam uma

imagem (LUDKE e ANDRÉ, 2011).

Portanto, a construção de pesquisa e ciência é um fenômeno social por

excelência, que envolve pesquisador, objeto de pesquisa, sujeitos, teorias e práticas com

intuito de se conhecer e revelar perspectivas inerentes, mas ocultas de determinado

62

fenômeno. Este é o caso do aspecto educacional do Programa Bolsa Família, que é claro

no texto de sua regulamentação, mas subjetivo em suas interpretações.

3.3.1. Coleta de dados

Após a apresentação da escola de interesse para a pesquisa, o primeiro passo

para coleta de dados foi feito na secretaria da escola com a análise da lista de

beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF), com intuito de localizar os alunos

beneficiários e, consequentemente, seus pais, ou seja, qual sala ou salas do Ensino

Fundamental I que possuía o maior número de bolsistas.

A partir desse procedimento foram definidas duas salas, a 4ª série A com 14

alunos beneficiários e a 3ª série C com 11 alunos beneficiários. Como nossos sujeitos de

pesquisa são os pais desses alunos, passamos a observar a entrada e saída das crianças

para conhecer a possibilidade de abordar esses sujeitos nesses momentos de espera.

Todavia, ao compartilhar essa estratégia com a coordenadora do Ensino Fundamental I

da escola, esta prontamente propôs que ao invés disso, participássemos das reuniões de

pais das respectivas salas que aconteceriam no final da semana seguinte e

apresentássemos a pesquisa aos mesmos, convidando-os a participar. A ideia pareceu

factível e mais possível para coletas de dados.

No entanto devido a mudanças nos dias e horários das reuniões não foi possível

contatar todos os 25 pais, conforme pensamos. Deles, entrevistamos apenas cinco,

sendo dois da 3ª série C e três da 4ª série A. Depois desse ocorrido, voltamos à primeira

estratégia pensada para coleta de dados, acompanhar a entrada e saída dos alunos e

abordar os pais aleatoriamente. Desta forma, conseguimos entrevistar mais nove pais

somando um total de 14 entrevistados.

Em relação aos outros sujeitos de nossa pesquisa foram aplicados 16

questionários aos professores das diferentes salas do Ensino Fundamental I, tendo

retorno de seis, no caso dos agentes administrativos foram feitos sete questionários e

duas entrevistas aos agentes. À gestão escolar foi entregue um questionário para cada

um de seus membros – direção (1), coordenação (2), assistente de direção (2), mas não

obtivemos retorno.

63

3.3.2. Apresentação e análise dos dados

Foram apresentadas e analisadas, à luz do referencial teórico, as 14 entrevistas

feitas com os pais dos alunos beneficiários.

Para entrevista com os pais, elaboramos um roteiro que contemplasse o

conhecimento dos pais sobre o Programa Bolsa Família (PBF) e/ou outros programas

sociais ligados à escola. O instrumento possibilitava o levantamento das expectativas

dos pais em relação à escola e se essas mudaram depois do PBF. Também buscamos

conhecer quais as motivações que os levam à escola, e se essas estão ligadas ao ensino

ou ao benefício.

A partir desse roteiro foram desenvolvidos alguns critérios para interpretação

dos dados:

Compreensão que os pais têm do Programa Bolsa Família

A relação que os pais estabelecem com a escola,

As expectativas educacionais dos pais em relação à escola.

3.4.1. Análise 1: Entrevista com aos Pais

Quadro 1 – Caracterização do grupo pesquisado (pais ou responsáveis)

NOME12

SEXO IDADE ESCOLARIDADE FAMILIRIARIDADE PROFISSÃO

Albertina Feminino 48 anos Fundamental I

completo Avó Diarista

Madalena Feminino 45 anos Ensino Médio

completo Mãe

Empregada

doméstica

Ordália Feminino 36 anos 5º série – Fund. I Mãe Desempregada

Benedita Feminino 27 anos Ensino Médio

Completo Mãe Ajudante geral

Carla Feminino 33 anos 7ª série – Fund. I Mãe Dona de casa

Roberta Feminino 32 anos Nunca foi a escola Mãe Dona de casa

Silmara Feminino 33 anos 7ª série – Fund. I Mãe Babá

Laura Feminino 36 anos 5º série – Fund. I Mãe Dona de casa

Gabriela Feminino 32 anos Ensino Médio

completo Mãe Dona de casa

12

Todos os nomes utilizados nessa pesquisa são fictícios, o que ao mesmo tempo em que caracteriza o

sujeito pesquisado, preserva o anonimato de sua identidade.

64

Renata Feminino 56 anos 4ª série – Fund. I Avó Empregada

doméstica

Marcela Feminino 24 anos 2º ano – Ens. Médio Mãe Atendente

Paula Feminino 30 anos Fund. completo Mãe Desempregada

Elza Feminino 29 anos 6ª série – Fund. I Mãe Dona de casa

Antônia Feminino 30 anos 4ª série – Fund. I Mãe Auxiliar de

limpeza

Das 14 entrevistas realizadas destacamos as seguintes informações: todos os

pesquisados são mulheres, com idade média de idade entre 24 e 56 anos, a maioria

possui Ensino Fundamental I incompleto e a atividade profissional de todas é manual e

de baixa qualificação.

Mesmo não sendo um critério de escolha para pesquisa o gênero, o fato dos

entrevistados serem mulheres contribuiu significativamente para o estudo, pois segundo

o próprio site do Ministério do Desenvolvimento Social13

o benefício do Programa

Bolsa Família é sempre pago a mulher da família.

Isso pode ser justificado pela diversidade familiar e o abandono dos pais em

relação à família prematuramente construída, ou a própria frequência de mães solteiras e

mulheres responsáveis pelas responsabilidades, econômicas e sociais da casa.

Quadro 2 – Conhecimentos acerca do Programa Bolsa Família

Albertina É bom. Porque dá um dinheirinho que serve para ajudar nas contas de casa, na

alimentação e compra de roupas e sapatos para as crianças.

Madalena É muito bom, porque serve para eu comprar algumas coisinhas que o Danilo gosta e que

eu não posso dar, porque o dinheiro que ganho é pouco.

Ordália

Eu sei que me ajuda muito, porque eu tenho quatro filhos e estou desempregada, meus

filhos são pequenos, senão fosse o Bolsa Família estava “ferrada”. Quando recebo a

primeira coisa que faço é comprar uma cesta básica e pagar minha conta de água e luz, me

ajuda muito.

Benedita Sei que muito bom e tem ajudado muitas famílias, inclusive a minha.

Carla Sei que é um programa que ajuda muitas pessoas carentes e eu também.

Roberta Sei que é muito importante para as pessoas carentes e que não tem dinheiro, é muito

importante para minha família.

Silmara Sei que é um programa que dá dinheiro para as famílias carentes que mandam seus filhos

13

Disponível em:<htpp//www.mds.gov.br/>

65

para escola e mantém a carteira de vacinação em dia, para mim é muito importante, pois

ajuda a realizar as vontades das crianças como uma bolacha recheada e um iogurte, sem

contar a compra de roupas e calçados.

Laura Um benefício que lida com a fome e a desnutrição, um modo de exigir a presença das

crianças na escola e diminuir a mortalidade infantil.

Gabriela Não sei muita coisa a não ser que tenho que manter as crianças na escola e levá-las ao

posto de saúde para não perder o benefício.

Renata Não sei de nada a não ser que ela recebe os R$ 32,00 foi a mãe dela que fez tudo.

Marcela Programa que ajuda crianças carentes

Paula Programa que contribui para renda das famílias.

Elza Um dinheiro que ajuda muito as famílias necessitadas, inclusive a minha.

Antônia A única coisa que sei, é que recebo o benefício.

Podemos analisar os dados acerca do conhecimento dos pais sobre o Programa

Bolsa Família a partir de duas categorias:

1. Benfeitorias do benefício,

2. Programa Bolsa Família – objetivos e condicionalidades.

A maioria dos pais resume seu conhecimento acerca do Programa Bolsa Família

(PBF) como transferência de renda, ou seja, ao dinheiro que recebe e as benfeitorias que

ele traz, como: a compra de alimentos por meio de uma cesta básica, o pagamento de

contas de saneamento básico água, luz e gás e a realização de pequenos desejos dos

filhos em termos de alimentação e vestimentas.

Contudo alguns pais demonstram conhecer o PBF em seus objetivos e

condicionalidades, isto é, aparecem nas falas às condições para o recebimento do

benefício ligado a educação e saúde, e o próprio objetivo de diminuição da pobreza.

No que tange a educação, a exigência de que as crianças precisam estar

matriculadas e frequentando a escola é conhecida pelos pais, da mesma forma, em

relação à saúde a necessidade de que a carteira de vacinação esteja em dia, ambos os

pontos são critérios para o recebimento do beneficio presente em suas orientações no

site do Ministério do Desenvolvimento Social14

.

Nas entrelinhas das falas “ajudar as famílias pobres, carentes, lidar com a fome,

desnutrição e mortalidade infantil” ficam claros alguns dos principais objetivos do PBF:

14

Disponível em: <htpp://www.mds.gov.br/;

66

Promover o alívio direto da pobreza, por meio da transferência

direta da renda à família;

Reforçar o exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde

e Educação, por meio do cumprimento das condicionalidades, o

que contribui para que as famílias consigam romper o ciclo de

pobreza entre gerações;

Coordenar programas complementares que tem por objetivo o

desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do

Bolsa Família consigam superar a situação de vulnerabilidade e

pobreza.15

.

