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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP TALITA CARVALHO SILVA DE ALMEIDA SÓLIDOS ARQUIMEDIANOS E CABRI 3D: UM ESTUDO DE TRUNCATURAS BASEADAS NO RENASCIMENTO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA São Paulo 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

TALITA CARVALHO SILVA DE ALMEIDA

SÓLIDOS ARQUIMEDIANOS E CABRI 3D: UM ESTUDO

DE TRUNCATURAS BASEADAS NO RENASCIMENTO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

São Paulo

2010

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TALITA CARVALHO SILVA DE ALMEIDA

SÓLIDOS ARQUIMEDIANOS E CABRI 3D: UM ESTUDO

DE TRUNCATURAS BASEADAS NO RENASCIMENTO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE EM ENSINO DE MATEMÁTICA, sob a

orientação da Professora Doutora Maria José

Ferreira da Silva.

PUC/SP

2010

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Banca Examinadora

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta Dissertação por processos de foto copiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _________________________São Paulo e Data: _________

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Dedico este trabalho aos meus pais, Henrique e

Eliana, pelo amor, compreensão, paciência e

incentivo sempre.

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AGRADECIMENTOS

Primeiro agradeço a DEUS e aos meus anjos da guarda,

pela força, pela proteção e pela oportunidade de iniciar

e concluir esta importante etapa de minha vida.

A querida Professora Doutora Maria José Ferreira da

Silva, pela orientação, apoio e amizade.

Ao Professor Mestre Mário Thomaz (in memorian), por

ter me estimulado a iniciar o mestrado.

Aos membros da banca, Professores Doutores Iran

Abreu Mendes e FumiKazu Saito, pelas valiosas

sugestões e contribuições para essa pesquisa.

Ao corpo docente do Programa de Estudos Pós-

Graduados em Educação Matemática da PUC-SP,

especialmente, aos Professores Doutores Saddo Ag

Almouloud, Benedito Antonio da Silva, Cileda de

Queiroz e Silva Coutinho e Sandra Maria Pinto Magina.

A todos os Funcionários do Centro de Ciências Exatas

da PUC-SP, especialmente ao Francisco, pela amizade e

pela ajuda final na formatação da dissertação.

Aos amigos do Programa de Estudos de Pós-Graduados

em Educação Matemática, Juliana, Rosana, Pimenta, Ana

Lúcia, Edna, Gilson, Victória, Patrícia, Ivete e Aida.

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A querida amiga Victória, pela amizade, apoio e

sugestões preciosas.

Aos meus amados pais, Henrique e Eliana, por me

proporcionarem condições para estudar.

A minha avó Margarida, meu amor incondicional.

Ao meu namorado Érico, pelo amor e apoio sempre.

Ao meu tio Roberto, pelo carinho, amizade, apoio e

acolhida nessa fase de minha vida.

A minha irmã Thais; meu cunhado Sandy; minhas tias

Thereza, Alzira e Ulcirene; minhas primas Paloma, Ana

Paula e Nayana. E a todos os meus familiares, por

acreditarem em mim e por estarem sempre ao meu lado.

A CAPES, pela concessão da bolsa de estudos.

A todas as pessoas que, de certa forma, contribuíram

para a realização desta pesquisa.

A Autora

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo revisitar o objeto matemático Sólidos

Arquimedianos por meio de suas construções no ambiente de Geometria

Dinâmica Cabri 3D. Assim, a pergunta de pesquisa foi: o objeto matemático

Sólidos Arquimedianos pode ser resgatado como objeto de ensino para a Escola

Básica, utilizando como habitat o ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D?

Para investigar processos de construção para esses sólidos, recorremos a um

estudo bibliográfico desenvolvido com base em material já elaborado, constituídos

principalmente de livros e artigos científicos. O referencial teórico baseou-se na

Transposição Didática e na Problemática Ecológica de Yves Chevallard (1991),

para promover a articulação entre a análise epistemológica e a análise didática,

além de apontar características outras que determinam a sobrevivência do objeto

matemático Sólidos Arquimedianos enquanto objeto de ensino, e na teoria dos

Registros de Representação Semiótica de Duval (1995), para identificar e analisar

quais os registros mobilizados para a construção desses sólidos, bem como

evidenciar os tratamentos e conversões efetuados. A escolha metodológica pela

pesquisa bibliográfica contribuiu para o alcance do objetivo desejado, visto que

nos permitiu encontrar um procedimento matemático realizado por renascentistas

para a obtenção de arquimedianos a partir de cortes nas arestas de sólidos

platônicos. As análises das construções realizadas ajudaram a perceber que os

tratamentos apenas figurais não são suficientes para a construção dos Sólidos

Arquimedianos no Cabri 3D, faz-se necessário mobilizar um registro discursivo

suporte para que os pontos de corte em sólidos platônicos possam ser

encontrados. Nesse sentido, constatamos que o Cabri 3D se confirmou como um

habitat para o estudo dos Sólidos Arquimedianos, na medida em reconheceu

como objeto todos os saberes que determinam a existência desse objeto

matemático enquanto objeto de ensino.

Palavras-Chave: Sólidos Arquimedianos. Cabri 3D. Transposição Didática.

Registros de Representação Semiótica.

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ABSTRACT

This research aims to revisit the mathematical object Archimedean Solids through

their constructions on the environment of Dynamic Geometry Cabri 3D. Thus, the

research question was: Can the mathematical object Solids Archimedean be

rescued as the object of education for the Basic School using the environment as

habitat Dynamic Geometry Cabri 3D? To investigate processes of construction for

these solid, we resort to a bibliographic developed based on material already

prepared, consisting of books and scientific articles. The theoretical framework

was based on the Theory of Didactic Transposition to promote the relationship

between the epistemological analysis and didactic analysis, while identifying

characteristics that determine the survival of the Archimedean Solids mathematical

object as the object of education, and the theory of Register of Representation

Semiotics of Duval (1995), to identify and analyze the register mobilized for the

construction of solid as well as highlight treatments and conversions made. The

methodological choice for literature contributed to the achievement of the desired

goal, since it allowed us to find a mathematical procedure performed by

Renaissance to obtain Archimedean from cut edges of Platonic solids. The

analysis of the constructions helped us realize that the only figural treatments are

not sufficient for the construction of the Archimedean solids in Cabri 3D, it is

necessary to mobilize a record discursive support for the cut-off points on Platonic

solids can be found. Accordingly, we find that Cabri 3D was confirmed as a habitat

for the study of Archimedean Solids, because recognized as an object all the

knowledge that determine the existence of mathematical object as an object of

education.

Key-words: Archimedean Solids. Cabri 3D. Didactic Transposition. Register of

Representation Semiotics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação de poliedro como sólido, superfície e estrutura. ....................... 23

Figura 2. Planificação da superfície de um poliedro. ....................................................... 23

Figura 3. Planificações de superfícies de poliedros. ........................................................ 24

Figura 4. Poliedro convexo e poliedro não-convexo. ....................................................... 25

Figura 5. Elementos de um poliedro ................................................................................ 27

Figura 6. Diferentes tipos de ângulos. ............................................................................. 28

Figura 7. Definição de Sólidos Arquimedianos. ............................................................... 38

Figura 8. Exemplo de poliedros arquimedianos. .............................................................. 39

Figura 9. Prisma e Antiprisma retos regulares. ................................................................ 40

Figura 10. Arquimedianos estudados em Geometria Prática. .......................................... 42

Figura 11. Sólidos considerados arquimedianos. ............................................................ 42

Figura 12. Caixa de ferramentas poliedros. ..................................................................... 48

Figura 13. Caixa de ferramentas poliedros regulares ...................................................... 48

Figura 14. Tetraedro regular ............................................................................................ 49

Figura 15. Caixa de medidas. .......................................................................................... 49

Figura 16. Comprimento do segmento AB. ...................................................................... 49

Figura 17. Ferramenta ponto médio. ............................................................................... 50

Figura 18. Ponto médio da aresta do prisma. .................................................................. 50

Figura 19. Ferramenta plano. .......................................................................................... 50

Figura 20. Plano de secção. ............................................................................................ 51

Figura 21. Ferramenta recorte de poliedro ...................................................................... 51

Figura 22. Recorte de poliedro. ....................................................................................... 51

Figura 23. Ferramenta planificação. ................................................................................ 52

Figura 24. Ferramenta abrir poliedro. .............................................................................. 52

Figura 25. Planificação da superfície do dodecaedro regular. ......................................... 52

Figura 26. Diferentes tratamentos. .................................................................................. 71

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Figura 27. Diferentes conversões. ...................................................................................72

Figura 28. Sólidos de Platão. ...........................................................................................81

Figura 29. Descrição de Pappus sobre os sólidos arquimedianos. ..................................83

Figura 30. Tetraedro truncado e cuboctaedro. .................................................................87

Figura 31. Escrito de Piero della Francesca de um Tetraedro truncado. ..........................88

Figura 32. Escrito de Piero della Francesca de um Cuboctaedro. ....................................88

Figura 33. Hexágono regular a partir de um triângulo eqüilátero. .....................................89

Figura 34. Tetraedro truncado, octaedro truncado, icosaedro truncado. ..........................89

Figura 35. Cubo truncado e Dodecaedro truncado. .........................................................90

Figura 36. Desenho de Leonardo da Vinci do Icosidodecaedro. ......................................91

Figura 37. Desenho de Leonardo da Vinci do Rombicuboctaedro....................................91

Figura 38. Icosidodecaedro e rombicuboctaedro. ............................................................92

Figura 39. Cuboctaedro truncado e cubo achatado. ........................................................93

Figura 40. Planificação da superfície do cubo achatado. .................................................94

Figura 41. Construção do cubo achatado a partir do cubo. ..............................................94

Figura 42. Rombicosidodecaedro e icosidodecaedro truncado. .......................................95

Figura 43. Estrutura de poliedros em madeira. ................................................................97

Figura 44. Planificação de superfície de poliedros em madeira. ......................................98

Figura 45. Dodecaedro achatado. ....................................................................................99

Figura 46. Superfície de um dodecaedro achatado em madeira. .....................................99

Figura 47. Mistério Cosmográfico de Kepler. ................................................................. 101

Figura 48. Classificação de poliedros de Kepler ............................................................ 102

Figura 49. Exemplo Lema 2(i). ....................................................................................... 104

Figura 50. Exemplo Lema 2(ii). ...................................................................................... 105

Figura 51. Dois tipos de vértices de mesma espécie ..................................................... 106

Figura 52. Sólidos Arquimedianos. ................................................................................ 121

Figura 53. Rombicuboctaedro e pseudo rombicuboctaedro. .......................................... 123

Figura 54. Sólidos Arquimedianos obtidos por truncaturas. ........................................... 127

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Figura 55. Arquimedianos obtidos por truncaturas modificadas. .................................... 128

Figura 56. Truncamento tipo 1. ...................................................................................... 129

Figura 57. Truncamento tipo 2. ...................................................................................... 129

Figura 58. Eliminação do canto do tetraedro, do cubo e do dodecaedro. ...................... 130

Figura 59. Eliminação do canto do octaedro. ................................................................. 130

Figura 60. Eliminação do canto do icosaedro. ............................................................... 130

Figura 61. Cuboctaedro gerado a partir do cubo ou octaedro. ....................................... 131

Figura 62. Icosidodecaedro a partir do dodecaedro ou icosaedro. ................................ 131

Figura 63. Face hexagonal. ........................................................................................... 132

Figura 64. Pontos de corte no triângulo. ........................................................................ 133

Figura 65. Face octogonal. ............................................................................................ 133

Figura 66. Pontos de corte no quadrado. ...................................................................... 134

Figura 67. Face decagonal. ........................................................................................... 135

Figura 68. Pontos de corte no pentágono. ..................................................................... 135

Figura 69. Circunferência circunscrita ao decágono. ..................................................... 136

Figura 70. Triângulo 1. .................................................................................................. 137

Figura 71. Triângulo 1. .................................................................................................. 137

Figura 72. Ferramenta cubo. ......................................................................................... 141

Figura 73. Cubo............................................................................................................. 141

Figura 74. Pontos médios das arestas do cubo. ............................................................ 142

Figura 75. Plano de secção (cubo). ............................................................................... 142

Figura 76. Eliminação do canto do cubo. ....................................................................... 143

Figura 77. Cuboctaedro. ................................................................................................ 143

Figura 78. Ferramenta octaedro regular. ....................................................................... 143

Figura 79. Octaedro Regular. ........................................................................................ 144

Figura 80. Pontos médios das arestas do octaedro regular. .......................................... 144

Figura 81. Plano de secção (octaedro regular). ............................................................. 144

Figura 82. Eliminação do canto do octaedro regular. ..................................................... 145

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Figura 83. Ferramenta dodecaedro regular. ................................................................... 145

Figura 84. Dodecaedro regular. ..................................................................................... 146

Figura 85. Pontos médios das arestas do dodecaedro regular. ..................................... 146

Figura 86. Plano de secção (dodecaedro regular). ........................................................ 146

Figura 87. Eliminação do canto do dodecaedro regular. ................................................ 147

Figura 88. Icosidodecaedro ............................................................................................ 147

Figura 89. Ferramenta icosaedro regular. ...................................................................... 148

Figura 90. Icosaedro Regular. ........................................................................................ 148

Figura 91. Pontos médios das arestas do dodecaedro regular. ..................................... 148

Figura 92. Plano de secção (dodecaedro regular). ........................................................ 149

Figura 93. Eliminação do canto do icosaedro regular. .................................................... 149

Figura 94. Face triangular ABC. ..................................................................................... 152

Figura 95. Ferramenta tetraedro regular. ....................................................................... 153

Figura 96. Tetraedro regular. ......................................................................................... 153

Figura 97. Arestas do tetraedro divididas em três partes congruentes. .......................... 153

Figura 98. Plano de secção (tetraedro regular). ............................................................. 154

Figura 99. Eliminação do canto do tetraedro regular. ..................................................... 154

Figura 100. Tetraedro truncado. .................................................................................... 155

Figura 101. Ferramenta octaedro regular. ...................................................................... 155

Figura 102. Octaedro regular. ........................................................................................ 155

Figura 103. Arestas do octaedro dividas em três partes congruentes. ........................... 156

Figura 104. Plano de secção (octaedro regular) ............................................................ 156

Figura 105. Eliminação do canto do octaedro regular. ................................................... 157

Figura 106. Octaedro truncado. ..................................................................................... 157

Figura 107. Ferramenta icosaedro regular. .................................................................... 157

Figura 108. Icosaedro regular. ....................................................................................... 158

Figura 109. Arestas do icosaedro dividas em três partes iguais. .................................... 158

Figura 110. Plano de secção (icosaedro regular). .......................................................... 158

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Figura 111. Eliminação do canto do icosaedro regular. ................................................. 159

Figura 112. Icosaedro truncado. .................................................................................... 159

Figura 113. Triângulo eqüilátero. ................................................................................... 160

Figura 114. Ferramenta comprimento. .......................................................................... 163

Figura 115. Comprimento da aresta (cubo). .................................................................. 163

Figura 116. Ferramenta calculadora. ............................................................................. 163

Figura 117. Inserindo expressão na calculadora (cubo truncado). ................................. 164

Figura 118. Transferência de medida para a aresta do cubo. ........................................ 164

Figura 119. Plano de secção (cubo II) ........................................................................... 164

Figura 120. Eliminação do canto do cubo II. .................................................................. 165

Figura 121. Cubo truncado. ........................................................................................... 165

Figura 122. Conversão entre os registros figural e algébrico. ........................................ 166

Figura 123. Inserindo a expressão na calculadora (dodecaedro truncado). ................... 168

Figura 124. Transferência de medida para a aresta do dodecaedro regular. ................. 168

Figura 125. Plano de secção (dodecaedro regular II). ................................................... 169

Figura 126. Eliminação do canto do dodecaedro regular II. ........................................... 169

Figura 127. Dodecaedro truncado. ................................................................................ 169

Figura 128. Ferramenta transferência de Medidas. ....................................................... 184

Figura 129. Transferindo medidas. ................................................................................ 184

Figura 130. Ferramentas distância e comprimento. ....................................................... 185

Figura 131. Calculadora. ............................................................................................... 185

Figura 132. Ferramenta semi-reta. ................................................................................ 186

Figura 133. Criação semi-reta. ...................................................................................... 186

Figura 134. Ferramenta ponto. ...................................................................................... 187

Figura 135. Ponto 1 na semi-reta. ................................................................................. 187

Figura 136. Ferramenta esfera. ..................................................................................... 187

Figura 137. Ponto 2 e ponto 3 na semi-reta. .................................................................. 188

Figura 138. Ferramenta segmento. ............................................................................... 188

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Figura 139. Criação segmento. ...................................................................................... 188

Figura 140. Ferramenta paralela. ................................................................................... 189

Figura 141. Criação paralelas. ....................................................................................... 189

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Recursos do Cabri 3D. ................................................................................... 53

Quadro 2. Números de triângulos eqüiláteros que podem concorrer em um vértice. ....... 80

Quadro 3. Números de quadrados que podem concorrer em um vértice. ........................ 80

Quadro 4. Números de pentágonos regulares que podem concorrer em um vértice. ...... 80

Quadro 5. Características Poliedros de Platão. ............................................................... 82

Quadro 6. Descrição de Pappus sobre os sólidos arquimedianos. .................................. 84

Quadro 7. Sólidos Arquimedianos no Renascimento. ...................................................... 96

Quadro 8. Tipos de vértices que não formam um ângulo sólido. ................................... 104

Quadro 9. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de quatro lados e

no máximo quatro polígonos de três lados. ................................................................... 107

Quadro 10. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de quatro

lados e dois polígonos de três lados.............................................................................. 108

Quadro 11. Possibilidades de ângulos sólidos formados por três polígonos de quatro

lados e dois polígonos de três lados. ............................................................................. 109

Quadro 12. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de cinco lados e

no máximo quatro polígonos de três lados.. .................................................................. 109

Quadro 13. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de cinco lados

e no máximo dois polígonos de três lados.. ................................................................... 110

Quadro 14. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de seis lados e

no máximo três polígonos de três lados. ....................................................................... 111

Quadro 15. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de seis lados

e um polígono de três lados. ......................................................................................... 112

Quadro 16. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de sete ou mais

lados e três lados. ......................................................................................................... 113

Quadro 17. Possibilidades de ângulos sólidos formados por mais de um polígono de sete

ou mais lados e três lados. ............................................................................................ 114

Quadro 18. Possibilidades de ângulos sólidos formados por polígonos de quatro lados e

cinco ou mais lados. ...................................................................................................... 115

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Quadro 19. Possibilidades de ângulos sólidos formados por polígonos de cinco lados e

seis ou mais lados. ........................................................................................................ 116

Quadro 20. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de quatro lados,

dois polígonos de três lados e um polígono de cinco ou mais lados. ............................. 117

Quadro 21. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de quatro

lados e um polígono de cinco ou mais lados. ................................................................. 118

Quadro 22. Possibilidades de ângulos sólidos formados por três polígonos que não são

de três lados. ................................................................................................................. 119

Quadro 23. Pseudo Rombicuboctaedro. ........................................................................ 122

Quadro 24. Características numéricas dos arquimedianos estudados. .......................... 172

Quadro 25. Características numéricas a partir do tipo de truncamento. ......................... 174

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................................... 18

CAPITULO 1 – ESTUDOS PRELIMINARES .......................................................................... 22

1.1 IDÉIA DE POLIEDRO ......................................................................................................... 22

1.2 ALGUNS ESTUDOS EM GEOMETRIA ESPACIAL......................................................... 28

1.3 OS POLIEDROS NOS DOCUMENTOS OFICIAIS ............................................................ 34

1.4 OS SÓLIDOS ARQUIMEDIANOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS .................................. 38

1.5 DESENHO GEOMÉTRICO E GEOMETRIA DESCRITIVA ............................................. 43

1.6 GEOMETRIA DINÂMICA E CABRI 3D ............................................................................. 46

1.7 OS TRÊS PÓLOS DA COMUNICAÇÃO ............................................................................ 54

CAPÍTULO 2 – PROBLEMÁTICA ............................................................................................ 58

2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................................... 58

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 59

2.3 QUADRO TEÓRICO ........................................................................................................... 60

2.3.1 NOÇÃO DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E A PROBLEMÁTICA ECOLÓGICA ....... 61

2.3.2 REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA ........................................................ 66

CAPÍTULO 3 – ESTUDO HISTÓRICO .................................................................................... 78

3.1 POLIEDROS REGULARES ................................................................................................ 78

3.2 O DESENVOLVIMENTO DOS SÓLIDOS DE ARQUIMEDES ........................................ 82

3.3 SOLIDOS ARQUIMEDIANOS NO RENASCIMENTO..................................................... 85

3.4 SISTEMATIZAÇAO DE KEPLER .................................................................................... 100

3.5 TREZE OU QUATORZE ARQUIMEDIANOS? ............................................................... 121

CAPÍTULO 4 – ESTUDO DIDÁTICO E MATEMÁTICO .................................................... 126

4.1 OPERAÇÃO DE TRUNCAMENTO ................................................................................. 126

4.1.1 ARQUIMEDIANOS OBTIDOS POR TRUNCAMENTO TIPO 1 ................................. 131

4.1.2 ARQUIMEDIANOS OBTIDOS POR TRUNCAMENTO TIPO 2 ................................. 132

4.2. AS CONSTRUÇÕES E SUAS ANÁLISES ...................................................................... 140

4.2.1 TRUNCAMENTO TIPO 1 ............................................................................................ 141

4.2.2 TRUNCAMENTO TIPO 2 ............................................................................................ 152

4.3 AS CARACTERÍSTICAS NUMÉRICAS DOS POLIEDROS OBTIDOS ........................ 172

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 176

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 180

APÊNDICE A: TRANSFERINDO MEDIDAS NO CABRI 3D .............................................. 184

APÊNDICE B: APLICANDO O TEOREMA DE TALES NO CABRI 3D ............................ 186

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18

CONSIDERAÇÕES INICIAIS1

As possibilidades interativas advindas da informática e os seus diversos

usos na educação matemática são aspectos que sempre chamaram minha

atenção. Talvez pelo fato de ter formação na área de tecnologia, além de ser

professora de matemática.

De fato meu interesse estava, desde meu ingresso no mestrado ou mesmo

antes, em desenvolver um trabalho em geometria espacial auxiliado pelo

ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D, software que conheci em 2004 na

condição de aluna da especialização em educação matemática da Universidade

do Estado do Pará. Assim, faltava escolher o objeto matemático de estudo para

dar início a pesquisa.

No programa de Pós Graduação em Educação Matemática da PUC-SP, eu

e outra aluna, tivemos a oportunidade de ministrar uma oficina de Cabri 3D.

Nosso intuito era apresentar as ferramentas e recursos do software via

construções geométricas espaciais. Para isso, elaboramos um material que

apresentava tais ferramentas e recursos por meio de atividades propostas. Uma

das atividades trazia o passo a passo da construção do sólido arquimediano

cuboctaedro, sem, no entanto nomeá-lo ou mesmo ilustrá-lo.

Observamos que essa atividade incomodou vários de nossos colegas

presentes, pois uma vez concluída a construção a mesma era apagada e

recomeçada, como se a figura gerada não fosse à esperada. Essa situação nos

fez perceber que a maioria dos alunos desconhecia o cuboctaedro, bem como os

outros Sólidos Arquimedianos.

A situação exposta me levou a procurar trabalhos em geometria espacial

que discorressem a respeito desses sólidos, na tentativa de talvez entender o

porquê desse não conhecimento. No entanto, para minha surpresa, percebi que

pesquisas e até mesmo livros de geometria espacial a respeito do assunto quase

inexistiam no Brasil.

____________

1 Essa dissertação está conforme as regras do Acordo Ortográfico.

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Essa inquietação contribuiu em grande parte para a escolha do tema do

presente trabalho na medida em que me fez investigar além do objeto matemático

em questão, processos de construções para esses sólidos.

Desse modo, eu e minha orientadora decidimos desenvolver nosso estudo

no ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D, por o considerarmos uma

ferramenta potencial de ajuda ao raciocínio, principalmente pela possibilidade de

corrigir e aperfeiçoar continuamente construções geométricas espaciais ao longo

das simulações.

Para tanto, tomamos por hipótese que o Cabri 3D possibilita o estudo dos

Sólidos Arquimedianos, pois além de favorecer a representação de objetos

tridimensionais, permite manipulá-las, o que facilita a exploração e a elaboração

de conjecturas. Desse modo, objetivamos com a pesquisa revisitar o objeto

matemático Sólidos Arquimedianos por meio de suas construções no ambiente de

Geometria Dinâmica Cabri 3D.

Assim, nos propomos responder à seguinte questão de pesquisa: O objeto

matemático Sólidos Arquimedianos pode ser resgatado como objeto de

ensino para a Escola Básica, utilizando como habitat o ambiente de

Geometria Dinâmica Cabri 3D? Para respondê-la investigamos na história

processos de construção para esses sólidos e verificamos se o ambiente proposto

permite que tais construções sejam realizadas.

O presente trabalho foi estruturado em quatro capítulos. No primeiro

capítulo, apresentamos estudos preliminares importantes para a composição de

nossa problemática. Nesse capítulo, destacamos algumas idéias que envolvem o

termo poliedro, apontamos como os Sólidos Arquimedianos são abordados em

pesquisas realizadas em Educação Matemática, nos documentos oficias e em

materiais didáticos, assinalamos as possíveis causas para o declínio das

disciplinas Desenho Geométrico e Geometria Descritiva, bem como

apresentamos uma reflexão acerca da complementaridade entre as duas

disciplinas citadas e o ambiente Cabri 3D.

No segundo capítulo trazemos a problemática, na qual destacamos nosso

problema de pesquisa, procedimentos metodológicos e nosso quadro teórico. O

terceiro capítulo tece considerações a respeito da história dos Sólidos de

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Arquimedes, traz a demonstração da existência de apenas treze sólidos e

apresenta um procedimento matemático descoberto no Renascimento que

possibilita a construção dos mesmos.

No último capítulo, apresentamos o nosso estudo didático e matemático a

respeito dos Sólidos Arquimedianos que aponta uma possibilidade para o ensino

e aprendizagem e sua inclusão na Educação Básica por meio do ambiente de

Geometria Dinâmica Cabri 3D. Essa possibilidade está atrelada a sistematização

do procedimento de construção renascentista.

Por fim, apresentamos algumas considerações finais, oriundas das

construções realizadas no Cabri 3D, a resposta para a nossa questão de

pesquisa, bem como algumas perspectivas futuras.

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CAPITULO 1 – ESTUDOS PRELIMINARES

Iniciamos o capítulo com algumas idéias que envolvem o termo poliedro e

com a apresentação de alguns estudos já realizados em Geometria Espacial. Em

seguida, destacamos como os documentos oficiais sugerem o ensino dos Sólidos

Arquimedianos, bem como a maneira que esse conteúdo é abordado em

materiais didáticos. Por fim, apontamos as possíveis causas do abandono das

disciplinas Desenho Geométrico e Geometria Descritiva, um possível ambiente

informático que possibilite o estudo de poliedros, além de uma reflexão acerca da

complementaridade existente entre o Desenho Geométrico, a Geometria

Descritiva e o ambiente informático proposto.

1.1 IDÉIA DE POLIEDRO

Wenninger (1996) lembra que a geometria é, por vezes, definida como o

estudo do espaço ou de figuras no espaço de duas dimensões, para as figuras

planas, polígonos, e de três dimensões para poliedros. A idéia de conjunto é

utilizada pelo autor para definir polígono como um conjunto de segmentos que

limitam uma porção do espaço bidimensional, e poliedros como um conjunto de

figuras planas que limitam uma porção do espaço tridimensional.

Para Cromwell (2008) a definição de poliedros assinalada por Wenninger

(1996) pode ser interpretada de muitas maneiras, pois não fornece qualquer

restrição para a forma como os polígonos estão dispostos ou que tipos de

polígonos podemos usar. No entanto para o autor, tal definição tem sido

produtiva, já que possibilita o termo poliedro envolver várias direções e conduzir

para o estudo de diferentes tipos de objetos poliédricos.

O autor, ainda, afirma que estabelecer uma definição geral para poliedros

é impossível, uma vez que diversos escritores têm aplicado o mesmo termo para

idéias distintas, algumas mutuamente exclusivas. Se em um nível mais elementar

perguntarmos se um poliedro é um objeto sólido ou uma superfície oca, para

Cromwell (2008) essas respostas dependem do período em que os geômetras

viveram e os problemas que eles estudaram. Para um agrimensor da Grécia

antiga, por exemplo, um poliedro era um sólido, ao longo dos últimos anos,

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tornou-se, segundo o autor, mais conveniente pensar em poliedros como

superfícies ocas. Entretanto, o autor aponta que há ainda estudiosos que

consideram poliedros apenas como estrutura, como mostramos na Figura 1.

Figura 1. Representação de poliedro como sólido, superfície e estrutura.

No Brasil, de acordo com o Novo Dicionário da Língua Portuguesa

(Aurélio), o termo poliedro é designado para “sólido limitado por polígonos

planos”. Contudo ao observarmos a definição de Poliedro apresentada em livros

de Geometria Espacial, percebemos contradições nos discursos dos autores, que

embora considerem poliedros como sólidos, não os definem como tal.

Freire (1897, p. 146) em Primeiras Noções de Geometria Prática admite

poliedro como sendo “os volumes limitados por superfícies planas”. Em um

primeiro momento, a definição dada nos permite considerar poliedro como sólido,

entretanto, há uma passagem no livro em que o autor revela as faces como “os

planos que formam o poliedro”. (Ibid., p.147). Tal afirmação se confirma nas

representações de poliedros, observadas na Figura 2, em que o autor apresenta a

planificação como exemplo do mesmo.

Figura 2. Planificação da superfície de um poliedro. Fonte: Freire, 1897, p. 151.

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Para Carvalho (1960, p. 80), em Programa de Desenho para a primeira e

segunda séries ginasiais, os poliedros “são sólidos completamente limitados por

polígonos planos” e os sólidos são caracterizados por possuírem três dimensões:

comprimento, largura e altura ou espessura. No entanto, o exemplo dado pelo

autor, conforme mostra a Figura 3, elucida a idéia de poliedro apenas como uma

superfície.

Figura 3. Planificações de superfícies de poliedros. Fonte: Carvalho, 1960, p.93.

Lima et. al. (1999) em A Matemática do Ensino Médio iniciam a discussão

a respeito de Poliedro designando-o, de uma forma geral, como sólido formado

por faces, mas o definem como “uma reunião de um número finito de polígonos

planos”. (Ibid., p.232).

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Para os mesmos autores, conforme mostra a Figura 4, “um poliedro é

convexo se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas faces) o corta em, no

máximo, dois pontos. (LIMA ET AL, 1999, p.233).

Figura 4. Poliedro convexo e poliedro não-convexo. Fonte: Lima et. al., 1999, p. 233.

A definição adotada pelos autores torna clara a idéia de poliedro como

superfície. Contudo, vale ressaltar que em outro momento, os mesmos autores

estudam o volume de poliedros e o definem como “a quantidade de espaço por

ele ocupado”. (LIMA et. al., 1999, p.251).

Diferente das definições já apresentadas, Rangel (1982, p. 6) afirma que

poliedro é toda superfície poliédrica fechada. É, portanto, a superfície que pode ser concebida como um conjunto de polígonos tais que cada lado de uma face pertence sempre, e no máximo, a duas faces.

