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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César
Responsabilidade Social na Construção Civil
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
SÃO PAULO
2011
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César
Responsabilidade Social na Construção Civil
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em Ciências
Sociais / Antropologia, sob a orientação do
Prof. Dr. Rinaldo Sérgio Vieira Arruda.
SÃO PAULO
2011
3
Banca Examinadora
_________________________________
_________________________________
_________________________________
4
RESUMO
Na década de 90, às margens do Rio Pinheiros crescia uma parte nova
da cidade de São Paulo. Formada por prédios comerciais construídos
com aparatos tecnológicos altamente sofisticados, a região das Avenidas
Engenheiro Luiz Carlos Berini e Nova Faria Lima passou a simbolizar o
nascimento de uma cidade globalizada pronta para atender à nova
ordem econômica mundial.
Observando o cenário acima descrito, esta dissertação tem três objetivos
principais: contextualizar a incorporação da noção de responsabilidade
social pelas empresas; verificar, mais especificamente, como se dá a
prática da responsabilidade social no setor da construção civil em São
Paulo; e avaliar o grau de comprometimento do setor com o tema da
sustentabilidade que hoje se faz fortemente presente no discurso das
empresas e nos meios de comunicação com seus públicos.
Palavras Chaves: Responsabilidade Social, Sustentabilidade,
Construção Sustentável
5
ABSTRACT
In the decade of 90 to the marginal of River Pinheiros was born a new
city, taken root of technological high commercial buildings in the region of
the Av. Engenheiro Luiz Carlos Berini and Av. Faria Lima the icone a
ready city globalized for attend to that new world economic order. In this
context, that dissertation has for objectives: put into context the
incorporation of the notions of social responsibility of the companies;
verify as the social responsibility is practiced in the sector of the civil
construction in São Paulo and evaluate the rank of practical compromise
of the sector with the subject of the sustainability that today present is
done in the talk of the companies and in the media with his public.
Key worlds: Social Responsability, Sustenability, Sustenable
Building
6
SUMÁRIO
RESUMO 04
ABSTRACT 05
SIGLÁRIO 08
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO 1
A CONSTRUÇÃO DE UMA METRÓPOLE MAIS SUSTENTÁVEL
1.1 As empresas e a sustentabilidade 14
1.2 São Paulo, a construção de uma nova metrópole 15
1.3 São Paulo e a sustentabilidade 17
1.4 Os movimentos internacionais para a sustentabilidade 22
CAPÍTULO 2
OS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE
SOCIAL, E A SUA INCORPORAÇÃO NAS EMPRESAS
2.1 O que é sustentabilidade 27
2.2 O conceito de sustentabilidade e a ONU 32
2.3 O que é sustentabilidade para as empresas 37
2.4 O conceito de responsabilidade social proposto pelo Instituto Ethos
46
2.5 Indicadores de sustentabilidade e sua aplicabilidade nas
organizações 49
2.6 Pesquisas sobre aplicação de indicadores de sustentabilidade nas
empresas 54
7
CAPÍTULO 3
A CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL
3.1 A globalização e o surgimento das novas metrópoles 57
3.2 Construção sustentável: definições 65
3.3 Comportamento do mercado frente à sustentabilidade no setor
68
3.4 Articulação setorial para sustentabilidade 76
CONSIDERAÇÕES FINAIS 86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93
ANEXOS 100
8
SIGLÁRIO
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
AEM - Avaliação Ecossistêmica do Milênio.
AGENDA 21- instrumento de planejamento para a construção de
sociedades sustentáveis foi um dos principais resultados obtidos durante
a Rio 92.
ANA - Agência Nacional das Águas.
AQUA - Alta Qualidade Ambiental.
ASBEA - Associação Brasileira de Arquitetos.
CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.
CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano.
CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável.
CENU - Centro Empresarial Nações Unidas.
CO2 - Dióxido de Carbono.
COP 15 - Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.
DOF - Documento de origem florestal.
Estocolmo 72 - Primeira conferência realizada pela ONU sobre meio
ambiente.
FDC - Fundação Dom Cabral.
FGV - Fundação Getúlio Vargas.
FUMIN - Fundo Multilateral de Investimentos.
GBC BRASIL - Green Building Council.
GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas.
Green Building - Prédio Verde.
GRI - Global Reporting Initiative.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
9
ISO 2600 - Norma Internacional de Responsabilidade Social.
LEED - Leadership in Energy & Environmental Design.
MMA - Ministério do Meio Ambiente.
NBR16001 - Norma Brasileira de Responsabilidade Social.
ONG - Organização não governamental.
ONU - Organização das Nações Unidas.
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
PIB - Produto Interno Bruto.
PNRS - Política Nacional de resíduos sólidos.
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
PPCS - Plano Brasileiro de Ação para Produção e Consumo
Sustentáveis.
PROCAQUA - Programa para garantir qualidade e produtividade de
sistemas de medição individualizada de água.
PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica.
Rio 92 - Segunda conferência mundial sobre meio ambiente organizada
pela ONU - Organização das Nações Unidas.
MIT - Massachusetts Institute of Technology.
SA800 - Norma internacional de avaliação de responsabilidade social.
SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
SBCI - Sustainable Buldings and Climate Initiative.
SECOVI - Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e
Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais.
SUSHI - Sustainable Social Housing Initiative.
UNEP - United nations environment programme.
VGV - Valor Geral de Vendas.
WBCSD - World Business Council for Sustainable Development.
WWF - World Wildlife Fund.
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem três objetivos principais: contextualizar a incorporação
da noção de responsabilidade social pelas empresas; verificar como se
dá a prática da responsabilidade social no setor da construção civil em
São Paulo e avaliar o grau de comprometimento prático do setor com o
tema da sustentabilidade que se faz fortemente presente no discurso das
empresas e nos meios de comunicação com seus públicos.
Conforme os procedimentos metodológicos adotados, o primeiro passo
foi realizar uma pesquisa bibliográfica para estudar os conceitos e
noções científicas sobre os temas sustentabilidade e responsabilidade
social, bem como conhecer as ferramentas utilizadas pelas empresas
que apresentam ações práticas no sentido de aplicar os conceitos ao
setor da construção civil no Brasil.
Nesse cenário podemos destacar que o movimento da responsabilidade
social e sustentabilidade ganhou maior atenção do setor empresarial a
partir da fundação do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que
vem se consolidando cada vez mais como referência em construir
ferramentas, organizar indicadores e informações para as empresas que
buscam inserir o conceito e a prática da responsabilidade social em seus
negócios. Outros institutos e conselhos também foram pesquisados
como o CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável -,
fundado em 2008 com intuito de reunir a cadeia da construção civil no
Brasil em busca da melhoria da qualidade de vida da população
brasileira e da preservação de seu patrimônio natural.
Para o melhor entendimento da responsabilidade social no setor da
construção civil foram realizadas entrevistas com profissionais do setor
que estão em permanente envolvimento e contato com os institutos,
11
entidades e organizações representativas que têm discutido o tema da
sustentabilidade no Brasil e que hoje têm se destacado por adotarem
práticas sustentáveis em seus negócios.
Perfil dos Entrevistados
· Luiz Henrique Ceotto - Graduado em Engenharia Civil pela
Universidade de Brasília. Mestrado em Engenharia de Estruturas
pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP, Diretor de
Design e Construction da Tishman Speyer Properties. Membro do
Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon-SP. Membro do
Conselho Consultivo da revista Construção (Editora Pini).
Professor convidado do curso de Mestrado Profissional em
Engenharia de Edificações da Escola Politécnica da USP.
· Marcelo Vespoli Takaoka - Doutor em Engenharia Civil pela
Escola Politécnica - USP - e Pesquisador do Núcleo de Real
Estate. Membro do conselho de administração da Bolsa de
Valores Sociais e Ambientais. Presidente do Conselho
Deliberativo do CBCS - Conselho Brasileiro de Construção
Sustentável do Greenpeace no Brasil e do conselho do Ethos.
Diretor da Takaoka S.A e empresário do setor de negócios
imobiliários.
· Marcus Nakagawa - Assessor de sustentabilidade da Philips,
graduado em marketing e propaganda e pós-graduado em Gestão
de Negócios. Mentor da futura Associação dos Profissionais de
Sustentabilidade e Responsabilidade Social no Brasil.
· Paulo Itacarambi - Engenheiro civil, com mestrado em
administração pública e especialização em planejamento
estratégico e coaching organizacional. Atual Diretor Executivo do
12
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Atuou
como professor universitário na UFSCAR – Universidade Federal
de São Carlos. Consultor em planejamento e administração.
Diretor de empresa da consultoria Oficina Consultores Ltda.
Presidente do Conselho de Administração e diretor-presidente da
empresa pública Anhembi Turismo e Eventos da Cidade São
Paulo. Foi fundador e conselheiro da ONG Instituto Polis.
Essa dissertação está dividida em 03 capítulos, descritos a seguir:
O capítulo 1 apresenta a justificativa para a pesquisa, seus objetivos e a
metodologia adotada para sua elaboração.
O capítulo 2 discorre sobre o tema da responsabilidade social no Brasil,
o seu desenvolvimento; os métodos utilizados pelas empresas; o
surgimento de indicadores e normas como a ISO 26000; além de
apresentar o conceito de sustentabilidade corporativa como uma
tendência para inovação nas empresas.
O capítulo 3 apresenta o contexto atual da construção civil em São
Paulo, as interconexões com o tema da responsabilidade social, a partir
do boom imobiliário na década de 90 e a preocupação com as questões
climáticas como fatores que impulsionaram o setor à adesão aos
chamados green buldings (prédios verdes).
O conceito de construção sustentável também foi explorado como um
indutor de mudanças significativas neste setor que está entre as maiores
fontes de acumulação de riquezas no mundo e que também é um dos
responsáveis pela emissão dos gases do efeito estufa que, por sua vez,
têm sido apontados por especialistas como os maiores causadores das
transformações climáticas existentes. Outro aspecto observado nesse
13
capítulo refere-se à articulação setorial formada por entidades, ONGs e
empresas em prol da sustentabilidade.
Por fim, nas considerações finais apresentaremos as conclusões da
pesquisa e algumas sugestões e recomendações para a realização de
outras pesquisas sobre o tema.
14
CAPÍTULO 1
A CONSTRUÇÃO DE UMA METRÓPOLE MAIS
SUSTENTÁVEL
1.1. As empresas e a sustentabilidade
Muito tem se falado de empresas sustentáveis ou de empresas que
estão nos caminhos da sustentabilidade, mas, na verdade, o que está
subjacente a esses discursos, que não raro se constatam tão esvaziados
das práticas a que se propõem e tão distantes do nosso contexto social
atual?
As empresas do século XXI estão à frente de um grande desafio: o de
produzir bens e serviços para atender a chamada “economia de baixo
carbono”, ou seja, reduzir ao mínimo o uso de materiais e energia por
unidade de produto produzido, preservando os serviços ecossistêmicos
básicos como o fornecimento de água e outros recursos naturais que a
terra proporciona à sociedade, com condições de prover equidade e
qualidade de vida, ambas necessárias à sobrevivência e manutenção da
própria espécie.
Iniciativas do governo brasileiro, como a nova política nacional de
resíduos sólidos sancionada no dia 2 de Agosto de 2010 pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, além de obrigar o fim progressivo dos lixões em
todos os municípios do país, transformando-os em aterros sanitários
controlados para garantir a não contaminação do solo, e obrigar a
reciclagem e a não proliferação de gases danosos ao meio, cria também,
entre outras garantias, a “logística reversa”, que é aquela que determina
que a responsabilidade dos resíduos seja dos fabricantes, importadores,
distribuidores e vendedores. Assim, estes ficam responsáveis
15
por recolher, depois de usados pelo consumidor final: agrotóxicos e seus
resíduos; embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes,
lâmpadas fluorescentes; produtos eletrônicos e seus componentes.
A lei estabelece prazos para que as empresas implantem a nova conduta
e informem o consumidor sobre o recolhimento dos produtos usados.
Entre outros termos, a lei também obriga as instituições a comprovarem
a destinação ambientalmente correta desses resíduos. O não
cumprimento da norma é considerado crime ambiental, que prevê pena
de até cinco anos de reclusão além de multa.
No setor da construção civil podemos destacar o papel das empresas de
incorporação imobiliária, pois elas são responsáveis por criar condições
de infraestrutura, lazer, comércio, abrigo e conforto para a vida das
pessoas nas metrópoles.
Dessa maneira, foram tomados como empréstimo os conceitos
formulados no âmbito das ciências sociais, mais especificamente da
sociologia e da antropologia para buscar desvendar como estão sendo
desenvolvidos os diversos aspectos da responsabilidade social no Setor
da Construção Civil em São Paulo, no corredor sudoeste, segundo o
nosso recorte, já que foi nesse contexto que surgiu o primeiro
empreendimento certificado Green Building do país.
1.2. São Paulo, a construção de uma nova metrópole
Na década de 30 a empresa Light & Power foi responsável por
transformar o Rio Pinheiros em um rio retilíneo, eliminando áreas de
várzeas e drenando outras áreas, de forma que ali se origina uma das
Avenidas que viria a ser uma das mais valorizadas da cidade por se
transformar no novo pólo empresarial de São Paulo: a Av. Engenheiro
16
Luiz Carlos Berrini. O Rio Pinheiros é margeado pela via expressa
Marginal Pinheiros que juntamente com a Marginal do Tietê compõem o
principal sistema viário da cidade de São Paulo.
A Cia. City, empresa do setor imobiliário nessa época, era responsável
pela maior parte dos loteamentos da região da Paulista e da Marginal do
Rio Pinheiros. Considerado um exemplo de articulação imobiliária e de
inovação na proposta de serviços de infraestrutura, o modelo de gestão
da empresa acabou atraindo investimentos estrangeiros e,
consequentemente, esses loteamentos residenciais logo se tornaram os
mais valorizados da cidade.
O processo de remodelação urbana envolve, atualmente, importantes
parcerias público-privadas com o objetivo de requalificar certas áreas por
meio de processos sociais e políticos de intervenção territorial, e de
aumentar a qualidade de vida da população, bem como a criação de
novas centralidades (BÓGUS e PESSOA, 2008).
Dessa maneira, na década de 90, às margens do Rio Pinheiros, crescia
uma parte nova da cidade de São Paulo. Formada por prédios
comerciais construídos com aparatos tecnológicos altamente
sofisticados, a região das Avenidas Engenheiro Luiz Carlos Berini e
Nova Faria Lima passou a simbolizar o nascimento de uma cidade
globalizada pronta para atender à nova ordem econômica mundial.
Esse processo foi decorrente do rearranjo da economia mundial e
concretizou-se através das Operações Urbanas Consorciadas Faria Lima
e Água Espraiada; uma iniciativa que resultou em duas leis: de 1995 a
Lei 11.732 e de 2001, a Lei 13.260. Ambas tiveram por objetivo
reestruturar o setor da região sudoeste da cidade e criar um espaço
renovado com mais qualidade de vida, através do ordenamento territorial
17
e da regulamentação e controle da ação do mercado imobiliário.
(BÓGUS e PESSOA, 2008).
São Paulo hoje é uma das 27 unidades federativas do Brasil cujo Estado
está localizado na região Sudeste e tem como limites os Estados de
Minas Gerais (N e NE), Rio de Janeiro (NE), oceano Atlântico (L),
Paraná (S) e Mato Grosso do Sul (O). Ocupa uma área de 248.808,8
quilômetros quadrados e atualmente possui 645 municípios, 41.252.160
habitantes, sendo que, deste total, 39.552.234 são contabilizados como
população urbana.
A frota de veículos do tipo automóvel totalizou, em 2009, 12.536.176
veículos. Na capital, segundo os primeiros resultados do Censo 2010, a
cidade tem um total 11.244.369 pessoas residentes, das quais 7.953.144
são eleitores ativos.
O PIB, Produto Interno Bruto dos Municípios, em 2008, chegou a R$
32.493,96, e a cidade é reconhecida internacionalmente como motor da
economia do país. Atualmente a capital paulistana representa 31% do
PIB do Brasil. Estes resultados, em termos de desenvolvimento
econômico e expansão populacional, surgem em função da melhoria em
infraestrutura, mão de obra qualificada, fabricação de produtos de alta
tecnologia, e por concentrar o maior parque industrial e apresentar maior
produção econômica do Brasil.
1.3. São Paulo e a sustentabilidade
Atualmente, 75% da população brasileira vivem nas cidades, sendo que
boa parte dessa porcentagem está nas áreas metropolitanas que
apresentam as seguintes características em comum: altíssimas taxas de
consumo de água, energia, bens e serviços ambientais.
18
Para Ignacy Sachs (2009), toda cidade é um ecossistema, portanto,
dispõe de um potencial de recursos desperdiçados, mal utilizados,
latentes, mas que seria preciso valorizar e reverter em benefício das
populações. Segundo o autor, a questão urbana não pode ser separada
do ordenamento do território e com isso deveriam ser pensadas soluções
para as cidades, por exemplo, com relação às questões ambientais, uma
boa pergunta seria: como diminuir ou minimizar desperdícios de energia?
Segundo o IBGE, apenas 17% dos 900 municípios brasileiros possuem
coleta seletiva; pouco mais de 40% possuem aterro sanitário e somente
11% dos lares brasileiros costumam separar lixo doméstico.
Como a maior parte das metrópoles mundiais, São Paulo hoje também
tem enfrentado grandes problemas relacionados ao seu crescimento e
desenvolvimento e consequentemente tem piorado a qualidade de vida
das pessoas que vivem nas grandes cidades. Em pesquisa realizada
pelo Movimento Nossa São Paulo, em 2010, a população de São Paulo
se diz insatisfeita com o bem-estar na cidade: numa escala de 1 a 10, os
paulistanos avaliam sua qualidade de vida com uma média de 4,8.
Aspectos como segurança, medo de alagamentos, trânsito, assaltos e
roubos estão entre os principais fatores que contribuíram para que a
população se declarasse insatisfeita com a qualidade de vida na cidade.
A frota de automóveis na cidade hoje está próxima de 13 milhões de
veículos e este é um exemplo de como o fenômeno do consumo, e do
individualismo, tem contribuído para piorar aspectos de mobilidade
urbana, qualidade do ar e com isso piorado a qualidade de vida das
pessoas que vivem em São Paulo.
