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POPULAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA URBANA EM SANTA MARIA (RS): ESTUDO DE CASO BAIRRO URLÂNDIA Vilma Dominga Monfardini FIGUEIREDO Odeibler Santo GUIDUGLI Introdução Na atualidade, qualidade de vida tem se tornado um tema relevante, especialmente, nas discussões acerca da vida nas cidades. Pensadas como espaço de uma vida ideal, hoje, aglomerações humanas, que chamamos de cidades representam um desafio para todos. Existe um desajuste muito grande entre as necessidades crescentes da população e os recursos disponíveis para a satisfação destas necessidades o que é crescentemente perceptivel. Isto pode ser verificado tanto nos países desenvolvidos quanto nos menos desenvolvidos. Porém, nos últimos, os problemas são mais graves, uma vez que o modelo de desenvolvimento econômico neles adotado não tem como principal preocupação a sociedade e a melhoria da qualidade de vida da população, mas sim a obtenção de vantagens econômicas às custas desta mesma população. Via de regra esta não é alvo de melhorias mas, converte-se apenas em uma peça em meio às mudanças que a marginalizam. Assim, nas últimas décadas, as áreas menos desenvolvidas do mundo e, em particular, as nações latino-americanas têm experimentado um rápido crescimento de suas populações urbanas sem a correspondente expansão da infra-estrutura e dos serviços essenciais à suas vidas. O resultado disto é que na prática, em todos os centros urbanos, independente de seu porte, têm surgido uma série de problemas caracterizados como indicadores de má qualidade de vida para a maioria da população. A realidade mostra que o crescimento rápido e desordenado das cidades não foi acompanhado de uma infra-estrutura básica e de outros pré-requisitos que possibilitassem uma melhoria da qualidade de vida em aspectos como: educação, saúde, alimentação, lazer, habitação, emprego, etc. Esta situação impede que haja uma forte coesão social, como seria o desejável. Juntando-se a isto, outros problemas relevantes e graves, como insegurança pessoal, marginalização, não participação nas tomadas de decisões, carências culturais, etc., vêm também aumentando e assumindo importância. E este grande número de problemas sociais vivenciados pelas populações citadinas que torna o estudo da qualidade de vida urbana um tema cada vez mais relevante para vários cientistas sociais. É este estudo que se realizou avaliando-se um bairro da cidade de Santa Maria – o bairro Urlândia, como área caracterizada pela diversidade ( Figura 1).

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POPULAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA URBANA EM SANTA MARIA (RS): ESTUDO DE CASO

BAIRRO URLÂNDIA

Vilma Dominga Monfardini FIGUEIREDOOdeibler Santo GUIDUGLI

Introdução

Na atualidade, qualidade de vida tem se tornado um tema relevante, especialmente, nas discussões acerca da vida nas cidades. Pensadas como espaço de uma vida ideal, hoje, aglomerações humanas, que chamamos de cidades representam um desafio para todos. Existe um desajuste muito grande entre as necessidades crescentes da população e os recursos disponíveis para a satisfação destas necessidades o que é crescentemente perceptivel. Isto pode ser verificado tanto nos países desenvolvidos quanto nos menos desenvolvidos. Porém, nos últimos, os problemas são mais graves, uma vez que o modelo de desenvolvimento econômico neles adotado não tem como principal preocupação a sociedade e a melhoria da qualidade de vida da população, mas sim a obtenção de vantagens econômicas às custas desta mesma população. Via de regra esta não é alvo de melhorias mas, converte-se apenas em uma peça em meio às mudanças que a marginalizam.

Assim, nas últimas décadas, as áreas menos desenvolvidas do mundo e, em particular, as nações latino-americanas têm experimentado um rápido crescimento de suas populações urbanas sem a correspondente expansão da infra-estrutura e dos serviços essenciais à suas vidas. O resultado disto é que na prática, em todos os centros urbanos, independente de seu porte, têm surgido uma série de problemas caracterizados como indicadores de má qualidade de vida para a maioria da população.

A realidade mostra que o crescimento rápido e desordenado das cidades não foi acompanhado de uma infra-estrutura básica e de outros pré-requisitos que possibilitassem uma melhoria da qualidade de vida em aspectos como: educação, saúde, alimentação, lazer, habitação, emprego, etc. Esta situação impede que haja uma forte coesão social, como seria o desejável. Juntando-se a isto, outros problemas relevantes e graves, como insegurança pessoal, marginalização, não participação nas tomadas de decisões, carências culturais, etc., vêm também aumentando e assumindo importância.