Portanto, podemos dizer a partir dos dados apresentados, mesmo que

indiretamente, que os pais conhecem o Programa Bolsa Família e reconhecem sua

relação com a Escola (Educação) e saúde o que pode contribuir para mudança da

relação pais escola, no sentido de suas preocupações.

Quadro 3 – Em relação à exigência da frequência escolar

Albertina

Eu sou contra a exigência da frequência escolar porque esse dinheiro é direito da criança,

às vezes tenho que mandá-los doentes para não perder o Bolsa Família porque precisamos

do dinheiro.

Madalena Eu acho certo que a escola cobre que o aluno venha, porque tem muito pai que recebe e

não tem coragem de mandar o filho para escola, deixa a criança na rua.

Ordália Sim, porque a criança tem que ir para escola aprender.

Benedita Sim. Com certeza

Carla Sim.

Roberta Sim a criança tem que ir estudar independente se recebe ou não.

Silmara

Sim, com certeza porque a escola é muito importante para aprender as coisas é como tem

pai que tem preguiça o fato de receber o benefício ajuda a dar coragem para mandar os

filhos para escola (risos).

Laura Sim. E o Bolsa família é um incentivo para nós mandarmos as crianças para escola.

Gabriela Sim, porque senão fosse assim muitas mães não mandariam os filhos para escola.

Renata Não, porque tendo o Bolsa família ou não ela teria que ir para escola.

Marcela Sim, porque a criança passa a ter mais responsabilidade e incentivo para vir para escola.

Paula Não porque minha filha viria pra escola recebendo ou não o Bolsa família.

Elza Sim, porque exigi responsabilidade da mãe de mandar o filho para escola, porque tem

quem só manda o filho por causa do PBF.

Antônia Sim, porque incentiva as mães e os filhos.

15 Idem.

67

O aspecto do roteiro de entrevista que constituiu esse quadro diz respeito à

relação da frequência escolar com o Programa Bolsa Família (PBF) no sentido de saber

se os pais acham importante que o programa exija a frequência escolar para o

recebimento do benefício.

Os critérios que nortearam a análise desse questionamento foram:

1. Frequência escolar voltada para o recebimento do benefício,

2. Frequência escolar ligada à aquisição de conhecimentos.

Das 14 mães entrevistadas 11 acham importante a exigência da frequência

escolar para o recebimento do benefício, pois alegam que este é um estímulo e incentivo

para que os filhos não deixem de ir à escola, pois segundo eles existem pais que só

mandam os filhos para escola por causa do benefício. É interessante destacar aqui a

questão do julgamento do outro, o pai que nos fala não tem esse comportamento, mas

conhece pais que se comportam dessa maneira, ou seja, que vê na escola uma

possibilidade de renda por meio do bolsa família.

Essa perspectiva pode denotar o esvaziamento da função social da escola de

instituição responsável pela transmissão do conhecimento, para instituição que lida com

as necessidades sociais e básicas do aluno (TENTI, 2007).

Em contrapartida tem três mães que são enfáticas ao dizer que independente do

benefício seus filhos teriam que ir a escola, para aprender, ou seja, por causa do

conhecimento que ela oferece que independe do recebimento ou não do bolsa família.

Podemos dizer que estes pais estão em busca do conhecimento poderoso

definido por Young (2007), conhecimento esse que não pode ser aprendido no seio

familiar, ou no trabalho no caso dos adultos, ligado à transmissão cultural, ao

fornecimento de explicações confiáveis ou nova forma de pensar o mundo,

independente do contexto ou conhecimento teórico, propiciador de generalizações e

universalidades intelectuais.

Enfim, os entrevistados deixam claro que sabem que existem pais ou em casos

específicos eles mesmos que relacionam a frequência escolar com o benefício bolsa

família, mas que há também pais que mantém o compromisso de mandar seus filhos

para escola pelo conhecimento.

68

Quadro 4 – Abandono da escolar, por não recebimento do PBF.

Albertina

O pequeno que estuda aqui não porque o trabalho dele é a escola, e se não está na

escola, está comigo, mas os mais velhos de 14 e 15 anos que às vezes não me obedecem

iriam trabalhar pra não ficar na rua vagabundando e fazendo o que não presta e,

principalmente, pra ajudar em casa, porque se não tivesse esse dinheirinho ia faltar as

coisa até pra comer, porque eu sempre faço um biquinho, mas o bolsa família ajuda

bastante.

Madalena De jeito nenhum, assim como eu trabalho hoje para mandar ele para escola, trabalharia

mais para ele continuar porque quero que ele aprenda mais.

Ordália Nunca e escola é importante para os meus filhos, para que eles aprendem e possam ser

mais do que só estudei até a 5ª série.

Benedita Não, porque ela precisa estudar e esses R$ 32,00 não vai garantir o futuro dela, tem que

estudar para ser alguém na vida.

Carla Não, porque quero que eles aprendam.

Roberta Não, porque o estudo é muito importante para formação dele no futuro, para ele ter um

trabalho melhor dos que os que pais têm.

Silmara Claro que não, quero que eles aprendam e sejam mais do que eu e o pai deles

conseguimos ser até agora.

Laura Não, porque o aprendizado dele é mais importante do que o dinheiro, ele tem que ter um

futuro melhor do que eu e não depender do Bolsa família como agente depende.

Gabriela Não, porque a escola é para aprender a ser alguém na vida.

Renata Não, porque ela deve ir à escola para aprender e não pelo dinheiro.

Marcela Não, tem que estudar independente de receber alguma coisa ou não

Paula Oxê, claro que não tem que ir para escola aprender e ser melhor do que os pais, o bolsa

família não garante futuro não, mas os estudos sim.

Elza Não, porque a escola é importante para aprender, mas que de vez em quando dá vontade

de não trazer dá (risos).

Antônia Não, porque o que não tive para mim, quero que eles tenham para eles “estudo”.

Este quadro diz respeito a possibilidade de abandono da escola, caso houvesse a

perda do benefício Bolsa Família (BF), dos 14 pais entrevistados apenas um, mesmo

assim parcialmente, diz que os netos no caso, mais velhos deixariam a escola para

ajudar na renda de casa e evitar o ócio na rua.

Todos os outros 13 pais trazem em suas respostas as expectativas de ascensão

social pelo conhecimento oferecido pela escola, ao falar de forma geral que desejam que

seus filhos sejam mais do que eles, tenham ocupação profissional diferentes das suas e

que acima de tudo aprendam mais para garantir um futuro melhor.

69

Teixeira (1971) em seus estudos traz exatamente essa perspectiva de escola

como possibilidade de ascensão social das classes menos favorecidas ao afirmar que a

educação escolar para todos apareceu como oportunidade de buscar pela escola, sua

posição na vida social independente de privilégios sociais. Segundo Teixeira (1971), a

escola universal viria a dar a cada indivíduo a oportunidade de ser na sociedade.

Estes pais ao enfatizarem em suas falas o ‘aprender mais e ser mais do que eles’,

demonstram dois interesses. O primeiro refere-se ao interesse pelo conhecimento;

esperando da escola melhores condições de ensino aprendizagem, que proporcione

conhecimento poderoso (Young, 2007) que transforme sua realidade social. O segundo

diz respeito a ocupação profissional que a escola pode proporcionar, também por meio

do conhecimento, interesses esses explicados por Sacristán e Gómez (1998), quando

afirmam o papel da escola na preparação para o mundo do trabalho.

Assim, com a análise dessa questão começa a aparecer a escola não “pura” da

qual falamos em outro momento, isto é, a escola que exerce diferentes funções a partir

de suas demandas sociais seja difundir conhecimento, preparar para o trabalho ou para o

convívio social, mesmo assim, os seus usuários ainda esperam dela aquilo que

consideramos essencial, a transmissão do conhecimento acumulado ao longo da história

da humanidade, como instrumento de ascensão social pelo trabalho.

Os quadros cinco e seis a seguir referem-se às perguntas relacionadas às

expectativas e motivações sobre a escola, ao porque esses pais mandam seus filhos à

escola, o que eles esperam dela, e se essas motivações sofreram mudanças após a

entrada do programa bolsa família.

Quadro 5 – Expectativas e motivações em relação escola

Albertina

É claro que mando as crianças para escola porque quero que elas aprendam e espero que

a escola ensine, mas também para não perderem o bolsa família que nos ajuda muito em

casa.

Madalena

Eu quero que o Danilo, seja mais do que eu, que não tenha que trabalhar no pesado com

limpeza como eu, e se com estudo não está fácil, imagina sem, espero que a escola o

ajude nisso ensinando ele aprendendo.

Ordália

Espero o melhor dos professores para os alunos e dos alunos para os professores, que

eles possam respeitar as pessoas todas que tem na escola e na vida, que aprendam e que

sejam mais do que eu.

Benedita Que meu filho tenha um bom conhecimento e sabedoria, para que ele venha a ter um

grande futuro pela frente.