19
Segundo Professor Ricardo Abramovay, em entrevista ao Jornal IHU1
on line, o padrão de consumo no Brasil é um dos elementos indutores da
forma de vida insustentável, como na cidade de São Paulo:
Quem mora em São Paulo percebe que a aspiração e o verdadeiro culto à propriedade de um automóvel individual, sua transformação não numa utilidade, mas num valor é apenas um exemplo de que aumento da renda não conduz necessariamente a aumento do bem-estar. Isso não significa que a renda dos mais pobres deva parar de crescer, é claro. Significa que os padrões de consumo atuais estão concentrados em produtos alimentares de má qualidade, num padrão de mobilidade urbana insustentável e em formas de moradia apoiadas em imenso desperdício, devem ser discutidos e modificados. O Plano Brasileiro de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis – PPCS, atualmente em consulta pública, é um avanço importante nesta direção.
Nesse sentido, pode-se perceber que o processo de ordenação territorial
e a nova centralidade constituída em São Paulo na região sudoeste da
cidade, influenciada pelo crescimento econômico, pelo consumismo e o
fenômeno de individualização tem piorado a qualidade de vida das
pessoas que vivem na cidade, ao contrário do que havia sido previsto, ou
pelo menos desejado, com a requalificação urbana na região.
O fenômeno da individualização refere-se ao fato de que as pessoas
estão cada vez mais presas ao consumo e à competição global.
Bauman (2008), um teórico da pós-modernidade, apontou a
intensificação do consumo como uma das consequências do fenômeno
de individualização que o homem pós-moderno vivencia:
(...) a instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, assim como a resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, de seus objetos, harmonizam-se bem com a nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e
1 Conferir: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3654&secao=351
20
tendem a ser conduzidas no futuro previsível. Um ambiente líquido-moderno é inóspito ao planejamento, investimento e armazenamento de longo prazo. (BAUMAN, 2008: 45).
O autor sugere que este ambiente “líquido-moderno” favorece o
fenômeno de “individualização” como consequência da fragmentação e
enfraquecimento dos vínculos humanos. A norma hoje em dia é: para ser
é preciso ter.
A sociedade, dessa forma, vai se organizando para trabalhar e consumir
serviços do tipo “faça você mesmo” de maneira individual, e se organiza
em seu novo habitat em torno dos shoppings centers, das ruas
especializadas em comércio e serviços acessíveis para as chamadas
elites que, nas metrópoles, geralmente têm localização privilegiada a
serviços e à infraestrutura que as chamadas classes mais populares, ou
as que ficam nas periferias, não têm. Daí a relevância de contextualizar o
setor da construção civil, uma vez que este setor é o responsável pelos
projetos e construção deste aparato necessário para a organização da
sociedade em seu habitat.
Os indivíduos, cada vez mais, buscam fazer parte de uma rede de
relações que lhes proporcione a satisfação das suas necessidades, o
que provoca um distanciamento e um isolamento em função da
realização pessoal, e de seu crescimento individual. Assim, Bauman
apresenta o “consumismo” como um tipo de arranjo social resultante da
reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, que
impulsiona e coordena a estratificação social, definindo grupos e
políticas de vida individuais.
No Brasil, e mesmo em outros países latino-americanos, a segurança é
apontada como o principal motivo para a escolha da moradia em áreas
21
residenciais fechadas2. “Poderíamos supor que esse seria um padrão
residencial das classes altas em países com grandes desigualdades sociais.”
(Pasternak, Suzana 2009: 83).
Bauman (2008) comenta o estudo de Caldeira sobre São Paulo: “A nova
estética da segurança decide a forma de cada tipo de construção, impondo
uma lógica fundada na vigilância e na distância” (BAUMAN, 2008:38).
Presume-se que as comunidades fechadas sejam mundos separados.
“As mensagens publicitárias acenam com a promessa de viver plenamente
como uma alternativa à qualidade de vida que a cidade e seu deteriorado
espaço público possam oferecer”. (CALDEIRA, 2009: 39).
O setor da construção civil também vai se organizando para o
desenvolvimento de metrópoles que proporcionem aos seus habitantes,
principalmente os das chamadas elites sociais, acesso à infraestrutura
privilegiada, reafirmando o fenômeno de individualização social.
As metrópoles acabam sendo construídas para o isolamento e novas
formas de sociabilidade se estabelecem a partir das necessidades e
desejos individuais. Nesse novo cenário aparecem os chamados
“condomínios fechados” que propõem aos seus moradores, por meio das
mensagens publicitárias, uma nova forma de viver com segurança,
conforto e tranquilidade.
É a partir do surgimento das novas cidades que a economia favorece a
maior parte dos nodos das empresas em rede e globalizadas localizadas
nas chamadas AMPs - Áreas Metropolitanas Principais -, o que provocou
mudanças estruturais e um novo tipo de cidade.
2 Loteamentos fechados são parcelamentos comuns, de lotes, com cercas ou muros que impedem a circulação pública nessas áreas. Já condomínios fechados são parcelamentos fechados que incluem a construção das residências e outros edifícios coletivos na sua implantação. As vias e áreas comuns dos loteamentos fechados são, na verdade, públicas. Já as vias e áreas coletivas dos condomínios são realmente privadas e de uso coletivo exclusivo dos condomínios (como acontece em um condomínio vertical). (BÓGUS e PASTERNAK, 2009: 83).
22
De acordo com Mattos (2004), “Houve uma mudança no enfoque na gestão
urbana: Por um lado maior polarização e segregação social e, por outro lado,
forte expansão dilatação metropolitana com tendências a suburbanização,
pluriurbanização e policentrismo”. (MATTOS, 2004: 160).
No setor da construção civil, em especial, a especulação imobiliária é um
dos agentes indutores da concepção espacial das cidades nas quais os
indivíduos vão se organizando de forma segregada estabelecendo novas
formas de sociabilidade, de acordo com a infraestrutura e acessos
propostos pelo esquema da globalização.
1.4. Os movimentos internacionais para a sustentabilidade
Alguns conceitos são fundamentais para a construção do nosso objeto
de pesquisa. Entre eles, o de sustentabilidade ocupa primeiro plano.
Segundo o Relatório de Brundtland (1987), sustentabilidade é o mesmo
que "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das
gerações futuras de suprir as suas". (BRUNDTLAND, 1987).
Este conceito demorou algum tempo para chegar a essa formulação e
passou a ser mais fortemente difundido pela ONU em 1987. Ignacy
Sachs, economista que trabalhou na organização da primeira
conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, a Estocolmo-
72, realizada na Suécia, e na Cúpula da Terra, a inesquecível Rio-92, foi
quem ajudou no início dos anos 70 a definir o conceito de
“ecodesenvolvimento” que, mais tarde, passou a ser chamado de
“desenvolvimento sustentável”, um termo adaptado pela Agenda 21,
programa das Nações Unidas. Hoje, este termo "desenvolvimento
sustentável" é amplamente utilizado para todas as atividades humanas
que visam à sustentabilidade.
23
Segundo o autor “um desenvolvimento é a universalização efetiva do conjunto dos direitos humanos, por direitos humanos, não só os direitos cívicos, mas direitos econômicos, culturais, sociais e todo conjunto de direitos coletivos." (SACHS, 2006)3.
Sachs propõe que o desenvolvimento sustentável deva ser
socialmente includente, ou seja, busque acabar com a exclusão social e
distribuir riquezas de forma equânime, além de conservar e garantir que
os recursos naturais estejam disponíveis para esta e para as futuras
gerações. Para Sachs os objetivos do desenvolvimento são sempre
sociais, há uma condicionalidade ambiental que é preciso considerar
para que as soluções pensadas sejam economicamente viáveis. Foi a
partir dessa discussão durante a Conferência de Estocolmo em 1972 que
a ONU decidiu criar o PNUMA - Programa Nacional das Nações Unidas
para o Meio Ambiente - colocando a temática ambiental na ordem do dia
para discussão da comunidade internacional.
No contexto mundial, o setor da construção civil também tem se
movimentado na direção das construções sustentáveis com objetivo de
minimizar os impactos causados por suas atividades no meio ambiente e
na sociedade, pois, acredita-se que este setor seja um dos grandes
responsáveis pelas mudanças no clima já que gera resíduos diversos e
emite toneladas dos gases causadores do efeito estufa, além de
consumir uma enorme quantidade de recursos naturais disponíveis na
terra.
Construção Sustentável é qualquer empreendimento - edificação - que
consiga atender de forma equilibrada os seguintes princípios: adequação
ambiental, viabilidade econômica, justiça social e aceitação cultural.
O Setor da Construção Civil no Brasil hoje é responsável por gerar
aproximadamente 7,3% de empregos formais segundo os dados do
3 Conferir: http://www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.asp?materiaid=516).
24
IBGE, e é dos setores mais impactantes para a nossa base econômica.
Por outro lado é o responsável por 40% das emissões de gases
causadores do efeito estufa no mundo o que propõe que a
sustentabilidade seja um fator estratégico e de sobrevivência para o
setor.
A ONU através do SBCI - Sustainable Buldings and Climate Initiative,
uma iniciativa coordenada pelo Programa Ambiental das Nações Unidas
(UNEP) propõe impulsionar a indústria da construção civil e governos no
desenvolvimento e implantação de políticas, estratégias e práticas mais
limpas para fazer o uso eficiente dos recursos naturais. Segundo o SBCI,
o ambiente construído é globalmente responsável por cerca de 40% das
emissões globais de CO2, desta forma ressalta-se a importância de
incluir, nos trabalhos realizados no âmbito dos mecanismos
internacionais que visam enfrentar as alterações climáticas, a discussão
de ações que a cadeia produtiva da construção civil deve tomar no
sentido de minimizar as emissões de CO2 e de adaptar o ambiente
construído aos efeitos das mudanças no clima.
Foi na região da Av. Faria Lima e da Av. Engenheiro Luiz Carlos Berrini,
em São Paulo, em que apareceram os primeiros empreendimentos
verdes do país. Estes empreendimentos receberam certificação LEED -
Leadership in Energy and Environmental Design, que significa “liderança
ambiental e energética em projetos”. A certificação LEED é uma
metodologia que faz a avaliação de empreendimentos em relação à
sustentabilidade através da incorporação de materiais mais sustentáveis,
do uso mais racional de recursos naturais como água e energia. Esse
sistema de certificação foi o primeiro a chegar ao Brasil e hoje se
encontra em 5º lugar no ranking mundial da construção sustentável,
atrás dos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Canadá e China.
Em 2009, o Brasil era o 6º colocado nesse ranking. Hoje são mais de 23
empreendimentos certificados.
25
Segundo dados disponíveis no site do GBC Brasil - Green Building
Council Brasil, esse Conselho foi criado em março de 2007 como uma
organização não governamental para auxiliar no desenvolvimento da
indústria da construção sustentável no País, utilizando as forças de
mercado para conduzir a adoção de práticas de Green Building em um
processo integrado de concepção, construção e operação de edificações
e espaços construídos. O GBC Brasil é um dos 21 membros do World
Green Building Council, uma entidade supranacional que regula e
incentiva a criação de Conselhos Nacionais como forma de promover
mundialmente tecnologias, iniciativas e operações sustentáveis na
construção civil.
A maior conscientização das corporações brasileiras em torno de temas
socioambientais está em consonância com o que acontece no exterior.
Além do movimento por construções sustentáveis, outro conceito
também aparece na pauta das discussões internacionais sobre cidades o
termo “Cidades Sustentáveis”. Em 27 de maio de 1994, foi realizada em
Aalborg, Dinamarca, a Conferência Européia sobre Cidades
Sustentáveis, ocasião em que foi apresentada a “Carta das Cidades
Européias para a Sustentabilidade”, um dos movimentos mais
significativos no campo e que também inspirou o movimento Brasileiro
por cidades mais justas e sustentáveis.
O documento é divido em 03 partes e reconhece que as cidades
desempenham um papel essencial no processo evolutivo dos hábitos de
vida, da produção, do consumo e das estruturas ambientais. Dessa
maneira, as cidades signatárias deste documento se comprometem a
participar na campanha das cidades européias sustentáveis, fazendo
todos os esforços para atingir um consenso nas comunidades locais com
26
relação aos Planos de Ação Local para a sustentabilidade da Agenda 21
até 1996.
No Brasil, foi criada em 2010 a Plataforma Cidades Sustentáveis, uma
parceria entre a Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, a
Rede Nossa São Paulo e a Fundação Avina. Essa Plataforma tem por
objetivo compartilhar, através de um banco de práticas e experiências
bem sucedidas em todo o mundo, as ações de gestores públicos,
empresas e outras instituições que buscam a sustentabilidade em suas
atividades.
27
CAPÍTULO 2
OS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE E
RESPONSABILIDADE SOCIAL, E A SUA INCORPORAÇÃO
NAS EMPRESAS
2.1. O que é sustentabilidade
O tema sustentabilidade sugere uma quebra de paradigmas, uma
reinvenção, ou seja, um processo de inovação em diversos campos e
setores.
Giddens (2010) definiu o termo “desenvolvimento sustentável” em dois
componentes separados: sustentabilidade e desenvolvimento.
Para o autor, sustentabilidade é uma idéia útil apesar de escorregadia
uma vez que diz respeito a um futuro indefinido, já que não sabemos
quais mudanças tecnológicas ocorrerão, fica difícil conseguirmos nos
apoiar nas avaliações sobre os limites de recursos naturais disponíveis
na terra, pois, questões como essas costumam ficar sob um ponto de
interrogação. Além disso, é possível dar substância a este termo de
várias maneiras.
Por exemplo, o Fórum Econômico Mundial elaborou o Índice de Sustentabilidade Ambiental que foi aplicado em 100 países. A sustentabilidade ambiental é definida em termos de cinco elementos:
1. O estado de sistemas ecológico como ar, o solo e a água. 2. As pressões a que esses sistemas estão sujeitos, inclusive seus níveis de poluição. 3. O impacto dessas pressões na sociedade humana, medido em termos de fatores como disponibilidade de alimentos e a exploração a doenças.
28
4. A capacidade social e institucional de a sociedade lidar com riscos ambientais. 5. A capacidade de criar uma supervisão de bens públicos globais, especialmente a atmosfera. (GIDDENS, 2010: 90).
Já o termo “desenvolvimento”, para Giddens, vem sendo considerado
simplesmente sob o ponto de vista do crescimento econômico medido
pelo PIB - Produto Interno Bruto - ou em referência a processos
econômicos que tiram as pessoas da pobreza, e é neste sentido que
constatamos os países em desenvolvimento com os desenvolvidos pois
os em desenvolvimento o crescimento nunca cessam e haverá trajetórias
separadas de desenvolvimento no mundo , pelo menos até que os
países mais pobres atinjam um certo padrão de riqueza (GIDDENS, 2010:
91).
Giddens mostra também que a questão das mudanças climáticas4 é
política e que será necessário um acordo entre os governos para superar
as problemáticas relativas ao tema. Além disso, o autor acredita na
inovação tecnológica e na busca de tecnologias sustentáveis para
mitigar as causas do aquecimento global e transformar nossa economia
em uma economia de baixo carbono.
Michel Serres (2003: 83) aposta na inventividade: é preciso exercitar a
criatividade e se não se consegue, não se vai reinventar a universalidade
do homem. A sustentabilidade nos sugere uma nova forma de pensar e
agir, assim como acredita Serres: o processo da Hominescência,
4 Mudança(s) climática(s) – acordo firmado no âmbito de Acordos Ambientais Multilaterais, sob o patrocínio do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Conhecido como Protocolo de Quioto, em 1997, com o propósito de reduzir as emissões de CO2, entre os anos 2008-2012, correspondente a 5-7% abaixo dos níveis registrados em 1990. Após ratificação pela Rússia, em 2005, o Protocolo de Quioto entrou em vigor, apesar de ceticismos sobre a efetividade, pela negativa de confirmação pelos EUA e países seguidores da política norte-americana. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) define a mudança climática como uma variação estatisticamente significante em um parâmetro climático médio ou sua variabilidade, persistindo um período extenso (tipicamente décadas ou por mais tempo). João Salvador Furtado, Termos e Conceitos Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável (2010). Acessado 29/11/10 em www.intertox.com.br.
29
segundo o qual se pode construir uma nova humanidade capaz de
religar cultura, ciência e filosofia, se inicia por meio da ruptura com o
modelo cartesiano, ocidental e tradicional que colocava cada um no seu
lugar dentro das empresas.
Serres (2003) mostra como o pensamento ocidental acabou
transformando o mundo. Hoje, a sociedade não vive da mesma maneira,
houve uma ruptura com as tradições e a forma como os homens viviam
antes da Revolução Industrial. A família também mudou, deixando de ser
produtora para ser consumidora de bens e serviços.
O ocidente acabou por transformar o mundo. A Terra, no sentido do planeta fotografado em sua globalidade pelos cosmonautas, tomou o lugar da terra, como a gleba cotidianamente trabalhada. Essa figura separou no final do último século de todo o tempo passado desde o neolítico, já transformou nossos relacionamentos com a fauna e a flora, com a duração das estações, o tempo que passou, com o tempo que faz, com as intempéries, com espaços e lugares, com o habitat e nossos deslocamentos. Essa fissura também transformou os relacionamentos sociais; coletivamente não vivemos mais da mesma maneira, desde o desaparecimento do cordão nutri mental comum ao campo, às propriedades, à vegetação e aos animais, à ocupação dos territórios, à sua defesa e à guerra; nem sequer morremos mais da mesma maneira, pois, por falta de espaço nas cidades, preferimos incinerar nossos mortos a enterrá-los sob o suor de nosso trabalho”, Serres, (SERRES, 2003: 83).
Talvez, essa ruptura com o modelo ocidental cartesiano que costuma
separar cultura, indivíduo e sociedade seja o grande paradigma da
ciência contemporânea que busca sair do velho paradigma do homem
como centro do universo para o homem que está integrado ao todo.
“Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-
lo dele.” (MORIN, 2000: 47).
30
Morin (2007) aponta a ética5 como um processo de religação entre
indivíduo, espécie e sociedade, sendo necessários o autoconhecimento
e a reflexão para se obtê-la.
Alguns dos questionamentos propostos por Morin estão relacionados a
essa dificuldade que o homem tem de ativar a religação, pois o
pensamento atual não é sistêmico, mas compartimentado, fragmentado,
mantendo-se, dessa forma, incapacitado de ver o todo e, sendo assim,
incapaz de religar-se ao todo. Essas limitações levam às
irresponsabilidades e à falta de solidariedade que caracteriza os
humanos como seres mais individualistas do que altruístas.