E este grande número de problemas sociais vivenciados pelas populações citadinas que torna o estudo da qualidade de vida urbana um tema cada vez mais relevante para vários cientistas sociais. É este estudo que se realizou avaliando-se um bairro da cidade de Santa Maria – o bairro Urlândia, como área caracterizada pela diversidade ( Figura 1).

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Figura 1 - Localização do bairro Urlândia na cidade de Santa Maria (RS)

Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Maria. Secretaria de Planejamento. Adaptado – 1992Mapa informativo e turístico de Santa Maria. Produção: Olinto J. Kuhn. Santa Maria – RS. 1996.Org.: FIGUEIREDO, V. D. M.Desenho: Silvana Fernandes Neto

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estudos de Geografia

A qualidade de vida, devido à sua complexidade e às dimensões que envolve, tem tido diferentes interpretações. Dominantemente, ela tem sido entendida como nível de bem estar individual ou coletivo, determinado não apenas pela satisfação das necessidades básicas, mas também pela percepção do espaço onde se vive. Constata-se que a satisfação dos desejos e aspirações dos indivíduos está se tornando um aspecto em evidência no âm-bito dos estudos de qualidade de vida. Também, cada vez mais, verifica-se que as pessoas querem mais que alimentação e habitação. Elas aspiram a uma vida integralmente melhor. Neste sentido, é necessário considerar não apenas aspectos materiais da vida. Assim, uma análise mais abrangente sobre a qualidade de vida não deve estar restrita apenas à avaliação de aspectos objetivos, devendo, portanto, incluir também aqueles denominados subjetivos.

O tema da qualidade de vida é considerado complexo, multidimensional e interdis-ciplinar. Por isto tem gerado uma ampla gama de discussões em função da falta de unidade entre os pesquisadores quanto à sua definição e mensuração. A expressão “Qualidade de Vida”, enquanto conceito e organização emerge, na década de 50, nos países desenvolvidos e, somente na década de 70, nos menos desenvolvidas. Quanto às formas de sua mensura-ção, os primeiros estudos baseavam-se, dominantemente, em indicadores objetivos. Porém, transformações profundas que vêm ocorrendo na sociedade urbana da atualidade estão evidenciando, cada vez mais, a importância do uso concomitante de indicadores objetivos e subjetivos nas metodologias adotadas.

Considerando-se estas questões, a pesquisa desenvolvida teve dois objetivos gerais. O primeiro constituído pelo próprio envolvimento com a literatura sobre o tema: qualidade de vida, que é ainda escassa na Geografia e, em sua maior parte, estrangeira. O segundo envolve a questão da qualidade de vida da população residente num bairro periférico da cidade Santa Maria – o bairro Urlândia –, localizado a sudoeste da área central e considerado um dos bairros mais problemáticos da cidade. Como objetivos específicos, buscou-se, identificar a realidade socioeconômica do bairro, considerado uma área deprimida, caracterizando, objetiva e subjetivamente, as variáveis definidoras dos problemas detectados.

As variáveis identificadas para o bairro e consideradas relevantes foram: escolaridade, renda, emprego, habitação, saúde, segurança, infra-estrutura e saneamento básico, questões ambientais, nível de satisfação, participação e aspirações da população. Estas variáveis foram consideradas segundo suas diferentes formas de mensuração, tendo sido utilizado como critério de avaliação, os atributos bom ou ruim. Assim, este trabalho é o resultado da observação e mensuração das precárias condições de vida a que está submetida uma popu-lação de 9.702 habitantes (1996), que habita uma área periférica da cidade de Santa Maria.

A problemática desta pesquisa foi analisada através das seguintes relações hipotéticas: existem evidências de que há uma relação entre o nível de renda, a educação, a qualidade de vida e a distribuição espacial das famílias que têm origem na própria localidade; há também evidências de que estejam ocorrendo mudanças socioeconômicas na população, mudanças estas resultantes da evolução da estrutura urbana e do processo histórico da ocupação es-pacial das diferentes vilas.

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Referencial teórico

Os estudos sobre qualidade de vida constituem-se numa preocupação mais antiga nos países desenvolvidos porém, são mais recentes nos menos desenvolvidos. Qualquer teriam sidos os termos utilizados para denominá-la “Qualidade de vida”, não como expressão, mas como realidade, sempre acompanhou a história humana. Contudo, enquanto conceito e sua organização, emerge apenas na década de 50, inicialmente nos países desenvolvidos, enquanto nos menos desenvolvidos, as primeiras atenções voltadas para a temática datam da década de 70.

