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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo JAYSON MAGNO DA SILVA Os colegas de classe na escola ubíqua: Integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade em contextos Brasil e Uruguai DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO São Paulo 2017

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  • Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    JAYSON MAGNO DA SILVA

    Os colegas de classe na escola ubíqua:

    Integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade em contextos Brasil e Uruguai

    DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

    São Paulo

    2017

  • Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    JAYSON MAGNO DA SILVA

    Os colegas de classe na escola ubíqua:

    Integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade em contextos Brasil e Uruguai

    Tese apresentada à Pontifícia

    Universidade Católica de São Paulo

    (PUC-SP), como exigência parcial para

    obtenção do título de DOUTOR em

    Educação: Currículo sob orientação da

    Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini

    de Almeida

    São Paulo

    2017

  • Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    JAYSON MAGNO DA SILVA

    Os colegas de classe na escola ubíqua:

    Integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade em contextos Brasil e Uruguai

    ai

    Tese apresentada à Pontifícia

    Universidade Católica de São Paulo

    (PUC-SP), como exigência parcial para

    obtenção do título de DOUTOR em

    Educação: Currículo sob orientação da

    Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini

    de Almeida

    Aprovado em: ____/____/____.

    Banca examinadora

    Professora Doutora Maria Elizabeth Bianconcini (Orientadora)

    Instituição: PUC-SP

    Assinatura: _____________________________________________________________

    Professor (a) Doutor (a) ___________________________________________________

    Instituição: ______________________Assinatura______________________________

    Professor (a) Doutor (a) ___________________________________________________

    Instituição: ______________________Assinatura______________________________

    Professor (a) Doutor (a) ___________________________________________________

    Instituição: ______________________Assinatura______________________________

    Professor (a) Doutor (a) ___________________________________________________

    Instituição: ______________________Assinatura______________________________

  • Aos que buscam, incansáveis, a concretização de uma prática

    de educação que oportunize a assunção das crianças, jovens,

    adolescentes, homens e mulheres, enquanto sujeitos de um

    currículo que se constitui em diferentes tempos e espaços da

    escola e fora dela, nas sociedades e no mundo, abarcando,

    inclusive o mundo digital e a web, portanto o mundo todo.

  • Agradeço, especialmente, ao Ministério da Educação do Brasil e à Coordenação de

    Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela oportuna bolsa de

    estudos que financiou esta pesquisa, a qual foi fundamental para a concretização desse

    trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pela oportunidade do

    diálogo institucional estabelecido nesses últimos quatro anos de estudos pós-graduados,

    em nível de doutoramento.

    À Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP, pela parceria.

    À minha querida orientadora, Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida,

    conselheira, parceira, coerente, que com dedicação e rigorosidade compartilhou comigo

    suas esperanças, sonhos, dúvidas, incertezas, pesquisas e reflexões, na construção

    teórico-metodológica desta tese... meu sincero respeito, carinho e admiração para todos

    os nossos dias!

    Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Currículo da

    PUC-SP, especialmente à Profa. Dra. Branca Jurema Ponce, Profa. Dra. Ana Maria

    Saul, Prof. Dr. Antonio Chizzotti, e ao Prof. Dr. José Armando Valente, pela

    interlocução no diálogo rigoroso nesses anos.

    Aos colegas do Programa que partilharam comigo ideias e sonhos!

    Às pesquisadoras e amigas de hoje e sempre, Profa. Dra. Aglaê Toledo Porto Alves,

    Profa. Dra. Maria Altina Ramos, Profa. Dra. Nara Pasinato, Profa. Dra. Odete

    Sidericoudes, Profa. Dra. Silene Kuin, Profa. Dra. Silvana Donadio Vilela Lemos, pelo

    apoio, parceria e conversas epistemológicas.

    Aos membros da banca de qualificação pelas valiosas contribuições que me

    impulsionaram, abrindo outras janelas e portas para enxergar caminhos e possibilidades:

    Profa. Dra. Ana Laura Rivoir Cabrera, doutora em Sociedad de la Información y el

    Conocimiento pela Universidad Oberta de Catalunya e Docente da Universidad de La

    Republica do Uruguay; Prof. Dr. Fabio Ferrentini Sampaio, doutor em Science and

    Technology pela University of London e Docente da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro; Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão, doutora em Comunicação e

    Semiótica pela PUC-SP e Docente da PUC-SP; Prof. Dr. Jose Armando Valente, doutor

    em Bioengenharia e Educação pelo Massachussets Institute of Technology de

    Boston/EUA e Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação:

    Currículo da PUC-SP.

    Em contexto Uruguai...

    Ao Ministério da Educação, na pessoa do Sr. Luís Garibaldi, Diretor de Educação, por

    todo apoio, respeito e autorização da pesquisa naquele país.

    Aos profissionais e técnicos do Plan Ceibal, pela recepetividade e generosidade com

    esse brasileiro curioso!

    À diretora, secretária, professora, alunos, e todos os demais funcionários da Escuela

    Jose Martí, pelas portas abertas, pelo apoio, carinho e partilha de seu mundo. Foi

  • incrível conviver por esses tempos com todos vocês. Deixaram saudades, chicos y

    chicas!

    Aos pesquisadores da Universidade da República do Uruguai e da Universidade ORT

    do Uruguai, que foram sujeitos da presente pesquisa.

    Em contexto Brasil...

    À Secretaria Municipal da Educação de Piraí, pela autorização da pesquisa e a todos os

    seus assessores, técnicos e equipe, que nos receberam com tanto carinho e generosidade,

    partilhando conosco suas experiências e sonhos.

    À Escola Municipalizada Lúcio Mendonça pelo apoio e recepção em todos os

    momentos.

    Aos pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que foram sujeitos da pesquisa.

    À minha família... meu querido e saudoso avô João (in memorian), meu maior apoiador,

    que deve estar muito orgulhoso, aplaudindo lá do alto esse seu neto; minha avó Nair,

    conselheira, companheira de toda hora; meu pai Roberto; minha mãe Lúcia; minhas

    irmãs Carmen e Roberta; meus sobrinhos Samuel e Davi, pequenos príncipes que

    colorem os meus dias com sorrisos.

    Ao Senhor Jesus, minha força, minha fé, minha inspiração!

  • Os colegas de classe na escola ubíqua: Integração currículo, tecnologias digitais e

    mobilidade em contextos Brasil e Uruguai

    Jayson Magno da Silva

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

    Financiamento: Capes

    RESUMO

    A presente pesquisa de doutoramento, intitulada Os colegas de classe na escola ubíqua:

    integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade em contextos Brasil e Uruguai,

    tem por objetivo estabelecer relações entre a construção/reconstrução e o

    desenvolvimento do currículo com uso dos computadores portáteis, com oportunidade

    de conexão e potencial de mobilidade em dois contextos distintos de escolas públicas,

    uma no Brasil e outra no Uruguai, no que abarca a ação pedagógica. Parte da questão

    inicial: Por onde anda o currículo?, e está fundamentada em pressupostos teóricos sob a

    ótica da integração das tecnologias ao currículo e a emergência de web currículo. A

    pesquisa toma uma escola pública, em contexto Brasil, no qual se desenvolve o

    programa Piraí Digital, política pública realizada no município de Piraí, no Estado do

    Rio de Janeiro, com abrangência municipal, e uma escola pública, em contexto Uruguai,

    no qual se desenvolve o Plan Ceibal, realizado na República Oriental do Uruguai com

    abrangência nacional, como objetos de estudos. Ambas políticas públicas preveem o uso

    de computadores portáteis no modelo 1-1 (um para um), com possibilidade de conexão

    e potencial de mobilidade, no contexto da educação. A escolha da linha metodológica

    da pesquisa é do tipo qualitativa com aportes na pesquisa de campo, e lança mão da

    Grounded Theory ou teoria engendrada, como caminho metodológico no processo de

    codificação e análise dos dados, apoiado pelo uso do software NVivo 11 na organização

    dos achados. Os sujeitos pesquisados se dispõem em três grupos – gestores: técnicos

    dos órgãos centrais dos distintos países e os diretores das escolas pesquisadas e

    membros de sua equipe; pesquisadores: atuantes em duas Universidades estabelecidas

    em cada nação; principais: uma professora de educação primária de uma escola pública

    da capital Montevidéu e sua turma de alunos, e uma professora de ensino fundamental

    (anos iniciais) de uma escola pública do município de Piraí e sua turma de alunos. As

    análises dos achados que se deram em cada um dos diferentes contextos se apresentam

    em duas etapas que se articulam: a primeira com a codificação substantiva dos dados,

    movimento do qual emergiram 22 (vinte e dois) diferentes temas ligados e sinalizados

    por indicadores em cada um dos contextos, e a segunda com a codificação teórica,

    apresentando a emergência da teoria fundamentada, que culminou na tessitura do

    constructo teórico que compõe a Grounded Theory. A pesquisa conclui que o uso dos

    computadores portáteis na educação, com oportunidade de conexão e potencial de

    mobilidade, favorece a expressão da voz dos principais sujeitos – professor e alunos –

    na (re) construção e desenvolvimento do currículo, para além da sala de aula,

    ultrapassando as barreiras impostas pelos seus muros, colocando a escola em qualquer

    lugar, em qualquer tempo, dando-lhe os contornos da escola ubíqua e sinalizando a

    emergência de web currículo.

    Palavras-chave: Currículo e Tecnologias; Políticas Públicas; Web Currículo;

    Tecnologia Educacional; Dispositivos Móveis; TIC; Ceibal; Piraí Digital.

  • Los compañeros de clase en la escuela omnipresente: integración currículo, tecnologías

    digitales y movilidad en contextos Brasil y Uruguay.

