pontificia universidade catÓlica de sÃo paulo puc- sp

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Patrícia Rebello Silvestri Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental para refugiados. MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA São Paulo 2020

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP

Patrícia Rebello Silvestri

Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização

não Governamental para refugiados.

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

São Paulo 2020

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP

Patrícia Rebello Silvestri

Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização

não Governamental para refugiados.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontificia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Configurações Contemporâneas da Clínica Psicológica do Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Clínica da PUC- SP, sob orientação da Profa. Dra. Marlise Aparecida Bassani.

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

São Paulo 2020

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Aos meus filhos André e Felipe, por me proporcionar a oportunidade de conhecer o amor incondicional.

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES)- Código de Financiamento 001, e do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Brasil.

This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES)- Finance Code 001and with the support of the National

Council for Scientific and Technological Development (CNPq) - Brazil.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a meu esposo Fabio, que me acompanhou em toda esta jornada, e

aos meus filhos André e Felipe pela sua compreensão e apoio com a minha pouca

disponibilidade.

A minha mãe Yvone que sempre me incentivou a estudar e também por

demonstrar todo o seu amor.

Aos meus irmãos, Silvia e Paulo pela torcida constante e por estarem sempre

próximos.

A minha orientadora, Profa. Dra. Marlise Bassani, com quem aprendi muito,

agradeço por compartilhar seus conhecimentos, pelas leituras dos textos e pela

compreensão em meus momentos difíceis. Foi uma honra aprimorar ao seu lado o

estudo nessa área e a você minha sincera gratidão. Certamente ele guarda grande

influência de seus comentários e reflexões.

À Profa. Dra. Ida Kublikowski e à Profa. Dra. Fabiana Coelho pelas preciosas

contribuições fornecidas no Exame de Qualificação, que foram extremamente

significativas para o direcionamento desta pesquisa.

Ao Coordenador responsável pela ONGs agradeço por conceder a autorização

para que a pesquisa fosse realizada, e aos profissionais das equipes pela abertura e

por ceder o tempo para a que o estudo pudesse se realizar.

Aos meus colegas de turma, o meu agradecimento pela troca e aprendizagem

mútua.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil

(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), pelo apoio financeiro através da concessão de bolsa que viabilizou esta

pesquisa de mestrado.

Por fim, agradeço a todas e todos não listados aqui, os refugiados que

definitivamente contribuíram de maneira direta ou indireta para que este trabalho fosse

realizado.

O mar Egeu é considerado o berço de diversas civilizações da antiguidade, fato que

também atrai muitos turistas por sua importância histórica. O Egeu é um mar que faz

parte do mar Mediterrâneo. Está localizado entre o continente europeu e o asiático.

O mar banha, a oeste, o litoral da Grécia. A leste o litoral da Turquia.

O nome do mar Egeu está baseado na mitologia grega, com o rei ateniense Egeu, pai

de Teseu, que morreu em suas águas. Egeu era um rei de Atenas na Grécia Antiga.

Em sua homenagem, o mar ganhou o nome do rei.

Trata-se de uma Rota muito utilizada em busca de novas oportunidades que ocorreu

por diversas civilizações por terra e também pelo mar.

É a principal forma que os imigrantes têm para ingressar na Europa e pedir asilo ou

refúgio em outros países; quando encontram as fronteiras fechadas.

Alguns refugiados vendem todos os seus bens e utilizam o dinheiro para pagar pela

viagem chamada Rota do Mediterrâneo do Leste (que parte de Marrocos e Argélia

rumo à Espanha, para alcançarem o litoral europeu). Esta é a rota mais curta utilizada

pelos refugiados para se chegar à Europa apesar das condições climáticas.

Para o Brasil é mais comum utilizarem-se das fronteiras secas (terrestre) como é o

caso da Venezuela por exemplo.

A Grécia testemunhou 74.482 chegadas de refugiados e migrantes em 2019,

significativamente superior ao número de 50.508 registrados em 20183.

Pela sua localização, o Mar Egeu acaba demarcando a desigualdade entre o mundo

desenvolvido e o mundo subdesenvolvido.

3 Dados do relatório semanal da Agência de Refugiados da ONU (ACNUR) publicado em Janeiro de 2020.

SILVESTRI, P. R. Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental para refugiados. 128 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). Pontificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020. Orientadora: Prof.ª Dra. Marlise Aparecida Bassani.

RESUMO O fenômeno de migração vem sendo abordado por vários autores e continua um tema atual. A maioria dos países vem lidando com um grande fluxo de imigração ou emigração. A literatura em Psicologia enfatiza os processos psicológicos que ocorrem com os migrantes na sociedade que os acolhe. Segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR, 2019), há mais de 70,8 milhões de pessoas refugiadas. O objetivo da presente pesquisa foi caracterizar a atuação do profissional de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. Propusemos pesquisa qualitativa, de estudo de caso, e como fontes de dados: documentos da ONG e entrevistas semiestruturadas com profissional de Psicologia e mais cinco membros da equipe interdisciplinar de atendimento. Os resultados foram organizados em dois grandes temas: motivação para escolha do trabalho na ONG em foco e a atuação do profissional de Psicologia, abordando: características do atendimento, participação em equipe interdisciplinar, dificuldades encontradas, convergências entre as percepções do psicólogo e as de outros membros da equipe sobre sua atuação, inserção na ONG, descrições de um dia típico e um atípico. Analisamos possíveis contribuições da Psicologia Ambiental, a partir de conceitos como apropriação de espaço e apego ao lugar, no trabalho do psicólogo junto a refugiados. Apresentamos reflexões acerca da atuação do profissional em Psicologia no terceiro setor, considerando referenciais da Psicologia Ambiental e da Psicologia Clínica, nas interações pessoa-ambiente em deslocamentos por catástrofes ambientais e imigrações forçadas. Propomos esse possível campo de confluência na atenção a refugiados, como um convite a psicólogos para práticas sensíveis ao contexto de refugiados, no reconhecimento da multiplicidade de práticas psicológicas e nas implicações políticas dos diferentes tipos de fazer psicológico. Esse trabalho teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Palavras-chave: Atuação em Psicologia. Refugiados. ONG. Psicologia Ambiental. Equipe interdisciplinar.

SILVESTRI, P. R. Crossing the Aegean Sea: Performance of the Psychology professional in a non-governmental organization for refugees. 128 p. Dissertation (Master in Clinical Psychology). Pontifical Catholic University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 2020. Academic advisor: Profa. Dra. Marlise Aparecida Bassani.

ABSTRACT

The migration phenomenon has been addressed by several authors and remains a current topic. Most countries have been dealing with a large flow of immigration or emigration. Psychology literature emphasizes the psychological processes that occur with migrants in the society that welcomes them. According to a report by the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR, 2019), there are more than 70.8 million refugees. The objective of the present research was to characterize the performance of the psychology professional from his own perspective and from the perspective of the professionals of the interdisciplinary teams in an NGO serving refugees, in light of possible contributions from Environmental Psychology. We proposed qualitative research, case study, and as data sources: NGO documents and semi-structured interviews with a Psychology professional and five other members of the interdisciplinary care team. The results were organized into two major themes: motivation to choose the job at the NGO in focus and the role of the Psychology professional, addressing: characteristics of the service, participation in an interdisciplinary team, difficulties encountered, convergences between the perceptions of the psychologist and those of others team members about their work, inclusion in the NGO, descriptions of a typical day and an atypical one. We analyze possible contributions of Environmental Psychology, from concepts such as appropriation of space and attachment to the place, in the psychologist's work with refugees. We present reflections on the performance of the professional in Psychology in the third sector, considering references of Environmental Psychology and Clinical Psychology, in person-environment interactions in displacements due to environmental catastrophes and forced immigration. We propose this possible confluence field in the care of refugees, as an invitation to psychologists for practices sensitive to the context of refugees, in the recognition of the multiplicity of psychological practices and in the political implications of the different types of psychological activity. This work was supported by the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel - Brazil (CAPES) and by the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq). Keyword: Psychologist, Performance, Refugees, Non-governmental Organizations, Environmental Psychology.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Principais países de origem das pessoas refugiadas .............. 29

Figura 2 – Principais países de destino das pessoas refugiadas ............. 30

Figura 3 – Países que mais receberam novos pedidos de refúgio ........... 30

Figura 4 – O que está ocorrendo nos países de origem das principais

novas chegadas........................................................................

31

Figura 5 – Psicologia Ambiental ................................................................ 45

Figura 6 – Modelo dual de apropriação de espaço com base em POL

(1999).

47

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Novas Solicitações de Refúgio na cidade de São Paulo ............ 33

Gráfico 2 – Voluntários ................................................................................ 119

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas 37

Quadro 2 – Interdisciplinaridade: Mapeando da percepção em relação ao

serviço de Saúde Mental na ONG...........................................

78

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Cronologia das entrevistas realizadas............................... 59

Tabela 2 – Estrutura por tipo de contratado ONG.................................... 119

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABONG – Associação Brasileira Organizações Não Governamentais

ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

ADUS – Instituto de Reintegração do Refugiado

CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPS – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil

CASP – Caritas Arquidiocesana de São Paulo

CDHIC – Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONARE – Comitê Nacional para Refugiados

CRAI – Centro de Referência e Atendimento de Imigrantes

CTA – Centro Temporário de Acolhimento

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IKMR – I Know My Rights

IMDH – Instituto de Migrações e Direitos Humanos

LAR – Levando Ajuda ao Refugiado

ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PARR – Programa de Apoio para Recolocação dos Refugiados

PNDH – Plano Nacional de Direitos Humanos

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

SciELO – Scientific Eletronic Library Online

SEDES-SP – Instituto Sedes Sapientiae

SUS – Sistema Único de Saúde

TCLE – Consentimento Livre e Esclarecido

UFES – Universidade Federal Espirito Santo

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo

UNINOVE – Universidade Nove de Julho

USP – Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 18 Origem do estudo ............................................................................................. 18 Retrospectiva histórica ..................................................................................... 21 O termo ONG - Organização não Governamental ............................................ 21 Objetivos .......................................................................................................... 23 Objetivos Específicos ....................................................................................... 23

1 OS REFUGIADOS NO BRASIL E NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO ........... 25 1.1 Refúgio no mundo e no Brasil ................................................................. 28 1.2 Situação de refugiados no Brasil ............................................................ 31

2 DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E O ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS ........................................................................................

32

2.1 Faixa etária e Nacionalidade e Religião ................................................ 34

3 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA REFUGIADOS ...................................................

36

4 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA AMBIENTAL PARA ATUAÇÃO JUNTO AOS REFUGIADOS ...........................................................................

40

4.1 A Psicologia Ambiental – Principais Conceitos ..................................... 42

5 MÉTODO ...................................................................................................... 50 5.1 Considerações Metodológicas ............................................................... 50 5.1.1 Cuidados Éticos ...................................................................................... 52

5.1.1.1 Procedimentos éticos ........................................................................... 52

5.1.1.2 Procedimento para construção do caso em estudo .............................. 53

5.2 Descrição do caso .................................................................................... 54 5.3 Participantes e Critérios para a inclusão ................................................ 55 5.3.1 Informações sobre os entrevistados ........................................................ 55

5.3.2 Métodos de coleta ................................................................................... 56

6 RESULTADOS E ANÁLISE .......................................................................... 58 6.1 Etapas da análise de dados .................................................................... 61

7 DISCUSSÃO ................................................................................................. 86

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 91

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 94

APÊNDICES .................................................................................................... 100

ANEXOS .......................................................................................................... 108

18 INTRODUÇÃO

Origem do estudo

O tema do presente estudo versa sobre a atuação do profissional de Psicologia

junto a equipe interdisciplinar4 no atendimento a refugiados em Organização não

Governamental. Esse tema teve como origem o interesse por problemáticas

contemporâneas a partir de dois eixos: pessoal e o profissional. Minha atuação como

voluntária junto a refugiados em São Paulo, trouxe a reflexão e o interesse como

pesquisadora através de um levantamento descritivo a partir de casos de psicólogos

atuando junto a essa população e instituições. A atuação dos psicólogos em ONGs

que atendem a refugiados foi uma questão que chamou a minha atenção e de como

essa atuação estaria atrelada a dinâmicas relacionais.

Sou psicóloga de formação e minha atuação se deu em posições executivas

na Psicologia Organizacional onde permaneci por cerca de 25 anos. Contudo, pelo

exercício profissional do meu marido, tivemos de nos mudar e viver em outros países.

Com essa mudança experimentei a adaptação em diversas esferas: pessoal, familiar

e profissional. Experimentei como é ser estrangeiro em outro país e suas implicações.

Acredito que tais vivências contribuíram para esse olhar plural nas relações humanas

e podem enriquecer a proposta da presente pesquisa.

Interessei-me, portanto, em estudar a atuação do profissional de Psicologia em

um cenário de migrações cada vez mais presentes nas sociedades contemporâneas,

gerando a pluralidade de possibilidades de escolhas, que afetam a construção da

identidade em um processo contínuo de reorganização de suas experiências e

decisões.

Por questões políticas, religiosas, culturais encontramos hoje milhões de

pessoas buscando o refugio pois tiveram de sair de seus países e buscar proteção

em outros países.

De acordo com Zaia (2007) a migração é entendida como o deslocamento de

pessoas para um país, ou território por um tempo prolongado. O termo emigração,

significa deixar o local de origem (a pátria) com intenção de se estabelecer em um

4 Interdisciplinar ou transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas, promove um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos, e visa a cooperação entre as diferentes áreas e entre essas disciplinas (IRIBARYY, 2003).

19 novo país. O termo imigração trata da entrada das pessoas que veem de outros países

em busca de trabalho ou ainda buscar formar nova residência.

A migração humana é um fenômeno permanente na história mundial. Vários

países são resultados de migração.

A migração no Ocidente começou na época das descobertas, com os países

europeus invadindo outros continentes, representando o deslocamento das pessoas

de um lugar para outro.

Após a primeira guerra mundial observamos as ondas migratórias partindo da

Europa. A situação se fez presente no século XX, durante a Segunda Guerra. No

século XX o problema dos refugiados tomou enormes proporções, fazendo com que

dezenas de milhões de pessoas se deslocam pelo mundo.

A Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu em 1946, os princípios,

da condição de refugiado: onde o problema do refúgio começa a ter um alcance e

caráter internacional. Os protocolos de acolhimento e o trabalho junto a refugiados,

surgem a partir de 1950 Com a criação da ACNUR - Agência da ONU para

Refugiados: a Convenção do Estatuto dos Refugiados, de 19515 e, em 1967, é

proposto o protocolo de 19676, esse protocolo é relativo ao Estatuto dos Refugiados.

O estatuto de 1967 foi responsável por reformular a Convenção de 1951 e expandiu

para além das fronteiras europeias o mandato do ACNUR aumentando o escopo da

Convenção.

A Convenção do Estatuto dos Refugiados estabelece como refugiado apenas

as pessoas que por temor a perseguição, e que tivessem saído do seu território por

acontecimentos ocorridos antes de 1951.

No Brasil, com a nova democratização um fluxo maior de refugiados veio ao

país nos anos 1980. O Brasil aderiu em 1960 à Convenção de 1951, mas decidiu

aprovar a sua própria lei sobre refúgio (Lei 9.474 e a Lei nº 13.445/2017) que

detalharemos o escopo das leis mais adiante.

Segundo dados de 2019 do site do IMDH7, as migrações do século XXI tem se

dado por motivos econômicos, perseguições religiosas, desastres naturais, fome,

disputas políticas e regimes totalitários.

5 Vide A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951). Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf. 6 Vide: Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados. Disponível: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BD_Legal/Instrumentos_Internacionais/Protocolo_de_1967.pdf. 7 Vide IMDH - Instituto de Migrações e Direitos Humanos. Disponível: https://www.migrante.org.br/.

20 Remete aos anos 1950, a proteção aos refugiados no Brasil, uma vez que o

país validou na Convenção de Genebra de 1951 e no Protocolo de 1967, além de

fazer parte do Conselho Executivo do ACNUR desde 1958. A migração internacional

no Brasil era regulada até então por normas legais implementadas no período do

Regime Militar, nas quais o imigrante era visto como uma ameaça.

Nas últimas décadas do século XX observamos em escala internacional,

alterações no comportamento do fenômeno migratório no Brasil. As mudanças, eram

percebidas na chegada de imigrantes, diversificados pela origem, quanto na

continuada saída de brasileiros do país, gerando a necessidade de respaldo jurídico

que desse sustentação as políticas migratórias. A proteção mais efetiva aos

refugiados no Brasil passou a acontecer a partir da Constituição Federal de 1988,

onde o pais demonstrou maior preocupação com a proteção aos direitos humanos

sendo a partir de 1996, com a edição do I Plano Nacional de Direitos Humanos- PNDH,

que foi proposto um projeto de lei estabelecendo o estatuto dos refugiados. Data de

julho de 1997 a aprovada a Lei 9.4748, que estabeleceu os critérios para o

reconhecimento do status de refugiado, e determinou o procedimento para o

reconhecimento com a criação do Comitê Nacional para Refugiados-CONARE, que é

o órgão responsável para tratar do tema.

O Brasil possui de acordo com a ONU, uma das leis mais modernas e

inovadoras para os refugiados, possibilitando a eles o registro de estrangeiro,

trabalho, estudo e direito a cidadania, pelos acordos bilaterais, através da Lei nº

13.445/20175, (Lei de Migração) que fortalece o sistema de refúgio no Brasil.

Informações do relatório Tendências Globais, publicado em junho de 2019, pela

Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), há mais de 70,8 milhões de pessoas

refugiadas. Esse número representa um aumento de 2,3 milhões comparados com o

ano anterior e equivale ao dobro dos deslocados forçados registrados há 20 anos

atrás, em suas quase sete décadas de atuação quando o organismo internacional foi

criado em 1950. É o maior número de deslocamento forçado registrado em quase 70

anos da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). No ano de 2018 o número era

de 68,5 milhões de pessoas.

8 As leis encontram-se disponíveis: Lei 9.474. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm. Acesso em Dez 2019. Lei 13.445. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm. Acesso em Dez 2019.

21 A fim de apresentar as razões do foco da presente pesquisa em Organizações

não Governamentais para atenção a Refugiados, faremos uma breve retrospectiva

histórica, a seguir:

Retrospectiva histórica

Na época da segunda guerra mundial, cerca de 40 milhões de pessoas, em sua

maioria na Europa, se deslocaram a outros países por guerra (HOBSBAWN, 1995).

Para uma melhor condução e gestão dos fluxos de refugiados foi necessário a

negociação e o diálogo entre as autoridades governamentais bem como a criação de

programas de assistência aos público de refugiados.

O termo ONG surgiu pela primeira vez, na Carta das Nações Unidas (através

do artigo 71) emitida em 26 de junho de 1945, nos EUA, após a Segunda Guerra

Mundial que se deu na década de 1940. Tinha como objetivo designar entidades não-

oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos e para executar projetos de

interesse social, dentro de um trabalho chamado de desenvolvimento de comunidade

e se constituíram as bases do Welfare State (Estado de Bem-estar Social).

O termo ONG - Organização não Governamental

Segundo Landim (1993) e, posteriormente Gohn (2000), a expressão

Organização não Governamental-ONG, foi criada pela Organização das Nações

Unidas-ONU nos finais dos anos 40, referindo-se a um universo extremamente amplo

e pouco definido de instituições. ONG provém do sistema da ONU, e foi incorporada

pelo Banco Mundial para designar toda entidade que não pertença ao aparelho de

Estado. Em 1945, na Ata de Constituição das Nações Unidas, já se faz menção a

Organizações Não Governamentais (BRASIL, 1977).

A partir da década de 1970, as ONGs começaram a multiplicar-se no país.

Porém, o reconhecimento das ações das ONGs ocorreu na década de 1980,

especialmente após a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), realizada no Rio de Janeiro. No Brasil, a

denominação ONG tornou-se conhecido a partir da década de 1990, quando passou

a designar como o conjunto de várias entidades privadas, sem fins lucrativos, que

buscavam atender a determinadas demandas da sociedade, por meio da captação de

recursos (doações), e também por parcerias como por exemplo com o Poder Público.

22 As Organizações Não-Governamentais fazem parte do Terceiro Setor, que surgiu na

década de 1970, e está formado por entidades que, embora sejam privadas, também

tem fins públicos. Do ponto de vista jurídico as ONGs, presentes no Código Civil

brasileiro, só podem ser constituídas legalmente sob associação, enquadram-se na

legislação como esta categoria de organização. Estes tipos de sociedades são

formalmente reconhecidas pelo Código Civil Brasileiro de 1916.

No presente estudo optamos pela conceituação de Fernandes e adotada pela

Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG). A ABONG foi

criada em 1991, e tem como “principais objetivos promover o intercâmbio entre as

ONGs e representar coletivamente essas organizações junto aos Estados.”

(FERNANDES, 1994, p. 21). O objetivo fundamental das ONGs é o de contribuição

para uma sociedade cidadã, justa, igualitária, através da participação, da

solidariedade e do respeito à diversidade e ao plural.

ONGs são as organizações da sociedade civil empenhadas no fortalecimento da cidadania e democracia. mas que não têm um caráter de representação de um determinado grupo social ou de prestação de serviços filantrópicos a uma determinada comunidade, tendo como objetivo fundamental contribuir para a consolidação de uma sociedade democrática, justa e igualitária e estimular a participação e a solidariedade. (FERNANDES, 1994, p.27).

A migração não representa em si uma condição de vulnerabilidade, mas muitas

vezes ela é marcada por intensas violações dos direitos humanos e desigualdades no

processo de deslocamento. A vulnerabilidade nesse processo retrata a baixa

resistência psíquica do individuo. "Ao chegar a um novo país, as dificuldades que

enfrentam perpassam à nova cultura, ao idioma e aos costumes. É comum chegarem

em situação estrema vulnerabilidade, às vezes doentes e sem perspectiva de

reestruturar sua vida" (MILESI; CARLET, 2012, p. 87).

Na conjuntura contemporânea, a saúde é vista pelo conjunto de atitudes que

buscam à promoção do bem-estar e a melhoria da qualidade de vida. Há novas

demandas que convidam os psicólogos a questionarem a sua forma de atuar

associados ao novo contexto. À medida que o Brasil se coloca como um país de

acolhimento para os refugiados, é fundamental que estas condições de acolhimento,

integração e de oferta de serviços sejam também revistas e adaptadas.

23 Objetivos

O objetivo da presente pesquisa é caracterizar a atuação do profissional de

psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das

equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de

possíveis contribuições da Psicologia Ambiental.

Objetivos Específicos

a) Identificar possíveis participações do psicólogo na estrutura funcional da ONG

em questão;

b) Investigar as avaliações que o profissional de psicologia faz sobre sua inserção

na ONG e sobre sua atuação;

c) Compreender os significados atribuídos pelo profissional de psicologia e pelos

demais profissionais que compõem a estrutura funcional da ONG frente a sua

atuação para a população atendida;

d) Analisar possíveis contribuições da Psicologia Ambiental no contexto de ONG

para o atendimento a refugiados.

Nossa expectativa com a presente pesquisa é fomentar a discussão sobre a

atuação de profissionais de Psicologia, características, limites e possibilidades que o

profissional avalia serem relevantes em seu trabalho, bem como analisar a percepção

e significado que profissionais de outras equipes atribuem à contribuição da

Psicologia. Tais análises podem indicar articulação, ou não, do profissional em

Psicologia para composição de um trabalho interdisciplinar, abrindo possibilidades

para novas formas de atenção a refugiados por ONGs, para além do município de São

Paulo.

A fim de atingir os objetivos propostos que é o caracterizar a atuação do

profissional de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos

profissionais das equipes na ONG de atendimento a refugiados, esta pesquisa se

organiza conforme a estrutura a seguir:

No Capítulo 1 abordaremos os refugiados no Brasil, no Estado de São Paulo e

no município de São Paulo; bem como a análise dos dados do governo estadual e

municipal.

24 As Organizações não Governamentais e o atendimento aos refugiados serão

abordados no Capítulo 2. Informações sobre os dados da população atendida ao

longo do tempo e nos dias atuais e a crescente importância desses atores na última

década.

A proposta do Capítulo 3 é discutirmos sobre a atuação do psicólogo frente aos

conceitos de refugiados e as ONGs que os atendem.

Diante dos elementos analisados nos capítulos precedentes, o Capítulo 4 terá

por objetivo a reflexão sobre as contribuições da Psicologia Ambiental para atuação

junto aos refugiados.

O método será apresentado no capítulo 5 no qual abordaremos as

considerações metodológicas adotadas para o estudo, os procedimentos de coleta de

dados, os procedimentos éticos e a descrição do caso.

No capítulo 6 apresentaremos o plano de análise dos dados e os resultados. A

partir das narrativas e a reflexão dos participantes com relação a atuação do

profissional de Psicologia junto aos refugiados e às equipes.

No capítulo 7 realizaremos a discussão dos resultados retomando os objetivos,

articulando os resultados, as possíveis contribuições da Psicologia Ambiental.

O capítulo 8 versará sobre as Considerações finais, com as possibilidades de

estudos no futuro sobre o tema ampliando-se o escopo para articulações entre a

clínica psicológica contemporânea e a atenção aos refugiados.

Por fim no capítulo 9, serão apresentadas as referências bibliográficas do

presente estudo.

Esperamos contribuir para a reflexão que vem atuando no terreno em que

convergem a atuação das ONGs, a prática profissional em psicologia no país,

fornecendo subsídios aos pesquisadores e profissionais que atuam nessas áreas.

25 1 OS REFUGIADOS NO BRASIL E NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Faz-se necessário entender e contextualizar a problemática dos refugiados. A

questão dos refugiados é relevante na medida que o aumento de conflitos étnicos e

as violações de direitos humanos os qualificam os cada vez. Os refugiados retratados

nessa pesquisa, são os sujeitos influenciados por fatores que levam à exclusão, à

segregação e como resultado a emigração do país de origem fazendo com que saiam

a busca de refúgio em um país estrangeiro.