Segundo Oliveira (1979), os primeiros estudos relativos à qualidade de vida originaram-se na Europa, em meados do século XIX. Estes estudos foram realizados por integrantes da chamada escola de economia política, que se interessavam pelas condições de vida das classes trabalhadoras européias. Diáz (1985), destacou que os primeiros estudos sobre qualidade de vida tiveram início no final do século XIX (1884) e inicio do século XX, sendo que a maioria deles o associava ao nível de consumo em termos de bens e serviços utilizados por uma dada população.

Em seus estudos Calderón e Jiménez (1996), indicaram a década de 50 como o marco de introdução do tema no mundo político pelas Nações Unidas. e na opinião de Sandroni (1989), foi com o avanço do movimento ecológico ocorrido na década de 60 que o questio-namento acerca da qualidade de vida nos países industrializados ganhou força.

Nos países menos desenvolvidos, as primeiras preocupações surgiram somente na década de 70 e, os estudos realizados demonstraram que, na América Latina, coube ao Brasil o pioneirismo sobre o tema. Isto pode ser comprovado através do trabalho realizado por Souza (1972) sobre o uso do tempo como medida da qualidade de vida. A partir deste trabalho, outros surgiram no Brasil, na Venezuela, Argentina, México, Chile, etc.

Como foi referido anteriormente, é do conhecimento dos pesquisadores que se dedicam aos estudos sobre qualidade de vida que o tema é complexo, multidimensional e interdisciplinar, e que vem sendo interpretado de diferentes formas em função da formação de cada pesquisador. Isto faz com que, ainda hoje, não exista uma definição precisa de seu significado, daí as diferentes abordagens conceituais sobre o tema. Há pesquisadores que estabelecem relações entre qualidade de vida e saúde, Cordeiro (1981), Gallopin (1982), Abaleron (1996). Outros entre qualidade de vida e qualidade ambiental, como Guimarães (1984), Troppmair (1992), Sanches e Borja (1993), Herculano (2000). Outros ainda, esta-belecem relações entre qualidade de vida e desenvolvimento, como Crocker (1993). No entanto, existe um ponto em comum entre os diferentes autores: a relação da qualidade de vida com a questão das necessidades básicas da população. De modo geral, é esta visão a considerada pela maioria dos pesquisadores.

Outra questão que se destaca nos estudos sobre qualidade de vida envolve a forma de sua mensuração pois não existe ainda, um acordo sobre os tipos de indicadores a serem usados, ou, sobre o critério a ser incorporado em escala particular de estudo. Até meados da década de 70, os estudos sobre qualidade de vida baseavam-se, exclusivamente, na di-mensão objetiva (quantitativa) que consequentemente se apoiavam em dados estatísticos. Porém, diversos estudiosos começaram a questionar esta metodologia até então adotada

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estudos de Geografia

para estudar o tema. Assim, a partir da década de 80, passaram a incorporar outra dimensão em seus estudos – a subjetiva (qualitativa), que se baseia na percepção das pessoas sobre o mundo que as envolve, o que implica uma escala de valores bastante diversa e expressa de forma, as vezes, subjetiva.

Entretanto, a polêmica ainda continua pois nem todos os pesquisadores adotam a mesma postura. Há os que se apoiam exclusivamente nas análises objetivas (dimensão ma-terial da qualidade de vida), como: Soares, Silva e Abdo (1984); Caiado (1997); Almeida (1997); Azzoni (1999); etc. Há ainda aqueles que apoiam seus estudos nas análises subjetivas (aspirações da população) como: Shin et al. (1992); Farias (1997); Mansilla (1997); etc. Há ainda, aqueles que se apoiam em ambas as dimensões, o que é o mais indicado nestes estudos, como: Abaleron (1986/87); Rogerson (1989), Sanches e Borja (1993); Borsdorf (1999), Herculano (2000); etc.

Metodologia

A área estudada foi o bairro Urlândia, localizado a sudoeste da cidade de Santa Ma-ria, limitando-se ao norte com o bairro Medianeira, ao sul com o Tomazzetti, a leste com o Tomazzetti e o Medianeira e, a oeste com o Arroio Cadena e as áreas militares, cuja história foi iniciada em 1953, continuando em aberto até hoje. O conjunto é constituído por uma periferia da cidade, caracterizada por apresentar muitos problemas (ambientais e de topo-grafia – terrenos sujeitos a inundações, muitos destes, localizados às margens de córregos -, de infra-estrutura e saneamento básico -, violência, insegurança, marginalização, falta de participação na tomada de decisões, etc. Tais problemas não afetam somente as pessoas que residem no local, mas refletem-se sobre a cidade como um todo.