    Jayson Magno da Silva

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

    Financiamento: Capes

    RESUMEN

    La presente investigación doctoral, titulada Los compañeros de clase en la escuela

    omnipresente: integración currículo, tecnologías digitales y movilidad en contextos

    Brasil y Uruguay, tiene por objetivo establecer relaciones entre la construcción/

    reconstrucción y el desarrollo del currículo con uso de los ordenadores portátiles, con

    oportunidad de conexión y potencial de movilidad en dos contextos distintos de

    escuelas públicas, una en Brasil y otra en Uruguay, en lo que abarca la acción

    pedagógica. Parte de la cuestión inicial: ¿Por dónde anda el currículo?, y está

    fundamentada en presupuestos teóricos bajo la óptica de la integración de las

    tecnologías al currículo y la emergencia de web currículo. La investigación toma una

    escuela pública, en contexto Brasil, en el que se desarrolla el programa Piraí Digital,

    política pública realizada en el municipio de Piraí, en el Estado de Río de Janeiro, con

    cobertura municipal, y una escuela pública, en contexto Uruguay, en el cual se

    desarrolla el Plan Ceibal, realizado en la República Oriental del Uruguay con alcance

    nacional, como objetos de estudios. Ambas políticas públicas prevén el uso de

    ordenadores portátiles en el modelo 1-1 (uno para uno), con posibilidad de conexión y

    potencial de movilidad, en el contexto de la educación. La elección de la línea

    metodológica de la investigación es del tipo cualitativo con aportes de la investigación

    de campo, y lanza mano de la Grounded Theory, o teoría engendrada, como camino

    metodológico en el proceso de codificación y análisis de los datos, apoyado por el uso

    del software NVivo 11 en la organización de los descubrimientos. Los sujetos

    encuestados se disponen en tres grupos - gestores: técnicos de los órganos centrales de

    los distintos países y los directores de las escuelas investigadas y miembros de su

    equipo; Investigadores: actuantes en dos Universidades establecidas en cada nación;

    principales: una profesora de educación primaria de una escuela pública de la capital de

    Montevideo y su grupo de alumnos, y una profesora de enseñanza fundamental (años

    iniciales) de una escuela pública del municipio de Piraí y su grupo de alumnos. Los

    análisis de los descubrimientos que se dieron en cada uno de los diferentes contextos se

    presentan en dos etapas que se articulan: la primera con la codificación sustantiva de los

    datos, movimiento del cual surgieron 22 (veintidós) diferentes temas ligados y

    señalizados por indicadores en cada uno de los contextos, y la segunda con la

    codificación teórica, presentando la emergencia de la teoría fundamentada, que culminó

    en la tesitura del constructo teórico que compone la Grounded Theory. La investigación

    concluye que el uso de los ordenadores portátiles en la educación, con oportunidad de

    conexión y potencial de movilidad, favorece la expresión de la voz de los principales

    sujetos - profesor y alumnos - en la (re) construcción y desarrollo del currículo, más allá

    de la clase, superando las barreras impuestas por sus muros, colocando la escuela en

    cualquier lugar, en cualquier tiempo, dándole los contornos de la escuela omnipresente

    y señalando la emergencia de web currículo.

    Palabras clave: Currículo y tecnologías; políticas públicas; web currículo; tecnología

    educativa; dispositivos móviles; TIC; Ceibal; Piraí Digital.

  • The classmates at the ubiquitous school: curriculum integration, digital technologies and

    mobility in Brazil and Uruguay contexts.

    Jayson Magno da Silva

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

    Financiamento: Capes

    ABSTRACT

    This PhD research, called The classmates at the ubiquitous school: curriculum

    integration, digital technologies and mobility in Brazilian and Uruguayan contexts,

    aims to establish relationships between the curriculum construction/reconstruction and

    development with the use of portable computers with connection opportunity and

    mobility potential in two different contexts of public schools, one in Brazil and another

    in Uruguay, in what concerns the pedagogical action. It starts with the question: Where

    is the curriculum? and is based on theoretical concepts from the perspective of

    integrating technologies into the curriculum and the emergence of the web curriculum.

    The research selected a public school where the program “Piraí Digital” (public policy

    of the Piraí city, in the state of Rio de Janeiro, Brazil, with Municipal Scope) is applied

    and another public school, located in the Eastern Republic of Uruguay, where the

    program “Plan Ceibal”, with national scope, is applied, as studies objects. Both public

    policies foresee the use of portable computers in the model 1-1 (one to one), with

    connection opportunity and mobility potential, in the context of education. In terms of

    methodology, this is a qualitative research with field research experiences and the use of

    the Grounded Theory as a methodological way to the data codification and analysis,

    supported by the software NVivo 11, used to organize the results. There are three groups

    of searched subjects- the officials: technicians of the central organs of both countries

    and the school principals and members of their team; the researchers: those who works

    in two universities of each nation and the main subjects: a primary school teacher from

    a public school in the capital, Montevideo, and her class of students, and an elementary

    school teacher (early years) from a public school in the municipality of Piraí and her

    class of students. The analysis of the results in each two different contexts area are

    shown in two articulated phases: the first one with substantive codification of the data,

    where it was found 22 different themes linked and flagged by indicators in each of the

    contexts and the second one, presenting the emergency of the theoretical basis of the

    grounded theory. The conclusion is that the use of portable computers in education, with

    opportunity of connection and mobility potential, allows the expression of the main

    subjects – teachers and students – to the (re)construction and development of the

    curriculum, going apart from the classroom and outweighing the barriers of their walls,

    putting the school in any place or time and giving it the context of the ubiquitous

    school, indicating the emergence of the web curriculum.

    Keywords: curriculum and technologies; public politics; web curriculum; educational

    technology; mobile devices; TIC; Ceibal; Piraí Digital.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 Modelos de computadores portáteis XO e ClassMate

    30

    Figura 02 Visita à Escuela nº. 172, Jose Martí, na capital Montevideu, em

    pesquisa exploratória

    113

    Figura 03 Visita às Escolas Municipalizadas Lúcio Mendonça e Manuel

    Alexandre de Lima, na cidade de Piraí, em pesquisa exploratória

    114

  • LISTA DE INFOGRÁFICOS

    Infográfico 01 Organização do sistema educativo uruguaio

    133

    Infográfico 02 Codificação substantiva dos dados, em contexto Brasil

    151

    Infográfico 03 Codificação substantiva dos dados, em contexto Uruguai

    156

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 01 Cenário da pesquisa

    94

    Quadro 02 Síntese dos procedimentos, sujeitos, objetivos e período de

    coleta de dados

    97

    Quadro 03 Sujeitos pesquisados, organizados em grupos

    99

    Quadro 04 Quadro síntese sobre as diferentes concepções dos autores da

    Metodologia

    103

    Quadro 05 Tipo de codificação, Teoria fundamentada nos dados

    106

    Quadro 06 Ações do Programa Piraí Digital

    121

    Quadro 07 Evolução comparada da taxa de analfabetismo no Uruguai

    134

    Quadro 08 Contexto Brasil, Segundo movimento de codificação substantiva

    dos dados

    147

    Quadro 09 Contexto Uruguai, Segundo movimento de codificação

    substantiva dos dados

    152

    Quadro 10 Categoria central e temas emergentes, em contextos Brasil e

    Uruguai

    263

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    A# Aluno / Aluna

    ANEP Administração Nacional de Educação Pública

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

    CEDERJ Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

    Ceibal Conectividad Educativa de Informatica Basica para el Aprendizagem em

    Línea

    CF Constituição Federal

    CGI Comitê Gestor de Internet

    CNE Conselho Nacional de Educação

    CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

    CP Coordenadora Pedagógica

    EaD Educação à Distância

    EDUCOM Educação com Computador

    EJA Educação de Jovens e Adultos

    EUA Estados Unidos da América

    FAETEC Fundação de Apoio à Escola Técnica

    FGV Fundação Getúlio Vargas

    GT Grounded Theory

    GTUCA Grupo de Trabalho e Assessoramento Pedagógico do UCA

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IES Instituição de Ensino Superior

    LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

    LRG Learning Research Group

    MEC Ministério da Educação

  • MOOC Massive Open Online Course

    OLPC One Laptop per Children

    P# Pesquisador da Universidade

    PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

    PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

    PIB Produto Interno Bruto

    PNE Plano Nacional de Educação

    PP Professora Pesquisada

    PPP Projeto Político Pedagógico

    Proinfo Programa Nacional de Informática na Educação

    Proformação Programa de Formação de Professores em Exercício

    PROUCA Programa Um Computador por Aluno

    PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    NTE Núcleo de Tecnologia Educacional