Todo conhecimento (e consciência) que não pode conceber a individualidade e a subjetividade, nem incluir o observador na sua observação, não tem forças para pensar todos os problemas, sobretudo, os problemas Éticos. Pode ser eficaz para a dominação dos objetos materiais, o controle das energias e a manipulação dos seres vivos. Mas se tornou míope para captar as realidades humanas, convertendo-se numa ameaça para o futuro humano. (MORIN, 2007: 62).
Sob este pano de fundo, pode-se perceber que Morin e Serres, teóricos
do pensamento sistêmico, já apontam a necessidade que o tem homem
de se religar, se reconectar com a sociedade, como meio natural, e
consigo mesmo, para compreender que essas atitudes individualistas
não o levarão às atitudes éticas capazes de pensar sistemicamente o
quanto tais atitudes poderão impactar os mecanismos de solidariedade
de uma dada sociedade.
5 Ética: avaliação das ações humanas com o propósito de entender o certo e o errado; código de conduta e de padrões de igualdade e responsabilidade a todos os membros da comunidade ou sociedade. Quando aplicável à sustentabilidade, ética representa o código de conduta nas relações econômicas e comportamentais das pessoas e das organizações em relação aos princípios fundamentais de justiça ambiental e social. João Salvador Furtado, Termos e Conceitos Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável (2010). Acessado 29/11/10 em www.intertox.com.br.
31
O paradigma sistêmico, portanto, aponta para um rompimento do
pensamento tradicional, pois mostra que existem outras possibilidades,
outras formas de expressão de sentimentos que não sejam
simplesmente através do consumo de bens e serviços. Talvez essa
possibilidade ocorra porque antes de consumir o indivíduo que pensa de
forma sistêmica consiga enxergar que a ação de consumo terá outros
impactos na sociedade como, por exemplo, a geração de lixo.
O difícil não é pensar indivíduo, espécie e sociedade, mas sim as
atitudes éticas que as reflexões de Morin e de Serres propõem: pensar o
passado vivendo o presente e olhar para o futuro tendo em conta que
nossas ações provocam impactos sobre a vida do outro e, logo, da
sociedade.
Sachs e Giddens, por sua vez, apontam que os conceitos de
sustentabilidade e desenvolvimento devem ser levados às empresas
como uma proposta de inovação em busca de uma economia com
emissões de baixo carbono, desde que os aspectos sociais sejam
includentes e intrínsecos aos acordos internacionais de cooperação para
cortes nas emissões de gases causadores do efeito estufa. Os autores
apostam no desenvolvimento de novas tecnologias mais sustentáveis
capazes de atender às necessidades emergentes de desenvolvimento
com ênfase na sustentabilidade.
Nesse sentido, as empresas têm buscado inserir o tema da
sustentabilidade em seus negócios por uma questão de sobrevivência e
perenidade. No contexto empresarial a sustentabilidade deveria ser mais
que uma propaganda verde, uma linha de produtos, um trabalho
filantrópico ou um gesto como plantar árvores para salvar o planeta, e
deveria ser uma estratégia de gestão com ênfase nos aspectos sociais,
econômicos, ambientais e culturais.
32
2.2. O conceito de sustentabilidade e a ONU - Organização das
Nações Unidas
Os dados apresentados por Brundtland influenciaram a 1ª Conferência
das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento, realizada
no Rio de Janeiro em 1992. Nesse momento, o conceito de
sustentabilidade ganhou relevância no Brasil e no mundo e, a partir daí,
a ONU começou a difundir as metas do milênio, ou Agenda 21.
A Agenda 21 é um documento que retrata um plano de ação global
assinado entre 178 países e tem como objetivo difundir o
desenvolvimento primando por temas como: a erradicação da pobreza,
fome e analfabetismo, igualdade de gênero e sustentabilidade ambiental,
temas entendidos como componentes chaves do conceito de
desenvolvimento humano sustentável, e que podem conduzir à melhoria
das condições de vida de todos os seres humanos no planeta.
Esse alerta geral sobre a questão ambiental iniciada a partir de 1987
colocou em cheque a forma de se fazer negócios no mundo. A temática
da sustentabilidade passou a influenciar políticas e governos para um
futuro mais próspero.
O relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), publicado em
1987, alertou o mundo em relação ao crescimento demográfico, ao
esgotamento de recursos naturais e às altas concentrações de gases
causadores do efeito estufa que aumentavam a temperatura da terra
influenciando no clima do planeta.
Em 1997 foi instituído o Protocolo de Kyoto, e países industrializados se
comprometeram em reduzir em pelo menos 5% as suas emissões de
CO2 até 2012, entretanto, os relatos têm demonstrado que o
envolvimento tem sido superficial.
33
Em 2000, Kofi Annan, secretário geral da Organização das Nações
Unidas, apresentou o maior relatório do estado do uso da natureza pelos
seres humanos à Assembleia geral e, a partir daí, foi elaborada a
Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM) com enfoque nas questões
ambientais, clima, biodiversidade, desertificação e áreas úmidas, com
objetivo de apresentar informações para as empresas, os governos e a
sociedade civil permitindo a tomada de decisões em função de um futuro
mais sustentável.
Figura 1. – Serviços que a natureza presta ao homem
Fonte: Avaliação Ecossistêmica do Milênio. Ecossistemas e bem-estar humano:
Vivendo além dos nossos meios. Apud ALMEIDA, 2007: 14.
Os efeitos das mudanças climáticas no mundo têm provocado
catástrofes ambientais. Pela primeira vez no Brasil foi constatada a
presença de um Furacão, denominado “Catarina”, em março de 2004.
No ano seguinte, passou o Katrina, o furacão que devastou New Orleans
pouco depois da divulgação de uma pesquisa realizada pelo
Massachussets Institute Technology (MIT) que constatou que o
34
aquecimento global está tornando os furacões mais poderosos e
destrutivos.
O que todos os gases estufa têm em comum é que eles permitem a entrada de luz solar na atmosfera, mas absorvem parte da radiação infravermelha que deveria sair do planeta. Com isso, o planeta aquece. O CO2, em geral, é considerado o principal culpado, pois responde por 80% do total das emissões de gases estufa. Quando queimamos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão), seja em casa, nos carros, fábricas ou usinas elétricas, quando cortamos ou queimamos florestas, ou ainda quando produzimos cimento, liberamos CO2, na atmosfera. (GORE, 2006: 28).
É importante salientar que existem outros gases causadores do efeito
estufa como o metano e o óxido de nitrogênio, que já existiam na terra
antes da presença do homem, mas que aumentaram muito em função
das atividades humanas.
Em 2006, foi lançado no Brasil o filme “Uma Verdade Inconveniente”, de
Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e atualmente diretor da
Current TV, uma rede de televisão independente dedicada à não-ficção e
voltada para jovens. Durante a sua trajetória política Al Gore, hoje
considerado um ambientalista, se dedicou às causas ambientais e usou
sua influência nos governos em que atuou para ajudar a reverter
negociações que priorizavam questões como o aquecimento global e as
mudanças climáticas. Al Gore conseguiu, através deste filme, colocar
essas questões em discussão no mundo, fazendo uma conexão com as
realidades do desgelo do Polo Ártico, a desertificação da Patagônia, os
alagamento e destruição por enchentes, entre outros.
Neste mesmo ano, o economista do Banco Mundial o Sir. Nicholas Stern
apresentou um relatório conhecido com relatório Stern, cuja proposta é
apontar as estimativas de riscos inerentes ao aquecimento global do
planeta. As conclusões mais relevantes apresentadas dizem respeito aos
impactos causados na sociedade como possíveis conflitos em função da
35
falta de água e crise na produção de alimentos. Portanto, será
necessário parar com a devastação das florestas e limpar a energia a ser
consumida no planeta, pois estes dois fatores têm aumentado
significativamente as emissões de carbono e causado cada vez mais
catástrofes ambientais irreversíveis (Sumário com as conclusões está no
Anexo B6).
Em 2009, a tão esperada COP 15, ou a 15ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima causou frustração aos ambientalistas,
aos governos e à sociedade, pois foi encerrada sem um acordo
multilateral entre as nações, sem metas estipuladas para a redução dos
gases do efeito estufa.
Em 2010, o governo federal e o então Ministro do Meio Ambiente, Carlos
Minc, declararam que os valores dos investimentos direcionados para os
países em desenvolvimento são insuficientes para que o Brasil, por
exemplo, atinja sua meta voluntária de reduzir em até 39% suas
emissões até 2020.
Os principais pontos do Acordo de Copenhague7 são:
· O acordo é de caráter não vinculativo, mas uma proposta adjunta
ao acordo pede para que seja fixado um acordo legalmente vinculante
até o fim do próximo ano.
· Considera o aumento limite de temperatura de dois graus Celsius,
porém não especifica qual deve ser o corte de emissões necessário para
alcançar essa meta.
6 O Relatório Stern está disponível na internet: http://www.hm-treasury.gov.uk/sternreview_index.htm (Acessado em 16/04/10). 7 Conferir: http://www.cop15brazil.gov.br/pt-BR/?page=noticias/acordo-de-copenhague
36
· Estabelece uma contribuição anual de US$ 10 bilhões entre 2010
e 2012 para que os países mais vulneráveis façam frente aos efeitos da
mudança climática, e US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para a
mitigação e adaptação. Parte do dinheiro, US$ 25,2 bilhões, virá de EUA,
UE e Japão. Pela proposta apresentada, os EUA vão contribuir com US$
3,6 bilhões no período de três anos, 2010-12. No mesmo período, o
Japão vai contribuir com US$ 11 bilhões e a União Europeia com US$
10,6 bilhões.
· O texto do acordo também estabelece que os países deverão
providenciar "informações nacionais" sobre de que forma estão
combatendo o aquecimento global, por meio de "consultas internacionais e
análises feitas sob padrões claramente definidos".
· O texto diz: "Os países desenvolvidos deverão promover de maneira
adequada (...) recursos financeiros, tecnologia e capacitação para que se
implemente a adaptação dos países em desenvolvimento".
· Detalhes dos planos de mitigação estão em dois anexos do
Acordo de Copenhague, um com os objetivos do mundo desenvolvido e
outro com os compromissos voluntários de importantes países em
desenvolvimento, como o Brasil.
· O acordo "reconhece a importância de reduzir as emissões produzidas
pelo desmatamento e degradação das florestas" e concorda em promover
"incentivos positivos" para financiar tais ações com recursos do mundo
desenvolvido.
· Mercado de Carbono: "Decidimos seguir vários enfoques, incluindo as
oportunidades de usar os mercados para melhorar a relação custo-rendimento
e para promover ações de mitigação”.
37
2.3. O que é sustentabilidade para as empresas
Fernando de Almeida (2007), presidente do CEBDS - Conselho
Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável8 considera que o maior
poder para operar as mudanças necessárias, na busca pela
sustentabilidade, está com as empresas. Segundo o autor, nas
empresas se concentra a maior fatia do poder no mundo contemporâneo
e, portanto, também a maior responsabilidade pelos rumos que a
sociedade tomará, ou seja, a ruptura urgente deve ser provocada no
âmbito empresarial, e para que isso aconteça será necessário romper
com os velhos paradigmas se quisermos construir um futuro sustentável.
Elkington (1998) desenvolveu o conceito de Tríplice Resultado, que
privilegia os aspectos econômicos, sociais e ambientais como fatores
que dão retorno positivo às empresas que se preocupam com a questão
da sustentabilidade, conforme ilustrado de maneira simplificada e
apresentado a seguir:
Figura 2 - Tríplice Resultado (SAVITZ, 2007: 5)
Econômicos Ambientais Sociais
Vendas, Lucro, ROI Qualidade do ar Práticas trabalhistas
Impostos pagos Qualidade da água Impactos sobre a
comunidade
Fluxos monetários Uso de energia Direitos humanos
Criação de empregos Geração de resíduos Responsabilidade pelos
8 Desenvolvimento Sustentável - A aquisição quantitativa e qualitativa de bens e serviços providos pela natureza, para atendimento das necessidades dos atuais integrantes de todos os setores da sociedade humana – sem comprometer o direito das gerações futuras de disporem de bens e serviços naturais para atenderem às suas próprias necessidades (baseada na Comissão Brundtland, em 1987). Processo intra, inter e transgeracional de desenvolvimento integrado econômico, social e ambiental, quantitativo e qualitativo, que deve ser praticado por todos os integrantes da sociedade humana e que (i) respeita, adota e aprimora os princípios e os limites biogeofisicoquímicos naturais para a produção de bens e serviços naturais providos pelo planeta e (ii) distribui justiça social para todos. João Salvador Furtado, Termos e Conceitos Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável, (2010) Acessado 29/11/10 em www.intertox.com.br
38
produtos
TOTAL TOTAL TOTAL
O Tríplice resultado pode ser comparado a um balanço que apresenta
resultados nas três dimensões propostas como importantes pelo
parâmetro da sustentabilidade. Os dados quantitativos que podem ou
não gerar valor para os acionistas. Mais importante que o lucro é pode
ser a experiência de uma forma de gestão que avalia impactos de acordo
com uma visão sistêmica e leva em consideração a interdependência
entre as partes interessadas e envolvidas, também denominadas de
stakeholders.
Os stakeholders alvo das empresas geralmente são classificados em
três categorias segundo Savitz:
· Externos, sem ligação direta com a empresa: membros da comunidade, órgãos do governo, mídia, etc.; · Internos: empregados, gestores, acionistas, etc.; · Externos com ligação direta com a empresa: clientes e fornecedores. (SAVITZ, 2007: 65)
Outra classificação possível se faz conforme o grau de influência no
negócio. De acordo com Werbach,
A palavra sustentabilidade passou a ser amplamente usada no contexto ambiental a partir de 1987, depois de aparecer num relatório das Nações Unidas preparado pela primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland”. Ela definiu desenvolvimento sustentável como “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as próprias necessidades. (WERBACH, 2010: 8).
Nesse sentido, para Savitz,
Sustentabilidade na prática pode ser encarada como a arte de fazer negócios num mundo interdependente. Sustentabilidade é respeito à interdependência dos seres vivos entre si e em relação ao meio ambiente. Sustentabilidade significa operar a empresa, sem causar danos aos seres vivos e sem destruir o meio ambiente, mas
39
ao contrário, reestruturando-o e enriquecendo-o. (SAVITZ, 2007: 8).
Os movimentos ambientalistas e a ampla difusão das questões
ambientais nos meios de comunicação de massa e, sobretudo na
internet, influenciaram as empresas a prestar mais atenção na sua
reputação perante o mercado.
Segundo Almeida,
A sociedade da informação já tem ferramentas disponíveis para mudar atos simples, como por exemplo, fazer compras on-line, evitando o gasto de energia com deslocamentos. Empresas deverão cada vez mais usar opção de teleconferência, evitando o consumo de energia em viagens. (ALMEIDA, 2007: 40).
Uma pesquisa realizada no Brasil, em 2010, pelo Ministério do Meio
Ambiente, pela rede Walmart e pela Synovate Brasil, com o tema
Sustentabilidade e Hábitos de Compra, revelou que a sociedade está
disposta a evitar a contaminação do meio ambiente com cuidados como
o descarte de produtos que contenham materiais perigosos, tais como
pilhas, baterias e solventes. 45% das pessoas informaram ter cuidados
em relação à destinação correta do lixo de matérias tóxicas, enquanto
apenas 13% das pessoas buscaram reduzir o uso de automóveis.
O hábito de consertar coisas para prolongar a vida útil dos objetos
também tem muitos adeptos, entretanto, apenas 17% das pessoas
param de comprar algum produto por acreditar que faz mal ao meio
ambiente. Mas 22% das pessoas afirmaram ter diminuído o consumo de
carne por questões de saúde e 27% declaram já ter dado preferência por
algum tipo de produto orgânico em suas compras.
Acredita-se que as empresas têm grande papel como agentes da
transformação social, pois influenciam e são influenciadas pelos seus
40
consumidores. Segundo Bauman (2008), os consumidores são, ao
mesmo tempo, os promotores das mercadorias e as mercadorias que
promovem, porque todos habitam o mesmo espaço social conhecido
como mercado.
Sob este aspecto, podemos perceber que as empresas também têm um
papel de influência para a transformação dos hábitos de consumo, pois
interagem conforme as expectativas e desejos da sociedade que hoje
atribui ao consumo de bens e serviços um lugar relacionado à felicidade.
Por outro aspecto, no sistema capitalista, para que as empresas se
mantenham no mercado, é necessária a inovação e economia de
recursos naturais, que estão cada vez mais altos em função da
capacidade de carga de reposição que a terra tem condições de
suportar. Dessa forma, as empresas acabam se comprometendo com a
melhoria da qualidade de seus produtos e serviços.
O acesso e velocidade de informações proporcionaram aos
consumidores atenção especial às empresas que devastam o meio
ambiente natural, que trabalham com mão de obra escrava ou infantil,
que utilizam produtos tóxicos prejudiciais à saúde e que não o declaram
em suas embalagens, além de outras questões relacionadas à
responsabilidade social.
Nesse contexto, a economia vem sofrendo impactos e tem sido
percebida uma mudança significativa em relação ao grau de interesse
dos consumidores pelas questões ambientais das empresas.
O Pão de Açúcar, por exemplo, em 2008, começou o seu trabalho de
engajamento com o tema da sustentabilidade desde a edificação, ou
seja, a partir da construção de um de seus empreendimentos, um
“supermercado verde”, localizado no município de Indaiatuba, no interior
de São Paulo. Neste empreendimento, a intenção do grupo foi a de
41
mostrar para a sociedade que além dos investimentos realizados em
técnicas e sistemas construtivos mais sustentáveis que visam redução
de água, energia, e emissões de gases causadores do efeito estufa, o
Grupo tem a intenção de ampliar e desenvolver uma cultura da
sustentabilidade junto aos seus stakeholders.
