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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP ADRIANA SHIRAISHI ROLLEMBERG ALBUQUERQUE O ESTUDO DO MEIO NOS GINÁSIOS VOCACIONAIS: ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

ADRIANA SHIRAISHI ROLLEMBERG ALBUQUERQUE

O ESTUDO DO MEIO NOS GINÁSIOS VOCACIONAIS:

ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS

Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade

SÃO PAULO

2015

 

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ADRIANA SHIRAISHI ROLLEMBERG ALBUQUERQUE

O ESTUDO DO MEIO NOS GINÁSIOS VOCACIONAIS:

ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: História, Política, Sociedade, sob orientação do Prof. Dr. Daniel F. Chiozzini.

SÃO PAULO

2015

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Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração de Joseangelo Pompeu, ex-

professor de Práticas Comerciais do João XXIII, que além de doar os slides para o meu

orientador também não hesitou em me receber de coração aberto para uma entrevista em sua

residência em Americana se propondo a ficar o tempo que fosse necessário para falar sobre o

seu caminho enquanto professor de Práticas Comerciais no vocacional de Americana.

Um grande carinho e um profundo agradecimento a:

Meu filho Luan Shiraishi, antes de tudo por ele existir e ser a presença mais linda do

meu dia a dia. É ele quem “segurou e segura a barra” junto comigo compartilhando cada

instante da vida, qualquer que seja ele sempre está presente. Obrigada por eu poder me

enxergar em seus olhos, filho.

Um grande grupo de familiares, sobretudo a meu primo Gabriel Albuquerque, e a

amigos como Valter Alegre que, não só me animaram a continuar a pesquisa como também

me ajudaram com a rotina de “mãe independente”. Pessoas que tiveram ouvidos e me

incentivaram a fechar esse ciclo.

Ao querido amigo José Felipe Lucena que segurou a mão do meu filho para levá-lo à

escola de ônibus nas manhãs em que tive que cursar as disciplinas do programa.

À minha mãe e ao meu pai que sempre estiveram dispostos a me ajudar com tudo que

fosse necessário para que pudesse ter êxito no meu trabalho. E, sobretudo, para que eu

continuasse a pesquisa e, ainda pudesse manter o sorriso no rosto. A eles dois, que me

ensinaram o que é família e o que é amor. Família e amor no seu sentido mais amplo que

abrange processo, relação, mudanças e permanências.

À minha amiga Flávia Schaeffer com quem compartilhei minhas angústias acerca dos

dias não dormidos com leituras e uma eterna tela branca. Como é difícil a escrita acadêmica!

À Betinha que, muitas vezes, esteve mais preocupada com meu trabalho do que eu

mesma. Uma pessoa especial que me acolheu com o olhar e um bom papo de mãe para mãe,

de ser humano para ser humano.

E um enorme reconhecimento e admiração ao meu orientador, Daniel Chiozzini, que

dedicou grande parte de sua paciência e persistência a esse trabalho e à minha formação.

 

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RESUMO

A pesquisa consiste em investigar a concepção e desenvolvimento do estudo do meio nos ginásios estaduais vocacionais, em São Paulo, no período de 1963 a 1964 Em paralelo, busca aprofundar o debate relativo à configuração histórica do estudo do meio. As metodologias denominadas estudo do meio levam em consideração o caráter contextual da prática educativa (PONTHUSKA; LOPES, 2010) trazendo à tona a relevância do estudo do meio na estruturação e constituição do currículo de uma cultura escolar própria. Decorrente da coleção de fotos de estudo do meio cedidas pelo ex-professor Joseangelo Pompeu, o qual lecionou entre os anos 1964 a 1970, no Colégio Vocacional João XXIII de Americana, consolidou-se o tema e os objetivos da pesquisa cujo intento foi responder as seguintes questões: Quais eram as metodologias e práticas de ensino desenvolvidas no Ginásio Vocacional de Americana de 1963 a 1964?; Como essas metodologias e práticas de ensino dialogam com as práticas de Estudo do meio?; O que as fotografias podem revelar sobre o estudo do meio no Ginásio Vocacional João XXIII nesse período?. Por meio da análise das fontes foi reconstituída uma memória escolar acerca do estudo do meio procurando definir esse conceito para a escola e sendo colocada em pauta a ideia de um currículo em mudança (GOODSON, 1998). Foram utilizados também os conceitos de cultura escolar, presentes em Chartier (1990) e Carvalho (1998), além dos conceitos de produção, circulação e apropriação cultural ao longo do trabalho. Concluiu-se que é possível afirmar que as imagens evidenciam não apenas as práticas educacionais do Ginásio como a concepção de ensino. As fotos ajudaram a explicitar o que se fazia no estudo do meio. Os padrões identificados contribuíram para traçar uma narrativa de como era um trabalho desse tipo. Notou-se que os professores exerciam um papel fundamental de “mediadores” das relações. Relações entre sujeito e objeto; e entre sujeito e sujeito. Os mesmos aparecem de maneira centralizada buscando conduzir o estudo. Portanto, a análise das fotografias permitem observar um ponto crucial da história da educação, envolvendo a formação e composição do currículo, do pensamento escolar e educacional, da constituição da cidadania e do cidadão brasileiro nas décadas de 60 e 70, período no qual a intervenção político-militar foi marcante na educação brasileira.

Palavras-chave: estudo do meio, cultura escolar, currículo, Ginásios Vocacionais

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ABSTRACT

The research is to investigate the design and development of the study of the environment in vocational state gyms in São Paulo, in the 1963-1964 period In parallel, seeks to deepen the debate on the historical setting of the study of the environment. Methodologies called study of the environment take into account the contextual nature of educational practice (PONTHUSKA; LOPES, 2010) bringing up the importance of the study of the environment in the structuring and establishment of the curriculum of their own school culture. Resulting from the collection of study photos of the medium provided by the former professor Joseangelo Pompey, who taught between the years 1964-1970, the Vocational College John XXIII American, consolidated the theme and objectives of the research whose intent was to answer the following questions: What were the teaching methodologies and practices developed in American Vocational Gymnasium 1963-1964 ?; As these teaching methodologies and practical dialogue with the Study practices middle ?; What photographs can reveal about the study of the environment in John XXIII Vocation Gym in that period ?. Through the analysis of the sources it was reconstituted a school memory about the study of the environment trying to define the concept for the school and being put on the agenda the idea of a changing curriculum (GOODSON, 1998). Were also used the concepts of school culture, present in Chartier (1990) and Carvalho (1998), in addition to production concepts, cultural appropriation and circulation throughout the work. In conclusion it can say that the images show not only the educational practices Gymnasium as the design of education. The photos helped explain what was done in the study of the environment. The patterns identified contributed to trace a narrative of how it was such work. It was noted that teachers played a key role of "mediators" of relations. Relations between subject and object; and between subject and subject. These appear centrally seeking to conduct the study. Therefore, the analysis of the photographs allow us to observe a crucial point in the history of education, involving the formation and composition of the curriculum, the school and educational thought, the constitution of citizenship and Brazilian citizens in the 60's and 70's, period in which the intervention political and military was remarkable in Brazilian education.

Keywords: study of the environment, school culture, curriculum, Vocational School

 

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APRESENTAÇÃO

A intenção desta apresentação é mais do que situar as alterações ocorridas no trajeto

da pesquisa quanto ao referencial teórico-metodológico que orientou o trabalho, senão

também apresentar o percurso de pesquisadora e as mudanças em relação ao objeto de estudo

que se tornaram necessárias no contexto objetivo nesse período de mestrado.

No ano de 2008, já cursando a graduação em Pedagogia, comecei a trabalhar no

Núcleo de Trabalhos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC/SP) como professora de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Centro Cultural São

Paulo. Nesse trabalho foi possível entrar em contato com alguns migrantes nordestinos que

vieram para São Paulo em busca de um emprego e melhores condições de vida. Por causa das

conversas cotidianas e das reuniões do núcleo busquei refletir sobre a aula, a migração para

São Paulo e, sobretudo, a respeito da preocupação de uma cultura letrada que confere status e

mobilidade social via leitura e escrita em detrimento da oralidade e outros conhecimentos não

menos importantes que ler e escrever, pois saberes sobre o mundo.

Apesar de fazer parte de um mesmo sistema linguístico, o oral se distingue da escrita

por possuir características próprias. Saber ler e escrever é algo, contemporaneamente,

necessário para que se possa ascender socialmente. A reflexão sobre o letramento de

ingressantes, sobretudo do Nordeste, do campo na cidade de São Paulo começou a se tornar

um tema que me entusiasmava. Por que precisamos aprender a ler e escrever? Como o poder

se dá no âmbito do discurso?

Em 2012, mobilizada por essa vontade de pensar a educação formal dos migrantes

nordestinos, acompanhada de uma amiga, fiz uma viagem para o sertão nordestino, seguindo

um roteiro baseado na obra Os sertões, de Euclides da Cunha. Ao longo dessa viagem,

procurei informações nas cooperativas pelas quais passávamos sobre como estudavam os

sertanejos. Naquele momento, o que me chamou a atenção foi a Pedagogia da Alternância.

Decidi que o meu mestrado seria um trabalho de campo voltado para a investigação de

experiências associadas à Pedagogia da Alternância, especialmente envolvendo escolas do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Depois de fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema, em um primeiro momento,

achei que deveria refletir sobre esse assunto no projeto de mestrado indo a campo, a fim de

delimitar uma escola a ser analisada, assim como as possíveis fontes de pesquisa. Porém, após

 

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avaliar que tal empreitada seria difícil de ser viabilizada devido à exigência de viagens

constantes, optei por buscar um tema mais próximo da minha rotina de trabalho como

professora da Escola da Vila, localizada na cidade de São Paulo, onde atuei até final de 2014.

Após estudar um pouco sobre um assentamento do MST, situado na cidade de Itapeva

(SP), encontrei na Escola da Vila produções escritas a respeito da existência de um trabalho

de campo em Itapeva. Essa atividade estava registrada em documentos elaborados pelos

professores, como o estudo da sequência que envolve também o trabalho de campo e,

sobretudo, nas memórias dos simpósios periódicos que a escola realiza anualmente. Assim, ao

invés de ir a campo, resolvi pensar sobre o porquê de ir a campo em uma sequência de estudo

na instituição escolar em que trabalhava e como essa metodologia foi se constituindo como

prática no currículo da escola em questão.

A partir das leituras das Memórias de Simpósio da escola foi possível conhecer um

pouco mais dos artigos escritos pelos professores e ler reflexões acerca da prática, nas quais

notei certa autonomia no trabalho realizado. Nesse sentido autônomo, o currículo narrativo

em contrapartida ao currículo prescritivo (GOODSON, 2007) parecia, dessa forma, estar se

delineando em uma cultura escolar própria (CHARTIER, 1990).

Na Escola da Vila, o trabalho de campo apareceu inserido em uma sequência didática,

sempre esteve vinculado a um conceito estruturante de Ciências Naturais, História ou

Geografia, não apareceu como um objeto de estudo por si só, muito menos isolado, sendo

trabalhado de maneira integrada a partir de uma questão ou problema central que seria

respondido por meio das diferentes áreas de conhecimento.

Na ocasião, optei por definir a pesquisa como uma investigação acerca da prática

educacional do trabalho de campo na Escola da Vila, em São Paulo, no fundamental II a partir

de 1996. Em paralelo, iniciei o aprofundamento do debate relativo à configuração histórica do

estudo do meio previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e adotado como

metodologia em outras escolas, buscando aproximações e distanciamentos entre esses dois

processos históricos. Esse procedimento resultou na definição de um projeto de pesquisa

intitulado “O estudo do meio e o trabalho de campo: a configuração histórica no Brasil e a

experiência na Escola da Vila”.

No entanto, uma parte da bibliografia pesquisada sobre o tema não definia a noção de

trabalho campo, mas o colocava como uma etapa conceitualmente considerada como “estudo

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do meio”. E, essa passou a ser uma pergunta do meu trabalho: qual a diferença entre estudo

do meio e trabalho de campo?

Apesar da mudança de tema que ocorreu na pesquisa que será descrita adiante,

mantive um problema presente no projeto inicial, voltado para a compreensão da ideia de

currículo presente nos Ginásios Vocacionais e tomá-la como referência para discutir o

assunto. Nesse sentido, cabe esclarecer que a definição de “estudo do meio” adotada nos

Ginásios se aproxima da noção de trabalho de campo utilizada na Escola da Vila e também é

apontada nos trabalhos a serem discutidos e analisados.

Assim, após minha saída do quadro de professores da Escola da Vila, optei por alterar

o tema de meu projeto de pesquisa e me dedicar especificamente às práticas do estudo do

meio nos Ginásios Vocacionais e alguns registros dessa prática, que será descrita adiante. Em

paralelo permaneceu na minha investigação tanto o debate acerca das práticas escolares que se

desenvolvem no cotidiano em diálogo com o currículo, bem como o estudo do meio enquanto

metodologia de ensino relacionado à concepção de homem e educação.

Desse modo, o estudo do meio nos ginásios vocacionais se tornou meu objeto de

investigação, tanto por seu caráter inovador quanto ao currículo, tendo em vista outra

concepção em relação à vigente até então, quanto pela discussão sobre a experiência dos

ginásios vocacionais – com suas divergências internas e com as mudanças ocorridas em sua

história.

 

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 11

1 O ESTUDO DO MEIO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...................... 14

1.1 CONTRIBUIÇÕES DE ALBEGARIA, LOPES E CHIOZZINI QUANTO

AO ESTUDO DO MEIO ..............................................................................

14

1.2 O CARÁTER CONCEITUAL E HISTÓRICO DO ESTUDO DO MEIO... 24

1.3 OS GINÁSIOS VOCACIONAIS E O CURRÍCULO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA DISCUSSÃO ENTRE CULTURA ESCOLAR E CULTURA DA ESCOLA .........................................................................

27

1.3.1 O estudo do meio nos Ginásios Vocacionais dos anos 60 ......................... 32

2 A FOTOGRAFIA COMO FONTE DE ANÁLISE DO ESTUDO DO MEIO ............................................................................................................

48

2.1 A FOTOGRAFIA COMO FONTE HISTÓRICA ........................................ 48

2.1.1 Sobre a fotografia ........................................................................................ 51

2.2 MAPEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS FONTES VISUAIS ............... 52

2.2.1 Caixa 1 a 5: um primeiro olhar .................................................................. 56

2.3 CAIXA 1: DELINEANDO UMA NARRATIVA ........................................ 61

2.3.1 O Resgate da memória: a narrativa de Joseangelo Pompeu ................... 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 73

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ......................................................... 78

ANEXOS ...................................................................................................... 82

ANEXO A Inventários das fotografias da caixa 1 ................................... 82

ANEXO B Transcrição da Entrevista ....................................................... 99

 

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Slide C1-2 Alunos observando o professor ...................................... 62

Figura 2 Slide C1-37 Alunos observam o professor .............................................. 63

Figura 3 Slide C1-9 Professora observa com os alunos o funcionamento de uma máquina ...................................................................................................

63

Figura 4 Slide C1-8 Newton Balzan acompanha os alunos que questionam um trabalhador ...............................................................................................

64

Figura 5 Slide C1-16 Observação de maquinário .................................................. 65

Figura 6 Slide C1-19 Alunos observam sepultura dos pioneiros americanos........ 66

Figura 7 Slide C1-34 Formação de roda pelos alunos............................................ 67

Figura 8 Slide C1-51 Observação de monumento histórico .................................. 67

 

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação procura destacar o debate acerca do estudo do meio que foi realizado

no Ginásio Vocacional João XXIII, de Americana, através de slides datados entre o ano de

1960 e 1970. A pesquisa diz respeito ao contexto e à prática de uma cultura escolar e tem

como problema trazer o debate sobre: O que a análise das fotos pode “revelar” sobre a

concepção e práticas dos vocacionais e se essas práticas são influenciadas ou influenciam as

mudanças curriculares no projeto de educação estudado?

Buscou-se, por meio da análise das fontes, identificar o significado da prática do

estudo do meio no vocacional de Americana. Intentou-se realizar uma articulação entre o

material fotográfico e a produção escrita. Desse modo, alguns questionamentos foram

suscitados, a saber: Qual o uso social da fotografia quanto ao estudo do meio nos Ginásios

Vocacionais de Americana? O que essas fotos podem contar sobre o trabalho realizado? O

que elas podem revelar sobre a organização do trabalho e como elas eram inseridas no estudo

do meio? A função social estava vinculada ao registro? Ela era documentada pelos alunos ou

pelos professores? O que aparece reiteradamente nas fotografias? Quem aparece nas

fotografias? As quais foram concentradas em três questões centrais: “Quais eram as

metodologias e práticas de ensino de estudo do meio desenvolvidas no Vocacional de

Americana de 1961 a 1970?”; “Como essas concepções e práticas dialogam com as

práticas de Estudo do meio?”; “O que as fotografias podem revelar sobre o João XXIII

nesse período?”.

O principal motivo para optar por este tipo de fonte está contido no próprio objeto de

análise – a prática do estudo do meio – pois, essas atividades eram registradas e armazenadas

em formato de imagens. Todavia, sabe-se; por meio das informações coletadas no

levantamento bibliográfico inicial; que um dos pontos destacados nas teses, dissertações e

artigos, também retomado por Chiozzini (2014), é a escassez de documentos escritos a

respeito da experiência vocacional, alguns por conta da apreensão e destruição desses pelo

regime militar após a repressão que aconteceu em 1969, outros pela maneira que foram sendo

arquivados ou deixando de ser arquivados. Existe também, em grande parte das dissertações

e teses sobre o tema, uma memória coletiva já consolidada sobre os Ginásios Vocacionais,

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que muitas vezes pode ocultar as potencialidades da investigação histórica sobre aspectos

dessa experiência educacional. A memória coletiva, conforme destaca Pollak (1989), envolve

um processo de “enquadramento” que acaba por homogeneizar o passado.

Essa pesquisa, por sua vez, busca apresentar um discurso que não é o oficial, bem

como trazer ao debate a resistência daquilo que restou. Desse modo, foram analisadas fontes

visuais, os slides sobre o trabalho de estudo do meio que foram mantidos pelo ex-professor de

Práticas Comerciais, Joseangelo Pompeu.

O material composto pelos slides estava em caixas de metal numeradas de um a cinco.

Algumas fotos se encontravam em bom estado, outras não. Nesse momento, foi possível

apenas utilizar as que estavam na primeira caixa, pois nessas constavam elementos

importantes, tais como: as datas e a localização.

Grande parte das fotos dessa caixa se encontrava em bom estado, porém, de qualquer

maneira foi necessário utilizar um projetor para observá-las mais atentamente, em seguida as

imagens foram digitalizadas. As imagens que apareceriam dentro de uma sequência

ponderada mais do que apenas um fragmento, senão parte de uma narrativa; e que pareceriam

relevantes foram analisadas por seu valor histórico, as demais são descritas no inventário em

anexo (ANEXO A) da dissertação para que, enquanto memória, possam fazer parte do

conhecimento dos leitores.

Em consonância com a análise do material visual recorreu-se ao discurso dos

participantes do projeto como Maria Nilde Mascellani e Newton Balzan, o qual serviu de

auxílio para construir uma linha narrativa do projeto educacional em questão, bem como para

fornecer um panorama da conjuntura, pois na leitura desses dois autores – e personagens

naquela ocasião – não estão presentes as mudanças ocorridas nos vocacionais e, portanto,

serão olhares muito particulares colocados em suspensão por terem vivido a experiência.

Alguns dos documentos utilizados são de autoria dos próprios e, por isso, para discutir as

mudanças foi necessário recorrer à fontes secundárias ou bibliografias de referência, as quais

buscavam uma exterioridade em relação à experiência, tais como os textos de Chiozzini

(2003; 2010; 2014), Albergaria (2004) e Lopes (2014), dispostos no primeiro capítulo do

presente trabalho.

No segundo capítulo é apresentada e analisada a fonte primária da pesquisa, como já

mencionado, a saber,: os slides dos estudos de meio realizados entre os anos de 1963 e 1964

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no Ginásio Vocacional João XXIII, os quais foram reportados via registro fotográfico para

serem utilizados na presente pesquisa. Cumpre mencionar que o acesso a este material deu-se

por meio da intermediação do orientador dessa pesquisa com o ex-professor de Práticas

Comercias, Joseangelo Pompeu que manteve esses slides em seu arquivo pessoal e os

repassou para elaboração da investigação. Faz-se relevante destacar que a pesquisadora

também entrevistou o ex-professor para obter informações que pudessem auxiliar na narrativa

dos fatos.

Nesse mesmo capítulo, o segundo, discute-se a fonte visual em si, no caso a fotografia,

a qual respaldou a metodologia do trabalho, bem como explicitou as indagações quanto à

fonte, por conta de suas próprias características; além de delinear a narrativa a partir da

análise das fotos.

Por fim, a parte final da dissertação traz algumas considerações acerca das mudanças e

permanências sobre os vocacionais tendo em vista a prática do estudo do meio realizado nos

Ginásios Vocacionais (GVs) considerando as fontes visuais analisadas.

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CAPÍTULO I

O ESTUDO DO MEIO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

O presente capítulo tem por intuito dispor o referencial teórico utilizado na pesquisa,

de forma a contemplar os aspectos conceituais da investigação. Desse modo, além da

apresentação do referencial teórico, o capítulo foi agrupado em dois grandes blocos, no

primeiro apresentam-se os elementos referentes ao estudo do meio, no qual é delimitado o

caráter histórico do estudo do meio, assim como ele era realizado nos ginásios vocacionais.

Em seguida, no segundo bloco configura-se, propriamente, a configuração dos chamados

ginásios vocacionais.

1.1 CONTRIBUIÇÕES DE ALBERGARIA, LOPES E CHIOZZINI QUANTO AO

ESTUDO DO MEIO

No levantamento bibliográfico realizado sobre as pesquisas que abordam o “trabalho

de campo” e o “estudo do meio” como tema, efetuado nas bases de dados do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Scientific Eletronic Library Online

(Scielo), foram encontradas diversas pesquisas atreladas aos benefícios que tais metodologias

trazem ao trabalho pedagógico realizado nas mais diversas escolas, estando inseridas no

campo da didática. No entanto, não havia uma discussão mais aprofundada do tema do ponto

de vista conceitual ou histórico nas teses e dissertações encontradas. Essas apresentavam a

importância do estudo do meio no sentido de uma aprendizagem significativa. Um exemplo

dessa perspectiva pode ser constatada na afirmação Bueno (2009, p. 22):

Empiricamente, observávamos que, ao colocar os alunos e alunas em ambiente não formal de aprendizagem, desencadeava-se, na maioria das vezes, uma postura surpreendente e prazerosa. Alavanca para um maior interesse pela aprendizagem,

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capaz de despertar a busca pela investigação, cujo resultado era a superação do conhecimento empírico pelo conhecimento científico.

Portanto, não por menos, é possível destacar alguns autores que se propuseram a

debater as atividades realizadas e/ou desenvolvidas nos ginásios vocacionais, os quais são

apresentados, de modo sumário, abaixo. Todavia, parece relevante ressaltar que o estudo do

meio, embora possa ser compreendido e classificado como um tipo de atividade cujo

propósito é a educação pelos sentidos tendo visto a aprendizagem através da experiência

vivida e do “aprender fazendo”, no presente estudo não se centralizou na abordagem dessa

ação como tal.

Visando situar o objeto desta pesquisa, faz-se uma breve apresentação da bibliografia

que trata do estudo do meio nos GVs a partir de três autores: a dissertação de mestrado de

Sandra Julia Gonçalves Albergaria defendida em 2004 na Unicamp, intitulada: A concepção

de natureza nos estudos do meio realizados nos ginásios estaduais vocacionais do Estado de

São Paulo, de 1961 a 1968; outra dissertação de mestrado defendida em 2014 por Danilo Eiji

Lopes, denominada: História dos estudos do meio: um estudo sobre as práticas extramuros da

escola em São Paulo; e, por fim, a tese de doutorado defendida em 2010 por Daniel Ferraz

Chiozzini, referenciada: História e memória da Inovação Educacional no Brasil – O caso dos

ginásios vocacionais (1961-1970); publicado como livro em 2014. Cabe mencionar, que esses

trabalhos foram selecionados em detrimento de outros materiais de pesquisa existentes por

conta de seu conteúdo, uma vez que por se tratam de duas dissertações e uma tese, as quais

apresentam um escopo mais consistente do objeto deste estudo. Postulado tal fato, a seguir,

dispõem-se algumas considerações elaboradas pelos autores.

A pesquisa de Albergaria (2004) consiste na investigação sobre a concepção de

natureza veiculada aos estudos do meio desenvolvidos nos ginásios vocacionais entre 1961 e

1968 no estado de São Paulo. Para tanto, a autora busca sistematizar o que é o “estudo do

meio”, colocar em destaque o seu aspecto interdisciplinar, levando em consideração o caráter

investigatório alinhado aos objetivos do ensino dos ginásios estaduais vocacionais.

De acordo com ALBERGARIA (2004), durante a vigência dos GEVs no ensino

público foi aperfeiçoada uma concepção pedagógica que proporcionou a reformulação

curricular de gestão educacional, o que atingiu tanto professores quanto especialistas

educacionais, alunos e os pais de alunos. O foco central dos ginásios vocacionais era propiciar

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o conhecimento da realidade a partir de práticas ou atividades pedagógicas como as de estudo

do meio.

Ainda que a autora faça uma apresentação panorâmica da experiência realizada nos

Vocacionais antes de tratar do “estudo do meio”, também elenca autores que tratam da

metodologia como prática integrante do processo educativo, e isso propicia um trabalho

interdisciplinar, objetivando a construção de conhecimento da realidade pelo aluno. No

entanto, ao debater acerca dos ginásios vocacionais, leva em consideração a ideia de

transformação social presente no início destes, sem abordar os conflitos internos e os

subgrupos em que estão inseridos. Preocupada com a concepção de natureza presente nos

estudos do meio a partir de categorias de análise relação homem-meio e natureza humanizada,

deixa de contemplar o significado de transformação historicamente constituído. Já Lopes

(2014), tendo como referencial bibliográfico Chiozzini (2014), busca fazê-lo. Por sua vez,

Chiozzini (2014) em sua tese de doutorado, posteriormente publicada como livro, apresenta

uma experiência escolar como possibilidade educacional no cenário marcado por disputas

internas.

De acordo com o Chiozzini (2014), os ginásios vocacionais como sistema de ensino

foram marcados por conflitos e diferenças existentes na cúpula administrativa do Serviço do

Ensino Vocacional. Essas divergências afloraram quando houve a tentativa de sistematização

da experiência em 1968. O recorte do autor também tem em vista o propósito interdisciplinar,

à medida que apresenta os currículos de Geografia e História integrados ao de Estudos Sociais

e discorre acerca do currículo core.

Os três autores apresentam Ponthuska como referencial teórico para trabalhar com o

conceito de “estudo do meio”. O conceito é proposto a partir de análise histórica e práticas

desenvolvidas nas disciplinas formadoras de professores na Faculdade de Educação da

Universidade Estadual de São Paulo. Nesse contexto, é considerado uma prática

interdisciplinar e um método de ensino que supera conhecimentos escolares, porque tem

compromisso com a sociedade e suas transformações, bem como levaria os envolvidos na

atividade a atuar como sujeitos.

Nídia Ponthuska (1994), diferentemente da abordagem da maioria dos autores sobre o

estudo do meio, procura considerar o caráter histórico da atividade. A autora destaca a

transformação da prática de acordo com contexto, tempo, escola e professor. Dependendo do

tratamento, uma escola pode nomear como “estudo do meio” qualquer atividade a partir de

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seu currículo, pode ser uma saída a campo com o objetivo de lazer e integração ou com

objetivos pedagógicos.