    SEED Secretaria de Educação a Distância

    SME Secretaria Municipal da Educação

    TD Tempo Disponível

    TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

    TIC Tecnologias de Informação e Comunicação

    TMSF Tecnologias Móveis Sem Fio

    UCA Um Computador por Aluno

    UE União Européia

    UFF Universidade Federal Fluminense

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

  • SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO 19

    INTRODUÇÃO 25

    Primeiras palavras 26

    Os caminhos da democratização e a conexão com os colegas de

    classe

    29

    Da motivação e aproximação com o objeto da pesquisa 34

    Contexto Brasil: a política pública Piraí Digital 38

    Contexto Uruguai: a política pública Plan Ceibal 39

    O problema 40

    A hipótese 41

    O objetivo geral 41

    Os objetivos específicos 41

    1 REFERENCIAL HISTÓRICO TEÓRICO 42

    1.1 Tecnologia e Currículo: fundamentos e integração 43

    1.1.1 O conceito de tecnologia 43

    1.1.2 O currículo: abordagens, conceitos e polissemia 47

    1.1.3 Educação na cultura digital 51

    1.1.4 O conceito de integração currículo e tecnologias 52

    1.1.5 Mas, por quê e para quê fazer a integração? 56

    1.2 Tecnologias na Educação: histórico, pesquisas e políticas 60

    1.2.1 Um breve panorama geral das ações com o uso de

    computadores portáteis e outras tecnologias na educação ao

    redor do mundo

    60

    1.2.2 O estado da arte do conhecimento sobre o uso de

    computadores portáteis em contextos Brasil e Uruguai

    69

    1.3 Integração das tecnologias ao currículo e a emergência de web

    currículo: conceitos, possibilidades, perspectivas e desafios para a

    educação no século XXI

    77

    1.3.1 Currículo em rede 77

    1.3.2 O conceito de web currículo ou web currículos 78

    1.4 Educação, mobilidade e ubiquidade 81

    1.4.1 O conceito de mobilidade e o contexto: M-learning, M-

    curriculum

    81

    1.4.2 O conceito de ubiquidade e o design da escola ubíqua 88

    2 METODOLOGIA DA PESQUISA 92

    2.1 Fundamentação e design da pesquisa 93

    2.2 Cenário da pesquisa e procedimentos para a coleta de dados 94

    2.3 Os sujeitos pesquisados 98

    2.4 Detalhamento dos procedimentos 99

    2.5 O registro dos dados 101

    2.6 Sobre a organização e análise dos dados 102

    2.7 A grounded theory 102

    2.8 Os procedimentos de codificação 105

    2.9 A delimitação da teoria 108

  • 2.10 O uso do software NVivo como apoio à organização e análise

    dos dados

    108

    3 A PESQUISA EXPLORATÓRIA E DE CAMPO 111

    3.1 Da aproximação com os contextos 112

    3.2 Sobre o contexto Brasil 115

    3.2.1 Um computador por aluno 117

    3.2.2 O município de Piraí 119

    3.2.3 A Pasta da Educação 120

    3.2.4 Os caminhos da política pública Piraí Digital 121

    3.2.5 O currículo oficial do município 122

    3.2.6 A escola pesquisada 124

    3.2.7 A gestão da escola 125

    3.2.8 A professora pesquisada 125

    3.2.9 A turma de alunos 126

    3.2.10 O trabalho de campo 126

    3.2.10.1 As entrevistas com os técnicos da SME-Piraí 127

    3.2.10.2 A entrevista com o diretor da escola pesquisada 127

    3.2.10.3 A entrevista com a orientadora pedagógica 128

    3.2.10.4 A entrevista com o profissional do apoio operacional 128

    3.2.10.5 A entrevista com a professora 129

    3.2.10.6 O grupo focal com os alunos 129

    3.2.10.7 As entrevistas com os pesquisadores das Universidades 130

    3.3 Sobre o contexto Uruguai 131

    3.3.1 A estrutura governamental da Educação 132

    3.3.2 Os caminhos do Plan Ceibal 135

    3.3.3 O currículo oficial do país 137

    3.3.4 A escola pesquisada 138

    3.3.5 A gestão da escola 139

    3.3.6 A professora pesquisada 139

    3.3.7 A turma de alunos 140

    3.3.8 O trabalho de campo 140

    3.3.8.1 As entrevistas com os técnicos do Plan Ceibal 141

    3.3.8.2 A entrevista com a diretora da escola pesquisada 141

    3.3.8.3 A entrevista com a maestra 142

    3.3.8.4 O grupo focal com os alunos 143

    3.3.8.5 As entrevistas com os pesquisadores das Universidades 143

    3.4 Sobre a análise dos achados da pesquisa 144

    3.4.1 A codificação substantiva dos dados 145

    3.4.2 A codificação teórica dos dados 157

    3.4.2.1 A emergência da teoria em contexto Brasil 157

    3.4.2.2 A emergência da teoria em contexto Uruguai 206

    3.4.2.3 O constructo teórico 262

    (In) CONCLUSÃO 267

    REFERÊNCIAS 291

  • ANEXOS (DISPONÍVEIS EM CD-ROM) 312

    I: Autorização para o desenvolvimento da pesquisa, no

    Município de Piraí, Estado do Rio de Janeiro, em contexto Brasil

    313

    II: Autorização para desenvolvimento da pesquisa na Cidade

    de Montevidéu, República Oriental do Uruguai, em contexto

    Uruguai

    314

    III: Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE),

    apresentado e assinado pelos sujeitos pesquisados, em contextos

    Brasil e Uruguai.

    315

    APÊNDICES (DISPONÍVEIS EM CD-ROM) 316

    I: Instrumentos para colega de dados em contextos Brasil e

    Uruguai

    317

    II: Primeiro movimento de codificação substantiva dos dados

    coletados em contextos Brasil e Uruguai

    330

    III: Gráficos que dispõe a incidência dos nós em algumas das

    entrevistas com os diferentes grupos de sujeitos em contextos

    Brasil

    336

    IV: Gráficos que dispõe a incidência dos nós em cada uma das

    entrevistas e grupo focal realizado com os diferentes grupos de

    sujeitos em contexto Uruguai

    343

    V: Transcrição dos dados coletados em contexto Brasil 350

    VI: Transcrição dos dados coletados em contexto Uruguai 485

  • 19

    APRESENTAÇÃO

    Amor, rigorosidade metódica, diretividade, participação, articulação, voz e

    conexão. Palavras que têm sido traduzidas em uma busca incessante na prática concreta

    em minha caminhada profissional, acadêmica, na docência, na gestão, na pesquisa, na

    formação de educadores, na vida pessoal, no convívio familiar, social, na participação da

    vida política, entre outros espaços em que atuo e transito.

    Substantivos que adjetivam de forma cíclica a roda da vida, que é humana. E

    por ser humana, está ensopada, como diz Paulo Freire, de sua vocação ontológica, que

    somente se efetiva por meio da educação substantivamente democrática, aquela vocação

    e educação à qual Freire se referia nos escritos da sua ‘Pedagogia da Autonomia: saberes

    necessários à prática educativa’ (FREIRE, 2008d), obra que reflete sobre uma pedagogia

    fundada na ética universal do ser humano, no respeito à dignidade, e à própria autonomia

    do professor, do aluno, e dos demais sujeitos da escola, os quais denomino sujeitos do

    currículo1. Dizia Freire (2008):

    [...] Do ponto de vista democrático em que me situo, mas também do ponto de

    vista da radicalidade metafísica em que me coloco e de que decorre minha

    compreensão do homem e da mulher como seres históricos e inacabados e

    sobre que se funda a minha inteligência do processo de conhecer, ensinar é

    algo mais que um verbo transitivo-relativo. Ensinar inexiste sem aprender e

    vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e

    homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente

    aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era

    possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar.

    Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na

    experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste

    validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não

    se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não

    apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz. (p.23-4).

    A profundidade filosófica, epistemológica e política, não de uma política

    partidária, mas que reflete a dimensão do ato de educar, desses escritos de Paulo Freire

    sobre os processos de ensinar e aprender tem sido a busca incansável por meio de uma

    prática concreta no ciclo da minha vida, no exercício dos diferentes papéis, vestindo os

    diferentes chapéus, seja o de sujeito social e cultural, cidadão, formador de educadores, o

    1 A pesquisa utiliza a expressão sujeitos do currículo (SILVA, 2011), para denominar ou se referir a todos

    que fazem e refazem a educação, sejam professores, gestores, alunos, profissionais do quadro de apoio da

    escola, e comunidade ao derredor. Nessa compreensão, são os principais sujeitos do currículo professor e

    alunos, os quais tomam cotidianamente o palco da educação na concretude do chão da escola ou em outros

    espaços para além de seus muros, inclusive na web devido a oportunidade de acesso à internet, portanto, o

    mundo todo.

  • 20

    de professor do ensino superior, o de gestor da educação seja ela básica ou superior, o de

    pesquisador, entre outros tantos que venho assumindo ao longo desses anos de existência,

    e em pouco mais de doze anos de atividade profissional e quinze anos de estudos na área

    da Educação.

    Mas, essa busca inaugurou-se mesmo antes do meu ingresso no ensino

    superior, em meados de 2000, quando no bojo de minha reflexão e análise sobre o

    caminho profissional a escolher, fui tomando consciência do meu amor e compromisso

    que viria a ser assumido pela educação, e que culminou em 2001 na minha matrícula no

    curso de licenciatura plena em matemática.

    Durante a formação inicial, muitas questões sobre o currículo e o uso das

    tecnologias na educação foram emergindo, sobretudo devido a uma disciplina que cursei

    na graduação, a qual abordava essa temática, e que me levou à escolha do curso de pós-

    graduação lato sensu Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação na própria Pontifícia

    Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2006. Foi uma oportunidade para

    aprofundar estudos sobre a temática, desencadeando a monografia intitulada ‘O Orkut no

    contexto da sala de aula: algumas possibilidades pautadas em uma experiência com

    alunos do 1º ano do ensino médio’ (SILVA, 2007), a qual foi apresentada no ano seguinte.

    Naquela ocasião, o estudo sobre o uso da comunidade de relacionamento

    Orkut, muito popular no Brasil à época, num contexto de escolarização, permitiu concluir

    que tal ferramenta apresentava potencialidades para o desenvolvimento do currículo e

    oportunidades para a aprendizagem.

    Etapa muito importante da minha trajetória acadêmica, articulada à prática da

    docência na educação básica naquele período, possibilitou certo avanço no meu

    desenvolvimento enquanto pesquisador e professor, e permitiu aprofundar a compreensão

    sobre o papel docente na formação dos sujeitos.

    Ao passo que fui construindo essa compreensão, minhas aulas foram se

    tornando um exercício diário de convite a novos desafios, entre eles, o de romper com as

    práticas tradicionais e superá-las buscando recursos, ferramentas e metodologias novas,

    atuais, par e passo com o tempo histórico e as demandas da educação, em diálogo com a

    sociedade e as expectativas dos alunos, crianças e jovens, em processo de escolarização.