O estrangeiro é também aquele individuo que se encontra na fronteira, aquele

que será o de fora. Não é uma tarefa fácil aprender uma novo idioma, uma nova cultura

e um novo conjunto de regras. Eles estão expostos a vivenciar de maneira positiva

e/ou negativa o choque cultural causado pelo estresse emocional que pode

comprometer o seu funcionamento quando na verdade são incapazes de entender os

sinais de um ambiente novo. Um fator importante é a elaboração das perdas nessa

experiência atreladas à história de cada indivíduo (SILVA, 2017). Em seu deslocamento, os refugiados transportam muito pouco consigo em

termos de objetos pessoais, objetos estes que caracteriza a sua identidade e o lugar

de onde vem. Torturas, guerras, violências, massacres, a morte de parentes e amigos,

são situações traumáticas que ficam expostos. A fome e as perdas de pertences que

trazem consigo são frequentes, além da cultura em um novo país que escolheram

para o refúgio. Um indivíduo que migra precisará abrir mão de tudo que é conhecido

e imergir em um mundo que requer novos significados vivenciando uma experiência

de desamparo onde a não compreensão afeta o bem-estar psicológico e pode

dificultar na sua adaptação. Um migrante em estado de privação, sofre e vivencia uma

crise. Estes períodos de transição representam uma possibilidade do aumento da

vulnerabilidade. ( MARTINS-BORGES, 2013).

Mudar de país significa construir uma nova vida e resinificar o que era familiar

se deparando com perdas como por exemplo, a de pertencer a um grupo que lhe dava

identidade e reconhecimento. A diferença cultural confronta-se com a ruptura de tudo.

A perda do sentimento de pertencimento pode gerar ansiedade pela necessidade que

os indivíduos têm do sentimento de segurança e proteção. (SILVA, 2016 p.3).

O sofrimento do migrante está vinculado à instabilidade de suas certezas, e

coloca em risco a sua identidade. O migrante em sua “entrangeiridade não é possível

de classificar, é considerado um sem lugar”(SILVA, CREMASCO, 2016, p 2-3).

26 “O estrangeiro desvela para o grupo esse outro. Outro que se expressa em

muitos sentidos: outro idioma e outros costumes”. (SOUZA,1998 p.155). Essa

incompreensão do modo de existir diferente é difícil de ser compreendidos, o

estrangeiro pode vir a sofrer de grande rejeição na sua nova pátria. Constituem-se um

grupo diferente, pois tiveram que sair de seus países não podendo mais retornar.

“O refugio carrega as noções de temporalidade (entre o país de origem e o

país de destino) e a transitoriedade” (MOREIRA 2015, p.87), em questões de

identidade e também sociais e culturais representando e refletindo uma dificuldade de

pertencimento. A migração forçada ocorre por uma série de fatores, a perseguição,

as catástrofes, a degradação ambiental mas também está presente por guerras e

conflitos.

O acolhimento de refugiados pelos Estados gira em torno da fronteira entre a

inclusão e exclusão, os desejáveis e os indesejáveis; que reforça a vulnerabilidade.

Moreira (2014 p.86) coloca que os refugiados são vistos como outsiders9, não só

porque vem de outras países, mas por não por não pertencerem à nação, lhes são

estranhos os códigos e a identidade cultural, religiosa, de idioma da nova nação. As

situações enfrentadas pelos refugiados são, tão perigosas que decidem cruzar as

fronteiras em busca de segurança em outros países, sendo assistidos por outras

nações ou pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), ou

outras Organizações que atuam na defesa dos direitos humanos.

Os traumas como as guerras e os conflitos, a permanência por períodos

grandes nos campos de refugiados, a perda de familiares, os casos da violência

sexual no percurso e a possibilidade da perda da própria vida, onde a viagem para

outros países se dá por caminhos perigosos, com a incerteza de serem aceitos e o

estresse da adaptação a uma nova cultura muitas vezes feita na intolerância e o

racismo (BUHMANN, 2014).

A verificação do status de refugiado no Brasil, cabe ao governo federal, através

do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). Aqueles que não forem

considerados refugiados e, não necessitarem de nenhuma forma de proteção

internacional, podem ser enviados de volta aos seus países de origem.

9 Termo utilizado por BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas; SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade.

27 Segundo o ACNUR, quem solicita asilo é um individuo que afirma ser um

refugiado, mas que não teve seu pedido avaliado. Os sistemas de asilo a nível

nacional, servem para determinar quais requerentes se qualificam para a proteção

internacional. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

(ACNUR) considerando a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967, relativos ao

assunto, o refugiado é aquele que: [...] temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país. (ACNUR, 2011, p.11)

O número de refugiados no mundo não tem deixado de aumentar e também a

Europa se depara com esta realidade decorrentes de conflitos e guerras.

Detalharemos a seguir o cenário do refúgio no mundo e, especificamente, no

município de São Paulo.

28 1.1 Refúgio no mundo e no Brasil O Brasil adota uma política de portas abertas para pessoas de países que se

encontram em pobreza extremas e a situações de guerras, mas ainda faltam os

serviços de acolhimento.

Nossos acordos bilaterais e o nosso endosso ao Estatuto dos Refugiados, com

as nossas leis, a facilidade de conseguirem a documentação vão firmando o Brasil na

rota das migrações. O Brasil faz parte dos principais tratados internacionais de direitos

humanos e é parte da Convenção das Nações Unidas de 1951 sobre o Estatuto do

Refugiado e pelo Protocolo de 1967, que reformou a Convenção. O Brasil promulgou

a Lei de Refúgio (n. 9474/97 e a Lei da Imigração (Lei nº 13.445/2017) que amplia a

estrutura administrativa e a tramitação de processos dos refugiados de maneira

informatizada, adotando uma ampla definição de refugiado que se vê presente

também na Declaração de Cartagena de 198410. A Declaração considera que a

“violação dos direitos humanos” de maneira generalizada como uma das causas para

o reconhecimento da condição de refugiado.

O crescimento exponencial de refugiados, que significa que, à medida que a

quantidade aumenta, aumenta também a taxa na qual ele cresce, observado pelas

ocorrências catastróficas e que impactam o aspecto humanitário, de crises, conflitos

políticos e sociais, guerras e também os desastres naturais. Segundo dados

extraídos do Relatório Tendências Globais, do ACNUR (2019), mais de 68,5 milhões

de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em todo o mundo por conta de

conflitos, perseguições ou violência. Das 25,9 milhões de pessoas refugiadas, 41,3

milhões estão deslocadas internamente em seus países e 3,5 milhões são

solicitantes de asilo. Turquia, Paquistão e Uganda são os três países que acolhem

em maior numero refugiados. Juntos estes três países já receberam mais de 6,3

milhões de pessoas. O Relatório Tendências Globais, ou Global Trends, traz que a

maioria dos refugiados vive em áreas urbanas (58%), não em campos ou áreas

rurais, e que a população deslocada global é jovem: 53% são crianças, incluindo

muitas que estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias. O número de

refugiados aumentou mais de 50% nos últimos 10 anos, sendo que mais da metade

dos refugiados são crianças, com menos de 18 anos de idade, representando 52%

da população refugiada no mundo.

10 A Declaração de Cartagena encontra-se disponível no site https://www.acnur.org/cartagena30/pt-br/antecedentes-e-desafios/

29 Dados do último relatório do ACNUR, traz que os refugiados no mundo vem de

três países: Síria (6,7 milhões), Afeganistão (2,7 milhões) e Sudão do Sul (2,3

milhões).

Na figura 1, trazemos os dados dos principais países de origem das pessoas

refugiadas.

§ Metade da população refugiada tem menos de 18 anos, ou seja, são crianças

ou adolescentes. Crianças constituem cerca de metade dos refugiados população em 2018, acima dos 41 por cento em 2009, mas semelhante aos anos anteriores.

§ 84% das pessoas refugiadas vivem em países em desenvolvimento.

§ 1/3 das pessoas refugiadas vivem nos países menos desenvolvidos no mundo, cujo PIB somado equivale a 1,25% do PIB mundial.

§ Quatro em cada cinco refugiados vivem em países vizinhos ao país de origem.

Em 2018...

§ 1 em cada 5 pessoas que procuraram refúgio era venezuelana. § A Venezuela foi o país de origem do maior número de solicitantes de refúgio,

com: 341.800 novos pedidos.

Figura 1: Principais países de origem das pessoas refugiadas Fonte: ACNUR, 2019.

30 Na figura 2, observamos os dados dos principais países de destino das pessoas

refugiadas e na Figura 3, os países que mais receberam pedidos de refugio e a origem

dos pedidos mais solicitados no último ano.

Figura 2: Principais países de destino das pessoas refugiadas Fonte: ACNUR, 2019. Figura 3: Países que mais receberam novos pedidos de refúgio Fonte: ACNUR, 2019.

Importante pontuar que Leis internacionais obrigam vizinhos de países em

conflito a receber os refugiados. Por isso, Turquia e Líbano surgem como rotas de

fuga preferenciais pela fronteira com a Síria. No Caso dos venezuelanos, o Brasil

acaba sendo uma das rotas escolhidas (CONARE, 2019).

LIBANO: O Líbano continuou a hospedar

o maior número de refugiados em relação à sua população nacional, onde

1 em cada 6 pessoas era refugiada. Jordânia (1 em 14) e Turquia (1 em 22) ficou em segundo e

terceiro, respectivamente.5

VENEZUELA: Os refugiados e requerentes de

asilo venezuelanos aumentaram em número. O movimento

mais amplo de venezuelanos em toda a região e além assumiu cada vez mais

características de uma situação de refugiado, com cerca de 3,4

milhões fora do país até o final de 2018.

31 1.2 Situação de refugiados no Brasil

O Brasil também vem sendo influenciado por esse novo fluxo internacional. O

Brasil já havia reconhecido 4.035 refugiados em 2011, número este que chegou a

7.262 em 2014, e a 11.231 em 2018. Três ondas migratórias recentes chamam a

atenção no Brasil: a do Haiti, em 2010; a de Sírios (2011) e, mais recentemente a dos

venezuelanos (2018). Os imigrantes venezuelanos enxergam no Brasil o refúgio de

que necessitam para sobreviver e se manter.

Os dados atualizados de 2019 sobre número de solicitações de refúgio no país

ainda não foram divulgados pelo Ministério da Justiça, porém, segundo informações

do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil tem um acumulado até

a presente data de 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas, enquanto, no

mundo todo, esse número é de 25,9 milhões de pessoas. O país também recebeu

7.000 solicitações de haitianos. Em 2019, o Brasil recebeu cerca de 59 mil solicitações

de refúgio, mais de três quartos foram de venezuelanos: com 61.600 solicitações.

Figura 4: O que está ocorrendo nos países de origem das principais novas chegadas. Fonte: Caritas, 2019.

32 2 DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E O ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS As principais instituições que trabalham com a temática do refúgio em São

Paulo são: ACNUR, Caritas Arquidiocesana de São Paulo11, IKMR – I Know My

Rights, Adus – Instituto de Reintegração do Refugiado, Missão Paz, Centro de

Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), Casa de Passagem “Terra Nova”,

Oásis Solidário, Programa de Apoio para Recolocação dos Refugiados (PARR), e

Levando Ajuda ao Refugiado (LAR). Escolhemos para o estudo a ONG Caritas pela

sua capilaridade e tempo de atuação junto a população vulnerável. A Caritas

Arquidiocesana de São Paulo é uma das organizações não governamentais parceiras

do ACNUR no Brasil. Fundada pela Igreja Católica, em 1956, está atenta a promoção

do direito e desenvolvimento das pessoas vulneráveis. Em São Paulo, foi criada em

abril de 1968, como parte integrante da Arquidiocese de São Paulo, também

conhecida por CASP (Caritas Arquidiocesana de São Paulo), por meio do “Centro de

Referência para Refugiados”, localizado na região central de São Paulo.

Estaremos fazendo um recorte estatístico das pessoas atendidas no mundo e

no município de São Paulo até Fevereiro de 2020. A cidade de São Paulo tem estreita

relações com os imigrantes desde 1554. Segundo dados do Museu de Imigração, no

século 19, com o fim da escravidão, a cidade de São Paulo foi um dos principais

lugares no país que recebeu os imigrantes, principalmente para o trabalho nas

lavouras de café. No século XIX, chegaram os Italianos, espanhóis e, depois, os

japoneses. O Museu tem como objetivo documentar o processo migratório no Brasil,

e tem registros das acolhidas, com fotos e objetos históricos, além do registro de

origens de sobrenomes desses países. A cidade de São Paulo continua ate hoje com

a sua trajetória de receber imigrantes com diversos serviços oferecidos.

O recorte estatístico apresentado aqui refere-se ao levantamento do

Georreferenciamento5, lançado em 23 de Outubro de 2019 pela Caritas em parceria

com o ACNUR. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o Centro de

Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, tem como base

os dados de registro de 2018. Sobre o número de refugiados vivendo na cidade de

São Paulo, segundo dados do relatório “Refúgio em números, de Junho de 2019”, Em

11 Vide Dados da Caritas Brasileira: disponível em: http://caritas.org.br.

33 2018, mais de 9 mil pessoas de 115 nacionalidades solicitaram o refúgio no estado de

São Paulo, sendo em maior numero na Capital. A maior parte da população recém

chegada ou já no território há mais de um ano concentra-se em áreas centrais da

cidade.

Gráfico 1: Novas Solicitações de Refúgio na cidade de São Paulo Fonte: BRASIL, 2020.

O gráfico 1, apresenta os dados da Policia Federal referente as novas

solicitações de refúgios na cidade e São Paulo, a partir de 2011, onde podemos

identificar um aumento crescente a partir de 2016. Também observamos que o

movimento de refugiados para o interior paulista tem aumentado a cada ano.

Dados do Centro de Referência para Refugiados no Estado de São Paulo, por

meio do levantamento realizado, traz que a maior parte das pessoas atendidas, após

chegada a cidade, moram na região Central da cidade, mas ainda há pessoas

morando em cidades do Interior e no Litoral. É possível destacar no relatório que a

maior parte das pessoas em situação de refúgio em São Paulo, vive na zona leste da

capital paulista (55%), mesmo que a região da Sé e República sejam as localidades

com maior número de residentes 521 e 466, respectivamente. Em relação à

residência, dos 346 entrevistados (90,58% do total de 382) residem em moradias

alugadas enquanto 6 (menos de 2%), outros vivem em unidades “cedidas”.

A mobilidade na cidade de São Paulo é uma das questões para os imigrantes-

refugiadas que se estabeleceram em bairros situados no extremo-leste de São Paulo.

Seja pela falta de recursos ou ainda pela dificuldade em acessar o sistema público de

transporte.

34 As pessoas venezuelanas atendidas pela Caritas em 2018 representam 19,8%

do total, constituindo também a principal nacionalidade de novas chegadas no país

neste ano (53,9%). Dos 773 venezuelanos recém-chegados atendidos pela Caritas

SP em 2018, 441 (57% do total) chegaram à cidade de São Paulo. Dos atendidos pela

ONG, 62% são homens e 38% mulheres. Sua distribuição na cidade se concentra na

região central, porém com distribuição para diferentes regiões da metrópole,

chegando a ocupar espaços menos urbanizados nas Zonas Norte e Sul.

De acordo com o relatório Georreferenciamento de Pessoas em Situação de

Refúgio atendidas, São Paulo é um marco no trabalho com refugiados na cidade e

representa uma guinada no olhar das políticas e abordagens humanitárias em

contexto urbano (ACNUR, 2019).

2.1 Faixa etária e Nacionalidade e Religião Está mapeado no relatório do Georreferenciamento que dos refugiados

economicamente ativos, apresentam idades entre 18 e 49 anos, o que representam

88,26%. Desse percentual 2% tem mais de 18 anos e menos que 20 anos. Nessa

amostra os com menos de 18 anos foram excluídos. 11,73% tem mais de 50 anos e

4,32% tem mais do que 60 anos. Do total de refugiados hoje presentes no Brasil, 72%

são homens e 28% mulheres, 227 são casados (46,61%) ou em uma união estável,

239 (corresponde a 49,08%) são solteiros e 21 se declararam como viúvos ou

divorciados. Nessa população os indivíduos estão mais próximos da aposentadoria

ou já se aposentaram. Em termos de entradas no país, 55,23% vieram da Síria (153)

e República Democrática do Congo (116). 16,01% vieram da Angola (42) e Colômbia

(36). Do total mapeado, 83,16% chegaram ao Brasil em sua maioria depois do ano de

2010. A maior parte dos atendidos (75%) já residia no Brasil antes de 2018. Já em

relação à população de refugiados que chegou em 2018 os Venezuelanos são

apontados como maioria, contabilizando um total de 773 atendidos, representando

25%. Em relação à raça ou cor (auto declaração -seguindo metodologia do IBGE),

40% são brancos, os que se declararam brancos são principalmente sírios. 46%

negros, o que acreditamos demonstrar que houve incômodo apenas diante de certas

perguntas presentes no levantamento, como por exemplo, a questão de gênero.

Dados do Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil, traz que 93% (do número

de 487 indivíduos pesquisados) declaram professar alguma religião. Ao se investigar

a crença religiosa, ponto que nos pareceu importante para a questão do aculturamento

35 e para o entendimento da frequência com que realizam os cultos que ocorre pelo

menos uma vez por semana, o que indica, em tese, que a crença faz parte da vida

social do refugiado, constituindo-se assim em importante espaço de integração social,

tais como: o encontro de parceiros, a busca e indicação de emprego, entre outros

fatores tais como moradia, partilha de utensílios, móveis e roupas. 39,96% são

Islâmicos, 17, 86% são católicos e protestantes corresponde a 27,46%.

A espiritualidade está na essência do ser humano, e não depende

necessariamente de experiências religiosas. A espiritualidade dimensiona o sentido

da vida com um dinamismo interno (GONÇALVES, 2013). Com o objetivo de trazer

luz para a compreensão das religiões do mundo contemporâneo, estaremos fazendo

um esclarecimento do que são os protestantes e os evangélicos nesse estudo, pois

vários estudos têm apontado a importância da religião/espiritualidade na qualidade de

vida. O drama do refúgio não faz acolhimento a religião, pois pode envolver qualquer

crença. Atualmente existem inúmeras religiões sendo praticadas no mundo, dentre

elas o Budismo, Judaísmo, Cristianismo Hinduísmo, Islamismo. No âmbito católico, o

compromisso da pastoral junto a migrantes e refugiados é encabeçado pelo Pontifício

Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes instituído por Paulo VI em 1970

e tinha como preocupação oferecer assistência espiritual aos fiéis que se encontravam

longe da sua nação. Do século I ao início do XVI o cristianismo na época tinha como

objetivo propagar a ideia da Igreja Católica no mundo que começou a mudar a partir

do século XVI. Os dois nomes, protestantes e evangélicos referem-se aos cristãos

que romperam com a Igreja Católica durante a Reforma Protestante. O termo

“protestante” : emergiu a partir de divergências de opiniões dentro da Igreja Católica,

em alguns países e no Brasil, o termo “protestante” foi substituído por “evangélico”,

que ocorreu no ano de 1557 (MENDONÇA,1990). Vale destacar que o evangelismo

ou cristianismo evangélico é um movimento cristão protestante que surge da reforma

Protestante. Esse movimento reúne vários outros submovimentos, como por exemplo

a Igreja Batista, o Pentecostalismo, o movimento Carismático e o chamado

Cristianismo (BOHN, 2004).

Para os refugiados a prática de seus costumes religiosos é também a

oportunidade de nos cultos, encontrar e fazer amigos além do apoio mutuo, como

tomar ciência de oportunidade de emprego, apoio na subsistência além de sentirem-

se parte de um grupo. A espiritualidade aponta assim para o sentido da esperança e

da resiliência.

36 3 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA REFUGIADOS

Para a construção de um aporte teórico que pudesse dar conta do objetivo

principal dessa pesquisa, efetuamos uma revisão da literatura com o objetivo de

elucidar a reflexão do papel do psicólogo junto a ONGs que atendem ao público de

refugiados no município de São Paulo. Para o alcance dos objetivos a pesquisa foi

realizada seguindo o caminho: Realizamos um levantamento bibliográfico sobre

trabalhos já desenvolvidos em torno do tema que envolve esta pesquisa. Foram

realizadas buscas na base de dados Google acadêmico, Plataforma BVS-Psi,

integrada à integrada à Scientific Eletronic Library Online (SciELO), no período de

2014 a 2019, foram selecionados artigos publicados em periódicos Qualis/CAPES,

com classificação A1, A2, B1 e B2. A classificação Quali/CAPES fornece informações

sobre a qualidade das produções acadêmicas. Consideramos o material em

português, tendo pelo menos um psicólogo entre os autores. No caso desse

levantamento, o interesse foi por pesquisas sobre Psicólogos atuando em ONGs que

atendem a refugiados. Para tal, utilizamos os descritores “Psicólogo em ONG” AND

“Refugiados” onde relacionamos as publicações sobre o tema mencionados no

Quadro 1. No processo de busca pelos artigos e dissertações relacionados ao tema,

seguimos os passos a partir da definição dos descritores a serem utilizados pelos

critérios de seleção. O levantamento demonstra a forma como o assunto vem sendo

tratado e atualiza as informações sobre os avanços em torno do objeto de estudo

(BASSANI, 2015).

Na revisão, buscamos classificar os artigos, os periódicos científicos (teses e

dissertações), procurando classificá-los por: ano de publicação (de 2014 a 2019) e

objetivo. Considerado o nosso interesse pelo tema da pesquisa, passamos a leitura

dos materiais coletado e à análise, de acordo com o tema abordado e características

metodológicas. Com a temática dos refugiados, os estudos evidenciam temas tais

como: diversidade cultural e as redes de apoio. Com relação a metodologia

empregada, a maioria dos estudos utilizam-se de métodos qualitativos.

Os critérios de inclusão foram: serem artigos ou dissertações relacionados a

atuação de psicólogos em ONG, estarem redigidos em língua portuguesa e terem sido

publicados nos últimos seis anos.

Foram critérios de exclusão: artigos duplicados, artigos de opinião ou de

reflexão, artigos escritos em outras línguas e artigos versando campos de refugiados

37 em cenários de guerra. O resultado na aplicação dos critérios de inclusão e exclusão,

foi um conjunto de apenas doze artigos a ser analisado.

Não identificamos artigos com o tema dos refugiados e a psicologia ambiental,

no processo de pesquisa as bases selecionadas.

Nome artigo Autor Volume e # Relação com o tema

Atuação do psicólogo em organizações não governamentais na área da Educação

DADICO, Luciana; SOUZA, Marilene Proença Rebello de

Atuação do psicólogo em organizações não governamentais na área da Educação. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 30, n. 1, p. 114-131, mar. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000100009&lng=pt&nrm=iso>. acesso em nov. 2018.

Atuação psicólogo ONG foco escolar

Psicologia Escolar em ONGs: Desafios Profissionais e Perspectivas Contemporâneas de Atuação

GALVAO, Pollianna; MARINHO-ARAUJO, Claisy Maria

Psicologia Escolar em ONGs: Desafios Profissionais e Perspectivas Contemporâneas de Atuação. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 21, n. 3, p. 467-476, Dec. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572017000300467&lng=en&nrm=iso. acesso em 22 Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392017021311177.

Atuação psicólogo ONG foco escolar

A atuação do psicólogo em ONG/AIDS

RASERA, Emerson F.; ISSA, Carmem Lucia Graminha

A atuação do psicólogo em ONG/AIDS. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 27, n. 3, p. 566-575, set. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932007000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932007000300015.

Atuação psicólogo ONG para portadores HIV

Atenção Psicológica em Situações Extremas: Compreendendo a Experiência de Psicólogos

VASCONCELOS, Ticiana Paiva; CURY, Vera Engler

Atenção Psicológica em Situações Extremas: Compreendendo a Experiência de Psicólogos. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 37, n. 2, p. 475-488, Jun 2017 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932017000200475&lng=en&nrm=iso>. Acesso em Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703002562015.

Atuação psicólogo em situações extremas

O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional

BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; GOMIDE, Paula Inez Cunha

Psicologia: Ciência e Profissão Print version ISSN 1414-9893 Psicol. cienc. prof. vol.9 no.1 Brasília 1989 Acesso em Nov. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931989000100003

Atuação psicólogo Estudo CRP

O psicólogo no terceiro setor: os sentidos do trabalho no enfrentamento à desigualdade social

SILVA, Camila Young da

Biblioteca PUC, Scielo- mestrado psicologia social, 2011 PUC CP Acesso em Nov. 2018. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/16920

Atuação psicólogo ONG – Atuação multifuncional

38 Continuação do Quadro 1: Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas

Serviço de atendimento psicológico especializado aos imigrantes e refugiados: interface entre o social, a saúde e a clínica

MARTINS BORGES, Lucienne; POCREAU, Jean-Bernard.

Estud. psicol. (Campinas), Campinas , v. 29, n. 4, p. 577-585, Dec. 2012. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2012000400012&lng=en&nrm=iso>. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400012. Acesso em Apr. 2019.

Atuação psicólogo ONG – Adequação dos serviços

A política de acolhimento de refugiados –considerações sobre o caso português

COSTA, B. Ferreira. TELLES, Géssica.

COSTA, B. F.; TELES, G. A política de acolhimento de refugiados - considerações sobre o caso Português. REMHU, Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana, v.25, n.51, p.29-46, 2017 Disponível em: http://www.unhcr.org/protect/PROTECTION/3b66c2aa10.pdf. Acesso em: 7 de Julh .2018

Refugiados, políticas de acolhimento

Refugiados e saúde mental-acolher, compreender e tratar

ANTUNES, José António Pereira de Jesus.