Ao abordar os ginásios vocacionais, Albergaria (2004) leva em consideração o fato

que a prática de estudo do meio realizada nos vocacionais visava o compromisso com a

sociedade e com sua transformação, bem como no estímulo à participação ativa dos sujeitos

envolvidos. Entretanto, não se aprofunda na discussão acerca do próprio termo

“transformação social” contemplando a ideia inicial de transformação apresentada por Maria

Nilde Mascellani, principalmente difundida em sua tese de doutorado. Sem distinguir

diferenças internas, contraditoriamente, a autora termina por abordar a escola como

reprodutora de um modelo existente e não produtora de sua própria história.

Ao fazer um breve histórico da educação brasileira e do cenário político, social e

econômico que contribuiu para o surgimento, o desenvolvimento e a extinção dos Ginásios

Vocacionais no estado de São Paulo, Albergaria (2004) traz uma reflexão sobre as tendências

de 1930 na compreensão da estruturação desses espaços. No entanto, não estende essa

discussão e traça um percurso parecido com o de Fazenda (2008), vinculando os GVs à

Escola Nova e à origem do método. Nesse aspecto, afasta-se do posicionamento de Maria

Nilde Mascellani, que rechaçava a caracterização dos ginásios como “escolanovistas”.

Lopes (2014) propõe uma perspectiva histórica de como se estruturou conceitual e

empiricamente o exercício do estudo do meio, procurando contextualizá-lo de maneira a

alargar a discussão tendo em vista os contextos específicos em que as atividades acontecem e

o professor como protagonista. O autor traz o debate acerca das atividades extraclasses e

também sobre as escolas anarquistas do início do século XX. Acrescento a isso, os alunos

como protagonistas de uma conjuntura que lhes diz respeito. A abordagem das aulas

extraclasses se davam tomando por base a conjuntura de um contexto operário e que deveria

ser problematizado.

As relações se entrelaçam e existe um diálogo entre o que acontece dentro da escola e

o que ocorre fora dela. Tendo em vista que se tratam de relações é fundamental trazer à tona o

sujeito que, não encarado como um mártir, mas alguém que vive e participa do cotidiano, e

portanto protagonista da história.

No contexto espanhol, podemos tomar como referência os anarquistas espanhóis que

pensavam a educação. Ainda que um processo escolar bastante racionalista e voltado para a

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ciência, progressista no sentido de pensar os alunos para além da escola, não alheios ao

contexto em que estavam inseridos. Pensar criticamente é também deslocar da currículo

oficial a ideologia nele apresentada e indagar um dado problema a partir de um ponto de vista

particular, nesse caso autônomo do Estado.

Sabe-se que a inauguração da Escola Moderna idealizada por Guardia se deu no dia 8

de setembro de 1901 em Barcelona tendo um efetivo escolar de trinta alunos, doze meninas e

dezoito meninos. Ela teve sua realização assegurada pela senhorita Meunier, uma católica

convicta, para quem religião e moral era a mesma coisa e que contribuiu com a concessão de

parte de seus bens a essa obra que para ela seria extraordinariamente transcendental.

“Enquanto lhe restavam dúvidas a respeito da religião, concordou que uma educação racional

e um ensino científico salvariam a infância do erro, dariam aos homens a bondade necessária

e reorganizariam a sociedade em conformidade com a justiça” (GUARDIA, 2014, p. 32).

Guardia se diz positivista e idealista. A ciência aparece como um sentimento universal e

humano.

Contando com forças modestas, mas com uma fé racional poderosa e com uma atividade que está muito longe de esmorecer, ainda que lhe oponham circunstâncias adversas de todo tipo, foi constituída a Escola Moderna. Seu propósito é contribuir corretamente, sem complacência com os métodos tradicionais, com o ensino pedagógico baseado nas ciências naturais. Esse método novo, porém unicamente real e positivo, se espalhou por todos os âmbitos do mundo civilizado, e conta com inúmeros operários, superiores de inteligência e abnegados de vontade (GUARDIA, 2014, p. 42).

Essa maneira libertária de conceber a educação aparece em contraposição a uma

pedagogia considerada por Guardia (2014) como medieval, subjetiva e dogmática. Para o

autor, a ciência tem de atingir a todas as camadas sociais, não só aos privilegiados. Ressalta a

importância de um novo método baseado no ensino pedagógico das ciências naturais. No

entanto, não se trata de abandonar a criança para formar conceitos por conta própria senão de

uma educação receptiva para a primeira idade em conformidade com o desenvolvimento da

criança: “O professor semeia as sementes das ideias, e estas, quando com a idade o cérebro se

vigora, então geram a flor e o fruto correspondentes, em consonância com o grau de iniciativa

e com a fisionomia característica da inteligência do educando” (GUARDIA, 2014, p. 43).

Desse modo, a influência da prática anarquista em relação ao estudo do meio deve ser

considerada, pois trouxe o registro de etapas apresentadas no roteiro e o integrou ao currículo

da escola de maneira distinta. A partir de um olhar racionalista e, em contrapartida ao ensino

escolástico, as escolas anarquistas buscavam a observação e o registro. Essas ações, passo a

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passo, tornaram-se parte do currículo libertário. Como bem a expressa Lopes (2004, p. 29-

30):

A Escola Moderna de Barcelona propunha o vanguardismo da educação libertária, com uma proposta pedagógica que lidava com atividades extramuros da escola. Gonçalves (2009, pp. 46-47) explica que atividades extracurriculares eram consideradas visitas a fábricas, museus, etc., e a correspondência escolar entre alunos de diferentes escolas. As visitas constituíam assuntos de debates entre professores e alunos, que eram incentivados a dar opiniões e refletir sobre o que foi dito através do exercício escrito de uma redação, que poderia ser publicada no Boletim da escola ou ainda ser usada como tema a ser discutido ao trocar a correspondência com outro aluno.

Não por menos, no Brasil também houve a idealização e a concretização de escolas

que tinham os pressupostos libertários apresentados por Guardia. A principal preocupação das

escolas modernas não estava voltada para a formação de um cidadão da democracia,

integrante da nação brasileira; ainda que inseridas num contexto nacionalista do início do

século XX, essas escolas buscavam formar um homem livre, que pudesse atuar socialmente.

No seu programa, aparecia o estudo do meio vinculado a um trabalho a ser realizado fora da

escola por meio da observação e do relatório, metodologia adotada em escolas voltadas para o

ensino intuitivo. Portanto,

O campo é entendido como meio para o trabalho de observação, o que estava muito de acordo com o método intuitivo de Pestalozzi da época, e, por meio da sua análise, a moderação entre professor e seus alunos se estabelece de maneira discursiva e explicativa (LOPES, 2014, p.24).

O trabalho de campo tendo em vista a educação dos sentidos e as metodologias que se

davam a partir das ideias de Pestalozzi acabou sendo incorporado às práticas pedagógicas da

Escola Nova. De acordo com Lopes (2014), essa incorporação se dá, pois a concepção de que

a criança deveria aprender vivendo a experiência está de acordo com os pressupostos

escolanovistas. No entanto, o campo acabou tendo um papel bem semelhante ao que se faria

na sala de aula, pois se retiravam da escola para ter aulas expositivas no mesmo formato,

apenas se mudava de ambiente. Houve uma grande influência do método intuitivo nesse

período e, por isso, muitas vezes o denominado “passeio escolar” acontecia como uma aula

expositiva ao ar livre, uma educação vinculada às ciências naturais e aos sentidos que é

retomada na década de 1960 pelos GVs. De acordo com Guardia (2014, p. 93):

Toda a história da ciência moderna comparada com a escolástica da Idade Média pode ser resumida em uma palavra: volta à natureza. Para aprender, tratemos antes de compreender. Em vez de raciocinar sobre o inconcebível, comecemos por ver, por observar e estudar o que se encontra à nossa vista, ao alcance de nossos sentidos e de nossa experimentação. Sobretudo em geografia, ou seja, precisamente no estudo da natureza terrestre, convém proceder pela visão, pela observação direta desta Terra que nos fez nascer e

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que nos dá o pão que nos alimenta; mas o ensino da geografia, como vem sendo continuado ainda em nossas escolas, leva a marca de tempos escolásticos: o professor pede ao aluno um ato de fé, pronunciado ainda em termos cujo sentido não domina; recita de cor os nomes dos cinco rios da França, três cabos, de dois golfos e de um estreito, sem referir estes nomes a nenhuma realidade precisa.

A despeito da crítica Guardia à educação escolástica vinculada à Igreja e ao ensino dos

livros, o autor sinaliza para o ensino pelos sentidos e pela experimentação. Entretanto, ao

ressaltar principalmente o estudo em geografia, define prioridades das disciplinas no “estudo

do meio” anarquista, afastando-se da concepção interdisciplinar aborda por Lopes e

Pontuschka (2010, p. 173):

Um método de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para alunos e professores o contato direto com determinada realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se decida estudar. Esta atividade pedagógica se concretiza pela imersão orientada na complexidade de um determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente com o mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos conhecimentos. Entende-se que a realização dos Estudos do Meio, em todos os níveis de ensino, mas particularmente na educação básica, pode tornar mais significativo o processo de ensino e aprendizagem e proporcionar aos seus atores o desenvolvimento de um olhar crítico e investigativo sobre a naturalidade do viver social. Trata-se de verificar a pertinência e a relevância dos diversos conhecimentos selecionados para serem ensinados no currículo escolar e, ao mesmo tempo, lançar-se à possibilidade da produção de novos conhecimentos, a elaboração contínua do currículo escolar.

Em contrapartida, no denominado “passeio escolar” que foi adotado em algumas

escolas a partir da influência da educação dos sentidos, o campo era usado para a aula

expositiva. Não existia o caráter interdisciplinar a priori e também a concepção de ensino de

História não possibilitava o questionamento por parte dos alunos, senão ainda a memorização

agora ilustrada também exteriormente (LOPES, 2014).

Em sua pesquisa, SYDOW (2012) enfatiza , a partir do Regimento Interno dos

Vocacionais, que o estudo do meio não se confunde com passeio ou excursão, mas que esse

tipo de atividade coloca o estudante na realidade e deve “proporcionar técnicas de trabalho e

estudo que favoreçam o desenvolvimento pleno da maturidade intelectual do estudante”.

Neste mesmo ínterim Albergaria (2004) destaca a discussão sobre o estudo do meio

enquanto método e prática de interdisciplinaridade trazendo a crítica de Ponthuska (1994) em

relação a Nidelcoff (1979), que considera o estudo do meio uma técnica. Ponthuska

demonstra os valores formativos e informativos do estudo do meio, bem como a dimensão

investigativa para conceituá-lo como método de ensino. A interdisciplinaridade, através de um

estudo do meio em que as disciplinas são integradas, pressupõe, hipoteticamente, a ideia de

método porque graças a técnicas distintas os alunos irão buscar responder a um problema ou

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indagações. Albergaria também argumenta que estudo do meio é um método ou técnica que

ajuda na formação da ideia de natureza nos alunos e promove a integração das disciplinas.

Posteriormente estabelece duas categorias de análise: relação homem-meio que traz à tona a

relação professor e aluno no processo de investigação do meio e da natureza humanizada. Nas

palavras da autora:

A literatura sobre os ginásios vocacionais permite compreender que há certa repetição de argumentos no que diz respeito ao surgimento, à influência pedagógica do Centre International d’Études Pédagogiques de Sèvres e das classes experimentais do Instituo Estadual de Educação “Narciso Pieroni” (Socorro/SP), à coordenação do SEV e à liderança de Maria Nilde Mascellani (ALBERGARIA, 2004, p.29).

De acordo com Faria (1973), autor analisado por Albergaria, as escolas secundárias

experimentais: “Oswaldo Aranha”, “Embaixador Macedo Soares”, “Chanceler Raul

Fernandes”, “Cândido Portinari”, “João XXIII”, Ginásio Estadual Pluricurricular I integrado

oficialmente em 1970 ao grupo escolar “Dr. Edmundo de Carvalho” e o Colégio de Aplicação

“Fidelino Figueiredo” da USP produziram um trabalho pedagógico renovado no campo da

metodologia didática, embora em determinadas condições que se afastavam das encontradas

no contexto escolar comum. Conforme esclarece:

O artigo de Balzan et. al (1969), elaborado por três professores da área de Estudos Sociais e uma orientadora pedagógica dos ginásios vocacionais, expõe o estudo do meio como a técnica mais adequada para atender os objetivos dos GEVs e descreve algumas qualidades dessa técnica. Demonstra que o estudo do meio pode oferecer o entendimento do mundo a partir da própria Escola, a Comunidade, o Estado, o País e o Mundo no decorrer das séries do curso ginasial, proporcionando atividades de contato direto com a realidade por meio de uma experiência vivida e não livresca. (ALBERGARIA, 2004, p.31).

A proposição de que a escola deva ter como base os interesses da criança e a

experiência do aluno na comunidade da qual faz parte é expressa em sua forma mais radical e

sistematizada na obra de John Dewey (1859-1952), influência decisiva no pensamento

pedagógico do século XX (VALDEMARIN, 2010). No que tange às diferenças internas dos

ginásios vocacionais, Balzan ao entender o estudo do meio como técnica, vai ao encontro com

as ideias de Mascellani corroborando com a noção de divergências internas nos vocacionais.

Albergaria (2004) parece tratar de uma memória idealizada dos vocacionais. Havia um

currículo integrado, porém a autora desconsidera a atuação dos docentes e os contextos

específicos, o que é possível notar no trabalho de Lopes (2014). Na exposição apresentada por

Lopes (2014), o professor aparece como protagonista atuante político e produtor de novos

saberes e não apenas como um reprodutor de programas educacionais provenientes de uma

elite intelectual e de anseios do Estado. Há, nessa análise, a presença do protagonismo

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docente e a consideração de modelos pedagógicos em diferentes países e momentos da

história. Esse protagonismo docente também emerge no que tange aos vocacionais.

À medida que se dá voz para se pensar em propostas a partir do que as crianças sabem

sobre o mundo, ou melhor, levando em consideração os seus conhecimentos prévios, há uma

produção coletiva e se desloca, no que diz respeito aos vocacionais, a verticalização das

relações. O poder é distribuído de maneira horizontal e ganha força o trabalho em conjunto.

Tanto professor quanto alunos são protagonistas e é possível que as práticas cotidianas

escolares aconteçam de maneira a existir uma construção conjunta de conhecimento e não a

uma imposição. Não se trata de ensinar como ser, estar e fazer; senão de trabalhar em uma

relação onde se pode ser, estar e fazer.

Lopes (2014) se aproxima de Chiozzini (2014) ao que concerne o core curriculum, às

mudanças curriculares dos ginásios vocacionais de São Paulo, as quais revelam a alteração da

“integração social” ao “engajamento pela transformação”, assim conscientizar em 1968 é

diferente de conscientizar nos anos 1950. A ideia de transformação social aparece de maneiras

distintas de acordo com o contexto. O estudo do meio surge no viés escolanovista e vai

“ganhando” caráter mais questionador. Em um primeiro momento está atrelado a uma ideia de

transformação e, depois, com influências do Movimento de Educação de Base (MEB) e

inserido no contexto da Ditadura militar o sentido político vai adquirindo maior relevância.

Chiozzini (2014) analisa historicamente o currículo e opta por investigar documentos

produzidos pelo Serviço Educacional Vocacional, o que seria o “terreno elevado” de Goodson

e busca adentrar na discussão dos ginásios vocacionais aprofundando a compreensão do

universo cultural da época e a relação com a produção dos documentos analisados, bem como

com a proposta educacional em questão. No caso, esses documentos pareciam voltados para a

orientação do trabalho prático ou administrativo a ser desenvolvido nas unidades.

Nos documentos, tal qual em artigo citado por Balzan (1987), o estudo do meio é

anunciado como técnica, mas não no sentido instrumental por causa do trabalho prescritivo.

E, mais uma vez, parece necessário olhar para a concepção de educação que está por trás de

tal prática educativa, mais do que para o próprio termo:

Na gravação de uma das fitas cassetes estão as comunicações feitas pelos educadores Newton Balzan, supervisor de Estudos Sociais, e Sinclayr Luis, supervisor de Práticas Comerciais. O primeiro destaque está relacionado à área de Estudos Sociais e à realização de Estudos do Meio (CHIOZZINI, 2014, p 181)

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Chiozzini (2014) também apresenta uma discussão entre Mascellani, Bechara e Balzan

em que Mascellani mostra sua preocupação em relação ao estudo do meio estar se tornando

uma excursão por conta de falta de proposição. Olga Bechara atenta para o fato da visão de

“homem e de realidade” estar fraca ou falha. Desta forma, os três autores abordam a formação

dos professores e da concepção de estudo do meio. Todavia, não há consenso quanto à

fragmentação interna dos ginásios vocacionais.

Entretanto, em um momento, essa mobilização se dá ainda com um currículo voltado

primeiro para as disciplinas. Em 1960, é possível notar, no Brasil, a influência do teórico

Tyler e também da psicologia à medida que é possível observar um modelo técnico linear no

documento curricular do vocacional analisado por Chiozzini (2014). Ao longo desse período,

no entanto, houve uma contraposição direta à concepção pragmática de core curriculum, o

que também representou uma mudança em relação aos referenciais teóricos iniciais dos

vocacionais para o referencial liberal pragmatista. Posteriormente, em um currículo voltado

primeiro para a experiência, pelos fenômenos sociais e necessidades dos alunos.

A noção de currículo na pedagogia de Mascellani (apud SYDOW, 2012), mais ligado

ao escolanovismo, inicialmente sofreu uma modificação em direção a uma importância

predominante da sociologia e da pedagogia social. O ano de 1967 é marcado pela influência

de teorias mais conservadoras ligadas aos movimentos católicos de esquerda, sobretudo do

existencialismo cristão. Nesse sentido, Lopes (2014) retoma a escolas anarquistas do começo

do século XX, pois essas tinham objetivos políticos contextualizados de acordo com a

proposta libertária alocada para a ação e a um ensino racional voltado para as ciências

naturais, ou seja, direcionado para as transformações sociais. Nessas escolas, faziam-se

excursões instrutivas. Um exemplo de excursão instrutiva era a visita a fábricas para apoiar a

crítica e consciência da luta de classes, por isso, o diálogo e o questionamento por parte do

aluno era de sua importância nessas, uma vez que vai além de ser uma atividade lúdica, pois

existe um objetivo educativo. A ação direta anarquista é possível de ser notada na prática

empírica valorizada por Guardia (2014) e a educação racional libertária também se propagou

no Brasil, junto com a mesma uma proposta inicial do que seria o estudo do meio.

Nesse item busquei trazer ao debate a Escola Nova, porém essa aparece atrelada ao

contexto liberal. Assim, pareceu necessário compor a discussão com a Escola Moderna, pois

essa também considera a experiência dos alunos ampliando o que se pode dizer sobre

criticidade e conhecimentos prévios. A escola em contrapartida ao Estado no contexto

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espanhol franquista seria um elemento para pensarmos nos vocacionais em contraposição ao

Estado no ínterim de 60 a 70 no Brasil marcado por uma ditadura. As práticas cotidianas

vinculadas a situações problema ou de perguntas que fazem sentido para o sujeito é uma

experiência marcada por agentes históricos participantes da transformação e/ou da resistência

que se dá nas relações cotidianas. Educar é, mais do que tudo, educar nas relações. As pessoas

são formadas para a vida, deve se levar em conta o subjetivo e as condições objetivas em que

estão inseridas.

1.2 O CARÁTER CONCEITUAL E HISTÓRICO DO ESTUDO DO MEIO

No intuito de delinear o que venha ser um estudo do meio recorreu-se ao levantamento

bibliográfico para fornecer elementos conceituais que pudessem fornecer informações sobre

esse objeto de estudo. Deste modo, destacam-se, a seguir, algumas das considerações

localizadas. Cumpre mencionar, optou-se por enfatizar as funcionalidades aplicadas a este

tipo de atividade, sem necessariamente resvalar na constituição única de uma definição, ou

seja, não se encontra no presente a expressão “estudo do meio é”, pois, com base nos textos

localizados percebeu-se que não há uma definição a priori quanto ao que é o estudo do meio,

todavia uma gama de possibilidades é apresentada pelos estudiosos do assunto. Entende-se

que o objetivo primário desta investigação não é fornecer uma definição, mas sim, explorar o

tema.

Segundo Ponthuska e Lopes (2010) as metodologias denominadas “estudo do meio”

levam em consideração o caráter contextual da prática educativa e trazem à tona a relevância

destas na estruturação e na constituição do currículo de uma cultura escolar própria. O estudo

do meio favorece a autonomia dos professores e da instituição escolar. Não se trata de

qualquer experiência fora da escola, mas de uma experiência vinculada à ideia de aprender

com a realidade.

Para Albergaria (2004), “estudos do meio” e “trabalho de campo” possuem finalidades

que refletem concomitantemente valores formativos e investigativos, ou seja, são usadas

terminologias distintas para atividades educacionais de mesma natureza. Outros autores nem

trazem ao debate a terminologia. Como não pretendo me alongar nessa discussão, também

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não irei fazer distinção entre os termos, pois esta não será uma preocupação ao tratar dos

ginásios vocacionais (em todos foi adotada a expressão “estudo do meio”) para essa prática

interdisciplinar1. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na maior parte das pesquisas, a

terminologia utilizada é “estudo do meio” para designar a metodologia presente em algumas

instituições, especialmente, desde os anos 1960.

De acordo com Bittencourt (2003), o estudo do meio é um método de investigação

cujos procedimentos se devem ater a dois aspectos iniciais. O primeiro deles é que esse é um

método e é parte de um processo, não um fim em si mesmo. O segundo é que a sua realização

resulta sempre de um projeto de estudo que integra o plano curricular da escola. Ao

pensarmos em “estudo do meio”, devemos levar em consideração o aprofundamento de

conteúdos, a socialização dos alunos e a formação intelectual. Para estruturar essa tarefa,

Bittencourt (2003) propõe uma metodologia, uma sequência de ações logicamente

estruturadas: promover situações que conduzam os alunos a problematizar a realidade;

estabelecer estratégias para a coleta e a análise dos dados coletados dessa realidade e conduzir

o aluno a desenvolver ações de intervenção no contexto social estudado.

A metodologia apontada pela autora aparece repetitivamente nos slides relativos ao

estudo do meio realizado nos ginásios vocacionais e cabe destacar o protagonismo do

educador e do educando, esses são agentes históricos, pois através de uma prática voltada para

a experiência, o educador não aplica um método nem considera o educando uma tábula rasa,

senão ambos participam do processo de produção de uma cultura escolar própria reiterando o

caráter histórico do estudo do meio.

Por sua vez, Sandra Lestinge e Marcos Sorrentino (2008) buscam, por exemplo,

contextualizar o “estudo do meio” em uma sociedade que vive a crise da percepção

valorizando-o como recurso didático. O estudo do meio aparece numa perspectiva de

contribuir para o reconhecimento da realidade via reflexão e conhecimento, pois desperta

sensações e sentimentos no sentido de potencializar ações em melhoria da qualidade de vida.

Segundo os autores, provoca autoconhecimento a partir de objetos vistos em um tempo que

parece apressado pela sociedade de consumo.

                                                            1 Segundo Chiozzini (2010), embora Piaget tenha consolidado o uso dos conceitos de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na educação básica somente no final da década de 1970, é na obra Problemas gerais da investigação interdisciplinar e mecanismos comuns (1970) que, ao analisar comparativamente os processos investigativos das ciências naturais e sociais, o autor faz uma defesa da abordagem conceitual interdisciplinar ao objeto de pesquisa.

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Ao colocar em pauta o termo “crise da percepção” ou desconexão com a realidade

espaço-temporal (CAPRA, 1996), no âmbito discursivo, é possível partir do pressuposto de

que autores como Lestinge e Sorrentino (2008) retomam ideias da “lição das coisas” do

século XIX, uma vez que enfatizam a importância da experiência vivida. Nesse caso, o

“estudo do meio” aparece como recurso pedagógico, ou metodologia, no que concerne ao

tema do meio ambiente, porém desprovido de sua historicidade.

No entanto, em relação ao estudo do meio, para além do caráter histórico apresentado

no que diz respeito aos ginásios vocacionais, Balzan (1987) criticava a maneira como era

realizado o trabalho. Maria Nilde Mascellani (2010) acreditava que estava caminhando para

uma excursão. Olga Bechara (apud CHIOZZINI, 2014) apontava para uma falha sobre a

“visão de homem e da realidade”, sobretudo por ser um trabalho financeiramente de alto

custo. Ângelo Schoenacker (apud CHIOZZINI, 2014) acreditava que o problema é que estava

em termos de local e não em termos de objetivo.

Além disso, verificou-se que há outras correntes e tendências de produção relativas ao

tema. Há uma vertente bastante vinculada ao desenvolvimento sustentável. A temática

ambiental tem sido uma constante na educação desde a década de 1970. Muitos desses

trabalhos trazem à tona a importância do “estudo do meio” e do “trabalho de campo”, no

sentido de uma metodologia inserida no currículo escolar, para uma ação transformadora

frente aos problemas ambientais que vivenciamos devido à maneira que o ser humano se

relacionou e vem se relacionando com a natureza ao longo dos tempos.

Entretanto, no contexto contemporâneo, a bibliografia sobre o “estudo do meio” está

muito ligada à proposição de que a escola deve estar atenta ao concreto da sala de aula, de que

as metodologias de ensino são importantes para o planejamento de ensino. Pensar sobre a

ação pedagógica é um movimento da escola do século XXI – assim como o era nos Ginásios

Vocacionais. Esse é outro tema abordado nos trabalhos encontrados: a reflexão do professor

acerca de seu trabalho.

Quanto às origens do “estudo do meio” como prática educacional, no Brasil,

identificou-se que a mesma remonta ao período de disseminação da Escola Nova, sobretudo

entre os anos 1920 e 1930 (VALDEMARIN, 2010). As ideias foram fortemente marcadas

pelo ideário da Escola Nova e esta se apoiou na Educação Progressiva de John Dewey, mas há

marcas da Escola Moderna anarquista que também devem ser ressaltadas porque

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distanciando-se do liberalismo, procuram dar ênfase à criticidade em relação à conjuntura de

um contexto histórico específico no sentido de ação e transformação.

Segundo Valdemarin (2010), no Brasil, o estudo do meio se tornou notável no

contexto de meados da década de 60, com os ginásios vocacionais. Os trabalhos de padre

Faure e madame Hautanguis divulgados no final da década de 1950 serviram de inspiração

dos ginásios em contrapartida ao ensino tecnicista em voga nesse período desenvolvimentista

e de industrialização crescente na conjuntura brasileira.

A busca por uma “aprendizagem mais próxima da vida” ou com contato mais direto

com a realidade estudada também foi empregada em escolas anarquistas desde o início do

século XX, apoiadas nas ideias de Guardia (2014) e Dewey (2011) também foram influências

para o “aprender fazendo” que se espraiou na mentalidade educacional no contexto

escolanovista. No entanto, no caso brasileiro, a disseminação do estudo do meio foi

impulsionada nos anos 1960, por meio de currículos especiais, quando algumas escolas

puderam trabalhar de maneira mais autônoma2.

A concepção de escola como miniatura da sociedade, que se tornaria uma palavra de ordem do movimento da educação renovada, é aqui apresentada com definições bastante claras: trata-se de integrar a escola à sociedade, introduzindo a relação ativa com o conhecimento, própria das ocupações sociais colaborativas, como método escolar (VALDEMARIN. 2010, p. 35).