Como o referido bairro é uma unidade espacial micro para o qual os dados repre-sentavam um desafio, foi necessário a realização de pesquisa de campo, visando à geração de dados primários. Isto porque os dados secundários existentes não permitiam efetuar uma avaliação completa, considerando-se os objetivos da pesquisa, conforme o proposto .

A partir de um levantamento realizado junto ao IBGE de Santa Maria, verificou-se que no bairro existiam 2.580 residências distribuídas através de 07 vilas, um parque residencial e uma área sem denominação. O número de residências de cada vila foi identificado através da contagem direta o que mostrou os seguintes totais: 63 na vila Alegria, 160 na vila Formosa, 128 na vila Goiânia, 415 na vila Santos, 80 na vila São Pedro, 328 na vila Tropical, 1.119 na vila Urlândia, 152 no Parque Residencial San Carlos e 135 na área “sem denominação”.

Assim, após o conhecimento direto da área de estudo, de sua delimitação e identi-ficação das residências, foi organizado o instrumento a ser aplicado para avaliação – um questionário ajustado à técnica survey. Cabe destacar que os aspectos que se desejava pesquisar relacionavam-se às características da população e da habitação; condições de infra-estrutura e de serviços e nível de satisfação com os mesmos; problemas ambientais; grau de convivência e participação comunitária; imagem dos moradores sobre o centro da cidade e percepção acerca dos diferentes problemas.

Como o tema da pesquisa envolvia questões objetivas e subjetivas, o questionário

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foi elaborado com questões abertas e fechadas, portanto, misto. No conjunto o questioná-rio constou de 34 questões, algumas subdivididas, o que resultou num número maior de informações coletadas. A partir destes dados buscou-se identificar a qualidade de vida dos moradores do bairro.

O trabalho de campo foi executado através da aplicação de questionário e, por amostragem. O tamanho da amostra trabalhada foi baseada na tabela de Krejcie e Morgan (1970, apud GERARDI; SILVA, 1981), de modo que, de um total de 2.580 domicílios, o tamanho da amostra trabalhada foi de 335 unidades domiciliares, o equivalente a 13 % do total dos domicílios. Entretanto, considerando-se que o bairro é composto por várias vilas, a distribuição espacial destas vilas foi considerada. Assim, as unidades amostrais foram distribuídas proporcionalmente ao número de domicílios de cada unidade territorial, ou seja, de cada vila. Optou-se pela amostragem sistemática e, as entrevistas foram realizadas obedecendo a um intervalo de 08 domicílios e, respondidas pelos chefes de domicílios.

Resultados da pesquisa de campo

A pesquisa realizada no bairro Urlândia teve como objetivo principal: obter mais e melhor conhecimento sobre a vida dos moradores do bairro, bem como sobre a forma como percebem os problemas nele existentes. Desta forma, tendo em vista a natureza dos aspectos mensurados adotou-se os critérios de análise quantitativos e qualitativos.

De uma maneira geral, os dados evidenciaram grandes diferenciações socioeconômi-cas e espaciais como fruto da ação individual, privada e pública, que em conjunto, revelaram aspectos negativos da qualidade de vida da população do bairro estudado, bem como aqueles positivos. A seguir são apresentados os resultados da pesquisa.

Características dos chefes de domicílios e das habitaçõesCom relação a este aspecto, procurou-se conhecer as características demográficas,

sociais e econômicas dos moradores. Para tanto levantou-se informações sobre: sexo, idade, escolaridade, ocupação, renda familiar, condição da moradia e nível de satisfação com a mesma, procedência dos entrevistados e motivação para residir em Santa Maria.

De um total de 335 chefes de domicílios entrevistados, 273 eram homens (81,49%) e, 62 eram mulheres (18,51%). Estes dados demonstraram que no bairro estudado o homem ainda tem um papel bastante significativo na manutenção da família.

Com relação à estrutura etária , os resultados mostraram que a maioria estava situada entre 20 e 59 anos de idade, totalizando 78,21%. Isto é um indicativo de que daqui a mais ou menos duas décadas haverá, desde que não ocorram modificações significativas, um número expressivo de idosos chefiando domicílios e vivendo neste bairro.