De acordo com o autor, por hábito de linguagem, é comum se referir ao

nome do corpo, em vez do nome da superfície que o limita, como por exemplo,

diz-se cubo, quando se quer referir à superfície cúbica. Embora a idéia de

poliedro para o autor seja a de superfície, ele considera seu volume quando diz

que “dois poliedros são eqüilaventes quando têm o mesmo volume”. (Ibid., p. 9).

Nesse sentido, o autor confunde volume com capacidade.

Já Dolce e Pompeo (1998, p.124), em Fundamentos de Matemática

Elementar: geometria espacial, discorrem a respeito de Poliedro Convexo como

segue.

Consideremos um número finito n (n 4) de polígonos planos convexos (ou regiões poligonais convexas) tais que: a) dois polígonos não estão num mesmo plano; b) cada lado de polígono é comum a dois e somente dois polígonos;

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c) o plano de cada polígono deixa os demais polígonos num mesmo semi-espaço. Nessas condições, ficam determinados n semi-espaços, cada um dos quais tem origem no plano de um polígono e contém os restantes. A intersecção desses semi-espaços é chamado poliedro convexo. Um poliedro convexo possui: faces, que são os polígonos convexos; arestas, que são os lados dos polígonos e vértices, que são os vértices dos polígonos. A reunião das faces é a superfície do poliedro.

A definição apresentada de poliedro convexo como a intersecção de semi-

espaços nos conduz assumir poliedro não como um sólido. Assim, em um

primeiro momento, somos levados a crer que os autores entendem poliedro como

uma superfície.

No entanto, os mesmos autores, em Fundamentos de Matemática

Elementar: geometria plana, definem polígono como a reunião de segmentos e

não como uma superfície, como segue:

dada uma seqüência de pontos de um plano (A1, A2,..., An) com n ≥ 3, todos distintos, onde três pontos consecutivos não são colineares, considerando-se consecutivos An-1, An e A1, assim como An, A1, e A2, chama-se polígono à reunião dos segmentos A1A2, A2A3, ..., An-1An, An A1 (POMPEO e DOLCE, 2006, p. 132).

Se considerarmos a definição de polígono apresentada pelos autores, a

idéia de poliedro como superfície também é descartada, pois, a idéia que

prevalece é a de poliedro como estrutura, e, portanto, não há volume e nem

capacidade.

Kaleff (1998), embora não defina Poliedros, em Vendo e Entendendo

Poliedros, a todo momento designa-o como um sólido. Tal interpretação ocorre

quando a autora descreve dois tipos de representação concreta que podem

favorecer o reconhecimento e análise de propriedades geométricas por parte do

aluno: o modelo casca, que representa a superfície do poliedro, e o modelo

esqueleto, que representa a estrutura das arestas do poliedro.

A maioria das definições apresentadas nos conduz a um problema que

envolve a interpretação do termo poliedro. Ora, se considerarmos poliedro como a

reunião de um número finito de faces, entendemos que a idéia que prevalece é a

de um objeto oco e não a de um objeto sólido, e nesse caso não há volume, mas

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27

sim capacidade. A idéia de volume nos remete a admitir poliedro como algo que

não seja oco, nem vazio.

Ponte (2000, p.15) adverte que

a capacidade é muitas vezes confundida com o volume e, por vezes, as crianças têm dificuldade em separar o volume de um objeto do seu peso. Enquanto que volume de um objeto é a quantidade de espaço que ocupa, a capacidade é a quantidade de espaço ou de líquido que pode conter.

Diante das definições apresentadas, percebemos contradições na maioria

dos discursos dos autores em relação ao termo poliedro. Acreditamos que,

embora seja possível definir poliedro de diferentes maneiras, isto é, como sólido,

como superfície ou ainda como estrutura, precisamos ser coerentes com a

definição adotada.

No trabalho, assumimos a idéia de poliedro como um sólido e adotamos a

definição de poliedro convexo apresentada por Dolce e Pompeo (1998). Contudo,

definimos polígono como “a reunião de uma linha fechada simples formada

apenas por segmentos de reta com a sua região interna”, conforme Giovanni,

Castrucci e Giovanni Jr. (1998, p. 202).

Alguns termos básicos, listados abaixo e ilustrados na Figura 5, serão

mencionados no decorrer do trabalho.

Cada polígono é chamado de face de um poliedro.

Um segmento comum a duas faces é chamado de aresta.

Um ponto comum a várias arestas e faces é chamado de vértice.

Figura 5. Elementos de um poliedro Fonte: Cromwell, 2008, p.13.

vértice

aresta

face

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Existem também vários tipos de ângulos em um poliedro: ângulo plano,

ângulo sólido e ângulo diedral, respectivamente mostrados na Figura 6. O ângulo

no canto de uma face poligonal é chamado de ângulo plano. O ângulo sólido é a

região do poliedro próxima a um vértice, em outras palavras, é um pedaço do

canto e está delimitada por três ou mais ângulos planos. O ângulo entre duas

faces adjacentes é chamado de ângulo diedral e para encontrá-lo marca-se um

ponto na aresta compartilhada e cria-se uma perpendicular à aresta em cada uma

das duas faces passando pelo ponto marcado. O ângulo diedral é o ângulo entre

as duas linhas.

Figura 6. Diferentes tipos de ângulos.

Assim, em continuidade aos nossos estudos analisamos as pesquisas

que se aproximam do tema de pesquisa.

1.2 ALGUNS ESTUDOS EM GEOMETRIA ESPACIAL

Nessa parte do trabalho, procuramos analisar as pesquisas em Geometria

Espacial que retratassem em seus estudos os Sólidos de Arquimedes.

A procura no Banco de Dissertações e Teses da Capes por pesquisas em

Geometria Espacial, considerando o descritor “geometria espacial”, nos conduziu

a um total de 35 trabalhos, 27 relacionados à Educação ou Educação Matemática,

4 à Engenharia, 1 à Biologia, 1 à Ciências Ambientais, 1 à Ciência da

Comunicação e 1 à Ciência da Computação.

Das pesquisas relacionadas à área de Educação ou Educação Matemática,

percebemos que apenas duas retratam em seus estudos os Sólidos

Arquimedianos. No entanto, esse levantamento nos permitiu constatar que 19

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pesquisas se aproximam por considerarem a representação e visualização em

Geometria Espacial, habilidades importantes para o desenvolvimento do

raciocínio geométrico espacial do indivíduo.

Nesse sentido, procuramos então, não apenas no Banco de Teses da

Capes, mas no Brasil, por estudos em Matemática e em Educação Matemática

que discutissem a questão da visualização e representação em Geometria

Espacial, e também por pesquisas que abordassem o conteúdo matemático

Sólidos Arquimedianos.

Nessa busca encontramos vários estudos em Educação Matemática que

ressaltam a importância de se incentivar o desenvolvimento da habilidade de

visualizar tanto objetos do mundo real, quanto conceitos, processos e fenômenos

matemáticos. Dentre esses, destacamos os trabalhos de Kaleff e Rei (1994);

Kaleff, Rei e Garcia (1996) e Kaleff (1998) relacionados à visualização e

interpretação de sólidos geométricos e os estudos de Cavalca (1997),

Montenegro (2005) e Flores (2007) que retratam a questão da visualização de

forma mais abrangente. Quanto a trabalhos que abordam o objeto matemático

Sólidos Arquimedianos, encontramos apenas o estudo de Allan (1997) e as

dissertações de Fernandes (2008) e Silva (2008).

As dificuldades apresentadas pelos alunos na visualização de sólidos

geométricos e a desmotivação que muitos apresentavam nas aulas de Geometria

Espacial levaram Kaleff e Rei (1994) a procurar meios que facilitassem o ensino

de propriedades geométricas dos sólidos e tornassem esse ensino mais atrativo e

motivador.

Para as autoras umas das formas de se desenvolver o raciocínio espacial

seria construir os sólidos geométricos por meio de materiais concretos. Tais

construções dariam ao aluno não só a oportunidade de observar e utilizar várias

relações espaciais, mas ao mesmo tempo, por meio da manipulação dos

materiais concretos, o mesmo seria motivado à ação e teria estimulada a sua

criatividade.

Foi nesse sentido que Kaleff e Rei (1994) utilizaram, em suas práticas

materiais concretos, como canudos e varetas, para a construção de estruturas

que representassem “esqueletos” dos cinco sólidos platônicos construídos por

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meio de suas arestas. A seqüência de construção dos sólidos foi à seguinte:

tetraedro, octaedro, icosaedro e cubo. As autoras assinalaram que alunos entre

13 e 15 anos perceberam que, após construírem os quatros sólidos, a idéia da

construção do dodecaedro surgiu naturalmente. Dessa forma, enfatizaram a

importância de uma abordagem pedagógica que permita o aluno criar imagens,

interpretar desenhos, conjecturar e intuir soluções para problemas, habilidades

úteis não apenas para o desenvolvimento de idéias matemáticas, mas também

para o desenvolvimento integral do ser humano.

Já Kaleff, Rei e Garcia (1996) com o propósito de investigar como

professores e futuros professores interpretavam desenhos e calculavam volumes

de sólidos construídos por pequenos cubos, desenvolveram um estudo com 590

indivíduos, entre professores e alunos do curso de graduação em matemática,

com diferentes experiências de escolaridade e em diferentes meios sociais. Para

avaliar e quantificar tais observações, as autoras elaboraram e aplicaram um

questionário relacionado a objetos tridimensionais.

Com as respostas dadas as autoras constataram significativas

deficiências apresentadas pelos sujeitos investigados no que tange a visualização

e interpretação de informações pictóricas implícitas, necessárias para a

determinação do volume de sólidos, além de deficiências outras relativas a

diversos conceitos matemáticos elementares.

A preocupação com a visualização em Geometria levou Kaleff (1998) a

desenvolver um trabalho que contribuísse para sua valorização, enfatizando as

representações e suas interpretações. Nesse sentido, um material para

professores foi desenvolvido para que conteúdos pouco explorados nos

programas escolares, como os sólidos platônicos e os poliedros regulares

convexos duais2, fossem revisitados e vivenciados de maneira dinâmica e

objetiva.

Para Kaleff (1998, p.16) “ao visualizar objetos geométricos, o indivíduo

passa a ter controle sobre o conjunto das operações mentais básicas exigidas no

trato da Geometria”. Contudo, segundo a autora, é importante não confundir a

____________

2 Segundo Veloso (1998), diz-se que dois poliedros são duais um do outro se consideramos um

poliedro qualquer e obtermos os vértices do outro poliedro a partir dos pontos centrais das faces adjacentes do primeiro poliedro.

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habilidade de perceber o objeto matemático em sua totalidade, habilidade de

visualização, com a percepção visual das representações disponíveis deste

objeto.

A autora pontua que embora haja muitas discussões sobre a forma como

a visualização se processa na mente, é importante considerá-la principalmente na

Geometria e assinala que a habilidade de visualização não é inata a todos os

indivíduos, contudo pode ser desenvolvida. Para Kaleff (1998), um dos caminhos

seria dispor de um apoio didático baseado em materiais concretos representativos

do objeto geométrico de estudo.

Compartilhando esta mesma assertiva, de que alguns indivíduos

simplesmente não possuem capacidade de visualização, Cavalca (1998) elaborou

uma seqüência didática com o propósito de desenvolver com alunos do terceiro

grau, que apresentavam tal carência, as habilidades necessárias para a

visualização, interpretação de objetos espaciais e suas representações.

A seqüência de atividades desenvolvida pelo autor, com material concreto

e suas representações com lápis e papel, ajudou os alunos a desenvolverem suas

capacidades de interpretar representações distintas de um mesmo objeto

matemático e resolver problemas por meio de processos apoiados na

visualização. Para Cavalca (1998, p. 163), “isto significa que eles conseguiram

estabelecer uma relação mais adequada entre os objetos do espaço e a

representação plana deles, e dessa forma, evidenciou que é possível desenvolver

a habilidade de visualização mesmo em alunos adultos”.

Montenegro (2005) também acredita que a habilidade de visualização

pode ser estimulada, contudo adverte que não pode ser

[...] tida como específica; ela englobaria diferentes tipos de aprendizagem que procuram identificar relações de posição, direção, tamanho, forma e distância entre objetos. Ela percebe detalhes e os agrupa em conjuntos; ou os monta em padrões dentro de uma base conhecida. (Ibid., p.8).

O autor conduziu a pesquisa com 41 alunos do Ensino Médio com o

intuito de analisar como objetos espaciais eram visualizados por eles. Na

pesquisa, seis testes foram aplicados, com distintas figuras, em diferentes

posições. Os resultados obtidos evidenciaram muitas dificuldades por parte dos

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alunos em representar objetos tridimensionais, a representação mais utilizada foi

a perspectiva Cavaleira. Para o autor, desenvolver as capacidades de

visualização e representação é ter estimulada a criatividade humana, inteligência

para criar coisas novas.

Da mesma forma, Flores (2007) considera a visualização importante para

a aquisição dos conhecimentos geométricos, e atribui à geometria uma atividade

do olhar, considerada pela autora, um tanto complexa por envolver outros

elementos que não estejam relacionados, exclusivamente, às figuras em si e nem

a capacidade visual de cada um de nós. A autora sugere que analisemos uma

imagem como representação de um modo de olhar e apresenta a perspectiva

como “suporte tanto da representação, quanto da epistemologia de um modo

específico do olhar”. (Ibid., p. 20).

Para a autora entender como esse olhar se fez em perspectiva, pode nos

ajudar a compreender o problema da visualização no ensino de Matemática, uma

vez que a “intimidade entre a visualização e a geometria não se restringe ao

espaço de sala de aula, tão pouco às questões atuais”. (FLORES, 2007, p.17). O

que a autora sugere é “deslocar o pólo do processo de ensino e de aprendizagem

centrado no aluno e apromixar-se do saber instituído”. (Ibid., p.36). Em outras

palavras, compreender tanto o lugar efetivo do conhecimento, quanto a relação

que o professor tem com o saber que ele ensina.

Flores (2007) ao investigar na história, na arte e na técnica, um

conhecimento de um saber, o da técnica em perspectiva, e mostrar como o modo

de olhar, os saberes e os sujeitos foram se construindo, pôde compreender as

dificuldades e os erros de interpretação visual dos alunos, bem como relaciona-

los a construção de um olhar estabelecido em uma ordem que se deu há séculos

atrás.

Nos estudos apresentados até aqui, percebemos a preocupação dos

autores em amenizar dificuldades no que tange a visualização, interpretação e

representação de objetos tridimensionais ou mesmo procurar meios didáticos que

possibilitem o desenvolvimento de tais capacidades. Acreditamos também que

esses aspectos são importantes e precisam ser considerados, entretanto como

fogem do escopo principal deste trabalho serão explorados em trabalhos futuros.

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33

Quanto aos estudos que envolvem o objeto matemático Sólidos

Arquimedianos, observamos que Allan (1997) os apresenta por meio de um breve

estudo histórico sobre poliedros e nos indica um processo geral que envolve suas

construções. O processo de lapidação sugerido pelo autor, consiste em cortar

pedaços de um sólido regular qualquer para a obtenção de outro sólido em que

todas as arestas são congruentes. Contudo, o autor não ilustra nenhum sólido

arquimediano e tão pouco os nomeia apenas nos indica o sólido platônico a partir

do qual se originam. Esse estudo contribuiu para o desenvolvimento de nossa

pesquisa, sobretudo em relação aos aspectos históricos apontadas pelo autor.

Em relação às pesquisas de Fernandes (2008) e Silva (2008) percebemos

que ambas compartilham do mesmo sólido arquimediano. Suas pesquisas estão

relacionados à WebQuest “Bola de Futebol e a Matemática”, desenvolvida pelas

autoras para o ensino e aprendizagem do sólido arquimediano icosaedro

truncado. A WebQuest apresenta tarefas que envolvem noções relativas aos

Sólidos Arquimedianos, bem como competências para o trabalho geométrico, tais

como: leitura e interpretação de textos, definições em matemáticas, princípios das

construções geométricas, dentre outros. A WebQuest traz, ainda, a tarefa de

construir um modelo do icosaedro truncado utilizando papel cartão, além das

instruções necessárias para sua confecção.

Enquanto Fernandes (2008) analisou o papel que o professor

desempenhava ao utilizar a WebQuest, Silva (2008) procurou investigar como

esta metodologia de ensino pode colaborar para o desenvolvimento de conteúdos

matemáticos com alunos do Ensino Médio. Ambas as autoras dedicaram um

capítulo de suas dissertações ao estudo matemático, ainda que tímido, dos

sólidos arquimedianos. Como os objetivos do estudo não estavam relacionados

com o objeto matemático em si, mas com a utilização e interação dos alunos e

professores com a WebQuest, não temos como apontar resultados no que tange

a construção do conhecimento matemático.

Nas pesquisas apresentadas, identificamos que o estudo matemático dos

Sólidos Arquimedianos no Brasil é pouco explorado, talvez pela dificuldade

relacionada a visualização e representação desses sólidos, bem como da

compreensão de noções e propriedades geométricas espaciais.

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Diante das dificuldades apresentadas a respeito da representação e

visualização de objetos espaciais, procuramos observar como o ensino de Sólidos

Arquimedianos é sugerido pelos documentos oficiais.

1.3 OS POLIEDROS NOS DOCUMENTOS OFICIAIS

Os Documentos Oficiais de Educação em Matemática, seja para o nível

fundamental, seja para o nível médio, destacam a importância do papel da

educação no desenvolvimento das pessoas e da sociedade, além de

estabelecerem diretrizes baseadas em orientações gerais para que sirvam de

apoio ao ato de ensinar.

Todos concordam quanto à importância do ensino de Geometria como

forma de proporcionar o desenvolvimento de um pensamento matemático

específico, baseado na leitura e interpretação do espaço do qual fazemos parte.

O estudo da Geometria cria oportunidade para melhor compreender e representar

os vários tipos de organização desse espaço, isto é, as obras do homem ou da

natureza.

Nesse sentido, Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998, p.122)

afirmam que:

a Geometria desempenha um papel fundamental no currículo, na medida em que possibilita ao aluno desenvolver um tipo de pensamento particular para compreender, descrever e representar de forma organizada, o mundo em que vive. Também é fato que as questões geométricas costumam despertar o interesse dos adolescentes e jovens de modo natural e espontâneo. Além disso, é um campo fértil de situações-problema que favorece o desenvolvimento da capacidade para argumentar e construir demonstrações.

A escolha dos conteúdos específicos relativos ao tema Geometria, seu

ensino e recursos, a metodologia utilizada para abordar esse conhecimento, bem

como o espaço para que seu ensino e aprendizagem ocorram, são fatores

importantes apontados e discutidos.

Em geral, os documentos oficiais sinalizam que para a seleção desses

conteúdos, critérios orientadores devem ser estabelecidos como forma de evitar a

quantidade excessiva de informações. A seleção de conteúdos a serem

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trabalhados em Geometria deve estar relacionada à sua relevância científica e

cultural e sua assimilação é essencial para a produção de novos conhecimentos,

o que permite o desenvolvimento e/ou aprimoramento de competências e

habilidades.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006, p.7), também,

apontam a contextualização e interdisciplinaridade como “princípios condutores

da organização curricular” e, portanto são aspectos que precisam ser

considerados nessa seleção. Tais aspectos devem possibilitar a conexão entre

conceitos matemáticos e entre formas distintas de pensamento matemático, ou

ainda, relevância cultural dentro ou fora da matemática. O estudo dos Sólidos de

Arquimedes, conhecidos também por sólidos semi-regulares, pode se tornar

evidente e justificável segundo esses aspectos, uma vez que estabelecem

conexão com outras áreas do conhecimento (biologia, arte, arquitetura,

cartografia...) e suas representações fazem parte do nosso contexto social e

cultural.

Nesse sentido, observamos as orientações sinalizadas nesses

documentos em respeito ao ensino dos Sólidos de Arquimedes. Embora, esses

sólidos não sejam mencionados, seu ensino está vinculado ao conteúdo

matemático Poliedro.

Os PCN (1998) apontam em quatro blocos - Números e Operações;

Espaço e Forma; Grandezas e Medidas; e Tratamento da Informação - os

conteúdos matemáticos a serem ensinados. Tal documento propõe que o trabalho

com o bloco Espaço e Forma – que aborda conteúdos relativos à Geometria - seja

realizado com a exploração de situações que envolvam construções com régua e

compasso, ao passo que propriedades de figuras planas possam ser aplicadas e

visualizadas, além de construções de demais relações. Em relação aos conceitos

e procedimentos pontuados neste bloco, esse documento destaca a:

[...] classificação de figuras tridimensionais e bidimensionais, segundo critérios diversos, como: corpos redondos e poliedros; poliedros regulares e não-regulares; prismas, pirâmides e outros poliedros; círculos, polígonos e outras figuras; número de lados dos polígonos; eixos de simetria de um polígono; paralelismo de lados, medidas de ângulos e de lados. (BRASIL, 1998, p. 73, grifo nosso).

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Esse mesmo documento aponta a construção de figuras geométricas

espaciais como meio de capacitar o aluno a identificá-las, interpretá-las e

representá-las no plano, bem como classificá-las utilizando noções de

paralelismo, perpendicularismo e de ângulo.

Embora atenção maior seja dada para a Geometria Plana nesse nível de

ensino, a noção de figuras tridimensionais é introduzida. Dentre essas noções,

apontamos Poliedros como conteúdo a ser trabalhado com os alunos. Ainda que

propriedades mais particulares de Poliedros regulares e não-regulares não sejam

evidenciadas, percebemos a preocupação em classificar, desde o nível

fundamental, formas geométricas básicas espaciais a fim de que possam ser

reconhecidas e diferenciadas.

As orientações sinalizadas para a Geometria, em especial Poliedros, que

compõem o Ensino Médio são as mesmas dadas ao Ensino Fundamental.

Entretanto, nesse nível de ensino, essas orientações se intensificam e

desenvolvem de maneira mais ampla as capacidades de abstração e raciocínio.

Pode-se verificar tal afirmação ao observar as orientações dadas pelos PCN+

(2002, p.125, grifo nosso) ao trabalho com Poliedros em Geometria Espacial:

elementos dos poliedros, sua classificação e representação; sólidos redondos; propriedades relativas à posição: intersecção, paralelismo e perpendicularismo; inscrição e circunscrição de sólidos. • Usar formas geométricas espaciais para representar ou visualizar partes do mundo real, como peças mecânicas, embalagens e construções. • Interpretar e associar objetos sólidos a suas diferentes representações bidimensionais, como projeções, planificações, cortes e desenhos. • Utilizar o conhecimento geométrico para leitura, compreensão e ação sobre a realidade. • Compreender o significado de postulados ou axiomas e teoremas e reconhecer o valor de demonstrações para perceber a Matemática como ciência com forma específica para validar resultados.

Nesse sentido, o currículo de Geometria do Ensino Médio, com o intuito

de complementar a formação inicial no Ensino Fundamental, deve garantir que os

alunos estendam e aprofundem alguns conteúdos geométricos já ensinados ou

introduzidos, como no caso de Poliedros.

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Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio (2000) enfatizam que o

trabalho com representação de figuras planas e espaciais deve ser também

aprofundado e sistematizado. Essa competência amplia a compreensão e

percepção do espaço e permite estabelecer relações entre suas propriedades

com a geometria plana e sua representação com os objetos que lhe deram

origem. É nesse sentido que

[...] as habilidades de visualização, desenho, argumentação lógica e de aplicação na busca de soluções para problemas podem ser desenvolvidas com um trabalho adequado de Geometria, para que o aluno possa usar as formas e propriedades geométricas na representação e visualização de partes do mundo que o cerca. (BRASIL, 2000, p.44).

A visualização, portanto, assume um papel importante na exploração e

construção dos conceitos matemáticos, particularmente da Geometria. A

preocupação com o seu desenvolvimento, bem como a elaboração e

interpretação de suas representações no plano, deve ocupar uma posição de

destaque em todo o processo de ensino e aprendizagem.

Identificando a importância de se desenvolver uma educação visual

adequada, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) afirmam que

para trabalhar com poliedros,

existem também programas interessantes. Neles, há poliedros em movimento, sob diferentes vistas, acompanhados de planificação. São programas apropriados para o desenvolvimento da visualização espacial. (BRASIL, 2006, p.89).

A Informática e as ferramentas advindas da computação introduziram

uma dimensão mais dinâmica, em que formas virtuais, além de ganharem

aspectos de uma realidade quase material, podem ser manipuladas e

transformadas de diferentes maneiras.

Como podemos observar, os documentos oficiais sugerem o estudo de

poliedros, mas não detalham os tipos de poliedros a serem ensinados. Sugerem,

também, que seu ensino esteja atrelado a construções de figuras geométricas

planas e espaciais sem, no entanto apontar um caminho. Embora o uso das

tecnologias seja pontuado como recurso didático para ensino e aprendizagem de

poliedros, o que facilitaria a sua construção e visualização, é pouco enfatizado.

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Como os Sólidos Arquimedianos não são mencionados nesses

documentos, procuramos observar como são discutidos e apresentados em

materiais didáticos, o que mostramos no que segue.

1.4 OS SÓLIDOS ARQUIMEDIANOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS

Pretendemos nesse tópico observar, no Brasil, como os Sólidos

Arquimedianos são abordados e como estão organizados em materiais didáticos,

paradidáticos e materiais de apoio ao professor.

Fernandes (2008) em sua dissertação de mestrado realizou esse

levantamento e constatou que o objeto matemático Sólidos Arquimedianos não

aparecia explícito nos materiais pesquisados. Dos nove livros observados, a

autora constatou que esse conteúdo aparecia apenas por meio de exemplos e

exercícios, em geral, relacionados à Relação de Euler e à convexidade, mas sem

qualquer definição ou mesmo nomeação correspondente. O icosaedro truncado é

o sólido arquimediano que mais aparece, provavelmente, por ser associado à bola

de futebol.

Persistindo nessa busca, encontramos um material do GESTAR3 que

aborda esse conteúdo matemático com definição e exemplos, Caderno de Teoria

e Prática 3: matemática nas formas geométricas e na ecologia. A definição

apresentada dos Sólidos Arquimedianos, conforme mostra a Figura 7, se

confunde com a de poliedros semi-regulares, que em geral são tratados como

sinônimos.

Figura 7. Definição de Sólidos Arquimedianos. Fonte: Brasil, 2008, p.98.

____________

3 Programa de Gestão Escolar aprovado pelo Ministério da Educação para oferecer formação continuada em

língua portuguesa e matemática aos professores do ensino fundamental (6º ao 9º ano) em exercício nas escolas públicas. Esse material tem sido usado na formação de professores na Bahia, Tocantins e Pernambuco e está disponível no site http://portal.mec.gov.br/.

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Essa definição comunga da mesma idéia de Veloso (1998) que apresenta

os Sólidos Arquimedianos da seguinte maneira:

se na definição que demos de poliedro regular mantivermos a condição das faces serem polígonos regulares, mas não a de serem todas congruentes, obtemos uma família mais ampla de sólidos, estudada por Arquimedes (287 – 212 a. C.). Note-se que as arestas são todas congruentes, e os vértices também. As faces são polígonos regulares, mas enquanto nos platônicos eram apenas de um tipo, aqui poderão ser de vários tipos. É ainda necessário acrescentar a condição de que todo o vértice pode ser transformado noutro vértice por uma simetria de poliedro. A estes sólidos é habitual chamar arquimedianos ou semi-regulares. (Ibid., p.235).

No Caderno de Teoria e Prática 3, ainda estão ilustrados três poliedros–

prisma reto triangular, prisma reto hexagonal e octaedro truncado –, como mostra

a Figura 8, apresentados como arquimedianos.

Figura 8. Exemplo de poliedros arquimedianos. Fonte: Brasil, 2008, p.99.

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Segundo Veloso (1998, p. 235),

os prismas cujas faces laterais são regulares, de acordo com a definição dada, são arquimedianos. Do mesmo modo, também os antiprismas de faces regulares são arquimedianos. No entanto, os infinitos prismas e antiprismas não são em geral incluídos na família dos arquimedianos.

De acordo com Eves (2004, p. 358), um antiprisma

é obtido de um prisma efetuando-se uma rotação de sua base superior em seu próprio plano de modo a fazer seus vértices corresponderem aos lados da base inferior, e ligando então, em zigue-zague, os vértices das duas bases.

Os prismas e antiprismas retos de base regular cujas faces laterais são

quadrados e triângulos eqüiláteros respectivamente contemplam a definição dos

Sólidos Arquimedianos, conforme mostra a Figura 9. No entanto, para Veloso

(1998) a família dos arquimedianos é finita, uma vez que temos infinitos prismas e

antiprismas retos de bases regulares, isto é, de vértices do tipo (4,4,n) e (3,3,3,n)

respectivamente, sendo n o número de lados do polígono base. O autor, ainda

assinala que, assim como os platônicos, podemos investigar quantos poliedros

arquimedianos podem existir e chegaríamos à conclusão que não podem existir

mais do que treze tipos de poliedros diferentes.

Figura 9. Prisma e Antiprisma retos regulares.

Além do material anteriormente citado, encontramos também no Brasil,

um livro sobre poliedros produzido por Rangel (1982), Engenheiro Civil e Doutor

em Ciências Físicas e Matemáticas. Segundo o próprio autor, o livro se originou

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de uma apostila com circulação praticamente restrita, na época, à Escola de

Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O livro Poliedros apresenta um estudo detalhado a respeito dos Sólidos

Arquimedianos contemplado com definição, classificação, propriedades,

demonstração e ilustração dos treze sólidos. Para Rangel (1982), todo

arquimediano é semi-regular, mas nem todo poliedro semi-regular é

arquimediano. Segundo o autor,

poliedro semi-regular é todo poliedro que se apresenta de uma das duas seguintes formas: 1. Os ângulos sólidos são todos iguais entre si, mas as faces não são iguais, embora sejam polígonos regulares. Esses poliedros são chamados poliedros semi-regulares equiangulares ou poliedros semi-regulares arquimedianos. 2. As faces são todas iguais entre si, mas os ângulos sólidos não são iguais. Esses poliedros são chamados poliedros sem-regulares equifaciais ou poliedros semi-regulares não-arquimedianos. (Ibid., p.36).

O autor classifica os poliedros semi-regulares equiangulares ou

arquimedianos em três grupos: os poliedros semi-regulares equiangulares

individuais, que são os treze sólidos de Arquimedes; os prismas arquimedianos,

prismas retos regulares; e os antiprismas arquimedianos, antiprismas retos

regulares.

Embora o foco do nosso trabalho não esteja em observar currículos de

outras áreas de conhecimento para ratificar a presença dos Sólidos

Arquimedianos, o material produzido nos dá indícios que esses sólidos, com uma

nomenclatura diferente da habitual, eram estudados na Engenharia.

Pelas observações realizadas, podemos constatar a carência de

informações a respeito do objeto matemático Sólidos Arquimedianos no Brasil. A

dificuldade de encontrar materiais, na Escola Básica, que discorram sobre os

mesmos, pode ser uma possível causa para que muitos desconheçam sua

existência.

Contudo vale ressaltar que nem sempre foi assim. Para confirmar essa

assertiva, apresentamos dois livros de Desenho Geométrico que nos fornecem

informações sobre alguns dos Sólidos Arquimedianos: Primeiras Noções de

Geometria Prática de Olavo Freire, publicado em 1897 e Programa de Desenho

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para a primeira e segunda séries ginasiais de Benjamin de A. Carvalho, publicado

em 1960.