Nesse contexto, de maior autonomia ao ensino secundário, tem-se o surgimento dos

ginásios estaduais vocacionais no início da década de 60, descritos no próximo item. No

entanto, logo em seguida foi promulgado o Ato Institucional (AI-5) e, no governo de Costa e

Silva, com as restrições impostas pela ditadura vivida no Brasil, essas escolas que também

viviam crises internas, foram fechadas e boa parte da liderança foi aprisionada; portanto,

houve o fim de uma experiência educacional significativa tanto conjuntural quanto

estruturalmente.

1.3 OS GINÁSIOS VOCACIONAIS E O CURRÍCULO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A

DISCUSSÃO ENTRE CULTURA ESCOLAR E CULTURA DA ESCOLA

                                                            2 Em 11 de junho de 1959 foi publicado o Decreto nº 35.609 que autorizaria o funcionamento das classes experimentais em todo o país e em 25 de julho, no Ato nº 41, o secretário da Educação do estado autorizaria o funcionamento da classe experimental de Socorro. Dessa forma, são inauguradas a partir dos pareceres nº 31/58 do Conselho Nacional da Educação e nº 78/58 da Consultoria Jurídica do Ministério, as Classes Experimentais que, por meio, de novos métodos trariam uma nova concepção de currículo.

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Os ginásios estaduais vocacionais, que existiram de 1961 a 1970 no estado de São

Paulo, tiveram unidades instaladas em Batatais (Ginásio Vocacional Cândido Portinari), Rio

Claro (Ginásio Chanceler Raul Fernandes), Americana (Ginásio Vocacional João XXIII), São

Paulo (Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha), Barretos (Ginásio Vocacional Macedo Soares)

e, depois, em São Caetano do Sul. (MASCELLANI, 2010) Trata-se de uma experiência

educacional colocada em prática via um Projeto de Lei que reestruturava o sistema de ensino

industrial e de economia doméstica do estado, por meio do Decreto 38.643, de 27 de junho de

1961 que regulamentava a Lei 6.052, de 03 de fevereiro do mesmo ano.

Essa forma de ensino surgiu nos anos 60, depois de três anos de funcionamento das

Classes experimentais, quando o Secretário de Estadual de Educação visitou a cidade de

Socorro, por sugestão do Padre Leonel Corbeil, membro da direção da Associação de

Educadores Católicos. Vendo como essas classes experimentais se desenvolviam, pareceu

interessante não limitá-las à cidade de Socorro. Somando isso ao modelo inglês da Escola

Compreensiva e a artigos que permitiram uma base legal para a experiência de renovação do

ensino secundário foi possível iniciar o projeto educacional vocacional.

No decreto foi inserido um capítulo para possibilitar a criação dos ginásios que viriam a funcionar inspirados na pedagogia das Classes Experimentais de Socorro. A denominação Cursos Vocacionais correspondia ao ensino técnico, significando cursos de treinamento para o desenvolvimento de habilidades manuais ou mecânicas. Pelo mesmo decreto foi criado o Serviço de Ensino Vocacional, órgão destinado a planejar, orientar e avaliar essa nova modalidade de ensino, bem como desenvolver programas de capacitação e estágio para o magistério e estudantes universitários. De acordo com o decreto, os Ginásios Vocacionais poderiam funcionar de forma independente ou integrados às Escolas Profissionais (MASCELLANI, 2010, p.89)

Para a instalação de cada uma das unidades se investigava a composição social básica

da cidade e sua influência sobre os interesses educacionais da população. Em relação ao

currículo era feito um levantamento das condições de vida, características culturais e

socioeconômicas das áreas em função das necessidades dos ginásios vocacionais. Mais que

isso, as cidades possuíam claramente enfoques econômicos distintos para que, assim,

pudessem dar corpo a um projeto educacional subordinado ao órgão denominado Serviço de

Ensino Vocacional (SEV)3.

Com relação aos Ginásios diurnos de tempo integral da capital, Americana, Rio Claro, Batatais e Barretos, foram feitas sondagens iniciais para avaliação de expectativas, aspirações, valores e comportamento das famílias dos jovens. Essas sondagens iniciais tomavam como ponto de partida os grupos escolares mais

                                                            3 O SEV foi criado a partir do Artigo 302 do Decreto 38.643, de 27 de junho de 1961 teria como função coordenar as unidades de ensino.

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próximos do Ginásio Vocacional. Aí, eram sorteados os alunos, possibilitando a chamada dos pais. Nestas mesmas unidades após dois anos de funcionamento, foi feita nova sondagem, desta vez para avaliação de receptividade do currículo por parte de alunos e pais. Neste caso, porém, a sondagem foi feita entre os pais que efetivamente tinham os filhos frequentando o Ginásio Vocacional (MASCELLANI, 2010, p.91)

Existia a ideia de conhecer o público e também a partir da análise de dados fazer a

formulação de objetivos gerais e específicos, ou seja, havia a preocupação com o

planejamento do currículo. Cada cidade escolhida, para que houvesse uma unidade do

vocacional, deveria ter um foco econômico específico e, portanto, a sua especificidade. Nesse

sentido, para Balzan (1973), o planejamento do currículo se dava a partir do conhecimento de

uma série de dados sobre a “clientela” e a comunidade onde seria instalado”.

Ainda que subordinado a um órgão centralizador, o SEV, as unidades poderiam

flexibilizar os currículos e os projetos de acordo com o que fosse específico do contexto ou

que pudesse ser problematizado com os alunos e a comunidade.

É possível considerar os ginásios vocacionais historicamente num dado espaço e tempo e, por isso, em nível microeducacional, porém também como experiências, que, examinadas em profundidade, permitem-nos caracterizar como verdadeiro sistema, dentro da estrutura vigente da época. Alguns pontos destacados para tratar desse “agir de modo sistematizado” são: tomar consciência da situação; captar os casos problemas; refletir sobre eles; formulá-los em termos de objetivos realizáveis; organizar meios para atingir aos objetivos propostos; intervir na situação, pondo em marcha os meios referidos; manter ininterrupto o movimento dialético ação-reflexão-ação (BALZAN, 1973).

Ao contradizer a crítica que coloca os vocacionais no mesmo plano da Escola Nova

caracterizando-a, e, portanto, também projeto educacional dos vocacionais como um exemplo

de escola nova brasileira do ponto de vista negativo dessa enquanto secundarizadora de

conteúdos em função de metodologias ativas ou responsável pela confusão entre ensino e

pesquisa ou mesmo voltada para aprimorar o ensino da elite (SAVIANI, 1995). Considerados

tais aspectos volta-se para a ideia de experiência educacional para a qual se atribui o caráter

de sistema que não acidental, senão essencial. A história dessa experiência é relevante para a

educação e para os estudos historiográficos. Uma vez que se desenrolou no contexto dos anos

60 e, mais do que reproduzir uma cultura da escola vigente também produziu na prática

cotidiana uma cultura escolar própria dos vocacionais.

As unidades educacionais coordenadas pelo SEV possuíam especificidades e, em

paralelo, pontos comuns que deveriam ser trabalhados ao longo do ano. Em relação ao

currículo, há a partir da concepção de educação e de homem, a seleção, construção e

desconstrução de saberes. Não havia, desse modo, uma concepção fechada de currículo para

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os vocacionais, tanto que as discussões do SEV, tal qual a apresentada sobre o estudo do

meio, se davam avaliando as atividades desenvolvidas pelos professores e os problemas que

existiam nas unidades. Entretanto, não se chegava a um consenso sobre os temas debatidos.

Assim, é necessário ter em vista elementos estruturais da escola e também elementos próprios

das práticas cotidianas, fortemente, atrelados à conjuntura da escola. Por sua vez,

[...] encontram semelhança com que Forquin (1993) denomina “cultura da escola e cultura escolar”. O autor aponta como “cultura da escola” aquela que se dá na correlação com a cultura de outros espaços, possuindo seus próprios ritmos e ritos, linguagem e modo de gestão de símbolos. Já a “cultura escolar” está relacionada aos processos de construção e reconstrução do no espaço escolar, de modo a compreender as práticas e tradições curriculares e suas relações cotidianas. Como a distinção entre as duas é muito sutil, o autor sugere a necessidade de um avanço na discussão da relação entre ambas para efetivamente pensar a escola como “[...] o elemento nuclear de uma cultura sui generis” (FORQUIN apud CHIOZZINI, 2014, p. 32).

Para discutir a cultura escolar como objeto histórico tomou-se por base a publicação

de Dominique Julia (2001), bem como se buscou discutir o trecho anterior de Forquin (1993

apud CHIOZZINI, 2014) objetivando trazer à luz o conceito de cultura escolar e cultura da

escola.

As relações conflituosas ou pacíficas que a cultura escolar mantém a cada período de

sua história, com o conjunto das culturas que lhe são contemporâneas (JULIA, 2001). É algo

que tem que se ter em mente ao pensá-la como objeto histórico. Mais do que reproduzir, a

escola também produz cultura. Nesse caso, intentou-se explorar o que o estudo do meio nos

ginásios vocacionais contextualizado em suas crises internas e também a sua relação com a

cultura dos anos 60 no Brasil, o que se permitiu produzir internamente em relação a suas

práticas na conjuntura e o que buscou reproduzir dentro da estrutura para além dos muros da

escola em que estava inserido.

Para ser breve, poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização) (JULIA, 2001, p.10).

O professor enquanto dispositivo pedagógico encarregado da realização, bem como os

modos de pensar e agir na sociedade devem ser levados em consideração, por isso a

relevância da narrativa de Joseangelo Pompeu que será explorada mais adiante, pois a mesma

permite observar a prática escolar do estudo do meio, bem como a discussão sobre os

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vocacionais no contexto apontado, anos 60 com o acirramento da ditadura, sem deixar de

mencionar os debates e crises internas.

Há também o texto normativo da escola e há a “resistência”, o que é feito não

utopicamente na prática. A proposta da presente investigação está relacionada ao estudo do

meio nos anos 60, quando essa metodologia estava voltada para o ensino do procedimento e

ainda à mentalidade da Escola Nova, do aprender fazendo ou a procedimentos técnicos tendo

em vista a preocupação técnica vigente.

No entanto, para além da Escola Nova e da influência norte-americana de John

Dewey, além dos franco-suíços de Sevres, no que diz respeito ao estudo do meio, cabe

destacar as escolas anarquistas do começo do século XX, as quais iniciaram à sistematização

de sua experiência pedagógica em campo. Havia a preocupação com visitas a museus e

fábricas, por exemplo. Não se trata de reduzir a ideia de estudo do meio ao aprender fazendo

escolanovista e reduzir a discussão, mas de trazer à tona outros elementos como a educação

anarquista. Colocar em pauta qual o ideário de educação e o conceito de homem e mundo

presentes na experiência vocacional, a aproxima de uma educação que não se reduz ao

aprender fazendo ou ao simples processo de ensino-aprendizagem de uma “técnica”.

Nos vocacionais buscava-se a interdisciplinaridade, mas o estudo de todas as

“matérias” acontecia a partir da disciplina de Estudos Sociais, esse era o núcleo em que se

definia o processo de ensino-aprendizagem como um todo, sobretudo em relação ao estudo do

meio. Considerado uma “técnica” pela comunidade escolar dos vocacionais, porém

contextualizando a palavra “técnica” para o que acontecia no estudo do meio, essa tinha tanto

o caráter de fim quanto o de meio de estudo.

No debate acerca da cultura escolar e da cultura da escola, muitas vezes a “técnica”

está associada a um ofício e apenas são explorados os procedimentos para uma dada

finalidade, o que reduziria a discussão sobre a “técnica” no estudo do meio. Nesse sentido, o

termo “técnica” diz respeito aos procedimentos ou conjunto desses para se chegar a um dado

resultado e, no que faz referência à escola é aprendida enquanto mais um conteúdo de estudo,

apresenta-se como um fim em si mesmo. Todavia, também pode ser ensinada como um meio

para uma dada finalidade quando somente utilizada.

Essa palavra, no entanto, não pode ser lida apenas de uma maneira, pois pode assumir

outras ideias se inserida, no âmbito da educação, em contextos escolares distintos. À medida

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que nos vocacionais não corroboram com o intuito de ensinar algum procedimento para fazer

um estudo do meio, uma vez que a técnica está vinculada a todo um processo educacional em

que se pensa o homem em constante mudança, o qual é transformado e transformado do meio

que o cerca, portanto pode ser considerado como “meio” ou parte do estudo, e não um fim em

si mesmo. Assim, a técnica também é conteúdo de estudo, mas o objetivo é outro ligado à

formação do homem. Conforme expressa Chiozzini (2014):

Nos seus oito anos de existência, as Escolas Vocacionais desenvolveram-se em termos estruturais administrativos e conceituais. Essa integração entre teoria e prática fez com que, naturalmente, o arcabouço teórico do projeto fosse se definindo e aparecessem diferentes interpretações e diferentes opiniões por parte dos indivíduos que compunham essa experiência. Mais do que isso, a história do Vocacional foi marcada por crises internas e externas que, embora tenham causado alguns problemas que serão abordados, não foram capazes de impedir o desenvolvimento dessa proposta educacional.

Considerando a proposta dos Ginásios Vocacionais, o estudo do meio poderia

contribuir com o alcance dos objetivos estabelecidos quanto à formação dos discentes, como

de demonstra no item, a seguir.

1.3.1 O estudo do meio nos Ginásios Vocacionais nos anos 60

A proposta curricular dos Ginásios Estaduais Vocacionais passou por mudanças ao

longo de sua existência por conta da própria construção da experiência e também por causa de

divergências internas na equipe do Serviço do Ensino Vocacional frente à conjuntura

histórica. Havia uma crise presente na cúpula administrativa, existia um desentendimento ao

avaliar o trabalho pedagógico e também a respeito do que seria “transformação da realidade”.

Desse modo, o currículo enquanto instrumento sistematizado e de controle, tal qual

apontado por Goodson (2001) pode ser considerado um objeto de exclusão. Por isso parece

inevitável discutir as mudanças que aconteceram no vocacional em 1968. No core curriculum,

ao invés de existir um tema central vinculado às Ciências Sociais, passa a existir uma questão

central também suscitada a partir do eixo central das Ciências Sociais, em ambos os casos

abordados por todas as áreas de conhecimento de acordo com as metologias próprias de cada

uma delas.

O processo de implementação curricular, segundo o autor, inclui uma dinâmica de

seleção, construção e desconstrução de saberes. Nela, além dos documentos escritos, devem

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ser consideradas as manifestações cotidianas ou “negociações diárias”, que envolvem um

processo de seleção e organização escolar:

Ao discutirmos a etimologia básica da palavra currículo, me remeterei ao latim currere que significa correr e se refere a uma pista de corrida (ou a um carro romano de corridas). E as implicações etimológicas nos remetem para a concepção de currículo construído socialmente e definido como um percurso a seguir ou, mais significativamente, a apresentar (GOODSON, 2001, p.61).

Em um primeiro momento, o termo currículo não entraria em conflito com o que é

conhecido como currículo prescritivo, pois Goodson (2001) o define como uma realidade. No

entanto, à medida que essa realidade é generalizada, cabe discutir se esse currículo prescrito

com padrões sequenciais prescritos e considerados como “verdadeiro” não acaba delimitando

as práticas cotidianas da escola favorecendo tanto a exclusão social (ponto que não será

estendido nessa dissertação) como também não neutraliza professores e, assim, a autonomia

das escolas.

A estrutura social de uma sociedade e a forma como a aprendizagem está estruturada [...] determinam, muito além do conteúdo real da aprendizagem como individualmente se vai aprender a pensar, e como o estoque de aprendizagens, a soma de peças separadas de habilidades e conhecimento [...] é compartilhada (MEAD apud GOODSON, 2007, p.241).

Questionar as prescrições determinadas ou um currículo prescritivo em um mundo em

mudança é algo que deve ser olhado com atenção, tendo em vista uma escolaridade que

passou a ser uma atividade de massas.

Já em 1509, em Paris, no programa de Montaign, é possível encontrar classes

divididas por níveis de complexidade crescente segundo a idade e o conhecimento; havia um

currículo prescrito sequenciado em estágios inaugurando o renascimento do sistema de

classes. Mais adiante, em 1663 em Glasgow na Escócia, o Oxford English Dictionary localiza

a primeira fonte da palavra currículo. Nesse período, Glasgow vivia um grande momento

calvinista no que diz respeito à política e à teologia. “De acordo com esta perspectiva, existe

uma relação homóloga entre currículo e disciplina; o primeiro estava para a prática educativa

calvinista como a segunda para a prática social desta corrente de pensamento” (GOODSON,

2001, p.62).

O currículo prescritivo, mais do que “reproduzir uma dada sociedade” também a

serviço de estabelecer uma relação entre controle e conhecimento. O qual deixa de considerar

o contexto em que será utilizado o conhecimento considerado relevante nele e é produzido por

acadêmicos elevando determinados conhecimentos e disciplinas à importância social. E a

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epistemologia moderna é constituída por pedagogia, currículo e avaliação em conjunto, na

qual, inclusive, o currículo acaba se confundindo com o que são as disciplinas.

O currículo como prescrição sustenta místicas importantes sobre estado, escolarização e sociedade. Mais especificamente, ele sustenta a mística de que a especialização e o controle são inerentes ao governo central, às burocracias educacionais e à comunidade universitária [...] As disciplinas escolares “tradicionais” ou os exames “acadêmicos” são parte da “gramática da escolarização”. (GOODSON, 2007, p.242).

Ao travarem diálogo com a história do currículo, e, sobretudo, com o que é concebido

como currículo prescritivo; os ginásios vocacionais trabalharam com a ideia de curriculum

core, ou seja, um currículo flexível em que as disciplinas atuavam de maneira interdisciplinar

a partir de objetivos definidos de acordo com o estudo a ser realizado em Ciências Sociais.

Parece, dessa forma, que existiram permanências e mudanças em relação ao conceito

de currículo nos ginásios vocacionais.

Dados os traços culturais da comunidade, sentimos a necessidade de garantir no currículo a valorização ostensiva da cultura geral com temas clássicos do ensino de História Geral e do Brasil. Tais temas giravam em torno de um “polo” de Cultura Geral. O outro “polo” liderava os Estudos de Comunidade – questões do município e da cidade. A ligação entre os polos se fazia pelo debate de uma grande questão. [...] Os professores deveriam discutir e organizar com os alunos uma plataforma didática ou unidade didática. Desse momento em diante, os alunos, trabalhando em grupo, eram os principais atores do processo ensino-aprendizagem. Práticas pedagógicas, como trabalho em grupo, estudo dirigido, integração de áreas curriculares e estudo do meio estiveram presentes no cotidiano dessa experiência. (MASCELLANI, 2010, p. 87-88).

Ainda quanto ao assunto Albergaria (2004, p. 82) acrescenta:

Sobre a concepção de currículo, o Regimento Interno dos Ginásios Vocacionais (1966) dispõe dos Artigos 99º e 100º, esses artigos tratam do conteúdo e do conjunto de toda a ação educativa dos ginásios vocacionais, mostram a utilização de um tema central denominado core curriculum, que visava atender a compreensão de problemas universais. O conteúdo curricular a ser trabalhado de forma integrada pelas áreas de conhecimento. As áreas de conhecimento do currículo abrangiam a formação de atitudes e o processo de integração da escola e da comunidade.

O curriculum core estava mais próximo da ideia de contextualizar, bem como decidir

e organizar coletivamente entre professores e alunos a plataforma didática do que seria

trabalhado na disciplina, porém foram mantidas as disciplinas e incluídas outras que se

mantiveram do começo ao fim no projeto educacional, conforme especifica Albergaria (2004,

p. 83):

As áreas de conhecimento dos ginásios vocacionais (Artigos 111º, 112º, 113º e 114º do Regimento Interno dos Ginásios Vocacionais, 1966) desdobravam-se nas disciplinas: Português, Matemática, Ciências, Estudos Sociais, Língua Estrangeira, Artes Industriais, Artes Plásticas, Práticas Comerciais, Práticas Agrícolas, Educação Doméstica, Educação Musical e Educação Física.

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No entanto, essas disciplinas não se justapuseram ao currículo à medida que tinham

que se flexibilizar ainda que usando metodologias específicas da área de conhecimento em

questão, precisavam responder a uma pergunta inicial.

No que diz respeito à avaliação, havia uma proposta qualitativa que levava em

consideração o aluno, seu desempenho e sua produção. Mais do que serem avaliados, os

alunos também se autoavaliavam e se avaliavam no grupo. Foram mantidos, porém, os

conceitos, depois de análise e discussão com o professor. A autoavaliação era uma etapa do

estudo do meio, embora faça parte da prática, o tema avaliação não será expandido no

presente texto. Desse modo, o mesmo foi citado para explicitar a concepção de homem e

educação presente nessa experiência educacional.

Os estudos de Cultura Geral eram feitos a partir de problemas relacionados com o polo da cultura local e trabalhados nas situações de estudo dirigido. Essa experiência permitia a aprendizagem da metodologia própria do ensino de História e desenvolvia o aprendizado de técnicas e de práticas como consultar dicionários, atlas, livros de referência, jornais e revistas. Fazíamos recortes da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), dos costumes e dos valores da Idade Média, da arte do Renascimento, dos Grandes Descobrimentos e das Revoluções, de modo a possibilitar a montagem de uma frisa histórica. Paralelamente, pesquisava-se a realidade local, a economia, a política e a cultura de Socorro. Este trabalho era feito através dos estudos do meio, de coleta de depoimentos e análise de documentos. Foi por este caminho que se chegou à grande questão: “Por que Socorro, estância hidromineral, não é considerada estância equipada? O que isto significa para o desenvolvimento de Socorro?” O desenvolvimento econômico e social do município era a questão central. Ela gerou um estudo comparativo entre Socorro, Águas de Lindoia e Serra Negra. (MASCELLANI, 2010, p. 87).

A concepção de sujeito altera-se, porque esse é considerado transformador do meio e

parte do meio em que atua. Os alunos, os professores e a comunidade escolar participam

ativamente do processo de ensino-aprendizagem contribuindo para a construção do currículo.

Ainda que seja mantido o currículo como uma ação racional educativa buscando atingir

objetivos estabelecidos, a disciplina e a avaliação criticados por Goodson (2007) quando

caracterizados de maneira prescritiva; é levado em consideração um currículo em mudança a

partir do conceito de curriculum core explicitado.

A prática do estudo do meio nos GVs estava intimamente ligada a uma perspectiva

então denominada de “integração de disciplinas” e, essa estava atrelada à ideia de

interdisciplinaridade de Jean Piaget.

Em meados da década de 70, o conceito de interdisciplinaridade foi trabalhado por

Piaget. O documento de 1968 apresenta uma mudança em relação ao currículo, o tema passa a

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ser questão ou problema a ser explorado em um dado ínterim. Influenciado pela Psicologia da

Aprendizagem, o Ginásio Vocacional transferiu o core curriculum para o que seriam as

unidades didáticas.

A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico ou gnosiológico, como a denomina Gadotti (2004), surge na segunda metade do século passado, em resposta a uma necessidade verificada principalmente nos campos das ciências humanas e da educação: superar a fragmentação e o caráter de especialização do conhecimento, causados por uma epistemologia de tendência positivista em cujas raízes estão o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade (THIESEN, 2008, P.552).

Buscando trabalhar de maneira integrada,

No campo da epistemologia, toma-se como categorias para seu estudo o conhecimento em seus aspectos de produção, reconstrução e socialização; a ciência e seus paradigmas; e o método como mediação entre o sujeito e a realidade. Pelo enfoque pedagógico, discutem-se fundamentalmente questões de natureza curricular, de ensino e de aprendizagem escolar (THIESEN, 2008, p.545).

A interdisciplinaridade surge em um contexto do pensar de maneira crítica o

positivismo nas ciências e busca retomar o que seria o caráter de totalidade do conhecimento,

portanto, tendo em vista as múltiplas determinações e mediações históricas que o compõem

delineando um problema a ser investigado.

Gadotti (1993) ressalta que atualmente, no plano teórico, se busca fundar a interdisciplinaridade na ética e na antropologia, ao mesmo tempo em que, no plano prático, surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar, sobretudo no campo do ensino e do currículo. No Brasil, o conceito de interdisciplinaridade chegou pelo estudo da obra de Georges Gusdorf e posteriormente da de Piaget. O primeiro autor influenciou o pensamento de Hilton Japiassu no campo da epistemologia e o de Ivani Fazenda no campo da educação (THIESEN, 2008, p.547).

Nesse sentido, em um primeiro momento, o estudo do meio vinculado à Piaget no que

diz respeito aos círculos concêntricos, que se dá de acordo com a idade e com a relação que

pode estabelecer entre o concreto e o abstrato, ou melhor, de um estudo que vai do mais

simples para o mais complexo no sentido de uma investigação que constrói o pensamento

operatório.

É possível observar este fato na organização, do conteúdo, dos GVS: i) na 1ª série

estudava-se a comunidade; ii) na 2ª série, o estudo era dirigido para as cidades; iii) na 3ª série

deslocava-se para fora do estado de São Paulo, pois era necessária a experiência que abrangia

a complexidade dos problemas brasileiros; iv) e, por fim, na 4ª série as unidades pedagógicas

tratavam dos problemas mundiais, poder-se-ia viajar tanto para outro país quanto na própria

comunidade com objetivos e reflexões voltados para esses temas.

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Há a possibilidade de se notar nessa organização do estudo do meio, o conhecimento

tal qual definido por Piaget como certa relação entre o sujeito e o objeto. É considerado, dessa

maneira, o processo de construção das estruturas cognitivas do sujeito conhecedor e para tal

empenho há o intercâmbio entre o mundo exterior e o indivíduo.

A segunda ideia está ligada à didática de 1960 em que predomina o uso de técnicas

pedagógicas modernas de trabalho em grupo e estudo dirigido, por exemplo, das quais o

estudo do meio fazia parte. Há uma estrutura presente quanto ao estudo do meio em que se dá

a passagem do concreto para o abstrato, do próximo para o distante, do sincrético para o

analítico alçando a síntese, do mais simples ao mais complexo vinculado à idade dos alunos.

Deste modo, então, é possível reapresentar a ideia de “círculos concêntricos” presentes

nos métodos denominados ativos, tais como: o estudo do meio. A partir do conceito de

“unidade pedagógica”, há um problema do âmbito pessoal a ser respondido e, para isso, há

problematizações menores e as crianças vão adquirindo maior independência para o trabalho

de acordo com o avanço da idade, ou seja, as atividades acompanham a maturação

biopsicomotora.

Ao tratar das considerações sobre a trajetória do ensino dos ginásios vocacionais e sua

contribuição, Albergaria (2004) sinaliza para a promoção de mudanças curriculares e

pedagógicas no contexto desenvolvimentista da década de 1960. Para tanto, traz para a análise

a Lei do ensino industrial, bem como as influências tecnicistas associadas ao movimento em

defesa do ensino secundário técnico e industrial. Concomitantemente, trazendo para o debate

a questão do sistema de ensino, a autora ressalta a importância da autonomia pedagógica e

administrativa para planejar e supervisionar as unidades educacionais por parte do SEV.

Mais especificamente, em relação aos estudos do meio dos vocacionais, Albergaria

(2004) ressalta as novidades do ensino que partia de problemas e facilitaria a integração de

conteúdos e atividades pedagógicas. No sentido da integração, privilegiou a área de Estudos

Sociais e, portanto, a integração de Geografia e História. Mais que isso, a construção coletiva

e individual por conexão entre teoria e prática da aprendizagem em um processo ligado aos

ambientes estudados, ou seja, in loco.

Portanto, a “integração de disciplinas” se dava a partir das unidades didáticas.