O nível de escolaridade que é considerado um importante indicador da qualidade de vida da população, mostrou-se muito baixo entre os entrevistados . Dos 335 entrevistados, 60,0% não haviam completado o 1º grau, e 14,62% eram analfabetos, o que, conjuntamente,

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totaliza 74,62%. Esta situação traz conseqüências para as questões do trabalho, do rendimento e, consequentemente, é fator determinante das precárias condições de vida. A ocupação dos chefes de domicílios reflete o baixo nível de escolaridade, pois as ocupações dominantes entre os entrevistados estão ligadas à construção civil, à função de motorista e a serviços domésticos no caso das mulheres. Estas ocupações, por sua vez, repercutem na renda das pessoas que se mostrou relativamente baixa entre os entrevistados. Assim, 46,26% deles viviam com renda de até 2 ½ salários mínimos, e apenas 20,29% desfrutavam de renda superior a 5 salários mínimos. Constatou-se, assim, que há uma estreita ligação, entre, nível de renda, nível de escolaridade e tipo de ocupação dos entrevistados, o que repercute na qualidade de vida.

Com relação a condição de moradia a pesquisa mostrou que a maioria é composta de proprietários (83,88%) e, que estavam satisfeitos com as mesmas. Isto pelo fato de não ter que pagar aluguel, justificativa considerada muito válida diante da situação econômica de grande parcela deles.

Quanto a origem dos chefes de domicílios, observou-se que 55,52% eram naturais de Santa Maria, e 42,08% de outros municípios. Apenas 2,38% eram originários de outros estados. Desta forma, os migrantes no bairro correspondiam a 44,48% do total dos entre-vistados sendo que a maioria deles vieram residir em Santa Maria por questões ligadas ao trabalho. Ao se indagar se gostavam do lugar onde moravam, 89,25% responderam que sim, no entanto, 59,98% mudariam para outro local se pudessem.

Grau de convivência no bairro

O grau de convivência no bairro foi analisado com base em questões como: Conhe-ce as pessoas do quarteirão? Mora próximo à parentes? Como você classifica sua relação com a vizinhança? Qual o lazer da família nos finais de semana? Considera que existe in-tegração na comunidade? Participa de Associação de Moradores? Os resultados revelaram que 70,74% dos entrevistados moravam próximos a parentes. Este era um dos motivos que fazia com que as pessoas gostassem de morar no local onde viviam. Do total, 88,65% responderam que conheciam as pessoas do quarteirão. Quanto à relação com os vizinhos, 93,73% responderam que era boa e/ou ótima. Quando indagados sobre a existência ou não de integração na comunidade da qual faziam parte, 49,85% dos entrevistados responderam que não havia destacando como motivos principais o individualismo das pessoas e a falta de preocupação com os problemas que diziam respeito à comunidade

A participação em associação de moradores é uma forma da pessoa dispor-se a trabalhar com e pelo conjunto. Os resultados mostraram que ela é muito pequena. Do total, somente 64 (19,10%) afirmaram que participavam. Isto demonstrou a falta de espírito de luta na busca por melhores condições de vida e, de certa forma justifica, a existência de tantas carências no bairro. Uma coletividade mais integrada e ativa teria as condições de alterar esta situação.

Quanto ao lazer praticado pela família nos finais de semana, os dados mostraram que as modalidades que assumiram maior relevância foram: assistir TV (27,46%), visitar

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parentes (16,11%) e, ficar em casa (13,43%). Na realidade o primeiro e o terceiro são simi-lares. Ambos significam a imobilidade e a segregação. Acredita-se que, a situação de lazer, esteja vinculada à renda das famílias o que não permite que usufruam daquelas formas que demandam despesas extras. Como conseqüência, o lazer não extrapola o meio em que vivem. Esta constatação representa um dado relevante, uma vez que esta dimensão é componente importante da qualidade de vida

Apreciação sobre a Infra-estrutura e serviços existentes no bairro

A multiplicação de novos espaços ocupados nas periferias faz com que surjam vários problemas ligados a infra-estrutura e aos serviços pois, a tendência geral é de que eles sejam implantados a partir da área central para as periferias. A avaliação que se desenvolveu buscou identificar as condições de infra-estrutura e dos serviços colocados ao alcance dos moradores. Procurou-se também, conhecer a opinião dos entrevistados a respeito dos mesmos. Neste aspecto foram avaliados os serviços de saúde, iluminação pública, energia elétrica, sistema de telefonia, coleta de lixo e comércio.

A saúde é considerada um importante indicador da qualidade de vida de uma po-pulação. No entanto, nem sempre, todas as pessoas se beneficiam da mesma forma destes serviços a ela vinculados, o que gera satisfação por parte de algumas e insatisfação para outras. De uma maneira geral, a maior parte dos entrevistados (63,88%), buscavam aten-dimento junto aos postos de saúde municipal localizados em bairros próximos, como os Medianeira, Tomazzetti; ou então, no Hospital Universitário de Santa Maria (6,86%) e no Sus (6,26%). Os resultados mostraram o predomínio da assistência médica gratuita, com um nível de satisfação bem elevado pois, 84,77% dos entrevistados consideravam-se satisfeitos e ou muito satisfeitos com os serviços utilizados.