Por meio de ações de marketing e comunicação, no ponto de venda e
nos meios de comunicação, o Grupo elaborou seus comunicados e
prospectos visuais de forma clara demonstrando aos seus clientes e
consumidores os benefícios que essa nova operação pode gerar. No
estacionamento da loja, por exemplo, existem vagas preferenciais para
clientes que possuem carros movidos a álcool, e são difundidos pelos
ambientalistas como uma alternativa mais sustentável em relação aos
veículos convencionais. Na entrada da loja, o sistema de coleta seletiva
está disponível para toda a comunidade, além disso, os resultados são
divulgados semanalmente e os retornos obtidos são revertidos em
projetos sociais para a própria comunidade. Há também, dentro da loja,
uma “gôndola verde” para expor os produtos diferenciados que carregam
atributos sustentáveis para que os clientes possam compreender que
estão consumindo produtos com tais e quais critérios e cuidados.
A exemplo do que fez o Pão de Açúcar ao realizar um rico trabalho de
marketing e educação junto aos usuários, pode-se afirmar que os
profissionais de marketing e comunicação enfrentam, hoje, um novo
desafio: atender à pressão de acionistas e tratar as questões de
sustentabilidade com ética, cautela e respeito ao consumidor, o qual, no
final, se torna sempre um refém daquilo que encontra nos pontos de
venda. Facilitar a linguagem, esclarecer os pontos favoráveis à
sustentabilidade e, sobretudo, abrir um canal direto para esclarecer as
dúvidas e as demandas que irão surgir, talvez sejam os direcionamentos
corretos a serem seguidos por estes profissionais que queiram se
42
destacar em sua profissão sem pecar pelo excesso, mas com cautela e
muita responsabilidade.
Pode-se dizer que a sustentabilidade acontece quando uma empresa
realiza um diagnóstico preciso de suas práticas de gestão sob os
aspectos sociais, ambientais e econômicos do ponto de vista de seus
múltiplos stakeholders. Ou seja: quando são avaliadas tanto as
oportunidades quantos os riscos inerentes aos seus processos em
relação ao seu público de interesse. Essa abordagem alinhada às
melhores práticas de governança para sustentabilidade cria valor para o
acionista e possibilita uma maior continuidade do negócio em longo
prazo.
Hoje, uma empresa que não pensar em sustentabilidade deixará de ser
competitiva, principalmente porque os consumidores já estão
conscientes, e exigentes, quanto à importância de escolher produtos de
empresas, fabricantes ou servidoras, que primem pelas melhores
práticas junto aos funcionários e comunidades; que preservem o meio
ambiente e que adotem não só medidas compensatórias para minimizar
os seus impactos ambientais e sociais, mas que realmente demonstrem,
através de seus relatórios de sustentabilidade, ter colocado em prática
os compromissos assumidos em relação aos riscos que seu negócio
representa.
Marcus Nakagwa declarou durante a entrevista que sustentabilidade,
daqui a 5 ou 10 anos, vai se extinguir nas empresas:
“Diversas leis que são sempre alteradas no Brasil e quem trabalha com
isso vai ter de ser criado um outro movimento que é o movimento de
transformação dos modos operantes de tudo, principalmente dos ligados
à área das pessoas. A área em que o ser humano evolui efetivamente
vai ter um foco maior porque esta área produtiva de extração, de
43
intermediários, os bancos, as agências de comunicação, e a parte da
sociedade da saúde, cultura e lazer é onde de fato o ser humano tende a
evoluir. A sociedade vai deixar de ser só coisas e vai passar a trocar
conhecimentos, cultura, religiosidade, espiritualidade. Acho que é um
novo Iluminismo. A área da produção, das coisas, a natureza vai mostrar
que elas não são perenes. A era é a do conhecimento. Outras áreas que
vão ajudar mais na questão das necessidades básicas do ser humano.
Resgate de grandes valores: ética, moral”.
Conforme apresentado na introdução deste capítulo, o esquema de
religação entre indivíduo, espécie e sociedade propostos por Morin e
Michel Serres, o pensamento sistêmico poderá gerar impactos nas
modalidades de solidariedade de uma dada sociedade, dessa maneira é
necessário religar-se ao meio natural e compreender que a separação
entre homem e natureza poderá impedir qualquer ação de mudança para
a cultura da sustentabilidade.
A eco-organização, segundo Morin (2007:34), é inseparável da
constituição, da manutenção, do desenvolvimento da diversidade
biológica e a vida, para organizar-se, tem necessidade vital de vida e a
esta necessidade corresponde à dimensão ecológica que constitui a
terceira dimensão organizacional da vida que só era conhecida sob duas
dimensões, espécie (reprodução) e individuo (organismo) e, por
impressionante que seja, o meio parecia ser o envelope exterior.
Marcelo Vespoli Takaoka relatou, em entrevista, como a visão de seu pai
Yojiro Takaoka, um dos fundadores da Construtora Albuquerque
Takaoka que foi uma das responsáveis por grandes empreendimentos
como Alphavile, contribuiu para o progresso da empresa no contexto da
construção civil em São Paulo.
44
Um dos aspectos apontados por ele está relacionado à disseminação de
conhecimento, ou seja, à formação de redes de conhecimento que
contribuam com mudanças de paradigmas e proporcionem inovações.
Meu pai sempre que tinha uma idéia nova ele saia contando pra todo mundo. Ai o pessoal falava assim: - Takaoka porque que você, quando tem uma idéia você não fica quieto vai lá e faz? - Não fica contando pra todo mundo aí. Daí ele vira para as pessoas, e eu vi ele falando isso mais de uma vez, - Eu ensino a 10, 10 me ensinam e eu passo a perna nos 10. Então o que é isso? Isso explica porque está lento o processo de mudança e porque pode ser rápido no futuro. As pessoas são muito egoístas na maioria dos casos elas gostam de guardar o conhecimento para elas porque acham que o conhecimento é poder, isso era verdade no passado no século XVIII ou XIX. Quer dizer conhecimento é poder e hoje também é, se você souber o que vai acontecer amanhã com a bolsa de valores vocês tem poder você pode ganhar uma montanha de dinheiro, mas agora esse conhecimento ele vai mudar porque como nós estamos atingindo todos os nossos limites e as questões para serem analisadas ficaram muito mais complexas, porque são muitas variáveis e todas interdependentes o que é mais importante hoje é fazer rede de conhecimento e meu pai já tinha visto lá trás porque se você não faz uma rede e trata a informação de forma egoística você não passa a informação adiante também não recebe informação dos outros e daí você não vira um canal por onde a informação passa e tem várias instituições hoje que guardam as informações a sete chaves e o progresso não vem, tudo fica devagar. O negócio está ficando tão complexo e tão dinâmico que se você estiver tomando este tipo de atitude você morre, tanto é que você pode perceber que no caso do Conselho Brasileiro de Construção Sustentavel (CBCS) várias instituições muito tradicionais e empresas muito tradicionais estão nos procurando para fazer alguma coisa junto conosco, ou seja, na realidade, a nossa rede de conhecimento é uma luz pra eles e estamos sinalizando que está acontecendo alguma coisa diferente e aquilo que pode ser uma ameaça também pode ser uma oportunidade. Então vem primeiro os que veem uma oportunidade. (Entrevista com Marcelo Vespoli Takaoka, pesquisa de campo).
A sustentabilidade corporativa deverá ser inserida nas organizações em
todos os processos da empresa, entretanto, se não estiver incorporado
em sua cultura, dificilmente ela será alcançada. Pode-se dizer que uma
organização que almeja ser sustentável seja uma organização que visa a
45
ética, o respeito, a formalidade, a minimização de recursos, sobretudo os
naturais que já são escassos em nosso planeta.
Percebe-se que neste processo de formação de uma nova cultura para a
sustentabilidade, o aspecto da educação, seja ela formal ou não, tem
sido considerado estratégico para a consolidação de um novo
pensamento da sociedade.
Os meios de comunicação de massa têm importante papel nesse
processo de educação para a sustentabilidade, mas será necessário,
antes, transcender paradigmas como o formulado por Descartes, o
modelo cartesiano que separa o sujeito e o objeto, alma e corpo, espírito
e matéria. Como afirma Morin, “um paradigma pode ao mesmo tempo
elucidar e cegar, revelar e ocultar. É no seu seio que se esconde o problema
chave do jogo da verdade e do erro”. (MORIN, 2000: 21).
O filme Avatar, de James Cameron, trouxe para as telas do cinema de
maneira muito significativa dois dos temas que são fundamentais para o
desenvolvimento da sustentabilidade: a conectividade, ou seja, a relação
de interdependência entre as pessoas e o mundo natural; e a questão do
cuidado com o meio ambiente para que ocorra a preservação ambiental.
A formação de redes de conhecimento também deverá ser capaz de
fazer com que as informações fluam, construindo-se, assim, um canal
por onde a informação nos leve a atitudes mais éticas e à religação com
o universo.
Para chegar a concretizar este ideal, será necessário envolvimento,
engajamento por parte da sociedade para que a transformação cultural
aconteça e os hábitos de consumo se voltem para o exercício da
conectividade e da preservação do meio ambiente. Em pouco tempo,
quem sabe, possamos ver que essa interação entre organizações e
46
consumidores aconteça espontaneamente, de maneira que as empresas
possam sobreviver no mercado não apenas com ganhos de market
share, mas com qualidades econômicas ambientais e sociais requeridas
e aprovadas pela modernidade.
2.4. O conceito de responsabilidade social proposto pelo Instituto
Ethos
No Brasil, a partir da fundação do Instituto Ethos de Responsabilidade
Social, as empresas começaram a se mobilizar e sensibilizar para
compreender seus negócios sob a ótica deste novo conceito.
Paulo Augusto Itacarambi, vice-presidente-executivo do Ethos, na
entrevista realizada, relatou que a liderança na criação do Ethos foi do
empresário Oded Grajew, presidente do instituto: “ele puxou este
movimento” quando, em 1997, Oded entrou contato com algumas
organizações de responsabilidade social tanto na Europa como nos
Estados Unidos e conheceu iniciativas semelhantes.
Em 1997 foi realizado um encontro em Miami, nos Estados Unidos,
organizado pelo Business Solutions Responsablity e por Eric Lins, um
dos membros do conselho do Instituto Ethos. Deu-se, nesse momento,
uma aproximação com outros empresários, inclusive muitos do Brasil,
como Helio Mattar, hoje do Instituto Akatu para o consumo consciente.
Desse encontro saíram todos entusiasmados para criar uma organização
desse tipo.
Em Julho de 1998, o Ethos já estava criado e foi feita a 1ª Conferência do Ethos junto com a criação do Fórum Empresa, uma organização para fazer funcionar a responsabilidade social nas Américas estimulando a criação de organizações semelhantes ao Ethos nos outros países. Hoje, existem aproximadamente 26 países com organizações de Responsabilidade Social com características semelhantes a do Ethos. O assunto
47
Responsabilidade Social não era até então trabalhado, eram trabalhadas as questões dos projetos sociais e o investimento das empresas na sociedade. O GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas - ajudou a trabalhar o conceito de investimento social privado. Antes da sua fundação, as empresas e institutos estariam mais voltados para um trabalho filantrópico das empresas preocupados em ajudar projetos e trabalhos comunitários, mas de forma mais errática e pontual. Assim, o GIFE, possui grande liderança neste trabalho com os institutos empresariais e com as empresas para desenvolver uma política de investimento social. (Entrevista com Helio Mattar, pesquisa de campo).
Segundo Itacarambi, o Ethos foi criado para trabalhar com a empresa e
não com os projetos sociais, isso trazia uma mudança de cultura na
gestão do negócio, ou seja: “você pode desenvolver o seu negócio com
lucro, mas de uma forma responsável, mas, é preciso ter um diálogo com os
stakeholders, entender quais são os impactos que a empresa tem e administrar
estes impactos, pois se você não conhece os impactos não consegue
administrá-los” (Paulo Itacarambi). Até esse momento, o conceito de
responsabilidade social que estava no Brasil não era o supracitado, e o
Ethos tornou-se o protagonista neste capítulo da nossa história.
Foi meio que uma “pregação”. Uma das atividades foi fazer seminários, encontros palestras, encontrar lideranças empresariais que assumiam e enxergavam nessa proposta alguma coisa que fazia sentido para que essas lideranças pudessem reproduzir este discurso, ampliar o discurso e mostrar como é que se faz. Outra estratégia foi produzir publicações mostrando o que as empresas poderiam fazer, porque, às vezes, a pessoa entende o discurso, mas não enxerga qual é a prática, então, no início, o Ethos fez uma série de publicações do que as empresas podem fazer para serem socialmente responsáveis, o que as empresas podem fazer pela sociedade e foi se desenvolvendo por temas como educação, saúde, pelas pessoas com deficiência, pela saúde da mulher, foi trabalhando estes diversos temas e mostrando os diversos tipos de ações que, às vezes, as empresas até já faziam, mas não prestavam atenção e não tinham uma política voltada para isso. A partir dessas publicações, palestras e seminários a gente buscou identificar aquilo que a empresa já faz, ou seja, construir sobre o construído, valorizar o que já é feito e propor as mudanças. (Entrevista com Paulo Itacarambi, pesquisa de campo).
48
Para o Instituto, responsabilidade social empresarial pode ser definida
como:
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.9
O setor da construção civil também começou a se mobilizar e o “Projeto
Tear: Tecendo Redes Sustentáveis”, promovido pelo Instituto Ethos e
pelo Fundo Multilateral de Investimento (Fumin) do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem como principais objetivos
aumentar a competitividade e a sustentabilidade das pequenas e médias
empresas (PMEs) e ampliar suas oportunidades de mercado,
contribuindo assim para o desenvolvimento do País.
Busca-se realizar esses objetivos pela adoção de medidas de responsabilidade social empresarial (RSE) em PMEs que atuam na cadeia de valor de empresas estratégicas em sete setores da economia: açúcar e álcool; construção civil; energia elétrica; mineração; petróleo e gás; siderurgia; e varejo. (Entrevista com Paulo Itacarambi, pesquisa de campo).
Algumas empresas do setor da construção civil no segmento de
incorporação como Y. Takaoka10 e a Gafisa são empresas âncora.
9 Disponível em http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/29/o_que_e_rse/o_que_e_rse.aspx acessado em 20/02/11. 10 “A Y. TAKAOKA EMPREENDIMENTOS S.A. foi idealizada pelo engenheiro Yojiro Takaoka, um dos fundadores da Construtora Albuquerque, Takaoka, sendo responsável por empreendimentos como Alphaville e Aldeia da Serra, na Grande São Paulo – projetos que marcaram o conceito de condomínio horizontal de luxo no Brasil e que resultaram em um salto de qualidade no mercado imobiliário do País. Presidida por Marcelo Takaoka, filho mais velho de Yojiro, a Y. Takaoka iniciou suas atividades a
49
O Projeto Tear já foi objeto de pesquisas anteriores e foi percebido como
relevante para o desenvolvimento da cadeia de fornecedores da
construção civil, principalmente porque é possível que ele incentive as
empresas de pequeno e médio porte a se tornarem mais competitivas
em relação aos aspectos de responsabilidade social incorporados à sua
estratégia de negócios.
2.5. Indicadores de sustentabilidade e sua aplicabilidade nas
organizações
Os indicadores de sustentabilidade foram desenvolvidos para ajudar as
empresas a incorporar e melhorar seus processos de gestão tendo em
vista os desafios da sustentabilidade.
“O termo indicador é originário do latim indicare, que significa descobrir,
apontar, anunciar, estimar” (HAMMOND et.al,1995: 42). Os indicadores
podem comunicar ou informar sobre o progresso em direção a uma
determinada meta e representar o modelo da realidade, e não a
realidade como colocada pelo autor. Os seus objetivos estão em agregar
informações e quantificá-las de forma que seja possível avaliar os
estágios em que as empresas se encontram em determinados temas.
Através dos indicadores de sustentabilidade, as organizações
conseguem realizar um diagnóstico de sua gestão sobre os aspectos
que envolvem o tema. Dentre os indicadores mais utilizados no Brasil
podemos destacar os propostos pelo Instituto Ethos, A Norma SA 8000,
Metas do Milênio, GRI e a ISO 26000.
partir da cisão da construtora Albuquerque, Takaoka, em 1995”. Acessado em 04/05/10, Disponível em (http://www.takaoka.eng.br/website/default.asp).
50
Indicadores Ethos
Os indicadores do Instituto Ethos estão divididos sob os seguintes
temas-macro: Valores, Transparência e Governança, Público Interno,
Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores e Clientes, Comunidade,
Governo e Sociedade.
No Brasil, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social tem um papel
relevante para as organizações, pois, através do modelo de indicadores
proposto pelo Instituto, as empresas realizam um diagnóstico que já
sugere um verdadeiro plano de ação para melhoria de seu desempenho
sobre o tema que está sendo abordado.
Paulo Itacarambi relatou que, em 2000,
O Ethos deu um grande salto com a publicação dos indicadores, pois permitem à empresa diagnosticar quais seriam as suas práticas, qual o impacto que essas práticas têm com a qualidade do relacionamento que ela tem com cada um desses stakeholders e através deste diagnóstico ela pode traçar um plano onde ela deve melhorar de acordo com a sua própria estratégia de negócio, quer dizer, alinhar essa estratégia de desenvolvimento de um comportamento responsável com a estratégia de negócio, então estes indicadores são um instrumento de negócios, de planejamento e ao mesmo tempo educativo, porque não usamos os indicadores para fazer ranking de empresas, é um instrumento para a própria empresa tirar uma fotografia e se orientar por essa fotografia momentânea procurar fazer a gestão. (Entrevista com Paulo Itacarambi, pesquisa de campo).
O movimento do Instituto Ethos continuou ascendente e, em 2005,
elaborou, em conjunto com lideranças do setor da construção civil,
indicadores setoriais para mensurar a responsabilidade social na cadeia
construtiva, bem como uma metodologia - complementar aos indicadores
de responsabilidade social, naquela época já existentes e difundidos pelo
instituto - para incentivar para as empresa brasileiras a pensarem a sua
gestão com ênfase na responsabilidade social empresarial.
51
O questionário também apresenta conceito baseado no “Tríplice
Resultado” (Triple Botton Line), além de atributos como governança
corporativa, legalidade e formalidade da empresa, concorrência dentre
outros.
Paulo Itacarambi, afirmou, ainda, que:
Na década de 1990 os assuntos ambientais, sociais, éticos, eram assuntos que as empresas se colocavam na defensiva e hoje isso mudou, e as empresas estão aí se colocando como protagonistas: estão aí se colocando como atores que fazem, que se envolvem junto com outras organizações da sociedade civil. Criou um campo institucional no qual as empresas se colocaram em campo. Pesquisas mostram que o custo de não fazer nada é muito maior do que o custo de reverter. (Entrevista com Paulo Itacarambi, pesquisa de campo).