Questões ou problemas em torno das quais se organiza toda a experiência educacional do

aluno, em um determinado período de tempo, ou seja, o meio por meio do qual a concepção

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de core curriculum era implementada. Nota-se que a unidade didática, definida como

“questões ou problemas”, ganhou a atribuição que anteriormente (1966) era do core

curriculum. Já o core curriculum passou a ser “um conjunto de experiências proporcionadas

pela escola”, incluindo a “descoberta de determinados valores”, especialmente o

comprometimento com a “transformação social”.

Nesse período há grupo que se opõe às disciplinas, pois apoiados na “história cultural”

e no marxismo que aponta para a dialética e para os processos vividos num contexto objetivo.

Ressalta-se que não há fatos isolados, e, portanto, um mesmo tema pode ser abordado pelas

diferentes áreas do conhecimento com seus procedimentos específicos para fazê-lo.

A organização curricular por atividades e/ou Áreas de estudo, adotada oficialmente, após a implantação da reforma educacional proposta em função da Lei 5.692, provocou uma grande polêmica, tendo sido repudiada pelos educadores, de modo geral. [...] Contudo, é preciso destacar que o formato adotado oficialmente (com um único professor respondendo pelo trabalho da área) representou, a rigor, uma farsa que não tinha qualquer relação como que se fazia no Serviço Vocacional, onde a organização por áreas correspondia o trabalho de equipe: cada área significava um grupo de professores especialistas nas suas respectivas disciplinas, trabalhando de forma integrada e interdisciplinar, em tempo integral (NEVES apud CHIOZZINI, 2014, p. 142).

O estudo do meio era parte das unidades pedagógicas e se dava como intermediário

para atingir os objetivos propostos pelo Ginásio e pela área de Estudos Sociais. Os alunos

eram colocados frente à realidade local e regional mobilizando a sua capacidade de

observação e reflexão para que pudessem acomodar e depois reelaborar. Da 1ª à 4ª série do

secundário, os alunos faziam o estudo do meio nessa ordem: cidade, estado, país e mundo.

Eles visitavam as localidades de maneira concêntrica buscando aprofundar, pelo projeto da

escola, a ideia de homem e de mundo indo do menos ao mais complexo, ou melhor, de onde

há menos para onde há mais redes de relações. (BALZAN, 1973)

Como já foi abordado anteriormente, a ideia de “técnica” nos ginásios vocacionais está

atrelada não à adaptação, mas em criar condições para que o homem descubra em seu ser e

temporalidade, aprenda a atuar, transformando-se e sendo transformado pelo meio em que

vive. Como “técnica pedagógica”, o estudo do meio contribui para visão de mundo do

educando e cabe a ele a reflexão do que foi vivenciado para que possa atuar como sujeito

transformador. Série a série, ampliando o grau de abstração e complexidades das relações a

serem observadas e debatidas.

O estudo do meio nos ginásios vocacionais é uma técnica de grande importância, pois, é através dela que se leva o aluno a tomar contato com o complexo vivo, com um conjunto significativo que é o próprio meio, onde natureza e cultura se

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interpenetram. O aluno sintetiza, observa descobre. Mas o Estudo do Meio, portanto, não significa contemplar a realidade. Significa, isto sim, trazer a realidade para dentro de si – assumi-la (BALZAN et. al apud ALBERGARIA, 2004, p. 89).

Percebe-se que um dos traços fundamentais do ensino vocacional era a construção de

conhecimentos sobre a humanização e a reflexão sobre os conteúdos estudados. A partir,

então, da categoria de natureza humanizada, o estudo do meio, nesses ginásios, levava ao

reconhecimento da ação do homem sobre a natureza, do homem transformando e

reconstruindo a natureza por meio do trabalho a partir das relações culturais, políticas e

sociais estabelecidas.

Essa perspectiva, no caso brasileiro e no contexto paulista, começou a ser forjada mais

notoriamente no início do século XX. Até então havia uma concepção de ensino de História

em que se acreditava que o aprendizado ocorria por meio da leitura e da escrita, enquanto em

outras áreas do conhecimento foi introduzida a educação dos sentidos4. A educação dos

sentidos ou método intuitivo que estava ligado ao aprender fazendo, nesse contexto

republicano, apareceu como símbolo de modernização do cidadão da República. Pretendia-se

a formação de um homem voltado para a “ordem” e o “progresso”. Esse nacionalismo deveria

ser experimentado, mais do que apenas visto nos livros.

Segundo Valdemarin (2010), ao falar sobre educação dos sentidos parece relevante

retomar a análise do trabalho de Dewey, além dos anarquistas do século XIX e de Pestalozzi.

A proposição de que a escola deva ter como base os interesses da criança é expressa em sua

forma mais radical e mais sistematizada na obra de John Dewey (1859-1952), influência

decisiva no pensamento pedagógico do século XX.

Mas qual é a leitura que se faz sobre, a partir dos interesses da criança? Mais uma vez,

trata-se de aprender por meio da experimentação, contudo essa está totalmente vinculada a

uma ideia de homem e de mundo que se dá em uma conjuntura específica.

A educação está, desde o início da República até a década de 30, do século XX,

quando é possível perceber a Escola Nova, a serviço de um ideal de Estado-Nação e na

construção de uma identidade nacional brasileira, independentemente do método utilizado. O

estudo do meio aparecia na Escola Nova, voltado para a formação de um ideal “brasileiro”,

cidadão republicano; enquanto nas escolas operárias anarquistas racionalistas, em oposição, a

                                                            4 O método intuitivo se baseava na intuição pelos sentidos. Aprendia-se, então, pelo contato direto com as coisas, pela experimentação, manipulação. Esse método foi contextualizado e recontextualizado de acordo com as mentalidades e não pode ser olhado de maneira anacrônica ou reduzido a uma definição a priori.

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um sujeito que lhe era permitido olhar para a situação em que vivia e pensar sobre ela, por

exemplo: a visita às fábricas que eram realizadas com um roteiro de estudos; a intervenção se

daria mais do que no âmbito da experimentação física, senão também da intelectual. Cabe

lembrar que toma-se como referências para a discussão tanto a Escola Nova quanto a Escola

Moderna, mas há uma série de outras escolas que poderiam ter sido abordadas.

Segundo Dewey (2011), a história da teoria da educação está marcada pela oposição

entre a ideia de que educação é um processo de vencer as inclinações naturais e substitui-las

por hábitos adquiridos sob pressão externa. Assim, há a contraposição em relação à ideia que

se baseia nos dotes naturais e a de que a educação se dá de fora para dentro que vigorava e

desconsiderava os processos internos de desenvolvimento do indivíduo. Dewey (2011) propõe

uma educação pautada no tempo presente e na liberdade, e essa ideia está presente tanto no

currículo da Escola Nova voltada para a construção da nação na década de 30, enquanto os

vocacionais preocupavam-se com a formação de um sujeito transformador na década de 60.

De acordo com Dewey (2011), à imposição de cima para baixo, opõe-se a expressão e

cultivo da individualidade; à disciplina externa, opõe-se a atividade livre; a aprender por

livros e professores, aprender por experiência; à aquisição por exercício e treino de

habilidades e técnicas isoladas, a sua aquisição como meios para atingir fins que respondem a

apelos diretos e vitais do aluno; à preparação para um futuro mais ou menos remoto opõe-se

aproveitar-se ao máximo das oportunidades do presente; a fins e conhecimentos estáticos

opõe-se a tomada de contato com um mundo em mudança.

O autor (DEWEY, 2011) coloca em pauta que os princípios apresentados dependem

de interpretação ao serem levados para a prática na escola. Para o autor, a abstração não

decide como irá ser concretizada a prática. Por isso, foi adotado nas práticas de experiências

educacionais com objetivos e concepções de educação tão distintas. No vocacional, o estudo

do meio é realizado como técnica pedagógica de investigação e pesquisa para que os alunos

pudessem vivenciar na prática, o que abrange o processo de reflexão.

Dessa forma, direcionado à experiência, critica o debate da filosofia da educação que

coloca em debate apenas o abandono do velho, ou seja, da escola tradicional em contrapartida

a uma escola progressiva. Há, para ele, uma conexão orgânica entre educação e experiência

pessoal, assim, a nova filosofia da educação está comprometida com filosofia empírica e

experimental (DEWEY, 2011). Desse modo, da forma como era aplicada fazia-se possível

admitir que nem todas as experiências eram (são) genuínas e educativas.

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Depreende-se, portanto, que os termos “experiência” e “educação” não se equivalem.

Em uma sala de aula tradicional, não deixa de haver experiência. Não se trata de experiência,

mas do caráter dela: “A qualidade de qualquer experiência tem dois aspectos: o imediato de

ser agradável ou desagradável e o mediato de sua influência sobre experiências posteriores”

(DEWEY, 2011, p. 16). Não se trata de não fazer o que faz a escola tradicional, mas de

considerar a experiência do indivíduo e lembrar que nem sempre se aprende na abstração.

Nesse sentido, pensar a criança como sujeito social em contrapartida à tabula rasa e, para

tanto, fazer que ela vivencie a realidade de modo a transformá-la.

No Brasil e no mundo, em paralelo às ideias de Dewey, houve a transição de uma

tradição religiosa para a científica. A mudança de mentalidade em relação ao homem

concomitante à transição de uma cultura religiosa para laica também foi notada no campo da

educação. Nesse contexto de mudança de uma educação escolástica para uma educação dos

sentidos, consolidaram-se algumas práticas exteriores aos limites da escola, entre elas o

“estudo do meio”. Essa metodologia ganha grande destaque no país nos anos 1960 com a

criação dos ginásios vocacionais.

Dado o processo de desenvolvimento e mudança do currículo dos Ginásios

Vocacionais mencionado anteriormente, faz-se necessário compreender o sentido de tal

alteração dentro de um processo mais amplo de mudança do Ensino Secundário Brasileiro, no

qual surgem as proposições de flexibilidade curricular e de engajamento pela transformação

social.

As transformações ocorridas vieram se contrapor ao caráter livresco, verbalista e

vinculado à rotina em que se dava o ensino desde o sistema republicano. Opunham-se a uma

escola primária do Estado Novo, nas quais predominavam as imagens cívicas e se dava

prioridade aos fatos.

Nesse período havia um novo olhar para o próprio espaço escolar levando em

consideração uma nova linguagem escolar que pensava os espaços de aprendizagem como

teatros, bibliotecas, quadras entre outros em busca de atrelar a ideia de modernização

pedagógica ao avanço técnico e científico.

Ainda que a Escola Nova nas décadas de 1930 e 1940 apareça como grande referência

para as atividades de campo no contexto escolar, no que diz respeito ao método ativo, ou

melhor, para a educação como um todo, sobretudo após a Reforma Francisco Campos e a

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influência exercida pelas ideias postuladas no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de

32 e consolidadas na constituição de 34, Mascellani (2010) considera que o trabalho realizado

nos ginásios vocacionais não se caracteriza como Escola Nova. Como já foi discutido nessa

dissertação, essa se apresenta como técnica e critica quem trata os ginásios vocacionais no

sentido escolanovista de se aprender fazendo como um fazer descomprometido com a

reflexão.

O ensino de História do Brasil, ao longo de sua trajetória, sobretudo nos períodos de

ditaduras tanto a de Getúlio Vargas quanto a militar, manteve a preocupação com a

constituição de uma identidade nacional e, portanto, com atividades extraclasses voltadas para

os heróis nacionais e festas cívicas:

As aulas de História por muito tempo se enveredaram pela memorização e pelo acúmulo de conteúdos, estes muitas vezes distantes do universo dos alunos e com pouca aplicação no cotidiano (questões ainda atuais). O método intuitivo trouxe novas formas de se trabalhar a disciplina, mas, em um primeiro momento, os estudos do meio não foram aplicados em ensino de História, com exceção de visitas a espaços icônicos, muitas vezes desconexos das propostas da sala de aula. A pesquisa aponta que, ao se discutirem temas locais e regionais pelo viés historiográfico, os estudos do meio vieram à pauta dos professores de área. O movimento ocorreu, sobretudo, pelo fortalecimento dos Estudos Sociais nos anos 1960, e, após o retorno das disciplinas de História e Geografia, o que se viu foi o fortalecimento, no que concerne aos estudos do meio, de práticas assumidamente interdisciplinares (LOPES, 2014, p. 24).

A experiência vocacional se deu num contexto político, econômico e cultural que

ajuda a compreender o processo de conscientização do homem. Tendo em vista o panorama

econômico brasileiro na década de 1950, o Estado se apresenta como organizador do

desenvolvimento. O governo de Juscelino Kubitschek, em vez de dar continuidade ao

incremento aos setores de base realizados por Vargas, optou pela produção de bens de

consumo duráveis. O desenvolvimento da economia brasileira se ajustava ao novo esquema

da divisão internacional do trabalho. Nesse período houve uma grande entrada de capital

estrangeiro.

A problemática do desenvolvimento econômico permeou boa parte da produção

cultural da década de 1950. Os esforços para o entendimento da realidade brasileira

consolidaram toda uma ideologia de superação do subdesenvolvimento que apontava para a

modernização como meio para se alcançar a autodeterminação nacional. A produção do

Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), nesse sentido, procurou legitimar a ação do

Estado desenvolvimentista em nível ideológico. Concebendo a “cultura como elemento de

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transformação socioeconômica”, a matriz isebiana se difundiu e inspirou a atuação de várias

iniciativas culturais que se estenderiam até a década seguinte (PAIVA, 1986).

Em 1942, a Reforma Capanema buscou formar o cidadão brasileiro e tornar a escola

uma das instituições fundamentais para propagar o nacionalismo. Os intelectuais da educação

nesse contexto do Estado Novo no Brasil estavam alinhados ao objetivo de construir uma

identidade nacional tendo em vista um ensino patriótico. (FAZENDA, 2008) Havia, assim,

um caráter complementar do estudo do meio que só é deixado de lado com as propostas

interdisciplinares. Nas décadas de 1950 e 1960, começam as experiências de estudo do meio

que serão discutidas neste trabalho, as classes experimentais e depois os Ginásios Estaduais

Vocacionais.

Em 1959, Plínio de Arruda Sampaio passa a ser o coordenador do plano de ação do

governo de Carvalho Pinto até 1962. Trabalhando em várias áreas principalmente no que

concerne à infraestrutura urbana, Mascellani coordenava a área de Educação e, em paralelo,

era docente em Socorro. Nesse ínterim, há a mudança na legislação do ensino técnico

industrial e, dessa maneira, os ginásios foram criados com estrutura, cultura e currículo

próprios. (FAZENDA, 2008)

Como as propostas de reforma do ensino secundário envolviam a aplicação de atividades até então restritas às escolas vinculadas às Diretorias do Ensino Industrial e Agrícola e causariam grande resistência se lançadas de maneira generalizada sobre a escola secundária como um todo, a saída foi flexibilizar o currículo das mesmas para permitir a inserção de disciplinas práticas. Sendo assim, foram criadas, em 1959, as Classes Experimentais. ( NUNES apud CHIOZZINI 2014, p. 28).

Em 11 de junho de 1959 foi promulgado o Decreto n. 35.069 sancionando a instalação

e o funcionamento das classes experimentais em estabelecimentos oficiais de ensino

secundário.

Os pronunciamentos dos deputados estaduais foram bastante ilustrativos para entender o que se objetivava com a aprovação da Lei 6.052, de 3 de fevereiro de 1961, que ficou conhecida como Lei do Ensino Industrial. Além de reestruturar o ensino industrial e de economia doméstica do estado, a lei criou os Ginásios Vocacionais (CHIOZZINI, 2014, p. 21).

Conforme explicita Paiva (1986), havia um clima crescente de efervescência política

que foi propício ao surgimento do “novo” na cultura brasileira. Houve a mobilização das

culturas, o que incluía a cultura popular no sentido da transformação da sociedade. Os

movimentos de vanguarda se expandiram. Já em 60 com a indústria crescendo unilateralmente

veio à tona as contradições que se deram ao longo desse processo.

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Após mudanças políticas de 1964, houve a criação de ginásios vocacionais com uma

nova concepção de educação secundária e a incorporação de disciplinas práticas ao lado das

disciplinas de cultura geral. A política educacional posterior a 1964 lançou os ginásios

polivalentes para a manutenção do capitalismo periférico e colocou à margem a proposta de

conscientização do homem como ser histórico e produtivo. Assim, os ginásios vocacionais

apareceram como resposta diferente à dominação cultural e passaram a ser vistos como

relevantes para a preparação do indivíduo para o trabalho. Havia um impasse em relação aos

estudantes que precisavam trabalhar e acabavam deixando os estudos de lado e os setores

progressistas passaram a defender a gratuidade do ensino e a introdução das práticas de

trabalho na escola secundária.

Ampliando o debate e voltando ao currículo, ponto inovador do vocacional por sua

flexibilidade, segundo Chiozzini (2014, p. 57-58), as características da proposta curricular dos

Ginásios, podem ser resumidas da seguinte maneira:

[...] havia uma maneira muito particular de ensinar História e Geografia. Ambas as disciplinas eram integradas na área de Estudos Sociais, mantendo-se a especificidade de cada uma, com um professor de cada disciplina trabalhando juntos. Essa área tinha um papel-chave no currículo das escolas, uma vez que os Estudos Sociais se iniciavam com a equipe de planejamento realizando um estudo da comunidade onde a escola estava situada, visando selecionar temas/questões a serem abordados por todas as disciplinas de maneira integrada. Outra característica importante foi a autonomia administrativa dos Ginásios, o que possibilitou a concretização dessas proposições em uma proposta pedagógica que foi sendo aperfeiçoada e, em certo sentido, radicalizada ao longo de sua existência. Todas as unidades desenvolviam seu planejamento curricular específico e estavam subordinadas apenas ao Serviço de Ensino Vocacional (SEV), órgão que respondia diretamente ao gabinete do Secretário da Educação e era paralelo a toda estrutura burocrática da Secretaria. O SEV era composto pelos supervisores de cada uma das disciplinas e por uma equipe pedagógica, além da coordenadora geral, Maria Nilde Mascellani.

A tal “radicalização” da proposta pedagógica das escolas à qual Chiozzini (2014) faz

referência está associada a diferenças internas existentes no SEV e no corpo de professores

dos Ginásios e que, para o autor, começaram a aflorar em 1967. Esse processo é de certa

forma reconhecida por Mascellani que admite a existência de diferentes fases nesse sistema de

ensino. De acordo com transcrições de gravações em fitas cassete, cedidas por Elizabeth

Rondelli a Chiozzini, segundo Maria Nilde Mascellani foram implementadas mudanças a

partir de 1968, tais como: a criação de cursos noturnos e o fim do período integral. As

mudanças denominadas por Mascellani como “avanços” ou “desdobramentos” foram

fortemente influenciadas pela “torrente inovadora” do período (CHIOZZINI, 2014).

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No entanto, em sua tese de doutorado, Mascellani (2010) faz uma leitura mais

monolítica do processo, atribuindo a perspectiva adotada na fase anteriormente denominada

de “ascenso político” à experiência dos ginásios como um todo. Durante a existência desse

sistema educacional, de acordo com a autora, o objetivo era a renovação do ensino e a

formação de docentes em contrapartida a uma tradição disciplinar e compartimentada das

disciplinas. Em paralelo, também havia uma contraposição à ideia de currículo único. Nos

ginásios vocacionais, existia um currículo passível de transformação, no qual havia uma

pergunta inicial que era estudada por todas as áreas, sendo os conteúdos das disciplinas

trabalhados a partir desse questionamento inicial.

No trecho de um documento datado de 1967 de autoria da equipe pedagógica do

Ensino Vocacional sobre os Planos Pedagógicos e Administrativos do Ensino Público

Vocacional do Estado de São Paulo transcrito por Mascellani tem-se o que a autora

denominou como síntese do pensamento que inspirou na formulação do Ensino Público

Vocacional na década de 1960. De acordo, com o fragmento apresentado a então

coordenadora do Serviço do Ensino Vocacional traz à tona algumas das bases teórico-

filosóficas que nortearam a proposta pedagógica desenvolvida na rede pública estadual de São

Paulo de 1961 a 1969 sob o nome de Ensino Vocacional (MASCELLANI, 2010).

O excerto assinalado traz a crítica em relação a uma educação transposta de moldes

europeus sem a preocupação de contextualização à realidade brasileira, bem como uma crítica

negativa ao Manifesto dos Pioneiros de 1932 e à Escola Nova:

Porém, o movimento da Escola Nova criou um clima eufórico a princípio, e em seguida uma situação de irônica “desconfiança” cujas consequências sentimos hoje na resistência, por parte do corpo docente a uma séria elaboração de uma Educação Brasileira. Em 59, no Novo Manifesto dos Pioneiros, já encontramos uma visão mais realista, onde a Educação surge como principal preocupação, se bem que a tônica seja ainda uma teorização dos problemas (MASCELLANI, 2010, p. 68).

Em paralelo à crítica traz à tona um favorável quanto à possibilidade de debate acerca

da educação e apresenta a visão de homem e de mundo nos ginásios vocacionais a ser

discutida a partir da dialética marxista com influências de Paulo Freire e do Movimento de

Educação de Base (MEB). O homem é um ser concreto e centro do processo educativo. Ele

ultrapassa o ser natural e, como ser cultural, transforma a natureza junto a outros homens. O

trabalho situa o homem como ser histórico. Ele é condicionado pela natureza e,

transformando-a pelo trabalho, cria novas realidades. (MASCELLANI, 2010)

O momento histórico brasileiro exige uma democratização da cultura para que o nosso homem possa, através da formação de sua consciência crítica, encontrar sua

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forma original de fazer o país se desenvolver. É o momento da opção em todos os níveis. Assim, toda experiência, partindo não da doação de fórmulas prontas, mas da descoberta comum, é um dado importante para a planificação do povo brasileiro (MASCELLANI, 2010, p. 71).

Essa proposição inicial de homem e mundo apontados no documento apresentado no

livro de Mascellani (2010) gerou, naquele contexto, segundo Chiozzini (2014) a defesa de um

questionamento mais direto do regime militar, gerando subdivisões internas e opondo

subgrupos com posicionamentos internos mais moderados ou mais exaltados nos

Vocacionais. Mas qual seria a consequência desse processo na prática do estudo do meio? É

possível identificar indícios dessas crises nas fotos remanescentes do acervo do Ginásio

Vocacional João XXIII?

A autonomia e a criticidade por parte do aluno foram colocadas em pauta com as

novas concepções de educação e legislação vigente. Os novos métodos de ensino foram

oficializados e junto com eles, o estudo do meio. Um exemplo seriam as “cidades históricas”

de Congonhas do Campo ou Ouro Preto em Minas Gerais, em contrapartida à visita a uma

fábrica em Americana, todas essas estudadas nos ginásios vocacionais. A escolha do lugar já

apresenta a intenção educativa e a concepção de Historia. Junto com essa intenção voltada

para o lugar de estudo do meio escolhido é possível ressaltar também a importância da

problematização realizada a partir da escolha, mais uma vez voltando para a importância do

professor ao planejar as aulas e os questionamentos de maneira a promover a reflexão do

aluno. Se o professor atuar como um mero aplicador de conteúdos, não há reflexão porque o

lugar e a abordagem já estão dados, se o professor aparecer de maneira a significar o lugar,

então é possível que o local não seja um problema. Nesse sentido, deve ser ressalvada a

proximidade dessa proposição com a discussão “monumento-documento” de Le Goff,

historiador ligado à escola dos Annale, pois alguns lugares são e se tornam mais plausíveis

historicamente de proposta de estudo do meio que outros.

A memória coletiva e a sua forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos. [...] De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. [...] Esses materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador (LE GOFF, 2003, p. 525-526).

Desse modo, percebe-se que a seleção dos locais poderia conter em seu cerne motivos

desconhecidos por partes dos discentes, mas explicitamente claros aos docentes e/ou

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responsáveis pela organização do currículo. Depois trata-se de problematizar o lugar de

maneira a distanciá-lo da condição de “documento-monumento”.

Destarte, buscou-se delinear o objeto de estudo no intuito de demonstrar estritamente

as práticas realizadas no Vocacional investigado sem entrar no mérito quanto à delineação do

ato, ou seja, se o estudo do meio propiciava ou não a educação do sentido, tema esse que

suscita inúmeros questionamentos, os quais se fizeram presentes no decorrer da análise, pois é

permissível indagar: os estudos do meio efetuados permitiam a apropriação do conhecimento

por parte dos alunos, uma vez que os roteiros – locais a serem visitados – já estavam

previamente definidos? Não é possível saber o que há nos roteiros dos alunos e sobre o que os

professores estão falando nos slides. Mas, esta e outras inquisições ficarão para um projeto

posterior, desse modo, passa-se, a seguir, a breve exposição do referencial teórico identificado

quantos aos ginásios vocacionais.

Em suma, os dados apresentados até o momento compõem o arcabouço teórico-

histórico da presente pesquisa, os quais foram delineados de modo a favorecer a discussão dos

resultados, a saber: os registros fotográficos – do acervo pessoal do ex-professor Joseangelo

Pompeu, cedidos generosamente para elaboração desta investigação - dos estudos do meio

realizados pelos alunos do Ginásio João XXIII. Assim, o capítulo seguinte dispõe à discussão

dos resultados.

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CAPÍTULO II

A FOTOGRAFIA COMO FONTE DE ANÁLISE DO ESTUDO DO MEIO

Nesse capítulo, destacam-se algumas fotografias da caixa 1 de uma coleção de slides

cedidos por Joseangelo Pompeu, ex-professor de Práticas Comerciais do Ginásio Vocacional

de Americana, para trazer à tona um debate acerca da prática do estudo do meio que se

realizou nessa experiência focada na interdisciplinaridade, no sentido de “integração das

disciplinas”.

2.1 A FOTOGRAFIA COMO FONTE HISTÓRICA

A princípio buscou-se contextualizar historicamente o objeto deste estudo,

apresentando a conjuntura em que as fontes históricas estão inseridas. No período em questão,

existiram crises internas e a intervenção militar que marcaram o processo dessa experiência

educacional considerada inovadora pela existência de um currículo flexível.

Para proceder com a análise de dados obtidos no decorrer da pesquisa utilizou-se uma

coleção de slides cedidas pelo ex-professor Joseangelo Pompeu, doravante mencionado como

Pompeu, a coleção supracitada contém cinco caixas com registros da prática realizada no

trabalho de estudo do meio realizado pelos alunos e professores do João XXIII, porém apenas

a primeira caixa, a de inscrição número 1, possui uma sequência escrita contendo a data e

localização dos registros fotográficos, o que permitiu tomá-la como objeto histórico e fonte

primária para a pesquisa. Uma vez que as demais caixas da coleção não apresentam essas

informações. Os slides foram selecionados, um a um, tratam-se dos fragmentos de sequências

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de um dado estudo do meio, os quais permitiram realizar uma análise mais detalhada da

sequência, bem como tornou possível descrevê-la por meio dos dados registrados.

Como durante algum tempo na historiografia a imagem ficou em um segundo plano,

muitas vezes servindo como um documento complementar para a construção de uma narrativa

de cunho positivista, baseada no encadeamento factual e biográfico (LIMA; CARVALHO,

2015). Cabe salientar que o uso das fontes visuais não foi empregado como um documento

complementar do tema ginásios vocacionais, mas como uma fonte primária e um recurso

metodológico para a construção da narrativa das práticas de estudo do meio que se realizavam

no ínterim assinalado. Sabe-se que:

Toda fotografia é um resíduo do passado. Um artefato que contém em si um fragmento determinado da realidade registrado fotograficamente. Se, por um lado, este artefato nos oferece indícios quanto aos elementos constitutivos (assunto, fotógrafo, tecnologia) que lhe deram origem, por outro o registro visual nele contido reúne um inventário de informações acera daquele preciso fragmento de espaço/ tempo retratado. O artefato fotográfico, através da matéria (que lhe dá corpo) e de sua expressão (o registro visual nele contido), constitui uma fonte histórica. (KOSSOY, 2014, p. 49).