Para Freire (1897) os Sólidos Arquimedianos são irregulares e simétricos

por terem todos os planos que os formam simetricamente dispostos. O autor

ilustra cinco representações dos treze sólidos arquimedianos, com planificações

de suas superfícies, mostradas na Figura 10, e nos indica o sólido a partir do qual

se originam.

Figura 10. Arquimedianos estudados em Geometria Prática. Fonte: Freire, 1897, p. 151-155.

Entretanto Carvalho (1960, p.92) define os Sólidos Arquimedianos como

poliedros “semi-regulares que têm suas faces formadas por polígonos regulares

ou não, mas diferentes entre si, embora dispostos simetricamente no espaço”

(CARVALHO, 1960, p.92). A Figura 11 ilustra três exemplos desses sólidos.

Figura 11. Sólidos considerados arquimedianos. Fonte: Carvalho, 1960, p. 93.

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Os livros apresentados levam-nos a inferir que esse objeto matemático já

fez parte da grade curricular de Matemática, mais especificamente em Desenho

Geométrico, disciplina que de acordo com Zuin (2002), permaneceu oficialmente

por quarenta anos consecutivos nos currículos escolares – 1931 a 1971.

Para compreender o motivo que levou ao “desaparecimento” desse

conhecimento de ensino, procuramos identificar as possíveis causas do abandono

da disciplina Desenho – Desenho Geométrico e Geometria Descritiva – da grade

curricular de matemática.

1.5 DESENHO GEOMÉTRICO E GEOMETRIA DESCRITIVA

Nesse tópico, nos baseamos nos estudos de Silva (2006) que em sua

dissertação de mestrado “Proposta de Aprendizagem sobre a importância do

Desenho Geométrico e da Geometria Descritiva“ avaliou as razões do declínio do

ensino das duas disciplinas, e em algumas considerações de Zuin (2002), Rabello

(2005) e Pavanello (1993).

Silva (2006) realizou um estudo histórico a respeito da ocorrência do

Desenho Geométrico e da Geometria Descritiva no Brasil, além do estudo da

legislação de ensino a partir de 1942.

De acordo com o autor, a geometria foi implantada no Brasil no século

XVIII, mas é no século XIX que começa a ser ensinada. Nesse século, o Desenho

Geométrico e a Geometria Descritiva são vistos como meios de fomentar e atingir

o desenvolvimento industrial e assim promover o progresso do país. Segundo o

autor, a disciplina Desenho Geométrico constava na grade curricular do Ensino

Primário, cuja geometria estava voltada para prática, conforme já mostrado na

Figura 9, e a disciplina Geometria Descritiva contemplava o currículo do Ensino

Secundário.

Segundo Rabello (2005) no século XX o Desenho Geométrico, a

Geometria Descritiva bem como a Perspectiva, eram assuntos que contemplavam

a prova de desenho no exame de capacitação, atualmente vestibular, de

Arquitetura e Engenharia.

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Na metade do século XX, novas reformas no Sistema de Ensino

continuavam a serem feitas. Entretanto, para Silva (2006) é impossível precisar o

momento em que o ensino de Desenho declinou. O autor aponta três reformas

que contribuíram para que o Desenho Geométrico e a Geometria Descritiva

fossem pouco a pouco eliminados da grade curricular.

A primeira, Lei 4.024/61 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) – que propôs opções de currículo em que a disciplina Desenho

não era obrigatória. Para Zuin (2002, p.1), “vemos surgir os primeiros sinais de

desprestígio dessa área do conhecimento”.

A segunda, Lei 5.540/68 – Lei da Reforma Universitária – sinalizava a

unificação do vestibular, como podemos observar em seu artigo 21:

O concurso vestibular, referido na letra “a”do artigo 17, abrangerá os conhecimentos comuns às diversas formas de educação do segundo grau, sem ultrapassar este nível de complexidade, para avaliar a formação recebida pelos candidatos e sua aptidão intelectual para estudos superiores. (BRASIL, 1968).

Silva (2006) pontua que é a partir dessa Lei que o ensino de Desenho

começa a declinar. Com a reformulação do ensino superior, fixada por essa lei, o

Desenho que já não constava em todas as formas de educação do segundo grau,

desde a LDB 4.024/61, foi eliminado do vestibular. “Qualquer discordância em

relação às medidas torna-se impossível, porque estas são introduzidas durante a

vigência do Decreto Lei 477/69”. (PAVANELLO, 1993, p.14).

A terceira e última reforma citada pelo autor, Lei 5692/71, acarretou

consideráveis mudanças nos currículos escolares do Ensino Fundamental.

Havia um núcleo de disciplinas obrigatórias e outros núcleos de disciplinas optativas, as quais poderiam integrar a parte diversificada do currículo. As escolas tinham a liberdade de construir a sua grade curricular apenas dentro da parte diversificada do currículo. [...] O Desenho tornara-se uma disciplina optativa da parte diversificada do currículo. (Zuin, 2006, p.1).

Desse modo, Rabello (2005), Zuin (2002) e Silva (2006) concordam que

com o advento das provas de múltipla escolha, resultado da unificação do

vestibular, e da não obrigatoriedade do ensino de Desenho na Escola Básica,

muitas escolas aboliram o ensino da disciplina Desenho Geométrico.

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Além disso, Pavanello (1993) e Rabello (2005) pontuam que com a

promulgação da referida lei, o Desenho foi substituído na grade curricular do

ensino público, em todas as séries do 1° e 2° graus do Ensino Básico, por

Educação Artística. Rabello (2005) lembra, ainda, que o Ministério da Educação e

Cultura tornou obrigatória a inserção da disciplina de Educação Artística no

segundo segmento do Ensino Fundamental.

De acordo com os PCN de Artes (1997) a substituição ocorreu porque o

ensino de Desenho Geométrico estava voltado essencialmente para o domínio

técnico, centrado na figura do professor que privilegiava a reprodução de

modelos. Segundo o documento, a disciplina Desenho era considerada mais por

seu aspecto funcional do que uma experiência em arte.

Valorizavam-se principalmente as habilidades manuais, os "dons artísticos", os hábitos de organização e precisão, mostrando ao mesmo tempo uma visão utilitarista e imediatista da arte. Os professores trabalhavam com exercícios e modelos convencionais selecionados por eles em manuais e livros didáticos. (BRASIL, 1997, p.22).

Em contrapartida Rabello (2005, p. 50) assinala que,

equivalente à educação musical ou às artes cênicas, nessas séries o desenho é tratado em sua forma mais elementar, sendo incluído ou excluído conforme as conveniências do momento. Convém lembrar que o desenho geométrico, a geometria descritiva e a perspectiva têm base conceitual matemática, não possuindo, em tese, afinidade estrutural com a área artística, salvo quanto à beleza das representações gráficas.

Dentro desse contexto concordamos com Pavanello (1993, p.16) quando

afirma que o abandono da Geometria, e assim das disciplinas Desenho

Geométrico e Geometria Descritiva, deve ser caracterizado “como uma decisão

equivalente às medidas governamentais, em seus vários níveis, com relação à

educação”.

A situação exposta leva-nos a inferir que a ausência das Disciplinas

Desenho Geométrico e Geometria Descritiva da grade curricular de matemática

contribuiu para que o objeto matemático Sólidos Arquimedianos não fosse mais

abordado. Sabemos que esses sólidos não são facilmente representados, em

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ambientes bidimensionais, sem domínio de conhecimentos e habilidades

oferecidos pelo Desenho Geométrico.

Nesse sentido, buscamos um ambiente computacional que se aproxime

da filosofia dessa disciplina, isto é, que favoreça não só a representação e

visualização de objetos tridimensionais como também possibilitem o estudo de

suas propriedades por meio de suas construções.

1.6 GEOMETRIA DINÂMICA E CABRI 3D

Muitas pesquisas em Educação Matemática têm mostrado que o uso da

Geometria Dinâmica como recurso didático não só favorece a exploração e

aquisição de conceitos geométricos, como também apresenta vantagens em

relação às construções com régua e compasso no ambiente papel e lápis.

Para Gravina (2001) a Geometria Dinâmica pode ser entendida como a

implementação da geometria tradicional, aquela estática da régua e compasso, no

computador, mas com caráter dinâmico. Essa característica dinâmica permite que

a partir de uma única construção, um número arbitrário de experimentações seja

efetuado, o que seria praticamente impossível com régua e compasso.

Além disso, a autora afirma que:

os ambientes de Geometria Dinâmica também incentivam o espírito de investigação Matemática: sua interface interativa, aberta à exploração e à experimentação, disponibiliza os experimentos de pensamento. Manipulando diretamente os objetos na tela do computador, e com realimentação imediata, os alunos questionam o resultado de suas ações/operações, conjecturam e testam a validade das conjecturas inicialmente através dos recursos de natureza empírica. (GRAVINA, 2001, p. 89-90).

O termo Geometria Dinâmica é usado para designar softwares interativos

que permitem a criação e manipulação direta de figuras geométricas a partir de

suas propriedades. Assim, vemos emergir uma maneira de ensinar e aprender

geometria, a partir da exploração experimental que possibilita a passagem de

uma figura à outra pelo deslocamento quase contínuo dos elementos, viável

apenas em ambientes dinâmicos.

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Para Sangiacomo (1996), a geometria dinâmica permite além de um

melhor estudo das propriedades geométricas uma importante distinção entre

desenhar e construir.

Para a autora, desenhar é visto como um caso particular, uma

representação de um objeto geométrico geralmente relacionado com a

reprodução da imagem mental que temos do mesmo. Contudo, as propriedades

geométricas do objeto não são conservadas quando movimentamos essa

representação em um ambiente dinâmico. Já construir é visto como um caso

geral, uma representação do objeto geométrico a partir de suas propriedades, que

se conservam mesmo quando a movimentamos.

Enquanto os alunos trabalham sobre o traçado material, podemos dizer que eles não fizeram a passagem do desenho para a figura geométrica. Essa passagem só é efetivada quando as propriedades geométricas passam a ter significado e a concepção de classe de figuras, seus representantes e suas propriedades seja assimilada. (SANGIACOMO, 1996, p. 40).

Construída uma figura em um ambiente dinâmico, tratamos de investigar

suas propriedades. Para isso arrastamos a figura até deformá-la, dentro das

restrições impostas pela construção. Enquanto fazemos isso, muitas relações e

medidas vão se alterando na figura e isso nos permite reconhecer seus

invariantes bem como a existência de uma classe de figuras representando o

objeto geométrico.

A manipulação direta dos elementos básicos da figura cria um dinamismo

cuja vantagem está em conservar as relações entre seus componentes. Para

Veloso (1998, p. 96), “a procura do que permanece constante no meio de tudo o

que varia”, é a razão pela qual este ambiente é apropriado para apoiar um ensino

renovado da geometria plana.

Assim como a Geometria Plana, a Geometria Espacial pode, também, ser

ensinada em um ambiente de Geometria Dinâmica. O ambiente computacional

Cabri 3D4 é o primeiro software de manipulação direta desenvolvido para simular

o trabalho com três dimensões. Nesse sentido, todo tipo de figura tridimensional

____________

4 O Cabri 3D foi desenvolvido por Cabrilog e apresenta os mesmos princípios e objetivos do

projeto Cabri Géomètre, disponível no site www.cabri.com.

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pode ser construída, visualizada e manipulada nesse ambiente, que além de

preservar as propriedades de figuras geométricas espaciais, permite mudar o

ponto de vista em relação ao objeto representado.

A seguir, optamos por apresentar, as caixas de ferramentas “poliedros” e

“poliedros regulares”, por estarem relacionadas com o objeto matemático em

questão, bem como os recursos oferecidos pelo software.

Caixa de ferramentas poliedros: qualquer poliedro convexo pode ser

construído ao acionar essa caixa, como mostra a Figura 12.

Figura 12. Caixa de ferramentas poliedros.

Caixa de ferramentas poliedros regulares: para usar qualquer

ferramenta dessa caixa, como mostra a Figura 13, acionamos primeiro com

o mouse o poliedro regular escolhido. Em seguida, devemos criar no plano

de base um ponto, arrastar o mouse e dar um último clique para finalizar. A

Figura 14 mostra um exemplo de um tetraedro regular obtido a partir da

seqüência acima realizada.

Figura 13. Caixa de ferramentas poliedros regulares

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Figura 14. Tetraedro regular

Caixa de ferramentas medidas: para usar qualquer ferramenta dessa

caixa, como mostra a Figura 15, devemos acionar a medida desejada e

clicar no objeto já construído no plano de base. A Figura 16 mostra o

comprimento do segmento AB.

Figura 15. Caixa de medidas.

Figura 16. Comprimento do segmento AB.

Ferramenta ponto médio: para obter o ponto médio das arestas de um

poliedro qualquer, como mostra a Figura 17, basta acionar essa ferramenta

e indicar uma aresta qualquer, conforme mostra a Figura 18.

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Figura 17. Ferramenta ponto médio.

Figura 18. Ponto médio da aresta do prisma.

Ferramenta plano: para obter um plano de secção, acionamos essa

ferramenta, como mostra a Figura 19, e indicamos com o clique do mouse

três pontos distintos, conforme mostra a Figura 20.

Figura 19. Ferramenta plano.

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Figura 20. Plano de secção.

Ferramenta recorte de poliedro: para utilizar essa ferramenta, como

mostra a Figura 21, devemos criar um poliedro e um plano que o intersecta.

Em seguida, acionamos “recorte de poliedro” e clicamos no poliedro e no

plano. A Figura 22 mostra o procedimento realizado.

Figura 21. Ferramenta recorte de poliedro

Figura 22. Recorte de poliedro.

Ferramenta planificação: para usar essa ferramenta, conforme mostra a

Figura 23, devemos criar um poliedro qualquer, em seguida utilizar a

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ferramenta “abrir poliedro”, mostrada na Figura 24, para depois obter a

planificação de sua superfície. A figura 25 ilustra o processo para gerar a

planificação do dodecaedro regular.

Figura 23. Ferramenta planificação.

Figura 24. Ferramenta abrir poliedro.

Figura 25. Planificação da superfície do dodecaedro regular.

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Os principais recursos do Cabri 3D, bem com suas respectivas funções

são mostrados no Quadro 1.

Quadro 1. Recursos do Cabri 3D.

Recurso Função Tecla

Escape Cancela a seleção de objetos Pressionar a tecla ESC

Apagar Excluir os conteúdos selecionados Selecionar o objeto e pressionar a tecla DELETE

Esconder/Mostrar

Esconde ou mostra objetos criados

Selecionar a última opção ao pressionar o botão

direito do mouse em cima do objeto

Atributos Altera cores, tamanho, estilo de superfície, espessura dos objetos

criados

Clicar sobre o objeto com o botão direito do mouse

Ajuda de Ferramentas Mostra-se uma janela com instruções de auxílio para cada ferramenta

selecionada

F1

Mudar de Vista

Altera a posição do objeto sem deformá-lo

Manter o botão direito do mouse pressionado sobre

o objeto e arrastá-lo

Desfazer Desfaz uma ação realizada CTRL + Z

Animação Anima um ponto sobre o objeto F10

Revisar a Construção Mostra todas as ações realizadas para a construção de um objeto

F11

Rótulo Nomeia objetos Clicar no objeto e nomeá-lo com a ajuda do teclado

Caixa de Texto Insere uma caixa de texto para anotações

Menu “documento”: nova vista texto

Observamos que o Cabri 3D não só possui ferramentas matemáticas que

permitem a construção de poliedros, mas a vantagem de oferecer a manipulação

direta de suas representações sob diferentes pontos de vista, dinamismo que

favorece a visualização de objetos tridimensionais.

Diante do exposto, e por acreditar que o Cabri 3D renova o ensino de

Geometria Espacial com representações dinâmicas, pensamos que seja oportuno

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fazer uma reflexão acerca da complementaridade existente entre o papel do

Desenho Geométrico, da Geometria Descritiva e da Geometria Dinâmica como

meios de formulação conceitual ampliada.

1.7 OS TRÊS PÓLOS DA COMUNICAÇÃO

Para fazermos essa reflexão recorremos aos três pólos complementares

da comunicação: o oral, o escrito e o virtual. A relação entre esses três pólos é

abordada por Lévy (2002) que discute aspectos ligados a comunicação humana e

seu processo compreensivo.

O autor discorre sob a temporalidade social e os modos de

conhecimentos que surgem do uso das novas tecnologias intelectuais baseadas

na informática, “se alguns tempos sociais e estilos de saber peculiares estão

ligados aos computadores, a impressão, a escrita e os métodos mnemotécnicos

das sociedades orais não foram deixados de lado”. (LÉVY, 2002, p.75). Para o

autor, essas “antigas” tecnologias intelectuais ainda são importantes no

estabelecimento dos referenciais intelectuais e espaços-temporais das

sociedades humanas.

É com esse pensamento que Lévy (2002) analisa as evoluções

contemporâneas sob o império da informática como continuidade de uma história

das tecnologias intelectuais e das formas culturais que a elas estão vinculadas.

Sabe-se que a linguagem é o principal instrumento de memória e de

desenvolvimento de representações. Para o autor, a produção de representações

nas sociedades sem escrita está quase, senão toda, baseada na memória

humana associada ao manejo da linguagem, isto é, contos e narrativas. “Nestas

culturas, qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida

em voz alta está condenada a desaparecer”. (Ibid., p.83).

Por esta razão, somado a dificuldade em produzir representações

singulares, uma vez que há distorções entre mensagens originais e as

representações que associamos a elas, a memória humana, para o autor, não

apresenta um desempenho de um equipamento ideal para armazenar e recuperar

informações.

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Com a escrita, as representações perduram em formatos outros, suas

singularidades passam a ser transmitidas e a durarem de forma autônoma, uma

vez que se torna muito mais cômodo conservá-las. Os contos e narrativas,

característicos das sociedades sem escrita, agora se encontram registrados em

papel.

Para Lévy (2002), a passagem do manuscrito ao impresso transformou

ainda mais a transmissão dos textos, o uso das representações tornou-se mais

intenso e difundido na sociedade. Assim surge outro tipo de memória, uma

memória objetiva, impessoal que traz uma verdade independente dos sujeitos que

a comunicam. “Sem a escrita, não há datas nem arquivos, não há listas de

observações, tabelas de números, estaríamos no eterno retorno e na deriva

insensível da cultura oral”. (Ibid., p. 96).

No entanto para o autor, como a escrita aposta no tempo, o principal

obstáculo da comunicação diferida trazida por essa tecnologia intelectual está

relacionado a distância entre o emissor e o receptor, a impossibilidade de

interação em um mesmo contexto para a construção de uma interpretação

comum. Isso pode tornar a mensagem escrita obscura para o leitor.

O terceiro pólo se inicia com a rede digital, inovação que de acordo com

Lévy (2002) transformou a informática em um meio de criação, comunicação e

simulação. O computador aos poucos vai se transformando em um instrumento

poderoso de visualização, nele a imagem torna-se ponto de apoio de novas

tecnologias intelectuais.

Nesse sentido, a informática nasce não apenas para dar continuidade ao

trabalho de acumulação e de conservação realizado pela escrita, mas a noção de

tempo real, um tempo condensado no presente, na operação em andamento.

Modelos inscritos em papel, agora se encontram também inseridos em programas

de computador, podendo ser explorados de maneira interativa e dinâmica, o que

suscita o conhecimento por simulação.

Para Lévy (2002, p.124),

Enquanto a escrita permite estender as capacidades da memória a curto prazo [ o que explica sua eficácia como tecnologia intelectual], a informática da simulação e da visualização, ainda

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que também estenda a memória de trabalho, funciona mais como

um módulo externo suplementar para a faculdade de imaginar.

A simulação permite desenvolver as habilidades necessárias para a

visualização uma vez que modelos mais complexos podem ser explorados e em

maior número do que se estivesse reduzido aos recursos da oralidade primária e

da escrita. Por essa razão a simulação, de acordo com o ator, remete a um

aumento dos poderes da imaginação e da intuição.

A simulação por computador faz emergir uma nova maneira de

representar objetos geométricos, representações estáticas produzidas em

ambientes de lápis e papel, agora podem se tornar representações dinâmicas,

dotadas de certa autonomia de ação e reação. Para Lévy (2002, p.121), “o

conhecimento por simulação é sem dúvida um dos gêneros de saber que a

informática transporta”.

É esse gênero de saber que aqui recorremos para o ensino e

aprendizagem da Geometria Espacial, em especial dos Sólidos Arquimedianos,

saber que traz a possibilidade de estudar por meio de simulações digitais

fenômenos acessíveis ou não à experiência.

O conhecimento por simulação possibilitou o desenvolvimento de

programas voltados para o ensino, como é o caso do Cabri 3D que diferente da

escrita, pólo característico do Desenho Geométrico, permite que construções de

objetos geométricos espaciais sejam enriquecidas ou modificadas sem que seja

necessário recomeçá-las. Além disso, uma vez realizada uma construção, esta

pode ser manipulada à vontade, com parâmetros de cor, tamanho, textura etc.

Nesse sentido, o Cabri 3D assume um papel complementar em relação

ao Desenho Geométrico estudado em ambiente lápis e papel, pois não institui

uma nova Geometria, apenas traz uma linguagem mais acessível a compreensão

humana de objetos geométricos.

Lévy (2002) elucida bem a idéia de complementaridade entre os pólos da

oralidade primária, da escrita e da informática ao enfatizar que não correspondem

de maneira simples a épocas determinadas, posto que a cada instante e a cada

lugar essas tecnologias intelectuais estão sempre presentes, entretanto com

intensidade variável.

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As reflexões realizadas até aqui, assim como os tópicos já apresentados

evidenciam a necessidade de buscar contribuições para o ensino do objeto

matemático Sólidos Arquimedianos na Escola Básica, além de formar as bases

para a construção de nossa problemática presente no capítulo a seguir.

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CAPÍTULO 2 – PROBLEMÁTICA

Nesse capítulo apresentamos nossa questão de pesquisa, os

procedimentos metodológicos do estudo e o nosso quadro teórico.

2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

As reflexões pontuadas no capítulo anterior nos permitiram identificar que

os problemas de ensino e aprendizagem de Geometria Espacial têm relação com

aspectos ligados à visualização e interpretação de objetos tridimensionais e suas

representações, por isso a preferência dos autores por métodos didáticos que

privilegiem tais capacidades. Identificamos, também, que embora existam alguns

estudos sobre poliedros, em geral sobre os poliedros convexos regulares devido à

simplicidade de suas formas, os que se dedicam a estudar os Sólidos

Arquimedianos quase inexistem.

Lembramos ainda, que os Sólidos Arquimedianos eram estudados em

Desenho Geométrico, disciplina que dava suporte para que suas propriedades

geométricas fossem exploradas por meio de suas construções. Contudo, com a

substituição de Desenho Geométrico por Educação Artística no currículo, esse

conhecimento de ensino passou a não ser mais abordado.

Cogitamos que a ausência de pesquisas que explorem o objeto

matemático Sólidos Arquimedianos pode também estar associada à carência de

literatura a respeito desses poliedros no Brasil, assim como à dificuldade em

visualizá-los e representá-los.

Em geral, sabemos que há perda de informações quando representamos

objetos tridimensionais no plano, uma vez que representações bidimensionais de

objetos espaciais quase sempre não correspondem à formação de suas imagens

mentais. Há um conflito do que é visto no espaço e o que é representado no

plano.

Acreditamos, que o Cabri 3D pode ser o ambiente que possibilite a

realização de tal estudo, pois não só favorece a representação de figuras

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espaciais como também permite manipulá-las, o que facilita a exploração, a

elaboração de conjecturas e a validação ou refutação de resultados.

Diante das considerações feitas anteriormente, nosso objetivo principal é

revisitar o objeto matemático Sólidos Arquimedianos por meio de suas

construções no ambiente de Geometria dinâmica Cabri 3D.

Assim, elaboramos a seguinte questão:

O objeto matemático Sólidos Arquimedianos pode ser resgatado

como objeto de ensino para a Escola Básica, utilizando como habitat o

ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D?

A seguir apresentamos a metodologia utilizada para responder nossa

questão de pesquisa e o nosso quadro teórico.

2.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Lakatos e Marconi (2001) assinalam que o contato direto do pesquisador

com tudo aquilo que foi escrito a respeito do assunto, oferece meios, tanto para a

definição e resolução de problemas já conhecidos, quanto à exploração de novas

áreas, isto é, a descoberta de novos fatos ou dados, em qualquer campo do

conhecimento.

Nesse sentido, todo o estudo apresentado no primeiro capítulo está de

acordo com a linha de pensamento dos autores, uma vez que permitiu o contato

com aspectos conceituais a respeito do objeto matemático Sólidos

Arquimedianos, conteúdo pouco conhecido pela maioria dos professores

matemáticos que atuam na Educação Básica, bem como evidenciou relações

construtivas do objeto geométrico com régua e compasso e com o auxílio do

Cabri 3D.

É essa descoberta de relações que direciona o caminho de nossa

pesquisa, a possibilidade de resgatar esse conhecimento para a matemática

ensinada com o auxílio da tecnologia implementada no ambiente de geometria

dinâmica Cabri 3D. No entanto para tal sucesso, é inevitável a apropriação do

objeto de estudo, e para isso recorremos a fontes histórias para não só auxiliar a

compreensão dos processos de desenvolvimento desse conhecimento, mas

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também evidenciar tendências e posturas a serem consideradas no planejamento

de ensino.

Assim, para responder ao problema de pesquisa proposto neste trabalho

recorremos a um estudo bibliográfico desenvolvido com base em material já

elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. De acordo

com Gil (2009, p. 44), embora a pesquisa bibliográfica seja considerada como a

primeira etapa de toda a pesquisa científica, “há pesquisas desenvolvidas

exclusivamente a partir de fontes bibliográficas”.

Para o autor,

a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. (GIL, 2009, p.45).

Gil (2009, p. 45), ainda pontua que a pesquisa bibliográfica é

indispensável em estudos históricos, uma vez que “em muitas situações, não há

outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados

bibliográficos”, isto é, em dados baseados em fontes primárias.

Diante do exposto e tendo em vista que o estudo dos Sólidos

Arquimedianos no material encontrado é realizado a partir da planificação de suas

superfícies e o que pretendemos é estudá-los por meio de suas construções no

ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D, se faz necessário um estudo

bibliográfico para investigar processos de construção para esses sólidos, bem

como verificar se tais construções podem ser realizadas no ambiente proposto.

2.5 QUADRO TEÓRICO

Neste tópico, são abordadas as teorias que dão suporte a nossa

pesquisa, a Noção de Transposição Didática e a Problemática Ecológica de Yves

Chevallard e a Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond

Duval.

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As teorias de Chevallard mencionadas são importantes na medida em

que nos aproximam do objeto de estudo Sólidos Arquimedianos, pois permitem a

articulação entre a análise epistemológica e a análise didática, além de apontar

características outras que determinam a sobrevivência desse objeto matemático

enquanto objeto de ensino.

Já a noção de registros de representação semiótica instituída por Duval é

importante por considerar os diversos tipos de representação utilizados em

matemática, e dessa forma nos é útil para identificar e analisar quais os registros

mobilizados para a construção dos Sólidos Arquimedianos, bem como evidenciar

os tratamentos e conversões efetuados.

2.5.1 NOÇÃO DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E A PROBLEMÁTICA

ECOLÓGICA

A idéia de transposição didática foi formulada pelo sociólogo Michel

Verret, em 1975. No entanto, foi com o matemático Yves Chevallard, em 1980,

que essa idéia se inseriu em um contexto mais específico, o da Didática da

Matemática.

A noção de transposição didática introduzida por Chevallard (1991)

distingue os diferentes saberes envolvidos no processo de ensino e de

aprendizagem, além de analisar a transformação de um objeto de saber em um

objeto de ensino.

Um conteúdo de saber que é designado como saber a ensinar sofre então, um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que transforma um saber a ensinar em um objeto de ensino é chamado de transposição didática. (CHEVALLARD, 1991, p.45).

Chevallard (1991) apresenta a transposição didática como um fenômeno

inerente a qualquer processo de ensino. De acordo com o autor, um conceito ao

ser transposto, de um contexto de saber ao outro, passa por modificações. Isso

quer dizer que qualquer conceito matemático ao ser ensinado, ainda que se

aproxime do contexto de saber a partir do qual o originou, adquire outros

significados, próprios do contexto o qual será inserido. Esse processo de

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transposição vai transformar o saber científico, atribuindo-lhe um novo status

epistemológico: o saber escolar.

Para Pais (2008, p. 16),

o estudo da trajetória percorrida pelo saber escolar permite visualizar as influências recebidas do saber científico, bem como de outras fontes. São influências que moldam não só o aspecto conceitual como também didático, em conseqüência da defesa do pressuposto que as praxeológicas matemáticas e didáticas são indissociáveis.

Chevallard (1991) evidencia que a relação entre o saber científico e o

saber escolar é um dos pontos fundamentais em toda a didática. Essa relação

ocorre em um ambiente que configura o contexto escolar, denominado de

Sistema Didático, que está inserido em um ambiente mais amplo, o Sistema de

Ensino. O Sistema de Ensino, por exemplo, seriam os sistemas educacionais que

de certa forma influenciam o universo da sala de aula, isto é, o Sistema Didático.

O Sistema de Ensino, ainda, se encontra inserido em um contexto mais amplo e

complexo, a Sociedade.

O entorno imediato de um sistema didático está constituído inicialmente pelo sistema de ensino, que reúne o conjunto de sistemas didáticos e tem ao seu lado um conjunto diversificado de dispositivos estruturais que permitem o funcionamento didático e que intervém nos diversos níveis. (CHEVALLARD, 1991, p.27).

Qualquer instituição cuja intenção é didática é considerada por Chevallard

(1996) como um sistema didático. Para o autor, a constituição de tal sistema

pressupõe a existência de pelo menos três termos: professor, aluno e um ou

vários investimentos didáticos, isto é, o próprio saber. A inclusão do saber,

também como elemento fundamental no processo, acaba por indicar duas novas

relações: relação professor-saber e relação aluno-saber.

[...] uma vez que se torna possível falar desse terceiro termo, tão curiosamente esquecido: o saber, pode formular-se uma pergunta que concede à polêmica seu verdadeiro interesse: O que é então aquilo que, no sistema didático, se coloca sob o estandarte de O Saber? O “saber ensinado” que concretamente encontra o observador, que relação estabelece com o que se proclama dele fora desse âmbito? E que relação estabelece então com o “saber sábio”, o dos matemáticos? Quais distâncias existem entre um e outro? (CHEVALLARD, 1991, p.15).

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O autor define três tipos de saberes: Saber Sábio, Saber a Ensinar e

Saber Ensinado. O Saber Sábio é aquele produzido nas universidades ou

institutos de pesquisa, porém não está diretamente associado ao ensino da

Escola Básica. Esse saber, ao ser transposto para o contexto escolar transforma-

se em outro tipo de saber, Saber a Ensinar, adaptado para sua apresentação aos

alunos. O Saber a Ensinar é o saber que aparece nos programas, livros didáticos

e materiais instrucionais, mas isso não garante que ele seja assim apresentado

para os alunos. Nesse sentido, identifica-se uma segunda Transposição Didática

que transforma o Saber a Ensinar em Saber Ensinado.

Cada um desses saberes se refere a sujeitos pertencentes a grupos

sociais diferentes, com interesses distintos e com normas próprias que

influenciam nas modificações do saber ao longo da trajetória epistemológica.