Norma SA800
A Norma SA8000 foi adaptada no Brasil pela ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas) e publicada em 2004 com a
nomenclatura de NBR 16001 conhecida como norma brasileira de
responsabilidade social.
GRI – Global Reporting Initiative
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma ampla rede de colaboração
formada por milhares de especialistas com interesses distintos ao redor
do mundo. A visão da GRI é a de que os relatórios de desempenho
econômico, ambiental e social elaborados por todas as organizações
sejam tão rotineiros e passíveis de comparação como os relatórios
financeiros. O objetivo da metodologia é melhorar a qualidade e a
aplicabilidade dos relatórios de sustentabilidade que são publicados
pelas empresas por meio de um processo contínuo de aperfeiçoamento,
proporcionando condições para as empresas apresentarem os
resultados conforme relevância e materialidade, ou seja, um meio de
fazer com que as empresas se aproximem do que realmente é relevante
52
e do que poderá proporcionar uma mudança em seu processo de
gestão.
Essas ferramentas apresentadas ajudam as organizações atenderem
aos padrões de referência nas suas operações, a avaliarem seu
desempenho em relação à sustentabilidade, além de influenciar, em sua
cadeia de valor, para promover a mudança para uma cultura cada vez
mais sustentável.
Os indicadores propostos pela GRI possuem correlações com os
Indicadores Ethos, os indicadores propostos no questionário do ISE e as
Metas do Milênio.
Metas do Milênio
Já as chamadas Metas do Milênio são, na verdade, um documento que
pretende consolidar resultados e metas, e traçar objetivos diversos para
o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no mundo até 2015. Este
documento tem origem na ONU e apresenta oito objetivos mensuráveis:
1 - Erradicar a extrema pobreza e a fome.
2 - Atingir o ensino básico universal.
3 - Promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres.
4 - Reduzir a mortalidade infantil.
5 - Melhorar a saúde materna.
6 - Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças.
7 - Garantir a sustentabilidade ambiental.
8 - Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
ISO26000
Segundo Aron Belinky responsável pela GAO - Grupo de Apoio às ONGs
- em palestra realizada no Workshop “ISO 2600 - a nova ISO Mundial da
Responsabilidade Social” no dia 03 de junho de 2009, em São Paulo,
ressaltou que o início desse processo se deu em setembro de 2002 e
53
que a sua aplicação está sendo preparada para qualquer organização no
mundo que deseje inserir a responsabilidade social em sua gestão.
Dentre os conceitos propostos pela ISO, podemos destacar os seguintes
pontos:
A responsabilidade social é uma necessidade das gerações futuras;
A responsabilidade social se ajusta com a estratégia da ISO de
desenvolver normas que sejam relevantes para a sustentabilidade;
Diferente das outras ISOS, não será uma norma com fins de certificação
ou gestão, sua adesão será voluntária;
Seu grande desafio está em assegurar a relevância das partes
interessadas (stakeholders), por isso, seu processo também é evolutivo
e complexo;
Vejamos, agora, o perfil dos stakeholders que estão discutindo a ISO
26000:
85% Indústrias
28% Governo
23% ONGS
5% Trabalhadores
3% Consumidores
As diretrizes da ISO de Responsabilidade Social são:
· Responsabilidade
· Transparência
· Comportamento Ético
· Consideração pelas partes interessadas
54
· Legalidade
· Normas Internacionais
· Direitos Humanos
Além dos princípios, os temas centrais do documento envolvem as áreas
de Direitos Humanos; Práticas de Trabalho; Meio Ambiente; Práticas
Legais de Operação; Combate à Corrupção e à Propina; Consumidores
e Desenvolvimento aliado à participação comunitária. As empresas terão
de aplicar ações de cada uma dessas áreas citadas em suas gestões.
A questão da ISO de Responsabilidade Social está nos entraves que ela
pode causar nas empresas em assumir de fato corresponsabilidades de
sua operação em muitos aspectos que envolvam seus múltiplos
stakeholders.
2.6. Pesquisa sobre aplicação de indicadores de sustentabilidade
nas empresas
Em pesquisa recente, publicada no Portal da Fundação Dom Cabral
(FDC), em 2008, e realizada como resultado do curso da Fundação Dom
Cabral sobre GRS - Gestão Responsável Para Sustentabilidade – e
sobre indicadores de sustentabilidade, ministrado nesse mesmo ano, foi
possível perceber através da pesquisa de campo do projeto aplicativo,
pontos relevantes que merecem destaque quando se fala de
sustentabilidade nas empresas brasileiras ou multinacionais com
atuação local.
Essa pesquisa mostrou que:
1. Os indicadores de sustentabilidade são utilizados como ferramenta de
gestão pelas empresas e têm ajudado a inserir o tema nos processos
55
gestores, contribuindo para o estabelecimento de metas e estratégias
para se alcançar os resultados desejados;
2. As empresas passam a utilizar os indicadores por solicitação e
influência de seus stakeholders e de acionistas, que encaram a inclusão
como uma possibilidade de melhoria da sua imagem perante a
sociedade;
3. Nas empresas pesquisadas percebe-se um distanciamento entre a
política, visão, missão e valores que explicitam e sua real prática
empresarial. Entretanto, se por outro lado já existe essa intenção e estão
veiculados no site e demais materiais de uso promocional da empresa é
sinal de que o caminho para a sustentabilidade está aberto;
4. Os indicadores vêm sendo avaliados com periodicidade de um ano, o
que é bem interessante, pois metas têm sido implantadas a partir da sua
análise, contribuindo para a melhoria das práticas de sustentabilidade
nas empresas;
5. Os indicadores são respondidos e preenchidos pelos responsáveis
das respectivas áreas, o que possivelmente não reflete a realidade da
empresa, talvez fosse necessário fazer a inclusão de outras pessoas
nesse processo para uma visão mais sistêmica da realidade;
6. O percentual de indicadores avaliados por organismos independentes
ainda é baixo considerando que 56% das empresas responderam que os
indicadores são validados pela alta administração;
7. Praticamente 50% das empresas não possuem política para
comunicar resultados negativos, o que gera cada vez mais relatórios de
sustentabilidade sendo utilizados como promoção de imagem
institucional das empresas;
56
8. Os indicadores têm ajudado as empresas no direcionamento
estratégico para sustentabilidade;
9. Os indicadores têm sido utilizados também como ferramenta de
marketing para comunicar resultados da alta administração, ao público
interno e aos stakeholders;
10. Dentre as maiores dificuldades encontradas pelas empresas para
análise dos indicadores, destacam-se a gestão de processos, os
controles internos e a disponibilidade de dados;
11. Apenas 10% das empresas encontraram dificuldades por questões
financeiras para análise dos indicadores de sustentabilidade.
Dentre estes pontos que foram destacados, alguns deles nos remetem
ao ponto inicial da discussão deste trabalho sobre a banalização e
enfraquecimento do tema devido ao distanciamento existente entre o
discurso da sustentabilidade e as práticas efetivas de sustentabilidade.
O profissional de marketing e comunicação não pode negligenciar o fato
de que a sociedade civil tende a aumentar a pressão sobre as empresas,
exigindo cada vez mais responsabilidade, ética e discernimento, não
apenas com relação à comunicação junto aos seus stakeholders, como
também, e sobretudo, no que diz respeito às ações efetivas que promove
para alcançar a sustentabilidade.
As pressões estão cada vez maiores nesse sentido, principalmente
porque o varejo começa a incorporar tais aspectos e a educar os
consumidores sobre os temas pertinentes à sustentabilidade.
57
CAPÍTULO 3
A CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL
3.1. A globalização e o surgimento das novas metrópoles
A cidade sempre mantém relações com a sociedade, e seu
funcionamento é modificado quando há transformações em seus
elementos constituintes como poder, estado, agricultura, comércio,
espaço público, etc. Podemos dizer que as transformações da cidade
não são resultantes passivos da globalidade social, de suas
modificações, ela depende também das relações diretas entre pessoas e
grupos que a compõem como famílias, corpos organizados, profissões e
corporações, etc. (LEFEBVRE, 2001).
A cidade é, portanto, uma pluralidade de significações imaginárias e
sociais, e sua produção e reprodução implicam antagonismos como
relações de complementaridade e concorrência, organização e auto-
organização, regulação e autorregulação, que vão de encontro às
necessidades de promoção de novas formas de sociabilidade propostas
para as sociedades em redes.
Nesse sentido, entende-se por setor da construção civil empresas como
incorporadoras, construtoras, fabricantes e distribuidores de materiais de
construção, profissionais e empresas de projeto, empresas imobiliárias e
outros segmentos correlatos. Essas empresas são responsáveis por
reestruturar a dinâmica das cidades, pois são responsáveis por criar
condições de infraestrutura, lazer, transportes, enfim, construir espaços e
possibilidades que carregam a intenção de melhorar a qualidade de vida
das pessoas. “As empresas de incorporação imobiliária têm papel fundamental
na economia, pois são responsáveis pela geração de bens duráveis que afetam
58
toda sociedade e criam condições de infra-estrutura, lazer, comércio, abrigo e
conforto para a vida das pessoas”. (SOUZA, 2004: 24).
A partir da abertura da economia e reestruturação da ordem mundial
para uma sociedade global, as áreas metropolitanas centrais no mundo
inteiro ganharam a atenção do setor imobiliário que tratou de se
reorganizar para atender à demanda econômica das empresas que
agora necessitavam de se organizar em redes, nodos para cumprir suas
atividades na nova ordem econômica mundial global, uma nova fase
capitalista de capitalista de modernização e reorganização urbana das
metrópoles.
Neste sentido, as novas condições estabelecidas pela globalização, tinham especial incidência nessas decisões de localização, aspectos como existência ou disponibilidade de sistemas de comunicação capazes de permitir contatos instantâneos com o ambiente global em seu conjunto, oferta diversificada e eficiente de serviços avançados especializados, contingentes amplos e capacitados de recursos humanos, condições para uma comunicação direta (face a face) cotidiana entre as pessoas que desenvolvem as tarefas modernas e inovadoras, presença de um tecido produtivo amplo e diversificado e mercado capaz de garantir o acesso a uma demanda solvente, ampla diversificada e em expansão. (MATTOS, 2004: 164).
Conforme apontado no primeiro capítulo, este processo de requalificação
de áreas, chamado de operação urbana também se aplicou na cidade de
São Paulo e teve por “objetivo reestruturar o setor da região sudoeste da
cidade de São Paulo e criar um espaço renovado com mais qualidade de vida,
através do ordenamento territorial e da regulamentação e controle da ação do
mercado imobiliário”. (BÓGUS e PESSOA, 2008: 126).
Na década de 90, alguns fatores foram indutores da competitividade do
setor na construção civil. Podemos lembrar o esgotamento do modelo de
financiamento à produção – as construtoras e incorporadoras passaram
a ser agentes de financiamento aos consumidores -, e o número elevado
de competidores na produção – em função da concorrência os preços
59
são impostos pela demanda, novas formas de financiamento estavam
ligadas às necessidades de retorno e às margens adequadas para
assegurar a atratividade do mercado, mudanças no perfil do consumidor
brasileiro, novos parâmetros de projeto e execução das obras.
Lembramos ainda que o Estado também se tornou um agente
financiador da construção civil, bem como houve mudanças no ambiente
competitivo global e transformações diversas nas relações entre capital e
trabalho, considerando a abertura econômica e a reorganização da
economia em bloco, com consequente integração entre todos os agentes
do setor.
Na cidade de São Paulo, estes períodos podem ser considerados
momentos de grandes mudanças, pois na região metropolitana houve
uma desconcentração das atividades industriais e uma reestruturação
das atividades terciárias como consequência da globalização. A
metrópole se transformou e ficou conhecida como capital dos serviços e,
com isso, a segregação espacial tornou-se evidente e os processos de
favelização e o adensamento das populações de baixa renda se
concentrou nas periferias da cidade.
Nessa época, o corredor sudoeste da cidade foi o que recebeu mais
investimentos e articulação do setor imobiliário, favorecendo acesso aos
serviços, ao lazer e à infraestrutura às chamadas elites das cidades. É
neste contexto que há um crescimento de empreendimentos chamados
de condomínios fechados voltados para as classes média e alta da
cidade, também visando atender à demanda dos empresários e
executivos que estariam trabalhando neste novo centro econômico
financeiro da cidade de São Paulo.
A partir do inicio dos anos 1990, surgem os condomínios horizontais fechados propriamente ditos na Região Metropolitana de São Paulo. Um aumento gradual dos lançamentos dessa nova tipologia residencial vem ocorrendo desde então e principalmente nos últimos cinco anos. No
60
caso específico do município de São Paulo, a “lei de Vilas”, de 1994, possibilitou a instalação indiscriminada de pequenos condomínios horizontais (no estilo das antigas vilas) em todas as zonas de uso residencial da cidade. (BÓGUS e PASTERNAK, 2009: 84).
Nesse novo cenário configura-se uma nova metrópole, bem diferente da
cidade fordista do passado, e os investimentos imobiliários crescem
incentivando a segregação urbana e caracterizando as desigualdades
sociais entre as classes existentes.
Marcelo Vespoli Takaoka, afirmou que em 2002, a partir do surgimento
do projeto Genesis, um loteamento residencial de alto padrão localizado
no corredor sudoeste da Grande São Paulo, no município de Santana do
Parnaíba, foi lançado com uma propaganda “cheia de verde”:
(...) alguns amigos me ligaram dizendo para retirar a propaganda do jornal porque poderia atrair um monte de ambientalistas para a obra e a percepção das pessoas naquela época era que loteamento era uma coisa terrível que devastava a natureza, entretanto, nós resolvemos manter a propaganda com o verde porque precisávamos da valorização da preservação da mata para pagar boa parte dos nossos custos. (...) Depois disso, encontramos o ambientalista Fábio Feldman que deu novas idéias para o projeto e também apresentou as ONGS Amigos da Terra e a SOS Mata Atlântica, e nós entramos no projeto Florestas do Futuro da SOS Mata Atlântica e hoje o Genesis é o primeiro loteamento em que a área de floresta cresce ao invés de diminuir: ela cresceu 24,8% em relação à floresta que nós tínhamos antes do empreendimento. (Entrevista com Marcelo Vespoli Takaoka, pesquisa de campo).
Segundo o relato de Marcelo, naquele momento ele já sinalizava a
necessidade de uma mudança no setor, pois as expectativas e
demandas dos consumidores por qualidade de vida e mais contato com
a natureza já se tornava uma realidade. A partir do momento em que foi
oferecido um empreendimento exibindo atributos ligados à preservação
ambiental, em conversas informais com os futuros moradores do
condomínio residencial, Marcelo percebeu que seria necessário ampliar
61
itens que não estavam nas propagandas de comercialização do
empreendimento. A vontade dos futuros moradores era a de que o
empreendimento tivesse uma boa área de cobertura vegetal.
Na década de 90, essa transformação culminou com a concentração de
renda e o emprego concentrou-se no setor terciário, nas atividades de
baixa produtividade, sendo que criações de postos de trabalho foram
insuficientes para a maioria da população, provocando outros problemas
como o aumento da informalidade.
(...) destaca a presença desse fenômeno como inerente às global cities, em função da crescente demanda de pessoal altamente qualificado com elevadas remunerações que permitem níveis e pautas de consumo sofisticados, devido à expansão de novas atividades de liderança, enquanto aumenta ao mesmo tempo um conjunto de serviços complementares que são comprados de outras empresas (limpeza, manutenção, segurança, etc.), expandindo assim a demanda de emprego pouco qualificado e muitas vezes precário, com baixos salários. (SASSEN, 1991: 174),
Mariana Fix, em seu livro “São Paulo uma Cidade Global”, traz um relato
do que aconteceu durante o período chamado, pela autora, de boom do
mercado imobiliário - de 1980 até 2000 -, quando foi anunciado o
crescimento de uma nova cidade às margens do rio Pinheiros.
Rapidamente o setor imobiliário tratou de se articular para a
transformação de bairros residenciais e fabris para o novo eixo
econômico da cidade. Neste contexto, o setor acabou atraindo
investidores estrangeiros, os fundos de pensão começaram a investir
nos chamados megaprojetos como CENU (Centro Empresarial Nações
Unidas), anunciado como maior centro empresarial da América Latina.
Composto por 03 torres interligadas por um shopping center foi
construído entre as avenidas Luis Carlos Berrini e Nações Unidas, ao
lado da favela Jardim Edith, parcialmente removida entre 1995 e 1996.
(FIX, 2007).
62
Os megaprojetos exigiam um esforço conjunto entre as iniciativas pública
e privada e as chamadas “Operações Urbanas”, nas quais o poder
público cria as condições para o setor privado conseguir as
transformações pretendidas, e que, nesse caso, foram marcadas pela
remoção das favelas do Córrego da Água Espraiada e Jardim Edith.
As favelas e os condomínios fechados representam uma dualidade na
forma de morar de ricos e pobres na cidade, entretanto, conforme
apontado no Caderno Conjuntura Urbana em 2009, a maior parte dos
domicílios da Região Metropolitana de São Paulo tem acesso aos bens
de uso difundido (rádio, televisão, geladeira, freezer), e dois bens de
consumo de média difusão (automóvel, dvd, máquina de lavar e linha
telefônica). Segundo a autora, a explicação disso seria um “efeito Casas
Bahia”, ou seja, lojas populares de eletrodomésticos que promoveram no
final dos anos 90 campanhas publicitárias incentivando o consumo
destes itens com baixas prestações mensais.
A partir do modelo de Cidade Dual delineado por Castells e Mollenkopf (1992), em que a estrutura social aproxima-se do formato de uma ampulheta, com mais ricos e pobres e praticamente sem classe média, podemos afirmar que o aumento das desigualdades e da exclusão social no contexto latino-americano vem impulsionando a intensificação da segregação espacial. (BÓGUS e PASTERNAK, 2009: 86).
Outro elemento delimitador de ocupação de espaços nas cidades é a
questão ligada ao transporte. A dissociação entre o planejamento do
sistema de transporte público, o aumento da circulação de veículos
particulares, o uso do solo e a proteção ambiental são fatores que vêm
contribuindo para piorar a qualidade de vida das pessoas nas
metrópoles.