A hipótese em questão era que esse conjunto de slides pode revelar concepções e

práticas sobre o estudo do meio que acontecia no recorte temporal que vai do início da década

de 60 até os anos 70 nos GVs. Nesse sentido buscou-se um fragmento, um resíduo da prática

do estudo do meio nos vocacionais de Americana para poder tratar da experiência nesses

espaços.

Desse modo, nesse processo, há o fotógrafo que retratou com uma intenção, a

fotografia em si mesma, bem como o olhar do expectador da imagem em contextos

específicos. A discussão sobre a função social da fotografia pode contribuir com a análise das

fotos sobre o estudo do meio, bem como o resgate da memória pessoal de Pompeu sobre as

fotos auxilia na composição da narrativa com detalhes acerca da prática, datas e local de

realização. Além do material fotográfico analisado acrescentam-se os questionamentos

suscitados pela pesquisadora – efetuadas na entrevista com o ex-professor Pompeu – os quais

se centraram na prática existente dentro de uma cultura escolar que não só reproduz o que é

oficial como também produz e resiste ao cotidiano.

Se por um lado, a fotografia possui uma natureza ficcional porque cria realidades. Essa

não somente é produzida com certa finalidade e, dessa maneira, não deve ser olhada apenas

enquanto produto de um processo ou fim, mas como parte de um ciclo que é anacrônico. Na

foto há elementos estruturantes, o olhar do fotógrafo e a leitura do expectador; tudo isso

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ocorre em tempos distintos com dados subjetivos que devem ser levados em consideração.

(KOSSOY, 2014)

Em relação à natureza ficcional, há um caráter de representação que é inerente à

fotografia. Uma característica que deve ser considerada é o processo de construção de

realidades ou ficções, pois se trata de um registro que é obtido a partir de um processo de

criação tanto por parte do observador da foto quanto por parte de quem fez o registro, ou seja,

existe uma intenção ou finalidade anterior, a elaboração criativa ao longo do processo e o uso

que se faz do documento. Ela tem um papel ideológico muito vinculado à ideia de memória

que não pode ser colocado à margem. (KOSSOY, 1999)

Já sobre a natureza histórica, cabe contextualizar a imagem num contexto de produção

e também à finalidade dela. É necessário buscar elementos para a sua compreensão como

objeto de estudo e fonte histórica. Parece necessário, tendo em vista a fotografia enquanto

uma fonte histórica visual, indagar essa fonte. Ela contém o recorte espacial em um dado

momento de ocorrência ou interrupção temporal. A representação se dá a partir da realidade e

ela é o assunto representado. De acordo Kossoy (1999), a segunda realidade5.

O valor documental advém do fato que essa imagem congela uma cena e esse espaço e

tempo congelado pode ser questionada pelo pesquisador. Tendo em vista o conteúdo do

documento, a fotografia pode ser vista como fonte multidisciplinar e importante para as mais

diversas áreas do conhecimento prestando-se à recuperação de informações assim que

submetidas a um prévio exame técnico-iconográfico e interpretativo (KOSSOY, 2014).

As imagens em questão foram delimitadas para além de sua natureza ficcional, sendo

abordadas também em sua natureza histórica, uma vez que foram porque produzidas em uma

conjuntura específica - debatida no capítulo anterior - e explicitada em registro escrito com

data e local. Essas cenas, enquanto fontes históricas, também possuem um valor documental à

medida que se referem a uma experiência educacional: a do estudo do meio nos ginásios

estaduais vocacionais que abrangeu a década de 60.

                                                            5 A primeira realidade é a realidade de assunto em si. É a história particular do assunto independente da representação e diz respeito ao contexto do assunto no momento do ato do registro. Também, são as ações e técnicas usadas pelo fotógrafo que culminam com a gravação da aparência do assunto sobre um suporte fotossensível. A imagem fotográfica contém uma história oculta e interna – é a realidade interior. Ela é, por um único momento, parte da primeira realidade – o instante do registro, quando é gerada. Findo o ato, a imagem obtida já passa a ter outra realidade, a segunda realidade. (KOSSOY,2014) 

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2.1.1 Sobre a fotografia

Nos séculos XIX e XX, o advento da fotografia esteve associado a alguns usos sociais.

O retrato é um deles, no sentido da autorrepresentação social e também na construção de uma

identidade. As fotos de família produzidas em ateliês fotográficos e também os retratos como

instrumento de documentação no campo científico foram, nesses períodos, pontos

fundamentais no sentido do controle estatal por instituições.

Trazendo ao limite a discussão entre realidades e ficções, outra função social atrelada

à fotografia estaria relacionada aos objetos da natureza para a classificação de plantas e

animais, bem como imagens de paisagens. Mais uma vez, ressaltando, a natureza ficcional

que cria realidades, pois, ficções.

Boris Kossoy (1999), entre outros pesquisadores, trabalhou analisando fotos que

compuseram uma ideologia a ser representada. Essa ideologia por vezes aparece em imagens

que criam uma dada cidade ou um dado Estado nação. As imagens foram muito utilizadas, por

exemplo, na propaganda totalitarista da Alemanha e União Soviética. No Brasil, por meio das

fotos de Taunay, para construir a ideia de um país muito parecido com a Europa e, outras

vezes belo por seu exotismo, bastante romantizado.

Para o historiador que mobiliza fontes fotográficas na sua investigação sobre a sociedade, as análises raramente se restringem a uma única imagem. Trabalha-se, em geral, com séries documentais, pois só por meio da recorrência é possível aferir o alcance de determinadas soluções formais e temáticas socialmente adotadas. Em outras palavras, trata-se de identificar aqueles elementos que constituem padrões visuais em funcionamento na sociedade. Assim, diante de fontes fotográficas, o historiador não pode prescindir de métodos de análise que partam das especificidades da imagem, mas que devem alcançar sempre uma perspectiva plural, quer dizer, relacionando-a com outras. Além disso, as fontes fotográficas sozinhas não se bastam. A problemática histórica é que deve guiar a abordagem das fontes (LIMA; CARVALHO, 2015, p. 45).

Em uma sociedade de emergente industrialização, essa invenção burguesa se tornou

um grande negócio, substituindo, dessa maneira a pedra litográfica. Cada vez mais utilizada,

foi ampliando as funções sociais ao longo da história. A fotografia pode ser vista como um

monumento à medida que cria verdades ou ideologias. (KOSSOY, 1999) Em contrapartida,

pode ser analisada enquanto fonte primária por seu valor documental e por sua natureza

histórica, além de ficcional.

A memória coletiva e a sua forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos.

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De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. (LE GOFF, 2010, p. 525 grifos do autor).

Desse modo, pode ser um documento/monumento se é lido ou analisado como prova

ou testemunho de uma verdade. Pouco a pouco, a imagem foi adquirindo relevância na

historiografia enquanto documento e fonte histórica visual (LIMA e CARVALHO, 2015) pois

atua na memória e história, as palavras que devem vir justapostas.

Utilizar as fontes fotográficas para a pesquisa histórica, portanto, significa inicialmente entender que tamanha diversidade de usos gerou arquivos e coleções que podem ser encontrados não somente em instituições de guarda (arquivos, museus, bibliotecas etc), mas também nos seus locais de origem de produção ou no final do caminho de sua circulação (LIMA; CARVALHO, 2015, p. 34-35).

O contexto de produção, circulação, consumo, descarte e institucionalização deve

sempre estar associado à fotografia. Devido aos usos sociais que se deram ao longo da

história, elas se encontram em locais específicos de acordo com a finalidade, pois o texto da

imagem fotográfica é o seu modo de apropriação como artefato.

Nessa dissertação, optou-se olhar para o acervo de um ex-professor dos ginásios

vocacionais. Os slides foram feitos ou encomendados com uma finalidade, a qual não é

possível saber apenas por eles mesmos; e, em paralelo, resgatam a memória daqueles que

viveram essa experiência e contextualizam as práticas de um estudo do meio que existiu nos

vocacionais. Esse é um material que não foi guardado por um agente histórico do contexto em

questão e também é uma fonte que pode ser analisada como documento histórico porque

possui história e memória.

2.2 MAPEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS FONTES VISUAIS

À medida que a discussão bibliográfica foi avançando, uma série de fotos relativas ao

estudo do meio realizado pelo Ginásio Vocacional “João XXIII”, de Americana, foi

apresentada a pesquisadora pelo seu orientador. As fotos foram doadas a ele e faziam parte do

acervo da escola. Após o fim dos Ginásios Vocacionais, Pompeu guardou as fotos em sua

casa temendo que fossem destruídas. Em 2014, repassou as fotos para o Prof. Daniel Ferraz

Chiozzini para que servissem de fonte para possíveis pesquisas. Desse conjunto,

selecionaram-se para análise cinco caixas contendo centenas de slides, que estavam

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relativamente organizados e em melhor estado de conservação. As demais se tratavam de

fotografias convencionais e demandavam um tratamento adequado e organização para que

fossem pesquisadas.

Alguns pontos relativos ao estudo do meio realizado nos Ginásios Vocacionais

pareceram importantes de serem explorados a partir de um inventário desses slides que estão

distribuídos em cinco caixas, sendo que apenas uma delas, a caixa quatro, não trata do tema

em questão senão de eventos e atividades realizadas dentro da escola. Grande parte desses

slides não apresenta descrições mais precisas do que estava acontecendo no estudo, e, porém

se apresentam como objetos de análise enquanto fontes históricas à medida que são passíveis

de leitura e de indagação por parte do pesquisador.

No que diz respeito ao campo da historiografia, a fotografia aparecia como documento

complementar para narrativas de cunho positivista. Os documentos textuais eram

considerados como fontes com valor de prova. À fotografia cabia um papel secundário e

ilustrativo daquilo que era considerado documento. (LIMA e CARVALHO, 2015)

O “flagrante” ou recorte casual que escapou dos textos, entretanto, aparece com

Afonso Escragnolle Taunay no início do século XX, pois com uma fotografia seria possível

ter acesso ao ambiente e aos tipos humanos que frequentavam dado lugar, por exemplo.

Taunay (ano?), porém, estava restrito à noção de “reprodução” no sentido descritivo em sua

prática historiográfica porque acreditava que o documento é portador da própria história,

dessa maneira só mudando o suporte, mas mantendo o estatuto do documento textual também

porque esse só se tornava “confiável” se submetido a um texto, essa ideia se contrapõe ao

ofício do historiador (BLOCH, 2001). A medida que a fonte só se apresenta como objeto de

análise se indagada pelo historiador. Nesse caso, não é o historiador que indaga a fonte, pois

essa é a verdade.

A tendência, já nos anos 1980, é a de relativizar a noção monolítica de linguagem ou código. O esforço teórico caminha no sentido de compreender a fotografia como um conjunto variado de possíveis códigos sociais. Sua força representacional é constituída no momento da produção de sentidos e não anteriormente a ela. Assim, não se trata de entender a fotografia como uma representação que apenas “reflete” interesses estabelecidos anteriormente à prática da significação (BARTHES, 1984, p. 44).

No entanto, tendo em vista a nova história e como referência autores como Peter

Burke (2008) e Marc Bloch (2001), cabe indagar qual a especificidade da fotografia a ser

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analisada e, sendo ela mais uma fonte dentre tantas outras, trazer indagações a partir dela e

não questionar a sua veracidade, pois ela tal qual outras linguagens possui um discurso.

A partir dos anos 1990, o interesse de historiadores, antropólogos e sociólogos pela fotografia alargou-se. Concluíram os usos sociais e científicos que a fotografia vinha recebendo com os novos paradigmas das ciências humanas. Tais paradigmas colocavam a dimensão visual e material da sociedade de consumo ocidental no centro das reflexões epistemológicas. Nessa década a produção de dissertações e teses acadêmicas abordando aspectos da produção fotográfica é intensa. (LIMA; CARVALHO, 2015, p.41).

Roland Barthes publicou na década de 1970 o livro Câmara clara e nessa obra discute

a natureza da fotografia. Saussaure e Jakobson são linguistas de importante influência na

reflexão do autor, ou seja, ele parte do pressuposto da existência de um “discurso da

imagem”. Pois, “A análise semiológica oferece à fotografia um arcabouço teórico sólido que

fortalece a relação entre a imagem e a realidade que um dia esteve em frente à câmera

fotográfica” (BARTHES, 1984, p. 42).

A fotografia, a partir da abordagem semiológica, passa a ser compreendida não como

verdade, mas como marca, isto é, índice. Um índice é um tipo de signo que se define como

vestígio do objeto que lá esteve – o referente. (KOSSOY, 2014) O que distingue a fotografia

da comunidade imagens? É possível falar sobre um foto. A Fotografia sempre traz o seu

referente. Duas experiências, a do sujeito olhado e a do sujeito que olha. (KOSSOY, 2014)

De acordo com Sontag (2004), a fotografia é um modo moderno de experimentar as

coisas. Para que algo se torne real é necessário que haja imagens e esse é o registro das

aparências. É possível enfatizar, assim, a construção de identidades por meio da aparência.

Desse modo, vive-se em um eterno detalhe, porque a foto nada mais é que um fragmento ou

um relance da vida que pode ser lembrado de maneira instantânea. E o reconhecimento se dá à

medida que se olha para as fotos e, no caso da arte, nos distanciam do real. A visão e a

acumulação de fragmentos da visão nunca podem ser completadas, não existe uma foto final.

(SONTAG, 2004)

No entanto, à medida que a fotografia esvazia a experiência, ela também democratiza

a informação. Com a popularização da fotografia, essa para além tratar de retratos de família

ou de arte, começa a ser vista no campo da historiografia como uma fonte documental tal qual

o texto escrito.

Para se constituir um corpus de formas antigas de representação é necessário

classificar, no entanto a fotografia repete de maneira mecânica algo que não pode existir mais

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na existência. A fotografia não se desvincula do seu referente, ou melhor, daquele que aponta

para ela e chama atenção para algo nela. Segundo Barthes (1984), ela é invisível porque não é

ela que se vê. Fazer, suportar e olhar são três práticas ligadas à fotografia. Há um sujeito

olhado e um sujeito que olha e, por isso parece interessante acompanhar a narrativa de alguém

que pode falar sobre as fotos. Cabe, portanto, questionar a foto e, paralelamente, acompanhar

a fala do sujeito que participou do momento de sua realização.

A imagem constitui um discurso e, dessa maneira, a literalidade da fotografia é algo

cultural. O discurso fotográfico pressupõe uma comunicação e, esse enquanto linguagem pode

“conter” ideologia. Em alguns casos, é utilizado para a produção de sentidos deslocando-se da

relação entre referente e imagem.

Considerando o conceito de estudo do meio discutido no capítulo anterior e a ideia de

se indagar a fonte, buscou-se analisar as fotografias tendo em vista uma linguagem própria e

uma abordagem historiográfica que não exima o contexto e a prática de uma cultura escolar

específica, como já foi tratado na introdução.

Alguns questionamentos foram suscitados, a saber: Qual o uso social da fotografia

quanto ao estudo do meio nos Ginásios Vocacionais de Americana? O que essas fotos podem

contar sobre o trabalho realizado? O que elas podem revelar sobre a organização do trabalho e

como elas eram inseridas no estudo do meio? A função social estava vinculada ao registro?

Ela era documentada pelos alunos ou pelos professores? O que aparece reiteradamente nas

fotografias? Quem aparece nas fotografias?

Para a análise dos slides foram observadas as recomendações metodológicas de

Kossoy (2001; 2010), Leite (2001) e Souza (2002) apontados no trabalho de Omuro (2015);

também foi necessário retomar algumas especificidades da imagem a partir de Barthes (1984).

O documento fotográfico não é uma representação fiel da realidade, ainda que

represente coisas e pessoas que realmente existiram há a mediação do olhar de uma pessoa,

bem como do objeto, a câmera, que seria uma tecnologia também transpondo esse registro.

[...] deve-se analisar o documento fotográfico com o mesmo cuidado recomendado para a utilização de outras fontes históricas. É preciso considerar os fatores que envolveram a sua produção e a sua preservação. Quem produziu as fotos? Para que e para quem foram produzidas? Quais recursos técnicos foram utilizados nessas produções? Como e porque foram preservadas? Quem pode falar sobre elas? (OMURO, 2015, p.15)

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A fotografia tem um valor documental e estético, ela pode, inclusive, ser editada. Por

exemplo, as imagens sugeridas por Kossoy (2001) e Leite (2001) apresentam as pessoas como

elas visam ser apresentadas para o mundo. Existe uma discussão entre o ser e o desejo de ser

que pode ser extrapolada, mas que não será alvo desse trabalho.

A comunicação visual direta inibe a comunicação verbal, esta se torna pobre. Ao mesmo tempo, a comunicação visual não é suficiente para compreender o conteúdo. Somente aqueles que conhecem o contexto da foto podem descrever seu significado. Pode-se contar com o apoio de legendas, mas nem sempre elas existem e expressam (OMURO, 2015, p.14).

Assim parece importante resgatar a memória subjetiva de personagens que atuaram no

momento em que essas fotos foram realizadas. Nesse caso, é possível reconhecer o local em

que ocorreram as visitas de estudo do meio, entretanto não é possível saber qual a disciplina

nem quem eram as pessoas da foto. Ao ser apresentada para alguém que esteve lá ou que

viveu algo parecido, ela atua como um “disparador de memórias”.

Em relação aos slides analisados, eles foram produzidos por professores dos colégios

vocacionais, uma vez que, se tratam de fotos que foram registradas durante o estudo do meio

realizado. Eles parecem ter sido produzidos como forma de registro do estudo em alguns

momentos com o intuito de focar em algum lugar, obra ou povo indígena. Em outro sentido,

parecem registrar os procedimentos de estudo dos alunos, o passo a passo de como se deu o

trabalho. As fotos originais são procedentes de câmeras fotográficas e depois foram

arquivadas como slides. Joseangelo Pompeu foi entrevistado no sentido de atribuir sentido

qualitativo às representações fotográficas apresentadas em paralelo aos documentos e fontes

secundárias escritas sobre o estudo do meio realizado nos vocacionais nesse período.

2.2.1 Caixa 1 a 5: um Primeiro Olhar

O primeiro movimento de análise consistiu-se na elaboração de um quadro contendo

identificação e descrição sumária das imagens de todas as caixas, com exceção da de número

quatro que não dizia respeito ao estudo do meio realizado em Americana. Nesse processo,

foram identificados alguns padrões e características que serão expostos adiante. Os slides, tal

qual apresentado inicialmente, estão divididos em cinco caixas.

Referente a primeira caixa há o registro de um conjunto de anotações acerca do estudo

do meio que foi realizado pelos alunos da 2ª série (na qual se estudava o Estado) e da 3ª série

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(na qual se estudava o Brasil) do colégio vocacional de Americana João XXIII nos anos de

1964 e 1966, em conjunto com o levantamento realizado entre 1967 e 1968, o qual está

datado nos próprios slides. Todavia, do número de tombo 86 até 96 há uma sequência de 10

slides que estão datados de 1964, tendo como autor Portinari. O assunto assinalado nas fichas

é o Estudo do meio Batatais – 2ª série – Igreja. Os títulos são, nessa ordem: Sagrada Família,

Transfiguração, São Sebastião, Fuga para o Egito, Via Sacra, Via Sacra, Via Sacra, Via Sacra,

Via Sacra, Via Sacra e Altar mor.

Todas essas obras, que foram tiradas em forma de retrato, são do acervo sacro de

Cândido Portinari (1903-1962) e podem ser encontradas na matriz do Senhor de Bom Jesus da

Cana Verde que foi criada em 1815 e depois foi reformada em 1928 em estilo neoclássico na

atual região de Batatais em Ribeirão Preto em São Paulo. Há, dessa maneira, uma ênfase na

importância da própria obra de Portinari compondo o estudo do meio realizado, bem como na

consideração de “lugares históricos” com a escolha pela igreja em questão. Outro ponto a ser

destacado é a localização, pois se busca entender a realidade a partir de um contexto próximo,

em Batatais, mais do que isso, a partir de um.

Os slides de números 18 a 24, 28-29, 31 a 33 também datados de 1964 têm como

assunto Estudo do Meio Cillos – 2ª série. E nessa sequência, seguindo a ordem, os títulos:

Fachada da Capela do Cemitério dos Americanos, Sepultura dos Americanos Pioneiros,

Cemitério dos Pioneiros Americanos, Cemitério dos Pioneiros Americanos, Cemitério dos

Pioneiros Americanos, Museu, Museu – Instrumentos Cirúrgicos, Museu – Pilão, Museu –

Peneiras e Museu – Utensílios de Cozinha. Outros slides dessa mesma caixa acompanham

esses, no entanto não há registro escrito em fichas.

Ligado à história dos imigrantes norte-americanos, sobretudo durante a Guerra de

Secessão no século XIX, em Santa Bárbara d’Oeste. Essa cidade é vizinha de Americana e

traz fatos históricos que parecem serem relevantes de estudo, mais do que isso aponta para a

participação ativa dos alunos em um movimento de reflexão constante mediado por um

professor ou especialista do assunto em estudo.

Diferentemente dos slides relativos às obras de Portinari na paróquia de Bom Jesus da

Cana Verde em Batatais, nesses aparecem os alunos uniformizados com caderno fazendo

anotações acerca do estudo do meio que está sendo realizado. Eles sempre estão em

movimento de observação e anotação em um grande grupo marcado pela presença de um

adulto que está explicando algo sobre os objetos no caso do museu ou das lápides em relação

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ao cemitério. Há ainda a preocupação de ressaltar o lugar e os objetos para além dos

procedimentos e participação de professores e alunos, no entanto o foco parece um olhar mais

direcionado para o que está sendo feito e tanto o lugar quanto os objetos aparecem para

compor o que está sendo estudado.

Os slides de número 41, 46 e 51 são datados de 1963. O assunto é Estudo do Meio

Campinas. E os títulos, em ordem, são: Alto do Castelo – alunos observam topografia da

cidade; Teatro Municipal e Monumento a Carlos Gomes.

No primeiro slide, apenas aparece o Castelo, no segundo a fachada do Teatro com

alguns alunos ao centro com cadernos nas mãos e no terceiro um grupo de alunos observando

o Monumento a Carlos Gomes. Há outros slides que não estão descritos nas fichas, mas que

compõem essa sequência. O slide 42 mostra alguns alunos com cadernos nas mãos

observando a cidade do alto do Castelo. O slide 43 diz respeito ao (à) professor (a) Sampaio e

nele é possível notar a figura de dois adultos, um deles é uma mulher e está mostrando um

livro a dois alunos. Os demais são no Museu Carlos Gomes, onde os alunos seguem fazendo

anotações, exceção do número 47 que é dentro do Teatro Municipal.

O Museu Carlos Gomes foi criado em 1956 e nele se encontra documentos e objetos

que pertenceram ao maestro e compositor Antônio Carlos Gomes, mais do que isso possui

coleções de manuscritos e impressos da música erudita e popular da primeira metade do XIX

até meados do século XX. É possível notar os alunos observando tanto os objetos citados,

desde o busto de Carlos Gomes até um piano. Esses alunos fazem anotações e têm mais uma

vez a figura de um adulto como mediador.

O museu, a torre do Castelo e o teatro municipal são locais considerados de relevância

histórica na cidade de Campinas. Escolhidos para realização do estudo do meio, mais uma vez

apontam para uma relevância vinculada à disciplina de História com um viés voltado para

“lugares históricos” das cidades vizinhas a Americana.

Não foi localizado na caixa o slide 84, porém ele também data de 1964. O assunto é o

Estudo do meio Batatais – 2ª série e o título é Igreja. Ele compõe a sequência do próximo

slide, o assunto deste é Estudo do meio Batatais – 2ª série e o título é torre da Igreja. Trata-se

de uma foto que está um pouco desgastada, nela há apenas a torre retratada. O slide 121 data

de 1965 e, também não foi localizado na caixa, o assunto referente a ele é Estudo do Meio

MG – Belo Horizonte – 3ª série, o título é Alunos na Mannesmam. A visita à Mannesmam

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mostra a preocupação em observar um conglomerado alemão que concentra unidades de

mineração e siderurgia, em paralelo em Batatais há a visita a uma igreja.

Do slide 131 até o número 215, todos são datados de 1966. E o assunto é Estudo do

Meio Mato Grosso – 3ª série. É possível notar um percurso realizado pelos alunos e

professores nesse estudo do meio que engloba desde a preocupação com próprio percurso

composto por uma paisagem com características da região, visita a frigorífico Bourbon em

que aparecem os alunos fazendo anotações sobre os procedimentos dos trabalhadores em suas

diversas funções e, portanto, a organização social de trabalho existente na fábrica em questão;

a Sindrolândia apontando para o mesmo sentido que a anterior, além de uma sequência de

aldeia indígena e urucum que evidenciam a preocupação também com culturas diversas que se

encontram espalhas pelo Brasil, no caso, em Mato Grosso.

Não há nenhum registro escrito sobre as fontes primárias, ou melhor, os slides das

demais caixas. No entanto, foram utilizadas fontes secundárias que permitissem analisá-los.

Na caixa 2 há 136 slides que estão arquivados do “C2-1” até o “C2-136”, identificados

tanto por números quanto pelas caixas distribuídos em cores: amarelo, branco e amarelo,

branco e verde, branco e roxo e vermelho. Trata-se de um estudo que aconteceu no meio rural,

há a centralização das atividades e acompanhamento por meio de um adulto ou mais. A

preocupação com o procedimento de trabalho está marcada, bem como as anotações pessoais

das crianças que aparecem uniformizadas. Não se tratava de uma atividade de entretenimento

ou uma simples saída no sentido de apenas não estar no ambiente escolar. Havia uma intenção

de ensino-aprendizagem que pode ser evidenciada pelas próprias imagens, nas quais se

constata as pessoas da comunidade trabalhando e os alunos fazendo a observação disso.

Na caixa 3, composta por 219 fotografia, há slides os alunos estão em um

acampamento, pois há todo o processo de montar acampamento com tendas de lona e varais

com panos. Eles caminham pelo meio em que estão, exploram e são responsáveis pelas

atividades relativas à rotina como cozinhar ou cortar lenha.

Alguns slides dessa caixa fazem referência ao fogo do conselho, atividade comum

entre os escoteiros, na qual há um momento de reflexão do grupo em torno de uma fogueira

com a figura de um adulto centralizando a situação. É possível também perceber uma

perspectiva cristã, pois junto à fogueira há uma cruz de madeira. Tendo em vista a discussão

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do capítulo anterior acerca da inovação, essa perspectiva estaria ligada à inovação pretendida

no primeiro momento da democratização do ensino apresentado nos Ginásios Vocacionais.

Na caixa 5, inicialmente, dentre os 198 slides, alguns numerados, outros não; há

imagens de indígenas com vestimentas típicas. Todas posadas, sem alunos ou professores

presentes. Essas fotos foram tiradas no Alto Xingu e na Ilha do Bananal. Há uma preocupação

presente com o ritual da dança na festa de Aruanã dos Carajás e também com os

procedimentos de caça, pesca e plantio de mandioca.

Depois, nessa mesma caixa, começa uma sequência de “lugares históricos” de São

Paulo. São fotos abertas em plano geral com a preocupação com a paisagem em foco. De

Minas Gerais há muitos registros tanto de Belo Horizonte com as pinturas e obras de

Portinari, painel e igreja, quanto do barroco em cidades como Congonhas do Campo e Ouro

Preto. Também são focados comércios de Americana, o Rio de Janeiro com pontos como o

Pão de Açúcar, o Cristo e a praia de Copacabana. Em Salvador aparece o elevador Lacerda e

o Pelourinho como referências.