Contudo, existem ainda fatores externos ao Sistema de Ensino, inseridos em um

contexto mais amplo, onde todos os três tipos de saberes coexistem e se

influenciam.

O conjunto das fontes de influências que atuam na seleção dos conteúdos que deverão compor os programas escolares e determinam todo o funcionamento do processo didático recebeu de Chevallard, o nome de noosfera, da qual fazem parte cientistas, professores, especialistas, políticos, autores de livros e outros agentes da educação. (PAIS, 2008, p. 16).

É na noosfera que se encontram diretamente ou indiretamente todos

aqueles que ocupam os cargos principais do funcionamento didático e os

representantes da sociedade, a fim de que determinem a forma final do saber a

ensinar, além dos objetivos e dos métodos que conduzem tal prática de ensino.

Nesse sentido, a matemática ensinada deve ser compatível com seu meio social,

em especial, com a esfera de produção da matemática de um lado, e com a

instituição dos pais pelo outro.

Para Chevallard (1991), a Transposição Didática funciona como um

instrumento de análise que evidencia o percurso de um saber, desde sua origem

até a sala de aula. Sendo assim, essa análise pode indicar características que

possibilitam definir a sobrevivência de um saber enquanto um objeto de ensino. A

primeira delas está relacionada ao fato de que o Saber Sábio para se transformar

em Saber a Ensinar deve ser consensual, isto é, não se devem ter dúvidas

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daquilo que está sendo ensinado. A segunda característica está relacionada à

operacionalidade do Saber a Ensinar, isto é, a possibilidade de que atividades e

tarefas sejam produzidas a partir dele.

Para não se ter dúvida a respeito do objeto matemático Sólidos

Arquimedianos faz-se então necessário investigar e compreender a origem das

idéias que possibilitaram sua descoberta, bem como observar as circunstâncias

em que elas se desenvolveram. Esse estudo histórico pode nos aproximar da

aplicabilidade desse conhecimento e identificar também atividades que podem ser

produzidas a partir dele.

Contudo é ainda necessário que sejam satisfeitas algumas condições

para que um objeto de ensino, ou ainda um Sistema Didático, possa existir ou

continuar existindo. “Ecologicamente, a sua existência apela geralmente a outros

tipos de sistemas didáticos que reunirão, por exemplo, no que diz respeito à

escola primária, o mesmo aluno e o mesmo saber à volta de outros professores”.

(CHEVALLARD, 1996, p. 134-135).

Nesse sentido a existência do objeto matemático Sólidos Arquimedianos

enquanto objeto de ensino sugere a existência de saberes outros presentes ou

não na matemática ensinada. Esse encadeamento de saberes é o que Chevallard

denomina de ecologia didática dos objetos matemáticos.

A problemática ecológica apresentada pelo autor não só amplia o campo

de análise como, também, permite abordar os problemas que se estabelecem

entre os diferentes objetos do saber a ensinar. Segundo Almouloud (2007), os

objetos possuem inter-relações hierárquicas que possibilitam evidenciar e analisar

as estruturas ecológicas dos objetos. Para Artaud (1998) essas inter-relações

entre objetos permitem o controle didático do professor e cognitivo do aluno,

controle sem o qual o contrato de ensino não seria possível.

Essas relações hierárquicas entre objetos são facilmente observadas na

matemática, por exemplo, ao se ensinar o conceito de pirâmide a um aluno,

conceitos como vértice, aresta, face, polígono, ângulo, dentre outros, precisam

ser mobilizados. É nesse sentido que a estrutura ecológica do objeto matemático

pirâmide é evidenciada.

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Artaud (1998), ainda, afirma que a ecologia didática dos objetos se

apresenta como um meio de questionar o real, “o que existe, e por quê? Mas

também, o que não existe e por quê? Poderia existir? Sobre quais condições?”.

(Ibid., p.1). Para a autora, esse questionamento ecológico tende a aproximar o

pesquisador das dependências dos objetos que ele estuda e afirma que o mesmo

já se fazia presente nos primeiros estudos sobre os processos de transposição.

De acordo com o pensamento da autora é a transposição didática que

permitirá evidenciar quais os saberes envolvidos que determinam a existência do

objeto matemático Sólidos Arquimedianos enquanto objeto de ensino, isto é, sua

ecologia didática.

A ecologia didática se apóia nas idéias da ecologia biológica - nicho,

habitat, ecossistema – para tentar explicar as relações entre os objetos e no

estudo do próprio objeto.

A idéia de ecossistema é utilizada por Chevallard (1991) para indicar um

conjunto de saberes que ali vivem e evidenciar como esses saberes interagem

entre si. A alteração de um único saber pode acarretar modificações em todo o

ecossistema, podendo ocorrer perda do equilíbrio existente. Segundo Almouloud

(2007, p. 114), Chevallard

introduz a noção de habitat de um objeto matemático como sendo o tipo de instituição onde se encontra o saber relacionado ao objeto de estudo, que por sua vez determinará a função desse saber, ou seja, determinará seu nicho.

De acordo com Artaud (1998), um objeto não vive isoladamente, então se

faz necessário identificar, ou até mesmo fazer viver, um complexo de objetos em

torno do próprio objeto. É nesse sentido que a problemática ecológica aparece de

maneira mais explícita, uma vez que convém examinar os diferentes espaços em

que encontramos o objeto matemático e os saberes com os quais ele entra em

associação, em outras palavras, seus habitats.

Nesse sentido para que o ambiente de Geometria dinâmica Cabri 3D seja

um habitat para o estudo dos sólidos de Arquimedes é necessário que reconheça

como objetos todos os saberes que determinam a existência desses sólidos

enquanto objeto de ensino, ou ainda, se necessário, permitir que esses saberes

existam, isto é, fazê-los viver.

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Chevallard (1996) insere a didática da matemática no campo da

antropologia cognitiva e considera três temas primitivos: os objetos, as pessoas e

as instituições. Para o autor, os objetos ocupam uma posição privilegiada, visto

que são tidos como o material de base da construção teórica considerada.

Qualquer coisa pode ser um objeto e esse existe se alguma pessoa ou instituição

o reconhece e se relaciona com ele.

As pessoas e as instituições também são objetos, mas de um tipo

particular. Por exemplo, as instituições são caracterizadas “por qualquer coisa que

se produza, se utiliza e se ensina” (ALMOULOUD, 2007, p. 113) e as pessoas são

os sujeitos das instituições.

Dessa forma, em nosso trabalho os objetos que ocupam posição

privilegiada são os Sólidos Arquimedianos, a instituição escolhida para o ensino é

o Cabri 3D e o sujeito da instituição é a pesquisadora. Assim, com base na teoria

de Chevallard procuramos evidenciar quais saberes determinam a existência dos

Sólidos Arquimedianos enquanto objeto de ensino, bem como se tais saberes

estão presentes ou são reconhecidos pela instituição Cabri 3D.

Para identificar quais registros são mobilizados para a construção dos

sólidos arquimedianos, bem como suas articulações nos apoiamos na noção de

registro de representação semiótica de Duval.

2.5.2 REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Duval (2002) assinala que as mudanças que a Educação Matemática vem

sofrendo nos últimos cinqüenta anos têm como base pesquisas relacionadas à

psicologia, tecnologias e as novas exigências de avaliação. Entretanto, essas

mudanças têm se efetivado mais no currículo da matemática e em seu ensino, do

que na compreensão do processo de sua aprendizagem.

Para entender as dificuldades que muitos alunos têm na compreensão da

matemática, a natureza dessas dificuldades, bem como onde elas se encontram,

Duval (2008) afirma que não podemos buscar essa compreensão apenas no

campo matemático. Aponta a necessidade de estabelecer uma estrutura

epistemológica específica para a atividade matemática e de entender que as

funções cognitivas do pensamento que a envolvem não podem ser dissociadas.

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De acordo com Duval (2008), uma abordagem cognitiva é necessária,

pois o propósito de se ensinar matemática, em formação inicial não é formar

futuros matemáticos e muito menos apresentar instrumentos que só terão, talvez,

utilidade mais tarde, mas sim um propósito de contribuição e fomentação para o

desenvolvimento de suas capacidades de raciocínio, análise e visualização.

Nesse sentido, é necessário ir além dos estudos locais do conceito, que são

desenvolvidos em cada nível do currículo, bem como da mera referência às

teorias muito gerais da aprendizagem.

Segundo Duval (2008, p. 12),

a originalidade de uma abordagem cognitiva está em procurar inicialmente descrever o funcionamento cognitivo que possibilite a um aluno compreender, efetuar e controlar ele próprio a diversidade dos processos matemáticos que lhes são propostos em situação de ensino.

Analisar o conhecimento matemático de um ponto de vista de

aprendizagem e compreender as principais dificuldades que os estudantes

apresentam, em cada nível do currículo, que os impedem de irem mais além, não

é uma tarefa fácil. Nesse sentido, o que é relevante ser analisado a fim de

evidenciar condições de aprendizagem em matemática?

O autor destaca que a complexidade do funcionamento cognitivo é

subjacente às atividades matemáticas mais simples ou mais elementares, pois “a

diferença entre a atividade requerida pela matemática e aquela requerida em

outros domínios de conhecimento não deve ser procurada nos conceitos”

(DUVAL, 2008, p.13), mas sim na importância da visualização e na grande

variedade de representações utilizadas em matemática. A representação e a

visualização estão no núcleo de sua compreensão e o papel de ambas é

fundamental no pensar e aprender matemática.

A representação refere-se a uma escala grande de atividades do significado: opinião constante e holística sobre algo, várias maneiras de evocar e denotar objetos, como a informação é codificada. No contrário, a visualização parece enfatizar imagens e a intuição empírica de objetos e de ações físicas. (DUVAL, 2002, p.1, tradução nossa).

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Dentro desse contexto, nos limitamos a esboçar a complexa arquitetura

cognitiva desenvolvida por Duval a respeito do uso das representações em

matemática, a visualização será explorada em trabalhos futuros.

Noções de Registros de Representação Semiótica

Para qualificar os diversos tipos de representação utilizados em

matemática a noção de registro de representação semiótica é instituída por Duval

(2008). Entretanto, antes de definirmos registro de representação semiótica, nos

cabe aqui outra discussão importante e fundamental para melhor compreensão

dessa noção. O que é Semiótica? O que é Representação Semiótica?

De acordo com Santaella (2006) o nome semiótica vem da raiz grega

semeion, que quer dizer signo. Semiótica quer dizer ciência dos signos, mas

signo como linguagem.

A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido (SANTAELLA, 2006, p.13).

Segundo a autora, a confusão se estabelece quando entendemos

linguagem como sinônimo de língua. Nesse sentido, alerta para uma distinção

necessária. O século XX testemunhou o crescimento de duas ciências da

linguagem, a Lingüística, ciência da linguagem verbal, e a Semiótica, ciência de

toda e qualquer linguagem. Destaca, ainda, que para desatarmos o nó que essa

confusão traz é necessária a discriminação entre linguagens verbais e não

verbais.

Para Santaella (2006) o uso da língua que falamos e que fazemos uso

para escrever - isto é, na sua manifestação como linguagem verbal (oral ou

escrita) - é tão natural e evidente que tendemos a não perceber que esta não é a

única forma de linguagem que somos capazes de ver, ouvir e ler. Existe uma

variedade de outras linguagens, não-verbais, que se constituem ou vem se

constituindo em sistemas de produção de significação e de sentido. Dessa

maneira, o termo linguagem se refere a todo e qualquer sistema de signos

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humanos ou aparentemente inumanos, como as linguagens binárias, linguagem

dos ruídos, a linguagem do silêncio etc.

A partir da definição de semiótica apresentada pode-se entender

representação semiótica como:

uma representação construída a partir da mobilização de um sistema de sinais. Sua significação é determinada, de um lado, pela sua forma no sistema semiótico e de outro lado, pela referência ao objeto representado. (HENRIQUES, 2006, p.17).

Para Duval (2002) existem dois tipos de representações cognitivas: as

representações semióticas e as representações físico-orgânicas. As

representações semióticas são produzidas intencionalmente com o uso de

sistemas semióticos (sentenças, gráficos, diagramas, desenhos...) cuja produção

pode ser interna (mental) ou externa. As representações físico-orgânicas são

casualmente produzidas, isto é, por um sistema orgânico (imagens visuais do

sonho ou da memória) ou por um dispositivo físico (reflexões, fotografias...). No

primeiro caso, o índice das representações que denota o objeto representado é

uma seleção explícita porque cada unidade significativa resulta de uma escolha.

No outro caso, o índice das representações é o resultado de uma ação física do

objeto representado em algum sistema orgânico ou em algum dispositivo físico.

Para o autor, o uso de representações semióticas para o pensamento

matemático é essencial, pois, ao contrário de outros campos do conhecimento

(botânica, geologia, astronomia, física...), não há nenhuma outra maneira de ter

acesso aos objetos matemáticos a não ser por meio delas. Nos outros campos do

conhecimento, as representações semióticas são imagens ou descrições sobre

alguns fenômenos do mundo externo real que podemos ter acesso perceptual e

instrumental sem recorrer a estas representações. Na matemática isso não é

possível.

Duval (1995) pontua que a distinção entre um objeto e sua representação

é de fundamental importância para a compreensão da matemática visto que sem

essa distinção haverá perda de compreensão, o que torna os conhecimentos

adquiridos inutilizáveis no seu contexto de aprendizagem. A linguagem natural,

uma figura geométrica, a linguagem da escrita dos números, uma fórmula

algébrica, uma representação gráfica, uma representação decimal, uma

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representação fracionária, são exemplos de representações semióticas que

revelam sistemas semióticos diferentes.

Segundo Duval (1995), alguns sistemas semióticos diferem de outros

sistemas, também semióticos, (por exemplo, código de Morse) por permitirem o

cumprimento de três funções cognitivas: comunicação, produção do sujeito para

os outros; objetivação, produções do sujeito para si; tratamento, produções do

sujeito para si e para os outros. Para o autor, são essas as funções que permitem

desenvolver um nível de funcionamento consciente em relação ao fenômeno

observado.

Dessa forma, Duval (1999 apud ALMOULOUD, 2007, p. 80) define um

registro de representação semiótica como:

um sistema semiótico que tem as funções cognitivas fundamentais no funcionamento cognitivo consciente, ou seja, sendo uma maneira típica de representar um objeto matemático, ou um problema, ou uma técnica.

Para tanto, todos os sistemas semióticos que permitem realizar as três

funções cognitivas são considerados por Duval (1995) como Registros de

Representação Semiótica. Os registros matemáticos mais destacados pelo autor

são: língua natural, numérico, figural, algébrico e gráfico.

Para Almouloud (2007) a noção de registro facilita o processo de ensino e

de aprendizagem na medida em que concede meios ao professor para tornar

mais acessível a compreensão de conteúdos matemáticos. Todavia, para que a

compreensão matemática aconteça, faz-se necessário a realização de atividades

que mobilizem simultaneamente dois registros (no mínimo) de representação ou

ainda, a possibilidade de mudar a todo o momento de registro de representação.

De acordo com Duval (2002), cada registro de representação semiótica

tem uma maneira específica de trabalhar. Nesse sentido, para analisar a

matemática em uma perspectiva de ensino e aprendizagem, é necessário

distinguir dois tipos de transformações semióticas:

Os tratamentos: são transformações de uma dada representação no

mesmo registro onde foi formada. O tratamento possibilita a geração

de uma nova representação a partir de uma representação já dada

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ou explorada. Por exemplo, as figuras geométricas dão também

ascensão às transformações intrínsecas na forma de configurações

a partir de considerações prévias de propriedades matemáticas.

Nesse caso, essas transformações são como as transformações

visuais. Outro exemplo é resolver uma equação ou efetuar um

cálculo ficando no mesmo sistema de escrita.

As conversões: são transformações de uma dada representação em

uma representação em outro registro, conservando os mesmos

objetos indicados. Por exemplo, passar da escrita dos números

fracionários para a escrita dos números decimais ou a

transformação de equações em gráficos cartesianos.

Duval (1995) sinaliza dois tipos de tratamento: os tratamentos

algoritmizáveis e os não algoritmizáveis, conforme mostra a Figura 26. Os

tratamentos algoritmizáveis por seguirem uma seqüência de instruções bem

definida, são encontrados nos registros algébrico, numérico e gráfico. Já os

tratamentos não algoritmizáveis, por não seguirem uma seqüência de instruções,

são encontrados nos registros de língua natural e figural.

Tratamento algoritmizável Tratamento não algoritmizável

6 x (9 + 3 x 2) / (2 x 4 – 11)

6 x (9 + 6) / (8 – 11)

6 x 15 / (- 3)

90 / (- 3)

- 30

Figura 26. Diferentes tratamentos.

Com o surgimento da Geometria Dinâmica e com base no registro figural

instituído por Duval (1995), Salazar (2009) em sua tese de doutorado considerou

o registro figural dinâmico5. No trabalho, também consideramos esse registro, pois

____________ 5 O termo registro figural dinâmico foi introduzido por Salazar (2009) para designar o registro

figural utilizado em ambientes de Geometria Dinâmica.

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além dos Sólidos Arquimedianos serem construídos no ambiente de Geometria

Dinâmica Cabri 3D, acreditamos que o registro figural dinâmico permite melhor

evidenciar os tratamentos especificamente figurais que dão as figuras um papel

heurístico6 e explicar a variabilidade desse papel de uma situação à outra. No

entanto, assim como o registro figural, o registro figural dinâmico não preenche

nenhuma função discursiva7.

A respeito das conversões, Duval (1995) pontua que podem ser

realizadas entre registros que não envolvem a língua natural (símbolos, gráficos e

equações) e com registros que a envolvem (gráficos e textos, compreensão de

um enunciado, língua formal e língua natural). A Figura 27 traz exemplos de

conversões que envolvem o registro figural e um registro discursivo, registros

requeridos em qualquer atividade geométrica.

Conversão que envolve a língua natural Conversão que não envolvem a língua

natural

Rotação de uma pirâmide em torno de um eixo

segundo um ângulo de cento e oitenta graus.

r // s

Figura 27. Diferentes conversões.

____________ 6 Possibilidade de descobrir, por meio da manipulação da figura, propriedades geométricas, bem

como outros elementos. 7 A função discursiva está aqui relacionada a todas as maneiras de registrar observações a partir

dos tratamentos realizados no registro figural. Estas podem ser registradas por meio dos registros língua natural, simbólico e algébrico.

r s

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Segundo Duval (2008) a escolha de um registro de representação

adequado bem como as diferentes representações de um mesmo objeto

matemático dentro de um mesmo registro (tratamento) não é suficiente para que a

compreensão matemática se estabeleça. Para que ocorra tal aprendizado, faz-se

necessário a articulação de no mínimo dois registros de representação. No

entanto,

Se muitos estudantes podem aprender algum tratamento, poucos deles podem realmente converter representações. [...] Em geral, os professores dão mais importância aos processos matemáticos do que a sua aplicação aos problemas da vida diária, ou problemas econômicos e físicos. (DUVAL, 2002, p. 5, tradução nossa).

Duval (2008) aponta a conversão de representações como um problema

crucial na aprendizagem da matemática e a observa por dois pontos de vista: o

matemático e o cognitivo.

Do ponto de vista matemático, a conversão, não chama atenção por que

“não tem nenhum papel intrínseco nos processos de justificação ou de prova, pois

eles se fazem baseados em um tratamento efetuado em um registro determinado,

necessariamente discursivo”. (DUVAL, 2008, p.16). Nesse sentido, essa atividade

ocorre, apenas, na escolha de registros em que os tratamentos realizados serão

mais econômicos ou na obtenção de um segundo registro que sirva de apoio aos

tratamentos que se realizam em outro registro.

Do ponto de vista cognitivo,

é a atividade de conversão que, ao contrário, aparece como a atividade de transformação representacional fundamental, aquela que conduz aos mecanismos subjacentes à compreensão. (DUVAL, 2008, p. 16).

Segundo Duval (2002) o que determina o caráter natural ou arbitrário de

uma atividade de conversão é a congruência ou a não-congruência entre

registros. Explica congruência como uma representação de partida ser mais ou

menos “transparente” a uma representação de chegada. A congruência ou não-

congruência de toda conversão dependem de seu sentido. Uma conversão pode

ser congruente em um sentido e não-congruente no sentido oposto.

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Por exemplo, a expressão “XY ≥ 0” e a representação gráfica cartesiana de dois quadrantes determinados respectivamente pelos semi-eixos Y e X positivos, X e Y negativos, são congruentes se passamos do registro algébrico para o registro gráfico, no entanto não são no sentido inverso. (DUVAL, 1995, p.19).

Os contrastes causados pela não congruência podem ser observados em

uma maneira sistemática em todos os estágios do currículo, dos problemas

verbais mais elementares na escola preliminar ao nível da universidade. Segundo

Duval (2002), a maioria dos professores, matemáticos e mesmo psicólogos dão

pouca atenção à diferença da natureza entre o tratamento e a conversão, pois

quando uma mudança de registro é introduzida na aprendizagem escolhe-se

geralmente um sentido e os casos que são congruentes.

Há algo como, instinto, evitar as situações de não-congruência que conduzem às dificuldades reais. Mas é impossível evitar especialmente quando a transferência do conhecimento é requerida. Então as falhas são explicadas como engano conceitual, o que é uma explicação inadequada, desde que nós temos um contraste dos sucessos e das falhas para os mesmos objetos matemáticos em situações muito similares. Na realidade o fato que os estudantes não reconhecem mais, quando o sentido da conversão é mudado, revela uma falta da coordenação entre os registros. A coordenação entre registros não é uma conseqüência para compreender a matemática, ao contrário, é uma condição essencial. (Duval, 2002, p.6, tradução nossa).

Para a análise de uma situação em termos de registros de representação

semiótica, Duval (1995) explica a necessidade de determinar o funcionamento de

representação próprio de um registro, bem como as unidades significantes de

uma representação desse registro.

Para determinar essas unidades, Almouloud (2007) pontua que

precisamos considerar todas as variáveis possíveis de representação. Dessa

forma, destaca dois tipos de variações que devem ser diferenciados: variações

estruturais e as variações cognitivas. As variações estruturais transformam uma

dada representação em outra identificável no mesmo registro e as variações

cognitivas, consideradas também variáveis estruturais, preservam a referência, ou

parte dela, ao objeto representado. Ainda afirma que, as unidades significantes de

uma representação só podem ser identificadas por meio das variações cognitivas.

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Nesse sentido, é preciso se deter no que realmente interessa quando se

analisa a aprendizagem sob o ponto de vista cognitivo. Duval (1995) salienta que

a conversão é o instrumento que determina o funcionamento da representação

próprio em um registro, pois distingue as variações unicamente estruturais das

variações cognitivas propriamente ditas.

Duval (2008) ressalta que não se deve entender a conversão como uma

operação simples e local, ou ainda reduzi-la a uma “codificação”. A passagem de

um sistema de equações a sua representação gráfica poderia ser feita aplicando

a regra em que um ponto é associado a um par ordenado sobre um sistema de

coordenadas. Esse é um exemplo elementar que Duval (2008) apresenta ao

reduzir a atividade de conversão a uma simples codificação. Ao efetuar essa

conversão, devem-se considerar as variáveis próprias dos gráficos (inclinação,

intersecção com os eixos etc.) e das equações (coeficientes positivos ou

negativos, raízes etc.). Ainda, segundo Duval (2008), essa regra não possibilita

uma apreensão global e qualitativa, indispensável para a determinação das

variáveis cognitivas, que permitem identificar as unidades pertinentes próprias de

cada um dos dois registros.

Para Henriques (2007, p.19) existe, além da codificação, outra atividade

bem próxima à conversão: a interpretação. Essas duas atividades, conversão e

interpretação não devem ser jamais confundidas, pois “a interpretação requer

uma mudança de quadro ou de contexto”.

Almouloud (2007) salienta que a noção de quadro desenvolvida por

Régine Douady, ainda que considere os registros de representação, fundamenta-

se nas diferentes abordagens e nos diferentes domínios matemáticos e não a

sistemas semióticos.

Segundo Duval (1999 apud ALMOULOUD, 2007) a mudança de quadro é

uma atividade que precisa ser pensada e sugerida pelo professor, o que não

garante a percepção de mudança por parte do aluno. Já para que ocorra a

mudança de registro é necessária a compreensão, do aluno, de conceitos e

propriedades matemáticas envolvidas para que tal conversão seja efetuada.

O ponto chave da teoria de Duval (1995) está na distinção entre um

objeto e sua representação e na compreensão da matemática como uma

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atividade que mobiliza inevitavelmente uma variedade de registros de

representação semiótica. Duval (2008) prioriza o estudo da conversão e não o

estudo do tratamento visto que é por meio da atividade de conversão que se

evidenciam as variáveis cognitivas próprias ao funcionamento de cada registro e

se exploram as variações de congruência e não-congruência que podem surgir

entre registros nas diversas representações dos objetos matemáticos.

Para Duval (1995) a articulação e/ou a coordenação entre diferentes

registros de representação é condição necessária para a compreensão

matemática, ainda que diversas abordagens didáticas não a considerem. Estas

conexões entre registros compõem a arquitetura cognitiva, na qual estudantes

podem reconhecer o mesmo objeto por meio de diferentes representações, bem

como fazer conexões objetivas entre a matemática empírica e a dedutiva.

A aprendizagem da matemática, em especial da geometria, implica na

construção desta arquitetura cognitiva. Tem início com a coordenação de um

registro que fornece a visualização, registro figural, e de outro registro para

executar as funções discursivas. Dessa maneira os alunos desenvolvem

consideravelmente suas capacidades de utilizar os conhecimentos já adquiridos e

suas possibilidades de adquirir novos conhecimentos matemáticos.

Diante do exposto, para identificar quais os registros de representação

semiótica que articulados possibilitam a construção dos Sólidos Arquimedianos, e

se essa articulação promove conversões congruentes ou não, é necessário partir

para o estudo do objeto matemático. Como os Sólidos Arquimedianos não estão

presentes na matemática ensinada e quase inexistem trabalhos a respeito deles,

julgamos necessária a apropriação desse objeto matemático via estudo histórico,

contemplado no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 3 – ESTUDO HISTÓRICO

Neste capítulo, destacamos aspectos históricos relacionados ao tema

Sólidos Arquimedianos, importantes para a construção do conhecimento

proposto. Para compreender o desenvolvimento desses sólidos, realizamos uma

breve discussão acerca dos poliedros platônicos para em seguida apresentarmos

o primeiro estudo matemático dos Sólidos de Arquimedes, bem como sua

sistematização.

3.1 POLIEDROS REGULARES

Segundo Soler (2007) não se sabe com exatidão em que época o cubo, o

tetraedro regular, o octaedro regular, o dodecaedro regular e o icosaedro regular,

tornaram-se conhecidos. Contudo, a autora assinala que há investigações que

sugerem o conhecimento desses cinco sólidos pelos pitagóricos, e outras que

indicam que os pitagóricos conheciam apenas a construção de três deles –

tetraedro, cubo e dodecaedro – e que se deve a Teeteto8 um estudo teórico dos

cinco poliedros regulares, em particular do octaedro e do icosaedro.

De acordo com Eves (1992), a teoria geral a respeito dos cinco sólidos

formulada por Teeteto foi descrita por volta de 380 a.C. Tal teoria, observada no

livro XIII de “Os Elementos” de Euclides, apresenta a construção geométrica

sobre os cinco corpos e demonstra que não podem existir outros.

Em “Os Elementos”, os sólidos regulares são tratados nos livros XI, XII e

XIII. Mas é no livro XIII, a partir da proposição 139, que Euclides estuda

sistematicamente esses cinco sólidos. As proposições 13, 14, 15, 16 e 17

apresentam as construções do tetraedro, octaedro, cubo, icosaedro e

dodecaedro, respectivamente. A proposição 18, “expor os lados das cinco figuras

e compará-las entre si”. (EUCLIDES, 2009, p. 589), institui as relações entre as

arestas desses sólidos e o diâmetro da superfície esférica. É a partir dessa

proposição que Euclides (2009, p. 592) afirma e demonstra “que exceto as cinco

____________ 8 Segundo Veloso (1998), um dos matemáticos gregos mais importantes da época de Platão, ensinou na Academia fundada por este em Atenas em 385 a.C. 9 “Construir uma pirâmide e contê-la pela esfera e provar que o diâmetro da esfera é, em potência, uma vez e meia o lado da pirâmide” (EUCLIDES, 2009, p. 577).

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ditas figuras não será construída outra figura, contida por eqüiláteras e também

eqüiângulas iguais entre si”.

Sigamos sua demonstração.

Pois, um ângulo sólido não é construído, certamente, por dois triângulos [eqüiláteros] ou, em geral, planos. Mas por três triângulos, o da pirâmide, e por quatro, o do octaedro, e por cinco, o do icosaedro; mas por seis triângulos tanto, eqüiláteros quanto eqüiângulos, construídos junto a um ponto, não existirá um ângulo sólido; pois, sendo o ângulo [sólido] de um triângulo eqüilátero dois terços de um reto, os seis serão iguais a quatro retos; o que é impossível; pois todo ângulo sólido é contido por um menor do que quatro retos. Pelas mesmas coisas, então, nem um ângulo sólido é construído por mais do que seis ângulos planos[medindo cada um dois terços do ângulo reto]. Mas o ângulo do cubo é contido por três quadrados; e por quatro é impossível; pois sendo o ângulo [interno] do pentágono eqüilátero um reto e um quinto, os quatro ângulos serão maiores do que quatro retos. Mas por pentágonos eqüiláteros e eqüiângulos, certamente por três, o do dodecaedro; e por quatro, é impossível. Nem, por certo, por outras figuras poligonais [regulares] será contido um ângulo sólido, pelo mesmo absurdo. Portanto, exceto as figuras ditas, uma outra figura sólida não será construída, contida por eqüiláteras e também eqüiângulas; o que era preciso provar. (Ibid., p. 592).

Vale ressaltar que ao mencionar “triângulo”, Euclides quer dizer triângulo

eqüilátero, já que sempre se refere a polígonos regulares. De acordo com Veloso

(1998), o fato de Euclides terminar Os Elementos com a proposição 18, conduz

alguns autores a acreditarem que o propósito principal da obra é demonstrar a

existência de somente cinco sólidos regulares. Essa demonstração considera

todas as possibilidades de união de polígonos regulares e para isso se baseia nas

seguintes observações:

Para que se forme um ângulo sólido, a soma dos ângulos planos

que concorrem em um vértice tem que ser menor que 360°.

Em cada vértice do ângulo sólido devem concorrer no mínimo três

faces.

À medida que aumenta o número de lados de um polígono regular a

medida do ângulo sólido aumenta.

Dessa forma conclui-se que não podemos construir sólidos regulares,

concorrendo em cada vértice: seis ou mais triângulos, mais de três quadrados,

mais de três pentágonos, três ou mais hexágonos, e assim sucessivamente.

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Nos Quadros 2, 3 e 4 relacionamos os números possíveis de triângulos

eqüiláteros, quadrados e pentágonos regulares, respectivamente, que podem

concorrer em um vértice.

Quadro 2. Números de triângulos eqüiláteros que podem concorrer em um vértice.

Número de triângulos eqüiláteros

Soma dos ângulos planos que

concorrem em um vértice

Poliedro

3 < 360° Tetraedro

4 < 360° Octaedro

5 < 360° Icosaedro

6 = 360° ?