    Imediatamente após a conclusão daquele estudo, fui sendo conduzido para

    outros caminhos que se ampliaram e me desafiaram, no desenvolvimento e coordenação

    de ações formadoras, inclusive por meio da Educação a Distância (EaD), dedicadas aos

  • 21

    educadores de redes públicas de ensino, sejam gestores, professores, profissionais do

    quadro de apoio, ou de outro modo, os sujeitos do currículo.

    Além disso, por vezes, fui desafiado a conduzir cursos, seminários e

    congressos, ministrar palestras, e experienciar uma oportunidade de conhecer com maior

    aproximação os desafios da formação em serviço e continuada, e sua importância para a

    qualidade da ação pedagógica no desenvolvimento do currículo no lócus das escolas e

    das salas de aula da educação pública.

    Todos esses caminhos me conduziram a outra oportunidade, fundamental na

    minha formação acadêmica, que me trouxe ao programa de estudos pós-graduados em

    educação, na área de concentração currículo e linha de pesquisa Tecnologias em

    Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), contexto em que

    cheguei no início do ano 2009, com a matrícula no nível de mestrado.

    Além da demanda por melhor qualificação, aprofundamento de estudos,

    alargamento das reflexões e olhares sobre a educação, o currículo e as tecnologias nos

    contextos de escolarização, se apresentava aí uma oportunidade de melhorar o trabalho

    conduzido na formação continuada de educadores e na minha própria prática docente.

    Naquela ocasião, pude aprofundar estudos e reflexões sobre o contexto das

    tecnologias na educação por meio da pesquisa (SILVA, 2011) intitulada ‘O som da

    integração das tecnologias digitais de informação e comunicação ao currículo: a rádio na

    internet – voz, poder & educação’, a qual retratou a experiência de uma professora de

    educação infantil e sua turma de alunos da rede pública paulistana que ousadamente se

    arriscaram lançando sua voz no mundo, com o mundo e sobre o mundo, dizendo a sua

    palavra, por meio da Rádio Jacaré FM, um projeto desenvolvido por eles que teve como

    fio condutor a curiosidade midiatizada por tecnologias digitais.

    A pesquisa permitiu concluir que a participação por meio da expressão da voz

    dos sujeitos professor e aluno, mediatizada por tecnologias digitais, confere poder ao

    passo que permite a eles assumirem sua condição histórica, política e social como autores

    do currículo enquanto teoria e prática cultural, permitindo criar e recriar o mundo,

    favorecendo a aprendizagem.

    Diante disso, outras dúvidas e inquietações emergiram, e assim como aquela

    professora e aqueles alunos, ousadamente me arrisquei a desvelar novos contextos de uso

    das tecnologias digitais na educação, mas para além do meu universo cômodo de Brasil,

    quis me lançar curiosamente a conhecer experiências internacionais. Assim, inicialmente

    comecei a estudar sobre os diferentes contextos na América Latina, Estados Unidos e

  • 22

    Europa, com leituras sobre as políticas públicas, ações e propostas, o que culminou em

    duas viagens internacionais: a primeira ao Uruguai, em setembro de 2012, e a segunda à

    Europa, com visitas a Espanha, Holanda e Bélgica em dezembro do mesmo ano. Mesmo

    sem qualquer intenção formal de pesquisa ou vínculo institucional, queria ter a

    oportunidade de me aproximar de outras culturas e contextos.

    Cabe destacar que em novembro daquele ano havia passado pelo processo

    seletivo do Programa Educação: Currículo, apresentando projeto de pesquisa de

    doutoramento, no qual já sinalizava meu interesse em investigar com maior profundidade

    algum contexto na América Latina, dada a proximidade geográfica e condições

    econômicas. Mas, ao retornar da viagem à Europa, em janeiro de 2013, já vinculado

    institucionalmente à PUC-SP, começava minhas buscas e estudos mais sistematizados.

    Assumir esse novo desafio, o de desenvolver uma tese de doutoramento nesta

    linha de pesquisa, para mim, além de uma nova etapa nessa caminhada na roda cíclica da

    vida, constitui-se momento de realização e concretização de alguns dos meus muitos

    sonhos, entre eles, deixar uma contribuição, um legado, para a Educação.

    Resgatar aqui, na tessitura desta tese, algumas ideias e reflexões que venho

    construindo e reconstruindo ao longo desses últimos seis anos, após a defesa da pesquisa

    de mestrado, é uma oportunidade ímpar para avançar e aprofundar análises e investigação

    na área da educação ligada à produção de conhecimento sobre o uso de tecnologias

    digitais, sobretudo, os dispositivos móveis com possibilidade de conexão à internet, como

    é o caso dos computadores portáteis utilizados em contextos, como o Brasil e o Uruguai.

    Nesses anos de doutoramento, algumas perguntas me perseguem, dúvidas me

    inquietam, incertezas me colocam em movimento, respostas provisórias, ainda que muito

    importantes, não me satisfazem, e o currículo continua sendo a cada dia mais o meu

    desafio. E é sobre ele que esta tese se constrói, se fundamenta, se dedica e se desenvolve.

    Eis aqui uma pesquisa que fala sobre tecnologias digitais, sobre mobilidade,

    mas, sobretudo a respeito do currículo! Na parte introdutória da presente tese, é

    apresentada a gênese das iniciativas com os computadores portáteis na educação, a

    motivação e aproximação com o objeto de estudos, delineado o contexto da pesquisa, são

    traçadas as questões que inquietam e mobilizam a investigação, delimitado o problema, a

    definição da pergunta, a hipótese e os objetivos. Em seguida a tese se organiza nos demais

    capítulos, a saber:

  • 23

    ✓ No capítulo referencial teórico são trazidos os fundamentos

    epistemológicos que abarcam as concepções da pesquisa sobre os principais temas que

    estão articulados na tese. São abordados os conceitos de tecnologia, de currículo e de

    educação na cultura digital, pautando e questionando a integração das tecnologias ao

    currículo; traça-se uma retomada histórica das ações com uso de computadores portáteis

    e outras tecnologias na educação, além de apresentar um breve retrato do estado da arte

    das pesquisas sobre o uso dos computadores portáteis em contextos Brasil e Uruguai;

    toma-se enquanto pauta os conceitos, fundamentos teóricos, pedagógicos, metodológicos

    e epistemológicos de currículo em rede, web currículo2, mobilidade, contextos,

    ubiquidade e a integração com a educação, apresentando os contornos e o design da escola

    ubíqua;

    ✓ No capítulo metodológico explicita-se as escolhas e design da pesquisa.

    Nessa etapa, são aprofundados os fundamentos teóricos e epistemológicos que abarcam

    o caminho metodológico traçado na pesquisa, explicitando o cenário pesquisado, os

    procedimentos de coleta de dados, os sujeitos selecionados, os procedimentos adotados

    durante todas as etapas, as formas de gerenciamento, organização e análise dos achados,

    as quais lançam mão da Grounded Theory enquanto escolha metodológica. Além disso,

    explicita-se o papel do software NVivo 11 enquanto apoio ao desenvolvimento da

    pesquisa;

    ✓ No capítulo dedicado a pesquisa exploratória e de campo, pauta-se o

    detalhamento da investigação em contextos Brasil e Uruguai, caracterizando o lócus da

    pesquisa, abordando aspectos, traços e nuances, explicitando com maior detalhamento o

    trabalho exploratório e de campo, com destaque ao processo de codificação, à análise dos

    achados, a emergência da teoria fundamentada e do constructo teórico que compõe a

    trama conceitual que dela resulta.

    ✓ Por fim, são apresentadas as considerações e conclusões da pesquisa,

    retomando, sintetizando todo o caminho traçado em contextos Brasil e Uruguai, e

    apontando ideias e caminhos para se olhar o futuro, um futuro que já começou.

    Convido todos os leitores, pesquisadores, educadores e curiosos, a

    desvelarem comigo esse universo de possibilidades para a educação, no qual as

    2 A pesquisa passa a assumir a expressão web currículo(s) em itálico, ressaltando a marca de um constructo

    teórico-metodológico, cunhado pela pesquisadora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, desde 2008,

    um conceito em construção, que passa a ser pautado e refletido na presente tese de forma articulada a outras

    ideias e reflexões.

  • 24

    tecnologias digitais figuram enquanto elementos que podem estruturar o currículo, com

    oportunidade de mobilidade, trazendo contribuições para se pensar e repensar a ação

    pedagógica, as políticas públicas, e outras oportunidades para a aprendizagem.

  • 25

    INTRODUÇÃO À PESQUISA

    A introdução contextualiza a pesquisa que se inscreve no cenário da educação

    sob a ótica do uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e a

    integração com o currículo, especialmente em relação a inserção dos computadores

    portáteis na educação, apresentando as motivações e aproximações com o objeto de

    estudos.

    A pesquisa se desenvolve em dois contextos, pautando as políticas públicas

    denominadas Programa Piraí Digital que se realiza na cidade de Piraí, Estado do Rio de

    Janeiro, no Brasil, e o Plan Ceibal que acontece no Uruguai.

    Além disso, são apresentados o problema da pesquisa, a hipótese, e os

    objetivos estabelecidos.

  • 26

    Primeiras palavras

    Passados alguns anos do início da segunda década deste século XXI, e com a

    consolidação da educação como direito de todos, autores como Almeida (2009),

    defendem repensar as tecnologias digitais, enquanto um direito humano no sentido de sua

    verdadeira democratização, assim como é direito saber ler, escrever, fazer as quatro

    operações fundamentais e contar.

    Essa verdadeira democratização, que se vislumbra no horizonte desta

    pesquisa, é muito mais do que oferecer o acesso com vistas à igualdade, mas na ótica da

    justiça social colocar todos no mesmo patamar, oferecendo o mesmo acesso, às mesmas

    tecnologias e às mesmas oportunidades, o que se constituem princípios de equidade.