Psicologia, Saúde & Doenças, 2017, 18(1), 115-130- www.sp-ps.com DOI: http://dx.doi.org/10.15309/17psd180110 Acesso em: Julh .2018

Refugiados e a Saúde Mental

Migrantes, Imigrantes e Refugiados: a Clínica do Traumático

ROSA, Miriam Debieux

Rosa, M. (2012). Migrantes, Imigrantes e Refugiados: a Clínica do Traumático. Revista De Cultura E Extensão USP, 7, 67-76. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9060.v7i0p67-76 DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9060.v7i0p67-76 Acesso em fev. 2018

Psicanálise, Clínica do traumático, Práticas clínico-políticas

Além-mar: casais de imigrantes haitianos e as redes relacionais

SILVA, S.A.

SILVA, Sidney Antônio da. Imigração e redes de acolhimento: o caso dos haitianos no Brasil. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 34, n. 1, p. 99-117, Apr. 2017 . disponível <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982017000100099&lng=en&nrm=iso>. https://doi.org/10.20947/s0102-3098a0009. Acesso em: Fev .2018

Rede de apoio

Quadro 1: Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas Fonte: Elaborado pela autora

Os dados apresentados (ABONG, 2002; SILVA, 2006; HADDAD, 2002;

CAMPAGNAC, 2006), permitem identificar uma participação crescente de psicólogos

atuando nas organizações do Terceiro setor, e consequentemente nas organizações

não-governamentais. No entanto, as pesquisas disponíveis em relação aos locais de

atuação dos psicólogos não trazem informações que permitam verificar a ocorrência

desse crescimento no campo da Psicologia.

39 Yamamoto (2007) afirma que há uma crescente presença do psicólogo nas

organizações do Terceiro Setor, voltadas para o bem-estar social, processo que é

interdependente à introdução sistemática do psicólogo no campo do bem-estar social.

Para o autor, estes processos estão associados à expansão dos serviços do psicólogo

para camadas mais amplas da população, ao longo dos quarenta anos de

consolidação da profissão no Brasil.

O psicólogo que participou da pesquisa trabalha na organização há vários anos,

desde 2007 e atuava simultaneamente na ONG e em seu consultório particular.

Descreveu na entrevista diversos aspectos de sua formação, ressaltando partes do

currículo acadêmico e de cursos específicos que influenciaram de algum modo sua

trajetória profissional, como relata:

[...] trabalho com refugiados partiu da atuação em um projeto que atuei por 9

anos, voltado a crianças e adolescentes, com vários programas... [...] Sempre gostei

de trabalhar com populações vulneráveis, que é onde tem um campo para o psicólogo

e foge a proposta de um trabalho mais elitizado.

A maior parte da equipe interdisciplinar contaram ter chegado à ONG por um

interesse ou por experiência profissional anterior na área.

As descobertas, assim como a escassez de estudos a respeito da atuação do

psicólogo em Organizações não Governamentais, levam a refletir a respeito da

atuação do psicólogo deve ser uma tarefa constante e necessária, ainda mais em um

campo incomum como é o das ONGs, campo este permeado de possibilidades e

ambiguidades, no qual essas organizações trabalham fortemente para manter uma

boa relação com o Estado.

40 4 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA AMBIENTAL No Brasil há poucos estudos sobre a saúde dos deslocados e sobre os

deslocamentos por questões de clima dos refugiados. A população desalojada pelas

mudanças climáticas e pelas catástrofes naturais preocupa autoridades mundiais.

Segundo RAMOS (2011), em sua tese com o título: Refugiados ambientais: em busca

de reconhecimento pelo direito internacional, discorre como na história da

humanidade os relatos de catástrofes naturais, doenças, epidemias, fome e outros

eventos extremos forçam o deslocamento de indivíduos a buscarem garantir a

sobrevivência em locais mais seguros. Guerras e outras formas de violência e

perseguições também levaram o deslocamento forçado no mundo, liderados pelos

problemas na República Democrática do Congo e pela guerra do Sudão do Sul,

gerando a saída de centenas de milhares de refugiados. Nota-se que os países em

desenvolvimento são os mais afetados, onde os fenômenos climáticos apresentam

um papel cada vez mais importante nas ondas migratórias.

Importante trazermos o que são refugiados ambientais. São todas as pessoas

que foram forçadas ou tiveram de sair de suas casas e terras de origem por desastres

naturais, dentro os quais cabe destacar os terremotos, as enchentes, os tsunamis, as

desertificações e secas, e as erupções vulcânicas. Cabe incluir nessas razões de

migrações os fatores recentes do aquecimento global, e inclusive às consequências

causadas pela ação humana, efeitos dos processos de desenvolvimento dos países,

tais como os acidentes nucleares e industriais, e a questão da poluição das cidades.

Ou seja, devido eventos adversos da natureza ecológica, ambiental ou climática. A

definição de refúgio ambiental é dada pela primeira vez por Essam El-Hinnawi (1985),

em relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

41 Those people who have been forced to leave their traditional habitat, temporarily or permanently, because of a marked environmental disruption (natural and/or triggered by people) that jeopardized their existence and/or seriously affected the quality of their life […]. By ‘environmental disruption’ in this definition is meant any physical, chemical, and/or biological changes in the ecosystem (or resource base) that render it, temporarily or permanently, unsuitable to support human life. (EL-HINNAWI, 1985, p. 4)12

De acordo com a ONU, hoje em dia o número de refugiados pelo clima é 4

vezes maior do que o número de refugiados vítimas de conflitos religiosos e políticos.

O deslocamento humano nessa proporção está relacionado ao aumento nas

temperaturas, ao crescimento no número de enchentes, a secas, furacões, terremotos

e outros efeitos causados pelas mudanças climáticas. O ACNUR, reconhece a

gravidade e a complexidade dos fatores ambientais que geram os fluxos de migrantes

e refugiados, e não reconhece a categoria de “refugiados ambientais” como

“refugiado”. Dessa forma, faremos referência às “pessoas deslocadas no contexto das

mudanças climáticas”.

Os dados sobre esses imigrantes que saem de seus países por conta de

fenômenos ambientais e climáticos são ainda incompletos. Segundo o site de

estratégias da ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), estima-se que,

desde 2008, cerca de 22,5 milhões por ano deixaram suas casas devido a eventos

extremos do clima. Em 2019 de acordo com a Organização Meteorológica Mundial

(OMS), eventos climáticos extremos fizeram um número recorde de sete milhões de

pessoas serem obrigadas a fugir de suas casas ou de seu país. A odisseia em busca

de moradia pode começar dentro do próprio país. Normalmente os refugiados migram

do campo para áreas urbanas, onde enfrentam problemas, já que as habilidades como

o cultivo agrícola não podem ser aproveitadas.

O relatório anual Tendências Globais ou Global Trends, disponível no site do

ACNUR13, acompanha através essa publicação o deslocamento forçado com base

em dados coletados pelo órgão por governos e outros parceiros.

12 EL-HINNAWI, Essam. Environmental refugees. Nairobi: UNEP, 1985. p. 04. Tradução livre: “São pessoas que foram obrigadas a abandonar temporária ou definitivamente a zona onde tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do ambiente (por razões naturais e/ou humanas) perturbando a sua existência e/ou a qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas pessoas entra em perigo. [...] Com o declínio do ambiente quer se dizer, o surgimento de uma transformação no campo físico, químico e/ou biológico do ecossistema (ou fonte de recursos), que, por conseguinte, fará com que esse meio ambiente temporária ou permanentemente não possa ser utilizado para assegurar a sobrevivência humana.” 13 Vide O relatório anual Tendências Globais, (ACNUR, 2018).

42 O relatório informa que 68,5 milhões de pessoas estavam deslocadas por

guerras e conflitos, tanto pela primeira vez como repetidamente, o que corresponde a

44,5 mil pessoas sendo forçosamente deslocadas a cada dia (ou uma pessoa

deslocada a cada dois segundos), por conta das inundações, tempestades, incêndios

florestais e temperaturas extremas. Milhares de outras pessoas fogem de suas casas

no contexto de situações de risco, cujo processo é mais lento, como secas ou erosão

ligadas ao aumento do nível do mar. Outras conclusões do relatório são que a maioria

dos refugiados vivem em áreas urbanas (58%), não em campos ou áreas rurais, e que

a população deslocada global é jovem 53% são crianças.

No mundo todo observamos uma crescente preocupação com o meio

ambiente, independentemente de seus objetivos ideológicos ou pelos problemas

ambientais. Os temas da Psicologia Ambiental estão relacionados a busca por

soluções contemporâneas, possibilitando dessa forma os estudos e práticas a partir

de diversas teorias e métodos. A partir da Psicologia Ambiental, buscamos

compreender como a dimensão da Apropriação de Espaço e da Apropriação de lugar,

no impacto ao público dos refugiados. 4.1 A Psicologia Ambiental – Principais Conceitos

A psicologia ambiental surge de contribuições através dos estudos de Kurt

Lewin e de sua preocupação com o ambiente urbano. As maiores influências de

Lewin para a Psicologia Ambiental foram a teoria de campo e a pesquisa ação,

levando a primeira à consideração cuidadosa do ambiente físico nas pesquisas e a

segunda assinalando a importância das pesquisas científicas estarem vinculada às

mudanças sociais.

A Psicologia Ambiental é considerada uma área recente de estudo da

Psicologia e tem como objeto de estudo a pessoa em seu contexto, tendo como tema

central as inter-relações e não somente as relações entre a pessoa e o meio

ambiente físico e social. A Psicologia Ambiental é uma área de ensino e pesquisa no

Brasil, em especial na PUC-SP, com a articulação interdisciplinar com o foco na Saúde

e tem como especificidade analisar como o indivíduo avalia e percebe o ambiente e,

ao mesmo tempo, como ele está sendo influenciado por esse mesmo ambiente

(MOSER 1998, p. 122). O autor traz em sua obra (2002, 2005) a importância de

43 caracterizar as transações pessoa-ambiente em diferentes níveis, contextualizando-

as nos quatro níveis:

1) nível I – o micro ambiente. São os espaços privados. Exemplo: residência,

o espaço privado ou particular no ambiente de trabalho.

2) nível II – nível interpessoal e da comunidade próxima. São os ambientes

compartilhados. Exemplos: espaços semi-públicos, os condomínios residenciais, a

vizinhança, o lugar de trabalho, os parques.

3) nível III – indivíduo comunidade. Exemplos: Espaços públicos coletivos,

como as cidades, o campo, a paisagem.

4) nível IV – nível social. Exemplo: o ambiente global, tanto natural quanto

construído e os recursos naturais.

Moser (2002) afirma que na Psicologia Ambiental, os modos de relação com o

ambiente se constituem como um aspecto importante para o bem estar da pessoa e

considera uma relação à temporalidade e suas articulações ao ambiente físico e

social. As transformações ambientais são demarcadas pelo tempo das relações da

pessoa com o ambiente, integram-se a partir de suas experiências e projetos

pessoais, assumindo assim um caráter interdisciplinar.

O espaço que a pessoa ocupa é um fenômeno associado à apropriação do

espaço. Trata-se do espaço objetivo e subjetivo, por exemplo quando estamos

interagindo uma com as outras. A distância interindividual dá informações sobre o tipo

de relações existentes entre os indivíduos, porque determina a qualidade e a

quantidade de estímulos nela trocadas. É no ambiente que emerge a afetividade,

constituído por objetos naturais e/ou artefatos que servem como pontos de referência

para o sujeito (TUAN,1983, p. 83).

O termo “espaço pessoal” é um conceito introduzido na Psicologia Ambiental

por Sommer (1973) e refere-se a distância espacial, objetiva e subjetiva, entre as

pessoas em interação social, a fim de promover interações positivas e diminuição de

conflitos. Segundo o autor o espaço pessoal é uma área com limites invisíveis que

cercam nosso corpo; é um território portátil, pois pode ser levado para qualquer lugar,

sendo que, dependendo da concentração de pessoas ou da densidade do local, este

território pode se ampliar, diminuir ou até desaparecer.

Para esse estudo, utilizaremos o modelo de apropriação de espaço (POL,

2002) como referência para a análise e discussão das significações. Segundo o autor,

a apropriação de espaço é complexo e constituído por várias dimensões, se

44 organizando através de componentes comportamentais e que supõe ação-

transformação. Baseia em mudanças involuntárias, e é importante na

ação/transformação do espaço, bem como na sua identificação simbólica no conceito

de apego ao lugar.

A ação-transformação representa os comportamentos que a pessoa ou um

grupo tem em relação a um espaço físico.

Para avaliar o processo de apropriação de espaço, em sua circularidade ação-

transformação e na identificação simbólica, nos embasamos nos trabalhos de Bassani

(2019). A autora iniciou projetos de pesquisa, aliados à formação em Psicologia

Ambiental, que enfocavam a apropriação de espaço com diferentes populações e

espaços, através de estudos realizados sobre a apropriação de espaços com família

de agricultores entre 2000 e 2010, estes estudos foram realizados em convênio

interinstitucional da PUC-SP e coordenado pela autora, com a EMBRAPA (Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária), coordenado pelo professor Dr. José Maria

Gusman Ferraz, de 2004 a 2009.

Bassani (2018a) traz que os problemas ambientais contribuem cada vez mais

para a deterioração da qualidade de vida das pessoas, principalmente para as

pessoas que habitam em centros urbanos, e afirma que no processo de uma avaliação

ambiental, a percepção e a cognição estão relacionadas, pois a pessoa percebe o

ambiente e interpreta os estímulos segundo as suas próprias experiências. Também

as mudanças geradas como consequências de desastres sócio naturais ou

imigrações forcadas são modificações nos habitats que impactam os laços sociais e

espaciais da pessoa, afetando os elos e configurando a formação de repertórios de

significados sobre o espaço, e como estes espaços se formam.

As transformações produzidas a partir de desastres sócio naturais e

subsequentes processos de deslocamento alteram o ambiente físico das pessoas,

modificando a construção coletiva de simbolismo e significado espacial, alterando a

própria dinâmica de convivência e a associação de comunidades e grupos.

Moser (2002) além das dimensões espaciais também propõe considerar as

dimensões temporal e cultural levando em consideração o impacto e a contribuição

para o bem- estar do indivíduo em quatro diferentes níveis espaciais: individual,

vizinhança- comunidade, indivíduo-comunidade e social.

Buscamos na Psicologia Ambiental, como a área que permite estudar a relação

entre a pessoa e os mais diversos tipos de ambientes com os quais se relaciona, para

demonstrar a visibilidade da abrangência da área.

45

Figura 5: Psicologia Ambiental Fonte: FARJO, 2019. Bassani (2011) salienta em seus estudos, o contexto dos problemas

ambientais, que implica no estudo das inter-relações pessoa ambiente, transformando

os problemas ambientais em problemas humano-ambientais. A autora incrementa o

conceito ao dizer que as dimensões temporais referem-se tanto às vivências do tempo

horizontal (que é subjetivo), como também o tempo medido pelo relógio (objetivo), no

que diz respeito à informação compartilhada como, por exemplo, dias, semanas e

anos. As duas perspectivas incluem as referências de passado, presente e futuro.

(BASSANI, 2004b). Ressalta, ainda, a importância de se designar o termo “pessoa”

nos estudos sobre a Psicologia Ambiental, compreendendo, as contribuições de

diferentes abordagens epistemológicas para investigação das inter-relações pessoa-

ambiente (BASSANI, 2004a, 2011, 2018b). O termo “pessoa” proposto pela autora,

salienta que as inter-relações ocorrem com o ser humano concreto e com a história

de vida, em um contexto cultural, do Estado de cognição e afetos, com identidade

social e individual. Os estudos da Psicologia Ambiental não enfocam o ambiente físico em si, mas suas características e relações que venham a facilitar ou dificultar as interações sociais e necessidades humanas; envolve portanto, o ambiente social. (BASSANI, 2011, p.12)

Para Moser (2018), o ambiente é o espaço vital do indivíduo, é o seu habitat.

Segundo o autor, o espaço é o primeiro conceito importante e a dimensão temporal é

outro ainda mais relevante e especifico, pois se estende ao mesmo tempo como

projeção para o futuro e como referência ao passado e à história. Moser relata ainda

que considerando o indivíduo, em sua relação com os diferentes espaços, está

46 condicionado pelo contexto cultural e social, que por sua vez se modifica por sua

história e suas aspirações em presença do espaço, tendo por referência as dimensões

sociais e culturais, e é na relação do indivíduo com o ambiente que deve-se levar em

conta, os contextos culturais e sociais em que essa relação se realiza. É a história que

condiciona as percepções e os comportamentos, bem como as necessidades e

aspirações particulares. Esta interação também será tributária da projeção do

indivíduo no futuro, sempre relacionada com o ambiente, com o qual o indivíduo está

em interação.

Lugar é um espaço que identificamos e no qual nos fixamos, por exemplo onde

moramos, trabalhamos, nos divertimos, é a nossa referência. É no espaço ao qual se

atribui o significado em que adquirimos um valor pela vivência e pelos sentimentos.

Por conseguinte, lugar é o espaço com o qual se estabelece essa relação e o que

permite a sua transformação em lugar (ELALI,1997). A criação do lugar é um processo

de troca entre a pessoa e o ambiente que pressupõe vivência, significação,

percepção, apego e envolvimento emocional com o lugar. Enquanto a definição de

espaço era vista como um conjunto de avaliações positivas acerca do ambiente físico,

o lugar constituía-se enquanto local gerador de significados (ELALI, 2011).

Dessa forma, entendemos que se faz necessário discutirmos a questão da

apropriação de espaço e apego ao lugar, como conceitos relevantes para este estudo.

Ressaltamos a importância desta relação, pois possibilita a construção de novos

conceitos no diálogo da psicologia com a Psicologia Ambiental, e o fenômeno do

apego ao lugar, constitui-se objeto de estudo da Psicologia Ambiental.

Utilizaremos o modelo dual circular proposto por Pol (2002), onde o autor traz

que a apropriação do espaço é um fenômeno complexo que envolve dimensões

relativas a: ação/transformação e identificação simbólica. Por meio desse processo,

as pessoas desenvolvem diferentes sentimentos e características de apego ao lugar.

47

• Apropriação de Espaço: Ação – Transformação: São os componentes

comportamentais e podem representam transformações de

características no novo ambiente.

• Apego ao Lugar: Buscamos identificar a possibilidade do aceite do

refugiado nesse novo lugar, com novos costumes, idioma e com uma

cultura diferente a sua de origem.

Figura 6 : Modelo dual de apropriação de espaço com base POL (1999); Fonte: FARJO, 2019.

É na interação com o meio físico e a apropriação do espaço que se dá a

circularidade entre as ações e transformações realizadas em um ambiente físico pela

pessoa bem como a expressão de identificação simbólica gera e é decorrente de

novas ações/transformações.

A palavra apego ao lugar ou place attachment é uma sub estrutura da

identidade pessoal e elucida a compreensão da relação afetiva com o ambiente,

representam memórias, ideias, valores, sentimentos, atitudes, significados e

experiências.

A noção de apego ao lugar está centrada nos sentimentos afetivos que as

pessoas desenvolvem em relação aos lugares onde nascem e vivem, de tal forma que

cumprem assim uma função fundamental na vida das pessoas. O apego ao lugar é

definido por Hidalgo e Hernandez (2001) como o vínculo emocional que se estabelece

entre pessoas e determinados ambientes, constituindo-se um conceito

multidimensional que busca compreender o complexo fenômeno da interação entre

pessoas e ambientes bem como os vínculos que entre eles se estabelecem.

48 Segundo Tuan (1983), o apego ao lugar pode ser definido como o vínculo

emocional firmado com cenários físicos, envolvendo sentimentos derivados da

experiência espacial real ou esperada.

Assim apego ao lugar nos auxilia na análise do porquê as pessoas criam

vínculos com determinados ambientes e que as fazem decidir por permanecer ou

partir para outro.

Considerando a relação emocional que estabelecemos com os lugares, na

formação de um vínculo com esse lugar, no espaço e no tempo, sendo que sua

característica mais marcante é o de manter um grau de proximidade com o objeto de

apego. O conceito pressupõe que não há relação na afetividade humana que não

esteja de alguma forma relacionada aos aspectos de lugar, e considera, de modo

semelhante ao que trata a teoria do apego (BOWLBY, 1997). O autor considerou para

a relação interpessoal, a existência de vínculos emocionais envolvendo a dimensão

física do ambiente, tratada na sua obra de 2002 sobre a teoria do apego.

O conceito de identidade de lugar está conectado à questão do pertencimento

a determinado grupo e local. A construção da identidade é contínua e uma importante

característica do ser humano, entender a sua constituição e os elementos envolvidos

no grupo possibilita compreender as relações.

Os resultados de relacionar e refletir sobre os conceitos de apego ao lugar

baseiam-se nas semelhanças assim como na identificação com o lugar, sentimentos

de satisfação, bem-estar e segurança oriundos das cognições positivas seja por meio

da familiaridade, ou significados atribuído a este lugar que se transformam

continuamente. Todos esses elementos estão relacionados com a variedade e

complexidade dos lugares físicos que definem a existência cotidiana de cada ser

humano no sentido de pertencimento a um lugar (GIULIANI, 2003; 2004).

Em qualquer lugar do planeta, as mudanças climáticas podem levar à

desertificação (processo de modificação ambiental) e à perda da qualidade de vida.

Nos processos de apego ao lugar com os refugiados, as questões culturais e da

linguagem também interferem nesse conceito, pois não conhecer os costumes e o

idioma dificulta essa associação.

A Psicologia tem se aproximado de modo contínuo das discussões acerca

do meio ambiente, onde os estudos sobre as relações humano-ambientais passaram

a ser a pauta de discussão de autores, que abordam a complexa conceituação de

termos como o desenvolvimento sustentável. Para a pesquisa a proposta foi o de

49 articular os textos que trabalhassem estes conceitos propiciando aproximações e

distinções.

A falta de material na produção nacional com atenção aos laços afetivos com

lugares e a apropriação de novos espaços a refugiados, revela um descompasso

compreensível, em certa medida, pelo fato de a produção mais expressiva sobre os

temas refúgio e ONG ser recente.

Um último ponto que precisa ser considerado das contribuições da Psicologia

Ambiental na presente pesquisa: A atuação do psicólogo em equipe interdisciplinar.

Bassani (2011) ressalta que a Psicologia Ambiental, dentre as suas características,

seria interdisciplinar, a partir da origem de vários conceitos, inclusive a de apropriação

de espaço.

Assim, Bassani (2019) sistematiza os procedimentos por ela utilizados quando

do inicio de seu trabalho com pesquisadores da EMBRAPA, junto a famílias de

agricultores. A autora destaca que o profissional de psicologia deveria atentar para os

seguintes aspectos em seu trabalho em equipe interdisciplinar.

a) Informações sobre as áreas e profissionais envolvidos no trabalho em

foco (no caso, a autora estudou as características e autores da

agroecologia);

b) Estabelecimento de pressupostos teóricos, práticos e éticos em comum;

c) Conceitos da Psicologia Ambiental pertinentes a demanda apresentada;

d) Planejamento de métodos de acesso a informações e plano de analise

dos dados obtidos;

e) Discussão contínua com os demais profissionais das equipes sobre o

processo em curso;

f) Retorno à população envolvida (no caso na pesquisa) e abertura

continua para os esclarecimentos a todos os envolvidos;

g) Troca dos conhecimentos entre os pares e fórum das áreas envolvidas

nas equipes interdisciplinares.

As reflexões sobre as articulações entre a Psicologia Ambiental e a Psicologia

Clínica (BASSANI, 2018c), ressalta que a Psicologia Ambiental pode contribuir para a

definição de eixos que articulem a produção de conhecimento em diferentes contextos

em Psicologia Clínica produzindo novas formas de intervenção, prevenção e

promoção da saúde.

50 5 MÉTODO

5.1 Considerações Metodológicas Propusemos realizar uma pesquisa de estudo de caso qualitativo dado que a

pesquisadora buscou com a pesquisa, compreender o universo dos significados, os

motivos, as crenças dos participantes sobre a atuação do profissional de Psicologia

frente a refugiados em uma ONG em São Paulo, e teve como objetivo compreender

os significados do fenômeno. Esse tipo de pesquisa é uma atividade que localiza o

observador no mundo, sendo um recurso valioso tanto para a pesquisa científica como

para as práticas psicológicas.

Minayo (2007) salienta que as metodologias qualitativas são capazes de

incorporar a questão dos significados e da intencionalidade como inerentes aos atos,

sendo entendidas como construções humanas significativas.

De acordo com Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa surge na década

de 1920 pelos estudos da sociologia e antropologia e pela preocupação em entender

o outro considerando seus hábitos, costume social e a cultura.

De acordo com os autores: [...] a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa para o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. (DENZIN; LINCOLN, 2006, p.17)

Acrescentam que pesquisa qualitativa está inserida em um contexto complexo

pela multiplicidade de métodos que podem ser empregados nesse tipo de

investigação, uma vez que não existe um conjunto distinto de práticas que seja

inteiramente da pesquisa qualitativa. Nas pesquisas qualitativas as observações são

situadas no mundo do observador/pesquisador e no mundo do sujeito, das

experiências que são dos participantes da pesquisa.

Na presente pesquisa procuramos desenvolver a investigação a partir de uma

questão mais ampla sobre a atuação do profissional de Psicologia em Organização

não Governamental, que atende a refugiados. Buscamos propor um procedimento

51 que envolveu o levantamento do trabalho de ONGs no Brasil, articulamos com os

atendimentos a refugiados, verificamos as existentes no Estado de São Paulo, devido

à viabilidade de realização de uma investigação no contexto de um Mestrado,

propusemos e realizamos um procedimento exploratório do campo, incluindo visitas a

ONGs na cidade de São Paulo, realizamos entrevistas informais, levantamos dados

de organizações internacionais e nacionais sobre refugiados, até chegarmos aos

objetivos, proposta a uma ONG específica, elaborarmos os métodos de coleta –

documentos da ONG e entrevistas semiestruturadas – bem como os procedimentos

éticos e plano de análise.