70

Carla Espero que os meus filhos aprendam mais e mais.

Roberta Para que ele aprenda a ler e escrever, para ter um bom conhecimento das coisas.

Silmara Que ela possa ajudar meu filho a aprender e crescer para ser alguém na vida

Laura

Que a escola ajude meus filhos e serem homens e mulheres melhores, eu não quero que

eles passem pelo que eu passei, a escola e os professores são bons se preocupam e

ajudam o meu filho, mas está faltando segurança todo dia tem briga é que criança que

leva arma de brinquedo causando bagunça, falta segurança.

Gabriela

Que ela melhore mais um pouquinho, principalmente em relação a disciplina, porque

assim ela vai poder ajudar minha filha a ser alguém na vida, fazer uma faculdade coisa

que eu não fiz.

Renata Que ela ofereça estudo que é importante, para que meu filho possa estudar e aprender e

ter um futuro melhor.

Marcela Um bom aprendizado, para que minha filha possa ser alguém na vida, aprender a ler e

escrever.

Paula Que seja uma escola boa, com conhecimento forte, que ensine e ajude as crianças a

aprender.

Elza

Que seja melhor para meu filho e para os professores, diretor e coordenador, pois a

violência, a bandidagem e as drogas estragam a escola. E claro que seja uma escola que

ensine e ajude o meu filho ser mais do que eu com os estudos, que tenha profissão e

tudo que os estudos pode dar.

Antônia

Que melhore cada vez mais e em tudo, porque hoje não tá boa não, é professor, é diretor

e todos mal educados e que também ela trabalhe mais conhecimentos com meus filhos

para que eles possam crescer e ser mais do que eu no futuro.

Ao olharmos para esse quadro enxergamos todas as demandas que envolvem o

espaço escolar, desde a gestão, relação professor aluno, relação aluno – aluno, condição

de ensino aprendizagem, até os problemas com indisciplina, drogas, violência e

segurança, ou seja, os anseios relacionados à escola transcendem o ler, escrever e contar

que às vezes resumem o fazer escolar.

Essa afirmação nos leva a algumas reflexões acerca da própria pesquisa que aqui

é apresentada, que teve como ponta pé inicial o interesse em conhecer os possíveis

desdobramentos causados na função social da escola de transmissora do conhecimento,

a partir da entrada do Programa Bolsa Família.

No entanto, esse aspecto do roteiro de entrevista nos propiciou olhar a escola sob

os olhos dos pais, que a frequentam através de seus filhos, ou seja, a escola para esses

pais deve ser um local de transmissão de conhecimento e possibilidade de ascensão

71

social, todavia eles enxergam uma escola cheia de mazelas que precisa de qualidade no

seu aspecto global de acesso, permanência e coerência de conteúdos e ações.

Nesse sentido mais uma vez os estudos de Teixeira (1971) sobre ascensão social

por meio da escola e as considerações de Sacristán e Gómez (1998) que pontuam o

papel preparador da escola para o mundo do trabalho e convivência social ao longo da

história, nos ajudam a compreender as expectativas e motivações dos pais em relação à

escola.

Estas transcendem o ler, escrever e contar, e relacionam-se com a melhoria do o

cotidiano escolar, talvez os quatro pilares da educação pontuados no documento

Educação, um tesouro a descobrir (DELORS, 2010), e o próprio Programa Bolsa

Família, se justifiquem nos anseios desses pais, que entendem a escola como um espaço

de transmissão do conhecimento, mas também de alternativa de equidade social.

Quadro 6 – Mudanças das expectativas após o PBF

Albertina Mudar, não mudou não, escola é sempre bom para aprender, mas agora pego mais no pé

das crianças para elas não faltarem.

Madalena

Claro que não, eu continuo esperando que a escola ensine e ajude meu filho a aprender,

o PBF ajuda bastante, mas como já disse quero que meu filho aprenda e seja mais do

que eu.

Ordália

Não mudou, continuo acreditando que a escola é para aprender e ajudar as crianças a

serem melhor que os seus pais que muitas vezes não foram para escola, mas mais do

que nunca não deixo eles faltarem para não perdermos o bolsa família.

Benedita Não mudou não, mas como ela fica com avó quando trabalho, falo com minha mãe pra

não deixar ela faltar, para não perdermos o bolsa família.

Carla O bolsa família não mudou meus pensamentos sobre a escola.

Roberta Nunca mudei o meu pensamento, a escola é importante para o futuro do meu filho, para

ele ser uma pessoa formada sobre as coisas.

Silmara Não mudou nada continuo acreditando que a escola é para ensinar, mas me preocupo

deles não faltarem para não perdermos o bolsa família.

Laura Não mudou não, continuo mandando meus filhos para escola para aprender.

Gabriela Não mudou, continua sendo o de que eles estudem para ser alguém na vida.

Renata Não mudou.

Marcela Não mudou continua as mesmas.

Paula Não mudou nada, escola é para estudar, aprender e ensinar.

Elza Mudou, antes eu não ligava muito de mandar meu menino para escola, mas hoje com o

PBF eu trago ele para escola sempre.

Antônia Não. Continua sendo os mesmos de antes, aprender para ter um futuro melhor.

72

No geral, podemos constatar que as expectativas e motivações dos pais em

relação à escola não mudaram após a entrada o Programa Bolsa Família, isto é, ainda

esperam da escola o conhecimento poderoso (Young, 2007) para ascender socialmente

por meio do trabalho Sacristán e Goméz (1998) e Teixeira (1961).

Porém, percebemos em algumas falas a preocupação com a frequência escolar

assídua da criança, para não perder o benefício bolsa família o que pode apontar

possível mudança nas expectativas dos pais em relação à escola de provedora do

conhecimento, para controladora do benefício.

Quadro 7 – Mudanças na escola e no desenvolvimento de seu filho

Albertina

Na escola não percebi nenhuma mudança não, continua a mesma porcaria, mas os

meninos estão aprendendo mais, porque vão mais para escola e eu pego no pé deles para

fazer a lição de casa e estudar.

Madalena Eu não percebi mudança nenhuma na escola não, o Danilo tem umas dificuldades, não

gosta muito de matemática e tem se esforçado na escrita e eu ajudo como posso.

Ordália A escola não mudou, mas o fato das crianças irem mais a escola parece que estão se

desenvolvendo mais.

Benedita Creio que mudou bastante, e como agora eu incentivo mais elas irem para escola por

causa do bolsa família elas também aprendem mais.

Carla Não houve mudanças na escola e acho que são os professores que ajudam os nossos

filhos aprenderem.

Roberta Para mim a escola não mudou nada continua a mesma coisa e o desenvolvimento dos

meus filhos continua dependendo da educação dos professores.

Silmara Ah, a escola mudou sim as quadras foram cobertas, ganhamos um parquinho e as

crianças aprendem mais porque estão na escola com mais frequência.

Laura

Tudo na escola é igual o mesmo tratamento com alunos e pais, mas é claro que o

incentivo dado pelo bolsa família leva os alunos mais a escola e eles acabam

aprendendo mais também.

Gabriela A escola pode não ter melhorado, mas as crianças sim porque as mães têm mandado

mais elas pra escola o que ajuda no aprendizado.

Renata Não aconteceu nenhuma mudança, só que as crianças vêm mais pra escola para não

perder o bolsa família.

Marcela Não mudou nada, porque a escola não sabe do bolsa família.

Paula Não mudou não, a escola continua precisando melhorar em algumas coisas, mas pode

ser que as crianças aprendam mais por faltar menos por causa do bolsa família.

Elza Melhorou sim, porque as crianças vem mais para escola o que ajuda a aprender mais e

da mais responsabilidade para elas e para as mães.

Antônia Não mudou nada, continua a mesma porque o PBF não tem nada haver com a escola.

73

Quando os pais, afirmam não perceber mudanças na escola, estão se referindo a

melhorias no ensino, o que realmente pode não ter acontecido, pois o Programa Bolsa

Família (PBF) tem por objetivo a diminuição da vulnerabilidade social das famílias em

situação de pobreza ou extrema pobreza e não a melhoria da qualidade de ensino.

Contudo podemos perceber nas entrelinhas de algumas falas a preocupação com

a frequência escolar para não perder o benefício bolsa família, isso denota dois aspectos

um positivo e outro negativo.

O positivo refere-se à maior participação dos pais na vida escolar dos filhos

percebida quando alguns pais dizem exigir mais das crianças em relação aos estudos e

ajudar no dever de casa. Em contrapartida, o negativo expressa exatamente a nossa

preocupação, de que a escola passe a ser vista pelos pais como um espaço controlador

do benefício. Essa visão pode estar relacionada também com a sobrecarga da escola

destacada por Tenti (2007) que ao desempenhar papéis de assistência pode deixar a

desejar seu papel primordial ligado a transmissão de conhecimento – ensino

aprendizagem.

O último ponto tratado nas entrevistas foram as razões que levam os pais à

escola, seja para conversar com a professora, coordenadora ou diretora. Gostaríamos

com esse questionamento de conhecer as demandas dos pais junto à escola.

Quadro 8 – Demandas junto à escola

Albertina

Conversar com a diretora, coordenadora ou professora só quando sou chamada por

causa do comportamento do Gerson, ou quando tem reunião de pais, mas passo sempre

na secretaria para pegar declarações para o bolsa família e saber se ele tem vindo pra

aula, para não perder o leite que também ajuda.