    Paulo Freire (2002) traz em sua abordagem teórica sobre as tecnologias na

    educação, uma compreensão acerca dos aspectos democráticos do trabalho dos

    professores enquanto autores e atores sociais, políticos e culturais. Para ele:

    [...] a mudança social, para ter força instrumental, precisa que o processo

    educacional tenha relação de organicidade com a contextura social. Mais

    ainda: que esta relação implique um conhecimento crítico da realidade, para

    que a ela se integre e não apenas se superponha. Já que a sociedade está em

    trânsito, de uma economia de caráter complementar para uma economia de

    mercado, e que passa de formas rigidamente antidemocráticas para formas

    plasticamente democráticas, a revisão do processo educacional não pode ser

    parcial, porque é todo ele que está inadequado e é todo ele que a cultura em

    elaboração precisa. (p.114).

    Nesse sentido, a tecnologia, embora necessária e humana em sua essência,

    não deve ser produtora de novos vitimizados. Por isso, entende-se que as indagações que

    se colocam ao pensá-las e usá-las no contexto escolar são: A serviço de quem estão essas

    tecnologias? Para quê? Para quem? A favor de quê e de quem?

    Na ótica freireana as tecnologias presentes nos processos escolares deveriam

    estar a serviço da transformação das gentes e do mundo (FREIRE, 2008d), o que implica

    estar voltada à emancipação dos sujeitos e a favor da aprendizagem (FREIRE; MACEDO,

    2006), de forma a permitir a superação da curiosidade ingênua para a promoção da

    curiosidade epistemológica (FREIRE, 2008d), valorizando o saber de experiência feito

    ou saber de senso comum, mas não ficando apenas nele, e sim partindo dele para torná-

    lo cada vez mais rigoroso, num processo que se faz com criatividade, inventividade,

    colaboração, investigação, participação, autonomia, produção de conhecimento e autoria.

  • 27

    Par e passo às indagações colocadas anteriormente, cabe (re)pensar

    possibilidades, caminhos, oportunidades para o currículo, diante desse contexto de

    tecnologias presentes no mundo atual, lançando ideias e práticas que permitam mudanças

    na escola.

    Ao pensar a escola deste século, pode-se afirmar que ela está situada num

    tempo e espaço sócio-histórico, cultural, político e econômico no qual a mobilidade

    tecnológica aliada à conexão com a rede mundial está cada vez mais presente em seu

    cotidiano, de forma ubíqua e pervasiva.

    As tecnologias e dispositivos móveis tais como notebook, netbook, tocadores

    de áudio mp3, mp4, tablet, celulares inteligentes (smartphones), dentre outros permitem

    a conexão móvel à internet e integram mídias convergentes que possibilitam novas formas

    de comunicar, registrar e representar o pensamento, reconfigurando o modus vivendi, a

    cultura, e a presença no mundo e com o mundo.

    Para além da comunicação, o uso intensivo das Tecnologias Digitais de

    Informação e Comunicação (TDIC)3 com seus distintos dispositivos nas diversas áreas

    do conhecimento provoca mudanças no cotidiano – fora e dentro da escola –, seja por

    meio dos novos signos que fluem nas redes conectadas, na construção de novas

    sociabilidades, na edificação das relações de poder, configurando-se “como uma espécie

    de modus vivendi, como um processo social que determina as reconfigurações identitárias

    dos indivíduos” (ZUIN, 2010, p. 967), e também dos sujeitos do currículo.

    A escola está em meio as discussões e debate sobre o uso das tecnologias,

    suas contradições, seus usos, seus impactos na aprendizagem, no ensino, nas relações

    pedagógicas e no currículo. É importante ressaltar que três principais equívocos sobre o

    uso das tecnologias na escola devem ser superados e trazidos à baila: o primeiro equívoco

    é associar a introdução de dispositivos tecnológicos para motivar o aluno ou para tornar

    as aulas mais atrativas. O segundo equívoco é acreditar que apenas dispor de dispositivos

    tecnológicos móveis e conectados nas mãos de alunos e professores poderá provocar a

    inclusão digital dos sujeitos e da escola. O terceiro equívoco a ser pautado reside na

    crença de que todo e qualquer uso ou o simples uso, por si só, de TDIC pode provocar

    inovações curriculares e, como consequência, provocar mudanças na educação.

    3 Expressão comumente utilizada no Brasil, e que será assumida na presente pesquisa, sempre que houver

    referência a esta nação, ou não se tratar especificamente de outros contextos estrangeiros.

  • 28

    Esses olhares ingênuos são decorrentes do senso comum e limitam o uso das

    TDIC com seus distintos dispositivos aos aparatos e não às características que imprimem

    na cultura.

    Pesquisa recente do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI, 2014b), o qual

    tem por objetivo mapear o acesso à infraestrutura TIC nos domicílios e escolas urbanas e

    rurais do país e as formas de uso dessas tecnologias por indivíduos de 10 anos de idade

    ou mais, revelou que 92% dos domicílios possuem celulares, 28% computador de mesa,

    30% computador portátil e 17% tablets.

    Em primeira análise, ainda que panorâmica, é possível enxergar que o

    percentual de domicílios com celulares é bem significativo, abrangendo quase a totalidade

    da amostra, e o percentual de residências que têm computador portátil é um pouco maior

    que o total de domicílios que possuem computador de mesa, e os que dispõem de tablets

    é bem expressivo em relação aos que possuem computadores de mesa, o que revela um

    cenário mais significativo do potencial da mobilidade das máquinas nas mãos dos

    usuários.

    Pesquisas sobre a proporção de crianças e adolescentes por tipo de

    equipamento para acessar a internet (CGI, 2014a) apontaram que 58% utilizam o

    computador de mesa, 38% o computador portátil, 82% os celulares, e 32% os tablets.

    Ainda que numa análise inicial, é possível perceber um expressivo número de

    crianças e jovens conectados à internet por meio dos celulares, um dispositivo móvel

    popularizado no Brasil, e um cenário interessante no tocante aos percentuais de usuários

    conectados por meio do computador portátil e dos tablets.

    Em relação à disponibilidade de equipamentos nas escolas, outra pesquisa

    (CGI, 2014c) revela que 97% das escolas possuem computadores de mesa, sendo 93%

    delas equipadas com acesso à internet, 47% possuem três ou mais computadores portáteis,

    14% contam com três ou mais tablets.

    A mesma pesquisa (CGI, 2014c) também revela que 24% contam com 21 a

    30 computadores de mesa com acesso à internet e somente 18% os utilizam para fins

    pedagógicos, 44% possuem computadores portáteis com acesso à internet e apenas 38%

    os utilizam para fins pedagógicos, e ainda 78% possuem tablets com acesso a internet,

    mas, dentre elas, 81% os utilizam para fins pedagógicos.

    Refletindo sobre esses dados é possível interpretar que apesar do número

    significativo de escolas que possuem computadores de mesa, internet disponível e

    dispositivos móveis como computadores portáteis e tablets, a utilização para fins

  • 29

    pedagógicos, em alguns casos, não tem sido muito significativa, sobretudo no que se

    refere aos computadores de mesa e portáteis. No entanto, salta aos olhos o crescimento

    do uso de tablets com acesso à internet utilizados para fins pedagógicos, movimento que

    pode ter suas razões no menor custo, popularização, potencial de mobilidade devido a

    suas dimensões, interface mais amigável e de fácil utilização, navegação etc.

    Weinberger (2003) conceitua esse momento histórico como a ‘Era das

    conexões’, pontuando que a conexão se configura como um dos princípios constitucionais

    da democracia e da economia nas sociedades do mundo contemporâneo. Portanto, estar

    alheado do acesso à internet, sem conexão às redes, pode ser interpretado como uma

    forma de exclusão digital e social.

    Nas palavras do autor britânico Duncan Green (2009), surfar pela web é um

    desafio à democratização da internet e à participação em redes colaborativas e sociais

    como elemento de humanização.

    Entretanto, a exclusão não se resume a estar ou não conectado à sociedade do

    capital, que tem como produto previsível a própria exclusão. Nesse cenário, estar

    conectado também é uma questão de direito, uma condição para o exercício da cidadania

    plena.

    Nesse contexto histórico, político, social e cultural, a escola e o currículo não

    podem estar alheados. Ante o exposto, outra questão que se coloca é: Como democratizar

    o acesso às tecnologias digitais móveis conectadas por meio da educação?

    Os caminhos da democratização e a conexão com os colegas de classe

    Projetos e políticas públicas objetivando introduzir dispositivos móveis na

    escola, como os computadores portáteis, vêm se descortinando em diversos países além

    do Brasil, entre eles, conforme salientado por Warschauer e Ames (2010), Paraguai, Peru,

    Nação de Nieu, México, Ruanda, Estados Unidos da América (EUA) e Uruguai.

    Nas palavras de Valente (2011), o advento do uso de computadores portáteis

    na educação surge com o projeto da One Laptop per Child (OLPC), promovendo a

    disseminação e a utilização dessas tecnologias móveis nas escolas ao redor do mundo.

    Cabe salientar, a proposta da OLPC, impulsionada por Negroponte4, previa o

    uso de máquinas do tipo XO, desenvolvida por sua equipe no Massachussetts Institute of

    4 Pesquisador da década de 1990, diretor do Laboratório de Mídias do Instituto Tecnológico de

    Massachusetts (MIT), e autor da obra ‘Ser digital’, publicada em 1995.

  • 30

    Technology (MIT), em Boston, nos EUA, porém mais tarde, surgia o modelo ClassMate

    desenvolvido pela Intel, conforme ilustrações dispostas a seguir.

    Figura 01: Modelos de computadores portáteis XO e ClassMate

    Modelo XO da OLPC

    Modelo ClassMate da Intel

    Fonte: Imagens Google

    A figura acima apresenta os modelos XO da OLPC, distribuído e utilizado por

    alunos e professores no Uruguai, e o Modelo ClassMate da Intel, distribuído e utilizado

    por alunos e professores no Município de Piraí, Brasil.