7 > 360° ?

Quadro 3. Números de quadrados que podem concorrer em um vértice.

Número de quadrados

Soma dos ângulos planos que

concorrem em um vértice

Poliedro

3 < 360° cubo

4 = 360° ?

5 > 360° ?

Quadro 4. Números de pentágonos regulares que podem concorrer em um vértice.

Número de

pentágonos

regulares

Soma dos ângulos

planos que

concorrem em um

vértice

Poliedro

3 < 360° dodecaedro

4 > 360° ?

Os cinco sólidos regulares, mostrados na Figura 28, receberam a

denominação de sólidos platônicos, pois Platão (427-347 a.C.) os cita em Timeu,

diálogo em que apresenta reflexões a respeito da origem do universo e do

homem. De acordo com Eves (2004), nessa mesma obra, Platão descreve os

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cinco corpos e mostra como modelos desses sólidos podem ser construídos a

partir de triângulos, quadrados e pentágonos.

Figura 28. Sólidos de Platão. Fonte: Cromwell, 2008, p. 57

Platão, também, associa os quatro sólidos mais fáceis de construir -

tetraedro, cubo, octaedro e icosaedro – aos quatro elementos primordiais da

natureza – fogo, terra, ar e água, respectivamente. Segundo Soler (2007), a terra,

forma mais sólida e menos móvel, corresponde ao cubo; o fogo, mais agudo e

mais móvel, o tetraedro; o ar foi relacionado ao octaedro por rodopiar facilmente,

o que lembra a instabilidade do ar; e a água ao icosaedro, por apresentar maior

volume. Mas existe, um quinto elemento, o dodecaedro, que de acordo com Eves

(2004), é associado com o Universo ou ao cosmos, por ter dez faces e ao

zodíaco, por ter doze secções.

Em respeito às considerações atuais sobre os cinco sólidos platônicos, de

acordo com Eves (1992), elas tendem a ser topológicas. Para o autor isso pode

ser observado em uma definição moderna em que

um sólido [platônico] é um poliedro convexo regular se todas as suas faces são polígonos regulares congruentes entre si, se seus vértices são convexos e se em cada vértice incide o mesmo número de faces. (Ibid., p. 59).

A regularidade de poliedros convexos, também, pode surgir por analogia

à regularidade de polígonos convexos, como explica Soler (2007, p. 46):

um polígono [convexo] regular tem lados e ângulos iguais; como os lados do polígono se correspondem com as faces dos poliedros e os vértices com os vértices, a idéia de poliedro [convexo] regular que pode desprender-se por analogia é a de um poliedro que tem as faces iguais e regulares e também ângulos iguais que formam as faces nos vértices.

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82

No Quadro 5 apresentamos algumas características a respeito de cada

poliedro de Platão. A última coluna mostra quantas arestas partem de cada

vértice do poliedro regular, bem como o tipo de polígono que corresponde suas

faces. Por exemplo, a configuração do vértice (3.3.3) nos indica que de cada

vértice do tetraedro regular partem três arestas e que o mesmo está rodeado por

três triângulos eqüiláteros.

Quadro 5. Características Poliedros de Platão.

Poliedros

Faces

Arestas

Vértices

Vértices por

faces

Faces por

vértices

Configuração dos

vértices

Tetraedro 4 6 4 3 3 3.3.3

Cubo 6 12 8 4 3 4.4.4

Octaedro 8 12 6 3 4 3.3.3.3

Dodecaedro 12 30 20 5 3 5.5.5

Icosaedro 20 30 12 3 5 3.3.3.3

O estudo dos poliedros convexos regulares se faz necessário para

entendermos outra classe de poliedros com algumas características em comum,

os poliedros arquimedianos que são estudados a seguir.

3.2 O DESENVOLVIMENTO DOS SÓLIDOS DE ARQUIMEDES

Alguns temas em geometria ficam adormecidos durante anos, ou séculos,

para depois tornarem a despertar o interesse de alguns estudiosos, que retomam

a sua exploração e descobrem novos caminhos de estudo. Um desses temas é o

estudo dos Sólidos de Arquimedes (287 a.C -212 a.C.).

De acordo com Eves (2004), os trabalhos originais de Arquimedes que

tratam de sólidos estão perdidos, assim como grande parte das obras dos

matemáticos gregos. Seus trabalhos são conhecidos, principalmente, pelas

escritas de comentadores. Pappus de Alexandria (290 – 350 d.C.), um

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83

comentador do início do quarto século, fornece-nos informações, a respeito

desses sólidos, em sua extensa obra denominada: “Coleção Matemática”, que

reúne uma lista eclética de obras antigas, algumas atualmente perdidas.

A Coleção Matemática de Pappus é composta por oito livros, ou capítulos,

cada um existindo como obra única. De acordo com Cromwell (2008), é um

manual para os clássicos, uma consideração sistemática das obras mais

importantes da matemática grega e inclui comentários e descrições históricas de

muitos trabalhos.

É apenas no quinto livro da obra que Pappus atribui a Arquimedes a

descoberta dos treze sólidos.

Embora muitos sólidos possam ser concebidos tendo todos os tipos de faces, aqueles que parecem ser formados regularmente são mais merecedores de atenção. Estes incluem não apenas os cinco sólidos encontrados por Platão [...] mas também os sólidos, em número treze, que foram descobertos por Arquimedes e que contém polígonos eqüilaterais e eqüiangulares, mas não similares. (PAPPUS, 1876, p.353).

A descrição de Pappus a respeito dos treze Sólidos de Arquimedes, de

acordo com o número total de faces pode ser vista na Figura 29.

Figura 29. Descrição de Pappus sobre os sólidos arquimedianos. Fonte: Pappus, 1876, p.353 e 355.

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Pappus (1876) organizou essas informações de acordo com o número

total de faces de cada poliedro arquimediano. Iniciou sua discussão com os três

poliedros que apresentam 14 faces e com os dois poliedros que apresentam 26

faces. Em seguida apresenta três poliedros com 32 faces e apenas um de 38

faces. Por fim, apresenta dois poliedros de 62 faces e um único poliedro de 92

faces. No estudo de Pappus não há qualquer nomeação para os sólidos

arquimedianos.

Para melhor compreensão, a descrição realizada por Pappus para os

treze sólidos de Arquimedes está organizada no Quadro 6. A primeira coluna

apresenta o nome dado a cada sólido por Kepler, a segunda apresenta o total de

faces que cada poliedro possui e as demais indicam os polígonos que formam

suas faces.

Quadro 6. Descrição de Pappus sobre os sólidos arquimedianos.

Números de

Sólidos Faces Triângulos Quadrados Pentágonos Hexágonos Octógonos Decágonos

Tetraedro truncado

8

4

4

Cuboctaedro 14 8 6

Octaedro truncado 14 6 8

Cubo truncado 14 8 6

Rombicuboctaedro 26

Cuboctaedro truncado 26 12 8 6

Icosidodecaedro 32 20 12

Icosaedro truncado 32 12 20

Dodecaedro truncado 32 20 12

Cubo achatado 38 32 6

Rombicosidodecaedro 62 20 30 12

Icosidodecaedro truncado

62 30 20 12

Dodecaedro achatado 92 80 12

É dessa maneira que o primeiro estudo matemático dos sólidos

arquimedianos, pós-Arquimedes, é realizado. Tudo indica que esse estudo

matemático só foi retomado no século XV com Kepler, talvez o primeiro a

sistematizá-lo. Entretanto, no período do Renascimento, diversos artistas e

matemáticos se interessaram pelo estudo e representação desses sólidos. Esses

artistas, para variar seus desenhos, cortavam cantos e arestas de sólidos

platônicos, o que naturalmente produzia alguns Sólidos Arquimedianos como

resultado.

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85

3.3 SOLIDOS ARQUIMEDIANOS NO RENASCIMENTO

Nesse tópico apresentamos os artistas do Renascimento que produziram

sólidos arquimedianos em suas obras, bem como os procedimentos utilizados que

levaram a redescoberta dos mesmos.

Field (1997) assinala que cinco renascentistas – Piero della Francesca

(1412-1492), Luca Pacioli (1445-1517), Leonardo da Vinci (1452-1519), Albert

Durer (1471-1528) e Daniele Barbaro (1513-1570) – descreveram em suas obras

os Sólidos de Arquimedes sem o conhecimento do estudo de Arquimedes,

relatado por Pappus, em escritos que foram impressos em 1588 e seus

manuscritos não estavam disponíveis antes de 1560.

Para Field (1997), a história da redescoberta de poliedros arquimedianos

durante o Renascimento não é a da recuperação de um texto clássico perdido, diz

respeito à redescoberta da matemática real, matemática figurada por profissionais

que exerceram atividades outras que não a de matemáticos, o que neste caso

poderia ter sido puramente racional.

Dos cinco renascentistas apontados por Field (1997), três deles – Piero

della Francesca, Leonardo da Vinci e Albert Durer – estão presentes na obra

biográfica de Coolidge (1950 apud Brolezzi, 1991) “Matemática dos Grandes

Amadores” cujo destaque maior é dado a matemáticos não profissionais. Coolidge

(1950 apud Brolezzi, 1991, p. 211) considerou que:

através de séculos têm havido um certo número de homens, não matemáticos profissionais, que fizeram contribuições significativas para essa, a mais antiga das Ciências. Pareceu-me que valia a pena fazer algum estudo das contribuições desses homens que, por falta de um termo melhor, chamei amadores.

Os artistas renascentistas como sinaliza Field (1997), não estavam

interessados, pelo menos não a sério, na regularidade combinatória desses

sólidos, mas na existência de uma esfera circunscrita. Como a busca de outros

sólidos também inscritíveis em uma esfera era o que os movia, os cortes sobre as

arestas de sólidos platônicos não poderiam ser feitos de maneira arbitrária. O

processo utilizado por esses artistas, que deu origem a essa redescoberta, é

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chamado de truncatura, eliminação de partes de um sólido de forma simétrica que

pode ser feita sobre seus vértices ou sobre suas arestas.

Embora, não haja qualquer explicitação ou esquematização do estudo

das relações entre sólidos platônicos e os sólidos arquimedianos e os diferentes

processos de construção a partir de truncaturas, Field (1997) pontua que tais

artistas tiveram que se dirigir a Os Elementos de Euclides, mais especificamente

ao livro XIII.

O autor, ainda, destaca dois livros pseudo-euclidianos, livro XIV e livro

XV, cuja importância não está em sua autoria (provavelmente considerados por

seus autores como suplementos do livro 13 de Euclides), mas sim em seu

conteúdo. O livro XIV discorre a respeito da secção áurea e as relações métricas

entre os poliedros regulares inscritos em uma mesma esfera. O livro XV

apresenta sólidos regulares inscritos em outros sólidos. Esses dois livros,

apontados por Field (1997), são as supostas fontes para a redescoberta de

alguns sólidos arquimedianos por Piero della Francesca.

Piero della Francesca (1412-1492)

De acordo com Cromwell (2008), os princípios para representações

realistas do espaço estabelecido por Alberti10 não foram suficientes para permitir

que desenhos mais complexos, como o de poliedros, fossem produzidos. Embora

os métodos de construção de poliedros fossem conhecidos por Alberti, ele não os

descreveu. Foi Piero della Francesca que os apresentou pela primeira vez e após

isso, a construção de poliedros em perspectivas tornou-se uma característica

normal para pintores.

Piero della Francesca, pintor do século XV, foi também um estudioso em

matemática. Conhecedor de Os Elementos de Euclides, ele escreveu vários

tratados matemáticos, três deles já recuperados e impressos, mas não em seu

nome. Field (1997) afirma que dois desses tratados, Trattato d’Abaco (1450) e

Libellus de Quinque corporibus regularibus (1480), apresentam alguns estudos

____________

10 De acordo com Veloso (1998), Leon Battista Alberti nasceu em Florença em 1404, foi pintor,

compositor, poeta e filósofo, mas ficou mais conhecido como “arquiteto” e autor da primeira análise científica da perspectiva.

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87

realizados com poliedros regulares e fornecem a construção de alguns sólidos

arquimedianos.

Segundo o autor, Trattato d’Abaco é um tratado derivado de duas obras

de Leonardo de Pisa (1170-1250), também conhecido como Fibonacci. Nesse

tratado, os problemas apresentados por Piero della Francesca envolvem dois

sólidos arquimedianos, o tetraedro truncado e o cuboctaedro, ilustrados na Figura

30.

Figura 30. Tetraedro truncado e cuboctaedro. Fonte: Kepler, 1864, p.123 e 124.

Para o tetraedro truncado temos o exemplo: “existe um corpo esférico

cujo diâmetro é seis; nele, quero colocar um corpo com oito faces, quatro

triângulos e quatro hexágonos. Eu pergunto: quais são suas arestas?”.

(FRANCESCA, p. 230 apud FIELD, 1997, p. 248, tradução nossa).

Para completar essa descrição Piero della Francesca fornece-nos um

diagrama, como mostra a Figura 31, em que um círculo indica a esfera

circunscrita. Para Field (1997), Piero della Francesca sabia que esse novo sólido

resultaria de cortes nos cantos de um tetraedro regular, entretanto não

apresentou qualquer informação de como esse sólido pôde ter sido redescoberto.

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Figura 31. Escrito de Piero della Francesca de um Tetraedro truncado. Fonte: Field, 1997, p.249.

Para o cuboctaedro temos o exemplo:

existe um corpo esférico, cujo diâmetro é seis braças; nele, quero colocar uma figura com quatorze faces, seis quadrados e oito triângulos, de arestas congruentes. Eu pergunto: qual é a medida de cada aresta? Tal figura é obtida a partir do cubo, porque ele (o cubo) tem seis faces e oito cantos; cortando seus oito cantos, obtêm-se quatorze faces, como segue. Você tem o cubo ABCD.EFGH, divide cada lado na metade: AB no ponto I, CD no ponto L, BD no ponto K, AC no ponto M...(FRANCESCA, p. 231 e 232 apud FIELD, 1997, p. 248, tradução nossa).

O digrama fornecido por Piero della Francesca, conforme mostra a figura

32, utiliza, mais uma vez, um círculo para indicar a presença da esfera

circunscrita. Para esse sólido, Piero della Francesca adverte quanto à forma como

deve ser construído, visto que por meio dos pontos médios de suas arestas, os

cantos de um cubo são removidos de forma simétrica. Seu diagrama, no entanto,

omite o cubo.

Figura 32. Escrito de Piero della Francesca de um Cuboctaedro. Fonte: Field, 1997, p.249.

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89

Já o livro Libellus Quinque Corporibus Regularibus de Piero della

Francesca descreve, de acordo com Field (1997), cinco sólidos arquimedianos

obtidos pela eliminação dos cantos dos sólidos platônicos. Como já observado,

executar truncaturas em um desenho ou em um sólido requer descobrir o ponto

em que o corte será efetuado, e isso implica cálculos.

Field (1997) assinala que Piero della Francesca introduz os cinco

arquimedianos – tetraedro truncado, cubo truncado, icosaedro truncado,

dodecaedro truncado e octaedro truncado – a partir de problemas que relacionam

a aresta do sólido com o diâmetro de sua esfera circunscrita.

Assim, segundo o autor, quando as faces do sólido de partida são

triângulos (tetraedro, octaedro e icosaedro), Piero della Francesca forma faces

hexagonais pela divisão das arestas em três partes iguais, como mostra a Figura

33.

Figura 33. Hexágono regular a partir de um triângulo eqüilátero.

Fonte: Field, 1997, p. 251.

Esse procedimento resulta nos sólidos arquimedianos conhecidos como

tetraedro truncado, octaedro truncado e icosaedro truncado, ilustrados na Figura

34.

Figura 34. Tetraedro truncado, octaedro truncado, icosaedro truncado. Fonte: Cromwell, 2008, p. 161.

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90

Os dois sólidos arquimedianos restantes, dodecaedro truncado e cubo

truncado, mostrados na Figura 35, são obtidos por cortes nas arestas do

dodecaedro regular e do cubo, respectivamente, sólidos que os originam. Dessa

forma, faces formadas por octógonos e decágonos são obtidas como resultado.

Figura 35. Cubo truncado e Dodecaedro truncado. Fonte: Cromwell, 2008, p. 161.

De acordo com Field (1997), parece ter sido Piero della Francesca quem

inventou o uso da truncatura como um procedimento matemático, em que

mostrou preocupação com a simetria e com o tratamento de formas

tridimensionais, ao invés de reduzir o problema a uma série de problemas

bidimensionais em planos distintos. O autor, ainda, pontua o grau de habilidade

incomum para um pintor em manusear composições pictóricas no espaço, o que

evidencia capacidade de visualização tridimensional bastante desenvolvida.

Além de Piero della Francesca, os artistas Luca Pacioli e Leonardo da

Vinci redescobriram alguns sólidos arquimedianos como segue.

Luca Pacioli (1445-1517) e Leonardo da Vinci (1452-1519)

Luca Bartolomeo de Pacioli foi um monge franciscano e célebre

matemático italiano. Segundo Cromwell (2008), em uma de suas obras mais

importantes, De Divina Proportioni (publicada em 1509), é apresentado um estudo

de sólidos regulares e outros sólidos que podem ser derivados a partir deles.

Nessa obra, seis dos sólidos arquimedianos aparecem, dois dos quais não estão

presentes nas obras de Piero della Francesca.

Assim como o trabalho de Piero della Francesca a respeito de poliedros,

De Divina Proportioni de Luca Pacioli fornece pouca informação sobre a forma

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como os sólidos arquimedianos são obtidos, além de complicações adicionais

assinaladas por Field (1997). Para o autor, uma dessas complicações está

relacionada aos diagramas, que acompanham parte do trabalho. Estes diagramas

por sua vez ilustram os sólidos, que se sabe terem sido desenhados por Leonardo

da Vinci e que contém muitas informações que não constam no texto. Para Field

(1997) isso pode ser observado nas Figuras 36 e 37, desenhos de Leonardo da

Vinci que salientam a estrutura dos poliedros, representando somente as suas

arestas, informações não fornecidas por Luca Pacioli.

Figura 36. Desenho de Leonardo da Vinci do Icosidodecaedro.

Fonte: Field, 1997, p.257.

Figura 37. Desenho de Leonardo da Vinci do Rombicuboctaedro. Fonte: Field, 1997, p.258.

Field (1997) afirma que os seis sólidos arquimedianos trazidos por Pacioli

são produzidos pelo método de truncamento descrito por Piero della Francesca

no Trattato d’Abaco. Assim, Pacioli redescobre também o tetraedro truncado, o

icosaedro truncado, o octaedro truncado, o cuboctaedro e outros dois sólidos que

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92

não aparecem nas obras de Piero della Francesca, icosidodecaedro e o

rombicuboctaedro, ilustrados na Figura 38.

Figura 38. Icosidodecaedro e rombicuboctaedro. Fonte: Cromwell, 2008, p.160.

Assim como o cuboctaedro, o icosidodecaedro é obtido por truncaturas

sobre os pontos médios das arestas dos sólidos platônicos dodecaedro ou

icosaedro. O rombicuboctaedro resulta de truncaturas no sólido arquimediano

cuboctaedro, mas Pacioli não fornece qualquer informação que explique tal

truncatura. Para Field (1997), o estilo geral da obra de Pacioli seria a desculpa

para a ausência de uma explicação matemática da origem do novo sólido.

Além do procedimento de truncatura descoberto por Piero della

Francesca para a obtenção de sólidos arquimedianos, outro procedimento

matemático é apontado por Dürer, mostrado no que segue.

Albert Dürer (1471-1528)

Segundo Cromwell (2008), Albert Dürer dedicou muitos dos seus últimos

anos de vida a estudos teóricos de textos clássicos, cujo interesse no espírito

humanista do Renascimento abrangia áreas como a Matemática, em especial a

Geometria, a Geografia, a Arquitetura e a Engenharia.

Em 1525, publicou Unterweysung der Messung MIT dem Zirkel um

Richtscheyt in Linien Ebnen unnd Gantzen Corporen (Instrução da Arte da

Medição com Compasso e Regras de Linhas, Planos e Corpos Sólidos), um

trabalho compreendido em quatro livros. Segundo Field (1997), no primeiro livro

discute conceitos básicos da geometria (ponto e reta) e avança para conceitos

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mais complexos. O segundo traz discussões a respeito de polígonos regulares e,

Dürer, expõe como polígonos regulares podem ser incorporados em ornamentos,

pisos e pavimentações. No terceiro livro aborda problemas de arquitetura e

engenharia e no quarto os sólidos arquimedianos são introduzidos.

Sete arquimedianos são discutidos em conjunto com sólidos platônicos e

cada um deles é ilustrado apenas pela planificação de sua superfície. Dos sete

arquimedianos descritos, Field (1997) sinaliza que quatro podem ter sido retirados

da obra, De Divina Proportioni, de Pacioli (tetraedro truncado, cuboctaedro,

octaedro truncado e o rombicuboctaedro), um da obra Libellus Quinque

Corporibus Regularibus de Piero della Francesca (cubo truncado) e os dois

restantes, cuboctaedro truncado e cubo achatado, ilustrados na Figura 39, podem

ter sido redescobertos por ele.

Figura 39. Cuboctaedro truncado e cubo achatado. Fonte: Cromwell, 2008, p.160.

Com base nos escritos de Dürer sobre o arquimediano cuboctaedro

truncado, Field (1997) pontua a ausência de um procedimento matemático

evidente, ou ainda indicativo, que aponte como o novo sólido foi redescoberto. No

entanto, de acordo com o autor, o procedimento efetuado por Dürer parece não

ter sido o truncamento, mas sim o procedimento de construção de sólido a partir

da planificação de sua superfície.

Field (1997) sinaliza que a idéia de construção introduzida por Dürer torna

mais simples a representação da superfície dos sólidos arquimedianos por sua

forma planificada do que por perspectiva. Ainda para o autor, esse método pode

ter sido essencial para a redescoberta do cubo achatado por Dürer.

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94

O cubo achatado foi descrito por Dürer como um sólido de seis faces

quadradas e trinta e duas faces triangulares, com vinte quatro ângulos sólidos e

sessenta arestas. A planificação da superfície do sólido, ilustrada na Figura 40

destaca uma simetria diferente dos arquimedianos anteriores e desta forma nos

leva a crer que ele não pode ser obtido por um processo simples de truncamento,

como os descritos por Piero della Francesca.

Figura 40. Planificação da superfície do cubo achatado. Fonte: Field, 1997, p.268.

A Figura 41 mostra que o cubo achatado pode ser construído a partir do

cubo. De acordo com Schreiber, Fischer e Sternath (2007), o problema está em

encontrar x e y de modo que todas as arestas sejam congruentes, o que resulta

na equação 2

1x2x2x 23 .

Figura 41. Construção do cubo achatado a partir do cubo. Fonte: Schreiber, Fischer e Sternath, 2008, p. 463.

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O método da planificação introduzido por Dürer também foi utilizado por

Danielle Barbaro para ilustrar onze dos treze sólidos arquimedianos que

apresentamos no que segue.

Danielle Barbaro (1513-1570)

Segundo Field (1997), a maneira pela qual os sólidos arquimedianos são

retratados na obra Pratica della perspectiva (1568 e 1569) de Danielle Barbaro, é

muito semelhante à De Divina Proportioni de Pacioli, pois o foco está na

apresentação visual desses sólidos e apenas uma breve discussão matemática

nos é fornecida.

Todos os onze sólidos arquimedianos apresentados em sua obra são

obtidos por truncaturas, fato que para Field (1997) pode explicar a ausência do

sólido arquimediano cubo achatado redescoberto por Dürer. No entanto, o autor

sinaliza que Danielle Barbaro utiliza o método de planificação de Dürer para

ilustrá-los.

Dos onze sólidos arquimedianos descritos por Barbaro, dois deles,

rombicosidodecaedro e icosidodecaedro truncado, ilustrados na Figura 42, não

haviam sido ainda obtidos, ou talvez indicados, por Piero della Francesca, Luca

Pacioli e Albert Dürer.

Figura 42. Rombicosidodecaedro e icosidodecaedro truncado. Fonte: Cromwell, 2008, p.161.

De acordo com Field (1997), Danielle Barbaro redescobriu o

rombicosidodecaedro ao truncar as arestas do icosidodecaedro em seus pontos

médios. No entanto, não há qualquer informação da maneira como obteve o

icosidodecaedro truncado.

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Para finalizar, apresentamos no Quadro 7, uma síntese que possibilita

observar melhor os sólidos arquimedianos redescobertos pelos artistas do

Renascimento. A primeira coluna mostra a nomenclatura dada por Kepler a cada

sólido arquimediano, e as demais indicam em que obras os sólidos aparecem. A

letra “T” refere-se ao Trattato d’Abaco e a letra “L” a Libellus Quinque Corporibus

Regularibus, ambas as obras de Piero della Francesca.

Quadro 7. Sólidos Arquimedianos no Renascimento.

Sólido Arquimediano

Piero della Francesca

Luca Pacioli Albert Dürer Danielle Barbaro

Cubo truncado L -

Tetraedro truncado T, L

Dodecaedro Truncado L - -

Icosaedro Truncado L -

Octaedro Truncado L

Cuboctaedro truncado - -

Icosidodecaedro

truncado

- - -

Cuboctaedro T

Icosidodecaedro - -

Rombicuboctaedro -

Rombicosidodecaedro - - -

Cubo achatado - - -

Dodecaedro achatado - - - -

Além de pinturas, a madeira foi também um meio utilizado por artesões no

Renascimento para representar poliedros. Segundo Cromwell (2008), alguns

artistas renascentista associavam a perspectiva com marchetaria, considerada no

período do Renascimento como arte de construir objetos tridimensionais tendo

como principal suporte a madeira. A madeira era uma espécie de marca

registrada, motivo de sua popularidade.

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97

Sólidos Arquimedianos em Madeira

De acordo com Cromwell (2008), as formas simples de poliedros eram as

favoritas dos artesões e assim, poliedros platônicos e alguns arquimedianos

foram produzidos. O autor apresenta, na Figura 43, um bloco em madeira feito por

artesões florentinos em 1470. Pontua, ainda, que para tornar a construção mais

difícil e expor maior habilidade técnica, os artesões produziam apenas as

estruturas de poliedros para que todas as faces se tornassem visíveis. Poliedros

inscritos em outros também foram produzidos.

Figura 43. Estrutura de poliedros em madeira. Fonte: Cromwell, 2008, p. 118.

Muitos autores afirmam que Kepler foi o primeiro a explorar todos os

Sólidos Arquimedianos. No entanto, Schreiber, Fischer e Sternath (2007) apontam

evidências que a história sobre esses sólidos, dita e aceita até hoje pode não

estar completa.

De acordo com os autores, no outono de 2006, em um curso de criação

de um catálogo digital para a Galeria Albertina11, foi dada atenção, mais uma vez,

para as telas de quarenta blocos construídos a partir de cortes em madeira que

exibem sólidos regulares e semi-regulares. Todos os Sólidos Arquimedianos

foram apresentados por meio da planificação de suas superfícies, uma delas é

mostrada na figura 44.

____________

11 Museu de arte de Viena, na Áustria.

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Figura 44. Planificação de superfície de poliedros em madeira. Fonte: Schreiber, Fischer e Sternath, 2008, p. 459.

O catálogo foi feito por Gisela Fischer, que descobriu recentemente em

três dos blocos, a assinatura de Hieronymus Andreae, conhecido na história da

arte como colaborador de Dürer, além de editor e impressor. Com a assinatura de

Andreae nos blocos, os autores puderam presumir uma conexão com os

trabalhos de Dürer,

Com a morte de Andreae em 1556, os autores estabeleceram um ano

limite para a produção dos blocos e assim constataram que anterior a Kepler

existiu um matemático, ainda que desconhecido, interessado em explorar todos

os Sólidos Arquimedianos. No entanto, segundo os autores, nenhuma informação

se tem a respeito desse desconhecido, talvez pelo fato de inexistirem documentos

impressos acerca dos blocos produzidos. Ainda assim, os autores listam detalhes

do projeto dos quarenta blocos.

A conexão do trabalho desse matemático desconhecido com Dürer,

também pode ser justificada por ambos compartilharem do mesmo método para a

produção de superfícies de Sólidos Arquimedianos, o da planificação. Para os

autores, assim como Dürer obteve o cubo achatado, esse matemático obteve o

dodecaedro achatado, mostrado na Figura 45, único sólido arquimediano que

ainda não havia sido explorado. A planificação da superfície desse sólido é

mostrada na Figura 46.

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Figura 45. Dodecaedro achatado. Fonte: Cromwell, 2008, p.92.

Figura 46. Superfície de um dodecaedro achatado em madeira. Fonte: Schreiber, Fischer e Sternath, 2008, p. 462.

Com a planificação da superfície do dodecaedro achatado representada

em bloco de madeira, o conjunto completo dos treze Sólidos Arquimedianos pode

ter sido explorado antes mesmo de Kepler.

A seguir apresentamos o estudo matemático sobre os Sólidos

Arquimedianos realizado por Kepler que não só retoma o estudo de Pappus, mas

também o sistematiza.

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100

3.4 SISTEMATIZAÇAO DE KEPLER

Nesse tópico, indicamos algumas razões que despertaram o interesse de

Kepler ao estudo dos poliedros, a demonstração da existência de apenas treze

Sólidos Arquimedianos, bem como a nomeação dada por Kepler a cada um

desses sólidos.

Segundo Garozzo (1975), Johannes Kepler (1571-1630) nasceu na

cidade de Weil der stadt, na região do Wurttemberg. Ele viveu em uma época de

transição, final da Idade Média e início da Idade Moderna, em meio a uma Europa

turbulenta, cheia de transtornos políticos e religiosos. Embora seja lembrado

principalmente por suas obras astronômicas, Kepler foi um autor prolífico e

escreveu sobre assuntos diversos.

Assim como Copérnico e Galileu, Kepler foi um grande explorador do

espaço. Garozzo (1975) afirma que Kepler embora fosse adepto de Copérnico,

visto que reconhecia as vantagens matemáticas do novo sistema planetário, foi

além da explicação cinemática do universo copernicano, pois procurava uma

explicação mais física dos fenômenos celestes, de natureza quase dinâmica.

Kepler atraído pelo sistema de Copérnico e pelas leituras de Pitágoras e

Platão desejava desvendar os mistérios do cosmos. Dessa forma, percebeu que o

corpo mais importante do universo, a fonte única de toda e qualquer energia e

movimento, não era a terra, mas o sol. E para estabelecer a ordem que presidia à

distribuição dos planetas chegou a exprimir uma relação entre os cinco poliedros

platônicos e as órbitas dos seis planetas até então conhecidos: Mercúrio, Vênus,

Terra, Marte, Júpiter e Saturno.

Segundo Schoot (2001), Kepler acreditava que as distâncias entre as

órbitas dos planetas só poderia ser estabelecida pela forma dos cinco poliedros

platônicos. Entre as órbitas de Mercúrio e Vênus situava-se um octaedro, entre

as órbitas de Vênus e Terra um icosaedro, entre as órbitas de Terra e Marte um

dodecaedro, entre as órbitas de Marte e Júpiter um tetraedro, e entre as órbitas

de Júpiter e Saturno um cubo. Ainda segundo o autor, Kepler acreditava que cada

corpo celeste possuía sua própria esfera e se movia ao longo de sua superfície,

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além de também acreditar que a distância entre cada planeta do centro do

universo não era constante.

