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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Marcus de Souza Araújo TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA FINS EDUCACIONAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE INGLÊS Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem São Paulo 2017

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1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Marcus de Souza Araújo

TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

PARA FINS EDUCACIONAIS NA

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE INGLÊS

Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

São Paulo

2017

2

Marcus de Souza Araújo

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação para Fins Educacionais

na Formação Inicial de Professores de Inglês

Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial para a

obtenção do título de Doutor em

Linguística Aplicada e Estudos da

Linguagem, sob a orientação da Professora

Dra. Zuleica Antonia Camargo.

São Paulo

2017

3

4

Marcus de Souza Araújo

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação para Fins Educacionais na

Formação Inicial de Professores de Inglês

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título de

Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da

Linguagem, sob a orientação da Professora Dra.

Zuleica Antonia Camargo.

Banca Examinadora

_________________________________________________________

Professora Dra. Zuleica Antonia Camargo (PUC-SP)

Orientadora

_________________________________________________________

Professora Dra. Walkyria Alydia Grahl Passos Magno e Silva (UFPA)

_________________________________________________________

Professora Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos (UNIFESP)

_________________________________________________________

Professora Dra. Maximina Maria Freire (PUC-SP)

_________________________________________________________

Professora Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida (PUC-SP)

_________________________________________________________

Professora Dra. Mara Sofia Zanotto (PUC-SP)

Suplente

________________________________________________________

Professora Dra. Reinildes Dias (UFMG)

Suplente

São Paulo

2017

5

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta tese por processos de fotocópias ou eletrônicos.

Assinatura: _________________________________

Local/Data: São Paulo, 15 de dezembro de 2017.

6

Aos meus pais, Rosane Jucá e Nivaldo

Araújo, meus maiores incentivadores,

pelo amor incondicional, pelo apoio em

minha jornada e pelo carinho nos

momentos alegres e tristes, sempre.

7

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

pelo apoio financeiro, que viabilizou o percurso e o produto da minha

pesquisa.

8

Agradecimento Especial

À Professora Dra. Rosinda de Castro

Guerra Ramos por me ajudar a cultivar

este caminho, ainda árido nos primeiros

meses desta pesquisa, pelas discussões

saudáveis que tivemos para colocar este

trem nos trilhos e pela generosidade em

nadar comigo neste oceano quase infinito.

Obrigado por me ouvir, confiar nas

minhas ideias, pelas conversas que

tivemos e por me incentivar a estudar

sobre tecnologia.

9

AGRADECIMENTOS

A Deus, PAI maior, pela fé, sabedoria, serenidade e discernimento para

seguir a jornada da vida e realizar esta pesquisa.

À Professora Dra. Zuleica Antonia Camargo, pela generosidade e pela

disposição em sempre me ajudar.

À Professora Dra. Maximina Maria Freire, por gentilmente aceitar em

participar das minhas qualificações e da banca de defesa pública. Obrigado

pela leitura atenciosa e valiosas contribuições para melhorar o texto de

minha pesquisa. Obrigado, também, pelo carinho, pela atenção para comigo

e por acreditar em meu trabalho.

À Professora Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, pelas importantes

contribuições durante a terceira qualificação e aceitado em participar da

banca de defesa pública. Obrigado, professora, por me aceitar como aluno

em sua disciplina. Foi uma aprendizagem valiosíssima para mim!

À Professora Dra. Walkyria Magno e Silva por aceitar gentilmente e participar

da banca de defesa pública. Obrigado por me introduzir na pesquisa

acadêmica durante o período do mestrado, como minha orientadora, além de

sempre me incentivar e me motivar a seguir o meu percurso acadêmico.

Aos professores do LAEL, especialmente, à Professora Dra. Fernanda Coelho

Liberali, à Professora Dra. Mara Sofia Zanotto, à Professora Dra. Maria

Antonieta Alba Celani, à Professora Dra. Maximina Maria Freire e à

Professora Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos por compartilharem seus

conhecimentos durante as aulas, pelas acolhidas e por contribuirem para

meu crescimento profissional.

Às secretárias do LAEL e do CEPRIL, Maria Lúcia e Márcia, respectivamente,

sempre pelo carinho e pela atenção.

10

À Universidade Federal do Pará e à Faculdade de Letras Estrangeiras

Modernas pela liberação total para eu realizar os estudos do doutorado e

tornarem meu sonho possível. O meu eterno obrigado!

Aos meus queridos e amados sobrinhos-afilhados, Manuela Araújo

(carinhosamente Manu) e Rafael Tenório pelas alegrias do dia a dia e pelo

amor.

Ao meu irmão Josivaldo Araújo e à minha cunhada Fabíola Araújo, sempre

pelo carinho, pelas conversas e por ajudarem a tornar o meu caminho mais

suave.

À minha irmã Marivalda Tenório e ao meu cunhado Waldir Tenório, pelo

apoio e pela paciência nas (muitas) ausências.

Às primas Nathália Jucá e Nicole Jucá, pela alegria de reencontrá-las depois

de muitos anos e pela amizade que se reiniciou durante o doutorado.

À minha querida amiga e colega de trabalho Tatiana de Macedo

(carinhosamente Tati), pelas palavras de incentivo e por sempre se

preocupar comigo. Ela me fala que eu sou seu anjo da guarda porque

sempre cuido dela, mas acho que é o contrário. Nesses quatro anos de

doutorado, ela que cuidou mais de mim. Foi meu anjinho da guarda!

À minha querida amiga e colega de trabalho Cristina Porto, pelas conversas

que trocamos nesses quatro anos de doutorado, pela amizade que se

solidificou, pela paciência e prontidão em sempre me ajudar quando

precisava. Obrigado, por me ouvir.

À Professora Dra Reinildes Dias, pela amizade e por acreditar em mim.

À amiga Vivian Marcondes e Samanta Malta, nosso querido Trio Tagarela,

pelas alegres conversas, divertidas risadas e pelos passeios maravilhosos

que fizemos juntos por São Paulo.

11

Às amigas Simone Ramos e Katherine Assega, que me proporcionaram

momentos ímpares e me fizeram (ainda fazem!) compreender o lado bom da

vida.

À amiga Cida Gazotti, sempre pelo carinho e pelas conversas animadas que

tivemos (e ainda temos!).

À amiga Cynthia Fischer, uma querida. Cuidou de mim, literalmente,

quando mais precisei morando em São Paulo. Sem palavras para agradecer.

À Marta Monteiro (carinhosamente Martinha), uma amiga mais que querida.

Sempre torce por mim. Obrigado pelo carinho, pelas orações e por sua

amizade sincera.

Ao amigo Sérgio Carvalho, pelos conselhos e amizade, e por sempre se

preocupar comigo. Obrigado também pelas acolhidas em seu apartamento

no Rio de Janeiro durante minhas idas a congressos.

À Gilda Chaves, eterna Mestra.

A todos os alunos da turma de Letras-Inglês do turno noturno do segundo

semestre de 2013 da disciplina Tecnologias no ensino-aprendizagem de

línguas estrangeiras, especialmente, aos quatro participantes da pesquisa,

que muito me ajudaram e sem os quais esta tese não teria sido possível. A

vocês, o meu muito obrigado todo especial!

A você, cara colega, caro colega, que diretamente ou indiretamente, me

apoiou nesses quatro anos de doutorado. Carinhosamente, o meu muito

obrigado!

12

Os analfabetos do século XXI não serão os

que não souberem ler ou escrever, mas os

que não souberem aprender, desaprender

e reaprender.

Alvin Toffler

13

ARAÚJO, MARCUS DE SOUZA. Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação para

Fins Educacionais na Formação Inicial de Professores de Inglês. 2017. 244 f. Tese

(Doutorado) - Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo, São Paulo, 2017.

RESUMO

Esta pesquisa de doutorado teve por objetivo investigar a percepção de quatro alunos-

professores de inglês sobre a aprendizagem e a prática pedagógica com o uso das tecnologias,

observando-se suas percepções acerca da inclusão das tecnologias no ensino-aprendizagem de

inglês bem como o fomento do letramento digital desses alunos-professores a partir de uma

disciplina curricular acadêmica do curso de Letras-Inglês. O referencial teórico baseia-se nos

usos das tecnologias digitais da informação e comunicação (PRENSKY, 2010, 2012;

BRAVO; COSLADO, 2012; COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL, 2014, 2016;

FAVA, 2014, 2016; PISCHETOLA, 2016; entre outros), nas discussões sobre letramentos

digitais (WARSCHAUER, 2006; LEMKE, 2010; SAVAGE; BARNET, 2015; DUDENEY;

HOCKLY; PEGRUM, 2016, para citar alguns), nos conceitos de formação reflexiva de

professores (DEWEY, 1910; GÓMEZ, 1995; SCHÖN, 1995, 2000; CELANI, 2003, 2010a,

2010b; RAMOS; FREIRE, 2009; entre outros) e na formação tecnológico-digital e

pedagógica do professor (ALMEIDA; VALENTE, 2011; FANTIN; RIVOLTELLA, 2013;

KENSKI, 2013, 2015; BATES, 2016; para citar alguns). Com relação à metodologia, esta

pesquisa se caracteriza como um estudo de caso qualitativo (STAKE, 1995; YIN, 2015) e

interpretativista (MOITA-LOPES, 1994) na Linguística Aplicada e utiliza como instrumentos

de pesquisa três questionários, uma entrevista, relatos reflexivos, atividades no Facebook,

autoavaliação e notas de campo do pesquisador. Os dados da pesquisa foram gerados em uma

disciplina curricular acadêmica específica sobre tecnologias do curso de Letras-Inglês de uma

universidade federal do norte do país. Os resultados apontam que uma disciplina acadêmica

específica sobre tecnologias tem papel relevante no curso de formação inicial de professores

de inglês, pois além de mostrar a diversidade de aprendizagem com diferentes interfaces

tecnológicas digitais, possibilita, também, que o futuro professor venha a refletir a respeito

das potencialidades e da apropriação dessas tecnologias para fins pedagógicos. Nessa

vertente, os dados mostram que a disciplina sobre tecnologias cumpriu uma de suas funções

no currículo do curso de licenciatura Letras-Inglês ao promover, a partir de práticas

reflexivas, o letramento digital dos participantes por meio da familiarização de diversas

interfaces tecnológicas digitais para propósitos educacionais que eram desconhecidas por eles

no início da disciplina. Defende-se, assim, que as TDIC trazem múltiplas vantagens ao serem

incorporadas à pedagogia da sala de aula de maneira reflexiva, funcional e crítica no curso de

Letras, trazendo contribuições importantes para a formação inicial de professores de inglês.

Palavras-chave: Tecnologias digitais da informação e comunicação. Formação inicial de

professores de inglês. Prática pedagógica. Letramento digital.

14

ARAÚJO, MARCUS DE SOUZA. Information and Communication Digital Technologies for

Educational Purposes in Pre-Service English Language Teacher Education. 2017. 244 f.

Thesis (Doctorate) – Applied Linguistics and Language Studies, Pontifical Catholic

University of São Paulo, São Paulo, 2017.

ABSTRACT

This Ph.D. research aimed at investigating four student-teachers´perceptions about learning

and pedagogical practices with the use of technologies, observing their perceptions about the

insertion of technologies in English teaching-learning as well as the promotion of these

student-teachers´ digital literacy in a subject which is part of the curriculum of an English-

language teaching undergraduate program. This study is grounded on theoretical discussions

regarding the uses of Information and Communication Digital Technologies (PRENSKY,

2010, 2012; BRAVO; COSLADO, 2012; COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL,

2014, 2016; FAVA, 2014, 2016; PISCHETOLA, 2016; among others), digital literacy

(WARSCHAUER, 2006; LEMKE, 2010; SAVAGE; BARNET, 2015; DUDENEY;

HOCKLY; PEGRUM, 2016; to mention a few), reflective teacher education (DEWEY, 1910;

GÓMEZ, 1995; SCHÖN, 1995, 2000; CELANI, 2003, 2010a, 2010b; RAMOS; FREIRE,

2009; among others) and technological-digital and pedagogical teacher education

(ALMEIDA; VALENTE, 2011; FANTIN; RIVOLTELLA, 2013; KENSKI, 2013, 2015;

BATES, 2016; to mention a few). As for the methods, this research is considered an

interpretativist, qualitative case study (MOITA-LOPES, 1994; STAKE, 1995; YIN, 2015) in

Applied Linguistics. The research instruments used were: three questionnaires, an interview,

reflective reports, Facebook activities, a self-assessment report, and the researcher´s field

notes. The research data were gathered in a curricular subject on technologies in an English-

language teaching undergraduate program at a federal university in the north of Brazil. The

results point out that a specific academic subject on technologies plays a relevant role in

English-language teaching undergraduate programs, since not only does it provide learning

diversity with different digital technological interfaces, but it also allows the teacher-to-be to

reflect upon the potential and appropriation of these technologies for teaching purposes. On

this aspect, the research data show that the subject on technology fulfilled one of its roles in

the curriculum of the English-language teaching undergraduate program in focus by

promoting, by means of reflective practices, the participants´ digital literacy. This literacy was

developed through the familiarization of the participants with diverse digital technological

interfaces for educational purposes, which were unknown to them at the beginning of the

subject. It is argued, therefore, that Information and Communication Digital Technologies

will provide many benefits when incorporated into classroom pedagogy in a reflexive,

functional and critical way, as well as bring important contributions to English-language

teaching undergraduate students´education.

Keywords: Information and Communication Digital Technologies. English-language

undergraduate teacher education. Teaching practice. Digital literacy.

15

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Pesquisas acadêmicas de formação inicial de professores de inglês e TDIC........29

Quadro 2 – Eixos focais e definições de diferentes tipos de letramentos digitais....................76

Quadro 3 – Cronograma das atividades da disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras: mês setembro.....................................................................116

Quadro 4 – Cronograma das atividades da disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras: mês outubro.......................................................................118

Quadro 5 – Cronograma das atividades da disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras: mês novembro...................................................................119

Quadro 6 – Cronograma das atividades da disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras: mês dezembro....................................................................120

Quadro 7 – Atividades no Facebook ......................................................................................121

Quadro 8 – Quadro-resumo: perfil dos participantes, informações acadêmicas e profissionais,

e expectativas iniciais em relação à disciplina curricular.......................................................125

Quadro 9 – Quadro-resumo: frequência de uso e de atividades no computador, outros

aparelhos eletrônicos e de aplicativos digitais.....................................................127

Quadro 10 – Questões do questionário I.................................................................................129

Quadro 11 – Questões do questionário II................................................................................130

Quadro 12 – Questões do questionário III..............................................................................130

Quadro 13 – Quadro-resumo dos instrumentos da pesquisa ..................................................137

Quadro 14 – Aprendizagem e Prática Pedagógica com TDIC................................................173

Quadro 15 – Inclusão das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês......................................190

Quadro 16 – Fomento do letramento digital...........................................................................208

16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Análise de Conteúdo

AILA Association Internationale de Linguistique Appliquée

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBLA Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada

CCLE Cursos Livres de Línguas Estrangeiras

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

D.E.L.T.A. Documentação de Estudo em Linguística Teórica e Aplicada

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

FALEM Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas

HTTP Hyper Text Transfer Protocol

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituição de Ensino Superior

ILC Instituto de Letras e Comunicação

InPLA Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada

IP Internet Protocol

JED Jogos Educacionais Digitais

L2 Segunda Língua

LA Linguística Aplicada

LabInf Laboratório de Informática

LAEL Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

LE Língua Estrangeira

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MEC Ministério da Educação

NEL Novos Estudos de Letramento

PARFOR Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PPP Projeto Político-Pedagógico

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RS Rio Grande do Sul

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

17

TCP Transmisson Control Protocol

TDIC Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

TIC Tecnologias da Informação e Comunicação

UCPel Universidade Católica de Pelotas

UEL Universidade Estadual de Londrina

UFAL Universidade Federal de Alagoas

UFC Universidade Federal do Ceará

UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UFPA Universidade Federal do Pará

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNESP Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

USP Universidade de São Paulo

WWW World Wide Web

18

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................20

CAPÍTULO 1: QUADRO TEÓRICA DA PESQUISA.......................................................34

1.1 Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.....................................................34

1.2 Letramento(s)....................................................................................................................54

1.2.1 Definições de letramento(s) e origem no contexto brasileiro.......................................55

1.2.2 Letramento digital.........................................................................................................64

1.3 Da prática docente à prática reflexiva...........................................................................79

1.4 A formação tecnológico-digital e pedagógica do professor...........................................94

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA DA PESQUISA...........................................................107

2.1 Caracterização e perguntas da pesquisa.......................................................................107

2.2 Abordagem metodológica...............................................................................................109

2.3 Contexto da pesquisa......................................................................................................112

2.4 Apresentação da disciplina curricular acadêmica.......................................................113

2.5 Participantes da pesquisa...............................................................................................122

2.6 Instrumentos e procedimentos de geração dos dados..................................................128

2.6.1 Questionários.................................................................................................................128

2.6.2 Entrevista.......................................................................................................................131

2.6.3 Relato reflexivo .............................................................................................................133

2.6.4 Autoavaliação.................................................................................................................134

2.6.5 Atividades no Facebook.................................................................................................134

2.6.6 Notas de campo..............................................................................................................135

2.7 Procedimentos de análise dos dados..............................................................................138

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS........142

3.1 O percurso de LASN.......................................................................................................143

3.1.1 Aprendizagem com o uso das TDIC..............................................................................143

3.1.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC.......................................................................146

3.2 O percurso de LUKAN...................................................................................................148

3.2.1 Aprendizagem com o uso das TDIC..............................................................................149

3.2.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC.......................................................................152

3.3 O percurso de RALPH...................................................................................................156

3.3.1 Aprendizagem com o uso das TDIC..............................................................................157

3.3.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC.......................................................................159

3.4 O percurso de TOM........................................................................................................164

3.4.1 Aprendizagem com o uso das TDIC..............................................................................165

3.4.2 Prática pedagógica o uso das TDIC...............................................................................167

3.5 Percepção dos alunos-professores para a inclusão das TDIC no processo de ensino-

aprendizagem........................................................................................................................175

3.5.1 Percepção de Lasn.........................................................................................................175

3.5.2 Percepção de Lukan.......................................................................................................179

3.5.3 Percepção de Ralph........................................................................................................182

3.5.4 Percepção de Tom..........................................................................................................185

3.6 O fomento do letramento digital....................................................................................192

3.6.1 O letramento digital de Lasn..........................................................................................192

19

3.6.2 O letramento digital de Lukan.......................................................................................197

3.6.3 O letramento digital de Ralph........................................................................................201

3.6.4 O letramento digital de Tom..........................................................................................204

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................210

REFERÊNCIAS....................................................................................................................220

APÊNDICES .........................................................................................................................235

Apêndice 1: Plano de ensino da disciplina..............................................................................236

Apêndice 2: Checklist .............................................................................................................238

Apêndice 3: Plano de aula......................................................................................................239

Apêndice 4: Questionário 1.....................................................................................................240

Apêndice 5: Questionário 2.....................................................................................................242

Apêndice 6: Questionário 3.....................................................................................................243

Apêndice 7: Relato Reflexivo.................................................................................................244

20

INTRODUÇÃO

A tecnologia precisa conversar com o ensino de

línguas; o ensino de línguas precisa conversar com

a tecnologia; o que interessa não é a tecnologia,

mas o uso que se faz dela.

(LEFFA, 2016, p. 153)

O desenvolvimento e o uso disseminado do computador e da Internet ocasionaram, e

ainda continuam a gerar, mudanças significativas na comunicação humana contemporânea, a

partir das quais, independentemente do tempo e do espaço, qualquer pessoa pode conectar-se

com outras pessoas. Sob esse enfoque, a comunicação deixa de ser apenas de um para um

para se tornar de muitos para muitos. Entendo, nessa direção, o computador e a Internet1

como tecnologias multidimensionais e como interfaces digitais usadas para práticas sociais,

pois estão a serviço do homem, na tentativa de tornar sua vida mais confortável, além de

integrá-lo cada vez mais aos contextos social, cultural, econômico, educacional e político da

Sociedade da Informação2.

A inclusão dessas tecnologias faz-me lembrar que o meu contato inicial foi desafiador

no sentido de compreender a nova linguagem digital, completamente diferente, com a qual

não estava familiarizado em meu dia a dia. Tudo começou no ano de 1995, ao realizar um

curso básico de informática, no qual aprendi noções elementares de uso do computador,

inclusive ligá-lo e desligá-lo, e dos programas Word e Excel. Naquela época, já tinha meu

primeiro computador em casa, mas não sabia como usá-lo nem mesmo reconhecer suas reais

potencialidades, tanto para o trabalho e o entretenimento quanto para o uso pedagógico e o

social.

1Kurbalija (2016, p. 51) afirma que “os termos Internet e www às vezes são usados de forma intercambiáveis; no

entanto, existe uma diferença. A Internet é a rede das redes conectada pelo TCP/IP. Às vezes, o termo Internet é

usado para englobar tudo, inclusive infraestrutura, aplicativos (e-mail, ftp, web) e conteúdo. O www é apenas um dos vários aplicativos da Internet, um sistema de documentos interligados e conectados com a ajuda do Hyper

Text Transfer Protocol (HTTP).” Em nota, a autora também explica que a sigla TCP/IP significa Transmisson

Control Protocol/Internet Protocol, a saber, um dos padrões e serviços técnicos da Internet – “a infraestrutura

que faz a Internet funcionar” (KURBALIJA, 2016, p. 51). 2 Uma sociedade baseada e influenciada pelo computador e pela Internet (CASTELLS, 2003), como também

pelas novas tecnologias digitais da informação e comunicação. Segundo Bates (2016) e Pischetola (2016), essa

sociedade está centrada na cultura da busca, transmissão, exposição, compartilhamento e curtidas de

informações para a interatividade e o engajamento sociais e, também, profissionais.

21

Ainda no ano de 1995, passei a conhecer algo tão novo, mas fascinante. Era como se o

mundo se descortinasse e pudesse conhecê-lo sem sair de casa, e isso acontecia mesmo. Era a

tal da Internet. À época, a conexão era discada, precisávamos de uma linha telefônica para

conexão.

Tudo muito novo, tudo maravilhoso. A tecnologia digital se expandia e passei a ter

acesso a novas interfaces como o telefone celular, o computador portátil, as redes sociais, os

tablets, os jogos digitais, entre outras maravilhas da era digital. Vistas assim, as tecnologias

estão aí e fazem parte de minha vida (desde o ano de 1995 até os dias atuais) e de bilhões de

pessoas ao redor do mundo.

Com o passar dos anos, observei como o computador, a Internet, a telefonia móvel, os

tablets e as mídias sociais influenciavam cada vez mais a maneira de agir, de pensar, de se

comunicar, de se informar e, também, de aprender de crianças e jovens, principalmente, pois

são gerações que nasceram imersas em uma cultura digital. Não obstante, minha preocupação

estava na figura do professor. Assim como eu, possivelmente, meus colegas-professores

também poderiam ter dúvidas e inseguranças para usar as tecnologias em sala de aula para

fins pedagógicos. As tecnologias avançavam a passos largos e seus usos na escola tornavam-

se cada vez mais essenciais, porque as crianças e os jovens, e também os adultos, usam as

tecnologias no cotidiano com várias finalidades e interesses pessoais, cotidianamente. Logo,

por que não trazer para a sala de aula o que já está legitimado fora dela?

Assim sendo, comecei a fazer alguns questionamentos, a saber: será que o curso de

Letras prepara o aluno-professor de inglês3 para saber lidar com as tecnologias digitais da

informação e comunicação (TDIC)? O curso de Letras considera relevante a inclusão de uso

das tecnologias, pedagogicamente, na formação inicial? Há alguma disciplina específica no

currículo do curso de Letras para a formação tecnológico-digital e educacional do aluno? Com

quais conhecimentos sobre tecnologias digitais o aluno ingressa no curso de Letras? Esses

conhecimentos são suficientes para sabe usar as TDIC de maneira reflexiva nos futuros

contextos de ensino-aprendizagem4? Por essa razão, passei a estudar e a pesquisar sobre o

assunto.

Por conseguinte, esse interesse se solidificou quando comecei a trabalhar como

professor efetivo de inglês na Universidade Federal do Pará, em 2010, além de uma conversa

3 De acordo com a nova versão da Base Nacional Comum Curricular para os ensinos Infantil e Fundamental

(BRASIL, 2017), a língua inglesa passa a ser a LE obrigatória a partir do 6o ano do Ensino Fundamental. 4 Minha concepção de ensino-aprendizagem está em consonância com as ideias de Celani (2003, p. 25) ao

mencionar que tanto o ensino como a aprendizagem devem ser “entendidos como inseparáveis e aprender

pressupõe uma mudança no comportamento do aprendiz como resultado de interações em um contexto

particular, sobre objetos específicos com a participação de outros.”

22

informal com a Professora Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos, no Congresso Brasileiro de

Linguística Aplicada (CBLA), em julho de 2011, que me motivou a fazer um doutorado nessa

área de conhecimento para ter oportunidade de investigar esse assunto.

Dessa forma, em 2014, ingressei no Programa de Doutorado em Linguística Aplicada

e Estudos da Linguagem (LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-

SP), sob a orientação dessa professora, para pesquisar de maneira detalhada o uso das

tecnologias digitais da informação e comunicação na formação inicial do professor de inglês.

Muitos são os questionamentos, mas minha intenção não é fornecer respostas prontas e

imediatas para todos eles. Meu olhar volta-se para meu ambiente de ensino-aprendizagem,

para o curso de Letras-Inglês de minha universidade, especialmente, para a formação

tecnológico-digital e pedagógica desse professor pré-serviço, na tentativa de refletir e buscar

possíveis respostas com base nas perguntas da pesquisa, apresentadas adiante.

Vejo, de fato, os cursos de Letras-Inglês como ambientes de formação, e como

formador de professores, preciso conduzir meus alunos-professores a entenderem, indagarem

e investigarem suas ações5, e serem conscientes para possíveis soluções e mudanças em seus

próprios contextos a partir das necessidades de seu público-alvo. Nessa direção, a formação

de professores está diretamente relacionada com a ação-reflexão (FREIRE, 1975/2010) e não

exatamente a um modelo de regras ou de teorias descontextualizadas que precisam ser

memorizados ou decorados de maneira passiva. Preciso levar meu aluno, em formação inicial,

a investigar e a refletir sobre a sua (futura) docência, a sua (futura) ação (FREIRE,

1995/2014), para que seja competente em “observar(-se), questionar(-se), pesquisar(-se),

organizar ideias, interpretar e reinterpretar continuamente, problematizando, sempre”

(RAMOS; FREIRE, 2009, p. 33).

Além disso, penso, no momento, no impacto das TDIC no sistema educacional. Quais

contribuições as tecnologias podem trazer para o ensino-aprendizagem de diferentes gerações

de crianças, jovens e adultos? Possivelmente, esse seja o maior desafio dos Cursos de Letras

5 Nesta pesquisa, entendo ações como as escolhas que todo professor precisa realizar em seu contexto

educacional para poder torná-lo prático e motivador para o aluno. Dessa forma, as escolhas podem estar

relacionadas ao projeto político-pedagógico (PPP), ao currículo, ao conteúdo programático, às metodologias, às

abordagens e ao material didático que melhor se adapte à prática pedagógica do professor. Sob esse enfoque,

amparando-me no pensamento de Celani e Barros (2016, p. 50), complemento a noção de ações, salientando que

o professor ainda precisa apresentar “domínio do conteúdo ensinado, vasto conhecimento tecnológico, que seja

capaz de realizar tarefas complexas e simultâneas [...] e definir as melhores estratégias para alcançar os objetivos

que almeja.”

23

no Brasil na atualidade, ou seja, inserir em seus projetos político-pedagógicos (PPP)6,

disciplinas curriculares acadêmicas diretamente ligadas à formação tecnológico-digital e

pedagógica do futuro professor de línguas estrangeiras.

Conforme destacam Veen e Vrakking (2009), Prensky (2010, 2012, 2015), Kenski

(2012b, 2013), Fava (2014, 2016), entre outros, a geração digital não se adapta ao modelo de

educação tradicional, no qual o professor fala, ministra sua aula, como se fosse um

palestrante, e o aluno, sentado, comportadamente, escuta-o, de maneira passiva. Os tempos

mudaram e as pessoas, também. Afinal, a nova geração de crianças e de jovens deseja

interagir, compartilhar, sentir-se desafiada, usar e incorporar as TDIC diariamente,

frequentemente, para navegar, encontrar informação, compartilhá-la, postar vídeos e fotos em

redes sociais e aplicativos, usar o telefone celular para se comunicar, enviar mensagem, jogar,

entre outras atividades. Em outras palavras, a informação e as variedades de aplicativos estão

disponíveis por meio de apenas um clique ou de um toque na tela do celular na era digital

(BATES, 2016; FAVA, 2016).

Nesse cenário, como a escola deseja que seus alunos sejam educados no ambiente

analógico, se o mundo real é digital? Cria-se, assim, um confronto hierárquico, didático e

metodológico, apenas para mencionar alguns pontos, entre o professor/escola e o aluno, que é

visto como indisciplinado, rebelde, bagunceiro, tagarela durante todo o período da aula,

desmotivado, desatento e não consegue aprender; ao passo que o professor é considerado

chato, estressado, dominador, fala o tempo todo e não dá uma aula interessante.

Desse modo, saber lidar com essa nova geração de alunos é um desafio para a maioria

dos professores e para as escolas brasileiras. Integrar e mediar as TDIC em práticas

pedagógicas no contexto educacional não é tarefa fácil, pois exige colaboração de todos os

agentes do sistema, desde diretor, coordenador pedagógico até o professor bem como o aluno,

e por que não acrescentar também o Governo, nas esferas municipal, estadual e federal. Não

basta um professor realizar um trabalho isolado, se os demais atores não estão integrados,

conectados. A mudança ocorrerá com a participação ativa e efetiva de todos os atores da

Educação.

Minha concepção não está no uso dogmático das TDIC, pois concordo com Kenski

(2013, p. 96), ao afirmar que o uso das tecnologias (digitais) “em sala de aula não é sinônimo

de inovação nem de mudança nas práticas tradicionais de ensino.” Em outras palavras, as

6 O Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016) aponta que as TDIC não ocupam posição central nos PPP na

maioria das escolas (e incluo também as universidades e as faculdades) ou não são mencionadas ou ocupam

posição secundária entre as prioridades e as estratégias pedagógicas.

24

tecnologias, em si mesmas, não garantem mudanças pedagógicas potenciais no ensino-

aprendizagem. A mudança efetuar-se-á no uso consciente e crítico que o professor fizer das

tecnologias em seu contexto de sala de aula, adaptando-as para os interesses locais e regionais

de seus alunos. Vejo, assim, as TDIC como potenciais interfaces que podem integrar,

pedagogicamente, as práticas do professor e tornar a aprendizagem do aluno motivadora.

Nessa direção, a escola torna-se um ambiente participativo, desafiador e integrador para os

aprendizes da era digital, com seus diferentes ritmos e níveis de aprendizagem.

O Comitê Gestor da Internet no Brasil (2014, 2016) aponta que a escola pública está

conectada à Internet, equipada tecnologicamente, o que me leva a pensar, como formador de

professores, que os cursos de Letras precisam, cada vez mais, olhar esse futuro profissional,

como um web educador7, capaz de refletir, usar e operacionalizar, funcional e

pedagogicamente, as tecnologias digitais da informação e comunicação, no ensino-

aprendizagem de inglês, seja nos contextos das escolas públicas ou particulares, seja nas

escolas de idiomas, pois a maioria dos egressos dos Cursos de Letras atuará nesses contextos.

A meu ver, o contexto desse aluno pode tornar-se uma ciberaprendizagem (RAMOS, 2009),

por meio da qual o conhecimento possa ser construído a partir do uso, da funcionalidade e da

operacionalização das TDIC.

Essas ideias me levam a refletir a respeito da importância da formação inicial

tecnológico-digital do professor de inglês, integrada também a uma prática pedagógica digital,

e a concordar com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), que depositam ao

uso das tecnologias um papel relevante no contexto educacional:

utilizar recursos tecnológicos não significa utilizar técnicas simplesmente, e

não é condição suficiente para garantir a aprendizagem dos conteúdos escolares. Por isso, é fundamental criar um ambiente de aprendizagem em

que alunos possam ter iniciativas, problemas a resolver, possibilidades para

corrigir erros e criar soluções pessoais. Além disso, quando o professor utiliza um recurso tecnológico, como fonte

de informação ou como um recurso didático para a atividade de ensino, está

também possibilitando que os alunos aprendam sobre as práticas sociais que

utilizam tecnologia e desenvolvem habilidade e atitudes para se relacionarem com a tecnologia na vida. (BRASIL, 1988, p. 153).

Partindo do pressuposto que as TDIC estão a serviço de todos, possibilitando a

inclusão digital de práticas sociais e pedagógicas digitais, trago, para esta pesquisa, a

formação inicial do professor de inglês, das tecnologias digitais da informação e

7 Grifo meu.

25

comunicação, e também o letramento digital, entendido como uma competência de uso

crítico, de operacionalização funcional e comunicacional das interfaces digitais na Sociedade

da Informação. Essa competência é necessária para o sujeito atuar na sociedade, na qual está

inserido como usuário e cidadão.

Por conseguinte, atualmente, muitas pesquisas e publicações vêm sendo realizadas no

mundo, e também no Brasil, a respeito dos multiletramentos8, cuja integração entre os mais

variados textos, mídias, multimídias e hipermídias eletrônicas, e as diversidades linguística e

cultural, se torna cada vez mais balizar no processo de ensino-aprendizagem nas diversas

dimensões pessoal, profissional e de participação cívica (THE NEW LONDON GROUP,

1996).

O termo multiletramentos tornou-se um hibridismo para o estudo de outros tipos de

letramentos, tais como, “o letramento digital, o letramento visual e o letramento crítico”

(BARBOSA; ARAÚJO; ARAGÃO, 2016, p. 632). De acordo com a visão dessas autoras,

esses letramentos não são excludentes, mas estão interconectados em um contexto global,

cultural, social e institucional, de cada cidadão, como propõem os pesquisadores do The New

London Group (1996), a partir da relação com as TDIC.

Em vista disso, decidi investigar nesta pesquisa apenas os letramentos digitais que os

futuros professores de inglês necessitam possuir para dominar e usar, eficientemente, as TDIC

de maneira pedagógica, além de saber integrá-las em suas práticas de ensino-aprendizagem.

De forma sucinta, Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 18) levam-me a perceber também que

“com o advento da web 2.0, deu-se uma explosão do interesse em novos – especialmente

digitais – letramentos” (DUDENEY, HOCKLY, PEGRUM, 2016).

Dessa forma, as práticas sociais e multifacetadas de letramentos digitais conduzem o

professor a uma competência técnica, funcional e operacional das TDIC, tornando-o um

agente ativo e reflexivo, na tentativa de usá-las, efetivamente, como mediadoras, em situações

reais no ensino de língua estrangeira. É nesse sentido que o uso das tecnologias pode

empoderar o professor para práticas pedagógicas, como, por exemplo, salvar documentos em

pen-drive ou pastas, saber usar salas de bate-papo, fórum ou e-mail, postar documentos e

fotos em redes sociais, criar blogs, realizar gravação de som ou vídeo digital, criar e produzir

materiais digitais atraentes e visualmente compatíveis com a faixa etária dos alunos, entre

8 O termo surgiu pela primeira vez em 1996, a partir de estudo de um grupo de onze pesquisadores que ficou

conhecido como The New London Group. Esse grupo foi constituído por membros das mais variadas áreas do

conhecimento científico-acadêmico e de diferentes instituições de ensino superior, que publicou um manifesto

chamado de A pedagogy of multiliteracies: designing social futures. The New London Group era formado por

Courtney Cazden, Bill Cope, James Cook, Norman Fairclough, Jim Gee, Mary Kalantzis, Gunther Kress, Allan

Luke, Carmen Luke, Sarah Michaels e Martin Nakata.

26

outros. Observa-se, então, que não se pode falar de um único tipo de letramento digital, mas

de letramentos digitais, no plural. Minha concepção, assim, volta-se para a interrelação desses

diversos letramentos na formação inicial do professor de inglês integrados com as TDIC para

fins educacionais.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),

em 2009, apresentou uma coleção de documentos com o objetivo de propor padrões de

competências para o uso TDIC na formação de professores. Os documentos não são receitas

pré-definidas e, muito menos, modelos a serem seguidos, mas referências de planejamento

para a alfabetização tecnológica9 a serem discutidas e implementadas nos programas de

formação docente.

De acordo ainda com a UNESCO (2009), os cursos ou programas de formação estão

deixando a desejar em relação ao desenvolvimento de competências para o uso das

tecnologias da informação e comunicação dos professores no contexto educacional. Por isso,

vejo a necessidade de incorporar ações concretas nos cursos de Letras por meio de inclusão de

disciplinas acadêmicas curriculares que tratem, especificamente, do uso reflexivo, funcional e

pedagógico das TDIC nos diferentes contextos de ensino-aprendizagem de línguas

estrangeiras nos quais esses docentes poderão vir a atuar, seja na esfera particular, seja na

esfera pública.

Afinal, essas disciplinas dariam oportunidades para o aluno do curso de Letras

vivenciar situações pedagógicas teórico-práticas com as TDIC. Além de oferecer aos

educandos oportunidades de questionar, argumentar e pensar nas facilidades e entraves que

essas tecnologias podem trazer para a sua formação como aprendiz e futuro professor de

inglês, foco de minha pesquisa. Assim, essa formação, em especial, proporcionaria a

familiarização com essas tecnologias, tornando o futuro professor letrado digitalmente. Daí a

necessidade de uma formação tecnológico-digital e pedagógica com a integração das

tecnologias nos cursos de Letras.

Em conversas informais com meus colegas professores de universidades brasileiras,

pude constatar que, infelizmente, não há inclusão, nos PPP dos cursos de licenciatura em

Letras-Língua Inglesa, de uma disciplina específica que contemple assuntos relacionados às

TDIC. É mister ressaltar que, na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (FALEM), da

9 A UNESCO (2009, p. 10) usa esse termo no sentido de “integrar o uso das ferramentas básicas de TIC ao

currículo escolar padrão, à pedagogia e às estruturas de sala de aula. Os professores devem saber como, onde e

quando usar (ou não usar) a tecnologia para as atividades em sala de aula, para tarefas de gestão e para adquirir

conhecimento adicional pedagógico e de conteúdo para, assim, apoiar o desenvolvimento profissional do próprio

docente.” Apoiado nesse pressuposto, para este estudo, decidi adotar o termo letramento digital, que será

esclarecido no capítulo seguinte, além de também estar em consonância com a proposta da UNESCO (2009).

27

Universidade Federal do Pará (UFPA)10

, onde atuo como professor de inglês, existe uma

disciplina voltada para esse propósito, que se tornou objeto de estudo de minha pesquisa e

será melhor detalhada no capítulo dois deste estudo.

Além disso, observo que os cursos de mestrado e doutorado no Brasil, no âmbito da

Linguística Aplicada, Linguística e Letras, apresentam essa preocupação, pois além de terem

linhas de pesquisas voltadas, especialmente, para as tecnologias, oferecem, também,

disciplinas específicas nessa temática. Como exemplo, posso mencionar os Programas de Pós-

Graduação de Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

(LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Estudos Linguísticos da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Linguística da Universidade Federal do

Ceará (UFC), Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Linguística Aplicada

da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para citar alguns.

Nesse contexto, Santos (2013) realizou um levantamento bibliográfico de dissertações

e teses, no site de dados da CAPES, apresentando um panorama sobre TDIC e formação de

professores de língua inglesa, entre os anos 2000 a 2009, na área da Linguística Aplicada

(LA) no Brasil. A pesquisa apontou para uma variedade de trabalhos sobre a temática, cujos

resultados direcionaram para os seguintes focos: transposição de políticas públicas e o uso de

tecnologias digitais no ensino, usos de ferramentas digitais para a formação (inicial e

continuada) de professores, apropriação de ferramentas digitais pelo professor na sua prática

pedagógica, crenças e representações construídas a partir do uso de ferramentas tecnológicas,

formação continuada do professor a partir da interação professor-ferramenta-aluno, interação

professor em formação-ferramenta-formador e análise de ferramenta tecnológica e seu

impacto na formação de professores.

Como observado, a pesquisa de Santos (2013) aborda um mapeamento geral na

formação do professor de inglês, tanto inicial, quanto continuada, com relação às TDIC,

trazendo uma contribuição relevante para as pesquisas na área da Linguística Aplicada (LA)

no Brasil, durante os anos supracitados. No entanto, foi encontrado apenas um trabalho (uma

dissertação) relacionado à mesma temática de minha pesquisa.

Na tentativa de continuar o levantamento realizado por esse autor e identificar outros

trabalhos na área de formação inicial de professores de língua inglesa com o uso das

tecnologias, realizei, também, um levantamento bibliográfico de dissertações e teses

disponibilizadas no portal da CAPES, no período de setembro de 2016 a julho de 2017. É

10

Recebi autorização para realizar esse estudo da FALEM/UFPA no Curso de Letras-Inglês, meu contexto de

pesquisa.

28

válido mencionar que, para a busca das dissertações e teses nesse portal, foram usadas as

palavras-chave: formação de professores de inglês e tecnologias; TIC e formação de

professores de inglês; TDIC e formação de professores de inglês; tecnologias educacionais, e

formação de professores de inglês. As buscas utilizando essas palavras e expressões foram

realizadas com e sem o uso de aspas. Entretanto, essa pesquisa foi refinada para localizar

estudos relacionados à formação tecnológica pré-serviço do professor de inglês, foco desta

pesquisa, e que tivessem sido desenvolvidos na esfera da Linguística Aplicada.

Além disso, complementado o levantamento do portal CAPES, pesquisei também no

banco de dados de dissertações e teses de algumas universidades brasileiras, como PUC-SP,

UNICAMP, UFMG, UFRJ, USP, UCPel, UFC, UFPE, UFAL, UNESP, UFES, na área da

Linguística Aplicada, Linguística e Letras, que tinham como linha de pesquisa tecnologia ou

formação de professores de LE. Ademais, realizei um levantamento dos professores desses

programas de Pós-Graduação que desenvolvem trabalhos nas linhas de pesquisas

supracitadas, e consultei seus respectivos currículos lattes, como forma de afinar meu estudo

sobre o assunto.

Assim, considerei para esta pesquisa, os trabalhos defendidos no período de 2010 até o

primeiro semestre de 2017. Ao cruzar todas as buscas, encontrei apenas três dissertações e

três teses sobre o assunto, como observa-se no quadro a seguir:

29

Quadro 1 – Pesquisas acadêmicas de formação inicial de professores de inglês e TDIC.

Ano Referência Titulação Local Título

2012 SANTOS, L. M.

A.

Mestrado UEL Gêneros digitais na educação inicial

do professor de língua inglesa como

instrumento de (trans)formação.

2014 GONÇALVES,

L. A. C.

Mestrado UFRJ Monitoria no curso de Letras:

práticas mediadas pelas novas

tecnologias.

2015 BAPTISTA, J. B. Doutorado UNESP,

São José

do Rio

Preto

Contradições no uso de tecnologias

em contexto de estágio de um curso

de Letras: o professor de inglês em

formação inicial no ensino superior

privado.

2015 CARDOSO, A.

C. S.

Doutorado UFRJ Formação inicial de professores de

inglês para o uso das tecnologias

digitais: uma pesquisa-ação no

contexto do estágio supervisionado.

2016 FADINI, K. A. Mestrado UFES Formação inicial de professores de

inglês do e para o século XXI: os

papéis da língua e da tecnologia

2016 SCHWEIKART,

J. F.

Doutorado UNESP,

São José

do Rio

Preto

A formação inicial do professor de

inglês por meio do uso de recursos

tecnológicos no ensino de língua

inglesa para crianças: conflitos e

contradições.

Fonte: elaborado pelo autor, com base nos dados do portal CAPES (2016, 2017).

Os levantamentos bibliográficos mencionados acima, tanto por Santos (2013) quanto

por mim, autor desta tese, refletem uma lacuna em pesquisas sobre o assunto na área da

Linguística Aplicada no contexto brasileiro, mais uma razão para a motivação do presente

estudo. Como professor do curso de Letras-Língua Inglesa da Universidade Federal do Pará,

decidi, então, olhar para meu próprio contexto de ensino-aprendizagem e elegi, como objeto

para esta pesquisa, a disciplina curricular acadêmica Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de

30

Línguas Estrangeiras, que faz parte do currículo do curso como disciplina obrigatória

institucional. Além disso, essa disciplina tem como foco principal entender a familiarização e

o funcionamento de interfaces digitais, refletir sobre suas reais potencialidades e seus usos

para diferentes ambientes educacionais, na tentativa de o aluno saber apropriar-se

criticamente dessas interfaces para práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem de inglês.

Dessa forma, acredito que este estudo poderá contribuir para preencher a lacuna

existente na literatura acadêmica a respeito da formação inicial de professores de inglês com o

uso das TDIC na área de LA no Brasil. O propósito seria inspirar os cursos de Letras-Inglês a

incluir e a integrar, pedagogicamente, as tecnologias em uma/ou em várias disciplinas

relacionadas ao ensino-aprendizagem de inglês em seus projetos político-pedagógicos e

currículos, uma vez que as TDIC estão cada vez mais presentes nos contextos dos alunos. O

professor precisa estar familiarizado com as mudanças tecnológicas da era digital para

trabalhá-las reflexiva e pedagogicamente.

Outra motivação de minha pesquisa está na formação de professores de meu estado. O

Pará é a segunda maior unidade federativa do país, é quase um continente dentro do Brasil,

com uma economia baseada na agricultura, minério, pesca, indústria, pecuária e turismo. É

um estado rico, economicamente, cortado por rios, que são as estradas dos ribeirinhos

amazônicos, e rodovias, cujas políticas públicas voltadas para a Educação, infelizmente, são

incipientes.

Por isso, formar professores de inglês em pré-serviço a partir de o uso das TDIC, no

contexto paraense, além de suprir a carência de professores para o uso pedagógico das TDIC

no Estado, é possibilitar a esses futuros professores se tornarem agentes multiplicadores para

atuar em outros ambientes educacionais tanto na capital como no interior. Isso porque muitos

alunos graduados dirigem-se para vários municípios paraenses à procura de emprego, cuja

demanda, na maioria das vezes, é significativa.

Nessa perspectiva, a presente pesquisa tem como objetivo investigar o uso das

tecnologias digitais da informação e comunicação para fins educacionais na formação inicial

de professores de inglês. Seu foco está na percepção desses alunos-professores acerca do uso

das TDIC para a aprendizagem, para a prática pedagógica, para o processo de ensino-

aprendizagem e para as práticas de letramentos digitais. Sob esse enfoque, para colocar em

ação esse objetivo, tive como meta responder três perguntas de pesquisa, elencadas a seguir:

a) Como o uso das TDIC se faz presente na aprendizagem e na prática pedagógica na

percepção de futuros professores de inglês?

31

b) Quais percepções os alunos-professores revelaram em relação à inclusão das TDIC

no processo de ensino-aprendizagem?

c) Como a disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras

contribuiu para o fomento do letramento digital dos alunos do curso de Letras-

Inglês?

Nessa direção, a metodologia empregada na presente pesquisa consiste em estudo de

caso, de cunho qualitativo (STAKE, 1995; YIN, 2015), e se utiliza do paradigma

interpretativista (MOITA-LOPES, 1994), sendo desenvolvida com quatro alunos do curso

noturno de Letras-Inglês da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (FALEM) da

Universidade Federal do Pará. Como mencionado no capítulo dois desta pesquisa, os dados

foram gerados no segundo semestre de 2013, durante a aplicação da disciplina curricular

acadêmica Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, com carga horária

de 68 h/a. Os instrumentos de geração dos dados usados foram questionários, entrevista,

relato reflexivo, autoavaliação, atividades no Facebook e notas de campo. Ademais, a

sistematização dos dados de minha pesquisa utilizou a análise de conteúdo segundo Bardin

(2011) e Franco (2012). Ressalte-se que todos esses aspectos serão melhores explicitados no

capítulo intitulado Metodologia da pesquisa.

Vale aqui destacar que minha pesquisa se insere no campo da Linguística Aplicada

(LA), pois dialoga com as temáticas de formação de professores, tecnologias e letramento

digital, além de ser uma lacuna na área. Assim sendo, esta pesquisa se aproxima do mundo

real, produzindo conhecimento sobre ele e a partir dele (MOITA-LOPES, 2006; ROJO,

2013), de acordo com a necessidade de seu momento sócio-histórico atual. Caminhando nessa

direção, segundo Moita-Lopes (2006), a preocupação com o humano e a responsabilidade

social nas pesquisas em LA. Complementando essa visão, Celani (2016) salienta que a LA

adota ou constrói teorias, levando em consideração as vozes dos sujeitos inseridos nas práticas

sociais.

Por essa razão, entendo a LA, assim como Rajagopalan (2014) e Celani (2016), como

um campo do conhecimento híbrido (tanto teórico como metodológico para a produção de

novos conhecimentos), e como salienta Moita-Lopes (2006), uma área de investigação

mestiça e indisciplinar (em comunhão com outras áreas de investigação e ideologias das

ciências humanas e sociais), que ajuda a elucidar “um mundo dos múltiplos discursos e de

novas construções para a vida social” (MOITA-LOPES, 2006, p. 94).

É mister mencionar que, no ano de 2014, ano de meu ingresso no programa de Pós-

graduação em LAEL, minha investigação estava relacionada ao Projeto de Pesquisa Design e

32

Desenvolvimento de Material Instrucional para contextos presencial e digital, inscrito no

CNPq, e coordenado pela Professora Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos, à época,

professora e pesquisadora da PUC-SP e, também, minha orientadora. Esse projeto de pesquisa

tinha como objetivo geral investigar princípios e procedimentos de design, desenvolvimento e

aplicação de materiais instrucionais para o ensino-aprendizagem de línguas nas ambientações

presencial e digital, e em contextos de ensino de língua geral e para fins específicos.

Faz-se necessário apontar, também, que esse projeto estava vinculado à linha de

pesquisa Linguagem e Tecnologia, do Programa em LAEL, da PUC-SP. Atualmente, meu

trabalho é parte do Projeto de Pesquisa intitulado Da pesquisa de fala ao desenvolvimento de

tecnologias, vinculado ao CNPq, e liderado pela Professora Dra. Zuleica Camargo. Dessa

forma, a presente tese pode contribuir para esse projeto de pesquisa no sentido de fornecer

uma investigação sobre a formação inicial de professores de inglês a partir do uso pedagógico

das tecnologias digitais da informação e comunicação, em contexto presencial.

Para finalizar esta introdução, apresento, a seguir, a organização de minha pesquisa,

estruturada em três capítulos.

O capítulo um aborda o quadro teórico da pesquisa e discute como temática as

tecnologias digitais da informação e comunicação na Sociedade da Informação e na

Educação. Na sequência, discorro sobre a origem e os conceitos de letramento(s), abordando,

também, os letramentos digitais. Esse capítulo é finalizado com discussões sobre a formação

do professor no contexto educacional e a formação tecnológico-digital e pedagógica do

professor.

O capítulo dois descreve a metodologia da pesquisa, considerando a caracterização e

introdução às perguntas da pesquisa, a abordagem metodológica adotada, o contexto da

pesquisa, abordando o local, os participantes, a apresentação e a descrição do conteúdo da

disciplina curricular acadêmica, objeto de estudo para esta pesquisa. Em seguida, descrevo os

instrumentos e procedimentos de geração dos dados, incluindo a apresentação e a descrição

dos questionários, entrevista, relato reflexivo, autoavaliação, atividades no Facebook e notas

de campo. O capítulo finaliza com os procedimentos utilizados para a análise dos dados.

O capítulo três apresenta o resultado e a discussão da análise dos dados, refletidos a

partir do referencial teórico proposto, possibilitando, assim, uma triangulação dos resultados

obtidos para responder as três perguntas propostas nesta pesquisa.

Por fim, apresento as considerações finais, em que teço comentários a respeito dos

resultados obtidos e das contribuições desta pesquisa para o campo da LA, além de apresentar

33

um olhar introspectivo para futuras pesquisas a partir da mesma temática e refletir sobre a

contribuição desta investigação para minha formação acadêmica.

A seguir, apresento as teorias que fundamentam o direcionamento desta pesquisa.

34

CAPÍTULO 1: QUADRO TEÓRICO DA PESQUISA

As teorias deveriam servir para informar e

aprimorar práticas e oportunidades. [...] existem

para serem transformadas em prática, na sala de

aula. [...] são necessárias nos cursos de formação,

inicial e continuada, mas deve haver sempre a

transposição para a realidade da sala de aula. É a

minha sala, aquela que me dá tanta preocupação,

e que deve ser levada em conta para se ver se a

teoria vai ajudar ou não. E é bem possível que a

teoria não ajude, porque há outros problemas, na

minha sala de aula, que nada têm a ver com a

relação teoria e prática.

(CELANI, 2016, p. 548-549)

Este capítulo tem como objetivo apresentar as teorias que subjazem esta pesquisa. Em

primeiro lugar, discuto as contribuições das TDIC para o mundo contemporâneo e para o

ensino-aprendizagem, pois essas tecnologias trouxeram maneiras diferenciadas de pensar, de

se expressar e de aprender para as diversas gerações de crianças, jovens e adultos.

Ainda na sequência, abordo os princípios de letramento(s) e letramentos digitais,

respectivamente. Em seguida, trago um estudo teórico sobre a formação do professor no

contexto de ensino-aprendizagem, já que meus participantes de pesquisa são alunos do curso

de Letras-Inglês. Finalmente, apresento a formação tecnológico-digital e pedagógica do

professor, uma vez que compreender as maneiras de ensinar do docente com a integração das

novas tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) se torna relevante na

educação atual.

1.1 Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) trouxeram contribuições

consideráveis para o mundo contemporâneo, proporcionando mudanças significativas na

sociedade, economia, educação e cultura, além da maneira de os sujeitos se expressarem

linguisticamente (BRAGA, 2013; MILLS, 2016). Além disso, cada vez mais essas

35

tecnologias vêm influenciando no modo de ensinar e aprender (BATES, 2016), alterando,

assim, a vida de crianças, jovens e adultos.

A quantidade, a velocidade e a acessibilidade do fluxo de informação potencializam o

ser humano a pensar mais rápido (COLL; MONERO, 2010), devido à flexibilidade e à

mutação de fontes de acesso à informação (BRAGA, 2013), o que pode permitir, segundo

Pérez-Gómez (2015), um melhor desenvolvimento social e individual de sua evolução

(cognitiva e social, por exemplo) na era globalizada da informação digitalizada.

Não obstante, a facilidade de acesso à informação não garante um pensar melhor e

mais organizado e nem “que os indivíduos estejam mais e melhor informados.” (COLL;

MONERO, 2010, p. 22). Em outras palavras, a “informação disponível não significa

necessariamente informação qualificada” (CORTELLA, 2014, p. 63). Isso porque, conforme

enfatiza Braga (2013), há pouco tempo para as pessoas se apropriarem e refletirem sobre a

informação pesquisada.

Na era das TDIC, vivem-se os avanços científicos e tecnológicos de maneira acelerada,

em que as diferentes gerações de crianças, jovens e adultos tentam conviver de forma

harmoniosa, com suas peculiaridades, crenças, modelos e desafios. Estamos na era dos hipers

(ROJO; BARBOSA, 2015), hipertecnologia, hipercomplexidade, hipermodernidade

(CHARLES, 2009; ROJO; BARBOSA, 2015), hiperinformação, hipercultura, entre outros.

Atualmente, “não basta viver, é preciso contar o que se vive. [...] curtir/comentar nas redes

sociais, sem refletir sobre o que se lê, apenas para não perder a oportunidade de se posicionar,

na verdade, de aparecer ou de se satisfazer” (ROJO; BARBOSA, 2015, p. 121).

Toda geração procura diferenciar-se uma da outra, escrever sua própria história,

marcar sua cultura e influenciar uma dada época. Não se pode sistematizar toda uma geração

em uma nomenclatura única, sem considerar sua heterogeneidade, sua peculiaridade, nem se

limitar, apenas, a uma fase da vida, relacionada a uma determinada faixa etária. É necessário

considerar, principalmente, o diálogo entre as pessoas do grupo que “se comportam de

maneira afim ou comparável em algum sentido” (BRAVO; COSLADO, 2012, p. 119),

marcando a formação sócio-histórica entre elas.

Nessa direção, Tapscott (1999), Veen e Wrakking (2009), Palfrey e Gasser (2011),

Bravo e Coslado (2012), Fava (2014, 2016), entre outros, apresentam as características do

perfil de quatro gerações que sofreram fortes influxos de fatores históricos, sociais, culturais,

políticos, econômicos, ideológicos, científicos e tecnológicos da época em que viveram, a

36

saber, geração baby boomer, geração X, geração Y e geração Z11

. A importância de conhecer

cada fase dessas gerações se torna uma oportunidade de estabelecer um diálogo coerente entre

as diferentes maneiras de pensar e de agir das pessoas, que viveram em épocas diferentes,

com os jovens atuais, além de compreender o potencial com o qual cada geração pode

contribuir para a sociedade digital.

Outro aspecto relevante no conhecimento do perfil de cada uma das gerações

supracitadas relaciona-se ao ensino-aprendizagem. O professor pode melhor coordenar as

ações na sala de aula, respeitando as individualidades, maneiras de pensar e de trabalhar de

cada aluno, além dos usos sociais que realizam nos meios digitais, por exemplo;

principalmente, a juventude da contemporaneidade, mais agitada e que nasceu em contato

direto com as TDIC. Passo, agora, a caracterização de cada uma dessas gerações12

.

Os baby boomers, ou simplesmente boomers (TAPSCOTT, 1999; SANTOS NETO;

FRANCO, 2010; BRAVO; COSLADO, 2012; FAVA, 2014, 2016) são as pessoas nascidas

após o fim da Segunda Guerra Mundial, ou seja, é uma geração que corresponde aos anos de

1946 a 1964, aproximadamente. De acordo com esses autores, após a Guerra, os soldados

voltam para casa, a economia se estabelece, as pessoas passam a ter uma qualidade de vida

estável, famílias mais confiantes e otimistas, razão pela qual passam a ter mais filhos também.

Há, portanto, um crescimento significativo do aumento da taxa de natalidade, ocasionando um

fenômeno conhecido como baby boom.

Santos Neto e Franco (2010), assim como Bravo e Coslado (2012), afirmam que essa

geração presenciou o surgimento da televisão, a tecnologia de informação de maior prestígio e

mais poderosa no processo de socialização e de aprendizagem. Complementando essa visão,

Fava (2014, 2016) pontua que a geração baby boomers também sofreu fortes influências do

cinema, da música (com o rock and roll), de movimentos pela liberdade sexual, racial e

política, defendeu questões do meio ambiente, com hábitos de vida mais nômade, entre outros

fatores. Para esses autores, essa geração buscou a valorização da independência individual e

autonomia financeira, razão pela qual se tornou menos subordinada à sociedade e à família.

11 O Guia geração da Internet (2016) acrescenta mais uma geração, denominada de Alpha, nascida a partir de

2010. Ainda não há certezas e definições sobre esse grupo. Não obstante, já se tem conhecimento de ser uma geração que domina o mundo digital desde muito cedo, razão pela qual, no campo educacional, ainda segundo o

Guia geração da Internet (2016), o professor não será somente um vetor de conteúdo e informação, mas um

mediador do conhecimento, respeitando as necessidades e o ritmo de aprendizagem de cada aluno. 12

Não há unanimidade entre os pesquisadores em relação às datas que marcam o início e o término de cada

geração, nem as características de seu perfil, nem quanto a sua denominação. Os limites fronteiriços entre uma

geração e outra são peculiares. Não obstante, nesta pesquisa, a história e as características das diferentes

gerações ajudam, principalmente, nós, professores, a compreender a convivência com alunos de diferentes idades

em nossa sala de aula. (CORTELA, 2014; FAVA, 2014, 2016).

37

Em relação à educação, a geração baby boomers acreditava que era o caminho mais

seguro para se atualizar e crescer profissionalmente, e permanecer em seu emprego; por essa

razão, as salas de aulas passam a ser ambiente de convivência entre a juventude e as pessoas

com mais experiência de vida. Segundo Fava (2014), atualmente, os baby boomers tornaram-

se os pais da geração X, avós da geração Y e bisavós da geração Z.

Por sua vez, Tapscott (1999) e Bravo e Coslado (2012) salientam que a geração X

corresponde às pessoas nascidas entre os anos de 1965 ao início da década de 1980,

aproximadamente, e foi marcada pela redução da taxa de natalidade, definindo essa geração

como baby bust. Tapscott (1999) pontua que o nome referente a essa geração está relacionado

a dois fatores. O primeiro fator refere-se à associação com o nome do romance “geração X”,

publicado em 1991, do autor canadense Douglas Coupland; não obstante, ainda segundo

Tapscott (1999), os personagens do livro não se configuram com as mesmas características

das pessoas nascidas nesse período, sendo considerada, então, uma subgeração do extremo

final da geração baby boomers. O segundo fator, na visão de Bravo e Coslado (2012), deve-se

ao fato de que essa geração seria de difícil caracterização, tornando-se difícil em definir, com

precisão, o perfil das pessoas nascidas nessa época, o que explicaria a denominação X para a

indefinição dessa geração.

Tapscott (1999) afirma que essa geração foi marcada pela luta de independência social

das mulheres, pela chegada do homem à lua, pelo surgimento do videocassete e do

computador pessoal, pela presença constante do videogame, pela ausência dos pais, pelos

movimentos hippies, entre outros fatores. Devido a sua preocupação com o trabalho, também

foi uma geração que buscou sua autonomia profissional e independência financeira, gostava

da competitividade e variedade de atividades, tinha confiança em si mesma, capacidade de

adaptação e espírito empreendedor. Por essa razão, conforme Fava (2014, 2016), a geração X

buscava, constantemente, a informação, o conhecimento, o aprendizado por tentativa e erro,

novas habilidades e feedback constante, o que a tornava uma geração angustiada e estressada

no dia a dia. Atualmente, os indivíduos da geração X são os pais da geração Y e avós da

geração Z.

Por sua vez, a geração Y constitui-se das pessoas nascidas entre os anos de 1983 e

início dos anos 2000, aproximadamente. Também conhecida como geração Internet e geração

Milênio, como afirma Tapscott (2010). Trata-se de uma geração nascida e educada em um

ambiente digital, razão pela qual não teve a necessidade de ser ensinada a usar os novos

aparatos tecnológicos disponíveis na época, como, por exemplo, computadores, tablets,

smartphones, SMS, blogs, Internet.

38

Fava (2014) aponta que a origem do nome para essa geração se deve à influência da

antiga União Soviética em relação a todos os países comunistas, que escolhia a primeira letra

do nome dado a uma criança recém-nascida em um determinado período. Logo, a letra “Y”

foi a escolhida e atribuída a todas as crianças nascidas entre os anos de 1980 a 1990. Por

analogia, a mesma letra foi usada para denominar as pessoas que nasceram no início da

década de 1980 ao apresentar as descrições de cada geração.

De acordo com Cecchettini (2011), Bravo e Coslado (2012), e Fava (2014, 2016), os

jovens Y apresentam características bem peculiares em relação às gerações anteriores, a saber:

são imediatistas, questionadores, participativos, criativos e sempre conectados com o espaço

virtual. Como bem nos alerta Bravo e Coslado (2012), para essa geração a busca pela

informação se torna híbrida, instantânea e flexível, ou seja, é a geração com usuários criadores

de conteúdo.

A esse respeito, Fava (2014) também afirma que os:

jovens Y [...] procuram informação fácil e imediata, escolhem arquivos

digitais a livros, preferem e-mails a cartas, digitam em vez de escrever, vivem em redes de relacionamento, compartilham tudo: dados, fotos,

hábitos, conteúdos pessoais que muitas vezes ganham instantaneidade,

dimensões exponenciais e rapidamente se transformam no que o escritor

queniano Clinton Richard Dawkins denominou de memes globais na Internet. [...]. Eles desenvolvem um modo não linear de pensar,

implementaram velocidade na comunicação, abreviando palavras, reduzindo

frases que refletem exatamente a linguagem da Internet, em que uma infinidade de assuntos pode ser acompanhada simultaneamente. Para essa

juventude, o normal é saber e ver muitos temas ao mesmo tempo (FAVA,

2014, p. 54).

O mundo digital oferece maneiras diferentes de pensar, de se expressar, de aprender,

de ensinar e de agir para a geração Y, pela influência das TDIC, ocasionando uma maior

velocidade na aquisição da informação recebida pela variedade múltipla de fontes disponíveis.

Por essa razão, Bravo e Coslado (2012) salientam que o ambiente digital está se constituindo

em um agente educativo autêntico para as gerações, com relevante influência para a

aprendizagem e práticas inovadoras. Atualmente, os indivíduos da geração Y são os pais da

geração Z.

Finalmente, a geração Z, segundo Tapscott (2010), é também conhecida como geração

silenciosa, i-geração, geração next e corresponde às pessoas nascidas a partir do ano 2000,

aproximadamente, até os dias atuais, tendo a letra de seu nome originada da terminologia

39

zapear13

, como asseguram Veen e Vrakking (2009), fazendo referência ao ato de trocar de um

canal para outro na televisão.

Conforme sinaliza Cecchettini (2011), essa geração está inserida no ambiente virtual,

nasceu interligada com todas as tecnologias digitais a sua disposição. Com o avanço e a

modernização da Internet, da banda larga, das redes sociais, e-books, smartphones, ipads,

notebooks, tablets, a geração Z pode comunicar-se no tempo e no espaço que desejar e com

quantas pessoas estiver interessada; é uma geração multitarefada, consegue realizar duas, três

ou mais atividades ao mesmo tempo, sem perder a concentração, apesar de ter menor

capacidade do que as demais gerações. Para Palfrey e Gasser (2011), a geração Z entende de

tecnologia digital mais do que seus pais, avós, tios e professores e é uma geração que não

precisa reaprender para viver no mundo digital, pois conhecem, apenas, esse mundo14

.