    Em uma tradução literal da língua inglesa para a língua portuguesa classmates

    significa colegas de classe (itálico assumido pelo pesquisador), expressão que esta

    pesquisa passa, por vezes, a utilizar ao se referir aos computadores portáteis, mesmo

    quando se tratar de outros modelos, como é o caso do XO da OLPC.

    Sherry Turkle (1984) interpreta os computadores portáteis como uma

    máquina metafísica em âmbito psicológico e antropológico, um instrumento em processo

    de se incorporar aceleradamente a nossa cultura global, por meio do contato íntimo do

    sujeito com a máquina.

    A referida autora analisa as formas como crianças e adolescentes se

    apropriam e se inserem na cultura informática, elaborando um discurso psicológico e

  • 31

    antropológico, e ressalta que há sujeitos que experimentam amor às máquinas por si

    mesmas, estabelecendo um tipo de relação social, e aqueles que fogem a essas

    experiências.

    Nesse sentido, a expressão colegas de classe, utilizada nesta pesquisa ao se

    referir aos computadores portáteis, pode representar do ponto de vista sociológico as

    relações que as máquinas podem passar a assumir e desempenhar na vida dos sujeitos,

    estudantes que experienciam práticas cotidianas com o dispositivo ao alcance de suas

    mãos. Dispositivos que podem acompanhar eles dentro e fora da escola, dando outros

    significados a essa relação, como um colega, daí colegas de classe.

    Ainda sobre a OLPC, que trouxe o uso dos colegas de classe no contexto da

    educação, Warschauer e Ames (2010) discutem quatro tendências importantes até os dias

    atuais: a acessibilidade de um programa de uso de computadores portáteis para o país em

    que se implementa; as expectativas equivocadas sobre os efeitos da implementação; os

    problemas com o desenho do computador portátil utilizado e a realidade do uso dos

    alunos.

    A produção dos referidos pesquisadores indica que os resultados nas ações

    com uso dos computadores portáteis ao redor do mundo são diferentes devido à

    autonomia e à especificidade de cada país no desenvolvimento de seus projetos,

    programas e políticas.

    Almeida e Valente (2011) apontam que a ideia de cada criança ter seu

    computador nasceu por meio da proposta de Alan Kay em 1968, quando ao visitar

    Seymour Papert no MIT, que iniciava seus estudos e trabalho com a linguagem Logo,

    ficou impressionado com as crianças resolvendo problemas complexos de matemática

    utilizando o computador.

    Isso levou o pesquisador a entender a importância de cada criança ter sua

    própria máquina, e a idealizar um computador portátil como meio para expressar e

    comunicar o que elas estavam pensando. Esse computador foi materializado em 1972

    como o Dynabook (KAY, 2002), desenvolvido pelo Learning Research Group (LRG),

    criado por ele como parte do laboratório Xerox Park.

    Cabe ressaltar que na visão de Kay (1975) a inserção de computadores na

    escola deve vir acompanhada de ideias novas que estão nas cabeças de seus usuários. Por

    isso, prover as escolas e salas de aula com computadores portáteis, por si só, não vai

    alterar a maneira como a educação é desenvolvida, nem tampouco o processo de

    aprendizagem dos alunos.

  • 32

    Em conformidade com Almeida e Valente (2011), no caminho inverso, com

    a inserção dos colegas de classe objetivando o enriquecimento do ambiente de

    aprendizagem, o aluno poderá ter a oportunidade para lidar com as incertezas, os

    questionamentos, os modelos incompletos e imprecisos que podem ser refletidos e

    estudados com a inserção das tecnologias estruturantes da forma de fazer ciência.

    O uso de um computador por aluno, além da oportunidade de conexão e

    mobilidade, se caracteriza pela possibilidade imersiva. Estudantes e professores podem

    utilizar intensamente as máquinas não apenas em laboratórios de informática por uma ou

    duas vezes por semana, mas sim a qualquer tempo e espaço, na escola e fora dela,

    desenvolvendo projetos individuais ou em grupos, em estudos extraclasse, na praça ou

    em casa, reconfigurando a própria educação, e permitindo explorar o potencial da

    mobilidade do currículo em desenvolvimento, dando novos contornos à escola, uma

    escola ubíqua. Sobre os aspectos da ubiquidade, mobilidade e conexão, serão dedicadas

    algumas linhas no capítulo que aborda o referencial histórico teórico, mais adiante.

    Valente (2011; 2014) e M. Almeida (2013), corroboram com essa ideia, ao

    refletirem sobre a inserção de computadores portáteis na escola, ressaltando que deve vir

    acompanhada de mudanças na pedagogia e na forma de se pensar o currículo, sobretudo,

    devido ao fator da mobilidade ali presente.

    Dizem os referidos autores que no âmbito pedagógico, a introdução de

    computadores nas mãos dos alunos e professores descortina inúmeras possibilidades para

    os processos de ensino, para a aprendizagem, e para o currículo, porém essa utilização

    deverá ser precedida e concomitante à formação contínua e permanente dos professores

    e gestores escolares, além de outros elementos que compõem a prática pedagógica, tais

    como planejamento, desenvolvimento de atividades, avaliação etc.

    Nessa mesma direção, pesquisadores da área destacam nos últimos anos o

    foco do olhar em relação à inserção das tecnologias digitais no contexto escolar: de

    reduzida ao mero uso nas práticas escolares à remodelação do currículo com tecnologias

    a ele integradas (ALMEIDA, 2010), (ALMEIDA; VALENTE, 2011), (ALMEIDA,

    2013), (ALMEIDA; ALVES; LEMOS, 2014), o que será aprofundado no capítulo que

    pauta o referencial histórico teórico, mais adiante.

    No tocante à formação de professores, Costa et al. (2012) ressaltam que as

    ações não podem estar centradas na aprendizagem do uso das tecnologias, mas devem ir

    mais além, englobando a apropriação e a inserção dos educadores na Era digital ou cultura

  • 33

    digital5 [ressalta-se, móvel e conectada], o que significa para a escola, nas palavras de

    Silva (2013), uma oportunidade de se enxergar como partícipe deste mundo digital, e

    atuar como leitora crítica e autora desse mundo.

    A pesquisadora (SILVA, 2013) entende que a apropriação do uso das TDIC

    pela escola se dá por meio de processos de formação no contexto em que se mesclam

    ação-reflexão-ação, num movimento cíclico de ir e vir constante, sobre os paradigmas e

    os temas emergentes da educação. A leitura crítica e interpretação do mundo digital são

    fundamentais nesse contexto.

    Segundo a referida estudiosa, a apropriação do uso de computadores portáteis

    na relação 1-1 e seu uso inovador pode se iniciar, mas não se limita ao uso desses

    dispositivos na escola e não se encerra com a descoberta de novos contextos de

    aprendizagem, mas envolve, nesse processo, a consciência do papel da escola como

    integrante da cultura digital móvel e conectada, e as possíveis mudanças em sua ecologia,

    e no desenvolvimento do currículo.

    Nesse entender, as tecnologias móveis conectadas podem reestruturar a escola

    com novas formas de comunicar, de informar, de gerenciar, de produzir conhecimentos,

    de ensinar e de aprender.

    Ao levar em consideração os contextos de aprendizagem, a educação com

    mobilidade, articulada à web e com o uso de demais propriedades inerentes às TDIC

    podem permitir ao gestor, professor, aluno e toda a comunidade escolar, a oportunidade

    de explorar todo o potencial de conexão e mobilidade presentes nessas TDIC, assumindo-

    se enquanto sujeitos do currículo, atores e autores de sua própria história. (SILVA;

    SILVA, 2013, 2014).

    Ao distribuir um computador por aluno, a exploração do potencial da

    mobilidade e da conexão implica a assunção dos sujeitos enquanto leitores críticos da

    cultura digital móvel conectada e suas possibilidades e potencialidades para a escola, para

    a aprendizagem, e para o currículo.

    Nas palavras de Silva e Silva (2014), os computadores portáteis conectados à

    internet podem propiciar aos principais sujeitos do currículo lançar suas palavras no

    mundo, com o mundo e sobre o mundo, interferindo nele e refletindo sobre ele, enquanto

    exercício de participação que se traduz na expressão de sua voz no mundo todo.

    5 Essa discussão será brevemente ampliada no capítulo que se dedica ao referencial histórico teórico, o qual

    irá também discutir e refletir sobre a interface da educação na cultura digital.

  • 34

    Lançar a voz no mundo, com o mundo e sobre o mundo, pode significar uma

    oportunidade de autoria, de participação e de empoderamento6 (empowerment) que as

    TDIC favorecem no sentido de emancipar os sujeitos que fazem e refazem a escola na

    concretude do seu chão, em seus diferentes tempos e espaços, no mundo digital e na web,

    portanto no mundo todo.

    Ler criticamente o mundo, intervir nele, lançando sua voz no espaço digital

    com o uso de computadores portáteis conectados à internet, pode ser um passo importante

    no processo de mudanças na educação, na escola e no currículo.

    Da motivação e aproximação com o objeto da pesquisa

    Concomitantemente às questões até aqui apresentadas que nos inquietam e

    mobilizam, esta pesquisa teve como motivadoras os estudos recentes desenvolvidos no

    grupo de pesquisas coordenado pela Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida,

    no qual esta tese se filia, e que descortinam o universo do uso dos computadores portáteis

    em diferentes contextos no Brasil (PIORINO, 2012; MENDES, 2008; JESUS, 2015;

    SILVA, 2009) e em Portugal (WECKELMANN, 2012). Esses estudos serão destacados

    mais adiante, quando apresentado o estado da arte das pesquisas sobre o uso dos

    computadores portáteis na educação.