Com esse raciocínio, Kepler pensou explicar, não somente a ordem

espacial dos planetas, cuja escolha não poderia ter sido arbitrária, mas também

seu número. Acreditava que Deus, criador de coisas perfeitas, havia usado para

construir o universo somente figuras geométricas perfeitas. De acordo com

Garozzo (1975), ninguém antes de Kepler procurou deduzir o número e

dimensões das órbitas para tentar compreender os planos do criador.

Sua teologia, crença em Deus criador, somado ao seu misticismo

pitagórico, o levou a procurar a ordem matemática subjacente a fenômenos da

natureza. Nesse sentido, segundo Cromwell (2008), o modelo poliédrico de Kepler

do universo, ilustrado na Figura 47, foi motivado pelo desejo de tentar explicar a

estrutura do universo e expor as relações geométricas harmoniosas utilizadas

pelo grande arquiteto na criação do universo.

Figura 47. Mistério Cosmográfico de Kepler. Fonte: Cromwell, 2008, p. 145.

O interesse em poliedros abrange toda a carreira de Kepler. Eles

ocorrem em seu primeiro tratado publicado, Mistério Cosmográfico, em que

descreve e explica a sua concepção do sistema planetário tendo como base o

modelo heliocêntrico de Copérnico, e também em uma de suas últimas grandes

obras, Harmonices Mundi, obra em que Kepler revela sua visão do cosmos em

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que a ciência se mistura com poesia, filosofia, teologia e misticismo. Embora,

mais tarde, Kepler tenha se convencido de que os sólidos platônicos não davam

as proporções exatas na distribuição dos planetas no universo, seus estudos

deram notáveis contribuições ao estudo dos poliedros.

Os escritos de Kepler a respeito dos sólidos arquimedianos estão

presentes no segundo livro de sua obra Harmonices Mundi (De Congruentia

Figurarum Harmonicarum). Os dois primeiros, dos cinco livros, abordam polígonos

e as diferentes maneiras nas quais eles formam congruências no plano e no

espaço. No livro I, Kepler define polígono regular como eqüilateral e eqüiângular e

polígono semi-regular apenas como eqüilateral, e restringe a atenção para

aqueles que têm quatro lados. No livro II, ele investiga as maneiras que polígonos

regulares ou semi-regulares podem ser arranjados em torno de um ponto, o que

conduz a construção de poliedros.

Kepler classifica e descreve os tipos de poliedros que o interessam, como

pode ser visto na Figura 48. Cromwell (2008) afirma que para Kepler uma

congruência é perfeita quando todos os vértices estão igualmente cercados e a

subdivide em poliedros mais perfeitos e poliedros perfeitos a um menor grau. Os

poliedros mais perfeitos são contemplados por faces iguais, estes são ainda

subdivididos em regulares e semi-regulares, isto é, de acordo com suas faces,

polígonos regulares ou semi-regulares. O poliedro que Kepler considera perfeito a

um menor grau tem faces regulares de vários tipos: arquimedianos e as famílias

de prismas e antiprismas, em que alguns são considerados imperfeitos.

Figura 48. Classificação de poliedros de Kepler Fonte: Cromwell, 2008, p.150.

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103

Segundo o autor, Kepler descreve exemplos de vários tipos de poliedros.

Os poliedros regulares são os primeiros a serem enumerados, pois observa que

essa classificação constitui a última proposição em Os Elementos de Euclides.

Sua demonstração segue a de Euclides, já que ele tenta arranjar polígonos em

torno de um ponto e eliminar todas as possibilidades cuja soma dos ângulos

supere 360°. Dessa forma, as cinco possibilidades existentes resultam nos

Sólidos de Platão.

De acordo com Cromwell (2008), Kepler conheceu o trabalho de Pappus

a respeito dos Sólidos de Arquimedes e por meio de uma análise sistemática

concluiu que prismas e antiprismas também satisfaziam a definição dada por

Pappus aos sólidos, até então, nada havia sido escrito sobre isso. Ainda, para o

autor é provável que Kepler tenha sido o primeiro a observar o antiprisma.

Para enumerar os Sólidos de Arquimedes, Kepler considerou todas as

possíveis maneiras que um ângulo sólido pode ser formado a partir de polígonos

regulares. Kepler utilizou dois lemas para tornar o processo mais fácil.

Lema 1:

Se todas as faces de um poliedro convexo são polígonos regulares,

então, no máximo, três tipos diferentes de faces podem aparecer em torno

de qualquer ângulo sólido.

Os quatro polígonos regulares com os menores ângulos internos são: o

triângulo (60°), o quadrado (90°), o pentágono (108°) e o hexágono (120°). A

soma desses quatro ângulos é maior que 360°. Como a soma ultrapassa 360°, é

fácil notar que esses quatro polígonos regulares não podem cercar um vértice.

Com um conjunto diferente, isto é, de quatro ou mais polígonos regulares

diferentes, em torno de um vértice, o total da soma dos ângulos é ainda maior.

Portanto, quatro ou mais tipos diferentes de polígonos regulares não podem

cercar um vértice.

Lema 2:

Um poliedro em que todos os ângulos sólidos estão rodeados da

mesma maneira não pode ter ângulos sólidos conforme mostra o Quadro 8.

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Quadro 8. Tipos de vértices que não formam um ângulo sólido.

(i) Em que a é impar e b ≠ c.

(ii) Em que a ≠ c

Fonte: Cromwell, 2008, p.159.

i. Como todos os ângulos sólidos têm o mesmo tipo, isto é, estão rodeados

da mesma maneira, a face do polígono de b lados deve alternar com a face

do polígono de c lados cercando a fronteira de um polígono de face a.

Entretanto, se a for ímpar ocorre uma contradição, conforme mostra a

Figura 49.

Figura 49. Exemplo Lema 2(i).

ii. Nesse caso, consideramos a maneira em que as faces devam ser

arranjadas em torno de um polígono de 3 lados. Em cada ângulo sólido, a

face oposta ao polígono de 3 lados é um polígono de b lados. Desde que

todos os vértices tenham o mesmo tipo, o tamanho dos polígonos de 3

lados deve ser anexado aos polígonos de a lados e polígonos de c lados, e

estes devem alternar em torno do polígono de 3 lados. Isto leva a uma

inconsistência, como mostra a Figura 50.

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105

Figura 50. Exemplo Lema 2(ii). Fonte: Cromwell, 2008, p.162.

O segundo lema é usado por Kepler para excluir certas combinações de

polígonos que contém um número ímpar de lados. Kepler afirma que três

polígonos de tipos diferentes não podem formar um ângulo sólido em uma figura

perfeita se algum deles tem um número ímpar de lados.

Depois de demonstrar o Lema 2, Kepler afirma que existem treze

congruências sólidas as quais são perfeitas a um menor grau. A partir delas nós

obtemos os Sólidos Arquimedianos. A única figura perfeita, para Kepler, é a

esfera, por isso considera os sólidos arquimedianos como figuras perfeitas a um

menor grau.

A demonstração a seguir, é baseada nas idéias de Kepler com adicionais

de Peter R. Cromwell. A diferença básica entre as duas demonstrações está na

distinção feita por Cromwell (2008) entre tipos e espécies de um vértice.

Para Cromwell (2008) a distinção entre a definição das faces que estão

vinculadas a um ângulo sólido e a específica ordem em que elas ocorrem é

necessária. O autor entende espécie de um ângulo sólido como uma lista

desordenada das faces presentes e como tipo de um ângulo sólido a ordem

específica em que as faces ocorrem ao redor do vértice. Por exemplo, conforme

mostra a Figura 51, a espécie do ângulo sólido delimitado por dois triângulos e

dois quadrados compreende dois tipos de ângulo sólido, isso se deve a maneira

como essas faces estão arranjadas.

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106

Figura 51. Dois tipos de vértices de mesma espécie Fonte: Cromwell, 2008, p.158.

Os diagramas representam a região em torno de um vértice e os números

indicam os tipos e as relativas posições dos polígonos os quais cercam o vértice.

Esta informação pode ser, também, escrita na forma (3,4,3,4) e (3,3,4,4), a qual

lista em ordem (horária) o número de lados de cada face.

Segue a demonstração.

Teorema: Considera-se que todos os ângulos sólidos de um poliedro

convexo sejam do mesmo tipo. Além de duas famílias de tipos (4,4,n) e

(3,3,3,n), existem treze tipos de ângulos sólidos que podem ocorrer. Essas

possibilidades são realizadas pelas famílias de prismas, antiprismas e dos

Sólidos Arquimedianos, respectivamente.

O teorema é provado por exaustão, isto é, por esgotar todas as possíveis

combinações de faces que podem cercar um ângulo sólido e esgotar aquelas que

não respeitam a condição de existência, conforme já mostradas nos lemas 1 e 2.

O primeiro lema mostra que as espécies de ângulos sólidos presentes

podem ter, no máximo, três tipos de polígonos regulares e deve haver, por

definição, pelo menos dois tipos de polígonos.

Primeiro, considera-se aquelas espécies de ângulo sólido em que existem

dois tipos de faces.

(1) Espécie de ângulo sólido limitado por polígonos de 3 lados e polígonos

de 4 lados.

Se na espécie de um ângulo sólido existir um único polígono de 4 lados, então

pode haver, no máximo, quatro polígonos de 3 lados, uma vez que a soma entre

os ângulos de 5 ou mais polígonos de 3 lados e um polígono de 4 lados é superior

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a 360°.Desta forma, existem três tipos possíveis de ângulos sólidos, conforme

mostra o Quadro 9.

Quadro 9. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de quatro lados e no máximo quatro polígonos de três lados.

(3,3,3,3,3,4)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

5x(60°) + 1x(90°) = 390°

(3,3,3,3,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Cubo achatado.

4x(60°) + 1x(90°) = 330°

(3,3,3,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um antiprisma

quadrangular.

3x(60°) + 1x(90°) = 270°

(3,3,4)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p.163.

Se existirem dois polígonos de 4 lados na espécie de ângulo sólido, então pode

haver, no máximo, dois polígonos de 3 lados. Dois polígonos de 4 lados e três ou

mais polígonos de 3 lados não podem formar um ângulo sólido, pois a soma dos

ângulos planos é maior ou igual a 360°.

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As espécies de ângulos sólidos que contém dois polígonos de 4 lados e

dois polígonos de 3 lados vêm em dois tipos, como indica o Quadro 10.

Quadro 10. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de quatro lados e dois polígonos de três lados

(3,3,3,4,4)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

3x(60°) + 2x(90°) = 360°

(3,3,4,4)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (ii).

(3,4,3,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em cuboctaedro.

2x(60°) + 2x(90°) = 300°

(3,4,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um prisma triangular.

1x(60°) + 2x(90°) = 240°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 163.

Se existirem mais do que dois polígonos de 4 lados no ângulo sólido, então

existe uma única possibilidade que é indicada no Quadro 11.

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Quadro 11. Possibilidades de ângulos sólidos formados por três polígonos de quatro lados e dois polígonos de três lados.

(3,3,4,4,4)

A soma dos ângulos planos é maior 360°.

Portanto, não pode ser considerada.

2x(60°) + 3x(90°) = 390°

(3,4,4,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Rombicuboctaedro.

1x(60°) + 3x(90°) = 330°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 163.

A soma dos ângulos de três polígonos de 4 lados e dois polígonos de 3

lados supera 360°, assim como a soma de quatro ou mais polígonos de 4 lados.

(2) Espécie de ângulo sólido limitado por polígonos de 3 lados e polígonos

de 5 lados.

A análise desse caso é a mesma do caso anterior.

Se existir apenas um polígono de 5 lados, então pode haver, no máximo,

quatro polígonos de 3 lados. Os dois possíveis tipos ocasionam no dodecaedro

achatado e no antiprisma pentagonal, conforme mostra o Quadro 12.

Quadro 12. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de cinco lados e no máximo quatro polígonos de três lados..

(3,3,3,3,3,5)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

5x(60°) + 1x(108°) = 408°

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(3,3,3,3,5)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Dodecaedro

achatado..

4x(60°) + 1x(108°) = 348°

(3,3,3,5)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um antiprisma

pentagonal.

3x(60°) + 1x(108°) = 288°

(3,3,5)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p. 164.

Se existirem dois polígonos de 5 lados na espécie de ângulo sólido então

podem haver, no máximo, dois polígonos de 3 lados. Mais uma vez a espécie que

contém dois polígonos de 3 lados vem em dois tipos, como mostra o Quadro 13.

Quadro 13. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de cinco lados e no máximo dois polígonos de três lados..

(3,3,3,5,5)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

3x(60°) + 2x(108°) = 396°

(3,3,5,5)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (ii).

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(3,3,5,5)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Icosidodecaedro.

2x(60°) + 2x(108°) = 336°

(3,5,5)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p. 164.

(3) Espécie de ângulo sólido limitado por polígonos de 3 lados e polígonos

de 6 lados.

Neste caso quando as espécies contém um único polígono de 6 lados, podem

existir, no máximo, três polígonos de 3 lados. Quatro polígonos de 3 lados e um

polígono de 6 lados não podem formar um ângulo convexo mas sim planar. Três

polígonos de 3 lados e um polígono de 6 lados formam um antiprisma hexagonal

de vértice do tipo (3,3,3,6).

O caso de dois polígonos de 3 lados e um polígono de 6 lados é excluído.

O Quadro 14 exemplifica as espécies mencionadas.

Quadro 14. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de seis lados e no máximo três polígonos de três lados.

(3,3,3,3,6)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

4x(60°) + 1x(120°) = 360°

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112

(3,3,3,6)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um antiprisma

hexagonal.

3x(60°) + 1x(120°) = 300°

(3,3,6)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p.164.

Se existirem dois polígonos de 6 lados no ângulo sólido, então pode haver

apenas um polígono de 3 lados. De outra maneira, a soma dos ângulos é igual ou

maior a 360°. O único caso, (3,6,6), corresponde ao tetraedro truncado. Mais do

que dois polígonos de 6 lados não podem formar um ângulo sólido (ver Quadro

15).

Quadro 15. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de seis lados e um polígono de três lados.

(3,3,6,6)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

2x(60°) + 2x(120°) = 360°

(3,6,6)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Tetraedro Truncado.

1x(60°) + 2x(120°) = 300°

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(6,6,6)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

3x(120°) = 360°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 166.

(4) Espécie de ângulo sólido que contém polígonos de 3 lados e polígonos

de n lados, em que n ≥ 7.

Nenhuma das espécies de ângulos sólidos que contém um único polígono de n

lados pode formar um sólido arquimediano. A única possibilidade é (3,3,3,n), o

antiprisma com um polígono base de n lados, conforme indica o Quadro 16.

Quadro 16. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de sete ou mais lados e três lados.

(3,3,3,3,n)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

4x(60°) + 1x(α) > 360°

(3,3,3,n)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um antiprisma.

3x(60°) + 1x(α) < 360°

(3,3,n)

Impossível. Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p. 165.

Se houver mais de um polígono de n lados no ângulo sólido então a única

possibilidade é ter dois polígonos de n lados e um polígono de 3 lados. Se n é

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114

ímpar, então este tipo de ângulo sólido não pode ser formado (lema 2(i)). E se n é

par e maior do que 10, a soma dos ângulos planos é igual ou maior que 360°. O

Quadro 17 indica as espécies mencionadas.

Quadro 17. Possibilidades de ângulos sólidos formados por mais de um polígono de sete ou mais lados e três lados.

(3,3,n,n)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

2x(60°) + 2x(α) > 360°

(3,8,8)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Cubo Truncado.

1x(60°) + 2x(135°) = 330°

(3,10,10)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Dodecaedro Truncado.

1x(60°) + 2x(144°) = 348°

(3,12,12)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo, mas

sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(60°) + 2x(150°) = 360°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 165.

Essa é a completa análise de todas as espécies de ângulo sólido que

contém polígono de 3 lados e um outro tipo de polígono. As outras espécies que

contém apenas dois tipos de polígonos são investigadas a seguir.

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115

(5) Espécie de ângulo sólido que contém polígonos de 4 lados e polígonos

de n lados (n ≥ 5).

Se existir uma única face composta por um polígono de n lados, então o tipo de

ângulo sólido deve ser (4,4,n), uma vez que a soma dos ângulos planos de três

ou mais polígonos de 4 lados e um polígono de n lados é maior que 360°. O caso

admissível é um prisma com um polígono base de n lados.

Se existirem duas faces compostas de polígonos de n lados então existe

somente um único polígono de 4 lados (de outra maneira a soma dos ângulos

ultrapassaria 360°). Então, o tipo de ângulo sólido é (4,n,n):

Se n ≥ 8, então a soma do ângulo é igual ou maior que 360°.

Se n é ímpar, então a parte (i) do lema 2 mostra que nenhum poliedro é

possível.

O único caso possível é (4,6,6), poliedro chamado de octaedro truncado.

A possibilidade de três ou mais polígonos de n lados com polígonos de 4 lados

é excluída pela soma dos ângulos.

O Quadro 18 indica as espécies mencionadas.

Quadro 18. Possibilidades de ângulos sólidos formados por polígonos de quatro lados e cinco ou mais lados.

(4,4,n,n)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

4x(90°) + 2x(α) > 360°

(4,8,8)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(90°) + 2x(135°) > 360°

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116

(4,6,6)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Octaedro Truncado.

1x(90°) + 2x(120°) = 330°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 166.

(6) Espécie de ângulo sólido com polígonos de 5 lados e polígonos de n

lados (n ≥ 6).

Um único polígono de n lados não pode formar parte de um ângulo sólido, pois

a soma dos ângulos de três polígonos de 5 lados e um polígono de n lados é

maior que 360° e um ângulo de tipo (5,5,n) é excluído pela parte (i) do lema 2.

Se existirem dois polígonos de n lados, então a soma dos ângulos mostra

argumentos que o ângulo sólido deve ser do tipo (5,n,n). O menor valor dado a n

resulta em um icosaedro truncado (5,6,6). Para qualquer valor maior de n a soma

dos ângulos planos é maior do que 360°.

Mais do que dois polígonos de n lados conduz a uma soma de ângulos igual ou

maior a 360°.

O Quadro 19 indica as espécies mencionadas.

Quadro 19. Possibilidades de ângulos sólidos formados por polígonos de cinco lados e seis ou mais lados.

(5,5,n,n)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser

considerada.

2x(108°) + 2x(α) > 360°

(5,7,7)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(108°) + 2x(900°/7) > 360°

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117

(5,6,6)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Icosaedro

Truncado.

1x(108°) + 2x(120°) = 348°

Fonte: Cromwell, 2008, p.166.

Em qualquer outra espécie de ângulo sólido que contém somente dois tipos

de polígonos, a menor possibilidade da soma dos ângulos resulta em dois

polígonos de 6 lados e um de 7 lados, e esta é maior do que 360°. Assim, todas

as espécies de ângulos sólidos que contém apenas dois tipos de polígonos já

foram abordadas. Mantém-se a considerar as espécies que envolvem três tipos

de polígono.

(7) Espécie de ângulo sólido que contém polígonos de 3 lados, polígonos

de 4 lados e polígonos de n lados (n ≥ 5).

Assume-se, em primeiro lugar, que existe um único polígono de n lados.

Se houvesse um polígono de 4 lados poderia haver, no máximo, dois polígonos

de 3 lados; as espécies que contém dois polígonos de 3 lados são excluídas pela

parte (ii) do lema 2; e o tipo de ângulo (3,4,n) é excluído pela parte (i) do lema 2.

O Quadro 20 indica a situação exposta.

Quadro 20. Possibilidades de ângulos sólidos formados por um polígono de quatro lados, dois polígonos de três lados e um polígono de cinco ou mais lados.

(3,3,3,4,n)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

3x(60°) + 1x(90°) + 2x(α) > 360°

(3,n,3,4)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (ii).

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118

(3,3,n,4)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (ii).

(3,4,n)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (i).

Fonte: Cromwell, 2008, p. 167.

Se existem dois polígonos de 4 lados e um único polígono de n lados no ângulo

sólido, então pode haver um único polígono de 3 lados, conforme mostra o

Quadro 21, de outra maneira a soma dos ângulos ultrapassaria 360°. A soma dos

ângulos é também superior a 360°se n ≥ 6.

Quadro 21. Possibilidades de ângulos sólidos formados por dois polígonos de quatro lados e um polígono de cinco ou mais lados.

(3,4,4,6)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo, mas

sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(90°) + 2x(90°) + 1x(120°) = 360°

(3,4,6,4)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo, mas

sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(90°) + 2x(90°) + 1x(120°) = 360°

(3,4,4,5)

Impossível.

Excluído pelo Lema 2 (ii).

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119

(3,4,5,4)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Rombicosidodecaedro.

1x(60°) + 2x(90°) +1x(108°) = 348°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 167.

(8) Espécie de ângulos sólidos que contém três tipos de face, faces que

não são polígonos de 3 lados.

Supõe-se que quatro faces formam o ângulo sólido.

A menor combinação possível é ter dois polígonos de 4 lados, um de 5 lados e

um de 6 lados. A soma dos ângulos internos desses polígonos é maior do que

360°.

Dessa forma, devem existir três polígonos diferentes que formam o

ângulo sólido. A parte (i) do lema mostra que, neste caso, nenhum dos polígonos

pode ter um número ímpar de lados.

A menor combinação possível de faces é (4,6,8) que corresponde ao grande

rombicuboctaedro (ou cuboctaedro truncado).

A próxima menor combinação é (4,6,10) que corresponde ao grande

rombicosidodecaedro (ou icosidodecaedro truncado).

Em todas as outras combinações de faces a soma dos ângulos é muito grande

para produzir um ângulo sólido.

O Quadro 22 mostra a situação exposta.

Quadro 22. Possibilidades de ângulos sólidos formados por três polígonos que não são de três lados.

(4,6,8)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Cuboctaedro

Truncado.

1x(90°) + 1x(120°) +1x(135°) = 345°

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120

(4,6,10)

A soma dos ângulos planos é menor que

360°. Resulta em um Icosidodecaedro

Truncado.

1x(90°) + 1x(120°) +1x(144°) = 354°

(4,6,12)

A soma dos ângulos planos é 360°. Essa

espécie não forma um ângulo convexo,

mas sim planar. Portanto, não pode ser

considerada.

1x(90°) + 1x(120°) + 1x(150°) = 360°

(4,8,10)

A soma dos ângulos planos é maior que

360°. Portanto, não pode ser considerada.

1x(90°) + 1x(135°) + 1x(144°) = 369°

Fonte: Cromwell, 2008, p. 167.

Todas as possibilidades de colocar polígonos regulares juntos para formar

um ângulo sólido foram consideradas e todos os tipos de ângulos sólidos que não

são excluídos pela simples condição dos lemas anteriores podem ser candidatos

a poliedros perfeitos, a um menor grau.

Depois de excluir, as famílias de prismas e antiprismas, as treze

possibilidades remanescentes são denominadas Sólidos de Arquimedes,

mostradas na Figura 52.

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121

Figura 52. Sólidos Arquimedianos. Fonte: Kepler, 1864, p.123 a 126.

De maneira sistemática, Kepler determinou que os treze poliedros

descritos são arquimedianos. No entanto, os nomes que Kepler atribui aos sólidos

de Arquimedes não refletem o seu método de construí-los, posto que a atribuição

se dá pela forma como os sólidos podem ser produzidos por truncamento. Para

Field (1997), o mérito de Kepler está em reencontrar o conjunto completo dos

Sólidos Arquimedianos e demonstrar que só existem treze.

Nesse sentido, somos levados a crer que cada uma das possibilidades

enumeradas para os vértices dos poliedros somente nos conduz a um único

poliedro. No entanto, isso não acontece para um sólido arquimediano, como

apresentado no que segue.

3.5 TREZE OU QUATORZE ARQUIMEDIANOS?

Para Cromwell (2008), a descrição de Pappus dos Sólidos Arquimedianos

como figuras compostas por polígonos eqüilaterais e eqüiangulares, mas não

similares, não é suficiente para caracterizá-los. A condição de Pappus requer

apenas que um sólido arquimediano tenha como faces polígonos regulares,

quanto à disposição dessas faces nada foi mencionado.

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122

É importante ressaltar, que de acordo com a definição adotada por

Pappus e depois por Kepler, existem quatorze e não treze Sólidos Arquimedianos.

Cromwell (2008) aponta que Miller ao tentar fazer um modelo do

rombicuboctaedro, ficou surpreso ao verificar que tinha reunido pedaços de

maneira incorreta.

O autor aponta que os pedaços reunidos por Miller são os chamados

poliedros elementares de Norman Johnson, que os definiu como poliedro de faces

regulares que não podem ser separados por um plano em dois menores poliedros

de faces também regulares. Todos os outros poliedros de faces regulares podem

ser formados por estas unidades básicas reunidas em diferentes maneiras.

O sólido encontrado por Miller, chamado de pseudo rombicuboctaedro, de

acordo com Cromwell (2008) e Veloso (1998), também era familiar a Kepler, o

que mais tarde o fez considerar os Sólidos Arquimedianos em número quatorze.

No entanto, Kepler não acrescentou qualquer outra informação. O quadro 23 traz

a ilustração do pseudo rombicuboctaedro, bem como suas características

numéricas.

Quadro 23. Pseudo Rombicuboctaedro.

Características:

24 vértices;

18 faces quadradas; 8 faces triangulares;

48 arestas.

O Sólido de Miller respeita a definição dada aos Sólidos Arquimedianos

por apresentar todos os ângulos sólidos iguais, arestas congruentes e faces de

mais de um tipo. Cromwell (2008) pontua o interesse de alguns estudiosos em

considerar esse poliedro como o décimo quarto sólido arquimediano. Isso,

entretanto, falha em um ponto: os verdadeiros Sólidos Arquimedianos, assim

como os sólidos platônicos, tem uma natureza estética que o sólido de Miller não

possui. Essa natureza provém de seu elevado grau de simetria – uma

propriedade, que de acordo com Cromwell (2008), pode ser facilmente apreciada

e entendida no nível intuitivo. Portanto, a condição dos ângulos sólidos serem

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123

todos congruentes não é a característica mais importante dos sólidos

arquimedianos, mas sim o fato de todos os ângulos sólidos serem indistinguíveis

a partir de outro.

Na Figura 53, temos o sólido arquimediano rombicuboctaedro à direita, e

o pseudo rombicuboctaedro ou Sólido de Miller à esquerda. Observa-se que os

vértices continuam com os mesmos polígonos e dispostos da mesma maneira.

Porém, não há qualquer transformação de simetria do poliedro que transforme o

vértice A no vértice B, por exemplo. Assim, esse poliedro obtido é muito menos

simétrico que o rombicuboctaedro.

Os vértices em um sólido arquimediano são cercados por mesmas faces

arranjadas de uma mesma maneira, e cada vértice desempenha o mesmo papel

no poliedro como um todo. Para o sólido de Miller este não é o caso. Ao observar

a Figura 53 podemos constatar que a parte inferior do sólido foi deslocada em

45º.

Figura 53. Rombicuboctaedro e pseudo rombicuboctaedro. Fonte: Veloso, 1998, p 241.

De acordo com Soler (2007, p.135), se quisermos excluir esse poliedro da

família dos arquimedianos, uma nova definição para os poliedros arquimedianos

deve ser considerada. Nesse sentido, a autora sugere a seguinte definição: “são

poliedros que têm faces regulares de mais de uma classe, enquanto que todos os

vértices se transformam um nos outros por seu grupo de rotação”.

Conforme mencionado anteriormente, os Sólidos Arquimedianos

apresentam duas características principais. A primeira delas é que toda face do

poliedro é um polígono regular, embora as faces não sejam todas do mesmo tipo.

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124

A segunda está relacionada à congruência de um vértice do poliedro a qualquer

outro, uma vez que as faces estão arranjadas na mesma ordem em torno de cada

vértice.

Embora os sólidos arquimedianos sejam atribuídos a Arquimedes, Kepler

parece ter sido o primeiro matemático a sistematizá-los. Ele, ainda, descobriu

duas infinitas famílias de prismas e antiprismas que também possuem vértices

congruentes e faces regulares. Os prismas regulares satisfazem a definição de

poliedros semi-regulares se as faces laterais são quadrados. O mesmo acontece

se os antiprismas regulares apresentarem como faces laterais triângulos

eqüiláteros. Entretanto, como em ambos os casos não há limite para o número de

poliedros que respeitem essa condição, eles não serão de nosso interesse.

Também foi demonstrado que além dessas duas famílias existem apenas

treze Sólidos Arquimedianos. Esses sólidos também podem ser obtidos como

produto de uma modificação, isto é, por truncamento de outros poliedros,

processos de construção estudados e determinados no próximo capítulo.

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126

CAPÍTULO 4 – ESTUDO DIDÁTICO E MATEMÁTICO

No presente capítulo retomamos alguns aspectos e pontos já

mencionados, no segundo e no terceiro capítulos, para apresentar uma

possibilidade para o ensino e a aprendizagem dos Sólidos Arquimedianos e sua

inclusão na Educação Básica por meio do ambiente de Geometria Dinâmica Cabri

3D.

Essa possibilidade surgiu a partir do estudo histórico dos Sólidos

Arquimedianos, posto que nos permitiu identificar o truncamento, procedimento

matemático utilizado por artistas renascentistas para a obtenção de onze dos

treze Sólidos Arquimedianos. Esse procedimento evidenciou um caminho de

construção para os sólidos bem diferente do apresentado nos livros encontrados

de Desenho Geométrico, a planificação de suas superfícies.

Nesse capítulo, discorremos sobre a operação de truncamento, bem

como os tipos de truncamentos possíveis para a obtenção de sete Sólidos

Arquimedianos, obtidos a partir de truncaturas diretas em sólidos platônicos.

Trazemos, também, a matemática utilizada em cada processo de construção,

assim como os passos de geração no Cabri 3D de cada arquimediano a partir do

sólido platônico de origem.

Realizadas as construções no Cabri 3D, partimos para a análise de cada

arquimediano construído com base em nosso quadro teórico, identificando os

saberes matemáticos e os registros de representação envolvidos no processo. É

a partir dessa análise que a questão de pesquisa - O objeto matemático Sólidos

Arquimedianos pode ser resgatado como objeto de ensino para a Escola Básica,

utilizando como habitat o ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D? - é

respondida.

4.1 OPERAÇÃO DE TRUNCAMENTO

Nesse tópico, apresentamos a sistematização da operação de

truncamento de Piero della Francesca e os tipos de truncamentos efetuados em

sólidos platônicos para a obtenção de Sólidos Arquimedianos.

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127

Existem apenas treze Sólidos Arquimedianos e todos são obtidos por

operações sobre os sólidos platônicos. A Figura 54 ilustra onze dos treze Sólidos

Arquimedianos, incluindo os nomes, que podem ser obtidos por meio de uma

sucessão de cortes, chamados de truncaturas. Os demais, cubo achatado e

dodecaedro achatado, são obtidos por snubificação12 de sólidos platônicos.

Figura 54. Sólidos Arquimedianos obtidos por truncaturas.

Os sete primeiros arquimedianos, ilustrados na Figura 54, são obtidos a

partir de truncaturas feitas nas arestas de um único sólido, sendo este platônico.

Os quatro últimos - cuboctaedro truncado, rombicuboctaedro, icosidodecaedro

truncado e rombicosidodecaedro - são obtidos a partir de truncaturas nas arestas

de três sólidos, um deles platônico, como mostra a Figura 55, e seguem uma

seqüência de truncamento.