Assim sendo, entendemos que os procedimentos supracitados se refiram a um

estudo de caso qualitativo que, segundo Stake (1994, 1995), se caracteriza não por

um método específico, mas pelo tipo de conhecimento que busca produzir: “Estudo

de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado”

(p.236).

Stake (2011) abordou a análise de diversos estudos de caso em suas obras.

Segundo o autor o processo de escolha é o próprio objeto de estudo, deve ser algo

específico e funcional. Refere, ainda, que o pesquisador emerge de uma experiência

social, da observação onde o conhecimento é construído.

André (2013), ao discutir autores que discutem estudos de caso em educação,

destaca que todos mantêm características em comum: [...] a) o caso tem uma particularidade que merece ser investigada; e b) o estudo deve considerar a multiplicidade de aspectos que caracteriza o caso, o que vai requerer o uso de múltiplos procedimentos metodológicos para desenvolver um estudo em profundidade. (ANDRE, 2013, p. 98)

A autora acrescenta que o rigor da pesquisa metodológico “[...] não é medido

pela indicação do tipo de pesquisa, mas por uma descrição clara e detalhada do

caminho percorrido e das decisões tomadas pelo pesquisador ao conduzir seu estudo

[...]” (ANDRÉ, 2013, p. 96).

A partir dessas considerações, passaremos a apresentar o caminho trilhado

pela pesquisadora na presente pesquisa, seu compromisso ético, a fase exploratória,

a delimitação do caso, as análises realizadas.

52 5.1.1 Cuidados Éticos

5.1.1.1 Procedimentos éticos

O projeto considera que a pesquisadora se comprometeu fazer cumprir as

determinações da Resolução CNS/MS 466/2012, complementada pela Resolução

CNS/MS 510/2016, que trata dos cuidados éticos em pesquisa envolvendo seres

humanos. De acordo com o CNS, toda pesquisa com seres humanos envolve riscos

e é preciso ter claro que quanto maiores e mais evidentes os riscos, maiores devem

ser os cuidados para minimizá-los e a proteção oferecida aos participantes. Dessa

forma o pesquisador deve ter claro que nos cuidados éticos da pesquisa há um

componente imprescindível que é a análise de risco (conforme a Res. MS/CNS

466/2102). Nesse sentido, destacamos que o presente projeto considera como

mínimos os riscos aos participantes. Mesmo assim, foi prevista a assistência aos

participantes, caso necessitassem, para atender a possíveis danos imateriais

decorrentes da participação na pesquisa (Res. CNS/MS 466/2012: II.3.1 e II.3.2).

Contudo, tal precaução não precisou ser implementada.

Sendo considerados mínimos os riscos desta pesquisa, é preciso enfatizar que

se trata de uma investigação que contempla contribuições potenciais a serem

oferecidas aos psicólogos e a equipe. Aos participantes foi apresentado e esclarecido

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice C), após a leitura e

concordância de cada participante, foi assinado e uma cópia mantida com cada

participante. Ressaltamos que nos TCLEs da presente pesquisa houve autorização

de cada participante para divulgação de dados que poderiam identifica-los abrindo

mão, portanto, da privacidade de suas participações, ainda que os cuidados de

registro, manutenção das entrevistas realizadas continuem sendo responsabilidade

da pesquisadora. Salientamos, também, que os participantes autorizaram a

publicação em meios acadêmico-científicos.

Como cuidado adicional, portanto, a pesquisadora se comprometeu a enviar o

capítulo referente a Resultados e Análise, para aprovação de cada participante, antes

de realizar a Discussão e conclusões do estudo. Esse procedimento foi realizado,

sendo que os resultados apresentados foram totalmente aprovados pelos

participantes.

53 Acrescentamos que na Autorização da ONG para realização da pesquisa

consta a aprovação pelo responsável administrativo para identificação da Caritas do

município de São Paulo, na pesquisa realizada.

O projeto do estudo, obteve a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 29 de outubro de 2019, CAAE

23808619.7.0000.5482.

Após a conclusão da pesquisa, os participantes e a ONG poderão ter acesso

aos resultados. Propomos entregar à Instituição uma cópia da dissertação, a fim de

serem apresentados os resultados e conclusões do trabalho realizado, mediante a

defesa pública.

5.1.1.2 Procedimento para construção do caso em estudo 1ª fase: Contato de aproximação com Organizações Não Governamentais (ONG) para

atenção a refugiados no município de São Paulo.

Foi realizada uma pesquisa por internet para identificação de ONGs que

atendessem a refugiados no Brasil, com um histórico de mais de 5 anos de atuação e

acolhimento a essa população, especificamente, na região metropolitana de São

Paulo. Uma lista das Organizações não Governamentais foi elaborada da região de

São Paulo com o endereço, telefone, a área de atuação, além de outras informações

complementares mais gerais, a respeito de características do atendimento de cada

uma delas. A partir dessa listagem, foram realizados contatos telefônicos e levantada

a informação sobre a existência de psicólogos atuando profissionalmente nas ONGs

selecionadas. Houve dificuldade para conseguir o contato com algumas organizações

por meio do telefone indicado no levantamento e, por essa razão, não foi possível ter

acesso a todas as organizações listadas. Dentre as ONGs foram selecionadas três

para a visita de reconhecimento. A referida visita de reconhecimento incluía prévio

contato com o responsável para apresentação das primeiras ideias sobre a pesquisa

e a visita às instalações físicas de cada ONG.

54

Foram objetivos da visita de aproximação ao campo:

a) Conhecer a missão, as frentes de atuação e o propósito da ONG;

b) Verificar se a ONG estava no escopo do projeto quanto à ideia inicial de

uma futura proposta de intervenção com os coordenadores e

voluntários;

c) Viabilizar o interesse da ONG em conhecer a proposta do projeto.

Após as visitas para aproximação ao campo, houve a decisão de realizar a

pesquisa em apenas uma ONG, que compõe o caso no presente estudo, por seu

âmbito de atuação, capilaridade, tempo de atuação e pela disponibilidade em aceitar

a realização da pesquisa. 5.2 Descrição do caso

A ONG foco dessa pesquisa, a Caritas do Brasil, está localizada na cidade de

São Paulo, tem como missão realizar trabalhos no âmbito social e ser o braço

estendido no serviço de sensibilização, animação, articulação e promoção da

caridade, além de refletir com a sociedade sobre as oportunidades de ações

transformadoras a fim de propiciar maior justiça. É uma referência na cidade de São

Paulo, no que diz respeito ao atendimento a pessoas em situação de refúgio. O Centro

de Referência para Refugiados é um dos projetos da Caritas e tem como objetivo o

apoio na integração e proteção de solicitantes de refúgio. Como parte do processo de

escolha do caso, foi enviada uma carta de apresentação para que a coordenação da

ONG pudesse avaliar o projeto de pesquisa, visando obter consentimento para a

coleta de dados. Foi também realizada uma reunião com o coordenador da área de

Assessoria e Comunicação e a Coordenação Geral da Caritas, para esclarecer

dúvidas e apresentar o roteiro da entrevista a ser realizada com as equipes, receber

informações sobre a operacionalização da coleta e estabelecer compromisso ético da

pesquisadora.

A Caritas auxilia as pessoas Refugiadas e solicitantes de Refúgio que chegam

ao Brasil, em serviços tais como o seu enquadramento jurídico e na adaptação social

à sua nova condição de vida. Atua com convênios com o Alto Comissariado das

Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e com o Ministério da Justiça por

intermédio do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). O Centro de Referência

55 para refugiados é um dos projetos da Caritas São Paulo com o objetivo o apoio na

integração e proteção de solicitantes de refúgio no estado de São Paulo. Em Abril de

2020 a Caritas completa 43 anos de trabalho e é uma referência na cidade de São

Paulo, no que diz respeito ao atendimento a refugiados. O trabalho da Instituição,

desde sua fundação em 1847, acontece também em diferentes áreas. Devido ao atual

contexto social e econômico, bem como aos novos fluxos migratórios mundiais.

5.3 Participantes e Critérios para a inclusão

Foram realizadas seis entrevistas na sede da Caritas no município de São

Paulo. Os participantes da pesquisa foram: 01 psicólogo, 02 advogados, 02

assistentes sociais e 01 jornalista, de ambos os sexos, que atuavam na ONG em 2019,

com carga horária de 16 a 44 horas semanais. Os critérios de seleção foram,

exclusivamente, integrar o quadro na ONG, ter interesse no tema e disponibilidade de

tempo para participar das entrevistas, mediante assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme Resolução CNS/MS 510/2016.

Os participantes foram contatados, incialmente, por meio da assessoria de

comunicação da ONG.

5.3.1 Informações sobre os entrevistados

Para atender aos critérios de inclusão dessa pesquisa, os participantes

apresentaram as seguintes características:

• Idades entre 33 a 64 anos

• Dos participantes da pesquisa, 50% eram do sexo masculino e 50% era

do sexo feminino.

• O Tempo de formados é de 16 anos, considerando que uma das

entrevistadas tem 42 anos de formada, seguida de 3 participantes com

19 anos, 15 anos e 9 anos de formado, todos possuem curso Superior.

• Na equipe interdisciplinar há 2 Advogados do sexo masculino, 2

Assistentes Sociais do sexo feminino, 1 Psicólogo do sexo feminino e 1

Jornalista do sexo masculino.

56 • O Tempo médio atuando em ONG é de 9 anos, e na Caritas 5,5 anos.

• Todos os profissionais atuaram antes como voluntários em uma ONG, o

que demonstra que os voluntários são uma força de trabalho importante

e também uma forma de aproximar os profissionais a ONG. A Caritas

conta com 43 voluntários, todos de nível superior, com a seguinte

distribuição em termos de formação acadêmica.

Os dados levantados em nosso estudo, demonstram que a especialização e a

continuidade na aquisição de conhecimento é uma preocupação do profissional que

atua na equipe da ONG. Da população entrevistada, há 1 Doutorando em

Comunicação, 2 mestres em Direito pela USP (Universidade de São Paulo) e UFES

(Universidade Federal Espirito Santo) e 1 Especialista em Saúde Mental, Migração e

Interculturalidade pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

As relações de trabalho nas ONGs em geral são caracterizadas pela

informalidade, conforme dados sobre tipo de contratos presentes, esses dados

encontram-se nos anexos.

5.3.2 Métodos de coleta

A entrevista semiestruturada foi escolhida como método principal para coleta

de informações e buscou investigar o que os participantes levam em consideração

para compreender a sua própria atuação. A opção pela entrevista na coleta de dados

se deu pela possibilidade que o método oferece de acompanhar ideias, aprofundar

respostas, investigar motivos e sentimentos, além de permitir observar a maneira

como cada resposta é dada, ou seja, o tom de voz, a expressão facial, a hesitação

etc.

A construção dos itens que compõem os roteiros das entrevistas

semiestruturadas teve como base a literatura anteriormente descrita, bem como os

objetivos da pesquisa. Nas entrevistas abordamos com os participantes os seguintes

temas: formação do psicólogo e do profissional das equipes; conhecimentos dos

processos de adaptação cultural e psicológica; percepções sobre migração e

migrantes; como os psicólogos e os profissionais das áreas lidam com questões

interculturais presentes nos serviços apoio a imigração nos quais trabalham. Os

roteiros das entrevistas previam perguntas, sendo que ocasionalmente a ordem

57 poderia ser alterada para acompanhar o discurso do participante ou para perguntas

de esclarecimento.

As entrevistas ocorreram com o psicólogo e profissionais das equipes

interdisciplinares da ONG, com a utilização de um roteiro de entrevista, elaborado a

partir de variáveis relacionadas aos objetivos da pesquisa. Os roteiros foram utilizados

como base para a entrevista, sendo que ocasionalmente a ordem das perguntas era

alterada para acompanhar o discurso do participante ou perguntas de esclarecimento

eram acrescentadas, de acordo com as características do tipo de entrevista definido.

As entrevistas foram utilizadas para coletar informações a respeito das características

da atuação do psicólogo e dos demais profissionais das outras equipes na ONG

pesquisada. As entrevistas foram realizadas no próprio ambiente de trabalho dos

entrevistados, dentro da ONG, em um local que garantisse o sigilo e evitasse

interrupções, e tiveram uma duração média de 1h e 30 minutos. Os participantes

responderam às questões dos roteiros referentes a suas respectivas profissões e

funções na ONG (Apêndices A e B). Todas as entrevistas foram gravadas, em

gravador de voz de celular da pesquisadora, iphone, modelo 11 e, posteriormente,

transcritas pela própria pesquisadora.

Além das entrevistas, utilizamos como fontes complementares de informação

documentos da ONG, a fim de caracterizar as funções dos profissionais na estrutura

organizacional. Os documentos utilizados foram os disponíveis online no portal da

ONG em São Paulo.

58 6 RESULTADOS E ANÁLISE

O objetivo geral da pesquisa foi o de caracterizar a atuação do profissional de

psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das

equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de

possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. A ONG foco desta pesquisa é uma

Organização não Governamental que atende aos refugiados no município de São

Paulo.

A fim de proporcionar uma melhor compreensão do estudo, organizamos os

resultados e análises, conforme a nossa proposta metodológica. Foram mantidas nas

transcrições das entrevistas, as características e expressões verbais dos

participantes.

A análise qualitativa dos dados das entrevistas semiestruturadas no estudo,

buscou preservar a relevância e os significados dados pelos entrevistados às suas

próprias colocações, assim como considerar os diferentes contextos nos quais

ocorreram. Primeiramente foi realizada a transcrição das entrevistas, com escuta

atenta ao relato do participante, organizando as transcrições, efetuamos uma pré

análise do material das entrevistas.

Segundo Ezzy (2003), os métodos qualitativos de pesquisa são valiosos para

tentar entender as interpretações dadas pelos participantes; mais do que transferir ou

traduzir resultados para uma página redigida, o escrever do pesquisador remete para

a criação e a forma como são reportados esses resultados, sendo o processo de

escrita implicado na reconstrução multifacetada e multidimensional de informações de

uma história ou sequência linear com início, meio e fim. Dessa forma, nesta pesquisa

qualitativa encontraremos enfoques importantes para analisar os conteúdos obtidos e

aprofundamento dos dados por meio do caso em estudo.

A fim de realizarmos uma análise mais abrangente, foram utilizados alguns dos

conceitos da Psicologia Ambiental, apresentada no capítulo sobre a Psicologia

Ambiental,14 pois entendemos enriquecerem a investigação.

As entrevistas foram organizadas em grandes temas que são:

14 Os conceitos da Psicologia Ambiental encontram-se no capitulo 4.

59 a) Motivos pela opção ao trabalho com refugiados nessa ONG, em

particular;

b) Descrição do trabalho realizado junto aos refugiados: atuação do

psicólogo em articulação com o trabalho dos profissionais das demais

equipes nos serviços prestados aos refugiados na ONG, abordando os

seguintes subtemas:

• Descrição e caracterização da atuação do psicólogo e o trabalho dos

profissionais das equipes nos serviços prestados aos refugiados na

ONG;

• Expectativas sobre o trabalho do psicólogo junto a refugiados;

• Articulações entre a atuação realizada e as expectativas que o

profissional de psicologia tem sobre seu trabalho junto a refugiados,

bem como as dos demais profissionais das equipes que compõem

o atendimento aos refugiados na ONG;

c) Lições apreendidas: Reflexão da pesquisadora sobre o processo de

desenvolvimento da pesquisa.

Por último, compondo a análise das entrevistas, foram acrescentados os

registros da pesquisadora sobre as percepções, o processo e as compreensões sobre

os caminhos percorridos ao longo da pesquisa, compartilhando assim algumas

reflexões pessoais.

Minayo (2000) afirma que a análise de conteúdo verifica hipóteses, ou seja, o

que está por trás do conteúdo relatado e também expressado pelo entrevistado.

Depois de estabelecidas as categorias, a etapa seguinte é o tratamento dos dados,

permitindo inferir no conteúdo comunicado pelo sujeito aproximando-o do tema

proposto pela pesquisa.

Os resultados foram elaborados a partir de uma sequência de etapas:

Os dados relativos à cronologia das entrevistas, presentes na Tabela 1

Tabela 1: Cronologia das entrevistas realizadas DATA ENTREVISTA HORÁRIO ENTREVISTA FUNÇÃO

04/12/2019 13:00 às 15:00h Coordenador 1 04/12/2019 09:00 às 10:30h Coordenador 6 17/02/2020 09:00 às 10:30h Coordenador 3 17/02/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 4 04/03/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 5 13/03/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 2

Fonte: Elaborado pela autora com base nos Dados das entrevistas com os participantes

60 As entrevistas com os profissionais tinham como objetivo investigar quais

seriam as percepções sobre contribuições da atuação do psicólogo, de modo a

analisar como se estrutura a atenção interdisciplinar.

2. Transcrição das entrevistas e organização dos dados de cada participante:

Os dados das entrevistas foram organizados de modo a apresentar, em um primeiro

momento, o conteúdo, a sequência em que as temáticas do roteiro ocorreram para

cada participante. Em seguida, serão apresentados os temas referentes aos objetivos

com a inserção de excertos das entrevistas;

3. Análise dos pontos convergentes e possíveis divergências, sobre a atuação

do psicólogo, seja em relação ao trabalho realizado seja ao esperado, de modo a

integrar as narrativas dos participantes e sugestões sobre a atuação.

Utilizaremos excertos das transcrições das entrevistas, referentes a cada

categoria de análise supracitada. A análise dos conteúdos das narrativas, que

sintetizadas de acordo com os temas das categorias elencadas, possibilitarão a

identificação dos significados do estudo.

61 6.1 Etapas da análise de dados

1. Data e local de entrevista e tempo de duração dos encontros.

2. Transcrição das entrevistas: reprodução de todo o material gravado e

resumo do conteúdo de cada entrevista.

3. Análise temática dos relatos: distinção dos aspectos semelhantes e

possíveis divergências entre os respondentes, comparação das

respostas entre os participantes.

4. Elaboração das conclusões da visão da atuação do psicólogo em Saúde

Mental sob o prisma da equipe interdisciplinar análise à luz da literatura.

Buscamos com essa organização proporcionar fundamentos para o capítulo

seguinte referente à discussão dos resultados, a fim de retomar os objetivos da

pesquisa e elaboração das conclusões e perspectivas sobre a atuação do psicólogo

junto a refugiados sob o prisma da equipe interdisciplinar da ONG em estudo.

Com essa organização esperamos que propicie a necessária fundamentação

de modo a retomar os objetivos da pesquisa e elaboração das conclusões da visão

da atuação do psicólogo, sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos

profissionais das equipes interdisciplinares e possibilitar a reflexão sobre possíveis

contribuições da Psicologia Ambiental nesse contexto de atenção a refugiados.

Esperamos, também, inserir as reflexões da pesquisadora e possíveis

encaminhamentos para, talvez, uma ampliação das perspectivas para a atuação dos

psicólogos nos serviços para refugiados.

a) Motivos pela opção ao trabalho com refugiados nessa ONG, em particular

Com base nas entrevistas realizadas, pudemos perceber que o motivador da

escolha de atuar em ONG está relacionado também a valores individuais pessoais e

o interesse em atuar com a população que apresenta vulnerabilidade. Os seguintes

excertos das entrevistas subsidiam essas considerações:

62 Coordenador 1:

“(...) Aqui se aprende muito sobre outras culturas e tem a possibilidade de se

doar ao outro completamente. (...) E você está podendo ajudar alguém e acompanhar

a evolução dessa pessoa que foi ajudada.”

“(...) O trabalho na ONG é muito rico. Você viaja o mundo sem sair do lugar”.

Coordenador 2:

“(...) trabalho com refugiados partiu da atuação em um projeto que atuou por 9

anos, voltado a crianças e adolescentes, com vários programas, incluindo um CAPS

infanto-juvenil. Sempre gostou de trabalhar com populações mais vulneráveis, que e

onde tem campo para o psicólogo e que foge a proposta de um trabalho mais

elitizado”.

“(...) Desenvolver habilidades de procurar uma forma criativa de “dar sentido

às coisas”. Acredita que a experiência além do consultório é importante para quem

quer se formar como terapeuta ou como psicólogo social, sendo que a informação a

respeito dessa atuação poderia ser mais transmitida nos cursos de psicologia nas

faculdades”.

Coordenador 3:

“(...) O interesse em trabalhar com imigração nem sei bem direito de onde veio.

Sempre me interessei por geografia, geopolítica, e trabalhando com a população

vulnerável. Esses são interesses pessoais, independente da área”.

“(...) E atuar em uma ONG em São Paulo é uma grande porta de entrada”.

“(...) Um pouco depois que acabei a faculdade, vim para a Caritas. Iniciei o

mestrado em 2014 e tinha bolsa CAPES, com tempo destinado ao estudo, decidi fazer

um trabalho voluntário.

“(...) E tem ressonância com as coisas que acredito”.

Coordenador 4:

“(...) Antes mesmo de terminar minha formação, buscava ter uma experiência

prática.

“(...) Realizei o mestrado com a temática do refúgio, organizando a disciplina

do refúgio na faculdade de direito. Na minha dissertação de mestrado, analisei a

maneira processual em que eram feitas as solicitações de refúgio”.

63 Coordenador 5:

“(...) Essa foi uma decisão que a vida me trouxe.

“(...) Após a morte de meu marido, estava buscando uma colocação no

mercado. Em 2012 comecei um trabalho em outra ONG, trabalhei lá por 8 anos e

organizei e coordenei lá, o eixo trabalho, que não existia. Também queria fazer

diferença na vida das pessoas”.

Coordenador 6:

“(...) Foi a busca de um sentido para a minha profissão. Vi que podia com meu

estudo e os idiomas ajudar no processo de integração dessas pessoas que se

encontram em uma situação de muita vulnerabilidade”.

Os valores que pudemos apreender desses depoimentos versam sobre o

próprio direcionamento profissional, de modo a ressaltarem propósito das próprias

profissões escolhidas: o trabalho para integração das pessoas que compulsoriamente

deixaram seus países de origem com as expectativas de uma vida mais estável e um

futuro de descoberta de um país antes desconhecido.

Atuar em ONGs é um desafio cotidiano para esses profissionais, posto que

exige uma diversidade de atividades realizadas por eles que podem se estender

desde atendimento psicoterápico individual, coordenação de diferentes tipos de

práticas grupais ao apoio na documentação no que diz respeito a violação de direitos

trabalhistas e do consumidor, racismo e xenofobia; e na própria assistência.

A conscientização e a educação no Brasil para a acolhida de refugiados, acaba

favorecendo o desconhecimento sobre a temática gerando receios e preconceitos, o

que impossibilita o atendimento oferecidos pelos programas de assistência, saúde

mental, proteção e integração para os refugiados.

64 b) Descrição do trabalho realizado junto aos refugiados

• Descrição e caracterização da atuação do psicólogo

A ONG possui em sua estrutura uma psicóloga contratada como prestadora de

serviço, que desempenha a função de Coordenadora do Programa de Saúde Mental.

Juntamente com essa profissional, há voluntários que são selecionados anualmente

e destinados a cada programa oferecido pela ONG. Na estrutura, na coordenação dos

demais programas na equipe, temos: 2 Advogados do sexo masculino, 2 Assistentes

sociais do sexo feminino e 1 jornalista do sexo masculino. Dos 6 entrevistados 3

possuem complementação acadêmica (dois advogados são Mestres e 1 jornalista

Doutor).

Dentre os entrevistados, a Coordenação do Programa de Saúde Mental na

ONG exercida por uma mulher, casada de 38 anos, que fez a sua formação acadêmica

em Psicologia na PUC-SP, concluída em 2005. Possui especialização em Psicologia

Clínica e Psicopatologia pela COGEAE-SP (Coordenadoria Geral de Especialização,

Aperfeiçoamento e Extensão). Teve várias passagens profissionais em projetos

voltados a populações vulneráveis e atualmente tem trabalhando na ONG desde

2016, também atua como terapeuta em seu consultório particular.

A atuação do profissional de Psicologia na ONG consiste em atendimentos

individuais e em grupos de escuta para homens e mulheres. Esses encontros são

semanais. Neles são oferecidos a escuta aos refugiados, enfatizando “a palavra” e a

atividade coletiva. Essa escuta ajuda a desenvolver formas simbólicas de

manifestação do sofrimento e a atividade coletiva possibilita que o refugiado descubra

sobre as experiências dos outros que são parecidas com aquelas pelas quais

poderiam ou podem estar passando. Segundo relato da Coordenadora 2:

“(...) Na escuta empática (uma escuta que procura compreender o estado

psicológico, utilizamos de técnicas de participação da conversa/escuta).

“(...) Normalmente observamos que o choque vem por causa do “encontro com

a nova cultura”, outros valores e outra concepção do mundo.

Destacamos, a seguir, a percepção dos profissionais das demais equipes nos

serviços sobre a atuação do profissional de Psicologia, bem como a caracterização

dos principais pontos de convergência dos profissionais que compõem as equipes na

ONG. Como mencionado, são realizados na ONG atendimentos individuais e em

65 grupos de escuta para homens e mulheres. Essa escuta ajuda a desenvolver formas

simbólicas de manifestação do sofrimento e a atividade coletiva possibilita que o

refugiado descubra sobre as experiências dos outros que são parecidas com aquelas

pelas quais poderiam ou podem estar passando. Por outro lado, um dos participantes destaca que o choque não é

necessariamente negativo. Como a Caritas é um lugar de acolhimento temporário, o

Programa de Saúde Mental da instituição também realiza a indicação de outros canais

de atendimento para psicanalistas e psicólogos ligados à Universidades, tais como a

Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a UNINOVE, a USP e ao

SEDES-SP (Instituto Sedes Sapientiae). Resgataremos a seguir alguns excertos das

entrevistas:

Coordenador 1:

”(...) Aqui não tem rotina. Um dia é diferente do dia anterior. Os atendimentos

são pesados por natureza e o ambiente nas equipes é leve. A percepção que eu tenho

e que as pessoas que vem A ONG, sentem-se acolhidas.