No documentário “Vocacional, uma aventura humana” aparecem alguns depoimentos

acerca do estudo do meio acompanhados de fotos também, algumas falas remetem aos slides

descritos nesse trabalho. De acordo com um dos depoentes: no primeiro ano se estudava a

cidade, no segundo ano o estado, o terceiro o Brasil. O quarto ano seria fora do Brasil. Não se

tratava de passeios, mas de trabalho, pois havia relatórios. A ideia dos círculos concêntricos

de Piaget explicitada anteriormente, bem como caminhar no ensino-aprendizagem do mais

simples para o mais complexo.

O primeiro estudo do meio nos ginásios vocacionais foi o estudo da própria escola:

função das pessoas, conhecer os locais, o papel dos professores, cada um. Conhecer o

contexto em que as pessoas circulam e estão inseridas é uma constante tal qual foi possível

observar em alguns dos slides.

Todos os alunos de 7ª série passaram pelas cidades históricas e, assim pelo Barroco

Mineiro. Como calcário formou rochas, em Matemática consumo de diesel e gasolina. Há

uma caixa em que é possível observar claramente esses alunos com cadernos fazendo

anotações acerca do trabalho das pessoas no processo de destilação das substâncias, também

nota-se a preocupação, ainda que sejam fotos sem a presença de alunos, com Minas Gerais e

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sua relevância histórica. Desde Belo Horizonte com as obras de Portinari até as cidades que

fazem parte da “Rota do ouro”, foco nas igrejas e no Barroco.

A partir da observação das fotografias é possível reportar o singular de cada situação..

Na narrativa de Joseangelo Pompeu há marca de uma trama da qual ele foi personagem e a

potencialização de sensações e sentimentos passados.

O próximo passo constituiu em retomar a identificação e descrição sumária das

imagens da primeira caixa juntamente com o Prof. Pompeu. Apesar da idade avançada, na

ocasião da doação do material, ele demonstrou ter lembrança bastante vívida das cenas e

pessoas registradas. A partir daí, essa análise inicial foi revista. Na sequência, são analisados

esses registros à luz da discussão teórica realizada no primeiro capítulo.

2.3 CAIXA 1: DELINEANDO UMA NARRATIVA

A priori, foi possível observar alguns padrões e permanências sobre as práticas do

estudo do meio que se repetiam na caixa 1 e nas demais caixas. Na sequência de slides nota-

se o uso do uniforme por parte dos alunos, a figura central de um adulto que é professor e atua

explicitando e/ou orientando as atividades, ambientes onde há máquinas e ambientes abertos

em que os alunos fazem algum tipo de observação, fotos de “objetos históricos” tais como:

utensílios domésticos, alunos com cadernos fazendo anotações e, portanto, bloco de registros

e observação por parte dos alunos.

Desse modo, priorizou-se a análise da caixa 1, pois dispõe de data e local registrados

e, também por conta da entrevista realizada com Joseangelo Pompeu (Anexo B). As

atividades citadas pelo entrevistado foram, sobretudo, o trabalho em equipe e o trabalho do

professor.

Na prática do estudo do meio nos ginásios vocacionais, o professor apresenta

autonomia em relação ao processo de trabalho, tanto que na avaliação realizada pelos

membros do SEV é pensada de maneira reiterada a formação do professor e a ideia de estudo

do meio.

Nas fotos, os mais diversos professores se encontram de maneira centralizada de

forma que os alunos se encontram ao redor deles. O professor é central no processo de ensino-

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aprendizagem à medida que não só organiza o trabalho que é realizado anteriormente na

escola como, com os alunos, elabora o roteiro de trabalho a ser utilizado em campo. No caso

de Pompeu, enquanto professor de Práticas Comerciais, ele ia a campo antes de ser realizado

o estudo para que pudesse contabilizar os gastos da viagem.

Nas fotos (Figuras 1 e 2), os alunos estão sempre olhando para o professor ou olhando

para algo que ele está chamando a atenção. Se o professor não está falando, está

acompanhando o processo no meio do grupo. Ele é um sujeito bastante presente e, mais do

que organizar as atividades, as conduz dirigindo o olhar dos alunos num constante processo de

ensino e aprendizagem.

Figura 1. Slide C1-2 Alunos observando o professor.

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Figura 2. Slide C1-37 Alunos observam o professor

No slide C1-9 (Figura 3), a professora está, junto com os alunos, observando o

funcionamento de uma máquina. Na C1-8 (Figura 4), Newton Balzan, ex-professor de

Estudos Sociais, está acompanhando os alunos que questionam um trabalhador acerca do

ofício desempenhado por ele. Como era realizado um trabalho que se buscava esgotar a teoria

antes de ir a campo, os alunos já tinham conhecimento do assunto que estava sendo

problematizado e como abordá-lo.

Figura 3. Slide C1-9 Professora observa com os alunos o funcionamento de uma máquina

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Figura 4. Slide C1-8 Newton Balzan acompanha os alunos que questionam um trabalhador

Outra prática recorrente no estudo do meio é a observação de máquinas (Figura 5) para

além do trabalho realizado com elas. Em muitas das fotos, os alunos estão ouvindo a uma

explicação ou, simplesmente observando o maquinário. Para se ter em vista a realidade é

relevante extrapolá-la entendendo o processo de produção e esse relacionado ao cotidiano.

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Figura 5. Slide C1-16 Observação de maquinário

No cemitério de Americana, no slide C1-19 (Figura 6) é possível notar a observação

atenta por parte dos alunos. São escolhidos lugares considerados históricos, nesse caso um

cemitério que diz respeito à colonização americana nessa região do interior. É relevante

ressaltar que a escolha do lugar também delimita o problema a ser abordado, algo que deve

ser retomado mais adiante nas considerações finais. Será que o currículo era tão flexível

assim?

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Figura 6. Slide C1-19 Alunos observam sepultura de pioneiros americanos

Em lugares abertos ou fechados, constantemente são formadas rodas de alunos (Figura 7). O

aluno, mais do que observador, também é convidado a escutar e refletir acerca do que está

observando. Esse movimento de observação, em paralelo ao da roda pode ser visto como uma

constante nessa prática em outras fotos.

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Figura 7. Slide C1-34 Formação de roda pelos alunos

Monumentos considerados socialmente históricos e objetos escolhidos são observados

como parte do trabalho (Figura 8). Mais uma vez, cabe evidenciar que nesse processo de

ensino-aprendizagem, colocar limites no que será observado também pode restringir o

processo de reflexão do educando a partir da indagação inicial que é pensada para a unidade

temática.

Figura 8. Slide C1-51 Observação de um monumento histórico

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É possível constatar, por meio da descrição do montante de imagens encontradas na

Caixa 1 que o acervo é amplo, deste modo, selecionou-se apenas algumas – dispostas acima –

para ilustrar a discussão, todavia, as demais como mencionado anteriormente encontram-se na

descrição do inventário em anexo. Desse modo, passa-se a seguir, a articulação entre as fotos

e a narrativa de Joseangelo Pompeu.

2.3.1 O Resgate da Memória – A narrativa de Joseangelo Pompeu

Como mais uma etapa deste trabalho realizou-se uma entrevista com o doador das

caixas com os slides com o intuito de indagar a fonte analisada, mas por outra perspectiva, ou

seja, pela via do participante, desse modo buscou-se dar voz as memórias de um dos

personagens presente nos registros fotográficos, assim o acesso a essa fonte viva poderia por

meio do seu relato apresentar dados mais precisos da prática desenvolvida de estudo do meio.

A narrativa de Joseangelo Pompeu sobre o trabalho que realizou nos Ginásios

Estaduais Vocacionais se deu de maneira muito apaixonada. O ex-professor que hoje tem 73

anos trabalhou no Ginásio Vocacional de Americana de 1964 até 1970 quando se deu o

encerramento das atividades. Contador, formado na Escola Técnica de Americana, nunca

atuou na função.

Na época em que conheceu o vocacional, Pompeu trabalhava como escrevente

habilitado no cartório de registro de imóveis da cidade. Ao conhecer algumas professoras do

vocacional em Americana, soube da vaga para Práticas Comerciais e se encaminhou para São

Paulo onde foi entrevistado por Dona Maria Cândida, mas quem o convocou foi Maria Nilde

Mascellani. No dia seguinte, em 23 de abril de 1964, voltou para Americana e fez o exame

médico para ser contratado.

Nesse mesmo ano, começou lecionando para a 3ª turma de Americana. Como Práticas

Comerciais era, como o próprio nome indica, uma disciplina prática, não havia

especialização. Segundo o ex-professor, essa foi a época das matérias práticas.

De acordo com Pompeu, em relação ao estudo do meio, se trabalhava em classe um

determinado conteúdo e depois era observado na prática. Para ele, o vocacional não se

preocupava tanto com o conteúdo, mas como era a ação durante o conteúdo. Antes de ir a

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campo, havia um trabalho realizado em sala de aula para despertar a curiosidade dos alunos e

para elaboração de perguntas que seriam respondidas a partir do estudo do meio. Os alunos

tinham que fazer relatórios sobre a visita e, depois disso, uma exposição de tudo que foi

estudado. Segundo Pompeu, “Todos os alunos tinham roteiro nas mãos, as perguntas que

seriam feitas estavam nesse e deveriam anotar as respostas. Cada um anotava uma parte.

Fazia-se um relatório do estudo do meio de cada área”.

O sistema era sempre delimitado por Ciências Sociais; a pedra fundamental do estudo;

e as outras disciplinas se encaixavam nos temas, mas os conteúdos já vinham de São Paulo,

cidade onde ficava o SEV. Esses conteúdos eram discutidos entre seus membros e cabia às

cidades fazer as adaptações necessárias.

Nas palavras do ex-professor:

O ginásio vocacional foi planejado pensando no desenvolvimento econômico de cada região. São Paulo aparecia como uma capital, Americana como uma região industrial, Rio Claro como uma cidade intelectual de faculdades, Barretos com as pecuárias e os maiores frigoríferos, Batatais como uma cidade agrícola e cultural (Portinari) e, por fim, São Caetano do Sul com os móveis.

Práticas Comerciais, por exemplo, encaixava-se no estudo do meio no sentido da

elaboração do orçamento de transporte, alojamento, custo, gasto, arrecadação e controle do

dinheiro. Tudo era desenvolvido com os alunos nas semanas anteriores ao estudo do meio. A

supervisão do professor era o ponto-chave dessa articulação com os saberes, o que também foi

possível notar ao analisar as fotos. Tanto em sala de aula quanto em campo, o professor

aparecia de maneira centralizada conduzindo o processo educacional.

Quanto ao planejamento para realização do estudo do meio, Pompeu menciona:

Eu participei do estudo do meio em alguns lugares. Íamos primeiro para o local que seria visitado para elaborar o orçamento. Um dos estudos que participei e me lembro foi o de Ilha Solteira. Nesse estudo fizemos a visita anteriormente. Às vezes outros professores iam e a gente elaborava o orçamento depois baseados nos dados que eram fornecidos por eles. Se houvesse necessidade, entrava-se em contato com a Associação de Pais e Mestres para garantir a ida de quem não pudesse pagar a viagem [...] tudo era feito com a Orientação Educacional e ninguém ficava sabendo.

O conteúdo, de acordo com Pompeu, era dividido de maneira que na 1ª e 2ª série se

conhecia a cidade, em sequência o Estado, o Brasil e o exterior. Houve, inclusive, uma visita a

Santa Cruz de la Sierra na Bolívia. Esse ponto reitera a turma que está presente nas fotos e a

visita que foi feita ao cemitério de Americana pensando nos círculos concêntricos de Piaget

em uma localidade mais próxima, uma comunidade mais simples que as demais na ordem

apresentada. Nessa perspectiva, faz-se válido destacar um dos trechos da entrevista: “Nós

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fomos para Minas Gerais conhecer Ouro Preto, Belo horizonte, Sabará, Congonhas do campo,

Gruta de Magné e a cidade de Guimarães Rosa. [Fomos] Eu, Delma, Margarida, Teresinha e

Coutro”. Nota-se, pela declaração do ex-professor que os locais visitados durante o estudo do

meio contemplam em partes o conteúdo proposto para a 1ª e 2ª com exceção da viagem ao

exterior. Percebe-se que, a grosso modo, as cidades visitas apresentam o que pode ser

delineado como “Brasil”, uma vez que não se trata de cidades pertencentes à região de

Americana.

Faz-se aqui um adendo quanto às cidades, visitadas no decorrer do estudo do meio,

elencadas na Caixa 1 mencionadas no item anterior, vê-se pela descrição apresentadas nas

próprias fotografias que a seleção das localidades não contempla de modo linear todos os

estados brasileiros, ou seja, o país era “revelado” aos alunos de forma fragmentada. Sem

entrar no mérito da seleção, pois seria necessário proceder com uma nova busca por

explicações propõe-se somente uma reflexão: será que a acessibilidade foi um dos principais

critérios de seleção para determinar a escolha de algumas dessas cidades? Assim como,

indaga-se: será que pequenos aglomerados de cidades localizadas próximas uma das outras

são uma boa representação do país?

Postulada tal questionamento retoma-se ao fato narrado, o ex-professor entrevistado

participou de um estudo do meio que ocorreu em Minas Gerais, ou seja, em outro estado.

Mais do que isso, os estudantes junto com os docentes visitaram cidades consideradas

históricas, como é evidenciado nos slides, nos quais são ressaltadas as obras do Barroco e as

igrejas.

Havia uma “integração das disciplinas” a partir do tema atribuído pelos Estudos

Sociais, de modo que no estudo do meio, eram respondidas questões de todas as áreas do

conhecimento. Na volta do estudo do meio havia uma atividade de síntese e, finalmente, as

equipes realizavam uma apresentação do trabalho. Essa atividade, por sua vez, estava imbuída

de sentido, o qual pode ser inferido como: agir no mundo. Como se observa na afirmação do

ex-professor:

Na minha opinião o estudo do meio servia para que o aluno pudesse observar na prática o que aprendeu na teoria. Para depois se instruir e depois agir. O vocacional se preocupava com a formação de pessoas conscientes que pudessem atuar no seu meio. Esse era o objetivo maior. Se o aluno não conhecesse uma realidade do campo com os cortadores de cana, por exemplo, como ele poderia desenvolver uma atividade que pudesse mudar aquilo? Ele conhecia uma realidade para depois introspectar aquilo e agir no meio

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Evidencia-se na declaração acima que a realização do estudo meio postulada por

Pompeu não se voltava para o “vir a ser” do discente enquanto trabalhador, o aprender não se

referia ao ofício, como se percebe na narrativa – conhecer a realidade dos cortadores está na

possibilidade de se pensar formas de mudar essa realidade. Não se tratava de uma educação

para o trabalho, mas para transformação, essa não apenas para o aluno, mas para o todo social.

Ao se tratar dos entendimentos que ocorriam entre os membros do SEV em relação a

questões específicas das unidades é possível observar a questão da importância das

metodologias específicas das áreas e da formação do aluno para a vida, ponto que também é

ressaltado no excerto acima no sentido de conhecer a realidade para atuar nela. Fato esse

constatado durante a realização da entrevista, na qual tanto Pompeu quanto sua ex-aluna da

primeira turma que foi visitá-lo ressaltaram que o estudo do meio se dava de maneira que os

alunos podiam vivenciar aquilo que haviam aprendido na escola.

Ao falar sobre os slides, ficou muito preocupado em se recordar dos nomes e

sobrenomes das pessoas que apareciam. Regina aparecia em diversos deles. Existe um

encantamento sobre esses anos vividos tanto em repúblicas com outros professores do

vocacional quanto, vividos integralmente para a escola.

No dia em que o exército entrou no João XXIII, Joseangelo Pompeu lecionaria mais

tarde. Quando chegou a escola, no refeitório já estavam os demais professores. Encontrou seu

armário derrubado no chão. As capas de Práticas Comerciais com a sigla PC foram associadas

ao comunismo. Muitos professores foram presos, Pompeu optou por continuar trabalhando

sem tomar partido no que tangia à ditadura ou ao sistema. Apresentou, no entanto, oposição a

Cid. O que Pompeu designa como encerramento das atividades em 70 é possível chamar de

fechamento dos vocacionais pela ditadura militar à medida que haveria uma série de

proibições e demissões de professores por conta de seus ideais políticos.

Encerra-se, desse modo, um período da história da educação brasileira, a qual não se

faz permissível desprezar o atravessamento da ditadura militar. Nota-se que a narrativa

apresentada por Pompeu corrobora com as fotografias e amplia as imagens, de modo, a dar

nome aos personagens e circunscrever os fatos contidos nas fotos, a realidade congelada que

tomou forma vívida pelo discurso. Assim, a seguir, algumas considerações são elaboradas

quanto ao conteúdo da pesquisa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa pesquisa buscou-se analisar as práticas relacionadas ao estudo do meio do

Ginásio Vocacional João XXIII, de Americana e compreendê-las. Ao longo do trabalho,

houve a tentativa de contextualizar no tempo e no espaço um habitus educacional que,

entendido dialeticamente enquanto processo, foi se transformando ao longo de sua existência.

Empreender uma investigação cujo objeto central fosse o estudo do meio, inicialmente

constituiu-se como um dilema: qual seria o melhor caminho para averiguar uma prática ainda

executada na conjuntura atual da educação sem estabelecer comparações e anacronismos? Já

se fez nítido que o desenvolvimento da pesquisa deveria recorrer às fontes históricas para tal.

Abre-se, novamente, um novo debate: qual fonte? Como acessá-las? Apenas a análise

documental suprirá esse objetivo? Estes e tantos questionamentos foram essenciais ao

delineamento da pesquisa. Essa que se deu por meio da análise de um conjunto de registros

fotográficos que apresentam a realização de um estudo do meio, em um determinado período.

Decorrente da coleção de fotos cedidas pelo ex-professor Joseangelo Pompeu, o qual

lecionou entre os anos 1964 a 1970, no Colégio Vocacional João XXIII de Americana,

consolidou-se o tema e os objetivos da pesquisa cujo intento foi responder as seguintes

questões: “Quais eram as concepções e práticas desenvolvidas no Vocacional de Americana

de 1961 a 1970?”; “Como essas concepções e práticas dialogam com as práticas de Estudo do

meio?”; “O que as fotografias podem revelar sobre o João XXIII nesse período?”.

Pautada nessa circunscrição do trabalho procedeu-se com o levantamento

bibliográfico, a fim de identificar o referencial teórico a ser utilizado, pois se considerou que

apenas a apresentação das imagens associadas à narrativa descritiva fornecida por Pompeu,

por meio de uma entrevista seria insuficiente para contemplar o objeto da análise. Desse

modo, após o levantamento elegeu-se três obras, de autores distintos, que poderiam subsidiar

a elaboração do texto.

Cumpre mencionar que o percurso adotado difere, substancialmente, daquele realizado

quando há uma fonte oral, ou seja, a entrevista, pois na maioria dos casos os autores faz uso

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apenas deste recurso para coleta de dados. O processo aqui efetuado seguiu, em suma, dois

direcionamentos, os quais foram classificados no trabalho como primário e secundário em

relação à fonte utilizada. Denominou-se fonte primária os slides dos estudos do meio

realizados entre os anos de 1963 e 1964 no Ginásio Vocacional João XXIII, os quais foram

reportados via registro fotográfico para ser utilizado na presente pesquisa. Por sua vez, fonte

secundária concerne aos textos publicados por personagens que vivenciaram ou não a época

em questão, sem deixar de mencionar que a entrevista concedida pelo Prof. Pompeu foi

alocada nesse montante.

Após agrupar o material tanto documental como fotográfico, em conjunto com a

entrevista procedeu-se a análise dos dados. De início foi possível constatar que das cinco

caixas cedidas por Joseangelo Pompeu seria possível utilizar somente uma delas, a saber, a

primeira, identificada como Caixa 1. O critério para utilização desta caixa deu-se pelo fato de

ser a única que dispunha de informações precisas sobre os locais e datas da realização do

estudo do meio, assim como o estado de preservação da maioria das fotografias tornava viável

seu uso. Vale mencionar que o restante do material presente nas outras caixas possui, em boa

parte, alguma identificação, mas insuficiente para ser utilizado como fonte de pesquisa. No

entanto, essas fotos não foram descartadas, pois devem ser preservadas como material

histórico que pode ser futuramente abordado em outra investigação após procedimento de

restauração.

Assim, em seguida, as fotografias foram organizadas em sua sequência, uma vez que

estão enumeradas dentro da própria caixa, as quais permitiram constatar que as mesmas

apresentam uma sistematização das atividades realizadas em cada estudo do meio, ou seja, é

possível observar na disposição das imagens o contexto e a atividade que está sendo realizada.

Retomando um dos questionamentos elaborados no início da investigação sobre o que

as fotografias poderiam revelar sobre o João XXIII pode-se afirmar que as imagens

evidenciam não apenas as práticas educacionais do Ginásio como a concepção de ensino.

Entende-se ainda que a existência da cultura escolar esteja ligada às mesmas origens da escola

como instituição, que as imagens apontam para um conjunto de teorias e práticas

sedimentadas na instituição escolar ao longo do tempo. As disciplinas escolares que se

consolidaram são um exemplo de cultura escolar que permaneceram, mas a maneira de

abordá-las foi algo que se transformou e variou de acordo com a instituição.

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Os GEVs, tanto pela história delimitada pela bibliografia apresentada, como pelas

práticas descritas e analisadas por meio das fotos buscavam a “integração das áreas de

conhecimento”. As disciplinas apareciam de maneira processual como um modo de olhar para

um mesmo tema inicialmente até 1966 e depois para uma mesma pergunta ou questão de 1968

até o fechamento. Aquilo que Maria Nilde e outros membros do SEV denominam como

“técnica” trata-se de uma metodologia específica da área para indagar um mesmo tema ou

questão.

As fotos ajudaram a explicitar o que se fazia no estudo do meio. Os padrões

identificados contribuíram para traçar uma narrativa de como era um trabalho desse tipo. Os

alunos dos GEVS, do primeiro ao quarto ano do secundário faziam, nessa ordem, um estudo

do meio focado no local ou comunidade, depois isso se ampliava para os arredores, Estado e

país. Esse era um estudo considerado de alto custo, à medida que existiam gastos de viagem;

porém de acordo com os documentos e com Pompeu nunca nenhum aluno deixou de ir a um

estudo do meio por não poder pagar. Existia uma associação de pais que arrecadava dinheiro

quando necessário. Também uma indagação que ficou e que poderia ser investigada em outro

estudo: como se organizava essa associação? Quais atividades desempenhavam?

Não é possível apontar para o que era trabalhado nas disciplinas ou para as

metodologias específicas, mas visto que aparecem distintos professores nas fotos é possível

traçar o papel do docente nessa prática e, também o que há de semelhante entre as

metodologias das diferentes áreas de conhecimento tendo em vista uma série de padrões ou

repetições na ação desses no estudo e da organização dos alunos em relação aos materiais e

observação.

Notou-se que os professores exerciam um papel fundamental de “mediadores” das

relações. Relações entre sujeito e objeto; e entre sujeito e sujeito. Os mesmos aparecem de

maneira centralizada buscando conduzir o estudo. E, como apresentado na entrevista com

Pompeu, também centralizam o processo pedagógico fazendo junto com os alunos um roteiro

de estudo e discussões acerca do conteúdo anterior à saída.

Verificou-se também que há efeitos e influência das reformas ocorridas no período em

questão em relação à cultura escolar, pois houve uma portaria que permitiu o funcionamento

das classes experimentais e, dessa maneira que a experiência vocacional posteriormente.

Também, no contexto do MEC/USAID e do ensino técnico, com a Lei Industrial foi possível

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adotar um currículo mais flexível com unidades didáticas e que se propunha a integrar as

áreas de conhecimento em torno de um problema.

Nas fotos, há alguns pontos do aprender fazendo da escola nova e da educação

moderna anarquista que podem ser vistos. Joseangelo Pompeu aponta, nesse sentido, para a

concepção de homem que se visa formar no vocacional, alguém que, para além dos

conteúdos, sabe como agir no mundo. Nas práticas, do estudo do meio, apresentadas nas fotos

aparecem alunos em um intenso processo de observação e manipulando objetos ou

observando como trabalhadores fazem com seus maquinários Há articulação entre a teoria e

as práticas do estudo do meio realizado em Americana e essas podem ser reveladas por meio

das fotografias, documento relevante nesse sentido.

Outro ponto a ser destacado concerne à entrevista realizada com o ex-professor

Joseangelo Pompeu, por ser o único entrevistado e pelo discurso apaixonado e repleto de

sentimentos que se apresentavam ao procurar resgatar os nomes de cada uma dos jovens que

estavam nas fotos e retomando detalhes da vestimenta ou das características físicas desses,

optou-se por utilizar somente os dados como data e localização por ele apresentados, porém

seria interessante realizar outra pesquisa para resgatar a memória das pessoas que viveram

essa experiência reconstruindo a narrativa. O estudo do meio foi uma prática que marcou uma

etapa da vida desses sujeitos e deve ser levado em consideração como tal.

Escolas contemporâneas consideradas progressistas e que têm como referencial teórico

o construtivismo, tal qual a Escola da Vila, escola em que trabalhei por 5 anos, realizam o

estudo do meio, há pontos em comum e pontos distintos a serem destacados. No entanto, um

que me parece relevante de ser discutido é justamente a participação dos alunos dos

vocacionais na reflexão sobre o orçamento do estudo a ser realizado. Poderem participar de

aulas de Práticas comerciais e, junto com o professor, pensar sobre a parte financeira

empodera o aluno no sentido cognitivo, pois inserida em uma “sociedade do capital”, essa

etapa deixa ser repassada a uma empresa que, terceiriza e coloca o estudo do meio dependente

de um serviço externo. A educação não é mercadoria e, de certa maneira, ela é tratada como

tal quando ideias como essa são cooptadas pelo sistema capitalista.

Conclui-se, portanto, que a análise das fotografias foi de grande valia, pois permite

observar um ponto crucial da história da educação, da formação e composição do currículo,

do pensamento escolar e educacional, da constituição da cidadania e do cidadão brasileiro nas

décadas de 60 e 70, período, no qual a intervenção político-militar foi marcante na proposição

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da educação brasileira. Percebe-se que os estudos do meio realizados pelo João XXIII dão

mostra de como se procedia com este tipo de atividade nos Ginásios Vocacionais. Seria

interessante averiguar se outras escolas ou personagens dessa história ainda dispõem desse

acervo fotográfico em formato de Slides para contrastar as informações aqui coletadas. Será

que o modelo adotado pelo João XXIII era o mesmo executado em outros locais e regiões.

Assim como, os questionamentos foram pontuados ao longo do texto.

Por fim, considera-se que a presente pesquisa contribui não somente com o resgate de

parte da história da educação brasileira como também permite problematizar os

direcionamentos, bem como lança luz à discussão atual e vigente quanto à finalidade da

educação básica e fundamental, uma vez que favorece o vislumbre daquilo que se fazia

outrora e do que atualmente é desenvolvido nas escolas. Espera-se que este estudo possa

auxiliar os estudantes e pesquisadores a (re) pensar o sentido e propósito da educação escolar.

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___________. Fotografia & História, Ateliê Editorial, p. 33-50 e 97-99, 2001.