Por outro lado, a geração Z apresenta dificuldades em se relacionar com as pessoas do

mundo real, em se adaptar aos padrões e aos limites propostos da escola atual, além de não se

preocupar com o futuro. O momento para essa geração é o aqui e agora. Conforme

Cecchettini (2011), a geração Z é impaciente, instantânea, hiperativa, calculista, prática e vê

seus erros como algo natural, com raciocínio lógico menor e “atenção limitada a pequenos

intervalos de tempo.” (VEEN; VRAKKING, 2009, p. 12).

Portanto, é uma geração “habilidosa e capacitada para ler imagens visuais, criar mapas

mentais, formular hipóteses, entre outras aptidões que não são novas, porém a combinação e

intensidade o são.” (FAVA, 2014, p. 61). Dessa forma, a geração Z preocupa professores e

especialistas da educação, pois é uma geração veloz e que não gosta de fazer a mesma tarefa,

de se sentir limitada, gosta de ser desafiada para usar as TDIC de acordo com sua

necessidade, de preferência com apenas um simples toque na tela de seus smartphones, por

exemplo.

Com relação à educação, concordo, mais uma vez, com Cecchettini (2011, p. 9) ao

mencionar que “os métodos de ensino e aprendizagem devem ser mais criativos, atraentes e

interativos”, na tentativa de dialogar com a geração Z, pois esses jovens esperam da escola

13 De acordo com Veen e Vrakking (2009, p. 131), esse termo refere-se ao “processo de troca de um fluxo de

informação para outro, como se faz, por exemplo, com o controle remoto de uma televisão quando se troca de

canal. Em geral, zapear é um método para aumentar a densidade de informações interessantes no menor tempo

possível; é uma forma eficiente de gerenciamento de tempo.” 14 O Comitê Gestor da Internet no Brasil (2017) aponta que em algumas cidades brasileiras a leitura no formato

analógico (como livros, jornais e revistas) ainda é de preferência entre os leitores. A pesquisa também mostrou

que os jovens em Cachoeira do Sul (RS), por exemplo, têm pouca familiaridade com aplicativos para baixar

música no celular, preferindo ouvi-la em rádio e no YouTube.

40

uma interrelação funcional e operacional com as TDIC, com as quais estão familiarizados e

das quais fazem uso em seus cotidianos.

Na perspectiva de Tapscott (2010), o computador, a Internet e as outras tecnologias

digitais configuram uma revolução ativa tanto nas gerações Y como na geração Z, com

propósitos sociais e interativos. Essas gerações veem as TDIC como uma extensão natural de

seus cotidianos, razão pela qual são denominadas de Homo zapiens, como bem definiu Veen e

Wrakking (2009).

Fava (2014, p. 54) complementa que “a geração Y foi dominada pela tecnologia, a

geração Z é dominada pela velocidade da tecnologia.” Tratam-se de gerações consumistas e

influentes nas suas decisões de escolha, pois “querem algo que sirva para eles – onde, quando

e da maneira que quiserem. Não são consumidores passivos do modelo massivo. [...] estão

ávidos para contribuir com a marca.” (TAPSCOTT, 2010, p. 224).

Certamente, a Sociedade da Informação tem sido influenciada pela mudança de ser, de

fazer, de agir, de pensar e de consumir dos jovens, principalmente, na visão de Prensky (2001,

2010, 2012), pelo aparecimento e pela rápida disseminação das TDIC. O que me leva a

retomar o enunciado do brilhante filósofo francês Rene Descartes, “Penso, logo existo”, e

construir uma analogia para as gerações Y e Z, que são as gerações do “Faço, logo existo.”

Nessa direção, concordo com Prensky (2001) quando afirma que o potencial das TDIC está

sacramentado, sem possibilidade de caminho de volta, tanto para as crianças e os jovens, que

passam a maior parte do tempo on-line, como também para os adultos, ou seja, na visão do

autor trata-se da singularidade digital (PRENSKY, 2001).

Trata-se, assim, da domesticação da tecnologia (BARTON; LEE, 2015), uma vez que

as tecnologias (digitais) são integradas à vida das pessoas de maneira inata. Ademais, os

usuários “se apropriam de tecnologias para facilitar suas atividades cotidianas. Isso tudo tem

acontecido num período relativamente curto e se tornou rotineiro e despercebido na vida das

pessoas.” (BARTON; LEE, 2015, p. 12).

Ao analisar os perfis da geração baby boomers, geração X, geração Y e geração Z,

pode-se perceber que as duas primeiras nasceram em um ambiente analógico, ao passo que as

duas últimas, em um ambiente digital. Por essa razão, Prensky (2001) cunha os termos

imigrantes digitais, para as pessoas que nasceram e cresceram na era pré-digital, e nativos

digitais, para aqueles que cresceram familiarizados com as TDIC.

Na época, Prensky (2001) apresentou esses novos termos na tentativa de compreender

o universo dos jovens e dos adultos com relação ao uso das TDIC. Braga (2013, p. 64) afirma

que os imigrantes digitais foram criados em uma “cultura letrada tradicional”, porém estavam

41

se adaptando aos novos ambientes digitais, uns com mais facilidade que outros, de qualquer

maneira, todos com seus sotaques analógicos, na visão de Prensky (2001). Por sua vez, os

nativos digitais são os usuários frequentes dos computadores, celulares, Internet, videogames

e outros aparatos digitais, ou seja, como afirma Prensky (2001), são os novos falantes nativos

da linguagem digital.

Com essa perspectiva, esse pesquisador determina que a distinção entre os dois termos

não se torna mais necessária no momento atual, apesar de terem sido usados por vários

estudiosos no assunto durante vários anos. Isso posto, Prensky (2012) apresenta o termo

sabedoria digital, para todos que nasceram, cresceram e se adaptaram às TDIC.

Segundo Prensky (2012), o uso cognitivo da tecnologia digital está além da

capacidade natural do homo sapiens, ampliando suas capacidades cognoscitivas na tentativa

de encontrar soluções práticas, criativas e de conteúdo apropriados ao seu interesse e para as

suas necessidades. A tecnologia está a serviço da sociedade, razão pela qual depende da

sabedoria do homem para criá-la, desenvolvê-la e torná-la sofisticada, ou seja, as tecnologias

digitais são criadas para atender as necessidades das pessoas.

Dessa forma, conforme salienta Aparici (2012), as tecnologias não são neutras, pois

sempre afetam a vida de todos ao surgirem, seja de maneira ascendente, seja de maneira

descendente, com ideologias e valores implícitos, como complementa Bravo e Coslado

(2012), ou seja, “já não sabemos viver sem fazer uso delas.” (KENSKI, 2012a, p. 19).

Sendo assim, Prensky (2012) ressalta que a sabedoria digital surge da combinação da

mente com as interfaces digitais para o desenvolvimento do homem. Ainda segundo esse

autor, tais relevâncias apontam que a sabedoria digital pode e deve ser ensinada e aprendida,

independentemente da faixa etária, melhorando o pensamento e a compreensão de uso

das/com (as) TDIC. Os imigrantes digitais do passado estão cada vez mais familiarizados e

adaptados ao uso das tecnologias digitais, pois aprendem a usar o computador, a Internet, as

redes sociais, o celular, com todas as suas funções.

As TDIC estão cada vez mais intensificando as capacidades cognitivas das pessoas,

empoderando-as sabiamente. Dessa forma, ainda de acordo com Prensky (2012):

sermos sábios digitais implica não só melhorarmos nossas capacidades naturais de lidar com as tecnologias existentes, mas também identificarmos

continuamente novas áreas. [...] Os sábios digitais pesquisam e avaliam tanto

os aspectos positivos como os negativos das novas ferramentas e descobrem como encontrar o equilíbrio que as transformam em ferramentas que

potencializam o desenvolvimento da sabedoria. Eles ainda percebem que a

capacidade de controlar a tecnologia digital para atender às suas

42

necessidades é uma habilidade-chave na era digital.15

(PRENSKY, 2012, p.

212, tradução minha).

Nessa direção, a mente humana e as TDIC são relevantes meios de interação para o

homo sapiens se tornar sábio digitalmente. Ademais, concordo com Prensky (2012) em

relação à desatualização dos termos imigrantes digitais e nativos digitais nos dias atuais para

definir dois grupos de pessoas que usam a tecnologia de maneira diferente. Atualmente,

qualquer pessoa pode aprender a operacionalizar as TDIC de maneira autônoma, para os seus

próprios interesses, independentemente de ser criança, jovem ou adulto.

Apesar disso, não se pode negar que as crianças, os jovens e os adultos nasceram em

culturas diferentes, razão pela qual a maneira de pensar entre eles, também, será diferente, ou

seja, na visão de Prensky (2012), o ambiente e a cultura em que as pessoas são criadas afetam,

e até mesmo determinam muitos de seus processos de pensamento e de aprendizagem. Sob

esse prisma, sou levado a concordar com Botelho e Piesco (2017, p. 54) ao afirmarem que “a

força das mutações trazidas pelas novas tecnologias desarticulou nossa maneira de pensar a

nossa relação com o mundo da cultura.”

Ainda de acordo com Prensky (2012), as TDIC mudaram, substancialmente, a maneira

de as pessoas realizarem as atividades no dia a dia; os sábios digitais estão mais conectados

virtualmente e simultaneamente, interativos, sempre criando novas maneiras de colocar em

prática suas ideias a partir das tecnologias digitais disponíveis.

Corroborando as ideias de Prensky (2012), em relação à sabedoria digital, Barton e

Lee (2015, p. 23) professam que “a ideia de nativos digitais, e de divisão digital, mascara a

variedade de conhecimentos e experiências entre os jovens [...] e também entre as pessoas

mais velhas. [...] não há idade clara para marcar uma diferença no uso da tecnologia.” Logo, o

conhecimento e a prática para o uso das TDIC não estão associados à idade, mas à vontade de

aprender e usá-las como elementos integradores para cada sujeito se tornar incluído

socialmente no mundo digital (PRENSKY, 2012; ANDERSEN, 2013; BARTON; LEE,

2015).

Convém lembrar que o avanço das TDIC se tornou motivo de preocupação para os

professores devido à exposição de materiais na Internet, como, por exemplo, livros, artigos,

trabalhos acadêmicos, entre outros, além da quantidade de plágios constantemente

15

No original: “Being digitally wise involves not only enhancing our natural capabilities with existing

Technologies, but also continuously identifying additional areas [...]. They investigate and evaluate the positives

as well as the negatives of new tools and figure out how to strike the balance that turns tools into wisdom

enhancers. The digitally wise also realize that the ability to control digital technology, to bend it to their needs, is

a key skill in the digital age.”

43

identificados, tornando, o professor um detetive digital (PRENSKY, 2012) na cultura

CRTL+C, CTRL+V. Em síntese, “o virtual funciona como um espelho da sociedade,

aparentemente replicando a realidade como a conhecemos em toda a sua extensão, tanto na

violência quanto na solidariedade.” (ARAÚJO; LEFFA, 2016, p. 10).

Na sociedade atual, as TDIC tornam-se parte integrante e essencial na integração do

ensino-aprendizagem. Como é sabido, essas tecnologias não foram criadas para propósito

educacional, porém se tornam “um bom exemplo de como a tecnologia pode ser subvertida

para outros fins que não aquele para o qual foi inicialmente projetada.” (BRAGA; RICARTE,

2005, p. 21). Dessa forma, é uma realidade impossível de ignorar no contexto de sala de aula

e que precisa ser aprendida, apreendida e compreendida, como toda forma de inovação, para a

criação de novas formas de uso e de necessidades para contextos específicos.

Segundo Prensky (2010; 2012), Kenski (2012a; 2012b) e Pérez-Gómez (2015),

adquirir o computador ou qualquer outra interface digital não é suficiente para o usuário se

tornar um conhecedor da tecnologia. Porém, saber usá-la de acordo com as necessidades de

cada sujeito e suas especificidades torna as TDIC potentes e dinâmicas interfaces no processo

educacional.

Apesar de serem reconhecidas como essenciais na educação, as TDIC ainda são pouco

exploradas e usadas em todas as suas potencialidades e possibilidades pelos professores de

maneira pedagógica com seus alunos. Pensar nas TDIC didaticamente, de acordo com o

Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016), é saber usá-las como interfaces protagonistas,

para aprimorar o ensino e os propósitos reais de aprendizagem, na tentativa de modificar e

transformar a realidade da sala de aula tradicional. Além disso, essas tecnologias podem

capacitar o aluno a tornar-se um usuário competente e crítico (COSCARELLI; KERSCH,

2016), tornando-se, assim, um agente do conhecimento, como bem professa Freire

(1996/2004).

Não basta usar a tecnologia pela tecnologia digital, ou seja, trocar o livro didático e o

caderno pelo computador, por exemplo. A escola atual16

precisa pensar que o aluno de hoje

cresce com os celulares17

, os videogames, os downloads de músicas, vídeos e jogos digitais, a

16 Bates (2016, p. 55) salienta que “nossas instituições educacionais foram construídas em grande parte para

outra era, baseada em uma era industrial, em vez de digital.” 17

A maioria das escolas brasileiras da rede pública estadual e municipal de ensino fundamental e médio proíbem

o uso de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos, como smartphones, MP3, MP4 e tablets dentro das

salas de aulas. A medida já está em vigor nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná,

Ceará, Minas Gerais, Acre, Pará, entre outros estados. No Pará, por exemplo, a Lei 7.269 foi aprovada no dia 6

de maio de 2009. Informações disponíveis no sítio

http://www.crianca.mppr.mp.br/module/noticias/article.php?storyid=859#estadual. Acesso em 3 set. 2016.

44

Internet, as redes sociais. É uma geração que usa a tecnologia “24/7” (VEEN; VRAKKING,

2009, p. 40), conectada e integrada aos ambientes digitais vinte e quatro horas por dia, durante

os sete dias da semana, usa os dispositivos móveis com muita frequência, razão pela qual os

teclados do computador e o mouse se tornaram acessórios do passado para essa juventude.

Como bem salientam Gil e Hernández-Hernández (2016), as salas de aula deste novo século

não conseguem acompanhar as mudanças e os desafios da educação na contemporaneidade

digital.

A geração que chega à sala de aula atual tem pouca paciência para aulas expositivas,

para instruções sistemáticas e para testes (PRENSKY 2012; SILVA, 2013; FAVA, 2016),

além de ficar mais distraída quando o assunto não lhe chama a atenção. De acordo com

Prensky (2001, 2012), as crianças e os jovens não são desatentos, mas se concentram apenas o

suficiente para compreender e aprender o ponto principal e ter certeza de que ele faz sentido.

Esse autor também afirma que o cérebro das crianças e dos jovens das gerações atuais são

fisiologicamente diferentes das gerações passadas, devido, principalmente, à influência que

frequentemente recebem das TDIC, ou seja, possuem mentes hipertextuais e com estruturas

cognitivas paralelas; os adultos, por sua vez, são sequenciais, processam uma coisa de cada

vez, segundo Prensky (2012).

Reitero, ainda, o pensamento de Pischetola (2016, p. 50) que “as novas gerações não

conseguem imaginar como seria aprender fora do mundo digital, onde as oportunidades de

participação, criação e compartilhamento são inúmeras e cada vez mais sofisticados.” Por essa

razão, o aluno de hoje não aprende para fazer, mas aprende-fazendo (VEEN; VRAKKING,

2009; PALFREY; GASSER, 2011). Nessa seara, conforme Hattie (2017, p. 21), “os alunos

estão ávidos para serem desafiados a aprender.”

No contexto educacional atual, as TDIC e a escola exercem nichos fundamentais no

mundo digital, que podem levar o aluno a desenvolver habilidades pedagógicas digitais para a

aprendizagem, além de saber refletir e argumentar. Não faz mais sentido pensar a escola como

um lugar da erudição, enciclopédico, de conteúdos engessados, onde o professor é o detentor

do conhecimento e do saber, como também não faz sentido formar alunos para o trabalho

individual, sem motivar a escuta do outro (CORTELLA, 2014; FAVA, 2014, 2016). Diante

do exposto, em vista de tais questões, Almeida e Valente (2016, p. 32) ressaltam que a escola

deveria ser compreendida como um espaço gerador, gestor e não, apenas, consumidor do

conhecimento, tornando-se, assim, um ambiente “de cultura, diálogo, articulação, entre o

conhecimento local e global” por meio das TDIC.

45

Nesse contexto, o acesso à informação é mais que imediato, logo o indivíduo “não

precisa frequentar a escola para ter acesso ao conhecimento instituído. Em casa ou em

qualquer lugar, a qualquer hora, acessa-se a informação desejada.” (SILVA, 2013, p. 142).

Assim, concordo mais uma vez com Prensky (2001, 2010, 2012) ao questionar se as crianças

e os jovens são obrigados a frequentar uma escola engessada com conteúdos e métodos

antigos ou se o professor deve aprender o novo.

Ainda segundo Prensky (2001, 2010, 2012), as habilidades que crianças e jovens

precisarão no futuro não são as habilidades do passado, isto é, aquelas que estão lhes passando

na escola. Diante do exposto, partilho com Leffa (2016, p. 82) a ideia de que o professor e a

escola precisam entender que “a sala de aula não é uma redoma de vidro, isolada do mundo, e

o que acontece dentro da sala de aula está condicionada pelo que acontece lá fora.”

A escola precisa acompanhar o fluxo constante da informação e as diferentes maneiras

de comunicação na Sociedade da Informação, em que as TDIC podem ser usadas e

incorporadas na práxis social (PRENSKY, 2010, 2012; BRAGA, 2013; PÉREZ-GÓMEZ,

2015). Assim como Ribeiro (2016, p. 135), também acredito que “a escola tem de estar atenta

e aberta às mudanças que a inserção da sociedade no mundo digital exige para a socialização

das novas gerações.”

Para que essas mudanças, na sala de aula, sejam coerentes, significativas e possam, de

fato, tornar as escolas verdadeiras agências interdisciplinares para o uso consciente, funcional

e pedagógico das TDIC, Braga e Vóvio (2015) ponderam que o currículo, e aqui acrescento,

também, o projeto político-pedagógico da escola ou da universidade não sejam engessados e

tradicionais. Dessa forma, faço também minhas as palavras de Almeida et al. (2017) ao

pontuarem que

a disseminação do uso das TDIC, o vertiginoso avanço da ciência e as

transformações sociais fazem com que o referencial sobre currículo assuma novas características e se apresente com uma multiplicidade de referências e

orientações teóricas e metodológicas. Surgem, assim, as propostas

curriculares multi, inter e transdiciplinares, que permitem compreender e tratar do currículo contextualizado e multirreferencial, que se concretiza na

prática social pedagógica e cultural ao incorporar os elementos do cotidiano

trazidos pelas experiências de professores, professoras, alunos e alunas nas

distintas redes de interação das quais participam, desenvolvem e aprendem. (ALMEIDA et al., 2017, p. 393, grifos meus).

Saliento, assim, a importância da integração da cultura digital no ambiente de sala de

aula no contexto brasileiro, em que os alunos poderão se apropriar, pedagógica e

conscientemente, das mídias digitais e das tecnologias (IANNONE; ALMEIDA; VALENTE,

46

2016; PISCHETOLA, 2016; CERNY et al., 2017, entre outros). Em outras palavras, é trazer e

integrar à sala de aula o que já está legitimado fora dela, a cultura mediada pela tecnologia e

todas as suas potencialidades. Assim sendo, compartilho a visão de Buckingham (2010, p. 42)

quando afirma que “se as escolas de certa forma não foram atingidas pelo advento da

tecnologia digital, o mesmo não pode ser dito da vida das crianças quando estão fora da

escola.” Complementando a visão do autor, acrescento também os jovens e os adultos.

Buckingham (2010) enfatiza também que a escola não pode ignorar a relação que as

tecnologias e as mídias digitais passaram a ter na vida da maioria das pessoas e seu papel é

mais que fundamental para ampliar o acesso à cultura digital, evitando, assim, um hiato entre

a cultura oferecida pela escola e a cultura digital vivenciada fora do contexto extraescolar,

tanto pelas crianças e pelos jovens, como pelos adultos, conhecida como “cultura

tecnopopular” (BUCKINGHAM, 2010, p. 43). Em outras palavras, segundo esse autor, trata-

se de uma tecnologia que “se tornou do domínio da cultura popular.” (BUCKINGHAM, 2010,

p. 39).

Caminhando na mesma direção, tomo como base as referências do estudo realizado

pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (2017) ao destacar que as tecnologias se tornaram

potentes ferramentas de disseminação, criação, difusão, reprodução e circulação de uma

diversidade de conteúdos culturais18

, principalmente entre os jovens de 15 a 17 anos, e de 22 a

26 anos, independentemente da classe socioeconômica. Os conteúdos são postagens de textos,

imagens ou vídeos relacionados à

criações artísticas e autorais (como ficções), conteúdo de entretenimento

(como humor), informações do tipo tutorial (que ensina a fazer algo, como

uma receita culinária, um corte de cabelo ou um macete para um jogo on-

line) e informações de utilidade pública relacionadas a um determinado contexto (como notícias sobre o que ocorre no bairro), entre outros.

(OLIVEIRA; DINO, 2017, p. 108).

Ainda de acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2017), os conteúdos são

postados por meio dos smartphones, com recursos audiovisuais cada vez mais acessíveis, e

das ferramentas disponíveis nos aplicativos das redes sociais, como, por exemplo, WhatsApp

e Facebook (ambas com maior frequência de uso) e Snapchat, Twitter e Instagram (esses com

18

Estudo publicado em O Liberal (2017), jornal de maior circulação do estado do Pará, baseado em dados da

revista britânica The Economist, da União Internacional de Telecomunicações (ITU, sigla em inglês) e do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta o Brasil entre os dez países do mundo com menor

acesso à Internet, cerca de 70,5 milhões de pessoas (57,5%). No Pará, 3,9 milhões de pessoas estão off-line, o

que corresponde a 56,7% da população, ocupando a posição de quinto lugar entre os estados brasileiros.

47

menor frequência de uso). O blog e o YouTube também foram apontados na pesquisa como

meios de circulação e publicação da informação.

Afinal, como bem ponderam Botelho e Piesco (2017, p. 86), as TDIC poderiam ser

usadas como interfaces multifuncionais para “diminuir as distâncias entre as classes sociais e

níveis de escolaridade”, tornando, assim, a escola um espaço de democratização para

fomentar as diferentes culturas para a formação e para o enriquecimento do aluno para

práticas culturais. O que me faz concordar mais uma vez com essas autoras no sentido de que

as TDIC fazem parte dos contextos sociais de maneira diferenciada para cada indivíduo/aluno,

seja entre jovens e adultos, seja entre as localidades, tornando as práticas culturais sempre

heterogêneas.

A esse respeito, vejo a escola e a universidade como agências fomentadoras ativas

para a mediação da cultura digital, tornando as tecnologias e as mídias digitais integradoras no

processo de ensino-aprendizagem, o que nos leva a pensar o papel social da escola que

desejamos (PISCHETOLA, 2016; ALONSO, 2017). Segundo Martins e Ribeiro (2017), nesse

sentido também somos levados a refletir sobre a possibilidade de criação de metodologias

para a construção de novos saberes e de novas necessidades de aprendizagem. Desse modo,

Alonso (2017, p. 32) leva-me a perceber que “compreender, de fato, as implicações que o uso

intensificado delas (das TDIC) apresenta é, sem dúvida, elemento crucial para se empreender

fazeres que subsidiem, aí sim, outra maneira de organizar o fazer escolar com as TDIC.”

(grifo meu).

Conforme ainda enfatiza Alonso (2017), há dois tipos de culturas que estão em

evidência no cenário educacional atual, a saber: a cultura escolar e a cultura digital. Na

primeira, prevalece a instrução formal para o ensinar e o aprender, uma “cultura escolar

transmissiva” (IANNONE; ALMEIDA; VALENTE, 2016, p. 61), na qual o professor é o

detentor do conhecimento e o aluno o absorve passivamente, sem qualquer questionamento;

ao passo que na segunda cultura, a relação hierárquica entre professor e aluno é rompida, com

a inserção de interfaces digitais que podem tornar a aprendizagem fácil e motivadora, com o

professor atuando como um mediador (ALONSO, 2017).

Em minha concepção, a cultura digital leva o aluno a ser produtor e gerador de

conteúdos usando as tecnologias. Assim, apoiado mais uma vez no pensamento de

Buckingham (2010, p. 44), reitero que “as crianças estão hoje imersas numa cultura de

consumo que as situa como ativas e autônomas; mas na escola uma grande quantidade de seu

aprendizado é passiva e dirigida pelo professor.”

48

Seguindo por essa direção, torna-se, assim, relevante a inclusão da cultura digital no

ambiente de sala de aula, cada vez presente na sociedade atual, pois como defendem Iannone,

Almeida e Valente (2016),

a escola que participa da cultura digital e dialoga com ela assume papel

central na formação de estudantes com autonomia para tomar decisões, argumentar em defesa de suas ideias, trabalhar em grupo, atuar de forma

ativa e questionadora diante dos acontecimentos, dificuldades e desafios, e

participar do movimento de transformação social. (IANNONE; ALMEIDA;VALENTE, 2016, p. 62).

Nessa vertente, a necessidade da integração das tecnologias e das mídias digitais ao

contexto escolar, e também ao acadêmico, como forma de conduzir o aluno a analisar, criticar

e compreender as suas significações e os seus sentidos para uma apropriação e interpretação

consciente dessas interfaces na cultura digital, “ensejando um currículo definitivamente

significado por práticas culturais em que o digital faria denotar outras racionalidades que não

a puramente tecnificada.” (ALONSO, 2017, p. 36).

Em minha acepção, a cultura digital deveria estar integrada à escola e ao currículo, ou

melhor dizendo, a um web currículo (ALMEIDA, 2014), pois a cultura digital proporciona

acesso ao conteúdo disponível por meio das tecnologias e também possibilita a criação e

produção de conteúdos. Por essa razão, vejo que o web currículo pode gerar um ensino-

aprendizagem planejado, social (temas do dia a dia inseridos na estrutura curricular) e

direcionado para prática crítica de sala de aula, com foco no aluno, com a inserção e o uso

funcional e pedagógico das TDIC, como forma de “expandir as possibilidades de desenvolver

o currículo para além dos limites da escola, abarcando outros espaços de educação, cultura e

convívio social” (ALMEIDA et al., 2017, p. 393).

Apesar de observarmos a necessidade de integração da cultura digital com um (web)

currículo no contexto escolar, e também no acadêmico, Rojo e Barbosa (2017) ressaltam que

as TDIC e os multiletramentos da cultura digital não foram inseridas eficientemente nas

práticas de sala de aula na atualidade, atendo-se, na maioria das vezes, à cultura analógica. A

esse respeito, as autoras posicionam-se apresentando algumas implicações, tais como a:

da falta de infraestrutura na escola, sobretudo nos dias de hoje de conexão com a Internet, à falta de conteúdos digitais adequados, que não sejam

apenas a cultura do papel transporta para os diferentes tipos de tela; dos

documentos curriculares da educação básica, que ainda hoje contemplam

apenas uma multimodalidade centrada nos letramentos convencionais ou, quando muito, na cultura das mídias, aos currículos de formação de

professores que não contemplam a cultura digital nem como forma de

49

desenvolvimento nem como objeto de reflexão. (ROJO; BARBOSA, 2017,

p. 211).

Com base nesses referenciais, entendo a cultura digital como viva, dinâmica e plural,

integrando as mais variadas interfaces tecnológicas digitais que podem ser adaptadas para

diferentes contextos de ensino-aprendizagem de acordo com as necessidades, tanto de

professores como de alunos, e as habilidades linguísticas que se deseja ensinar, além de suas

contribuições para a educação no contexto brasileiro. Prossigo, assim, convergindo com

Oliveira e Dino (2017, p. 100) ao afirmarem que as tecnologias podem se tornar aliadas

primárias da produção cultural, pois “possibilitam um maior acesso a conteúdos e,

principalmente, uma participação mais ativa dos indivíduos – seja publicando suas próprias

criações, ou escolhendo com mais autonomia os conteúdos que vão consumir, seja opinando e

colocando sua voz [...].”

Assim sendo, não se pode olhar a cultura digital como um fenômeno temporário,

apesar de ainda estar em processo de construção no contexto escolar (CERNY et al., 2017;

ROJO; BARBOSA, 2017). A cultura digital integrada ao contexto escolar, e também ao

acadêmico, pode tornar os alunos críticos e reflexivos ao adquirirem a informação por meio

da apropriação das tecnologias.

Kenski (2012a; 2012b) reforça que o uso das TDIC no contexto educacional pode

levar, também, a alguns problemas, com resultados poucos eficientes. O primeiro fator refere-

se à falta de uso pedagógico pelos professores, por não apresentarem formação tecnológico-

digital apropriada.

Nessa perspectiva, o professor usa as TDIC de maneira tradicional, como uma aula

expositiva, sem propósito para o ensino-aprendizagem, ou seja, usa o PowerPoint na sala de

aula, mas lê todos os slides; leva um vídeo ou filme para ilustrar alguma explicação, mas

ocupa todo o período da aula, não retomando a discussão sobre os mesmos na aula posterior;

leva os alunos para o laboratório de informática para usarem a Internet apenas para pesquisar

sites, por exemplo. Essas atitudes negligenciam o verdadeiro uso dinâmico, funcional e

produtivo das TDIC em sala de aula, para poder melhorar a realidade da educação atual.

Partindo dessa visão, concordo com Kenski (2012b, p. 57) quando afirma que os

professores “estão mais preocupados em usar as tecnologias que têm a sua disposição para

‘passar o conteúdo’, sem se preocupar com o aluno, aquele que precisa aprender.” Ainda na

concepção de Kenski (2012a; 2012b), um segundo fator relaciona-se à falta de adaptação das

TDIC ao conteúdo programático, selecionado e direcionado com os objetivos de ensino. É

50

importante lembrar que cada TDIC apresenta a sua peculiaridade e especificidade, que precisa

ser levada em consideração, ao se pensar em uma atividade, para ensinar um determinado

conteúdo (linguístico) e alcançar algum propósito de ensino.

As TDIC deveriam ser compreendidas como artefatos integrantes no processo

educacional e não como artefatos adaptativos, visto que, de acordo com Cortella (2014), se

adaptar significa assumir uma postura passiva, ao passo que se integrar está relacionado a

metas de convergência, integração e mobilidade. Em outras palavras, integrar-se implica na

possibilidade de realizar múltiplas atividades em uma mesma interface, em um determinado

tempo e espaço, como, por exemplo, ao usar telefone celular, dispositivo que serve para falar,

jogar, enviar mensagens, ouvir e baixar música, entre outros fatores.

Finalmente, o terceiro fator relaciona-se aos laboratórios de informática19

nas escolas,

principalmente, aos professores responsáveis por esse espaço, na maioria das vezes, chamados

de professor de informática. Quando a escola dispõe de um número suficiente de

computadores conectados à Internet, esse professor acaba se tornando um vigilante dos

alunos, para não acessarem sites ilícitos, como jogos violentos, imagens pornográficas e

odiosas (PALFREY; GASSER, 2011) ou programas piratas; não enviarem ou receberem

material inapropriados socialmente para a sua formação (KENSKI, 2012b) ou acessarem,

exclusivamente, sites de conteúdo de cunho educativo (VEEN; VRAKKING, 2009).

Por essa razão, Kenski (2012b) observa que muitas escolas, se não todas, instalam

dispositivos de segurança, que impedem os alunos de acessar esses tipos de sites e materiais,

além de rastrearem as ações dos alunos. Dessa forma, o aluno não tem motivação para usar o

laboratório de informática para realizar atividades pedagógicas. Seu maior interesse está em

jogar, acessar sites de seu interesse (aqui seria uma motivação para o professor tentar

descobrir quais são seus assuntos preferidos), assistir a vídeos ou ouvir músicas, consultar

suas redes sociais, interagir com o outro, virtualmente.

Parece ficar evidente que essas ações dos alunos podem se transformar em situações

inconvenientes e desmotivadoras para as atividades pedagógicas com o uso das TDIC no

laboratório de informática20

. No entanto, deveriam constituir-se também “como caminhos por

onde as escolas podem trazer os estudantes para novas e mais prazerosas formas de aprender.”

19

De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016), os laboratórios de informática ainda

permanecem como espaço principal para uso e acesso das TDIC pelos alunos em diversas escolas brasileiras,

geralmente, onde a conexão com a Internet é mais acessível do que nas salas de aula. 20 Echeverría (2015) profetiza que os laboratórios de informática tornar-se-ão obsoletos em um futuro próximo.

Isso deve-se à “estrutura topológica e métrica do espaço eletrônico, é previsível que tais recintos de

aprendizagem sejam substituídos por sala-rede, ou seja, por redes educativas telemáticas similares às atuais redes

sociais, mas projetadas para os diversos processos de aprendizagem e formação” (ECHEVERRÍA, 2015, p. 45).

51

(KENSKI, 2012b, p. 60). Em síntese, conforme salientam Veen e Wrakking (2009), o homo

zappiens é digital e a escola, analógica.

Nessa direção, Ribeiro (2016) constatou, também, que os alunos realizam pesquisas

sem propósitos educacionais, sem orientações sistemáticas do professor; logo, o computador e

a Internet são poucos explorados para aproveitar seus verdadeiros potenciais pedagógicos.

Dentro desse quadro que se delineia, as tecnologias digitais serão apenas máscaras

(PRENSKY, 2015) para escamotear o real fracasso da educação na atualidade. Por essa razão,

compartilho da opinião de Cortella (2014, p. 53) de que “não é a tecnologia que torna uma

mente moderna. Mas uma mente moderna não recusa tecnologia quando ela é necessária.” A

inovação não está na tecnologia, mas na atitude para a realização de projetos pedagógicos e

sociais, além dos currículos, que incorporam a tecnologia. Na visão de Cortella (2014), essa é

a verdadeira mentalidade moderna.

Em síntese, comungo com as ideias de Valente (2008) ao apontar que as TDIC

precisam ser incorporadas à sala de aula de maneira balanceada, ter significado e fazer sentido

para seu uso, serem fomentadoras para a construção do conhecimento, caso contrário,

qualquer tecnologia pode ser substituída uma pela outra, o que não ocasionará qualquer

mudança no processo de ensino-aprendizagem. Assim sendo, compartilho a visão de Almeida

et al. (2017, p. 406) ao pontuarem que as funcionalidades das TDIC deveriam estar integradas

e aliadas ao currículo “que emerge e se desenvolve na cultura digital” para o ensino-

aprendizagem no contexto escolar.

Frente a esses argumentos, Kenski (2012b) ressalta que as TDIC, por si mesmas, não

podem ser vistas como solução para os problemas e para os desafios educacionais vigentes. É

preciso, assim, cautela e senso crítico para seu uso. Assim sendo, concordo também com

Bates (2016), com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016) e com Fava (2014, 2016),

que defendem ter nas TDIC nichos catalisadores para práticas didático-pedagógicas que

possam se tornar motivadoras e transformadoras no processo de ensino-aprendizagem (e

acrescento também a articulação de conteúdos do cotidiano do aluno com o cotidiano escolar

como forma de ressignificar o processo de construção do conhecimento) e não práticas

tradicionais, centradas, apenas, nas escolhas do professor. Em outras palavras, as TDIC

precisam ser “inseridas e integradas aos processos educacionais, agregando valor à atividade

que o aluno ou o professor realiza.” (ALMEIDA; VALENTE, 2016, p. 32).

Como já exposto na literatura (VEEN; VRAKKING, 2009; PALFREY; GASSER,

2011; KENSKI, 2012a, 2012b; BRAGA, 2013; BATES, 2016; MUNHOZ, 2016; entre

outros), as TDIC podem motivar os alunos a aprender de maneira individual ou

52

colaborativamente, aproximá-los a conteúdos de seus interesses e com a sua realidade, ou

seja, trazer o aluno para um contexto que ele conhece muito bem fora dos muros da escola.

Não estou afirmando, portanto, que as TDIC são (ou serão) artefatos de mudanças

revolucionárias e a salvação para o ensino (aqui penso na realidade brasileira), nem mesmo

substituirão o papel do educador. Não obstante, torna-se relevante adequá-las e usá-las

pedagogicamente para uma escola que, ainda, pensa e age como se estivesse situada no século

passado. Como bem coloca Morin (2015), o real propósito da educação não deve ser a de

ensinar, porém de criar condições de aprendizagem.

Braga e Vóvio (2015) parecem deixar claro que as TDIC são usadas de maneira pouco

sistemáticas na educação, em que a tradição grafocêntrica ainda se torna central e mediadora,

como uma crença enraizada das pessoas terem acesso à informação e ao conhecimento.

Segundo essas autoras, as escolas brasileiras enfrentam uma realidade bem peculiar na

atualidade que inclui os alunos que terminam a educação básica com graves problemas de

aprendizagem, expansão de um número cada vez mais crescente de analfabetos, de

analfabetos funcionais e de baixas taxas de escolaridade, dentre outras questões.

Ainda segundo Braga e Vóvio (2015), as TDIC passam a ter uso significativo no

contexto de sala de aula ao levar em consideração três fatores relevantes que estão

diretamente inter-relacionados, a saber: suporte (acesso ao computador), meio (conexão com

Internet de qualidade) e mediadores (formação de professores). A articulação conjunta desse

tripé pode favorecer uma nova forma de ensinar e de aprender na escola e também na

universidade, relacionada ao atual contexto sócio-histórico e cultural. Considerando essa linha

de pensamento, concordo mais uma vez com Braga e Vóvio (2015, p. 61) ao professarem que

“informatizar a escola através da compra de computadores ou laptops individuais, sem que as

demais condições sejam observadas, pode resultar apenas em um desperdício de verbas.”

O professor, o gestor e o aluno também precisam ser vistos como construtores e

disseminadores do conhecimento, “cada um na sua área e especialidade de atuação.”

(VALENTE, 2008, p. 37). Valente (2008) também afirma que, não basta apenas receber a

informação, mas saber como construir o conhecimento se torna muito mais importante. Dessa

forma, a escola, com o uso e a integração das TDIC em suas práticas pedagógicas, pode

tornar-se interligada, contemporânea, “formando uma verdadeira rede dinâmica de

aprendizagem coletiva” (VALENTE, 2008, p. 39), ou seja, geradora e gestora de

conhecimento.

Martí (2013) sugere diretrizes gerais de integração das tecnologias na educação

escolar que precisam ser adaptadas de acordo com as necessidades de cada escola. São elas:

53

1. Aproveitar as potencialidades do meio informático.

2. Integrar as novas tecnologias no processo de ensino e de aprendizagem partindo

de conteúdos curriculares específicos.

3. Utilizar os computadores na sala de aula como instrumento didático.

4. Potencializar o trabalho entre os alunos.

5. Favorecer projetos com diferentes escolas.

6. Insistir nas estratégias de busca e de seleção da informação.

7. Insistir na sequenciação de conteúdos.

8. Modificar o papel regulador do professor considerando os projetos pessoais dos

alunos. 9. Garantir uma boa formação dos professores nas novas tecnologias. (MARTÍ,

2013, p. 150).

Convergindo com as ideias de Martí (2013), complemento com três diretrizes que

julgo necessárias também para o uso e a integração das tecnologias no contexto escolar

brasileiro atual, como, por exemplo: (a) integrar o potencial das redes sociais como ambientes

virtuais de práticas linguísticas, colaborativas (também individuais) e mediadoras de

conteúdos comunicativos e pedagógicos para o ensino-aprendizagem de línguas; (b) utilizar as

mídias digitais para produção e compreensão de textos escritos e orais, impressos ou digitais,

com a articulação de suas múltiplas linguagens multissemióticas (áudio, vídeos, fotografias,

imagens, infográficos, emoticons, gráficos, tabelas, uso de cores e de fontes, entre outros); e

(c) fomentar o uso de telefones móveis pelas suas potenciais funcionalidades (disponibilidade

de diferentes aplicativos como calculadora, conversor de moeda, cronômetro, tradutor de

línguas, gravador de voz, filmadora, câmera, bloco de anotações, Internet, entre outros),

acesso à informação (o celular pode estar ligado e interligado à Internet) e mobilidade (usado

em qualquer lugar, a qualquer tempo). É válido ressaltar que outras diretrizes podem ser

sistematizadas e incluídas, sejam nas sugeridas por Martí (2013), sejam nas pontuadas por

mim, como forma de ampliar as potencialidades pedagógicas das tecnologias na educação

escolar e também na acadêmica.

Frente à argumentação até aqui desenvolvida nesta seção, é possível inferir que as

TDIC exercem papel central na educação, exigindo do professor uma formação adequada, em

consonância com as necessidades do mundo atual e do perfil dos alunos, para viabilizar

práticas pedagógicas digitais dinâmicas e interativas. Ademais, as TDIC podem levar a

inclusão social e digital entre as pessoas, independentemente dos fatores socioeconômicos de

cada uma, tornando todos juntos virtualmente. Conforme Braga e Ricarte (2005), as pessoas

não se comunicam com tanta frequência pessoalmente, face a face.

Não se pode esquecer, assim, que as TDIC passam a incorporar novas maneiras de

ensinar e de aprender no cenário educacional atual, permitindo a construção do conhecimento,

54

o desenvolvimento de novas habilidades cognitivas e a promoção para mudanças

significativas na sala de aula. Precisa-se articular e levar todo o potencial das TDIC para

dentro da escola e da universidade e torná-las funcionais e educacionais para as necessidades

reais, tanto de professores, como de alunos; caso contrário, como aponta o Comitê Gestor da

Internet no Brasil (2016), as TDIC serão apenas mais uma interface digital complementar ou

ilustrativa, sem propósitos educacionais e com pouca ênfase (ou nenhuma) para a construção

do conhecimento, como muitos materiais instrucionais analógicos disponíveis no mercado. O

que me leva a acreditar que o professor, de maneira geral, ao pensar na inclusão das TDIC em

sua disciplina curricular deva pensar como as tecnologias podem contribuir e colaborar para a

aprendizagem dos alunos.

Por essa razão, acredito que as TDIC levam à informação (e também ao

conhecimento), à formação (de professores, de alunos e de gestores, por exemplo) e à

mobilização (colocar em prática ideias relacionadas a alguma causa social, política,

educacional, ideológica, econômica ou cultural, tendo as redes sociais, as mídias, o

computador e os aplicativos de celulares, como mediadores). Nesse sentido, compreendo que

as TDIC, como qualquer outra tecnologia, tornam a vida das pessoas acessíveis e práticas na

sociedade, mas também as empoderam em seus espaços sociais, profissionais e educacionais.

Na próxima seção, discuto e comento o letramento como prática social, seu histórico e

sua consolidação como área de pesquisa no Brasil; além disso, trago para discussão as

principais abordagens teóricas que definem o processo de letramento digital.

1.2 Letramento(s)

A noção de letramento vem atraindo a atenção de pesquisadores (STREET, 1984,

1993, 1995/2014; SOARES, 1998/2001, 2017; BARTON; HAMILTON, 2000; KLEIMAN,

2005; ROJO, 2009; KALANTZIS; COPE, 2012; entre outros) cada vez mais interessados em

promover e ampliar seu estudo, na tentativa de compreender sua natureza dinâmica e plural.

Sob esse enfoque, ao considerar o caráter social e as práticas de usos sociais da linguagem

escrita, Street (1984, 1993) e Barton e Hamilton (2000) defendem o aspecto heterogêneo do

letramento, ou seja, o fato de poder variar de acordo com o contexto, a partir de uma

determinada cultura, relacionada a diferentes interesses e objetivos compartilhados por uma

55

comunidade de prática, como aponta Street (1984), em torno de ações negociadas e

específicas.

A sociedade e o mundo tornaram-se globalizados, apesar de cada contexto apresentar

sua particularidade, além de as práticas de letramento estarem condicionadas a cada

localidade, com seus respectivos fatores sociais, culturais e econômicos, de cada classe social.

Por essa razão, o letramento não pode ser considerado universal, pois o que acontece na

região norte do Brasil, por exemplo, será diferente nas demais regiões brasileiras e, com

certeza, nos demais países.

A partir disso, ciente das discussões multifacetadas frente aos conceitos de letramento,

sigo, a partir de então, a apresentar ideias de estudiosos que ampliaram as pesquisas sobre o

assunto.

1.2.1 Definições de letramento(s) e origem no contexto brasileiro

Street (1984, 1995/2014), um dos precursores sobre o tema, propõe dois modelos de

pesquisa para práticas de letramento, a saber: o enfoque autônomo e o enfoque ideológico.

O enfoque autônomo prioriza a decodificação dos sinais ortográficos, sem relação com

o contexto social do sujeito, tanto a escrita quanto à leitura são vistas como produto, ou seja,

são consideradas, apenas, um conjunto de habilidades. Nesse enfoque, as habilidades podem,

também, ser trabalhadas individualmente, separadamente, implicando a formação de um

sujeito que lê muito bem, mas pode apresentar problemas com a escrita, por exemplo.

Assim, para Soares (1998/2001), o enfoque autônomo caracteriza-se pela dimensão

individual do letramento, com ênfase no processo de aquisição cognitiva da leitura e da

escrita, além de “isolar o letramento como uma variedade independente e então alega ser

capaz de estudar suas consequências.” (STREET, 1995/2014, p. 44). Vale ainda destacar que

esse modelo é preconizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e

a Cultura (UNESCO, 2015) e está em evidência na maioria das práticas escolares atuais

(SOARES, 1998/2001; KLEIMAN, 2005; ROJO, 2009).

Em oposição ao modelo autônomo de letramento, Street (1984, 1995/2014) enfatiza

que o enfoque ideológico21

valoriza a natureza política, ideológica, cultural e de poder que a

prática social da leitura e da escrita assume em um determinado contexto específico. Na

21 Street (1995/2014) salienta que usa o termo ideológico em oposição a cultural ou sociológico, por exemplo,

para mencionar mais especificamente, que as práticas letradas são aspectos não apenas da cultura, como também

das estruturas de poder.

56

concepção desse autor, as práticas de letramento22

dentro da perspectiva do modelo ideológico

ressaltam

a importância do processo de socialização na construção do significado de

letramento para os participantes e, portanto, se preocupa com as instituições sociais gerais por meio das quais esse processo se dá, e não somente com as

instituições “pedagógicas.” (STREET, 1995/2014, p. 44).

Pode-se verificar, então, que não faz mais sentido falar de letramento como um termo

monolítico (SOARES, 1998/2001), mas em múltiplos letramentos (STREET, 1993,

1995/2014) adquiridos em práticas sociais divergentes, que empoderam o sujeito a lidar com

situações e exigências específicas de seu contexto social (STREET, 1993, 1995/2014). Assim

sendo, Street (1993) inaugura a fase dos Novos Estudos de Letramento (NEL)23

, que situam o

sujeito na prática social e podem variar no tempo e no espaço.

A partir do momento que se pensa nos múltiplos letramentos, as práticas de leitura e

de escrita passam a ser entendidas dentro de um contexto social real. A esse respeito, Barton e

Lee (2015) lembram que o letramento pode ser considerado dêitico, pois leva à uma situação

atual, real. Nesse contexto, consegue-se entender o que é o letramento (SOARES, 1998/2001,

2017), o que leva Bagno (2014) a compreender que o letramento é um estado em consonância

com o contexto social real, em que a linguagem escrita está inserida em práticas sociais e

linguísticas reais, que lhe conferem significados também reais.

Outro aspecto a ser destacado por Street (1984) é a distinção de outros dois tipos de

letramento, a saber: os letramentos dominantes ou institucionalizados e os letramentos locais

ou vernáculos. Ressalte-se que nos estudos dos NEL esses dois tipos não podem ser vistos

separadamente, porém inter-relacionados. O primeiro tipo de letramento relaciona-se às

agências formais de letramento, como a escola, por exemplo, e todas as instituições regidas,

sistematicamente, por normas e leis próprias, valorizadas legalmente. O segundo tipo envolve

a valorização da cultura local, do dia a dia, que não são valorizados pelas organizações

formais.

De acordo com Rojo (2009), torna-se importante conhecer quais letramentos24

estão

sendo ensinados nas escolas para interligá-los aos letramentos considerados não-formais, pois

22 De acordo com Street (1984), as práticas de letramentos referem-se à ampla concepção cultural sobre as

maneiras particulares de se pensar e de se fazer leitura e escrita em contextos culturais. 23 Barton e Lee (2015, p. 21) advogam que “as novas tecnologias e os novos estudos de letramento são novos

apenas no nome. [...] não podemos mais falar de avanços tecnológicos como novos em si mesmos. [...]

rapidamente se tornam ultrapassados.” 24

Street (1993, 1995/2014) e Kalantzis e Cope (2012) usam o termo no plural (letramentoS), pois as práticas

sociais de letramento são múltiplas e heterogêneas, variando em um contexto transcultural e situado.

57

vivemos em um mundo de transformação, aproximação geográfica, de mudanças e

multissemioses com a chegada das tecnologias digitais da informação e comunicação, que

demanda novos letramentos.

Recorro, neste momento, mais uma vez, a Rojo (2009) para insistir na relevância de

que os letramentos agora não são de responsabilidade apenas das escolas, mas de outros

espaços situados, como, por exemplo, a família, a associação, a igreja, (posso acrescentar

também a Internet), dentre outros. Segundo Street (1993), esses espaços são chamados de

agências de letramento e empoderam o sujeito para qualquer prática social, em qualquer

tempo e espaço.

Caminhando na mesma direção e ainda tomando como referência premissas de

Kalantzis e Cope (2012, p. 145), entendo, então, o letramento como prática social, que pode

ajudar “os alunos a se apropriarem das formas em que os significados são construídos em suas

vidas, ao invés de permitir que sejam alienados, atropelados ou excluídos por textos

desconhecidos, ou, simplesmente, que se sintam confusos ou forçados a aceitá-los25

.”

O pensamento de Kalantzis e Cope (2012) converge também com o pensamento de

Freire (1997/2015). Vale lembrar que Freire (1997/2015) já dava indícios de práticas de

letramento em seus estudos, apesar de não as identificar com tal nomenclatura. O pensamento

freiriano volta-se para uma alfabetização emancipadora, cujo sujeito assume a sua própria voz

para compreender sua própria história, dentro da sociedade na qual está inserido, tornando-se,

assim, autocrítico em sua prática social. É a leitura do mundo integrada com a leitura da

palavra, pois “ler a palavra e aprender como escrever a palavra, de modo que alguém possa lê-

la depois, são precedidos do aprender como “escrever” o mundo, isto é, ter a experiência de

mudar o mundo e de estar em contato com o mundo.” (FREIRE, 1997/2015, p. 83). Dessa

forma, o domínio da palavra humaniza o sujeito em suas mediações de poder e de cidadania

(DICIONÁRIO PAULO FREIRE, 2010).

Diante do exposto, sou levado a admitir que o conhecimento adquirido na escola e fora

dela deveria ser complementar e interligado, para que ocorra uma prática social de

letramentos, com alunos/sujeitos/cidadãos conscientes, críticos, ativos e participativos em

seus contextos sociais, tornando o letramento uma ferramenta (KALANTZIS; COPE, 2012)

potencialmente significativa para mudanças e de empoderamento.

25 No original: “(...) students to take more control over the ways that meaning is made in their lives, rather than

allow them to be alienated, swamped or excluded by unfamiliar texts – or simply to be confused or grudgingly

compliant.” (tradução minha).

58

Faz-se relevante mencionar que o termo letramento26

foi introduzido na literatura

acadêmica brasileira a partir do trabalho de Mary Kato, em 1986, na obra No mundo da

escrita: uma perspectiva psicolinguística. A autora trouxe pela primeira vez o termo, sem

apresentar uma definição concreta do mesmo ao longo do livro, ao relatar a diferença entre os

processos de aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita apenas, sob o ponto de vista

da Psicolinguística. Em seu estudo, a autora menciona os termos letrado e pré-letramento, mas

sem dar informações conceituais sobre eles.

É importante aqui pontuar que, na seção vocabulário crítico, último capítulo do livro,

Kato (1986/1993, p.140) conceitua o termo como “processo ou efeito da aprendizagem da

leitura e da escritura.” Apesar de ser um conceito genérico e não contribuir para explicar de

maneira pragmática o novo termo, tem-se uma mudança histórica e motivação para novas

pesquisas, em que a escrita e a leitura deixam de ser vistas como produto e passam a ser

consideradas como um processo.

Com o estudo de Kato (1986/1993), a palavra alfabetização27

passa a ser questionada,

esvaziando-se semanticamente, na visão de Soares (1998/2001). Nessa época, o novo termo

(letramento) não tinha sido dicionarizado, sendo, ainda, considerado um neologismo na

literatura especializada. Por essa razão, Kleiman (1995) acredita que a palavra letramento

tenha sido cunhada por Kato (1986/1993), no Brasil.

No contexto brasileiro, o sentido do termo28

letramento origina-se da tradução da

palavra inglesa literacy, que significa “a condição de ser letrado.” (SOARES, 1998/2001, p.

35). Semanticamente, essa palavra tem o sentido oposto de alfabetização, a qual prevê que

uma pessoa conhece o código alfabético, ou seja, sabe identificar, mecanicamente, os sons e

as letras de uma língua e decodificá-los em um texto escrito. Nessa direção, o alfabetizado

“apenas aprendeu a ler e a escrever, não [...] adquiriu o estado ou a condição de quem se

apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que as demandam”

(SOARES, 1998/2001, p.19). Em outras palavras, na visão de Soares (2017), o foco central

estava no saber ler e escrever e não nas competências de uso dessas habilidades. Diante do

exposto, concordo com Freire (1997/2015, p. 90) ao reconhecer que a alfabetização é uma

prática social transformadora, histórica, política, cultural e dialética, na qual o aprender a ler e

26 Street (1984) afirma que os estudos sobre letramento se desenvolveram nos Estados Unidos e na Inglaterra a

partir da década de 1970. 27 De acordo com Morais (2014, p. 12), “ser alfabetizado é ter um nível mínimo de habilidade que permita, por

um lado, ler palavras e textos independentemente da sua familiaridade, mesmo sem compreender o que se lê, e,

por outro lado, escrever qualquer enunciado mesmo sem conhecer o conteúdo do que se escreve.” 28

Em Portugal e Espanha, o termo foi traduzido para literacia e na França, para littératie (MORAIS, 2014). Para

esse autor, a literacia pode ser entendida como uma habilidade e uma prática produtiva da linguagem escrita.

59

a escrever “seja o direito de se tornar partícipe da decisão de transformar o mundo”, ou seja,

recriar a sociedade, no pensamento freiriano.

Conforme bem explica Kleiman (1995), a palavra letramento passou a ser objeto de

pesquisa no contexto brasileiro a partir do momento que pesquisadores observaram que o ato

de escrever e de ler estava relacionado com um processo. Ainda segundo essa autora, o uso da

língua e a prática social do contexto do aluno também deveriam ser considerados. Dessa

forma, os atos de ler e escrever deixam de ser vistos como mais um produto de

reconhecimento apenas do sistema grafofônico do sistema linguístico desse aluno. Não

interessava mais investigar se o aluno sabia ou não ler e escrever, mas quais atividades

incorporavam o uso dessas habilidades.

Assim sendo, as pesquisas começam a mostrar novas competências que o aluno

precisava desempenhar para compreender e produzir textos, escritos e orais, com diferentes

propósitos, para obter e se apropriar, de maneira consciente, de informações ao entrar em

contato com diferentes gêneros textuais, que são usados em diferentes contextos sociais,

políticos, culturais e históricos.

Dessa forma, as novas demandas e necessidades do mundo contemporâneo exigem

novos estudos e novas adequações para melhor preparar o aluno para novas práticas sociais,

de diferentes esferas de atividades. Nessa perspectiva, o termo letramento passa a se

configurar no cenário brasileiro e a balizar estudos sistemáticos sobre o assunto. Como

endossa Soares (1998/2001, p. 19), “novas palavras são criadas, ou velhas palavras dá-se um

novo sentido, quando emergem novos fatos, novas ideias, novas maneiras de compreender os

fenômenos.”

Com base nas considerações apresentadas, a partir da segunda metade dos anos de

1980, no Brasil, o termo letramento torna-se objeto de estudo de outros pesquisadores

brasileiros, como, por exemplo, a tese de doutorado de Tfouni (1986), com o título Adultos

não alfabetizados: o avesso do avesso, que, também, foi publicada como livro, com o mesmo

nome, no ano de 1988, pode ser considerada um marco nos estudos de letramento no contexto

brasileiro. Em sua tese de doutorado, a autora menciona e define o termo, diferenciando-o do

termo alfabetização. O estudo de Tfouni (1986) está centrado nos sincretismos produzidos

pelos adultos não-alfabetizados.

A partir dessa data, pesquisas sobre letramento tornam-se mais frequentes e a palavra

passa a ficar mais conhecida na literatura acadêmica brasileira. A exemplo, tem-se a coletânea

organizada por Angela Kleiman, Os significados do Letramento, no ano de 1995, em que, na

introdução escrita pela organizadora, ela apresenta o conceito do termo, além de afirmar que

60

as pesquisas no Brasil ainda estão em fase inicial, mas com grande potencial investigativo.

Ainda no mesmo ano, o livro Letramento e Alfabetização, de Leda Verdiani Tfouni, apresenta

discussões teóricas sobre o processo de escrita em língua materna, relacionando-o aos

conceitos de letramento e alfabetização.

Em 1998, uma outra coletânea é publicada sobre o tema, desta vez organizada por

Roxane Rojo, intitulada Alfabetização e Letramento, cujos artigos apresentam estudos sobre a

prática da escrita em variados contextos sobre alfabetização e letramento. Também no mesmo

ano, Magda Soares lança o livro Letramento: um tema em três gêneros, no qual apresenta de

maneira clara, objetiva e didática a etimologia, definição, diferença e exemplos entre os

termos letramento e alfabetização, além de apresentar, no terceiro e nos últimos capítulos,

formas de avaliação e mediação de letramento, respectivamente.

Os estudos das décadas de 1980 e 1990, a partir dessas obras, tornaram-se pioneiros e

relevantes para as pesquisas posteriores no cenário acadêmico-científico brasileiro, pois o

termo passou a ser mais conhecido, explorado e difundido, com ampla divulgação de novas

pesquisas, diferentes abordagens teórico-metodológicas e perspectivas sistemáticas para o uso

social da leitura e da escrita, principalmente, nas áreas da Educação, Linguística e Linguística

Aplicada. Com relação a essa última, pesquisas apontam que os estudos de letramento ainda

são mais significativos na língua materna do que na língua estrangeira29

.

O sentido da palavra letramento difere, significativamente, da palavra alfabetização,

sendo, por vezes, usado, indiferentemente ou como sinônimo, nos textos na década anterior a

1980 (SOARES, 1998/2001; KLEIMAN, 2005; ROJO, 2009). Conforme descreve Rojo

(2009), a definição de letramento, até então, era desconhecida, pois, o termo alfabetização,

que englobava o ato de aprender a ler e a escrever no ambiente escolar, era suficiente para

explicar as necessidades e as condições sociais específicas daquele momento sócio-histórico e

cultural.

No entender de Soares (2017, p. 45), “a alfabetização não precede o letramento, os

dois processos são simultâneos30

.” Por esse motivo, torna-se relevante integrar esses dois

29 Essa constatação foi comprovada após levantamento realizado por mim em trabalhos publicados entre os anos

de 2004 a 2017 nos periódicos Trabalhos em Linguística Aplicada, The ESPecialist, D.E.L.T.A., Revista

Brasileira de Linguística Aplicada, Linguagem em Discurso e Linguagem e Ensino. Além dos cadernos de

resumo do Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada (CBLA) e Intercâmbio de Pesquisas em Linguística

Aplicada (InPLA), nos anos 2011, 2013 e 2015. Realizei também levantamento no caderno de resumo do 18o

Congresso Mundial de Linguística Aplicada (AILA), que aconteceu em julho de 2017, pela primeira vez no

Brasil. 30

De acordo com Soares (2017, p. 64), “a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de

práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja, em um contexto de letramento e por

61

processos no ensino-aprendizagem da linguagem escrita, tornando-os “interdependentes,

indissociáveis e simultâneos.” (SOARES, 2017, p. 45). O que me leva a concordar mais uma

vez com essa autora ao ponderar que o processo de aprendizagem do código escrito deveria

estar relacionado a uma prática de “alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando.” (SOARES,

2017, p. 68).

Na perspectiva de Soares (2017), tanto o letramento como a alfabetização possuem

maneiras diferenciadas de serem abordados no processo de ensino-aprendizagem, com

metodologias e com procedimentos próprios, que deveriam ser levados em consideração pelo

professor. Caminhando na mesma direção e tomando mais uma vez como referência as

premissas de Rojo (2009), a escola ainda é vista como o principal ambiente alfabetizador e de

práticas de letramento.

Atualmente, não faz mais sentido pensar a escola como a principal agência para o

fomento de práticas de letramento, uma vez que outras agências também passam a ser

fundamentais para esse fomento, como, a família, as mídias, a tecnologia digital, o trabalho,

entre outras, em que existem. Assim, de acordo com Kleiman (1995, 2005), Street

(1995/2014), Soares (1998/2001), Rojo (2009), Kalantzis e Cope (2012), Barton e Lee (2015),

diferentes tipos de letramentos estão associados a diferentes domínios do cotidiano.

Pesquisadores das áreas da Educação e da Linguística Aplicada, principalmente,

discutem os significados do conceito de letramento que ajudaram a solidificar o termo e os

estudos no Brasil, apesar de ser considerado uma prática complexa, na visão de SOARES

(1998/2001). Para Kleiman (1995, p. 19), letramento é “um conjunto de práticas sociais que

usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos,

para objetivos específicos.” Nessa definição, a autora apresenta a noção de práticas sociais

como um elemento central para se pensar a noção de letramento. Um ponto a mencionar no

texto de Kleiman (1995) é a relação da cultura com as estruturas de poder da sociedade a

partir das práticas letradas.

Sendo assim, letramento é empoderamento do indivíduo para a linguagem escrita em

múltiplas práticas sociais e culturais (e por que não acrescentar, também, digitais) na

sociedade contemporânea. Ressalte-se que concebemos o termo empoderamento sob a

perspectiva freireana como “a tomada de consciência que confere determinado poder às

pessoas e grupos, gerado a partir dos próprios sujeitos-agentes” (DICIONÁRIO PAULO

FREIRE, 2010, p. 166).

meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode desenvolver-se na dependência da e por meio da

aprendizagem do sistema de escrita.”

62

Acatando mais uma vez o pensamento de Soares (1998/2001), partilho a ideia de que o

letramento é um fenômeno multifacetado, que envolve o estado de uso da leitura e da escrita

em suas demandas sociais variadas. Segundo essa autora, aprender a ler e a escrever significa

apropriar-se da natureza social dessas habilidades para exercer práticas letradas em diferentes

contextos social, econômico, político, cultural, cognitivo e linguístico. Isso transforma o

sujeito, levando-o a um outro estado ou condição, não a uma mudança de nível ou de classe

social, como afirma Soares (1998/2001), mas a um patamar mais letrado para tentar mudar

“seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura.”(SOARES,

1998/2001, p. 37, grifo do autor).

Uma distinção muito comum e bem relevante nos estudos de letramento associa-se à

natureza social entre os conceitos de práticas de letramento e eventos de letramento. O

primeiro conceito é apresentado por Kleiman (2005, p. 12) “como uma determinada situação,

associada aos saberes, às tecnologias e às competências necessárias para a sua realização .”

Como exemplos dessas práticas apontadas pela autora estão: assistir às aulas, enviar cartas e

escrever diários, por exemplo.

Em relação ao segundo conceito, vale resgatar a ideia de integração de qualquer

prática de escrita em interações e ações que “envolve mais de um participante e os envolvidos

têm diferentes saberes, que são mobilizados na medida adequada, no momento necessário, em

prol de interesses, intenções e objetivos individuais e de metas comuns (KLEIMAN, 2005, p.

23). A exemplo de evento de letramento, a autora menciona a confecção de convites para uma

festa de aniversário ou missa de bodas de prata, atitude que mobilizará participantes, materiais

e ações (como encomendar ou comprar os convites, escrever nos envelopes, entregar os

convites).

Por sua vez, Rojo (2009) acredita que o letramento é uma prática social exercida no

dia-a-dia nos mais variados contextos sócio-históricos e culturais, pois os indivíduos podem

desenvolver níveis de letramentos ou desenvolver sua competência do código escrito, seja por

meio da compreensão leitora, seja por meio da compreensão escrita. A autora esclarece que o

sujeito pode se envolver em práticas de letramento sendo analfabeto, como, por exemplo, ao

usar o caixa eletrônico, ao tomar um ônibus ou um avião, ao ler placas de sinalização, ao

saber preencher um cheque (pode-se não acrescentar também fazer compras pela Internet,

saber usar o celular e aplicativos que nele contém, fazer seu imposto de renda baixando o

aplicativo disponibilizado pela Receita Federal, conversar sobre um determinado assunto -

sobre a situação política, econômica ou social do Brasil ou de qualquer outro país), entre

outras situações de práticas de letramento. Nesse sentido, a pessoa é letrada, mas não

63

escolarizada (não sabe ler nem escrever). Por isso, Soares (1998/2001, p. 39) afirma que “um

indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado.”

Assim, a esse respeito, vale pontuar que, para Rojo (2009):

o termo letramento busca recobrir os usos e as práticas sociais de linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados

ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos

(família, igreja, trabalho, mídias, escola, etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural. (ROJO, 2009, p. 11).