A questão da segurança foi também um aspecto avaliado. Os resultados mostraram que, neste aspecto, a insatisfação é muito grande, pois, 69,05% consideravam-se insatisfeitos e ou, muito insatisfeitos. As razões para esta insatisfação é que raramente passava uma viatura da Brigada Militar para fazer o patrulhamento ou então, só apareciam quando solicitada a sua presença face à uma ocorrência. Quando questionados sobre os problemas que mais afetavam suas seguranças, 44,80 % dos moradores responderam: roubo em residências; 29,22% problemas de drogas; 5,19% afirmaram que não existiam problemas, 1,73% que não sabiam e, os 9,10% restantes, destacaram a existência de outros problemas.

Quanto aos serviços de iluminação pública, grande parte dos entrevistados manifesta-ram-se bastante insatisfeitos, com um percentual de 45,06% de insatisfação. Entre as razões para esta insatisfação estava: a inexistência de iluminação pública em algumas ruas, a grande distância entre uma luminária e outra, a demora na reposição das lâmpadas queimadas ou quebradas e o mau funcionamento das mesmas. Deve-se considerar que a iluminação pública se constitui num elemento de grande relevância para a questão da segurança das pessoas. Um lugar bem iluminado fica menos sujeito à violência do que um lugar carente de iluminação.

No que diz respeito aos serviços de energia elétrica e de telefonia existe entre os entrevistados um nível de satisfação bastante elevado, visto que não apresentam grandes

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problemas. Relativo a energia elétrica, 73,70% dos entrevistados consideravam-se satisfeitos e ou muito satisfeitos devido os bons serviços prestados pela Cia responsável, ou seja, rapidez com que são executados quando ocorre algum problema e o fato de raramente faltar luz. Com relação aos serviços de telefonia, constatou-se que, 60,50% dos moradores possuíam telefone com predomínio do convencional (68,47 %) e, o nível de satisfação entre eles com os serviços era de 78,31%, como resultado do bom atendimento proporcionado pelas em-presas responsáveis. Ao considerar a distribuição espacial dos telefones públicos no bairro, evidenciou-se que eles eram pouco numerosos, não ultrapassando a 20 aparelhos instalados.

As atividades comerciais existentes no bairro, são pouco expressivas. O maior desta-que envolve os mercados, bares e armazéns. Registrou-se também, a presença de padarias, fruteiras (mercado de frutas), açougues e uma farmácia. Constatou-se que o comércio se restringe aos gêneros de primeira necessidade. Mesmo assim, o nível de satisfação dos entre-vistados com este serviço mostrou-se satisfatório com um percentual de 71,32 de satisfeitos.

Quando se considerou a questão do saneamento básico no bairro (rede de água, esgoto doméstico e pluvial e, coleta de lixo) constatou-se que o problema mais crítico era o de esgoto. A prova disto é que ele se constituiu numa das principais queixas dos entrevista-dos. Grande parte do esgoto do bairro não é canalizado, sendo muito freqüente correr a céu aberto, principalmente nas áreas mais pobres. Quando foram consideradas a rede de água e a coleta de lixo, os entrevistados mostraram-se satisfeitos com os serviços.

A questão ambiental no bairro

Na pesquisa de campo buscou-se também avaliar os problemas ambientais mais rele-vantes no bairro, visto que, esta questão é um importante critério para se avaliar a qualidade de vida de uma comunidade. Vários pesquisadores trataram deste tema, evidenciando sua importância. Dentre eles, destacaram-se: Sanches e Borja (1993); Geisse e Arenas (1996); Carvalho (1997); Herculano (2000); etc. Ao abordar esta questão, Sanches e Borja (1993) afirmaram que se podia aceitar como premissa que uma boa qualidade ambiental favorece uma melhor qualidade de vida. Para Geisse e Arenas (1996), a qualidade ambiental é impor-tante elemento da qualidade de vida, uma vez que só se pode falar nela quando se convive num ambiente saudável e livre de qualquer tipo de poluição. Neste sentido Carvalho (1997) considerou que existe estreita ligação entre saúde, questão ambiental e qualidade de vida. Herculano (2000), ao tratar do tema, destacou a importância da análise da questão ambiental na avaliação da qualidade de vida, uma vez que a primeira está integrada à segunda. De uma maneira geral, para estes autores, as condições apresentadas pelo meio estão vinculadas aos níveis de saúde e, o conjunto serve como caracterizador da qualidade de vida.