____________ 12

Nesse caso, segundo Veloso (1998) a operação consiste em afastar todas as faces de um poliedro platônico, girá-las a 45° e preencher os espaços vazios resultantes com triângulos.

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128

Figura 55. Arquimedianos obtidos por truncaturas modificadas.

A Figura 55 nos indica que a partir do cubo ou do octaedro regular

podemos chegar nos arquimedianos cuboctaedro truncado e rombicuboctaedro,

entretanto observamos que um poliedro intermediário (com faces retangulares e

octogonais) aparece no processo. Dessa forma, para chegarmos nos

arquimedianos indicados, o poliedro intermediário deve ter suas arestas truncadas

de maneira que os retângulos resultem em quadrados. O mesmo acontece para

os arquimedianos icosidodecaedro truncado e rombicuboctaedro obtidos a partir

do icosaedro regular ou do dodecaedro regular.

Nesse sentido, para a obtenção de arquimedianos a partir de truncaturas

em platônicos, optamos denominar de truncaturas diretas, as truncaturas que

envolvem apenas um sólido, sendo este platônico, e de truncaturas

modificadas, as truncaturas diretas em sólidos platônicos seguidas de

transformações convenientes.

Tendo em vista que a construção dos onze Sólidos Arquimedianos se

inicia a partir de sólidos platônicos, optamos estudar no trabalho os

arquimedianos obtidos por truncaturas diretas, os demais serão estudados em

trabalhos futuros.

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129

Os sete arquimedianos13 obtidos por truncaturas diretas, conservam uma

relação com os poliedros platônicos que se torna mais evidente a partir da

operação de truncamento. Tal operação está aqui relacionada ao corte de cantos

de poliedros platônicos de maneira a obter poliedros com todas as faces

regulares. Para a obtenção desses sete arquimedianos, consideramos dois tipos

de truncamento:

TRUNCAMENTO TIPO 1: nesse tipo de truncamento, o corte se realiza

por planos que passam pelos pontos médios das arestas do poliedro

platônico de partida que concorrem em um vértice. A Figura 56 ilustra o

arquimediano cuboctaedro obtido a partir de truncaturas nas arestas do

cubo.

Figura 56. Truncamento tipo 1.

TRUNCAMENTO TIPO 2: nesse tipo de truncamento, o corte nas

arestas do platônico de partida se realiza por planos a uma distância

adequada de cada vértice, para que por cada face do poliedro de partida

resulte em um polígono regular. A Figura 57 ilustra o arquimediano cubo

truncado obtido a partir de truncaturas nas arestas do cubo.

Figura 57. Truncamento tipo 2.

____________

13 Cuboctaedro, icosidodecaedro, tetraedro truncado, octaedro truncado, icosaedro truncado, cubo

truncado e dodecaedro truncado.

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130

Ambos os tipos de truncamento nos conduzem a eliminação de cantos do

poliedro de partida. Ao eliminar cantos de poliedros platônicos deduz-que

1. Quando eliminamos um canto do tetraedro regular, do cubo ou do

dodecaedro regular, obtemos um triângulo, conforme mostra a Figura 58,

uma vez que em seus vértices concorrem três arestas.

Figura 58. Eliminação do canto do tetraedro, do cubo e do dodecaedro.

2. Na eliminação de um canto do octaedro regular obtemos um quadrilátero,

Figura 59, visto que quatro arestas concorrem em seus vértices.

Figura 59. Eliminação do canto do octaedro.

3. Já na eliminação de um canto do icosaedro, vértice em que cinco arestas

concorrem, um pentágono é obtido, conforme mostra a Figura 60.

Figura 60. Eliminação do canto do icosaedro.

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131

As características numéricas, isto é, número de arestas de cada face,

bem como o número vértices e ordem de um poliedro obtido por truncamento

podem ser estabelecidos a partir do sólido que se trunca e dependem também do

tipo de truncamento como mostramos a seguir.

4.1.1 ARQUIMEDIANOS OBTIDOS POR TRUNCAMENTO TIPO 1

Dois Sólidos Arquimedianos são obtidos ao truncar poliedros platônicos

por planos que passam pelos pontos médios de suas arestas: cuboctaedro e

icosidodecaedro. Os próprios nomes dos sólidos sugerem os poliedros platônicos

a partir do qual se originam:

Cuboctaedro: esse arquimediano apresenta quatorze faces, seis

quadradas e oito triangulares, e pode ser obtido por truncaturas nos

pontos médios das arestas cubo ou do octaedro regular. A Figura 61

ilustra o cuboctaedro (no centro) gerado a partir do cubo (à esquerda) ou

do octaedro (à direita).

Figura 61. Cuboctaedro gerado a partir do cubo ou octaedro.

Icosidodecaedro: esse arquimediano apresenta trinta e duas faces,

doze pentagonais e vinte triangulares, e pode ser obtido por truncaturas

nos pontos médios das arestas do dodecaedro regular ou icosaedro

regular. A Figura 62 ilustra o icosidodecaedro (centro) gerado a partir do

dodecaedro regular (à esquerda) ou do icosaedro regular (à direita).

Figura 62. Icosidodecaedro a partir do dodecaedro ou icosaedro.

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132

4.1.2 ARQUIMEDIANOS OBTIDOS POR TRUNCAMENTO TIPO 2

Cinco Sólidos Arquimedianos são obtidos ao truncar poliedros platônicos

por planos que passam por pontos, em cada aresta, eqüidistantes a seus vértices:

tetraedro truncado, cubo truncado, octaedro truncado, dodecaedro truncado e

icosaedro truncado. Seus nomes sugerem os poliedros platônicos a partir do qual

se originam.

Os cinco sólidos arquimedianos obtidos por esse tipo de truncamento

apresentam dois tipos de faces. Cada tipo de face está relacionado à eliminação

do canto do poliedro platônico ou à truncatura de arestas das faces. Quanto às

faces que provêm das truncaturas das arestas de platônicos, apresentamos três

casos, a saber:

Tetraedro truncado, Octaedro truncado e Icosaedro truncado: esses

poliedros se originam de poliedros platônicos cujas faces são formadas

por triângulos eqüiláteros (tetraedro, octaedro e icosaedro), conforme

mostra a Figura 63. As arestas das faces do tetraedro regular, octaedro

regular e icosaedro regular quando truncadas resultam em faces

hexagonais regulares.

Figura 63. Face hexagonal.

Para que as faces hexagonais regulares dos arquimedianos (tetraedro

truncado, octaedro truncado e icosaedro truncado) sejam obtidas a partir das

faces triangulares regulares dos poliedros de partida (tetraedro regular, octaedro

regular e icosaedro regular), precisamos encontrar a distância entre o vértice e o

ponto da aresta do platônico de partida em que deve ser efetuada a truncatura.

Nesse sentido, dada uma face ABC triangular do platônico de partida,

como pode ser observada na Figura 64, tem-se que: P1 e P2 são os pontos de

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133

corte da aresta AB; P3 e P4 são pontos de corte da aresta BC; P5 e P6 são os

pontos de corte da aresta AC; a é a aresta da face e d a distância entre um vértice

e um ponto de corte.

Figura 64. Pontos de corte no triângulo.

Podemos então deduzir, que o triângulo AP1P6 é eqüilátero, pois M(Â)=60º

e AP1≡AP6. Dessa forma, temos que: d = a – 2d, logo d = a/3. Com d encontrado,

as truncaturas nas arestas dos poliedros platônicos de partidas podem ser

realizadas.

Cubo truncado: esse poliedro se origina do cubo cujas faces são

formadas por quadrados. As arestas das faces do cubo quando

truncadas devem resultar em faces octogonais regulares, como mostra a

Figura 65.

Figura 65. Face octogonal.

Para que as faces octogonais regulares do arquimediano cubo truncado

sejam obtidas a partir das faces quadradas do poliedro de partida cubo,

precisamos encontrar a distância entre o vértice e o ponto da aresta do cubo em

que deve ser efetuada a truncatura.

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134

Nesse sentido, dada uma face ABCD do cubo, como pode ser observada

na Figura 66, tem-se que: P1 e P2 são os pontos de corte da aresta AB; P3 e P4

são pontos de corte da aresta BC; P5 e P6 são os pontos de corte da aresta CD;

P7 e P8 são os pontos de corte da aresta AD; a é a aresta da face e d a distância

entre um vértice e um ponto de corte.

Figura 66. Pontos de corte no quadrado.

Podemos então deduzir que, o triângulo AP1P8 é retângulo, pois

M(Â)=90º. Dessa forma, aplicando o teorema de Pitágoras, temos que:

22

ad

a)22(d

ad22d

d2a2d

2d)²(a2d²

)²d2a(²d2

)²d2a(²d²d

Observamos que a distância encontrada é um número irracional, portanto

vamos trabalhar com uma distância aproximada. Com a distância encontrada, as

truncaturas nas arestas do cubo podem ser efetuadas.

Dodecaedro truncado: esse poliedro se origina do dodecaedro regular

cujas faces são formadas por pentágonos regulares. As arestas das

faces do dodecaedro regular quando truncadas devem resultar em faces

decagonais regulares, como mostra a Figura 67.

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135

Figura 67. Face decagonal.

Para que as faces decagonais regulares do arquimediano dodecaedro

truncado sejam obtidas a partir das faces pentagonais regulares do poliedro de

partida dodecaedro regular, precisamos encontrar a distância entre o vértice e o

ponto da aresta do dodecaedro regular em que deve ser efetuada a truncatura.

Nesse sentido, dada uma face ABCDE do dodecaedro regular, como

pode ser observada na Figura 68, tem-se que: P1 e P2 são os pontos de corte da

aresta AB; P3 e P4 são pontos de corte da aresta BC; P5 e P6 são os pontos de

corte da aresta CD; P7 e P8 são os pontos de corte da aresta DE; P9 e P10 são os

pontos de corte da aresta AE; a é a aresta da face e d a distância entre um vértice

e um ponto de corte.

Figura 68. Pontos de corte no pentágono.

Dessa forma, se tomarmos o triângulo AP1P10, com M(Â)=108º, pela lei

dos cossenos podemos deduzir que: (a – 2d)2 = d2 + d2 – 2dd.cos108° (1). Por

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136

outro lado sabemos que cos108° = cos(90°+18°), ou seja, cos108° = cos90°.

.cos18° - sen90°.sen 18°. Assim, concluímos que cos108° = - sen18° (2).

Com a substituição de (2) em (1), obtemos: (a - d)2 = d2 + d2 + 2dd.sen18°

(3). Observamos que se encontramos sen18° e o substituirmos na equação (3),

encontramos d. Deste modo, precisamos encontrar sen18°.

Para tanto, ao observarmos a Figura 68, percebemos que os pontos de

corte na face ABCDE do dodecaedro regular, corresponderão aos vértices de

uma das faces decagonais regulares do arquimediano dodecaedro truncado.

Para encontrarmos o sen18° e assim obter d, consideramos a

circunferência circunscrita a uma das faces do dodecaedro truncado, como vemos

na Figura 69, que tem centro em O e raio r e l10 o lado do decágono regular.

Dessa forma, se tomarmos o triângulo OP4P5, com M(Ô)=36°, podemos deduzir

que: o triângulo OP4P5 é isósceles, pois os segmentos OP4 e OP5 são

congruentes. Pela soma dos ângulos internos de um triângulo, podemos também

concluir que os ângulos P4 e P5 medem 72°.

Figura 69. Circunferência circunscrita ao decágono.

Obtendo a bissetriz OQ do ângulo O, como mostra a Figura 70, podemos

concluir que: os triângulos OQP4 e OQP5 são retângulos e que os segmentos QP4

e QP5 correspondem a metade do lado do decágono. Assim, sen18°= l10/2r (4).

O

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137

Figura 70. Triângulo 1.

Para encontrarmos l10 e assim sen18°, retomamos o triângulo OP4P5 e

obtemos a bissetriz P4T do ângulo P4, como mostra a Figura 71. Se tomarmos o

triângulo P4P5T, pela propriedade da soma dos ângulos internos de um triângulo,

concluímos que o ângulo P4TP5 mede 72°, logo P4T l10. Como no triângulo P4OT,

os segmentos P4T e OT são congruentes, concluímos que OT l10. Assim,

aplicando o teorema da bissetriz interna no triângulo OP4P5, podemos deduzir que

r/ l10=l10 / (r-l10) ↔l102 + r l10 – r2 = 0.

Figura 71. Triângulo 2.

Desenvolvendo a equação polinomial do 2°, deduzimos que:

2

²r5rl10 (5)

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138

Com l10 determinado podemos obter sen18°. Para isso, substituímos (5)

em (4) e concluímos que:

4

15º18sen (6)

Encontrado sen18°, podemos encontrar d. Para isso, substituímos (6) em

(3) e concluímos que:

2

53.dd2a

2

53².d)²d2a(

2

53².d)²d2a(

2

154².d)²d2a(

2

152²d)²d2a(

4

1522²d)²d2a(

4

15².d2²d2)²d2a(

Para tornarmos a igualdade acima mais simples, consideramos:

yx53 , com x e y reais (8)

Ao desenvolvermos a igualdade, chegamos ao sistema de equações:

5xy4

3yx

Dessa maneira, podemos deduzir que: 2

5x e

2

1y

Substituindo em (8) os valores de x e y encontrados, constatamos que:

(7)

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139

2

5153

2

1

2

553

Se substituirmos (10) em (7) encontramos d:

55

a2d

2

55.da

2

512.da

2

51.dd2a

2

51.dd2a

2.2

51.dd2a

Observamos que a distância encontrada é um número irracional,

portanto, vamos trabalhar com uma distância aproximada. Encontrada a distância

entre o vértice do dodecaedro regular e o ponto da aresta em que será efetuada a

truncatura, a construção do dodecaedro truncado pode ser iniciada.

Diante do que foi exposto, podemos observar que os Sólidos

Arquimedianos obtidos por truncamento tipo 2 só podem ser construídos se

encontrada a distância entre o vértice do poliedro platônico de partida e o ponto

de corte. Como para cada caso já determinamos como encontrar os pontos de

corte, no que segue mostramos as construções dos Sólidos Arquimedianos

obtidos por truncamento tipo 1 e tipo 2 realizadas com o auxílio do ambiente Cabri

3D.

(10)

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140

4.2. AS CONSTRUÇÕES E SUAS ANÁLISES

Em nossa problemática propusemo-nos revisitar os Sólidos

Arquimedianos por meio de suas construções no ambiente de Geometria

Dinâmica Cabri 3D. Essa parte do trabalho tem como propósito apresentar os

passos de geração de cada arquimediano no Cabri 3D e analisar as construções

com base na Ecologia dos objetos matemáticos de Chevallard e na teoria de

Registro de Representação Semiótica de Duval.

De acordo com Chevallard (1991), o objeto matemático Sólidos

Arquimedianos existe se uma pessoa ou instituição o reconhece. Entretanto, para

que esse mesmo objeto se transforme em objeto de ensino é necessário

identificar onde ele vive, ou pode viver, e que função possui, isto é, seu habitat e

seu nicho. Para identificar seu habitat, alguns aspectos precisam ser

considerados, tais como: os saberes que possibilitam a existência do objeto

matemático Sólidos Arquimedianos e as relações inter-hierárquicas entre esses

saberes com o próprio objeto.

Nesse sentido, nossas unidades de análise para cada sólido

arquimediano obtido por truncaturas em arestas de sólidos platônicos têm por

base os saberes mobilizados para suas construções, a função que cada saber

assume no processo e as relações inter-hierárquicas entre o sólido arquimediano

produzido e o sólido platônico que o originou. Dessa forma, nos aproximamos dos

saberes envolvidos no processo e verificamos se o ambiente Cabri 3D, o

reconhece como objeto, bem como contribui para que se transforme em objeto de

ensino.

Quanto à teoria de Duval (2002), nossas unidades de análise têm por

base evidenciar os tratamentos efetuados no registro figural e a possível

articulação entre o registro figural e um registro discursivo, diálogo indispensável

em toda atividade geométrica.

Nossas construções e análises são apresentadas por tipo de

truncamento, mostradas no que segue.

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141

4.2.1 TRUNCAMENTO TIPO 1

Nesse tópico são apresentadas as construções dos sólidos

arquimedianos cuboctaedro e icosidodecaedro no ambiente Cabri 3D.

4.2.1.1 CUBOCTAEDRO

Como vimos anteriormente, para gerar o cuboctaedro precisamos truncar

as arestas, do cubo ou do octaedro regular, em seus pontos médios. Mostramos a

seguir esse processo com o auxílio do Cabri 3D.

Geração do cuboctaedro a partir do cubo no Cabri 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do cuboctaedro com a criação do

cubo. Para que o cubo seja criado, como mostram as Figuras 72 e 73, acionamos

na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta cubo. Em seguida clicamos com o

mouse no plano de base, arrastando-o, e por fim um duplo clique.

Figura 72. Ferramenta cubo.

Figura 73. Cubo.

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142

Passo 2: Com o cubo já criado, marcamos o ponto médio de cada aresta. Para

isso, como mostra a Figura 74, acionamos a ferramenta ponto médio e indicamos

com o clique do mouse as arestas do cubo.

Figura 74. Pontos médios das arestas do cubo.

Passo 3: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do cubo

com a determinação do plano que deve ser criado. Para isso, com a utilização da

ferramenta plano e com a indicação de três pontos médios das arestas que

concorrem em um vértice, conforme mostra a Figura 75, obtemos o plano de

secção.

Figura 75. Plano de secção (cubo).

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do cubo será

eliminado. Como mostra a Figura 76, indicamos o plano obtido no passo 3 e o

canto do cubo que contém o vértice desejado. Com o recurso esconder/mostrar

podemos optar em esconder o plano, o que facilita a eliminação dos demais

cantos do cubo.

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143

Figura 76. Eliminação do canto do cubo.

Passo 5: Nesse passo efetua-se o mesmo procedimento do passo 4 para a

eliminação dos demais cantos do cubo. A Figura 77 mostra o resultado obtido,

isto é, o cuboctaedro .

Figura 77. Cuboctaedro.

Geração do cuboctaedro a partir do octaedro regular

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do cuboctaedro com a criação do

octaedro regular. Como mostram as Figuras 78 e 79, para que o octaedro seja

criado, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta octaedro. Em

seguida clicamos com o mouse no plano de base, arrastando-o, e por fim um

duplo clique.

Figura 78. Ferramenta octaedro regular.

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144

Figura 79. Octaedro Regular.

Passo 2: Com o octaedro já criado, como mostra a Figura 80, marcamos o ponto

médio de cada aresta. Para isso acionamos a ferramenta ponto médio e em

seguida indicamos com o clique do mouse as arestas do octaedro.

Figura 80. Pontos médios das arestas do octaedro regular.

Passo 3: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do

octaedro regular. Assim, como mostra a Figura 81, um plano de secção deve ser

criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos

médios das arestas que concorrem em um vértice.

Figura 81. Plano de secção (octaedro regular).

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro o primeiro vértice do octaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 82, indicamos o plano

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145

obtido no passo 3 e o canto do octaedro que contém o vértice desejado. Com o

recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano, o que facilita a

eliminação dos demais cantos do octaedro.

Figura 82. Eliminação do canto do octaedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetuamos o mesmo procedimento do passo 4

para a eliminação dos demais cantos do octaedro regular. O resultado obtido é o

cuboctaedro, já ilustrado na Figura 77.

4.2.1.2 ICOSIDODECAEDRO

Como vimos anteriormente, para gerar o icosidodecaedro precisamos

truncar as arestas, do icosaedro regular ou do dodecaedro regular em seus

pontos médios. Mostramos no que segue esse processo com o auxílio do Cabri

3D.

Geração do icosidodecaedro a partir do dodecaedro regular no Cabri 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do icosidodecaedro com a criação do

dodecaedro regular. Como mostram as Figura 83 e 84, para que o dodecaedro

seja criado, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta

dodecaedro regular. Em seguida clicamos com o mouse no plano de base,

arrastando-o, e por fim um duplo clique.

Figura 83. Ferramenta dodecaedro regular.

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146

Figura 84. Dodecaedro regular.

Passo 2: Com o dodecaedro já criado, marcamos o ponto médio de cada aresta e

como mostra a Figura 85 selecionamos a ferramenta ponto médio, e em seguida

indicamos com o clique do mouse as arestas do dodecaedro regular.

Figura 85. Pontos médios das arestas do dodecaedro regular.

Passo 3: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do

dodecaedro regular. Assim, como mostra a Figura 86, um plano de secção deve

ser criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos

médios das arestas que concorrem em um vértice.

Figura 86. Plano de secção (dodecaedro regular).

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147

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do dodecaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 87, indicamos o plano

obtido no passo 3 e o canto do dodecaedro regular que contém o vértice

desejado. Com o recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano,

o que facilita a eliminação dos demais cantos do dodecaedro regular.

Figura 87. Eliminação do canto do dodecaedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetua-se o mesmo procedimento do passo 4 para a

eliminação dos demais cantos do dodecaedro regular. A Figura 88 mostra o

resultado obtido, isto é, o icosidodecaedro.

Figura 88. Icosidodecaedro

Geração do icosidodecaedro a partir do icosaedro regular no Cabri 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do icosidodecaedro com a criação do

icosaedro regular. Para que o icosaedro regular seja criado, como mostram as

Figuras 89 e 90, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta

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148

icosaedro regular. Em seguida clicamos com o mouse no plano de base,

arrastando-o, e por fim um duplo clique.

Figura 89. Ferramenta icosaedro regular.

Figura 90. Icosaedro Regular.

Passo 2: Com o icosaedro regular já criado, como mostra a Figura 91, marcamos

o ponto médio de cada aresta. Para isso acionamos a ferramenta ponto médio e

em seguida indicamos com o clique do mouse as arestas do poliedro.

Figura 91. Pontos médios das arestas do dodecaedro regular.

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149

Passo 3: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do

icosaedro regular. Assim, como mostra a Figura 92, um plano de secção deve ser

criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos

médios das arestas que concorrem em um vértice.

Figura 92. Plano de secção (dodecaedro regular).

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro o primeiro canto do icosaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 93, indicamos o plano

obtido no passo 3 e o canto do poliedro que contém o vértice desejado. Com o

recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano, o que facilita a

eliminação dos demais cantos do icosaedro regular.

Figura 93. Eliminação do canto do icosaedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetuamos o mesmo procedimento do passo 4 para a

eliminação dos demais cantos do icosaedro regular. O resultado obtido, já

ilustrado na Figura 88, é o icosidodecaedro.

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150

ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DOS ARQUIMEDIANOS CUBOCTAEDRO E

ICOSIDODECAEDRO

Observamos que as construções no Cabri 3D dos arquimedianos

cuboctaedro e icosidodecaedro só foram possíveis a partir do estudo realizado no

tópico anterior, no qual discutimos o processo de construção por truncamento tipo

1. Essa discussão foi fundamental para identificarmos que pontos de truncaturas,

correspondem aos pontos médios das arestas dos poliedros platônicos de partida

(cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro), sem isso as construções não seriam

possíveis.

Assim, entendemos que esses dois arquimedianos foram construídos a

partir da articulação entre o registro figural dinâmico e um registro discursivo,

nesse caso, registro da língua natural. Nesse sentido, os tratamentos apenas

figurais – construções do cubo, octaedro regular, icosaedro regular, dodecaedro

regular, ponto médio, secção plana e eliminação dos cantos dos poliedros

platônicos – não foram suficientes para geração no Cabri 3D dos sólidos

arquimedianos cuboctaedro e icosidodecaedro.

Realizadas as construções no Cabri 3D dos sólidos arquimedianos

cuboctaedro e icosidodecaedro, percebemos que apenas saberes geométricos

viveram e interagiram entre si. Os saberes matemáticos envolvidos em todo o

processo foram os poliedros de partida cubo e octaedro regular para a construção

do cuboctaedro e os poliedros de partida icosaedro regular e dodecaedro regular

para a construção do icosidodecaedro, além de ponto médio e de secção plana.

Esses saberes envolvidos foram reconhecidos como objeto pela

instituição Cabri 3D por meio das ferramentas cubo, octaedro regular, icosaedro

regular, dodecaedro regular, ponto médio e plano, pois cada um deles

desempenhou um papel na construção. Enquanto os poliedros platônicos

apresentavam o objeto geométrico que seria truncado, isto é, o poliedro de

partida, os pontos médios determinavam os pontos em que as truncaturas

deveriam ser efetuadas e os planos auxiliavam a eliminação dos cantos do

poliedro platônico de partida.

Estendendo um pouco mais a problemática ecológica dos objetos

matemáticos proposta por Chevallard, podemos ainda inserir em nossa análise a

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151

idéia de competição entre saberes - apoiada no conceito de competição entre

espécies da ecologia biológica. Assim, podemos dizer que o saber “cubo” e o

saber “octaedro regular” desempenham a mesma função e competem entre si

(pois ambos servem de poliedro de partida) no processo de construção do

arquimediano cuboctaedro. O mesmo acontece com os saberes “icosaedro

regular” e “dodecaedro regular” no processo de construção do icosidodecaedro.

Percebemos relações inter-hierárquicas entre os poliedros platônicos de

partida e os sólidos arquimedianos construídos. Os arquimedianos cuboctaedro e

icosidodecaedro apresentam faces de dois tipos. Enquanto um tipo de face está

atrelado à eliminação dos cantos, o outro tipo está atrelado a truncatura das

arestas das faces.

No caso do cuboctaedro gerado a partir do cubo, as suas oito faces

triangulares provêm da eliminação dos oito cantos do cubo e as suas seis faces

quadradas provêm das truncaturas das arestas das seis faces do cubo. Quando

esse mesmo arquimediano é gerado a partir do octaedro regular, as suas seis

faces quadradas passam a ser obtidas pela eliminação dos seis cantos do

octaedro regular e as suas oito faces triangulares pelas truncaturas das arestas

das oito faces do octaedro regular.

Esse mesmo raciocínio pode ser observado no arquimediano

icosidodecaedro com faces formadas por pentágonos e triângulos. Quando

gerado a partir do icosaedro regular, as suas doze faces pentagonais provêm da

eliminação dos doze cantos do icosaedro regular e suas vinte faces triangulares

provêm das truncaturas das arestas das vinte faces do icosaedro regular. Quando

esse mesmo arquimediano é obtido a partir do dodecaedro regular, as suas vinte

faces triangulares passam a ser obtidas pela da eliminação dos vinte cantos do

dodecaedro regular e as suas doze faces pentagonais pelas truncaturas das

arestas das doze faces do dodecaedro regular.

Outra relação observada entre o poliedro de partida e o arquimediano

produzido diz respeito ao número total de vértices de ambos os poliedros

arquimedianos construídos. Esse total é igual ao número de arestas dos poliedros

platônicos de partida, visto que em cada aresta há somente um ponto de

truncatura, o que origina cada vértice arquimediano.

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152

Assim, entendemos que o Cabri 3D se confirmou como um habitat para o

estudo dos Sólidos Arquimedianos cuboctaedro e icosidodecaedro na medida em

que reconheceu como objetos todos os saberes que determinam a existência dos

mesmos.

4.2.2 TRUNCAMENTO TIPO 2

Nesse tópico são apresentadas as construções no Cabri 3D dos sólidos

arquimedianos: tetraedro truncado, octaedro truncado, icosaedro truncado, cubo

truncado e dodecaedro truncado.

4.2.2.2 TETRAEDRO TRUNCADO, OCTAEDRO TRUNCADO E ICOSAEDRO

TRUNCADO

Como vimos anteriormente, o processo de geração dos Sólidos

Arquimedianos tetraedro truncado, octaedro truncado e icosaedro truncado, inicia

a partir da divisão das arestas dos poliedros platônicos de partida em três partes

congruentes.

Sabemos que as faces do tetraedro regular, octaedro regular e icosaedro

regular (platônicos de partida), são formadas por triângulos eqüiláteros. Nesse

sentido, como mostra a Figura 94, tomamos uma face triangular qualquer e

apontamos com o uso de ferramentas do Cabri 3D, dois caminhos para dividir as

arestas da face ABC em três partes congruentes. Um é por transferência de

medidas que detalhamos no apêndice A, e o outro é pelo teorema de tales que

também está detalhado no apêndice B.

Figura 94. Face triangular ABC.

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153

GERAÇÃO DO TETRAEDRO TRUNCADO NO CABRI 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do tetraedro truncado com a criação do

tetraedro regular. Como mostram as Figuras 95 e 96, para que o tetraedro regular

seja criado, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta tetraedro

regular. Em seguida clicamos com o mouse no plano de base, arrastando-o, e por

fim um duplo clique.

Figura 95. Ferramenta tetraedro regular.

Figura 96. Tetraedro regular.

Passo 2: Com o tetraedro regular já criado, como ilustra a Figura 97, dividimos

cada aresta do poliedro em três partes congruentes (apêndice A ou B).

Figura 97. Arestas do tetraedro divididas em três partes congruentes.

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154

Passo 3: Nesse passo, como mostra a Figura 98, iniciamos o processo de

eliminação dos cantos do tetraedro regular. Assim, um plano de secção deve ser

criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos, das

arestas que concorrem em um vértice, sendo esses os mais próximos do vértice

desejado.

Figura 98. Plano de secção (tetraedro regular).

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do tetraedro

regular será eliminado. Para isso, como podemos ver na Figura 99, indicamos o

plano obtido no passo 3 e o canto do tetraedro regular que contém o vértice

desejado. Com o recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano,

o que facilita a eliminação dos demais vértices.

Figura 99. Eliminação do canto do tetraedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetuamos o mesmo procedimento do passo 3 e 4 para a

eliminação dos demais cantos do tetraedro regular. A Figura 100 mostra o

resultado obtido, isto é, o tetraedro truncado gerado no Cabri 3D.

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155

Figura 100. Tetraedro truncado.

GERAÇÃO DO OCTAEDRO TRUNCADO NO CABRI 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do octaedro truncado com a criação do

octaedro regular. Para criar esse octaedro regular, como mostram as Figuras 101

e 102, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta octaedro

regular. Em seguida clicamos com o mouse no plano de base, arrastando-o, e por

fim um duplo clique.

Figura 101. Ferramenta octaedro regular.

Figura 102. Octaedro regular.

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156

Passo 2: Com o octaedro regular já criado, dividimos cada aresta do poliedro em

três partes congruentes (apêndice A ou B). A Figura 103 mostra o resultado desse

procedimento.

Figura 103. Arestas do octaedro dividas em três partes congruentes.

Passo 3: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do

octaedro regular. Assim, conforme mostra a Figura 104, um plano de secção deve

ser criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de quatro

pontos das arestas que concorrem em um vértice, sendo esses os mais próximos

do vértice desejado.

Figura 104. Plano de secção (octaedro regular)

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do octaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 105, indicamos o plano

obtido no passo 3 e o canto do octaedro regular que contém o vértice desejado.

Com o recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano, esse

procedimento facilita a eliminação dos demais cantos do poliedro.

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157

Figura 105. Eliminação do canto do octaedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetuamos o mesmo procedimento do passo 3 e 4 para a

eliminação dos demais cantos do octaedro regular. A Figura 106 ilustra o octaedro

truncado gerado no Cabri 3D.

Figura 106. Octaedro truncado.

GERAÇÃO DO ICOSAEDRO TRUNCADO NO CABRI 3D

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do icosaedro truncado com a criação

do icosaedro regular . Para criar esse objeto, como mostram as Figura 107 e 108,

acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta icosaedro regular. Em

seguida clicamos com o mouse no plano de base, arrastando-o, e por fim um

duplo clique.