Madalena É difícil eu vim trazer ou buscar o Danilo, mas sempre que passo por aqui é para ver

como ele anda, seja na frequência ou na bagunça (risos).

Ordália

Procuro a escola para saber do aprendizado, das faltas, mas com mais frequência pra

saber do leite que as vezes não chega em casa e também pra pegar declarações para o

bolsa família.

Benedita

Sempre que vou a escola é para saber do aprendizado, principalmente na reunião de

pais, porque é difícil eu ir em outro horário, só quando preciso de alguma declaração

para recadastrar o bolsa família.

Carla Informações sobre o aprendizado do meu filho, mas também quando precisa as

74

declarações para o bolsa família.

Roberta Para saber do aprendizado, às vezes por causa do leite e também para pegar declarações

para o bolsa família.

Silmara Mais para saber do aprendizado do meu filho, e quando precisa porque o leite não chega

também pergunto e pra pegar a declaração do bolsa família.

Laura Do aprendizado e comportamento e muito raramente a declaração para o bolsa família.

Gabriela Para saber do aprendizado e quando preciso da declaração do bolsa família, ou quando o

leite não chega em casa.

Renata Para saber do aprendizado e quando é a época pegar a declaração do bolsa família.

Marcela Aprendizado e comportamento e as vezes leite e pelo ao menos uma vez a cada um ou

dois anos o bolsa família.

Paula

Me preocupo com o aprendizado e comportamento do meu filho, mas também procuro a

escola para saber porque o leite não chegou e para pedir declaração para

recadastramento do bolsa família.

Elza

Eu me preocupo com o aprendizado, com as faltas e também com o PBF e Leve-Leite,

mas normalmente me informo disso nas reuniões ou quando me é pedido algum

comprovante para o PBF.

Antônia Para saber do aprendizado, quando tem reunião ou quando sou chamada por causa do

comportamento dela.

Todas as falas trazem dois aspectos: o interesse no aprendizado das crianças e

ao mesmo tempo as condições para manter o benefício, isso que dizer que ao mesmo

tempo em que, esses pais ou responsáveis vão à escola para saber de seu filho (a),

normalmente nas reuniões, eles também vão a escola para conseguir os instrumentos

(declarações, atestados de matriculas e etc.) necessários para manter benefícios como o

Programa Bolsa Família, Leve-Leite e tantos outros que permeiam a escola.

Essa dualidade funcional da instituição de ensino, expressada nas diferentes

demandas dos pais junto à mesma, apontam para aquilo que Tendi (2007) destacou

como multifuncionalidade da escola, isto é, ao mesmo tempo em que esta cuida da

transmissão do conhecimento, cuida também de políticas de diminuição de

desigualdades sociais, essa diversidade de funções pode esvaziar a função primordial da

75

escola que é o processo de ensino aprendizagem. Este sim, se fosse bem desenvolvido

poderia ao longo do tempo diminuir as desigualdades sociais e não os programas

assistências.

Tais perspectivas são subsídios para discussão de nossa hipótese de pesquisa: de

mudança da função social da escola a partir da entrada do Programa Bolsa Família.

3.4.2. Análise 2: Questionários dos Professores

Quadro 9 - Caracterização dos professores.

NOME16

SEXO PROFISSÃO TURMA

Tulipa Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 3ºano

Rosa Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 3º ano

Angélica Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 4º ano

Violeta Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 4º ano

Iris Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 4º ano

Amarílis Feminino Prof.ª de Educ.

Infantil e Fund. I 5º ano

O grupo de professores é constituído por seis sujeitos, todos do sexo feminino,

docentes do Ensino Fundamental I.

16

Todos os nomes utilizados nessa pesquisa são fictícios, o que ao mesmo tempo em que caracteriza o

sujeito pesquisado, preserva o anonimato de sua identidade.

76

Quadro 10 - Sobre a concepção de função social da escola

Tulipa Leitura e escrita com recursos do cidadão se torna ativo na sociedade.

Rosa Manter o aluno na escola no período matriculado, para que tenha o direito a

aprender.

Angélica

Ensinar o aluno a ler, escrever e trabalhar as quatro operações matemáticas

(investigar, compreender, descobrir, vivenciar, experimentar) são situações

que surgirão após compreender a leitura e a escrita e o raciocínio lógico,

despertar para leitura do cotidiano.

Violeta O objetivo principal da escola é oferecer ao cidadão conhecimento que

contribuam para sua formação.

Iris Desenvolver as potencialidades dos alunos para integrá-los na sociedade.

Preparar para vida.

Amarílis Educar, preocupação com ensino e a aprendizagem.

Como podemos verificar a ideia mais frequente relacionada à concepção de

função social da escola refere-se à transmissão do conhecimento, ou seja, para maioria

dos professores a escola tem o papel de organizar e transmitir o conhecimento para

formar cidadãos ativos na sociedade.

Perspectiva essa que perpassa todos os autores que embasam nosso trabalho,

para Sacristán e Gómez (1998) a escola é responsável exatamente pela formação dos

sujeitos para viver em sociedade, praticar cidadania e executar trabalho.

Para Hamilton (2001) a escola é instrumento de organização da sociedade e de

suas ocupações, principalmente a questão da instrumentalização, do ensinar aquilo que

transcende os ensinamentos familiares de usos e costumes. Concomitantemente Young

(2007) define o papel da escola como o lugar de oferecimento do conhecimento

poderoso, aquele que não se aprende em casa com os familiares, conhecimento esse que

penso ser o tratado nas entrelinhas das falas das professoras pesquisadas.

Outro ponto interessante a ser destacado é a presença dos ‘chavões educacionais’

como: formar cidadãos, desenvolver as potencialidades dos alunos, integrá-lo a

sociedade, esses tratados posteriormente como discurso de praxe, vazio, embasados em

documentos oficiais que denominam o que é educação, como a Lei de Diretrizes e

77

Bases 1996 e Constituição Federal de 1988, mas que na prática muitas vezes não dizem

nada além de palavras bonitas distantes da realidade.

A professora Rosa também enfatiza em sua exposição à legalidade do direito a

educação, quando afirma “é função da escola manter o aluno matriculado, para que

tenha direito a aprender”, essa fala transcende chavões educacionais enfatizando a

responsabilidade da escola com o processo de ensino aprendizagem.

Uma vez que esse direito é garantido por lei no artigo 206 da Constituição

Federal de 1988 e nos artigos 3º e 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96,

e seus incisos, definindo ambos em seus princípios a igualdade de acesso e permanência

na escola e a liberdade de aprender:

O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a

arte e o saber (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, p. 5 e LEIS DE

DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO, 1996, p. 7)

Enfim, podemos dizer que para os professores transmitir conhecimento para

formar cidadão e preparar para vida é função social da escola.

Tabela 11 - Do conhecimento sobre o Programa Bolsa Família (PBF)

Tulipa

É um programa onde se exige a presença dos filhos na escola e vacinação em

dia, para família que vivem em situação de pobreza, com renda per capita de

R$ 70,00. A única relação com a escola que percebo é a presença dos alunos

mais assídua.

Rosa É um programa oferecido aos pais, para que tenham interesse de manter seus

filhos na escola.

Angélica Sei que cobra frequência do aluno, que a família recebe uma quantia por

mês, e penso que é muito importante na renda da família.

Violeta O Programa Bolsa Família é uma complementação de renda oferecida aos

pais com crianças na escola.

Iris Sei muito pouco, apenas que alguns alunos participam, mas não sei quem são

e nem quais são os critérios de escolha.

Amarílis Sei que a intenção é incentivar os pais se preocuparem com o

desenvolvimento educacional do filho, mas nem sempre é o que ocorre.

78

De forma geral, os professores conhecem o Programa Bolsa Família de maneira

genérica e superficial, conseguem elencar a exigência de frequência escolar e

acompanhamento de saúde como condição para o recebimento do benefício. E

entendem esse benefício como um estímulo, um incentivo aos pais para manterem seus

filhos na escola.

Esse conceito de incentivo que aparece especificamente nas falas das professoras

Rosa e Amarílis pode denotar o possível esvaziamento da função social da escola de

oferecedora do conhecimento para controladora do programa.

Outro ponto interessante é o trazido pela professora Iris ao afirmar que sabe

muito pouco do programa, apenas que alguns alunos recebem, mas não sabem quais. O

não saber quem são os alunos, pode não permitir aos professores constatar as mudanças

no desenvolvimento dos alunos esperada pelos objetivos do programa a partir do acesso

e permanência na escola.

Portanto, podemos dizer que os professores conhecem o programa e reconhecem

como relação mais frequente da escola com este a questão da frequência e assiduidade

escolar, pois quando perguntado ao grupo sobre se houve aumento na frequência e

assiduidade dos alunos depois do Programa Bolsa Família quatro dos seis responderam

que sim e apenas duas dizem não perceber mudanças.

Isso demonstra que o objetivo do programa de garantir o acesso e permanência

na escola tem sido atingido.

Quadro 12 - Interferência do Programa Bolsa Família no trabalho pedagógico

Tulipa Não, o trabalho continua com o mesmo objetivo.