    Não obstante, cabe ressaltar que no Brasil, o Projeto UCA (Um Computador

    por Aluno), iniciado em 2007, previa o uso de um computador portátil conectado à

    internet disponível na mão de cada aluno, mas também envolvendo professores, gestores

    e comunidade. A distribuição dos computadores portáteis (CÂMARA DOS

    DEPUTADOS, 2008) não seguiu um critério específico, o que (WECKELMANN, 2012)

    levou distintas realidades do país a serem contempladas, sejam escolas centrais, das

    periferias, com ou sem laboratório de informática etc. No atual momento, o projeto UCA

    inexiste, e os Estados e municípios que aderiram ao Programa UCA (PROUCA), fase

    mais atual, sobrevivem com muitos esforços, por vezes, de gestores públicos, da

    comunidade escolar e de outros sujeitos envolvidos, como é o caso (LIMA, 2015) do

    município de Tiradentes, localizado no Estado de Minas Gerais.

    6 Termo utilizado na teoria freireana (FREIRE; SHOR, 2008) e envolve a compreensão da potencialidade

    criativa dos grupos, enquanto classe social, para a sua verdadeira transformação, enquanto processo político

    de busca pela libertação da dominação, que é antagônica à noção estadunidense de empowerment cooptada

    pelo individualismo e pelas noções individuais de progresso, com ênfase no aumento de poder individual à

    autoajuda, ao autoaperfeiçoamento e à autoconfiança.

  • 35

    Quanto à experiência portuguesa, desenvolvida (GOVERNO DE

    PORTUGAL, 2006) a partir do Plano Tecnológico de Portugal (PTE), lançado em

    setembro de 2007, que culminou na elaboração do Plano Tecnológico da Educação (ME,

    2007), o qual previa ações amplas sobre o uso das Tecnologias de Informação e

    Comunicação7 (TIC) nas escolas, destacam-se (WECKELMANN, 2012) o projeto

    e_Iniciativas, composto por três subprogramas de inclusão digital propiciado pela

    aquisição de um computador portátil. São eles, o e_Escola, o e_Professor e o

    e_Oportunidade. O primeiro subsidia a aquisição de um computador portátil, modelo de

    mercado, a baixo custo para as famílias dos estudantes do 2º e 3º Ciclos da Educação

    Básica e Ensino Secundário; e o e_Escolinha, um projeto que permite aos pais de alunos

    do 1º Ciclo da Educação Básica adquirir um computador portátil educacional,

    denominado Magalhães, que acompanha softwares educativos já instalados nas

    máquinas, e acesso à internet banda larga a baixo custo.

    Atualmente, o programa E_Escola foi extinto conforme aprovação do

    Conselho de Ministros, que culminou no fim da Fundação para as Comunicações Móveis

    (FCM), também conhecida como Fundação Magalhães, uma organização de direito

    privado instituída em 2008 pelos operadores móveis com o propósito de gerir o programa.

    Além disso, leituras que antecedem a tomada desta pesquisa, na busca de

    entender melhor os contextos de uso de computadores portáteis na educação na América

    Latina, contribuíram para as opções do cenário da investigação, entre elas as que se

    referem às ações desenvolvidas na Argentina e no Chile.

    Na Argentina, a política pública Conectar Igualdad, implementada e

    desenvolvida pelo Ministério da Educação da Nação Argentina em conjunto com a

    Presidência da República e outros órgãos governamentais, foi instituída pelo Decreto

    Presidencial nº 459 de 06 de abril de 2010 (ARGENTINA, 2010), e tem por finalidade,

    entre outras, recuperar e valorizar a escola pública reduzindo desigualdades educativas e

    sociais, constituindo-se uma política nacional de inclusão digital envolvendo alunos,

    professores, escola e comunidade, garantir igualdade de oportunidades de acesso e uso de

    TIC, distribuir computadores portáteis no modelo 1-1, formar professores para uso dessa

    ferramenta, elaborar propostas educativas com o objetivo de favorecer a incorporação das

    TIC nos processos de ensinar e aprender.

    7 Expressão comumente utilizada em países da Europa, Estados Unidos, e América Latina, que será

    assumida na presente pesquisa, sempre que houver referência àquelas nações.

  • 36

    Pesquisa realizada por Nosiglia e Norbis (2013) aponta que o programa

    Conectar Igualdad gera altas expectativas nos sujeitos envolvidos. Dentre os alunos há

    uma tensão em relação à percepção da política. Alguns a reconhecem como um direito e

    outros identificam como assistencialista ou um prêmio, embora os de áreas mais

    desfavorecidas atribuam outros significados aos objetivos de inclusão digital, educacional

    e social; quanto aos professores, há os que reclamam falta de tempo e formação para

    utilizar TIC em suas práticas, e os que reconhecem que se trata de um processo de

    mudança em processo. Segundo as pesquisadoras, ambos os grupos de sujeitos

    concordam que é necessário utilizar os computadores portáteis focando no seu uso

    pedagógico visando ampliar o acesso, a igualdade de oportunidades, a justiça e a inclusão

    social.

    Atualmente, o programa encontra-se em desenvolvimento, após protestos

    realizados em março de 2016. Há, contudo, um aceno no sentido de manter o Programa

    Nacional de Inclusão Digital no âmbito da Argentina, definido como uma ferramenta para

    melhorar a aprendizagem e facilitar o acesso de alunos de nível primário e secundário às

    tecnologias, o qual incorpora, entre outros programas, o Conectar Igualdad.

    Já no Chile a política Enlaces (CHILE, 2016), criada pelo Ministério da

    Educação em 1992, como parte do Programa del Mejoramiento de la Calidad y Equidad

    de la Educación de la Reforma Educacional, tem o objetivo de constituir uma rede

    educacional entre todas as escolas do país e incorporar as TIC à ação pedagógica.

    Inicialmente seu desenho era de um projeto piloto em 12 escolas da capital Santiago e

    logo se ampliou abarcando 100 estabelecimentos.

    Aos poucos, Enlaces foi progressivamente formando professores e equipando

    as escolas de infraestrutura com equipamentos, softwares e recursos pedagógicos

    necessários, com o ideal de oferecer a todos os estudantes do país as mesmas

    oportunidades, independentemente de sua localização geográfica ou nível

    socioeconômico do estabelecimento de ensino.

    Atualmente, entre outras ações, Enlaces continua distribuindo computadores

    portáteis para uso no modelo 1-1, tablets, formando professores, equipando as escolas

    com redes wi-fi, disponibilizando plataformas online de inglês e matemática para uso em

    contextos de aprendizagem, implementando ações dedicadas à educação especial com

    tecnologias assistivas, e projetos de segurança na internet.

    As leituras sobre as pesquisas, e buscas que desvelaram a realidade das ações

    desenvolvidas no Brasil e em Portugal, quanto na Argentina e no Chile, e as experiências

  • 37

    que antecedem o ponto de partida da pesquisa de doutoramento, as quais datam de

    setembro e dezembro de 2012, com as viagens ao Uruguai e à Europa, relatadas quando

    da apresentação desta tese, foram levando o pesquisador a compreender melhor os

    contextos e vislumbrar o cenário oportuno a ser dissecado, investigado, refletido e

    problematizado.

    Por isso, já em 2013, ao retornar ao Programa com o projeto de pesquisa de

    doutoramento aprovado no processo seletivo, estavam mais lúcidos os caminhos a

    percorrer, o que levou a uma primeira participação como ouvinte em palestra ministrada

    no Brasil, na cidade de São Paulo, pelo então presidente do Plan Ceibal8 Miguel

    Brechner, em setembro de 2013, e ao IV Seminário de Educação e Tecnologia de Piraí

    no mesmo mês e ano, ocasião em que pude também conduzir em coautoria uma oficina

    dedicada aos gestores sobre a temática Gestão e Segurança na Internet. Estas

    oportunidades se sucederam por intermédio e interlocução da Profa. Dra. Maria Elizabeth

    Bianconcini de Almeida, orientadora desta tese e que tem conexão com tais contextos

    devido a sua atividade profissional como docente e pesquisadora.

    O objetivo destas participações era articular o desenvolvimento da pesquisa,

    na busca de uma maior aproximação com o objeto. Essas duas experiências foram

    fundamentais para a tomada de decisão quanto aos próximos passos da pesquisa, abrindo

    espaços de diálogos para a investigação exploratória que viria a acontecer no ano

    seguinte, em março de 2014, nas cidades de Punta Del Este e Montevidéu – contexto

    Uruguai –, e em maio de 2014 na cidade de Piraí – contexto Brasil. Quanto a pesquisa

    exploratória, são dedicadas algumas linhas mais adiante.

    À luz do até aqui relatado, esta pesquisa toma como objeto de estudos duas

    experiências de políticas públicas em contextos Brasil e Uruguai, respectivamente, o

    Programa Piraí Digital que entre outras ações se estrutura com o Programa Um

    Computador por Aluno (PROUCA), e o Plan Ceibal (Conectividad Educativa de

    Informática Básica para el Aprendizagen en Línea), os quais são abordados nas linhas a

    seguir.

    8 Sempre que a palavra Ceibal vier acompanhada, será utilizado Plan¸ para destacar e evidenciar a política

    pública, respeitando sua origem e cultura.

  • 38

    Contexto Brasil: a política pública Piraí Digital

    Em contexto Brasil, o objeto da pesquisa é o Programa Piraí Digital, uma

    política pública que se desenvolve no município de Piraí, estado do Rio de Janeiro, que

    entre outras iniciativas, disponibiliza computadores portáteis com conexão a uma rede

    wi-fi em todas as escolas municipais da rede de ensino, e as escolas estaduais localizadas

    no território de Piraí, além de outros pontos, equipamentos e espaços públicos da cidade

    (PIRAÍ, 2015, 2016a e 2016b).

    Segundo Coelho (2004), o desenho inicial do Programa Piraí Digital foi

    consolidado em projeto quando encaminhado ao Banco Nacional de Desenvolvimento

    Econômico e Social (BNDES), mas a recusa da instituição não impediu o gestor público

    de insistir com a ideia e de buscar outros recursos para implementá-la.