Nesse enfoque, adoto, com Soares (1998/2001), a ideia de que o letramento depende

essencialmente de como a leitura e a escrita são concebidas e praticadas em determinado

contexto social. Assim sendo, letramento também é compreendido como uma apropriação

pedagógica “de práticas de leitura e escrita que resultam de uma concepção de o quê, como,

quando e por quê ler e escrever.” (SOARES, 1998/2001, p. 75, grifo do autor).

Indo além, parece-me claro que os múltiplos letramentos fomentados no modelo

ideológico pelas várias agências, tornam o sujeito consciente e crítico para a construção de

significações das práticas sociais, pois “o letramento está sendo transferido de uma cultura

diferente, de modo que aqueles que o recebem terão mais consciência da natureza e do poder

dessa cultura do que dos meros aspectos técnicos da leitura e da escrita.” (STREET,

1995/2014, p. 45).

Isso me reconduz a pensar a dicotomia dos termos letrado e iletrado, não a concepção

atribuída pelo dicionário, mas o sentido semântico relacionado à palavra letramento. Essa

dicotomia não faz mais sentido nos dias atuais, pois, pode-se compreender, a partir do exposto

nesta seção e também considerando as ideias de Soares (1998/2001), que as práticas de

letramento podem ser caracterizadas como um continuum. Os sujeitos lidam com uma

variedade de tipos de letramentos em sua vida diária, em diferentes contextos sócio-histórico,

político, ideológico, escolar, linguístico e cultural. Afinal, as práticas sociais de letramento de

cada sujeito são demarcadas pelas demandas sociais e, assim, cada sujeito apresenta um nível

de letramento, de acordo com o contexto em que está inserido, uma vez que, conforme bem

destaca Street (1995/2014, p. 40), o letramento “varia com o contexto social.”

Frente ao exposto, passo a compreender o letramento como um processo linguístico

heterogêneo (BAGNO; STUBBS; GAGNÉ, 2002), dinâmico, um fenômeno plural e

acarretado por uma multiplicidade de sentidos (KALANTZIS; COPE, 2012). Além disso, o

letramento pode ser entendido como uma prática social, pois, de acordo com Barton e

64

Hamilton (2000), as práticas de letramento de um sujeito mudam durante sua vida, como

resultado de exigências diferentes, recursos disponíveis e suas possibilidades e interesses.

Como pode ser observado, nesta seção, o conceito do termo letramento passa por

várias ressignificações, desde a década de 1980, período que os primeiros estudos surgiram no

Brasil, até os dias atuais. Como mostram as pesquisas iniciais (KATO, 1986/1993; TFOUNI,

1986, 1995/2010; KLEIMAN, 1995; ROJO, 1998; SOARES, 1998/2001), os estudos sobre o

termo estavam, especificamente, relacionados às habilidades e às práticas da leitura e da

escrita. Não obstante, apesar de as pesquisas enveredarem mais para essas práticas, observa-se

o interesse também nas práticas orais de letramento, como aponta o trabalho de Medeiros

(2012).

Ademais, com o surgimento e o avanço das TDIC, novas práticas de letramentos

tornam-se possíveis. Nessa direção, novos termos também surgem para dar conta das novas

demandas da sociedade contemporânea, como, por exemplo, letramento digital, letramento

hipertextual, letramento informático, letramento tecnológico, letramento multimodal,

letramento informacional, letramento midiático, letramento computacional, entre outros

(WARSCHAUER, 2006; BELSHAW, 2011; MILLS, 2016).

Complementado esta seção, trago apenas a contribuição do letramento digital para

compreender as práticas de letramentos consolidadas pelos professores de inglês em formação

inicial a partir do uso das tecnologias digitais de informação e comunicação, foco desta

pesquisa.

1.2.2 Letramento Digital

O termo letramento digital surgiu pela primeira vez em 1995 em um artigo escrito por

Lanham e publicado na revista Scientific American (COSTA, 2011). Na época, o conceito era

compreendido como a capacidade de obter qualquer informação, independentemente da fonte

de atividades do sujeito.

Apesar de a ideia do termo ser generalizada, Lanham (1995 apud COSTA, 2011) traz

algumas contribuições e reflexões para a pesquisa a respeito do assunto, como, a necessidade

de transposição da linguagem do sistema analógico para diferentes formas multimidiáticas

(sons, imagens e textos verbais); a facilidade de evolução da informação digital em

comparação à rigidez do analógico (papel, por exemplo); diversidades de formas de

65

comunicação digital, e a necessidade de uma comunicação multimodal dos sujeitos na

interação. Nessas concepções, a expressão letramento digital já começa a se associar não

apenas à linguagem escrita, mas, aos textos multimodais para a comunicação entre os sujeitos.

Dois anos depois, o termo passa a ser introduzido, novamente, em uma obra de Gilster

(1997), que se torna referência no assunto entre os pesquisadores da área, além de contribuir

para a divulgação do termo. Para o autor, o letramento digital seria “a habilidade para

entender e utilizar a informação em múltiplos formatos, a partir de uma variedade de fontes,

apresentados por meio do computador31

.” (GILSTER, 1997, p. 1).

O livro de Gilster (1997) foi objeto de críticas, pois várias concepções sobre o termo

foram introduzidas de maneiras genéricas, relacionando-o, apenas, ao uso do computador e da

Internet. De qualquer maneira, a obra de Gilster (1997) foi um marco nos estudos sobre

letramento digital no mundo contemporâneo, tornando-se, assim, um divisor de águas para

estudos posteriores, que aperfeiçoariam as pesquisas sobre esse termo.

No Brasil, o trabalho de Soares (2002) foi um dos percussores sobre a temática em

questão, no qual a autora define letramento digital como “um certo estado ou condição que

adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de

escrita na tela, diferente do estado ou condição - do letramento – dos que exercem práticas de

leitura e de escrita no papel” (SOARES, 2002, p. 151, grifos da autora).

Soares (2002) ressalta, nessa definição, que letramento é uma prática social de leitura

e de escrita intermediada pelo computador e pela Internet, o que ela chama de nova tecnologia

digital, por meio de um novo estado ou condição de letrar na tela. O trabalho dessa autora foi

referência para os próximos estudos sobre letramento digital no contexto brasileiro ao trazer

reflexões sobre a mudança cognitiva do usuário ao ler um texto eletrônico, o que provoca,

também, um novo redirecionamento no conceito de letramento. Não obstante, o conceito de

letramento digital proposto por Soares (2002) ficou relacionado à linguagem escrita apenas

não considerando os outros textos da Web 2.0.

É válido mencionar que as crianças nos dias de hoje são alfabetizadas antes de irem à

escola, pois sabem reconhecer as letras do alfabeto usando os teclados do computador, do

tablet e do telefone celular. Além disso, passam de uma tela para outra com apenas a ponta do

dedo. As crianças também sabem selecionar botões, reconhecer ícones, jogar, tirar e ver

fotografias, entre outras atividades. Essas situações podem ser consideradas práticas de uma

31

No original: “the ability to understand and use information in multiple formats from a wide range of sources

when it is presented via computers.” (tradução minha).

66

alfabetização digital em consonância com um letramento multimodal (recursos

multissemióticos dos textos impressos e digitais).

Pereira (2005) afirma que o termo digital está associado ao computador na maioria das

vezes, razão pela qual ser letrado digitalmente não deve se relacionar apenas a saber digitar no

computador, conhecer como funciona seu teclado ou saber usar o mouse. Segundo o autor,

essa associação é mais do que coerente pelo fato de os computadores processarem,

transferirem ou guardarem as informações e representá-las em números (dígitos).

Nessa perspectiva, Pereira (2005) enfatiza que:

os números são utilizados para representar muitas coisas, por exemplo,

quantidades [...]. Porém, quando nos referimos a computadores, os números são utilizados para representar todo e qualquer tipo de informação. Por

exemplo, uma mensagem escrita, uma fotografia, uma imagem, um vídeo,

uma música, etc. Isso tudo é informação, que nos computadores é

representada digitalmente, ou seja, a palavra digital, quando referenciada a computação, tem sentido muito ampliado. (PEREIRA, 2005, p. 16, grifo do

autor)

Em adição a isso, Pereira (2005) considera que o sujeito para ser considerado letrado

digitalmente precisa conhecer e saber usar de maneira sistemática as TDIC, além de ser

competente em saber buscar e usar a informação, transformando-a em conhecimento. Dessa

forma, a tecnologia proporcionaria a inclusão digital32

dos sujeitos envolvidos nessa Era da

Informação Digital.

Warschauer (2006) entende, também, que novos tipos de letramento(s) estão sendo

originados a partir de práticas baseadas na informática e na Internet, enveredadas pelas

transformações social, histórica, ideológica, econômica e tecnológica. Nessa nova Era, esse

autor salienta que o letramento digital tornar-se-ia um termo mais genérico que pode abarcar

outros tipos específicos de letramento(s), originados tanto dos aspectos tecnológicos

(associados ao computador) como do cenário social (o uso do computador). Por essa razão,

Warschauer (2006) aponta que o letramento digital pode ser caracterizado como letramento

por meio do computador, além de informacional, multimídia e comunicacional mediado por

computador.

O primeiro termo refere-se à propagação do computador pessoal a partir do início dos

anos de 1980. Dez anos após o seu surgimento, o termo passa a não ter muita credibilidade na

32 De acordo com Pereira (2005, p. 17), a inclusão digital “é um processo em que uma pessoa ou grupo de

pessoas passa a participar dos métodos de processamento, transferência e armazenamento de informações que já

são do uso e do costume de outro grupo, passando a ter os mesmos direitos e os mesmos deveres dos já

participantes daquele grupo onde está se incluindo.”

67

área da Educação, por estar associado apenas às habilidades essenciais para usar o

computador, ou seja, como saber “ligá-lo, abrir uma pasta e salvar um arquivo”

(WARSCHAUER, 2006, p. 154). Ademais, esse tipo específico de letramento pouco contribui

para o processo de ensino-aprendizagem e não leva em consideração assuntos relacionados ao

conteúdo, objetivos ou tarefas significativas, como bem pontua Warschauer (2006).

O segundo termo pauta-se na informática, na Internet e na sociedade de informação,

que usa esses dois primeiros recursos tecnológicos. Com a criação da Internet na década de

1990, o usuário, agora, é levado não apenas a saber como usar o computador, mas, como

salienta Warschauer (2006), a saber selecionar, analisar e avaliar criticamente as fontes de

informação encontradas na Web.

Nesse sentido, o letramento informacional torna-se relevante para o sujeito, que

precisa transformar a informação em conhecimento, “devido à grande quantidade de

informações disponíveis on-line, muitas das quais de qualidade duvidosa.” (WARSCHAUER,

2006, p. 157). Segundo esse autor, faz-se necessário o fomento desse tipo de letramento, para

que haja a promoção de inclusão social dos sujeitos na era da Internet.

O terceiro termo, multimídia, apresenta a necessidade de combinação de “texto, planos

de fundo, fotografias, materiais gráficos, áudio e vídeo numa apresentação única”

(WARSCHAUER, 2006, p. 160), para o sujeito criar projetos multimídias por meio de

diferentes linguagens multimodais. Cabe salientar que o acesso às ferramentas digitais nos

sistemas educacionais para o potencial letramento multimídia deveria ser a todos os sujeitos,

independentemente, das classes sociais, provenientes das diversas comunidades escolares.

Dessa forma, todos poderiam ter a oportunidade de criar projetos de multimídia mais

elaborados, além de serem incluídos socialmente na era digital; caso contrário, segundo

Warschauer (2006), os alunos continuariam ainda a usar o computador para realizar simples

exercícios escolares.

O último termo, letramento comunicacional mediado por computador, relaciona-se às

habilidades de escrita necessárias para que os sujeitos possam se comunicar, efetivamente, por

meio de as mídias on-line. Como salienta Warschauer (2006), isso significa saber usar as

netiquetas, regras de comportamento na rede e as diferentes formas de argumentar e persuadir

nos diferentes tipos de mídia da Internet, como, por exemplo e-mail, chat, fórum, entre outros.

Em síntese, Warschauer (2006) explica que o letramento digital está além da

habilidade do sujeito de operacionalizar um computador, mas de dominar (parte) (d)as

ferramentas disponíveis na Web 2.0, saber analisar e avaliar as informações disponíveis na

Internet de maneira crítica e saber usar as mídias on-line, na tentativa de incluir social e

68

digitalmente esse sujeito na contemporaneidade. Dessa forma, “a mera presença dos

computadores não garantirá que esses letramentos sejam dominados.” (WARSCHAUER,

2006, p. 164).

Na perspectiva de Ribeiro (2009, 2012), o conceito de letramento digital torna-se

amplo e multifacetado, visão essa compartilhada por especialistas da área, entre os quais

podemos mencionar Soares (2002), Warschauer (2006), Coll e Illera (2010), e Costa (2011).

Nessa vertente, não há um conceito singular e genérico de letramento digital, que possa estar

relacionado às pessoas de maneira geral, em qualquer momento sócio-histórico, cultural,

econômico e ideológico.

Castells (2003) afirma que a World Wide Web (www) constitui um ambiente múltiplo

de oportunidades, tornando-se um meio essencial de comunicação e organização em todas as

esferas de atividade, o que possibilita, assim, novas formas de pensar, interagir e de agir do

sujeito. Como afirma Ribeiro (2012, p. 40), “não é simples tratar dos letramentos ao se mover

na web ou no computador desconectado.” Para essa estudiosa, portanto,

letramento digital é a porção do letramento que se constitui das habilidades

necessárias e desejáveis em indivíduos ou grupos em direção à ação e à

comunicação eficientes em ambientes digitais, sejam eles suportados pelo computador ou por outras tecnologias de mesma natureza. (RIBEIRO, 2009,

p. 30, grifo da autora).

Faz-se necessário pensar as tecnologias digitais de forma sistemática e vinculada com

a realidade do aluno, ou seja, trazer para o ambiente escolar o que é familiar no dia a dia desse

aluno, e aperfeiçoar esse ambiente a partir de novas diretrizes e formas de usar essas

tecnologias. É importante apontar que essa percepção possibilitaria a pedagogização,

conforme afirma Soares (2003), das práticas vivenciadas pelos alunos na sociedade com as

tecnologias para trabalhar com conteúdos escolares. Retomo o que diz Ribeiro (2012) em

pedagogizar essa prática:

Isso pode ser ruim, quando a escola “força” práticas e conteúdos a entrarem

num enquadramento entediante e sistematizado como “regra” ou “proposta

didática”; ou quando a tarefa tem roupagem nova, mas não traz nenhuma

vantagem ou incremento ao ensino; mas pode ser bom quando a escola admite como necessário levar para dentro de seus muros as práticas da

sociedade, desenvolver nos alunos o senso crítico, trabalhar com textos de

circulação social, assim como lê-los em suportes encontrados nas casas e no trabalho das pessoas. Ou quando a escola usa as tecnologias digitais para

borrar um pouco os limites entre dentro e fora dela, tornando a educação

uma ação de tempo integral, sem muita delimitação de espaço e tempo. (RIBEIRO, 2012, p. 43).

69

Segundo Soares (2003), esse caráter de pedagogização pode tornar o aluno

consciente, crítico e letrado digitalmente para o uso discriminado das tecnologias digitais,

pois o fato de os alunos saberem usar as tecnologias frequentemente no cotidiano não

significa que saibam usá-las para fins pedagógicos. A esse respeito, Dudeney, Hockly e

Pegrum (2016) reforçam que, embora a maioria dos alunos utilize as TDIC para o lazer e

socialmente, faz-se necessária uma sistematização de uso para propósitos profissionais ou

educacionais, na tentativa de compreender criticamente suas reais potencialidades, além de

aprender a respeito de segurança digital e proteção de identidade on-line.

Dessa forma, cabem às agências formais de letramentos (escola e professor) pensarem

em propostas didáticas para propiciar o uso funcional do computador e da Internet de

maneiras eficientes durante o processo de ensino-aprendizagem. Em outras palavras, apoiado

em Candlin e Hadfield (2016), entendo os letramentos digitais como práticas de aprendizagem

linguísticas multifuncionais, tanto para o professor como para o aluno, na tentativa de

adquirem novas habilidades e estratégias tecnológicas.

Complementando essa visão, Savage e Barnet (2015) discutem que o foco do

letramento digital está nas práticas sociais, pois se deve considerar os aspectos sócio-

históricos das TDIC (as tecnologias vão se aperfeiçoando, mudando ao longo do tempo e

determinado os interesses dos sujeitos). Além disso, segundo ainda esses autores, a

importância e a necessidade de práticas pedagógicas de letramento digital na formação de

professores tornam-se mais que fundamentais a fim de que o professor possa conhecer, se

familiarizar e se apropriar, crítica e reflexivamente, das ferramentas digitais. Dessa forma,

Savage e Barnet (2015) salientam que o professor apresentará letramentos digitais para

implementar conscientemente ações didáticas com e por meio das tecnologias.

Por sua vez, Coll e Illera (2010) discutem o termo letramento digital como

alfabetização digital; não obstante, apesar da mudança de nomenclatura adotada pelos autores,

a ideia remissiva iguala-se e se remete às concepções dos demais pesquisadores mencionados

anteriormente nesta subseção. Por essa razão, todas as vezes que esses autores forem

mencionados, adoto o termo letramento digital, em consonância com o quadro teórico

escolhido nesta pesquisa.

Para Coll e Illera (2010), o letramento digital torna-se um conjunto de competências e

habilidades necessárias para inclusão de novas demandas funcionais exigidas pelas

tecnologias digitais da informação e comunicação. Os autores pressupõem que ser

digitalmente letrado leva o sujeito às práticas sociais e culturais mediante à exposição, uso e

domínio dessas tecnologias para a aquisição do conhecimento desejado. Nessa perspectiva,

70

Coll e Illera (2010) afirmam que o letramento digital se relaciona aos múltiplos textos de

múltiplas linguagens disponibilizados no meio digital para acesso à informação a ser

manejada nos diferentes contextos socioculturais, para os possíveis desenvolvimentos pessoal,

social e profissional dos sujeitos.

Considerando a situação descrita acima, Martín (2014) defende a necessidade de se

articular o letramento digital com as mudanças e os princípios tipificados da sociedade atual,

onde vive e se desenvolve o sujeito letrado. Trata-se, assim, de letrar todo cidadão com

habilidades, capacidades e conhecimentos “sobre as formas mais comuns de codificar e

decodificar significativamente informação verbal, sonora, visual, audiovisual e multimídia.”

(MARTÍN, 2014, p. 191). Talvez demasiadamente otimista, esse autor considera o letramento

digital como um direito de todo e qualquer cidadão, independentemente de classe social,

assim como tem o direito (pela legislação) de acesso à educação, ou seja, um letramento

digital para capacitar o sujeito para a vida.

Importante ressaltar, ainda, que, para Mota e Scott (2014), o letramento digital é tão

importante quanto o ato de aprender a ler e a escrever na prática tradicional. Para esses

autores, tal relevância surge na medida em que as TDIC exigem níveis de conhecimento e

habilidades específicas dos sujeitos em ambientes digitais para que o processo de conversão

da informação em conhecimento útil (gestão do conhecimento) e o processo de informação

publicada (gestão do conteúdo) resultem em um eficiente processo potencial para o ensino-

aprendizagem, com mudanças significativas.

Mota e Scott (2014, p. 45-46) afirmam ainda que “letramento digital inclui as

habilidades de localizar, organizar, entender, avaliar e analisar informações usando

tecnologias digitais, [...] refletindo as múltiplas maneiras com que humanos interagem com

tecnologias.” Assim, o letramento digital leva o sujeito a obter o conhecimento pelo

desenvolvimento de habilidades e de capacidades em ambientes digitais, ou seja, estimular as

competências tecnológicas digitais para a prática letrada.

Penso, então, pelo exposto até o momento, que o letramento digital varia de pessoa

para pessoa, com diferentes formas e sentidos atribuídos, variando, também, o momento e o

local onde a pessoa está situada nessa era digital. Sendo assim, torna-se apropriado considerar

esse tipo de letramento como um continuum flexível e, na visão de Mills (2016), uma prática

digital criativa, que vai se diversificando e transformando-se de acordo com o momento

sócio-histórico, cultural, econômico e ideológico de cada sujeito, ou seja, no contexto de sala

de aula, alguns alunos podem “ser extremamente competentes e usuários habituais de

71

tecnologia, enquanto outros poderão ser menos.” (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016,

p. 303).

Nessa perspectiva, concordo com Pinheiro e Araújo (2012, p. 816) ao afirmarem que

“não podemos reivindicar uma definição de letramento que contemple todas as práticas, pois

as mudanças tecnológicas transformam as práticas sociais ao longo do tempo das culturas.”

Para Savage e Barnett (2015), propiciar ao aluno práticas de letramento digital é mais do que

familiarizá-lo e instrumentalizá-lo (habilidades) com o uso das tecnologias digitais, ou seja,

não é colocá-lo na frente de um computador e solicitar que realize uma determinada atividade.

Para que a mudança tecnológica de fato aconteça, o professor precisa ir além. O professor

deve incluir o aluno no mundo das tecnologias digitais para que possa saber escolher, avaliar,

usar e compreender criticamente as informações e as diferentes linguagens originárias do

mundo virtual, sendo esse um dos papeis do professor na atualidade.

Logo, ao se discutir o letramento digital não se pode mais falar apenas de práticas de

leitura e de escrita, e de saber manusear o mouse e o teclado do computador e como

operacionalizá-lo. Savage e Barnett (2015) professam que letrar reflexivamente o aluno com

TDIC deveria se tornar parte de uma cultura digital no mundo atual, para que ele se torne um

sujeito ativo e crítico da informação.

Entretanto, Lemke (2010) chama a atenção para o letramento adquirido em um

ambiente de realidade virtual (RV), onde o sujeito é exposto à interatividade das TDIC

disponíveis e a possibilidade de criação de realidades virtuais, com a sensação de estar

vivendo nela, ou seja, o ambiente de realidade virtual proporciona as pessoas a fazerem mais

coisas acontecerem e sentirem que são mais reais.

Por essa razão, Lemke (2010) afirma que nenhuma tecnologia é uma ilha, porém uma

rede ligada a outras tecnologias e a outras práticas culturais, na medida em que se tornam

mais complexas:

Toda prática letrada de construção de significado estabelece relação de

interdependência com habilidades que vão desde a navegação no teclado até

a virada de uma página, da composição à encadernação, da edição às vendas

e distribuição (no caso das tecnologias impressas). (LEMKE, 2010, p. 459).

Nessa direção, esse autor afirma que os letramentos são genéricos, sociais e legiões. O

primeiro termo refere-se às habilidades de autoria e análise crítica multimidiática, às

estratégias de exploração do ciberespaço e habilidades de navegação no ciberespaço. Lemke

(2010) menciona o caráter pedagógico dessas habilidades e estratégias no contexto escolar, no

sentido de compreender, antes de ensinar, como os vários letramentos (digitais) e as tradições

72

culturais possam combinar as múltiplas “modalidades semióticas diferentes para construir

significados que são mais do que a soma do que cada parte poderia significar separadamente.”

(LEMKE, 2010, p. 462).

Sob essa perspectiva, a integração de elementos multimidiáticos (imagens fotográficas

de arquivos, vídeos, efeitos sonoros, voz em áudio, música, animação ou qualquer outra

representação mais especializada, como, por exemplo, fórmulas matemáticas, desenhos,

figuras, gráficos, tabelas) ao texto escrito não se tornam apenas elementos adicionais, ou seja,

não basta incluir um desses elementos no texto escrito e desejar que ambos possam significar

a mesma coisa. Como afirma Lemke (2010, p. 462), “devemos ajudar os alunos a

compreenderem exatamente como ler o texto de forma diferente e interpretar a imagem de

forma diferente, em função da presença um do outro.”

O segundo termo (letramentos sociais) corresponde à aprendizagem pela participação

em relações sociais, interligados por uma rede de significados elaborados por outros

participantes. Por sua vez, o terceiro termo (legiões) caracteriza-se pelo “conjunto de práticas

sociais interdependentes que interligam pessoas, objetos midiáticos e estratégias de

construção de significados.” (LEMKE, 2010, p. 455).

Para esse autor, o letramento é uma tecnologia em si mesma que produz ligação entre

a construção do significado e do fazer de uma cultura ou subcultura, de uma comunidade em

particular. Lemke (2010) afirma que o letramento fomenta tanto o poder quanto a

vulnerabilidade. O poder no sentido para acessar uma realidade multimidática, que leva o

sujeito/aluno a adicionar um mundo de significados e a se movimentar em um ciberespaço e a

um determinado tempo, no momento desejado; ao passo que a vulnerabilidade passa a

acontecer quando esse sujeito não consegue fazer a distinção entre o mundo virtual e o mundo

real.

Não obstante, conforme alerta Lemke (2010), o professor precisa ensinar os alunos a

usar sabiamente os letramentos (digitais) da atualidade, para que os significados possam ser

construídos, e não ensinar letramentos usados no século passado, “ou simplesmente colocar

na frente deles os letramentos mais avançados e diversos de hoje” (LEMKE, 2010, p. 475).

Na mesma senda, retomo as ideias sobre letramento de Warschauer (2006) e

parafraseio-as relacionando o termo com as tecnologias digitais. São elas:

a) há gradações e diferentes tipos de letramentos digitais;

b) o significado e os sentidos do letramento digital variam de contextos socioculturais

específicos;

73

c) a aquisição do letramento digital requer o desenvolvimento de diferentes

habilidades, conhecimentos e atitudes;

d) o letramento digital precisa estar relacionado com suas funções otimizadas para

gerar possíveis benefícios;

e) o letramento digital é uma prática social que envolve acesso a artefatos físicos

(como o computador e a Internet), conteúdo, habilidades e fomento da inclusão

social e digital, e

f) o fomento do letramento digital não é apenas uma questão de educação, mas

também de empoderamento.

Essas ideias me levam, novamente, a refletir a respeito da competência mediadora da

escola33

e do professor para fomentar o letramento digital no processo de ensino-

aprendizagem, principalmente, no contexto educacional brasileiro. A importância de tornar o

aluno letrado digitalmente vai além de ensiná-lo a saber usar as tecnologias digitais da

informação e comunicação e aprender sobre elas, mas implica em conscientizar esse aluno

para realizar criticamente atividades operacionalizadas pelas interfaces tecnológicas em

ambientes digitais na tentativa de transformar, efetivamente, a informação em conhecimento.

Por isso, Savage e Barnett (2015) chamam a atenção para a integração eficiente das

tecnologias na formação de professores para fins educacionais. Afinal, conforme bem

pontuam Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 19), “ensinar língua ´exclusivamente´ através

do letramento impresso é, nos dias de hoje, fraudar nossos estudantes no seu presente e em

suas necessidades futuras.” Por essa razão, compreendo que o ensino de línguas deveria

utilizar tanto as ferramentas do meio analógico, como do meio digital, para fomentar práticas

de letramentos em ambos os meios.

Para Buckingham (2006), o uso da Internet, do computador ou de outros meios

digitais, uma vez inseridos no contexto escolar, precisam promover nos alunos a compreensão

para os meios de comunicação onde serão inseridos. Em outras palavras, as tecnologias

responsáveis pelo letramento digital do aluno precisam fazer sentido e ser justificáveis no

ensino desses alunos. Caso contrário, Buckingham (2006) salienta que as tecnologias são

usadas como meios neutros de aquisição da informação e usadas de maneira instrumental,

sem propósito real para o processo de ensino-aprendizagem.

33

Coscarelli (2016, p. 14) salienta que “a escola tem mudado, e muitos professores de língua, tanto materna

quanto estrangeira, já adotam uma perspectiva mais discursiva da linguagem e se preocupam com o

desenvolvimento do letramento dos alunos, incluindo o digital. Precisamos de mais pesquisas que nos ajudem a

conhecer práticas que contribuam para o letramento digital dos alunos e para a integração das tecnologias

digitais nos ambientes educacionais, contribuindo para uma escola mais atual e mais preparada para educar

cidadãos capazes de enfrentar, com sucesso, os desafios do século XXI.”

74

Knobe e Lankshear (2006) explicam que o letramento digital deveria ser operacional,

a saber, levar o sujeito a usar criticamente a tecnologia para desenvolver diferentes

habilidades, conhecimentos e atitudes (WARSCHAUER, 2006) para serem úteis em seu

contexto, seja acadêmico/escolar ou profissional, seja do dia a dia. Ainda de acordo com

Knobe e Lankshear (2006), ser letrado digitalmente possibilita o sujeito a se tornar

competente, também, para adequar/moldar o tipo de informação que está sendo apresentada

para um determinado público-alvo em um contexto particular.

Não basta ensinar o sujeito a fazer uma pesquisa na Internet, a usar um determinado

navegador, ou qualquer interface tecnológica para ser letrado digitalmente; pelo contrário, o

ensino passa a ser caracterizado como instrumental, como mencionou Buckingham (2006),

uma espécie de alfabetização digital funcional.

Em vista disso, concordo com Helsper (2016) quando afirma que o letramento digital

deveria ser um insumo social e cultural para práticas de uso e de benefícios com as TDIC,

resultando “em uma cidadania digital efetiva” (HELSPER, 2016, p. 41). Essa autora também

aponta a necessidade de práticas de letramento digital baseadas nas habilidades técnicas

(acessar ferramentas e software, por exemplo), habilidades de navegação e de compreensão

do conteúdo, na tentativa de ajudar “os indivíduos a alcançarem resultados concretos e de

qualidade em sua vida cotidiana” (HELSPER, 2016, p. 34).

Por essa razão, como Braga e Vóvio (2015, p. 35-36) tão bem colocam, as práticas de

letramento digital envolvem “um conjunto de novas habilidades que precisariam ser

desenvolvidas para a interação com interfaces digitais.” As práticas sociais de letramento

tradicional precisam estar em consonância, agora, com as práticas sociais de letramento

digital. Além de saber dominar a linguagem escrita, as pessoas precisam, também, dominar e

operacionalizar as interfaces tecnológicas digitais, de maneira reflexiva, funcional e “eficaz

para a comunicação nas práticas sociais, culturais e educacionais” (BARBOSA; ARAÚJO;

ARAGÃO, 2016, p. 634).

Na perspectiva de Buckingham (2006), Knobe e Lankshear (2006), e Savage e Barnett

(2015), o letramento digital concretiza-se a partir do momento que o sujeito sabe como obter,

selecionar, avaliar a informação e os diversos dispositivos eletrônicos oferecidos pelo

ambiente digital, sendo capaz de colocá-los em prática e modificar suas formas de vida

(pensar e agir) na Sociedade da Informação. Frente a essas argumentações, trago o conceito

proposto por Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 20), que complementa a discussão

caracterizando o letramento digital como “habilidades essenciais que nossos alunos precisam

75

adquirir para sua plena participação no mundo além da sala de aula, mas também podem

enriquecer sua aprendizagem dentro da sala de aula”, com o benefício e a ajuda das TDIC.

Sob esse prisma, Dudeney, Hockly e Pegrum (2016) entendem que os letramentos

digitais podem ser agrupados em quatro eixos focais, a saber: (a) linguagem (pode superar a

expressão linguística); (b) informação (cada vez mais disponível, devido à Internet móvel); (c)

conexões (comunica sentido e gerencia informação), e (d) (re)desenho (processos de

significações), cada um com seus respectivos tipos de letramentos. É mister ressaltar que

esses letramentos podem se inter-relacionar, ocorrendo, portanto “macroletramentos – ou

seja, que juntam vários outros letramentos” (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016. p. 21,

grifo dos autores).

A seguir, o Quadro 2 retrata os quatro eixos focais, discriminados anteriormente,

propostos por Dudeney, Hockly e Pegrum (2016), com seus tipos de letramentos digitais

seguidos de suas definições, respectivamente.

76

Quadro 2 – Eixos focais e definições de diferentes tipos de letramentos digitais

EIXOS FOCAIS TIPOS DE LETRAMENTO DEFINIÇÕES

FOCO I:

LINGUAGEM

Impresso

Habilidade de compreender e criar uma variedade de

textos escritos que abrange o conhecimento de

gramática, vocabulário e características do discurso

simultaneamente com as competências da leitura e da

escrita.

SMS Habilidade de se comunicar eficientemente em

Internetês.

Hipertexto

Habilidade de processar hiperlinks apropriadamente e de

usá-los para incrementar com eficiência um documento

ou artefato.

Multimídia

Habilidade de interpretar e de criar efetivamente textos

em múltiplas mídias, especialmente usando imagens,

sons e vídeo.

Jogos

Habilidade de navegar e interagir eficientemente nos

ambientes de jogos e de alcançar objetivos no interior

deles.

Móveis

Habilidade de navegar, interpretar informação,

contribuir com informação e se comunicar por meio da

Internet móvel, incluindo a habilidade de se orientar no

espaço da Internet das coisas (onde a informação dos

objetos do mundo real está integrada à rede) e da

realidade aumentada (onde a informação proveniente da

Internet se sobrepõe ao mundo real).

Codificação

Habilidade de ler, escrever, criticar e modificar códigos

de computador com vistas a criar ou confeccionar

softwares e canais de mídia.

FOCO II:

INFORMAÇÃO

Classificatório

Habilidade de interpretar e de criar folksonomias

eficientes (índices de recursos on-line gerados pelos

usuários visualmente representados como nuvens de

tags).

Pesquisa

Habilidade de fazer uso eficiente de ampla gama de

motores e de serviços de busca, incluindo a

familiaridade com sua funcionalidade plena bem como

com suas limitações.

(Crítico) de informação Habilidade de avaliar documentos e artefatos fazendo

perguntas críticas, avaliando a credibilidade,

comparando fontes e rastreado as origens da informação.

Filtragem

(inflexão do letramento em rede)

Habilidade de reduzir a sobrecarga de informação

usando redes profissionais e sociais on-line como

mecanismos de triagem.

FOCO III:

CONEXÕES

Pessoal Habilidade de usar ferramentas digitais para formatar e

projetar a identidade on-line desejada.

Em Rede

Habilidade de organizar redes on-line profissionais e

sociais para filtrar e obter informação; comunicar-se e

informar outros; construir colaboração e apoio;

desenvolver uma reputação e exercer influência.

Participativo

Habilidade de contribuir para a inteligência coletiva das

redes digitais e de alavancar a inteligência coletiva das

redes mantidas a serviço de metas pessoais e/ou

coletivas.

Intercultural

Habilidade de interpretar documentos e artefatos

provenientes de uma gama de contextos culturais bem

como comunicar mensagens eficientemente e interagir

construtivamente com interlocutores pertencentes a

diferentes contextos culturais.

FOCO IV:

RE(DESENHO)

Remix

Habilidade de criar novos sentidos ao samplear,

modificar e/ou combinar textos e artefatos pré-existentes

bem como de fazer circular, interpretar, responder e

construir sobre outras remixagens no interior das redes

digitais.

Fonte: elaborado pelo autor com base nas ideias de Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 23-55)

77

Para os autores, os eixos focais apresentados no Quadro 2 estão agrupados em ordem

de dificuldade crescente para a elaboração de atividades pelo professor, levando-o a

considerar os diferentes níveis de aprendizagem dos alunos e os diferentes contextos que estão

inseridos. Fica evidente que não se trata de um checklist, pois os “letramentos se

entremesclam” (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p. 21). Assim sendo, esses autores

sugerem que as diferentes habilidades de tipos de letramentos digitais podem ser fomentadas,

incorporadas e adaptadas ao processo de ensino-aprendizagem de línguas para familiarizar,

pedagogicamente, os alunos com as TDIC e com o estudo das novas mídias.

Nessa perspectiva, faço também minhas as palavras de Dudeney, Hockly e Pegrum

(2016):

Enquanto professores de línguas, estamos bem situados para promover os

letramentos digitais em sala de aula, integrando-os com a linguagem tradicional e o ensino do letramento na medida em que equipamos nossos

alunos com toda a gama de letramentos de que precisarão como membros de

redes sociais crescentemente digitalizadas, como trabalhadores do século XXI

34 e como cidadãos de um mundo que faz frente aos desafios ambientais

e humanos em escola global. (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p.

60).

Dessa forma, faz-se necessário pensar que o processo de letramento digital está em

mutação, considerando que as tecnologias estão sempre em fase de mudanças e

desenvolvimento constantes, o que permite uma atualização permanente por parte do sujeito

para sua aplicação nos diferentes contextos, de acordo com suas necessidades e seus

interesses. Revozeando Braga e Ricarte (2005, p. 37), “o ‘letramento digital’ passa a ser uma

necessidade social e não apenas uma opção viável oferecida pela nossa sociedade.”

A partir das ideias expostas anteriormente, considero letramento digital como prática

social de letramentos (no plural, pois não há como identificar práticas homogêneas de

letramento) em que o sujeito sabe pesquisar, avaliar, refletir e se apropriar criticamente das

informações (escritas, orais e imagéticas) originárias dos ambientes digitais, assim como a

operacionalização dessas informações e das interfaces tecnológicas em contextos específicos,

seja de aprendizagem ou do cotidiano, seja de trabalho.

Ademais, considero que o termo letramento digital é genérico (metaforicamente, uma

espécie de guarda-chuva, em relação aos demais tipos de letramentos existentes), que abarca

34 Na visão de Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 17), os alunos do século XXI, como (futuros) trabalhadores

e cidadãos de uma sociedade pós-industrial digitalmente interconectada, precisam desenvolver habilidades

próprias desse século, a saber, “criatividade e inovação, pensamento crítico e capacidade de resolução de

problemas, colaboração e trabalho em equipe, autonomia e flexibilidade, aprendizagem permanente.”

78

outros tipos de letramentos, como o letramento computacional, o letramento informacional, o

letramento midiático e o letramento comunicacional, como bem salienta Warschauer (2006).

Nesse prisma, corroboro as ideias de Ribeiro (2016) ao professar que as práticas

sociais de letramento digital, na atualidade, podem ser mais significativas se pensadas no

plural, ou seja, como letramentos digitais. Portanto, uma pessoa que sabe utilizar o mouse e o

teclado do computador para digitar um texto, usar a barra de rolagem para subir ou descer o

texto, é letrada digitalmente; no entanto, apresenta um letramento específico relacionado ao

computador (letramento digital computacional). Já um aluno que sabe gravar um vídeo no

celular para, em seguida, editá-lo e postá-lo em alguma rede social também apresenta domínio

de letramento digital, específico das multimídias; logo, esse aluno apresenta competência de

letramento digital multimidiático. Por sua vez, a dona de casa que deseja preparar uma receita

nova para sua família e utiliza a Internet para pesquisar diversos sites sobre o assunto, analisa

e avalia, reflexivamente, as informações (receitas culinárias) que melhor se enquadram em

sua preferência e necessidade apresenta um nível de letramento específico nessa situação, ou

seja, um letramento informacional digital; e assim por diante.

Trata-se, dessa forma, de letramentos específicos para o uso das TDIC relacionados ao

meio digital. Revozeando Barton e Lee (2015, p. 20), é mais conveniente falar de letramentos

digitais, com o termo no plural, pois “há muitos tipos diferentes de letramento utilizados pelas

pessoas para diferentes fins.” Logo, com base nessas afirmações, entendo que novas posturas

(mais críticas), proativas (interação com as TDIC para compreendê-las conscientemente para

fins sociais, profissionais e educacionais) e novos enfoques para o desenvolvimento de

habilidades cognitivas são exigidos cada vez mais do sujeito na Sociedade da Informação.

Caminhando nessa direção, comungo com as ideias de Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p.

17) ao professarem os letramentos digitais como “habilidades individuais e sociais necessárias

para interpretar, administrar, compartilhar e criar sentido eficazmente no âmbito crescente dos

canais de comunicação digital.”

Por essa razão, concordo com Buzato (2009), quando afirma haver a necessidade de se

estabelecer uma inter-relação entre o letramento digital e os diversos tipos de letramento

existentes na sociedade digital, considerando as situações específicas em que cada sujeito os

usam para suas necessidades. Para esse autor, o letramento digital é uma rede complexa e

heterogênea que conecta os sujeitos por meio do uso das TDIC. Buzato (2009) afirma que:

pensar os letramentos digitais como letramentos em rede é pensar em

exotopia, i.e., é justamente admitir que o sentido de cada letramento não

pode ser definido senão no diálogo com outros letramentos, na conexão entre

79

diferentes tempos-espaços, que se dá de forma cada vez mais intensa e

variada hoje, em virtude da convergência entre os meios e da proliferação

das conexões. (...) é pensar em hibridização, é postular que guardem consigo a possibilidade de abertura de certos sentidos instalados nas ideologias do

Local, assim como de resistência ao fechamento de sentidos que acompanha

a onda homogeneizante do Global. (BUZATO, 2009, p. 23, grifos do autor).

Essa discussão me remete às ideias de Araújo e Pinheiro (2014, p. 305) ao

mencionarem não existir grau zero de letramento digital nas sociedades tecnológicas, pois

“mesmo aqueles que não fazem uso efetivo das práticas de letramento digital começam a

participar de eventos de letramento digital que giram em torno desse tipo de letramento.”

Assim, segundo os autores, os letramentos digitais são práticas sociais e processos dinâmicos

mediados pelas influências das tecnologias digitais da informação e comunicação.

Tais relevâncias, então, surgem na medida em que o letramento digital se relaciona à

uma competência pautada nas práticas e nos eventos sociais, por meio do uso e da

operacionalização de sentidos, pelos sujeitos, para as múltiplas linguagens tecnológicas,

disponíveis em diversos ambientes digitais na Sociedade da Informação.

Com base nas argumentações apresentadas até o momento sobre tecnologia digital da

informação e comunicação e práticas de letramentos digitais, enfatizo a relevância de discutir

os processos de formação de professores, uma vez que se exigem novas maneiras de aprender

dos alunos e novas maneiras de ensinar dos professores na era digital.

1.3 Da prática docente à prática reflexiva

A palavra formação constitui-se em um processo contínuo em que a teoria, a prática e

a reflexão estão inter-relacionadas e interdependentes. Com essa visão, as ações do professor

pautam-se pela fundamentação teórica, que olha para seu conhecimento experiencial praticado

em sala de aula e o retoma para uma prática reflexiva. Em outras palavras, o professor em

cursos de formação “busca a reflexão e o motivo por que uma ação é feita da maneira que é

feita. Há, assim, uma preocupação com o embasamento teórico que subjaz a atividade do

professor. [...] a formação olha além” (LEFFA, 2016, p. 83).

Em convergência com essas ideias, Celani (2001, 2010a) e Ramos e Freire (2009)

salientam que os cursos de formação de professores deveriam dar voz aos docentes para

compreenderem, primeiramente, seu contexto de ensino, de onde vêm, para, em seguida,

pensarem em transformar a sua prática pedagógico-didática, pois “não se pode transformar o

80

que não se entende” (MOITA-LOPES, 2003, p. 31). Alinhado com o pensamento que

descrevo, comungo com as ideias de Imbernón (2011) ao salientar que os cursos de formação

inicial de professores não constituem uma atividade de formação para

aprender um ´ofício ,́ no qual predominam estereótipos técnicos, e sim de apreender os fundamentos de uma profissão, o que significa saber por que se

realizam determinadas ações ou se adotam atitudes concretas, e quando e por

que será necessário fazê-lo de outro modo. (IMBERNÓN, 2011, p. 67-68, grifo do autor).

Caminhando nessa direção, García (2013) apresenta cinco critérios implicados para a

qualidade profissional de um programa de formação de professor, na tentativa de os

conteúdos curriculares e a prática pedagógica estarem inter-relacionados, ou seja, observar se

o conhecimento adquirido pelos professores nesses programas se constitui relevante para ser

aplicado em seus futuros contextos reais de ensino-aprendizagem. Esses critérios são os

seguintes:

● critério acadêmico: deve incluir o conhecimento que advém de todas as tradições acadêmicas relevantes. Os documentos contêm conhecimentos que

advêm de investigações, teorias e conhecimentos práticos relevantes? Os

conhecimentos tradicionais acadêmicos são articulados com os conhecimentos práticos resultantes de uma análise sistemática da prática de

ensino?

● critério de multiplicidade: deve existir contraste entre diferentes

concepções do ensino e da escola. Os documentos estudados pelos professores contêm teorias, perspectivas e explicações das principais

abordagens da educação e do ensino?

● critério de relação: deve mostrar relações entre os aspectos teóricos e normativos do ensino. O conhecimento é apresentado de modo a mostrar o

contexto filosófico, social e/ou demográfico do qual deriva?

● critério de utilidade: deve ser útil e acessível aos professores. O

conhecimento é organizado e apresentado de modo a facilitar uma aplicação direta em situações concretas de ensino?

● critério de reflexividade: o conhecimento é apresentado de modo a

fomentar a reflexão sobre as práticas escolares e sobre a conduta docente eficaz? (adaptado de GARCÍA, 2013, p. 107).

Por sua vez, Zabalza (2014) apresenta uma proposta de quatro princípios formativos

que podem nortear a boa formação do professor pré-serviço. Segundo esse autor, a boa

formação capacita os graduandos a saberem conhecer melhor os desafios, que podem

encontrar no contexto escolar de seu dia a dia e “equilibrar os diversos âmbitos do

desenvolvimento pessoal, social e cultural” (ZABALZA, 2014, p. 94).

81

Assim sendo, os cursos de formação inicial de professores precisam levar em

consideração o desenvolvimento das pessoas como sujeitos, e não apenas a sua formação

acadêmica, para atuar no mercado profissional; caso contrário, a formação pode tornar-se

puramente mecânica e instrumental, ou seja, “reduzir a capacidade crítica, reforçar os

sistemas de adaptação, moldá-lo segundo um pensamento único e heterônomo” (ZABALZA,

2014, p. 72). Passo, agora, a relatar cada princípio proposto por esse autor.

O primeiro princípio formativo está relacionado à sincronia da dicotomia entre o

conhecimento acadêmico e o conhecimento especializado, isto é, ao longo da licenciatura, as

disciplinas cursadas pelos graduandos, do ponto de vista teórico, são importantes para a sua

formação. Saber compreender e explicar o que se está ensinando se torna crucial para a

formação do professor. Por essa razão, Zabalza (2014) explicita que a união desses dois tipos

de conhecimentos pode possibilitar uma aprendizagem acadêmica especializada ao

graduando.

O segundo princípio formativo “surge da intersecção entre as aprendizagens

específicas e o que tem a ver com atividades e desempenhos práticos vinculados ao mundo do

trabalho e da profissão” (ZABALZA, 2014, p. 92). De acordo com o autor, nessa fase, o curso

de formação estaria preocupado com a atuação de desempenho do graduando no campo

profissional. Penso, com isso, que esses cursos deveriam ter disciplinas práticas35

em que o

aluno pudesse desenvolver ações que poderão encontrar em seu futuro contexto escolar. É

claro que falo de hipóteses, apenas, não podendo prever o que realmente vai acontecer, mas

essas ações podem tornar o professor consciente, motivado e confiante para seu trabalho

docente.

O próximo princípio pauta-se na inter-relação entre as competências acadêmicas e as

gerais (aqui não há relação direta com as disciplinas da grade curricular, tornando-as, dessa

forma, gerais), que se complementam, para tornar o desempenho acadêmico dos graduandos

eficiente. Segundo Zabalza (2014), entre as competências gerais, estão o domínio da leitura e

escrita acadêmicas, a aprendizagem de uma ou várias línguas estrangeiras, o conhecimento de

mídias e tecnologias digitais, a tomada de decisões, o trabalho em equipe, entre outros fatores

determinantes para o desenvolvimento do graduando do curso de licenciatura.

35 Dentre as disciplinas curriculares da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (FALEM) da UFPA com esse

teor, encontram-se as Metodologias de Ensino I e II, Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras, Prática de compreensão e produção escrita, Prática de compreensão e produção oral, Aprender a

aprender LE, todas com duração de 68 h/a, os Estágios Supervisionados I e II, com 204 h/a cada, entre outras

disciplinas. Ressalte-se que em 2018 entrará em vigência o novo projeto pedagógico da FALEM com

reformulação de propostas das disciplinas já existentes e com a inclusão de novas disciplinas.

82

Com relação a esses aspectos, devo ressaltar que concordo com o autor, no entanto,

considerando minha prática e meu contexto de ensino atual, a maioria dos alunos que ingressa

no curso de licenciatura Letras-Língua Inglesa da UFPA ainda não possui essas competências

desenvolvidas, sendo estimuladas, desenvolvidas e aperfeiçoadas ao longo do curso, por meio

de disciplinas com esses propósitos. Ressalte-se que os alunos do curso de licenciatura em

inglês de minha faculdade apresentam domínio das tecnologias digitais, porém sabem

manuseá-las apenas para propósitos de entretenimento. A esse respeito, retomarei essa

discussão em seção posterior.

O último princípio caracteriza-se pela intersecção entre os contextos de trabalho, de

profissão e geral, relacionados a valores e capacidades genéricas relevantes para a formação e

desempenho do futuro licenciando, assim como para qualquer profissão, como, por exemplo,

“assuntos como a ética profissional, a perseverança no esforço, o respeito à diversidade, a

solidariedade, o espírito crítico, a capacidade de inovação, a reflexão, a autoavaliação, entre

outros” (ZABALZA, 2014, p. 93).

A proposta apresentada por Zabalza (2014) torna-se uma contribuição importante para

os cursos de formação inicial de professores, pois cada princípio funciona como uma

engrenagem, que se interliga a outra, ou seja, os conhecimentos teóricos articulam-se com a

aprendizagem prática que, por sua vez, está ligada às competências gerais, que se interligam

com os valores e as capacidades genéricas.

Ao olhar essa engrenagem (metaforicamente falando) como um conjunto de prática

social concreta para o desenvolvimento acadêmico e profissional do professor em formação

inicial, com disciplinas, metodologias e abordagens que contemplem os processos de

aprendizagem desse graduando, os cursos de licenciatura podem assumir seu papel como

formadores e olhar essa formação como contínua, e não finalizada com a graduação.

Naturalmente, o processo não é simples. Por esse motivo, complementando as ideias de

Zabalza (2014), trago Hattie (2017) que nos lembra que cursos de formação inicial de

professores não deveriam esquecer que esses professores

precisam ser capazes de reagir à situação, a alunos específicos e ao

momento. Os professores trabalham em situação bastante variadas,

apresentam interações com muitos alunos diferentes e trabalham em escolas com ampla variedade de condições (tempo de planejamento, interrupções,

oportunidades colaborativas). Esperar um efeito contínuo de modo regular é

pedir demais [...].” (HATTIE, 2017, p. 30).

83

O que me parece relevante nos critérios mencionados por García (2013), nos

princípios apontados por Zabalza (2014) e nas ideias de Hattie (2017) é o fomento de práticas

reflexivas36

, podendo ser uma prática corrente nos cursos de formação de professores, para

aprender a ensinar, para conhecer as características pessoais, cognitivas, contextuais,

relacionais, entre outras, de cada professor, de modo a desenvolver as suas próprias

capacidades e potencialidades para o ensino. Assim, na visão de García (2013), aprender a

ensinar não deve ser um processo homogêneo para todos os sujeitos, pois, como já salientava

Freire (1995/2014), a verdadeira docência volta-se para um processo de investigação da

própria prática pedagógica de cada professor.

Nessa vertente de prática reflexiva, trago Ramos (2010) que a entende:

como força potencializadora que direciona o professor a indagar, analisar,

buscar respostas para suas perguntas, a tomar decisões sobre escolhas que

precisam ser feitas e que tenham como base seu próprio agir pedagógico e teorias consistentes, buscando a transformação para o seu fazer. Além disso,

ele precisa também olhar e entender o contexto sociopolítico em que está

inserido para reconhecer que o ensino-aprendizagem não está dissociado de

outras práticas institucionais que regulam a sociedade. (RAMOS, 2010, p. 58).

Por essa razão, concordo com Zabalza (2014) quando afirma que a prática reflexiva

não se refere a um conhecimento do fazer rodeios nas coisas, como um solilóquio mental, mas

a uma imersão consciente do homem no mundo da sua experiência, em um mundo

impregnado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas,

interesses sociais e cenários políticos (GÓMEZ, 1995; LIBÂNEO, 2012). Diante disso,

Mischefski (2017) salienta que na prática reflexiva o professor precisa monitorar o que

acontece no seu contexto de ensino-aprendizagem para, em seguida, avaliar os resultados e,

finalmente, realizar as mudanças necessárias. Esse processo ajuda o professor a aprimorar, a

compreender e a desenvolver, conscientemente, sua prática pedagógica.

Para Dewey (1910), o pensamento reflexivo é uma espécie de pensamento racional,

que consiste em examinar mentalmente o assunto e dar-lhe consideração séria e consecutiva,

pois, segundo esse autor, esse tipo de pensamento apresenta movimentos sistemáticos e

questionamentos significativos para a sugestão ou a hipótese ou para o retroceder dos fatos ou

das ações. Essa definição entra também em consonância com a de Schön (1995, 2000) e de

Hartman (2015) que argumentam que a prática de ensino reflexiva é um processo de

36 Libâneo (2012) pontua que a prática de reflexão iniciou no final dos anos de 1970 nos Estados Unidos e na

Europa, com foco no desenvolvimento da qualidade do pensar de alunos e de professores no contexto escolar.

Essa prática chega ao Brasil nos anos de 1990, com cerne na formação de professores.

84

introspecção em relação ao pensar sobre fazer, antes, durante e depois de uma aula, de uma

atividade de aprendizagem ou de uma unidade de ensino. Ainda para esse pesquisador, a

reflexão sobre o ensino antes de uma aula faz parte do processo de planejar37

o que será

ensinado, quando, por que, como e onde se quer chegar.

Assim, concordo com Freire (1975/2010) mais uma vez ao apontar que o processo da

ação-reflexão está diretamente relacionado com a formação de uma consciência política:

[...] não há práxis autêntica fora da unidade dialética ação-reflexão [...]. No

contexto concreto somos sujeitos e objetos em relação dialética com o

objeto; no contexto teórico assumimos o papel de sujeitos cognoscentes da relação sujeito-objeto que se dá no contexto concreto para, voltando a este,

melhor atuar como sujeitos em relação ao objeto. Estes momentos

constituem a unidade – e não a separação – da prática e da teoria; da ação e

da reflexão. [...] a reflexão só é legítima quando nos remete sempre [...] ao concreto, cujos fatos buscam esclarecer, tornando, assim, possível nossa

ação mais eficiente sobre eles. (...) a reflexão verdadeira clarifica, ao mesmo

tempo, a futura ação na qual se testa e que, por sua vez, se deve dar a uma nova reflexão. (FREIRE, 1975/2010, p. 158).

Reitero, ainda, o pensamento de Perrenoud (2001) de que a prática de regulação das

ações do professor se caracteriza por reflexividade, ou seja, “o sujeito toma sua própria ação,

seus próprios funcionamentos psíquicos como objeto de sua observação e de sua análise; ele

tenta perceber e compreender sua própria maneira de pensar e de agir” (PERRENOUD, 2001,

p. 174). Caminhando na mesma direção, Libâneo (2012) também usa a mesma nomenclatura

para caracterizar o professor reflexivo, considerando que o ato de pensar é uma característica

intrínseca a todo ser humano. Por essa razão, o núcleo da reflexividade “está na relação entre

o pensar e o fazer, entre o conhecer e o agir” (LIBÂNEO, 2012, p. 65).

Para Libâneo (2012), a reflexividade consiste, especificamente, no processo de tomar

consciência da ação, de tornar inteligível a ação, de pensar sobre o que se faz; em outras

palavras:

a reflexividade [...] se reporta à ação, mas não se confunde com a ação; a um

saber-fazer, saber-agir impregnados de reflexividade, mas tendo seu suporte

na atividade de aprender a profissão; a um pensar sobre a prática que não se restringe a situações imediatas e individuais; a uma postura política que não

descarta a atividade instrumental. (LIBÂNEO, 2012, p. 86).

37

Nas palavras de Silva (2017a, p. 27), “planejar é um processo sistemático e contínuo de diagnóstico e análise

da realidade e de projeção de objetivos, metas, ações e recursos necessários à implementação do planejado.”

85

Considerando, ainda, a reflexividade como um dos elementos importantes na

formação do professor, Libâneo (2012) destaca três fases a serem concebidas como prática

reflexiva em programas de licenciatura ou de formação continuada.

Na primeira fase, o professor precisa distanciar-se de sua prática, ou seja, nessa

direção, ele poderá ver, entender e avaliar aspectos que não foram compreendidos com clareza

durante a sua ação pedagógica. Nessa fase, o professor está subsidiado pelas teorias do senso

comum do seu fazer cotidiano, isto é, seu pensamento “é o saber deduzido de suas ações”

(LIBÂNEO, 2012, p. 82). Na segunda fase, as teorias subjetivas do professor passam a se

comunicar com as teorias científicas, porém uma não substitui a outra. Passam a estar em

comunhão na ação reflexiva do docente. Finalmente, na terceira fase, as integrações das duas

fases anteriores complementam-se, ou seja, a prática pedagógica comunica-se com a ciência

(a teoria ilumina a prática e ajuda a transformá-la).

A esse respeito, Dewey (1910) também aponta três atitudes necessárias para o

professor apresentar uma ação de base reflexiva, a saber, a abertura de espírito, a atitude de

responsabilidade e a sinceridade; caso contrário, o professor estará sujeito a aceitar a sua

realidade docente da maneira como ela é, não procurando melhorá-la e aperfeiçoá-la. Diante

do exposto, comento, a seguir, brevemente, cada uma dessas atitudes.

A primeira atitude proposta por Dewey (1910) seria a disponibilidade (abertura de

espírito) do professor para aceitar dialogar com seus pares, coletivamente. A segunda atitude

refere-se a considerar tudo que é falado na primeira fase, sem questionamentos, mas levando

em consideração as diversas opiniões. Por fim, na última fase, o professor passa a avaliar tudo

que foi falado, de maneira seletiva, durante o diálogo em grupo, considerando o que está mais

próximo de seu contexto.

Com base nessas afirmações, Dewey (1910) argumenta que o pensamento reflexivo

faz um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda espécie hipotética de conhecimento, não

sendo apenas um processo mental, mas um esforço consciente e voluntário para que o

professor possa compreender o que faz e a consequência que pode vir disso resultar.

Schön (1995, 2000), por sua vez, preocupando-se mais especialmente com a prática

pedagógica, sistemática e reflexiva do profissional de ensino, a partir de uma perspectiva

cognitivo-construtivista, propõe quatro dimensões de reflexão, a saber, conhecimento-na-

ação, reflexão-na-ação, reflexão sobre-a-ação e reflexão sobre a reflexão-na-ação. De acordo

com as pesquisas de Schön (1995, 2000), a figura do professor é aquela que soluciona

problemas instrumentais claros por meio da aplicação da teoria e das abordagens derivadas de

conhecimento sistemático, de preferência científico.

86

O conhecimento-na-ação é um conhecimento dinâmico, implícito e tácito, que o

professor demonstra no momento de execução da ação, com o propósito de orientar a própria

ação.

A reflexão-na-ação reflete o percurso da própria ação do professor, que orienta e

ajusta a sua prática na medida em que novas ações vão sendo intercaladas ao seu contexto.

Para Schön (1995), a reflexão-na-ação é um instrumento de aprendizagem significativo para a

prática do professor, para que possa adquirir e construir novas teorias e conceitos, como

também é um pensamento prático para aprender com o próprio processo dialético da

aprendizagem, ou seja, é a competência profissional.

A reflexão sobre-a-ação ocorre a partir do momento que o professor reconstrói

mentalmente os processos de sua própria ação na tentativa de analisá-la, retrospectivamente,

ou seja, o professor pensa em sua prática antes e a posteriori.

A reflexão sobre-a-reflexão-na-ação conduz o professor a se desenvolver

profissionalmente, pois, nesse estágio, o professor evolui e constrói a sua forma pessoal de

conhecimento. Por sua vez, Amaral, Moreira e Ribeiro (2013), contribuindo com a pesquisa

de Schön (1995, 2000) definem essa fase como metarreflexão, pois conduz o professor a

desenvolver novos raciocínios, novas formas de pensar, de compreender, de dialogar com

outros pontos de vista, de agir e resolver problemas, ou não, de seu ambiente profissional

(sala de aula ou até mesmo da escola).

Nessa perspectiva, concordo com Gómez (1995) ao afirmar que o pensamento prático

do professor

obriga-nos a repensar, não só a natureza do conhecimento acadêmico

mobilizado na escola e dos princípios e métodos de investigação na e sobre a

ação, mas também o papel do professor como profissional e os princípios,

conteúdos e métodos de sua formação. (GÓMEZ, 1995, p. 106, grifos do autor).

Frente ao exposto, as dimensões de reflexão propostas por Schön (1995, 2000) levam-

me a pensar que muitos cursos de Letras no Brasil estão cada vez mais distantes de uma

prática orientada para a reflexão na e sobre a ação do professor. Os currículos acadêmicos

estão cada vez mais normativos com teorias científicas desatualizadas e prescritivas, que nada

oferecem para o real contexto epistemológico da prática situada, para o agir do professor, ou

seja, a prática de aprendizagem do fazer-fazendo.

Para Schön (2000), as disciplinas acadêmicas para formar professores não deveriam

ser enquadradas em um modelo normativo, com a apresentação de uma ciência básica, para

87

depois aplicá-la e, por último, um espaço para um estágio no qual o futuro professor aplicaria

os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Torna-se, assim, essencial, aos cursos de

formação retomarem o papel do professor, considerando-o um agente proativo, questionador e

reflexivo, que atuará em um contexto educacional complexo, dinâmico, não-ideal e mutável,

pois “ser professor implica saber quem sou, as razões pelas quais faço o que faço”

(ALARCÃO, 2013, p. 177). O que pode, assim, levar esse profissional a se tornar consciente

de seu papel nos contextos sociais, políticos, culturais, linguísticos e institucionais (GARCÍA,

1995; LIBÂNEO, 2012). Em outras palavras, trazendo Schön (1983) para a discussão, vejo a

necessidade de o professor sempre reestruturar sua prática na tentativa de saber analisar e

lidar com as ações sob diferentes enfoques, teorizar os seus cotidianos de sala de aula, para,

assim, organizar sua prática pedagógica e criar mudanças necessárias em seu contexto de

ensino.

Nesse prisma, de acordo com a visão de Nóvoa (2014), a formação de professores

precisa perpassar os discursos de superfície para a produção de novos conhecimentos. Nessa

formação, docentes deveriam estar inclinados ao pensamento prático, a aprender fazendo e

refletindo na e sobre a ação (GÓMEZ, 1995; SCHÖN, 2000), refazendo constantemente sua

práxis (FREIRE, 1968/2014). Em outras palavras, como ressalta Sacristán (2014), a própria

prática pode dar origem ao saber regulador da mesma.

Nóvoa (1995), referindo-se à formação do professor em fase inicial, também aponta o

desenvolvimento profissional que esses cursos podem oferecer no sentido de preparar o

professor para uma ação reflexiva, para que se conscientize de sua responsabilidade no seu

próprio fazer pedagógico. Assim, esse profissional pode se tornar um agente ativo para saber

tomar decisões em seu contexto de ensino-aprendizagem, além de saber se apropriar de

metodologias, de abordagens e de conhecimentos para saber agir em sala de aula. A esse

respeito, considero, à luz de Imbérnon (2016, p. 145), que “a formação deve levar em conta

que, mais que atualizar um professor ou uma professora e ensiná-los, precisa criar as

condições, planejar e proporcionar ambiente para que ele ou ela aprenda.”

Como bem pontua Nóvoa (1995) mais uma vez, os contextos profissionais de cada

professor são particulares, razão pela qual o professor necessita ter uma competência de

autodesenvolvimento reflexivo para buscar respostas particulares para seu próprio contexto.

Nessa instância, segundo Hattie (2017, p. 22), os professores precisam ser conscientes ao

decidirem sobre temas centrais da aprendizagem, como “o que ensinar e em que nível de

dificuldade, sua visão de progresso dos alunos e os efeitos do seu ensino.”

88

Por essa razão, é necessário que os cursos de formação inicial fomentem uma prática

reflexiva, pois, segundo Liberali (2010), não se pode retirar do graduando o direito de pensar

e tomar decisões, para, no futuro, saber, conscientemente, gerenciar sua ação pedagógica. O

que leva, assim, Mischefski (2017) a entender que a prática reflexiva é uma atividade social.

É importante também mencionar que o professor pode desenvolver diferentes nichos

em sua prática educativa e que deveriam ser destacados em qualquer curso de formação. Esses

papéis são:

● professor culto: domina os saberes;

● técnico: adquiriu sistematicamente os saber-fazer técnicos;

● prático artesão: adquiriu no próprio terreno esquemas de ação contextualizados;

● prático reflexivo: construiu para si um “saber da experiência” sistemático e

comunicável mais ou menos teorizado;

● ator social: engajado em projetos coletivos e consciente dos desafios antropossociais

das práticas cotidianas; e

● pessoa: em relação a si mesmo e em autodesenvolvimento (PAQUAY; WAGNER,

2001, p. 136, grifos dos autores).

De acordo com Paquay e Wagner (2001), esses nichos se refletem nas ações de

escolhas do professor a partir das idiossincrasias dos alunos e do ambiente escolar, pois os

objetivos se tornam bem determinados, as escolhas de estratégias e metodologias bem

definidas, entre outros fatores.