“(...) O trabalho com essa população é pesado, mas ao mesmo tempo ele é

gratificante”.

Coordenador 2:

“(...) O principal objetivo do meu trabalho é estabelecer uma comunicação, um

vínculo, que é uma das maiores dificuldades de muitos refugiados”.

“(...) O “estresse migratório” e “estresse de aculturação” pode surgir porque no

novo ambiente existem muitas demandas e muitas necessidades com relação ao

refugiado e “ele começa a sentir-se muito ansioso”.

“(...) Às vezes o refugiado deseja conversar pontualmente. Há fases em que

surge a demanda para um atendimento de longo prazo. Mas é difícil ‘ter perna’. “

“(...) Os casos são normalmente encaminhados para clínica escola e é avaliado

caso a caso”.

“(...) Na escuta empática (uma escuta que procura compreender o estado

psicológico), utilizamos de técnicas de participação da conversa/escuta”.

“(...) As vezes não e só a questão de ser gratuito o serviço, mas o transporte é

caro e entre gastar com transporte para uma entrevista de emprego e um atendimento,

o primeiro ganha”.

‘(...) No ano passado várias pessoas que estavam no programa ou em

atendimento individual ou em rodas de conversa, não puderam continuar vindo pela

questão da verba destinada ao transporte”.

66 “(...) Muitos migrantes veem ao Brasil por que escutaram que alguém (amigo,

parente) conseguiu uma vida melhor aqui; eles pensam que “o Brasil vai ser uma terra

de oportunidade, vai acolhê-los, e muitos se decepcionam e acabam conhecendo o

racismo chegando ao Brasil”.

“(...) Os processos psicológicos que normalmente percebemos quando o

refugiado chega é o desenraizamento, que é entendido como perda da cultura e

costumes originais; se a pessoa consegue se adaptar, a flexibilidade, acho possível

que cada vez tenha mais inclusão”, também há os efeitos psicológicos de adaptação

efeitos que ocorrem as vezes sem sucesso.”

Coordenador 3:

“(...) O fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que todos eles

atendem aos refugiados, que precisam de várias coisas, chegam com muitos

problemas. Assistência, Proteção e a Saúde Mental tem uma carga mais pesada”.

Coordenador 4:

“(... ) As pessoas não estão habituadas, muitas vezes não conhecem o trabalho

do psicólogo”.

“(...) Normalmente observamos que o choque vem por causa do “encontro com

a nova cultura”, outros valores e outra concepção do mundo”.

Coordenador 5:

“(...) A área de Integração atue de forma mais expansiva. Hoje a atuação maior

e em cursos com vários parceiros. Com as parcerias movimentos incríveis acontece.

Hoje a única coisa que faz é uma mentoria, preparação de curriculum etc. Essa é o

tipo de demanda que nos chega. Além dos documentos que o refugiado precisa para

o trabalho”.

Coordenador 6:

”(...) No Centro de Referência. São diversas as demandas. Fazemos o

atendimento quase que holístico voltado ao refugiado. Esse é um espaço de

referência muito reconhecido, então chega um refugiado na Polícia federal e eles

encaminham para cá, assim como vem refugiados de outras ONG”.

“(...) O cuidado com a Saúde Mental é ainda muito superior que a Promoção da

saúde psicológica. Que é uma característica da ONG, sendo esse espaço da Saúde

67 Mental o de primeiros socorros. É natural que o cuidado da saúde mental seja maior

que o dá a promoção da saúde”.

Como pontos de convergência encontramos a importância da atuação

interdisciplinar, pois favorece o ganho de novas competências e conhecimentos, na

busca de um melhor encaminhamento dos casos. Possíveis divergências não foram

identificadas na forma da atuação da equipe interdisciplinar na ONG, o que demonstra

que todos os participantes têm clareza do seu papel e comungam dos valores e

princípios da ONG em que trabalham.

Quando questionamos quais foram as dificuldades que identificam em sua

abordagem aos refugiados em suas atuações, relatou:

Coordenador 1:

“(...) O tamanho da equipe. Dado a quantidade de ‘nãos” que temos que dar e

o atendimento que suga”.

“(...) Dificuldade de ter mais recursos para atuar na ONG. Hoje contamos

basicamente com voluntários”.

“(...) Tivemos algumas capacitações oferecidas pelo ACNUR, mas são pontuas,

não tem um trabalho de qualificação da equipe”.

“(...) Ampliar para outras parcerias, como por exemplo temos o atendimento

odontológico com a UNINOVE entre outras parcerias importantes”.

“(...) Ter mais tempo para realizar as visitas em campo. “(...) Quando você vai

fazer a visita você vê o quanto essa aproximação sensibiliza a pessoa atendida.

Conhecer a realidade dela, em lugares precários e na maioria das vezes distantes do

centro da cidade”.

Coordenador 2:

”(...) O atendimento na área de Saúde Mental é Individual e em grupos. Em

grupos são feitos rodas de escuta para homens e mulheres. Para grande parte do

público no Programa são realizadas em média de 1 ou 2 conversas. No começo eu

acreditava que era uma questão de adesão, mas depois eu vi que não, tem a ver com

o perfil e a demanda”.

“(...) por exemplo o papel do psicólogo é o de procurar ajudar os refugiados a

reconstruírem o seu mundo simbólico para estarem seguros e se orientar fora dele na

adaptação do novo contexto”.

68 “(...) As barreiras culturais e linguísticas complicam o trabalho do psicólogo;

portanto, ele “tem que ser muito criativo” para se aproximar do refugiado”.

“(...) A grande parte do público atendido não quer falar sobre o luto no país

de origem eles querem falar do que está acontecendo aqui, da dificuldade de

adaptação, isso eu desmistifiquei vindo trabalhar aqui. São muitos poucos os casos

que querem falar o que aconteceu com eles, antes de chegarem ao Brasil. Trazem

questões em relação a adaptação a nova cultura, idioma, racismo, dificuldade de

conseguir trabalho, que podem gerar conflito em relação as suas histórias, sua origem

e em como conciliar essas duas culturas”.

“(...) Normalmente o vínculo no atendimento psicológico está: com a ONG, a

mudança gerada por um encaminhamento pode gerar desconfiança por parte do

refugiado. Assim que os encaminhamentos individuais é sempre um desafio”.

“(...) é importante que a pessoa possa trazer daquilo que é dela para ser

compartilhado”.

“(...) esse acesso é muito importante para que a pessoa não reviva essa

experiência”.

“(...) Um grande desafio é o de tentar desconstruir, por vários períodos tivemos

grupos de escutas de mulheres e houve um grupo de escuta de homens juntamente

com o atendimento individualizado. Os grupos de escuta não eram um grupo grande

eram de 3 a 4 homens e fazíamos aqui mesmo na sala de atendimento do programa

de Saúde Mental. Já experimentamos também grupos de escuta aberto e fechado,

que se realizam de acordo com a demanda e público”.

Coordenador 3:

“(...) As 16 horas limita a realização do trabalho, claro. Tenho demanda para 40

horas ou mais. O ritmo de trabalho versus a capacidade de entrega”.

“(...) Outra frente importante é começar a produzir conteúdos, como por

exemplo artigos etc. Gostaríamos que a ONG fosse uma fonte de informação”.

“(...) Infelizmente não tem um trabalho voltado para a equipe. Como somos uma

equipe única, há sempre o apoio mútuo entre as equipes, mas ele não está

estruturado”.

“(...) Desenvolver laços com as pessoas e visitar as comunidades, ir cada vez

mais onde ninguém quer ir”.

69 Coordenador 4:

“(...) Dificuldade de ter mais recursos para atuar na ONG. Hoje contamos

basicamente com voluntários”.

“(...) O número de horas que tenho alocado na ONG limita a realização dos

trabalhos”.

“(...) Há várias dificuldades que vão aumentando com a dificuldade de se

estabelecer no novo país, para os refugiados e para quem os atende. Os refugiados

vem para a ONG e vão nas outras ONGs também . Não há um cadastro único cruzado

entre as ONGs”.

“(...) É difícil essa pergunta, porque a gente acaba meio que no fluxo de

atendimentos não dando conta de fazer uma busca ativa”.

“(...) Estimular que as pessoas possam criar as suas próprias redes de

segurança. Criando vínculos com vizinho por exemplo. Outra coisa seria ampliar as

visitas as comunidades”.

Coordenador 5:

“(...) em uma conversa com os refugiados buscamos a resgatar a história de

vida, a cultura (...) brincadeiras com a língua, com símbolos do lugar de onde a pessoa

veio”.

“(...) Muitos migrantes “nem imaginavam que iam ter que ficar em algum

abrigo”. Por que a pessoa pode vir aqui com recursos financeiros e com formação,

mas não conseguem o trabalho rápido tendo que ficar gastando esse pouco dinheiro,

e de repente percebem que não tem mais nada, ou muitas vezes eles são

surpreendidos por roubos, levam todos os documentos, todo o dinheiro, e acabam

numa situação que não esperavam”.

“(...) Reajustar os programas que já existe na ONG e atuar mais próximo as

empresas”.

“(...) Que a área atue de forma mais expansiva. Atuar mais próximo aos

gestores das empresas que contratam esse recurso”.

“(...) Infelizmente não há um banco de dados de curriculum de refugiados de

forma integrada”.

“(...) Poder ter uma perspectiva do que tem de ser feito antes e não apagar

tantos incêndios. Trazer uma integração maior entre as 4 áreas de atendimento”.

“(...) Ampliar mais as Parcerias com Universidades e com pesquisadores”.

70 Coordenador 6:

“(...) Ter as informações no sistema e de fácil manuseio. Por exemplo a

reunião quinzenal, ocorre as quartas feiras, neste dia não tem atendimento. E um dia

reservado para estudo (capacitação em cursos/ fazer artigos ) e bem estar (cuidar da

integração da equipe/cuidar do lúdico). Essas coisas deveriam ser colocadas na

agenda de quarta feira, porque o trabalho é muito exaustivo. A equipe lida com dramas

muito fortes, então é importante que a equipe se cuide para se distanciar, para a

equipe tem que fazer um trabalho de comunicação e capacitação”.

“(...) Desenvolver para a equipe, um trabalho de comunicação e capacitação”.

A aproximação com a entidade em foco possibilitou a observação de alguns

desafios e dificuldades. De uma maneira geral, a dificuldade na linguagem (domínio

por parte da equipe de outros idiomas), a falta de recursos financeiros e humanos, a

sobrecarga de trabalho, a dificuldade na captação de recursos financeiros é recorrente

dentro da entidade, sendo este também um desafio enquanto Estado e sociedade

civil. Empregabilidade, saúde pública e educação são pontos importantes a serem

discutidos no momento do acolhimento.

A força do trabalho na ONG está alicerçada no trabalho dos voluntários, para a

composição das equipes nos programas oferecidos, um participante da pesquisa

mencionou que não há diferenças no comprometimento do voluntário em relação ao

comprometimento de um funcionário contratado. Dessa forma entendemos quando

os participantes mencionam a preocupação com a qualificação dos voluntários, ela é

coerente com a profissionalização com a qual a ONG pesquisada têm se preocupado,

contudo não apareceu nas verbalizações dos participantes como um ponto de

atenção.

Este dado está de acordo com a afirmação de Azevedo (2007), que constata

que a gestão de pessoas nas organizações do Terceiro Setor brasileiro, em especial

no que se refere aos voluntários, é uma preocupação, principalmente porque para

muitas ONGs o voluntariado é apenas visto como uma ajuda a um ato de

solidariedade. Sobre a qualificação para os voluntários, poderia justificar as diversas

iniciativas da ONG no programa de seleção e formação desses voluntários na Caritas,

no sentido de melhorar a qualidade da participação desses recursos, capacitando-os

para uma atuação mais abrangente e independente.

As avaliações que o profissional de Psicologia faz sobre sua inserção na ONG

e sua atuação frente aos refugiados impulsionando ações transformadoras entre as

71 equipes, bem como a avaliação da equipe sobre a inserção do psicólogo na

Organização, e são consideradas como importantes no processo de refúgio. Mas há

uma limitação de recursos e profissionais e há também a questão da capacitação da

equipe, que ainda não está estruturada.

c) Quanto ao fluxo do trabalho em um dia típico e em um dia atípico

- Típico:

As situações mais típicas envolvem atendimentos previamente agendados e os

profissionais consideram situações atípicas as situações que fogem ao “esperado”.

Como são os casos de violência doméstica ou a chegada de um menor de 18 anos

de idade, desacompanhado da família. Nesses casos, são necessários os devidos

encaminhamentos, como por exemplo no caso de violência doméstica, a delegacia da

mulher e no caso de menores desacompanhados o acionamento do Conselho Tutelar.

Destacaremos alguns trechos das entrevistas que ilustram o que os participantes

consideraram como um dia típico e um atípico, a seguir.

Coordenador 4:

“(...) É feita uma entrevista, individual, um trabalho de escuta. Verificamos qual

(quais) são as necessidades das pessoas. O que chamamos de “casos novos”. São

encaminhados para o Programa de Acolhida, que é o primeiro serviço que os

refugiados acessam”.

“(...) Todas as pessoas que passam pela ONG têm uma grande demanda

jurídica: Trabalho/contrato, família etc. Que é a primeira que aparece”. “(...) Como atuação rotineira estão os atendimentos individuais. São em média

de 7 a 8 pessoas a serem atendidas por turno (manhã e a tarde) já previamente

agendadas que passarão pelas entrevistas. As pessoas que são público alvo serão

apresentados os serviços oferecidos pela ONG e encaminhadas aos serviços

identificados, como trabalho, validação de diploma, problema no aluguel, ajuda

assistencial etc. Não são atendidas no mesmo dia, é feito o agendamento e outro dia

elas voltam”.

Coordenador 5:

“Por exemplo um dia típico e quando cumprimos nossa agenda de cursos e

palestras. Um dia atípico é quando temos algum problema com algum refugiado em

uma empresa onde precisamos entender o que está acontecendo. Um exemplo:

marcamos entrevista e a pessoa não vai”.

72

Coordenador 6:

“(...) Um dia atípico é um dia não silencioso, onde você não consegue

desenvolver um trabalho de começo ao fim. Hoje existe uma ideia de apagar

incêndios, o que é muito ruim”.

- Atípico:

Coordenador 1:

“(...) Como atípico são atendimentos que envolvem crianças.

“(...) Às vezes acontece quando chega um menor desacompanhado da família.

Quando chega um menor desacompanhado na portaria, temos que acionar o

Conselho Tutelar”.

Coordenador 2:

“(...) Não dá para prever as histórias. Quando há muita vulnerabilidade o

pessoal da acolhida (que é o primeiro programa) ofertam os serviços oferecidos pelo

Caritas. Muitas pessoas chegam, relatam as suas histórias, mas não querem falar

com a Saúde Mental”.

Coordenador 3:

“(...) Aparece uma demanda onde as pessoas querem informações para última

hora e é preciso ter jogo de cintura. Não temos autorização para filmagens dentro da

ONG isso também esgota porque as pessoas querem filmar, tirar fotos etc. Para isso

precisa de uma autorização prévia. Também a organização de eventos é sempre

complicado”.

“(...) As vezes gasto muito tempo com demandas de dúvidas gerais, com muitos

e-mails”.

73 d) Quando questionados o que fariam de forma diferente, relatam:

Coordenador 1:

“(...) Ampliar para outras parcerias, como por exemplo temos o atendimento

odontológico com a UNINOVE entre outras parcerias importantes.

“(...) Ter mais tempo para realizar as visitas em campo. “(...) Quando você vai

fazer a visita você vê o quanto essa aproximação sensibiliza a pessoa atendida.

Conhecer a realidade dela, em lugares precários e na maioria das vezes distantes do

centro da cidade”.

Coordenador 2:

“(...) Não há acompanhamento dos casos, depois que se tem alta, esse é um

aspecto que precisaria de melhora.”

Coordenador 3:

“(...) Gostaria de poder gerar mais visibilidade para a ONG”.

Coordenador 4:

“(...) O estabelecimento do laço de confiança não pode ser interrompido. No

caso de violência sexual, aí sim envolve o pessoal da Saúde Mental, muitas vezes no

meio da entrevista já identificamos que há uma fragilidade emocional ou uma

desorganização no relato que precisa de um apoio da área da Saúde Mental”.

“(...) Nos casos que identificamos que a pessoa ou a família tem uma situação

grave, nos reunimos e tentamos/buscamos fazer um atendimento conjunto

interdisciplinar”.

Coordenador 5:

”(...) A atuação e departamentalizada. Os casos são discutidos nas reuniões de

equipe”.

74

Coordenador 6:

“(...) Não entendo que vamos atender até aqui e vamos encaminhar para outra

organização. Um NPQ (Núcleo de Proteção) ou para um Veredas. Acho que é muito

fluido não existe uma regra”.

“(...) A demanda para a saúde mental dos pacientes vem normalmente dos

demais setores, principalmente pelo setor de proteção. Mas também a Saúde Mental

atua de forma mais integrada com as áreas de Integração e Assistência, que tem um

olhar cuidadoso”.

e) Do trabalho interdisciplinar e o acompanhamento dos casos.

Aspectos em sua rotina quanto a atuação interdisciplinar.

Os 6 participantes entrevistados mencionaram a questão da

interdisciplinaridade na forma de atuação.

Coordenador 1:

“(...) Há várias situações de trabalhos interdisciplinares. Com alguns

programas, pela similaridade de demandas ele ocorre mais frequentemente. “(...)

Como são os casos de violência doméstica.

“(...) Um psicólogo na ONG ajuda a ter uma visão mais ampla dos processos

que estão ocorrendo, da dinâmica e dos mecanismos que essas famílias usam para

se defender e para sobreviver”.

“(...) A ONG é uma escola, porque atuamos em equipe interdisciplinar. Não

tem rotina. Um dia é diferente do dia anterior. Um diferencial é o ambiente de trabalho.

Os atendimentos são pesados por natureza e o ambiente nas equipes é leve. Um

apoia o outro”.

“(...) A gente procura através da reunião de equipe trocar alguns casos mais

difíceis, temos procurado fazer o acompanhamento dos casos em cada um dos

programas, por exemplo dados da visita ao domicilio do refugiado, fazer a troca de

informação na gestão dos casos na própria reunião da equipe”.

75

Coordenador 2:

“(...) A ONG conta com parcerias com clínicas escolas mas a mudança no

encaminhamento pode gerar desconfiança por parte do refugiado. Sendo assim,

realizar os encaminhamentos individuais é sempre um desafio”.

“(...) Temos uma reunião de gestão. São apresentados as questões de fluxos

e encaminhamentos, mas também são discutidos os casos mais emergentes ou de

maior destaque”.

“(...) Como sugestão ter pessoas especialmente treinadas para as

necessidades específicas dos refugiados. Hoje cada profissional exerce seus

conhecimentos em áreas específicas em prol da causa”.

Coordenador 3:

“(...) Enquanto área, atendo hoje as várias demandas como por exemplo de

pesquisadores e dúvidas gerais, assim como forneço conteúdo sobre o ONG. A área

é a porta de entrada da Instituição”.

“(...) Seria importante uma atuação mais próxima entre os programas”.

“(...) Para fazermos um trabalho conjunto de forma interdisciplinar passa pela

questão de tempo de reunião até a definição das prioridades de cada programa.

Temos uma reunião semanal com todos os coordenadores onde discutimos casos

específicos, agenda de eventos, entre outras agendas já acordada com o ACNUR. A

Coordenação tem o que precisa para cobrar a equipe”.

“(...) Entendo que o fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que

elas atendem aos refugiados, que tem várias demandas”.

“(...) A minha demanda é mais administrável com relação aos prazos, por

exemplo, porque não envolve o atendimento aos refugiados”.

“(...) As vezes gasto muito tempo com demandas de dúvidas gerais, com muitos

e mails.

“(...) Gostaria de poder gerar mais visibilidade para a ONG.

76 Coordenador 4:

“(...) Na entrevista inicial, é aí que temos um link interessante com a Saúde

Mental, porque nessa entrevista inicial fazemos o filtro e a identificação de

necessidades especificas. A continuidade dos atendimentos depende desse filtro”.

“(...) Nos casos que identificamos que a pessoa ou a família tem uma situação

grave, nos reunimos e tentamos/buscamos fazer um atendimento conjunto

interdisciplinar. O encaminhamento se dá através de uma por ficha de

encaminhamento com informações mais detalhadas, com observações do

entrevistador. Se for emergência, por exemplo a pessoa está muito abalada,

chamamos por exemplo a Saúde Mental para atender junto. Mas o serviço de Saúde

Mental, não é algo imposto. Há uma questão cultural”.

“(...) A pessoa para atuar nessas causas com os refugiados deve ter empatia.

É importante se colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem

uma resposta, mas é importante saber escutar”.

“(...) A dinâmica dos atendimentos se dá em São Paulo, há uma explicação

genérica sobre os critérios para a solicitação de refugio e o refugiado passa por uma

entrevista individualizada. Aqui é que a ONG e a área de Proteção se destaca. Os

profissionais da ONG estão capacitados para fazer essa entrevista, e é nela que são

feitas algumas perguntas chaves”.

“(...) Importantíssimo a troca entre os programas na atuação interdisciplinar.

Saber se relacionar bem com outras equipes é fundamental para poder atuar de forma

completa”.

“(...) A pessoa para atuar nessas causas com os refugiados deve ter empatia.

É importante se colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem

uma resposta, mas é importante saber escutar”.

77 Coordenador 5:

“(...) Percebo a atuação das equipes ainda muito departamentalizada. Poderia

haver mais troca, mas entendo a limitação de recursos”.

“(...) Vamos falar sobre ambientação, é importante que o refugiado entenda

quais as necessidades desse novo lugar. Como eles se desempenham. É importante

estar sensível e falar das questões culturais, como por exemplo aperto de mão, olho

no olho etc”.

Coordenador 6:

“(...) Importantíssimo a troca entre os programas na atuação interdisciplinar.

Saber se relacionar bem com outras equipes é fundamental para poder atuar de forma

completa”.

“(...) As reuniões quinzenais com toda as equipes é uma atividade nova. A

pauta e dividida em casos mais graves onde precisa um diálogo entre os setores e

também para as questões mais administrativas, os recados que precisam ser

passados, e ou eventos que é preciso criar um método e um cronograma /plano de

ação. Ainda está muito devagar e solto. Mas já e uma mudança na forma de atuação”.

“(...) O trabalho se dá de forma transversal e interdisciplinar “(...) O Programa

de saúde mental na ONG é destinada para o cuidado, bem como para a promoção da

saúde mental, sendo o cuidado no atendimento individual ou no atendimento em

grupo”.

“(...) É uma preocupação da profissional da Saúde Mental apoiar a equipe. Ela

costuma dar alguns toques para que a equipe, como por exemplo, para não atender

de maneira ansiosa um paciente que venha com um quadro de angustia e grande

ansiedade, por exemplo”.

Após a transcrição e leitura das entrevistas realizadas, dividimos os conteúdos

das entrevistas. Dos seis entrevistados, cinco mencionam a interdisciplinaridade como

um fator diferenciado na atuação entre os Programas oferecidos pela ONG. Quanto à

atuação do psicólogo e a interdisciplinaridade entre os programas, consideramos a

compreensão dos entrevistados sobre o que o programa oferece como proposta.

Todos os entrevistados reconheceram a relevância do recurso do psicólogo para a

ONG.

A seguir, o quadro com o relato das entrevistas sobre a Interdisciplinaridade.

78 Visão - Programa Verbalização dos entrevistados

Proteção

“(...) Todas as pessoas foram entrevista com os advogados do Programa de Proteção e Acolhida. Esse é o primeiro encaminhamento que recebem. Esse é um programa essencial, ou seja, todos precisam passar por ele. Aquela pessoa é avaliada se está nos critérios de ser considerada um “refugiado”. Todos os outros programas não são essenciais, e ofertado, e a pessoa participa se tem interesse”. “(...) Na conversa inicial com a Proteção, entendemos a elegibilidade. Para entender se ela é elegível para o refúgio. Claro que há casos de dúvida e nesse caso ela entra no fluxo de atendimento até termos mais clareza do caso dela. Aí temos um link interessante com a Saúde Mental, porque nessa entrevista fazemos o filtro e a identificação de necessidades especificas”. “(...) O Programa de Saúde Mental é ofertado, na acolhida inicial . Se quiser passar pelo programa, falar sobre qualquer assunto, que esteja o angustiando no presente momento ou que seja anterior, do período em que passou no seu país de origem. O Programa está aberto, mas é um percentual pequeno de pessoas que procuram o Programa de Saúde Mental.”

Coordenação Geral

Segundo o Coordenador de Proteção. “(...) O Programa de Saúde Mental é afetado, na acolhida inicial. Se quiser passar pelo programa, falar sobre qualquer assunto, que esteja o angustiando no presente momento ou que seja anterior, do período em que passou no seu país de origem. O programa está aberto, mas é um percentual pequeno de pessoas que procuram o Programa de Saúde Mental”.

Integração

“(...) É feito uma entrevista inicial pela área de Proteção que encaminha os casos. Há uma reunião com um fluxo de encaminhamento e reuniões de troca dos casos mais emergenciais. (reunião Momento de SER).Trata-se de uma reunião da equipe interdisciplinar.

Assistência

“(...) Há hoje um limite institucional. Demanda v.s. capacidade instalada”. O dia precisaria ter mais horas e com uma equipe maior. Ficamos muito presas ao atendimento na sede da Caritas, porque ele tem uma demanda altíssima. O volume de atendimento é muito grande e muitas vezes ficamos sem tempo para fazer outros trabalhos como os contatos de redes, as visitas.”