Figura 107. Ferramenta icosaedro regular.

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158

Figura 108. Icosaedro regular.

Passo 2: Com o icosaedro regular já criado, dividimos cada aresta do poliedro em

três partes congruentes (apêndice A ou B). O resultado desse procedimento é

mostrado na Figura 109.

Figura 109. Arestas do icosaedro dividas em três partes iguais.

Passo 3: Nesse passo, como mostra a Figura 110, iniciamos o processo de

eliminação dos cantos do icosaedro regular. Assim, um plano de secção deve ser

criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos.

Figura 110. Plano de secção (icosaedro regular).

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159

Passo 4: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do octaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 111, indicamos o plano

obtido no passo 3 e o canto do icosaedro regular que contém o vértice desejado.

Com o recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano, o que

facilita a eliminação dos demais cantos do icosaedro.

Figura 111. Eliminação do canto do icosaedro regular.

Passo 5: Nesse passo efetua-se o mesmo procedimento do passo 3 e 4 para a

eliminação dos demais cantos. A Figura 112 ilustra o icosaedro truncado gerado

no Cabri 3D.

Figura 112. Icosaedro truncado.

ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DOS ARQUIMEDIANOS TETRAEDRO

TRUNCADO, OCTEADRO TRUNCADO E ICOSAEDRO TRUNCADO

Observamos que as construções no Cabri 3D dos arquimedianos

tetraedro truncado, octaedro truncado e icosaedro truncado só foram possíveis a

partir do estudo realizado no tópico anterior, no qual também discutimos o

processo de construção por truncamento tipo 2. Essa discussão foi essencial para

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160

identificarmos que a distância entre um ponto de truncatura e o vértice mais

próximo dele, equivale a um terço da aresta do poliedro platônico de partida

(tetraedro, octaedro e icosaedro). Sem essa discussão as construções realizadas

no Cabri 3D não seriam possíveis.

Assim, entendemos que esses três arquimedianos foram construídos a

partir da articulação entre o registro figural dinâmico e um registro discursivo,

nesse caso, o registro algébrico. Nesse sentido, os tratamentos apenas figurais –

construções do tetraedro regular, octaedro regular, icosaedro regular, secção

plana e eliminação dos vértices dos poliedros platônicos – não foram suficientes

para geração no Cabri 3D dos sólidos arquimedianos tetraedro truncado, octaedro

truncado e icosaedro truncado.

Para que os três arquimedianos fossem construídos o registro algébrico

precisou ser mobilizado a fim de que fosse determinada a que distância de cada

vértice, do poliedro platônico de partida, a truncatura deveria ser realizada. A

articulação imediata entre o registro figural dinâmico e o registro algébrico foi

essencial para a conversão de representações, pois a representação figural

precisou ser convertida para a escrita algébrica para poder ser tratada. Assim, o

tratamento algébrico possibilitou encontrar o ponto de truncatura nas arestas dos

poliedros de partida ao dividi-las em três partes congruentes.

A conversão realizada entre a representação no registro figural e a

representação no registro algébrico nos conduz a um fenômeno de congruência,

pois entendemos que há facilidade em reconhecer e representar algebricamente a

situação exposta na Figura 113, sabendo que o triângulo AP1P6 é eqüilátero.

Figura 113. Triângulo eqüilátero.

É somente a partir dessa conversão, sentido figural-algébrico, e do

tratamento algébrico efetuado que encontramos os pontos de truncaturas para a

obtenção dos arquimedianos.

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161

Entendemos, também, que a conversão no sentido oposto, isto é,

algébrico-figural, é congruente pela facilidade em representar figuralmente a

escrita algébrica d=a/3, sabendo que d é a distância entre um vértice do poliedro

de partida e um ponto de truncatura e a a aresta desse mesmo poliedro.

Realizadas as construções no Cabri 3D dos sólidos arquimedianos

tetraedro truncado, octaedro truncado e icosaedro truncado, percebemos que

saberes geométricos e algébricos viveram e interagiram entre si. Os saberes

mobilizados na construção foram os poliedros de partida tetraedro regular – para

a construção do tetraedro truncado -, octaedro regular – para a construção do

octaedro truncado – e o icosaedro regular – para a construção do icosaedro

truncado, além do teorema de tales ou tranferência de medidas e secção plana.

A maioria dos saberes envolvidos na construção dos três arquimedianos foi

reconhecida como objeto pela instituição Cabri 3D por meio das ferramentas

tetraedro regular, octaedro regular, icosaedro regular e plano. No entanto, como o

Cabri 3D não possui uma ferramenta que por si só divida um segmento em três

partes congruentes, dois procedimentos foram apontados: teorema de tales e

transferência de medidas.

Para que ambos os procedimentos fossem efetuados na instituição

proposta, foi necessário mobilizar um conjunto de saberes outros, tais como:

semi-reta, ponto, ponto de intersecção, esfera, segmento, reta paralela, medida

da aresta e operação de divisão. Esses saberes foram reconhecidos pela

instituição Cabri 3D por meio das ferramentas semi-reta, ponto, ponto de

intersecção, esfera, segmento, paralela, distância ou comprimento e calculadora,

respectivamente.

Cada saber mobilizado para a construção foi importante na medida em

que apresentou uma função. A função de cada poliedro platônico no processo foi

apresentar o objeto geométrico a partir do qual a truncatura se iniciou, a função

do teorema de tales ou da transferência de medidas foi dividir as arestas do

poliedro de partida em três partes congruentes e assim indicar os pontos de

truncatura, e a função da secção plana foi auxiliar a eliminação dos cantos do

poliedro platônico de partida.

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162

Entendemos que as funções do teorema de tales e transferência de

medidas, competiram entre si no processo de construção por ambas serem

utilizadas apenas para a divisão das arestas dos poliedros de partida.

Durante as construções, percebemos também relações inter-hierárquicas

entre os poliedros platônicos de partida e os sólidos arquimedianos construídos.

Percebemos que os arquimedianos tetraedro truncado, octaedro truncado e

icosaedro truncado apresentam dois tipos de faces, faces que provêm de

truncaturas nas arestas dos platônicos tetraedro regular, octaedro regular e

icosaedro regular e faces que provêm da eliminação dos seus vértices.

Observamos que o número das arestas em cada face dos arquimedianos obtidos

a partir de truncaturas nas arestas dos platônicos equivale ao dobro do número de

arestas da face do poliedro de partida.

Outra relação observada entre o poliedro platônico de partida e o

arquimediano produzido diz respeito ao número total de vértices dos poliedros

arquimedianos construídos. Esse total é igual ao dobro de arestas dos poliedros

platônicos de partida, visto que em cada aresta há dois pontos de truncatura, o

que origina dois vértices arquimedianos.

Assim, entendemos que o Cabri 3D se confirmou como um habitat para o

estudo dos sólidos arquimedianos tetraedro truncado, octaedro truncado e

icosaedro truncado na medida em que reconheceu como objetos todos os

saberes que determinam a existência dos mesmos.

4.2.2.3 CUBO TRUNCADO

Como vimos anteriormente, o processo de geração do sólido

arquimediano cubo truncado inicia a partir de truncaturas realizadas nas arestas

do cubo a uma distância adequada dos vértices. A distância d já encontrada no

tópico anterior, 22

ad (em que a é aresta do cubo), é utilizada na construção

como segue.

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do cubo truncado com a criação do

cubo. Para que o cubo seja criado, acionamos na caixa de ferramenta “poliedro” a

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163

ferramenta cubo, conforme já mostrado na Figura 73. Em seguida clicamos com o

mouse no plano de base, arrastando-o, e por fim um duplo clique.

Passo 2: Com o cubo já criado, como mostram as Figuras 114 e 115, obtemos o

comprimento da aresta acionando a ferramenta comprimento e indicando uma

das arestas do cubo.

Figura 114. Ferramenta comprimento.

Figura 115. Comprimento da aresta (cubo).

Passo 3: Nesse passo obtemos os pontos de corte nas arestas. Para isso, como

mostram as Figuras 116 e 117, acionamos a ferramenta calculadora, indicamos

com o clique do mouse o comprimento da aresta e inserimos a expressão 22

a.

Figura 116. Ferramenta calculadora.

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164

Figura 117. Inserindo expressão na calculadora (cubo truncado).

Passo 4: Para encontrar os pontos de cortes nas arestas, como mostra a Figura

118, utilizamos a ferramenta transferência de medidas (apêndice A) para transferir

o resultado obtido no passo 3 para as arestas do cubo.

Figura 118. Transferência de medida para a aresta do cubo.

Passo 5: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do cubo.

Assim, como mostra a Figura 119, um plano de secção deve ser criado com a

utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos das arestas que

concorrem em um vértice, sendo esses os mais próximos do vértice desejado.

Figura 119. Plano de secção (cubo II)

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165

Passo 6: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do cubo será

eliminado. Para isso, como mostra a Figura 120, indicamos o plano obtido no

passo 4 e o canto do cubo que contém o vértice desejado. Com o recurso

esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano, esse procedimento facilita

a eliminação dos demais cantos do cubo.

Figura 120. Eliminação do canto do cubo II.

Passo 7: Nesse passo efetua-se o mesmo procedimento do passo 4 para a

eliminação dos demais vértices. O resultado obtido, isto é, o cubo truncado

gerado é ilustrado na Figura 121.

Figura 121. Cubo truncado.

ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DO ARQUIMEDIANO CUBO TRUNCADO

Observamos que a construção no Cabri 3D desse arquimediano só foi

possível a partir do estudo realizado no tópico anterior, no qual discutimos o

processo de construção por truncamento tipo 2. Essa discussão foi essencial para

identificarmos a que distância dos vértices do cubo seriam realizadas as

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166

truncaturas. Sem essa discussão a construção do cubo truncado no Cabri 3D não

seria possível.

Constatamos que os pontos de truncaturas só puderam ser encontrados a

partir da articulação entre o registro figural dinâmico e o registro algébrico, registro

discursivo mais uma vez presente na construção de um arquimediano. Nesse

sentido, os tratamentos apenas figurais – construções do cubo, semi-reta, secção

plana e eliminação dos vértices do cubo – não foram suficientes para geração no

Cabri 3D do arquimediano cubo truncado.

Entendemos que a conversão realizada entre o registro figural e o registro

algébrico em relação ao teorema de Pitágoras é espontânea, conforme mostra a

Figura 122. Assim, consideramos a conversão no sentido figural-algébrico

congruente, pois entendemos que há facilidade em reconhecer e representar

algebricamente a figura.

Registro figural Registro algébrico

Figura 122. Conversão entre os registros figural e algébrico.

No entanto, o tratamento efetuado no registro algébrico nos permitiu

chegar à escrita algébrica 22

ad . Escrita que nada tem de evidente e

espontânea em ser reconhecida e representada figuralmente. Nesse caso,

entendemos que a conversão no sentido oposto, isto é, algébrico-figural nos

conduz a um fenômeno de não congruência, problema essencial da semiótica

considerado por Duval (1995).

Realizada a construção no Cabri 3D do sólido arquimediano cubo

truncado, percebemos que saberes geométricos e algébricos viveram e

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167

interagiram entre si. Os saberes geométricos envolvidos em todo o processo,

além do teorema de pitágoras - cubo, medida da aresta, semi-reta, secção plana

– foram reconhecidos pela instituição Cabri 3D, por meio das ferramentas cubo,

comprimento, semi-reta e plano.

Cada um desses saberes apresentou uma função no processo de

construção. O saber cubo indicou o objeto geométrico a partir do qual a truncatura

se iniciou, o saber semi-reta possibilitou indicar em cada aresta do cubo os pontos

de truncaturas e a secção plana auxiliou a eliminação dos cantos do cubo.

Durante a construção percebemos também relações inter-hierárquicas

entre o poliedro platônico de partida, cubo, e o poliedro de chegada, cubo

truncado. Lembramos que o arquimediano cubo truncado apresenta dois tipos de

faces, tipo de face octogonal regular obtida a partir de truncaturas nas arestas do

cubo e o tipo de face triangular regular obtida a partir da eliminação dos cantos do

cubo.

Assim, notamos que o número de arestas em cada face do arquimediano

cubo truncado obtidos a partir de truncaturas de arestas do cubo equivale ao

dobro do número de arestas da face do poliedro de partida cubo. Outra relação

também notada diz respeito ao número total de vértices do cubo truncado

equivalente ao dobro do número de arestas do cubo.

Diante do exposto acreditamos que a instituição Cabri 3D se confirmou

como um habitat para o estudo do sólido arquimediano cubo truncado,.uma vez

que reconheceu como objetos todos os saberes que determinam sua existência.

4.2.2.4 DODECAEDRO TRUNCADO

Como vimos anteriormente, o processo de geração do sólido

arquimediano dodecaedro truncado inicia a partir de truncaturas realizadas nas

arestas do dodecaedro regular a uma distância adequada dos vértices. A

distância d já encontrada no tópico anterior, 55

a2d (em que a é aresta do

dodecaedro regular), é utilizada na construção como segue.

Passo 1: Iniciamos o processo de geração do dodecaedro truncado com a criação

do dodecaedro regular. Para que o dodecaedro regular seja criado, acionamos na

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168

caixa de ferramenta “poliedro” a ferramenta dodecaedro regular, conforme já

mostrado na Figura 84. Em seguida clicamos com o mouse no plano de base,

arrastando-o, e por fim um duplo clique.

Passo 2: Com o dodecaedro regular já criado, obtemos o comprimento da aresta,

conforme já mostrado nas Figura 115 e 116, acionando a ferramenta

comprimento, e indicando uma das arestas do poliedro.

Passo 3: Nesse passo obtemos os pontos de corte nas arestas. Para isso, como

mostra a Figura 123, acionamos a ferramenta calculadora e inserimos a

expressão 55

a2, sendo a o comprimento da aresta.

Figura 123. Inserindo a expressão na calculadora (dodecaedro truncado).

Passo 4: Para encontrar os pontos de cortes nas arestas, como mostra a Figura

124, transferimos o resultado obtido no passo 3 para as arestas do dodecaedro

regular. Para isso utilizamos a ferramenta transferência de medidas (apêndice A).

Figura 124. Transferência de medida para a aresta do dodecaedro regular.

Passo 5: Nesse passo, iniciamos o processo de eliminação dos cantos do

dodecaedro regular. Assim, como mostra a Figura 125, um plano de secção deve

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169

ser criado com a utilização da ferramenta plano e com a indicação de três pontos

de arestas que concorrem em um vértice, sendo esses os mais próximos do

vértice.

Figura 125. Plano de secção (dodecaedro regular II).

Passo 6: Com a ferramenta recorte de poliedro, o primeiro canto do dodecaedro

regular será eliminado. Para isso, como mostra a Figura 126, indicamos o plano

obtido no passo 5 e o canto do dodecaedro regular que contém o vértice

desejado. Com o recurso esconder/mostrar podemos optar em esconder o plano.

Figura 126. Eliminação do canto do dodecaedro regular II.

Passo 7: Nesse passo efetuamos o mesmo procedimento do passo 6 para a

eliminação dos demais cantos. O resultado obtido, isto é, o dodecaedro truncado

gerado é ilustrado na Figura 127.

Figura 127. Dodecaedro truncado.

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170

ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DO ARQUIMEDIANO DODECAEDRO

TRUNCADO

Assim como a construção do cubo truncado, observamos que a

construção no Cabri 3D do dodecaedro truncado só foi possível a partir do estudo

realizado no tópico anterior, no qual discutimos o processo de construção por

truncamento tipo 2. Essa discussão foi fundamental para identificarmos a que

distância dos vértices do dodecaedro regular seriam realizadas as truncaturas.

Sem essa discussão a construção desse arquimediano no Cabri 3D não seria

possível.

Da mesma forma que a construção do arquimediano cubo truncado, a

construção do dodecaedro truncado só pôde ser realizada a partir da articulação

entre o registro figural dinâmico e o registro algébrico. Nesse sentido, os

tratamentos figurais presentes no processo – construção do dodecaedro regular,

medida da aresta, semi-reta, transferência de medida, secção plana e eliminação

dos cantos do dodecaedro regular - também não foram suficientes para a geração

no Cabri 3D do sólido arquimediano dodecaedro regular.

Mais uma vez o registro algébrico nos serviu como registro suporte para

que fossem encontrados os pontos de truncaturas nas arestas do poliedro

platônico de partida. Para Duval (1995) isso acontece por que o registro figural

não preenche nenhuma função discursiva, entretanto os tratamentos

especificamente figurais dão às figuras um papel heurístico, isto é, a possibilidade

de definir os diferentes tipos de modificação a qual é suscetível. É com esse

pensamento que Duval afirma que toda atividade geométrica requer um diálogo

contínuo entre a visualização e o discurso.

Esse diálogo está bem presente no processo de construção do

dodecaedro regular, pois a todo o momento recorremos a um registro discursivo,

isto é, algébrico para registrar os tratamentos figurais realizados. Só assim a

distância entre o vértice do dodecaedro regular e o ponto de truncatura pôde ser

determinada.

Entendemos que as conversões realizadas entre o registro figural e o

registro algébrico foram congruentes, pois há facilidade em reconhecer e

representar algebricamente a situação exposta na figura. No entanto, o

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171

tratamento efetuado no registro algébrico nos permitiu chegar a escrita algébrica

55

2ad , nada fácil de representar figuralmente. Por isso, consideramos não

congruente a conversão no sentido inverso, isto é, algébrico-figural.

Realizada a construção no Cabri 3D do sólido arquimediano dodecaedro

truncado, percebemos que saberes geométricos e algébricos viveram e

interagiram entre si. Os saberes matemáticos envolvidos - dodecaedro regular,

medida da aresta, semi-reta e secção plana - foram reconhecidos de forma direta,

pela instituição Cabri 3D por meio das ferramentas dodecaedro regular,

comprimento, semi-reta e plano.

Assim como as construções dos arquimedianos já mencionados, todos os

saberes envolvidos foram essenciais para a construção do arquimediano

dodecaedro truncado, tendo cada saber assumido uma função no processo de

construção. Enquanto o saber dodecaedro regular indicou o objeto geométrico a

partir do qual a truncatura se iniciou, o saber semi-reta possibilitou indicar em

cada aresta do dodecaedro regular os pontos de truncaturas e a secção plana

auxiliou a eliminação dos cantos do dodecaedro regular.

Durante a construção percebemos também relações inter-hierárquicas

entre o poliedro platônico de partida dodecaedro regular e o poliedro de chegada

dodecaedro truncado. Indicamos que o arquimediano dodecaedro truncado

também apresenta dois tipos de faces, o tipo de face decagonal regular obtida a

partir de truncaturas nas arestas do dodecaedro regular e o tipo de face triangular

regular obtida a partir da eliminação dos cantos do dodecaedro regular.

Assim, observamos que o número das arestas em cada face do

arquimediano dodecaedro truncado obtidos a partir de truncaturas nas arestas do

dodecaedro regular equivale ao dobro do número de arestas da face do poliedro

de partida. Outra relação também observada diz respeito ao número total de

vértices do dodecaedro truncado igual ao dobro do número de arestas do

dodecaedro regular.

Diante do exposto, acreditamos que a instituição Cabri 3D se confirmou

também como um habitat para o estudo do sólido arquimediano dodecaedro

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172

truncado, visto que reconheceu como objetos todos os saberes que determinam

sua existência.

A partir das análises realizadas, apontamos no que segue as

características numéricas dos poliedros arquimedianos obtidos, bem como a

relação com o poliedro platônico de partida.

4.3 AS CARACTERÍSTICAS NUMÉRICAS DOS POLIEDROS

OBTIDOS

Durante o processo de construção dos arquimedianos observamos que

qualquer sólido arquimediano obtido a partir de truncaturas diretas em um sólido

platônico apresenta faces de dois tipos: faces que provêm de faces e faces que

provêm da eliminação dos cantos do poliedro de partida. Isto quer dizer que as

características numéricas (número de faces, de vértices, bem como a ordem14)

dos arquimedianos obtidos, indicadas no Quadro 24, dependem do número de

faces e vértices do poliedro platônico de partida.

Quadro 24. Características numéricas dos arquimedianos estudados.

Arquimediano Características numéricas Superfície planificada

Cuboctaedro

12 vértices;

6 faces quadradas; 8 faces triangulares;

24 arestas.

Icosidodecaedro

30 vértices;

12 faces pentagonais; 20 faces triangulares;

60 arestas.

____________

14 Número de arestas que concorrem em um vértice.

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173

Tetraedro truncado

12 vértices;

6 faces hexagonais; 4 faces triangulares;

18 arestas.

Octaedro Truncado

24 vértices;

6 faces quadradas; 8 faces hexagonais;

36 arestas.

Icosaedro truncado

60 vértices;

12 faces pentagonais; 20 faces hexagonais;

90 arestas.

Cubo truncado

24 vértices;

6 faces octogonais; 8 faces triangulares;

36 arestas.

Dodecaedro truncado

60 vértices;

12 faces decagonais; 20 faces triangulares;

90 arestas.

Podemos também relacionar as características numéricas dos

arquimedianos obtidos ao tipo de truncamento, conforme é mostrado no Quadro

25. A primeira coluna indica os tipos de truncamentos efetuados, já a segunda

coluna indica que o número de arestas das faces que provém de faces depende

do tipo de truncamento. No truncamento tipo 1 essas faces têm o mesmo número

de arestas das faces do poliedro platônico de partida. Já no truncamento tipo 2 o

número de arestas das faces duplica.

A terceira coluna mostra que em ambos os tipos de truncamento, o

número total de arestas do arquimediano obtido depende do número de vértices

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ou arestas do poliedro de partida e de sua ordem. Nos poliedros obtidos pelo

truncamento do tipo 1 o total de arestas do poliedro obtido é o produto entre o

número de vértices do poliedro inicial e sua ordem. No truncamento do tipo 2 o

total de arestas do poliedro obtido é o produto entre o número de arestas do

poliedro inicial e sua ordem.

Já na quarta coluna, está indicado que o número de vértices do poliedro

resultante é igual ou o dobro do número de arestas do poliedro inicial. Com o

truncamento do tipo 1 cada aresta do poliedro original se converte em um vértice,

enquanto que com o truncamento do tipo 2, por cada aresta aparecem dois

vértices.

A última coluna mostra que os vértices dos poliedros resultantes no

truncamento do tipo 1 são de ordem 4. Com o truncamento do tipo 2 se obtém

poliedros com vértices de ordem 3.

Quadro 25. Características numéricas a partir do tipo de truncamento.

Tipo de

Truncamento

Número de

arestas em

cada face

Número total

de arestas

Número total

de vértices

Ordem dos

vértices

Truncamento 1

Mesmo número

do poliedro de

partida

Produto entre o

número de

vértices do

poliedro de

partida e sua

ordem

Igual ao número

total de arestas

do poliedro de

partida

Ordem quatro

Truncamento 2

O dobro do

poliedro de

partida

Produto entre o

número de

arestas do

poliedro de

partida e sua

ordem

Dobro do

número total de

arestas do

poliedro de

partida

Ordem três

A seguir apresentamos nossas considerações finais em relação ao

estudo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse momento, retomamos aspectos abordados ao longo dos capítulos

anteriores deste trabalho, sendo oportuno mencionar a convergência de pontos

de vista a respeito do que foi investigado, analisado e percebido. Consideramos

também oportuno apontar as reais possibilidades de concretização desse estudo

nas aulas de Geometria, bem como as possíveis adaptações que podem ser

feitas com o auxílio da tecnologia, na perspectiva de contribuir para a melhoria da

aprendizagem da Geometria Espacial na Educação Básica.

Nossos estudos preliminares nos permitiram identificar que os principais

problemas enfrentados pelo ensino e aprendizagem de Geometria Espacial estão

associados à visualização, interpretação e representações de objetos

tridimensionais. Tais problemas contribuem para que alguns conteúdos

geométricos espaciais não sejam mais abordados, como por exemplo, os Sólidos

de Arquimedes.

Por outro lado, com o surgimento do conhecimento por simulação advindo

da informática, programas de auxílio ao ensino têm sido desenvolvidos na busca

de minimizar tais dificuldades, ou ainda, na possibilidade de resgatar conteúdos

não mais presentes na matemática ensinada. A utilização de ambientes de

Geometria Dinâmica, especialmente o Cabri 3D que simula um ambiente em três

dimensões, pode contribuir para que conteúdos geométricos espaciais sejam

recordados e revisitados com um dinamismo inexistente em ambiente lápis e

papel.

Nesse sentido, concordamos com Lévy (2002, p. 129) ao afirmar que

à aparição de novas tecnologias intelectuais ativam à expansão de formas de conhecimento que durante muito tempo estiveram relegadas a certos domínios, bem como o enfraquecimento relativo de certo estilo de saber, mudanças de equilíbrio, deslocamentos de centros de gravidade. A ascensão do conhecimento por simulação deve ser entendida de acordo com uma modalidade aberta, plurívoca e distribuída.

É dentro desse contexto que se inseriu nossa pesquisa, se propondo

oferecer uma contribuição a estudos sobre ensino de matemática e o uso de

tecnologias em Educação Matemática. Para tanto, tomamos como eixo,

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177

apresentar uma possibilidade para o ensino e aprendizagem dos Sólidos

Arquimedianos e sua inclusão na Educação Básica por meio do ambiente de

Geometria Dinâmica Cabri 3D aliada a história como fonte geradora de

conhecimento.

Os procedimentos metodológicos utilizados contribuíram para que o

estudo do objeto matemático Sólidos Arquimedianos fosse realizado. Vale

ressaltar que a metodologia utilizada nos permitiu evidenciar um processo de

construção para esses sólidos bem diferente da planificação de superfície,

estudada na disciplina Desenho Geométrico. O estudo bibliográfico, realizado a

partir de fontes históricas, foi fundamental para a realização do estudo

matemático do objeto proposto, uma vez que foi a partir dele que descobrimos a

relação existente entre os sólidos arquimedianos e platônicos, além do

procedimento matemático truncamento.

Consideramos que os referenciais adotados na pesquisa, Transposição

Didática e a Problemática Ecológica de Chevallard (1991) e Registro de

Representação Semiótica de Duval (1995), foram pertinentes para nosso estudo.

Com as teorias de Chevallard (1991), pudemos nos aproximar dos

saberes matemáticos que entram em associação com o objeto matemático

Sólidos Arquimedianos e assim identificar dentre eles, os saberes que

determinam a existência desse objeto matemático enquanto objeto de ensino,

bem como analisar ecologicamente as interações entre eles. Assim, foi possível

distinguir os diferentes saberes envolvidos no processo de ensino e analisar a

transformação do objeto de saber Sólidos Arquimedianos em um objeto a ser

ensinado.

Em se tratando dos registros de representação semiótica, constatamos

que as construções dos arquimedianos no Cabri 3D só foram possíveis mediante

a articulação entre o registro figural dinâmico e um registro discursivo. Desse

modo, concordamos com Duval (2002) quando afirma que toda atividade

geométrica requer um diálogo contínuo entre a visualização (registro figural) e o

discurso (registro discursivo). No trabalho, percebemos que o discurso pode ser

realizado por meio do registro de língua natural e do registro algébrico.

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Assim, podemos responder nossa questão de pesquisa - O objeto

matemático Sólidos Arquimedianos pode ser resgatado como objeto de ensino

para a Escola Básica, utilizando como habitat o ambiente de Geometria Dinâmica

Cabri 3D? – considerando as reflexões apresentadas em nossas análises e nessa

parte do trabalho. Diante do que foi apresentado, entendemos que esse ambiente

se confirmou como um habitat para o ensino desses sólidos, na medida em que

permitiu que as construções dos arquimedianos propostos fossem realizadas,

reconhecendo como objetos todos os saberes que determinam a existência desse

objeto matemático enquanto objeto de ensino.

Para finalizar, acreditamos que a relevância de nossa pesquisa foi

contribuir para uma reflexão acerca da utilização de meios informáticos em âmbito

escolar para resgatar conteúdos matemáticos não mais ensinados. Nesse

sentido, acreditamos na importância de outros estudos buscarem o auxílio de

novas tecnologias intelectuais para que conteúdos matemáticos adormecidos ou

mesmo esquecidos possam voltar a fazer parte do cotidiano escolar.

Como pesquisa futura, tendo em vista o resultado positivo dessa

investigação, acreditamos na possibilidade de elaborar e desenvolver uma

seqüência de atividades, apoiada nos referenciais teóricos apresentados, no

ambiente de Geometria Dinâmica Cabri 3D para que os Sólidos Arquimedianos

sejam explorados e ensinados por meio de suas construções. Deste modo, o

saber a ensinar Sólidos Arquimedianos passaria a ter também um status de saber

ensinado, o que caracterizaria a segunda transposição didática proposta por

Chevallard (1991).

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APÊNDICE A: TRANSFERINDO MEDIDAS NO CABRI 3D

Para utilizar a ferramenta transferência de medidas do Cabri 3D,

mostrada na Figura 128, é necessário indicar a medida que se deseja transferir e

uma semi-reta. A Figura 129 mostra a transferência de uma medida para uma

semi-reta de origem um vértice do cubo, e em seguida é omitida com o recurso

esconder/mostrar.

Figura 128. Ferramenta transferência de Medidas.

Figura 129. Transferindo medidas.

Podemos transferir qualquer medida. Para isso, como mostram as Figuras

130 e 131, podemos obtê-la com as ferramentas distância ou comprimento (ou

digitando um valor na calculadora, conforme mostra a Figura 130.

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Figura 130. Ferramentas distância e comprimento.

Figura 131. Calculadora.

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APÊNDICE B: APLICANDO O TEOREMA DE TALES NO

CABRI 3D

Utilizando o teorema de tales podemos dividir um segmento qualquer em n

partes iguais. Esse procedimento é mostrado no Cabri 3D para dividir um

segmento em três partes iguais como segue.

Com a ferramenta semi-reta, mostrada na Figura 132 traçamos uma semi-

reta AD, conforme indica a Figura 133.

Figura 132. Ferramenta semi-reta.

Figura 133. Criação semi-reta.

Na semi-reta AD, com a ferramenta ponto, mostrada na Figura 134,

marcamos um ponto qualquer que chamaremos de P1, conforme é indicado na

Figura 135.

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Figura 134. Ferramenta ponto.

Figura 135. Ponto 1 na semi-reta.

Com a ferramenta esfera, indicada na Figura 136, construímos uma

esfera com centro em P1 e raio P1A para encontrar P2, o ponto de intersecção

entre a esfera e a semi-reta AD. Em seguida, outra esfera é construída com

centro em P2 e raio P2P1 para encontrarmos P3, conforme mostra a Figura 137.

Figura 136. Ferramenta esfera.

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Figura 137. Ponto 2 e ponto 3 na semi-reta.

Com a ferramenta segmento, mostrada na Figura 138, traçamos o

segmento P3B, conforme mostra a Figura 139.

Figura 138. Ferramenta segmento.

Figura 139. Criação segmento.

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Com a ferramenta paralela, mostrada na Figura 140, traçam-se duas retas

paralelas ao segmento P3B, passando por P1 e P2, para encontrar P1’ e P2’, os

pontos de intersecção com a aresta AB, conforme mostra a Figura 141. Assim

temos que A P1’ Ξ P1’ P2’ Ξ P2’ P3’.

Figura 140. Ferramenta paralela.

Figura 141. Criação paralelas.