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79  

 

 

___________. Os Tempos da Fotografia. O Efêmero e o Perpétuo, São Paulo: Atelier

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MASCELLANI, Maria Nilde. Uma pedagogia para o trabalhador. O ensino vocacional

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LOPES, Claudivan Sanches; PONTUSCHKA, Nídia Nacib. Estudo do Meio: Fundamentos e

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Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

80  

 

 

OMURO, Selma de Araujo Torres. A escolarização da comunidade nipo-brasileira de

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PAIVA, Vanilda. Paulo Freire e o nacionalismo-desenvolvimentista. Rio de Janeiro:

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SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

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THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no

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VALDEMARIN, Vera Teresa. História dos métodos e materiais de ensino: a escola nova e

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Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

81  

 

 

ANEXOS

ANEXO A – INVENTÁRIOS DAS FOTOGRAFIAS DA CAIXA 1

O que é padrão: uniforme, a figura central de um adulto, o ambiente onde há máquinas e o

ambiente aberto, fotos de objetos se repetem, cadernos ou não nas mãos. É possível

identificar o tipo de ambiente e o local.

Slides – Caixa 1 – Os cartões que estavam na caixa 3 ajudam a identificar os locais do número

18 ao 215. Também houve auxílio do ex-Prof. Joseangelo Pompeu para o reconhecimento.

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82 

     Sli

de

N

úm

ero

Dat

a e

Loc

aliz

ação

6 D

escr

ição

da

foto

graf

ia

C1

– 1

Faz

enda

Mac

hadi

nho

- 19

63

Um

gru

po d

e pe

ssoa

s ca

min

hand

o no

cam

po n

o pr

imei

ro p

lano

. No

segu

ndo

plan

o há

árv

ores

e

no te

rcei

ro a

lgo

que

se a

ssem

elha

a u

ma

cida

de e

que

pos

sui c

onst

ruçõ

es.

C1

– 2

Faz

enda

Mac

hadi

nho

– 19

63

Nov

e jo

vens

e u

m a

dult

o co

nver

sand

o. A

lgun

s do

s jo

vens

est

ão s

egur

ando

alg

o qu

e se

as

sem

elha

a u

m c

ader

no o

u li

vro.

uma

mes

a re

dond

a pe

quen

a no

cen

tro

e os

jov

ens

pare

cem

se

repo

rtar

a e

sse

adul

to. A

o fu

ndo

há v

eget

ação

. C

1 –

3

Jove

ns e

adu

ltos

em

um

a es

taçã

o de

tre

m. A

pare

cem

uns

vag

ões

de c

arga

. E o

s jo

vens

est

ão

unif

orm

izad

os.

C1

– 4

Est

ação

Fer

rovi

ária

de

Am

eric

ana

– 19

63

A m

esm

a es

taçã

o de

trem

vis

ta d

e ou

tro

ângu

lo. J

oven

s e

adul

tos.

C1

– 5

Esc

ola

Indu

stri

al –

196

3 N

o pr

imei

ro p

lano

apa

rece

m a

s m

ãos

de u

ma

pess

oa t

orne

ando

um

obj

eto

que

tem

o f

orm

ato

de u

m v

aso.

No

segu

ndo

rost

os d

e jo

vens

sor

rind

o.

C1

– 6

dois

adu

ltos

no

slid

e. O

s de

mai

s sã

o jo

vens

. E

les

estã

o em

um

am

bien

te f

echa

do e

ob

serv

am u

ma

séri

e de

obj

etos

igua

is.

C1

– 7

E

m u

m l

ugar

mai

s al

to.

Jove

ns e

doi

s ad

ulto

s no

vam

ente

. O

bser

vam

um

a m

áqui

na.

Dig

o m

áqui

na p

orqu

e há

um

a pe

ça q

ue p

arec

e es

tar

liga

da a

mov

imen

to.

C1

– 8

A

s cr

ianç

as e

stão

esp

alha

das.

Alg

umas

olh

am c

oisa

s ao

fun

do.

Out

ras

olha

m p

ara

fora

do

loca

l e u

m m

enin

o fa

la a

lgo

com

o h

omem

. Ess

e m

enin

o e

esse

hom

em e

stão

de

fren

te p

ara

o m

ecan

ism

o de

um

a m

áqui

na.

C1

– 9

4

jove

ns u

nifo

rmiz

ados

den

tro

de u

m e

spaç

o re

serv

ado

a ob

jeto

s (m

áqui

nas)

tai

s qu

ais

o qu

e es

tão

olha

ndo

o fu

ncio

nam

ento

. C

1 –

10

C

rian

ças

em t

orno

de

uma

mes

a em

um

esp

aço

fech

ado

olha

m a

lgo

que

o ad

ulto

est

á to

cand

o.

C1

– 11

Mai

s um

a ve

z ap

arec

e um

esp

aço

fech

ado

e os

jove

ns o

lhan

do p

ara

o ad

ulto

. C

1 –

12

M

ais

uma

vez

as c

rian

ças

olha

m p

ara

o ad

ulto

. C

1 –

13

C

rian

ças

olha

m p

ara

um a

dult

o qu

e es

tá c

om f

olha

s na

mão

. C

1 –

14

H

á qu

adro

s qu

e sã

o ob

serv

ados

pel

as c

rian

ças.

Mai

s um

a ve

z o

adul

to a

pare

ce d

e m

anei

ra

cent

rali

zada

.

                                                            

6 Des

criç

ão s

obre

a c

aixa

1 e

m f

olha

pau

tada

que

est

ava

loca

liza

da n

a ca

ixa

3 e

narr

ativ

a de

Jos

eang

elo

Pom

peu

com

plem

enta

ndo.

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

83 

     

C1

– 15

Pes

soas

des

enha

m e

m te

las,

out

ras

obse

rvam

. Há

um li

vro

com

“re

trat

os”.

No

cant

o es

quer

do

apar

ecem

dua

s cr

ianç

as v

olta

das

para

um

a te

la. N

o ca

nto

dire

ito

um a

dult

o e

uma

cria

nça

se

olha

ndo.

C

1 –

16

O

utra

máq

uina

e c

rian

ças

unif

orm

izad

as o

bser

vam

o a

dult

o e

a m

áqui

na.

C1

– 17

Jove

ns

unif

orm

izad

os

em

ambi

ente

fe

chad

o. N

esse

am

bien

te h

á ba

ncad

as (

mes

as c

om

gave

tas)

, lum

inár

ias

e lo

usa.

(o

pé d

irei

to é

alt

o).

C1

– 18

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

Fac

hada

da

Cap

ela

do C

emit

ério

do

s A

mer

ican

os; R

AV

Am

eric

ana

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

sai

ndo

com

cad

erno

s de

um

a co

nstr

ução

que

se

asse

mel

ha a

um

a ig

reja

.

C1

– 19

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

Sep

ultu

ra d

os A

mer

ican

os

Pio

neir

os

RA

V –

Am

eric

ana

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

olh

am p

ara

um e

spaç

o re

tang

ular

n o

chã

o qu

e es

tá c

heio

de

mat

o.

C1

– 20

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

Cem

itér

io d

os P

ione

iros

A

mer

ican

os

RA

V –

Am

eric

ana

Pel

a ár

vore

ao

fund

o, p

arec

e um

a fo

to n

o m

esm

o lu

gar

que

a C

1 –

19.

Nes

sa,

eles

se

desl

ocar

am,

estã

o co

m c

ader

nos

ou l

ivro

s. A

lgun

s es

tão

em c

ima

do l

ocal

que

est

avam

ol

hand

o na

fot

o an

teri

or.

C1

– 21

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

– 2ª

rie

Cem

itér

io d

os P

ione

iros

A

mer

ican

os

RA

V –

Am

eric

ana

A

cons

truç

ão

da

qual

es

tava

m

sain

do

no

slid

e C

1-

18

está

ao

fu

ndo.

O

s jo

vens

un

ifor

miz

ados

, ag

ora

estã

o nu

ma

regi

ão a

bert

a de

vaz

io.

árvo

res

com

o as

das

fot

os C

1-18

,19

e 20

pre

sent

es.

C1

– 22

1964

– E

stud

o do

mei

o C

illo

s –

séri

e C

emit

ério

dos

Pio

neir

os

amer

ican

os

RA

V –

Am

eric

ana

Alu

nos

unif

orm

izad

os (

Con

tinu

am c

om c

ader

no o

u li

vro)

e d

uas

mul

here

s ad

ulta

s em

tor

no

de u

ma

está

tua

que

tem

asa

s (p

arec

e re

ligi

osa)

.

C1

– 23

Dua

s m

ulhe

res

adul

tas

e do

is m

enin

os.

A f

oto

foca

no

rost

o de

les,

um

a da

s m

ulhe

res,

a q

ue

está

de

fren

te p

ara

os m

enin

os (

pelo

mov

imen

to d

as m

ãos

e ex

pres

são

gest

ual)

est

á fa

land

o co

m e

les.

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

84 

     

C1

– 24

E

stud

o do

mei

o C

illo

s –

2ª s

érie

M

useu

Set

or R

AV

Am

eric

ana

Ped

aço

de a

luno

com

cad

erno

ou

livr

o. N

a pa

rede

um c

arta

z em

ing

lês

(to

take

) e

a fo

to

cent

rali

za e

m u

m o

bjet

o qu

e pa

rece

com

um

a se

la d

e ca

valo

. C

1 –

25

H

á 4

pess

oas

em t

orno

de

uma

mes

a. N

a m

esa

há l

ivro

s no

can

to d

irei

to d

ela,

ess

e es

tão

fech

ados

e u

m l

ivro

mai

or a

bert

o. O

alu

no q

ue e

stá

olha

ndo

para

a f

oto

segu

ra u

m o

bjet

o (l

ivro

ou

cade

rno

que

tem

o e

mbl

ema

do v

ocac

iona

l).

O a

luno

que

est

á em

pri

mei

ro p

lano

, ol

ha p

ara

o li

vro

em c

ima

da m

esa

(pel

o fo

rmat

o, p

arec

e um

a B

íbli

a).

C1

– 26

4 pe

ssoa

s na

fot

o. O

alu

no u

nifo

rmiz

ado,

em

pri

mei

ro p

lano

, obs

erva

um

livr

o co

m f

olha

s gr

ande

s. N

ele

há u

ma

pági

na c

om o

des

enho

de

um h

omem

que

par

ece

ter

sido

fei

to e

m

algu

ma

aula

. Na

outr

a pá

gina

, tem

dua

s fi

gura

s no

s ca

ntos

sup

erio

res

dire

ito

e es

quer

do.

C1

– 27

Dan

ific

ada.

C

1 –

28

1964

– E

stud

o do

mei

o C

illo

s –

séri

e M

useu

Set

or –

RA

V A

mer

ican

a

Jove

m o

lha

para

qua

dros

na

pare

de. U

m m

aior

com

fig

uras

geo

mét

rica

s e

outr

o m

enor

.

C1

– 29

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

– 2ª

rie

Mus

eu S

etor

– R

AV

Am

eric

ana

Am

bien

te c

om u

ma

tela

pre

ta. N

essa

tel

a pr

eta

há u

ma

séri

e de

obj

etos

de

met

al e

aci

ma

um

títu

lo “

Inst

rum

enta

l cie

ntíf

ico”

.

C1

– 30

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

Mus

eu –

Inst

rum

ento

s ci

rúrg

icos

S

etor

– R

AV

Am

eric

ana

Trê

s pe

ssoa

s nu

m a

mbi

ente

fec

hado

. Há

uma

mes

a co

m u

m v

aso

e um

a ja

nela

ao

fund

o. U

ma

jove

m u

nifo

rmiz

ada

com

cad

erno

e c

anet

a em

mão

s, o

utra

ao

fund

o ob

serv

am u

ma

mul

her

mai

s ve

lha

que

tem

um

a ce

sta

e um

cad

erno

na

mão

esq

uerd

a e

um o

bjet

o qu

e se

ass

emel

ha a

um

cho

calh

o na

dir

eita

. C

1 –

31

1964

– E

stud

o do

mei

o C

illo

s –

séri

e M

useu

- P

ilão

S

etor

– R

AV

Am

eric

ana

Jove

m c

om c

ader

no o

bser

va a

lgo

que

está

à s

ua f

rent

e. N

o sl

ide

apar

ece

um a

mbi

ente

fe

chad

o co

m u

m f

orno

a l

enha

e a

lgum

as p

anel

as e

m c

ima

dele

. N

o pr

imei

ro p

lano

um

obje

to d

e m

oer.

C1

– 32

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

– 2ª

rie

Mus

eu -

Pen

eira

s S

etor

– R

AV

Am

eric

ana

Qua

tro

este

iras

e o

bjet

os d

e fe

rro

em

um

a es

tant

e s

ão o

bser

vado

s po

r jo

vens

.

C1

– 33

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cil

los

– 2ª

rie

Mus

eu –

Ute

nsíl

ios

de c

ozin

ha

Obj

etos

de

ferr

o. D

a di

reit

a pa

ra a

esq

uerd

a: c

alde

irão

, bul

e co

m f

lor

dese

nhad

a, o

utro

bul

e,

pane

la e

fri

gide

ira

em c

ima

de b

anca

da d

e co

ncre

to (

pare

ce s

er a

mes

ma

da f

oto

C1

29).

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85 

     

Set

or –

RA

V A

mer

ican

a C

1 –

34

Cil

los

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

e q

uatr

o ad

ulto

s ob

serv

am u

ma

árvo

re e

m e

spaç

o ab

erto

. A

lgun

s to

cam

nel

a.

C1

– 35

uma

caix

a re

gist

rado

ra a

ntig

a nu

m a

mbi

ente

fec

hado

em

que

est

ão p

endu

rada

s co

isas

fe

itas

de

pano

com

alg

o na

pon

ta. T

rês

men

inas

obs

erva

m o

que

est

á pe

ndur

ado.

C

1 –

36

H

á um

a bo

lsa

pend

urad

a no

pri

mei

ro p

lano

e m

enin

os o

bser

vam

uns

pot

inho

s qu

e es

tão

disp

osto

s em

um

a m

esa.

C

1 –

37

Faz

enda

San

ta E

liza

– C

ampi

nas

– 19

63

Em

esp

aço

aber

to,

jove

ns u

nifo

rmiz

ados

e c

om c

ader

nos

nas

mão

s (n

em t

odos

) ob

serv

am

hom

em q

ue f

ala.

C

1 –

38

Faz

enda

San

ta E

liza

– C

ampi

nas

– 19

63

A m

esm

a si

tuaç

ão q

ue n

o sl

ide

ante

rior

, só

que

des

sa v

ez d

e ou

tro

ângu

lo e

m q

ue p

odem

os

ver

com

mai

s ni

tide

z os

jove

ns e

m to

rno

do h

omem

que

fal

a so

bre

algo

. C

1 –

39

Faz

enda

San

ta E

liza

- 1

963

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

e T

rês

adul

tos

olha

m u

ma

casi

nha

(esp

écie

de

caix

a) f

eita

de

tijo

los.

H

á um

a po

rtin

ha e

m c

ima

e ou

tra

emba

ixo.

Um

dos

jove

ns e

stá

olha

ndo

por

dent

ro e

m c

ima,

ou

tro

emba

ixo.

Um

out

ro e

stá

dent

ro d

e um

bur

aco

ao la

do d

a “c

asin

ha”.

C

1 –

40

M

esm

o es

paço

abe

rto

do s

lide

C1

– 39

vis

to d

e ou

tro

ângu

lo.

C1

– 41

19

64 –

Est

udo

do m

eio

Cam

pina

s A

lto

do C

aste

lo –

alu

nos

obse

rvam

to

pogr

afia

da

cida

de

Set

or –

RA

V A

mer

ican

a

Con

stru

ção

de c

oncr

eto

em f

orm

ato

circ

ular

que

par

ece

esta

r lo

cali

zada

num

a pr

aça.

Em

ci

ma

dela

tem

ant

enas

.

C1

– 42

V

isão

Cid

ade

Cam

pina

s A

lto

Cas

telo

E

spaç

o ci

rcul

ar d

entr

o do

cas

telo

, ond

e há

a p

ossi

bili

dade

de

olha

r a

cida

de. J

oven

s fa

zend

o ob

serv

ação

. C

1 –

43

Pro

fess

or S

ampa

io 1

963

Qua

tro

pess

oas

em u

m e

spaç

o fe

chad

o. N

um s

ofá

estã

o se

ntad

os d

ois

jove

ns e

um

a m

ulhe

r.

Ess

a es

tá c

om d

ois

livr

os n

o co

lo e

mos

tra

um d

eles

par

a os

men

inos

. U

m d

os m

enin

os f

az

anot

açõe

s. E

m f

rent

e a

eles

um h

omem

sen

tado

em

out

ra c

adei

ra.

Ele

os

obse

rva.

Ao

fund

o ap

arec

e um

a es

tant

e de

livr

os.

C1

– 44

Gru

po d

e jo

vens

uni

form

izad

os. A

o fu

ndo,

qua

tro

dele

s es

tão

com

bol

sas

a ti

raco

lo n

o co

rpo.

T

odos

est

ão e

m to

rno

de a

lgo

em p

osiç

ão d

e an

otaç

ão.

C1

– 45

Jove

ns n

a en

trad

a de

um

esp

aço

(o m

esm

o do

sli

de a

nter

ior)

. E

les

estã

o em

tor

no d

e al

go.

Fac

hos

de lu

z “b

atem

” em

alg

umas

pes

soas

da

foto

. C

1 –

46

1964

– E

stud

o do

mei

o C

ampi

nas

Tea

tro

Mun

icip

al

Fac

hada

do

teat

ro m

unic

ipal

de

Cam

pina

s. C

onst

ruçã

o an

tiga

, na

fot

o ap

arec

em 3

por

tas

de

ferr

o gr

adea

das

e tr

ês ja

nela

s em

for

mat

o ci

rcul

ar.

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86 

     

Set

or R

AV

Am

eric

ana

C1

– 47

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

faz

em a

nota

ções

em

esp

aço

fech

ado.

(o

slid

e es

tá e

scur

o).

C1

– 48

um h

omem

apo

ntan

do c

om o

ded

o pa

ra a

lgo.

Os

jove

ns o

bser

vam

e f

azem

ano

taçõ

es.

C1

– 49

Jove

ns e

m e

spaç

o fe

chad

o. A

o ce

ntro

uma

séri

e de

cad

eira

s de

mad

eira

. U

m d

eles

est

á se

ntad

o em

um

a de

las

à fr

ente

, os

dem

ais

perm

anec

em a

ndan

do p

elo

ambi

ente

. C

1 –

50

N

a fo

to a

pare

cem

sei

s pe

ssoa

s. D

a es

quer

da p

ara

a di

reit

a: d

ois

jove

ns s

enta

dos

no s

ofá

olha

ndo

um “

livr

o”. U

ma

senh

ora

sent

ada

na c

adei

ra o

lhan

do p

ara

a fo

to. U

m s

enho

r se

ntad

o em

um

a ca

deir

a de

bal

anço

olh

ando

par

a a

foto

. U

m j

ovem

sen

tado

em

out

ro s

ofá

olha

ndo

para

fot

o e

outr

o jo

vem

obs

erva

ndo

os q

ue o

lham

o li

vro.

C

1 –

51

1964

– E

stud

o do

mei

o C

ampi

nas

Mon

umen

to a

Car

los

Gom

es

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

Jove

ns o

bser

vam

um

mon

umen

to.

C 1

– 5

2 19

63 M

useu

Car

los

Gom

es

Den

tro

do m

useu

, jov

ens

obse

rvam

doc

umen

tos.

uma

está

tua

pres

ente

nes

sa f

oto.

C

1 –

53

1963

Mon

umen

to C

arlo

s G

omes

Cam

pina

s D

e ou

tro

ângu

lo, o

s jo

vens

obs

erva

m o

s do

cum

ento

s (p

apéi

s).

C1

– 54

19

63 –

Mus

eu C

arlo

s G

omes

Cam

pina

s Jo

vens

uni

form

izad

os o

bser

vam

bus

to.

C1

– 55

E

ncon

tro:

S. S

ebas

tião

UB

AT

UB

A

PR

IME

IRO

SL

IDE

CO

LO

RID

O.

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

per

to d

e do

is ô

nibu

s em

um

esp

aço

aber

to. H

á a

pres

ença

de

adul

tos.

C

1 –

56

Pet

robr

ás

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

em

torn

o de

um

hom

em.

C1

– 57

P

etro

brás

– S

ão S

ebas

tião

Jo

vens

uni

form

izad

os e

m to

rno

de d

ois

adul

tos.

C

1 –

62

Faz

enda

Fei

tice

ira

F. B

ela

Jove

ns e

m t

orno

de

um a

dult

o. E

m u

m e

spaç

o ab

erto

com

árv

ores

, pa

rece

que

uma

cruz

at

rás.

C

1 –

70

H

á se

is p

esso

as n

o sl

ide.

obje

tos

que

pare

cem

de

igre

ja e

m c

ima

de m

óvei

s de

mad

eira

. T

rês

jove

ns o

bser

vam

os

obje

tos.

Doi

s jo

vens

seg

uram

um

obj

eto.

C

1 –

72

Jo

vens

uni

form

izad

os e

m e

spaç

o fe

chad

o em

tor

no d

e um

hom

em. A

trás

do

hom

em h

á du

as

jane

las

e o

ambi

ente

é b

asta

nte

escu

reci

do.

C1

– 78

Jove

ns s

enta

dos

obse

rvam

lago

ou

lago

a, a

o fu

ndo

há u

mas

col

inas

. C

1 –

79

Jo

vens

em

sen

tado

s em

cam

inhã

o e

subi

ndo

nele

. C

1 –

80

H

á qu

atro

pes

soas

na

foto

. Cen

tral

izad

o há

um

sen

hor

que

é ob

serv

ado

por

três

jove

ns.

C1

– 81

Est

ão e

m e

spaç

o fe

chad

o em

que

o p

é di

reit

o é

baix

o.

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87 

     

C1

– 82

S

ão S

ebas

tião

– N

úcle

o ca

içar

a H

á se

is p

esso

as n

o sl

ide.

Est

ão e

m e

spaç

o fe

chad

o em

que

o p

é di

reit

o é

baix

o. U

m h

omem

m

ostr

a al

go.

C1

– 83

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

em

fre

nte

a um

a co

nstr

ução

de

arqu

itet

ura

sem

elha

nte

a de

um

a es

cola

tr

ês ja

nela

s e

três

ent

rada

s, d

uas

estã

o fe

chad

as e

um

a es

tá a

bert

a (a

cen

tral

).

C1

– 85

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

T

orre

de

Igre

ja

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

Cat

edra

l

C1

– 86

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– S

agra

da F

amíl

ia

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 87

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– T

rans

figu

raçã

o S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 88

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– S

ão S

ebas

tião

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 89

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– F

uga

para

o E

gito

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 90

19

64 –

Est

udo

do m

eio

– 2ª

sér

ie –

V

ia S

acra

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 91

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– V

ia S

acra

Qua

dro

reli

gios

o

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

88 

     

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

C1

– 92

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– V

ia S

acra

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 93

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

– 2ª

sér

ie –

Via

Sac

ra

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 94

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– V

ia S

acra

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 95

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– V

ia S

acra

S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 96

19

64 –

Est

udo

do m

eio

de B

atat

ais

2ª s

érie

– A

ltar

Mor

Set

or R

AV

de

Am

eric

ana

Qua

dro

reli

gios

o

C1

– 97

19

64 –

Mus

eu d

o C

afé

Jove

ns o

bser

vam

qua

dros

e e

scul

tura

s. H

á qu

adro

s co

m p

aisa

gens

. O

esp

aço

pare

ce s

er

gran

de e

o p

é di

reit

o é

alto

. C

1 –

98

1964

Mus

eu d

o C

afé

Cin

co jo

vens

e u

m a

dult

o ob

serv

am u

ma

senh

ora

man

ipul

ando

um

tear

. C

1 –

99

1964

– F

azen

da (

mas

não

é p

ossí

vel

sabe

r qu

al)

Jove

ns

unif

orm

izad

os

estã

o se

ntad

os

em

banc

adas

de

m

adei

ra.

Ele

s fa

zem

an

otaç

ões

enqu

anto

um

hom

em a

poia

ndo

os b

raço

s em

um

a m

esin

ha a

lta

em f

rent

e a

uma

lous

a on

de

está

, ent

re o

utra

s pa

lavr

as, g

rafa

do li

mpe

za, f

ala.

-

N

o pr

imei

ro p

lano

apa

rece

par

te d

e um

esc

orre

gado

r. D

epoi

s um

loca

l ond

e há

um

a na

ture

za

segu

indo

um

pad

rão

de p

aisa

gism

o. T

rês

garo

tos

sent

ados

e u

m e

m p

é fr

ente

a c

onst

ruçã

o br

anca

de

conc

reto

e u

m o

utro

gru

po a

o fu

ndo

no c

anto

esq

uerd

o do

sli

de.

C1

– 10

1 19

64 –

Jar

dim

Zoo

lógi

co

Gru

po

de

jove

ns

unif

orm

izad

os.

Alg

uns

sent

ados

, ou

tros

em

na

en

trad

a de

um

a co

nstr

ução

do

Jard

im Z

ooló

gico

.

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

89 

     

C1

– 10

3 19

64 –

Pet

rópo

lis

dois

gru

pos.

No

prim

eiro

pla

no,

é ní

tida

a p

rese

nça

de c

ader

nos

nas

mão

s de

les.

No

segu

ndo

grup

o is

so n

ão f

ica

clar

o.

Est

ão e

m u

ma

rua

onde

árvo

res

alta

s e

pass

a um

ôn

ibus

com

pla

ca e

scri

ta E

SP

EC

IAL

. C

1 –

106

1964

– P

ão d

e A

çúca

r T

rês

jove

ns u

nifo

rmiz

ados

est

ão n

um ji

pe d

a po

líci

a m

ilit

ar. O

car

ro n

ão e

stá

em m

ovim

ento

. H

á um

mil

itar

na

dire

ção.

Um

men

ino

sent

ado

ao la

do. O

utro

com

um

cad

erno

abe

rto

e fo

lha

aber

tos

lend

o al

go. O

utro

com

cad

erno

em

mão

s e

lápi

s ob

serv

ando

o c

arro

. C

1 –

107

Jo

vens

uni

form

izad

os e

nfil

eira

dos

com

cap

acet

es n

a ca

beça

aco

mpa

nhad

os d

e um

hom

em d

e te

rno

e gr

avat

a ta

mbé

m c

om c

apac

ete

e ou

tro

de c

amis

a so

cial

e g

rava

ta c

om c

apac

ete

tam

bém

. Par

ecem

aco

mpa

nhar

o p

roce

sso

de c

onst

ruçã

o de

alg

o.

C1

– 10

8

Jove

ns c

om c

apac

ete

em a

mbi

ente

abe

rto.

C

1 –

109

1964

– A

cade

mia

Mil

itar

- R

ezen

a H

omem

de

grav

ata

e ca

mis

a so

cial

apo

nta

com

“va

ra”

para

alg

o de

um

a m

aque

te q

ue e

stá

dent

ro d

e um

vid

ro.

Jove

ns o

bser

vam

. D

ois

faze

m a

nota

ções

. A

o fu

ndo

há u

m q

uadr

o qu

e m

ostr

a a

orla

. C

1 –

110

EM

196

4 –

Rio

de

Jane

iro

– vi

sta

do b

onde

do

Pão

de

Açú

car

Jove

ns u

nifo

rmiz

ados

sob

em a

uma

supe

rfíc

ie i

ncli

nada

. A

baix

o há

mad

eira

s. T

em u

ma

plac

a, m

as n

ão é

pos

síve

l ler

o q

ue e

stá

escr

ito

nela

. C

1 –

118

Q

uatr

o jo

vens

uni

form

izad

os a

nota

m a

lgo

em c

ader

nos.