Na mesma linha de pensamento elaborada por Paquay e Wagner (2001), enfatizo

outros papéis que o professor necessita desempenhar também no contexto educacional

vigente, para possíveis mudanças e inovações de sua prática pedagógica. São eles:

● sujeito epistemológico (GARCÍA, 2013): capaz de gerar e contrastar teorias sobre a

sua própria prática. Essa visão converge com as ideias de Giroux (1997) ao afirmar

que o professor deveria ser um intelectual transformador, para examinar a sua própria

atividade docente, como forma de trabalho intelectual, a partir de uma base teórica,

tipos de condições ideológicas e práticas necessárias pelo uso da mente, uma forma de

pensamento, específica de todo ser humano. Giroux (1997, p. 162) também salienta

que “encarando os professores como intelectuais, [...] podemos começar a repensar e

reformar as tradições e condições que têm impedido que professores assumam todo o

seu potencial como estudiosos e profissionais ativos e reflexivos.”;

● sujeito tecnológico (PALLOF; PRATT, 2013): conhecer e ser competente para o uso

das tecnologias digitais de informação e comunicação; e

● sujeito mediador (TÉBAR, 2011, p. 52): tem o seguinte perfil:

89

a) é um especialista e, como tal, domina os conteúdos curriculares, planeja, prevê

problemas e soluções, revisa as fases do processo de aprendizagem;

b) estabelece metas: favorece a perseverança, desenvolve hábitos de estudo e fomenta

a autoestima e a metacognição;

c) tem a intenção de promover a aprendizagem significativa: favorece a

transcendência, guia o desenvolvimento de estratégias, enriquece as habilidades

básicas superando as dificuldades;

d) incentiva a busca da novidade: fomenta a curiosidade intelectual, a originalidade e o

pensamento divergente;

e) potencializa o sentimento de capacidade: favorece a autoimagem, cria uma

dinâmica de interesse para atingir novas metas;

f) ensina o que fazer, como, quando e por quê: ajuda a mudar o estilo cognitivo dos

estudantes, controlando sua impulsividade;

g) compartilha as experiências de aprendizagem com os alunos: potencializa a

discussão reflexiva e fomenta a empatia com o grupo;

h) considera as diferenças individuais dos alunos: elabora critérios e procedimentos

para tornar explícitas as diferenças psicológicas dos estudantes, potencializa o trabalho

individual, independente e original; e

i) desenvolve nos alunos atitudes positivas: promovendo vivência de determinados

valores que os tornem operativos em sua conduta na sua realidade sociocultural.

O que me parece relevante enfatizar com relação a esses diferentes nichos seria o fato

de a profissão docente ser mais complexa do que muitos acreditam. Não basta apenas abrir o

livro didático e ensinar o que ele prescreve; não basta ter um bom relacionamento com os

alunos; em relação ao professor de línguas estrangeiras, não basta apenas ser proficiente na

língua alvo; não basta conhecer algumas metodologias inovadoras e aplicá-las em sala de aula

e achar que está exercendo a profissão de professor; não basta substituir o quadro branco e o

giz (ou o marcador) pela lousa digital; não basta substituir o livro didático pelo computador.

A profissão exige mais do que isso, pois os nichos mencionados anteriormente estão todos

inter-relacionados, uma vez que “não há razão para se falar no trabalho do professor se não

descobrirmos uma relação entre o que ele faz e o que o aluno aprende.” (LEFFA, 2016, p. 67).

Como pondera García (2013), ensinar é algo que qualquer pessoa pode fazer em qualquer

momento, porém, isso não é o mesmo que ser um professor.

Tal discussão me remete, novamente, às ideias de Freire (1995/2014) ao postular que

ensinar não é transferir o conhecimento do professor para o aluno, pois isso se trata de uma

90

“educação bancária” (FREIRE, 1968/2014, p. 80). Nessa concepção, existe a figura do

professor que deposita, transfere e transmite o conhecimento e a figura do aluno que recebe o

conhecimento de maneira mecânica, sem questionar, passivamente.

Ainda segundo Freire (1968/2014; 1995/2014), esse tipo de educação nega qualquer

forma de dialogicidade38

entre o professor e o aluno, impedindo que sejam levados a pensar

uma prática educacional libertadora. Ora, nessa visão freiriana de educação, os cursos de

formação de professores precisam deixar de ser reservatórios de conhecimento, para se

tornarem agências de apreensão do objeto de ensino-aprendizagem. Com base nessas

afirmações, Freire (1995/2014, p. 190) salienta que não há aprendizagem sem apreensão do

objeto aprendido, pois “o sujeito que apreende é produtor do conhecimento que fez.”

Além disso, também, compartilho mais uma vez com Nóvoa (2014) a noção de que o

conhecimento docente precisa ser cada vez mais valorizado nos cursos de formação, ou como

ressalta o próprio autor, “os professores são considerados como a pedra fundamental da nova

sociedade do conhecimento” (NÓVOA, 2014, p. 227).

Segundo ainda esse autor, a ação do professor em sala de aula é sempre de

colaboração com o aluno, ou seja, o professor precisa do outro (aluno) para que sua prática

seja de fato efetivada. Em outras palavras, Nóvoa (2014) pondera que um cirurgião pode

operar o outro (paciente) anestesiado, um advogado pode defender o outro (cliente) sem que

esse necessite falar algo, mas o professor não ensina sem o aluno. Assim, compreendo que

para que o trabalho do professor seja, de fato, reconhecido, faz-se necessária a relação de

interdependência com o aluno para a (re)construção do conhecimento, pois, de acordo com

Dewey (1910), não é possível ser um bom professor se não há alguém que aprenda,

legitimando, assim, o trabalho do docente.

Nessa perspectiva, Mizumaki (2013), corroborando as ideias de Cochran-Smith e

Lytle (1999), afirma que as pesquisas sobre formação inicial ou continuada de professores

mostram a necessidade da construção de conhecimentos sobre e para a docência em contextos

de ensino, assim como em contextos profissionais. Esses conhecimentos constituem-se em

conhecimento para a prática, conhecimento na prática e conhecimento da prática. A seguir,

procuro explicar cada um dos conhecimentos como elementos constitutivos da ação docente e

sua relevância para o processo de formação de professores na atualidade.

38 Na visão Freireana, a dialogicidade parte do diálogo horizontal entre os participantes da comunicação, como

forma de interação para construção de novos conhecimentos e desenvolvimento de saberes críticos (FREIRE,

1968/2014).

91

O conhecimento para a prática é o tipo de conhecimento relacionado com o ensino, ou

seja, com esse conhecimento o professor saberá organizar as suas ações para a sua prática de

ensino-aprendizagem, como “conhecimento da matéria, pedagógico, de teorias de

aprendizagem e de desenvolvimento humano, de estratégias de ensino, de currículo, de fins e

metas educacionais (...)” (MIZUMAKI, 2013, p. 31).

O conhecimento na prática está relacionado ao conhecimento em ação, a saber, “ao

conhecimento que o professor constrói sobre o ensino enquanto ensina; trata-se de

conhecimento situado e adquirido por meio de atitude investigativa, reflexão sobre a própria

experiência” (MIZUMAKI, 2013, p.31). Esse tipo de conhecimento se torna relevante na

prática do professor porque depende da maneira de pensar como professor. Em outras

palavras, significa que o professor coloca em prática o conhecimento relacionado ao seu

cotidiano educacional para definir “como observa os alunos em diferentes momentos e

contextos, como reflete sobre suas necessidades, dilemas, problemas, sucessos e fracassos,

como avalia opções curriculares e como coloca seus planos em ação” (MIZUMAKI, 2013, p.

31).

O conhecimento da prática refere-se à interligação entre teoria-prática-teoria, na

perspectiva de Mizumaki (2013). Para ampliar a discussão, trago as considerações de

Rajagopalan (1984, p. 68) ao explicar que “(...) uma teoria é nada mais que a racionalização

da prática, e esta por sua vez, a encarnação da teoria.” A meu ver, como linguistas aplicados,

temos um desafio nos cursos de formação de professores atualmente: efetivar essa dicotomia,

teoria e prática ou prática e teoria, como fio condutor, para que professores em formação,

inicial ou continuada, conforme destaca Giroux (1997), possam se tornar conscientes do real

papel que exercem em nossa sociedade como intelectuais transformadores.

Dessa forma, podemos ter professores preparados e conscientes para lidar com

situações da e na escola, além de proporcionar aos alunos uma educação voltada para as suas

necessidades, não os oferecendo, apenas “[...] conhecimento e habilidades sociais necessários

para poderem funcionar na sociedade mais ampla como agentes críticos” (GIROUX, 1997, p.

27), mas para poderem fomentar uma educação para a ação transformadora (FREIRE,

1996/2004; GIROUX, 1997).

A importância da relação entre teoria e prática pedagógica em cursos de formação de

professores, seja inicial, seja continuada, vem cada vez mais sendo debatida entre os

pesquisadores da área (por exemplo, GÓMEZ, 1995; NÓVOA, 1995, 2013; CELANI, 2003,

2010a; RAMOS; FREIRE, 2009; LIBERALI, 2010; LIBÂNEO, 2012; PIMENTA,

1994/2012; 2012; MIZUMAKI, 2013; SACRISTÁN, 2014; RAMOS, 2015; LEFFA, 2016),

92

ao relatarem a necessidade dos formadores desses cursos e a possibilidade de relacionar o

conhecimento teórico com a prática contextualizada para tomadas conscientes das situações

vivenciadas em sala de aula, considerando, assim, na visão de García (1995), as limitações

sociais, culturais e ideológicas da profissão de docente.

Por esse motivo, a maioria dos cursos de formação de professores apresenta a relação

teoria e prática de maneira fragmentada, separada, ou seja, uma visão dicotômica de ambas,

totalmente desassociada da práxis do professor, em que ambos os conceitos caminham em

direção oposta, sem terem a oportunidade de se integrarem na docência (PIMENTA,

1994/2012; NÓVOA, 1995). Não obstante, Celani (2003, 2010a, 2010b), assim como

Pennycook (2010) advogam uma relação de unidade, ou seja, de aproximação entre a teoria e

a prática na formação do professor, pois “a ação de ensinar exige uma formação específica, o

pleno domínio do conhecimento teórico e da realidade prática do professor” (FERREIRA,

2014, p. 38).

Conforme defende Ferreira (2014), os conhecimentos escolares, pedagógicos,

docentes e da prática profissional estão conectados à complexa arte de ensinar do professor e

atrelados ao tripé professor-aluno-conhecimento. Por essa razão, ainda segundo Ferreira

(2014), a vinculação da teoria e da prática torna-se essencial em cursos de formação para que

essa relação faça sentido para o professor. Em outras palavras, “teoria e prática são

indissociáveis como práxis” (PIMENTA, 1994/2012, p. 107).

Assim, ainda segundo Ferreira (2014), não há respostas prontas e cartilhas a serem

seguidas, tudo depende da relação entre teoria e prática adotadas pelo professor para buscar

respostas para seu contexto e seu público-alvo em particular, de suas concepções de ensino-

aprendizagem e de outras questões relacionadas à sua prática, considerando as inúmeras

situações particulares vivenciadas por cada um de nós, professores.

Isso me faz refletir sobre o fato de todo professor poder ser um pesquisador de sua

própria ação, pois, como afirma Freire (1995/2014), não é possível ensinar sem investigar.

Ou, como pontua Hattie (2017, p. 87), um avaliador tem de “decidir quais são as análises

críticas a serem seguidas e assegurar que elas sejam, de fato, adotadas no contexto do impacto

da aprendizagem dos alunos.” Assim, o professor passa a construir suas teorias a partir de

suas reflexões sobre seu contexto de ensino-aprendizagem.

No entanto, entendo que essas teorias não podem ser legitimadas apenas pelo

conhecimento tácito do professor. Faz-se necessária uma comunhão com as teorias já

consagradas na literatura, para que o docente possa, também, produzir teoria(s) de confiança.

Assim sendo, concordo mais uma vez com Pimenta (1994/2012) ao afirmar que o professor

93

precisa ser como um agente da práxis, pois necessita de uma formação teórico-prática para

exercer uma práxis transformadora.

A articulação dos conhecimentos teoria-prática-teoria pode mudar a maneira do fazer,

do ser, do pensar e do ensinar do professor e levá-lo a olhar para seu contexto profissional

como uma fonte de pesquisa em potencial, para as suas próprias ações, tornando sua prática

formal, legitimada e transformando-o em agente produtor de conhecimentos. Como

profissional, o professor também vai se defrontar com situações que não lhe são familiares,

que não foram ensinadas nos cursos de formação e nem mesmo terão um manual de instrução

que poderá ser usado quando necessário. Conforme descreve Gómez (1995), essas situações

serão únicas, conflitantes e incertas e para muitas das quais os professores não encontrarão

respostas pré-elaboradas.

Diante das premissas expostas, concordo com Imbernón (2016) ao reconhecer que os

cursos de formação de professores precisam considerar, no mínimo, os aspectos a seguir:

1. levar em conta a diversidade profissional do professorado e a diversidade

dos territórios. As mesmas políticas de formação não podem ser aplicadas a diferentes países.

2. analisar o para que, o que e como da formação. Pensar nas situações

problemáticas dos docentes e evitar concentrar-se em problemas genéricos,

esteriotipados, que não existem realmente. 3. vincular sempre a formação permanente com o desenvolvimento

profissional.

4. planejar e avaliar a formação permanente nos contextos específicos. Contextualizar a formação. (IMBERNÓN, 2016, p. 188-189).

Tenho como certo que os cursos de formação precisam se voltar para o papel que o

professor necessita desempenhar em suas práticas escolares institucionais (SACRISTÁN,

2014; IMBERNÓN, 2016), pois, assim, esse docente poderá aprimorar, com propriedade, sua

prática reflexiva e sua ação em seu contexto pedagógico. Assim sendo, concordo com os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que defendem a formação do professor como um

“alicerce fundamental para a melhoria da qualidade do ensino. É preciso que o professor

compreenda as transformações que estão ocorrendo no mundo e a necessidade da escola

acompanhar esse processo” (BRASIL, 1988, p. 154).

Frente à relevância que a formação de professores assume, neste estudo, a partir dos

pesquisadores apresentados, entendo que a formação é um processo contínuo,

profissionalizante e reflexivo, no qual teoria e prática se tornam um todo para explicar a ação

contextualizada e individual de cada professor, de acordo com seu contexto de ensino,

94

tornando-o, assim, um agente proativo e consciente de seu saber-fazer. Daí a legitimidade da

profissão.

Passo, agora, para as discussões a respeito da importância da formação tecnológico-

digital do professor no contexto da Linguística Aplicada e da Educação contemporâneas, na

tentativa de compreender os fatores necessários para a inclusão das TDIC como prática

pedagógica.

1.4 A formação tecnológico-digital e pedagógica do professor

As mudanças da sociedade na era digital levam os alunos a estar cada vez mais

interligados e (inter)conectados com as TDIC, razão pela qual o papel do professor passa a ser

proativo, dinâmico, desafiador, e por que não, motivador, nos cotidianos escolar e acadêmico.

Pensar nas TDIC nesses contextos é possibilitar os seus potenciais usos pedagógicos como

interfaces comunicativas para o ensino-aprendizagem e maior investimento na formação de

professores, seja pré-serviço, seja continuada39

.

Afinal, como bem destaca Bates (2016), o simples uso das TDIC, por si mesmo, nos

contextos educacionais, não implica uma mudança pedagógica pontual, caso não sejam, ao

mesmo tempo, apresentadas propostas metodológicas e interfaces pedagógicas adequadas.

Portanto, usar as TDIC ou mudá-las, alternadamente, e associá-las ao novo não se constitui

em transformação, avanço e inovação, caso a prática pedagógica permaneça inalterada,

conservadora e tradicional.

Bernabé (2012) enfatiza que não se pode conhecer e dominar uma variedade de

interfaces digitais novas. Isso porque são criadas, desenvolvidas e disponibilizadas a um ritmo

cada vez mais acelerado, tornando-se obsoletas rapidamente, também, a cada momento sócio-

histórico e cultural, o que faz professores serem sempre eternos aprendizes dessas tecnologias.

Nessa direção, Echeverría (2015) pontua que as TDIC se tornam pouco duradouras,

pois seus usos também mudam, o que exige a aprendizagem de novas competências. Não

obstante, o uso reflexivo e a inserção nas diferentes disciplinas dos currículos escolares e

acadêmicos podem promover difusão significativa e adaptável das TDIC a serviço da

educação. Além disso, revozeando Oliveira e Behrens (2014), o professor pode eleger as que

39 O Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016) explicita ausência de oferta de cursos de formação aos docentes

para o uso das TDIC na maioria das escolas brasileiras. Segundo esse Comitê, no caso em que os cursos são

ofertados, os professores alegam não poder participar, seja por falta de tempo, em virtude da grande quantidade

de aulas ministradas, seja pelo fato de os cursos serem realizados fora do horário de trabalho.

95

estão mais disponíveis e proporcionam maior interesse por parte dos alunos, para que o

processo de ensinar e de aprender se torne criativo, imaginativo e inovador.

A exemplo do que foi discutido acerca da formação do professor, espera-se também

uma formação crítico reflexiva para os alunos. Nesse sentido, a nova versão da Base Nacional

Comum Curricular para os ensinos infantil e fundamental (BRASIL, 2017) propõe dez

competências, tanto cognitivas como socioemocionais, que devem ser desenvolvidas ao longo

de todo o ciclo da Educação Básica. Dentre essas competências está a utilização das TDIC.

De acordo com o referido documento, o aluno deve saber usá-las de maneira crítica,

significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao se

comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas.

Entendo, assim, ser necessário o uso consciente e regular das TDIC pelos professores

em suas disciplinas e contextos específicos, com currículos flexíveis que favoreçam a

utilização e a integração das tecnologias para transformar a educação no contexto brasileiro,

pois o uso das TDIC está cada vez mais presente, e sem volta, no dia a dia. Por esse motivo, a

necessidade de cursos de formação para instrumentalizar o professor a aprender a

operacionalizar, de maneira reflexiva, funcional e pedagogicamente as TDIC em suas práticas

educacionais.

A partir das perspectivas de Ramos e Freire (2009), Almeida e Valente (2011),

Bernabé (2012), Costa (2013) e Kenski (2013), os cursos de formação docente deveriam

repensar novos caminhos, “gerando questionamentos” (RAMOS; FREIRE, 2009, p. 34) e

levar em consideração não, apenas, o que, como e quando fazer, o que implica na dimensão

instrumental das TDIC, porém o porquê e para que, isto é, sua dimensão estratégica, também

devem ser considerados. Com base nesses argumentos, parafraseio Eleá e Duarte (2016) ao

professarem que as TDIC precisam ser entendidas, integradas, adaptadas e reelaboradas em

cursos de formação de professores como interfaces educativas, plurais e indissociáveis do

currículo e do projeto político-pedagógico da instituição, podendo ser relacionadas às ações

de educar com TDIC (integração das tecnologias em práticas pedagógicas planejadas), educar

para TDIC (reflexão crítica do uso funcional das tecnologias como objeto de ensino-

aprendizagem) e educar por meio da TDIC (produção de materiais didáticos realizados por

meio das tecnologias).

Nesse contexto, adoto a ideia de Pischetola (2016) ao explicitar que:

a formação deve mudar a percepção da tecnologia, antes mesmo de sua

utilização. Deve ser capaz de ativar reflexões pedagógicas e abrir novos

horizontes culturais que incluam a predisposição à mudança das práticas

96

pedagógicas e a reflexão sobre o ensino-aprendizagem centrado no aluno.

(PISCHETOLA, 2016, p. 125).

Assim sendo, advogo a necessidade em considerar o impacto que essas tecnologias

podem exercer no processo de ensino-aprendizagem e na formação cognitiva e social do

aluno, ou seja, o foco não deveria estar na competência técnica da interface digital, mas em

suas competências funcional e operacional, de acordo com os objetivos de aprendizagem, o

contexto e a área específicos de cada professor. É relevante acentuar, assim, a reflexão para a

integração pedagógica das TDIC na formação de professores (em relação a minha pesquisa,

do docente de língua inglesa), para que as inovações pedagógicas possam, de fato, acontecer

na sala de aula no contexto educacional brasileiro de maneira consciente e criativa (BRITO;

PURIFICAÇÃO, 2015; BATES, 2016).

Almeida e Valente (2011) corroboram essa afirmação ao salientarem que:

a formação do professor, portanto, envolve muito mais do que provê-lo com

conhecimento técnico sobre as TDIC. [...] deve criar condições para que o

professor saiba recontextualizar o aprendizado e a experiência vivida durante a sua formação para a sua realidade de sala de aula, compatibilizando as

necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a

atingir. [...] as TDIC são mais do que ferramentas ou recursos para fazer tarefas mais rápidas. (ALMEIDA; VALENTE, 2011, p. 50).

Dessa forma, corroboro as ideias de Costa (2013) e compreendo as TDIC como

vetores nucleares em cursos de formação de professores, com a necessidade de disciplinas

acadêmicas curriculares específicas, para essa formação40

. Assim sendo, considero que os

Cursos de Licenciatura em Letras precisam, portanto, oferecer esse tipo de formação para que

esses profissionais, em formação inicial, possam desempenhar funções e desenvolver ações

conscientes em seus futuros contextos de ensino-aprendizagem, mediadas pela presença das

tecnologias.

Faz-se necessário, então, conforme salienta Pischetola (2016), a introdução,

apropriação, integração e interpretação dos domínios funcionais, informacionais, técnicos e

operacionais das TDIC nos cursos de formação. Ora, nessa ótica, pensa-se na temporalidade e

no processo espiral (ALMEIDA; VALENTE, 2011) dos cursos de formação de professor,

40

É importante destacar que o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016, p. 97) reconhece que os formadores

dos futuros docentes nos cursos de licenciatura, por exemplo, das universidades e faculdades, “precisarão de

apoio para que preparem adequadamente os novos educadores das escolas públicas e privadas do país” para se

adequarem “à realidade das escolas já informatizadas, em que seus alunos passarão a atuar profissionalmente, ou

estejam preparados para a modernização tecnológica daqueles que ainda não dispõe da infraestrutura.”

97

pois “é uma necessidade que a nova cultura e a nova sociedade exigem” (KENSKI, 2013, p.

91).

Caminhando nessa direção, advogo pela relevância de uma prática pedagógica digital

para o uso potencial das tecnologias na sala de aula, cujo currículo não deveria ser prescritivo

nem baseado em conteúdos descontextualizados da realidade do aluno. Daí pensar-se em um

ensino-aprendizagem centrado no aluno, que o conduza à uma reflexão para a aquisição

consciente de novas informações e ao desenvolvimento de habilidade cognitivas e

metacognitivas (organização de tarefas, planejamento, desenvolvimento de projetos, entre

outros).

Com base nisso, compreendo a prática pedagógica digital como um caminho que pode

levar o aluno a refletir sobre o porquê aprende da maneira que aprende e o professor a se

tornar o mediador no processo de ensino-aprendizagem, permitindo que ambos se tornem

agentes ativos na articulação e na construção da informação a partir do uso das tecnologias.

Por essa razão, trago Buckingham (2010, p.42) que afirma se terem “marginalizado questões

fundamentais sobre como professores e alunos poderiam querer usar a tecnologia e sobre o

que precisamos saber acerca dela.”

Por conseguinte, Costa (2013) propõe, ainda, uma tipologia, baseada nos estudos de

Jonassen (1996), que ajuda a compreender as diversas maneiras de uso do computador no

cenário educacional. Trata-se de uma classificação relevante, que pode ser adaptada para o

uso geral das TDIC, considerando a implicação de os diversos trabalhos pedagógicos a serem

realizados em práticas docentes. Essa tipologia se constitui em aprender da tecnologia,

aprender sobre tecnologia e aprender com tecnologia, ou seja, “a necessidade de que a

tecnologia seja discutida como meio, não um fim” (BARBOSA; ARAÚJO; ARAGÃO, 2016,

p. 634). A partir dessa visão, pode-se observar de que maneira os cursos de formação estão

organizados e estruturados na atualidade.

A primeira classificação refere-se à função das TDIC de fornecer certo conhecimento

ao professor, ou seja, sob esse prisma, elas são vistas como transmissoras da informação.

Nessa fase, as TDIC são interfaces auxiliares para o trabalho do professor, tendo papel

passivo e tradicional, como, por exemplo, interfaces que levam os alunos a preencher

exercícios de lacunas no computador ou informações que podem ser usadas com o blog.

A segunda classificação pauta-se nas instrumentalizações e funções que as TDIC

podem gerar. Logo, não basta compreender e dominar as funções da interface Google Docs

para tornar o ensino produtivo, por exemplo; não é usar as TDIC pelas TDIC. Caso contrário,

98

os cursos de formação levam a uma preparação técnica, artificial, engessada, das interfaces

digitais.

Finalmente, a terceira classificação envereda-se pelo potencial efetivo das TDIC nas

práticas docentes, na tentativa de “criar ou produzir algo [...] ou quando as ferramentas

utilizadas lhe permitem estender, alargar ou reforçar a sua capacidade de pensar” (COSTA,

2013, p. 58). Dessa forma, aprender com tecnologia mostra a verdadeira potencialidade de uso

do por que e para que das TDIC nos cursos de formação, possibilitando ao professor ser

competente para operacionalizar, funcional e pedagogicamente, as TDIC de maneira reflexiva

e crítica.

Revozeando mais uma vez Almeida e Valente (2011), os cursos de formação de

professores voltam-se, na maioria das vezes, ou para os aspectos tecnológicos ou para os

aspectos pedagógicos. Segundo esses autores, o primeiro aspecto parte do pressuposto do

possível conhecimento que o professor já tem de como proceder com os conteúdos,

metodologias, objetivos e procedimentos em sala de aula. É um professor consciente sobre

sua prática, que receberá conhecimentos técnicos para o uso das TDIC e adicionará às suas

práticas. Dessa forma, saberá como adaptar as mudanças necessárias.

No segundo aspecto, os cursos focam apenas no modelo pedagógico, do como fazer,

em que as TDIC são vistas como meras ferramentas da informação. Por isso, é importante

(inter)relacionar e integrar na mediação tecnológico-digital do professor, os conhecimentos

técnicos e pedagógicos, simultaneamente, nos cursos de formação, pois um complementa o

aspecto do outro. Compreendo, assim, que não se espera que ao término do curso, ao conhecer

determinadas interfaces, os professores sejam especialistas em tecnologias digitais,

capacitados a aplicarem o que aprenderam em seus contextos de sala de aula (ALMEIDA;

VALENTE, 2011, 2016; PORTO, 2013; MAYRINK; ALBUQUERQUE-COSTA, 2017).

Para Moran (2012), o domínio pedagógico das TDIC pelo professor não é uma tarefa

fácil, porém complexa, e que precisa ser considerada a longo prazo. É um trabalho diário, de

parceria, entre as instituições de ensino e o professor, pois, juntos, podem propor mudanças

pontuais imediatas, para, no futuro, tomarem decisões significativas e inovadoras, em relação

à prática de sala de aula. Nesse caso, conforme alerta Moran (2012, p. 90), “não basta ter

acesso à tecnologia para ter domínio pedagógico. Há um tempo grande entre conhecer, utilizar

e modificar processos.”

Ainda de acordo com Moran (2012), no cenário educacional, as formações técnica e

pedagógica do professor, juntas, são importantes para que, de fato, possa acontecer uma

inovação tecnológica digital, seja no contexto escolar, seja no acadêmico ou no profissional.

99

Mais especificamente a formação técnica possibilita ao professor ter competência para o uso

de interfaces tecnológicas digitais, ao passo que a formação pedagógica propicia ao professor

correlacionar a sua área de conhecimento com as múltiplas interfaces tecnológicas digitais

disponíveis, tanto on-line como off-line.

Esse autor, ressalta também que a formação do professor não deve ser pontual, mas de

maneira contínua e processual. Acredito que, dessa forma, o professor se torna competente

para aprender e usar, na prática, as TDIC de maneira reflexiva. Possivelmente, também estará

motivado a repensar a sua prática e a metodologia de ensino, além do projeto político-

pedagógico41

da escola.

Considerando a situação descrita acima, Fantin e Rivoltella (2013) defendem também

a articulação entre os conhecimentos técnico e pedagógico, pois saber operar determinadas

TDIC não implica, necessariamente, em saber operacionalizá-las pedagogicamente. A partir

disso, a ação do professor deve voltar-se para a avaliação reflexiva de interfaces digitais que

melhor se configurem em seu contexto de ensino-aprendizagem, “o que demanda formação no

sentido da aquisição e da construção de habilidades técnicas instrumentais, ao lado das

reflexivas e metarreflexivas” (FANTIN; RIVOLTELLA, 2013, p. 134). Por essa razão,

concordo com Porto (2013) quando afirma que para se desenvolver o conhecimento e uso das

TDIC, é necessária uma formação continuada constante.

Logo, penso em uma formação reflexiva (como mencionada em seções anteriores

deste estudo) em que as TDIC possam fazer sentido de criação, invenção, motivação e

inovação (LEVY, 1993) para a prática docente, e não se constituírem em um complemento,

um acessório, para as atividades de sala de aula. Como afirma Alves (2014), não basta

oferecer a mesma metodologia, o mesmo procedimento e objetivos, com roupagens novas ou

as antigas camufladas. Fazem-se necessárias novas mudanças de ações e de pensamento do

professor. Sob esse enfoque, percebo, assim, ao lado de Silva (2017a), a importância do

planejamento do trabalho pedagógico do professor por meio de uso das tecnologias como

forma de tomada de decisões sistemáticas, reflexivas e contínuas, que possam superar “as

práticas conservadoras e cristalizadas de ensinar, aprender e avaliar” (SILVA, 2017a, p. 37).

41 Concordo com Silva (2017a, p. 36) quando afirma que “o projeto político-pedagógico é o documento de

identidade da escola, materialização do planejamento contínuo dos sujeitos envolvidos no processo educativo.

Nesse projeto, as dimensões política e pedagógica são indissociáveis. A dimensão política reside no fato de a

educação estar intimamente articulada ao compromisso sociopolítico, aos interesses reais e coletivos da

população; ao compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. A dimensão pedagógica

define as ações educativas e as características necessárias às escolas para cumprirem seus propósitos e sua

intencionalidade.”

100

De acordo com essas premissas, conforme bem explicita Dudeney, Hockly e Pegrum

(2016), a formação tecnológica do professor é mais que relevante, pois:

integrar tecnologias digitais à nossa prática de ensino significa que precisamos de novas habilidades, além das puramente pedagógicas. [...]

Enquanto professores, devemos ter recebido pouco ou nenhum treinamento

no uso das novas tecnologias, o que pode tornar assustador o pensamento de

usá-las com nossos alunos. [...] Contudo, [...], a Internet fornece grande soma de oportunidades para o desenvolvimento de nossas habilidades.

(DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p. 305).

A esse respeito, o pensamento de Bates (2016) converge com o de Alves (2014), que

reconhecem a formação do professor em TDIC como relevantes e como ponto de partida para

a flexibilização, conscientização e integração pedagógicas de novas ações no processo de

ensino-aprendizagem, pois “a presença e o uso educativos destas tecnologias não significam,

por si mesmas, uma garantia de qualidade” (PABLOS, 2006, p. 74).

Kenski (2013, 2015) declara que o professor na era digital incorpora novas e

ampliadas funções e valores, razão pela qual pode assumir o papel de e-mediador, facilitador,

gestor, mobilizador, agente de memória42

, além de agente criador e estimulador de inovações,

articulador, (MAURI; ONRUBIA, 2010; FAVA, 2014; KENSKI, 2015), entre outros, como

mencionado na seção 1.3 deste trabalho. Na nova era tecnológica, segundo Kenski (2015), o

professor deixa de ser aquele que sabe para se tornar aquele que pesquisa. Não faz mais

sentido pensar no professor como uma enciclopédia, que detém todo tipo de conhecimento,

mas um agente das inovações (FAVA, 2014, 2016) que sabe contornar os desafios e a

imprevisibilidade do atual momento para traçar rotas a serem alcançadas de acordo com as

necessidades de seu contexto e de seu público-alvo. Assim, enxergamos o sistema

educacional como uma ação social “transformadora das realidades” (SILVA, 2017a, p. 37).

Na perspectiva de Moran (2012, 2013), as TDIC trazem novos desafios e grandes

possibilidades para o ensino, tanto para o professor como para a escola, pois ambos precisam

sair do centro do conhecimento para integrarem as TDIC, de maneira participativa, reflexiva e

crítica entre os alunos. Afinal, com bem destaca Kalantzis e Cope (2012), os professores da

contemporaneidade precisam fomentar ambientes e diversas oportunidades de aprendizagem

para os alunos poderem assumir, assim, a responsabilidade por seu próprio processo de

aprendizagem por meio do uso de novas tecnologias e mídias.

42 Kenski (2015, p. 99) salienta que “o papel do professor é recuperar a origem e a memória do saber, de

estabelecer uma certa ordem e direcionamento para as práticas, os conhecimentos, as vivências e

posicionamentos apreendidos nos mais variados ambientes e equipamentos: dos livros aos computadores, redes e

ambientes virtuais.” (KENSKI, 2015, p. 99, grifos da autora).

101

No contexto educacional vigente, o professor torna-se um elo entre o aluno, as TDIC e

a aprendizagem; todos podem aprender, virtual ou presencialmente, em conjunto e

mutuamente, por meio de diferentes formas de interação, tais como: professor-TDIC, aluno-

TDIC, aluno-professor, aluno-aluno e professor-aluno-TDIC, aluno-material externo e alunos-

outros (RAMOS, 2009). Essa aprendizagem pode originar novos conhecimentos, tanto do

conteúdo quanto no que diz respeito ao uso das TDIC. Assim sendo, essas percepções me

levam a concordar com Mayrink e Albuquerque-Costa (2017) ao ressaltarem que

é preciso reconhecer que o acesso às ferramentas disponibilizadas pela Web

2.0 (com as possibilidades que estas abrem para promover a interação e

compartilhamento de informações e documentos) e seu uso como recurso pedagógico permitem ao professor criar oportunidades para que o aluno se

engaje nas mais diversas práticas de linguagem. (MAYRINK;

ALBUQUERQUE-COSTA, 2017, p. 4).

Assim, segundo Levy (1993), não faz mais sentido pensar, com a expansão e

desenvolvimento das TDIC, que um único ser humano ou mesmo um grupo de pessoas

possa(m) dominar todo o conhecimento, todas as habilidades. Trata-se de compartilhar

informações com todos e acessá-las quando necessárias, o que Levy (1993) denomina de

conhecimento coletivo. Por essa razão, comungo com Gómez-Granell e Vila (2013, p. 20) a

ideia de que “na escola da sociedade digital não existirá uma relação de hierarquia entre

aquele que ensina e aquele que aprende, já que todos ensinaremos e aprenderemos ao mesmo

tempo.”

Isso também leva-me a concordar com Fava (2014, p. 70) ao apontar que as TDIC não

modificam “o que aprendemos, mas altera o modo como aprendemos.” Por essa razão, os

cursos de formação tecnológico-digital precisam ser flexíveis (deixarem de ensinar fórmulas

prontas e definidas) e fomentar práticas reflexivas para o docente da era 3.0 (FAVA, 2014,

2016) compreender, se apropriar e ir além do simples uso e informação das (sobre as) TDIC.

Caso contrário, a prática pedagógica continuará obsoleta, não considerando “as

potencialidades pedagógicas – de participação, interação, movimento, ação, etc. – do meio

digital” (KENSKI, 2013, p. 97).

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO,

2009) defende o desenvolvimento profissional do professor, com a utilização das TIC, como

forma de melhorar não apenas o ensino ou colaborar com o trabalho de colegas ou se tornar

inovador em seus contextos de ensino-aprendizagem, porém para que seja capaz de

102

“contribuir para um sistema de ensino de mais qualidade, que possa dar prosseguimento ao

desenvolvimento econômico e social do seu país” (UNESCO, 2009, p. 5).

Por essa razão, em 2009, a UNESCO elaborou uma coleção de três documentos

intitulados Marco Político, Diretrizes de implementação e Módulos de padrão de

competências, com o propósito de tornar as TDIC forças motrizes no processo de

planejamento de programas de formação de professores, ou seja, alfabetizá-los

tecnologicamente como forma de criar, distribuir, compartilhar e saber utilizar,

conscientemente, os novos conhecimentos tecnológico-digitais, na tentativa de melhorar o

ambiente de aprendizagem e desenvolver competências necessárias para a formação de seus

alunos para atuar no mundo contemporâneo a partir do uso das TDIC.

Segundo a UNESCO (2009), a alfabetização tecnológica43

do professor precisa

integrar as interfaces ao currículo (também acrescento ao PPP da escola) e às práticas

didático-pedagógicas. Assim sendo, para que as mudanças na prática do professor com as

TDIC promovam a criação do conhecimento, faz-se necessário saber onde e quando usá-las

(ou não). A proposta também pondera que as TIC podem auxiliar o professor a:

apoiar o desenvolvimento da criação de conhecimento e das habilidades de

pensamento crítico dos alunos, apoiarão o aprendizado contínuo e reflexivo

dos mesmos, além de criarem comunidades de conhecimento para os alunos e colegas. Eles também poderão desempenhar um papel de liderança no

treinamento dos colegas e na criação e implementação de uma visão de sua

escola como uma comunidade baseada na inovação e no aprendizado contínuo, enriquecida pelas TIC. (UNESCO, 2009, p. 9).

A proposta da UNESCO (2009) volta-se para o desenvolvimento social do professor e

sua alfabetização tecnológica, como forma de ajudar a produtividade do aluno, como cidadão,

em diversos contextos (de trabalho, social, por exemplo), enriquecidas pelas TIC, pois essa

organização considera a educação como função central de qualquer nação ou comunidade.

Ressalte-se que a proposta do projeto da UNESCO (2009) está estruturada em seis

componentes relacionados a política, currículo, pedagogia, TIC, organização e

desenvolvimento profissional do docente. Cada um desses componentes está subdivido em

três abordagens, com suas respectivas metas curriculares e habilidades esperadas dos

docentes. Considerando os objetivos de minha pesquisa, relacionados à formação

43 Esse é o termo apresentado em todo o documento da UNESCO (2009), que foi traduzido para o português.

Esse termo apresenta as mesmas concepções do letramento digital (foco de minha pesquisa). Acredito que como

os estudos de alfabetização tenham mais tradição que os estudos de letramentos no Brasil na época, os tradutores

decidiram optar pelo primeiro termo.

103

tecnológico-digital do professor, menciono, apenas, o letramento, com especificação às TDIC

e ao desenvolvimento profissional do professor.

Percebe-se que, apesar de a UNESCO (2009) referenciar sua proposta apenas para o

uso das tecnologias de informação e comunicação, fica evidente a inclusão das tecnologias

digitais como interfaces mediadoras e integradoras à prática didático-pedagógica do docente.

Entendo que a proposta da UNESCO (2009) seja tornar o professor mais que um usuário do

computador e da Internet, mas torná-lo um agente ativo e multiplicador das TDIC para usá-las

e operacionalizá-las com fluência digital e criativamente. Em outras palavras, letrar o

professor digitalmente para atuar em seu próprio contexto e compartilhar o conhecimento com

os profissionais de sua área ou áreas afins por meio de cursos ou programas de formação.

A proposta da UNESCO (2009) destaca também o professor como um aprendiz das

TDIC, razão pela qual vejo o professor como um eterno usuário das mesmas, na tentativa de

experimentar suas potencialidades e reais funções, que podem ser incorporadas no contexto

educacional. Ademais, o professor precisa gostar de aprender e ser ávido pela descoberta de

novas interfaces digitais que se moldem a sua realidade, para que o uso das TDIC possa

possibilitar mudanças significativas em seus contextos de sala de aula. Em outras palavras,

como já mencionava Dewey (1910), é preciso aprender a aprender.

Acredito, assim, que essa proposta torna as TDIC flexíveis ao currículo, já que se pode

modelar seu uso à prática de cada docente, a partir de seu contexto sociopolítico e cultural. A

UNESCO (2009, p. 10) tem como uma das metas políticas educacionais “melhorar as

habilidades básicas de alfabetização, inclusive a alfabetização tecnológica.” Assim, vejo o

letramento digital como elemento central e transversal em cursos de formação de professores.

Sampaio e Leite44

(2000/2013), apesar de discutirem também a alfabetização

tecnológica do professor em cursos de formação, afirmam o uso social das tecnologias

digitais, que estão em constante mutação e aperfeiçoamento. Pensa-se no professor, como um

cidadão e um profissional, atuando em sociedade, que pode contribuir para um trabalho

educacional voltado para a realidade do aluno imerso na cultura digital.

A proposta de Sampaio e Leite (2000/2013) está diretamente relacionada ao

letramento digital em si, pois leva em consideração o como, quando e por que de usar a

tecnologia digital no contexto educacional. Nessa perspectiva, essas autoras consideram o

44

Fica evidente a escolha da nomenclatura alfabetização no estudo dessas autoras devido a estar fundamentado

nos estudos de Freire (1975/2010) ao afirmarem que “sendo a alfabetização um processo, está sempre em

construção” (SAMPAIO; LEITE, 2000/2013, p. 7-8). À época da publicação deste estudo, as pesquisas de Paulo

Freire sobre alfabetização no Brasil estavam solidificadas e amplamente mais divulgadas do que as pesquisas

sobre letramento, ainda em fase bem inicial na década 2000. Por essa razão, Sampaio e Leite (2000/2013)

adotam o termo alfabetização tecnológica do professor em vez de letramento tecnológico do professor.

104

domínio dos conhecimentos técnico e pedagógico também como parte integrante da formação

docente, o que torna uma prática de formação permanente através do contato diário com as

tecnologias digitais. Sendo assim, a formação tecnológico-digital do professor não deverá

oferecer modelos instrucionais pré-estabelecidos, mas levar o docente “a unir conhecimentos

novos à sua prática pedagógica” (SAMPAIO; LEITE, 2013, p. 67). Caminhando na mesma

direção, Almeida (2014) entende que

é importante que o professor participe de um processo de formação na ação no qual tenha a oportunidade de explorar as TDIC em sua própria

aprendizagem, identificar as contribuições dessas tecnologias ao ensino, à

aprendizagem e ao currículo, utilizá-las em experiências com seus alunos, refletir sobre essas práticas à luz de fundamentos teóricos e reconstruí-las.

(ALMEIDA, 2014, p. 29).

Segundo Sampaio e Leite (2000/2013), Moran (2012), Costa (2013), Kenski (2013),

Porto (2013), entre outros, muitos professores tornam-se resistentes ao uso das TDIC, como

interfaces didático-pedagógicas, no contexto educacional brasileiro. Essa resistência está

relacionada, diretamente, a três fatores.

O primeiro fator deve-se à falta de conhecimento e de familiarização do professor com

o uso das TDIC, ou seja, não se sente preparado o suficiente, para a incorporação dessas

tecnologias em seus contextos escolares ou acadêmicos. Pensam que cursos de curta duração,

com procedimentos e técnicas rápidos, podem solucionar a questão, o que, na minha opinião,

não leva o docente a refletir sobre os mecanismos de uso e de operacionalização das TDIC.

O segundo fator relaciona-se a rejeição, completamente, das TDIC, pelos professores.

Possivelmente, essas tecnologias não fazem parte de suas vidas cotidianas, enfaticamente, e

não sabem como integrá-las para fins educativos. Esses profissionais nunca participaram de

cursos de formação para aturarem com essas novas tecnologias, não tendo, também, interesse

para esse propósito.

Finalmente, o terceiro fator refere-se à falta de computadores suficientes nas escolas

(e/ou laboratórios de informática), impedindo um trabalho mais sistemático com os alunos.

Atualmente, essa formação com premissas tecnológico-digitais para práticas educacionais é

necessária, já que as TDIC têm modificado a forma de aprender de crianças, jovens e adultos.

Conforme bem explicita Sancho (2006, p. 31), as TDIC precisam ser consideradas

interfaces privilegiadas no processo de ensino-aprendizagem na tentativa de fomentar a

autonomia dos alunos para “gerenciar sua educação, para que possam aprender perguntando e

respondendo os desafios educativos e formativos da sociedade atual.”

105

Frente ao exposto, sou levado a acreditar que os cursos de formação inicial são os

responsáveis pela falta de formação acadêmica formal dos (futuros) professores, para melhor

prepará-los a superarem suas possíveis dificuldades e saberem lidar, funcional e

pedagogicamente, com as novas TDIC, além de desenvolverem competências

tecnopedagógicas45

(KARSENTI, 2014) e fomentarem para uma possível emancipação digital

cidadã (SCHLEMMER, 2013; BATES, 2016).

Assim sendo, concordo mais uma vez com Sancho (2006) ao admitir que os usos das

TDIC, em si mesmo, como interfaces educativas, não mudam as práticas docentes

profundamente enraizadas em situações pedagógicas tradicionais; não obstante, “estas

práticas acabam domesticando as novas ferramentas” (SANCHO, 2006, p. 36).

Faz-se relevante mencionar que a formação inicial do professor esteja cada vez mais

próxima com as necessidades locais e os contextos didático-pedagógicos de cada professor,

considerando, também, as especificidades das TDIC para o ensino-aprendizagem. Como

Kenski (2012a; 2012b), Moran (2012; 2013), Prensky (2015) e Bates (2016) declaram, as

TDIC são importantes para a educação do futuro, porém, sozinhas, não podem resolver todos

os problemas decorrentes do ensino-aprendizagem.

Penso no papel que cada professor assume em seu próprio contexto de ensino, com

suas próprias necessidades, razão pela qual não se pode pensar em práticas pedagógicas

globais para uso das TDIC, mas em práticas locais, que atendam as especificidades de cada

sala de aula e de cada grupo de aluno. Fato que me leva a concordar com Masetto (2013, p.

143) ao pontuar que “nem todos aprendem do mesmo modo, no mesmo ritmo e ao mesmo

tempo.” Com isso, o ensino com as TDIC pode respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem

de cada aluno e os diferentes contextos.

Advogo, portanto, por políticas públicas governamentais e institucionais que possam

convergir e dialogar com a realidade educacional do professor, para fornecer uma formação

adequada, para o uso reflexivo das TDIC. As escolas, também, precisam disponibilizar mais

verbas para essa formação, e não modernizar os laboratórios de informática, quando tem, com

computadores e programas de última geração, ou disponibilizar tablets, se o professor não

consegue operacionalizar, conscientemente, todos esses artefatos.

A partir dessa visão, os professores precisam estar motivados e confortáveis para

usarem as TDIC, como aliadas, não contra ou à margem delas (GÓMEZ-GRANELL; VILA,

45 Na visão de Karsenti (2014, p. 183), essas são “competências transversais que deveriam ser construídas pelos

futuros docentes no conjunto de suas atividades de aprendizagem, e não em um único curso sobre as

tecnologias.”

106

2013), da maneira que desejarem, em seus respectivos contextos de ensino-aprendizagem. Sua

formação passa por uma cultura de ordem técnica, instrumental, funcional e, também, social,

não sendo mais apropriado em se falar de uma tecnofobia. Sob esse enfoque, conforme

complementa Gilleran (2006), nos dias atuais,

muitos professores dispõem de habilidades suficientes para se sentir

cômodos com o uso do computador e da Internet como parte de suas aulas, mas muitos ainda têm dúvidas sobre a melhoria pedagógica real que sua

utilização pode significar. (GILLERAN, 2006, p. 86).

Diante do exposto, precisa-se pensar em um web educador, um profissional que atua

no contexto educacional, com formação especializada e habilidades de uso funcional em

TDIC. Em outras palavras, o web educador estará familiarizado e se apropriará de maneira

consciente, crítica e reflexivamente das TDIC para melhor intervir, melhorar, aperfeiçoar e

reconstruir sua prática didático-pedagógica, na tentativa de conhecer o potencial contexto que

irá gerenciar, para não exercer um ensino tradicional, limitado.

O web educador será proativo na busca do conhecimento tecnológico e estará melhor

preparado para saber lidar com uma nova geração de alunos, que convivem, diariamente, com

tecnologias digitais, sabendo, assim, incorporá-las e integrá-las como interfaces pedagógicas

funcionais, ao contexto escolar, e também acadêmico, de acordo com as reais necessidades e

dificuldades de seus alunos. Além disso, esse profissional precisa saber melhor preparar os

alunos a encontrar, selecionar, classificar, analisar, compartilhar, organizar e aplicar a

informação digital nos contextos social, escolar, acadêmico e profissional.

Frente ao exposto, tendo apresentado os pressupostos teóricos que fundamentaram o

arcabouço desta pesquisa, passo a explanar, detalhadamente, no próximo capítulo, a

abordagem metodológica que norteou sua realização e que também possibilitou responder as

três perguntas da pesquisa.

107

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA DA PESQUISA

[...] pesquisa [...] é analítica, usa procedimentos rigorosos e

sistemáticos para produzir conhecimentos, ou seja, dá

inteligibilidade àquilo que é desconhecido na prática social.

[...] Pesquisar é procurar resposta para algo que não se

conhece e que é necessário conhecer. A pesquisa auxilia no esclarecimento de uma indagação, uma dúvida. É nisto que

está a beleza do achado da pesquisa: a descoberta, o

conhecimento novo que é produzido pelo ato de pesquisar.

(ANDRÉ, 2016, p. 21)

O presente capítulo apresenta a metodologia desenvolvida para a realização desta

pesquisa e se organiza em sete seções. Na primeira seção, caracterizo a pesquisa no campo da

Linguística Aplicada e apresento as perguntas que serviram de suporte para sua realização.

Em seguida, explicito a abordagem metodológica de estudo de caso (STAKE, 1995; ANDRÉ,

2008, 2013; YIN, 2015, entre outros). Na terceira seção, descrevo o contexto da pesquisa. Na

quarta seção, apresento informações sobre os participantes desta pesquisa. Na quinta seção,

teço comentários a respeito da disciplina curricular acadêmica que deu suporte para a geração

dos dados. Posteriormente, trago os instrumentos e os procedimentos que originaram os

dados, compostos por três questionários, entrevista, relato reflexivo, atividades realizadas na

rede social Facebook, autoavaliação e notas de campo. Por fim, apresento os procedimentos

adotados para analisar os dados.

2.1 Caracterização e perguntas da pesquisa

Stake (2011) afirma que a construção, a produção e a democratização do

conhecimento acadêmico, científico e disciplinar de uma sociedade têm na ciência social a

forma de pesquisar como as coisas normalmente funcionam e não como as pessoas se sentem.

A etimologia da palavra ciência origina-se da palavra latina scire “que significa saber,

oferecendo o mesmo conteúdo etimológico que conhecimento, do latim cognosci, que

significa conhecer, ou seja, é um conhecimento racional, sistemático e verificável” (FREIXO,

2012, p. 35, grifos do autor). Assim sendo, segundo esse autor, os conhecimentos são

108

alcançados metodicamente, em ciência, pois “não são adquiridos ao acaso ou na vida

quotidiana, mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos” (FREIXO, 2012, p. 37).

Nessa direção, o propósito central da ciência é explicar a sociedade e o mundo em que

vivemos, cujo conhecimento vai se elaborando, construindo-se sócio-historicamente por meio

da investigação, seu principal instrumento. Em outras palavras, por meio da investigação, o

conhecimento é construído através de uma interligação sócio-histórica com todo um conjunto

de valores, um sistema de ideias, ideologias, concepções de homem e de mundo, constituindo

um saber logicamente ordenado de um determinado contexto pesquisado (STAKE, 2011;

FREIXO, 2012; PÁDUA, 2014).

Esta pesquisa busca construir um conhecimento sistemático de um caso em particular,

em um contexto natural, a partir da percepção e compreensão de determinados atores sociais.

Assim, enquadra-se em uma abordagem de pesquisa qualitativa, constituindo-se em um

estudo de caso, mais precisamente na área da Linguística Aplicada (LA).

Como área de pesquisa indisciplinar (MOITA LOPES, 2006), a Linguística Aplicada

no Brasil compreende “a linguagem como prática social” (FABRÍCIO, 2006, p.48), pois a

linguagem é parte integrante da sociedade e da cultura contemporâneas, que se situa em um

momento sócio-histórico e cultural. Fabrício (2006, p. 48) também pondera que as práticas

discursivas na LA “não são neutras, e envolvem escolhas (intencionais ou não) ideológicas e

políticas, atravessadas por relações de poder, que provocam diferentes efeitos no mundo

social.”

Na mesma senda, Pennycook (2010) destaca que os estudos da Linguística Aplicada

estão envolvidos com a linguagem e a educação, razão pela qual se torna mais que relevante

à LA dialogar com “áreas que focalizam o social, o político e a história” (MOITA LOPES,

2006, p. 96). Por essa razão, Celani (2016) complementa que o componente que define a LA é

o ser humano em ação, em seu contexto social. A partir disso, a LA contemporânea, mestiça

(MOITA LOPES, 2006), pode auxiliar-me a entender meu contexto de pesquisa por meio de

visões plurais, diferenciadas e interdisciplinares em relação às tecnologias digitais da

informação e comunicação e letramentos digitais na formação inicial de professores de inglês.

Pesquisas em Linguística Aplicada apontam o estudo de caso como uma das

abordagens metodológicas mais utilizadas pelos pesquisadores, principalmente no que

concerne a assuntos relacionados à educação (DUFF, 2008), tornando, assim, uma abordagem

produtiva, confiável e influente na pesquisa qualitativa. Segundo Moita Lopes (2013),

tomando como base que pesquisa é uma investigação que procura descrever, entender, refletir,

indagar e construir o conhecimento sobre o sujeito social em sua subjetividade ou

109

intersubjetividade e suas ações no dia a dia, este estudo propõe investigar o uso das

tecnologias digitais da informação e comunicação para fins educacionais na formação inicial

de professores de inglês, destacando, primordialmente, a percepção dos futuros professores

em relação à aprendizagem e à prática pedagógica; a percepção dos futuros professores com a

inclusão das TDIC no processo de ensino-aprendizagem, e os letramentos digitais fomentados

para suas futuras práticas pedagógicas.

Os dados foram coletados durante a disciplina curricular acadêmica Tecnologias no

ensino/aprendizagem de língua estrangeira, que será melhor especificada na seção 2.4 deste

capítulo. Considerando, então, o enquadramento esboçado, minha pesquisa busca responder

às seguintes perguntas:

● Como o uso das TDIC se faz presente na aprendizagem e na prática pedagógica na

percepção de futuros professores de inglês?

● Quais percepções os alunos-professores revelaram em relação à inclusão das TDIC

no processo de ensino-aprendizagem?

● Como a disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras

contribuiu para o fomento do letramento digital dos alunos do curso de Letras-Inglês?

A seguir, apresento a abordagem metodológica que subsidiou a presente pesquisa.

2.2 Abordagem metodológica

De acordo com André (2008, 2013), o estudo de caso surge na Educação nas décadas

de 1960 e 1970, com o objetivo de estudar, descritivamente, uma unidade, seja uma escola ou

um professor, seja um grupo de alunos ou uma sala de aula. A partir do ano de 1980, o estudo

de caso passa a estudar um caso em particular que merece ser investigado, considerando o

contexto e as múltiplas dimensões, sob diversas perspectivas, requerendo, ainda segundo

André (2013), o uso de múltiplos procedimentos metodológicos.

Para ser mais preciso, Yin (2015) entende estudo de caso como uma abordagem

qualitativa de natureza empírica que busca compreender um caso contemporâneo a partir de

um ambiente ou um contexto da vida real. Sendo assim, conforme Stake (1995), esse tipo de

estudo também é denominado de pesquisa naturalística, na qual “o pesquisador não tem

controle sobre eventos e variáveis, buscando apreender a totalidade de uma situação e,

criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto”

110

(MARTINS, 2008, p. xi), ou seja, o pesquisador atua como um observador e um analisador de

casos que ocorrem ao seu redor.

Com relação ao caso pesquisado no estudo de caso, Yin (2015) esclarece que pode ser

de um único indivíduo, uma família, um objeto (como um ponto turístico), um sistema (como

o educacional), uma organização (como a escola), um fato histórico, uma comunidade, uma

nação, e assim por diante. Na Linguística Aplicada, o caso pode ser o aprendiz de língua

(materna ou estrangeira), o professor, o falante, o escritor/editor, o tradutor, o material

didático, entre outros (DUFF, 2008). Logo, de acordo com a perspectiva de Yin (2015), faz-

se necessária a delimitação do caso que será estudado, na tentativa de esclarecer melhor o

escopo da pesquisa.

Ecoando o pensamento de Stake (1995), de que estudo de caso é uma pesquisa

qualitativa complexa46

, relacionada a um caso contemporâneo social da vida real, em um

sistema delimitado pelo tempo (que pode ser longo ou curto) e lugar, em que os participantes

da pesquisa vivenciam o caso que está sendo estudado. Por essa razão, para esse autor, o

estudo de caso é a escolha do objeto a ser estudado, holisticamente, e significativamente, em

seu contexto particular e natural, de maneira completa e profunda, tornando, assim, de acordo

com André (2013), o estudo de caso mais concreto e mais contextualizado.

Caminhando nessa direção, Stake (1995) afirma que o aspecto mais importante a ser

considerado em um estudo de caso é a produção do conhecimento derivado do caso, a saber, o

que se aprende ao estudar o caso (ANDRÉ, 2008). Nessa vertente, André (2013, p. 97)

complementa que “o conhecimento gerado pelo estudo de caso é diferente de outros tipos de

pesquisa, porque é mais concreto, mais contextualizado e mais voltado para a interpretação do

leitor”.

Como bem pontuam Stake (1995) e Yin (2015), o estudo de caso também é uma

pesquisa de natureza indutiva, pois parte de observações e análises de fenômenos reais,

baseados em fontes de dados diversos, na tentativa de formular com precisão um problema,

responder à formulação deste problema e desenvolver alguma teoria. Segundo Stake (1995),

essas observações e análises podem ser caracterizadas de dois tipos, a saber: múltiplos casos

(também denominado de estudo plurilocal) ou um único caso (também chamado de estudo

intralocal).

46

Com relação a esse termo, trago as palavras literais do autor com relação ao estudo de caso: “Case study is the

study of the particularity and complexity of a single case, coming to understand its activity within important

circumstances” (STAKE, 1995, p. xi).

“O estudo de caso é o estudo da particularidade e da complexidade de um caso único para compreender sua

atividade considerando circunstâncias importantes.” (STAKE, 1995, p. xi, tradução minha).

111

Sob o ponto de vista do objetivo da investigação do caso, Stake (1995) classifica o

estudo de caso qualitativo em três variações, a saber: intrínseco, instrumental e coletivo,

atendendo não apenas a interesses diferenciados, mas, também, segundo André (2008), a

diferentes orientações metodológicas.

A primeira variação (intrínseca) tem como pressuposto compreender os aspectos

intrínsecos do próprio caso, que pode ter como foco uma situação incomum ou única, mas

torna o caso interessante de ser estudado, como, por exemplo, um aluno, um livro didático,

um currículo, a prática pedagógica de um professor, entre outros. Essa variação não tem o

propósito de construir teorias ou elaborar construções abstratas. A segunda variação

(instrumental) tem como foco um caso único que é estudado na tentativa de melhor definir e

compreender uma questão mais ampla ou refinar uma teoria, ou seja, o caso é selecionado

posteriormente para ilustrar a pesquisa. Finalmente, a terceira variação (coletiva) pauta-se em

múltiplos estudos de caso (intrínsecos ou instrumentais) e não apenas em um único caso.

Nessa variação, os casos são selecionados pelos pesquisadores para mostrar diferentes

perspectivas da situação. É mister ressaltar que Stake (1995) faz a distinção entre os três tipos

de estudo de caso “não porque seja útil agrupar os estudos de caso em categorias, mas porque

para cada tipo poderão ser priorizados métodos de coleta diferentes” (ANDRÉ, 2008, p. 20).

Considerando tal subdivisão, posso afirmar que minha pesquisa é de um estudo de

caso intrínseco intralocal, pois investigo meu próprio contexto de atuação acadêmica, ou seja,

minha sala de aula de inglês e sua relação com as TDIC, na tentativa de melhor compreender

e buscar respostas para esse contexto em particular.

Vale lembrar que o estudo de caso também advém de um paradigma interpretativista.

De acordo com Moita Lopes (1994), os atores sociais atribuem múltiplos significados às

ações humanas na tentativa de compreender e interpretar o mundo social – o particular (e não

o geral) é o foco de interesse do pesquisador. Para esse autor, o paradigma interpretativista

focaliza a intersubjetividade, ou seja, os significados construídos, destruídos e reconstruídos

socialmente pelos participantes durante a interação. Nessa direção, Moita Lopes (1994)

reconhece que a visão dos participantes do mundo social é fundamental no paradigma

interpretativista.

Nessa perspectiva, Stake (1995), Lüdke e André (2013) lembram que o estudo de caso

revela uma experiência vicária para o leitor, para dar-lhe a sensação de estar lá, além de

permitir generalizações naturalísticas. Em outras palavras, há uma associação do

conhecimento experienciado do pesquisador no estudo com casos que são frutos das suas

experiências pessoais. Ainda segundo Lüdke e André (2013, p. 23), a pergunta que o

112

pesquisador deve fazer em seu estudo de caso é: “o que eu posso (ou não) aplicar deste caso

na minha situação?”

Sendo assim, acredito que estudo de caso é um modelo de pesquisa para estudar o

ambiente de sala de aula de línguas, pois o professor atua, nesse contexto educacional, mais

como um profissional de ensino do que como um pesquisador de sua sala de aula. Em outras

palavras, sua preocupação não é diretamente investigar e compreender sua própria prática real

a partir da interação social, mas atuar como docente no processo de interação.

Dando continuidade ao capítulo de metodologia da presente pesquisa, descrevo, a

seguir, seu contexto.

2.3 Contexto da pesquisa

O Curso de Letras-Inglês tornou-se objeto de interesse de minha pesquisa, pois o

pesquisador deste estudo é professor efetivo desse idioma na Instituição de Ensino Superior

(IES) na qual o estudo foi realizado, o que facilitou a coleta de dados e o convite para que os

alunos participassem, que foi realizado pessoalmente aos alunos. Ademais, o aluno está em

um curso de licenciatura, que tem como foco a formação de professores.

O curso de Letras-Inglês está sediado na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas

(FALEM) e pertence ao Instituto de Letras e Comunicação (ILC) da Universidade Federal do

Pará (UFPA). Atualmente, a FALEM abarca quatro cursos de Licenciatura em língua

estrangeira (LE), a saber: alemão, espanhol, francês e inglês, além do curso de

LIBRAS/Língua Portuguesa L2. A graduação em Língua Inglesa apresenta duas entradas

anuais: um grupo de alunos no primeiro semestre letivo para o turno noturno, e outro grupo de

alunos no segundo semestre, para o turno matutino. Em média, há cerca de 30 ingressantes no

curso por semestre em cada turno.

O curso de Licenciatura em inglês oferece 26 vagas distribuídas por turno, além das

vagas destinadas às cotas e aos processos seletivos internos da própria IES. O curso tem

duração de quatro anos, turno matutino, e de quatro anos e meio, curso noturno. Tal diferença

se justifica pelo fato de o curso noturno ter uma carga horária de aulas, semanalmente, inferior

à do matutino, de acordo com os horários estabelecidos pela universidade. Além disso, o

número de disciplinas cursadas por dia no período noturno é menor que o do turno matutino.

Por exemplo, os alunos do turno matutino têm, por disciplina, uma hora e quarenta minutos de

aula e podem cursar até três disciplinas por dia; já os alunos do turno noturno também têm

113

uma hora e quarenta minutos de aula, por disciplina, porém podem cursar, diariamente, no

máximo, duas disciplinas47

.

Na próxima seção, descrevo a disciplina curricular acadêmica que balizou a coleta de

dados para minha pesquisa.

2.4 Apresentação da disciplina curricular acadêmica

Como afirmei anteriormente, esta pesquisa foi realizada durante a aplicação da

disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras. Essa disciplina foi

incluída pela primeira vez no novo projeto político-pedagógico da Faculdade de Letras

Estrangeiras Modernas, com carga horária de 68 h/a, e passou a vigorar em janeiro de 2010.

Até aquele ano, a disciplina se chamava Recursos Tecnológicos no Ensino de Língua

Estrangeira, e tinha a carga horária de 34 h/a.

A disciplina curricular acadêmica Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas

estrangeiras tem duração de um semestre eletivo, distribuída em duas aulas semanais de cem

minutos cada, perfazendo um total de 31 aulas (25 aulas presenciais e 6 aulas virtuais). Essa

disciplina foi ofertada aos alunos de Letras-Inglês no segundo semestre de 2013, período em

que os dados foram coletados. As aulas aconteciam às segundas-feiras e quartas-feiras, das

18h30min às 20h10min, no laboratório de informática (LabInf) da Faculdade de Letras

Estrangeiras Modernas.

Vale ressaltar que se trata de uma disciplina obrigatória do currículo, que teve início

no dia 02 de setembro e terminou no dia 18 de dezembro de 2013. O atraso para o início desse

semestre, já que o segundo semestre letivo se inicia sempre em meados do mês de agosto, foi

em razão de uma greve de professores e servidores das universidades federais em todo o

Brasil que havia se iniciado no ano anterior. Essa greve interrompeu as aulas por quase quatro

meses e meio, comprometendo, assim, todo o calendário acadêmico da IES.

É importante ainda mencionar que, pelo calendário da universidade, o ano letivo

referente ao segundo semestre de 2013 terminaria no dia 12 de janeiro de 2014. Não obstante,

47

Na época que os dados foram coletados, o aluno do curso noturno podia cursar até duas disciplinas por dia.

Atualmente, o aluno cursa apenas uma disciplina por dia.

114

na primeira semana desse ano, começariam as aulas do PARFOR48

e fui escalado para

ministrar duas disciplinas, em semanas diferentes, em um município próximo à região

metropolitana de Belém, ocorrendo, ambas, nos turnos matutino e vespertino. Por essa razão,

no primeiro dia de aula, foi acordado com os alunos que a continuidade das aulas seria com

atividades postadas e comentadas no Facebook. Assim sendo, foi criada uma página nessa

rede social exclusivamente para os alunos e o professor da referida disciplina acadêmica, que

foi integrada às aulas presenciais ao longo de todo o semestre letivo.