Rosa Não sei, pois ingressei na escola da prefeitura a pouco tempo e não consigo perceber

diferença.

Angélica Sim, o fato de a criança estar presente na escola é muito importante para ela, pois

propicia acompanhar e melhorar seu conhecimento.

Violeta Não, nunca recebemos orientações para que alterássemos o trabalho por conta do

programa.

79

Íris Sinceramente, não.

Amarílis A preocupação dos faltosos resume-se em vai ou não receber o bolsa família e não a

aprendizagem.

Quando perguntados sobre a interferência do Programa Bolsa no trabalho

pedagógico, de modo geral as professoras não percebem grandes diferenças no

desenvolvimento dos alunos, nem em seu trabalho em relação a eles, com exceção da

professora Angélica que destaca uma ideia presente também nas falas dos pais, a

questão de que se a criança está mais tempo na escola, ela tem mais chances de ser

acompanhada pedagogicamente e de melhorar seus conhecimentos.

A exposição da professora Amarílis, ao afirmar que a preocupação dos faltosos é

com o recebimento ou não do bolsa família e não com o possível conteúdo perdido em

sua ausência na escola, demonstra um provável esvaziamento da função social da escola

de oferecimento de conhecimento, para lugar de manutenção e controle do benefício.

Essa ideia pode ser explorada pelos estudos de Tenti (2009), que destaca o

prejuízo da multifunção da escola, isto é, o fato da escola cuidar do processo de ensino e

aprendizagem e ao mesmo tempo, “controlar, manter” as informações para os

programas de diminuição da vulnerabilidade social, como é o caso do Programa Bolsa

Família (PBF). Este autor pontua exatamente a possível sobrecarga de função e ao

mesmo tempo esvazio da função social primordial da escola que é o desenvolvimento

do conhecimento.

Quadro 13 - Demandas dos pais em relação à escola

Tulipa

Desenvolvimento pedagógico, frequência escolar, bolsa família e outros

programas assistenciais. Acredito que são todos, pois diante das conversas

com os mesmos, muitos assumem a importância de todos.

Rosa

Desenvolvimento pedagógico. Coloquei essa resposta, pois percebo que os

pais estão presente quando são convocados pela direção, na maioria das

vezes com problemas no desenvolvimento pedagógico do aluno.

Angélica Bolsa família e outros programas assistenciais. Infelizmente as famílias se

preocupam mais com o benefício do que com a construção do conhecimento.

80

Violeta

Não tenho como afirmar, qual o principal motivo dos pais para virem a

escola, mas o número dos que questionam faltas e o não recebimento do leite

é significativo.

Íris Frequência escolar. Os pais geralmente comparecem para justificar ausências

dos filhos, de outra forma somente quando convocados.

Amarílis

Bolsa família e outros programas assistenciais. Os pais de alunos com maior

dificuldade tem demonstrado mais preocupação com os programas

assistenciais.

Não são todas as respostas acerca das demandas dos pais em relação a escola

que explicitam a preocupação com o Programa Bolsa Família ou outros programas de

assistência que permeiam a unidade de ensino. Todavia, em quatro das seis falas, a

inquietação em saber e justificar as faltas para manter a frequência em dia pode dar a

entender que uma das maiores preocupações dos pais em relação a escola é o benefício

e não o ensino.

As duas outras exposições que não citam os programas sociais, como causa da

visita dos pais na escola, foram baseadas pelos pesquisados na prontidão dos pais,

quando chamados a escola para tratar de assuntos pedagógicos.

Esses dados dão a entender que as demandas dos pais em relação a escola

resumem-se a assistência e ao desenvolvimento pedagógico, questão já interpretada à

luz do conceito de multifunção da escola de Tenti (2009).

Quadro 14 - Mudanças das expectativas dos pais em relação à escola após o

PBF.

Tulipa Não houve.

Rosa

Acredito que não, pois a maioria dos alunos que recebem esse benefício são

muito carentes, o os pais não estão preocupados com mudanças na escola e

sim com o benefício.

Angélica

Eu acredito no programa, sendo assim mesmo que a frequência estará

atrelada ao assistencialismo, a escola sempre vai colaborar para melhorar a

construção do conhecimento.

81

Violeta Não, não é possível fazer essa afirmação, não nos é informado qual criança é

beneficiária e não percebo diferenças entre as que são e as que não são.

Íris

Só a expectativa de receber o benefício.

Amarílis Não houve.

De acordo com os professores pesquisados não houve mudança na perspectiva

dos pais em relação à escola após a entrada do Programa Bolsa Família, com exceção da

professora Íris que pontua em sua fala a expectativa e possível preocupação dos pais em

receber o benefício, fato que pode demonstrar uma possível mudança de expectativa,

uma vez sendo, a função da escola a transmissão do conhecimento, a atenção dos pais

deveria ser na qualidade, quantidade e forma desse conhecimento e não nos programas e

políticas de assistência agregados ao espaço no qual ele é oferecido.

Quadro 15 - Acesso e permanência na escola exigido pelo PBF relacionado a

melhoria do rendimento escolar dos alunos beneficiários

Tulipa Não. Pois os pais e alunos não fazem essa relação de compromisso.

Rosa O rendimento escolar dos alunos depende da união do professor com a

família, quando isso não acontece, só a frequência não garante rendimento.

Angélica Acredito que sim. Pode não ser para todos, mas que uma grande parte dos

alunos beneficiários tem um bom desempenho, isto é real.

Violeta

O acesso e a permanência na escola é um dado extremamente positivo para a

aprendizagem das crianças, mas não tenho como afirmar se há diferenças

entre beneficiários e não beneficiários. Geralmente não percebo diferença.

Íris

Acho que não. O acesso e a permanência deles não garantem um melhor

rendimento. Os problemas estão nos valores morais, éticos. Na minha

opinião.

Amarílis Não, porque os alunos relacionados que tem bom rendimento independem do

Programa Bolsa Família.

82

No que diz respeito, ao acesso e permanência na escola exigido pelo Programa

Bolsa Família (PBF), relacionado à melhoria do rendimento escolar dos alunos

beneficiários, os dados mostram que segundo a maioria dos professores pesquisados não

se pode dizer que houve melhora do rendimento após o PBF (é importante ressaltar que

a melhora do rendimento escolar dos alunos beneficiários não é objetivo do programa, e

sim uma possível consequência).

Essa afirmação pode ter si dado pelo desconhecimento dos professores, dos

beneficiários de sua sala de aula. Pois quando a pesquisa foi apresentada ao grupo de

professores a primeira indagação deles foi a respeito de como responderiam um

questionário sobre os beneficiários do programa se não os conhecia (Diário de pesquisa,

2013), ou seja, talvez esse grupo não tivesse observado o desenvolvimento dos alunos

beneficiários por esse viés.

Todavia os professores elencam outros fatores que contribuem para melhoria do

rendimento escolar como: a parceria e compromisso família escola e os valores morais e

éticos.

A professora Angélica, não faz a relação direta do acesso e permanência na

escola com a melhoria do rendimento escolar, mas afirma que grande parte dos alunos

beneficiários do programa tem bom desempenho escolar, porém não podemos dizer que

esse fato se deu pelo benefício, primeiro porque os alunos beneficiários até a pesquisa

não estavam sendo acompanhados pedagogicamente com esse olhar e segundo porque

não sabemos como era o desenvolvimento do aluno antes do PBF.

Enfim, de modo geral os professores não relacionam o acesso e permanência

exigido pelo programa, como condição de melhoria do rendimento escolar.

83

Quadro 16 - Programas sociais e mudanças das expectativas dos pais em relação

a escola.

Tulipa Para alguns sim, pois muitos pais deixaram de obrigar seus filhos a trabalhar

para estudar e receber esse benefício.

Rosa Não respondeu.

Angélica Sim, a construção da cidadania se faz também com valores e beneficio, uma

inclusão positiva.

Violeta

O que mudou é que hoje as crianças vem para a escola mais cuidadas do que

vinham antes (com tênis, meias, mochilas, agasalhos), mas a expectativa dos

pais não mudou.

Íris

Esses programas contribuem para que o foco da educação esteja em outros

valores, que não a aprendizagem. A escola fica encarregada de muitas

funções e o ensino fica prejudicado.

Amarílis Não respondeu.

Essa questão diz respeito à visão dos professores sobre as possíveis mudanças

das expectativas dos pais em relação à escola a partir da entrada dos diferentes

programas sociais como: Leve-Leite, Bolsa Jovem, Jovem Cidadão entre outras em

especial o Programa Bolsa Família (PBF) aqui pesquisado.

Os argumentos apresentados a partir desse questionamento trouxeram a tona

diferentes perspectivas acerca da relação PBF escola, pois como vemos na maioria das

respostas o programa mudou a vida de seus beneficiários principalmente em seus

aspectos sociais, ou seja, pais deixaram de obrigar seus filhos trabalharem, crianças vêm

mais bem arrumadas para escola, com roupas e calçados em bom estado e asseadas.

Tais respostas apontam para possível diminuição da vulnerabilidade social, uma

vez que os beneficiários podem ter acessado bens materiais e de consumo e mais do que

isso bens sociais como saneamento básico e saúde, um dos objetivos do programa.