Ao

fund

o há

trê

s ba

ndei

ras

e de

pois

um

a co

nstr

ução

. C

1 –

120

Jo

vens

obs

erva

m a

est

rutu

ra d

e al

go. E

les

estã

o un

ifor

miz

ados

, de

cost

as p

ara

a fo

to, h

á um

a pe

ssoa

ves

tida

de

verm

elho

. C

1 –

122

Jo

vens

, al

guns

un

ifor

miz

ados

, ou

tros

o co

m

bols

as

a ti

raco

lo

obse

rvam

es

trut

ura

cam

inha

ndo.

C

1 –

123

Jo

vens

, pa

rado

s, a

nota

m a

lgo

sobr

e a

estr

utur

a. T

odos

est

ão d

e ca

beça

bai

xa f

azen

do

anot

açõe

s.

C1

– 12

5

Con

tinu

am a

s an

otaç

ões.

um a

dult

o de

fre

nte

para

ele

s, e

le o

s ob

serv

a.

C1

– 12

7

Alg

uns

jove

ns u

nifo

rmiz

ados

, ou

tros

não

est

ão p

arad

os e

m a

lgo

que

se a

ssem

elha

a u

ma

plan

taçã

o. N

o pr

imei

ro p

lano

mat

o. N

o se

gund

o pa

rece

um

ter

reno

que

est

á se

ndo

prep

arad

o. H

á a

figu

ra d

e um

adu

lto

de c

hapé

u de

pal

ha.

C1

– 12

8

9 pe

ssoa

s no

sli

de.D

a es

quer

da p

ara

a di

reit

a: 2

jov

ens

cam

inha

m;

2 co

nver

sam

em

pé,

um

dele

s ob

serv

ando

o c

ader

no;

4 es

tão

abai

xado

s, o

s 3

adul

tos

conv

ersa

ndo,

o m

ais

novo

ob

serv

ando

a c

onve

rsa;

por

últ

imo

um h

omem

de

bigo

de o

bser

vand

o o

mat

o. P

arec

e o

terr

eno

de c

ulti

vo q

ue e

stá

send

o pr

epar

ado.

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

90 

     

1 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Per

curs

o de

Am

eric

ana

a B

auru

- G

ado

Pai

sage

m –

terr

a e

céu.

2 A

mar

elo

– P

ercu

rso

Bau

ru a

C

ampo

gra

nde

- V

eget

ação

P

aisa

gem

– c

asa

e m

ato

tira

da d

e um

trem

(?)

3 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Vis

ta d

o R

io P

aran

á P

aisa

gem

– c

asa,

veg

etaç

ão e

rio

.

4 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Pon

te

sobr

e o

Rio

Par

aná.

Div

isa

SP

MT

P

aisa

gem

– e

stru

tura

por

ond

e pa

ssa

o tr

em.

5 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Per

curs

o -

Veg

etaç

ão

Pai

sage

m –

veg

etaç

ão.

6 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Veg

etaç

ão

– C

ampo

Ser

rado

Gra

nde

- S

idra

lând

ia

Jove

ns s

em u

nifo

rme

obse

rvam

veg

etaç

ão.

7 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Per

curs

o C

ampo

Gra

nde

Sid

ralâ

ndia

-

Hab

itaç

ão

Pai

sage

m –

veg

etaç

ão c

om c

asa

de “

palh

a” c

entr

aliz

ada.

8 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso

– V

eget

ação

Cam

po G

rand

e S

idro

lând

ia

Jove

ns

cam

inha

m

obse

rvan

do

a ve

geta

ção.

Não

ca

dern

os

em

mão

s.

Alg

uns

estã

o un

ifor

miz

ados

out

ros

não.

9 A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso

– al

unos

se

guem

par

a al

deia

indí

gena

C

amin

hãoz

inho

com

doi

s pa

ssag

eiro

s ao

fun

do p

erco

rren

do u

ma

estr

ada

de te

rra

plan

a.

10

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

ercu

rso

Cam

po G

rand

e C

orum

bá -

V

eget

ação

Pai

sage

m -

Est

á de

sfoc

ada.

Veg

etaç

ão

11

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

ercu

rso

Cam

po G

rand

e C

orum

bá -

V

eget

ação

Pai

sage

m –

árv

ores

.

12

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

ercu

rso

Cam

po G

rand

e C

orum

bá –

Pic

o M

orro

Uru

cum

UR

UC

UM

Pai

sage

m –

veg

etaç

ão c

om o

mor

ro a

o fu

ndo

desf

ocad

o.

13

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

ercu

rso.

P

aisa

gem

– á

rvor

es tí

pica

s es

paça

das

e m

uito

mat

o.

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

91 

     

Cam

po G

rand

e C

orum

bá –

Mor

ro

Uru

cum

14

A

mar

elo

– M

ato

Gro

sso.

Per

curs

o C

. G. C

orum

bá M

orro

Uru

cum

EF

.N.B

Pai

sage

m –

árv

ores

, mat

o e

um p

oste

de

ener

gia

elét

rica

com

fio

s.

15

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

ampo

G

rand

e. C

orum

bá P

anta

nal –

Vis

ta

Ser

ra. A

vião

da

FA

B.

Pai

sage

m –

fot

o aé

rea

de le

ito

de r

io.

16

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

ampo

G

rand

e C

orum

bá P

anta

nal –

Vis

ta

aére

a

Pai

sage

m –

apa

rece

um

pou

co d

a ja

nela

, fot

o aé

rea

do le

ito

do r

io u

m p

ouco

mai

s di

stan

te.

17

Am

arel

o -

Mat

o G

ross

o. C

. Gra

nde.

P

anta

nal –

Vis

ta a

érea

C

omo

desc

rito

18

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

anta

nal.

Vis

ta a

érea

. Cam

po G

rand

e.

Com

o de

scri

to

19

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

ampo

G

rand

e. P

anta

nal.

Vis

ta a

érea

. C

omo

desc

rito

20

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

ampo

G

rand

e C

orum

bá. P

anta

nal.

Vis

ta

aére

a.

Com

o de

scri

to

21

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. P

anta

nal.

Vis

ta a

érea

. C

omo

desc

rito

22

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

ampo

G

rand

e –

Cor

umbá

Pan

tana

l –

lago

a –

vist

a aé

rea

Com

o de

scri

to

23

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. L

agoa

de

Uru

cum

. Vis

ta a

érea

. C

omo

desc

rito

24

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. R

io

Par

agua

i – V

ista

aér

ea

Com

o de

scri

to. S

ó ac

resc

ento

cas

as e

m u

ma

das

mar

gens

do

Rio

.

25

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o C

orum

bá.

Vis

ta a

érea

. C

omo

desc

rito

. Só

acre

scen

to q

ue é

pos

síve

l ver

com

o os

lote

s sã

o di

vidi

dos.

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

92 

     

26

Am

arel

o –

Mat

o G

ross

o. C

orum

bá.

Ate

rris

sage

m. A

vião

da

FA

B.

Com

o de

scri

to. N

essa

fot

o é

poss

ível

obs

erva

r o

vidr

o da

fre

nte

do a

vião

.

C1

– 14

0

Jove

ns c

amin

ham

pel

a ve

geta

ção

loca

l. O

que

est

á em

pri

mei

ro p

lano

seg

ura

uma

pá. H

á um

ad

ulto

ent

re e

les.

C

1 –

141

F

oto

tira

da c

om o

gru

po d

e co

stas

em

vol

ta d

e al

go n

o m

eio

da v

eget

ação

. C

1 –

160

D

ois

hom

ens

dent

ro d

e um

avi

ão. U

m d

eles

est

á co

m u

m p

apel

na

mão

. Um

a jo

vem

sob

e no

av

ião

e pa

rece

que

uma

fila

par

a en

trar

tam

bém

. C

1 –

161

D

ois

aviõ

es a

o fu

ndo

num

a pi

sta.

Jov

ens

espa

lhad

os p

ela

pist

a pe

rto

dele

s.

C1

– 16

2

Doi

s ho

men

s de

ntro

do

aviã

o pa

rece

m a

uxil

iar

os j

oven

s a

emba

rcar

em.

Um

out

ro o

lha

do

lado

de

fora

o e

mba

rque

. C

1 –

163

N

o pr

imei

ro p

lano

um h

omem

com

um

a m

alet

a. S

egue

na

foto

jove

ns o

bser

vand

o al

go.

C1

– 16

4

Fot

o se

mel

hant

e à

ante

rior

, fic

a m

ais

níti

do q

ue h

á pe

ssoa

s do

exé

rcit

o.

C1

– 16

5 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

C

ampo

Gra

nde

Gin

ásio

Est

adua

l S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Jove

ns e

ntra

ndo

em u

m l

ugar

. No

prim

eiro

pla

no e

stá

a ru

a de

ped

ra m

olha

da e

com

ter

ra n

a la

tera

l. P

onto

de

ônib

us e

, dep

ois

de v

eget

ação

, pré

dio.

C1

– 16

6

três

bic

icle

tas

apoi

adas

no

préd

io.

Um

a ou

tra

send

o em

purr

ada.

Oit

o jo

vens

cam

inha

m

em d

ireç

ão a

pré

dio.

um a

dult

o na

fot

o.

C1

– 16

7 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

C

ampo

Gra

nde

Gin

ásio

Est

adua

l S

etor

RA

V d

e A

mer

ican

a

Um

gru

po d

e jo

vens

est

á em

baix

o do

que

eu

desc

revi

com

o um

pon

to d

e ôn

ibus

na

outr

a fo

to

e ou

tro

grup

o pr

óxim

o ao

pré

dio.

Tem

um

car

ro p

assa

ndo

na r

ua d

e pe

dra.

C1

– 16

8

Jove

ns s

e or

gani

zand

o em

aud

itór

io c

om c

adei

ras

de m

adei

ra.

Ele

s já

est

ão s

enta

dos.

algu

ns e

m p

é ao

fun

do.

C1

– 16

9

um a

dult

o de

azu

l cen

tral

izad

o na

fot

o. J

oven

s em

vol

ta, m

as n

ão o

lham

par

a el

e.

C1

– 17

0

Um

a m

oça

apon

ta u

ma

lant

erna

par

a al

go q

ue e

stá

na m

ão d

e ou

tra

pess

oa. H

á um

a fo

lha

na

mes

a e

uma

pess

oa s

egur

ando

um

a ca

neta

.

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

93 

     

C1

- 17

1

Jove

ns p

róxi

mos

a u

m c

amin

hão

em u

m l

ocal

abe

rto

onde

o c

hão

é de

ter

ra. U

m d

os j

oven

s es

tá d

entr

o do

cam

inhã

o.

C1

– 17

2 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on -

Fac

hada

Len

ha. F

iaçã

o el

étri

ca. P

rédi

o br

anco

. Tor

res

de f

ábri

ca.

C1

– 17

3 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on -

Gad

o

Gad

o co

m jo

vens

ao

fund

o ap

oiad

os n

a ce

rca

obse

rvan

do.

C1

– 17

4 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

Gad

o

Gad

o.

C1

– 17

5 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

Cor

redo

r da

m

orte

-

Jove

ns o

bser

vam

gad

o qu

e es

tá p

reso

num

pla

no in

feri

or (

bura

co).

C1

– 17

6 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

mar

reta

de

abat

e ao

gad

o

Obj

eto

que

se a

ssem

elha

a u

m m

arte

lo.

C1

– 17

7 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

des

carn

ando

o

boi

Hom

ens

vest

idos

de

bran

co c

om r

espi

ngos

de

sang

ue e

sac

o pl

ásti

co b

ranc

o co

m s

angu

e.

C1

– 17

8 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

boi

já li

mpo

e

pend

urad

o no

s ga

ncho

s

Gad

o m

orto

pen

dura

do d

e ca

beça

par

a ba

ixo

e en

file

irad

o. H

omem

ves

tido

de

bran

co e

m

fren

te a

ess

e.

C1

– 17

9 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

pre

paro

de

cons

erva

s

Mes

a co

m p

esso

as d

e br

anco

man

ipul

ando

obj

etos

par

a co

rtar

a c

arne

. Jo

vens

seg

uem

pel

o co

rred

or a

o la

do d

irei

to d

essa

s.

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO ... professor de Práticas Comerciais do João XXIII,

94 

     

C1

– 18

0 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e F

rigo

rífe

ro B

ourb

on –

pre

paro

de

cons

erva

s

Jove

ns o

bser

vam

peç

as d

e ca

rne.

C1-

181

Jove

ns c

amin

ham

em

am

bien

te f

echa

do p

ared

es b

ranc

as e

am

arel

as m

anch

adas

de

pret

o.

Enc

anam

ento

s na

par

ede

de c

ima.

C

1 –

182

1966

– E

stud

o do

mei

o M

ato

Gro

sso

– 3ª

sér

ie C

ampo

Gra

nde

Fri

gorí

fero

Bou

rbon

– s

ecan

do

char

que

Pel

e do

gad

o es

tend

ida

para

sec

ar.

C1

– 18

3

Jove

ns e

m g

rupo

reu

nido

s em

torn

o de

alg

o em

fre

nte

às p

eles

de

gado

est

endi

das

para

sec

ar.

C1

– 18

4

Com

em c

arne

em

mes

as. H

á um

a m

ulhe

r m

anip

ulan

do u

m e

spet

o.

C1

– 18

5

Com

em e

m u

ma

espé

cie

de r

efei

tóri

o.

C1

– 18

6 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e M

useu

do

ÍND

IO

um jo

vem

cen

tral

izad

o co

m c

ader

no n

a m

ão. O

bser

vam

um

a es

péci

e de

“m

useu

”.

C1

– 18

7 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e M

useu

do

ÍND

IO

Obj

etos

indí

gena

s.

C1

– 18

8

Obj

etos

indí

gena

s e

foto

de

um ín

dio

na p

ared

e.

C1

– 19

0

Bon

ecos

fei

tos

de p

alha

(am

arel

os e

bra

ncos

).

C1

– 19

1

Jove

ns e

adu

ltos

, alg

uns

posa

m p

ara

a fo

to, o

utro

s es

tão

de la

do.

C1

– 19

2

4 m

ulhe

res

vest

idas

de

amar

elo

e ve

rmel

ho o

bser

vam

alg

o.

C1

– 19

3 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

o G

ross

o –

3ª s

érie

Cam

po G

rand

e S

indr

olân

dia

– as

pect

o da

cid

ade

Pai

sage

m –

ter

ra.

Rua

em

que

jov

ens

cam

inha

m.

auto

móv

eis

para

dos

em c

asas

ou

esta

bele

cim

ento

s co

mer

ciai

s.

C1

– 19

4 19

66 –

Est

udo

do m

eio

Mat

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ANEXO B – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA REALIZADA COM EX-PROF. JOSEANGELO POMPEU

Entrevistado: Joseangelo Pompeu

Idade: 73 anos

Período em que atuou no vocacional: De 1964 a 1970

Função: ex-professor de Práticas Comerciais no João XXIII

I - INFORMAÇÕES GERAIS

Formação

Você atuava no ginásio vocacional de Americana? Qual era a sua função? Ela foi

sempre a mesma? Quando começou a trabalhar no vocacional e quando parou?

De 1964 até o fechamento. Fechamento não, o encerramento das atividades que foi por

volta de 1970. Porque foi no meu casamento. Eu casei em 70 e a Delma ainda estava

em Americana. Ficaram alguns em Americana, depois foram embora.

Eu era professor de Práticas Comerciais. Iniciei em 64 com as turmas que entraram em

64, quer dizer, 62, 63, a terceira turma do vocacional. Antes de mim, tinha o Trajano

de São Paulo e a Lucina Bretenites que era de Rio Claro. Não tive mais contato com

nenhum dos dois. O Trajano morreu e a Lucina nunca mais vi.

Como começou a trabalhar no vocacional? Fez o curso de formação para

professores?

A minha formação acadêmica é, eu sou contador, formado em escola técnica de

Americana, mas nunca exerci minha função. Na época que conheci o vocacional, eu

trabalhava no cartório de registro de imóveis de Americana. Eu era escrevente

habilitado em um escritório em Americana. Conheci umas professoras do vocacional

em Americana à noite e no mesmo dia ela disse que tinha uma vaga para professor de

Práticas Comerciais em Americana e que eu deveria ir para São Paulo.

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99  

 

 

Fui entrevistado pela Dona Maria Cândida, que não me esqueço até hoje. Já conhecia

alguma coisa do vocacional, minha cunhada e sobrinha eram alunas do vocacional.

Maria Cândida chamou Maria Nilde pra conversar comigo.

No dia seguinte voltei para Americana. Fiz exame médico. Era 23 de abril de 1964.

Se fez o curso de formação para professores, como era esse curso?

1970 fui para São Paulo com minha família. Eu, minha esposa e uma filha recém-

nascida. Ela tinha seis meses quando fomos para São Paulo. De junho a dezembro, eu

fiz um curso na USP de complementação pedagógica. Curso superior de curta

duração. Eu fui morar no Jardim São Paulo. Todo dia pegava o ônibus e ia para USP.

Fiz o curso de formação de Práticas comerciais.

O curso era da matéria. Era um curso da USP para complementar e ter o diploma. Foi

com isso que obtive estabilidade. Depois de cinco anos de professor contratado, me

tornei estável. Não podia ser mais dispensado. Tinha minha cadeira em Americana.

Depois os professores continuavam a ser formados para além de reuniões e o

trabalho contínuo de reflexão-ação?

A escola dispensou com vencimentos para fazer o curso. Eles tinham interesse em que

a gente se aprimorasse.

Não tinha um curso do vocacional para formação. Como era uma matéria prática não

tinha especialização. Tanto que outras escolas, o Estado adotou uma cadeira de

Práticas Comerciais. Foi a época de matérias práticas.

O que você achou de trabalhar no vocacional? Por quê?

Olha foi uma vida diferente que eu tive. Totalmente voltada para a escola. Foram

praticamente de 64 a 70. Esses seis anos foram de dedicação integral à escola

Vocacional de Americana.

Era de manhã, de tarde e à noite. De segunda a domingo. Quando não tinha aula, era

reunião com colegas, confraternização em casa, comemoração, nos reuníamos. Cada

um morava em uma república. Tinha uma que se chamava em Senzala, outra que se

chamava Casa Grande. Fazia um coquetel e a gente batia papo. Fui morar em

república, coisa que nunca fiz. Até eu me casar em 1970 fiquei nessa república.

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100  

 

 

Era uma vida totalmente diferente e voltada totalmente para a escola.

Era dia e noite vivendo o vocacional.

Como professor, acha que contribuiu para a elaboração do currículo? Como foi

essa participação?

Não vou dizer que contribuímos diretamente para mudança ou alteração do currículo.

A gente tinha orientador pedagógico e educacional. Tudo se resolvia com eles. Acho

que na troca de experiências com os colegas na república. Houve uma vez que fizemos

um acordo com professor Modesto que iria corrigir erros de português.

O sistema era sempre Estudos Sociais de onde saiam os temas. Praticas comerciais se

encaixavam nos temas naquilo que poderia contribuir para o desenvolvimento

pedagógico, mas os conteúdos já vinham de São Paulo. Era já discutido entre eles.

Lógico que haviam as adaptações feitas em cada cidade. Lançavam o tema e as demais

áreas se encaixavam ali com suas particularidades.

Estudo do meio

Participou de algum estudo do meio? Onde? Qual foi a sua atuação?

Toda vez que tinha um estudo do meio, Práticas Comerciais se encaixava na

elaboração do orçamento de transporte, alojamento, custo, gasto, arrecadação e

controle de dinheiro... a gente desenvolvia com os alunos tudo.

Eu participei de alguns lugares. Íamos primeiro para elaborar o orçamento. Um dos

estudos que participei e me lembro foi o de Ilha Solteira. Fomos visitar, ver tudo para

fazer o orçamento antes.

Às vezes outros professores iam e a gente elaborava o orçamento depois baseados em

dados que forneciam. Entrava em contato com a associação de pais para garantir

aqueles que não poderiam pagar.

Como você vê a participação dos alunos no estudo do meio?

O conteúdo em praticas comerciais naquela semana era voltado para o estudo do meio,

se era aquela classe minha que ia.

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101  

 

 

Todo mundo participava para elaborar orçamento sob a supervisão do professor.

Não tinha como não ter euforia, todos queriam participar do estudo do meio. Havia o

planejamento, eles desenvolviam o que ver o que perguntar no estudo do meio.

Estudos sociais lançava a pedra fundamental com a visita. Mas qual era o objetivo de

visitar uma cidade no Estado de São Paulo? Ou conhecer a capital.

O conteúdo era dividido assim: 1ª e 2ª serie se conhecia a cidade, depois se conhecia o

Estado, depois o Brasil, depois até uma atividade no exterior.

Os alunos foram para Bolívia de trem conhecer Santa Cruz de la Sierra. Teve um

aluno que ficou doente e precisou voltar. Saugo amargo Neves, nunca me esqueço

dele.

Qual a importância do estudo do meio no trabalho interdisciplinar que

acontecia? Como o estudo do meio propiciava ou não esse trabalho?

O estudo do meio era quando todo mundo trabalhava junto. Sempre com Estudos

Sociais como centro.

Na proposta de estudo do meio, todos os alunos faziam as viagens? Você

conseguiria me dizer quem financiava a viagem? Se alguém não ia, o que fazia?

Os que não tinham dinheiro entrava a associação de pais e mestres que fazia a doação

do dinheiro com aquilo que sobrava daquilo que sobrava da alimentação, do dinheiro

da comida, cantina... não ficava nenhum aluno sem ir a nenhuma atividade, nem sem

uniforme ou agasalho. Tudo era feito com a orientação educacional.

O vocacional na seleção dos alunos, mesmo que passassem por prova, entrava A B e

C. mesmo que C fosse ruim entrava. Tinha alunos pobres, não muito inteligentes para

promover a troca de experiências. Fazia-se uma combinação certa das classes sociais.

Não tinha classe de mais pobres, mais ricos... era dividido equitativamente.

Orientação educacional garantia uniforme para todo mundo. Mandava a cooperativa

dar pano... Nunca ninguém ficava sabendo.

De acordo com Circe Bittencourt (2003), o estudo do meio é um método de

investigação cujos procedimentos se devem ater a dois aspectos iniciais. O

primeiro deles é que esse método é o ponto de partida, não um fim em si mesmo.

O segundo é que sua aplicação resulta sempre de um projeto de estudo que

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integra o plano curricular da escola. Ao pensarmos em “estudo do meio”,

devemos levar em consideração o aprofundamento de conteúdos, a socialização

dos alunos e a formação intelectual. Para estruturar essa tarefa, Bittencourt

propõe uma metodologia, uma sequência de ações logicamente estruturadas:

promover situações que conduzam os alunos a problematizar a realidade,

estabelecer estratégias para a coleta e a análise dos dados coletados dessa

realidade e conduzir o aluno a desenvolver ações de intervenção no contexto

social estudado. Na sua opinião, no que a concepção de estudo do meio converge

com a ideia apresentada por Bittencourt? No que se distingue?

Na minha opinião o estudo do meio servia para que o aluno pudesse observar na

prática o que aprendeu na teoria. Para depois se instruir e depois agir. O vocacional se

preocupava com a formação de pessoas conscientes que pudessem atuar no seu meio.

Esse era o objetivo maior. Se o aluno não conhecesse uma realidade do campo com os

cortadores de cana, por exemplo, como ele poderia desenvolver uma atividade que

pudesse mudar aquilo? Ele conhecia uma realidade para depois introspectar aquilo e

agir no meio.

Não acontecia no momento do estudo, mas na vida. Conhecer tudo, ver tudo para se

tornar um cidadão consciente e participativo.

Comunidade escolar

Como você vê a participação dos alunos nos ginásios vocacionais?

Não tinha como não ter euforia, todos queriam participar do estudo do meio. Havia o

planejamento, eles desenvolviam o que ver o que perguntar no estudo do meio.

Estudos sociais lançava a pedra fundamental com a visita. Mas qual era o objetivo de

visitar uma cidade no Estado de São Paulo? Ou conhecer a capital.

O conteúdo era dividido assim: 1ª e 2ª serie se conhecia a cidade, depois se conhecia o

Estado, depois o Brasil, depois até uma atividade no exterior.

Todos tinham roteiro, as perguntas que seriam feitas e deveriam anotar as respostas.

Cada um anotava uma parte. Fazia um relatório do estudo do meio de cada área.

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De um modo geral, a volta do estudo do meio. Depois que se elaborava todas as

respostas e do que se propôs fazer o estudo do meio havia uma síntese. As equipes

faziam depois a apresentação do trabalho do que foi o estudo do meio.

Como você vê a atuação do SEV em relação ao ginásio vocacional de Americana?

As supervisoras eram muito presentes. Tudo de conteúdo que chegava em Americana

vinha de São Paulo. As decisões eram tomadas lá.

Como você vê a atuação dos professores em Americana?

Práticas comerciais era uma matéria prática. Nós tínhamos uma vida muito próxima de

dedicação integral ao vocacional. Estudávamos muito e sempre falando sobre a escola

ou coisas da escola.

Como você vê a atuação dos pais em Americana?

Tinha a Associação de Pais e Mestres que não deixava ninguém fora de nenhum

estudo do meio. Os pais participavam, tinha alguns que até iam às viagens de estudo

do meio.

Curriculo core – a partir daqui o gravador parou de funcionar e apenas há o rascunho

de anotações

Em que medida, para você, aparecia a flexibilidade dos currículos e as particularidades

das unidades?

No que a unidade de Americana se distinguia em relação às outras unidades? O que

era particular de Americana?

Durante a existência desse sistema educacional, de acordo com Mascellani, o objetivo

era a renovação do ensino e a formação de docentes em contrapartida a uma tradição

disciplinar e compartimentada das disciplinas. Em paralelo, também havia uma

contraposição à ideia de currículo único. Nos ginásios vocacionais, existia um

currículo passível de transformação, no qual havia uma pergunta inicial que era

estudada por todas as áreas, sendo os conteúdos das disciplinas trabalhados a partir

desse questionamento inicial. Como você vê isso?

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Crises internas e regime militar

Como o regime militar afetou os ginásios vocacionais, na sua opinião? Como foi o

impacto da ditadura em Americana?

Havia crises internas perceptíveis no vocacional de Americana?

Você acha que as crises que as diferenças que existiam entre os participantes do SEV

influenciavam na prática do vocacional de Americana?

Houve mudanças perceptíveis nos vocacionais em algum momento? Quais?

Você acha que a ideia de transformação do homem e a ideia de conscientização se

manteve a mesma em Americana do começo ao fim? Quais eram as disciplinas e como

se dava o ensino? Qual era o objetivo da escola?

II – SLIDES

Organização

Como foram adquiridos os slides?

Quem os organizou?

Há algum critério para a separação nas caixas nessa ordem?

Há algum critério para a numeração dos slides dentro das caixas?

Onde estavam guardados esses slides?

Função social

Qual era o uso social dos slides no que diz respeito ao estudo do meio no ginásio

vocacional de Americana?

A função social estava vinculada ao registro?

Essas fotos eram documentadas pelos alunos ou pelos professores?

Como os slides eram usados no estudo do meio?

Como foram escolhidos os locais para serem realizados os estudos do meio?

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105  

 

 

III – Caixas

Perguntas para todas as caixas:

Você pode contar um pouco sobre os slides conforme formos passando?

Quem são as pessoas que aparecem nas fotos? Qual é a série que está fazendo o estudo

do meio? Quem são os professores que aparecem? Eles são professores de qual

disciplina?

Qual atividade está sendo realizada? Qual é o objetivo dessa atividade?

Houve mudanças na proposta de estudo do meio ao longo dos anos em que esteve no

vocacional de Americana? Quais? É possível apontar em algum dos slides?

Nos slides em que aparecem apenas paisagens ou quadros ou monumentos, qual era o

objetivo? Para que eram tiradas essas fotos?