A disciplina teve como objetivos:

● estabelecer relação crítico-reflexiva entre as tecnologias digitais da informação e

comunicação (TDIC) e o ensino-aprendizagem de língua inglesa;

● selecionar e analisar sites educacionais e de jogos digitais para o ensino-

aprendizagem de língua inglesa, e

● provocar discussões, pesquisas e ações para o uso das TDIC na formação inicial do

professor de inglês.

O conteúdo programático selecionado destacava assuntos desde as TDIC no ensino-

aprendizagem de LE e/ou de inglês e na formação do professor, jogos educacionais digitais

(JED), redes sociais, ferramentas digitais, plágio e direitos autorais na web 2.0, análise de

materiais digitais até (multi)letramento(s) e letramento digital. No Apêndice 1, apresento o

plano de ensino dessa disciplina, elaborado pelo professor-pesquisador, que, além de conter as

informações já relatadas anteriormente, inclui a ementa, o conteúdo programático, a

metodologia de ensino e a bibliografia utilizada durante a disciplina.

O foco da disciplina foi familiarizar e letrar digitalmente o professor de inglês em

formação para o uso funcional e pedagógico das TDIC. Minha intenção, como pesquisador e

professor da turma, era proporcionar aos alunos letramento digital para que soubessem usar as

tecnologias de maneira crítica e reflexiva para desenvolver projetos, unidades de ensino e/ou

atividades relacionados às suas necessidades em futuros contextos de ensino e nos contextos

de seus futuros alunos.

Em relação ao processo de avaliação dos alunos, foram consideradas a frequência e a

participação nas aulas assim como as leituras e as discussões dos textos teóricos, os trabalhos

escritos realizados individualmente e/ou em grupo, tanto em sala de aula, como no ambiente

virtual, Facebook. Essa rede social foi escolhida pelos próprios alunos da turma, pela mesma

48 O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) foi lançado pelo MEC em

maio de 2009 com o objetivo de oferecer aos professores das redes públicas estaduais e municipais, em exercício

na educação básica, cursos de Licenciatura Plena completos (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012).

115

lhes ser familiar e por usarem-na com frequência no dia a dia. Ainda no que tange à avaliação

de aprendizagem, foram considerados também os planos de aula referentes a um projeto de

ensino desenvolvido com o uso das TDIC e as autoavaliações. Todos esses instrumentos de

avaliação possibilitaram ouvir a voz do futuro professor de inglês, na busca de tornar seu

ensino uma atividade profissional reflexiva.

Isso posto, apresento nos quadros a seguir uma descrição do cronograma da disciplina

acadêmica referente a cada mês do segundo semestre letivo de 2013. Esse cronograma é

seguido pelas atividades desenvolvidas em cada dia da semana da aula proposta, com seus

respectivos objetivos. Quanto a esses aspectos, também gostaria de ressaltar que as aulas

estavam relacionadas à leitura e à discussão de textos teóricos, aula expositiva pelo professor-

pesquisador, seminários pelos alunos, análises de sites e de portais educacionais, proposta de

atividades de ensino, além do preenchimento dos instrumentos de coletas de dados para esta

pesquisa.

Com relação aos quadros das atividades, são necessários alguns esclarecimentos

relevantes para elucidar seu planejamento e o monitoramento das ações dos alunos na

disciplina curricular acadêmica sobre tecnologias. Lembro que o objetivo primário das

atividades arroladas, nos quadros referentes às atividades propostas, era tornar esse aluno de

inglês crítico e autorreflexivo com vistas a prepara-lo sua futura prática pedagógica por meio

do uso funcional e educacional das TDIC.

Assim, a seguir, apresento o Quadro 3, que discrimina o cronograma das atividades da

disciplina desenvolvido durante o mês de setembro de 2013.

116

Quadro 3 – Cronograma das atividades da disciplina

Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras: mês setembro

MÊS SEMANA DIA ATIVIDADE OBJETIVO

S

E

T

E

M

B

R

O

Semana 01

02

Apresentação da disciplina com a leitura do plano de ensino. Definição de número de integrantes em cada equipe para a leitura e apresentação oral dos primeiros textos teóricos.

Preenchimento do questionário inicial da disciplina sobre perfil e uso, frequência e atividades com o computador e outros aparelhos eletrônicos (questionário I).

Apresentar o plano de ensino da disciplina com informações pedagógicas a serem desenvolvidas ao longo do semestre.

Preencher o questionário de perfil em relação ao uso, frequência e atividades com o computador e outros aparelhos eletrônicos antes de iniciar o curso.

04 Apresentação oral e discussão do texto: “Educação 2.0”, de Jordi Adeli (2013) - Equipes I e II.

Discutir e refletir sobre as tecnologias digitais no ensino-aprendizagem e na formação do professor.

Semana 02

16 Apresentação oral e discussão do texto: “O que são tecnologias e por que elas são essenciais”, de Vani Moreira Kenski (2012) - Equipe III.

18 Apresentação oral e discussão do texto: “Tempos tecnológicos e uma nova cultura de ensino e aprendizagem”, de Vani Moreira Kenski (2013) -

Equipe IV.

Semana 03

23

Aula expositiva pelo professor (PowerPoint: a) “Tecnologias: algumas questões” e b) “Interfaces tecnológicas digitais”; e vídeos).

Discutir outros paradigmas educacionais com o uso de tecnologias digitais para o ensino-aprendizagem e formação do professor.

25

Organização dos grupos para apresentações orais sobre Interfaces Tecnológicas Digitais (I): - Wikipedia; Google (Equipe I); - Google docs; Flickr (Equipe II); - You Tube; Blogger ou Word Press (Equipe III); - Livestream; Facebook (Equipe IV); - E-mail; Slideshare (Equipe V);

- Second Life; Jamedo (Equipe VI). Questões primárias a considerar:

a) Como surgiu? (histórico) b) Qual(is) o(s) propósito(s) inicial(is)? c) É possível usar para fins pedagógicos?

Caso positivo, de que maneira?

Organizar apresentações orais com o uso de interfaces tecnológicas digitais

entre os alunos.

Semana 04 30 Apresentações orais; - Equipe I: Wikipedia + Google. - Equipe II: Google Docs + Flickr. - Equipe III: You Tube + Blogger.

Socializar as informações e refletir como utilizar essas interfaces em sala de aula.

Total de aulas presenciais: 07

Fonte: elaborado pelo autor.

Em relação aos esclarecimentos dos quadros, o primeiro está direcionado às

apresentações orais dos textos teóricos pré-selecionados pelo professor-pesquisador. O

número de integrantes em cada equipe, geralmente de três a quatro alunos, justificava-se pela

117

extensão e grau de dificuldade dos textos. Os membros das equipes eram constituídos

algumas vezes por escolha dos próprios alunos e outras vezes, pelo professor.

Além disso, cada equipe preparava uma apresentação em PowerPoint sobre o texto

estudado para expor à turma no dia e na data pré-definidos. Não havia um roteiro de perguntas

semiestruturado para os textos apresentados em sala de aula, pois os questionamentos eram

conduzidos pelos alunos de cada equipe e pelos demais alunos da turma com a intermediação

do professor-pesquisador. Nessa direção, acredito que a ação dos alunos e as discussões

estavam interconectadas, proporcionando uma reflexão crítica a partir dos textos estudados

em sala de aula.

O segundo esclarecimento está relacionado à semana três, como mostra o Quadro 3.

As Interfaces Tecnológicas Digitais I, que motivaram a realização das apresentações orais,

foram selecionadas a partir da leitura do texto “Educação 2.0”, lido e discutido na semana 1.

O autor do texto menciona a importância das tecnologias digitais como um elemento-chave

para transformar a educação, além de outros fatores, e menciona, pontualmente, as interfaces.

Dessa forma, na oportunidade de conhecer mais sobre cada uma dessas interfaces e suas

relações com a Sociedade da Informação e o sistema educacional brasileiro, propus a turma

que fizéssemos uma pesquisa mais acurada.

Passo, assim, para o Quadro 4, que mostra as atividades desenvolvidas durante o mês

de outubro.

118

Quadro 4 – Cronograma das atividades da disciplina

Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras: mês outubro

MÊS SEMANA DIA ATIVIDADE OBJETIVO

O

U

T

U

B

R

O

Semana 04

(continuação)

03

Apresentações orais: - Equipe IV: Livestream + Facebook. - Equipe V: E-mail + Slideshare. - Equipe VI: Second Life + Jamedo

Preenchimento do questionário II sobre as interfaces tecnológicas digitais apresentadas.

Socializar as informações e refletir como utilizar essas interfaces em sala de aula.

Verificar familiaridades e dificuldades com essas interfaces.

Semana 05

07 Discussão dos textos teóricos: “Digital natives,

digital immigrants” (2001) e “Homo Sapies digital: dos imigrantes e nativos digitais à sabedoria digital” (2012), ambos de Marc Prensky.

Discutir e refletir sobre o papel e

diferença entre nativos e imigrantes digitais, além de sabedoria digital na sociedade atual.

09 Avaliação a sites educacionais: potencialidades e limitações.

Avaliar sites relacionados ao ensino-aprendizagem de inglês.

Semana 06

14

Não houve aula: ponto facultativo municipal

----------

16 Organização dos grupos para apresentações orais sobre Interfaces Tecnológicas Digitais (II): podcast, webquest, blog e hot potato & puzzle maker.

Organizar os alunos em equipe para apresentação de seminário.

Semana 07

21 Não houve aula: luto oficial na universidade ----------

23 Apresentações orais: - Equipe I: Podcast. - Equipe II: Webquest.

Socializar as informações e refletir como utilizar essas interfaces em sala de aula.

Semana 08

28 Não houve aula: feriado municipal ----------

30 Apresentações orais - Equipe III: Blog - Equipe IV: Hot Potato e Puzzle maker.

Socializar as informações e refletir como utilizar essas interfaces em sala de aula.

Total de aulas presenciais: 06

Fonte: elaborado pelo autor.

Em relação às apresentações orais do grupo sobre as Interfaces Tecnológicas Digitais

II, no Quadro 4, aquelas exploradas nas semanas sete e oito foram selecionadas pelos alunos

da turma na tentativa de melhor estudar e aprender a respeito de cada uma. Para

complementar a pesquisa, o professor-pesquisador selecionou um texto sobre cada interface e

distribuiu-o para cada equipe. No entanto, cada equipe se comprometeu a pesquisar, em outras

fontes, o máximo de informações sobre a interface tecnológica digital de sua escolha,

mostrando as potencialidades e limitações, de maneira geral, e suas reflexões de como

poderiam ser usadas para o ensino de inglês.

Agora, apresento o Quadro 5, que discrimina as atividades realizadas durante o mês de

novembro.

119

Quadro 5 – Cronograma das atividades da disciplina

Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras: mês novembro

MÊS SEMANA DIA ATIVIDADE OBJETIVO

N

O

V

E

M

B

R

O

Semana 09

04

Comentários individuais pelos alunos sobre as interfaces tecnológicas digitais apresentadas (escrita dos relatos reflexivos). Apresentação de vídeos.

Verificar as facilidades e as dificuldades encontradas pelos alunos em relação ao uso dessas interfaces.

06

Leitura e discussão do texto “Tecnologias e mudanças no modo de ensinar e aprender”, de Denise Braga (2013). Apresentação de vídeo.

Discutir e refletir sobre currículos e metodologias de ensino com o uso das tecnologias digitais.

Semana 10

11

Análise e comentários do portal de tecnologia para o professor de inglês da Professora Reinildes Dias.

Analisar as propostas pedagógicas com tecnologias digitais na formação do professor.

13

Leitura e discussão dos textos: - “Novas tecnologias para ler e escrever: algumas ideias sobre ambientes e ferramentas digitais em sala de aula” (2012), p. 35-36, de

Ana Elisa Ribeiro; e - “A pedagogia dos Multiletramentos”, (2012), de Roxane Rojo. Apresentação em PowerPoint sobre a diferença entre alfabetização e letramento pelo professor.

Conhecer a diferença entre os conceitos de alfabetização e letramento(s).

Refletir sobre as novas abordagens de leitura e escrita em sala de aula com as tecnologias digitais. Refletir sobre as práticas pedagógica dos multiletramentos.

Semana 11

18 Apresentação oral do texto “Diversão, brincadeiras e jogos” (2012), de Marc Prensky – Equipe I.

Refletir e discutir sobre o ensino-aprendizagem de jogos digitais para crianças, jovens e adultos.

20 Apresentação oral do texto “Aprendizagem baseada em jogos digitais” (2012), de Marc Prensky – Equipe II.

Semana 12

25 Apresentação oral do texto “Aprendizagem baseada em jogos digitais para crianças e estudantes” (2012), de Marc Prensky – Equipe III.

27 Não houve aula ----------

Total de aulas presenciais: 07

Fonte: elaborado pelo autor.

No que tange à análise de sites sobre os jogos educacionais digitais (JED), exposto no

Quadro 5, o professor elaborou um checklist (ver Apêndice 2) a partir das ideias expostas nos

textos de Prensky (2012), lidos e apresentados, oralmente, pelos alunos em sala de aula. Foi

solicitado pelo professor-pesquisador que cada equipe pesquisasse sites sobre JED e no final

da última apresentação, foram compartilhados todos os sites pesquisados por cada equipe.

120

Ressalte-se que, neste material de análise, ainda há duas perguntas relacionadas à

classificação do site (jogo ou brincadeira, tópicos diferenciados nos textos) e as vantagens e as

desvantagens ao selecionar esse tipo de site. Apesar de a análise ter sido realizada em equipe,

as duas perguntas subjetivas foram respondidas individualmente.

Para finalizar o cronograma das atividades da disciplina curricular acadêmica, foco

desta pesquisa, apresento, a seguir, o Quadro 6, referente ao mês de dezembro.

Quadro 6 – Cronograma das atividades da disciplina

Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras: mês dezembro

MÊS SEMANA DIA ATIVIDADE OBJETIVO

D

E

Z

E

M

B

R

O

Semana 13

02

Análise de sites sobre jogos educacionais digitais (JED) a partir de um checklist elaborado e adaptado com base em Prensky (2012).

Analisar sites sobre JED para o ensino-aprendizagem de inglês.

04

Preparação e orientação dos projetos finais sobre TDIC.

Organizar projetos de ensino de inglês com o uso das tecnologias digitais.

Semana 14

09 Apresentação oral dos projetos e entrega dos planos de aula – Equipes I, II e III.

Socializar os projetos de ensino de inglês com o uso das TDIC.

11

Não houve aula

----------

Semana 15

16

Apresentação oral dos projetos e entrega dos planos de aula – Equipes IV, V e VI.

Socializar os projetos de ensino de inglês com o uso das TDIC.

18

Entrega dos trabalhos e resultado final.

Preenchimento do questionário final da disciplina (questionário III).

Fornecer feedback dos trabalhos realizados durante o semestre letivo,

dos alunos e da disciplina. Conhecer as facilidades e dificuldades dos participantes no que tange o uso das TDIC e suas preferências, ao final do curso.

Total de aulas presenciais: 05

Fonte: elaborado pelo autor.

Outro aspecto que merece ser esclarecido nesse quadro se refere aos projetos

tecnológico-digitais de ensino da semana 13. As equipes precisavam preparar uma proposta

de ensino-aprendizagem de inglês com o uso das TDIC. Para isso, poderiam escolher uma das

interfaces tecnológicas digitais trabalhadas em sala de aula ao longo do semestre, não

necessariamente a apresentada pela sua equipe. No entanto, foi acordado entre os alunos e o

professor-pesquisador que não deveria haver repetição das interfaces entre as equipes.

Também foi solicitado um plano de aula para cada equipe que deveria seguir o modelo

proposto pelo professor-pesquisador (ver Apêndice 3).

121

O Quadro 7 apresenta o resumo das seis atividades desenvolvidas na rede social

Facebook, durante o semestre letivo, com seus respectivos objetivos, de acordo com os

motivos já arrolados anteriormente.

Quadro 7 – Atividades no Facebook

NÚMERO DA

ATIVIDADE

ATIVIDADE OBJETIVO

Atividade 1

Selecione uma imagem que melhor represente as ideias

discutidas, em sala de aula, durante os seminários das

semanas 1 e 2. Em seguida, escreva um breve

comentário a respeito da motivação de sua escolha,

justificando-a com argumentos dos textos lidos.

Refletir sobre o uso das tecnologias digitais no ensino-aprendizagem de inglês.

Atividade 2

A partir da leitura do texto do link abaixo, expresse sua

opinião sobre o uso das tecnologias para fins

educativos. Vocês concordam ou discordam?

Discutir o ensino-aprendizagem com tecnologias digitais em países como Brasil, França, Canadá e Estados Unidos.

Atividade 3

A partir da releitura dos textos de Marc Prensky,

"Digital Natives, Digital Immigrants" e "Homo

Sapiens digital: dos imigrantes e nativos digitais à

sabedoria digital", apresente seu ponto de vista de

como as ideias do autor podem ser aplicadas no ensino

e na aprendizagem de inglês a partir do uso das TIC.

Além disso, você concorda com Presky (2012, p.101)

que "a distinção entre nativos e imigrantes digitais

tornar-se-á cada vez menos relevante". Assim, ele

sugere um novo termo denominado de Sabedoria Digital. Você concorda com ele? Não esqueça de citar

partes dos textos para exemplificar também seu ponto

de vista.

Discutir e refletir sobre o papel e a diferença entre nativos e imigrantes digitais e sabedoria digital na sociedade atual.

Atividade 4

Nossa próxima tarefa é a leitura do texto "O que fazer

quando eu recebo um trabalho CRTL+C, CRTL+V?

Autoria, pirataria e plágio na era digital: desafios para a

prática docente", de Sérgio Abranches. Elabore um

comentário sobre o texto, expressando, também, a sua

opinião sobre o assunto em questão. Relacione as

ideias apresentadas pelo autor com sua (futura) prática

de sala de aula. Não esqueça também de comentar as

respostas dos colegas.

Conhecer e discutir os desméritos do plágio nos contextos escolar e acadêmico.

Atividade 5

Aproveitem esta semana para colocarem as tarefas do Facebook em dia. Quem já fez seus posts aproveitem

para comentar as postagens dos colegas. Vocês

concordam? Discordam? Por quê? As escolas estão

preparadas para trabalhar junto à esfera digital? Os

professores estão preparados a operacionalizar com as

inovações tecnológicas em sala de aula? Tenho certeza

que muitas ideias estão dentro dessas cabecinhas

brilhantes, prontas para serem compartilhadas. Não

esqueçam também de compartilhar os slides das

apresentações sobre JED.

Revisar e comentar todas as atividades postadas no Facebook.

Atividade 6

Faça uma autoavaliação da disciplina e de seu

desempenho acadêmico na mesma, considerando os

méritos e os desméritos de ambos.

Refletir sobre a disciplina curricular e o empenho acadêmico do aluno na mesma.

Total de aulas virtuais: 6

Fonte: elaborado pelo autor.

122

É válido ressaltar que as quatro primeiras atividades de ensino realizadas no ambiente

virtual do Facebook foram para integrar as atividades presenciais desenvolvidas durante o

semestre letivo. Ademais, outras duas atividades também foram planejadas para substituir

uma aula presencial da semana 12 e outra, da semana 14, pois, por motivos acadêmicos, o

professor-pesquisador não pode comparecer à universidade nesses dias.

As atividades no Facebook foram disponibilizadas ao longo do semestre e os alunos

puderam realizá-las no horário e dia que desejassem. Essas atividades também foram

incluídas no processo de avaliação da disciplina. É importante ressaltar que o ambiente dessa

rede social foi uma página fechada e elaborada, exclusivamente, para os alunos e o professor

da turma.

Esse ambiente virtual também possibilitou que os alunos visualizassem as respostas

dos colegas e as comentassem, postassem sugestões de sites sobre TDIC, servindo, assim,

como canal de comunicação entre o professor-pesquisador e os alunos-participantes. Além da

interação aqui descrita, também foi possível aos alunos compartilhar seus PowerPoints dos

seminários realizados em sala de aula.

Na próxima seção, apresento os participantes da minha pesquisa.

2.5 Participantes da pesquisa

Os participantes desta pesquisa, cujos dados foram gerados no segundo semestre de

2013, foram quatro alunos do turno noturno do Curso de Letras-Inglês da Faculdade de Letras

Estrangeiras Modernas (FALEM), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Lembro que,

apesar de haver dezoito alunos na sala de aula, somente quatro participaram da pesquisa. A

razão que me levou a selecionar esses quatro participantes, especificamente, é explicada na

subseção 2.6.2 deste capítulo.

A escolha dos participantes foi motivada, principalmente, pelo fato de o professor-

pesquisador ter sido responsável por ministrar a disciplina Tecnologias no

Ensino/Aprendizagem de LE para a turma do sexto período do curso, com o total de dezoito

alunos, do qual esses participantes faziam parte. Ressalta-se ainda que os alunos foram

consultados para participar desta pesquisa de doutorado como participantes e a eles foi

informado que os dados coletados seriam utilizados sigilosamente, sem comprometer a

identidade de cada um. Também foi explicado aos alunos que a participação deles na geração

de dados era voluntária, não sendo obrigados a fazer parte da pesquisa. Uma vez aceito o

123

convite, o aluno (doravante chamado participante) poderia desistir em qualquer fase da

pesquisa.

No sentido de formalizar minha pesquisa, foi assinado, tanto por mim, professor-

pesquisador, como pelos participantes, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Além disso, o projeto desta pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa49

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) já que a pesquisa

envolve seres humanos.

Descrevo, a seguir, as características gerais dos quatro participantes, na faixa etária

entre 23 a 27 anos e cujos nomes fictícios, atribuídos por eles próprios, foram Lasn, Lúkan,

Ralph e Tom. As informações relatadas foram diretamente coletadas do questionário inicial da

disciplina (ver Apêndice 4), perfil dos participantes, aplicado no primeiro dia de aula, e da

entrevista realizada em outubro de 2015. É valido mencionar que na subseção 2.6.2 deste

capítulo explico a razão que me levou a realizar a entrevista apenas em 2015, já que a

disciplina foi oferecida no segundo semestre de 2013.

Todos os participantes da pesquisa cursaram a Educação Básica em escola pública,

exceto um, que cursou o Ensino Médio completo em escola particular. Esses participantes

ingressaram na UFPA pelo ENEM e pelo Processo Seletivo Seriado, o tradicional vestibular –

com provas de questões objetivas e subjetivas, com datas, dias e horários pré-definidos pela

universidade. O curso de Letras foi a primeira opção de todos os participantes, pois eles

afirmaram que gostavam de inglês e tinham afinidade para ensinar o idioma.

A participante Lasn tinha 27 anos quando a pesquisa foi realizada e havia cursado toda

a Educação Básica em escola pública. Concluiu o Ensino Médio em 2002. Fez um curso

preparatório para realizar as provas do vestibular durante um ano e seis meses para ingressar

na UFPA, em 2011. No momento da coleta dos dados, lecionava inglês em uma escola

particular em Belém, para as quarta e quinta séries do Ensino Fundamental I, há um ano e

meio. Em relação às expectativas para com a disciplina curricular, esperava associar o uso dos

recursos tecnológicos ao ensino de inglês de maneira eficiente e prática.

Lúkan, por sua vez, tinha 23 anos e cursou toda a Educação Básica em escola pública.

Concluiu o Ensino Médio em 2010 e, no ano seguinte, ingressou na universidade. No

momento da coleta dos dados, era bolsista, desde janeiro de 2012, no laboratório de

Informática (LabInf) da (FALEM) durante o período matutino. Até aquele momento, não

havia tido experiência com o magistério. Em relação às expectativas para com a disciplina

49 O parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP tem como número 1.098.714 e foi

aprovado no dia 9 de junho de 2015.

124

curricular, esperava aprender novas formas de ensino com o uso das tecnologias digitais.

Segundo Lúkan, os alunos vivem na era digital e, como futuro professor de inglês, precisava

se adaptar e buscar formas de utilizar as TDIC a favor do ensino e da aprendizagem.

Já Ralph tinha 23 anos e havia cursado o Ensino Fundamental em escola pública e o

Ensino Médio em escola particular, concluindo-o em 2006. Ingressou na UFPA em 2011. Na

época da coleta dos dados, trabalhava nos cursos de idiomas dessa universidade, conhecido

como Cursos Livres de Línguas Estrangeiras (CLLE), desde o segundo semestre de 2012,

com turmas de inglês de níveis básicos e intermediários, que correspondem aos níveis 1 a 7

do curso. A expectativa inicial de Ralph em relação à disciplina era lidar com os fatores

positivos e os negativos que as tecnologias digitais podem oferecer, além de saber administrá-

los e empregá-los de maneira criativa e eficiente.

Finalmente, Tom tinha 27 anos e havia cursado a Educação Básica completa em escola

pública. Concluiu o Ensino Médio em 2003, ingressando no curso de Letras-Inglês, em 2011.

Na época da coleta dos dados, era professor de inglês do nono ano do Ensino Fundamental I

em uma escola particular de Belém, onde trabalhava por um ano. Também atuava como

professor-bolsista de inglês nos cursos de idiomas da UFPA, chamados Cursos Livres de

Línguas Estrangeiras (CLLE), sediados na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas

(FALEM). Estava em seu primeiro semestre e lecionava para duas turmas de primeiro nível.

A expectativa inicial de Tom em relação à disciplina era conhecer novas ferramentas digitais

e saber como utilizá-las em sala de aula, além de trocar experiências com os colegas de turma

e com o professor sobre o uso dessas ferramentas em prol da aprendizagem. Também

esperava que a disciplina fosse bastante enriquecedora para seu currículo.

Com base nas informações mencionadas anteriormente sobre os quatro alunos

participantes desta pesquisa, apresento, a seguir, o Quadro 8, que melhor sintetiza seus

respectivos perfis, suas informações acadêmicas e profissionais, além de suas expectativas

iniciais em relação à disciplina curricular:

125

Quadro 8 – Quadro-resumo: perfil dos participantes, informações acadêmicas e profissionais e

expectativas iniciais em relação à disciplina curricular.

P

E

R

F

I

L

Participante

(Faixa Etária)

Educação

Básica Ano de

conclusão do

Ensino Médio

Ano de

ingresso

na UFPA

Experiência /

Local

Níveis/

Séries

E

X

P

E

C

T

A

T

I

V

A

S

Expectativas

iniciais sobre

a disciplina

Lasn (27)

Escola pública

2002

Letras-

Inglês

2011

1 ano e 6

meses /

Escola

particular

4o e 5o séries

do Ensino

Fundamental I

Associar o uso dos recursos tecnológicos

ao ensino de inglês.

Lúkan (23)

Escola pública

2010

Letras-

Inglês 2011

2 anos /

Labinf (FALEM)

......

Aprender novas formas de ensino com o uso das tecnologias

digitais.

Ralph (23)

Escola pública

(Ensino

Fundamental) e Escola particular

(Ensino Médio)

2006

Letras-Inglês

2011

1 ano e

meio / Escola de

idiomas

Níveis básicos

ao intermediário

(adultos)

Saber lidar com fatores positivos e negativos oferecidos pelas

tecnologias digitais.

Tom (27)

Escola Pública

2003

Letras-

Inglês

2011

Há um 1 e

6 meses /

Escola

particular e

de idiomas

9o ano do

Ensino

Fundamental I

e 1o nível

(adultos)

Conhecer novas

ferramentas digitais. Saber como utilizar essas ferramentas em sala de aula.

Fonte: elaborado pelo autor.

Após essa visão a respeito das informações sobre o perfil de cada participante da

pesquisa e sua expectativa inicial em relação à disciplina curricular acadêmica, forneço, a

seguir, informações sobre o perfil tecnológico de Lasn, Lukan, Ralph e Tom, em foco nesta

pesquisa.

Os participantes relataram, também, que possuem computador em casa e o usam

diariamente, tanto em contexto pessoal, como no acadêmico. As atividades relatadas para o

uso do computador vão desde estudar/pesquisar, aprender inglês, bater papo em redes sociais,

assistir a filmes e a vídeos, consultar e responder e-mail até jogar. Com relação ao uso e às

atividades realizadas em outros aparelhos eletrônicos, os participantes apontaram respostas

diversificadas, como as apresentadas a seguir.

126

Lasn tinha smartphone e o utilizava, diariamente, para realizar pesquisas sobre algum

assunto das disciplinas que cursava no semestre, ouvir músicas, fazer downloads de

aplicativos, entre outras coisas. Lúkan tinha um smartphone e o utilizava todos os dias para

acessar as redes sociais e consultar dicionários on-line. Ralph tinha um celular e o utilizava

com frequência para acessar as redes sociais, ouvir música e responder e-mails, além de

afirmar que possuía um Playstation 3, o qual utilizava entre três e quatro vezes por semana, e

um Nintendo 3DS, que utilizava ocasionalmente. Finalmente, Tom tinha um celular e o

utilizava todos os dias para ouvir músicas, realizar download de músicas, livros e vídeos,

bater papo em redes sociais e consultar e-mails.

Além desses usos diferenciados de aparelhos eletrônicos, os participantes relataram

também estarem familiarizados com alguns aplicativos digitais, como, por exemplo,

dicionários on-line, tradutores automáticos, Google docs, e-mail, redes sociais como

Facebook, Twitter, Slideshare e Instagram, You Tube, jogos digitais e mecanismos de busca

como Google e Yahoo, além do Skype e do PowerPoint. Um dos participantes também

mencionou conhecer e já ter usado, em alguma ocasião, o Edmodo, Livemocha e Oddcast.

A partir dessas informações, apresento a seguir o Quadro 9, que resume o uso, a

frequência e as atividades realizadas com o computador e outros aparelhos eletrônicos pelos

quatro participantes desta pesquisa, além de suas familiaridades com os aplicativos digitais:

127

Quadro 9 – Quadro-resumo: frequência de uso e de atividades no computador, outros aparelhos

eletrônicos e de aplicativos digitais.

Participante

Computador/

Frequência

Atividade

Outro

aparelho /

Frequência

Atividade

Aplicativos digitais

Lasn

Sim / diariamente

Estudar/pesquisar.

Bater papo em redes

sociais.

Assistir a

filmes/vídeos.

Aprender inglês.

Ler.

Consultar e

responder e-mails.

Ouvir música.

Realizar download

de músicas, livros e

filmes.

Smartphone /

diariamente

Fazer pesquisas

sobre algum

assunto das

disciplinas que

cursava no

semestre.

Ouvir músicas.

Realizar

downloads de

aplicativos.

Dicionário on-line

Tradutores automáticos

Google Docs

E-mail

Facebook, Twitter,

Slideshare e Instagram

Páginas digitais (site, portal,

blog)

Plataformas digitais de busca

(Google e Yahoo)

Skype

PowerPoint

Lúkan

Sim / diariamente

Estudar/

pesquisar.

Bater papo em redes

sociais.

Assistir a

filmes/vídeos.

Aprender inglês.

Ler.

Consultar e

responder e-mails.

Ouvir música.

Realizar download

de músicas e filmes.

Jogar.

Smartphone /

diariamente

Acessar as redes

sociais.

Consultar dicionários

on-line.

Dicionário on-line.

Tradutores automáticos

Google Docs

E-mail

Facebook, Twitter,

Slideshare e Instagram

Páginas digitais (site, portal,

blog)

Plataformas digitais de

busca (Google e Yahoo)

Skype

Jogos digitais

Second Life

My Space

PowerPoint

Ralph

Sim / Diariamente

Estudar/

pesquisar.

Bater papo em redes

sociais.

Assistir a

filmes/vídeos.

Aprender inglês.

Ler.

Consultar e

responder e-mails.

Ouvir música.

Realizar download

de músicas, livros e

filmes.

Jogar.

Playstation 3 /

3 a 4 vezes por

semana

Jogar.

Dicionário on-line

Tradutores automáticos

Google Docs

E-mail

Facebook, Twitter,

Slideshare e Instagram

Páginas digitais (site,

portal, blog)

Plataformas digitais de

busca (Google e Yahoo)

Skype

Jogos digitais

PowerPoint

Edmodo

Livemocha

Oddcast

Isketch

Celular /

todos os dias

Acessar as redes

sociais.

Ouvir música.

Responder e-mails.

Nintendo 3DS /

ocasionalmente

Jogar.

Tom

Sim /

2x por semana

Estudar/

Pesquisar.

Bater papo em redes

sociais.

Aprender inglês.

Consultar e

responder e-mails.

Realizar download

de músicas, livros e

filmes.

Jogar.

Celular

Notebook

Estudar/

Pesquisar.

Bater papo em

redes sociais.

Aprender inglês.

Consultar e

responder e-mails.

Realizar download

de músicas, livros e

filmes.

Jogar.

Ouvir música.

Dicionário on-line

Tradutores automáticos

Google Docs

E-mail

Facebook, Twitter,

Slideshare e Instagram

Páginas digitais (site, portal,

blog)

Plataformas digitais de

busca (Google e Yahoo)

Skype

PowerPoint

Fonte: elaborado pelo autor.

128

Após a apresentação dos participantes da pesquisa, descrevo os procedimentos de

geração dos dados utilizados neste estudo.

2.6 Instrumentos e procedimentos de geração dos dados

Nesta seção, realizo apresentação a respeito dos instrumentos utilizados para gerar os

dados e dos seus procedimentos, pois, com base na abordagem qualitativa de estudo de caso

que adotei para realizar esta pesquisa, “o pesquisador recorre a uma variedade de dados,

coletados em diferentes momentos, em situações variadas e com uma variedade de tipos de

informantes” (LÜDKE; ANDRÉ, 2013, p. 22). Assim sendo, a presente pesquisa passa a ter

maior confiabilidade, veracidade e a certeza da confirmabilidade (DUFF, 2008; STAKE,

1995; CRESWELL, 2014; YIN, 2015, 2016) do rigor científico.

Os instrumentos que utilizei para esta pesquisa, para triangulação dos dados, foram

questionários, entrevista, relato reflexivo, autoavaliação, atividades em rede digital e notas de

campo. Assim, concordo com Thiollent (2009) ao afirmar que o processo de pesquisa se

desenrola com maior adequação em situações nas quais os participantes podem encontrar

soluções exequíveis a partir de variados instrumentos de coleta de dados.

Passo, agora, a apresentar cada um dos instrumentos mencionados anteriormente.

2.6.1 Questionários

Tive a oportunidade de aplicar três questionários (ver Apêndices 4, 5 e 6), ao longo do

semestre. A partir da aplicação desses instrumentos, tive a oportunidade de conhecer melhor

não apenas os perfis dos participantes, mas obtive informações quanto ao uso, à frequência e

às atividades que realizavam com as TDIC em seus cotidianos e durante a disciplina, além de

levantar dados relativos às suas dificuldades e suas facilidades ao lidar com essas tecnologias

e expectativas quanto à disciplina curricular acadêmica, objeto da pesquisa.

Os questionários eram constituídos de perguntas fechadas e abertas na tentativa de

criar oportunidades para que participantes refletissem a respeito de suas familiaridades e suas

limitações com as TDIC, possibilitando-me receber respostas passíveis de comparação de

todos os participantes da pesquisa (FLICK, 2013). Todos os questionários foram respondidos

em sala de aula.

129

O primeiro questionário da pesquisa (ver Apêndice 4) foi aplicado no primeiro dia de

aula e continha 18 perguntas, das quais 8 eram fechadas e 10, abertas. Teve por objetivos

obter informações sobre o perfil pessoal e acadêmico dos participantes, sua familiaridade com

as TDIC no dia-a-dia, suas opiniões sobre as facilidades e as dificuldades com essas

tecnologias em suas futuras práticas pedagógicas e suas expectativas em relação à disciplina

curricular acadêmica Tecnologias no ensino/aprendizagem de LE, objeto desta pesquisa.

Além disso, esse questionário possibilitou que os participantes, talvez, pela primeira vez,

refletissem sobre sua futura aprendizagem com as TDIC.

O Quadro 10 descreve as informações apresentadas no questionário I:

Quadro 10 – Questões do questionário I

TÓPICO PROPÓSITO PERGUNTA(S)

Perfil do participante. Adquirir informações pessoais e acadêmicas do

participante para construir seu perfil.

Quadro introdutório;

Perguntas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7.

Uso, frequência e atividades

com a TDIC no dia-a-dia.

Conhecer as razões que levam o participante a usar

as TDIC, além das frequências e as atividades realizadas no cotidiano.

Perguntas 8, 9, 10, 11 e 12.

Familiaridades e usos com

interfaces tecnológicas no dia-

a-dia e no meio acadêmico.

Saber qual a percepção do participante em relação às

interfaces tecnológicas digitais.

Perguntas 13, 14 e 15.

Facilidades e dificuldades

apontadas com o uso das

TDIC como futuro professor

de inglês.

Verificar os pontos fáceis e difíceis com relação às

TDIC na futura prática pedagógica do participante.

Perguntas 16 e 17.

Expectativas em relação à

disciplina curricular

acadêmica.

Saber o que o participante espera obter com a

disciplina curricular acadêmica.

Pergunta 18.

Fonte: elaborado pelo autor.

O segundo questionário da pesquisa (ver Apêndice 5) foi aplicado na oitava aula e

constava de quatro perguntas, a saber: três perguntas fechadas e uma pergunta aberta. Teve

por objetivos obter informações sobre a familiaridade dos participantes com algumas

interfaces tecnológicas digitais estudadas em sala de aula, a possibilidade de serem usadas em

suas futuras práticas pedagógicas e o grau de dificuldade para compreendê-las. A seguir,

mostro no Quadro 11 as informações referentes a esse questionário:

130

Quadro 11 – Questões do questionário II

TÓPICO PROPÓSITO PERGUNTA(S)

Familiaridade com interfaces

tecnológicas digitais.

Verificar o que os participantes já conheciam sobre

algumas interfaces tecnológicas digitais.

Perguntas 1 e 2.

Percepção sobre o uso das

interfaces na futura prática

pedagógica do participante.

Conhecer as possibilidades de uso dessas interfaces

no ensino-aprendizagem de inglês.

Pergunta 3.

Avaliação das interfaces. Avaliar o grau de dificuldade ao pesquisar e estudar

cada interface.

Pergunta 4.

Fonte: elaborado pelo autor.

O último questionário da pesquisa (ver Apêndice 6) foi aplicado no último dia de aula

e continha sete perguntas abertas. Teve por objetivos obter informações sobre o grau de

dificuldade e as preferências dos participantes em relação às TDIC estudadas ao longo do

semestre, a motivação para usá-las, as facilidades e as dificuldades com o uso das TDIC em

sala de aula como futuro professor de inglês e a confirmação ou não das expectativas dos

participantes em relação à disciplina curricular acadêmica. Essas informações foram

distribuídas no Quadro 12 a seguir:

Quadro 12 – Questões do questionário III

TÓPICO PROPÓSITO PERGUNTA(S)

Avaliação de preferências das

interfaces tecnológicas como

aluno e futuro professor,

respectivamente.

Verificar a praticidade das informações apreendidas

ao longo da disciplina curricular acadêmica.

Perguntas 1 e 3.

Avaliação das dificuldades para

com as interfaces estudadas.

Avaliar e refletir a respeito da dificuldade

encontrada ao estudar as interfaces durante o

semestre.

Pergunta 2.

Motivação para o uso das TDIC. Adquirir informações relativas à autoconfiança do participante para o uso das TDIC.

Pergunta 4.

Facilidades e dificuldades para

com o uso das TDIC na futura

prática pedagógica dos

participantes.

Verificar os pontos fáceis e difíceis com relação

à futura prática pedagógica do participante.

Perguntas 5 e 6.

Avaliação da disciplina. Obter informações sobre a eficácia ou não da

disciplina curricular acadêmica na visão do

participante.

Pergunta 7.

Fonte: elaborado pelo autor.

Os questionários apresentados foram aplicados na tentativa de permitir observar as

reflexões e as discussões dos participantes quanto ao uso das TDIC em seus contextos diários

e acadêmicos, suas facilidades e suas dificuldades com as mesmas no início, ao longo e final

131

da disciplina, além de suas expectativas em relação à disciplina Tecnologias no

ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras.

A seguir, descrevo a entrevista, outro instrumento de coleta dos dados, que me

permitiu ter uma visão e uma interpretação precisas do objeto estudado nesta pesquisa.

2.6.2 Entrevista

A turma era originalmente constituída de dezoito alunos, porém, no decorrer do

semestre, houve a desistência de um aluno, que alegou compromissos de trabalho, ficando a

sala de aula, assim, com dezessete alunos. Durante o semestre letivo, os alunos participaram

assiduamente de todo o processo proposto pelo professor-pesquisador para a coleta dos dados,

havendo o compromisso dos mesmos no preenchimento dos instrumentos da pesquisa.

Não obstante, no último dia de aula, para a entrega aos alunos dos trabalhos finais e da

nota referente ao semestre, foi aplicado o último instrumento de pesquisa, um questionário

final, que foi preenchido por apenas nove alunos dessa turma. Os demais faltaram a essa aula

por estarem fazendo trabalhos de outras disciplinas na biblioteca da universidade. Esse fato

foi comentado pelos alunos que compareceram ao último dia. Por conseguinte, minha

pesquisa estava constituída, naquele momento, de nove participantes.

Em maio de 2015, estudando os dados coletados, pude observar que algumas respostas

dos questionários, principalmente, estavam generalizadas, necessitando um melhor

detalhamento e desmembramento por parte dos participantes da pesquisa, por meio de

entrevista. Assim, contatei a professora da turma na época para saber se eu, professor-

pesquisador, poderia utilizar algumas aulas suas para realizar as entrevistas.

Ressalte-se que, nessa ocasião, a turma estava no último semestre do curso de Letras-

Inglês e frequentava aula apenas uma vez por semana na FALEM, pois nos demais dias estava

na Escola de Aplicação da UFPA para cumprir a carga horária do Estágio Supervisionado,

além de estarem comprometidos com as orientações e escrita do Trabalho de Conclusão de

Curso (TCC).

Desse modo, com permissão e autorização da professora da turma, foram marcados

dois dias, em semanas subsequentes, para a realização das entrevistas e os participantes foram

alocados em dois grupos, para facilitar seu deslocamento até a universidade. Contudo, na

primeira semana da entrevista, última semana do mês de maio, algumas universidades

federais do país entraram em greve, inclusive a UFPA.

132

Assim, eu tive que cancelar as entrevistas, pois as aulas foram suspensas. Como a

greve se estendia, sem previsão para terminar, e eu estava, nesse ano, ainda morando na

cidade de São Paulo, entrei em contato com quatro desses participantes para solicitar que

concedessem a entrevista uma vez que estavam frequentando a universidade, seja como

bolsistas de projeto de pesquisa seja por estarem cursando uma língua estrangeira nos cursos

de idiomas chamados de Cursos Livres. Os participantes contatados naquele momento

prontamente aceitaram o convite e, por essa razão, potencialmente, minha pesquisa estava

constituída de quatro participantes, pois os mesmos se envolveram em todos os processos de

coleta dos dados.

Então, na primeira semana de outubro de 2015, ainda em período de greve, em dois

dias diferentes, as entrevistas com esses quatros participantes foram realizadas pessoalmente.

No primeiro dia, foram entrevistados três participantes, e no segundo dia, apenas, um, com

horários agendados e pré-definidos antecipadamente por telefone ou pelo WhatsApp. As

entrevistas, realizadas em uma sala de aula da própria FALEM, foram gravadas em áudio.

Cabe aqui salientar que a sala era ampla, bem iluminada e sem ruídos internos e externos.

Ao iniciar a entrevista com cada participante da pesquisa, realizei um momento de

recapitulação da disciplina curricular acadêmica, na época, no sentido de relembrar desde o

conteúdo programático, o propósito da disciplina até as atividades desenvolvidas ao longo

daquele semestre, para, em seguida, realizar a leitura das respostas de seus questionários. Isso

possibilitou aos participantes da pesquisa refletirem sobre o conhecimento construído e as

suas ações na disciplina curricular, ministrada no segundo semestre de 2013. Assim, pude

observar que os participantes ficaram confiantes e motivados para esclarecer suas próprias

constatações pela contextualização realizada previamente.

Como mencionado anteriormente, o objetivo da entrevista era elucidar as respostas

fornecidas pelos participantes nos questionários aplicados, tanto no início como no meio

quanto ao final da disciplina curricular. Por esse motivo, neste estudo de caso, as entrevistas

foram não-estruturadas, ou seja, foram organizadas de acordo com as respostas dos

entrevistados e não conforme um roteiro com tópicos e questões previamente selecionados

pelo pesquisador (NUNAN, 1992; YIN, 2016).

Ocupo-me, agora, do relato reflexivo.

133

2.6.3 Relato reflexivo

Chamo de relato reflexivo o instrumento de pesquisa que permite ao participante

escrever e refletir na primeira pessoa do singular a respeito de alguma experiência vivenciada,

em algum contexto de ensino-aprendizagem, seja de língua materna ou de língua estrangeira,

mostrando seus méritos e desméritos (NUNAN, 1992).

O objetivo desse relato é refletir a respeito das interfaces tecnológicas digitais que

cada aluno apresentou nos seminários organizados em sala de aula. Na tentativa de conduzir a

reflexão dos alunos e melhor facilitar o registro das informações, propus algumas perguntas

interpretativas que poderiam ser respondidas à medida que o relato fosse sendo escrito. Nesse

sentido, a visão dos participantes nos relatos foi norteada pelas seguintes proposições:

● Foi difícil entender o procedimento de uso da interface estudada? Caso afirmativo,

por quê?

● O que você fez para encontrar solução para a sua dificuldade? Alguém o ajudou?

Como?

● Você desistiu em algum momento? Caso positivo, o que fez você tentar novamente?

● Houve facilidade em entender a interface? Caso afirmativo, por quê? Como?

● Aponte os méritos e /ou desméritos da interface pesquisada.

Ressalte-se que as respostas a essas perguntas não eram obrigatórias, sendo possível

aos participantes não responder a todas as questões. O foco dos relatos estava na pesquisa de

alguma interface digital (usos, potencialidades e entraves para o ensino-aprendizagem) ou em

alguma reflexão sobre um determinado aspecto do conteúdo que o aluno julgasse necessário

relatar. Esses relatos (ver Apêndice 7) foram escritos em sala de aula ao longo do semestre,

sempre que o aluno precisasse refletir sobre seu percurso na disciplina ou sobre algum

assunto; na décima quarta aula da nona semana, individualmente, após a realização dos

seminários sobre Interfaces Tecnológicas Digitais II, e na décima terceira aula (ver Quadro 4

– cronograma das atividades da disciplina curricular acadêmica: mês outubro, anteriormente

apresentado).

Os relatos proporcionaram aos participantes desta pesquisa serem agentes ativos e

reflexivos de seus próprios processos de ensino-aprendizagem, o que os transformou em uma

atividade interessante e motivadora, conforme atestaram depoimentos informais dos próprios

participantes.

Como estudo de caso intrínseco, minha pesquisa utiliza outros instrumentos de coleta

de dados para olhar mais de perto as visões de meus participantes com o uso das TDIC, pois

134

está claro que as anotações realizadas não eram suficientes para sistematizar minha

investigação. Por essa razão, houve a necessidade de outros instrumentos para ampliar o

escopo desta pesquisa, como, por exemplo, a autoavaliação realizada pelos participantes,

sobre a qual comentarei a seguir.

2.6.4 Autoavaliação

As autoavaliações foram realizadas pelos participantes ao final do semestre na página

do Facebook da turma, com o objetivo de avaliar seus respectivos percursos acadêmicos

durante a disciplina curricular sobre tecnologia ofertada e ministrada por mim naquele

semestre letivo, foco de coleta de dados desta pesquisa. Os participantes realizaram um relato

autorreflexivo escrito, tendo liberdade para refletirem sobre seu desempenho, um aspecto

específico de seu trabalho desenvolvido em sala de aula, e de avaliar a disciplina como um

todo.

Para maior comodidade dos alunos-participantes, essa atividade foi solicitada duas

semanas antes do término do semestre e postada, conforme acordado com os alunos, na

página da turma do Facebook. Assim, todos puderam compartilhar com o colega as

experiências que tiveram ao longo do semestre com a disciplina para o processo de construção

do saber (CHAUDARY, 1997).

Na tentativa de ampliar as vozes de meus participantes, julguei, assim, relevante

complementar a investigação com outro instrumento de pesquisa, as atividades realizadas no

grupo fechado da rede social Facebook, objeto que descrevo na próxima subseção.

2.6.5 Atividades no Facebook

As atividades referentes à rede social Facebook foram integradas às atividades

presenciais e criadas para retomar as aulas que não teríamos presencialmente. Em conversa

informal, os participantes ficaram motivados e envolvidos com essa rede social, por ser muito

usada por todos com frequência no dia-a-dia, razão pela qual não sentiram dificuldade para

postarem suas atividades.

135

Considerando essa familiaridade e motivação dos participantes, como professor-

pesquisador, utilizei essa rede social para os alunos postarem as atividades educacionais da

disciplina. Dessa forma, além de servir como ferramenta para o desenvolvimento das

atividades e geração de dados, essa rede social também consistiu em um meio de

comunicação “para a realização de uma diversidade de práticas discursivas” (ARAÚJO;

LEFFA, 2016, p. 9) entre os participantes da pesquisa.

Por isso, denomino essa rede social de plataforma comunicativo-educativa, pois os

objetivos com as atividades eram refletir e ampliar a visão do participante sobre as TDIC e

para sua futura formação como professor de inglês. Ademais, todas as atividades postadas,

por cada aluno-participante, eram comentadas pelos demais colegas da turma. No total foram

seis atividades disponibilizadas ao longo do semestre, como já mostrado no Quadro 7 desta

pesquisa.

Tendo em vista uma melhor triangulação, apresento, assim, meu próximo instrumento

de coleta de dados que possibilitará compreender meu contexto de investigação. Ocupo-me,

agora, das notas de campo.

2.6.6 Notas de campo

Em pesquisa qualitativa, na visão de Yin (2016), as notas de campo são importantes

instrumentos seletivos de pesquisa de fácil elaboração, que possibilitam ao pesquisador

recordar eventos da vida real, sentimentos, crenças, atividades, entre outros elementos que

poderiam ser facilmente esquecidos, permitindo ao pesquisador observar e entender seu novo

ambiente e os participantes. Por essa razão, utilizei notas de campo, nas quais pude escrever

minhas reflexões e observações sobre os procedimentos de minha sala de aula, além de

minhas interpretações, meus sentimentos, meus comentários sobre as ações planejadas e suas

mudanças, e também dos meus participantes.

As anotações foram realizadas em um caderno, sempre durante ou ao término das

aulas, totalizando vinte e cinco entradas. Meu objetivo era descrever as aulas, relatar minhas

reflexões sobre as mesmas e observar as impressões acerca das atitudes dos participantes

durante as aulas em si e nas apresentações orais.

Com esse instrumento de pesquisa, não tive intenção de interferir no processo de

ensino-aprendizagem dos alunos-participantes, nem de minha sala de aula. Decidi, também,

não criar um roteiro pré-definido para a descrição e para a reflexão dos fenômenos

136

observados, pois minha intenção era observar, descrever, compreender e/ou refletir sobre o

caso em seu contexto sócio-histórico natural sem minhas interferências diretas e/ou

intencionais como pesquisador.

Para retomar os instrumentos que utilizei para minha geração de dados e descritos

nesta subseção, apresento resumo no Quadro 13, a seguir. Eles foram essenciais para

interpretar os dados e responder às perguntas da pesquisa:

137

Quadro 13 – Quadro-resumo dos instrumentos da pesquisa

Instrumento de

pesquisa

Período de coleta Participante Ambiente de

coleta

Objetivo(s)

Questionários

Questionário I:

1o aula

Alunos-participantes

Laboratório de Informática

Verificar o perfil pessoal e acadêmico dos participantes. Avaliar as familiaridades,

dificuldades e facilidades com o uso das TDIC no cotidiano e na futura prática pedagógica do aluno-professor. Adquirir informações em relação às expectativas e eficácia ou não da disciplina curricular acadêmica.

Questionário II: 8o aula

Alunos-participantes

Laboratório de Informática

Avaliar familiaridade com interfaces tecnológicas digitais. Perceber o uso das interfaces na futura prática pedagógica do aluno-professor.

Questionário III: 25o aula

Alunos-

participantes

Laboratório de

Informática

Avaliar as preferências de uso, facilidades e dificuldades dos participantes em relação às interfaces digitais como aluno e futuro professor. Despertar a motivação para o uso

das TDIC. Avaliar a disciplina curricular

acadêmica.

Relato reflexivo

14o aula e durante todo

o semestre

Alunos-

participantes

Laboratório de

Informática

Refletir e comentar a respeito das

interfaces tecnológicas que cada

aluno utilizou e apresentou nos

seminários organizados em sala de

aula durante as semanas 07 e 08.

Entrevista

Dias 08 e 09 de outubro de 2015

Alunos-

participantes

Sala de aula

Elucidar e ampliar questões respondidas nos questionários.

Autoavaliação

31o aula

Alunos-participantes

Rede social Facebook

Avaliar o percurso acadêmico do

participante na disciplina. Avaliar a disciplina.

Atividades no

Facebook

Durante o semestre

letivo de 2013

Alunos-

participantes

Rede social Facebook

Ampliar a visão dos participantes sobre TDIC e sua formação como futuro professor de inglês.

Notas de campo

Da 1o a 25o aulas

Professor-pesquisador

Laboratório de Informática

Anotar reflexões e observações sobre os procedimentos de sala de aula. Anotar interpretações, sentimentos, comentários sobre as ações planejadas e suas mudanças e

também dos participantes.

Fonte: elaborado pelo autor.

138

Para ser mais preciso, no que tange aos dados de minha pesquisa, ressalto que foram

gerados durante as aulas da disciplina Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de Línguas

Estrangeiras, realizadas no Laboratório de Informática (LabInf), sediado no segundo andar do

Instituto de Letras e Comunicação (ILC), nas dependências da Faculdade de Letras

Estrangeiras Modernas (FALEM). Esse laboratório se constitui de uma sala de dezoito

computadores, distribuídos em semicírculo, que funcionam de maneira adequada, pois estão

conectados à Internet, possuem microfones e câmeras de vídeo.

O espaço também está equipado com uma mesa, dois aparelhos de ar-condicionado e

uma lousa branca. O laboratório funciona nos três turnos letivos e há três monitores que se

reversam em turnos diferentes, para atender aos alunos e aos professores da graduação da

FALEM. É um espaço bem utilizado, principalmente, pelos alunos.

Finalmente, apresento, a seguir, os procedimentos que me permitiram analisar os

dados. Nesse sentido, descrevo as categorias de análise que me conduziram à organização

mais sistemática dos dados, de maneira que a possibilitar a realização desta pesquisa.

2.7 Procedimentos de análise dos dados

Creswell (2014) lembra que existem procedimentos a serem seguidos antes de se

analisar os dados propriamente ditos. Esses procedimentos estão interconectados e formam

uma espiral de atividade dos dados, como, por exemplo, “a organização dos dados, a

realização de uma leitura preliminar da base de dados, a codificação50

e organização dos

temas, a representação dos dados e a formulação de uma interpretação deles” (CRESWELL,

2014, p. 146).

Nessa direção, a sistematização dos dados de minha pesquisa seguirá como viés

metodológico a análise de conteúdo (AC) de Bardin (2011). Para essa pesquisadora, a análise

de conteúdo deriva de um conjunto de instrumentos metodológicos (polimorfo e

polifuncional), baseado na inferência (dedução lógica) de conhecimentos dos conteúdos. Por

essa razão, a análise de conteúdo “absolve e cauciona o investigador [...] pelo escondido, o

latente, o não aparente, o potencial de inédito (do não dito), retido por qualquer mensagem”

(BARDIN, 2011, p. 15).

50 Creswell (2014) adota os termos codificação e categorização como intercambiáveis.

139

Bardin (2011) salienta também que o foco desse tipo de análise está na palavra e em

sua significação (conteúdo) aplicados a todas as formas de comunicação, ou seja, conforme

Bardin (2011) e Franco (2012), a mensagem é o ponto de partida na análise de conteúdo, que

pode ser o texto (escrito ou falado), o gestual, o figurativo, o documental ou uma mensagem

diretamente provocada.

Tendo em vista esses pressupostos, Bardin (2011) apresenta duas funções

complementares para a análise de conteúdo de mensagens:

● uma função heurística: a análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão para a descoberta. É a análise de conteúdo

“para ver o que dá”;

● uma função de “administração de prova”: hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias, servindo de diretrizes, apelarão para

o método de análise sistemática para serem verificadas no sentido de

confirmação ou de uma informação. É a análise de conteúdo “para servir de prova.” (BARDIN, 2011, p.35-36, grifos da autora).

Outro aspecto mencionado por Bardin (2011) em sua proposta da análise de conteúdo

é o método das categorias, sendo esse de taxonomia para classificar de maneira sistemática e

criteriosa a mensagem, na tentativa de “fazer surgir um sentido capaz de introduzir alguma

ordem na confusão inicial” (BARDIN, 2011, p. 43). Complementando as ideias de Bardin

(2011), Franco (2012) salienta que o critério de categorização de análise de dados se constitui

de duas maneiras distintas, a saber: categorias criadas a priori e categorias criadas a

posteriori.

A primeira categoria refere-se aos indicadores predeterminados em que o pesquisador

investiga uma resposta específica. Por sua vez, a segunda categoria caracteriza-se por um

sistema mais aberto, ou seja, as categorias não são definidas a priori, pois essas “emergem da

‘fala’, do discurso, do conteúdo das respostas” (FRANCO, 2012, p.65). Nessa direção, Bardin

(2011) e Franco (2012) afirmam que as categorias são os elementos centrais em uma análise

de conteúdo, apesar de suas formulações caracterizarem-se como um “processo longo, difícil

e desafiante” (FRANCO, 2012, p. 63).

Com base no que vem sendo discutido até o momento nesta subseção, reafirmo que a

análise de conteúdo proposta por Bardin (2011) se torna uma relevante técnica de

interrogação metodológica e linguística, com característica descritiva, sistemática e

(não)quantitativa do conteúdo das mensagens. Nessa perspectiva, concordo com a

pesquisadora quando apresenta a seguinte definição para análise de conteúdo:

140

um conjunto de técnicas das comunicações visando obter por procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) dessas mensagens. (BARDIN, 2011, p. 48).

Sendo assim, a análise de conteúdo se constitui de várias técnicas de comunicação,

proporcionando o levantamento de indicadores (quantitativos ou não), realizando, de forma

sistemática, a inferência de significações (explícitas ou não) na descrição e na interpretação

dos dados coletados.

Na tentativa de sistematizar os dados e responder minhas perguntas de pesquisa

(mencionadas na seção 2.1 desse capítulo), segui a orientação inicial proposta por Creswell

(2014), ou seja, organizar primeiramente os dados. Nesse sentido, os dados coletados, por

meio de os instrumentos de pesquisa mencionados na seção 2.6 deste capítulo foram

organizados em arquivos individuais em meu computador, no programa Word, exceto as notas

de campo. A razão que me levou a não deixar essas notas em arquivo no meu computador foi

que as minhas reflexões seriam analisadas, separadamente, no próprio diário utilizado para tal.

Considero, assim, que esses registros são pertinentes para me auxiliar na análise de meus

dados.

Em seguida, realizei uma leitura integral por várias vezes das transcrições realizadas

dos questionários, da entrevista, da autoavaliação, das atividades do Facebook e do relato

reflexivo de cada participante, além de minhas anotações em meu diário, para ter uma visão

geral de toda a base de dados e identificar mais de perto as mensagens dos participantes

(CRESWELL, 2014), na tentativa de identificar minhas deduções lógicas e conhecer melhor o

texto, deixando-me invadir por impressões e orientações (BARDIN, 2011).

Segundo Bardin (2011), essa é a fase da leitura flutuante, na qual mantive contato com

o meu material que seria analisado na tentativa de conhecer melhor seu conteúdo, a saber:

uma “leitura intuitiva, muito aberta a todas as ideias, reflexões, hipóteses, numa espécie de

brainstorming individual – quer seja parcialmente organizada, sistematizada, com o auxílio de

procedimentos de descoberta” (BARDIN, 2011, p. 75, grifo da autora).

Isso posto, o próximo passo está relacionado à exploração de meu material para a

definição de categorias dos dados. De acordo com Bardin (2011), as categorias possibilitam

classificar as mensagens de conteúdo dos participantes em agrupamentos comuns a partir de

critérios preliminares organizados, ou seja, complementando a visão desta pesquisadora,

141

Franco (2012) ressalta que a parte comum da mensagem possibilitará o seu agrupamento,

baseado em analogias, a partir de critérios definidos.

Dessa forma, Bardin (2011, p. 147) salienta que “as categorias são rubricas ou classes,

as quais reúnem um grupo de elementos [...] sob um título genérico, agrupamento esse

efetuado em razão das características comuns destes elementos”.

Portanto, os dados foram categorizados a partir dos três objetivos de minha pesquisa,

que conduziram as perguntas: São eles:

● verificar a aprendizagem e a prática pedagógica com o uso das TDIC na

percepção do aluno-professor da pesquisa;

● investigar a percepção dos alunos-professores da pesquisa em relação à inclusão das

TDIC no ensino-aprendizagem, e

● investigar o fomento do letramento digital dos alunos-professores de inglês em

formação.

As quatro palavras-chave em negrito dos objetivos apresentados anteriormente foram

o fio condutor para a classificação das categorias a priori, nas quais as palavras plenas

aprendizagem, prática pedagógica, inclusão das TDIC no ensino-aprendizagem e letramento

digital, portadoras de sentido (BARDIN, 2011), serviram de base para as categorias de minha

pesquisa.

Assim sendo, analisei e interpretei os conteúdos de cada resposta fornecida por cada

participante a partir dos instrumentos de geração dos dados, na busca dos sentidos explícitos

ou ocultos, apoiado em meu referencial teórico. Para Bardin (2011), esse é o momento das

interpretações inferenciais, da análise reflexiva, para o tratamento gerado pelos resultados dos

dados.

Com essas reflexões, anuncio, assim, o final deste capítulo, que teve como propósito

central apresentar a metodologia que conduziu a presente pesquisa. Passo, a seguir, para o

próximo capítulo, no qual apresento os resultados, inferências e interpretação da análise dos

dados, ou seja, no qual procurarei dar sentido aos dados, às lições aprendidas (CRESWELL,

2014), correlacionando-os com meu referencial teórico desenhado no capítulo 1 deste estudo.

142

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Interpretar pode ser considerada a arte de dar seu

próprio significado a seus dados recompostos e

arranjos de dados. Esta fase articula toda a

análise e ocupa seu topo. [...] Dados não falam

“por si mesmos”. A ocasião mais próxima pode

ser quando a interpretação de todas as pessoas do

mesmo conjunto de dados tende a coincidir.

Entretanto, tal convergência de opiniões pode não

ocorrer exceto em raras circunstâncias. Assim, a

qualidade de sua interpretação pode fazer a

diferença no modo como seu estudo é visto.

(YIN, 2016, p. 185)

Apresento e discuto, neste capítulo, os resultados da análise dos dados da pesquisa,

subsidiados por seis instrumentos de geração de dados, a saber: questionários inicial,

intermediário e final; entrevista; relato reflexivo; autoavaliação; atividades no Facebook e

notas de campo.

Esses instrumentos, juntamente com a fundamentação teórica apresentada no primeiro

capítulo desta pesquisa, me permitiram responder as três perguntas da pesquisa propostas

neste estudo. São elas:

a) Como o uso das TDIC se faz presente na aprendizagem e na prática pedagógica na

percepção de futuros professores de inglês?

b) Quais percepções os alunos-professores revelaram em relação à inclusão das TDIC

no processo de ensino-aprendizagem?

c) Como a disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras

contribuiu para o fomento do letramento digital dos alunos do curso de Letras-

Inglês?

Este capítulo está dividido em três seções, que correspondem, primeiramente, ao

percurso de cada um dos quatro participantes de minha pesquisa, Lasn, Lukan, Ralph e Tom,

relacionado à aprendizagem e à prática pedagógica, de acordo com suas percepções. Em

seguida, menciono as percepções dos quatro participantes em relação à inclusão das TDIC no

processo de ensino-aprendizagem. Finalmente, apresento a contribuição da disciplina

143

curricular acadêmica para o fomento do letramento digital desses alunos do curso de Letras-

Inglês.

Assim sendo, trago à tona os excertos de fala e as inferências dos quatro participantes,

aqui triangulados, sob o ponto de vista da fundamentação teórica e por meio dos seis

instrumentos de geração dos dados, que contribuíram para responder as três perguntas da

pesquisa elencadas anteriormente.

3.1. O percurso de LASN

Como mencionei no capítulo anterior, Lasn usa, com muita frequência, as interfaces

digitais em seu dia a dia para realizar diversas atividades, desde pesquisas acadêmicas a

downloads de aplicativos de músicas, por exemplo. A aluna-professora51

sempre gostou de

ensinar, razão pela qual decidiu cursar Letras-Inglês, sua primeira opção de ingresso na

universidade.

Apesar de estar em contato diariamente com várias tecnologias digitais, Lasn

apresentava insegurança ao usá-las para fins pedagógicos no início do semestre. Não obstante,

enxergava suas potencialidades como fundamentais para um trabalho diferenciado no ensino-

aprendizagem da língua inglesa no contexto educacional atual.

Durante o semestre, pude observar a participação ativa da aluna-professora, seja nas

discussões realizadas em sala de aula ou nos seminários, seja nos trabalhos escritos,

individuais ou em grupo, ou nas atividades extraclasse. Lasn sempre mostrou interesse pelas

aulas e em aprender mais e mais sobre como as TDIC poderiam ajudá-la em seu contexto,

pois atuava como professora do Ensino Fundamental I no momento de geração dos dados para

esta pesquisa.

A seguir, apresento sua percepção a respeito da aprendizagem e da prática pedagógica

para o uso das TDIC, ilustrados e analisados com os excertos retirados dos instrumentos da

pesquisa que utilizei.