63
Em São PauIo, na região da marginal do rio Pinheiros foi realizada uma
articulação entre setores público e privado, somando-se isso ao fato de
que as malhas viárias da cidades já oferecerem condição privilegiada de
fácil acesso ao aeroporto de congonhas e também devido à quantidade
de estoque de terrenos suficientes para deslocamento do eixo
econômico da cidade para essa região contribuíram para transformação
dessa região em uma nova centralidade da cidade. (BÓGUS e
PASTERNAK, 2009).
O professor Fernando Nunes da Universidade de Lisboa em sua
apresentação durante o curso Questões da Cidade Contemporâneas
apontou alguns aspectos sobre as novas realidades urbanas após a
globalização: urbanização sem urbanismo. A sociedade, hoje chamada
sociedade do hipertexto, conectada em redes, necessita urgentemente
de um resgate da ética e da moral para uma transformação em prol da
sustentabilidade. Por exemplo, atualmente, uma das questões principais
da sustentabilidade nas metrópoles está relacionada à escassez da
água, entretanto, questões como a do saneamento básico já eram
apontadas durante a revolução industrial como um dos principais
desafios ao desenvolvimento. E o que nós fizemos? Ocupamo-nos das
margens dos rios e despejamos todo nosso esgoto sobre eles.
Hoje já possuímos tecnologia e conhecimentos necessários para
resolver tais questões, por exemplo, recorrer ao uso racional da água no
abastecimento das cidades, entretanto, o planejamento dessa nova
cidade em São Paulo, desenvolvida às margens de um dos rios mais
importantes para a cidade, do ponto de vista ambiental, por exemplo
deveria ter sido programado de modo a preservar o rio das interferências
imediatas do ambiente construído no meio ambiente natural.
O fato é que o setor imobiliário, numa tentativa de qualificar áreas e
transformá-las em áreas nobres da cidade com intuito de aumentar o
64
valor do imóvel, afasta as populações em condições de vulnerabilidade
para as regiões periféricas da cidade onde há maior precariedade nos
sistemas de transporte e infraestrutura básicos como esgoto, água e
energia.
Em suma, o processo de desenvolvimento de uma nova centralidade na
cidade de São Paulo ocorreu sem incorporar as questões da
sustentabilidade e foi apenas em meados do ano de 2004 que
começaram a surgir alguns empreendimentos com essa preocupação.
Um exemplo é o complexo comercial Rochaverá da Tishman Speyer,
uma das maiores operadoras, desenvolvedoras e gestoras de
investimentos imobiliários de alto padrão internacional, e que nessa
época era uma das empresas responsáveis por investimentos no projeto
de requalificação urbana das regiões da Faria Lima e Água Espraiada.
O projeto do Rochaverá está localizado no corredor sudoeste de São
Paulo e havia sido paralisado durante 11 anos em função da crise
econômica no Brasil. Quando foi retomado precisou ser adaptado e, a
partir daí, segundo Ceotto, ele se tornou um Green Building e hoje é um
projeto muito eficiente; obteve certificação em 2009 já está com 100%
das unidades alugadas.
Daqui para a frente a economia vai estar posta em tudo, este foi o primeiro empreendimento Green Building da Tishman no Brasil. Um edifício certificado custa de 5% a 7% mais caro do que um edifício convencional, só que a economia que ele gera em energia e água paga esse investimento a mais em três anos, depois, mas é difícil as pessoas perceberem isso. (Entrevista com Luiz Henrique Ceotto, pesquisa de campo).
3.2. Construção Sustentável: definições
65
Os edifícios hoje são responsáveis por 10% do PIB mundial, consumo de
40% de materiais, 30% da geração de resíduos sólidos, 20% do
consumo de água e 35% de toda energia consumida pela sociedade.
80% destes gastos estão concentrados na fase de uso e operação
destes empreendimentos. Por isso, o setor está comprometido com as
metas de reduções do consumo de materiais e na melhoria da eficiência
dos processos de operação que tenham como metas economia de água
e energia durante a fase em que são ocupados pelas pessoas a fase
chamada de operação. Sob este aspecto vale destacar a relevância de
uma operação de “dupla pilotagem”, pois de nada adianta a implantação
de novas tecnologias se os usuários não estiverem preparados e
adaptados para operá-las.
Tabela Comparativa de Gastos e Consumo de Recursos nos Edifícios
10% do PIB mundial
40% dos materiais consumidos
30% da geração de lixo sólido
20% do consumo de água
35% de toda a energia consumida pela sociedade
80% destes gastos estão na fase de uso e operação
Fonte: Niclas Svenningsen (UNEP, 2010)
O setor imobiliário é responsável pelo consumo de 21% da água tratada,
41% da energia elétrica gerada, gera 65% do lixo e 25% do CO2
equivalente e é o maior consumidor de recursos naturais, daí a
importância da conscientização sobre a necessidade de se difundir os
edifícios verdes.
Nesse contexto começaram a surgir os primeiros empreendimentos
verdes do país, logo após o boom imobiliário. Com a saída dos fundos
de pensão do Brasil, as incorporadoras estrangeiras, em parceria com
empresas locais, começaram a cobrar retorno e rentabilidade nos
investimentos desses megaprojetos e passaram a incorporar os
conceitos de green buildings (prédios verdes) através da Certificação
66
Ambiental de Empreendimentos nas edificações, aumentando o valor
agregado e impulsionando uma nova forma de atuação das empresas
locais. No Brasil este movimento já se iniciou com a adoção do modelo
americano de certificação LEED/USGBC – US Green Building Council e
mostra-se como uma forte tendência para os próximos anos.
3.2.1. Certificação de Empreendimentos – Green Buildings
Na Construção Civil, a partir dos sistemas de certificações ambientais
para empreendimentos, a cadeia da construção começou a dar
importância para os chamados Green Buildings, ou seja, os chamados
prédios verdes. Os prédios verdes são construídos com menos impactos
do que um prédio convencional. Dentre os sistemas de certificação
praticados no Brasil atualmente podemos destacar o LEED, AQUA,
Procel Edifica e Selo Azul da Caixa.
O sistema LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), ou
liderança ambiental e energética em projetos, é uma metodologia que faz
a avaliação de empreendimentos em relação à sustentabilidade através
de materiais e recursos utlizados, energia e atmosfera, espaço
sustentável, site, qualidade ambiental interna e o uso racional da água.
De 1986 a 2006, apenas 500 empreendimentos eram considerados
ecologicamente corretos em todo o mundo. Em 2010, eram mais de 100
mil edifícios comerciais e quase um milhão de residências.
Os ganhos com um empreendimento certificado são diversos. O consumo de energia, em média, é 30% menor, ao passo que o consumo de água sofre redução de 30% a 50%. Outros ganhos incluem redução da emissão de CO2 em 35% e redução de 50 a 90% na geração de resíduos, incluindo materiais recicláveis. Ainda que o custo da obra seja em média 5% maior do que uma obra convencional há valorização de 10% a 20% no preço de revenda.11
11 Conferir: GBC Brasil http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=imprensa.php
67
A certificação AQUA - Fundação Vanzolini, difere do sistema LEED
principalmente porque o sistema AQUA já está mais adaptado à
realidade brasileira do ponto de vista de projeto.
O Sistema Procel Edifica faz parte do Programa Nacional de Etiqueta de
Eficiência Energética em Edificações instituído pelo Governo Federal
desde 2003. A meta é incentivar a conservação e o uso eficiente dos
recursos naturais (água, luz, ventilação, etc.) nas edificações, reduzindo
os desperdícios e os impactos sobre o meio ambiente.
O Selo Azul da Caixa Econômica Federal prevê desde a concepção do
projeto até a sua implantação a incorporação de elementos que possam
assegurar uma economia nas contas de água e energia dos usuários.
Outras iniciativas no setor da Construção Civil podem ser observadas no
contexto mercadológico como as premiações existentes,
desenvolvimento e elaboração de programas de sustentabilidade através
da iniciativa privada, além da articulação setorial e formação de ONGs e
entidades, conforme mostraremos a seguir.
Segundo Luiz Henrique Ceotto, a certificação por si só nada resolve,
pois, hoje, menos de 0,1% dos prédios executados são certificados e a
cidade de São Paulo renova mais ou menos 1% todos os anos, portanto,
não é o impacto do prédio em si que é importante, mas que ele sirva
como exemplo para os outros que não são.
A certificação é uma organização de alto poder de influência, mas custa dinheiro, demanda de paciência, ao mesmo tempo em que há prédios aqui em São Paulo que não são certificados, mas são altamente sustentáveis. Além disso, um prédio certificado se torna referência no mercado porque é um parque de aplicação de novas tecnologias por parte dos fabricantes da construção civil e com isso também impulsiona a produção de produtos e serviços de alta performance e mais sustentáveis induzindo o setor a uma mudança de cultura. Por exemplo, quando começamos a
68
utilizar elevadores inteligentes, com antecipadores de chamada etc., isso era muito caro e ninguém usava: hoje qualquer um já pode começar a usar. Nós induzimos e ajudamos no desenvolvimento de tecnologia. Os sustentáveis certificados puxam a ponte do iceberg positivo: traz toda a indústria da construção civil junto. (Entrevista com Luiz Henrique Ceotto, pesquisa de campo).
Contudo, para que uma construção seja classificada como sustentável,
será necessário adotar medidas que possam qualificá-la como tal. A
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (ASBEA), o
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e outras
instituições apresentam alguns princípios básicos da construção
sustentável, dentre os quais se destacam:
Aproveitar as condições naturais locais; Utilizar o mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural; Implantar e analisar o entorno; Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas e concentração de calor, sensação de bem-estar. Qualidade ambiental interna e externa, Gestão sustentável da implantação da obra, adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários; Usar matérias-primas que contribuam com o eco-eficiência do processo. Reduzir o consumo de água, reduzir, reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos, Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável; Educação Ambiental: conscientização dos envolvidos no processo”. (CÂMARA DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO, 2008: 15)
3.3. Comportamento do mercado frente à sustentabilidade no setor
O movimento pelas construções sustentáveis no Brasil também têm
impulsionado toda a cadeia da construção civil a adotar as melhores
práticas que são as chamadas três frentes estratégicas para
sustentabilidade: economia de água, economia de energia e redução no
consumo de materiais de construção.
69
Os fabricantes de materiais da construção civil têm buscado ganhar
inclusive vantagens competitivas frente aos seus concorrentes em
função do seu desempenho em relação à sustentabilidade não só de um
produto, mas da organização.
Marcus Nakagwa apontou que
a Philips, uma empresa fornecedora de sistemas de iluminação para empreendimentos, desde o seu nascimento trata das questões de responsabilidade social, quando a empresa resolveu colocar lâmpada em produção em série para que as pessoas tivessem uma qualidade de vida melhor e que na época da Revolução Industrial elas voltassem do trabalho e não ficassem no escuro e dessa maneira pudessem ter um momento familiar, sem correr os riscos dos lampiões a gás que era perigoso e assim por diante. Eles eram visionários porque poucas pessoas ainda tinham a rede elétrica na Europa. Então já começa a questão da qualidade de vida, das lâmpadas e assim por diante. A empresa participou de diversos movimentos ambientais e aqui no Brasil em 99, 98 começou o movimento junto com o movimento do Ethos e até criou um departamento específico só para cuidar da área de responsabilidade social que começou com a Flávia Moraes que era a gerente na época e ela começou a encaminhar todos esses movimentos dentro da empresa principalmente os ligados ao social e organizando os indicadores Ethos e outros indicadores. Em 2005 a Philips ampliou o seu escopo de atuação aqui no Brasil, não só a área de responsabilidade social, mas também em áreas de sustentabilidade onde foi formado também um departamento global de sustentabilidade, um comitê global de sustentabilidade, principalmente com o advento das ações verdes mais sustentáveis, e do Down Jones Sustentabity Index a empresa precisou dos indicadores quem em 2002, 2003 foram sendo criados para poder controlar um mercado também dentro das questões de sustentabilidade. (Entrevista com Marcus Nakagawa, pesquisa de campo).
70
3.3.1. Insumos básicos da construção: aço, cimento e madeira
Os fabricantes de insumos da construção civil como aço e cimento
também têm se destacado nas discussões sobre sustentabilidade e
fabricantes como a Holcim (Cimentos), Camargo Correa e Arcelor Mittal
têm se preocupado inclusive com o chamado ciclo de vida do produto.
Esse movimento ganhou maior força nas grandes empresas como as
citadas que, geralmente pela sua própria atividade industrial, estão
ligadas ao setor de mineração e também são alvos de maiores riscos
tanto sociais quanto ambientais, além do risco de imagem, por exemplo,
no caso das indústrias cerâmicas, cujas comunidades sediadas no
entorno de suas fábricas sofrem com o particulado (poeira tóxica) gerado
pela atividade industrial. A sociedade, a imprensa e até os órgãos
ambientais exercem maior influência no incentivo às melhorias
ambientais nas fábricas que deverão ser implantadas para atender à
demanda pela qualidade de vida das pessoas que moram vizinhas a
esses empreendimentos.
No dia 18 de março de 2009, através de iniciativa do Governo do Estado
de São Paulo, da Prefeitura de São Paulo, do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), da ONG WWF Brasil, do Sindicato da Indústria da
Construção Civil (SindusconSP) e entidades como o Conselho Brasileiro
de Construção Sustentável, assinaram um Protocolo de Adesão para o
uso da madeira legal. O protocolo faz parte faz parte do Programa
Madeira Legal, que tem por objetivo incentivar e promover o uso de
madeira legal e de madeira certificada. O Estado e a Cidade de São Paulo,
são os maiores consumidores de madeiras tropicais do país, sendo que a
construção civil representa em torno de 70% do consumo proveniente de
madeira da Amazônia. (MILLER, TAYLOR E WHITE, 2008).
Infelizmente, a maior parte da madeira que consumimos não é de origem
legal ou certificada, o que implica ação predatória da Amazônia, e
71
também na informalidade de toda a cadeia construtiva que afeta os
consumidores que adquirem a madeira ilegal.
Entende-se por madeira legal aquela que tem sua origem declarada
através de licenças expedidas pelo IBAMA ou órgão ambiental como o
DOF (Documento de Origem Florestal) ou Guia Florestal produtos
florestais de empresas participantes do Cadastro Estadual das
Madeireiras Paulistas (CADMADEIRA), regulamentado pelo Decreto
Estadual nº. 53.047, de 02 de Junho de 2008. Já a madeira certificada é
aquela que além da sua origem declarada preserva a exploração das
florestas de maneira racional, assegurando a manutenção destas e
contribuindo para o desenvolvimento social e econômico das
comunidades florestais.
Muitas iniciativas isoladas têm sido implantadas para combater a
degradação das florestas, entretanto, não têm sido suficientes para
mudar a realidade desse consumo insustentável de uma madeira
proveniente de um dos biomas naturais mais importantes do mundo: a
Amazônia.
3.3.2. O abastecimento de água
A questão do abastecimento de água já faz parte das discussões do
governo. Após a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a água
realizada em 1992, na qual advertiram que a água é um recurso
vulnerável e finito, muitos esforços têm sido feitos para preservação e
conservação dos recursos hídricos no mundo inteiro. No Brasil, um dos
esforços foi a criação da ANA (Agência Nacional das Águas) cuja missão
é “implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos recursos
72
hídricos e regular o acesso à água, promovendo o seu uso sustentável em
benefício da atual e das futuras gerações” 12.
Na região metropolitana de São Paulo, os recursos hídricos disponíveis
para manter os quase 20 milhões de habitantes não são mais suficientes
para abastecer a cidade. Neste sentido, a preocupação com este recurso
natural tem incentivado - inclusive a Sabesp - Companhia de
Saneamento Básico de São Paulo, a manter convênio com o CEDIPLAC
e ProAcqua para estruturar, desenvolver e elaborar documentação
técnica e funcional para o sistema de medição individualizada de água
em edifícios.
O objetivo geral do Programa será a Garantia da Qualidade dos Serviços nas diversas etapas (projeto, execução e manutenção) dos sistemas, a segurança dos perfis de consumo, a justa cobrança de água dos diversos consumidores, bem como o uso racional de água. 13
Com este programa, que visa à capacitação profissional, à qualificação e
à certificação de empresas e processos para adoção de critérios
adequados para medição, a Sabesp espera alcançar um modelo de uso
racional de água levando a economia aos usuários e buscando
conscientização ambiental. O Programa foi instituído em 2007, por
iniciativa do CEDIPLAC - Centro de Desenvolvimento e Documentação
da Habitação e Infraestrutura Urbana.
12 (Disponível em http://www2.ana.gov.br/Paginas/institucional/SobreaAna/abaservinter1.aspx acessado em 13/03/10). 13 Disponível em http://www.proacqua.org.br/default.asp acessado em 20/02/11.
73
Medição Individualizada de Água em Empreendimentos
A medição individualizada já tem sido aplicada por construtoras de São
Paulo e o objetivo principal é fazer com que o consumidor pague apenas
pelo que consumiu. Dessa forma, ele terá condições de avaliar o quanto
está desperdiçando de água no mês. Este sistema permite a reeducação
dos consumidores para um consumo mais racional. A partir dele será
possível identificar, por exemplo, a existência de vazamentos. Para
utilização deste sistema é necessária a instalação de um hidrômetro em
cada unidade habitacional.
Segundo a Sabesp,
A individualização dos hidrômetros por apartamento não interfere nas atividades da Sabesp, pois a leitura continua sendo feita em um único hidrômetro: o da entrada do prédio. A maior dificuldade encontrada para a medição individual é que, em prédios já construídos, a obra de instalação dos hidrômetros mostra-se inviável devido aos custos elevados, pois é necessária a troca quase total das instalações hidráulicas internas, além de um sistema de medição que exige um remodelamento técnico e administrativo do imóvel. Em empreendimentos novos, a solução é mais fácil, pois os hidrômetros individuais podem ser previstos na concepção do projeto arquitetônico 14.
O ideal é que em condomínios multifamiliares, seja estabelecido também
um programa de educação ambiental para uso racional da água, pois o
sistema não poderá fazer milagres se o condômino não reagir aos seus
resultados. É necessária a mudança nos hábitos dos moradores.