Saúde Mental

“(...) As vezes as pessoas das outras equipes acreditam que aquele refugiado precisa atendimento, mas não é uma demanda do refugiado. E pode soar agressivo. Tem toda uma delicadeza. É importante que eu entenda como se deu a conversa com o atendido. Só depois desse levantamento inicial e que é agendado um atendimento individual”. “(...) Não dá para prever as histórias. Quando há muita vulnerabilidade o pessoal da acolhida (que é o primeiro programa) ofertam os serviços oferecidos pela Caritas.

“(...) A Saúde Mental na Caritas é destinada para o cuidado bem como para a promoção da saúde mental, sendo o cuidado no atendimento individual ou o atendimento em grupo. Então temos o atendimento das pessoas em consultório mas como não temos tanto tempo assim. Então normalmente quando a pessoa está de alta ou já esta um tempo aqui ela acaba sendo encaminhada aos serviços que existem, fora da Caritas.

Relações Externas

“(...) Minha área tem inter-relação com todos os programas. ... O fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que todos eles atendem aos refugiados, que precisam de várias coisas, chegam com muitos problemas. Assistência, Proteção e a Saúde Mental tem uma carga mais pesada. Demanda um outro preparo para o atendimento ao público atendido

Quadro 2: Interdisciplinaridade: Mapeando da percepção em relação ao serviço de Saúde Mental na Caritas. Fonte: Elaborada pela autora com base nos Relatos das entrevistas com os participantes.

79 Com relação a interdisciplinaridade entre as equipes, ela é favorecida por meio

das reuniões semanais, com a participação da equipe técnica (coordenadores de

cada Programa) com a participação da Coordenação Geral, e tem como objetivo

trocar informações e socializar o conhecimento. Há também as reuniões informais

(agendadas diretamente entre os programas quando necessário), tem como objetivo

identificar mudanças no público atendido, verificar os resultados dos programas,

assim como discutir casos e identificar demandas especificas.

Verificamos que a interdisciplinaridade é um fator importante na atuação. Além

de perceptível por meio das verbalizações dos participantes da pesquisa, a

interdisciplinaridade se dá a medida que o psicólogo e outros profissionais discutem

os casos complexos, coordenam grupos de ajuda ou terapêuticos, ministram palestras

e participam das visitas domiciliares por vezes em conjunto, tomando decisões que

emergem de um debate entre os profissionais envolvidos na realização das atividades.

Os coordenadores dos programas auxiliam na identificação das demandas e realizam

encaminhamentos para atendimento. Assim a visibilidade e o reconhecimento da

necessidade da atuação, são imprescindíveis para que haja interdisciplinaridade que

possibilitam a comunicação e ocupa um papel primordial em qualquer equipe com

atuação interdisciplinar. Conforme relato de um dos participantes:

Coordenador 2:

“(...) Um psicólogo na ONG ajuda a ter uma visão mais ampla dos processos

que estão ocorrendo, da dinâmica familiar, dos mecanismos que essas famílias usam

para se defender e para sobreviver”.

f) Com relação ao espaço físico para realizar as atividades na ONG.

Coordenador 1:

“(...) Os atendimentos com o grupo da Assistência, ocorrem em salas

compartilhadas muitas vezes. Mas também utilizamos das salas individuais.

Coordenador 2:

“(...) Estar na região central e um diferencial para a população atendida. Há

uma sala para o atendimento individual no Programa de Saúde mental e as rodas de

conversa ocorrem na sala anexa a recepção”.

“(...) Os atendimentos acontecem em sala individualizada”.

80 Coordenador 3:

“(...) Apesar da especificidade da área de Saúde Mental, os outros programas

indicam / os programas encaminham demandas de atendimento para a Saúde Mental.

As vezes um caso específico passa por todos os programas, porque ela não vem com

uma única demanda, os refugiados vem com várias demandas associadas.

Coordenador 4:

“(...) A configuração do espaço físico para a equipe Proteção e Acolhida é

diferente: São várias salas pequenas para atendimento individualizado, por conta da

vulnerabilidade. “(...) É um espaço mais reservado para ela se abrir criando um vinculo

de confiança. A equipe é composta majoritariamente por mulheres, porque facilita a

empatia.

“(...) É um espaço mais reservado para ela se abrir criando um vínculo de

confiança. A equipe é composta majoritariamente por mulheres, porque facilita a

empatia”.

Coordenador 5:

“(...) Acabamos de nos mudar para a nova sala e estamos aguardando os

ajustes para que a equipe possa estar toda junta.

Coordenador 6:

“(...) Estamos em um prédio com 3 andares. O andar térreo ou 1.a andar e o

centro de referência para Refugiados, o segundo andar é. Direção da Caritas e o

terceiro andar está a Pastoral Sociais da Igreja. ...A gente tem salas que são

compartilhadas. Há salas onde as equipes trabalham separadas só por uma baia.

Uma vantagem de se optar por espaços colaborativos é que eles possuem a

tendência de criar um senso de comunidade e ambientes solidários, favorecendo a

comunicação e a troca entre as equipes. O compartilhamento de informações é um

ponto alto nos espaços colaborativos. Nesses ambientes a competição é muito menor.

Como consequência, os níveis de estresse se reduzem.

Na ONG, as equipes estão distribuídas em salas e em andares diferentes, o

que acaba ao nosso ver não sendo eficaz para a troca e o processo de comunicação

enquanto equipe.

81 Analisar a influência dos ambientes e a sua relação com o refúgio nos permitiu

identificar que quanto mais o indivíduo se sentir como parte dos espaços que

frequenta, mais irá se perceber como parte integrante de um grupo ou de uma

comunidade. Pela natureza do serviço oferecido pela ONG é necessário dispor de

salas individualizadas para os atendimentos.

g) Quanto as possíveis contribuições da formação do Psicólogo para desenvolver

o trabalho junto aos refugiados:

Coordenador 1:

“(...) . A gente procura através da reunião de equipe trocar alguns casos mais

difíceis, temos procurado fazer o acompanhamento dos casos em cada um dos

programas.

Coordenador 2:

“(...) Como sugestão, termos pessoas especialmente treinados para as

necessidades específicas do público dos refugiados. Hoje cada profissional exerce

seus conhecimentos em áreas específicas em prol da causa. O psicólogo é o

profissional que busca entender as dificuldades, do atendido, bem como os

sentimentos e é capaz de diagnosticar e tratar as questões emocionais, sem

apologizar, coisas que não são patologizáveis.

“(...) Além disso, um dos principais objetivos é levar o paciente a se entender,

se sentir melhor e ter confiança para enfrentar seus medos, problemas e alcançar

seus objetivos na sua nova vida.

“(...) Despertar esse olhar social e essa consciência nos alunos da psicologia,

e que o psicólogo perceba essa sua função social, essa vocação, essa vocação, são

os pontos a serem reforçados junto as Universidades”.

Coordenador 3:

“(...) Cada programa tem uma sala e ou área determinada. Fico em uma sala

pequena no final do corredor.

82 Coordenador 4:

“(....) A pessoa para atuar nessas causas deve ter empatia. É importante se

colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem uma resposta, mas

é importante saber escutar.

Coordenador 5:

“(...) Outra dificuldade é a de trabalhar com as empresas. Os gestores no geral,

não estão preparados para receber esses recursos. E a mediação de conflitos é

intercultural. Infelizmente não há um banco de dados de curriculum de refugiados de

forma integrada.

Coordenador 6:

“(...) É importante para a formação do profissional de Psicologia a atuação

junto aos refugiados, dentro de uma atenção particular, à dimensão cultural do

individuo, considerando a análise e os funcionamentos psíquicos, com o objetivo de

proporcionar uma melhor qualidade de vida no que se refere à saúde mental”.

A experiência relatada pelos participantes do estudo, demonstram que os

refugiados não remontam ao passado quando questionados sobre suas dificuldades,

mas reconhecem no domínio da língua e na dificuldade em conseguir um emprego,

uma das principais dificuldades encontradas quando aqui chegam. Entre as causas

elencadas como explicação para a baixa frequência nos grupos terapêuticos é a de

que essas pessoas “dizem não ter traumas”, configurando assim uma espécie de

“resistência” ao tratamento psicoterapêutico. “Possivelmente por questões culturais e

de preconceito não conhecem o trabalho do psicólogo.

Gostaríamos de destacar um trabalho de acolhimento aos migrantes na cidade

de São Paulo, esse trabalho que é desenvolvido pelo Grupo Veredas15: Imigração

e Psicanálise, do IP-USP em parceria com a Psicologia Social da PUC-SP. Este se

realiza no contexto de uma rede de acolhimento (intra/inter) institucional. Esta atuação

15 Veredas: Projeto que teve seu início em 2004, está integrado à proposta do Laboratório Psicanálise e Sociedade, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP)e da Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). https://www.veredaspsi.com.br/sobre. A Congregação dos Missionários de São Carlos - Scalabrinianos - é uma comunidade internacional de religiosos, acompanham os migrantes das mais diversas culturas, crenças e etnias. O objetivo da Casa do Migrante é o de acolher migrantes brasileiros recém-chegados; imigrantes e refugiados, indivíduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana. Foi fundada em 28 de novembro de 1887 na Itália. (http://www.missaonspaz.org/historia).

83 tem como caraterística a particularidade do caso e do tempo, que é o que irá indicar

o tipo da escuta: que pode ser individual, em grupos, dentro e fora da instituição, etc.

Segundo Gebrim (2015) para que o acolhimento e a escuta ocorram é

necessário uma rede transferencial que ampare tanto o migrante quanto os

profissionais da área. Também a autora ressalta que a interdisciplinaridade permite

intervenções que levam em consideração a cultura e a realidade social, para que as

experiências vivenciadas pelos refugiados possam ser menos traumáticas.

A partir das verbalizações dos participantes, é possível demonstrar que a ONG

possui recursos financeiros limitados, com a qual os profissionais se deparam em sua

atuação. As verbalizações a seguir, sintetizam a situação com relação a qualidade do

trabalho na qual ela é representativa:

Coordenador 3:

“(...) O dia precisaria ter mais horas e com uma equipe maior”.

Coordenador 5:

“(...) Há um limite institucional. Demanda v.s. capacidade instalada”.

O psicólogo que atua em ONG pode trabalhar em uma perspectiva clínica ou

mista com grupos de escuta, de acordo com determinadas abordagens ou em equipes

interdisciplinares, como é o caso da ONG pesquisada. Na ONG foco da nossa pesquisa conforme mencionado, há rodas de conversa,

para homens e mulheres, coordenadas pelo Programa de Saúde Mental, destinado a

públicos diferentes, no caso um para homens e outro para mulheres, além do

atendimento individualizado. Importante ressaltar que nessa escuta oferecida

enfatizam “a palavra” e a atividade coletiva que ajuda a desenvolver as formas

simbólicas de manifestação do sofrimento possibilitando que o migrante descubra que

as experiências dos outros podem ser muito parecidas com aquelas pelas quais

passam.

84 h) Lições apreendidas: Reflexão da pesquisadora sobre o processo de

desenvolvimento da pesquisa.

A partir das pesquisas disponíveis a respeito da atuação do psicólogo,

mencionada no capítulo a atuação dos psicólogos em ONG, observa-se que a atuação

desse profissional se dá de forma variada. O psicólogo que atua em ONG pode

trabalhar em uma perspectiva clinica ou em uma perspectiva crítica, de acordo com

determinadas abordagens ou ainda em equipes interdisciplinares, como é o caso da

ONG pesquisada. Não é imprescindível que o profissional que vai realizar o

atendimento psicológico em ONG, tenha uma prévia experiência, mas sim é

fundamental que tenha uma abertura e uma sensibilidade para a questão intercultural,

porque o atendimento se dá de forma diferente.

A Psicologia, é uma das profissões de maior importância para os beneficiados

do terceiro setor, e teve como prioridade o seu atendimento individual e privatizado

durante anos. No início, seguiu o modelo médico clínico e, gradualmente, foi se

dirigindo ao coletivo, ingressando cada vez mais no terceiro setor com o público

vulnerável, se comprometendo com as questões sociais. O compromisso social está

marcando uma nova fase do psicólogo na busca de uma melhor qualidade de vida

para as pessoas, minimizando a exclusão social.

Assim a atuação do psicólogo busca ao nosso entender uma proposta de

ruptura de modelos tradicionais, com finalidade de colocar a Psicologia a serviço dos

refugiados na ONG estudada, engajando indivíduos em ações voltadas para a

melhoria da qualidade de vida.

Por fim, analisar a influência dos ambientes e a sua relação com o refúgio nos

permitiu identificar que quanto mais a pessoa se sentir como parte dos espaços que

frequenta, mais irá se perceber como parte integrante de um grupo ou de uma

comunidade.

85 Como sugestão, com o objetivo de melhoria nos procedimentos nos serviços

de atendimento aos Refugiados em ONGs, destacamos:

- Possibilidade de ter na equipe psicólogos e profissionais poliglotas para

uma atuação interdisciplinar;

- Manter reuniões sistemáticas em grupo;

- Realizar a documentação dos processos através da digitalização dos

arquivos/trabalhos realizados com o refugiado.

- Atuar ativamente como representantes nas estruturas do Estado

(Atuação junto as Políticas Públicas);

- Possuir na estrutura voluntários refugiados que já́ moram no país há

mais tempo;

- Proporcionar treinamento das equipes dos programas para lidarem com

questões culturais;

Dessa forma, finalizaremos com a discussão dos resultados e as análises aqui

apresentadas, no próximo capítulo, por meio da retomada dos objetivos propostos e

apresentaremos sugestões de possíveis intervenções a serem realizadas na ONG.

86 7 DISCUSSÃO

O objetivo da presente pesquisa foi o de caracterizar a atuação do profissional

de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das

equipes interdisciplinares na Caritas, que é uma Organização não Governamental

(ONG) de atendimento a refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia

Ambiental. A Caritas que atua no município de São Paulo há mais de 40 anos,

atendendo imigrantes e refugiados autorizou a abertura do caráter sigiloso previsto na

Resolução CNS/MS 466/2012, complementada pela Resolução CNS/MS 510/2016,

bem como todos os participantes da pesquisa. A relevância do estudo justifica-se pela lacuna na literatura científica sobre o

trabalho do psicólogo em organizações não governamentais, especialmente, aquelas

que atendem ao refugiado. Para o estudo consideramos alguns conceitos que podem

contribuir para a atuação de profissionais de Psicologia, tais como apropriação de

espaço e o apego ao lugar.

Para tal utilizamos como referência o modelo de apropriação de espaço

proposto por Pol (2002), que implica em um modelo circular ação-transformação e

identificação simbólica (“marcas” espaciais que refletem a identificação da pessoa

com o espaço e referências de seu Self) para a análise e discussão das significações

(com aspectos afetivos e de significação).

Para avaliar o processo de apropriação de espaço, em sua circularidade ação-

transformação e na identificação simbólica, nos embasamos nos trabalhos realizados

por Bassani (2019). A autora iniciou projetos de pesquisa, aliados à formação em

Psicologia Ambiental, que enfocavam a apropriação de espaço com diferentes

populações e espaços, com família de agricultores entre 2000 e 2010 em convênio

com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Os resultados produzidos no trabalho de campo, por meio de levantamento de

documentos da ONG em foco e nas entrevistas semiestruturadas a seis profissionais

que ali trabalham proporcionam retomar o objetivo proposto e a discussão de

contribuições na atuação do psicólogo que atende aos refugiados. Por meio

da compreensão das entrevistas e da análise dos resultados, foi possível caracterizar

a atuação do psicólogo e também a visão das equipes. Destacamos as motivações

que levaram profissionais a trabalharem na ONG que atendem o público de alta

vulnerabilidade, que se encontram os refugiados, os participantes do estudo

destacam que tal atuação deram sentido às carreiras individuais e a possibilidade de

87 realizarem seus propósitos pessoais, fazendo a diferença na atuação com esse

público.

Bassani (2018) traz que os problemas ambientais contribuem cada vez mais

para a deterioração da qualidade de vida das pessoas e afirma que no processo de

uma avaliação ambiental, envolvendo a percepção e a cognição estão relacionadas,

sendo que a pessoa percebe o ambiente e interpreta os estímulos segundo as suas

próprias experiências.

Para Moser (2018), o ambiente é o espaço vital do indivíduo, é o seu habitat e

o psicólogo que se insere nessas relações indivíduo-sociedade pode contribuir para

uma melhor qualidade de vida desse público.

As entrevistas foram organizadas em grandes temas: os motivadores pela

opção ao trabalho com refugiados, os resultados das entrevistas demonstraram como

motivador o próprio direcionamento profissional e o propósito das profissões

escolhidas; a descrição e a caracterização da atuação do psicólogo em articulação

com o trabalho dos profissionais das demais equipes nos serviços prestados na ONG,

bem como as expectativas dos demais profissionais das equipes que compõem o

atendimento aos refugiados. No depoimento de um dos entrevistados.

Coordenador 1:

“(...) o papel do psicólogo é o de procurar ajudar os refugiados a reconstruírem

o seu mundo simbólico para eles estarem seguros e se orientarem fora dele na

adaptação do novo contexto”.

A avaliação que o profissional de Psicologia faz sobre sua inserção e a sua

atuação desse recurso na organização percebida pela equipe interdisciplinar são

consideradas como importantes no processo.

A atuação do psicólogo no terceiro setor busca ao nosso entender

uma proposta de ruptura de modelos tradicionais de atendimento, e coloca a

Psicologia a serviço dos refugiados em ações voltadas para a melhoria da qualidade

de vida.

Quanto à atuação interdisciplinar, nosso entendimento é que tal forma de

atuação na equipe proporciona a todos seus componentes o ganho de novos

conhecimentos e a possibilidade de pensar alternativas para os casos atendidos.

Quanto aos espaços físicos, analisamos as influências dos ambientes e a

proposta de que, quanto mais os indivíduos se sentirem parte dos espaços em que

88 vivem, mais irão se perceber como parte integrante de um grupo; o compartilhar

espaços físicos, respeitando as marcas simbólicas de apropriação de espaço, pode

facilitar o processo de comunicação e reduzir o estresse da competitividade.

O ato de migrar carrega em si, motivações de diferentes naturezas, sejam elas

por uma questão econômica, política, ambiental, étnica, religiosa. Para os refugiados,

evidenciaram-se aspectos que dificultam a sua chegada e residência no Brasil. A

demora do governo na avaliação dos processos de solicitações de documentos, fato

este recorrente em São Paulo, que muitas vezes acarreta uma situação irregular aos

refugiados. Desta feita, não podem ser inseridos em programas sócio assistenciais,

dificultando a procura de emprego, pois muitos empregadores só contratam com os

documentos regulares, perdem, assim, muitas oportunidades de trabalho,

favorecendo uma situação econômica de vulnerabilidade. Os resultados apresentados

indicam que são muitos os impactos que o refúgio causa na vida afetando,

consequentemente, a qualidade de vida.

A elaboração da dissertação tem proporcionado reflexões sobre a atuação da

pesquisadora como psicóloga e também na sua atuação como voluntária. A leitura

dos referenciais teóricos e análise dos resultados da pesquisa no levantamento da

literatura, serviram como fonte de inspiração para o desenvolvimento da proposta de

estudo.

Muitos refugiados passaram no seu país de origem por situações difíceis, com

sofrimentos e traumas. As demandas do novo ambiente (como por exemplo cultura e

língua diferentes) podem agravar o seu estado psicológico. A integração social e

cultural são elementos que trarão ao refugiado o sentimento de inserção e de

aceitação e possibilitará a sua adaptação à comunidade que o acolheu. O profissional

de Psicologia, que se insere nessas relações pode contribuir para a saúde e qualidade

de vida dos refugiados.

De acordo com as verbalizações dos participantes, as reuniões semanais são

um “espaço” de troca e a aquisição de conhecimentos e auxiliam a atuação dos

profissionais envolvidos, uma vez que possibilitam o debate sobre diferentes

possibilidades de atuação.

Os resultados obtidos indicam como os profissionais de outros programas

mantidos pela ONG percebem a importância e a necessidade da atuação do psicólogo

no serviço de Saúde Mental e sinalizam a importante contribuição que o serviço

desempenha no atendimento aos refugiados, como importante recurso oferecido.

Todos os entrevistados afirmaram que atuar no Serviço de Atendimento a

89 Refugiados proporciona uma satisfação pessoal e ganho de experiência profissional.

Essa experiência foi chamada de uma atuação “além da práxis”. O entendimento é

que a passagem profissional por uma ONG de atendimento a refugiados pode ser

considerada como um diferencial para os profissionais que nela atuam. Contudo,

apesar de o Serviço de Saúde Mental ser oferecido pela ONG desde o início de 2016,

ele “ainda era pouco frequentado”.

Falar sobre a saúde mental dos refugiados, além do sofrimento evidente, é falar

de suas necessidades, das diferenças culturais, das desigualdades socioeconômicas,

das políticas públicas dos países de exílio e, sobretudo, da possibilidade destes atores

sociais como agentes de sua própria história.

Há a necessidade de transformações sociais e políticas atuais de migração

porém, indo além do coletivo, faz-se necessário um olhar significativo para este

indivíduo que está na condição de estrangeiro. É importante ressaltar a relevância do

trabalho de equipes multiprofissionais em instituições que apoiam refugiados, em

especial com a presença de psicólogos.

O atendimento psicológico favorece o surgimento da palavra e da escuta

proporcionando que o refugiado ocupe o lugar de sujeito de sua própria história. O

reconhecimento de sua responsabilidade pelo seu próprio caminho no país de

acolhida pode facilitar sua reintegração. Assim, o refugiado estará fortalecido

psicologicamente para vivenciar os desafios que se apresentam como busca por

trabalho, moradia e adaptação a uma nova cultura.

Frente a situações do refúgio propomos, para pesquisas que versem sobre o

tema, abordarem as consequências dos impactos ambientais sobre os indivíduos e

grupos que migram. Nos refugiados, esses efeitos são imediatos, de curto, médio e

longo prazo, à medida que envolve vários atores sociais, os sobreviventes.

Dessa forma, as reflexões sobre a temática abrem um campo amplo para novas

pesquisas e também para a autorreflexão sobre as maneiras como lidamos com o

“outro”, o refugiado.

90 Por fim a reflexão da pesquisadora, nas lições apreendidas no processo de

pesquisa, levou a possíveis encaminhamentos para pensarmos em uma ampliação

das perspectivas para a atuação dos psicólogos nos serviços para refugiados no

terceiro setor.

Esperamos com o estudo, contribuir para a reflexão sobre a atuação do

profissional de Psicologia, a partir da Organização não Governamental que atende

aos refugiados, fornecendo subsídios aos estudiosos e profissionais que atuem com

essa população, propondo um convite aos colegas psicólogos para que proponham

práticas sensíveis neste novo contexto de trabalho, com a multiplicidade de práticas

de atendimento psicológico, em constante reflexão, sobre os diferentes tipos de fazer

psicológico.

91 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o percurso percorrido nessa pesquisa, buscamos compreender a

atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental nas

equipes interdisciplinares. Assim, diante de um fenômeno recente e pouco explorado

na academia, a pesquisa teve como objetivo analisar e caracterizar a atuação do

profissional de Psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos

profissionais das equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a

refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. A ONG foco

desta pesquisa é a Caritas, uma Organização não Governamental que atende aos

refugiados no município de São Paulo.

Buscamos propor um procedimento que envolveu o levantamento do trabalho

de ONGs no Brasil, articulamos com os atendimentos a refugiados, verificamos as

existentes no Estado de São Paulo, devido à viabilidade de realização de uma

investigação no contexto de um Mestrado, propusemos e realizamos um

procedimento exploratório do campo, incluindo visitas a ONGs na cidade de São

Paulo, realizamos entrevistas informais, levantamos dados de organizações

internacionais e nacionais sobre refugiados, até chegarmos aos objetivos, proposta a

uma ONG específica, elaborarmos os métodos de coleta – documentos da ONG e

entrevistas semiestruturadas – bem como os procedimentos éticos e plano de análise.

Os procedimentos metodológicos adotados caracterizam uma pesquisa de

estudo de caso qualitativo, tendo como ONG em foco a Caritas, que está situada na

cidade de São Paulo, há mais de 40 anos trabalhando com imigrantes e refugiados.

Os resultados proporcionam uma análise do fenômeno investigado e as

contribuições das ações realizadas na atuação do psicólogo que atende aos

refugiados. Por meio da compreensão das entrevistas realizadas com os participantes

e da análise dos resultados, foi possível caracterizar a proposta de atuação do

psicólogo e também a visão das equipes com relação aos programas oferecidos.

Destacamos as motivações que levaram tais profissionais a trabalharem na ONG e

junto aos refugiados, como um sentido maior às carreiras individuais, bem como a

congruência existente entre a percepção que a profissional de Psicologia tem de sua

atuação e as percepções dos profissionais das demais equipes.

Para alcançar o objetivo deste estudo foi necessário o entendimento de

algumas problemáticas referentes a características do terceiro setor, bem como das

políticas internacionais e nacionais voltadas para refugiados. Assim, foi fundamental

92 a revisão da literatura para a compreensão das transformações nas ONGs no decorrer

dessa década e a reflexão na forma de atuação do psicólogo nesse cenário de

trabalho. De uma maneira geral, o novo cenário profissional do psicólogo, a dificuldade

da linguagem, a falta de recursos humanos, a sobrecarga de trabalho, a dificuldade

de captação de recursos financeiros que é recorrente para o atendimento a

refugiados, entendemos que o tema é um desafio enquanto Estado e sociedade civil,

e trazem um pensar diferente no processo de atendimento psicológico a esse público.

A aproximação entre a Psicologia Ambiental e a pesquisa, possibilitou um olhar

de interdisciplinaridade, pondo em destaque a importância de que demais estudos a

partir desses referenciais podem ponderar esse tipo de articulação.