3.1.1 Aprendizagem com o uso das TDIC

51 Para a análise, decidi referir-me aos participantes da pesquisa como aluno-professor, pois minha pesquisa foi

realizada com alunos do curso de Letras, futuros professores de inglês. Dessa forma, ao me direcionar apenas ao

aluno e ao professor, refiro-me aos alunos de minha turma ou a aluno de maneira geral e ao professor, também,

de maneira geral, respectivamente.

144

Lasn revela que os alunos parecem já possuir uma familiarização com o uso das TDIC

por fazerem parte de uma geração de crianças e de jovens nascidos em um ambiente digital,

além de serem usuários frequentes. Segundo ela, o uso cotidiano das TDIC leva essa geração

de alunos a conhecerem suas funcionalidades e dominá-las com certa propriedade, como pode

ser observado no excerto a seguir:

Transcrição 1: entrevista

Marcus: Esclarece para mim a sua fala no questionário inicial, quando você

diz: “a facilidade que se dá pelo fato dos alunos terem amplo conhecimento sobre o assunto [uso da tecnologia]”.

Lasn: [...] o fato das crianças e dos jovens 52

nascerem em uma era digital,

em uma era em que usam a tecnologia de diversas formas, para jogar, bater papo no Face(book), baixar e ouvir música, postar fotos, né? estão

mais inseridos nesse meio. Trabalhar com algo que eles conhecem no dia a

dia é uma forma de facilitar o ensino de inglês, na minha opinião.

Marcus: Isso ajuda? Lasn: Sim, porque as crianças e os jovens já conhecem a tecnologia, eles já

têm um certo domínio, ainda que eles não conheçam essa tecnologia para

aprender, para a questão pedagógica, mas eles já conhecem como funciona

porque são usuários frequentes no dia a dia, então isso já facilita muito.

[...] trabalhar com algo que eles já conhecem é muito melhor, pode tornar

a aprendizagem de inglês mais interessante e desafiadora para eles [alunos].

O argumento da aluna-professora aponta para uma geração de alunos, de crianças e de

jovens, que já nasceu inserida na tecnologia digital, razão pela qual a conhece e a domina, o

que pode facilitar, segundo ela, o ensino-aprendizagem da língua inglesa. O ponto de vista de

Lasn corrobora as ideias de Veen e Vrakking (2009) e Tapscott (2010) ao afirmarem que a

geração de crianças e de jovens da atualidade, que denominam de geração Z, dominam as

tecnologias digitais, porque nasceram em um mundo tecnológico. Essa geração está mais

exposta, constantemente, às interfaces tecnológicas digitais, o que ajuda a conhecer suas

funcionalidades e suas operacionalizações.

Pode-se verificar, ainda, no excerto final da entrevista anteriormente mencionada, que

a aluna-professora deixa transparecer a interligação das tecnologias com o aluno como algo

natural, por serem usuários que estão diariamente cada vez mais conectados. Ademais, Lasn

enumera também algumas atividades que os alunos realizam nesse meio digital, como jogar

games, conversar pelo Facebook, baixar aplicativos de música para ouvi-la e publicar fotos.

52

Decidi destacar em negrito alguns excertos dos alunos-professores com o objetivo de ressaltar informações

relevantes, para que possam me ajudar a analisar os resultados desta pesquisa.

145

Por essa razão, torna-se mais interessante e desafiador trabalhar com algo que os alunos, a

princípio, já estão familiarizados, segundo a visão da aluna-professora.

As considerações de Lasn estão em consonância com o pensamento de Prensky (2010,

2012, 2015) ao salientar que a tecnologia pode se constituir uma aliada favorável para o aluno

na esfera educacional pelo fato de conhecer e de dominar sua função e sua instrumentalização

para o entretenimento, por estar cada vez mais presente em seu cotidiano. Para esse autor,

trazer as tecnologias para o contexto escolar do aluno é permitir sua inclusão digital e torná-lo

um cidadão participativo e reflexivo no mundo contemporâneo. A visão de Lasn mostra uma

conscientização para o nicho das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês do aluno, visto que

a aluna-professora ressalta a importância da familiarização que o aluno já possui com essas

tecnologias como uma parceria viável e concreta.

Lasn complementa seu pensamento ao afirmar, no próximo excerto, a dinamicidade, a

agilidade e a flexibilidade das TDIC nos tempos atuais, pois a geração Z realiza várias

atividades ao mesmo tempo, em função de sua exposição a essas tecnologias:

Transcrição 2: questionário final

Lasn: Os recursos tecnológicos são dinâmicos, ágeis e flexíveis, ou seja,

estão de acordo com a atual geração de crianças e jovens que pensa

diferente dos adultos e realiza diversas atividades ao mesmo tempo,

ouvir música, assistir a TV e conversar com as pessoas no Face(book), entre

outras.

A fala da aluna-professora está em consonância com as ideias de Cecchettini (2011) e

Fava (2014, 2016) ao afirmarem que a geração Z é multitarefada, consegue realizar duas, três

ou mais atividades ao mesmo tempo, sem perder a concentração. Assim, a fala de Lasn leva-

me a deduzir que as TDIC podem ajudar o aluno a realizar atividades pedagógicas diversas de

inglês nesse novo contexto da educação da era digital, modificando e alterando sua

aprendizagem, para que se possa manter seu interesse e sua motivação na escola. Ademais,

considera-se, também, que as crianças e os jovens pertencem a uma geração dinâmica, ágil e

flexível, como as TDIC.

A partir da fala de Lasn, pode-se observar de que forma ela percebe como o uso das

TDIC podem facilitar a aprendizagem do aluno, uma vez que, para a participante, esse aluno:

- nasceu em uma era digital;

- usa as TDIC com certa familiaridade em atividades de entretenimento;

- possui um certo domínio das TDIC;

146

- conhece como as TDIC funcionam e

- realiza diversas atividades ao mesmo tempo por meio das TDIC.

3.1.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC

Lasn demonstra conscientização acerca do papel do professor para o uso das TDIC no

contexto educacional contemporâneo, que comunga com as necessidades da geração atual de

alunos. Conforme afirmado anteriormente no Capítulo do Quadro Teórico desta pesquisa, as

tecnologias estão a serviço do homem para tornar suas atividades e suas práticas acessíveis

em seus cotidianos. O excerto abaixo apresenta essa observação:

Transcrição 3: questionário final

Lasn: Cabe ao professor rever e atualizar as suas estratégias de ensino e

de aprendizagem para melhor atender a atual geração de alunos, cada um

com seus interesses e suas necessidades próprios. Hoje, vejo as crianças e os

jovens cada vez mais independentes, mais ativos, pois a tecnologia possibilita isso. Por isso, acho que o professor não é o único que sabe mais

nessa nova era. As tecnologias aproximam cada vez mais o professor e o

aluno, o que torna o professor um (co)orientador, que precisa trabalhar

em parceria com seus alunos.

Pode-se observar a preocupação da aluna-professora em relação ao papel do professor

em melhor atender aos interesses e às necessidades dos alunos, percebendo as TDIC como

uma interface mediadora entre o fazer do professor e o aprender do aluno em sala de aula. O

professor, atualmente, encontra-se em uma posição de aprendiz na era digital e não como um

sujeito que domina o conhecimento completamente, razão pela qual a educação bancária

(FREIRE 1968/2014) se torna menos aceitável nessa nova era.

Com as mudanças ocasionadas pelas tecnologias, o professor terá de modificar a sua

forma de ensinar, pois o aluno modificou a sua maneira de aprender, o que me leva a

concordar com Masetto (2013, p. 143), ao pontuar que “nem todos aprendem do mesmo

modo, no mesmo ritmo e ao mesmo tempo”. Nesse sentido, o ensino mediado pelo uso das

TDIC pode respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem de cada aluno.

Lasn ainda menciona em seu relato reflexivo algumas considerações encontradas nas

interfaces digitais para a prática pedagógica do professor ao fazer referência ao seminário

apresentado por ela e por seus colegas de equipe e de turma em sala de aula, a respeito do uso

147

de várias dessas interfaces selecionadas pelos alunos-professores e pelo professor-

pesquisador. O excerto a seguir pode ilustrar essa ponderação:

Transcrição 4: relato reflexivo

Lasn: Todas as ferramentas apresentadas tinham um público-alvo, um

objetivo específico. Então, dependendo de meu objetivo, uma ferramenta é

mais apropriada que outra. Todas têm algo de positivo, vai depender do meu objetivo, o que quero ensinar e de que maneira. Assim, entra a questão de

saber adaptar. Se vou ensinar inglês em uma turma, por exemplo, do sexto

ano, eu não vou pedir uma certa atividade que esteja além da capacidade das

crianças, porque elas vão ficar confusas e aquilo vai ficar cansativo, e vou explicar várias vezes. Logo, esse fator pode levar a atividade a não ser bem

sucedida.

Observa-se a preocupação da aluna-professora em adaptar a atividade com a interface

digital escolhida para um determinado propósito de ensino-aprendizagem para um

determinado grupo de alunos. A interface em si, escolhida para qualquer objetivo, não

oportunizará eficiência e sucesso para a aula do professor. Por essa razão, o excerto número

quatro leva-me a deduzir a importância de um olhar reflexivo para a prática do professor

como forma de tomar decisões sobre sua ação e suas escolhas a serem feitas (RAMOS;

FREIRE, 2009; CELANI, 2010b; LIBERALI, 2010; RAMOS, 2010, entre outros) para o uso

consciente das TDIC em seu próprio contexto de ensino e de aprendizagem.

Essa análise mostra que para Lasn a prática pedagógica do professor para o uso das

TDIC deve:

- rever e atualizar estratégias de ensino e de aprendizagem;

- atender a atual geração de alunos;

- identificar o público-alvo e o(s) objetivo(s);

- saber adaptar a um determinado contexto de ensino e de aprendizagem;

- tornar essa prática interligada com o aprender do aluno e

- trabalhar em parceria com o aluno.

Por meio da análise dos dados, pode-se observar que Lasn parece ter consciência

acerca das contribuições oferecidas pelo uso das tecnologias digitais da comunicação e

informação para a aprendizagem do aluno assim como para a prática pedagógica do professor.

Em relação às contribuições das TIDC para a aprendizagem do aluno, Lasn acredita que pelo

fato de os alunos nascerem em uma época digital, eles conhecem e sabem usar as interfaces

com frequência em seu cotidiano para realizar diversas atividades, como mostra o excerto da

148

transcrição de número um. Esse conhecimento pode possibilitar, assim, uma ação pedagógica

eficaz, sistematizada, para o ensino-aprendizagem de inglês.

A aluna-professora reconhece também que os alunos atualmente pensam e agem

diferentemente dos adultos, por estarem inseridos em um mundo em que as TDIC estão cada

vez mais presentes, como mostra o excerto da transcrição de número dois, pois as interfaces

digitais, segundo ela, são dinâmicas, ágeis e flexíveis.

Lasn parece apontar para um contexto atual totalmente mutável, razão pela qual o

aluno, inserido nesse novo contexto, também mudou. Assim como as tecnologias, o aluno

também é dinâmico, realiza várias ações ao mesmo tempo, como mostra o excerto da

transcrição dois; é ágil, conecta-se e procura o que deseja com rapidez; é flexível, adapta-se

ao mundo e às inovações tecnológicas com facilidade. Para Lasn, as TDIC podem viabilizar o

ensino-aprendizagem de inglês do aluno, ou seja, trazer para o ambiente de sala de aula o que

é familiar fora dele.

Nessa perspectiva, compreendo a importância de trazer e de integrar à sala de aula o

que já está legitimado fora dela, a cultura mediada pela tecnologia e todas as suas

potencialidades. Assim sendo, compartilho a visão de Buckingham (2010, p. 42) quando

afirma que “se as escolas de certa forma não foram atingidas pelo advento da tecnologia

digital, o mesmo não pode ser dito da vida das crianças quando estão fora da escola”.

Complementando a visão do autor, acrescento também os jovens e os adultos nesse contexto.

No que diz respeito às contribuições das TDIC para a prática pedagógica do professor,

Lasn acredita que as TDIC podem facilitar seu trabalho, pois, com seus usos funcionais, o

professor pode rever e atualizar estratégias de ensino e de aprendizagem para melhor adaptá-

las às tendências atuais, além de atender a geração atual de alunos, como mostra o excerto

número três.

A percepção de Lasn com relação às contribuições de uso das TDIC, tanto para a

aprendizagem do aluno como para a prática pedagógica do professor, fazem-me inferir que é

possível aprender e ensinar inglês por meio dessas tecnologias. No entanto, entendo que é

preciso que o professor possa fazer as adaptações necessárias à sua prática, para atender às

necessidades e às expectativas de seus alunos. Diante disso, não há como negar a importância

da inserção das tecnologias no contexto educacional brasileiro da contemporaneidade.

3.2 O percurso de LUKAN

149

Lukan revela-se um aluno com muita familiaridade com a tecnologia. Usa o

computador e o celular, frequentemente, para estudar, verificar e-mail, acessar as redes

sociais, entre outras atividades. Dentre os participantes de minha pesquisa e dos alunos da

turma, ele pode ser considerado com conhecimento avançado sobre o assunto. Além disso,

sempre pesquisava novas interfaces digitais que pudessem ser usadas em seu cotidiano.

Mesmo assim, buscava na disciplina curricular sobre tecnologia maneiras de usar as

TIDC no ensino-aprendizagem de inglês. Para ele, seu maior desafio era integrar atividades e

habilidades da língua com tecnologia, pois, segundo ele, os alunos nascem e vivem em uma

era digital. Ele sempre se identificou com a língua inglesa, o que o fez cursar Letras. Assim

como Lasn, esse curso foi sua primeira opção de ingresso à universidade.

Lukan sempre se mostrava interessado, com ideias que contribuíam para o bom

andamento da disciplina e, sempre disposto e atencioso, buscava ajudar a mim e aos colegas

de turma. Na época da geração dos dados, ele não trabalhava como professor.

A seguir, apresento sua visão a respeito da aprendizagem e da prática pedagógica a

partir do o uso das TDIC, ilustrados e analisados com os excertos retirados dos instrumentos

de pesquisa que utilizei.

3.2.1 Aprendizagem com o uso das TDIC

Lukan aponta que as tecnologias podem ser interfaces digitais atraentes para a

aprendizagem de inglês dos alunos, motivando-os cada vez mais em suas atividades escolares.

O excerto a seguir explana essa observação:

Transcrição 6: questionário intermediário

Lukan: As tecnologias nos ajudarão a planejar aulas mais interativas e

atrativas aos alunos para aprenderem inglês, pois se sentirão mais

motivados no trabalho com a língua em sala de aula.

É possível perceber que Lukan possui uma visão motivadora para o uso das

tecnologias com os alunos no contexto escolar. Segundo ele, as aulas bem planejadas com as

TDIC podem contribuir para a interação e a inclinação dos alunos para a aprendizagem de

inglês. As ponderações de Lukan parecem fazer sentido quando percebe a necessidade de

olhar para o planejamento da aula para se chegar ao aluno, ou seja, aulas mais interativas e

atrativas são sinônimos de alunos mais motivados, em sua opinião.

150

Possivelmente, a interatividade proporcionada pelas TDIC leve o aluno-professor a

pensar dessa maneira, pois os alunos usam interfaces digitais que podem ser interativas e

atraentes. Nesse sentido, corroboro as ideias de Ribeiro (2016, p. 161) ao reforçar que “a

escola tem de estar atenta e aberta às mudanças que a inserção da sociedade no mundo digital

exige para a socialização das novas gerações”.

Lukan ainda destaca, na entrevista e em seu relato reflexivo, o uso do computador e do

celular como interfaces digitais-pedagógicas para o ensino-aprendizagem de inglês, pois,

segundo ele, são muito familiares aos alunos para atividades de entretenimento. Assim como

pontuou Lasn, para Lukan, familiaridade com as interfaces aqui mencionadas podem facilitar

seus usos para a realização de atividades com propósitos voltados ao ensino. Os excertos a

seguir ilustram seu ponto de vista:

Transcrição 7: entrevista

Marcus: Na sua opinião, como futuro professor, que facilidades você aponta

para o uso dos recursos tecnológicos?

Lukan: Os alunos utilizam muito o computador, o telefone, né? Então, se puder trazer isso para ensinar inglês ao aluno, vai ser bom.

Marcus: Bom em que sentido?

Lukan: Porque normalmente a gente proíbe, “não, não pode utilizar o

computador em sala ou o tablet ou mesmo o celular”. Então fazendo

alguma atividade com a língua (inglesa) relacionada a isso eles vão ficar

mais livres.

Marcus: Livres para quê? Lukan: Eles estão mais acostumados a utilizar esses aparelhos no dia a

dia [...] que eles são em certo ponto viciados nessa tecnologia. Então, tirar

vantagem disso [...] para ensinar inglês. Acho que daria um upgrade na aula.

Transcrição 8: relato reflexivo

Lukan: A tecnologia é importante. Nesse caso, seria também importante usar com propósito pedagógico [...] trazer para sala de aula e fazer o aluno

aprender com ela. No caso [...] utilizar o computador para fazer pesquisas,

trabalhos [...] para eles [os alunos] verem que podem utilizar o computador para diversão, mas também para estudar e aprender inglês [...]. Então, eles

aprenderiam dessa forma mais inovadora, diferente, na minha opinião.

É relevante salientar que Lukan, assim como Lasn mencionou anteriormente, revela

uma conscientização de uso das TDIC para fins pedagógicos, ou seja, inserir no contexto

escolar dos alunos o que é familiar fora dele para aprenderem inglês. Essa atitude de Lukan

remete a sua preocupação com o ensino de inglês, inter-relacionando-o com as facilidades de

uso que as tecnologias podem ocasionar.

151

O importante, segundo ele, não é mais proibir o uso das tecnologias (computador,

tablet e celular) entre os alunos, mas agregá-las e tomá-las aliadas para o ensino da língua

inglesa, o que pode se tornar um aspecto mais que positivo. Como bem salientam Bates

(2016), o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2014, 2016) e Fava (2014, 2016), as TDIC são

interfaces catalisadoras para práticas didático-pedagógicas que podem se tornar motivadoras e

transformadoras no processo de ensino-aprendizagem.

Apesar de Lukan mencionar o uso do celular para a aprendizagem de inglês, ele

possivelmente ainda não tem conhecimento da legislação brasileira que proíbe o uso desse

aparelho, mesmo para fins pedagógicos, na maioria das escolas públicas brasileiras. Não

obstante, não vejo esse fator como um ponto negativo, pois ele certamente terá ciência da lei

ao exercer a profissão.

Ademais, como mencionado no capítulo dois desta tese, esse aluno-professor tem

conhecimento amplo sobre várias interfaces tecnológicas, o que não prejudicaria seu trabalho

com os alunos, podendo usar, inclusive, o computador, como mencionado por ele, para

realizar pesquisas para o ensino-aprendizagem de inglês. Em linhas gerais, Lukan parece

entender que as TDIC se tornam relevantes para ensinar e aprender essa língua estrangeira

além de ser uma forma de inovação no contexto de sala de aula.

Interessante observar no excerto número oito que Lukan associa a inserção das

tecnologias a uma forma de inovação ao contexto escolar. Fica evidenciado em sua fala que o

uso da tecnologia, por si mesma, já significa mudanças significativas na aprendizagem de

língua inglesa. Essa constatação se justifica pelo fato de as tecnologias provocarem

transformações generalizadas e profundas na vida das pessoas, seja no campo profissional,

social e acadêmico, seja no âmbito cultural, econômico e de entretenimento.

Compreendo a visão de Lukan a esse respeito, porém entendo que as tecnologias

usadas com propósitos inovadores no ensino-aprendizagem de inglês precisam fazer a

diferença, provocar uma mudança qualitativa nas escolas, e também incluo as universidades.

Assim sendo, parafraseando o pensamento de Gilleran (2006), vejo que a simples presença

das TDIC nas salas de aula não significa, por si mesma, uma mudança pedagógica, se, ao

mesmo tempo, não forem introduzidos conhecimentos e interfaces digitais pedagógicas

adequados.

Diante do que foi discutido, os excertos das falas de Lukan levam-me a inferir que os

benefícios de uso das TDIC para a aprendizagem do aluno são:

- planejamento de aulas mais interativas e atrativas;

- motivação para o trabalho com a língua inglesa;

152

- utilização do computador e do celular;

- atividades com o computador e com o celular;

- familiaridade com computadores e celulares e

- uso com propósito pedagógico para aprender inglês

3.2.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC

Ao mencionar a prática pedagógica do professor com o uso das TDIC, Lukan

demonstra a importância da formação e da adaptação do professor para a nova realidade

digital, na busca de novas formas de ensinar. Os excertos abaixo ilustram essas observações:

Transcrição 9: atividade do Facebook

Lukan: Eu acredito que a tecnologia está aí para melhorar a nossa vida, e

por que não utilizá-la na sala de aula? O professor precisa estar

sempre atualizando as suas práticas pedagógicas, principalmente, no que diz respeito ao uso de tecnologia. É de suma

importância a utilização das TDIC.

[...]

As tecnologias estão aí na nossa “porta”. É preciso que o professor

se adeque a esta nova realidade e busque novas maneiras de

ensinar inglês e trazer as tecnologias para a sala de aula. Sei que as

vezes não é fácil, mas, acredito que seja uma maneira eficiente de

atingir o aluno-geração Z.

Por suas declarações, Lukan percebe a relevância para o professor de se atualizar e

melhorar a sua prática pedagógica com o uso das tecnologias, pois estão disponíveis

facilmente. O aluno-professor declara, também, que o professor da contemporaneidade

precisa buscar novas formas de ensinar a língua, pois se vive uma nova realidade, o que

implica no mesmo pensamento de Lasn. Por essa razão, Lukan e Lasn corroboram as ideias de

Kenski (2012a, 2012b), Cortella (2014) e Bates (2016) quando afirmam que os tempos

mudaram e os alunos, também.

Nesse contexto, segundo Lukan, o professor bem mais consciente para o uso das TDIC

pode envolver e atrair a atenção dos alunos, a geração mais digital de todos os tempos,

conforme salientam Tapscott (2010), Cecchettini (2011) e Fava (2014, 2016). O que me faz

mencionar Moran (2012) sobre esse assunto ao entender que o domínio pedagógico das TDIC

153

pelo professor não é uma tarefa fácil, porém complexa, e que precisa ser considerada a longo

prazo.

Dessa forma, percebo que o uso e o domínio das TDIC constituem um trabalho diário,

de parceria, entre as instituições de ensino e o professor, (e por que não incluir, também, o

aluno?), pois, juntos, podem propor mudanças pontuais imediatas, para, no futuro, tomarem

decisões conscientes em relação à prática de sala de aula, para o ensino da língua inglesa.

O pensamento de Lukan é complementado na entrevista ao pontuar, mais uma vez, as

facilidades de uso, para o professor, que as TDIC podem trazer para o contexto da sala de aula

de inglês, por serem interfaces digitais já conhecidas pelos alunos no dia a dia. O excerto

abaixo ilustra o posicionamento desse aluno-professor:

Transcrição 10: entrevista

Marcus: Explica para mim como o professor pode usar as TDIC na sala de

aula?

Lukan: O professor precisa utilizar a tecnologia como uma ferramenta de

interação, como a gente usa para se divertir, não é? Isso chama a atenção do

aluno [...] então o professor vai perceber que pode ensinar inglês com essas

mesmas tecnologias na sala de aula também [...] com o computador, o celular.

Marcus: Isso ajuda?

Lukan: Claro que ajuda [...] imagina ficar só no livro didático uma aula inteira? Fica uma aula chata, não é?

Marcus: Mas por quê?

Lukan: Ah... o aluno quer novidade [...] quer mexer no celular, no

computador. Imagina uma aula que o aluno faz uma atividade com o blog? ou descobre um site novo de pronúncia, por exemplo, e compartilha com os

colegas. É essa interação que ele quer.

Marcus: Você acha mesmo? Lukan: É claro, professor, aluno não quer ficar parado [...] quer sempre

fazer alguma coisa. Sala de aula também é pra isso.

Marcus: Para isso o quê? Lukan: Usar as tecnologias para aprender inglês. Eu acho que dá super certo.

Percebe-se, pois, que Lukan reconhece o caráter interativo das tecnologias e que pode,

com isso, facilitar a aprendizagem de inglês em sala de aula. Ele é favorável a aumentar o

interesse dos alunos a partir de algo que lhes é familiar no dia a dia. Possivelmente, o caráter

analógico do livro didático impresso e seu caráter estático venha a contribuir para aulas

tediosas e chatas, segundo seu ponto de vista. Assim sendo, as ideias de Lukan estão em

consonância com as de Prensky (2012) e Silva (2013) ao salientarem que as crianças e os

jovens chegam à sala de aula com pouca paciência para aulas expositivas, instruções

sistemáticas, para testes e ficam mais distraídos quando o assunto não lhe chama a atenção.

154

Esse fato pode ser entendido levando em consideração que Lukan, por ter um domínio

significativo das TDIC e usá-las com frequência para diversas atividades, cotidianamente,

pense como um usuário que cresceu e se desenvolveu nesse ambiente digital, como a maioria

das crianças e dos jovens. As TDIC podem transformar as práticas sociais de todas as pessoas

e levar essas tecnologias para a sala de aula poderá tornar o ambiente participativo e

interativo, além de a aprendizagem de inglês poder ficar interessante.

Pelo que o excerto número dez indica, Lukan aponta para a necessidade de a sala de

aula tornar-se uma extensão do mundo digital vivido pelo aluno, o que ajudaria a mantê-lo

ocupado. Essa realidade confirma a tese apontada por Leffa (2016, p. 82) ao reforçar que “a

sala de aula não é uma redoma de vidro, isolada do mundo, e o que acontece dentro da sala de

aula está condicionado pelo que acontece lá fora”.

Como observado, Lukan mostra que os benefícios de uso das TDIC para o contexto do

professor se referem à:

- atualização das práticas pedagógicas;

- adequação à nova realidade do aluno;

- busca de novas maneiras de ensinar inglês;

- uma ferramenta de interação e

- uma novidade para o processo de ensino-aprendizagem.

Finalmente, com base nas considerações de Lukan até aqui apresentadas, observa-se

uma inclinação favorável tanto para a aprendizagem como para a prática pedagógica com o

uso das TDIC.

A sociedade atual vive processos de mudanças tecnológicas constantes, o que leva os

sujeitos (alunos, professores, gestores, pedagogos) que atuam na escola a mudarem o seu

fazer, como forma de atender às novas demandas da educação, por exemplo, e aos novos

papéis exigidos pelo mundo globalizado. É nesse sentido, possivelmente, os benefícios

apontados por Lukan para o uso das tecnologias digitais da informação e comunicação no

processo de ensino-aprendizagem de inglês.

No que tange à aprendizagem, Lukan apresenta-se favorável ao uso do computador e

do celular para a realização de atividades em inglês, pelo fato de os alunos, e ele mesmo,

estarem familiarizados com as interfaces digitais em seu cotidiano, assim como afirma Lasn.

O aluno-professor reconhece as potencialidades das TDIC em relação ao planejamento de

aulas, que podem se tornar interativas e atrativas, motivando o aluno a estudar e a aprender

inglês, como mostra o excerto número seis. O pensamento de Lukan é o mesmo de Lasn para

esse aspecto.

155

Por sua vez, a prática pedagógica do professor será bastante beneficiada com o uso das

TDIC, segundo Lukan. Para o aluno-professor, essas tecnologias podem contribuir para

práticas pedagógicas atualizadas, além de se adaptarem à nova realidade do aluno, o que pode

fazer o professor buscar novas maneiras de ensinar inglês, como mostrado no excerto número

nove.

O professor precisa mudar, também, sua prática docente, para torná-la

pedagogicamente mediada pelas TDIC. Nessa direção, Lukan demonstra que as TDIC são

também interfaces digitais interativas, além de representarem uma novidade para o ensino, o

que pode proporcionar interesse para a aprendizagem de inglês por parte do aluno. Em outras

palavras, a novidade com o uso das tecnologias pode impulsionar a aprendizagem do aluno.

Desse modo, parece pertinente mencionar, considerando as falas dos excertos de Lukan, que

as TDIC podem melhorar o ensino-aprendizagem de habilidades linguísticas no contexto de

sala de aula.

Na visão de Lukan, ao argumentar a favor dessa possível melhora no ensino-

aprendizagem de inglês por meio de as tecnologias, as mudanças devem começar pelo

professor, repensando sua maneira de ensinar, redesenhando seu currículo de acordo com os

interesses de seus alunos, mudando seus métodos e suas abordagens, centrando a

aprendizagem no aluno. Além disso, a meu ver, a escola deveria oferecer uma infraestrutura

tecnológica mínima com laboratórios equipados com computadores em perfeito

funcionamento e/ou Internet nas salas de aula.

Dessa forma, o professor teria oportunidade para pesquisar e para integrar interfaces

tecnológicas digitais apropriadas à habilidade de inglês que desejasse ensinar, estabelecendo

uma relação consciente adequada às necessidades de seus alunos no processo de ensino-

aprendizagem. Por essa razão, vejo a importância da inclusão de disciplinas nos cursos de

Letras que levem o professor a refletir e a entender o uso e a integração das tecnologias no

contexto escolar, pois “integrar tecnologias digitais à nossa prática de ensino significa que

precisamos de novas habilidades, além das puramente pedagógicas (DUDENEY; HOCKLY;

PEGRUM, 2016, p. 305).

Lukan, assim como Lasn, mostra-se consciente acerca das potencialidades de uso das

TDIC no contexto educacional da contemporaneidade, pois, para o participante, o seu uso está

mais que sacramentado fora dele. Os alunos-professores veem facilidades em práticas

pedagógicas integrando interfaces das TDIC, pois acreditam, e comungo com suas posturas,

que as tecnologias podem ajudar o aluno a aprender inglês de maneira participativa, interativa

e dinamicamente.

156

Nessa perspectiva, defendo uma prática pedagógica digital em que a tecnologia seja

uma interface digital comunicativa de busca, de criação, de criatividade e de pesquisa para o

professor no ensino-aprendizagem da língua inglesa. Podendo também o aluno, contemplado

por meio dessa prática, se tornar autônomo e crítico para gerenciar sua própria aprendizagem,

na tentativa de selecionar, investigar, refletir, aprender, compartilhar e produzir a informação

na sociedade contemporânea com a ajuda potencial e educacional das tecnologias. O que me

leva a concordar com Buckingham (2010, p.49) ao salientar que os alunos “precisam ser

capazes de avaliar e usar a informação de forma crítica se quiserem transformá-la em

conhecimento”.

O ensino precisa ser desafiador para o aluno, o que leva o professor a se especializar e

a compreender cada vez mais as especificidades das interfaces tecnológicas digitais, para

adaptá-las ao seu fazer pedagógico. Dessa forma, é preciso lembrar que a formação docente,

principalmente para o aluno do curso de Letras, se torna necessária, para que mudanças

concretas possam acontecer na tentativa de se repensar novas futuras ações do professor em

seus futuros contextos de ensino-aprendizagem de inglês mediados pelo uso das tecnologias

digitais da informação e comunicação, com currículos menos rígidos e menos prescritivos. O

currículo na formação de professores deveria ser pensado como mediador potencial às

diversidades e às necessidades dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Por essa razão, vejo a relevância de um web currículo (ALMEIDA, 2014) que possa

possibilitar um ensino-aprendizagem planejado e direcionado para a prática crítica de sala de

aula, com a inserção, o uso funcional e pedagógico das TDIC. Caso contrário, penso que os

cursos de formação de professores terão poucas possibilidades de reflexão, tornando-se

carentes de uma base teórica explícita, como aponta Moita-Lopes (1996), e de mudanças nas

práticas tradicionais de ensino, por exemplo, da atuação do professor como reprodutor passivo

do livro didático.

3.3 O percurso de RALPH

Ralph usa a tecnologia com frequência em seu cotidiano assim como seus colegas

Lasn e Lukan, principalmente, o computador e o telefone celular, realizando todo tipo de

atividades, desde as acadêmicas até as atividades de entretenimento, como, por exemplo,

assistir a vídeos e a filmes, jogar, conversar em redes sociais, ouvir música, consultar e-mails,

157

entre outras atividades. Ele apresenta-se totalmente familiarizado com as interfaces digitais e

interessado em usá-las cada vez mais em seu cotidiano.

Ralph é um apaixonado por jogos digitais, o que o leva a jogar, pelo menos, três vezes

por semana, no Playstation 3 e no Nintendo 3DS, além de, é claro, no celular. Assim como

Lasn e Lukan, Ralph tem muita identificação com a língua inglesa e desejo de ensiná-la, o que

o levou a cursar Letras-Inglês na universidade, sua primeira opção de ingresso. Na época da

geração de dados, ele já atuava como professor em um curso de idiomas.

O aluno-professor sempre se mostrou atencioso e esforçado durante o semestre;

procurava interagir com seus colegas de equipe e de turma na tentativa de contribuir com seus

conhecimentos a respeito de tecnologia. Apesar de conhecer e de usar as tecnologias com

facilidade em seu dia a dia, Ralph não sabia utilizá-las em práticas pedagógicas para o ensino-

aprendizagem de inglês. Por essa razão, a disciplina curricular sobre tecnologias tornou-se

relevante para a sua formação como futuro professor de inglês, como mostram os excertos de

sua fala.

A seguir, apresento seu ponto de vista a respeito da aprendizagem e da prática

pedagógica com relação ao uso das TDIC.

3.3.1 Aprendizagem com o uso das TDIC

Ralph menciona que as tecnologias podem facilitar a aprendizagem de inglês dos

alunos por promover a interatividade, por exemplo, como apresentado no excerto abaixo:

Transcrição 11: questionário inicial

Ralph: As TDIC trazem interatividade, modernidade e imersão do aluno

no mundo, que está em constante mudança. Isso pode facilitar para ele

aprender inglês na escola. O aluno quer novidade e as tecnologias estão sempre em evolução.

A fala de Ralph remete para a facilidade que as TDIC podem trazer para a

aprendizagem de inglês em sala de aula, tanto pelo aspecto da interatividade como da

modernidade. O aluno-professor pode dar ênfase a esses dois aspectos em função de ser

usuário frequente de aparelhos tecnológicos e por estar conectado permanentemente.

Ademais, como as tecnologias correspondem a interfaces digitais recentes, esse aspecto

158

moderno, possivelmente, alargue o elo de interesse dos alunos para se comunicarem,

navegarem pela rede cada vez mais, entre outras atividades.

Nessa direção, inserir o aluno na educação digital, do ponto de vista de Ralph, pode

trazer facilidades e novidades para a aprendizagem da língua alvo, pois as tecnologias

evoluem em ritmo acelerado e são cada vez mais usadas entre crianças, jovens e adultos. Sou

favorável, parcialmente, à opinião de Ralph, pois, deve-se levar em consideração que as

TDIC, em si mesmas, não são garantias de facilidade e de novidade no processo de ensino-

aprendizagem, ou seja, não transformam a prática pedagógica do professor com a sua simples

inclusão no contexto escolar (e acadêmico), também incluo o PPP e o currículo. Compreendo

que a mudança possivelmente aconteça quando o professor se familiariza com as TDIC e as

usa criticamente como um componente pedagógico e curricular. O que leva, a meu ver,

professores a passarem a dialogar com seus alunos por meio das tecnologias, tornando o

ensino democrático e inclusivo. Como salientam Palfrey e Gasser (2011), o mundo digital

oferece novas oportunidades para quem sabe como aproveitá-las, possibilitando novas formas

de criatividade, aprendizagem, empreendimento e inovação.

Assim como Lukan, Ralph ainda declara a relevância das tecnologias para os alunos

como uma maneira de sair do tradicional. No tocante ao assunto, Ralph esclarece no excerto a

seguir:

Transcrição 12: questionário final

Ralph: É importante ressaltar que a tecnologia é uma peça fundamental no dia a dia dos alunos atuais, o que pode provocar neles uma identificação e

maior interesse para aprender inglês na escola. É uma forma de sair de

métodos antiquados, tradicionais como o simples uso do quadro e do giz.

Ralph salienta, assim como seus colegas-alunos-professores anteriormente

mencionados, a importância e a necessidade de integração das tecnologias presentes no

cotidiano dos alunos ao contexto de sala de aula para a aprendizagem de inglês, ou seja, o

aluno ou qualquer usuário passa a ter acesso a elas com um pouco mais de frequência. Assim,

temos o que Barton e Lee (2015) chamaram de domesticação da tecnologia, contexto no qual

as TDIC são integradas à vida das pessoas de maneira inata.

Nessa direção, concordo com Buckingham (2010) ao enfatizar que a escola não pode

ignorar a relação que as tecnologias e as mídias digitais passaram a ter na vida da maioria das

pessoas. Para o autor, seu papel é mais do que fundamental para ampliar o acesso à cultura

digital, evitando, assim, um hiato entre a cultura oferecida pela escola e a cultura digital

159

vivenciada fora do contexto extraescolar tanto pelas crianças e pelos jovens como pelos

adultos, conhecida como cultura tecnopopular (BUCKINGHAM, 2010, p. 43). Em outras

palavras, segundo esse autor, trata-se de uma tecnologia que “se tornou do domínio da cultura

popular” (BUCKINGHAM, 2010, p. 39).

Por essa razão, concordo mais uma vez com Barton e Lee (2015, p. 12) ao afirmarem

que os usuários “se apropriam de tecnologias para facilitar suas atividades cotidianas. Isso

tudo tem acontecido num período relativamente curto e se tornou rotineiro e despercebido na

vida das pessoas”.

As argumentações de Ralph levam a inferir que a aprendizagem dos alunos com o uso

das TDIC:

- traz interatividade, atualização e imersão dos alunos no mundo atual;

- facilita a aquisição da língua-alvo;

- traz novidade para o ensino-aprendizagem e

- proporciona formas para deixar de utilizar métodos tradicionais.

3.3.2 A prática pedagógica com o uso das TDIC

Ralph manifesta sua opinião ao apontar a necessidade da formação constante do

professor para melhorar a sua prática com o uso das tecnologias. É importante salientar a

integração das tecnologias à formação do professor de inglês. Com relação a esse aspecto,

Ralph argumenta:

Transcrição 13: entrevista

Marcus: Quais facilidades você aponta para o uso das tecnologias para o

professor?

Ralph: Como falei elas trazem uma modernidade para o ensino.

Marcus: Pode ficar melhor? Ralph: Eu acho que fica... o aluno fica mais interessado, gosta de aprender.

Marcus: E o professor?

Ralph: O que tem o professor? Marcus: O professor está preparado para essa mudança?

Ralph: O professor precisa se reclicar porque senão ele fica para trás. O

professor precisa deixar de ser tradicional. Marcus: Como assim tradicional?

Ralph: Usa muito o livro [didático] e o quadro [...] precisa inovar [...] e as

tecnologias são uma mão na roda. Na minha opinião, o professor precisa

saber usar as tecnologias, ajudam na sua prática, melhora o ensino, estimula o aluno para aprender inglês, ver o que o aluno quer, né? Acho

importante se reciclar, fazer um curso ou uma disciplina como essa para

160

ficar mais confiante para ensinar inglês com a ajuda das tecnologias,

claro, [...] acho que é isso!

Ralph não responde de imediato a pergunta proposta no início da entrevista, mas fica

evidente seu interesse e as facilidades que o uso da tecnologia traz para a prática do professor.

No segundo momento, ao ser indagado sobre os benefícios que poderiam ser trazidos pelas

TDIC para o professor, o participante deixa transparecer a necessidade de formação do

professor. Essa necessidade fica evidente nas ideias de Pischetola (2016, p. 125) ao pontuar

que “a formação deve mudar a percepção da tecnologia, antes mesmo de sua utilização. Deve

ser capaz de ativar reflexões pedagógicas e abrir novos horizontes culturais que incluam a

predisposição à mudança das práticas pedagógicas [...]”.

Isso posto, caso o professor tenha uma formação adequada, poderá tornar-se confiante

para usar as tecnologias no ensino de inglês de acordo com as necessidades do aluno, como

bem pontuou o aluno-professor. Assim, a fala de Ralph leva-me a inferir que os benefícios do

uso das TDIC apenas se concretizarão caso o professor tenha uma formação específica,

formal, ou no curso de Letras ou em cursos de formação continuada.

Fica evidente que essa formação se torna um desafio para qualquer professor, que

precisa estar disposto à essa mudança, razão pela qual concordo com Kenski (2013, p. 91) ao

ressaltar que os cursos de formação tecnológica para o professor passam a se tornar “uma

necessidade que a nova cultura e a nova sociedade exigem”; caso contrário, aulas tradicionais

tornar-se-ão cada vez mais evidentes e rotineiras nas escolas e também nas universidades e

faculdades brasileiras.

Por conseguinte, no que tange à sala de aula como um ambiente de realização da

prática pedagógica do professor, Ralph acredita que ultrapassa a forma física e precisa

também estar relacionada à vida real do aluno. Tal fator se torna possível, em certa medida,

com a utilização das tecnologias disponíveis. É o que se pode detectar nos excertos a seguir:

Transcrição 14: relato reflexivo

Ralph: A sala de aula é também o mundo do aluno, por isso o que

acontece na vida dele, no mundo dele, seja visto e aconteça também na sala

de aula. Na minha opinião, é isso que a tecnologia faz. Ela traz o mundo de

fora para a sala de aula. Assim, trazer as tecnologias para a sala de aula

proporciona uma certa interatividade e modernização no ensino de inglês

e o professor precisa levar em consideração esses aspectos, na minha opinião.

161

Transcrição 15: atividade do Facebook

Ralph: A sala de aula já não tem uma medida em metros apenas, pois ela já

não é apenas real; ela é também virtual.

Transcrição 16: notas de campo

Marcus: Em um seminário sobre Podcast, Ralph salienta a importância de

usar essa e outras interfaces digitais na sala de aula, pois, segundo ele, a

aprendizagem de inglês fica mais motivadora e os alunos mais

descontraídos. Ele ressalta que a sala de aula precisa ser um ambiente de

trocas de conhecimento e de interação entre o professor e o aluno [...].

Observa-se que Ralph traz uma percepção claramente positiva em relação à inclusão

das tecnologias na sala de aula, pois a sala de aula precisa ser vista como uma extensão do

mundo real do aluno, já que o aluno, assim como os participantes desta pesquisa, as utiliza

frequentemente. Essa mesma opinião também foi compartilhada por Lasn anteriormente.

O aluno-professor ainda aponta que essa inclusão pode proporcionar uma

aprendizagem de inglês motivadora, despertando o interesse dos alunos, possivelmente, por

estarem familiarizados com interfaces digitais usadas em seus cotidianos, além de trazer

modernidade e interatividade para as aulas, aspectos já mencionados por ele no excerto

número treze. Na mesma perspectiva, Alonso (2017, p. 32) leva-me a perceber que

“compreender, de fato, as implicações que o uso intensificado delas (das TDIC) apresenta é,

sem dúvida, elemento crucial para se empreender fazeres que subsidiem, aí sim, outra maneira

de organizar o fazer escolar com as TDIC” (grifo meu).

A análise do excerto número quinze parece mostrar também que Ralph vê a sala de

aula como um possível ambiente virtual onde a presença física do aluno não se faz mais

necessária. Assim sendo, frente ao exposto, compartilho a ideia de Moran (2013, p. 31) ao

defender que

com as tecnologias atuais a escola pode transformar-se em um conjunto de espaços ricos de aprendizagem significativas, presenciais e digitais, que

motivem os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo, a serem

proativos, a saber tomar iniciativas e interagir.

Nessa direção, posso inferir pelas falas de Ralph que as tecnologias podem promover

uma aprendizagem da língua inglesa de maneira interativa entre o professor e o aluno, em

consonância com a sua realidade. Ademais, essa aprendizagem pode se expandir além das

paredes das salas de aulas tradicionais.

162

Como pode ser observado, Ralph mostra em suas falas que o professor em sua prática

pedagógica com o uso das TDIC precisa:

- reclicar-se/formar-se;

- deixar de ser tradicional;

- inovar;

- ficar mais confiante para ensinar inglês;

- trazer a realidade externa do aluno para a sala de aula;

- ver também a sala de aula como um ambiente virtual e

- proporcionar interação com o aluno.

Em suma, as ideias de Ralph relacionam o aspecto positivo do uso das TDIC tanto

para a aprendizagem como para a prática pedagógica.

Com relação ao primeiro aspecto, a contribuição volta-se para a interatividade e a

modernidade que as TDIC podem trazer para a imersão dos alunos no mundo digital, ou seja,

posso inferir a partir da fala de Ralph que usar as tecnologias na aprendizagem dos alunos é

incluí-los, tecnologicamente, no contexto educacional digital, além de prepará-los para o

ensino-aprendizagem de inglês com interfaces digitais que lhes são familiares em seus

cotidianos.

Dessa forma, o aluno-professor acentua que as tecnologias podem trazer novidade no

ensino e despertar o interesse dos alunos em aprender a língua inglesa, pois, segundo ele, seria

uma maneira de sair de aulas de cunho tradicional. Complementando a visão do aluno-

professor em relação a esses tipos de aulas tradicionais, é possível inferir que seriam as aulas

em que os professores escrevem os conteúdos no quadro e os alunos os copiam sem um olhar

crítico, sem qualquer relação com a sua realidade, e precisam memorizar esse conteúdo para

realizar algum tipo de avaliação para testar o que aprenderam em sala de aula; ou pensar em

aulas expositivas em que o professor ministra o conteúdo como se estivesse conduzindo uma

palestra e os alunos, comportadamente (é o que o professor espera), o escuta, sem

questionamento.

Observo, portanto, que, apesar de serem reconhecidas como essenciais na educação, as

TDIC ainda são pouco exploradas e usadas de maneira pedagógica em todas as suas

potencialidades e possibilidades pelos professores com seus alunos. Pensar nas TDIC

didaticamente é saber usá-las como interfaces protagonistas, como bem pontua o Comitê

Gestor da Internet no Brasil (2016), para aprimorar o ensino e o propósito real de

aprendizagem na tentativa de modificar e transformar a realidade da sala de aula tradicional.

Além disso, compreendo que essas tecnologias podem capacitar o aluno a se tornar um

163

usuário competente e crítico (COSCARELLI; KERSCH, 2016), tornando-se, assim, um

agente do conhecimento (FREIRE, 1996/2004). Daí, talvez, o caráter de novidade e de

interatividade trazida pelas TDIC na aprendizagem dos alunos, mencionadas por Ralph.

Já no que diz respeito à prática pedagógica, Ralph pontua que o professor precisa se

reciclar frequentemente para ter confiança e poder inovar a sua prática de ensino-

aprendizagem de inglês. A ideia subjacente nas falas de Ralph parece comungar mais com a

necessidade de formação do professor, a saber, para se tornar um agente ativo, reflexivo, que

sabe tomar decisões em seu contexto de ensino-aprendizagem, além de se apropriar de

metodologias, de abordagens e de conhecimentos para saber agir em seu fazer pedagógico.

Essas observações me levam a pensar na relevância da formação do professor

reflexivo e corroborar as ideias de Ramos e Freire (2009, p. 34) ao afirmarem que esse

professor deve “conviver com incertezas e problemas concretos de sua vida profissional diária

e examinar com criticidade sua prática pedagógica, seu contexto de trabalho e o contexto

político e social em que está inserido”. Assim sendo, a qualidade de suas aulas será

significativa (por que o aluno está aprendendo determinado conteúdo e como esse conteúdo

pode contribuir para sua formação como cidadão e para sua futura profissão; são os

significados construídos para construir o conhecimento criticamente), saindo de práticas

tradicionais, pois os alunos poderão se sentir motivados e desafiados a aprender a aprender.

Ademais, o segundo aspecto projeta-se também na interatividade e modernização que

as TDIC podem trazer para a sala de aula, tornando esse ambiente também virtual, e não

apenas um espaço físico. Ralph salienta que a sala de aula pode ser uma continuação do

espaço vivido pelo aluno fora da escola, o que pode proporcionar uma aprendizagem

motivadora, com alunos comprometidos com o ensino de inglês. Nessa direção, comungo

com as ideias de Almeida e Valente (2016, p. 32) ao pontuarem que a escola deveria ser

compreendida como um espaço gerador, gestor e não apenas consumidor do conhecimento,

tornando-se, assim, um ambiente de “cultura, diálogo, articulação, entre o conhecimento local

e global” por meio de uso das TDIC.

Em outras palavras, entendo que as TDIC podem contribuir para aulas voltadas para a

realidade dos alunos e para promover a interatividade, como salienta Ralph, pois não se pode

negar a importância de inclusões das tecnologias na educação. Não obstante, é válido

mencionar que toda inovação precisa ser ensinada, para auxiliar o usuário a partir de suas

necessidades, e o uso das TDIC em sala de aula, para uso pedagógico, não é diferente.

Compreendo, assim, que para que a utilização das TDIC em sala de aula se transforme

em uma prática corrente e organizada na educação, o papel do professor torna-se fundamental,

164

pois esse deixou de explicar, dominar conteúdos e possuir um conhecimento enciclopédico

para compartilhar o conhecimento com o aluno, principalmente relacionado às tecnologias.

Nessa vertente, o professor sairá do tradicional (deixará de seguir passivamente o livro

didático; de ministrar aulas expositivas, principalmente, para crianças e jovens; de ser o

detentor absoluto do conhecimento; por exemplo), e, com certeza, os alunos aprenderão inglês

motivados por interfaces digitais que lhes são familiares em seus cotidianos, como afirma

Ralph, ou com outras interfaces introduzidas pelo professor para propósitos pedagógicos. No

contexto educacional, as TDIC precisam ser vistas como aliadas e não como obstáculos para a

aprendizagem da língua inglesa.

O que me leva a pensar também no currículo, que precisa deixar de ser limitado

apenas ao livro didático, na maioria das vezes, e possibilitar maneiras diferenciadas de

apresentar o conteúdo programático por meio das potencialidades das tecnologias e das

mídias digitais. Nessa direção, vejo a necessidade de revisar os currículos como forma de

interligar o conteúdo da escola com o contexto real do aluno. O que pode converter, assim, as

TDIC em uma potente interface para o processo de ensino-aprendizagem, tanto no contexto

escolar como no acadêmico.

3.4 O percurso de TOM

Tom gosta de tecnologia, mas a usa com menos frequência que Lasn, Lukan e Ralph,

principalmente o computador, que utiliza duas vezes por semana ou apenas nos finais de

semana. Isso não significa que não tenha familiaridade, porém realiza menos atividades que

seus colegas, como, por exemplo, estudar inglês, jogar, conversar nas redes sociais, realizar

download de músicas, filmes, livros, entre outras atividades. O aluno-professor afirma usar o

telefone celular diariamente para ouvir músicas, consultar e responder e-mails, além de

conversar em redes sociais, principalmente no Facebook, que diz ser a sua preferida.

Tom afirma sempre ter gostado de inglês desde a infância, o que o levou a cursar

Letras-Inglês, sua primeira opção de ingresso na universidade, assim como seus colegas Lasn,

Lukan e Ralph. Talvez, por essa razão, ele sempre se mostrou motivado nas aulas e dedicado

aos estudos, com frequência sempre assídua.

Todavia, sua maior preocupação estava na articulação das tecnologias com o contexto

educacional. Segundo ele, não sabia como usá-las com os alunos em sala de aula para ensinar

165

inglês, o que tornou a disciplina sobre tecnologia foco de seu interesse. No momento de

geração dos dados, Tom trabalhava em uma escola particular com alunos do Ensino

Fundamental II e na escola de idiomas da universidade, como bolsista.

A seguir, apresento seu ponto de vista a respeito da aprendizagem e da prática

pedagógica com o uso das TDIC.

3.4.1 Aprendizagem com uso das TDIC

Tom menciona as tecnologias como forma de promover a interação e a curiosidade

entre os alunos, além de torná-los envolvidos na aprendizagem da língua inglesa. Os excertos

a seguir elucidam melhor suas falas:

Transcrição 17: questionário intermediário

Tom: As tecnologias podem promover uma maior interação entre os alunos fazendo que os mesmos estejam engajados e interessados para

aprender inglês. As tecnologias, também, podem aguçar a curiosidade dos

alunos, tornando-os autônomos em sua aprendizagem.

Transcrição 18: questionário final

Tom: As tecnologias chamam a atenção dos alunos para aprender inglês, porque eles sabem usá-las muito bem para se divertirem. Assim, o aluno

pode ficar mais motivado em sala de aula para aprender a língua.

A fala de Tom nos excertos acima parece apontar as tecnologias digitais da

informação e comunicação como uma maneira de facilitar a aprendizagem de inglês, pois se

tornam atraentes para a aprendizagem dos alunos. Posso observar nesses excertos de Tom que

as tecnologias exercem papel relevante na educação, com contribuições que podem levar os

alunos a aulas interessantes e motivadoras. Assim sendo, compartilho com o Comitê Gestor

da Internet no Brasil (2016) a noção de que a sala de aula/escola pode ser um espaço de

fomento para a inovação, a motivação e de apropriação interativa e criativa das (e com as)

TDIC, gerando ambientes para se refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem.

As afirmações do aluno-professor também me levam a pensar o caráter de curiosidade,

mencionado por ele, que as tecnologias podem despertar nos alunos. Esse aspecto

possivelmente possa estar relacionado à facilidade de acesso à informação que o aluno possui

166

por meio de uso do computador (ou do celular) e da Internet, tornando-o curioso para

pesquisar e para aprender sobre interfaces digitais de seu interesse. Não obstante, compreendo

que esse acesso à informação parece ser realizado com poucas críticas e reflexões por parte

dos alunos.

Nessa direção, saliento a importância de integração das tecnologias para fins

educacionais pelo professor como forma de estimular o pensamento crítico, fomentar a

autonomia do aluno e as reais potencialidades trazidas pelas tecnologias e mídias digitais para

o ensino-aprendizagem da língua inglesa. Essa forma consciente de introdução das TDIC no

currículo e nos contextos escolar e acadêmico pode proporcionar aos alunos uma maior

curiosidade para aprender a língua-alvo, pois, assim, a escola estaria promovendo maneiras

alternativas de ensinar e de aprender por meio do uso dessas tecnologias.

Sendo assim, corroboro as afirmações de Gil e Hernández-Hernández (2016) ao

tratarem a respeito da aprendizagem baseada nas tecnologias web 2.0:

a sala de aula – ou o espaço que seja – do século XXI enfrenta a necessidade

de mudar e reinventar a si mesma em termos de currículo (o que é necessário aprender) e de pedagogia (como contribuir para que essa aprendizagem seja

eficaz, transferível e sustentável e para que não seja esquecida após os

exames). (GIL; HERNÁNDEZ-HERNÁNDEZ, 2016, p. 12).

Em adição a isso, observo que a curiosidade despertada no aluno também pode estar

inter-relacionada à necessidade de interação com o outro, caso se leve em consideração que as

pessoas na era digital estão conectadas em rede. Assim sendo, pensar nas tecnologias como

forma de interação é pensar nas “redes humanas de comunicação interpessoal” (VEEN;

VRAKKING, 2009, p. 40) ou nas redes sociais para ajudar o usuário/aluno/aprendiz, quando

necessário, para obter informações sobre algum assunto desconhecido. Talvez, por essa razão,

Tom associe a interação das tecnologias com o engajamento e o interesse dos alunos para

aprender inglês. Uma forma de todos se ajudarem quando precisarem um do outro e se

sentirem motivados para buscar a informação desejada para algo que desconhecem.

Penso que ao mencionar o caráter atrativo das tecnologias, Tom, como usuário, esteja

pensando no caráter dinâmico, potencial e evolutivo que essas tecnologias podem promover

para o aluno no contexto de sala de aula para aprender inglês. Caminhando nessa direção, as

tecnologias podem fomentar o interesse dos alunos para aprender a língua-alvo,

possivelmente, por estarem usando interfaces digitais que são usadas por eles em seus

cotidianos para se entreterem, fato esse mencionado também por Lasn, Lukan e Ralph.

167

Tom menciona a autonomia dos alunos a partir do uso das tecnologias. Apesar de

minha pesquisa não ter o foco central nesse tópico, compreendo sua posição. Especificamente

no âmbito do ensino de inglês com a integração das TDIC, parto consequentemente do

pressuposto que a educação não pode mais ser vista como um “ato de depositar, de transferir,

de transmitir valores e conhecimentos” (FREIRE 1968/2014, p. 82).

As TDIC podem ajudar os alunos a tomar consciência para ter um desempenho

satisfatório na escola e buscar mais conhecimento por conta própria, assim como fazem em

suas atividades no cotidiano. Em outras palavras, as tecnologias tornam-se elos de construção

da informação e de mediação para o processo de ensino-aprendizagem, pois o acesso às

interfaces digitais nos dias de hoje pode facilitar esse processo, adequando-o às necessidades

e aos ritmos de aprendizagem de cada aluno e tornando, também, o espaço e o tempo menos

rígidos para o ensinar e para o aprender.

Vejo nesse contexto um aluno ativo e participativo, e por que não falar em um aluno

curioso para aprender. Corroborando essas ideias, Martí (2013) reflete sobre a configuração

da sociedade atual ocasionada pelas tecnologias digitais, em que o aluno/usuário/aprendiz

pode ter um papel ativo na busca da informação para gerar o conhecimento, exigindo-se

diferentes maneiras de aprender e de construir o conhecimento.

Dentro da perspectiva exposta, pode-se compreender que, na percepção de Tom, a

aprendizagem com o uso das TDIC contribui para:

- promover interação;

- engajar-se para aprender inglês;

- aguçar a curiosidade e

- fomentar a autonomia.

3.4.2 Prática pedagógica com o uso das TDIC

Nos comentários de Tom, o professor ainda parece constituir a figura central no que

tange à otimização para o ensino de inglês a partir da inclusão das TDIC em sua prática

pedagógica. De acordo com seu pensamento, o professor precisa estar melhor preparado para

saber lidar com as necessidades de seu público-alvo atual, pois as tecnologias possibilitam

novas condições de ensino, exigidas nesse novo contexto educacional. A seguir, apresento um

recorte de sua declaração:

168

Transcrição 19: atividades do Facebook

Tom: O professor deve ter um comportamento inovador em sala de aula,

de modo que aprenda a conhecer seus alunos e descubra suas

necessidades – o que é mais relevante para eles? Para que a tecnologia tenha

um efeito positivo na aprendizagem de inglês, os professores têm que

mudar o jeito de dar aula, sair do tradicional. É importante que o

professor use a tecnologia para ajudar o aluno a ser mais autônomo; por

isso a necessidade de ferramentas que o ajude a aprender a ensinar. Os professores precisam na verdade se adaptar a esse mundo tecnológico, em

que todos fazemos parte.

É interessante observar a percepção de Tom que as tecnologias podem ajudar o

professor a sair do tradicional e ter atitudes inovadoras, assim como também pontua Ralph.

Parece-me que o uso das tecnologias pelo professor contribui, de imediato, para práticas

modernas, de acordo com a percepção de Tom. É claro que o uso das tecnologias pode

modificar as ações do fazer pedagógico do professor, mas se torna necessária uma nova

postura para atender a novas demandas, para que as mudanças possam acontecer,

especificamente. Caso contrário, haverá apenas uma transferência do fazer no analógico para

o digital.

Nessa vertente, à luz do pensamento de Moran (2012), partilho que a formação do

professor não deve ser pontual, mas acontecer de forma contínua e processual, visto que a sua

formação pedagógica propicia a oportunidade de correlacionar a sua área de conhecimento, no

caso a língua inglesa, com as múltiplas interfaces tecnológicas digitais disponíveis, tanto on-

line como off-line.

Assim como mencionado anteriormente por Lasn, Lukan e Ralph, Tom também

entende que o professor precisa conhecer melhor as necessidades de seus alunos na tentativa

de criar oportunidades para se tornarem agentes críticos na aprendizagem de inglês, o que os

motivaria a aprender a língua-alvo e buscar seus próprios caminhos a partir do uso das TDIC.

Diante do exposto, trago o pensamento de Braga (2013, p. 76) ao sublinhar “a tese de que as

mudanças sociais foram geradas pelo uso da tecnologia, é nela também que encontraremos

caminhos que nos permitam mudar as práticas educativas”.

Concordo com Tom ao afirmar que o professor pode orientar o aluno a buscar seu

próprio conhecimento. Em outras palavras, segundo o pensamento de Freire (1995/2014, p.

19), não há aprendizagem sem apreensão do objeto aprendido, pois “o sujeito que aprende é

produtor do conhecimento que fez”.

Frente ao exposto, assim como Tom, vejo a necessidade de o professor da atualidade

se adaptar para o uso efetivo das TDIC em suas práticas pedagógicas para o ensino-

169

aprendizagem de inglês, caso contrário, ter-se-ão aulas cada vez mais descontextualizadas da

realidade do aluno, sem propósitos educativos e dependentes do conhecimento do professor.

Em resumo, é possível perceber que Tom se mostra também otimista acerca do uso

das TDIC no contexto de sala de aula, pois ele pode utilizar a tecnologia adequadamente de

acordo com a habilidade de inglês que deseja trabalhar, como elucidado em seu excerto a

seguir:

Transcrição 20: relato reflexivo

Tom: A sala de aula é um ambiente de construção do conhecimento, onde

todos podem aprender juntos, professor e aluno. As tecnologias trazem essa oportunidade para esse ambiente, posso ensinar alguma habilidade de

inglês com uma tecnologia bem específica para isso. Por exemplo, se quero

ensinar algo com speaking e listening posso usar o podcast ou o voicethreat. As tecnologias estão em nossa “porta” e facilitam a nossa vida. Por que o

professor não pode trazê-las para dentro da sala de aula? Vivemos em uma

nova realidade, a sala de aula não é mais a mesma que de 10 anos atrás. O

professor precisa se conscientizar disso. É importante trazer para a sala de

aula o que é novo, o que o aluno gosta e faz fora dela com as tecnologias,

conhecer novas ferramentas tecnológicas e saber como aplicá-las na sala

de aula. Isso a tecnologia pode ajudar o professor. Assim, teremos aulas

com mais novidade, num ambiente mais leve e descontraído para o aluno

aprender inglês.

Outra constatação pela fala de Tom foi a de que a sala de aula não pode mais ser vista

como um ambiente estático, desmotivante e unilateral, onde apenas o professor detém o

conhecimento e o aluno é, apenas, o aprendiz. A esse respeito, vejo a escola e a universidade

como agências fomentadoras ativas para a mediação da cultura digital, a quem cabe integrar

as tecnologias e as mídias digitais ao processo de ensino-aprendizagem, o que nos leva a

pensar no papel social da escola que desejamos (PISCHETOLA, 2016; ALONSO, 2017) e na

possibilidade de criação de metodologias para a construção de novos saberes e de novas

necessidades de aprendizagem, segundo Martins e Ribeiro (2017). As tecnologias podem

mediar, assim, o conhecimento entre o professor e o aluno e melhorar o ensino-aprendizagem

de inglês tanto no contexto escolar como no acadêmico.

Tom também é consciente de que os tempos mudaram e a escola, assim como a sala de

aula, precisa acompanhar essa mudança. Ao mencionar o aspecto novidade, o aluno-professor

refere-se às tecnologias digitais, que podem proporcionar constantes oportunidades para o

ensino de inglês e são bastante usadas pelos alunos no cotidiano como forma de

entretenimento.

170

Logo, Tom sugere inserir essas tecnologias, tão usuais para o aluno, em sala de aula;

assim, as aulas dos professores podem estar mais interligadas com o acesso e o uso das TDIC

para fins pedagógicos no ensino de inglês, tornando o ambiente descontraído e menos

monótono, o que, na fala de Tom, seria um ambiente “mais leve”. Diante do exposto, é

possível inferir que Tom esteja olhando as tecnologias como parte integradora no ensino de

inglês, com a inserção de interfaces digitais conhecidas e usadas pelos alunos em seus

cotidianos, tornando, assim, segundo sua visão, um ambiente mais leve. Dentro desse

contexto, citando Kalantzis e Cope (2012), Coscarelli e Kersch (2016), entendo a escola como

um espaço catalizador de conhecimento e de competências a serem fomentadas para que o

aluno possa exercer seu papel criticamente, como cidadão, na nova cultura digital de

aprendizagem.

De modo bastante sucinto, a partir da análise realizada do excerto de Tom, sou levado

a deduzir que a sala de aula é um espaço onde o professor e o aluno podem construir juntos o

conhecimento. Sob esse prisma, concordo com Gómez-Granell e Vila (2013, p.20) quando

afirmam que “na escola da sociedade digital não existirá uma relação de hierarquia entre

aquele que ensina e aquele que aprende, já que todos ensinaremos e aprendemos ao mesmo

tempo”. As TDIC estão a serviço de todos e a sala de aula precisa ser um ambiente onde o

aluno se sinta desafiado e motivado, para que o ensino-aprendizagem de inglês seja, de fato,

real, útil para a sua vida fora da escola também.

As questões aqui discutidas levam-me a inferir que as percepções de Tom para a

prática pedagógica com o uso das TDIC são que contribuem para:

- inovar em sala de aula;

- aprender a conhecer seus alunos;

- descobrir as necessidades dos alunos;

- mudar o jeito do professor de ministrar aula;

- sair do tradicional;

- ajudar o aluno a ser mais autônomo;

- se adaptar ao mundo tecnológico;

- proporcionar ambiente de construção do conhecimento entre professor e aluno;

- ensinar habilidades linguísticas de inglês com a tecnologia apropriada;

- apresentar conhecimento de novas ferramentas tecnológicas e

- ter uma sala de aula mais “leve” e descontraída.

171

Por meio da análise dos dados, podemos observar que Tom assume um

posicionamento favorável acerca do uso das TDIC tanto para a aprendizagem como para a

prática pedagógica.