Na análise desenvolvida indagou-se sobre os problemas ambientais mais comuns no bairro, segundo a opinião dos entrevistados, bem como a percepção deles acerca destes problemas. Pôde-se constatar que o maior ênfase recaiu sobre aqueles já conhecidos como mais graves no ambiente urbano: presença de esgoto a céu aberto, proliferação de animais e insetos nocivos à saúde, buracos nas ruas e mau cheiro. Quanto a percepção dos entre-vistados acerca dos problemas ambientais, constatou-se que, as pessoas que apresentaram

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percepção mais negativa foram aquelas que moravam nas vilas que apresentavam as piores condições de infra-estrutura.

Serviços que o poder público tem oferecido à população do bairro

Com esta questão, pôde-se conhecer a opinião dos entrevistados sobre aquilo que o governo municipal oferecia à população. A maioria deles, ou seja, 75,22%, respondeu que o poder público não tem oferecido nada ou quase nada. Segundo eles, no bairro há sérios problemas de esgoto, precária iluminação pública, a maioria das ruas não é calçada e aquelas que o são, não são conservadas, e, havia falta de segurança, dentre outros. Também dentre os entrevistados (24,78%), reconheceram que o poder público tem investido em canalização de esgoto, iluminação pública, coleta de lixo, calçamento de ruas, limpeza de bueiros e escolas.

Quando se considerou a opinião dos entrevistados com relação aos serviços que poderiam ser prestados pelo poder público, evidenciou-se que aqueles mais desejados eram: implantação da rede de esgoto em todas as ruas, calçamento de todas as ruas, melhoria da iluminação pública e implantação de um posto de saúde no bairro. Estas opiniões totaliza-ram 82,39%.

Relacionamento da população do bairro com o centro da cidade

Residir em um bairro não significa nele permanecer segregado. Também o centro de cidades representam áreas de atração. Com esta questão buscou-se identificar as relações que os entrevistados desenvolviam com o centro da cidade e qual era a imagem que eles tinham dele. Constatou-se que 95,52% dos entrevistados freqüentavam o centro da cidade, o que pode ser explicado pelas necessidades pessoais e pelo fato de o centro não estar ex-cessivamente distante. Entre as razões pelo qual freqüentavam o centro da cidade, o maior destaque recaiu nas razões: fazer compras e efetuar pagamentos (50,14%) e para trabalhar (17,91%), sendo que as demais razões assumiram menor importância.

Ao se perguntar aos entrevistados o que o centro da cidade representava para eles, foram obtidas respostas muito diversificadas. As que assumiram maior relevância foram: lugar de comércio; opção para fazer compras e pagar contas; centro de prestação de serviços; ideal para passear e, onde se encontrava aquilo que não tinham no bairro. A análise geral das respostas evidenciou que a maioria dos entrevistados visualizava o centro da cidade, dominantemente, como um local de comércio e de prestação de serviços. Na verdade esta tem sido a função principal do centro da cidade de Santa Maria e, é desta forma que a po-pulação do bairro o percebe.

Considerações finaisAtravés desta pesquisa pôde-se concluir que o processo de ocupação acelerado do

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estudos de Geografia

espaço urbano de Santa Maria deu origem a periferias, dentre as quais se encontra o bairro Urlândia, que se caracteriza pela falta de infra-estrutura e de serviços essenciais à vida da população. Esta dinâmica de urbanização tem como efeitos a produção de espaços segre-gados e degradados, com sérias conseqüências para a qualidade de vida de seus habitantes, que passam a ocupar áreas impróprias para a habitação.

Assim, os resultados registrados reforçam os problemas já conhecidos que caracteri-zam este espaço periférico confirmando os níveis de exclusão e de precariedade a que está submetida uma boa parcela da população, especialmente, quando se tratam das condições de acesso ou não aos serviços públicos e da exposição aos riscos ambientais. De uma maneira geral percebeu-se que, os moradores tinham consciência dos problemas que os afetavam, não escondendo seu descontentamento com a situação. Mesmo assim, constatou-se que um número significativo de entrevistados (89,25%) afirmou gostar do lugar onde viviam, no entanto mais da metade (59,98%) mudaria para outro lugar se pudesse, o que demons-trou uma certa contradição. Convém destacar que, a escolha de um lugar para morar nem sempre significa a vontade efetiva de nele morar. Na maioria das vezes, ela está ligada à condição socioeconômica. Assim, uma vez morando em determinado lugar, gostar ou não dele depende de uma série de fatores: a relação que é estabelecida com a vizinhança, a proximidade dos familiares, o sentimento de segurança, a existência de infra-estrutura e de serviços básicos, etc.