Esta diminuição de vulnerabilidade é apontada nos estudos de Tenti (2007)

como uma das condições para o aprendizado:

84

[...] A decir verdad, se sabe casi desde siempre que para un ninõ

empreenda y sotenga con éxito el difícil, largo y sotenido caminho

del aprendizaje escolar es preciso que se den algunas condiciones

sociales previas. En primer lugar, es necessario que haya satisfecho

otras necesidades materiales tan básicas como la de la alimentación

(TENTI, 2007, p. 128)

Ou seja, o sucesso escolar talvez esteja relacionado a demandas sociais externas

a escola, o que pode justificar a existência das políticas assistenciais na escola.

Entre as respostas podemos destacar a da professora Íris que afirma que esses

programas contribuíram para que o foco da educação esteja em outros valores, que não

a aprendizagem e afirma que a escola ficou encarregada de muitas funções o que pode

prejudicar o ensino.

Aqui vemos claramente a multifunção da escola tratada por Tenti (2009) e sua

própria declaração de que as políticas de assistência sobrecarregam a função primordial

da escola de transmissão do conhecimento, seja pela visão deturpada dos pais que

passam a esperar dela recursos além do ensino e da própria dinâmica da escola que

tende a se reorganizar para manter e alimentar programas sociais com informações e

dados.

3.4.3. Análise 3: Entrevista e questionários aos agentes administrativos

A pesquisa com esse grupo foi feita por meio de sete questionários e duas

entrevistas. Dos questionários entregues não obtivemos resposta de nenhum, ou seja, os

dados que aqui serão apresentados e analisados referem-se as duas entrevistas que

fizemos com os agentes administrativos.

Por ser o número de entrevistados pequeno, optamos por fazer a descrição de

cada um dos dados, sem a apresentação das tabelas, que estão disponíveis no anexo

desse trabalho.

85

A dupla pesquisada é caracterizada por um homem e por uma mulher, ambos

exercem a função de agente administrativo, todavia Âmbar17

atua mais diretamente com

público geral da escola (pais, professores e alunos) e a Ametista cuida mais da parte

burocrática (digitação de listas, merendas, materiais, evolução funcional).

Quando perguntados sobre o conhecimento acerca do Programa Bolsa Família

(PBF) e sua relação com a escola, ambos apontam para características e objetivos gerais

do programa como: repasse de dinheiro a famílias carentes, exigência de frequência

escolar como condição para recebimento ou não do benefício e a obrigatoriedade da

escola enviar ao órgão responsável as faltas dos alunos a cada bimestre.

Ametista lembra ainda da necessidade de apontar os possíveis motivos18

das

ausências dos alunos em um item da página eletrônica de digitação do PBF.

Ao serem questionados sobre a interferência do PBF no objetivo da escola, a

dupla afirma que há interferência. Uma vez que percebem que a preocupação desses

pais nunca é com o desenvolvimento escolar de seu filho, mas sim, com as condições

para continuarem recebendo o bolsa família. Outro argumento citado por ambos é o

aumento da visita dos pais na escola para saber da frequência escolar, do recebimento

do leite, material escolar e outras solicitações a ‘respeito do que a escola dá’.

As demandas dos pais junto à escola, segundo os agentes administrativos

podem ser resumidas assim: as declarações para o bolsa família, inscrição e pedido de

matrícula para garantir o recebimento do benefício do PBF e de outros programas,

principalmente dos pais que vêm de outros estados, recebimento do leite e material

escolar e outros recursos sociais oferecidos pela escola.

No que tange a percepção das expectativas dos pais em relação à escola, os dois

entrevistados declaram que estão voltadas para o que a escola pode dar além do

conhecimento, ou seja, nos programas sociais que variam de complementação alimentar

a transferência direta de renda.

17

Todos os nomes utilizados nessa pesquisa são fictícios, o que ao mesmo tempo em que caracteriza o

sujeito pesquisado, preserva o anonimato de sua identidade.

18 Lista de motivos disponível no anexo desse trabalho.

86

Em relação às mudanças das expectativas dos pais a partir da entrada do PBF na

escola, ambos agentes afirmam que elas se modificaram, pois eles acreditam que a

escola antes dos programas sociais era melhor, porque os pais estavam mais

preocupados com a escola e conhecimento que ela oferecia e não com os recursos

econômicos que ela poderia dar.

Ametista também destaca o esvaziamento do conhecimento da escola e o tempo

que a gestão e os professores despendem para preencher listas e rever faltas para esses

programas.

Quando inquiridos se a exigência de acesso e permanência na escola melhorou o

rendimento escolar, os entrevistados concordam que esse aluno é mais frequente,

todavia afirmam que as provas externas e os comentários de corredores e sala dos

professores não apontam melhoria no rendimento escolar, mas ambos creem que e

assiduidade na escola pode contribuir para a aprendizagem.

A visão trazida pelos agentes administrativos demonstra exatamente o

esvaziamento da função social da escola, a qual nos referimos ao longo desse trabalho.

Em nenhuma de suas falas pode-se constatar o contato do pai com a escola para saber

sobre o desenvolvimento da aprendizagem de seu filho (a), mas sempre ligada aos

recursos financeiros, alimentícios ou de outra ordem que a escola oferece além do

ensino.

Os autores que basearam teoricamente essa pesquisa apontam para não

neutralidade e variedade da função social da escola ao longo da história. Preocupamo-

nos aqui com a função social da escola ligada a transmissão de conhecimento. Os dados

dos agentes administrativos mostram que a escola está esvaziada dessa função e que se

resume pura e simplesmente ao controle dos programas sociais, segundo o viés da

relação escola família observada por eles.

Assim, podemos dizer que a multifunção da escola (Tenti, 2009) de cuidar do

conhecimento e das questões sociais por meio dos programas sociais, realmente

sobrecarregou e modificou a função social da escola, dando a compreensão para os pais

de um espaço de controle e manutenção dos benefícios atrelados a ela ao invés de lugar

do conhecimento.

87

Considerações Finais

Este trabalho teve como intuito conhecer a função social da escola depois da

entrada do Programa Bolsa Família.

A partir de experiências no campo educacional, de questionamentos e discussões

sobre as políticas públicas de assistência na escola, foi levantada a hipótese de que o

aspecto educacional do Programa Bolsa Família poderia ter reconfigurado à função

social da escola, ou seja, de transmissora de conhecimento para controladora e condição

para o recebimento do beneficio Bolsa Família.

O primeiro desafio encontrado durante a investigação foi a própria definição do

que entendíamos como função social da escola, já que ao longo da história as

instituições de ensino possuíram diferentes funções sociais sempre ligadas às demandas

científicas, econômicas e sociais de uma sociedade.

Encontramos nos estudos de Teixeira (1971), Fernández (1989), Sacristán e

Gómez (1998), Hamilton (2001), Tenti (2007) e Young (2007) conceitos de educação e

sua relação com a sociedade no decorrer da história humana, o que contribuiu

significativamente para constituição do nossa definição de função social da escola.

Função essa definida e assumida neste trabalho como: não neutra, complexa e

multifacetada, todavia diretiva, pontual e transformadora voltada para transmissão e

desenvolvimento do conhecimento formal.

Assim, a busca de confirmação ou refutação da hipótese exigiu conhecer o que

pais, professores e agentes administrativos da instituição de ensino entendiam como

função social da escola e se houve mudança dessa após a entrada do Programa Bolsa

Família.

O procedimento de pesquisa constituiu-se em: selecionar a escola com mais

beneficiários do Programa Bolsa Família da Diretoria de Ensino do Butantã no

Município de São Paulo, além de elaborar um instrumento de coleta de informações –

questionário e roteiro de entrevista para que os pais, professores e agentes

administrativos respondessem.

88

Os resultados permitem algumas considerações, contudo não pretendem concluir

ou fechar a possibilidade de outras formas de análise, dado que a pesquisa não trabalhou

com amostragem de escolas, professores e alunos, o que não nos permitiu fazer maiores

generalizações e nem mesmo concluir de forma mais assertiva.

Com a entrevista direcionada aos pais, podemos perceber que independente do

Beneficio Bolsa Família eles ainda esperam da escola transmissão de conhecimento

para ascensão social. A maioria das falas é permeada pela seguinte afirmação ‘eu quero

que meu filho seja melhor do que eu, conclua os estudos, chegue à faculdade e tenha

uma profissão’.

Essas ideias vão ao encontro de com os conceitos tratados por Teixeira (1971)

que entende a escola como um espaço de possibilidade de mudança e ascensão social,

por meio da diminuição de privilégios de classe e valorização das condições de

desenvolvimento do sujeito.

Por outro lado, as falas são também explicadas por Sacristán e Gómez (1998),

que relatam em seus estudos a perspectiva de escola responsável pela formação dos

sujeitos para viver em sociedade, praticar cidadania e executar trabalho.

Dos questionários direcionados aos professores, podemos destacar que todos os

entrevistados entendem a escola como um espaço de transmissão de conhecimento,

formação de cidadãos, preparação para o trabalho e convívio social (princípios tratados

por Sacristán e Gómez, 1998). Destacam também, que com a chegada do Programa

Bolsa Família houve um aumento da preocupação com a frequência escolar, que as

demandas dos pais junto à escola variam entre o pedagógico e os programas de

assistência e que teve melhoria das condições de vida dos alunos, percebidas pelo

cuidado com o corpo e higiene.