No que tange ao primeiro aspecto, Tom pontua que as tecnologias digitais da

informação e comunicação podem promover interação entre os alunos, o que pode

proporcionar engajamento e autonomia na aprendizagem de inglês, além de aguçar suas

curiosidades, como explicitado no excerto número dezessete. É visível a necessidade trazida

pelas tecnologias no cotidiano, demonstrando a relação cada vez mais estreita e dependente

do homem da contemporaneidade com o computador, com a Internet e com outras interfaces

digitais. Então, corroboro as afirmações de Gilleran (2006, p. 86) ao considerar que “não se

pode negar que, durante as últimas décadas, a revolução tecnológica vem tendo um impacto

considerável e está mudando o cotidiano.”

Por essa razão, compreendo a interação entre os alunos como parte do processo

dialógico, como menciona Freire (1968/2014; 1996/2004), para a conscientização e para a

aprendizagem de inglês por meio da integração de uso com as tecnologias. Essas podem

fomentar práticas autônomas e desafiadoras para os alunos no contexto escolar, como

salientou Tom em suas falas.

No que tange ao segundo aspecto, as práticas pedagógicas, Tom percebe que as TDIC

podem contribuir para um comportamento inovador do professor, ao sair, por exemplo, de

práticas tradicionais de ensino, já que as tecnologias possibilitam ao professor conhecer

melhor as necessidades dos alunos. Para Tom, o professor precisa adaptar-se ao mundo digital

e ajudar o aluno a ser autônomo em sua aprendizagem.

Esse pensamento de Tom me leva a inferir que a formação tecnológico-digital e

também pedagógica pode se tornar um elo mediador e fundamental para práticas docentes

desafiadoras. Isso porque essa formação pode propiciar a construção de uma identidade

autônoma, reflexiva e consciente na formação inicial do professor de inglês (CELANI, 2001),

para que esse professor não seja mais “visto como alguém que implemente ideias de outros e

sim como um profissional com autonomia para tomar decisões” (GIMENEZ, 2004, p. 171-

172).

Afinal, como bem destaca Kalantzis e Cope (2012), os professores da

contemporaneidade precisam fomentar ambientes de aprendizagem e diversas maneiras de

aprendizagem para que os alunos possam assumir a responsabilidade por sua própria

aprendizagem por meio do uso das tecnologias e mídias digitais.

172

Finalmente, Tom reconhece as facilidades das TDIC para a construção do

conhecimento tanto do professor quanto do aluno, pois todos aprendem juntos. As tecnologias

mostram-se potenciais interfaces digitais para ensinar qualquer habilidade linguística de

inglês, o que pode levar o professor a buscar sempre por tecnologias apropriadas a serem

usadas em sala de aula. Ainda de acordo com Tom, as tecnologias no contexto de sala de aula

podem trazer novidades para o ensino, além de proporcionar um ambiente descontraído para a

aprendizagem da língua-alvo. Todas essas constatações foram manifestadas pelo aluno-

professor no excerto número vinte.

Diante de todo o exposto, convenço-me, cada vez mais, de que a formação

tecnológico-digital e pedagógica do professor de inglês deveria constituir uma prática sólida e

necessária para mudanças imperativas em sua prática para o uso consciente das TDIC.

Caminhando nessa direção, corroboro as ideias de Moita-Lopes (2003, p. 131) ao defender

que “não se pode transformar o que não se entende.”

De acordo com as falas dos excertos de Lans, Lukan, Ralph e Tom, posso inferir que

as tecnologias representam um dos elementos no ensino de inglês que podem propiciar

inovação, interação, motivação, novidade, planejamento, entre outros fatores, tanto para a

aprendizagem do aluno como para a prática pedagógica do professor, já que se vive em uma

era digital. Nesse sentido, considerando os posicionamentos dos alunos-professores, posso

deduzir que a escola precisa também acompanhar as mudanças proporcionadas pelas TDIC.

Dessa forma, sou levado a admitir, ao lado de Bates (2016), que as TDIC são apenas

um componente dentro de qualquer ambiente de ensino-aprendizagem eficaz, precisando ser

equilibradas e integradas com os demais componentes educacionais, como, por exemplo, a

formação do professor, escolhas de metodologias e abordagens comunicativas, apoio e

incentivo dos órgãos governamentais, entre outros fatores.

Para finalizar, com base nas análises até aqui realizadas a respeito da primeira

pergunta da pesquisa, apresento um quadro a seguir que resume a reconstrução das

percepções recorrentes nas falas de Lasn, Lukan, Ralph e Tom em relação aos resultados da

aprendizagem e da prática pedagógica, ambas interligadas ao uso das TDIC, focos centrais

desta subseção.

173

Quadro 14 – Aprendizagem e Prática Pedagógica com TDIC

APRENDIZAGEM COM TDIC PRÁTICA PEDAGÓGICA COM TDIC

Perceber um novo perfil de aluno: familiaridade com as TDIC no dia a dia –

computador e celular.

Fomentar a motivação, a interação, o

engajamento, a curiosidade, a autonomia, a

busca pelo novo.

Rever e atualizar práticas de ensino-

aprendizagem.

Observar público-alvo, objetivos, e o

contexto de ensino.

Atender a necessidades e expectativas do

aluno.

Planejar aulas interligadas com a realidade do

aluno.

Fonte: elaborado pelo autor.

Com relação à aprendizagem com TDIC, é mister ressaltar que os alunos são usuários

frequentes das tecnologias em seus cotidianos, principalmente do computador e do telefone

celular, como apontado pelos quatro participantes desta pesquisa. Assim, os alunos-

professores veem as tecnologias como potentes interfaces digitais para práticas pedagógicas,

acreditando que podem ajudar o aluno a aprender inglês de maneira participativa, interativa e

dinâmica, como apontado no Quadro 14 e nos excertos das falas dos alunos-professores.

As falas dos alunos-professores da pesquisa revelam que o uso pedagógico das TDIC

em sala de aula pode aumentar o interesse, fomentar a autonomia, aguçar a curiosidade e a

motivação do aluno para aprender inglês. Isso porque, sob o ponto de vista dos participantes,

essas tecnologias são interfaces digitais que podem proporcionar a interatividade, a imersão e

a inclusão dos alunos em mundo que se torna cada vez mais digital.

Essa realidade tecnológica confirma a tese de Cecchettini (2011, p. 9) ao mencionar

que “os métodos de ensino e aprendizagem devem ser mais criativos, atraentes e interativos”,

na tentativa de dialogar com a nova geração de alunos que espera da escola uma inter-relação

funcional, pedagógica e operacional com as TDIC, tão familiares e usadas em seus cotidianos.

Em relação à prática pedagógica, os dados apontam que o uso das TDIC no ensino-

aprendizagem de língua inglesa, tanto com crianças e jovens quanto com adultos, no contexto

escolar atual, pode se tornar cada vez significativo. Além disso, essa prática levará o professor

a rever o seu planejamento, a sua prática pedagógica e as suas estratégias de ensino para se

aproximar mais do aluno e atender a sua real necessidade. Nessa direção, não faz mais sentido

174

em adotar em sala de aula práticas relacionadas a um ensino tradicional, a saber, metodologias

descontextualizadas, sem propósitos educacionais, fora do contexto real do aluno, em um

contexto no qual o professor é o detentor do conhecimento e o aluno o absorve passivamente,

sem questioná-lo.

As tecnologias contribuem para que o professor se adapte à realidade e aos interesses

de seus alunos, pois, na era digital, os alunos são impacientes, não gostam de fazer a mesma

tarefa e têm pouca capacidade de concentração. Por outro lado, é uma geração de alunos

multitarefada, que consegue realizar várias atividades ao mesmo tempo, usando, por exemplo,

a tecnologia. Logo, como desejar que um aluno fique sentado, comportadamente, sem fazer

barulho durante a aula? Não se pode mais pensar no aluno de maneira homogênea, como se

pensava no passado, e talvez ainda se pense.

As escolas deveriam ser menos controladoras e incentivar atividades/projetos criativos

que desafiassem o aluno a pensar, a se sentirem desafiados para aprenderem inglês. Assim, a

escola estaria respeitando a individualidade de cada aluno, seu ritmo de aprendizagem e seu

tempo particular para aprender de acordo com seus interesses e suas necessidades. Para isso,

faz-se necessário um currículo menos rígido e prescritivo, que dialogue com as diversidades e

preferências dos alunos, integrado ao uso funcional e pedagógico das tecnologias e utilizando

diferentes maneiras de apresentar os conteúdos curriculares. Por essa razão, a necessidade de

se pensar em um web currículo, como sugerido por Almeida (2014).

Com as tecnologias, o ensino-aprendizagem de inglês pode tornar-se um instrumento

funcional de comunicação autêntica, pois o aluno pode estudar de forma independente,

aprendendo interfaces digitais que o ajudem a praticar a língua inglesa para entrar em contato

com pessoas de outros países, além de ter a oportunidade de conhecer outras culturas. Assim

como as tecnologias estão em constate mudança, a língua é viva e precisa também

acompanhar essa mudança.

Os dados desta pesquisa também mostram a importância do uso das TDIC em sala de

aula para a formação tecnológico-digital do professor para desenvolver sua habilidade para

lidar pedagogicamente com interfaces digitais no ensino da língua inglesa. Esse conhecimento

que pode torná-lo consciente e confiante para práticas inclusivas dessas tecnologias de

maneira reflexiva em sala de aula, considerando seu contexto, público-alvo e objetivos de

aprendizagem.

Nesse enfoque, acredito na relevância dos cursos de formação, como afirma Castellar

(2015, p. 15) ao ponderar que “o trabalho docente não alcança qualidade se o profissional não

tiver formação teórico-metodológica e cultural sólidas. Uma formação precária prejudica a

175

ação docente na escola e torna os professores incapazes de argumentar, interpretar e explicar o

mundo”.

Em outras palavras, os dados do quadro-resumo anteriormente apresentados levam-me

a deduzir que o professor deveria apresentar uma nova postura no contexto escolar atual face

ao uso frequente das TDIC por seus alunos, que estão conectados o tempo todo, em qualquer

lugar, a qualquer hora, fora dos muros da escola. Caso contrário, deixará seus alunos cada vez

mais desmotivados e isolados no ambiente escolar.

Caminhando nesse sentido e considerando as falas dos excertos de Lasn, Lukan, Ralph

e Tom no quadro-resumo, penso que o uso da tecnologia pela tecnologia não ocasionará

mudanças pontuais no sistema educacional brasileiro atual, mas usá-las para fins pedagógicos

pode tornar o ensino-aprendizagem da língua inglesa (foco desta pesquisa) nas escolas

(incluindo também as universidades e as faculdades) planejado, desafiante e contextualizado,

tanto para o professor como para o aluno. Em outras palavras, o benefício de uso das TDIC

em sala de aula reflete as necessidades das novas maneiras de ensinar do professor e de

aprender das novas gerações de alunos da era digital.

Uma vez tendo tecido considerações acerca da primeira pergunta da pesquisa

relacionada à aprendizagem e às práticas pedagógicas, ambas com o uso das TDIC, passo a

expor, a seguir, a análise da segunda pergunta, que se refere à inclusão das TDIC no processo

de ensino-aprendizagem na percepção dos quatros alunos-professores.

3.5 Percepção dos alunos-professores para a inclusão das TDIC no processo de ensino-

aprendizagem

Nesta seção, apresento os resultados dos quatro participantes referentes às suas

percepções acerca da inclusão das TDIC no processo de ensino-aprendizagem.

3.5.1 Percepção de Lasn

Uma das dificuldades mencionadas por Lasn com o uso das TDIC refere-se ao fato de

que os alunos, na maioria das vezes, têm mais conhecimento das tecnologias do que os

professores. Assim, os professores precisam também conhecer essas interfaces, como pode ser

observado no excerto a seguir:

176

Transcrição 20: questionário final

Lasn: A grande dificuldade hoje, que vejo, é que os alunos conhecem

bastante sobre os recursos tecnológicos, às vezes até mais do que os seus

professores, o que força o professor também a conhecer mais de tecnologia.

Muitas vezes o professor por não saber usar as tecnologias em sala de

aula para ensinar inglês fica tímido ou com vergonha, e fica somente no

livro didático e no quadro de giz. Por isso, acho que é importante termos,

como futuros professores, uma formação adequada para sabermos usar as

tecnologias de maneira consciente para que possamos melhorar a

didática de nossas aulas de inglês, estamos sempre aprendendo, e sanar mais

essas dificuldades. É claro que não dá pra dominar tudo. A tecnologia está sempre em evolução, e não ficar somente no laboratório de informática da

escola, quando tem, ou seja, mandar o aluno pesquisar qualquer coisa no

computador e dizer que usamos tecnologia na escola para ensinar inglês.

É importante observar que em sua fala, Lasn reconhece que os alunos podem saber

mais de tecnologia do que os professores, o que se torna uma dificuldade para os professores

no ensino da língua inglesa no contexto educacional atual. Por essa razão, a aluna-professora

ressalta a importância de uma formação adequada, ou seja, formal (entendo como uma

educação fornecida pelas universidades e faculdades) para que o professor em pré-serviço

aprenda a usar as tecnologias, o que poderá tornar esse uso consciente em futuras práticas

pedagógicas em sala de aula.

O pensamento de Lasn está em consonância com os estudos do Comitê Gestor da

Internet no Brasil (2016, p. 97) ao relatar que “a formação inicial docente é o momento

adequado para que os futuros profissionais se familiarizem com as TIC e com seus usos

pedagógicos”. Caso contrário, o professor poderá buscar esse conhecimento tecnológico

sozinho ou trocando ideias com colegas de trabalho mais experientes ou mesmo com o

monitor do laboratório de informática da escola, o que, na fala de Lasn, parece estar

representado por “o que força o professor também a conhecer mais de tecnologia.”

Outro aspecto ressaltado por Lasn se refere à falta de confiança do professor em

admitir que não sabe usar as TDIC como interfaces pedagógicas em sala de aula,

enveredando, assim, para práticas de transmissão de conteúdo com apoio apenas do livro

didático e utilizando o quadro com giz. A aluna-professora parece apontar que as dificuldades

para se usar as tecnologias no contexto cotidiano de ensino-aprendizagem são recorrentes e

mais que normais, já que não se pode dominar todas as interfaces tecnológicas digitais. Em

outras palavras, a tecnologia é sempre cíclica. Sob esse enfoque, as ideias de Lasn parecem

comungar com as de Echeverría (2015), ao ponderar que as TDIC se tornam pouco

177

duradouras, pois seus usos também mudam, o que exige o desenvolvimento de novas

competências de aprendizagem.

Por fim, a aluna-professora parece demonstrar uma preocupação com o uso indevido

dos laboratórios de informática nas escolas pelos professores, o que pode ocasionar um

entrave no processo de ensino-aprendizagem de inglês. A participante explicita essa

preocupação dizendo que não é suficiente “mandar o aluno pesquisar qualquer coisa no

computador e dizer que usamos tecnologia na escola.”

Com base nessa afirmação, é possível inferir que Lasn queira salientar o caráter

negligenciador do professor em relação ao verdadeiro uso dinâmico e produtivo das

tecnologias nesses laboratórios. Aparentemente, a participante entende esse espaço como um

local para promover a pesquisa e o ensino e não um lugar para os alunos realizarem exercícios

mecânicos de gramática e de vocabulário, o que ocorre na maioria das vezes. Essas

observações me fazem concordar com Lasn e mencionar Kenski (2012b, p. 57) ao salientar

que os professores “estão mais preocupados em usar a tecnologia que têm a sua disposição

para ‘passar o conteúdo’, sem se preocupar com o aluno, aquele que precisa aprender.”

Lasn também menciona outras dificuldades de uso das tecnologias no contexto escolar

em uma atividade realizada no Facebook, como a ausência de conexão com a Internet nas

salas de aula e a falta de manutenção dos computadores nos laboratórios de informática,

conforme pode ser atestado pelo seguinte excerto:

Transcrição 21: atividade do Facebook

Lasn: Assim como as tecnologias podem ajudar o aluno e o professor na

escola, elas também podem ser ferramentas que inibem o ensino e a aprendizagem de inglês. Muitas escolas, por exemplo, ainda não são

conectadas integralmente, isto é, não há conexão com a Internet nas salas

de aula, obrigando o professor a usar o laboratório de informática, que,

também, pode ser um problema. Às vezes, os computadores não

funcionam, são antigos e não são suficientes para todos os alunos.

A constatação de Lasn de que a conexão com a Internet sem fio não atende a todos os

ambientes da escola, como a sala de aula, restringindo-se, na maioria das vezes, ao laboratório

de informática, é, de fato, preocupante, quando se deseja uma quantidade de escolas cada vez

mais conectadas. A fala da aluna-professora leva-me a retomar uma realidade comum nas

escolas brasileiras, enfrentada pela maioria dos professores e dos alunos; talvez por falta de

infraestrutura tecnológica da escola ou por falta de infraestrutura das operadoras de telefonia.

178

Outra constatação mencionada pela aluna-professora ainda em relação à infraestrutura

física e tecnológica dos laboratórios de informática da escola diz respeito à existência de

computadores com defeitos, obsoletos e em número limitado para uso dos alunos. A partir

dessa constatação na fala de Lasn, pode-se deduzir que a falta de infraestruturas tecnológica e

física limita o uso e a apropriação das TDIC, tanto por professores quanto por alunos, no

contexto de ensino-aprendizagem da língua inglesa.

Apesar das dificuldades, o que se observa também é a falta da tecnologia e o nicho que

ela poderia ocupar cada vez mais no contexto educacional para ensinar e aprender inglês, o

que corrobora a afirmação de Moran (2013, p. 31) ao ponderar que “com as tecnologias

atuais, a escola pode transformar-se em um conjunto de espaços ricos de aprendizagem

significativas, presenciais e digitais, que motivem os alunos a aprender ativamente, a

pesquisar o tempo todo, a serem proativos, [...]”.

Caminhando nessa direção, pode ser coerente inferir, pelas declarações de Lasn, que

as dificuldades ocasionadas pelo uso das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês no contexto

escolar atual se devem:

- aos alunos conhecerem de tecnologia mais do que os professores;

- à possibilidade de professores se sentirem tímidos ou com vergonha por não saberem

usar as tecnologias em sala de aula;

- à falta de formação apropriada para uso consciente das tecnologias para práticas

didáticas;

- ao uso indiscriminado dos laboratórios de informática;

- à falta de conexão com Internet nas salas de aula;

- à falta de manutenção dos computadores nos laboratórios de informática e

- ao número limitado de computadores no laboratório de informática.

Dessa forma, como se pode perceber, os excertos das falas de Lasn mostram como

fatores de entraves para o uso das TDIC a carência de uma formação tecnológica sistemática

para o professor se tornar um agente proativo (para tomar decisões coerentes e significativas

em seu contexto de ensino) e consciente para o uso das TDIC no ensino-aprendizagem de

inglês, além da falta de infraestruturas física e tecnológica nos laboratórios de informática da

escola, com número limitado de computadores para os alunos.

Assim sendo, pode-se encontrar nas escolas atuais alunos que conhecem mais de

tecnologias do que os professores, levando-os a usar o laboratório de informática de maneira

indiscriminada, fatores também mencionados por Lasn no excerto número vinte.

179

Nessa vertente, as falas de Lasn levam-me a deduzir que a formação tecnológica do

professor atual pode ser um nicho potencializador relevante para possíveis entraves de uso das

TDIC no contexto escolar atual, a fim de possibilitá-lo a ser um agente de mudança, como

salienta Kenski (2013), para integrar essas tecnologias, de maneira reflexiva, em suas práticas

didáticas de língua inglesa.

3.5.2 Percepção de Lukan

Lukan revela, assim como Lasn, a necessidade de uma formação formal para o

professor para o uso pedagógico das tecnologias no ensino de inglês. Segundo o aluno-

professor, caso isso não ocorra, a insegurança pode se tornar um obstáculo para a utilização

das TDIC. O excerto a seguir elucida essa concepção:

Transcrição 22: relato reflexivo

Lukan: Reconheço a necessidade de instruir o professor a saber usar

melhor as tecnologias para um determinado propósito pedagógico para

ensinar inglês, porque, no geral, o professor não sabe isso. Assim, o

professor pode adaptar a tecnologia com atividades de inglês centradas nos alunos, de acordo com suas necessidades. Sem essa instrução um pouco mais

formal o professor pode ficar inseguro e a tecnologia ser considerada,

apenas, um suporte na aula de inglês.

Por suas declarações, posso inferir que Lukan percebe a importância de uma formação

mais acadêmica, por meio de uma disciplina específica de tecnologia inserida no curso de

graduação ou de um curso de formação continuada ou por meio da transversalidade das

tecnologias no currículo, para o professor de inglês saber usar de maneira pedagógica as

tecnologias em sala de aula. Ainda segundo sua percepção, a maioria dos professores não

detém conhecimento suficiente para usar as tecnologias no contexto escolar por não possuir

essa formação.

Frente ao exposto, menciono Nóvoa (2014) para compartilhar com o pensamento do

aluno-professor ao se referir à relevância do desenvolvimento profissional que os cursos de

formação podem oferecer no sentido de preparar o (futuro) professor para uma ação

consciente de sua responsabilidade no seu próprio fazer pedagógico. Nesse âmbito, sem essa

180

formação específica de base consciente para o uso pedagógico das tecnologias, o professor

“pode ficar inseguro”, como bem argumentou o aluno-professor.

Outro aspecto apontado por Lukan demonstra que os cursos de formação podem

proporcionar também ao professor condições para saber adaptar as tecnologias de acordo com

as necessidades de seus alunos no ensino de inglês, promovendo, assim, situações de

aprendizagem centradas em práticas didáticas voltadas para os alunos. Nessa direção, o

pensamento do aluno-professor me permite inferir que a prática didática na sala de aula ainda

pode estar centrada no professor, pois ele que escolhe o conteúdo a ser ministrado e a

interface digital a ser usada.

Em outras palavras, a fala de Lukan leva-me a deduzir que o professor deixa de

considerar as necessidades atuais dos alunos, sendo, ainda, o elemento central no processo de

ensino-aprendizagem. O que me leva a concordar com Fava (2014, p. 70) ao apontar que a

tecnologia não modifica “o que aprendemos, mas altera o modo como aprendemos”. Por essa

razão, os cursos de formação tecnológico-digital precisam ser flexíveis (deixarem de ser de

caráter de treinamento ou ensinar cartilhas prontas e definidas) e fomentar práticas reflexivas

para o docente da era 3.0, conforme salienta Fava (2014, 2016), além de criar oportunidades

para que compreendam, se apropriem e ultrapassem o simples uso e conhecimento da

informação das (sobre as) tecnologias. Caso contrário, a prática pedagógica continuará sendo

obsoleta, não considerando “as potencialidades pedagógicas – de participação, interação,

movimento, ação, etc. – do meio digital” (KENSKI, 2013, p. 97).

Por fim, Lukan salienta que, sem os cursos de formação, o professor pode usar a

tecnologia apenas como um suporte na sala de aula, ou seja, de forma ilustrativa. Essa visão

de Lukan está em consonância com a do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016, p. 101) ao

salientar que a tecnologia, nessa direção, é usada “para apoiar a apresentação de conteúdos,

em substituição ou em complemento à lousa e aos livros didáticos.”

Lukan também aponta em sua outra fala a ausência da qualidade de conexão com a

Internet no laboratório de informática da escola para se ensinar a língua inglesa, conforme se

pode observar no excerto a seguir:

Transcrição 23: questionário final

Lukan: A qualidade de conexão da Internet na escola (laboratório de informática) pode prejudicar o ensino de inglês [...], sendo a conexão de

baixa qualidade, de perda total da conexão, ou parcialmente, quando os

computadores estão conectados ao mesmo tempo. Isso pode prejudicar um

trabalho coerente com outras tecnologias.

181

O aluno-professor afirma que a dificuldade de acesso à Internet pode estar relacionada

à baixa qualidade de velocidade da conexão quando vários computadores são conectados,

simultaneamente, pelos alunos no laboratório de informática da escola, ocasionado, assim,

perda total ou parcial do sinal digital. Assim sendo, a fala de Lukan mostra que a qualidade de

conexão parece ocasionar efeitos negativos (e desmotivadores) no contexto de ensino-

aprendizagem de inglês, em que se pensa a inclusão de outras interfaces tecnológicas.

Conforme pontuam Veen e Vrakking (2009, p. 43), “a Internet é tão real [...] quanto à escola.

É um local de encontro, um ciberespaço social”.

Com base nas falas de Lukan a respeito dos entraves ocasionados pelas TDIC no

processo de ensino-aprendizagem de inglês no contexto escolar, é possível fazer as seguintes

deduções:

- a falta de uma formação tecnológica mais formal para o professor pode ocasionar:

(a) ausência de uma prática consciente para o uso das tecnologias;

(b) carência de capacidade para adaptar as atividades de acordo com as necessidades

dos alunos e

(c) insegurança para usar as tecnologias

- as tecnologias são usadas de maneira ilustrativa e

- a existência da baixa qualidade de conexão com a Internet nos laboratórios de

informática da escola não é incomum.

Como pode ser observado, as falas de Lukan direcionam para a necessidade de uma

formação mais formal/acadêmica com base tecnológica para fins pedagógicos para o

professor, sob responsabilidade das universidades/faculdades e/ou centros de formação do

estado ou do município, aspecto esse também mencionado por Lasn. De acordo com Lukan,

essa formação acadêmica poderia levar o professor a usar as tecnologias conscientemente,

considerando as necessidades dos alunos, além de deixá-lo confiante para práticas didáticas

no ensino-aprendizagem de inglês, como mencionado no excerto número vinte e dois.

Caminhando nessa direção, concordo com as ideias de Silva (2017) quando afirma que

os cursos de licenciatura, em geral, apresentam desafios diversos para formar professores para

atuarem na educação básica, principal contexto de atuação da maioria dos alunos egressos.

Entre esses desafios está “a articulação dos currículos dos cursos de formação docente com o

das escolas de educação básica para favorecer ao licenciado a compreensão dos complexos

processos que se desenvolvem na escola em geral e nas salas de aula, especificamente.”

(SILVA, 2017b, p. 197).

182

Lukan também aponta que as tecnologias são usadas de maneira ilustrativa nas aulas

de língua inglesa e que há uma baixa qualidade de conexão com a Internet nos laboratórios de

informática da escola. Dessa forma, os excertos das falas de Lukan, e também de Lasn, me

levam a afirmar que a formação tecnológico-digital do professor de inglês se faz cada vez

mais necessária no contexto atual, razão pela qual os cursos de Letras precisam se adaptar e

incluir essa formação como parte legitimadora de seus projetos político-pedagógicos.

Com essa formação acadêmica, os professores poderão tornar-se conscientes acerca

do uso funcional das TDIC no contexto de ensino-aprendizagem de inglês e para práticas

reflexivas sobre sua utilização, como mencionado por Lukan em sua fala no excerto número

vinte e dois. O que poderá ajudar o futuro professor a organizar melhor o seu fazer

pedagógico.

Considero, assim, haver necessidade de os cursos de Letras-Inglês fomentarem uma

prática reflexiva para as potencialidades de uso das tecnologias, pois, segundo Liberali

(2010), não se pode retirar do licenciando o direito de pensar e tomar decisões, para, no

futuro, saber gerenciar sua ação pedagógica conscientemente.

3.5.3 Percepção de Ralph

Ralph mostra em sua declaração que os professores apresentam certa resistência em

usar as tecnologias no ensino-aprendizagem de inglês, o que parece ser um entrave. É o que

pode ser constado em sua fala, no excerto a seguir:

Transcrição 24: entrevista

Marcus: Quando você diz que o professor não quer usar tecnologia para

ensinar inglês, o que você quer dizer? Ralph: É que tem professor que não quer usar tecnologia de jeito

nenhum.

Marcus: Você acha mesmo?

Ralph: É verdade, professor. Prefere ficar no livro (didático) ou mandar o aluno copiar a matéria do quadro. É mais fácil para ele (professor).

Marcus: Por que você pensa dessa forma?

Ralph: Olha, professor, eu acho que ele não sabe usar tecnologias e isso faz que ele abandone por completo a ideia de usar com os alunos.

Marcus: Hum, hum

Ralph: Também eu acho que o professor, por não usar para uso próprio,

também faz que ele não use para ensinar inglês. O senhor não acha?

Marcus: Será?

Ralph: Eu acho. Dá mais trabalho preparar a aula porque a gente precisa

estudar mais e entender como é a ferramenta.

183

Marcus: Com certeza!

Ralph: E tem muito professor que não quer ter esse trabalho.

O aluno-professor inicia sua fala apontando para uma situação recorrente no contexto

educacional brasileiro atual, que está relacionada à aversão ao uso de tecnologia pelo

professor, pois, segundo Ralph, “não quer usar [...] de jeito nenhum”. Assim, a visão de Ralph

está em consonância com as visões de Moran (2012), Costa (2013), Kenski (2013), entre

outros pesquisadores, ao salientarem que muitos professores podem se tornar resistentes ao

uso das tecnologias como interfaces didático-pedagógicas em sala de aula.

Ainda de acordo com a declaração do aluno-professor, essa resistência (ou aversão) ao

uso de recursos tecnológicos pode estar condicionada a dois fatores principais. O primeiro

fator levantado pelo aluno-professor diz respeito à falta de familiarização com o uso das

tecnologias. Posso, então, inferir, nessa concepção, que o professor não se sente preparado o

suficiente para incorporá-las em seus contextos escolares ou acadêmicos. Por isso, Ralph

salienta em sua fala que por não possuir afinidade com as tecnologias, o professor “abandone

por completo a ideia de usar tecnologias com os alunos.”

O segundo fator apontado por Ralph volta-se para a falta do uso das tecnologias no dia

a dia pelo próprio professor, o que se pode deduzir que esse docente não é um usuário

conectado com o mundo virtual. O pensamento de Ralph está mais uma vez em comunhão

com os pensamentos de Moran (2012), Costa (2013), Kenski (2013), entre outros

pesquisadores, ao pontuarem que as tecnologias não fazem parte da vida de muitos

professores, razão pela qual não sabem como integrá-las para fins educativos, mais

especificamente, na percepção de Ralph, para ensinar inglês.

Entendo que esses dois fatores mencionados por Ralph se tornam relevantes para a

inclusão consciente das tecnologias pelo professor no contexto escolar, e, claro, também no

contexto acadêmico. Não obstante, posso pontuar outro fator que também pode estar

interligado aos demais mencionados anteriormente, que seria o conhecimento pedagógico de

uso dessas tecnologias, ou seja, a apropriação pedagógica das TDIC para o ensino-

aprendizagem de inglês como parte da formação digital do professor. Caso não essa formação

não seja incluída em seu processo de desenvolvimento profissional, o professor não saberá

fazer a integração das tecnologias ao contexto de ensino-aprendizagem (de inglês).

Assim sendo, essas percepções me fazem concordar com Mayrink e Albuquerque-

Costa (2017) ao ressaltarem que

184

é preciso reconhecer que o acesso às ferramentas disponibilizadas pela Web

2.0 (com as possibilidades que estas abrem para promover a interação e

compartilhamento de informações e documentos) e seu uso como recurso pedagógico permitem ao professor criar oportunidades para que o aluno se

engaje nas mais diversas práticas de linguagem. (MAYRINK;

ALBUQUERQUE-COSTA, 2017, p. 4).

É importante observar que Ralph parece ter consciência da necessidade de estudos,

como qualquer profissão requer, para saber usar, como professor, a ferramenta digital

escolhida e suas potenciais funcionalidades para o planejamento de suas aulas. Por essa razão,

a maioria dos professores, segundo Ralph, acaba excluindo o uso pedagógico das tecnologias

em sala de aula visto que “dá mais trabalho preparar a aula”.

Por conseguinte, fica evidente, pela fala de Ralph, que o professor prefere adotar

metodologias que lhe são mais familiares e tradicionais no contexto de ensino-aprendizagem

de inglês, como o livro didático e o quadro com giz, ou seja, “é mais fácil pra ele”. Nessa

perspectiva, conforme apontado pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (2016, p. 19), a

exclusão, pelo professor, do uso das tecnologias no contexto escolar torna-se uma falha em

“compreender que aprender e ensinar com tecnologia requer a renovação das abordagens

pedagógicas, planejamento, preparação e compreensão do currículo.”

Ralph também aponta como possível entrave o uso das tecnologias de maneira

incoerente pelo professor, ou seja, por meio da transferência de atividades que podem ser

realizadas perfeitamente no analógico para o meio digital, conforme se pode observar no

excerto a seguir:

Transcrição 25: atividade do Facebook

Ralph: O professor usa a tecnologia para ensinar inglês como se fosse

uma roupa nova. Por exemplo, o professor manda o aluno ler na tela do

computador em vez de ler no papel ou manda o aluno fazer exercícios de gramática em sites em vez de copiar do quadro ou fazer no livro. Nada

mudou. Métodos antigos usados com novas ferramentas tecnológicas, sem

objetivos reais de aprendizagem.

Quando Ralph fala a respeito de ensinar inglês usando a tecnologia como uma “roupa

nova”, possivelmente deseje salientar que o professor considera as ferramentas tecnológicas

como uma nova maneira de realizar atividades tradicionais, ou seja, substitui o antigo recurso

pelo novo. Por essa razão, considerando a fala do aluno-professor, posso inferir que o

professor ainda continua a reproduzir práticas antigas, tradicionais e analógicas com a ajuda

das tecnologias digitais, como bem salienta Ralph, “métodos antigos usados com novas

ferramentas.”

185

Como se pode observar, os excertos vinte e quatro e vinte e cinco das falas de Ralph

fazem-me inferir que os possíveis entraves ocasionados com o uso das TDIC no ensino-

aprendizagem de inglês se devem a:

- resistência do professor, tais como:

(a) não saber usar tecnologia e

(b) não usar tecnologia para uso próprio;

- uma maior exigência no trabalho do professor e

- uma nova “roupagem” para práticas tradicionais.

Diante dessas falas de Ralph, sou levado a deduzir que a resistência de professores em

usar as TDIC no ensino-aprendizagem de inglês está, pontualmente, relacionada à falta de

confiança, como também pontuou Lukan em suas falas, além do fato de talvez não serem

usuários frequentes dessas tecnologias. Todavia, o que poderia tornar essa resistência menos

acentuada seriam as formações tecnológica e pedagógica como base prioritária e central para

“adequação de professores nascidos e formados em outro momento para atuarem,

compreenderem, intervirem e construírem conhecimento no meio digital”, conforme ressalta o

Comitê Gestor da Internet no Brasil (2016, p. 19).

Diante do exposto, nota-se que o professor ainda usa a tecnologia na atualidade como

uma nova ferramenta digital para a realização de práticas antigas, como pontuou Ralph no

excerto número vinte e cinco. Não obstante, na concepção de ensino atual, parece que usar

tecnologia se torna sinônimo de práticas inovadoras no ensino de inglês. Por essa razão,

concordo com Cortella (2014) ao afirmar que a inovação não está na tecnologia, mas na

atitude para a realização de projetos pedagógicos e sociais, nos quais a tecnologia está

incorporada.

3.5.4 Percepção de Tom

Ao relatar sua opinião a respeito de possíveis entraves com o uso das tecnologias no

ensino-aprendizagem de inglês, Tom demonstra sua preocupação com a proibição de uso de

telefones celulares nas escolas, pois essa tecnologia está potencialmente presente no cotidiano

de qualquer pessoa, como crianças, jovens e adultos, como mostra o excerto a seguir:

186

Transcrição 26: entrevista

Marcus: [...] Mas eu queria saber a sua posição sobre o uso do celular na

escola.

Tom: Eu li um artigo [...] que mencionava a proibição do celular em

muitas escolas. É mesmo verdade, professor? Marcus: Sim.

Tom: Isso é um retrocesso, então.

Marcus: Como assim? Tom: Como podem proibir o que todo mundo possui, professor? Eu não

entendo!

Marcus: O que você não entende? Tom: A escola está deixando de aproveitar uma ferramenta importante

no ensino de inglês. Hoje todo mundo tem um celular, o adolescente, o

adulto, até mesmo as crianças, não é mesmo? por mais simples que seja o

aparelho. Marcus: Certo...

Tom: O celular não é usado apenas para falar mais hoje em dia, não é

verdade? Muitas pessoas não usam o celular para fazer uma ligação. Marcus: Hum, hum.

Tom: A escola esquece que o aluno joga, acessa as redes sociais e a

Internet também. Tudo está no celular, às vezes de graça ou não. Mas está

lá. E isso a escola parece que esquece. Marcus: E essa tecnologia pode ajudar o professor?

Tom: Claro, professor. Esse é novo laboratório (de informática) da escola

(risos). Marcus: É mesmo? Por quê?

Tom: Com certeza, professor. Imagina... [...] o aluno carrega

calculadora, filmadora, dicionário, enciclopédia, tradutores, câmera fotográfica, programas de jogos e muito mais, não é verdade?

Marcus: Carrega?

Tom: Sim, professor. Tudo isso tá no celular do aluno.

Marcus: Perfeito! Tom: Então, professor, a escola pode aproveitar tudo isso para ensinar

inglês. Como proibir uma tecnologia que faz parte do dia a dia do aluno?

É interessante observar que Tom parece não acreditar na proibição de uso do celular

no contexto escolar a partir da leitura realizada de um artigo que menciona esse fato. Tom

refere-se a leis estaduais e municipais que proíbem o uso de aparelhos celulares e

equipamentos eletrônicos na maioria das escolas brasileiras das redes públicas estadual e

municipal de ensinos fundamental e médio, como foi mencionado no Capítulo do Quadro

Teórico desta pesquisa.

A surpresa para esse impedimento de uso fica em evidência quando Tom utiliza a

expressão “É mesmo verdade, professor?”. Seu ceticismo pode ser confirmado por meio da

resposta positiva do pesquisador. Assim sendo, Tom parece não compreender o porquê dessa

proibição, pois qualquer pessoa, de qualquer idade, possui essa tecnologia a cada dia, “por

mais simples que seja o aparelho (de celular)”, nas palavras do aluno-professor.

187

Tom declara também que o telefone celular deixa de ter a sua função primária na

contemporaneidade, a saber, fica evidente, em sua fala no excerto mostrado anteriormente,

que as pessoas não realizam mais ligação telefônica com muita frequência. Nesse sentido, o

aluno passa a ter acesso a uma tecnologia mais acessível e gratuita ou de baixo custo, razão

pela qual qualquer pessoa pode acessar as redes sociais e a Internet, além de jogar, usando

apenas o telefone celular, realidade essa declarada pelo aluno-professor. Afinal, como bem

destaca Prensky (2010, 2012), o celular torna-se o principal meio tecnológico de comunicação

e de compartilhamento entre as pessoas, na maioria das vezes.

O excerto da fala de Tom confirma a utilização do celular como uma potente

ferramenta tecnológica no ensino-aprendizagem de inglês, sendo tão importante quanto o

laboratório de informática da escola. Em outras palavras, pode-se deduzir pela sua fala que as

mesmas atividades a serem realizadas nos laboratórios de informática da escola podem,

também, ser efetuadas pelo telefone móvel, o que leva Tom a afirmar que esse seria “o novo

laboratório da escola”. É possível verificar, inclusive, que o aluno-professor lista na entrevista

uma série de aplicativos e interfaces tecnológicas que estão presentes nos celulares da maioria

das pessoas, tais como “calculadora, filmadora, dicionário, enciclopédia, tradutores, câmera

fotográfica, programas de jogos”, entre outros.

Nesse sentido, como pode ser observado, Tom nos leva a refletir que não faz mais

sentido excluir o uso das TDIC no contexto de sala de aula, alegando, por exemplo, que a

escola não dispõe de um laboratório de informática moderno com equipamentos tecnológicos

de última geração. Toda a modernidade necessária para usar as TDIC pedagogicamente

integradas ao ensino-aprendizagem de inglês cabe, atualmente, na palma da mão ou está

presente no bolso de qualquer pessoa. Em outras palavras, o telefone móvel pode ocupar uma

posição primária integrada às atividades desenvolvidas pelo professor no ensino da língua

inglesa.

Frente ao exposto, a argumentação de Tom parece revelar que não se pode mais

impedir o que está presente e consolidado no cotidiano do aluno. Assim, Tom termina sua fala

com a pergunta “como proibir uma tecnologia que faz parte do dia a dia do aluno?”. Desse

modo, parece que o aluno-professor está se questionando, e ao mesmo tempo surpreso pelo

fato de os governos municipais e estaduais proibirem o uso de uma tecnologia na escola que

já se encontra integrada à vida das pessoas de maneira inata.

Seguindo por essa direção, torna-se, assim, relevante a inclusão da cultura digital no

ambiente de sala de aula, cada vez mais presente na sociedade atual, pois como defendem

Iannone, Almeida e Valente (2016),

188

a escola que participa da cultura digital e dialoga com ela assume papel

central na formação de estudantes com autonomia para tomar decisões,

argumentar em defesa de suas ideias, trabalhar em grupo, atuar de forma ativa e questionadora diante dos acontecimentos, dificuldades e desafios, e

participar do movimento de transformação social. (IANNONE;

ALMEIDA;VALENTE, 2016, p. 62).

Ainda a respeito de outro entrave a ser enfrentado acerca do uso das TDIC no contexto

escolar, Tom verbaliza para a turma, durante a discussão de um texto em sala de aula

intitulado “Ambientes Digitais” (BRAGA, 2013), que não saberia como lidar com os

possíveis plágios que viesse a encontrar nos trabalhos de seus alunos. Sua fala se confirma

pela nota de campo a seguir do professor-pesquisador:

Transcrição 27: notas de campo

Marcus: Durante a discussão do texto ‘Ambientes Digitais’, de Braga

(2013), em sala de aula, Tom mostrou-se preocupado e também ansioso, por não saber lidar, como futuro professor de inglês, com os possíveis plágios

que poderia encontrar nos trabalhos de seus futuros alunos. Ele argumentou

ainda que o aluno conhece e visita muitos sites, que não daria para monitorar a todos. Ademais, ele menciona também que a prática do “copiar-colar”

tornou-se muito mais comum entre os alunos na era da Internet.

Por meio de a fala de Tom no excerto vinte e sete, posso inferir sua preocupação,

como professor de inglês em formação pré-serviço, em saber identificar possíveis cópias de

textos retiradas da Internet pelos alunos em seus trabalhos escolares. Segundo Tom, trata-se

de uma prática mais recorrente nos tempos atuais com o acesso fácil à informação devido ao

advento da própria Internet. É, portanto, com base nesse enfoque, que Tom também manifesta

sua ansiedade quando pondera que “o aluno conhece e visita muitos sites, que não daria para

monitorar todos”.

As observações de Tom levam-me a inferir que o uso das TDIC no contexto escolar, e

também acadêmico, se tornou motivo de preocupação para os professores atualmente, assim

como para o aluno-professor, pois os alunos estão cada vez mais expostos a sites e a materiais

da Internet, o que pode aumentar a quantidade de plágios identificados nos trabalhos escolares

e acadêmicos. Por essa razão, concordo com Prensky (2012), ao afirmar que o professor da

contemporaneidade deveria se tornar um detetive digital na cultura CRTL+C, CTRL+V, para

poder identificar possíveis cópias de materiais retiradas da Internet.

Com base nesses referenciais, entendo que a escola deveria usar as tecnologias e as

mídias digitais como interfaces potenciais de ensino, pesquisa e criação, tornando o aluno um

produtor e um usuário (um produsuário, ROJO; BARBOSA, 2017) crítico para aprender a

189

aprender (DEWEY, 1910) por meio das TDIC, para que possa “aprender perguntando e

respondendo os desafios educativos e formativos da sociedade atual” (SANCHO, 2006, p.

31). Nessa direção, os alunos poderiam estar motivados para aprender por meio de projetos e

atividades articulados à sua realidade cidadã, o que poderia diminuir, sob meu ponto de vista,

a prática de plágios em seus trabalhos.

Dessa forma, os excertos de Tom levam-me a deduzir que os possíveis entraves

encontrados com o uso das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês podem estar

relacionados:

- à proibição do uso do telefone celular nos contextos escolares e

- aos plágios de textos da Internet encontrados nos trabalhos escolares dos alunos.

Em resumo, considerando-se as falas de Tom nesta subseção, ressalta-se a necessidade

de revisão das leis estaduais e municipais brasileiras para que o uso do telefone móvel possa

ser permitido na maioria das escolas públicas como uma tecnologia digital integrada ao

processo de ensino-aprendizagem e catalizadora da construção de conhecimento.

Concordo com Tom quando afirma não fazer mais sentido proibir o uso na escola

daquilo que faz parte do cotidiano da maioria das pessoas na atualidade, sejam crianças e

adolescentes ou adultos, pois, conforme salientam Veen e Vrakking (2009), Tapscott (2010),

os telefones celulares são usados com muita frequência, tornando os teclados do computador e

o mouse cada vez menos usados na era digital. Nessa direção, não seria cauteloso generalizar

uma questão como essa, mas o pensamento desses autores me leva a afirmar, com base nas

pesquisas do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2014, 2016), que o telefone celular se torna

uma das tecnologias mais usadas do que o computador, possivelmente, por ser uma tecnologia

acessível para muitas pessoas, por ser extremamente leve, por funcionar em qualquer lugar e

por ser fácil de carregar (portabilidade).

A permissão do uso do celular poderia solucionar os vários problemas tecnológicos

enfrentados por muitas escolas brasileiras, dentre eles não possuir um laboratório de

informática bem equipado para atender às necessidades de seus alunos, na maioria das vezes.

Assim sendo, o telefone móvel estaria dentro da sala de aula, como uma interface digital

pedagógica, com todas as suas funcionalidades e potencialidades, constituindo-se como o

“novo laboratório de informática”, como salientou Tom no excerto número vinte e seis. Em

outras palavras, a tecnologia não estaria mais em uma sala trancada na escola, com grades e

cadeados, por questão de segurança, com acesso a poucas pessoas, mas na palma da mão de

muitos alunos e professores. O que me leva a concordar mais uma vez com Sancho (2006, p.

190

18) ao afirmar que as tecnologias “estão aí e ficarão por muito tempo, estão transformando o

mundo e deve-se considerá-las no terreno da educação.”

Portanto, provavelmente, com o uso autorizado do telefone móvel em sala de aula, os

alunos poderiam envolver-se em suas aprendizagens, com atividades relacionadas diretamente

às suas necessidades e aos seus interesses, ou seja, o aluno passaria a ser autor de sua própria

aprendizagem. Assim sendo, corroboro o pensamento de Pischetola (2016, p. 50) ao ponderar

que “as novas gerações não conseguem imaginar como seria aprender fora do mundo digital,

onde as oportunidades de participação, criação e compartilhamento são inúmeras e cada vez

mais sofisticados”. Por essa razão, o aluno hoje não aprende para fazer, mas aprende-fazendo

(VEEN;VRAKKING, 2009; PALFREY; GASSER, 2011). Nessa seara, trago Hattie (2017, p.

21) que complementa a visão desses autores ao afirmar que “os alunos estão ávidos para

serem desafiados a aprender.”

Por conseguinte, o uso do telefone celular pode também proporcionar ao professor um

trabalho educacional funcional para atividades e projetos pedagógicos e para realizar

pesquisas na Internet em sala de aula, até por ser um artefato tecnológico que propicia o

acesso ao insumo para o ensino-aprendizagem de inglês. Nessa perspectiva, acredito que

possíveis plágios poderiam ser evitados e essa questão não seria mais uma preocupação para o

professor, como pontuou Tom no excerto de sua fala número vinte e sete.

Finalizo esta seção a respeito da percepção dos alunos-professores para a inclusão das

TDIC no processo de ensino-aprendizagem de inglês, apresentando, a seguir, um quadro

resumo dos resultados recorrentes, baseado nos excertos das falas de Lasn, Lukan, Ralph e

Tom apresentados anteriormente. Essa inclusão está vinculada a possíveis entraves que foram

apontados pelos alunos-professores participantes desta pesquisa.

Quadro 15 – Inclusão das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês

ENTRAVES NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE INGLÊS COM TDIC

Conhecimento de tecnologia dos alunos maior do que dos professores.

Uso do laboratório de informática de modo indiscriminado.

Infraestrutura para tecnologia precária (nas escolas).

Proibição legal/ institucional para o uso de dispositivos móveis.

Insegurança e falta de conhecimento por parte dos professores para o uso das tecnologias.

Fonte: elaborado pelo autor.

191

O resumo dos resultados da análise dos dados dos participantes mostrado no Quadro

15 levam-me a algumas ponderações que considero relevantes. Primeiro, os alunos parecem

conhecer tecnologia mais do que os professores no momento atual. Na visão de Tapscott

(2010), trata-se de uma geração nascida e educada em um ambiente digital, razão pela qual

não teve a necessidade de ser ensinada a usar os novos aparatos tecnológicos.

É claro que ainda existem alunos que não possuem computador ou acesso à Internet

nos dias atuais, razão pela qual a escola deveria se tornar um centro de ensino-aprendizagem

por meio de uso das tecnologias. Não se pode negar o que está legitimado fora dos muros da

escola. Nessa direção, os professores poderiam trabalhar em parceria com seus alunos na

tentativa de juntos construírem o conhecimento.

Segundo, os laboratórios de informática da escola apresentam um número limitado de

computadores, na maioria das vezes, com falta de manutenção dos mesmos, além de

apresentar uma conexão com a Internet de baixa qualidade. Por essa razão, o laboratório de

informática, quando existe, acaba se tornando um ambiente que pouco contribui para a

formação do aluno no contexto escolar, na maioria das vezes, um espaço ocioso, que nem

sempre é usado pelo professor e proibido pela escola aos alunos. É evidente que muitas

escolas não apresentam condições para garantir a manutenção dos equipamentos em um bom

nível operacional, razão pela qual a escola poderia usar e tirar proveito de uma tecnologia que

muitos alunos trazem no bolso da roupa ou na palma da mão, ou seja, o telefone celular.

Não obstante, o uso de aparelhos celulares no ambiente escolar está proibido por

Decretos Estaduais ou Municipais. Essa proibição deveria ser revista pelos Órgãos

competentes caso o professor desejasse usar o celular para fins pedagógicos, tornando, talvez,

seu uso consciente entre os alunos no processo de ensino-aprendizagem de inglês, o que

poderia evitar possíveis plágios de trabalhos da Internet, motivo, também, de preocupação

entre os professores.

Finalmente, os professores podem ficar inseguros em usar as tecnologias em sala de

aula possivelmente por não terem um conhecimento sólido de interfaces digitais que possam

auxiliá-lo no ensino de inglês. As tecnologias precisam ser integradas à prática pedagógica do

professor e não ficar à margem ou como elemento secundário. Diante do exposto, Bernabé

(2012) enfatiza que não se pode conhecer e dominar uma variedade de interfaces digitais

novas, que são criadas, desenvolvidas e disponibilizadas a um ritmo cada vez mais acelerado,

e se tornam obsoletas rapidamente, também, a cada momento sócio-histórico e cultural, o que

faz professores serem sempre eternos aprendizes dessas tecnologias.

192

Seguindo por essa direção, sou levado a considerar que a formação tecnológica do

professor (pré-serviço ou continuada) apresenta relevância primordial para que as TDIC

possam ser usadas de maneira reflexiva nas atividades pedagógicas de ensino-aprendizagem

de inglês. Sob esse prisma, as TDIC passam a ter um caráter funcional, integradas diretamente

às necessidades dos alunos, deixando, assim, de possuir um papel meramente ilustrativo na

escola.

Com essa observação, acredito que a formação tecnológico-digital formal pode

dinamizar o empoderamento do professor para saber enfrentar possíveis entraves ocasionados

pelo uso das TDIC no contexto de sala de aula, como os mencionados pelos quatro

participantes da pesquisa. Esse empoderamento poderia tornar o processo de ensino-

aprendizagem de inglês criativo, crítico e integrado às tecnologias disponíveis no contexto

escolar.

Após a exposição da percepção dos alunos-professores acerca da inclusão das TDIC

no ensino-aprendizagem de inglês, apresento e discuto, a seguir, os dados que mostram a

contribuição da disciplina curricular acadêmica Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras do Curso de Letras-Inglês da FALEM para o fomento do letramento

digital de Lasn, Lukan, Ralph e Tom.

3.6 O fomento do letramento digital

As discussões a seguir referem-se à terceira pergunta da pesquisa, a saber, como a

disciplina curricular acadêmica contribuiu para o fomento do letramento digital dos alunos do

curso de Letras-Inglês. Assim, passo, agora, a focalizar as falas dos quatro participantes em

relação à essa implicação.

3.6.1 O letramento digital de Lasn

Lasn afirma que houve uma contribuição positiva da disciplina para sua formação

acadêmica com relação ao uso das tecnologias. Para ela, ser usuária das TDIC no cotidiano

não a fazia competente para ensinar inglês utilizando essas tecnologias, como pode ser visto

no excerto a seguir:

193

Transcrição 28: autoavaliação

Lasn: Gostei muito da disciplina de tecnologia porque pude entender como

posso usar e integrar as tecnologias no meu contexto de sala de aula

para ensinar inglês. Eu já uso o computador com muita frequência para

várias coisas – estudar, bater papo com meus amigos no Face(book), baixar música para ouvir, etc. – e também, é claro, uso muito o celular diariamente.

Mas a disciplina me fez entender que mesmo sendo usuária das

tecnologias digitais no meu dia a dia não é suficiente para eu ensinar

inglês de maneira competente, integrando as tecnologias na minha sala de aula.

Como pode ser observado, Lasn ficou satisfeita por ter cursado uma disciplina

específica de tecnologia, pois a disciplina pôde oportunizar a ela maneiras de uso e de

integração de vários recursos tecnológicos a serem implementados na sala de aula para o

ensino da língua inglesa. Por essa razão, ela reconhece a importância que a disciplina sobre

tecnologia teve para sua formação como professora de inglês ao afirmar que agora passa a

“ver as potencialidades das tecnologias” para ensinar seus alunos. Em outras palavras,

entendo que essa disciplina curricular ampliou a percepção de Lasn para as reais

potencialidades de uso das tecnologias no contexto educacional.

A meu ver, então, a percepção de Lasn para essas reais potencialidades estariam

relacionadas às competências pedagógicas proporcionadas por meio das tecnologias na esfera

escolar e acadêmica, pelos usos de interfaces digitais e pelos ambientes virtuais de

aprendizagem gratuitos, por exemplo. Portanto, os alunos tornar-se-iam competentes

digitalmente para usar as tecnologias de maneira funcional e reflexiva, criando sentidos e

significados particulares, de acordo com suas necessidades e seus interesses, para o acesso à

informação. Em outras palavras, o aluno estaria sendo letrado digitalmente. Entretanto,

parafraseando o pensamento de Leffa (2016a, p. 153), é necessário compreender que não são

as tecnologias por si só que melhoram o ensino, mas “o uso que fazemos delas.”

Desmitificando, assim, a impressão de que a tecnologia, sozinha, seja sinônimo de ensino

com qualidade.

Ainda chama atenção na fala de Lasn o fato de ela salientar ser usuária frequente do

computador, por meio do qual realiza várias atividades como estudar, conversar com amigos

no Facebook, realizar download de músicas, entre outras atividades, além de usar o aparelho

de telefone móvel cotidianamente. Esses fatores me fazem inferir que Lasn apresenta

determinados tipos de múltiplos letramentos digitais, ou seja, ela é usuária de uma tecnologia

194

com propósitos sociais e de entretenimento, pois domina o uso do computador e do telefone

celular, por meio do qual realiza várias atividades frequentemente.

Logo, as falas de Lasn conduzem-me a concordar com Soares (1998/2001) ao

salientar que não faz mais sentido falar em letramento como um termo monolítico, mas em

múltiplos letramentos, como professa Street (1993, 1995/2015), adquiridos em práticas

sociais divergentes, que empoderam o sujeito a lidar com situações e com exigências

específicas de seu contexto social. Entremeadas com a prática dos letramentos, compreendo

que as TDIC precisam ser também incorporadas à sala de aula de maneira balanceada, ter

significado e fazer sentido para seu uso, tornando-se fomentadoras da construção do

conhecimento, na percepção de Valente (2008), para que juntas possam possibilitar a criação,

o desenvolvimento e a avaliação de projetos e atividades educacionais que respondam às

necessidades dos alunos (SANCHO, 2006; MILLS, 2016).

Todavia, a aquisição dos letramentos digitais é insuficiente para a aluna-professora

ensinar inglês utilizando as tecnologias, como pode ser observado em sua fala. Lasn

reconhece que o fato de ser usuária de tecnologia no dia a dia não a torna competente para

usá-la com seus alunos no ensino de inglês. Nessa direção, ela consegue compreender a

importância da disciplina curricular sobre tecnologias, que a ajudou a adquirir outro tipo de

letramento digital, ou seja, para propósitos de ensino-aprendizagem. Sob esse enfoque, as

ideias de Lasn comungam com as de Warschauer (2006) ao salientar que a aquisição do

letramento digital requer o desenvolvimento de diferentes habilidades, conhecimentos e

também de atitudes, ou seja, de diferentes competências.

Lasn aponta ainda que aprendeu a usar vários recursos tecnológicos durante a

disciplina curricular, confessando que não sabia como usar blog, hot potato, webquest, entre

outros, conforme demonstra seu comentário seguinte:

Transcrição 29: autoavaliação

Lasn: Agora termino a disciplina conhecendo vários recursos. Comecei a

disciplina sem saber usar esses recursos, agora já sei como fazer um blog, um hot potato, uma webquest e outros que trabalhamos em sala de aula neste

semestre. O que me faz ter mais segurança em usar criticamente esses e

outros recursos, pois aprendi a usá-los pedagogicamente. A disciplina me fez ver as potencialidades das tecnologias que eu, como professora de

inglês, posso ensinar para meus alunos.

A fala do excerto acima me leva a deduzir que a disciplina também proporcionou à

aluna-professora uma aquisição de letramentos digitais com finalidades pedagógicas. Por

195

conseguinte, Lasn termina a disciplina apresentando mais confiança para usar as tecnologias

com um olhar crítico e, principalmente, sabendo como integrá-las pedagogicamente ao

contexto de ensino-aprendizagem da língua inglesa. Nessa perspectiva, trago Buckingham

(2006), que comunga com as declarações de Lasn ao mencionar que as tecnologias são

responsáveis pelo letramento digital do aluno, que precisam fazer sentido para a aquisição

desse letramento e ser justificáveis no ensino desses alunos.

Dessa forma, com base nas falas de Lasn, é possível afirmar que a disciplina curricular

acadêmica sobre tecnologias fomentou o seu letramento digital porque:

- ela pode entender como saber usar e integrar as tecnologias em seu contexto de sala

de aula para ensinar inglês;

- a disciplina a fez entender, que o fato de ser usuária das tecnologias digitais em seu

dia a dia não é suficiente para ela ensinar inglês de maneira competente integrando o

uso das tecnologias em sua sala de aula;

- a disciplina a fez ter mais segurança para usar criticamente esses e outros recursos,

pois aprendeu a usá-los pedagogicamente e

- a disciplina a fez ver as potencialidades das tecnologias para ensinar seus alunos.

Por meio da análise dos dados, pode-se observar que Lasn compreende a relevância da

articulação dos recursos tecnológicos com o ensino-aprendizagem de inglês, razão pela qual

entende a necessidade de uma disciplina curricular acadêmica direcionada para esse

propósito.

A aluna-professora reconhece também que cursar uma disciplina específica sobre

tecnologias foi fundamental para a sua formação como professora de inglês, pois a fez

compreender que não basta ser apenas usuária de tecnologia no dia a dia para ser capaz de

inseri-la efetivamente no contexto de sala de aula. Faz-se necessária uma competência

tecnológica no sentido de saber usá-la e integrá-la pedagogicamente ao ensino-aprendizagem

de inglês, como bem pontuou Lasn em sua fala. Em outras palavras, percebe-se em seu

excerto uma reflexividade, como pontua Libâneo (2012, p. 65), “entre o pensar e o fazer,

entre o conhecer e o agir.”

Por conseguinte, a aluna-professora afirma também que a disciplina curricular a fez ter

mais confiança para usar as tecnologias, além de a tornar consciente acerca de suas reais

potencialidades. Assim sendo, as falas de Lasn levam-me a inferir que a disciplina sobre

tecnologias cumpriu com um de seus papéis no currículo do curso de Letras-Inglês,

promovendo o letramento digital da aluna-professora para diversas interfaces digitais que

eram por ela desconhecidas no início da disciplina.

196

Ressalto que Lasn conscientizou-se acerca da possibilidade de uso pedagógico das

tecnologias a partir da disciplina curricular, sendo também letrada digitalmente. As discussões

em sala de aula e no Facebook por meio dos textos teóricos, a apresentação de seus

seminários orais e de trabalhos escritos conduzem-me a esses resultados, ou seja, o

desenvolvimento de habilidades para o uso pedagógico reflexivo das TDIC e a evidência do

letramento digital da participante. A aluna-professora, juntamente com seus colegas de

equipe, procurava elaborar propostas de atividades para ensinar inglês a partir de interfaces

digitais por eles selecionadas, como, por exemplo, Webquest.

As atividades sempre eram acompanhadas por um plano de aula (ver Apêndice 3) que

traçava os objetivos a serem alcançados com a atividade elaborada e a interface digital

escolhida pela equipe para o ensino-aprendizagem de inglês. Antes de apresentar à turma, o

plano de aula era revisado e discutido juntamente com o professor da disciplina e com os

membros da equipe, como forma de manter “a coerência e a unidade interna do plano.”

(SILVA, 2017a, p. 35).

A turma precisava elaborar uma atividade para ensinar qualquer assunto em inglês, de

sua escolha, com a integração de uma interface tecnológica estudada no semestre. Foi,

também, acordado entre os alunos da turma que não se poderia repetir a interface tecnológica.

O plano de aula precisava discriminar o público-alvo, média de idade dos alunos, a duração da

aula, número de alunos na turma e materiais a serem usados. É importante mencionar que

todos esses itens eram trabalhados de maneira a simular um futuro contexto real de ensino-

aprendizagem. O plano de aula também incluía objetivo(s), suposições, procedimentos e

anotações que o aluno-professor julgasse importante para o desenvolvimento de sua atividade.

Vale ainda destacar que no dia das apresentações orais, a equipe precisava entregar seu

plano de aula para os demais colegas da turma para que fosse realizada uma análise crítica e

reflexiva a partir do que estava sendo proposto. Essa intenção foi desenvolvida não como

meio de julgar o certo e o errado, mas de replanejar as ações, como pontua Silva (2017a),

quando necessárias, e de criar uma oportunidade para o desenvolvimento de uma prática para

o pensamento reflexivo, já que os alunos integram um curso de formação de professores.

Após as apresentações, todos os alunos da turma discutiam o plano de aula da equipe

com intervenções para a coerência do que estava sendo proposto e o que estava escrito. Esse

momento tornava o aluno um avaliador crítico para a construção do conhecimento no

processo educacional a partir do uso das tecnologias.

Como bem pontua Dewey (1910), o pensamento reflexivo é uma espécie de

pensamento racional que consiste em examinar mentalmente o assunto e dar-lhe consideração

197

séria e consecutiva, pois, segundo o autor, esse tipo de pensamento apresenta movimentos

sistemáticos e questionamentos significativos para a sugestão ou a hipótese ou para o

retroceder dos fatos ou das ações. Assim sendo, posso dizer que Lasn adquiriu confiança ao

dominar funcionalmente as TDIC com as ações desenvolvidas na disciplina curricular.

A partir dessa perspectiva, cito Knobe e Lankshear (2006) e Warschauer (2006) que

estão em comunhão com as falas e as ações de Lasn ao afirmarem que o letramento digital

precisa ser operacional, a saber, levar o sujeito a usar criticamente a tecnologia para

desenvolver diferentes habilidades e atitudes que serão úteis em seu contexto, seja acadêmico,

escolar ou profissional, seja no dia a dia. O que me leva a acreditar que a disciplina curricular

oportunizou esse tipo de letramento à aluna-professora.

3.6.2 O letramento digital de Lukan

A fala de Lukan destaca a importância da formação formal que adquiriu na

universidade para ensinar inglês por meio da familiarização e dos usos de ferramentas

tecnológicas digitais a partir de uma disciplina curricular acadêmica. Vejamos como o excerto

a seguir ilustra essa constatação:

Transcrição 30: autoavaliação

Lukan: Fiquei muito satisfeito em cursar uma disciplina bem específica

sobre o uso das tecnologias no ensino de inglês no curso de Letras. Isso

será muito importante para a minha formação porque a gente acha que

sabe tudo de tecnologia. Eu uso muito o computador, a Internet, o celular diariamente, com facilidade, mas descobrir que não sei ensinar inglês com

essas ferramentas. A disciplina me ajudou nisso e como futuro professor de

inglês será muito importante. A gente leu muitos textos em sala de aula e fizemos muitas discussões. Os seminários me ajudaram a colocar em prática

tudo que a gente leu e discutiu na sala de aula.

O que me traz conforto, como professor, é perceber a satisfação de Lukan em ter

cursado uma disciplina no curso de Letras especificamente a respeito do uso de tecnologias

digitais no ensino-aprendizagem de inglês, pois essa disciplina trouxe contribuições

tecnológicas e pedagógicas significativas para a sua formação. Além disso, o aluno-professor

afirma que possuía uma fragilidade de instrução formal para o uso das tecnologias no ensino

198

da língua inglesa antes de cursar a disciplina, mesmo reconhecendo possuir um bom

conhecimento de uso do computador, da Internet e do telefone celular.

Nessa direção, fica evidente na fala de Lukan que ele é um usuário competente de

tecnologia, ou seja, domina algumas ferramentas tecnológicas no dia a dia. O que me leva a

constatar que Lukan é letrado digitalmente, mas o seu letramento está relacionado apenas ao

uso próprio. Não obstante, ao pensar nas tecnologias voltadas para o ensino de inglês, Lukan

admite não possuir esse tipo de letramento digital, o que em sua fala seria “descobrir que não

sei ensinar inglês com essas ferramentas”. Ressalte-se que “essas ferramentas” as quais Lukan

faz referência em sua fala são o computador, a Internet e o telefone celular.