Hoje, no Programa Habitacional da secretaria de habitação do Estado de
São Paulo já são 5.548 unidades habitacionais com este sistema
implantado e estavam previstas a implantação de mais 8.472 unidades
14 Sabesp, 2008, disponível em http://site.sabesp.com.br/site/default.aspx (acessado em 02/06/10).
74
até dezembro de 2010. Entretanto, esse montante é ainda irrisório frente
ao número de unidades habitacionais existentes no Estado.
3.3.3. Eficiência energética
Hoje, 22% de energia elétrica está no uso residencial, e por isso, o
governo federal em parceria com a Eletrobrás e o Inmetro lançou
algumas iniciativas visando ajudar os consumidores a diminuir os seus
gastos com energia elétrica dentro das edificações.
O consumidor tem condições de selecionar aparelhos como televisores,
geladeiras e demais eletrodomésticos através do Selo Procel –
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica que foi lançado
em 1993, pela Eletrobrás.
O Selo Procel faz parte do programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE
em parceria com Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial – Inmetro. O principal produto é a Etiqueta Nacional
de conservação de Energia: os produtos são submetidos à análise para
avaliar o potencial de economia de energia dos aparelhos.
Após vários estudos desenvolvidos pelo programa, foi lançado em junho
de 2009 o selo Procel Edifica, cujo objetivo principal é incentivar a
conservação e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz,
ventilação, etc.) nas edificações, reduzindo os desperdícios e os
impactos no meio ambiente.
A sustentabilidade passa pelas escolhas, por exemplo, na hora de
comprar é muito importante que, além da análise das características
técnicas do produto, a procedência e a qualidade também sejam
avaliadas. Hoje, na hora de escolher os aparelhos eletrodomésticos e
eletrônicos, por exemplo, o consumidor deve ficar atento se eles
75
atendem às normas técnicas de segurança e também à demanda por
eficiência energética.
Conservar energia é importante, pois no Brasil a nossa energia é
proveniente de hidroelétricas, isso significa que quanto maior o consumo
de energia mais evidente se torna a necessidade de construção de
novas hidroelétricas o que implica a inundação várias áreas e um
desastre ambiental desnecessário, pois o curso natural dos rios é
afetado e toda população que vive ao seu entorno também sofre com
impactos ambientais e sociais.
Fonte: Procel Edifica
No Brasil, temos fontes alternativas de energia em estudo, entretanto,
são necessários investimentos e tecnologias para que se possa fazer
com que este déficit seja sanado. O que resta aos consumidores, os
mais afetados com os impactos ambientais causados pela degradação, é
transformar a realidade através de atitudes práticas como, por exemplo,
a compra de aparelhos que apresentem maior eficiência energética. De
acordo com Almeida, o “consumidor consciente provavelmente aceitará
pagar um pouco mais por energia produzida a partir de fontes renováveis.
Políticas públicas e precificação da energia em equilíbrio com objetivos sociais
novos e sustentáveis hábitos de consumo”. (ALMEIDA, 2007: 40).
76
3.4. Articulação setorial para sustentabilidade
3.4.1. O Governo
O Governo Federal através de incentivos de créditos imobiliários lançou
em 2008 o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento - e,
recentemente, frente à crise econômica mundial e em parceria com a
Caixa Econômica Federal, lançou o Programa Minha Casa Minha Vida a
fim de atender também à demanda provocada pelo déficit habitacional
brasileiro que hoje se encontra em torno de 6,273 milhões de unidades,
segundo Inês Magalhães,
Como déficit habitacional, que demanda reposição ou incremento do estoque de moradias, são classificados os domicílios improvisados e os rústicos – as habitações precárias , parte da coabitação familiar, o ônus excessivo com aluguel (comprometimento maior que 30% da renda familiar com aluguel entre as famílias que ganham até três salários mínimos) e, introduzido na versão atual, o adensamento excessivo nos domicílios alugado”. 15
Essa iniciativa tem como um dos objetivos impulsionar a habitação
popular incluindo alguns critérios de sustentabilidade na construção que
possam influenciar reduções significativas nas contas de água e energia
dos seus usuários, além de reduzir os impactos causados pela
construção civil no meio ambiente, que na escala global é a responsável
por 40% das emissões de gases causadores do efeito estufa interferindo
nas mudanças climáticas e também na dinâmica social.
O secretário de Estado da Habitação e presidente da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Lair Krähenbühl,
apontou durante o 9º Construbusiness, um evento de negócios da
15 Disponível em Secretária Nacional de Habitação do Governo Federal. http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao/programas-e-acoes/mcmv/minha-casa-minha-vida (acessado em 01/02/2010)
77
construção civil realizado no dia 29 de novembro de 2010 em São Paulo,
para a necessidade de obter maior foco no Programa Minha Casa Minha
Vida na produção de moradias para a população de baixa renda das
regiões metropolitanas do país.
“Hoje, o custo dos terrenos é alto e as pessoas que recebem até três
salários mínimos ficam excluídos do programa, uma vez que o valor de
R$ 52.000,00 de subsídio por moradia nas regiões metropolitanas da
cidade não é realista e fica difícil entregar uma habitação de interesse
social e ainda incluir critérios de sustentabilidade. A alternativa seria
estabelecer parcerias com o setor privado, maior crédito de bancos
privados para as populações de baixa renda além da necessidade de
união das três esferas do governo; União, Estado e Município16.
A secretaria de Habitação do Governo do Estado de São Paulo conta,
hoje, com um projeto de Habitação de Interesse Social Sustentável que
apresenta quatro diretrizes programáticas: regularização fundiária, ação
em favelas e assentamentos precários, ações integradas em projetos de
recuperação urbana e ambiental e requalificação urbana e moradias.
Além disso, o programa prevê a sustentabilidade e melhoria da
qualidade do produto a ser entregue.
O processo de regularização fundiária conta com o apoio do projeto
cidade legal através do decreto estadual n°52.052/2007 que tem a
adesão de 407 municípios conveniados e 11.000 núcleos. O processo de
regularização dos conjuntos habitacionais conta com 57.000 unidades do
total de 155.000 a serem regularizados e que são amparados pela lei
estadual Nº 13.290/2008, incluindo a redução de 90% das custas
(encargos) com a regularização.
16 Conferir: http://www.youtube.com/watch?v=ikIMiTLDHnE
78
Através do novo sistema de aprovação de terrenos, estão previstos nas
proximidades infraestrutura hídrica e redes de esgoto, comércio e
serviços, racionalização dos transportes públicos e integração dos
serviços de saúde, lazer e educação, proporcionando às famílias
beneficiadas uma melhoria significativa na qualidade de vida.
Figura 3 – Condições de vida17
Em relação à melhoria do produto habitacional de interesse social, o
programa prevê novas tipologias, um terceiro dormitório, pé direito
ampliado - que proporciona maior circulação de ar e conforto -,
revestimentos de pisos em todas as dependências, azulejos nas áreas
de cozinha e banheiro, laje, cobertura para área de serviço, esquadrias
de alumínio, muros divisórios, paisagismo e arborização.
Aspectos de sustentabilidade visando melhorias nas contas de água e
energia dos usuários também foram incorporados ao projeto, além da
implantação de novas tecnologias construtivas e o desenho universal
17 De 2007 a 2010, 279 municípios foram atendidos; 57.559 famílias beneficiadas com um total de R$ 1,96 bilhão de investimento (Fonte: CDHU-Companhia de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, junho/2010.)
79
que prevê uma habitação utilizável para qualquer pessoa independente
da sua mobilidade física total ou parcial.
O Professor Alex Abiko, da Universidade São Paulo, apresentou durante
o 3° Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável, três aspectos
relevantes para cidades inclusivas e mais sustentáveis: a necessidade
de implantar áreas verdes, adotar diretrizes para a gestão de transporte
e envolvimento da comunidade. São princípios que integram às
tecnologias dos edifícios verdes uma nova forma de se projetar as
cidades.
Marcelo Vespoli Takaoka afirmou que as pessoas, as empresas e seus
empreendimentos estão fazendo menos do que poderiam em relação à
sustentabilidade:
(...) estamos fazendo menos de 10% do que poderíamos, porque é um negócio novo e está todo mundo se atirando, além disso, o setor da construção civil que bastante conservador neste processo, mas acho que a velocidade de mudança vai aumentar rapidamente, o que falta é disseminação de conhecimento sobre construção sustentável e despertar da conscientização das pessoas. (Entrevista com Marcelo Vespoli Takaoka, pesquisa de campo).
As empresas devem continuar evoluindo e não crescendo,
(...) tem uma diferença grande entre crescimento e evolução, as empresas sempre falam do crescimento de market share, crescimento do número de clientes, crescimento de vendas etc. Visão completamente errada, porque se todos quiserem crescer vai ter uma hora que uma empresa vai bater na outra e o que acontece quando uma bate com a outra? A primeira coisa: as duas perdem. O ideal seria que as empresas evoluíssem os seus produtos e não mais VGV - Volume Geral de Vendas, e ter um melhor produto para um mesmo cliente. (Entrevista com Marcelo Vespoli Takaoka, pesquisa de campo).
80
3.4.2. A estratégia da ONU para construção sustentável
A Organização das Nações Unidas, desde a conferência de Estocolmo
em 1972, tem incentivado programas que visam integrar e sensibilizar os
chefes de estado a alinharem suas estratégias e ações com o
desenvolvimento sustentável das nações. O Programa Ambiental das
Nações Unidas (UNEP) tem coordenado iniciativas no setor da
construção civil com objetivo de influenciar nas reduções dos gases
causadores do efeito estufa, uma das causas das mudanças climáticas
no mundo. O SBCI - Sustainable Buildings and Construction Initiative -,
por exemplo, tem incentivado o governo e a indústria da construção no
desenvolvimento de políticas públicas e práticas mais limpas pelo setor,
a fim de que os impactos sejam minimizados e o mundo possa se
comprometer com metas de reduções de gases. No Brasil, o CBCS –
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável - tem trabalhado em
parceria com o SBCI no intuito de atingir as reduções necessárias e
contribuir para que as metas de uma economia inclusiva e de baixo
caborno sejam atingidas.
SBCI - Sustainable Buildings and Construction Initiative
O SBCI - Sustainable Buildings and Construction Initiative -, por exemplo,
tem incentivado o governo e a indústria da construção no
desenvolvimento de políticas públicas e práticas mais limpas pelo setor,
a fim de que os impactos sejam minimizados e o mundo possa se
comprometer com metas de reduções de gases. No Brasil, o CBCS –
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável - tem trabalhado em
parceria com o SBCI no intuito de atingir as reduções necessárias e
contribuir para que as metas de uma economia inclusiva e de baixo
caborno sejam atingidas.
A UNEP, em 2009, lançou um guia para avaliação do ciclo de vida de
produtos e apontou em seus estudos que a análise do ciclo de vida dos
81
produtos poderá influenciar no crescimento da responsabilidade social
Empresarial, no contexto político, econômico e social.
CBCS Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
No Brasil, o CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, um
dos membros do SBCI, também já desenvolve projetos que têm como
objetivo intervir na redução das emissões de CO2 reduzindo os impactos
causados às alterações climáticas que hoje têm sido vistas de perto por
todos nós.
O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável foi constituído em agosto de 2007 como uma OSCIP com o objetivo de induzir o setor da construção a utilizar práticas mais sustentáveis que venham melhorar a qualidade de vida dos usuários, dos trabalhadores e do ambiente que cerca as edificações. O Conselho é resultado da articulação entre lideranças empresariais, pesquisadores, consultores, profissionais atuantes e formadores de opinião. O CBCS se relaciona com importantes organizações nacionais e internacionais que se dedicam ao tema, sob diferentes perspectivas, a partir da ótica ambiental, de responsabilidade social e econômica dos negócios. Além disso, os comitês temáticos que estão em funcionamento, debatem e indicam boas práticas para as áreas mais prementes da edificação, como a de Energia, Água, Materiais, Projetos, Avaliação de Sustentabilidade além de questões econômicas e financeiras (CBCS,2008).
A partir de 2009, o SBCI, o PNUMA Brasil e o CBCS começaram a
desenvolver o “Projeto Sushi”.
O Projeto SUSHI, Sustainable Social Housing Iniciative, faz parte do
SBCI Sustainable Building Iniciative (Iniciativa da Edificação Sustentável)
e é representado no Brasil pelo PNUMA e pelo CBCS - Conselho
Brasileiro de Construção Sustentável.
O projeto surgiu devido à necessidade de se melhorar o produto final dos
programas de habitação social promovidos pelos governos, já que, em
muitos países, esse tipo de projeto resulta em habitações com baixa
82
durabilidade, problemas de qualidade da construção, conforto interno
inadequado, altos custos de manutenção, fatores que implicam
obsolescência prematura, desperdício de recursos naturais não-
renováveis, desperdício de água e energia que são consumidos ao longo
da vida útil desses edifícios e que impactam no orçamento familiar em
função dos valores pagos nas contas de água e energia.
Desenvolvido junto com representações locais do PNUMA Brasil e da
Tailândia, e fazendo parte do “Resource Efficiency – SCP – Norway
Partnership” coordenado pela DTIE – Division of Technology, Industry
and Environment (Departamento de Tecnologia, Indústria e Meio
Ambiente) do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas
(UNEP/PNUMA), o Projeto SUSHI tem como objetivo selecionar duas
funções-piloto, sendo uma na área de energia e outra na área de uso de
materiais, para buscar todas as alternativas tecnológicas existentes no
mercado local visando alcançar a sustentabilidade, respeitando a
capacidade financeira de pagamento das famílias para aquisição e
manutenção dos seus respectivos imóveis.
O produto final do projeto SUSHI deverá ser uma habitação social com
melhor desempenho ambiental, menor custo de ciclo de vida, e que
promova maior satisfação do usuário final. Além disso, o projeto tem
como objetivo final promover uma mudança das práticas vigentes na
produção de habitação de interesse social com recursos públicos, por
meio de uma mobilização da cadeia produtiva do setor, que deverá estar
engajado no projeto.
O resultado final do projeto será um relatório que contém a metodologia
desenvolvida no projeto SUSHI juntamente com estudos de casos de
cada uma das funções-piloto, tanto de São Paulo como de Bangkok.
83
3.4.3. A estratégia das entidades setoriais para a sustentabilidade
O SindusconSP - Sindicato da Indústria da Construção - realizou no dia
06 de julho de 2009 um evento para promover o debate sobre as
mudanças climáticas no setor. Um dos destaques apontados pelos
especialistas que participaram do evento sobre as mudanças
necessárias está não só na implantação de processos produtivos mais
limpos, mas também na mudança imediata do nosso perfil de consumo.
Em São Paulo, já temos algumas iniciativas do governo que deram certo
na redução de CO2 como, por exemplo, o caso dos dois aterros
sanitários que, hoje, através dos gases gerados pelo lixo, abastecem
com energia elétrica duas cidades no interior do Estado, abrangendo
mais de 700mil habitantes. Ou seja, hoje já sabemos o que precisa ser
feito, o que falta é fazer.
Outro ponto importante para se começar uma mudança rápida é fazer
com que as empresas conheçam a sua “pegada de carbono”. Hoje,
através de uma ferramenta gratuita disponível no site:
http://www.ghgprotocol.org/calculation-tools/all-tools é possível que as
empresas calculem sua pegada de carbono. A ferramenta que foi
desenvolvida em parceria pelas entidades: MMA - Ministério do Meio
Ambiente, FGV - Fundação Getúlio Vargas, CEBEDS - Conselho
Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, WBCSD - World Business
Council for Sustainable Development e WRI - World Resources Institute.
Com esses dados, as empresas poderão estabelecer metas para a
redução de seus impactos e melhoria de seus processos. É importante
ressaltar que por enquanto esse relatório é voluntário, mas já está
tramitando no congresso um projeto que tornará obrigatória a entrega de
um relatório anual pelas empresas. Algumas empresas já aderiram à
84
ferramenta como: Alcoa, AmBev, Arcelor Mittal, Banco Real, Sadia,
Boticário, Suzano Papel Celulose, dentre outras.
Já a eficiência energética, por exemplo, segundo a Eletrobrás, 40% do
uso de energia elétrica no Norte do país se deve ao uso do ar-
condicionado, isso significa que precisamos alterar a forma de projetar,
aplicando medidas como sombreamento nas fachadas, utilização de
energia solar dentre outras. Por isso, na hora de um consumidor
escolher um empreendimento, estes aspectos são relevantes para uma
escolha mais sustentável.
CIBIC - Câmara da Indústria da Construção
A CIBIC - Câmara da Indústria da Construção -, desde 2005 vem
premiando empresas que se destacam na responsabilidade social, por
meio do FASC – Fórum de Ação Social e Cidadania -, o qual estabelece
o regulamento para a concessão do Prêmio CBIC de Responsabilidade
Social, aplicável aos projetos sociais desenvolvidos por entidades e
empresas construtoras, no ano base de 2009 e anteriores.
A premiação de Responsabilidade Social tem o intuito de: Fortalecer e estimular o desenvolvimento de ações sociais no setor da Indústria da Construção e do Mercado Imobiliário, criando um mecanismo de reconhecimento dos esforços conjuntos do setor na busca por uma sociedade com melhor qualidade de vida. Disseminar a cultura da responsabilidade social no setor, por meio do debate sobre o tema, ressaltando sua importância para toda a sociedade, especialmente entre os atuantes no setor da Indústria da Construção e do Mercado Imobiliário. Promover intercâmbio de informações com as organizações dedicadas ao tema da responsabilidade social, construindo uma fonte permanente de informações e notícias das ações sociais do setor. Quem pode concorrer: Empresas ligadas à Indústria da Construção e do Mercado Imobiliário, sediadas no Brasil, de qualquer porte, que
85
estejam desenvolvendo ações, projetos ou programas de responsabilidade social; Entidades de classe do setor da Indústria da Construção e do Mercado Imobiliário, filiadas à CBIC, que estejam desenvolvendo ações, projetos ou programas de responsabilidade social”.18
O Secovi - Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e
Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais -, através do
Projeto Ampliar, tem como objetivo promover a educação e
profissionalização de adolescentes e jovens em situação de risco,
oferecendo condições para que estes possam ocupar seu lugar no
mercado de trabalho.