    Assim, o projeto teve início com os recursos próprios da Prefeitura e apoio de

    parceiros como a Universidade Federal Fluminense (UFF), por meio de um convênio de

    cooperação, e com a Instituição de Ensino Superior à Distância ao Centro de Educação

    Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ) ligada à Secretaria de

    Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

    Conforme salientado pelo autor (COELHO, 2004), a política Piraí Digital

    nasceu em junho de 2002 a partir de um convênio da UFF com a Prefeitura, o qual tinha

    por objetivo implementar laboratórios para a rede educacional envolvendo escolas e

    bibliotecas, com todos os pontos em rede, mas ampliou para uma visão de acesso

    universal disponível a toda comunidade, tornando-se, nas palavras de Borges (2008), um

    modelo no estado do Rio de Janeiro. Concomitante à distribuição de computadores

    portáteis a alunos e professores nas escolas, outras ações foram encaminhadas, dando

    contornos e status de Cidade Digital ao município, característica que será pautada em

    outros momentos da pesquisa, mais adiante.

    Conforme destacado por Tambascia e Dall´Antonia (2006) a política Piraí

    Digital tem por principal objetivo integrar as redes governamentais às redes comunitárias

    e corporativas, democratizando o acesso aos meios de informação e comunicação, possui

    uma infraestrutura formada por um sistema híbrido sem fio e com cobertura das principais

    áreas da cidade, o que dá oportunidade à comunicação e à transmissão de dados e voz,

    atendendo diariamente às donas de casa, aos professores, estudantes e demais munícipes.

  • 39

    Contexto Uruguai: a política pública Plan Ceibal

    Em contexto Uruguai, o objeto da pesquisa é a política pública Plan Ceibal,

    uma ação que se desenvolve na República Oriental do Uruguai com o uso de

    computadores portáteis com conexão à internet por meio de redes wi-fi, tablets e outras

    tecnologias disponibilizadas nas mãos de alunos e professores das escolas da rede pública

    de todo o país, e na rede privada por adesão de cada escola.

    O Plan Ceibal foi instituído na República Oriental do Uruguai por meio do

    decreto presidencial 144, de 18 de abril de 2007, e seu projeto pedagógico foi elaborado

    por professores uruguaios, pautando-se na proposta OLPC.

    Rodriguez e Teliz (2011) lembram que a experiência piloto do Plan Ceibal

    iniciou-se na cidade de Cardal, departamento da Flórida, nos primeiros meses do ano de

    2007, e já em 2009, momento em que a ação chega à capital Montevidéu, culmina na

    universalização do acesso gratuito dos colegas de classe, expressão que esta pesquisa

    assume mesmo quando se refere ao modelo XO da OLPC, a todos os alunos, inclusive os

    docentes, das 2.064 escolas do Uruguai.

    O documento publicado pela Unesco (2009) aponta que a implementação do

    Ceibal se realizou por meio de um projeto interinstitucional que inicialmente envolveu a

    Presidência da República, o Laboratório Tecnológico do Uruguai (LATU), a

    Administração Nacional de Educação Pública (ANEP), o Conselho Diretivo Central

    (CODICEN), o Conselho de Educação Primária (CEP), o Ministério da Educação e

    Cultura (MEC), a Agência para o desenvolvimento do Governo de Gestão Eletrônica e a

    Sociedade da Informação e do Conhecimento (AGESIC), a Agência Nacional de

    Investigação e Inovação (ANII) e a Administração Nacional de Telecomunicações

    (ANTEL).

    Conforme o documento, Plan Ceibal é uma política de uso de tecnologias na

    educação que possui três dimensões: educacional, social e tecnológica. O objetivo da

    política é melhorar a qualidade da educação mediante a integração das TIC ao contexto

    da sala de aula, envolvendo estudantes e escola.

    Segundo o mesmo documento, os princípios estratégicos para diminuir a

    exclusão digital são a igualdade de oportunidades para todas as crianças e jovens, a

    democratização do conhecimento, e a inclusão social das famílias, uma vez que os

    computadores portáteis transitam fora da escola, proporcionando o acesso da comunidade

  • 40

    às máquinas, e a possibilidade de conexão à internet wi-fi em locais públicos em diferentes

    pontos do país.

    De acordo com dados apresentados por Brechner (2013), presidente do Plan

    Ceibal na ocasião da palestra realizada em São Paulo, havia em 2013 aproximadamente

    626 mil usuários nas escolas com acesso a computadores portáteis, tablets e internet no

    Uruguai. Segundo ele, as ações visam transformar privilégios em direitos e personalizar

    a educação com um trabalho colaborativo.

    Nas palavras do presidente, a política Ceibal dispõe de 300 livros digitais para

    acesso dos alunos e professores, plataforma adaptativa de matemática, plataforma de

    gestão de conteúdos em cada escola, videoconferência para formação e trabalho

    colaborativo entre docentes, 40 mil professores formados, ensino de inglês por meio de

    videoconferências realizadas por professores do país e do exterior devido à baixa

    quantidade de profissionais capacitados no Uruguai na área do conhecimento específica,

    atividades com robótica e com o uso da linguagem de programação scratch, e-toys, uso

    de Massive Open Online Course (MOOC), dentre outros.

    Nas palavras de Martínez (2010), integrante da área de Monitoramento e

    Avaliação do Ceibal, na capital de Montevidéu existem 96 pontos com conectividade em

    lugares públicos, praças, e 58 bairros de atenção prioritária, além de 45 complexos

    habitacionais, o que permite aos estudantes conexão mesmo fora do ambiente escolar, por

    conseguinte, às famílias que acabam tendo acesso aos equipamentos distribuídos,

    conforme revelado na pesquisa de campo que será abordada e aprofundada em capítulo

    dedicado, mais adiante.

    Cabe destacar, ao definir o contexto e objeto de estudos, foi possível avançar

    na delimitação do problema e definição das perguntas mobilizadoras da investigação,

    levantar a hipótese, desenhar o objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa,

    conforme apresentado nas próximas linhas.

    O problema

    A questão inicial que emerge a partir de todas as etapas que se articulam

    durante a aproximação com o objeto da investigação, sejam os estudos sobre a literatura

    disponível, sejam as experiências relatadas anteriormente, se consolidou na ocasião da

    pesquisa exploratória realizada em 2014, uma vez que o tema central (ou categoria) é a

    espinha dorsal que estrutura toda a pesquisa: Por onde anda o currículo?

  • 41

    Da questão inicial decorreu outra pergunta:

    ✓ Como o uso de computadores portáteis na educação pode favorecer a

    (re)construção e dar novos contornos ao desenvolvimento do currículo?

    A hipótese

    A inserção das tecnologias digitais na educação, sobretudo dos computadores

    portáteis, pode favorecer a (re)construção do currículo, dando novos contornos à ação

    pedagógica na sala de aula, na escola, e com o potencial de conexão e mobilidade pode

    abarcar o mundo fora dela, inclusive a web.

    O objetivo geral

    ✓ Compreender as possibilidades ou indícios de integração das tecnologias

    digitais com o currículo, estabelecendo relações entre a construção/reconstrução e o

    desenvolvimento do currículo com uso dos computadores portáteis com oportunidade de

    conexão e potencial de mobilidade em dois contextos distintos de escolas públicas, uma

    no Brasil e outra no Uruguai, no que abarca a ação pedagógica.

    Os objetivos específicos

    ✓ Identificar temas emergentes que se conectam e se articulam a indicadores,

    sinalizando os indícios de integração das tecnologias digitais ao desenvolvimento do

    currículo;

    ✓ Reconhecer traços e nuances das políticas públicas no desenvolvimento de

    uma ação curricular com uso de computadores portáteis na educação;

    ✓ Reconhecer as influências e interferências da mobilidade e conexão das

    máquinas na (re)construção e desenvolvimento do currículo;

    ✓ Inter relacionar as análises, desenhando constructo teórico sobre a

    integração das tecnologias digitais ao desenvolvimento do currículo e os contornos da

    emergência de web currículo, em contextos Brasil e Uruguai.

    A seguir aborda-se o referencial histórico teórico.

  • 42

    1 REFERENCIAL HISTÓRICO TEÓRICO

    O presente capítulo é dedicado a apresentação dos marcos teóricos que

    compõe o arcabouço epistemológico que concebe a pesquisa, trazendo fundamentos,

    concepções, conceitos e ideias que se articulam e conectam na tessitura da trama que

    pauta a integração currículo, tecnologias digitais e mobilidade, apresentando os contornos

    da escola ubíqua.

  • 43

    1.1 Tecnologia e Currículo: fundamentos e integração

    O presente capítulo irá tratar a respeito do conceito de tecnologia, retomando

    pressupostos teóricos, políticos e filosóficos que abarcam concepções e ideias fundantes.

    Na mesma direção, aborda o conceito de currículo, refletindo sobre a polissemia que o

    abrange.

    Traz ideias e discussões sobre a educação na cultura digital, importante para

    se entender o uso das TDIC na escola, e sua integração com o currículo.

    Nesse caminho, indaga sobre a questão para quê integrar tecnologias ao

    currículo, uma discussão e reflexão oportuna, na busca de se entender as razões

    pedagógicas, teóricas, filosóficas e epistemológicas que a justifica.

    1.1.1 O conceito de tecnologia

    As profundas mudanças ocorridas ao redor do mundo nos últimos anos, em

    velocidade surpreendente no que se refere ao universo tecnológico, demanda a construção

    de novos sentidos para essa realidade, o que no entendimento de Aires (2010) abarca

    compreendê-la segundo novas metáforas, descontruindo mitos, reinventando o

    significado de ensinar e aprender, e nas palavras de Marinho et al. (2014), percorrendo

    novos caminhos.

    Ao pautar o uso das TDIC no contexto da educação é oportuno retomar

    algumas questões que ainda podem contornar de penumbras o imaginário da escola e dos

    sujeitos,