As entrevistas realizadas com os agentes de apoio foram as que mais trouxeram

dados de comprovação da possível mudança da função social da escola. Afirmam que as

demandas das famílias têm diferentes dimensões, desde transmissão de conhecimento

até a de oferecimento de políticas assistenciais, caracterizadas pelo repasse direto de

renda para a complementação alimentar.

89

Isso pode ser explicado pelo contato direto dos pais e de suas demandas

estendidas à continuidade dos benefícios, ou seja, é na secretaria da escola que os pais

conseguem declarações e comprovantes escolares da situação de seus filhos; solicitam

informações sobre o recebimento do leite, dos materiais escolares, da frequência e

tantos outros dados e informações que garantem o recebimento dos benefícios que a

escola possibilita, além do conhecimento.

Enfim, os agentes de apoio relatam que as preocupações dos pais estão

diretamente voltadas ao recebimento ou não dos benefícios, isto é, para os agentes a

escola mudou de função na perspectiva dos pais que atendem. Segundo eles a

preocupação demonstrada pelos pais volta-se aos benefícios assistenciais, e não ao

pedagógico. Os mesmos reconhecem que os alunos são mais frequentes, todavia não

podem dizer que existe grandes mudanças no desenvolvimento intelectual desses

alunos, mas verificam sim, pela observação, o aumento da bagunça, depredação e

violência na escola.

A percepção que os agentes de apoio têm dos interesses e demandas dos pais

junto à escola pode ser interpretada à luz do conceito de multifunção da escola que

Tenti (2007), traz em seus estudos. Para ele a sobrecarga de tarefas da escola,

principalmente as relacionadas aos cuidados com a assistência social pode confundir as

expectativas dos sujeitos (pais, alunos) em relação à mesma, podendo contribuir para

que esta não seja mais entendida como um espaço de conhecimento e sim de

oferecimento de políticas assistenciais.

Assim, pelas informações e pelas contribuições de Tenti (2007), nossa hipótese

foi parcialmente confirmada: os pais se preocupam com o Bolsa Família e outros

benefícios, mas não têm nele a maior motivação para mandar os seus filhos à escola, ou

seja, há uma preocupação além do benefício, ligada a ideia de ascensão social por meio

do conhecimento.

Os pais matriculam e mandam seus filhos para escola por acreditar que, por

meio do conhecimento disponibilizado e transmitido pela escola, seus filhos construirão

histórias diferentes das suas, serão mais profissionais e bem sucedidos

socioeconomicamente.

90

Escrevendo as considerações finais desse trabalho renova-se a sensação de que o

conhecimento é sempre algo em construção, pois algumas de nossas inquietações foram

respondidas, outras acalmadas e tantas outras reformuladas. A contribuição principal foi

estudar o papel social da escola depois da instituição do Programa Bolsa Família, e este

problema pôde ser analisado e respondido dentro dos limites estabelecidos pela escola

escolhida como objeto de estudo, pais, professores, alunos e agentes escolares que

participaram da pesquisa. Além disso, a análise está demarcada pelos conceitos dos

quais partimos.

Fica o anseio de que este trabalho amplie olhares e contribua para que outras

questões dentro deste tema sejam colocadas. Espera-se ainda pela ampliação dos focos

de análise e que estes possam contribuir para a reflexão, construção e transformação das

funções da escola à luz de novos conceitos e interpretações.

91

Referências Bibliográficas

ARDITO, Lilian Barone Vieira. 2009. A melhoria da qualidade de educação a partir de

ações extracurriculares: política educacional no município de São Paulo e a ampliação

da função da escola. Dissertação de Mestrado em Educação: História, Política,

Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

BRASIL. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. In: Diário Oficial da União. 23 dez 1996, pp. 27.883-27.841.

BRASIL. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/civil_03/constituicao/constituicaocopilado.htm acesso em

Julho de 2013.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível

em:<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/o_programa_bolsa_familia> acesso em

Novembro de 2013.

CALDART, Roseli Salete. 1988. Sobre a função social da escola. In: Revista Contexto

& Educação. Rio Grande do Sul, v. 1, p. 9 – 34.

CORRÊA, Juciani Severo. 2008. O Programa Bolsa Família como alternativa de

inclusão e permanência na escola. Dissertação de Mestrado em Educação:

Universidade Federal de Santa Maria/RS.

DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir: Relatório para UNESCO da

Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília. Disponível em:

<http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf> acesso em Agosto de

2013.

DURKHEIM, Émile. 1965. Educação e sociologia. 6ºed. São Paulo, Editora

Melhoramentos.

FERNÁNDEZ, Mariano Enguita. 1989. A face oculta da escola: educação e trabalho

no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas.

92

GIANOTTI, Rosa da Cunha Barbosa. 2006. A função social da escola no olhar dos

diferentes segmentos da equipe escolar. Dissertação de Mestrado em Educação:

Universidade Metodista de São Paulo.

HAMILTON, David. 2001. Notas de lugar nenhum: sobre os primórdios da

escolarização moderna. In: Revista Brasileira de História da Educação. Campinas, n.1,

p. 45-73.

JR, Boito, Armando. 1999. Política Neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo,

Editora Xamã.

LIBANORI, Guilherme Andolfatto; RISCAL, Sandra Aparecida. 2011. O novo papel

da escola como executora de politicas públicas as parcerias da secretaria de estado da

educação de São Paulo para realização de programas sociais. UFScar, Anped, GT05.

LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E.D.A. 2011. Pesquisa em educação: Abordagens

Qualitativas. EPU. São Paulo.

NASCIMENTO, Claudemiro Godoy do. Pedagogia da resistência cultural: um pensar

a educação a partir da realidade campesina. In: ENCONTRO REGIONAL DE

GEOGRAFIA, 8, 2003, Goiás. [trabalho apresentado], [S.L: s.n], p. 1 – 11.

PATTO, Maria Helena Souza. 2007. “Escolas cheias, cadeias vazias” Nota sobre as

raízes ideológicas do pensamento educacional brasileiro. Estudos avançados, v. 21. p.

243 – 266.

PASSETTI, Edson. 2007. Crianças carentes e políticas públicas. IN: PRIORE, Mary

Del (Org). História das crianças no Brasil. 6º ed. São Paulo: Contexto, p. 347 – 375.

PETITAT, André. 1994. Escola e produção/ reprodução sócio-cultural. IN: ____

Produção da escola/ produção da sociedade: análise sócio-histórica de alguns

momentos decisivos da evolução escolar no ocidente; trad. Eunice Gruman. Porto

Alegre: Artmed. p. 193-209.

PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. 2008. Relatório de

Desenvolvimento Humano 2007/2008. New York. Via Word Wide Web:

http://pnud.org.br/arquivos/rdh/20072008/hdr20072008_pt_complete.pdf. 02 de mar. de

2013.

93

RAMOS, Géssica Priscila. 2010. A politica educacional paulista sob a logica da

reforma do Estado Brasileiro nos anos de 1990: Uma análise relacional entre objetivos

e pretextos. UFScar. Anped, GT05.

REIS, Alessandra Crystian Engles dos. 2009. Bolsa Família: uma análise dos

resultados sob a óptica educacional. Mestrado em Educação: Universidade Estadual

Paulista Júlio de Mesquita Filho/Marília – SP.

SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I. Pérez. 1998. Compreender e transformar o

ensino. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed.

SCHEFFLER, Israel. 1974. A linguagem da educação. São Paulo, Ed. Saraiva.

SANCHES, Maria Cecília. 2009. Projeto Inovador: uma alternativa para formação do

jovem na escola pública?. Dissertação de Mestrado em Educação: História, Política,

Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

SANTOS, Danielle de Sousa. 2010. Uma análise dos aspectos educacional do

Programa Bolsa Família na União da Vila Nova/ Vila Nair, bairro do Município de

São Paulo (2010). Dissertação de Mestrado em Educação: História, Politica, Sociedade.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

SÃO PAULO, Secretaria do Trabalho. 2006. Atlas do trabalho e desenvolvimento da

cidade de São Paulo. São Paulo

TEIXEIRA, Anísio Spinola. 1971. Educação não é privilégio. 3º ed. São Paulo, Editora

Nacional.

__________. 1967. Pequena Introdução à Filosofia da Educação: a escola progressista

ou a transformação da escola. 5º ed. São Paulo, Editora Nacional.

TENTI, Emilio Fanfani. 2007. La escuela y la cuestión social: Ensayos de sociologia de

la educación. Buenos Aires, Editora Argentina.

THIOLLENT, Michel. 1981. Metodologia da investigação social e enquete operária.

5ºed. Polis. São Paulo.

VIEIRA, Sofia Lerche. 2011. Continuidades e Rupturas na Política Educacional

indicadores do período 1995 – 2005. UECE. Anped, GT05.

94

VEIGA, Ilma Passos Alancastro e RESENDE, Lucia Maria Gomes. 2004. Projeto

Político da Escola: uma construção possível. 17º ed. Campinas: Papirus.

YOUNG, Michel. 2007. Para que servem as escolas? Revista Educação e Sociedade,

Campinas, vol. 28, n. 101, p. 1287 – 1302.