Moser (2018) nos alerta para a questão temporal e de espaço como conceitos

importantes para Psicologia Ambiental. Segundo o autor o espaço é o primeiro

conceito importante e a dimensão temporal é outro ainda mais relevante e especifico,

pois se estende ao mesmo tempo como projeção para o futuro e também como

referência ao passado e à história.

Bassani (2019) nos aponta caminhos para um trabalho interdisciplinar em

Psicologia Ambiental e conceitos como apropriação de espaço e apego ao lugar como

possibilidades de ampliação no atendimento, no caso de nossa pesquisa a refugiados.

A Psicologia Ambiental está envolvida com as questões ambientais, no sentido

de verificar as interações da pessoa frente a esse ambiente e do espaço em que se

vive, levando em consideração as dimensões culturais e sociais. Em nossos encontros

na PUC-SP discutimos muitos dos temas atuais entre eles a questão dos refugiados,

devido a conflitos étnicos, guerras, perseguições religiosas, catástrofes ambientais

etc.

De uma maneira geral, o idioma diferente e a dificuldade na comunicação são

fatores que os predispõem à baixa interação social, levando-os à formação de

pequenos grupos de refugiados da mesma nacionalidade, ocorrendo assim pouca

troca sociais e culturais. Não é fácil aprender uma nova língua, uma nova cultura e um

novo conjunto de regras. Os refugiados experimentam o choque cultural vivenciados

pelo estresse emocional, quando são incapazes de interpretar sinais de um ambiente

novo.

Mudar de país, significa construir uma vida diferente, dar significados novos ao

que era familiar se deparando com questões como a de pertencer a um grupo que

lhe dava identidade e reconhecimento. O estrangeiro é também, aquele que situará

na fronteira. Esse outro que não faz parte, além de sofrer com a rejeição e a solidão.

93 Para compreender a situação dos refugiados é importante entender que o

refúgio é uma migração forçada. Um indivíduo que migra entrará em contato com uma

nova cultura, precisará abrir mão do que lhe é conhecido e se inserir em um mundo

que requer novos significados.

Gostaria de destacar que a pesquisa foi realizada no Programa de Estudos

Pós-graduados em Psicologia Clínica, inserida no Núcleo Configurações

Contemporâneas da Clínica Psicológica. O Núcleo atua em linha de pesquisa voltada

a estudar temas e questões centrais da clínica psicológica, considerando os

paradigmas existentes de maneira plural e a natureza transformadora da clínica nos

mais diversos contextos, articulando assim o tratamento e prevenção dos fenômenos

na contemporaneidade.

A pesquisa compreendeu, a realidade migratória, o relato das formas de

acolhida que os órgãos públicos estão realizando para essa população e como os

refugiados estão inseridos nessas inter-relações, o psicólogo, se insere nessas

relações indivíduo-sociedade, e pode contribuir para a qualidade de vida e a saúde

dos refugiados.

A interdisciplinaridade na área da saúde é uma exigência tanto para a

compreensão do processo saúde/doença, quanto para possibilitar, como diz Japiassu

(1976), as ações profissionais que viabilizem a busca da saúde, proporcionar trocas

generalizadas de informação críticas além de dialogar sobre o trabalho em comum.

Com relação ainda à interdisciplinaridade na própria psicologia e nos demais saberes

presentes nos serviços oferecidos pela ONG, ela é dada pelos diferentes aspectos e

dimensões das práticas resultantes da atuação em áreas antigas e novas, decorrentes

do contato com novas populações e demandas que exigem novos conhecimentos e

linguagem específicas.

Por fim trouxe a reflexão sobre a contribuição da Psicologia no terceiro setor,

em Organização não Governamental, servindo como um convite aos psicólogos para

que proponham práticas sensíveis ao contexto de trabalho da população atendida,

reconheçam a multiplicidade de práticas psicológicas e reflitam sobre as implicações

políticas dos diferentes tipos de fazer psicológico.

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101

APÊNDICES

102 Apêndice A: Entrevista com Psicólogo/a 1. Roteiro Apresentação do TCLE, esclarecendo os objetivos da pesquisa, que é o de realizar

um estudo de caso a fim de caracterizar a atuação do psicólogo em uma ONG para

o atendimento a Refugiados na cidade de São Paulo.

1. Esclarecimentos dos objetivos da pesquisa;

2. Após esclarecimentos, Assinatura do TCLE;

3. Agradecimento pela inscrição;

4. Entrevistas com base no roteiro.

Dados do Entrevistado/a:

Nome: Data nascimento/Idade: Dados para Contato tel./cel: E mail: Formação acadêmica (Curso/ano conclusão): Outros Cursos:

Tempo atuação: Tempo na ONG:

Sexo: Área Atuação: N. horas dedicadas à ONG Atuações anteriores:

Você já participou de uma pesquisa antes? Como se sentiu ao ser convidado(a) para participar desta pesquisa?

TEMAS A SEREM ABORDADOS E INDICATIVOS DE QUESTIONAMENTOS:

1) DECISÃO E INÍCIO DO TRABALHO NA ONG PARA REFUGIADOS

• Relate sua trajetória profissional e experiências que considere relevantes hoje, para o trabalho na ONG - como você̂ chegou a esta ONG?

• Por que você̂ veio trabalhar no serviço junto a refugiados? Como seu trabalho se insere no organograma de funcionamento da ONG: departamentos que compõem a ONG; funcionários de cada departamento (formação profissional, número, por exemplo) e voluntários?

2) DESCRIÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA ONG, ATUALMENTE – E POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO DECORRER DO TEMPO (INÍCIO ATÉ O MOMENTO ATUAL)

• Qual o trabalho que desenvolve nessa ONG? • Como você percebe o trabalho com outras áreas/equipes? • Como seu trabalho se relaciona com as demais áreas de atenção que a ONG

oferece aos refugiados? • Poderia relatar um exemplo de como se dá o acompanhamento dos casos de

atendimento psicológico? • Quais os fatores que o/a motivam a trabalhar na ONG? • Quais as principais características do local físico que atua?

103 3) POPULAÇÃO QUE ATENDE NA ONG:

• Quem são os refugiados atendidos por você? • Como você obtém informações sobre os refugiados que são atendidos por

você? • Quais dificuldades você identifica em sua abordagem aos refugiados

encaminhados a você? • Há acompanhamento dos casos atendidos por você? • Em caso afirmativo, como ocorre e sob quais condições?

4) DESCRIÇÃO DE UM DIA TÍPICO E/OU SEMANA TÍPICA DE TRABALHO NA ONG

5) DESCRIÇÃO DE UM DIA ATÍPICO E/OU SEMANA – RELATO DE ALGUM CASO ESPECÍFICO QUE TENHA INFLUCENCIADO SUA FORMA DE ATUAÇÃO E/OU PESSOALMENTE

6) POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA FORMAÇÃO QUE RECEBEU / BUSCA EM PSICOLOGIA PARA DESENVOLVER SEU TRABALHO JUNTO AOS REFUGIADOS

• Que técnicas e conhecimentos de sua formação em Psicologia você̂ aplica no trabalho?

• Para você̂ o que é importante para a formação do profissional de Psicologia na atuação junto a refugiados?

• Que tipo de formação complementar você buscou, ou buscaria, de modo a contribuir para seu trabalho atual com refugiados?

7) [RETOMAR OU ABORDAR SE HÁ ALGUM TRABALHO INTERDISCIPLINAR- CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO COM PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS POR OUTROS TIPOS DE ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS]

• Sua atuação prevê algum tipo de trabalho em conjunto com os profissionais das demais áreas de atendimento aos refugiados que compõem a ONG?

• Em caso afirmativo, como e com que frequência ocorre esse trabalho?

8) PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS REFERENTES A SUA ATUAÇÃO JUNTO A REFUGIADOS?

• O que aprendeu atuando com essa população? • O que faria diferente na sua rotina de trabalho? • O que faria diferente em sua atuação na ONG?

9) ABRIR PARA COLOCAÇÕES OUTRAS NÃO CONTEMPLADAS NAS TEMÁTICAS ABORDADAS.

• Você̂ gostaria de falar de algo que não foi contemplado e que possa contribuir para a pesquisa?

10) AGRADECIMENTOS*Registros de observações e percepções da pesquisadora sobre a entrevista e sobre entrevistado/a:

104 Apêndice B - Entrevista com profissionais das áreas de atendimento na ONG 1. Roteiro Apresentação do TCLE, esclarecendo os objetivos da pesquisa, que é o de realizar um estudo de caso a fim de caracterizar a atuação do profissional em uma ONG para o atendimento a Refugiados na cidade de São Paulo.

1. Esclarecimentos dos objetivos da pesquisa; 2. Após esclarecimentos, Assinatura do TCLE; 3. Agradecimento pela inscrição; 4. Entrevistas com base no roteiro.

Dados do/a Entrevistado/a:

Nome: Data nascimento/Idade: Dados para Contato tel./cel: E mail: Formação acadêmica (Curso/ano conclusão): Outros Cursos:

Tempo atuação: Tempo na ONG:

Sexo: Área Atuação: N. horas dedicadas a ONG Atuações anteriores:

• Você já participou de uma pesquisa antes? • Como se sentiu ao ser convidado(a) para participar desta pesquisa?

TEMAS A SEREM ABORDADOS E INDICATIVOS DE QUESTIONAMENTOS:

11) DECISÃO E INÍCIO DO TRABALHO NA ONG PARA REFUGIADOS

• Relate sua trajetória profissional e experiências que considere relevantes hoje, para o trabalho na ONG - como você̂ chegou a esta ONG?

• Por que você̂ veio trabalhar no serviço junto a refugiados? • Como seu trabalho se insere no organograma de funcionamento da ONG:

departamentos que compõem a ONG; funcionários de cada departamento (formação profissional, número, por exemplo) e voluntários?

• Quais os fatores que o/a motivam a trabalhar na ONG?

12) DESCRIÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA ONG, ATUALMENTE – E POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO DECORRER DO TEMPO (INÍCIO ATÉ O MOMENTO ATUAL)

• Qual o trabalho que desenvolve nessa ONG? • Quais os principais tipos de demandas? • Como os casos são encaminhamentos para sua área de atuação (substituir, no

momento da entrevista pela área do/a entrevistado/a) na ONG? • Gostaria que você me falasse sobre o seu trabalho, especificamente na ONG:

Se você preferir descrever o fluxo de seu trabalho e/ou um dia típico, seria bem interessante para a pesquisa.

• Você poderia exemplificar um dia atípico em seu trabalho? • Quais são as dificuldades encontradas em seu dia-a-dia de trabalho na ONG?

105 • Quais as principais características do local físico que atua?

13) ABORDAR SE HÁ ALGUM TRABALHO INTERDISCIPLINAR- CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO COM PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS POR OUTROS TIPOS DE ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS

• Sua atuação prevê algum tipo de trabalho em conjunto com os profissionais das demais áreas de atendimento aos refugiados que compõem a ONG?

• Em caso afirmativo, como e com que frequência ocorre esse trabalho? • Como seu trabalho se relaciona com as demais áreas de atenção que a ONG

oferece aos refugiados? • Como você percebe o trabalho das outras áreas/equipes? • Poderia relatar um exemplo de como se dá o acompanhamento dos casos

que envolvam outras áreas na ONG?

14) PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS REFERENTES A SUA ATUAÇÃO JUNTO A REFUGIADOS?

• O que faria diferente na sua rotina de trabalho? • O que faria diferente em sua atuação na ONG?

15) ABRIR PARA COLOCAÇÕES OUTRAS NÃO CONTEMPLADAS NAS TEMÁTICAS ABORDADAS.

Você̂ gostaria de falar de algo que não foi contemplado e que possa contribuir para a pesquisa?

16) AGRADECIMENTOS 17) *Registros de observações e percepções da pesquisadora sobre a entrevista e sobre

entrevistado/a:

106 Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE)

Convido-o (a) a participar do estudo sobre a “Atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental para refugiados”, título

provisório, e se dispõe a caracterizar o desempenho do profissional de psicologia na

perspectiva das equipes interdisciplinares da ONG que atende refugiados na cidade

de São Paulo,SP.

O estudo é realizado por mim, Patricia Rebello Silvestri, psicóloga, CRP

06/33730-2, aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da

PUC/SP, do Núcleo Configurações Contemporâneas da Psicologia Clínica (PEPG),

como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em Psicologia Clínica, sob

a orientação da Profa. Doutora Marlise Aparecida Bassani.

A fim de atingirmos o nosso objetivo de pesquisa, realizaremos entrevistas com

temas referentes a sua atuação junto a refugiados. As entrevistas serão gravadas e

transcritas, posteriormente. Ressalto que a sua participação é voluntária, que poderá

obter informações sobre a pesquisa sempre que desejar e que poderá desistir de sua

participação a qualquer momento, sem que tal decisão causa prejuízos. A sua

participação em muito contribuirá para ampliar o conhecimento sobre a atuação da

Psicologia e das equipes junto aos refugiados, visando tanto a indicação de melhoria

na formação do profissional de psicologia, da articulação com outras áreas e dos

profissionais que trabalham com essa população além da indicação de contribuições

para Organizações não Governamentais para a atenção aos que chegam ao nosso

país.

CONSENTIMENTO

Diante do exposto, declaro ter recebido todas as informações sobre a pesquisa,

ter entendido e ter esclarecido todas as minhas dúvidas, concordando em participar,

livremente, do estudo descrito.

Estou ciente de que as informações coletadas são de cunho científico, de que

meus dados de identificação constarão da pesquisa, e também autorizo a publicação

das informações prestadas, em meios acadêmicos. Esclareço que os resultados e

análise realizados se circunscrevem a publicação em âmbito acadêmico-científico

107 Durante a realização da entrevista, caso você venha a sentir algum

desconforto, por favor interrompa e me comunique imediatamente. Será garantido o

atendimento psicológico em caso de necessidade decorrente da pesquisa.

Para fins de registro e análise, as entrevistas poderão ser gravadas e

transcritas, podendo utilizar de fotos, sempre em acordo com as exigências éticas da

Resolução CNS/MS - 510/16. Por fim, declaro que tenho conhecimento de que posso,

a qualquer momento, retirar meu consentimento, sem qualquer penalidade e que terei

acesso aos resultados do estudo, após a conclusão dos trabalhos.

O participante só deverá conceder a entrevista depois que tiver lido e

esclarecido sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e afirmar ter clareza

do conteúdo do mesmo. Por fim, declaro que tenho conhecimento de que posso, a

qualquer momento, retirar meu consentimento, sem qualquer penalidade e que terei

acesso aos resultados do estudo, após a conclusão dos trabalhos.

Diante do exposto, declaro ter recebido todas as informações sobre a pesquisa,

ter entendido e ter esclarecido todas as minhas dúvidas, concordando em participar,

livremente, do estudo descrito.

Dados para contato sobre esta pesquisa Pesquisadora: [email protected] ou telefone 9 72911964. Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/SP: [email protected]. São Paulo, ________ de ____________________________ de ________. __________________________________________ PESQUISADORA: PATRICIA REBELLO SILVESTRI __________________________________________ PARTICIPANTE: [NOME] Nome do Participante

Assinatura

108

ANEXOS

109 Anexo 1 – A ONG - Caritas São Paulo:

A Caritas Arquidiocesana de São Paulo - CASP, é a associação civil de direito privado,

sem fins lucrativos, e de caráter assistencial. Foi fundada em 1897 na Alemanha e está

presente no Brasil em 1968. Esta rede está subdividida em sete regiões: América Latina e

Caribe, África, Europa, Oceania, Ásia, América do Norte e a chamada MONA (Oriente Médio

e Norte da África). O próprio nome da entidade, Caritas, remete à origem latina da palavra

caridade. A Caritas foi fundada em 12 de novembro de 1956, pela Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB) e é uma das 164 organizações-membros da Rede Caritas

Internacional presentes no mundo. É uma referência na cidade de São Paulo, no que diz

respeito ao atendimento a pessoas em situação de refúgio. Trabalha na defesa dos direitos

humanos e do desenvolvimento sustentável solidário. Junto aos excluídos e excluídas em

defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e

plural. Atualmente está presente em 165 países e territórios dos cinco continentes, através da

Rede Caritas Internationalis – que detém o estatuto consultivo geral no Conselho Econômico

e Social das Nações Unidas (ECOSOC).

A CASP atua como um organismo da Arquidiocese de São Paulo, na animação,

promoção, caridade e articulação da Ação Social. Sua atuação se dá a partir de sua matriz,

atuando através de seis Núcleos Regionais e Paróquias da Arquidiocese de São Paulo. Com

mais de 60 anos de história, configura-se como uma rede solidária de mais de 15 mil agentes,

a maioria composta por voluntários, com ação por todo o país. Nos últimos 10 anos, segundo

dados da ONG, auxiliaram mais de 300 mil famílias, contribuindo para a transformação de

suas vidas e para a aquisição de novas conquistas.

A Caritas atua no CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) é membro

representante da sociedade civil perante o CONARE, em conjunto com a Caritas Rio de

Janeiro, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo e possui papel de extrema relevância,

propondo avanços na normativa brasileira, estimulando a adoção de novas políticas públicas,

além da inclusão dos refugiados em políticas já existentes. O CONARE é formado pelo

Ministério da Justiça (que preside o comitê), junto com os ministérios das Relações Exteriores,

da Saúde, do Trabalho, da Educação e a Polícia Federal, e um representante da sociedade

civil organizada (cadeira que é alternada entre a Caritas Arquidiocesana de São Paulo e a

Caritas Rio de Janeiro), além do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

(ACNUR), que possui voz mas não pode votar. O Instituto de Migrações e Direitos Humanos

(IMDH), outra organização da sociedade civil também acompanha as plenárias. O CONARE

é considerado um órgão tripartite, ou seja, possui representantes do governo, da sociedade

civil e da ONU. No CONARE, a Caritas tem a oportunidade de argumentar pelo

reconhecimento da condição de refugiado, apresentando um parecer jurídico, e avançar com

a interpretação da lei brasileira de refúgio.

110 As finalidades da CASP (Associação Civil e Direito Privado) são objetivadas e

cumpridas em consonância com a Lei orgânica da Assistência Social (LOAS), a Lei de

diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB), o Estatuto da criança e do adolescente (ECA),

Estatuto do Idoso, Lei Civil vigente, naquilo que lhe é aplicável, sem prejuízo aos critérios de

orientações previstos na alínea “a”, item 1, do artigo 7º do estatuto desta organização, qual

seja:

“Orientar suas atividades sociais pelos princípios da Doutrina Social da Igreja, diretrizes da

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas da Arquidiocese de São Paulo, nas

da Caritas Brasileira e da Caritas Internacionalis, no que for pertinente.”

Tem como objetivo estratégico proporcionar acolhimento, proteção, assistência e

orientação aos solicitantes de refúgio e refugiados, visando sua integração na sociedade

brasileira. Os serviços oferecidos tem como objetivos específicos a melhoria do nível de

autossuficiência e condições de vida dos refugiados; melhorar o acesso à educação e saúde;

fornecer apoio de subsistência para garantir que os refugiados tenham artigos domésticos e

de higiene suficientes; prestação de serviços para grupos com necessidades especiais;

realização do potencial de integração local dos refugiados; reforço da documentação civil e

apoio ao procedimento de elegibilidade para melhorar o acesso ao território de pessoas que

buscam proteção.

111 Caritas Arquidiocesana de São Paulo - CASP CNPJ: 62.021.308/0001-70 Endereço: Rua José Bonifácio, 107, 2º andar, Sé, CEP: 01003-000 Cidade: São Paulo/SP www.caritassp.org.br e-mail: [email protected] e [email protected] Telefone: 11 4873-6363; 11 4873-6361; 4873-6360 Obs: A sede da entidade é cedida em sistema de comodato

Responsável para contato com a Organização Coordenação: Cleyton Soares Abreu E-mail: [email protected]

E-mail: [email protected];

Filiais: Região Episcopal Belém, Região Episcopal Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé. Abrangência: Em termos de estrutura interna, as ONGs operam obrigatoriamente com um órgão de

natureza deliberativa (Assembleia Geral) e um órgão de natureza decisória (Diretoria, também

denominada Conselho Administrativo). Já a criação de um Conselho Fiscal é obrigatória nos

casos em que a organização pretende qualificar-se como Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público, e a criação do Conselho Consultivo é sempre facultativa. Quanto à

abrangência no território Municipal, Estadual e Nacional, atua conforme nucleação local em

consonância com as unidades paroquiais, comunitárias e respectivas sucursais. Os seis

Núcleos Regionais atendem o Município de São Paulo a partir da divisão regional da

Arquidiocese de São Paulo. Arquidiocese corresponde ao espaço territorial de atuação da

Igreja, sob a responsabilidade administrativa e pastoral de um arcebispo. A Igreja Católica se

concretiza na Cidade de São Paulo através da Arquidiocese de São Paulo. Por abranger um

território bastante extenso a Arquidiocese está 1situada a Rua José Bonifácio, 107, 2º andar,

Sé, subdividida em seis regiões assim dispostas: Região Episcopal Belém, Região Episcopal

Brasilândia, Região Episcopal Ipiranga, Lapa, Santana e Sé.

112 Composição da DIRETORIA ESTATUTÁRIA:

NOME do Presidente: MANOEL MESSIAS DE MACEDO

Cargo: Presidente do Conselho Deliberativo Profissão: Ministro de confissão religiosa

Não é funcionário público. Não exerce na entidade função remunerada.

Nome do Diretor: MARCELO MARÓSTICA (Pe. Diretor)

Cargo: Diretor Profissão: Ministro de confissão religiosa

Não é funcionário público. Não exerce na entidade função remunerada.

Obs: Mandato desta diretoria:

Início: 01.01.2017

Término: 31.12.2019 Orientação estratégica e Missão

São Orientações Estratégicas da Caritas:

a) Promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais na construção da

sociedade do Bem Viver;

b) Defesa e promoção de direitos, construção e controle das políticas públicas;

c) Organização, fortalecimento e sustentabilidade da Rede Caritas;

d) Formação permanente do voluntariado.

Tem como missão, ser o braço estendido da Igreja Arquidiocesana de São Paulo no serviço

de sensibilização, animação, articulação e promoção da caridade e refletir com a sociedade

sobre oportunidades de ações transformadoras que lhe propiciem justiça.

Valores da Caritas FÉ E MORAL CRISTÃ: Referência fundamental ao Evangelho de Cristo, que inspira o comprometimento social entre

as pessoas.

CARIDADE: Virtude de caráter social fundamental, que move o sentimento de urgência de

se estabelecer uma relação de justiça entre as pessoas. FRATERNIDADE: Realidade espiritual que suscita o sentido e valor ao empenho intrínseco

da pessoa em desejar dar uma destinação universal aos bens da natureza em benefício do

bem comum. SOLICITUDE SOCIAL: Gesto sensível e acolhedor em favor de outra pessoa, com

predisposição naturalmente amável para servi-la, reconhecendo e respeitando a eminente

dignidade desta outra.

113 DIÁLOGO: Disponibilidade cordial para explicitar o próprio conhecimento e experiência e

para acolher a realidade de terceiros, visando perceber demandas alheias à própria realidade. TESTEMUNHO: Carisma específico que espelha a fé e a esperança no coração materno da

Igreja e no rosto misericordioso do Deus de amor, de bondade e de ternura. O Serviço de Referência para Refugiados As atividades do Centro de Referencia para Refugiados visam a melhoria do nível de

autossuficiência e condições de vida dos refugiados; melhoria do acesso à educação e saúde;

apoio financeiro para mitigar as condições de subsistência; prestação de serviços para grupos

com necessidades especiais; realização do potencial de integração local dos refugiados;

reforço da documentação civil e apoio ao procedimento de elegibilidade para melhorar o

acesso ao território de pessoas que buscam proteção.

O Centro de Referência para Refugiados possui mais de 17 mil pessoas cadastradas

(entre refugiados e solicitantes de refúgio), e aproximadamente 70 pessoas atendidas por dia,

além de ligações atendidas e dúvidas respondidas por e-mail.

Público alvo para Atendimento a refugiados Critérios adotados para a inserção dos usuários nos serviços, programa, projeto ou beneficio

sócio assistencial:

• Refugiados reconhecidos pela lei brasileira : Lei 9.474/97 e a Lei 13.445/2017;

• Solicitantes de refúgio portadores do protocolo provisório emitido pela Polícia Federal;

• Pessoas que desejam fazer a solicitação de refúgio;

• Residentes do estado de São Paulo.

Centro de Referência para Refugiados: Solicitantes de refúgio e refugiados (homens,

mulheres, crianças, adolescentes, famílias).

Núcleos Regionais: Mulheres, lideranças comunitárias, organizações sociais, comunidades,

desempregados.

Lar Santa Maria: Cede seu espaço para Organizações da comunidade local das áreas da

Infância e Juventude e da Assistência Social.

A Caritas e os Serviços oferecidos A Caritas atua na perspectiva das Políticas Públicas com quatro diretrizes

institucionais: defesa e promoção de direitos humanos e sociais; incidência e controle social

114 de políticas públicas; construção de projeto de desenvolvimento solidário e sustentável; o

fortalecimento da Rede Caritas. Operacionaliza a atividade principal e secundária com os seis

Núcleos Regionais e Lar Santa Maria (filiais) constituídos.

Programas Acolhida: Registro dos recém chegados com informações pessoais, preenchimento de uma ficha

com dados pessoais, cópias dos documentos, encaminhamento de entrevista prévia com

Agente de Proteção. Orientações sobre o processo de refúgio no Brasil, os serviços que o

Centro de Referência para Refugiados presta, entrega de subsídios informativos. Identifica

vulnerabilidades primordiais, como: menores desacompanhados, mulheres grávidas, pessoas

necessitando de albergamento, violações de direitos em território nacional. Faz o

encaminhamento para os Programas específicos do Centro de Referência. Ajudam na entrega

de doações como itens de higiene, roupas entre outros.