Essas reflexões são importantes porque me levam a perceber que Lukan faz parte de

uma geração conhecida como geração Y ou geração Internet ou geração milênio, como afirma

Tapscott (2010), pois se trata de uma geração nascida e educada em um ambiente digital. Essa

geração não teve a necessidade de ser ensinada pelos familiares ou amigos, por exemplo, a

usar os novos aparatos tecnológicos, como computadores, tablets, telefones celulares, SMS,

blogs, Internet, entre outros. A este respeito, Fava (2014, p. 54) afirma que “os jovens Y [...]

procuram informação fácil e imediata, escolhem arquivos digitais a livros, preferem e-mails a

carta, digitam em vez de escrever, vivem em redes de relacionamento, compartilham tudo:

dados, fotos, hábitos, conteúdos pessoais que muitas vezes ganham instantaneidade [...]”.

Diante disso, Lukan está inserido em um contexto que lhe é familiar, pois sabe usar as

tecnologias sem grandes complicações, como atesta ao afirmar ser usuário frequente e

competente. A meu ver, entendo essa competência de uso no cotidiano relacionada ao

manuseio fluente dessas tecnologias. Logo, Lukan é um sujeito letrado digitalmente. Todavia,

ser um usuário de tecnologia na prática do dia a dia não o torna habilitado a usá-la para fins

pedagógicos, como ele próprio reconhece. Daí a importância dos cursos de formação para

letrar o professor com e sobre tecnologia.

É importante, assim, observar, corroborando o pensamento de Fantin e Rivoltella

(2013), que saber operar determinadas TDIC no cotidiano não implica, necessariamente, em

saber operacionalizá-las para o ensino-aprendizagem (da língua inglesa, área de conhecimento

desta pesquisa). A partir disso, a ação do professor deve-se voltar para a avaliação reflexiva

de interfaces digitais que melhor se configuram em seu contexto educacional, “o que demanda

formação no sentido de aquisição e da construção de habilidades técnicas instrumentais, ao

lado das reflexivas e metarreflexivas” (FANTIN; RIVOLTELLA, 2013, p. 134). Por essa

razão, concordo com Porto (2013), quando salienta que o conhecimento das TDIC necessita

199

de constante formação continuada, pois o fluxo de evolução dessas tecnologias é constante e

seus usos mudam em ritmo acelerado, na visão de Barton e Lee (2015).

Assim sendo, Lukan ressalta que a disciplina curricular acadêmica sobre tecnologias

teve um papel importante para ele como futuro professor de inglês, pois, segundo ele, “a

disciplina me ajudou”. Em outras palavras, Lukan passa a saber usar as tecnologias digitais de

maneira pedagógica para ensinar a língua inglesa.

O aluno-professor também reconhece que aprendeu e conheceu várias ferramentas

tecnológicas durante a disciplina e se sente, agora, mais confiante para usá-las no ensino de

inglês, o que o motivou a conhecer outras ferramentas, conforme se percebe em seu

comentário a seguir:

Transcrição 31: autoavaliação

Lukan: Eu aprendi e conheci muitas ferramentas neste semestre durante a disciplina e agora sei usá-las para ensinar inglês. Isso me deixou mais

motivado para pesquisar outras ferramentas. Uma das dificuldades que

tive foi em usar o Blogger, tema de um de meus seminários, pois não

conseguia atualizar as postagens e adicionar vídeos. Mas vi um tutorial na Internet que me ajudou. Fazer a disciplina foi como aprender o a,b,c da

tecnologia para ensinar inglês.

Diante do exposto, posso inferir que a disciplina possibilitou a Lukan se tornar letrado

digitalmente para fins educacionais a partir do uso das TDIC. Nessa vertente, menciono

Candlin e Hadfield (2016) que entendem os letramentos digitais como práticas de

aprendizagem linguísticas multifuncionais, tanto para o professor como para o aluno, na

tentativa de adquirirem novas habilidades e novas estratégias tecnológicas na era digital, a

saber: “criatividade e inovação, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas,

colaboração e trabalho em equipe, autonomia e flexibilidade, aprendizagem permanente”,

como sugerem Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 17). Dessa forma, a língua (inglesa) se

tornaria um instrumento comunicativo para práticas de aprendizagem entremeadas pelo

potencial uso das interfaces digitais, o que fomentaria práticas de letramento.

Por isso, Lukan afirma que “fazer a disciplina foi como aprender o a,b,c da tecnologia

para ensinar inglês”. Ele passa a ter consciência de que foi alfabetizado tecnologicamente,

mas, na verdade, o que Lukan está querendo afirmar é que foi letrado digitalmente, adquirindo

uma competência pedagógico-reflexiva para usar as tecnologias em práticas no ensino-

aprendizagem de inglês.

200

Caminhando nessa direção, as falas de Lukan mostram que a disciplina curricular

sobre tecnologias contribuiu para o fomento do seu letramento digital porque:

- ele ficou satisfeito com o fato de ter cursado uma disciplina bem específica sobre o uso

das tecnologias no ensino de inglês no curso de Letras;

- foi muito importante para a sua formação; as pessoas acham que sabem tudo de

tecnologia;

- ele descobriu que não sabia ensinar inglês com ferramentas tecnológicas;

- ele aprendeu e conheceu muitas ferramentas durante a disciplina e agora sabe usá-las

para ensinar inglês;

- o deixou mais motivado para pesquisar outras ferramentas e

- fazer a disciplina foi como aprender o a,b,c da tecnologia para ensinar inglês.

Os dados de Lukan mostram a importância da inserção de uma disciplina curricular

acadêmica específica sobre o uso pedagógico de tecnologias em um curso de formação inicial

de professores de inglês, como também mencionou Lasn anteriormente, pois, essa disciplina o

ajudou a entender que necessitava dessa formação formal para usar as tecnologias de maneira

reflexiva no contexto de ensino-aprendizagem. Por conseguinte, essa disciplina capacitou o

aluno-professor a utilizar práticas de letramento digital por meio do uso e da familiarização de

várias ferramentas tecnológicas digitais, motivando-o a conhecer outras ferramentas.

O que me leva a concordar com Braga e Vóvio (2015, p. 35-36) ao apontarem que as

práticas de letramento digital envolvem “um conjunto de novas habilidades que precisariam

ser desenvolvidas para a interação com interfaces digitais”. Por essa razão, os cursos de

formação tecnológico-digital e pedagógica precisam ser flexíveis (deixarem de ensinar

fórmulas prontas e definidas) e oportunizar práticas reflexivas com fomento para o letramento

digital do docente do século XXI, a fim de que possa compreender, se apropriar e ir além do

simples uso instrumental das tecnologias. Caso contrário, a prática pedagógica continuará

obsoleta, não considerando “as potencialidades pedagógicas – de participação, interação,

movimento, ação, etc. – do meio digital” (KENSKI, 2013, p. 97).

As falas de Lukan descritas aqui me levam a deduzir que a disciplina sobre tecnologias

ofertada no curso de graduação Letras-Inglês o capacitou para práticas de letramentos digitais,

conscientizando-o para a necessidade de usar e integrar as tecnologias como interfaces

digitais pedagógicas no ensino-aprendizagem de inglês. Por essa razão, acredito que essa

disciplina foi fundamental para a formação de Lukan, pois o letrou digitalmente,

familiarizando-o reflexivamente com o uso efetivo das tecnologias e de suas potenciais

aplicações pedagógicas.

201

3.6.3 O letramento digital de Ralph

Ralph deixa evidente em sua fala que a disciplina acadêmica mudou sua ideia a

respeito de tecnologia porque para utilizá-la não “basta saber usar apenas o computador”, de

acordo com seu ponto de vista. Ele admite que os efeitos positivos das tecnologias

ultrapassam esse uso, conforme mostra o excerto a seguir:

Transcrição 32: autoavaliação

Ralph: Minha concepção sobre tecnologia mudou com essa disciplina. Foi

um semestre muito produtivo porque aprendi que para ser professor de

inglês com uma formação mais tecnológica não basta saber usar apenas o computador. Isso vai além! É preciso conhecer a tecnologia, saber usá-

la e fazer as críticas quando necessárias. As discussões de sala de aula

foram muito boas para mim porque aprendi que precisamos adaptar a

tecnologia para a necessidade de nossos alunos de acordo com o que

queremos ensinar com a língua (inglesa). Essa integração é muito

importante. Isso eu nunca tinha pensado.

Ralph afirma que a disciplina curricular sobre tecnologias trouxe a ele uma

contribuição sistemática e formal para a sua formação acadêmica como futuro professor de

inglês, pois ele pôde perceber a importância de adaptar as ferramentas tecnológicas de acordo

com as necessidades de seu público-alvo. Além disso, o aluno-professor reconhece que a

tecnologia precisa estar integrada ao processo de ensino-aprendizagem da língua inglesa.

Os comentários de Ralph levam-me a pensar que o uso crítico das tecnologias pode

proporcionar ao professor uma conscientização acerca do seu fazer pedagógico,

possibilitando, principalmente, que olhe para o seu contexto de ensino como ponto de partida

para possíveis mudanças e adaptações. Ao mencionar que as tecnologias precisam estar em

consonância com as necessidades do público-alvo, Ralph pôde acreditar que a aprendizagem

de inglês deva estar centrada no aluno, empoderando-o, assim, como um aluno motivado para

pensar, questionar e aprender, além de o tornar responsável por sua própria aprendizagem.

Essas constatações corroboram o pensamento de Moran (2012, 2013) ao afirmar que as TDIC

trazem desafios e possibilidades para o ensino tanto para o professor como para a escola, pois

ambos precisam sair do centro do conhecimento para integrarem o uso das tecnologias de

maneira reflexiva e crítica entre os alunos.

Entendo esses desafios e possibilidades que Moran (2012, 2013) menciona como um

ensino articulado entre conteúdos curriculares, tecnologias e ensino de inglês que façam a

202

diferença na aprendizagem do aluno, como fonte de pesquisa, exploração do pensamento e

iniciativas à criatividade. Não apenas como mero ensino de conteúdos de inglês para o aluno

decorar um determinado assunto, em cuja prática a tecnologia seja usada de forma

complementar no contexto de ensino. Penso, assim, que no contexto educacional vigente, o

professor se torna um elo importante entre o aluno, as TDIC e a aprendizagem. Todos podem

aprender, virtual ou presencialmente, em conjunto e mutuamente, professor-TDIC, aluno-

TDIC, aluno-professor, aluno-aluno e professor-aluno-TDIC (RAMOS, 2009). Além disso,

não se pode esquecer da interação “aluno-material externo e alunos-outros” (RAMOS, 2009,

p. 112) que se tornam também relevantes para o ensino-aprendizagem de inglês na era digital.

É possível perceber nas falas de Ralph que há um reconhecimento para práticas até

então desconhecidas por ele com o uso de tecnologias, as quais foram proporcionadas pela

disciplina curricular. Por essa razão, posso inferir pelos excertos apresentados que a disciplina

supriu uma lacuna que existia na formação tecnológica de Ralph, o que, em sua fala, pode ser

comprovado pela expressão “isso eu nunca tinha pensado”. Com relação a essa

conscientização explicitada pela aluno-professor, trago Nóvoa (1995), ao pontuar que os

cursos de formação inicial direcionam para o desenvolvimento profissional do futuro

professor no sentido de prepará-lo para uma ação reflexiva, para que se conscientize de sua

responsabilidade no seu próprio fazer pedagógico. Assim sendo, esse futuro professor pode se

tornar um agente ativo para saber tomar decisões em seu contexto de ensino-aprendizagem,

além de se apropriar de metodologias e de conhecimentos para saber agir em sala de aula.

Em outras palavras, o aluno-professor passa a se conscientizar do fato que a prática

pedagógica e as ações do professor precisam ser modificadas com e por meio das tecnologias.

Nesse sentido, as ideias de Ralph estão em consonância com o pensamento de Eleá e Duarte

(2016) ao professarem que as TDIC precisam ser entendidas, integradas, adaptadas e

reelaboradas em cursos de formação de professores como interfaces educativas, plurais e

indissociáveis do currículo e do projeto político-pedagógico da instituição, podendo ser

relacionadas às ações de educar com TDIC (integração das tecnologias em práticas

pedagógicas planejadas), educar para TDIC (reflexão crítica do uso funcional das tecnologias

como objeto de ensino-aprendizagem) e educar por meio das TDIC (produção de materiais

didáticos realizados por meio das tecnologias).

Por conseguinte, o aluno-professor também reconhece que a disciplina curricular

oportunizou a ele o desenvolvimento de competências para analisar jogos educativos,

ferramentas tecnológicas e sites, de maneira crítica, conforme mostra o excerto seguinte:

203

Transcrição 33: autoavaliação

Ralph: Aprendi também a analisar criticamente jogos educativos,

ferramentas e sites para o ensino de inglês. Hoje sei reconhecer quando

um jogo ou um site é interessante porque penso no que quero ensinar, o que

ensinar e em critérios para avaliá-los. Conheci também muitas

ferramentas (Webquest, Podcast, Blogger, Google Docs, Slideshare, etc.) que vão me ajudar quando eu estiver em sala de aula no futuro. Posso

agora dizer que sei usar tecnologia!

Nessa direção, posso deduzir que houve uma formação acadêmica diferenciada para

Ralph, no sentido de que ele se apropriou de maneira crítica de interfaces digitais tecnológicas

que serão importantes em sua futura prática didático-pedagógica. Logo, é possível constatar

que o aluno-professor passa a compreender que as tecnologias exigirão uma arquitetura para

fins educacionais direcionada aos objetivos de aprendizagem, aos conteúdos curriculares e aos

critérios de seleção dos recursos tecnológicos, como bem argumenta Ralph em suas falas,

respectivamente, “no que quero ensinar”, “o que ensinar” e “em critérios para avaliá-los”.

Corroborando essas ideias, trago Padilha (2014, p. 85), que reforça a necessidade de cursos de

formação para que o professor possa ter um olhar crítico para o uso das TDIC nas escolas e

sistemas de ensino a fim de que tenha “oportunidade de imersão nessas práticas, seja para

mimetizá-las, para adaptá-las, seja para subvertê-las criticamente.”

Ralph também relata que se sente confiante para avaliar jogos digitais e sites

relacionados ao ensino-aprendizagem de inglês. Compreendo essa confiança correlacionada

ao seminário oral que o aluno-professor apresentou com seus colegas de equipe e demais

colegas da turma sobre jogos digitais a partir da leitura de quatro capítulos do livro

Aprendizagem baseada em jogos digitais, de Marc Prensky. Além da discussão teórica, os

alunos também tiveram a oportunidade de analisar sites de jogos educacionais digitais (JED)

tendo como base um checklist (ver Apêndice 2), elaborado pelo professor da turma com base

nas ideias de Prensky (2012). Notei, assim, que os alunos ficaram envolvidos e motivados

com essa atividade, trazendo contribuições pertinentes tanto em relação aos textos teóricos

como à análise dos JED. Assim, reconheço na fala de Ralph práticas de letramento digital,

pois, além de afirmar que conheceu várias ferramentas durante a disciplina curricular e saber

analisá-las, o aluno-professor se apropria delas criticamente.

Cabe ressaltar também que Ralph termina sua fala dizendo, “posso agora dizer que sei

usar tecnologia!”. Essa fala evidencia que a disciplina curricular sobre tecnologias trouxe, de

fato, para esse futuro professor de inglês, contribuições sistemáticas (o aluno-professor

entende que as TDIC oportunizam uma arquitetura pedagógica do ensino – como, por que, o

204

que ensinar, a quem, que interfaces tecnológicas usar) e significativas (o aluno-professor toma

consciência para o que o aluno precisa aprender e por que, ou seja, mostrar a relevância do

conteúdo para a sua formação). Além disso, o sinal de exclamação usado ao final de sua fala

pode me levar a deduzir sua satisfação com essa disciplina ao saber usar as TDIC

efetivamente, considerando diferentes objetivos de ensino-aprendizagem de inglês, como

mostrado no excerto anteriormente.

Pelo exposto, fica evidente no excerto da fala de Ralph que a disciplina curricular

acadêmica sobre tecnologias fomentou o seu letramento digital, pois ele afirma:

- ter aprendido que para ser professor de inglês com uma formação mais tecnológica

não basta saber usar apenas o computador;

- ser preciso conhecer a tecnologia, saber usá-la e fazer as críticas quando necessárias;

- ser preciso adaptar a tecnologia para a necessidade dos alunos de acordo com o que

se deseja ensinar na língua (inglesa). Essa integração é muito importante. Isso ele

nunca tinha pensado;

- ter aprendido a analisar criticamente jogos educacionais digitais (JED), ferramentas e

sites para o ensino de inglês e

- ter também conhecido diversas ferramentas tecnológicas que vão ajudá-lo quando

estiver em sala de aula no futuro.

Pelo que os dados indicam, a disciplina curricular possibilitou a Ralph uma maior

conscientização e reflexão acerca do uso ativo (de apropriação), crítico e potencial das

tecnologias e de interfaces digitais na sua formação como futuro professor de inglês. Esses

fatores mostram que o aluno-professor conseguiu se apropriar das TDIC, tornando-se apto a

adaptá-las de acordo com as necessidades de seus alunos, com os conteúdos curriculares e

com os objetivos de aprendizagem. Dessa forma, sou levado a inferir, de acordo com a análise

realizada, que essa disciplina contribuiu para o fomento de letramentos digitais na formação

de Ralph.

3.6.4 O letramento digital de Tom

Tom aponta para a relevância de usar criticamente as tecnologias no ensino de inglês,

pois, operá-las no cotidiano como usuário não o torna habilitado a usá-las no contexto escolar.

Sua percepção a esse respeito foi desmistificada quando cursou a disciplina curricular sobre

tecnologias, conforme se percebe no excerto a seguir:

205

Transcrição 34: autoavaliação

Tom: Eu não tinha ideia da importância em saber usar as tecnologias

criticamente na sala de aula para o ensino de inglês fazia tanta diferença. Eu pensava que por ser usuário delas (das tecnologias) no meu dia a dia,

já era garantia de inseri-las na sala de aula e pronto, tudo daria certo. Mas

me enganei quando cursei a disciplina sobre tecnologias. Eu pensava que a

gente ia ficar um semestre inteiro só estudando como fazer blog, baixar vídeos do You Tube, usar o Google, ficar trocando mensagens, usar o editor

de texto, fazer planilhas no Excel, e outras ferramentas, coisas do tipo que eu

já sabia! Mas me enganei. A disciplina foi além de tudo isso. Me fez pensar

como professor e compreender que para inserir as tecnologias na sala de

aula na aprendizagem de inglês preciso conectá-las com os interesses dos

meus alunos e a habilidade linguística de inglês que desejo ensinar.

Conhecendo cada ferramenta me possibilita saber qual habilidade posso

ensinar. Isso pude aprender com a disciplina.

Tom percebe que a disciplina curricular transcendeu sua expectativa no sentido de

estimulá-lo para práticas educativas para ensinar inglês por meio do uso das tecnologias, não

se restringindo ao seu uso instrumental, ou seja, saber operacionalizar uma determinada

ferramenta digital sem propósitos de aprendizagem. Na visão do aluno-professor, a disciplina

se ocuparia de ensinar apenas habilidades tecnológicas das quais ele já tinha conhecimento.

Não obstante, a disciplina curricular exerceu seu papel acadêmico, por que não dizer também

social, ao mostrar que as tecnologias são interfaces digitais que também podem ser

incorporadas como prática pedagógica funcional no ensino-aprendizagem de inglês.

Isso me faz retornar o pensamento de Pischetola (2016) e concordar mais uma vez

com a autora quando constata que:

a formação deve mudar a percepção da tecnologia, antes mesmo de sua

utilização. Deve ser capaz de ativar reflexões pedagógicas e abrir novos

horizontes culturais que incluam a predisposição à mudança das práticas pedagógicas e a reflexão sobre o ensino-aprendizagem centrado no aluno.

(PISCHETOLA, 2016, p. 125).

O foco primário da disciplina não era ensinar o aluno a fazer um blog ou baixar vídeos

do YouTube, por exemplo, mas tornar o futuro professor de inglês confiante para saber

incorporar funcional e criticamente essas tecnologias em suas atividades de sala de aula com

propósitos pedagógicos. É possível observar que Tom se torna consciente acerca do fato de a

inserção do uso dessas tecnologias precisar estar relacionada aos interesses dos alunos e às

habilidades linguísticas que se deseja ensinar. Nessa perspectiva, corroboro as afirmações de

Buzato (2009) quando afirma a necessidade de se estabelecer uma inter-relação entre o

206

letramento digital e os diversos tipos de letramento existentes na sociedade digital,

considerando as situações específicas em que cada sujeito os usa para seus interesses.

Em outras palavras, a disciplina curricular contribuiu para a formação do aluno-

professor para práticas de letramento digital, pois, conhecendo a instrumentalidade da

interface digital tecnológica torna-se possível ensinar funcionalmente a habilidade desejada,

na percepção de Tom. Considero, então, que a incorporação funcional do uso das tecnologias

na prática pedagógica do professor de inglês se torna um fomento de letramento digital na

educação formal, pois o professor passa a conhecer e se apropriar de maneira reflexiva de

competências tecnológico-pedagógicas que ultrapassam suas competências instrumentais.

Tom também deixa entrever em sua resposta que a disciplina sobre tecnologias

possibilitou a ele uma conscientização acerca do uso de outras ferramentas digitais, antes por

ele desconhecidas, que podem ser usadas para o ensino de inglês, como mostra o relato

seguinte:

Transcrição 35: autoavaliação

Tom: Com a disciplina, pude amadurecer minhas ideais

relacionadas ao uso das ferramentas que eu não conhecia e não

sabia usar como hot potato, Google docs, Webquest, entre outros,

para ensinar inglês, assim como também pude trocar experiências com meus colegas de turma e com o professor. Pudemos sugerir uns aos

outros várias ideias de como trabalhar as ferramentas com nossos

alunos. Os seminários foram muito bons. Colocamos na prática o que

discutimos na teoria. Foi uma troca de conhecimento muito produtiva porque conheci várias ferramentas que posso usar na minha sala

de aula, como os jogos digitais, o Facebook. Conheço agora outras

maneiras de ensinar inglês com o uso das tecnologias. Hoje, sou mais

consciente de que a tecnologia pode me ajudar a ensinar inglês,

didaticamente, graças à disciplina do curso.

O excerto acima revela o letramento digital que Tom desenvolveu durante a disciplina

curricular ao conhecer ferramentas digitais que podem ser usadas para o ensino da língua

inglesa, como, por exemplo, hot potato, Google Docs, Webquest, jogos digitais e Facebook.

Nessa perspectiva, entendo que práticas de letramento digital foram fomentadas na formação

inicial de Tom, possibilitando-o a conhecer e se apropriar didaticamente do uso de

ferramentas que integram tecnologias no ensino-aprendizagem da língua inglesa.

A respeito dessa questão, o pensamento de Savage e Barnett (2015) confirma essas

constatações ao professarem a importância e a necessidade de práticas pedagógicas de

letramento digital na formação de professores a fim de que o professor possa conhecer, se

207

familiarizar e se apropriar, crítica e reflexivamente, das ferramentas digitais. Dessa forma,

segundo os autores, o professor passa a possuir letramentos digitais para implementar ações

didáticas com e por meio das tecnologias.

Logo, as falas dos excertos de Tom direcionam para práticas de letramento digital

fomentadas a partir da inclusão de uma disciplina sobre tecnologias no currículo do curso de

Letras-Inglês, pois o aluno-professor relata:

- ter percebido a importância de saber usar as tecnologias criticamente na sala de aula

para o ensino de inglês;

- pensar anteriormente que ser usuário das tecnologias no dia a dia já era garantia de

inseri-las na sala de aula;

- ter passado a pensar como professor e compreender que para inserir as tecnologias na

sala de aula no contexto de ensino-aprendizagem de inglês é preciso conectá-las aos

interesses dos alunos e à habilidade linguística de inglês que se deseja ensinar;

- conhecer cada ferramenta o possibilita saber qual habilidade pode ensinar;

- ter conhecido várias ferramentas que podem ser usadas no ensino de inglês, até então

desconhecidas por ele e

- ter se conscientizado acerca do uso didático das tecnologias.

Os dados evidenciam que a disciplina curricular trouxe uma contribuição acadêmica

para Tom com relação ao fomento pedagógico para seu letramento digital. A disciplina

procurou articular o conhecimento instrumental e funcional de interfaces digitais, que eram

desconhecidas por ele, com a prática de ensino-aprendizagem da língua inglesa, o que

provocou uma maior conscientização do aluno-professor acerca do uso e da integração das

TDIC ao processo de ensino-aprendizagem.

Além disso, a disciplina oportunizou a Tom entender que se faz necessário

compreender os interesses dos alunos, para assim, fazer uso crítico dessas tecnologias no

contexto de sala de aula. Cabe, assim, nessa linha de pensamento, lembrar o argumento de

Knobe e Lankshear (2006) ao mencionarem que ser letrado digitalmente possibilita ao sujeito

se tornar competente também para adequar/moldar o tipo de informação que está sendo

apresentada para um determinado público-alvo em um contexto em particular.

Dessa forma, vejo as TDIC como interfaces comunicacionais que ajudam na

construção da informação e do conhecimento. Incluir, assim, uma disciplina no currículo do

curso de Letras-Inglês sobre tecnologias é possibilitar ao professor em formação inicial

maneiras diferenciadas de ensinar e de aprender de forma contínua, com o uso crítico,

reflexivo e funcional das tecnologias, além de o letrar digitalmente. O que me leva a

208

concordar com Warschauer (2006) ao explicar que o letramento digital está além da

habilidade do sujeito de operacionalizar as tecnologias, mas implica em dominar (parte) (d)as

interfaces digitais de maneira crítica e saber usá-las para fins educacionais, na tentativa de

incluir social e digitalmente esse sujeito na Sociedade da Informação.

Para finalizar esta seção da pergunta de número três, apresento, então, o quadro-

resumo, a seguir, que mostra as recorrências dos alunos-professores desta pesquisa em relação

à contribuição da disciplina curricular específica de tecnologias do curso de Letras-Inglês para

a fomentação do letramento digital desses participantes.

Quadro 16 – Fomento do letramento digital

FOMENTO DO LETRAMENTO DIGITAL:

DISCIPLINA CURRICULAR DO CURSO DE LETRAS-INGLÊS

Ser usuário de tecnologias não habilita o aluno a ensinar inglês.

Ter segurança para pesquisar as potencialidades de uso de outras ferramentas tecnológicas.

Usar as tecnologias de maneira crítica e pedagogicamente no ensino de inglês.

Aprender a analisar jogos educacionais digitais (JED), ferramentas tecnológicas e sites para ensinar

inglês.

Fonte: elaborado pelo autor.

O Quadro 16 reflete a importância de inclusão de uma disciplina curricular sobre

tecnologias no curso de Letras-Inglês, levando o aluno a tornar-se letrado digitalmente para o

uso pedagógico dessas tecnologias. As falas dos alunos-professores desta pesquisa mostram

uma realidade, possivelmente comum no contexto brasileiro, ou seja, as pessoas (a maioria)

estão em contato com as tecnologias com frequência no cotidiano. Fica evidenciado que a era

tecnológica demanda capacidades e habilidades cognitivas, sociais e também afetivas das

pessoas em seus contextos pessoais e profissionais.

Faz-se relevante mencionar que as crianças nos dias de hoje são alfabetizadas antes de

irem à escola, pois já sabem reconhecer as letras do alfabeto usando os teclados do

computador, do tablet e do telefone celular. Além disso, passam de uma tela para outra apenas

com um toque nesses aparelhos eletrônicos. As crianças também sabem selecionar botões,

reconhecer ícones, jogar, tirar e ver fotos, entre outros.

No entanto, fica evidente nas falas dos quatro alunos-professores desta pesquisa que o

uso das tecnologias no cotidiano não os habilita a usá-las no contexto educacional para o

ensino de inglês. Todavia, a disciplina curricular proporcionou a eles uma (re)construção do

fazer pedagógico para que pudessem pesquisar e explorar o potencial das tecnologias em seus

209

futuros contextos de ensino-aprendizagem como forma de tornar esse professor um agente

reflexivo de sua prática pedagógica.

Por conseguinte, a disciplina curricular pôde conceder a esses alunos-professores uma

percepção para o uso pedagógico das TDIC como forma de integrar essas tecnologias na

aprendizagem de inglês de seus alunos. O que os tornou seguros para saber usar as

tecnologias criticamente e analisar JED, outras ferramentas tecnológicas e sites durante a

disciplina.

Assim sendo, a disciplina curricular sobre tecnologias mostrou aos alunos-professores

possibilidades de uso das TDIC por meio de práticas pedagógicas e de integração funcional

dessas interfaces ao ensino de inglês, com a articulação entre teoria e prática. O que posso

entender, dessa forma, é que a disciplina se tornou um elo de mediação de uso reflexivo,

eficiente e pedagógico para os futuros professores de inglês, tornando-os, então, sujeitos

letrados digitalmente para fins pedagógicos.

Na próxima e última parte desta tese, as considerações finais, retomarei as três

perguntas que deram suporte à minha pesquisa, fazendo referências a algumas implicações

deste estudo para o processo de ensino-aprendizagem de inglês e, ainda, possíveis caminhos a

serem tomados a partir daqui.

210

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendida como uma faceta de um processo mais

abrangente, a formação tecnológica não se

distancia da educação de docentes, constituindo

uma vertente desta, e não um caminho paralelo.

Por esse motivo, quando concebemos a formação

tecnológica do professor, não podemos deixar de

considerar os caminhos reflexivos que ela pode

percorrer e que expõem esse profissional a novas

experiências de trabalho.

(FREIRE, 2009, p. 21)

Esta pesquisa de doutorado teve como foco principal investigar o uso pedagógico das

tecnologias digitais da informação e comunicação na formação inicial de professores de inglês

da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Pará. O foco está

na percepção de alunos-professores acerca do uso das TDIC para a aprendizagem, para a

prática pedagógica, para o processo de ensino-aprendizagem e para as práticas de letramento

digital. O meu lócus para a realização desta pesquisa se justifica na medida em que acredito

na necessidade da formação reflexiva de professores pré-serviço de inglês para atuarem de

maneira confiante e motivadora nos contextos escolares da Educação Básica brasileira, na

tentativa de transformarem seus contextos de ensino a partir da integração e da apropriação do

uso pedagógico e funcional das (e com as) TDIC.

Sob esse prisma, tive como escolha metodológica o estudo de caso, de cunho

qualitativo e interpretativista, para o desenvolvimento desta pesquisa de doutorado. Os dados

foram gerados no segundo semestre de 2013 com quatro alunos do curso noturno de Letras-

Inglês, a partir da disciplina curricular acadêmica Tecnologias no ensino/aprendizagem de

línguas estrangeiras, com carga horária de 68 h/a. Ressalte-se que os instrumentos de geração

dos dados foram três questionários, uma entrevista, relatos reflexivos dos alunos elaborados

durante o semestre, atividades no Facebook, autoavaliação e notas de campo do professor-

pesquisador. Esses instrumentos me ajudaram a responder as três perguntas e analisar os

dados da pesquisa. Assim sendo, retomo, a seguir, as perguntas que nortearam esta pesquisa e

relato, resumidamente, os resultados obtidos.

A primeira pergunta da pesquisa aborda a percepção dos alunos-professores de língua

inglesa para o uso das TDIC na aprendizagem e na prática pedagógica, a saber:

211

Como o uso das TDIC se faz presente na aprendizagem e na prática pedagógica na

percepção de futuros professores de inglês?

Foi possível perceber ao longo da análise que os quatro alunos-professores apontaram

percepções diversificadas e também convergentes quanto ao uso das TDIC, seja na

aprendizagem, seja na prática pedagógica, podendo-se observar que as tecnologias são

interfaces cada vez mais presentes na vida das pessoas, o que pode facilitar, também, sua

inclusão no ensino-aprendizagem de inglês.

Com relação à aprendizagem de uso das TDIC, percebi que os alunos-professores

afirmam que grande parte da geração de crianças e de jovens conhece e sabe usar as

tecnologias nos dias atuais, especificamente, para atividades de entretenimento. É uma

geração que nasceu na era digital e conhece as facilidades das tecnologias, razões pelas quais

essas crianças e esses jovens parecem dominar a tecnologia de maneira técnica e instrumental,

como explicado anteriormente.

Por essa razão, a escola deveria incluir o computador e o telefone celular, por

exemplo, no ensino-aprendizagem de inglês como forma de familiarizar, pedagogicamente, o

aluno com o conhecimento que ele possui acerca do uso das tecnologias no seu dia a dia, para

torná-lo um cidadão participativo e reflexivo, digitalmente, na Sociedade da Informação. Há

uma concordância, também, entre os alunos-professores da pesquisa, de que a escola deveria

mudar a sua prática de ensino, pois não faz sentido pensar no professor como detentor único

do conhecimento e o aluno absorvendo-o, passivamente. Nos dias atuais, as tecnologias

podem aproximar professores e alunos possibilitando que compartilhem o conhecimento,

como relatado nos dados.

Os alunos-professores também mencionaram as potencialidades das TDIC como

interfaces que direcionam a um planejamento das aulas, tornando-as interativas, atrativas e

motivadoras para o aluno estudar e aprender inglês. Além disso, as tecnologias podem

fomentar práticas autônomas do aluno, aguçando sua curiosidade para a busca da informação

na aprendizagem da língua-alvo.

No que se refere à prática pedagógica, as tecnologias podem facilitar o trabalho do

professor, contribuindo para atender às necessidades de seus alunos e os objetivos de

aprendizagem que se deseja alcançar. Diante das premissas expostas, o professor deverá rever

e atualizar seus métodos de ensino para tornar sua prática docente integrada e mediada por

meio de uso funcional das TDIC. Dessa forma, a tecnologia possibilitaria um ensino centrado

no aluno.

212

Por conseguinte, a reflexão dos alunos-professores desta pesquisa demonstrou a

importância para a formação tecnológico-digital e pedagógica do professor no curso de

Letras-Inglês para o uso consciente das tecnologias no ensino-aprendizagem. Essa formação

pode levar o professor a ter confiança para inserir as TDIC no contexto escolar, tornando-se,

assim, um agente ativo e reflexivo para tomadas de decisões em seu fazer pedagógico por

meio das tecnologias. Nessa perspectiva, advogo a ideia de que o benefício do uso das TDIC

em sala de aula se relaciona às necessidades das novas maneiras de ensinar do professor e de

aprender das novas gerações de alunos da era digital.

A segunda pergunta mencionada nesta pesquisa foi a percepção dos participantes em

relação à inclusão das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês, a saber:

Quais percepções os alunos-professores revelaram em relação à inclusão das TDIC no

processo de ensino-aprendizagem?

Os dados gerados pelos participantes neste estudo apontaram que, atualmente, os

alunos conhecem e sabem mais de tecnologia do que seus professores. Por essa razão, os

professores se sentem inseguros, muitas vezes tímidos, para usar as tecnologias em sala de

aula. Por conseguinte, as TDIC passam a ser usadas no contexto escolar de maneira

secundária, para transmissão de conhecimento, ou substituindo ou complementando o livro

didático ou o quadro com giz, e seu uso se dá a partir da seleção prévia do professor do que e

como ensinar, sem levar em consideração as reais necessidades de seu contexto e de seu

público-alvo. Como já salientado anteriormente por Ralph, um dos alunos-professores

participantes deste estudo, “métodos antigos usados com novas ferramentas”. Assim sendo, a

prática didática passa a ser centrada exclusivamente no professor.

Os resultados da análise dos dados também direcionam para a falta de infraestrutura

física e tecnológica dos laboratórios de informática da escola, com números de computadores

reduzidos e insuficientes para todos os alunos, computadores obsoletos e sem manutenção. É

válido ressaltar que essa falta de infraestrutura também está relacionada à baixa qualidade de

conexão com a Internet, o que limita o uso e a apropriação das TDIC, tanto por professores

quanto por alunos, no contexto de ensino-aprendizagem da língua inglesa.

Por outro lado, é bom salientar que, especificamente, Tom, outro aluno-professor

participante desta pesquisa, aponta a proibição de uso do telefone celular na escola como um

possível entrave no processo de ensino-aprendizagem de inglês, pois o uso desse aparelho

poderia substituir os laboratórios de informática, além de ser uma potente tecnologia acessível

e de baixo custo a grande parte dos alunos. Tom também se mostra preocupado com plágios

de textos da Internet encontrados nos trabalhos escolares dos alunos.

213

Levando-se em conta todos esses fatores mencionados referentes à segunda pergunta

da pesquisa, penso, como professor e pesquisador, ter conseguido (re)construir uma visão

sistêmica para a importância das TDIC no ensino-aprendizagem de inglês, pois possibilitar o

acesso de uso das tecnologias é promover sua inclusão reflexiva na escola, principalmente,

superando os medos e as resistências dos professores. Acredito que os alunos-professores

devam ter percebido que as tecnologias estão a nosso dispor, podendo ser usadas quando,

onde e da maneira que cada um desejar, principalmente a tecnologia móvel, como o telefone

celular.

Nesta pesquisa também observei, a partir da terceira pergunta aqui respondida, se a

disciplina curricular específica sobre tecnologias do curso de Letras-Inglês fomentou a prática

de letramento digital dos quatro participantes. Em outras palavras:

Como a disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras

contribuiu para o fomento do letramento digital dos alunos do curso de Letras-Inglês?

Os alunos-professores desta pesquisa reconhecem que ser usuário frequente de

tecnologias no dia a dia não os torna habilitados a integrá-las no contexto escolar para fins

pedagógicos. Por essa razão, a relevância de cursar uma disciplina no curso de Letras,

especificamente, para saber usar de maneira reflexiva e integrada as TDIC no processo de

ensino-aprendizagem de inglês. Fica evidente nos dados que os alunos-professores realizam

várias atividades com as tecnologias em seus cotidianos, porém se sentem inseguros para usá-

las para ensinar inglês.

A disciplina curricular sobre tecnologias também oportunizou aos alunos-professores

discussões teóricas e o desenvolvimento de competências para analisar, criticamente,

ferramentas, sites e jogos educacionais digitais (JED) que podem ser integrados ao ensino-

aprendizagem de língua inglesa. Nessa perspectiva, esses alunos relataram se sentirem

confiantes e conscientes para usar essas interfaces em seus futuros contextos de ensino. Além

disso, fica evidente nas falas dos alunos-professores, como mostrado anteriormente, a

satisfação em cursar uma disciplina específica sobre tecnologias no curso de graduação

Letras-Inglês.

Fica subtendido nas falas dos alunos-professores, porém mais evidenciado na fala de

Ralph, que as TDIC precisam estar em comunhão com as necessidades atuais dos alunos, com

os conteúdos curriculares inter-relacionados às habilidades linguísticas a serem ensinadas e

com os objetivos de aprendizagem. Dessa forma, posso reconhecer que os participantes de

minha pesquisa passaram a ter uma visão crítica para a incorporação funcional e pedagógica

das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem de inglês.

214

De todo modo, a disciplina a respeito de tecnologias forneceu aos quatro participantes

do curso de Letras oportunidades para refletir e usar pedagogicamente as TDIC para fins

educacionais. Os alunos-professores confessam usar as tecnologias com frequência no dia a

dia, mas não se sentiam preparados, confiantes, para usá-las como interfaces educacionais.

Acredito, assim, que essa disciplina curricular cumpriu seu papel acadêmico, inserida em um

curso de graduação, com o propósito de conduzir os alunos-professores a refletir sobre como,

por que, onde desejam chegar e em que nível as tecnologias podem ser usadas em seus

contextos profissionais.

Os resultados desta pesquisa mostram também que os alunos passaram por momentos

de reflexão e questionamentos oportunizados pelas discussões dos textos teóricos e análises

de ferramentas, sites e jogos educacionais digitais (JED) relacionados ao ensino-

aprendizagem de inglês. Essa interlocução entre teoria e prática fica evidente nos dados

quando os alunos-professores percebem a importância de adaptar as interfaces digitais para as

necessidades do público-alvo e de seu objetivo de aprendizagem, além de pesquisar a

ferramenta que melhor se relacione à habilidade linguística que se deseja ensinar.

Da mesma forma que os alunos-professores tomaram consciência das potencialidades

pedagógicas das TDIC, os dados mostraram o encantamento desses alunos com essas

interfaces, ao mencionarem que seus usos em sala de aula são de caráter inovador e atraente,

trazem novidade e ajudam a sair do tradicional. Essas percepções foram influenciadas pela

dinamicidade e interatividade que as tecnologias e as mídias digitais proporcionam para as

pessoas na sociedade atual.

Acredito que esses conceitos estereotipados das tecnologias, relatados nos dados,

poderiam ter sido melhor trabalhados na disciplina pelo professor-pesquisador, como forma

de desmistificar a melhoria de mudanças provocadas nas práticas de ensino-aprendizagem de

inglês apenas com a simples inclusão do uso das TDIC. Posso afirmar, no entanto, que essa

fascinação pelas tecnologias não comprometeu o andamento da disciplina curricular, pois

percebo que os alunos-professores tomaram consciência acerca de seu uso pedagógico ao

questionarem, debaterem e refletirem as potencialidades e as funcionalidades das TDIC no

contexto educacional.

Sob esse prisma, os resultados desta pesquisa me mostram que uma disciplina

acadêmica específica sobre o uso de tecnologias se torna mais do que relevante no curso de

formação inicial de professores de inglês, pois, além de mostrar as diversidades de

aprendizagem com diferentes interfaces tecnológicas digitais, possibilita ao futuro professor

refletir a respeito das potencialidades dessas tecnologias para fins pedagógicos. Nessa

215

vertente, os dados apontam que a disciplina sobre tecnologias cumpriu com um de seus papéis

no currículo do curso de Letras-Inglês, ou seja, promoveu o letramento digital dos

participantes por meio da familiarização com diversas interfaces digitais para fins

pedagógicos, que eram desconhecidas por eles no início da disciplina, a partir de práticas

reflexivas.

Após essas reflexões a partir das perguntas da pesquisa, sou levado a compreender que

as TDIC trazem múltiplas vantagens ao serem incorporadas à pedagogia da sala de aula de

maneira reflexiva e crítica. Não há um manual pronto e definitivo sobre como usar as

tecnologias para fins educacionais que se possa comprar em uma loja de departamento ou

adquirir pela Internet, pois seu uso transcende o técnico e o instrumental. Faz-se necessário

pensar as tecnologias como interfaces integradoras e funcionais à formação dos alunos-

professores. Diante das reflexões colocadas, defendo, aqui, a necessidade, cada vez mais

relevante, da formação tecnológico-digital e pedagógica do professor pré-serviço de inglês

nos cursos de graduação, para torná-lo letrado digitalmente, considerando a expansão e o

desenvolvimento das tecnologias no mundo atual.

A escola parece estar preocupada em ensinar o aluno, que muitas das vezes, precisa

memorizar conteúdos para realizar avaliações ou exercícios normativos de regras gramaticais

ditados pelo professor, sem qualquer relação com a vida e seus interesses. Penso que a escola

não deveria ter como meta o ensinar, mas o aprender, o que tornaria o processo centrado no

aluno. Em outras palavras, as necessidades de aprendizagem dos alunos passariam a ser

fundamentais para possíveis intervenções e escolhas de interfaces digitais para o acesso à

informação de maneira consciente para o ensino-aprendizagem de inglês, o que corrobora o

pensamento de Morin (2015) ao ponderar que o real propósito da educação não deve ser o de

ensinar, porém de criar condições de aprendizagem.

Por conseguinte, as TDIC podem aproximar-se dessa aprendizagem, considerando o

número de interfaces digitais cada vez mais disponíveis e acessíveis (muitas delas gratuitas)

para os usuários/alunos (porque não incluir também o professor?). Nesse contexto, as

tecnologias funcionam como interfaces mediadoras ao determinar que a aprendizagem é uma

atividade permanente, todos aprendem com todos, no momento e no tempo que desejam. A

hierarquia entre quem ensina e quem aprende deveria se tornar cada vez mais restrita na era

digital, pois as tecnologias podem aproximar o professor e o aluno, ambos compartilhando o

conhecimento e aprendendo um com o outro. O professor, agora, é um aprendiz da tecnologia,

tanto quanto o seu aluno, porém, de acordo com o pensamento de Martí (2013, p. 140), “essa

216

mudança pode ser de difícil aceitação por alguns professores, devido à sensação de perda de

controle sobre seus alunos”.

É claro que a inclusão das TDIC, por si mesmas, no contexto escolar (e também no

acadêmico), não garante uma transformação qualitativa (nem mesmo quantitativa) na

educação, apesar de que muitos professores pensavam, e talvez ainda pensam, que incluir

tecnologias na sala de aula já se configuraria uma mudança no ensino em potencial, como um

“motor de inovação pedagógica” (SANCHO, 2006, p. 18). A aprendizagem deveria ser menos

informacional (transferência de conteúdos) para ser realizada de forma contínua, permanente.

Preparar o aluno para a cidadania com a integração funcional das TDIC no ensino-

aprendizagem de inglês poderia motivá-lo a refletir acerca das razões da maneira como

aprende e o porquê aprende. Não obstante, o professor precisa mudar sua maneira de ensinar e

adequar seus métodos e abordagens a um público de crianças e de jovens, multifacetados, que

nasceu e pensa na era tecnológica. A escola do século XXI precisa ser reorganizada para

estimular os alunos a pensarem a aprender a aprender, trazendo e integrando a cultura digital

para esse contexto, tão comum fora dele e tão familiar entre os alunos. Caso contrário,

teremos uma escola enraizada sempre no passado que em nada contribui para a formação de

nossos alunos.

Caminhando nessa direção, vejo o planejamento pedagógico como força motriz de

projeção e sistematização das tecnologias no trabalho do professor em sala de aula, como

forma de articular, organizar e projetar as ações que o professor idealizou para seu contexto

de ensino-aprendizagem, a saber: objetivos de aprendizagem, conteúdos, metodologias e

abordagens, sistemas de avaliação e as interfaces tecnológicas digitais. Com essas ações

planejadas, o trabalho do professor volta-se para a pluralidade do espaço pedagógico,

centrado nas reais necessidades sociais dos alunos, por meio de uma prática de reflexão,

reinterpretação e ação da cultura de sala de aula.

É válido mencionar que o planejamento é uma prática recorrente no contexto escolar,

porém as TDIC trouxeram maior visibilidade para o ato de planejar do professor. Em outras

palavras, em um curso ou uma disciplina com a inserção do uso de tecnologias, torna-se uma

prática impensável pelo professor o não planejar quais recursos da web 2.0 deverão ser

incorporados, de acordo com os objetivos de aprendizagem a serem alcançados, o público-

alvo a ser discriminado. Dessa forma, é necessário pensar em um currículo que comungue

com o projeto pedagógico e a proposta do curso ou disciplina. Esses elementos também

estarão diretamente interligados à aprendizagem e à necessidade do aluno.

217

Nessa vertente, vejo a importância de se pensar em um web currículo (ALMEIDA,

2014), com as TDIC integradas funcionalmente à prática pedagógica docente e ao ensino-

aprendizagem de inglês dos alunos, para que ambos possam se apropriar reflexiva e

criticamente dessas tecnologias. Um web currículo que traga a cultura digital para a sala de

aula, pois não se pode esquecer que o aluno, em sua maioria, é um produtor, divulgador e

consumidor de conteúdos culturais na era digital. Penso também em um web currículo que

potencialize o uso educativo e comunicativo das tecnologias e mídias digitais na formação de

professores e para aquisição de habilidades linguísticas dos alunos em língua inglesa, em

situações autênticas de aprendizagem. Assim sendo, sou levado a compreender que um web

currículo poderia ser promotor de inclusão tecnológica da cultura digital no contexto escolar,

além de diminuir o nível de escolaridade entre os alunos e os professores.

Isso posto, com base no levantamento bibliográfico realizado por mim das dissertações

e das teses disponibilizadas no portal CAPES, pude constatar que ainda existe uma carência

de estudos a respeito da integração do uso pedagógico das tecnologias na formação inicial de

professores de inglês. Assim sendo, como forma de ampliar o escopo a partir deste estudo,

gostaria de sugerir algumas contribuições para pesquisas futuras na área da Linguística

Aplicada.

Primeiramente, saliento a importância de pesquisas que relacionem as TDIC com as

práticas colaborativas da pedagogia dos Multiletramentos. Nessa direção, o currículo do curso

de Letras tornar-se-ia um design de futuros sociais (NEW LONDON GROUP, 1996).

Articulados a essa pedagogia do New London Group (1996), a produção de atividades,

projetos e/ou unidades didáticas estariam vinculados à formação inicial do professor e o uso

das TDIC, desenvolvidas com base nos quatro princípios, a saber: prática situada, instrução

evidente, enquadramento crítico e prática transformada.

Também sugiro a relevância de investigar a formação inicial de professores de inglês

em ambiente virtuais de aprendizagem com foco na educação a distância (EaD). Atualmente,

essa modalidade de ensino-aprendizagem está em expansão e torna-se necessário que o aluno-

professor do curso de Letras-Inglês possa se familiarizar com as tecnologias e as mídias

digitais, além de questões epistemológicas específicas da EaD.

Finalmente, defendo a ideia da realização de pesquisas sobre metodologias ativas com

a integração pedagógica de uso de TDIC na formação de professores de inglês do curso de

Letras. Essas metodologias podem tornar a sala de aula um espaço rico de aprendizagem

colaborativa, no qual o aluno-professor assume uma posição participativa e dialógica na

resolução de problemas. Participação essa que pode ser fomentada a partir do

218

desenvolvimento de projetos ou atividades contextualizadas ou de desafios reais, entre outros,

para a construção de seu próprio conhecimento, com a integração funcional e pedagógica das

tecnologias e mídias digitais.

De forma geral, os encaminhamentos aqui mencionados procuram dar continuidade e

ampliar as pesquisas na área da Linguística Aplicada sobre os temas discriminados nesta tese,

com objetivo de aprofundar os estudos na formação tecnológico-digital e pedagógica de

professores pré-serviço de inglês. Advogo a importância desses trabalhos para que tais

professores se sintam cada vez confiantes, motivados e preparados para usar as tecnologias de

maneira reflexiva e crítica, considerando que elas estão em constante evolução.

Prossigo minhas reflexões mencionando as contribuições que esta pesquisa me

proporcionou. Hoje, penso que as tecnologias, realmente, tornam o nosso cotidiano acessível

à sala de aula e, com certeza, não há volta. Teremos que conviver e nos adaptar com as

mudanças trazidas pelas tecnologias. Aprendi muito com meus quatro participantes da

pesquisa e também com todos os alunos da turma que faziam parte da disciplina curricular

acadêmica, em cuja aplicação os dados foram gerados.

No início da disciplina, fiquei receoso, pois foi meu primeiro contato com uma

disciplina específica sobre tecnologias. Foi um desafio lidar com as dificuldades enfrentadas

ao longo do semestre, como, por exemplo, entender e saber manusear algumas interfaces

digitais, por mim desconhecidas, antes de propor as atividades para os alunos. Sentia-me na

obrigação, como professor, de estudar a ferramenta e suas potencialidades. Além disso, eu

lidava com alunos que usavam tecnologias com frequência em seus cotidianos e sabiam mais

do que eu, como também apontaram os dados de minha pesquisa. Atualmente, com a análise

dos dados e a pesquisa da tese, entendo que professor e aluno podem aprender juntos a partir

do uso das tecnologias, mas não se pode esquecer que o conhecimento da prática de uso

pedagógico é específico do professor. Ele saberá como integrar as potencialidades das

tecnologias ao ensino-aprendizagem de inglês. Como professores, seremos eternos aprendizes

das tecnologias.

Ao longo desta pesquisa, pude compreender que as tecnologias podem ajudar o

professor e o aluno a criarem espaços criativos e motivadores para ensinar e aprender a língua

inglesa, porém, ambos os atores da educação precisam entender os significados que as

tecnologias proporcionam para a aprendizagem das habilidades linguísticas. O que me faz

advogar pela importância da formação tecnológica e pedagógica do professor no curso de

Letras.

219

É claro que a inclusão de apenas uma disciplina dessa natureza no projeto pedagógico

e no currículo do curso não parece ser suficiente para letrar digitalmente o professor em

formação inicial. Não obstante, a partir da carência de disciplinas sobre tecnologias nos cursos

brasileiros de licenciatura Letras-Inglês, entendo que a disciplina curricular Tecnologias no

ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas

(FALEM) da Universidade Federal do Pará (UFPA) cumpre com seu papel acadêmico ao

proporcionar ao aluno da graduação oportunidades de explorar, indagar, investigar e refletir

acerca do uso de integração pedagógica das (e com as) TDIC para o ensino-aprendizagem de

inglês.

Esta pesquisa de doutorado se encerra por enquanto. Não obstante, é válido destacar

que as tecnologias, sozinhas, não serão a salvação e a solução da educação, pois acredito que

outros fatores precisam ser discutidos na esfera das políticas públicas brasileiras, como, por

exemplo, a sobrecarga de trabalho dos professores, a falta de infraestrutura física e

tecnológica das escolas, salários inadequados, valorização do trabalho do professor, formação

permanente (tecnológica e pedagógica), a violência nas escolas, entre outros fatores.

As tecnologias trazem oportunidades, desafios, saberes e competências para o

planejamento sistemático do professor para usá-las, conscientemente, no seu fazer

pedagógico, razão pela qual se pensar na transversalidade do currículo com tecnologias nos

cursos de licenciatura Letras-Inglês. Isso permitir-me-ia olhar para esse profissional como um

web educador, mencionado no primeiro capítulo desta tese, que saiba transformar o seu

contexto e flexibilizar o currículo para ações que possam preparar os alunos para o uso

consciente das tecnologias e das mídias digitais no contexto educacional, além de se tornarem

cidadãos questionadores na era digital.

220

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ZABALZA, M. A. O estágio e as práticas em contextos profissionais na formação

universitária. São Paulo: Cortez, 2014.

235

APÊNDICES

236

Apêndice 1: Plano de ensino da disciplina

Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras

1. Atividade Curricular

Professor: Marcus de Souza Araújo (email: [email protected])

Período Letivo: 2o semestre de 2013

Curso: Licenciatura Plena em Letras – Língua Inglesa

Carga Horária: 68h

2. Ementa

Apresentação e manuseio dos recursos das Tecnologias da Informação e da Comunicação

disponíveis para o ensino de línguas estrangeiras. Reflexão sobre seu uso em ambientes

diferenciados de aprendizagem.

3. Objetivos

● estabelecer relação crítico-reflexiva entre as tecnologias digitais da informação e

comunicação com o ensino-aprendizagem de língua inglesa;

● selecionar e analisar sites educacionais e de jogos digitais para o ensino-aprendizagem de

língua inglesa;

● provocar discussões, pesquisas e ações para o uso das TDIC na formação inicial do

professor de inglês.

4. Conteúdos de ensino

1. Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC): conceitos, mediação e

desafios.

2. Tecnologia e ensino de LE.

3. A Web 2.0 e as redes sociais.

4. Jogos digitais no ensino de LE.

5. Ferramentas digitais e o ensino de inglês.

6. Plágio, direitos autorais e a tecnologia.

7. Avaliação e análise de sites educacionais, de jogos digitais e de um portal educacional.

8. A formação do professor de inglês e a TDIC.

9. Letramento digital: interfaces no ensino de LE.

10. (Multi)letramento(s)

5. Metodologia de Ensino

Os conteúdos serão estudados por meio de (a) exposição oral; (b) leituras dirigidas; (c)

apresentação através de PowerPoint; (d) debates em sala de aula; (e) apresentação de

trabalhos; (f) vídeos.

6. Avaliação da Aprendizagem

237

Frequência e participação em sala de aula.

Leitura de textos.

Trabalhos escritos individuais e/ou em grupo.

Projetos de ensino com o uso de tecnologia.

Autoavaliação.

7. Referências

BARBA, C.; CAPELLA, S. (orgs.). Computadores em sala de aula: métodos e usos. Porto

Alegre: Penso, 2012.

BARRETT, B.; SHARMA, P. Blended learning: using technology in and beyond the

language classroom. Oxford: MacMillan, 2007.

BEATTY, K. Teaching and researching computer-assisted language learning. London:

Logman, 2010.

BRAGA, D. B. Ambientes digitais: reflexões teóricas e práticas. São Paulo: Cortez, 2013.

DIAS, R. Gêneros digitais e multimodalidade: oportunidades on-line para a escrita e a

produção oral em inglês no contexto da Educação Básica. In: DIAS, R; DELL´ISOLA, R. L.

P. (orgs.). Gêneros textuais: teoria e prática de ensino em LE. Campinas, SP: Mercado de

Letras, 2012.

DUDENEY, G.; HOCKLY, N. How to teach English with tecnology. England: Logman,

2007.

KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas, SP:

Papirus, 2012.

_______. Tecnologias e tempo docente. Campinas, SP: Papirus, 2013.

MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação

pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2013.

RICHARDSON, W. Blogs, wikis, podcasts and other powerful web tools for classrooms.

California: Corwin, 2010.

VALLE, L. E. L. R.; MATTOS, M. J. V. M.; COSTA, J. W. Educação digital: a tecnologia a

favor da inclusão. Porto Alegre: Penso, 2013.

Sites

- Marc Prensky: http://marcprensky.com/

- Simpósio de Hipertexto e Tecnologias na Educação:

http://www.nehte.com.br/simposio/anais/edicoes.html

238

Apêndice 2: Checklist

EQUIPE: ......................................................................................................................................

1. Analise o site a partir do checklist elaborado e adaptado das ideias de PRENSKY (2012).

Site: ............................................................................................................................................

Público-alvo

Objetivo(s)

Feedback

Desafio

Interação

Representação ou enredo

É apropriado para aprendizagem? ( ) Sim ( ) Não

Gênero

( ) ação ( ) aventura ( ) esportes

( ) estratégia ( ) luta ( ) quebra-

cabeças

( ) role-play ( ) simulação

O site motiva uma reflexão sobre o

que foi aprendido?

( ) Sim ( ) Não Por quê?

2. Aponte vantagem(s) e/ou desvantagem(s) ao selecionar o site para a aprendizagem.

239

Apêndice 3: Plano de aula

Disciplina: Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de Línguas

Professor: Marcus Araújo

The Activity Plan

Planning the lesson: writing? reading? pronunciation? listening? etc.

Topic of the class: ?????????????

● Audience:

● Average age:

●Duration:

●Number of students:

● Materials and resources:

Objective(s)

Assumptions:

Procedures

1st

Class

Important notes

2nd

Class

Important notes

3rd

Class

Important notes

240

Apêndice 4: Questionário 1

Caro Aluno(a),

Este questionário tem a finalidade de verificar seu conhecimento e opinião com as tecnologias

digitais, além de suas expectativas para com a disciplina “Tecnologias no

Ensino/Aprendizagem de LE” oferecida ao Curso de Letras – Licenciatura em Língua Inglesa.

Para que possamos desenvolver essa disciplina de acordo com seu conhecimento e

expectativa, por favor, preencha o questionário a seguir com o máximo de seriedade para que

os dados sejam os mais precisos possíveis.

Professor: Marcus de Souza Araújo (email: [email protected] /

[email protected]).

DADOS PESSOAIS

NOME ................................................................................................... IDADE .................... ..

SEXO ( ) Masculino ( ) Feminino

ESTADO CIVIL

( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado ( ) Divorciado ( ) Outro

E-MAIL ...........................................................................................................

CURSO ............................................ SEMESTRE .............. TURNO ........................ .

1. Cursou o ensino fundamental em escola:

( ) particular ( ) pública ( ) supletivo

Ano de Conclusão ...........................

2. Cursou o ensino médio em escola:

( ) particular ( ) pública ( ) supletivo

Ano de Conclusão ...........................

3. Fez curso pré-vestibular? ( ) Sim ( ) Não

4. Quanto tempo? ................... (apenas responda a questão 4 se você assinalou ‘sim’ na

questão anterior).

5. Qual a forma de ingresso na UFPA?

( ) Vestibular tradicional ( ) MOBIN

( ) ENEM ( ) MOBEX

6. Qual foi a sua opção para o curso de Letras – Licenciatura Plena em Língua Inglesa?

( ) 1o

( ) 2o

( ) 3o ( ) outras .

7. Qual o motivo que o(a) levou a procurar o curso de Letras – Licenciatura Plena em

Língua Inglesa - da UFPA?

8. Você possui computador em casa? ( ) Sim ( ) Não

Se não, de onde você usa o computador?

241

9. Para que você usa o computador?

( ) Estudar / Pesquisar ( ) Consultar e responder e-mail

( ) Bater papo em redes sociais ( ) Ouvir música

( ) Assistir a filmes/vídeos ( ) Realizar download (música, vídeos,

filmes, livros, etc.)

( ) Aprender inglês ( ) Jogar

( ) Ler ( ) Outros

10. Com que frequência que você realiza as atividades assinaladas na questão 9?

11. Além do computador você possui e utiliza outros aparelhos eletrônicos, como, por

exemplo, tablet, celular, i-phone, entre outros?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual(is)?

12. Caso você tenha assinado “sim” na questão 11, identifique a frequência com a qual

você utiliza esse(s) aparelho(s) e quais atividades você realiza?

13. Quais ferramentas e ambientes digitais você conhece?

( ) Dicionários on-line

( ) Tradutores automáticos

( ) Google Docs

( ) Games e entretenimento digitais

( ) Correio eletrônico (e-mail)

( ) Plataformas digitais de redes sociais (Facebook, Twitter, Linkedln, Slideshare, You

Tube, Google+, Instagram, etc.)

( ) Páginas digitais (site, portal, blog, perfil, etc.)

( ) Plataformas digitais de busca (Google, Yahoo!, Wolfram/Apha, etc.)

( ) My Space

( ) Second Life

( ) Skype

( ) Outros

14. Quais ferramentas e ambientes digitais assinalados na questão 13 você tem mais

familiaridade? Qual a frequência de uso?

15. Você já utilizou alguma ferramenta e/ou ambiente digitais até o momento em seu

curso de graduação?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, aponte qual(is)? Para quê?

16. Na sua opinião, como futuro professor, que facilidades você aponta para o uso dos

recursos tecnológicos em sala de aula?

17. Na sua opinião, como futuro professor, que dificuldades você aponta para o uso dos

recursos tecnológicos em sala de aula?

18. O que você espera aprender com esta disciplina?

242

Apêndice 5: Questionário 2

Vamos avaliar nossa aprendizagem? Tente responder a este questionário o mais

transparente possível a partir de seu conhecimento a respeito das interfaces digitais

apresentadas no texto “Educação 2.0”.

1. Quais das ferramentas a seguir você já tinha ouvido falar?

( ) Wikipedia ( ) Livestream

( ) Google ( ) Facebook

( ) Google Docs ( ) E-mail

( ) Flickr ( ) Slideshare

( ) You tube ( ) Wikis

( ) Blogger or Word Press ( ) Jamendo

2. Quais destas ferramentas você já sabia manusear?

( ) Wikipedia ( ) Livestream

( ) Google ( ) Facebook

( ) Google Docs ( ) E-mail

( ) Flickr ( ) Slideshare

( ) You tube ( ) Wikis

( ) Blogger or Word Press ( ) Jamendo

3. Quais destas ferramentas você acha que pode ser usado no ensino/aprendizagem de inglês?

( ) Wikipedia ( ) Livestream

( ) Google ( ) Facebook

( ) Google Docs ( ) E-mail

( ) Flickr ( ) Slideshare

( ) You tube ( ) Wikis

( ) Blogger or Word Press ( ) Jamendo

4. Você sentiu alguma dificuldade em entender essas ferramentas?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

243

Apêndice 6: Questionário 3

Caro Aluno(a),

Este questionário final tem a finalidade de verificar seu conhecimento adquirido com a

disciplina “Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de LE” oferecida ao Curso de Letras –

Licenciatura em Língua Inglesa no 2o semestre de 2013, além de sua opinião com as

tecnologias digitais e atividades desenvolvidas ao longo do semestre. Por favor, preencha o

questionário a seguir para que os dados sejam os mais precisos possíveis.

Professor: Marcus de Souza Araújo (email: [email protected] /

[email protected]).

1. Quais das ferramentas estudadas durante o semestre você mais gostou? Por quê?

2. Quais das ferramentas estudadas, na sua opinião, foi a mais difícil? Por quê?

3. Quais/Qual da(s) ferramenta(s) estudada(s) você daria mais ênfase na sua futura prática

como professor? Por quê?

4. Você se sente mais confiante em usar os recursos tecnológicos?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

5. Na sua opinião, que facilidades você aponta para o uso dos recursos tecnológicos em sala

de aula?

6. Na sua opinião, que dificuldades você aponta para o uso dos recursos tecnológicos em sala

de aula?

7. As suas expectativas com a disciplina Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de LE

foram alcançadas?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

244

Apêndice 7: Relato Reflexivo

Aluno(a): ............................................................................................................................. .......

Caro Aluno(a),

Faça um relato sobre a ferramenta que você apresentou para seus colegas da disciplina

“Tecnologias no Ensino/Aprendizagem de LE”, oferecida ao Curso de Letras – Licenciatura

em Língua Inglesa. Tente relatar respondendo as seguintes perguntas:

● Foi difícil entender o procedimento de uso da ferramenta? Caso afirmativo, por quê? O que

você fez para encontrar solução para sua dificuldade? Alguém o ajudou? Como? Você

desistiu em algum momento? Caso positivo, o fez você tentar novamente?

● Houve facilidade em entender a ferramenta? Caso afirmativo, por quê? Como?

● Aponte aspectos positivos e/ou negativos sobre a ferramenta estudada.

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