95

ANEXOS

Anexo 1:

Questionários e roteiro de entrevista

1.1. Questionário enviado aos pais que não puderam ser entrevistados;

PONTIFICIA UNIERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMAS DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA,

POLITÍCA E SOCIEDADE.

AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Meu nome é Janaina, sou professora e faço mestrado em Educação, estou

desenvolvendo uma pesquisa sobre o Programa Bolsa Família.

Gostaria de saber sua opinião sobre o Programa Bolsa Família e a escola de seu

filho (a), a pesquisa é anônima, isto é, todos os dados e informações coletadas serão

usados SOMENTE pela pesquisa, NENHUMA das informações dadas aqui

implicará no recebimento ou não do Bolsa Família.

Abaixo segue o questionário da pesquisa, caso possa e queira venha conversar comigo

pessoalmente no inicio ou final da aula é só colocar a data e o horário aqui:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

NOME: ______________________________________________SEXO: (__) F (__) M

ESCOLARIDADE: ____________________________________ IDADE: __________

PROFISSÃO:_________________________________________

96

1. O que a Sra. (o) sabe sobre o Programa Bolsa Família?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. A Sra. (o) acha importante que o Programa Bolsa Família exija que a criança vai

para escola para o receber benefício?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. A Sra. (o) costuma conversar com seu filho (a) sobre a importância dele (a) ir a

escola para que vocês não percam o Bolsa Família? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4. Seu filho (a) já foi à escola doente ou com alguma indisposição de saúde para

não perder o Bolsa Família?

( ) Sim ( ) Não

5. Seu filho (a) deixaria de ir à escola se você perdesse o Bolsa Família? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

97

EM RELAÇÃO À ESCOLA:

1. O que a Sra. (o) espera da escola para seu filho?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Porque a Sra. (o) manda o seu filho vai para escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Depois do Bolsa Família os motivos para mandar seu filho a escola mudou? Por

quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Para a Sra. (o) a escola mudou depois do Bolsa Família? Se sim, em quê a escola

mudou?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. A Sra. (o) acredita que o Bolsa Família melhorou o aprendizado e a escola de seu

filho (a)?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

98

SOLICITAÇÕES À ESCOLA:

1. Por quais razões você procura a professora, coordenadora ou diretora da escola de

seu filho (a)?

( ) para saber do aprendizado;

( ) para saber das faltas;

( ) para saber do Bolsa Família, Leve Leite ou outros programas assistenciais.

1.1.2. Questionário dedicado aos professores:

PONTIFICIA UNIERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMAS DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA,

POLITÍCA E SOCIEDADE.

Este questionário faz parte da Pesquisa Escola e o aspecto Educacional do Programa

Bolsa Família, apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados – Mestrado – em

Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, para obtenção do titulo de MESTRE em EDUCAÇÃO, sob a orientação da

Professora Doutora Leda Maria de Oliveira Rodrigues. Pretende-se investigar se houve

mudança na concepção de uma das funções sociais da escola, ou seja, o de oferecimento

de conhecimento formal e científico para assistência social, a partir da exigência

educacional do Programa Bolsa Família. O conteúdo coletado e sua análise ficarão

restritos ao trabalho em questão.

NOME: ______________________________________________SEXO: (__) F (__) M

TURMA: ______________________

99

1. Na sua concepção, qual é a função social (objetivo) da escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. O que você sabe sobre o Programa Bolsa Família e a sua relação com a escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Após a entrada do Programa Bolsa Família na escola os alunos beneficiários

passaram a ser mais assíduos (frequentes)?

(__) Sim (__) Não

4. Há ou houve interferência do Programa Bolsa Família em seu trabalho pedagógico?

Por quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Quais são os motivos mais frequentes que levam os pais à escola:

( ) Desenvolvimento pedagógico;

( ) Frequência escolar;

( ) Bolsa Família e/ou outros programas assistenciais.

Por favor, comente sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

100

6. Após a entrada do Programa Bolsa Família, você percebeu que houve mudanças

das expectativas dos pais em relação à escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

7. Na sua concepção, o acesso e a permanência na escola exigida pelo Programa Bolsa

Família melhorou o rendimento escolar dos alunos beneficiários?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

8. Na sua concepção programas sociais como: Bolsa Família, Leve Leite, Renda

Mínima, Bolsa Cidadã, Jovem Cidadão e outros, mudaram as expectativas dos pais

em relação à escola?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

101

1.1.3. Questionário aplicado a Gestão da escola: coordenação, direção e assistente

de direção.

PONTIFICIA UNIERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMAS DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA,

POLITÍCA E SOCIEDADE

Este questionário faz parte da Pesquisa Escola e o aspecto Educacional do Programa

Bolsa Família, apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados – Mestrado – em

Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, para obtenção do titulo de MESTRE em EDUCAÇÃO, sob a orientação da

Professora Doutora Leda Maria de Oliveira Rodrigues. Pretende-se investigar se houve

mudança na concepção de uma das funções sociais da escola, ou seja, o de oferecimento

de conhecimento formal e científico para assistência social, a partir da exigência

educacional do Programa Bolsa Família. O conteúdo coletado e sua análise ficarão

restritos ao trabalho em questão.

NOME: ______________________________________________SEXO: (__) F (__) M

CARGO:_____________________________________________

1. O que você sabe sobre o Programa Bolsa Família, Programa Leve Leite e a sua

relação com a escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

102

2. Na sua concepção o Programa Bolsa Família e Programa Leve Leite interferem

no objetivo da escola? De que forma?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Quais são os motivos mais frequentes que levam os pais à escola:

( ) Desenvolvimento pedagógico;

( ) Frequência escolar;

( ) Bolsa Família e/ou Leve Leite.

Por favor, comente sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Como você percebe as expectativas dos pais em relação à escola?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Na sua concepção houve mudanças dessas expectativas depois do Programa Bolsa

Família? Quais?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

103

6. Na sua concepção o acesso e a permanência na escola exigida pelo Programa Bolsa

Família, melhorou o rendimento escolar dos alunos beneficiários?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

104

ANEXO 2:

Tabelas de dados: Entrevistas Agentes Administrativos

QUADRO 17: Apresentação dos agentes

NOME SEXO CARGO

Ametista Feminino Agente administrativo

Âmbar Masculino Agente administrativo

QUADRO 18: Conhecimento acerca do Programa Bolsa Família e sua relação com a

escola

Ametista

Eu sei que é um programa que repassa dinheiro as famílias e que a

escola tem que mandar a frequência dos beneficiários ao órgão

responsável e determinado período de cada bimestre.

Âmbar Que é um programa para famílias carentes e que a frequência escolar

determina o recebimento ou não.

QUADRO 19: Interferências do Programa Bolsa família no objetivo da escola.

Ametista

Para mim há uma interferência sim, uma vez que você não percebe a

preocupação desse pai nunca com o como seu filho está na escola,

mas sim com as condições para continuarem recebendo o bolsa

família.

Âmbar

Houve interferência, isso pode ser percebido com as visitas frequentes

dos pais na secretaria para saber da frequência, o porque do

recebimento do leite e outras solicitações a respeito das coisas que

escola dá.

105

QUADRO 20: Demandas dos pais em relação a escola.

Ametista

Eu acredito que hoje, pelo que escuto os outros secretários responder

os pais só se preocupam e só vem a escola para requerer declarações

de matrícula e frequência para se cadastrar ou se recadastrar nesses

programas.

Âmbar

Nossa, quando não é a declaração para o bolsa família, é a inscrição

só pra garantir que se está procurando vaga, quando não é isso é o

porque meu leite não chegou em casa, fora o uniforme e as demandas

para outros programas como o bolsa jovem e outras.

QUADRO 21: Percepção das expectativas dos pais em relação a escola

Ametista Voltada para o que a escola pode dar além do conhecimento

“programas assistenciais”

Âmbar Os pais estão interessados no leve-leite, uniforme, material escolar,

bolsa família e outros.

QUADRO 22: Mudanças das expectativas dos pais depois do PBF

Ametista

Essa pergunta me leva a duas reflexões: primeiro de que a escola

antes desses programas sociais era melhor, porque os pais estavam

mais preocupados com o ensino e o conhecimento de seus filhos;

segundo, a escola da prefeitura assisti mais esse aluno dá mais coisas

para ele ficar na escola e esvazia a escola de conhecimento, nós, a

gestão e os professores, passamos um bom tempo preenchendo lista e

revendo faltas para esses programas.

Âmbar

Com certeza houve mudanças, antes do Programa Bolsa família tenho

a impressão de que os pais se preocupavam mais com a escola e o

conhecimento que ela estava passando e não se ia receber algo ou

não.

106

QUADRO 23: Acesso e permanência na escola, exigido pelo PBF melhorou o

rendimento.

Ametista

Do que ouvimos falar das provas externas e nos corredores não, mas

uma coisa é certa esse aluno vêm mais para escola e isso pode

contribuir para a melhora de seu rendimento.

Âmbar

Eu acho que não, porque eu percebo que muitos alunos vem para

escola com frequência, mas não é pra estudar e sim para bagunçar,

seja beneficiário ou não.

107

ANEXO 3:

Lista de motivos para justificativa de frequência inferior a 85%

108

109