Assessoria de Comunicação: Atendimento de imprensa, estudantes pesquisadores e comunidade em geral, a fim de

esclarecer e sensibilizar sobre a temática do Refúgio em São Paulo/Brasil. Organização de

eventos informativos e culturais, assim como campanhas de arrecadação de itens de

necessidades como higiene, alimentação, vestuário, educação entre outros.

Assistência Social: Atendimento individual e familiar com o objetivo de garantir a proteção social ao

refugiado (e família). As principais demandas são: moradia, saúde, alimentação, vestuário,

informações sobre programas sociais. Encaminhamentos para abrigos; encaminhamentos

para atendimentos de saúde e odontologia; avaliação e doação de itens de primeira

necessidade (mediante disponibilidade); acompanhamento de casos familiares especiais;

orientação sobre os serviços e programas sociais oferecidos pelo Governo brasileiro; apoio

para localização de familiares. Análise de situação de vulnerabilidade para concessão de

ajuda financeira, elaboração de parecer social.

Integração: Encaminhamento para cursos de português gratuitos e cursos profissionalizantes;

apoio para matrículas em escolas públicas; elaboração de currículo; orientação de abertura

de conta bancária e ingresso em universidades; orientação sobre validação de diplomas

obtidos no exterior; mediação para a busca de emprego; aconselhamento de planos de

115 pequenos empreendimentos. elaboração de currículo, parceria com o PARR (Programa de

Apoio para a Recolocação dos Refugiados.

Proteção: Programa que trabalha com demandas referentes ao CONARE (Comitê Nacional para

os Refugiados) Articula a capacitação de redes de entidades, visando ampliar o espaço de

proteção dos refugiados. Atendimento jurídico individual, difusão de informação legal e

realização de atividades comunitárias com o objetivo de garantir o acesso de refugiados e

solicitantes de refúgio aos seus direitos no Brasil.

ADVOCACY: Participação em fóruns e articulação com diversos atores, sempre visando

garantir que os solicitantes de refúgio e refugiados tenham acesso efetivo a políticas públicas

e possam realizar plenamente seus direitos na cidade de São Paulo. Alguns destes Fóruns

são: Grupo de Trabalho relativo ao Aeroporto de Guarulhos; Comitê Estadual de Refugiados;

Conselho Municipal de Imigrantes.

Saúde Mental: O Serviço de Saúde Mental na Caritas tem por objetivo “contribuir para a integração

social de refugiados e solicitantes de refúgio no país de acolhida por meio da redução dos

traumas psicológicos e transtornos emocionais, levando em conta seu contexto cultural e de

migração”, Atende a pessoas que passaram por traumas e/ou têm dificuldades de adaptação

no Brasil, como preconceitos sofridos por questões de etnia, lugar de origem, cor da pele ou

por não conseguir trabalho e barreiras em relação à língua e funciona em três frentes:

a) Os atendimentos psicoterapêuticos individuais, os grupos terapêuticos, chamados

de grupos de troca;

b) Oficinas temáticas voltadas para a capacitação profissional, no caso dos adultos.

c) O serviço “ainda é pouco frequentado”;

d) Organização de escuta em grupo na sala de espera do Centro de Referência para

Refugiados;

e) Realiza o atendimento psicológico individual; encaminhamento para atendimentos

psicológicos e psiquiátricos para a rede parceira; articulação em rede, favorecendo

análise de casos e ações promotoras de políticas públicas.

Os atendimentos são feitos àqueles que necessitarem: crianças, adolescentes, adultos

e terceira idade. Os atendimentos individuais acontecem raramente, e apenas quando

solicitado por algum refugiado.

Em 2019 a equipe começou a atuar de forma interdisciplinar com reuniões semanais

onde há troca de informações sobre os casos atendidos em cada programa e que podem

suscitar um encaminhamento ao programa de Saúde Mental.

116 O trabalho em Rede:

A Rede é uma organização não institucionalizada de trabalhadoras de serviços de

auxílio a imigrantes-refugiadas em São Paulo, sejam eles serviços de saúde, ou que tenham

algum tipo de intersecção com o tema. Na prática, constitui-se enquanto uma reunião mensal

de alguns serviços de assistência a imigrantes refugiadas que ofereçam algum tipo de

atendimento e/ou cuidado em saúde ainda que seja apoio psicológico ou que estejam

envolvidos na execução de políticas migratórias, como é o caso do CRAI4 As reuniões

ocorrem às primeiras sextas-feiras de cada mês, das 14h às 16h, salvo em ocasiões onde

algum feriado ou intercorrência maior impedisse e quando isso ocorria, elas costumam ser

transferidas para a sexta-feira subsequente. Inicialmente, a ideia era que cada serviço

trouxesse algum caso para ser discutido entre as profissionais participantes da reunião, a

maioria absoluta com formação em psicologia e/ou psicanálise e a experiência servisse para

acompanhamento de imigrantes-refugiadas em seus trânsitos pelos serviços, além de buscar,

por meio de brainstorms (chuva de ideias) sobre as questões trazidas, possíveis soluções

para os casos das atendidas. Com o decorrer do tempo, e devido às frequentes turbulências

políticas recentes, houve uma derivação da pauta das reuniões, que foram das discussões de

casos para, discussão sobre mobilizações e articulações políticas que pudessem otimizar o

funcionamento desses serviços em uma organização de rede, demandando, inclusive, do

poder público municipal as respostas para seus problemas através de Politicas Públicas. As

reuniões mensais ocorriam na Missão Paz, que funciona nas instalações da Igreja Nossa

Senhora da Paz, na baixada do Glicério, região central de São Paulo. Também neste espaço

funciona a Casa do Migrante, casa de acolhida para imigrantes refugiadas recém-chegadas

à cidade. As profissionais representavam serviços coordenados e oferecidos pelo Estado,

como as representantes da Unidade Básica de Saúde (UBS) e o Núcleo de Apoio à Saúde da

Família (NASF) da região da Sé, o Ambulatório, o Grupo Veredas (ligado à Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo e à USP), os CTAs do Butantã e de São Mateus – que

abrigavam venezuelanas – e, por vezes, de alguns CAPS; os serviços coordenados em uma

parceria entre o Estado e organizações da sociedade civil, como o CRAI e seu centro de

acolhida – administrados pelo Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras); e os serviços

coordenados somente pela sociedade civil, como o CRR/CASP, a Cruz Vermelha, a

BibliASPA, a Compassiva, a Preparando o Caminho, o Coletivo, o Projeto Ponte, a África do

Coração, a SBP-SP, e diversos outros que compareciam esporadicamente. Além disso,

representantes de projetos de saúde temporários junto a imigrantes-refugiadas, como uma

série de rodas de conversa organizada pela ONU Mulheres, também compareciam. Alguns

serviços rotacionavam seus representantes, mas garantiam presença em todas as reuniões,

e mulheres sempre representaram a maioria absoluta das participantes das reuniões, bem

como pessoas fenotipicamente consideradas e/ou autodeclaradas brancas. Também as

117 assistentes sociais são presença constante e maciça nas reuniões de Rede. A presença de

estrangeiras, também sempre foi constante: entre as profissionais. Entretanto, a discussão de

casos de imigrantes refugiadas o principal tema da maioria das reuniões de Rede. Em uma

dessas oportunidades, o caso discutido foi o de uma Escola Municipal de Ensino Infantil

(EMEI) localizada na Zona Norte que estava apresentando alguma dificuldade ao lidar com

suas alunas imigrantes-refugiadas: várias crianças estavam sendo encaminhadas pelas

professoras para o CAPS-Infantil do território com suspeita de autismo, algo bastante comum

a crianças imigrantes-refugiadas em contextos os mais diversos possíveis. Algumas alunas

imigrantes-refugiadas pouco interagiam com outras crianças, não respondiam às professoras

e colegas e não cumpriam as tarefas designadas a elas, ficando em silêncio a maior parte do

tempo. Diante disso, as professoras costumavam reagir chamando mães e pais à escola para

explicar-lhes a importância de elas próprias aprenderem a língua, e, em alguns casos,

proibindo-lhes que a língua nativa fosse falada em casa para não prejudicar o aprendizado do

português.

Grupos Terapêuticos: Segundo a coordenação geral do Caritas, dentre as ONGS que contam com

psicólogas na equipe (realizando atendimentos psicoterápicos ou não), estão poucas,

destaque para o Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) –O CRAI

que oferece atendimento psicológico em parceria com o grupo Veredas (Grupo de Imigração

e Psicanálise, desenvolvida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), a

Missão Paz, a Caritas de São Paulo, entre outros, além das estruturas do SUS (Sistema Único

de Saúde) e alguns Centros de Acolhida, como por exemplo a Casa do Migrante e os Centros

Temporários de Acolhimento (CTAs).

No programa de Saúde Mental, os grupos terapêuticos funcionam como grupos de

verbalização e se inserem em um contexto de multiplicação de “novas abordagens que levam

em consideração a subjetividade humana e a inclusão social. Esses grupos têm como

proposta potencializar as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria

na adaptação ao modo de vida individual e coletivo.

O grupo de troca não intercambiava as dificuldades da temporalidade passada, pois

não era o que as imigrantes-refugiadas traziam para trocar, segundo a Coordenadora.

Enquanto esperava-se que elas discorressem sobre as guerras e perseguições em seus

países de origem, ou as situações-limite enfrentadas no processo migratório, as imigrantes-

refugiadas desfilavam exemplos sobre como as organizações que oferecem serviços a elas

estão profundamente implicadas nas dificuldades que elas sofrem. Eram sim trazidos temas,

como a dificuldade de aprender português (pela falta de cursos gratuitos em locais acessíveis

da cidade, pela dificuldade em utilizar o transporte público, pela indisponibilidade de tempo

e/ou financeira), a dificuldade de arranjar emprego (pelas entrevistas de emprego

118 assimétricas, consideradas as assimetrias na proficiência do português, pelo alto custo dos

processos de revalidação do diploma, pelo racismo e pela injúria racial, pela dificuldade em

utilizar o transporte público, pela ineficiência dos serviços de assistência, pela grande

quantidade de empregadores inescrupulosos e pela grande quantidade de imigrantes-

refugiadas em condições de trabalho análogas à escravidão) e o racismo sofrido que vinham

à tona nos grupos de troca organizados pelo programa de Saúde Mental. Quadro: Ações dos Programas

Programa | Atendimento Detalhamento Ação

De 01.01.17 a 31.12.2017 6.500 pessoas atendidas Gerando aproximadamente 20.000 atendimentos

Importância da escuta para orientações corretas, diminuindo dúvidas e minimizando tempo e recursos da população de interesse, assim como angústias com relação a sua situação documental e de integração local

Revisão dos fluxos atuais de trabalho em cada programa; Foco na excelência do serviço de primeira acolhida Contratação de Voluntariado para Programas estratégicos como a Saúde Mental Grupo de Orientação para Deferidos Implementação de Plantão de Atendimento Aumento do número de profissionais fixos Apoio de Voluntariado

Necessidade de capacitação específica para os órgãos públicos de serviços essencialmente sociais (Albergues, saúde, trabalho) para o melhor acolhimento de imigrantes e refugiados. Especial atenção a mulheres grávidas, grávidas com criança ou sozinhas são em geral as que mais sofrem e seu tempo de integração, onde a demanda do atendimento costuma ser mais demorado, considerando a dificuldade de encontrar trabalho como forma de integração e renda

Espaço físico ambientado de maneira a garantir sigilo, confidencialidade e conforto Ampliação de parcerias e Rede de apoio Atendimentos complementares in loco (visitas domiciliares) a fim de acompanhar as altas vulnerabilidades e verificar possibilidades de assistência social. Importância do Programa de Saúde Mental, em rodas de conversa e acompanhamentos individuais, como fonte de apoio aos solicitantes de refúgio e refugiados em um momento angustiante de integração social, minimizando efeitos traumáticos para a adaptação

Fonte: Elaborado pela autora

119

No gráfico 2, demonstraremos como está a composição de voluntários que

quanto ao tipo de contratação feita pela ONG. A grande força de trabalho nos

programas está alicerçado no trabalho dos voluntários. Dos 6 entrevistados 4, foram

voluntários antes de desempenharem uma posição efetiva na realizam na ONG,

atividades estas com carga horária diária de 8 horas.

Gráfico 2: Voluntários Fonte: Elaborado pela autora Tabela 2: Estrutura por tipo de contratado na ONG

Tipo contrato Frequência

Contratado Período de 04 meses 2 Contratado Período de 06 meses 1 Contratado Período de 08 meses 2 Contratado Período de 12 meses 11 CLT - 40 horas semanais 10 Total Geral 26

Fonte: Elaborado pela autora Para as posições de Coordenação dos Programas as contratações são feitas

via CLT, em sua maioria. Na Tabela 2 está a estrutura por tipo de contrato na ONG.

Dos seis entrevistados quatro são CLT (com carga horaria de 30 a 40 horas semanais)

e dois contratados como Prestador de Serviço, com uma carga horária menor (16

horas).

024681012141618

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Voluntários-Form Acadêmica

120

Parcerias da ONG: As parcerias ocorrem pela interdependência das ações para o alcance

qualitativo dos resultados e exercício de direitos dos usuários. Contam com os

seguintes parceiros: Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo; Instituto

CREDIPAZ, organização sem fins lucrativos de Microcrédito solidário e popular. No

que se refere ao Centro de Referência para Refugiados constituíram as seguintes

parcerias:

CONARE (Comitê Nacional para Refugiados) – através da Lei 9.474 de 1997

que regulamenta o Estatuto dos Refugiados; processo de elegibilidade e Políticas

Públicas; Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (ACNUR);

Policia Federal – apoio e encaminhamentos; Secretarias da Justiça e Defesa da

Cidadania via Comitê Estadual para Refugiados;

– estudo de possibilidades políticas públicas; Defensoria Pública da União –

orientação e encaminhamentos jurídicos, participação em eventos propostos pela

CASP; Ministério Público – apoio e encaminhamentos; Arquidiocese de São Paulo;

– apoio a atividades do Centro de Referência; Paróquia São João Batista do

Brás e Paróquia Santo Antônio de Lisboa;

– doações; Missão Belém – no acolhimento para idosos e pessoas com

doenças crônicas; Obra Social Nossa Senhora Aparecida (Irmãs Palotinas);

– acolhida às mulheres; Missão Paz (Padres Scalabrinianos – Casa do

Migrante e Pastoral do Migrante) – casa de acolhida e orientação quanto à

documentação de permanência; Refugees United;

– utilização de sala e infraestrutura para divulgação de plataforma de

localização de familiares e amigos; encaminhamento para albergamento;

– cursos profissionalizantes; UNISANTOS – Cursos de Relações

Internacionais- pesquisa sobre os países de origem; Instituto de Migrações e Direitos

Humanos (IMDH), apoio e esclarecimentos sobre migração e permanência;

SASECOP (Serviço de Apoio Educativo de Capacitação e Orientação Profissional);

CESPROM (Associação Educadora Beneficente do Centro Scalabriniano de

Promoção); Hospital das Clínicas e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas;

SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); SENAC (Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial) – cursos profissionalizantes; SESC (Serviço

Social do Comércio) – curso de português, acesso à internet, lazer e cultura,

121

alimentação a preço acessível; SESI (Serviço Social da Indústria); CREAS (Centro de

Referência Especializado de Assistência Social) – albergues; CAT – Centro de

Atendimento ao Trabalhador (PMSP) – cursos e palestras gratuitas;

– atendimentos em saúde mental e outras especialidades; Hospital de

Referência da Saúde da Mulher Pérola Byington – atendimento em saúde; Unidade

Básica de Saúde (UBS) Sé;

– atendimento ambulatorial; APCD (Associação Paulista de Cirurgiões

Dentistas) – atendimento odontológico; Universidade de São Paulo (USP);

– serviços odontológicos; Hospital "Emílio Ribas" – doenças infectas

contagiosas; Hospital Infantil "Menino Jesus";

– atendimento em saúde; Hospital Brigadeiro – referência no atendimento ao

homem; Santa Casa de Misericórdia , Amparo Maternal;

– assistência em saúde/internação à mulher gestante; Todos os Postos de

Atendimento Médico da Rede Pública Estadual e Municipal, principalmente os

localizados na região Central, onde reside a maioria dos solicitantes e refugiados;

- Parcerias com Universidades:

UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora); UFMG (Universidade Federal de

Minas Gerais); UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos); Instituto Paula Souza;

UNINOVE , – COMPASSIVA – organização que possibilita curso de português para

sírio e orientação para revalidação de diplomas; CIEE (Centro de Integração Empresa

Escola) – apoio pré-vestibular para pessoas vulneráveis e curso de português;

Universidade Federal de São Paulo, Campus Guarulhos – UNIFESP/GRU – curso de

português; Igreja Batista – curso de português; UNIFAI – curso de português; Coletivo

Conviva Diferente – curso de português; EDUCAFRO – curso de português; Cursinho

Popular Mafalda;

– odontologia e saúde; Escritório de Advocacia Mattos Filho –assessoria

jurídica;

– cursos Governo do Estado de São Paulo – certificações; Comunidade Novos

Rumos

– cadastro e encaminhamento para vagas de trabalho; Posto de Atendimento

ao Trabalhador (PAT) – cadastro e encaminhamento para vagas de trabalho; EMDOC

122

(Projeto PARR)14; recolocação profissional; Ótica Carol – preços mais acessíveis para

solicitantes de refúgio e refugiados; Posto humanizado Aeroporto de Guarulhos –

contatos e apoio aos solicitantes que se encontram no aeroporto; CROPH

(Coordenação Regional de Promoção Humana);

Projetos: a) FUNCIONAMENTO DE 05 UNIDADES DE EDUCAÇÃO INFANTIL- UEI

Com a solidariedade de benfeitores do Brasil e da Alemanha, realizaram o

trabalho de cuidar e educar diariamente, são atendidas 550 crianças de 02 e 03 anos,

em Unidades de Educação Infantil em 05 bairros periféricos de Rondonópolis, em

parceria com a Prefeitura Municipal de Rondonópolis, com a colaboração de

voluntários, e a de pessoas físicas, chamados de Padrinhos e Madrinhas das

Unidades e funcionários da Paróquia São José Operário.

b) AFILHADOS DE PADRINHOS DA ALEMANHA

O projeto Afilhados atende 123 afilhados com uma ajuda mensal financiada

pela Associação Dom Helder Câmara e Kindermissionwerk e tem por objetivo ajudar

as famílias através das ações: Favorecer instrumentos para despertar a consciência

familiar e cidadã. Incentivar as famílias a participarem da vida da comunidade.

Despertar a criatividade da criança e adolescente por meio de cursos.

c) PARCERIA EM PROJETOS /ACÕES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES

Em parceria com o Mesa Brasil, recebem alimentos para ajudar os projetos da

UEIs e Recanto dos Idosos. Com a parceria do Lions Club São José Operário, com

uma ajuda mensal para a manutenção do projeto Raio de Luz.

d) RECANTO DOS IDOSOS

O Recanto dos Idosos S. José Operário, conta com 54 idosos residentes e 86

idosos que moram nos bairros vizinhos. Realizam as atividades: aferição de pressão

14 PARR-Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados – PARR, foi criado em outubro de 2011 pela EMDOC, consultoria especializada em imigração, transferências para o exterior, com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo.

123

arterial; Palestra de conscientização ambiental e cuidados com a saúde; Terapias

ocupacionais dançante e artesanato; roda de conversas com o CRAS no atendimento

individual a moradores com depressão.

e) FUNCIONAMENTO DO ALBERGUE NOTURNO EM VILA OPERÁRIA Atende em média 40 pessoas por dia, o Albergue Noturno São José Operário

no ano de 2019 atendeu até dia 28/02/2019, contudo teve suas atividades encerradas

devido as condições do prédio que estava muito danificado e a repulsa da comunidade

em aceitar a reforma para esta finalidade.

Infraestrutura: A Sede, em regime de comodato, ocupa dois andares e uma sala no terceiro

andar do Condomínio Dom Paulo Evaristo Arns, em um prédio de três andares.

Estando assim distribuídos: Térreo: Rampa entrada; Hall de entrada; Escada;

Elevador; Controle de acesso; bancos de espera. O Primeiro andar abriga o serviço

Centro de Referência para Refugiados, assim distribuído em 11 Salas de atendimento

individual; 03 Salas exclusivas para administração, coordenação, equipe técnica; 02

Salas de atendimento em grupo/atividades comunitárias, sanitários e 01 Recepção.

Está equipada com 17 Computadores; 02 Datashow; 09 Impressoras; telefones;

Arquivos e armários de aço. O Segundo andar abriga 01 capela; 01 sala de reunião;

01 área de convivência; 01 Espera; 01 sala auxiliar administrativo; 01 sala para o

diretor; 01 sala para o vice-diretor; 01 sala assistente de diretoria; 01 sala assistente

social; 01 sala administração; 01 auditório; 01 depósito mobiliário; sanitários. As salas

são equipadas com computador; aparelho telefônico; internet; mesa; cadeiras;

arquivo; armário. O auditório e a área de convivência são equipadas com data show,

cadeiras e equipamento de som. O Terceiro andar abriga em uma sala a filial CASP

Sé, que também se utilizar das salas de reunião e auditório do segundo andar para

realizar suas atividades.

Os cinco Núcleos Regionais possuem, cada qual, uma sala nas regiões de

atuação, Regiões Episcopais Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana.

124

Quadro – ONGS atuado no Município de São Paulo Nome Histórico e Características

CARITAS Presença de psicólogos

A Caritas Brasileira, fundada em 1956, faz parte das 164 organizações- membros da Rede Caritas Internacional. No Brasil ela é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizada em uma rede com 183 entidades-membros, 12 sedes regionais e uma nacional, atuando em 450 municípios. É uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos (as) em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural. Acolhe refugiados no Brasil e integrando-os por meio de suas unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A MISSÃO PAZ Presença de psicólogos

Missão paz é uma instituição filantrópica, fundada em 1930, pelos Missionários de São Carlos fazendo parte da Scalabrini International Migration Network (SIMN) buscando propiciar um ambiente acolhedor no qual as pessoas possam se relacionar e assumir suas responsabilidades perante o próximo. O objetivo da Casa do Migrante , que é uma organização religiosa voltada para a acolhida de imigrantes recém-chegados, imigrantes e refugiados e indivíduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana, sem distinção de sexo, etnia, cor, credo, nacionalidade ou qualquer outra forma passível de discriminação.; diferentes culturas e línguas, diversas religiões e credos. A Casa tem cem leitos, localizado ao lado da Pastoral do Migrante, A Missão Paz funciona na paróquia de Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério em São Paulo. Oferece serviços de documentação, apoio jurídico, assistência social, atendimento psicológico e de saúde, assim como educacional, com cursos de português, palestras interculturais e cursos profissionalizantes.

INSTITUTO ADUS Presença de psicólogos

Instituto de Reintegração do Refugiado, fundado em 2010, é uma organização sem fins lucrativos que busca reinserir os refugiados localizados em São Paulo na sociedade. O Adus oferece aulas de português, cursos de qualificação profissional, apoio psicológico, inserção no mercado de trabalho, instrução e preparação em empreendedorismo e ações culturais. Além de promover os projetos incorpora os refugiados no mercado de trabalho.

CRUZ VERMELHA. Presença de psicólogos

Foi fundada em 1863 na Suíça, com o nome original de Comitê Internacional Para Ajuda aos Militares Feridos. A instituição foi criada inicialmente com o propósito de dar assistência aos prisioneiros de guerra. Atualmente atende uma variedade de programas de ajuda humanitária.

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS Presença de psicólogos

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi fundada em 1971 por um grupo de médicos e jornalistas franceses que atuou em parceria com a Cruz Vermelha em uma ação específica. A instituição oferece ajuda médica e humanitária a populações em situações de emergência, como em casos de conflitos armados, epidemias, exclusão social, entre outro. É atualmente a maior ONG de ajuda humanitária no mundo atuante na área da saúde, tendo ganho o Nobel da Paz em 1999 como reconhecimento à importância dos serviços prestados. Hoje é composta por mais de 36 mil profissionais de diferentes áreas e nacionalidades que desempenham atividades em mais de 70 países. entre as quais destacam a importância de se pesquisar mais a fundo as experiências dos próprios refugiados acerca dos processos de integração e exclusão social vivenciados por eles e de se adotar uma perspectiva interdisciplinar para melhor compreensão desse fenômeno extremamente rico e multifacetado.

ESTOU REFUGIADO Não tem a presença de psicólogos

O Movimento Estou Refugiado nasceu da convicção de que a questão dos refugiados está envolta de desinformação e preconceito. Apoiam na oferta de emprego. Trabalham permanentemente junto às empresas para garantir oportunidades de trabalho. Desenvolveram a Máquina de Currículos, bem como a produção de conteúdos realizando entrevistas com refugiados e fazendo pesquisas, escrevendo artigos e editando vídeos para montar uma biblioteca sobre o tema. Através da Planisfério Causas, desenvolvem produtos e serviços, garantindo a sobrevivência e a autonomia Os serviços já estão funcionando: Kosukola, o lava-rápido que tem como vantagens, a economia, a conveniência e a sustentabilidade.

MUNGAZI Não tem a presença de psicólogos

Criado em 2015, é uma organização apartidária e laica, criada pelo professor Omana Petench, refugiado do Congo, que visa prestar apoio aos refugiados na sua adaptação a uma nova realidade, sem distinção étnica, política, ideológica ou religiosa. Realizam apoio à integração, oferecem a oportunidade da aprendizagem da cultura africana e gastronomia africana, favorecendo os laços e as trocas intercomunitárias, promovendo, assim, o resgate e a preservação da história africana no Brasil.

Elaborado pela autora

125

Anexo 2- Autorização prévia da ONG para a realização da pesquisa assinado

126

ANEXO 3 - Aprovação do Comitê̂ de Ética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)

96