O projeto atua em duas frentes. A primeira é o Projeto Engraxate, que
visa oferecer uma alternativa de geração de renda, bem como estimular
o desenvolvimento pessoal de jovens carentes, entre 16 e 20 anos,
através de uma oportunidade real de trabalho: serviços de manutenção
de sapatos. A segunda é o Projeto Jovem Farmácia – um programa que
consiste em ministrar cursos de "Auxiliar de Farmácia" a jovens entre 18
e 23 anos, na Unidade Paulista/Brigadeiro do Ampliar.
Com todas essas iniciativas é possível perceber que a responsabilidade
social do setor ganhou uma nova configuração com os empreendimentos
verdes e certificações ambientais que vêm sendo implementadas. A idéia
de sustentabilidade, por sua vez, ganhou força, principalmente porque
existe uma articulação setorial favorável a este movimento através das
entidades representativas.
18 Conferir Premio CEBIC de Responsabilidade Social: http://www.cbic.org.br/comissoes-e-foruns/forum-de-acao-social-e-cidadania/projetos/pagina/premio-cbic-de-responsabilidade-.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclusões e recomendações
Este trabalho procurou contextualizar a incorporação das noções de
responsabilidade social pelas empresas a partir da consciência dos
problemas ambientais no mundo e, nesse sentido, foi possível perceber
que, no Brasil, temos uma forte tendência a seguir os caminhos da
sustentabilidade. Entretanto, se pensarmos nas questões relacionadas
ao consumo, ao fenômeno do individualismo e à falta estratégias de
sustentabilidade definidas para gestão das empresas, falta de articulação
entre os poderes públicos e privados, podemos afirmar que não haverá,
pelo menos nos próximos anos, uma mudança significativa em relação
às práticas de sustentabilidade.
Vale lembrar um dos paradoxos do século XX apontado por Morin. A
gigantesca produção científica em todas as áreas de conhecimento e da
técnica coexiste com a cegueira global para os problemas fundamentais
e complexos que impedem o homem de compreender o que está tecido
junto, ou seja, aprender a conjugá-los.( MORIN, 2000:45)
Do ponto de vista da sustentabilidade, este paradoxo se confirma, pois
são muitos os programas e iniciativas que estão em busca da
sustentabilidade, entretanto, existe uma fragmentação e desarticulação
entre os atores do processo, ou seja, governos, empresas fornecedoras
da construção civil e empresas de desenvolvimento imobiliário, o que
coloca obstáculos à religação, e, portanto, não conduz à solidariedade.
Isso se deve ao fato de que o ser humano tem um pensamento
fragmentado em função do conhecimento, pois até mesmo as ciências
87
humanas são elas próprias fragmentadas, e o novo saber, por não ter
sido religado, não é assimilado nem integrado.
Aspectos como a educação, ou formação de redes de conhecimento, se
apresentaram como estratégicos para a cultura da sustentabilidade, e,
no geral, isso também foi confirmado nas entrevistas realizadas com os
profissionais do setor da construção civil, mas será necessário integrar a
multidimensionalidade e a complexidade humana para a educação do
futuro.
O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível. A cultura acumula em si o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e princípios de aquisição. (MORIN, 2000: 52).
O fenômeno do consumismo, conforme apontado neste trabalho,
institucionaliza-se através de hábitos e confirma o comportamento
individualista que tem levado ao esgotamento os recursos naturais,
consequentemente, ao aumento do lixo, piorando a qualidade de vida
nas cidades.
Em São Paulo, este fenômeno individualista tem proporcionado
problemas ligados, por exemplo, à mobilidade urbana, pois a quantidade
de veículos na cidade tem aumentado significativamente e de acordo
com o caderno Conjuntura Urbana, em 2009, a maior parte dos
domicílios da Região Metropolitana de São Paulo tem acesso aos bens
de uso difundido (rádio, televisão, geladeira, freezer), e dois bens de
consumo de média difusão (automóvel, dvd, máquina de lavar e linha
telefônica).
As cidades no contexto apresentado acumulam um conjunto de
significações e representações que integram um universo simbólico hoje
idealizado através de condomínios fechados de médio e alto padrão que
88
conduzem as pessoas pertencentes a essa classe média alta ao
isolamento, apontando para novas formas de sociabilidade que lhes
proporcionem status e aceitação.
Por outro lado, as pessoas que estão habitando as regiões periféricas da
cidade em áreas de vulnerabilidade também reafirmam sua condição
desigual e é necessária a ampliação de programas de habitação que
prestigiem aspectos que vão desde a escolha dos terrenos até a
viabilidade de acesso a serviços de infraestrutura como redes de água,
energia, tratamento sanitário, coleta de lixo, saúde, transporte e
educação.
Hoje, apesar das inovações tecnológicas e conhecimentos sobre a
influência dos espaços na concepção das metrópoles, não há sintonia
entre o planejamento urbano e desenvolvimento das cidades, talvez
porque o desenvolvimento das cidades não está sendo pensado como
um sistema aberto e sistêmico.
A complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada dos elementos que a constituem: todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. (MORIN, 2000: 55).
O setor da construção civil, apesar de apresentar avanços significativos
nas tecnologias capazes de transformar os edifícios em ambientes mais
eficientes do ponto de vista da economia de recursos naturais, como
água e energia, apresenta uma dificuldade de compreender que as
edificações são produzidas para as pessoas e, portanto, elas também
deverão apreender como operar e o porquê da incorporação desta
tecnologia no processo. O processo deverá ser de “dupla pilotagem”
entre o edifício tecnológico, chamado Green Building, e os seus
habitantes.
89
Este novo casamento entre natureza e a humanidade, necessitará, sem dúvida, como acabamos de dizer, de uma dupla superação da técnica atual que por sua vez, necessita de uma superação do modo de pensar atual, inclusive científico. (MORIN, 2005: 116).
Ceotto afirmou que é necessário contar com dois fatores nos
empreendimentos verdes, para seu perfeito funcionamento: o fator
humano e o tecnológico. “Você tem todo um processo de educação, mas a
grande parte das empresas não liga muito para isso. As pessoas têm de
entender que não existe um sistema perfeito: o ser humano tem que colaborar”
(Entrevista à pesquisa de campo).
O conceito de construção sustentável, bem como os modelos de
certificações dos empreendimentos, afasta e distancia os usuários e
seus vizinhos da fase de planejamento urbano. Além disso, fica evidente
que este movimento no Brasil está mais voltado para a tecnologia do
empreendimento, ou seja, para o consumo de materiais sustentáveis do
que planejamento urbano propriamente, ou para a fase de pós-ocupação
do edifício, fase em que permanecemos a maior parte do tempo e
consumimos mais recursos como água e energia.
O setor imobiliário, em São Paulo, é um importante agente indutor do
processo de concepção da cidade, pois ele articula, através das
parcerias público-privadas, as operações urbanas de maneira
coordenada com os investidores dos mega projetos, excluindo-se as
regiões periféricas da cidade ou as populações das favelas da região,
dificultando o acesso dessas pessoas aos serviços de infraestrutura
como transporte, lazer, saúde e educação. Isso nos leva a perceber que
existe uma lacuna nos aspectos de planejamento urbano da cidade,
como se deu no nascimento da nova cidade localizada às margens do rio
Pinheiros.
90
Iniciativas como a da secretaria de Habitação do Governo do Estado de
São Paulo, que hoje conta com um projeto de Habitação de Interesse
Social Sustentável, deverão ser amplamente incorporadas ao programa
do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, mas, para que isso
aconteça, será necessária uma articulação entre os governos e a
iniciativa privada de maneira urgente para atendimento do déficit
habitacional brasileiro, incorporando também aspectos de
sustentabilidade.
As mídias e os meios de comunicação de massa devem ser
consideradas importantes variáveis no processo de consolidação de uma
nova cultura para a sustentabilidade. Elas retroalimentam as
expectativas e desejos dos consumidores, e no caso do setor imobiliário
atua como grande influenciadora de hábitos de uma sociedade.
Conforme apresentamos anteriormente, a propaganda do condomínio
residencial Genesis, em Santana do Parnaíba, município na região
metropolitana de São Paulo, levou os compradores a criarem uma nova
expectativa sobre os aspectos ambientais incorporados ao
empreendimento, e de maneira positiva contribuiu para que a Takaoka
revisasse o projeto e buscasse alternativas mais ecológicas que
pudessem atender a essa nova demanda do mercado.
É necessário, portanto, uma religação das pessoas com o universo, um
novo modelo de pensamento multidimensional que rompe com o
paradigma tradicional e apresente soluções práticas e passíveis de
implantação.
Vale destacar que foi percebida uma confusão entre os conceitos de
sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social
e a tendência geral das pessoas é buscar um conceito reducionista que
simplifique ou integre todos estes aspectos e, no geral, o entendimento
91
das empresas é o de que responsabilidade social ou sustentabilidade
tenham um mesmo significado.
Michael Serres propõe que a Hominesciencia seja um processo evolutivo
continuo, um diferencial para um homem que precisa se reinventar,
assim como as cidades, que hoje precisam de novas formas de
urbanização talvez por bairros, ou microrregiões, onde seja possível a
aplicação de modelos de desenvolvimento que priorizem aspectos de
sustentabilidade. Projetos de requalificação de espaços públicos e
incorporação de elementos como as ciclovias para melhorar a qualidade
do sistema viário são alguns exemplos que podem ser incluídos nestes
aspectos de concepção de espaços.
Conforme os resultados gerais apresentados neste trabalho podemos
perceber que será necessário um esforço conjunto entre os diversos
atores da sociedade para articular uma rede favorável para que as
metrópoles sejam mais sustentáveis e que as populações em situação
de vulnerabilidade das cidades se integrem aos espaço físico que
ocupam com acesso aos serviços de infraestrutura, lazer, transporte,
educação e saúde.
Mediante estes dados, é possível constatar que mudanças significativas
no setor têm ocorrido através de articulações entre, empresas,
fabricantes, sindicatos, ONGs, governo e sociedade, entretanto, o
aspecto da responsabilidade social nas empresas do setor, do ponto de
vista prático, ainda tem deixado a desejar.
Recomendações
A partir dos aspectos apontados por este trabalho sugerimos três
medidas para os problemas levantados: difusão do conceito de
92
sustentabilidade, implantação de política pública e desenvolvimento de
uma agenda sustentável para o setor da construção civil.
1 - Difusão do conceito de sustentabilidade
Entendemos que para este item sejam necessárias articulações entre
academia e a sociedade para que a grade curricular dos sistemas de
ensino formais sejam revisados desde a educação infantil até a
educação universitária com a intenção de proporcionar às pessoas em
formação conhecimento sobre a natureza humana, ciências naturais,
além de literatura, música e conceitos ligados à ética e à moral. Além
disso, o fortalecimento de redes de conhecimento facilitará permitirá que
este conhecimento seja ampliado, retroalimentado e transformado pela
sociedade.
2 - Implantar políticas públicas
Podemos perceber que tanto o setor público como o setor privado, bem
como entidades da sociedade civil, deverão atuar em conjunto para que
a sociedade caminhe rumo à construção de cidades mais sustentáveis,
pois se essa parceria é capaz de prover operações urbanas para
valorização de áreas e transformação de espaços, também será possível
estabelecer uma política inclusiva de planejamento que priorize a
sustentabilidade
3 - Agenda da construção sustentável
O setor da construção civil está desarticulado em suas estratégias de
sustentabilidade. Por outro lado apresenta uma série de iniciativas que
precisam ser integradas a um programa que vise a implantação de
política pública para que a cidade de São Paulo tenha uma agenda
própria da sustentabilidade com metas de desenvolvimento local por
bairros e microrregiões e metas globais por município a fim de alinhar o
planejamento urbano da cidade rumo à sustentabilidade.
93
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101
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ANEXOS
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
Resultado do Questionário
1) Qual o modelo de análise de indicadores a empresa utiliza?
31%
42%
19%
8%
ETHOS
GRI
ISE
OUTROS
Gráfico 1: Modelo de Análise
2) Sua empresa utiliza apenas os indicadores propostos ou
desdobra os indicadores para análises mais apuradas?
A maioria não desdobra e alguns utilizam os mesmos para
estabelecer metas.
3) A principal motivação para monitorar indicadores foi?
102
Gráfico 2: Motivação de Monitoramento
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
4) Onde está mais explícito o compromisso de sustentabilidade
da organização?
Gráfico 3: O compromisso da Sustentabilidade na organização
5) Qual a frequência de avaliação ou monitoramento dos
indicadores?
103
Gráfico 4: Frequência de avaliação
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
6) Quem participa do levantamento de dados, preenchimento e
análise dos indicadores?
104
Gráfico 5: Participantes dos processos
7) Os relatórios são validados por quem?
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
105
Gráfico 6: Validação do relatório
8) Quando a empresa relata os indicadores, ela tem política para
apresentar os resultados negativos?
53%
47%
Sim
Não
Gráfico 7: Apresentação de resultados negativos.
106
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
9) Como o resultado da avaliação dos indicadores é trabalhado
pela empresa?
26%
57%
17% 0%Demonstração deResultados
Ferramenta de Gestão
Direcionados daEstratégia
Outros
Gráfico 8: Resultado da avaliação
10) Como a empresa comunica os resultados da avaliação dos
indicadores?
107
ANEXO A – PESQUISA GRS – GESTÃO RESPONSÁVEL PARA
SUSTENTABILIDADE - FUNDAÇÃO DOM CABRAL - 2008
Gráfico 9: Comunicação dos Resultados
11) Quais foram as principais dificuldades para a análise dos
indicadores de sustentabilidade na sua empresa?
34%
28%
28%
10%
Gestão do Processo
Controles Internos
Financeiro
Disponibilidade de Dados
Gráfico 10: Dificuldades encontradas.
108
ANEXO B – RELATÓRIO STERN
· Os benefícios de uma ação forte e imediata para enfrentar as
mudanças climáticas ultrapassam de longe os custos de não fazer
nada.
· A mudança climática afeta os elementos básicos para vida da
população: acesso à água, produção de alimentos, saúde e o
ambiente.
· Usando modelos econômicos tradicionais, o custo e riscos da
mudança climática equivale a uma perda de 5-20% do PIB
mundial por ano. Em contrapartida, agir – por meio da redução
dos gases que provocam o efeito estufa – custa apenas 1% do
PIB mundial por ano.
· Os investimentos nos próximos 10-20 anos irão impactar
profundamente no clima na segunda metade do século XXI e o
próximo. Nossas ações podem criar um desequilíbrio econômico e
social, similar as guerras mundiais. Como é um problema mundial,
a solução deve partir de um patamar internacional.
· Se as emissões continuarem nesse ritmo, em 2035 teremos o
dobro de gases do efeito estufa do que antes da Revolução
Industrial. Isto irá aumentar a temperatura média mundial em 2°C,
e no longo prazo em mais de 5°C (com probabilidade de 50%) –
essa variação equivale a de hoje com a última era glacial. Essa
enorme variação da temperatura mundial irá alterar a geografia
humana e física do mundo.
109
· Mesmo as predições mais moderadas anunciam impactos sérios
na produção, na vida humana e no ambiente mundial.
· Todas as nações serão afetadas. Os mais pobres sofrerão mais,
justamente os que menos contribuíram para esse desastre.
· Os efeitos da mudança climática não podem mais ser evitados
(20-30 anos), mas deve ser feito um esforço para adaptação, de
forma que a economia e a sociedade não sofram o impacto
diretamente. Isso custará dezenas de bilhões de dólares.
· Deve ser ainda mais procurada por países em desenvolvimento.
· Os níveis de emissão de CO2 são atualmente 430ppm e crescem
2ppm/ano. Os riscos serão reduzidos significativamente se os
níveis forem mantidos em 450-550ppm. Isso equivale a uma
redução de 25%, no mínimo, até 2050.
ANEXO B – RELATÓRIO STERN
· Estabilizar nos níveis atuais exigiria uma redução de 80%. Para
500-550ppm, deve-se investir 1% do PIB mundial por ano.
· Esse panorama pode mudar se não for tomada nenhuma política,
por inovações tecnológicas ou efeitos combinados.
· Os países desenvolvidos devem cortar suas emissões em 60-80%
até 2050. Mas os países em desenvolvimento também devem
fazer cortes significativos. O mercado de carbono pode ser muito
eficiente para se atingir esse objetivo. Envolveria centenas de
bilhões de dólares por ano em investimentos em tecnologias
pouco poluentes e gerariam muito emprego.
· Essa estratégia não significa: ou cortar a emissão desses gases
ou desenvolver o país. Deve-se desenvolver através de
investimentos não poluentes. Ignorar os efeitos da mudança
climática é que impedirá o desenvolvimento.
110
· A emissão pode ser reduzida através do aumento da eficiência
energética, mudança na demanda e adoção de tecnologia limpa
para energia, aquecimento e transporte.
· O setor energético precisa ser descarbonizado em 60% até 2050,
para atingir a meta de 550ppm.
· Mesmo com mudanças, o uso de energia fóssil e emissora de
carbono deve continuar a ser mais da metade da fonte energética,
principalmente em países em rápido crescimento. Por isso a
necessidade de captura e estocamento de carbono.
· Não apenas no setor energético; desflorestamento, agricultura e
indústria também devem ter suas emissões controladas.
· Mudança climática é a maior das falhas de mercado. Deve ser
atacada em três frentes: Valoração do carbono, por meio de
taxas, impostos, comércio e regulação. Desenvolvimento e
inovação em tecnologias que emitem pouco carbono. Remover as
barreiras a eficiência energética e informar, educar e persuadir os
indivíduos de sua responsabilidade. O esforço deve ser coletivo e
internacional. União Européia, Califórnia e China têm políticas
ambiciosas. UNFCCC e Kyoto são avanços no sentido de
generalizar essas metas. Esforços individuais são insuficientes.
ANEXO B – RELATÓRIO STERN
· Os elementos-chave para o futuro quadro mundial são: Comércio
de carbono: para privilegiar aqueles que emitem pouco e fazer
crescer a inovação tecnológica não-poluente. Cooperação
tecnológica: por acordos ou informais, o investimento em suporte
à P&D energético deveria dobrar e no uso das novas tecnologias
quintuplicar. Reduzir o desflorestamento: é mais importante e com
mais custo-benefício que a redução no setor de transporte.
Adaptação: fundos internacionais, focando nos países mais
vulneráveis, que desenvolva novas culturas mais resistentes a
secas e enchentes.
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Fonte: http://www.occ.gov.uk/about/index.htm, 2006