Outra questão marcante na análise dos resultados foi a pequena participação dos entrevistados em associação de moradores, o que levou a dedução de que existia pouca motivação e interesse num engajamento em formas de organização coletiva com a finalidade de colaborar e de reivindicar melhorias para o bairro e para as pessoas. Os dados mostraram também que havia falta de integração na comunidade. Isto levava a não participação dos moradores em práticas comunitárias que poderiam beneficiá-los.

Assim, a situação de exclusão e precariedade que marca o bairro e que faz com que a qualidade de vida da população não seja boa resulta não apenas das formas de atuação do poder local mas, também, da falta de iniciativas da população. Se ela não se dispõe a par-ticipar de ações conjuntas que reforçariam reivindicações a fim de melhorar sua qualidade de vida, torna-se devedora nos projetos de melhorias coletivas.

Afim de contemplar a espacialização da qualidade de vida no bairro, apresenta-se como conclusão uma tabela resumo exibindo as vilas que apresentaram os melhores e os piores indicadores de qualidade de vida. Convém salientar que as vilas consideradas como possuidoras dos melhores indicadores foram aquelas que apresentaram percentuais mais elevados nos diversos aspectos considerados, e, como possuidoras dos piores aquelas que apresentaram os percentuais mais baixos.

Assim, através dos 22 indicadores apresentados na tabela 1, evidenciou-se que, quan-to aos melhores níveis dos diferentes indicadores, as vilas que mais se destacaram foram.: Residencial San Carlos e a área “sem denominação”, que registraram 9 vezes, e Alegria e São Pedro, com 7 vezes. Porém, quando os piores indicadores foram considerados, as vilas Urlândia e Santos é que se destacaram, registrando 8 vezes.

Tabela 1 – Vilas do bairro Urlândia que apresentaram os melhores

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e os piores indicadores de qualidade de vidaFonte: Pesquisa de campoOrg.: Autor

Quando foram considerados os indicadores objetivos, as melhores condições foram encontradas nas vilas Formosa , “sem denominação”, Alegria e Goiânia, enquanto as piores foram observadas nas vilas Urlândia e Santos. Com relação aos indicadores subjetivos, a pesquisa mostrou que os melhores indicadores apareceram no Residencial San Carlos e nas

vilas Tropical e sem denominação. Os piores foram registrados nas vilas Alegria e São Pedro.Do ponto de vista objetivo, a análise dos resultados da pesquisa permitiu comprovar

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a coerência com a realidade que se conhece do bairro. O mesmo não ocorreu com os indi-cadores subjetivos, dos quais não se tinha uma projeção prévia dos resultados finais, pelo fato das pessoas perceberem as questões que as envolviam, de forma muito diferenciada.

Este procedimento caminhou de uma identificação específica de diferentes variáveis para uma avaliação onde, de forma associada, foram caracterizadas as diferentes vilas. Isto mostrou também os graus de associação entre diferentes variáveis caracterizadoras de qualidade. Qualidade de vida não corresponde à privação ou ao benefício de um indicador, mas, sim a uma conjugação de vários deles.

O resultado da pesquisa demonstrou que a qualidade de vida da população do bairro é bastante heterogênea. De uma maneira geral ela pode ser caracterizada como má, princi-palmente quando são consideradas variáveis como: nível de escolaridade, renda, emprego, condições de infra-estrutura e saneamento básico, problemas ambientais, integração com a comunidade e participação em associações de moradores. Porém, quando as vilas foram analisadas isoladamente, constatou-se que nem todas podiam ser assim caracterizadas, pois existiam algumas que detinham melhores condições do que outras.

Para que ocorra melhoria da qualidade de vida das populações que habitam áreas periféricas é necessário que as administrações locais reconheçam a existência delas e assu-mam suas responsabilidades pelas mesmas. É preciso igualmente que as políticas públicas, sejam elas nacionais, estaduais ou locais, forneçam para estas áreas o mesmo tratamento que é dado para as áreas mais centrais da cidade. Como um aspecto muito relevante, talvez o mais relevante deles consista na tomada de consciência e na busca da real cidadania por parte dos moradores, através do conhecimento adequado da situação no qual vivem e da participação em associações comunitárias buscando aquilo que desejam.

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